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ESSA GENTE DO RIO ...

os intele ais cariocas


e o modernismo
Angela de Castro Gomes

o que são as vaidades, meu Deus! Itinerário de Pasárgada, Dana como,


Essa gente do Ric nunca perdoará em 1936, acabou se envolvendo na or­
S.P. ter tocado o sino. ganização de antologias poéticas por
NéwfaJ.o de ved. Vedjánéwé do força e vontade do ministro Gustavo
Ric. Ved é como eu: do Brasil. Capanema. Segundo Bandeira, "o
grande ministro" queria que ele resu­
Carta de Mário de Andrade a misse em cinco antologiAs a melhor
Manuel Bandeira poesia do Brasil. Mais de dez anos após
em 18 de abril de 1925. a Semana de Arte Moderna, "o carioca"
Bandeira aceita ocupar-se dos român­
ticos (o Romantismo celebrava seu cen­
ste texto, que se propõe ser uma tenário) e dos parnasianos. Declina do
reflexão preliminar sobre o perfil estudo da poesia colonial, que estaria
da intelectualidade carioca na. déca­ muito melhor nas mãos de Sérgio
das de 20 e 3D, parte de duas premissas Buarque de Holanda, e do simbolismo,
básicas. A primeira, confol'ma a aflJ'­ sugerindo o nome de Andrade Muricy,
mação de Mário de Andrade, é de que e conclui: "o modernismo era cumbuca
náo se trata de saber quem tocou o sino
onde eu, macaco velho, não me atrevia
do movimento modernista que marcou
a meter, já não digo a mão, mas sequer
o período. Foi São Paulo, é claro! A
a primeira falange do dedo mindi­
segunda segue as indicações de Ma­
nho".1 Ou seja, estas reflexões não pre­
nuel Bandeira que, no autobiográfico
tendem tomar stricto sensu O movi-

Nota: Estearligo constituia primeirarenexãode um projelode investigaçãoque comecei a desenvolver


na UFF em 1991, Btravés do CUJ'80 "Arte e política no Rio doe anos 20 e 30", com 015 alunos Lia Calabre
Azevedo,
aprofundará e testará melhor algumaa dos idéiu aqui enunciados.

E.tua.o.lJi8t6ri�, Rio de Juneiro. vai. 6, n. lI, 1993, p. 62-77.


ESSA GENTE DO ruO... 63

mento modernista como seu objeto. Se­ tões como a de um certo obscurecimen­
ria por demais arriscado, mesmo con­ to do modernismo no Rio, como se nes­
siderando-se que não se trataria nunca ta cidade ele tivesse sofrido um "des­
de analisá-lo sob a ótica literária. vio", uma "descaracterização". Desta
O objetivo mais amplo deste texto é forma, O texto procura reinserir OS in­
procurar conhecer o espaço e o clima telectuais "cariocas" no itinerário mo­
em que se moviam os intelectuais do dernista, considerando algumas condi­
Rio durante cerca de duas décadas cru­ ções particulares à produção cultural
ciais para a cultura brasileira. Neste desta cidade.
sentido, o modernismo está sendo en­ São conhecidas as interpretações
tendido como um movimento de idéias que trabalham com as razões que dis­
renovadoras que estabelece fortes co­ tinguiriam as identidades das cidades
nexões entre arte e política, e que é do Rio e de São Paulo e que, em parti­
caracterizado por uma grande hetero­ cular, ressaltam o caráter de cidade
geneidade. Assim, não se deseja "con­ capital, marcada pela presença do Es­
centrá-lo" eln seu marco simbólico - a tado e do comércio, versus o caráter de
Semana de 22 - nem tratá-lo de forma
, cidade dominada �la produção e pelo
unívoca e com contornos bem delimita­ ethos do mercado.3 Sem abandonar
dos. Do ponto de vista que este estudo estas contribuições, mas relativizando
privilegia, o modernismo é um movi­ a dicotomia, o que se deseja agregar
mento de idéias que circula pelos prin­ como questáo para reflexão são ele­
cipais núcleos urbanos do país desde a mentos que dizem respeito à dinámica
segunda metade dos anos !O, Assumin­ do próprio meio intelectual carioca. A
do características cada vez ma is dife­ proposta do texto é considerar a impor­
renciadas com o passar das décadas de tância de tradições intelectuais - tanto
20 e 30. Contudo, como adverte Jac­ no IÚvel organizacional, quanto de va­
ques Julliard, as idéias não "circulam" lores estéticos e políticos -, que mar­
elas meslUas pelas ruas; elas estão sen­ cam a cidade do Rio de Janeiro e que
do portadas por homens que fazem têm a sua história. Sob tal ótica, as
2
(>9.rte de grupos sociais organizados.

características que singularizariam as
E precisamente esta perspectiva que uidéias modernistas" no Rio precisa­
orienta 08 objetivos específicos e as hi­ riam ser analisadas à luz das referen­
póteses desta reflexão. cias da cidade, em sentido mais amplo,
Assim, trata-se de localizar um cer­ e do '):>equeno mundo" dos intelectuais,
to conjunto de intelectuais na paisa­ em sentido mais estrito. Neste último
gem ideológica do período, observando caso, são três as sugestões que levan­
as conexões e deslocamentos tecidos tamos para teste e maiores explora-
çoes.
o

numa rede relaciona I maior. Dito de


outra forma, o objetivo é situar o "lugar O Rio de Janeiro convivia, desde fins
social" dos intelectuais do Rio e testar do século XIX, com duas presenças fun·
suas vinculações com intelectuais de damentais em termos de referências
outros estados - São Paulo em especial para o mundo intelectual: a Academia
-, no momento em que o modernismo Brasileira de Letras e o Cfgrupo boêmio"
se definia e desenvolvia como movi­ da rua do Ouvidor. Tais referencias,
mento de idéias. Nossa hipótese é que embora possam parecer excludentes e
um melhor conhecimento da maneira basicamente conflitantes, não o eram,
como essa intelectualidade se organi­ havendo coabitação e complementari­
zava e produzia, pode iluminar ques- dade entre elas. A terceira presença
64 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1993111

data dos anos 20 e relaciona...e com o gl'a o manancial simbólico que irão
forte e militante movimento católico sustentar ou transfol'mar com maior
que se organiza na cidade sob 05 aus­ ou menor intensidade. A noção de tra­
pícios de dom Sebastião Leme. Dirigi­ dição intelectual, portanto, está aqui
do em particular para as elites, e com sendo considerada como indiapensável
destaque para 08 intelectuais, o movi· a essa reflexão, além de estar sendo
mento tinha como grande figura na postulada como uma base e até um
luta pelas conversões Jackson de Fi­ estimulo ii criatividade e não como um
gueiredo, ele mesmo boêmio e líder de 6
obstáculo ii mudança. Nesta perspec­
glande retórica. Academia, boemia e tiva, há uma relação necessária entre
catolicidade - esta última materializa­ trabalho intelectual e tradição, sendo
da e potencializada posteriormente pe­ que uma tradição se reforça justamen­
la figura do crítico literário Tristáo de te ao modificar-se, ao ampliar a linha­
Ataíde - conjugam-se, não sem ten­
gem dos que dela se alimentam por
sões, neste mundo intelectual das dé­
convergência ou oposição. Segundo
cadas de 20 e 30.
Shils é a repetição e não a mudança
que assinala a decadência de uma tra­
dição intelectual.
Mas, se as tradições tém uma nítida
1 O ·pequeno mundo":
dimensão simbólica, têm igualmente
-

tradição e sociabilidade
uma dimensão organizacional: elas se
"institucionalizam" em lIma variedade
Alguns instrumentos analíticos se­ de loci de diferentes naturezas. Conhe­
rão particularmente úteis a este estudo cer um certo meio intelectual em deter­
que se enquadra no que hoje se denomi­
minado momento e espaço implica
na uma história dos intelectuais.4 Antes
obrigatoriamente conhecer esta di­
de tudo, a própria noção de intelectual,
mensão organizacional, que não é alea·
de contornos fluidos e que se transforma
tória aos significados contidos em uma
com o tempo, indicando dificuldades
dada interpretação da realidade social
que se traduzem na impossibilidade de
A linguagem mais conente utiliza o
uma defInição rígida. A opção, no caso,
termo "tede" para defmir 06 vinculas
foi adotar uma concepção mais restrita
que reúnem o "pequeno mundo" inte·
de intelectual, privilegiando a idéia do
lectual. A história dos intelectuais vem
produtor de bens simbólicos envolvido
consagrando o uso da noção de sociabi­
direta ou indiretamente na arena polí­
tica, o que caracteriza um nÚmero bem lidade.
mais limitado de indivíduos: un petit Instrumento analítico e/ou catego­
monde étroit, na fórmula de Jean Paul ria histórica, a sociabilidade será aqui
6 tratada também em sentido mais estri­
Sartre.
Este ''pequeno mundo", especializa­ to: como um conjunto de formas de
do nos processos de criação e transmis­ conviver com 06 pares, como um "domí·
são cultural, está sempre referido a ruo intermediário" entre a família e a
uma tradição intelectual ou como seu comunidade cívica obrigatória. As re­
herdeiro ou como seu filho pródigo. Ou des de sociabilidade são entendidas as­
seja, quer por vinculação, quer porrup­ sim como fOflllando um "grupo penna·
tura, os intelectuais estáo sempre liga­ nente ou temporário, qualquer que se­
dos ao patrimônio de seus antecesso­ ja seu grau de institucionalização, no
res, ao uestoque" de trabalhos que inte· qual se escolha participar.» 7
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Trabalhar com o meio intelectual é


procurar mapear um espaço que a no­ 2 Rio e São Paulo:
-

ção de sociabilidade reveste de um du­ o que são as vaidadesl


plo sentido. O primeiro, contido na
idéia de rede, remete às estruturas Em um antológico Programa legal,
organizacionais da sociabilidade atra­ Regina Casá e Luíz Fernando Guima­
vés de múltiplas e diferentes formas rães, dois humoristas "modernoe", ele­
que se alteram com o tempo, mas que geram o tema das relações entre Rio e
tê m como ponto nodal o fato de se cons­ São Paulo. A abertura do progIama
tituírem nos loci de aprendizagem e não deixava dúvidas quanto ao seu
bOCAS intelectuais. Salões, cafés, CaS88 curso. Rio e São Paulo eram absoluta­
editoras, academias, escolas, revistas, mente iguais: eles se odiavam.
manifestos e mesmo a CO 1'1espondência Como humor é ooiss séria e como este
de intelectuais são lugares preciosos texto irá também trabalhar com intelec­
para a anãlise do movimento de fer­ tuais que fazem humor e fazem do hu­
mentação e circulação de idéias. Como mor "a prova doe nove", é bom pensar
se rOl"Diam e sobre que elementos se com cuidado na moral desta fÓImula
estruturam são questões que, quando lapidar e em seus antecendentes.
respondidas, muito podem esclarecer a Quanto a08 antecede ntes, não cleio
respeito da vitalidade de 11m coqjunto que seja equivocado situá-los nos idos de
de idéias e de sua transforlllsção em 1920, sobretudo na verdadeira campa­
idéias hegemônicas no meio intelec­ nha que uma coluna do Correio Pa.uÜ8-
tual mais amplo e atê na sociedade. A ta.no então movia "contra" a cidade do
postulação de Agulhon de que a socia­ Rio de Janeiro. Alguns artigos já se
bilidade moderna é política em seu ocuparam deste debate, pedagógico � ­
senso amplo, fica potencializada para ra as reflexões aqui desenvolvidas. O
o exame do meio intelectual e das rela­ ponto que, neste caso, inteltssa l'E:I5Sal­
ções entre idéias e ideologias polítiCAS. tar é o da existê ncia de uma rede de
A segunda acepção dessa noção estã relações entre os intelectuais do Rio e de
como que secretada nas redes que eg. São Paulo que o movim ento modernista
truturam as relações entre os intelec­ não interrompe e que pode ser detecta­
tuais. Ela é constituída pelo que a lite­ da com sucesso , apesar do obscureci­
ratura chama de ''microclima.s'' que ca­ mento que os meics intelectuais cario­
racterizariam estes "pequenos mun­ cas sofreram por força do destaque na­
dos" em particular. Ou seja, se o espaço turalmente dado a São Paulo.
da sociabiljdade é "geogiáfico", é tam­ Como desdobramento deste ponto,
bém "afetivo", nele se podendo e deven­ segue-se outro que qualifica e ilumina
do recortar não só vínculos de amiza­ o primeiro. As redes de sociabilidade
de/cumplicidade e de hostilidade/riva­ que se tecem no meio intelectual, como
lidade, como também a marca de uma de resto a própria solidariedade social,
certa sensibilidade produzida e cimen­ estão fundadas em elementos dificeis
tada por evento, personalidade ou gru- de circunscrever, mas que comportam
po especto15,
• •

tanto a amizade e a simpatia como a


Na terminologia de Sirinelli, trata­ rivalidade e o ciúme. Desta fOIma, não
se de um uecoss istema" onde amores, é exclusivo do meio intelectual o para­
ódios, ideais e ilusóes perdidas se cho­ doxo de que na base da solidarieda­
cam, fazendo parte da organização da de/sociabilidade estã o conflito e a com­
vida relaciona\. petição.
66 ESTUDOS IIISTÓRlCOS - ID03i1J

Desta forma, a proposta deste texto identidade cresce, permitindo também


é pensar as relações entre intelectuais o crescimento das críticas e de abertas
paulistas e cariocas como existentes e oposições. Mas o debate renovador co­
pertencentes a um circuito onde, além meçara antes e náo exigira a defmição
da amizade, a rivalidade tem papel desta autodesignação, o que, sob a óti­
chave para a organização da vida inte­ ca que queremos destacar, permitiu o
lectual e política. Não se trata, portan­ envolvimento de intelectuais filiados a
to, de descartar ou minimizar tal com­ tradições "anteriores", isto é, intelec­
petição, mll5 de integrá-Ia na rede mais tuais que não teriam na Semana O
ampla das idéias modernistas que co­ I'seu" evento fundador.
meçam a circular de fOl'n18 mais acen­ No Rio, o melhor exemplo do que
tuada no Brasil desde a segunda meta­ estamos sustentando talvez seja o do
de dos anos 10. grupo boêmio de Emílio Menezes que,
Um movimento renovador nas artes com Bastos Tigre, editava a revista
iniciou-se portanto, "cronologicamen­ D. Quixote e reunia em torno de si hu­
te", antes da própria constituição do moristll5 e caricaturistas. Emilio Me­
tel"lIlO "modernista", sendo integtado nezes é admirado por Oswald de An­
por intelectuais que, inclusive, pode­ drade, que o leva a São Paulo para
riam discordar das idéias "modernis­ realizar 85 então chamadas "Conferên­
tas", inicialmente chamadas também cias ilustradas", acompanhado pelo ca­
9 ricaturista Mendes Fradique. O suces-
de "futuristas". Além disso, o moder­
nismo, se teve um ponto-chave de 50 da dupla é enOl'me, perante uma
união, posteriormente cindiu-se nos assistência que reúne o meio intelec­
modernismos de vários grupos de inte­ tual da cidade, desde os mais jovens,
lectuais, cada vez mais distanciados até os mais consagrados, como Montei­
lO
entre si. A Semana de Arte Moderna, ro Lobato.
de fevereiro de 1 922, tem assim, para Emílio Menezes e Mendes Fradi­
além de um sentido simbólico, um efei­ que, como muitos outros, vinculam-se
to normativo, ao reunir homens e tex­ ã tradição mundana da cidade, que
tos em torno de uma designação. A data do século XIX e tem na rua do
Semana funciona como um evento fun­ Ouvidor e depois na avenida Central
dador para toda uma geração ''moder­ suas artérias de circulação principais.
nista", cuja lógica não é a da idade tout Humoristas, poetas e romancistas des­
coun (embora esta seja uma variável a locavam-se por confeitarias, livrarias e
ser considerada), mas a do comparti­ redações de jornais formando grupos
lhamento de urna experiência, de um que podiam reunir nomes de gj'ande
''tempo dos inícios". Para os que traba­ prestígio - como Olavo Bilac e Coelho
lham com a noção de sociabilidade, um Neto -até nomes de jovens principian­
evento fundador, ao marcar uma gera­ tes e recém-<:hegados, como o próprio
ção, delimita 08 contornos de um meio Madeira d.. FreitasJMendes Fradi-
11
intelectual, mesmo que a evolução pos­ que.
terior de seus integrantes siga cami­ Este mundo boêmio que poBBuÍa seu
nhos muito diferenciados. Aliás esta é eth08 e fOimas de exp ressão intelectual
uma rica estratégia de análise para a é o mesmo que abastece 8 Academia
história dos intelectuais. Brasileira de Lehas e que igualmente
No caso específico que estamos con­ procura forillar oultas associações que
siderando, a Semana passa a se vincu­ rompam com seu monopólio de consa­
lar com o movimento modernista, cuja gração. Tal é o Cll50 da Sociedade Bra-
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sileira dos Homens de Letra. de 1915, luviana, que ainda vive, por um mi-
. 1:l
de vida efêmera. Com certeza, é com a Iagro50 anacrOnismo...
referencia deste circuito de sociabilida­
de intelectual que se orgaIÚza o Salão Já Manuel Bandeira, a quem se des-
.
dos Humoristas, onde Di Cavalcanti t·lnava em especla I a I
.
' arIO14
el tura de M'
expõe em 1916, antes de se transferir - admirador que era de Carruwal, pu­
para S.Paulo e conhecer Oswald e Má­ blicado em 1919-narra de outra forma
rio de Andrade.12 o encontro e seus desdobramentos:
Mas este Rio tem também os seus
salões ligados a outros nomes, dentre Em 1921 veio Mário ao Rio e foi então
os quais cabe destacar Ribeiro Couto e que fiz conhecimento pessoal com o
Ronald de Carvalho. E na casa deste autor de Pauli.céia Desvairada (... ).
,

último e com as presenças de Manuel Não sei que impressão teria recebido
Bandeira, Sérgio Buarque de Holanda, da Paulicéia, se a houvesse lido em
Osvaldo Orico e Austregésilo de Ataí­ vez de a ouvir da boca do poeta. Mário
de, que Mário deAndrade fará a leitura dizia admiravelmente os seus poe­
de Pauli.céia Desvairada em 1921. Co­ mas (...). (...) senti de pronto a força
mo este episódio pode ser lido como um do poeta e em muita coisa que escrevi
depois reconhecia a marca deixada
paradigma das relações entre intelec­
por ele no meu modo de sentir e
tuais do Rio e São Paulo da época, vale
exprimir a poesia. Foi, me parece, a
a pena observá�lo de várias óticas.
última grande influência que recebi
Hélio., como assinava Menotti dei
(...). Grande influência, repito, e de
Picchia em sua coluna no Correio Pau­
que eu tinha então clara consciência
listarw, descreve nestes termos essa
(...). O encontro em CAsa de Ronald de
viagem para o Rio: Carvalho prolongou·se numa amiza­
de que se fortaleceu através de assí­
Os paulistas, renovando as façanhas dua correspondência. Durante anos
dosseus maiores,reeditam. no século nenhum dos dois não escrevia poema
da gasolina, a epopéia das 'bandei­ que não submetesse à crítica do ou­
ras'. Desta feita não partem elas para tro, e creio que esta dupla corrente de
o sertão ínvio e incerto, amarelo de juízos muito serviu à depuração de
lezíria., erriçado de setas. Os bandei­ nossos versos.15
rantes de hoje compram um leito no­
turno de luxo e seguem, refestelados A rivalidade intelectual e política,
numa poltrona fpoolman', ardorosos
sem dúvida existente, não se exercita­
e minazes, rumo da Capital Federal.
va sem o debate e não impedia o desen­
Anteontem partiu para o Rio a pri­
volvimento de sólidas "amizades inte­
meira 'bandeira futurista'. Mário
lectuais"; uma sensibilidade formada
Moraes de Andrade - o papa do novo
por afetividade e cumplicidade de pro­
Credo - Oswald de Andrade, o bispo,
jetos. O exemplo da correspondência
e Armando Pamplona, o apóstolo, fo­
ram BI'I05tar o perigo de todas 85 entre Mário deAndrade e Manuel Ban­
lanças (. .. ). deira é ilustrativo da importância des­
(...) A façanha é ousada ! (...) a 'bandei­ te lugar de sociabilidade que prolonga­
ra' futurista terá que afrontar os me­ va 05 encontros dos salões, das viagens
gatéri08, os bizontes, as renas da li­ e dos festivais,constituindo-se como no
teratura pátria, toda a fauna antedi- cotidiano da vivência intelectual, em
68 E511JDOS HISTÓRICOS - 1905111

distinção a seus momentos mais ex­ prá viabilidade do !"ovimento, e o


traordinários. valor pessoal dele. E lógico: mesmo
Contudo, a imagem da ''bandeira'' que o Graça não existisse nós conti­
paulista, construída por Hélios, tem a nuaríamos modernistas e outros vi­
sua razão de ser. O Rio era o espaço da riam atrás de nós, mas ele trouxe
Academia e dos parnasianos e simbo­ mais facilidade e maior rapidez prá
listas, contra os quais essa bandeira nossa implantação. Hoje nÓS somos.
investia duramente. Vl8jar para a Ca­ Se o Graça não existisse, seríamos só
pital Federal era mesmo cutucar a on­ prá n éy
i;
e já somos pra q'J9Se toda
ça da "cultura estabelecida", mesmo gente.
porque as vinculações dos intelectuais
cariocas às tradições de sua cidade Extremamente vaidoso, segundo o
eram complexas e, se não excluíam juízo de vários e diferentes modernis­
desafios e conflitos, não comportavam tas, Graça Aranha era uma liderança
a "radicalidade" paulista. Provavel­ incontestável ou, sem dúvida, ele as­
mente, é esse tipo de relação que impe­ sim se julgava e se posicionava, o que
de o comparecimento de Manuel Ban­ se reforçará após seu famoso discurso
deira e Ribeiro Couto à Semana em de rompimento com a ABLem junho de
1922. O ataque frontal movido aos par­ 1924: "Espírito moderno". A proximi­
nasianos e simbolistas, esta ruptura dade da Academia e a presença de Gra­
total que envolvia o evento não era ça teriam peso para essa geração mo­
compartilhada por esses dois intelec­ dernista carioca que tecia seus laços
tuais ')nais velhos" e com outras mar­ com 08 paulistas com certos cuidados.
cas, náo fosse o próprio Ribeiro Couto O ano de 1924 é, neste calendário de
um amante d08 simbolistas. contatos, um ano muito especial, pois
O Rio era, enfim, a cidade para a além do alvoroço na Academia, organi­
qual retornava Graça Aranha, no mes­ zou-se no Rio uma revista modernista
mo ano de 1921, com sua Estética da cujo papel era dar continuidade à Kla­
vida. Intelectual consagl"Bdo da Acade­ xon, extinta em janeiro. Sérgio Buar­
mia, tendo sido amigo de Machado de que de Holanda fora o representante
Assis, vem disposto a "liderar os mo­ da Klaxon na Capital Federal, o que é
"
ços e é por eles recebido com interesse. perfeitamente compreensível em face
Tanto que, em 1922, Klaxon- primeira das suas relações com 08 paulistas des­
revista modernista - organiza um nú­ 17
de 08 inícios da década. Foi, portanto,
mero para homenageá-lo. Significati­ Sérgio, juntamente com Prudente de
vamente, tanto Ribeiro Couto quanto Moraes, neto, que se encarregou de
Manuel Bandeira, ambos ausentes da conduzir o legado modernista, com a
Semana, recusam-se a colaborar, o que pronta aprovação de Mário de Andra­
suscita o escla recedor comentário de de, consultado por carta. Mesmo antes
Mário de Andrade: de a revista estar formada, as colabo­
rações chegavam de São Paulo e im­
A propósito do Graça continuo a portantes apoios eram conseguidos no
achar que tu e o Couto não tiveram Rio. Um deles é justamente o de Graça
razão em não homenagear o homem. Aranha que, num encontro boêmio à
Compreendes: por mais que êle se porta da Casa Carvalho - café conhe­
ponha na nossa frente (...) as datas cido entre os intelectuais-, ''resolve'' as
estâo aí. E as obras. Agora o que dúvidas de Prudente e Sérgio. Arevista
ninguém negará é a importância dele se chamaria Estética, e ele próprio es-
ESSA GENTE DO RIO... 69

ereveria seu artigo de apresentação. culos do movimento artístico com o


Conforme nana Prudente, não havia movimento político de construção de
como, nem por que recusar tanta soli­ uma identidade nacional.20 Não é difí­
dariedade: "Valeu a pena. Era ao me­ cil compreender o lugar estratégico
noe um nome de imenso restígio a DOS
r deste ano, bastando para tanto algu­
l
acobertar a aventura." mas indicações sobre a cronologia do
Estética nasce, assim, sem um arti­ movimento. Em 1924, além do discur­
go-programa de seus editores e com a so de Graça radicalizando o confronto
presença "excessiva" de Graça Aranha. com a Academia, até então existente
Este, na verdade, acaba por se abor",­ mas não frontal, Oswald de Andrade
cer com a independência dos moços da publica no Correio da Manhã, também
reyista que chegaram a pensar em pu­ no Rio, seu "Manifesto da Poesia Pau­
blicar artigo seu fora da primeira pági­ Brasil", lançando também o livro Me­
na. O que são as vaidades... Mas, a mória8 sentimentais de João Miramar.
ausência de 1924 é sanada em 1974, Os uaI'l"aiais modernistas" agitam-se,
quando da publicação da edição facsi­ atestando que a "Semana" já estava
milada da revista. Nela, Pedro Dantas "bem gorda":
- pseudônimo de Prudenta - explica o
sentido do periódico que teria vida ere­ Em São Paulo a Exposição de LaSBr
mera: apenas três nÚmeros. Segall é xingada de "futurista" e cau­
,
sa polêmicas. Menotti deI Picchia dá
Orgão nacional do movimento mo­ pelo Correio Paulistano o seu "Mani­
dernista, em sua segunda fase, Esté­ festo Anti-Pau-Brasil" e publica na
tica propusera-se dUAS metas princi­ Novíssima poemas de Cendrars. A
pais: apresentar o modernismo antes semana santa leva Mário, Oswald,
em seus trabalhos de reconstrução Tarsila e a patota de São Paulo em
que de demolição, deixando implíci­ viagem a Minas: vão mostrar ao fran­
tas ou em segundo plano as contes­ cés Cendrars o Brasil primitivo e aca­
tações dos valores superados; e exer­ bam descobrindo a tradição no inte-
. 1
cer a crítica do movimento de que rlor.2

participava, partindo do pressuposto


de que só o próprio modernismo tinha o segundo tempo modernista é, des­
condições para discutir e criticar ta perspectiva, não só o momento de
suas proJX>Siçõe5 e suas obras, tão ''reconstrução'' e Udebate", como o mo­
completa era fora dos seus quadros, mento de explicitação maior das distin­
a incompreensão das suas técnicas e ções entre seus integrantes, até então
19
dos seus ftns. movidos pelo combate ao ''passado'' par­
nasiano e simbolista materializado na
Em setembro de 1924, o Rio, através Academia e em seu Uoutro". paradoxal­
de Estética, torna-se o centro simbólico mente complementar, a boemia carioca.
do legado modernista, mas, e este é o Mas talvez ainda seja possível agregar
ponto a ressaltar, em uma segunda a este segundo tempo modernista uma
fase: de reconstrução e crítica interna. outra dimensão. Ele seria o momento
A bibliografia que trata do movimento onde uma disjunção fundamental come­
modernista quer sob a ótica literária, ça a caracterizar o curso do movimento.
quer sociológica, já consagrou a idéia De um lado, porque é a partir deste
desta sucessão de tempos, e da impor­ período que as idéias modernistas estão
tância desta segunda fase para 05 vín- circulando muito mais e mais facilmen-
70 ESruDOS HISTÓRICOS -1993111

te pela sociedade, na medida mesmo em Graça Aranha, pode-se entender me­


que ''seus" intelectuais e ''sua" produção lhor a pessagem da carta de Mário ao
começam a ser reconhecidos como uma amigo "Manu",já em fms desse uano da
contribuição polêmica, mas fundamen­
"
glaça :
tal. passado O momento inicial da pro­
paganda, aglessi va e barulhenta, trata­ O que eu faço, e talvez já reparas te
se de avançar mais lenta e profunda­ nisso, é umA distinção entre moder­
mente. nos e modernistas.(...) 'lbda reação
22
Seguindo indicações de Sirinelli, traz exageros. Eu tive porque fui re
estamos sugerindo a possibilidade de acionário contra o simbolismo. Hoje
ler neste segundo tempo modernista a não sou. Não 80U mais modernista.
transfol'mação de um "microclima" in­ Mas sou rnoderrw, com<> você. Hoje eu
telectual em um conjunto de idéias já posso dizer que sou também um
mais influentes no interior da Repúbli­ descendente do simbolismo. O mo­
ca das Letras, o que aponta também ckrrw euo/uciona.. Está certo nisso. O
para uma assimilação maior pela so­ que também não impede que os mo­
ciedade, em função, inclusive, da con­ dernistas tenham descoberto suas
juntura política desta segunda metade coisas e que se não fossem eles muito
da década. moderno de hoje estaria bom e rijo
Contudo, se as idéias modernistas passadista. Não é isso mesmo? 23
encontram nesse momento um "meio de
aclimatação" favorável, ultrapassando
os limites estreitos do ''pequeno mundo"
intelectual, é também neste segundo 3 Os tempos e lugares
-

temJX> que estas mesmas idéias come­ heróicos e não tão heróicos do
çam a ser "digeridas" por este ''pequeno modernismo no Rio.
mundo", donde o seu processo de multi­
facetamento e a preocupação e missão Em 1942, na célebre Conferência do
dos modernistas realizarem, eles mes­ ltamarati, Mário de Andrade nos for­
mos, a crítica de sua produção. Ou seja, nece uma vívida evocação do que era a
por um outro lado, as idéias modernis­ rede de sociabilidade modernista e de
tas que se divulgavam sofriam comple­ como os intelectuais circulavam pelo
xo processo de transfOI"mação interna, país e, assiln, faziam circular suas
produzindo.se como que umgap entre o idéias. O modernismo era feito de des­
ritmo e 05 conteúdos do debate interno locamentos no espaço, no tempo, na
e o "ar do tempo" político-social mais mente. O modernismo era feito por
amplo. Em um outro sentido, este gap cada um e pelos grupos que se forma­
se traduzia numa certa superposição vam e articulavam.
das idéias modernistas do "primeiro •

tempo" - que ganham o 'tgrande mundo" Salões, festivais, bailes célebres, se­
- com as do ''segundo tempo" - que se manas passadas em grupo nas fazen­
gestam e se enfrentam no ''pequeno das opulentas,semanas·santas pelas
mundo" -, domínio das disputas sinlbó­ cidades velhas de Minas, viagens pe­
licas,mais do que das disputas políticas. lo Amazonas, pelo Nordeste, chega­
Voltando ao ano de 1924 e voltando das à Bahia, passeios constantes ao
também aos ucuidados" de Manuel passado paulista, Sorocaba, Parna­
Bandeira e Ribeiro Couto em seus con­ vaÍ, Itu ...(...). Doutrinários, na ebri­
tatos tanto com a Semana quanto com dez de mil e uma teorias, salvando o
ESSA GENTE DO RIO... 71

Brasil, inventando o mundo, na ver· escrito, apesar de todo o modernis­


dade tudo consumindo, e a nós mes­ mo, versos como 05 de 'Mangue', 'Na
mos, no cultivo amargo, quase deli­ Boca', 'Macumba de Pai Zusé', 'No­
26
rante do prazer. 24 turno da Rua da Lapa' etc,

Em 1952, Prudente de Moraes, neto, E também neste tempo que a revista


em entrevista ao Diál'w Cw'icca tam­ ilustrada Pw'a Todos cede su"" pági­
bém fez sua evocação do que chama "05 nas aos modernistas e que o jornal A
templS heróicos" do modernismo no Noite, em 1925 dirigido por Viriato
Rio. a ano de referência é o de 1924 e o Correia, abre espaço em sua primeira
amigo é Sérgio Buarque de Holanda: página para o "Mês Modernista", Se­
U(... ) freqüentávamos reuniões sema­ gundo Bandeira, "a coisa tinha sido
nais: às terças-feiras do Ronald de Car­ ananjada" por Oswald, mas quem di­
valho; às sextas-feiras, do Guilherme de rigiu a iniciativa foi Mário, que se en­
Almeida, e ainda as reuniões em casa do carregou de indicar os colaboradores:
Renato de Almeida". 25 Mas além destes, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio
havia ainda "o mais freqüentado" de
• Milliet, Prudente de Moraes, neto,
todos os salões, o do casal Alvaro e Eu- Martins de Almeida e ele próprio, Essa
genia Moreira - e havia também os participação -"o primeiro dinheiro que
cafés da rua Laura Araújo - a então • me rendeu a literatura" - se traduziu,
Ugrande artéria intelectual do Rio", E,
por exemplo, na crónica Bife àmcda.da
inclusive, num dos restaurantes que se
casa, "nosso prato de resistência no
tornarão famosos como ponto de encon­
Restaurante Reis. (.. ,) entrava de um
tro de intelectuais - o Restaurante Reis
- que podemos encontrar alguns outlUS
tudo: era uma mixórdia que ent �ia,
Assim a minha colaboração (.. ,)" 2
nomes do que se pode chamar o grupo
Em junho de 1925, Estética não
de modernistas cariocas.
mais existia, e o legado de Klaxon pas­
Conendo o risco do excesso de cita­
saria para Minas e para Drummond
ções, mas cedendo a pa lavra a quem de
com A Revista, que viverã de julho
direito, é Manuel Bandeira que traduz
desse ano a janeiro de 1926, quando é
o vínculo profundo entre sensibilidade
e sociabilidade intelectuaL
substituída pela paulista Terra Roxa e
outras terras, até o mês de setembro.
Como se vê, as articulações se fazem e
Libertinagem contém os poemas que
as revistas se sucedem. Já em 1927,
escrevi de 1924 a 1930 os anos de
-

maior força e calor do movimento


circulavam Verde de Cataguazes e

modernista. Não admira pois que se­


Festa, do Rio, formada por uma "gente
séria", no dizer de Mário de Andrade,
ja entre os meus livros o que está
mais dentro da técnica e da estética A "gente séria" de Festa perm..ite in­
do modernismo. Isso todo mundo p0- cursão a tema pouco freqüentado, co­
de ver. a que no entanto poucos verão mo o é a própria revista, provavelmen­
é que muita coisa que ali parece mer te tanto por suas características literá­
28
dernismo, não era senão o espírito do ri",, quanto por su"" características
grupo alegre de meus companheiros sociológicas, Festa, de longa duração
diários naquele tempo: Jaime avalIe, para os padrões das revistasjá mencio­
Dante Milano, Osvaldo Costa, Geral­ nadas, é publicada até maio de 1935 e
do Barroso do Amaral. Se não tivesse está ligada ã influência do grupo cató­
convivido com eles, decerto não teria lico do Centro Dom Vital, primeiro sob
72 1 D03,l11

ES11JOOS IIIS1'ORlCOS -

a liderança de Jackson de Figueiredo e ocupado, segundo ele, principalmente


a seguir de Alceu Amoroso Lima. em destruir valores estéticos - e de seus
O Rio, neste aspecto, diferencia-se vínculos com a proposta conservadora­
de outras cidades pela força adquirida mas nem JX>r isso menos transfoI"mado­
pelo movimento católico, dirigido, desde ra - da Igreja Católica. Bandeira, por­
1922, especialmente a uma elite intelec­ que, de acordo com Tristão, não é ho­
tual capaz de exercer influência na 500- mem de movimento, mas sim de perso·
ciedade e na politica do país. Jackson de nalidade.
Figueiredo, iniciado na roda boêmia que A "gente séria" de Festa, Alceu, Ban­
se desfazia em inícios dos anos 20, é o deira, e muitoe dos intelectuais dos
grande agente das conversões. Se Mário "tempos heróicos", atravessa os contur­
de Andrade é o papa e articulador de bados anos iniciais da década que se
uma rede de intelectuais nlOdernistas, inaugura com uma revolução, a de 1930.
Jackson de Figueiredo é o grande após­ O clima político de grande illstabilidade
tolo de outra rede que também tece seus estimula o debate cultural e sobretudo
laços com o espu'itualismo da tradição as opções ideológicas de inúmeros mte­
siInbolista. Anlbos trabalharão mces­ lectuais que vão aderir mais ou menos
santemente através de revistas, conta· explicitamente ao integralismo de Plí­
tos pessoais e de con·espondência. O nio Salgado; ãs propostas da Aliança
melhor exemplo no circuito católico tal­ Nacional Libertadora e do Partido Co­
j
vez se a o das cartas entre Jackson e munista; às vertentes autoritárias, ca­
2U
Alceu. tólicas ou não; à defesa de um ideário
O papel de Mário como elo capital na liberal refor",ado; e a uma variedade de
organização da intelectualidade moder­ posicionamentos dispostas em um com·
nista é sobejamente ressaltado, o que só plexo campo de possibilidades teóricas
vem potencializar a visibilidade do mo­ e práticas.
vimento em São Paulo. Uma outra 5U· O Rio de Janeiro torna-se, durante os
gestão deste texto que trabalha com o anos em que Vargas controla o poder,
Rio, é destacar a presença e a influência un13 cidade de referência inequívoca pa.
da figura de Alceu Amoroso Lima, tanto ra todo o país. O modernismo vive então
antes, quanto deJX>is de sua conversão, tempos não tão heróicos, até mesmo
em 1928, como figura de referência pa.ra porque toda a vida mtelectual brasileira
o curso das idéias '�odernistas" e ''mo­ sofrerá o impacto da criação do Ministé­
dernas". O próprio Mário de Andrade rio da Educação e Cultura e, em espe­
em sua correspondência com Manuel cial, da gestão do ministro Gustavo Ca­
Bandeira - seu equivalente intelectual panema (1934-1945). Este ministério
mais próximo no Rio - revela o cuidado ocupa um lugar muito especial enquan­
com que eram lidas as críticas de Tristão to agente de articulação de iniciativas
e as reações de desdém, de raiva e de que envolvem intelectuais das mais di­
admiração e respeito com que eram c0- versas tendências estéticas e políticas.
30
mentadas. Tendo ganho a sede de um ministé­
As características e a atuação destes rio, o Rio não perdeu a sede da Academia
dois intelectuais - Bandeira e Alceu - e também não deixou de abrigar uma
em muito pocleriam esclarecer o tipo de série de outros lugares de sociabilidade
percepção que o "modernismo carioca" intelectual. Se desde os anos 10 há re­
vem suscitando. Alceu, porque sua cen­ gistros de tentativas de organizaçáo de
tralidade adviriajustamenteda força de sociedades alternativas à Academia, os
sua crítica ao movinlento nlodernista - anos 30 nos oferecem vál"ioo exemplos,
ESSA GENTE DO RIO ... 73

atestando a importância destes experi­ gógica, quando se assume a perspectiva


mentos para a circulação dos intelec­ da sociabilidade intelectual.
tuais da cidade e do país. Um pequeno Em primeiro lugar, o momento de
trecho do livro de "boas memórias" de
,
criação e o patrono da Sociedade. Feli­
Alvaro Moreira, rememorando espiri­ pe d'Oliveira, ou melhor, Felipe Daudt
tuosamente o circuito intelectual cario­ d'Oliveira, era um jovexp. poeta simbo­
ca por volta de 1934, é bem um exemplo lista, grande amigo de Alvaro Moreira
do que se quer caracterizar. e Ronald de Carvalho, considerado um
"modernista" após a publicação do li­
Há a Academia propriamente dita. vro intitulado Lanterna �rde. Gaúcho

Há a Academia Carioca. Há a Fede­ de nascimento, carioca por vivência in­


ração dasAcademias de Letras. Há a telectual e paulista por vinculação po­
Fundação Graça Aranha. Há a Socie­ lítica, Felipe d'Oliveira, por seu envol­
dade Felipe D'Oliveira. Há o Pen vimento com a Constitucionalista, tem
Club. Há também, o consultório de que se exilar na Europa, onde morre
Jorge de Lima. Cada Academia tem prematura e tragicamente. Um perfil
quarenta membros, incompletos em de herói político e intelectual e uma
geral, porque a morte implica com família rica, c4ia grande fi gura era o
essa dezena. A Fundação retém oito empresário João Daudt d'Oliveira.
companheiros, menos Peregrino Ju­ Morto Felipe e com o país em clima de
nior, que não pode mais. ASociedade, instalação da Constituinte, forma-se a
entre ausentes e presentes, conserva Sociedade, c4ios estatutos não deixam
quinze. O Pen espera que os brasilei­ dúvidas quanto ao papel da família
l'O6 cumpram com o seu dever. O Daudt e quanto à ambiçi!o do projeto
consultório abre a porta a todas as de mecenato intelectual. 33
compreensões. (... ) Nas Academias Composta por quinze membros vita­
se toma chá. Na Fundação, laranja­ lícios, nomeados no estatuto, dela fa­
da. Na Sociedade, café. No Pen, o que rão parte muitos dos mais conhecidos
,

quiser. No consultório, injeções. As intelectuais cariocas. Além de Alvaro


Academias, a Fundação, a Socieda­ Moreira e Ronald de Carvalho,já men­
de, o Pen distribuem prêmios em di­ cionados, Augusto F. Schmidt, Ribeiro
nheiro. O consultório, não. Mas dá Couto, Renato de Almeida, Rodrigo
direito a um telescópio. Pelo telescó­ Otávio Filho, Otávio Tarquinio de Sou­
pio, de bolso vazio, 06 escritores e 08 za e um pouco depois destes, Alceu
artistas vêem a Favela, a Guanaba­ Amoroso Lima, Manuel Bandeira e
ra, Niterói e, com alguma teimosia, o Afonso Arinos de Melo Franco. Além
, 31
eeu.... dos literatos, os contatos políticos de
José de Freitas Vale, João Neves da
A Sociedade Felipe d'Oliveira, men- Fontoura e Assis Cha!.eaubriand. Uma
,

cionada e integrada por Alvaro Moreira, composição para não deixar dúvidas
organizou-se em agosto de 1933 e, em que a Sociedade tinha um projeto na­
maio de 1934, lançou seu boletim/revis­ cional - muita divulgação e sócios cor­
ta - Lanterna �rde -um dos mais respondentes em várias capitais -,
duradouros periódicos para os padn'jes conforme convinha a um grupo que se
da época. Será editado atéjulho de 1944, queria referência da intelectualidade
portanto cerca de dez anos, embora so­ brasileira e não apenas da carioca.
32
frendo alguns percalços. A trajetória FOl'mada como as academias, a So­
desta Sociedade é extremamente peda- ciedade preenchia suas vagas por elei-
74 ESTIlDOS IIlSTÓRlCOS - 199311 1

ções, salvo a do sócio João Daudt d'Oli­ (1936), Raquel de Queiroz (1939), José
veira, substituído por seu filho ou des­ Lins do Rego (1941), Graciliano Ramos
cendente. Esta ressalva, prevista em (1942) e Lúcio Cardoso (1943). Um
artigo do estatuto, deixa claro o papel elenco que excluía os sócios por princí­
da família que é, sem dúvida, a finan­ pio e que causava, anualmente, um
ciadora da Sociedade, uma vez que não grande número de comentários na im­
há qualquer menção a fontes de recur­ prensa, em especial nas colunas e su·
sos e nem mesmo anúncios publicitá­ plementos literários. Um deles se tor­
rios na Lan.terna ""rde. naria famoso, por integrar o jornal ofi­
Não tendo os problemas financeiros cioso do Estado Novo - A Manhã -
tão COlnUIlS às iniciativas deste teor, a dirigido por Cassiano Ricardo. Autores
Sociedade Felipe d'Oliveira, além da e Liuros, organizado por Múcio Leão a
publicação de Lan.tern.a. ""rde, ocupa-se partir de 1941 e perdurando até setem­
de uma série de outl"as atividades, todas bro de 1945, tem como objetivo princi­
destinadas ao incentivo da produção in­ pal a produção e divulgação de uma
telectual, entendida como artística e verdadeira galeria de intelectuais da
científica. Desta fOrIna, previa-se a edi­ história cultural do país.
ção de autores brasileiros e da produção Já se perdia de vista, então, os tem·
do patrono, o que a casa editora Schmidt pos de luta do modernismo e a confe­
em boa medida faria. Ofereciam-se prê­ rência de Mário de Andrade, em 1942,
mios e viagens de aperfeiçoamento; or­ no Itamarati, é bem um marco saudoso
ganizavam-se conferências, que eram dessa distância. A Academia, símbolo
34
publicadas na revísta, e, sobretudo, do passadismo, não era mais tão pas.
concerua-se um prêmio anual de litera­ sadista, nem seus sucedâneos tão aI·
tura que se torna conhecido por seu ternativos. Compreende-se bem as ra­
valor financeiro e simbólico. Para se ter zões de tantas transform.ções e por
uma idéia mais precisa do que tal prê­ isso é possivel encerrar esta reflexão
mio significava, o depoimento de Ma­ com a palavra de Manuel Bandeira:
nuel Bandeira é primoroso.
Em 1940, aberta uma vaga na Aca­
O ano de 1937 me trouxe o primeiro demia de Letras (... ), fui vísitado por
provento material que me valeu a três amigos acadêmicos - Ribeiro
poesia: os 5.000 cruzeiros do prêmio Couto, Múcio Ieão e Cassiano Ricar­
da Sociedade Felipe d'Oliveira, da do, que vinham me convidar a que me
qual vim a fazer parte em 1942. Pa­ apresentasse candidato. (...) Só que
rece incrível, mas é verdade: aos 51 pedi dois dias para tomar uma deci­
anos, nunca eu vira até aquela data são. De fato, não havia em mim pre­
tanto dinheiro em minha mão. Por conceito antiacadêmico. Sempre me
isso, maior alvoroço me causaram pareceu que os que atacam a Acade­
aqueles cinco contos do que os cin­ mia exageram enmmemente o que
quenta que me vieram depois, em possa haver de força conservadora
1946, como prêmio atribuído pelo numa Academia. (... ) Que poderia eu
Instituto Brasileiro de Educação e ter contra ela, (...) se a vira já acolher
35
Cultura. os três patrocinadores da minha
candidatura, dois dos quais haviam
Ao lado de Bandeira foram escolhi­ assumido posição saliente no movi­
dos Gilberto Freire (1934), Vinícius de mento modernista? E não foram só
Moraes (1935), Lúcia Miguel Pereira esses: na Academiajá estavam, antes
ESSA GENTE DO RIO... 75

deles, Alceu Amoroso Lima e Gui­ in Renê Remond, POllr u.n.e histoire poli­
llierme de Almeida, este um dos pro­ tiqu.e, Paris, Ed. du Seuil, 1988, p. 226.
motores da famigerada Semana de 3. Os textos mais específicos e impor­
Arte Moderna, aquele um dos carre­ tantes a esse respeito são: José Murilo de
gadores entusiastas de Graça Ara­ Carvalho, "Aspectos históricos do pré-mo­
nha na tarde de 19 de junho de 1924. dernismo brasileiro", em Sobre o pré-mo­

Que poderia eu ter contra a Acade­ dernismo, Rio de Janeiro, FCRB , 1988, e
Maria Alice Rezende de Carvalho, ''Le­
mia que em 38 premiara Cecilia Mei­
tras, sociedade e política : imagens do Rio
reles pelo seu livro Vwgem, tão fora
de Janeiro", BIB, n� 20. Rio de Janeiro,
dos cânones acadêmicos(...). Os re­
1985.
acionários da Academia são uns v&
4. Jean-François Sirinelli, "Le hasard
lliinhos amáveis que não fazem mal
ou la necessité? une histoire en chantier:
a ninguém: querem é sossego. Como
36 l'histoire des intellectuels", Vill.gtü'!me Sie­
eu.
ele: Rêvue d'Histoire, n'! 9, jan-mai, 1986.
5. Idem, p. 103.
Por tudo que viemos sugerindo nes­
6. A relação dos intelectuais com a tra­
te texto, talvez seja possível encami­
dição, bem como a noção de tradição inte­
nhar a idéia de que o Rio de Janeiro foi
lectual estão desenvolvidas nos textos de
mais moderno que modernista, sem Eisenstadt, lIInteUectuals and tradition" e
deixar, contudo, de abrigar debates e E. Shils, "Intellectuals, tradition and the
toda uma diversificada produção artís­ tradition of intellectuals: some prelimi­
tica que alterou e revigorou sua pró­ nary considerations", em DaedaluB, v.
pria tradição intelectual. Neste senti­ 101, nO 2, Spring 1972. Sobre as relações
do, destaca-se a figura de Manuel Ban­ entre traclição e modernismo há o insti­
deira e destacaln-se também os inte­ gante texto de Silviano Santiago, "A per­
lectuais católicos que lutaram "contra" manência do discurso da tradição no
Modernismo", em Nas malhas da letra,
e "dentro" deste movimento estética e

São Paulo, eia.das Letras, 1989 .
politicamente renovador. E evidente
que qualquer conclusão mais rermada 7. A noção de sociabilidade aqui consi­
derada toma como referencial o trabalho
sobre o tema necessita de um traballio
de Maurice Agulhon, em especial, seu li­
em profundidade com 05 vários perió­
vro Pcnitenls et frw�C8-maçon8 de l'w,cien.­
dicos e sociedades do período. Tal tra­
ne Pl'ouence, Par is , Fayard, 1 968.
balho, longo e difícil, ainda está por ser
Segundo este autor a sociabilidade teria
feito, e só ele nos pellnitirá avançar um duplo sentido. Um mais amplo, envol­
com segurança no mapeamento das vendo formas mais gerais de relações so­
idéias que permeiam uma táo delicada ciais, e um mais restrito, referido a formas
rede de sociabilidade. específicas de convivência com os pares.
Para Agulhon a "sociabilidade moderna"
data do século XIX e é um fenômeno poli­
tico ligado às idéias de civilização e de
democracia próprias ao contexto da época.
Notas Sociabilidade é vida social organizada, e
as associações as mais diversas sáo sua
forma privilegiada. Ver Maurice Agulhon,
1. Manuel Bandeira, ltil/.erário de Pa,.
"Depoimento", em Pierre Nora (org.), En­
sárgada, em Poesia complete, e prosa, Rio
saios de ego-história, Lisboa, Direi, 1989,
de Janeiro, Nova Aguilar, 1983, p. 84.
e Michel Trebitsch, UAvant-propos: la cha­
2. JaCXJ.ues Julliard, citado por Jean­ pene, le clan et le microcosme", em Ca,.
François Sirinelli em ''Les intellectuels", "ier. L'/HTP, n9 20, mai, 1992. Esta noção
76 ESTUDOS IIISTÓmCOS - 199311 1

tem larga tradição sociológica, sendo os 15. Manuel Bandeira, ltiner{vio ck Pev
nomes de Weber e Sim mel os mais desta· 'ÓJ'gnda, op.cit., p. 62-3.
cados. 16. Carta de Mário de Andrade a Ma­
8. Quero ressaltar o artigo de Monica nuel Bandeira, s.d., 1922-1924.
Pimenta Vel loso, <lA cidade voyeur: o Rio
17. Sérgio Buarque de Holanda, em
de Janeiro visto pelos paulistas. . ,", Revis­
1924 com 22 anos,já possuía um razoável
tudo Rio di! JOIwi.ro, Niterói, UFF, v. 1 , n�
trânsito entre a intelectualidade paulista,
4, 1986.
tendo escrito no Corre.io PCUl.listano ainda
9. Em 1921, na revista carioca Po,,­ em 1920.
POH, Sérgio Buarque de Holanda escreve
18. EsUitica: 1924/1925, edição facsimi­
artigo onde diz que os "futuristas" de São
laOO; apresentação de Pedro Dantas, Rio
Paulo não se prendem a Marinetti (Pau­
de Janeiro, GernasB, 1974. Sobre a revista
FOI> 10.12.1921). Silviano Santiago ob­
ver Maria Marta Martins de Aralijo, Uma
-

serva a contradição entre o futurismo


'Estét ica' !U()ck,."ista no Rio de Janeiro,
europeu e o modernismo brasileiro pela
Rio de Janeiro, UFF, 1993, (mimeo). No
valorização do nacional em política e do
seu artigo Graça Aranha escreveu que os
primitivismo em arte, claros já em 1924
"chefes desta revista,jovens de vinte anos,
(op.cit., p. 107). .
colocaram-se esteticamente para lmpaVl-
. ,

10. Sobre a boemia carioca ver o livro de dos modernizar, nacionalizar, universali­
Isabel Lustosa, Brasil pelo 11/Ã,.:lodo confuso: zar o espírito brasileiro".
humor e. lxxull,ia ('JH Mcudc8 Pradiqu.e, Rio
19. Idem.
de Janeiro, Bertrand, 1993, capo I e lI.
20. Dois textos podem ser citados em
11. Sobre esses loci de sociabilidade ver
o Calti('rs L'UI'l'P, oI! 20, já citado.
especial: João Luiz Lafetá. ''Estética e
ideologia : o modernismo em 1930'\ Argu­
12. Aorganização dos Salões de Humor
. . , meJLto, Rio de Janeiro, Paz e Terra, ano 1 ,
ou dos Humoristas mereceria por SI so um
nl? 2, 1973, e Eduardo Jardim, ''Modernis­
estudo, pois é sem dúvida wn lugar de
mo revisitado", Estudos HislÓl'icD.i , São
sociabilidade esclarecedor para as carac­
Paulo, Vértice, n? 2, 1988.
terísticas da produção da int.electualidade
carioca nos anos 10 e 20. 2 1 . Mário de Camarinha da Silva,
"Glossário de homens e coisas de Estética
13. Hélios, "A bandeira futurista", Cor­
(!924/1925)", Estética, edição facsimilada,
ndo Pn./LlistOlUJ, 22.10.1922, citado por
op.cit., p. XIX. Lasar Segall radicara-se
Mário da Silva Brito, Hislória do moder­
no Brasil em 1923 e Noví8sima., revista
uismo brasiLeiro; anlL'CClule,,[a da. S(�m(Jr
dirigida por Cassiano Ricardo, organiza­
na.deAl'te Mcxkrna., 4� ed., Rio de Janeiro,
ra-se em dezembro deste mesmo ano. So­
Civ. Brasileira, 1974, p. 316-7.
bre as relações do modernismo com a
14. ( ... ) quando fui ao Rio ler Paulicéia,
"
tradição ver o texto de Silviano Santiago
fui ler pro homem que tinha escrito Os já citado.
Sapos, /Jt!.bussy e A SeJ'cia de LeU(UL, pala­
22. Jean-François Sirinelli, ''Les inteI­
vra. Os outros ... basta dizer que não tinha
lectuels", op.cit., p. 228-30.
lido ainda Ronald nem Álvaro Moreira".
Carta de Mário de Andrade a Manuel 23. Carta de Mário de Andrade a Ma­
Bandeira em 1925, citada por Tania Pa­ nuel Bandeira em 20.11.1924, citada por
checo, O/feu extâ.tico cntre as m.etrópoles: Tania Pacheco, op.cit. (grifos meus).
a COJ'1'C�po1tdêlLcia. de M{u';o de A1Idrade a 24. Idem.
MQJw,cl D(mckil'rI-, Rio de Janeiro, UFF,
25. Maria Marta Martins Araújo,
1993 (mimeo). As referências a esta cor­
op.cit.
respondência, bem como à sua importân­
cia como lugar de sociabilidade entre 26. Manuel Bandeira, ltiu.el'ário de Par
cariocas e paulistas, devem-se basicamen­ scJrgadu, op.cit., p. 76-7.
te a este trabalho. 27. Idem, p. 77.
ESSA GENTE DO RIO... 77

28. Silviano Santiago, ao referir-se ao Os comentários que se seguem têm como


grupo Festa - "que teve certa notoriedade referência básica o texto de Lia Azevedo.
na década de 30 no Rio de Janeiro " - faz 33. Silviano Santiago assim se refere a
as seguintes considerações: "O gruJXI 'Fes­ Lanterna Verde: "AD contrário da maioria
ta' tinha lima proposta de discurso de tra­ das revistas de direita que conhecemos, a
dição do modernismo, mas no fundo era citada Lanterna Verde abriga generosa­
uma proposta de falsa tradição porque se mente em suas páginas autores de esquer­
tratava de um neo-simbolismo" (op.cit., p. da, ainda que poucos." (''Fechado para
101). balanço (sessenta anos de modernismo)",
29. Maurício José F. da Cunha, Jack- em N(JJJ malhas da letra, op.cit., p. 78).
80Tlde Figueiredo: trajetória intelectual, Neste texto náo se procura uma caracteri­
intimidotk e geração, Niterói. UFF, 1992 zação política dos grupos e periódicos, mas
(dissertação de mestrado em história). é interessante pensar n08 vínculos dessa
30. Sobre a importância de Tristáo de revista com a Revolução Constitucionalis­
Ataíde nessa correspondência ver Tania ta de 1932, através do culto a seu patrono
Pacheco, op.cit. Vale a citação: I�ocê, creio sempre lembrado como mártir.
que já pôs reparo que tenho uma bruta 34. Realizam conferências para a So­
duma ternura pelo Tristão. Tenho mesmo .

ciedade Mário de Andrade, Gilberto Frei­
Acho ele bom de verdade. As vezes é pau re, Alceu Amoroso Lima, João Neves da
porém é um sttieito sério como o diabo, Fontoura, Afonso Arinos de Melo Franco e
muito bem intencionado e esse me parece Francisco Campos, por exemplo.
que tem mesmo cultura e não é casquinha
35. Manuel Bandeira, Itin.erário de Prv
só" (Carta de 27.11.1927).
-
8árgada, op.cit., p. 84·5.
31. Alvaro Moreira, As am.argas, não...
36. Idem, p. 86-7.
(lembranças), Rio de Janeiro, Ed. Lux,
1955, citado por Lia Calabre de Azevedo, A
(Recebido paro publicação em maio ele 1993)
Sociedarle Felipe d'Oliueira e a La/l.terna
Verde, Rio de Janeiro, UFF, 1993, (mimeo).
32. Sobre este periódico ver, além do
texto acima citado, o trabalho de Roselis Angela de Castro Gomes é pes q1lisado­
Oliveira de Napoli, Lanterna Verde e o ra do CPDOC/FGV e professora de
modernismo, São Paulo, IEB/USP, 1970. história da UFF.

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