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mento modernista como seu objeto. Se tões como a de um certo obscurecimen
ria por demais arriscado, mesmo con to do modernismo no Rio, como se nes
siderando-se que não se trataria nunca ta cidade ele tivesse sofrido um "des
de analisá-lo sob a ótica literária. vio", uma "descaracterização". Desta
O objetivo mais amplo deste texto é forma, O texto procura reinserir OS in
procurar conhecer o espaço e o clima telectuais "cariocas" no itinerário mo
em que se moviam os intelectuais do dernista, considerando algumas condi
Rio durante cerca de duas décadas cru ções particulares à produção cultural
ciais para a cultura brasileira. Neste desta cidade.
sentido, o modernismo está sendo en São conhecidas as interpretações
tendido como um movimento de idéias que trabalham com as razões que dis
renovadoras que estabelece fortes co tinguiriam as identidades das cidades
nexões entre arte e política, e que é do Rio e de São Paulo e que, em parti
caracterizado por uma grande hetero cular, ressaltam o caráter de cidade
geneidade. Assim, não se deseja "con capital, marcada pela presença do Es
centrá-lo" eln seu marco simbólico - a tado e do comércio, versus o caráter de
Semana de 22 - nem tratá-lo de forma
, cidade dominada �la produção e pelo
unívoca e com contornos bem delimita ethos do mercado.3 Sem abandonar
dos. Do ponto de vista que este estudo estas contribuições, mas relativizando
privilegia, o modernismo é um movi a dicotomia, o que se deseja agregar
mento de idéias que circula pelos prin como questáo para reflexão são ele
cipais núcleos urbanos do país desde a mentos que dizem respeito à dinámica
segunda metade dos anos !O, Assumin do próprio meio intelectual carioca. A
do características cada vez ma is dife proposta do texto é considerar a impor
renciadas com o passar das décadas de tância de tradições intelectuais - tanto
20 e 30. Contudo, como adverte Jac no IÚvel organizacional, quanto de va
ques Julliard, as idéias não "circulam" lores estéticos e políticos -, que mar
elas meslUas pelas ruas; elas estão sen cam a cidade do Rio de Janeiro e que
do portadas por homens que fazem têm a sua história. Sob tal ótica, as
2
(>9.rte de grupos sociais organizados.
•
características que singularizariam as
E precisamente esta perspectiva que uidéias modernistas" no Rio precisa
orienta 08 objetivos específicos e as hi riam ser analisadas à luz das referen
póteses desta reflexão. cias da cidade, em sentido mais amplo,
Assim, trata-se de localizar um cer e do '):>equeno mundo" dos intelectuais,
to conjunto de intelectuais na paisa em sentido mais estrito. Neste último
gem ideológica do período, observando caso, são três as sugestões que levan
as conexões e deslocamentos tecidos tamos para teste e maiores explora-
çoes.
o
data dos anos 20 e relaciona...e com o gl'a o manancial simbólico que irão
forte e militante movimento católico sustentar ou transfol'mar com maior
que se organiza na cidade sob 05 aus ou menor intensidade. A noção de tra
pícios de dom Sebastião Leme. Dirigi dição intelectual, portanto, está aqui
do em particular para as elites, e com sendo considerada como indiapensável
destaque para 08 intelectuais, o movi· a essa reflexão, além de estar sendo
mento tinha como grande figura na postulada como uma base e até um
luta pelas conversões Jackson de Fi estimulo ii criatividade e não como um
gueiredo, ele mesmo boêmio e líder de 6
obstáculo ii mudança. Nesta perspec
glande retórica. Academia, boemia e tiva, há uma relação necessária entre
catolicidade - esta última materializa trabalho intelectual e tradição, sendo
da e potencializada posteriormente pe que uma tradição se reforça justamen
la figura do crítico literário Tristáo de te ao modificar-se, ao ampliar a linha
Ataíde - conjugam-se, não sem ten
gem dos que dela se alimentam por
sões, neste mundo intelectual das dé
convergência ou oposição. Segundo
cadas de 20 e 30.
Shils é a repetição e não a mudança
que assinala a decadência de uma tra
dição intelectual.
Mas, se as tradições tém uma nítida
1 O ·pequeno mundo":
dimensão simbólica, têm igualmente
-
tradição e sociabilidade
uma dimensão organizacional: elas se
"institucionalizam" em lIma variedade
Alguns instrumentos analíticos se de loci de diferentes naturezas. Conhe
rão particularmente úteis a este estudo cer um certo meio intelectual em deter
que se enquadra no que hoje se denomi
minado momento e espaço implica
na uma história dos intelectuais.4 Antes
obrigatoriamente conhecer esta di
de tudo, a própria noção de intelectual,
mensão organizacional, que não é alea·
de contornos fluidos e que se transforma
tória aos significados contidos em uma
com o tempo, indicando dificuldades
dada interpretação da realidade social
que se traduzem na impossibilidade de
A linguagem mais conente utiliza o
uma defInição rígida. A opção, no caso,
termo "tede" para defmir 06 vinculas
foi adotar uma concepção mais restrita
que reúnem o "pequeno mundo" inte·
de intelectual, privilegiando a idéia do
lectual. A história dos intelectuais vem
produtor de bens simbólicos envolvido
consagrando o uso da noção de sociabi
direta ou indiretamente na arena polí
tica, o que caracteriza um nÚmero bem lidade.
mais limitado de indivíduos: un petit Instrumento analítico e/ou catego
monde étroit, na fórmula de Jean Paul ria histórica, a sociabilidade será aqui
6 tratada também em sentido mais estri
Sartre.
Este ''pequeno mundo", especializa to: como um conjunto de formas de
do nos processos de criação e transmis conviver com 06 pares, como um "domí·
são cultural, está sempre referido a ruo intermediário" entre a família e a
uma tradição intelectual ou como seu comunidade cívica obrigatória. As re
herdeiro ou como seu filho pródigo. Ou des de sociabilidade são entendidas as
seja, quer por vinculação, quer porrup sim como fOflllando um "grupo penna·
tura, os intelectuais estáo sempre liga nente ou temporário, qualquer que se
dos ao patrimônio de seus antecesso ja seu grau de institucionalização, no
res, ao uestoque" de trabalhos que inte· qual se escolha participar.» 7
ESSA GENTE DO RIO... 65
sileira dos Homens de Letra. de 1915, luviana, que ainda vive, por um mi-
. 1:l
de vida efêmera. Com certeza, é com a Iagro50 anacrOnismo...
referencia deste circuito de sociabilida
de intelectual que se orgaIÚza o Salão Já Manuel Bandeira, a quem se des-
.
dos Humoristas, onde Di Cavalcanti t·lnava em especla I a I
.
' arIO14
el tura de M'
expõe em 1916, antes de se transferir - admirador que era de Carruwal, pu
para S.Paulo e conhecer Oswald e Má blicado em 1919-narra de outra forma
rio de Andrade.12 o encontro e seus desdobramentos:
Mas este Rio tem também os seus
salões ligados a outros nomes, dentre Em 1921 veio Mário ao Rio e foi então
os quais cabe destacar Ribeiro Couto e que fiz conhecimento pessoal com o
Ronald de Carvalho. E na casa deste autor de Pauli.céia Desvairada (... ).
,
último e com as presenças de Manuel Não sei que impressão teria recebido
Bandeira, Sérgio Buarque de Holanda, da Paulicéia, se a houvesse lido em
Osvaldo Orico e Austregésilo de Ataí vez de a ouvir da boca do poeta. Mário
de, que Mário deAndrade fará a leitura dizia admiravelmente os seus poe
de Pauli.céia Desvairada em 1921. Co mas (...). (...) senti de pronto a força
mo este episódio pode ser lido como um do poeta e em muita coisa que escrevi
depois reconhecia a marca deixada
paradigma das relações entre intelec
por ele no meu modo de sentir e
tuais do Rio e São Paulo da época, vale
exprimir a poesia. Foi, me parece, a
a pena observá�lo de várias óticas.
última grande influência que recebi
Hélio., como assinava Menotti dei
(...). Grande influência, repito, e de
Picchia em sua coluna no Correio Pau
que eu tinha então clara consciência
listarw, descreve nestes termos essa
(...). O encontro em CAsa de Ronald de
viagem para o Rio: Carvalho prolongou·se numa amiza
de que se fortaleceu através de assí
Os paulistas, renovando as façanhas dua correspondência. Durante anos
dosseus maiores,reeditam. no século nenhum dos dois não escrevia poema
da gasolina, a epopéia das 'bandei que não submetesse à crítica do ou
ras'. Desta feita não partem elas para tro, e creio que esta dupla corrente de
o sertão ínvio e incerto, amarelo de juízos muito serviu à depuração de
lezíria., erriçado de setas. Os bandei nossos versos.15
rantes de hoje compram um leito no
turno de luxo e seguem, refestelados A rivalidade intelectual e política,
numa poltrona fpoolman', ardorosos
sem dúvida existente, não se exercita
e minazes, rumo da Capital Federal.
va sem o debate e não impedia o desen
Anteontem partiu para o Rio a pri
volvimento de sólidas "amizades inte
meira 'bandeira futurista'. Mário
lectuais"; uma sensibilidade formada
Moraes de Andrade - o papa do novo
por afetividade e cumplicidade de pro
Credo - Oswald de Andrade, o bispo,
jetos. O exemplo da correspondência
e Armando Pamplona, o apóstolo, fo
ram BI'I05tar o perigo de todas 85 entre Mário deAndrade e Manuel Ban
lanças (. .. ). deira é ilustrativo da importância des
(...) A façanha é ousada ! (...) a 'bandei te lugar de sociabilidade que prolonga
ra' futurista terá que afrontar os me va 05 encontros dos salões, das viagens
gatéri08, os bizontes, as renas da li e dos festivais,constituindo-se como no
teratura pátria, toda a fauna antedi- cotidiano da vivência intelectual, em
68 E511JDOS HISTÓRICOS - 1905111
temJX> que estas mesmas idéias come heróicos e não tão heróicos do
çam a ser "digeridas" por este ''pequeno modernismo no Rio.
mundo", donde o seu processo de multi
facetamento e a preocupação e missão Em 1942, na célebre Conferência do
dos modernistas realizarem, eles mes ltamarati, Mário de Andrade nos for
mos, a crítica de sua produção. Ou seja, nece uma vívida evocação do que era a
por um outro lado, as idéias modernis rede de sociabilidade modernista e de
tas que se divulgavam sofriam comple como os intelectuais circulavam pelo
xo processo de transfOI"mação interna, país e, assiln, faziam circular suas
produzindo.se como que umgap entre o idéias. O modernismo era feito de des
ritmo e 05 conteúdos do debate interno locamentos no espaço, no tempo, na
e o "ar do tempo" político-social mais mente. O modernismo era feito por
amplo. Em um outro sentido, este gap cada um e pelos grupos que se forma
se traduzia numa certa superposição vam e articulavam.
das idéias modernistas do "primeiro •
tempo" - que ganham o 'tgrande mundo" Salões, festivais, bailes célebres, se
- com as do ''segundo tempo" - que se manas passadas em grupo nas fazen
gestam e se enfrentam no ''pequeno das opulentas,semanas·santas pelas
mundo" -, domínio das disputas sinlbó cidades velhas de Minas, viagens pe
licas,mais do que das disputas políticas. lo Amazonas, pelo Nordeste, chega
Voltando ao ano de 1924 e voltando das à Bahia, passeios constantes ao
também aos ucuidados" de Manuel passado paulista, Sorocaba, Parna
Bandeira e Ribeiro Couto em seus con vaÍ, Itu ...(...). Doutrinários, na ebri
tatos tanto com a Semana quanto com dez de mil e uma teorias, salvando o
ESSA GENTE DO RIO... 71
ES11JOOS IIIS1'ORlCOS -
cionada e integrada por Alvaro Moreira, composição para não deixar dúvidas
organizou-se em agosto de 1933 e, em que a Sociedade tinha um projeto na
maio de 1934, lançou seu boletim/revis cional - muita divulgação e sócios cor
ta - Lanterna �rde -um dos mais respondentes em várias capitais -,
duradouros periódicos para os padn'jes conforme convinha a um grupo que se
da época. Será editado atéjulho de 1944, queria referência da intelectualidade
portanto cerca de dez anos, embora so brasileira e não apenas da carioca.
32
frendo alguns percalços. A trajetória FOl'mada como as academias, a So
desta Sociedade é extremamente peda- ciedade preenchia suas vagas por elei-
74 ESTIlDOS IIlSTÓRlCOS - 199311 1
ções, salvo a do sócio João Daudt d'Oli (1936), Raquel de Queiroz (1939), José
veira, substituído por seu filho ou des Lins do Rego (1941), Graciliano Ramos
cendente. Esta ressalva, prevista em (1942) e Lúcio Cardoso (1943). Um
artigo do estatuto, deixa claro o papel elenco que excluía os sócios por princí
da família que é, sem dúvida, a finan pio e que causava, anualmente, um
ciadora da Sociedade, uma vez que não grande número de comentários na im
há qualquer menção a fontes de recur prensa, em especial nas colunas e su·
sos e nem mesmo anúncios publicitá plementos literários. Um deles se tor
rios na Lan.terna ""rde. naria famoso, por integrar o jornal ofi
Não tendo os problemas financeiros cioso do Estado Novo - A Manhã -
tão COlnUIlS às iniciativas deste teor, a dirigido por Cassiano Ricardo. Autores
Sociedade Felipe d'Oliveira, além da e Liuros, organizado por Múcio Leão a
publicação de Lan.tern.a. ""rde, ocupa-se partir de 1941 e perdurando até setem
de uma série de outl"as atividades, todas bro de 1945, tem como objetivo princi
destinadas ao incentivo da produção in pal a produção e divulgação de uma
telectual, entendida como artística e verdadeira galeria de intelectuais da
científica. Desta fOrIna, previa-se a edi história cultural do país.
ção de autores brasileiros e da produção Já se perdia de vista, então, os tem·
do patrono, o que a casa editora Schmidt pos de luta do modernismo e a confe
em boa medida faria. Ofereciam-se prê rência de Mário de Andrade, em 1942,
mios e viagens de aperfeiçoamento; or no Itamarati, é bem um marco saudoso
ganizavam-se conferências, que eram dessa distância. A Academia, símbolo
34
publicadas na revísta, e, sobretudo, do passadismo, não era mais tão pas.
concerua-se um prêmio anual de litera sadista, nem seus sucedâneos tão aI·
tura que se torna conhecido por seu ternativos. Compreende-se bem as ra
valor financeiro e simbólico. Para se ter zões de tantas transform.ções e por
uma idéia mais precisa do que tal prê isso é possivel encerrar esta reflexão
mio significava, o depoimento de Ma com a palavra de Manuel Bandeira:
nuel Bandeira é primoroso.
Em 1940, aberta uma vaga na Aca
O ano de 1937 me trouxe o primeiro demia de Letras (... ), fui vísitado por
provento material que me valeu a três amigos acadêmicos - Ribeiro
poesia: os 5.000 cruzeiros do prêmio Couto, Múcio Ieão e Cassiano Ricar
da Sociedade Felipe d'Oliveira, da do, que vinham me convidar a que me
qual vim a fazer parte em 1942. Pa apresentasse candidato. (...) Só que
rece incrível, mas é verdade: aos 51 pedi dois dias para tomar uma deci
anos, nunca eu vira até aquela data são. De fato, não havia em mim pre
tanto dinheiro em minha mão. Por conceito antiacadêmico. Sempre me
isso, maior alvoroço me causaram pareceu que os que atacam a Acade
aqueles cinco contos do que os cin mia exageram enmmemente o que
quenta que me vieram depois, em possa haver de força conservadora
1946, como prêmio atribuído pelo numa Academia. (... ) Que poderia eu
Instituto Brasileiro de Educação e ter contra ela, (...) se a vira já acolher
35
Cultura. os três patrocinadores da minha
candidatura, dois dos quais haviam
Ao lado de Bandeira foram escolhi assumido posição saliente no movi
dos Gilberto Freire (1934), Vinícius de mento modernista? E não foram só
Moraes (1935), Lúcia Miguel Pereira esses: na Academiajá estavam, antes
ESSA GENTE DO RIO... 75
deles, Alceu Amoroso Lima e Gui in Renê Remond, POllr u.n.e histoire poli
llierme de Almeida, este um dos pro tiqu.e, Paris, Ed. du Seuil, 1988, p. 226.
motores da famigerada Semana de 3. Os textos mais específicos e impor
Arte Moderna, aquele um dos carre tantes a esse respeito são: José Murilo de
gadores entusiastas de Graça Ara Carvalho, "Aspectos históricos do pré-mo
nha na tarde de 19 de junho de 1924. dernismo brasileiro", em Sobre o pré-mo
Que poderia eu ter contra a Acade dernismo, Rio de Janeiro, FCRB , 1988, e
Maria Alice Rezende de Carvalho, ''Le
mia que em 38 premiara Cecilia Mei
tras, sociedade e política : imagens do Rio
reles pelo seu livro Vwgem, tão fora
de Janeiro", BIB, n� 20. Rio de Janeiro,
dos cânones acadêmicos(...). Os re
1985.
acionários da Academia são uns v&
4. Jean-François Sirinelli, "Le hasard
lliinhos amáveis que não fazem mal
ou la necessité? une histoire en chantier:
a ninguém: querem é sossego. Como
36 l'histoire des intellectuels", Vill.gtü'!me Sie
eu.
ele: Rêvue d'Histoire, n'! 9, jan-mai, 1986.
5. Idem, p. 103.
Por tudo que viemos sugerindo nes
6. A relação dos intelectuais com a tra
te texto, talvez seja possível encami
dição, bem como a noção de tradição inte
nhar a idéia de que o Rio de Janeiro foi
lectual estão desenvolvidas nos textos de
mais moderno que modernista, sem Eisenstadt, lIInteUectuals and tradition" e
deixar, contudo, de abrigar debates e E. Shils, "Intellectuals, tradition and the
toda uma diversificada produção artís tradition of intellectuals: some prelimi
tica que alterou e revigorou sua pró nary considerations", em DaedaluB, v.
pria tradição intelectual. Neste senti 101, nO 2, Spring 1972. Sobre as relações
do, destaca-se a figura de Manuel Ban entre traclição e modernismo há o insti
deira e destacaln-se também os inte gante texto de Silviano Santiago, "A per
lectuais católicos que lutaram "contra" manência do discurso da tradição no
Modernismo", em Nas malhas da letra,
e "dentro" deste movimento estética e
•
São Paulo, eia.das Letras, 1989 .
politicamente renovador. E evidente
que qualquer conclusão mais rermada 7. A noção de sociabilidade aqui consi
derada toma como referencial o trabalho
sobre o tema necessita de um traballio
de Maurice Agulhon, em especial, seu li
em profundidade com 05 vários perió
vro Pcnitenls et frw�C8-maçon8 de l'w,cien.
dicos e sociedades do período. Tal tra
ne Pl'ouence, Par is , Fayard, 1 968.
balho, longo e difícil, ainda está por ser
Segundo este autor a sociabilidade teria
feito, e só ele nos pellnitirá avançar um duplo sentido. Um mais amplo, envol
com segurança no mapeamento das vendo formas mais gerais de relações so
idéias que permeiam uma táo delicada ciais, e um mais restrito, referido a formas
rede de sociabilidade. específicas de convivência com os pares.
Para Agulhon a "sociabilidade moderna"
data do século XIX e é um fenômeno poli
tico ligado às idéias de civilização e de
democracia próprias ao contexto da época.
Notas Sociabilidade é vida social organizada, e
as associações as mais diversas sáo sua
forma privilegiada. Ver Maurice Agulhon,
1. Manuel Bandeira, ltil/.erário de Pa,.
"Depoimento", em Pierre Nora (org.), En
sárgada, em Poesia complete, e prosa, Rio
saios de ego-história, Lisboa, Direi, 1989,
de Janeiro, Nova Aguilar, 1983, p. 84.
e Michel Trebitsch, UAvant-propos: la cha
2. JaCXJ.ues Julliard, citado por Jean pene, le clan et le microcosme", em Ca,.
François Sirinelli em ''Les intellectuels", "ier. L'/HTP, n9 20, mai, 1992. Esta noção
76 ESTUDOS IIISTÓmCOS - 199311 1
tem larga tradição sociológica, sendo os 15. Manuel Bandeira, ltiner{vio ck Pev
nomes de Weber e Sim mel os mais desta· 'ÓJ'gnda, op.cit., p. 62-3.
cados. 16. Carta de Mário de Andrade a Ma
8. Quero ressaltar o artigo de Monica nuel Bandeira, s.d., 1922-1924.
Pimenta Vel loso, <lA cidade voyeur: o Rio
17. Sérgio Buarque de Holanda, em
de Janeiro visto pelos paulistas. . ,", Revis
1924 com 22 anos,já possuía um razoável
tudo Rio di! JOIwi.ro, Niterói, UFF, v. 1 , n�
trânsito entre a intelectualidade paulista,
4, 1986.
tendo escrito no Corre.io PCUl.listano ainda
9. Em 1921, na revista carioca Po,, em 1920.
POH, Sérgio Buarque de Holanda escreve
18. EsUitica: 1924/1925, edição facsimi
artigo onde diz que os "futuristas" de São
laOO; apresentação de Pedro Dantas, Rio
Paulo não se prendem a Marinetti (Pau
de Janeiro, GernasB, 1974. Sobre a revista
FOI> 10.12.1921). Silviano Santiago ob
ver Maria Marta Martins de Aralijo, Uma
-
10. Sobre a boemia carioca ver o livro de dos modernizar, nacionalizar, universali
Isabel Lustosa, Brasil pelo 11/Ã,.:lodo confuso: zar o espírito brasileiro".
humor e. lxxull,ia ('JH Mcudc8 Pradiqu.e, Rio
19. Idem.
de Janeiro, Bertrand, 1993, capo I e lI.
20. Dois textos podem ser citados em
11. Sobre esses loci de sociabilidade ver
o Calti('rs L'UI'l'P, oI! 20, já citado.
especial: João Luiz Lafetá. ''Estética e
ideologia : o modernismo em 1930'\ Argu
12. Aorganização dos Salões de Humor
. . , meJLto, Rio de Janeiro, Paz e Terra, ano 1 ,
ou dos Humoristas mereceria por SI so um
nl? 2, 1973, e Eduardo Jardim, ''Modernis
estudo, pois é sem dúvida wn lugar de
mo revisitado", Estudos HislÓl'icD.i , São
sociabilidade esclarecedor para as carac
Paulo, Vértice, n? 2, 1988.
terísticas da produção da int.electualidade
carioca nos anos 10 e 20. 2 1 . Mário de Camarinha da Silva,
"Glossário de homens e coisas de Estética
13. Hélios, "A bandeira futurista", Cor
(!924/1925)", Estética, edição facsimilada,
ndo Pn./LlistOlUJ, 22.10.1922, citado por
op.cit., p. XIX. Lasar Segall radicara-se
Mário da Silva Brito, Hislória do moder
no Brasil em 1923 e Noví8sima., revista
uismo brasiLeiro; anlL'CClule,,[a da. S(�m(Jr
dirigida por Cassiano Ricardo, organiza
na.deAl'te Mcxkrna., 4� ed., Rio de Janeiro,
ra-se em dezembro deste mesmo ano. So
Civ. Brasileira, 1974, p. 316-7.
bre as relações do modernismo com a
14. ( ... ) quando fui ao Rio ler Paulicéia,
"
tradição ver o texto de Silviano Santiago
fui ler pro homem que tinha escrito Os já citado.
Sapos, /Jt!.bussy e A SeJ'cia de LeU(UL, pala
22. Jean-François Sirinelli, ''Les inteI
vra. Os outros ... basta dizer que não tinha
lectuels", op.cit., p. 228-30.
lido ainda Ronald nem Álvaro Moreira".
Carta de Mário de Andrade a Manuel 23. Carta de Mário de Andrade a Ma
Bandeira em 1925, citada por Tania Pa nuel Bandeira em 20.11.1924, citada por
checo, O/feu extâ.tico cntre as m.etrópoles: Tania Pacheco, op.cit. (grifos meus).
a COJ'1'C�po1tdêlLcia. de M{u';o de A1Idrade a 24. Idem.
MQJw,cl D(mckil'rI-, Rio de Janeiro, UFF,
25. Maria Marta Martins Araújo,
1993 (mimeo). As referências a esta cor
op.cit.
respondência, bem como à sua importân
cia como lugar de sociabilidade entre 26. Manuel Bandeira, ltiu.el'ário de Par
cariocas e paulistas, devem-se basicamen scJrgadu, op.cit., p. 76-7.
te a este trabalho. 27. Idem, p. 77.
ESSA GENTE DO RIO... 77