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REVISÃO UEM 2022 Joaquim Prestes e José, um de seus empregados.

O
LITERATURA – PROF. MARCO ANTONIO MENDONÇA mandonismo de Joaquim Prestes não se detém nem
CONTOS NOVOS – MÁRIO DE ANDRADE (1ª E 2ª mesmo diante do motivo fútil de sua fúria: tendo caído sua
GERAÇÕES MODERNISTAS) canetatinteiro em um poço da fazenda, exige que um dos
01. (UEM) Assinale o que for correto a respeito de Contos peões, mais leve e fraco (Albino, irmão de José), seja
Novos, de Mário de Andrade. descido pelo balde e chafurde no frio do fundo do poço
01) No conto Primeiro de maio, o narrador-protagonista é para encontrá-la, com enormes riscos para sua frágil saúde.
um vigia que trabalha na Estação da Luz e, em um primeiro O recuo do patrão só se dá quando percebe que José está
de maio, dia do trabalhador, sai às ruas para lutar por no limite da opressão suportável.
melhores condições de trabalho. Procura conscientizar seus 02) Em “1º de maio”, Mário de Andrade usa de ironia para
colegas de trabalho, mas isso será em vão. Ele acaba falar de um trabalhador-padrão (conhecido como Chapinha
rodando por São Paulo atrás de comícios e de eventos onde 35) que não quer se meter em encrenca ou arruaça. Pelo
pudesse expressar livremente suas insatisfações, contrário, ele se dirige à passeata para mostrar seu
encontrando terreno fértil para isso. Trata-se de um descontentamento com ela. Ele é um personagem que sabe
personagem que possui elevada consciência de classe. bem o que quer e acredita na meritocracia, no trabalho
02) Apesar da diferença entre os contos, pode-se encontrar duro e nas instituições nacionais. Não se vê como parte de
uma unidade pela presença constante da personagem Rose um coletivo, mas como indivíduo que deve pensar em seu
em todos eles. Normalmente, ela ocupa papel de destaque próprio desenvolvimento sem se envolver com questões
na trama desses contos, sendo decisiva para a sua políticas. Por isso, resulta em um personagem reacionário e
organização interna e também para a articulação entre anticomunista.
eles. 04) “O peru de Natal” é um dos contos mais famosos da
04) Em O poço, está em questão a relação de poder entre o literatura brasileira. Seu assunto principal é o embate entre
velho, riquíssimo e autoritário fazendeiro Joaquim Prestes e um pai castrador, agora morto, que não permitia arroubo
alguns de seus empregados. Apesar de ser a materialização sentimental algum ou manifestação de alegria ou volúpia, e
da autoridade no conto, o conflito principal se estabelece seu filho Juca, que quer mudar esse quadro. Após a morte
justamente quando os fracos empregados o enfrentam. do pai, o primeiro Natal em família gira em torno
Primeiro, um deles se demite ante a exigência de continuar justamente da entrega aos prazeres materiais,
o trabalho de secar o poço, abalando a posição de mando e representada pelo suculento peru a ser devorado apenas
de controle absoluto de Joaquim Prestes. Depois, vê-se o pelos integrantes da família nuclear. O embate será travado
seu enfrentamento direto com José, o qual afirma que seu entre o peru (que tem Juca como defensor) e a presença
irmão Albino não mais desceria ao poço. Em uma luta etérea, ascética e moralista do pai, que terá o peru como
muda, mas eloquente, Joaquim Prestes cede e se vai, vencedor.
desnorteado. O conto, assim, questiona estruturas de 08) Os contos de Mário de Andrade da coletânea Contos
poder. Novos, publicada postumamente em 1946, formam,
08) Frederico Paciência é um conto que trata da amizade quando tomados em conjunto, uma ligação direta com
sem qualquer conotação amorosa ou sexual. Não há, no Macunaíma, de 1928. Assim como em Macunaíma, em
conto, passagem alguma que aluda a uma relação ou a um Contos Novos predominam o uso da alegoria, a forma da
sentimento homossexual entre o narrador e Frederico. paródia e um amplo espectro social, histórico e espacial,
Mário de Andrade mostra a maledicência alheia ante uma características que colocam em movimento crítico a
amizade tão pura e ingênua. história da formação do Brasil. Além disso, trabalha com a
16) No núcleo da trama de O peru de natal, estão algumas crise dos anos 1930, que já está, de alguma forma,
questões típicas de uma família burguesa. Diferentemente anunciada em Macunaíma.
de outros contos da coletânea, portanto, o contexto não é 16) “Frederico Paciência” é um conto no qual a questão da
mais coletivo ou social, mas privado. Isso não diminui a descoberta da homossexualidade é tratada de forma
força e o interesse do conto: após a morte de um pai “de profunda e sem preconceitos, abrindo espaço para o
natureza cinzenta”, que cobrava de todos uma vida diálogo e a reflexão. O conto passa pelos desdobramentos
material austera e relações pessoais frias, o narrador (um psicológicos e sociais relativos à discussão em torno do
dos filhos) resolve mudá-las. Isso leva a uma saborosa e amor homoerótico. Sem que seja panfletário ou piegas,
farta ceia de natal, que promove o conflito entre os dois consegue estabelecer um lugar especial na literatura
mortos do conto, o peru e o pai. Com astúcia, o filho brasileira sobre essa temática complexa.
consegue fazer do pai uma “estrelinha no céu”; e o peru,
com seu apelo ao festejo da vida e das coisas materiais, 03. (UEM 2021) Sobre Contos novos, de Mário de Andrade
vence a disputa. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011), assinale o que for
correto.
02. (UEM) Sobre Contos Novos, de Mário de Andrade, 01) Nos contos que compõem a obra, embora convivam
assinale o que for correto. imaginação e memória, experimentalismo de 22 e
01) No conto “O poço” são narrados o surgimento e o amadurecimento da segunda geração modernista, não há
desenrolar de um confronto inesperado entre o patrão conteúdo social, crítico e histórico. Revolta e violência
marcam a inadaptação das personagens ao mundo no qual terceira pessoa e se utiliza também do discurso indireto
se encontram inseridas. livre. Esse tipo de discurso é uma estratégia narrativa que
02) O conflito de “O poço” é estabelecido quando o permite aproximar a voz do narrador à voz da personagem,
empregado José ousa enfrentar Joaquim Prestes, o dando a impressão de que falam a partir de uma mesma
fazendeiro autoritário. O narrador de terceira pessoa perspectiva. É o que se pode verificar, mais
confunde sua voz com a voz da personagem ao utilizar o especificamente, na seguinte sequência da narrativa: “Não
recurso do discurso indireto livre, como no excerto: “[...] era medo, mas por que que a gente havia de ficar
Joaquim Prestes, agora que o vigia afirmara que não dava encurralado assim!
peixe, tinha embirrado, havia de mostrar que, no pesqueiro É! é pra eles depois poderem cair em cima da gente,
dele, dava. Depois, que Diabo! os camaradas haviam de (palavrão)! Não vou! não sou besta! Quer dizer: vou sim!
secar o poço, uns palermas! Estava numa cólera desaforo! (palavrão) ...”
desesperada” (p. 83). 02) No fragmento transcrito, a atitude do protagonista de
04) Em “O Peru de Natal”, a rememoração da figura do pai, vestir-se também com as cores da bandeira brasileira é, em
já falecido, instala uma disputa entre a imagem paterna e o alguma medida, ridicularizada pelo narrador. A expressão
peru assado, iguaria central da ceia de Natal. A lembrança “estava lindo” aponta certa simpatia do narrador pelo
da personalidade do genitor, descrita como autoritária pelo protagonista, por causa de sua (do personagem) concepção
protagonista, perde força à medida que Juca enaltece as pura e inocente de patriotismo. Mas também se percebe aí,
qualidades do prato. Quando a mãe se recorda do marido, e em outras passagens do conto, certo tom de ironia, pela
afirmando o desejo de que ele estivesse presente naquele concepção acrítica de nacionalismo que move os passos do
momento, Juca, dissimuladamente, toma o partido do pai: “35”.
“E nem sei que inspiração genial de repente me tornou 04) A postura do narrador é condenar sistematicamente, e
hipócrita e político” (p. 96). com veemência, o comportamento anarquista e rebelde do
08) Em “Vestida de preto”, o narrador utiliza um processo protagonista, o “35”, o que torna clara a antipatia do
metalinguístico quando afirma não ter certeza se a sua narrador por ele. A morte do “35”, durante um motim, no
narrativa pode ser considerada um conto. Introspecção e final do conto, atesta uma espécie de condenação por suas
análise estão presentes no texto. Evocando lembranças e atitudes violentas.
sentimentos, principalmente da infância e da adolescência, 08) A trajetória do protagonista, em termos ideológicos, é
Juca chega à conclusão de que há quatro amores que o marcada pela incoerência e pela falta de caráter. Apesar de
acompanham na vida e que fazem dele um falso solitário. ele se vestir com as cores da bandeira para celebrar o dia
16) Defendendo o purismo da língua portuguesa, o conto do trabalhador, acaba por se aliar aos grupos de esquerda
“Primeiro de maio” focaliza uma grande festa do dia do com o objetivo de fazer oposição ao governo: organizando
trabalho, na capital paulista, da qual Juca anseia por motins para tumultuar as comemorações cívicas, vaiando
participar. À tarde, ele volta contente para a Estação da Luz, os discursos das autoridades, promovendo, enfim, a
onde exerce a função de vendedor de passagens. baderna.
16) Mário de Andrade empresta ao protagonista do conto a
04. (UEM) Leia o fragmento a seguir, retirado do conto mesma lógica da construção do “herói sem nenhum
“Primeiro de maio”, integrante da coletânea Contos novos caráter” retratado em Macunaíma (1928), em que a
(1946), de Mário de Andrade, e assinale o que for correto preguiça, o deboche, a irreverência, a malandragem, a
sobre o fragmento e sobre o conto ao qual ele pertence. sensualidade, o individualismo e o sentimentalismo
“Afinal o 35 saiu, estava lindo. Com a roupa preta de luxo, justificam a dificuldade de enquadrá-lo ou classificá-lo de
um nó errado na gravata verde com listinhas brancas e acordo com um “caráter” ou característica específica.
aqueles admiráveis sapatos de pelica amarela que não
pudera sem comprar. O verde da gravata, o amarelo dos 05. (UEM 2020) Sobre Contos novos, de Mário de Andrade
sapatos, bandeira brasileira, tempos de grupo escolar... E o (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011), assinale o que for
35 comoveu num hausto forte, querendo bem o seu imenso correto.
Brasil, imenso colosso gigan-ante, foi andando depressa, 01) Nos contos que compõem a obra, embora convivam
assobiando. Mas parou de sopetão e se orientou assustado. imaginação e memória, experimentalismo de 22 e
O caminho não era aquele, aquele era o caminho do amadurecimento da segunda geração modernista, não há
trabalho.” conteúdo social, crítico e histórico. Revolta e violência
Vocabulário marcam a inadaptação das personagens ao mundo no qual
Hausto – sorvo, aspiração. se encontram inseridas.
Gigan-ante – trata-se de uma paródia de Mário de Andrade 02) O conflito de “O poço” é estabelecido quando o
para referir-se à divisão enfática da palavra ao se cantar o empregado José ousa enfrentar Joaquim Prestes, o
hino À mocidade acadêmica, ensinado nas escolas da fazendeiro autoritário. O narrador de terceira pessoa
época. confunde sua voz com a voz da personagem ao utilizar o
01) O conto, que se ocupa da história de um carregador da recurso do discurso indireto livre, como no excerto: “[...]
Estação da Luz dividido entre o nacionalismo cego e o Joaquim Prestes, agora que o vigia afirmara que não dava
inconformismo com a situação do país, é narrado em peixe, tinha embirrado, havia de mostrar que, no pesqueiro
dele, dava. Depois, que Diabo! os camaradas haviam de tentativas do narrador em maculá-la, trazendo à tona
secar o poço, uns palermas! Estava numa cólera condutas que concorriam para desaboná-la.
desesperada” (p. 83). 08) A presença do pai nas ceias de Natal em família poderia
04) Em “O Peru de Natal”, a rememoração da figura do pai, ser interpretada como alicerçada nos fundamentos do
já falecido, instala uma disputa entre a imagem paterna e o tradicional espírito natalino, em que mais importantes do
peru assado, iguaria central da ceia de Natal. A lembrança que a mesa farta são os valores éticos e morais a serem
da personalidade do genitor, descrita como autoritária pelo estimulados nos convivas.
protagonista, perde força à medida que Juca enaltece as 16) O narrador-protagonista revela à família, a pretexto de
qualidades do prato. Quando a mãe se recorda do marido, sua fama de louco, o ambiente de hipocrisia em que
afirmando o desejo de que ele estivesse presente naquele estiveram mergulhados até a morte do pai. Ao praticar a
momento, Juca, dissimuladamente, toma o partido do pai: solidariedade familiar e externar o afeto em gestos simples,
“E nem sei que inspiração genial de repente me tornou como o de servir as mulheres (acostumadas a servir os
hipócrita e político” (p. 96). outros), ele desnuda os clichês socioculturais que lhes
08) Em “Vestida de preto”, o narrador utiliza um processo marcavam as relações.
metalinguístico quando afirma não ter certeza se a sua
narrativa pode ser considerada um conto. Introspecção e 07. (UEM 2017) Assinale o que for correto em relação ao
análise estão presentes no texto. Evocando lembranças e conto “Vestida de Preto”, do livro Contos novos, de Mário
sentimentos, principalmente da infância e da adolescência, de Andrade.
Juca chega à conclusão de que há quatro amores que o “Me batera, súbito, aquela vontade irritada de saber, me
acompanham na vida e que fazem dele um falso solitário. tornara estudiosíssimo. Era mesmo uma impaciência
16) Defendendo o purismo da língua portuguesa, o conto raivosa, que me fazia devorar bibliotecas, sem nenhuma
“Primeiro de maio” focaliza uma grande festa do dia do orientação. Mas brilhava, fazia conferências empoladas em
trabalho, na capital paulista, da qual Juca anseia por sociedadinhas de rapazes, tinha ideias que assustavam todo
participar. À tarde, ele volta contente para a Estação da Luz, o mundo. E todos principiavam maldando que eu era muito
onde exerce a função de vendedor de passagens. inteligente mas perigoso” (ANDRADE, 2011, p. 21).
01) O fragmento acima indica o momento de
06. (UEM 2018) Considerando o conto “Peru de Natal”, de transformação na vida de Frederico Paciência. Após ver sua
Mário de Andrade, e o fragmento a seguir, dele retirado, mãe vestida de preto, ele resolve estudar para ascender
assinale o que for correto. socialmente.
“O nosso primeiro natal de família, depois da morte de 02) Apesar de o narrador do conto dizer que a vontade de
meu pai acontecida cinco meses antes, foi de estudar surgira repentinamente, ela é despertada porque
consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós ficara no inconsciente de Juca o que Maria, na varanda,
sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito dissera para todos ouvirem: “Não me caso com bombeado”
abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem (ANDRADE, 2011, p. 20). De certa maneira, estudar é uma
brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, forma de ser aceito por Maria.
devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser 04) Juca, por sua inocência excessiva, não consegue
desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade entender os sinais que Maria lhe dá de sua paixão. Assim,
incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara ele resolve esquecê-la após, aparentemente, ter sido
aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas rejeitado por ela no quarto, quando brincavam de família
felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de encostados no mesmo travesseiro.
águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de 08) O narrador, embora apele para as memórias de sua
um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos amiga de infância e adolescência, tem a plena certeza de
desmancha-prazeres.” (ANDRADE, M. Contos novos. Rio de que escreve um conto. Por isso, ele afirma, no início da
Janeiro: Nova Fronteira, 2011, p. 91.) narrativa, o caráter fantasioso de sua história.
01) O conto focaliza a superação do luto de uma família em 16) O narrador revela que Maria se tornou uma mulher
razão da morte de seu patriarca. Isso ocorre por meio da namoradeira, chegando a usar a expressão “Namorava com
atuação do filho, considerado o louco da família, que Deus e todo mundo [...]” (ANDRADE, 2011 p. 21). No
reinventa o modelo familiar de comemoração do Natal: no entanto, ela sempre despertou em Juca sentimentos de
lugar do roteiro tradicional (presença opressora do pai, “perfeição”, o que o impediu de consumar uma junção
castanhas, figos, passas e Missa do Galo), acontece uma carnal com ela.
ceia farta com generosas fatias de peru servidas com todas
as honras às mulheres da casa. GABARITO
01. 04+16
02) O narrador, no fragmento, refere-se ao “sentido muito 02. 01+04+16
abstrato de felicidade” vivenciado pela família enquanto o 03. 02+04+08
04. 01+02
pai era vivo. Ele não pretende dar continuidade a esse 05. 02+04+08
sentido, nem permitir que a sua família o perpetue. 06. 01+02+16
07. 02+16
04) A memória do pai morto cinco meses antes é
solenemente cultuada durante a ceia de Natal, apesar das

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