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PRÓ-TEMÁTICO CAMPO MOURÃO

PROF. MARCO ANTONIO MENDONÇA

LEI DO FEMINICÍDIO COMPLETA 8 ANOS EM 2023


No Brasil, a Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15) foi publicada em 9 de março de 2015. A Lei trouxe para o Código Penal uma
nova modalidade de homicídio qualificado, o feminicídio. Também foi alterada a Lei dos Crimes Hediondos (1990), com a
inclusão do feminicídio.
De acordo com o art. 121, inciso VI, do Código Penal, o feminicídio ocorre quando o homicídio é praticado "contra a mulher
por razões da condição de sexo feminino". O parágrafo segundo do referido artigo do complementa o supracitado inciso ao
preceituar que "há razões de condição de sexo feminino" quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar (o art. 5º da Lei nº 11.340/06 enumera o que é considerado pela lei violência doméstica);
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Histórico
Com os compromissos firmados internacionalmente pelos países da américa latina, sobretudo a Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, foi criado um contínuo de legislações no ordenamento jurídico
brasileiro que iniciou-se com a lei Maria da Penha, publicada em 2006, e que resultou na inclusão da qualificadora do crime de
homicídio com a publicação da lei do feminicídio em 2015.
Inicialmente, seria apresentado como o homicídio por "razões de gênero", na qual foi substituída por "condição de sexo
feminino" através de um substitutivo apresentado na Comissão de Constituição e Justiça, após pressões de grupos religiosos e
conservadores. Dessa forma, há controvérsias sobre se a qualificadora do feminicídio se aplica a transexuais, sendo três critérios
avaliativos:
 o psicológico, que argumenta que deve ser desconsiderado o critério biológico para definir alguém como mulher, sendo
que a morte de uma pessoa que se identifica como mulher ou que fez cirurgia de redesignação de gênero pode ser
considerado como feminicídio;
 o jurídico cível, no qual deve ser considerado o que consta no registro civil, ou seja, se houver decisão judicial para a
alteração do registro de nascimento, alterando o sexo para feminino e esta for morta nas condições previstas pela lei,
será considerado como feminicídio, sendo este um critério puramente jurídico;
 e o critério biológico, no qual identifica como mulher apenas em sua concepção genética ou cromossômica, ou seja,
mesmo com cirurgia de redesignação de gênero, a morte nas condições previstas pela lei não se considera como
feminicídio, sendo considerado apenas sua condição biológica.

Elementos qualificadores
Tendo em vista que a qualificadora do feminicídio tem como objetivo coibir o resultado mais extremado de um contínuo de
violência calcada no machismo e na discrepância entre as relações de poder entre os gêneros, se torna essencial diferenciar esse
tipo de delito do homicídio contra mulheres cometidos por motivos diversos.
Logo, não basta o sujeito passivo do crime (vítima) de feminicídio ser mulher para que se aplique a qualificadora. Para que isso
ocorra, é necessário que estejam presentes na situação típica o menosprezo ou discriminação à condição de mulher
e/ou violência doméstica, que são as exigibilidades colocadas pela letra da lei na expressão “razões de condição de sexo
feminino”.
Violência doméstica e familiar: ao recorrer-se ao ordenamento jurídico brasileiro, encontramos na Lei Maria da Penha a
definição de violência doméstica e familiar em seu artigo 5º, qual seja, “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”. Além disso, deve acontecer no âmbito
da unidade doméstica, da família, ou em qualquer relação íntima de afeto, como é colocado nos incisos I a III do artigo
anteriormente citado.
Menosprezo ou discriminação da mulher: nesta segunda forma de feminicídio, encontra-se presente no crime o menosprezo
pela condição de mulher, além de formas de discriminação que foram conceituadas na Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, da qual o Brasil é Estado signatário, da seguinte forma:
Art. 1º: Toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento,
gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e
liberdades fundamentais nos campos político econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo..............................................(NR)

Texto da lei Art. 121. .....................................................................................


O texto da lei é curto, possuindo apenas três artigos, Homicídio qualificado
reproduzidos integralmente abaixo. A seguir está o trecho que § 2º .............................................................................................
modifica o Código Penal: Feminicídio
Art. 1º O art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
1940 - Código Penal, passa a vigorar com a seguinte redação: .....................................................................................................
“Homicídio simples
§ 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.”
quando o crime envolve: (NR)
I - violência doméstica e familiar; E, por fim, o trecho que modifica a Lei dos Crimes Hediondos:
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Art. 2º O art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a
.............................................................................................. vigorar com a seguinte alteração:
Aumento de pena “Art. 1º .........................................................................
.............................................................................................. I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e
metade se o crime for praticado: homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V e VI);
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; ...................................................................................” (NR)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 O terceiro e último artigo afirma que a lei entra em vigor na data
(sessenta) anos ou com deficiência; da sua publicação.

TEXTO 1) Brasil vive retrocesso no combate à violência contra as mulheres (Bárbara Nór - 02/02/2023)
O mais urgente é reconstruir políticas que permitiam interromper a violência doméstica antes que ela chegue ao feminicídio, diz
a professora Ana Diniz
No ano passado, o Brasil bateu um triste recorde: o maior número de feminicídios já registrado em um semestre. De acordo
com dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública no fim de 2022, foram 699 casos nos seis primeiros meses do
ano, uma média de quatro mulheres assassinadas por dia. O aumento foi de 10,8% em relação a 2019 e de 3,2% em relação ao
mesmo período de 2021.
O cenário, diz Ana Diniz, professora e pesquisadora no Insper, onde coordena o Núcleo de Estudos sobre Diversidade e
Inclusão no Trabalho, é “alarmante”. Ao mesmo tempo em que batemos recorde de violência, a verba do governo federal para o
combate à violência contra a mulher teve uma redução de 90%.
“O Brasil é um dos países em que as mulheres mais morrem e sofrem diversas violências, especialmente a violência doméstica
ou intrafamiliar”, observa Ana Diniz. Na maioria dos casos, ela aponta, a violência é cometida por maridos, namorados e ex-
parceiros, ou, ainda, por pais e irmãos. “Essa violência pode incluir ameaças, reprimendas, redução do espaço e culminar em
ações materiais e até a violência física.”
O feminicídio é a ponta do que de fato acontece em muitos relacionamentos, que tendem a repetir um padrão. Eles começam
com a chamada “fase da lua de mel”, quando o parceiro é carinhoso e presente, até o começo das primeiras agressões. Depois
disso, há o “arrependimento”, explica Ana, seguido de mais ciclos de violência que vão se intensificando. “O parceiro pede
desculpas, diz que não vai se repetir, e volta para a lua de mel, e assim vai em uma espiral, até que se chegue à morte”, ela diz.
“Essa é uma característica importante a ser destacada porque há possibilidades de interromper esse ciclo no curso.”
Veja mais na entrevista a seguir.
Professora Ana Diniz: “A violência é uma questão pública”
No Brasil, a maior parte dos feminicídios é cometida por homens próximos à vítima, como ex-maridos e parceiros. Como
enfrentar esse problema?
Primeiro, é preciso compreender que o fenômeno da violência não é privado, mas uma questão pública. Também precisamos
entender que ciúmes e agressões não são atos de “amor”. É importante não normalizar essas agressões e não as considerar
como problema íntimo. É isso que queremos dizer com a frase “em briga de marido e mulher se mete a colher, sim”, que tenta
mostrar a importância de nos responsabilizarmos coletivamente por interromper o ciclo de violência. Um dos casos mais
famosos de feminicídio, quando a Ângela Diniz [socialite brasileira morta em 1976] foi assassinada pelo seu então companheiro,
é um exemplo dessa naturalização. Seu companheiro [o empresário Raul “Doca” Street] era um réu confesso e teve seu primeiro
julgamento direcionado pela tese de que ele havia agido em legítima defesa da própria honra.
Algo que ouvimos com frequência é o fato de que as vítimas são culpadas pela violência que sofreram.
Sim, existe uma estigmatização muito grande. As mulheres são muitas vezes “culpadas” pela violência que sofrem. Tem outra
questão importante a destacar que é o fato de que, em uma sociedade patriarcal, o homem muitas vezes se relaciona com a
companheira e os filhos como se fossem sua propriedade. Não à toa, temos visto nos últimos anos muitos casos de feminicídio
acompanhados de infanticídio — o homem mata tanto a esposa quanto os filhos. Isso faz parte da complexidade desse
fenômeno. Mas pesquisas na área da Psicologia mostram que são muitos os motivos que levam a mulher a se manter em uma
relação abusiva. Antes, se achava que era apenas a dependência financeira que mantinha a mulher em uma relação abusiva.
Mas a violência doméstica é um problema que atravessa as diferentes classes.
Como o Brasil vem avançando no combate à violência contra a mulher nos últimos anos?
Em 1985, com a luta feminista, começamos a criar as primeiras estruturas específicas para isso, como as delegacias
especializadas de atendimento à mulher. Em 2006, tivemos um marco importante, que é a Lei Maria da Penha, que levou à
institucionalização de uma série de serviços e estruturas para lidar com a problemática da violência. Ela é considerada uma lei
sofisticada e um dos arcabouços legais mais avançados no combate contra o feminicídio do mundo. Esses serviços também
foram concretizados pelo chamado Pacto Nacional pelo Enfrentamento da Violência contra as Mulheres, de 2007, que
descentralizou as ações e fez um acordo federativo entre o governo federal e os governos dos estados e municípios brasileiros. É
quando surgiu a Casa da Mulher brasileira, por exemplo, que oferece serviços especializados para mulheres que sofrem
violência, como acolhimento, apoio psicossocial e delegacia, entre outros. Mas a violência é algo estrutural que impacta a
sociedade brasileira de forma muito intensa. Nossos indicadores de mortes e agressões de mulheres são absolutamente
alarmantes e se agravam desde 2018 e, em especial, na pandemia. A luta é também por fazer entender a relevância, a
complexidade e o caráter público desse problema.
Por que nossos indicadores vêm piorando?
Se entendemos que a violência doméstica é a forma mais recorrente de violência contra as mulheres no Brasil, o cenário da
pandemia piorou bastante as condições de vida. As medidas que obrigavam o isolamento acabaram também acirrando as
tensões e dificultando que as mulheres saíssem de casa, então a pandemia pode ter contribuído para esse agravamento. Mas
tivemos também nos últimos anos um retrocesso no nosso aparato institucional. As políticas para mulheres e de enfrentamento
à violência contra a mulher de forma geral sofreram muito com os cortes que o governo realizou no orçamento. O Ministério das
Mulheres teve uma redução expressiva dos recursos para todas as áreas, incluindo o enfrentamento da violência. Para 2023, o
corte previsto foi ainda maior. A Casa da Mulher Brasileira, por exemplo, que é um dos equipamentos fundamentais teve um
corte de 89 milhões para 43,28 milhões entre 2020 e 2022 — e desde 2019 esse recurso praticamente não tem sido executado.
Ou seja, ele é destinado, mas não é usado na prática.
Esse aumento no número de feminicídios poderia também dizer respeito a mais mortes sendo classificadas dessa forma ou
de fato mais mulheres estão morrendo?
Temos uma carência de protocolos para a construção de dados mais robustos sobre a violência contra as mulheres de maneira
geral. Mas temos também uma grande subnotificação em relação às formas de violência que precedem o homicídio. A rede que
ampara as mulheres é muitas vezes pouco integrada, o que faz que a mulher tenha que percorrer uma rota tortuosa para ter
acesso a serviços e ter seu caso endereçado, muitas vezes tendo que reviver a violência várias vezes. Isso leva a uma baixa
procura e a uma deficiência no acesso a esses serviços, fora todo o estigma em torno da violência que também já dificulta a
busca por ajuda. Então, temos um cenário de muita subnotificação. Embora os números sejam já alarmantes, sabemos que eles
não refletem a realidade e estão abaixo do que de fato acontece.
O que seria preciso fazer para combater esse problema de forma mais efetiva?
Tratar o problema da violência exige uma articulação de diferentes setores dentro da estrutura e administração pública para
garantir que o problema seja respondido em sua complexidade. A saúde, a justiça, segurança pública e até educação estão
envolvidas no leque de ações nos diferentes níveis federativos da União. É preciso construir caminhos para tirar as mulheres
dessa situação de forma coordenada. Isso envolve, inclusive, educação para identificar situações de violência, assim como
educar homens para relações não violentas. O mais urgente é reconstruir políticas que de fato permitam que a gente
interrompa a violência doméstica antes que ela chegue ao homicídio. Para isso, precisamos atender essas mulheres, nos
comunicarmos com elas e garantir que elas saibam onde acessar esses serviços. É importante também considerar a
interseccionalidade que atravessa o problema. Mesmo que a questão da violência atravesse todas as mulheres, a
interseccionalidade traz características peculiares que precisam ser levadas em conta, como questões de classe e de raça, assim
como o nível de acesso a serviços e apoio.
FONTE: https://www.insper.edu.br/noticias/brasil-vive-retrocesso-no-combate-a-violencia-contra-as-mulheres/

TEXTO 2) Brasil registra mais de 50 mil casos de violência contra mulher por dia em 2022 (Cidades - Letícia Dauer, do R7 -
02/03/2023)
Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 18,6 milhões sofreram violência física, psicológica ou sexual
Mais de 18,6 milhões de brasileiras sofreram violência física, psicológica ou sexual em 2022. São 50.962 casos por dia. Os
dados alarmantes são da quarta edição da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, produzida pelo
FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e pelo Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (2).
De acordo com o levantamento, todas as formas de violência contra a mulher apresentaram crescimento acentuado no último
ano, com destaque para violência física e ameaças graves com armas brancas e de fogo. Entre 9 e 13 de janeiro deste ano, os
pesquisadores ouviram 2.017 entrevistadas de 16 anos ou mais em 126 municípios espalhados pelo país.
A pesquisa mostra que 28,9% das mulheres relataram ter sido vítima de algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12
meses; é o maior número registrado na série histórica do FBSP. Em relação ao último levantamento realizado, o crescimento foi
de 4,5 pontos percentuais, o que revela um agravamento das violências sofridas pelas brasileiras.
A falta de investimento dos recursos orçamentários destinados ao enfrentamento da violência contra a mulher pelo governo
federal, as restrições ao funcionamento de serviços de acolhimento em razão da pandemia e o avanço dos movimentos
ultraconservadores foram apontados como os principais fatores que levaram ao agravamento desse cenário.
Segundo Juliana Martins, coordenadora institucional do FBSP e doutora em psicologia escolar e desenvolvimento humano, a
questão da violência contra a mulher é complexa e multicausal, por isso é necessário considerar todos esses elementos.
Para Martins, embora os dados de feminicídios e homicídios dolosos de mulheres em 2022 ainda não estejam disponíveis,
essas categorias também devem sofrer incremento.
Violência física e ameaças graves
As ofensas verbais (23,1%), a perseguição (13,5%) e as ameaças (12,4%) foram as formas de violência citadas com mais
frequência pelas entrevistadas. Entretanto, é importante destacar o aumento acentuado da violência física e ameaças graves,
que podem terminar em morte.
A pesquisa realizada neste ano mostrou crescimento de 3,1% para 5,1% de ameaças perpetradas com faca ou arma de fogo em
comparação com 2021. Nos últimos três anos, o país também bateu recordes de registros de armas, impulsionados pela
flexibilização das leis para porte e aquisição durante o governo Bolsonaro.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA; INSTITUTO DATAFOLHA. PESQUISA VISÍVEL E INVISÍVEL: A VITIMIZAÇÃO DE MULHERES NO BRASIL
Há dois anos, 2.199.388 mulheres haviam sido ameaçadas com facas e armas de fogo, enquanto no ano passado o número de
vítimas chegou a 3.303.315, segundo a projeção de dados do FBSP.
"Se o agressor tem arma em casa, aumenta a possibilidade de uma tragédia acontecer. A facilitação ao acesso de armas e o
aumento da circulação entre a população são fatores de risco para as mulheres", alerta Juliana Martins.
Jovens, negras e de baixa renda são as maiores vítimas
Ao analisar o perfil étnico e racial das entrevistadas, as mulheres negras (65,5%) sofreram mais que o dobro de violência em
comparação com as brancas (29%) durante o ano passado.
"A mulher negra está mais vulnerável do ponto de vista socioeconômico e de moradia. É a parcela da população que tem mais
dificuldade para acessar seus direitos e informações disponíveis, por isso está mais suscetível a violências mais graves", explica
a coordenadora institucional do FBSP.
A pesquisadora também reitera que esse cenário de desigualdade não é novo e que é preciso priorizar esse recorte no
momento da elaboração de políticas públicas para as vítimas.
Em relação à faixa etária, 30,3% das entrevistadas que relataram episódios de violência tinham entre 16 e 24 anos, 22,8%
entre 25 e 34 anos, 20,6% entre 35 e 44 anos, 17,1% entre 45 e 59 anos e 9,2% com 60 anos ou mais.
As mulheres mais jovens, de acordo com o levantamento, apresentam maiores níveis de vitimização e são alvos maiores de
ofensas verbais, enquanto as vítimas de 45 a 59 anos experimentaram os maiores níveis de violências como espancamento
(8,2%), ameaça com faca ou arma de fogo (8,7%) e esfaqueamento ou tiro (4,5%).
Os dados também mostram que, à medida que aumenta a renda familiar mensal,
diminui a prevalência de violências mais graves. As agressões físicas (13,8%) e os espancamentos (7,7%), por exemplo, são muito
mais frequentes entre as entrevistadas com renda de até dois salários mínimos.
No último ano, 31,2% das mulheres com renda de até dois salários mínimos sofreram violência, 28,4% entre as que ganham
entre dois e cinco salários, 27,4% entre as que têm rendimento entre cinco e dez salários e 22,6% entre as que têm mais de dez
salários.
Divórcio
As mulheres separadas e divorciadas apresentaram níveis mais elevados de vitimização (41,3%) do que as casadas (17%),
viúvas (24,6%) e solteiras (37,3%). Os dados demonstram como é difícil romper o ciclo de violência.
Nos últimos 12 meses, as vítimas de violência ou agressão sofreram, em média, quatro episódios nesse período, enquanto
para as divorciadas a média foi de nove agressões.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA; INSTITUTO DATAFOLHA. PESQUISA VISÍVEL E INVISÍVEL: A VITIMIZAÇÃO DE MULHERES NO BRASIL
Ao R7, Juliana Martins afirma que o divórcio é um momento em que a vítima fica mais vulnerável. "Ela rompe com papéis
sociais que são esperados das mulheres, como a manutenção do casamento acima de qualquer coisa, mesmo que vivendo em
um relacionamento violento."
O crescimento dos movimentos ultraconservadores e a defesa "dos valores da família" nos últimos anos também são um
empecilho nos processos de divórcio e no rompimento desses papéis sociais de gênero, de acordo com a psicóloga.
Em razão desses fatores, os principais autores da violência são os companheiros e ex-companheiros, que, somados, são
responsáveis por 58,1% dos casos, ao mesmo tempo que a residência é o principal local das agressões.
Denúncias
Quase metade das vítimas relatou não fazer nada após sofrer um episódio grave de violência. Apenas 14% das entrevistadas
denunciaram o crime em uma Delegacia da Mulher, e 4,8% ligaram para a Polícia Militar.
Para a pesquisadora, o maior obstáculo para as mulheres é reconhecer a situação de violência e pedir ajuda. A vítima é
frequentemente responsabilizada pelas agressões praticadas pelo próprio companheiro e julgada por familiares e amigos. "É
uma relação permeada pela culpa e pelo medo, por isso é difícil reconhecer a necessidade de ajuda", afirma.
Como muitas mulheres também são desencorajadas a registrar denúncias ou desacreditam no trabalho da polícia e do sistema
judiciário, há muitas subnotificações de ocorrências de violência contra a mulher no país. Por isso, os números podem ser muito
maiores.
Políticas públicas
A punição de forma mais severa dos agressores (76,5%) foi considerada a política pública mais importante pelas entrevistadas,
seguida de ter alguém para conversar, como um psicólogo ou outro especialista em saúde mental (72,4%), e disponibilizar
aplicativos de celular que permitam às vítimas de violência doméstica pedir ajuda apertando apenas um botão no celular
(70,8%).
Esses indicadores, de acordo com Juliana Martins, são reflexo de uma sociedade punitivista que anseia por mais prisões e
penas mais duras. "Só prender e punir de forma severa não vai resolver o problema, que é cultural. É preciso trabalhar a base
dos problemas, como os papéis desiguais entre homens e mulheres."
"Precisamos olhar para essa situação complexa com diversas lentes, e o tronco principal é a integração de políticas públicas de
saúde, educação, assistência social", sustenta a psicóloga. Também é necessário oferecer escuta e acolhimento à vítima, sem
julgá-la nem revitimizá-la.
FONTE: https://noticias.r7.com/cidades/brasil-registra-mais-de-50-mil-casos-de-violencia-contra-mulher-por-dia-em-2022-02032023

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