Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS (UEMG)

BRUNA RAMOS GONÇALVES

ANALISE CONSTITUCIONAL DO FEMINICIDIO DIANTE DA LEI PENAL

Passos/MG
2023
BRUNA RAMOS GONÇALVES

ANALISE CONSTITUCIONAL DO FEMINICIDIO DIANTE DA LEI PENAL

Artigo apresentado para o curso de


Direito, na turma do 5º período, como
requisito para obtenção de nota.

ORIENTADORA: Prof.ª Vanessa.

Passos/MG,
2023
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como enfoque estudar a participação feminina no


contexto social através do tempo com a conquista de seus direitos para
representatividade social.
Assim, com a participação igualitária entre homens e mulheres diante de um
Estado Democrático de Direito, como é garantido constitucionalmente pela República
Federativa do Brasil, analisa-se, também, a proteção e responsabilização penal dos
crimes contra a mulher, especialmente o feminicídio.
Para melhor avaliar o contexto social, a pesquisa do presente trabalho abrange
o ordenamento jurídico brasileiro e a observação de campo, através de enquetes e
artigos de notícias online.
Importante ilustrar a denominação do crime foco do presente trabalho, por este
prisma, o que é o feminicídio? Trata-se pois, de um crime contra a vida de uma mulher
em razão de seu sexo, isto é, simplesmente pelo fato da vitima ser uma mulher.
1. A LUTA FEMININA POR ESPAÇO ATRAVÉS DA HISTÓRIA

A luta feminina por igualdade de direitos teve início durante o período


iluminista, na Europa, a discussão pautava-se na igualdade em vários aspectos, como
trabalho, política, economia, entre outros.
Mulheres buscavam cada vez mais sua inserção em sociedade, tentando
descontruir o patriarcado, machista, preponderante aquela época.
Com o passar dos anos a luta atravessou continentes e cruzou o globo,
chegando ao Brasil, que, ainda no século XXI, busca-se por igualdade dentre homens e
mulheres, com a criação de leis que tutelam a proteção da mulher, como será avaliado
mais adiante.
Entretanto, analisando o contexto histórico frente a linha do tempo, percebe-se
a lentidão do progresso para garantia legal dos direitos femininos, haja vista que, no ano
de 1827, meninas foram liberadas para frequentar escolas, hoje, tido como direito
fundamental da Lei Magna Nacional, todavia, desta data, até então, percebe-se uma
grande demora para se conquistar mais igualdade, demonstrando ser a sociedade um
local arraigado de preconceitos herdados de uma sociedade machista.
A titulo de exemplo, vê-se que após a conquista do direito à educação,
mulheres puderam exercer seu direito ao voto apenas em 1932.
Não obstante, a luta feminina, segue com perdas e ganhos, pois, após
conquistar o direito à educação básica (sim, pois o direito ao ingresso em universidade
ocorreu somente no ano de 1879, sendo 52 anos após a liberação para frequentar
escolas), e ao voto, em 1962 foi criado o “Estatuto da Mulher Casada”, onde mulheres
dependiam da autorização de seus maridos para, por exemplo, ingressar no mercado de
trabalho.
Outro exemplo das dificuldades femininas para garantir seus direitos, e a
demora para conquistá-los, está presente na lei do divórcio, que entrou no ordenamento
jurídico brasileiro apenas em 1977, mas, somente em 2002, já adentrando o século XXI,
foi quando houve uma grande ruptura do preconceito histórico na legislação brasileira,
onde a “falta de virgindade”, deixou de ser motivo para anulação do casamento.
Em 1988, com a vigência da Magna Carta, houve um grande passo social na
legislação brasileira, vez que a Lei Maior do país passou a reconhecer a igualdade entre
homens e mulheres, em seu artigo 5º, I.
2. A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E O FEMINICÍDIO COM ENFOQUE NA
LEI PENAL E CONSTITUCIONAL

Passada a analise do contexto histórico acerca do tema, percebe-se que a luta


feminina por igualdade de direitos e também deveres, para convivência harmônica em
sociedade, vem se desenvolvendo lentamente, havendo, ainda, muito preconceito para
com as capacidades da mulher, ainda chamada de “sexo frágil”, motivo pelo qual, ainda,
busca-se, no presente, conquistar a igualdade de gênero.
A luta feminina por seu espaço em sociedade continua tão presente nos dias
atuais como foi há mais de 100 anos atrás, ainda, enfrentando os mesmos preconceitos
petrificados na sociedade.
Tão grandes são os preconceitos e a desigualdade de gênero, que os crimes
contra a mulher tomam grandes proporções em ranking mundial, estando o Brasil como
o 4º país com maior reincidência de feminicídio.
Há 30 anos, um crime chocou o país e foi um grande divisor de águas para
incluir o feminicídio no rol de crimes hediondos.
Trata-se do “caso Daniella Perez”, o qual ficou nacionalmente conhecido,
depois de a atriz ser brutalmente assassinada por um colega de profissão e sua esposa a
época.
Após os fatos, a mãe da vítima, a autora de novelas Gloria Perez, promoveu um
ato de comoção nacional, para recolhimento de assinaturas, afim de acionar o congresso
nacional, e, posteriormente poder haver a modificação da lei de crimes hediondos, na
forma em que preconiza a Constituição Federal.
Assim, apenas em 2015, com o advento da lei 13.104, o feminicídio foi
colocado no rol dos crimes hediondos.
Logo, atualmente, tem-se que a Constituição Federal assim pune crimes
hediondos:

Art. 5º. [...]


XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-los, se omitirem; [...]. (CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL, 1988, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm).
Neste sentido, o com o advento da lei 13.104/2015, o feminicídio passou o
incorporar o texto do Código Penal Brasileiro, em seu artigo 121, inciso VI, no rol de
crimes contra a vida, tipificando a pena para aquele que mata uma mulher em razão de
seu sexo.
Neste contexto, é importante ressaltar, a “Lei Maria da Penha”, uma grande
conquista feminina frente a legislação brasileira, em face dos abusos domésticos, a qual,
atualmente, é a lei nacional com maiores mecanismos de proteção da mulher (Lei nº
11.340/2006).
Referida lei impõe medidas práticas para atuação de força policial e do
judiciário na proteção da mulher, a título de exemplo, tem-se o seu artigo 12-A, que
preconiza o seguinte sobre o tema em questão – feminicídio:

Art. 12 – A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos de


atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão prioridade,
no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à
Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas
para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher. (“LEI

MARIA DA PENHA” – LEI, Nº 11.340/2006, 2006, disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm).

Ademais, mesmo com as ações previstas na “Lei Maria da Penha”, ainda são
absurdos os números de feminicídio no Brasil, onde, em 2022, o país bateu o recorde de
uma mulher morta a cada 6 horas pelo crime de feminicídio.
Vislumbrando-se, pois, que ainda há um grande caminho a ser percorrido, para
conquistar a verdadeira igualdade de gênero, proteção e garantia dos direitos femininos,
especialmente, proteção a vida.
3. CONCLUSÃO

Diante de todo supracitado conclui-se que a legislação brasileira ainda


necessita preencher inúmeras lacunas para que haja a efetiva proteção da mulher na luta
contra o feminicídio e demais crimes que atentarem contra ela, entretanto,
reconhecendo-se a grande evolução já alcançada até o presente momento com as
legislações supracitadas.
Destarte, o objetivo do presente trabalho é analisar o contexto social histórico,
para melhor esclarecer os motivos pelos quais, ainda, depois de mais de um século de
luta por reconhecimento e conquistas de seus direitos, as mulheres ainda precisam
buscar pelo mínimo, que deveria ser tutelado pelo Estado, quais sejam, o direito à vida,
à segurança, afim de coibir o avanço gigantesco dos números de feminicídio no país.
4. REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940, Código Penal. Diário


Oficial da União, Brasília, DF, de 31/12/1940, p. 23911.

BRASIL. Lei nº 13.104, de 09 de março de 2015. Altera o art. 121 do decreto-lei nº


2.848, de 7 de dezembro de 1940 - código penal, para prever o feminicídio como
circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da lei nº 8.072, de 25
de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, de 10/03/2015, p. 1.

BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a


violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo
Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, de 08/08/2006, p. nº 1.

BRASIL. Lei nº 13.718, de 24 de setembro de 2018. Altera o Decreto-Lei nº 2.848,


de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar os crimes de importunação
sexual e de divulgação de cena de estupro, tornar pública incondicionada a natureza
da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra
vulnerável, estabelecer causas de aumento de pena para esses crimes e definir como
causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro corretivo; e revoga
dispositivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das
Contravenções Penais). Diário Oficial da União, Brasília, DF, de 28/09/2018, p. 2.
BRABO, Tânia Suely Antonelli Marcelino. A luta histórica das mulheres pela
igualdade de direitos e sua influência importante na vida pessoal de muitas
mulheres. Site Diversidade – Unesp. Disponível em: <
https://educadiversidade.unesp.br/a-luta-historica-das-mulheres-pela-igualdade-de-
direitos-e-sua-influencia-importante-na-vida-pessoal-de-muitas-mulheres/
#A_autora>. Acesso em: 21/04/2023.

MELLO, Raphaela de Campos. A história, os desafios e a luta por igualdade: A saga


das mulheres. UOL – AH: Aventuras na História, 08/03/2021. Seção:
Matérias/Civilizações. Disponível em: <
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/a-historia-os-desafios-e-
a-luta-por-igualdade-a-saga-das-mulheres.phtml#:~:text=No%20Brasil%2C%20a
%20luta%20feminina,Constitui%C3%A7%C3%A3o%20promulgada%20por
%20Get%C3%BAlio%20Vargas.>. Acesso em: 21/04/2023.

NOSSA CAUSA. Conquistas do feminismo no Brasil: uma linha do tempo.


Publicado em 09 de março de 2020. Disponível em: <
https://nossacausa.com/conquistas-do-feminismo-no-brasil/?
gclid=CjwKCAjw6IiiBhAOEiwALNqncQovgJViO3hYTEAysIAtVz228XrjvEAHa
SC33Pos3CgDp-VcjFeczxoCowUQAvD_BwE>. Acesso em: 21/04/2023.

WESTIN, Ricardo. Após caso Daniella Perez, Congresso debateu pena de morte e
endureceu lei criminal. Agência Senado, 07/10/2022. Disponível em: <
https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/apos-caso-daniella-perez-
congresso-debateu-pena-de-morte-e-endureceu-lei-criminal#:~:text=A%20como
%C3%A7%C3%A3o%20p%C3%BAblica%20provocada%20pelo,para%20nenhum
%20tipo%20de%20relaxamento.>. Acesso em: 21/04/2023.

VELASCO, Clara et. al. Brasil bate recorde de feminicídios em 2022, com uma
mulher morta a cada 6 horas. G1. Seção: Monitor da Violência. Disponível em: <
https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2023/03/08/brasil-bate-recorde-
de-feminicidios-em-2022-com-uma-mulher-morta-a-cada-6-horas.ghtml>. Acesso
em:21/04/2023.

Você também pode gostar