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DANIEL PECA
uma categoria social ã parte, com
um papel privilegiado na construção
da sociedade, seja ao lado do Estado
* 1
ou contra ele,
HA # # m
Este livro arguto e original, recen-
temente lançado na França, faz um
balanç o inédito do posicionamento
dos intelectuais brasileiros em rela ção
ao poder , ã nação e ao povo, desde
a dé cada de 1920 até a época atual .
Daniel Pécaut, conhecido sociólogo
INilEIJECTUMS
francês, é especial isto nos problemas
políticos da América Latina . Um dos
diretores da Écoíe des Hautes Études
en Sciences Sociales e do Centre
|= A POLÍTICA
d'Etude des Mouvements Sociaux,
em Paris , é responsá vel peta revista
Probiémes de l Amèrique Latine,
MC I3RASII
ENTRE O POVO E A NAÇÃO
ISBN 85 08 03574 3
DANIEL PÉCAUT
Muitos intelectuais
brasileiros, supondo-se
detentores de um saber
que os capacitava a
solucionar os problemas
mais graves da
sociedade , forjaram de
si mesmos uma imagem
privilegiada Em Os
Intelectuais e a política
no Brasil, o sociólogo
05 INTELECTUAIS
francês Daniel Pécaut
analisa a trajetória da
intelectualidade no paí s
E A POLÍTICA
entre 1920 e 1982,
desmitificando a idéia
de que nossos pensadores
NO BRASIL
podem ser considerados
"cidadãos acima de Entre o povo e a nação
qualquer suspeita". Ao
analisar a maneira como
se posicionaram nas lutas
políticas e sociais do país,
o Autor mostra que. na
realidade, o saber se
mescla com o poder.
Alegando a existência
de um povo ignorante,
de estruturas sociais
desarticuladas ou de
classes ainda em
formaçòo, muitas vezes Tradução:
a nossa intelligentsia Maria Júlia Goldwasser
justificou sua “vocação
para elite dirigente",
chamada a levar a cabo
a “Unidade Nacional" .
Assumiu, assim, uma
posição de protagonista
central do processo
histórico do país, já que
BSCSN ruFROS
\
*
t
Sé rie
Temas
Volume 16
i
Sociologia c pol í tica Sumário
Título original : Entre te peuple ei la nation: les
intelíecttí eh et Ia politique au Erésil
Copyright © Fondation dc la Maison dcs
Sciences de l l lornmc , 1989
Prefácio 5 v
¥
.
. l
PARTE 1 x
Os intelectuais , o povo e a na ção
TRADUÇÃO
1 r -.
Mafia Jiilia Gotdwas$« * Introdu ção 14
REVISÃO DE TRADUÇÃO A geração dos anos 1920 -40 19
Cássia Rcxha À posiçã o social dos intelectuais 19
nonos Uma vocaçã o para elite dirigente . .. . 22
Fernando Paixão Os fundamentos da legitimidade do poder intelectual 33
ASSISTÊNCIA EOrrOíUAl As representações do fen ômeno pol ítico 42
í SH Maia Laudo
O antiliberalismo c a “ ideologia de Estado i p
43
PREPARAÇÃ O DOS ORIGINAIS
Maria Teresa GaJlufzi Brito
A ambivalê ncia realista 46
À ambivalê ncia em rela çã o ao fen ô meno pol í tico 49
PROJETO GRÂ UOO (MIOLO ) ; Da teoria ao engajamento pol í tico 57
Milton Taiceda
COMPOSIÇÃ O E PAGINA ÇÃO EM VIDEO
A coincid ê ncia entre os intelectuais e certas elites civis
ÀfLsteu Escobar e militares 60
Wander Camargo Silva O regime autorit á rio e o reconhecimento da fun ção
CAPA dos intelectuais 66
Etrorc Bõttini Os tipos de engajamento político 74
2. A gera çã o dos anos 1954 64
*
97
O nacionalismo cm todos os seus estados 107
ISBN 85 08 03574 8 O ISEB 107
Ern torno do Partido Comunista 141
A marcha para o povo: os CPCs 152
1990 A marcha para o povo: na esfera de influ ência cat ólica .... 165
I São Paulo e Rio de Janeiro 173
Todos os direitos reservados
Editora Á tica S.A. Conclus ã o . 179
R. Bar ão de Iguape , 110 —
CEP 01507
Tel: ( PABX) 278 -9322 — Caixa Postal 8656
De uma geraçã o a outra: o nascimento de uma cultura
pol ít ica 181
End. telegr á fico “Bomlivro ” — S ào Paulo
—
SP Opção nacional - popular ou populism © ? 186
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Aquisição;
Preço: } S 3opo
>
Data: / tv, I \ j Pref ácio
3o-l , 445
P 365 £ - P
PARTE II
Os intelectuais, as ciasses sociais
e a democracia
Introdução . .. . . . . . .. 192
3 . O intervalo dc 1964 -68 . Bloqueios estruturais e hegemonia
da esquerda intelectual . 197
Dois polos do debate intelectual: os nacionalistas
cercciro- mundistas da Revista Civilização Brasileira c os A
nacionalista» críticos dc São Paulo 205 \\J
O diagnóstico: bloque LOS estruturais c. regressão pol í tica 222
Debates c questionamentos 230
A burguesia nacional c a estratégia pol í tica dc alian ça Vivcu -se na época do pós- guerra a hora do " engajamen -
de classes 231 to " . Sartre declarava:
Da classe operá ria as massas , novamente 233
A classe média oscilante . . . .. 235 Nã o é . portanto dizendo " n ão sou imis um pequeno- burguês, movimento-
,
Das classes sociais cm formação à crise das represe ma ções mc Imanente no universal" que o intelectual pode st unir aos trabalhadores .
do social 237 É , jimamente ao contrário , pensando: "sou um pequeno- burguês; se , para ten -
Da constatação à ação pol í tica 242 ,
-
tar resolver a mink a contradição alinhei me ao lado das classes oper á ria e cam -
A contestação estudantil c a modernizaçã o universit á ria . .
. 247 ponesa , não deixei por isso de ser um pequeno- burguês" (Sartre , 1972 : 71 ).
I
A vida art ística 250
Conclusão .. . 252
Por outro lado , ele afirmava: O intelectual é algu é m
L £
4 . O parrido intelectual c o processo de abertura ( 1974 - 82 ) 257 que intromete no que não lhe diz respeito" O ^ engajamen -
se .
A redefinição da condição de intelectual 262 to " era , assim a decisão arbitrária de tomar partido contra si
,
A ideologia ' profissional" 268 nadas por suas condições a ocupar -se do universal , c cm encar-
As estratégias pol í ticas 281 nar o movimento da história rumo a seu sentido final
Em busca da pol ítica perdida
,
282 I
A noção de engajamento também teve algum sucesso no
A organização polí tica dos intelectuais . 291
Brasil . No final dos anos 50 , a palavra de ordem foi a adesão
A era do intelectual como ator pol í tico 300
Conclusão 309 voluntária dos intelectuais à s causas populares Entretanto , rio .
Rctcré ncins bibliográficas 313 Brasil , Lai imperativo soou smgu ) anuente falso , porque os inte -
lectuais brasileiros não esperaram pelo convite a essa conversão
l
7
6
pequeno- burguês. Tampouco agiam assim para atendera algum se aplicam an Brasil . Todos os intelectuais brasileiros mantê m
ditame moral c fazer prevalecer valores de justiça Apenas o la ços com as " ci ê ncias sociais ” : a "sociologia" na década de
faziam porque o intelectual tinha de estar à ah ura da constru - 30 c uma mistura de vxioiggia e economia nos anos 60 e_7() .-
j
k nada m seus escritos [ .| mcaniiiiiha à retórica modem ? do cngajamtruOr caso , impõe -sc o " realismo" que preside à politização dos com
c evidente ç ue D realismo c algo diferente de uma. jtitude em lace do red : ele
visa a um processo de rtâlmçso, o devir real do hnmrm , ao seu advento na ceiios eJ,4Qpi;d4mliz.açâ o do pol í rico .
sociedade , tomo homem social (Ltfort , 1978 174 ) A ambival ê ncia emi rela çã o ao pol í tico , por ma is funda-
mental que seja , n ão deixa * poré m , de ser teórica . Corn efeito ,
Da mesma forma , a propósito do segundo: os intelectuais brasileiros se entregam à a çã o pol í tica sem
A açãn inspirada cm um conhecimento exato dos fatos n ã o pode | . ] , qual - nenhuma hesitação e tomo se tivessem qualifica ção especial
quer que « ja ú seu objetivo particular , transformar os termos a que st refere: para faze - lo . Em muitas ocasi õ es eles se cornam protagonistas
,
pode apeâís administradas de modo a assegurar o scu surest ; mas . ao faze do. -
pol í ticos centrais. Além disso, arrogam se uma competê ncia
vubmcKSfct a uma ricccssidade , na qw\ é pcetiso reconhecer a estrutura da rea - particular para assumir a responsabilidade pela dimensão ma is
lidade libid . I . pol ítica do fenômeno pol í tico: a ideologia . Na " realidade bra-
i
« 9
si leira , mats uma vez , encontram boas raz õ es , tantas quantas que pretendiam falar cm nome da na ção era convencer de que
queiram , para justificar a importâ ncia de sua intervenção. já existia , subjacente. Tudo servia para provado: as manei -
.
esta
V Primeiro, porque essa realidade oferece o espet á culo de ras dc ser , a cultura o povo , o desenvolvimento das forç as pro-
,
um povo ignorante de seu desuno , classes sociais ainda em for dutivas , Contudo , n ão há melhor modo de assegurar -se desse
ma ção e abaixo de sua missã o valendo isto tanto para a bur - fato do que inventar micos unificadores" um após outro,
—
"
guesia como para os setores populares . assim como desameu - tarda facilitada pelo lato de que a precariedade atribuída às
1ações recorrentes nas estruturas sociais. Enraizados em seu classes e , de modo geral , aos atores sociais deixa o campo livre
tempo , nem por isso os intelectuais deixam de ter o privilegio ã imagina çã o . Nada c imposs ível : nem suscitar um mito das
de se situarem , gra ças ao seu conhecimento , à frente dos seus origens invocando os í ndios tupi , nem enunciar um mito dc
contemporâ neos . Para canto , se n ã o dispunham do_ saber sobre chegada celebrando a fusão entre o Povo e a Mação, nem pro-
a l ó gica do real , sempre tinham o recurso de voltar os olhos por um mito de transição sugerindo que o desenvolvimento
para os pa íses desenvolvidos . Constitu íam , assim , uma camada ‘
econó mico, a consci ê ncia de classe e o nacionalismo caminham
social sem v í nculos nu acepção de Mannheim : m ú ltiplos
'
. no mesmo passo.
la ços subsistem , a cada momento , com os ma is diversos grupos Enfim , a constatação da defasagem recorrente entre o
sociais, começando pelas vá rias elites , c esses laços são recursos social e o politico n ã o c de molde a desencorajar os intelectuais.
que lhes permitem aumentar a sua influê ncia , Simukanca - Se c verdade que no Brasil , como no restante da America Latina ,
menre , poré m , sen cem -sc livres de toda a heran ça do passado os agentes surgem definindo -se sobretudo no plano polí tico ,
e de iodo o peso do presente , e sabem para onde devem ir . os intelectuais n ão precisam renunciar a nada para atender a
N ão ê por acaso que professam sem cessar a urgê ncia dc um essa condição. A ideologia lhes permite , alé m disso , ser elite
"
projeto ' nacional . Desse modo , são os unicost ao lado de çer - quando necessá rio , ou povo quando conveniente Gradas ao .
iD5 politicos exception ais, a se subtraírem à imperfeiçã o r ao v hiato entre o social e o político conseguem ainda se erigir em
^
atraso e , consequent cm rnte , a formar uma camada social com
voca çã o para conduzir a na çã o ao encontro de s .i mesma , 5
mediadores indispens á veis, substituindo as classes visto que ,
melhor do que elas mesmas , onh écem os seus interesses pro-
—
Em seguida , o pressuposto realista nunca c mais que um
desvio para liberar a inventividade ideol ó gica Proclamar que .
fundos — -
e colocando se na posição do Poder , pois , canto
quanto este , se projetam acima do social ,
o real sc constrói por si mesmo é uma maneira de respaldar a Muitas das afirmações anteriores se aplicariam aos intdec *
representa ção que dele se faz com um lastro de verdade e eficá - tuais de outros pa íses da America Latina , mas somente at é o
cia . Desde os pensadores de 1930 , que delinearam cm detalhes ponro em que se menciona o Estado . .\ o século XIX e in ício
o esquema da boa organiza çã o social , at é os dc 1955 , que ima- do século XX , o Brasil Lai vez fosse uma nação em forma ção ,
ginaram o desenvolvimento correto , todos se achavam igual - mas possu ía , pelo menos , um Estado. Raros foram os momen -
mente persuadidos de que expressavam apenas o que e , de fato , tos em que os intelectuais brasileiros puderam duvidar disso,
o sot ia 1 e o que é, dc faro , o desenvolvi memo estavam eon - mas quando tal ocorria , imaginavam -se respons á veis pela conso -
venndos de que as ideias comandam dirctamenre o devir histó- lidação do Estado .
rico . Nenhuma ton tradição entre essas duas certezas. Se abnu Se eles se colocam com tania-frequentia acima da socie .. -
caminho ã ideologia c porque esta brota sempre da rei usa em dade cpqrquc sc identificam com o Estado ou se apresentam
,
admit jt que a representarão introduz , por si só , uma indeter- como contra - Estado. A força do Estado não os leva , absoluta -
minação no social . No caso , a prioridade para os intelectuais mente , a se sem irem estranhos diante dos “ negócios ” , como
"
dizia Tocqurvillc a respeito dos homens de letras* ' freme ao O fato de que atualrnetitt todos prestem homenagens a demo-
“
se nas representaçõ es professadas pelo Estado . nos escudos des.se gé nero , cm propor uma " definição" de inte -
A própria organização dos intelectuais est á constantemente lectual Parece - nos que esse exercício c inócuo , salvo se a defi
. -
articulada ao Estado . Neste aspecto , o Estado Novo marcou ni ção j á comportar uma referencia à natureza do campo intelec -
uma importante mudanç a . O corporativismo por cie criado apli - tual c às formas de constituição do pol í tico , isto é , se já incluir
cou - se à intelectualidade: as profissões foram reconhecidas
“
a problem á tica do reconhecimento social do estatuto dos inte-
"
e receberam urn estatuto oficial . A partir dai . os intelectuais lectuais r dt sua produção numa sociedade r num momento
foram dotados de identidades e direitos específicos. Ao fim dados. O que redunda em considerar , como faz o senso comum ,
do Estado Novo , evitaram questioná - los. No devido momento , que intelectual é aquele que sc identifica e é identificado pelos
fizeram deles a base dc uma “ profissionalização no sentido "
outros como tal 0 leitor constatará que este trabalho abre
.
moderno , e a utilizaram para resistir ao regime militar , em amplo espaço aqueles já reconhecidos por seu próprio nome .
nome da competê ncia e dos direitos profissionais . Reencontrada mas també m faz referência ami úde aos an ó nimos que se sentem
a democracia , estavam pronto® a pôr em açã o um corporativismo participantes das funções hist ó ricas " dos intelectuais .
“
n ão menos moderno . O que vale para as profissões , aplica -se Em contrapartida , c necessá rio indicar os limites de nossa
també m á s instituições intelectuais e às funções art ísticas ; esta - pesquisa que n ã o correspondem a nenhuma justificativa teó-
,
vam encerradas em múltiplas redes que convergiam para o Estado , rica , mas antes exprimem o receio dc nos perdermos no cami -
Apesar desses incont á veis v í nculos com o Estado c , fre * nho , caso pretendêssemos abanar dom í nios excessivos; sobre -
quentemente , da deferênda manifestada a sou respeito , serão 1
tudo , são limites que traduzem a nossa ignorância.
os intelectuais capazes de militar a favor da democracia ? Para Dois deles são evidentes Primeiro , muito poucas vezes men -
.
ISSO , é preciso que eles n ão se contentem em intervir pol í tica - cionamos a criação artística : literatura , cinema , pintura . No
mente mas reconheçam a dimensão pró pria ao plano pol í tico entanto os que se dedicam a cia são . no Brasil , intelectuais que
,
V: necessá rio ainda que n ão confundam os mecanismos democrá - associam infimamente a sua ô bfa a preocupação de se colocar a
ticos com o liberalismo oligarquia ) E c essential também que
,
serviço da construção política do pa ís A proximidade entre os ter-
.
nao vejam na democracia um m é todo para se apropriar do mos cultura " c ' ’ pol ítica ' , tanto rios anos sO quanto nos anos
“
Estado . N ão h á dúvida que existe uma tradição liberal no Bra - 50 , está a í para demonstrá-lo. Na verdade , analisamos em espe -
s i l , concorrente ou complementar à tradi çã o autoritária . Entre - cial a trajetória pol ítica dos intelectuais que se vinculam á ’ socio-
'
MTHIDO pouca atraçã o pela primeira , c munas vezes tenham bem pouco restritivo . Todavia , para o per í odo mais recente , daí
> ido motivados pela vontade dc organizar a sociedade pelo alto . resulta a delimitação dc um terreno cada vez mais estreito .
I
12
Os intelectuais,
íbrt , R égis Castro de Andrade e aos membros do CEDEC ; a
Azis Simão , Sé rgio Miceli , Bernardo Sorj , Carlos Guilherme
Mota , Leôncio Martins Rodrigues, Irene Cardoso e a muitos
outros. Agradecemos também a Má rio Carclli , Sônia Marques
.
e Sílvia S í gal , por seus coment á rios sobre o manuscrito . o povo e a nação
y\
t
15
-
Jã os intelectuais dos anos 54 64 situam sua intervenção
sob uma ótica diversa Ap árentemenfe , n ã o põem em d ú vida
.
)V -
que o povo já esteja constitu ído, e o vècrn mesmo como a ver-
dadeira garantia unidade racional : povo e na çã o ir ,
Com um intervalo de trinta anos . duas gerações dc inte- momento , são indissociá veis . Nã o > e trata mats de assegurar a
lectuais brasileiros manifestaram a convicção dc que lhes com - r
coesão interna da na ção mas de defender seus interesses das
amea ças externas ligadas ao imperialismo . Em consequ ê ncia
i
-
petia uma responsabilidade essencial na constru ção da na ção .
Influenciando opiniões e governantes, ambas atingiram uma- do r á pido desenvolvimento econ ómico , o Brasil estava cm vias
evid ê ncia social extraordiná ria e contribuíram efetivamente de se tornar uma sociedade dc classes . Naquele momento ,
para impor novas representações do pol í tico . No entanto , tudo porem , a burguesia nacional e as classes populares se empe - rr
nham em articular uma frente comum para permitir , apesar
-
o mais parecia contrapô las.
do imperialismo c dos segmentos arcaicos das camadas abasta -
-
Os intelectuais dos anos 25 40 mos eram - se preocupados
das brasileiras, a transição para uma sociedade democratico bur - - oV
sobretudo com o problema da identidade nacional e das insti - I
guesa* Os imcleauais |ã n ãcTprecisam reivindicar uma posição
"
*
16 17
Partido Comunista ; ela comanda a socialização pol ítica e cultu - pol í tica, peffla. qual se responsabilizaram e dc onde derivaram a
ral de grande pane daqueles que se identificam com as cama- sua própria legitimidade . N ão se trata de negar a fu puí ra ocor -
das intelectuais . Veremos que essa tend ê ncia persiste após o rida entre 1945 e £950, quando o conservadorismo autorit á rio
golpe de 1964 , o que n ão implica um consenso sem brechas deixou de ser hegemó nico , e o discurso da revolu ção social ,
— seriam numerosos os desacordos quanto às t á ticas t concep - que culmina a partir dc I 960 , começou a tomar forma . Essa
ções da revolução. ruptura , porém , n ã o significa esquecimento nem anula ção.
-
Esta introdução é intencional mente sumaria ; limita se a Em 1945 houve , certamcmc , intelectuais querendo apagar todos
Lima breve alusã o à diversidade de correntes que m atearam essas os traços do arcabouço corpora ti vista l armado a partir de 1930.
duas gera ções. Deixa de lado a exist ência de uma terceira: a e reativaf as tradi çõ es liberais ; mas constitu í ram uma minoria .
gera ção que surgiu cm 1945 , no momento do retorno ã demo - Foram mais numerosos os que escavam dispostos a reconhecei
cracia . Muitos de seus integrantes terão , no entanto , um prest í- que o regime no poder durance os anos 30-45 teve , pelo menos ,
gio consider á vel , sobretudo nos meios universit á rios , e lurar ã o o papel de fortalecer o Estado nacional e a pró pria na çã o.
pelas transformações sociais . Parece - nos , contudo , que esta gera-
çã o manifestou menor coesão interna que as outras duas e n ã o
-
Aliando se a Gcr ú lio Vargas cm 1945 ., durance a campanha
‘ ’ qucronista ' ' \ os comunistas emprestaram uma colaboração
obrrvr a mesma evid ê ncia social . Tanto em 1930 corno em decisiva a essa reavaliação. í nversameme , a passagem de anti -
I 960 , a mulupliuda.de de tend ê ncias não impediu a formação gos defensores dos esquemas autoritá rios , inclusive antigos inte -
de representaçõ es do fen ó meno pol í tico fecundas o suficiente
para criar uma esp écie de sentido comum e definir os objetivos
gral istas , para orientações mais progressistas foram recruta -
dos entre des alguns dos mais importantes membros do JSEB
— ,
-
à
Mtf íilTieiltQ ‘ quetemista movimento dos que queriam a reelei ção dc GCTUI í O
Ver o Li l ;i • irada*, nas pacing w umrçs
^ VAIGAS
M1
.
18
l
'
dentro do real , de urna unidade anterior a todos os processos
dc instituição do social e que pudesse escorar as formas de uni
dade da sociedade pol ítica.
-
V O terceiro relaciona -se às articulações entre o campo
intelectual e a esfera política . Uma vez que a atividade intelec- A posição social dos intelectuais
tual é orientada pela responsabilidade assumida diante do impe-
rativo nacional , em que medida poderiam ambas ser dissocia -
Em uma obra publicada cm 1979 , Intelectuais e classe
das? Ou , mais exatamente : seria ainda possível falar num campo
intelectual fundado numa l ógica interna de funcionamento ? dirigente no Brasil: 1920 - 1945 \ o sociólogo Sérgio Miceli analisa
A escolha desses tr ês temas n ão é fortuita . Nosso obje - as transforma ções que afetaram a condição dos escritores naquele
tivo também c compreender as estrat égias que os intelectuais período. Freqiientemente originários de famílias oligárquii
ir ã o acionar depois de 1964 U diante do regime autorit á rio . em decadê ncia * confrontados pela rarefação das carreiras tradi -
Elas só serão inteligí veis na medida em que soubermos a par- cionais , expostos à concorr ê ncia provocada pela inflação de
tir de qual angulo estavam acostumados a falar ; que visõ es diplomas conferidos com as diversas faculdades livres rec é m -
do político apresentavam para justificar suas interven ções con - criadas, eles foram ameaçados, segundo Miceli , primeiramente
cretas; c dc que concepções da política intelectual se considera - pelo risco de perda de status . Devido à amplia ção do mercado
vam portadores . de bens culturais , associada ao desenvolvimento econ ómico dc
certas regiões * em especial São Paulo * foram levados ent ão a
renunciar ao antigo estilo de vida das camadas cultas, passando
a reconhecer a necessidade dc uma “ profissionaliza ção " e , ao
* Ver tanibéitt Miceli . in Universidade Federal do Rio Grande do Sul .. Iy80 , Stmpótio
sobre J Revolução dc 30. Porto Alegre , Erus
II
20 21
mesmo tempo , a participar dos dr bares politicos do momento . ló gicay . Essas variá veis remetem a l ógicas cuja coesão não pode
Com o fortalecimento do Estado , ocorrido após 1930 . teriam
sucumbido por fim à sedu çã o dos empregos p ú blicos que lhes
ser pressuposta . Se h á um interesse , este sc constitui na interse
çã o delas.
-
foram oferecidos . Ao se tomarem defensores de um poder forte , Por outro lado, os escritores mobilizaram recursos que não
estariam manifestando .seu desejo de ampliar o pró prio acesso se limitavam à sua proximidade social com as elites: era muito
a essas carreiras c , simultaneamente , sua depend ê ncia diante importante també m o dom í nio de um saber socialmcntc valori -
das autoridades p ú blicas . Portanto , as opiniões ideológicas q u e zado , Nos anos 20 « eles reivindicavam uma ci ência do social:
professavam seriam , no essencial, apenas o produto de uma poderia tratar - se de uma artimanha para serem ouvidos pelos
governantes , mas uma grande pane das dites achava - sc obse-
estrat é gia para preservar suas posi ções rias dites dirigentes .
dada pela cren ça de que esta ciê ncia poderia fundamentar uma
Quanto aos pensadores expliritamentc autorit á rios , Sé rgio
administração cient ífica dos homens c da natureza . Daí o fato
Miceii assim resume suas conclusões: de que as estrat égias dos intelectuais só podiam ser entendidas
Eram , lia verdade , herdeiros que puderam nrai partido de uma condap» de
-
cm relação aõ papel arfiTã ufdo por out tos setores ao conheci
mento científico do real ,
"
-
forçai emcnwnenre favorável â produção dt obras rujo? red amos reformistas
Da mesma forma , as convicções políticas n ão foram mera -
coincidiam com os interesses de autopreservaçao fração dc classe a que prr -
mente ditadas pelas conveniê ncias de acesso aos empregos ,
i ç noam ( Wkdi , 1979 167)-
como também a circunstâ ncia de serem herdeiros sem heran ças
não basta para explicar por que esses intelectuais se sentiam
-
O nacionalismo dc que eram porta vozes não aparece sen ão invesridos _cte uma missão pojíiica . Para compreender este fenô -
corno uma maneira suplementar dc obrer o reconhecimento
do Estado ,
meno, é preciso considerar o modo como interpretaram politi -
camente as suas vicissitudes. Estavam , acima de tudo , desiludi -
O fundamentai consiste justam ente no laço estabelecido dos com a Rep ú blica , n ão por ela cer arruinado a influ ê ncia
pelo autor entre a posição individual de origem e as estrat é gias das oligarquias , mas , ao contrá rio , por ter permitido que essa
pelas quais recorriam ao Estado . Este raciocínio provoca diver - influ ê ncia sc prolongasse indefinida men te no quadro das tran -
sas indaga ções , como toda sociologia dos intelectuais que pre- sa ções regionais. Aspirando â organiza çã o da naçã o pclõ podcE
"
.
tenda estudar as orientações destes a partir dos “ interesses" reagiram contra a ' oligarquização ' das instituições . E sua poli
1
-
que possuem. ria ação n ão foi um pretexto para promover inieresises pr óprios ,
A noção de interesse é . nesse casot singula rm ente ambí- mas , antes de tudo , expressava sua conversão à a ção pol ítica .
gua . Re fere - se , pelo menos a tr ês vari á veis diferentes; o fato
;
Portanto , teria sido o processo de mobilidade descendente
de pertencer a um determinado grupo social dc origem ( a oli - de alguns deles de fato tão determinante ? Ou caberia antes res-
1
garquia decadente ) ; a identificação com umã cat_egor!a_sqçial saltar a mobilidade ascendente coletiva de que sc beneficiaram
particular ( os escritores); e a inser ção no aparelho do Estado esses intelectuais? Entre o comportamento defensivo e as estra -
t é gias ofensivas, n ã o seriam as ú ltimas muito mais reveladoras
( como membros da administra çã o ) . A primeira é individual e ,
de resto , a posição dentro da fam ília conta tanto quanto a posi
ção da fam í lia . A transição no sentido de comportamentos colc-
-
A cbscrvaçá o foi feiti por Ant ónio Câ ndido no pírfátJO do livro de Miveti . Elf cita
-
IIVOS apoia seT sobretudo , num efeito de agregaçã o . A segunda u exemplo de CaiJc^ Drummond de Andrade , membro do gabinete do ministro Capa -
p.cma , que ‘“ serviu ao Esiado Novo , sem por isso alienai a njcntit parcela de Sua
-
"
>
dignidade ou autonomia rncnt â J " {Cindido , 1979 : XJI . Km artigo hxalczando o
mesmo livro de Mtcdi , Cario? Ne bali Couunbu também endrau a idfia de que a
ria de intelectual . A terceira pode ser apenas ocasional e „ em
^irua dn de fumionâ rio pú blico acarretasse , por si sò. posições poJ íticas readonárias
todo caso, n ão implica a completa supressão da autonomia ideo - ^
( Cou rinha . !9Bl : 95- 110).
.
22
23
da aptid ã o desse grupo social para impor à opini ão p ú blica1 gentes observa Antônio Cândido —
" nao funcionavam .
ma visã o do político que constata o esgotamento da Republica ^ poré m , apenas como patronos mas como suced â neos do publi -
Esses comentários preliminares n ã o pretendem eliminar o co ' ( Câ ndido , 1980: 84 ). Isso coincidia com a adesão a uma
uso da noção de interesse ; toda categoria social empenhada cultura decorativa , composta de idéias do momento , c com
numa tarefa de elabora ção ideológica tamb é m pode ser legiti- uma colagem ideológica na qual as teses liberais eram conside -
mamente perccbida como buscando o reconhecimento ou a ravelmente modificadas a fim de que a ação onipresencc do
organizaçã o dos seus pró prios interesses . Contudo , na falta de Estado brasileiro encontrasse as justificativas necessá rias ( No -
um campo cultural aut ó nomo , capaz de produzir uma hierar - -
gueira , 1984: 55 6). Nos anos 20 , essa tradição tornou -se objeto
quia institucionalizada dc posições , esses imeresses só podem de um processo irre mi tente: a nova geração passa a multiplicar
ter uma consistê ncia limitada . N ão se revelam sen ã o após as as prevenções contra os vest ígios de um pensamento de segunda
tentativas de redefinir a quest ã o da legitimidade política. categoria , indiferente às realidades nacionais.
No Brasil dos anos 20 , os projetos dos intelectuais eram A experiência de isolamento iniciou - se logo depois de pro -
inseparáveis da vontade de contribuir para fundamentar o cultu- clamada a Rep ú blica . Muitos escritores aderiram âs campanhas
ral c o pol í tico de uma forma diferente . Tudo estava cm jogo abolicionista e republicana , mas suas desilusões rapidamente
ao mesmo tempo. Instituiçã o alguma escapou à necessidade se equipararam âs suas esperan ças . Enquanto alguns autores
dc assumir uma nova legitimidade ; tanto a Igreja como o Exé r - aceitaram adaptar sua pena ao gosto dos novos- ricos do Rio de
cito , tanto o Estado como os estabelecimentos de ensino supe - Janeiro c âs solicitaçõ es dos propriet á rios dc jornais e editoras
-
rior A interven ção pol ítica dos intelectuais inseriu se em uma beneficiados pela expansão do publico " , outros reagiram , "pas -
sando a uma condição de categoria social isolada disputando
conjuntura de recriação institucional . Em larga medida o mesmo
- .
, ,
sucedeu nos anos 60 . a sobrevivê ncia no concorrido mercado urbano rccé m ativado
e a participação no sistema dc hegemonia no espaço p ú blico
da nova republica (Sevcenko, 1983: 228 ) . Onde haviam con -
'
Uma vocaçáo para elite dirigente tado com um encaminhamento volunt ário no sentido da moder -
niza çã o política , n ão viram sen ão pol í ticos que , no dizer de
À geração dos anos 25 - 40 n ão solicitou a m ão protetora Lima Barreto , manifestavam o para íso das mediocridades \
"
-
do Estado ; ao contr á rio , mostrou se disposta a auxiliá- lo na cons- a “ preferê ncia dos atributos inferiores" , " uma seleçã o natural
-
tru çã o da sociedade em bases jacionais, Participando das fun - invertida e , segundo Euchdes da Cunha , o reino da " imbeci
lidade triunfante " ( ibid . ; 146 - 88 ). Tal ressentimento demons-
ções publica* ou n ã o , manteve uma linguagem que é a do
poder . Ela proclamou , cm alto c bom som , a cua vocação para tra o horror desses intelectuais diante de um regime quc1 sob
dice dirigente . o pretexto dc uma " política de governadores" , se entregara
”
Essa gera ção esforçou - se , assim. , para romper com duas aos acordos entre as oligarquias regionais , como também diante
experiê ncias que marearam negativamente a história intelectual dc uma ostentação insolente das fortunas A geração dos anos
antecedence : a depend ê ncia perante o Império c o isolamento 20 , confrontada com uma rep ú blica incapaz de constituir a
no in ício do século XX . Em contrapartida , tentou reatai com na çã o , ahmentou - se ainda desse ressentimento . Por é m inspirou -
uma terceira: o prest ígio das elites de Estado, que caratterizara se tamb é m no que fora em Lima Barreto e Euclidcs da
rodo o período do Império. Cunha por exemplo
, uma reação ao isolamento: uma von -
A condi ção dc depend ê ncia , particularrnente durante o
.
tade dc colocar a literatura a serviço da recupera ção da nacio
i
-
reinado de D . Pedro II . consistira em mecenato, patronagem nalidade " e de fazer dela um instrumento de transformação
e honrarias , comportando ( j á naquela é poca ) a outorga de social e política. Essa foi també m a experiência do início do
empregos p ú blicos aos escritores , mas també m seu cnciausura
mento no círculo das elites sociais. " O Estado e os grupos diri -
- 6 Sobre Aí traitslormaçO^í <io ptihlico e i mulriplicaçio dc editoras vcl Micch . 1979
M 25
século: a ambi ção de fazer com que "sc apaguem as fronteiras Em 1914 , Alberto Torres, que fora presidemc do Estado
tradicionais entre o homem dc letras c o borricn dc ação , entre do Rio de Janeiro e membro do Supremo Tribunal , publicou
o escritor profissional e o homem p ú blico e entre o artista c a O problema nacional brasileiro verdadeiro apelo aos intelec -
sua corn unidade " ( ibid . : 232 ). Paradoxalmente , esses autores tuais para que se integrassem , enfim , á nação a que pertenciam ,
isolados e humilhados tornsram -sc porta vozes da nação , como
se estivessem encarregados de lhe dar forma e preparados para
- À o lira parte de uma constatação :
Á vida cerebral do Brasil gira cm torno dc dois returns: o mundo dos inielet -
colocar -se na posiçã o do p o d e r A gera çã o de 1920 considerou - ruaií í t> dos governam rs; tw escrisoTcs. professores , homens dc Jciras c dc ciê n -
se herde ira tamb é m dessa postura: ao reclamar do Estado uma
verdadeira autoridade , tomou como ponto pacifico 0 fato de
cia , os araste no primeiro grupo ; m pol ítico®, os administradores , os Emuo na
rras , no segundo ( Torres . 1933a: 179 )
-
que sua missão era , primeiro , política .
Esse sentido de uma missão a cumprir sò pode ser enten
dido a luz do papel desempenhado pela elite administra uva
- Esses dois mundas levam urna “ vida inteiram eme alheia
â vida da sociedade , [ o que ' se reflete , entretanto , no pcnsa -
durante o Império , 5ch após a Independê ncia , o Brasil escapara me mo de todos , sob as formas do diletantismo c do pessimis-
mo ( ibid , ) . Deixando- se envolver peta sedu ção das mod as
r
dos sobressaltos ocorridos em outros Estados latino - americanos,
P
.
isto sc deveu em grande parte à sua burocracia , Uma burocra - europeias e pelas sí nteses eclé ticas , comprazendo-se cm uma
1
cia dc formaçã o m ú ltipla : composta , de in ício , por magistra - imaginação passiva , dc simples forma , puramente verbal ( ibid.:
’
.
dos _oiiur d iv da Universidade de Coimbra , integrada , ern
,
posição que Jhe.í compere na sixrcdadc bíasileira , Não tormam , at é hoje , uma
para consolidar os fundamentos do Estado e configurar uma torça social . A inrdcctualidade brasileira levou ao último csuemo essa atitude
ordem nacional . Ela forneceu , assim , o modelo de uma camada
,
de impassibilidade perante a iom pú blica ( ibid , ; 2 ] g ),
social que , sem d ú vida , teve de compor com os interesses eco-
-
Tornar se uma "foiça social" supunha nada menos que
—
nómicos regionais , mas tirava proveito da diversidade destes
para afirmar um poder que se fundamentava , n ão na represen
ta ti vi dade , mas numa unidade ideol ógica notável ( Carvalho ,
- " traçar a pol í tica ' ’ do país , tomando consciê ncia dc duas tarefas
urgentes do momento : forjar uma consci ência nacional Mpaá
1980). Os intelectuais dos anos 20 , muitos dos quais haviam conceber a sua polí tica [ do Brasil ) , é necessário formai uma com -
recebido uma forma ção jurídica , n ão estavam inovando quando
se erigiram , sem outro mandato a não ser o derivado de suas
ííè ncia nacional ' ( ibid : 97 )
'
.
—
c promover a organizaçao
nacionaJ " \ Esrc apelo encontrou consider ável ressonâ ncia: nos
1
"
convicções , em responsá veis pela restauraçã o do Estado e da anas seguintes, Alberto Torres seria visto como o precursor Lncon-
Nação. Pretenderam retomar por conta pr ó pria , e sob outras reste dos pensadores autorit á rios de codas as tendenetas .
formas , a fun ção dc uma elite que soube colocar-se a serviço A partir de 1915 , o nacionalismo invadiu a cultura brasi -
do Estado nacional no século XIX . leira . Expandiu - se na literatura a ponto de tornar suspeita
O processo de conversã o dos intelectuais cm agentes qualquer obra que parecesse manter alguma dist â ncia em rela-
pol í ticos assumiu , a partir de 1915 , o car á ter de um movi - çã o a elek í . Deu origem a associa çõ es onde os intelectuais esta -
-
menta global e realizou se sob diversas formas : vaga naciona -
lista . modernização cultural , ressurgimento ca roliç o , impulso s UukíaratB A reedição dc 193*3
an illiberal . í r ííiriL 2 ai;ii í nafinnil
A i| "
urnlo de outra obra de Albert Tories tupi piLmcrm edj
Ção data de 1913 Utilizaremos a segunda êdjçÉò t , pubí iíada cm 1933
,
-
" Gomo piavam ai re-y Lse ^ dc cerros au tares cjadionodistai diante du pemma em
I Uí I * it pasa rumei se o ponto de partida dessa lirerarura “ romeidisse tarn o n úcleo ^
feca Tatu , .. nado por Mrmie : m Lofearo para ridicularizai os «afeeío* c diLirambos ^
da poder executivo' í ibid . : 231 ) . que prol iteravam i custa ds muda n aciorialLsta .
B S C S K / U F f l OÍ
26 27
X
vam on ip rest- rites , e cujo protó tipo foi a Liga de Defesa Nacio- sensibilidade à descoberta pskanaiírica e , simultaneamente ,
nal criada cm Sâo Paulo pelo poeta Olavo Bilac e que logo exploração dos alicerces da nacionalidade brasileira na busca
encontraria adeptos em outras cidades. A Liga se propunha , de suas maneiras de ser , seus falares , sua diversidade é tnica e
entre outras coisas a confiar ao Exé rcito uma fun çã o educa -
,
cultural e das indefinições que est ã o na raiz da sua inventivi -
tiva na formaçã o de ' ‘ adad àos -soldados ( Ba ía Horta , 1985 ),
"
-
dade ( Câ ndido, 1980: 119 21 ; H . B, de Hollands , 1978), Uma
O nacionalismo també m fomentou publicações , como a Revista modernidade ideológica c ir ó nica , portanto, que mescla o cos -
do Brasil, cujo primeiro editorial justificava a sua fundação mopolita c o nacion .il . mas que representa , sobretudo, urna
pelo " desejo, a delibera ção , a vontade firme de constituir opção pelo nacional . E o que expressa pouco mais tarde M ário
um n ú cleo dc propaganda nacionalista ” , acrescentando: de Andrade:
Ainda nlo ions® tuna nação que sc conheça, que sc csrimc, que se baste , ou. Enquanto o brasileiro não sc abrasileirar c UZD selvagem Os Tupis nas suai tabas
com ma is acerco , somos uma nação que ainda n ã o teve D ânimo de rompei sczi - mm mais civilizadas que nõs em nossas casas tie tida Horizonte e Sã o Paulo.
nhapara a iientc numa projeção vigorosa t fulgurante dt aia personalidade ( ci-
tado por W . Martins, 1977).
.
Rot uma simples raz ão: r ão hã uma Civilização. Hâ civilizações|... j N’ós. imi-
tindo ou reperindn a dvilhaçâo fiantesa , ou a alemã , somos um p íunitivos ,
parque estamos ainda na tase cio mimrásfllô (atado em Schvanzman . Bons -
Os artigos nela publicados test cm unham a efervescência
quer Boíiciny e Ribeiro Costa. 1984 : SO),
politico-cultural do Brasil naquele momento er segundo Alceu
Amoroso Lima , o projeto cie criar um Mestilo nacional de lutas Essa modernidade contraditória trouxe também , pelo
[ que ] é hoje urna necessidade da inteligência c não um esfor ço menos potencialmente , o engajamento pol ítico dos que a
do sentimento (citado por W . Martins, 1978a : 79 ).
3
defenderam : de faio , o debate entre o cosmopolitismo e o
O ano de 1922 t l requentem eme citado como símbolo nacionalismo ocuparia o centro da questão polí tica tal como _
da muta ção em curso . Foi o ano cm que sc produziu a primciFa esta se colocaria nos anos seguintes , O Modernismo mostrou
revolta dc jovens oficiais, os famosos ten emes , cujas rebeliões ainda que o plano cultural e o político são indissociá veis ; trans-
e longas jornadas atrav és do pa ís iriam demonstrar a adesão formar uma nação latente em nação -sujeito supõe um empreen -
da nova geraçã o militar ao projeto de reforma do Estado , de dimento em ambos os n í veis. Raros foram os participantes da
tal modo que este pudesse dar forma à na ção . Data daí igual
mente a funda ção do Partido Comunista Brasileiro ( PCB ), que
- Semana de Arte Moderna que n ão se alinharam , logo depois,
como militantes no terreno
.
definiu o conte ú do da modernidade cultural: contemporan ci - cida pela Rep ú blica . Quanto aos intelectuais leitores de
dade ao lado das vanguardas europeias tu runs tas e surrealistas , Joseph dc Mars ire Charles
, Maurras . Hcnri Massis , Léon Bloy ,
28 29
-
1924 ): Alceu Amoroso Lima transformou - se ern guardião vigi - .
lig ê ncia ” ou intelligentsia Aliás, a palavra ‘ ' inteligê ncia ” ,
lante de uma ordem moral e , apó s 1930 , em incansá vel defen - cm portugu ês, nem sempre se distingue de intelligentsia : mas
^
sor da tutela dalgrejalõbre o ensmo p ú blico. Muitos mem - esta fora de d ú vida que os que a utilizam consideram -se perten -
bros dessa correnre , inclusive Amoroso Lima , ingressariam centes a uma categoria social específica c que esta categoria £ T
depois , de í orrna duradouta ou nao , no movimento integral ista antes de tudoT uma elite dirigente.
de 1933. Para os nacionalistas conservadores e autoritários , por sua
À pressão antiliberal , por sua vez , acompanhou a difusã o vez , o elitismo fundiu - se corn a representação que faziam do
dos diversos nacionalismos. G liberalismo , daí em diante , tam - social. Gustave Le Bon com sua Psicologia das massas marcou
bem seria tido como produto importado , inadapt ã vcl ao solo
brasileiro. Foi ao liberalismo que Alberto Torres atribuiu o fato
- -
presen ça: em 1917 , disputava se a obra nas livrarias ( W . Mar -
tins, 1978a : 104 ) . A rela çã o massas elites jnyadiu o pensam en to .
de que , no Brasil , a política fosse “ de alto a baixo , um meca - pol í tico. Afirma Oliveira Víanna!~
nismo alheio à sociedade , penurbador da sua ordem , comrano
ao seu progresso ” ( Torres , 1933a : 183 ). Num dc seus primei - À realização dr um griodt ideal nunca t obra coletiva da mas ça . mas sim dc
ros livros , publicado em 1922 , Oliveira Vianna , que se tornou uma dite dc um grupo dc ama claisc . que com fit sc identifica que poi <!<
, ,
•
um dos rnais not á veis teó ricos da organiza ção autorit á ria , assim peleja (citado por Medeiros lsrS : 94 ).
,
m
se expressou : • * os elementos liberais ( .. . ) inspiram -sc em teo
rias e ideias exó ticas c refletem as campanhas polí ticas que agi -
- Azevedo Amaral acreditava que , para o despertar das massas ,
c preciso que vobct das se exerça a ação deflagrtdofa da mtdiigéíida e da von -
tam eni ão o cenário europeu e o americano \ Diz ainda: " En *
à concepção da própria pol í tica . No caso brasileiro , essa visão Vianria e Azevedo Amaral , como inspiradores da alta adminis -
elitista implicava n ão só o respeito por uma hierarquia social , tração.
herdada ou adquirida , mas determinava também a rcorização Essas tomadas dc posição exigem vários comentá rios . Em
da pol ítica tomo compet ê ncia : a arte de governar relaciona -se muitos casos , traziam , dc fato , a marca da origem social dos
com o saber cientifico . Também essa afirmaçã o n ão foi privil é
gio dos pensadores autorit á rios , embora estes tenham sido, sem
- intelectuais , como observa Sé rgio Miceli a propósito dc Aze -
vedo Amaral , Afonso Arinos , Otávio de Faria , todos descenden -
d ú vida , os mais explícitos . No dizer de Azevedo Amaral: tes de grandes fam ílias do Impé rio ou ligados â elite adminis
trativa ; o mesmo se aplica a Oliveira Vianna , Gilberto Amado
-
A própria natureza caecciaJ da ação pol ítica é dc ordem tnrekciuaL isto c , e outros , procedentes de fam ílias de grandes propriet ários ( Mi-
exerce -se pelo domí nio da intelig ência de minoria® privilegiadas ieicbralmcnrc
sobie maiorias inrdccndmeme inferiores (atado por Medeiros, 1971: 97 ), -
ce!i , 1979: 166 7 ) , Seu elitismo foi socialmente marcado.
Esses intelectuais , entree a men advogavam sobretudo cm
Segundo Francisco Campos , primeiro Ministro da Educa
ção do regime de 1930 e protagonista eminente da transi çã o
- causa própria . N ã o pretendiam falar cm nome dc nenhuma
I
que *rus escritos n ão fazem mais que raras referencias às classes
médias e , mesmo assim , em geral , de maneira singularmcnte quer que fossem as suas opiniões sobre o Estado anterior ou
depreciativa , como se estas, representadas por funcion á rios de posterior a 1930 , falavam a partir de uma posi ção hom ó loga á
nível medio c bachar é is , simbolizassem a in é rcia e o servilismo do Estado . Preocupando-sc com a elaboração da cultura brasi -
induzidos pelas estruturas olig á rquiais. O mesmo aconteceu leira , n ão tinham consciê ncia de negligenciar o problema pol í -
com os intelectuais das geraçõ es posteriores: o Brasil n ão é tico: estavam simplesmente convencidos dc que a essê ncia do
como outros países da Am é rica Latina , onde se depositam a.s pol í tico era o processo que conduziria ao advento de uma iden -
esperanças numa modernização baseada na ampliaçã o dos seto - tidade cultural .
res m édios Na melhor das hipó teses , estes sã o vistos com con -
.
descend ê ncia .
Na realidade , os intelectuais se comportaram como os Os fundamentos da legitimidade
tenentes . E certo que estes provinham , com frequ ê ncia , de do poder intelectual
uma origem social relativamente baixa 13, mas n ão se portaram
de modo algum como vanguarda das “ classes medias ' ao Para justificar suas pretensões, era necessá rio ainda que
contrá rio do que . por muito tempo , se afirmou —
nem procu -
raram apoiar - se cm outras classes sociais . Os tenentes també m
os intelectuais pudessem mostrar t í tulos , o que de fato n ã o
lhes faltava . N ão eram títulos obtidos por procedimentos de
pregaram a supremacia dos valores elitistas e nacionais , aspi - habilitação formal , à maneira dos letrados chineses , nem diplo -
rando assim a demonstrar que era possível superar as determi - mas de “ profissionais dos tempos modernos Consistiam
'
na ções particulares e , desse modo , agir exclusivamente em fun - na posse dc um saber sobre o social , reconhecido e valorizado
ção dos interesses da na çã o ( Fausto , 1972 ) . Intelectuais e tenen - por amplos setores da sociedade. Assentavam , simultaneamente ,
tes dveram , assim , uma atitude semelhante : agindo como ava -
- na capacidade de definir o social e dc explicar as condições da
listas da unidade nacional , firmaram sua presença como catego - sua organização. Falamos de “ legitimidade" no sentido dc
ria “ socialmente sem ví nculos" 14 . que os intelectuais retomaram por conta própria concepções
Quanto aos intelectuais , não convé m superestimar o cará - do social j ã presentes em outros grupos sociais e . sobre essa
ter pol ítico de suas atitudes at é as vésperas da Revolução dc base , elaboraram “ o campo do pensá vd ; em outras palavras ,
1930 , Mencionamos ames que . com raras exceções —
constitu í- a problem á tica leg ítima " iBourdieu , 1979: 465 ).
Não existia ainda no Brasil uma tradição universit á ria .
—
das sobretudo de pensadores mineiros , n ã o se imiscu íram
— —
——
T I O movimento revolucion á rio O motivo n ã o reside apenas no
. Havia escolas superiores sobretudo dc engenharia c facul -
fato de lhes parecer , de in ício , que este anunciasse a um retorno dades especializadas de direito , por exemplo * algumas
ao liberalismo: outra razão foi privilegiarem , como prioridade , das quais aJcamente prestigiadas. Quanto à criação de universi -
a interven çã o no domínio cultural . Sua formação não os prepa - dades, poré m , prevaleciam as reticências . Nos anos 1880 , os
rara para imaginar que uma revolu ção pol ítica pudesse alterar positivistas fizeram uma campanha contra todas as iniciativas
em profundidade a “ realidade nacional " ( L . L . Oliveira , 1980: nessa á rea . temendo que se fornecessem ao Estado os meios
432 ). Antes , os estimulara a se manifestar a favor de uma “ or - de assegurar sua tutela sobre o ensino superior . Apesar dc tudo
isso , em 1920 foi fundada a Universidade do Rio dc Janeiro ,
12
O grande passo , contudo , só seria dado após 1930 , com a cria -
Sobre a rcx ruuunenro dos «tirares , ver José Murilo de Caralho (Carvalho , 1077 :
-
181 253).
* Segundo o conceito de Weber , retomado por K. Mannheim
' 14
-
Ver os estudos de Max Weber sobre a burocracia ( Weber, 1 % 1 : 240 4 ).
34 35
\
çao da Universidade de Sã o Paulo em 1934 e da Universidade positivista nio aparece ai por acaso; uma influencia que n ão
— —
cia
Federal em 1937 , substituindo no Rio de janeiro a Universi- implicava longe disso uma fidelidade estrita à doutrina
y dade do Distrito Federal que a precedera . de Augusto Comte Ali . ás , desde os anos ISSO , o sucesso dessa
Sendo assim , os intelectuais não dispunham de um princí - doutrina se deveu muito menos aos seus disc í pulos ortodoxos
pio de identidade que remetesse a v ínculos institutional. Não — como os agrupados na igreja positivista do Rio de Janeiro
& V A sc situavam em, um cairipó aut ó nomo , com suas hierarquias e
estrat é gias alicerçadas em crit érios relativamente est á veis . Não
— do que aos seus propagandistas ruais livres , que lhe deram
repercussão na Escola Militar c nas escolas dc engenharia , e aos .
atuavam , tampouco, no sentido de consolidar as liberdades e políticos do Rb Grande do Sul , que nela foram buscar inspira *
os direitos tocantes â condiçã o universit á ria . N ã o apresentavam ção l \ E com razão , pois nos anos 20 o positivismo remeda ptin -
reivindicações do tipo " democratiza ção e participação , como
11
cipalmente a ideia dc que , i pol í tica e a ciê ncia est ão associadas :
seus homó logos argentinos a partir do movimento de Có rdoba , a sociologia c a apreensão das “ leis científicas necessá rias' \
ou seus hom ó logos chilenos em consequ ê ncia do movimento que fundamentam qualquer possibilidade de previsão , uma
dc Santiago , O eco das reformas de Có rdoba repercutiu entre vez que , segundo Littr é, “ as previsões são tanto mats seguras
os estudantes do Rio de janeiro , que por sua vez tecla matam quanto mais conhecermos e obedecermos a essas leis " (citado
a “ constituição de uma universidade moderna , laborat ó rio de por Nicolet » 19 S 2 : 206 ). Assim , Azevedo Amaral preconiza “ a
valores morais c mentais , em contato direto com o povo , do investigação positiva do desenvolvimento sociol ógico " ( Aze -
qual est á divorciada h ã longo tempo devido à sua estrutura vedo Amaral , 1930: 17 , citado por Medeiros , 1978: 133 ) c Oli -
medieval e retardarária " . Citando o manifesto dc Có rdoba , veira Vianna declara - se positivista quando aplica os m é todos
denunciam "o direito divino do corpo docente ’ (Portantierro , '
das ci ê ncias naturais às ciê ncias sociais . Em geral , a perspective
1978 : 228 ) . Este texto , por é m , c tardio : dc 1928 .. E sobretudo
mal - enfocado , porque foí redigido num momento cm que a
da "organização social " que orientou muitos desses pensado
-
res situava se dentro da corrente positivista .
-
quest ão consistia cm transformar o ensino superior dc modo Entre os intelectuais autoritá rios, entretanto , esse positi -
que He formasse verdadeiras elites. Na verdade, o intelectual vismo veio mesclado com todas as teorias em voga na Europa
brasileiro apresentava , com u mente três perfis: ode advogado entre as diversas correntes da direita revolucion á ria (Stern-
" "
4
f, n ão pertenciam ao movimento cató lico . É claro que a influ ê n - a aplkaçáo prá tica ,, à vida social , das noções adquiridas pela ciência da gen é rica ,
-
[ que ] deikxuu as questões atinentes ao desenvolvimento sociológico do plano
A hgnr - d -i.i engenheiro aparece , cm nwnciMS obras , como sStnbob da apropriação
, do fatalismo e do empirismo (MnkitDS. 1978: 136).
-
crcmco dennin. a elo feífitóriu brasileiro. " A nossa engenharia. n ÂO icm desiino mais.
'
-
ntibrí e mais ú dl que esra conquista lad úfill de nossa teria " , escreveu Eudtdes 4ia
Cunha que ah ãi ms.riifeitou sua admiração pelo engenheiro milhar Câ ndido Ron
,
-
cenkú , 19BJ * Hl }.
-
dori . o qual LAN çn bu íra para Lniejgiar o fururo icrrir õ rio de Rondôtlil ao Brasil ( 5er Sobre a htsrôna dn positivismo brasileiro , remetemos ,
Ivan Lm.s (Uns , 1 %^ ) c át Crua Cosia ICWIA, i % 7 l
ertLfe imimeras obras , is de
56
37
A propósito das classes sociais, formula a seguinte hipótese:
WT:nuação do caminho Tcpi só se dari pela ausência de imposi ções temá ti -
As classes st cansuiuero segundo os traços peculiares da organização biopsiquica - -
cas , de imperativos ideológicos. 0 arbí trio mrmal n ão pode sobrepor se is fata
do* grupos ongmanamente incorporados úI sociedade , t tuja persist ê ncia c assc’ .
lidades cósmicas , étnicas , sociais ou religiosas (Vtlloso. 1983; 63 )
gurada pela iraõsmissSo heredit ária dos B CSRQC plasma £crmir
dvo ( Azevedo Amaral . 1930. citado por Medeiros. 1978 136). Mas a moda tupi foi bem alem dos setores dc direita .
Aproveitaram , enfim , esses esquemas para devolver aos
Esses empréstimos não sào exclusividade de Azevedo Ama -
.
sentimentos e à afetividade o seu papel na constituição da nação.
ral ; encontram -se ainda mats n ítidos nos escritos de Oliveira
Vianna onde sc traduzem numa mistura dc determinismo,
,
Os cat ólicos c os futuros intcgrali stas foram os mais encarni ça
.
-
dos nessa tarefa dc reabilitação , que deveria assegurar o triunfo
racismo c nacionalismo . sobre o materialismo . Jackson de figueiredo c Alceu Amoroso
Da mesma forma que na " direita revolucion á ria " euro- Lima dedrcam - sc ao elogio do sentimento religioso. O mani -
peia , tal ciemificismo combina -sc com o nacionalismo. Nesse festo verde - amarelo atribui ao elemento tupi "a prodigiosa
aspecto , Georges Sorel foi um dos guias. Deier Azevedo Ama- força c bondade do brasileiro e o seu sentimento dc humanida -
ral extraiu os elementos para um revolutiontsmo ' ' que pro
1
- de" ( ibid . : 60 ) . Menotti dei Picchia faz da "bondade, a gene-
clama " o cará ter descontínuo do progresso social , a fun ção da
vontade na determinação das diretrizes desse progresso c o
rosidade , a capacidade para o trabalho, o espírito de fraternida -
de" as "caracicristicas essenciais " do povo ( Kicchia, 1935:
papel da ilusão m ítica como propulsora das atividades revolucio- 195 ) , Já Cassiano Ricardo enfatiza " a cordialidade " inerente
n árias ( ibid . ; 138 ), ao povo brasileiro. Essa qualidade logo se transformou em este -
' '
Assim , foram in ú meros os intelectuais brasileiros que par - reótipo. Sé rgio Buarque dc Holanda , que n ão pertence ao ,
ticiparam do assalto contra a razão triunfante do Uuminismo campo dos autorit á rios , ir á fazer - lhe uma contribuição , consa -
e os valores universalistas por ela criados. Nas teorizações biosso
ciológicas , colheram diversos argumentos que servem à sua causa .
- grando um capítulo do seu famoso Raízes do Brasil, publicado
cm 1936 , ao " homem cordial ” , cujo " fundo emotivo extre-
Encontraram primeiro como escorar o elitismo. Nesse mamente rico e transbordante" explicaria a preferê ncia pelos
pomo, todos estavam longe de seguir Oliveira Vianna , que sc
empenhou explicitamente , cm Populações meridionais do Bra -
comportamentos afetivos sobre os comportamentos impregna
dos de ritualismo (S. B. de Holanda , 1981 : 167 ) . Para al ém
-
sil, na tarefa de traçar uma genealogia racial da desigualdade dos estereótipos, tratava -se de mostrar a existê ncia dc um ví n -
social , e que opôs la nossa alta classe rural", portadora do ' ca -
' 1
culo social não- pol í tico que une até mesmo dentro da mais
rá ter ariano da classe superior ” , às "camadas plebeias" , corrom - acentuada desigualdade.
pidas pela " profusa mistura dc sangues inferiores" ( ibid ,: Significaria isso que muitos intelectuais brasileiros levaram
-
188 9) * Raros , porémT foram os que n ão aderiram a uma visão as afirma ções da direita revolucioná ria às ultimas consequências ?
da seleção natural das capacidades , que justifica o direito dc
uma minoria a impor sua lei à maioria .
Estavam longe disso , mesmo os que tendiam para o autorita
rismo. Conservaram apenas o que lhes servia para confirmar a
-
Em seguida tiraram partido desses raciocínios para glorifi - sua própria missão .
car a especificidade nacional . Gra ç as às suas ra í zes pró prias , o Tampouco estavam dispostos a fazer muitas concessões
Brasil possui uma identidade que nada tem a invejar dos pa í - ao "poder das massas " . De bom grado reconhecem nelas uma
ses centrais . A exaltação da origem tupi da na çã o esteve em energia potencial , mas para logo acentuar , como faz Azevedo
voga entre autores de todos os matizes. A corrente verde -ama- Amaral , os limites dessa energia :
rela , emana ção direitista do Modernismo, reunindo homens
como Pl í nio Salgado , Cassiano Ricardo, Mcnotti del Picchia Ai massas, embora contendo em si cm estado potencial as enetgias passionals
- todos futuros adeptos do integralismo — , fez dela uma espe
cialidade . Seu manifesto enunciava:
- da sociedade , caraacnzam -sc por unia incida psíquica que as condena a perma -
necerem mdefiflidamtntr em uma posição dc equilíbrio e^ pirirua! está vel , du
qual espontaneamente apenas se afastam momentaneamente sob a influê ncia
39
3H
recair no artificialismo das consecu ções dos intelectuais de for - pode errar " , observa M á rio de Andrade ( citado por Concicr ,
ma ção tradicional c dos liberais , Com maior frequ ê ncia , por ém , 1985: 27 ) , -
Essa tomada dc consci ê ncia das raizes culturais p ão exclu í a
deslocaram a analise dessas teorias para se situar no plano da
cultura .
a intervenção do intelectual no sentido de fazer o povo ingres -
Voltamos , com isso , ãs qualificações reivindicadas pelos sar na era da civilização. Pelo contr á rio: jã mencionamos a senha
"civilizar por cima " , formulada por Ot á vio de Faria . Esta cons -
intelectuais. Tinham uma voca çã o dijigentc porque conseguiam,
,
melhor do que qualquer outra elite , captar e interpretar o_s tituiu a outra venente da constru ção da identidade nacional.
Os intelectuais autorit á rios foram , rnais do que os outros , seus
sinais que demonstravam que já existia uma nação inscrita na à-
adeptos declarados . Em 1929 ., escreve PI í_nlo Salgado que lcabe
!
dc sociabilidade criados pelas estruturas paternalistas. Nome- meiro divulgou a cren ça na efic á cia das ideias c na possibili
ado para a c hei ia do Departamento dc Cultura de São Paulo dade da o í ganiza ção social . O segundo destacou as fontes de
energia no âmbito da sociedade. Trataremos , nas p á ginas
-
cm 1935 , propôs se efetuar um levantamento das artes e tradi -
çõ es populares. Poré m M á rio de Andrade nã o aiuou isolada -
seguintes , das represem a ções do político que foram elaboradas
a partir da í. Por ora, assinalamos apenas que a legitimidade
mente; em toda parte era a hora da Tedescoberta do Brasil ’.
Villa- Lobos atingiu a gl ó ria — a pomo de se tornar , após 1930 , do intelectual provinha da complementaridade entre os trê s
saberes que apresentava : o relativo á dininma das massas cegas ,
Snihie J miiskii C ú píí pf I dc M áiio dc Andrade nesse campo, ver À maLdlo D . Lon - o concernente à formação da cultura e o que tratava da organi -
ticr í Conder. lffBS ). zação do pol í tico . /
40 \ 41
Nau seria , portanto , um cru ísmo afirmar que esses saberes par a par com a submissão do intelectual ao sistema de " favo -
— social , cultural e politico —
conferiam qualifica ção para o res" que constrangia os " homens livres" ( Schwarz , 1981: 13 28,
-
*
acesso à posição tic dite dirigente , pois est ão no pró prio princi- I Franco , 1976: 61 3 ) , Exaltar o " nacional" , nos anos 20 , obede -
pio da hierarquização social , como també m da fixa çã o dos obje * cia , acima dc tudo , ao desejo de escapai dessa dependência e
ri vos polí ticos necessá rios para que a sociedade tomasse corpo. proclamar o advento dos intelectuais como elite autónoma.
" As minorias que sabem , que pensam e que querem " ( A . A . _ Q imperativo nacional teve ainda outra fun ção : permkiu
Lima , 1942: 62 ) estavam naturalmcnte destinadas a canalizar enunciar os critérios de participação leg í tima nessa elite. Não
as massas a faze - las adquirii progressivamente seus direitos de
,
que exigisse uma representatividade: isso implicaria que o povo internas , ãs vezes muito profundas , Em rela ção ao cará ter pol í -
j á sc encontrasse politicamente constituído . S ó há legitimidade tico do tema do imperativo nacional , tais cisões n ão se limita -
em rela çã o à nação, e nada nnha a ver com uma vontade gerai: vam a uma luta pela classificação , ou pelo dom í nio das regras
era a vontade de uma dite que fomentava as condições para o de classifica ção, no interior de um campo institucional consti - _
3,
surgimento de uma vontade geral . Os intelectuais detinham tu ído ; antes , revelavam os conflitos sobre a concepção da ordem
um poder legítimo devido à sua voca ção nacional. pol ítica . Nào obstante , mesmo relacionados às correntes adtp1
O imperativo nacional n ão se estabeleceu mediante a tas da prioridade nacional , esses conflitos deixavam o campo
nega çã o das ideias c teorias produzidas no exterior: as referen - livre para as pr á ticas de " concilia ção " , essa modalidade antiga
cias à s m ú ltiplas adapta ções locais das variantes do darwimsmo de coexistê ncia e compromisso entre elites opostas e teses con -
social o provam suficien temente . Oswald de Andrade , em um tradit ó rias , numa sociedade fortemente hierarquizada ^. Em
dc seus textos "amropofá gicos \ bem pode instigar a "saltar
1
torno do imperativo nacional , organizou -sc assim um universo
do bonde ' ou “ queimar o bonde " no qual se transportava " a dc debates políticas que , manifestando divisões mas tamb ém
civilização importada " (O. de Andrade , 1982 : 290 ). À seme- consenso cm torno de um mesmo objetivo, conferia aos mem -
I fian ça do movimento modernista , o nationalism o cultural e bros da elite intelectual a possibilidade de um reconhecimento
político caminhava sobre dqas pernas uma autóctone» a outra , m ú tuo baseado na mesma voca ção. Disso , por é m , cambem
ainda e sempFêTTjastante europeia . Comentando o exemplo resultaram formas de exclusão, afetando tanto os indivíduos
do irí tcgrahsmo , Man lena Chauí considerou o recurso à autori - quanto as ideias. Essa ehre nacional aceita as profissões de fé
dade das ideologias estrangeiras como inerente à s elaborações region alistas, mas n à o encoraja as que expressam fidelidade a
autoritá rias brasileiras ( Chauí c Carvalho Franco . 1978 ' ). Ape - •
origens nacionais diversas. Em seu romance O estrangeiro , de
sar de todas as negativas, essas ideologias continuavam valendo 1926 , Plí nio Salgado ridiculariza e maltrata os russos e italia -
para legitimar tudo o que aspirasse à qualificação de "saber " , nos que vão abrindo seu caminho em São Paulo em detrimento
O que estava em jogo no debate sobre as " ideias importadas " dos brasileiros . Em Amar; verbo intransitivo. Mário de Andrade
e as ideias nacionais" era aigo diferente: tratava -se da situa -
4 4
n ão fica atr ás , lamentando a proliferaçã o de estrangeiros de
çã o do intelectual em relaçã o às. elites. Roberto Schwarz e Maria iodos os tipos na " pá tria dos bandeirantes" " 1 . Reações de
Sy 1via Carvalho Franco , de formas diferentes , o demonstraram “
primos pobres" ? Ê o que afirma Sé rgio Miceli: o primeiro ,
bem : as ideias importadas " no século XIX
“
em especial o vindo de uma fam ília tradicional do interior do Estado de São
liberalismo podiam perfeita mente se adaptar a uma socie - Paulo; o segundo , origin á rio de uma família importante pelo
dade que , por outro lado, era cscravagista , porem caminhavam lado materno , mas condenado a estudos incompletos e pouco
Sobre J \ unu!]a çãó «a política brasileira, ver Mercadante ( 1965 ) * soò wudo
*
-
intelectuais dos anos 20 30 não faziam mais que invocar a ” rea-
lidade nacional " : se havia um t ítulo que reivindicassem , era o
terra , de sua taça ou de suas raças , de sua í ndole , de seus destinos: esta política,
superior as politicos doutrin árias ? sempie falazes dos partidos, c instintiva , Tra -
dicional , costumeira nos velhos pabes (Tones , 1933b: 226 ).
dc “ realistas " . A pergunta de Sé rgio Buarque dc Holanda nem
por isso perde a pertinê ncia: o retorno ã s origens tupi n ão ten a
um efeito prolil ã tico contra os males do momento ? E com
No Brasil , é preciso forjá la - " urgememente" .
á " realidade nacional" . A conjuntura n ão exigia que se recor - de fato, duas constatações diferente : ou jã existe um mercado
^ t
i
conta a sociedade brasileira tal como era . somente uma desorganização profunda . Na maioria dos ensaios
-
O "realismo" , todavia , combinava se com o construtivismo
mais deliberado. O rema da “ organiza ção" pol í tica evidenciava
pol íticos , essas constatações se mesclam em boa medida .
As críticas conrra a burguesia ou contra o capitalismo pro-
o propósito dc fabricar , a partir de elementos vários , institui- vinham da primeira afirma ção : admitiam o surgimento de inte -
45
44
ccmor inspirado pda multiplicação an á rquica dt tntcrcòscs par -
resses contrários, mas viam neles um para a nação. Essas
perigo
criticas foram formuladas tanto pelas correntes católicas como ticuiarcs ou pessimismo devido à desorganização do social: eis
por aquelas mais influenciadas pelo positivismo ou pelo evolu - o que levou grande parte dos intelectuais a aderir a uma “ ideo -
cionismo. Por um lado , declara Alceu Amoroso Lima : “ O logia de Estado ’ ' .
Bolívar Lamounier enumera os componentes dessa ideolo-
regime industrial emp írico é um fator dc degenerescência O . gia ; aspiração a uma constituição org â nico- corporativista da
capitalismo instintivo , levando ao conceito de lucro ilimitado
como base da vida econ ómica , é outro grande fator dc degene- sociedade , verdadeiro motivo central das obras dc Oliveira
rescê ncia " ( Amoroso Lima , 193 1, citado por Medeiros , 1978: Vianna c també m de numerosos autores católicos; privilegio
315 ) . O mesmo autor louva o integralismo por suas posições
concedido ao “ objenvismo lecoacxÂiico ou ainda á “ pol ítica
“ amiburguesas" (ibid ,: 276 ). Por outro lado . deplora Azevedo objetiva ' '
retomando o t ítulo dc um livro de Oliveira Vianna
Amaral “ o problema urgente que apresentam hoje as nossas (Vianna , 1930 ) que exigiam a forma ção de reagrupament05
. .
forças produtoras , deixadas at é hoje à mercê de um empirismo profissionais e a abordagem cientifica dos problemas sociais ;
_ T de posi ção a favor dc um tratamento paternalista- auro -
tomada “
mais ou menos grosseiro ” ( Amaral , 1930 , citado por Medeiros.
ntano- do conflito social etc.
1978: I li). Certos ataques aos partidos políticos derivavam da
í f ?
mesma constata çã o: n ão questionam a vitalidade de alguns des - .A expressão “ ideologia de Estado" tem . portanto, o
ses partidos mas denunciam os perigos do divisionismo que m é rito dc ressaltar que o Estado , e n ão a sociedade civil , se
introduzem no Brasil . apresenta como o agente da construção nacional . Essa convicção
As considerações sobre a ausência de um verdadeiro tecido n ão foi de todo inovadora: j á estava difundida no século XIX .
e Alceu Amoroso Lima n ão fez mais que endossá - la ao afirmar
social ou político mscrcm -se na segunda constatação A carê n - . que cm toda a hist ó ria do Brasil , “ o poder p ú blico não c ape-
cia dc agentes dotados de identidade , o caos social , a desordem
política sã o outros ind ícios de uma faJha radical . O Retrato do nas o reflexo do povo c sim o orientador , o guia , o verdadeiro
formador do povo ' ( A . de A . Lima , 1944 : 145 ). Essa ideia
1
socíadas dc ripo amorfo e inorgâ nico (0 . Vianna , 1927 . atado por Medeiros regado do “ bem comum ' \ é “ a autoridade que , na ordem
14 1978: 170-1).
temporal , engloba todos os grupos naturais da associa ção a fim
Sob o rótulo dc liberalismo político , o mesmo Oliveira dc defender o bem pró prio de cada qual e promover o bem
Vianna n ào via mais que um caudilhismo local ou provincial: comum " ( A . de A . Lima, 1939: 65 ). Poré m essa autoridade
" Estudai a
história social dc nosso povo: nada encontrareis só é leg í tima na medida em que respeita “ a natureza das coi -
nela que justifique a exist ê ncia do sentimento das liberdades sas e a natureza do homem , c portanto o Criador de uma e
p ú blicas ' (O , Vianna , 1922 b , citado por Medeiros 1978: 170 1 )
Desconfiança em relação ao funcionamento do capitalismo
. - outra , Deus “ ( ibid . : 57 ). A partir da fundação do movimento
í ntcgmlista , Pl ínio Salgado se convene em admirador do fascismo
da cpoca ou condena ção por princípio dc sua lógica ; d ú vida italiano e se pronuncia a favor de um “ Estado fone" e inter -
sobre a viabilidade do liberalismo político no Brasil ou antipa - vencionista . Esse Estado , por é m , não poderia interferir com os
tia doutrin á ria cm relação às próprias premissas do liberalismo ; tres grupos “ naturais ” ; o grupo familiar , o grupo profissional
I
46
T 47
c a unidade política locaJ , que fazem pane dessa esfera da socie- a de uma nação preexistente à sua organizaçã o pol í tica . Ora ,
dade " que c autónoma c autodetcrminativa " , como també m '
nada invisível» pelas ideias c instituições calcadas do estrangeiro: fundadas na divisão dc classes. Pretenderam enfim , provar ,
e .
formas patriarcas ou , melhor ainda , conceber o Estado moderno Em suma , a desvinculação social roma O' [ year dos laços sociais.
como prolongamento da dominação patriarcal . Escreve Gilberto O " realismo ” revela., portanto , uma ambivalê ncia insupe-
Freyre: r á vel Em um artigo sobre a " imaginação pol ítica brasileira " ,
.
Wanderlcy Guilherme dos Santos insiste no faro de que esta
A história social da casa-grandt é a hist ória intima de todos w brasL Í eirus , da
.
dade nacional , e a sua evolu ção explica a diferenciação natural objetivo: buscar uma definição do fenómeno politico que esc a -
entre as elites e o povo .
passe is concepções comuns da política . Apaixonado pelo rea -
Mas o horror por essa realidade aflora sem cessar cm todos lismo , desejava descobrir esta mistura de uniões e desuniões
ís. O 'ar
rarjnrTnif
^
1
âorf õ* F de Ofivci ra Via o na contrabalan ç a sociais anteriores a toda instituição política. Arquiteto infatigá
vel do “ bom modelo" de organização social , buscava em um
-
a cordialidade , Praticamente nenhum autor estava livre da
" "
ambivalência . Da exalta ção do tupi . Plínio Salgado passa à des- outro plano , o sonho de um controle político que equivalia a
coberta da monstruosidade popular: negai a dimens ã o pró pria do pol ítico .
- -
NSo h á exemplo de uma na çã o que tenha conseguido impor se historicamente
pela suas realizações e peias turitriblliçks por da trazidas para o progresso da
A salvaçã o da burguesia n ã o mi nas mim dos técnicos. dos sociólogos , dos cco-
nomkstas ou dos políticos. A salvação da burguesia está , ames de rudo , na m ão
íuifnaoidade, em cujas iurimiçoes e leis fundamentais n ão se cncomif uma .
da? santos ( A , de A . Lima , 1932: 242 )
condado direta com as real idades da ambient ia nariocal ( Azevedo AmaraJ .
1938: St ).. A partir de 1936 , Ot á vio de Faria afasta - se do culto do
Implicam rum bem a tese de uma gest ão racional das relações Estado para reafirmar as exigê ncias espirituais.
Apesar de rudo, prevaleciam as converg ê ncias . Os espiri-
sociais c econ ómicas , cuja melhor ilustração seria a organiza çã o
econó mica: -
tualistas mostravam se dispostos a reconhecer nos positivistas o
mérito de darem primazia ao conjunto org â nico da sociedade ,
Poderemos dizer que na phaifitaçâú se sintetizam tçdo os objerro para os
; acima dos interesses particulares , Tanto Jackson de Figueiredo
quaiâ convergem as tendências e o= esforços dos que pleiteiam a passagem dc
uma economia empírica para um regime de Sbiemanza ção tacionaJizado na pre -
como Alceu Amoroso Uma fizeram do positivismo um " catoli
cismo sem Deus" ( ibid . : 84 ). Lins e outros foram solid á rios
-
du ção da riqueza e na sua distribuição ( ibid.: 139) em rejeitar a " onipotê ncia do indivíduo" , bem como a aceita -
Essas duas proposi ções formuladas por Azevedo Amaral çã o das "maiorias ocasionais " O lato dc que o poder repre
sentasse a unidade do social podia provir de fundamentos t ã o
-
poderiam ter sido expressas por outros autores a respeito dos
campos mais variados da atividade social : direção científica e diversos quanto o saber , a transcend ê ncia , o direito natural ou
t écnica do desenvolvimento , regula ção equilibrada das relações a vontade nacional expressa pelas elites: o essencial é que esti
vesse ao abrigo dos azares da pol í tica tradicional c que sua " a -
-
sociaisr organização do poder em função do interesse geral ,
enquadramento corporativism da população: outros tantos dequa ção à realidade" fosse garantida pelo fato de que esse à *
aspectos dessa "organizaçã o" que a maioria dos intelectuais poder simbolizava e organizava a unidade social .
sc sen liam chamados a delinear . Alfred Stepan mostrou a difusão do modelo orgâ« nico - - v•
.V j
^
••
Foram m últiplas as fontes de inspira ção . A ótica tecnocrá » está tico" em numerosos pa íses da América Latina ( Stepan ,
rica , o papei unificador do podei * a harmonização das rela ^ 1978 ). Em contraste com a ausê ncia de formas de auto - regula -
ções sociais tanto podiam originar - se de um positivismo adap- çã o da sociedade civil e com a proliferação de interesses n ã o
tado ao gosto do momento, quanto dc correntes cat ó licas con
servadoras ou sociais do corporativismo salazarisia ou do fas-
- coordenados , este modelo tende a conciliar a afirmação dc uma
ordem social ‘ natural " com a interven ção do Estado na criação
cismo italiano , A estas se deveriam acrescentar muitas outras política dessa ordem social . No caso brasileiro, os intelectuais
influ ê ncias , desde o New Deal ate as teorias corpora ti vistas aderiram a esse modelo ainda mais intensamente ^ pois, tendo
do romeno Manoilesco . à.s quais Alceu Amoroso Lima e outros suscitado uma representação despolirizada do sociaJT criaram
intelectuais se referem para exigir a "organiza ção funcional ~
QS meios de atribuir ao Estado uma margem ilimitada de ação
da nação " . As teoriza çõ es variam segundo esses fundamentos para promover politicamente a cooperação orgâ nica entre os
^
cada um . Assim , propor , como Azevedo AmaraJ , estimular o O "organicismo ' s poré m , ultrapassava essa delega ção de
1
desenvolvimento industrial, ou , como Oliveira Via mia . consti- poder ao Estado , Tratava se - —
c n ã o somente por intermédio
tuir um verdadeiro sistema corporativista ; aspirar , como Alceu
Amoroso Lima , â ordem moral ou , como Pl ínio Salgado , a
do Estado —
dc criar uma concepção holista do social . Sabe -
mos que Louis Dumont op õe as sociedades que " valorizam
um vasto movimento fascista , são projetos que desembocam em primeiro lugar a ordem c portanto , a conformidade dc
em concepções diferentes do poder . Alceu Amoroso Lima
1
®SCSHT
52 53
cada elemento ao seu papel no conjunto , em suma , a socie- . Tendo proclamado a prim az ia do todo e fixado os crité
rios pdos quais o poder é a sua representação, restava somente
-
dade como um todn à quelas que valorizam em primeiro
" "
T
lugar o ser humano individual" ( Dumont , 1977 ) . O contraste construir , a partir de cima , as mediações que faltavam O cor -
.
se aplica plenamcme quando se comparam sociedades hierir - porativism o intervé m nessa fase que , segundo Oliveira Vi an na ,
une o povo - massa â “ administração p ú blica " (O . Vi an na ,
unas , tomo a indiana , com sociedades ocidentais modernas ,
i
i
menos nítido quando se trata dc representa ções nacionalistas 1952, citado por Medeiros , 1978: 174 ). Afirma Alceu Amoroso
contemporâ neas: a propósito da filosofia da hist ó ria dc Herder , lima que o corporativismo garantiu "a reassouação dos três
Dumont afirma que ela se origin a do holism o por sua insisten - poderes básicos da sociedade: o pol í tico , o económico e o espi -
cia na submissã o do indivíduo ã cultura coletiva , e també m
dermos sobre esse tema : lembraremos apenas três aspectos .
-
ritual " ( Â , de A , Lima , 1932: 20) . Não é necessá rio nos esten
do individualismo por sua ênfase no cará ter ú nico de cada cul -
tura ( Dumont , 1979 ) . Parece- nos que a diferen ça est á entre O primeiro é que , antes mesmo deJ 930, o projeto corpo
mivista enunciado por diversos in t derruais era ronrrhidn
-
um holismo inicial , subjacente a organiza ção do social , e o
holism o voluntarism , que tende à reorganiza ção do social . Seria como uma to mia dc regular as relações emxe Q_ “ capital" e o
,
desnecessário dizer que o holismo brasileiro entra na segunda
J
categoria . É verdade que os intelectuais se estor ç avam para pri - já vinculava nacionalismo e “ quest ã o social " , H á ali um
P
-
—
var o individualismo de qualquer consist ê ncia real ; demons erro de lógica: "A solu ção do problema trabalhista entre n ós
tram - no , de um lado , a valorizaçã o da afetividade , do patfkrca-
lismo e da fam í lia extensa c\ de outro, a condena ção do indivi-
Mo poder á deixar de ter como premissa maior — -
a necessi
dade de preservar a nossa personalidade nacional " ( citado por
dualismo como fundamento do pol ítico devido ao seu car á ter Medeiros , 1978: 178), Mas envolve tamb é m a afirmação de
artificial e dissolvente. No melhor dos casos, para destacar os que a consolidação do Estado brasileiro exige o controle das rela -
aspectos positivos da desordem brasileira , foram levados às vezes ções sociais — controle que simboliza a autoridade do Estado
a reabilitar certas manifesta ções do individualismo. Men oiti diante da burguesia c das classes populares. Constituía , al é m
de! Picchia exalta “ o profundo e fecundo individualismo do disso , a " interdição preventiva dos conflitos de ejasse; “ Os
brasileiro tornando-o ativo . aventureiro , andejo, liberto de pre -
, conflitos de classe , pró prios às sociedades de alta organização
conceitos ( Picchia , 1935 : 173); o libert ário Oswald de Andrade
"
industrial , n ão tinham aind ã razão de ser entre n ós" (O .
aspira a dar liberdade ao “ indiv íduo , vítima do sistema " e cria - Vianna , 1923 , citado por Medeiros , 1978 : 181). TripIkc tomada
dor , na medida em que n ã o admite o surgimento d â l ógica
:
de posi ção que , sob formulações diversas , seria resgatada por
entre n ós '
-
( O , de Andrade , 1982: 269 70 ). O indivíduo muitos outros intelectuais , e cujas implicações sobre o pró prio
emerge , assim , na cultura brasileira . Persiste acima de tudo , estatuto de intelectual sã o importantes: a vocaçã o dc intelec -
por é m , o fato de que os ensa ístas careciam de elementos no tual se realizava pelo equauoriarnento conjugado da questão
momento em que desejavam ressaltar as estruturas dc hicrar - social e da questão nacional ; a autonomia do intelectual se cons-
quiza çao inseridas diretamente na sociedade. Em vez delas. tr ói sobre o pano dc fundo do enquadramento das classes popu
lares , pela via institucional ou pela via pol í tica .
-
descobriram apenas o comodismo e a depend ê ncia , tom a vio -
lê ncia e o particularism o que os acompanham e que corroem , Q segundo aspecto diz respeito i definição da cidadania
tanto quanto os pseudopamdos polí ticos , a unidade nacional . O esquema corporativo estará na origem das medidas adotadas
Da í as marcas de uma exigê ncia holista . produto da aus ê ncia após 19501 regulamenta ção das profissõ es , leis trabalhistas de
de mediações sociais adequadas . Ela coloca tace a lace , sem 1932 , legisla ção sindical . Essas foram as bases do que Wander-
intermedi á rios , as massas e o poder . H á algo de arisfotéjko ley Guilherme dos Santos qualificou como sistema dc "cidada -
nesse holismo ; seu objetivo c dar forma à mat é ria . Nesse con nia regulada " , que se apoia na atribuição dc direitos molda -
texto , os intelectuais detem o segredo das formas. dos em função da filiação profissional.
S4 \ 55
localizados cm qualquer uma das ocupações reconheadat c definidas em lei e o sentimento que me domina da missão transcendente do Estado ern nossa
, ,
órbita do Estado , caso queiram obter uma identidade coler í va Esta conclus ão recrospeciiva conduz ã seguinte pergunta :
lega! . Ela introduz , a um só tempo , princípios de diferenciação de que modo o nacionalismo e a organização comandam a for -
em termos de categoria e de local que se opõem às solidarieda - mação concreta da vida polí tica?
des coletivas mais amplas , e submete cada categoria ao controle Observa ção do povo' : cis, mais uma vez , uma invoca-
-
*' 1
benepl ácito do Estado , confere meios às elites daquelas profis- coroo aquilo que . aqm embaixo, pode ser eterno , ulnapaisando de muito a
sões para criar as condições de acesso ao exercício profissional , noção de Estado no sentido corrente da palavra , isto t . a ordem social tal como
e para intervir em nome da "ética" profissional ( L . W . Vianna , í C exprime na concepção clara que dela temas c tal como « « abelerc c se man -
1984 ). Legitimava també m as compet ências especializadas ., e rem em conformidade com esta i d e i a (, 0 patriotismo deve juramente dom í -
delegava certas funções p ú blicas._ Assim tbi o intelecrasd scinsc - nar o próprio Estado , como sua instância superior ultima e independente limi-
, ,
tando-o na «colha do? meios em vista de ?cu objetiva primordial: a paz inte-
rindo na construção orgâ nica da sociedade t do poder . O exem - rior ( Fithre, 1952 : 173)
plo brasileiro demonstra a correla ção que se pode estabelecer
em te a organiza ção das profissões c o processo de formaçã o do No Brasil estava absolu tain ente fora de questão um patrio-
,
Estado {Johnson , 1982 : 186- 208). Acima dc tudo , ele sc ins- tismo que prevalecesse sobre o Estado , Ao contrá rio , _o _ Estado
creve numa representação do pol í tico como "organização" . nacional deveria criar as condições para o sentimento nacion;; I
Nacionalismo c organização: cis duas noções insepar á veis , TTisso não resulta que o Estado não tivesse limites na
que compõem a arquitetura de um regime pol ítico. Em uma expressão da sua autoridade: a "organização" desempenhava
S7
56
71 ), A "organização " era , assim , o vínculo sem media ção do lismo assim o exigia , mas rambern o ciemilirismo a té religiosa
,
Estado com o povo , vínculo que confere ao Estado a proprie- e a confian ça no Estado para administração da coisa p ú blica ,
dade dc scr um " Estado nacional e popular " ( citado por Medei Herdeiros do positivismo e do cvolucionisnio. acreditavam no
-
*
ros , 19" 8: 27 ) c , ao povo , a de estar inserido na nação . Neste valor dos miios a mane ira jdc-Sord . mas nutriam uma inimi
segundo caso , o corporativismo se traduz por redes insiirucio- zade exagerada ao Ilumin ísmo, para se entregarem à s alegrias
.
meio dos conselhos t écnicos c as elites mass diversas encontram Rararnente* contudo, haver á intelectuais empenhados com
meios de coexistir na esfera do Estado , tamanha tenacidade e convicção na elaboração de receitas para
Na verdade , a "organização ' * é também a consagração ordenação do social Seria muito apressado, porem , arribu í r -
do Estado de “ compromisso" , que n ão é tanto o resultado dê Ihcs a paternidade efetiva das transforma ções posteriores a 1930 ,
urny " crise hegem ó nica ’ ' ou de um equilí brio instá vel enire Simplesmente estavam sintonizados na mesma faixa que mui -
trav ões sociais de interesses antagónicos ( Weffon , 1965a: 58 ), tos outros setores , civis c militares , que , inspirando - se cm repre -
mas a express ão de uma estratégia de reconhecimento de novos senta ções id ê nticas » pareciam por cm a çã o as teorias intelectuais
.
interesses sem preju ízo dos antigos , dc promoçã o de um inter - c dar lhes um reccmhceimcnto social .
vencionismo que se superpõ e sem atritos aos mecanismos capi-
.
talistas ( Schmittcr 1971) .
Da teoria ao engajamento político
Flnalmenrc , a " organização" c a negação da democrat ta
pol it it a : recusa a tudo que seji divisão pol ítica , manifestada
pelos partidos ou pelos clãs; recusa a própria pol í tica na medida partir de 1920 , o engajamento dos intelectuais n ão se
cm que , transform and o-se em um fim em si mesma , ela se des - reduz a exaltar o "cará ter brasileiro" , nem a construir no papel
-
liga da realidade , consagrando se à $ falsas aparências . novas institui ções . Expressa - se também , em muitas ocasioe s . .
A ambivalência realista corresponder assim , LI ambivalê n- pela filiação aos partido ^ pol í ticos locais. Assim aconteceu em
'
cia pol ítica . Autorit á rios ou n â o , os intelectuais não podiam São Paulo , onde se encontravam tanto nas fileiras do Partido
abster -se de conferir um conteúdo pol ítico ã sua missão nacio- i
Democrá tico ( PD ) , fundado em 1926 e atuando em prol da
nal Gcralmeme , poré m , obstinavam -se numa nega çã o feroz amplia çã o dos direitos polí ticos , como no Partido Republicano
do fenômeno pol ítico a preLexto de uma política "objetiva r Paulista ( PRP ), situado dentro da cor rente olig á rquka Má rio
.
"
administrativa . Dai a perpé tua contradança entre realis
" J í
de uma proteção vigorosa , não indicava que houvesse um cavam -se , perante a sociedade , em posição hom óloga à do
grande projeto industrial , A invasão dc .S ã o Paulo pelos imigran - Estado ; constataremos que a rec í proca era verdadeira . O Esta -
i t s estrangeiros chocava os valores aristocrá ticos A " quest ão do , apresentar ido - se como responsá vel pela identidade cultural _
—
i ‘
*
social continuava sem solu ção , embora não se deva exagerar brasileira , desejava realizara unidade orgâ nica da naçãoe recor-
ria aos intelectuais para alcan ç a - la .
Sobre05 triie í eitua ís dr Minis , al ém do artigo dc t L , Oliveira , consultai Schwartz
rnan Bousquei Bonemy r Ribeiro Conta (1984 ).
^ Tese detendjda pOf Edgar Salvation de Decca ( Decca . 1981 í .
60 61
4
Da í nã o se conclui que todos os intelectuais aprovassem dualismo , o caráter cient í hco do poder e a superioridade do
o novo regime , c menos ainda sua expressão como Estado bem comum sobre os interesses particulares , rodos os tres a ser -
Novo . Tomaram -se , mais do que nunca , politicamente engaja - viço de uma organização explicicameme autorit ária da socie-
dos cm sua maioria , mas segundo modalidades muito diversas dade O positivismo dc Castilhos antecipava , ern todos esses
,
e , is vezes , em campos opostos. A última seçã o deste cap í tulo pontos , as teses dos pensadores autorit á rios . Basta citar um dc
se concentrará na an álise dessas formas de interven ção política . seus balan ços:
A completa reorganização política e administrativa do Estado , moldada de hai -
moma com o bem p&btt í® . t í uburdinadj i fecunda divisa de cortietvar metho -
.4 coincidência entre os intelectuais
e certas elites civis e militares rando\ a sua prosperidade nanirsd . atestada pelas in ú meras obrai postas em exe -
cuçã o e por outros tantos fatos auspiciosos ; o cresccmc desenvolvimento das
ind ústrias ( . . . ): a sua progressiva educação cívica, em qut se fortalece o ininter -
Getúlio Vargas , vencido nas elei ções presidenciais dc 1930 rupto aperfeiçoamento moral deste povo glorioso; tudo isto resume a brilhante
c vencedor na revolta que se seguiu , representava a tradi ção atualidade do Rio Grande do Sul (citado por R , V . Rodrigues , 1982 ; 29 )
pol í tica do Rio Grande do Sul, toda cia formada sob o signo
dc um certo positivismo. Qs terremes c muitos outros mem - Ou ainda este comentário de um contemporâneo a propó -
bros da hierarquia militar também estavam marcados , cm graus sito da visão castilhista do povo:
diversos , pelo esp írito positivista! O pobre povo ( ... ) só aspira a que o denem viver em paz , com as paridas dc
O positivismo do Rio Grande do Sul tinha pouco a ver autonomia que a organiza ção social lhe pcrmiic para a harmonia possível entre
com o apostolado positivista do Rio de Janeiro , e com o posi - a liberdade individual e a autoridade constitu ída (Bruto , 1908: -48-9, citado
tivismo esclarecido ’ que pregavam homens como Lu ís Pereira por R . V Rodrigues , 1982: 30).
Barreto , Alberto Sales Pedro Lessa ou ainda Aarão Reis , um
,
dos teóricos do intervencionismo económico. Buscava , em pri - Mais tarde o positivismo castilhista irá sc colocar cada vez
meiro lugar , justificar a consolidação de um poder forre , c não mais sob a é gide do ‘ apelo aos conservadores' \ lanç ado por
'
representativo . J ú lio de Castilhos , governador do Rio Grande Augusto Comte cm 1855 Apelo cvidcmcmentc desviado dc
,
do Sul de 1891 a 1898 , foi o iniciador desse positivismo dc seu sentido: da " ditadura republicana " preconizada pelo mes -
braço forte ; e Antônio Augusto Borges dc Medeiros , o seu con - tre foi eliminado tudo o que mantivesse a autonomia do poder
urmador de 1898 a 1928 , mantendo -se continuamente no espiritual ; do elogio ao conservadorismo ’ foi omitido , pelo
“
governo do Estado durante vinte e cinco anos , e através de pre - menos ate 1930 , o fato dc que o termo * ‘conservador" desig -
posto encre os anos 1908 - 1913 . Getú lio Vargas , que galgou ao nava o mundo do trabalho , o dos empresá rios e operá rios 26.
governo do Rio Grande do Sul em 1928 com o apoio dc Bor - Restava a ditadura c o conservadorismo , sob a forma dc uma
ges de Medeiros , filiava - se . por sua vez , à linha " castilhista escolha imutá vel em favor da ordem . Isto é , em favor da or - “
Para todos eles , polí ticos pragmáticos , avessos às elabora - dem castilhista" , referencia permanente de seus sucessores ,
ções teóricas , o apelo ao positivismo se destinava a legitimar a cm favor da ordem em si . Prova disto toi a condenação , cm
rejeição aos sistemas representativos e o horror ao parlamenta - 1922 , da primeira revolta tenentista do Forte de Copacabana ,
rismo . O positivismo n ão servia absolutamente para promover formulada , com aprovação de Borges de Medeiros por Lindolfo ,
o desenvolvimento moral do povo — embora Borges de Medei - Collor , futuro ministro do Trabalho do governo provisório de
ros n ão deixasse dc salientar , por vezes , essa necessidade
não convergia para uma separaçã o entre o poder espiritual e o
— ,
Getú lio Vargas de 1930:
inabaláveis no nosso posto dc convicção , nã o pojpaiemc* . dentro da ordem .
poder temporal não abria espaç o à afirmação da liberdade de
,
o ultimo esforço pela integridade da constituição c pela moralidade do regime
expressã o . Mas al é m da nega ção da representatividade , impli -
cava , no mínimo , três princí pios: o questionamento do indivi -
-
Confrontai os owiieniinos dc C Nuolci (Nicolct , lL> Hl 214 )
/
62 63
Pira a desordena civii nio contribuirá n Rio Grand* do ã ui [ ... ). Dentro Ju ordem
itmprt , orno pda desoedem . parta de uode pimr , renda para onde tender esse
quase 22 % dos efetivos militares do Brasil estavam ali concen
,
-
,
trados . Ora , as Forças Armadas consumiam um dos centros de
c o aceso ler na . -supremo e irftvogavd ( citado por R . Y Rodrigues . 1982 ; 70), incubação de um nacionalismo cada vez mais ameaçador para
Op SD do Rio Grande do Sol dentro da Federação impli - a Rep ú blica .
cava , por si so , que o model o de organização positivista escava A irradiação do positivismo já n ão era t ão grande . Triun -
sempre disponível como uma alternativa concreta às institui - fando na Escola Militar da Praia Vermelha cm lins do s éculo
ções liberais. De resto , a vontade de consolidar o poder execu - XIX , ligado â influ ê ncia do ensino , de conte údo muito mass
tivo por parte dos presidentes da Federação entre 1891 e 1902 civil do que militar , segundo as ideias de Benjamin Constant ,
se enraizava num aspecto do positivismo. Outro discí pulo de perdia terreno ã medida que progredia a profissionalização inili -
.
tar sob influencia alem ã durante alguns anos , e sob influê ncia
Jos
J ú lio de Castilhos, é Gomes Pinheiro Machado ., encarregou -
se , nos anos 1890 - 1915 , enquanto senador , de intervir , em
nome desse modelo ., no plano nacional , Quando da eleição
francesa a partir de 1920. Isso n ão impediu que — sob diver -
sas formas que dependem dos n í veis hierá rquicos, da consolida -
do marechal Hermes da Fonseca à presidência da Rep ú blica ção das instituições militares e do ressurgimento do tema do
em 1910, contra o civilista Rui Barbosa , de contribuiu para soldado - cidad ão as Forç as Armadas , e sobretudo o Exército,
que "os interesses supremos da na ção e o " bem p ú blico " assumissem a noção dc imperativo nacional c se associassem
entrassem na linguagem pol ítica da Federa ção como um freio ao projeto de fortalecimento do Estado Nacional .
à expressão dos regionalísmos oligá rquicos ( ibid.: 40). Condu - Em diversas oportunidades , j á fizemos alusão aos tenentes
zido ao poder em 1950 , Get ú lio Vargas logo transforma essa e ãs suas revoltas ocorridas após 1922 . Convé m n ão superesti -
linguagem —c com que estardalhaço !
cial . Em 1931 jã proclamava :
em linguagem ofi - mar as repercussões imediatas desses movimentos . Eles demons-
travam , em larga medida , uma impaciê ncia diante dos garga -
los de estrangulamento que retardavam a passagem aos n í veis
A época i das assembleias opcdatizadjí, doa conselhos rccnkos integrados i
administração. 0 Estado puramemt político , na sentido antigo do terrao , pode-
superiores: em 1920 , os tenentes representavam 64 % dos ofi -
ciais do Ex é rcito ( Carvalho , 1977: 206 ), Contribu í ram , entre -
mos condíku - IOr atualrnente , er-indaGÍ e amorfa que , aos poucos , vai perdendo
tanto , para reabilitar a ideologia do so Idad o- cidad ão . Juarez
" '
-
o vaJar e a signiiicaçáo i . , ) A velha f órmula políuca ., patrocinadora dos dtret
Tá vora , uma de suas figuras mais prestigiosas , que se tornaria
tos do homem , parece estar decadence Em vez do individualisiDD, sinó nimo
dc excesso dc liberdade t do comunismo , nova modalidade dc escravid ão o grande l íder pol í tico do Nordeste após 193(1, declarou a res -
devt prevalecer a coordcnaçiti perfeita dc iodas as iniciativas , circujisoifas à peito disso que " a For ça Armada c hoje parte integrante do
orbita do Estado, e o rtconhecimcma das orgimbaçte dc classe como colabora' povo , dc cujo seio saem soldados e oficiais e para onde voltam
doras da adminjnração p ú blka \ citado por Palm , 1979: 66) aqueles depois de um curto tempo de estágio na caserna " ( ibid , :
211 ) . Quanto ao restante , somente a critica às instituições libe-
Esse desvio pelo RJO Grande do Sul , Estado que era o prin- rais unia os elementos envolvidos nessas revoltas. Isto seria per -
cipal ponco de apoio da Revolução de 1930 , indicava que o
esquema dc "organização da na ção " no quadro de uma "dita -
.
cebido após a vitória da Revolu ção de 1930 quando alguns
deles ascenderam a postos de responsabilidade no novo regime :
-
dura republicana baseava sc numa tradição pol ítica. Dando -
"
imagin á rio pol ítico inédito: apenas recolhiam , acrescentando - outros ainda evoluíram para õ Partido Comunista e a Alian ça
Ihes outros ingredientes , concepções já. utilizadas para justificar Nacional Libertadora ( ANL ), sendo eliminados das fileiras do
certas pr á ticas de governo,
U Rio Grande do Sul era també m ., junto com o Distrito
Exército .
Mais decisiva na d écada de 20 , sem d ú vida , foi a opção
Federal do Rio de Janeiro , o Estado onde se sediavam perma
nentemente as for ç as milhares ruais importantes: em 1920 ,
- de certos chefes militares dc atribuir uma fun ção " moderado -
ia " ãs instituições militares , conciliando a profissionaliza çã o r
!
64 65
a politização. Formulada cm especial por Bcrtholdo Klinger , dera que " compete ao Exercito inspirar os novos programas
um dos artífices da modernizaçã o das For ças Armadas, e pela de formação nacional ’ ( Baia Horta , 1985: 2 17 ) . O amigo inter -
revista A Defesa Nacional , essa fun ção conferia ao Exército, ventor do EsLado dc S ã o Paulo , Armando de Sailcs Oliveira ,
composto de tidad ãos- soldados. uma voca ção estabilizadora: propõe, por sua vez , "fazer penetrar , desde a escola primaria
"o Ex é rcito deve estar preparado para seu papel conservador e
at é o á pice da Universidade , as palavras de ordem inscritas nas
estabilizador " , afirma essa revista (ibid ,: 213 ) , Góis Monteiro casernas ' (ibid .: 221 ) . N ão taltavam intelectuais dispostos a
1
— que , juntameme com o general Dutra , viria a ser o verda - aprovar essas sugestões c ate a colaborar com o que j á despon -
deiro chefe da corporação militar após 1930 e sob o Estado tava como uma ' doutrina de seguran ç a nacional ". Assim , em
Novo —
era partid á rio dessa posição ao escrever: 1939 , o importante educador I.ourcnço Filho destacou "a neces-
Ficam 50 o Ftérttto tr a Mann ha como instituições nacionais , ú nicas forças com sá ria coordenação entre a política dc seguran ç a e a pol ítica de
ti> tcaráter , c v.: à sombra dcUí k que , segundo a nossa < upaadadc dc qrgsnha-
i
educa ção ( ... ) pois , no fundo , trata - se de uma ú nica e mesma
çã o, fxideilii organiZiir-se as demais forças da ruaimaJidiac ( ibid 214 ). pol ítica: a dos mais profundos interesses da nação ’ ( ibid .: 231 ).
A conivê ncia ultrapassava o dom í nio da educa ção: muitas
Impor o reconhecimento da institui ção militar pela vezes se estendia at é a definição do poder e da organiza çã o
qual passavam , cm princ í pio , todos os cidad ãos , desde a decre - social . Azevedo Amaral julgava que “ o Poder Judiciá rio Fede-
ta çã o do serviço militar obrigat ório em 1916 y como respon -
s á vel pela nacionalidade " , c assim como chave- mestra do
— ral e as forças Armadas eram cssencialmentr os dois órg ã os de
,
articulação c de coes ão das unidades federativas no todo consti -
Estado , esse será o objetivo de Gó is Monteiro e Dutra após
1930 . Dc um lado , a dcspolitização" interna do Exé rcito (Car-
"
valho, 1982 : 193- 22 3 ) e , dc outro, a atua ção pol ítica em prol "sob a égide do Exé rcito ( ... ) a grande massa civil , nacionalista ,
da ruptura com o sistema parlamentar e a instala ção do Estado espiritualista , armeomunista , arrebatada por uma incompará vel
Novo: eis os seus principais componentes . Tudo isso n ão sem mística da pátria " ( citado por Medeiros , 1978: 507 ). Eijrre os
conflitos internos: entre os chefes militares ( uma pane do Ex é r - pró prios comunistas , após a adesã o de Lu ís Carlos Prestes ,
cito e o general Klinger solidarizaram -se em 1932 com a Revo - numerosos tenentes com Irequ é ncia promovidos a postos diri -
,
lu ção paulista contra o regime ) , entre os chefes e os jovens ofi - gentes , e vários sargentos ( como Gregorio Bezerra ) afirmavam ,
ciais , entre os militares de alta patente e os subofkiais, entre quando da íormação da ANL , a prioridade da.s reivindicaçõ es
os partidários do regime e a esquerda militar radical e refor - nacionalistas: reforç ar o poder do Estado , acelerar o desenvolvi -
mista . com tudo que esses conflitos supunham de sucessivos mento econ ómico , defender a soberania nacional . Demonstra -
expurgos ( ibid . ). vam assim a influ ê ncia da mentalidade militar , ao mesmo
Esses sobressaltos e transform ações repercutiriam sobre a
orientação política de numerosos intelectuais.
tempo que visavam a atrair os escal ões subalternos cm ativi
dade ( L . M , Rodrigues , 1981: 396-401 ).
-
Desde a criação da Liga dc Defesa Nacional , ficara claro
que a tareia fundamental de educa ção do povo requeria a cola -
A aproximação rinha seus limites. Primeiro , c preciso con
siderar que o regime pós - 1930 fazia do amicomun ísmo um
-
bora çã o entre civis c militares . Em A Revolução de 1930: afina artigo de fé , e da amea ça de conspirações comunistas , o argu -
/ idade política do Exé rcito , Góis Monteiro considera a educação mento de sua evolu ção para um Estado pit n am ente autorit á rio.
do povo como largameritc dependente das Forças Armadas . Por essa raz ão, os nacionalistas " progressistas" foram excluídos
No Conselho Nacional de Educação, criado em 1930 . Isaías , dos c í rculos convidados a cooperar na "organização" nacional .
Alves, tururo secret ano de Educação do Estado da Bahia , pom Certos adeptos do pensamento autorit á rio demonstravam reser -
vas diante dc uma excessiva militariza ção da vida política . Por
‘ N .i tealidiJ í- a ilasses m édia tr í upenore ?,
* coiMC-guiíam escapar ao serviço miliiar mais pr ódigo que fosse Oliveira Vianna cm seus elogios ãs For -
-
BRIGAMIKI peto men o* até os anos ilQ ç a> Armadas , in ú meras vezes pronunciou - se contra um " exé r *
66 í 67
dm ddiberante cm 1933 , também Alceu Amoroso Lima pulso forte sobre o ’ espaço pú blico" durante quinze anos.
inquietou - sc com os rumores de uma agitar ão militar. Inclinado ao autoritarismo desde o seu surgimento, por doutrina
Em contraste com essas reservas , porem , outros intelcc -
. e por necessidade de se impor sobre as oligarquias regionais ;
ruais ligados ao regime n ã o hesitaram em comemorar o t é r - condenado à distens ão durante algum tempo , em raz ão da_s
mino da
mente
distin
Azevedo
ção entre poder civil c poder militar , principal
Amaral , que declara:
- relaçõ es dc forças na Assemble ia Constituinte convocada em
1934 ; fortalecido em suas inten ções pela tentativa aventureira
de revolu ção desencadeada pelo PCB e pela ANL em 1933 ; rea
Uma das extravagâ ncias das doutrinas Iiberal -dcmocx â cica-s foi a fragmentação
^
há poder militar, porque o Exército integrado na tacã o c por é5$C motivo coe - pas de Plínio Salgado; tentado a alinhar - se com o Eixo , mas
xtstenie com a própria estrutura do Estado , de que consumi o elemento dinâ - bastante prudente para mudar de direção e, final mente , juntar -
mico de afirmação e defesa ( Azevedo Amaral , IQdO citado por Schumanns , se ao campo dos Aliados, manteve at é o fim um controle rigo-
Bousquc: Bonemy c Ribeiro Costa, 1984 ) . roso sobre a vida política e social do pa ís .
A censura existiu desde os primeiros anos , sendo exer -
Quer se tratasse de ‘ ‘ organizar demificameme a socie - cida sem limites com a prorrogação do Estado Novo e a inter-
dade ou dc colocar o Estado a serviço da ' nacionalidade ' os
1 *
t
dição dos partidos politicos. A repressão e a propaganda agiam
intelectuais nã o faziam mais que formular , a seu rumo , o que duramente . O patriot is mo era inculcado , seja nas escolas ou
jâ fora formulado e praticado por outros grupos sociais. Sua nas associa ções esportivas . Em 3 938 , Francisco Campos quis
proemin ência não decorria necessariamente da aud ácia de suas criar uma " organiza çã o nacional da juventude ” , de cará ter
sugest ões, mas provinha do fato de que se faziam porta - vozes paramilitar , ideia que n ão iria longe , c verdade , diante das
de uma opiniã o já formada ; colocavam - se ao lado de agentes
j á constituídos, procuravam ocupar , com eles , uma posição de
,
reticê ncias de Capa nem a , ent ão ministro da Educa ção , As ati
vidades culturais eram vigiadas . Esses fatos , enefe muitos
-
dite à margem das elites olig á rqukas tradicionais , e que , tam - outros , n ã o pareciam evoluir numa direção favorá vel à queles
bé m como des, faziam um jogo seguro , apostando no Estado . intelectuais que n ão se sentiam atra ídos pelas fun ções dê pro -
Passado o instante de d ú vida sobre a natureza da Revolu - pagandistas ou te ó ricos do autoritarismo . De resto conclui
ção, não levaram muito tempo para perceber que haviam de
,
um historiador :
faro ganho o jogo. Salvo para os comunistas ou similares c os
liberais obstinados , o novo regime foi magn â nimo . Reservou 0 Estado Novo sufocou a vida mpcJecmal , t> que já era uma tendência desde a
para os oferecimentos dc colabora ção intelectual uma acolhida mstinnçau da censura no início dos anos 30 , e consagrou a amução per Vargas
,
favor á vel , e mais ainda porque , propenso ao pragmatismo e das titicas de repressão lutstra a dissid ê ncia ( Levine, 1 %0 : 257 ) .
refrat á rio â mobilização das massas, ganhou dos ideólogos rea
listas o ró tulo de agente de moderniza ção e pacificador social ,
*
O ensino representava um. dos campos onde foi mais sis
temá tico o esforç o do regime para criar a mentalidade do
-
concentrando ai as suas ambições .
-
“ homem novo" Demonstra o bem a evolu çã o de Francisco
Campos , doutrin á no r ígido do autoritarismo enquanto minis -
tro da Educação c depois da justi ç a . Em 1933 , ainda conside -
0 regime autoritário e o reconhecimento rava o ensino superior como um aprendizado do espí rito cr í-
da função dos intelectuais tico:
^
'
dc seteanos para tomar se incontcsrado , esse regime manteve veira . Vdloso c Castro Gomts f IWV
*
68 69
>c ã educação tem por fim transmitir alguma coisa , esta será. necessariamente , so pela qual , apesar da destruição do movimento operá rio c
a retruca do dissentimento, da duvida , da controvérsia , da curiosidade , isto e ,
-
t
dores. isto cr não para aqueles que pensam livre mente mas que peruam de mobilizador, e mostrava -se mats vacilante que resoluto em suas
iniciativas para formar organizaçõ es dc massa . A razão dessa
,
mordo com uma das ortodoxias lonsagadas pelo preconceito suiti -religioso , o
majs supersticioso c o mais fanático de rodos os preconceitos (ibid : 151 ) prudência residia , parcial mente , na dificuldade em atingir um
povo ainda considerado alheio à civilização . Mas sc relaciona
Em 1938 foi a vez do projeto de militarizar a juventude . també m com a preocupação de conciliar tendências diversas
Nesse processo , os dignit á rios do regime n ão eram os ú nicos entre os simpatizantes do regime , dos quais nem todos estavam
cm quest ã o . Eles próprios estavam sob vigilâ ncia , pois as corren - dispostos a completar o salto para um regime totalit á rio, pois
tes cató licas aliadas indispensá veis , n ão desistiam de tentar o
,
n ã o acreditavam ser isto possível ; vincula -se tamb é m à inten ção
restabelecimento do cará ter religioso da educação c uma contra - de cooptar os intelectuais , mesmo os reticentes para com o auto-
ta çã o mais apropriada dos professores . Essas correntes intervi - ritarismo.
nham dirctameme contra dinamizadores do ’ Movimento da 4
O projeto do regime prctcndia - se mais "cultural ” do que
Escola Nova ” que , desde os anos 20 , preconizavam uma peda - mobilizador , e a defini ção do "cultural confundia-se ampla - ”
Federal Akcu Amoroso Lima atacou encarniçadamente tam - veis pelo assunto no regime , que cultura e " pol ítica ” sã o
L
”
bé m a Universidade do Rio de Janeiro, idealizada por An ísio dois termos insepará veis e que cabc a eles fundi - los no quadro
Teixeira e inaugurada em 1933 com o concurso de figuras pres- do nacionalismo . Almir de Andrade , encarregado da formula -
tigiosas do mundo cient ífico , a ponto de forç ar Gustavo Capa - çã o dessa noção de cultura , enquanto diretor da revista Cultura
nema , sucessor de :rancisco Campos no Ministério da Educação , Política , criada em 1937 . assim escreve:
a fechar a instituição em 1938 (Schwartzman , Bousquct í tonemy
-
e Ribeiro Costa , 1984: 210 4 ). Naquela época, Gustavo Capa - Entre a cultura e a pol í tica há um traço vigoroso de uni ão . A cultura põe a pol í-
rica cm comaio com a vida . com is mais genu í nas fomes dc inspiração popular
nrrna lança o projeto para a implantação , no Rio de Janeiro,
de uma ‘ Universidade do Brasil ” , que só comportaria , de iní- A polí tica empresta à culrura uma organiza ção um tooKudo sociaimcnrc ú til ,
,
dos " letrados " satisfeitos oom sua corre de marfim , assim cidade nova de afirma ção e de projeção, sobre o iodo nacional ,
como dos homens dc ação debru ç ados sobre as tarefas praticas: com novas possibilidades de agir c de imantar " . Condui daí:
"Só no terceiro decénio deste século operou se a simbiose neces *
- Seremos capazes de coijugar inicresses e de articular tendências , de forma a
sá ria entre homens de pensamento e de ação", declara de , e
confia à Academia Brasileira de Letras a fun ção de " elevar a constituir um comunh ã o national , em que 0 problema da unidade se estabe-
le ç a em linhas precisas para maior valor de nossa grruc c constante desdobra -
vida intelectual do pais a um n í vel superior ., dando- lhe uma
,
sobre o esp í rito: a intelig ê ncia idealiza vivendo , experimen - Niemcycr para construir uma nova sede para o Minist é rio , que
tando, aprendendo , construindo” ( ibid . ) . seria um Pal ácio da Cultura . Ofereceu a Má rio de Andrade a
A abertura em. direção aos intelectuais n ão ficou sem res-
- direção do Departamento de Teatros em 1938 , c o fez partici -
posta . Exceto com os comunistas , as pontes n ã o lotam corta
- par do Instituto Nacional do Livro . Em 1935 , esfor çou se -
das. E verdade que na revista Cultura Política encontram se a_s
assinaturas dc Francisco Campos , Azevedo Amaral , Lou rival —
Lima
sem obter resultados , devido ao veto dc Alceu Amoroso
para confiar a Fernando de Azevedo a direção nacio -
Fontes , mas també m a de Gilberto Frcyrc. que ali observa uma
verdade [ que] o menos apologético dos observadores deve reco - nal da educa çã o. Por interm é dio de Carlos Drummond de
nhecer , isto e: Andrade , apoiou vá rios artistas modernistas ( Schwanzman ,
Bousquet Bonemy c Ribeiro Costa , 1984: 80 -9 ). Essas aproxi -
—
Com 0 amai Presidente * a base do governo dc sua técnica deslocou - sc ma ções n ão significam , necessariamente , que os intelectuais
da puía interpretação política áoh problemas , acompanhada dc soluções ou [an - tivessem perdido toda a independ ê ncia . Escreve Ant ô nio Cá n -
atavas dc soluções apenas financeiras e jurí dicas para largar 0 Brasil em busca
,
dido :
dc novas bases para as técnicas de governo e de administração: sociais , e princi-
palmem? sociológicas e económicas (Frcyre, 1941: 32 ). Carlos Drummond de Andrade ‘ serviu 0 Estado Novo como funcionário que
já era antes dele , mas não alienou por iiso a menor parcela de sua dignidade
Na revista escreve também Guerreiro Ramos que , por ou autonomia mental Tanto assim que as suas ideias contrárias eram patentes
gosto pelo paradoxo , contrasta "o car á ter burguês , reacion á rio
da massa , e o car áter revolucionário da elite , por mais que isto
e foi como membro do Gabinete do ministro Capanema que publicou os ver
sos pol í ticos revolucionárias de Sendttento dc mundo c compôs os de Rosu do
-
possa parecer paradoxal aos corifeus da ccona marxista da hiscó- pofo ( Cândido . 1979: XII ).
72 í 73
Ê , portanto, reconhecido , iamo pelos contemporâ neos os intelectuais* compartilhando o desd ém pela representative
como pelos historiadores, que o regime de Gerúl ío Vargas, ate dade democrá tica e a nostalgia por uma administração do social
mesmo durante o Esudo Novo , preservou para os intelectuais , que tomasse o lugar da política , foram levados a agir como
e para os que estavam a seu serviço , urna ampla liberdade de sócios a serviço da identidade nacional . Sc os intelectuais aderi -
eração . ram a uma " ideologia de Estado " , o Estado aderiu a uma ideo -
,
.M ão nos contentar íamos em explicar essa situação somente logia da cultura , que era també m a ideologia de um governo
por uma espécie de modus vivmdi entre pessoas de boa fam ília , ' intdcctuil ' \ Al é m disso , o Estado n ã o conhecia outra expres -
ou pela preservaçã o das redes, tão importantes das relações par -
,
são da opini ão p ú blica exceto a representada pelos intelectuais .
ticulares. M ão que se devam ignorar esses fatos : al é m da solida - Vale dizer que o Estado atribu ía , de fato , três papé is comple -
riedade devida ã posse de um 'capital " familiar e cultural , des -
1
mentares aos intelectuais: concorrer para a definição das finali -
tacadas por Sé rgio Mice 1 í , h ã a marca das experi ê ncias comuns. dades da a ção pol ítica . expressar a presen ç a da sociedade civil
,
Exemplo disto é a participa ção na Semana de Arte Moderna , c dar o exemplo de um ator social coletivo. No discurso teórico
assim como os anos de forma ção nas diversas capitais regionais, daquele momento , esses três papé is foram interpretados tam -
que permitiram o encontro* por exemplo , de Gustavo Ca pa- bé m corno tr és atributos definir o que fundamenta a unidade
nem a , Carlos Drummond de Andrade , Afonso A ri nos dt Melo
Franco , Milton Campos e Pedro Nava nos caies da rua Bahia
social c o que se rd aciona ao ato transformador; revelar a reali
dade; formar urna corporação que assumisse o interesse geral „
-
em Belt Horizonte ( Schwartzman . Bousquct Bonemy e Ribeiro
acima das corporações encarregadas dos interesses específicos .
.)
-
Costa . 1984; 23 -4 ) . Revela -se , assim , urna socializa çã o inte Mais ainda : uma vez que o Estado brasileiro se legitimava por
lectual diversificada , dt onde emergia uma “ esfera publica "
amplomente articulada com circuitos privados de comunicação uma dupla aptid ão — a de se adaptar is leis que presidem â
evolução do real , e a de promover uma racionalidade que orien -
t com princípios de hierarquizaçã o interna , considerando-se a
tasse o desenvolvimento económico e gerasse as relações sociais
densidade das relações com as ou tras chies da sociedade ( Haber-
mas , 1968), Florestan Fernandes, que provinha de uma origem
muito distante desses c í rculos ilustres t se consagrou graças a
— .
*
cie conferia à ci ê ncia o estatuto de componente primordial
da política e , simultaneamente , aos " intelectuais ” o de prota-
uma carreira meritocrâtica/ ' exceptional , só poderia ressentir - gonistas privilegiados da vida política. Estado e intelectuais esta -
se profundamente do peso das conivências sociais; nos anos vam, mutuamente comprometidos ,
-
30 40, constata ele. " a liberdade de divergência existia ou era O regime , porem , acarreta outra consequência . Por inter -
tolerada porque ele [ o intelectual | era parte da elite" (Fernan- m édio do DIP e de outras organizações , penetra em todas as
des, 1973a : 26). O regime sabia não só acolher os intelectuais atividades culturais, cinema, teatro, literatura etc . famb ém
rebeldes mas també m ao se referir a eles , manter uma l í ngua
, *
nesse aspecto , ultrapassa o simples projeto de controle ideoló-
gem que evitasse as rupruras definitivas. Afinal , passados os pri - gico. jumamente com a criação de associa ções profissionais ,
meiros momentos do Estado Novo . Vargas se gabava de ter esta - esse era o esboço de um sistema onde os intelectuais sã o incita -
belecido no Brasil a " verdadeira ” democracia , que n ã o seria a
1 dos a voIrar -sc para o Estado a fim tie obter apoio e recursos
dos parlamentos mas a que " atende aos interesses do povo e cm nome da defesa da "cultura nacional " , e onde , com toda
consulta as suas tend ê ncias , através das organizações sindicais c a naturalidade , julgavam —
como Villa - Lobos em relação ao
associa ções p rod u toras
! r
f Vargos , ] 941: 158 ).
E preciso , assim , avaliar a contribuição do regime à posi -
canto coral
'
— que os investimentos nessa cultura eram uma
quest ão de Estado L
'
ção .social dos intelectuais. Por mars desejoso que estivesse o regime de inculcar o
0 Estado lhes reconhecia a vocaçao para se associarem patriotismo e " a doutrina de Estado ( Vargas , 1938 ), ele per -
1
como elite dirigente , à afirmação da na çã o através de sua indis- maneceu , afinal , reservado quanto aos excessos de ideologia c
pensá vel contribuição á cultura pol í tica nacional , O Estado c de controle , J ã vacilava quando se tratava de militarizar a juven -
74 I 75
tudc y‘ . Com nisus razão sc preocupava cm deixar um espaço tempo , o attvismo foi proporcional ã incerteza sobre as verda -
para uso dos intelectuais que , era sua aspira ção à brasihdade , deiras orientações do governo provisório. Ele se apodera dos
sc pusessem , por iniciativa pró pria , a servi ço da reconstrução participantes da Revolução: tenentes , líderes politicos , chefes
do BrasiL locais . Foi a hora das legiões revolucion árias em S ão Paulo ,
" O Estado Novo c o Estado brasileiro , segundo as tradi - Minas Gerais , Ceará c outros locais , sob a direção de renenres
Ç& es brasíleiras , orientado no sentido das nossas realidades " , ou de doutrin ários como Francisco Campos; do Clube 3 de
declara GeruLio Vargas em agosto de 1939 ( Vargas , 1943 : 61 ), Outubro, pedra dc toque de outros clubes pelos quais os tenen -
Esse Estado não surgiu do nada , mas reivindicava sua continui - tes desejavam conquistar a opinião p ú blica e acertar suas pr ó-
dade com o Estado do scculo XDÍ c , mais atrisT com o Estado prias divergências; hora dos conflitos entre os políticos tradicio-
português. Para se afirmar acima da sociedade, n ão carecia da nais e os novatos , cuja profundidade foi atestada pela Revolu -
“ ideologia dc Estado ” que lhe propunham certos doutrin ários < . l
çã o paulista de 1932 . O ativísmo conquistou também os inte-
Por outro lado , necessitava dela para assumir as fun ções que lhe lectuais , de maior ou menor envergadura , cat ó licos, reacion á -
competiam na nova fase de desenvolvimento e , mais ainda , rios ou revolucionários, que aderiram is Legiões , fundaram ccn -
para dispor dc uma representação política que , sob o signo da rros , desencadearam movimentos c sonharam com a tomada
unidade org ânica , permitisse a substituição da representação do poder
democrática pela representa ção corporativa . “ Só os povos bem Foi espetacular a mobiliza çã o de que participaram essas
organizados , de vigilance espirito nacionalista , subsistem ” , afirma diversas categorias de intelectuais . Um exemplo foi a Legião
ainda Gct ú lio Vargas ( Vargas , 1943: 339). Enquanto os inte- do Cear á , liderada por um militar , mas reforçada pela partici -
leciuais permanecerem fiéis à sua vocação nacional , terão seu pação dessas “ novas camadas". Outro ainda , a AIB, que , sob
lugar garantido nas fileiras do Estado. o comando dc Plí nio Salgado , transformou -se , em poucos anos ,
numa imensa organiza ção: no seu auge , em 1936 , contava com
mais de um milh ão de afiliados , 3.000 centros espalhados por
Os tipos de engajamento político todo o pa í s , 123 seman á rios, numerosos centros dc estudos c
mais de 1.000 escolas prim á rias ( Chau í e Carvalho Franco ,
Encontramos tipos muito diversificados de relação entre 197S: 102 ). Fenômeno extraordin á rio: nenhum outro pa ís da
os intelectuais e o regime . Alguns se comportam como ideólo- America Latina conheceu um surto fascista de tamanha ampli -
gos do autoritarismo , ocupam fun ções no Estado, colocam seu tude , e nenhum outro movimento fascista encontrou seme -
talento literário ou artístico dirctamcntc a serviço da política lhante acolhida entre os intelectuais , profissionais liberais c
oficial . Outros se contentam em aventurar -se por conta pr ópria estudantes ( Trindade, 1979).
cm busca do Brasil aut ê ntico , lutar para impor ternas nacionais , Na esquerda , també m o Partido Comunista , no momento
inventar modos brasileiros de expressão e , havendo oportuni - da ANL , conseguiu recrutar vastos contingentes , inclusive mui -
dade , apresentar sugestões c pedidos aos governantes c ao seu tos membros das camadas cultas. Outros pequenos grupos , trots-
c í rculo. kístas ou socialistas , manifestariam a resist ência das minorias
-
Outros , porém , engajam se resolutamencc nas associa ções , intelectuais conua o Estado autoritá rio .
movimentos c ligas que proliferam após 1930 . Durante algum Enfim , numerosos intelectuais liberais mantiveram uma
oposição surda ou declarada, sobretudo nas universidades e
Fazemos alusão ao fracasso do projeto de rnijitsirLiaçarí da juventude proposto por faculdades de Direito .
Fnmt ÍKo Campos Esses intelectuais , t ã o desafiadores em rela ção aos antigos
Conforme comenta Celso Furtado, observando que a aoçãú de ideologia tie Esta -
dfi de Bol í var LamounifJ pode levar a rer que o Estadn centralizado só tivesse sur - partidos pol í ticos , via dc regra tão desdenhosos ern relação ao
gido apí i 19 Ml i Fúnado , 15 85 : 570)
* liberalismo pol í tico , estavam longe , portanto , dc se limitar à
B 3CSH 1
76 77
Tconza çã o pol ítica . Militavam * agiam fomentavam planos e pessoal que , apesar dc sua visão religiosa da política ou por—
—
,
complõs. Foram exceções os que escaparam dessa pol í tica que , causa dela , o manteve afastado do integra lesmo c o levou a
t ã o frequentemente , desejavam apolítica . Em muitos casos , afastar -se do Estado autoritá rio. Azevedo Amaral , que era antes
situaram -sc ã direita à extrema direita , A partir de 1938, a efer- de t udo um jornalista , mostrava - se , por sua obsessão pela indus -
-
,
vescê ncia tende a declinar , mas os vá rios cipos de engajamento trialização , como um representante daqueles tecnocratas autori
deixam seus vest ígios, Mais tarde os conte ú dos poderiam sc t á rios cujo papel seria decisivo .
modiíicar , e at é sc inverter . Os estilos, porem , permaneceriam , Se nos parece indispensá vel examinar os que se engajaram
no que tange à posição dos intelectuais rm relação á nação e no integrali-smo , na ANL c na oposi ção "liberal ” , n ã o c ape -
ao povo t també m às interfer ê ncias entre o campo intelectual nas em razã o do impacto dessas correntes durante esse per íodo
c o campo polí tico. mas cambem porque elas delinearam formas de politizaçã o c
Esses estilos remetem sobretudo ás formas de colocação produziram cisões cujos efeitos se prolongariam bem al é m do
individual na pol í tica . Nesse aspecto, duas variáveis estavam
em discussão: ou a inser ção se originava de uma opção pessoal ,
Estado Novo. As simpatias populistas dos anos 60 , como tam -
bé m os debates da d écada de 70 , só sã o intelig íveis i luz dessa
ou de um sentimento de pertencer , junto a outros » a uma cate - mobilização anterior .
-
goria social ou profissional ; pode valer se dc um capital cultu -
ral , de um sentido da missão "c u l t u r a l ' o u de uma vocação
Hélgio Trindade demonstra com provas num é ricas que
os intelectuais de todos os escal õ es chegaram a formar uma boa
dirctameme política . Por outro lado, os estilos estavam ligados I parte dos adeptos do integralismo . No n ível de Estado- maior ,
a uma concepção da ação social: seja rio caso de privilegiar a em primeiro lugar: dos 85 membros da direção nacional e das
constituição de uma ordem , sendo portanto essencial mente
dcsmobilizadora , ou no de rcmeier à intervenção das massas ,
direções regionais , 62 pertenciam à “ m édia burguesia intelec
tual " . isto é , membros dc profissões liberais , escritores, profes-
-
-
pretendendo se então mobilizadora . Os estilos estavam tamb ém
associados à imagem da unidade nacional , que ora apelava aos
sores universit á rios , altos funcion á rios , jornalistas , estudantes ;
em segundo lugar , na condição de dirigentes r militantes locais ,
sentimentos e à religiosidade , ora repousava sobre uma visão onde essa mesma burguesia intelectual representava 20 % dos
laica e política do povo, ora se releria à cria çã o de mecanismos efetivos ( Trindade , 1979 ). Os dirigentes nacionais e provinciais
reguladores c organizadores . Estavam , por fim , relacionados
ao lugar atribu ído aos antagonismos internos da sociedade , is
-
encontravam se num processo dc mobilidade ascendente , tanto
cm rela ção ao n í vel de instru ção quanto à profissão que exer -
vezes erigidos cm dados fundamentais , outras vezes simples- ciam , e se declaravam cat ó licos cm sua quase totalidade ( ibid . :
mente ignorados. S ão dimensõ es diferentes , que rompem com 132-4 ). Na base, os pequenos funcioná rios constitu íam a cate-
as visõ es excessivamente homog é neas sobre os intelectuais. goria profissional mais importante , em torno dc 20 % . Tratava -
Essa variedade dc estilos é patente entre os intelectuais
que já mencionamos. Oliveira Vianna , seguro de sua competê n -
se, portanto, dc um movimento cuja direção , em larga medi -
da , era exercida por intelectuais e cujo discurso freq íicntemente
cia cm antropologia cultural , distanciado da sensibilidade caro - se dirigia is classes médias. Ali ás, Miguel Reale , um dos princi -
liça . adepto entusiasta do corporativismo e contratado como pais teóricos imegral í stas , declara a propósito da classe m é dia:
.
especialista no Ministério do Trabalho de 1932 a 1940 , colo - “ Essa é a classe que faz a revolu ção porque é portadora da
cava -se ao lado do autoritarismo dcsmobilizadorsl. Alceu Amo- ideia ( Chau í e Carvalho Franco , 1978: 54 ). O que levou Mari -
roso Lima , preocupado em restaurar a identidade crist ã do Bra - lena Chau í — fiel , nesse aspecto , à tradição brasileira de des -
sil . baseava suas intervençõ es no sentimento religioso e , segundo
o momento , hesitava entre um projeto dcsmobilizador e um
prezo por esses setores — a frisar que o radicalismo destes n ão
se traduzia num " projeto polí tico autónomo ” , observação que ,
projeto mobilizador. Ot á vio de Faria procurou uma trajetória nesse caso , n ão deixa de ser surpreendente ( ibid .: 62 ).
O movimento foi intelectual desde a sua g é nese , Pl í nio
11
Secundo a ttprcsMo dc Mid >d Debrun (Dtbrun, 1983: 171. Salgado , participante da Semana de Arte Moderna e propagan -
78 79
dista do mito tupi , nunca deixava de preocupar-se com a pro- dc Deus , da P á tria c da Fam ília " é citado em primeiro lugar ,
blem á tica cultural Em 1931 torno u -sct com Santiago Damas ,
antes da Unidade Nacional (Chau í c Carvalho Franco , 1978:
responsável pelo jornal A Razão , publicado em Sâ o Paulo , 103). Esses enunciados merecem maior aten ção: implicam a
Revistas de tendenoa fascista nasciam aqui e alt: no Rio de possibilidade de reverter a uma comunidade cristã ancorada
Janeiro , surgiu a Hierarquia , na qual colaboram futuros integra - na fam í lia c sugerem , sobrenado , uma forma de comunica çã o
listas: o pr óprio Plínio Salgado , Santiago Dantas . Hélio Viana pol ítica resultante da comunhão , na qual o discurso do chefe
r tamb é m dirigentes católicos corno Alceu Amoroso Lima . é sempre a explicitação da espiritualidade implícita do povo.
Sobral Pinto, Leonel Franca: aparece també m a Revista de Estu - Quando Pl í nio Salgado escreve: “ Quando menos se espera a ,
esta exercia sobre Alceu Amoroso Lima , secretario da Liga Elei - partes ( totalitarismo ) , mas integrar os valores comuns , respei -
toral Católica (LEC), que reconheceu : tando os valores espec íficos e exclusivos ( integralismo ) ” ( Trin -
Havia mere as posições da 2-EC e o integtalkrso ttii&cidiaciaj dc pont os de vista dade , 1979: 224 ) ,
-
no tocante às reivindica ções s ociass ou espjdiua ( j . Nt » meu caso particular
^ ri
devo dirct ainda que me igtadava partial larmeoie ,i ê nfase que o ipucpalismo
A teorização integral ísta compreende ainda muitas outras
teses. Teses mais "europeias " : o amnsemitismo , com Gustavo
emprestava a sua posi ção mtiburgacu í citado pui Medeiros, ] 7 S : 227 ) . Barroso; o corporativismo , com Miguel Reale ; a primazia do
^ Estado , ainda com Miguel Reale. nesse aspecto um tanto afas-
N ão podemos entrar nos detalhes das posi ções integralis- tado de Plí nio Salgado , cujo catolicismo conduzia antes a um
tas . mas apenas destacar algumas tend ê ncias marcantes. Pri - Estado ' ' familiar -corporativo" ( ibid . : 218 ); a organiza ção seve-
meiro , a insist ê ncia sobre a dimensão "espiritualista conceito ramente hierá rquica do movimento (pren ú ncio da sociedade
que remete ao espiritualismo " inato" do povo , consolidado do futuro ). Teses mais “ brasiJ eiras" : iam nacionalismo opondo
cm contato com as ideias n í tidas de espiritualismo cristão que
'
pretariam na linguagem do existencialismo dc Frantz Fanon . Os avanços fulminantes da A1B deram provas seguras da
própria da é poca capacidade dos intelectuais de suscitar uma forte mobilização.
O surto intcgralista , como sugere Juan Linz , foi sobretudo À s ú bita queda em 1938 prova , contudo, que lhes foi difícil
expressão dc uma juventude cm ascensão socialt motivada por preservar sua autonomia diante do Estado dc maneira dura -
objetivos culturais e políticos, mais do que por interesses ccon ó
micos específicos . Uma parcela de sua amplitude se deve , sem
- doura Afinal , at é 1937 era difícil distinguir , cm sua a ção , o
»
_
pol íticos da qual esperava escapar , em 1938 o integralismo lan - o separatismo, porem o confcderacionismo (. . . ) 0 momento era doi ruais tas-
çou -se em uma desastrosa tentativa dc golpe , cujo ú nico resul
tado foi a sua dissolução ( Carone , 1977: 193- 213 ).
- tes c incertos para a nacionalidade . Tudo era confusão , incerteza ., ausência de
rumos definidos. Para onde iria a Nação brasileira * 0 Manifesto Iniegrsiista ,
jã impresso, foi nesta data distribuído em São Paulo c remetido para rodos os
O fracasso desse movimento , que num dado momento Estados ( Trindade . 1979: 124).
parecera irresist ível , remete , sem d ú vida a in ú meras explicações.
,
Quaisquer que fossem as simpatias da Igreja e dos l íderes católi - Restava pouco des.se estado de esp í rito em 1937 . O getu -
cos cm relação a este , a Igreja principalmence, e muitos desses
, lismo centralizara a nação ; c també m conferira , aos que o dese -
l íderes estavam atentos para n ão se deixar envolver em uma lura
contra um regime do qual muito obtinham . Seduzindo a massa
javam dentre os grandes intelectuais , o reconhecimento simbó
lico da sua import ância social .
-
de pequenos funcionários , o movimento intcgralisra limitava se - Arrisquemos duas hipóteses , inspiradas em certos dados
a uma concepção abstrata do povo, enquanto desde 1931 Get ú
lio Vargas vinha lanç ando as bases do edifício sindical ncocorpo
-- fornecidos por Hé lgio Trindade , para dar conta da evolu ção
paralela e separada do integralismo e do regime getulista ao
rativistsL Pregando um Estado forte , o integralismo nada mais longo dc cinco anos.
unha a contribuir desde que se operara a passagem ao Estado Primeira hipótese: não reservaria o integralismo uma
Novo. Parece- nos importante destacar, sobretudo , a precarie - acolhida melhor aos elementos modestos da mé dia burguesia
dade do peso dos intelectuais dentro desse movimento. intelectual , aos que aspiravam a ascender , aos que adquiriram
alguma instru çã o superior , mas estavam longe de alcan çar posi
ções de prest ígio e. mais ainda , de projetar seu nome pessoal ?
-
.
A propfoito do tema da ordialidade err Sé rgio Butique de HohmU . Rjchard Moíse
O regime dc Getulio Vargas reconhecia os maiores nomes , que
explica que iwo n ã o significa que os brasileiros xrjam contrários a violência mas
que vxiedade a racionalizar ão webetuna ' i Morse , 19 H 4 » freq úentemente provinham de fam ílias ilustres , e aceitava seus
82 S3
distanciamentos e reservas cr íticas ; isso combinava com seu res- eram de ascend ê ncia alemã e italiana 55; essas indica ções levam
peito pelas hierarquias sociais e pelas hierarquias da í ntelig é n - a pensar que , al é m das simpatias ideol ógicas com o fascismo
cia . Tinha menos consideração pelos demais , am ca çando os até de seus países de origem , a ÁlB ofereceu um canal de participa -
mesmo em sua política educacional ; pois n ão prometeu Fran - çã o “ nacionalista ” peculiar para os filhos dc imigrantes à mar -
cisco Campos cm 1930 , quando ministro da Educa ção , dar prio- gem do nacionalismo oficial c que * a partir da guerra * serão
ridade ao ensino primá rio ? ( Campos .. 1940 b: 119) Ora . as clas - mantidos sob suspeita.
—
»
onde se instalou integralismo de 1934 a 1937 . constatam ~se ruprura com o primeiro recrutamento social do PCB , que se
lizera entre artesãos c antigos anarquistas Dentro dos próprios
imediatameme municí pios secund á rios do Paran á e de Alagoas,
.
tida . parece tardia c limitada a implantação no Estado de São As tabelas apceseiLEadaí por H é lpio Trindade mosriam que , «petialmenre entre
Paulo (Trindade, 1979: 313 - 21 ). Enfim , uma porcentagem pamdã iLos rurais, os filhos de iuirgfarjts a2 em ães e italiano* representavam uma
— -
!
JS
larga maioria O autor observou que taktz uma deformasse cm sua a mos
muito significativa de militantes de base que os dados de -
tia , cam super rep re iu íi u da popuJa ção da Ria Grande do Sul e de Santa Cata -
^ ^
rina. ande esi à n ãfUfldbtt as glandes colónias ale mis e italianas .
H é lgio Trindade sugerem tratar-sc dc uma maioria - c uma
-
' Pala urna discussão dai inrcrprc i a ç Oes pJOpostai põ r autores corno Gilberto Vast ú rt -
-
'
porcentagem n ã o desprez í vel dc dirigentes nacionais e estaduais celas eJosé Chuin , remetemos a Trindade ( 1981: 297 3351
M 85
cornu n istas , acabava de ser abalado por seis anos dc uhra - subdesenvolvidas de onde provinham 05 seus ' ‘ notá veis e a
—
esquerdismo e instabilidade emergiu uma nova geração , de
origem diversa Lcò ncio Martins Rodrigues, em um estudo con -
partir
Natal
das
e
quai
Recife
.
e
s se difundiria a sua insurreição
continuada
—
iniciada em
no Rio de Janeiro. Entretanto, ape-
sagrado a essa mutação ( Rodrigues , 1981 ) , ressalta a entrada sar de n ã o ter influencia alguma em São PauloT acreditava ser
impetuosa dos filhos de ilustres fam ílias decadentes do Nor - rapai de alcançar o poder . O resultado n ã o poderia ter sido
deste c do Estado do Rio de Janeiro: Ociá vio Brandão , descen - ruais desastroso: a repressão se abate principalxnente sobre seus
dente pelo lado materno de um senhor dc engenho de Ala - membros militares e , numa segunda onda de 1939 a 1943 , con-
goas ; Astrogildo Pereira, filho de um proprietá rio de tetras no segue desorganizar o aparelho do PCB, Isto significa uma ajuda
Estado do Rio de Janeiro e parente do presidente Washington inesperada ao regime que , em vista da ameaça comunista
Luiz ; Paulo Cavalcanti , origin ário das grandes dinastias de Per - — encarada desde 1930 como puro elemento doutrinário mas
—
nambuco etc . Esses são alguns dos nomes que simbolizam a que no prazo de alguns dias assumira uma expressão concreta
aglutina çã o à esquerda do “ jovem intelectualizado de família , conseguiu obter o consentimento dos cat ó licos e dos liberais
tradicional decadente dos Estados pobres" , muitas vezes for - dc Sã o Paulo para sua mutação em Estado Novo . Contudo,
-
ç ado a voltar se para a administração a fim de sobreviver , tirando
-
pode se vislumbrar ah também os primeiros traços do que , em
proveito dc suas rela ções pessoais ( ibid , : 385 - 6 ), Sem contar a
1944 , permitiria uma aproximação com o gerulismo: a rupuira
presen ça , nas posições subalternas, de grandes intelectuais per - com as origens anarquistas c operárias , a rejeição do liberalismo ,
tencentes à aristocracia de Sã o Paulo — EsLado onde . no
a insistência nacionalista e , finaJmentc , a adesã o ao Estado como
entanto, o Partido era fraco — tais como Elias Chaves Neto c
agente de transformação. Na Assembleia Constituinte de 1934 ,
Caio Prado J ú nior , da dinastia dos Silva Prado , cuja Evolução
um representante da ALN , Domingos Velasco , denunciou o cará -
política do Brasil , publicada em 1933 , constitu í uma leitura ter supé rfluo do processo eleitoral: “ Evitemos a farsa de elei ções
primordial da histó ria económica e social brasileira. A A NI.
també m contava com personalidades que participaram da cam -
estaduais e federais ( ... ) [ Não importa } que isto arranhe os pre
conceitos liberais e subverta as ideias predominantes cm nossas
-
panha antifascista e antiimperialista , como Francisco Manga -
beira ,, oriundo de uma fam ília de políticos da Bahia e um dos
dites saturadas da culrura alienígena " ( Souza , 1976 : 73 4). A
entrada do Brasil na guerra ir á proporcionar a oportunidade de
-
três civis integrados à direçã o da Alian ça : Dionélio Machado ,
escritor respons á vel pela organização do movimento no Rio justificar , sem falsos pudores , o apoio ao governo foram assim ,
Grande do Sul c que , cm 1945 , seria incumbido dc ler a Decla - lançadas as bases de uma cultura comunista que , satisfazendo
ra ção de Princípios no Primeiro Congresso dc Escritores. E ainda ,
ao nacionalismo e ao estatismo dos intelectuais , pcrmiriu lhes
afluir para o rastro da linha oscilante do Partido e encontrar assim
-
nos quadros da Liga de Defesa da Cultura Popular , os jornalis - a maneira de manifestar , maxs uma vez e sempre , que só existe
tas Rubem Braga c Brasil Gerson ; o estudante Carlos Lacerda ,
futuro chefe da direita golpista do Rio de Janeiro; c a escritora cultura quando política. Ao mesmo tempo , o Partido buscava
Rachel de Queiroz ( ibid .: 397 ), no prest ígio dos seus intelectuais os elementos para iludir sobre
A ANL surpreende , assim como o integralismo , pelas mes- as suas forças , Em 1934, Jorge Amado já afirmava que nenhum
clas que realizou , tanto em suas estrat égias como em seu recru - autor poderia subtrair -se ao “ engajamento":
tamento , Proclamou uma alian ça aberta a todos os antifascistas Carrego corrugo a armação de romancista político e partial , Confesso que me
e organizou a insurreiçã o armada à maneira tenentista . Abriu honro com isso | . . ). Hoje a situação c dc tal modo erigira que aquele que não
.
um largo espa ço aos militares da reserva ou da ativa M e atraiu tstá dc um lado está necessariamente du outro, 0 conceito pude nao agradar
numerosos membros das classes m édias. Buscou apoio nas áreas mas é vetd itkiro Diante dos que não sabem 0 caminho a seguir porque ainda
amam a ^ camisas de seda . a genre só pode rir . Nós somos essendalmentc politi -
.
nomes da elite social c intelectual . Tanto assim que . no comit é acabar com o " igualitarismo da mediocridade ” e permitir " a
de organização da Uni ão Democrá tica Socialista ( UDS ), fun - substituiçã o da democracia liberal e parlamentar por uma demo -
dada em São Paulo em 1943 , figuravam , entre outros, António cracia mais próxima da democracia direta , n ã o somente política
C â ndido de Mello e Souza e Paulo Em ílio Sales Gomes.
Naturalmcmc , houve intelectuais que não se engajaram -
mas político econó mica, com instituições sindicalistas ou corpo -
abcriamente nem à direita nem à esquerda , mas n ã o se pode
* -
rativistas obrigatórias" (ibid : 178 9). Fernando dc Azevedo
í ncumhm -sc també m de lembrar os limites da liberdade inte -
subestimar a import â ncia num é rica dos que , ern fins dos anos lectual dentro da Universidade:
20 c ainda cm 19.34 , no momento da Constituinte , se valiam
em maior ou menor grau do liberalismo, É mais dif ícil , no Não se pode r nà o sc deve reivindicar para o pensamento o direito de pensar
.
entanto acompanhar sua evolução nesse per íodo. Sabe -se que , como & queira, sem as austeridades dc um método preciso sem objetividade
na Faculdade de Direito de São Paulo , ao lado de certos profes- c sem probidade científica, porque isso seria reclamar o direito â libertinagem
sores notoriamente getulistas ou integralistas, como Miguel para a função mais angiiita dc que dispomos No desempenho da sua missão ,
-
.
Realc e C â ndido Mendes dc Almeida , foram v á rios os que se 4 inteligência deve mover se dentro das condi çòes que pela pr ópria narureza
colocaram em oposição ao regime e que , mais tarde, viriam a lhe foram prey riras ( ibid : 182 ).
Foram esses os liberais ”' que , tendo muitas vezes apro - esbarraremos sempre com os que se desviavam da rota , tao tre
quentes quanto aqueles que administravam com sabedoria e
-
vado as formas mais rudes de controle exercidas pelo regime,
reapareceram assim que as democracias ocidentais provaram s coerência o seu "capital familiar c cultural ; com os que reu -
que podiam ganhar a guerra O sinal desse despertar para a
. niam todas as condições para se inserir nos círculos do poder ,
adesão às liberdades fund amenta is, ao direito de voto e ãs garan - mas que se inseriram nos grupos imegrah.stas , na AXL ou nos
tias constitucionais foi dado , cspccialmente pelo . " Manifesto pequenos grupos trocskisias; com aqueles que , tendo apenas
desvantagens , conseguiam , no entanto , lazé das frutificar ; com
Minciro ” de ouiubro de 1943 . Foram seus signatários a elite
intelectual mineira : os juristas Adamo Lúcio Cardoso e Afonso os que pertenciam dc direito à dite, mas contavam demais com
Arinos de Mello Franco , o erudito Afonso Pena J ú nior , o eco - esta seguran ç a para aceitar os desvios e surpresas da hist ó ria.
nomista Milton Campos , o político Virg ílio de Mello Franco , Seria igua ímente plausível detcctar . na origem de cada.
Pedro Aleixo e outros ( Caronc, 1977 : 305 ). engajamento, alguma concepção de “ interesse ” , mas este não
Ao fim dessa recapitulação dos engajamentos polí ticos , poderia ser reduzido ã busca de um emprego pú blico sem pre-
constatamos em roda parte - nos postos avan çados dos m ú lti
plos movimentos que se desenvolveram , após 3932 , sobre o
- ju ízo de se esquecer da variedade dos tipos dc interesses e das
estratégias para conseguidos. Essa complexidade n ã o é surpreen -
pano de fundo da crise gerada pela interdi ção dos amigos par - dente , pois decorre da inexistência de uma justaposição entre
—
tidos regionais a presença de in ú meros intelectuais .
Estamos longe das considerações relativas apenas à cultura
um campo intelectual regido por suas pr óprias modalidades ins-
titucionais de legitimação , c um campo político igu aim ente
ou â idem idade brasileira Longe também das teoriza ções sobre
. submetido a outras modalidades de legitima ção , De imediato
a " realidade e a organiza ção ' ’ . Longe , portanto, de tudo se produziu , n ão uma interferê ncia, mas uma mescla . Todas
que atestasse uma unidade jã presente ou uma unidade a se as estrat é gias individuais se colocam sobre os dois registros. O
impor com base unicamente na ci ê ncia. Às divisões se aprofun - troLskismo dos herdeiros do Nordeste e o integralismo dos notá -
-
—
davam na medida em que esses movimentos visavam , em mui veis do Sul podiam ser , em certos casos , constitutivos da inser -
tos casos , a criar a pan ir de premissas opostas — uma socie - ção nas hierarquias da intelligentIsto pode ser diferente
-
dade indivisa . A mobilização exacerbava se em todas as áreas ,
em face de um regime que se recusava a utiliza - la .
, quando se considera uma ‘sociedade" rektivameme fechada
!
- disponibilidade , parecia rei dciermmadfi alista Havia , asum , o LHL ó IICO, O libe -
.
fissionais ” mais ou menos bem -sucedi d os , bacharé is divididos ral , o Jcgatisia . o comunista; ou , em outro plano, o gastrónomo, o btWaóíib,
entre o medo do decl í nio c a recuperação nos quadros do Estado o apreciador dc cães ( ou cavalos ', de raça , dc pin tuia antiga dc pintura moderna ;
,
moderno; os a mames da cultura e os tecnocratas cm embri ão; c também u erudito local , o pixta surrealista , o musifolugo , o pioiGt ! . ) A .
mais os milhares de membros dc uma classe m édia heterogé - necessidade , que exigia que r ódo^ us papé b fossem ocupados para se constituir
nea , que vê abrir -se ura mercado dc í ttulos universitários e um microcosmo e se jogar o grande jogo da civilizaçã o implicava também
,
bens culturais. Seria possí vel sem d úvida , introduzir aJguma alguns paradoxos: que o coitumista fosse também um nco hc ídeiro do ftuda -
dsmo locai e que uma sociedade bastautic aletack e forniaI permitisse , fiorém ,
,
um He seus membro*, a apenas urn - puis era indispensá vel ter pmbcm
çamente fori da.s fronteiras que demarcavam os limites das rda -
—
si mis
o poeta de vanguarda cm publkts ( Lévi- - L-, CS social organizadas , mas també m a dassc oper á ria , encer -
aparecei com sua jovem amincc
Strauss , 1955: 95 ) Í
Observemos , porém , que a descri çã o se refere a S ã o Paulo , jur ídico (Gomes , 1979). Quanto â burguesia , tamb é m unha
mais do que nunca prisioneira , após a derrota de 1932 , de sua de se curvar aos efeitos da redefini ção do Estado : os produtores
relativa marginalizar ão política 1* e dc sua soberba . de café cedendo a gest ã o da comercializaçã o do produto aos
No piano nacional , cor na -se mais difícil e mais contesta - organismos p ú blicos criados para esse fim , e os industriais
vd reduzir as cisõ es pol íticas a simples esrraté gias individuais -
empenhando se em intervir direr am ente junto aos homens
no quadro de opera çõ es de classificação' ' social , sobretudo p ú blicos de fun ção decisó ria . As negocia ções pol íticas entre as
1 '
quando nos afastamos das elites detentoras de um nome e de oligarquias regionais e o poder central nada perderam de sua
uma história familiar , para considerar os intelectuais dc segunda antiga importâ ncia: Gct ú lio Vargas , até 1937 pr íriapalmcnic ,
c terceira categoria . A identifica ção com o integralismo , com n ã o deixou de manobrar entre as pressõ es dessas oligarquias , e
a A NX , com o liberalismo ou com o Estado Novo remete a as dos tenentes e interveritores tolhidos entre a.s funçõ es dc
fen ô menos dc movimentos coletivos portadores de representa - misst dominici e de negociadores locais. Amda h á um fato dc
ções do político que pareciam irreconcili á veis , pelo menos maior import â ncia : a ideologia da despoli tiz ação do político
naquele momento. É certo que os intelectuais , como tamb é m resultou , no m ínimo , num enfraquecimento global dos atores
os tenentes , os militares da ativa e determinados elementos sociais ; junco a ela ocorreu uma redu ção da influencia política
pol í ticos estavam na linha de freme . E n ão “ brincavamrt dc dos pó los econó micos mais din â micos , como São Paulo , Inver -
pol í tica: luravam efetiva men te pelo poder , voando a objetivos samente , tal diretriz deixou um vasro campo hvre para os agen -
entre os quais n ã o havia possibilidade de compromisso. O cara -
tei do regime e desses movimentos era tal qur esses confrontos
tes e movimentos propriamente polí ricos . Nesse aspecto . os inte ,
-
lectuais foram uma categoria privilegiada . Sua preponder â ncia
nada unham d c puramrntc simbólico: a violência qur demons - trouxe em contrapartida , uma idcologização singular da pol ítica .
traram , as sucessivas ondas dc repressão , com. seu séquito de É verdade , por outro lado , que aqueles que pertenciam
ex ílios e prisões, l ã est ão para demonstrado . É preciso frisar às elites mantinham la ços de solidariedade apoiados sobre as
ainda que em nenhum outro pa ís da Am érica Latina assistiu - redes de socialização familiar , universitária c mundana . Um
se em ã o ao aparecimento tie organiza ções fascistizames ou
.
observador brasileiro como Florestan Fernandes n ão poderia
comunizames de amplitude compará vel , deixar de ser sensível a esse fato. Ele acentua bem como , are
Com o distatiamento no tempo , entretanto , é possível nas corremes de subversão intelectual , foram numerosos os que
assmalar encontros e superposições surpreendentes nesses confli - se detiveram a meio-caminho em raz ão de seus laços com as
tos e confrontos.
elites sociais . Assim aconteceu com os modernistas dos anos 20:
G fato de que os intelectuais de rodos os tipos estivessem
nos postos avançados já merece aten ção , Esses militantes de cau - CedeiuLiT, ao que deviam se opor . meumbindo a tuna condi ção intelectual y
sas antagónicas desfrutavam de uma posi ção notável . Destaca - que pretendiam renunciai mas ã qual n ão rcnuncimnj . Eles (mm v ítimas de
va m -sc sobre o pano de f u n d o dc uma sociedade onde os ato - um momento de transição, no qual a insatisfação com refer ência ao passado
res sociais tendiam a ser privados de expressão própria , ou a não engendrou o futuro pelo qual deviam lutar i Fernandes . 19
*
8 : 35 -6 ).
se aiomtzar na medida cm que o Estado se erigia cm. regulador
O mesmo se deu com o intelectual dos anos 30:
das relaçõ es sociais , Os sccores populares estavam relegados a
segundo plano: n ão só as massas rurais , condenadas a ficar mad
- Gozava no meio brasileiro dc Lima independ ência e de uma liberdade muito
grandes . Essa liberdade, entendida sociologicamenie , estava relacionada com o
-
Traia sr pntú amente , de umn Lunsumc , tonfof íitt momou Simon Sdawirrzman faro de que o intelectual m Bmsil sempre tez pane dos setores dominances e
\ ’' •cnwam.man , 19 75 1 .
'
dc suas dites Mesmo quando de era divergente como era o caso dc Mano de
,
92 93
Andrade ou Oswald de Andrade , nlo escapava a essa vinculação esmiruia! A Tanto no modernismo — que derivou em seguida para a
—
.
Liberda de dc divergência existia ou era tolerada porque ele era parte da elite esquerda e para a direita como na extrema direita -
que
- -
.
rupiuras sucessivas do tempo. “ A importa ção de ideias pdo menos dc forma provisória , a posições pró ximas is do
c — —
ou n ão c somente a nega çã o da “ realidade ” ; c també m
n ão
governo. Nesse mesmo momento , as correntes católicas oscila -
vam entre o imegraJismo e o regime. Quanto aos comunistas
a ades ã o à sucessã o ilimitada t não-controlada das imagens do
real c o gosto pela encena ção política . A esse propósito , cm
1936 Sé rgio Buarque de Holanda faz uma observação:
e seus aliados na ANL , começaram — sob a pressã o dos tenen -
tes , que a eles se aliaram , e dos intelectuais , que viam sua
c com que sustentam , simultaneamente . as convicções mais d íspares ( S B dc sobre o Estado . Durante a guerra , c sobretudo após 1943. os
Holanda , 1981: 113 ) rcaiinhamentos c desvios se precipitaram . Os liberais levantam
E acrescenta: a cabeça e redeseobrem a democracia ; o integralismo tenta
v árias aproximações com o regime , mas se decompõe com a
A loncradviO que porventura possa existir entre elas parece-lhcs cão pouco cho - entrada do Brasil na guerra ; os católicos criticam oficialmente
cante, que alguns se alarmariam e sc revoJtanim sfoceiamcme quando n ão o regime . Ccrtamentc , o mais not á vel foi a evolu ção dos comu -
achássemos leg ítima sua apandade de aceitá- las com o mesmo entusiasmo i jbdd . . nistas que , desde as celas das prisões , onde foi encarcerada
,
>
94 95
grande parte de seu Estado-maior desde 39 -40 a começar lhadorcs Intelectuais , como Graciliano Ramos , Evaristo de
por Luís Carlos Prestes , promovido oficialmeme a secret ã rio- Morais Filho , Pedro Nava e outros. Os cat ó licos do Rio de
geral do partido cm 1943 , mas que ficaria preso ate 1945
procuraram aproxirnar-se de todos os setores anunazistas r .
— Janeiro , sempre ligados ao Centro Dom Vital , como Alceu
Amoroso Lima e Sobral Pinto , també m ingressaram na UDN .
Depois , rendo o regime finalmcme declarado guerra ao Eixo e Entretanto , seria in ú til procurar uma correspondê ncia
ate enviado rropas á It á lia , decidiram apoi á - lo. Uma sustenta
Çâ o , aliás , nada plató nica , pois se traduziu em nada menos do
- entre as cisões profundas , que logo aflorariam como opções
pol í ticas antagónicas, c os partidos que emergiram cm 1945.
que no apoio à candidatura presidencial de Getú lio Vargas , Isto significaria subestimar a contradança provocada pela ena-
que teve de aceitar a fim dc marcar a sua incorpora çã o aos ção desses partidos: houve muitas figuras do Estado Novo que
novos tempos democr á ticos. Foi lançado assim , com Lu ís Car - entraram para a UDN e , al é m disso , a articulação dos partidos
los Prestes sempre na prisão , o movimento “ queremisca " pelo
qual os comunistas afirmavam que "queriam ' a manutenção
T com o Estado de urn lado —
o PTB c o PSD são criações getu -
listai c , de outro , com a influencia dos chefes locais.
de Gctú lio Vargas no poder , ao mesmo tempo em que diver - A confusão nào poupou os intelectuais . Ao fim do Estado
sos grupos socialistas " aliavam -se aos liberais" e à direita Novo. os vest ígios dos antigos compromissos desaparecem
nos quadros da UDN, a União Democr á tica National , cujo pro
grama consistia , antes de tudo , em $c livrar dc Vargas.
- diante da exigê ncia dc retorno ã democracia . O Primeiro Uon -
gresso de Escritores Brasileiros , realizado em São Paulo cm
Esse vaivém , ao qual os intelectuais estavam estreitamente 1945 e reunindo todos os grandes nomes da intelligentsia, de
ligados , pode dar a impressão dc que as observa ções de Sérgio
Ruarque dc Holanda valem també m no domínio político. Con -
-
todas as tend ê ncias , furtou se a tomar posições políticas defini -
das: cm suas resoluções, atendeu aos liberais . convidando os
rudo , isto seria simples demais . Atr ás dessas evolu ções , ev í den - intelectuais “ a sc manifestarem , sempre e em todas as oportu -
- -
ua sc que os movimentos polí ticos dc 33 38 expressavam cisões nidades , em defesa dos direitos e da dignidade da pessoa
parcialmeme instá veis , atris das quais sc manifestam divergên - humana e dos valores da vida interior contra as tendências de
cias mais profundas. Elas di2em respeito ao papel do Estado
_ dom ínio e absorção do indivíduo , capazes de reduzi lo a um -
na formaçã o do social . me ^ mo que — corno teremos ocasi ão simples instrumento do poder pol ítico”. També m atendeu à
de verificar - os “ liberais n à o fiquem atrás dos ' intervencio - esquerda , incitando os mesmos intelectuais a lembrar que “ so-
j i
nistas
-
cm seus apelos ao Estado. Referem sc ainda , com as mente a literatura e a arte que desempenham um papel social
-
devidas nuan ças , às divisões entre correntes cat ó licas c n ã o -cató servem i coletividade dc seu tempo , c se alimentam e se reno-
das para as classes populares. Os comunistas podiam justificar
-
licas ; nacionalistas c partid á rias da abertura ; elitistas e orienta vam em contato com todas as camadas sociais , podem realizar
-
uma comunh ão fecunda entre o povo e os criadores da cultu
sua alian ça com Vargas com base no nacionalismo c na ascen - ra “ (citado por Mota , 1980: 145-6 ). Evita , sobretudo , atiçar o
-
d ência do ex ditador sobre parte do aparelho sindical . Alg uns
de seus intelectuais , por ém , não os seguiram nessa mudan ça:
*
Caio Prado jú nior , o físico Mario Schenbcig e Ti to Batini entra - democrá ticos ; c també m da realiza ção de um balan ço .
ram na dissid ê ncia com a CNOP (Comissão Nacional de Orga
niza ção Provisória ) , que desempenhava a fun ção dc direção .
- Considerando esses anos dc regime autoritá rio e de enga -
jamento pol í tico intelectual , tem se a impressão , apesar dc
tudo , que o objetivo inicial dos intelectuais de 1925 . aquele
*
que os intelectuais detinham agora a autoridade à quaJ aspira - 1947 . Neste mesmo ano , após dois anos dc vida legal , o Par-
vam antes de 1930 . tido Comunista — que atraíra numerosos intelectuais para a
sua área de influê ncia e havia demonstrado ser uma força pol í-
tica importante , conquistando 10 % dos votos nas eleições dc
í
9S 99
dezembro de 45 e , de novo » vá rias cadeiras em todos os n íveis Partido Comunista ( Sampaio , 1982 ) Assim sendo . as dd
—
»
do
.
nas elei ções de 47 foi declarado ilegal e , pouco depois , no mnferem um rrconhctimenLo crcsccntc ãs coalizões t aos
início de 48 , teve seus parlamentares cassados , A partir de À COxdos circunstanciais
. c , tanto no Congresso como no pais. as
ent ão , afasta -se do regime , progressivameme até 1950 c. bru
talmenre , desta data at é 1958. Os intelectuais Liberais hliados
- tnrrentes e dissid ê ncias se
ap
multiplicam
ós 1961 em
dentro
que um
de cada partido.
sistema paria -
Chegaria um momento , ,
a UDN experimentam a derrota eleitoral em 1945 , a coexist ê n
.
mais amarga por ter levado Get ú lio Vargas de volta ao poder .
de todas as manobras dc bloqueio l W '
dencial , far á ouvir sua voz e suas amea ças. O essencial do edif í- que . de qualquer forma , nunca exaltaram tanto assim A maio- .
cio corporaovista continuava tm vigor , com o controle das orga - ria continuaria a defender a democracia , mas frequentememe ,
nizações sindicais daí decorrente . Os fracassos da UDN assegu - sem questionar as instituições, os procedimentos e as formas
ram aos dois partidos criados por GetuJio Vargas cm 1945 de legitima çã o que lhe são inerentes. A democracia Tcai" que
o PSD ( Partido Socialista Democr á tico ) e o PTB ( Partido Traba - muitos invocavam era aquela onde o povo sc identifica com a
lhista Brasileiro )— um pape! primordial na vida política . O
peso desses partidos , estimulados pelo poder , n ão atesta ape -
na ção: o tema democr á tico estava subordinado ao tema nacional .
Foi o nacionalismo que forneceu , de fato. a trama da vida
nas que . nessa conjuntura , a problemá tica da ' representação"
1
*
a absorção , através do PSD , das interventor ias e bases munici
i
ou cobertas pelas institui ções previdend á rias " ; mostra ainda cultura c de sua vontade política . Ela se experimenta a si mes-
a emergen cia do geí uíismo como formaçã o ou movimento
! '1
-
ma . íri ir mando se dia a dia contra as nações dom mantes , O sen -
pol ítico organizado ao n ível do simbolismo pessoal , conden - timento de identidade é substitu ído pelo de confronto; o
sando e dando forma ativa aos suportes dc massa at é ent ão advento do povo como sujeito político liga - se â sua mobiliza -
-
mais ou menos latentes " ( ibid .: 134 5 ). Quanto ao PSD , este
deixou o campo livre aos grandes eleitores regionais , com seus
çã o a serviço da soberania nacional ,
Dois episódios marcam simbolicamente a conjunção do
eleitorados cativos , numa recuperação moderna do que Victor nacionalismo com a participação popular : a campanha que cul -
Nunes Leal , em seu livro clássico { Leal , 1975 ) , havia analisado minou na criação da Petrobr ás , a companhia nacional dc petró -
corno negociação entre poderes privados e poderes p ú blicos , e
como tensão entre tendências centrífugas e centrípetas . Em
leo. cm outubro dc 1953 . ca emoção desencadeada pelo suicí
dio dc Vargas .
-
alguns dos mais importantes Estados , começaram a impor-se campanha O petróleo é nosso" propiciou a oportuni -
À
"
os partidos regionais - c o caso de São Paulo , com o PSP ( Par - dade para a convergê ncia de diversos setores nacionalistas que
tido Social Progressista ) , uma m áquina eleitoral nas m ãos dc se colocavam contra o projeto inicial apresentado por Vargas
—
,
Adernar de Barros , deito governador cm 1947 com o apoio put cons id era -lo excess!vamente moderado: a facç io do Exé rcito
100 101
liderada pelo general Estillac Leal , ministro do Exército de çâo do mercado interno e as medidas para contrabalan ç ar a dete -
1950 a 1952 t que contribuiu para criar o Centro de Estudos riora ção dos termos de trocas . Essa teoriza ção , porem , era inse-
c Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEPDEN ) ( A . pará vel de ama meta pol í tica emancipadora . segundo a qual a
-
C- Peixoto . 1980: 65 104 ); os comunistas; numerosos intelec - cidadania política deveria ampliar -se à medida que a moderni -
tuais ; membros do PTB mas tamb é m da UDN , tendo este par - za çã o econ ómica promovesse a independ ê ncia nacional . Quando
tido adotado uma posição intransigente , pela voz do deputado Celso Furtado caracteriza o desenvolvimento como a conquista
Bilac Pinto ( L. Martins, 1976: 334 e segs. ). O lato not á vel foi da autonomia em sua ‘capacidade de decisão ” , est á se refe-
que as palavras de ordem da campanha suscitaram uma ampla rindo , simultaneamente , ao estatuto do povo c ao da na ção
mobiliza çã o , da qual participaram numerosas organiza ções ( Furtado. 1964: 225 ). Com razã o , Alberto O . Hirschman julga
populares. que , nessa doutrina , o desenvolvimento c assimilado à desco-
Com maior raz ã o , o contexto no qual ocorreu o suicídio berta e á auto -afirma çã o da identidade nacional ( Hirschrnan ,
de Get ú lio Vargas , cm 24 de agosto de 1954 . instituiu o nacio - 1963 ) .
nalismo como modalidade de cidadania popular . A carta - testa - Contudo , a cisão criada pelo esquema nacional - popular
mento deixada pelo antigo ditador contribuiu para associar a domina esse per íodo . Uma diverg ência que , sem d ú vida , tinha
luta contra os adversá rios da na ção ao reconhecimento do povo raízes muito antigas mas fora um tanto obliterada no quadro
como encarna ção concreta da na çã o . De um lado, atribuiu a do Estado Novo ; ela vem à tona a parur do momento em que
responsabilidade da crise à interven ção "subterrâ nea de grupos o nacionalismo passa a significar , ao mesmo tempo , ativa çã o
internacionais ” c às maquinações dos privilegiados para impe- das massas e resist ê ncia ao imperialismo. Havia , em todos os
dir as reformas sociais; de outro , apresentou o sacrif ício pessoa) setores , uma tend ê ncia a temer que esses dois elementos travas -
de Vargas como uma d ádiva que permitiria a sobrevivência do
povo:
sem o desenvolvimento do Brasil e provocassem uma confronta -
çã o ruinosa . També m a campanha pela Petrobrãs c a cana - tes-
tamento de Vargas atestam a intensidade dessa cisã o .
Tenho lutado mês a m ês. dia a dia, hora a hora , resistindo a uma pressão cons
tante , incessante , tudo suportando em sil ê ncio, tudo esquecendo , renunciando
- Os militares são os primeiros a se submeterem a ela . Á os
“ nacionalistas ” , opõem - se os que preconizam relações mais
a mim mesmo, para defender o povo, que agora sc queda desamparado. Nada
mais vos posso dar . a nao ser o meu sangue , Sc as dc rapina querem o san - conciliadoras com os Estados Unidos e que se inquietam com
gue dt algu ém , querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço cm o populism o. Com frequ ê ncia provinham dos quadros da FEB
holocausto a minha vida (citado pen Carone. 1980: 58- 9 ) . ( For ç a Expedicion ária Brasileira ) que haviam combatido na Itá -
lia ao lado dos Aliados. Exercem uma influencia preponderante
A morte selou , assim , a fusão do povo com a nação . O no interior da Escola Superior de Guerra, fundada em 1949 , e
-
gctuhsmo toma se uru mito fundador , Nas horas subsequentes , cujo primeiro diretor foi o general Cordeiro de Farias , coman -
irnpòs -sc a consciência dessa transmutação , como prova a rco- dante de artilharia da FEB em 1944. Sabc -sc que c na "Sorbon -
nenta ção imediata do PCB qucr de opositor feroz , se metamor-
foseia subitamente cm herdeiro da ú ltima mensagem getulista .
No decorrer dos dez anos seguintes , esLa mensagem n ão deixa -
ne ” — —
apelido da Escola Superior de Guerra que ser á elabo -
rada progressivamente a "doutrina de seguran ça nacional ” .
ria de fornecer o arcabou ço do populismo nacionalista .
Essa doutrina esrava longe dc se resumir — como se afirma-
ria muitas vezes após 1964 - cm uma concepção de ação anti -
Esses foram tamb é m os anos do deienvolvimentumo . subversiva , pois comportava também , como provam as obras
Trata -se , sem d ú vida , dc uma forma de teorizar a industrializa
çã o , elaborada em Santiago pela CEPAL sob a influencia de
- de Golbcry do Couto c Silva , um programa de industrializa ção
para o Brasil — nas palavras des.se militar um “ plano de reforço
,
B 5 CSH UFttO »
102 103
rara. Mas n ão deixa de ser verdade que essa Escola tendia a Popular ) que propagavam o amicomunlsmo e financiavam as
dar ao seu publico , tanto da esfera civil quanto da esfera mili - campanhas eleitorais de candidatos confi áveis ( Drciffus , 1981 ) .
tar , uma visão do nacionalismo oposta à do nacional-populismo . Na linguagem da esquerda , a oposição entre os nacionalistas
' '
As divisões entre militares manifestam-se abenamente no in ício t "entreguistas comandava então o sentido da vida pol í tica .
dos anos 50 , por ocasião das elei ções no Clube Militar . Criado Nas pá ginas seguintes trataremos apenas dos intelectuais
em 1945 , com o cará ter de associação recreativa , o clube aca - que se alinharam no campo nacionalisra e popular . Por isso
bou sc transformando numa arena polí tica , a partir do momento mesmo , é indispensável indicar de saída , a profundidade da
,
cm que cada tendência apresenta o seu candidato à presidê ncia cisão cm que sc situavam Observaremos cm muitas ocasiões
.
do clube . Pode -se avaliar o crescimento do nacionalismo entre que na leitura que faziam dessa cisão , figuras imaginárias e / ou
os oficiais considerando - se a eleição do general EstiUac Leal ideol ógicas parecem substituir os protagonistas; reais; esres ,
para esse posto em 1950 - Dois anos depois, os aminacionalistas , porém , estavam onipresentes , enquanto as tensões sacudiam
reunidos sob a bandeira da Cruzada Democrática , tiveram sua toda a sociedade. Mostraremos tamb é m que os antinacionalis-
revanche ( A . C. Peixoto , 1980) . tas usavam c abusavam da referê ncia democrá tica o que pode
,
As orientações na gest ão econó mica manifestam a mesma explicar em parte por que os nacionalistas foram t ão parcimo -
, ,
outro , revelam as oscilações de um governo que , decididamente , ças pol íticas . Porém , muito mats ainda que seus predecessores,
lança as bases do que logo seria batizado como "capitalismo reivindicavam o t í tulo de intelligentsia . pois , a partir dc ent ão ,
associado". inclinam -se decididamcnte para o "povo" e n ão duvidam dos
A partir de 59 - ÓO , a cisão vai sc exacerbando . Frente aos poderes da " ideologia \
nacionalistas que , durante o governo João Goulart , acredita - A identificação com uma intelligentsia adquire a seus ,
ram vencer com a concretização das reformas de base " a , olhos , implica ções que , dessa vez , c < tão cm linha direta com
maior parte dos industriais exportadores e grandes propriet á -
, a tradição russa . Zelbajov assim comenta a matcha para o povo :
"Decidimo- nos ent ão a agir em nome dos interesses que o
rios fundi á rio *' sc organiza para influir sobre a opiniã o p ú blica .
Apoiados pela maioria dos grandes jornais , est ã o na origem povo criava por si mesmo , que eram inerentes ã sua vida e que
da criaçã o , em 1959 , de fundações corno 0 1 HAD ( Instituto Bra - ele reconhecia como seus próprios interesses (citado por Ven -
'
sileiro de Ação Democrá tica ) e a ADFP ( A ção Democrática turi . 1972 : 2 , 1 1 5 5 ) . Essa seria também a decisão de muitos
104 105
jovens intelectuais brasileiros: ir , por todos os meios , ao cncon - popular sc acompanhou de algo como uma ida ao povo por pine de uma tianja
tro do povo . ensinado e deixar- se ensinar por ele , fundir se com
ele e , ao mesmo Lempo , oferecer - lhe um espelho onde pudesse
- de intelectuais e estudantes (Sdmaiz, 1983: 27).
descobrir a imagem do que era , apesar dc ainda n ão o saber: É evidente , por é m , que a comparação com a inteligência
a pró pria nação. Tudo o que pretendiam os ' pensadores' * do4 russa é um canto abusiva Se esses intelectuais queriam evitar
.
Esses mesmos intelectuais estavam decididos a ser plena- tas , n ã o eram desclassificados" que estariam fadados , ao fim
mente ideólogos". Com o termo "ideologia", que então de sua forma ção universit á ria , a optar pela “ migração interna " ,
tendo como ú nica morada " a de suas visões ideais ( Malia ,
’ 7
dade pol í tica que se impunha beat acima dos cí rculos de mili - Devido a deslocamentos , superposições e combinações,
tantes pol í ticos ou dos detentores leg í timos da ci ê ncia pol í -
tica Essa foi jusramente a originalidade da efervesc ê ncia
nenhuma instituição ou corrente intelectual pode ser identifi -
.
cada com uma orientação est á vel c unificada . Contudo, para
nacionalista .
clareza de exposição , parece - nos indispensá vel tomar esses agru -
Tr ês propostas servirão de tio condutor ao longo desse pamentos como pontos de partida Assim , consideraremos suces-
cap í tulo . siva mente o caso do ISEB, dos marxistas nacionalistas, dos diver -
A primeira ser á considerar alguns centros de produ çã o sos setores que participaram da marcha para o povo e a esquerda
-
desse idioma ideologia ; instituições, movi mentos e partidos cat ólica . Tentaremos , por é m , ir al é m da comodidade dos rótu -
que se situavam dentro das articulações vá rias c cambiantes los e mostrar as evoluções , redassiiica ções e rachas que se reali -
entre o Estado e a sociedade , zaram à medida que o desenvolvimento das forç as sociais c a
A segunda será observar como se realizam os deslocamen - perspective das " reformas de base" fizeram da revolução \
tos . e at é mesmo as rupturas , dentro das rela ções de equivalê n
cia que sustentam o imaginário político . O "nacional c o
- muico mais do que uma simples promessa de ideias , uma pers -
pective que parecia confirmar a entrada em cena do povo como
i *
popular " impregnavam , sem d ú vida , tanto o desenvolvi men - protagonista político .
cismo quanto o evolutionismo marxista c o voluniarismo revolu
cioná rio. No encanto , surgem rachas que impedem a assimila -
-
ção pura e simples desses esquemas , O nation a 1 - desen volvi men- O ISEB
iismo , crmnfanie durante o governo Kubicschek , esmaece atrás
.
do nacional - marxism o durante o governo Goulart . Mesmo Criado era julho de 1955 por um decreto do governo inre-
quando parecia prevalecer a equivalência , os usos do idioma nno dc Café Filho , o iStí B ( Instituto Superior de Estudos Brasi -
nacionalista sã o bem diferenciados . Em cerros casos , remei cm leiros) alcançou uma ( ai proje ção nos meios intelectuais que se
a uma visão t écnica do pol í tico ; cm outros , a uma visão religio - tornou o símbolo da síntese nacional - desetjwlvimentista. antes
sa Fies permitiam enfatizar ora a unidade do social , ora as
. de tornar-se o sí mbolo da sí ntese nacional-populista e , depois ,
suas divisões . Em suma . uma sociabilidade partilhada , mas da síntese nacional - marxista . Influenciou numerosos grupos ,
acompanhada de conflitos cm torno do controle das suas finali - provocou debates de grande repercussão e forneceu alicerces te ó-
dades e das suas implicaçõ es ricos para as mais diversas torrentes . Principal meme . fez da
" ideologia" o equivalente do que havia sido a “ organização "
.
—
Corbisier , Miguel Reale e Almeida Salles - - todos os três prove
—
nientes do inregralismo , mais Paulo Edmar de Souza Quei -
roz e o u t r o s D o lado carioca , os mais not áveis foram , al é -
m
propondo suscitar “ o esclarecimento ideológico das forças pro -
gressistas ( ... ) a partir das mais din âmicas a burguesia indus-
trial , o proletariado e os setores técnicos da classe m édia c
—
do soció logo e economista Hélio Jaguaribe , outros economistas pol í tica dessas for ças ” c sc autodefinindo
a arregimenta çâo ,
como R ômulo de Almeida , ent ão responsá vel pela comissão
como uma vanguarda polí tica capaz e bem organizada ( ibid . ).
”
selho National de Desenvolvimento c diversos órgãos técnicos, Porém o ISEB estava longe de set homogéneo Compreen - .
qtic cram as instâncias onde se elaboravam as decisões . Entre os dia intelectuais que continuavam a iradi ção dos “ pensadores
"
membros do ISEB , Roberto Campos foi um dos ú nicos a ser cha - da década de 30 como Roland Corbisicr . Guerreiro Ramos c
,
mado para altos cargos , como presidente do BNDE , mas desem- Cândido Mendes ; filósofos dc formar ão estrita , como Á lvaro
penhava apenas um papel secundário no Instituto , do qual sc Vidra Pinto ; economistas corno Roberto Campos e Igná cio Ran -
separou em 1958 , sendo pouco depois considerado como perten - gel ; um milhar-historiador como Nelson Wtrncck Sodrc ; um
cenre ao setor anumaonilista e ate emrcguísta . O ISEB const r - cientista pol ítico como Hélio Jaguanbe , que era também homem
vou -se . sobretudo até 1958 , mais como um centro de estudos ,
de negócios e ocupou 0 importante cargo de respons ável peia
Na visão do ministro Câ ndido Motca Filho tratava-se dc um Ins- ,
página económica do Jornal do Comércio ' .
titute) Civil que devia, da mesma maneira que a Escola Superior Foram muito diferentes as suas carreiras pol í ticas ; Roland
dc Guerra , consagrar - se às ciências sociais “ a fim dc aplicar as Corbisicr saiu , como vimos , do integralismo . próximo do qual
categorias e os. dados dessas ciências á aná lise e à compreensão .
cambem estiveram Álvaro Vieira Pinto c Guerreiro Ramos durante
crí tica da realidade brasileira, buscando a elaboração de instru *
um certo per íodo ; Nelson Werneck Sodrc , que colaborou na
revista Cultura Política durante o Esrado Novo , inseriu -se na cor-
mentos teóricos que permitam estimular e promover o desenvol -
vimento nacional ” \ No encerramento do primeiro ano de
curso, rente nacionalista do exército e iria cornar - se um dos intelectuais
Juscclino Kubicschtk dedara que a instituição tinha por objetivo mais destacados do Partido Comunista H élio Jaguaribc era . .
formar "uma mentalidade um esp í rito , uma atmosfera de inte-
,
antes de Ludo , um ‘ desenvolvimentis»
1
A projeção do 1 SFB
ligência para o desenvolvimento e acrescenta : dc membros , mas decorreu
n ão vinha apenas seus permanentes
Vôs >ois combatentes do desmvdvinicflto no plano da initiigícr á ( . I Vossa também do prest ígio de numerosos conferencistas eventuais ,
lutareis com argumeutadores , com linos rcprescnianies da dccadênaa , com sua constituiçã o , o ISEB provocou a desconfian ç a n ào s é> de mui
jçcntc dc recursos (arado por Toledo, 1978: 32 ) .
tos intelectuais paulistas que nele viam . á semelhan ç a do grupo
Estabelecimento de ensino — comparando-sc cora prazer de Itatiaia , um ressurgimento do integralismo , como cambem
ao College de France , bcneficiando-se de dotações oficiais, alem dc intelectuais de direita que percebiam nele a aproximação
,
pol í tico e social . dos Estudantes ( UNE ) se solidarizado com Guerreiro Ramos . O
^J
.
]0
-
°
p 1 *1 )
' tom A EscoJa Superior àr Guerra foi lembrado ria
mesma ohra libidu í aguaiibe ( 1979c 94' 110 ). Hélio Japu» iBe
trial Feiro e Àço
toriMHM presidente da companhia indus-
i L
112 113
ministro da Educa ção decidiu , cm dezembro de 1958 , reunir o para ocupar uma cadeira de depurado do PTB na Assembleia
Conselho de Tutela para deliberar sobre a finalidade do ISEB: do Estado da Guanabara . Dois outros membros do fSEB . Câ n -
ainda que a opinião do ministro se afinasse com os partid ários dido Mendes e Guerreiro Ramos , ainda ligado à instituição, can -
de um nacionalismo intransigente , o conselho pronunciou -se , didatam-se mas n ão são eleitos C â ndido Mendes foi sondado
com maioria de um voto: o de Nelson Werneck Sodr é T , a favor para suceder a Roland Corbisier na diretória do ISEB . Os estu -
do pluralismo teórico dentro do ISEB. Os estatutos do ISEB , -
dantes da UNE levantaram se contra seu nome . argumentando
poré m , foram modificados dc forma que seu diretor
—
Roland Corbisier teve seus poderes ampliados c um Conselho
ainda — que C â ndido Mendes era advogado de uma poderosa compa
nhia estrangeira. O ministro da Educa ção designa , assim , Á lvaro
-
de Professores substituiu o antigo Conselho de Tutela . Depois Vieira Pinto. O ISEB ingressa ent ào cm uma terceira etapa ,
—
dessa modificação , Hélio Jaguaribe , Roberto Campos, Hélio Bur- quando sua atividade assume um cará ter ncplicitamente pol ítico
gos Cabral , EwaJdo Correia Lima , Anísio Teixeira que , por ao lado da esquerda radical . Privado do seu financiamento essen -
diversas raz ões , eram os que mais se aproximavam da pol ítica cial , condenado a reduzir suas atividades de ensino c dc publica -
governamental - apresentaram sua demissão c Guerreiro Ramos -
ção , associa sc â agitação em favor das ' reformas de base r
"
sc afastou ( Abreu , 1975 : 225 ). participa da redação dc diversos Cadernos do Povo „ fascículos
O ISEB enua ent ão numa segunda etapa . Como sempre , lan çados pela editora Civilização Brasileira e que visam a colocar ,
-
propunha se à tarefa dc reflexã o teórica sobre a conjuntura , apre- em linguagem simples, as grandes questões do momento “ ao
sentando contribuições como as do economista Gilberto Paim , alcance do povo ' . Á lvaro Vieira Pinto escreveu Por que os rteos
ou o t rabalho teórico sobre a noçã o de ideologia , do filósofo fran - não fazem greve?; Nelson Werneck Sodrc : Quem é o povo no
cês Michel Debrun (Debrua . 1959). Mas o ISEB visava também , Brasil?\ Wandorlcy Guilherme dos Santos : Quem dará o golpe
cada vez mais, a exercer sua influência sobre as organizações no Brasil?\ Osny Duarte Pereira : Quem faz as leis no Brasil?,
nacionalistas e sobre a opinião progressista: preparou projetos O ISEB também exerceu influê ncia sobre os CPCs; ali ás , con-
de lei para a Frente Parlamentar Nacionalista ( FPN ) , que reunia tava com Carlos Estcvam Martins , um dos teóricos dos CPCs .
os parlamentares nacionalistas dos diversos partidos ; organizou entre seus membros . Nessa etapa , uma parte dos professores t
cursos para sindicalistas , para os militares nacionalistas e , princi
palmcnte , para os estudantes em busca de uma ciência social
- conferencistas pertencia ao PCB ou escava próxima dele . Daí
veio esse -
ultimo ISEB radical populista , que inspirou este
mais engajada do que a ensinada nas universidades. Para Roland coment á rio dc Hélio Jaguaribe;
Corbisier, o ISEB passa a ser desde ent ão , um organismo dedi
cado a participar do que poder íamos denominar precisamente:
- [0 ISEB; coofikim o pau cm vias de ingressar an um momento revolucionário,
conduzido pelo próprio processo dc radicalizaçã o do governo Goulart . Dentro
a revolução nacional brasileira ” ( ibid .; 244 ). Em contrapartida , dessas circunst âncias, o ISEB se constitui cm um dos centros dc pressão pira incre -
as campanhas de imprensa contra o ISEB tornaram -se cada vez mentar tal radicalização c sc dedica ã formulação dc projetos dc retonna suciai
mais intensas , enquanto industriais c militares anunabonalistas (Japuanbc, 1979a: 97 )
multiplicavam suas prevenções contra a “ propaganda comunis-
ta praticada pelo ISEB, Em I 960 , diversos professores do ISEB Parecendo mais do que nunca , aos olhos da direita , um
trabalharam na campanha da candidatura à presidê ncia do mare
chal Lott , apoiado pelos nacionalistas contra J ânio Quadros . Na
- dos centros da conspiração revolucion ária, seria fechado na
semana seguinte ao golpe de Estado de abril de 1964 , e subme -
mesma é poca , Roland Corbisier abandona a direção do ISEB tido a um inqué rito militar.
Esse breve resumo da hist ória do ISEB permite nos avaliar
as r á pidas mutações que afetaram a instituiçã o » como també m
-
ELJI rvcu livro A
- -
so&re G J.SkB , Nelson WfittJcck Sodrc explica que. maJgradb
hostilidade is \ esç$ de H é lio Jagiumbc , de queria evitai uma nsáo no ISEB e a ado-
as representações pol íticas que pretendeu impor . O ISEB apresen -
tou -se . de in ício, como desejoso de aruar sobre o poder , ou
-
ção dc um almhamenm esquerdista, que fomecena argumentos aos que tiziam uma
campanha contra o ISEB através dos jornais ( Sodré . 1978a : 38 r srgv ). melhor , inserido no poder ; mesclou -se depois à grande vaga rc-
1
Ui 115
como a que Guerreiro Ramos denuncia , sob forma de uma * ‘falta conforme insistiam Álvaro Vieira Pinto e também Roland Corbi -
de coincidência entre as condições subjetivas dos atuais titulares sier .
do poder r o sentido real do processo brasileiro’ ( Ramos, I 960: J
mente requisito de vigência - c , de ou iro lado, tenham maior ou menor vali - bé m Guerreiro Ramos, sobretudo em O problema nacional do
dade para as outras classes e demais grupos sociais , além dos imedunarnente vin- Brasilpublicado em I 960, portanto após a sua saída do ISEB:
culados aos interesses suuauunais que tal ideologia exprima — requisito dc gene - “ O nacionalismo é esseneialmente uma ideologia popular e só
ralidade ijaguaribc, 1979a: 100). poderá ser iormulado induzindo-se da pr á tica do povo os seus
Quanto a Álvaro Vieira Pinto, afirma que a ideologia c a verdadeiros princípios" ( Ramos , I 960 : 230 ) . Mas entre os bebia-
tradu ção do “ sentimento do povo " (Pinto , 1959: 38) Pode- se nos foi Á lvaro Vieira Pinto , talvez , quem mais claramenre enun -
-
encontrar esse primado da unidade na maioria dos pensadores ciou , cm suas diversas obras , que a ideologia se confunde com
isebíanos . o movimento dc emancipação das massas. Em Ideologia e desen -
volvimento ,. formula três postulados , ou melhor , tr ês constatações:
118 119
-
I . A ideologia do dc^ nwlvirrjemo tm neiesonarDfntc dc ser faiò rrveno dc
ma*:- ; 2 0 process:* de desenvolvimento é função da conioència das massa*; 3 ,
sá rio ao futuro. J á nosCadernos de Nosso Tempo , havia formu -
lado um elogio do planejamento , apresentado como forma rema-
A ideologia do desenvolvi morro tem de procedei da consciência das massas ( Pinto,
tada da ideologia. Naquele momento , aliás , de preconizava a
-
1959: 34 8 ),
socialização dos meios de produção em nome das exigê ncias do
Ora , as massas conscientes só podem scr o sujeito politico planejamento: um planejamento sobretudo"em termos substan -
da na ção. N ã o se poderia , conseqiicntemente . estabelecer uma ti vos e n ã o pura mente fiscais ou crcdit ícios e que “ será tanto
separação n ítida entre as duas lógicas emancipadoras . Sc houve mais viá vel quanto mais desprivatizado for o regime dc produ -
divergências entre elas. como ocorreu com alguns dos mais "dr - çã o (Jaguaribe , 1979 b: 161 ). A necessidade da socialização vai
scnvolvimentistas" , completada a assimilação entre desenvolvi- desaparecendo em seus escritos posteriores , mas de forma alguma
desaparece a necessidade do planejamento , definido em Desen
-
mento e libertaçã o popular , das se tornam complementares
para os intelectuais que ficaram no ISEB at é o fim , volvimento econó mico e desenvolvimento político ( publicado
A ultima caraetcrística da ideologia consiste cm ser , por si cm 1962} como “ técnica de provocar a ocorrência de determi-
mesma , uma for ça dc mudança . Este aspecto é central na fase nado resultado mediante uma intervenção deliberada no processo
desenvolvimcntisia . Álvaro Vieira Pinto sustenta então que “ os econ ómico, tundada no conhecimento racional deste e orientada
fatores ideológicos conduzem o processo de desenvolvimento" conforme um projeto Jaguaribe , 1964: 25 ), Técnica , conheci -
" (
( Pinto, I 960: I , 38 ) e que “ sem ideologia do
desenvolvimento, mento , projeto: trê s facetas de um domínio da economia cujas
n ão h ã desenvolvimento nacional" ( ibid .: 1959: 32 ). Afirma implicações tecnocrãticas transparecem na reabilitação simultâ nea
ainda , de maneira mais global : do modelo " neobismarckiano" na á rea política.
Hm outros casos, a ideologia foi antes a forma que revestia
As ideia* iio capazes de pòr a seu serviço for
ças consideráveis, as tor ça.* com as o projeto de constituição dc uma cultura brasileira onde coinci-
quais somos obripda* a contar quando pretendemos compreender a realidade
dissem os estilos primá rios de sociabilidade , as representações
-
nacional , ou quando concebemos qualquer proieto dc modtficí b ( ibid . ; 21).
da identidade c a autonomia política. Foi este o significado do
'
convite de Roland Corbisier à conversão ao Brasil :
1
"
Roland Corbisier afirma o mesmo:
Se c verdade ( . .. que não h ã movimento rrvduouná rio sem teoria do movimento Convcrtendo- ttos ao Brasil t nos reconulundo com nossa circunstância, nos rtcon
*
revolucionário, não haverá desenvolvimento aem uma formulação prévia da ideia aliaremos com nós mesmos , tornando autenticá à nossa existência (Corbisier,
Por esse caminho, chega -se ao tema de que a ideia não é A ideologia poderia scr ainda , essencialmente, a ocasião
somente um componente da raz ã o prá tica , mas uma força com - para o encontro entre as elites e o povo . Sc , como afirma Á"lvaro
pará vel à s for ças materiais ou sociais. O que n ão surpreende , se Vieira Pinto , a ideologia nasce da “ consciê ncia das massas , ela
c verdade que a "ideia " nunca é mais do que o prolongamento supõe por isso , da pane das elites, "a vivê ncia profunda do scr
dessas ultimas. do Brasil , a perfeita identificação com os sofrimentos do povo"
His o horizonte comum onde se insere o projeto isebiano ( Pinto , 1959: 45- 6 ). Ao contrá rio da visão tecnocrá tica , esta con -
de construir a ideologia necessá ria ao advento de um Brasil indus-
, cepção abre caminho para uma pol ítica integradora.
trializado , soberano e popular t fácil , porém , discernir outras Al é m disso , a ideologia podia ter um objetivo propriamente
-
,
abordagens. cientí . Nesse caso, era um marco na produ ção de uma ciê n
fico
Por vezes a ideologia parece sobretudo uma forma de enco- cia nacional Tanto Á lvaro Vieira Pinto como Guerreiro Ramos
.
brir um projeto dc tend ência tccnocrá tica. Assim , para Hélio questionavam a validade de uma ciência com pretensões univer -
Jaguaribe , a ideologia torna -se o alicerce do planejamento neces- salistas . O primeiro afirma que a pró pria lógica est á submetida
à especificidade das condições locais:
120 Í 21
fatos c adequados a nos dar a correta interpretado deles ( ptovememes dos enquanto
o autoritária brasileira . Deste
modo , assegura -
Pinto, 1959: 1, 154). da tradi çã de
a pol í tica dos anos 30 e a dos militares
traçã o
Em suma, c preciso chegar a uma lógica em contato vam a junção entrelado , a Escola Superior de Guerra; dc outro ,
com a singularidade histórica. direto
ap ós 1964 - De um coloca-
Quanto a Guerreiro Ramos , tornou-se o [ SEB ; eis duas
instituições que , cada uma a seuêmodo ,
dade nacional (Ramos, i 960). o de derernunada coleuvj do as oposições dc classe à , de terem se instalado no campo
cional" , e , por isso mesmo Maria Sylvia Carvalho franco:
Planejamento económico autenticidade cultural das "classes dominantes . Escreve
'
, pol ítica
,
integradora c ciência nacional constitu íam , assim, objetos diver- çã o das diferenças de classe , sub-
sos atribuídos uo trabalho de elaboração ideol Pnr drenvolvimemo social deve - sc hr a dissolu dominante; por desenvolvi -
Não pretendemos considerar os alicerces gica.
ó sumindo-se iodo? os pontos de vista aos da classe ção c aumento de produti -
elaborações; Outros o fizeram , aos quais filosóficos dessas memo economico deve-sc compreendei industrializa
( Franco , 1978 ; Chauí, 1983; Paiva , remetemos o leitor -
vukde , silencianda sc sobte as rela ções dc produção
( Franco, 1978: LV\).
1980 ; Toledo, 1978 ). Visa de Toledo conclui ;
mos , no máximo , interpretar o seu
sentido e alcance na coniurl -
- Da mesma maneira Caio Navarro*
tura onde surgiram como a ideologia de
Ao proclamarem a ideologia nacional- destnvolvimcmista
.
Não faltaram cri íticos da "ideologia per odo os modelos de desenvolvi -
isehiana" , mesmo na loih a tiaç jo e endossarem , duiamc certo í n ão deixavam de se mover den-
,
Aó tgira, corno a nica . náo pock ignorar a circuretincia existencial A uni- E . tato ainda mais grave , terem provocado a confusão ao pre-
*
r
versal idade formai do processo lógico náo tem íòçi coercitiva capaz de
impor con- render estar entre os arautos de uma gesta cmancipadora ,
du ções. |é ptrctso chegar ã j descoberta de conceitos catcgonais proveniente dos
enquanto buscavam , deliberadamente ou não , a defesa e ilus-
.
faia c adequados a nos dar a cocreta interpretação deles ( Finto, 1951): I W )
tra çao da tradição autorit á ria brasileira. Deste
modo , assegura -
.
Em suma c preciso chegar a uma lógica em contato direto vam a junção entre a pol tica
após 1964 De um lado , a
í
Escola
dos anos
Superior
30 e
de
a dos militares de
Guerra ; de outro ,
com a singularidade histórica . »
o ISEB; eis duas instituiçõ es que , cada uma a seu modo , coloca -
Quanto a Guerreiro Ramos, tomou sc propagandista de
.
uma “sociologia nacional" Na introdução a O problema nacio
- ram sob a responsabilidade do Estado a incumb è ncia de fabri -
na! do Brasil, assim justificou essa opção: car uma nação , c perverteram a imagem dos inrclcctuais associa -
dos à elaboração de seu corpus doutriná rio . Resumiremos os
0 processo de fundação cie uma sooologa nacional reveste .se de caranetes inilu autos de acusação dirigidos aos membros do ISEB .
ilívciv Vcrifka-se quando as motivações de tA disciplina se tornam concretas , - -
-
*
Planejamento econ ómico , autenticidade cultural , política das “ classes dominantes" . Escreve Maria Sylvia Carvalho Franco:
integradora e ciência nacional constitu íam , assim , objetos diver
- POí desenvolvimento social deve -se ler a dissolução das diferenças de classe , sub -
sumindo-se rodos os pomos de vista aos da classe dominante; por desenvolvi-
sos atribuídos ao trabalho de elaboração ideológica .
Não pretendemos considerar os alicerces filosóficos dessas
-
mento económico deve se compreender industrialização e aumento
de produri -
elaborações. Outros o fizeram , aos quais remetemos o leitor vidadr. silenciando-se sobre as relações dc produ ção ( Franco , 1978 - 156).
( Franco , 1978 ; Chau í, 1983; Paiva, 1980; Toledo, ). Visa -
mos, no m áximo, interpretar o seu sentido e alcance1978 .
Da mesma maneira Caio Navarro de Toledo conclui:
tura onde surgiram.
na conjun - .
Ao piodamarern a ideologia naaonal - dcser volviraenLLqa como a ideologia dc
Não faltaram críticos
da “ ideologia iscbiana " , mesmo na tosij j nação c endossarem , durance ceno per íodo, os modelos de desenvolvi -
época . Como lembraremos mais adiante , os docentes mento que se realizavam no país . o? isebianos não deixavam de se mover
den -
rios paulistas manifestaram a seu respeito um desd é m urn tanto- *
universit á .
tro dos quadros dc pensamento da classe hegem ó nica ( Toledo , 1978 ; 170 )
arrogante e desconfiado , tanto cm relação aos conte ú
dos quanto Marilcna Chau í, por sua vez , observa:
à própria postura ideológica . Os isebianos, é verdade , davam
lhes o troco , ridicularizando a impostura científica dos adeptos- Tanto o adjetivo nacional ' quanto o adjetivo " popular reenviam a manei
'
'
-
do empirismo e da “ neutralidade científica" Isto n ão impediu ras dc representar a sociedade sob o signo da unidade nacional , isto é . Nação
que a maioria dos críticos condenasse mais tarde , como
fizeram e Povo sao suportes dt imagens unificadoras quer no plano do discurso político
e ideológico, quer no das experiências práticas c sociais (Chau í, 1983: 20-1 .
os paulistas, a pretensão isebiana de colocar -se na vanguarda )
do
pensamento e da pr á tica políticos.
Os que vamos citar escreveram em torno dos anos 80. Per Foi-lhcs igualmente imputada uma incapacidade singu -
tencem a uma outra geração, que sc confrontou com
- lar para levar cm conta a orienta ção efetiva do processo de
cia do regime militar e lutou a favor dos direitos da “
a experiên - industrialização sob o governo Kubitschck . o qual . sendo caraca-
sociedade
civil " c pela urgência da democratização política. Sc criticavam terizado pelo apelo aos investimentos estrangeiros , levou ,
transformar o nacionalismo em um simples engodo . Assim
t ão vigorosamente o ISEB é porque
condenavam as correntes todas as especulações em tomo da
“ burguesia nacional ' c
que lhes pareciam ter contribuído para levar à derrota de imperia -
1964. de sua necessá ria alianç a com o povo contra as nações
in teis e sem objeto , e a “ ideologia do
listas só podiam ser ú
* Guerreiro Rimos e Ntison Wemcck Sodrêé estão entre os que
-
'
)
nesse vanguardismo , que n ão sentia sequer 1 lasse m édia
justificar , o ind ício da chegada do tempo da
í
. ; l
analisar a l ógica da mptura que , apesar do evolucionismo subja- importadas c a realidade ” , as massas inconscientes c
entre
as elites, entre a organização do social c o desenvolvimento
,
cente era consubstanciai ao privilégio reconhecido à ideologia .
,
Pretendemos també m indicar as implicações da insistência sobre entre a prá tica c a teoria , entre os processos subjacentes c os
o rema da racionalidade inerente tanto ao real como às repre projetos expl ícitos . A ideologia , enquanto consciência da rup '
, afinal , uma
progressivo , á substituição da história cm curso por urna hist ó
- progressivo algum que n ão postule
ria imaginária . teoria" ( Pinto, 1059: 33) .
Para começ ar , convé m recapitular o que jj foi observado . “ Racionalidade : eis a outra palavra -chavc. Ê certo que
Os intelectuais isebianos não estavam ern uma torce dc marfim ; nem todos os isebianos lhe atribu íam o mesmo"alcance. Alguns do
estavam imersos no vasto movimento nacionalista que percor - a interpretavam como o que está inscrito no movimento ainda
real outros , como o que definia a modernidade ; outros ,
reu o Brasil. A ideologia nacional que propunham n ão
deixava enfim
como o que mantinha o controle do devir ; outros , ,
de estar em resson â ncia corn o nacionalismo largamcme difun-
dido na opinião pú blica , dando a impressão de teorizar o que como aquilo que se manifesta através do processo de emancipa -
sc exprimia espontaneamente, ou de orientar c reforçar o que ção. Mesmo com o risco de simplificar , pode-se
afirmar , porem ,
_
sc manifestava confusamente. Os isebianos també___m n ão esta
- que essas diversas noções de racionalidade estavam combinadas
dos isebianos Essa
,
ncia ":
a passagem â "consciê ncia aut êntica era a própria cipação . Assim a ideologia pode ser entendida
da ruptura Significava que haviam sido reabsorvidas as
expressã o
tuição de um mundo iniersubjetivo por meio de uma comuni -
ciações que ainda grassavam nos anos 30: entre as ideias-
disso
cação sem coerções nem distorçõ es .
12 (> 127
Ruptura " e “ racionalidade aparecem , portanto , como pertebctáo quc devem. prcviimcntc % qualquer iniciairva . fixar as mews futu -
os dois alicerces da lógica ideológica . Para apreender melhor o ras pennissivcis pelo estado atual ( Pinto, 1959 : 25 ).
seu sentido , seria ú til fazer uma aproximação com o que ocor
- é : indicava
Porem o tema do “ projeto ia bem mais al m
"
reu na Alemanha durante a primeira metade do século XIX
sujeito de sua história , isto
o modo como uma naçã o se torna
.
Na Alemanha daquela é poca , como no Brasil dos anos 55 64 .
- transparente para si mesma
tudo girava em torno das interaçõ es entre o atraso econ ómico é , como uma sociedade se torna
-
,
“ rup
O elogio da “ consciê ncia , da racionalidade e da que
"
e a política . Ora , como indicou Fran çois Furei ( Furet . " "
1986 ),
foi a consci ê ncia desse atraso que alimentou a convicção dos , o valor de uma revolu ção . O
tura ' teve , para os isebianos
-
f
teóricos alem ães de que seu país poderia estar , “ quanto ao revolucion á rio ? A propósito da Revolu ção Fran
pen - é um momento
em que se pro -
samento" . à freme das na ções mars industrializadas. Assim ,
o cesa . François Furet demonstra que c o instante tudo c tramformá-
jovem Marx diagnosticou a impot ê ncia da Alemanha para enga- duz a certeza de que tudo ' é cognosdvel e
jar - se na revolu çã o burguesa , por falta de uma para o saber e para
burguesia . Mas. veT \ ou 'ainda, que a ação * é transparente
morar do pol ítico ' :
*
exatamente como Hegel , não duvidava de que esta carê
ncia a . Assim se instaura a ilusã
i
o
pudesse conduzir a urn desenvolvimento mats rational ; nem
. Ela inaugura
que da sc traduzisse numa vocação particular do proletariado A revolução transforma aquilo que se suporta em aJgo consciente
alem ão e do Estado alem ão que lhes permitisse mais rá pido um mundo onde todas is mudanças sociais são atribu ídas as forças conhecidas,
ítico da o universo objt-
uma etapa politics sem separação entre o pú blico e o privado , registradas c vivas: taJ como a pensamento m , investe
separação esta que é um legado da Revolução Francesa . Como LJVO de vontades subjetivas ( Furet , 1978: 43)
Hegcl , também Marx exaltou a aptidão da Alemanha para
No caso do 15EB , o culto da ideologia teve por fun çã
o
adiantar-se ao presente, para “ viver seu futuro sob a forma dc à vontade
filosofia", para tornar - se ‘ a consciência teó rica dos _ _ _ outros criar um mesmo sentimento: o dc que nada escapa
dos homens. Nem mesmo os “ processos económicos
" , pois são
povos" ( ibid .: 15 ). Assim , do atraso “ objetivo" , lez , como o
regidos por uma finalidade que os tornava equivalentes“ a
atos
filósofo de lena , a condição para um avanço da consciê ncia.
Da mesma maneira , seria justamente o atraso do Brasil de vontade: a pr ópria economia se torna subjetiva. No
".
proje -
to . a vontade humana encontra o processo
" "
-
que lhe permitiria colocar sc, por meio da ideologia , acima
do momento atual , e afirmar a possibilidade de uma história Resta assinalar que , na Revolução Francesa , a ruptura ini-
comandada pela razão. Terminavam as reflexões sombrias sobre dal jã se tinha consumado , quando prevaleceu o sentimento
as fraquezas do “ cará ter nacional " e as incertezas do “ser de que tudo pode sc tornar consciente , a começ ar pela ruptura
com o antigo simbolismo do poder . Nada disso ocorria o
no
sileiro ". A partir daí, o atraso é imputado a uma relação dc-
bra
momento em que os isebianos se empenhavam na produ çã
opressão, econ ó mica e cultural , provocada no passado pela
dominaçã o cultural , c no presente pela dominação imperialista , ideológica O governo Kubitschek conduzira o Brasil para um
.
Desde que se rompesse essa relação , nada impediria o Brasil grande sonho , mas por outro lado manobrava com dificuldade
em meio às for ças políticas tradicionais c consentira
numa
de ingressar no caminho dc um desenvolvimento acelerado
Bem ao contrário: era o atraso que permitiria n ão recorrer às
. ampla abertura ao capital estrangeiro a fim de superar m úl -
os
forças dc mercado, mas controlar o desenvolvimento , orientan - tiplos bloqueios . Ora , os isebianos não pensavam , de maneira
-
do o segundo um “ projeto” voluntarista . No dom ínio alguma em romper com o governo Kubitschek , nem . printi -
econô-
,
mico , o projeto" implica o planejamento: palmencc , em cortar as ligações com o Estado , A sequ ê ncia se
deu no sentido inverso da francesa: foi por alcançarem plena
Sabendo que a natureza do processo [ dc desenvolvimento] implica referência a consciência que os intelectuais pensaram estar vivendo uma rup-
cm tim , os homens dc ação, os homens dc governo e todos os
que exercem, tura , at é mesmo uma revolução. Esta inversã
o n ão deixou de
cm forma manifesta, uma intervenção que promove a evoluçã
o da comunidade , ter suas consequ ê ncias.
128 129
— —
cita quc comanda a consciê
ncia espontânea . As operações pelas o suficientementc
quais se traduzia a pot ência tanto no sentido original como luta ilusória. Afinal , muitos acreditavam entã
no matemá tico da ideologia passam pela nas virtudes da raz ão e das ideias para julgar que seus adversã -
nos. mesmo quc insistissem em defender o status quotdc seus-
ção desta , acompanhada dc uma permanente
incessante redefini- pode
~ nológica .
mi Proliferavam as considerações sobre a “ faseologia
a “ autenticidade ” e a “ redu ção sociológica ’ r
a soberania da consciência . Quanto mais
_
inventividade ter -
a fim dc atestar
riam se converter às reformas sc tomassem cornsd
“ verdadeiros inreresses . Al é m disso , a cisão social
só lhes parecia o efeito de uma defasagem provis
é
ó
ncia
ria
e política
, F. ra essa
proclamada fosse essa
soberania , mais triunfaria a ideia de ruptura. Dizer quc a
“ ideo- a impressão de Hélio Jaguaribe , anterior a 1955 :
logia do desenvolvimento produz o “
desenvolvimento
1
formas
preceituar também que a ideologia da era Ocorre , todavia quc essas novas forças sociais , representativas das novas
revolu significa ção
,
çã o ”
produz a e relações dc produção, não alcançaram poi , vinos uma
-
motivos ,
“ revolução ’ .
-
*
política correspondence ã sua import â ncia econ ómico s ocial. E assim se esubde
Como sempre, a proliferação das ideias acarretou dois , cada vez mats impulsionada, sob
tos. De um lado , ela cria um efei - ceu um descompasso entre a nossa vida civil
universo imagin ário que só sc , c nossa
a liderança da burguesia industrial . no sentido do desenvolvimento Jagua
mant ê m pela refer ê ncia a um inimigo , ele
zado; cria também a obsessão por um outro pr - -
óprio não reali vida política, que permaneceu sob o controle das velhas elites dirigentes ( -
profundamente opaco e obscuro , o que est á universo paralelo , nbc , 1979b: 221) .
do outro lado da
-
>
Não faltaram ao ISEB, bem como ao adversá rio continua sendo a figura do latifundi á rio tacanho ou
em geral , adversários bem reais. A sociedadecampo progressista
do industrial “ entreguista . mas daí em diante
" , dentro do dis -
se dividia cada vez mais abertamente a pan pol í tica brasileira ao revolu -
ir de 59 -60 . Não curso nacionalista , cie sc define como a forma oposta
obstante , a ideologia implicava a substituição desses cion á rio conscience. A partir da í , as antinomias í
apr or í sttcas
mos concretos por antagonismos estereotipados , antagonis- invadem o discurso isebiano. Para Nelson Wcmeck Sodrc:
corn as necessidades do idioma nacionalista. compat íveis
das proporções , uma compara ção com a Revolu Guardadas
çã o
as devi
francesa
*
De am lado , as fareis do progresso , a maioria esmagadora do povo . Do outro, populares, a começar pela própria União Soviética ( N. de
’
De um lado , do outro lado" ; essa contraposição , que tizesse perceber um estado de inconsciê ncia radical
se encontra especialnicntc cm publicações como os Cadernos o verdadeiro motor da histó ria .
do PovOr situa -.se , em grande parte no interior do imagin á rio. Podc-se compreender essa inversão de duas maneiras .
.
contradi-
ções , sendo por é m t ã o imóveis e positivas que n ã o chegam a
'
sua nega çao , com a proclama ção do " despotismo da liberda -
ultrapassar o contraponto" ( ibid . : 75 ). A prova de que a supre - de ” (Lefort , 1983 : 30- 1 ) . Um fenô meno semelhante acontece
macia da consciência estava em debate é que o povo e seu -
no discurso isebiano. A verdade da consci ência torna se, brus-
oposto n ã o eram definidos concrecamcnte, mas pelo contraste camcntc , a negação da consci ê ncia . A aliena çã o da naçã o e a
entre duas vontades livres. No quadro dessas alternativas , a inconsci ê ncia do povo sc metamorfoseiam em fatores de mp-
.
“ consciência " só está em relação com ela mesma . Em um dos cura . A na ção subdesenvolvida c . portanto , um ser social
4
Cadernos do Povo , Franklin dc Oliveira apresenta a escolha igualmemc alienado , um ser cuja essência estã fora dele , c pos-
entre " revolu çã o e rea çã o ” . Essa opçã o , porem , nã o dependia su ído por outros" ( Pinto, I 960: 11, 138-9); as massas podem
alcançar apenas uma protoconscicncia , e , no encanto , são
"
dc uma relação de forç as , mas supunha , antes dc mais nada "
condição para a verdadeira revolu çã o , " a revolução da Ressur - (ibid .: 203) . Sendo assim , a consciência não atingiria o seu
rei ção , a revolu çã o dos espíritos para a reden ção ponto culminante enquanto n ão incorporasse esta insconscicn
*
Impõem -se uma primeira observação a esse respeito; é evi- uma forma ' neobismarckiana . A fusão entre o “pro-
"
, aso sob
dente que os isebianos manifestaram a mesma repulsa à demo- ào aparece mats , conforme coloca -
cesso c a ‘ ' consci ê ncia nrevolu
' "
cracia liberal que os seus predecessores dos anos
30 . Hélio jagua - mos acima como sinais da
, ção pelo “ avanço das ideias" .
e , mais ainda ,
ribr ‘ ‘socializame ’ dos Cadernos de Nosso Tempo via na demo
- Ela se torna o substituto da instituição política
7
que
1964 : 72 ; c 1979c: 245 ). Um componente corporativista des-
,
sas" dc Álvaro Vieira Pinto c a “cultura " desalienadamas - í i
dc demonstrar
dc embora social e não mais estatal , n ão deixa
Roland Corbisier sugerem imediatamente o valor
do plano confiança cm relação à pol í tica democrá tica .
comunitário. A individualidade c uma propriedade da naçã o . O terceiro comentá rio refere se à definição de povo .
- “ "
—
separam
A segunda observação diz respeito ao "
mo> “ sí ntese, como vimos, entre o processodcsenvolvimcntis
económico “ ob-
- Ao contrá rio de Hélio Jaguarilie , outros isebianos
a noção dr descnvolvimentismo da emerg
n ã o
ê ncia política do povo ,
jerivo e a visão subjetiva da constru ção . Exami-
sócio- económica da É o caso de Alvaro Vieira Pinto , como j á constatamos
nação. Aí reside o meio de se evitar a questão pol ítica nemos mais de perto , porem , a figura do povo numa obra
l ógica imanente ao real , orientado ideologicamente e Como
portador como Ideologia e desenvolvimento nacionai.
de significado, o crescimento económico era , por si s ,
ó constitu -
Eísa veruade (sobre i situação nacional ] só scíã Ata pela própria massa poiso
,
tivo do fenômeno político. Ele instaura a cisão: for as
sistas versus forças retrógradas; define a unidade: a naçãprogres
ç - ruo custe fora do sentir do povo [ . . . ] . Não c uma verdade enunciada sabre
damenta a tomada de decisões: o "projeto"; garante a relafuno- povo, mas peio povo (grifo do autor ) (Pinto, 1959: 58).
o;
çã
entre a sociedade civil e o Estado : a ideologia .
Nã o st conclui Essa tese parece reconhecer plenamente a constituição de
da í que n ào houvesse nenhuma escolha de regime.
Hélio Jaguanbe, a situação de subdesenvolvimento podeSegundo,
-
uma pol ítica fundamentada no povo sujeito. Mas será istoautor ,
do mesmo
assim
t ão evidente ? Ate sem recorrer a outros textos
devido ao n ível de renda e dc cultura " a necessidade impor
—
‘
— —
parecem sitigularmentc -
—-
’ impre
0 nacional-capitalismo th» OLSOS cm
de “ através do " sentimento
que predomina uma burguoia empre- desse povo ". Ele compreende rudo, exceto
cisos os conrornos
“
sarul apoiado nu:n “ partido do desenvolvimento ’ que, sob s ’ ( ibid . :
bujnjr&kwnd [grifo do autoij, se liderança MQ
convene num partido majorit c nessas con - as “ dites dirigentes" , tudo que tor “ consciênciacoletiva
diçõt exact o poder com o apoio das massas , em oposição isário plano polí-
foiças reacioná- 39). Ele é , pois , ames dc qualquer rela ção com o real . Não
, inserida no
rias e às fadkd-revoluaoruriss, orienta a comunidade rumo ao tico , a expressã o de uma unidade latente
desenvolvimento
nacional através dc um program ;i adequado (Jaguaribe, 1964 : 90). da constitui çã o de uma “ vontade geral " ,
se colocava o problema
1
de
Excetuando-se a exclusão dos “ revolucionários" , o regime fosse ela da maioria ou da unanimidade , e menos ainda o
uma vontade cuja onipot ê ncia pudesse chegar até a tirania . E
se caractcrua imciramente cm termos que da
com raz ão , pois o povo nao se definia segundo o modo
permitiam contor - von -
nar o problcma da legitimação política. O concep çã o
ena , por si só, o “ partido majoritário c " desenvolvimento tade. Nenhuma visão rousscauniana ou jacobina na contrato,
comunidade " , nesse de povo. Tampouco colocava -se a eventualidade dc um
130 137
anti
n
-
- tuições rivalizavam se na formaçãoosdas
de Guerra se esforçava para atrair
de Guerra . As duas insti
o equivalente civil da Escola Superior elites: a Escola Superior
- quadros civis ( Barros , 1978:
-
gas solidariedades por uma sociabilidade democrática:
dc sa ída 365)* e o ISEB, os quadros milhares
. A primeira n ào rinha
já sc afirma a comunidade. Que significa, nessas ça nacional :
monopólio da elabora çã o da doutrina dc seguran ,
a promoção do povo a sujeito político ? Simplesmente ncias ,
circunst â
que cie o segundo també m se preocupava
com essa quest que ccrta-ã o
mente implica um Estado fone . Sobre
se apropria de uma consciência da nação e do este tema , em 1957
que lhe era preexistente. Preexistente dc forma
a ideologia nacional e desenvolvimeruista era
desenvolvimento
exterior , pois Guerreiro Ramos pronunciou uma conferencia
no ISEB, intru
ent ão:
-
lada ‘ Ideologias c segurança nacional \ Afirmou
1
e da evolu -
ção histórica. E um processo imanente mau admte
aceknment ú por mfluènm vimento c indissociá vel da emancipação da mesmo movi -
exterior (o grifo c nosso) (ibid.:49)- (ibid ,: 249 ). Sociedade e Estado são levados pelo nação .
mento , e igualmcmc subordinados ã produ
ção da
No fim das comas, tudo isso remete a uma c a exalta ção da ideologia
met áfora
retomada
orgâ nica segundo a qual o povo nada mais é senãoda Assim , o dcscnvolvimcntismo
. Dea -
nascem sob o signo de urna política pr ópria à economia
representação da unidade . “ Õ processo
org ânico, o seu movimento ê um sõí (grifo nacional
do
f
é um todo
a
didameme , levam a economizar
- a polí tica . Juntos formaram o
— no sentido
pedestal
de
sobre o qual a inte-
suprimir
Álvaro Vieira Pinto ( ibid .: 44). Também aí a autor , proclama
) ,
dimens ão própria lectualidade alardeava a sua preemin ê nciancia . Essa intelligentsia
ao plano polí tico fica abolida em todos os , para decifrar o
aspectos . Por meio
de um raciocínio diferente do de Hélio laguaribe , lançava m ão dc todos os recursos: da ci ê ,
sentido da história; do subdesenvolvimento para ,separa se erigir
encontramos fazer arauto
mais uma vez a inspiração de 1930 , sob a
nismo organicista .
forma do evolucio- da independê ncia nacional ; do desenvolvimento esclarecida
em planejadora: do povo, para ser a sua consciência leg ILUTL â -
,
na polí tica de
excessiva permeabili - do primeiro ISEB . o qual acreditava discernirós
dade do Estado à ação dos grupos dc pressão era "
qual o poder do Estado se revela c:ada vez a raz à o pela Kubitschek a realização dos seus projetos. segundo -
Ap 58 59 a disso-
e o terceiro
para orientar politicamente a sociedade mais insuficiente ciação sc torna claramentc perceptível. O fase a outra ,
1979: 245 ). Não esqueçamos que o ISEB foi
civil " (Schwartzman , ISEB optaram pela legitimidade popular . De uma o conteúdo
persiste a auto-identifica ção como intelligentsia mas
concebido como ;
politico da nação se modifica . No início , designava
de poder , responsável pela unidade nacional; em
clire revolucioná ria , A evidência social do 1SEB
uma elite
seguida , uma
de mais nada , do faro de que , realizando essa provém antes
r ~
n ão introduziu um div
entre Frondizi c os
son Wcrncck Sodre deploraria
ó rcio compará vel ao que se produziria
intelectuais argentinos. H verdade queo em
, dentro do ISEB a , op
139
çã
Nd *
nizadoras, militares, tecnocratas etc. Seu destaque rnoder - dc fazer prevalecer sobre as for
em larga medida , garantido pelo social era . voltada cm primeiro lugar para um objetivo político c ideoló-
reconhecimento que lhe - ideologia dcsenvolvimcntista do 1SEB
leria o poder. Sem d ú vida cie tem dc levar
ern
con gjto. E a prova dc que a simples meio para um grupo de inte-
se formando uma camada dc coma que
tecnocratas cada vez mais pode-
vai
era muito mais do que um do poder. Ela se tornou , progressiva -
rosa , da qual nao faz parte . lectuais se situar na ó rbita no qual se colocava a opi -
A separação entre o intelectual e o mente , o horizonte de pensamento a suas divisões.
mudança em rela ção a 1930 , quando a ideia tccnocrata marca uma nião pú blica , quaisquer que fossem * longe de romper com
social " implicava uma coincidência entre as duas dc “organização O segundo e o terceiro ISFB estavam " revolução ou rea -
sc à alternativa
isebianos restou contudo um bom prémio de consolafun ções , Aos esta ideologia - Referindo -
às forças arcaicas que entravam
logia dcsenvolvimcntista também foi a ção . A ideo- ção’ \ apenas deram maior peso
ideologia daí a ideologia desenvob
governo Kubitschek Kubitschek oficial do o desenvolvimento nacional. A partir do que antes, à proble-
clareza
abertura dos cursos do ISEB e exortou
comparecia pessoalmente à vimcmista se articula , com mais
-
m á tica de classes. Aliando se ao movimento
cm favor das re
"
instituto a tornar -
se o "catecúmcno do Brasil moderno. este -
*
se aproximaram de orga
1
dente se constru ía corno a do ISEB ( A linguagem do presi - formas de base " , os isebianos não só, que animavam esta cam-
Ao assumir suas fun ções, declara: Limoeiro Cardoso 1978). mzações como o Partido Comunista a
posi ção dos intelectuais.
panha , como também redefiniram para representar a nação ,
Já ruo somos uma nação abstrata cm que ai preocupações com o rrai estão auste- Ao intelectual com voca çã o natural ” ao lado das classes popula -
re ' Hoje pnde -se verificar que os leraas sobre o
enriquecimento nacional -
sucede sc o intelectual "engajadode 1930 e à concepção integra-
estio cm pauta , j .. ) o Brasil passou a existir como
res. À divisã o entre elite e povo
brasileiro u quer sabei algo a mais que os pisses ama coisa concreta. 0 povo
dc mágica da política e se dora dc Álvaro Vieira Pinto, segue se - a noção do intelectual
desinteressa dc uma polemica bizantina sobre os males
brasileiros ( ihid.: 241) militante . do fato de que
Esta mutação sc acompanha da descoberta -
Ao anunciar o Plano dc Metas, proclama:
o imeleetual c socialmente situado -
. Fi lo condenado a se reco
” compartilhando assim dc
Afortunadamcmc, o programa dc desenvolvimento global, nos termos em que
o propusemos à naçã o constitui , boje . nã o apenas
-
nhecer como "pequeno burguês ,
o movimento estudan-
,
um plano de governo, mas uma condição coletiva : c a cpoca em que , e com cie o ISEB
a expttsm da vontade impnmml de iodo o
fioro brasileiro (ibid .: 25}). til se transforma em agente político essencial
político rinha o
Em seus discursos , Kubitschek transforma o mantinha estreitos contatos. O engajamento social insuport ável
volvimcntista num projeto realizável. Atribuir ao ISEB mito desen - poder dc apagar a marca dessa condição tanto horror pela
n ida de dessa orientação seria provavelmente
das coisas; entretanto , o ISEB lhe conferia inverter a
a pater -
ordem — visto que os novos isebianos professavam Daí o papel cres -
"classe m édia" quanto os isebianos dc 1955 -
uma legi- da marcha em dire -
cem e das adesões partidárias e o prestígio
’
—
diversos ses e o Estado . São tres possibilidades
momentos tio ISEB. O nacional -dcsenvolvimcntismo
reinterpretado —
n ão foi a ú nica forma de continuidade.
mesmo
O
pode-se indagar sc n ão anulariam , cada ;qual
dimensão própria do fenô meno político
à sua maneira , a
elas formam , porém ,
vanguard ísmo que impregna os autores desses fascí intelectual continuaria a
culos popu os eixos em torno dos quais a pol ítica
1 1
-
seu percurso de nove anos, pode resumir se ern
Eles acompanharam a opinião p ú blica em suas
quatro fatores . brasileira " queT em muitos aspectos, gerou uma
espécie de
os intelectuais
ses . fazendo-se arautos do paradigma nacional que metamorfo- senso comum a partir do qual se reconheciam duvidassem da validade
progressistas: mesmo que alguns deles
cada momento. Colocaram em cena Povo e Poder ; Naprevalece a sc posicionar em rela ção a cias.
gresso; Desenvolvimento e Unidade política ; ção c Pro- dessas teses » eram obrigados a
interpretação do
Consciê ncia ima- Em torno do Partido Comunista c de sua
nente da história e Revolu ção; Ciê ncia e
ram - se com cada uma dessas entidades e
Ideologia . Identifica - -
nacionalismo formou se toda uma cultura pol ítica singular -
acreditaram no seu mente fecunda , que sc afirmou sobretudo ap ó s I 960 , e iria
próprio poder de integr á- las. , talvez tenha
Lançaram uma ponte entre os pensadores de sobreviver ao golpe de Estado de 1964 ; dc faro
1930 c os sido em 64 - 68 a é poca de sua maior influencia »
6 SCS ^ í s
142
fria
deas de
f
podia
Vilanova
que
radicais
popular r
realismo socia
rio Krus-
e
não se
seus
aspectos da
brasileiras. Assim ,
do Brastí , livro
Brasilieme > publi -
a
do Partido na campanha pela nacionalizaçã o do participação
petróleo e .
a favor
vasta coali-
a prova são as novas teses adotadas em
e , finalmente , seu engajamento na
ponta de lan ç a do movimento pelas "
reformas dc base " , tudo
—
-
—
1 r ^s da sociedade brasileira
membros do Panido
riador do cinema ) Barbosa
Pinto ( do ISEB),
Prestes em diversos
t
ática e nacionalista , ao lado de outras for -
freme ú nica , democr no movimento pela melhoria das extrutu
çJIJ populares reunidas ' . No CT1 irão acuar lado a lado
n ã o impede que a
sobre a
profissionais
fosse então
143
, no cen -
das ciên -
campos
proliferação dc grupos que imcrvLnham na maioria dos
isso atraiu para a *ua órbita
numerosos intelectuais que n ão
eram necessariamente militantes . á assinalamos grau da crença
do Partido no LSEB . Ela sc expressou J a influencia culturais c partilhavam , cm maior ou menor ,
em mui -
na m evirabilidade do triunfo da Frente Nacionalista
també m poi meio de ;
algumas revistas das rnais prestigiadas; citamos h ã c consider á vel que a
pouco a tos aspectos era bem mais poderosa
,
Revista Brasiliense ames do golpe de 1964; de 1965 a caracteriza o
representa ção oficial [ do partido ] ( ibid . Essa
" . ) çã
1968
como "sociedade civil" , que já se aplicava nos anos 60 -64
será a ve / da Revista Civilização Brasileira . Ambas , será
apresentaram
colaboradores tanto comunistas como n ã o comunistas . A mesma ainda mais adequada , como veremos , nos anos - acentuada 64 69 , quando
influ ê ncia irá se manifestar no campo artístico; os
CPCs ( Cen - se tornaria paLenie o contraste entre a fraqueza —
tro Populares de Cultura ), que se
colocaram soh a sua égide ,
iriam reunir muitos dos ma is brilhantes artistas da jovem gera
-
—
pelas sucessivas divisões dc um aparelho bastante desconcer
tado pela facilidade com que foi dado o golpe dc Estado , e o
-
por Krausche ,
produ
1982
corporativista
coloniais e construir
ém a utilização do
optaram por
r
145
Novo , dis -
Estado de uma grande responsabilidade no desenvolvimento Estado sindicais derivadas do Estado
—
se inserir nas estruturas Os intelectuais
nacional . Essa recupera ção já havia sido empreendida em 45-46 -las com estruturas paralelas
.
postos a completa ligação com o Estado no momento sinali-
—
t u r n o movimento queremista ” , que foi seu primeiro esboço.
Os temas ent ão desenvolvidos por Lu ís Carlos Prestes tinham reencontramdeuma esquerda na qual , da mesma forma e seus
que no
uma ressonância extraordinariamente próxima dos que Getulio zada como combinam uma visão da organização social
passado , se à oferta de empregos
pú blicos,
Vargas iria lan çar em sua campanha de 1950 . Declara Prestes:
próprios interesses relacionados políticos para ocu -
que levam à utilização de crit é rios Fran -
ção . O sociólogo paulista ínio"
Objcnvanicritc . num país todosenalmente atrasado como o nosso , a dasse ope- interesses
raria sofre muito roencv da explora ção capitalista do que da insuficiê ncia do parcelas da administra “ fasc
par certas destacou , na época , o verdadeiro -
desenvolvimento capitalista e do atraso técnico . cisco C WcfFort sobre a esquerda , a ponto
de que o nacio
Estado
exercido o seria mais um dado priorit á rio, mas, em muitos:
pelo
Vargas dirá:
nahsmo nã ” essa relação com o Estado
forma de acomodar
^ ^
A velha democracia liberai c capitalista esd em franco declínio porque tem seu , ’ foi pouco mais que
fundamento na desigualdade [ ... ]. A outra é a democracia socialista A esta ^
O nacio aibmo ’’ , escreve ele em 1963 (Wef -
dc «msagração do Estado
’’
‘0
-
,
lar . A medida que defendia cada vez mais o nacionalismo desen - que incluísse a famosaa esse esquema o que nos importa aqui ;
—
volvimcntisxa , tentava reivindicar o prosseguimemo do projeto e as ilusões inerentes implicações. U esquema* representou
O esquenj
ressaltar outras his-
,
getuhsta , que implicava a exaltação do Estado como agente do preferimos progresso como essência do tempodife
uma r lforma de marcar o explicativo -
desenvolvimento . O Congresso dc 1958 admitiu oficialmente
. -
Ele nrrrn , sem d
recorreu ú vida*, a um modelo
ouviu
. Entretan -,
que a a çã o do Estado brasileiro assumia , nesse aspecto , “ formas tórico " daua duu ^ ua de 30
écada
do evolucionismo positivista -
capitalista
« *
gradas e ao '
—
Rensta Brastltense, na mesma é poca , afirma Hermes Lima: forças retró
só fazendo referência às rejeição ao impc-
1958 abandonam a imperialismo
0 mdonalisroo nio supòe exduitvameme o Estado mterveociooisti . Supõe americano as teses dc dos
isto sim . o Escsdrj na liderança no cornando da política dc desenvolvimento, cm geral para se concentrarem no ló gica moder -
,
rialismo esquema que endossa uma
no estímulo direto ou indireto dc medidas promotional do desenvolvimento Unidos É um subst í a
Estados ças produtivas apenas substitui
. tui
( Rensta Bmikeme nc IS , julho-agosto de 1958, p. 17).
nizadora . A evolução das for burguesa
como a revoluçã o
O jovem Carlos Nelson Coutinho , que se tornará um his- das mentalidades, assim da história e a ação voluntarism
o O movimento forma que
em harmonia Da mesma
toriador da literatura , via então no Estado o meio de romper a organiza çã ,
continuaram a conviver
ao Partido Comunista
fazem
intelectuais ligados modcrni -
os do ISEB , os
a condi ção para ingresso na
4
E*sas dim ciuçQci faiam tnadai de um artigo de Psinziu Pioari , que compara as da consci ê ncia esc larccida
duas finguagens ( Piozu . 1983 23-36).
146 147
dadc . Estavam menos tentados, porem , a atribuir esta conscicn - setorespopulares . Tomemos a noção de “ proletariado" É ver-
cia ao povo; era evidente que para tanto confiavam sobretudo
nas vanguardas. Na Revista Brasiliense , escreve Caio Prado
dade que a declaração do Partido cm mar ço de 1958 afirma
que “ a sociedade brasileira encerra tamb ém a contradição entre
l ú nior : " . Mas logo acrescenta que nas
o proletariado e a burguesia
o desenvolvimento capitalista
[Ccnvcm] situar a mesma política em terreno ideológico , isto c. elaborar
.um... condições presentes de nosso pa ís ,
No enramo isso é inexato c antes pelo contTÍrio , uma política esta tem uma conotaçã o rivais polí tica . Frisemos , porem , a polis
nacionalista c
,
a 1985 , se man -
,
riam
Em que medida o partido e seus intelectuais ainda ade -
á ideia dr que essa ruptura pudesse se produzir
texto da legalidade em vigor ? A resposta n ào é
clara
o Partido parecia desconfiar das correntes esquerdistas
raveis a uma crise econ ó mica , sonhavam
. Em
com um golpe dc
Estado de esquerda . Na Revista Brasiltense , Elias
no com
1958,
que. lavo -
w
democracia parlamentar . Amplos setores da opinião publica ,
de esquerda c direita , compartilhavam
zado numa experi ê ncia” histórica na qual
um sentimento enrai -
a
ciada a* “ liberalismo , r o liberalismo à hegemonia
)
rambem
que
democracia est á asso -
no
de
governo
um
151
olig á r -
fato
Goulart
do
momento: a paralisia do Congresso , ,
Partido , maneiras de defender seus próprios curso pretendiam , convencidos dos poderes
e
ili -
sentações . Não unham necessidade de expor seu interesses e repre - revolução emcultura , conduzir a toque de caixa uma epopeia
bastava se fazerem de porta - vozes do ‘ povo ” .vanguardismo; da
mirados digna da histó ria ern processo .
afirmavam , a um só tempo , sua solidariedade com asDesse modo coletiva um dos componentes do vasto
mas també m os privilégios inerentes à sua
‘
massas ”. Os CPCs foram apenasnumerosos intelectuais ao encon
levou ent ã o
*
Mais do que nunca , foram os elementos com consci ência pol ítica.
vocação para fun -
movimento quepopulares .
dir o povo com a nação . E, para consegui tro das classes Povot publicados pela Civilização Brasileira,
Os Cadernos do
pedagogia revolucioná ria . Desiinavam-sc colo-
- lo , foram legitima a
mente levados a militar , com grande *
heroicos 0 que tie ou foi esta mediu , incrível, infantil , gencross ” e acelerar a sua muta ç ao
rid ícula crença nos poderes transformadores da , genialmemr Iidade brasileira em 1961, por im -
ca ane como força potíuca. no munda!
„ arte. Nunca se
acreditou tanto O CPC original foi criado cm São Paulo membros pertenceram
busca da realidade , uma fé, uma ambição de
Ficou disto também ura amor peta ciativa dc gente de teatro. Seus primeiros 1953 , procurou romper
marca registrada da Criação latino-americana [ mudan ça que lalvez seja a ú nica
] Dc novo. dc ura novo ângulo,
ao Teatro de Arena , que , a partir dc c criar um teaLro brasilei -
- com as conven ções do teatro clássico
1
de socie-
a impor á nria que se dá hoje ao ,conceito
ado pcla.< cir -
não it dava , ou , quem sabe
for ç
vaido Vtanna Filho c outros membros do Arena obedeceu ao Naquela época Mesmo assim , intuitmincme civil , foi criado por
desejo de ir ao encontro dc um p ú blico mais amplo * fazendo dade civil , CPC cormituiu-v como órgão da sociedade
os espetáculos sa í rem de suas salas habituais c os realizando omstánrias o por cia o tempo iodo (ibid )
em toda pane: na rua, nos sindicatos , para as populações rurais. ch c susrentado do CPC pretendiam
O CPC adquire sua forma definitiva articulando-se com o ISEB que os intelectuais sacie-
É bem verdadenos anos 60 era a maneira de dizer
tm
c com a UNE , Oduvaldo Vranna Filho faz cursos no ISEB a fim , o que .
dc realizar uma peça sobre a mais- valia: A mau - valia vai aca - r ‘ P°v° com uma conota ção bem diferentedeclara , no
* civil , mas Carlos Estcvam” Martins
bai\ seu Edgar . O sociólogo Carlos Esievam Martins , membro dade mar o de 1962 membros do
do ISEB , tornasse ent ào o primeiro diretor do CPC e sc tornará Em ç *
Manifesto do CPC : 0$
para o integrante do povo
,
o seu teórico. Na mesma é poca , o CPC sc torna o ó rg ã o cultu - "anteprojeto por ser parte ,
por scr povo , ” 0 . De formas
ral da UNE, que lhe cede uma sala permanente. Contudo , o CPC optaram do seu exército no front cultural identificação:
expressaram a mesma
—
CPC conservaria sua autonomia em face dessa organização estu
dantil presa de acerbas lutas políticas e que , nesse momento ,
sc inclina para uma tend ência de origem crist ã - revolucion á ria *
- destacamentos
, outros
diversas
participantes
, o cineasta, o pintor
, o professor, o
esnnianrc . o profissional
responsáveis, como os demais
liberal
tiaba -
a AP ( A ção Popular ) —
embora participando de certas campa -
nhas da UNE ( Berlinck * 1984 ) . Com o patrocínio do ISEB c
0 escritor
Ihadores. peto
-como
redescobrem scsociedadecidad
que
ãos diretameme
ajudam a construir diariamente Gullar
( , I % 0: 83
ção ao
Ui
da UNE e mais a influê ncia dos membros do Partido Comu - o poeta Moacyr Felix * na introdu rua,
Em 1963 afirma de Viol ã o da
nista em seu meio , o CPC se coloca no centro da efervescê ncia
nacionalista. de poesia publicado com o t ítulo
volume do Povo:
O CPC’. atraiu artistas de destaque ou que mais tarde sc da serie Cadernos , de colocar a sua
sensibili-
tomariam conhecidas Em sua direção succderam - sc Carlos Estc- por isso , os verdadeiros poetas proletariado , dasse
vam Martins , o cineasta Carlos Diegucs ( durante tr ês meses ) e Não podiam deixai atuais da história, também ao lado do si própria para
,
çõ es
dade. nas condida negação, única dasse que luta para negar- em que não exis-
se a ,
-
ira *e fia página
anteprojeto cm H B
Ver o rexto du 12?
de Hollauda.
pagma* 145 8 -
-
1981: 121 44 A cita
ção encon -
Via dc regra ocorre que o artista Jo CPC, embora pertencendo cs.se didatismo revolucionário pesou
ao povo, não N ão há d ú vida dc que
pertença ã fiasse revolucionária senão pc ío espírito , CPC , quer se tratasse de teatro ,
ideologia revolucionária ( H . B. dc Holland a, 1981: 128 ) . adoção consciente da
pela mujto sobre o trabalho do
. Os artistas do CPC tomaram deliberada
cinema ou poesia privilegiar mais a mensagem do que a forma
-
Trata -sr . por ém , dc um engajamento mente o partido dc
da "má consciência ' sartriana: burgu ês oufortemente distanciado nao tinha dificuldade cm admitir a
- das elites " : o artista rcvolucioni-
anteprojeto
estética , O
1
“
peque no burgu ês , o
intelectual pertence ao povo' ‘ já de salda. Optando superioridade formal da "arte
1
ção, solidariza -se com a sociedade por pela revolu- fazer sacrif ícios est é ticos .
da classe revolucionária [... ] em ú ltima an inteiro , pois "o .s interesses rio deve consentir em á vel
o do ámbtm dc vigência da ane não é vi
interesses gerais de toda a sociedade ' ( ibidá.lise , correspondem aos
). O primado naciona -
É fora dc dúvida que a ampliaçã
ao alcance exclusivo dos entendido ? como
na base dc ama linguagem cifrada
5 ,
MAS rssc excesso vem cambem do outro fracasso do CPC: sua • cultura ' . Utopia ? Sem d ú vida . Mas uma utopia que
—
r
A dificuldade não escava cm mostrar espet áculos que pudessem Jabor , depoimento
maisr a dificuldade era entrar em contato com a povo
ser Imdos à
posterior , Carlos Estevam r\„r ,„„ por sua
Num „ c; rn ,
tiam estruturas de conexão entre o grosso da população c os
urna vez que nã o exis -
,
politizados que queriam sair fora dos circuitos elitistas (C. E grupos culturais
vez , .
assinala
nua .
: " E
~ preciso
r sacrificar o art ístico ? Claro que sim
v ão chegar ao poder logo, logo
^
"
Martins, \ m m porque as classes populares adiante: A convicçã o de
(C E. Martins , 1980 : 80 ) . E mais
“
E ainda: " A segunda surpresa foi a ausência do oper no CPC era de que o que se fazia era
locais onde sup ú nhamos que ele deveria estar: os á rio nos cada um que trabalhava
sindicatos »»
de uma utilidade enorme , e que " cada qual era absolutamente
(ibid . ). Uma previa do que seria a surpresa ( ibid . ). Essa obra revolucio-
o " trabalhador " tampouco compareceu ao
dc 1964 , quando indispensá vel à marcha da hist ó ria
encontro. de que a mobiliza çã o camponesa
Os comentaristas da d écada de 80 não ná ria se apoia na constatação tempo , percebe que
tratam o CPC e operá ria estava crescendo: ao mesmo
melhor que o 1SEB; vanguarda autoritária (Chau incapaz de se
í,
Berlinck, 1984: passim ), traduzindo as mistificações1983 : 89; grande parte dos setores populares continuava amos fazer e fize-
unir a ela . Da í seu aspecto didá tico: Quer í
‘
da classe
media " , reproduzindo sem o saber a ‘ ideologia de trans-
negando cinicamente o saber como arma de poderdominante mos um trabalho educativo , que abrisse possibilidades
’
—
com ast úcia às palavras de ordem naciomi - ret ó rica
a arre ao subordin á - la sem escr ú
populares
pulos à política
, anulando
Sendo assim convé m considerar como simplesmente
,
das críticas que foram feitas ao CPC. O ‘’ eis algumas esta outra afirmação feita por ele:
anteprojeto" , com dma que as nossas au -
seu desprezo pela “ arte do povo " , mereceu
acerbos comenta - 0 principal para nós eram n. intervenções de baixo para nós eram as imtn
nos . Raras são as obras que caíram nas boas gra vidades pudessem susdtar no plano cultural . O principal para
I ÍSU5 ‘\ ças dos cspecia - venções de baixo pua cima nos planos econó mico, social e pol ítico - r\
Nosso propósito, evidcntcm ente n ào c julgar as
mas recolocar esta marcha para o povo na conjuntura
. obras, Na realidade , os militantes do CPC se esforçavam
muito
mundo
tual daquele momento . intelec - para favorecer , por meio da arte , a poluiza çã o de um
distâ ncia social que
social que Lhes era estranho . Constataram a populares
Desse ponto de vista, o “ vanguardismo •
menos marcante do que a certeza de viver uma situanos parece
<
BSCSH / U F K Q S
ir>o
da coletâ
4
__
‘
dogmatismo dos slogans' ", segundo Moacyr Félix, evitar 0 noso pfaricisroo nos conduziu a equí vocos no into c no leUcionamtato com
mas ideológicos" ( H. B. c a aplicação mecâ o os intelccruu- Ls [ ,..|. Um dos graves preconceitos que têm livre curco nj wilder - ,
dc nica dos esqiie- nulidade [ ... i t aquele de acordo com o quai somente os inietanuats podem
* imagem do povo", inspirada Holianda , 1981: 146). É certo
Porém os membros do pelo 1SF.B rra que opinar sobre problemas da cultura ( Malina, l %\: 40-42 ) .
CPC . em suas
,
ompresente
ouvir pelas
classes dificuldades de sc fazerem Negligê ncia deplorá vel . De que trata a questão cultural ?
que se tratava de populares concretas, perceberam por Sempre se soube , e mais ainda a paxtir de 1925: da quest ão
uma imagem vazia . vezes
partido est á no poder Entre Lu ís Carlos Prestes,
que dizia "o nacional . Assim , os artistas do CPC podiam ter
da afirma çã o
que incitavam os ", c os
pedagogos do CPC a sensa de que detinham a responsabilidade sobre o princi -
dição de cidadãos ,camponeses
çã o
c operários a
a distâ ncia é assumirem sua con - pal objetivo polí tico . Em muitos aspectos , sã o eles os herdeiros
ú ltimos se v
ê, .sem d ú vida a considerável. Na atitude destes dos pensadores de 1925 Fazendo -sc propagandistas da "cul-
,
per íodo revolucioná convicçã
rio. Mas transpareceo dc estar vivendo uni tura popular revolucionária \ quiseram ir contra as posições eli-
,
os predecessores russos
tar seus atos às dos anos 1870, umatambém, como entre tistas da gera çã o precedente . Porem , querendo ou n ão, herda -
suas vontade dc "
os intelectuais já palavras ( Haupt , 1978: 245), e de adap ram muitos de seus preconceitos e de seus objetivos . O desd ém
"
——
aspira ção a uma cultura nacional , livre do dom ínio das ideias
pela "revela ção " desse campo. Visivelmente uma importadas continua sendo intensa , Ferreira Gullar retoma as
ção no aparelho cubana cujos ecos provocavam sensibilizada palavras de 1930 , quando argumenta que " o caráter nacional
comunista muita -
lectuais argentinos, i tenta ela não sucumbiu , como osagita
—
da obra de arte [ , , , ] é menos um objetivo a ser alcan çado do
inte
- -
—
na mesma via. ção de engajar se que condiçã o prévia de seu surgimento " ( Gullar , 1969: 82 ) , e
Inserida no conjunto í mcdíatameme
.salvo alguns do campo também quando pede que haja uma apreciação cr ítica das
fiel à visão de umacleos estudantis ainda isolados „nacionalista
nú
influências exteriores, apreciação que seja "fundada na visão
mesmo que tivesse tamb revolução que continuou
converteria a nação inteira , objetiva de nossa realidade ' (Gullar , 1980: 84 ) . Como se vê,
7
ém de utilizar
dispositivos de poder " em sua etapa final, reaparece o tema da " realidade nacional " ou , mais preem -
1
talvez. Em suma, um que controlava. Volumarismo e ilusãos, inence , o da " tomada de consciência da realidade brasileira ".
vanguardismo singularmcmc o
Os militantes do CPC nuan çado . Desse modo , a cultura continua associada ao duplo projeto de
encarregavam-se , enfim , da
ção em seu aspecto
cultural
tinham liberdade de ação Também desse ponto de vista,
.
em relação ao
revolu - construir , sobre a base das especificidades brasileiras , um povo
e uma nação . Porem os membros do CPC também pretendem
comentários coincidem
iã o se
em um ponto: nessaPartido
preocupava com a questão
. Todos os
época, o Partido
romper com os pressupostos culturais de 1930: a noção de "cul
tura popular" se contrapõe , ao mesmo tempo, à de cultura eli-
-
dos intelectuais. Um cultural, nem com a questã o tista e à de " cará ter nacional" com a qual os intelectuais de
Malina, constata essa falha membro do Comité
: Central, Salom ão 1930 queriam revelar a unidade pre - política do social . Ferreira
Gullar recusa qualquer " toler â ncia ingénua em rela ção aos pre -
Oanfoijnc
conceitos de ra ça , nacionalidade , mdicionalismos discretos ou
Brrijnck ( 1984 qualquer outra forma de chauvinismo" ( ibid . : 85 }. Ele retoma
'
105 Ç 5Ç£s I
a definiçã o de Carlos Estevam Martins : "Cultura popular é ,
. -
162
Itn ò rnc
I
o senso comum nacionalista , pela important ia que confere à
o cio indivíduo na nação:
ideologia c à consticntização ” . A ruptura com as ideias dc A "salvação reside na rrmset çã
'
*
‘
^
' ’.
juntos : s2o apenas os componentes do povo
Entretanto, a ” rralidade ' n ão era mats a mesma r nem a
autonomia ” da cultura . Em 1930 , a “ realidade ” c a de um
uhando
Entende -se , qur os diversos artistas tinham que conver l
assim ,
considerar que o CPC
-
ser brasileiro ” fixado de uma vez por todas: em 1960. ê gir no ponto essencial: alguns podiam
dos determinismos económicos subjacentes ã ' "superestruturaa eraI v ítima de seu didatismo , muitos podiam
defender a neccs -
cultural ” . O “ anreprojero ” ê explícito nesse ponto: o artista
do CPC sabe que ‘ toda e qualquer manifestação cultural
só
sidade dc manter
internacionais , mas
se uma-
raros
abertura
os que
para
duvidaram
as tend
de
ê ncias art ísticas
que deviam par-
pode scr adequadamente compreendida sob a luz de ticipar da elaboração dc uma cultura marcada pelo timbre da
suas rela - constitutiva da imagem que a socie -
ções com a base material sobre a qual se erigem os “ realidade brasileira . e
"
-
lienada , aderindo ao projeto nacional. Tanto em um caso como desa -
se por trás da sociedade ou dentro dela
no outro , a cultura divide com a esfera pol í tica o privilé
gio de Os grupos se socializam os povos >c socializam : a lustôna caminha para um
-
vincular se ao “ real ” t\ ao mesmo tempo , construir esse real
. coletivismo total. Nessa colctivização, o indiv íduo , como ra!r conta cada vez
Essas modificações n ã o foram grandes a ponto dc abolir
o que estava em jogo na cultura de menos c enquanto iotfgrimc de uma sociedade conta cada vtz mais {citado
,
1930: o
de uma comunidade nacional que resistisse a reconhecimento porS B. dc Holanda. 1981: 43).
sos de individualização. O popular ” era també m o
'
todos os proccs
que criava
- Por diversos desvios , estabelece -se a convergência a fim
obstáculos ao individualismo. Isto vale para o artista de fazer da arte a testemunha ou o protagonista da coesão do
n ário que abandona as del ícias do subjetivismo revolucio -
para rnosTrar todo social . A cultura não se politiza; é um dos modos de ins -
ao p ú blico o que a sua condição coletiva é capaz de
criar . O tituição do político. E , reciprocamente , a política não comanda.
" anteprojeto ”
indica: a cultura : em certos aspectos, ela c fundadora de uma cultura
Cultura que n ão pertence a uma vanguarda
‘
' ” esclarecida
Em lu £ ar do homem bolado em sua individualidade c perdido
— a menos que . com essa denominação , se queira fazer refer -
para sempre ên
nos intrincados meandros da intiospecção, nossa arte deve levar ao
íiudo humano do petróleo c do aço, dos partidos políticos c povo o sigr.i - cia à impotência do CPC para aungir de fato as classes popula -
de disse , dos índices dc produção e dos mecanismos das associações
financeiros ($. B. dc res , excluindo se os encontros fugazes. Nesse caso. porém , trata
- -
Holanda . 1981: 132 ). se de algo bem diverso do isolamento de um n úcleo de intelec-
tuais que pretende impor suas teorias sem respeitar
a organiza -
Isto vale para o homem do povo . que não c sen ão a . mais geral : a dis-
ção social onde está situado:
po si - ção daqueles a quem se dirige . O problema c
tancia entre as camadas intelectualizadas c os setores populares .
Quando o homem ò povo pergunta à nossa airr '0 que smP ' um publico consider á vel
Com efeito , o CPC tinha acesso a
ponder - lhe , em primeiro lugar com a posição que de . dcvemcw res
ocupa no mapa da obie
*
que n ão era aquele que ele pretendia atingir . Seus temas c mesmos, ao se enxergarem no espelho que
artistas entre eles estudantes
—
suas atividades estavam cm plena harmonia com as preocupa-
lhes estendiam os
. Todos juntos, exaltavam o triunfo
ções dessa juventude , com pouco espa ço nas universidades lugar , consciê ncia
é , cm primeiro
da ideologia e a ideologiacoletiva . Nem poderia ser de outra
—
,
que em geral sc mantinham longe da mobiliza ção nacionalista
, impedida , por sua origem social e seu modo dc da sua própria identidade í , a ‘ cultura popular nao era '
vida , de o in cio
maneira , pois , desdecultura
qualquer contato com as classes populares, mas decidida a se pró , desalienada . revolucion ária , livre
sen ã o a sua pria
transformar cm ator pol ítico. Nascido sob os auspícios do ISEB sobre as classes populares.
c da UNE, o CPC propaga as ideias do primeiro junto a um desse determinismo social que pesa gio seu , pois nada entrava a
A consciência soberana é privil
é
p ú blico cuja polit ízação c simbolizada pelo segundo. Mesmo só vez , até à Nação. O
quando se refere à “ cultura popular ” , muitas vezes é apenas sua possibilidade de elevar -se , de festa da ideologia. O CPC c
uma
a este p ú blico que o CPC se dirige , e sã o os seus problemas didatismo foi sua participação na , melhor ainda do que a
que ele assume . Sen ão , dc que outra forma explicar a maneira seu p ú blico podiam experimentar Mannheim , o prazer da
Socially Unattached intelligentsia de
como Ferreí ra Gullar apresentou essa cultura popular ” ? Escreve
autodeterminação: uma vez que osequer “ povo ” era toda a nação ,
ele: a necessidade de esco
salvo as forças arcaicas, n ão tinham ” ; bastava - lhes optar pelo -
Cultura popular c compreender que as dificuldades por que passa a ind ústria lher entre as classes fundamentais
do livro (.. . ) sàofrutos da deficiência do ensino c da cultura progresso c pelo nacionalismo. Tampouco tinham obrigação
Cultura popu - pr ó pria origem social : a
lar é compreendei que não se pode realizar enema no Brasil ( .. ) sem travar de questionar as 'consequ ê ncias da sua
“ conscien ú zação apaga tudo . Comprccnde-
.
uma Juta contra 05 grupos que dominam 0 mercado cinematográfico brasileiro se assim por que
deplorando seu descuido
(Gullar , 1980: 84 ) . os antigos militantes do CPC , embora
em rela ção aos valores estéticos , relembram sua açã o como uma
Simultaneamente , o CPC faz urn uabalho de vulgarização simplesmente expri -
obra coletiva c livremenre improvisada :
dos esquemas revolucion á rios para uso... dos estudantes. A
quest ão era justamente a vulgariza ção dentro dessa “
miam o sentimento de coletividade e de
liberdade das catcgo -
dade popular ” , cuja criação Carlos Estcvam Martins relata neste- nas sociais que os aplaudiam
universi
trecho:
O que nós tucraos foi procurar os economistas, os sociólogos , 05 historiadores 4 marcha para o povo:
,
fundado n
cm '/ o o impedia ck
nam as duas categorias anteriores ; no conjunto , 40 % provêm O programa
n»
“ *“* * , Igreja I*° °â faiam cm suas £
das classes medias c . ao lado destas , cm posições intermedi á -
rtprumr tamb á'- e 1
£
devido aosém!>cu*da P Jos leigos "que» vsC, otnaI.se sujeito
biUtar ao Pém° pdo qual
t
^
rias , uma porcentagem n ão negligentravel dc monitores dc ori - -
^^HSoa ^^
forneceu tamb
^
vont de 6liea ° pt
f, lcitas - a
^nldoUofm
gem operá ria ou camponesa ; muitos vinham da Juventude Cató -
-
. *
cat
^
lica ou da A ção Católica 3 * . da ^
Três raz ões nos levam a fazer referência a esses movimen -
" 5
C TU
]UC
sStf
tos . Primeiro . ínseriam -se no esforç o de “ consciemizaçáo" r Liiram o da
—
o
com frequência rinham um objetivo pol í tico . Depois , manifes - pot ocasiã
tam a contribuição dos cató licos no debate sobre a “ cultura ’
MCP
operária e o “ povo ” , isto é , na definição do plano pol í tico . da *°°n0 . 19 ^ |- ini^dores
do
.
( Wanderlcy
"
"-
das revoluçõ es rda ?
$ i
'
'isSas»»»-
cm
=-~rars.“S Í-£- -J K
e do WEB sc dss d
bém conquistou a presidê ncia da UNE . Pot esses três motivos,
^
o t- aso
uudutede ““ ,
bwUl " , -aUes Matitam
Di«« V
csst
contribu íram paca o clima intelectual da é poca . Tomemos „ .
Fau ^
1
^
liderado por Arraes No pref ácio do famoso Livro de leitura me « o ptocesso
, dandodhc o con -
.
^
ni í açã dlstingUe
Pararam
'
Coelho , um dos teóricos do MCP , o apresenta . corno resposta
educativo que se ponb
1 i
) Jesde a
do prefcico Miguel Arraes dos vereadores , dos intelectuais ,
,
dc conscimLli qu centrahaai,ao
^
de ctalivaS
^
uma hierarquia
5icgcl , 1982 : 126 ) Sabc - se que o método de alfabetização de . ond
“ consci ência intransitiva de form»s ^
,
tem
Paulo Freire é insepará vel da pedagogia de “ tomada de consci -
ê ncia das condições sócio- polí ticas A primeira li ção do Livro dos interesses do ^
nSjtiva *
. E ; prlI eira
4- P' „ aber -
* , ate a consaenc*
/*//
"
^
c a consci -
^
.
de vida '
ingé nua
” , quC "
de leitura apresenta a frase : “ O voto é do povo " ; a liçã o 53
dois est á : a
consf . .
jf e a histone
• »
mç m dc suas
’ impUca « *&2W
gios
ensina : O progresso de uma cidade resulta do programa cum -
,
( M d - «V
1
,
^
municí pio * . Diz a lição 68: “ E preciso que se forme , no Bra-
^
1
^ ^
neamente ao voluntartsmo
suprimir as causas da miséria do povo brasileiro O sofrimento
do nosso povo c apenas urna consequê ncia As causas que geram nessa época a “ conscient .***
,
,
P
J Ao senudo
1 aU ;
-
. .
esses soirimentos são mats proiundas Só podem ser eliminadas massas, onde as primeiras Escreve ‘
na0.alicnadas
com planificação e reformas dc base ” . Como se v ê . essas liases
est ão em relação direta com a atualidade pol ítica , A alfabetiza -
çã o deve abrir caminho para uma cidadania ativa .
desenvolvimento. A educação , afirma ele , deve ensinar "a tinção entre que
pessoa no que
história” , admitindo contudo
governar -se , pela inger ê ncia nos seus destinos" , c conduzir . a sociedade
ea
o sujeito da
pelo dialogo entre educador e educando , a que este seja levado faz do homem de libertação cultural ” implica necessariamente
todo “ projeto a tarefa de mostrar
íam aos educadores
' a constantes revisões , â an álise cr ítica de seus achados , a uma
Atribu , com
cena rebeldia " ( Freire . 1959: 33 ) . Ou , ainda , deve trazer a a açã o pol ítica
devem se-
comunicar como iguais uns
convic ção" de que o educando participa das mudan ças de que todos os reconhecem e se intcrmflucnciam , sendo
homens
sua sociedade. Convicção essa indispens á vel ao desenvolvimento os valores qur
se
, na verdade , bastante
confu -
—
* Textos
necessários aos outros
J
movi -
as tensões internas ao
da democracia , sobretudo num contexto caracterizado pelo fato
de que , no Brasil , a democracia estava * * em aprendizado" . NOS , através
dos quais se adivinham
sugerem també m por seu apelo" das massas
ao igualita -
—
mas que
*
marcada pelos descompassos nascidos de nossa inexperiência mento ; da personalidade da cocxistên-
i
—
na em parti
da democracia " ( citado por Beisicgel , 1982: 103 ) » n ão entra muitos se formaram formula ções doutrinárias,
velmente para as primeiras Cardonnel
rias categorias isebianas . Muito pelo contr ário , é o esboço do
Vaz e o padre francês Thomasonde , por pressão
que seria em grande parte retomado , no in ício dos anos 70 , cular Henrique Limaólica do Rio (PUC)
pelos setores católicos das "comunidades de base * e pelo pr ò- »
A Universidade Cat Henrique Lima Vaz foi convidado
a lecionar
se maioritariamente a favor
desta última em 1968 por sua ade
ído cm
-
B ( Partido Comunista do Brasil constitu çando
, novo na é poca , vai dar ,
confusa , como aresta o “ Manifesto de-
riza ção singularmcntc numa teo sio ao PC do lan -
uma dissensão do PCB ) , c
base da AP Suas ressonâncias crist s
”
ãs ão evidentes. Come- 1962 em consequê ncia dc
ç am por uma afirmação dc princ
ípios: Nosso compromisso se cm seguida à luta armada católico permitem
Essas rá pidas alusões ao movimento
L i
.
11
U irx M
.
completo do Star ft«rn e
* encontra em 5. dc Lima ( 1979 : 115 - 441 .
rvoluçio da AP. > cr Luna c Arantr * 1984
,
Sobre y
172 173
Entretanto, ela designa algo importante: a "similitude o desdém que , na época , os intelectuais
os homens. Assim fazendo, ela questiona mais
" entre
J ã mencionamos
com frequência nutriam uns contra os outros
,
são de classes: a concepção hierárquica
do que a divi - cariocas e paulistas entusiasmo em associar -
inconsciente
side , mesmo entre os intelectuais , a interpreta que pre - A elite intelectual paulista não sentia
ção do atraso se â criaçãoideológica dos isebianos ou à pregação da“ vulgata
no Brasil .
Ao contrario do desdém manifestado pelo marxista , e menos ainda em lan çar -se na avenrura da marcha
pelos cariocas de com -
çà o â "arte do povo", essas
CPC em rela para o povo". Isto lhe valeu ser acusada. No cap ítulo seguinte ,
prazer-se num isolamento esplê ndido
*
permanecem muito vivas para que n ão percebam no Get ú lio gia (ibid . l %2 b: 67 )
Vargas de 1950 a continuação do Geailio Vargas de 1930; no
1954 . o fen ó meno ademarista provoca uma
A partir de publicado entã o nos
nacionalismo que se apossa do Brasil a partir de 1953. uma
maneira de preservar o domínio autorit á rio do Estado sobre a reflexão sobre
Cadernos de Nosso essa
as " massas" . Lm artigo
Tempo , com o título Que só pode ser
"
é o ademaris -
li sociedade ; na efervescência " revolucionária ” que acompanhou
o governo dc Joã o Goulart , urna simples fuga escorada nas ilu - rno?" , mostra que
contexto
nova forma dc
da
populisms
emergê ncia das massas . , i
"
'
Eo
sões da vulgata marxista . entendida no
população que não é , uma
classe
Desse desencanto e dessa d ú vida daremos dois exemplos : são as massas ? Uma
articula ção dc classes nem mesmo for -
i uma alianç a nem uma o conglomerado
o diagnóstico desiludido apresentado pela revista Anhembi e
dc classes. " A massa c
,
1 as indagações relativas à disponibilidade política das " massas" . malmente um conjunto , relacionados entre si por uma
* i Dirigida por Paulo Duarte — que ilustra um dos estilos
de vida da aristocracia intelectual paulista » com participação
mu lutudin ári ú dc
perif
indiv
rica
íduos
e mecâ nica (cÍ Lado
'
—
simultâ nea nos c í rculos liter á rios c art ísticos locais , nas ativida
cisco Wcffort , escrevendo
'
des da USP c nos cí rculos brasileiros cm Paris , a revista : "O fen ômeno dc
Anhembi atraiu , de 1930 a 1962 , a colaboração dc muitos inte- uma resposta um tantoãodiferente das classes sociais ""em dadas circuns -
lectuais de renome . Sob a influ ência de Paulo Duarte , apre - para ele , uma express à pequena burgue -
ricas " , c se articula sobretudo des -
senta -se como " socialista " , o qual n ã o tinha d úvidas dc que t â ncias hist ó
ções dc 1962 em São conjunto,
Paulo ,
" . Mas ao rcíerir -sc às elei , no
a democracia liberal pertencia ao passado: " A chamada demo- sia
taca cambem que as
classes populares se colocam o
cracia liberal , escreve ele , " perdeu toda a viabilidade de exis-
"
recursos oferecidos pela legislação trabalhista e , principalmente . Essas condições , por ém , eram as mesmas que permitiam
à canalização do imposto sindical , um poder de coopta o
çã consi- també m perceber a fragilidade da coaliz ão nacionalista c a ma
surpresa de 64. O equilí brio das Forças Armadas se altera . A
derá vel. Foi a partir do Ministério do Trabalho, durante o segundo
governo Vargas, que Goulart criou suas redes de influência, cui
mobilização popular continua encerrada na ó rbita do Estado .
dadosameme mantidas quando ocupou a vice - prcsidê ncia no- O sindicalismo mais politizado nã o se apóia apenas no Ministé-
governo Kubitschek . Nomeando Á lrmno Afonso para a chefia rio do Trabalho; recrutava também seus
contingentes no setor
desse ministério logo que foi restaurado o regime presidencialista , pú blico . Muitas das grandes greves deflagradas em nome de
Goulart manifesta sua preocupa ção em reforçar um “ dispositivo objetivos políticos a partir de 1962 foram , sobretudo , obra dos
sindicai " a serviço do projeto nacionalista . Por sua vez , o Par ar pelas de transporte e se
tido Comunista , implantado dentro do ministério, a - trabalhadores desse setor , a come
governo (
ç
Erickson 1979 )
,
<1
:»
- 1
Os intelectuais dos anos 80. como vimos , n ào deram Restam duas indagações essenciais . Em que medida os
nenhuma prova de indulgência cm relação a esta fantasmagoria esquemas de I 960 romperam efetivamente“ com os dt"1930?
nem aos que a ela se entregaram . O autor do prefácio das obras
sobre a cultura dessa época* patrocinadas pela Funartc c publi
-
O nacional popular deve scr assimilado ao populismo
?
importa : em ambos os
as teorias. Este é um exemplo dessas viradas - t ã o bem todas no real Da
í anali - períodos, a modernização sc insere diretamente
.
sadas por Albert O . Hírschman
que o voluntarismo inerente à noção de projeto —
que se produzem cada vez
trope a em
mesma maneira , o poder das idé ias assume aspectos distintos .
O que foi aptid ão para inventar uma arquitetura institucional
dificuldades , c que a perccpção destas , bem mais que suaç reali
1 " se torna uma voca ção para
“ de acordo com a realidade
dade . leva a transformar as crises conjunturais em impasses - fomentar a mudança através da “ ideologia , do projetoç as.
" “ " c
radicais ^- . Mas c preciso fazer justiça ao “
- da “ consciê ncia " . Essas diferenças n ão passam de nuan
mo de Kubitsehek : foi um mito unificadordesenvolvimcntis
e mobilizador a íanto em 1930 corno em I 960 domina a mesma preocupaçã, o
,
sobreviveram ao seu declínio* como também sobreviveriam ao feria mesmo a relação com o povo se transformado
ocorre uma
golpe dc 1964 . profundamente ? Tanto em 1930 como em I 960tempo a uru -
valorização do povo , representando
‘ " ao mesmo
potencial , cega talvez , mas
dade latente da Nação c a energia
U
Ver espedalrriinre ffiimdtM cm À fries
ensaios for frvfi* ( Hirschman , 3971
>
183
182
mas sua difusão entre os
'
jovens
irresistível , que impulsionava o país. Por outro lado tanto ern
»
marxista-icninista
a vulg»u , conter ires elementos positivos:
,
I 960 como cm 1930 , conserva-se uma profunda ambivalência |hc ParcCia se baseia , em boa
rm relação ao povo concreto. Já destacamos a utiliza ção ininter - dc que a ordem social que aí csii
ió 0 rcconhctunenro [ b) o reconhecimento de
rupta do termo “ massas" , designando o saldo devedor entre na exploração du homem pelo homem permanente mutação , devendo
medida e êá/driw: portanto , cm
-
,
o povo real c o Povo- Naçã o ou o Povo dasse . As ‘ massas * sao realidade social de que é possível identi -
i
que a
superada , e c ) o rcconhaimento
agregados de indivíduos ainda presos a uma "consciência ingé- ser , o que able a porra
à
a ordem presente esuategiros que atuam no processo social
nua " , desprovidos do sentimento dc sua condi ção coletiva, ficar os iarores ção social
encerrados cm sua depend ê ncia diante dos poderosos , crédulos pol íuca conscience de reconstru
ções em
cm relação aos pol íticos- demagogos. Em resumo , continuavam
que Celso Furtado resume essas observa
-
a delinir sc pelo fato de nSo estarem onde deveriam estar , para - Notemos* .
humanismo e otimismo com respeito à
e desenvolvimento
evolu ção
fraseando a famosa frase dc Freud : "Wo rs war , soli Ich wer- duas noções: " , mais "liberdade
'
das institui
erguer -se ao n í vel do seu papel histó rico e superar sua timidez consciência possível
para perceber a temporalidade
ção |. . ] A revolução necess ó
ária ,
enquanto burguesia nacional . Dessa deficiência das classes fun - ção rational na sua reordena
dade de interven histórica para o povo brasileiro , situa -sc no plano idcol -
damentais, extra íam todas as razões para se colocarem a si colocada como tarefa 61.
? mesmos como avalistas de uma pol í tica nacional- popular . .
gico (Ribeiro 198
}: 163 *
dos
Vários intelectuais nacionalistas de 1930 estiveram direta-
ê ncias bastam para mostrar que o discurso utilizado
-
Essas refer ém foi
mente associados ao poder , antes e durante o Estado Novo. êm na sociedade tambncia da revolução ,
I -
Os dc 1961 a 1964 sentiam se ainda mais próximos do poder . intelectuais que interv a imin
dos que estão no poder, combinação do rvolucio
: ê
Pouco importam as opiniões, muito diversas , que nutriam cm fido discurso da sociedade a
- a reconstru ção racional esclarecida fazem parte da ideologia
"
i relação ao próprio Goulart . O que imporia c que certos intelec
nismo com a consci ê ncia , o Partido Cornu -
tuais dc grande lenorne tinham responsabilidades de porte na
vimos que , no início de 1964
gest ã o governa mental . Citemos, por exemplo. Celso Furtado oficial . E
" já
estar no poder .
que , após ter dirigido a SUDENE (Superintendê ncia para o nista acreditava pelas propostas dos intelectuais
Desenvolvimento do Nordeste ), ocupou o Ministério do Plane - Por que fazer esse desvio constatar um fenómeno de ecosituam tanto
no poder? Ele nas permite que se
jamento ; Darcy Ribeiro , fundador da Universidade dc Bras ília : entre os intelectuais es de poder .
e , depois, chefe do Gabinete Civil da Presid ê ncia; ou ainda cm 1960 como em 1930 atuam a partir das posi çõ
Santiago Dantas , ministro do Exterior , e depois das Finan ç as na sociedade e os queem torno dos mesmos temas , Tanto uns
no governo Goulart . Esses intelectuais no poder n ão sâo porta - hã uma convergência responsáveis pela rcorganiza
çao
vozes do conjunto da esquerda nacionalista . Ali ás » o Partido como outros se consideravam do fato dc
esfera social . Esse encontro não decorreestejam con
-
Comunista pronunciou sc contra o Plano Trienal de Celso Fur - racional da
que os que agem dirctamente
sobre a sociedade as mudan -
tado . Nem por isso deixavam de enunciar , a partir dc uma o Estado pode promover
posi çã o de poder , c cada qual com seu estilo pró prio , sua ade - vencidos de que somentedo tato de se situarem muito natural -
sã o aos esquemas nacional- populares. Celso Furtado rejeitava ças necessárias. Decorre
184 185
me.nrc , ainda que corn posições diferentes , cs, circula no interior desse mundo como um
do social , e dc se considerarem co - aurore.s num plano acima
da produção da\ as suas expresscomum . cuja força é singula rm ente mais impor
ões
õ
-
representações do plano político . Por dado de senso . Ele preside a maneira como
exemplo
à visã o da “ pré- revolu ção ’ brasileira . Nã
, uniam -se quanto
iuntt que a dos esquemas teóricos luzde uma con -
interpretam o seu movimento à
m á tico para o próprio conceito de revoluoçãdeixa
*
dc scr proble -
os t ntclectuais o nacional as classes eo
poder e os representantes do povo o o fato de que o
cepçào dc historicidade que articula ,
institucional . É
mais que isso: um fen ô
meno de sociabilidade política cmuito concepções políticas distintas e I 960. Um
adesão implícita a uma mesma leitura do uma no encontro das gerações de 1930
*e fundamenta
—
real . A sociabilidade ções do plano político
política fica no seio de uma categoria encontro que se 5 manifesta nas representa
povo
"
Isto não sc evidencia quando examinamos as formas de ação At é onde temos conhecimento
literatura brasileira pro -
proclamou " populista . A abundante
"
polí tica: n ão se trata mais de confiar ao Estado , pura c sim -
plesmente , o papel de criador das torças sociais e regulador das populisrao — um populismo
duzida pelos intelectuais sobre o como caracrcrístico do período
relações entre elas , mas sc acredita que essas forças sociais exis - proteiíbrmc, âs vezes apresentado
somente os anos 45 64 ou -
tam por si mesmas. Se examinarmos a ideologia ' dos intelec - de 30-64 , ás vezes como marcando per íodo , o getulismo, o
apenas certos fenómenos desse
tuais , a quest ão tampouco é a mesma : o fato de reivindicarem
o dom ínio do devir social resulta mais do esp í rito do Iluminisrno
entao
—
soa como uma acusa -
jauismo , o janguismo , o ademansmosempre vinculado às defi -
quase
do que da vontade de se ter uma ditadura “ boa " . Em contra - ção . O populismo lhes parece nem o janismo , nem o
partida , n ão h á d ú vida de que o contraste entre a "consciê ncia ciê ncia s das classes fundamentais
. Da mesma forma , não
cr í tica" e a “ consciê ncia ing é nua " garantia a esses intelectuais ademansmo lhes granjearam a simpatia aceitar para si próprios o
uma confort á vel superioridade. Revivescência do antigo elitismo estavam absoluramente dispostos a dcsenvolvimenristas ’ ’
por meio de um há bil artifício ? E prová vel , c é o preço da rótulo de " populistas ” . Os esquemas a u m Uitmoth rudi -
ambivalência em rela ção á s massas . Contudo , o círculo das "eli- e nacionalistas os dispensavam
de recorrer
mentar tai como a revolta do povo contra a " oligarquia ou a
tes ’ se amplia : aos filhos de famílias antigas ou novas , deca - à justi ça social con -
dos pobres contra os ricos ou ainda o apelo
o devemos esquecer que o corpora -
dentes ou em ascensão, somam agora os das classes intermediá-
tra os pol íticos corruptos. N ã
rias que frequentaram a universidade . Talvez seja esta a raz ão
pela qual se rornou impró prio convocar as elites para salvar o
.
tivismo gctulisra já exercera sua ação deixando
atris de si urna
país , e se prefere levantar a bandeira da ideologia . Nenhum cidadania referida ao Estado. consciência tn -
Finalmente, a atribuiçã o ao povo de uma
"
intelectual consentiria em admitir que pertence à classe m édia , ção como subst â ncia c
esse horr í vel aglomerado de gente dc todas as proveni ê ncias g ê nua e , ao mesmo tempo , sua exaltaa linguagem populista.
sujeito da Nação não deixa de lembrar
,
destitu ído dc exist ê nc ia política. A ideologia c o esquecimento órias como se não fos-
)
das origens c o meio de estar em sintonia com a hist ó ria . Esta usa e abusa das designações contradit da verdadeira
sem contraditórias. Fazendo de si os portadorestomam o lugar
consciê ncia , a consciência cr ítica , os intelectuais: o de permitir à
Opçào nacional - popular que comurnente cabe a um l íder populista sua imagem no
I
ou populismo? massa alcançar uma :idemidade . descobrindoa Nação, o dc cor - *
comu -
*' í A i
uma aproximação com os populistas russos . Essa aproximação como se fosse uma
nat ionalistas se referem ao Povo
este
não vai muito longe: ainda que muitos intelectuais desejassem
nidade . Deploram tudo que tende a dissolve - lo em indiv íduos .
ser povo c partissem â sua procura ainda que sc inebriassem á rios , c já vimos as
,
Desconfiam també m dos sindicatos oper
dc ideologia e estremecessem ao descobrir a miséria e a ignorân -
queixas dos membros do
CPC a propósito dos encontros aosa
quais estes não compareciam . Sem d ú vida
cia , sonhassem com educar c afirmassem que aprendiam , estavam prontos
enquanto ensinavam , ainda que pretendessem se “ dcsocidentali - deixa dc scr surpreendente que .
zar rm contato com o Brasil profundo, estavam inseridos
acusar os pelegos , mas não chega a controlar uma parte do
no momento cm que o PCB dele e preferem
demais na sociedade e próximos demais das esferas de poder aparelho sindical , os ímelcccuais se afastam do Povo
para sc aventurarem muito longe e abandonar por muito tempo , ou se at êm à coaliz ão
partir em busca do campesinato
188 189
inteiro. Significaria isto, como da pane dos l íderes íuridamemal da cultura brasileira ê o fato
rradicionais , uma dificuldade em se acomodar a organiza
populistas doi últimos tempos uma manifestarão
dilemas dessas pessoas. Os seus pet»na
ções dí que elas estão preocupadas com os
*
I! 1
seus iguais, investidos das mesmas atribuições ou atoué de de serem
prerro - tuais tem o campo livre para utiliza- lo por sua pr pria
.
ão ple -
j
.
as ciências sociais riais , nem puto moralismo era cultura e consciê ncia polí tica
PARTE II
j
!
r t f
I
*
I
Os intelectuais,
as classes sociais
4
' f
*
i íí
i
e a democracia
193
JfRGS
194 195
mentais , á prova do prolongamento do regime autorit ário ? A trativos altamente qualificados . De forma correspondents, o
’ torna se cada vez mais presente .
hipótese n ão nos parece convincente nem fecunda . Ê verdade tema da profissionaliza
“ çã o -
que, em fins dos anos 70, produziu-se uma lenta renovação c é um meio de justificar as estrat é gias dc classificação e exclu -
da reflex ão pol í tica tanto no Brasil como em outros países e , são no conjunto das camadas cultas , e também de fazer avan
correspond em emente , um abalo dos paradigmas sociológicos . çar interesses espec íficos . Diferencia çã o e defesa dc imercsscs
Seria preciso considerar mais dc perto até que ponto chegam específicos : eis o que passa a situar os intelectuais no interior
essa renovação e esse abalo no Brasil . Por trás da palavra , dc da sociedade , já n ão mais a uma de outras categorias sociais ;
que democracia se tratava ? Mesmo nas obras que acabamos de eis o que rotmiza a função dos intelectuais. Este é , sem
citar , n ão faltam ambiguidades, hesita ções c oscila ções. Preferi -
d ú vida mais
, um elemento que favorece a inserção no sistema
mos , cm todo caso , enfatizar trés outros fatores . democrá tico .
Primeiro, a aprendizagem forçada de estratégias de racio - No entanto , c verdade que o meio intelectual cm seu con -
nalidade limitada . Durante todo o processo de abertura , o junto continua a ser um ator pol ítico essencial durante todo
regime continua dono das regras do jogo , mudando -as a von - esse período . Da í a segunda pergunta que percorre esta parte:
tade e mostrando ser sempre possí vel uma interrupção ou um COITIQ analisar o fato de . apesai da repressã o , os intelectuais bra -
retrocesso . Os intelectuais t é m entã o que se acomodar a uma sile í ros de oposiçã o preservarem uma posiçã o e uma evidcncia
incerteza deliberadamente manipulada por diversos setores do bem superiores à de seus homólogos latino-americanos cm face
poder . Seu alinhamento com a democracia c insepará vel dc seu de outras situações autoritá rias? També m aqui , três fatores
alinhamento com um “ incrementalismo ' (o incrementalism
1
devem ser levados cm conta .
dos cientistas políticos americanos) que foi dc encontro aos Em primeiro lugar , a estabilidade relativa e a propaga ção
" projetos ” de estruturaçã o do social e , portanto ,
da refer ê ncia de certas instituições intelectuais. Enfraquecidas e submetidas
a uma racionalidade ilimitada , pelos quais definiam antes a â vigilância pol í tica a maioria das universidades n ã o deixa de
,
sua voca ção . funcionar como centro dc socialização. Sem d ú vida , o marxismo
Hm seguida , o primado, também devido as circunstâ ncias, sc toma ali o meio de sc atingir uma identidade coletiva . Criam -
que dão às eleições. Desde 1974 , percebem que as elei çõ es são se outros pólos de pesquisa à margem das universidades: é
a oportunidade para medir os progressos da oposição >c orga - conhecido o papel que o CEBRAP (Centro Brasileiro de Pesqui -
nizã - la . O processo eleitoral irá , de fato , desempenhar um sa ) desempenha durante a abertura . Alem disso, uma institui -
papel primordial no avanço em direção á democracia O des- , çã o como a SBPC ( Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciê n -
pertar das for ças sociais populares só ocorrerá mais tarde com, cia ) ir á manter uma legitimidade cient ífica que lhe permitirá ,
os movimentos grevistas da regi ão do ABC em 1978 - 79 e em com a coragem de seus responsá veis , assumir a defesa da “ co-
1981 . Esse intervalo de tempo contribui para fortalecer a impor - munidade cient ífica ’ , contestar as pol íticas governamentais e ,
t â ncia das estrat égias eleitorais . A forma ção em 1979 de um a partir dc 1975 , tornar - se um fórum onde se discutissem aber -
partido pol í tico , o Partido dos Trabalhadores ( PT ), alicerçado tamente as opções de democratiza çã o.
nos sindicatos do ABC e nas comunidades dc base , contribui Em segundo lugar , a capacidade do < intelectuais de oposi-
no mesmo sentido: assegura a essas forças sociais uma presen ça çào de manter uma certa Locsão. H á divisões , mas o consenso
. -
pol ítica. A problem á tica da representação pol ítica faz , assirn . nacionalista e , mais tarde a adesã
, o á s estrat é gias t
incremenra -
a sua aparição dentro de novas condições. listas , por influencia dc figuras
” dc prest ígio, permitem que
Por fim , as fronteiras cada vez mais imprecisas do meio sc preserve urn m í nimo de unidade. O meio intelectual fun -
intelectual c a diferenciação que se acentua em seu interior. ciona como um subsistema pol í tico, corn suas inst â ncias
de
Produz - se não só um aumento maciço do numero de estudan - poder , seus debates c suas pr á ticas de coopta çã o. De 1974 a
tes c. assim , do p ú blico dc produtores intelectuais , mas tam -
1979 , a intelectualidade assume cm rela çã o ao regime o aspecto
bé m aumenta o peso dos setores t écnicos, cient íficos e adminis
- de uma espécie dc partido com porta - vozes oficiais , influ ê ncia
,
196
.f
'
* r
G
/
convicto como o aos interrogató rios militares; estes visavam , desordenadameme ,
advogado Barbosa Lima Sobrinho, que
aderiu rapidamente à is figuras intelectuais que . embora se inclinassem para o ter -
i
oposição , n ão deixou por isso de admitir
que a derrubada de reno nacionalista , jamais abdicaram de sua é tica profissional.
Goulart era inevitável .
O posicionamento da maioria das A carta dirigida por Florestan Fernandes, no dia 9 de setembro
associações profissionais dr 1964 , ao responsável pelo inquérito militar instaurado na
demonstrou de que lado estavam suas simpatias . Assim , a OAB
apoiou o novo regime , embora se Faculdade de I 'ilosolia , Ciê ncias c Letras da USP ( pouco depois .
seus membros c , cm 1965, se pronunciasse preocupasse em proteger Florestan Fernandes seria detido por tres dias ) exprime bem
dc um comité dc Defesa dos Direitos a favor da formação essa dignidade ferida ;
da Pessoa Humana . O
mesmo fizeram as associações dc engenheiros c m Recebi 2 convocação para ser inquirido ‘ policial rmlicarmeri te * como unu m|ú -
nos dias subsequentes ao golpe os édicos . Assim . *
nacionalistas ria , que afronta ao mesmo tempo o espirito do traba . ho universit ário c J mm
se estranhamente minorit á rios.
,
descobriram - ,
Em todas as profissões, a mudança dava dc membro do corpo docente c dos investigadores &A Universidade de Sâ u
de contas que nada tinham dc glorioso lugar a ajustes
. Isto Paulo . Foi com melanc ólica surpresa que vislumbrei a indiferença da alia admi -
nas universidades , onde nenhuma ocorreu at é mesmo
nistraçã o universitá ria diame dessa inovação , que estabelece uma nova tutela
solidariedade
interpôs para atenuar os desejos de desforra profissional SC sobre a nossa atiwdade intcletruaí i Fernandes 1980 : 209-12 )
das
.
maiorias
entemente dissimulavam suas rivalidades pes-
ciosas , que freq ú silen
soais c se antecipavam aos desejos
dos setores maís duros do
- w artigo dr Paula Duarte foi reimpresso no livio pufaiítado pela ADUSP O in- m
regime . Uma universidade t ão nrgrt, da USP, que descreve em detalhes s modalidades de repressão dentro da Uni -
orgulhosa de suas tradições como *
versidade de São Paulo
200 201
, 1964 ) . Alguns
Esses sentimentos acentuavam -se cada vez mais ao longo ciso encontrar uni bode expiatório Silveira
" (
1
dos meses cm que a vigilâ ncia se afirmou e acarretou desorga
niza ção de algumas universidades como a de Brasília , que pare
- sc inclinavam
ir a questionar os que haviam dado seu apoio ao
os intelectuais que n ão
,
e os CPOs, submetidos a inqu éritos militares , desapareceram . No silêncio a que estão reduzidas as classes populares, no con
O ex é rcito ocupou a sede da UNE. Personalidades corno Roland texto de fragmentaçã o da esquerda , no ambiente de radicaliza -
Corbisier e Ênio Silveira , diretor da editora Civilização Brasileira , ção da juventude estudantil , atribuem a si a responsabilidade
foram presas durante dias ou semanas . Muitos outros foram de continuar a assumir a representação das primeiras , de resga -
submetidos a interrogat ó rios militares e às vezes tiveram cassa - tar uma certa coesã o da segunda , e de prevenir
o isolamento
dos seus direitos pol íticos e perderam o emprego . No entanto , da terceira . De novo , multiplicam - se as profissões de íc reiati -
essas medidas ficaram bem aqu ém do n ível que atingiriam vas à missã o dos intelectuais. Carlos Heitor Cony — um dos
após 1968 , A maioria dos intelectuais oficialmentc filiados ao romancistas, ao lado de Paulo Francis , da derrota de 1964
( Cony .
PC r a outros movimentos pol í ticos de esquerda foram poupa 1967 ) — escreve cm sua coluna do Correio da Manh ã duros
dos , embora ocasionalmente incomodados. A m ágoa nesse caso- artigos contra o novo regime , e apela aos intelectuais para que
deveria ser maior ou menor ? Pouco depois de mar ço abril , - fiquem á altura do seu papel
"
social ( id .
' *
1964 : 81 ) . O edito -
Alceu Amoroso Lima chegava à constatação de que, no con rial do primeiro n úmero da Revista Civiliza çã o Brasileira
fronto , o Brasil permaneceu fiel a si mesmo: " Ficou provada -, - publicação que ofereceu um ponto dc encontro às diversas
tendências intelectuais de esquerda — afirma ser preciso supe -
uma vez mais , a lei fundamental de nossa historiografia pol í- “
tica: a solu ção incruenta de nossas crises mais graves" . Consta - rar também as forças que se opõem ao desenvolvimento do
taçã o , entretanto , que n ão o impediu de se inquietar
alguns país , numa linha democr á tica c independente [. ] . . . A tarefa
dias depois com a polarização crescente: [ , , , ] caber á pnncipalmente aos intelectuais . E conclui com
Assim como o regime dc Joio Goulart caiu puf se ter inclinado pengosamenro
para a esquerda , estamos agora ameaçados de pender para o polo oposto , na
_
uma orgulhosa declaração , que soa como um convite
servar a cultura pol tica
„ í erigida de 1930 a I 960 :
para pre-
" é is à cul -
Fi
, mobilizados
base da tend ê ncia extremista dominante ( A , A Lima. 1964: 222 5).
- tura brasileua , [ os intelectuais ] est ã o , como antes
para defend ê - la . Não perder ã o o fio da Hist ó ria " (id . 1965:
T
que pernuu estabelecer vínculos cmre a consciência crítica. embota aicaica a ú nica forma dc
das radicalização estudantil n ão foi
versidades:o ,a nem a rejeição do autoritarismo por parte de cer-
bsH'b subalternas , c a torinuia ão científica dos iiamitibos da revolução (
^
i
Ribctro,
òi ió5 - i .
ISt contestaçã
tos professores prestigiados
.
Leandro Konder , em um artigo publicado na Revista Civi hegemonia cultural da esquerda revelaria a tor ç a
’
Essa "
lização Brasileira , enfatiza: 1964 ? Muitos indícios sugerem
da cultura pol í tica anterior a , sobretudo os que haviam con -
N ã consideração da evolução social c doí problemas humanos cm gctal , que sim . Para vários intelectuais nacionalistas , o regime
tambem dos faros culturais, isto c, na consideração das questõ
es
como tribu ído para a elaboração dos esquemas: sua política económica só
hist
militar seria apenas um intervalo
óriui sob
a forma teórica mais elaborada , os intelectuais tem uma
jun o ±QMI que , nas . Corn isso , o projeto
condições da vida moderna , t em princípio t ão neceuiw çà quanto o trabalho poderia acarretar uma derrota eimediataintegrador conservava toda a
do proletariado indusnial i Konder , 1965: 1}8). dc desenvolvimento nacional , cm suas antigas
Não seria dif ícil citar
ci
sua validade , ainda que o nacional-.populismo
Outros sinais , poré m , per -
muitos outros exemplos desses cha-
madas à vocaçâo política dos intelectuais. Hm certos casos modalidades , parecesse condenado anterior ao golpe de
corno o de Leandro Konder precisamente, essas , mirem perguntar se a cultura pol ítica
propostas tem ,
aliás um significado particular : os intelectuais nã Estado não estaria cm vias de sc romperque a modernização, o
o poderiam Isso porque essa cultura supunha
,
!í ! .
a reivindicar sua autonomia enquanto categoria do consumo cultural N ão é por acaso que
podia rnais se acomodar à antiga disciplina .
social que não sobretudo no plano : o mercado
Os anos 64-68 fornecem v á rias provas dessa maior Roberto Schwarz refere-sc is livrarias c aos teatros produ ção de
á pida expans ã o A
mia . Politicamente vencida , a esquerda iria impor autono- de bens culturais tem urna r .
i v*
-se com livros aumenta consideravelmente: passa dc 52
milh es em
õ
triunfo , de 64 a 68, no plano cultural . Hm um ísticas oficiais ( HaJ
cm 69- 70, Roberto Schwarz considera o artigo escrito 1964 a 189 milhões em 1967 , segundo estatáfica tem um grande
da censura e da repressão:
fato inegá vel , apesar lewell , 1985: 480 ). A ind ústria cinematogr passo ou regride ,
f
desenvolvimento. A imprensa diária marca : em 1962 , 8.6 %
Paca surpresa dc iodos, a presença uiltural da esquerda não mas a televisão começa sua prodigiosa ascensão
foi
naquela data (1964), c mats, dc l ã para c ã n ão parou dc crescer liquidada dos lares est ão equipados com um aparelho; oem 1968, 20,4 %
da ditadura da direita, há reUliva hegemonia cultural da esquerda Apesar (Scguin des Hons , 1984 : 451 ). Esta amplia çã
do mercado cul-
Pode ser vista nas livrarias de São Paulo e K .o, cheias de marxismo, no pais . qual contri -
nas estreias tural corresponde ao aumento do pú blico , para ãoo do numero
teatrais incrivelmente festivas e febris, às vezes amea buem cm grande parte as universidades , em raz
,
çadas de invasão policial,
rá pidas mudan
na movimentação estudantil ou nas proclama ções do
dero avanç ado. Em Mima . de estudantes que recebem . Ocorrem também das classes favo-
nos sar, r u irias da rui tu ra burguesa , a esq ucida da o t um (
Schwarz 1978: í: 2 ). ç as no modo de vida e nos valores da juventude
processo de
recidas. À “ cultura dc esquerda é colhidan nesse
i
’
'
verificação mais acurada da situação particular de cada urn nessa Antônio Houaiss, Ferreira Gullar . Nelson Werneck
Sodre , para
fase: os intelectuais condenados ao exílio ou que volunt á ria - alguns s o todos nomes associados à s campanhas
tar apenas ã
^
,
mente preferiram se expatriar sã o influenciados pelos novos militantes pol í ticos e ligados à fundaçã o do
meios com que entraram em contato e se distanciam dos pro nacionalistas ,
-
Comando dos Trabalhadores Intelectuais. Fntre os colaborado
blemas imediatos. Fernando Henrique Cardoso . Francisco Wef - H fC s j á veteranos
do ISÈ B , como Roland Corbisier c .
dirigentes
^
,
fort c vá rios economistas permanecem um certo período cm H do PCB como Assis Tavares . Apesar disso , seria um erro toma -
,
Santiago , nos quadros da CEPAL , que exerce uma grande I| la como uma revista pamdartsta . É verdade que o PCB preten -
influcncia . Darcy Ribeiro assiste no Uruguai às primeiras dift - 1í influir diretamente cm sua orientação , principalmente no
culdades da democracia locai . Celso Furtado , nos Estados Uni I -
infa0 c ern muitos arugos , nota se uma fidelidade ãs suas teses ,
I[
>
dos c na França , empenha -se em formular uma interpretação çcUS dirigentes n ão aceitaram sem reticências que fossem pos-
da hist ó ria econ ó mica brasileira , alcan çando consider á vel reper- II taJ em d ú vida as suas concepções da burguesia nacional
nem
cussão tanto naqueles pa íses como no Brasil. Em todos esses I j0 povo Felix
‘ ” ( , entrevista ao Autor ) . Por é m os respons á veis
casos , o distanciamento teva - os a tenrar construir , mats além I pC a revista
} logo se mostram decididos a livrar -se dos compro -
da conjuntura , esquemas gerais para compreender a evolu çã o I| missos partid á rios e dos sectarismos : querem antes oferecer
brasileira . Quanto aos intelectuais que ficam no pa ís , alguns I[ yma tribuna a todas as tend ê ncias de esquerda e inspirar se -
est ão mais protegidos que outros . Apesar das humilhações , os 11 no exemplo dc Les Temps MoJernes . At é Paulo Francis , que
- IIf
professores universit á rios paulistas ficam em geral imunes às
medidas arbitrá rias . Alé m da relativa proteção da própria inst í
I se atribui um passado Lroiskista , faz pane do Conselho e publica
na edição de maio de 1966 uma den ú ncia contra a "esquerda
tui ção universitá ria , muitos são ajudados por sua situação pes - II populista ” anterior a 1964 , pronta a " perder a cabeça e se jul-
soa! dentro da aristocracia paulista . Ant ó nio Câ ndido e Paulo It gar no poder ou participando dele . Como nos ú ltimos meses
,
Duarte , e muitos outros ligados à histó ria da USP , são parte I de lango , o populismo sc alinha com a mais negra reação para
da elite social paulista . O mesmo ocorre corn Barbosa Lima | defender o estado dc coisas , pois é um dos seus sócios propr íc-
Sobrinho no Rio , Em compensação , os velhos propagandistas tinos ” ( Francis , 1966 ; 79 ) . A revista divulga Gramsci eo cornu -
das reformas de base e sobretudo os antigos partid á rios dc Gou - I nismo italiano , por interm é dio de Leandro Konder c Carlos
lart c do PCB são constantemente perseguidos , sobretudo I Nelson Cominho , Traduz numerosos autores " antiimpcnalis-
quando insistem na militâ ncia nacionalista. Ê nio Silveira será I tas ” estrangeiros , como John Gerrasi , e novos teóricos como
preso muitas vezes ainda Apesar de tudo , parece - nos perti - I Marcuse A partir de 1966 , abre amplo espa ço para os represen -
,
neme a distinção entre os dois polos . I tantes da sociologia paulista : Florestan Fernandes , Fernando
Em torno da editora Civiliza ção Brasileira , c depois da I H . Cardoso , Francisco Weffort , Octavio Ianni , Leôncio Martins
Revista Civihzaçao Brasileira , continuam a reunir -se muitos " na I Rodrigues , que jamais aderiram ao nacional - populismo
1
cionalistas ' da fase precedente . Ê nio Silveira , Moacyr Felix e I A Revista Civilização Brasileira foi apenas uma das expres -
Manoc! Cavalcanti Proença —
substituído , após sua morte , por I sões políticas do pólo carioca A editora Civilização Brasileira
— -
,
Dias Gomes foram os principais mobilizadores da revista fun - I esteve tamb ém na origem da revista Paz e Terra cm 1966 . sccre
dada em 1965 O conselho dc redação que aparece nos primei - I tariada por Moacyr Fé lix e dirigida pelo protestante Waldo A .
ros n ú meros n ão terá um papel real . nem chegará a se reunir César ; entre os membros dc seu conselho , estão Alceu Amo -
No entanto , os nomes que o compõem permitem supor que a I roso Lima . o historiador José Honó rio Rodrigues r ainda jovens
revista pretenda dc in ício permanecer na linha teórica do campo | católicos como Alfredo Bosi , futuro historiador de literatura , e
nacionalista da é poca de Goulart : Alex Viany , Á lvaro Lins,
Esta ltivasao dos sociólogos paulista: I ç- vou Larim Guilherme Mor* , nn sua ISt tlogti
H
-
Segundo uma i on versa torn Moatvr Felix e um am go do mesmo autor pubbt ado r orr , Ja cuitars brauitim, a sugerir a hipótese dí uma mudança tlr orientação da rcvivt»
o cirulo ‘ ideologia da rulrura hmsilerra no tniatiá rio O Pasquim a partir dc l 'J6ê . Moacyr Féí i t ru* assegurou que íssti dr taro oSu ocorreu
‘
f l S C S H I u f «O S
208 209
I.uiz Eduardo Wanderley , futuro especialista em problemas edu - O editorial da Política Externa Independente menciona
cacionais. O propósito da revista era propiciar o encontro enrre I que o ponto central dc toda política externa c , antes de tudo .
a esquerda nacionalista e os católicos. Al ém de estudos gerais "objetivar o interesse nacional do desenvolvimento :
sobre a conjuntura brasileira , a Paz e Terra publica numerosos Política externa paxa o desenvolvi men to signifies que o primeiro dever do Bra -
artigos de autores brasileiros ou estrangeiros que defendem o y f pjp com os brasileiros e que , em cor-seqiiè rna , a nossa a ção diplomada
engajamento temporal da Igreja c a conciliação entre a religião B ? era motivada prinapalmeiite pela preocupa ção dc assegurar os meios c rccuf -
e o marxismo \ A Civiliza ção Brasileira também lança em 1965 1 ' b wdem «ttema necessários J expansão acelerada ài economia brasileira.
aJgumas patroas coni esses oficiais para constant que dcjconheceit] os raais dr
mcniaics verbetes do vocabul á rio pol ítico e agem cm funçáo cc prccoccritos
-n
çao movimento oposicionista c [ a ] mobilização do povo na
a p^ tas reivindicações democrá ticas e nacionais ( PCB 1980:
"
r ,
( Silvcjia , 1965: M ). surpreender que seu p ú blico seja
Nã o é de composto
‘ ' antumperialistas ' e defensores dos interesses
sobretudo pors op
'
Civilização Brasileira deve-se em parte à falta dc grandes revis- A própria escolha dos temas de pesquisa no in ício da
tas paulistas, mas traduz també m uma mudan ça de
atitudes década dc 60 deixa transparecer que n ão sc trata de ficar limi -
por pane da intelectualidade paulista c a transformação da tado à atualidade imediata . Ao realizar um vasto estudo sobre
esquerda intelectual após 1964 . as populações negras no Brasil , Florestan Fernandes t seus alu -
Como vimos , os intelectuais cariocas do per íodo do JSEB nos Fernando Henrique Cardoso c Octavio lanni continuavam
e de Goulart reagiram muitas vezes com ironia e irritação à con - na linha de Roger Bastide , longe das constru ções do ISEB e
descend ê ncia com que muitos intelectuais paulistas, sobretudo do que cm então tido como um objetivo político de certa impor -
os soci ólogos , avaliavam suas elaborações teó ricas. Guerreiro t â ncia . A mesma afirmação vale para os trabalhos de Mana
Ramos ridicularizava os membros da USP que pretendiam , Isaura Pereira dc Queiroz sobre o messianismo.
fazer uma ci ência neutra. Darcy Ribeiro atribu ía uma conscicn -* A Da í a sc concluir que existia uma vontade dc assepsia em
relação â polí tica antes dc 1964 , h á uma grande dist ância . Em
cia mgenua a esses “ representantes oficiais da sociologia t eco
nomia e antropologia universitá rias" que tinham , sem d ú vida ,
- primeiro lugar , muitos sociólogos paulistas que fizeram carreira
nos anos 45- 55 , e muitos dos que a iniciaram no final da d écada
abandonado os determinismos clim á ticos e raciais , para profes
saf , porem , que a ordem existente , gerada pela interação
- de 50. na esteira dos primeiros , conheceram a militâ ncia pol í-
espont â nea das forç as sociais , só é passível de mudan ç as lentas tica: Florestan Fernandes, Antô nio Cândido , Aziz Simào, Maria
i! c gradativas " (Ribeiro, 1983 : 164 ) .
E verdade que os sociólogos da Universidade dc São Paulo ,
Isaura Pereira de Queiroz faziam pane dos grupos trotskiscas ,
socialistas e da esquerda democrá tica. Fernando Henrique Car -
) às vezes herdeiros da consciência elitista que presidiu à cria ção doso foi simpatizante do PCB . Em outras áreas das ciê ncias
da instituição, muicas vezes impregnados pelo estilo de 5CUS sociais, Anísio Teixeira , Paulo Duarte e outros també m partici -
param nas lutas de sua cpoca: e lembramos a import â ncia de
mestres franceses — que . no dizer de Florestan Fernandes , ins-
Anísio Teixeira na pol í tica educacional . No início da d écada
I
-
piravam se na separaçã o entre o trabalho intelectual e o engaja
-
memo político ( Fernandes , 1980 : passim ) mostravam se ape -
gados ao respeito pelos m é todos cient íficos , bem como às regras escola pú blica , a começar por Florestan Fernandes, segundo o
e ã hierarquia universit á rias. A preocupação de não ceder em qual essa campanha lhe permitiu descobrir que o intelectual
nada ao estilo associado às oscilações do humor pol ítico é não pode se isolar . Segundo ele ,
expressa por Florestan Fernandes, quando lembra seus escrú pu - I úU devem nasxrr dos donos
los do passado : “ N ão pude ligar a minha condição de socialista * sixiologiã praisa responder as cxpcctatívas que
do poder , mas sLm dc crit érios racionais reforma , que levem em conta as
de
com a minha condi ção de soci ó logo ” , e ainda quando denun - óricas dc grupos incon -
necessidades da Nação como um todo . ou as pressões hist
cia certos partidários da sociologia "cr ítica " e “ militante que fornibras {Fernandes . 1975b : 35 K
a transformaram cm uma vantajosa forma de transação , pela
A é tica cient ífica também n ão é propriamente tida como
qual tiraram o que puderam da ordem ” ( ibid.: l 4l ). Pcrcebc-
contraditória com a mudan ça social . Isto sc constatará nas horas
sc essa mesma prcocupação no autor quando , pronunciando
uma conferencia nos anos 50 sobre a crise da democracia , dis- sombrias do pós- 1968: é invocando normas c objetivos cientifi -
COS que muitos docentes universit á rios , principalmente em Sã o
tingue a posição do sociólogo da do observador político, afir -
Paulo , se esforçarão para constituir uma frente coletiva dc resis-
mando de in ício: t ê ncia â ditadura. Al é m disso , raros sustentarão por muito
214 215
tempo que a ciê ncia deva excluir os julgamentos de valor . Desde adesconfiança em relação ao desenvolvi men tismo
1962 , o próprio Florcstan Fernandes reconhecia que : tmtreranco , ulismo c , a partir de 1962 , à gest ão de
c ao nacional - pop
aparece com muita clareza cm uma obra
Sc aos papé is do vxióli. o C mereme alarum demento político Lrrcdutive!, n Gool ãrt - Hssa reserva
^
rena histónea bíst&ileira t inevitável que esse elemento ganhe nítida prepondç*. redigida antes do golpe de Estado com a colaboração de Gabriel
Paul Singer , Francisco Weffort , e publi -
ráncia nas .reflexões cc cunho abertamente pragm á tico |...|. 0 sociólogo prectía Cohnr Octavio lannio Brasileira
,
qual participavam Fernando Henrique Cardoso r Octavio lanni c . depois, com >
jrn
car , pode ser ú til apresentar alguns exemplos \ ptwniva em deTermmada direçã o , ignorando que muitas das altera ções oa CStTU -
No ÍSEB da primeira fase , impregnado dc nacional - dcscn -
volvimentismo , encontramos urna tripla afirmação: a unidade
cura social por que nos baremos irã o apenas consolidar a ordem social esi T cnct
era peocesso de faffnaçfo ; outras agem de forma inversa , empenhando-se sem
-
enrre evolueionismo. racionalidade e identidade cultural . Apai
.
rememente Fiorestan Fernandes , influenciado ainda por Mann -
- o saber por alterações que conduziriam , a longo termo , á desintegração dessa
,
ISEB , a exig ência pedagógica . Esta n ão sc baseia , com certeza , mesma é poca , a jovem geração de intelectuais paulistas rompe
cm uma teoria dos est á gios da “ consci ê ncia , mas n à o esta ’ com o funcionalismo c tamb ém sc volta para Marx , Sartre e
menos ligada á problemá tica da formação da nação e do acesso Lukács.
*
à cidadania: “ A escola " , escreve Fiorestan Fernandes, "precisa Vale a pena deter -se um instante nessa ú ltima mudan ça
Ji ser ajustada ( ...) para intervir nesse setor ( esclarecimento dos que ser á determinante para a orientação das ci ê ncias sociais
I -
I 1 jovens com refer ê ncia à> obrigações c aos direitos dos cidadãos durante a década seguinte . Ela se eferua no quadro do cha -
em uma democracia ) . Diz ainda: “ o sistema educacional bra -
’
mado "Semin á rio sobre Marx " , organizado em 1958 e que se
sileiro poder á produzir efeitos suficientes para alterar , em um reunira durante vá rios anos \ Formado por jovens universitários
sentido positivo , a articulação do Estado às condições reais da da USP , prepara uma ruptura com a hierarquia da institui ção
Na ção" (citado por Licdkc , 1977: 59 ). A propósito do segundo e com as disciplinas que até então abriam caminho à consagra
ção , Fiorestan Fernandes, o " patrono incontesre da sociologia ,
"
ISEB, destacamos a preocupa ção com as forças retrógradas , t
també m o momento em que , para Fiorestan Fernandes , a c mantido à distâ ncia: mais carde , ele ir á lembrar o sentimento
supremacia da ação racional é moderada por alusões crescentes de exclusão que experirnemou O marxismo ainda n ão tem
ao conceito de " dilema social ". O "dilema social » é a desco
berta dc uma • * resistê ncia residual ultra- intensa a mudança
t
-
Muitas da 5 informações subscQiieruef provém dc entre, isiss corri membros do gmpr-
.
pdu aiitJtii
-
aú USP f .í 9S 4 i % 2j i Liedkc Filhe 197 " ). que rios foram ge utilmente cedidos mistas r filósofos, que começ ou por uma an á lise dos iextos de Marx . Eu me vi exclu í -
-
do ' ( Fernandc; 1980 191 ).
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219
II
O resultado se faz sentir na ao pecado . A preo -
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III
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I
- Ji ções geram [ por su2 v c p o d e m ser teoricamente analisadas como resultan
-
- sições e enunciados que admitem cena margem de varia ção e
limitada
n ão
. Em
ç a
param
entre
dc
todos
Octavio Ianni , por sua vez , faz referencia ao m é todo dialé- evoluir . Essa margem , porem , permanece
os momentos , subsistem crité rios que permitem discriminar os
tico , que d á acesso “ ao estado e os sentidos das conexões estru
rurais dessa mesma realidade , integrando imerpretativameme
- enunciados admissíveis dos n ão admissíveis. A medida que
os homens, os grupos sociais , a organizaçã o da sociedade , a alguns dos “ veteranos do Semin á rio v ão chegando à$ posi . ções
de prestígio no mundo universit á rio sã
"
22U
Mantém -se à distâ ncia
..
posições de referencia que outros se l m carào a reproduzir ou
transformarem vulgata: basta consultar varias teses para consta - II Tuè
“^‘‘ ranç», depositadas cmueGoulanj
QS leitores u capiM
Hilfer-J
“ mas-
do PCB.
*
ar _
I
f
^
proposi
seguida , claro , depend ê ncia , est ão com frequência na ortgem 1 ding ljTlca
^
tocja5
^ intervcm também no debate
de uma retórica onde o marxismo convive bem com um funcio- Sesse urdo50 sobre os empresáno Rrastl . P blicado
- rios
^
(
nalismo involuntá rio , porem muito rudimentar . I lV í 0
V nvolvintento econó mico
^
meiro
Mais alem da redefini ção teórica das ciências sociais , 0 | ‘ - maís do que uma tese acadêmica p ,
t neons i r é neias
do projeto de hegemonia *
I
-
cultura pol í tica que define um meio social No ní vel mais ele - Juindo pelas defende uma tese polhK ^
1V
.
memar , torna -se , sobretudo após 1964 , o sinal de uma idtnti- burguesia im usina ^ da esquerda
ficada p^ rL. vi|^ t nlcs n0 interior
.
,
dade coletiva envolvendo cm primeiro lugar os estudantes . I que contraria as teses ent
ão
clarividência . Citemos sua
Muitas vezes , são estes que impõem a multiplicação dc cursos H Redigida em 62- 631 não e
sobre Marx e seus disc í pulos . Em certas faculdades, particular- ultima página: por
mente cm 1968 , chega a acontecer dc os estudantes recusarem
,õe4 c interesses dc upo
tradicional que a prendemlado .
qualquer leitura de Durkheim ou de Max Weber Em ouiro Dhada a: motivai e por outro
concepção tradicional da existência
entre
um lado ao iacifiintLo c à ao qual %r associou para crescer economicamente ,
.
a intcrsecção entre o campo intelectual e a polí tica . Nisso tam - vê na contingê ncia de realizai
industrial os grupos tradicionais querem
se
a burguesia
bé m 1964 representa uma ruptura . O que no Seminário , reme - contra 0 imobilismo a que e
ora reage
. c contra as pressões urbanas
,
do abismo :
tia à marxologia distanciada do engajamento pol ítico , adquire a pol ítica c a economia do país ora re ^ porque não se d á coma
limitar nào
ourra dimensã o . No m í nimo o paradigma marxista torna- sc
,
populares que tendera a quebrar a rotina . Hesita sào contraditórios [ ... ]
,
porque interesses
também significativo da oposição ao regime militar . Al ém disso , Je seus interesses i çais , mas esics
.
As decisões fund a men -
dc compromissos possíveis -
dclincia - sc uma nova diferenciaçã o dentro inclusive do grupo
dos ‘ veteranos" do Seminário , entre aqueles cujo discurso con -
Estreua s -
e 2 uda dia a á
t ua que parece , optou pela
o apenas da burguesia industrialde tentar a hegemonia plena
of
-ceder
de uma vez por todas
l tinua antes de tudo teórico , e aqueles cujo discurso se torna derr. isto c, por abdicar : It
Cardoso 1964 ó 7)
• í
mdistintamente teórico e pol ítico na medida em que visa a da sodedade ( ,
da
interpretar a conjuntura . S ão esses ú ltimos , encabe çados sem final parece ao gosto dos dilemas ,
Só a frase : ‘ No limite
4
de Estado faz dele uma boa peça para um museu da ideologia. ciona tamb é m o espectro da estagnação: mesmo as decisões
Discordantes sabre outros pontos , os intelectuais de oposição racionais n ão permitem escapar às distorções estruturais" que
reconhecem , quase com unanimidade , que a ruprura política acompanharam a industrialização; “ é nesse sentido que se
é o resultado do esgotamento do modelo de crescimento c que pode atribuir ao problema da estagnação latino- americana um
o governo militar , sob a ortodoxia económica , faz apenas uma car á ter estrutural " (Furtado , 19681 citado por F . de Oliveira ,
vã tentativa de devolver a primazia aos setores tradicionais. 1983: 173 ) . Luís Bresser Pereira , por sua vez , enumera “ tr ês
Dai a sua conclusã o , ao mesmo tempo pessimista e otimista : causas estruturais , ou seja , que dizem respeito à estrutura eco -
EÍ
r . o Brasil corre o risco de ser condenado à estagnaçã o económica , n ó mica do paísr ( Pereira , 1968 : 139) para a crise econó mica
í
.
í mas o momento só pode ser um intervalo , já que o governo brasileira: a diminuiçã o das oportunidades de investimento, a
mergulha num impasse limitação da capacidade de exportar ( e , portanto , de importar )
1
.
I O artigo escrito por Maria da Conceição Tavares cm 1963 c a infla ção declarada , concluindo tamb é m pelo “ esgotamento
e publicado em 1964 , "Ascensão e declínio do processo de subs- das possibilidades dc substituiçã o de importações " ( ibid . : 158 ).
tituição das importa ções no Brasil ” u, anuncia o fim das políti -
cas da primeira fase da CEPAL . “ O processo de substituição
A esse diagnóstico dos bloqueios ao desenvolvimento acres
cent a-se a condenação das orientações económicas dos novos
-
de importações , enquanto modelo de desenvolvimento , jã aim
.
giu o seu estágio final " ( Concei ção Tavares L 9S2 : 115 ). Seu
- governos , que levam direto à cat ástrofe. À esse respeito , cite-
mos també m Celso Furtado . Em artigo publicado no n ú mero
sucesso inicial foi progressivameme seguido por uma distor ção especial de Lei Tempi Modemes sobre o Brasil , cm 1967 , ele
crescente na aplica çã o dos fatores de produ ção , e pelo apareci - avalia que essas orientaçõ es visam à “ ruralí zação ” do Brasil ,
mento de novos pontos de estrangulamento expressos nos dese - eliminando “ a atração atual mente exercida pelas cidades , redu -
quil íbrios na balan ç a de pagamentos Mesmo no Brasil , onde
, zindo os investimentos p ú blicos e privados nas regi ões urbanas ,
possibilitara o início de uma produ ção local dc bens de capital [ de modo que ] a economia tenderia a estender - se horizon cai -
ro ente , isto é , com modifica ções mí nimas nas formas dc produ -
Publicado on espanhol cm [ %!= na revista ílf CEPAL. republicado cm pnnu uc í ção ' ' ( Furtado, 1967 b: 595 ) , Se este projeto se realizasse ,
capimlo do livto £>J st
LOITJ í} !! rn ^
í bifituiçâG de importe#ôti ao capiuiemo fmanc&wo . comenta Furtado , o Brasil talvez alcanç asse uma ilusó ria par
ein 19S 2 - social , mas "ficaria afastado da revolução tecnol ógica ' e os
1
Nossas foram ratrsídls dessa edição brasileira
B5C S H / LfFUflfl
224 225
“ enormes recursos naturais do pa ís , em especial suas terras “ Esgotamento da substituição das importaçõ es" , “ obstã -
.. .. . ^ I
abundantes , teriam sido utilizados contra o seu próprio desem B cUios estruturais", “contradições" explosivas: o conjuntural
volvimento". E ainda: desaparece por trás do “ estrutural". Voltemos a Albert O ,
to imesámtr ici, itototo «fato p m de 1964.»
. Hinchnun: essa sú bita mudança na apteensão das tend ências
Se p
* ,
o «mo de ninb i « sufidtmemen e eonscJu económicas nao pode set compreendida sem que se reinttoduaa
I«I deneae de í
dado pan iriodiiicíí o cunoda ^ *
evolução brasilei/ a durante uma ou diiis gera - I a mediação dos modos de pcrcepçao . Na ase o esenvolvi -
ções (ibid , : 598) . I menusmo , os economistas subscreveram a visão de uma raciona-
1 I
i
AA segunda
j
resulta de que , na ausê ncia
1 J r
transforma ções V
c a busca de so u çoes nao menos estruturais . Retomando
«
D * „ J.
&
<
\ j I
II I
interno oue nossa atraí- los- os tema5 dc Albm 0 Hir^hman . tudo se passa como sc a
^ ^ inflação do nível dc preços tivesse produzido , dentro do domí-
l ííI - -.
Uma rdação colooial Éiscista BrasiI Estados Unidos atineram , portanto,
rcduçíodbiajuda à economia brasilcua c bloquearia seu dcseflvohrimcmoam ò
nomo e end ógeno ( ibid.: 621).
uma
-
I
I
I
nio económico , uma inflação na definição dos ' rem édios fun -
damentais' ” ( Hirschman , 1979: 83 ). De uma ideologia passa -
sc as5irn a outra: a do desenvolvimento bloqueado e fadado a
* *
Essas poucas referências às opiniões de economistas profls- I auto-a lime ntar suas distorções, a menos que passe por urna
sionai5 ou pr á ticos n ã o pretendem apresentar a argumentação I, pleta rcorien ra ção no sentido de uma lógica endógena . Con -
ern detalhe Tem apenas o objetivo dc introduzir algumas refle - I' tra as medidas de rigor do novo governo, defendem - se os in % es -
I rimemos maciç os nos setores- chaves. Desta forma , o economista
*
.
226 227
A .
«bdc balara nã o conseguiu , «£ o peeme mi um sistema de institui-
rões com base nas quais o poder politico pos» ser exercido para traduzir em pro-
jeios opemcioca.s as aspuaçto basicas da coleuv ídade { Furtado 1965a: 145 )
V
V
A
namento das
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““ jf »
. <9* 9* 0
Pj
^^ o-
institui ções bas cas em que se apoia o podet cm rondi ç oes facora -
^
Da mesma forma , quando Francisco de Oliveira , que par -
ticipou com Celso Furtado da aventura da SUDENE , convoca
os “ profissionais do planejamento" para empreender em mente
, „ .
poliucas:
,
Furta,do msi5tc tambcm no
super - rcprcsentação
, , ., ,
dos
a‘sfunSott propr a -
serores arcaicos no
.
Congressot ineficácia deste etc . Em resumo , os fatores políticos
seguida a busca da nova teoria que poder á ajudar a plasmar
tanto o conhecimento como a transformação de nossa socieda -
n áo são menos determinantes que os entraves económicos.
de" ( F de Oliveira, 1966 : 47 ) , permanece fiel à cren ç a na oni - Várias razoes podem explicar a recusa em se fechai no econo
L L
-
micismo". As lembranças dos sobressaltos pol í ticos e sociais
.
potê ncia da raz ão esclarecida . A sedu ção dos paradigmas pode dos anos anteriores ainda est ão vivas , sobretudo para um econo-
gerar uma impossibilidade de ver os remanejamentos da reali - mista que teve participação no governo . A convicção de que
dade em processo e levar a atribuir a medidas econ ómicas discu - as medidas dos novos governos est ã o fadadas ao r á pido fracasso
t íveis o sentido dc urna inversão total: a volta ã economia agrá ria . suscita esperan ças de uma reviravolta pol ítica que permita reto-
Dos bloqueios económicos " estruturais" ao autoritarismo mar a via da industrializa ção. Alem disso, h á economistas
"estrutural ", a consequ ê ncia parece adequada . Os economistas ,
como Paul Singer que se recusam a considerar o processo infla -
porem mostram prud ê ncia para efetuar o salto de um a outro .
,
!!
de forças e à supera ção dos m étodos pol í ticos convencionais" Como já observamos, nem todos percebem igualmeme
( Furtado , 1965 b : 174 ) ‘ 7 Claramcntc se entende també m que as nuan ças. Tanto o " bloqueio estrutural como as opçoes eco -
as opções económicas do regime supõem o recurso á repressão : nómicas do regime d ão lugar a teoriza ções mais “ r ígidas " por
I r o retrocesso , o arrocho salarial c o rompimento com o naciona - parte de muitos í ntelectuais.
I lismo económico só podem se realizar a esse preço . Por sua O "estrutural " assume um n ú mero ilimitado dc expres -
vez , Francisco de Oliveira , que vé no golpe uma consequê ncia -
sões . Manifesta se como tendê ncia à deterioração dos termos
da estrat é gia imperialista " que transfere as decisões sobre da troca ( por exemplo , Tavares, 1965 : 147-61). Traduz -sr nas
nossa vida para fora do territ ório nacional " , mostra que a vio- estruturas agt á rtas. Transparece na dependê ncia tecnol ógica : “ a
l ê ncia constitui um elemento indispensá vel a ele . Entretanto , ci ê ncia ê universal ; no entanto , vê- se limitada unicamente ao
hã ainda uma grande dist ância entre essa argumenta ção e a universo das naçòes ricas c avan çadas" , escreve o f ísico José
que prevalecer á após 1968 c que far á do “ Estado autorit á rio " Leite Lopes (Leite Lopes , 1970: 46 ) . Revela -se nas “ relações
um componente funcional e necessá rio do modo dc desenvol - dc dependê ncia aos Estados Unidos , o que ampliará a base
vimento: o plano pol í tico ser á ent ã o totalmentc reduzido ao
material que tem permitido a evasão da renda aqui gerada
plano económico. Na maioria dos textos de Celso Furtado
( Tavares , 1965 : 158 ). A lista poderia continuar , mas c sufi -
ciente para se perceber que n ão h á dado econ ómico algurn que
publicados de 1964 a 1968. a mediação polícica conserva toda não sc relacione a esse conceito . Assim , é ilusó rio analisar a
a sua import â ncia . Em 1965 . ele interpreta a implanta ção do inflaçã o anterior a 1964 pela gestão governamental :
regime militar como consequ ê ncia da intensificação dos anta -
gonismos sociais : ícia ( . .| ê pane correspondente da csautcsra
A superestrutura monet á riac cfídit .
Esta é apenas uma etapa na utiliza ção da 'causalidade essas alternativas transform am -se era pmpcctíva imediata . O
-
1
-
exemplo Ruy Mauro Marini , ao sustentar que a integra çã o do tica , onde um novo movimento de reviravolta continua pare -
Brasil na ó rbita do imperialismo conduz ao "agravamento da cendo mais provã vcl . Em 1965 , a autoridade do marechal Cas-
lei geral da acumula ção capicalista , isto é r ã absolutização da telo Branco d á sinais dc enfraquecimento . Em 1966 , o acordo
tendência ao pauperisms , levando ao estrangulamento da pr ó- estabelecido entre Carlos Lacerda e João Goulart lança as bases
para uma "Frente Ampla ” de oposi ção civil que , conclu ída
pria capacidade de produ ção do sistema ” ( Marini , 1969 114 ).
Em seguida , em 67 -68* chega a vez das variações rnn torno da
- em setembro de 1967 , parece abrir caminho para uma vasta
"
depend ência " , É dam quen para Fernando Henrique Cardoso coalizão civil , embora gerando grande ceticismo. Em 1968, o
e Enzo Faletto , entre os primeiros a ststemariz ã da , essa noção movimento estudantil cria a esperança de uma sublevação em
estava no pólo oposto das formula çõ es de Gunder Frank ; volta - massa da "sociedade civil ". O "conjuntural " governa â pol ítica.
remos a esse ponto mais adiante. No clima da época , porem , Foi só depois de 1968 que o “ estrutural " sc apoderou
ela devia circular entre o p ú blico intelectual como uma conden - també m da esfera polí tica . A proclama çã o do Aro institucional
sa ção cômoda dc todos os temas precedentes: bloqueio estrutu - n ° 5 influiu nisso , porem houve dois acontecimentos i melee -
I ra!, subdesenvolvimento acompanhando o desenvolvimento ruais n ão menos importantes .
ti*
imperialista e pauperiza çâo. Primeiro, a difusão da " teoria da depend ê ncia " , que não
Quanto às interpretações do autoritarismo , acompanham só condensa ternas esparsos como permite uma articulação
a evolu ção das conceitualizaçõ cs econ ó micas. Antes do golpe estreita e "estruturai" entre a economia e a pol ítica . A partir
de Estado , o terreno fora preparado pela difusão das ak cm ati - daí, a ditadura se separa de suas origens : a mem ó ria da polari -
vas; reformas de base ou restaura çã o conservadora , socialismo za çã o de forças sob Goulart vai se apagando e assume o aspecto
ou estagnação . Assim t logo surge a ten ra çã o de afirmar que a da expressão pol ítica da depend ê ncia .
nova orientação econó mica é a porra aberta para a formação Em seguida a descoberta de que a economia n ão est á con -
,
de um regime dc tipo fascista , Hélio Jaguaribc fala de “ colo - denada à estagnação , Foi uma descoberta lenta , dif ícil e polé -
nial'fascism o " : c urna forma de indicar a correla ção direta entre mica , pois rompia o dogma da estagnação. Embota a retomada
um desenvolvi me rt to que sc cumpriria pela submissão ao "cem da Industrialização fosse cada vez mass indiscut ível , ela n ão era
" poss í vel " por razões científicas. Duas obras » entretanto, impe -
iro metropolitano" , e o regime politico . Thcot ò nio Santos
dem que sc fechem os olhos para ela . A primeira c o livro de
J ú nior vê no fortaleci memo do "capital monopolista " um fator
Cardoso c Falerto , Dependência e desenvúhimento na América
que contribui para a " possibilidade objetiva ” dc uma evolu ção
propriamente fascista . Para esses dois autores » em textos de Latina , publicado em 1969 . Suas ultimas páginas admitem que
pode haver crescimento no contexto de um " desenvolvimento
196" e 1965 , a hipó tese de consolidação fascista é , contudo , associado " .. A segunda c o artigo dos economistas Maria da
pouco plaus í vel ; ainda predomina a cren ça ria queda pr óxima
do regime . A medida que se aprofundara os esquemas da Conceição Tavares e José Serra , com o eloquente titulo; " Al é m
da estagnação ; uma discussão sobre o estilo dc desenvolvimento
]
230 231
recente no Brasil ” u . Na primeira parte , o artigo questiona H á diversas maneiras de interpretar esses termos e conclu -
explicitamcnre a ideia de estagnação , criticando os pontos dc sões . Pode-se perceber o que declaradamente est á em jogo: a
vista expostos por Celso Furtado em 1969 , no ensaio " Desen - enrica aos esquemas do PCB e ã cultura pol í tica neles baseada.
volvimento e estagnação na América Launa : uma abordagem Entretanto distingue-sc também uma volta is concepções de
,
estruturalista ' f Na segunda , analisa o crescimento brasileiro e 1930: embora a maioria das an á lises sc situe numa perspective
suas distorções , nã o só mostrando que se verifica um cresci - marxista resultam cm diagnósticos negativos , com as classes
,
mento acelerado do Brasil a partir de 1968 como també m res- sociais sempre sobressaindo por suas defici ê ncias e o povo , por
saltando o papel dos setores de ponta e da incorporação dc ino - sua inconsistê ncia pol í tica . Pode - se também discernir nessas
vações tecnol ógicas . Reconhece també m que uma maior inser - aná lises as premissas de base para a noção de depend ência .
çã o na economia internacional n ã o conduz necessariamente ao Carê ncias e inconsistências : está dado um primeiro passo no
' subdesenvolvimento": sentido da penetração do ‘ ' estrutural ' na esfera social e pol ítica .
'
do regime militar. As circunstâncias n ão se prestam à interven - dos modos de produ çã o ao feudalismo" das estruturas agrá -
"
vam antes a esperar que se acentuassem as inevitá veis "contra- criminado da esquerda també m n ão é poupado: se as declara -
dições” do regime : é esta a implicação dos argumentos " estru - ções nacionalistas de certos industriais eram levadas a serio , é
turais ” — que estimulam também os debates e questionamen - porque a esquerda não percebeu que eram apenas manifesta-
ções oportunistas dc empresários cm dificuldades , inclusive
tos sobre burguesia nacional , classes populares , classe média ,
nacionalismo , populismo etc . empresá rios " entreguisras incomodados pelas medidas gover -
"
xos ( ibid . : 61 ) . Alé m disso, critica o apoio político dado pelo Da classe operária às massas, mnamente
FCB ao governo Rubitschek em nome do nado na!- desenvolvi -
menusmo e as pretensões dos l íderes do PCB de definir as coro As dú vidas sabre a burguesia nacional n ão s ão nada , se ,
dições da revolu ção a pamr dc teorias abstratas . comparadas às decepções com a classe operaria .
Pela voz de Assis Tavares - que , convé m lembrar , era Nesse pomo , os intelectuais do Partido Comunista n ão
membro do Comité Central — o Partido reage energicamente ficam nada a dever Basta ler o artigo de Assis Tavares " Cau -
.
—
enquanto as correntes progressistas n ão tiverem medo — como que permitta as greves do setor p ú blico , n ão ê o mesmo que
pensa Assis Tavares sobre Caio Prado J ú nior de sujar as lembrar os resultados da estratégia deliberada do Partido ?
mãos na política concreta (ibid 51 : ) , Fa d ú vida sobre o valor Tudo isto . entretanto, é atribu ído aos próprios operá rios . Em
dos esquemas conduz a uma evidente
" negativa da possibili - seu primeiro editorial a Revista Civilização Brasileira lembra
dade dc urna teoria política científica ” ( ibid . : 53 ). també m as greves que se multiplicavam antes dc 1964 , deplo
rando que elas fossem produzidas " na maior parte , por forç a
-
São os sociólogos universit á rios que contribuem para fazer
evoluir esse di álogo dc surdos , Já mencionamos antes o primeiro das reivindicações salariais e , em pequena parte por for ç a da ,
livro de Fernando Henrique Cardoso sobre o assunto. Dois mobiliza çã o polí tica [ Remia Civilização Brasileira n ? , 1: 7 ) .
1
outros trabalhos surgirã o cm seguida : um outro de Fernando Celso Furtado n ào é mats indulgente . Em vá rias ocasiões, faz
Henrique Cardoso , apresentado como cese â Universidade dc da classe operá ria um grupo social relativamenre privilegiado ,
São Pauto cm 1968 cora o título Ideologias da burguesia indus - com tend ê ncia a preocupar -se apenas com seus pró prios interes -
.
trial em sociedades dependentes; c o outro de Luciano Martins , ses: " a ddasagem entre os sal ários reais pagos pela industria
com o t ítulo de Industrialização ^ burguesia nacionale desenvol em São Paulo e os pagos na maior parte do resto do país" leva
vi mento . Ambos n ã o se limitam a uma reflexão teó rica sobre a uma motivação lraca para a organizaçã o entre os oper á rios .
a burguesia nacional , mas trazem dados empíricos que invali -
dam o uso tradicional da expressão. H á empres á rios que defen - -
Em condições dc ama oferti t utilmente elástica de min deohra c de saJános
reais rclitframcntc elevados , a ela.sse operá ria assumiu desde os começos, atitu -
dem uma ideologia " nadonal - populaj , mas se concentram
1 ,
1968, ao publicar um artigo de Cardoso que enfatiza a fragili de pamcjpar do puxecso politico, exceto nns momrni!>s dc barganha dc seu
-
dade inevitá vel do nacional populismo e as ilusões da " revolu - voto contra promessas cbnoriu ( tbid . 14 L )
çã o burguesa " , a Revista Civilização Brasileira admite a necessi -
dade de rever o que se havia tornado senso comum dentro da O populismo é a consequência . Fingindo ‘ ‘ dialogar com
cultura pol ítica carioca ( Cardoso , 1968: 67 -96). as massas heterogé neas " , promete*" lhes a satisfa ção de suas aspt -
234
ames dc 1964 , Octavio lanni, Paul Singer c Francisco Weffort hauscr e David Ricsman ).
jã advertiam contra as quimeras. Ianni fala da "estrutura de Essas an álises (exceto talvez a de lanni , em 1965 ) arruinam
classes em formação " ( lanni et alii , 1965 : 54 j; para Singer ,
os esquemas do PCB. Os operá rios não est ã o sc transformando
as estruturas corporativistas implicavam a sobrevivê ncia das
c ú pulas , enquanto a “ grande massa " continua " despoliriza - em ator coletivo mas sim condenados a oscilar entre as reivindi-
ca ções aromizadas e a depend ência cm rela ção ao poder .
da " ( ibid . : 70); para Weffort , as massas adquirem uma capaci -
dade de pressã o , poré m voltada para o Estado , gerando assim
• o fascí nio pelo Estado" (ibid .: 171 ). *\ pó s 1964 , as pesquisas
i
de Octavio lanni , Francisco Weffort , Leôncio Martins Rodri - A classe mé dia oscilante
gues , José Albertino Rodrigues ( 1968) só fazem reforçar essas
constata ções. Assim , Leô ncio Martins Rodrigues ressalta , ao Se alguns intelectuais conseguiram supor que as “ classes
mesmo tempo , a compartimentalização regional da classe opera - -
m é dias" deveriam inserir se plenamentc no campo nacionalista ,
tiveram de mudar de tom: em sua maioria , elas aderiram aos
na , a precariedadc de sua consciência pol ítica cm razão de sua
formação recente e sua dependência em relação ao Estado ( L adversários dc Goulart c juntaram -se ao coro dos incensadores
M Rodrigues, 1969: 137 e segs ). Num trabalho conclu ído
, do novo poder .
Após 1964 . j á privadas da consideração que cabe às clas-
*
1968: 150). N ão sc pode dizer que elas tenham jamais suscitado grande
interesse da parte dos intelectuais . Essa semi- indiferença não
Já mencionamos o estudo desse mesmo autor sobre o popu - chega a desaparecer ap ós 1964 :
lismo em São Paulo . Em outros artigos sobre o populismo no
Brasil , Wcffort confere à noção de " massas > ma importância Parece certo que o protesto das classes m édias nunca conseguiu ser verdadeira -
»
236 237
«
cado. O nacionalismo ao qual recorriam parece ficção.
-
i
tado faz relcrcncia aos que aceitam a perspective dc ação vio
lenta acreditando poder se apoiar no potencial revolucionário A fraqueza do nacionalismo é dada pdu sua incapacidade dc comover os subsis
afluem
-
das “ massas enfraquecidas, panieularmente as massas rurais" temas marginais e , ao mesmo [empo. de atrasi as lideranças dos setores
( ibid ) . Reconhece neles os sucessores dos tenentes c admite a tes , pois supõe uma situa ção dc coesã o interna que já não mais
ewsre (L Mar -
generosidade dc suas inten ções , mas não discerne a í mais que uns. 1968 . 84 ) .
uma reação de jovens da classe m édia contra a "angustia ".
Terá existido essa coesão interna ? No m ínimo , existiam
mitos coletivos que permitiam a muitos acreditar nela , inclu -
Mariali ce M . Foracchi, soció loga e discípuia dc Florestan Fernan -
.
a primeira já
e as classes sociais . “ Dependência implica que
”
anterior a 1930 ? E , mais ainda se as colocamos no contexto rela o de exteriori -
,
das teorias sobre o bloqueio estrutural ao desenvolvimento. não pode ser analisada apenas como uma çã
dade: há uma subordinaçã o do desenvolvimento das nações
Delineia -se , mats uma vez . o espectro de um país
de massas amorfas classes sociais sem identidade desarticulado de tal modo que , no limite .
perif éricas is economias
íí í
, centrais
,
de um Estado os interesses dominantes no interior das sociedades
dependen -
alheio à sociedade . Paralelamente ressurgem as *retlexòcs sobre
1
,
tes correspondem aos interesses do sistema total de relações dc
a impossibilidade ou a ausê ncia crónica de um verdadeiro con
Iè tema de representação pol í tica . Celso Furtado n ão é o ú
sis- dependência e ao sistema de produ çã o e mercado em seu *
estáveis , mas sustenta também que o Tm primeiro lugar , qualquer que seja a modalidade de de -
sistema pol ítico continua
profundamente separado das ' massas ' , que veem nele apenas pendência ” — enclaves , economias exportadoras sob controle
uma mecâ nica artificial : dc urna oligarquia local , desenvolvimento associado — o Estado
ocupa uma posição-chave no processo dc implantar c interiori -
É sabido que, para à- grande massa despolmzada . conceitos como "
partido " , zar a relação com as economias centrais Por isso”. dentro dessa
.
política pairid àris " , ' interesses partidários ' íêm conocaçlo pejorativa, lem - conjuntura de “ internacionalização do mercado , cie tende a
‘
bram mteresses obscuros dc conventioilos (lanni et alii , 1965 : T0). se tornar um Estado-emprcsàrio (Cardoso e Falctto , 1969 ) .
Nessas circunstâncias, o apelo â democracia não poderia Em segundo lugar , o Estado possui uma autonomia em relação
âs classes sociais , preenchendo fun ções mais amplas do
“ que a
provocar muitos ecos . E verdade que os intelectuais multiplicam
as exigências de uma volta às liberdades democrá ticas , de instituição jur ídica ou express ão pol í tica das classes organiza -
estruturais : um tipo específico de relação entre as mento privilegiado" . Mas o especialista brasileiro continua ,
pos que implica uma sí cuação de dom ínio que corrobora estru --
classes c gru A teoria da
cm muitos aspectos , um intelectual universal . de
"
tural mente a ligação com o exterior r ( ibid . : 29 ). Nesse
momento , o desenvolvimento associado" se manifesta pela
i
dependê ncia é uma teoria dc conjunto dos efeitos estrutura
que dão forma ao real. Linguagem da totalidade socialário sobre — noção
ruptura que atravessa cada uma das classes ;
Havt íú am proletariado mais “ moderno * c um outro “ ruais tradicional um
sempre presente em boa parte dos veteranos do Semin
Mfttx , pelo menos no inicio dos anos 60 , a de um outro
logo assume , para o grande pú blico, as feições
— dependência
desenvolvida t outro setor industrial “ traditional [ . .|. c assim por dianrc ( ibid .
das c n ão verificá veis se associam a enunciados científicos
'1
ou
143). corn a
scmiciemíficos, e a referencia à posiuvidade se associa
Jã nã o se trata de " classes ainda em formação * , como se i
referê ncia à totalidade (Bourrkaud , 19S0: 25 32 ). Alescapar - é m disso ,
o dentista social brasileiro conserva o privilégio de
houvesse um atraso em comparação às sociedades centrais, mas às
classes desarticuladas ou divididas cm consequ ê ncia do próprio delimitações sociais que afetam as classes sociais. Quer estas
desenvolvimento dependente. Os diagn ósticos empíricos ante- pareçam , como depois do golpe dc Estado , inferiores à sua voca -
riores conservam sua validade , mas seu sentido se modifica , ção cm virtude de sua constituição empí rica, ou que pareç
am ,
Dcccm -se assim a marcha a ré para 1925 . como quer a teoria da depend ência , estruturalmcnte divididas
O importante é que. seja como constatação empírica nega - e condenadas a apoiar - se no Estado , isso só faz ressaltar a posi -
o submetidos aos efeitos de
I !! tiva ou como teoria revelando a estruturação do real , a an á lise çã o dos intelectuais que n ã o est ã
deixa de se prolongar sob forma de afirmações prescritivas O . desarticulação e que , ao contrá rio , det êm a compreensão de
f .f intelectual propõ e uma interpreta ção do fen ô meno social , mas seus mecanismos . A liberdade e a autonomia dos intelectuais
j á n ã o tem o domínio da representação da sociedade , nem a variam inversameme cm função da intensidade das falhas dos
atores sociais , o que explica o entusiasmo da vida e dos deba -
*
capacidade de sugerir um esquema de prática pol ítica .
h
< i Portanto , n ão c fior acaso que o cientista .social — tes intelectuais durante esse período .
ui economista , como sociólogo ou cientista polí
Lanto
tico - - se torna ,
nessa fase , a figura por excelê ncia do intelectual, substituindo
A posição de evid ê ncia dos professores universitários n âo
se deve apenas á redefiniçã o do saber social . Também se rela -
o ideó logo , o arquiteto da nação e at é o intelectual de partido. ciona ao fato dc que , pela primeira vez desde 1930
, e sobre-
A transferência de prestígio realiza - se à medida que se impõe tudo desde 1955 , os intelectuais j ã n ã o podiam apelar para o
a teoria da estagnação e da depend ê ncia , pois é o especialista Estado cm todo
; caso , n ão da forma como estavam acostuma -
quem , a partir de ent ão, detém os conhecimentos relacionados dos Aí esta a diferen ça entre o diagnóstico de 1925 e o de
.
a uma interpretaçã o de conjunto da " realidade ” . Esse especia - 1965. No primeiro caso , tudo caminhava no sentido da reorgaã-
— —
; no segundo , esta via est
lista nada tem em comum com o " intelectual espec ífico" dc nização social pela _ via do Estado o exclui como vimos
que fala Michel Foucault ( Foucault , 1977 ). Esie ultimo , afirma mome n taneame n te• fechada . Isso nã
o autor de Ar palavras e as coisas, ititervcm em nome dc uma nos textos de Celso
i Furtado c Francisco dc Oliveira quet
" verdade cient ífica local " . Opõ e se para sair dos impasses fosse invocada a necessidade dc outras
- assim ao intelectual univer -
sal , o que fala "corno senhor da verdade e da justi ça " , aquele
,
instituições e , sobretudo , de um Estado capaz de reorientar o
que , por outro lado , gosta de se ver como "a figura clara e indi
- desenvolvimento e assumir a representa ção das massas . No
vidual de uma universalidade , da qual o proletariado seria a entanto , trata - se de um objetivo a longo prazo, e que parece
forma sombria e coletiva". Sem duvida , o " intelectual específi - mais dif ícil de se atingir na medida em que a perspective de
242
. . ça send.
^
outro objetivo (Cardoso . 1980a : II ) . Trata - st aí , talvez
mafi . . doen
do que de unta ambiguidade ou omissão: se a teoria da dep diurno pequeno- burguês e es do
II
dênua pretendia restaurar a import â ncia das intera ções pol íri do a *0 11"15 5. ( Guimar ã , 1968 , 131 -t ) . Na mesma
tas de diversos grupos sociais (ou somente dos grupos didgcn
í fe, I
, G . L . Ara újo critica
revista
uação revoluconína é
o foquismo
exclus . , seguiu o o qua
estrutural (c portanto
a
II ^
vamente ,
tcs? ) , paradoxaJmcnte deixava na sombra tudo que nve e a
'
cstrurural u e
.
e
ção com o reconhecimento da especificidade da esfera polí contmuamentc latente) , c nao conjuntura to
vangnard s-
1 1I
sua
expressòes diretas. Usava e abusava das determinações ' ‘estruiu* !
csSflS . forças . dc e .ltC . \ UopaS df chtT -
da ’
-
rais . Com essa base n ão era fácil definir um campo
dc “
II| Esquema Geral em moda : russo , chines ou cubano (J L - A»u
i ú- Tra
^^
política e . menos ainda , propor modos dc ação
Reforma ou revolução? “ Polí tica dc massas ” ou interven -| Io * 1968 : 89*91 ) ' SC Z SSrl!ZS
T
I prontos para defender a democracia formal . Ao contra
*
^
*
aTr
.
, toS
Estes rendem sobretudo a estabelecer uma distâ golpe dc Estado faZ da *? a partC 0
podem ruais ignorar , por trás da evolução autoritária do regime , nece os maiores contingentes para as organiza çõ es armadas .
i
* r
a efervescência de uma juventude estudantil que n ão controlam . Não c menos patente a ruptura na esquerda intelectual ,
j impede a pol tica
Em 1966 , eles ainda csrao mais propenso® a esperar a crise O fato dc se tratar de estudantes não que í
interna do regime e a retomada das estratégias anteriores dc intelectual se ressmta dos efeitos dessa radicalização . Alem disso *
aliança de ilasses . Na Revista Civilização Brasileira , Cavalcanti f ovens intelectuais procuram pouco a pouco
justificar teórica-
Proença ainda considera que a ditadura " não tem apoio de mente a aventura armada liste nem sempre, foi o caso no mi -
cio , ainda que eles pró prios às vezes aderissem muito
cedo ã
nenhuma classe social ; c purarnente a ditadura de uma casta " Pol tica Ope-
( Proenç a , 1966 : 3 14 ) , O livro de Caio Prado Jr . , A revolução linha do confronto direto Nas fileiras da , POLOP ( í
*
os assalariados rurais . Hm 67 -68 , diante da fascinação exercida como Ruy Mauro Marini . Nas fileiras da AP se encontram mui -
pela visão "foquista ” , esses intelectuais ficam na expectativa 11 dirigentes da UNE e també m estudantes de Minas Gerais
tos
dc se pronunciar Sua resposta , formulada na Revista Civiliza
.
c do Rio de Janeiro . Sabe- sc que , cm 1967 » a AP realiza sua
ção Brasileira — e tambem pelo PCB condena cxplicita-
mence o que toi apresentado como uma nova expressão do " ra - Como irisou Silomio MiJma . membro do comit é eentttd do PCB . cm sua rncrerú u
• T&mju M CUffMJ Humanai ( Malinsu 1981 3V69 >
246
-
1
consagrados , quaisquer sejam suas divergê ncias , con -
erudito a serviço da ação de ruptura . O estruturalismo inc - tuais
-
11 i i
rente ao tema da dependê ncia n ã o oferece pontos dc apoio is tmuam a encontrar-se cm tornogiodosc bastante
valores ligados ao desen
grande para evi -
opções prá ticas , tomo j á comentamos , c isto continua sendo volvimemo nacional. Seu prestí intelectual , mas
verdade do ponto de vista abstrato. Essa deficiê ncia , porem , é tar o; estilhaçamcnto completo
da esquerda
pol tornam - se cla -
o que abre caminho ao mais puro volumatismo , em nome da suas dificuldades em propor estrat giasé í ticas
ção estm
supressão da depend ê ncia , isto é , da libertação nacional c da ras . Os professores universitá rios vivcnciam a contesta
libertação social. O "foquismo" , afirma o próprio Cardoso , dantil dentro de seus próprios estabelecimentos c artística ,
, e constatam
pode parecer a ú nica saída pol ítica para os bloqueios estrutu - os novos crité rios do pú blico na ebulição cultural dc que a
rais. Ruy Mauro Marini e Theotônio dos Santos são dois dos Em resumo , a guerrilha é um sintoma entre outros apenas as
mais notá veis interpretes dessa dedu çã o . É verdade que Marini política dos intelectuais j á não pode mats assumir
modalidades habituais lã n ão consiste só em inventar a ima -
faz cr íticas ao "foquismo" preconizado por R égis Debray, mas
-
,
é para convocar açã o armada de massas: gem e as finalidades do Estado- Nação. Reside Lambem na capa
cidade de gerar as tensões internas ao próprio meio intelectual
Não existe razáo alguma para identificar a luta armada com esxa ou aquela forma da esquerda , com o que isto implica dc volta a si mesmo; o
de atuação dc vanguarda|, J A luta armada corresponde a uma forma geral " povo \ decididamente , esta bem longe E . tamb ém com o
pois esse meio
V
de luta de classes , a que se afirma na etapa cm que as classes tcvoliadonárias, que isso representa como nova fonte de poder ,
depois de adquiru consciência c organizaçã o mediante uma sé rie de combates
í rcsce c seu p ú blico rnais ainda
. Por ouiro lado . um governo ,
pardais , se decidem a passar ã ofensiva c arrancar o poder político que o capi - crescimento acr -
tal detém ( Marim , 1969: 161 ). mesmo ditatorial , que quer levar o Brasil a um
í r lerado, n ão pode separar-se complctamcme dos que falam ram -
i .
0$ impasses do desenvolvimento dependente provam que bém em nome da ciência e da tecnologia .
I deveria ser assim ; prova-o ainda a “ impossibilidade definitiva
I de um desenvolvimento aut ó nomo no Brasil" por meio exclusi -
A contestação estudantil e a
vamente de reformas pequeno- burguesas" ( ibid 116 e pas
4
*
sim ). Theotônio dos Santos raciocina da mesma maneira ; nada modernização universitária
dc "foquismo" . nem de terceira via entre o socialismo e o fas -
cismo ; Os debates sobre a universidade tradtucm uma nova forma
dc politização dentro dos meios intelectuais. Começaram antes
Hojc no Brasil se configura uma situação revolucionária uma ilasse social abm -
de 1964. Desde 60 61, a UNE lan çou campanhas para se atri -
dona o seu papel histórico impedida de caoerruzar o desenvolvimento das for- buir aos estudantes um terço das cadeiras nos conselhos univer -
-
,
vis produtivas no país j.. ] Tal situação confia a grande maioria da nação essa
Larriá hist órica [ . . j . E impossível, pois , acreditar que esta situação encontre
sitá rios A “ Declaração da Bahia " resultado do primeiro semi
,
l l 113-66 e Garcia , 1979) , tos professores se pronunciavam a favor dc uma reforma das
Evidcntcmemc , a exist ê ncia e a atuação desses grupos n ão estruturas universit á rias . A fundação da Universidade de Bras í-
t ê m mais que uma rela ção distante com os debates intelectuais lia parecia abrir o caminho nesse sentido . Entre outras inova -
248 249
mia dos trabalhos sobre depend ê ncia . O meio intelectual trans Ferreira
i
- mas muitos dos próprios doutriná rios do CPC , como
forma -se num subuniverso polí tico relativamente aut ónomo. GuJlar, recuam em rela çã o ao didatismo anterior a 1964 . Reali -
Dclincia -sc um novoJ perfil do intelectual- político: aquele capaz
dc gerar os debates pró prios da esquerda para evitar sua frag - zam essa ruptura tom o dulausmo nacionalista
de Glauber
tanto
Rocha
obras ale
quanto
-
góricas como o filme Terra em transe
as obras de Caetano Veloso e Gilberto Gil , que em 67-68 for -
mentaçã o e decomposiçã o c , ao mesmo tempo , de propor uma
interpretação dos acontecimentos que seja assumida pela opi-
nião p ú blica informada .
O sil ê ncio forç ado dos militantes estudantis após 1968 . a
—
mulam o Tropicalismo uma colagem de estilos e de vocábu-
los provenientes da vida cotidiana e de slogans publicit á rios
internacionais , mistura dc ritmos clássicos brasileiros com o
clandestinidade a que c condenada uma grande parte da velha
esquerda nacionalista , a placa de chumbo que pesa sobre a rock . Essa ruptura , que choca is vezes o pú blico militante, iradu -
zia tanto uma opção pelo distanciamento
como a irrupção de
vida cultural : esses são alguns dos fatores que contribuem para rebelde que impregnaria a
dar aos professores universitá rios, enquanto "especialistas ” , uma maneira dc ser anarquista e ,
experiê ncia de toda uma pane da juventude brasileira na viagem
uma consider á vel audiê ncia . contracultura e que n ã o se furtava em ambos
da liberação c da , ,
,
caminho
é
, de
e
chegar
o ritual de iniciação de um
Carlos
à guerrilha
Heitor
—
Cony
publicado
, divaga -
ção política dc um jovem burgu ê s . O militante revolucion á rio ,
e o popular " , publicadas pela Funarte). Trata -se de um fenô-
meno singularmente importante . A cultura de oposição se cons-
heró i da obra e / ou seu p blico ú , c assim chamado a prestar con -
tas sobre si mesmo O intelectual j á n ã o pode dissimular -sc
tr ó i tanto ou mais através dessas manifestações artísticas do que
atrás da ideologia : encontra - se imerso na hist ó ria , com suas
caracterizações sociais e opacidades, sua violência e mediocri -
através do "consumo " dc textos de cientistas sociais . Dos
espe -
t áculos do teatro dc Arena às com édias musicais do
Opini ão , dade , Uma estética da fome c o que propõe Glauber Rocha
253
252
cm 1965 , isto é “ urna csré uca da violê ncia antes dc ser primi Combinaiam sc - polí tica e uma espécie coletiva de ewhidonisitiD social
r
-
tiva c revolucioná ria ( ... ] , Somente conscíentizando sua possibri (Schwarz . L97S: 74 )
lidade única , a violê ncia, o colonizador pode compreender , E não é só isso . A d ú vida dc Schwarz engloba todo o sig -
pelo horror, a força da cultura que ele explora " ( ibid . : 44 ). nificado da cultura . Valeria a pena , nessa conjuntura , tnteres *
Violência c desmistificação: dois componentes da rela ção Isto só poderia mudar se os intelectuais mudassem c desco-
social na qual se instala espontaneamente o novo revolucionário ,
*
brissem , enfim , que a revolu ção não se faz por meio de id éias ,
Por ú ltimo , a criaçã o cultural em suas diversas vertentes mas ‘ expropriando os meios de produçã o ” . “ Que interesse
permanece sintonizada com a sociedade , seus modos de expres- ter á a revolu çã o aos intelectuais dc esquerda , que eram muito
ruais anticapitalistas elitários que propriamente socialistas? Deve -
são c sua busca dc identidade . Sem duvida > já não pode preten
der salvar o povo Caetano Vcloso declara em 1966 : - rão transformar-sc , reformular as suas raz ões ” ( ibid .: 91 2 ) . -
Surpreendente reviravolta , surpreendente acusa ção . Dei -
Sei que a arre que cu faço agora Dão pode pertencer vttdadciramcncc ao povo.
Sei també m que a Arte não salva nada nem ningué m , mas que é uma dc nos-
xemos dc lado o julgamento sobre o Tropicalismo, n ão sem
comentar de passagem a estreita correla ção estabelecida" com a
sas forças (ibid ,: 52 ),
etapa capitalista: as ideias sã o recolocadas no seu lugar Des
“ -
Alegórica ou realista , provocativa ou questionadora , a arte raquemos apenas o que a d ia tribe revela da nova configuração
í não desiste de construir uma cultura brasileira ” , política e do espaço intelectual.
moderna , fazendo uma montagem das “ idéias importadas" Revela a suspeita , claro sobre a posição do intelectual .
,
mais que isso , da nova hierarquia no terreno intelectual É * da luta armada tê m suas raz õ es ; só que já n ão sã o os intelec-
em nome do marxismo erudito vindo dc São Paulo , e n ão do tuais consagrados que as fornecem .
marxismo militante , que Schwarz estabelece a distin çã o. Na clas- No entanto , esses intelectuais e seu pú blico , os artistas
sifica ção de prestigio , impõe-se o professor universitá rio; e , na contestadores e sua plateia formam um conjunto que tem uma
classificação universitá ria , o inté rprete autorizado dc Mane e presen ça pol ítica certa , com seus próprios modos de sociabili-
seus discípulos. O antielitismo n ão est á livre de uma certa dade e identificação. Para muitos , a referê ncia ao marxismo
soberba elitista . serve de cultura política; para um n ú mero ainda maior , é a
Revela , enfim , o hiato entre o julgamento c a prãxis polí - "depend ê ncia " que , em suas versões vulgarizadas , .sc torna
urn mito unificador, taJ como fora o " desenvolvimentismo",
tica . Aqui pensamos num coment á rio dc Gérard Lebrun sobre
alimentando paixões comuns e , muito simplesmente , um senso
—
o artigo de Schwarz , no qual afirma que a " ultiadcsmistifica
-
*
çâo se assenta numa ontologia social do ptor no sentido comum . Esse conjunto tem tamb é m suas hierarquias , seus con
em que se fala de políticas do quanto ptor melhor” ( Lebrun , flitos , sua heterogeneidade : os confrontos no interior das uni -
1980: 145 - 52 ). No m ínimo , a cria ção cultural parece sob vigi - versidades são a manifestação disso, da mesma forma que as
diverg ê ncias sobre o significado pol í tico do Cinema Novo e
l â ncia Sc não satisfizer os crit é rios da avalia çã o intelectual e
.
se n ão intervier a favor da revolução socialista , é facilmente sus- do Tropicalismo. Tem , enfim , seus meios de a ção pol í tica para
peita de adesã o às leis capitalistas , isto é , de consentir em se o exterior ; meios que dependem també m dos " recursos " de
transfigurar em cultura "dependente ” . O cientista social n ão cada grupo: os que dispõem da competência cientifica ou de
redes de comunicação com certas elites são capazes de assumir
tem essa preocupação , pois tem as m ãos limpas , sem deixar
de ser pr á tico: sua praxis pol ítica est á no campo intelectual . posições pú blicas ; outros est ão fadados à resistê ncia passiva ou
É verdade que , nessas circunstancias , a praxis se realiza -
à contesta çã o no dia- a dia ; outros, enfim , encaminham-se para
a luta armada .
num espa ço fechado, muito mais ainda que os espetáculos artís- Apesar de tudo , a expansão c a preserva ção de uma certa
ticos , N ã o sc dirige a 50.000 pessoas, mas a alguns colegas da
unidade do meio intelectual dc oposição sã o dados dignos de
USP e de outras universidades. Esta é a consequência do descr é - nota *
dito da ideologia nacionalista ao antigo estilo e da reavalia ção Desfaz -sc a cultura pol ítica que tinha seu epicentro no
do discurso erudito . Rio de Janeiro , deixando contudo suas marcas: n ão só o nacio-
O intervalo 64 -68 sc abre sob o signo da "estagnação" e nalismo , n ã o só a socializa ção marxista , mas sobretudo a convic -
se encerra sob o da depend ê ncia. J á n ã o h á evolucionisrno no ção de que os intelectuais tê m por voca ção situar - se , em rela çã o
qual o intelectual possa sc basear para construir, por conta da a sociedade , no mesmo plano que o Estado . O Estado autorit á -
sociedade , a representação da unidade nacional . J á n ão h á rio n áo lhes fornece mais um ponto de fixa ção, mas també m
povo do qual possa pretender ser a emanação. J á n ão h á opera - n ã o pode impedir que eles se considerem porta - vozes da socie-
ção idrol ógica pela qual se possa al çar de repente ao plano do dade diante do Estado *
RSCSH / UFK *5 *
256
tem ainda menos motivos para atrair sua aten ção. A partir da í.
já n ão e oportuno debater os vícios da representação política e
4
os mé ritos da democracia formal. Os intelectuais tem as mans
livres para se constituir em uma espécie de partido , sem contor
-
nos ptccisos e sem aparelho , mas incumbido da defesa das liber -
dades democrá ticas canto quanto possível . Diante da repressão O partido intelectual
e do silencio forçado das classes populates, a quest ão que se
coloca diante deles é saber se podem ir além da defesa das liber - e o processo de abertura
dades democráticas para enfim pensar o terreno político ein
termos que n ão sejam a "organizaçã o " ou a ‘ideologia
1
\
'
( 1974 -82)
como estavam acostumados . Tarefa delicada , pois , em 1968, a
teoria n ã o vai exatamente nessa direção. A noçã o de "depen -
d ência " é uma forma de se analisar as intera ções dos grupos
de interesse , mas nâo parece comer as premissas de uma refle -
xão sobre os modos de instituição do plano pol ítico.
da anistia .
José Leite Lopes e Mário Schcmbcrg nas ciências f ísicas O O que cm 1964 parecia destinado a n ã o ser mais que
mesmo dispositivo afeta intelectuais com cargos administrativos, LUTi intervalo prolongou - se .
no fim das contas , por vinte anos.
Em grande parte poupados de 1964 a 1968, e reinando ent
como Bolívar Lamounier e Maria Yedda Leite Linhares . Outras ão
universidades sâo ainda mais atingidas , com departamentos dentro do campo intelectual c cultural , os intelectuais de oposi -
çã o passam depois , sobretudo de 1968 a 1974 para primeira
inteiros desarticulados: desaparece a Faculdade de Filosofia e , a
Ciências Sociais da Universidade federal do RJO de Janeiro; o fjla dos suspeitos. Muitos são obrigados a exilar -se , mas não
Departamento de Filosofia da Universidade do RJO Grande do deixam cm momento algum de manter um espa ço de contesta
Sul c decapitado. gfio c ate de constituir uma força política .
Evidentemente , a repressão investe com brutalidade ainda Isso ocorre durante o per í odo mais sombrio. Os cientistas
maior contra o movimcnto estudantil . Depois da prisão §onais continuam a influit sobre uru grande
pú blico , tomo
do
demonstra a penetração dos trabalhos realizados no CEBRAP ,
í
í\ estado- maior da UNE os ativistas ou simpatizantes s ão perse -
,
versidades , Uma guerra impiedosa c cravada contra os grupos ao mesmo tempo em contato direto com a conjuntura , e assim ,
! que . dc 1968 a 1973. recorrem à lura armada . são tambem intervenções pol íticas. O aumento dos programas
Após 1974 , aiiv íanvse um pouco as pressões , mas n ão de pós-graduação ern nível de doutorado em ciências sociais
ir de todo , e a vida intelectual atravessa os riscos que marcam o acentua a legitimidade cientifica dos que reclamam um maior
processo de “ distensão” . O jornal "alternativo" O Pasquim ,
J í
profissionalismo " . Nas universidades , um numero crescente
de estudantes orienra -se para essas disciplinas e . apesar dos obs-
fundado em 1969 e que faz da sá tira um instrumento de corn
testação \ o semanário Opinião, criado cm 1972 t que publica
t áculos , sua produ çã o— teses c livros é consider á vel . Triunfa
o paradigma marxista ; atiavés dele , toda uma sociabilidade
artigos de Fernando Henrique Cardoso , Furtado , Singer . Gaitado.
política realiza ^e nos limites dos campi . Quanto âs ci ê ncias exa -
Weffort, Milló r Fernandes ç outros e reproduz artigos do Le tas , a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciê ncia
)
Monde e do The Guardian , são submetidos a uma censura faz mats do que questionar as opções tecnológicas do regime:
da garante a defesa da " comunidade cient ífica "
e dos inte-
V« O iti' ro ntgtu da L' SP Nas dua listas sucessiva de aposentadoria ..
. houve tor í i.-- resses nacionais -
" c . assim , constitui se direta ou indiretamente
-
res Opmúo dingui -sc ao píibii< i > universitá rio. Con tiragem em torrio de 2{i I
>0U a
i 5 OCO cac-mpiares, es ui tevuta Foi asfixiada pela censura , que apreendeu numeros sos da industria cultural contribuem para isso . assim como o
crescimento do p ú blico universitário. A cultura da contract!I -
in çeiru 5 e , is wes , cortava mefftde dos rexms fSegtlin de Hnns . 19S4: 25 S e «g
*
260
261
ruí ra sc expande no Brasil como nos pa íses centrais; como cam
bem muitas outras expressões da modernidade , como a psicaná -
- ponsabilidade nos ministérios , nos governos estaduais c na
lise , Todos esses elementos garantem a persistê ncia de um ad minis nação , Ao mesmo tempo , o restabelecimento da demo -
cracia expõe tr ês fen ó menos: 1 ) A crescente diferenciação das
espa ço de contestação tanto Institucional como informal
Isto ê ainda mats válido durante a “ distensão" e y “ aber - -
camadas cultas: acentua se a distâ ncia entre uma elite intelec -
tual , técnica , cient ífica e administrativa e a massa dos semi qua -
tura , A partir dftí , os debates que agiram as ci ê ncias sociais
"
ou que dizem respeito â poliu ca cientifica no Brasil tem uma lificados; as profissões liberais são atingidas pela rá pida difusão
da condição assalariada , pela perda de seu status tradicional e
-
repercussã o bem. alem dos recintos fechados . Tornam se parte
pelas dificuldades de emprego . À proximidade ou afastamento
integrante do debate polí tico por meto do qual a oposi çã o se
consolida . Os intelectuais transformam-se verdadeiramente num em relaçã o aos centros de decisão introduz um fator dc hetero -
ator coletivo. Apresentamos, mars acima , a expressã o “ partido
geneidade complementar, 2 ) A ruptura das lógicas dc ação:
intelectual": em muitos aspectos , este re ú ne dc fato uma faixa diante da ditadura , as reivindicações profissionais , a defesa dos
consider á vel das camadas cultas , c portador de cren ças comuns , interesses das categorias c a pressão em favor da liberalização
define estratégias conjunturais, tem seus l íderes c adquire um pol ítica tendiam a sc fundir. Com a democracia , revel a -se sua
disjun çã o crescente , cujo resultado é o desdobramento de estra -
-
.
proporçã o , o seu engajamento político por meio da adesã o a “ nação n ã o desaparece de todo : mesmo o ‘ nacional - popu -
!
rura pol ítica se traduz numa grande crise das instituições inte - orçamento do Estado tssa variedade de organismos atesta a
lectuais - as universidades cm primeiro lugar — , na substitui -
,
das ci ê ncias "exatas \ convém sublinhar a extraordinária expan - 1981 75 , 1 % de seus estudantes s ão filhos de proprietá rios,
T
sã o das universidades c das ciê ncias sociais. administradores, altos funcionários, professores universit ários e
As universidades tiveram um crescimento surpreendente secundários e profissionais liberais ( Prandi , 1982 ; 85- 103). Os
de seus efetivos. Entre 1964 e 1984 , o n úmero de estudantes resultados são os seguintes; cm 1983, as universidades do Estado
no conjunto das instituições de ensino superior decuplicou apro- de São Paulo apresentam 44 % das comunicações no encontro
ximadameme. O n ú mero de professores aumentou em propor - anual da SBPC (Queiroz , 1984 : 2130 ) e uma porcentagem
ções quase t ão consider á veis. Só nos anos 74 -80 . os professores comparável das teses brasileiras .
em tempo integral passam de 10.916 a 32.000 nas universida - Restam dois fen ômenos pouco contestá veis. Primeiro , as
des publicas , e de 11.915 a 31, 000 nas faculdades particulares universidades p ú blicas se modernizam A rerorma de 1968
,
quanto o regime democrá tico , pois o ensino superior se desen - complexa c , sobretudo , encorajar a pesquisa talvez não
volve muito mais rapidamente que o ensino secund á rio, r este resulte cm todas as vantagens previstas . Hm 80-84 , muitos pro -
muito mais rapidamente do que o ensino primá rio. Nos anos fessores universitá rios apresentarão dela um balan ç o severo :
60 7 3, o n úmero de alunos do ensino superior cresceu em 797 % ; buroeratização excessiva , pesquisa rotineira , formação inade
-
*
o do secund á rio * em 392 % : e o do prim á rio , em apenas 107 % quadá, professores universitários voltados para si mesmos . Entre
( Whitaker, 1984 ) . O índice bruto de inscrição no ú ltimo ano tanto , est ã o longe das estruturas anteriores a 1964 . com seus
do ensino primário aumenta apenas dr 57 % para 65 % ; o do feudos (as cá tedras ) e seu amadorismo esclarecido ( os professo -
ensino superior passa de 5 % para 12 % , Melhor ainda: de 1970 res de tempo parcial ). Surgem novas universidades de prest ígio ,
a 1980 . o í ndice teó rico de analfabetismo para a popula ção de como a Universidade de Campinas, reputada sobretudo pot seu
15 a 24 anos diminui apenas de 25 , 3 % para 16 , 1 % . Isso equi - departamento de economia . Com grandes custos , vã o se insta -
vale a dizer que a ampliação do ensino superior continua a lando universidades modernas em outros Estados como a Uni-
,
funcionar sobre o pano de fundo da exclusão social , com a versidade da Paraíba , que recruta muitos professores paulistas
aquiesc ê ncia implícita tanto do mundo universitá rio como dos
governantes ( Rama , 1985: 98-9).
c distribui bolsas de estudos generosamente , para complemen -
tar a forma çã o de seus professores no exterior .
O pró prio ensino superior foi submetido a um importante Por outro lado , criam-se programas dc doutorado. Os
processo de diferenciação . Entre as universidades pú blicas t o anos 68 82 são marcados pela multiplicação de cursos dc douto-
*
grande n ú mero dc esta bei comentos privados , muitos dos q uais rado , sob controle do minist é rio e do CNPq . Assim , podem
criados ãs pressas e regidos apenas pela busca de lucros, frequen
.
temente há um fosso Ora , a absorçã o da demanda pelo ensino
- se preparar cada vez mais pesquisadores de excelente nível no
Brasil , o que é um grande estimulo à pesquisa . Como prova
superior se faz na maior parte através do ensino privado: em disso , grande parte das teses da USP passam a ser realizadas
1980 , dos 231.000 estudantes que terminam o curso superior na própria universidade .
cl ássico , 63, 7 % vem do ensino privado ( C . B. C Martins , As ci ê ncias sociais beneficiam -se dessas medidas. Sua parte
1986 : 468 ). Entre as pró prias universidades p ú blicas a hierar - no or çamento gctal de pesquisas aumenta a partir dr 19 2 .
“
,
quia continua evidente em muitos casos . A USP realiza uma Os programas dc mestrado c doutorado desenvolvem -sr rapida -
sele ção que não existe cm muitas universidades de menor pres- mente , Antes de 1968 . existiam apenas quatro em sociologia ;
tigio , uma seleção ao mesmo tempo social e intelectual : em em 80 -81 . h ã vinte e quatro . Em economia , eram tr ês antes
de 1968, e passam para catorze em 80 -81 O CNPq desempe-
'
Carlos Berttdho Campo* Martins dia -
esses n ú meros st ffiimic o Rektâno dos nha um papel importante nessa evolu ção, liberando grandes
eifabtUnmenUu de ensino wpenor verbas para bolsas dc estudos no Brasil c no exterior ( Sorj ,
266 267
caracterísrica , O IUPERJ , que oferece cursos em ní verdadeira vida intelectual. Durante o per íodo mais o do inter - duro
.
rado cspctializa -sc sobretudo em ciência política . vel de douto -
Recebe vários
gou a haver nas universidades uma certa interrupçã .
câ mbio tradicional com as universidades
estrangeiras Em con -
pesquisadores sa ídos da Faculdade de Ciências vantagens: maior
Minas Gerais , como Simon Schwartzman , Octávio CintraEcon ómicas dc traste , os novos centros dispõem de muitas
o
var Lamounier (durante alguns meses),
, Bol í- Flexibilidade na obtenção e utilização de verbas, ainda que
muitos dos quais fize -
ram PhD nos Estados Unidos. Assim , o
IUPERJ apresenta o Sobre a história do CEBRAP , vet Sor) < IW4 > }.
269
268
tem entretanto um sigrm
O tema da "profissionalização
reverso da medalha seja a dificuldade de assegurar
nu ú 5 dc financiamento c , portanto, dc manter fluxos coniil ficado mais amplo.disso Traduz a ascensão do conjunto das cama -
as estra -
um corpo per - , situa - se na conílucncta entre
manente de pesquisadores; maiores
facilidades para garantir das técnicas . Alem da cidadania
das estruturas corporativistas c "
contatos diretos com os sociológos estrangeiros tégias herdadas' *
administrações locais c, dai , melhores possibilidades com
e certas regulamentada e , de ; outro lado , as modernas estrat égias de
tar as ameaças dos órg ãos de repress
ão ; e també m ,
de enfren - defesa das categorias profissionais
. Manifesta , por fim , a persis
melhores condições para definir estrat égias que , sobretudo, té ncia de um
meio intelectual que aspira a autogestão .
embora exi- explicação , lodos os
gindo competência científica , conduzem a posicionamentos O primeiro ponto n ão exige muitacamadas técnicas c cien -
con - ão das
junturais. dados estatísticos realçam a expans ativa: a porcenta -
A problemá tica institucional é de fato insepará vel t íficas dentro da popula ção economicamente
outros elementos : a reivindica ção profissional
de dois
gem passa dc 3 , 1 % em i 960 para 4 , 7 % em 1970 e 6 , 8 % em
e a incorpora - população empregada nas ativida%-
,
Ativa) cm I 960 e 7 %
da PEÀ ( Popula ção Economicamente , 1984 ) , Enfim , a condição
cm 1980 (Hascnbalg e Vallc Silva
nas antigas profissões libc-
A ideologia ‘ profissional * - de assalariado rende a se generalizar rá pida : os
rais. que se sindicalizam de forma rclativameme a 147.307 em 1978 (Wr
A referência a " profissionalização assume 50 -913 sindicalizados em 1963 passam" profissionalizantc t * Ills -
cia crescente nas ciê ncias sociais no decorrer do umaper
import â n-
G . dos Santos . 1983 ) , A identidade dessas novas
A generalizaçã o dos cursos de mestrado e í odo 70- 80.
crevc-sc nessa evolu ção , exprime a inserção dentro
cia , pelo menos declarada, a erigir as ciênciasdoutorado ; a renun -
camadas e também fornece aos -se economistas sociólogos um
c
logia" da nação, à maneira isebiana , ou emsociais em "ideo- título para enfrentar ou integrar
à tccnoburocracia instalada
formulaçã o de .
um " projeto nacional "; c a reapropnação do privil na administração e nas empresas pú blicas tradição corporati-
dução teó rica pelos "especialistas " universitá riosé, gio da pro- Essa mesma identidade enra í za - se na
cm detri - cidadania regula-
vista proveniente do Estado Novo . O termo
"
mento dos militantes pol í ticos ,
ii arrematam uma evolu ção reali -
zada desde 1964 . Convém , entretanto, indagar
conduziram , nessa conjuntura , a se enfatizar esseas tema razões que mentada "
— usado por Wanderlcy Guilhermeodos
como vimos , para anaiisar o resultado da legisla çã
Santos ,
profissional
certeza, essa ê nfase apresenta um aspecto defensivo . Com
uma competência específica implica reivindicar : invocar
no período de 37-42 — põ e em evidencia o processo dc reco -
. Da mesma forma
nhecimento das " profissões" pelo Estado , os economistas já
uma legitimi -
dade . que um regime ciente das exigências do que os advogados, médicos e engenheiros"ordem " e se bene-
científico n ão pode hesitar em questionar . A desenvolvimento estavam h á muito tempo agrupados
numa
cercou as ci ê ncias sociais contínua a sc imporaura que sempre oficiais para o exercício dc suas ativida -
at é diante dos
ficiavam dos dispositivos empresas tiveram
governantes que n ão tê m esperan ça alguma des , Em princípio, foi por isso que as grandes ços dc economistas
proveito próprio. Isso. sobretudo , porque a " de utilizá - las em de empregar obrigatoriamente os servi para obter um reco -
t ífica " preserva uma coesão comunidade cien -
suficiente para impedir a margina diplomados. Os soció logos esfor çaram - se
ção de soció lo -
nhecimento semelhante criando uma eassocia
"
lizaçâo das ciências sociais ; a SBPC saber á , quando
dar um espaço considerável às ciências sociais necessário,
gos" em 1971 . No contexto da ditadura
do acréscimo dc qua -
e lazer com que , um novo signifi -
elas beneficiem dc sua proteçã o. A tendê lifica ções , esses grupos adquirem , entretanto
lização" c uma maneira de reclamar , no ncia â profissiona-
sociais, um tratamento comparável ao dado mbito
â
"
das ciências - vista
associados , tanto do
cado: encarregam se da defesa dc seuscomo do ponto dc vista
à s demais profis - ponto dc vista eionõmico-corpora ti os "sindicatos" ao lado
sões c dc sc aliar aos pesquisadores
"
‘
cientifico. Na fase de abertura , surgem
das ciê ncias exaras .
271
270
çãã o o cient ífica dos sociólogos perante
das "ordens ou associações" , formulando reivindicações no
'
como também a representa um papel na concessão de certas ver-
- -
dom í nio cconômico corporarivista . Formam se novas associa - o Estado * e, além disso ,
ções que intervé m no campo científico. Um só exemplo: a cons- has para pesquisa. ent ão como um recurso cuja
A ^ profissionalização surge Diante da difusão das ciên-
'
titui ção da ADUSP ( Associação dos Docentes da Universidade
planos.
de São Paulo ) em 1975 . com a participação dc personalidades utilização situa-sc cm dois um princ ípio de classificação baseado
dc primeira Imha da comunidade científica , como os professo- cias sociais, estabelece e uma separação entre produtores leg í-
res Pavão. Sirri à o Marias, Rocha c Silva , Jeremias de Oliveira cm títulos universitários
publico . Diante dos governantes preside
,
Filho * nas ciências exatas ; Ant ônio Câ ndido * Aziz Sirnào , Maria
Isaura Pereira de Queiroz c José Arthur Giannotti * nas ciências
timos e amadores ou
à defesa dos interesses
intelectuais e materiais , serve para justi
liberdades
-
espaço autó nomo com as
humanas ; e Dalmo Dalian , no direito. A ADUSP propunha -
se o objetivo de recriar um clima dc liberdade científica , aca -
ficar a necessidade de um
decorrentes , permite invocar os requisitos da criação cient í -
da í
as orientações oficiais nesse
bar com a atomizaçâo provocada, pelo autoritarismo e criar um fica e , portanto, també m questionar ção na definição dessas orien -
comrapoder fundado na compet ê ncia diante dos representantes terreno ou requerer uma participa tornam -
do regime . J ã n ão se trata de corporativismo , mas da recupera - tações . Num momento
em que a ciê ncia e a tecnologia -
centraisis de toda a polí tica dc desenvolvi
ção dos direitos e da legitimidade cient ífica . os componentes
sc
referê ncia profissional constitui urna forma de os ime-
Dai um último aspecto: por meio das instituições , da pro -
um ator pol ítico capaz dc, em
mento , a
letiuais se organizarem como
o do conhecimento, remeter -
fissionalização c das associa ções , o meio cient ífico cm seu con -
junto afirma sua exigê ncia de autogestão ou . pelo menos, dc nome de sua função na produçã contra as opções de uma tecno
gestão pam ã ria com as autoridades de tutela A situaçã o criada se a uma rauonalidade própria o uso da ciê ncia em proveito
burocracia que pretende confiscar
.
pelo regime não deixa dc ser paradoxal nesse aspecto: nas uni -
versidades , os professores perdem em grande parte o acesso à s dc seus próprios projetos . ( 1968 ) e Alwin W .
esferas de decisão. Mas continuam muitas vezes a exercer uma Daniel Bell ( 1979 ). Alain Touraine , a forma
, dc â ngulos diferentes
íl
I influ ência considerá vel nos ó rg ãos de financiamento . A esse Gouldncr ( 1979 ) analisaram se constitu í ram como for ç a central c
propósito , o sociólogo Bernardo Sorj observa: pela qual os intelectuais científicas se
ocicdades onde as disciplinas
«i
-
conte tadora nbid . 7 ) ,
ção aumentava à medida que
o
pela administração do progresso
Alé m da participação nesses organismos , c preciso acrescen - se cada vez mais determinado Raymond Boudon , comentando
tar que , sobretudo durante o processe» de abertura , surgem t écnico (Touraine , 1968
: 15). expli-
novas associações que demonstram a concessão dc uma certa a explosão de maio de 1968 na França , acrescentou a esta
*
I dc dados sobre a evolução dos salários a partir de 1967 , só a criadas dentro das universidades e mantidas por contratos c os
í partir dc 1970 , o que impede uma avaliação mais real das van - membros de centros privados recebem complementos às vezes
, • tagens conseguidas. Para os professores- assistentes da USP , a
substanciais. N ão faltam casos dc professores que adquirem
evolu ção foi a seguinte (cm cruzeiros, pelo valor de 1979): um comportamento empresarial , assumindo uma l ógica do
I! lucro , Algumas vezes , chegou a acontecer dc fundarem ( ou
seus cônjuges ) , paralclameme às suas atividades universit á rias ,
1970 9954 ,76 1975 9492 ,64 escolas privadas altamente lucrativas . Sem d ú vida , essa tendên
cia se inverte em 1975 , c uma das consequ ê ncias é a morosi-
-
1971 6207,52 1976 9134.63
dade que toma conta do mundo universit á rio. De qualquer
-
1972 8351 ,29 1977 7816 , 33 modo , as estrat égias " profissionais " surgiram numa fase cm
1973 9199.82 1978 8512 , 98 que os critérios cient íficos e materiais de estratificação das cama -
das cultas atravessavam profundas mudanç as .
1974 8887 , 00 1979 6201.16 E evidente que a exist ê ncia dc um regime autoritá rio d á
um cará ter específico aos conflitos com as elites dirigentes. Por
{ Fonte: A n d r é .
Franco Montoro, m folha de S Paulo , 18 '8/1979. ) tr ás do.s debates sobre a pol í tica cient ífica , a luta pela liberaliza -
çã o contribu ía para preservar a coesão entre a maioria dos cien -
Segundo os cá lculos da Fundação Getulio Vargas , a evolu - tistas. A ‘ profissionaliza ção ‘ n ão implicava de forma alguma
*
ção dos sal á rios de um professor livre - docente , categoria MS4 . a absten ção pol í tica: ao contr á rio , oferecia um argumento nesse
é a seguinte ( valores relativos , na bas. e 1970 = 100 ): combate. A estratificação profissional é acompanhada por uma
6 SCSH t UFKG
*
271 275
outra estratificação fundada no grau de destaque dc cada pro - com o aumento das verbas para a pesquisa . Isto c. continua
fessor ou instituição na área da intervenção política. Os centros fiel a sua vocação científica e tende a julgar o regime cm fun -
dc maior prest ígio são os que exigem ao mesmo tempo “ profis - ção das medidas que este adota para apoiar a pesquisa . À des-
sionalização ' e exercícic de uma influencia política. O CHHRAP confian ç a , seguida da contestação aberta que cada vez mais prr
adquire assim , nas ciências sociais , de 1970 a 1978 . uma influ ê n - valcccr ã u , baseiam -sc em grande parte na deccpção diante das
cia com a qual o IlIPERJ , por mais “ profissional ' ' que seja , opções cient íficas governamentais . Isso acontecerá sobretudo
n ão pode rivalizar . Mais tarde o CEDEC , seguindo o exemplo quando , sem consultar oficialmcnte os dirigentes da SBPC , o
do CEBRÀP , derivar á a sua autoridade de sua capacidade para governo conclui o acordo nuclear com a Alemanha Ocidental ;
-
situar se nos dois planos. Essa é uma das formas de se consta - este , implicando a constru çã o de centrais “ prontas para uso " ,
rar de novo a interferê ncia permanente entre o tampo intelec - parecer á negligenciar os imperativos da pesquisa de base no
tual c o campo político. A tradição das d écadas de 30 e de 50 Brasil e homologar uma desistê ncia da soberania . A mesma rea-
vai nessa dire çã o. A moderniza ção dentro de um contexto de ção por parte da SBPC também se verifica quando o governo
autoritarismo vai no mesmo sentido. A posição central das ciê n - inicia " projetos faraónicos ” preparados às pressas. Al é m dos
cias sociais c . mais uma vez , a sua expressã o . Abrindo - lhes as fundamentos dessas críticas , as tomadas dc posição da SBPC
suas portas a partir de 1975 , a SBPC mata dois coelhos dc uma manifestam a desorientação da comunidade cient ífica " diante
'
cajadada só: no que toca às ci ê ncias sociais , torna - se a garantia da transferência dos centros de decisão da política cient ífica
dc sua legitimidade cient ífica ; no que diz respeito a si pró pria , para a tecnocracia estatal , problema que n ão c só do Brasil .
é a prova dc que a ciê ncia não pode ignorar a pol ítica . Essas cr í ticas , por é m , evidentemencc não significam que todas
A importância do lastro institucional * a generalização das as relações com o Estado estejam cortadas . Sempre haver á mem -
estratégias profissionalizantes, o recurso á legitimidade cient í- bros da administração — da FINEPt do CNPq , c de outros
fica para escorar a intervenção política: cm lugar algum esses — esforç ando -se para dar seu apoio à pesquisa . Mesmo quando
a SBPC entra na luta publica pela democratização , seus encon -
fen ô menos convergem tão bem como nessa SBPC encarregada
do “ progresso da ciê ncia . Fundada cm 1948 por iniciativa
11
tros — corn uma exceção —
são financiados pelo Estado e se
dc biólogos , físicos e químicos , contava então com apenas 256 desenrolam muiras vezes na presença de ministros ou altos fun -
membros. Publicando a partir dc 1949 a revista Ciência e Cul- cion á rios , e seus presidentes preservam os contatos com o poder
—
tura sempre esta palavra “ cultura ' , lembrando, ate nos cír -
r
naturais de import â ncia energctica ' \ For fim , e sobretudo , adotadas pelas assembleias n ã o formulam apenas propostas cien -
impõe- se como interlocutora do Estado , negociando com tlc tíficas, mas relativas a todos os aspectos da quest ão das liberda -
-
e / ou denunciando ot com autoridade suficiente para que sua
situação institucional n ão seja posta em quest ão ,
des. Em 1977 , a SBPC expressa sua oposição aos "atos e proce -
dimentos que contrariam os direitos do homem ". Lm 1979 .
A entrada da SBPC na luta pela democratiza çã o só se faz , no encontro realizado cm Fortaleza , a Sociedade Brasileira de
dc maneira expl ícita , por ocasião da assembleia de Brasí lia em Física pede a supressão dos “ órgãos dc seguran ç a e informa
1976 , É verdade que ela nunca deixou de deplorar as san ções ção ". Os jornais divulgam as interven ções ; Opinião reproduz
que desde 1964 golpearam seus membros. Tanto a intensidade as comunicações mais importantes cm ci ências sociais . Assim ,
da repressão como as ilusões geradas pelos planos cient í ficos protegidos por uma instituição cient ífica , os intelectuais recons-
do governo levam - na , durante muito tempo, a evitar tazer tituem as tribunas de onde se dirigem a seus pares c , para alé m
alarde Coincidem em 1976 a disputa sobre as opções nudea
res , o despertar da “sociedade civil " c a retomada da abertura .
- deles , à opini ão publica . Em nome da ciência e da profissiona -
lização , erguem -se diante do Estado como uma verdadeira
No entanto , a SBPC se absté m de emitir resolu ções diretamente comunidade com voca çã o eminente para falar dos direitos" "
políticas. Em 1977 , no encontro realizado na PUC dc São Paulo dos cidad ãos .
— em substitui ção ao encontro previsto para Fortaleza , mas
inviabilizado pela recusa do governo em conceder as subven -
Após o encontro de São Paulo , o cr
de Oliveira comenta :
ítico literá rio Franklin
a promessa de convocação de uma assembleia constituinte . N ão Uma nação que csponuneamrntc x mobiliza c «: congrega tm torna dc assem -
importa: a SBPC transforma -se de repente num fórum onde a -
bleias intcIccTuais, drvotando se a acompanhar debates científicos compare-
,
cendo em massa a fó runs culturas (...) esti dando a prova mais fulminante
quest ã o da liberaliza çã o do regime e da volta à democracia da sua capaciiadt paia o exercício irrestrito da vida civilizada . À import â ncia
t colocasse abertamente . As ciências sociais marcam ai uma forte desse simpósio consiste, emir micras, no fato de revelar o inegá vel divó rcio
presen ça e , dentro da organização, Maria Isaura Pereira de Quei - entre a veidade da ci ê ncia que não renuncia à sua raissiti emancipation e o espe -
roz , José Albertino Rodrigues e Carolina Bosi militam a favor cioso conhecimento manipulado pelos que. no poder , esmeram-se em desviar
• . de seu reconhecimento pela SBPC. Fernando Henrique Car- o pa ís dns ramos prrdrtermmados pela sua vocação hist órica para a liberdade
doso , Celso Furtado. Florestan Fernandes, Francisco de Oliveira ( Oliveira , 1977).
e outros economistas e sociólogos passam a abordar os proble-
-
mas do momento. Multiplicam se as mesas- redondas sobre as
estrat égias da oposi ção : em 1977 , Florestan Fernandes organiza
No encontro do Rio de Janeiro , cm 1980 , o presidente
.
da SBPC o físico Goldenbcrg , declara :
uma sobre a pcrda da memó ria nacional "; Fernando Gaspa -
44
O caso da SBPC , no conjunto , ilustra bem o papel das imprensa , Paulo Pontes , responsá vel pelo Caderno de Cultura
referencias instirucionais e profissionais nas estrat égias das cama- do Jornal do Brasil Na televisão. Dias Gomes, entre muitos
das rada vez ruais numerosas de pessoal qualificado , permitindo outros , quando começa a escrever as famosas novelas que fariam
preservar sua articulação com o Estado Assinalamos antes a con - o sucesso da rede Globo . Outros teriam um papel importante
no surgimento de novas editoras , como a Editora Abril, De
tinuidade do diá logo dos cientistas com a administra ção e a
inserçã o de intelectuais contescadorcs em várias administrações. qualquer modo , a profissionalização significa uma transição
Dos alunos formados pelo IUPERJ , 23 , 5 % ocupam cargos na das antigas formas corporativism para novas formas adaptadas
administração ( Sorj . 1984 b). Isto vale para muitas categorias à moderniza çã o do Estado . Mas as referencias institucionais c
que não mencionamos: in ú meras são as profissões que se orga- profissionais servem ao mesmo tempo , sobretudo a partir de
nizam cm associações e sindicatos: arores de teatro , cineastas e 1974 , para legitimar os posicionamentos em favor da liberaliza -
outros ( L . W - Vianna , 1984 ) . Essa proliferação profissional c çã o. Mencionamos a SBPC , mas a mesma evolu çã o poderia ter
insepar á vel da manutenção das relações com a Uni ão ou com sido descrita a propósito da OAB ou da ABI , que re ú nem advo-
os Estados . Em muitos casos , ela constitui uma forma dc nego - gados c jornalistas . Em sua grande maioria favorá vel ao golpe
de 1964 , a OAB afasta -se do regime após 1968 : por influência
ciar com eles as polí ticas relativas à cultura e ao seu financia -
mento . O Estado ( federal ou local ) n ão deixa dc subvencionar de Miguel Seabra Fagundes e depois de Raymundo Faoro, pro -
tn ú meras atividades nesse campo , como no terreno científico , -
nuncia se reiteradamente a favor do restabelecimento do estado
e de fazê-lo em coopera ção com os representantes das “ catego - de direito. Ai também * a interven çã o da OAB realiza - se numa
conjuntura onde a profissão de advogado mudara de situação .
rias profissionais ' . At é no governo Mediei , o ministro Jarbas
Passarinho apoia o Instituto Nacional do Livro e lan ç a um pro- Em 1978 , Raymundo Faoro relaciona os dots fenó menos: como
grama de ação cultural . Durante o governo Griscl , o ministro o advogado tornou - se . na maioria dos casos , um assalariado, a
Ncy Braga vai m &is além , definindo uma “ polí tica nacional OAB que foi levada a rever seu " liberalismo que , at é há pou -
de cultura ” , incentivando a Embrufilme , entidade encarregada co , era chamado ' liberalismo de autonomia , opondo-sc às inva -
de favorecer a cria çã o cinematográfica , criando a Funarte em sões do Estado. E assim viemos lalar da liberdade de participa -
1975 e ajudando a “ cultura popular ' \ Ocorre no campo social -
çã o , n ã o só em ní vel pol í tico , mas també m social económico
i
abertura de GeiseL E verdade que as estrat égias profissionais li / a ção política das classes populares: fornece meios para comba -
no campo da cultura n ão estã o ligadas apenas ao Estado ; tam - ter a tecnocracia ern seu pró prio terreno; permite preservar a
bé m se adaptam ao prodigioso avan ço da ind ústria cultural hierarquia no interior das camadas cultas ; e representa o direito
( Brockman n Machado , 1984: 5 20 ). Numerosas figura da -
esquerda nacionalista , e at é comunista e do CPC , ocupam luga -
dc acesso á esfera pol í tica no contexto do autoritarismo. E esse
“ discurso competenteM passa também como discurso da “ socie -
res de destaque nos órg ã os de comunica çã o de massa . Na dade civil * ' perante o Estado , visto que se modula cm função
da diversidade profissional que c uma das modalidades de reor -
'
A ma ; oi ia deisc* dados tor am obtidas rias drvttttt icntribuiçôcí reunidas nesse Imo ganizaçã o da sociedade civil , e se ap õ ia na multiplicidade de
280 281
interesses das categorias profissionais dos amplos setores m édios di á logo corn os intelectuais . A presença de personalidades do
criados pelo “ milagre ’ ’ . O intelectual se reconhece agora como regime nos cnconttos da SBPC , o questionamento implícito
um ser de carne e osso, ou seja , como parte interessada na ou expl ícito das modalidades dr censura e o debate sobre a anis-
grande redistribuir ã o de condições materiais e imateriais reali - tia n ão seriam , discreta ou abertamente , uma evid ê ncia disso ?
-
zada no per íodo 70 80 , Em todo caso, o fato é que os intelectuais dispõem desse espaço
Em muitos aspectos, a fase de abertura polí tica c uma con - mínimo que lhes permite voltar à cena pol í tica .
juntura singularmente favor á vel ao intelectual. Tudo esta em
sintonia: a defesa de seus interesses materiais ( a reviravolta con -
juntural após 1975 o leva a reclamar a restauração das posi ções As estraté gias políticas
adquiridas durante o milagre ) , as estratégias profissionais e a
luta pelas liberdades pareciam tr é s aspectos de uma ú nica c A constituição dos intelectuais cm ator político n ão c
mesma lógica . Ao reivindicar a revaloriza ção de seu salá rio c .
autom á tica e sup õe pelo menos tr ês condições A primeira ê
exigir um estatuto para a sua profissão , estão solid ários com o -
teórica c diz respeito à revaloriza çã o da pr ó pria dimensão pol í
movimento pela democratização, pois este se ergue contra o tica , Nem a noçã o dc '‘depend ência ’ , nem as explicações de
capitalismo selvagem , do qual o Estado e a pedra de toque , “ Estado autorit á rio , nem a vulgata marxista caminham nesse
"
que caractenza a evolu ção política dos intelectuais cado cm 1972 , “ para crer que o modelo de desenvolvimento
—
importante
a descoberta da sociedade civil c da democracia pol ítica — económico adotado subordine , de forma imediata , o regime
enrajza - se calve na crise de referencias que serviam ames para político" , nem de apresentar , mais do que dantes , o Estado
*
garantir sua identidade: o nacionalismo , o populismo , a conti - como o “ comité executivo da burguesia " (Cardoso , 1972: 65 )
guração da sociedade pela via estatal . Esse fenômeno , poré m , Na realidade , Cardoso sugere que os militares tendem a agir
remete sobretudo ã necessidade de levarem em conta o contexto de forma mais coletiva a partir de 1967 , e que as decisõ es eco-
no qual intervém , à adoção forçada dc estrat égias de racionali - nômicas “ seguem um curso rclativamcme autónomo" ( ibid .:
dade limitada e à adapta ção for çada às condições de incerteza . -
85) Na mesma é pocar enfatiza dois outros aspectos: o Estado
nào é monolítico » e sc articula por meio dos "ané is burocrá ti
cos ' ' a interesses que n ào são necessariamente convergentes; o
-
Em busca da política perdida Estado nâ o esta livre das pressões populares e responde a elas
por meio de medidas sociais. A pró pria noção de depend ê ncia
Num artigo publicado pelo jornal Opinião em 1973 , Fer - é indicada com precisão : a sua conota çã o " estrutural " é suavi -
nando Henrique Cardoso convida seus leitores a tomar consciên - zada e mais ainda o seu alcance globalizante; é reduzida a
cia da^ mudan ças que sc operam na sociedade brasileira . O uma especifica ção contextuai dos processos internos ( Cardoso
fato de ter que lhes dizer que j á n à o podem se ater a uma ver - e Wcffort , 1971: 1 -46 ). Em 1976 , no post - scnptum ao livro
sào da "economia em estagnação , de uma sociedade im óvel Dependê ncia e desenvolvimento na América Latina ( Cardoso
”
ou à de "apatia da sociedade brasileira " , c de lhes indicar que e FaJetto, 1976), Cardoso distancia -se ainda mais do “ economt -
j á est á na hora dc “ entender que o processo dc crescimento cismo " , recusando-se a considerar o regime político como a
capitalista , cspeeialmcnte nas condições de uma sociedade manifestação do "pacto de dominação ' articulado por intermé-
1
como a brasileira , é contraditó rio , mas nem por isso deixa de dio do Estado. A estera política reencontra assim os seus direi-
ser real " (Cardoso , 1973 ), mostra suficiememcntc que , cinco tos Se certos textos de Cardoso d ã o nesse meio tempo a sensa
,
-
anos após o início do milagre " , a negação continua a exercer ção de uma certa ambiguidade , é porque descrevem sobretudo
o papel dc uma posiçã o política . A nega çã o às transforma ções os modos de representação dos interesses dos diversos grupos
em andamento n ão c sen ão um aspecto dela . A nega çã o da econ ómicos no interior do Estado , com os " an é is burocrá ticos ’
1
esfera pol ítica é outro , não menos profundo. tomando o lugar dos canais corporativistas analisados por P.
A vulgarizaçã o da noção dc “ dependê ncia exerce um Sehmicter ( Schmittcr , 1971 ). Ora , a lógica dos interesses c a
'
papel importante nessa dupla negação . Nào vale a pena nos lógica do corporativismo entram em choque , em grande medida ,
determos nesse tópico: ela sc produz tendo como pano de fundo com uni reconhecimento da esfera política . As preocupações
a refer ê ncia aos " bloqueios esmiturais" ou à “ espolia ção" c de Cardoso , c també m a conjuntura , explicam essa aparente
não oferece outras alternativas pol íticas alem do catastrofismo redu ção do significado da esfera política . Os anos 69-73 nào
ou da ruptura. A partir do momento em que é percebida a coin - permitiam nada al é m de esperar o agravamento das "contradi -
cid ê ncia entre o endurecimento da ditadura e o rá pido cresci- ções internas ’ do regime . Tudo favorece uma cultura da recusa
1
mento, passa - sr a fazer do “ Estado autorit á rio" n ã o mais uma que considera o bloqueio pol ítico. Cardoso por ém preserva ,
rea ção pol ítica à mobilização das massas , mas uma simples embora discrctamente , o espaço da política Não é o ú nico:
-
*
engrenagem funcional do capitalismo internacionalizado que Wcffort fez o mesmo. Seu quesuonamento da noção de "de
“ governa o Brasil . pendência ' cm 1970 (Cardoso e Wcffort , 1971 ) assinala a preo-
Cardoso é um dos que n ão sucumbiu a essa concepção cupa çã o dc salvaguardar a autonomia da esfera pol ítica: e sua
-
simplificadora . Mesmo em seus trabalhos dc 71 72 , procura reabilitação teórica do conceito de conjuntura , em seu estudo
n à o definir o regime apenas por suas finalidades económicas: sobre o sindicalismo populista ( Weffort , 1972 ) , é uma forma
" Nà o h á motivos * , escreve ele cm Estado e Sociedade publi
% - dc livrar -se dos “ efeitos de estrutura " e de reconhecer o papel
285
284
dicionantes do volume de investimentos realizados no setor de
que cabe aos atores politicos . A atmosfera predominante , toda - subsist ê ncia ’ ( Singer , 1976: 181) . Com maior razão , no que
via , é completamentc diversa: vai no sentido de uma leitura
do presente de onde os atores estão ausentes c n ão são jamais
concerne ao Estado autoritário ' ' . muluplicam - sc as demonstra -
ções dc que ele ê um mecanismo do processo de acumulação.
considerados, exceto como peças dessa m á quina auto susten - - Nosso propósito n ão é estimar a validade de certas afirma-
iada que é a acumulação capitalista .
ções formuladas nessas teses gerais mas apenas observar que a
Poucos textos ter ão uma repercussão t ão grande quanto o
,
dc Francisco dc Oliveira: "La economia brasilena: crítica a la dissolu ção dos atores sodais e da questão pol ítica ê inerente a
razó n dualista ' ' ( “ A economia brasileira: cr í tica à razã o dualis-
esse hiperfuncionalismo marxista. Esses atores podem eventual -
mente manifestar a maior preocupação em relação às classes
ta" ) (Oliveira , 1973 : 411 -84 ). Divulgado como texto básico
na maioria das universidades, discutido e utilizado em muitos
sociais . De rato , sobre as classes sociais só se encontram posi -
ções abstratas deduzidas das ‘ necessidades ’ do processo dc
artigos , esse estudo traça um amplo panorama do desenvolvi-
mento brasileiro , tardio mas todo ele desenrolado sob o signo
acumulação. O triunfo desse marxismo n à o ê exclusivo ao Bra -
sil teve també m sua hora nas margens do Sena . Seu alcance ,
das leis da acumula ção capitalista. Nada resta corno fator polí - contudo, é diferente no contexto brasileiro , onde se inscreve
tico independente, nenhuma distor ção ou dualismo deixa dc
na serie de todos os evoludontsmos que se sucederam ao longo
scr apresentado como funcional ao avan ço da acumula çã o capi - do século. Mas , enquanto os evolution ism os anteriores eram
talista . O popuhsmo é visto como um meio de quebrar o peso també m portadores de uma promessa de libertação social ou
político das antigas classes proprietárias a tim dc ‘ 'criar fontes nacional , este est á fechado sobre si mesmo , regido por um prin -
tnternas dc acumulação’ ( ibid.: 440 ) A legislaçã o getulista
,
O crescimento do setor terci á rio c tido como uma forma de de- uso, cujo direito de reproduçã o cede ao editor: este o reproduz cm milhares
transferir a mais- valia para as atividades capitalistas ( tbid .: dc exemplarei com o fito precis? dc auferir lucros , uma pane dos quais cede
424 ) . Causalidade c finalidade se encontram. A acumulação ao escritor . Sob esse aspecto, cientista e autor surgem como ama espécie de lati -
põe a seu serviço tudo o que encontra ; na realidade , n ão tem fundiá rio ou de usurário transferindo ao capitalista industria ] o direito dc explo-
nada mais a ver cora qualquer exterioridade. Calcados no rar um monopólio ( Giarmotu. 3977 ; 24 5 ).-
modelo desse texto , alias smgularmcme brilhante e rico era A Universidade fica similarmeme presa dentro da lógica
hipó teses , outros se seguem sucessivamente esmagando e tritu -
,
capitalista : é o que estabelecem Giannotti , Francisco dc Oliveira
rando todo o meio ambiente da acumulação. A ‘ marginalida -
de c vista como uma necessidade, segundo L ú cio Kowarick ,
e Florcsian Fernandes em diversos artigos ( Giannotti , 1982 : 5 14;
Fernandes , 1984 ; Ciê ncia e Cultura , 1984 ). Falá vamos de uma
-
porque transfere o excedente para os setores de natureza niti -
"
cultura da recusa . Como ela poderia se exprimir melhor do
damente capitalista " e porque os produtos provenientes das que pelo hiperfuncionalismo marxista ? Este c nada mais do
economias marginais oferecera “ uma iníra- cstrutura de custos que urn procedimento para enunciar o totalitarismo , um totali -
altamente compensadora na medida em que leva a um baratea - tarismo que , antes de ser pol ítico , é inerente à ação pela qual
mento do custo da reprodu çã o da força de trabalho ( Kcma - o capitalismo submete todas as esferas do social . Se essas teori -
rick , 1975: 105 ). As elevadas taxas de fecundidade são a í za ções tem tanto sucesso , apesar do reconhecimento da impo-
um elemento favor á vel ao investimento, segundo Paul Singer ,
t ê ncia que abrigam , c porque constituem uma via para expres-
pois “ a disponibilidade de mão-dc-obra é um dos fatores con -
286 287
sar uma oposição pol ítica global . Para os intelectuais que não funcionalismo marxista que conduz da mesma forma à anula -
aceitam submeter -se ao capital , resta a opção da marginalidade. ção da esfera pol ítica , à dissolu çã o dos objetos e , finalmentc ,
Giannotti conclui a conferência dtada convidando a n ão ccdcr à abertura de um processo contra as ciê ncias sociais , O primeiro
ao fascínio do Estado ou da coopta ção: n ú mero da revista Debate & Cr ítica , lan çada em 1973 sob a
coordenação de Florcstan Fernandes , Jaime Pinsky e José de
Preterimos aceitar nossa marginalidade de intelectuais e aprofundar nossa ativt- Souza Martins , começa com uma apresentação sem rodeios : a
dade e descobrir nela sua dimensão social para oiganiíUa a partir de bases efe
, - situação atual , afirma , “ convene o cientista social cm um
tivas Para chegai um dia a reavaliar as funções deste Estado, pois se de eunuco civil c em servo do poder ' ’ ( Debate Sc Cr ítica . 1973: 3 ).
prescinde de nós. é bem possível que possamos prescindir dele ( Giannotti,
1977: HM ).
Quando esta em jogo a “ acumulação capitalista ” , os eco
nomistas são evidentemente os mais influentes . Em se tratando
-
Assim , finalmentc , ressurge a política com a figura do inte- da reprodu ção social , sà o os sociólogos. Mas n ão faltam sí nte-
lectual contra o Estado. ses entre as duas perspective , Assim , cm 1974 , o sociólogo
O reconhecimento da esfera política chocou - se , poré m , Octavio lanai publica Imperialismo e cultura para mostrar que
contra outros obstáculos conceituais. Em 1970 , também entram
o capitalismo é um modo de produ ção material c intelectual , sendo que ambas
em mo d a os aparelhos ideológicos de Estado ” , e as diversas
l I
-
por pactuar com o “ anti historicismo ” e o “ cstrutural í smo ” . çã o e funcionamento da m á quina a vapor ( ianni , 1974: IV}.
Cardoso, um pouco mais tarde , também não será indulgente
para com os aparelhos ideológicos de Estado ” , por meio dos Esta atividade intelectual , fonte e produto do capitalismo ,
quais as contradições de classes são substitu ídas " por uma mono- volta a colocar a ' cultura ' ' brasileira em contato corn a realidade .
1
lítica entidade — as classes no poder — que exercem uma tau - Como desprender - se desses mecanismos ? Como deixar rea-
tol ó gica ‘ política de luta de classes '
atrav s de seus representan -
é parecer a especificidade da dimensão política ? Giannotti rcteria -
tes ” ( F . H . Cardoso , 1977 : 16 ) , tampouco em rela ção às anã li - sc à marginalidade volunt á ria . A revista Debate Sc Cr ítica prega
ses de Poulantzas. Nas universidades , por é m , onde o livro de a adoçã o pelas ciê ncias sociais de “ uma posição expJickamcntc
Marta Harnccker tem uma grande difusã o e coloca Althusser crítica e militante ” ( Debate & Crítica , 1973: 3 ). Essa expressão
-
ao alcance de todos , os recém chegados às ciê ncias sociais ir ão
fazer da “ ideologia dominante ” c de seus “ aparelhos” princí -
pode ter vá rios sentidos. Não h á d ú vida de que para alguns
dos que a defendem , n ão implique apenas a luta pela “ liberta -
pios de explica ção de alcance geral . Nada est á livre de seus efei - çã o ” , mas a vit ó ria do socialismo. E caractcrística a esse respeito
tos: o sLstema educativo c os demais mecanismos de socializa - a atitude de Florestan Fernandes: nao h á verdadeira a çã o mili -
ção, c claro, mas també m , e quase principalmcnte , aqueles tante sem um ataque frontaJ ao capitalismo . A experiê ncia
que julgam poder se libertar deles, a começar pelos “ pequenos- ensina que “ n ão há mais como conciliar a liberdade com o capi -
burgueses ' revoltados, que abundam e caem no radicalismo
1
Mencionamos antes uma tese , id ê ntica a tantas outras sobre os tente: Nâo h á mais como compaiibilizar democracia burguesa
assuntos mais diversos , que acusa o CPC de cumplicidade com com pedagogia revolucioná ria ” ( Fernandes , 1976 : 117 ) . Em
a “ ideologia dominante ” . Há aí mais uma expressã o do hipet- 1973 , o antigo titular da cá tedra 1 de sociologia publica enfim
288 289
’ , “ dando
só pode preservar seu poder por meio do despotismo lização responde muito mais aos requisitos de segurança ccon
-
“
blo - ô
origem a uma formidável superestrutura de opressão e de mica c de compctição estreita do que às grandes ambições de
b ) E as rela ções de classe nao trabalho ’ ( Fernandes , 1975a: 84 ). A reconversão do intelec -
queio ( Fernandes 1975 : 303
1 1
, .
podem se institucionalizar , pois tudo se passa “ como se os tual à militâ ncia c a ruptura com o capitalismo : são estes os
mundos dc classes sociaJmcmc antagó nicas fossem os mundos componentes de uma das opções políticas diante da autoc fa - i i
leira Convé m notar que um intelectual de grande notoriedade ele evitava uma an á lise rcducionista ; c as classes sociais n ão
como Antó nio Câ ndido acompanha Florestan Fernandes nesse eram simples posições estabelecidas pelo processo dc acumula -
“ pragmatismo político" que grassa
percurso , deplorando o
em reação à ditadura , ainda que rejeite a politização total da
ção. Cardoso observa també m que alguns dos famosos < apare
lhos ideológicos ” n ão correspondiam às caracter ísticas atribu í-
j
-
-
culrura . Mostram se , assim , em seu nível e com os seus meios -
—
das ao “ Estado burocrático autoritário ” . A prova disso é que
— -
1
a palavra solidários com a revolta da geração jovem . Mar alguns deles continuam “sustentando valores liberais que, aliás
cam também suas diferenças em relação ã geração intermedia -
,
op cri. Autoritarismo
291
290
autonomia , durante o governo dc abertura a cultura erudita c
e democratização , Cardoso ratifica , ao contr á rio de Floret an a cultura popular estavam sob a “ proteção” do Estado por
Fernandes a idéia de que uma estratégia de democratização
,
meio das ‘ fundações ’ \ Estas estavam incumbidas dc:
seja possível .sem revolução:
por um lado, dar força ií manifestações arcfsucas do povo que , pelo seu caráter
Náo para “ pedir" democracia , no sentido de reabertura do jogo de parados
controlados pelo Estado c pelas classes dominantes , mis para cnar um CIJ íTU -
pré industrial, n ã o Encercssam is muldnadortais da cultura e , poi ourrri lado , ati-
var atividades eruditas que. pela radrealidade de sua proposta , não encontram res-
dc liberdade c respeito que permita a reatmçáo da sociedade civil, fazendo com paldo junto ao publico “ narootmdo' pdas leis do mercado (Santiago, 1982 : S6|.
que as associações profissionais, os sindicatos , ai igrejas , os grémios estudantis,
os círculos dc estudos e debates , os movimentos sociais, cm suma , expunham Assim prosseguiram , direta ou indiretamente, as relações
dc p ú blico seus problemas, proponham soluções , entiem cm conflitos coosmiti *
entre os intelectuais c o Estado ,
vos para o pais (ibid : 2588 ) . í leloisa Buarque de Hollanda afirma que, após 1974 , com
sociedade civil ” : esse é na verdade o lema
‘ Rcarivar a o desenvolvimento da ind ústria cultural , a literatura de esquerda
que se difundir á no quadro da abertura . Ele n ã o comporta -
torna se , com mais raz ã o , “ um excelente negócio ” ( Hollanda 4
quaisquer concess ões ao liberalismo ” ou exaltações a "demo- e Gon ç alves , 1979 1980 ) , Para as ciê ncias sociais , esse diagn ós
*
-
cracia formal ' .
1
tico parece severo. A identificaçã o “ profissionalizante ” e o
Num artigo em Optniào , Cardoso critica ao mesmo tempo marxismo funcionalista podem indicar uma impotê ncia provisó-
a esquerda com “ uma concepção puramente instrumental da
liberdade da democracia , que em diversas ocasiões traduziu -
e
ria ; mas a primeira comporta também um potencial contesta
dor e o segundo alimenta , mais uma vez , um mito coletivo
-
se cm convergê ncia imediata com o autoritarismo c as que
' qu ê subentende um corpo a corpo sem compromisso com o “ ca-
continuam fiéis ao velho liberalismo democrá tico: pitalismo ” .
Em todo caso , as incitações à ruptura radical como as de
O grande problema não c o da democracia cm si mesma Se fosse apenas is:o , FloresLan Fernandes , ou à coaliz ão das organizações da socie -
o problema já estaria muito provavelmente resolvido. O grande problema é o dade civil como as de Cardoso , são maneiras de reencontrar os
que poderia significar hoje a democracia do ponto dc vista económico e do caminhos da politiza ção . Colocam -se , no entanto , duas ques-
ponto de vista social (Cardoso, 1974).
t ões: Como poderiam os intelectuais demonstrar uma certa coe -
Esse lema , porém , sugere uma estrat égia pol í tica que são quando as incitações tendiam para direções r ào diferentes ?
requer uma capacidade de auto - organização da sociedade . Como poderiam afirmar -se como ator político quando , na ver -
Em 1978, o romancista Antônio Callado questionará a rea - dade , eram obrigados a se adaptar ao dia - a -dia das incertezas
lidade dc uma cultura de resist ê ncia " no decorrer dos anos
1 1
das quais o regime deriva o seu poder ? Com essas duas ques -
-
69 74 . Considerando antes dc tudo a literatura e as artes , ele
formular á um julgamento negativo: “ Durante o per íodo rnais
t ões , voltamos ao problema da gest ão pol í tica do meio intelec-
tual *
nhados em restabelecer os mecanismos de representação pol í- sob o patrocínio de um centro ligado ao partido , o CEBRAD
tica . Ser ão visíveis as diferen ç as resultantes das origens ou traje- ( Centro Brasil Democr á tico ) , Nelson Werneck So-drc volta a
t órias pessoais: sã o inevit á veis as tensõ es entre as personal ida culpar as " forç as externas que querem " manter a subordina-
’
des dc destaque no meio universit á rio , os militantes dos parti - çã o dos países dependences através do controle do regime dc
dos de esquerda e os antigos adeptos da resistência armada. A governo neles vigente" ( CEBRAD , 1978: III , 26 ) ; e Alberto
distancia entre os que têm acesso às elites dirigentes, os " pro- Passos Guimarã es ataca a pilhagem das riquezas amaz ó nicas
fissionais e a massa das camadas cultas nao pòde ser total - ( ibid .: II , 24 ) . Mas o nacionalismo subsiste como " senso
comum ou pedra de toque de qualquer teorização. N ão é
mente reabsorvida .
Acontece , porem , que as cisões c dilerenças não acarretam por acaso que os " grandes intelectuais" que se declaravam
uma rupiura irremediá vel . Gra ças á influê ncia de uma institui - marxistas procuram refutar os esquemas de Althusser e Poulant
zas: eles reivindicam suas pró prias interpreta ções , elaboradas
-
ção como o CEBRAP ou das mesas- redondas da SBPC, roantém-
* sc uma relativa coesã o. Prosseguem os debates entre eles, pri - desde o Seminário sobre Marx . c seus pr óprios usos dos concei -
tos marxistas para explicar as "especificidades" do crescimento
H meiro nos cí rculos rdarivamence fechados , depois nas tribunas
brasileiro. Deixam as " ideias importadas " para "tarefeiros"
p ú blicas e por fim nos confrontos pela televisão. Prevalece a
"conciliação" dentro do mundo intelectual , A partir dc 73 - 74 , dc segundo escal ão . De modo geral , reforça - se um " naciona -
muitos dos participantes da aventura armada reintegram se à s - lismo comum " , assumido muito mais como uma espécie dc
evid ê ncia do que como uma tese política e resultando numa
institui ções c aos debates. Com a promulgação da anistia , vol- ambival ê ncia em rela ção ao exterior , feita de " fascina ção pelos
tam os exilados e sc reintegram sem grandes dificuldades . Os
outros países" dc um lado, e dc "rancor contra os nacionais
-
n ú cleos vanguardistas restantes são levados a siruar se no campo cosmopolitas" dc outro ( W . Martins, 1978: VII . 286 , nota ).
geral das discussões sobre as estrat é gias de democratiza ção ou O ú nico pensamento reconhecido é o regido pelo signo
a assumir os riscos do isolamento , ouvidos apenas por algumas da integração nacional. Da í em diante , o nacionalismo passa a
minorias estudantis. Claro que a fundação do PT instituciona - ser também forma de registrar o processo de forma ção das clas-
liza uma divisão política . Num primeiro momento porém , ,
ses sociais num contexto particular . Voltemos à pol ê mica entre
não leva á ruptura do diálogo c os laç os pessoais entre os prin - Weffort c Cardoso sobre o uso da noção dc "depend ê ncia " .
cipais dirigentes do novo partido e do PMDB permitem preser - Enquanto Weffort afirma que as "relações de classe determi -
var a comunicação entre eles . nam o car á ter do problema nacional" ( Cardoso c Weffort ,
294 295
-
gada de , junto com o reitor , fixar as diretrizes da universidade . perfunaonaJismo marxista e contribui para impedir o sucesso
"
Tanto suas obras sobre o empresariado quanto sua participação das visões economicistas ' do autoritarismo . As pesquisas con -
no Seminário sobre Marx traduzem uma interferê ncia entre o cretas realizadas sobre a Bahia , sobre o crescimento e a pobreza
trabalho universitá rio c a vontade de se associar aos debates em Sã o Paulo , e os movimentos sociais nes.se Estado evitam fixa -
do momento. Vimos que , no Semin á rio , se manifestava uma çõ es teorizantes. À maioria dos artigos dc Cardoso tem um cará -
recusa à vulgaia professada pelos comunistas c aos esquemas ter polemico contra as noçõ es e dedu ções global izantes . Muitos
de alian ça de classes dela decorrentes. dos ternas mais fé rteis que cie leva aos debates foram bncola
Mas c a partir de 1969 que Cardoso e o CEBRAP t ê m -
ges , no sentido que lhe deu Lé vi Strauss \ Já mencionamos os
uma funçã o maior nas estratégias intelectuais , que sc revestem "an é is burocr áticos r ;
virão depois a " burguesia de Estado ” ,
1
a partir do alto sob forma do Estado autorit á rio ; e impossibili - tornando a ideologia do universitário classe média , contestador
dade democrá tica sob forma do regime militar . É verdade que c dc parolagem radical ( Giannotti , 1984: 38 ). Por outro lado,
essa sí ntese apresenta - se sob uma luz in édita : fundarnental - a estrat é gia consiste cm inventar instrumentos conceituais que
mente cr í tica , pois foi feita a partir dc uma posi ção antkapita- permitam perceber os novos problemas c seguir as evolu ções
lista . É també m constru ída a partir da retomada , com outra lin -
guagem , de elementos ancorados no antigo pensamento da
conjunturais, com o risco de um afastamento infinito em rela -
çã o aos textos marxistas: no in ício da dccada dc 80 , Cardoso
dimensão política. Alé m disso, essa refer ê ncia marxista comanda n ã o enfatizava as caracter ísticas que fazem do Brasil uma 50 - i i
uma estratégia que o leva a se colocar como mediador entre as da criação permanente do campo intelectual enquanto campo
diversas esquerdas marxistas.
ImcdiaLamcnte , Cardoso e o CEBRAP se instalam també m
.
polí tico. H á aí na realidade , três estrat égias rm uma. Abrir o
debate democrático entre os intelectuais: a passagem de uma
na confluê ncia dessas esquerdas marxistas com os setores de conceitualização a outra representa cm si um debate. Fazer do
-
oposição n ã o marxistas A revista Estudos CEBRAP
,
cora frequ ê
publica
ncia de
meio intelectual um ator político. Fazer desse ator político
alguns estudos que nada t ê m de marxista , uma força que se adapte às incertezas provocadas pelo regime .
autores estrangeiros . Durante os anos sombrios , o CEBRAP é Da í decorre que essa politizaçâo do conceito c essa concci -
ne muitas personalia
um ponto de encontro e discuss ã o que re ú
dades alheias a ele: cconomisLas , sociólogos , antropó logos e at é
tualização do político n ão se efetuam sem que a dimensão pol í
tica seja cm grande pane predcfmida . A insist ê ncia no concre-
-
tecnocratas . Daí sua contribui çã o à formação de uma ciê ncia to" , no " particular ” , na “conjuntura ” , na “ pratica ” demonstra
4
o social e o político. Com a abertura polí tica , esses debates lista ” , ou seja , de uma política onde pr á tica e conhecimento
saem do círculo restrito. O CEBRAP , sem deixar de ser alvo sejam parceiros na constituição da realidade .
dos ó rgãos de repressão , conta com o apoio de cenas personali- Na introdu ção , jã destacamos que Claude Lefort afirmava
dades do regime , como o ministro Severo Gomes e Paulo Egy - que a mesma paixão realista ” atuara em Marx e Maquiavel,
dio , prefeito de S ão Paulo , A democratização torna - se prioritá - possibilitando uma mesma conjunção entre conhecimento c ação.
ria . Mais uma vez , é essencial a função de Cardoso no meio Vale a pena recordar brevemente a sua tese: “O realismo de
intelectual: como um tradutor , fala alternadamente a lingua - Maquiavel , assim como o de Marx ” , comenta Lefort , ee susten -
»
-
i
gem marxista c a linguagem n ão- marxista . Trata se, assim , dc tado pela ideia de que a realidade empírica, tal como a compõe
uma outra modalidade dc estratégia intelectual , que assegura a hist ória dos homens, é acessível ao conhecimento , e que o
a convergê ncia entre as diversas tendê ncias c facilita a sa ída conhecimento nela descobre o fundamento da ação adequada ”
do gueto formado entre 1969 e 1974. ( Lefort , 1978 ; 173 ). Acrescenta Lefort que Gramsci , pensando
F també m uma estrat égia essa escolha de uma teorização naqueles dois autores , associou a filosofia da praxis ao fenômeno
em contato direto com a conjuntura . Basta consultar os traba - do " realismo popular ” . A pol ítica realista , quer feita pelo Pr ín -
lhos de Cardoso na sequ ê ncia: os conceitos v ã o se transfor - cipe ou pelo Partido , deve constantemente confirmar, em seu
mando , cm paralelo corri as mutações da sociedade e do regime. sentimento , o realismo popular : esses dirigentes devem conven -
Mas não acidentalmcnte : o próprio Cardoso faz a teoria dessa
transformação conceituai . Em A dependência revisitada , declara
-
cer o povo da necessidade de submeter se a seu comando ' ( ibid .:
182 ). A " pol ítica realista que se infere das propostas de Car-
que “ as categorias e teorias sã o constitu ídas na pr á tica pol ítica doso participa de ambos os universos conceituais. De Marx , etc
c na prá tica intelectual dc um conjunto de pessoas socialmente toma a convicção de que a pol í tica é o lugar onde se inscrevem
situadas ” ( F. H . Cardoso , 1980: 39 ) . Recomenda que não se as significações elaboradas cm todas as ordens dc atividade, sob
faça da depend ê ncia uma teoria , mas o meio dc articulação forma dc uma sé rie dc í ndices que medem , pelo conhecimento,
entre a an álise concreta ” ( isto é , a tomada em conta das rela - pela previsão e pela decisão , o campo do possível ” , De Maquia -
ções sociais historicamente constituídas), o produto da pr á ti - vel , ele tira a lição dc que o real n ão c apenas o que pode ser
-
t 4
ca ” ca reflexão teó rica ” ( ibid . : 63 ). A “ pr á tica ” , o “ concre formulado como alternativas fundamentais que os governantes
to ”: sã o outras tantas maneiras de designar a inserçã o dr todo devem necessariamente enfrentar
saber no interior da esfera política. A sucessão dc conceitos deli - c antes a sorte que lhes
é reservada numa sé rie dc siruaçõcs particulares ” ( ibid .: 187 ).
neia , desse modo , o esboç o dc uma pol í tica intelectual e ins- É testando o conceito diante das ambiguidades do momento e
tala simultaneamente a dimensão política no interior dc cada definindo o possível com base no que pode ser reconhecido a
conccito , Isso est á longe de ser uma simples interfer ê ncia entre cada instante pelas massas que Cardoso chega a provocar “ a orga -
nização política ” do meio intelectual .
301
300
que parecem exprimir as alternativas fundamentais da
ía - democra -
Cardoso n ão c o ú nico a proceder dessa maneira Poder ,
tização.
mos rastrear a trajetória de
j
muitos outros intelectuais . Pois n ão
Nã o podemos analisar cm detalhe como se operou
é també m Weffort um exemplo desse incessante vaiv ém entre essa
passagem , mas é preciso, pelo menos , indicar alguns de seus
o marxismo c outras formas de teorização, entre o social
e o
marcos. 1973: começam os primeiros contatos entre
e
político, entre as ciasses a perspectiva democr á tica , tudo isto Cardoso e
outros membros do CEBRAP de um lado , e os dirigentes
sob o signo de uma mesma inten ção de realismo ? (Weffort , MDB de outro, por ocasião de uma conferência organizada
do
1970; 1984 ) em Porto Alegre pelo instituto de estudos do MDB, o 1
EPES
A coesão dos intelectuais situa -sc , já de saída , dentro da ( Instituto de Estudos Pol í ticos, Económicos e
esfera política . Basta chegar o momento em que passam a vol - Sociais ). 1974 :
Ulysses Guimar ã es , presidente do MDB desde o ano precedente
tar-se para o exterior e tornar posi ção ao lado das
forças politi - ,
convida diversos membros do CEBRAP Cardoso , Francisco
cas e sociais e a dimensão
alcance e o realismo, um outro
pol ítica adquire
significado .
ent ã o um outro de Oliveira , Weffort
— para participarem da atualizaçã o do
programa do partido . 1975: a Igreja estabelece rela ções com o
CEBRAP , 1978: Fernando Henrique Cardoso candidata
eleições para o Senado pelo Estado de São Paulo e, com se à s -
A era do intelectual como ator político dc um milh ão de votos, é eleito suplente. Torna -sc senador
mais
em campanhas pela anistia , pela Constituinte comia o acordo nuclear etc ( Ciar-
.
-
começ a a aprofundar se a ruptura partid á ria entre os
intelectuais.
Pretendemos apresentar alguns coment á rios gerais sobre
cia . 1985: 101 ). os modos de intervenção desse ator pol ítico e as mudan as
respondentes nas representações da dimensão pol í tica
ç cor -
Novo encontro corn a palavra intelligentsia, reivindicada pelos intelectuais.
propiost as
pelos pensadores dos anos 30 c pelos ideólogos dc 1950. Mas E preciso voltar às implicações da.s eleições de
é verdade que . apó b 1974 , os intelectuais assumem o aspecto 1974 . À
descoberta das possibilidades abertas pela ascensão da oposição,
dc um ator político , participando integralrnente das interações reunida no MDB, precede a dos ' movimentos de base ' e , com
com outros atores políticos, sem ignorar as reivindicações corpo-
*
est ão dispostos nesse momento a unir -se tanto a uma vis ã o opc sao do general Golbery quanto a morte do senador Petrónio
racional da democracia quanto ao sistema
o MDB
de
.
representa
Nos
çã o
debates
.
Portella ambos art ífices do processo de "distensão ' \ abrem
cm vigor num partido t ã o singular como urna fase de novos perigos . Os intelectuais est ão desde j á diante
intelectuais , Lraia-sc nesse momento só de democracia substan
' '
- dc duas alternativas: recusar a sc prestar às “ regras " da demo-
cial ' \ ‘ participativa ' , n ão separando direitos sociais e pol íti - cratização autorit ária ou elaborar estrat égias que as levem cm
cos. Comentando as eleições dc 1974 , Fernando H . Cardoso c consideração. Sem renunciar às suas exigê ncias essenciais , a
Bol ívar Lamounicr são os primeiros a reconhecer que elas conti- maioria deles opta pela segunda possibilidade . Alguns anos
nuam a demonstrar que “ a fragilidade do sistema representa -
tivo ( ... ) deixa no eleitor o gosto amargo de uma democracia
antes , cm 197 } , Wanderley Guilherme dos Santos
do I5EB c do Parado Comunista , alem de prestigiado soció -
que loi —
possível’ , mas n ão substantiva " ( Lamounier e Cardoso , 1978:
11 ). Est á assim colocado o problema das formas de representa -
logo do IUPERI —
causou surpresa , ao enunciar uma perspec-
tive dc abertura que parecia em ressonância com a do general
ção . E verdade , porém , que o voto a favor do MDB exprime Golbery:
no m ínimo o desafio ao regime c que o MDB surge como suces- A polida dc descojiiprcsjlc deve ser uma política incrementalist , mo c. imple -
sor dos partidos que assumem com a$ reivindicações populares, mentada por aproximações sucessivas, provocando módifkaçòei* marginais no
como demonstram a estratificação de seu eleitorado c a imagem
por cie projetada ( ibid .: 11; Lamounier, 1980: 39). Também
estado de coisas prevalecente. Quer isto dizer que se trata dc uma política ce
gias no interior da cena política passam a ser ratificadas pelos implícita ou expliciramente , outros intelectuais aprovar ão, após
intelectuais , pelo menos tomo componente de estratégias diver - 1974 , esse esquema ‘ incremen calista - E ainda ma is : à medida
4
sificadas , e o tema da cidadania política adquire potencialmcnte que os espa ços democr á ticos se ampliam , esse esquema assume
o reconhecimento dc sua import ância . o aspccro dc um dado incontomávcL Em 1979, Cardoso ressalta
N ão menos importante do que isso c o fato dc as regras que o regime continua com as melhores cartas na m ão. “ A dis-
do jogo ficarem por cotna do regime . Sabe-se que o poder tensão se realizou até o momento sem tocai no essencial: as
usar á e abusará da alteraçã o delas para tentar contrabalan çar o regras relativas a quem decide e sobre o que se tomam as deci -
progresso da oposição. Alias , a regulamentação eleitoral nau sões ’. Tudo c possível: o governo “ talvez acabe com, os parti-
passa da manifestação rnais visível do clima de incerteza alimen - dos, talvez não" (F. H. Cardoso , 1979: 86- 7 ) . Diante disso , o
tado pelo governo. As incertezas mais decisivas são as resultan - MDB continua desarmado: " A quem representa ele ? A todos
tes dos meios de que continuavam a dispor o SNI (Serviç
em todas as esferas da admi
o
-
e a quase ningué m " ( ibid .: 87 ). Da mesma forma , seria in ú til .
Nacional de Informações) , presente
nistração, e outros agentes da “ segurança nacional . A pol í tica
" Muitos í olaboradorcs dc Opinião v-fem ni nisso uma adaptado dj wria de Hunting -
capitalismo brasileiro" ( Giannotii , 1984 ) . Carlos .Nelson Comi sada a euforia dc 1974 , .surgem as divergê ncias mesmo entre
ih nho, defensor antigo das " teses italianas ’ no Partido Comunis - ,
cratiza çã o n ão é a constituição do povo como " sujeito pol íti - 0 problema da itwps\iza\lQ hegemónica da Piedade c urna quest ã o que não
co" , mas o diá logo cmre os intelectuais , os industriais , a hie - se resolve a menos que haja um n úcleo úfganizaiõ rio que ?e proponha clara c
rarquia eclesi ástica etc , A descoberta da democracia — é a per -
,
-
—
explkiumtnrc , a rareia de èC gradativa mente unificando zs crperiènais par
gunta que faz íamos seria o produto de uma s ú bita conver - ciai’, seroTíais e moteulaic* Ac cada Lim dos setores dasdseses em uma alterna -
sã o dos esp í ritos? A opçã o realista sugere
" " uma outra resposta : tiva pólítica um projeto globaL . mas cnnaao — que sirva para dar impulso
é muito mats o resultado da adesão a uma racionalidade limi - Aí 1 LI tis miais ma? ao mesmo tempo acene am ;ts possibilrdaJes de transfor -
, ,
tada , em condi ções em que o adversá rio impõe suas decisões c mação ma is profunda da sociedade ( Moisés 190Q : fi ),
,
306 307
Francisco Wefifort pronuncia-sc a favor de uma democra - n ão aderir à representação liberal da democracia , logo consta
*
cia " participativa " , " na qual a maioria do povo n ào esteja con - tando a distâ ncia recorrente entre os setores populares c os
finada à condição de cidad ãos de segunda classe Na qual “ quadros pol í ticos" que dominam o MDB, e recusa -se a dei -
portanto , a maioria do povo — e n ão apenas uma minoria de xar is elites a tarefa de decidir o que é melhor para o povo
' "
privilegiados— tenha condição de se tornar dirigente" ( Wcf - (F H . Cardoso , 1975 ). Mas cie está também
nem a
convencido de
estabilidade nem
-
*
fort , 1984: 130 ) . A filósofa Marilena Chauí reconhece à "cul que os movimentos de base n ão tem
tura popular " o valor de resistência " diante das elites que
1
a autonomia que lhes atribuem e muitas vezes apoiam - se no
monopolizam o discurso competente" (Chau í, 1981 ). O soció- Estado e suas polí ticas sociais. Essa posiçã o est á associada à tese
logo católico Luiz Eduardo Wandcr í ey define a "democracia de que não h á pol ítica " que possa nascer do prolongamento
de base" , que
de base ' como aquela que é praticada pelas bases populares , direto das "comunidades e dos "movimentos
1 L
isto é , pelas classes populares na vida coudiana , em seus possa fazer a economia de uma consideração dos, mecanismos
momentos nas fá bricas e nos bairros , nas paróquias e nas comu - de delega çã o política e que possa ignorar o Estadode Oummovimen
nidades" ( Wanderlcy , 1983: 64 ) , Os jesu ítas
_ doqueCEAS afirmam turno , avalia Cardoso , tende a ser a expressão
" popu
" e depre -
-
que as organizações de base , na medida cm exprimem as lismo religioso que revaloriza a noção de comunidade
necessidades dos setores populares , favorecemL uma " união cia qualqucr representação pol tica
í . Aparece, assim , como figu -
entre os membros que dispensa uma grande organiza çã o" c ra simé trica á do Estado autorit ário :
"possuem uma consci ê ncia clara
quanto ao objetivo visado, dos dumina -
menos clara quanto às implicaçõ es políticas ruais gerais" ( CEAS , As forças sociais contestadoras aceitam a cootrapartida da proposal á eco , rias
dotes e . de costas pari o Estado , montam seu mundo i parte que far
1984 : 12 ). Esses poucos textos, citados ao acaso , n ão são ncces - que afligem
sanamente convergrmcs, como facilmente se percebe .. Alguns conchas acústicas que o regime oferece , das lamentações t ópicas
as massas |despossuídas (F . H . Cardoso 1981
, a ; 24 ).
visam o estabelecimento dc comunidades sociais; outros , fazer
dos " movimentos de base" o princí pio de uma hegemonia Os intelectuais são um ator pol ítico unificado nessa, mas
con -
autorit á rio continua no poder
popular; outros ainda a construir, a partir dc setores popula- juntura em que o Estado
res , uma democracia participativa N ã o importa. Eles exprimem tolera espaços democráticos cada vez maiores. Tornam -se um
bem as discussões apaixonadas , retomadas pelos "educadores " , ator polí tico dividido a partir do momento
em que a volta à
democrá -
'
agentes comunitários ' * e estudantes a respeito da forma çã o democracia parece inevitá vel . Fazem o aprendizado regime . As uto-
dc uma cultura democr á tica cujo sujeito seja o " povo’ ou as
»
•
—
esse processo , apresentando-
*
308
A volta á democracia expoc dc modo bruta! os limites oportunidades, durante este século , para lidar com a democra -
cia E pouco possível que esta ofereç a à maioria deles o lugar
dessa coesão. A profissionalização" constitu í ra uma arma
para combater , em nome da compet ê ncia e da ciê ncia , um c as tun ções as quais estavam acostumados . Isso é ainda mais
regime fascinado pela imagem de um Brasil Grande " . Eis duvidoso na medida em que esses intelectuais já n ào s ão , tal -
que ela d á lugar à proliferação de participações setoriais , c vez , t ão aptos a elaborar representações globalizant es . Desco -
.
algumas associa ções que se haviam encarregado da defesa das berta a sua condiçã o social , já não podem mais facilmente $c
liberdades tendem , sem ter consciê ncia , a se fechar na defesa projetar acima da sociedade , N ào podendo mais referir - se a evo-
de seus interesses da categoria ’ \ Uma parte das universidades lucionismo algum nem fazer do “ realismo " a mola de uma
c de outras instituições intelectuais preservaram sua autoridade ideologia , j á n ão podem também sc instalar na dianteira da
diante dos governantes , mas entram em crise , confrontadas com hist ó ria . Obrigados a tomar conhecimento dc que o Brasil c
as d ú vidas sobre seu funcionamento c finalidade . Uma parcela uma sociedade ao mesmo tempo de classes constitu ídas e de
considerável dos intelectuais beneficiara - se das consequ ê ncias massas fluidas , tem que desistir dc reivindicar os privil égios
do milagre, mas são atingidos em cheio peto declí nio de suas da consci ê ncia esclarecida .
condições materiais. Aderiram todos à democracia , n ão como sc tivessem de
O reencontro da democracia traz rambêm problemas para repente sc convertido â lógica democr á tica , mas muito mais
sua identidade política . Nesse aspecto , o problema n ão é que como resultado das estratégias de compromisso com que tiveram
eles se dividam em função dc suas diversas lealdades partid á - que concordar diante de um regime que n ã o pretendia desapa
recer sem fazer perdurar ate o fim as incertezas em que se basea -
-
rias . Não que esse fato seja dc se desprezar . Isso porque ao
longo das d écadas passadas, os intelectuais , muitas vezes alheios va o seu poder.
às problemá ticas partidárias , haviam partilhado , superando Ora , o restabelecimento da democracia revela também
suas divisões , dc uma visão muito semelhante do Estado , do novas modalidades dc defasagem entre as esferas social e pol í-
povo e da nação. Já não é este o caso. Mas as mudanç as são tica . N ão se vé implantada a “ democracia participativa " c
maiores ainda ; uns retomam iranq ú ilamentc o caminho do menos ainda a “ democracia social " que , quase naturalmente .
-
Estado , associando se à tecnocracia singularmentc consolidada brotaria das organizações de base . Ao contrário , a pr á tica polí -
dos anos anteriores ; outros continuam a se colocar ao lado dos tica restabelece o reconhecimento da validade das antigas pr á ti
cas de concilia çã o pró prias a uma sociedade hierarquizada . Os
-
movimentos sociais de base ( os quais , deve- se observar , n à o con -
servam o mesmo dinamismo após a rcdcmocratiza ção ) ou das intelectuais que adotam estratégias dc compromisso , no Estado
classes populares organizadas ( que jã n ã o têm tanta necessi - -
ou nos partidos políticos , parecem fundir se ao mundo das di -
;
dade dc mediadores intelectuais). As divisões da sociedade per - tes e homologar uma democracia que n ã o chega sequer a scr
verdadeiramente “ liberal " . E o desafio em relação ao liberalismo
correm os intelectuais . Al é m disso , os l íderes intelectuais que ,
durante a ditadura , conseguiram exercer grande influência nos continua vivo cm vá rios setores intelectuais . Quer se refiram à
partidos de oposição , percebem que a democracia fortalece o democracia dc base " ou sc apeguem a uma visão “ instrumen -
poder dos políticos profissionais e destila rapidamente uma tal " da democracia , est ão longe dc participar sem reservas da
classe política . Os intelectuais são conduzidos assim a um papel cren ç a democrá tica . Sob a aparência de “ comunitarismo ” , volta
mais modesto . à tona uma leitura religiosa da dimensão pol ítica . Sob o aspecto
Da mesma forma , a democracia deixa de ser propicia aos de “ autonomia popular " , sc projeta às vezes a sombra do
grandes mitos unificadores e aos projetos de forma ção do social . antigo populismo intelectual , que não admitia que o povo não
As acomodações que cia supõe tornam impossível a qualquer -
seja Uno . Debaixo dos vanguardismos", e.sboça se a tenta ção
de voltar à fusão entre as classes " revolucion á rias ’ ’ e a na ção.
categoria social pretender monopolizar a representa çã o da
nação . Afinal , os intelectuais brasileiros nà o tiveram muitas Sob a apatia e o corporativismo , emerge a dcccpçâo diante dos
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U - A
V
UFRGS Q 70G 5219
Sob pretexto de conhecer
melhor do que ninguém
os mecanismos sociais e
cn+ os interesses profundos
dos diferentes grupos , sua
tendência foi colocar -se
como mediadora
indispensável entre as
classes e projetar -se
acima da sociedade
Neste livro atual,
fundamentado em
extensas pesquisas , Daniel
Pécautsitua os intelectuais
bradtelros num contexto
amplo, que envolve nã o
só sua atuação nos
partidos políticos como
também nas
universidades e
instituições de pesquisa,
no movimento estudantil
e na esfera de influência
católica ,
Nos anos 80, o processo
de democratização vem
questionar os esquemas
mals enraizados do
pensamento brasiieiro,
que tantas vezes primou
pela autorilarismo .
Caloca - se em xeque ,
assim, a pr óprio
identificação dos
intelectuais , marcada
©
IrTipreuâg KafeOntencg por
*
pelo " timbre da
incerteza".
w« Ruth A OB. I Idu
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