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A intelectualidade brasileira sem -

. pre alimentou uma certeza : a de ser

DANIEL PECA
uma categoria social ã parte, com
um papel privilegiado na construção
da sociedade, seja ao lado do Estado
* 1
ou contra ele,

HA # # m
Este livro arguto e original, recen-
temente lançado na França, faz um
balanç o inédito do posicionamento
dos intelectuais brasileiros em rela ção
ao poder , ã nação e ao povo, desde
a dé cada de 1920 até a época atual .
Daniel Pécaut, conhecido sociólogo

INilEIJECTUMS
francês, é especial isto nos problemas
políticos da América Latina . Um dos
diretores da Écoíe des Hautes Études
en Sciences Sociales e do Centre

|= A POLÍTICA
d'Etude des Mouvements Sociaux,
em Paris , é responsá vel peta revista
Probiémes de l Amèrique Latine,

MC I3RASII
ENTRE O POVO E A NAÇÃO

ISBN 85 08 03574 3
DANIEL PÉCAUT
Muitos intelectuais
brasileiros, supondo-se
detentores de um saber
que os capacitava a
solucionar os problemas
mais graves da
sociedade , forjaram de
si mesmos uma imagem
privilegiada Em Os
Intelectuais e a política
no Brasil, o sociólogo
05 INTELECTUAIS
francês Daniel Pécaut
analisa a trajetória da
intelectualidade no paí s
E A POLÍTICA
entre 1920 e 1982,
desmitificando a idéia
de que nossos pensadores
NO BRASIL
podem ser considerados
"cidadãos acima de Entre o povo e a nação
qualquer suspeita". Ao
analisar a maneira como
se posicionaram nas lutas
políticas e sociais do país,
o Autor mostra que. na
realidade, o saber se
mescla com o poder.
Alegando a existência
de um povo ignorante,
de estruturas sociais
desarticuladas ou de
classes ainda em
formaçòo, muitas vezes Tradução:
a nossa intelligentsia Maria Júlia Goldwasser
justificou sua “vocação
para elite dirigente",
chamada a levar a cabo
a “Unidade Nacional" .
Assumiu, assim, uma
posição de protagonista
central do processo
histórico do país, já que

BSCSN ruFROS
\
*
t

Sé rie

Temas
Volume 16
i
Sociologia c pol í tica Sumário
Título original : Entre te peuple ei la nation: les
intelíecttí eh et Ia politique au Erésil
Copyright © Fondation dc la Maison dcs
Sciences de l l lornmc , 1989
Prefácio 5 v
¥
.
. l

PARTE 1 x
Os intelectuais , o povo e a na ção
TRADUÇÃO
1 r -.
Mafia Jiilia Gotdwas$« * Introdu ção 14
REVISÃO DE TRADUÇÃO A geração dos anos 1920 -40 19
Cássia Rcxha À posiçã o social dos intelectuais 19
nonos Uma vocaçã o para elite dirigente . .. . 22
Fernando Paixão Os fundamentos da legitimidade do poder intelectual 33
ASSISTÊNCIA EOrrOíUAl As representações do fen ômeno pol ítico 42
í SH Maia Laudo
O antiliberalismo c a “ ideologia de Estado i p
43
PREPARAÇÃ O DOS ORIGINAIS
Maria Teresa GaJlufzi Brito
A ambivalê ncia realista 46
À ambivalê ncia em rela çã o ao fen ô meno pol í tico 49
PROJETO GRÂ UOO (MIOLO ) ; Da teoria ao engajamento pol í tico 57
Milton Taiceda
COMPOSIÇÃ O E PAGINA ÇÃO EM VIDEO
A coincid ê ncia entre os intelectuais e certas elites civis
ÀfLsteu Escobar e militares 60
Wander Camargo Silva O regime autorit á rio e o reconhecimento da fun ção
CAPA dos intelectuais 66
Etrorc Bõttini Os tipos de engajamento político 74
2. A gera çã o dos anos 1954 64
*
97
O nacionalismo cm todos os seus estados 107
ISBN 85 08 03574 8 O ISEB 107
Ern torno do Partido Comunista 141
A marcha para o povo: os CPCs 152
1990 A marcha para o povo: na esfera de influ ência cat ólica .... 165
I São Paulo e Rio de Janeiro 173
Todos os direitos reservados
Editora Á tica S.A. Conclus ã o . 179
R. Bar ão de Iguape , 110 —
CEP 01507
Tel: ( PABX) 278 -9322 — Caixa Postal 8656
De uma geraçã o a outra: o nascimento de uma cultura
pol ít ica 181
End. telegr á fico “Bomlivro ” — S ào Paulo

SP Opção nacional - popular ou populism © ? 186

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-
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Aquisição;

Preço: } S 3opo
>
Data: / tv, I \ j Pref ácio
3o-l , 445
P 365 £ - P
PARTE II
Os intelectuais, as ciasses sociais
e a democracia
Introdução . .. . . . . . .. 192
3 . O intervalo dc 1964 -68 . Bloqueios estruturais e hegemonia
da esquerda intelectual . 197
Dois polos do debate intelectual: os nacionalistas
cercciro- mundistas da Revista Civilização Brasileira c os A
nacionalista» críticos dc São Paulo 205 \\J
O diagnóstico: bloque LOS estruturais c. regressão pol í tica 222
Debates c questionamentos 230
A burguesia nacional c a estratégia pol í tica dc alian ça Vivcu -se na época do pós- guerra a hora do " engajamen -
de classes 231 to " . Sartre declarava:
Da classe operá ria as massas , novamente 233
A classe média oscilante . . . .. 235 Nã o é . portanto dizendo " n ão sou imis um pequeno- burguês, movimento-
,

Das classes sociais cm formação à crise das represe ma ções mc Imanente no universal" que o intelectual pode st unir aos trabalhadores .
do social 237 É , jimamente ao contrário , pensando: "sou um pequeno- burguês; se , para ten -
Da constatação à ação pol í tica 242 ,
-
tar resolver a mink a contradição alinhei me ao lado das classes oper á ria e cam -
A contestação estudantil c a modernizaçã o universit á ria . .
. 247 ponesa , não deixei por isso de ser um pequeno- burguês" (Sartre , 1972 : 71 ).
I
A vida art ística 250
Conclusão .. . 252
Por outro lado , ele afirmava: O intelectual é algu é m
L £

4 . O parrido intelectual c o processo de abertura ( 1974 - 82 ) 257 que intromete no que não lhe diz respeito" O ^ engajamen -
se .

A redefinição da condição de intelectual 262 to " era , assim a decisão arbitrária de tomar partido contra si
,

As instituições 263 mesmo . Consistia a um só tempo , em articular as classes desti -


,

A ideologia ' profissional" 268 nadas por suas condições a ocupar -se do universal , c cm encar-
As estratégias pol í ticas 281 nar o movimento da história rumo a seu sentido final
Em busca da pol ítica perdida
,
282 I
A noção de engajamento também teve algum sucesso no
A organização polí tica dos intelectuais . 291
Brasil . No final dos anos 50 , a palavra de ordem foi a adesão
A era do intelectual como ator pol í tico 300
Conclusão 309 voluntária dos intelectuais à s causas populares Entretanto , rio .

Rctcré ncins bibliográficas 313 Brasil , Lai imperativo soou smgu ) anuente falso , porque os inte -
lectuais brasileiros não esperaram pelo convite a essa conversão

l
7
6

pessoid paraentrar num corpo a corpo com a hist ó ria f ã h á ,


Neste aspect o , o inteirauai brasileiro ene on era -se na mesma
mui tu tempo haviam -sc colocado a serviço do conhecimento situaçã o que o pol í tico: participa de uma realidade cujos segre -
da " realidade nacional " c da forma ção da sociedade . N ão o dos ele derem
-
.

faziam , de forma alguma para conseguir a sua salva ção indivi -


,
É comum distinguir diversos tipos de intelectuais, Ray
dual e se desvencilhar do seu status " pequeno- burgu ês , visto mond Aron , por exemplo , menciona os escribas, os peritos e
que em sua maioria, eram recrutados nas elites , n ão r e n d o . os letrados ( Aron , 1955 ). Edward Shils , os produtores, os iméis 4
portanto , dificuldade em desprezar tudo o que parecesse pretes e os consumidores ( Shils , 1972 ) . Essas classificações não «

pequeno- burguês. Tampouco agiam assim para atendera algum se aplicam an Brasil . Todos os intelectuais brasileiros mantê m
ditame moral c fazer prevalecer valores de justiça Apenas o la ços com as " ci ê ncias sociais ” : a "sociologia" na década de
faziam porque o intelectual tinha de estar à ah ura da constru - 30 c uma mistura de vxioiggia e economia nos anos 60 e_7() .-
j

çã o da naçã o portador que era da identidade nacional e , alem


,
Pois as "ciências sociais " nada mais são do que o discurso qu ê
d isso detentor do saber relativo Is leis da evolução histórica.
T
o Brasil faz sobre si mesmo c o indicador da posi çã o que o inte-
De maneiras diversas , sucessivas gera ções dc Intelectuais í lettuai ocupa no processo de constituição da naçã o brasileira .
brasileiros invocaram a " realidade nacional" , Ê inteira mente -
Da postura " realista " , deduz se que o intelectual só pode
secund á rio que esta se referisse à c u l t u r a ou ao desenvolvimento ter uma pç jxtrpçao ambivalente da pol í tica . Por um lado . o
econ ó mico , ao inconsciente do povo ou à consci ê ncia das elites . movimento imanente do real n ã o deixa subsistir um verdadeiro
Conca somente o fato de que n ã o havia meios dc duvidar da
sua existê ncia , nem dos princípios imanentes que regem o des -
espaço pol ítico . Se este . todavia existe , d ã a impressão fre
,

quente de ser " artificial ” , “ flutuante" , "divorciado da realida -


-
dobramento das suas sucessivas formas históricas . E dc que n ã o d e " . O intelectual n ã o tarda a posicionar -sc contra a pol í tica
fazia sentido pretender separar o conhecimento da ação. N ã o c suas instituições. Ora aspira a uma organização ap o líri ca da
havia ação que n ã o supusesse o acesso ao Teal " , nem conheci - sociedade , ora a um desenvolvimento económico capaz , por si
só, de criar as estruturas pol í ticas necessá rias, ou ainda a um
mento independente dc uma prá tica que auxiliasse a evolu çã o
a gerar suas virtualidades. Em virias é pocas , os intelectuais bra- processo de acumula ção , do qual as instancias políticas seriam
sileiros n ão deixaram de proclamar seu conhecimento das leis apenas a manifestaçã o c o instrumento . Assim , sempre ressurge
que regem a história e sua inser ção nessa historia . Da í ser supé r - a tentação de uma recusa radical do político . Por outro lado ,
flua a refer ê ncia ao engajamento individual , Ela n ão encontra a coniv ê ncia entre o conhecimento e a a ção significa que nada
lugar num pensamento “ realista do pol ítico . Claude Let on escapa ao plano político , c que a realidade ê , j á dc in ício , total -
o comentou , a propósito tanto de Marx q u a n t o de Maquiavcl . mente política . Seria insuficiente falar de politiza çã o da produ -
Observa cle sobre o primeiro: çã o intelectual , e simplista mencionar a interferência entre
um campo intelectual " c um campo pol ítico". Ainda nesse
"

k nada m seus escritos [ .| mcaniiiiiha à retórica modem ? do cngajamtruOr caso , impõe -sc o " realismo" que preside à politização dos com
c evidente ç ue D realismo c algo diferente de uma. jtitude em lace do red : ele
visa a um processo de rtâlmçso, o devir real do hnmrm , ao seu advento na ceiios eJ,4Qpi;d4mliz.açâ o do pol í rico .

sociedade , tomo homem social (Ltfort , 1978 174 ) A ambival ê ncia emi rela çã o ao pol í tico , por ma is funda-
mental que seja , n ão deixa * poré m , de ser teórica . Corn efeito ,
Da mesma forma , a propósito do segundo: os intelectuais brasileiros se entregam à a çã o pol í tica sem
A açãn inspirada cm um conhecimento exato dos fatos n ã o pode | . ] , qual - nenhuma hesitação e tomo se tivessem qualifica ção especial
quer que « ja ú seu objetivo particular , transformar os termos a que st refere: para faze - lo . Em muitas ocasi õ es eles se cornam protagonistas
,

pode apeâís administradas de modo a assegurar o scu surest ; mas . ao faze do. -
pol í ticos centrais. Além disso, arrogam se uma competê ncia
vubmcKSfct a uma ricccssidade , na qw\ é pcetiso reconhecer a estrutura da rea - particular para assumir a responsabilidade pela dimensão ma is
lidade libid . I . pol ítica do fenômeno pol í tico: a ideologia . Na " realidade bra-

i
« 9

si leira , mats uma vez , encontram boas raz õ es , tantas quantas que pretendiam falar cm nome da na ção era convencer de que
queiram , para justificar a importâ ncia de sua intervenção. já existia , subjacente. Tudo servia para provado: as manei -
.
esta
V Primeiro, porque essa realidade oferece o espet á culo de ras dc ser , a cultura o povo , o desenvolvimento das forç as pro-
,

um povo ignorante de seu desuno , classes sociais ainda em for dutivas , Contudo , n ão há melhor modo de assegurar -se desse
ma ção e abaixo de sua missã o valendo isto tanto para a bur - fato do que inventar micos unificadores" um após outro,

"

guesia como para os setores populares . assim como desameu - tarda facilitada pelo lato de que a precariedade atribuída às
1ações recorrentes nas estruturas sociais. Enraizados em seu classes e , de modo geral , aos atores sociais deixa o campo livre
tempo , nem por isso os intelectuais deixam de ter o privilegio ã imagina çã o . Nada c imposs ível : nem suscitar um mito das
de se situarem , gra ças ao seu conhecimento , à frente dos seus origens invocando os í ndios tupi , nem enunciar um mito dc
contemporâ neos . Para canto , se n ã o dispunham do_ saber sobre chegada celebrando a fusão entre o Povo e a Mação, nem pro-
a l ó gica do real , sempre tinham o recurso de voltar os olhos por um mito de transição sugerindo que o desenvolvimento
para os pa íses desenvolvidos . Constitu íam , assim , uma camada ‘
econó mico, a consci ê ncia de classe e o nacionalismo caminham
social sem v í nculos nu acepção de Mannheim : m ú ltiplos
'
. no mesmo passo.
la ços subsistem , a cada momento , com os ma is diversos grupos Enfim , a constatação da defasagem recorrente entre o
sociais, começando pelas vá rias elites , c esses laços são recursos social e o politico n ã o c de molde a desencorajar os intelectuais.
que lhes permitem aumentar a sua influê ncia , Simukanca - Se c verdade que no Brasil , como no restante da America Latina ,
menre , poré m , sen cem -sc livres de toda a heran ça do passado os agentes surgem definindo -se sobretudo no plano polí tico ,
e de iodo o peso do presente , e sabem para onde devem ir . os intelectuais n ão precisam renunciar a nada para atender a
N ão ê por acaso que professam sem cessar a urgê ncia dc um essa condição. A ideologia lhes permite , alé m disso , ser elite
"
projeto ' nacional . Desse modo , são os unicost ao lado de çer - quando necessá rio , ou povo quando conveniente Gradas ao .

iD5 politicos exception ais, a se subtraírem à imperfeiçã o r ao v hiato entre o social e o político conseguem ainda se erigir em
^
atraso e , consequent cm rnte , a formar uma camada social com
voca çã o para conduzir a na çã o ao encontro de s .i mesma , 5
mediadores indispens á veis, substituindo as classes visto que ,
melhor do que elas mesmas , onh écem os seus interesses pro-

Em seguida , o pressuposto realista nunca c mais que um
desvio para liberar a inventividade ideol ó gica Proclamar que .
fundos — -
e colocando se na posição do Poder , pois , canto
quanto este , se projetam acima do social ,
o real sc constrói por si mesmo é uma maneira de respaldar a Muitas das afirmações anteriores se aplicariam aos intdec *

representa ção que dele se faz com um lastro de verdade e eficá - tuais de outros pa íses da America Latina , mas somente at é o
cia . Desde os pensadores de 1930 , que delinearam cm detalhes ponro em que se menciona o Estado . .\ o século XIX e in ício
o esquema da boa organiza çã o social , at é os dc 1955 , que ima- do século XX , o Brasil Lai vez fosse uma nação em forma ção ,
ginaram o desenvolvimento correto , todos se achavam igual - mas possu ía , pelo menos , um Estado. Raros foram os momen -
mente persuadidos de que expressavam apenas o que e , de fato , tos em que os intelectuais brasileiros puderam duvidar disso,
o sot ia 1 e o que é, dc faro , o desenvolvi memo estavam eon - mas quando tal ocorria , imaginavam -se respons á veis pela conso -
venndos de que as ideias comandam dirctamenre o devir histó- lidação do Estado .
rico . Nenhuma ton tradição entre essas duas certezas. Se abnu Se eles se colocam com tania-frequentia acima da socie .. -
caminho ã ideologia c porque esta brota sempre da rei usa em dade cpqrquc sc identificam com o Estado ou se apresentam
,
admit jt que a representarão introduz , por si só , uma indeter- como contra - Estado. A força do Estado não os leva , absoluta -
minação no social . No caso , a prioridade para os intelectuais mente , a se sem irem estranhos diante dos “ negócios ” , como
"

Ver Ji advur íni ias de Mannheim


^ mirra as imrrjjreiajçõt!: erróneas da expicMâo Segundo a «qJleasáb de À bin Touraine , numa entrevísts cm Buenos Aires snbre os
'i ls«K Itrn c- umpriimissns' i Mannheim. 195G ) l í itrlspiTicaii . sn 198*1
0 11

dizia Tocqurvillc a respeito dos homens de letras* ' freme ao O fato de que atualrnetitt todos prestem homenagens a demo-

Antigo Regime ; e menos ainda , a se suporem excluídos da sua


, .
cracia reconquistada n ão nos deve fazer esquecer que a maior
própria sociedade como a intelligentsia russa Sem dúvida , 0 V parte lutou peja ampliação dos espaç os democrá ticos sem por
poder do Estado os incita ás veies , como pensava Tocqueville , isso aderir â “ democracia formal " ; que muitos aprenderam a
a "saborear as teorias gerai.s e abstratas em mat éria de gover - democracia tendo , sobretudo , de se resignar a estratégias de
no . De resto , o Estado os acolhe , em geral , bem demais para
"
racionalidade limitada diante de um regime q u e st- sustentava
que se recusem a adaptar essas teorias ao ritmo das conjunturas . por meio da multiplicação das incertezas ; e que a adesã o demo -
Nem o Estado Novo de Getúlio Vargas , nem mesmo o Estado crática sc acompanha de concepções profundamente contradit ó -
autorit á rio dos militares deixaram de tentar coop cá dos ou , cm í rias da instituição democrática
todo caso . de levá - los em conca E mais ainda : cm rodas as épo
. Afinal de tontas, n ã o for do poder do Estado que os inte-
cas , ou quase os governantes pareceram querer sc apropriar
,
lectuais extraí ram seu próprio poder ?
das represent ações do fenômeno politico propostas pelos inte -
lectuais . c estes com frequ ência , estiveram prontos a inspirar
,
Consideramos desnecessário acender i regra que consiste ,

se nas representaçõ es professadas pelo Estado . nos escudos des.se gé nero , cm propor uma " definição" de inte -

A própria organização dos intelectuais est á constantemente lectual Parece - nos que esse exercício c inócuo , salvo se a defi
. -

articulada ao Estado . Neste aspecto , o Estado Novo marcou ni ção j á comportar uma referencia à natureza do campo intelec -
uma importante mudanç a . O corporativismo por cie criado apli - tual c às formas de constituição do pol í tico , isto é , se já incluir
cou - se à intelectualidade: as profissões foram reconhecidas

a problem á tica do reconhecimento social do estatuto dos inte-
"

e receberam urn estatuto oficial . A partir dai . os intelectuais lectuais r dt sua produção numa sociedade r num momento
foram dotados de identidades e direitos específicos. Ao fim dados. O que redunda em considerar , como faz o senso comum ,
do Estado Novo , evitaram questioná - los. No devido momento , que intelectual é aquele que sc identifica e é identificado pelos
fizeram deles a base dc uma “ profissionalização no sentido "
outros como tal 0 leitor constatará que este trabalho abre
.

moderno , e a utilizaram para resistir ao regime militar , em amplo espaço aqueles já reconhecidos por seu próprio nome .
nome da competê ncia e dos direitos profissionais . Reencontrada mas també m faz referência ami úde aos an ó nimos que se sentem
a democracia , estavam pronto® a pôr em açã o um corporativismo participantes das funções hist ó ricas " dos intelectuais .

n ão menos moderno . O que vale para as profissões , aplica -se Em contrapartida , c necessá rio indicar os limites de nossa
també m á s instituições intelectuais e às funções art ísticas ; esta - pesquisa que n ã o correspondem a nenhuma justificativa teó-
,

vam encerradas em múltiplas redes que convergiam para o Estado , rica , mas antes exprimem o receio dc nos perdermos no cami -
Apesar desses incont á veis v í nculos com o Estado c , fre * nho , caso pretendêssemos abanar dom í nios excessivos; sobre -
quentemente , da deferênda manifestada a sou respeito , serão 1
tudo , são limites que traduzem a nossa ignorância.
os intelectuais capazes de militar a favor da democracia ? Para Dois deles são evidentes Primeiro , muito poucas vezes men -
.

ISSO , é preciso que eles n ão se contentem em intervir pol í tica - cionamos a criação artística : literatura , cinema , pintura . No
mente mas reconheçam a dimensão pró pria ao plano pol í tico entanto os que se dedicam a cia são . no Brasil , intelectuais que
,

V: necessá rio ainda que n ão confundam os mecanismos democrá - associam infimamente a sua ô bfa a preocupação de se colocar a
ticos com o liberalismo oligarquia ) E c essential também que
,
serviço da construção política do pa ís A proximidade entre os ter-
.
nao vejam na democracia um m é todo para se apropriar do mos cultura " c ' ’ pol ítica ' , tanto rios anos sO quanto nos anos

Estado . N ão h á dúvida que existe uma tradição liberal no Bra - 50 , está a í para demonstrá-lo. Na verdade , analisamos em espe -
s i l , concorrente ou complementar à tradi çã o autoritária . Entre - cial a trajetória pol ítica dos intelectuais que se vinculam á ’ socio-
'

ta mo , é provável que os intelectuais em sua maioria tenham


, , logia , o que . pelas razões que acabamos de citar , é um critério
"

MTHIDO pouca atraçã o pela primeira , c munas vezes tenham bem pouco restritivo . Todavia , para o per í odo mais recente , daí
> ido motivados pela vontade dc organizar a sociedade pelo alto . resulta a delimitação dc um terreno cada vez mais estreito .

I
12

Damos a entender també m que mencionamos os intelec


tuais do Brasil como um todo . Na realidade ., cracamos quase
-
exdusivamentc dos paulistas , cariocas e mineiros ; e n ão cita - I
mos os intelectuais de outras regiões exceto quando instalados
cm São Paulo , Rio dc Janeiro ou Belo Horizonte . Assim , esta -
mos conscientes de que nosso estudo é incompleto , n ão só por -
que os intelectuais de Salvador , Recife ou João Pessoa são, com
frequ ê ncia , pelo menos tão importantes quanto os demais,
como também porque teria sido muito instrutivo comparar as
-
relações com a vida pol í tica na região centro sul c outras , como 1
fizemos no caso do Rio dc janeiro e São Paulo , cidades t ão pró-
ximas e sem duvida t ão distantes. Nossa ú nica desculpa é que ,
.

desse modo , n ão fizemos mais que acompanhar a maioria dos


autores brasileiros.
Gostaríamos de frisar que esse trabalho se deve à amizade
e âs obras de muitos sociólogos brasileiros , cujas refer ê ncias o
leitor encontrar á na bibliografia. Desejamos exprimir nossa
d ívida c reconhecimento a Aspásia Camargo , Alzira Alves de
PARTE I
Abreu e Lucia Lippi de Oliveira , do CPDGC; a Fernando Hen -
rique Cardoso e aos membros do CEBRAP ; a Francisco Wef -

Os intelectuais,
íbrt , R égis Castro de Andrade e aos membros do CEDEC ; a
Azis Simão , Sé rgio Miceli , Bernardo Sorj , Carlos Guilherme
Mota , Leôncio Martins Rodrigues, Irene Cardoso e a muitos
outros. Agradecemos também a Má rio Carclli , Sônia Marques
.

e Sílvia S í gal , por seus coment á rios sobre o manuscrito . o povo e a nação

y\
t
15

tarefa que cabe às d ires . Dela os intelectuais têm ainda mais


rnotivos para participar , na medida em que constitui um fato
indissoluvelmente cultural c político: forjar um povo també m
c tra çar uma tulrura capaz de assegurar a sua unidade.
Introdução H verdade que nem todos os intelectuais da época parti
lham das mesmas concepções políticas. Muitos simpatizam com
-
os diversos movimentos autorit á rios surgidos após í yjO , ou
mais tarde aderem ao Estado Novo instaurado em 1937 . Outros
\ mant êm -sc distantes dessa quest ão. Em sua grande maioria^ ,

> contudo , mostram - se de acordo quanto à rejeição da democra -


cia representativa e ao fortalecimento das fun ções do Estado.
Acatam também a prioridade do imperativo nacional e aderem ,
explicita mente ou n ão . a uma visão hierá rquica da ordem social .

Assim , apesar de suas discordâ ncias , convergem xta reivindica


ção de um status de elite dirigente , cm defesa da ideia de que
n ão h ã outro caminho parado progresso sen ão o que consiste
cm agir dc cima e dar forma ” à sociedade 1 .
” '

-
Jã os intelectuais dos anos 54 64 situam sua intervenção
sob uma ótica diversa Ap árentemenfe , n ã o põem em d ú vida
.
)V -
que o povo já esteja constitu ído, e o vècrn mesmo como a ver-
dadeira garantia unidade racional : povo e na çã o ir ,

Com um intervalo de trinta anos . duas gerações dc inte- momento , são indissociá veis . Nã o > e trata mats de assegurar a
lectuais brasileiros manifestaram a convicção dc que lhes com - r
coesão interna da na ção mas de defender seus interesses das
amea ças externas ligadas ao imperialismo . Em consequ ê ncia
i
-
petia uma responsabilidade essencial na constru ção da na ção .
Influenciando opiniões e governantes, ambas atingiram uma- do r á pido desenvolvimento econ ómico , o Brasil estava cm vias
evid ê ncia social extraordiná ria e contribuíram efetivamente de se tornar uma sociedade dc classes . Naquele momento ,
para impor novas representações do pol í tico . No entanto , tudo porem , a burguesia nacional e as classes populares se empe - rr
nham em articular uma frente comum para permitir , apesar
-
o mais parecia contrapô las.
do imperialismo c dos segmentos arcaicos das camadas abasta -
-
Os intelectuais dos anos 25 40 mos eram - se preocupados
das brasileiras, a transição para uma sociedade democratico bur - - oV
sobretudo com o problema da identidade nacional e das insti - I
guesa* Os imcleauais |ã n ãcTprecisam reivindicar uma posição
"

tuições . Na sua perspective , j á existia uma identidade nacional


dc elite : sua legitimidade decorre justamente de se fazerem
latente , confirmada pelas maneiras de ser , pelas solidariedades inté rpretes das massas populares. Conservam , no entanto, um
profundas c pelo folclore . Isto n ão bastava , poré m , para que papel pol í tico insubstituível: Je um lado , t ê m a miss ão dc aju - J
se pudesse considerar o povo brasileiro politicamente consti - dar o povo a tomar consci ê ncia de sua vocação revolucioná ria ’
VY tu ído . Apenas instituições adaptadas à “ realidade " permitiriam
que se alcan ç asse esse n ível. Convinha , portanto, eliminar as
-
de outro , cabe lhes demonstrar , enquanto ideólogos , que o
instituições da Repú blica que. embora professando um libera -
i desenvolvimento econ ó mico, a emancipação das classes popula
res c a independ ê ncia nacional sã o _tr ê s aspectos dc um mesmo
-
lismo inspirado na ilusã o de atingir a modernidade por imita- processo dc libertação ou seja , de um mesmo " projeto ” Não
,

ção dc modelos estrangeiros , opunham obstáculos à afirmação


nacional . Organizar a naç ao , esta e a tarefa urgente , uma
"
A exprescao J ,
‘ hf -
forma" aparece espedaJmcmc cm Lefon l .rT TL ll)8 l |

*
16 17

se trata mais de uma simples mudança vinda de uma : a


" "
ram sobre os acontecimentos c as mudan ças pol íticas , nem as
revolu ção que preconizam passa peia ação das classes populares. estrat é gias que desenvolveram para se impor enquanto catego-
E mass, se os seus antecessores foram sensíveis âs doutrinas auto - ria social específica c elite capaz de se comunicar a partir da
rit á rias da Europa da d écada dr sO , eles tendem agora a consi - ótica do pró prio poder .
derar o marxismo como o " horizonte intransponivel " da é poca . O propósito desse trabalho c limitado. Pretendemos esta-
Em fins dos anos 50 , uma certa vuIgara marxista difundia -se
bem al é m dos setores localizados na esfera de influê ncia do
belecer como essas duas gerações , de opções políticas tão diver
gentes , puderam scr solidárias na constru ção de uma cultura
-^

Partido Comunista ; ela comanda a socialização pol ítica e cultu - pol í tica, peffla. qual se responsabilizaram e dc onde derivaram a
ral de grande pane daqueles que se identificam com as cama- sua própria legitimidade . N ão se trata de negar a fu puí ra ocor -
das intelectuais . Veremos que essa tend ê ncia persiste após o rida entre 1945 e £950, quando o conservadorismo autorit á rio
golpe de 1964 , o que n ão implica um consenso sem brechas deixou de ser hegemó nico , e o discurso da revolu ção social ,
— seriam numerosos os desacordos quanto às t á ticas t concep - que culmina a partir dc I 960 , começou a tomar forma . Essa
ções da revolução. ruptura , porém , n ã o significa esquecimento nem anula ção.
-
Esta introdução é intencional mente sumaria ; limita se a Em 1945 houve , certamcmc , intelectuais querendo apagar todos
Lima breve alusã o à diversidade de correntes que m atearam essas os traços do arcabouço corpora ti vista l armado a partir de 1930.
duas gera ções. Deixa de lado a exist ência de uma terceira: a e reativaf as tradi çõ es liberais ; mas constitu í ram uma minoria .
gera ção que surgiu cm 1945 , no momento do retorno ã demo - Foram mais numerosos os que escavam dispostos a reconhecei
cracia . Muitos de seus integrantes terão , no entanto , um prest í- que o regime no poder durance os anos 30-45 teve , pelo menos ,
gio consider á vel , sobretudo nos meios universit á rios , e lurar ã o o papel de fortalecer o Estado nacional e a pró pria na çã o.
pelas transformações sociais . Parece - nos , contudo , que esta gera-
çã o manifestou menor coesão interna que as outras duas e n ã o
-
Aliando se a Gcr ú lio Vargas cm 1945 ., durance a campanha
‘ ’ qucronista ' ' \ os comunistas emprestaram uma colaboração
obrrvr a mesma evid ê ncia social . Tanto em 1930 corno em decisiva a essa reavaliação. í nversameme , a passagem de anti -
I 960 , a mulupliuda.de de tend ê ncias não impediu a formação gos defensores dos esquemas autoritá rios , inclusive antigos inte -
de representaçõ es do fen ó meno pol í tico fecundas o suficiente
para criar uma esp écie de sentido comum e definir os objetivos
gral istas , para orientações mais progressistas foram recruta -
dos entre des alguns dos mais importantes membros do JSEB
— ,

dos debates intelectuais.


Não temos a inten ção dc abordar os detalhes das corren -
— atesta que suas preferê ncias anteriores não nasciam , necessa -
riamente. do simples amor pela ordem . Esses tneaminhamen -
tes que atravessam as duas gera çõ es , r menos ainda as min ú - tos c mudanç as de posição deixam entrever certas tommu í da -
cias dos engajamentos individuais . Quanto à d écada de 30 , exis - des sub)acene cs essenciais . A noção dc cultura pol ítica desnna -
tem numerosos estudos a esse respeito , aos quais remeteremos \ se a dar conta do fen ômeno ; significa , para nós , aderir a uma
o leitor . Quanto aos anos 34-64 . dispomos també m de vá rios
,

mesma concepção dc iorrnaçào do social . Desse ponto dc vista .


-
,
escudos que focalizam instituiçõ es c movimentos Intelectuais implica que tende nuas diversas , num primeiro momento con
determinados: o 15EB ( Instituto Superior de Estudos Brasilei - tradit órias, possam surgir de uma mesma matriz geral ; sup õe
ros ) , o MER ( Movimento dc Educaçã o de Rase ) , os CP Cs ( Cen - també m a difusão de um significado comum ; e , enfim , refere -
tros Populares de Cultura ), ou ainda o conjunto da ideologia se a formas concretas dc sociabilidade e comunica ção. À cul -
populista , os quais també m teremos oponunidade de mencio - tura pol ítica n ão diz respeito, portanto , ao conjunto dos mem -
nar . Muitas dessas pesquisas , poré m , limitam -se a uma bistort a * t bros da sociedade, mas é antes constitutiva da identidade de
das ide í as , dc abordagem relativa men te clássica . Nem sempre um grupo. E precisamente essa capacidade de duas gerações
chegam a explicitar a influencia real que os intelectuais exerce-

-
à
Mtf íilTieiltQ ‘ quetemista movimento dos que queriam a reelei ção dc GCTUI í O
Ver o Li l ;i • irada*, nas pacing w umrçs
^ VAIGAS
M1
.
18

de intelectuais dc suscitar c promover tal culrura , c assim pro - í


mover també m sua própria identidade c influencia * que exami -
naremos nesse estudo. A cultura pol ítica apresenta m ú ltiplos
aspectos , dos quais considerarcmõiTtrês.
"

O primeiro relaciona -se à maneira de definir a posição


socialdos intelectuais. Os critérios de classe ou de estratificação A geração dos anos
Iodai mos tram - sc insuficientes para a analise . Convém conside -
rar o lugar que os intelectuais atribuem a si próprios , e àqueles 1920-40
que lhes reconhecem o poder . Durante os dois per íodos , consta -
tamos que , assumindo uma voca ção nacional , os intelectuais
conseguiram scr reconhecidos como elite dirigente , desfrutando
do privilégio de situar -se , como o Estado , acima do social .
O segundo aspecto diz respeito às representações do fenô -
s meno político . Entre 1930 e 1945 , alteraram -se muitos dos ele-
mentos que determinam essas representações. Entretanto , a
Sr*

constante desconfian ç a diante dos mecanismos da democracia


representativa sc traduziu na manutenção do essencial: a busca7

l
'
dentro do real , de urna unidade anterior a todos os processos
dc instituição do social e que pudesse escorar as formas de uni
dade da sociedade pol ítica.
-
V O terceiro relaciona -se às articulações entre o campo
intelectual e a esfera política . Uma vez que a atividade intelec- A posição social dos intelectuais
tual é orientada pela responsabilidade assumida diante do impe-
rativo nacional , em que medida poderiam ambas ser dissocia -
Em uma obra publicada cm 1979 , Intelectuais e classe
das? Ou , mais exatamente : seria ainda possível falar num campo
intelectual fundado numa l ógica interna de funcionamento ? dirigente no Brasil: 1920 - 1945 \ o sociólogo Sérgio Miceli analisa
A escolha desses tr ês temas n ão é fortuita . Nosso obje - as transforma ções que afetaram a condição dos escritores naquele
tivo também c compreender as estrat égias que os intelectuais período. Freqiientemente originários de famílias oligárquii
ir ã o acionar depois de 1964 U diante do regime autorit á rio . em decadê ncia * confrontados pela rarefação das carreiras tradi -
Elas só serão inteligí veis na medida em que soubermos a par- cionais , expostos à concorr ê ncia provocada pela inflação de
tir de qual angulo estavam acostumados a falar ; que visõ es diplomas conferidos com as diversas faculdades livres rec é m -
do político apresentavam para justificar suas interven ções con - criadas, eles foram ameaçados, segundo Miceli , primeiramente
cretas; c dc que concepções da política intelectual se considera - pelo risco de perda de status . Devido à amplia ção do mercado
vam portadores . de bens culturais , associada ao desenvolvimento econ ómico dc
certas regiões * em especial São Paulo * foram levados ent ão a
renunciar ao antigo estilo de vida das camadas cultas, passando
a reconhecer a necessidade dc uma “ profissionaliza ção " e , ao

* Ver tanibéitt Miceli . in Universidade Federal do Rio Grande do Sul .. Iy80 , Stmpótio
sobre J Revolução dc 30. Porto Alegre , Erus
II
20 21

mesmo tempo , a participar dos dr bares politicos do momento . ló gicay . Essas variá veis remetem a l ógicas cuja coesão não pode
Com o fortalecimento do Estado , ocorrido após 1930 . teriam
sucumbido por fim à sedu çã o dos empregos p ú blicos que lhes
ser pressuposta . Se h á um interesse , este sc constitui na interse
çã o delas.
-
foram oferecidos . Ao se tomarem defensores de um poder forte , Por outro lado, os escritores mobilizaram recursos que não
estariam manifestando .seu desejo de ampliar o pró prio acesso se limitavam à sua proximidade social com as elites: era muito
a essas carreiras c , simultaneamente , sua depend ê ncia diante importante també m o dom í nio de um saber socialmcntc valori -
das autoridades p ú blicas . Portanto , as opiniões ideológicas q u e zado , Nos anos 20 « eles reivindicavam uma ci ência do social:
professavam seriam , no essencial, apenas o produto de uma poderia tratar - se de uma artimanha para serem ouvidos pelos
governantes , mas uma grande pane das dites achava - sc obse-
estrat é gia para preservar suas posi ções rias dites dirigentes .
dada pela cren ça de que esta ciê ncia poderia fundamentar uma
Quanto aos pensadores expliritamentc autorit á rios , Sé rgio
administração cient ífica dos homens c da natureza . Daí o fato
Miceii assim resume suas conclusões: de que as estrat égias dos intelectuais só podiam ser entendidas
Eram , lia verdade , herdeiros que puderam nrai partido de uma condap» de
-
cm relação aõ papel arfiTã ufdo por out tos setores ao conheci
mento científico do real ,
"
-
forçai emcnwnenre favorável â produção dt obras rujo? red amos reformistas
Da mesma forma , as convicções políticas n ão foram mera -
coincidiam com os interesses de autopreservaçao fração dc classe a que prr -
mente ditadas pelas conveniê ncias de acesso aos empregos ,
i ç noam ( Wkdi , 1979 167)-
como também a circunstâ ncia de serem herdeiros sem heran ças
não basta para explicar por que esses intelectuais se sentiam
-
O nacionalismo dc que eram porta vozes não aparece sen ão invesridos _cte uma missão pojíiica . Para compreender este fenô -
corno uma maneira suplementar dc obrer o reconhecimento
do Estado ,
meno, é preciso considerar o modo como interpretaram politi -
camente as suas vicissitudes. Estavam , acima de tudo , desiludi -
O fundamentai consiste justam ente no laço estabelecido dos com a Rep ú blica , n ão por ela cer arruinado a influ ê ncia
pelo autor entre a posição individual de origem e as estrat é gias das oligarquias , mas , ao contrá rio , por ter permitido que essa
pelas quais recorriam ao Estado . Este raciocínio provoca diver - influ ê ncia sc prolongasse indefinida men te no quadro das tran -
sas indaga ções , como toda sociologia dos intelectuais que pre- sa ções regionais. Aspirando â organiza çã o da naçã o pclõ podcE
"

.
tenda estudar as orientações destes a partir dos “ interesses" reagiram contra a ' oligarquização ' das instituições . E sua poli
1

-
que possuem. ria ação n ão foi um pretexto para promover inieresises pr óprios ,
A noção de interesse é . nesse casot singula rm ente ambí- mas , antes de tudo , expressava sua conversão à a ção pol ítica .
gua . Re fere - se , pelo menos a tr ês vari á veis diferentes; o fato
;
Portanto , teria sido o processo de mobilidade descendente
de pertencer a um determinado grupo social dc origem ( a oli - de alguns deles de fato tão determinante ? Ou caberia antes res-
1

garquia decadente ) ; a identificação com umã cat_egor!a_sqçial saltar a mobilidade ascendente coletiva de que sc beneficiaram
particular ( os escritores); e a inser ção no aparelho do Estado esses intelectuais? Entre o comportamento defensivo e as estra -
t é gias ofensivas, n ã o seriam as ú ltimas muito mais reveladoras
( como membros da administra çã o ) . A primeira é individual e ,
de resto , a posição dentro da fam ília conta tanto quanto a posi
ção da fam í lia . A transição no sentido de comportamentos colc-
-
A cbscrvaçá o foi feiti por Ant ónio Câ ndido no pírfátJO do livro de Miveti . Elf cita
-
IIVOS apoia seT sobretudo , num efeito de agregaçã o . A segunda u exemplo de CaiJc^ Drummond de Andrade , membro do gabinete do ministro Capa -
p.cma , que ‘“ serviu ao Esiado Novo , sem por isso alienai a njcntit parcela de Sua
-
"

variável é coletiva , mas sup õe uma pr é- constituiçã o da catego


'

>
dignidade ou autonomia rncnt â J " {Cindido , 1979 : XJI . Km artigo hxalczando o
mesmo livro de Mtcdi , Cario? Ne bali Couunbu também endrau a idfia de que a
ria de intelectual . A terceira pode ser apenas ocasional e „ em
^irua dn de fumionâ rio pú blico acarretasse , por si sò. posições poJ íticas readonárias
todo caso, n ão implica a completa supressão da autonomia ideo - ^
( Cou rinha . !9Bl : 95- 110).
.
22
23

da aptid ã o desse grupo social para impor à opini ão p ú blica1 gentes observa Antônio Cândido —
" nao funcionavam .

ma visã o do político que constata o esgotamento da Republica ^ poré m , apenas como patronos mas como suced â neos do publi -
Esses comentários preliminares n ã o pretendem eliminar o co ' ( Câ ndido , 1980: 84 ). Isso coincidia com a adesão a uma
uso da noção de interesse ; toda categoria social empenhada cultura decorativa , composta de idéias do momento , c com
numa tarefa de elabora ção ideológica tamb é m pode ser legiti- uma colagem ideológica na qual as teses liberais eram conside -
mamente perccbida como buscando o reconhecimento ou a ravelmente modificadas a fim de que a ação onipresencc do
organizaçã o dos seus pró prios interesses . Contudo , na falta de Estado brasileiro encontrasse as justificativas necessá rias ( No -
um campo cultural aut ó nomo , capaz de produzir uma hierar - -
gueira , 1984: 55 6). Nos anos 20 , essa tradição tornou -se objeto
quia institucionalizada dc posições , esses imeresses só podem de um processo irre mi tente: a nova geração passa a multiplicar
ter uma consistê ncia limitada . N ão se revelam sen ã o após as as prevenções contra os vest ígios de um pensamento de segunda
tentativas de redefinir a quest ã o da legitimidade política. categoria , indiferente às realidades nacionais.
No Brasil dos anos 20 , os projetos dos intelectuais eram A experiência de isolamento iniciou - se logo depois de pro -
inseparáveis da vontade de contribuir para fundamentar o cultu- clamada a Rep ú blica . Muitos escritores aderiram âs campanhas
ral c o pol í tico de uma forma diferente . Tudo estava cm jogo abolicionista e republicana , mas suas desilusões rapidamente
ao mesmo tempo. Instituiçã o alguma escapou à necessidade se equipararam âs suas esperan ças . Enquanto alguns autores
dc assumir uma nova legitimidade ; tanto a Igreja como o Exé r - aceitaram adaptar sua pena ao gosto dos novos- ricos do Rio de
cito , tanto o Estado como os estabelecimentos de ensino supe - Janeiro c âs solicitaçõ es dos propriet á rios dc jornais e editoras
-
rior A interven ção pol ítica dos intelectuais inseriu se em uma beneficiados pela expansão do publico " , outros reagiram , "pas -
sando a uma condição de categoria social isolada disputando
conjuntura de recriação institucional . Em larga medida o mesmo
- .
, ,

sucedeu nos anos 60 . a sobrevivê ncia no concorrido mercado urbano rccé m ativado
e a participação no sistema dc hegemonia no espaço p ú blico
da nova republica (Sevcenko, 1983: 228 ) . Onde haviam con -
'

Uma vocaçáo para elite dirigente tado com um encaminhamento volunt ário no sentido da moder -
niza çã o política , n ão viram sen ão pol í ticos que , no dizer de
À geração dos anos 25 - 40 n ão solicitou a m ão protetora Lima Barreto , manifestavam o para íso das mediocridades \
"

-
do Estado ; ao contr á rio , mostrou se disposta a auxiliá- lo na cons- a “ preferê ncia dos atributos inferiores" , " uma seleçã o natural
-
tru çã o da sociedade em bases jacionais, Participando das fun - invertida e , segundo Euchdes da Cunha , o reino da " imbeci
lidade triunfante " ( ibid . ; 146 - 88 ). Tal ressentimento demons-
ções publica* ou n ã o , manteve uma linguagem que é a do
poder . Ela proclamou , cm alto c bom som , a cua vocação para tra o horror desses intelectuais diante de um regime quc1 sob
dice dirigente . o pretexto dc uma " política de governadores" , se entregara

Essa gera ção esforçou - se , assim. , para romper com duas aos acordos entre as oligarquias regionais , como também diante
experiê ncias que marearam negativamente a história intelectual dc uma ostentação insolente das fortunas A geração dos anos
antecedence : a depend ê ncia perante o Império c o isolamento 20 , confrontada com uma rep ú blica incapaz de constituir a
no in ício do século XX . Em contrapartida , tentou reatai com na çã o , ahmentou - se ainda desse ressentimento . Por é m inspirou -
uma terceira: o prest ígio das elites de Estado, que caratterizara se tamb é m no que fora em Lima Barreto e Euclidcs da
rodo o período do Império. Cunha por exemplo
, uma reação ao isolamento: uma von -
A condi ção dc depend ê ncia , particularrnente durante o
.
tade dc colocar a literatura a serviço da recupera ção da nacio
i

-
reinado de D . Pedro II . consistira em mecenato, patronagem nalidade " e de fazer dela um instrumento de transformação
e honrarias , comportando ( j á naquela é poca ) a outorga de social e política. Essa foi també m a experiência do início do
empregos p ú blicos aos escritores , mas també m seu cnciausura
mento no círculo das elites sociais. " O Estado e os grupos diri -
- 6 Sobre Aí traitslormaçO^í <io ptihlico e i mulriplicaçio dc editoras vcl Micch . 1979
M 25

século: a ambi ção de fazer com que "sc apaguem as fronteiras Em 1914 , Alberto Torres, que fora presidemc do Estado
tradicionais entre o homem dc letras c o borricn dc ação , entre do Rio de Janeiro e membro do Supremo Tribunal , publicou
o escritor profissional e o homem p ú blico e entre o artista c a O problema nacional brasileiro verdadeiro apelo aos intelec -
sua corn unidade " ( ibid . : 232 ). Paradoxalmente , esses autores tuais para que se integrassem , enfim , á nação a que pertenciam ,
isolados e humilhados tornsram -sc porta vozes da nação , como
se estivessem encarregados de lhe dar forma e preparados para
- À o lira parte de uma constatação :

Á vida cerebral do Brasil gira cm torno dc dois returns: o mundo dos inielet -
colocar -se na posiçã o do p o d e r A gera çã o de 1920 considerou - ruaií í t> dos governam rs; tw escrisoTcs. professores , homens dc Jciras c dc ciê n -
se herde ira tamb é m dessa postura: ao reclamar do Estado uma
verdadeira autoridade , tomou como ponto pacifico 0 fato de
cia , os araste no primeiro grupo ; m pol ítico®, os administradores , os Emuo na
rras , no segundo ( Torres . 1933a: 179 )
-
que sua missão era , primeiro , política .
Esse sentido de uma missão a cumprir sò pode ser enten
dido a luz do papel desempenhado pela elite administra uva
- Esses dois mundas levam urna “ vida inteiram eme alheia
â vida da sociedade , [ o que ' se reflete , entretanto , no pcnsa -
durante o Império , 5ch após a Independê ncia , o Brasil escapara me mo de todos , sob as formas do diletantismo c do pessimis-
mo ( ibid , ) . Deixando- se envolver peta sedu ção das mod as
r
dos sobressaltos ocorridos em outros Estados latino - americanos,
P

.
isto sc deveu em grande parte à sua burocracia , Uma burocra - europeias e pelas sí nteses eclé ticas , comprazendo-se cm uma
1

cia dc formaçã o m ú ltipla : composta , de in ício , por magistra - imaginação passiva , dc simples forma , puramente verbal ( ibid.:

.
dos _oiiur d iv da Universidade de Coimbra , integrada , ern
,

seguida , por advogados e outros membros dc profissões liberais


-
219), os intelectuais condenavam se a uma condição med íocre ,
cm lugar de exercer a influência que corresponderia ã sua missão.
— mas sempre influenciados pelas tradições de JPorrueal — ,
essa burocracia contribuiu poderosamente , graças à sua coesão ,
IntelcctLiais. porém c , cm geral homens de leras, estio longe de ocupar a
, ,

posição que Jhe.í compere na sixrcdadc bíasileira , Não tormam , at é hoje , uma
para consolidar os fundamentos do Estado e configurar uma torça social . A inrdcctualidade brasileira levou ao último csuemo essa atitude
ordem nacional . Ela forneceu , assim , o modelo de uma camada
,
de impassibilidade perante a iom pú blica ( ibid , ; 2 ] g ),
social que , sem d ú vida , teve de compor com os interesses eco-
-
Tornar se uma "foiça social" supunha nada menos que


nómicos regionais , mas tirava proveito da diversidade destes
para afirmar um poder que se fundamentava , n ão na represen
ta ti vi dade , mas numa unidade ideol ógica notável ( Carvalho ,
- " traçar a pol í tica ' ’ do país , tomando consciê ncia dc duas tarefas
urgentes do momento : forjar uma consci ência nacional Mpaá
1980). Os intelectuais dos anos 20 , muitos dos quais haviam conceber a sua polí tica [ do Brasil ) , é necessário formai uma com -
recebido uma forma ção jurídica , n ão estavam inovando quando
se erigiram , sem outro mandato a não ser o derivado de suas
ííè ncia nacional ' ( ibid : 97 )
'

.

c promover a organizaçao
nacionaJ " \ Esrc apelo encontrou consider ável ressonâ ncia: nos
1
"

convicções , em responsá veis pela restauraçã o do Estado e da anas seguintes, Alberto Torres seria visto como o precursor Lncon-
Nação. Pretenderam retomar por conta pr ó pria , e sob outras reste dos pensadores autorit á rios de codas as tendenetas .
formas , a fun ção dc uma elite que soube colocar-se a serviço A partir de 1915 , o nacionalismo invadiu a cultura brasi -
do Estado nacional no século XIX . leira . Expandiu - se na literatura a ponto de tornar suspeita
O processo de conversã o dos intelectuais cm agentes qualquer obra que parecesse manter alguma dist â ncia em rela-
pol í ticos assumiu , a partir de 1915 , o car á ter de um movi - çã o a elek í . Deu origem a associa çõ es onde os intelectuais esta -
-
menta global e realizou se sob diversas formas : vaga naciona -
lista . modernização cultural , ressurgimento ca roliç o , impulso s UukíaratB A reedição dc 193*3
an illiberal . í r ííiriL 2 ai;ii í nafinnil
A i| "
urnlo de outra obra de Albert Tories tupi piLmcrm edj
Ção data de 1913 Utilizaremos a segunda êdjçÉò t , pubí iíada cm 1933
,
-
" Gomo piavam ai re-y Lse ^ dc cerros au tares cjadionodistai diante du pemma em
I Uí I * it pasa rumei se o ponto de partida dessa lirerarura “ romeidisse tarn o n úcleo ^
feca Tatu , .. nado por Mrmie : m Lofearo para ridicularizai os «afeeío* c diLirambos ^
da poder executivo' í ibid . : 231 ) . que prol iteravam i custa ds muda n aciorialLsta .

B S C S K / U F f l OÍ
26 27
X
vam on ip rest- rites , e cujo protó tipo foi a Liga de Defesa Nacio- sensibilidade à descoberta pskanaiírica e , simultaneamente ,
nal criada cm Sâo Paulo pelo poeta Olavo Bilac e que logo exploração dos alicerces da nacionalidade brasileira na busca
encontraria adeptos em outras cidades. A Liga se propunha , de suas maneiras de ser , seus falares , sua diversidade é tnica e
entre outras coisas a confiar ao Exé rcito uma fun çã o educa -
,
cultural e das indefinições que est ã o na raiz da sua inventivi -
tiva na formaçã o de ' ‘ adad àos -soldados ( Ba ía Horta , 1985 ),
"

-
dade ( Câ ndido, 1980: 119 21 ; H . B, de Hollands , 1978), Uma
O nacionalismo també m fomentou publicações , como a Revista modernidade ideológica c ir ó nica , portanto, que mescla o cos -
do Brasil, cujo primeiro editorial justificava a sua fundação mopolita c o nacion .il . mas que representa , sobretudo, urna
pelo " desejo, a delibera ção , a vontade firme de constituir opção pelo nacional . E o que expressa pouco mais tarde M ário
um n ú cleo dc propaganda nacionalista ” , acrescentando: de Andrade:
Ainda nlo ions® tuna nação que sc conheça, que sc csrimc, que se baste , ou. Enquanto o brasileiro não sc abrasileirar c UZD selvagem Os Tupis nas suai tabas
com ma is acerco , somos uma nação que ainda n ã o teve D ânimo de rompei sczi - mm mais civilizadas que nõs em nossas casas tie tida Horizonte e Sã o Paulo.
nhapara a iientc numa projeção vigorosa t fulgurante dt aia personalidade ( ci-
tado por W . Martins, 1977).
.
Rot uma simples raz ão: r ão hã uma Civilização. Hâ civilizações|... j N’ós. imi-
tindo ou reperindn a dvilhaçâo fiantesa , ou a alemã , somos um p íunitivos ,
parque estamos ainda na tase cio mimrásfllô (atado em Schvanzman . Bons -
Os artigos nela publicados test cm unham a efervescência
quer Boíiciny e Ribeiro Costa. 1984 : SO),
politico-cultural do Brasil naquele momento er segundo Alceu
Amoroso Lima , o projeto cie criar um Mestilo nacional de lutas Essa modernidade contraditória trouxe também , pelo
[ que ] é hoje urna necessidade da inteligência c não um esfor ço menos potencialmente , o engajamento pol ítico dos que a
do sentimento (citado por W . Martins, 1978a : 79 ).
3
defenderam : de faio , o debate entre o cosmopolitismo e o
O ano de 1922 t l requentem eme citado como símbolo nacionalismo ocuparia o centro da questão polí tica tal como _
da muta ção em curso . Foi o ano cm que sc produziu a primciFa esta se colocaria nos anos seguintes , O Modernismo mostrou
revolta dc jovens oficiais, os famosos ten emes , cujas rebeliões ainda que o plano cultural e o político são indissociá veis ; trans-
e longas jornadas atrav és do pa ís iriam demonstrar a adesão formar uma nação latente em nação -sujeito supõe um empreen -
da nova geraçã o militar ao projeto de reforma do Estado , de dimento em ambos os n í veis. Raros foram os participantes da
tal modo que este pudesse dar forma à na ção . Data daí igual
mente a funda ção do Partido Comunista Brasileiro ( PCB ), que
- Semana de Arte Moderna que n ão se alinharam , logo depois,
como militantes no terreno
.

també m passaria a subscrever as ambições nacionalistas cm conservador ú U O nacionalismo progressista, NACLONA!iatiojamé -


meados do decé nio seguinte , quando sua direção ir ã passar , tico ou nationalising esclarecido . Menottí del Picchia , um dos
de modo progressivo, as m ãos dc militares e membros das clas- que optaram pelo nacionalismo conservador , menciona a
.
ses m édia ou alta (L. M . Rodrigues 1981: 361 -446 ) . Foi ainda
o momento em que o Modernismo irrompeu no dom í nio cultu -
.
Semana dc Arte Moderna como "o primeiro sintoma espiritual
da transmutação de nossa consciência " ( Picchia , 1935: 268 ).
ral , com _ â realização da Semana de Arte Moderna em São
. O movimento católico organizado nessa é poca cm torno
Paulo ; e quando numerosos intelectuais ingressaram na esfera do Centro Dom Vital , c que seria dirigido sucessiva mente por
do catolicismo, Jackson Figueiredo c Alceu Amoroso Lima , seduziu os intelec -
Espé cie de happening produzido por escritores e art iscas , tuais que , sem d ú vida , simpatizavam com um nacionalismo
entre os quais Má rio de Andrade , Oswald de Andrade , Cassia no ddiberadamentc reacioná rio. À partir dc 1916 . certos bispos
.
Ricardo Menoi ú del Picchia. e muitos outros , a Semana de
Arte Moderna foi, sob v á rios aspectos, um momento fundador .
esforçaram -se para arrancar a Igreja de seus costumes dc sub -
missã o diante do Estado . enraizados durante Impé rio e man -
Aspirando a renovar as formas dc expressão da arre brasileira , tidos depois apesar da separa çã o oficial entre ambos estabele -

,

definiu o conte ú do da modernidade cultural: contemporan ci - cida pela Rep ú blica . Quanto aos intelectuais leitores de
dade ao lado das vanguardas europeias tu runs tas e surrealistas , Joseph dc Mars ire Charles
, Maurras . Hcnri Massis , Léon Bloy ,
28 29

Jacques Maritain c outros — sonhavam corn uma contra revolu-


ção cat ólica . Jackson de Figueiredo acreditava que somente u
- Esses breves coment á rios mostram , em todo o caso . que ,
no espa ço de uma d écada , uma nova gera çã o dc intelectuais
religi ão poderia assegurar a base da na çã o : n ão só descobriu e tornou pú blica a sua voca ção nacional , ruas
ainda divisou o lugar que , naquele momento , poderia ocupar
A \ erdade religiosa c i alma mesma da Piima . a base cqá rjtua] da nationalL -
-
dad e , a única foiça que , desde os nossos prim órdios , fet a coesio , a unidade
entre os elementos mais díspares ( errado por Sadcf 1978: 107 ).
dentro da nação. Nesses escritos sobre o presente c o futuro
do Brasil encontra - se , de fato . a questão permanente dos pró-
prios intelectuais , sua posição r sua fun ção. Neles reaparecem
A pró pria cultura devia tornar - se seu ve ículo (Figueiredo , sem cessar os termos intelectuais ' ’ , "intelectualidade ” , * inte
44 i

-
1924 ): Alceu Amoroso Lima transformou - se ern guardião vigi - .
lig ê ncia ” ou intelligentsia Aliás, a palavra ‘ ' inteligê ncia ” ,
lante de uma ordem moral e , apó s 1930 , em incansá vel defen - cm portugu ês, nem sempre se distingue de intelligentsia : mas
^

sor da tutela dalgrejalõbre o ensmo p ú blico. Muitos mem - esta fora de d ú vida que os que a utilizam consideram -se perten -
bros dessa correnre , inclusive Amoroso Lima , ingressariam centes a uma categoria social específica c que esta categoria £ T

depois , de í orrna duradouta ou nao , no movimento integral ista antes de tudoT uma elite dirigente.
de 1933. Para os nacionalistas conservadores e autoritários , por sua
À pressão antiliberal , por sua vez , acompanhou a difusã o vez , o elitismo fundiu - se corn a representação que faziam do
dos diversos nacionalismos. G liberalismo , daí em diante , tam - social. Gustave Le Bon com sua Psicologia das massas marcou
bem seria tido como produto importado , inadapt ã vcl ao solo
brasileiro. Foi ao liberalismo que Alberto Torres atribuiu o fato
- -
presen ça: em 1917 , disputava se a obra nas livrarias ( W . Mar -
tins, 1978a : 104 ) . A rela çã o massas elites jnyadiu o pensam en to .

de que , no Brasil , a política fosse “ de alto a baixo , um meca - pol í tico. Afirma Oliveira Víanna!~
nismo alheio à sociedade , penurbador da sua ordem , comrano
ao seu progresso ” ( Torres , 1933a : 183 ). Num dc seus primei - À realização dr um griodt ideal nunca t obra coletiva da mas ça . mas sim dc
ros livros , publicado em 1922 , Oliveira Vianna , que se tornou uma dite dc um grupo dc ama claisc . que com fit sc identifica que poi <!<
, ,

um dos rnais not á veis teó ricos da organiza ção autorit á ria , assim peleja (citado por Medeiros lsrS : 94 ).
,

m
se expressou : • * os elementos liberais ( .. . ) inspiram -sc em teo
rias e ideias exó ticas c refletem as campanhas polí ticas que agi -
- Azevedo Amaral acreditava que , para o despertar das massas ,
c preciso que vobct das se exerça a ação deflagrtdofa da mtdiigéíida e da von -
tam eni ão o cenário europeu e o americano \ Diz ainda: " En *

tre nós , liberalismo significa praticamentc , e de fato , nada


- tade de dom ínio que só ?c eacontram como dementos do psiquismo das mino-
mais do que caudilhismo local ou provincial ” ( O. Vianna .
rias ( ibid .: 94),
1922 b ) . Em obra posterior , publicada em 1930 , afirma que " a Pl ínio Barreto presta homenagem ao católico Otávio de
rever ê ncia à Democracia ( ... ) n ão pode estar no espí rito dc Fana por ter estabelecido , em Macbtavel e o Brasil, que n ão
qualquer homem com dois dedos dc senso comum ” ( O. Vianna , há outro rem édio para “ os nossos males ” senão “ um esforço
1930 : 17 ) . Nem todos os intelectuais romperam de maneira t ão -
sobre humano para criar uma grande elite de cultura e ci ê ncia ,
gritante com a vertente liberal da historia polí tica brasileira .
Rarosr entretanto , foram os que n ão constataram sua degeneres-
capaz de ir aos poucos dominando , de tal modo que a influê n -
cia sobre a grande massa ir á cada vez se tomando mats l ã cil ” .
cê ncia sob a Republica , o que constttmu um dos temas favori
tos dos ensaios sobre o Brasil r ao longo desse período . Se ,
- Ressalta ainda a urgência de "civilizar por cima , civilizar os
que est ão em estado de compreender ” ( citado por Sadck , 1978:
em sua quase totalidade, os intelectuais mantiveram se cautelo - - 148 " ).
so ? quando a Alian ça Liberal acionou a Revolu ção de 1930 foi
por temerem , dc in ício , que ela representasse apenas uma nova
.
lL A citação dc Barreto foi tx íliída tie um anigo da stçto "Livros Novos . do jorna]
expressão do liberalismo. O Euatfo 4< S . Páuh, dc 2 3 / 9 / I 9 3 I .
30 31
K
O elitismo n ão foi , portanto, apan á gio exclusivo dos nos - As tMsformaçôcs não se operaram pek ação da mentalidade primitiva das
t lgicos dc um Estado todo- poderoso , nem da ordem crist ã .
á multidões c dos seus l íderes , mas pela LrJduència daí ci ências c das artes, filóso-
Àtc os “ liberais " estavam convencidos dc que a Rep ú blica se fos pcsquhadoies. dentistas, engenheiros , arriscas ( ibid . : 25 ) .
mostrara incapaz de formar as elites necessárias a qualquer
moderniza ção . A este respeito , basta consultar a pesquisa sobre
Martins de Almeida afirmou que “ a capacidade governa -
o ensino p ú blico realizada em 1926 por Fernando dc Azevedo, tiva do homem atual depende de conhecimentos especiais , de
encomendada pelo jornal O Estado de S . Paulo: ela declara cultura sociológica * de ideias sistematizadas, de concepções inte -
que "a preparação das dites intelectuais procedeu sempre , e lectuais" ( citados por Sadek , 1978: 87 ), Segundo Câ ndido
cm toda pane , a instrução das massas’ ' ( citado por LR . Car - Mota Filho , " todo homem dc Estado na sociedade moderna é ,
mais ou menos, um sociólogo" ( ibid.: 87 ). J ã M á rio dc Andrade
doso , 1982 i 3 G ), Fernando de Azevedo, urn dos promotores
da futura “ Escola Nova " , foi mais al é m ., enfatizando que toda
.
-
expressou se por meio de um chiste: a sociologia é a arte de
1

salvar rapidamente o Brasil " ( ibid , : 81 ). São maneiras de pro -


democracia repousa , dc fato, na seleção dos melhores ;
clamar que entre o of ício de intelectual e o de governante ex í ste
À democracia consiste praticametice .
, no "governo do povo prio povo " ,
tt í o uma profunda semelhan ça . E i am bem maneiras , pelo menos
o que em ú ltima análise , ê uma ticçãur mas no govern o por ele mentos *‘di reta -
. por parte de certos intelectuais , de declarar diretamente sua
menre " tomados do povo c preparado® pela educaçã o . Nio há salvação para a candid atura a postos dc direção pol ítica .
democracia senã o na caolha e pda escolha de capacidades O problema da edu - .
E dc fato n ão faltaram lan çamentos de candidaturas. Não
cação sobreleva por isso, em alcance social c pol í tico, a rodos os outros proble -
,
pretendemos aludir apenas brevemente ã participação dos inte-
ma ri uma repú blica decidida a entregar seu governo a uma "ariiiocracu dc
^
capacidades ' ( ibid : 49).
lectuais na organiza çã o do regime de 1930 e nos movimentos
— -
r1
.

políticos voltaremos ao assunto mais adiante . Por ora , dese


A criação da Universidade de São Paulo , em 1934 , dois jamos salientar que essa participação foi objeto de lima reivin -
anos após a derrota sofrida pelos pau listas em sua revolta dicação expl ícita. Assim o manifesto com o qual Pl ínio Sal
,
-
armada contra o novo regime , faz parte do programa de gado inaugurou a A ção Integralista Brasileira (AJB ) em 1932
transformação pol í tica mediante a constituição dc novas elites. menciona a necessidade de uma " participação direta dos inte -
F possível que esta visão elitista existisse , em grau maior lectuais no governo da Rep ú blica" ; Ot á vio de Faria , Câ ndido
ou menor em outros pa íses na mesma é poca , mas , prová vel
,

mente , n ã o de forma t ão ampla nem. t ã o estreitam ente ligada


- Mota Filho c Afonso Arinos de Melo Franco apresentaram -se
como mentores intelectuais " dos governantes q Oliveira
i

à concepção da própria pol í tica . No caso brasileiro , essa visão Vianria e Azevedo Amaral , como inspiradores da alta adminis -
elitista implicava n ão só o respeito por uma hierarquia social , tração.
herdada ou adquirida , mas determinava também a rcorização Essas tomadas dc posição exigem vários comentá rios . Em
da pol ítica tomo compet ê ncia : a arte de governar relaciona -se muitos casos , traziam , dc fato , a marca da origem social dos
com o saber cientifico . Também essa afirmaçã o n ão foi privil é
gio dos pensadores autorit á rios , embora estes tenham sido, sem
- intelectuais , como observa Sé rgio Miceli a propósito dc Aze -
vedo Amaral , Afonso Arinos , Otávio de Faria , todos descenden -
d ú vida , os mais explícitos . No dizer de Azevedo Amaral: tes de grandes fam ílias do Impé rio ou ligados â elite adminis
trativa ; o mesmo se aplica a Oliveira Vianna , Gilberto Amado
-
A própria natureza caecciaJ da ação pol ítica é dc ordem tnrekciuaL isto c , e outros , procedentes de fam ílias de grandes propriet ários ( Mi-
exerce -se pelo domí nio da intelig ência de minoria® privilegiadas ieicbralmcnrc
sobie maiorias inrdccndmeme inferiores (atado por Medeiros, 1971: 97 ), -
ce!i , 1979: 166 7 ) , Seu elitismo foi socialmente marcado.
Esses intelectuais , entree a men advogavam sobretudo cm
Segundo Francisco Campos , primeiro Ministro da Educa
ção do regime de 1930 e protagonista eminente da transi çã o
- causa própria . N ã o pretendiam falar cm nome dc nenhuma

para o Estado Novo: J"


Segundo a « pressão de 5 . Mkcb {Micclí, 1979- 1.60 ) .
'
32 33
l
classe soual determinada criticaram a oligarquia e a burguesia ,
, ganização" institucional que , cm larga medida , representava
n ã o mostraram nenhuma simpatia pelos ‘ ‘setores médios ” c o oposto de uma revolu çã o política , uma vez que continha,
-
menos ainda desejaram idcntificar se com eles . E preciso frisar nas entrelinhas , a inten ção de anular a dimensão do pol ítico .
Resta que , como se acreditavam elites dirigentes , quais-

I
que *rus escritos n ão fazem mais que raras referencias às classes
médias e , mesmo assim , em geral , de maneira singularmcnte quer que fossem as suas opiniões sobre o Estado anterior ou
depreciativa , como se estas, representadas por funcion á rios de posterior a 1930 , falavam a partir de uma posi ção hom ó loga á
nível medio c bachar é is , simbolizassem a in é rcia e o servilismo do Estado . Preocupando-sc com a elaboração da cultura brasi -
induzidos pelas estruturas olig á rquiais. O mesmo aconteceu leira , n ão tinham consciê ncia de negligenciar o problema pol í -
com os intelectuais das geraçõ es posteriores: o Brasil n ão é tico: estavam simplesmente convencidos dc que a essê ncia do
como outros países da Am é rica Latina , onde se depositam a.s pol í tico era o processo que conduziria ao advento de uma iden -
esperanças numa modernização baseada na ampliaçã o dos seto - tidade cultural .
res m édios Na melhor das hipó teses , estes sã o vistos com con -
.

descend ê ncia .
Na realidade , os intelectuais se comportaram como os Os fundamentos da legitimidade
tenentes . E certo que estes provinham , com frequ ê ncia , de do poder intelectual
uma origem social relativamente baixa 13, mas n ão se portaram
de modo algum como vanguarda das “ classes medias ' ao Para justificar suas pretensões, era necessá rio ainda que
contrá rio do que . por muito tempo , se afirmou —
nem procu -
raram apoiar - se cm outras classes sociais . Os tenentes també m
os intelectuais pudessem mostrar t í tulos , o que de fato n ã o
lhes faltava . N ão eram títulos obtidos por procedimentos de
pregaram a supremacia dos valores elitistas e nacionais , aspi - habilitação formal , à maneira dos letrados chineses , nem diplo -
rando assim a demonstrar que era possível superar as determi - mas de “ profissionais dos tempos modernos Consistiam
'

na ções particulares e , desse modo , agir exclusivamente em fun - na posse dc um saber sobre o social , reconhecido e valorizado
ção dos interesses da na çã o ( Fausto , 1972 ) . Intelectuais e tenen - por amplos setores da sociedade. Assentavam , simultaneamente ,
tes dveram , assim , uma atitude semelhante : agindo como ava -
- na capacidade de definir o social e dc explicar as condições da
listas da unidade nacional , firmaram sua presença como catego - sua organização. Falamos de “ legitimidade" no sentido dc
ria “ socialmente sem ví nculos" 14 . que os intelectuais retomaram por conta própria concepções
Quanto aos intelectuais , não convé m superestimar o cará - do social j ã presentes em outros grupos sociais e . sobre essa
ter pol ítico de suas atitudes at é as vésperas da Revolução dc base , elaboraram “ o campo do pensá vd ; em outras palavras ,
1930 , Mencionamos ames que . com raras exceções —
constitu í- a problem á tica leg ítima " iBourdieu , 1979: 465 ).
Não existia ainda no Brasil uma tradição universit á ria .

das sobretudo de pensadores mineiros , n ã o se imiscu íram

— —
——
T I O movimento revolucion á rio O motivo n ã o reside apenas no
. Havia escolas superiores sobretudo dc engenharia c facul -
fato de lhes parecer , de in ício , que este anunciasse a um retorno dades especializadas de direito , por exemplo * algumas
ao liberalismo: outra razão foi privilegiarem , como prioridade , das quais aJcamente prestigiadas. Quanto à criação de universi -
a interven çã o no domínio cultural . Sua formação não os prepa - dades, poré m , prevaleciam as reticências . Nos anos 1880 , os
rara para imaginar que uma revolu ção pol ítica pudesse alterar positivistas fizeram uma campanha contra todas as iniciativas
em profundidade a “ realidade nacional " ( L . L . Oliveira , 1980: nessa á rea . temendo que se fornecessem ao Estado os meios
432 ). Antes , os estimulara a se manifestar a favor de uma “ or - de assegurar sua tutela sobre o ensino superior . Apesar dc tudo
isso , em 1920 foi fundada a Universidade do Rio dc Janeiro ,
12
O grande passo , contudo , só seria dado após 1930 , com a cria -
Sobre a rcx ruuunenro dos «tirares , ver José Murilo de Caralho (Carvalho , 1077 :
-
181 253).
* Segundo o conceito de Weber , retomado por K. Mannheim
' 14
-
Ver os estudos de Max Weber sobre a burocracia ( Weber, 1 % 1 : 240 4 ).
34 35
\
çao da Universidade de Sã o Paulo em 1934 e da Universidade positivista nio aparece ai por acaso; uma influencia que n ão
— —
cia
Federal em 1937 , substituindo no Rio de janeiro a Universi- implicava longe disso uma fidelidade estrita à doutrina
y dade do Distrito Federal que a precedera . de Augusto Comte Ali . ás , desde os anos ISSO , o sucesso dessa
Sendo assim , os intelectuais não dispunham de um princí - doutrina se deveu muito menos aos seus disc í pulos ortodoxos
pio de identidade que remetesse a v ínculos institutional. Não — como os agrupados na igreja positivista do Rio de Janeiro
& V A sc situavam em, um cairipó aut ó nomo , com suas hierarquias e
estrat é gias alicerçadas em crit érios relativamente est á veis . Não
— do que aos seus propagandistas ruais livres , que lhe deram
repercussão na Escola Militar c nas escolas dc engenharia , e aos .

atuavam , tampouco, no sentido de consolidar as liberdades e políticos do Rb Grande do Sul , que nela foram buscar inspira *

os direitos tocantes â condiçã o universit á ria . N ã o apresentavam ção l \ E com razão , pois nos anos 20 o positivismo remeda ptin -
reivindicações do tipo " democratiza ção e participação , como
11
cipalmente a ideia dc que , i pol í tica e a ciê ncia est ão associadas :
seus homó logos argentinos a partir do movimento de Có rdoba , a sociologia c a apreensão das “ leis científicas necessá rias' \
ou seus hom ó logos chilenos em consequ ê ncia do movimento que fundamentam qualquer possibilidade de previsão , uma
dc Santiago , O eco das reformas de Có rdoba repercutiu entre vez que , segundo Littr é, “ as previsões são tanto mats seguras
os estudantes do Rio de janeiro , que por sua vez tecla matam quanto mais conhecermos e obedecermos a essas leis " (citado
a “ constituição de uma universidade moderna , laborat ó rio de por Nicolet » 19 S 2 : 206 ). Assim , Azevedo Amaral preconiza “ a
valores morais c mentais , em contato direto com o povo , do investigação positiva do desenvolvimento sociol ógico " ( Aze -
qual est á divorciada h ã longo tempo devido à sua estrutura vedo Amaral , 1930: 17 , citado por Medeiros , 1978: 133 ) c Oli -
medieval e retardarária " . Citando o manifesto dc Có rdoba , veira Vianna declara - se positivista quando aplica os m é todos
denunciam "o direito divino do corpo docente ’ (Portantierro , '
das ci ê ncias naturais às ciê ncias sociais . Em geral , a perspective
1978 : 228 ) . Este texto , por é m , c tardio : dc 1928 .. E sobretudo
mal - enfocado , porque foí redigido num momento cm que a
da "organização social " que orientou muitos desses pensado
-
res situava se dentro da corrente positivista .
-
quest ão consistia cm transformar o ensino superior dc modo Entre os intelectuais autoritá rios, entretanto , esse positi -
que He formasse verdadeiras elites. Na verdade, o intelectual vismo veio mesclado com todas as teorias em voga na Europa
brasileiro apresentava , com u mente três perfis: ode advogado entre as diversas correntes da direita revolucion á ria (Stern-
" "
4

(eram numerosos ós doutrí n ários de tendê ncia autorit á ria com


~
hell, 1978 ). O darwinismo social , o cvolucionisroo dc Spcnccr ,
forma ção jurídica ); o de engenheiro ( frequentemente caractcri- as concepções de Vacher de Lapougc ou dc Gumplowicz , a psi -
zado pelo positivismo t inclinado para uma visão t écnica do cologia das massas de [.ê Bon constituem , tanto quanto o posi -
poder ) J 6 e . é claro , o de homem de cultura . tivismo , a base de seu ciem ifi cismo . Citemos apenas um exem -
Vemos assim que o avan ç o dos intelectuais operou se , - plo: Azevedo Amaral Em Darwin , encontra ele “ a base só lida
.
em larga escala , sob o signo da ciê ncia Assinalamos mais acima \
para uma interpreta ção dos fen ómenos sociais em termos bioló -
as constantes men ções à sociologia , ao mesmo tempo como ciê n - gicos e para a orientação dc uma política verdadciiamcntc cien-
cia do social e cgmo _cíé ncia do governo . Elas est ão oní prêsen - tifica ( Azevedo Amaral 1930: 58 60 , citado por Medeiros , -
tes nas obras dc Alberto Torres e reaparecem també m , scra ces- 1978: 135 ). Pretendendo criar uma " biossociologia c uma
i 11

sar , nos escritos dos intelectuais autoritários, sobretudo dos que


4
bioeconomja " , refere - se à “ eugenia " , isto é:
4

f, n ão pertenciam ao movimento cató lico . É claro que a influ ê n - a aplkaçáo prá tica ,, à vida social , das noções adquiridas pela ciência da gen é rica ,

-
[ que ] deikxuu as questões atinentes ao desenvolvimento sociológico do plano
A hgnr - d -i.i engenheiro aparece , cm nwnciMS obras , como sStnbob da apropriação
, do fatalismo e do empirismo (MnkitDS. 1978: 136).
-
crcmco dennin. a elo feífitóriu brasileiro. " A nossa engenharia. n ÂO icm desiino mais.
'

-
ntibrí e mais ú dl que esra conquista lad úfill de nossa teria " , escreveu Eudtdes 4ia
Cunha que ah ãi ms.riifeitou sua admiração pelo engenheiro milhar Câ ndido Ron
,
-
cenkú , 19BJ * Hl }.
-
dori . o qual LAN çn bu íra para Lniejgiar o fururo icrrir õ rio de Rondôtlil ao Brasil ( 5er Sobre a htsrôna dn positivismo brasileiro , remetemos ,
Ivan Lm.s (Uns , 1 %^ ) c át Crua Cosia ICWIA, i % 7 l
ertLfe imimeras obras , is de
56
37
A propósito das classes sociais, formula a seguinte hipótese:
WT:nuação do caminho Tcpi só se dari pela ausência de imposi ções temá ti -
As classes st cansuiuero segundo os traços peculiares da organização biopsiquica - -
cas , de imperativos ideológicos. 0 arbí trio mrmal n ão pode sobrepor se is fata
do* grupos ongmanamente incorporados úI sociedade , t tuja persist ê ncia c assc’ .
lidades cósmicas , étnicas , sociais ou religiosas (Vtlloso. 1983; 63 )
gurada pela iraõsmissSo heredit ária dos B CSRQC plasma £crmir
dvo ( Azevedo Amaral . 1930. citado por Medeiros. 1978 136). Mas a moda tupi foi bem alem dos setores dc direita .
Aproveitaram , enfim , esses esquemas para devolver aos
Esses empréstimos não sào exclusividade de Azevedo Ama -
.
sentimentos e à afetividade o seu papel na constituição da nação.
ral ; encontram -se ainda mats n ítidos nos escritos de Oliveira
Vianna onde sc traduzem numa mistura dc determinismo,
,
Os cat ólicos c os futuros intcgrali stas foram os mais encarni ça
.
-
dos nessa tarefa dc reabilitação , que deveria assegurar o triunfo
racismo c nacionalismo . sobre o materialismo . Jackson de figueiredo c Alceu Amoroso
Da mesma forma que na " direita revolucion á ria " euro- Lima dedrcam - sc ao elogio do sentimento religioso. O mani -
peia , tal ciemificismo combina -sc com o nacionalismo. Nesse festo verde - amarelo atribui ao elemento tupi "a prodigiosa
aspecto , Georges Sorel foi um dos guias. Deier Azevedo Ama- força c bondade do brasileiro e o seu sentimento dc humanida -
ral extraiu os elementos para um revolutiontsmo ' ' que pro
1
- de" ( ibid . : 60 ) . Menotti dei Picchia faz da "bondade, a gene-
clama " o cará ter descontínuo do progresso social , a fun ção da
vontade na determinação das diretrizes desse progresso c o
rosidade , a capacidade para o trabalho, o espírito de fraternida -
de" as "caracicristicas essenciais " do povo ( Kicchia, 1935:
papel da ilusão m ítica como propulsora das atividades revolucio- 195 ) , Já Cassiano Ricardo enfatiza " a cordialidade " inerente
n árias ( ibid . ; 138 ), ao povo brasileiro. Essa qualidade logo se transformou em este -
' '

Assim , foram in ú meros os intelectuais brasileiros que par - reótipo. Sé rgio Buarque dc Holanda , que n ão pertence ao ,
ticiparam do assalto contra a razão triunfante do Uuminismo campo dos autorit á rios , ir á fazer - lhe uma contribuição , consa -
e os valores universalistas por ela criados. Nas teorizações biosso
ciológicas , colheram diversos argumentos que servem à sua causa .
- grando um capítulo do seu famoso Raízes do Brasil, publicado
cm 1936 , ao " homem cordial ” , cujo " fundo emotivo extre-
Encontraram primeiro como escorar o elitismo. Nesse mamente rico e transbordante" explicaria a preferê ncia pelos
pomo, todos estavam longe de seguir Oliveira Vianna , que sc
empenhou explicitamente , cm Populações meridionais do Bra -
comportamentos afetivos sobre os comportamentos impregna
dos de ritualismo (S. B. de Holanda , 1981 : 167 ) . Para al ém
-
sil, na tarefa de traçar uma genealogia racial da desigualdade dos estereótipos, tratava -se de mostrar a existê ncia dc um ví n -
social , e que opôs la nossa alta classe rural", portadora do ' ca -
' 1
culo social não- pol í tico que une até mesmo dentro da mais
rá ter ariano da classe superior ” , às "camadas plebeias" , corrom - acentuada desigualdade.
pidas pela " profusa mistura dc sangues inferiores" ( ibid ,: Significaria isso que muitos intelectuais brasileiros levaram
-
188 9) * Raros , porémT foram os que n ão aderiram a uma visão as afirma ções da direita revolucioná ria às ultimas consequências ?
da seleção natural das capacidades , que justifica o direito dc
uma minoria a impor sua lei à maioria .
Estavam longe disso , mesmo os que tendiam para o autorita
rismo. Conservaram apenas o que lhes servia para confirmar a
-
Em seguida tiraram partido desses raciocínios para glorifi - sua própria missão .
car a especificidade nacional . Gra ç as às suas ra í zes pró prias , o Tampouco estavam dispostos a fazer muitas concessões
Brasil possui uma identidade que nada tem a invejar dos pa í - ao "poder das massas " . De bom grado reconhecem nelas uma
ses centrais . A exaltação da origem tupi da na çã o esteve em energia potencial , mas para logo acentuar , como faz Azevedo
voga entre autores de todos os matizes. A corrente verde -ama- Amaral , os limites dessa energia :
rela , emana ção direitista do Modernismo, reunindo homens
como Pl í nio Salgado , Cassiano Ricardo, Mcnotti del Picchia Ai massas, embora contendo em si cm estado potencial as enetgias passionals
- todos futuros adeptos do integralismo — , fez dela uma espe
cialidade . Seu manifesto enunciava:
- da sociedade , caraacnzam -sc por unia incida psíquica que as condena a perma -
necerem mdefiflidamtntr em uma posição dc equilíbrio e^ pirirua! está vel , du
qual espontaneamente apenas se afastam momentaneamente sob a influê ncia
39
3H

de e ^ imulos insurer ivos, para Míamaiem a dc rmcdisiamcntr apo? uma sé rie


tie ascikçto dc pequena amplitude e sem eoosequénàa.4 sobre a estruma gctil
o compositor oficial do regime — inspirando- se na m úsica popu -
lar . O romance regional is ca tornou-se um. instrumento de conhe-
da sociedade ( Azevedo Amaral, 1931 * citado por Medeiros . 1978: 94 ) cimento do pa ís , Gilberto Frerre contribuiu para dignificar
codas as formas de praticas populares . Desde o Manifesto regto -
^

JsJão puderam també m avançar demais no sentido das


-
explicações gen érico raciais* Isto significaria , como em Oliveira
Vianna , correr o risco de retornar á s anngas ladainhas sobre as
naíuta de 1926 ., j ã proclama como possuidoras do mesmo valor
codas essas pr á ticas: "Não há um povo quando as suas muJhe -
desvantagens de uma naçã o cujo povo é composto de gente
rrs falta a arce culinária . É uma falta quase t ão grave como a
de todas as procedê ncias , c n ão apenas de tupis e portugueses.
da fé religiosa " ( Manifesto regionulisia de 1926 . 1952: 17 8). -
N ã o deixaram , porém , de levar cm conra essas explicações: esses
Tudo isso converge para a definição da "identidade brasileira " ,
fatores biológico-étnicos seriam indicadores de uma realidade explicitação desse ' " mconscience nacional " de que o povo é
oculta c de leis da evolução que n ão se poderiam ignorai sem portador , dCom.o o povo c inconsciente , é iatallzado (sic ), n ão
í

recair no artificialismo das consecu ções dos intelectuais de for - pode errar " , observa M á rio de Andrade ( citado por Concicr ,
ma ção tradicional c dos liberais , Com maior frequ ê ncia , por ém , 1985: 27 ) , -
Essa tomada dc consci ê ncia das raizes culturais p ão exclu í a
deslocaram a analise dessas teorias para se situar no plano da
cultura .
a intervenção do intelectual no sentido de fazer o povo ingres -
Voltamos , com isso , ãs qualificações reivindicadas pelos sar na era da civilização. Pelo contr á rio: jã mencionamos a senha
"civilizar por cima " , formulada por Ot á vio de Faria . Esta cons -
intelectuais. Tinham uma voca çã o dijigentc porque conseguiam,
,

melhor do que qualquer outra elite , captar e interpretar o_s tituiu a outra venente da constru ção da identidade nacional.
Os intelectuais autorit á rios foram , rnais do que os outros , seus
sinais que demonstravam que já existia uma nação inscrita na à-
adeptos declarados . Em 1929 ., escreve PI í_nlo Salgado que lcabe
!

realidade mesmo que ainda desprovida de expressão cultural


,
ao intelectual efetuar um trabalho de evangelizaçã o", incul -
e política: do implícito, vangloriavam -se dc ptoduzir o explícito.
Por sc tratar primeiramente de cultura , a iniciativa lhes
cando no põvo um sent íTnetitõ de " resist ê ncia nacional " ( ci -
cabia . Esta supunha que se recolhessem os fragmentos esparsos
tado por Vdloso , 1963: 76 ) , Oliveira Vianna foi , neste aspecto ,
ainda rriais brutal , afirmando que no momento bastaria apenas
i
da cultura popular, para dela fazer a base de uma cultura bra - ensinar as massas a " ler , escrever c contar " ( O. Vianna , 1951 ,
sileira . Isto vale para todos os dom ínios: tanto para a literatura ,
que deveria ecoar os diversos estilos e costumes , como també m citado por Medeiros , 1978: 194 ) , Vimos , por é m , que os libe -
rais de São Paulo n ão ficaram atrás ao considerar que um povo
para as artes plásticas c a m ú sica . Má rio de Andrade desempe -
nhou um papel de considerável importâ ncia em todas essas
analfabeto não podia ser um povo .
Poré m a conversão do impl ícito em explicit o é uma tarefa ,
á reas. Seu Ensaio sobre a m ú sica brasi/etra é um convite para
se inventar uma m úsica nacional , procurando ouvir as melo -
no m í nimo , também pol í tica . Tanto o positivismo como o dar
winismo social contribu í ram para que os intelectuais fossem
-
dias populares \ Sua obra literá ria , com a aten ção dirigida às
expressões familiares e à sensibilidade comum , sugere os modos reconhecidos como possuidores de um saber político , O pri -
-
.

dc sociabilidade criados pelas estruturas paternalistas. Nome- meiro divulgou a cren ça na efic á cia das ideias c na possibili
ado para a c hei ia do Departamento dc Cultura de São Paulo dade da o í ganiza ção social . O segundo destacou as fontes de
energia no âmbito da sociedade. Trataremos , nas p á ginas
-
cm 1935 , propôs se efetuar um levantamento das artes e tradi -
çõ es populares. Poré m M á rio de Andrade nã o aiuou isolada -
seguintes , das represem a ções do político que foram elaboradas
a partir da í. Por ora, assinalamos apenas que a legitimidade
mente; em toda parte era a hora da Tedescoberta do Brasil ’.
Villa- Lobos atingiu a gl ó ria — a pomo de se tornar , após 1930 , do intelectual provinha da complementaridade entre os trê s
saberes que apresentava : o relativo á dininma das massas cegas ,
Snihie J miiskii C ú píí pf I dc M áiio dc Andrade nesse campo, ver À maLdlo D . Lon - o concernente à formação da cultura e o que tratava da organi -
ticr í Conder. lffBS ). zação do pol í tico . /
40 \ 41

Nau seria , portanto , um cru ísmo afirmar que esses saberes par a par com a submissão do intelectual ao sistema de " favo -
— social , cultural e politico —
conferiam qualifica ção para o res" que constrangia os " homens livres" ( Schwarz , 1981: 13 28,
-
*

acesso à posição tic dite dirigente , pois est ão no pró prio princi- I Franco , 1976: 61 3 ) , Exaltar o " nacional" , nos anos 20 , obede -
pio da hierarquização social , como també m da fixa çã o dos obje * cia , acima dc tudo , ao desejo de escapai dessa dependência e
ri vos polí ticos necessá rios para que a sociedade tomasse corpo. proclamar o advento dos intelectuais como elite autónoma.
" As minorias que sabem , que pensam e que querem " ( A . A . _ Q imperativo nacional teve ainda outra fun ção : permkiu
Lima , 1942: 62 ) estavam naturalmcnte destinadas a canalizar enunciar os critérios de participação leg í tima nessa elite. Não
as massas a faze - las adquirii progressivamente seus direitos de
,

cidadania . No momento não poderia existir uma legitimidade


,
mereciam plcnamtntc o ri tu lo dc intelectuais sen ã o os que atei
tassem esse imperativo , o que n à o exclu ía conrudo, as cisões
,
- *

que exigisse uma representatividade: isso implicaria que o povo internas , ãs vezes muito profundas , Em rela ção ao cará ter pol í -
j á sc encontrasse politicamente constituído . S ó há legitimidade tico do tema do imperativo nacional , tais cisões n ão se limita -
em rela çã o à nação, e nada nnha a ver com uma vontade gerai: vam a uma luta pela classificação , ou pelo dom í nio das regras
era a vontade de uma dite que fomentava as condições para o de classifica ção, no interior de um campo institucional consti - _
3,
surgimento de uma vontade geral . Os intelectuais detinham tu ído ; antes , revelavam os conflitos sobre a concepção da ordem
um poder legítimo devido à sua voca ção nacional. pol ítica . Nào obstante , mesmo relacionados às correntes adtp1
O imperativo nacional n ão se estabeleceu mediante a tas da prioridade nacional , esses conflitos deixavam o campo
nega çã o das ideias c teorias produzidas no exterior: as referen - livre para as pr á ticas de " concilia ção " , essa modalidade antiga
cias à s m ú ltiplas adapta ções locais das variantes do darwimsmo de coexistê ncia e compromisso entre elites opostas e teses con -
social o provam suficien temente . Oswald de Andrade , em um tradit ó rias , numa sociedade fortemente hierarquizada ^. Em
dc seus textos "amropofá gicos \ bem pode instigar a "saltar
1
torno do imperativo nacional , organizou -sc assim um universo
do bonde ' ou “ queimar o bonde " no qual se transportava " a dc debates políticas que , manifestando divisões mas tamb ém
civilização importada " (O. de Andrade , 1982 : 290 ). À seme- consenso cm torno de um mesmo objetivo, conferia aos mem -
I fian ça do movimento modernista , o nationalism o cultural e bros da elite intelectual a possibilidade de um reconhecimento
político caminhava sobre dqas pernas uma autóctone» a outra , m ú tuo baseado na mesma voca ção. Disso , por é m , cambem
ainda e sempFêTTjastante europeia . Comentando o exemplo resultaram formas de exclusão, afetando tanto os indivíduos
do irí tcgrahsmo , Man lena Chauí considerou o recurso à autori - quanto as ideias. Essa ehre nacional aceita as profissões de fé
dade das ideologias estrangeiras como inerente à s elaborações region alistas, mas n à o encoraja as que expressam fidelidade a
autoritá rias brasileiras ( Chauí c Carvalho Franco . 1978 ' ). Ape - •
origens nacionais diversas. Em seu romance O estrangeiro , de
sar de todas as negativas, essas ideologias continuavam valendo 1926 , Plí nio Salgado ridiculariza e maltrata os russos e italia -
para legitimar tudo o que aspirasse à qualificação de "saber " , nos que vão abrindo seu caminho em São Paulo em detrimento
O que estava em jogo no debate sobre as " ideias importadas " dos brasileiros . Em Amar; verbo intransitivo. Mário de Andrade
e as ideias nacionais" era aigo diferente: tratava -se da situa -
4 4
n ão fica atr ás , lamentando a proliferaçã o de estrangeiros de
çã o do intelectual em relaçã o às. elites. Roberto Schwarz e Maria iodos os tipos na " pá tria dos bandeirantes" " 1 . Reações de
Sy 1via Carvalho Franco , de formas diferentes , o demonstraram “
primos pobres" ? Ê o que afirma Sé rgio Miceli: o primeiro ,
bem : as ideias importadas " no século XIX

em especial o vindo de uma fam ília tradicional do interior do Estado de São
liberalismo podiam perfeita mente se adaptar a uma socie - Paulo; o segundo , origin á rio de uma família importante pelo
dade que , por outro lado, era cscravagista , porem caminhavam lado materno , mas condenado a estudos incompletos e pouco
Sobre J \ unu!]a çãó «a política brasileira, ver Mercadante ( 1965 ) * soò wudo
*

F - pt .' ialmcr rite comcnrí rn : Acicdiiu que t por st tratai de um pensamento


1
Debrun (1983) ej. H . Rodrigues ( 1982 ).

aurorirà no qiiç h.ã importação de ideias e n ã o poEque h ã ra í importação que um 1
.
Sobre os estereó tipos dos escritores modem is-ta* a respeito do* i rabanos ver Carril i
-
viw pensamento brasileiro lotnar-se ia mimerrtamente autorit ário' ‘ 09S5 )
42 Í 43
prestigiados . Talvez ; mas são també m atitudes pol íticas contra
o que resistisse â nacional e cheirasse a cosmopoli-
integra çã o
ções que permitissem a forma çã o do social . Os pensadores " au
torit ários" foram , sem duvida , os mais empenhados cm defi-
-
tismo , Nada de elogios à “ diferença \ mas uma exigê ncia de » nir os contornos que deveria ter um poder nacional . Mesmo
I
i
r á pida adesão ao imperativo nacional Pouca tolerância para
.

com os intelectuais imigrantes que continuassem encantados


os intelectuais preocupados sobretudo com a “ cultura brasilei -
y ra ” participavam , querendo ou n ão , da elaboração das novas
com o seu passado , mas generosidade na coopta ção , desde que representações do pol ítico .
J
i
surgisse a identificação com a na ção . Foram essas as opções que No dom ínio político, a refer ê ncia ao saber era ainda mais
presidiram à transformação dos intelectuais brasileiros numa
“for ç a pol í tica ” , como desejava Alberto Torres:
das manifesta
acentuada do que no dom í nio cultural . Os intelectuais e teóri -
'
i cos do regime de 1930 concordavam cm querer uma polí tica
vam a presen ça de normas mais ou menos conscientes . que n ào dcLxassc lugar algum à arbitrariedade dos interesses e
A propósito dos positivistas do século XIX . observa Sé rgio paixões democrá ticas. Alberto Torres indica , també m nesse
Buarque de Holanda : "É realmcnce edificante a certeza que caso, os objetivos:
punham aqueles homens no triunfo final das novas ideias ” .
Entretanto , logo coloca esta quest ão: “ N ã o existiria , à base CuotdttLir . por ação consciente, estes movimentos da sociedade, é o grande
dessa confiança no poder miraculoso das ideias , um secreto hor
ror à nossa realidade ? (S . B. de Holanda , 1981: 117-8 ). Os
- encargo da política; eis por que Dão ser á Rimais ocioso repetir : um país não é
realmente uma naçao se não cem um* política. * itt í politico , i política de sua

-
intelectuais dos anos 20 30 não faziam mais que invocar a ” rea-
lidade nacional " : se havia um t ítulo que reivindicassem , era o
terra , de sua taça ou de suas raças , de sua í ndole , de seus destinos: esta política,
superior as politicos doutrin árias ? sempie falazes dos partidos, c instintiva , Tra -
dicional , costumeira nos velhos pabes (Tones , 1933b: 226 ).
dc “ realistas " . A pergunta de Sé rgio Buarque dc Holanda nem
por isso perde a pertinê ncia: o retorno ã s origens tupi n ão ten a
um efeito prolil ã tico contra os males do momento ? E com
No Brasil , é preciso forjá la - " urgememente" .

maior razã o , a nostalgia de uma organiza çã o r écnica da socie -


dade não teria o car á ter dc medida preventiva contra a desor
dem latente ?
- O antiliberdUsmo e a "ideologia de Estado ”

Em diversos estudos , o cientista pol ítico Bol í var Lamou -


nier propõe qualificar as concepções políticas dos pensadores
As representações do fenômeno autorit á rios como uma " ideologia de Estado" ( Lamounrcr ,
polí tico 1974 e 1977: 343- 74 ) ,
A “ideologia de Estado"
,
-
Qpõc sc às diversas ideology
que sc fundam nos mecanismos de ’ " mercadorT7 je}a este defi-
0 _ " realismo" uiunfava no dom í nio pol í tico . _Pa £a_IQf Í0s nido em termos económicos ou em termos pol í ticos. De modo
os intelectuais havia uma ú nica palavra de ordem: dar um fim
ao hiato que a Republica criara entre o " país pol í tico c o
geral , da rejeita todas as t çses que recomendam uma auto regu - -
lação do social .
? f

" pa ís real ' e , assim


propor , instituições que correspondessem
,

A rejei ção dos " mecanismos de mercado pode expressar ,


á " realidade nacional" . A conjuntura n ão exigia que se recor - de fato, duas constatações diferente : ou jã existe um mercado
^ t
i

resse à ‘ ‘ ideologia ’ 7 E verdade que da impunha o uso do " mi -


to ” , no sentido de Sorti , mas iratava -se antes dc levar em
no Brasil , fomentando porém antagonismos ou cisões que amea -
çam ã uhidade da sociedade ; ou n ão existe um mercado , mas
~

conta a sociedade brasileira tal como era . somente uma desorganização profunda . Na maioria dos ensaios
-
O "realismo" , todavia , combinava se com o construtivismo
mais deliberado. O rema da “ organiza ção" pol í tica evidenciava
pol íticos , essas constatações se mesclam em boa medida .
As críticas conrra a burguesia ou contra o capitalismo pro-
o propósito dc fabricar , a partir de elementos vários , institui- vinham da primeira afirma ção : admitiam o surgimento de inte -
45
44
ccmor inspirado pda multiplicação an á rquica dt tntcrcòscs par -
resses contrários, mas viam neles um para a nação. Essas
perigo
criticas foram formuladas tanto pelas correntes católicas como ticuiarcs ou pessimismo devido à desorganização do social: eis
por aquelas mais influenciadas pelo positivismo ou pelo evolu - o que levou grande parte dos intelectuais a aderir a uma “ ideo -
cionismo. Por um lado , declara Alceu Amoroso Lima : “ O logia de Estado ’ ' .
Bolívar Lamounier enumera os componentes dessa ideolo-
regime industrial emp írico é um fator dc degenerescência O . gia ; aspiração a uma constituição org â nico- corporativista da
capitalismo instintivo , levando ao conceito de lucro ilimitado
como base da vida econ ómica , é outro grande fator dc degene- sociedade , verdadeiro motivo central das obras dc Oliveira
rescê ncia " ( Amoroso Lima , 193 1, citado por Medeiros , 1978: Vianna c també m de numerosos autores católicos; privilegio
315 ) . O mesmo autor louva o integralismo por suas posições
concedido ao “ objenvismo lecoacxÂiico ou ainda á “ pol ítica
“ amiburguesas" (ibid ,: 276 ). Por outro lado . deplora Azevedo objetiva ' '
retomando o t ítulo dc um livro de Oliveira Vianna
Amaral “ o problema urgente que apresentam hoje as nossas (Vianna , 1930 ) que exigiam a forma ção de reagrupament05
. .

forças produtoras , deixadas at é hoje à mercê de um empirismo profissionais e a abordagem cientifica dos problemas sociais ;
_ T de posi ção a favor dc um tratamento paternalista- auro -
tomada “
mais ou menos grosseiro ” ( Amaral , 1930 , citado por Medeiros.
ntano- do conflito social etc.
1978: I li). Certos ataques aos partidos políticos derivavam da
í f ?

mesma constata çã o: n ão questionam a vitalidade de alguns des - .A expressão “ ideologia de Estado" tem . portanto, o
ses partidos mas denunciam os perigos do divisionismo que m é rito dc ressaltar que o Estado , e n ão a sociedade civil , se
introduzem no Brasil . apresenta como o agente da construção nacional . Essa convicção
As considerações sobre a ausência de um verdadeiro tecido n ão foi de todo inovadora: j á estava difundida no século XIX .
e Alceu Amoroso Lima n ão fez mais que endossá - la ao afirmar
social ou político mscrcm -se na segunda constatação A carê n - . que cm toda a hist ó ria do Brasil , “ o poder p ú blico não c ape-
cia dc agentes dotados de identidade , o caos social , a desordem
política sã o outros ind ícios de uma faJha radical . O Retrato do nas o reflexo do povo c sim o orientador , o guia , o verdadeiro
formador do povo ' ( A . de A . Lima , 1944 : 145 ). Essa ideia
1

Bra.ii / de Paulo Prado descreve um “ Brasil que c apenas uma


sociedade , como simples agregado de mol éculas humanas" ( ci - volta , por é m , á ordem do dia por ocasi ão da crise da Repú blica .
tado por Sadek , 1978: 130 ) , Oliveira Vianna observa que " n ão ' A expressão é també m um tanto amb ígua , c isto por
h á nenhuma classe entre n ós rcalmeme organizada , exceto a razoes diversas , umas factuais , outras teóricas.
classe armada ", e comenta: Nem todas as correntes amiliberais se mostraram igual-
mente dispostas a remeter ao Estado a tarefa dc organizar a
A classe agrícola , a i lasse industrial , a classe comercial , a dasse operária (...) sociedade . Os católicos o fizeram apenas dentro dc certos limi -
vivem em estado de semiconsciência dos seus próprios direitos e dos seus pr ó- tes. O pr óprio Alceu Amoroso Lima , nesse ponto , adotou uma
prios interesses e dc absoluta inconsciê ncia da sua pr ópria for ça. Sáo classes das- atitude conforme os ensinamentos da Igreja : o Estado é o encar -
.
,

socíadas dc ripo amorfo e inorgâ nico (0 . Vianna , 1927 . atado por Medeiros regado do “ bem comum ' \ é “ a autoridade que , na ordem
14 1978: 170-1).
temporal , engloba todos os grupos naturais da associa ção a fim
Sob o rótulo dc liberalismo político , o mesmo Oliveira dc defender o bem pró prio de cada qual e promover o bem
Vianna n ào via mais que um caudilhismo local ou provincial: comum " ( A . de A . Lima, 1939: 65 ). Poré m essa autoridade
" Estudai a
história social dc nosso povo: nada encontrareis só é leg í tima na medida em que respeita “ a natureza das coi -
nela que justifique a exist ê ncia do sentimento das liberdades sas e a natureza do homem , c portanto o Criador de uma e
p ú blicas ' (O , Vianna , 1922 b , citado por Medeiros 1978: 170 1 )
Desconfiança em relação ao funcionamento do capitalismo
. - outra , Deus “ ( ibid . : 57 ). A partir da fundação do movimento
í ntcgmlista , Pl ínio Salgado se convene em admirador do fascismo
da cpoca ou condena ção por princípio dc sua lógica ; d ú vida italiano e se pronuncia a favor de um “ Estado fone" e inter -
sobre a viabilidade do liberalismo político no Brasil ou antipa - vencionista . Esse Estado , por é m , não poderia interferir com os
tia doutrin á ria cm relação às próprias premissas do liberalismo ; tres grupos “ naturais ” ; o grupo familiar , o grupo profissional

I
46
T 47

c a unidade política locaJ , que fazem pane dessa esfera da socie- a de uma nação preexistente à sua organizaçã o pol í tica . Ora ,
dade " que c autónoma c autodetcrminativa " , como també m '

apesar do que dizia Oliveira Vianna , a hist ó ria passada n ào


n ào poderia ir contra “ o humanismo espiritualista 1 5 2Z , basta para atestar a sua unidade . As estruturas familiares , as
De resto , o consenso relativo ao fortalecimento do Estado J
rela ções sociais cotidianas , as relações de favor c compadno. os
centrai n ão impediu que surgissem diverg ê ncias considerá veis
quanto aos seus fins . Para certos escritores , estes eram sobre -
costumes mos ira :TI rnuito melhor o pr íxcsso d ; u _; ã o do> la ç o
. : . **

sociais ocultos nas profundezas das mentalidades e das troç as


tudo de natureza instrumental , como no caso em que se enfa - sociais . Encontramos o tulniraT ' em seu papel t dot J
tiza a necessidade de interven ção dos poderes públicos na eco- *i
Bondade ” , “ cordialidade " , "car á ter nacional r , eis o que^ í

nomiaou nas relações .sociais. Para outros, traduziam -se na


necessidade dc ampliar o papel das " verdadeiras ” elites, colo- -
fazia a unidade pré política. Desse ponto dc vista , a obra de
Gilberto Freyrc constitui um marco essencial : plenamcntc
cando o poder a salvo das influencias dos ‘ interesses particula
res . Para outros ainda , o objetivo era justam ente que o Estado
- moderna na aplica ção dos m étodos da antropologia culiuraiista .
I
Casa grande e senzala. cuja primeira edição no Brasil c dc 1933 ,
promovesse a coesão da na çã o . É só nesse ultimo caso que u refe - faz da mesti ç agem " urna experiê ncia privilegiada de fusã o dc
rencia ao Estado comandava pknarncme a concepção da pol í- ra ças, de intercâ mbio de civilizações " ( Febvrc , 1952 ); ma is
tica c da nação. _ ainda o livro considera os relacionamentos sexuais como o
,
L
motor dc toda uma elaboração cultural , que fundamenta as
rela ções sociais. As considerações de Sé rgio Buarque de Holanda
A ambivalência realista sobre a "cordialidade" tamb ém t é m a função de situar o indi -
víduo , logo de sa í da , no interior dc uma rede dc relações: " No
O era a palavra - chave. No entanto , o horror
" realismo t 7 ' homem cordial ” , escreve ele , "a vida cm sociedade c , dc
à realidade ressurgia sem cessar. certo modo , uma verdadeira libertação do pavor que de sente
Revelar a realidade , desvendar sua coesão oculta , mostrar em viver consigo mesmo’ ( S , B . dc Holanda , 1981 : 108 ). As
as solidariedades que a irrigam : todos depois dc Alberto Tor
,

res , embarcam nessa aventura. Alceu Amoroso Lima , cat ólico ,



- analises de Oliveira Vianna sobre o sistema da fazenda escrava -
gista ressaltavam o esp írito de fam ília que ele cria :
preconiza " a filosofia do realismo integral ” para responder às
quest ões do momento , conseguir "colocar cada coisa em seu Na vida das fazendas nossa bondade natural adoça o trato dos «cravos. Estes
lugar " e evitar que a " vida social sc baseie apenas no arbítrio são como membros da fam ília t quase sempre ligados ao fazendeiro por reina
das maiorias ocasionais" ( Medeiros , 1978: 247 8 ). Oliveira
Vianna . teó rico do corporativismo , faz a apologia do "pais
- afetividade.Jamais conheiemos a aristocracia de casta ( 0. Vianna , 1922 b , citado
por Medeiros , 1978: 178),
real ” , aquele cuja unidade se constrói na história : Os objetivos dessa marcha para a " realidade ” .são claros.
0 pagado nvc em uris , latente, obscuro, nas células do oosso subconscrcntr Consistem , num primeiro momento, em mostrar que não existe
( . . . ) Em nosso passado hist órico reccnrc est ã o os moldes ainda quentes, onde o indiv íduo Isolado :_ ele est á . já dc início , inserido numa coleti -
sc fundiram essas idiossincrasias que DOS extremam t singularizam, como povo .
, vidade . ficava , assim , anulada a validade das ideias pol íticas
CDUC [ h- as rtaçòtt da Tem (0 . Vianna, 1922 b , citado por Medeiros, 1978:
**
4 referentes ao individualismo. Num segundo momento, visam
160). a destacar a interdepend ê ncia entre aqueles que ocupam posi -
ções sociais desiguais; desse modo , caducavam todas as teorias
De que realidade se tratava ? Com certeza , daquela tor -
" ! I

nada invisível» pelas ideias c instituições calcadas do estrangeiro: fundadas na divisão dc classes. Pretenderam enfim , provar ,

que existia uma unidade nacionáTde fatoTque faltava apenas IP

fortalecer pela via institucional .


-
Rcpottar .w ao melhor livro sobre o integral i mo; o de Hélgio Trindade ( Trindade N ão foram esses os ú nicos objetivos do " realismo " . É
-

( 479: 200 11, *


certo , por exemplo , que estas descrições permitem també m

49
\
mesclar a aspiração por um Estado moderno ao respeito pelas inconsciente solidariedade histórica ' ( Picchia , 1933: 181 )
1

e .

formas patriarcas ou , melhor ainda , conceber o Estado moderno Em suma , a desvinculação social roma O' [ year dos laços sociais.
como prolongamento da dominação patriarcal . Escreve Gilberto O " realismo ” revela., portanto , uma ambivalê ncia insupe-
Freyre: r á vel Em um artigo sobre a " imaginação pol ítica brasileira " ,
.
Wanderlcy Guilherme dos Santos insiste no faro de que esta
A história social da casa-grandt é a hist ória intima de todos w brasL Í eirus , da
.

siu vjda tidnlLat r conjugal sub o putnarcaJl í mci escravagisti c polígamo; da


teria surgido a partir de uma percepção dkotômka, de ral forma
sua infant i * ; do seu nisdankno domcsiieo , influenciado pelos negros e suas que premissas diferentes est ão na base de construções l ógicas
supetsnções ( Freyre, 1952 ; 400 ) . rigorosamente separadas ( W . G . dos Santos , 1970: 137 61 ). -
Esta hipótese n ão nos parece aplicá vel aos intelectuais de 1930 ;
Azevedo Amarai c Oliveira Vianna n ão escondiam suas sob forma de ambival ê ncia , a dicotomia est á presente no inte -
reservras cm relação à aboli ção da escravatura. Q Estado orgâ
nico que preconizavam não podia se parar -sc dessa maneira de
- rior de cada uma das suas formula ções. Ela revela um hiato ,
imputado à realidade , que só poderia ser reabsorvido pela
decifrar o social . Mesmo que o Estado se industrializasse , era invenção de uma imagem de nação organizada ,
preciso que representasse també m uma nova casa grande em
escala nacional .,
- A ambivalê ncia em relaçã o ã realidade i am bem abriu
O importante, plorcm . c a maneira com que a realida ^ - -
caminho a todas as aud ã ': i - I - J c - ! , i :'- oração das maneiras de se
1

controlai cisa teaJidade . O rt --.di sta ‘ era aquele que icor


"
.
'

de serviria de fundiamemo politico , O reconhecimento das


sobre o real e o submetia âs tecnologias do poder .
solidariedades sociais que lhe conferem consistê ncia tornava O “ realista e o teórico consistiam atum mesma pessoa
'

supé rfluo o miro de um concraco social original . A identidade


Sob essas duas manifesta ções , o int elect uai perseguia o mesmo
cultural nela enraizada fundamentava , de imediato , a idemi -
.

dade nacional , e a sua evolu ção explica a diferenciação natural objetivo: buscar uma definição do fenómeno politico que esc a -
entre as elites e o povo .
passe is concepções comuns da política . Apaixonado pelo rea -
Mas o horror por essa realidade aflora sem cessar cm todos lismo , desejava descobrir esta mistura de uniões e desuniões
ís. O 'ar
rarjnrTnif
^
1
âorf õ* F de Ofivci ra Via o na contrabalan ç a sociais anteriores a toda instituição política. Arquiteto infatigá
vel do “ bom modelo" de organização social , buscava em um
-
a cordialidade , Praticamente nenhum autor estava livre da
" "

ambivalência . Da exalta ção do tupi . Plínio Salgado passa à des- outro plano , o sonho de um controle político que equivalia a
coberta da monstruosidade popular: negai a dimens ã o pró pria do pol ítico .

Nio pudemos dr nenhuma cortejar a maesa popular Ela i o monstro


minora .

tnconscemr c est ú pido ( . . )


0 povo ji st estiavizuu . dt há muito, aos seu*
.
A ambivalência em relação
exploradores Nío devemos bajular o escravo c sim salva - ki do cativeiro , não ao fenômeno politico
com agrados , mas tona a ití ipúii ç iu de novas formas dc mentalidade ( citado
por Chaiii e Carvalho Franco. 1978: 48 ) .
Azevedo Amaral afirma que , com a
A ambival ência em relação à realidade sc encontra no prin
cipio dc todas as constru ções propostas por intelectuais de sen -
-
Aboliçã o , "ficamos
sob a imin ê ncia de ver resolvido o problema do conflito das
culturas pelo predomí nio majorit á rio dos elementos formado -

sibilidades diversas construções que també m se colocam sob
o signo do realismo. As instituições a ferem criadas deveriam
res das correntes amer í ndia e africana ( Azevedo Amaral , 1934:
"

valer apenas por sua ' adequaçã o " a realidade , cahendolfare


2 S 6 ) Menotti dei Picchia presta homenagem á ausê ncia de pre -
. traduzir em termos pol í ticos a unidade pr é - pol ítica desta ,
conceitos raciais mas julga que o povo , incapaz dc transpor
, " Objetivismo i ecnocrático ' \ " polí tica objetiva" , eis duas
os horizontes regionais, n ão se sente verdadeiramente brasileiro : expressões que já encontramos. Elas comporiam a tese da neces-
" O nacionalismo
brasileiro , portanto , n ão c fruto de uma funda sá ria “ adequa ção " , algo que esta na base das na ções sólidas:
5<J 51
4

- -
NSo h á exemplo de uma na çã o que tenha conseguido impor se historicamente
pela suas realizações e peias turitriblliçks por da trazidas para o progresso da
A salvaçã o da burguesia n ã o mi nas mim dos técnicos. dos sociólogos , dos cco-
nomkstas ou dos políticos. A salvação da burguesia está , ames de rudo , na m ão
íuifnaoidade, em cujas iurimiçoes e leis fundamentais n ão se cncomif uma .
da? santos ( A , de A . Lima , 1932: 242 )
condado direta com as real idades da ambient ia nariocal ( Azevedo AmaraJ .
1938: St ).. A partir de 1936 , Ot á vio de Faria afasta - se do culto do
Implicam rum bem a tese de uma gest ão racional das relações Estado para reafirmar as exigê ncias espirituais.
Apesar de rudo, prevaleciam as converg ê ncias . Os espiri-
sociais c econ ómicas , cuja melhor ilustração seria a organiza çã o
econó mica: -
tualistas mostravam se dispostos a reconhecer nos positivistas o
mérito de darem primazia ao conjunto org â nico da sociedade ,
Poderemos dizer que na phaifitaçâú se sintetizam tçdo os objerro para os
; acima dos interesses particulares , Tanto Jackson de Figueiredo
quaiâ convergem as tendências e o= esforços dos que pleiteiam a passagem dc
uma economia empírica para um regime de Sbiemanza ção tacionaJizado na pre -
como Alceu Amoroso Uma fizeram do positivismo um " catoli
cismo sem Deus" ( ibid . : 84 ). Lins e outros foram solid á rios
-
du ção da riqueza e na sua distribuição ( ibid.: 139) em rejeitar a " onipotê ncia do indivíduo" , bem como a aceita -
Essas duas proposi ções formuladas por Azevedo Amaral çã o das "maiorias ocasionais " O lato dc que o poder repre
sentasse a unidade do social podia provir de fundamentos t ã o
-
poderiam ter sido expressas por outros autores a respeito dos
campos mais variados da atividade social : direção científica e diversos quanto o saber , a transcend ê ncia , o direito natural ou
t écnica do desenvolvimento , regula ção equilibrada das relações a vontade nacional expressa pelas elites: o essencial é que esti
vesse ao abrigo dos azares da pol í tica tradicional c que sua " a -
-
sociaisr organização do poder em função do interesse geral ,
enquadramento corporativism da população: outros tantos dequa ção à realidade" fosse garantida pelo fato de que esse à *
aspectos dessa "organizaçã o" que a maioria dos intelectuais poder simbolizava e organizava a unidade social .
sc sen liam chamados a delinear . Alfred Stepan mostrou a difusão do modelo orgâ« nico - - v•
.V j
^
••

Foram m últiplas as fontes de inspira ção . A ótica tecnocrá » está tico" em numerosos pa íses da América Latina ( Stepan ,
rica , o papei unificador do podei * a harmonização das rela ^ 1978 ). Em contraste com a ausê ncia de formas de auto - regula -
ções sociais tanto podiam originar - se de um positivismo adap- çã o da sociedade civil e com a proliferação de interesses n ã o
tado ao gosto do momento, quanto dc correntes cat ó licas con
servadoras ou sociais do corporativismo salazarisia ou do fas-
- coordenados , este modelo tende a conciliar a afirmação dc uma
ordem social ‘ natural " com a interven ção do Estado na criação
cismo italiano , A estas se deveriam acrescentar muitas outras política dessa ordem social . No caso brasileiro, os intelectuais
influ ê ncias , desde o New Deal ate as teorias corpora ti vistas aderiram a esse modelo ainda mais intensamente ^ pois, tendo
do romeno Manoilesco . à.s quais Alceu Amoroso Lima e outros suscitado uma representação despolirizada do sociaJT criaram
intelectuais se referem para exigir a "organiza ção funcional ~
QS meios de atribuir ao Estado uma margem ilimitada de ação
da nação " . As teoriza çõ es variam segundo esses fundamentos para promover politicamente a cooperação orgâ nica entre os
^

doutrin á rios , como cam bem era funçã o das prioridades de


.
diversos segmentos sociais . .

cada um . Assim , propor , como Azevedo AmaraJ , estimular o O "organicismo ' s poré m , ultrapassava essa delega ção de
1

desenvolvimento industrial, ou , como Oliveira Via mia . consti- poder ao Estado , Tratava se - —
c n ã o somente por intermédio
tuir um verdadeiro sistema corporativista ; aspirar , como Alceu
Amoroso Lima , â ordem moral ou , como Pl ínio Salgado , a
do Estado —
dc criar uma concepção holista do social . Sabe -
mos que Louis Dumont op õe as sociedades que " valorizam
um vasto movimento fascista , são projetos que desembocam em primeiro lugar a ordem c portanto , a conformidade dc
em concepções diferentes do poder . Alceu Amoroso Lima
1

lemia que os " técnicos " da organiza ção social cedessem ao 2 ‘ As


duas expressão sâo dc Alr çg AflnuftiSO tiniu citadas parj. Medeiros |Medeiros.
materialismo : H7S - ,246 - 8 )

®SCSHT
52 53

cada elemento ao seu papel no conjunto , em suma , a socie- . Tendo proclamado a prim az ia do todo e fixado os crité
rios pdos quais o poder é a sua representação, restava somente
-
dade como um todn à quelas que valorizam em primeiro
" "
T

lugar o ser humano individual" ( Dumont , 1977 ) . O contraste construir , a partir de cima , as mediações que faltavam O cor -
.

se aplica plenamcme quando se comparam sociedades hierir - porativism o intervé m nessa fase que , segundo Oliveira Vi an na ,
une o povo - massa â “ administração p ú blica " (O . Vi an na ,
unas , tomo a indiana , com sociedades ocidentais modernas ,
i
i

menos nítido quando se trata dc representa ções nacionalistas 1952, citado por Medeiros , 1978: 174 ). Afirma Alceu Amoroso
contemporâ neas: a propósito da filosofia da hist ó ria dc Herder , lima que o corporativismo garantiu "a reassouação dos três
Dumont afirma que ela se origin a do holism o por sua insisten - poderes básicos da sociedade: o pol í tico , o económico e o espi -
cia na submissã o do indivíduo ã cultura coletiva , e també m
dermos sobre esse tema : lembraremos apenas três aspectos .
-
ritual " ( Â , de A , Lima , 1932: 20) . Não é necessá rio nos esten
do individualismo por sua ênfase no cará ter ú nico de cada cul -
tura ( Dumont , 1979 ) . Parece- nos que a diferen ça est á entre O primeiro é que , antes mesmo deJ 930, o projeto corpo
mivista enunciado por diversos in t derruais era ronrrhidn
-
um holismo inicial , subjacente a organiza ção do social , e o
holism o voluntarism , que tende à reorganiza ção do social . Seria como uma to mia dc regular as relações emxe Q_ “ capital" e o
,
desnecessário dizer que o holismo brasileiro entra na segunda
J

trabalho" Em um ensaio publicado em 1922 , Oliveira Via nua


.

categoria . É verdade que os intelectuais se estor ç avam para pri - já vinculava nacionalismo e “ quest ã o social " , H á ali um
P

-

var o individualismo de qualquer consist ê ncia real ; demons erro de lógica: "A solu ção do problema trabalhista entre n ós
tram - no , de um lado , a valorizaçã o da afetividade , do patfkrca-
lismo e da fam í lia extensa c\ de outro, a condena ção do indivi-
Mo poder á deixar de ter como premissa maior — -
a necessi
dade de preservar a nossa personalidade nacional " ( citado por
dualismo como fundamento do pol ítico devido ao seu car á ter Medeiros , 1978: 178), Mas envolve tamb é m a afirmação de
artificial e dissolvente. No melhor dos casos, para destacar os que a consolidação do Estado brasileiro exige o controle das rela -
aspectos positivos da desordem brasileira , foram levados às vezes ções sociais — controle que simboliza a autoridade do Estado
a reabilitar certas manifesta ções do individualismo. Men oiti diante da burguesia c das classes populares. Constituía , al é m
de! Picchia exalta “ o profundo e fecundo individualismo do disso , a " interdição preventiva dos conflitos de ejasse; “ Os
brasileiro tornando-o ativo . aventureiro , andejo, liberto de pre -
, conflitos de classe , pró prios às sociedades de alta organização
conceitos ( Picchia , 1935 : 173); o libert ário Oswald de Andrade
"
industrial , n ão tinham aind ã razão de ser entre n ós" (O .
aspira a dar liberdade ao “ indiv íduo , vítima do sistema " e cria - Vianna , 1923 , citado por Medeiros , 1978 : 181). TripIkc tomada
dor , na medida em que n ã o admite o surgimento d â l ógica
:
de posi ção que , sob formulações diversas , seria resgatada por
entre n ós '

-
( O , de Andrade , 1982: 269 70 ). O indivíduo muitos outros intelectuais , e cujas implicações sobre o pró prio
emerge , assim , na cultura brasileira . Persiste acima de tudo , estatuto de intelectual sã o importantes: a vocaçã o dc intelec -
por é m , o fato de que os ensa ístas careciam de elementos no tual se realizava pelo equauoriarnento conjugado da questão
momento em que desejavam ressaltar as estruturas dc hicrar - social e da questão nacional ; a autonomia do intelectual se cons-
quiza çao inseridas diretamente na sociedade. Em vez delas. tr ói sobre o pano dc fundo do enquadramento das classes popu
lares , pela via institucional ou pela via pol í tica .
-
descobriram apenas o comodismo e a depend ê ncia , tom a vio -
lê ncia e o particularism o que os acompanham e que corroem , Q segundo aspecto diz respeito i definição da cidadania
tanto quanto os pseudopamdos polí ticos , a unidade nacional . O esquema corporativo estará na origem das medidas adotadas
Da í as marcas de uma exigê ncia holista . produto da aus ê ncia após 19501 regulamenta ção das profissõ es , leis trabalhistas de
de mediações sociais adequadas . Ela coloca tace a lace , sem 1932 , legisla ção sindical . Essas foram as bases do que Wander-
intermedi á rios , as massas e o poder . H á algo de arisfotéjko ley Guilherme dos Santos qualificou como sistema dc "cidada -
nesse holismo ; seu objetivo c dar forma à mat é ria . Nesse con nia regulada " , que se apoia na atribuição dc direitos molda -
texto , os intelectuais detem o segredo das formas. dos em função da filiação profissional.
S4 \ 55

M raízes [do amertro de cidadania| encontram-se «Io em um código dc vdo-


,
obra public a da cm 1952 , um ano apôs sua rnortc. Oliveira
ie -politicos, mas cm um sistema dc estratificação ocupariunil e que , ademais ,
.. Vianna resume o conjunto de seu empreendimento intelectual:
tal SíSBMUí de « tntiFtcaçáu úttiparioflfll é definido por norma Ic al Erú ou uai
palavras sio cidadãos rodas aqueles memkos da comunidade que^ se encontram
.

0 pcsnilacb da preeminência do princípio da autondtA sobre o prim ip io da


Uberdade , que tem sido o kúmfb de roda a minha obra dc doutrina pol í rica
,

localizados cm qualquer uma das ocupações reconheadat c definidas em lei e o sentimento que me domina da missão transcendente do Estado ern nossa
, ,

,; W G dos Simoí , 1979a : 75 ),


, ,
.

nauonaltdadc . nlo mc vieram arraves de teorias estranhas; vieram - me . sim , da


Essa a dada nui social atrela , portanto, os agentes sociais à observação direta de nosso povo (O Vjanna 1974 : 100)
.

órbita do Estado , caso queiram obter uma identidade coler í va Esta conclus ão recrospeciiva conduz ã seguinte pergunta :
lega! . Ela introduz , a um só tempo , princípios de diferenciação de que modo o nacionalismo e a organização comandam a for -
em termos de categoria e de local que se opõem às solidarieda - mação concreta da vida polí tica?
des coletivas mais amplas , e submete cada categoria ao controle Observa ção do povo' : cis, mais uma vez , uma invoca-
-
*' 1

permanente do Estado . Sem d ú vida a cidadania social regula


çã o ao realismo " , meio pdo qual o poder cnconrra ^ em ú ltima
,
"
mentada não equivale ao conjunto da cidadania mas coexiste instância , seu fundamento na unidade latente das massas. Essa
com uma cidadania pol í tica , exceto durante o Estado Novo , observação , porém , permite apenas perceber os elementos dc
quando os partidos e as eleições foram suprimidos. Assim se uma “ cultura brasileira " , mas de forma alguma um sentimento
efetuava o desdobramento entre a representa ção dos interesses nacional ativo pelo qual o próprio povo se assumisse como
e a representa ção política . Especialistas desta ú ltima , os intelec- nação. Continuava incomensurável a distâ ncia entre a unidade
tuais podiam reivindicar um direito privilegiado à atividade
política .
pr é - pol í tica de um povo - m a t é iia t unidade poluica que cabe
ao poder construir ,
O terceiro aspecto c que os pró prios intelectuais , enquanto
A "preemin ência do princ ípio da autoridade" decorre
membros dc profissões cspecsÍTcasTtambém estavam sujeitos a
essas disposi ções corporativas. À parrir de 1930, foram tunda
das organizações profissionais: a Ordem dos Advogados do Bra -
- ú . i
dessa dist â ncia . Ela equivale a constatar que , num primeiro
momento , a na ção se formara distanciada do povo , sem reque -
rer o seu consencimento . Assim sendo , ela toma a forma do
sil (OAB ), criada em 1930; a profissão de jornalista , regulamen - . >.
,

Estado nacional , Os discursos dirigidos à nação brasileira n ão


tada em 1931 ; a Academia dc Medicina , fundada em 1931 ; o
se confundem com os discursos para a nação alem ã . Fichte
Conselho de Engenharia e Arquitetura , constitu ído em 1933 ;
e iam bem um sindicato dc escritores. Essa regulamentação n ã o declara:
quesLiona a posição dos intelectuais; por é m , contando com o A pá tria c o povo , como rcprcsenianre j c garantias da eternidade terrestre
. ,

benepl ácito do Estado , confere meios às elites daquelas profis- coroo aquilo que . aqm embaixo, pode ser eterno , ulnapaisando de muito a
sões para criar as condições de acesso ao exercício profissional , noção de Estado no sentido corrente da palavra , isto t . a ordem social tal como
e para intervir em nome da "ética" profissional ( L . W . Vianna , í C exprime na concepção clara que dela temas c tal como « « abelerc c se man -
1984 ). Legitimava també m as compet ências especializadas ., e rem em conformidade com esta i d e i a (, 0 patriotismo deve juramente dom í -
delegava certas funções p ú blicas._ Assim tbi o intelecrasd scinsc - nar o próprio Estado , como sua instância superior ultima e independente limi-
, ,

tando-o na «colha do? meios em vista de ?cu objetiva primordial: a paz inte-
rindo na construção orgâ nica da sociedade t do poder . O exem - rior ( Fithre, 1952 : 173)
plo brasileiro demonstra a correla ção que se pode estabelecer
em te a organiza ção das profissões c o processo de formaçã o do No Brasil estava absolu tain ente fora de questão um patrio-
,

Estado {Johnson , 1982 : 186- 208). Acima dc tudo , ele sc ins- tismo que prevalecesse sobre o Estado , Ao contrá rio , _o _ Estado
creve numa representação do pol í tico como "organização" . nacional deveria criar as condições para o sentimento nacion;; I
Nacionalismo c organização: cis duas noções insepar á veis , TTisso não resulta que o Estado não tivesse limites na
que compõem a arquitetura de um regime pol ítico. Em uma expressão da sua autoridade: a "organização" desempenhava
S7
56

o papej de limite . Ela c a presen ç a da sociedade dentro do parti a "realidade e


"
sua unidade subjaccnrc; contra a reali -
Estado e do Estado dentro da sociedade. Essa interpenetração dade e sua fragmentais o amorfa, apelavam para a formação
n ão se realizava da mesma forma , segundo se tratasse das mas * de uma organizaçã o social sob a égide do Estado. Nesse vai- c -
sas ou dos componentes articulados da sociedade . No primeiro vem , conseguiam seus benef ícios: advogados da realidade junto
caso , o Estado devia "civilizar " e "enquadrar": o autoritarismo ms governantes, cram , por outro lado , porra-vozes da organiza -
era uma resposta a uma demanda t ácita do povo , desejoso de çã o junto à sociedade , Mas em suas evolu ções atrav és dos mar -
que lhe dessem unia imagem de sua unidade , Francisco Cam - cos da nacionalidade brasileira . rcdcscobriarn sem cessar um
pos , autor da Constituição do Estado Novo , considera que " não ponto fixo que os orientava : não um cará ter nacional difun -
h ã hoje um povo que n ão clame por um Césai ’ ( Campos, dido diretameme pelo solo , pelo clima , pela ra ça ou pela cul -
1940 a : 222 ) c, a prop ósito do novo regime afirma : “ À ideolo -
1
tura , pronto a ser colhido , mas um Estado a que bastaria ape -
gia do novo regime c extra ída das realidades brasileiras ( . .. ) nas desempoeirar , após as horas enfadonhas da Republica ,
Sendo autorit á rio, por definição e por conte ú do , o Estado -
Diversa men te de seus sucessores dos anos 50 60 , esses inte -
lectuais n ã o se adornavam com o título de " ideólogos": o rea -
Novo não contraria entretanro a índole brasileira ( ibid . : 68,
"

71 ), A "organização " era , assim , o vínculo sem media ção do lismo assim o exigia , mas rambern o ciemilirismo a té religiosa
,

Estado com o povo , vínculo que confere ao Estado a proprie- e a confian ça no Estado para administração da coisa p ú blica ,

dade dc scr um " Estado nacional e popular " ( citado por Medei Herdeiros do positivismo e do cvolucionisnio. acreditavam no
-
*

ros , 19" 8: 27 ) c , ao povo , a de estar inserido na nação . Neste valor dos miios a mane ira jdc-Sord . mas nutriam uma inimi
segundo caso , o corporativismo se traduz por redes insiirucio- zade exagerada ao Ilumin ísmo, para se entregarem à s alegrias
.

ri ã is , através das quais os interesses m últiplos se articulam por da ideologia .

meio dos conselhos t écnicos c as elites mass diversas encontram Rararnente* contudo, haver á intelectuais empenhados com
meios de coexistir na esfera do Estado , tamanha tenacidade e convicção na elaboração de receitas para
Na verdade , a "organização ' * é também a consagração ordenação do social Seria muito apressado, porem , arribu í r -
do Estado de “ compromisso" , que n ão é tanto o resultado dê Ihcs a paternidade efetiva das transforma ções posteriores a 1930 ,
urny " crise hegem ó nica ’ ' ou de um equilí brio instá vel enire Simplesmente estavam sintonizados na mesma faixa que mui -
trav ões sociais de interesses antagónicos ( Weffon , 1965a: 58 ), tos outros setores , civis c militares , que , inspirando - se cm repre -
mas a express ão de uma estratégia de reconhecimento de novos senta ções id ê nticas » pareciam por cm a çã o as teorias intelectuais
.

interesses sem preju ízo dos antigos , dc promoçã o de um inter - c dar lhes um reccmhceimcnto social .
vencionismo que se superpõ e sem atritos aos mecanismos capi-
.
talistas ( Schmittcr 1971) .
Da teoria ao engajamento político
Flnalmenrc , a " organização" c a negação da democrat ta
pol it it a : recusa a tudo que seji divisão pol ítica , manifestada
pelos partidos ou pelos clãs; recusa a própria pol í tica na medida partir de 1920 , o engajamento dos intelectuais n ão se
cm que , transform and o-se em um fim em si mesma , ela se des - reduz a exaltar o "cará ter brasileiro" , nem a construir no papel
-
liga da realidade , consagrando se à $ falsas aparências . novas institui ções . Expressa - se também , em muitas ocasioe s . .

A ambivalência realista corresponder assim , LI ambivalê n- pela filiação aos partido ^ pol í ticos locais. Assim aconteceu em
'

cia pol ítica . Autorit á rios ou n â o , os intelectuais não podiam São Paulo , onde se encontravam tanto nas fileiras do Partido
abster -se de conferir um conteúdo pol ítico ã sua missão nacio- i
Democrá tico ( PD ) , fundado em 1926 e atuando em prol da
nal Gcralmeme , poré m , obstinavam -se numa nega çã o feroz amplia çã o dos direitos polí ticos , como no Partido Republicano
do fenômeno pol ítico a preLexto de uma política "objetiva r Paulista ( PRP ), situado dentro da cor rente olig á rquka Má rio
.

"
administrativa . Dai a perpé tua contradança entre realis
" J í

mo " e voluruarismo construtivista . Contra a pol ítica , apelavam


- de Andrade militou no primeiro , onde exerceu fone influência ;
Menoiu del Picchia , Plínio Salgado , Cassiano Ricardo , Oswald
58 59
*
de Andrade estiveram no segundo. Na maioria dos outros Esta - o seu perigo . O movimento oper á rio sc enfraquecera após as
-
dos, defrontavam se tom a exist ê ncia de partidos inclinados a
exercer o monopólio da representaçã o regional ; isto , poré m , n ão
importantes manifesta ções de 1919 , e é necessária toda a imagi -
na ção dos historiadores agora voltados a resgatar a “ historia
os impedia de se inscreverem , por vezes, cm seus quadros , c dos vencidos" para supor que a Revolu çã o de 1930 tenha tra-
de lomar parte ativa da pol ítica local . Em Minas Gerais que zido vantagens para o " proletariado" :v - Difundiu-se, porém ,
se vangloriava de uma cultura política privilegiando a modera- a convicção dc que a abolição da escravatura não foi acompa -
ção , a estabilidade e a conciliação ( L. L Oliveira , 1982; 519 22),
o jurista Francisco Campos ocupava , antes da Revolução de
- nhada de medidas para enquadrar a população rural , e que a
imigraçã o descontrolada criou nas cidades uma perigosa massa
1930 , a fun ção de secretário do Interior . Consumada a Revolu - pouco disposta a sc “ abrasileirar " . Iodo esse contexto , intern
ção , foi sucedido por Gustavo Capancma , que começara sua cionaJmcmc resumido em breves tra ços , fez com que as novas
carreira como professor numa Escola Normal c chegaria , alguns ideias parecessem n ão somente um resultado das humilhações
anos depois , ao posto - chave dc ministro da Educa ção do Estado infligidas pela Republica aos intelectuais , em decorr ê ncia da
Novo . Escritores como Carlos Drummond dc Andrade c Mar - sua subordinação , mas também como expressão de um senti -
uns de Almeida exaltavam em A Revista , publicada em Belo mento geral de crise. Essa jovem rep ú blica parecia a todos pre -
Horizonte , um regionaiismo que , no caso , constiru ía apenas cocemente envelhecida .
uma manifesta ção dc nacionalismo. Carlos Drummond de Estes fatores n ã o bastam , porém , para explicar o destaque
-
Andrade foi redator chefe de 0 Diário de Minas „ jornal do Par -
tido Republicano 11 . Afonso Annas de Mello Franco, descen -
social que ir ão alcan çar os intelectuais . Dois outros elementos
ainda devem ser considerados.
dente de uma família aristocrática e jurista por formação , que Primeiro, a coincid ê ncia com as posi ções assumidas por
se tornaria mais tarde um pol í tico de primeiro plano , recebeu uma fração considerá vel das elites políticas c militares , que con -
cm Minas o legado da tradi ção cat ólica , que iria impregnar as sideram o positivismo c outras doutrinas de organização social
suas primeiras obras ( A. Camargo, 1983). Esses exemplos mos
tram que os intelectuais , no final dos anos 20, manifestavam
- n ão tamo com o ideias" mas como princ í pios que sustentam
prá ticas políticas . A cren ça dos intelectuais na onipotê ncia das
a vontade dc participar dirctameme nas lutas políriçasT ideias era corroborada pela concretização delas , que hã dec é -
A predomin â ncia do antiJibcralismoc a esconfiança em nios os homens de açã o e dc governo pretendiam lazer .
rela ção às elites económicas encontravam , porem , in ú meros Em seguida , o reconhecimento dado pelo regime dc 30
argumentos no contexto nacional . A justaposição eje partidos ao papel dos intelectuais na “ redcscobcrta do Brasil " e na cons -
regionais mantidos sob a dependência de líderes tradicionais c tru ção cient ífica da identidade brasileira . Esse regime n ão escava
de coron éis n ão favorecia que se assumisse o imperativo nacio
nal . A “ pol í tica dos governadores" oferecia o espet áculo de
- menos propenso ao “ realismo ' do que os pensadores sociais,
isto c . necessitava destes para fazer a teoria dessa realidade e
transa ções pouco ciosas dos procedimentos democrá ticos , A tomar parte no desenvolvimento da propaganda nacionalista .
transferencia da "política do café para as m ã os de grupos Esses dois elementos sã o essenciais para se interpretar a
financeiros estrangeiros cm nada lisonjeava a dignidade naao-
nal , O comportamento tíbio da burguesia nacional , ao abrigo P W socialT atribu _ _ída aos intelectuais
-
e, as interferê ncias entre
_ _
o campo intelectual e o campo pol í tico. Muitos intelectuais colo -
+

de uma proteção vigorosa , não indicava que houvesse um cavam -se , perante a sociedade , em posição hom óloga à do
grande projeto industrial , A invasão dc .S ã o Paulo pelos imigran - Estado ; constataremos que a rec í proca era verdadeira . O Esta -
i t s estrangeiros chocava os valores aristocrá ticos A " quest ão do , apresentar ido - se como responsá vel pela identidade cultural _

i ‘
*
social continuava sem solu ção , embora não se deva exagerar brasileira , desejava realizara unidade orgâ nica da naçãoe recor-
ria aos intelectuais para alcan ç a - la .
Sobre05 triie í eitua ís dr Minis , al ém do artigo dc t L , Oliveira , consultai Schwartz
rnan Bousquei Bonemy r Ribeiro Conta (1984 ).
^ Tese detendjda pOf Edgar Salvation de Decca ( Decca . 1981 í .
60 61
4
Da í nã o se conclui que todos os intelectuais aprovassem dualismo , o caráter cient í hco do poder e a superioridade do
o novo regime , c menos ainda sua expressão como Estado bem comum sobre os interesses particulares , rodos os tres a ser -
Novo . Tomaram -se , mais do que nunca , politicamente engaja - viço de uma organização explicicameme autorit ária da socie-
dos cm sua maioria , mas segundo modalidades muito diversas dade O positivismo dc Castilhos antecipava , ern todos esses
,

e , is vezes , em campos opostos. A última seçã o deste cap í tulo pontos , as teses dos pensadores autorit á rios . Basta citar um dc
se concentrará na an álise dessas formas de interven ção política . seus balan ços:
A completa reorganização política e administrativa do Estado , moldada de hai -
moma com o bem p&btt í® . t í uburdinadj i fecunda divisa de cortietvar metho -
.4 coincidência entre os intelectuais
e certas elites civis e militares rando\ a sua prosperidade nanirsd . atestada pelas in ú meras obrai postas em exe -
cuçã o e por outros tantos fatos auspiciosos ; o cresccmc desenvolvimento das
ind ústrias ( . . . ): a sua progressiva educação cívica, em qut se fortalece o ininter -
Getúlio Vargas , vencido nas elei ções presidenciais dc 1930 rupto aperfeiçoamento moral deste povo glorioso; tudo isto resume a brilhante
c vencedor na revolta que se seguiu , representava a tradi ção atualidade do Rio Grande do Sul (citado por R , V . Rodrigues , 1982 ; 29 )
pol í tica do Rio Grande do Sul, toda cia formada sob o signo
dc um certo positivismo. Qs terremes c muitos outros mem - Ou ainda este comentário de um contemporâneo a propó -
bros da hierarquia militar também estavam marcados , cm graus sito da visão castilhista do povo:
diversos , pelo esp írito positivista! O pobre povo ( ... ) só aspira a que o denem viver em paz , com as paridas dc
O positivismo do Rio Grande do Sul tinha pouco a ver autonomia que a organiza ção social lhe pcrmiic para a harmonia possível entre
com o apostolado positivista do Rio de Janeiro , e com o posi - a liberdade individual e a autoridade constitu ída (Bruto , 1908: -48-9, citado
tivismo esclarecido ’ que pregavam homens como Lu ís Pereira por R . V Rodrigues , 1982: 30).
Barreto , Alberto Sales Pedro Lessa ou ainda Aarão Reis , um
,

dos teóricos do intervencionismo económico. Buscava , em pri - Mais tarde o positivismo castilhista irá sc colocar cada vez
meiro lugar , justificar a consolidação de um poder forre , c não mais sob a é gide do ‘ apelo aos conservadores' \ lanç ado por
'

representativo . J ú lio de Castilhos , governador do Rio Grande Augusto Comte cm 1855 Apelo cvidcmcmentc desviado dc
,

do Sul de 1891 a 1898 , foi o iniciador desse positivismo dc seu sentido: da " ditadura republicana " preconizada pelo mes -
braço forte ; e Antônio Augusto Borges dc Medeiros , o seu con - tre foi eliminado tudo o que mantivesse a autonomia do poder
urmador de 1898 a 1928 , mantendo -se continuamente no espiritual ; do elogio ao conservadorismo ’ foi omitido , pelo

governo do Estado durante vinte e cinco anos , e através de pre - menos ate 1930 , o fato dc que o termo * ‘conservador" desig -
posto encre os anos 1908 - 1913 . Getú lio Vargas , que galgou ao nava o mundo do trabalho , o dos empresá rios e operá rios 26.
governo do Rio Grande do Sul em 1928 com o apoio dc Bor - Restava a ditadura c o conservadorismo , sob a forma dc uma
ges de Medeiros , filiava - se . por sua vez , à linha " castilhista escolha imutá vel em favor da ordem . Isto é , em favor da or - “

Para todos eles , polí ticos pragmáticos , avessos às elabora - dem castilhista" , referencia permanente de seus sucessores ,
ções teóricas , o apelo ao positivismo se destinava a legitimar a cm favor da ordem em si . Prova disto toi a condenação , cm
rejeição aos sistemas representativos e o horror ao parlamenta - 1922 , da primeira revolta tenentista do Forte de Copacabana ,
rismo . O positivismo n ão servia absolutamente para promover formulada , com aprovação de Borges de Medeiros por Lindolfo ,

o desenvolvimento moral do povo — embora Borges de Medei - Collor , futuro ministro do Trabalho do governo provisório de
ros n ão deixasse dc salientar , por vezes , essa necessidade
não convergia para uma separaçã o entre o poder espiritual e o
— ,
Getú lio Vargas de 1930:
inabaláveis no nosso posto dc convicção , nã o pojpaiemc* . dentro da ordem .
poder temporal não abria espaç o à afirmação da liberdade de
,
o ultimo esforço pela integridade da constituição c pela moralidade do regime
expressã o . Mas al é m da nega ção da representatividade , impli -
cava , no mínimo , três princí pios: o questionamento do indivi -
-
Confrontai os owiieniinos dc C Nuolci (Nicolct , lL> Hl 214 )
/
62 63

Pira a desordena civii nio contribuirá n Rio Grand* do ã ui [ ... ). Dentro Ju ordem
itmprt , orno pda desoedem . parta de uode pimr , renda para onde tender esse
quase 22 % dos efetivos militares do Brasil estavam ali concen
,
-
,
trados . Ora , as Forças Armadas consumiam um dos centros de
c o aceso ler na . -supremo e irftvogavd ( citado por R . Y Rodrigues . 1982 ; 70), incubação de um nacionalismo cada vez mais ameaçador para
Op SD do Rio Grande do Sol dentro da Federação impli - a Rep ú blica .
cava , por si so , que o model o de organização positivista escava A irradiação do positivismo já n ão era t ão grande . Triun -
sempre disponível como uma alternativa concreta às institui - fando na Escola Militar da Praia Vermelha cm lins do s éculo
ções liberais. De resto , a vontade de consolidar o poder execu - XIX , ligado â influ ê ncia do ensino , de conte údo muito mass
tivo por parte dos presidentes da Federação entre 1891 e 1902 civil do que militar , segundo as ideias de Benjamin Constant ,
se enraizava num aspecto do positivismo. Outro discí pulo de perdia terreno ã medida que progredia a profissionalização inili -
.
tar sob influencia alem ã durante alguns anos , e sob influê ncia
Jos
J ú lio de Castilhos, é Gomes Pinheiro Machado ., encarregou -
se , nos anos 1890 - 1915 , enquanto senador , de intervir , em
nome desse modelo ., no plano nacional , Quando da eleição
francesa a partir de 1920. Isso n ão impediu que — sob diver -
sas formas que dependem dos n í veis hierá rquicos, da consolida -
do marechal Hermes da Fonseca à presidência da Rep ú blica ção das instituições militares e do ressurgimento do tema do
em 1910, contra o civilista Rui Barbosa , de contribuiu para soldado - cidad ão as Forç as Armadas , e sobretudo o Exército,
que "os interesses supremos da na ção e o " bem p ú blico " assumissem a noção dc imperativo nacional c se associassem
entrassem na linguagem pol ítica da Federa ção como um freio ao projeto de fortalecimento do Estado Nacional .
à expressão dos regionalísmos oligá rquicos ( ibid.: 40). Condu - Em diversas oportunidades , j á fizemos alusão aos tenentes
zido ao poder em 1950 , Get ú lio Vargas logo transforma essa e ãs suas revoltas ocorridas após 1922 . Convé m n ão superesti -
linguagem —c com que estardalhaço !
cial . Em 1931 jã proclamava :
em linguagem ofi - mar as repercussões imediatas desses movimentos . Eles demons-
travam , em larga medida , uma impaciê ncia diante dos garga -
los de estrangulamento que retardavam a passagem aos n í veis
A época i das assembleias opcdatizadjí, doa conselhos rccnkos integrados i
administração. 0 Estado puramemt político , na sentido antigo do terrao , pode-
superiores: em 1920 , os tenentes representavam 64 % dos ofi -
ciais do Ex é rcito ( Carvalho , 1977: 206 ), Contribu í ram , entre -
mos condíku - IOr atualrnente , er-indaGÍ e amorfa que , aos poucos , vai perdendo
tanto , para reabilitar a ideologia do so Idad o- cidad ão . Juarez
" '

-
o vaJar e a signiiicaçáo i . , ) A velha f órmula políuca ., patrocinadora dos dtret
Tá vora , uma de suas figuras mais prestigiosas , que se tornaria
tos do homem , parece estar decadence Em vez do individualisiDD, sinó nimo
dc excesso dc liberdade t do comunismo , nova modalidade dc escravid ão o grande l íder pol í tico do Nordeste após 193(1, declarou a res -
devt prevalecer a coordcnaçiti perfeita dc iodas as iniciativas , circujisoifas à peito disso que " a For ça Armada c hoje parte integrante do
orbita do Estado, e o rtconhecimcma das orgimbaçte dc classe como colabora' povo , dc cujo seio saem soldados e oficiais e para onde voltam
doras da adminjnração p ú blka \ citado por Palm , 1979: 66) aqueles depois de um curto tempo de estágio na caserna " ( ibid , :
211 ) . Quanto ao restante , somente a critica às instituições libe-
Esse desvio pelo RJO Grande do Sul , Estado que era o prin- rais unia os elementos envolvidos nessas revoltas. Isto seria per -
cipal ponco de apoio da Revolução de 1930 , indicava que o
esquema dc "organização da na ção " no quadro de uma "dita -
.
cebido após a vitória da Revolu ção de 1930 quando alguns
deles ascenderam a postos de responsabilidade no novo regime :
-
dura republicana baseava sc numa tradição pol ítica. Dando -
"

lhe uma nova consist ê ncia , os intelectuais n ão inventavam um


outros foram levados a se expressar lota das instituições milita -
res , através de organizações como o " Clube 3 de Outubro ’ ;
1

imagin á rio pol ítico inédito: apenas recolhiam , acrescentando - outros ainda evoluíram para õ Partido Comunista e a Alian ça
Ihes outros ingredientes , concepções já. utilizadas para justificar Nacional Libertadora ( ANL ), sendo eliminados das fileiras do
certas pr á ticas de governo,
U Rio Grande do Sul era també m ., junto com o Distrito
Exército .
Mais decisiva na d écada de 20 , sem d ú vida , foi a opção
Federal do Rio de Janeiro , o Estado onde se sediavam perma
nentemente as for ç as milhares ruais importantes: em 1920 ,
- de certos chefes militares dc atribuir uma fun ção " moderado -
ia " ãs instituições militares , conciliando a profissionaliza çã o r

!
64 65

a politização. Formulada cm especial por Bcrtholdo Klinger , dera que " compete ao Exercito inspirar os novos programas
um dos artífices da modernizaçã o das For ças Armadas, e pela de formação nacional ’ ( Baia Horta , 1985: 2 17 ) . O amigo inter -
revista A Defesa Nacional , essa fun ção conferia ao Exército, ventor do EsLado dc S ã o Paulo , Armando de Sailcs Oliveira ,
composto de tidad ãos- soldados. uma voca ção estabilizadora: propõe, por sua vez , "fazer penetrar , desde a escola primaria
"o Ex é rcito deve estar preparado para seu papel conservador e
at é o á pice da Universidade , as palavras de ordem inscritas nas
estabilizador " , afirma essa revista (ibid ,: 213 ) , Góis Monteiro casernas ' (ibid .: 221 ) . N ão taltavam intelectuais dispostos a
1

— que , juntameme com o general Dutra , viria a ser o verda - aprovar essas sugestões c ate a colaborar com o que j á despon -
deiro chefe da corporação militar após 1930 e sob o Estado tava como uma ' doutrina de seguran ç a nacional ". Assim , em
Novo —
era partid á rio dessa posição ao escrever: 1939 , o importante educador I.ourcnço Filho destacou "a neces-
Ficam 50 o Ftérttto tr a Mann ha como instituições nacionais , ú nicas forças com sá ria coordenação entre a política dc seguran ç a e a pol ítica de
ti> tcaráter , c v.: à sombra dcUí k que , segundo a nossa < upaadadc dc qrgsnha-
i
educa ção ( ... ) pois , no fundo , trata - se de uma ú nica e mesma
çã o, fxideilii organiZiir-se as demais forças da ruaimaJidiac ( ibid 214 ). pol ítica: a dos mais profundos interesses da nação ’ ( ibid .: 231 ).
A conivê ncia ultrapassava o dom í nio da educa ção: muitas
Impor o reconhecimento da institui ção militar pela vezes se estendia at é a definição do poder e da organiza çã o
qual passavam , cm princ í pio , todos os cidad ãos , desde a decre - social . Azevedo Amaral julgava que “ o Poder Judiciá rio Fede-
ta çã o do serviço militar obrigat ório em 1916 y como respon -
s á vel pela nacionalidade " , c assim como chave- mestra do
— ral e as forças Armadas eram cssencialmentr os dois órg ã os de
,
articulação c de coes ão das unidades federativas no todo consti -
Estado , esse será o objetivo de Gó is Monteiro e Dutra após
1930 . Dc um lado , a dcspolitização" interna do Exé rcito (Car-
"

a dissolu ção do imegralismo em 1938 , Plínio Salgado coloca


-
tu ído da nacionalidade ( Azevedo Amaral , 1938: 47 8 ). Após

valho, 1982 : 193- 22 3 ) e , dc outro, a atua ção pol ítica em prol "sob a égide do Exé rcito ( ... ) a grande massa civil , nacionalista ,
da ruptura com o sistema parlamentar e a instala ção do Estado espiritualista , armeomunista , arrebatada por uma incompará vel
Novo: eis os seus principais componentes . Tudo isso n ão sem mística da pátria " ( citado por Medeiros , 1978: 507 ). Eijrre os
conflitos internos: entre os chefes militares ( uma pane do Ex é r - pró prios comunistas , após a adesã o de Lu ís Carlos Prestes ,
cito e o general Klinger solidarizaram -se em 1932 com a Revo - numerosos tenentes com Irequ é ncia promovidos a postos diri -
,

lu ção paulista contra o regime ) , entre os chefes e os jovens ofi - gentes , e vários sargentos ( como Gregorio Bezerra ) afirmavam ,
ciais , entre os militares de alta patente e os subofkiais, entre quando da íormação da ANL , a prioridade da.s reivindicaçõ es
os partidários do regime e a esquerda militar radical e refor - nacionalistas: reforç ar o poder do Estado , acelerar o desenvolvi -
mista . com tudo que esses conflitos supunham de sucessivos mento econ ómico , defender a soberania nacional . Demonstra -
expurgos ( ibid . ). vam assim a influ ê ncia da mentalidade militar , ao mesmo
Esses sobressaltos e transform ações repercutiriam sobre a
orientação política de numerosos intelectuais.
tempo que visavam a atrair os escal ões subalternos cm ativi
dade ( L . M , Rodrigues , 1981: 396-401 ).
-
Desde a criação da Liga dc Defesa Nacional , ficara claro
que a tareia fundamental de educa ção do povo requeria a cola -
A aproximação rinha seus limites. Primeiro , c preciso con
siderar que o regime pós - 1930 fazia do amicomun ísmo um
-
bora çã o entre civis c militares . Em A Revolução de 1930: afina artigo de fé , e da amea ça de conspirações comunistas , o argu -
/ idade política do Exé rcito , Góis Monteiro considera a educação mento de sua evolu ção para um Estado pit n am ente autorit á rio.
do povo como largameritc dependente das Forças Armadas . Por essa raz ão, os nacionalistas " progressistas" foram excluídos
No Conselho Nacional de Educação, criado em 1930 . Isaías , dos c í rculos convidados a cooperar na "organização" nacional .
Alves, tururo secret ano de Educação do Estado da Bahia , pom Certos adeptos do pensamento autorit á rio demonstravam reser -
vas diante dc uma excessiva militariza ção da vida política . Por
‘ N .i tealidiJ í- a ilasses m édia tr í upenore ?,
* coiMC-guiíam escapar ao serviço miliiar mais pr ódigo que fosse Oliveira Vianna cm seus elogios ãs For -
-
BRIGAMIKI peto men o* até os anos ilQ ç a> Armadas , in ú meras vezes pronunciou - se contra um " exé r *
66 í 67

dm ddiberante cm 1933 , também Alceu Amoroso Lima pulso forte sobre o ’ espaço pú blico" durante quinze anos.
inquietou - sc com os rumores de uma agitar ão militar. Inclinado ao autoritarismo desde o seu surgimento, por doutrina
Em contraste com essas reservas , porem , outros intelcc -
. e por necessidade de se impor sobre as oligarquias regionais ;
ruais ligados ao regime n ã o hesitaram em comemorar o t é r - condenado à distens ão durante algum tempo , em raz ão da_s
mino da
mente
distin
Azevedo
ção entre poder civil c poder militar , principal
Amaral , que declara:
- relaçõ es dc forças na Assemble ia Constituinte convocada em
1934 ; fortalecido em suas inten ções pela tentativa aventureira
de revolu ção desencadeada pelo PCB e pela ANL em 1933 ; rea
Uma das extravagâ ncias das doutrinas Iiberal -dcmocx â cica-s foi a fragmentação
^

do poder estatal n ú que íí chamava o podei civil t o poder miliur . No Estado


lizando - as ptenamcncc em 1937 com a sua transformação cm
Estado Novo ; liberado da concorr ê ncia do movimento in teg ra -
-
Novo , seradhame diferenciação iorna se cm anacioubniQ . N ã o h á podei civil ,
porque a essência do regime envolve o conceito de militarização do Estado , nem il s ta em 1938 , em consequ ê ncia de uma açã o fracassada das rro -
'

há poder militar, porque o Exército integrado na tacã o c por é5$C motivo coe - pas de Plínio Salgado; tentado a alinhar - se com o Eixo , mas
xtstenie com a própria estrutura do Estado , de que consumi o elemento dinâ - bastante prudente para mudar de direção e, final mente , juntar -
mico de afirmação e defesa ( Azevedo Amaral , IQdO citado por Schumanns , se ao campo dos Aliados, manteve at é o fim um controle rigo-
Bousquc: Bonemy c Ribeiro Costa, 1984 ) . roso sobre a vida política e social do pa ís .
A censura existiu desde os primeiros anos , sendo exer -
Quer se tratasse de ‘ ‘ organizar demificameme a socie - cida sem limites com a prorrogação do Estado Novo e a inter-
dade ou dc colocar o Estado a serviço da ' nacionalidade ' os
1 *
t
dição dos partidos politicos. A repressão e a propaganda agiam
intelectuais nã o faziam mais que formular , a seu rumo , o que duramente . O patriot is mo era inculcado , seja nas escolas ou
jâ fora formulado e praticado por outros grupos sociais. Sua nas associa ções esportivas . Em 3 938 , Francisco Campos quis
proemin ência não decorria necessariamente da aud ácia de suas criar uma " organiza çã o nacional da juventude ” , de cará ter
sugest ões, mas provinha do fato de que se faziam porta - vozes paramilitar , ideia que n ão iria longe , c verdade , diante das
de uma opiniã o já formada ; colocavam - se ao lado de agentes
j á constituídos, procuravam ocupar , com eles , uma posição de
,
reticê ncias de Capa nem a , ent ão ministro da Educa ção , As ati
vidades culturais eram vigiadas . Esses fatos , enefe muitos
-
dite à margem das elites olig á rqukas tradicionais , e que , tam - outros , n ã o pareciam evoluir numa direção favorá vel à queles
bé m como des, faziam um jogo seguro , apostando no Estado . intelectuais que n ão se sentiam atra ídos pelas fun ções dê pro -
Passado o instante de d ú vida sobre a natureza da Revolu - pagandistas ou te ó ricos do autoritarismo . De resto conclui
ção, não levaram muito tempo para perceber que haviam de
,

um historiador :
faro ganho o jogo. Salvo para os comunistas ou similares c os
liberais obstinados , o novo regime foi magn â nimo . Reservou 0 Estado Novo sufocou a vida mpcJecmal , t> que já era uma tendência desde a
para os oferecimentos dc colabora ção intelectual uma acolhida mstinnçau da censura no início dos anos 30 , e consagrou a amução per Vargas
,

favor á vel , e mais ainda porque , propenso ao pragmatismo e das titicas de repressão lutstra a dissid ê ncia ( Levine, 1 %0 : 257 ) .
refrat á rio â mobilização das massas, ganhou dos ideólogos rea
listas o ró tulo de agente de moderniza ção e pacificador social ,
*
O ensino representava um. dos campos onde foi mais sis
temá tico o esforç o do regime para criar a mentalidade do
-
concentrando ai as suas ambições .
-
“ homem novo" Demonstra o bem a evolu çã o de Francisco
Campos , doutrin á no r ígido do autoritarismo enquanto minis -
tro da Educação c depois da justi ç a . Em 1933 , ainda conside -
0 regime autoritário e o reconhecimento rava o ensino superior como um aprendizado do espí rito cr í-
da função dos intelectuais tico:

É preciso frisar dc imediato: embora tenha necessitado .


A criR a » de uríi homem novo * fez pane da linguagem d õ Est&Â NOVú Ver Oli -
-
11:

^
'

dc seteanos para tomar se incontcsrado , esse regime manteve veira . Vdloso c Castro Gomts f IWV
*
68 69

>c ã educação tem por fim transmitir alguma coisa , esta será. necessariamente , so pela qual , apesar da destruição do movimento operá rio c
a retruca do dissentimento, da duvida , da controvérsia , da curiosidade , isto e ,
-
t

dos sacrifícios econ ómicos impostos às da-sses populares , se con


o processo que torna possível ao espírito humano converter os latos em verdade
(Campos. 1940b : 170 ) quistasse uma sólida base institucional a partir de uma rede
dc associações que abrangiam a vida de "depois do trabalho ”
Em 1936 , apresenta ele um julgamento sem apelaçã o { dopolavoro ) e favoreciam a educação " moral ” e " intelectual ”
sobre a ' liberdade de pensamento ” : dc seus membros ( Graz í a , 1981 ) . O regime de Gcc ú l ío Vargas ,
mesmo durante o Estado Novo , visava a um autoritarismo des-
A liberdade de pensameruo era , assim apenas a liberdade para os tivre - pcnsa-
,

dores. isto cr não para aqueles que pensam livre mente mas que peruam de mobilizador, e mostrava -se mats vacilante que resoluto em suas
iniciativas para formar organizaçõ es dc massa . A razão dessa
,

mordo com uma das ortodoxias lonsagadas pelo preconceito suiti -religioso , o
majs supersticioso c o mais fanático de rodos os preconceitos (ibid : 151 ) prudência residia , parcial mente , na dificuldade em atingir um
povo ainda considerado alheio à civilização . Mas sc relaciona
Em 1938 foi a vez do projeto de militarizar a juventude . també m com a preocupação de conciliar tendências diversas
Nesse processo , os dignit á rios do regime n ão eram os ú nicos entre os simpatizantes do regime , dos quais nem todos estavam
cm quest ã o . Eles próprios estavam sob vigilâ ncia , pois as corren - dispostos a completar o salto para um regime totalit á rio, pois
tes cató licas aliadas indispensá veis , n ão desistiam de tentar o
,
n ã o acreditavam ser isto possível ; vincula -se tamb é m à inten ção
restabelecimento do cará ter religioso da educação c uma contra - de cooptar os intelectuais , mesmo os reticentes para com o auto-
ta çã o mais apropriada dos professores . Essas correntes intervi - ritarismo.
nham dirctameme contra dinamizadores do ’ Movimento da 4
O projeto do regime prctcndia - se mais "cultural ” do que
Escola Nova ” que , desde os anos 20 , preconizavam uma peda - mobilizador , e a defini ção do "cultural confundia-se ampla - ”

gogia inspirada em Dewey , como por exemplo Fernando de .


mente com a dos intelectuais Trata - se de construir o "sentido
Azevedo c sobretudo An ísio Teixeira , que entre 1926 e 1934 da nacionalidade " , de retornar às " raízes do Brasil " , de forjai
se sucederam na direção da Secretaria da Educa ção do Distrito uma unidade cultural ” . E sempre evidence , para os responsá-
'

Federal Akcu Amoroso Lima atacou encarniçadamente tam - veis pelo assunto no regime , que cultura e " pol ítica ” sã o
L

bé m a Universidade do Rio de Janeiro, idealizada por An ísio dois termos insepará veis e que cabc a eles fundi - los no quadro
Teixeira e inaugurada em 1933 com o concurso de figuras pres- do nacionalismo . Almir de Andrade , encarregado da formula -
tigiosas do mundo cient ífico , a ponto de forç ar Gustavo Capa - çã o dessa noção de cultura , enquanto diretor da revista Cultura
nema , sucessor de :rancisco Campos no Ministério da Educação , Política , criada em 1937 . assim escreve:
a fechar a instituição em 1938 (Schwartzman , Bousquct í tonemy
-
e Ribeiro Costa , 1984: 210 4 ). Naquela época, Gustavo Capa - Entre a cultura e a pol í tica há um traço vigoroso de uni ão . A cultura põe a pol í-
rica cm comaio com a vida . com is mais genu í nas fomes dc inspiração popular
nrrna lança o projeto para a implantação , no Rio de Janeiro,
de uma ‘ Universidade do Brasil ” , que só comportaria , de iní- A polí tica empresta à culrura uma organiza ção um tooKudo sociaimcnrc ú til ,
,

um sentido dc orientaçào pata o bem comum ( L L Oliveira , VeIJoso e Castro


cio, uma Faculdade Nacional de Filosofia . Ali também , Alceu Gomes . 1982: 34 ).
Amoroso Lima , a quem fora proposta a fun ção de reitor da
nova Universidade , se encarrega dc , no m í nimo , vigiar de perto Sobre a nação , afirma que da “ representa o esp í rito de
o " espí rito correto ” dos professores contratados , inclusive dos uma cultura ou dc um grupo dc culturas ” ( ibid .: 38 ) . A revista
solicitados à Fran ç a . I Cultura Política faz parte do plano de intervençã o cultural cons -
Entretanto , continuava considerável a dist â ncia entre esta titu ído em torno do Departamento de Imprensa c de Propa -
a ção ideol ógica e aquela desenvolvida na Itá lia por Mussolini ganda ( DIP ) , entregue em 1939 à direção dc Lourival Fontes ,
Victoria de Grazia descreveu como os dirigentes fascistas preten - que publicava també m a revista Ciê ncia Política e supervisio-
deram n ão sem resultados , organizar uma "cultura do conscn -
. nava o rádio , o cinema , o teatro etc .
71
70 I
Assim , 2 cultura nacionalista oferecia um terreno dc encon - ria" ( Ramos, 1941: 285 ) . Contam-se ainda entre os colaborado -
tro entre os " intelectuais do regime e os outros. Al é m disso ,
'

ra Vieira Pinto c Gradl Èano Ramos, que nela descreveu princi -


n ã o faltavam tentativas de aproximação dirigidas a estes ú lti
mos , visando a suscitar uma " cultura de consenso" , n ão no
- pal men te os modos de vida do Nordeste ; Nelson Werneck Sodré ,
oficial graduado c futuro teórico do Partido Comunista , que
sentido de uma cultura para uso do povo mas sim de uma cul - nela faz o balanço da consolida ção nat ional , possibilitada pelo
tura das elites Gerúlio Vargas n ã o foi o ú ltimo a elogiar 0 fim
, faro de que ' o eixo pol ítico se assinala como dorado de uma capa -
'

dos " letrados " satisfeitos oom sua corre de marfim , assim cidade nova de afirma ção e de projeção, sobre o iodo nacional ,
como dos homens dc ação debru ç ados sobre as tarefas praticas: com novas possibilidades de agir c de imantar " . Condui daí:
"Só no terceiro decénio deste século operou se a simbiose neces *
- Seremos capazes de coijugar inicresses e de articular tendências , de forma a
sá ria entre homens de pensamento e de ação", declara de , e
confia à Academia Brasileira de Letras a fun ção de " elevar a constituir um comunh ã o national , em que 0 problema da unidade se estabe-
le ç a em linhas precisas para maior valor de nossa grruc c constante desdobra -
vida intelectual do pais a um n í vel superior ., dando- lhe uma
,

mento do Brasil ( Sodre , 1941; 120).


direção construtiva , forç a e equil í brio criador " (ibid .: 34 ),
Almir de Andrade por sua vez , ressalta a ausê ncia dc dogma -
, Muitos outros nomes cola botaram na revista .
tismo nos intelectuais brasileiros : Em torno do ministro da Educação , Gustavo Capancma .
Sc há um traço que caracterize a inteligê ncia brarileira , c a sua proverbial íaciJi - também gravitavam numerosos intelectuais que n ão pertenciam
dade dc ajustamento aos progressos do espírito humano i . . . ! . Talvez por obra â esfera de influencia autorit á ria , começando por Carlos Drum -
da nossa enorme plasticidade mental , que nuoca se paralisa cm idctas mrranss- mond de Andrade , seu chefe dc Gabinete , poeta que , ap ós
gemes ( A . dc Andrade , 1941 163). 1945, seria por algum tempo simpatizante do Panido Comu -
nista . Ali acuou tamb é m Augusto Meyer , profundo conhece-
Na esteira de Get ú lio Vargas, regozijava se porque a
ideia " vai se transformando numa projeção din â mica da ação
- 41

dor da literatura estrangeira , nomeado Diretor do Instituto


Nacional do Livro . Capanema contratou Le Corbusier c Oscar
*

sobre o esp í rito: a intelig ê ncia idealiza vivendo , experimen - Niemcycr para construir uma nova sede para o Minist é rio , que
tando, aprendendo , construindo” ( ibid . ) . seria um Pal ácio da Cultura . Ofereceu a Má rio de Andrade a
A abertura em. direção aos intelectuais n ão ficou sem res-
- direção do Departamento de Teatros em 1938 , c o fez partici -
posta . Exceto com os comunistas , as pontes n ã o lotam corta
- par do Instituto Nacional do Livro . Em 1935 , esfor çou se -
das. E verdade que na revista Cultura Política encontram se a_s
assinaturas dc Francisco Campos , Azevedo Amaral , Lou rival —
Lima
sem obter resultados , devido ao veto dc Alceu Amoroso
para confiar a Fernando de Azevedo a direção nacio -
Fontes , mas també m a de Gilberto Frcyrc. que ali observa uma
verdade [ que] o menos apologético dos observadores deve reco - nal da educa çã o. Por interm é dio de Carlos Drummond de
nhecer , isto e: Andrade , apoiou vá rios artistas modernistas ( Schwanzman ,
Bousquet Bonemy c Ribeiro Costa , 1984: 80 -9 ). Essas aproxi -

Com 0 amai Presidente * a base do governo dc sua técnica deslocou - sc ma ções n ão significam , necessariamente , que os intelectuais
da puía interpretação política áoh problemas , acompanhada dc soluções ou [an - tivessem perdido toda a independ ê ncia . Escreve Ant ô nio Cá n -
atavas dc soluções apenas financeiras e jurí dicas para largar 0 Brasil em busca
,
dido :
dc novas bases para as técnicas de governo e de administração: sociais , e princi-
palmem? sociológicas e económicas (Frcyre, 1941: 32 ). Carlos Drummond de Andrade ‘ serviu 0 Estado Novo como funcionário que
já era antes dele , mas não alienou por iiso a menor parcela de sua dignidade
Na revista escreve também Guerreiro Ramos que , por ou autonomia mental Tanto assim que as suas ideias contrárias eram patentes
gosto pelo paradoxo , contrasta "o car á ter burguês , reacion á rio
da massa , e o car áter revolucionário da elite , por mais que isto
e foi como membro do Gabinete do ministro Capanema que publicou os ver
sos pol í ticos revolucionárias de Sendttento dc mundo c compôs os de Rosu do
-
possa parecer paradoxal aos corifeus da ccona marxista da hiscó- pofo ( Cândido . 1979: XII ).
72 í 73

Ê , portanto, reconhecido , iamo pelos contemporâ neos os intelectuais* compartilhando o desd ém pela representative
como pelos historiadores, que o regime de Gerúl ío Vargas, ate dade democrá tica e a nostalgia por uma administração do social
mesmo durante o Esudo Novo , preservou para os intelectuais , que tomasse o lugar da política , foram levados a agir como
e para os que estavam a seu serviço , urna ampla liberdade de sócios a serviço da identidade nacional . Sc os intelectuais aderi -
eração . ram a uma " ideologia de Estado " , o Estado aderiu a uma ideo -
,

.M ão nos contentar íamos em explicar essa situação somente logia da cultura , que era també m a ideologia de um governo
por uma espécie de modus vivmdi entre pessoas de boa fam ília , ' intdcctuil ' \ Al é m disso , o Estado n ã o conhecia outra expres -
ou pela preservaçã o das redes, tão importantes das relações par -
,
são da opini ão p ú blica exceto a representada pelos intelectuais .
ticulares. M ão que se devam ignorar esses fatos : al é m da solida - Vale dizer que o Estado atribu ía , de fato , três papé is comple -
riedade devida ã posse de um 'capital " familiar e cultural , des -
1
mentares aos intelectuais: concorrer para a definição das finali -
tacadas por Sé rgio Mice 1 í , h ã a marca das experi ê ncias comuns. dades da a ção pol ítica . expressar a presen ç a da sociedade civil
,
Exemplo disto é a participa ção na Semana de Arte Moderna , c dar o exemplo de um ator social coletivo. No discurso teórico
assim como os anos de forma ção nas diversas capitais regionais, daquele momento , esses três papé is foram interpretados tam -
que permitiram o encontro* por exemplo , de Gustavo Ca pa- bé m corno tr és atributos definir o que fundamenta a unidade
nem a , Carlos Drummond de Andrade , Afonso A ri nos dt Melo
Franco , Milton Campos e Pedro Nava nos caies da rua Bahia
social c o que se rd aciona ao ato transformador; revelar a reali
dade; formar urna corporação que assumisse o interesse geral „
-
em Belt Horizonte ( Schwartzman . Bousquct Bonemy e Ribeiro
acima das corporações encarregadas dos interesses específicos .
.)

-
Costa . 1984; 23 -4 ) . Revela -se , assim , urna socializa çã o inte Mais ainda : uma vez que o Estado brasileiro se legitimava por
lectual diversificada , dt onde emergia uma “ esfera publica "
amplomente articulada com circuitos privados de comunicação uma dupla aptid ão — a de se adaptar is leis que presidem â
evolução do real , e a de promover uma racionalidade que orien -
t com princípios de hierarquizaçã o interna , considerando-se a
tasse o desenvolvimento económico e gerasse as relações sociais
densidade das relações com as ou tras chies da sociedade ( Haber-
mas , 1968), Florestan Fernandes, que provinha de uma origem
muito distante desses c í rculos ilustres t se consagrou graças a
— .
*
cie conferia à ci ê ncia o estatuto de componente primordial
da política e , simultaneamente , aos " intelectuais ” o de prota-
uma carreira meritocrâtica/ ' exceptional , só poderia ressentir - gonistas privilegiados da vida política. Estado e intelectuais esta -
se profundamente do peso das conivências sociais; nos anos vam, mutuamente comprometidos ,
-
30 40, constata ele. " a liberdade de divergência existia ou era O regime , porem , acarreta outra consequência . Por inter -
tolerada porque ele [ o intelectual | era parte da elite" (Fernan- m édio do DIP e de outras organizações , penetra em todas as
des, 1973a : 26). O regime sabia não só acolher os intelectuais atividades culturais, cinema, teatro, literatura etc . famb ém
rebeldes mas també m ao se referir a eles , manter uma l í ngua
, *
nesse aspecto , ultrapassa o simples projeto de controle ideoló-
gem que evitasse as rupruras definitivas. Afinal , passados os pri - gico. jumamente com a criação de associa ções profissionais ,
meiros momentos do Estado Novo . Vargas se gabava de ter esta - esse era o esboço de um sistema onde os intelectuais sã o incita -
belecido no Brasil a " verdadeira ” democracia , que n ã o seria a
1 dos a voIrar -sc para o Estado a fim tie obter apoio e recursos
dos parlamentos mas a que " atende aos interesses do povo e cm nome da defesa da "cultura nacional " , e onde , com toda
consulta as suas tend ê ncias , através das organizações sindicais c a naturalidade , julgavam —
como Villa - Lobos em relação ao
associa ções p rod u toras
! r
f Vargos , ] 941: 158 ).
E preciso , assim , avaliar a contribuição do regime à posi -
canto coral
'
— que os investimentos nessa cultura eram uma
quest ão de Estado L
'

ção .social dos intelectuais. Por mars desejoso que estivesse o regime de inculcar o
0 Estado lhes reconhecia a vocaçao para se associarem patriotismo e " a doutrina de Estado ( Vargas , 1938 ), ele per -
1

como elite dirigente , à afirmação da na çã o através de sua indis- maneceu , afinal , reservado quanto aos excessos de ideologia c
pensá vel contribuição á cultura pol í tica nacional , O Estado c de controle , J ã vacilava quando se tratava de militarizar a juven -
74 I 75

tudc y‘ . Com nisus razão sc preocupava cm deixar um espaço tempo , o attvismo foi proporcional ã incerteza sobre as verda -
para uso dos intelectuais que , era sua aspira ção à brasihdade , deiras orientações do governo provisório. Ele se apodera dos
sc pusessem , por iniciativa pró pria , a servi ço da reconstrução participantes da Revolução: tenentes , líderes politicos , chefes
do BrasiL locais . Foi a hora das legiões revolucion árias em S ão Paulo ,
" O Estado Novo c o Estado brasileiro , segundo as tradi - Minas Gerais , Ceará c outros locais , sob a direção de renenres
Ç& es brasíleiras , orientado no sentido das nossas realidades " , ou de doutrin ários como Francisco Campos; do Clube 3 de
declara GeruLio Vargas em agosto de 1939 ( Vargas , 1943 : 61 ), Outubro, pedra dc toque de outros clubes pelos quais os tenen -
Esse Estado não surgiu do nada , mas reivindicava sua continui - tes desejavam conquistar a opinião p ú blica e acertar suas pr ó-
dade com o Estado do scculo XDÍ c , mais atrisT com o Estado prias divergências; hora dos conflitos entre os políticos tradicio-
português. Para se afirmar acima da sociedade, n ão carecia da nais e os novatos , cuja profundidade foi atestada pela Revolu -
“ ideologia dc Estado ” que lhe propunham certos doutrin ários < . l
çã o paulista de 1932 . O ativísmo conquistou também os inte-
Por outro lado , necessitava dela para assumir as fun ções que lhe lectuais , de maior ou menor envergadura , cat ó licos, reacion á -
competiam na nova fase de desenvolvimento e , mais ainda , rios ou revolucionários, que aderiram is Legiões , fundaram ccn -
para dispor dc uma representação política que , sob o signo da rros , desencadearam movimentos c sonharam com a tomada
unidade org ânica , permitisse a substituição da representação do poder
democrática pela representa ção corporativa . “ Só os povos bem Foi espetacular a mobiliza çã o de que participaram essas
organizados , de vigilance espirito nacionalista , subsistem ” , afirma diversas categorias de intelectuais . Um exemplo foi a Legião
ainda Gct ú lio Vargas ( Vargas , 1943: 339). Enquanto os inte- do Cear á , liderada por um militar , mas reforçada pela partici -
leciuais permanecerem fiéis à sua vocação nacional , terão seu pação dessas “ novas camadas". Outro ainda , a AIB, que , sob
lugar garantido nas fileiras do Estado. o comando dc Plí nio Salgado , transformou -se , em poucos anos ,
numa imensa organiza ção: no seu auge , em 1936 , contava com
mais de um milh ão de afiliados , 3.000 centros espalhados por
Os tipos de engajamento político todo o pa í s , 123 seman á rios, numerosos centros dc estudos c
mais de 1.000 escolas prim á rias ( Chau í e Carvalho Franco ,
Encontramos tipos muito diversificados de relação entre 197S: 102 ). Fenômeno extraordin á rio: nenhum outro pa ís da
os intelectuais e o regime . Alguns se comportam como ideólo- America Latina conheceu um surto fascista de tamanha ampli -
gos do autoritarismo , ocupam fun ções no Estado, colocam seu tude , e nenhum outro movimento fascista encontrou seme -
talento literário ou artístico dirctamcntc a serviço da política lhante acolhida entre os intelectuais , profissionais liberais c
oficial . Outros se contentam em aventurar -se por conta pr ópria estudantes ( Trindade, 1979).
cm busca do Brasil aut ê ntico , lutar para impor ternas nacionais , Na esquerda , també m o Partido Comunista , no momento
inventar modos brasileiros de expressão e , havendo oportuni - da ANL , conseguiu recrutar vastos contingentes , inclusive mui -
dade , apresentar sugestões c pedidos aos governantes c ao seu tos membros das camadas cultas. Outros pequenos grupos , trots-
c í rculo. kístas ou socialistas , manifestariam a resist ência das minorias
-
Outros , porém , engajam se resolutamencc nas associa ções , intelectuais conua o Estado autoritá rio .
movimentos c ligas que proliferam após 1930 . Durante algum Enfim , numerosos intelectuais liberais mantiveram uma
oposição surda ou declarada, sobretudo nas universidades e
Fazemos alusão ao fracasso do projeto de rnijitsirLiaçarí da juventude proposto por faculdades de Direito .
Fnmt ÍKo Campos Esses intelectuais , t ã o desafiadores em rela ção aos antigos
Conforme comenta Celso Furtado, observando que a aoçãú de ideologia tie Esta -
dfi de Bol í var LamounifJ pode levar a rer que o Estadn centralizado só tivesse sur - partidos pol í ticos , via dc regra tão desdenhosos ern relação ao
gido apí i 19 Ml i Fúnado , 15 85 : 570)
* liberalismo pol í tico , estavam longe , portanto , dc se limitar à

B 3CSH 1
76 77

Tconza çã o pol ítica . Militavam * agiam fomentavam planos e pessoal que , apesar dc sua visão religiosa da política ou por—

,

complõs. Foram exceções os que escaparam dessa pol í tica que , causa dela , o manteve afastado do integra lesmo c o levou a
t ã o frequentemente , desejavam apolítica . Em muitos casos , afastar -se do Estado autoritá rio. Azevedo Amaral , que era antes
situaram -sc ã direita à extrema direita , A partir de 1938, a efer- de t udo um jornalista , mostrava - se , por sua obsessão pela indus -
-
,

vescê ncia tende a declinar , mas os vá rios cipos de engajamento trialização , como um representante daqueles tecnocratas autori
deixam seus vest ígios, Mais tarde os conte ú dos poderiam sc t á rios cujo papel seria decisivo .
modiíicar , e at é sc inverter . Os estilos, porem , permaneceriam , Se nos parece indispensá vel examinar os que se engajaram
no que tange à posição dos intelectuais rm relação á nação e no integrali-smo , na ANL c na oposi ção "liberal ” , n ã o c ape -
ao povo t també m às interfer ê ncias entre o campo intelectual nas em razã o do impacto dessas correntes durante esse per íodo
c o campo polí tico. mas cambem porque elas delinearam formas de politizaçã o c
Esses estilos remetem sobretudo ás formas de colocação produziram cisões cujos efeitos se prolongariam bem al é m do
individual na pol í tica . Nesse aspecto, duas variáveis estavam
em discussão: ou a inser ção se originava de uma opção pessoal ,
Estado Novo. As simpatias populistas dos anos 60 , como tam -
bé m os debates da d écada de 70 , só sã o intelig íveis i luz dessa
ou de um sentimento de pertencer , junto a outros » a uma cate - mobilização anterior .
-
goria social ou profissional ; pode valer se dc um capital cultu -
ral , de um sentido da missão "c u l t u r a l ' o u de uma vocação
Hélgio Trindade demonstra com provas num é ricas que
os intelectuais de todos os escal õ es chegaram a formar uma boa
dirctameme política . Por outro lado, os estilos estavam ligados I parte dos adeptos do integralismo . No n ível de Estado- maior ,

a uma concepção da ação social: seja rio caso de privilegiar a em primeiro lugar: dos 85 membros da direção nacional e das
constituição de uma ordem , sendo portanto essencial mente
dcsmobilizadora , ou no de rcmeier à intervenção das massas ,
direções regionais , 62 pertenciam à “ m édia burguesia intelec
tual " . isto é , membros dc profissões liberais , escritores, profes-
-
-
pretendendo se então mobilizadora . Os estilos estavam tamb ém
associados à imagem da unidade nacional , que ora apelava aos
sores universit á rios , altos funcion á rios , jornalistas , estudantes ;
em segundo lugar , na condição de dirigentes r militantes locais ,
sentimentos e à religiosidade , ora repousava sobre uma visão onde essa mesma burguesia intelectual representava 20 % dos
laica e política do povo, ora se releria à cria çã o de mecanismos efetivos ( Trindade , 1979 ). Os dirigentes nacionais e provinciais
reguladores c organizadores . Estavam , por fim , relacionados
ao lugar atribu ído aos antagonismos internos da sociedade , is
-
encontravam se num processo dc mobilidade ascendente , tanto
cm rela ção ao n í vel de instru ção quanto à profissão que exer -
vezes erigidos cm dados fundamentais , outras vezes simples- ciam , e se declaravam cat ó licos cm sua quase totalidade ( ibid . :
mente ignorados. S ão dimensõ es diferentes , que rompem com 132-4 ). Na base, os pequenos funcioná rios constitu íam a cate-
as visõ es excessivamente homog é neas sobre os intelectuais. goria profissional mais importante , em torno dc 20 % . Tratava -
Essa variedade dc estilos é patente entre os intelectuais
que já mencionamos. Oliveira Vianna , seguro de sua competê n -
se, portanto, dc um movimento cuja direção , em larga medi -
da , era exercida por intelectuais e cujo discurso freq íicntemente
cia cm antropologia cultural , distanciado da sensibilidade caro - se dirigia is classes médias. Ali ás, Miguel Reale , um dos princi -
liça . adepto entusiasta do corporativismo e contratado como pais teóricos imegral í stas , declara a propósito da classe m é dia:
.

especialista no Ministério do Trabalho de 1932 a 1940 , colo - “ Essa é a classe que faz a revolu ção porque é portadora da
cava -se ao lado do autoritarismo dcsmobilizadorsl. Alceu Amo- ideia ( Chau í e Carvalho Franco , 1978: 54 ). O que levou Mari -
roso Lima , preocupado em restaurar a identidade crist ã do Bra - lena Chau í — fiel , nesse aspecto , à tradição brasileira de des -
sil . baseava suas intervençõ es no sentimento religioso e , segundo
o momento , hesitava entre um projeto dcsmobilizador e um
prezo por esses setores — a frisar que o radicalismo destes n ão
se traduzia num " projeto polí tico autónomo ” , observação que ,
projeto mobilizador. Ot á vio de Faria procurou uma trajetória nesse caso , n ão deixa de ser surpreendente ( ibid .: 62 ).
O movimento foi intelectual desde a sua g é nese , Pl í nio
11
Secundo a ttprcsMo dc Mid >d Debrun (Dtbrun, 1983: 171. Salgado , participante da Semana de Arte Moderna e propagan -
78 79

dista do mito tupi , nunca deixava de preocupar-se com a pro- dc Deus , da P á tria c da Fam ília " é citado em primeiro lugar ,
blem á tica cultural Em 1931 torno u -sct com Santiago Damas ,
antes da Unidade Nacional (Chau í c Carvalho Franco , 1978:
responsável pelo jornal A Razão , publicado em Sâ o Paulo , 103). Esses enunciados merecem maior aten ção: implicam a
Revistas de tendenoa fascista nasciam aqui e alt: no Rio de possibilidade de reverter a uma comunidade cristã ancorada
Janeiro , surgiu a Hierarquia , na qual colaboram futuros integra - na fam í lia c sugerem , sobrenado , uma forma de comunica çã o
listas: o pr óprio Plínio Salgado , Santiago Dantas . Hélio Viana pol ítica resultante da comunhão , na qual o discurso do chefe
r tamb é m dirigentes católicos corno Alceu Amoroso Lima . é sempre a explicitação da espiritualidade implícita do povo.
Sobral Pinto, Leonel Franca: aparece també m a Revista de Estu - Quando Pl í nio Salgado escreve: “ Quando menos se espera a ,

dos Jur í dicos e Sociais , onde se expressavam estudantes da ,


id é ia nova deixa de pertencer aos seus criadores , aos seus int é r-
Faculdade de Direito , Em São Paulo aparece a revista Política , pretes e pioneiros , para pertencer a toda a massa popular " ( R .
dirigida por Câ ndido Mona Filho ( Trindade, 1979: 100 - 2 ) . B. de Ara ú jo, 1983), aparece nas entrelinhas o que a geração
Em 1932 , Pl í nio Salgado cria cm Sã o Paulo a Sociedade dc cristã seguinte chamaria dc "conscientização " . Espiritualismo ,
Estudos Pol íticos (SEP ) - em suas diversas comissões tomaram povo-comunidade, "conscientização"; eis tr ês aspectos do que
pane estudantes da faculdade de Direito de Sâo Paulo , como seria uma das expressões do popuhsmo católico nos anos 60.
Alfredo Buzaid . Roland Corbisier , Almeida Sales . Em 7 de 1
‘ Integralismo ' \ nao " totalitarismo " , A "integridade" é a con -
'

outubro de 1932 , fracassada a Revolu ção paulista , foi enfim lan


çado o primeiro manifesto, assinalando a fundação oficial da
- sideração daquilo que insere o indivíduo num contexto que
representa um laço social : fam í lia , terry , história etc . É tamb é m
Ação huegralista Brasileira ( À1B). a primazia da exigê ncia é tica pois, em oposição ao Estado auto -
Da mesma forma que na Legião Cearense do Trabalho ,
.
rit á rio , o Estado integral é , segundo Miguel Reale , aquele que
formada antes da À tB e que incluía entre os seus membros exprime o fato de "que entre o Estado e o indiv íduo se veri -
Dom Helder Câ mara , a refer ê ncia ao catolicismo foi crucial na fica uma cessão recí proca dc faculdades em prol da realização
produção da linguagem integralísta. jã vimos a sedu ção que de fins é ticos comuns" c que o todo n ão deve absorver as
"

esta exercia sobre Alceu Amoroso Lima , secretario da Liga Elei - partes ( totalitarismo ) , mas integrar os valores comuns , respei -
toral Católica (LEC), que reconheceu : tando os valores espec íficos e exclusivos ( integralismo ) ” ( Trin -
Havia mere as posições da 2-EC e o integtalkrso ttii&cidiaciaj dc pont os de vista dade , 1979: 224 ) ,
-
no tocante às reivindica ções s ociass ou espjdiua ( j . Nt » meu caso particular
^ ri

devo dirct ainda que me igtadava partial larmeoie ,i ê nfase que o ipucpalismo
A teorização integral ísta compreende ainda muitas outras
teses. Teses mais "europeias " : o amnsemitismo , com Gustavo
emprestava a sua posi ção mtiburgacu í citado pui Medeiros, ] 7 S : 227 ) . Barroso; o corporativismo , com Miguel Reale ; a primazia do
^ Estado , ainda com Miguel Reale. nesse aspecto um tanto afas-
N ão podemos entrar nos detalhes das posi ções integralis- tado de Plí nio Salgado , cujo catolicismo conduzia antes a um
tas . mas apenas destacar algumas tend ê ncias marcantes. Pri - Estado ' ' familiar -corporativo" ( ibid . : 218 ); a organiza ção seve-
meiro , a insist ê ncia sobre a dimensão "espiritualista conceito ramente hierá rquica do movimento (pren ú ncio da sociedade
que remete ao espiritualismo " inato" do povo , consolidado do futuro ). Teses mais “ brasiJ eiras" : iam nacionalismo opondo
cm contato com as ideias n í tidas de espiritualismo cristão que
'

o "campon ês e o negro da nossa terra " au cosmopolitism a ;


nos trouxeram os jesu ítas" (citado por R . B. de Araú jo, 1983 ). também um nacionalismo cxplicitamcntc an Liimpe ri alista , pre -
Donde se conclui que toda revolu ção acontece , antes de ma is sente sobretudo em Miguel Reate , que denuncia “ uma forç a "
nada , no interior do homem , "A Hist ória", segundo Pl ínio que n ão pertence a na ção alguma e est á acima das nações: o
Salgado , ‘ é a crónica do desenvolvimento c da transforma ção
l

' supercapitalísmo financeiro " ( ibid .: 214 ). Assim se delineava


do espírito dos Povos numa aspira ção de perfcitabiJidade í1

o contraste entre a na çã o consciente de sua identidade" e


( 1 rind ad e . 1979: 203 ) , No prog rama de 1937 , q uc prctendia


tudo aquilo que representava a antinação ; o que os ideol ógos
scr a base de “ uma nova cultura filosófica e jur ídica", o "culto do ISEB . com frequ ê ncia originá rios do inLegralismo , te inter -
80 81

pretariam na linguagem do existencialismo dc Frantz Fanon . Os avanços fulminantes da A1B deram provas seguras da
própria da é poca capacidade dos intelectuais de suscitar uma forte mobilização.
O surto intcgralista , como sugere Juan Linz , foi sobretudo À s ú bita queda em 1938 prova , contudo, que lhes foi difícil
expressão dc uma juventude cm ascensão socialt motivada por preservar sua autonomia diante do Estado dc maneira dura -
objetivos culturais e políticos, mais do que por interesses ccon ó
micos específicos . Uma parcela de sua amplitude se deve , sem
- doura Afinal , at é 1937 era difícil distinguir , cm sua a ção , o
»

que concorria para a consolidação do gctulismo, daquilo que


d ú vida à ausência dc um partido católico num momento em
,
visava a seus próprios tins . Preconizavam um autoritarismo
que a import â ncia dos debates culturais e o despertar cat ólico mobilizador , mas . quer se trate do corporativismo ou do Estado
conduziam â incorporação do lato religioso ao pol ítico . Incorpo -
ração polissè mica ; foi o plaxio religioso que uniu o tupi ao
integral , sua doutrina sc inclinava no sentido de um autorita -
rismo desmobilizador , o mesmo que o regime constru ía . Exalta -
jesu íta , o homem americano ao portugu ês , c que interiorizou , vam o encontro entre a cultura c a política ; rnas o regime soube ,
portanto , a exterioridade por via do sentimento. Foi també m paralelímcnte a eles , lazer desse encontro um tema essencial
o que contrabalançou c completou a tendência à racionalização dc sua propaganda . Traduziram a acumulação de ressentimen -
burocrá tica contida no corporativismo. Foi o que garantiu a tos nas camadas que haviam sido humilhadas pela Rep ú blica
ordem social . Em resumo , foi a transcrição da "cordialidade ’ ' er quanto aos paulistas dos que foram humilhados também
,
cm termos pol íticos w.
Sabc-seque o intcgralismo terminou na confusão . Acredi-
pelo nove) regime em 1932 . O pró prio Plínio Salgado apresen
tou o integralismo como uma consequ ê ncia dessa derrota:
-
-
tando se chamado a desempenhar um papel importante corn
a transforma çã o do regime cm Estado Novo , mas dc fato obri - Subjugada a Revolu çã o paulista cm 3 dc outubro dc 1932, o estado dc espírito
gado a converter -se numa simples "Associação Brasileira de dc depressã o e dc íntima revolta dos combatentes vencidos logo aflorou num
Cultura ' , em consequ ê ncia da interdição de todos os partidos reduzido grupo dc brilhanrcs intelectuais que propunham , oio propriamente

_
pol íticos da qual esperava escapar , em 1938 o integralismo lan - o separatismo, porem o confcderacionismo (. . . ) 0 momento era doi ruais tas-
çou -se em uma desastrosa tentativa dc golpe , cujo ú nico resul
tado foi a sua dissolução ( Carone , 1977: 193- 213 ).
- tes c incertos para a nacionalidade . Tudo era confusão , incerteza ., ausência de
rumos definidos. Para onde iria a Nação brasileira * 0 Manifesto Iniegrsiista ,
jã impresso, foi nesta data distribuído em São Paulo c remetido para rodos os
O fracasso desse movimento , que num dado momento Estados ( Trindade . 1979: 124).
parecera irresist ível , remete , sem d ú vida a in ú meras explicações.
,

Quaisquer que fossem as simpatias da Igreja e dos l íderes católi - Restava pouco des.se estado de esp í rito em 1937 . O getu -
cos cm relação a este , a Igreja principalmence, e muitos desses
, lismo centralizara a nação ; c també m conferira , aos que o dese -
l íderes estavam atentos para n ão se deixar envolver em uma lura
contra um regime do qual muito obtinham . Seduzindo a massa
javam dentre os grandes intelectuais , o reconhecimento simbó
lico da sua import ância social .
-
de pequenos funcionários , o movimento intcgralisra limitava se - Arrisquemos duas hipóteses , inspiradas em certos dados
a uma concepção abstrata do povo, enquanto desde 1931 Get ú
lio Vargas vinha lanç ando as bases do edifício sindical ncocorpo
-- fornecidos por Hé lgio Trindade , para dar conta da evolu ção
paralela e separada do integralismo e do regime getulista ao
rativistsL Pregando um Estado forte , o integralismo nada mais longo dc cinco anos.
unha a contribuir desde que se operara a passagem ao Estado Primeira hipótese: não reservaria o integralismo uma
Novo. Parece- nos importante destacar, sobretudo , a precarie - acolhida melhor aos elementos modestos da mé dia burguesia
dade do peso dos intelectuais dentro desse movimento. intelectual , aos que aspiravam a ascender , aos que adquiriram
alguma instru çã o superior , mas estavam longe de alcan çar posi
ções de prest ígio e. mais ainda , de projetar seu nome pessoal ?
-
.
A propfoito do tema da ordialidade err Sé rgio Butique de HohmU . Rjchard Moíse
O regime dc Getulio Vargas reconhecia os maiores nomes , que
explica que iwo n ã o significa que os brasileiros xrjam contrários a violência mas
que vxiedade a racionalizar ão webetuna ' i Morse , 19 H 4 » freq úentemente provinham de fam ílias ilustres , e aceitava seus
82 S3

distanciamentos e reservas cr íticas ; isso combinava com seu res- eram de ascend ê ncia alemã e italiana 55; essas indica ções levam
peito pelas hierarquias sociais e pelas hierarquias da í ntelig é n - a pensar que , al é m das simpatias ideol ógicas com o fascismo
cia . Tinha menos consideração pelos demais , am ca çando os até de seus países de origem , a ÁlB ofereceu um canal de participa -
mesmo em sua política educacional ; pois n ão prometeu Fran - çã o “ nacionalista ” peculiar para os filhos dc imigrantes à mar -
cisco Campos cm 1930 , quando ministro da Educa ção , dar prio- gem do nacionalismo oficial c que * a partir da guerra * serão
ridade ao ensino primá rio ? ( Campos .. 1940 b: 119) Ora . as clas - mantidos sob suspeita.

»

Por meio do integralismo cujas relações com a conjun -


ses médias , obsedadas pela quest ão do seu status , n ã o deixa -
ram , até hoje , de lutar com sucesso para que a expansão do
ensino se fizesse no sentido inverso , privilegiando os n íveis de
tura sócio- económica não pretendemos discutir **
assim , uma mobilização das classes m édias sob a tutela de
aparece , —
ensino que lhes são reservados. No integralismo , com sua ê nfase n úcleos intelectuais quer como Pl ínio Salgado, introduziram ,
sobre a militâ ncia , não teriam eles maiores chances de conse- nas fronteiras das teorias do Estado Novo, uma mistura de tota -
litarismo c misticismo na representa çã o do nacional
gui-lo ? Pois n ão era Plí n í o Salgado um dos seus ? Não pode-
.
.

A Alian ç a Nacional Libertadora (ÀNL) fundada em março


mos esquecer que este intelectual era filho de uma professora de 1933 sob a égide do PCB , oferece outro exemplo de movi-
de Escola Normal e de ura farmacêutico, chefe pol ítico do muni - mento polí tico de envergadura onde intelectuais de perfis diver -
cí pio de S ã o Bento ; obrigado a abandonar os estudos na idade sos desempenharam papel importante e atraí ram consider á veis
de 16 anos pela morte precoce do pai , ocupou diversos empre -
gos menores c se tornou um a u rod id ata ,
contingentes das classes m édias . Essa vasta coaliz ão
em uma desventura militar que pós fim , em novembro de
lan çada —
A segunda hipó tese: n ão abriu o integralismo um amplo -
1933 * ao que poderia cornar se uma freme antifascista c popu -
espaço para os habitantes do interior , das á reas rurais , que n ão lar permite medir o cará ter heteróclito e cambiante da opo -
tinham contato com o Rio de Janeiro nem com São Paulo ? A
, .

amostra coletada por Hélgio Trindade mostra que , do total de


si ção de esquerda . Antigos tenentes , partid á rios ou n ão do Par
tido Comunista , ah tiveram uma influência preponderante ;
-
militantes do movimento . 5 J % eram de origem rural ; e entre
, foram eles quer com a aprovação da Internacional Comunista ,
os 20 % classificados como pertencendo à ' média burguesia contribu íram para precipitar uma insurreição armada , ã qual
intelectual " , quase metade era da mesma origem ( Trindade ,
3979: l 4lf Além disso , os habitantes rurais tinham farta repre -
senta çã o ern cada órgã o , especial mente na Câmara dos Qua -

esperavam que se aliassem os tenentes da ativa. Seu peso no
,

PCB do qual Lu ís Carlos Prestes se cornou o verdadeiro líder


após o retorno de Moscou em abril dc 1933 . embora só assu -
misse a função de secret á rio-geral cm 1943 - transparece nos
trocentos ” , Nesse ponto també m , n ã o oferecia o movimento
mais oportunidade dc subtrair -sc â s leis da cooptaçãG * visto
m ú ltiplos textos que fazem da Revolta do Forte de Copacabana
-
que a milit â ncia era levada em conta ? Consultando se a relação
cronológica , organizada por Hé lgio Trindade , dos municípios
o ponto de partida para a mobiliza ção revolucion á ria . Enrrc -
tanto * através da ANL realizou -se també m a consuma çã o da

onde se instalou integralismo de 1934 a 1937 . constatam ~se ruprura com o primeiro recrutamento social do PCB , que se
lizera entre artesãos c antigos anarquistas Dentro dos próprios
imediatameme municí pios secund á rios do Paran á e de Alagoas,
.

em seguida de Santa Catarina , Cear á e Esp í rito Santo , ao lado


quadros do PCB —
que , como a maioria dos outros partidos
dos do Rio de janeiro e do Rio Grande do Sul ; cm contrapar - .

tida . parece tardia c limitada a implantação no Estado de São As tabelas apceseiLEadaí por H é lpio Trindade mosriam que , «petialmenre entre
Paulo (Trindade, 1979: 313 - 21 ). Enfim , uma porcentagem pamdã iLos rurais, os filhos de iuirgfarjts a2 em ães e italiano* representavam uma

— -
!
JS
larga maioria O autor observou que taktz uma deformasse cm sua a mos
muito significativa de militantes de base que os dados de -
tia , cam super rep re iu íi u da popuJa ção da Ria Grande do Sul e de Santa Cata -
^ ^
rina. ande esi à n ãfUfldbtt as glandes colónias ale mis e italianas .
H é lgio Trindade sugerem tratar-sc dc uma maioria - c uma
-
' Pala urna discussão dai inrcrprc i a ç Oes pJOpostai põ r autores corno Gilberto Vast ú rt -
-
'

porcentagem n ã o desprez í vel dc dirigentes nacionais e estaduais celas eJosé Chuin , remetemos a Trindade ( 1981: 297 3351
M 85

cornu n istas , acabava de ser abalado por seis anos dc uhra - subdesenvolvidas de onde provinham 05 seus ' ‘ notá veis e a

esquerdismo e instabilidade emergiu uma nova geração , de
origem diversa Lcò ncio Martins Rodrigues, em um estudo con -
partir
Natal
das
e
quai
Recife
.
e
s se difundiria a sua insurreição
continuada

iniciada em
no Rio de Janeiro. Entretanto, ape-
sagrado a essa mutação ( Rodrigues , 1981 ) , ressalta a entrada sar de n ã o ter influencia alguma em São PauloT acreditava ser
impetuosa dos filhos de ilustres fam ílias decadentes do Nor - rapai de alcançar o poder . O resultado n ã o poderia ter sido
deste c do Estado do Rio de Janeiro: Ociá vio Brandão , descen - ruais desastroso: a repressão se abate principalxnente sobre seus
dente pelo lado materno de um senhor dc engenho de Ala - membros militares e , numa segunda onda de 1939 a 1943 , con-
goas ; Astrogildo Pereira, filho de um proprietá rio de tetras no segue desorganizar o aparelho do PCB, Isto significa uma ajuda
Estado do Rio de Janeiro e parente do presidente Washington inesperada ao regime que , em vista da ameaça comunista
Luiz ; Paulo Cavalcanti , origin ário das grandes dinastias de Per - — encarada desde 1930 como puro elemento doutrinário mas


nambuco etc . Esses são alguns dos nomes que simbolizam a que no prazo de alguns dias assumira uma expressão concreta
aglutina çã o à esquerda do “ jovem intelectualizado de família , conseguiu obter o consentimento dos cat ó licos e dos liberais
tradicional decadente dos Estados pobres" , muitas vezes for - dc Sã o Paulo para sua mutação em Estado Novo . Contudo,
-
ç ado a voltar se para a administração a fim de sobreviver , tirando
-
pode se vislumbrar ah também os primeiros traços do que , em
proveito dc suas rela ções pessoais ( ibid , : 385 - 6 ), Sem contar a
1944 , permitiria uma aproximação com o gerulismo: a rupuira
presen ça , nas posições subalternas, de grandes intelectuais per - com as origens anarquistas c operárias , a rejeição do liberalismo ,
tencentes à aristocracia de Sã o Paulo — EsLado onde . no
a insistência nacionalista e , finaJmentc , a adesã o ao Estado como
entanto, o Partido era fraco — tais como Elias Chaves Neto c
agente de transformação. Na Assembleia Constituinte de 1934 ,
Caio Prado J ú nior , da dinastia dos Silva Prado , cuja Evolução
um representante da ALN , Domingos Velasco , denunciou o cará -
política do Brasil , publicada em 1933 , constitu í uma leitura ter supé rfluo do processo eleitoral: “ Evitemos a farsa de elei ções
primordial da histó ria económica e social brasileira. A A NI.
també m contava com personalidades que participaram da cam -
estaduais e federais ( ... ) [ Não importa } que isto arranhe os pre
conceitos liberais e subverta as ideias predominantes cm nossas
-
panha antifascista e antiimperialista , como Francisco Manga -
beira ,, oriundo de uma fam ília de políticos da Bahia e um dos
dites saturadas da culrura alienígena " ( Souza , 1976 : 73 4). A
entrada do Brasil na guerra ir á proporcionar a oportunidade de
-
três civis integrados à direçã o da Alian ça : Dionélio Machado ,
escritor respons á vel pela organização do movimento no Rio justificar , sem falsos pudores , o apoio ao governo foram assim ,

Grande do Sul c que , cm 1945 , seria incumbido dc ler a Decla - lançadas as bases de uma cultura comunista que , satisfazendo
ra ção de Princípios no Primeiro Congresso dc Escritores. E ainda ,
ao nacionalismo e ao estatismo dos intelectuais , pcrmiriu lhes
afluir para o rastro da linha oscilante do Partido e encontrar assim
-
nos quadros da Liga de Defesa da Cultura Popular , os jornalis - a maneira de manifestar , maxs uma vez e sempre , que só existe
tas Rubem Braga c Brasil Gerson ; o estudante Carlos Lacerda ,
futuro chefe da direita golpista do Rio de Janeiro; c a escritora cultura quando política. Ao mesmo tempo , o Partido buscava
Rachel de Queiroz ( ibid .: 397 ), no prest ígio dos seus intelectuais os elementos para iludir sobre
A ANL surpreende , assim como o integralismo , pelas mes- as suas forças , Em 1934, Jorge Amado já afirmava que nenhum
clas que realizou , tanto em suas estrat égias como em seu recru - autor poderia subtrair -se ao “ engajamento":
tamento , Proclamou uma alian ça aberta a todos os antifascistas Carrego corrugo a armação de romancista político e partial , Confesso que me
e organizou a insurreiçã o armada à maneira tenentista . Abriu honro com isso | . . ). Hoje a situação c dc tal modo erigira que aquele que não
.

um largo espa ço aos militares da reserva ou da ativa M e atraiu tstá dc um lado está necessariamente du outro, 0 conceito pude nao agradar
numerosos membros das classes m édias. Buscou apoio nas áreas mas é vetd itkiro Diante dos que não sabem 0 caminho a seguir porque ainda
amam a ^ camisas de seda . a genre só pode rir . Nós somos essendalmentc politi -
.

Qs militares representavam dos efetivos da ANL tio Dittfito Federal , segundo


cos. Alguns compreendem isso e se colocam corajasamente de um lado ( citado
Robert Levine (ritado por L M . Rodrigues , 1981 398), por Gastello , I 98fh 175 ) .
I
87
86
dc 1935 , em nomc do anticomunismo. O tom dos editoriais
Em 1945 , esta convicção estará mais sol í damente ancorada
dc O Estado de SPaulo d á uma indicação disso. Após a insur-
do que nunca.
Na origem de outras organizações de esquerda de menor reição fracassada da ANL. colocam -sc à ( rente das novas orienta -
amplitude també m sc encontravam jovens oriundos das gran - ções do regime :
des fam ílias do Nordeste e que . certameme , haviam concluído Num momento rio delicado, qualquer restrição nos podaes que se concedam
um curso universitá rio. Isto se verificou no trotskismo. Mário ao Exeuiiiw. para defender o regime político c social em que vivemos , vale
Pedrosa fundou , em 1928 , a dissid ência tfotskista: nascido cm moral c praucamcnte por um ato dc cumplicidade com os subversores da ordem
Pernambuco , filho de um senhor dc engenho que fora senador , (L R . Cardo», 1982: 68).
e tendo cursado escolas secund á rias da Su íça e a melhor facul -
dade de Direito do Rio de Janeiro, tornou -se, nos anos 60 , Armando de Salles Oliveira , com o apoio da oligarquia
uma autoridade no dom ínio das artes pl ásticas. A seu lado * figu - paulista , pronunciou -se por um “ poder executivo fone " c
raram Lívio Barreto Xavier —
coronel que era també m um rico comerciante —
nascido no Ceará , filho de um
que estudou
reclamou uma “ estreita coesão entre a Universidade c o Exer-
cito , que passariam a ser alimentados por uma ú nica corrente
Direito no Rio dc Janeiro; Rodolfo Coutinho , descendente
de um dos
de
fun -
dc fé patriótica " ( ibid : 170 ). Em nome do Partido Constitutio -
uma fam ília tradicional de Pernambuco primo
, nalist a, baseado cm São Paulo , afirma ele cm 1936: " A nossa
dadores do PCB e professor no colé gio mais aristocr á tico dc S ã o aspira çã o é uma democracia robusta , dirigida com autoridade ,
Paulo ; Aristides Lobo , carioca , origin á rio de uma fam ília dc fiscalizada por uma assembleia assídua e vigilante , e apoiada
elite e que completou seus estudos naquele mesmo colégio (L, numa forte organização militar ” (ibid .: 171). A elite paulista
M . Rodrigues, 1981: 368) , Nos primeiros anos do decénio de sustentou maci çamerite a sua candidatura à presid ê ncia cm
40 , numerosos intelectuais socializaram -sc politicamente atra- 1937 , que duraria pouco em raz ã o do golpe que criou o Estado
vés do trotskismo , entre os quais Florcstan Fernandes que , cabe Novo. Fernando de Azevedo, exprimindo as posições da elite
lembrar , provinha de fam ília muno pobre . Nos demais grupos liberal dentro da nova Universidade de São Paulo , faz -se defen -
pol íticos dc esquerda , que surgiram a partir dc 1943 e rnilita - sor de uma "democracia real " , cuja função seria “ fortificar o
ram em prol da democratização , encontravam -se ainda muitos poder executivo, romper com o liberalismo sem disciplina , ’

nomes da elite social c intelectual . Tanto assim que . no comit é acabar com o " igualitarismo da mediocridade ” e permitir " a
de organização da Uni ão Democrá tica Socialista ( UDS ), fun - substituiçã o da democracia liberal e parlamentar por uma demo -
dada em São Paulo em 1943 , figuravam , entre outros, António cracia mais próxima da democracia direta , n ã o somente política
C â ndido de Mello e Souza e Paulo Em ílio Sales Gomes.
Naturalmcmc , houve intelectuais que não se engajaram -
mas político econó mica, com instituições sindicalistas ou corpo -
abcriamente nem à direita nem à esquerda , mas n ã o se pode
* -
rativistas obrigatórias" (ibid : 178 9). Fernando dc Azevedo
í ncumhm -sc també m de lembrar os limites da liberdade inte -
subestimar a import â ncia num é rica dos que , ern fins dos anos lectual dentro da Universidade:
20 c ainda cm 19.34 , no momento da Constituinte , se valiam
em maior ou menor grau do liberalismo, É mais dif ícil , no Não se pode r nà o sc deve reivindicar para o pensamento o direito de pensar
.
entanto acompanhar sua evolução nesse per íodo. Sabe -se que , como & queira, sem as austeridades dc um método preciso sem objetividade
na Faculdade de Direito de São Paulo , ao lado de certos profes- c sem probidade científica, porque isso seria reclamar o direito â libertinagem
sores notoriamente getulistas ou integralistas, como Miguel para a função mais angiiita dc que dispomos No desempenho da sua missão ,
-
.

Realc e C â ndido Mendes dc Almeida , foram v á rios os que se 4 inteligência deve mover se dentro das condi çòes que pela pr ópria narureza
colocaram em oposição ao regime e que , mais tarde, viriam a lhe foram prey riras ( ibid : 182 ).

simpatizar com a UDS ou com as correntes liberais ( Dulles ,


1985 ) . H bem oportuno , porem , pensar que numerosos setores ( ,i / er
-
O liberalismo extra universitário ou universitá rio sabia
suas concessões aos vemos da é poca.
liberais admitiram apoiar o endurecimento do regime , a partir
NS
89

Foram esses os liberais ”' que , tendo muitas vezes apro - esbarraremos sempre com os que se desviavam da rota , tao tre
quentes quanto aqueles que administravam com sabedoria e
-
vado as formas mais rudes de controle exercidas pelo regime,
reapareceram assim que as democracias ocidentais provaram s coerência o seu "capital familiar c cultural ; com os que reu -
que podiam ganhar a guerra O sinal desse despertar para a
. niam todas as condições para se inserir nos círculos do poder ,
adesão às liberdades fund amenta is, ao direito de voto e ãs garan - mas que se inseriram nos grupos imegrah.stas , na AXL ou nos
tias constitucionais foi dado , cspccialmente pelo . " Manifesto pequenos grupos trocskisias; com aqueles que , tendo apenas
desvantagens , conseguiam , no entanto , lazé das frutificar ; com
Minciro ” de ouiubro de 1943 . Foram seus signatários a elite
intelectual mineira : os juristas Adamo Lúcio Cardoso e Afonso os que pertenciam dc direito à dite, mas contavam demais com
Arinos de Mello Franco , o erudito Afonso Pena J ú nior , o eco - esta seguran ç a para aceitar os desvios e surpresas da hist ó ria.
nomista Milton Campos , o político Virg ílio de Mello Franco , Seria igua ímente plausível detcctar . na origem de cada.

Pedro Aleixo e outros ( Caronc, 1977 : 305 ). engajamento, alguma concepção de “ interesse ” , mas este não
Ao fim dessa recapitulação dos engajamentos polí ticos , poderia ser reduzido ã busca de um emprego pú blico sem pre-
constatamos em roda parte - nos postos avan çados dos m ú lti
plos movimentos que se desenvolveram , após 3932 , sobre o
- ju ízo de se esquecer da variedade dos tipos dc interesses e das
estratégias para conseguidos. Essa complexidade n ã o é surpreen -
pano de fundo da crise gerada pela interdi ção dos amigos par - dente , pois decorre da inexistência de uma justaposição entre

tidos regionais a presença de in ú meros intelectuais .
Estamos longe das considerações relativas apenas à cultura
um campo intelectual regido por suas pr óprias modalidades ins-
titucionais de legitimação , c um campo político igu aim ente
ou â idem idade brasileira Longe também das teoriza ções sobre
. submetido a outras modalidades de legitima ção , De imediato
a " realidade e a organiza ção ' ’ . Longe , portanto, de tudo se produziu , n ão uma interferê ncia, mas uma mescla . Todas
que atestasse uma unidade jã presente ou uma unidade a se as estrat é gias individuais se colocam sobre os dois registros. O
impor com base unicamente na ci ê ncia. Às divisões se aprofun - troLskismo dos herdeiros do Nordeste e o integralismo dos notá -
-

davam na medida em que esses movimentos visavam , em mui veis do Sul podiam ser , em certos casos , constitutivos da inser -
tos casos , a criar a pan ir de premissas opostas — uma socie - ção nas hierarquias da intelligentIsto pode ser diferente
-
dade indivisa . A mobilização exacerbava se em todas as áreas ,
em face de um regime que se recusava a utiliza - la .
, quando se considera uma ‘sociedade" rektivameme fechada
!

sobre si mesma , na qual se podem observar os traços de um


-
Confrontamo nos também com a heterogeneidade dos verdadeiro jogo dc papé is , e de uma relativa separação entre o
cultural e o politico . Recordemos a descri ção feita por Ulaude
diversos n ú cleos incei ec ruais . Evidenciava - se rodo um caleidosco -
pio de situações coletivas c individuais , incluindo uma elite Lévi - Strauss , membro da missão francesa junto à nova Universi-
paulista bastante fechada em si mesma e experimentando mui - dade de São Paulo, a respeito do mundo das elites locais:
tas dificuldades era se alçar aos objetivos nacionais; os herdei -
Uma sociedade resuira dividia os papas. Todas as ocupações, gano* c curiosida -
ros das linhagens vindas do Impé rio , que aspiravam a tornar- des justific á veis da civilização contemporânea cnconcravan^sc aJi . mas cada
se conselheiros do prí ncipe ; os descendentes das fam ílias ilus -
tres c empobrecidas do Nordeste; os humilhados c os ambicio -
-
qual repicanrada por ama única pessoa . Ncssu*; amigos não aim verdadeira -
mente pessoas , mas sim funções, cuja importância intr ínseca , mais que a sua
sos que desejavam abrir caminho at é o poder ; a massa de ' pro
"

- disponibilidade , parecia rei dciermmadfi alista Havia , asum , o LHL ó IICO, O libe -
.

fissionais ” mais ou menos bem -sucedi d os , bacharé is divididos ral , o Jcgatisia . o comunista; ou , em outro plano, o gastrónomo, o btWaóíib,
entre o medo do decl í nio c a recuperação nos quadros do Estado o apreciador dc cães ( ou cavalos ', de raça , dc pin tuia antiga dc pintura moderna ;
,

moderno; os a mames da cultura e os tecnocratas cm embri ão; c também u erudito local , o pixta surrealista , o musifolugo , o pioiGt ! . ) A .

mais os milhares de membros dc uma classe m édia heterogé - necessidade , que exigia que r ódo^ us papé b fossem ocupados para se constituir
nea , que vê abrir -se ura mercado dc í ttulos universitários e um microcosmo e se jogar o grande jogo da civilizaçã o implicava também
,

bens culturais. Seria possí vel sem d úvida , introduzir aJguma alguns paradoxos: que o coitumista fosse também um nco hc ídeiro do ftuda -
dsmo locai e que uma sociedade bastautic aletack e forniaI permitisse , fiorém ,
,

ordem nesse quadro , indicando trajet ó rias significativas , mas


90 91

um He seus membro*, a apenas urn - puis era indispensá vel ter pmbcm
çamente fori da.s fronteiras que demarcavam os limites das rda -

si mis
o poeta de vanguarda cm publkts ( Lévi- - L-, CS social organizadas , mas també m a dassc oper á ria , encer -
aparecei com sua jovem amincc
Strauss , 1955: 95 ) Í

rada entre 1930 e 1937, em um novo cd ífído corpora ti vista c


r

Observemos , porém , que a descri çã o se refere a S ã o Paulo , jur ídico (Gomes , 1979). Quanto â burguesia , tamb é m unha
mais do que nunca prisioneira , após a derrota de 1932 , de sua de se curvar aos efeitos da redefini ção do Estado : os produtores
relativa marginalizar ão política 1* e dc sua soberba . de café cedendo a gest ã o da comercializaçã o do produto aos
No piano nacional , cor na -se mais difícil e mais contesta - organismos p ú blicos criados para esse fim , e os industriais
vd reduzir as cisõ es pol íticas a simples esrraté gias individuais -
empenhando se em intervir direr am ente junto aos homens
no quadro de opera çõ es de classificação' ' social , sobretudo p ú blicos de fun ção decisó ria . As negocia ções pol íticas entre as
1 '

quando nos afastamos das elites detentoras de um nome e de oligarquias regionais e o poder central nada perderam de sua
uma história familiar , para considerar os intelectuais dc segunda antiga importâ ncia: Gct ú lio Vargas , até 1937 pr íriapalmcnic ,
c terceira categoria . A identifica ção com o integralismo , com n ã o deixou de manobrar entre as pressõ es dessas oligarquias , e
a A NX , com o liberalismo ou com o Estado Novo remete a as dos tenentes e interveritores tolhidos entre a.s funçõ es dc
fen ô menos dc movimentos coletivos portadores de representa - misst dominici e de negociadores locais. Amda h á um fato dc
ções do político que pareciam irreconcili á veis , pelo menos maior import â ncia : a ideologia da despoli tiz ação do político
naquele momento. É certo que os intelectuais , como tamb é m resultou , no m ínimo , num enfraquecimento global dos atores
os tenentes , os militares da ativa e determinados elementos sociais ; junco a ela ocorreu uma redu ção da influencia política
pol í ticos estavam na linha de freme . E n ão “ brincavamrt dc dos pó los econó micos mais din â micos , como São Paulo , Inver -
pol í tica: luravam efetiva men te pelo poder , voando a objetivos samente , tal diretriz deixou um vasro campo hvre para os agen -
entre os quais n ã o havia possibilidade de compromisso. O cara -
tei do regime e desses movimentos era tal qur esses confrontos
tes e movimentos propriamente polí ricos . Nesse aspecto . os inte ,
-
lectuais foram uma categoria privilegiada . Sua preponder â ncia
nada unham d c puramrntc simbólico: a violência qur demons - trouxe em contrapartida , uma idcologização singular da pol ítica .
traram , as sucessivas ondas dc repressão , com. seu séquito de É verdade , por outro lado , que aqueles que pertenciam
ex ílios e prisões, l ã est ão para demonstrado . É preciso frisar às elites mantinham la ços de solidariedade apoiados sobre as
ainda que em nenhum outro pa ís da Am érica Latina assistiu - redes de socialização familiar , universitária c mundana . Um
se em ã o ao aparecimento tie organiza ções fascistizames ou
.
observador brasileiro como Florestan Fernandes n ão poderia
comunizames de amplitude compará vel , deixar de ser sensível a esse fato. Ele acentua bem como , are
Com o distatiamento no tempo , entretanto , é possível nas corremes de subversão intelectual , foram numerosos os que
assmalar encontros e superposições surpreendentes nesses confli - se detiveram a meio-caminho em raz ão de seus laços com as
tos e confrontos.
elites sociais . Assim aconteceu com os modernistas dos anos 20:
G fato de que os intelectuais de rodos os tipos estivessem
nos postos avançados já merece aten ção , Esses militantes de cau - CedeiuLiT, ao que deviam se opor . meumbindo a tuna condi ção intelectual y
sas antagónicas desfrutavam de uma posi ção notável . Destaca - que pretendiam renunciai mas ã qual n ão rcnuncimnj . Eles (mm v ítimas de
va m -sc sobre o pano de f u n d o dc uma sociedade onde os ato - um momento de transição, no qual a insatisfação com refer ência ao passado
res sociais tendiam a ser privados de expressão própria , ou a não engendrou o futuro pelo qual deviam lutar i Fernandes . 19
*
8 : 35 -6 ).
se aiomtzar na medida cm que o Estado se erigia cm. regulador
O mesmo se deu com o intelectual dos anos 30:
das relaçõ es sociais , Os sccores populares estavam relegados a
segundo plano: n ão só as massas rurais , condenadas a ficar mad
- Gozava no meio brasileiro dc Lima independ ência e de uma liberdade muito
grandes . Essa liberdade, entendida sociologicamenie , estava relacionada com o
-
Traia sr pntú amente , de umn Lunsumc , tonfof íitt momou Simon Sdawirrzman faro de que o intelectual m Bmsil sempre tez pane dos setores dominances e
\ ’' •cnwam.man , 19 75 1 .
'

dc suas dites Mesmo quando de era divergente como era o caso dc Mano de
,
92 93

Andrade ou Oswald de Andrade , nlo escapava a essa vinculação esmiruia! A Tanto no modernismo — que derivou em seguida para a

.

Liberda de dc divergência existia ou era tolerada porque ele era parte da elite esquerda e para a direita como na extrema direita -
que
- -
.

nã o sc esperando ddc , par conseguinte que se convcrase etn "fator de con-


, procurou a , um só tempo , bloquear a hist ó ria e dar lhe a mat é
flito contra a ordem ' íibid . ; 44 - 5 )
,
ria do inconsciente de um povo e de sua cultura oculta - havia
Esse testemunho refere-se, mais uma vez , a São Paulo. essa entrega à modernidade. Mas é preciso imediatamente nuan -
Há outros , por é m , que mostram a densidade das rela ções sociais çar, corrigir . N ão se pode ignorar que todas essas correntes se
entre revolucion á rios c conservadores nas cidades do Nordeste ,
remetiam ao “ realismo .
"
E certo que isto constitui um indício
-
tratando se dc filhos dc famílias ilustres, até mesmo entre exila *
de sua extrema idcologlzação, mas també m é uma aposta na
coerê ncia da sociedade brasileira e , assim , no tato de que cia
dos de exLrema direita e extrema esquerda na Europa e na
Argentina , as vezes hospedados nos mesmos hotéis. Voltamos poderia , a partir dali , construir e administrar sua própria tem -
assim aos fatores relativos âs origens sociais desses intelectuais poralidade sobre uma base endógena . A nostalgia da ‘organi -
de elite , e à quilo que os unia na busca comum da modernidade. zaçã o ’ ’ como substitutivo da pol ítica marca a entrada em uma
Vimos , na d é cada dc 20 , a decisão generalizada de procu - outra modernidade , que nada tinha de fugaz nem dc est é tico ,
.
mas que ao contrario , era o projeto de um domínio sem limi -
rar as ra ízes do Brasil e , nesse processo, renunciar âs paixões
fugazes pelas “ ideias importadas ' . Alternativa ilusória , porérnr tes , sem irracionalidade. No campo cultural , as m ú ltiplas cor
rentes intelectuais se encontram nessa partilha c nessa fusão
-
uma vez que com frequ ê ncia a “ brasílianização ' n ão passava
de um novo artifício visando â inserçã o nas correntes da moder- improvisadas entre o duplo excesso da modernidade pela assi -
nidade cultural universal , Deveríamos dizer “ modernidade ” milação e da modernidade peia rejeição.
ou , arriscando um paradoxo e um anacronismo pós- modernt .
dade ' ' ? Pois foi nessa “ antropofagia ” de ideias vindas de longe ,
- Resta a pol ítica . G)mo demarcar os pontos de encontro
onde as divisões pareciam insuperáveis? Observamos , no
praticadas em uma sociedade que jamais teve certeza dc ser entanto, muitos encontros em momentos diversos , que sc torna -
.
inteiramente uma sociedade e qur atravessava um momento riam ainda mats manifestos a partir de 1943
de crise levando- a a duvidar da tradição do Iluminismo . que De in ício , nos anos 25- 35 , havia já um amplo questiona -
se produziu a descoberta da fugacidade das representa ções , do mento das instituições liberais , tais como funcionavam no Bra
sil . Em 1935 , os setores que continuavam a advogar o liberalismo
-
valor da “ autenticidade ' \ da equival ê ncia dos temas opostos ,
da estetiza ção da pol í tica , da descent inuidade da histó ria , das deram mostras de um autoritarismo elitista que os conduziu ,

rupiuras sucessivas do tempo. “ A importa ção de ideias pdo menos dc forma provisória , a posições pró ximas is do
c — —
ou n ão c somente a nega çã o da “ realidade ” ; c també m
n ão
governo. Nesse mesmo momento , as correntes católicas oscila -
vam entre o imegraJismo e o regime. Quanto aos comunistas
a ades ã o à sucessã o ilimitada t não-controlada das imagens do
real c o gosto pela encena ção política . A esse propósito , cm
1936 Sé rgio Buarque de Holanda faz uma observação:
e seus aliados na ANL , começaram — sob a pressã o dos tenen -
tes , que a eles se aliaram , e dos intelectuais , que viam sua

É frequente , entre os brasileiros que sc presumem intelectuais, a faolidade com


influencia crescer
“ classe contra
— a abandonar as convoca ções às Imas de
classe " , para privilegiar um nacionalismo que
que ;c J 11 mentam , ao mesmo tempo , dc doutrinas dos mais variados matizes os levou a reavaliar embora timidamente , suas concepções
,

c com que sustentam , simultaneamente . as convicções mais d íspares ( S B dc sobre o Estado . Durante a guerra , c sobretudo após 1943. os
Holanda , 1981: 113 ) rcaiinhamentos c desvios se precipitaram . Os liberais levantam
E acrescenta: a cabeça e redeseobrem a democracia ; o integralismo tenta
v árias aproximações com o regime , mas se decompõe com a
A loncradviO que porventura possa existir entre elas parece-lhcs cão pouco cho - entrada do Brasil na guerra ; os católicos criticam oficialmente
cante, que alguns se alarmariam e sc revoJtanim sfoceiamcme quando n ão o regime . Ccrtamentc , o mais not á vel foi a evolu ção dos comu -
achássemos leg ítima sua apandade de aceitá- las com o mesmo entusiasmo i jbdd . . nistas que , desde as celas das prisões , onde foi encarcerada
,

>
94 95

grande parte de seu Estado-maior desde 39 -40 a começar lhadorcs Intelectuais , como Graciliano Ramos , Evaristo de
por Luís Carlos Prestes , promovido oficialmeme a secret ã rio- Morais Filho , Pedro Nava e outros. Os cat ó licos do Rio de
geral do partido cm 1943 , mas que ficaria preso ate 1945
procuraram aproxirnar-se de todos os setores anunazistas r .
— Janeiro , sempre ligados ao Centro Dom Vital , como Alceu
Amoroso Lima e Sobral Pinto , també m ingressaram na UDN .
Depois , rendo o regime finalmcme declarado guerra ao Eixo e Entretanto , seria in ú til procurar uma correspondê ncia
ate enviado rropas á It á lia , decidiram apoi á - lo. Uma sustenta
Çâ o , aliás , nada plató nica , pois se traduziu em nada menos do
- entre as cisões profundas , que logo aflorariam como opções
pol í ticas antagónicas, c os partidos que emergiram cm 1945.
que no apoio à candidatura presidencial de Getú lio Vargas , Isto significaria subestimar a contradança provocada pela ena-
que teve de aceitar a fim dc marcar a sua incorpora çã o aos ção desses partidos: houve muitas figuras do Estado Novo que
novos tempos democr á ticos. Foi lançado assim , com Lu ís Car - entraram para a UDN e , al é m disso , a articulação dos partidos
los Prestes sempre na prisão , o movimento “ queremisca " pelo
qual os comunistas afirmavam que "queriam ' a manutenção
T com o Estado de urn lado —
o PTB c o PSD são criações getu -
listai c , de outro , com a influencia dos chefes locais.
de Gctú lio Vargas no poder , ao mesmo tempo em que diver - A confusão nào poupou os intelectuais . Ao fim do Estado
sos grupos socialistas " aliavam -se aos liberais" e à direita Novo. os vest ígios dos antigos compromissos desaparecem
nos quadros da UDN, a União Democr á tica National , cujo pro
grama consistia , antes de tudo , em $c livrar dc Vargas.
- diante da exigê ncia dc retorno ã democracia . O Primeiro Uon -
gresso de Escritores Brasileiros , realizado em São Paulo cm
Esse vaivém , ao qual os intelectuais estavam estreitamente 1945 e reunindo todos os grandes nomes da intelligentsia, de
ligados , pode dar a impressão dc que as observa ções de Sérgio
Ruarque dc Holanda valem també m no domínio político. Con -
-
todas as tend ê ncias , furtou se a tomar posições políticas defini -
das: cm suas resoluções, atendeu aos liberais . convidando os
rudo , isto seria simples demais . Atr ás dessas evolu ções , ev í den - intelectuais “ a sc manifestarem , sempre e em todas as oportu -
- -
ua sc que os movimentos polí ticos dc 33 38 expressavam cisões nidades , em defesa dos direitos e da dignidade da pessoa
parcialmeme instá veis , atris das quais sc manifestam divergên - humana e dos valores da vida interior contra as tendências de
cias mais profundas. Elas di2em respeito ao papel do Estado
_ dom ínio e absorção do indivíduo , capazes de reduzi lo a um -
na formaçã o do social . me ^ mo que — corno teremos ocasi ão simples instrumento do poder pol ítico”. També m atendeu à
de verificar - os “ liberais n à o fiquem atrás dos ' intervencio - esquerda , incitando os mesmos intelectuais a lembrar que “ so-
j i

nistas
-
cm seus apelos ao Estado. Referem sc ainda , com as mente a literatura e a arte que desempenham um papel social
-
devidas nuan ças , às divisões entre correntes cat ó licas c n ã o -cató servem i coletividade dc seu tempo , c se alimentam e se reno-
das para as classes populares. Os comunistas podiam justificar
-
licas ; nacionalistas c partid á rias da abertura ; elitistas e orienta vam em contato com todas as camadas sociais , podem realizar
-
uma comunh ão fecunda entre o povo e os criadores da cultu
sua alian ça com Vargas com base no nacionalismo c na ascen - ra “ (citado por Mota , 1980: 145-6 ). Evita , sobretudo , atiçar o
-
d ência do ex ditador sobre parte do aparelho sindical . Alg uns
de seus intelectuais , por ém , não os seguiram nessa mudan ça:
*

fogo entre os diversos campos da esquerda . •

Era hora dc união , sem exclusõ es em torno dos valores


,

Caio Prado jú nior , o físico Mario Schenbcig e Ti to Batini entra - democrá ticos ; c també m da realiza ção de um balan ço .
ram na dissid ê ncia com a CNOP (Comissão Nacional de Orga
niza ção Provisória ) , que desempenhava a fun ção dc direção .
- Considerando esses anos dc regime autoritá rio e de enga -
jamento pol í tico intelectual , tem se a impressão , apesar dc
tudo , que o objetivo inicial dos intelectuais de 1925 . aquele
*

A UDS, com Ant ô nio Cândido , Aziz Simáo, Paulo Em ílio Sa -


les Gomes ç outros nomes da intelectualidade paulista , csco
- mesmo enunciado por Alberto Torres , fora atingido: os intelec -
Ihcu a participação — que seria apenas provisória — na UDN ,
uma vez que esta queria , principalmente , desmantelar as insti -
tuais n ão estavam , necessariamente , unidos do ponto de visra
político, mas tinham pcrspccuvas comuns sobre a famosa reali -
tuições do Estado Novo ( Bencvides, 1981: 37-46 ). O mesmo
aconteceu com os membros de esquerda da Uniã o dos Traba
- ‘ Ver a entrevista dc Antônio Cindido , tirada por Benevides 1981: VI .
96

dade national . Quarenta anos mais tarde , Antônio Cândido ,


com a consci ê ncia de seu prestígio intelectual e de sua fideli - 2
dade is opções de esquerda , pôde inclusive dar sua absolvi ção
a uma pane dos intcgralistas por terem realizado , a seu modo ,
essa marcha rumo à realidade:
A distância mostra que o integralismo foi , para vários jovem , mats do que um
A geração dos anos
fanatismo e uma forma dc resistência reacionária . Foi um ripo de interesse
fecundo pelas coisas brasileiras, uma tenariva de substitui: a plaribanda libera-
1954 -64
lóidc por algo mars vivo. Isto explica o número dc íncegtalistas que foram tran -
sitando para posi ções de esquerda — da cisão precoce de Jeová Moa até as abju-
rações do decénio de 1940. durante a guerra e depois dela . Todos sabem que
nas tentativas dc reforma social cerceadas pelo golpe de 1964 participaram anti -
gos integralistas identificados às melbores posi ções do momento (Cândido
1961: XIII ) .
I ão surpreendente quanto a intensidade dos engajamen -
tos na direita ou nas insurreições da esquerda é o reconheci -
mento de que , em certo n ível , provavelmente inspirados peto
desgosto com o liberalismo , també m os intelectuais almejavam
a construção dc uma nação mais viva ' ' . Não se tratava apenas
de submeter -sc às regras da conciliação". E bem verdade que ,
nos anos 50 , vemos encontrarem- se antigos integralistas nas
mesmas posições da esquerda , marxista ou não , como se repre - Em 1945 , o debate intelectual girava em tomo da questão
sentações inversas se unissem de fato na mesma aspiração à uni - da democratização ” . Como demonstra o Congresso dos Escri -
"
dade social , Dc uma maneira ou de outra , os intelectuais haviam tores , parecia se formar um amplo consenso , n ão livre dc mal -
recebido a confirmação de que tinham vocação para se íncum - entendidos nem de segundas intenções . Muitos intelectuais
bir da "realização” dessa unidade . comunistas 0 aprovaram , mas o próprio partido se engajou no
Aparentemente , grande número deles havia feito , cada apoio a Getúlio Vargas . Quanto aos "socialistas" e aos ' libe-
qual por si ou coletivamente , o mesmo trajeto que , começando r a i s ’ não hesitaram cm aplaudir a intervenção militar dc 29
pela negação das velhas instituições olig ãrquicas liberais , os
de outubro , que derrubou Vargas do poder e vetou sua candi -
havia levado , pelo caminho da cultura e da pol í tica , a procla- datura às eleições dc 1945 ; nem a aderir depois , no quadro
ma r a p rim azia da nação sobre os interesses fragmentários da
sociedade civil , e depois os conduziu a uma revalorização da da UDN , à candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes , que
democracia . Isto não implica que tivessem abdicado dc sua von - não mostrava muita sensibilidade social .
tade de equiparar -se ao Estado em sua responsabilidade pela Em breve se evidencia claramente a fragilidade do con -
construção da nacionalidade . senso e também da democratização . Os intelectuais da "es-
De qualquer modo , o fato de que um Congresso de Escri - querda democrática ” rctiram-sc da UDN c ingressam , cm sua
tores pareça simbolizar a passagem a uma nova é poca atesta maioria no Partido Socialista Brasileiro ( PSB ) , fundado em
,

que os intelectuais detinham agora a autoridade à quaJ aspira - 1947 . Neste mesmo ano , após dois anos dc vida legal , o Par-
vam antes de 1930 . tido Comunista — que atraíra numerosos intelectuais para a
sua área de influê ncia e havia demonstrado ser uma força pol í-
tica importante , conquistando 10 % dos votos nas eleições dc
í
9S 99

dezembro de 45 e , de novo » vá rias cadeiras em todos os n íveis Partido Comunista ( Sampaio , 1982 ) Assim sendo . as dd

»

do
.

nas elei ções de 47 foi declarado ilegal e , pouco depois , no mnferem um rrconhctimenLo crcsccntc ãs coalizões t aos
início de 48 , teve seus parlamentares cassados , A partir de À COxdos circunstanciais
. c , tanto no Congresso como no pais. as
ent ão , afasta -se do regime , progressivameme até 1950 c. bru
talmenre , desta data at é 1958. Os intelectuais Liberais hliados
- tnrrentes e dissid ê ncias se
ap
multiplicam
ós 1961 em
dentro
que um
de cada partido.
sistema paria -
Chegaria um momento , ,
a UDN experimentam a derrota eleitoral em 1945 , a coexist ê n
.

cia resignada com o governo Dutra e a d error a de 1950 , ainda


- merua í , que aliá s conferiu às zonas
de
rurais uma
paralisia
su per - representa -
decorr ê ncia
cru oneraria cm situado semi em .

mais amarga por ter levado Get ú lio Vargas de volta ao poder .
de todas as manobras dc bloqueio l W '

. G . dos Santos , 1979 b ),


A confusão diante do sucesso eleitoral do antigo ditador não Nesse contexto , o ardor democr á tico dos intelectuais dc
afetou apenas os intelectuais ’ liberais " , mas a grande maioria
1

1045 tinha poucas chances de durar . Tendo admitido , por cal -


dos intelectuais, cuja perplexidade aumentava com as tomadas ado ou por impot ê ncia , o aspecto corpo rati vis ta do regime ,
de posição nacionalista por Vargas . pouco inclinados aos prazeres da pol í tica partid á ria e , al é m
Quanto à democratização , continuava inacabada. O Exé r - dis > u . pouco instrumemados para tornar parte nela , n ã o unham
cito conserva sua presen ça institucional e , a cada sucessão presi - m ou vos para Lclebrar as virtudes de uma ' democracia formal
1 "

dencial , far á ouvir sua voz e suas amea ças. O essencial do edif í- que . de qualquer forma , nunca exaltaram tanto assim A maio- .

cio corporaovista continuava tm vigor , com o controle das orga - ria continuaria a defender a democracia , mas frequentememe ,
nizações sindicais daí decorrente . Os fracassos da UDN assegu - sem questionar as instituições, os procedimentos e as formas
ram aos dois partidos criados por GetuJio Vargas cm 1945 de legitima çã o que lhe são inerentes. A democracia Tcai" que
o PSD ( Partido Socialista Democr á tico ) e o PTB ( Partido Traba - muitos invocavam era aquela onde o povo sc identifica com a
lhista Brasileiro )— um pape! primordial na vida política . O
peso desses partidos , estimulados pelo poder , n ão atesta ape -
na ção: o tema democr á tico estava subordinado ao tema nacional .
Foi o nacionalismo que forneceu , de fato. a trama da vida
nas que . nessa conjuntura , a problemá tica da ' representação"
1

política , um nacionalismo sem nenhuma relação, à primeira


importava menos que a da participação no processo de decisão vista am o do período 25 -40 . Ningu é m mais duvidava da exis
, -
pol ítica (Souza , 1976: 50 ). Mostra também a capacidade d ás t ê ncia de uma na çã o brasileira , e n ão era mais preciso buscar
elites do Estado Novo de cons ti tu ir um sistema que permitisse seus sinais no "car á ter " ou no ' temperamento" da populaçã o ,
4

*
a absorção , através do PSD , das interventor ias e bases munici
i

- nem apelar ao Estado para forjar a sociedade , A naçã o estava


pais e , através do PTBr das clientelas urbanas sindicalizadas ali , constitu ída em torno de seus interesses económicos . de sua ,

ou cobertas pelas institui ções previdend á rias " ; mostra ainda cultura c de sua vontade política . Ela se experimenta a si mes-
a emergen cia do geí uíismo como formaçã o ou movimento
! '1
-
ma . íri ir mando se dia a dia contra as nações dom mantes , O sen -
pol ítico organizado ao n ível do simbolismo pessoal , conden - timento de identidade é substitu ído pelo de confronto; o
sando e dando forma ativa aos suportes dc massa at é ent ão advento do povo como sujeito político liga - se â sua mobiliza -
-
mais ou menos latentes " ( ibid .: 134 5 ). Quanto ao PSD , este
deixou o campo livre aos grandes eleitores regionais , com seus
çã o a serviço da soberania nacional ,
Dois episódios marcam simbolicamente a conjunção do
eleitorados cativos , numa recuperação moderna do que Victor nacionalismo com a participação popular : a campanha que cul -
Nunes Leal , em seu livro clássico { Leal , 1975 ) , havia analisado minou na criação da Petrobr ás , a companhia nacional dc petró -
corno negociação entre poderes privados e poderes p ú blicos , e
como tensão entre tendências centrífugas e centrípetas . Em
leo. cm outubro dc 1953 . ca emoção desencadeada pelo suicí
dio dc Vargas .
-
alguns dos mais importantes Estados , começaram a impor-se campanha O petróleo é nosso" propiciou a oportuni -
À
"

os partidos regionais - c o caso de São Paulo , com o PSP ( Par - dade para a convergê ncia de diversos setores nacionalistas que
tido Social Progressista ) , uma m áquina eleitoral nas m ãos dc se colocavam contra o projeto inicial apresentado por Vargas

,

Adernar de Barros , deito governador cm 1947 com o apoio put cons id era -lo excess!vamente moderado: a facç io do Exé rcito
100 101

liderada pelo general Estillac Leal , ministro do Exército de çâo do mercado interno e as medidas para contrabalan ç ar a dete -
1950 a 1952 t que contribuiu para criar o Centro de Estudos riora ção dos termos de trocas . Essa teoriza ção , porem , era inse-
c Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEPDEN ) ( A . pará vel de ama meta pol í tica emancipadora . segundo a qual a
-
C- Peixoto . 1980: 65 104 ); os comunistas; numerosos intelec - cidadania política deveria ampliar -se à medida que a moderni -
tuais ; membros do PTB mas tamb é m da UDN , tendo este par - za çã o econ ómica promovesse a independ ê ncia nacional . Quando
tido adotado uma posição intransigente , pela voz do deputado Celso Furtado caracteriza o desenvolvimento como a conquista
Bilac Pinto ( L. Martins, 1976: 334 e segs. ). O lato not á vel foi da autonomia em sua ‘capacidade de decisão ” , est á se refe-
que as palavras de ordem da campanha suscitaram uma ampla rindo , simultaneamente , ao estatuto do povo c ao da na ção
mobiliza çã o , da qual participaram numerosas organiza ções ( Furtado. 1964: 225 ). Com razã o , Alberto O . Hirschman julga
populares. que , nessa doutrina , o desenvolvimento c assimilado à desco-
Com maior raz ã o , o contexto no qual ocorreu o suicídio berta e á auto -afirma çã o da identidade nacional ( Hirschrnan ,
de Get ú lio Vargas , cm 24 de agosto de 1954 . instituiu o nacio - 1963 ) .
nalismo como modalidade de cidadania popular . A carta - testa - Contudo , a cisão criada pelo esquema nacional - popular
mento deixada pelo antigo ditador contribuiu para associar a domina esse per íodo . Uma diverg ência que , sem d ú vida , tinha
luta contra os adversá rios da na ção ao reconhecimento do povo raízes muito antigas mas fora um tanto obliterada no quadro
como encarna ção concreta da na çã o . De um lado, atribuiu a do Estado Novo ; ela vem à tona a parur do momento em que
responsabilidade da crise à interven ção "subterrâ nea de grupos o nacionalismo passa a significar , ao mesmo tempo , ativa çã o
internacionais ” c às maquinações dos privilegiados para impe- das massas e resist ê ncia ao imperialismo. Havia , em todos os
dir as reformas sociais; de outro , apresentou o sacrif ício pessoa) setores , uma tend ê ncia a temer que esses dois elementos travas -
de Vargas como uma d ádiva que permitiria a sobrevivência do
povo:
sem o desenvolvimento do Brasil e provocassem uma confronta -
çã o ruinosa . També m a campanha pela Petrobrãs c a cana - tes-
tamento de Vargas atestam a intensidade dessa cisã o .
Tenho lutado mês a m ês. dia a dia, hora a hora , resistindo a uma pressão cons
tante , incessante , tudo suportando em sil ê ncio, tudo esquecendo , renunciando
- Os militares são os primeiros a se submeterem a ela . Á os
“ nacionalistas ” , opõem - se os que preconizam relações mais
a mim mesmo, para defender o povo, que agora sc queda desamparado. Nada
mais vos posso dar . a nao ser o meu sangue , Sc as dc rapina querem o san - conciliadoras com os Estados Unidos e que se inquietam com
gue dt algu ém , querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço cm o populism o. Com frequ ê ncia provinham dos quadros da FEB
holocausto a minha vida (citado pen Carone. 1980: 58- 9 ) . ( For ç a Expedicion ária Brasileira ) que haviam combatido na Itá -
lia ao lado dos Aliados. Exercem uma influencia preponderante
A morte selou , assim , a fusão do povo com a nação . O no interior da Escola Superior de Guerra, fundada em 1949 , e
-
gctuhsmo toma se uru mito fundador , Nas horas subsequentes , cujo primeiro diretor foi o general Cordeiro de Farias , coman -
irnpòs -sc a consciência dessa transmutação , como prova a rco- dante de artilharia da FEB em 1944. Sabc -sc que c na "Sorbon -
nenta ção imediata do PCB qucr de opositor feroz , se metamor-
foseia subitamente cm herdeiro da ú ltima mensagem getulista .
No decorrer dos dez anos seguintes , esLa mensagem n ão deixa -
ne ” — —
apelido da Escola Superior de Guerra que ser á elabo -
rada progressivamente a "doutrina de seguran ça nacional ” .
ria de fornecer o arcabou ço do populismo nacionalista .
Essa doutrina esrava longe dc se resumir — como se afirma-
ria muitas vezes após 1964 - cm uma concepção de ação anti -
Esses foram tamb é m os anos do deienvolvimentumo . subversiva , pois comportava também , como provam as obras
Trata -se , sem d ú vida , dc uma forma de teorizar a industrializa
çã o , elaborada em Santiago pela CEPAL sob a influencia de
- de Golbcry do Couto c Silva , um programa de industrializa ção
para o Brasil — nas palavras des.se militar um “ plano de reforço
,

Raul Prebish. Celso Furtado c outros economistas divulgariam -


na no Brasil , visando a colocar o Estado a serviço dc um pro-
do potencial nacional ' . Por outro lado , vozes dissidentes fizc
ram -se ouvir durante vá rios anos dentro dessa escola militar,
-
cesso acelerado dc substitui çã o de importações, graças à amplia - intelectuais de renome , muitas vezes de esquerda , ali Itciona -

B 5 CSH UFttO »
102 103

rara. Mas n ão deixa de ser verdade que essa Escola tendia a Popular ) que propagavam o amicomunlsmo e financiavam as
dar ao seu publico , tanto da esfera civil quanto da esfera mili - campanhas eleitorais de candidatos confi áveis ( Drciffus , 1981 ) .
tar , uma visão do nacionalismo oposta à do nacional-populismo . Na linguagem da esquerda , a oposição entre os nacionalistas
' '

As divisões entre militares manifestam-se abenamente no in ício t "entreguistas comandava então o sentido da vida pol í tica .
dos anos 50 , por ocasião das elei ções no Clube Militar . Criado Nas pá ginas seguintes trataremos apenas dos intelectuais
em 1945 , com o cará ter de associação recreativa , o clube aca - que se alinharam no campo nacionalisra e popular . Por isso
bou sc transformando numa arena polí tica , a partir do momento mesmo , é indispensável indicar de saída , a profundidade da
,

cm que cada tendência apresenta o seu candidato à presidê ncia cisão cm que sc situavam Observaremos cm muitas ocasiões
.

do clube . Pode -se avaliar o crescimento do nacionalismo entre que na leitura que faziam dessa cisão , figuras imaginárias e / ou
os oficiais considerando - se a eleição do general EstiUac Leal ideol ógicas parecem substituir os protagonistas; reais; esres ,
para esse posto em 1950 - Dois anos depois, os aminacionalistas , porém , estavam onipresentes , enquanto as tensões sacudiam
reunidos sob a bandeira da Cruzada Democrática , tiveram sua toda a sociedade. Mostraremos tamb é m que os antinacionalis-
revanche ( A . C. Peixoto , 1980) . tas usavam c abusavam da referê ncia democrá tica o que pode
,

As orientações na gest ão econó mica manifestam a mesma explicar em parte por que os nacionalistas foram t ão parcimo -
, ,

divergência entre os responsá veis por esse setor De 1950 a


. niosos nesse assunto e lhe deram uma conotação negativa ,
1954 , o governo Vargas foi obrigado a oscilar . A fundação do dado que esta se limitava a designar os procedimentos de repre -
BNDt ( Banco Nacional do Desenvolvimento Econó mico ) , cm sentação . Convém , finalmente , salientar um fato evidente :
1952 . pode ser considerada como uma vit ória dos nacionalistas , numerosos intelectuais, que n ão eram necessariamente de gaba -
mas seus adversários conseguiram bloquear outras iniciativas . rito inferior , alinharam-se nas fileiras antinacionsiistas , forne -
O nome de Eugênio Gudin , ministro no governo Café filho , cendo- lhes argumentos e teorias . O golpe de Estado de 1964
simbolizou , em seguida , a vitória dos economistas "ortodoxos ' ’ . viria apenas confirmar o que jã se percebia anteriormencc: nas
Defensor tardio da vocação agrícola do Brasil , Gudin foi o pai universidades e nos meios de comunicação , nas organizações
da ‘ instrução 113 da SUMOC , que visava a estimular os inves -
"
profissionais c na administração , numerosos contingentes das
timentos estrangeiros . A adoção da ideologia desenvolvimentista camadas cultas só nutriam antipatia pelo nacionalismo populista
por Kubitschek não impediria o prosseguimento da rivalidade e rancor cm relaçã o á esquerda intelectuaE
entre essas duas correntes A nomeação de Robot to Campos
. A partir dc 1950 c sobretudo dc 1955 , esta última estava
para a direção do BNDE seria interpretada como uma conces - convencida de ser plcnamentc hegemónica . Da mesma forma
são aos partidários de uma teria abertura aos capitais estrangei - que seus predecessores de direita de 1930 , os intelectuais nacio -
ros . A construção dr Brasília , de um lado , e 0 lanç amento da nalistas estavam seguros de ter vocação para desempenhar ,
ind ú stria automobil ística confiada a firmas estrangeiras , de como categoria social espec ífica um papel decisivo nas mudan -
,

outro , revelam as oscilações de um governo que , decididamente , ças pol íticas . Porém , muito mats ainda que seus predecessores,
lança as bases do que logo seria batizado como "capitalismo reivindicavam o t í tulo de intelligentsia . pois , a partir dc ent ão ,
associado". inclinam -se decididamcnte para o "povo" e n ão duvidam dos
A partir de 59 - ÓO , a cisão vai sc exacerbando . Frente aos poderes da " ideologia \
nacionalistas que , durante o governo João Goulart , acredita - A identificação com uma intelligentsia adquire a seus ,

ram vencer com a concretização das reformas de base " a , olhos , implica ções que , dessa vez , c < tão cm linha direta com
maior parte dos industriais exportadores e grandes propriet á -
, a tradição russa . Zelbajov assim comenta a matcha para o povo :
"Decidimo- nos ent ão a agir em nome dos interesses que o
rios fundi á rio *' sc organiza para influir sobre a opiniã o p ú blica .
Apoiados pela maioria dos grandes jornais , est ã o na origem povo criava por si mesmo , que eram inerentes ã sua vida e que
da criaçã o , em 1959 , de fundações corno 0 1 HAD ( Instituto Bra - ele reconhecia como seus próprios interesses (citado por Ven -
'

sileiro de Ação Democrá tica ) e a ADFP ( A ção Democrática turi . 1972 : 2 , 1 1 5 5 ) . Essa seria também a decisão de muitos
104 105

jovens intelectuais brasileiros: ir , por todos os meios , ao cncon - popular sc acompanhou de algo como uma ida ao povo por pine de uma tianja
tro do povo . ensinado e deixar- se ensinar por ele , fundir se com
ele e , ao mesmo Lempo , oferecer - lhe um espelho onde pudesse
- de intelectuais e estudantes (Sdmaiz, 1983: 27).

descobrir a imagem do que era , apesar dc ainda n ão o saber: É evidente , por é m , que a comparação com a inteligência
a pró pria nação. Tudo o que pretendiam os ' pensadores' * do4 russa é um canto abusiva Se esses intelectuais queriam evitar
.

ISER era formular o ' sentimento das massas". També m os


* a “ alienação" , é , como sempre , porque temiam ceder ao pres-
artistas dos CPC esforçavam -se para "chegar até o povo" e t ígio da cultura dos países centrais. Quanto ao mais , n ão havia
por que sc sentirem estrangeiros na sociedade onde viviam ( Ma -
inventar modos de expressã o que fossem ve ículos de uma
mada de consciência política" , tendo como pano de fundo
to - lia . 1961: 4- 5 ): nem o poder nem as diversas frações sociais con -
uma troca recí proca , pda qual os intelectuais se apropriariam testavam sua posição central . N ão se confrontavam com um
da experiê ncia das camadas populares enquanto essas assimila - poder autocrá tico cujos traços fossem obrigados a copiar a fim
riam o saber dos intelectuais. Os estudantes que se transforma - de melhor sc desembara çar dele 1: esperavam , acima de tudo ,
ram em alfabetizadores visavam a tornar -se agentes de uma serem aceitos no papel de conselheiros do Estado . Pedagogos
‘conscicniizaçào", que c a auto-apropria çâo pelo povo do seu da "dcsalicna çâo", muitas vezes desfrutavam da bênção dos
destino revolucioná rio. governantes Fossem intelectuais gloriosos ou estudantes ativis-
,

Esses mesmos intelectuais estavam decididos a ser plena- tas , n ã o eram desclassificados" que estariam fadados , ao fim
mente ideólogos". Com o termo "ideologia", que então de sua forma ção universit á ria , a optar pela “ migração interna " ,
tendo como ú nica morada " a de suas visões ideais ( Malia ,
’ 7

conhece uma voga excepcional , não pretendiam referir-se a


uma representação deformada do real mas sim a uma forç a que 1961: 10). Entre o Estado e eles mantinham -se muitas coniv ê n -
possibilitasse a sua transformação . Os pensadores do 1SEB assu *
cias , não só em raz ã o das posições que o Estado lhes oferecia
miram cxplicitameme a tarefa dc inventar a ideologia que iria e da legitimidade que , em troca , eles conferiam ao Estado ,
presidir a revolu ção brasileira". Com isso , descobriram mais mas tamb é m em virtude do cí eito de ressonância produzido
uma raz ão para se identificar com uma intelectualidade de peias invoca ções populistas que lhes eram comuns e peias pre -
estilo russo . Como esta, buscavam na ideologia uma forma dc tensões comuns a revelar o pró prio movimento do real .
manifestar , acima da sua diversidade de origens , a sua coesão ,
‘’ Nos anos de 1957 a 1959" * escreve Francisco Weffort ,
tanto diante do Estado como da sociedade civil , e també m de "a ideologia nacionalista encontrou o ponto de partida dc um
assumir o privil égio de se abstraírem dos incómodos das rela- processo de expansão que deveria transforma- la em uma espé-
ções concretas de classe , situando-se , através do pensamento , cie de idioma político dominante no pa ís ” ( Weffort , 1972:
à frente dessa classe universal que é o povo- naçã o. Com o risco , IV , 17 ). Tem fundamento essa comparação com um idioma .
conforme observara Irotski em 1910 , dc sc inserirem na vida Ao lado dos esforços conscientes para inventar uma “ ideolo -
pol ítica “ n ão por interm édio da classe a que pretendiami servir , . -
gia " combinavam se significances emprestados de léxicos varia -
mas ;apenas por meio dessa ideia dc classe " (citado por Aucou-
turier , 1978: 255 ). Independente disso, a combinação da mar -
dos —- da CEPAL e do marxismo , do nasscrismo c dc outros
terceiro mundismos , do existencialismo sartriano e do hegelia -
cha para o povo com a crença na eficácia material das ideias
suscitou um momento singular de plenitude. Dois decé nios —
ntsmo , que se entrelaçavam , terminando por criar um idioma
político in édito e aut óctone , com seus neologismos e seus sin -
mais tarde , um intelectual “ marxista - paulista " , portanto pouco
tagmas específicos . Esse idioma se impôs dc maneira ainda
suspeito dc ter cedido , na época , à fascinação do ' popular" e
mais f ácil por suscitar um imagin á rio que recorria amplarnente
da “ ideologia " , recordaria essa epopeia sem igual :
á s relações dc equival ê ncia . A modernização capitalista , a inte-
A ' t uede vejo , o momento cultural mais fecundo vivido no Brasil dc algum
tempo pari cá foram os anos dc 1% 2 a l%4. rm que o acirramento da luta
Segundo argumentação dc Besan çon ! 197 )•
106 1117

graçâo da nação a revolução eram expressões de uma mesma


,

cren ça Mats fundamentaImentet o planó económico , o social


O nacionalismo em todos
.

c o politico foram representados como se os < ré s se confundis - os sens estados


sem Por meio dessa linguagem era ioda uma nova sociabili -
. ,

dade pol í tica que se impunha beat acima dos cí rculos de mili - Devido a deslocamentos , superposições e combinações,
tantes pol í ticos ou dos detentores leg í timos da ci ê ncia pol í -
tica Essa foi jusramente a originalidade da efervesc ê ncia
nenhuma instituição ou corrente intelectual pode ser identifi -
.
cada com uma orientação est á vel c unificada . Contudo, para
nacionalista .
clareza de exposição , parece - nos indispensá vel tomar esses agru -
Tr ês propostas servirão de tio condutor ao longo desse pamentos como pontos de partida Assim , consideraremos suces-
cap í tulo . siva mente o caso do ISEB, dos marxistas nacionalistas, dos diver -
A primeira ser á considerar alguns centros de produ çã o sos setores que participaram da marcha para o povo e a esquerda
-
desse idioma ideologia ; instituições, movi mentos e partidos cat ólica . Tentaremos , por é m , ir al é m da comodidade dos rótu -
que se situavam dentro das articulações vá rias c cambiantes los e mostrar as evoluções , redassiiica ções e rachas que se reali -
entre o Estado e a sociedade , zaram à medida que o desenvolvimento das forç as sociais c a
A segunda será observar como se realizam os deslocamen - perspective das " reformas de base" fizeram da revolução \
tos . e at é mesmo as rupturas , dentro das rela ções de equivalê n
cia que sustentam o imaginário político . O "nacional c o
- muico mais do que uma simples promessa de ideias , uma pers -
pective que parecia confirmar a entrada em cena do povo como
i *
popular " impregnavam , sem d ú vida , tanto o desenvolvi men - protagonista político .
cismo quanto o evolutionismo marxista c o voluniarismo revolu
cioná rio. No encanto , surgem rachas que impedem a assimila -
-
ção pura e simples desses esquemas , O nation a 1 - desen volvi men- O ISEB
iismo , crmnfanie durante o governo Kubicschek , esmaece atrás
.

do nacional - marxism o durante o governo Goulart . Mesmo Criado era julho de 1955 por um decreto do governo inre-
quando parecia prevalecer a equivalência , os usos do idioma nno dc Café Filho , o iStí B ( Instituto Superior de Estudos Brasi -
nacionalista sã o bem diferenciados . Em cerros casos , remei cm leiros) alcançou uma ( ai proje ção nos meios intelectuais que se
a uma visão t écnica do pol í tico ; cm outros , a uma visão religio - tornou o símbolo da síntese nacional - desetjwlvimentista. antes
sa Fies permitiam enfatizar ora a unidade do social , ora as
. de tornar-se o sí mbolo da sí ntese nacional-populista e , depois ,
suas divisões . Em suma . uma sociabilidade partilhada , mas da síntese nacional - marxista . Influenciou numerosos grupos ,
acompanhada de conflitos cm torno do controle das suas finali - provocou debates de grande repercussão e forneceu alicerces te ó-
dades e das suas implicaçõ es ricos para as mais diversas torrentes . Principal meme . fez da
" ideologia" o equivalente do que havia sido a “ organização "
.

A terceira proposição setã analisar as continuidades em


relação ao nacionalismo dos anos AO Ja comen íamos que mui - para a geração anterior .
Como bem demons irou Alzira Alves de Abreu em uma
.

tas noções parecem ter se invertido . A inversão , enr recanto.


n ão questiona necessariamente a estrutura do conjunto: sob a obra da qual tomamos muitos elementos da histó ria do ISEB
( Abreu 1975 ) , a fundação desse instituto foi o coroamemo
torma do nacional - popular , c ainda a nostalgia do Uno que .

transparece : na exaltação do povo- naçã o c da ideologia c ainda


de vá rias irt ídativas por parte de intelectuais desejosos de con-
í ribuir paia a defini ção de um projeto coerente de desenvolvi -
,

a busca de uma construção racionai do Brasil que está em ação .


memo economico . pol ítico e social Era 1952 . isto é , no segundo
t sempre com a mesma questão como pano de fundo: e se a
.

governo dc Gctulio Vargas forma -se 0 "grupo de Itatiaia


"
,
indefinição" das classes e a “ inconsci ência " do povo tornas -
,
' '
.
nome de unia localidade situada a meio caminho entre O Kio
sem a tarefa impossível?
108 109
dc Janeiro e Sào Paulo. Essa localidade não foi escolhida por
um grupo intelectual se propõe a assumir uma lideran ça na
acaso : procurava - se associar , numa mesma reflexão , mechanic
cnconuos mensais , paulisras e cariocas, em geral separados por polí tica national por seus pr ó prios meios ” (Schwartzman , 1979)
tradi ções pol í ticas muito afastadas . Do lado paulista , os mais -
Pode se duvidar de que tenha sido a primeira vez ” , mas é
4

ui contestá vel que esse grupo proclamou , com particular clareza ,


ativos í orani os filósofos e os juristas , entre os quais
Roland sua disposição para se associar à direção dos negócios p ú blicos ,


Corbisier , Miguel Reale e Almeida Salles - - todos os três prove

nientes do inregralismo , mais Paulo Edmar de Souza Quei -
roz e o u t r o s D o lado carioca , os mais not áveis foram , al é -
m
propondo suscitar “ o esclarecimento ideológico das forças pro -
gressistas ( ... ) a partir das mais din âmicas a burguesia indus-
trial , o proletariado e os setores técnicos da classe m édia c

do soció logo e economista Hélio Jaguaribe , outros economistas pol í tica dessas for ças ” c sc autodefinindo
a arregimenta çâo ,
como R ômulo de Almeida , ent ão responsá vel pela comissão
como uma vanguarda polí tica capaz e bem organizada ( ibid . ).

de especialistas econ ómicos subordinada à Presid ê ncia da Repu


blica , Ottolmy Strauch , Ignácio Rangel e outros ; soci ó logos - A morte de Getulio Vargas e sua substituição provisória
por Café Filho , sustentado pelos antigerulistas . pareceu , por
como Guerreiro Ramos , Cândido Mendes dc Almeida , ou sim
plesmente intelectuais engajados como o poeta Moacyt Fé lix- um instante , ameaçar essa ambição. Isto não ocorreu: pelo con -
O grupo de Itatiaia teve uma existê ncia muito breve : parece -
trá rio , o IBESP transf òrmou $e, com o novo nome de ISEB ,
num instituto oficial plcnameme autó nomo , mas vinculado
que os conflitos entre os ‘fil ósofos" ainda marcados pela visã
o ao Minist é rio da Educação e Cultura , gra ças ao apoio do titular
intcgralista e os economistas associados à administração Vargas
foram um dos fatores para a interrupção dos encontros
desse Ministé rio , Câ ndido Moita filho — o qual , sem ter
deste
jamais aderido ao Integrahsmo , foi um simpatizante
-
,
Em 1953 , os cariocas do grupo de Itatiaia fundaram um movimento , tendu participado cm 1932 da Sociedade dc Estu
instituto particular , o IBESP ( Instituto Brasileiro de
Economia dos Pol ticas
í dc S à o Paulo , primeira etapa para a A çâ o Intcgra -
Sociologia c Política ), tendo como secretá rio geral Hélio Jagua -
ribe c do qual fizeram parte os economistas e sociólogos
- lista 4 . No ISEB se reencontra a maioria dos membros do IBESP:
ante * Hé lio Jaguaribe continuou como o verdadeiro dinamizador do
norm ente citados . Em 1935 , a ele se agregaram Juvenal Osório Instituto, ainda que , devido às suas responsabilidades no setor
Gomes c Nelson Wcrneck Sodré , militar de carreira . ligado à privado , não ocupasse a sua direção , atribu ída a Roland Corbi-
corrente nacionalista do general Newton Estilhe Leal ( Sodrc , sier foram criados os departamentos de iilosofia * histó ria , eco-
.
1978a: 10 ). Dos paulistas do grupo Itatiaia só Roland Corbi nomia , sociologia e ci ê ncias polí ticas , colocados , respectiva -
sicr entrou para o novo Instituto. Este ir á publicar uma revista .
,
-
mente , sob a responsabilidade de Álvaro Vieira Pinto , Cindido
Cadernos de Nosso Tempo , cujos cinco n ú meros saíram entre Mendes , Ewaldo Correia Lima , Guerreiro Ramos c Hélio Jagua -
1953 e 1956. Essa revista visava a elaborar um diagnóstico da ribe. Foi institu ído um conselho de rutcla , no qual figuravam
sociedade brasileira c de sua ' crise ' e a fazer reconhecer a An ísio Teixeira uma das figuras-chaves da corrente da Escola
da racionalização do aparelho de Estado , Os intelectuais do
-
urgência de uma planifica çã o cconômico social e , desse modo, Nova nos arios 30 — T
Ernesto Luiz de Oliveira J ú nior , Hé lio
.
Burgos Cabral . H élio Jaguaribe José Augusto dc Macedo Soa -
IBESP não pretendiam ser “ pensadores ” como os do passado , res , Nelson Wcrneck Sodré , Roberto Campos c Roland Corbisier
que acreditavam na eficácia das ideias , tampouco militantes Com a eleição de luscelino Kubitschek , pareciam reuni-
políticos: Pela primeira vez ” , escreve Simon Schwartzman

em seu prefácio à reedição de alguns artigos dos Cadernos ,


. das as circunstancias para fazer do ISEB uma peça essencial da
nova administra çã o . Roland Corbisier era pessoalmente ligado
ao Presidente, e diversos membros do ISEB participaram indivi-
- tnn 1948. Roland Corbisier , Almeida SiJJes , PauJo fcdnux dc
-
Souza . Queiroz e , Ljm dualmcntc da campanha . Com efeito. K.ubitschck criou o Con -
.
Í
criaram a revisit cultura! Co/ ê gí o , de orieqiaçio
direitista ( Abreu , 1975: Kv> c . cm
\ A9. o mesmo grupo fundou o lns úruto Brasileiro de í losofia .
3» M
A i. ftâe biajjJeira 6 o título dr um longo ensaio de Hélio Jaguaribe,
jubvençôc da CAPES desde 1954 . graças à
r

publicado 4 O ISEB ií recebia uvcrwiçlo de Anísio


nns fjiãíífflp i Retomajenaos a algumas de suas teses . *
Teixeira , scrrecáno-genJ da CAPES
no i n

selho National de Desenvolvimento c diversos órgãos técnicos, Porém o ISEB estava longe de set homogéneo Compreen - .

qtic cram as instâncias onde se elaboravam as decisões . Entre os dia intelectuais que continuavam a iradi ção dos “ pensadores
"

membros do ISEB , Roberto Campos foi um dos ú nicos a ser cha - da década de 30 como Roland Corbisicr . Guerreiro Ramos c
,

mado para altos cargos , como presidente do BNDE , mas desem- Cândido Mendes ; filósofos dc formar ão estrita , como Á lvaro
penhava apenas um papel secundário no Instituto , do qual sc Vidra Pinto ; economistas corno Roberto Campos e Igná cio Ran -
separou em 1958 , sendo pouco depois considerado como perten - gel ; um milhar-historiador como Nelson Wtrncck Sodrc ; um
cenre ao setor anumaonilista e ate emrcguísta . O ISEB const r - cientista pol ítico como Hélio Jaguanbe , que era também homem
vou -se . sobretudo até 1958 , mais como um centro de estudos ,
de negócios e ocupou 0 importante cargo de respons ável peia
Na visão do ministro Câ ndido Motca Filho tratava-se dc um Ins- ,
página económica do Jornal do Comércio ' .
titute) Civil que devia, da mesma maneira que a Escola Superior Foram muito diferentes as suas carreiras pol í ticas ; Roland
dc Guerra , consagrar - se às ciências sociais “ a fim dc aplicar as Corbisicr saiu , como vimos , do integralismo . próximo do qual
categorias e os. dados dessas ciências á aná lise e à compreensão .
cambem estiveram Álvaro Vieira Pinto c Guerreiro Ramos durante
crí tica da realidade brasileira, buscando a elaboração de instru *
um certo per íodo ; Nelson Werneck Sodrc , que colaborou na
revista Cultura Política durante o Esrado Novo , inseriu -se na cor-
mentos teóricos que permitam estimular e promover o desenvol -
vimento nacional ” \ No encerramento do primeiro ano de
curso, rente nacionalista do exército e iria cornar - se um dos intelectuais
Juscclino Kubicschtk dedara que a instituição tinha por objetivo mais destacados do Partido Comunista H élio Jaguaribc era . .
formar "uma mentalidade um esp í rito , uma atmosfera de inte-
,
antes de Ludo , um ‘ desenvolvimentis»
1
A projeção do 1 SFB
ligência para o desenvolvimento e acrescenta : dc membros , mas decorreu
n ão vinha apenas seus permanentes
Vôs >ois combatentes do desmvdvinicflto no plano da initiigícr á ( . I Vossa também do prest ígio de numerosos conferencistas eventuais ,

i itL íi dc cdtet újntnos du glande Blast? ser á roais


^ á rdua c mais ptriuusa porque como por exemplo Celso Furtado De qualquer
. modo desde a ,

lutareis com argumeutadores , com linos rcprescnianies da dccadênaa , com sua constituiçã o , o ISEB provocou a desconfian ç a n ào s é> de mui
jçcntc dc recursos (arado por Toledo, 1978: 32 ) .
tos intelectuais paulistas que nele viam . á semelhan ç a do grupo
Estabelecimento de ensino — comparando-sc cora prazer de Itatiaia , um ressurgimento do integralismo , como cambem
ao College de France , bcneficiando-se de dotações oficiais, alem dc intelectuais de direita que percebiam nele a aproximação
,

de subvenções da Federação das Indú strias de S ão Paulo — , o entre getulistas e comunistas ,


As divergências internas c suspeitas externas explicam a evo -
ISEB irá lormar muitas turmas de alunos recrutados , rnum pn - lução bastante movimentada da instituição . Em 1958 sobrevém
meiro momento , principalmente entre diplomados que já exer - uma primeira crise após a publicação de um livro dc Hélio Jagua -
ciam uma atividade profissional
— inclusive militares
num segundo momento , entre estudantes universitários .
— ,

nbe , O nacionalismo na atualidade brasileira , onde sc afirmava


Era , portanto , um n ú cleo de intelectuais dispondo de o temor dc que um nacionalismo mal interpretado se tornasse
um estatuto oficial c convidados pelo próprio poder senão para um obstáculo ã definição dc uma pol í tica “ racional e eficaz " e
intervir dirctamcnte na gestão da política econó mica , pelo à necessidade do recurso aos investimentos estrangeiros . Gucr-
menoN para participar da construçã o da nova legitimidade ,
colo- raro Ramos fez campanha pela expulsão de Hé lio J agua ri be e .
cando-se a serviço da enaçã o da síntese nacional -desenvolvínien- com Roland Corbtsier , pressionou o ISEB para que abandonasse
rista . Nesse sentido , foram chamados a completar a obra dos a reflexão teó rica c se dedicasse somente ao trabalho militante .
responsá veis pelas decisões económicas , ressaltando - lhe o alcance A disputa teve repercussão nacional tendo a União Nacional
,

pol í tico e social . dos Estudantes ( UNE ) se solidarizado com Guerreiro Ramos . O

Segunda o rnuo dr enaçao do ISEB , dado por Alzira Aires dc Abttti (


Abreu , 197 V * O que a pamt de VA ) se denominoo a " quinta pj^irid ' áa Jorrtdldo
1 ver

^J
.
]0
-
°
p 1 *1 )
' tom A EscoJa Superior àr Guerra foi lembrado ria
mesma ohra libidu í aguaiibe ( 1979c 94' 110 ). Hélio Japu» iBe
trial Feiro e Àço
toriMHM presidente da companhia indus-

i L
112 113

ministro da Educa ção decidiu , cm dezembro de 1958 , reunir o para ocupar uma cadeira de depurado do PTB na Assembleia
Conselho de Tutela para deliberar sobre a finalidade do ISEB: do Estado da Guanabara . Dois outros membros do fSEB . Câ n -
ainda que a opinião do ministro se afinasse com os partid ários dido Mendes e Guerreiro Ramos , ainda ligado à instituição, can -
de um nacionalismo intransigente , o conselho pronunciou -se , didatam-se mas n ão são eleitos C â ndido Mendes foi sondado
com maioria de um voto: o de Nelson Werneck Sodr é T , a favor para suceder a Roland Corbisier na diretória do ISEB . Os estu -
do pluralismo teórico dentro do ISEB. Os estatutos do ISEB , -
dantes da UNE levantaram se contra seu nome . argumentando
poré m , foram modificados dc forma que seu diretor

Roland Corbisier teve seus poderes ampliados c um Conselho
ainda — que C â ndido Mendes era advogado de uma poderosa compa
nhia estrangeira. O ministro da Educa ção designa , assim , Á lvaro
-
de Professores substituiu o antigo Conselho de Tutela . Depois Vieira Pinto. O ISEB ingressa ent ào cm uma terceira etapa ,


dessa modificação , Hélio Jaguaribe , Roberto Campos, Hélio Bur- quando sua atividade assume um cará ter ncplicitamente pol ítico
gos Cabral , EwaJdo Correia Lima , Anísio Teixeira que , por ao lado da esquerda radical . Privado do seu financiamento essen -
diversas raz ões , eram os que mais se aproximavam da pol ítica cial , condenado a reduzir suas atividades de ensino c dc publica -
governamental - apresentaram sua demissão c Guerreiro Ramos -
ção , associa sc â agitação em favor das ' reformas de base r
"

sc afastou ( Abreu , 1975 : 225 ). participa da redação dc diversos Cadernos do Povo „ fascículos
O ISEB enua ent ão numa segunda etapa . Como sempre , lan çados pela editora Civilização Brasileira e que visam a colocar ,
-
propunha se à tarefa dc reflexã o teórica sobre a conjuntura , apre- em linguagem simples, as grandes questões do momento “ ao
sentando contribuições como as do economista Gilberto Paim , alcance do povo ' . Á lvaro Vieira Pinto escreveu Por que os rteos
ou o t rabalho teórico sobre a noçã o de ideologia , do filósofo fran - não fazem greve?; Nelson Werneck Sodrc : Quem é o povo no
cês Michel Debrun (Debrua . 1959). Mas o ISEB visava também , Brasil?\ Wandorlcy Guilherme dos Santos : Quem dará o golpe
cada vez mais, a exercer sua influência sobre as organizações no Brasil?\ Osny Duarte Pereira : Quem faz as leis no Brasil?,
nacionalistas e sobre a opinião progressista: preparou projetos O ISEB também exerceu influê ncia sobre os CPCs; ali ás , con-
de lei para a Frente Parlamentar Nacionalista ( FPN ) , que reunia tava com Carlos Estcvam Martins , um dos teóricos dos CPCs .
os parlamentares nacionalistas dos diversos partidos ; organizou entre seus membros . Nessa etapa , uma parte dos professores t
cursos para sindicalistas , para os militares nacionalistas e , princi
palmcnte , para os estudantes em busca de uma ciência social
- conferencistas pertencia ao PCB ou escava próxima dele . Daí
veio esse -
ultimo ISEB radical populista , que inspirou este
mais engajada do que a ensinada nas universidades. Para Roland coment á rio dc Hélio Jaguaribe;
Corbisier, o ISEB passa a ser desde ent ão , um organismo dedi
cado a participar do que poder íamos denominar precisamente:
- [0 ISEB; coofikim o pau cm vias de ingressar an um momento revolucionário,
conduzido pelo próprio processo dc radicalizaçã o do governo Goulart . Dentro
a revolução nacional brasileira ” ( ibid .; 244 ). Em contrapartida , dessas circunst âncias, o ISEB se constitui cm um dos centros dc pressão pira incre -
as campanhas de imprensa contra o ISEB tornaram -se cada vez mentar tal radicalização c sc dedica ã formulação dc projetos dc retonna suciai
mais intensas , enquanto industriais c militares anunabonalistas (Japuanbc, 1979a: 97 )
multiplicavam suas prevenções contra a “ propaganda comunis-
ta praticada pelo ISEB, Em I 960 , diversos professores do ISEB Parecendo mais do que nunca , aos olhos da direita , um
trabalharam na campanha da candidatura à presidê ncia do mare
chal Lott , apoiado pelos nacionalistas contra J ânio Quadros . Na
- dos centros da conspiração revolucion ária, seria fechado na
semana seguinte ao golpe de Estado de abril de 1964 , e subme -
mesma é poca , Roland Corbisier abandona a direção do ISEB tido a um inqué rito militar.
Esse breve resumo da hist ória do ISEB permite nos avaliar
as r á pidas mutações que afetaram a instituiçã o » como també m
-
ELJI rvcu livro A
- -
so&re G J.SkB , Nelson WfittJcck Sodrc explica que. maJgradb
hostilidade is \ esç$ de H é lio Jagiumbc , de queria evitai uma nsáo no ISEB e a ado-
as representações pol íticas que pretendeu impor . O ISEB apresen -
tou -se . de in ício, como desejoso de aruar sobre o poder , ou
-
ção dc um almhamenm esquerdista, que fomecena argumentos aos que tiziam uma
campanha contra o ISEB através dos jornais ( Sodré . 1978a : 38 r srgv ). melhor , inserido no poder ; mesclou -se depois à grande vaga rc-
1
Ui 115

volucionária ' que parecia surgir da própria sociedade . Isto n ão


exclui uma relação com o poder: o lema reformas de base* t do real ; t a afirmação de uma unidade acima da multiplicidade,
foi encampado pelo governo e por organizações muitas vezes de interesses ; exprime uma lógica cmancipadora ; comporta
participantes do aparelho de Estado. O ISEB começou pelo
enfim um projeto de transformação voluntarista .
,

Enquanto explicita ção do real , a ideologia não é mais do


nacional - dcsenvolumentjsmo . desejando ser , ainda no dizrr de momento, assegu -
. que um aspecto deste; c seu produto, a cada "
Hélio Jaguaribe " uma intelligentsia contestatária do Brasil pri
m á no-exportador e representativo dc uma coligação de setores - undo assim a passagem dos " processos à ação" . A versão
rnar .s vigorosa dessa interpretação é dada por Alvaro Vieira Pinto,
progressistas , orientados para o desenvolvimento econ ómico-
social e a afirmação auionomizante do nacionalismo " (ibid .:
109 ) . Conunuou com o nacionalismo populista c terminou no
nacionalismo marxista . Seus próprios animadores evoluíram ern
-
por meio da noção de " finalidade" . O desenvolvimento, diz
ele , c um processo que encontra a sua definição na finalidade
a que se dirige ( Pinto , 1959: 24 - 5 ) ; a ideologia , suscitada com
"

base nessa finalidade , c uma concepção geral ( geral , não abstra"-


direções diferemes: Hélio Jaguari be criticou um certo naciona -
ta ) de que decorrem linhas inteligíveis de açã o prá tica rigorosa
lismo , enquanto Roland Corbisicr e Á lvaro Vieira Pinto aproxi-
( ibid .: 25 ). Também a concepção de ideologia dc H élio Jagua -
-
mavam - se da linha nacionalista marxista .
Se o ISEB adquiriu um fantástico destaque , isto se deve ribe remete à sua interpreta ção do desenvolvimento: "O processo
dc desenvolvimento" , afirma dc , ‘ c o próprio processo histó-
ao fato de que, intervindo cm nome do poder ou do povo, mani -
rico -social . na medida cm que avança no sentido dc uma racio -
festava o sentimento de onipotência de uma intelectualidade
que sentia vocação para conduzir a transição para um Brasil
naI idade crescente (Jaguar íbc , 1964 : 17 ). A ideologia c justa -
mente a formula ção dessa racionalidade . Uma interpretação apro-
senhor dc seus destinos. Pode-se discutir seu papel na difusão ximada proposta por Roland Corbisicr sob forma de uma com -
-
do nacionalismo: consider!Io como a origem dc todas as teorias
c
plementaridade dial é tica entre a ideia e o processo economico:
-
que circulavam na opinião pú blica , ou apresentã lo como o cata -
-
lisador da efervescência política dos anos 60 64, implicaria con -
firmar a pretensão à onipot éneia. Em contrapartida, nao se
Ora c o fenô meno cultural, a ‘ ‘ ida* li cciniiguraiia dentro de uma estrutura

que, cm suas linhar gerai* , reflect o modo ou sistema dc produção que , i
pode discutir sua contribuição â "proliferaçã o das ideias": na maneia dc um «timulantc, incide no processo económico , provocando a sua ace-
verdade, foi a " ideologia" que .seus membros pretenderam rea - leração , ora c o fenómeno económico,, que , pela magnitude e urgê ncia dos pio -
blcmas que apresenta , desafia o homem , forçando-o a tomai consocnda desses
bilitar . N ão só chegaram a fazer reconhecer o alcance desta den
tro de um processo de moderniza ção como cambem , pela exalta -
-
problemas e inventar suas soluções > Corbisicr . 1959: 834).
ção dos poderes da ideologia , estavam em resson â ncia com uma Hélio Jaguaribc formula o mesmo rema no quadro de uma
opmr âo pú blica constituída em tomo de representa ções segundo teoria de " fases" , chamada ‘ ' faseológica " , segundo a qual cada
as quais a sociedade fala a linguagem do Estado e este , a lingua - momento se traduz í ndistintamente na economia c nas concep-
gem da sociedade . Nesse aspecto, o ÍSEB foi uma condensação ções de mundo. Para ele , as ideologias são concepções que per -
da opinião pública. mitem à comunidade ' cncaminhar -sc no sentido de seu processo
Por ém o traço distintivo do ISEB foi a sua insistência na fascológico" (Jaguaribe , 1958: 35 1. No per íodo em foco , isso
import ância da criação ideológica. Com raz ão, um sociólogo se manifesta pela ideologia desenvolvimcntista , pois se consta -
qualiticou -o dc " fabrica de ideologias ( Toledo , 1978). Convém ,
"
tava , de um lado , que o Brasil vivia " urna fase da transforma
portanto , nos determos um pouco no significado desse apelo à çãot caraaerizada pela ené rgica e acentuada propensão ao desen -
ideologia. Isto supõe ainda fazer uma distinção entre o que volvimento" (citado por Toledo, 1978: 41 ); dc outro lado. era
depende de uma concepção comum â maioria dos iscbianos e o o nacionalismo descnvolvimentista "a maior contribuição â con -
que atesta inten ções diferenciadas .
Encontram-se quatro características nas diversas definições fases do dtsenvdl-
isebianas dc ideologia: ela c uma explicitação do movimento ’ O termo ‘ fascológico remece a teoria da
'
iorrespoftdêtida entre
"

vimenm htsiõ ruo t pradut,3o das ide tas.


116

figuração ideológica das aspirações ao desenvolvimento económi-


co * ' (Jaguaribc, 1964: 26). Segundo uma versão mais banal , a
explicitação resume sc no conhecimento da realidade. Assim ,
^

Guerreiro Ramos faz da ideologia “ a formulação dc interpreta-


ções gen é ricas dos aspectos globais e pardais das estruturas nacio-
IT
gia
dora
Quando
;
Esse primado n ão impedia , de modo algum , que a ideolo-
fosse , ao mesmo tempo, a aplicaçã o de uma lógica cmancipa -
pelo
muito
contrário , esses dois aspectos sã o indissociá veis .
, pode-se analisar , um pouco diversamente, o con -
117

te ú do da l ó gica emancipadora, levando- se em conta sc a uni-


nais e regionais " (eirado por Fernandes , 1980:
67). É claro que escora na nação ou no povo . No primeiro caso . a procla -
esta ancoragem da ideologia no movimento do real impedia que dade se
ela fosse uma ilusão. Sem duvida , por vezes podem surgir falsas mação unificadora é uma forma dc caminhar para a emancipa -
ideologias , quando esta ancoragem não existe . Dai vem a crise , çã o diante do dom ínio externo , cm suma , da “ desaliena ção ” ,
.

como a que Guerreiro Ramos denuncia , sob forma de uma * ‘falta conforme insistiam Álvaro Vieira Pinto e também Roland Corbi -
de coincidência entre as condições subjetivas dos atuais titulares sier .
do poder r o sentido real do processo brasileiro’ ( Ramos, I 960: J

Somente quando o país alcança o gnu de desenvolvi mento ^onòmko capaz dc


25 ). Cabia aos intelectuais retornar ao “ sentido real " , ou seja . gerir 3 amai modalidade de consciência nadonaiista. dio- se os meios dc supera;
traduzi- lo em uma “ ideologia aut ê ntica " , conforme a expressão as divenas formas de alienage* de que sofre (Pinto, I 960: II , 400 ) .
comumentc utilizada por Hclio Jaguaribc . A toraadi de cormcnda de um país por dc piòpfto não Deane arbitrariamente,
A “ autenticidade ' coincide com o fato de que a ideologia r.em resulta do capricho dc indivíduos ou dc grupos isolados, mas ê um fenó -
tinha por referente a unidade nacional. Esse crit ério permite dis - meno histórico que implica e assinala a ruptura do complexo colonial (Corbisier ,
tinguida dos discursos que visavam a disfarçar os interesses parti
- 1959: 141 ).
culares sob forma de interesses gerais. Assim , observa Hélio (agua
ribe: - Era evidente para os isebíanos que a submissão econ ómica
e a submissão intelectual andavam juntas, evidência essa que
As ideologias autênticas são aquelas que , sejam quais forem os interest snuano- Corbisier resume de maneira surpreendente: “ A coló nia expor -
tms que representem [interessei ligados a situações particulares] formulem pm tando mat é rias- primas c produtos naturais, exporta o n ão- ser , e
i comunidade como um todo critérios e diretrizes ,
que permitam o melhor importando produtos acabados , importa o ser" (citado por
aproveitamento das condições naturais da comunidade , cm função dos wtom Chau í e Carvalho Franco , 1978: 156 ). Tomar - sc uma nação indus-
predominant*J na civilizado a que pertence (Jagmribe. 1958 : 35). trializada implica tomar-sc uma nação que produz o seu próprio
Vinte anos depois, por ocasião de um estudo retrospectivo ser . Ou , ainda , nas palavras de Guerreiro Ramos , assegurar o
sobre a hist ória do ISEB. o mesmo autor retoma , com algumas triunfo da “ Na çã o " sobre a “ Antina ção" e assegurar “ um pro -
nuan ças , essa definição das “ ideologias corretas": eram aquelas cesso coletivo de personaliza ção histórica contra um processo dr
que , .
alienação ( Ramos, 1965: 53) No segundo caso , quando o refe -
rente da unidade é o povo, a l ógica emancipadora remete ao
de um lado roiham maior ou menor possibilidade objetiva dc se imporem sooaí- advento do povo como sujeito pol ítico. Foi o que afirmou tam -

,

mente requisito de vigência - c , de ou iro lado, tenham maior ou menor vali - bé m Guerreiro Ramos, sobretudo em O problema nacional do
dade para as outras classes e demais grupos sociais , além dos imedunarnente vin- Brasilpublicado em I 960, portanto após a sua saída do ISEB:
culados aos interesses suuauunais que tal ideologia exprima — requisito dc gene - “ O nacionalismo é esseneialmente uma ideologia popular e só
ralidade ijaguaribc, 1979a: 100). poderá ser iormulado induzindo-se da pr á tica do povo os seus
Quanto a Álvaro Vieira Pinto, afirma que a ideologia c a verdadeiros princípios" ( Ramos , I 960 : 230 ) . Mas entre os bebia-
tradu ção do “ sentimento do povo " (Pinto , 1959: 38) Pode- se nos foi Á lvaro Vieira Pinto , talvez , quem mais claramenre enun -
-
encontrar esse primado da unidade na maioria dos pensadores ciou , cm suas diversas obras , que a ideologia se confunde com
isebíanos . o movimento dc emancipação das massas. Em Ideologia e desen -
volvimento ,. formula três postulados , ou melhor , tr ês constatações:
118 119

-
I . A ideologia do dc^ nwlvirrjemo tm neiesonarDfntc dc ser faiò rrveno dc
ma*:- ; 2 0 process:* de desenvolvimento é função da conioència das massa*; 3 ,
sá rio ao futuro. J á nosCadernos de Nosso Tempo , havia formu -
lado um elogio do planejamento , apresentado como forma rema-
A ideologia do desenvolvi morro tem de procedei da consciência das massas ( Pinto,
tada da ideologia. Naquele momento , aliás , de preconizava a
-
1959: 34 8 ),
socialização dos meios de produção em nome das exigê ncias do
Ora , as massas conscientes só podem scr o sujeito politico planejamento: um planejamento sobretudo"em termos substan -
da na ção. N ã o se poderia , conseqiicntemente . estabelecer uma ti vos e n ã o pura mente fiscais ou crcdit ícios e que “ será tanto
separação n ítida entre as duas lógicas emancipadoras . Sc houve mais viá vel quanto mais desprivatizado for o regime dc produ -
divergências entre elas. como ocorreu com alguns dos mais "dr - çã o (Jaguaribe , 1979 b: 161 ). A necessidade da socialização vai
scnvolvimentistas" , completada a assimilação entre desenvolvi- desaparecendo em seus escritos posteriores , mas de forma alguma
desaparece a necessidade do planejamento , definido em Desen
-
mento e libertaçã o popular , das se tornam complementares
para os intelectuais que ficaram no ISEB at é o fim , volvimento econó mico e desenvolvimento político ( publicado
A ultima caraetcrística da ideologia consiste cm ser , por si cm 1962} como “ técnica de provocar a ocorrência de determi-
mesma , uma for ça dc mudança . Este aspecto é central na fase nado resultado mediante uma intervenção deliberada no processo
desenvolvimcntisia . Álvaro Vieira Pinto sustenta então que “ os econ ómico, tundada no conhecimento racional deste e orientada
fatores ideológicos conduzem o processo de desenvolvimento" conforme um projeto Jaguaribe , 1964: 25 ), Técnica , conheci -
" (
( Pinto, I 960: I , 38 ) e que “ sem ideologia do
desenvolvimento, mento , projeto: trê s facetas de um domínio da economia cujas
n ão h ã desenvolvimento nacional" ( ibid .: 1959: 32 ). Afirma implicações tecnocrãticas transparecem na reabilitação simultâ nea
ainda , de maneira mais global : do modelo " neobismarckiano" na á rea política.
Hm outros casos, a ideologia foi antes a forma que revestia
As ideia* iio capazes de pòr a seu serviço for
ças consideráveis, as tor ça.* com as o projeto de constituição dc uma cultura brasileira onde coinci-
quais somos obripda* a contar quando pretendemos compreender a realidade
dissem os estilos primá rios de sociabilidade , as representações
-
nacional , ou quando concebemos qualquer proieto dc modtficí b ( ibid . ; 21).
da identidade c a autonomia política. Foi este o significado do
'
convite de Roland Corbisier à conversão ao Brasil :
1
"
Roland Corbisier afirma o mesmo:
Se c verdade ( . .. que não h ã movimento rrvduouná rio sem teoria do movimento Convcrtendo- ttos ao Brasil t nos reconulundo com nossa circunstância, nos rtcon
*

revolucionário, não haverá desenvolvimento aem uma formulação prévia da ideia aliaremos com nós mesmos , tornando autenticá à nossa existência (Corbisier,

dc desenvolsimento nacional (citado por Toledo, IO: 37). 1959 871


'

Por esse caminho, chega -se ao tema de que a ideia não é A ideologia poderia scr ainda , essencialmente, a ocasião
somente um componente da raz ã o prá tica , mas uma força com - para o encontro entre as elites e o povo . Sc , como afirma Á"lvaro
pará vel à s for ças materiais ou sociais. O que n ão surpreende , se Vieira Pinto , a ideologia nasce da “ consciê ncia das massas , ela
c verdade que a "ideia " nunca é mais do que o prolongamento supõe por isso , da pane das elites, "a vivê ncia profunda do scr
dessas ultimas. do Brasil , a perfeita identificação com os sofrimentos do povo"
His o horizonte comum onde se insere o projeto isebiano ( Pinto , 1959: 45- 6 ). Ao contrá rio da visão tecnocrá tica , esta con -
de construir a ideologia necessá ria ao advento de um Brasil indus-
, cepção abre caminho para uma pol ítica integradora.
trializado , soberano e popular t fácil , porém , discernir outras Al é m disso , a ideologia podia ter um objetivo propriamente
-
,

abordagens. cientí . Nesse caso, era um marco na produ ção de uma ciê n
fico
Por vezes a ideologia parece sobretudo uma forma de enco- cia nacional Tanto Á lvaro Vieira Pinto como Guerreiro Ramos
.

brir um projeto dc tend ência tccnocrá tica. Assim , para Hélio questionavam a validade de uma ciência com pretensões univer -
Jaguaribe , a ideologia torna -se o alicerce do planejamento neces- salistas . O primeiro afirma que a pró pria lógica est á submetida
à especificidade das condições locais:
120 Í 21

A lógica ujmo a cuca , não pixie ignorar


nroinstinoa eaõteoaal [.. ) À uni- amda mais grave , terem de provocado a confusão ao pre -
uma gesta cinancipadora ,
à
venalidade formal do processo lógico não rem força coercitiva capaz dc impor con-
E fato entre os arautos
dusòcs lc ptteiso chegar à] d &coberta de conceitos
caiegpriais tender buscavam , deliberadamente ou nã o a defesa e ilus-
estar ,

fatos c adequados a nos dar a correta interpretado deles ( ptovememes dos enquanto
o autoritária brasileira . Deste
modo , assegura -
Pinto, 1959: 1, 154). da tradi çã de
a pol í tica dos anos 30 e a dos militares
traçã o
Em suma, c preciso chegar a uma lógica em contato vam a junção entrelado , a Escola Superior de Guerra; dc outro ,
com a singularidade histórica. direto
ap ós 1964 - De um coloca-
Quanto a Guerreiro Ramos , tornou-se o [ SEB ; eis duas
instituições que , cada uma a seuêmodo ,

propagandista de do Estado a incumb ncia fabri -


de
uma sociologia national ” . Na introdu o
nai do Brasil, assim justificou essa opção: çã a O problema tiacio ram sob a responsabilidade a imagem dos intelectuais associa
*

car uma nação , e perverteram


seu corpus doutrin ário. Resumiremos
os
dos aà elaboração de do ISEB .
de acusa çã o dirigidos aos membros
0 processo dc íundaçlo de uma sociologia
nacional teveste -se de caracteres taifu autos
dívns. Verifica -se quando as motivações de tal disciplina lugar , terem escamotea-
. Foi - lhes censurado , cm primeiro
*

se tornam conacus, ..isto


..
é . dizem rtspcuo aos imperativos de autoorganizaçã força de proclamar o primado do na -
1

dade nacional (Ramos, i 960). o de derernunada coleuvj do as oposições dc classe à , de terem se instalado no campo
cional" , e , por isso mesmo Maria Sylvia Carvalho franco:
Planejamento económico autenticidade cultural das "classes dominantes . Escreve
'
, pol ítica
,
integradora c ciência nacional constitu íam , assim, objetos diver- çã o das diferenças de classe , sub-
sos atribuídos uo trabalho de elaboração ideol Pnr drenvolvimemo social deve - sc hr a dissolu dominante; por desenvolvi -
Não pretendemos considerar os alicerces gica.
ó sumindo-se iodo? os pontos de vista aos da classe ção c aumento de produti -
elaborações; Outros o fizeram , aos quais filosóficos dessas memo economico deve-sc compreendei industrializa
( Franco , 1978 ; Chauí, 1983; Paiva , remetemos o leitor -
vukde , silencianda sc sobte as rela ções dc produção
( Franco, 1978: LV\).
1980 ; Toledo, 1978 ). Visa de Toledo conclui ;
mos , no máximo , interpretar o seu
sentido e alcance na coniurl -
- Da mesma maneira Caio Navarro*
tura onde surgiram como a ideologia de
Ao proclamarem a ideologia nacional- destnvolvimcmista
.
Não faltaram cri íticos da "ideologia per odo os modelos de desenvolvi -
isehiana" , mesmo na loih a tiaç jo e endossarem , duiamc certo í n ão deixavam de se mover den-
,

época Como lembraremos mais


.
adiante . os docenrcs universitá - mento que se realizavam no pais os
, isebianos
rios paulistas manifestaram a seu respeito
um desdém um tanto* tro do quadros dc pensamento da
1 classe hegemó nica (Toledo , l í>78:; PO) .
arrogante e desconfiado, tanto em rela o
çã aos conte údos quanto
ã própria postura ideológica. Os
isebianos . c verdade , davam - Marilena Chauí, por sua vez , observa :
lhes o troco , ridicularizando a impostura
Tanto o adjetivo “ nacional" quanto o adjetivo
“ popular ' reenviam a manei-
do empirismo e da " neutralidade cient íficacient ífica dos adeptos nacional , i.sro c , Nação
"\
Isto não impediu ras dc representar a sociedade sob o signo da unidade
que a maioria dos críticos condenasse
e Povo são suportes de imagens unificadora?
quer no plano do discurso político
mais
os paulistas, a pretensão isebiana dc colocar tarde
-
, como fizeram
se na vanguarda do e ideológico, quer no das experiê ncias praticas
e sociais (Chau í , 198}: 20 1).-
pensamento e da pratica políticos. singu -
Os que vamos citar escreveram cm torno Foi - lhes igualmente imputada uma incapacidade
do processo de
tencem a uma outra geração , que se
dos anos 80 . Per- lar para levar em conta a orientação efetiva
confrontou com a experiên - qual , sendo carac -
cia do regmic militar e lurou a favor dos
direitos da "sociedade industrialização sob o governo Kubitschekestrangeiros
, o
, levou a
civil e pela urgência da democratização
"
pol ítica . Se criticavam
cerizado pelo apelo aos investimentos simples engodo . Assim ,
tão vigorosamente o ISEB
c porque condenavam as correntes transformar o nacionaiismo cnn urn " burguesia nacional
"
e
que lhes pareciam ter conrribuído para
levar à derrota de 1964 . todas as especulações em torno da conrra as nações imperia -
de sua necessária aJianç a corn o povoobjeto , e a " ideologia do
Lrunre- i íu Ram os c Nelson Wemetk listas só podiam "ser inúteis e sem
vigoff .
o nuto da ' ncutrdnh dc . Sodrc caio entre os que
cientifica '
denuwiarom tom maior
\ que os paulistas aihrvarum . desenvolvimento só podia ser uma negação do real
. Os pró
120 121

Aó tgira, corno a nica . náo pock ignorar a circuretincia existencial A uni- E . tato ainda mais grave , terem provocado a confusão ao pre-
*

r
versal idade formai do processo lógico náo tem íòçi coercitiva capaz de
impor con- render estar entre os arautos de uma gesta cmancipadora ,
du ções. |é ptrctso chegar ã j descoberta de conceitos catcgonais proveniente dos
enquanto buscavam , deliberadamente ou não , a defesa e ilus-
.
faia c adequados a nos dar a cocreta interpretação deles ( Finto, 1951): I W )
tra çao da tradição autorit á ria brasileira. Deste
modo , assegura -
.
Em suma c preciso chegar a uma lógica em contato direto vam a junção entre a pol tica
após 1964 De um lado , a
í
Escola
dos anos
Superior
30 e
de
a dos militares de
Guerra ; de outro ,
com a singularidade histórica . »

o ISEB; eis duas instituiçõ es que , cada uma a seu modo , coloca -
Quanto a Guerreiro Ramos, tomou sc propagandista de
.
uma “sociologia nacional" Na introdução a O problema nacio
- ram sob a responsabilidade do Estado a incumb è ncia de fabri -
na! do Brasil, assim justificou essa opção: car uma nação , c perverteram a imagem dos inrclcctuais associa -
dos à elaboração de seu corpus doutriná rio . Resumiremos os
0 processo de fundação cie uma sooologa nacional reveste .se de caranetes inilu autos de acusação dirigidos aos membros do ISEB .
ilívciv Vcrifka-se quando as motivações de tA disciplina se tornam concretas , - -
-
*

iao Foi lhes censurado em primeiro lugar , terem escamotea


- -
,

é, dizem respeito aos Lmperauvos de auto-organiza ção de primado do na


do as oposições de classe à torça de proclamar o '

dade nacional (Ramos, I 960).


determinada coletivi
cional , e , por isso mesmo , de terem se inscalado no campo
1

Planejamento econ ómico , autenticidade cultural , política das “ classes dominantes" . Escreve Maria Sylvia Carvalho Franco:
integradora e ciência nacional constitu íam , assim , objetos diver
- POí desenvolvimento social deve -se ler a dissolução das diferenças de classe , sub -
sumindo-se rodos os pomos de vista aos da classe dominante; por desenvolvi-
sos atribuídos ao trabalho de elaboração ideológica .
Não pretendemos considerar os alicerces filosóficos dessas
-
mento económico deve se compreender industrialização e aumento
de produri -
elaborações. Outros o fizeram , aos quais remetemos o leitor vidadr. silenciando-se sobre as relações dc produ ção ( Franco , 1978 - 156).
( Franco , 1978 ; Chau í, 1983; Paiva, 1980; Toledo, ). Visa -
mos, no m áximo, interpretar o seu sentido e alcance1978 .
Da mesma maneira Caio Navarro de Toledo conclui:
tura onde surgiram.
na conjun - .
Ao piodamarern a ideologia naaonal - dcser volviraenLLqa como a ideologia dc
Não faltaram críticos
da “ ideologia iscbiana " , mesmo na tosij j nação c endossarem , durance ceno per íodo, os modelos de desenvolvi -
época . Como lembraremos mais adiante , os docentes mento que se realizavam no país . o? isebianos não deixavam de se mover
den -
rios paulistas manifestaram a seu respeito um desd é m urn tanto- *
universit á .
tro dos quadros dc pensamento da classe hegem ó nica ( Toledo , 1978 ; 170 )
arrogante e desconfiado , tanto cm relação aos conte ú
dos quanto Marilcna Chau í, por sua vez , observa:
à própria postura ideológica . Os isebianos, é verdade , davam
lhes o troco , ridicularizando a impostura científica dos adeptos- Tanto o adjetivo nacional ' quanto o adjetivo " popular reenviam a manei
'
'
-
do empirismo e da “ neutralidade científica" Isto n ão impediu ras dc representar a sociedade sob o signo da unidade nacional , isto é . Nação
que a maioria dos críticos condenasse mais tarde , como
fizeram e Povo sao suportes dt imagens unificadoras quer no plano do discurso político
e ideológico, quer no das experiências práticas c sociais (Chau í, 1983: 20-1 .
os paulistas, a pretensão isebiana de colocar -se na vanguarda )
do
pensamento e da pr á tica políticos.
Os que vamos citar escreveram em torno dos anos 80. Per Foi-lhcs igualmente imputada uma incapacidade singu -
tencem a uma outra geração, que sc confrontou com
- lar para levar cm conta a orienta ção efetiva do processo de
cia do regime militar e lutou a favor dos direitos da “
a experiên - industrialização sob o governo Kubitschck . o qual . sendo caraca-
sociedade
civil " c pela urgência da democratização política. Sc criticavam terizado pelo apelo aos investimentos estrangeiros , levou ,
transformar o nacionalismo em um simples engodo . Assim
t ão vigorosamente o ISEB é porque
condenavam as correntes todas as especulações em tomo da
“ burguesia nacional ' c
que lhes pareciam ter contribuído para levar à derrota de imperia -
1964. de sua necessá ria alianç a com o povo contra as nações
in teis e sem objeto , e a “ ideologia do
listas só podiam ser ú
* Guerreiro Rimos e Ntison Wemcck Sodrêé estão entre os que
-
'

vigor omito da “ neutral idade cient ífica , qur os paulivuLs


denunciaram com
cultivariam
uinor
desenvolvimento " só podia ser uma negação do real . Os pró
122 123

prios isebianos da Fast final cambem tiveram


essa impressão: como sociedades porque consis -
WanderJcy Guilherme dos Santos e Osny Duarte
registraram . As ilusões, porem , eram vívidas, Pereira o
soc iedades humanas só existem
tem numa maioria articulada ).
por uma minoria , por uma eli -
Francisco Wcffort: como observou te " (citado por Paiva , 1980: 45
A ênfase posta sobre o papel da intelligentsia , tanto nos
À ideologia nacionalma parecia ganhar tanto
diz.ia sobrr a realidade concreta do presente e
mais influência quanto menos
quanto mais insistia na prtípos? -
textos do IBESP como nos
um ranço ígualmenre elitistaprivil
— _ 1SEB , não era desprovida de
do
. Pcrcebe-se bem que a intelcctua
égio dc sei a consciê ncia estia
-
-
çã u de mitos paru 0 futuro que , na realidade,
lidadc atribu ía a si mesma ,oquando
4

não significavam mais que uma


defesa desesperada do passado í Weffon 1972; IV, 2 ). , por exemplo , Hé lio Jagu a-
recrida da naçao e do povo -
novo . apoiando se sobre cias
Foram censurados também por terem voltado , sob uma ri be declara : Só um movimento dirigido pelos representantes políticos .
forma modernizada , a uma definição de identidade [as forças do progresso ) , intelligentsia. sem compro-
semelhante à dos anos 30 . Escreve Marilena Chauí: cultural militares , sindicalistas e guiado pda reacion ários, poderá conduzir
misso com a defesa dos interesses ço dc salvaguarda nacional (ci -
Povo c nação serio tomados como realidades cultural prn ias, porem a bom termo esse grande esfor
definida, às quais vem sob repor-se 0 Estado, porem *encarregado sem forma ); ou quando Roland Corbisicr dama
las, mas dc lhes dar forma dc sorte que a política nlo cão dc coroá - tado por Abreu , 1975: 86intelligentsia nacional, sensível aos
,

mai transcende (Chauí, 1983: 25)


possui origem popular , pelo “ advento de uma com suas soluções, capaz de
.
problemas do país c preocupadaconsci ê ncia nacional ( Corbi -
"

Pretendendo restabelecer a sociedade civil cm seus direi "se converter [ ] em ó rgã o da


- , quando Álvaro Vieira Pinto destaca
tos , voltaram . assim . a fazer do Estado o agente de sua consti - sicr , 1959: 49 ); ou ainda “ na proporção em
, pois
tuiçã o . a importâ ncia dc certos indivíduos obscura ou pouco esdarc -
Foi - lhes ainda atribu ído confundir ciência que neles se personifica a consci ência da realidade social e .
Caio Navarro de Toledo salienta, por exemplo, que com ideologia . cida do povo, são eles próprios um dado
Corbisicr o “ conhecimento " se encontra cxplicitamcntc para Roland -
como tal , exibern se em espetoáculo ao povo , que só assim tera
atinge a sua consciê n-
eido ao projeto ideológico ' submc- oportunidade de reconhecer grau) que isto que levou Maria
cia c superá- lo" ( Pinto , I 960: 47 . Foi“ o autoritarismo disfar-
\ ideologia parar, assim, desempenhar .1 mama Sylvia dc Carvalho Franco a questionar
cia (... ) ou antes, tem ela 0 privilégio dc ser,
Junção cognoscente da aca-
simultaneamente : 154 ) . També m Mari
çado em revolução social" (Franco 1978de primeira hora como
, -
prática* JçúO C , de outro, conhecimento (Toledo. 1978 - 52) , dc um lado,
lena Chau í destaca , tanto nos isebianos serem depositá rios
Comentando Consci ê ncia e realidade nos de ú ltima hora , a tranquila certeza de: 65 e segs. ). Vanilda
Vieira Pinto , Gé rard Lebrun alertava , já emnacional de Álvaro da vontade profunda do povo (Chaui 1983
— 1962
-
Pereira Paiva refere se ao “ autoritarismo esclarecido
subjacente

j
rl <« 1 » , , , para o fato ‘
preferem discernir
« **
/ i i i «a u

ao isebianismo ’ (Paiva , 1980 : 144 . Outros necessidade de sc


• 1 » i'

)
nesse vanguardismo , que n ão sentia sequer 1 lasse m édia
justificar , o ind ício da chegada do tempo da
í
. ; l

Muitas dessas acusa ções são incontestavclmeme


fundamen -
Ultima peça do auto de acusação: foram por efetuar , num
peitos de reivindicar , corno intelectuais, um considerados sus- tadas , e a isto voltaremos. Contudo , optamos : a de acompa -
direito natural de primeiro momento, urna a bordagem diferente através da ideologia .
falar “ em nome das massas" c, por isso mesmo
rem na linha dos pensadores autoritá rios . Não , de se incluí- nhar os isebianos em sua aspira ção a criar forças produtivas, e
t

r prcaso remo ri - das


tar muito longe para encontrar, nos as condições para liberar o dinamismo
os vest ígios do elitismo â moda dc escritos de alguns deles , para emancipar 0 povo c a na ç au Desse modo, pretendemos
1930 e à maneira do imegra
lismo. Em 1948, Roland Corbisier ainda proclamava 1 " -
que as IP pm .
cxempkp o antropólogo Renato Otti * i. c ím ? , 1 lJ Íõ
,
125
124

analisar a l ógica da mptura que , apesar do evolucionismo subja- importadas c a realidade ” , as massas inconscientes c
entre
as elites, entre a organização do social c o desenvolvimento
,
cente era consubstanciai ao privilégio reconhecido à ideologia .
,

Pretendemos també m indicar as implicações da insistência sobre entre a prá tica c a teoria , entre os processos subjacentes c os
o rema da racionalidade inerente tanto ao real como às repre projetos expl ícitos . A ideologia , enquanto consciência da rup '

sen rações do real . Somente depois disso é que poderemos inter


- nira , era o que unificava e orientava
, o que manifestava o senso
, o h á , pois . ato
comum e a teoria . Segundo Vieira uma ideian ãou
Pinto “
pretar os deslocamentos ocorridos e que conduziram , de modo
*

, afinal , uma
progressivo , á substituição da história cm curso por urna hist ó
- progressivo algum que n ão postule
ria imaginária . teoria" ( Pinto, 1059: 33) .
Para começ ar , convé m recapitular o que jj foi observado . “ Racionalidade : eis a outra palavra -chavc. Ê certo que
Os intelectuais isebianos não estavam ern uma torce dc marfim ; nem todos os isebianos lhe atribu íam o mesmo"alcance. Alguns do
estavam imersos no vasto movimento nacionalista que percor - a interpretavam como o que está inscrito no movimento ainda
real outros , como o que definia a modernidade ; outros ,
reu o Brasil. A ideologia nacional que propunham n ão
deixava enfim
como o que mantinha o controle do devir ; outros , ,
de estar em resson â ncia corn o nacionalismo largamcme difun-
dido na opinião pú blica , dando a impressão de teorizar o que como aquilo que se manifesta através do processo de emancipa -
sc exprimia espontaneamente, ou de orientar c reforçar o que ção. Mesmo com o risco de simplificar , pode-se
afirmar , porem ,
_
sc manifestava confusamente. Os isebianos també___m n ão esta
- que essas diversas noções de racionalidade estavam combinadas
dos isebianos Essa
,

em proporções diversas , em todos os escritos


.
vam acima das disputas, mesmo quando falavam em nome
de histó-
ioda a nação; estavam presos às cisões que dividiam tanto as era a condi ção para que a ideologia se fundamentasse na
elites quanto as classes m édias brasileiras. E não há d ú vida dc ria concreta Era també m a condiçã para
. o se proclamar possi -
a
que sc situavam ao lado das "forças progressistas", sendo
assim bilidade de uma racionalidade dos fins ( Zweckratxonalit
, àt ) e
da
percebidos tanto por seus aliados como por seus adversá rios. dos valores (Wertrationalitàt )^ que constitui o pressuposto
construção ideológica Por aí sc rcdcscobrc a correlaçã
o entre
mats acentuado esse engajamento à esquerda . Durante
-
A medida que sc intensificavam as tensões, tornava sc cada vez
evolucionismo ou historicismo , c consciê ncia esclarecida. Por
isso mesmo , seria f ácil demais ridicularizar o ncu - hcgehamsmo
o governo
-
Goulart , os isebianos alinharam se ao lado das outras organiza
ções que , desde o PCB at é a Ação Popular , lutavam pelas
- perceptívcl em certos pontos , pois a cren ç a na racionalidade
reformas dc base . Esquecer esses dados , como fazem com fre material c / ou ideal tinha duas outras implicações. Ela se refe -,
quê ncia os crí ticos dc 1980 , leva a desvalorizar o alcance
dos ria à existência teórica de uma comunidade nacional dotada
temas da ruptura c da racionalidade . potencialmente, de um mesmo capital cognitivo (Gellncr , 1986 da
:
"
Ruptura ": eis um termo empregado com frequê ncia 38 e segs. ), e n ão é absolutamente por acaso que capital o tema
atualiza o desse , sob
pelos isebianos para designar o que estava em via de se desen racionalidade se articulava com a çã
rolar no Brasil . Evocando a formação de uma “ consciência
- forma de “ conscientização . Por outro lado , a cren ça na
" racio -
aut ê ntica , diz Álvaro Vieira Pinto: "E a aurora

dc uma nova nalidade implica a referencia a um interesse pelo conhecimento,
o qual , por sua vez , rernete ã ideia de comunidade nacional
e
fase hist ó rica , a descoberta pelo país do seu verdadeiro ser"
sua emancipa çã o . Da mesma forma que Habermas afirma
( Pinto , 1959: 30 ); Roland Corbisier , por sua vez , a
afirma : " A inte
unidade da razão, estabelecendo uma identidade entre o -
"
tomada dc consciê ncia de um país por ele pr óprio [ ...] é um
fenômeno histórico que implica e assinala a ruptura do com resse emancipador e o verdadeiro conhecimento (
' Rivelaygue ,
plexo colonial " (Corbisier , 1959: 41 ). N ão c por acaso que a

1984 : 292 ) , os isebianos faziam da racionalidade a express ã o
noção de " ruptura se encontra associada à de "consci ê do interesse de uma comunidade nacional cm prol da sua eman-
como a consti -
'

ncia ":
a passagem â "consciê ncia aut êntica era a própria cipação . Assim a ideologia pode ser entendida
da ruptura Significava que haviam sido reabsorvidas as
expressã o
tuição de um mundo iniersubjetivo por meio de uma comuni -
ciações que ainda grassavam nos anos 30: entre as ideias-
disso
cação sem coerções nem distorçõ es .
12 (> 127

Ruptura " e “ racionalidade aparecem , portanto , como pertebctáo quc devem. prcviimcntc % qualquer iniciairva . fixar as mews futu -
os dois alicerces da lógica ideológica . Para apreender melhor o ras pennissivcis pelo estado atual ( Pinto, 1959 : 25 ).
seu sentido , seria ú til fazer uma aproximação com o que ocor
- é : indicava
Porem o tema do “ projeto ia bem mais al m
"
reu na Alemanha durante a primeira metade do século XIX
sujeito de sua história , isto
o modo como uma naçã o se torna
.
Na Alemanha daquela é poca , como no Brasil dos anos 55 64 .
- transparente para si mesma
tudo girava em torno das interaçõ es entre o atraso econ ómico é , como uma sociedade se torna
-
,

“ rup
O elogio da “ consciê ncia , da racionalidade e da que
"
e a política . Ora , como indicou Fran çois Furei ( Furet . " "
1986 ),
foi a consci ê ncia desse atraso que alimentou a convicção dos , o valor de uma revolu ção . O
tura ' teve , para os isebianos
-
f

teóricos alem ães de que seu país poderia estar , “ quanto ao revolucion á rio ? A propósito da Revolu ção Fran
pen - é um momento
em que se pro -
samento" . à freme das na ções mars industrializadas. Assim ,
o cesa . François Furet demonstra que c o instante tudo c tramformá-
jovem Marx diagnosticou a impot ê ncia da Alemanha para enga- duz a certeza de que tudo ' é cognosdvel e
jar - se na revolu çã o burguesa , por falta de uma para o saber e para
burguesia . Mas. veT \ ou 'ainda, que a ação * é transparente
morar do pol ítico ' :
*
exatamente como Hegel , não duvidava de que esta carê
ncia a . Assim se instaura a ilusã
i
o
pudesse conduzir a urn desenvolvimento mats rational ; nem
. Ela inaugura
que da sc traduzisse numa vocação particular do proletariado A revolução transforma aquilo que se suporta em aJgo consciente
alem ão e do Estado alem ão que lhes permitisse mais rá pido um mundo onde todas is mudanças sociais são atribu ídas as forças conhecidas,
ítico da o universo objt-
uma etapa politics sem separação entre o pú blico e o privado , registradas c vivas: taJ como a pensamento m , investe

separação esta que é um legado da Revolução Francesa . Como LJVO de vontades subjetivas ( Furet , 1978: 43)
Hegcl , também Marx exaltou a aptidão da Alemanha para
No caso do 15EB , o culto da ideologia teve por fun çã
o
adiantar-se ao presente, para “ viver seu futuro sob a forma dc à vontade
filosofia", para tornar - se ‘ a consciência teó rica dos _ _ _ outros criar um mesmo sentimento: o dc que nada escapa
dos homens. Nem mesmo os “ processos económicos
" , pois são
povos" ( ibid .: 15 ). Assim , do atraso “ objetivo" , lez , como o
regidos por uma finalidade que os tornava equivalentes“ a
atos
filósofo de lena , a condição para um avanço da consciê ncia.
Da mesma maneira , seria justamente o atraso do Brasil de vontade: a pr ópria economia se torna subjetiva. No
".
proje -
to . a vontade humana encontra o processo
" "
-
que lhe permitiria colocar sc, por meio da ideologia , acima
do momento atual , e afirmar a possibilidade de uma história Resta assinalar que , na Revolução Francesa , a ruptura ini-
comandada pela razão. Terminavam as reflexões sombrias sobre dal jã se tinha consumado , quando prevaleceu o sentimento
as fraquezas do “ cará ter nacional " e as incertezas do “ser de que tudo pode sc tornar consciente , a começ ar pela ruptura
com o antigo simbolismo do poder . Nada disso ocorria o
no
sileiro ". A partir daí, o atraso é imputado a uma relação dc-
bra
momento em que os isebianos se empenhavam na produ çã
opressão, econ ó mica e cultural , provocada no passado pela
dominaçã o cultural , c no presente pela dominação imperialista , ideológica O governo Kubitschek conduzira o Brasil para um
.

Desde que se rompesse essa relação , nada impediria o Brasil grande sonho , mas por outro lado manobrava com dificuldade
em meio às for ças políticas tradicionais c consentira
numa
de ingressar no caminho dc um desenvolvimento acelerado
Bem ao contrário: era o atraso que permitiria n ão recorrer às
. ampla abertura ao capital estrangeiro a fim de superar m úl -
os
forças dc mercado, mas controlar o desenvolvimento , orientan - tiplos bloqueios . Ora , os isebianos não pensavam , de maneira
-
do o segundo um “ projeto” voluntarista . No dom ínio alguma em romper com o governo Kubitschek , nem . printi -
econô-
,

mico , o projeto" implica o planejamento: palmencc , em cortar as ligações com o Estado , A sequ ê ncia se
deu no sentido inverso da francesa: foi por alcançarem plena
Sabendo que a natureza do processo [ dc desenvolvimento] implica referência a consciência que os intelectuais pensaram estar vivendo uma rup-
cm tim , os homens dc ação, os homens dc governo e todos os
que exercem, tura , at é mesmo uma revolução. Esta inversã
o n ão deixou de
cm forma manifesta, uma intervenção que promove a evoluçã
o da comunidade , ter suas consequ ê ncias.
128 129

Do taio dc quc a consciê ncia ” tinha primazia “ Á ilusão polí tica é a ’*


ruprura , só podia resultar uma proliferação sem limites sobre a fora da linguagem revolucioná“ria de compl ô ”
curso ideológico . A “ consciê ncia chama a consciê
no dis- supressão dc toda exterioridade. A ideia , comenta
da consciência revo -
ciência, a ideologia chama a ideologia da ideologia. A duplicancia da cons- François Furet , é talhada no mesmo tecido mais pro-
ção é inerente à revolu ção por meio do pensamento
. Isto não
- lucioná ria [. . ], é uma pane essencial do substrato âncias cias “ se
fundo dessa consciê ncia \ Quanto às circunst
,
c rudo: falta ainda uma duplica ção . Daí
tr ê s etapas que se encontram , por exemplo,
esses percursos em
cm Ideologia e
inserem como que naturalmentc na espera
da consciência revo
a virtude do
-
lucionária ” (Furet , 1978: 79, 91 ). Distinguir

*

desenvolvimento nacional, dc Á lvaro Vieira Pinto , conduzindo


da consciência espontâ nea a das massas
expl ícita , t desra à consciência teórica . Nem c
cer que a ordem racional deve ser lida ao inverso
— à consciência
preciso esclare-
crime , o povo de seus
Lcfort à propósito do Terror
inimigos

e concebível o social , ou melhor


, é
\
,
comenta
o
o
meio
ato
dc
por sua
tornar
gerador da
vez Claude
verdadeiro
visão e do
conhecimento” (Lcfon , 1983: 38).
genealógico : a consci ê ncia teórica comanda a
desse percurso
. consci ência cxpli-
Os primeiros isebianos n ão se deixaram levar para essa

— —
cita quc comanda a consciê
ncia espontânea . As operações pelas o suficientementc
quais se traduzia a pot ência tanto no sentido original como luta ilusória. Afinal , muitos acreditavam entã
no matemá tico da ideologia passam pela nas virtudes da raz ão e das ideias para julgar que seus adversã -
nos. mesmo quc insistissem em defender o status quotdc seus-
ção desta , acompanhada dc uma permanente
incessante redefini- pode
~ nológica .
mi Proliferavam as considerações sobre a “ faseologia
a “ autenticidade ” e a “ redu ção sociológica ’ r
a soberania da consciência . Quanto mais
_
inventividade ter -
a fim dc atestar
riam se converter às reformas sc tomassem cornsd
“ verdadeiros inreresses . Al é m disso , a cisão social
só lhes parecia o efeito de uma defasagem provis
é

ó
ncia

ria
e política
, F. ra essa
proclamada fosse essa
soberania , mais triunfaria a ideia de ruptura. Dizer quc a
“ ideo- a impressão de Hélio Jaguaribe , anterior a 1955 :
logia do desenvolvimento produz o “
desenvolvimento
1

formas
preceituar também que a ideologia da era Ocorre , todavia quc essas novas forças sociais , representativas das novas
revolu significa ção
,

çã o ”
produz a e relações dc produção, não alcançaram poi , vinos uma
-
motivos ,
“ revolução ’ .
-
*

política correspondence ã sua import â ncia econ ómico s ocial. E assim se esubde
Como sempre, a proliferação das ideias acarretou dois , cada vez mats impulsionada, sob
tos. De um lado , ela cria um efei - ceu um descompasso entre a nossa vida civil
universo imagin ário que só sc , c nossa
a liderança da burguesia industrial . no sentido do desenvolvimento Jagua
mant ê m pela refer ê ncia a um inimigo , ele
zado; cria também a obsessão por um outro pr - -
óprio não reali vida política, que permaneceu sob o controle das velhas elites dirigentes ( -
profundamente opaco e obscuro , o que est á universo paralelo , nbc , 1979b: 221) .
do outro lado da
-
>

Essa perspeenva alterou se após 59- 60. Sem d ú vida


consciência: a inconsciência radical. , o

Não faltaram ao ISEB, bem como ao adversá rio continua sendo a figura do latifundi á rio tacanho ou
em geral , adversários bem reais. A sociedadecampo progressista
do industrial “ entreguista . mas daí em diante
" , dentro do dis -
se dividia cada vez mais abertamente a pan pol í tica brasileira ao revolu -
ir de 59 -60 . Não curso nacionalista , cie sc define como a forma oposta
obstante , a ideologia implicava a substituição desses cion á rio conscience. A partir da í , as antinomias í
apr or í sttcas
mos concretos por antagonismos estereotipados , antagonis- invadem o discurso isebiano. Para Nelson Wcmeck Sodrc:
corn as necessidades do idioma nacionalista. compat íveis
das proporções , uma compara ção com a Revolu Guardadas
çã o
as devi
francesa
*

( Há] , dc um lado, a conjunto das classes , camadas e grupos sociaisnós ( ,.|


em
que com
. É
-
pode ser esclarecedora também nesse põem 0 povo, quc representa assim , 0 que existe de nacional
aspecto.
,
í-
siva dos revolucioná rios franceses implicava A prática discur- uma força majoritária , mcquívoca . Organizada , invencí
t vel Est ã o exclu
rada ao “complô ” dos contra revoluciona riosuma adesão reite- dos do povo, agora c sempre , enquanto classes, latifundi ários , a alta burguc -
-
0 $
ec as
â citado por Chau í , 1985: 73 ) .
— circunstâ n - imperialismo (
J

cias ” , quc justificavam um aprofundamento


'
sta e i média comprometidas com 0

não se tratava dc ' complós ’ ou dc da revolu ção . Mas


Para Thcorò nio dos Santos:
f

circunst â ncias ” existindo


130 131

De am lado , as fareis do progresso , a maioria esmagadora do povo . Do outro, populares, a começar pela própria União Soviética ( N. de

os ictr õgTados r anapopulsrcs ( ibid . : 76 ) .


Holanda , 1963 ) .
A proliferação das ideias desembocou assim num universo
Para Wanderley Guilherme dos Santos:
sem exterioridades, onde * ‘as ‘ Tforças "mas eram , invariavel -
m , foi ape -
De um lado , aqueles que consideram desejável alterar a estrutura fundamentai mente , complemento das forças boas . Esta , por é
do piis para que aí exigências sociais sejam satisfeitas, c de outro, os que or si -
deram que não se deve alterar aquela estrutura , quer dizei , nuniè Ja como nas uma das consequ ê ncias , A outra foi dar . a todo momento ,
a impressão de deixar bruialmenie a mostra urna opacidade
nação capitalista donunada pelo imperialismo ( ibid : 81 ). bito
irredutível , como se a supremacia da consci ncia , dequesúseria
ê
, .

De um lado , do outro lado" ; essa contraposição , que tizesse perceber um estado de inconsciê ncia radical
se encontra especialnicntc cm publicações como os Cadernos o verdadeiro motor da histó ria .
do PovOr situa -.se , em grande parte no interior do imagin á rio. Podc-se compreender essa inversão de duas maneiras .
.

Uma é que a duplicação ideológica e a exaltar ão da onipor én -


,

Ela põe cm cena uma representação do povo e seas aliados, c


uma representação dos inimigos do povo ” . Em nenhum
'
cia da consciência suscitam , mais cedo ou mais tarde , um efeito
momento deixa supor que os contornos de uns e de outros pos
- de cegueira . Voltemos mais uma vez ao discurso da Revolução
Francesa. Claude Lcfort sugere que , cm Robespierre , a palavra
sam scr imprecisos e , menos ainda , que o povo ainda possa
subrnnrr -.se ao domínio de seus adversá rios . A propósito dos
Cadernos do Povo , Marilena Chauí observa , com justa raz ã o ,

celebra a palavra — a duplicação mas que , desse modo, ela
se abre para um indizível que leva a uma devastação da pala -
que foram elaborados cm corno de ‘dicotomias ,, antinomias e4
vra quando , por exemplo, a afirmação absoluta da liberdade
não encontra mais nenhum modo de sc exprimir exceto pela
.
ant í teses que , retoncarncntc, são apresentadas como '

contradi-
ções , sendo por é m t ã o imóveis e positivas que n ã o chegam a
'
sua nega çao , com a proclama ção do " despotismo da liberda -
ultrapassar o contraponto" ( ibid . : 75 ). A prova de que a supre - de ” (Lefort , 1983 : 30- 1 ) . Um fenô meno semelhante acontece
macia da consciência estava em debate é que o povo e seu -
no discurso isebiano. A verdade da consci ência torna se, brus-
oposto n ã o eram definidos concrecamcnte, mas pelo contraste camcntc , a negação da consci ê ncia . A aliena çã o da naçã o e a
entre duas vontades livres. No quadro dessas alternativas , a inconsci ê ncia do povo sc metamorfoseiam em fatores de mp-
.
“ consciência " só está em relação com ela mesma . Em um dos cura . A na ção subdesenvolvida c . portanto , um ser social
4

Cadernos do Povo , Franklin dc Oliveira apresenta a escolha igualmemc alienado , um ser cuja essência estã fora dele , c pos-
entre " revolu çã o e rea çã o ” . Essa opçã o , porem , nã o dependia su ído por outros" ( Pinto, I 960: 11, 138-9); as massas podem
alcançar apenas uma protoconscicncia , e , no encanto , são
"
dc uma relação de forç as , mas supunha , antes dc mais nada "

as ú nicas forç as que n ão se enganam nem se corrompem


,
uma " revoluçã o pessoal " , que cada um pode realizar c era a
4 4

condição para a verdadeira revolu çã o , " a revolução da Ressur - (ibid .: 203) . Sendo assim , a consciência não atingiria o seu
rei ção , a revolu çã o dos espíritos para a reden ção ponto culminante enquanto n ão incorporasse esta insconscicn
*

social " ( Fran -


klin de Oliveira , 1963: 5? 11)- Nessas condições, nada impedia cia portadora da potencialidade revolucion á ria , N ão foi por
de saltar lepidamente por cima do presente c delinear , logo acaso que , nessa época , foi t ão frequence atribuir - se aos campo -
de sa ída , “ Como será o Brasil socialista" , segundo o título dc neses , bem mais do que aos oper á rios , a virtude necessá ria para
um outro Caderno do Povo , redigido por Nestor de Holanda , transformar as csrruturas sociais. Até mesmo Celso Furtado
c descrever com sabedoria as futuras institui ções, por estava convencido de que os camponeses podiam se mostrar
exemplo,
a reparti ção dos poderes " caso o socialismo brasileiro viesse a mais sensí veis à propaganda revolucionária do que os operá rios .
scr parlamentarista , como acontece na maioria das democracias E certo que ele justifica essa opinião com o argumento de que
a sociedade brasileira “ é aberta para a classe operá ria ., mas não
.
para a camponesa ' (Furtado 1962: 51 ). Alé m disso , os sindica
'
-
O autor sc coloca iob a signo da ressurreição maoisra
COS rurais apoiados por Arraes c as ligas camponesas encabe
ça -
132 133

das porjulião faziam germinar muitas esperanç


mente i*to significaria
endossai a concepção isebiana de idcolo-
d écada dc 60. Apesar de rudo isso , podemos as no in ício da sentido quando expressa uma rcali -
tação do papel do campesinato nã o se devia
indagar se a exal - gia, como se esta só tivesse
si mesma o princ í pio de sua inst í ruição .
ceito segundo o qual o campesinato estaria
também ao precon - dade que possuii em ,
por terem esquecido a lura de classes
da consciência e , por isso mesmo mais mais distanciado Criticar esses pensadoresunidade nacional demonstra um racio-
uma reviravolta. * apto a desencadear
ã força dc insistirem
cí nio um tanto
na
apressado . Caberia ainda descrever as modalida -
A outra maneira de interpretar a inversão
significaria que nos anos 60. Acabamos de men -
a linguagem nacionalista confrontou se
- des da referida luta de classes da época quanto ãs potenciali -
subitamente
rioridade que ela pretendia dissolver . Abrem - se brechas com a exte - aor.ar o cepricismo dos teóricos dc 1980 . por sua vez tmam
verso imaginário. O inconsciente das massas deixa no uni - dades da classe operária . Os críticos óstico. E
ir ainda mais alem nesse diagn
jpnva tend ência para
transpamer
uma in é rcia que ameaça toda a marcha para a
confere um caráter utópico á sua elevação a sujeito emancipação * e conflitos camponeses no Nor
verdade que se multiplicaram os no setor pú blico no Rio de
-
deste. as greves dc trabalhadores dos sargentos ; são fatos que
4 4
alienação , o sofrimento ” , a ' ‘ ignorância ”
” ‘
político A
tê ncia de um destino. A própria no
tomam a consis
ção de “ massa ” muda dc
- Janeiro e , finalmentc , as revoltas
da mobilÍ2ação social , mas n ão se
sentido: volta a tornar -se equivalente a um testemunham a amplitude movimento dc classes. As alternati -
duos ainda destitu ído de forma e de coesagregado de indiví
ão. A precedê ncia
- deixam reduzir a urn puro
dos Cadernos do Povo são , sem
reconhecida ã nação sobre as classes sociais manifesta de vas estereotipadas dos autores engajamento em ter-
d ú vida , a expressão de um apelo ao

uma profunda d ú vida , a mesma de 1930: e se novo “

o atraso e a intelectuais e aos estu -


dominação imperialista implicassem urna imprecisão “ mos que diziam respeito , sobretudo aos ,
tomada por estas
estrutu -
ral ” das classes , afetando nnao
â somente os oper ários e os campo dantes Elas expressam a resolução livremente, mas nada dizem
.

neses , mas cambem a burguesia c as classes m é - categorias dc se colocarem ao lado


do povo
cia ao ‘ inconsciente revelava , assim , toda dias ? A refer é n - do pr ó prio povo . Pelo menos , difundiram
“ "

uma “ realidade t sobre as resoluçõ es


que resistiria á sublimação ideológica , a id éia de uma oposição radical entre os
nacionalistas e os seus
A duplicação ideológica adquire então um inimigos* como tambcrn entre o povo
e os elementos antipopu-
cado. O imagin á rio que cia pòe em cena passou outro signifi - alimentou o populismo revolucion á rio que
a operar por lares , e essa ideia insist ê ncia
se desenvolveu sob o governo Goulart . Enfim a
,
meio da nega ção da experiê ncia hist órica cm
çã o das ideias foi proporcional aos
curso
desmentidos
, a prolifera -
impostos sobre a unidade nacional n ã o foi somente uma forma de ate -
evolução socio-econômica . Michel Debrun pela
nuar dc imediato o alcance da oposi çã o radical restabelecendo
retomou , a esse res-
*
peito , o conceito soreliano de "dissociação dc uma unidade org ânica . Ela demonstra a intensidade
ideol gica ” . Em A a vis ã o
decadência do mundo antigo , Sorcl recorre a óesta do mito da libertação nacional , e se insere no projeto de uma
expressão sobre novas bases
para indicar a presença de uma ideologia
desvinculada do ruprura que permite fundar a política .
desenvolvimento hist órico. A dissociação ideológica que pre Resta uma quest ão * sem d ú vida fundamental : como foi
valece no Brasil dos anos 60 nã o seria mais que - definido o status do fato político nos esquemas iseb í anos ? Mais
a continua çã o ê nfase posta ,
de uma longa tradição brasileira . No sé
culo XIX . lembra prccisamcnte : no 1SEB da primeira etapa , com a
” cr de outra ,
Debrun * a ideologia liberal acompanhou a expans
ão das rela - de uma parte , sobre o desenvolvimentismo
sobre a “ consciência ” * qual foi o lugar reconhecido à institui
ções dc “ concilia çã o ” , que -
nada tinham de liberais. Em 1960 ,
a ideologia nacionalista se superpõe à ção pol ítica do fenômeno social ? Ou mais simplesmente
: ser á
lismo associado". consolidação do capita - , pelo
a ideologia uma modalidade do fenômeno pol ítico ou
Tendo abordado o imaginário isebiano , o ? Sob um â ngulo urn pouco dife-
conviria voltar contrário , de sua denegaçã
agora às acusações* rendo em vista que
a “ realidade ” as des- rente , é aqui que se reencontram as quest ões levantadas pelos
mentiu com frequência, c isto desde
antes de 1964 ? Paradoxal - críticos do ISEB,
13-4 135

Impõem -se uma primeira observação a esse respeito; é evi- uma forma ' neobismarckiana . A fusão entre o “pro-
"
, aso sob
dente que os isebianos manifestaram a mesma repulsa à demo- ào aparece mats , conforme coloca -
cesso c a ‘ ' consci ê ncia nrevolu
' "
cracia liberal que os seus predecessores dos anos
30 . Hélio jagua - mos acima como sinais da
, ção pelo “ avanço das ideias" .
e , mais ainda ,
ribr ‘ ‘socializame ’ dos Cadernos de Nosso Tempo via na demo
- Ela se torna o substituto da instituição política
7

cracia liberal o regime correspondente poder N ão há ruptura


da indaga çã o sobre a legitimidade do .
ao antigo capitalismo;
nos partidos pol íticos , " um sistema incapaz de imerpretar vers ão , n ão passa
, cm relação a 1930 ; o desenvolvimento , nesta
prio compo-
orientar ou promover o processo dc desenvolvimento ccon ò - da expressão moderna da organiza
‘ ' çã o " . 0 pr ó
mico-social do país" ( Abreu , 1975: 78 85 ). Guerreiro
- nente corporativista comparece ao encontro : a representativi -
desconfia de um Congresso Nacional que “ não poderia Ramos deixar dade nào pode fundamentar-se nos parndos pol í ticos , s ó pode
de refletir cm seu n ível ideológico a escassa integraçã palavras de
o dos par
tidos nas massas eleitorais do Brasil ’ ( Ramos, i 960: 25 ). Os -
fundarnentar-sc nos grupos de interesse ou", nas das classes ( id . ,
bianos tampouco tinham apreço pelo individualismo: as ise-
Hélio Jaguanbc , nos “ interesses situacionais
'

que
1964 : 72 ; c 1979c: 245 ). Um componente corporativista des-
,
sas" dc Álvaro Vieira Pinto c a “cultura " desalienadamas - í i

dc demonstrar
dc embora social e não mais estatal , n ão deixa
Roland Corbisier sugerem imediatamente o valor
do plano confiança cm relação à pol í tica democrá tica .
comunitário. A individualidade c uma propriedade da naçã o . O terceiro comentá rio refere se à definição de povo .
- “ "


separam
A segunda observação diz respeito ao "
mo> “ sí ntese, como vimos, entre o processodcsenvolvimcntis
económico “ ob-
- Ao contrá rio de Hélio Jaguarilie , outros isebianos
a noção dr descnvolvimentismo da emerg
n ã o
ê ncia política do povo ,
jerivo e a visão subjetiva da constru ção . Exami-
sócio- económica da É o caso de Alvaro Vieira Pinto , como j á constatamos
nação. Aí reside o meio de se evitar a questão pol ítica nemos mais de perto , porem , a figura do povo numa obra
l ógica imanente ao real , orientado ideologicamente e Como
portador como Ideologia e desenvolvimento nacionai.
de significado, o crescimento económico era , por si s ,
ó constitu -
Eísa veruade (sobre i situação nacional ] só scíã Ata pela própria massa poiso
,
tivo do fenômeno político. Ele instaura a cisão: for as
sistas versus forças retrógradas; define a unidade: a naçãprogres
ç - ruo custe fora do sentir do povo [ . . . ] . Não c uma verdade enunciada sabre
damenta a tomada de decisões: o "projeto"; garante a relafuno- povo, mas peio povo (grifo do autor ) (Pinto, 1959: 58).
o;
çã
entre a sociedade civil e o Estado : a ideologia .
Nã o st conclui Essa tese parece reconhecer plenamente a constituição de
da í que n ào houvesse nenhuma escolha de regime.
Hélio Jaguanbe, a situação de subdesenvolvimento podeSegundo,
-
uma pol ítica fundamentada no povo sujeito. Mas será istoautor ,
do mesmo
assim
t ão evidente ? Ate sem recorrer a outros textos
devido ao n ível de renda e dc cultura " a necessidade impor

de urn onde o povo só parece apto a se tornar sujeito quando o descn -


nacional- capitalismo neobisraarckiano ". Entra a mo , o conte ú pró -
volvimento tiver atingido maior maturidade c > alias , naverda
"

do dessa noção n ão era diretamente político: - á reduzido a expressar a -


pria citação anterior o povo 'est

— —
parecem sitigularmentc -
—-
’ impre
0 nacional-capitalismo th» OLSOS cm
de “ através do " sentimento
que predomina uma burguoia empre- desse povo ". Ele compreende rudo, exceto
cisos os conrornos

sarul apoiado nu:n “ partido do desenvolvimento ’ que, sob s ’ ( ibid . :
bujnjr&kwnd [grifo do autoij, se liderança MQ
convene num partido majorit c nessas con - as “ dites dirigentes" , tudo que tor “ consciênciacoletiva
diçõt exact o poder com o apoio das massas , em oposição isário plano polí-
foiças reacioná- 39). Ele é , pois , ames dc qualquer rela ção com o real . Não
, inserida no
rias e às fadkd-revoluaoruriss, orienta a comunidade rumo ao tico , a expressã o de uma unidade latente
desenvolvimento
nacional através dc um program ;i adequado (Jaguaribe, 1964 : 90). da constitui çã o de uma “ vontade geral " ,
se colocava o problema
1

de
Excetuando-se a exclusão dos “ revolucionários" , o regime fosse ela da maioria ou da unanimidade , e menos ainda o
uma vontade cuja onipot ê ncia pudesse chegar até a tirania . E
se caractcrua imciramente cm termos que da
com raz ão , pois o povo nao se definia segundo o modo
permitiam contor - von -
nar o problcma da legitimação política. O concep çã o
ena , por si só, o “ partido majoritário c " desenvolvimento tade. Nenhuma visão rousscauniana ou jacobina na contrato,
comunidade " , nesse de povo. Tampouco colocava -se a eventualidade dc um
130 137

de uma delegação de poder



ou mesmo dc uma recusa
delegação: em seu lugar , atuava somente a tomada de consciéde
aà ” . Nenhuma reflexão taxnbém sobre a substituição das
1

anti
n
-
- tuições rivalizavam se na formaçãoosdas
de Guerra se esforçava para atrair
de Guerra . As duas insti
o equivalente civil da Escola Superior elites: a Escola Superior
- quadros civis ( Barros , 1978:
-
gas solidariedades por uma sociabilidade democrática:
dc sa ída 365)* e o ISEB, os quadros milhares
. A primeira n ào rinha
já sc afirma a comunidade. Que significa, nessas ça nacional :
monopólio da elabora çã o da doutrina dc seguran ,
a promoção do povo a sujeito político ? Simplesmente ncias ,
circunst â
que cie o segundo també m se preocupava
com essa quest que ccrta-ã o
mente implica um Estado fone . Sobre
se apropria de uma consciência da nação e do este tema , em 1957
que lhe era preexistente. Preexistente dc forma
a ideologia nacional e desenvolvimeruista era
desenvolvimento
exterior , pois Guerreiro Ramos pronunciou uma conferencia
no ISEB, intru
ent ão:
-
lada ‘ Ideologias c segurança nacional \ Afirmou
1

uma antecipação '

do que deveria sc tornar o “ sentimento ” popular ,


, por meio dc ações polí -
de forma interior , já que o movimento no sentido E també m A s. eguran ça nacional r o grau relativo de garanua que
mação em sujeito pol ítico é inerente ao próprio serda transfor- ticas . económica , psicossociais e militares
, um Estado proporciona i coletivi-
Como resume Á lvaro Vieira Pinto:
' do povo . 1

dade nacional para a consecu çã


, o e salvaguarda dc seus objetivos Otttonais con
).
-
fatores internei c externos í Ramos I 960 : 52
tra a ação adversa dc
À ideologia do desenvolvimento não t doa o ísta
çã feita is classes populares, para Por outro lado * no quadro da ideologia dcscnvolvimeru
que cada um absorva na medida da sua capacidade: ao
,

ção que se opera na intimidade do homem ' em


contrário c transmuta -
,
a distinção entre sociedade civil c Estado perde de desenvol-
todo o signifi-
cado . A "funcionalidade’ do"Estado no processocomunidade"
situação ' ’ , e de que resulta a
classificação conceituai da representação que faz do seu {tatus social
'

e da evolu -
ção histórica. E um processo imanente mau admte
aceknment ú por mfluènm vimento c indissociá vel da emancipação da mesmo movi -
exterior (o grifo c nosso) (ibid.:49)- (ibid ,: 249 ). Sociedade e Estado são levados pelo nação .
mento , e igualmcmc subordinados ã produ
ção da
No fim das comas, tudo isso remete a uma c a exalta ção da ideologia
met áfora
retomada
orgâ nica segundo a qual o povo nada mais é senãoda Assim , o dcscnvolvimcntismo
. Dea -
nascem sob o signo de urna política pr ópria à economia
representação da unidade . “ Õ processo
org ânico, o seu movimento ê um sõí (grifo nacional
do
f
é um todo
a
didameme , levam a economizar
- a polí tica . Juntos formaram o
— no sentido
pedestal
de
sobre o qual a inte-
suprimir
Álvaro Vieira Pinto ( ibid .: 44). Também aí a autor , proclama
) ,
dimens ão própria lectualidade alardeava a sua preemin ê nciancia . Essa intelligentsia
ao plano polí tico fica abolida em todos os , para decifrar o
aspectos . Por meio
de um raciocínio diferente do de Hélio laguaribe , lançava m ão dc todos os recursos: da ci ê ,
sentido da história; do subdesenvolvimento para ,separa se erigir
encontramos fazer arauto
mais uma vez a inspiração de 1930 , sob a
nismo organicista .
forma do evolucio- da independê ncia nacional ; do desenvolvimento esclarecida
em planejadora: do povo, para ser a sua consciência leg ILUTL â -
,

Será necessário dizer que de


o ISEB
para revalorizar a sociedade em relação contribuiu
, no mínimo , Sc SC desinteressam pelos procedimentos pol íticos
<

ao Estado ? Na verdade , por pr ó , de dois modos


para os isebianos de primeira hora essa afirma çã o , é porque sc apossaram conta pria
dc legitimidade: o que deriva da posse da racionalidade
c o
tido. Lembremos o ncobismarckianismo pregado ção n ào tem sen - ideologia
que se ancora na fusão com o povo . Era cambem
por Hé lio a
Jaguaribe . Além disso, desde os Cadernos de essas duas legitima -
Nosso
consolidação da autoridade do Estado era apresentada Tempo a desenvolvi mentista que
.
fazia a síntese entre

uma condição da estruturação da sociedade como ções .


civil O pr óprio Síntese essa na verdade ilusória : perdurou apenas
o tempo
H élio Jaguaribe acreditava então que a ,

na polí tica de
excessiva permeabili - do primeiro ISEB . o qual acreditava discernirós
dade do Estado à ação dos grupos dc pressão era "
qual o poder do Estado se revela c:ada vez a raz à o pela Kubitschek a realização dos seus projetos. segundo -
Ap 58 59 a disso-
e o terceiro
para orientar politicamente a sociedade mais insuficiente ciação sc torna claramentc perceptível. O fase a outra ,
1979: 245 ). Não esqueçamos que o ISEB foi
civil " (Schwartzman , ISEB optaram pela legitimidade popular . De uma o conteúdo
persiste a auto-identifica ção como intelligentsia mas
concebido como ;
politico da nação se modifica . No início , designava
de poder , responsável pela unidade nacional; em
clire revolucioná ria , A evidência social do 1SEB
uma elite
seguida , uma
de mais nada , do faro de que , realizando essa provém antes
r ~
n ão introduziu um div
entre Frondizi c os
son Wcrncck Sodre deploraria
ó rcio compará vel ao que se produziria
intelectuais argentinos. H verdade queo em
, dentro do ISEB a , op
139

çã
Nd *

passagem , ele dc depend ência cm relação ao imperia -


se tornava o eco sonoro da evolução dc uma
parte da opini ã o
favor de uma "política ) . Roland Corbisier , por outro lado,
a: 36
p ú blica. lismo” (Sodre , 1978 I 960 , a funda çã o de Brasília como uma
vitó-
O primeiro ISEB prolongou a tradição de exaltou , ainda em ., dc
1930 . O intelec- , de integra çã o nacional
tual fala a partir da posição do poder ,
enquanto inté rprete da
ria da “tarefa dc desenvolvimento graças à capacidade do Estado
constru ção da nação brasileira ças do mercado a sua vontade ,
"
modernização. Nesse papel , aproxima-se de outras elites
,

nizadoras, militares, tecnocratas etc. Seu destaque rnoder - dc fazer prevalecer sobre as for
em larga medida , garantido pelo social era . voltada cm primeiro lugar para um objetivo político c ideoló-
reconhecimento que lhe - ideologia dcsenvolvimcntista do 1SEB
leria o poder. Sem d ú vida cie tem dc levar
ern
con gjto. E a prova dc que a simples meio para um grupo de inte-
se formando uma camada dc coma que
tecnocratas cada vez mais pode-
vai
era muito mais do que um do poder. Ela se tornou , progressiva -
rosa , da qual nao faz parte . lectuais se situar na ó rbita no qual se colocava a opi -
A separação entre o intelectual e o mente , o horizonte de pensamento a suas divisões.
mudança em rela ção a 1930 , quando a ideia tccnocrata marca uma nião pú blica , quaisquer que fossem * longe de romper com
social " implicava uma coincidência entre as duas dc “organização O segundo e o terceiro ISFB estavam " revolução ou rea -
sc à alternativa
isebianos restou contudo um bom prémio de consolafun ções , Aos esta ideologia - Referindo -
às forças arcaicas que entravam
logia dcsenvolvimcntista também foi a ção . A ideo- ção’ \ apenas deram maior peso
ideologia daí a ideologia desenvob
governo Kubitschek Kubitschek oficial do o desenvolvimento nacional. A partir do que antes, à proble-
clareza
abertura dos cursos do ISEB e exortou
comparecia pessoalmente à vimcmista se articula , com mais
-
m á tica de classes. Aliando se ao movimento
cm favor das re
"

instituto a tornar -
se o "catecúmcno do Brasil moderno. este -
*

se aproximaram de orga
1

dente se constru ía corno a do ISEB ( A linguagem do presi - formas de base " , os isebianos não só, que animavam esta cam-
Ao assumir suas fun ções, declara: Limoeiro Cardoso 1978). mzações como o Partido Comunista a
posi ção dos intelectuais.
panha , como também redefiniram para representar a nação ,
Já ruo somos uma nação abstrata cm que ai preocupações com o rrai estão auste- Ao intelectual com voca çã o natural ” ao lado das classes popula -
re ' Hoje pnde -se verificar que os leraas sobre o
enriquecimento nacional -
sucede sc o intelectual "engajadode 1930 e à concepção integra-
estio cm pauta , j .. ) o Brasil passou a existir como
res. À divisã o entre elite e povo
brasileiro u quer sabei algo a mais que os pisses ama coisa concreta. 0 povo
dc mágica da política e se dora dc Álvaro Vieira Pinto, segue se - a noção do intelectual
desinteressa dc uma polemica bizantina sobre os males
brasileiros ( ihid.: 241) militante . do fato de que
Esta mutação sc acompanha da descoberta -
Ao anunciar o Plano dc Metas, proclama:
o imeleetual c socialmente situado -
. Fi lo condenado a se reco
” compartilhando assim dc
Afortunadamcmc, o programa dc desenvolvimento global, nos termos em que
o propusemos à naçã o constitui , boje . nã o apenas
-
nhecer como "pequeno burguês ,
o movimento estudan-
,
um plano de governo, mas uma condição coletiva : c a cpoca em que , e com cie o ISEB
a expttsm da vontade impnmml de iodo o
fioro brasileiro (ibid .: 25}). til se transforma em agente político essencial
político rinha o
Em seus discursos , Kubitschek transforma o mantinha estreitos contatos. O engajamento social insuport ável
volvimcntista num projeto realizável. Atribuir ao ISEB mito desen - poder dc apagar a marca dessa condição tanto horror pela
n ida de dessa orientação seria provavelmente
das coisas; entretanto , o ISEB lhe conferia inverter a
a pater -
ordem — visto que os novos isebianos professavam Daí o papel cres -
"classe m édia" quanto os isebianos dc 1955 -
uma legi- da marcha em dire -
cem e das adesões partidárias e o prestígio

ttmação, enquanto lugar de constitui importante


pú blica . A abertura ao ção de uina opinião
ção ao povo E também , pelo menos
implicitamente , a reavalia-
capital estrangeiro praticada pelo gover no pela tomada em considera -
;
çã o da dimensão pol ítica , sustentada
NU 141

ção das divisões sociais. O rema revolucioná rio cessa de remeter


exdusivamcnie aos avan ços da consciência: as " ‘reformas de -
ram colocando se -na
esclarecida porta
posição do poder
voz do povo .
, acrescentaram o de elite
base ’ ' sáo uma forma de reencontrar o real . O significado ,
Posicionaram -se » enfim , na confluêncianoentre os três -
prin
política não fica menos ambíguo: o projeto revolucion ário da- da política Brasil: tal como
cipais modos de constitui
com çã o
porta a seu termo * a possibilidade de insiaurar se
»
- uma nação assumiram por vezes o modo que sc funda
Roland Corbisier , da
desvencilhada de seus inimigos internos e , portanto, ‘ cultura brasileira " ; com Alvaro Vieira
Resta que essa conversão do ISEB lhe conservou o unificada . na especificidade a política como processo de
social: nessa fase do nacionalismo progressista , o destaque Pinto, contribuíram para definir virtualidades nele contidas:
contribuindo para formar a opinião pú blica ou dar
ISEB cont í nua automação do povo a partir das
contornos isebianos da terceira fase , ade-
com Nelson Werneck Sodrc e osmarxistas
a uma opinião já difusa. , segundo os quais o
riram també m aos esquemas
Entretanto, as citações que fizemos dos Cadernos ências entre as clas-
nos incitam a náo superestimar as mpturas entre os do Povo fenô meno político se manifesta nas interfer de leitura . Sobre elas


diversos ses e o Estado . São tres possibilidades
momentos tio ISEB. O nacional -dcsenvolvimcntismo
reinterpretado —
n ão foi a ú nica forma de continuidade.
mesmo
O
pode-se indagar sc n ão anulariam , cada ;qual
dimensão própria do fenô meno político
à sua maneira , a
elas formam , porém ,
vanguard ísmo que impregna os autores desses fascí intelectual continuaria a
culos popu os eixos em torno dos quais a pol ítica
1 1

lares demonstra que o intelectual não estava disposto


" -
cai de sua qualidade de representante
a abdi
legítimo do “ povo" . A
- se organizar .
problem á tica da “ conscientizaçâo", que
caraetcrizava
para o povo , demonstra também que a ompoténeia a marcha
da tonsaen Em torno do Partido Comunista
m
A

cia continua na ordem do dia . A representação


das divisões
sociais, classes progressistas contra classes retrógradas projetos
A evolução do ISEB nos colocou na órbita dos
persistência das seduções ideológicas . A
conson
grama de Goulart prova, enfim , que o cord ão
* atesta a
ância com o pro - enunciados pelo Partido Comunista .De 1954 a 1964 , este par -
ção do
o poder não est ã necessariamente rompido , umbilical com tido foi adquirindo um papel crescente na estruturano cen -
movimento nacionalista . Elaborou teses
que sc situaram
O destaque social dos intelectuais isebianos, Prop ô s uma visão da “ revolução
ao longo de tro dos debates intelectuais .

-
seu percurso de nove anos, pode resumir se ern
Eles acompanharam a opinião p ú blica em suas
quatro fatores . brasileira " queT em muitos aspectos, gerou uma
espécie de
os intelectuais
ses . fazendo-se arautos do paradigma nacional que metamorfo- senso comum a partir do qual se reconheciam duvidassem da validade
progressistas: mesmo que alguns deles
cada momento. Colocaram em cena Povo e Poder ; Naprevalece a sc posicionar em rela ção a cias.
gresso; Desenvolvimento e Unidade política ; ção c Pro- dessas teses » eram obrigados a
interpretação do
Consciê ncia ima- Em torno do Partido Comunista c de sua
nente da história e Revolu ção; Ciê ncia e
ram - se com cada uma dessas entidades e
Ideologia . Identifica - -
nacionalismo formou se toda uma cultura pol ítica singular -
acreditaram no seu mente fecunda , que sc afirmou sobretudo ap ó s I 960 , e iria
próprio poder de integr á- las. , talvez tenha
Lançaram uma ponte entre os pensadores de sobreviver ao golpe de Estado de 1964 ; dc faro
1930 c os sido em 64 - 68 a é poca de sua maior influencia »

intelectuais engajados modernos. Dos primeiros, assimilaram membros do


a nostalgia da unidade social; dos segundos, Esta atingia muito mais do que apenas os c mesmo
que as marcas da condição social particular
a convicção de Partido. É verdade que este contava , em suas, hienas Nos anos 45-47 ,
devem ser apagadas na solidariedade com as classes dos intelectuais em seu aparelho * com numerosos intelectuais
tais . Em lugar da organização ,
fundamen
colocaram o desenvolvimento.
- quando desfrutava de popularidade graças aâ sua v ários inte
diante do Estado Novo , concorreu às eleiçõ es com
resistência
-
Substitu íram a escolha corporativista pela Rodrigues cita os
forças progressistas. Ao status de elite dingopçã,o cm favor das lectuais de grande prest ígio . Leôncio Martins
Graciliano Ramos, o histo-
ric que consegui - nomes: os escritores Jorge Amado e

6 SCS ^ í s
142

riador Caio Prado J ú nior , o pintor Câ ndido Poninan , o í


M á rio Schemberg , o jornalista Aparício Torcllí , O Partido sico
se gabar também da presen ça enrre seus membros,
dos criadores como os arquitetos Oscar Nicmeyer e conheci-
,

Anigas (L. M . Rodrigues , 1981: 412 ). A guerra


em agosto de 1950 sc manifesta pela adoção de teses
visando á forma ção de um "governo democrático e
lista " ;í

e . na á rea cultural , pela exigê ncia de adesã o ao "
e , em seguida , as " revelações" do relató
chev e a invasão da Hungria provocaram
afastamentos
voltas. Além disso , mesmo depois de 1956 o Partido revira -
mostrou de forma alguma disposto a afrouxar as r é
próprios intelectuais, quando questionavam certos
análise que o Partido fazia das mudanças
Caio Prado Jú nior, autor da Historia económica
que marcou época , e organizador da Revista
cada em São Paulo, viu -sc marginalizado. Mas
após o suicídio de Gct ú lio Vargas , seu posicionamento
da industrialização nacional e da formação de uma
zão nacionalista
1958 (Chilcote , 1982 )


dr

fria

deas de
f
podia

Vilanova
que
radicais
popular r
realismo socia
rio Krus-
e
não se
seus
aspectos da
brasileiras. Assim ,
do Brastí , livro
Brasilieme > publi -
a
do Partido na campanha pela nacionalizaçã o do participação
petróleo e .
a favor
vasta coali-
a prova são as novas teses adotadas em
e , finalmente , seu engajamento na
ponta de lan ç a do movimento pelas "
reformas dc base " , tudo

-

1 r ^s da sociedade brasileira
membros do Panido
riador do cinema ) Barbosa
Pinto ( do ISEB),

Prestes em diversos
t
ática e nacionalista , ao lado de outras for -
freme ú nica , democr no movimento pela melhoria das extrutu
çJIJ populares reunidas ' . No CT1 irão acuar lado a lado

c simpatizantes, como Alex Vi any ( histo-


Á lvaro Lins (crítico literário ), Álvaro Vieira
Lima Sobrinho ( conceituado advo-
da direita c que irã defender Luís Carlos
gado católico egressoprocessos
Carneiro ( antropólogo ) , Emo
za çaoã o Brasileira ) , Jorge Amado
), Dias Gomes ( do CPC ) Edison
Silveira idiretor da Editora Civili-
( escritor ) , Cavalcanti Procnça
) , Nelson Werneck Sodrc ( do
(escritor ), Moacyr Félix ( poeta ) Osny Duarte Pereira ( conse-
ISEB ). Oscar Niemeyer ( arquiteto . ) 1f Observemos que a socio-
lheiro dc Estado e membro do ISEB
logia universit á ria não tinha representante ,
( sendo Wander

bastante grande para que suas concepções


brasileira " se colocassem , implícita ou explicitamente
tro das discussões dc uma grande pane
cias sociais .
Surgiu assim , em torno do Partido
minou sociedade civil comunista
"
dos
algum nesse comité
ley Guilherme dos Santos então membro do
ISEB o ú nico sociólogo signat á rio ). Isto
importância do PCB dentro do mundo intelectual " revolu ção
.
t

n ã o impede que a

sobre a

profissionais
fosse então
143

, no cen -
das ciên -

, aquilo que j á se deno -


( Nogueira , 1983: 93 ): uma
-

campos
proliferação dc grupos que imcrvLnham na maioria dos
isso atraiu para a *ua órbita
numerosos intelectuais que n ão
eram necessariamente militantes . á assinalamos grau da crença
do Partido no LSEB . Ela sc expressou J a influencia culturais c partilhavam , cm maior ou menor ,
em mui -
na m evirabilidade do triunfo da Frente Nacionalista
també m poi meio de ;
algumas revistas das rnais prestigiadas; citamos h ã c consider á vel que a
pouco a tos aspectos era bem mais poderosa
,
Revista Brasiliense ames do golpe de 1964; de 1965 a caracteriza o
representa ção oficial [ do partido ] ( ibid . Essa
" . ) çã
1968
como "sociedade civil" , que já se aplicava nos anos 60 -64
será a ve / da Revista Civilização Brasileira . Ambas , será
apresentaram
colaboradores tanto comunistas como n ã o comunistas . A mesma ainda mais adequada , como veremos , nos anos - acentuada 64 69 , quando
influ ê ncia irá se manifestar no campo artístico; os
CPCs ( Cen - se tornaria paLenie o contraste entre a fraqueza —
tro Populares de Cultura ), que se
colocaram soh a sua égide ,
iriam reunir muitos dos ma is brilhantes artistas da jovem gera
-

pelas sucessivas divisões dc um aparelho bastante desconcer
tado pela facilidade com que foi dado o golpe dc Estado , e o
-

çã o dos anos 60 . brilho cultural desses m últiplos grupos , ou melhor , sua


aptidão
Em 1963, quando o governo Goulart entrou na zona
pestuosa , o
tem
Panido deu o seu aval à criaçã o de um comité polí- - para expressar a resistê ncia ao regime.
Aqui pretendemos apenas sugerir alguns dos fatores queo
tico de intelectuais , o CTI (
Comando dos
lectuais). que se propunha a "participar daTrabalhadores Inte
tormaçâo de uma
- concorreram para que tantos intelectuais simpatizassem com
Partido.
1
Sobre H evolução de Jorge Atnado ao longo doses ano , do comit é fundador . Foram ubndcM ao livro de
Wagner Be mo dc Almeida . Jorge Afítada prãí * consultar o escudo de Alfredo
ttva í* literatura ( Almeida , i $79 )
J
' Esses são c» nomes dos membros
o falo ( Cony , 1964: 5-6)
Carlos Heitor Gonv O ato e
O primeiro , a nosso ver , r que o Partido parecia ser o por -
tador da tradi ção estatal brasileira . Em especial , ele recuperou
em proveito próprio o legado geculista quanto à atribuiçã o ao
r
I °2®rada , na qual

por Krausche ,
produ
1982
corporativista
coloniais e construir

). Isso envolve tamb


ir uma economia tntc-

: sabe-se que os comunistas


,
4

1laços económicos ção c consumo se interpenetram (citado


1

ém a utilização do
optaram por
r
145

Novo , dis -
Estado de uma grande responsabilidade no desenvolvimento Estado sindicais derivadas do Estado

se inserir nas estruturas Os intelectuais
nacional . Essa recupera ção já havia sido empreendida em 45-46 -las com estruturas paralelas
.
postos a completa ligação com o Estado no momento sinali-


t u r n o movimento queremista ” , que foi seu primeiro esboço.
Os temas ent ão desenvolvidos por Lu ís Carlos Prestes tinham reencontramdeuma esquerda na qual , da mesma forma e seus
que no
uma ressonância extraordinariamente próxima dos que Getulio zada como combinam uma visão da organização social
passado , se à oferta de empregos
pú blicos,
Vargas iria lan çar em sua campanha de 1950 . Declara Prestes:
próprios interesses relacionados políticos para ocu -
que levam à utilização de crit é rios Fran -
ção . O sociólogo paulista ínio"
Objcnvanicritc . num país todosenalmente atrasado como o nosso , a dasse ope- interesses
raria sofre muito roencv da explora ção capitalista do que da insuficiê ncia do parcelas da administra “ fasc
par certas destacou , na época , o verdadeiro -
desenvolvimento capitalista e do atraso técnico . cisco C WcfFort sobre a esquerda , a ponto
de que o nacio
Estado
exercido o seria mais um dado priorit á rio, mas, em muitos:
pelo
Vargas dirá:
nahsmo nã ” essa relação com o Estado
forma de acomodar

^ ^
A velha democracia liberai c capitalista esd em franco declínio porque tem seu , ’ foi pouco mais que
fundamento na desigualdade [ ... ]. A outra é a democracia socialista A esta ^
O nacio aibmo ’’ , escreve ele em 1963 (Wef -
dc «msagração do Estado
’’
‘0
-
,

eu me filio 74. fornia pequeno burguesa


o
Essas coincidências desaparecem após 1948, c o Partido fort , 1978: 42). opinião , foi o fato de que
combate ferozmentc o segundo governo Vargas. Contudo , a sua O segundo fator , cm nossa pelo acesso à modernidade
. Muita
participação na campanha pela nacionalização do petróleo toi Partido se responsabilizou sua
da sucessão
adesão inflex ível à vulgata á ter " semi
se gastou sobre o car
uma forma dc atenuar o seu isolamento. Com o suicídio de Var- Lima
o que o levou a afirmar
dos modos de produçã , e a preconizar uma alian ça de classes
,

gas, começa uma nova fase: nas horas subsequentes o Partido


preparou uma mcia - voka , solidarizando -se com a emoção popu - feudal" da agricultura " burguesia nacional . Não são os erros *

lar . A medida que defendia cada vez mais o nacionalismo desen - que incluísse a famosaa esse esquema o que nos importa aqui ;


volvimcntisxa , tentava reivindicar o prosseguimemo do projeto e as ilusões inerentes implicações. U esquema* representou
O esquenj
ressaltar outras his-
,

getuhsta , que implicava a exaltação do Estado como agente do preferimos progresso como essência do tempodife
uma r lforma de marcar o explicativo -
desenvolvimento . O Congresso dc 1958 admitiu oficialmente
. -
Ele nrrrn , sem d
recorreu ú vida*, a um modelo
ouviu
. Entretan -,
que a a çã o do Estado brasileiro assumia , nesse aspecto , “ formas tórico " daua duu ^ ua de 30
écada
do evolucionismo positivista -
capitalista
« *

ções do modo de ”produ ‘ imperialismo


nacionais e progressistas ’ ’ ( citado por Chilcote, 1982: 124 ) . Na rente çã o
to , apagou as “ contradi"
'

gradas e ao '


Rensta Brastltense, na mesma é poca , afirma Hermes Lima: forças retró
só fazendo referência às rejeição ao impc-
1958 abandonam a imperialismo
0 mdonalisroo nio supòe exduitvameme o Estado mterveociooisti . Supõe americano as teses dc dos
isto sim . o Escsdrj na liderança no cornando da política dc desenvolvimento, cm geral para se concentrarem no ló gica moder -
,
rialismo esquema que endossa uma
no estímulo direto ou indireto dc medidas promotional do desenvolvimento Unidos É um subst í a
Estados ças produtivas apenas substitui
. tui
( Rensta Bmikeme nc IS , julho-agosto de 1958, p. 17).
nizadora . A evolução das for burguesa
como a revoluçã o
O jovem Carlos Nelson Coutinho , que se tornará um his- das mentalidades, assim da história e a ação voluntarism
o O movimento forma que
em harmonia Da mesma
toriador da literatura , via então no Estado o meio de romper a organiza çã ,

continuaram a conviver
ao Partido Comunista
fazem
intelectuais ligados modcrni -
os do ISEB , os
a condi ção para ingresso na
4
E*sas dim ciuçQci faiam tnadai de um artigo de Psinziu Pioari , que compara as da consci ê ncia esc larccida
duas finguagens ( Piozu . 1983 23-36).
146 147

dadc . Estavam menos tentados, porem , a atribuir esta conscicn - setorespopulares . Tomemos a noção de “ proletariado" É ver-
cia ao povo; era evidente que para tanto confiavam sobretudo
nas vanguardas. Na Revista Brasiliense , escreve Caio Prado
dade que a declaração do Partido cm mar ço de 1958 afirma
que “ a sociedade brasileira encerra tamb ém a contradição entre
l ú nior : " . Mas logo acrescenta que nas
o proletariado e a burguesia
o desenvolvimento capitalista
[Ccnvcm] situar a mesma política em terreno ideológico , isto c. elaborar
.um... condições presentes de nosso pa ís ,

corresponde aos interesses do proletariado e dc todo o povo


"
pensamento sistematizado que exprima com segurança , precisão e praticabili
dade o que confiísamrnrc ainda se diftmdc pela consciência do povo
brasileiro
- Com frequência, os intelectuais destacaram apenas o
segundo
( Prado Jr . . iv>58: 4). aspecto: o proletariado aparece muito simplesmente como tendo
acumula o capitalista . Na
Numa cr ítica implícita ao “ cconomismo" do Partido ( in seu destino ligado ao processo de çã
Revista Brasiliense, Elias Chaves Neto afirma :
clusive o demonstrado por colaboradores da revista , como Elias-
Chaves Neto ) c , ao mesmo tempo , ao descnvolvimendsmo dc As lutas da classe operária c dos trabalhadores rurais por aumentos de salários
c melhores condições de vida , longe de serem um espantalho, são a condi o
çã
Kubitschck , Caio Prado J ú nior reitera que "numa situação
mesma da prosperidade económica da nação.
subordinada e dependente", a ruptura com o subdesenvolvi
-
mento só se pode efetuar garantindo a primazia ao
tico:
projeto polí - No mesmo numero , Á lvaro dc Farias afirma que , por esse
motivo , " tem seu destino entrela çado com o das classes domi -
' { Revista Brasiliense ,
nantes , Liga - os uma ideologia nacional
'
Tocb unu concepção econ ómica [que] essencial mente faz do estatuto
dc um país como o Brasil , uma consequência Ju desenvolvimento econnacional 1958 . n ? 17: 9 57 ) . Tomemos a noção de massas populares -
"
:
ómico.
*

No enramo isso é inexato c antes pelo contTÍrio , uma política esta tem uma conotaçã o rivais polí tica . Frisemos , porem , a polis
nacionalista c
,

a 1985 , se man -
,

semia de uma noção dc massa que, dc 1930


'
condição prciipua dc um real desenvolvimento etonómico ( Prado . 1959: 10). "

Jr teve continuamente, mas impregnada ao , mesmo tempo , de


O nacionalismo constitui a pró pria forma do processo
modernização . Naturalmcnie , foi també m o que levou à com
de diversos sentidos: o que lhe d á . por exemplo , Gustave Lc Bon ,
lhe atribuem os
plementaridade entre o surto económico e a democracia , c - o que se assume no discurso marxista e o que
soció logos americanos quanto ao advento de uma sociedade
significa endossar as promessas do Uuminismo r ou das isto
da sociologia da modernização então cm voga . teorias urbana com divisões incertas. À declaração do Partido em 1958
rei -
O terceiro fator c relativo á forma de conceber as massas incita a participação nas lutas de massas , nos movimentos
vindicativos , nas campanhas políticas , nas çõ elei es " , c declara :
populares " . Nos textos oficiais , o Partido utilizou tres
noções,
sucessivamente: proletariado , " massas populares" e povo. Nos Os comunisia* não tem outro fim sen ã o o dc tornar vitoriosas as aspirações das
três casos, a particularidade dos setores sociais
assim designados massas, aprender com elas e educá - las a parur do n ível de consocncia que jã
fica subordinada em boa medida , ao fato dc encarnarem sim atingiram (PCB , 1958: 27 ) .
bolicamente a nação. Os intelectuais situados nu arca de influen --
,

cia do Partido compartilhavam


A Revista Brasiliense por sua vez , apresenta uma represen
1
-
dessa visão . Nessas condições , ta ção das massas que muda conforme o momento pol
ítico.
n ão precisavam , de lorma alguma , questionar -se mas-
Em dois n ú meros sucessivos . Elias Chaves Neto invoca as "
relação com as classes "fundamentais " ; continuam a
sobre a sua
desfrutar sas como cncamando "o poderoso movimento nacionalista ":
do privilegio de estar no mesmo n ível da nação e , assim constituindo
, dos c Caio Prado J ú nior descreve os trabalhadores como
ainda " uma massa dc manobra para políticos ambiciosos , um
' Giatoflio Martamao mostro bem remetendo 2 Ki elleck , que
to cr d íçú . do iJuminismo. cv.á * J noção dc progresso , trampolim eleitoral , um instrumento para alcançar empregos
^ <( i
associada, simultaneamente , A vaionzaçio do tempo
enquanto realização immencc da razão c a
planificação do tempo na medida em
que impõe a idriu de jmraanrc aproprN
-
çia rransfotmai,Ío da u .iiurc? . i Mirra ‘‘ O lexto completo das teses de 195S ?oi reproduzido cm PCB: vtnJe art‘ f .1 de poiiticê
^
maio. 1 85 ) . i

/ WW . 9 documentos ( PCB, 1980: 3 27) -


148 149
e cargos rendosos ou de prestígio ' ' ( Revista Brasihense . 1958 ,
n ? 19: 6 20 ) . Sendo assim , era urgente difundir o pensamento figura ideológica de povo, pois a revolução era justamente, aa
*

transformação do povo cm naçã. oNade Revista um lado e, de outro


nacionalista • * entre as massas populares’ ' ( ibid . t nn 20: 4) 1 . Brasihense , Caio
Desse modo. tornou- se manifesta a profunda ambivalê ncia com fusão do pol í tico com o social
Prado jú nior concentra -se nessa problem á tica .Ela não est á t ão
respeito a essas massas , sempre incapazes de se elevar ao n vel de romper com as fac-
de sua voca çã o histórica e de dar substâ ncia ao “ povo A
í distante da de 1930, quando se tratava
mcrue
ções políticas cm nome da realidade : lnlcl Í 2 constata
noção de “ povo" continua como a representa ção ideoló *

nacionalismo ] mal transparece


do conjunto das forças nacionais. Retomando-se a definição
gica Caio Prado J ú nior , “ tudo isso jo
, de prefe -
no cená rio oficial de nossa política , onde se discutemde somenos
.
de Nelson Werncck Sodré povo é o conjunto das classes,
rência e quase cxclusivamcnte , med íocres quest õ es
camadas r grupos sociais empenhados na solu ção objetiva das . Caberia aos
tarefas do desenvolvimento progressista c revolucion ário na importância " ( Revista Brasihense* 1958, n ? 16: 5 )
verdadeiro papel : o de uma
área em que vive " (Sodrc . 1978 b: 191). Definição , como se intelectuais devolver à pol ítica seu reconhe -
afirmação nacional , A quest ão democr á tica , enquanto
vê , não descritiva , mas preseritiva . Entre as; divis es n o nessa
massas populares cimento concomitante dc direitos e õ , â entra
concretas c ai figura do " povo" , a defasagem c sempre imensa , vcl no do privil égio
nâo só porque as primeiras só são , na %rerdade , um do.s compo problem á tica . Ela não era enunci á contexto

nentes do segundo , mas també m porque permanecem


- conferido â unidade do povo.
aquém Muitos dos textos citados datam de 58 -59 , momento em
da consciê ncia que deve permitir ao povo concreto unir se à
figura ideológica dc povo . E essa defasagem que irnplica a prio- - que os comunistas descobriram as ilusões do desenvolvimcntismo
fase. Na
ridade concedida à segunda c , portanto , também i ideologia proposto por Kubicschek e pelo 1SEB da primeira ao
Revista Brasihense , os ataques contra ambos se sucederam
e ao Todo social . Desse modo , a cultura comunista o panamencanismo " de
satisfazia desengano, Elias Chaves Neto ataca

às exigê ncias de in ú meros intelectuais . Eles fazem pane


juscelino Kubitschck ( ibid . , 1958 , n ° 17: U - 2 ) , e cm 1961
,
povo , ao mesmo tempo que são a sua consciência . do
Conservam - assi nado por Bastos Filho , aparece um violento ataque contra
se como arautos do Uno, que n ão é majs “ orgâ nico",
bolizado pela complementaridade entre trabalho c capital Con
mas sim - o ISEB , caracterizado como um instrumento de controle social
tinuam a se distinguir dentro do que se tornou uma hierarqui - mediante a racionalização dos interesses burgueses , "baseado. ,
zação por via ideol ógica : não sâ o afetados pela defasagem - no desenvolvimento' c na contrafação do nacionalismo ( ibid -
em 1961 , n ° 79), É claro , poré m , que os comunistas nâo deixa
ram de sucumbir aos encantos do desenvolvimcntismo. N ão

que as massas populares permanecem prisioneiras .
O ú ltimo fator diz respeito à interpretação da
tica . O manifesto de 1958 indica a possibilidade
de
esfera polí-
q uc a “ rc -
se comentaram em endossar
expressões ideológicas , como prova

e com que insistê ncia!
a acolhida entusi á
suas
stica
voluçáo brasileira " se realizasse por via pacífica: “ o aperfeiçoa
mento da legalidade , atrav és de reformas democrá
tituição , deve e pode ser alcanç ado pacificamente ,
ticas da Cons-
a a ção parlamentar e a extra- parlamentar " ( PCBcombinando
, 1958: 22 )
-
Argentina —
demonstrada por Caio Prado jú nior â eleição de Frondizi na
vitória de uma ideologia longamente amadure -
cida no pensamento político de um povo ( ibid . , 1958 , n
16: 3 ). Fizeram sua pr ó pna teorização i sobre
"
o dcscnvolviracn
?
-
As reformas “ democráticas" sao mudan ç as nas estruturas cco - e as conquistas
cismo , sugerindo que a acumulaçã o capitalista

nômicas e polí ticas. Os intelectuaisj que acompanham unidas Sua atitude se


nao tentam especificar os direitos sociais ou polí
o Partido operá rias estavam destinadas a avan çar .
ticos transforma a partir de 1961. A amplitude do movimento em
nessasj mudan ças . Tampouco poderiam fazê lo corn inseridos suboficiais
- base na favor das reformas de base , as greves, a agita çã o dos
põem na ordem do dia uma ruptura pol ítica . O Parado não
duvida da vitória do campo progressista . São conhecidas as pala *
Árauditrira de rom esti libada aos resultados das deiç Ocs de Sio
CirvJho Pinto, apoiado por ânio Quadros , conrr à o Paulo cm qur foi vras de Prestes às vésperas do golpe de Estado " Partido n ão
,
vitorio» : o
por Adernai dc Burros o PTB e PCB J candidau ' apoiado
ele á no poder ".
tem necessidade de participar do governo est
.
,
,
150

riam
Em que medida o partido e seus intelectuais ainda ade -
á ideia dr que essa ruptura pudesse se produzir
texto da legalidade em vigor ? A resposta n ào é
clara
o Partido parecia desconfiar das correntes esquerdistas
raveis a uma crise econ ó mica , sonhavam
. Em
com um golpe dc
Estado de esquerda . Na Revista Brasiltense , Elias
no com
1958,
que. lavo -
w
democracia parlamentar . Amplos setores da opinião publica ,
de esquerda c direita , compartilhavam
zado numa experi ê ncia” histórica na qual
um sentimento enrai -
a
ciada a* “ liberalismo , r o liberalismo à hegemonia
)

quica . Sentimento que se nutria


rambem
que
democracia est á asso -

no
de
governo
um
151

olig á r -
fato
Goulart
do
momento: a paralisia do Congresso , ,

3 d verte contra os que


Chaves N eto partidos a cada
achavam possível assegurar por esse dava o espetáculo das divisões dos grandes
modo o sucesso dos nacionalistas, como sr “ o ão das
povo, dirigido pela espada dc um general , [fosse] sentimento do debate , c de sua impotê ncia para equacionar a quest in é -
capaz de liber- reformas sociais , enquanto a mobiliza çã o social , sob formas
tar o nosso país da dominaçã o
imperialista
l 7 : 4 ), Em 1963 e durante o primeiro
'
( ibid . , 1958 , nG ditas , conhecia urn surto sem precedentes.
trimestre de 1964 , essa Num artigo de 1983 consagrado aos problemas dc poli
-
fidelidade as regras democrá tico burguesas foi bem menos e v i
dente , O próprio Goularr n ã o parecia descartar o - uca e organização dos intelectuais , o soció logo Luis Vcrncck
"

que participara da aventura do CPC — recapitulou


recurso a Vianna
as condições em que surgiu , nos anos 50-
meios extraordinários para continuar no poder . 64 , “ uma intelligent
houve comunistas que se esforç aram para evitar aE verdade que sta norteada pelo envolvimento com projetos de esquerda ,
tivas como a famosa assembleia dos sargentos.ções intempes- L W Vianna , 1983:
mais espccifícamente de adesã o ao PC
" ( .
poré m , que , tanto no aparelho do Partido corno Parece claro , ,

na “ sociedade 146). Este autor atribui a disponibilidade


“ " dos intelectuais à
civil comunista ” , a tentação de derrubar a
situaçã o encontrava carência de uma burguesia que se apoiava no Estado c nas estru -
numerosos adeptos. Em 1967 , no primeiro congresso
realizado ruras corporativistas para legitimar a ordem burguesa c preser -
dandcsiinamcrue pelo Partido após o golpe dc 1964 , evocaram
- var a paz social - Segundo ele , os comunistas eram assim incita -
se “ as tenta ções golpistas cm outros administrativo c agir a
elementos pcssoalmente dos a tentarem se inserir no aparelho
prejudicados pelo seguimento, dentro da legalidade partir do Estado, Em outras palavras , a “sociedade civil comu
-
cesso eleitoral cm curso ” ; “o surto de impaciê do pro- Partido
o do
,

ncia e outras nista era mats sociedade civil cm relaçã


” o à dire çã
-
manifestações dc radicalismo pequeno burgu ês do que ao Estado . Era nossa opinião, porem , a disponibilida”-

que apoiavam o governo ” e “ o levantamento entre correntes rela o ao povo
dc palavras dc de resulta tanto das ambivalências em “
” çã
ordem e a preconização de meios e objetivos dr massas populares ”
luta não condi- quanto das deficiê ncias da burguesia . As
zentes com o cará ter do movimento ideologia " ; nem os
nacionalista concretas e o “ povo só se unem na

e democrá tico
c com a correla çã o dc forças existentes no p ú blico , nem
momento" (PCB, movimentos camponeses., nem as greves do setor
1980 : 80 ).
a organiza ção paralela do sindicalismo por iniciativa do Partido
Parece que essas críticas se dirigiam , o Partido
c hegaram a superar o “ atraso das massas: em 1967

dc Goulart r às correnics dissidentes dosobretudo ao séquito o alcance do movi
Partido Comunista . reconheceria que se havia equivocado sobre
São numerosas as raz ões que permitem supor de rg ãos esta -
mento operá rio , que “ dependia muito do apoio
que ó
seus intelectuais n ão ficaram livres dessas tentaçõ o. Partido c , rsprcialmcntc as dc cará -
es A adesão tais [ c cujas] ações mais importantes
democrática dos anos 60 n ão implicava o reconhecimento ter pol ítico , só ganhavam amplitude maior quando
respaldadas
nitivo das regras democráticas. A estratégia do defi - pelo estímulo oficial" . Quanto à organização do proletariado
- Partido
nuava a fundar se sobre uma estimativa das relações de conti - : 78-9 ).
for ç as rural , "dava ainda os primeiros passos" ( PCB, 1980de
levando em conta as supostas divisões entre os també m uma forma admi -
,

via mais o Estado do que os


militares. Envol - Esse diagn óstico rctrospcctivo foi
enfatizar
mecanismos de representação, ton - tir ã distancia entre as “ massas c os intelectuais. Ao

'
forme demonstram as palavras dc Luís Carlos çao
Prestes
Os comunistas r as novas correntes de esquerda aquilo que , nos esquemas do Partido , expressava uma aspira
o,
n ã o dcti - à modernidade , á unidade social e ã concretiza çã o da Na çã
nham . em absoluto o monopólio do dentro do
qubemos sugerir que os intelectuais encontravam
,
ceticismo para com a
152 153

Partido , maneiras de defender seus próprios curso pretendiam , convencidos dos poderes
e
ili -
sentações . Não unham necessidade de expor seu interesses e repre - revolução emcultura , conduzir a toque de caixa uma epopeia
bastava se fazerem de porta - vozes do ‘ povo ” .vanguardismo; da
mirados digna da histó ria ern processo .
afirmavam , a um só tempo , sua solidariedade com asDesse modo coletiva um dos componentes do vasto
mas també m os privilégios inerentes à sua

massas ”. Os CPCs foram apenasnumerosos intelectuais ao encon
levou ent ã o
*

Mais do que nunca , foram os elementos com consci ência pol ítica.
vocação para fun -
movimento quepopulares .
dir o povo com a nação . E, para consegui tro das classes Povot publicados pela Civilização Brasileira,
Os Cadernos do
pedagogia revolucioná ria . Desiinavam-sc colo-
- lo , foram legitima a
mente levados a militar , com grande *

proveito para si mesmos ,


cm favor da expansã o das funções estatais . se inserem nessa CPCs se associam
cat a " teoria ao
” alcance de todos . Ali ás , os
cesso , estão sempre próximos das posições Ao longo desse pro-
tamb é m in ú meros estudantes , membros
da UN ít ,
e representações de J sua difusã o;
los e vende-los nos sindicatos c nas
se encarregavam de difundi-
seus predecessores dc 1930. A modernidade ,
do dia , obra de inte -
por ém , no que lhes
dizia respeito , já havia passado por l á , colocando o surto das o” est á na ordem
forças produtivas e a revolução burguesa fabricas . A "cooscientizaçã a eliminar a detasagem entre as
no lugar do inconscíen lectuais c estudantes visando
te das massas c da organiza com que a consciência subje
çao .
massas c “ o povo , c, assim ã, sfazer
*
i i

condições objetivas” que


riva das massas respondesse novasa ‘ revolução ” .
para
Icvavam a sociedade brasileira adquiriram uma importâ ncia
.4 marcha para o povo: os CPCs Nessa conjuntura , os CPCs
atingir as mas-
singular Por seu intermédio , os artistas queriamrevolucionário. Ainda
0 que ficou de maravilhoso na período 61-64 da sas c fazer da cultura um instrumento
histó ria ” dos CPCs . Dizemos dos
” ”
Cultura Brasiliensi.s foi justa - est á para ser narrada a
mente a doideiia CQDsrieouzame que se
apossou dos artistas. Como esquer -
das estavam próximas do poder , montaram -se CPCs , pois sob a égide “ do CPC
” , o do Rio de Janeiro ,. mui -
mil nas cidades grandes médias c Só o
em massa do povo brasileiro Aviões, caminhões veiados dc conscjentftftio tos centros se constituem ' Rclativa -
transformáveis em palcos, cú -
CPC do• Rio de Janeiro c rclativamentt
conhecido .
-
.

cos, funâmbulos erc . . saíram pelo país afora numa


revolucioná ria nunca vista na história das esquerdaslouqu íssima mambemhice os crí ticos se contentaram cm consi
mente , porque cm geral
-
r
próximas do podet . 0 se apresentar uma
derar alguns Leextos doutrin á rios , arriscando
povo olhava embasbacado aquela multidã o a
de jovens que lhes ensinavam corns das simplifi -
de dedo em riste , lhes faziam equações, empurr ,
ões gritos de estí mulo eia . imagem simplista e r ígida
daquilo que foi , apesar ' Tea -
flis! querendo transformar
os operários e camponeses em revoadas de tonos! novo para alcan çar a
cações e da rigidez um movimento
, 1

heroicos 0 que tie ou foi esta mediu , incrível, infantil , gencross ” e acelerar a sua muta ç ao
rid ícula crença nos poderes transformadores da , genialmemr Iidade brasileira em 1961, por im -
ca ane como força potíuca. no munda!
„ arte. Nunca se
acreditou tanto O CPC original foi criado cm São Paulo membros pertenceram
busca da realidade , uma fé, uma ambição de
Ficou disto também ura amor peta ciativa dc gente de teatro. Seus primeiros 1953 , procurou romper
marca registrada da Criação latino-americana [ mudan ça que lalvez seja a ú nica
] Dc novo. dc ura novo ângulo,
ao Teatro de Arena , que , a partir dc c criar um teaLro brasilei -
- com as conven ções do teatro clássico
1

voltou se a olhar o Brasil: não ma?s a ama de 26,


índios, nem M &eunaíma. mas o povo ,
_
nem o tatu dc nem os , que alcançou notorie-
ro ” , H um teatro politicamente engajadode Gianfrancesco Guar-
malvisto , desfocado , esquematizado
.
mas, afinal de comas entrevisto. ,
dade em 1958 com o. sucesso da peça cm cena o comporta -
nien Eles não usam black -tie * colocando
Esse testemunho retrospective) ( citado por
H. B . dc Hol- mento dos habitantes de uma
favela . Pelo Arena passou uma
lands . 1981: 28-9) do cineasta Arnaldo grande renome na ativi -
CPCs (Centros Populares de Cultura), Jabor , participante dos boa parte dos que vieram a adquirir . Oduvaldo Viannu
atmosfera q u e reinava na marcha para dcscre vc m u i t o bem a dade rcatral brasileira : além de Guarnicri ção do CPC por Odu
Filho , Augusto Boal c outros \ À funda
*

o povo: uma mistura


dc euforia e didatismo , de improvisa
ção criadora c doutrinação
pol ítica , com que os artistas Magaldi . Um palco bmHHm
incitavam “o povo ” a unir-se à Sobre a hist ória do Teatro dr Arena
, vet Sá bsno
1$ 5

de socie-
a impor á nria que se dá hoje ao ,conceito
ado pcla.< cir -
não it dava , ou , quem sabe
for ç
vaido Vtanna Filho c outros membros do Arena obedeceu ao Naquela época Mesmo assim , intuitmincme civil , foi criado por
desejo de ir ao encontro dc um p ú blico mais amplo * fazendo dade civil , CPC cormituiu-v como órgão da sociedade
os espetáculos sa í rem de suas salas habituais c os realizando omstánrias o por cia o tempo iodo (ibid )
em toda pane: na rua, nos sindicatos , para as populações rurais. ch c susrentado do CPC pretendiam
O CPC adquire sua forma definitiva articulando-se com o ISEB que os intelectuais sacie-
É bem verdadenos anos 60 era a maneira de dizer
tm

c com a UNE , Oduvaldo Vranna Filho faz cursos no ISEB a fim , o que .
dc realizar uma peça sobre a mais- valia: A mau - valia vai aca - r ‘ P°v° com uma conota ção bem diferentedeclara , no
* civil , mas Carlos Estcvam” Martins
bai\ seu Edgar . O sociólogo Carlos Esievam Martins , membro dade mar o de 1962 membros do
do ISEB , tornasse ent ào o primeiro diretor do CPC e sc tornará Em ç *
Manifesto do CPC : 0$
para o integrante do povo
,
o seu teórico. Na mesma é poca , o CPC sc torna o ó rg ã o cultu - "anteprojeto por ser parte ,
por scr povo , ” 0 . De formas
ral da UNE, que lhe cede uma sala permanente. Contudo , o CPC optaram do seu exército no front cultural identificação:
expressaram a mesma

CPC conservaria sua autonomia em face dessa organização estu
dantil presa de acerbas lutas políticas e que , nesse momento ,
sc inclina para uma tend ência de origem crist ã - revolucion á ria *
- destacamentos
, outros
diversas
participantes
, o cineasta, o pintor
, o professor, o
esnnianrc . o profissional
responsáveis, como os demais
liberal
tiaba -
a AP ( A ção Popular ) —
embora participando de certas campa -
nhas da UNE ( Berlinck * 1984 ) . Com o patrocínio do ISEB c
0 escritor
Ihadores. peto
-como
redescobrem scsociedadecidad
que
ãos diretameme
ajudam a construir diariamente Gullar
( , I % 0: 83
ção ao
Ui

da UNE e mais a influê ncia dos membros do Partido Comu - o poeta Moacyr Felix * na introdu rua,
Em 1963 afirma de Viol ã o da
nista em seu meio , o CPC se coloca no centro da efervescê ncia
nacionalista. de poesia publicado com o t ítulo
volume do Povo:
O CPC’. atraiu artistas de destaque ou que mais tarde sc da serie Cadernos , de colocar a sua
sensibili-
tomariam conhecidas Em sua direção succderam - sc Carlos Estc- por isso , os verdadeiros poetas proletariado , dasse
vam Martins , o cineasta Carlos Diegucs ( durante tr ês meses ) e Não podiam deixai atuais da história, também ao lado do si própria para
,
çõ es
dade. nas condida negação, única dasse que luta para negar- em que não exis-
se a ,

o poeta Ferreira Ciullar . Foram organizados departamentos cm novo mundo


por «ccJencia e com isto , fundar o
Hollanda 1981: 14 ) -
diversas áreas culturais , cornando com nomes como Oduvaldo existir como tal
deixar de
'
,
por H . B de
Vianna Filho e Arnaldo Jabor ( teatro ): Lcon Hirzman c Carlos tam mais classes citado de Car -
(
Dicgues ( cinema ) ; Carlos Castilho ( m úsica ) , entre outros desti -
Movimento, da UNE, retoma as palavras
nados à arquitetura , âs artes plásticas ou ã alfabetização . Criou - A revista
se també m uma distribuidora de livros e discos, a PRODAC, los Estcvam Martins passa a ver
com dinamismo para assegurar sua difusão em boa parte do respeito dos problemas do povo), o intelectual o ntclecnJal
Falando ao povo (a voz , e entào intelectual da sociedade » i n ã
país. Incentivou -sc , enfim a formação de numerosos CPCs
,

locais. Comenta Carlos Estcvam Martins: povo c então (seu porta -


por Ortiz . 1985: 72).
da anu -sociedade citado
do engajamento
.
as virtudes
celebrar componente saraiano: implica
São maneiras dc
Foi através desses outros CPCs que conseguimos uma ligação mais etenva toro
2 classe operá ria , coroo o CPC do sindicato dos metalú rgicos de Santo André que tinha o seu c a opção
Um engajamento traços da classe social de origem. Declara o
,

em Sã o Paulo , no quai os operá rios produziam seas próprios textos , adaptações


a elimina ção dos as massas populares
etc . ( C E . Martins. 1950: 79).
se corn
voluntária dc alinhar : -
muito limitadas

Convém frisar que , salvo algumas subvenções indiretas
feitas por interm édio da UNE , o CPC
preservou deliberadamente a sua independ ê ncia em rela ção ao
Estado , o que permite a Carlos Estcvam Martins declarar em
— anteprojeto do Manifesto
|,J

-
ira *e fia página
anteprojeto cm H B
Ver o rexto du 12?
de Hollauda.

pagma* 145 8 -
-
1981: 121 44 A cita
ção encon -

1980: O rexio da introdução aparece nas


156 157

Via dc regra ocorre que o artista Jo CPC, embora pertencendo cs.se didatismo revolucionário pesou
ao povo, não N ão há d ú vida dc que
pertença ã fiasse revolucionária senão pc ío espírito , CPC , quer se tratasse de teatro ,
ideologia revolucionária ( H . B. dc Holland a, 1981: 128 ) . adoção consciente da
pela mujto sobre o trabalho do
. Os artistas do CPC tomaram deliberada
cinema ou poesia privilegiar mais a mensagem do que a forma
-
Trata -sr . por ém , dc um engajamento mente o partido dc
da "má consciência ' sartriana: burgu ês oufortemente distanciado nao tinha dificuldade cm admitir a
- das elites " : o artista rcvolucioni-
anteprojeto
estética , O
1

peque no burgu ês , o
intelectual pertence ao povo' ‘ já de salda. Optando superioridade formal da "arte
1

ção, solidariza -se com a sociedade por pela revolu- fazer sacrif ícios est é ticos .
da classe revolucionária [... ] em ú ltima an inteiro , pois "o .s interesses rio deve consentir em á vel
o do ámbtm dc vigência da ane não é vi
interesses gerais de toda a sociedade ' ( ibidá.lise , correspondem aos
). O primado naciona -
É fora dc dúvida que a ampliaçã
ao alcance exclusivo dos entendido ? como
na base dc ama linguagem cifrada
5 ,

lista interveio, modificando o sentido do o fenómeno artístico provocado pela ascen -


.

investimento no proleta - iguaJjncQte está fora de dúvida que


riado , c dando um alcance diferente ao vanguardiszno. sã o social das massas consumi um mal
,para cie não há outro remédio extern
Na teoria e no trabalho do CPC, havia , com toda certeza , o triunfo definitivo dessas mesmas massas
( ibid : 138).
Lirna grande dose dc vanguardismo
, com seu consequente dog produções do CPC
matismo. O anteprojeto do Manifesto" e - N ão é de surpreender que munas
muitos - num discurso pol ítico a ser-
tos doutriná rios referiam se a
-
todo
popular" , pondo em moda uma noçãmomento
outros tex
a "cultura tenham tantas vezes submergido
viço da vulgata nacionalista .
Alguns dos maiores talentos,
margem do
o que os debates da , ficarão , por esse motivo, à
esquerda at é hoje n ão cessam de como Glauber Rochaesquecer -
da “ cultura popular" n ão era nadaabordar. Ora , sua definição por isso que ourros , que desponta
popular. "O anteprojeto " CPC , Não devemos passos sob o signo do
distinguia três acepções hierarquizadas dessa no riam após 1964 , deram seus primeiros ria foi funda -
mais baixo, a cultura popular diz ção . No n ível
CPC, nem que a experiê ncia da arte revolucioná
respeito â "arte do povo" , , inclusive para aqueles
caracterizada por urn grau de elaboraçã mental para grande parte dessa geraa çãelao .
que a criação "n ão vai além da ordenação est é tica t ão prim á rio que manifestaram reservas quanto
do CPC
o dos dados mais evi-
dentes da consciência popular atrasada ". Num Depois de 1964 , muitos dos amigos membrosse fechara
grau intermediá- nos quais
rio , designa como "arte popular"
aquela produzida por artis- foram os primeiros a assinalar os impasses, Carlos Esrcvam Mar-
tas especializados a fim de a sua cruzada . Numa entrevista
de 1980
disLrair o pú blico urbano. No n ível " a tend ência era cada vez mais baixar
o nível ,
mais alto vem “ a ane popular tins relembra :
pelo artista engajado: revolucionária " , obra constru ída
e cu lutei para que cada " vez rnais se baixasse n * não do
o í vel
, entrando em conflito com
certos
conte údo, mas da forma todas as
Ao ir aos mau diversos scum dn povo. ao , combatendo
artistas do CPC " porque eram artistas
"
mas específicos que ai encontra o arrisu deveformulai artisticamente os proble - o distanciamento em
tendê ncias " brechtianas"" para usar
,
fiasse revolucion ária c á sua luz examinar
ir munido do ponto de vista da " com o p ú blico (C E .
çã o
aqueies
soluções consentâ neas com os ínrcresscs da classe problemas , dando a eles as nome da exigência de aproxima Filho deplora que os
revolucionária. Martins, 1980: 81). Oduvaldo Vianna
feito tudo para “ retirar qualquer aura
este -
Tarefa que também revela ei povo a si próprio, militantes tivessem " apenas
pois:
lica da obra dc arte colocando ã disposição das massas
" (F. Peixoto, 1983: 163). Ferreira
[ Fia ) se identifica com a aspiração fundamental do povo
coletivo que visa dar cumprimento ao projeto de exist , quando se une ao esforço
pode xi outro .senão o de deixar de ser povo ência do povo, o qual nao
um " pronto-socorro artístico
Collar critica o excesso dc preocupaçõesmedia -
didáticas , que, segundo
( Gullar , 1969t 7 ).
tal como ele se apresentai nas socieda-
de? de ciasses, ou sqa . um povo que não dinge a cie , expressa o radicalismo da classe
sociedade da qual ele é o peve 3 .
i
<

- *» Testemunho pregado ã FUNARTE emtamb


198 }, -
cujo texto foi me emilmente tomuni -
^
ÍS
í: Vangwnda e
, ém a * ua crítica do CPC cm
*‘ ««W "'
*P*dU Í dn H H d, HoJ cado por Adauto Novais Confronte
lubdienvolvimento .
15 » 159

MAS rssc excesso vem cambem do outro fracasso do CPC: sua • cultura ' . Utopia ? Sem d ú vida . Mas uma utopia que

r

dificuldade de realmentc estabelecer contato corn as massas nova


Liv »
*
*
minoria isolada , mas; constitutiva da
Essas rara r escassamcntc compareciam aos encontros que não foi invenção de uma parte das camadas intelectuais ,
arriscas marcavam com elas. Nada mais sincero a este respeito os cultura política de uma grande c
que então emergiam sob novas formas ,
'
do que o testemunho posterior de Carlos Estcvam
Martins: A militâ ncia do CPC , como bem demonstrou Arnaldo
desenvolve-se no horizonte da ' revoluMartins ção iminente.
9 ?

A dificuldade não escava cm mostrar espet áculos que pudessem Jabor , depoimento
maisr a dificuldade era entrar em contato com a povo
ser Imdos à
posterior , Carlos Estevam r\„r ,„„ por sua
Num „ c; rn ,
tiam estruturas de conexão entre o grosso da população c os
urna vez que nã o exis -
,

politizados que queriam sair fora dos circuitos elitistas (C. E grupos culturais
vez , .
assinala
nua .
: " E
~ preciso
r sacrificar o art ístico ? Claro que sim
v ão chegar ao poder logo, logo
^
"
Martins, \ m m porque as classes populares adiante: A convicçã o de
(C E. Martins , 1980 : 80 ) . E mais

E ainda: " A segunda surpresa foi a ausência do oper no CPC era de que o que se fazia era
locais onde sup ú nhamos que ele deveria estar: os á rio nos cada um que trabalhava
sindicatos »»
de uma utilidade enorme , e que " cada qual era absolutamente
(ibid . ). Uma previa do que seria a surpresa ( ibid . ). Essa obra revolucio-
o " trabalhador " tampouco compareceu ao
dc 1964 , quando indispensá vel à marcha da hist ó ria
encontro. de que a mobiliza çã o camponesa
Os comentaristas da d écada de 80 não ná ria se apoia na constatação tempo , percebe que
tratam o CPC e operá ria estava crescendo: ao mesmo
melhor que o 1SEB; vanguarda autoritária (Chau incapaz de se
í,
Berlinck, 1984: passim ), traduzindo as mistificações1983 : 89; grande parte dos setores populares continuava amos fazer e fize-
unir a ela . Da í seu aspecto didá tico: Quer í

da classe
media " , reproduzindo sem o saber a ‘ ideologia de trans-
negando cinicamente o saber como arma de poderdominante mos um trabalho educativo , que abrisse possibilidades

, sucumbindo "; Carlos Estcvam Martins nota ainda que a


ingenuamente ao canto da sereia do populismo, formar a realidade cima para baixo".
ação do CPC só podia ser conduzida de
"
obedecendo


com ast úcia às palavras de ordem naciomi - ret ó rica
a arre ao subordin á - la sem escr ú
populares
pulos à política
, anulando
Sendo assim convé m considerar como simplesmente
,

das críticas que foram feitas ao CPC. O ‘’ eis algumas esta outra afirmação feita por ele:
anteprojeto" , com dma que as nossas au -
seu desprezo pela “ arte do povo " , mereceu
acerbos comenta - 0 principal para nós eram n. intervenções de baixo para nós eram as imtn
nos . Raras são as obras que caíram nas boas gra vidades pudessem susdtar no plano cultural . O principal para
I ÍSU5 ‘\ ças dos cspecia - venções de baixo pua cima nos planos econó mico, social e pol ítico - r\
Nosso propósito, evidcntcm ente n ào c julgar as
mas recolocar esta marcha para o povo na conjuntura
. obras, Na realidade , os militantes do CPC se esforçavam
muito
mundo
tual daquele momento . intelec - para favorecer , por meio da arte , a poluiza çã o de um
distâ ncia social que
social que Lhes era estranho . Constataram a populares
Desse ponto de vista, o “ vanguardismo •
menos marcante do que a certeza de viver uma situanos parece
<

negavam existir , ao perceber que as classes não cora -


, tetna-
ção revolu - pareciam aos encontros. Partindo da vulgata nacionalista
cionária , onde o voluruarismo dos intelectuais .sc
fundo movimento das massas populares, dando origem unia ao pro
a uma
- ram , para estabelecer a comunica
vulgata para uma linguagem que lhe fosse
çã o com o povo , traduzir essa
inteligível, inspi -
de expressão
2
Ver M T Berbcck "No caso cio CPC , os limites
-
rando se cm sua vida cotidiana e em
poética , como o cordel e a m úsica popularvel
seus modos
.
( ibid ; passim ). Essa
da cntpenrncjji eram claxameme
fornecidos pelas origem de classe dc seus membros ( Berlittck vanguarda descobre a sociedade ; c prov á que , pelo menos
. , 1984: 112 ). os esquemas
cm certos casos , tenha sido levada a ultrapassar
14
Vri V À T fCrauschc - " A projeção dc uma pol
ítica, acriu por revoÍ LKianã na ,
sobre fi lazer art ístico, acari por reproduzir a ideologia da milit â . Certas pas-
pré-fabricados e os papé is tradicionais
* da dasse domirunic ' ( Kraus ncia
crie , 1982 : 3).
*’*
Remetemos aos volumes publicados sob o patrocínio da sagens das peças teatrais dc Oduvaldo Vianna
Filho ( Vianinha )
tema do "nacional e do popular FUNARTE cm torno do
em panii.
Alves :1c Lima Tiatro . e de Mana Rii Ga I vãouJar os dr Jos* ArrabaJ < Mariángcla
> e Jean-Oaude Beinadet , Ctn&ma W diversas riorç Oes foram extraídas da m«ma fwie
, pigina H 2

BSCSH / U F K Q S
ir>o

podem ser interpretadas 161


nea Violão da rua pretendiam nesse sentido . Os poemas
-
*

da coletâ
4

__

dogmatismo dos slogans' ", segundo Moacyr Félix, evitar 0 noso pfaricisroo nos conduziu a equí vocos no into c no leUcionamtato com
mas ideológicos" ( H. B. c a aplicação mecâ o os intelccruu- Ls [ ,..|. Um dos graves preconceitos que têm livre curco nj wilder - ,
dc nica dos esqiie- nulidade [ ... i t aquele de acordo com o quai somente os inietanuats podem
* imagem do povo", inspirada Holianda , 1981: 146). É certo
Porém os membros do pelo 1SF.B rra que opinar sobre problemas da cultura ( Malina, l %\: 40-42 ) .
CPC . em suas
,
ompresente
ouvir pelas
classes dificuldades de sc fazerem Negligê ncia deplorá vel . De que trata a questão cultural ?
que se tratava de populares concretas, perceberam por Sempre se soube , e mais ainda a paxtir de 1925: da quest ão
uma imagem vazia . vezes
partido est á no poder Entre Lu ís Carlos Prestes,
que dizia "o nacional . Assim , os artistas do CPC podiam ter
da afirma çã o
que incitavam os ", c os
pedagogos do CPC a sensa de que detinham a responsabilidade sobre o princi -
dição de cidadãos ,camponeses
çã o
c operários a
a distâ ncia é assumirem sua con - pal objetivo polí tico . Em muitos aspectos , sã o eles os herdeiros
ú ltimos se v
ê, .sem d ú vida a considerável. Na atitude destes dos pensadores de 1925 Fazendo -sc propagandistas da "cul-
,
per íodo revolucioná convicçã
rio. Mas transpareceo dc estar vivendo uni tura popular revolucionária \ quiseram ir contra as posições eli-
,

os predecessores russos
tar seus atos às dos anos 1870, umatambém, como entre tistas da gera çã o precedente . Porem , querendo ou n ão, herda -
suas vontade dc "
os intelectuais já palavras ( Haupt , 1978: 245), e de adap ram muitos de seus preconceitos e de seus objetivos . O desd ém
"

ao contrá rio dos estabelecidos, Contudo, frisemos outra


depor que demonstram em relação à " arte do povo" , considerada
para .se sentirem populistas russos, n ão rinham razão vez: pré-poliliea , n ão deixa de lembrar o antigo desprezo aristocr á -
.
alienados
Estavam, à sua maneira, cmdentro dc sua própria alguma tico diante da ignorâ ncia do povo . Ainda n ão chegara a hora
vista com o
nacionalismo
plena comunhão
de
sociedade
pontos de
. em que seria -
de bom tom apresentar esta mesma arte como
no Estado. Também implantado na sociedade prova da identidade política pró pria das classes populares. À
polí
expressão dos avanços essa vanguarda nada mais foi quetica c

——
aspira ção a uma cultura nacional , livre do dom ínio das ideias
pela "revela ção " desse campo. Visivelmente uma importadas continua sendo intensa , Ferreira Gullar retoma as
ção no aparelho cubana cujos ecos provocavam sensibilizada palavras de 1930 , quando argumenta que " o caráter nacional
comunista muita -
lectuais argentinos, i tenta ela não sucumbiu , como osagita


da obra de arte [ , , , ] é menos um objetivo a ser alcan çado do
inte
- -


na mesma via. ção de engajar se que condiçã o prévia de seu surgimento " ( Gullar , 1969: 82 ) , e
Inserida no conjunto í mcdíatameme
.salvo alguns do campo também quando pede que haja uma apreciação cr ítica das
fiel à visão de umacleos estudantis ainda isolados „nacionalista

influências exteriores, apreciação que seja "fundada na visão
mesmo que tivesse tamb revolução que continuou
converteria a nação inteira , objetiva de nossa realidade ' (Gullar , 1980: 84 ) . Como se vê,
7

ém de utilizar
dispositivos de poder " em sua etapa final, reaparece o tema da " realidade nacional " ou , mais preem -
1

talvez. Em suma, um que controlava. Volumarismo e ilusãos, inence , o da " tomada de consciência da realidade brasileira ".
vanguardismo singularmcmc o
Os militantes do CPC nuan çado . Desse modo , a cultura continua associada ao duplo projeto de
encarregavam-se , enfim , da
ção em seu aspecto
cultural
tinham liberdade de ação Também desse ponto de vista,
.

em relação ao
revolu - construir , sobre a base das especificidades brasileiras , um povo
e uma nação . Porem os membros do CPC também pretendem
comentários coincidem
iã o se
em um ponto: nessaPartido
preocupava com a questão
. Todos os
época, o Partido
romper com os pressupostos culturais de 1930: a noção de "cul
tura popular" se contrapõe , ao mesmo tempo, à de cultura eli-
-
dos intelectuais. Um cultural, nem com a questã o tista e à de " cará ter nacional" com a qual os intelectuais de
Malina, constata essa falha membro do Comité
: Central, Salom ão 1930 queriam revelar a unidade pre - política do social . Ferreira
Gullar recusa qualquer " toler â ncia ingénua em rela ção aos pre -
Oanfoijnc
conceitos de ra ça , nacionalidade , mdicionalismos discretos ou
Brrijnck ( 1984 qualquer outra forma de chauvinismo" ( ibid . : 85 }. Ele retoma
'
105 Ç 5Ç£s I
a definiçã o de Carlos Estevam Martins : "Cultura popular é ,

. -
162

portanto , atues de mais nada , consciência revolucionária " (


84 ). Essa concepçã o , naturalmente est á em ,
ibid.:
conformidade com
r- Cividadc . corri o pape ! que desempenha nas conexões causais
nos (ibid . : 133 )
critic OS
163

Itn ò rnc

I
o senso comum nacionalista , pela important ia que confere à
o cio indivíduo na nação:
ideologia c à consticntização ” . A ruptura com as ideias dc A "salvação reside na rrmset çã
'

*

1930 n ão reside na politização ” da cultura e tampouco na a arte popular n ão passa da


ambição de “ intensificar em cada”
atribuição a esta de um papel preponderante deruro do nacto de pertencimento ao todo social
indiv íduo a "sua consciência campon ês só podem acabar cami -
nalismo.
-
I (ibid .: 143 ) O arrista e
o

^
' ’.
juntos : s2o apenas os componentes do povo
Entretanto, a ” rralidade ' n ão era mats a mesma r nem a
autonomia ” da cultura . Em 1930 , a “ realidade ” c a de um
uhando
Entende -se , qur os diversos artistas tinham que conver l
assim ,
considerar que o CPC
-
ser brasileiro ” fixado de uma vez por todas: em 1960. ê gir no ponto essencial: alguns podiam
dos determinismos económicos subjacentes ã ' "superestruturaa eraI v ítima de seu didatismo , muitos podiam
defender a neccs -
cultural ” . O “ anreprojero ” ê explícito nesse ponto: o artista
do CPC sabe que ‘ toda e qualquer manifestação cultural

sidade dc manter
internacionais , mas
se uma-
raros
abertura
os que
para
duvidaram
as tend
de
ê ncias art ísticas
que deviam par-
pode scr adequadamente compreendida sob a luz de ticipar da elaboração dc uma cultura marcada pelo timbre da
suas rela - constitutiva da imagem que a socie -
ções com a base material sobre a qual se erigem os “ realidade brasileira . e
"

processos . experi ê ncias formais que


culturais da superestrutura ” (S . B. de Holanda . 1981). Com dade brasileira dava de si mesma As
, quer
toram uma exce çã o
mais flexibilidade , Ferreira Gullar menciona as “ profundas í
ra - precederam a aventura do CPC n à o
se trate do concretismo ou da poesia - práxis . O l íder desta
zes sociais da arre ” (Gullar , 1969: 84). Em 1930, a “ última
mia ” c a constru ção de uma cultura
que justifica a
autono - corrente , Mario Chamic , explica suas pesquisas por meio dc
social; ern I 960 , c a construção de urna sociedade livre eordem
. •
uma constataçao _ _
lo id ê ntica à do CPC: o indiv í duo deve apagar
i

-
lienada , aderindo ao projeto nacional. Tanto em um caso como desa -
se por trás da sociedade ou dentro dela
no outro , a cultura divide com a esfera pol í tica o privilé
gio de Os grupos se socializam os povos >c socializam : a lustôna caminha para um
-
vincular se ao “ real ” t\ ao mesmo tempo , construir esse real
. coletivismo total. Nessa colctivização, o indiv íduo , como ra!r conta cada vez
Essas modificações n ã o foram grandes a ponto dc abolir
o que estava em jogo na cultura de menos c enquanto iotfgrimc de uma sociedade conta cada vtz mais {citado
,

1930: o
de uma comunidade nacional que resistisse a reconhecimento porS B. dc Holanda. 1981: 43).
sos de individualização. O popular ” era també m o
'
todos os proccs
que criava
- Por diversos desvios , estabelece -se a convergência a fim
obstáculos ao individualismo. Isto vale para o artista de fazer da arte a testemunha ou o protagonista da coesão do
n ário que abandona as del ícias do subjetivismo revolucio -
para rnosTrar todo social . A cultura não se politiza; é um dos modos de ins -
ao p ú blico o que a sua condição coletiva é capaz de
criar . O tituição do político. E , reciprocamente , a política não comanda.
" anteprojeto ”
indica: a cultura : em certos aspectos, ela c fundadora de uma cultura
Cultura que n ão pertence a uma vanguarda

' ” esclarecida
Em lu £ ar do homem bolado em sua individualidade c perdido
— a menos que . com essa denominação , se queira fazer refer -
para sempre ên
nos intrincados meandros da intiospecção, nossa arte deve levar ao
íiudo humano do petróleo c do aço, dos partidos políticos c povo o sigr.i - cia à impotência do CPC para aungir de fato as classes popula -
de disse , dos índices dc produção e dos mecanismos das associações
financeiros ($. B. dc res , excluindo se os encontros fugazes. Nesse caso. porém , trata
- -
Holanda . 1981: 132 ). se de algo bem diverso do isolamento de um n úcleo de intelec-
tuais que pretende impor suas teorias sem respeitar
a organiza -
Isto vale para o homem do povo . que não c sen ão a . mais geral : a dis-
ção social onde está situado:
po si - ção daqueles a quem se dirige . O problema c
tancia entre as camadas intelectualizadas c os setores populares .
Quando o homem ò povo pergunta à nossa airr '0 que smP ' um publico consider á vel
Com efeito , o CPC tinha acesso a
ponder - lhe , em primeiro lugar com a posição que de . dcvemcw res
ocupa no mapa da obie
*

— o dos estudantes c da nova geração dc intelectuais mas —


164 165

que n ão era aquele que ele pretendia atingir . Seus temas c mesmos, ao se enxergarem no espelho que
artistas entre eles estudantes

suas atividades estavam cm plena harmonia com as preocupa-
lhes estendiam os
. Todos juntos, exaltavam o triunfo
ções dessa juventude , com pouco espa ço nas universidades lugar , consciê ncia
é , cm primeiro
da ideologia e a ideologiacoletiva . Nem poderia ser de outra

,
que em geral sc mantinham longe da mobiliza ção nacionalista
, impedida , por sua origem social e seu modo dc da sua própria identidade í , a ‘ cultura popular nao era '

vida , de o in cio
maneira , pois , desdecultura
qualquer contato com as classes populares, mas decidida a se pró , desalienada . revolucion ária , livre
sen ã o a sua pria
transformar cm ator pol ítico. Nascido sob os auspícios do ISEB sobre as classes populares.
c da UNE, o CPC propaga as ideias do primeiro junto a um desse determinismo social que pesa gio seu , pois nada entrava a
A consciência soberana é privil
é
p ú blico cuja polit ízação c simbolizada pelo segundo. Mesmo só vez , até à Nação. O
quando se refere à “ cultura popular ” , muitas vezes é apenas sua possibilidade de elevar -se , de festa da ideologia. O CPC c
uma
a este p ú blico que o CPC se dirige , e sã o os seus problemas didatismo foi sua participação na , melhor ainda do que a
que ele assume . Sen ão , dc que outra forma explicar a maneira seu p ú blico podiam experimentar Mannheim , o prazer da
Socially Unattached intelligentsia de
como Ferreí ra Gullar apresentou essa cultura popular ” ? Escreve
autodeterminação: uma vez que osequer “ povo ” era toda a nação ,
ele: a necessidade de esco
salvo as forças arcaicas, n ão tinham ” ; bastava - lhes optar pelo -
Cultura popular c compreender que as dificuldades por que passa a ind ústria lher entre as classes fundamentais
do livro (.. . ) sàofrutos da deficiência do ensino c da cultura progresso c pelo nacionalismo. Tampouco tinham obrigação
Cultura popu - pr ó pria origem social : a
lar é compreendei que não se pode realizar enema no Brasil ( .. ) sem travar de questionar as 'consequ ê ncias da sua
“ conscien ú zação apaga tudo . Comprccnde-
.
uma Juta contra 05 grupos que dominam 0 mercado cinematográfico brasileiro se assim por que
deplorando seu descuido
(Gullar , 1980: 84 ) . os antigos militantes do CPC , embora
em rela ção aos valores estéticos , relembram sua açã o como uma
Simultaneamente , o CPC faz urn uabalho de vulgarização simplesmente expri -
obra coletiva c livremenre improvisada :
dos esquemas revolucion á rios para uso... dos estudantes. A
quest ão era justamente a vulgariza ção dentro dessa “
miam o sentimento de coletividade e de
liberdade das catcgo -
dade popular ” , cuja criação Carlos Estcvam Martins relata neste- nas sociais que os aplaudiam
universi

trecho:
O que nós tucraos foi procurar os economistas, os sociólogos , 05 historiadores 4 marcha para o povo:
,

etc. , que eram considerados os melhores, os


mats competentes que existiam
na esfera de influência católica
naquela época no Rio, c pedimos a eies que fizessem 0 programa do curso
Os Cadernos do Povo e o CPC n ão foram as únicas mam -
e
redigissem a primeira aula dc cada marerta ( ... ). Depois então pegamos aque
- campanhas
les textos e os reescrevemos para colocar aquelas ideias c informações
numa lin- festações do desejo de ir ao encontro do po%ro: as ç aram
guagem popular (C E. Martins , 1980: 82). de alfabetiza ção também se voltavam para ele . Alcan
Culrura Popular ( MCP ).
A “ cultura popular foi essa aculturação pol ítica do imensa repercussã o o Movimento de
incentivado sobretudo por Paulo freire c implantado primeiro
mundo estudantil , essa cumplicidade adquirida por antecipa
ção entre 0 artista e seu p ú blico. Isto não significa que a - em Recife c depois em muitos outros Estados; c o Movimento.
gem pelo “ povo ” fosse uma simples farsa . Essa
passa - Igreja
de Educação de Base ( MEB ), lançado em grande escala pela menos
passagem foi É verdade que desses movimentos participaram
a condição , quase iniciatória , para que as camadas
zadas se apropriassem da substancia do “ povo” e pudessem- intelectuais dc renome . Além dc seus inspiradores, c dc pouco
intelectuali certos
escritores c artistas - o MCP també m
desenvolveu com
assim reivindicar seu lugar de pleno
direito na constelação das
torças nacionalistas. O paradoxo, aliás falso , foi que a “ marcha
sucesso , atividades teatrais —
foram sobretudo universit á rios c
estudantes que se associaram a eles . Conhece- . por exemplo
se ,
para o povo ” desembocou sobretudo num cara a vel dirigente , domi -
cara desses a origem dos participantes do MF.B : no n í
1
167

166 mats arnbi -


.
.

fundado n
cm '/ o o impedia ck
nam as duas categorias anteriores ; no conjunto , 40 % provêm O programa

“ *“* * , Igreja I*° °â faiam cm suas £
das classes medias c . ao lado destas , cm posições intermedi á -
rtprumr tamb á'- e 1
£
devido aosém!>cu*da P Jos leigos "que» vsC, otnaI.se sujeito
biUtar ao Pém° pdo qual
t

^
rias , uma porcentagem n ão negligentravel dc monitores dc ori - -

^^HSoa ^^
forneceu tamb

^
vont de 6liea ° pt
f, lcitas - a
^nldoUofm
gem operá ria ou camponesa ; muitos vinham da Juventude Cató -

-
. *
cat

- - iss? ,11 Sou


da
emos 1 960 de i .

^
lica ou da A ção Católica 3 * . da ^
Três raz ões nos levam a fazer referência a esses movimen -
" 5
C TU
]UC
sStf
tos . Primeiro . ínseriam -se no esforç o de “ consciemizaçáo" r Liiram o da


o
com frequência rinham um objetivo pol í tico . Depois , manifes - pot ocasiã
tam a contribuição dos cató licos no debate sobre a “ cultura ’
MCP
operária e o “ povo ” , isto é , na definição do plano pol í tico . da *°°n0 . 19 ^ |- ini^dores
do
.

( Wanderlcy
"
"-
das revoluçõ es rda ?
$ i
'

Por fim encontraram forte eco no mundo estudantil ; foi em '


Em qu* medida
,
a sua
1962 que se fundou a AP (Ação Popular ) , ano cm que ela tam - mgucmaas p

'isSas»»»-
cm

=-~rars.“S Í-£- -J K
e do WEB sc dss d
bém conquistou a presidê ncia da UNE . Pot esses três motivos,
^
o t- aso
uudutede ““ ,
bwUl " , -aUes Matitam
Di«« V

csst
contribu íram paca o clima intelectual da é poca . Tomemos „ .

O MCP de Paulo Freire e Germano Coelho foi criado em


I 960 com o apoio de Miguel Arraes , ent ão prefeito dc Recife »
c logo depois governador de Pernambuco . Financiado pelo ”
poder local . 0 MCP participa diretamente , em articulaçã o com r°m
Paiva . 1980 e *« ’ * |
aUlCn»ciidade
> r
do
( V . 50 bremdo
a Frente de Recite , no projeto de transforma ção pol í tico- social
.
Pretendia tambem F ’ in5erir-se

Fau ^
1

^
liderado por Arraes No pref ácio do famoso Livro de leitura me « o ptocesso
, dandodhc o con -
.

para adultos , redigido sob inspiração de Paulo Freire , Germano homem É


idadc com t
social
ÉQt
orgame
emn fdarão gde
o

^
ni í açã dlstingUe
Pararam
'
Coelho , um dos teóricos do MCP , o apresenta . corno resposta
educativo que se ponb
1 i

) Jesde a
do prefcico Miguel Arraes dos vereadores , dos intelectuais ,
,

dos estudantes c do povo do Recife ao desafio da miséria * ( Bei - texto da J


sociedade (
mveu
>

dc conscimLli qu centrahaai,ao
^
de ctalivaS
^
uma hierarquia
5icgcl , 1982 : 126 ) Sabc - se que o método de alfabetização de . ond
“ consci ência intransitiva de form»s ^
,
tem
Paulo Freire é insepará vel da pedagogia de “ tomada de consci -
ê ncia das condições sócio- polí ticas A primeira li ção do Livro dos interesses do ^
nSjtiva *
. E ; prlI eira
4- P' „ aber -
* , ate a consaenc*
/*//
"

^
c a consci -

^
.

de vida '
ingé nua
” , quC "
de leitura apresenta a frase : “ O voto é do povo " ; a liçã o 53
dois est á : a
consf . .
jf e a histone
• »
mç m dc suas
’ impUca « *&2W
gios
ensina : O progresso de uma cidade resulta do programa cum -
,

( M d - «V
1
,

prido pela Prefeitura Municipal ( . ) O prest í gio de um prefeito


..
«“ Para * . “ ’“""''
a *
junto ao povo c uma prova de seu esforço em beneficio do
limitações c m ta que .
Paulo freire adere ao evolucionismo
l961 mostra

^
municí pio * . Diz a lição 68: “ E preciso que se forme , no Bra-

^
1

. gdentro da relato ej«


Um a s
sil , uma ampla frente , congregando todos que trabalham para

^ ^
neamente ao voluntartsmo
suprimir as causas da miséria do povo brasileiro O sofrimento
do nosso povo c apenas urna consequê ncia As causas que geram nessa época a “ conscient .***
,

,
P
J Ao senudo
1 aU ;
-
. .

esses soirimentos são mats proiundas Só podem ser eliminadas massas, onde as primeiras Escreve ‘
na0.alicnadas
com planificação e reformas dc base ” . Como se v ê . essas liases
est ão em relação direta com a atualidade pol ítica , A alfabetiza -
çã o deve abrir caminho para uma cidadania ativa .

Segundo uma pc^quiia ; lr f rir Kjds .


realizada cm 106< ; C-iiado por VI andrrlc;. 1982
com as maiorias popuUro
169
168
_ ária e democracia
política era
ia
democraciacomunit depois .
1982 : 113-14 ) . Vem daí , como ocorreu com o 1SEB , a acusa ção ç jo entre vel do que tornaria mesma direção . De
se
sens
muito menos
í na
de “ autoritarismo populista ” que lhe fizeram certos críticos do MHB caminham mampu -
dos anos 80 As reflexões uma certa desconfiança para com a
Há, porem , outros aspectos nos escritos de Paulo Freire fato, comportavam da noção de “ povo” , ao
mesmo tempo
que permitem perceber , desde essa é poca , uma outra pcrcep- lação indiscriminada , e se recusavam
a considerar que as
ção do “ popular ” . Primeiro , a insistê ncia na democrauza ç ao como todoçõeescomo
parte
popular” fossem por tra si mesmas “ su-
organiza de cultura ” . Elas çam uma dis-
imediata das relações sociais e não apenas uma referencia a "
cultura aut ê ntica do povo
jeitos de umacultura e política , sendo a cultura o que
atinge
uma democracia política que seria o subproduto natural do
” , e o que
»

têm de mais radical


á

desenvolvimento. A educação , afirma ele , deve ensinar "a tinção entre que
pessoa no que
história” , admitindo contudo
governar -se , pela inger ê ncia nos seus destinos" , c conduzir . a sociedade
ea
o sujeito da
pelo dialogo entre educador e educando , a que este seja levado faz do homem de libertação cultural ” implica necessariamente
todo “ projeto a tarefa de mostrar
íam aos educadores
' a constantes revisões , â an álise cr ítica de seus achados , a uma
Atribu , com
cena rebeldia " ( Freire . 1959: 33 ) . Ou , ainda , deve trazer a a açã o pol ítica
devem se-
comunicar como iguais uns
convic ção" de que o educando participa das mudan ças de que todos os reconhecem e se intcrmflucnciam , sendo
homens
sua sociedade. Convicção essa indispens á vel ao desenvolvimento os valores qur
se
, na verdade , bastante
confu -


* Textos
necessários aos outros
J

movi -
as tensões internas ao
da democracia , sobretudo num contexto caracterizado pelo fato
de que , no Brasil , a democracia estava * * em aprendizado" . NOS , através
dos quais se adivinham
sugerem també m por seu apelo" das massas
ao igualita -


mas que
*
marcada pelos descompassos nascidos de nossa inexperiência mento ; da personalidade da cocxistên-
i

de autogoverno" ( ibid .: 65 ) . Em seguida , a ê nfase recai sobre ristrio e pelo reconhecimento


vis ão mais complexa do que a
a esfera comunit á ria " , a comunicação dentro do contexto populares uma turba encerrada na ignorância
esclarecidas e a
local , condição para que a " autoridade não seja percebida cia entre as elites sua não história . -
de si mesma e na no mundo estudan -
como externa , mas que fosse interiorizada » o que c " indispen - contrapartida , a penetração da AP
sável aos regimes democrá ticos de vida " ( ibid .: 69 ). V ê-sc tam - Em mteiramente diversa . Sem d ú vida ,
til se situa numa perspectiva católico:
bém a desconfiança para com tudo que provém do assiste nua -
provinham , no in ício , do movimento
lisrno ". Tudo isto , que convida a um " aprendizado existencial seus membros
JUC . Os padres contribuíram considera --


na em parti
da democracia " ( citado por Beisicgel , 1982: 103 ) » n ão entra muitos se formaram formula ções doutrinárias,
velmente para as primeiras Cardonnel
rias categorias isebianas . Muito pelo contr ário , é o esboço do
Vaz e o padre francês Thomasonde , por pressão
que seria em grande parte retomado , no in ício dos anos 70 , cular Henrique Limaólica do Rio (PUC)
pelos setores católicos das "comunidades de base * e pelo pr ò- »
A Universidade Cat Henrique Lima Vaz foi convidado
a lecionar

—dos estudantes , Gerais forneceram a


prio Paulo Freire em sua Pedagogia da libertação : uma demo- Universidade de Minas
e sobretudo a seus quadros ini
cracia igualit á ria comunit ária , vinda dc baixo , produzida a dc seus dirigentes e de
partir das rela ções e dos problemas cotidianosO fato de que AP uma grande pane se associaram aos encontros preparató-
seja concebida sob o signo da "sociedade orgâ nica " , e que ciais . Observemos que estudantes que tniciariam o curso de
dela possa surgir uma d ú vida sobre seus elos com as institui- rios realizados em I 960 de Minas Gerais e sc encontrariam
ções democrá ticas , deve- se muito mais à impregna çã o cat ó lica sociologia na Universidade de pesquisas de sociologia e
no IUPERJ o centro Cintra ,
- mats tarde : Antó nio Ociávio
,
do que aos mitos da fusão povo nação . Mas cm 1961 , a disjun - de janeiro
( ver Beozzo, 1984 ).
ciências polí ticasis do Rio
César Guimar ã es , Simon Schwartzman
foi lançado o primeiro
manifesto .
Também em Belo Horizonte
primeira
-
Vinildi Pereira Paiva, que dtesucou o “ autoritansmu " isebiano de Paulo Freire na
ta e c o reirirruncu por *ua “ deíc.s> da democracia burguesa ‘ reconheceu
também sua* ' posições rendennalmerce iuiogcstionínuM ( conforme a conclusão
da obr* nudal. Gtações obtida * nos do» * do MEB
tetf < que na cokiâflea de 0* tomW
I " II
171

em julho de 1961: * * IN os os cristãos, e o


mundo ” . Conquis- operário continua fora do seu alcance —e 5 ua
o dc mas-
*
tando a presidê ncia da UNE 0 movimento
a partir desse mesmo
oficiaimcnte constitu ída em 1962 . atravessaria um ranoT a AP. no MEB não farão dela uma “ organizaãçãrevolu
participa contraste
ção ção.
cesso dc radicalização. Com isso n ão sc
apagou o
á pido pro - sa ” . Em
, manteria sua palavra quanto
, optou por transformar numa vanguarda
Após o golpe de 1964
cat ólico, mas passou a combinar seu caráter
-se com uma ampla adoçã entre as seduções do “ foquismo
temá tica marxista c com
uma opção revolucionária que n ãdao
o dc linha dura , pressionada , decidindo-
sublevação das massas à chinesa,
Linha mais nada em comum com
Comunista . Esse smetetismo
si
os esquemas do Partido X cubana c as da
<

se maioritariamente a favor
desta última em 1968 por sua ade
ído cm
-
B ( Partido Comunista do Brasil constitu çando
, novo na é poca , vai dar ,
confusa , como aresta o “ Manifesto de-
riza ção singularmcntc numa teo sio ao PC do lan -
uma dissensão do PCB ) , c
base da AP Suas ressonâncias crist s

ãs ão evidentes. Come- 1962 em consequê ncia dc
ç am por uma afirmação dc princ
ípios: Nosso compromisso se cm seguida à luta armada católico permitem
Essas rá pidas alusões ao movimento
L i

único é , pois , com o homem * ’ , e o dc que


prossegue com a adoção do parte , difundira-se a convic çã
conceito dc 'consciência hist ó
rica " elaborado por Henrique constatar que . em todaestava num processo de reviravolta c que
Lima Vazt noção que , remetendo a sociedade brasileira
história e ao seu ser histórico ” , seà vinculaçâo do homem ã o dever dos intelectuais,
grandes ou pequenos , era contribuir
" o povo . Elas evidenciam
materialismo quanto o idealismo destinava a evitar tanto o à sua maneira , “conscientizando do mundo estudantil que
Supera J concepção materialista da historia, que
també m a efervescê ncia particular
consciência ptb ^ ua sujeição aoí determinismos do não escapa ã cobifkaçào da
mencionamos mais atrás . es . Provam que a
Mas elas també m têm outras implica çõ vias dc se f ragmen -
cepçSc idealist » que atraiçoa as responsabilidades mundo Não incide na tom em
unidade da esquerda intelectual estava
*

pan o abstraro. histories commas pch fuga n ão


Às elites intelectuais tradicionais
conseguiam mais

Não menos numerosos os seus empr é


í ao
tar
impor tao facilmente a sua lei a uma juventude estudantil
impa
alguns
-
, que durante
ciente . O nacionabdescnvolvimenusmo
xismo, conduzindo a uma stimos ao mar -
longa descrição dos mecanismos dc um ço de união , começa a se
exploração capitalista . Mas a sua rupiura anos havia funcionado como tra
” procurava em vão
nista não foi menos manifesta . A den com o Partido Comu - dissolver. O lema das “ reformas de base
por si só uma den ú ncia de todas ú ncia do capitalismo era , revolu ção burguesa; visava tam -
as burguesias , nacionais ou situar-sc ainda no horizonte da á ter do Estado. A dist ância
bé m a uma alteração pol í tica no car
T

n ão . De resto, o manifesto “ reformista ” sig -


proclama “ a falência da chamada
í ura nacionalista e a impossibilidade
dc levar á s massas uma luia que a AP tomou em relação ao nacionalismo tudo que se assemelhasse
que n ão esteja diretamente
vinculada ã sua situação dc classe ” . nifica um abandono mais radical de que o primeiro 1SEB e o
Denuncia também as ilusões ao dcsenvolvimentismo. E verdade ” a qualidade de ser a
que a ampliação do papel do encontradas entre os que julgavam primeiro CPC atribuíram ao povodc estarem habilitados a

Estado seria , por si só. uma
ção da lógica capitalista
: é simplesmente ” o Estado que altera - Nação, mas continuavam convictos . E poss ível e at é prová -
capitalista ’ . Propõe , portanto , urna sc torna dar forma a um povo sempre informe
militantes, inclusive os do

unira sa ída , a revolução:


vel que a maioria dos intelectuais :
A AP opta assim , basicamente , por assim persuadidos após 1962
uma política dc preparação revolucionária movimento católico, continuassem
vanguarda o atesta . Dc lorma
a rá pida metamorfose da AP em
I ..) Ela sc propoc tarda de elaborar com
* o povo. na base da coiuimiição
deste . 2 nova sociedade o , relativa à democratiza -
difusa e incerta , se delineia outra versã
A A P não cumpriria suas promessas ção do próprio tecido social e ,
mais timidamente ainda a uma ,

çá o do povo ” ; seus quanto à “contribui


contatos com o movimento campon - transformação que n ão consistiria apenas na ampliação dessa
Tourainr sc refere num
ês cidadania social e outorgada , a que

.
11

U irx M
.
completo do Star ft«rn e
* encontra em 5. dc Lima ( 1979 : 115 - 441 .
rvoluçio da AP. > cr Luna c Arantr * 1984
,
Sobre y
172 173

desde 1930. Este


representações do plano político elaboradas
artigo escrito nessa época ( Touraine , 1961), mas na conquista ,
a partir da base , de uma cidadania insepar á vel de urna reivin - de reflexão onde se percebe
dicação igualitária ou , talvez , de modo mais fato també m ativava um trabalho
uma cidadania insepar á vel de uma reivindicaçãorudimentart de uma outra concepção do pol ítico
de imer reco-
nhecimento. A linguagem católica soa um tanto arcaica ao pro -
por "a exigência da comunicação das consciê ncias -
, do encon - Sio Paulo e Rio de Janeiro
tro dos homens numa dimensã o
propriamente humana " ,3. 1

Entretanto, ela designa algo importante: a "similitude o desdém que , na época , os intelectuais
os homens. Assim fazendo, ela questiona mais
" entre
J ã mencionamos
com frequência nutriam uns contra os outros
,
são de classes: a concepção hierárquica
do que a divi - cariocas e paulistas entusiasmo em associar -
inconsciente
side , mesmo entre os intelectuais , a interpreta que pre - A elite intelectual paulista não sentia
ção do atraso se â criaçãoideológica dos isebianos ou à pregação da“ vulgata
no Brasil .
Ao contrario do desdém manifestado pelo marxista , e menos ainda em lan çar -se na avenrura da marcha
pelos cariocas de com -
çà o â "arte do povo", essas
CPC em rela para o povo". Isto lhe valeu ser acusada. No cap ítulo seguinte ,
prazer-se num isolamento esplê ndido
*

correntes cat ólicas sc preocupam


com as formas dc vida dos menos favorecidos. ent ão que provavel -
Na pratica do retornaremos a este debate. Constataremos o nítidas como acre-
-
MCP c do MEB abriu se espaço, dentro do
ã voz popular . Em um artigo publicado na trabalho educativo , mente as divergências pol íticas não foram
se devem cm

boa pane ao contexto
Revista
Brasileira em 1965 , Sebastião Uchoa Leite observa a Civiliza ção ditaram esses dois lados , e duas cidades: no
oposição referencia
institucional que lhes servia de o ISEB , criadas nas
entre as duas abordagens, condenando para tarefas
tado com uma ação de " propaganda" que
o CPC por ter se conten - - Rio de Janeiro , instituições como
universidade impondo seus crité-
gar que haja nos produtores dessa arte [ a 'arteresultava rm " ne imediatas; em São Paulo , uma , queremos somente
M sibilidade de uma abertura para uma consciência popular ], a pos- '
rios de classificação e cieniiíicidade . Por ora
m se relacionam às experiências
própria situação" , c em lhes interditar o maior de sua mdicar que as diferenças tamb é
Rio, a recupera -
Em contraste, elogia Paulo Freire , que oferecia à direito à opinião . políticas anteriores e ao ambiente político: no e a multiplica -
nacionalismo
betizava a possibilidade de se tornarem "sujeitos queles que alfa - ção do gctulismo como matriz do
, a desconfian ça cm rela -
4
social " (citado por Fã vero , 1983: 247 70). Essa da ação ção das greves políticas; em São Paulo
i w
pode parecer banal; contudo, ela se choca
com
- observação
a "ideologia
çao ao legado do Estado Novo e a confus
sas" que servem de suporte a sucessivas vagas
ão diante das " mas -
populistas.
da cultura brasileira , pois rejeita a rdéia de
"
intelectuais dc Sã o Paulo viviam
seja da pol ítica , ou
~ ~ inscrita no
uma cultura ú nica , Com efeito , numerosos á vida pol ítica
cará ter brasileiro. no desencanto ou na d ú vida . Sentiam - se alheios
Mais uma vez , so se trata de uma revisão superficial . Assistem
disso , não é necessariamente valorativa É poss . Além local , desconcertados com as peripécias nacionais
de Adhemar de Barrosr antigo
fosse, sobretudo, fruto de uma deccpção: sc era ível supor que Lmpotentcs à expansã o do poder PSP , que
preciso reco- interventor do Estado Novo , chefe
de um partido , o
nhcccr que os setores populares existiam por si mesmos recorrendo à demagogia
que pouquíssimas vezes estavam presentes ao , é por - foi sobretudo uma maquina eleitoral ,
(Sampaio , 1982;
qual os convocam os intelectuais , a começar encontro para o para seduzir as classes m édias e populares figura nacional
pela - Dcbert , 1979), mas incapaz de se impor como qualquer parti
mental " , os operários, que
"classe funda
sistematicamente se ausentavam Daí a dupla amargura de serem descartados dc, seu Estado con -
-
ou então se deixavam manipular pelos vez
importa : ao sc esquivar , o " povo" n ão só demagogos. Pouco cipação pol í tica direta e dc ver , mais uma na Federa çã o .
denado a um papel político de segundo plano
os esquemas nacionalistas , mas ameaçava colocava em xeque Quadros , pre-
também todas as Assistiram també m à irresist ível ascensão de Jâ nio do Estado no
35 Expressões que figuram no “ Manifesto feito dc São Paulo eleito em 1953 , e governador , ames de triun -
dc basr r da AP í S dc Lima . 1979: 132 ).
'

ano seguinte , derrotando Adhemar de Barros


175
174
mal equacionada
Duarte , a pariida parcaa
conseguia livrar -se de
lar na elei çã o presidential dc I 960 , contra a alian ça nacionalista 1962c: 408). .Para
De um lado , o Brasil nãoarcaísmo autoritário, e
formada em torno do marechal Lott . N ão tinham motivo algum nesse aspecto
não passava de urn
para confiar num homem solitá rio , movido pela ideia de seu um gerulismo que s ubprodutos . Em 1962 . a Anhembi traça um;
destino messiâ nico , brandindo uma vassoura para simbolizar dc todos os seus .
da Federação c do Estado
melancólico ' da situa ção
panorama entregue ao getulismo, que politicamente c idcolo-
'

sua vontade de acabar com a corrupção; apresentando-se como 14

anma dos partidos , mas oscilando entre o quesuonamento do 14


Q brasil , , entregue São Paulo
ao adernarismo
sindicalismo gctulista e as alianças com setores pol íticos getulis- gicamcnte nada significa c politicamente tamb é m nada significa"
ras; levado á presid ê ncia pela UDN , mas sc enredando t ão rapi - que ideologicamente , o Brasil st compraz
num naciona -
lado
damente ern contradições que sua ren úncia , ao fim de alguns ( ibid .: 521 ). Por outro
am o cinismo dc grupos pouco mdinados a
Usino onde conflu
í , que sc deixam
e a cegueira das massasrebate Duarte:
meses , tomou o aspecto de uma tragicom édia , No plano local ,
assistiam também aos contoraonismos dos comunistas , priva - as liberdades
defender que mais lhe prometem , A isso
dos do brilho teórico de seus companheiros cariocas , c que , seduzir pelos sc procla -
em duas ocasi ões , 1947 e 1958 , encontraram uma maneira de os da esquerda autêntica com jquelcv que
confundem homens c
se associarem a Adhemar dc Barros. Enfim , constatam a fragili - Não st
nacionalistas e fazem monopólio do patriotismo, porques onacionalismo í
mam incompat
egoísmo de grupo, não apenas que só pode ser
ã veis
dade c mediocridade da vertente trabalhista do getulismo na patriotismo, por significarem
capital industrial do Brasil . A evolu ção riacionai lhes desperta também revelam um anacronismo demago-
com o socialismo. senão incultas suscttrvtts de mroxicarse pda baixa
ainda menos entusiasmo . As humilhações dc 1932 e 1937 ainda lesado i s étio por massas ,

permanecem muito vivas para que n ão percebam no Get ú lio gia (ibid . l %2 b: 67 )
Vargas de 1950 a continuação do Geailio Vargas de 1930; no
1954 . o fen ó meno ademarista provoca uma
A partir de publicado entã o nos
nacionalismo que se apossa do Brasil a partir de 1953. uma
maneira de preservar o domínio autorit á rio do Estado sobre a reflexão sobre
Cadernos de Nosso essa
as " massas" . Lm artigo
Tempo , com o título Que só pode ser
"
é o ademaris -
li sociedade ; na efervescência " revolucionária ” que acompanhou
o governo dc Joã o Goulart , urna simples fuga escorada nas ilu - rno?" , mostra que
contexto
nova forma dc
da
populisms
emergê ncia das massas . , i
"
'
Eo
sões da vulgata marxista . entendida no
população que não é , uma
classe
Desse desencanto e dessa d ú vida daremos dois exemplos : são as massas ? Uma
articula ção dc classes nem mesmo for -
i uma alianç a nem uma o conglomerado
o diagnóstico desiludido apresentado pela revista Anhembi e
dc classes. " A massa c
,

1 as indagações relativas à disponibilidade política das " massas" . malmente um conjunto , relacionados entre si por uma
* i Dirigida por Paulo Duarte — que ilustra um dos estilos
de vida da aristocracia intelectual paulista » com participação
mu lutudin ári ú dc
perif
indiv
rica
íduos
e mecâ nica (cÍ Lado
'

sociabilidade anos mais tarde, em 1965. o sociólogo Fran


é
por Schwartzman ,
-
. Onze d á
- 1979: 25 ) Brasileira
na Revista Civilização massas é ,
,


simultâ nea nos c í rculos liter á rios c art ísticos locais , nas ativida
cisco Wcffort , escrevendo
'
des da USP c nos cí rculos brasileiros cm Paris , a revista : "O fen ômeno dc
Anhembi atraiu , de 1930 a 1962 , a colaboração dc muitos inte- uma resposta um tantoãodiferente das classes sociais ""em dadas circuns -
lectuais de renome . Sob a influ ência de Paulo Duarte , apre - para ele , uma express à pequena burgue -
ricas " , c se articula sobretudo des -
senta -se como " socialista " , o qual n ã o tinha d úvidas dc que t â ncias hist ó
ções dc 1962 em São conjunto,
Paulo ,
" . Mas ao rcíerir -sc às elei , no
a democracia liberal pertencia ao passado: " A chamada demo- sia
taca cambem que as
classes populares se colocam o
cracia liberal , escreve ele , " perdeu toda a viabilidade de exis-
"

influ ê ncia dos lideres populistas fato de que os


: o
t ê ncia nos tempos que vivemos. É flor parasita que vive no na á rea de entre
-
" fosse maior
" e o "lumpen
tronco seco do capitalismo" ( Duarte , 1962: 295 ) . A questã o n ú mero de “ marginais, e o dc operá rios e a " classe média pro
sc resume em saber se o socialismo democrá tico poderia prevale- seguidores de Adhemar ânio , revela uma nuança , porém limi -
Ictarizada" entre éosa de J ultrapas-
cer , visto que , explica de , "sabemos que a luta se trava boje
constata çã o de que as massas não
entre o socialismo totalitário e o socialismo democrá tico " ( í bid . , tada . O essencial
176 177

um radicalismo nitidamente individualista ' r ( Wcffori .


1955 criou numerosas organizações chamadas corporativas paralelas , que
iam ‘ "

1965 b : 39-60 ). lhe permitiam estar presente nas estruturas , ao


Sob a formula ção bastante altiva da revista Anhembt lhes modificava a l ó de fragmenta ção pro-
como também sob a visão mais • compreensiva e progressista
mesmo tempo que gica
pela criação do Pacto
fissional . No Rio de Janeiro isso se revela. De
'

de WefFort , transparece a mesma conclusão negativa: as massas


de Unidade e Ação, e depois do CGT fato. os sindicatos
ainda são um agregado de indivíduos, n ão um sujeito pol ítico.
do Rio de Janeiro se mostraram muito ativos na campanha lan -
Sua adesão ao populismo é sinal de que só podem alcan ç ar parece assim
çada pelas reformas de base . O campo progressista
uma identidade por procuraçã o . Estamos longe do populismo
adquirir maior ê ncia ao encontrar diante de si um adversa-
cons -
consist
intelectual carioca . ry político à altura : o governador Carlos Lacerda , o eterno
Além disso, outro fator contribui para alimentar a descon - picador, que derrubara Grtú lio.
-
fian ç a para com as reorias da revolução burguesa nacional: cm Trata-se aqui do contexto sócio- político , t preciso levar
São Paulo havia uma verdadeira burguesia industrial Ora , esta . Nos
nao corresponde de modo algum à imagem que dela oferece cm conta també m as tradições c procedências individuais
anos 30 , constatamos o encontro entre a esquerda dose militares tenentes
-
o marxismo nacional. Em contraste com um empresário como
e os comunistas Nos anos 50 os nacionalistas civis
-
. ,
José Ermírio de Morais , grande industrial da metalurgia , que do Clube Militar continuam a comungar numa mesma concep
militava no PTB e apoiava Arraes cm Pernambuco , havia cente- ncia nacional O “ dispositivo
ào de Estado e de independ ê .
nas dc empresá rios interessados, acima dc tudo, cm conter as ingrediente
pressões sindicais e criar obstáculos aos projetos de reformas
militar ' da esquerda n ão aparece como um simples “ revolu çã o burgue -
circunstancialt mas se insere numa vis ã o da
de Goulart , agrupando -se em organizaçõ es direitistas , ia! como
.
sa ” onde os elementos progressistas das Forças Armadas deviam
o IPES , e sustentando vigorosas campanhas pelo jornal O
Estado cumprir o seu papel ; e . de maneira mais geral , dentro de uma
de A Paulo . Pressionados entre as “ massas ” c a burguesia con
servadora , os intelectuais paulistas , embora nem sempre ade -- visão do Hstado onde a institui ção militar c central . Entre as
rindo ao pessimismo da Anhembi e , à sua maneira , refletindo
personalidades do nacionalismo carioca , muitas tinham afinida -

des pessoais com essa concepção . Só na Revista Civilização Bra


-
às vezes sobtc a possibilidade da “ revolu ção " , estavam
impedi - sileira, alem do general ( hoje na reserva) Nelson Wernetk Sodrc .
-
dos dc se associarem ã fantasmagoria nacional popular .
-
encontravam se entre os fundadores pelo menos dois filhos de
No Rio de Janeiro, ao conrr á no , aparecem as condições generais: Moacyr Felix e Manoel Cavalcanti Procnça. Compreen -
que d ão aos intelectuais nacionalistas a sensação de participar
de um movimento enraizado nas classes populares. Tanto o PTB de-se que o tcncniismo de esquerda continua presente na
mem ó ria dos progressistas , inclusive os intelectuais , da mesma
quanto o Partido Comunista tinham sólidas bases entre os diri
- forma que o getulismo. Isto constitui mais uma fonte de dile -
gentes sindicais. O PTB controlava o Ministé rio do
Trabalho renças em relação aos paulistas , pouco inclinados a exaltar os
uma organização com 160.000 funcionários que temr graças aos
,

que se haviam tornado interventores ou adeptos da ANL .

recursos oferecidos pela legislação trabalhista e , principalmente . Essas condições , por ém , eram as mesmas que permitiam
à canalização do imposto sindical , um poder de coopta o
çã consi- també m perceber a fragilidade da coaliz ão nacionalista c a ma
surpresa de 64. O equilí brio das Forças Armadas se altera . A
derá vel. Foi a partir do Ministério do Trabalho, durante o segundo
governo Vargas, que Goulart criou suas redes de influência, cui
mobilização popular continua encerrada na ó rbita do Estado .
dadosameme mantidas quando ocupou a vice - prcsidê ncia no- O sindicalismo mais politizado nã o se apóia apenas no Ministé-
governo Kubitschek . Nomeando Á lrmno Afonso para a chefia rio do Trabalho; recrutava também seus
contingentes no setor
desse ministério logo que foi restaurado o regime presidencialista , pú blico . Muitas das grandes greves deflagradas em nome de
Goulart manifesta sua preocupa ção em reforçar um “ dispositivo objetivos políticos a partir de 1962 foram , sobretudo , obra dos
sindicai " a serviço do projeto nacionalista . Por sua vez , o Par ar pelas de transporte e se
tido Comunista , implantado dentro do ministério, a - trabalhadores desse setor , a come
governo (
ç
Erickson 1979 )
,

partir de realizam com o aval do , .


178

Aparece , assim , mais uma vez , a ambiguidade da aScen -


sio nacionalista. A um só tempo policie a de Estado e movi
mcnco social , cia tende a sc realizar num espaço fechado. Exa -
-
tamente como a atitude dos intelectuais cariocas , participando
da primeira e organizando o segundo , que se voltam para a
sociedade , nem sempre distinguindo se a parte da sociedade
em que baseiam suas esperan
> ças não seria , na verdade , apenas
Conclusão
a sombra projetada pelo Estado .

<1

- 1

ao longo desse capítulo assis -


I> Intelectuais , Povo , Nação :
timos a incessante fantasmagoria onde sc movem essas tr ês
i
\ r
f figuras. Os intelectuais n ão s ão os seus ú nicos art ífices: o
if í poder , o Partido Comunista e os estudantes participam de
ri * sua cria ção. Em muitos aspectos , porem , os intelectuais são
seus protagonistas privilegiados . Sua pr pria posi
ó çã o de porta -
vozes ram bem foi vivida no interior dessa fantasmagoria . Fala -
vam enquanto Povo * e “ Nação” , c se colocam em cena
i L t

sob formas onde parecem dotados de onipot ência : como


demiurgos transformando, só por for ç a dc seu pensamento ,
o Povo em Na çã o e vice - versa ; como portadores do proje -
"

to " nacional e como - consciê ncia do Povo ; como prestidi


i J i i
-
gitadores capazes de converter o desenvolvimento económico
cm sujeito da histó ria ; como detentores das leis do real e
como soberanos da utopia . Aparecem a Lodo instante como
um terceiro indispensá vel , mas um terceiro que logo se apa-
gava , permitindo a simbiose entre o Povo c a Na çã o . As
três figuras nunca passam dc formas diferentes dc uma mesma
imag em .
180

Os intelectuais dos anos 80. como vimos , n ào deram Restam duas indagações essenciais . Em que medida os
nenhuma prova de indulgência cm relação a esta fantasmagoria esquemas de I 960 romperam efetivamente“ com os dt"1930?
nem aos que a ela se entregaram . O autor do prefácio das obras
sobre a cultura dessa época* patrocinadas pela Funartc c publi
-
O nacional popular deve scr assimilado ao populismo
?

cadas em 1983* qualifica a exaltação do “ nacional" c do po -


pular" como um delírio ' \ organizado , na verdade , em torno De uma geração a outra;
do Estado (Novaes, 1983). Porem devemos evitar caricaturar
o o nascimento de uma cultura política
passado O delírio â o foi absoluiamente apan á gio de uma
: entre as concepções
minoria á vida de transformar seu 'saber " em " poder " ; 1

J á sugerimos como pomo de partida


,
total. No pri -
apoiava- se , como frisou Michel Debruo , num de 1930 c as de I 960 parecia haver um contraste
sentimento do de qualquer
difundido em muitos setores sociais. 0 privilégio concedido à meiro casor o povo é descrito como destitu í
rela o com o Estado:
libertação nacional não unha , então , valor algum de álibi identidade polí tica . Mudou tamb é m a çã
visando a evitar a luta de classes : muito simplesmente , o Brasil em 1930 , a construção de um Estado capaz de promover a coe -
, trata -se de
são da sociedade parece um fim em si ; cm 960 indepen
vivia a hora do advento do Terceiro Mundo , I
As elaborações concernentes ao d esenvo1virr i cn utilizar urn Estado já constitu í do a fim de rematar a -
foram , sem d ú vida . extremamente precárias c frágeis, cismo dê ncia da nação . Quanto aos intelectuais , situam - se em rela çã o
consequência , também todas as variedades de nacionalismosemc
c, -se com
a grupos de referencia distintos: em 1930, identificam
dc concepções políucas a elas vinculadas. Alé m disso , seu
foi dos mais fugazes Bastou que surgissem os primeirostriunfo
as elites; em I 960 , apresentam se
Mas as coisas nã o são tão
-
como
simples .
povo c
Primeiro
querem
, as
scr
duas
povo.
gera -
dc desequilíbrio econ ómico , em torno de 1958 para quesinais
.
de um lado , e
ções manifestam a mesma f é no cvoluciomsmo
,
elas duvida cvoluciomsmo
desabassem como um castelo de canas c fossem *
substituídas , no poder das ideias , dc outro Sem. , o
sucessão
com a influencia da CEPAL, por outras “ ideologias ’ econ ómi
- 1
n ão foi interpretado da mesma maneira . O que era a
cas, que faziam dos “ obst áculos estruturais" ao dos est á gios do esp í rito humano - se a sucess ã o das etapas
s f
mento dos países subdesenvolvidos o alfa e o ô
desenvolvi
mega de
- do desenvolvimento econó mico. N
torna
à o
.

importa : em ambos os
as teorias. Este é um exemplo dessas viradas - t ã o bem todas no real Da
í anali - períodos, a modernização sc insere diretamente
.
sadas por Albert O . Hírschman
que o voluntarismo inerente à noção de projeto —
que se produzem cada vez
trope a em
mesma maneira , o poder das idé ias assume aspectos distintos .
O que foi aptid ão para inventar uma arquitetura institucional
dificuldades , c que a perccpção destas , bem mais que suaç reali
1 " se torna uma voca ção para
“ de acordo com a realidade
dade . leva a transformar as crises conjunturais em impasses - fomentar a mudança através da “ ideologia , do projetoç as.
" “ " c
radicais ^- . Mas c preciso fazer justiça ao “
- da “ consciê ncia " . Essas diferenças n ão passam de nuan
mo de Kubitsehek : foi um mito unificadordesenvolvimcntis
e mobilizador a íanto em 1930 corno em I 960 domina a mesma preocupaçã, o
,

de se inspirar na * realidade brasileira c , cm consequenaa


serviç o da consolidação das formas a
democráticas, permitindo . O mesmo
aos militares, tecnocratas, industriais... c intelectuais mesma suspeita cm relação à.si id éias
“ importadas "
invocar ,
sim ílarmente , um “ projeto nacional " ,
esboçando uma aber - ocorre com a cren ça na racionalidade una c indivisível: num
caso, expressa -se pela regulação do social ; no outro pelo
tura para uma participaçã o popular livre das , planc-
coerções
vistas . Em todo caso , as figuras de Povo e Nação ncorporate
ão est ão jamento . A fidelidade positivista n ão era mais aceit á vel em
subordinadas organicamente ao “ descnvolvimentismo"; elas I960 , mas nunca esteve t ào distante .

sobreviveram ao seu declínio* como também sobreviveriam ao feria mesmo a relação com o povo se transformado
ocorre uma
golpe dc 1964 . profundamente ? Tanto em 1930 como em I 960tempo a uru -
valorização do povo , representando
‘ " ao mesmo
potencial , cega talvez , mas
dade latente da Nação c a energia
U
Ver espedalrriinre ffiimdtM cm À fries
ensaios for frvfi* ( Hirschman , 3971
>
183
182
mas sua difusão entre os
'
jovens
irresistível , que impulsionava o país. Por outro lado tanto ern
»
marxista-icninista
a vulg»u , conter ires elementos positivos:
,

I 960 como cm 1930 , conserva-se uma profunda ambivalência |hc ParcCia se baseia , em boa
rm relação ao povo concreto. Já destacamos a utiliza ção ininter - dc que a ordem social que aí csii
ió 0 rcconhctunenro [ b) o reconhecimento de
rupta do termo “ massas" , designando o saldo devedor entre na exploração du homem pelo homem permanente mutação , devendo
medida e êá/driw: portanto , cm
-
,
o povo real c o Povo- Naçã o ou o Povo dasse . As ‘ massas * sao realidade social de que é possível identi -
i

que a
superada , e c ) o rcconhaimento
agregados de indivíduos ainda presos a uma "consciência ingé- ser , o que able a porra
à
a ordem presente esuategiros que atuam no processo social
nua " , desprovidos do sentimento dc sua condi ção coletiva, ficar os iarores ção social
encerrados cm sua depend ê ncia diante dos poderosos , crédulos pol íuca conscience de reconstru
ções em
cm relação aos pol íticos- demagogos. Em resumo , continuavam
que Celso Furtado resume essas observa
-
a delinir sc pelo fato de nSo estarem onde deveriam estar , para - Notemos* .
humanismo e otimismo com respeito à
e desenvolvimento
evolu ção
fraseando a famosa frase dc Freud : "Wo rs war , soli Ich wer- duas noções: " , mais "liberdade
'

den" ( Onde est á o id , estará o ego ) . sociedade


material * ( Furtado , 1962 . in F. de Oliveira , 1983nitidamente
da : 134 -6).
económico a Darcy Ribeiro , assume ainda mais
#

Nessa perspectiva , a posição dos intelectuais dc I 960 se


aproxima da dc seus predecessores: representam o povo , na Quanto
medida ern que sào responsá veis pelo projeto nacional. Eram temas iscbianos:
os na pas-
o povo , pois deté m o saber sobre o papel político do povo. par que- atravessa hoje, a cultura brasileira , reside ência
A ensr fundamental consci
unu consciência crítica [ . .|. A
,

Por é m suas posições tarn bem decorrem do fato dc que . mula-


sagem da cooStic nua ingénua [ .] a estereotipadas da reali -
tto mutandis, agem dc maneira idêntica em relação à burguesia as contradi ções entre as representações ate os limites da
explora
crítica alargando a consciência necessária ções e a possibili -
.

Como em 1930, constatam a inaptid ão da burguesia para dade e a reaJidade mesma ,

das institui
erguer -se ao n í vel do seu papel histó rico e superar sua timidez consciência possível
para perceber a temporalidade
ção |. . ] A revolução necess ó
ária ,
enquanto burguesia nacional . Dessa deficiência das classes fun - ção rational na sua reordena
dade de interven histórica para o povo brasileiro , situa -sc no plano idcol -
damentais, extra íam todas as razões para se colocarem a si colocada como tarefa 61.
? mesmos como avalistas de uma pol í tica nacional- popular . .
gico (Ribeiro 198
}: 163 *

dos
Vários intelectuais nacionalistas de 1930 estiveram direta-
ê ncias bastam para mostrar que o discurso utilizado

-
Essas refer ém foi
mente associados ao poder , antes e durante o Estado Novo. êm na sociedade tambncia da revolução ,
I -
Os dc 1961 a 1964 sentiam se ainda mais próximos do poder . intelectuais que interv a imin
dos que estão no poder, combinação do rvolucio
: ê
Pouco importam as opiniões, muito diversas , que nutriam cm fido discurso da sociedade a
- a reconstru ção racional esclarecida fazem parte da ideologia
"
i relação ao próprio Goulart . O que imporia c que certos intelec
nismo com a consci ê ncia , o Partido Cornu -
tuais dc grande lenorne tinham responsabilidades de porte na
vimos que , no início de 1964
gest ã o governa mental . Citemos, por exemplo. Celso Furtado oficial . E
" já
estar no poder .
que , após ter dirigido a SUDENE (Superintendê ncia para o nista acreditava pelas propostas dos intelectuais
Desenvolvimento do Nordeste ), ocupou o Ministério do Plane - Por que fazer esse desvio constatar um fenómeno de ecosituam tanto
no poder? Ele nas permite que se
jamento ; Darcy Ribeiro , fundador da Universidade dc Bras ília : entre os intelectuais es de poder .
e , depois, chefe do Gabinete Civil da Presid ê ncia; ou ainda cm 1960 como em 1930 atuam a partir das posi çõ
Santiago Dantas , ministro do Exterior , e depois das Finan ç as na sociedade e os queem torno dos mesmos temas , Tanto uns
no governo Goulart . Esses intelectuais no poder n ão sâo porta - hã uma convergência responsáveis pela rcorganiza
çao
vozes do conjunto da esquerda nacionalista . Ali ás » o Partido como outros se consideravam do fato dc
esfera social . Esse encontro não decorreestejam con
-
Comunista pronunciou sc contra o Plano Trienal de Celso Fur - racional da
que os que agem dirctamente
sobre a sociedade as mudan -
tado . Nem por isso deixavam de enunciar , a partir dc uma o Estado pode promover
posi çã o de poder , c cada qual com seu estilo pró prio , sua ade - vencidos de que somentedo tato de se situarem muito natural -
sã o aos esquemas nacional- populares. Celso Furtado rejeitava ças necessárias. Decorre
184 185

me.nrc , ainda que corn posições diferentes , cs, circula no interior desse mundo como um
do social , e dc se considerarem co - aurore.s num plano acima
da produção da\ as suas expresscomum . cuja força é singula rm ente mais impor
ões
õ
-
representações do plano político . Por dado de senso . Ele preside a maneira como
exemplo
à visã o da “ pré- revolu ção ’ brasileira . Nã
, uniam -se quanto
iuntt que a dos esquemas teóricos luzde uma con -
interpretam o seu movimento à
m á tico para o próprio conceito de revoluoçãdeixa
*

dc scr proble -
os t ntclectuais o nacional as classes eo
poder e os representantes do povo o o fato de que o
cepçào dc historicidade que articula ,

produtivas. Representa , enfim ,


concordassem .sobre a imi
nência da “ revolução ’ ’. Mistura dc progresso
económico e pro -
-
ças
desenvolvimento, odasquefordefine o sentimento de participação
gresso da ‘ 'consciência ' , a revolução
1

aparece antes de tudo


simbolicamente
mesmo grupo .
como ingresso na modernidade. Embora
indissoci á vel de uma comum num
ém o conceito de cultura
“ política não tem nenhuma

certa ideia do povo ,


“ '
continha poucas referências a novos Por se estabelece que represen -
direitos, sociais ou políticos: a emancipação se refere iirilidade exceto na medida em que
ão c neces-
à Nação. Nessa complementaridade sobretudo com sinal oposto conseguem se entremear . N
ta ções , no
entre o poder e os ideólo
- se trata apenas dc Irisar a difusão. Isto
gos, nessa busca priorit á ria da sário aplica- lo quando
I 960 adotavam a mesma atitude dos de
modernidade , os homens de de uma percepção da mudan ç a social
Brasil de I 960 , redund amplo
O que é uma cultura política ? 1930. implicaria uma ância , pois designaria somente o
, sua utilização
Almond e Verba , uma semelhança de atitudes N ão, como disseram
consenso nacional - popular. Em contrapartida
individualis con - do momento em que se articulam
sideradas tora de qualquer contexto nos parece justificada a partir . Se h á uma cultura política , esta
'

institucional . É
mais que isso: um fen ô
meno de sociabilidade política cmuito concepções políticas distintas e I 960. Um
adesão implícita a uma mesma leitura do uma no encontro das gerações de 1930
*e fundamenta


real . A sociabilidade ções do plano político
política fica no seio de uma categoria encontro que se 5 manifesta nas representa
povo
"

sociaJ específica no visão da evolução hist ó rica , do


caso, os intelectuais e as camadas e\ mais precisamcme , na
intelectualizadas
cesso de comunicação tal que as ideias se
tido comum , que c a conversão da teoriatransformam
. Há urn pro
ii um sen -
- e da nação. Encontro que
é o coroamento de um
fundo é a contradan ç
processo
a entre
hist ó-
certos
em “ filosofia rspon rico concreto: seu pano de . Por meio do ISEB , mos”-
t ànea da multid ão ’ ( Gramsci,
7

1973: 306 ) ou conversão da filo- intcgraJistas e o Partido Comunista


sofia espontânea cm teoria A sociabilidade tram os a virada de antigos
integralistas em direção ao “ povo
polí " onde o homem
retomando a definição de Augustin Cochin: tica é também , ij “ humanista
.

c , cm seguida , a um marxismo “ homem gen érico" do jovem


“ desalicnado ” tem os traços do
íí j produção , primnro
j pn pot meio de influê “
Marx . Através do movimento qucremista
e . mais tarde , da
de um ceno csudo moral, c depois, dc umncia intelectual c dc seleção social
s 1954 e sobretudo 1958 ,
conjunto de tendências pol ítica
que , embora refratárias na essê ncia is condiçõ * adapta ção doutriná ria Introduzida apó pelos comunistas
nem por isso deixam dc ser um fato grupai , oes da vida e da sociedade reais à recupera ção da tradição gctulista
jovens católicos que sc colo-
assistimos
resultado de um trabalho cole -
tivo tio inconsciente, tio objetivo Outras mutações ocorreram: a dos
quanto os costumes ou o folclore ( ção, a dos estudantes que
1979: 163). Cochin ,
caram nos postos avançados da revolupercursos em sentido contrá -
abraçaram o marxismo . São esses
A adesão a uma mesma leitura do
senso comum, a referencia compartilhada real é, para além do rio que asseguram aos
-
esquemas nacional populares o cará ter
aberto para diver -
de “ historicidade " , na acep ção que com uma concepção de uma cu loira política , deixando o caminho é m a coesão rela -
tamb
termo: aquilo que , induzido a partir
Alain Touraine d á a este sas práticas políticas* mas assegurando além dos militantes
das rela tiva dc um meio que se estendia muito
uma pré - interpretação da l ógica do social ções sociais , define vigorosa produção
que , por sua vez , propriamente ditos , dando origem a uma debates da esquer -
comanda a inteligibilidade das rela ções
anos 55 -64 , tratava -.se exatamerue de sociais . No Brasil dos cultural , ficando subjacente ao conjunto dos dos intelectuais
regendo o mundo intelectual . O uma cultura política da . incorporando os estudantes ao movimento
naaonal - populafiem todas de maior envergadura .
187
186

. A questão c outra : ela recai sobre


A continuidade parcial com a visão de 1930 implicaria a o pú blico de seus semelhantes modalidades brasileiras .
persist ê ncia do “ autoritarismo dentro dessa cultura pol í tica ? sua participação no populismo cm suas, nenhum intelectual se
*

Isto não sc evidencia quando examinamos as formas de ação At é onde temos conhecimento
literatura brasileira pro -
proclamou " populista . A abundante
"
polí tica: n ão se trata mais de confiar ao Estado , pura c sim -
plesmente , o papel de criador das torças sociais e regulador das populisrao — um populismo
duzida pelos intelectuais sobre o como caracrcrístico do período
relações entre elas , mas sc acredita que essas forças sociais exis - proteiíbrmc, âs vezes apresentado
somente os anos 45 64 ou -
tam por si mesmas. Se examinarmos a ideologia ' dos intelec - de 30-64 , ás vezes como marcando per íodo , o getulismo, o
apenas certos fenómenos desse
tuais , a quest ão tampouco é a mesma : o fato de reivindicarem
o dom ínio do devir social resulta mais do esp í rito do Iluminisrno
entao

soa como uma acusa -
jauismo , o janguismo , o ademansmosempre vinculado às defi -
quase
do que da vontade de se ter uma ditadura “ boa " . Em contra - ção . O populismo lhes parece nem o janismo , nem o
partida , n ão h á d ú vida de que o contraste entre a "consciê ncia ciê ncia s das classes fundamentais
. Da mesma forma , não
cr í tica" e a “ consciê ncia ing é nua " garantia a esses intelectuais ademansmo lhes granjearam a simpatia aceitar para si próprios o
uma confort á vel superioridade. Revivescência do antigo elitismo estavam absoluramente dispostos a dcsenvolvimenristas ’ ’
por meio de um há bil artifício ? E prová vel , c é o preço da rótulo de " populistas ” . Os esquemas a u m Uitmoth rudi -
ambivalência em rela ção á s massas . Contudo , o círculo das "eli- e nacionalistas os dispensavam
de recorrer
mentar tai como a revolta do povo contra a " oligarquia ou a
tes ’ se amplia : aos filhos de famílias antigas ou novas , deca - à justi ça social con -
dos pobres contra os ricos ou ainda o apelo
o devemos esquecer que o corpora -
dentes ou em ascensão, somam agora os das classes intermediá-
tra os pol íticos corruptos. N ã
rias que frequentaram a universidade . Talvez seja esta a raz ão
pela qual se rornou impró prio convocar as elites para salvar o
.
tivismo gctulisra já exercera sua ação deixando
atris de si urna
país , e se prefere levantar a bandeira da ideologia . Nenhum cidadania referida ao Estado. consciência tn -
Finalmente, a atribuiçã o ao povo de uma
"

intelectual consentiria em admitir que pertence à classe m édia , ção como subst â ncia c
esse horr í vel aglomerado de gente dc todas as proveni ê ncias g ê nua e , ao mesmo tempo , sua exaltaa linguagem populista.
sujeito da Nação não deixa de lembrar
,

destitu ído dc exist ê nc ia política. A ideologia c o esquecimento órias como se não fos-
)
das origens c o meio de estar em sintonia com a hist ó ria . Esta usa e abusa das designações contradit da verdadeira
sem contraditórias. Fazendo de si os portadorestomam o lugar
consciê ncia , a consciência cr ítica , os intelectuais: o de permitir à
Opçào nacional - popular que comurnente cabe a um l íder populista sua imagem no
I
ou populismo? massa alcançar uma :idemidade . descobrindoa Nação, o dc cor - *

espelho que lhe mostra aquele que encarna Povo ouvindo


«« « vindo a maneira
nar possível à massa transformar -se em
Deixamos de lado , deliberadamrnie , o adjetivo " populis-
. As marchas para o povo nos levaram a fazer , aqui e ali . fato
: 247 68 ).
como este c designado- ( ver Pécaut_ , f1987-J que os
de
- intelectuais
ta "
Não menos significativo c o n« *>

comu -
*' í A i

uma aproximação com os populistas russos . Essa aproximação como se fosse uma
nat ionalistas se referem ao Povo
este
não vai muito longe: ainda que muitos intelectuais desejassem
nidade . Deploram tudo que tende a dissolve - lo em indiv íduos .
ser povo c partissem â sua procura ainda que sc inebriassem á rios , c já vimos as
,
Desconfiam també m dos sindicatos oper
dc ideologia e estremecessem ao descobrir a miséria e a ignorân -
queixas dos membros do
CPC a propósito dos encontros aosa
quais estes não compareciam . Sem d ú vida
cia , sonhassem com educar c afirmassem que aprendiam , estavam prontos
enquanto ensinavam , ainda que pretendessem se “ dcsocidentali - deixa dc scr surpreendente que .
zar rm contato com o Brasil profundo, estavam inseridos
acusar os pelegos , mas não chega a controlar uma parte do
no momento cm que o PCB dele e preferem
demais na sociedade e próximos demais das esferas de poder aparelho sindical , os ímelcccuais se afastam do Povo
para sc aventurarem muito longe e abandonar por muito tempo , ou se at êm à coaliz ão
partir em busca do campesinato
188 189

inteiro. Significaria isto, como da pane dos l íderes íuridamemal da cultura brasileira ê o fato
rradicionais , uma dificuldade em se acomodar a organiza
populistas doi últimos tempos uma manifestarão
dilemas dessas pessoas. Os seus pet»na
ções dí que elas estão preocupadas com os
*

que n âo lhes estivessem diretamente e na cidade , das estio voltadas para os


subordinadas* não raro gens são os homem simples No campo
acusadas de se fechar na defesa dc seus interesses particularistas
anónimos, aqueles que trabalham com as -
mãos (atado por Mota . 1980: 223 4).
a expensas da comunidade ? Fazer do
Povo o sujeito da Nação simplesmente
implica rejeitar aquilo que o leva a n ão ser Uno . Essa concep- O populismo intelectual foi também, muito
fosso incomensur á vel que surge no momento
ção nada tem de jacobina : a vontade popular
prc - uitva a dmissão do " homem comum " ,
Povo * já est á em cena na ideologia . E o ideólogo cxistc ao em que o sociológo volta seu olhar para o
não tem dc " , t ão longínquo que d á
o ‘ ' anónimo o trabalhador manual
prestar contas ao povo dc suas opções pol í "
ticas: extrai sua auto- identicamente aos militares .
ridade de sua vocação nacional. Praticamente não
h á textos, a impressão de ser reproduzido érica
nem dos isebiarios* nem dc outros
nacionalistas , que analisem Esse populismo intelectual é exceptional na Am
os mecanismos de representação ou de Latina . Com maior frequência
, os intelectuais se encontram
delega
N âo se coloca esse problema: a identificaçã ção dr poder . numa situação instável com o advento degoverno regimes populistas ,
o desempenha o de Perón na
papel desses mecanismos. Isto, naturalmcnte ,
acompanha o como demonstra o exemplo do primeiro resdmente popu -
desdé m por tudo que se assemelhasse à
democracia Argentina. Mas terá sido o regime brasileiro
admitir esse regime implicaria endossar o miro do liberal : hsta , dc modo est á vel , cm algum momento
? Sem d ú vida o
indivíduo nacional nos gover
populismo foi um componente da pol í tica
-
soberano c também as divisões sociais.
Outro componente do populismo intelectual é nos posteriores a 1955 e , com maior raz ão ainda , das pol íticas
ao Estado a preocupa ção de dar forma ao atribuir
Povo. Os membros locais dos diversos Estados. Entretanto , o dcsenvolvimemismo no governo
do 1SEB, do CPC ou do PCB podem aliar se a dc Kubitschck e o programa das reformas de base
de sua convicção dc terem interesses no Estado - de em virtude Goulart estão longe dc reduzir -se a este fenómenoó Os conta . í ntelec-
,

I! 1
seus iguais, investidos das mesmas atribuições ou atoué de de serem
prerro - tuais tem o campo livre para utiliza- lo por sua pr pria
.

i! 3 É preciso ainda reconhecer que o populismo intelectual


t

gativas superiores , visto que n âo


estão condenados. como o , O popu -
Estado, a; manter compromissos c equil íbrios dif íceis. S não foi unívoco, nem dissociável de outros elementos grande
I «

ão ple -
j

tJ lismo do ÍSEB ou o do CPC terminaram por inser í r -se


na
namente portadores dos valores do Estado nacional ,
por sua vocação popular . Empenhando sc no no m ínimo
vaga dc mobilização reformista . Assumindo os esquemas do
-
berto sob a linguagem do nacional-popuiar provam populismo * enco-
PCB, ele se distancia parcialmentc dos populismos comuns . O
ir í t
situados em posição de poder .
;i estarem
do MCP dc Paulo Freire abriu a possibilidade de reconhecer -
Convém , talvez , discernir enfim nesse populismo sc o direito das classes populares â autonomia . Existe um popu -
dc um contato ocasional com a gente do o signo
lismo laico : h á outro investido de religiosidade . Em suma , o
povo o que ,
populismo intelectual n ão foi menos diversificado do que
o
1 T

numa sociedade n ão so desigual mas também


hierarquizada ,
n ão deixa de ser uma proeza comovente.
Assim , conv ém populismo político.
conhecer o que escreveu o sociólogo Octavio Enfim , houve uma conjuntura onde os intelectuais agiram
do golpe de Estado , descrevendo a mudança Ianni , logo depois
como sociedade c como Estado, garantindo o vaivém entre
uma situação c a outra , Era toda uma conjuntura dominada
representada pela
descoberta da " mentalidade do homem simples' *:
pelo sonho da conversão política das massas graças ã interven -
Esse interesse novo do pensamento brasileiro pelo
homem ção da "ideologia . O populismo intelectual pôde
* inscrir sc -
desenvolveu -.se impiamente durante a vigência da d& comum nasceu e de pr á tica dos
n9ÍVt %4). (... ) Pela primeira vez, de modo sistemático,momm populista no contexto assim criado. Qualificar pois o tipo
lot encarado em toda a sua integridade.
o homem comum intelectuais nada tem de pejorativo . Afinal , o que esse popu -
Abandonou -se a visão externa episó- lismo prometia redistribuir a mancheias n ão eram bens mate
-
dica eanedótica dos seuí problemas 0 que torna as artes c ,

.
as ciências sociais riais , nem puto moralismo era cultura e consciê ncia polí tica
PARTE II
j
!
r t f
I
*
I
Os intelectuais,
as classes sociais
4
' f
*

i íí
i
e a democracia
193

só a hostilidade ao regunc mas também a descoberta de uma


* ‘ ideia nova ” : a de que a democracia é , ao mesmo tempo ,

um modo de instituição do campo político c um modo de reco-


nhecimento do social com suas divisões. Aliás, o uso da palavra
Introdução -
" democracia ” difunde se junto com a expressão “ sociedade
civil ” . Assim , simboliza -se a ruptura com a crença no Estado
como agente da “ formação ” do social. A sociedade é chamada
a se autoconstituir pela via democr á tica . Livros em forma de
“ manifestos” democr á ticos orientam o processo de “ abertura ' ,
dos quais citaremos alguns exemplos ao acaso: Autoritarismo
e democratização , de Fernando Henrique Cardoso em 1975 ;
A democracia como valor universal , de Carlos Nelson Coutinho
em 1980; Cultura e democracia, de Marilena Chau í em 1981;
Direito , cidadania e participação , conjunto de contribuições
sob a direção de Bol í var Lamoumer , Francisco Weffort e Maria
Victoria Bcnevides em 1981; Porque democracia? , de Francisco
Weffort em 1984. Esses autores , de trajetórias pol íticas diversas ,
est ão longe de concordar quanto ao significado da democracia .
Em geral , não avalizam uma concepção liberal desta ; mas con -
cordam ', no m ínimo , em fazer dela a condição para expressão
dos conflitos da sociedade no quadro de um sistema de direito .
i! *
Ao longo dc nosso percurso através dos anos 30 e 50, n ão
encontramos muitos intelectuais inclinados ao elogio da demo-
A descoberta da democracia não se realiza , porém , de
um dia para o outro. É verdade que a reivindicação das liberda-
t des surge logo depois do golpe de Estado , mas não implica
f • cracia “ formal ' \ Quando a democracia não era pura e simples-
absolutamente uma adesão aos “ valores’ democrá ticos. Os
mente identificada com liberalismo olig á rquico , desagregação
esquemas anteriores a 1964 perduram por algum tempo , durante
social c individualismo nocivo , em resumo , com tudo que criasse
o qual os antigos nacionalistas estão convencidos de que o
obstáculos à construção nacional , era identificada com a supre - regime militar nada mais é do que um intervalo , sobretudo
macia das elites tradicionais , com a deformação da representa em suas modalidades mais reacion árias. Outros esquemas aparc-
çào nacional ou com o imobilismo . Embora alguns membros cem: quer girem em torno de “ obstáculos estruturais ” ao
da Esquerda Democrá tica se esforcem , após 1945 , em fazer pre
valecer uma outra imagem da democracia , são rapidamente
- desenvolvimento e à integração social ou em torno da “ depen -
d ê ncia * \ nem sempre deixam entrever a possibilidade de se
marginalizados pelos grandes contingentes de intelectuais que caminhar para a democracia . U marxismo se impòc em suas
depois se prontificam a recolher a herança getulista c a promo - versões eruditas ou vulgares e , com ele , um economismo
ver o povo ao n ível de sujeito da Na ção , Conforme sua visão que deixa pouco espa ço à reflexão sobre o plano pol í tico , ou
da vida pol í tica , a posição que os intelectuais se conferem n ão ainda um radicalismo preocupado em transformar primeiro as
os incita a manifestar um zelo excessivo quanto aos procedimen - relações de classes. Em 73- 74 , não parece preparar -se , nesse
tos democrá ticos. aspecto , uma mudan ça muito n í tida .
-
Referimo nos à intensidade das mudan ças ocorridas durante Como explicar ent ão a reavaliação progressiva da ideia
a ditadura : a partir dc 1975 democracia torna - se a palavra -
*

democr á tica ? Esta é a primeira pergunta que percorre os capí tu -
chave do discurso intelectual. Uma palavra que demonstra n ão los seguintes . Pura evolu ção dos esp í ritos e das representa ções

JfRGS
194 195

mentais , á prova do prolongamento do regime autorit ário ? A trativos altamente qualificados . De forma correspondents, o
’ torna se cada vez mais presente .
hipótese n ão nos parece convincente nem fecunda . Ê verdade tema da profissionaliza
“ çã o -
que, em fins dos anos 70, produziu-se uma lenta renovação c é um meio de justificar as estrat é gias dc classificação e exclu -
da reflex ão pol í tica tanto no Brasil como em outros países e , são no conjunto das camadas cultas , e também de fazer avan
correspond em emente , um abalo dos paradigmas sociológicos . çar interesses espec íficos . Diferencia çã o e defesa dc imercsscs
Seria preciso considerar mais dc perto até que ponto chegam específicos : eis o que passa a situar os intelectuais no interior
essa renovação e esse abalo no Brasil . Por trás da palavra , dc da sociedade , já n ão mais a uma de outras categorias sociais ;
que democracia se tratava ? Mesmo nas obras que acabamos de eis o que rotmiza a função dos intelectuais. Este é , sem
citar , n ão faltam ambiguidades, hesita ções c oscila ções. Preferi -
d ú vida mais
, um elemento que favorece a inserção no sistema
mos , cm todo caso , enfatizar trés outros fatores . democrá tico .
Primeiro, a aprendizagem forçada de estratégias de racio - No entanto , c verdade que o meio intelectual cm seu con -
nalidade limitada . Durante todo o processo de abertura , o junto continua a ser um ator pol ítico essencial durante todo
regime continua dono das regras do jogo , mudando -as a von - esse período . Da í a segunda pergunta que percorre esta parte:
tade e mostrando ser sempre possí vel uma interrupção ou um COITIQ analisar o fato de . apesai da repressã o , os intelectuais bra -
retrocesso . Os intelectuais t é m entã o que se acomodar a uma sile í ros de oposiçã o preservarem uma posiçã o e uma evidcncia
incerteza deliberadamente manipulada por diversos setores do bem superiores à de seus homólogos latino-americanos cm face
poder . Seu alinhamento com a democracia c insepará vel dc seu de outras situações autoritá rias? També m aqui , três fatores
alinhamento com um “ incrementalismo ' (o incrementalism
1
devem ser levados cm conta .
dos cientistas políticos americanos) que foi dc encontro aos Em primeiro lugar , a estabilidade relativa e a propaga ção
" projetos ” de estruturaçã o do social e , portanto ,
da refer ê ncia de certas instituições intelectuais. Enfraquecidas e submetidas
a uma racionalidade ilimitada , pelos quais definiam antes a â vigilância pol í tica a maioria das universidades n ã o deixa de
,

sua voca ção . funcionar como centro dc socialização. Sem d ú vida , o marxismo
Hm seguida , o primado, também devido as circunstâ ncias, sc toma ali o meio de sc atingir uma identidade coletiva . Criam -
que dão às eleições. Desde 1974 , percebem que as elei çõ es são se outros pólos de pesquisa à margem das universidades: é
a oportunidade para medir os progressos da oposição >c orga - conhecido o papel que o CEBRAP (Centro Brasileiro de Pesqui -
nizã - la . O processo eleitoral irá , de fato , desempenhar um sa ) desempenha durante a abertura . Alem disso, uma institui -
papel primordial no avanço em direção á democracia O des- , çã o como a SBPC ( Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciê n -
pertar das for ças sociais populares só ocorrerá mais tarde com, cia ) ir á manter uma legitimidade cient ífica que lhe permitirá ,
os movimentos grevistas da regi ão do ABC em 1978 - 79 e em com a coragem de seus responsá veis , assumir a defesa da “ co-
1981 . Esse intervalo de tempo contribui para fortalecer a impor - munidade cient ífica ’ , contestar as pol íticas governamentais e ,
t â ncia das estrat égias eleitorais . A forma ção em 1979 de um a partir dc 1975 , tornar - se um fórum onde se discutissem aber -
partido pol í tico , o Partido dos Trabalhadores ( PT ), alicerçado tamente as opções de democratiza çã o.
nos sindicatos do ABC e nas comunidades dc base , contribui Em segundo lugar , a capacidade do < intelectuais de oposi-
no mesmo sentido: assegura a essas forças sociais uma presen ça çào de manter uma certa Locsão. H á divisões , mas o consenso
. -
pol ítica. A problem á tica da representação pol ítica faz , assirn . nacionalista e , mais tarde a adesã
, o á s estrat é gias t
incremenra -
a sua aparição dentro de novas condições. listas , por influencia dc figuras
” dc prest ígio, permitem que
Por fim , as fronteiras cada vez mais imprecisas do meio sc preserve urn m í nimo de unidade. O meio intelectual fun -
intelectual c a diferenciação que se acentua em seu interior. ciona como um subsistema pol í tico, corn suas inst â ncias
de
Produz - se não só um aumento maciço do numero de estudan - poder , seus debates c suas pr á ticas de coopta çã o. De 1974 a
tes c. assim , do p ú blico dc produtores intelectuais , mas tam -
1979 , a intelectualidade assume cm rela çã o ao regime o aspecto
bé m aumenta o peso dos setores t écnicos, cient íficos e adminis
- de uma espécie dc partido com porta - vozes oficiais , influ ê ncia
,
196

na imprensa e nos meios de comunicaçã o , presen ça cm cerras


administra ções representação no MDB ( Movimento Democr á -
, 3
tico Brasileiro ) , contatos com a Igreja c às vezes canais de corau ^

mea çã o com elementos ligados ao regime .

O intervalo de 1964 -68.


Por ú ltimo , as contradições do pró prio sistema governa -
mental em suas rela ções com os intelectuais. O regime reprime
com m ào pesada , mas financia generosamente o desenvolvi -
mento sem precedentes das ciê ncias sociais —-c isto durante Bloqueios estruturais e
os anos mats sombrios , de 1970 a 1975 . Indigna se com a poli -
tiza çâo da SBPC , mas subvenciona seus congressos. Pratica hegemonia da esquerda
uma censura minuciosa c obscurantista , mas apoia diversos pro-
jetos de atividades culturais c artísticas . Rejeita o que vinha intelectual
do per íodo “ nacional - popular ' , mas se coloca frequeniemente
1

como guardião da “ cultura popular ' " . Mostra desprezo ou indi-


ferença diante dos protestos dos “ ideólogos" , mas d á com fre -
qu ê ncia a impressão dc consider á -los os destinat á rios privilegia-
dos das medidas dc abertura . Pouco se dedica a “ cooptar" c
incentivar uma cultura oficial , mas age també m como se fosse
impossível destruir todas as redes pelas quais o Estado apoia o
desenvolvimento da ciência e da cultura .
Nessas circunstancias , passado o per íodo subsequente ao
tenha
Nào se pode dizer que o golpe de Estado de 1964 , espe-
Ato Institucional n ? 5 , os intelectuais desempenham mais uma
vez o papel dc protagonistas na luta pela liberalizaçã o . Procla - direita de esquerda
sido surpresa. A opinião p ú blica , de
e
ll mam sua competência , sua profissionalização' , seus interes- “ com Deus c pela
ip*
ses. Mantêm um distanciamento esclarecido cm relação ao vasto rava um confronto . Pela direita , a marcha dc manifestan -
universo de novas camadas m é dias surgidas da amplia ção do fam ília ” que havia reunido centenas de milhares feitas por Car -
tes , as advert ê ncias cada vez mats
amea çadoras
ensino superior . Assumem a representaçã o do conjunto da “ so-
ciedade civil". E , embora desistam dc inventar grandes mitos los Lacerda c outros pol í ticos , a agita ção dentro das torças arma -
diame da evolu çã o
unificadores para garantir a consolidação da naçã o , elaboram das demonstravam a inquietação crescente de Bnzola em
uma nova simbologia pol í tica à medida que vão reabilitando do governo Goulart . Pela esquerda , os apelos , a rcaliza-
a democracia . Sua coesão e evidê ncia , adquiridas muitas vezes favor da convoca çã o dc uma Assembleia Constituinte , no qual
ção do com ício dc 13 de março no
Rio de Janeiro
com apoio no Estado , passam a ser mantidas contra o Estado,
Constitui ção c a aceleração
mas ainda com frequ ê nc ia era contato tom de . Goulart defendeu uma revisão da durante a revolta
Vem daí uma ú ltima pergunta. Se essa coesão c evidencia das reformas e a atitude do mesmo Goulart de março ) pare -
dos marinheiros da Marinha de Guerra em
est ã o ligadas i nega çã o do Estado autorit á rio , ser á que poder ã o
( 26
estavam dispostos
sobreviver ao retorno efetivo da democracia ? Esta não somente ciam demonstrar que os setores nacionalistas , parecia confirmada
expõe as divisões da sociedade , mas també m deixa transparecer a uma prova dc força . De ambos os lados
a pró pria heterogeneidade do meio intelectual , de seus interes- a ruptura com a ordem legal . A ú nica
surpresa foi a facilidade
ses e de suas concepções do dom ínio pol ítico . A experi ê ncia venceram , com a
com que os militares contrá rios ao regime cm seu “ dispo-
da democracia n ão põe em jogo , bem mais que a do Estado ajuda dc seus aliados civis. A esquerda confiava
autoritário , as pr óprias buses dc sua identidade ? sitivo militar " , mas descobriu que ele havia
desmoronado . N ão
199
duvidava da capacidade dc resistência popular , garantida
Bnzola c pelos dirigentes da CGT (Central Geral dos por a dc São Paulo n ão foi absolutamcnte poupada da ca ça as bai -
dores ): bastaram algumas horas para que ela Trabalha *
xas praticada por iniciativa de certos professores c dirigida eon -
tora algumas veleidades de resistência, prevaleceram constatasse que, rra os colegas que militavam a favor da modernização da insti -
a resign a -
ção , o oportunismo ou a impotência
.
Foi grande a desilusão dos intelectuais
tuição , tanto quanto ou mais ainda do que contra os suspeitos
de opiniões nacionalistas ou comunistas . Embora a Faculdade
-
preende se que a burguesia nacional
amedrontada
pela ‘ ’ordem " , sacrificando seus verdadeiros
nacionalistas Com -
tivesse optado
de Filosofia , Ci ê ncias e Letras da USP escapasse parcialmcntc
a esse clima de den ú ncias internas gra ç as aos corajosos protes-
as classes medias ? Nada permitia prever
“ ”
interesses . Mas . e tos de professores como Florestan Fernandes. Ruy Coelho, Aziz
que uma grande
maioria delas se aliasse t ão facilmente ao novo Sim ão e Ant ónio Câ ndido (este ú ltimo diria , a propósito dessa
"massas populares" ? Rcvelou -se regime . E as
brutalmente que n ão estavam
faculdade , que "apesar da maioria dos titulares serem prova -
prontas para se levantar a favor da velmente simpá ticos ao movimento armado , ela foi a ú nica
esquerda c que as c ú pulas
sindicais n ão tinham , nessa conjuntura . o Faculdade de São Paulo, salvo erro , que não tez manifesto de
O espanto não parava a í.
, controle das bases.
Vinha também das reações nos apoio" (Cândido, 1974; 12 - 3 )). O mesmo n ão aconteceu nas
meios intelectuais. A direita autoritá Faculdades de Medicina c Arquitetura . Paulo Duarte , antigo
ú nica a aplaudir os militares; foram
ria declarada n ã o foi a
muitos os moderados , os diretor da revista Anhemhi c membro do Conselho Universit á-
liberais c os católicos que ii 2 eram o mesmo. rio da USP , expressou publicamente sua repugnâ ncia diante
Amoroso Lima , personagem -chave do mundo Para um Alceu
cat ólico, que imc- do espetáculo dessas manobras mesquinhas , que conduziam
diatamente protestou contra os atentados is liberdades, as "den ú ncias dadas por inimigos sem envergadura , que se
houve
muitos outros que manifestaram
sua aprovação, inclusive alguns
que haviam se aliado aos nacionalistas.
O
aproveitam dos momentos de confusã o para vingar se de agra -
vos pessoais" ( Duarte , 1964 * ). Repugnâ ncia e humilhação eram
-
Paim, que fora ligado ao ISF.B , aprovou oseconomistaplanos
Gilberto
os sentimentos de muitos intelectuais intimados a responder
t i novo governo . Mesmo um nacionalista t ão dc rigor do

.f
'
* r
G
/
convicto como o aos interrogató rios militares; estes visavam , desordenadameme ,
advogado Barbosa Lima Sobrinho, que
aderiu rapidamente à is figuras intelectuais que . embora se inclinassem para o ter -

i
oposição , n ão deixou por isso de admitir
que a derrubada de reno nacionalista , jamais abdicaram de sua é tica profissional.
Goulart era inevitável .
O posicionamento da maioria das A carta dirigida por Florestan Fernandes, no dia 9 de setembro
associações profissionais dr 1964 , ao responsável pelo inquérito militar instaurado na
demonstrou de que lado estavam suas simpatias . Assim , a OAB
apoiou o novo regime , embora se Faculdade de I 'ilosolia , Ciê ncias c Letras da USP ( pouco depois .
seus membros c , cm 1965, se pronunciasse preocupasse em proteger Florestan Fernandes seria detido por tres dias ) exprime bem
dc um comité dc Defesa dos Direitos a favor da formação essa dignidade ferida ;
da Pessoa Humana . O
mesmo fizeram as associações dc engenheiros c m Recebi 2 convocação para ser inquirido ‘ policial rmlicarmeri te * como unu m|ú -
nos dias subsequentes ao golpe os édicos . Assim . *

nacionalistas ria , que afronta ao mesmo tempo o espirito do traba . ho universit ário c J mm
se estranhamente minorit á rios.
,
descobriram - ,

talidadc cientifica , a íctando- me tarco pessoalmenic quanto na mmha londi ção


*

Em todas as profissões, a mudança dava dc membro do corpo docente c dos investigadores &A Universidade de Sâ u
de contas que nada tinham dc glorioso lugar a ajustes
. Isto Paulo . Foi com melanc ólica surpresa que vislumbrei a indiferença da alia admi -
nas universidades , onde nenhuma ocorreu at é mesmo
nistraçã o universitá ria diame dessa inovação , que estabelece uma nova tutela
solidariedade
interpôs para atenuar os desejos de desforra profissional SC sobre a nossa atiwdade intcletruaí i Fernandes 1980 : 209-12 )
das
.

maiorias
entemente dissimulavam suas rivalidades pes-
ciosas , que freq ú silen
soais c se antecipavam aos desejos
dos setores maís duros do
- w artigo dr Paula Duarte foi reimpresso no livio pufaiítado pela ADUSP O in- m
regime . Uma universidade t ão nrgrt, da USP, que descreve em detalhes s modalidades de repressão dentro da Uni -
orgulhosa de suas tradições como *
versidade de São Paulo
200 201

, 1964 ) . Alguns
Esses sentimentos acentuavam -se cada vez mais ao longo ciso encontrar uni bode expiatório Silveira
" (
1
dos meses cm que a vigilâ ncia se afirmou e acarretou desorga
niza ção de algumas universidades como a de Brasília , que pare
- sc inclinavam
ir a questionar os que haviam dado seu apoio ao
os intelectuais que n ão
,

cia portadora de um espirito de renovação e tinha o apoio de


- i m o visí vel Goulart , outros criticavam
unprc
í am a res-
toda a esquerda universit á ria . se mostraram bastante solid á rios com de. Uns atribu
pomabilidade do golpe ao aventurcirismo de Brt 2ola . outros
A repressão que se abateu sobre os intelectuais , entretanto, os mitos alimentados pelo PCB . Alguns criticavam
não se compara à que atingiu os militantes populares, operá - culpavam
as agitações provocadas pela esquerda populista , outros c ú pulas-
deplora
nos c camponeses , Esta ú ltima objetivava nada menos do que contado jamais sen ã o com as
vam que esta n ào tivesse
neutralizar todas as formas de organização surgidas no decorrer
e o Estado , Foi o in ício de um longo debate , de
um esfacela -
dos anos anteriores , o que conseguiu muito bem. Só em 1968, marcado pelo fato
com as greves dc Contagem c Osasco, surgiria um movimento mento progressivo da esquerda militante ,

de que o Partido Comunista ortodoxo mostrava- cada sc vez


oper á rio mais amplo ( Wcffort , 1970 ) . Com a promulga ção do
-
Ato Institucional n ? 5 , o famoso ÀI 5 , as possibilidades dc
ação dos setores populares diminuíram ainda mais. No caso
menos capaz de formar seu eixo .
Passado o primeiro momento dc surpresa e desorientação ,
os intelectuais nacionalistas põem -se de acordo , entretanto
,
dos intelectuais , foram visadas sobretudo as instituições e orga
nizações que haviam apoiado os movimentos populares: o I5EB - para afirmar que sua “ tarefe é mais importante do que nunca -
’ .

e os CPOs, submetidos a inqu éritos militares , desapareceram . No silêncio a que estão reduzidas as classes populares, no con
O ex é rcito ocupou a sede da UNE. Personalidades corno Roland texto de fragmentaçã o da esquerda , no ambiente de radicaliza -
Corbisier e Ênio Silveira , diretor da editora Civilização Brasileira , ção da juventude estudantil , atribuem a si a responsabilidade
foram presas durante dias ou semanas . Muitos outros foram de continuar a assumir a representação das primeiras , de resga -
submetidos a interrogat ó rios militares e às vezes tiveram cassa - tar uma certa coesã o da segunda , e de prevenir
o isolamento
dos seus direitos pol íticos e perderam o emprego . No entanto , da terceira . De novo , multiplicam - se as profissões de íc reiati -
essas medidas ficaram bem aqu ém do n ível que atingiriam vas à missã o dos intelectuais. Carlos Heitor Cony — um dos
após 1968 , A maioria dos intelectuais oficialmentc filiados ao romancistas, ao lado de Paulo Francis , da derrota de 1964
( Cony .
PC r a outros movimentos pol í ticos de esquerda foram poupa 1967 ) — escreve cm sua coluna do Correio da Manh ã duros
dos , embora ocasionalmente incomodados. A m ágoa nesse caso- artigos contra o novo regime , e apela aos intelectuais para que
deveria ser maior ou menor ? Pouco depois de mar ço abril , - fiquem á altura do seu papel
"
social ( id .
' *
1964 : 81 ) . O edito -
Alceu Amoroso Lima chegava à constatação de que, no con rial do primeiro n úmero da Revista Civiliza çã o Brasileira
fronto , o Brasil permaneceu fiel a si mesmo: " Ficou provada -, - publicação que ofereceu um ponto dc encontro às diversas
tendências intelectuais de esquerda — afirma ser preciso supe -
uma vez mais , a lei fundamental de nossa historiografia pol í- “
tica: a solu ção incruenta de nossas crises mais graves" . Consta - rar também as forças que se opõem ao desenvolvimento do
taçã o , entretanto , que n ão o impediu de se inquietar
alguns país , numa linha democr á tica c independente [. ] . . . A tarefa
dias depois com a polarização crescente: [ , , , ] caber á pnncipalmente aos intelectuais . E conclui com
Assim como o regime dc Joio Goulart caiu puf se ter inclinado pengosamenro
para a esquerda , estamos agora ameaçados de pender para o polo oposto , na
_
uma orgulhosa declaração , que soa como um convite
servar a cultura pol tica
„ í erigida de 1930 a I 960 :
para pre-
" é is à cul -
Fi
, mobilizados
base da tend ê ncia extremista dominante ( A , A Lima. 1964: 222 5).
- tura brasileua , [ os intelectuais ] est ã o , como antes
para defend ê - la . Não perder ã o o fio da Hist ó ria " (id . 1965:
T

A desorientação aumentou com as acusações que se lan ça - Uruguai afirma :


vam mutuamente os diversos setores nacionalistas. 3 , 21) . Darcy Ribeiro , exilado no ,
Conforme
observa Ê nio Silveira , num texto de junho de 1964 : h á um Um alta nível de consciência ataca , r.o plano intelectual , só pode set alcançáado
surdo rumor de autocr íticas e de cortantes recriminações: c pre
- mediante uma combinação do esforço rcòncu com a militância revolucion ria
202 203

que pernuu estabelecer vínculos cmre a consciência crítica. embota aicaica a ú nica forma dc
das radicalização estudantil n ão foi
versidades:o ,a nem a rejeição do autoritarismo por parte de cer-
bsH'b subalternas , c a torinuia ão científica dos iiamitibos da revolução (
^
i
Ribctro,
òi ió5 - i .
ISt contestaçã
tos professores prestigiados
.
Leandro Konder , em um artigo publicado na Revista Civi hegemonia cultural da esquerda revelaria a tor ç a

Essa "
lização Brasileira , enfatiza: 1964 ? Muitos indícios sugerem
da cultura pol í tica anterior a , sobretudo os que haviam con -
N ã consideração da evolução social c doí problemas humanos cm gctal , que sim . Para vários intelectuais nacionalistas , o regime
tambem dos faros culturais, isto c, na consideração das questõ
es
como tribu ído para a elaboração dos esquemas: sua política económica só
hist
militar seria apenas um intervalo
óriui sob
a forma teórica mais elaborada , os intelectuais tem uma
jun o ±QMI que , nas . Corn isso , o projeto
condições da vida moderna , t em princípio t ão neceuiw çà quanto o trabalho poderia acarretar uma derrota eimediataintegrador conservava toda a
do proletariado indusnial i Konder , 1965: 1}8). dc desenvolvimento nacional , cm suas antigas
Não seria dif ícil citar
ci
sua validade , ainda que o nacional-.populismo
Outros sinais , poré m , per -
muitos outros exemplos desses cha-
madas à vocaçâo política dos intelectuais. Hm certos casos modalidades , parecesse condenado anterior ao golpe de
corno o de Leandro Konder precisamente, essas , mirem perguntar se a cultura pol ítica
propostas tem ,
aliás um significado particular : os intelectuais nã Estado não estaria cm vias de sc romperque a modernização, o
o poderiam Isso porque essa cultura supunha
,

rnais ser considerados simples instrumentos a servi o


ç dos parti - desenvolvimento c a democratiza ção operados pelo Estado avan-
dos pol íticos , como entendia o PCB. Apesar de suas cultural ” da esquerda , ao
derrotas cassem cm sintonia . A " hegemonia pano
e divisões, o PCB não via por que relaxar sua
tutela sobre a inte
lectualidade. O texto de Leandro Konder mostra , poré m , que - ia afirmar-se sobre o
contr á rio , parecia
tura.
dc fundo de sua mp -
os intelectuais foram levados, dentro do
novo comexto político , Reina a moderniza ção. Mas da será a partir daí
percebida

!í ! .
a reivindicar sua autonomia enquanto categoria do consumo cultural N ão é por acaso que
podia rnais se acomodar à antiga disciplina .
social que não sobretudo no plano : o mercado
Os anos 64-68 fornecem v á rias provas dessa maior Roberto Schwarz refere-sc is livrarias c aos teatros produ ção de
á pida expans ã o A
mia . Politicamente vencida , a esquerda iria impor autono- de bens culturais tem urna r .
i v*
-se com livros aumenta consideravelmente: passa dc 52
milh es em
õ
triunfo , de 64 a 68, no plano cultural . Hm um ísticas oficiais ( HaJ
cm 69- 70, Roberto Schwarz considera o artigo escrito 1964 a 189 milhões em 1967 , segundo estatáfica tem um grande
da censura e da repressão:
fato inegá vel , apesar lewell , 1985: 480 ). A ind ústria cinematogr passo ou regride ,
f
desenvolvimento. A imprensa diária marca : em 1962 , 8.6 %
Paca surpresa dc iodos, a presença uiltural da esquerda não mas a televisão começa sua prodigiosa ascensão
foi
naquela data (1964), c mats, dc l ã para c ã n ão parou dc crescer liquidada dos lares est ão equipados com um aparelho; oem 1968, 20,4 %
da ditadura da direita, há reUliva hegemonia cultural da esquerda Apesar (Scguin des Hons , 1984 : 451 ). Esta amplia çã
do mercado cul-
Pode ser vista nas livrarias de São Paulo e K .o, cheias de marxismo, no pais . qual contri -
nas estreias tural corresponde ao aumento do pú blico , para ãoo do numero
teatrais incrivelmente festivas e febris, às vezes amea buem cm grande parte as universidades , em raz
,
çadas de invasão policial,
rá pidas mudan
na movimentação estudantil ou nas proclama ções do
dero avanç ado. Em Mima . de estudantes que recebem . Ocorrem também das classes favo-
nos sar, r u irias da rui tu ra burguesa , a esq ucida da o t um (
Schwarz 1978: í: 2 ). ç as no modo de vida e nos valores da juventude
processo de
recidas. À “ cultura dc esquerda é colhidan nesse
i

'

O sucesso do Cinema Novo e cam bem a muita rela -


do TropicaJtsmo vão outras manifestações desse popularidade
fato . Lembre -
modernização, um processo, porém , que já ão tem
mos ainda a progressiva efervescência que ção com um projeto de sociedade .
invadia muitas uni - O desenvolvimento deixa dc desempenhar oideologica
papel de
-
lógica do social , inscrita no movimento do real o soberana .
c
1 auior Itldica tin prpi ácio
da criação de uma na çã
mente orientada no sentido
i
que mu IULI J reda ção detssii obra effl e depois ;i rrtci
Igim íã nuto em que dam < lr redigiu o ao
Ao contrá rio, tudo evidencia os obst áculos
ensaio do qual foi tirada essa ciraç fo estruturais
204 205

São Paulo e de outras partes do pa ís, entretanto


,
desenvolvimento e as distorções multiplicadas por csxe . á n
sc trata mais só do freio das estruturas arcaicas , mas doJ ào ti5UH sociais dc era cena no debate pol ítico: o fracasso dos
freio fazem 5U â entrada - popularcs e as dificuldadespol em se arin -
inerente à condição das sociedades perifé ricas.
A interpretação
económica do social não perde sua import â ncia central . Aliás
esquemas nacionaUstasconferem - lhes uma autoridade ítica que
gir as massas
I F

os economistas reforçam sua posição dentro do terreno ,


lhes era reconhecida . Uns e outros assistem ã asccn -
tual: prova disso é a influencia que exercem em todas as ê -
intelec nem semprecultura
< JO de uma
contcstadora em todos os campos ; anisticos .
ci n -
cias sociais. Eles se encontram numa situação compar á vel * m , dentro c fora da universidade , crescer um
à dos V éern tamb é
culmina nas grandes manifestações
pensadores dc 1930: com o encargo de definir , n ão mais a orga
niza ção polí tica da sociedade , mas sua
- movimento estudantil que
organização econ ó mica ,
para que se possa escapar ao ‘ Ldesenvolvimenio do dc 1968.
Com o A 1 - 5 , tudo é mais urna vez derrubado
c a organi -
volvimento’ \ Sem d ú vida , o grande atingido c o evolucionis--
subdesen dc esquerda sofre transforma ções
zação do mundo intelectual desempenhara o papel de um -
inter
mo , at é então subjacente às concepções do social . A ' hegemo
- brutais O período 64-69
ao significado e impacto da
.
nia da esquerda " exprime també m a crise da assimilaçã o do is ilusõ es quanto
valo, propicio " mencionada por Roberto Schwarz .
desenvolvimento á modernizaçã o . “ hegemonia cultural
_ _
A democratiza ção também deixa de aparecer Durante esse intervalo, porém , começa
a redistribuiçao de
lato do desenvolvimento . A d ú vida sobre
Lr
1
como o corre -
o cvolucionismo papeis no interior da esquerda intelectual à medida que
enfra -
"
rompe a visão de uma * conscienuzação por etapas que condu -
i
quece a antiga cultura pol ítica .
ziria diretamente à plena cidadania . É claro que a luta pela
democracia torna -se um objetivo imediato: desde 1964 , os -
lectuais de oposição reivindicam a anistia para os presos polinte Dois polos do debate intelectual:
íti -
cos e a volta a um regime civiU Assim , as exig ê ncias
adquirem , por torça das circunstancias, precedência sobreticas
polí os nacionalistas terceiro-mundistas
exigências sociais. O " povo " , no sentido de massas poputaas da Revista Civilização Brasileira e os
-
res * t , torna sr longínquo . Sua falta de rea ção
coletiva diante
-
nacionalistas crí ticos de Sào Paulo
do golpe e sua posterior marginalização pelo regime autorit ário
fazem ressurgir o sentimento de sua estranheza e , talvez como Vamos esclarecer desde já; nào supomos , de forma alguma -,
consequência , o das distancias sociais A ' ' hegemonia de esquer- que os intelectuais pertencentes a esses dois polos sejam os. ú ni
cos a dinamizar o debate pol ítico - teó rico de 1964 a 1968 Essa
.
da " também sc manifesta no desabrochar de uma
dade pol ítica que já n ão tem que se enredar com os sociabili -
limitaçã o da an álise deve-se à nossa ignor ância das discuss
ões
populares.
andrajos
que sc desenrolam em Salvador , Recife ou Porto Alegre . Tam -
homog é neos nem
A síntese anterior tende , assim , a sc romper . Daí
se problem á tica a própria articulação entre a teoria e tomar
a pr ática
- pouco supomos que esses dois polos sejam
que se ignorem mutuamente. Embora seja verdade que o estilo
política . O cvolucionismo de um lado e a relaçã o
com o Estado universitá rio de reflexão esteja mais presente cm São Paulo do
de outro garantiam , ames, a
consubstancialidade de um em que no Rio , dai n ão decorre que ele dc lugar a tomadas de
relação à outra. Na fase iniciada em 1964 , a teoria
deixa aberta posição c aná lises idê nticas , nem que haja unidade no n úcleo
a possibilidade dc vá rias atitudes. Permite a
alguns esperar a carioca: devido à crise do esquema nacional - popular , assiste- se.
derrocada do regime em consequência de suas “ contradições nos dois casos a uma diversifica ção de diagnósticos teó ricos
internas ' e leva outros à tenta ção da luta
armada . Além disso , estabclecc-se entre esses dois polos uma comunica-
ção mais sólida . As paginas da Revtsta Civilização Brasileira ,
Tudo isso desemboca em uma diversificação maior do se
meio intelectual . O n ú cleo abrem também para os estudos dos sociólogos paulistas . Enfim
nacionalista tradicional continua a
ier influência considerá vel ,
sobretudo no Rio dc Janeiro. Os cien - a referê ncia a esses dois poios deveria ser completada por uma
1
206 207

verificação mais acurada da situação particular de cada urn nessa Antônio Houaiss, Ferreira Gullar . Nelson Werneck
Sodre , para
fase: os intelectuais condenados ao exílio ou que volunt á ria - alguns s o todos nomes associados à s campanhas
tar apenas ã
^
,
mente preferiram se expatriar sã o influenciados pelos novos militantes pol í ticos e ligados à fundaçã o do
meios com que entraram em contato e se distanciam dos pro nacionalistas ,
-
Comando dos Trabalhadores Intelectuais. Fntre os colaborado
blemas imediatos. Fernando Henrique Cardoso . Francisco Wef - H fC s j á veteranos
do ISÈ B , como Roland Corbisier c .
dirigentes
^
,
fort c vá rios economistas permanecem um certo período cm H do PCB como Assis Tavares . Apesar disso , seria um erro toma -
,
Santiago , nos quadros da CEPAL , que exerce uma grande I| la como uma revista pamdartsta . É verdade que o PCB preten -
influcncia . Darcy Ribeiro assiste no Uruguai às primeiras dift - 1í influir diretamente cm sua orientação , principalmente no
culdades da democracia locai . Celso Furtado , nos Estados Uni I -
infa0 c ern muitos arugos , nota se uma fidelidade ãs suas teses ,

I[
>
dos c na França , empenha -se em formular uma interpretação çcUS dirigentes n ão aceitaram sem reticências que fossem pos-
da hist ó ria econ ó mica brasileira , alcan çando consider á vel reper- II taJ em d ú vida as suas concepções da burguesia nacional
nem
cussão tanto naqueles pa íses como no Brasil. Em todos esses I j0 povo Felix
‘ ” ( , entrevista ao Autor ) . Por é m os respons á veis
casos , o distanciamento teva - os a tenrar construir , mats além I pC a revista
} logo se mostram decididos a livrar -se dos compro -
da conjuntura , esquemas gerais para compreender a evolu çã o I| missos partid á rios e dos sectarismos : querem antes oferecer
brasileira . Quanto aos intelectuais que ficam no pa ís , alguns I[ yma tribuna a todas as tend ê ncias de esquerda e inspirar se -
est ão mais protegidos que outros . Apesar das humilhações , os 11 no exemplo dc Les Temps MoJernes . At é Paulo Francis , que

- IIf
professores universit á rios paulistas ficam em geral imunes às
medidas arbitrá rias . Alé m da relativa proteção da própria inst í
I se atribui um passado Lroiskista , faz pane do Conselho e publica
na edição de maio de 1966 uma den ú ncia contra a "esquerda
tui ção universitá ria , muitos são ajudados por sua situação pes - II populista ” anterior a 1964 , pronta a " perder a cabeça e se jul-
soa! dentro da aristocracia paulista . Ant ó nio Câ ndido e Paulo It gar no poder ou participando dele . Como nos ú ltimos meses
,

Duarte , e muitos outros ligados à histó ria da USP , são parte I de lango , o populismo sc alinha com a mais negra reação para
da elite social paulista . O mesmo ocorre corn Barbosa Lima | defender o estado dc coisas , pois é um dos seus sócios propr íc-
Sobrinho no Rio , Em compensação , os velhos propagandistas tinos ” ( Francis , 1966 ; 79 ) . A revista divulga Gramsci eo cornu -
das reformas de base e sobretudo os antigos partid á rios dc Gou - I nismo italiano , por interm é dio de Leandro Konder c Carlos
lart c do PCB são constantemente perseguidos , sobretudo I Nelson Cominho , Traduz numerosos autores " antiimpcnalis-
quando insistem na militâ ncia nacionalista. Ê nio Silveira será I tas ” estrangeiros , como John Gerrasi , e novos teóricos como
preso muitas vezes ainda Apesar de tudo , parece - nos perti - I Marcuse A partir de 1966 , abre amplo espa ço para os represen -
,

neme a distinção entre os dois polos . I tantes da sociologia paulista : Florestan Fernandes , Fernando
Em torno da editora Civiliza ção Brasileira , c depois da I H . Cardoso , Francisco Weffort , Octavio Ianni , Leôncio Martins
Revista Civihzaçao Brasileira , continuam a reunir -se muitos " na I Rodrigues , que jamais aderiram ao nacional - populismo
1

cionalistas ' da fase precedente . Ê nio Silveira , Moacyr Felix e I A Revista Civilização Brasileira foi apenas uma das expres -
Manoc! Cavalcanti Proença —
substituído , após sua morte , por I sões políticas do pólo carioca A editora Civilização Brasileira
— -
,

Dias Gomes foram os principais mobilizadores da revista fun - I esteve tamb ém na origem da revista Paz e Terra cm 1966 . sccre
dada em 1965 O conselho dc redação que aparece nos primei - I tariada por Moacyr Fé lix e dirigida pelo protestante Waldo A .
ros n ú meros n ão terá um papel real . nem chegará a se reunir César ; entre os membros dc seu conselho , estão Alceu Amo -
No entanto , os nomes que o compõem permitem supor que a I roso Lima . o historiador José Honó rio Rodrigues r ainda jovens
revista pretenda dc in ício permanecer na linha teórica do campo | católicos como Alfredo Bosi , futuro historiador de literatura , e
nacionalista da é poca de Goulart : Alex Viany , Á lvaro Lins,
Esta ltivasao dos sociólogos paulista: I ç- vou Larim Guilherme Mor* , nn sua ISt tlogti
H

-
Segundo uma i on versa torn Moatvr Felix e um am go do mesmo autor pubbt ado r orr , Ja cuitars brauitim, a sugerir a hipótese dí uma mudança tlr orientação da rcvivt»
o cirulo ‘ ideologia da rulrura hmsilerra no tniatiá rio O Pasquim a partir dc l 'J6ê . Moacyr Féí i t ru* assegurou que íssti dr taro oSu ocorreu

f l S C S H I u f «O S
208 209

I.uiz Eduardo Wanderley , futuro especialista em problemas edu - O editorial da Política Externa Independente menciona
cacionais. O propósito da revista era propiciar o encontro enrre I que o ponto central dc toda política externa c , antes de tudo .
a esquerda nacionalista e os católicos. Al ém de estudos gerais "objetivar o interesse nacional do desenvolvimento :
sobre a conjuntura brasileira , a Paz e Terra publica numerosos Política externa paxa o desenvolvi men to signifies que o primeiro dever do Bra -
artigos de autores brasileiros ou estrangeiros que defendem o y f pjp com os brasileiros e que , em cor-seqiiè rna , a nossa a ção diplomada
engajamento temporal da Igreja c a conciliação entre a religião B ? era motivada prinapalmeiite pela preocupa ção dc assegurar os meios c rccuf -

e o marxismo \ A Civiliza ção Brasileira também lança em 1965 1 ' b wdem «ttema necessários J expansão acelerada ài economia brasileira.

uma revista dc política extetiot , cuio título indica o seu espirito: 1 “ »



P 1 * ' ' »» * J> '» >•

Potto* Exuma independente . Seu secretário executivo era IK mctul ( Mto Ea ItopotoM . 1965: i )
layrne Azevedo Rodrigues ; e seu conselho editorial inclu ía per- II Desenvolvimento nacional , defesa da cultura nacional ,
sonalidadcs como o filólogo Antônio Houaiss e o crí tico litcrã * I emancipação pol ítica como resultado do desenvolvimento: a tri -
no Otto Mana Carpeaux . O editorial do primeiro numero espe - 1 logia anterior continua na ordem do dia .
cifica : II Essas revistas manifestam també m a fidelidade à$ tã ricas
políticas do campo nacionalista . Como as massas populares estão
Em conclusão . a política externa nacionalista e independente c não só um ponto fora do jogo , essas estratégias baseiam - se na expeaativa de
de partida , mas também um fim . e sempre um m étodo Seu valor é inicial , ter
.
uma revirada na relação dc forças dentro da burguesia c das
minai e operacional isto é , deverá ser efetivado arraves de manifestações concre-
forças armadas: a fraçã o nacionalista da burguesia não pode
tas dc crescente autonomia de açã o diplomática ( Pditua Externa Independente.
1965: 4). deixar de perceber que é a primeira lesada pelo entreguismo
do ministro Roberto Campos , cnquanio a tra ção nacionalista
das forças armadas n ão pode deixar de reagir contra a ren ú ncia
Ill
i rM çâo
Essa variedade de revistai , todas patrocinadas pela Civiliza
Brasileira , demonstra a continuidade das perspectivas ante - ã soberania nacional . A cada etapa do regime militar , mesmo
ti• riores a 1964 , apesar das autocríticas c questionamentos por que resulte num aprofundamento da Revolu ção ” (os autores
i parte dc seus dinamizadores . Voltemos aos editoriais dos pri - do golpe de Estado deturparam essa palavra em proveito pró-
! meiros n ú meros . O da Revista Civilização Brasileira reafirma a prío) parece que vão explodir as contradições das camadas diri -
validade dos antigos esquemas : gentes , Nas eleições de outubro dc 1965 , a Revista Civilização
Brasileira publica dois estudos. Lm deles , não assinado , diz res-
|Os intelectuais convencidos dc que a Revolução Brasileira nesta peito á burguesia : a agitação ressurge nos pró prios setores da
4 ‘
continuam ]
etapa é nacional c democrática c. assim , a vit ória de seus princ í pios n ão rcsul burguesia \ constata o artigo. Enquanto alguns optam pelo
tar á dc ações tutelares parciais e golpistas , cssencialmcnte ilusó rias , mas do
,
endurecimento do regime , outros querem eleições imediatas
esforço de todo o povo , da conjugação de suas atividades|„. j Como nacional , “ para assumir o governo e expulsar aqueles que os privaram
no conteú do da Revoluçã o Brasileira , verificam a necessidade de defender , pre- do exercício do poder pol í tico . Apesar de tudo , a maioria dos
servar e ampliar as riquezas nacionais [ . . ]: o desenvolvimento da acumulaçã o desiludidos unc-sc aos que n ão participaram do golpe e prcle -
interna , opondo-se , intransigetuemente , ao imperialismo ; o suno da cultura ,
rem o restabclccimento da icgalidadc " O outro estudo , assi -
,
agora violentamente detido Como democrá tico , naquele conteúdo, verificam
a necessidade dc defender e ampliar as liberdades de pensar , de escrever , dc nado por Ê nio Silveira , trata das forç as armadas sob lorma de
dizer , de reunir , dc organizai , dc ir e vir [ . Confiam no povo brasileiro uma carta dirigida ao marechal" ( Castelo Branco ). Atribui o
comportamento de muitos militares à sua ignor â ncia:
,

que saberá encontrar o caminho dc sua libertação c o da conquista de seus ina -


liená veis direitos { Revista Cmlàação Brasileirav 1963a: 20-1 ) . Cheguei à conclusão de que sena errado acusar as Força ? Armadas de rererr.
agido C4*scteNtemef !te a serviço dos interesses an ri nacionais. Vá rios deles são
s
Ver o artigo do missionino americano R Shaull publicado em Paz e Terra (Shaull
pessoas de boa fc . convencidos de que o país esiava a beira do aos e prestes i
1967: 103- 19) ser dominado pelo que chamam de comunismo internacional Mas basta trocar
210 21 I

aJgumas patroas coni esses oficiais para constant que dcjconheceit] os raais dr
mcniaics verbetes do vocabul á rio pol ítico e agem cm funçáo cc prccoccritos
-n
çao movimento oposicionista c [ a ] mobilização do povo na
a p^ tas reivindicações democrá ticas e nacionais ( PCB 1980:
"
r ,
( Silvcjia , 1965: M ). surpreender que seu p ú blico seja
Nã o é de composto
‘ ' antumperialistas ' e defensores dos interesses
sobretudo pors op
'

A mesma caria toma de empréstimo a Nelson Werneck


Sodrc a caracterização da " tarefa " do exé rcito: assegurar as nacionaisMiinclusive
a- ções económicas e a pol ítica externa do regime
instituições democrá ticas e livre expansão econ ó mica nacio- chocavam os í ntelecruais que sc haviam mantido dis-
nal ’ \ e acrescenta : Isso nos permite entender como escapa , -
tantes do nacional populismo e das veleidades
da Republica Dominicana
de Goulart.
, Política Externa
c distorce , a tarefa das Forças Armadas n ã o só a separa çã o entre Logo ap ós a invas ã o
os dois termos, que guardam uma relaçã o dial é tica , como. c Independente publica um manifesto assinado por 126 intelec -
principalmente, a deformaçã o cm qualquer deles" ( ibid , : 6 ) . tuais dc tend ências pol í ticas diversas , pedindo a democratiza -
E fato conhecido que os resultados eleitorais na Guanabara ç ção: o sentido dessa reivindica çã o i bastante preciso c os inte -
em Minas Gerais provocaram , no entanto , a ira dc certo setor lectuais de esquerda são ainda mats sensíveis a ela , na medida
militar , resultando no Ato Institucional n " 2 ( AI 2 ), Entre - cm que essa democratização se refere , em grande parte , à vida
cultural. O primeiro n ú mero da Revista" Civilização Brasileira*
outras coisas , csre autoriza o presidente a suspender o Congresso.
Sua principal consequ ência c a dissolu ção dos amigos partidos dedica sessenta pá ginas à den ú ncia do terrorismo cultural .
e o fim das eleições presidenciais por sufrágio direto. A Revista Isso revela a indignação diante do fato dc que os intelectuais
possam ser perseguidos c vigiados sem a consideraçã o pela hic -
Civilização Brasileira nem por isso perde inteiramente as espe
ran ças: o regime n ão pode prescindir por completo da prova
- rarquia da intelectualidade demonstrada is vezes pelo Estado
das umas e , assim , "Todos os brasileiros sabem que , mais dia , -
Novo . Os intelectuais sentem se os primeiros suspeitos .
menos dia , hoje ou amanhã , cedo ou tarde , o país retomará à Duas outras raz ões contribuem para a penetração dessas
r|
í: normalidade" ( Revista Civilização Brasileira , 1965c: 7 ). Esses publicações . Primeiro , a abertura cm direção a outros setores
s ã o alguns dos elementos que garantem a passagem da trilogia da esquerda intelectual nacional — voltaremos á esquerda pau -
i » teó rica à trilogia t á tica : a Revolu çã o est á fadada a esbarrar na lista
o

das
t internacional
novas correntes
; e
que
a progressiva
irrigavam o
tomada em considera -
marxismo , quer corren -
dcccpção de uma parte da burguesia , na recalibragcm política çã
no interior das forças armadas . . . e no voto dos cidad ãos. tes eruditas —
inclusive
Goldmann
mao
,
í
Luk
smo
á cs c
Depois
outros
a
, quer
converg ê
correntes
ncia cm
Essas continuidades n ão se afirmam somente por meio pol ticas
í , o . , ,

geral impl ícita , quanto à necessidade de uma volta pac í fica à


dc esquemas teó ricos . Mcdtm - sc também pela influencia , den - recusa a dar seu aval à luta armada .
democracia , isto é , quanto à
tro do grupo próximo a Ê rvio Silveira , de “ ‘ intelectuais orgâ ni -
O grupo que se re ú ne cm tomo da Civiliza çã o Brasileira é uma
cos da na ção . As circunst â ncias fazem , sem d ú vida , com que
seus posicionamentos tenham cco alé m de seus antigos leitores . esquerda * possibilista", ao contr á rio da esquerda majoritaria-
mente estudantil que desde 67 -68 adota a perspective da derru -
Já n ão sc chocam corn a concorrência dos governantes ou dos bada do regime pela força .
partidos revolucion á rios" , Apesar de muitos continuarem pró
ximos ao PCB , tazem -sc ouvir mais facilmente do que o apare
- -
A importâ ncia do polo carioca mede se pelas tiragens des -
*
sas revistas. A Revista Civilização Brasileira muitas vezes ultra -
lho de um partido desarticulado pela ascensão dos militares , passava os 20.000 exemplares e chegava a todas as cidades do
impotente para enfrentar o regime , ocupado com as divergê n - Brasil ( Hallrwell , 1985: 480 ) . A Paz e Terra também tinha
cias internas , preocupado em preservar -se , cedendo aos riscos
grande sucesso. Só a Política Externa Independente terá curta
dos diagn ósticos de curto prazo e , finalmente , assistindo i mul - dura ção.
tiplicaçã o das rupturas e dissid ê ncias. No Congresso que realiza A participa ção do polo paulcsta nos debates nacionais da
aftnaJ em 1967 , encontra nas dissensões que agitavam o governo esquerda c um fenó meno novo em muitos aspectos . Notamos
Costa e Silva com o que alimentar as esperan ças dc uma ativa - o isolamento soberbo da revista Anhembi, fiel ao antigetulismo
212 213
c desdenhosa cm rela çã o ao nadonal - populismo nos moldes
do de Goularr . É verdade que os sociólogos paulistas colaboram Nli> prrtcndcraos, porem , falai cm nome da sociologia , nem ra qualidade de
na Revista Brasilieme de Caio Prado J ú nior , mas dois anos zoólogo propriamente dita. ISTO nos obrigaria a não lançai mão dc juízos de
valor pois mesmo no exame dos problemas que cacm na esfera da ação , os
biólogos procuram mantcr -sc rão isentos quanto possível ( id . , 1954 : 461 ) .
,

após a interrupção dc Anhembi é a vez da Revista Branlienst


desaparecer A participação dos sociólogos paulistas na Revista
,

Civilização Brasileira deve-se em parte à falta dc grandes revis- A própria escolha dos temas de pesquisa no in ício da
tas paulistas, mas traduz també m uma mudan ça de
atitudes década dc 60 deixa transparecer que n ão sc trata de ficar limi -
por pane da intelectualidade paulista c a transformação da tado à atualidade imediata . Ao realizar um vasto estudo sobre
esquerda intelectual após 1964 . as populações negras no Brasil , Florestan Fernandes t seus alu -
Como vimos , os intelectuais cariocas do per íodo do JSEB nos Fernando Henrique Cardoso c Octavio lanni continuavam
e de Goulart reagiram muitas vezes com ironia e irritação à con - na linha de Roger Bastide , longe das constru ções do ISEB e
descend ê ncia com que muitos intelectuais paulistas, sobretudo do que cm então tido como um objetivo político de certa impor -
os soci ólogos , avaliavam suas elaborações teó ricas. Guerreiro t â ncia . A mesma afirmação vale para os trabalhos de Mana
Ramos ridicularizava os membros da USP que pretendiam , Isaura Pereira dc Queiroz sobre o messianismo.
fazer uma ci ência neutra. Darcy Ribeiro atribu ía uma conscicn -* A Da í a sc concluir que existia uma vontade dc assepsia em
relação â polí tica antes dc 1964 , h á uma grande dist ância . Em
cia mgenua a esses “ representantes oficiais da sociologia t eco
nomia e antropologia universitá rias" que tinham , sem d ú vida ,
- primeiro lugar , muitos sociólogos paulistas que fizeram carreira
nos anos 45- 55 , e muitos dos que a iniciaram no final da d écada
abandonado os determinismos clim á ticos e raciais , para profes
saf , porem , que a ordem existente , gerada pela interação
- de 50. na esteira dos primeiros , conheceram a militâ ncia pol í-
espont â nea das forç as sociais , só é passível de mudan ç as lentas tica: Florestan Fernandes, Antô nio Cândido , Aziz Simào, Maria
i! c gradativas " (Ribeiro, 1983 : 164 ) .
E verdade que os sociólogos da Universidade dc São Paulo ,
Isaura Pereira de Queiroz faziam pane dos grupos trotskiscas ,
socialistas e da esquerda democrá tica. Fernando Henrique Car -
) às vezes herdeiros da consciência elitista que presidiu à cria ção doso foi simpatizante do PCB . Em outras áreas das ciê ncias
da instituição, muicas vezes impregnados pelo estilo de 5CUS sociais, Anísio Teixeira , Paulo Duarte e outros també m partici -
param nas lutas de sua cpoca: e lembramos a import â ncia de
mestres franceses — que . no dizer de Florestan Fernandes , ins-
Anísio Teixeira na pol í tica educacional . No início da d écada
I
-
piravam se na separaçã o entre o trabalho intelectual e o engaja

— de 60 , muitos deles sc engajaram na campanha pela defesa da


*

-
memo político ( Fernandes , 1980 : passim ) mostravam se ape -
gados ao respeito pelos m é todos cient íficos , bem como às regras escola pú blica , a começar por Florestan Fernandes, segundo o
e ã hierarquia universit á rias. A preocupação de não ceder em qual essa campanha lhe permitiu descobrir que o intelectual
nada ao estilo associado às oscilações do humor pol ítico é não pode se isolar . Segundo ele ,
expressa por Florestan Fernandes, quando lembra seus escrú pu - I úU devem nasxrr dos donos
los do passado : “ N ão pude ligar a minha condição de socialista * sixiologiã praisa responder as cxpcctatívas que
do poder , mas sLm dc crit érios racionais reforma , que levem em conta as
de
com a minha condi ção de soci ó logo ” , e ainda quando denun - óricas dc grupos incon -
necessidades da Nação como um todo . ou as pressões hist
cia certos partidários da sociologia "cr ítica " e “ militante que fornibras {Fernandes . 1975b : 35 K
a transformaram cm uma vantajosa forma de transação , pela
A é tica cient ífica também n ão é propriamente tida como
qual tiraram o que puderam da ordem ” ( ibid.: l 4l ). Pcrcebc-
contraditória com a mudan ça social . Isto sc constatará nas horas
sc essa mesma prcocupação no autor quando , pronunciando
uma conferencia nos anos 50 sobre a crise da democracia , dis- sombrias do pós- 1968: é invocando normas c objetivos cientifi -
COS que muitos docentes universit á rios , principalmente em Sã o
tingue a posição do sociólogo da do observador político, afir -
Paulo , se esforçarão para constituir uma frente coletiva dc resis-
mando de in ício: t ê ncia â ditadura. Al é m disso , raros sustentarão por muito
214 215

tempo que a ciê ncia deva excluir os julgamentos de valor . Desde adesconfiança em relação ao desenvolvi men tismo
1962 , o próprio Florcstan Fernandes reconhecia que : tmtreranco , ulismo c , a partir de 1962 , à gest ão de
c ao nacional - pop
aparece com muita clareza cm uma obra
Sc aos papé is do vxióli. o C mereme alarum demento político Lrrcdutive!, n Gool ãrt - Hssa reserva
^
rena histónea bíst&ileira t inevitável que esse elemento ganhe nítida prepondç*. redigida antes do golpe de Estado com a colaboração de Gabriel
Paul Singer , Francisco Weffort , e publi -
ráncia nas .reflexões cc cunho abertamente pragm á tico |...|. 0 sociólogo prectía Cohnr Octavio lannio Brasileira
,

em 1965 , com o titulo Polí tica


empenhar -se dimamente. como e enquanto cientista , nos processos em cutso cada pela Civilizaçã : muitos cap
-
de mudan ça sócio cultural iFcrnar.des, 1962: if ). t revolução no Brasil
í tulos refutam teses da moda
voltamos â constataçã o da dist â n -
Observemos de passagem : no momento em que a discus na esquerda carioca Assim , predominantes
sobre os m étodos da sociologia científica ' adquire uma-
nas duas cidades
cia enrre as visões polí ticas
.

são disso no questionamento


certa amplitude na Am é rica Latina , como mostra Silvia Siga Observaremos outra manifestaçã o
í
no caso da Argentina do in ício dos anos 60 , os sociólogos brasi - direto dos esquemas do PCB por Caio Prado Jr > fiel entretanto
publicado cm 1966
a este partido cm A revolução brasileira , ,
,
leiros não se sentem verdadeiramente envolvidos , com exceção divergê n -
talvez dos jovens cientistas pol í ticos formados em Minas Gerais O estilo intelectual paulista n ão se resume a uma
,
cia pol ítica . Devesse sobretudo ãs condi
ções que presidem à
Os paulistas n ão tardam a denunciar o caráter falso dessa dis- professores
cussão É dif í cil imaginar que as coisas pudessem ser diferen - produção e ao reconhecimento intelectual . Os uni
adaptam
-

versitá rios formados pela USP detê o controle delas c


'
.
m
ces a menos que se rompesse de forma radical com uma com
cepção da sociologia que a associava permanentemente à busca suas estrat égias de acordo com elas A mediação institucional
.

faz sentir seus efeitos: tem ampla influência nas modalidades


,

da realidade brasileira ” , isto é , à definiçã o do campo cultu -


de legitim izaçâo c hierarquização . A lcgiumi 2ação c insepará -

ral c polí tico .


H A partir dc I 960 , a sociologia universitária dc S ão Paulo vel dos critérios que certos grupos conseguem impor , num
dado momento , como constitutivos do paradigma de referencia .

Quanto â hierarquização , que n ão c dissimulada , “reveste-se


aventura -se a seu modo cm direção a temas que também sã o
If pontos centrais de reflexão da esquerda naquele momento . Fio
Fernandes , titular da "cátedra 1 dc sociologia e depois també m de um cará ter iormal , do qual o sistema de cá tedra
restan
é o sí mbolo c pedra - de - toque lembremos as descrições que
i

criador do CESIT ( Centro dc Sociologia Industrial e do Traba-


Floresian Fernandes faz dos diversos 'escalões entre seus assis -
4 » T

lho ) , propõe um vasto programa de pesquisas sobre as transfor-


tentes ( Fernandes, 19 S0: 186 ). Assume ainda um cará ter
f
rí ma ções sociais do BrasiL E nesse quadro que Fernando Henri -
que Cardoso desenvolve suas análises sobre a burguesia ; Octa -
informal relativo à aptid ão dos pesquisadores para fazer prevalc -
vio Ianm , sobre o Estado ; Leôncio Martins Rodrigues
cer urna legiumidade científica divorciada daquela defendida
sobre a
classe operária . Fernando de Azevedo , titular da "cá tedra 11 ”
,
pelos detentores das posiçõ es mais prestigiadas .
de sociologia , re ú ne em torno dc si Antônio Cândido; Aziz A mediação institucional significa sobretudo a preservação
Simão , especialista cm história da formaçã o da classe operá ria ; dc um hiato entre a formulação de propostas teóricas e a mili -
tâ ncia política . No Rio de Janeiro , conforme constatamos a pro -
Maria Isaura Pereira dc Queiroz que estuda o messianismo
,
campon ês; Douglas Teixeira Monteiro , que se interessa pela pósito do ISFR , o papel do intelectual implica uma intervenção
sociologia da religi ão ; Ruy Coelho e outros . Não s ão pequenas direta no campo pol ítico c a reivindicação de uma representari -
as diferenças políticas enrre esses sociólogos . Têm cm comum ,
vidadc popular e nacional J á em São Paulo , remete ames à
inserção num meio especí fico dc inrer - reconhccimcmo e à
refe -
rencia a normas gerais do trabalho teó rico . Em um caso , o inte -
r’ A di <
prla RASCO —
foi aberta pelo* sua ô Jogos rir Minas Gerais que . em geral passaram
'- uv*ío

- r principalmente por Am òflio Ot á vio Cintra em ,dois artigos ( Gifl-


ira . 1 %V t %6 ). As respostas contrariando uma
r-
vtsio da sodokãgta como icrnica vie
sobretudo dc Ottavio Janru ( lanni . 1969) e Carlo Escevam MaKins ( C. E Mar - - El ç recorda que “ roima consistia em Uma discussão err, um primeiro esoUn- nai
,

qual participavam Fernando Henrique Cardoso r Octavio lanni c . depois, com >
jrn

rim, 3966) e de Gabriel Colin (Cohn , l *>6a > . *


segundo ewal ão e seu ? demais. assistente*
216 217

social, que assume proporções e consequê ncias sociopãtteas .


'
leaual realiza seu trabalho com a perspectiva de elabora ção
de um saber guiado pela realidade brasileira ' c deriva mui-
'
Da í resulta a duvida quanto à eficácia da raz ão isolada , quando
tas vezesr portanto , para a ideia de uma "ci ê ncia nacional ". se admite , como Fiorestan Fernandes , que ;
No QULTOT exige o universali .smo c situa - se dcliberadamente
0 fulcro dinâmico da configuraçã o do equilíbrio social nio prové m das for ças
no campo das ciências sociais internacionais. sociais inovadoras mas, ao contrá rio , da < torças sociais conservantisus ou de coa-
Nem por isso o intelectual paulista escapa à conjuntura
lizões de tnTCTwsrs que garantem influencia preponderante as forças corucran -
teó rica nacional : n à o sõ pela evolu ção na escolha dos remas de
taras (Fernandes , I 9ôl: 211- 2 ).
pesquisa mas també m por transformações teóricas. Pode -.se
dcrcctar aí , como no caso dos intelectuais cariocas , os mesmos Daí também as restrições ao evolueionismo e ao desenvol -
pontos de inflexã o e uma homologia nos paradigmas do vimento , visto que n ão podem ser isolados das relações de for ça
momento , embora se mantenham as distancias na aprecia çã o que os modelam :
do que diz respeito à pr á tica teó rica Arriscando - nos a simplifi -
Nio é mais possível tomar coda some de Mdesenvolvimento como mudan ça
11

car , pode ser ú til apresentar alguns exemplos \ ptwniva em deTermmada direçã o , ignorando que muitas das altera ções oa CStTU -
No ÍSEB da primeira fase , impregnado dc nacional - dcscn -
volvimentismo , encontramos urna tripla afirmação: a unidade
cura social por que nos baremos irã o apenas consolidar a ordem social esi T cnct
era peocesso de faffnaçfo ; outras agem de forma inversa , empenhando-se sem
-
enrre evolueionismo. racionalidade e identidade cultural . Apai
.
rememente Fiorestan Fernandes , influenciado ainda por Mann -
- o saber por alterações que conduziriam , a longo termo , á desintegração dessa
,

mesma ordem social ( ibid. 220 ),


-
heim e pelo funcionalismo, coloca se em uma perspectiva intei -
ramente diversa . No entanto , trata -se igualmentc dc privilegiar Chega a época do terceiro ISEB , com sua fé na liberação
a ação racional , garantir a transição do tradicional ao moderno nacional e suas sí nteses entre o marxismo c o discurso da
desalienação de Sartre , ou o discurso da revolta de Fanon . Na
!
e anular o " arraso cultural . Para isso , enfatiza -se , como no
'

ISEB , a exig ência pedagógica . Esta n ão sc baseia , com certeza , mesma é poca , a jovem geração de intelectuais paulistas rompe
cm uma teoria dos est á gios da “ consci ê ncia , mas n à o esta ’ com o funcionalismo c tamb ém sc volta para Marx , Sartre e
menos ligada á problemá tica da formação da nação e do acesso Lukács.
*
à cidadania: “ A escola " , escreve Fiorestan Fernandes, "precisa Vale a pena deter -se um instante nessa ú ltima mudan ça
Ji ser ajustada ( ...) para intervir nesse setor ( esclarecimento dos que ser á determinante para a orientação das ci ê ncias sociais
I -

I 1 jovens com refer ê ncia à> obrigações c aos direitos dos cidadãos durante a década seguinte . Ela se eferua no quadro do cha -
em uma democracia ) . Diz ainda: “ o sistema educacional bra -

mado "Semin á rio sobre Marx " , organizado em 1958 e que se
sileiro poder á produzir efeitos suficientes para alterar , em um reunira durante vá rios anos \ Formado por jovens universitários
sentido positivo , a articulação do Estado às condições reais da da USP , prepara uma ruptura com a hierarquia da institui ção
Na ção" (citado por Licdkc , 1977: 59 ). A propósito do segundo e com as disciplinas que até então abriam caminho à consagra
ção , Fiorestan Fernandes, o " patrono incontesre da sociologia ,
"
ISEB, destacamos a preocupa ção com as forças retrógradas , t
també m o momento em que , para Fiorestan Fernandes , a c mantido à distâ ncia: mais carde , ele ir á lembrar o sentimento
supremacia da ação racional é moderada por alusões crescentes de exclusão que experirnemou O marxismo ainda n ão tem
ao conceito de " dilema social ". O "dilema social » é a desco
berta dc uma • * resistê ncia residual ultra- intensa a mudança
t
-
Muitas da 5 informações subscQiieruef provém dc entre, isiss corri membros do gmpr-
.

c cimbtrm d» conferência realizada por Roberto Sthwafz tm 1983 na EHE$S c dn


rsiuilo dc Bernardo Sorj sobro o C-EBRÁP l. Sonr 1984ft )
Nos pUBg ralos seguirire* , uulizamo* diversos dados referentes A sociologia paulista
extraídos d .i i. st dc mestrado dc Enno Dj obeno liedkc Filho. Ttorij é métode VJJ
^
ID M

ram um círculo dc rsrudos. por exemplo, no qual $c issoctaram .


Os meus 4.olegts mais póvCfií não vimplciicajrajTi ;is iiiiías pars mim. Eles LOI ? sr íí LS í
i ôlogoi , frtWKi
-

pdu aiitJtii
-
aú USP f .í 9S 4 i % 2j i Liedkc Filhe 197 " ). que rios foram ge utilmente cedidos mistas r filósofos, que começ ou por uma an á lise dos iextos de Marx . Eu me vi exclu í -
-
do ' ( Fernandc; 1980 191 ).
S
2 IK

direiro de cidadania no ensino

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Rodrigues sotióloeo Ha

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.
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I
I
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II
I
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maturidade e

Como ressalta

mente amiiscbiana
Calistas_- ’
-rs
. “ “SMis*STK. *
; 3:

GiannottJ
»»


"consciê ncia da situação ” , praxis , reificação , trabalho . Alvaro

mfluência dc uma esquerda cristum

--

dc Saitrc para fazer do marxismo
o


mais obstinado

ã , que se

na fenomenologia Mas a abordagem c radical -


. Não d á espaço aos mitos emancipadores

c restitui à esfera da produção e aos concertos-chave



de Marx como o da mais- valia a sua importância central
— em

unta
pensamento
atacar
da • • consciência * - o objetivo é romper com essa miei -
*

preta çào ética do marxismo ’ que se difundira


as
*’
ilu

no Brasil sob
i

aos le totes
cscatologi -
.

,
219

II
O resultado se faz sentir na ao pecado . A preo -

. ^ F"nando Henrique Car-


h
co" ( ibid . ) c da alienação algo equivalente
doso e Octavio lannisr hr
»
*^ r*** sob c ,
° PT° polIt, co
,

^
«2 , ,


publrado « A
ano, soam como

III
^ íTJSd-f T socais. Ele resulta de fato , no que assumirá a forma de um
di ° T°
um conjunto dt prapo.iS5
m , te ‘ Per
qUC ,
Bout-

^ ^
*

I
ve segundo R Boudon e F

anr
cdade escrava - paradigma , dando a este termo .
ga úcha em sii '" ‘ultnr
' dC
3 :
SCK|
S ,S, ma 5
, .
ourará
e, ou ,
H
Í , s“ce”tanao. * *
gista J

o “* ' . os n^ ° óricos assentando



menos sobre a realidade social
f
À ação
v

social em sua singularidade e criatividade , passa a ser compreensível


,
^do que sobre a linguagem a ser empregada paractratar
eiatc ,
da reali -
. - ProP
dade social ’ ( Boudon e Boumcaud , 1982: 562 segs )
°
j f
porque se expliiitaram as condições gerais de possibilidade da açao c as condi
1 *

I
- Ji ções geram [ por su2 v c p o d e m ser teoricamente analisadas como resultan
-
- sições e enunciados que admitem cena margem de varia ção e

lit tes dc tensões , contradições c opções humanas concretas, hmroncameme situa


das (Cardoso . 1%2: 25 )-
- transformação: isso é indicado já de in í
os de Cardoso e dc Giannotti que , a
cio
partir
pela
da í ,
diferen

limitada
n ão
. Em
ç a
param
entre
dc
todos
Octavio Ianni , por sua vez , faz referencia ao m é todo dialé- evoluir . Essa margem , porem , permanece
os momentos , subsistem crité rios que permitem discriminar os
tico , que d á acesso “ ao estado e os sentidos das conexões estru
rurais dessa mesma realidade , integrando imerpretativameme
- enunciados admissíveis dos n ão admissíveis. A medida que
os homens, os grupos sociais , a organizaçã o da sociedade , a alguns dos “ veteranos do Semin á rio v ão chegando à$ posi . ções
de prestígio no mundo universit á rio sã
"

, o levados a definir esses


estrutura económica , o sistema cultural ' ( Ianni , 1962: 21 ) . dentro do corpo
Em 1966, ser á a vez dc José Arthur Giannotti fornecer sua inter - crité rios . Assim , opera - se uma rcclassrfica çâ o
docente . Uma pane preservará sua evidência subscrevendo o
preta ção de Mane em Origens da dialética do trabalho , < um
trabalho acadêmico” , como ele mesmo afirma ( prefácio à edi -
4
novo paradigma . Florestan Fernandes d á o exemplo , prepa -
ção francesa , citado por Liedke , 1977: 97 ) , que , abandonando rando , a partir de 1967 , essa obra maior que é A revolução
as obras do jovem Marx , pretende mostrar como. cm O capital. burguesa no Brasil, onde analisa o “ modelo autocrático- bur -
se produ 2 a objerjvação das relações dc í ntrrsubietividade . Os gu ês dc transformação capitalista " (Fernandes , 1979 ) Uma *

outra parte , cujo trabalho n ão c menos not á vel , ser á , ao contr


á-
temas desses trabalhos demonstram que eles se inserem nesse quadro
na rio , relativamente marginalizada F: evidente
, que ,
mesma conjuntura teórica dos trabalhos do ISEB: alienação .
de adesão ao paradigma , alguns n ã o deixarão de produzii pro-
22 l

22U
Mantém -se à distâ ncia
..
posições de referencia que outros se l m carào a reproduzir ou
transformarem vulgata: basta consultar varias teses para consta - II Tuè
“^‘‘ ranç», depositadas cmueGoulanj
QS leitores u capiM
Hilfer-J
“ mas-

do PCB.
*
ar _
I
f

sas p°Pu ções da vulgata marxista


.
tar que noções tais como acumulação , classe dominante e , cm

^
proposi
seguida , claro , depend ê ncia , est ão com frequência na ortgem 1 ding ljTlca
^
tocja5
^ intervcm também no debate
de uma retórica onde o marxismo convive bem com um funcio- Sesse urdo50 sobre os empresáno Rrastl . P blicado
- rios

^
(
nalismo involuntá rio , porem muito rudimentar . I lV í 0
V nvolvintento econó mico

^
meiro
Mais alem da redefini ção teórica das ciências sociais , 0 | ‘ - maís do que uma tese acadêmica p ,

marxismo universitário é , à sua maneira , constitutivo de uma 1 cm abril de )

t neons i r é neias
do projeto de hegemonia *
I
-
cultura pol í tica que define um meio social No ní vel mais ele - Juindo pelas defende uma tese polhK ^
1V
.

memar , torna -se , sobretudo após 1964 , o sinal de uma idtnti- burguesia im usina ^ da esquerda
ficada p^ rL. vi|^ t nlcs n0 interior
.
,

dade coletiva envolvendo cm primeiro lugar os estudantes . I que contraria as teses ent
ão
clarividência . Citemos sua
Muitas vezes , são estes que impõem a multiplicação dc cursos H Redigida em 62- 631 não e
sobre Marx e seus disc í pulos . Em certas faculdades, particular- ultima página: por
mente cm 1968 , chega a acontecer dc os estudantes recusarem
,õe4 c interesses dc upo
tradicional que a prendemlado .
qualquer leitura de Durkheim ou de Max Weber Em ouiro Dhada a: motivai e por outro
concepção tradicional da existência
entre
um lado ao iacifiintLo c à ao qual %r associou para crescer economicamente ,
.

nível , essa leitura pol í tica marca , no interior da universidade


ao capitalismo internacional uma política a beira
,

a intcrsecção entre o campo intelectual e a polí tica . Nisso tam - vê na contingê ncia de realizai
industrial os grupos tradicionais querem
se
a burguesia
bé m 1964 representa uma ruptura . O que no Seminário , reme - contra 0 imobilismo a que e
ora reage
. c contra as pressões urbanas
,
do abismo :
tia à marxologia distanciada do engajamento pol ítico , adquire a pol ítica c a economia do país ora re ^ porque não se d á coma
limitar nào
ourra dimensã o . No m í nimo o paradigma marxista torna- sc
,
populares que tendera a quebrar a rotina . Hesita sào contraditórios [ ... ]
,
porque interesses
também significativo da oposição ao regime militar . Al ém disso , Je seus interesses i çais , mas esics
.
As decisões fund a men -
dc compromissos possíveis -
dclincia - sc uma nova diferenciaçã o dentro inclusive do grupo
dos ‘ veteranos" do Seminário , entre aqueles cujo discurso con -
Estreua s -
e 2 uda dia a á
t ua que parece , optou pela
o apenas da burguesia industrialde tentar a hegemonia plena
of

tais nio dependerã

-ceder
de uma vez por todas
l tinua antes de tudo teórico , e aqueles cujo discurso se torna derr. isto c, por abdicar : It
Cardoso 1964 ó 7)
• í
mdistintamente teórico e pol ítico na medida em que visa a da sodedade ( ,
da
interpretar a conjuntura . S ão esses ú ltimos , encabe çados sem final parece ao gosto dos dilemas ,
Só a frase : ‘ No limite
4

d ú vida por Fernando Henrique Cardoso , que se encontram nas


com essa f ó rmula em forma de pergunta ?* ' (ibid . ) .
•I páginas da Revista Civilização Brasileira e conseguem maior moda ,
ão subcapiialisrno
ou socialismo
das
a pergunta será ent estará no centro
,
destaque . Essa cultura pol í tica escapa , claro , á atração do Estado mesma questão que
vigente . No caso da USP , a tradição universitária conjuga - se No entanto , é esta
reflexões políticas após 64ção à cultura política carioca nao deve .
.
com a desconfiança cm relação a Goulart , depois com a resistên -
cia ao regime militar , para provocar urn processo de autonomi - A diferença em rela , compro-
de um terreno comum diferen -
za ção do meio universitá rio . O que n ão significa que a fascina - porém , ocultar o surgimento
debate . Os usos de
Marx podem ser
ção pelo Estado tenha desaparecido completamcnte . vado pelo pr óprio . Isso não
tambem os diagnósticos da conjuntura
De fato , desde a é poca do Seminário sobre Marx , a teoriza - tes , como
ncias teóricas comuns
acabem com a tgno -
çã o rem o significado indireto de um posicionamento pol í tico , impede que as refer ê
1930 , profundas rupturas
marcam
pelo menos em relação à esquerda tradicional . N ão questiona Como cm
ráncia recíproca .
- novamente , sera
excluir a concordância
apenas o idealismo da ideologia do ISEB , mas também todos a intelligentsia mas ção de um meio
nem a :manuten
quanto a certas finalidades
os esquemas propostos pelo PCB . Faz rá bula rasa da concepçã o
das etapas sucessivas da revolução burguesa e da coexistência
enrre o feudalismo e o capitalismo , da posição da burguesia de intcr - reconhccimcnto
III 223

Com o do tempo , as professores universit á rios pau -


passai c bem intermediá rios , ao preço de uma desigualdade cresceme
listas entram nos debates nacionais da esquerda , O golpe de na distribuição de renda , sua continuação esbarra na [ imitação
Estado precipita essa mudan ç a. Por for ça natural das coisas , da capacidade de importa ção c na redu ção da rentabilidade
-
abre se uma era em que os intelectuais participam da política macroeconómica (ibid . : 116- 7 ) , Portanto, n ão parece possível
pretendendo menos atuar de imediato sobre a sociedade do preservar as taxas dc expansão anteriores. Esse artigo fornece ,
que influenciar seu prop d o meio . O espaço intelectual toma- assim , uma ilustração das teoriza ções sobre os bloqueios estrutu -
se , por si só , um espa ço polí tico . De forma correspondente , o rais que ser ão desenvolvidas nos anos seguintes .
intelectual demiurgo e encarregado da representação popular À tese dc Mar ía da Conceiçã o Tavares , formulada —
repi -
apaga -sc cm proveito do intelectual cr í tico , que se dirige , antes
de tudo , a seus pares e a seu p ú blico -
tamos — em 1963 , antes do golpe de Estado portanto, ser á
.

de fato retomada e radicalizada após 1964 , inclusive por econo -


floims de primeiro plano . Celso Furtado destaca não só os "en -
traves ao desenvolvimento brasileiro , sobretudo a perpetua ção
O diagnostico: blogueios estruturais da solidariedade entre industriais e propriet ários dc terras , coo *

e regressão politico uariamenre ao ripo ' cl ássico ' de desenvolvimento capitalista" ,


c a fraqueza do movimento sindical por causa dos sal á rios ope -
O “ dcsenvolvimenrismo" agonizava desde 1958 , O golpe rá rios " reiativam ente elevados (Furtado, 1967 a: 173-4 ) . Men -
’ 1

de Estado faz dele uma boa peça para um museu da ideologia. ciona tamb é m o espectro da estagnação: mesmo as decisões
Discordantes sabre outros pontos , os intelectuais de oposição racionais n ão permitem escapar às distorções estruturais" que
reconhecem , quase com unanimidade , que a ruprura política acompanharam a industrialização; “ é nesse sentido que se
é o resultado do esgotamento do modelo de crescimento c que pode atribuir ao problema da estagnação latino- americana um
o governo militar , sob a ortodoxia económica , faz apenas uma car á ter estrutural " (Furtado , 19681 citado por F . de Oliveira ,
vã tentativa de devolver a primazia aos setores tradicionais. 1983: 173 ) . Luís Bresser Pereira , por sua vez , enumera “ tr ês
Dai a sua conclusã o , ao mesmo tempo pessimista e otimista : causas estruturais , ou seja , que dizem respeito à estrutura eco -

r . o Brasil corre o risco de ser condenado à estagnaçã o económica , n ó mica do paísr ( Pereira , 1968 : 139) para a crise econó mica
í
.

í mas o momento só pode ser um intervalo , já que o governo brasileira: a diminuiçã o das oportunidades de investimento, a
mergulha num impasse limitação da capacidade de exportar ( e , portanto , de importar )
1
.

I O artigo escrito por Maria da Conceição Tavares cm 1963 c a infla ção declarada , concluindo tamb é m pelo “ esgotamento
e publicado em 1964 , "Ascensão e declínio do processo de subs- das possibilidades dc substituiçã o de importações " ( ibid . : 158 ).
tituição das importa ções no Brasil ” u, anuncia o fim das políti -
cas da primeira fase da CEPAL . “ O processo de substituição
A esse diagnóstico dos bloqueios ao desenvolvimento acres
cent a-se a condenação das orientações económicas dos novos
-
de importações , enquanto modelo de desenvolvimento , jã aim
.
giu o seu estágio final " ( Concei ção Tavares L 9S2 : 115 ). Seu
- governos , que levam direto à cat ástrofe. À esse respeito , cite-
mos també m Celso Furtado . Em artigo publicado no n ú mero
sucesso inicial foi progressivameme seguido por uma distor ção especial de Lei Tempi Modemes sobre o Brasil , cm 1967 , ele
crescente na aplica çã o dos fatores de produ ção , e pelo apareci - avalia que essas orientaçõ es visam à “ ruralí zação ” do Brasil ,
mento de novos pontos de estrangulamento expressos nos dese - eliminando “ a atração atual mente exercida pelas cidades , redu -
quil íbrios na balan ç a de pagamentos Mesmo no Brasil , onde
, zindo os investimentos p ú blicos e privados nas regi ões urbanas ,
possibilitara o início de uma produ ção local dc bens de capital [ de modo que ] a economia tenderia a estender - se horizon cai -
ro ente , isto é , com modifica ções mí nimas nas formas dc produ -
Publicado on espanhol cm [ %!= na revista ílf CEPAL. republicado cm pnnu uc í ção ' ' ( Furtado, 1967 b: 595 ) , Se este projeto se realizasse ,
capimlo do livto £>J st
LOITJ í} !! rn ^
í bifituiçâG de importe#ôti ao capiuiemo fmanc&wo . comenta Furtado , o Brasil talvez alcanç asse uma ilusó ria par
ein 19S 2 - social , mas "ficaria afastado da revolução tecnol ógica ' e os
1
Nossas foram ratrsídls dessa edição brasileira

B5C S H / LfFUflfl
224 225

“ enormes recursos naturais do pa ís , em especial suas terras “ Esgotamento da substituição das importaçõ es" , “ obstã -

.. .. . ^ I
abundantes , teriam sido utilizados contra o seu próprio desem B cUios estruturais", “contradições" explosivas: o conjuntural
volvimento". E ainda: desaparece por trás do “ estrutural". Voltemos a Albert O ,
to imesámtr ici, itototo «fato p m de 1964.»
. Hinchnun: essa sú bita mudança na apteensão das tend ências
Se p
* ,
o «mo de ninb i « sufidtmemen e eonscJu económicas nao pode set compreendida sem que se reinttoduaa
I«I deneae de í
dado pan iriodiiicíí o cunoda ^ *
evolução brasilei/ a durante uma ou diiis gera - I a mediação dos modos de pcrcepçao . Na ase o esenvolvi -
ções (ibid , : 598) . I menusmo , os economistas subscreveram a visão de uma raciona-
1 I
i

r.m „ lidade económica sem falhas , concretizada no planejamento


Alimentaram també m esperan ças de uma homogeneização pro-
,

outro estudo publicado no mesmo n ú mero , H é lio I r

. à medida que avan ç asse o desenvolvi -


Jaguaribc acentua as implicações da abertura incondicional aos IV siva da
o encaminhamento para uma msu - II
mvestimemos estrangeiros :
porr á vel concentração da r queza c para a estagnação Essa
implicações revelam as contrad ocs que minam o modelo:
II . 0 pr óprío Celso Furtado anuncia que o Brasil havia
. conquistado SCUs centros de decisão" e escapado, assim , à sua
^ I
condiçâo periférica (Hirschman, 1971: 303). A interpretação
do crescimento era indissoci á vel dessa ideologia do desenvolvi -
A priracija cúotradiçío decorre da impossibilidade classicamente formulada per
Maa dc manter por muito tempo um processo dc concenrraçSi] econômica {ibã A; II mento , Bastaria surgirem uma inflação e restrições à capaci -
620). I dadr de importação para que a ideologia voasse cm pedaços .
. - de - - - II .
Iniciam -se a, pesquisa das causas estruturais ”• do fracasso ” ..
-

AA segunda
j
resulta de que , na ausê ncia
1 J r
transforma ções V
c a busca de so u çoes nao menos estruturais . Retomando
«
D * „ J.
&
<
\ j I

II I
interno oue nossa atraí- los- os tema5 dc Albm 0 Hir^hman . tudo se passa como sc a
^ ^ inflação do nível dc preços tivesse produzido , dentro do domí-
l ííI - -.
Uma rdação colooial Éiscista BrasiI Estados Unidos atineram , portanto,
rcduçíodbiajuda à economia brasilcua c bloquearia seu dcseflvohrimcmoam ò
nomo e end ógeno ( ibid.: 621).
uma
-
I
I
I
nio económico , uma inflação na definição dos ' rem édios fun -
damentais' ” ( Hirschman , 1979: 83 ). De uma ideologia passa -
sc as5irn a outra: a do desenvolvimento bloqueado e fadado a
* *
Essas poucas referências às opiniões de economistas profls- I auto-a lime ntar suas distorções, a menos que passe por urna
sionai5 ou pr á ticos n ã o pretendem apresentar a argumentação I, pleta rcorien ra ção no sentido de uma lógica endógena . Con -
ern detalhe Tem apenas o objetivo dc introduzir algumas refle - I' tra as medidas de rigor do novo governo, defendem - se os in % es -
I rimemos maciç os nos setores- chaves. Desta forma , o economista
*

xôes sobre o clima intelectual instalado após 1964 . N ã o é por


acaso que lembramos cm primeiro lugar o posicionamento dos I continua a colocar -sc ( imaginariamente, pois esta afastado do
economistas. Durante o período do desenvolvtmentismo ”
4
. I poder ) na perspcctiva da restauração de uma racionalidade per -
elcs adquiriram junto à opinião pú blica uma autoridade de pri - í eitamente controlada .
meiro plano . A difusã o do marxismo accniua -a mais ainda: jã
Temoiv que nus perguntar se uma pol ítica capaz dt interromper a tend é nua a
n ão h á an á lise do social que possa dispensar as premissas econ ó- longo rermo para a estagnação n ã o devtna admmr a hipó tese dc uma ação cuns-
micas . Eles mesmos se encarregam dc enunciar certas correla -
acme c dcliberada com visits a criar um novo enquadramento institucional \\ ur -
ções entre economia c pol í tica . Os sociólogos enveredam por ? ado . 1970 - im
esse caminho e . atras deles , todos os intelectuais de oposição ,
O que os economistas propõem é retomado , muitas vezes dc Ao preconizar a fundação de novas instituições, ele certu -
forma mais abrupta , pelos vulgarizadores, tentados pelos mode- rnente marca sua oposição ao regime militar , mas també m
los explicativos gerais. Para o grande pú blico , c a hora do entu - assume o tom dos pensadores desde 1930 , ao supor que as ins -
siasmo pelo ' desenvolvimento do subdesenvolvimento ” c pelas
4
tituições dever ão permitir “ formas superiores de organização
dedu ções pol í ticas daí decorrentes. social ” , e lamentando que:
1

.
226 227

A .
«bdc balara nã o conseguiu , «£ o peeme mi um sistema de institui-
rões com base nas quais o poder politico pos» ser exercido para traduzir em pro-
jeios opemcioca.s as aspuaçto basicas da coleuv ídade { Furtado 1965a: 145 )
V
V
A
namento das
Jf
““ jf »
. <9* 9* 0
Pj
^^ o-
institui ções bas cas em que se apoia o podet cm rondi ç oes facora -

^
Da mesma forma , quando Francisco de Oliveira , que par -
ticipou com Celso Furtado da aventura da SUDENE , convoca
os “ profissionais do planejamento" para empreender em mente
, „ .
poliucas:
,
Furta,do msi5tc tambcm no
super - rcprcsentação
, , ., ,
dos
a‘sfunSott propr a -
serores arcaicos no
.
Congressot ineficácia deste etc . Em resumo , os fatores políticos
seguida a busca da nova teoria que poder á ajudar a plasmar
tanto o conhecimento como a transformação de nossa socieda -
n áo são menos determinantes que os entraves económicos.
de" ( F de Oliveira, 1966 : 47 ) , permanece fiel à cren ç a na oni - Várias razoes podem explicar a recusa em se fechai no econo
L L

-
micismo". As lembranças dos sobressaltos pol í ticos e sociais
.

potê ncia da raz ão esclarecida . A sedu ção dos paradigmas pode dos anos anteriores ainda est ão vivas , sobretudo para um econo-
gerar uma impossibilidade de ver os remanejamentos da reali - mista que teve participação no governo . A convicção de que
dade em processo e levar a atribuir a medidas econ ómicas discu - as medidas dos novos governos est ã o fadadas ao r á pido fracasso
t íveis o sentido dc urna inversão total: a volta ã economia agrá ria . suscita esperan ças de uma reviravolta pol ítica que permita reto-
Dos bloqueios económicos " estruturais" ao autoritarismo mar a via da industrializa ção. Alem disso, h á economistas
"estrutural ", a consequ ê ncia parece adequada . Os economistas ,
como Paul Singer que se recusam a considerar o processo infla -
porem mostram prud ê ncia para efetuar o salto de um a outro .
,

Sem duvida , Celso Furtado sugete , desde antes de 1964 , que ^


cion á rio posterior a 19 8 como resultado de causas estrutu -
rais" e a oferecer uma an álise “conjuntural ” do fenô meno ( Sin -
o impasse econ ó mico pode levar “ à ruptura do atual equilíbrio ger, 1965).

!!
de forças e à supera ção dos m étodos pol í ticos convencionais" Como já observamos, nem todos percebem igualmeme
( Furtado , 1965 b : 174 ) ‘ 7 Claramcntc se entende també m que as nuan ças. Tanto o " bloqueio estrutural como as opçoes eco -
as opções económicas do regime supõem o recurso á repressão : nómicas do regime d ão lugar a teoriza ções mais “ r ígidas " por
I r o retrocesso , o arrocho salarial c o rompimento com o naciona - parte de muitos í ntelectuais.

I lismo económico só podem se realizar a esse preço . Por sua O "estrutural " assume um n ú mero ilimitado dc expres -
vez , Francisco de Oliveira , que vé no golpe uma consequê ncia -
sões . Manifesta se como tendê ncia à deterioração dos termos
da estrat é gia imperialista " que transfere as decisões sobre da troca ( por exemplo , Tavares, 1965 : 147-61). Traduz -sr nas
nossa vida para fora do territ ório nacional " , mostra que a vio- estruturas agt á rtas. Transparece na dependê ncia tecnol ógica : “ a
l ê ncia constitui um elemento indispensá vel a ele . Entretanto , ci ê ncia ê universal ; no entanto , vê- se limitada unicamente ao
hã ainda uma grande dist ância entre essa argumenta ção e a universo das naçòes ricas c avan çadas" , escreve o f ísico José
que prevalecer á após 1968 c que far á do “ Estado autorit á rio " Leite Lopes (Leite Lopes , 1970: 46 ) . Revela -se nas “ relações
um componente funcional e necessá rio do modo dc desenvol - dc dependê ncia aos Estados Unidos , o que ampliará a base
vimento: o plano pol í tico ser á ent ã o totalmentc reduzido ao
material que tem permitido a evasão da renda aqui gerada
plano económico. Na maioria dos textos de Celso Furtado
( Tavares , 1965 : 158 ). A lista poderia continuar , mas c sufi -
ciente para se perceber que n ão h á dado econ ómico algurn que
publicados de 1964 a 1968. a mediação polícica conserva toda não sc relacione a esse conceito . Assim , é ilusó rio analisar a
a sua import â ncia . Em 1965 . ele interpreta a implanta ção do inflaçã o anterior a 1964 pela gestão governamental :
regime militar como consequ ê ncia da intensificação dos anta -
gonismos sociais : ícia ( . .| ê pane correspondente da csautcsra
A superestrutura monet á riac cfídit .

da economia brasileira é determinada e condicionada pelas formas eme -


mamente concentradas da propriedade dos raeius dc produção. Tais formas dc
O p refino especifica que o livro , iraduçân em ripanho! dc uma vcisão etn portu-
gu ês publí vida em 1964 . foi escrito antes do golpe . concentração da propriedade e da produção ( , .. ] tomam essa estrutura um
228 229

encrave ã livre expansão das tor


ças produtivas t. portanto, um obsránito ao impossibilidade de desenvolvimento e da dependê ncia estrutu-
'

dcstTivolvimeDio da produção (Guimarães, citado por Tavares, l% 5 IÓ 2).


ral " , essas reservas desaparecem . De simples eventualidades »
.

Esta é apenas uma etapa na utiliza ção da 'causalidade essas alternativas transform am -se era pmpcctíva imediata . O
-
1

estrutural Mais um passo é dado com a difusão do tema do


", " intervalo" militar parece capaz de se prolongar , mas a explo
"desenvolvimento do subdesenvolvimento ' . Sabe -se que André
1
sã o decorrente da acumula çã o dc " contradi ções" també m
Gundcr Frank será o inventor dessa fórmula , baseado na inter - parece sc aproximar e , com ela , a oportunidade de uma nova
preta çã o das rela ções entre as economias perifé ricas e o "capita - "organiza ção do poder .

lismo mundial ", Á f —


órmula se expandir á e não só no Brasil Essas são as fórmulas subjacentes aos debates da oposi ção
— como um rastilho de pólvora a partir de 65 67. Diversos
ancores lhe acrescentaram comcnc â rios e refinamentos, por
- intelectual- Fórmulas ainda de compromisso: o "estrutural
vale sobretudo como econ ó mico , n ão conquistou a esfera pol í
'

-
exemplo Ruy Mauro Marini , ao sustentar que a integra çã o do tica , onde um novo movimento de reviravolta continua pare -
Brasil na ó rbita do imperialismo conduz ao "agravamento da cendo mais provã vcl . Em 1965 , a autoridade do marechal Cas-
lei geral da acumula ção capicalista , isto é r ã absolutização da telo Branco d á sinais dc enfraquecimento . Em 1966 , o acordo
tendência ao pauperisms , levando ao estrangulamento da pr ó- estabelecido entre Carlos Lacerda e João Goulart lança as bases
para uma "Frente Ampla ” de oposi ção civil que , conclu ída
pria capacidade de produ ção do sistema ” ( Marini , 1969 114 ).
Em seguida , em 67 -68* chega a vez das variações rnn torno da
- em setembro de 1967 , parece abrir caminho para uma vasta
"
depend ência " , É dam quen para Fernando Henrique Cardoso coalizão civil , embora gerando grande ceticismo. Em 1968, o
e Enzo Faletto , entre os primeiros a ststemariz ã da , essa noção movimento estudantil cria a esperança de uma sublevação em
estava no pólo oposto das formula çõ es de Gunder Frank ; volta - massa da "sociedade civil ". O "conjuntural " governa â pol ítica.
remos a esse ponto mais adiante. No clima da época , porem , Foi só depois de 1968 que o “ estrutural " sc apoderou
ela devia circular entre o p ú blico intelectual como uma conden - també m da esfera polí tica . A proclama çã o do Aro institucional
sa ção cômoda dc todos os temas precedentes: bloqueio estrutu - n ° 5 influiu nisso , porem houve dois acontecimentos i melee -
I ra!, subdesenvolvimento acompanhando o desenvolvimento ruais n ão menos importantes .
ti*
imperialista e pauperiza çâo. Primeiro, a difusão da " teoria da depend ê ncia " , que não
Quanto às interpretações do autoritarismo , acompanham só condensa ternas esparsos como permite uma articulação
a evolu ção das conceitualizaçõ cs econ ó micas. Antes do golpe estreita e "estruturai" entre a economia e a pol ítica . A partir
de Estado , o terreno fora preparado pela difusão das ak cm ati - daí, a ditadura se separa de suas origens : a mem ó ria da polari -
vas; reformas de base ou restaura çã o conservadora , socialismo za çã o de forças sob Goulart vai se apagando e assume o aspecto
ou estagnação . Assim t logo surge a ten ra çã o de afirmar que a da expressão pol ítica da depend ê ncia .
nova orientação econó mica é a porra aberta para a formação Em seguida a descoberta de que a economia n ão est á con -
,

de um regime dc tipo fascista , Hélio Jaguaribc fala de “ colo - denada à estagnação , Foi uma descoberta lenta , dif ícil e polé -
nial'fascism o " : c urna forma de indicar a correla ção direta entre mica , pois rompia o dogma da estagnação. Embota a retomada
um desenvolvi me rt to que sc cumpriria pela submissão ao "cem da Industrialização fosse cada vez mass indiscut ível , ela n ão era
" poss í vel " por razões científicas. Duas obras » entretanto, impe -
iro metropolitano" , e o regime politico . Thcot ò nio Santos
dem que sc fechem os olhos para ela . A primeira c o livro de
J ú nior vê no fortaleci memo do "capital monopolista " um fator
Cardoso c Falerto , Dependência e desenvúhimento na América
que contribui para a " possibilidade objetiva ” dc uma evolu ção
propriamente fascista . Para esses dois autores » em textos de Latina , publicado em 1969 . Suas ultimas páginas admitem que
pode haver crescimento no contexto de um " desenvolvimento
196" e 1965 , a hipó tese de consolidação fascista é , contudo , associado " .. A segunda c o artigo dos economistas Maria da
pouco plaus í vel ; ainda predomina a cren ça ria queda pr óxima
do regime . A medida que se aprofundara os esquemas da Conceição Tavares e José Serra , com o eloquente titulo; " Al é m
da estagnação ; uma discussão sobre o estilo dc desenvolvimento
]
230 231

recente no Brasil ” u . Na primeira parte , o artigo questiona H á diversas maneiras de interpretar esses termos e conclu -
explicitamcnre a ideia de estagnação , criticando os pontos dc sões . Pode-se perceber o que declaradamente est á em jogo: a
vista expostos por Celso Furtado em 1969 , no ensaio " Desen - enrica aos esquemas do PCB e ã cultura pol í tica neles baseada.
volvimento e estagnação na América Launa : uma abordagem Entretanto distingue-sc também uma volta is concepções de
,

estruturalista ' f Na segunda , analisa o crescimento brasileiro e 1930: embora a maioria das an á lises sc situe numa perspective
suas distorções , nã o só mostrando que se verifica um cresci - marxista resultam cm diagnósticos negativos , com as classes
,

mento acelerado do Brasil a partir de 1968 como també m res- sociais sempre sobressaindo por suas defici ê ncias e o povo , por
saltando o papel dos setores de ponta e da incorporação dc ino - sua inconsistê ncia pol í tica . Pode - se também discernir nessas
vações tecnol ógicas . Reconhece també m que uma maior inser - aná lises as premissas de base para a noção de depend ência .
çã o na economia internacional n ã o conduz necessariamente ao Carê ncias e inconsistências : está dado um primeiro passo no
' subdesenvolvimento": sentido da penetração do ‘ ' estrutural ' na esfera social e pol ítica .
'

N ão pretendemos expor os detalhes dessas indagações.


0 Brasil I . . ) consumi um dos cases mais t ípicos drintegraçã o ( com ou sem cri - Por é m , é indispensá vel resumir alguns deles — pelas razões
se ) da expansão de sua economia ã economia do capitalismo mundial , o qut que acabamos de citar c també m porque revelam a converg ê n -
gerou uma im elevada de crescimento (Conceição Dvarcs e Sem , 197 -: J62 ) cia entre os grupos de intelectuais , a começar pelo derivado
O faro de haver crescimento n ão constitui um "obstáculo ” do nacional - populismo e o associado à instituição universitária .
para a leitura "estrutural do plano pol í tico Ao contrário, para

.

muitos intelectuais . é um convite para ver no Estado e no regime


pol ítico simples engrenagens do processo de acumulação. . 4 burguesia nacional e a estraté gia pol í tica
de aliança de classes

Debates e questionamentos Nada indica melhor a difusã o dos esquemas do PCB do


que a aspereza com que se debateu a quest ão da burguesia
No per íodo compreendido entre a derrubada dos mitos nacional .
nacional - populares e o triunfo da "teoria da dependê ncia" , A contestação vem , cm parte , dos pró prios intelectuais
nenhuma interpretação global da evoluçã o brasileira se impõe do PCB Em 1966 , Caio Prado J ú nior publica A revolução bra
.

fileira, resumo de suas críticas às teses oficiais do Partido ,


verdadeiramente . As incertezas predominantes ficam claras com
a constatação da in é rcia superposta à crença na transitoriedade obtendo imensa repercussão Nenhuma tese escapa : da sucessão
.

do regime militar. As circunstâncias n ão se prestam à interven - dos modos de produ çã o ao feudalismo" das estruturas agrá -
"

rias: brasileiras , da democracia como resultado da expansão das


ção pol í tica direta , pelo menos para a maioria de intelectuais
de renome , que rejeita a perspectiva da lura armada Convida - . forças produtivas â " burguesia nacional" O nacionalismo indis-
,

vam antes a esperar que se acentuassem as inevitá veis "contra- criminado da esquerda també m n ão é poupado: se as declara -
dições” do regime : é esta a implicação dos argumentos " estru - ções nacionalistas de certos industriais eram levadas a serio , é
turais ” — que estimulam também os debates e questionamen - porque a esquerda não percebeu que eram apenas manifesta-
ções oportunistas dc empresários cm dificuldades , inclusive
tos sobre burguesia nacional , classes populares , classe média ,
nacionalismo , populismo etc . empresá rios " entreguisras incomodados pelas medidas gover -
"

namentais ( Prado Ir , 1967 : 43 - 74 ) . Caio Prado J ú nior acres -


.

centa um coment á rio cuja pertinência poderia ter feito refletir


CormiiliLaç So apresentada cut 1970 cm um seminário da UNESCO t da FIASCO , muitos soció logos: não basta explicar os comportamentos dos
publicado como artigo cm divetsas obras e revistas . Utilizamos a versão publicada
vcoiwmía y politic* , Buenos
industriais só pelos "interesses econ ómicos" , na medida cm
no livro de I Perras (organizador ), \
AJTCV Periferia , 1972
t mé nca Latifu
que o conceito de " interesse " é um dos mais vagos e complc -
132 233

xos ( ibid . : 61 ) . Alé m disso, critica o apoio político dado pelo Da classe operária às massas, mnamente
FCB ao governo Rubitschek em nome do nado na!- desenvolvi -
menusmo e as pretensões dos l íderes do PCB de definir as coro As dú vidas sabre a burguesia nacional n ão s ão nada , se ,

dições da revolu ção a pamr dc teorias abstratas . comparadas às decepções com a classe operaria .
Pela voz de Assis Tavares - que , convé m lembrar , era Nesse pomo , os intelectuais do Partido Comunista n ão
membro do Comité Central — o Partido reage energicamente ficam nada a dever Basta ler o artigo de Assis Tavares " Cau -
.

nas páginas Reviste


da Cmiltsaçã o -
Brasileira ( Tavares , 1966 1967; sas da derrocada do 1 ? dc abril de 1964 ". A classe operá ria
4 £680 ) Manté m tanto
, a ideia de "feudalismo " como a de vai para o banco dos ré us. Com rela çã o à linha do PCB , nao
" burguesia nacional " . Essa ú ltima é definida como um setor "
falta cinismo no processo de acusação , Dizer , como Assis Tava -
( c n ão 0 todo ) da burguesia brasileira que , era raz ã o de seus res. que o reformismo burgu ês domina a classe oper á ria
interesses objetivos , torna posi ção contra a a çã o imperialista no Brasil" , afirmar que os aparelhos sindicais inal t ê m contato
1

( ibid , : 59 ) . Desse modo, justifica -se a estrat égia de alian ç a


. com os trabalhadores, admitir que era a proteção do Estado


enquanto as correntes progressistas n ão tiverem medo — como que permitta as greves do setor p ú blico , n ão ê o mesmo que
pensa Assis Tavares sobre Caio Prado J ú nior de sujar as lembrar os resultados da estratégia deliberada do Partido ?
mãos na política concreta (ibid 51 : ) , Fa d ú vida sobre o valor Tudo isto . entretanto, é atribu ído aos próprios operá rios . Em
dos esquemas conduz a uma evidente
" negativa da possibili - seu primeiro editorial a Revista Civilização Brasileira lembra
dade dc urna teoria política científica ” ( ibid . : 53 ). també m as greves que se multiplicavam antes dc 1964 , deplo
rando que elas fossem produzidas " na maior parte , por forç a
-
São os sociólogos universit á rios que contribuem para fazer
evoluir esse di álogo dc surdos , Já mencionamos antes o primeiro das reivindicações salariais e , em pequena parte por for ç a da ,

livro de Fernando Henrique Cardoso sobre o assunto. Dois mobiliza çã o polí tica [ Remia Civilização Brasileira n ? , 1: 7 ) .
1

outros trabalhos surgirã o cm seguida : um outro de Fernando Celso Furtado n ào é mats indulgente . Em vá rias ocasiões, faz
Henrique Cardoso , apresentado como cese â Universidade dc da classe operá ria um grupo social relativamenre privilegiado ,
São Pauto cm 1968 cora o título Ideologias da burguesia indus - com tend ê ncia a preocupar -se apenas com seus pró prios interes -
.

trial em sociedades dependentes; c o outro de Luciano Martins , ses: " a ddasagem entre os sal ários reais pagos pela industria
com o t ítulo de Industrialização ^ burguesia nacionale desenvol em São Paulo e os pagos na maior parte do resto do país" leva
vi mento . Ambos n ã o se limitam a uma reflexão teó rica sobre a uma motivação lraca para a organizaçã o entre os oper á rios .
a burguesia nacional , mas trazem dados empíricos que invali -
dam o uso tradicional da expressão. H á empres á rios que defen - -
Em condições dc ama oferti t utilmente elástica de min deohra c de saJános
reais rclitframcntc elevados , a ela.sse operá ria assumiu desde os começos, atitu -
dem uma ideologia " nadonal - populaj , mas se concentram
1 ,

des moderadas , sendo «etíemamente dé bil o mo VJ moiro dndicil Drgy kuma .


na_s ind ústrias arcaicas , como demonstra Cardoso . H á uma rota - ria iiisencií dc um amagcinispio consciente entre 3 fiasse trabalhadora e a dissí
ção r á pida dc empresá rios , munas vezes imigrantes recentes, o parronit , os empresmas industnais se ha bi tiram a uro clima social semclhan íf
que impede a cristaliza ção de uma elite est á vel e dotada de ao que prevalece na agricultura (Furtado , Iftóa : 157 -Sf
uma visã o pol í tica a longo prazo , como mostra Martins . Essas
observa ções podem parecer de alcance limitado mas , na reali - Ressurge assim a imagem da classe operá ria colada à da
dade , destroem as bases das concepções da mudança social e
"
massa amorfa ' \ que fornece o substrato do sistema pol í tico .
das alian ças de classes sustentadas durame innia anos. Em A massa pelo fá to mesmo de que é Amorfa , nao tem quilqueí possjbilid à dt
-
,

1968, ao publicar um artigo de Cardoso que enfatiza a fragili de pamcjpar do puxecso politico, exceto nns momrni!>s dc barganha dc seu
-
dade inevitá vel do nacional populismo e as ilusões da " revolu - voto contra promessas cbnoriu ( tbid . 14 L )
çã o burguesa " , a Revista Civilização Brasileira admite a necessi -
dade de rever o que se havia tornado senso comum dentro da O populismo é a consequência . Fingindo ‘ ‘ dialogar com
cultura pol ítica carioca ( Cardoso , 1968: 67 -96). as massas heterogé neas " , promete*" lhes a satisfa ção de suas aspt -
234

ra ções mais imediatas sem qualquer preocupação com con


" - outros motivos: a sua heterogeneidade , c . enfirn , a pol ítica
233
1
sequ ê ncias que daí poderiam advir a longo prazo" ( ibid . ) . populista dos governantes , que acarretam a “ falta de autono-
Os sociólogos trar ão também a esse tema contribuições mia das organiza ções populares" ( lanni et aJii , 1965: 167 ).
para desmisttficar a classe operária c reativar a noção de massas
manipulá veis . Na obra Política e revolução no brasil, elaborada -
Sente se nessa insistê ncia no “ individualismo dc massa a
influencia da sociologia americana ( confrontar William Korn -
r r

ames dc 1964 , Octavio lanni, Paul Singer c Francisco Weffort hauscr e David Ricsman ).
jã advertiam contra as quimeras. Ianni fala da "estrutura de Essas an álises (exceto talvez a de lanni , em 1965 ) arruinam
classes em formação " ( lanni et alii , 1965 : 54 j; para Singer ,
os esquemas do PCB. Os operá rios não est ã o sc transformando
as estruturas corporativistas implicavam a sobrevivê ncia das
c ú pulas , enquanto a “ grande massa " continua " despoliriza - em ator coletivo mas sim condenados a oscilar entre as reivindi-
ca ções aromizadas e a depend ência cm rela ção ao poder .
da " ( ibid . : 70); para Weffort , as massas adquirem uma capaci -
dade de pressã o , poré m voltada para o Estado , gerando assim
• o fascí nio pelo Estado" (ibid .: 171 ). *\ pó s 1964 , as pesquisas
i

de Octavio lanni , Francisco Weffort , Leôncio Martins Rodri - A classe mé dia oscilante
gues , José Albertino Rodrigues ( 1968) só fazem reforçar essas
constata ções. Assim , Leô ncio Martins Rodrigues ressalta , ao Se alguns intelectuais conseguiram supor que as “ classes
mesmo tempo , a compartimentalização regional da classe opera - -
m é dias" deveriam inserir se plenamentc no campo nacionalista ,
tiveram de mudar de tom: em sua maioria , elas aderiram aos
na , a precariedadc de sua consciência pol ítica cm razão de sua
formação recente e sua dependência em relação ao Estado ( L adversários dc Goulart c juntaram -se ao coro dos incensadores
M Rodrigues, 1969: 137 e segs ). Num trabalho conclu ído
, do novo poder .
Após 1964 . j á privadas da consideração que cabe às clas-
*

em 1968 , Francisco Weffort també m ressalta a mobilidade


ascendente que preside à constituição da classe operá ria e a ses “ fundamentais * 7 fazem mais do que nunca o papel dc
-
leva a dobrar se facilmente ãs regras do jogo político : um aglomerado de grupos sem consist ê ncia , atirados de uma
posição â outra ao sabor das conjunturas , indo para onde as
Nas condições vividas por uma sociedade dc formarã o agrária c dependente [ . ]. levassem suas frustrações c temores c exprimindo, ao lado dc
os setores das classes populares urbanas, formadas por ascensão social mars do
que por decsdcncia , tendem a reconhecer como legítimas as regrai do jogo uma parte das dites tradicionais, a nostalgia de uma democra -
vigente no quadro social c pol í tico do qual começam a participar (WefFon , cia libera] sem povo.

1968: 150). N ão sc pode dizer que elas tenham jamais suscitado grande
interesse da parte dos intelectuais . Essa semi- indiferença não
Já mencionamos o estudo desse mesmo autor sobre o popu - chega a desaparecer ap ós 1964 :
lismo em São Paulo . Em outros artigos sobre o populismo no
Brasil , Wcffort confere à noção de " massas > ma importância Parece certo que o protesto das classes m édias nunca conseguiu ser verdadeira -
»

central . Por que “ massas * e nao classes" ? Em virtude do pri -


r i t

mado da consciê ncia individual sobre a consciência coletiva


meme eficaz fora de um ( erro tipo dc aliança tom cm grupo situado no inte
rior da oligarquia. Limitados a uma situação de dependemia social , numa estru -
-
( Wcffort » 1965a : 62 e segs. ). elas percebem as relações sociais tura onde a grande propriedade é o elemento económico c social dominante ,

como rela ções individuais de classe" (Wcffort , 1967: 640 ); o


tt esses grupos n ão chegaram a formular uma ideologia própria . is:o é , um pro-
grama de transformação social que exprima um ponto de vista original contra
mesmo ocorre com suas rela ções com o Estado (ibid ). H á o sistema em vigor (Weffort . 1967: 640).
N ão c de surpreender que , no contexto de agitação da
' É precisoobservar , entimnro que lanni vi* també m a poi-sibil idade de uma ação
operária revolucionária: Ne»e momento , o proletariado poderia dar impulso ao
' época de Goulart , elas tenham finalmentc colocado a ordem
processo revolucioná rio’ ( lanni ei alii , 1963: SSi acima do progresso
'

236 237

Vítimas da política económica do novo regime , tudo faz II


Com maior raz ão , um militante do PCB como Assis Ta \ a -
crer , a partir de 66-67 , que as classes m édias vã o mudar de H
res expressa suas reservas diante de um movimento dc, tende
van -
I
campo raais uma vez. Tanto Celso Furtado como Hélio Jagua |guarda" que , incapaz dc atrair a maioria estudantil
- II
nbe consideram inevit á vel essa reviravolta . No entanto elas facilmente ao ‘ ‘ ultra -esquerdismo (Tavares . 1966: 27 ).
II
A desorientar ão da classe media , dividida entre o autorita -
,

não podiam escapar à s ambivalências que lhes sã o caracter ísticas


No artigo de 1967 em Les Temps Níodeme Celso Fur
tado considera que h á uma parte delas disposta ^a reclamar o |
- |
11
fismo. as veleidades liberais , os instintos pequeno - burgueses
o vanguardismo solitário , nada mais c do que a expressão
c
e
retorno à democracia formal” , Dc seu ponto de vista porem
" sua inconsist ê ncia
I
social . Mais do que nunca , os mte ectuais

isso é recair na submissão às oligarquias '


11
de maior ou menor renome , universitá rios ou nao , sentem a
necessidade de demarcar sua distâ ncia em relação a ela.
Como i concepção liberai c laigamcnte iceua nas camadas médias urbanas ,
inclusive em amplos serores miliraies , e se confunde com a iriórica local do
imperialismo , qualquer esforço visando a liberalizai novamente a vida pol ítica Das classes sociais em formação à crise
enconTra um cco seguro . E«c movimento , lançado pelos lideres da cks<e m é
dia das representações do social
c apoiado por prcsngiosos l íderes da oligarquia (furtado , 1967 b ;
-
599 600),
Assim , classes medias, oligarquia c liberalismo continuam As constatações dc impot ê ncia levantadas a propósito da
associados numa configuração que vai dc encontro a toda cxecu - burguesia , da classe operá ria e da classe media são inseparáveis
ção dc um verdadeiro ‘ projeto nacional \
4 1
Elas assumem um lugar dentro dc um processo dc revisão que
Certamente , h ã setores m édios que demonstram um evi - engloba tanto as representações do social quanto os modos de
intervenção pol ítica dos quais era portadora a cultura pol
ítica
dente radicalismo pol ítico , como por exemplo os estudantes .
do per íodo precedente. Clarov o primeiro alvo sao os esquemas
No entanto , esse radicalismo permanece eivado da instabili
dade dos que o professam e, mais ainda , de seu isolamento
- do PCB. N ão c poupado nenhum dc seus fundamentos , nenhum
se baseavam parece deslo-
f . de seus objetivos O povo no qual
“ ”
em relação às classes populares. Nesse mesmo artigo Celso Fur- ,

«
cado. O nacionalismo ao qual recorriam parece ficção.
-
i
tado faz relcrcncia aos que aceitam a perspective dc ação vio
lenta acreditando poder se apoiar no potencial revolucionário A fraqueza do nacionalismo é dada pdu sua incapacidade dc comover os subsis
afluem
-
das “ massas enfraquecidas, panieularmente as massas rurais" temas marginais e , ao mesmo [empo. de atrasi as lideranças dos setores
( ibid ) . Reconhece neles os sucessores dos tenentes c admite a tes , pois supõe uma situa ção dc coesã o interna que já não mais
ewsre (L Mar -
generosidade dc suas inten ções , mas não discerne a í mais que uns. 1968 . 84 ) .
uma reação de jovens da classe m édia contra a "angustia ".
Terá existido essa coesão interna ? No m ínimo , existiam
mitos coletivos que permitiam a muitos acreditar nela , inclu -
Mariali ce M . Foracchi, soció loga e discípuia dc Florestan Fernan -
.

des , publica um artigo na Revista Civilização Brasileira sobre


sive fora das fileiras do PCB . Mas os esquemas do PCB n ão sãdao
a atua çã o estudantil. Sua avaliação manifesta desconfian ça -
os ú nicos atingidos ; criticarn se també m todas as premissas
diante dos arrebatamentos “ pequeno - burgu cses : busca dc uma formula ção da esfera social , desde 1930. Pois
V pram estudantil seria , portanto, a expressão radial da praxis pequeno- bur não era essa busca por parte da esquerda apenas urn argumento
guesa c sua relativa impotência enquanto movimento de massa resultaria ba.s
:-
- para exaltar o Estado e justificar as estrat égias para ocupar
amplos espaços dentro dele ? Pois essa esquerda falava de clas
-
citnenrc dó fato dc que os limites do profeco dc transforma o
çã da sociedade ,
corindos oa luta pela reforma universitária ton fundem -se com os interesses ses sociais a propósito dc tudo , mas esta era apenas uma forma
- de se referir ao Estado , como constata Gabriel Cohn , sociólogo
,

que 2 pequena burguesia consc íentcmente ou não , defende na sociedade


leira ( Foracchi , 1968. 67 ).
brasi - da USP:
23 «
239
É cntáD r\ á estufa de um tsucio faipertroftado que via iarruado forma
ses sodais c se vão definindo as relações entre cias (Cohn ei aJii, 1965
ai cb ? - VOl7_ pelas democrá ticas cm si . Se o próprio Celso
instituições
140 ) valoriza democracia formal nem o liberalismo
Furtado não mais a
r
,

razão os intelectuais impregnados pelo mar -


.

A esquerda não falava de outra coisa senão de com muito


lismo * mas se utilizava dele para satisfazer sua corrida aonaciona -
xismo n ão lhes concedem mais do que uma atenção fortuita .
poder : assim , que o tom desiludido amerior a
Sena de surpreender ,
, a ambival ê ncia do populismo
Os setores mais representativos da esquerda , inclusive o PC . foram
orientando 1930 voltasse à tona ? Afinal
sua ação lendo sempir cm vista as oportunidades que se ofereciam para
am - estavaali para lembrar que , na verdade , ele não deixara jamais
influência direta sobre componentes isolados do aparelho estatal (ibid : Hii i
dc estar subjacente .
A partir de 67 -68 , essas constatações passam , sem dúvida
,
Francisco Weffort vai mais al ém , não reconhecendo na Deixam de ser somente a descoberta
ideologia nacionalista mats do que um meio de apoiar- se no por uma reimerprctaçã - O
e se ordenam
Estado ( Weffort , 1972 : passim ) . Também Paulo Francis , ao ver dos fatos que invalidam os antigos esquemas . Dão assim
no populismo de esquerda nada mais do que uma “pol em torno de uma teoria : a teoria da depend ê ncia
ítica novas já que s ão encaradas de uma pers-
de c úpula ” ( Francis , 1966: S 3 ) . Assim se vê criticada coda urna a impressão de serem ,
“ estruturar . Que inovações traz a “ teoria ? Utiliza -
"
visão da esfera pol í tica que se escorava no Estado . pective de 1970 . Fer -
Como seria possível , percorrendo esses textos , deixar de mos esse termo sabendo muito bem que , a partircategoria . Elas
sentir que a d ú vida sobre as classes sociais , sobre a coesão da nando Henrique Cardoso fará reservas a essa o Estado
sociedade brasileira c sobre o Estado lembra o clima intelectual dizem respeito à relaçã o com as economias centrais ,

a primeira já
e as classes sociais . “ Dependência implica que

anterior a 1930 ? E , mais ainda se as colocamos no contexto rela o de exteriori -
,

das teorias sobre o bloqueio estrutural ao desenvolvimento. não pode ser analisada apenas como uma çã
dade: há uma subordinaçã o do desenvolvimento das nações
Delineia -se , mats uma vez . o espectro de um país
de massas amorfas classes sociais sem identidade desarticulado de tal modo que , no limite .
perif éricas is economias
íí í
, centrais
,
de um Estado os interesses dominantes no interior das sociedades
dependen -
alheio à sociedade . Paralelamente ressurgem as *retlexòcs sobre
1

,
tes correspondem aos interesses do sistema total de relações dc
a impossibilidade ou a ausê ncia crónica de um verdadeiro con
Iè tema de representação pol í tica . Celso Furtado n ão é o ú
sis- dependência e ao sistema de produ çã o e mercado em seu *

nico ã “ ( Cardoso e Weffort , 1970 : 30 ) Ou ainda , que as rela -



mencionar as distorções induzidas pelo sistema representativo
.
junto
ções de dependência t êm uma dinâmica própria
dentro dos
• . iirí anterior a 1964 . Vários outros autores fazem a mesma
f = observa-
ção . Assim , Paul Singer , cm sua contribuiçã o à Política e revo - limites definidos pelas rela
” ( ibid . : 32 ) .
çõ es de domina çã o -subordina ção
lução no Brasil * não se limita a afirmar que os partidos de entre os pa íses
direita n ão conseguiram iransformar-.se cm correntes de opinião A " depend ência ” confere um outro papel ao Estado .

estáveis , mas sustenta também que o Tm primeiro lugar , qualquer que seja a modalidade de de -
sistema pol ítico continua
profundamente separado das ' massas ' , que veem nele apenas pendência ” — enclaves , economias exportadoras sob controle
uma mecâ nica artificial : dc urna oligarquia local , desenvolvimento associado — o Estado
ocupa uma posição-chave no processo dc implantar c interiori -
É sabido que, para à- grande massa despolmzada . conceitos como "
partido " , zar a relação com as economias centrais Por isso”. dentro dessa
.

política pairid àris " , ' interesses partidários ' íêm conocaçlo pejorativa, lem - conjuntura de “ internacionalização do mercado , cie tende a

bram mteresses obscuros dc conventioilos (lanni et alii , 1965 : T0). se tornar um Estado-emprcsàrio (Cardoso e Falctto , 1969 ) .
Nessas circunstâncias, o apelo â democracia não poderia Em segundo lugar , o Estado possui uma autonomia em relação
âs classes sociais , preenchendo fun ções mais amplas do
“ que a
provocar muitos ecos . E verdade que os intelectuais multiplicam
as exigências de uma volta às liberdades democrá ticas , de instituição jur ídica ou express ão pol í tica das classes organiza -

não se pode concluir que demonstrassem na época grande


mas daí das : funciona como a própria ” organiza çã o pol í tica das classes ”

fer - ( ibid . : 153 ). À “ dependência pesa , portanto , diretameme


241
240

na c na " organiza ção de classes ” . “ A depend ê n -


" estrutura " co ” personifica , tal como o novo intelectual
muitas vezes se
á rio que , segundo Foucault ,
cia encontra assim n ão só uma ‘ express ão ' interna rnas tamb
ém brasileiro a função deuniversit
no,pesquisador
transferidor ’ , ponto dc cruza -
41

seu verdadeiro cará ter enquanto rnodo determinado de relações desempenha


"

estruturais : um tipo específico de relação entre as mento privilegiado" . Mas o especialista brasileiro continua ,
pos que implica uma sí cuação de dom ínio que corrobora estru --
classes c gru A teoria da
cm muitos aspectos , um intelectual universal . de
"
tural mente a ligação com o exterior r ( ibid . : 29 ). Nesse
momento , o desenvolvimento associado" se manifesta pela
i
dependê ncia é uma teoria dc conjunto dos efeitos estrutura
que dão forma ao real. Linguagem da totalidade socialário sobre — noção
ruptura que atravessa cada uma das classes ;
Havt íú am proletariado mais “ moderno * c um outro “ ruais tradicional um
sempre presente em boa parte dos veteranos do Semin
Mfttx , pelo menos no inicio dos anos 60 , a de um outro
logo assume , para o grande pú blico, as feições
— dependência

miro , de uma outra ideologia na qual afirmações n ão verifica


setor empresarial que controla a ind ústria de alta produtividade c dc -
iroiolngia ,

desenvolvida t outro setor industrial “ traditional [ . .|. c assim por dianrc ( ibid .
das c n ão verificá veis se associam a enunciados científicos
'1
ou
143). corn a
scmiciemíficos, e a referencia à posiuvidade se associa
Jã nã o se trata de " classes ainda em formação * , como se i
referê ncia à totalidade (Bourrkaud , 19S0: 25 32 ). Alescapar - é m disso ,
o dentista social brasileiro conserva o privilégio de
houvesse um atraso em comparação às sociedades centrais, mas às
classes desarticuladas ou divididas cm consequ ê ncia do próprio delimitações sociais que afetam as classes sociais. Quer estas
desenvolvimento dependente. Os diagn ósticos empíricos ante- pareçam , como depois do golpe dc Estado , inferiores à sua voca -
riores conservam sua validade , mas seu sentido se modifica , ção cm virtude de sua constituição empí rica, ou que pareç
am ,
Dcccm -se assim a marcha a ré para 1925 . como quer a teoria da depend ência , estruturalmcnte divididas
O importante é que. seja como constatação empírica nega - e condenadas a apoiar - se no Estado , isso só faz ressaltar a posi -
o submetidos aos efeitos de
I !! tiva ou como teoria revelando a estruturação do real , a an á lise çã o dos intelectuais que n ã o est ã
deixa de se prolongar sob forma de afirmações prescritivas O . desarticulação e que , ao contrá rio , det êm a compreensão de
f .f intelectual propõ e uma interpreta ção do fen ô meno social , mas seus mecanismos . A liberdade e a autonomia dos intelectuais
j á n ã o tem o domínio da representação da sociedade , nem a variam inversameme cm função da intensidade das falhas dos
atores sociais , o que explica o entusiasmo da vida e dos deba -
*
capacidade de sugerir um esquema de prática pol ítica .
h
< i Portanto , n ão c fior acaso que o cientista .social — tes intelectuais durante esse período .
ui economista , como sociólogo ou cientista polí
Lanto
tico - - se torna ,
nessa fase , a figura por excelê ncia do intelectual, substituindo
A posição de evid ê ncia dos professores universitários n âo
se deve apenas á redefiniçã o do saber social . Também se rela -
o ideó logo , o arquiteto da nação e at é o intelectual de partido. ciona ao fato dc que , pela primeira vez desde 1930
, e sobre-
A transferência de prestígio realiza - se à medida que se impõe tudo desde 1955 , os intelectuais j ã n ã o podiam apelar para o
a teoria da estagnação e da depend ê ncia , pois é o especialista Estado cm todo
; caso , n ão da forma como estavam acostuma -
quem , a partir de ent ão, detém os conhecimentos relacionados dos Aí esta a diferen ça entre o diagnóstico de 1925 e o de
.

a uma interpretaçã o de conjunto da " realidade ” . Esse especia - 1965. No primeiro caso , tudo caminhava no sentido da reorgaã-
— —
; no segundo , esta via est
lista nada tem em comum com o " intelectual espec ífico" dc nização social pela _ via do Estado o exclui como vimos
que fala Michel Foucault ( Foucault , 1977 ). Esie ultimo , afirma mome n taneame n te• fechada . Isso nã
o autor de Ar palavras e as coisas, ititervcm em nome dc uma nos textos de Celso
i Furtado c Francisco dc Oliveira quet
" verdade cient ífica local " . Opõ e se para sair dos impasses fosse invocada a necessidade dc outras
- assim ao intelectual univer -
sal , o que fala "corno senhor da verdade e da justi ça " , aquele
,
instituições e , sobretudo , de um Estado capaz de reorientar o
que , por outro lado , gosta de se ver como "a figura clara e indi
- desenvolvimento e assumir a representa ção das massas . No
vidual de uma universalidade , da qual o proletariado seria a entanto , trata - se de um objetivo a longo prazo, e que parece
forma sombria e coletiva". Sem duvida , o " intelectual específi - mais dif ícil de se atingir na medida em que a perspective de
242

uma retomada do desenvolvimento sob forma “


associada" já
não parece impossível. Acima de tudo, os intelectuais
i Nos diversos textos desse período,
õe algumas sugestões, que
Fernando Henrique
atestam , porem , suas
243

momento todas as oportunidades de constatar que


tem nesse Cardoso prop Cardoso parece propor que se espere ate
disputam com eles o monopólio da "ideologia dc
os militares hesitações. Por vezes
enfraqueça sob o efeito das suas contradi ções .
doutrina de seguranç a nacional elaborada pelo general Estado ' ': a que o regime se momento em que as medidas
' pol1
íticas impos -
do Couto e Silva um bem foi , à sua maneira , Golbery Pode chegar um militarizada se chocam ' com os meca -
uma exaltação
do papel do Estado na modernizaçã o económica t social tas pela tccnoburocracia Cardoso c
expansão capitalista ' (
que os antigos ideólogos do desenvolvimento
. É claro nismos de acumulação c também acontecer de o regime se
nacional c os inte- Faletto , 1970: 157 ). Pode
lectuais integrados aos partidos de esquerda são os mais " pressões populares" , que iriam
dos pela interrupção dos vínculos com o Estado. Tamb afeta- tornar incapaz de canalizar as o de amplos setores da popu -
ém foram sc acentuando com a ma
rginalizaçâ
atingidos os cientistas sociais: como se poderia ainda
dar forma ao social sc o Estado se torna um imaginar loção:
Estado- empresá - mobilização e organiza
no a serviço da internacionalizaçã o do mercado Forma-se ama massa disponível , cujas novas formas dc uma ampla gama de
?
dependê ncia oferece um instrumento de interpretaA oteoria da ção continuam sendo uma incógnita . Sua exist
ê ncia abre
, desde a criação de focos insurrccionais arc
' a
mas já n ão fornece uma imagem de unidade possível global ,
çã alternativas de a ção pol íuca
do social ' movimento dc massas ( ibid .: 158 ).
"

à medida que ainda n ã o sc trata dc ,


reconstituição do
reconstruir uma imagem
Outras vezes, Cardoso parece apoiar a necessidade
a partir da sociedade civil " . Pelo menos , dc uma
a experi ê ncia dos
intelectuais os autoriza a contestar de igual para igual o defen a çâo revolucion á ria antiimperialista
:
dido pelos "tecnoburocratas" , civis c militares, que v -
quistando uma influê ncia crcsccnte .sobre o regime
.
ão con - Revolução mais que reforma , autonomia nacional
que orientara as
mais que desenvolvimento
ideologias e os lemas dos movi-
passaram a expressar os valores
0 problema do poder
mentos sociais contra a ordem social da America
buna
das possibilidades de mudança social
aparece assim , como a pedra de toque [ ...] passa a sus-
!! l Da constatação à ação política [ . .] 0 n ú cleo da valida çã o da prá tica poimea transformadora
dt destruição do Estado
* tentar -se e5senciaíraente na convicção da necessidade
As divergê ncias e divisões propriamente pol (Cardoso e W effort , 1970: 31).
íticas que
atravessam o conjunio dos intelectuais de oposi a impossibili-
tram
ção
as dificuldades em traduzir essa experiê ncia ,
demons - Em outras ocasiões ainda , ele parece admitir manifesta ções
como antes , dade de qualquer previsã o, cm vista do peso das
num projeto nacional " , isco é , em enunciar
-
'

prá ticas pol íticas :


critivas . Não h á d ú vida de que o nacionalismo propostas pres estruturais da dependê ncia sobre as
continua a con -
Os modos particulajes c ítpicos ( . . . ] do relacionamento entie estruturais das
solidar a solidariedade básica entre eles. A submiss os grupos e as clas -
ão do regime
ao imperialismo alimenta , tanto quanto
o seu autoritarismo , ses sociais das sociedades dependentes ( . . . ) definem os limites
, pol ítico c
as reações dos intelectuais. È verdade que a possibilidades histórica' dt mudança t desenvolvimento económico
dência marca sua dist â ncia diante das antigas teoria da depen
expressões do
- social (Cardoso, 1971: 72).
nacionalismo, acentuando as ligações internas do imperialismo
Essas hesitações não são fortuitas . Cardoso admitir
á mats
,
mas n ão rompe totalrnente com ele . Constitui continuam amb íguos
promisso entre uma leitura em Lermos da
antes um com - carde que os esquemas de depend ência afirma
em suas implicações políticas . A escola da depend ê ,
rialismo e outra leitura em termos dc classes. Mas nãçãoo- impe
oposição na ncia
oposto à depend ê ncia
uma resposta à questão que se coloca a partir do oferece
em que o regime prova que não pretende
_momento
cie, nã o conseguiu explicitar se o polo "
supunha “ autonomia ou socialismo , c n ão a um ou
" " especificava
fazer ? renunciar :J "O que que forças sociais e que meios poderiam conduzir
244
24 S

. . ça send.
^
outro objetivo (Cardoso . 1980a : II ) . Trata - st aí , talvez
mafi . . doen
do que de unta ambiguidade ou omissão: se a teoria da dep diurno pequeno- burguês e es do

II
dênua pretendia restaurar a import â ncia das intera ções pol íri do a *0 11"15 5. ( Guimar ã , 1968 , 131 -t ) . Na mesma
tas de diversos grupos sociais (ou somente dos grupos didgcn
í fe, I
, G . L . Ara újo critica
revista
uação revoluconína é
o foquismo
exclus . , seguiu o o qua
estrutural (c portanto
a

II ^
vamente ,
tcs? ) , paradoxaJmcnte deixava na sombra tudo que nve e a
'

cstrurural u e

.
e
ção com o reconhecimento da especificidade da esfera polí contmuamentc latente) , c nao conjuntura to

çôes dc classes , como se a esfera política se resumisse às


tica
Só atribu ía valor explicativo aos “ interesses ” dc ciasses ou fra í ^ U ÍTl moment 0 dado dc
smo tempo , denuncia a
uma certa situaçao estr
proliferaçã o de correntes

vangnard s-

1 1I
sua
expressòes diretas. Usava e abusava das determinações ' ‘estruiu* !
csSflS . forças . dc e .ltC . \ UopaS df chtT -
da ’
-
rais . Com essa base n ão era fácil definir um campo
dc “
II| Esquema Geral em moda : russo , chines ou cubano (J L - A»u
i ú- Tra
^^
política e . menos ainda , propor modos dc ação
Reforma ou revolução? “ Polí tica dc massas ” ou interven -| Io * 1968 : 89*91 ) ' SC Z SSrl!ZS
T
I prontos para defender a democracia formal . Ao contra
*

ção de minorias esclarecidas ? Mudan ça pacífica ou violenta »


Os teóricos da dependência não detêm o monopólio dessas per-
guntas sob forma de alternativas À medida que abri ! de 1964
|
I - rio coní tnuam fieis a cspfranç a de Cí uc: numa
f
tura poSsa surgir Uma c.oali *?° cnt[c ai jIçaS popiJ
a * /
I de perspec -
'
.
militares nacionalistas Afina a
*do« res
contas ,
distancia das mobilizam todos os intelectuais nacionalistas
I I
>

^
*
aTr
.
, toS
Estes rendem sobretudo a estabelecer uma distâ golpe dc Estado faZ da *? a partC 0

6& i anuga culnua poliria, nacion 1 , I


-
rfrfdi JTZura
ncia entrc -
d
leS
us que
qUc- ainda aio
na maioria roera ,ados dentro da nova I *
' lmcme v ^ “

mpamlham
!
as duvrdas sobre a efic á da cia
muitos
gorar ã
o o em
casos vindos das fileiras da AP da UNE — consideram
, e I armada Mas ao . . dos militantes nacionalistas
contrario
nais ' ^itam condená - la abertamente , e tampouco o
tradiuo
frijojapos
II 1964 c se alinham cada vez mats com a petspect va datou
armada . * .
ilusória qualquer reconstituição da aliança de classes anterior a
IB 1968 Conmbu , talvez para essa rcSWVa dcllberada a Pr cu -
< <

ptç jto dc não fornecer argumentos ao regime


; mas tambem , £
I F rn muitos aspectos, parece que os intelectuais nacionalis-
. em certos casos , a simpatia pelo esp í rito de revolta ou , em
>,
tas tradicionais são atraídos para esses debates porque jã nã o outros * a proximidade social com o mundo estudantil , que tor -

podem ruais ignorar , por trás da evolução autoritária do regime , nece os maiores contingentes para as organiza çõ es armadas .
i
* r
a efervescência de uma juventude estudantil que n ão controlam . Não c menos patente a ruptura na esquerda intelectual ,
j impede a pol tica
Em 1966 , eles ainda csrao mais propenso® a esperar a crise O fato dc se tratar de estudantes não que í
interna do regime e a retomada das estratégias anteriores dc intelectual se ressmta dos efeitos dessa radicalização . Alem disso *
aliança de ilasses . Na Revista Civilização Brasileira , Cavalcanti f ovens intelectuais procuram pouco a pouco
justificar teórica-
Proença ainda considera que a ditadura " não tem apoio de mente a aventura armada liste nem sempre, foi o caso no mi -
cio , ainda que eles pró prios às vezes aderissem muito
cedo ã
nenhuma classe social ; c purarnente a ditadura de uma casta " Pol tica Ope-
( Proenç a , 1966 : 3 14 ) , O livro de Caio Prado Jr . , A revolução linha do confronto direto Nas fileiras da , POLOP ( í
*

raria ) , formada no inicio da d écada de 60 e favor á vel à guerri -


brasileira , por mais cr ítico que seja em relação aos esquemas
do PCB , não sc aventura a propor meios pol íticos para a revolu - lha desde 1964 , encontram -se numerosos estudantes dc Minas
ção , fora as referencias ao papel que poderiam desempenhar Gerais entre os quais Thcotónio dos Santos , e do Rio de Janeiro ,
,

os assalariados rurais . Hm 67 -68 , diante da fascinação exercida como Ruy Mauro Marini . Nas fileiras da AP se encontram mui -
pela visão "foquista ” , esses intelectuais ficam na expectativa 11 dirigentes da UNE e també m estudantes de Minas Gerais
tos
dc se pronunciar Sua resposta , formulada na Revista Civiliza
.
c do Rio de Janeiro . Sabe- sc que , cm 1967 » a AP realiza sua
ção Brasileira — e tambem pelo PCB condena cxplicita-
mence o que toi apresentado como uma nova expressão do " ra - Como irisou Silomio MiJma . membro do comit é eentttd do PCB . cm sua rncrerú u
• T&mju M CUffMJ Humanai ( Malinsu 1981 3V69 >
246

uni ão com o PC do B , As declarações e textos programá ticos


dessas organizações exibem sobretudo uma linguagem militante .
No entanto, a partir de 1968 a teoria da depend ê ncia também
passa a oferecer elementos para a elabora çã o de um argumento
pas teses sobre os bloqueios
á rios que seus porta - vozes colhem
apesar dos elementos doutrinestruturais

decerto , cm grande parte umaque


. e sobre
quest
, •
a depend
. ência .
Tê m , contudo, repercussões no meioão de geração . Os intclcc
intelectual . A ruptura é,
|
2 4?

-
1
consagrados , quaisquer sejam suas divergê ncias , con -
erudito a serviço da ação de ruptura . O estruturalismo inc - tuais
-
11 i i

rente ao tema da dependê ncia n ã o oferece pontos dc apoio is tmuam a encontrar-se cm tornogiodosc bastante
valores ligados ao desen
grande para evi -
opções prá ticas , tomo j á comentamos , c isto continua sendo volvimemo nacional. Seu prestí intelectual , mas
verdade do ponto de vista abstrato. Essa deficiê ncia , porem , é tar o; estilhaçamcnto completo
da esquerda
pol tornam - se cla -
o que abre caminho ao mais puro volumatismo , em nome da suas dificuldades em propor estrat giasé í ticas
ção estm
supressão da depend ê ncia , isto é , da libertação nacional c da ras . Os professores universitá rios vivcnciam a contesta
libertação social. O "foquismo" , afirma o próprio Cardoso , dantil dentro de seus próprios estabelecimentos c artística ,
, e constatam
pode parecer a ú nica saída pol ítica para os bloqueios estrutu - os novos crité rios do pú blico na ebulição cultural dc que a
rais. Ruy Mauro Marini e Theotônio dos Santos são dois dos Em resumo , a guerrilha é um sintoma entre outros apenas as
mais notá veis interpretes dessa dedu çã o . É verdade que Marini política dos intelectuais j á não pode mats assumir
modalidades habituais lã n ão consiste só em inventar a ima -
faz cr íticas ao "foquismo" preconizado por R égis Debray, mas
-
,

é para convocar açã o armada de massas: gem e as finalidades do Estado- Nação. Reside Lambem na capa
cidade de gerar as tensões internas ao próprio meio intelectual
Não existe razáo alguma para identificar a luta armada com esxa ou aquela forma da esquerda , com o que isto implica dc volta a si mesmo; o
de atuação dc vanguarda|, J A luta armada corresponde a uma forma geral " povo \ decididamente , esta bem longe E . tamb ém com o
pois esse meio
V
de luta de classes , a que se afirma na etapa cm que as classes tcvoliadonárias, que isso representa como nova fonte de poder ,
depois de adquiru consciência c organizaçã o mediante uma sé rie de combates
í rcsce c seu p ú blico rnais ainda
. Por ouiro lado . um governo ,

pardais , se decidem a passar ã ofensiva c arrancar o poder político que o capi - crescimento acr -
tal detém ( Marim , 1969: 161 ). mesmo ditatorial , que quer levar o Brasil a um
í r lerado, n ão pode separar-se complctamcme dos que falam ram -
i .
0$ impasses do desenvolvimento dependente provam que bém em nome da ciência e da tecnologia .
I deveria ser assim ; prova-o ainda a “ impossibilidade definitiva
I de um desenvolvimento aut ó nomo no Brasil" por meio exclusi -
A contestação estudantil e a
vamente de reformas pequeno- burguesas" ( ibid 116 e pas
4
*

sim ). Theotônio dos Santos raciocina da mesma maneira ; nada modernização universitária
dc "foquismo" . nem de terceira via entre o socialismo e o fas -
cismo ; Os debates sobre a universidade tradtucm uma nova forma
dc politização dentro dos meios intelectuais. Começaram antes
Hojc no Brasil se configura uma situação revolucionária uma ilasse social abm -
de 1964. Desde 60 61, a UNE lan çou campanhas para se atri -
dona o seu papel histórico impedida de caoerruzar o desenvolvimento das for- buir aos estudantes um terço das cadeiras nos conselhos univer -
-
,

vis produtivas no país j.. ] Tal situação confia a grande maioria da nação essa
Larriá hist órica [ . . j . E impossível, pois , acreditar que esta situação encontre
sitá rios A “ Declaração da Bahia " resultado do primeiro semi
,

ná rio sobre a Reforma Universit á ria cm 1961 e preludio de


-^
uma solução fácil , pac ífica , Tranquila (Samos IT 23 V
outras tomadas de posiçã o , fazia da " democratização un í
versit á -
De faio . a partir de 1964 e sobretudo de 66 - 67 , são v á rios ria " ' um momento do processo mais vasto que , é o da rcvolu -
os grupos que se lançam na aventura armada ( ver Marini , 1971: çã o brasileira " (Uma e Arante, 1984: 20 ). Por outro lado , cer -

l l 113-66 e Garcia , 1979) , tos professores se pronunciavam a favor dc uma reforma das
Evidcntcmemc , a exist ê ncia e a atuação desses grupos n ão estruturas universit á rias . A fundação da Universidade de Bras í-
t ê m mais que uma rela ção distante com os debates intelectuais lia parecia abrir o caminho nesse sentido . Entre outras inova -
248 249

ções, acabava com o sistema de c , em seu lugar ,


' c á tedras " Dc fato, a polit ízação invade a maioria das universidades ,
introduzia departamentos onde a pesquisa n ã o deveria ser dis - c mesmo a sua vida cotidiana. Os estudantes , principalmentc
sociada do ensmo: ampliava també m a formaçã o dos estudan - os de ciências sociais , mas também os dc outras disciplinas ,
tes por meio do sistema dc cr éditos. O golpe dc Estado sus- -
insurgem se contra tudu que se relacione à “ ci ê ncia burguesa ’ * ;
pende provisoriamente a.s discussões . Os professores “ moder- a distâ ncia aumenta mesmo cm rela ção aos professores “ progres-
nizadores" representavam apenas uma minoria e os seus cole - sistas " , Ant ó nio Câ ndido , insuspeito de indiferen ça quanto
gas conservadores , como vimos, sc aproveitam das circunst â n - às reformas c dc hostilidade para com o movimento estudantil ,
cias para se manifestar ruidosamente , recorrendo at é mesmo n ão aprova que os estudantes não aceitem mais referê ncias a
a den ú ncias Em 1967 , a repressã o sc abate sobre a Universi - urn filósofo como Kant e í eme “ o engajamento total do pensa -
dade de Bras í lia e encerra essa experi ência - piloto, o que pro - mento na política " ( Câ ndido , 1974: 16 ). Em contrapartida ,
voca uma consider á vel comoção, como mostram os artigos de cm 1968 , certos estudantes sc surpreendem por Fernando Hen -
Florcstan Fernandes, solid á rio com o empreendimento de rique Cardoso aceitar concorrer a uma c á tedra de ciência pol í-
Darcy Ribeirolt. No entanto , continua a ser colocado o pro - tica . parecendo assim endossar a hierarquia universitá ria.
blema da organiza çã o universit á ria . A interdi ção das ativida - Esses debates c conflitos serão brutalmeme interrompidos
des da UNE n ão impede que o movimento estudantil adquira pela decretação do Ato Institucional n ? 3. A repressão adquire
uma intensidade muito maior do que antes de 1964 . Sem uma violência in édita. O governo imp õe sua reforma universit á-
d úvida , a quest ã o da universidade deixa de ser prioritá ria cm ria , eliminando , claro , todas as formas dc participação estudan -
suas reivindicações: a quest ã o dos meios para realizar " a revo- til . Florestan Fernandes comenta a propósito:
lução ’ * adquire Loda uma outra import ância . Mesmo assim , A fascistira ção localizada preencheu , portanto, sua fundão medular í wcrrom
interessado em atrair a massa estudantil , o movimento conti -
, *

peu o prolonpdc' processo rlc revolução democratic a interior a instituição [ a


nua sua pressão a favor da participa ção nas instam ias universi - L ' SPf e colorou cm seu lugar controles compulsórios e mecanismos dc admíms
tárias, exigindo agora metade das cadeiras. Foi - lhe ainda mais iração c dcasão que separavam o corpo du cabeça <h Universidade { Fematiiles
!í fácil obter um amplo apoio, visto que o governo , por sua vez , 1984: 53 ).
preparava um projeto de reforma seguindo as sugestões dos
d especialistas americanos da USAID. Com isso , as lutas estudan - A UNE , que continuava na semiclandcstinidade e acen -
tis podem sc apoiar cm palavras dc ordem antiimperialistas. tuava sua radicaliza ção dc congresso cm congresso* sofre um fim
Os professores reformistas sã o levados a sc mobilizar contra abrupto em outubro dc 1968 , com a prisão de todos os seus
os projetos governamentais. Aceitando a supressã o das c á te- elementos durante um ultimo congresso , convocado cm lbi ú na .
dras e a criação dc departamentos , recusam a subordinaçã o Nesse meio tempo , a mobiliza ção estudantil atingiu seu
da universidade às “ necessidades tio sistema capitalista apogeu no segundo trimestre dc 1968 . A morte de um estu -
-
como no caso do “ Acordo MEC USAID \ Nem todos esses dante no Rio cm 31 de março d á o sinal para uma série dc
grandes manifestações em todo o país , culminando em 22 de
professores, porem , est ã o dispostos a acatar a reivindicação
estudantil de paridade Giannotti e Oswaldo Porchat , por
exemplo, a rejeitam , pelo menos dentro dos departamentos, —

junho numa gigantesca passeata no Rio a “ Passeata dos Cem
Mil " assim como demonstrações menores em outras cidades.
porque “ significava uma polit í zação de todos os comporta - Em agosto as passeatas estudantis continuam a sc multiplicar.
menios da vida universit á ria ( Giannotti , 1974 : 30 ).
" A repercussão c enorme: “ pequeno - burgueses" ou n ão , aven-
tureiros
11
ou n ão . os estudantes j á não podem ser ignorados
enquanto atores políticos . Chegam a inquietai o regime muito
-
Mais Midi . Flo rsian Fernanda ujmentaíia r> papel dc Daicv Ribeiro e sob fotma
.
de uma critica implkita aos " pmtíssiunws das ci ê ncias soctaii escreveu : Oarcv mais do que os antigos partidos de esquerda .
Ribeito . nem toma emòlogo. nem como educador . nem como homem de a ão. O fato dc universidades c estudantes estarem no n ú cleo
nunca gravimu dentro ou em rnrno de qualquer provincialíSJTIO umversiuno e . em^
da contesta ção contribui para alterar o equil íbrio do campo inte-
^
particular, nunca st ‘protusitinaJiioU * como ' universitário' ( Frmandeí 1976: ll l
25 U 251

icctual em favor dos professores universitários, sobrcrudo


do$ dos festivais da canção aos filmes do Cinema Novo , do Tropica -
cientistas sociais. Pegos na tempestade , véem -sc diante da neers sticas tudo c motivo para a
sidade de preservar o diá logo com os jovens radicais. A univer-- lismo aos happenings nas artes pl á ,

participaçã o de um p ú blico consider á vel naquilo que , por urna


sidade est á cm jogo e , num sentido mais amplo , o significado , parece portador de uma linguagem contesta -
da atividade intelectual . Sua politização não e um fenômeno razão ou outra
dora. Embora n ã o pretendamos estudar esses eventos culturais ,
novo , ainda que nunca houvesse assumido antes tal imrnsi simples .
dade . O mesmo n ão acontece com a necessidade de os intelec-- acreditamos ser ú til esboçar algumas observações muito
Em primeiro lugar ocorre um distanciamento progressivo
-
,
tuais - universit á rios atuarem agora em duas frentes: ao o fal
mesmo cm relação às concepções de arte engajada do CPC N ãlinha
“ ,

tempo " no interior" c no exterior , para retomar a dicoto


- tam artistas que queiram continuar algum tempo nessa
'

mia dos trabalhos sobre depend ê ncia . O meio intelectual trans Ferreira
i
- mas muitos dos próprios doutriná rios do CPC , como
forma -se num subuniverso polí tico relativamente aut ónomo. GuJlar, recuam em rela çã o ao didatismo anterior a 1964 . Reali -
Dclincia -sc um novoJ perfil do intelectual- político: aquele capaz
dc gerar os debates pró prios da esquerda para evitar sua frag - zam essa ruptura tom o dulausmo nacionalista
de Glauber
tanto
Rocha
obras ale
quanto
-
góricas como o filme Terra em transe
as obras de Caetano Veloso e Gilberto Gil , que em 67-68 for -
mentaçã o e decomposiçã o c , ao mesmo tempo , de propor uma
interpretação dos acontecimentos que seja assumida pela opi-
nião p ú blica informada .
O sil ê ncio forç ado dos militantes estudantis após 1968 . a

mulam o Tropicalismo uma colagem de estilos e de vocábu-
los provenientes da vida cotidiana e de slogans publicit á rios
internacionais , mistura dc ritmos clássicos brasileiros com o
clandestinidade a que c condenada uma grande parte da velha
esquerda nacionalista , a placa de chumbo que pesa sobre a rock . Essa ruptura , que choca is vezes o pú blico militante, iradu -
zia tanto uma opção pelo distanciamento
como a irrupção de
vida cultural : esses são alguns dos fatores que contribuem para rebelde que impregnaria a
dar aos professores universitá rios, enquanto "especialistas ” , uma maneira dc ser anarquista e ,
experiê ncia de toda uma pane da juventude brasileira na viagem
uma consider á vel audiê ncia . contracultura e que n ã o se furtava em ambos
da liberação c da , ,

os casos, de provocar uma desconfian ç a m ú tua


'
entre o artista
e seu pú blico (H
" . B . de Hoilanda c Gon ç alves , 1984 : 67 ).
A vida artística Em segundo lugar muitas
, dessas obras põ em em cena as
atribulações do intelectual , quer como profeta populista ,
1ornamos como ponto de partida as observações de Roberto pequeno- burgu ês fugindo de si mesmo , quer como militante
Schwarz sobre a ‘ hegemonia cultural da esquerda que , para - ou simplesmente como revoltado em busca do povo e atrás de
doxalmcntc, vigora no decorrer do que parece vir a ser apenas suas fantasias. E o caso de Terra em transe , dc muitas peças
um simples intervalo ditatorial . No encanto , n ão consideramos que is vezes recorrem como fez o diretor José
dc teatro ,

o terreno ao qual Schwarz se refere , o da produ ção artística.


Celso Martinez , a procedimentos para irritar delibcradamente
Muitas obras analisaram a extrema vitalidade e criativi
dade que se manifestam no teatro , na m úsica , no cinema e - o pú blico " pequeno- burgu ês

'
— , de muitos romances , entre

no romance ao longo desses anos ( ver , entre outros , H. B. de


Hoilanda e Gonçalves , 1984 : H . B . de Hoilanda , 1981 ; MagaJdi ,
1984; Schwarz , 1978; assim como as obras sobre "O nacional
os quais Quarup
padre através do Nordeste at
em 1967 c Pessach a travessia
o

,
caminho
é
, de
e
chegar
o ritual de iniciação de um

Carlos
à guerrilha
Heitor

Cony
publicado
, divaga -
ção política dc um jovem burgu ê s . O militante revolucion á rio ,
e o popular " , publicadas pela Funarte). Trata -se de um fenô-
meno singularmente importante . A cultura de oposição se cons-
heró i da obra e / ou seu p blico ú , c assim chamado a prestar con -
tas sobre si mesmo O intelectual j á n ã o pode dissimular -sc
tr ó i tanto ou mais através dessas manifestações artísticas do que
atrás da ideologia : encontra - se imerso na hist ó ria , com suas
caracterizações sociais e opacidades, sua violência e mediocri -
através do "consumo " dc textos de cientistas sociais . Dos
espe -
t áculos do teatro dc Arena às com édias musicais do
Opini ão , dade , Uma estética da fome c o que propõe Glauber Rocha
253
252

cm 1965 , isto é “ urna csré uca da violê ncia antes dc ser primi Combinaiam sc - polí tica e uma espécie coletiva de ewhidonisitiD social
r
-
tiva c revolucioná ria ( ... ] , Somente conscíentizando sua possibri (Schwarz . L97S: 74 )
lidade única , a violê ncia, o colonizador pode compreender , E não é só isso . A d ú vida dc Schwarz engloba todo o sig -
pelo horror, a força da cultura que ele explora " ( ibid . : 44 ). nificado da cultura . Valeria a pena , nessa conjuntura , tnteres *

Uma estética da desmisuficaçâo , é o que propõe José Celso ,


consistindo em :
-
sar se pela cultura?
[ A cultura brasiJeira ] não atingirá 50.000 pessoas, num país dc 00 milhões F.
colocar este p ú blico no seu estado original, cara a cara com sua misé ria, a misé - certo que não lhe cabe a culpa do imperialismo e da sociedade dc classes Con-
ria dc seu pequeno privilé gio feiro is custas de tantas concessões , de tantos opor tudo. icndo uma linguagem exclusiva , é cerro também que. sob este aspecto
runismes , de tanta castração e recalque c de toda a misé ria do povo (ibid.. 631 ao menos, contribui para a consolidação do privilé gio.
*

Violência c desmistificação: dois componentes da rela ção Isto só poderia mudar se os intelectuais mudassem c desco-
social na qual se instala espontaneamente o novo revolucionário ,
*
brissem , enfim , que a revolu ção não se faz por meio de id éias ,
Por ú ltimo , a criaçã o cultural em suas diversas vertentes mas ‘ expropriando os meios de produçã o ” . “ Que interesse
permanece sintonizada com a sociedade , seus modos de expres- ter á a revolu çã o aos intelectuais dc esquerda , que eram muito
ruais anticapitalistas elitários que propriamente socialistas? Deve -
são c sua busca dc identidade . Sem duvida > já não pode preten
der salvar o povo Caetano Vcloso declara em 1966 : - rão transformar-sc , reformular as suas raz ões ” ( ibid .: 91 2 ) . -
Surpreendente reviravolta , surpreendente acusa ção . Dei -
Sei que a arre que cu faço agora Dão pode pertencer vttdadciramcncc ao povo.
Sei també m que a Arte não salva nada nem ningué m , mas que é uma dc nos-
xemos dc lado o julgamento sobre o Tropicalismo, n ão sem
comentar de passagem a estreita correla ção estabelecida" com a
sas forças (ibid ,: 52 ),
etapa capitalista: as ideias sã o recolocadas no seu lugar Des
“ -
Alegórica ou realista , provocativa ou questionadora , a arte raquemos apenas o que a d ia tribe revela da nova configuração
í não desiste de construir uma cultura brasileira ” , política e do espaço intelectual.
moderna , fazendo uma montagem das “ idéias importadas" Revela a suspeita , claro sobre a posição do intelectual .
,

vê obrigado a perceber os seus pró prios interesses , que


#
Ele se
i
para seus próprios fins.
evcmualmente são interesses em comum com os dos “ proprie -
fu• i t á rios dos meios dc produ çã o No entanto , ninguém est á
da contamina o , pois o espa ç o intelectual se
Conclusão mats ao
fecha sobre
abrigo
si mesmo As
çã
interpreta ções da conjuntura c as cria -
çõ es culturais n ã o t ê m mais por destinat á rio o povo , mas
Hegemonia cultural da esquerda ” ? Após haver mostrado
'
fechado do teatro ,
suas m úlriplas modalidades , Roberto Schwarz parece de repente so esse publico dos “ 50.000 ” . O espa ç o
dos festivais da can çã o , da universidade simboliza a rela çã o dc
tomado de uma d ú vida radical sobre o alcance dessa hegemo - essa o realizada
nia . Não vive a cultura sob influ ê ncia do capitalismo brasileiro , espelho entre o ator e seu p ú blico , contesta çã
dentro de um pequeno c í rculo . H á , nessa maneira dc julgar
reproduzindo suas desarticulações, transformando num jogo - bur -
de representações a combinação entre o arcaísmo c a moderni - do alto os divertimentos que se proporcionam os pequeno
gueses radicais, um traço involunt á rio do antigo populismo .
dade , por meio da qual se realizaria , a partir dc ent ão, o desen
volvimento ? Provam - no os * elementos ” do Tropicalismo:
I
- O ataque revela também os novos crit é rios para medir o
engajamento pol í tico intelectual. ão N é tato novo que a cul -
A reserva de imagens e emoções próprias ao país patriarcal , rural c urbano c tura seja avaliada pela medida de sua corre çã o pol í tica : o CPC
resposta a forma ou técnica mus avançada oti na moda mundial ( . . ) É Literal -
. n ão esta longe. AJcm disso , os intelectuais militantes continuam
mente um disparate ( . .. ) em cujo desacerto por ém ei tá figurado um abismo a codificar as normas est é ticas . Ferreira Gullar lembra a uma-
histórico real. a conjugação dc etapas diferences do dcsenvolvirncmo capitalista
254 255
-1
hilidade de uma estética idealista para a arte de nossos dias" interesse geral , como se fosse impermeá vel a toda delimitação
( Guitar , 1966: 1961 ) , Leandro Konder alerta contra a substitui - social particular .
ção da consci ê ncia revolucionária pelo espirito de rebeldia ( Kon - Assistimos à redefinição progressiva do campo intelectual ,
der , 1967: 135 e segs . ), Mas Schwarz intervém em nome da corn o advento dos cientistas sociais e do marxismo universitá-
nova alternativa : socialismo ou conformismo. rio. É evidente que h á nisso a marca de uma retirada , como
Demonstra ainda a importância da avalia ção intelectual c, també m dificuldades para teorizar a ação política Os adeptos
*

mais que isso , da nova hierarquia no terreno intelectual É * da luta armada tê m suas raz õ es ; só que já n ão sã o os intelec-
em nome do marxismo erudito vindo dc São Paulo , e n ão do tuais consagrados que as fornecem .
marxismo militante , que Schwarz estabelece a distin çã o. Na clas- No entanto , esses intelectuais e seu pú blico , os artistas
sifica ção de prestigio , impõe-se o professor universitá rio; e , na contestadores e sua plateia formam um conjunto que tem uma
classificação universitá ria , o inté rprete autorizado dc Mane e presen ça pol ítica certa , com seus próprios modos de sociabili-
seus discípulos. O antielitismo n ão est á livre de uma certa dade e identificação. Para muitos , a referê ncia ao marxismo
soberba elitista . serve de cultura política; para um n ú mero ainda maior , é a
Revela , enfim , o hiato entre o julgamento c a prãxis polí - "depend ê ncia " que , em suas versões vulgarizadas , .sc torna
urn mito unificador, taJ como fora o " desenvolvimentismo",
tica . Aqui pensamos num coment á rio dc Gérard Lebrun sobre
alimentando paixões comuns e , muito simplesmente , um senso

o artigo de Schwarz , no qual afirma que a " ultiadcsmistifica
-
*

çâo se assenta numa ontologia social do ptor no sentido comum . Esse conjunto tem tamb é m suas hierarquias , seus con
em que se fala de políticas do quanto ptor melhor” ( Lebrun , flitos , sua heterogeneidade : os confrontos no interior das uni -
1980: 145 - 52 ). No m ínimo , a cria ção cultural parece sob vigi - versidades são a manifestação disso, da mesma forma que as
diverg ê ncias sobre o significado pol í tico do Cinema Novo e
l â ncia Sc não satisfizer os crit é rios da avalia çã o intelectual e
.

se n ão intervier a favor da revolução socialista , é facilmente sus- do Tropicalismo. Tem , enfim , seus meios de a ção pol í tica para
peita de adesã o às leis capitalistas , isto é , de consentir em se o exterior ; meios que dependem també m dos " recursos " de
transfigurar em cultura "dependente ” . O cientista social n ão cada grupo: os que dispõem da competência cientifica ou de
redes de comunicação com certas elites são capazes de assumir
tem essa preocupação , pois tem as m ãos limpas , sem deixar
de ser pr á tico: sua praxis pol ítica est á no campo intelectual . posições pú blicas ; outros est ão fadados à resistê ncia passiva ou
É verdade que , nessas circunstancias , a praxis se realiza -
à contesta çã o no dia- a dia ; outros, enfim , encaminham-se para
a luta armada .
num espa ço fechado, muito mais ainda que os espetáculos artís- Apesar de tudo , a expansão c a preserva ção de uma certa
ticos , N ã o sc dirige a 50.000 pessoas, mas a alguns colegas da
unidade do meio intelectual dc oposição sã o dados dignos de
USP e de outras universidades. Esta é a consequência do descr é - nota *
dito da ideologia nacionalista ao antigo estilo e da reavalia ção Desfaz -sc a cultura pol ítica que tinha seu epicentro no
do discurso erudito . Rio de Janeiro , deixando contudo suas marcas: n ão só o nacio-
O intervalo 64 -68 sc abre sob o signo da "estagnação" e nalismo , n ã o só a socializa ção marxista , mas sobretudo a convic -
se encerra sob o da depend ê ncia. J á n ã o h á evolucionisrno no ção de que os intelectuais tê m por voca ção situar - se , em rela çã o
qual o intelectual possa sc basear para construir, por conta da a sociedade , no mesmo plano que o Estado . O Estado autorit á -
sociedade , a representação da unidade nacional . J á n ão h á rio n áo lhes fornece mais um ponto de fixa ção, mas també m
povo do qual possa pretender ser a emanação. J á n ão h á opera - n ã o pode impedir que eles se considerem porta - vozes da socie-
ção idrol ógica pela qual se possa al çar de repente ao plano do dade diante do Estado *

Foram dissolvidos os partidos pol í ticos criados em 1945 ;


O artjjjo de Gé rard t.cbrur; foi seguido dc uma resposta dc Roberto Schwarz no os intelectuais nunca lhes haviam dado muita import â ncia . O
mesmo n úmero, papaia 155 6- .
sistema bipartid á no MDB - ARENA , criado pelo regime em 1967 ,

RSCSH / UFK *5 *
256

tem ainda menos motivos para atrair sua aten ção. A partir da í.
já n ão e oportuno debater os vícios da representação política e
4
os mé ritos da democracia formal. Os intelectuais tem as mans
livres para se constituir em uma espécie de partido , sem contor
-
nos ptccisos e sem aparelho , mas incumbido da defesa das liber -
dades democrá ticas canto quanto possível . Diante da repressão O partido intelectual
e do silencio forçado das classes populates, a quest ão que se
coloca diante deles é saber se podem ir além da defesa das liber - e o processo de abertura
dades democráticas para enfim pensar o terreno político ein
termos que n ão sejam a "organizaçã o " ou a ‘ideologia
1

\
'
( 1974 -82)
como estavam acostumados . Tarefa delicada , pois , em 1968, a
teoria n ã o vai exatamente nessa direção. A noçã o de "depen -
d ência " é uma forma de se analisar as intera ções dos grupos
de interesse , mas nâo parece comer as premissas de uma refle -
xão sobre os modos de instituição do plano pol ítico.

O Ato Institucional nD 5 abre um per íodo de repressão


sem precedentes . Como demonstra o processo de nomeação
do general Mediei , a partir do AM as Forças Armadas se abs -
t é m completamente de prestar contas à opinião p ú blica . Evitam
repetir a experiência cio marechal Castelo Branco , com sua côns -
tituição natimorta dc 1967 : a codificação de regras políticas é
substituída pela acumulação de dispositivos de exceção e pelo
uso do arbítrio como recurso pol ítico fundamental. A referen -
cia ao Brasil Grande" funciona como princípio de legitimiza -
ção. Sua contrapartida , visando aos oponentes , tem a forma
do slogan pintado nos muros: Ame - o ou deixe - o". Só em
11

1974 ressurgirá a questão da " institucionaliza ção" do regime ,


com suas alusões à "distensão" e depois à abertura . Mas o
“ "

processo que se inicia nesse momento est á longe de ser linear .


Até o ú ltimo dia , isto é , até a elei ção de Tancrcdo Neves , ele
ser á marcado pela incerteza, retrocessos e sobressaltos,
A repressão atinge diretamente o meio intelectual . A par -
tir do ú ltimo trimestre de 1968 , a censura torna-sc implacá vel
e as sanções, terríveis. A imprensa , as editoras e a criação art ís-
25 X 2VJ

sâo submeiidis a um rolo comprcssoi . Muiia v rcvisiai institutos ptivados


implat*vcl Nem as universidades , nem osdas
tica
dc:< .
parcccm. É a caso da Revista Civilização Brasileira, cujo a
.

ficam livres batidas policiais


i ú f , Êmo Silveira , volta a ser perseguido , As
due - dc pesquisa como o CEBRAP c outros locais de manifestação
universidades fiitam das ameaças, nem os teatros
sob estreita vigil â ncia e sob a tutela de reitores dt confiau dc São Paulo , o clima torna -sc particular-
Ça art ística . No Estado
com plenos poderes . Muitos professores são aposentados e por muito tempo , como
decreto, cm vários casos os de maior prestigio . A t ítulo de exem -
por mente pesado. O terror perdura c ptofessor da USP Vladi
demonstra o assassinato do jornalista
plo: entre os vinte e sete professores da L’SP atingidos por
rnir Herzog , em outubro de 1975 . É so em 76-78 que , apesar
-
medida , em abril de 1969, encontrem se Floresran Fernandes,
essa
da manutenção da censura , a liberdade de ,express com
ã o é parcial
a decretação
-
Fernando Henrique Cardoso, Octavio lanni , Paulo Duarte mente recuperada , e mais ainda em 1979
José Arthur Giannotti , Paul Singer e outros nas ciências sociais :
,

da anistia .
José Leite Lopes e Mário Schcmbcrg nas ciências f ísicas O O que cm 1964 parecia destinado a n ã o ser mais que
mesmo dispositivo afeta intelectuais com cargos administrativos, LUTi intervalo prolongou - se .
no fim das contas , por vinte anos.
Em grande parte poupados de 1964 a 1968, e reinando ent
como Bolívar Lamounier e Maria Yedda Leite Linhares . Outras ão
universidades sâo ainda mais atingidas , com departamentos dentro do campo intelectual c cultural , os intelectuais de oposi -
çã o passam depois , sobretudo de 1968 a 1974 para primeira
inteiros desarticulados: desaparece a Faculdade de Filosofia e , a
Ciências Sociais da Universidade federal do RJO de Janeiro; o fjla dos suspeitos. Muitos são obrigados a exilar -se , mas não
Departamento de Filosofia da Universidade do RJO Grande do deixam cm momento algum de manter um espa ço de contesta
Sul c decapitado. gfio c ate de constituir uma força política .
Evidentemente , a repressão investe com brutalidade ainda Isso ocorre durante o per í odo mais sombrio. Os cientistas
maior contra o movimcnto estudantil . Depois da prisão §onais continuam a influit sobre uru grande
pú blico , tomo
do
demonstra a penetração dos trabalhos realizados no CEBRAP ,
í
í\ estado- maior da UNE os ativistas ou simpatizantes s ão perse -
,

guidos em condições bem conhecidas. Um decreto espec ífico ,


o 477 , pro íbe qualquer manisfestação política dentro das uni -
o imnruto que ern 1969 acolheu muitos dos aposentados
d ; USP . Esses trabalhos tem uma feitura universit ária , mas estão
j

versidades , Uma guerra impiedosa c cravada contra os grupos ao mesmo tempo em contato direto com a conjuntura , e assim ,
! que . dc 1968 a 1973. recorrem à lura armada . são tambem intervenções pol íticas. O aumento dos programas
Após 1974 , aiiv íanvse um pouco as pressões , mas n ão de pós-graduação ern nível de doutorado em ciências sociais
ir de todo , e a vida intelectual atravessa os riscos que marcam o acentua a legitimidade cientifica dos que reclamam um maior
processo de “ distensão” . O jornal "alternativo" O Pasquim ,
J í
profissionalismo " . Nas universidades , um numero crescente
de estudantes orienra -se para essas disciplinas e . apesar dos obs-
fundado em 1969 e que faz da sá tira um instrumento de corn
testação \ o semanário Opinião, criado cm 1972 t que publica
t áculos , sua produ çã o— teses c livros é consider á vel . Triunfa
o paradigma marxista ; atiavés dele , toda uma sociabilidade
artigos de Fernando Henrique Cardoso , Furtado , Singer . Gaitado.
política realiza ^e nos limites dos campi . Quanto âs ci ê ncias exa -
Weffort, Milló r Fernandes ç outros e reproduz artigos do Le tas , a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciê ncia
)
Monde e do The Guardian , são submetidos a uma censura faz mats do que questionar as opções tecnológicas do regime:
da garante a defesa da " comunidade cient ífica "
e dos inte-
V« O iti' ro ntgtu da L' SP Nas dua listas sucessiva de aposentadoria ..
. houve tor í i.-- resses nacionais -
" c . assim , constitui se direta ou indiretamente

como protetora dos direitos individuais e dos valores coletivos.


* *
sões emir professores da USP e funcioná rio administrativos Caio Prado
* Jr figura
eutre ar professores, cfflbon n ío pertencesse ao torpe* dotenie
A ditadura por outro lado , n ã o impede a expans
, ã o do mer-
J
O pasquim teve considerável sucesso. Sua tiragem chegou a aringn 100.000
enempi .,
cado de bens culturais. O “milagre econó mico c os progres-
"

-
res Opmúo dingui -sc ao píibii< i > universitá rio. Con tiragem em torrio de 2{i I
>0U a
i 5 OCO cac-mpiares, es ui tevuta Foi asfixiada pela censura , que apreendeu numeros sos da industria cultural contribuem para isso . assim como o
crescimento do p ú blico universitário. A cultura da contract!I -
in çeiru 5 e , is wes , cortava mefftde dos rexms fSegtlin de Hnns . 19S4: 25 S e «g
*
260
261
ruí ra sc expande no Brasil como nos pa íses centrais; como cam
bem muitas outras expressões da modernidade , como a psicaná -
- ponsabilidade nos ministérios , nos governos estaduais c na
lise , Todos esses elementos garantem a persistê ncia de um ad minis nação , Ao mesmo tempo , o restabelecimento da demo -
cracia expõe tr ês fen ó menos: 1 ) A crescente diferenciação das
espa ço de contestação tanto Institucional como informal
Isto ê ainda mats válido durante a “ distensão" e y “ aber - -
camadas cultas: acentua se a distâ ncia entre uma elite intelec -
tual , técnica , cient ífica e administrativa e a massa dos semi qua -
tura , A partir dftí , os debates que agiram as ci ê ncias sociais
"
ou que dizem respeito â poliu ca cientifica no Brasil tem uma lificados; as profissões liberais são atingidas pela rá pida difusão
da condição assalariada , pela perda de seu status tradicional e
-
repercussã o bem. alem dos recintos fechados . Tornam se parte
pelas dificuldades de emprego . À proximidade ou afastamento
integrante do debate polí tico por meto do qual a oposi çã o se
consolida . Os intelectuais transformam-se verdadeiramente num em relaçã o aos centros de decisão introduz um fator dc hetero -
ator coletivo. Apresentamos, mars acima , a expressã o “ partido
geneidade complementar, 2 ) A ruptura das lógicas dc ação:
intelectual": em muitos aspectos , este re ú ne dc fato uma faixa diante da ditadura , as reivindicações profissionais , a defesa dos
consider á vel das camadas cultas , c portador de cren ças comuns , interesses das categorias c a pressão em favor da liberalização
define estratégias conjunturais, tem seus l íderes c adquire um pol ítica tendiam a sc fundir. Com a democracia , revel a -se sua
disjun çã o crescente , cujo resultado é o desdobramento de estra -
-
.

car á ter semi organizado . A expressã o , porem só cem sentido


t é gias profissionais r de categorias ocupacíonais medianamente
,

durance a primeira ta se da abertura . Tm seguida a intervenção


-
poli rica dos intelectuais manifesta se cada vez roais na inser ção
de cada um nos partidos pol íticos entre os quais se redistribui
corpotatí visras 3 ) A crise dc referencias pol í ticas por meto das
quais os intelectuais definiam sua identidade c , ao mesmo
tempop elaboravam uma representa ção do conjunto da sociedade.
a oposição; o MDB ( rebatizado como PMDB após nova mudança
nas regras do jogo imposta pelo regimej , depois o PT c, cm O título da segunda pane deste livro Os intelectuais,
menor proporção, as demais formações partid á rias surgidas as classes sociais e a democracia mostra o deslocamento
após 1982 . Essa redistribuição n ão implica , pelo menos até essa que sc realiza nas concepções da esfera política . Dados objeti -
ú ltima data , uma atenuação da influ ê ncia dos intelectuais, O vos favorecem essa evolu çã o : greves no ABC , reorganiza ção da
classe operaria . Imas camponesas , heterogeneidade crescente
papel que alguns deles tiveram na atualização do programa
.

na condição social das camadas cultas; mas també m ys estrat é -


do MDB cm 1974 , a contribui ção que outros d ão mats tarde á
gias adotadas ao longo do processo de abertura e o reconheci -
criação do PT e o espaço que ocupam nus listas de candidatos
mento dos limites do volimcansmo pol í tico ; e , alé m disso,
às eleições demonstram bem a importância de sua presen ç a pol í-
tica . Essa redistribuiçã o marca , por ém uma mudan ça . Antes
uma nova leitura do social , que n ão mais dissocia o reconheci -
mento dos atores sociais que se organizam por si mesmos c da
,

disso jamais os intelectuais haviam manifestado , cm tamanha


produ ção da democracia . Por isso , a referê ncia ao “ povo " e à
r

proporçã o , o seu engajamento político por meio da adesã o a “ nação n ã o desaparece de todo : mesmo o ‘ nacional - popu -
!

partidos políticos. A consequ ê ncia que dai decorre se revela


lar continua a aflorar , inclusive nas an ã lises dos intelectuais
1

mats claramente a partir de 1980 : as divisões do meio iruelet


tua! em fun çã o das preferencias partid á rias o que , sem d ú vida ,
que mais nitidamente rejeitam as ideologias de I 960. Tam
pouco desaparece a refer ê ncia âs " massas" : não mais ás massas
-
nada mais é do que um sinal da mudan ça na condi ção dos inte - “ amorfas " de 1930 , nem âs massas pr é -conscientes" ou , ao
11 '

lectuais e TI as suas atitudes com respeito à esfera pol ítica .


Isto acontece após 19& 2 , quando a oposi çã o ganha as elei - -
contrário, à s "massas nação" dc I 960 , mas simplesmente á s
massas geradas pela r á pida urbanização, marginalizadas c no
ções para governador em nove Estados , entre os quais 5ao Paulo
e Rio : e após 1985 , quando sc consuma a volta ao regime civil entanto submetidas aos novos modos dc consumo ; fadadas às
estrat é gias de sobrevivência e tio entanto formando a base de
e se encaminha o debate sobre a Assembleia Constituinte ,
V ários economistas e sociólogos que haviam participado da lula partidos que são verdadeiros sacos de gatos . Poré m a persist ê n
cia da express ão “ sociedade de massas" não deixa de compor -
-
pela redemocratização são convidados a ocupar cargos de res -
tar algumas das antigas conota ções. Desse modo , a problcm á -
262 263
As instituições
rica da democracia continua presa nesse meio: ela é a transcri -
çã o pol ítica da divisão das classes sociais e u reconhecimento O Estado brasileiro soube se dotar , no decorrer dos anos
dc uma dist â ncia intranspon ível entre a autoconstituição do de instrumentos institucionais de apoio à pesquisa cient ífica c
social c a esfera pol ítica . tecnológica . O CNPq ( Conselho Nacional dc Desenvolvi men to
Neste capítulo n ão entraremos nos detalhes dc uma an á - Científico c Tecnológico) foi fundado em 1951. A CAPES ( Co-
lise que pede longas exposições. Esboçaremos apenas algumas ordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior ) ,
perspectives relativas a dois planos de reflex ão : 1 ) À redefinição que intervém na forma çã o dos quadros científicos , surgiu pouco
da condição de intelectual 2 ) As estratégias políticas dos inte- depois. Esse esforço continua após 1964 . Sob o patrocínio do
lectuais dc oposi çã o . BNDE ( Banco Nacional de Desenvolvimento Económico), é
fundada a FUNTEC. A partir de 1968 , acrescentam -se novos
organismos rnais din âmicos, sobretudo a F1NEP ( Financiadora
A redefinição da condição de Estudos c Projetos ) e o FNDCT ( Fundo de Desenvolvimento
de intelectual Cient ífico c Tecnológico ) . No Estado dc São Paulo existe tam -
b é m , desde 1961 , a FAPESP ( Fundação de Apoio à Pesquisa
O Brasil n ão é a Argentina. Neste ú ltimo pais. cada rup - do Estado de S ão Paulo ) mantida por uma porcentagem do
,

rura pol ítica se traduz numa grande crise das instituições inte - orçamento do Estado tssa variedade de organismos atesta a
lectuais - as universidades cm primeiro lugar — , na substitui -
,

atenção dada á polí tica cient ífica : desde a d écada de 50 , por


ção das camadas de intelectuais que presidem i definição das exemplo , vem vendo debatido um programa de pesquisas nuclea -
propriedades do campo intelectual c de suas formas de classifT res e . de forma mais geral , a possibilidade de garantir a pes-

Ii ca çao . rva desestabilização das representa ções da pol ítica no


meio intelectual (Sigal. 1986 ) . Nada disso ocorre no Brasil . As
instituições persistem , apesar da repressão pol í tica . Os intelec-
quisa de base faz pane das preocupações dos diversos governos,
em graus variá veis dc êxito r continuidade .
Um regime como o instalado em 1964 e reforç ado em
tuais continuam a se atribuir uma legiiimidadc propriamente —
1968, e que pretende enfatizar dois imperativos a segurança
cient ífica e n ão é por acaso que privilegiam ainda mais o tema
da "profissionalização". E a descoberta da democracia íaz -se

nacional e o desenvolvimento económico , n ão poderia se
desinteressar da pol ítica cient ífica . O “ milagre econ ó mico ”
gradarivamente e sem abandonar dc todo suas concep ções de permite as maiores ambições. Tanto o governo do general
nação e desenvolvimento. Nada simboliza melhor essa perma- Mediei como o do general Gciscl pretendem aumentar o poten -
n ê ncia do que o lugar ocupado pelas ciê ncias sociais, que ii ao cial cient ífico e técnico do Brasil , financiando centros de pes ^

só conhecem um desenvolvimento sem precedentes ainda


mais notá vel por coincidir com os piores anos da ditadura
como cambem ficam mais imbricadas do que nunca na inter
—- quisa e a formação de cientistas. Certos ministros , como Reis
Vclloso . ministro do Planejamento do governo Medici , e Severn
Gomes , do governo Gcisel , veem a í a condiçã o para um desen -
preta çã o da conjuntura e servem , tanto quanto no passado, volvimento nacional independente. Tecnocratas dos altos esca -
para promover um " senso comum ” político cm meio ao vasto lões , sobretudo da FUNTEC e do F1NEP , ilustram , por sua vez ,
pú blico que atingem . a fidelidade a urn projeto nacional ,
A diferença entre a situação brasileira e a situação argen - Às opções cient íficas e tecnológicas do regime n ã o recebem
tina torna-se intelig ível quando se leva em conta dois dados:
a situaçã o anterior dos intelectuais, ligada ao seu papel na ela - necessariamente a aprovação das personalidades da comunidade
cient ífica : mencionaremos rnais adiante as discussões sobre esse
bora ção de uma imagem da nação; c a tradi çã o estatal que ,
assunto na SBPC - Apesar disso , os recursos tem um aumento
no caso brasileiro , coincide com a atribuição à ciê ncia e à cul -
tura dc urn valor essencial no dcsenvolvimemo nacional .
consider á vel . Embora n ã o seja tvosso objetivo tra ç ar a evolu ção
264 265

das ci ê ncias "exatas \ convém sublinhar a extraordinária expan - 1981 75 , 1 % de seus estudantes s ão filhos de proprietá rios,
T

sã o das universidades c das ciê ncias sociais. administradores, altos funcionários, professores universit ários e
As universidades tiveram um crescimento surpreendente secundários e profissionais liberais ( Prandi , 1982 ; 85- 103). Os
de seus efetivos. Entre 1964 e 1984 , o n úmero de estudantes resultados são os seguintes; cm 1983, as universidades do Estado
no conjunto das instituições de ensino superior decuplicou apro- de São Paulo apresentam 44 % das comunicações no encontro
ximadameme. O n ú mero de professores aumentou em propor - anual da SBPC (Queiroz , 1984 : 2130 ) e uma porcentagem
ções quase t ão consider á veis. Só nos anos 74 -80 . os professores comparável das teses brasileiras .
em tempo integral passam de 10.916 a 32.000 nas universida - Restam dois fen ômenos pouco contestá veis. Primeiro , as
des publicas , e de 11.915 a 31, 000 nas faculdades particulares universidades p ú blicas se modernizam A rerorma de 1968
,

(C. B. C Martins, 1986 : 465 0- — que pretende implantar um sistema de departamentos ,


Essc aumento no n ú mero de estudantes revela que o regime ampliar a formação geral do primeiro ciclo, multiplicar os car -
autorit á rio foi ião sensível u pressão das classes m édias c alta gos de tempo integral , dar origem a uma carreira universitá ria

.

quanto o regime democrá tico , pois o ensino superior se desen - complexa c , sobretudo , encorajar a pesquisa talvez não
volve muito mais rapidamente que o ensino secund á rio, r este resulte cm todas as vantagens previstas . Hm 80-84 , muitos pro -
muito mais rapidamente do que o ensino primá rio. Nos anos fessores universitá rios apresentarão dela um balan ç o severo :
60 7 3, o n úmero de alunos do ensino superior cresceu em 797 % ; buroeratização excessiva , pesquisa rotineira , formação inade
-
*

o do secund á rio * em 392 % : e o do prim á rio , em apenas 107 % quadá, professores universitários voltados para si mesmos . Entre
( Whitaker, 1984 ) . O índice bruto de inscrição no ú ltimo ano tanto , est ã o longe das estruturas anteriores a 1964 . com seus
do ensino primário aumenta apenas dr 57 % para 65 % ; o do feudos (as cá tedras ) e seu amadorismo esclarecido ( os professo -
ensino superior passa de 5 % para 12 % , Melhor ainda: de 1970 res de tempo parcial ). Surgem novas universidades de prest ígio ,
a 1980 . o í ndice teó rico de analfabetismo para a popula ção de como a Universidade de Campinas, reputada sobretudo pot seu
15 a 24 anos diminui apenas de 25 , 3 % para 16 , 1 % . Isso equi - departamento de economia . Com grandes custos , vã o se insta -
vale a dizer que a ampliação do ensino superior continua a lando universidades modernas em outros Estados como a Uni-
,

funcionar sobre o pano de fundo da exclusão social , com a versidade da Paraíba , que recruta muitos professores paulistas
aquiesc ê ncia implícita tanto do mundo universitá rio como dos
governantes ( Rama , 1985: 98-9).
c distribui bolsas de estudos generosamente , para complemen -
tar a forma çã o de seus professores no exterior .
O pró prio ensino superior foi submetido a um importante Por outro lado , criam-se programas dc doutorado. Os
processo de diferenciação . Entre as universidades pú blicas t o anos 68 82 são marcados pela multiplicação de cursos dc douto-
*

grande n ú mero dc esta bei comentos privados , muitos dos q uais rado , sob controle do minist é rio e do CNPq . Assim , podem
criados ãs pressas e regidos apenas pela busca de lucros, frequen
.
temente há um fosso Ora , a absorçã o da demanda pelo ensino
- se preparar cada vez mais pesquisadores de excelente nível no
Brasil , o que é um grande estimulo à pesquisa . Como prova
superior se faz na maior parte através do ensino privado: em disso , grande parte das teses da USP passam a ser realizadas
1980 , dos 231.000 estudantes que terminam o curso superior na própria universidade .
cl ássico , 63, 7 % vem do ensino privado ( C . B. C Martins , As ci ê ncias sociais beneficiam -se dessas medidas. Sua parte
1986 : 468 ). Entre as pró prias universidades p ú blicas a hierar - no or çamento gctal de pesquisas aumenta a partir dr 19 2 .

,

quia continua evidente em muitos casos . A USP realiza uma Os programas dc mestrado c doutorado desenvolvem -sr rapida -
sele ção que não existe cm muitas universidades de menor pres- mente , Antes de 1968 . existiam apenas quatro em sociologia ;
tigio , uma seleção ao mesmo tempo social e intelectual : em em 80 -81 . h ã vinte e quatro . Em economia , eram tr ês antes
de 1968, e passam para catorze em 80 -81 O CNPq desempe-
'
Carlos Berttdho Campo* Martins dia -
esses n ú meros st ffiimic o Rektâno dos nha um papel importante nessa evolu ção, liberando grandes
eifabtUnmenUu de ensino wpenor verbas para bolsas dc estudos no Brasil c no exterior ( Sorj ,
266 267

1984 b), Este prolongamento do currículo é interpretado como mostra a revista


corno perfil mais universit á rio e profissional
1 ',
índice da ‘ profissionalizaçã o dos dentistas
' 7 r
CEBRAP tem uma
sociais. També m patrocí nio O
nesse aspecto , a diferenciação torna -se um fato da
maior impor - Dados , publicada sob seu .
verdade , Fernando Hen -
t â ncia . Paralclameme ao imagem completamente diferente . Na
reconhecimento institucional dc uma rique Cardoso e outros antigos participantes
do Seminário sobre
elite formada em n ível dc pós-graduação, roda uma fundar um centro autó -
estudantes recebe apenas um verniz superficial emmassa de Marx planejaram, desde antes do AM .
sociais nas incontáveis fatuidades particulares
ciê ncias de aposentadoria compulsó ria toma -
nomo, ruas sã o as medidas que
um ensino nessa á rea . evitam fazer
qur , ao propor
das pelo governo em 1969 precipitam a cria ção do Centro:
investimentos sejam recrutados entre
Assim no Estado da Bahia , entre os estudantes que vultosos .
ainda que nem todos os seus membros
os sancionados da USP — este não c o caso dc
,

concluem Cândido Procó-


os estudos em 197' 36 % dos inscritos na Universidade Brandão
Fede- Ferreira , seu primeiro presidente , nem Juarez
dc
T

ral especializam -se cm ciê ncias sociais enquanto, nos



pio
estabeleci - Lopes a maioria í az parte dela : Fernando
Henrique Cardoso ,
mentos privados, h á 46 % de inscritos nessa á rea . , Elsa Berqu ó , aos quais
A distribui -
ção c ainda mais desigual na entrada : cerca de fuse Arthur Giannotti , Paul Singer tamb é m privados
30 % na Univer-
sidade Federal contra 60 % nos estabelecimentos privados sc juntarão mais tarde outros pesquisadores ( que fora
. Pcr - Oliveira
de seus cargos: Octavio Ianni , Francisco de Bol ívar Lamounier
ccbe - se a partir da í a distancia entre os especialistas
rios c o grande p ú blico das ciências sociais. Contudo o universit á - assessor de Celso Furtado na SUDENE Martins em 1971
) e
-
dado por um regime autorit á rio ao desenvolvimento das apoio cm 1970 ; ViLmar Fana c Carlos Estevam . Boris
També m far o parte do CEBRAP Francisco W effort
das sociais nas universidades constitui poi si só um fato notcirn *
ã
Andrade , Lu ís
F verdade que . no terreno sociológico , a produ vel.
á Fausto , Vinícius Caldeira Brant , Regis de Castro
.

ção dc S. Wcrncek Vianna , Maria Hcrm í nia Tavares de


Almeida e
maior prestígio irá se realizar em grande bem
pane fora das umver - outros \ O CEDEC e o IDESP nascem de
uma conjuntura
sidades, nos quadros dc institutos particulares dc pesquisa pol í tica c em mui -
diferente: são contemporâ neos da abertura ,
Sucessivamente . criam-se o IUPERJ ( Instituto Universitário de ligados à pro -

tos aspectos, orientam sua produção para
temas
Pesquisas do Rio de Janeiro ), o CEBRAP em mente por
em 1977 e o IDESP em 1979 1969 , o CEDEC
esses três ú ltimos em Sào blemá tica da abertura . O CEDEC , dirigido inicialmovimentos
)i Paulo . Todos eles devem apelar para diversas fomes Francisco Wcffort , interessa -se sobretudo pelos
dc finan - sociais c seu papel na democratizaçã :
o o IDESP , dirigido por
ciamento: verbas da Fundaçã o Ford para o , cul -
ajudas da fundação Cândido Mendes para o IUPERJ e o CEBRAP; Bol ívar Lamounier estuda sobretudo os processos políticos
diversos corn msmuições pú blicas e privadasIUPERJ
rl ; contratos turais e cient íficos .
(desse modo, o
CEBRAP se beneficiará de contratos oficiais para esrudos Seria exagero afirmar que esses centros são os ú nicos polos
ser este -
a demografia c a forma ção da Grande Sào sobre da pesquisa sociológica . As universidades est ão longe de ali ela-
Paulo, c dc contra reis ; a quantidade e muitas vezes
a qualidade das teses
tos com a Igreja para an á lise da marginalidade ;
o CEDEC rece - boradas ã o a í para demonstrar isso . E verdade que a vigil â n -
ber á ajuda da comissão de Justiça e Paz , do Conselho est
cia pol ítica a que estã o submetidas c o isolamento , quando em
das Igre- n ào
jas Cristãs c da Fundação Friedrich Ebert ).
bem , sobretudo após 1975, subvenções de institui
Mas receberão tam - a acomiza çà o , que resulta da concentração dos
poderes
mãos dos reitores e seus assessores n ã o favorecem muito, che
es oficiais uma
como a FINEP. Cada um desses institutos tem suaçõidentidade -
,

caracterísrica , O IUPERJ , que oferece cursos em ní verdadeira vida intelectual. Durante o per íodo mais o do inter - duro
.
rado cspctializa -sc sobretudo em ciência política . vel de douto -
Recebe vários
gou a haver nas universidades uma certa interrupçã .
câ mbio tradicional com as universidades
estrangeiras Em con -
pesquisadores sa ídos da Faculdade de Ciências vantagens: maior
Minas Gerais , como Simon Schwartzman , Octávio CintraEcon ómicas dc traste , os novos centros dispõem de muitas
o
var Lamounier (durante alguns meses),
, Bol í- Flexibilidade na obtenção e utilização de verbas, ainda que
muitos dos quais fize -
ram PhD nos Estados Unidos. Assim , o
IUPERJ apresenta o Sobre a história do CEBRAP , vet Sor) < IW4 > }.
269
268
tem entretanto um sigrm
O tema da "profissionalização
reverso da medalha seja a dificuldade de assegurar
nu ú 5 dc financiamento c , portanto, dc manter fluxos coniil ficado mais amplo.disso Traduz a ascensão do conjunto das cama -
as estra -
um corpo per - , situa - se na conílucncta entre
manente de pesquisadores; maiores
facilidades para garantir das técnicas . Alem da cidadania
das estruturas corporativistas c "
contatos diretos com os sociológos estrangeiros tégias herdadas' *
administrações locais c, dai , melhores possibilidades com
e certas regulamentada e , de ; outro lado , as modernas estrat égias de
tar as ameaças dos órg ãos de repress
ão ; e també m ,
de enfren - defesa das categorias profissionais
. Manifesta , por fim , a persis
melhores condições para definir estrat égias que , sobretudo, té ncia de um
meio intelectual que aspira a autogestão .
embora exi- explicação , lodos os
gindo competência científica , conduzem a posicionamentos O primeiro ponto n ão exige muitacamadas técnicas c cien -
con - ão das
junturais. dados estatísticos realçam a expans ativa: a porcenta -
A problemá tica institucional é de fato insepará vel t íficas dentro da popula ção economicamente
outros elementos : a reivindica ção profissional
de dois
gem passa dc 3 , 1 % em i 960 para 4 , 7 % em 1970 e 6 , 8 % em
e a incorpora - população empregada nas ativida%-
,

ção dos imperativos da ciência c de


liberdade da comunidade 1980 . No setor de serviços , a(educa ção , sa úde ) representa 3 , 3
científica. des de "consumo coletivo
'

Ativa) cm I 960 e 7 %
da PEÀ ( Popula ção Economicamente , 1984 ) , Enfim , a condição
cm 1980 (Hascnbalg e Vallc Silva
nas antigas profissões libc-
A ideologia ‘ profissional * - de assalariado rende a se generalizar rá pida : os
rais. que se sindicalizam de forma rclativameme a 147.307 em 1978 (Wr
A referência a " profissionalização assume 50 -913 sindicalizados em 1963 passam" profissionalizantc t * Ills -
cia crescente nas ciê ncias sociais no decorrer do umaper
import â n-
G . dos Santos . 1983 ) , A identidade dessas novas
A generalizaçã o dos cursos de mestrado e í odo 70- 80.
crevc-sc nessa evolu ção , exprime a inserção dentro
cia , pelo menos declarada, a erigir as ciênciasdoutorado ; a renun -
camadas e também fornece aos -se economistas sociólogos um
c
logia" da nação, à maneira isebiana , ou emsociais em "ideo- título para enfrentar ou integrar
à tccnoburocracia instalada
formulaçã o de .
um " projeto nacional "; c a reapropnação do privil na administração e nas empresas pú blicas tradição corporati-
dução teó rica pelos "especialistas " universitá riosé, gio da pro- Essa mesma identidade enra í za - se na
cm detri - cidadania regula-
vista proveniente do Estado Novo . O termo
"
mento dos militantes pol í ticos ,
ii arrematam uma evolu ção reali -
zada desde 1964 . Convém , entretanto, indagar
conduziram , nessa conjuntura , a se enfatizar esseas tema razões que mentada "
— usado por Wanderlcy Guilhermeodos
como vimos , para anaiisar o resultado da legisla çã
Santos ,
profissional
certeza, essa ê nfase apresenta um aspecto defensivo . Com
uma competência específica implica reivindicar : invocar
no período de 37-42 — põ e em evidencia o processo dc reco -
. Da mesma forma
nhecimento das " profissões" pelo Estado , os economistas já
uma legitimi -
dade . que um regime ciente das exigências do que os advogados, médicos e engenheiros"ordem " e se bene-
científico n ão pode hesitar em questionar . A desenvolvimento estavam h á muito tempo agrupados
numa
cercou as ci ê ncias sociais contínua a sc imporaura que sempre oficiais para o exercício dc suas ativida -
at é diante dos
ficiavam dos dispositivos empresas tiveram
governantes que n ão tê m esperan ça alguma des , Em princípio, foi por isso que as grandes ços dc economistas
proveito próprio. Isso. sobretudo , porque a " de utilizá - las em de empregar obrigatoriamente os servi para obter um reco -
t ífica " preserva uma coesão comunidade cien -
suficiente para impedir a margina diplomados. Os soció logos esfor çaram - se
ção de soció lo -
nhecimento semelhante criando uma eassocia
"
lizaçâo das ciências sociais ; a SBPC saber á , quando
dar um espaço considerável às ciências sociais necessário,
gos" em 1971 . No contexto da ditadura
do acréscimo dc qua -
e lazer com que , um novo signifi -
elas beneficiem dc sua proteçã o. A tendê lifica ções , esses grupos adquirem , entretanto
lização" c uma maneira de reclamar , no ncia â profissiona-
sociais, um tratamento comparável ao dado mbito
â
"
das ciências - vista
associados , tanto do
cado: encarregam se da defesa dc seuscomo do ponto dc vista
à s demais profis - ponto dc vista eionõmico-corpora ti os "sindicatos" ao lado
sões c dc sc aliar aos pesquisadores
"

cientifico. Na fase de abertura , surgem
das ciê ncias exaras .
271
270
çãã o o cient ífica dos sociólogos perante
das "ordens ou associações" , formulando reivindicações no
'
como também a representa um papel na concessão de certas ver-
- -
dom í nio cconômico corporarivista . Formam se novas associa - o Estado * e, além disso ,

ções que intervé m no campo científico. Um só exemplo: a cons- has para pesquisa. ent ão como um recurso cuja
A ^ profissionalização surge Diante da difusão das ciên-
'
titui ção da ADUSP ( Associação dos Docentes da Universidade
planos.
de São Paulo ) em 1975 . com a participação dc personalidades utilização situa-sc cm dois um princ ípio de classificação baseado
dc primeira Imha da comunidade científica , como os professo- cias sociais, estabelece e uma separação entre produtores leg í-
res Pavão. Sirri à o Marias, Rocha c Silva , Jeremias de Oliveira cm títulos universitários
publico . Diante dos governantes preside
,
Filho * nas ciências exatas ; Ant ônio Câ ndido * Aziz Sirnào , Maria
Isaura Pereira de Queiroz c José Arthur Giannotti * nas ciências
timos e amadores ou
à defesa dos interesses
intelectuais e materiais , serve para justi
liberdades
-
espaço autó nomo com as
humanas ; e Dalmo Dalian , no direito. A ADUSP propunha -
se o objetivo de recriar um clima dc liberdade científica , aca -
ficar a necessidade de um
decorrentes , permite invocar os requisitos da criação cient í -
da í
as orientações oficiais nesse
bar com a atomizaçâo provocada, pelo autoritarismo e criar um fica e , portanto, també m questionar ção na definição dessas orien -
comrapoder fundado na compet ê ncia diante dos representantes terreno ou requerer uma participa tornam -
do regime . J ã n ão se trata de corporativismo , mas da recupera - tações . Num momento
em que a ciê ncia e a tecnologia -
centraisis de toda a polí tica dc desenvolvi
ção dos direitos e da legitimidade cient ífica . os componentes
sc
referê ncia profissional constitui urna forma de os ime-
Dai um último aspecto: por meio das instituições , da pro -
um ator pol ítico capaz dc, em
mento , a
letiuais se organizarem como
o do conhecimento, remeter -
fissionalização c das associa ções , o meio cient ífico cm seu con -
junto afirma sua exigê ncia de autogestão ou . pelo menos, dc nome de sua função na produçã contra as opções de uma tecno
gestão pam ã ria com as autoridades de tutela A situaçã o criada se a uma rauonalidade própria o uso da ciê ncia em proveito
burocracia que pretende confiscar
.

pelo regime não deixa dc ser paradoxal nesse aspecto: nas uni -
versidades , os professores perdem em grande parte o acesso à s dc seus próprios projetos . ( 1968 ) e Alwin W .
esferas de decisão. Mas continuam muitas vezes a exercer uma Daniel Bell ( 1979 ). Alain Touraine , a forma
, dc â ngulos diferentes
íl
I influ ência considerá vel nos ó rg ãos de financiamento . A esse Gouldncr ( 1979 ) analisaram se constitu í ram como for ç a central c
propósito , o sociólogo Bernardo Sorj observa: pela qual os intelectuais científicas se
ocicdades onde as disciplinas
«i

contestadora cm soa fundamentais , e


Ní o será exagero afirmar que a maioria. doa quadros médios dm órgáos estauis transformam em meios de produ ção e temas aparelhos
e paraesutais em Junções de planejamento t similares era formada por Trrrito inco rporados a poderosos
ruzís crftktté ' ( Sorj, 1984 b: 6). onde os estratos técnicos, , conseguem um poder consider á vel.
decis ão e produ çã o
de
particular Touraine mostrou bem como os disL Ú rbios de
E acrescenta : Em ,
simultaneamente uma crise c um
Neste contexto c de se admirar o triplo processo de absorção sem coopução
1968 na França traduziam ísmos da sociedade francesa , singu
conflito: crise ligada aos arca das estruturas universitá rias; con -
-
ideológica de poder de decisão buroera uca sem maiores consequências políticas
c de Vonvu- énaa padfica entre o regime autoritário e uma mrcteccualidadc
larmente pcrceptívcis dentro uma tecnocracia cuja domina -
flito associado ao surgimento dccrescimento económico tornava -
‘ ”

-
conte tadora nbid . 7 ) ,
ção aumentava à medida que
o
pela administração do progresso
Alé m da participação nesses organismos , c preciso acrescen - se cada vez mais determinado Raymond Boudon , comentando
tar que , sobretudo durante o processe» de abertura , surgem t écnico (Touraine , 1968
: 15). expli-
novas associações que demonstram a concessão dc uma certa a explosão de maio de 1968 na França , acrescentou a esta
*

gerados pela amplia çã o do publico


autonomia de orientação aos especialistas nas diversas discipli - cação os efeitos perversos de repro-
o que levou à rupiura dos mecanismos
nas . Na sociologia , a funda çã o da ANPOCS ern fins da d écada universit á rio ,
superior era uma
engrenagem
de 70 , reunindo os membros com doutorado , foi um exemplo dução social , da qual o ensino
disso: a ANPOCS assegura n ão só a comunicação entre os pares . relativamcntc importante.
272

Esses raciocí nios são em certa medida pertinentes pura o


1970 100 1975 129 , 1
Brasil dos anos 70 , O milagre ' , que durou pouco mais de
cinco anos . evidencia os desequil í brios e arcaísmos dc uma 1971 86 , 2 1976 124 , 1
sociedade onde o aumento da desigualdade é tido como inevi-
1972 83.6 1977 106.2
t á vel c natural , e oridc a ascensão dos cccnocratas se justapõe ,
ern muitas regi õ es , à manutenção de formas tradicionais de con - 1973 100.5 1978 119.2
trole social . À expansão do pú blico universitá rio é acompanhada
1974 101 , B 1979 107, 4
pela crise das profissões liberais e també m pelo funcionamento
irregular das próprias universidades. A onipotcncia da tecnocra -
(Fome: José de Ara ú jo Br á s , A crise da USP , Editora Brasilionse ,
cia , protegida pelo autoritarismo , d á um cará ter agudo ao con - 1963: 151. )
flito relativo à pol ítica cient ífica c tecnol ógica .
No entanto , é claro que esse paralelo n ã o pode ser levado
Como se constata , o ponto culminante é atingido em
muito longe. A reivindicação “ profissionalizante ” formula - se
no contexto de um sistema de desigualdade t ã o profunda que 1975 . As antigas universidades n ão são as ú nicas a aproveitar
as consequ ê ncias do milagre , A vontade dc impulsionar forte -
o reflete à sua maneira. Como j á afirmamos: a exigê ncia profis -
sional iz an te articula -se sob a pressão das classes médias relativa - mente as universidades do Nordeste se manifesta numa gene -
mente privilegiadas e reconstitui um princí pio de classificação
rosa fome : a Universidade da Paraíba tem o terceiro maior
interna . Al é m disso, caminha em paralelo com a participação orçamento entre as universidades p ú blicas , e os sal á rios dos pro
fessores (fora outras vantagens complementares ) sã o extrema -
-
nos benef ícios do “ milagre" t visto que esses “ profissionais" , mente elevados. Em muitos casos, parece que os sal ários se apro-
hl »
cm sua grande maioria estã o do lado dos setores sociais que
,

recebem sua quota do crescimento económico. Não dispomos


ximam , cm 1975 , dos salá rios nas universidades norte-america
nas , Além disso , os pesquisadores integrados às “ fundações
-
1 1

I dc dados sobre a evolução dos salários a partir de 1967 , só a criadas dentro das universidades e mantidas por contratos c os
í partir dc 1970 , o que impede uma avaliação mais real das van - membros de centros privados recebem complementos às vezes
, • tagens conseguidas. Para os professores- assistentes da USP , a
substanciais. N ão faltam casos dc professores que adquirem
evolu ção foi a seguinte (cm cruzeiros, pelo valor de 1979): um comportamento empresarial , assumindo uma l ógica do
I! lucro , Algumas vezes , chegou a acontecer dc fundarem ( ou
seus cônjuges ) , paralclameme às suas atividades universit á rias ,
1970 9954 ,76 1975 9492 ,64 escolas privadas altamente lucrativas . Sem d ú vida , essa tendên
cia se inverte em 1975 , c uma das consequ ê ncias é a morosi-
-
1971 6207,52 1976 9134.63
dade que toma conta do mundo universit á rio. De qualquer

-
1972 8351 ,29 1977 7816 , 33 modo , as estrat égias " profissionais " surgiram numa fase cm
1973 9199.82 1978 8512 , 98 que os critérios cient íficos e materiais de estratificação das cama -
das cultas atravessavam profundas mudanç as .
1974 8887 , 00 1979 6201.16 E evidente que a exist ê ncia dc um regime autoritá rio d á
um cará ter específico aos conflitos com as elites dirigentes. Por
{ Fonte: A n d r é .
Franco Montoro, m folha de S Paulo , 18 '8/1979. ) tr ás do.s debates sobre a pol í tica cient ífica , a luta pela liberaliza -
çã o contribu ía para preservar a coesão entre a maioria dos cien -
Segundo os cá lculos da Fundação Getulio Vargas , a evolu - tistas. A ‘ profissionaliza ção ‘ n ão implicava de forma alguma
*

ção dos sal á rios de um professor livre - docente , categoria MS4 . a absten ção pol í tica: ao contr á rio , oferecia um argumento nesse
é a seguinte ( valores relativos , na bas. e 1970 = 100 ): combate. A estratificação profissional é acompanhada por uma

6 SCSH t UFKG
*
271 275

outra estratificação fundada no grau de destaque dc cada pro - com o aumento das verbas para a pesquisa . Isto c. continua
fessor ou instituição na área da intervenção política. Os centros fiel a sua vocação científica e tende a julgar o regime cm fun -
dc maior prest ígio são os que exigem ao mesmo tempo “ profis - ção das medidas que este adota para apoiar a pesquisa . À des-
sionalização ' e exercícic de uma influencia política. O CHHRAP confian ç a , seguida da contestação aberta que cada vez mais prr
adquire assim , nas ciências sociais , de 1970 a 1978 . uma influ ê n - valcccr ã u , baseiam -sc em grande parte na deccpção diante das
cia com a qual o IlIPERJ , por mais “ profissional ' ' que seja , opções cient íficas governamentais . Isso acontecerá sobretudo
n ão pode rivalizar . Mais tarde o CEDEC , seguindo o exemplo quando , sem consultar oficialmcnte os dirigentes da SBPC , o
do CEBRÀP , derivar á a sua autoridade de sua capacidade para governo conclui o acordo nuclear com a Alemanha Ocidental ;
-
situar se nos dois planos. Essa é uma das formas de se consta - este , implicando a constru çã o de centrais “ prontas para uso " ,
rar de novo a interferê ncia permanente entre o tampo intelec - parecer á negligenciar os imperativos da pesquisa de base no
tual c o campo político. A tradição das d écadas de 30 e de 50 Brasil e homologar uma desistê ncia da soberania . A mesma rea-
vai nessa dire çã o. A moderniza ção dentro de um contexto de ção por parte da SBPC também se verifica quando o governo
autoritarismo vai no mesmo sentido. A posição central das ciê n - inicia " projetos faraónicos ” preparados às pressas. Al é m dos
cias sociais c . mais uma vez , a sua expressã o . Abrindo - lhes as fundamentos dessas críticas , as tomadas dc posição da SBPC
suas portas a partir de 1975 , a SBPC mata dois coelhos dc uma manifestam a desorientação da comunidade cient ífica " diante
'

cajadada só: no que toca às ci ê ncias sociais , torna - se a garantia da transferência dos centros de decisão da política cient ífica
dc sua legitimidade cient ífica ; no que diz respeito a si pró pria , para a tecnocracia estatal , problema que n ão c só do Brasil .
é a prova dc que a ciê ncia não pode ignorar a pol ítica . Essas cr í ticas , por é m , evidentemencc não significam que todas
A importância do lastro institucional * a generalização das as relações com o Estado estejam cortadas . Sempre haver á mem -
estratégias profissionalizantes, o recurso á legitimidade cient í- bros da administração — da FINEPt do CNPq , c de outros
fica para escorar a intervenção política: cm lugar algum esses — esforç ando -se para dar seu apoio à pesquisa . Mesmo quando
a SBPC entra na luta publica pela democratização , seus encon -
fen ô menos convergem tão bem como nessa SBPC encarregada
do “ progresso da ciê ncia . Fundada cm 1948 por iniciativa
11
tros — corn uma exceção —
são financiados pelo Estado e se
dc biólogos , físicos e químicos , contava então com apenas 256 desenrolam muiras vezes na presença de ministros ou altos fun -
membros. Publicando a partir dc 1949 a revista Ciência e Cul- cion á rios , e seus presidentes preservam os contatos com o poder

tura sempre esta palavra “ cultura ' , lembrando, ate nos cír -
r

culos cient íficos , que a ciê ncia insere-se na construção da na ção


pol ítico \ Em 1975 , por exemplo , participam da preparaçã o
do segundo plano dc base para o desenvolvimento cient ífico c
— essa sociedade cient ífica limita-se durante muito tempo a tecnológico. Sem entrar cm maiores detalhes , podem - sc fazer
os seguintes coment á rios . Apesar das preferê ncias políticas indi -
contribuir para a discussão da polí tica científica . Interlocutora
do Estado, não é insensível à s preocupações demonstradas pelo viduais , a SBPC , sob influ ê ncia dos intelectuais conceituados
regime autorit á rio em relaçã o ao crescimento do potencial cien-
tífico nacional . Em 1967 , o general Costa e Silva proclama a
que a dirigem — —
o t ísico Oscar Sala , o m édico José Reis e o
físico José Goldcnbctg , no período 75 - 80 , consegue assegu -
necessidade de pesquisas no campo nuclear r a SBPC , em seu rar a representação efetiva dos meios cient íficos . Por outro lado,
encontro anual , aplaude esse programa . Pouco depois , o Minis- assume a defesa dos interesses nacionais. Assim , em sua assem -
t é rio da Educação e Cultura , por interm é dio do CNPq . anun - bleia de 1975 cm Belo Horizonte , a SBPC exige a manutenção
cia um plano de desenvolvimento cient ífico e tecnol ó gico: sem da “ política de monopólio estrito do Estado sobre os recursos
necessariamente desconhecer a distancia entre os planos e as
medidas efetivas , a SBPC elogia -o, c o f ísico Maurício Rocha e
Silva , um dos mais prestigiados dirigentes da sociedade, refere
se a uma “ lua de mel " entre os cientistas c o governo . Ainda
- Ni assembleia dc 197 S o presidente da SBPC, o finto Olear Sala , foi censurado por
Eli dos fundadores da sociedade , o íísico Maiirfún Rocha t Silva , por ter ootnparc-
-
ridci a jm * audtenria turn o presidenff Ge í sd . Entirutuo . a niajorra dos membros
em 1970 , por ocasião de seu XXII Encontro, a SBPC alegra se - inÚ uen í cs da SBPC manifestou >eu apoio a Ost 4T 5aU
276 277

naturais de import â ncia energctica ' \ For fim , e sobretudo , adotadas pelas assembleias n ã o formulam apenas propostas cien -
impõe- se como interlocutora do Estado , negociando com tlc tíficas, mas relativas a todos os aspectos da quest ão das liberda -
-
e / ou denunciando ot com autoridade suficiente para que sua
situação institucional n ão seja posta em quest ão ,
des. Em 1977 , a SBPC expressa sua oposição aos "atos e proce -
dimentos que contrariam os direitos do homem ". Lm 1979 .
A entrada da SBPC na luta pela democratiza çã o só se faz , no encontro realizado cm Fortaleza , a Sociedade Brasileira de
dc maneira expl ícita , por ocasião da assembleia de Brasí lia em Física pede a supressão dos “ órgãos dc seguran ç a e informa
1976 , É verdade que ela nunca deixou de deplorar as san ções ção ". Os jornais divulgam as interven ções ; Opinião reproduz
que desde 1964 golpearam seus membros. Tanto a intensidade as comunicações mais importantes cm ci ências sociais . Assim ,
da repressão como as ilusões geradas pelos planos cient í ficos protegidos por uma instituição cient ífica , os intelectuais recons-
do governo levam - na , durante muito tempo, a evitar tazer tituem as tribunas de onde se dirigem a seus pares c , para alé m
alarde Coincidem em 1976 a disputa sobre as opções nudea
res , o despertar da “sociedade civil " c a retomada da abertura .
- deles , à opini ão publica . Em nome da ciência e da profissiona -
lização , erguem -se diante do Estado como uma verdadeira
No entanto , a SBPC se absté m de emitir resolu ções diretamente comunidade com voca çã o eminente para falar dos direitos" "

políticas. Em 1977 , no encontro realizado na PUC dc São Paulo dos cidad ãos .
— em substitui ção ao encontro previsto para Fortaleza , mas
inviabilizado pela recusa do governo em conceder as subven -
Após o encontro de São Paulo , o cr
de Oliveira comenta :
ítico literá rio Franklin

ções habituais - a SBPC se recusa , por exemplo , a endossar


t

a promessa de convocação de uma assembleia constituinte . N ão Uma nação que csponuneamrntc x mobiliza c «: congrega tm torna dc assem -
importa: a SBPC transforma -se de repente num fórum onde a -
bleias intcIccTuais, drvotando se a acompanhar debates científicos compare-
,

cendo em massa a fó runs culturas (...) esti dando a prova mais fulminante
quest ã o da liberaliza çã o do regime e da volta à democracia da sua capaciiadt paia o exercício irrestrito da vida civilizada . À import â ncia
t colocasse abertamente . As ciências sociais marcam ai uma forte desse simpósio consiste, emir micras, no fato de revelar o inegá vel divó rcio
presen ça e , dentro da organização, Maria Isaura Pereira de Quei - entre a veidade da ci ê ncia que não renuncia à sua raissiti emancipation e o espe -
roz , José Albertino Rodrigues e Carolina Bosi militam a favor cioso conhecimento manipulado pelos que. no poder , esmeram-se em desviar
• . de seu reconhecimento pela SBPC. Fernando Henrique Car- o pa ís dns ramos prrdrtermmados pela sua vocação hist órica para a liberdade
doso , Celso Furtado. Florestan Fernandes, Francisco de Oliveira ( Oliveira , 1977).
e outros economistas e sociólogos passam a abordar os proble-
-
mas do momento. Multiplicam se as mesas- redondas sobre as
estrat égias da oposi ção : em 1977 , Florestan Fernandes organiza
No encontro do Rio de Janeiro , cm 1980 , o presidente
.
da SBPC o físico Goldenbcrg , declara :
uma sobre a pcrda da memó ria nacional "; Fernando Gaspa -
44

À conscrentizaçã o do papel dc pane d á vanguarda esclarecida da Nação que os


rian . proprietário do jornal Optmâo c da editora Paz e Terra , dentistas explicitaram em 1977 é irreversível ( . . ) Agora , a sociedade brasileira
organiza outra sobre o nacionalismo; em 1978 , Fernando Hen -
.

aguarda nossas reuniões como um marco importante do desenvolvimento de


rique Cardoso dirige uma mesa - redonda sobre as perspectives
‘‘
uma sociedade democr á tica
da democracia na Amé rica Latina" . O nurnero dc membros
da SBPC passa de algumas centenas para mais de 17.000 cm A " ci ê ncia volta a ocupar um lugar dc honra: j á n ão
1982 . Os participants inscritos nos encontros anuais , que eram esta investida da responsabilidade dc enunciar uma organização
313 em 1961 e 1.200 em 1970 , passam a 4.380 cm 1976 e a racional da sociedade como em 1930, nem as leis do desenvol -
3.823 em 1977 . Em 1961 , estavam previstas 283 comunicações; vimento nacional como em I 960. Ei - la erigida em garantia da
1.040 em 1970 e 2.997 em 1976 . A partir do encontro dc Bra - futura democracia . Continua , assim , a subtender o pensamento
pol ítico , como se a heran ç a positivista n ão se esgotasse jamais,
sília c sobretudo do de São Paulo em 1977 , os estudantes fazem
sua aparição como p ú blico ( cm 1977 , sã o eles que resolvem c a homologar , com sua chancela, o direito dos intelectuais de
impor a moção cm favor da Constituinte ) . As resoluções finais fazer valer sua autoridade .
17 U 279

O caso da SBPC , no conjunto , ilustra bem o papel das imprensa , Paulo Pontes , responsá vel pelo Caderno de Cultura
referencias instirucionais e profissionais nas estrat égias das cama- do Jornal do Brasil Na televisão. Dias Gomes, entre muitos
das rada vez ruais numerosas de pessoal qualificado , permitindo outros , quando começa a escrever as famosas novelas que fariam
preservar sua articulação com o Estado Assinalamos antes a con - o sucesso da rede Globo . Outros teriam um papel importante
no surgimento de novas editoras , como a Editora Abril, De
tinuidade do diá logo dos cientistas com a administra ção e a
inserçã o de intelectuais contescadorcs em várias administrações. qualquer modo , a profissionalização significa uma transição
Dos alunos formados pelo IUPERJ , 23 , 5 % ocupam cargos na das antigas formas corporativism para novas formas adaptadas
administração ( Sorj . 1984 b). Isto vale para muitas categorias à moderniza çã o do Estado . Mas as referencias institucionais c
que não mencionamos: in ú meras são as profissões que se orga- profissionais servem ao mesmo tempo , sobretudo a partir de
nizam cm associações e sindicatos: arores de teatro , cineastas e 1974 , para legitimar os posicionamentos em favor da liberaliza -
outros ( L . W - Vianna , 1984 ) . Essa proliferação profissional c çã o. Mencionamos a SBPC , mas a mesma evolu çã o poderia ter
insepar á vel da manutenção das relações com a Uni ão ou com sido descrita a propósito da OAB ou da ABI , que re ú nem advo-
os Estados . Em muitos casos , ela constitui uma forma dc nego - gados c jornalistas . Em sua grande maioria favorá vel ao golpe
de 1964 , a OAB afasta -se do regime após 1968 : por influência
ciar com eles as polí ticas relativas à cultura e ao seu financia -
mento . O Estado ( federal ou local ) n ão deixa dc subvencionar de Miguel Seabra Fagundes e depois de Raymundo Faoro, pro -
tn ú meras atividades nesse campo , como no terreno científico , -
nuncia se reiteradamente a favor do restabelecimento do estado
e de fazê-lo em coopera ção com os representantes das “ catego - de direito. Ai também * a interven çã o da OAB realiza - se numa
conjuntura onde a profissão de advogado mudara de situação .
rias profissionais ' . At é no governo Mediei , o ministro Jarbas
Passarinho apoia o Instituto Nacional do Livro e lan ç a um pro- Em 1978 , Raymundo Faoro relaciona os dots fenó menos: como
grama de ação cultural . Durante o governo Griscl , o ministro o advogado tornou - se . na maioria dos casos , um assalariado, a
Ncy Braga vai m &is além , definindo uma “ polí tica nacional OAB que foi levada a rever seu " liberalismo que , at é há pou -
de cultura ” , incentivando a Embrufilme , entidade encarregada co , era chamado ' liberalismo de autonomia , opondo-sc às inva -
de favorecer a cria çã o cinematográfica , criando a Funarte em sões do Estado. E assim viemos lalar da liberdade de participa -
1975 e ajudando a “ cultura popular ' \ Ocorre no campo social -
çã o , n ã o só em ní vel pol í tico , mas també m social económico
i

o mesmo que no cultural : a organiza ção da demanda sob forma ; -


( Faoro, 1978 ) . À ABI , por sua vez coloca se ã frente das cam -
dc associações profissionais e a organiza ção de políticas pú bli- panhas contra a censura e de várias luras em defesa da econo-
cas sob forma dc criação de institutos especializados caminham mia nacional . Em todos esses casos , verifica - se que a compet ê n -
juntas. Sé rgio Mieelf em Estado e cultura no Brasilobserva cia especializada t a filiação institucional tornam -se recursos
es.se fenômeno. Ele informa , por exemplo , que o ministro Ncy necess á rios para a concretiza çã o de estrat égias amiau romarias.
Braga consegue que as associações corporativistas representando A modificação da identidade do intelectual , iniciada no
o teatro c o cinema designem seus delegados junto à direção intervalo 64 -68 , prossegue portanto . A ideologia profusion a li-
dos ó rgã os oficiais competentes (Miceli, 1984: 65 ). Vários cineas- zante substitui a ideologia dcmi ú rgica . Impera o discurso
tas . a começar por Glauber Rocha ir ão aderir à polí tica dc , competente 7 Este se Lmpõe sobre o pano de tundo da neutra *

abertura de GeiseL E verdade que as estrat égias profissionais li / a ção política das classes populares: fornece meios para comba -
no campo da cultura n ão estã o ligadas apenas ao Estado ; tam - ter a tecnocracia ern seu pró prio terreno; permite preservar a
bé m se adaptam ao prodigioso avan ço da ind ústria cultural hierarquia no interior das camadas cultas ; e representa o direito
( Brockman n Machado , 1984: 5 20 ). Numerosas figura da -
esquerda nacionalista , e at é comunista e do CPC , ocupam luga -
dc acesso á esfera pol í tica no contexto do autoritarismo. E esse
“ discurso competenteM passa também como discurso da “ socie -
res de destaque nos órg ã os de comunica çã o de massa . Na dade civil * ' perante o Estado , visto que se modula cm função
da diversidade profissional que c uma das modalidades de reor -
'
A ma ; oi ia deisc* dados tor am obtidas rias drvttttt icntribuiçôcí reunidas nesse Imo ganizaçã o da sociedade civil , e se ap õ ia na multiplicidade de
280 281

interesses das categorias profissionais dos amplos setores m édios di á logo corn os intelectuais . A presença de personalidades do
criados pelo “ milagre ’ ’ . O intelectual se reconhece agora como regime nos cnconttos da SBPC , o questionamento implícito
um ser de carne e osso, ou seja , como parte interessada na ou expl ícito das modalidades dr censura e o debate sobre a anis-
grande redistribuir ã o de condições materiais e imateriais reali - tia n ão seriam , discreta ou abertamente , uma evid ê ncia disso ?
-
zada no per íodo 70 80 , Em todo caso, o fato é que os intelectuais dispõem desse espaço
Em muitos aspectos, a fase de abertura polí tica c uma con - mínimo que lhes permite voltar à cena pol í tica .
juntura singularmente favor á vel ao intelectual. Tudo esta em
sintonia: a defesa de seus interesses materiais ( a reviravolta con -
juntural após 1975 o leva a reclamar a restauração das posi ções As estraté gias políticas
adquiridas durante o milagre ) , as estratégias profissionais e a
luta pelas liberdades pareciam tr é s aspectos de uma ú nica c A constituição dos intelectuais cm ator político n ão c
mesma lógica . Ao reivindicar a revaloriza ção de seu salá rio c .
autom á tica e sup õe pelo menos tr ês condições A primeira ê
exigir um estatuto para a sua profissão , estão solid ários com o -
teórica c diz respeito à revaloriza çã o da pr ó pria dimensão pol í
movimento pela democratização, pois este se ergue contra o tica , Nem a noçã o dc '‘depend ência ’ , nem as explicações de
capitalismo selvagem , do qual o Estado e a pedra de toque , “ Estado autorit á rio , nem a vulgata marxista caminham nesse
"

O tato dc participarem cm massa da administra ção ou da ind ú s


tria cultural n ã o impede que os intelectuais estejam na.s linhas
- sentido , mas tendem antes a obliterar a esfera política. A
segunda condição refcrc - se à organização do meio intelectual ,
dc frente da sociedade civil . O fato de sc beneficiarem , quando que deve ser capaz de preservar uma certa coesão a fim de
tor o caso, do acesso as esferas dc decisão c de alguns deles dis- opor uma frente comum ao poder . São vá rios os componentes
porem dc seus pró prios ancis burocrá ticos" , no dizer dc Fer
nando I Irrmque Cardoso , ri ào impede que mantenham suas
- dessa coesão . Acabamos dc mencionar as estruturas institucio -
nais e a ideologia profissionalizante. Mas a coesão n ã o c um sim -
posições cr íticas. O fato de recorrerem ao "discurso competen - ples dado factual : depende também da capacidade dc fazer
te " é apenas uma forma transfigurada de poder sustentar aber - pol í tica. Implica procedimentos dc negociaçã o e compromisso
camente um discurso democrá tico. Dc fato , essa intelligentsia entre grupos ou indivíduos que est ã o longe de manifestar sem -
de oposição redescobre para si , mais do que nunca , um destino pre as mesmas orienta ções. Logo , não sc trata mais apenas de
dc ator pol í tico , um ator que n ão se coloca acima da socicda - ressaltar a interferê ncia entre o campo intelectual e o campo
de " , nem se rende aos prazeres da ideologia : dessa vez , se ins
rala dentro da sociedade e do sistema dc rela ções de forças.
- pol í tico . É preciso conceber o meio intelectual como um semi -
partido pol ítico , com seus conflitos , seus locais de debate e
A propósito da dccada dc 30, sugcnmos que os intelec - seus poderes A terceira refere - se às estrat égias dos intelectuais
tuais n ão podiam satisfazer a sua vocação de elite dirigente , diante do meio exterior , em relação com a sua participação nas
salvo na medida cm que o pró prio poder a reconhecesse. Na elei ções , suas alian ças com os partidos ou tor ças sociais , suas
dccada dc 70 , sua constituição em ator pol í tico implica da atitudes face às mudanças nas regras do jogo e às incertezas
mesma forma uma cena aceita ção por parte do poder . Essa acei - que o regime não pã ra de impor .
taçã o mal existe , evidentemente, dc 1969 a 1974 , mas , pelo Em todos os aspectos, o ano de 1974 é um ponto de infle -
menos , o poder n ão destr ói completameme suas instituições , x ão no acesso à sua estruturaçã o como ator político. Os primei-
e deixa ocorrer a redefini ção profissionalizante . Após 1974 , a ros passos em direção à abertura , o sucesso eleitoral do MDB ,
aceita ção continua em tom velado, submetida aos riscos que * os posicionamentos da OAB, da ABI r da SBPC são alguns de
acompanhavam os confrontos entre os diversos setores militares . seus sinais . De qualquer modo , as estrat égias pol í ticas subse -
E , no entanto , o processo de abertura parece transcorrer levando quentes sã o apenas em parte o efeito das rcoriencações do meio
cm conta esse aior polí tico . As palavras do general Gei.scl , antes intelectual . São pelo menos na mesma medida o produto dos
mesmo de tomar posse , manifestam uma vontade de reatar o limites e ohst ã culos levantados pelo regime . O í enó meno mais
282 283

que caractenza a evolu ção política dos intelectuais cado cm 1972 , “ para crer que o modelo de desenvolvimento

importante
a descoberta da sociedade civil c da democracia pol ítica — económico adotado subordine , de forma imediata , o regime
enrajza - se calve na crise de referencias que serviam ames para político" , nem de apresentar , mais do que dantes , o Estado
*
garantir sua identidade: o nacionalismo , o populismo , a conti - como o “ comité executivo da burguesia " (Cardoso , 1972: 65 )
guração da sociedade pela via estatal . Esse fenômeno , poré m , Na realidade , Cardoso sugere que os militares tendem a agir
remete sobretudo ã necessidade de levarem em conta o contexto de forma mais coletiva a partir de 1967 , e que as decisõ es eco-
no qual intervém , à adoção forçada dc estrat égias de racionali - nômicas “ seguem um curso rclativamcme autónomo" ( ibid .:
dade limitada e à adapta ção for çada às condições de incerteza . -
85) Na mesma é pocar enfatiza dois outros aspectos: o Estado
nào é monolítico » e sc articula por meio dos "ané is burocrá ti
cos ' ' a interesses que n ào são necessariamente convergentes; o
-
Em busca da política perdida Estado nâ o esta livre das pressões populares e responde a elas
por meio de medidas sociais. A pró pria noção de depend ê ncia
Num artigo publicado pelo jornal Opinião em 1973 , Fer - é indicada com precisão : a sua conota çã o " estrutural " é suavi -
nando Henrique Cardoso convida seus leitores a tomar consciên - zada e mais ainda o seu alcance globalizante; é reduzida a
cia da^ mudan ças que sc operam na sociedade brasileira . O uma especifica ção contextuai dos processos internos ( Cardoso
fato de ter que lhes dizer que j á n à o podem se ater a uma ver - e Wcffort , 1971: 1 -46 ). Em 1976 , no post - scnptum ao livro
sào da "economia em estagnação , de uma sociedade im óvel Dependê ncia e desenvolvimento na América Latina ( Cardoso

ou à de "apatia da sociedade brasileira " , c de lhes indicar que e FaJetto, 1976), Cardoso distancia -se ainda mais do “ economt -
j á est á na hora dc “ entender que o processo dc crescimento cismo " , recusando-se a considerar o regime político como a
capitalista , cspeeialmcnte nas condições de uma sociedade manifestação do "pacto de dominação ' articulado por intermé-
1

como a brasileira , é contraditó rio , mas nem por isso deixa de dio do Estado. A estera política reencontra assim os seus direi-
ser real " (Cardoso , 1973 ), mostra suficiememcntc que , cinco tos Se certos textos de Cardoso d ã o nesse meio tempo a sensa
,
-
anos após o início do milagre " , a negação continua a exercer ção de uma certa ambiguidade , é porque descrevem sobretudo
o papel dc uma posiçã o política . A nega çã o às transforma ções os modos de representação dos interesses dos diversos grupos
em andamento n ão c sen ão um aspecto dela . A nega çã o da econ ómicos no interior do Estado , com os " an é is burocrá ticos ’
1

esfera pol ítica é outro , não menos profundo. tomando o lugar dos canais corporativistas analisados por P.
A vulgarizaçã o da noção dc “ dependê ncia exerce um Sehmicter ( Schmittcr , 1971 ). Ora , a lógica dos interesses c a
'

papel importante nessa dupla negação . Nào vale a pena nos lógica do corporativismo entram em choque , em grande medida ,
determos nesse tópico: ela sc produz tendo como pano de fundo com uni reconhecimento da esfera política . As preocupações
a refer ê ncia aos " bloqueios esmiturais" ou à “ espolia ção" c de Cardoso , c també m a conjuntura , explicam essa aparente
não oferece outras alternativas pol íticas alem do catastrofismo redu ção do significado da esfera política . Os anos 69-73 nào
ou da ruptura. A partir do momento em que é percebida a coin - permitiam nada al é m de esperar o agravamento das "contradi -
cid ê ncia entre o endurecimento da ditadura e o rá pido cresci- ções internas ’ do regime . Tudo favorece uma cultura da recusa
1

mento, passa - sr a fazer do “ Estado autorit á rio" n ã o mais uma que considera o bloqueio pol ítico. Cardoso por ém preserva ,
rea ção pol ítica à mobilização das massas , mas uma simples embora discrctamente , o espaço da política Não é o ú nico:
-
*

engrenagem funcional do capitalismo internacionalizado que Wcffort fez o mesmo. Seu quesuonamento da noção de "de
“ governa o Brasil . pendência ' cm 1970 (Cardoso e Wcffort , 1971 ) assinala a preo-
Cardoso é um dos que n ão sucumbiu a essa concepção cupa çã o dc salvaguardar a autonomia da esfera pol ítica: e sua
-
simplificadora . Mesmo em seus trabalhos dc 71 72 , procura reabilitação teórica do conceito de conjuntura , em seu estudo
n à o definir o regime apenas por suas finalidades económicas: sobre o sindicalismo populista ( Weffort , 1972 ) , é uma forma
" Nà o h á motivos * , escreve ele cm Estado e Sociedade publi
% - dc livrar -se dos “ efeitos de estrutura " e de reconhecer o papel
285
284
dicionantes do volume de investimentos realizados no setor de
que cabe aos atores politicos . A atmosfera predominante , toda - subsist ê ncia ’ ( Singer , 1976: 181) . Com maior razão , no que
via , é completamentc diversa: vai no sentido de uma leitura
do presente de onde os atores estão ausentes c n ão são jamais
concerne ao Estado autoritário ' ' . muluplicam - sc as demonstra -
ções dc que ele ê um mecanismo do processo de acumulação.
considerados, exceto como peças dessa m á quina auto susten - - Nosso propósito n ão é estimar a validade de certas afirma-
iada que é a acumulação capitalista .
ções formuladas nessas teses gerais mas apenas observar que a
Poucos textos ter ão uma repercussão t ão grande quanto o
,

dc Francisco dc Oliveira: "La economia brasilena: crítica a la dissolu ção dos atores sodais e da questão pol ítica ê inerente a
razó n dualista ' ' ( “ A economia brasileira: cr í tica à razã o dualis-
esse hiperfuncionalismo marxista. Esses atores podem eventual -
mente manifestar a maior preocupação em relação às classes
ta" ) (Oliveira , 1973 : 411 -84 ). Divulgado como texto básico
na maioria das universidades, discutido e utilizado em muitos
sociais . De rato , sobre as classes sociais só se encontram posi -
ções abstratas deduzidas das ‘ necessidades ’ do processo dc
artigos , esse estudo traça um amplo panorama do desenvolvi-
mento brasileiro , tardio mas todo ele desenrolado sob o signo
acumulação. O triunfo desse marxismo n à o ê exclusivo ao Bra -
sil teve també m sua hora nas margens do Sena . Seu alcance ,
das leis da acumula ção capitalista. Nada resta corno fator polí - contudo, é diferente no contexto brasileiro , onde se inscreve
tico independente, nenhuma distor ção ou dualismo deixa dc
na serie de todos os evoludontsmos que se sucederam ao longo
scr apresentado como funcional ao avan ço da acumula çã o capi - do século. Mas , enquanto os evolution ism os anteriores eram
talista . O popuhsmo é visto como um meio de quebrar o peso també m portadores de uma promessa de libertação social ou
político das antigas classes proprietárias a tim dc ‘ 'criar fontes nacional , este est á fechado sobre si mesmo , regido por um prin -
tnternas dc acumulação’ ( ibid.: 440 ) A legislaçã o getulista
,

do trabalho é uma “ das medidas destinadas a instaurar uma


cipio de causalidade sem fim c de finalidade sem causa , O capi -
talismo submete a si próprio todas as esferas do social . Os pró -
-
nova forma de acumula ção ( ibid .: 428 ) Quanto à ação do
1

Estado , nos anos 30 , o que fez foi transferir os recursos e os


1
prios intelectuais nà o escapam à instrumentaliza ção. Numa con -
ferencia pronunciada em 1973 , Giannotti encarrega - se de lhes
benefícios para o setor industrial para fazer deste o centro do tirar as ilusões:
sistema ” ( ibid .: 420 ) e , nos anos recentes , favorecer uma ‘ su
peracumulação" na base do aumento da mais- valia absoluta . 0 capital nos apanha das núncios ciais diversa. (,. . . ) 0 autor escreve um valor -
*

O crescimento do setor terci á rio c tido como uma forma de de- uso, cujo direito de reproduçã o cede ao editor: este o reproduz cm milhares
transferir a mais- valia para as atividades capitalistas ( tbid .: dc exemplarei com o fito precis? dc auferir lucros , uma pane dos quais cede
424 ) . Causalidade c finalidade se encontram. A acumulação ao escritor . Sob esse aspecto, cientista e autor surgem como ama espécie de lati -
põe a seu serviço tudo o que encontra ; na realidade , n ão tem fundiá rio ou de usurário transferindo ao capitalista industria ] o direito dc explo-
nada mais a ver cora qualquer exterioridade. Calcados no rar um monopólio ( Giarmotu. 3977 ; 24 5 ).-
modelo desse texto , alias smgularmcme brilhante e rico era A Universidade fica similarmeme presa dentro da lógica
hipó teses , outros se seguem sucessivamente esmagando e tritu -
,
capitalista : é o que estabelecem Giannotti , Francisco dc Oliveira
rando todo o meio ambiente da acumulação. A ‘ marginalida -
de c vista como uma necessidade, segundo L ú cio Kowarick ,
e Florcsian Fernandes em diversos artigos ( Giannotti , 1982 : 5 14;
Fernandes , 1984 ; Ciê ncia e Cultura , 1984 ). Falá vamos de uma
-
porque transfere o excedente para os setores de natureza niti -
"
cultura da recusa . Como ela poderia se exprimir melhor do
damente capitalista " e porque os produtos provenientes das que pelo hiperfuncionalismo marxista ? Este c nada mais do
economias marginais oferecera “ uma iníra- cstrutura de custos que urn procedimento para enunciar o totalitarismo , um totali -
altamente compensadora na medida em que leva a um baratea - tarismo que , antes de ser pol ítico , é inerente à ação pela qual
mento do custo da reprodu çã o da força de trabalho ( Kcma - o capitalismo submete todas as esferas do social . Se essas teori -
rick , 1975: 105 ). As elevadas taxas de fecundidade são a í za ções tem tanto sucesso , apesar do reconhecimento da impo-
um elemento favor á vel ao investimento, segundo Paul Singer ,
t ê ncia que abrigam , c porque constituem uma via para expres-
pois “ a disponibilidade de mão-dc-obra é um dos fatores con -
286 287

sar uma oposição pol ítica global . Para os intelectuais que não funcionalismo marxista que conduz da mesma forma à anula -
aceitam submeter -se ao capital , resta a opção da marginalidade. ção da esfera pol ítica , à dissolu çã o dos objetos e , finalmentc ,
Giannotti conclui a conferência dtada convidando a n ão ccdcr à abertura de um processo contra as ciê ncias sociais , O primeiro
ao fascínio do Estado ou da coopta ção: n ú mero da revista Debate & Cr ítica , lan çada em 1973 sob a
coordenação de Florcstan Fernandes , Jaime Pinsky e José de
Preterimos aceitar nossa marginalidade de intelectuais e aprofundar nossa ativt- Souza Martins , começa com uma apresentação sem rodeios : a
dade e descobrir nela sua dimensão social para oiganiíUa a partir de bases efe
, - situação atual , afirma , “ convene o cientista social cm um
tivas Para chegai um dia a reavaliar as funções deste Estado, pois se de eunuco civil c em servo do poder ' ’ ( Debate Sc Cr ítica . 1973: 3 ).
prescinde de nós. é bem possível que possamos prescindir dele ( Giannotti,
1977: HM ).
Quando esta em jogo a “ acumulação capitalista ” , os eco
nomistas são evidentemente os mais influentes . Em se tratando
-
Assim , finalmentc , ressurge a política com a figura do inte- da reprodu ção social , sà o os sociólogos. Mas n ão faltam sí nte-
lectual contra o Estado. ses entre as duas perspective , Assim , cm 1974 , o sociólogo
O reconhecimento da esfera política chocou - se , poré m , Octavio lanai publica Imperialismo e cultura para mostrar que
contra outros obstáculos conceituais. Em 1970 , também entram
o capitalismo é um modo de produ ção material c intelectual , sendo que ambas
em mo d a os aparelhos ideológicos de Estado ” , e as diversas
l I

litanias a propósito da “ reprodu ção social ” , em particular sob -


as produções inserem sc recíproca e dinamicamente no processo das rela ções capi -

a influ ê ncia de Althusser c seus discípulos. Sem duvida , os vete - talistas,


ranos do Seminário sobre Marx e os economistas marxistas não E acrescenta:
se deixam seduzir por esses esquemas . A partir de 1968, Gian - A produção intelectual. cm sentido lato, r a base da cultura capitalista, tanto
notti toma partido “ contra Althusser ” num artigo publicado
-
em Teona & Prática ( Giannotti , 1977: 83 102 ) , censurando o - material corao espiritual ISTO significa que a produ çã o imclcciuaJ compreende
por exemplo, canto a economia pol ítica clássica como os princ ípios de constru -
,

-
por pactuar com o “ anti historicismo ” e o “ cstrutural í smo ” . çã o e funcionamento da m á quina a vapor ( ianni , 1974: IV}.
Cardoso, um pouco mais tarde , também não será indulgente
para com os aparelhos ideológicos de Estado ” , por meio dos Esta atividade intelectual , fonte e produto do capitalismo ,
quais as contradições de classes são substitu ídas " por uma mono- volta a colocar a ' cultura ' ' brasileira em contato corn a realidade .
1

lítica entidade — as classes no poder — que exercem uma tau - Como desprender - se desses mecanismos ? Como deixar rea-
tol ó gica ‘ política de luta de classes '
atrav s de seus representan -
é parecer a especificidade da dimensão política ? Giannotti rcteria -
tes ” ( F . H . Cardoso , 1977 : 16 ) , tampouco em rela ção às anã li - sc à marginalidade volunt á ria . A revista Debate Sc Cr ítica prega
ses de Poulantzas. Nas universidades , por é m , onde o livro de a adoçã o pelas ciê ncias sociais de “ uma posição expJickamcntc
Marta Harnccker tem uma grande difusã o e coloca Althusser crítica e militante ” ( Debate & Crítica , 1973: 3 ). Essa expressão
-
ao alcance de todos , os recém chegados às ciê ncias sociais ir ão
fazer da “ ideologia dominante ” c de seus “ aparelhos” princí -
pode ter vá rios sentidos. Não h á d ú vida de que para alguns
dos que a defendem , n ão implique apenas a luta pela “ liberta -
pios de explica ção de alcance geral . Nada est á livre de seus efei - çã o ” , mas a vit ó ria do socialismo. E caractcrística a esse respeito
tos: o sLstema educativo c os demais mecanismos de socializa - a atitude de Florestan Fernandes: nao h á verdadeira a çã o mili -
ção, c claro, mas també m , e quase principalmcnte , aqueles tante sem um ataque frontaJ ao capitalismo . A experiê ncia
que julgam poder se libertar deles, a começar pelos “ pequenos- ensina que “ n ão há mais como conciliar a liberdade com o capi -
burgueses ' revoltados, que abundam e caem no radicalismo
1

talismo” (Fernandes , 1980: 204 ). Querer a " democracia bur -


verbal ou nas drogas (Velho , 1979; L. Martins, 1979: 72 102 ). - guesa ’ n ão c mais do que uma forma de ratificar a ordem exis-
'

Mencionamos antes uma tese , id ê ntica a tantas outras sobre os tente: Nâo h á mais como compaiibilizar democracia burguesa
assuntos mais diversos , que acusa o CPC de cumplicidade com com pedagogia revolucioná ria ” ( Fernandes , 1976 : 117 ) . Em
a “ ideologia dominante ” . Há aí mais uma expressã o do hipet- 1973 , o antigo titular da cá tedra 1 de sociologia publica enfim
288 289

uma obra h á muito tempo em preparaçao com livro, O Bra-


, o t í tulo A -
repo rt* que sc apega às instituições c faz da “ profissionalização 1 1
lução burguesa no Brasil . Dois temas percorrem o um elemento de definição do intelectual . Vá rias
-
sil tornou -se dara mente uma sociedade dc classes: a submissão ran Fernandes denuncia esses "profissionais * c vezes , Flores
. universidades
J
L
a sua consolidação que, na realidade , endossam a organização capitalista
da burguesia ao imperialismo n ão impede : “ A espe -
mas o Brasil n ão pode experimentar a democracia burguesa cialização quase sempre é um dos requisitos da maneira
'

desen - pela
porque a dominação imperialista caminha junto’ corn burguesia o qual se emende a profissionaliza çã o do cientista na
sociedade
. A
capitalismo selvagem capitalista ( Fernandes , 1978: 144 ) , Ou ainda : “ A profissiona
-
1

volvimento desigual c o “ "

’ , “ dando
só pode preservar seu poder por meio do despotismo lização responde muito mais aos requisitos de segurança ccon
-

blo - ô
origem a uma formidável superestrutura de opressão e de mica c de compctição estreita do que às grandes ambições de
b ) E as rela ções de classe nao trabalho ’ ( Fernandes , 1975a: 84 ). A reconversão do intelec -
queio ( Fernandes 1975 : 303
1 1
, .
podem se institucionalizar , pois tudo se passa “ como se os tual à militâ ncia c a ruptura com o capitalismo : são estes os
mundos dc classes sociaJmcmc antagó nicas fossem os mundos componentes de uma das opções políticas diante da autoc fa - i i

de Nações ' distintas, rcciprocamente fechados c hostis , numa cia burguesa \


" ( ibid .: 304 ). A pol í tica , nessas
implacá vel guerra civil latente
condições, depende da guerra , e o “ engajamento doexemplo
” intelec-
Fl á , no entanto , outro caminho pontilhando uma estrat é
gia pol ítica contra o regime: implica a cr ítica ao hipcrfunciona
-
tual só é real quando tende para a ruptura radical . O lismo marxista , e também a utilização dos espaços de expressão -
c dado por Cuba: que continuam abertos. Os textos de Cardoso servem aqui dc
pontos de referê ncia. Quer se trate de “ marginalidade" , de
Pda primeira vez na hist ória da America Latina, ama rdroluçáo national deixa- ‘Estado ou dc classes sociais, Cardoso se recusa a ver
ri .i dc dissociar o elemento ffladonal do elemento democrático c . ao vtncer
a , neles
urdem social somente engrenagens de uma l ógica capitalista semelhante ã
ideia dc nação arrasta com cia J construção dc uma incuramcmc
subst â ncia cm Spinoza . Tomemos o caso da “ marginalidade
nova ( Fernandes, 1979) .
'

Desde 197 2 , Cardoso rejeita “ as interpretações que colocam o


Trajetória singularmente significativa , que testemunha o

peso da especificidade do capitalismo dependente na explora
o saber do sociólogo com -
esforço quase obsessivo de harmonizar ção intensiva e ilimitada da m à o - de -obra dita marginal " e < com
a paixão pol ítica do socialista ’
. como escreve Antônio Câ ndido mais razão, aquelas que supõem que toda
marginalidade seja
( in Folhetim , n ? 221 , 12 dc abril dc 1981 ).
Trajetó ria que ,
alé m de sua história pessoal como professor da USP, evidencia
-
funcional (F. H . Cardoso , 1980a: 81 2 ) . Da mesma maneira ,
de põe em d ú vida que a repressão seja “ necessária * a manu -
i

também a recusa a qualquer estrat égia pol ítica “ conciliadora ,


"
tençã o da taxa de acumulação: a compressão dos sal
á rios reais
demonstrada por uma geração que , ate 1964 , acreditara nas conta menos que a ' ‘intensificação das forças produtivas"
possibilidades dc uma evolu ção progressiva da sociedade brasi - H Cardoso , 1975: 230 ). A propósito do Estado , j ã vimos que
( F.

leira Convé m notar que um intelectual de grande notoriedade ele evitava uma an á lise rcducionista ; c as classes sociais n ão
como Antó nio Câ ndido acompanha Florestan Fernandes nesse eram simples posições estabelecidas pelo processo dc acumula -
“ pragmatismo político" que grassa
percurso , deplorando o
em reação à ditadura , ainda que rejeite a politização total da
ção. Cardoso observa també m que alguns dos famosos < apare
lhos ideológicos ” n ão correspondiam às caracter ísticas atribu í-
j

-
-
culrura . Mostram se , assim , em seu nível e com os seus meios -

das ao “ Estado burocrático autoritário ” . A prova disso é que
— -
1

a palavra solidários com a revolta da geração jovem . Mar alguns deles continuam “sustentando valores liberais que, aliás
cam também suas diferenças em relação ã geração intermedia -
,

est ão presentes na própria Constituição. Assim , por


exemplo ,
setores do poder judiciá rio , alg uns órg ãos dc imprensa , parte
ufif êo de jOí tótago ,
da Universidade sc contorcem para conciliar valores formal -
em lv \v Subrc o pugnai ismo na pol í tica ver N J .
Ant ônio Cândido pnrUK íou * obo dc Florcstàfl Fernando, A a& Yrjnj
íí entrevista cm ' Form ’- Afso mente liberais com as restri ções que a situaçã o de
(ibid .; 226 ). Dando a uma dc suas obras o t í tulo
fato impõe y y

op cri. Autoritarismo
291
290
autonomia , durante o governo dc abertura a cultura erudita c
e democratização , Cardoso ratifica , ao contr á rio de Floret an a cultura popular estavam sob a “ proteção” do Estado por
Fernandes a idéia de que uma estratégia de democratização
,
meio das ‘ fundações ’ \ Estas estavam incumbidas dc:
seja possível .sem revolução:
por um lado, dar força ií manifestações arcfsucas do povo que , pelo seu caráter
Náo para “ pedir" democracia , no sentido de reabertura do jogo de parados
controlados pelo Estado c pelas classes dominantes , mis para cnar um CIJ íTU -
pré industrial, n ã o Encercssam is muldnadortais da cultura e , poi ourrri lado , ati-
var atividades eruditas que. pela radrealidade de sua proposta , não encontram res-
dc liberdade c respeito que permita a reatmçáo da sociedade civil, fazendo com paldo junto ao publico “ narootmdo' pdas leis do mercado (Santiago, 1982 : S6|.
que as associações profissionais, os sindicatos , ai igrejas , os grémios estudantis,
os círculos dc estudos e debates , os movimentos sociais, cm suma , expunham Assim prosseguiram , direta ou indiretamente, as relações
dc p ú blico seus problemas, proponham soluções , entiem cm conflitos coosmiti *
entre os intelectuais c o Estado ,
vos para o pais (ibid : 2588 ) . í leloisa Buarque de Hollanda afirma que, após 1974 , com
sociedade civil ” : esse é na verdade o lema
‘ Rcarivar a o desenvolvimento da ind ústria cultural , a literatura de esquerda
que se difundir á no quadro da abertura . Ele n ã o comporta -
torna se , com mais raz ã o , “ um excelente negócio ” ( Hollanda 4

quaisquer concess ões ao liberalismo ” ou exaltações a "demo- e Gon ç alves , 1979 1980 ) , Para as ciê ncias sociais , esse diagn ós
*
-
cracia formal ' .
1
tico parece severo. A identificaçã o “ profissionalizante ” e o
Num artigo em Optniào , Cardoso critica ao mesmo tempo marxismo funcionalista podem indicar uma impotê ncia provisó-
a esquerda com “ uma concepção puramente instrumental da
liberdade da democracia , que em diversas ocasiões traduziu -
e
ria ; mas a primeira comporta também um potencial contesta
dor e o segundo alimenta , mais uma vez , um mito coletivo
-
se cm convergê ncia imediata com o autoritarismo c as que
' qu ê subentende um corpo a corpo sem compromisso com o “ ca-
continuam fiéis ao velho liberalismo democrá tico: pitalismo ” .
Em todo caso , as incitações à ruptura radical como as de
O grande problema não c o da democracia cm si mesma Se fosse apenas is:o , FloresLan Fernandes , ou à coaliz ão das organizações da socie -
o problema já estaria muito provavelmente resolvido. O grande problema é o dade civil como as de Cardoso , são maneiras de reencontrar os
que poderia significar hoje a democracia do ponto dc vista económico e do caminhos da politiza ção . Colocam -se , no entanto , duas ques-
ponto de vista social (Cardoso, 1974).
t ões: Como poderiam os intelectuais demonstrar uma certa coe -
Esse lema , porém , sugere uma estrat égia pol í tica que são quando as incitações tendiam para direções r ào diferentes ?
requer uma capacidade de auto - organização da sociedade . Como poderiam afirmar -se como ator político quando , na ver -
Em 1978, o romancista Antônio Callado questionará a rea - dade , eram obrigados a se adaptar ao dia - a -dia das incertezas
lidade dc uma cultura de resist ê ncia " no decorrer dos anos
1 1
das quais o regime deriva o seu poder ? Com essas duas ques -
-
69 74 . Considerando antes dc tudo a literatura e as artes , ele
formular á um julgamento negativo: “ Durante o per íodo rnais
t ões , voltamos ao problema da gest ão pol í tica do meio intelec-
tual *

duro da repressão , não me lembro de , digamos , um corpo de


livros , um movimento que você poderia dizer de inconformi-
dade ou dc democracia". E mencionar á antes a preponderâ ncia A organização polí tica dos intelectuais
da “ acomodação ' ' { Folhetim , 8 de outubro de 19 / 8 ),
Um renomado crítico , també m romancista , Silviano San - Nesse ponto , convé m mais uma vez observar o contraste
tiago , observou por sua vez que , embora o desenvolvimento com a Argentina . Nesta , as sucessivas substituições dos qua -
da ind ústria cultural tivesse assegurado ao intelectual maior dros universit á rios acompanham o estaielamento generalizado
do meio intelectual a partir de 1966 ( Sigal , 1986 ). Reprodu -
zindo as divisões internas da sociedade , agitados pelas reviravol-
8 Note - se que esse texto, escrito em 197 5, foi publicado prime iio em Debate & í .nhut . tas e mudan ç as de posição individuais invadidos pela m á cons -
,
n ° 3 , julho dc 1974 ,
292

ci ê ncia cm relação às massas peronistas ” , privados da possibj -


» t
293
Esse fenômeno tem várias explicações. As cisões n ã o impe -
n
-
lidade cie se apoiar num verdadeiro Estado nacional , os intelec - dem amplas convergências ideológico-políticas. As trajetó rias
tuais argentinos são os protagonistas, por excelê ncia , da crise heteróclitas n ão amea çam a hierarquiza ção , formal ou informal ,
argentina. dos intelectuais. Sobretudo , certos intelectuais e instituições
Nada dc parecido ocorre no Brasil . N ão que faltem cisõ es põem em pr á tica estrat é gias deliberadas para preservar sua coe-
entre os intelectuais: acabamos dc citar uma , simbolizada pelo sã o e garantir , assim , a sua organização polí tica .
contraste entre as atitudes dc Florestan Fernandes e Fernando O nacionalismo continua a figurar em boa posi ção entre
Henrique Cardoso. Haver á muitas outras que acompanharão -
as convergências ideol ógico políticas, não mais porem sob forma
cada etapa da democratiza ção Alguns intelectuais privilegiarão de uma " ideologia da nação" ou dos mitos nacional - populares,
a ação dentro do MDB, outros depositarão suas esperan ç as nos e muito menos sob forma de "am íimpcrialismo" e de oposi -
" movimentos dc base " . Alguns confiarão no aprofundamento ção entre "interesses brasileiros" e ’ ' capital estrangeiro". Só
das contradições de classes, outros ser ão sensíveis sobretudo à os intelectuais ligados ao Partido Comunista limitavam -se a
desagrega ção das relações entre a burguesia t os militares. raciocinar nesses termos . Assim , durante um "encontro nacio -
Alguns defender ã o uma democracia social , outros ficar ão empe - nal pela democracia " , organizado em 1978 no Rio de janeiro ,

nhados em restabelecer os mecanismos de representação pol í- sob o patrocínio de um centro ligado ao partido , o CEBRAD
tica . Ser ão visíveis as diferen ç as resultantes das origens ou traje- ( Centro Brasil Democr á tico ) , Nelson Werneck So-drc volta a
t órias pessoais: sã o inevit á veis as tensõ es entre as personal ida culpar as " forç as externas que querem " manter a subordina-

des dc destaque no meio universit á rio , os militantes dos parti - çã o dos países dependences através do controle do regime dc
dos de esquerda e os antigos adeptos da resistência armada. A governo neles vigente" ( CEBRAD , 1978: III , 26 ) ; e Alberto
distancia entre os que têm acesso às elites dirigentes, os " pro- Passos Guimarã es ataca a pilhagem das riquezas amaz ó nicas
fissionais e a massa das camadas cultas nao pòde ser total - ( ibid .: II , 24 ) . Mas o nacionalismo subsiste como " senso
comum ou pedra de toque de qualquer teorização. N ão é
mente reabsorvida .
Acontece , porem , que as cisões c dilerenças não acarretam por acaso que os " grandes intelectuais" que se declaravam
uma rupiura irremediá vel . Gra ças á influê ncia de uma institui - marxistas procuram refutar os esquemas de Althusser e Poulant
zas: eles reivindicam suas pró prias interpreta ções , elaboradas
-
ção como o CEBRAP ou das mesas- redondas da SBPC, roantém-
* sc uma relativa coesã o. Prosseguem os debates entre eles, pri - desde o Seminário sobre Marx . c seus pr óprios usos dos concei -
tos marxistas para explicar as "especificidades" do crescimento
H meiro nos cí rculos rdarivamence fechados , depois nas tribunas
brasileiro. Deixam as " ideias importadas " para "tarefeiros"
p ú blicas e por fim nos confrontos pela televisão. Prevalece a
"conciliação" dentro do mundo intelectual , A partir dc 73 - 74 , dc segundo escal ão . De modo geral , reforça - se um " naciona -
muitos dos participantes da aventura armada reintegram se à s - lismo comum " , assumido muito mais como uma espécie dc
evid ê ncia do que como uma tese política e resultando numa
institui ções c aos debates. Com a promulgação da anistia , vol- ambival ê ncia em rela ção ao exterior , feita de " fascina ção pelos
tam os exilados e sc reintegram sem grandes dificuldades . Os
outros países" dc um lado, e dc "rancor contra os nacionais
-
n ú cleos vanguardistas restantes são levados a siruar se no campo cosmopolitas" dc outro ( W . Martins, 1978: VII . 286 , nota ).
geral das discussões sobre as estrat é gias de democratiza ção ou O ú nico pensamento reconhecido é o regido pelo signo
a assumir os riscos do isolamento , ouvidos apenas por algumas da integração nacional. Da í em diante , o nacionalismo passa a
minorias estudantis. Claro que a fundação do PT instituciona - ser também forma de registrar o processo de forma ção das clas-
liza uma divisão política . Num primeiro momento porém , ,
ses sociais num contexto particular . Voltemos à pol ê mica entre
não leva á ruptura do diálogo c os laç os pessoais entre os prin - Weffort c Cardoso sobre o uso da noção dc "depend ê ncia " .
cipais dirigentes do novo partido e do PMDB permitem preser - Enquanto Weffort afirma que as "relações de classe determi -
var a comunicação entre eles . nam o car á ter do problema nacional" ( Cardoso c Weffort ,
294 295

A "competência " c o reconhecimento pelos pares e um dos


1971: 10), Cardoso sustenta, ao contrário , que a cada momento componentes dessa hierarquizar ã o. A partir de 73- 7 -4 . um outro
significativo de modificaçã o da produ ção capitalista internacio - componente vai adquirindo peso cada vez maior: a influencia
-
nal [ mostra se ] como sc d á a rearticulaçio das classes sociais ,

conquistada junco a diversos p ú blicos , as camadas cultas leito -


da economia c do Estado ern situações particulares ( ibid : 31 ) .
1
.
ras dos jornais alternativos ’ ou consumidoras de bens ofereci -
* '

Isto traduz uma divergência significativa , onde se podem ler


as premissas da dtvis ão que levar á o primeiro à procura de um
"partido de classe " , o PT , e o segundo à participa çã o num
dos no mercado cultural , l íderes de opiniã o — dirigentes pol í
ticos , tecnocratas e personalidades dos meios de comunicação
-
11
partido de massa" , o MDB. Mas eles concordam em n ão dis - de massas. O prest ígio das principais figuras do CEBRAP decorre
do fato de que , muito cedo , eles levam em conta esses dois cri -
sociar as formas dc divis ã o social do tema nacional . O naciona -
lismo toma enfim um aspecto pragm á tico: diante da internacio- -
t é rios . Impõem se no campo cient ífico ( em sua monografia
sobre o CEBRAP , Bernardo Sorj indica , alias , que essa institui-
nalização da economia brasileira , um dado consumado , as
velhas palavras de ordem antiimpcrialistas correm o risco de
ção d á às vezes a impressão dc manter o antigo sistema hier á r
quico da USP c que o n ú cleo fundador dificilmente se ampliar á
-
transformar -se cm ret ó rica vazia . Ao encontro do CEBRAD , a para os recém -chegados) (Sorj , 1984 a : passim ) e conseguem
economista Maria da Conceição Tavares ressalta que , num Bra -
sil agora dotado de uma "estrutura industrial avan çada" ( CE - uma grande evidencia em n í vel pol ítico. Outros grupos ou indi -
BRAD , 1978: 11 r 54 ) e apesar de todas as facilidades aos inves- víduos chegam a uma posi çã o compará vel : economistas do Rio
e de Campinas, certos membros do CEDEC ou do IDESP , entre
umentos estrangeiros , a influcncia de determinados setores da
tecnocracia conduziu a um certo controle do desenvolvimento: eles . Em contrapartida , os intelectuais eminentes que satisfazem
" At é os gringos reconhecem que . cm mat é ria dc tecnologia , apenas a um desses crit é rios , tendem a ter menor projeção.
Assim , Florcstan Fernandes ou os pesquisadores do tUPF. RJ ,
entre os países do Terceiro Mundo , nós somos os que mais t ê m
brigado. Mas , paralelamcme , somos no momento o pa ís mats que se dirigem sobretudo ao p ú blico universit á rio, e alguns
odiado por sermos o mais protecionista" ( ibid .: 50). Us estereó - dos antigos colaboradores da Revista Civilização Brasileira , que
se colocam prmcipalmence no terreno pol í tico , desempenham
tipos antiimperialistas correm o risco de n ã o ser compreendidos
pelas massas que tê m outras preocupações: “ o imperialismo
sem d ú vida um papel menor nos debates sobre a democratiza
çã o . Sã o os outros que definem seus termos e põem em pr á tica
-
não é visível " ( ibid . : 51 ) , diz Maria da Conceição Tavares ,
as estratégias visando à organização dos intelectuais .
antes de instigar a agir contra ele por outros meios , intervindo
no interior do próprio Estado , para que este obrigue as filiais Falar em estrat égias é uma forma dc ressaltar que a coesão
estrangeiras a se submerer aos imperativos nacionais , c para do meio intelectual é também resultado dc um processo pol í-
que assuma as necessidades imediatas das classes populares ubid . :
.
tico interno . Sc as cisõ es nã o conduzem a rupturas é porque
50 ). Esse pragmatismo n ã o impede que o nacionalismo conti -
são acompanhadas de negociações , de compromissos , de uma
nuc como um elemento unificador , n ão só dentro da esquerda adaptação incessante ao contexto mut á vel . Ora , as interven ções
intelectual , mas também entrr a esquerda intelectual c errtos de certos intelectuais são essenciais para a manutenção desses
setores da tecnocracia. Prova disso é a frente ú nica que forma - procedimentos e das formas de politizaçâo resultantes . Basca
citar um ú nico exemplo, verdadeiramentc central: o caso dc
rão para defender o imenso setor publico no momento em que
os empresários , apoiados sobretudo pelo jornal O Estado de ó Cardoso e do CEBRAP .
Paulo . lan çarem uma ruidosa campanha contra os "excessos ” O amigo assistente dc Florcstan Fernandes n ão esperou a
da atuação estatal . A pan ir dai o nacionalismo c a exigê ncia cria çã o do CEBRAP para se tomar um dos líderes da pol ítica
de dernocrauzação caminham cm sintonia intelectual . Descendente de uma ilustre fam ília que deu ao
Imp é rio vá rios dignit á rios e ao exé rcito vários generais , filho
*

A estabilidade da hierarquização do meio intelectual cons -


titui um outro fen ó meno . J á observamos a preeminência dos dc um general que teve destaque nas campanhas nacionalistas
professores universit á rios e a ascensã o da "profissionalização" realizadas em Sã o Paulo na d écada de 50 , Cardoso simpatizou
296 297 í
.
por certo tempo com o Partido Comunista t logo que sc tor -
Ao mesmo tempo , como sugerimos acima , Cardoso c
-
nou professor assistente da USP, chegou , como representante outros membros do CEBRAP contribuem para que o marxismo
dos antigos alunos , ao Conselho Universit á rio , inst ância encarre- n ão assuma um cará ter dogm á tico . Cardoso n ão adere ao ' hi 4

-
gada de , junto com o reitor , fixar as diretrizes da universidade . perfunaonaJismo marxista e contribui para impedir o sucesso
"

Tanto suas obras sobre o empresariado quanto sua participação das visões economicistas ' do autoritarismo . As pesquisas con -
no Seminário sobre Marx traduzem uma interferê ncia entre o cretas realizadas sobre a Bahia , sobre o crescimento e a pobreza
trabalho universitá rio c a vontade de se associar aos debates em Sã o Paulo , e os movimentos sociais nes.se Estado evitam fixa -
do momento. Vimos que , no Semin á rio , se manifestava uma çõ es teorizantes. À maioria dos artigos dc Cardoso tem um cará -
recusa à vulgaia professada pelos comunistas c aos esquemas ter polemico contra as noçõ es e dedu ções global izantes . Muitos
de alian ça de classes dela decorrentes. dos ternas mais fé rteis que cie leva aos debates foram bncola
Mas c a partir de 1969 que Cardoso e o CEBRAP t ê m -
ges , no sentido que lhe deu Lé vi Strauss \ Já mencionamos os
uma funçã o maior nas estratégias intelectuais , que sc revestem "an é is burocr áticos r ;
virão depois a " burguesia de Estado ” ,
1

de três aspectos centrais: media ção entre as diversas correntes


-
o " pacto de dominaçã o " e ainda as crises por curto drcuito' \ i 4
-
marxistas e entre as correntes marxistas e n ão marxistas; teoriza - A estratégia , no caso, consiste , por um lado , em recorrer à com -
çã o em relação direta com a conjuntura ; abertura para as orga - pet ê ncia marxológica perante p ú blicos para os quais o marxismo
niza ções pol íticas . serve dc identidade coletiva e em fomentar a cultura da recusa .
A maioria dos membros do CEBRAP reconhece -se como Cardoso é o primeiro a enfatizar:
marxista , como o próprio Cardoso. A revista Estudos CEBRAP
publica , no essencial, artigos que partilham dessa referência . Dcpob que o marxismo se tornou ideologia da m édia ’ ' dos universit á rios ( . . ) ,
'

os grandes princípios unificadores ( .. . ) passaram a ter a força dc sí mbolos cujo


Isto n ão exprime apenas uma apropriação do paradigma do
conteú do eferivo sc rcfstz ao sabor das circunstâncias para as quais s ão invoca -
momento , mas representa uma nova sí ntese das categorias h á
dos . muito mais nk busca dc uma identidade política, do que como forma de
rnuito tempo básicas do pensamento sobre a mudan ç a no Bra -
explicação c pistas para a açã o (F. H . Cardoso. 1981 ; 9)
sil: evolucionismo sob forma da acumulação autopreservada ; ,
unificação sob forma da homogeneiza ção capitalista; ordenação Giannotti , por sua vez , afirma que o marxismo foi-sc l

a partir do alto sob forma do Estado autorit á rio ; e impossibili - tornando a ideologia do universitário classe média , contestador
dade democrá tica sob forma do regime militar . É verdade que c dc parolagem radical ( Giannotti , 1984: 38 ). Por outro lado,
essa sí ntese apresenta - se sob uma luz in édita : fundarnental - a estrat é gia consiste cm inventar instrumentos conceituais que
mente cr í tica , pois foi feita a partir dc uma posi ção antkapita- permitam perceber os novos problemas c seguir as evolu ções
lista . É també m constru ída a partir da retomada , com outra lin -
guagem , de elementos ancorados no antigo pensamento da
conjunturais, com o risco de um afastamento infinito em rela -
çã o aos textos marxistas: no in ício da dccada dc 80 , Cardoso
dimensão política. Alé m disso, essa refer ê ncia marxista comanda n ã o enfatizava as caracter ísticas que fazem do Brasil uma 50 - i i

um conjunto de posi çõ es sobretudo antes da abertura: o apelo


,
cicdade de massa " ( K H . Cardoso , 1980b: 177 - 206 ) ? Esta é
a uma democracia " real ' e "social ” em oposição a uma demo-
cracia "formal ” , a prud ê ncia nos julgamentos sobre os paises
Vi sen lido literal . bricoti e signifui friscaje ou pequem lifefa, e britMeur t o Í AJ -
socialistas e sobre a hist ó ria do movimento comunista ( ainda ^
rudo ou niriuio. Loi ‘Straliss usou bricah e no sentido dc unia combina ção orna
em 1976 , um artigo de Leô ncio Martins Rodrigues e Ottaviano ^ -
e imprevista , lomposn dc trapnicnio* preexistentes ou pré fabricados, que orio
de Fiore sobre o papel de Lênín na criaçã o da burguesia sovié - deslocado* dc « ti contexto pt ô prio c aproveitados num novo conjunto Suas agiu
fiução emergem desse sistema dc relações concretas e virtuais , a meio tami -
tica , publicado na revista Estudos CEBRAP, provocou grande
-
alvoroço ( Rodrigues e Fiore , 1976: 23 64 )) . Ern muitos aspec-
nho entre o pcrcepto c o conceito* ' - que v vai construrndo (vef O pensamento
setragem . cup I : ‘ A ci ê ncia do eoncrero . ( trad I 5ã u Paulo , Nacional , 1070.
.
( N da T. )
"

tos. essa sí ntese determinou os limites das propostas aceitá veis .


29« 299

uma estratégia que o leva a se colocar como mediador entre as da criação permanente do campo intelectual enquanto campo
diversas esquerdas marxistas.
ImcdiaLamcnte , Cardoso e o CEBRAP se instalam també m
.
polí tico. H á aí na realidade , três estrat égias rm uma. Abrir o
debate democrático entre os intelectuais: a passagem de uma
na confluê ncia dessas esquerdas marxistas com os setores de conceitualização a outra representa cm si um debate. Fazer do
-
oposição n ã o marxistas A revista Estudos CEBRAP
,

cora frequ ê
publica
ncia de
meio intelectual um ator político. Fazer desse ator político
alguns estudos que nada t ê m de marxista , uma força que se adapte às incertezas provocadas pelo regime .
autores estrangeiros . Durante os anos sombrios , o CEBRAP é Da í decorre que essa politizaçâo do conceito c essa concci -
ne muitas personalia
um ponto de encontro e discuss ã o que re ú
dades alheias a ele: cconomisLas , sociólogos , antropó logos e at é
tualização do político n ão se efetuam sem que a dimensão pol í
tica seja cm grande pane predcfmida . A insist ê ncia no concre-
-
tecnocratas . Daí sua contribui çã o à formação de uma ciê ncia to" , no " particular ” , na “conjuntura ” , na “ pratica ” demonstra
4

social polivalente, que mescla inextricavcimentc o económico, -


justamente que h á uma pr é opção a favor de uma política rea- 4

o social e o político. Com a abertura polí tica , esses debates lista ” , ou seja , de uma política onde pr á tica e conhecimento
saem do círculo restrito. O CEBRAP , sem deixar de ser alvo sejam parceiros na constituição da realidade .
dos ó rgãos de repressão , conta com o apoio de cenas personali- Na introdu ção , jã destacamos que Claude Lefort afirmava
dades do regime , como o ministro Severo Gomes e Paulo Egy - que a mesma paixão realista ” atuara em Marx e Maquiavel,
dio , prefeito de S ão Paulo , A democratização torna - se prioritá - possibilitando uma mesma conjunção entre conhecimento c ação.
ria . Mais uma vez , é essencial a função de Cardoso no meio Vale a pena recordar brevemente a sua tese: “O realismo de
intelectual: como um tradutor , fala alternadamente a lingua - Maquiavel , assim como o de Marx ” , comenta Lefort , ee susten -
»

-
i

gem marxista c a linguagem n ão- marxista . Trata se, assim , dc tado pela ideia de que a realidade empírica, tal como a compõe
uma outra modalidade dc estratégia intelectual , que assegura a hist ória dos homens, é acessível ao conhecimento , e que o
a convergê ncia entre as diversas tendê ncias c facilita a sa ída conhecimento nela descobre o fundamento da ação adequada ”
do gueto formado entre 1969 e 1974. ( Lefort , 1978 ; 173 ). Acrescenta Lefort que Gramsci , pensando
F també m uma estrat égia essa escolha de uma teorização naqueles dois autores , associou a filosofia da praxis ao fenômeno
em contato direto com a conjuntura . Basta consultar os traba - do " realismo popular ” . A pol ítica realista , quer feita pelo Pr ín -
lhos de Cardoso na sequ ê ncia: os conceitos v ã o se transfor - cipe ou pelo Partido , deve constantemente confirmar, em seu
mando , cm paralelo corri as mutações da sociedade e do regime. sentimento , o realismo popular : esses dirigentes devem conven -
Mas não acidentalmcnte : o próprio Cardoso faz a teoria dessa
transformação conceituai . Em A dependência revisitada , declara
-
cer o povo da necessidade de submeter se a seu comando ' ( ibid .:
182 ). A " pol ítica realista que se infere das propostas de Car-
que “ as categorias e teorias sã o constitu ídas na pr á tica pol ítica doso participa de ambos os universos conceituais. De Marx , etc
c na prá tica intelectual dc um conjunto de pessoas socialmente toma a convicção de que a pol í tica é o lugar onde se inscrevem
situadas ” ( F. H . Cardoso , 1980: 39 ) . Recomenda que não se as significações elaboradas cm todas as ordens dc atividade, sob
faça da depend ê ncia uma teoria , mas o meio dc articulação forma dc uma sé rie dc í ndices que medem , pelo conhecimento,
entre a an álise concreta ” ( isto é , a tomada em conta das rela - pela previsão e pela decisão , o campo do possível ” , De Maquia -
ções sociais historicamente constituídas), o produto da pr á ti - vel , ele tira a lição dc que o real n ão c apenas o que pode ser
-
t 4

ca ” ca reflexão teó rica ” ( ibid . : 63 ). A “ pr á tica ” , o “ concre formulado como alternativas fundamentais que os governantes
to ”: sã o outras tantas maneiras de designar a inserçã o dr todo devem necessariamente enfrentar
saber no interior da esfera política. A sucessão dc conceitos deli - c antes a sorte que lhes
é reservada numa sé rie dc siruaçõcs particulares ” ( ibid .: 187 ).
neia , desse modo , o esboç o dc uma pol í tica intelectual e ins- É testando o conceito diante das ambiguidades do momento e
tala simultaneamente a dimensão política no interior dc cada definindo o possível com base no que pode ser reconhecido a
conccito , Isso est á longe de ser uma simples interfer ê ncia entre cada instante pelas massas que Cardoso chega a provocar “ a orga -
nização política ” do meio intelectual .
301
300
que parecem exprimir as alternativas fundamentais da
ía - democra -
Cardoso n ão c o ú nico a proceder dessa maneira Poder ,
tização.
mos rastrear a trajetória de
j
muitos outros intelectuais . Pois n ão
Nã o podemos analisar cm detalhe como se operou
é també m Weffort um exemplo desse incessante vaiv ém entre essa
passagem , mas é preciso, pelo menos , indicar alguns de seus
o marxismo c outras formas de teorização, entre o social
e o
marcos. 1973: começam os primeiros contatos entre
e
político, entre as ciasses a perspectiva democr á tica , tudo isto Cardoso e
outros membros do CEBRAP de um lado , e os dirigentes
sob o signo de uma mesma inten ção de realismo ? (Weffort , MDB de outro, por ocasião de uma conferência organizada
do
1970; 1984 ) em Porto Alegre pelo instituto de estudos do MDB, o 1
EPES
A coesão dos intelectuais situa -sc , já de saída , dentro da ( Instituto de Estudos Pol í ticos, Económicos e
esfera política . Basta chegar o momento em que passam a vol - Sociais ). 1974 :
Ulysses Guimar ã es , presidente do MDB desde o ano precedente
tar-se para o exterior e tornar posi ção ao lado das
forças politi - ,
convida diversos membros do CEBRAP Cardoso , Francisco
cas e sociais e a dimensão
alcance e o realismo, um outro
pol ítica adquire
significado .
ent ã o um outro de Oliveira , Weffort
— para participarem da atualizaçã o do
programa do partido . 1975: a Igreja estabelece rela ções com o
CEBRAP , 1978: Fernando Henrique Cardoso candidata
eleições para o Senado pelo Estado de São Paulo e, com se à s -
A era do intelectual como ator político dc um milh ão de votos, é eleito suplente. Torna -sc senador
mais

em 1982 , 1979: as greves do ABC e a expansão das


Em 1984 , evocando o papel dos intelectuais durante a des dc base levam à fundação do PT: os intelectuaiscomunida -
década de 70 , o sociólogo Marco Aurélio Garcia escreve , com nham um papel importante em sua organização, ao lado de
desempe -
uma poma de nostalgia : Lula , e Weffort logo sc torna secretário -geral do partido. Alguns
Talvez a partir dc então sc possa cúmeçaí a filar dc intelligentsia , na medida membros do CEBRAP aderem ao PT: Paul Singer , Francisco
cm que os intelectuais passam a sc constituir cm um grupo mais articulado dc dc Oliveira e outros . 1982 : por ocasi ão das eleições para
gover
Qposição , com maior gravitação social c definições sobre in úmeros temas cujo nador , vencidas pelo PMDB em nove dos principais Estados,-
alcance transcende o âmbito de suas demandas corporativas c que sc traduzem
,
,

em campanhas pela anistia , pela Constituinte comia o acordo nuclear etc ( Ciar-
.
-
começ a a aprofundar se a ruptura partid á ria entre os
intelectuais.
Pretendemos apresentar alguns coment á rios gerais sobre
cia . 1985: 101 ). os modos de intervenção desse ator pol ítico e as mudan as
respondentes nas representações da dimensão pol í tica
ç cor -
Novo encontro corn a palavra intelligentsia, reivindicada pelos intelectuais.
propiost as
pelos pensadores dos anos 30 c pelos ideólogos dc 1950. Mas E preciso voltar às implicações da.s eleições de
é verdade que . apó b 1974 , os intelectuais assumem o aspecto 1974 . À
descoberta das possibilidades abertas pela ascensão da oposição,
dc um ator político , participando integralrnente das interações reunida no MDB, precede a dos ' movimentos de base ' e , com
com outros atores políticos, sem ignorar as reivindicações corpo-
*

mais razão, a do despertar da classe oper


rativtstas , mas inscrindo-as no conjunto da manifesta
.s ções da á ria . Essa anteriori
dade tem sua importâ ncia . Tivemos oportunidade de avaliar a -
sociedade civil. extensã o da.s reticê ncias dos intelectuais em relação aos
A virada acontece em 1974 . Em 1972 , muitos intelectuais partidos
se pronunciaram a favor do voto nulo . Em 1974 , muitos parti - e a classe " pol ítica . e at é em relaçã o aos procedimentos
demo-
cipam da campanha do MDB. O avanço eleitoral desse
partido -
crá ticos , e o sucesso dos esquemas que , nos anos 70 74 , faziam
d á a impressão de que é possível fazer sobressair , por meio
voto , a precá ria legitimidade do regime. As estratégias internas
'
do a economia da esfera pol ítica . Eis que a luta contra o
parece passar pelo apoio a um partido , que as eleições
abrir espaços de liberdade c que os intelectuais entram para as
reg mc
parecem
-
ao meio intelectual , da í cm diante , sã o acompanhadas de esira
tégias voltadas para fora , para os partidos políticos , os movi - fileiras do MDB. Evidentemente, isto não significa que a con -
corrência partidá ria seja , aos olhos do MDB, sinónimo de demo-
memos sociais e as classes populares . Surgem outras rupturas
302 303
do jogo
cracia , n ã o só porque esta se desenrolava sem regras ainda durante a presidê ncia do general Figueiredo. À supressã o
apesar dc tudo raros sã o os que do AM , respondem as bombas do Rioccntro, c tanto a demis-
fixas , como tamb é m porque ,
-
,

est ão dispostos nesse momento a unir -se tanto a uma vis ã o opc sao do general Golbery quanto a morte do senador Petrónio
racional da democracia quanto ao sistema
o MDB
de
.
representa
Nos
çã o
debates
.
Portella ambos art ífices do processo de "distensão ' \ abrem
cm vigor num partido t ã o singular como urna fase de novos perigos . Os intelectuais est ão desde j á diante
intelectuais , Lraia-sc nesse momento só de democracia substan
' '
- dc duas alternativas: recusar a sc prestar às “ regras " da demo-
cial ' \ ‘ participativa ' , n ão separando direitos sociais e pol íti - cratização autorit ária ou elaborar estrat égias que as levem cm
cos. Comentando as eleições dc 1974 , Fernando H . Cardoso c consideração. Sem renunciar às suas exigê ncias essenciais , a
Bol ívar Lamounicr são os primeiros a reconhecer que elas conti- maioria deles opta pela segunda possibilidade . Alguns anos
nuam a demonstrar que “ a fragilidade do sistema representa -
tivo ( ... ) deixa no eleitor o gosto amargo de uma democracia
antes , cm 197 } , Wanderley Guilherme dos Santos
do I5EB c do Parado Comunista , alem de prestigiado soció -
que loi —
possível’ , mas n ão substantiva " ( Lamounier e Cardoso , 1978:
11 ). Est á assim colocado o problema das formas de representa -
logo do IUPERI —
causou surpresa , ao enunciar uma perspec-
tive dc abertura que parecia em ressonância com a do general
ção . E verdade , porém , que o voto a favor do MDB exprime Golbery:
no m ínimo o desafio ao regime c que o MDB surge como suces- A polida dc descojiiprcsjlc deve ser uma política incrementalist , mo c. imple -
sor dos partidos que assumem com a$ reivindicações populares, mentada por aproximações sucessivas, provocando módifkaçòei* marginais no
como demonstram a estratificação de seu eleitorado c a imagem
por cie projetada ( ibid .: 11; Lamounier, 1980: 39). Também
estado de coisas prevalecente. Quer isto dizer que se trata dc uma política ce

é verdade que por intermédio desse partido, correntes extrema -


-
avan ços moderados , introduzindo se uma inovação de cada vez , enquanto sc
manté m sob controle o resto do sistema (W , G . dos Santos . 1978: 153 ) .
mente diversas são levadas a coexistir: defensores de uma demo
-
cracia social izan te , liberais comunistas certas vanguardas revo - Os artigos publicados a propósito dessa tese em Opinião '
-
, ,
.
lucionárias c por outro lado, pol í ticos profissionais, classes revelam o maJ estar de muitos í ntcjccruais face ao que parece
populares , intelectuais, empresários cansados do dirigismo auto- legitímizar a estratégia do regime . E evidente que há um mal -
.
ritá rio representantes da Igreja c delegados dos movimentos entendido: \\ andcrlcy Guilherme dos Santos n ão enuncia afir -
populares. Prevalece assim , por for* ça das circunstâ ncias, uma mações sobre a democracia , mas esboça uma estratégia do pos -
prá tica incessante de ‘ conciliação E, sobretudo, as estrat é- sível no contexto do sistema de for ças existentes . Na verdade ,
4
*

gias no interior da cena política passam a ser ratificadas pelos implícita ou expliciramente , outros intelectuais aprovar ão, após
intelectuais , pelo menos tomo componente de estratégias diver - 1974 , esse esquema ‘ incremen calista - E ainda ma is : à medida
4

sificadas , e o tema da cidadania política adquire potencialmcnte que os espa ços democr á ticos se ampliam , esse esquema assume
o reconhecimento dc sua import ância . o aspccro dc um dado incontomávcL Em 1979, Cardoso ressalta
N ão menos importante do que isso c o fato dc as regras que o regime continua com as melhores cartas na m ão. “ A dis-
do jogo ficarem por cotna do regime . Sabe-se que o poder tensão se realizou até o momento sem tocai no essencial: as
usar á e abusará da alteraçã o delas para tentar contrabalan çar o regras relativas a quem decide e sobre o que se tomam as deci -
progresso da oposição. Alias , a regulamentação eleitoral nau sões ’. Tudo c possível: o governo “ talvez acabe com, os parti-
passa da manifestação rnais visível do clima de incerteza alimen - dos, talvez não" (F. H. Cardoso , 1979: 86- 7 ) . Diante disso , o
tado pelo governo. As incertezas mais decisivas são as resultan - MDB continua desarmado: " A quem representa ele ? A todos
tes dos meios de que continuavam a dispor o SNI (Serviç
em todas as esferas da admi
o
-
e a quase ningué m " ( ibid .: 87 ). Da mesma forma , seria in ú til .
Nacional de Informações) , presente
nistração, e outros agentes da “ segurança nacional . A pol í tica
" Muitos í olaboradorcs dc Opinião v-fem ni nisso uma adaptado dj wria de Hunting -

de abertura est á fadada a se desenrolar em condições sempre . -


ton que . pouco ante? <* tri uma conferencia no Brasil , tinha preconizado urria dimen
são progrrssm e sugerido a formurçio de um panido Cinjco Windfrtey Guilherme
incertas, com momentos dc extrema tensão, o que sc perceber
á dos Samcw respondeu aos í iaques em uma cam publicada em Opinioa , 2 '' 9 i L<T 4
304 m
numa sociedade diversificada , atravessada por formas heteroge - os aliados só se unem na rejeição ao autoritarismo, Al é m disso ,
neas dc mobilizar ão , imaginar um partido que se comentasse -
o sucesso de 84 85 deve muito à s circunst â ncias: que legitimi
-
em defender uma mudan ç a global ( ver a conferencia que Car - dade poderia ainda querer assumir um regime que fizera do
doso pronunciou no College de France , cm 18 de maio de crescimento o caminho para a constru ção de um " Brasil Gran -
1981 ) , Atuar a favor da democratização consiste em tirar par - de " , quando o pa ís afundava na crise econ ómica? Sc era neces -
tido dos espa ços de liberdade para o ‘ ‘ exercício da t rinca ( Car - sá rio mab um elemento para consolidar a alian ça democrá tica ,
doso , 1981 b: 291 e segs. ). A ineficácia consiste em sc apegar , a ense o fornecia enfraquecendo o regime e afastando dos inte-
apesar de tudo . a dogmas teóricos, como prova o isolamento lectuais a tenta ção que eles ainda pudessem ter de reunir a
de uma universidade que perde o coma to com a realidade"
"
.
sociedade num grande " projeto nacional " . O grau de adesã o 1

(confer ê ncia de Cardoso na Maison des Sciences de F Homme


. à pol ítica do poss ível c o que diferencia a panir dal as posi çõ es
em dezembro de 1982 ). À mesma ineficácia resulta da recusa intelectuais , já destacamos as mudan ças na hierarquização dos
cm admitir a inevit á vel dist â ncia entre os partidos e suas bases , intelectuais. Elas se acentuam nos ú ltimos momentos da demo -
nao reconhecendo nenhuma credibilidade aos representantes cratização , lodos os textos de Florestam Fernandes constituem
pol íticos, em nome de um rousseau ísmo mal assimilado
"

( Cardoso , 1981 b : 298 ). Em L 984 , triunfa o "possibiJIsmo .


"
um protesto contra o " realismo como se a ditadura dc 69 74
tivesse que perdurar forç osamente , mesmo sob aparê ncias demo-
-
Gi an notei , pouco inclinado âs soluções de compromisso afirma :
,

" Nas condições atuais, o pacto é indispensá vel e qualquer pacto


crá ticas. O isolamento a que ele é relegado deve se em parte
ao imenso apoio dado aos estratrgisras da evolução progressiva
-
ser á conservador pois. nesse momento , n ão vejo a viabilidade e da democracia negociada .
de uma solu ção mais radical , que tenderia a por em perigo o O "realismo", no entanto , csr ã longe de ser un ívoco. Pas -
-
.

capitalismo brasileiro" ( Giannotii , 1984 ) . Carlos .Nelson Comi sada a euforia dc 1974 , .surgem as divergê ncias mesmo entre
ih nho, defensor antigo das " teses italianas ’ no Partido Comunis - ,

os adeptos dos esquemas incremental is tas. A multiplica çã o de


ta , anuncia por sua vez que n ão se deve "subestimar ou mesmo " movimentos dc base " , em grande
parte devidos ãs iniciatim
rejeitar a possibilidade concreta de uma transição que se realiza da Igreja , depois à s greves do ABC , provoca uma nova ruprura
através de negociações ". Acrescenta ele que h á " uma possibili-
dade ( que é nula num regime fascista cl á ssico ) de transi çã o paci
entre os que continuam a dar prioridade à atuaçã o institucio
nal c aos avanços eleitorais e os que depositam suas esperan ç as
-
ilca e negociada para a democracia" ( Goutinho, 1984 : 15 ),
i Assim , reencontramos , n ão rrnis nas estrat égias inier - nos processos dc auto-organização dos atores sociais. Cisã o esse ra
cia!, que alimenta os debates intdenuais do per íodo 75-80 e
-
nas , mas nas estratégias pol í ticas geraisr a marca do " rcalis -
"
mo mencionado antes . Esse "realismo" fundamenta estraté-
desemboca na criação do PT. Tudo c questionado: os modos
gias conjunturais , definidas em função das relações de torças de representação pol ítica , as formas da democracia , o problema
de cada momento. Um " realismo" que demonstra , cm muitos
da igualdade e da cidadania , o rema da auto - organiza ção dos
atores sociais , com diversas conota ções. José Á lvaro Moisés ,
aspectos , a persist ê ncia de udi estilo dc conciliaçã o entre as
" '

dites: a "sociedade civil " n ão é o " povo" , são as elites especí


ficas que surgem no contexto de diversas associações ; a demo-
- membro do CEDEC , vê ai o ú nico caminho para se chegar a
uma " nova hegemonia política ":
'

cratiza çã o n ão é a constituição do povo como " sujeito pol íti - 0 problema da itwps\iza\lQ hegemónica da Piedade c urna quest ã o que não
co" , mas o diá logo cmre os intelectuais , os industriais , a hie - se resolve a menos que haja um n úcleo úfganizaiõ rio que ?e proponha clara c
rarquia eclesi ástica etc , A descoberta da democracia — é a per -
,

-

explkiumtnrc , a rareia de èC gradativa mente unificando zs crperiènais par
gunta que faz íamos seria o produto de uma s ú bita conver - ciai’, seroTíais e moteulaic* Ac cada Lim dos setores dasdseses em uma alterna -
sã o dos esp í ritos? A opçã o realista sugere
" " uma outra resposta : tiva pólítica um projeto globaL . mas cnnaao — que sirva para dar impulso
é muito mats o resultado da adesão a uma racionalidade limi - Aí 1 LI tis miais ma? ao mesmo tempo acene am ;ts possibilrdaJes de transfor -
, ,

tada , em condi ções em que o adversá rio impõe suas decisões c mação ma is profunda da sociedade ( Moisés 190Q : fi ),
,
306 307

Francisco Wefifort pronuncia-sc a favor de uma democra - n ão aderir à representação liberal da democracia , logo consta
*

cia " participativa " , " na qual a maioria do povo n ào esteja con - tando a distâ ncia recorrente entre os setores populares c os
finada à condição de cidad ãos de segunda classe Na qual “ quadros pol í ticos" que dominam o MDB, e recusa -se a dei -
portanto , a maioria do povo — e n ão apenas uma minoria de xar is elites a tarefa de decidir o que é melhor para o povo
' "

privilegiados— tenha condição de se tornar dirigente" ( Wcf - (F H . Cardoso , 1975 ). Mas cie está também
nem a
convencido de
estabilidade nem
-
*

fort , 1984: 130 ) . A filósofa Marilena Chauí reconhece à "cul que os movimentos de base n ão tem
tura popular " o valor de resistência " diante das elites que
1
a autonomia que lhes atribuem e muitas vezes apoiam - se no
monopolizam o discurso competente" (Chau í, 1981 ). O soció- Estado e suas polí ticas sociais. Essa posiçã o est á associada à tese
logo católico Luiz Eduardo Wandcr í ey define a "democracia de que não h á pol ítica " que possa nascer do prolongamento
de base" , que
de base ' como aquela que é praticada pelas bases populares , direto das "comunidades e dos "movimentos
1 L

isto é , pelas classes populares na vida coudiana , em seus possa fazer a economia de uma consideração dos, mecanismos
momentos nas fá bricas e nos bairros , nas paróquias e nas comu - de delega çã o política e que possa ignorar o Estadode Oummovimen
nidades" ( Wanderlcy , 1983: 64 ) , Os jesu ítas
_ doqueCEAS afirmam turno , avalia Cardoso , tende a ser a expressão
" popu
" e depre -
-
que as organizações de base , na medida cm exprimem as lismo religioso que revaloriza a noção de comunidade
necessidades dos setores populares , favorecemL uma " união cia qualqucr representação pol tica
í . Aparece, assim , como figu -
entre os membros que dispensa uma grande organiza çã o" c ra simé trica á do Estado autorit ário :
"possuem uma consci ê ncia clara
quanto ao objetivo visado, dos dumina -
menos clara quanto às implicaçõ es políticas ruais gerais" ( CEAS , As forças sociais contestadoras aceitam a cootrapartida da proposal á eco , rias
dotes e . de costas pari o Estado , montam seu mundo i parte que far
1984 : 12 ). Esses poucos textos, citados ao acaso , n ão são ncces - que afligem
sanamente convergrmcs, como facilmente se percebe .. Alguns conchas acústicas que o regime oferece , das lamentações t ópicas
as massas |despossuídas (F . H . Cardoso 1981
, a ; 24 ).
visam o estabelecimento dc comunidades sociais; outros , fazer
dos " movimentos de base" o princí pio de uma hegemonia Os intelectuais são um ator pol ítico unificado nessa, mas
con -
autorit á rio continua no poder
popular; outros ainda a construir, a partir dc setores popula- juntura em que o Estado
res , uma democracia participativa N ã o importa. Eles exprimem tolera espaços democráticos cada vez maiores. Tornam -se um
bem as discussões apaixonadas , retomadas pelos "educadores " , ator polí tico dividido a partir do momento
em que a volta à
democrá -
'
agentes comunitários ' * e estudantes a respeito da forma çã o democracia parece inevitá vel . Fazem o aprendizado regime . As uto-
dc uma cultura democr á tica cujo sujeito seja o " povo’ ou as
»

tico na medida das incertezas provocadas pelo


com concilia ção elitista
" bases" . Esses textos tê m
duas premissas em comum: a descon - pias comunitárias ou a concord â ncia a
es demo -
fianç a cm relação aos mecanismos de representação política e est ã o aí para lembrar que o debate sobre as institui çõ
o debate
a rejeição dos vanguardismos tradicionais . Esbarram numa cr áticas não est á terminado e que está começando contribui para
mesma questão: como assegurar o do entre o social c o politico ? sobre o "realismo" Em 1985 . Marilena Chau í
" reativa ção da ideia


esse processo , apresentando-
*

Essa quest ão é mais aguda ainda no interior do PT na medida o como uma


em que os " basistas* cat ólicos ou não e os < autonomistas r
( y
liberal conservadora sobre a política" e denunciando, no
quadro político- partidá rio , uma nova expressão do
coexistem com muitos dos antigos combatentes das vanguardas Ii " autonca
de 68- 74 . Mas esses debates n ã o sã o cambem
rismo ( Chau í, 1983: 7 - 28 ).
simplesmente o debate democr ático ?
tica estão, cm sua maioria , longe dc desdenhar os movimcn - -
Os intelectuais que privilegiam as estrat é gias na cena polí a mamsfestação do que é , ,
Os intelectuais só assumiram o aspecto de "um existên -
ator pol í -
tos da sociedade civil " No entanto , os que ficam no tico cm favor da " mobilizaçã o da
sociedade civil c da
sicuam -sc muitas vezes numa representação do fenô
PMDB
meno polí- cia de parudos de massas de um lado , e da distâ ncia intranspo -
tico muito distante da que acompanha as profissõ es de fé que nível entre ambas de outro. Constitu íram-se como ator político
acabamos de mencionar Assim , Cardoso continua afirmando cm São Paulo , e não no Rio. A solidez das instituições intelec-
I

308

ruais da capital paulista , a intensidade dos movimentos sociais


e sobretudo das greves , o papel renovador do MDB local — ao
contrario do MDB carioca, máquina eleitoral comprometida
com o regime — são outros fatores que contribuem para essa
diferença . Apesar de tudo , a distâ ncia entre a mobilização
social e as t á ticas políticas continua .sempre visível em São Paulo . Conclusão
Mas essa distancia torna precisamente necessária a intervenção
de mediadores que fa ç am a articulação entre um plano e outro.
Essa c a função desempenhada pelos intelectuais e que lhes
permite transformar - se em ator político.

Num artigo publicado no Jornal da Tarde [ 14-4-84 ], o soaó


logo Leô nao Martins Rodrigues , constatando o crescimento quan -
-
titativo c a capacidade de influencia das camadas formadas nas
universidades, retoma a hipótese de uma ‘ ‘ nova classe ” , j ã for -
mulada por Gouldncr c outros. Hipótese frágil , de modo geral ,
Daniel Bell , que tratara da ascensão dos intelectuais críticos , n ào
tardou em levantar d ú vidas de que coubesse falar em "classe
-
(Bell , 1979 a: 169 90 ). Essa hipó tese é mais discutível ainda no
caso brasileiro , onde essas camadas são extremamente diversifica
das do ponto dc vista social , pertencendo alguns de seus elemen -
-
tos ao universo tradicional das elites e se recrutando outros , por
m é rito , entre os setores m édios mais baixos. Sc durante um certo
período, eles puderam dar a impressã o de relativa unidade , foi
por terem assumido o aspecto de um ator propriamente pol ítico .
A oposição comum ao regime militar dissimulou sua heteroge -
neidade social profunda . Os l íderes intelectuais souberam favore -
cer seu reagrupamento: fizeram- no de maneira a aparecerem ,
ao mesmo tempo, como expressão da nova sociedade civil e apoio
dessa espécie de contra-Estado que foram formando progressiva
mente.
-
310 311

A volta á democracia expoc dc modo bruta! os limites oportunidades, durante este século , para lidar com a democra -
cia E pouco possível que esta ofereç a à maioria deles o lugar
dessa coesão. A profissionalização" constitu í ra uma arma
para combater , em nome da compet ê ncia e da ciê ncia , um c as tun ções as quais estavam acostumados . Isso é ainda mais
regime fascinado pela imagem de um Brasil Grande " . Eis duvidoso na medida em que esses intelectuais já n ào s ão , tal -
que ela d á lugar à proliferação de participações setoriais , c vez , t ão aptos a elaborar representações globalizant es . Desco -
.

algumas associa ções que se haviam encarregado da defesa das berta a sua condiçã o social , já não podem mais facilmente $c
liberdades tendem , sem ter consciê ncia , a se fechar na defesa projetar acima da sociedade , N ào podendo mais referir - se a evo-
de seus interesses da categoria ’ \ Uma parte das universidades lucionismo algum nem fazer do “ realismo " a mola de uma
c de outras instituições intelectuais preservaram sua autoridade ideologia , j á n ão podem também sc instalar na dianteira da
diante dos governantes , mas entram em crise , confrontadas com hist ó ria . Obrigados a tomar conhecimento dc que o Brasil c
as d ú vidas sobre seu funcionamento c finalidade . Uma parcela uma sociedade ao mesmo tempo de classes constitu ídas e de
considerável dos intelectuais beneficiara - se das consequ ê ncias massas fluidas , tem que desistir dc reivindicar os privil égios
do milagre, mas são atingidos em cheio peto declí nio de suas da consci ê ncia esclarecida .
condições materiais. Aderiram todos à democracia , n ão como sc tivessem de
O reencontro da democracia traz rambêm problemas para repente sc convertido â lógica democr á tica , mas muito mais
sua identidade política . Nesse aspecto , o problema n ão é que como resultado das estratégias de compromisso com que tiveram
eles se dividam em função dc suas diversas lealdades partid á - que concordar diante de um regime que n ã o pretendia desapa
recer sem fazer perdurar ate o fim as incertezas em que se basea -
-
rias . Não que esse fato seja dc se desprezar . Isso porque ao
longo das d écadas passadas, os intelectuais , muitas vezes alheios va o seu poder.
às problemá ticas partidárias , haviam partilhado , superando Ora , o restabelecimento da democracia revela também
suas divisões , dc uma visão muito semelhante do Estado , do novas modalidades dc defasagem entre as esferas social e pol í-
povo e da nação. Já não é este o caso. Mas as mudanç as são tica . N ão se vé implantada a “ democracia participativa " c
maiores ainda ; uns retomam iranq ú ilamentc o caminho do menos ainda a “ democracia social " que , quase naturalmente .
-
Estado , associando se à tecnocracia singularmentc consolidada brotaria das organizações de base . Ao contrário , a pr á tica polí -
dos anos anteriores ; outros continuam a se colocar ao lado dos tica restabelece o reconhecimento da validade das antigas pr á ti
cas de concilia çã o pró prias a uma sociedade hierarquizada . Os
-
movimentos sociais de base ( os quais , deve- se observar , n à o con -
servam o mesmo dinamismo após a rcdcmocratiza ção ) ou das intelectuais que adotam estratégias dc compromisso , no Estado
classes populares organizadas ( que jã n ã o têm tanta necessi - -
ou nos partidos políticos , parecem fundir se ao mundo das di -
;

dade dc mediadores intelectuais). As divisões da sociedade per - tes e homologar uma democracia que n ã o chega sequer a scr
verdadeiramente “ liberal " . E o desafio em relação ao liberalismo
correm os intelectuais . Al é m disso , os l íderes intelectuais que ,
durante a ditadura , conseguiram exercer grande influência nos continua vivo cm vá rios setores intelectuais . Quer se refiram à
partidos de oposição , percebem que a democracia fortalece o democracia dc base " ou sc apeguem a uma visão “ instrumen -
poder dos políticos profissionais e destila rapidamente uma tal " da democracia , est ão longe dc participar sem reservas da
classe política . Os intelectuais são conduzidos assim a um papel cren ç a democrá tica . Sob a aparência de “ comunitarismo ” , volta
mais modesto . à tona uma leitura religiosa da dimensão pol ítica . Sob o aspecto
Da mesma forma , a democracia deixa de ser propicia aos de “ autonomia popular " , sc projeta às vezes a sombra do
grandes mitos unificadores e aos projetos de forma ção do social . antigo populismo intelectual , que não admitia que o povo não
As acomodações que cia supõe tornam impossível a qualquer -
seja Uno . Debaixo dos vanguardismos", e.sboça se a tenta ção
de voltar à fusão entre as classes " revolucion á rias ’ ’ e a na ção.
categoria social pretender monopolizar a representa çã o da
nação . Afinal , os intelectuais brasileiros nà o tiveram muitas Sob a apatia e o corporativismo , emerge a dcccpçâo diante dos
312

procedimentos institucionais Linguagens modernas que dizem


às vezes as mesmas coisas que as linguagens de 1960 e , ao
mesmo tempo , marcam a diversificação das estrat égias intelec- l
tuais .
Os intelectuais brasileiros conheceram as luzes da ribalta : Referências
como pensadores do social cm 1930 , como ideólogos do desen -
volvimento em I 960 , como ator pol ítico sob a ditadura . Foram
panegiristas do Estado , seus interlocutores e seus advers á rios .
bibliográ ficas
A partir de 1982 , percebem que vivem numa sociedade que
já n ão se parece com a de 1960 , c que eles pr ó prios formam 4

um mundo heteróclito. A partir de 1983 , experimentam a


democracia . Sua pró pria identidade só pode estar marcada pelo
timbre da incerteza .
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*
U - A

5A Bi acreditava ter um acesso


à todo especial à
"realidade brasileira '.
1

V
UFRGS Q 70G 5219
Sob pretexto de conhecer
melhor do que ninguém
os mecanismos sociais e
cn+ os interesses profundos
dos diferentes grupos , sua
tendência foi colocar -se
como mediadora
indispensável entre as
classes e projetar -se
acima da sociedade
Neste livro atual,
fundamentado em
extensas pesquisas , Daniel
Pécautsitua os intelectuais
bradtelros num contexto
amplo, que envolve nã o
só sua atuação nos
partidos políticos como
também nas
universidades e
instituições de pesquisa,
no movimento estudantil
e na esfera de influência
católica ,
Nos anos 80, o processo
de democratização vem
questionar os esquemas
mals enraizados do
pensamento brasiieiro,
que tantas vezes primou
pela autorilarismo .
Caloca - se em xeque ,
assim, a pr óprio
identificação dos
intelectuais , marcada
©
IrTipreuâg KafeOntencg por
*
pelo " timbre da
incerteza".
w« Ruth A OB. I Idu
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