Você está na página 1de 3

A Desagregação da República Velha na Paraíba (A Paraíba e a “Revolução”

de 1930)
Inserida na crise geral do final dos anos 20, a desagregação da República Velha na
Paraíba apresentou facetas semelhantes à conjuntura nacional, marcada pela repercussão da
crise de 29 e também pelas disputas pelo poder político, ante a proximidade das eleições de 30,
além dos descontentamentos regionais como o Governo Washington Luís, reclamando-se apoio
econômico federal, como os produtores de charque e arroz, no Sul do país, e algodão, fumo e
cacau, no Nordeste. Internamente, o governo de João Pessoa, oficialmente propalado como
aquele que modernizaria o Estado sobrepondo-o às oligarquias mesmo constituindo uma de
suas vertentes, veio a pautar a crise do modelo político da República Velha. Passaram-se a
exercer esferas de controle sobre a produção de algodão (sendo a Paraíba o primeiro produtor
nacional) e sobre as exportações de mercadorias, através do porto de Cabedelo, fomentando-
se a oposição de comerciantes de Pernambuco e do Ceará, por onde se comercializava a
produção do sertão, e comerciantes do interior do Estado, especialmente por conta do traçado
das linhas férreas, que facilitavam o escoamento da produção para os Estados vizinhos.

A escolha de Júlio Prestes para a sucessão de Washington Luís, rompendo com a política
do café-com-leite, uma vez que ambos eram paulistas, desencadeou uma verdadeira “cisão
oligárquica” no país, com a expressiva oposição dos mineiros, cujas oligarquias foram
oficialmente excluídas da indicação ao Governo Federal. Nessa conjuntura, formou-se uma
Raniery Gonçalves
frente de oposição denominada de “Aliança Liberal”, que assumiu um discurso moralizador
rany470@gmail.com
quanto aos processos eletivos no país, contando com a participação efetiva do Rio Grande do
700.989.254-74
Sul, de onde saiu a candidatura de Getúlio Vargas à Presidência da República. Na Paraíba, o
Presidente João Pessoa aderiu à candidatura de Vargas, opondo-se a Júlio Prestes. A sua adesão
à frente de oposição, que lhe valeu a indicação para compor a vice-candidatura à presidência,
junto com Vargas, articulou-se às desavenças políticas com as oligarquias regionais, lideradas
pelo coronel José Pereira, avessas às medidas administrativas do presidente do Estado,
fundamentalmente quanto ao controle das exportações, bem como quanto à composição das
candidaturas legislativas, que foram traçadas por João Pessoa, através do Partido Republicano.
Mesmo contando com a adesão política das camadas urbanas, especialmente, e tendo vencido
as eleições no Estado, a chapa Getúlio Vargas - João Pessoa foi derrotada a nível nacional, com
fraudes eleitorais praticadas tanto pelo Governo Federal, presidido por Washington Luís, quanto
pela Aliança Liberal, como por exemplo, no Rio Grande do Sul, “onde a chapa de Vargas teve
298.627 votos contra 982 de Júlio Prestes.” (Costa: 1993).

- A Revolta de Princesa –
A cisão oligárquica interna, quando João Pessoa era candidato à Vice-presidência da
República, se deu entre fevereiro e março de 30, ainda em fase de campanha, quando a Revolta
de Princesa teve início, a partir do controle sobre a cidade de Teixeira. Apresentada como
mecanismo para garantir a normalidade eleitoral nas cidades do sertão, liderada pelo coronel
José Pereira, a Revolta de Princesa estabeleceu a criação de um território livre e autônomo
dentro da Paraíba, separado do controle político da presidência do Estado. A reação do governo
foi imediata, mas não foi suficiente para conter os revoltosos, assentado em forte base “militar”,
com a contratação de centenas de “cabras do sertão” para enfrentar as forças legalistas. A
revolta foi sustentada pelas oligarquias locais, tendo se espalhado por cidades importantes
como Catolé do Rocha e Pombal, e teve também o apoio de comerciantes de Pernambuco, que
se opunham às medidas econômicas do governo de João Pessoa.

Abaixo, transcrevemos dois trechos de artigos publicados no “Jornal de Princeza”,


editado em julho de 1930;

“Jornal de Princeza” Órgão official do Território Livre de Princeza, o ‘Jornal de Princeza’,


publicado sob o patrocínio da Junta Governativa, que tem por fim essencial defender os
interesses do Território, e, em tudo quanto for possível, apontar os criminosos do vizinho Estado
da Parahyba, cujo presidente jurou que havia de destruir, pedra sobre pedra, esta cidade
sertaneja.” “Dinheiro Falso O presidente da Parahyba espalhou boato de que foi encontrada
uma cédula falsa no bolso de um libertador. Essa notícia é mentirosa, bastando para isso, ter
partido do maior mentiroso da República.”

A resistência dos revoltosos de Princesa se estendeu até a eclosão do movimento de 30,


em outubro, quando o “Território Livre de Princeza” foi incorporado ao controle do Estado,
havendo, ainda hoje, a influência política da família Pereira na região. - A Paraíba e a Revolução
de 30 - As eleições de 30 confirmaram a vitória dos grupos governistas, denunciada como
fraudulenta pelos integrantes da Aliança Liberal, embora os setores mais moderados terem se
comprometido a aceitar os resultados eleitorais, o que não foi assumido pelos correntes
tenentistas dentro do movimento aliancista, que defendiam a deposição de Washington Luís.
João Pessoa, por exemplo assumiu uma postura moderada, propalando: “prefiro dez Júlio
Prestes a uma revolução!” No entanto, a correlação de forças dentro do movimento aliancista
era favorável aos segmentos mais radicais, ampliando-se as articulações políticas em torno da
Raniery Gonçalves
oposição ao Governo Federal, buscando-se o efetivo apoio das camadas urbanas, que, embora
rany470@gmail.com
não - ideologicamente definidas, 700.989.254-74
provocaram o receio das camadas dominantes
economicamente dentro da Aliança Liberal quanto dos caminhos que tomaria o movimento,
sendo famosa a frase do governador de Minas Gerais, Antônio Carlos: “Façamos a revolução
antes que o povo a faça!” Nessa conjuntura, a “degola” dos deputados de oposição, eleitos em
março, e, significativamente, o assassinato de João Pessoa, em julho, na cidade de Recife,
cometido por João Dantas, inimigo político do Presidente da Paraíba, deu ao movimento
aliancista um “cunho social” mais amplo, mesmo passional, justificando a sua radicalização
política, que veio a acontecer no Rio Grande do Sul em 3 de outubro. Em meio às pressões e à
tomada militar do Rio de Janeiro, Washington Luís foi deposto em 24 de outubro de 1930. Na
Paraíba, o assassinato de João Pessoa revestiu a oposição aliancista de forte apelo social,
também em diferentes cidades do Nordeste: manifestações populares tomaram as ruas, milícias
civis se formaram. Afirma José Octávio de Mello: “nas ruas, a população era a lei.” Aqui, o
movimento definiu-se como vitorioso em 4 de outubro, depois de enfrentar e vencer as forças
federais, sediadas em Recife: “Delegacias de polícia, estradas e comunicações foram controladas
pelos revolucionários que, sob o comando do tenente Agildo Barata, tomaram de assalto o
quartel do 22º B.C. em Cruz das Armas.” (1996, 183) Desfechava-se assim, a República Velha no
Brasil e na Paraíba, onde: “O Golpe de outubro de 1930 resultou no deslocamento da tradicional
oligarquia paulista do epicentro do poder, enquanto que os demais setores sociais a eles
articulados e vitoriosos não tiveram condições, individualmente, nem de legitimar o novo
regime, nem, tampouco, de solucionar a crise econômica.”

Ligas Camponesas
Movimento nasceu no estado de Pernambuco, mais precisamente no primeiro núcleo,
engenho Galiléia, alastrou-se nacionalmente para Alagoas e Paraíba onde teve mais intensidade.
Seus lideres eram Francisco Julião( advogado ), Pedro Teixeira, Elizabeth Teixeira e contavam
com o apoio do partido comunista (PCB). As causas principais foram: “ trabalhador não dispunha
de regime de trabalho protegido por lei, carteira assinada, aposentadoria, escolas e hospitais.
Ademais, o sistema de parceria agrícola tornava-o inteiramente dependente de usineiros e
fornecedores. Para os últimos obrigava-os a trabalhar gratuitamente por alguns dias, era o
cambão”( MELLO, José Octavio). Na Paraíba o movimento começa pela cidade de Sapé, onde
moravam muitos roceiros que estavam ficando sem terras devido o crescimento do capitalismo
que chegara ao campo, obrigando o camponês a comprar bens produtíveis na feira. Este
movimento recebe o apoio do presidente Jango, com a instituição do SANDU com postos
médicos. Do município de Sapé expande-se por: Itabaiana, Alagoa Grande, Caldas Brandão, Pilar,
Arara,Solanea, Araçagi. O movimento toma repercussões internacionais com a programação da
visita do Presidente Kennedy ao município. O momento de maior tensão é no confronto na
cidade de Mari entre os camponeses e os jagunços da fazenda São João, onde morrem oito e
ferem 14, neste momento o governo decide intervir na Liga com o envio de tropas para o local.
Em mamanguape o líder Pedro Teixeira é atocaiado por um bando contratado e é assassinado,
assumindo a liderança da Liga a sua esposa Elizabeth Teixeira.

Raniery Gonçalves
rany470@gmail.com
700.989.254-74

Você também pode gostar