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ECONOMIA

HISTÓRIA ECONÔMICA BRASILEIRA


PROFESSOR: ANDRÉ DIZ
OBJETIVO DA AULA: Análise da economia brasileira entre 1956 e 1964; Plano de Metas; Política ortodoxa de Jânio
Quadros; Plano Trienal de João Goulart.
PONTO DO EDITAL ABORDADO: 4.5.

AULA 05
Período de 1956 a 1964

 Panorama econômico anterior:

 Fase de Transição da Economia


Dutra (1946-50)
Getúlio Vargas (1951-54)
Café Filho (1955)

 Balanço e Conclusões:

 Principais características do período:

 Forte expansão do PIB;


 Pressões inflacionárias;
 Aumento taxa média de investimento da economia (indústria + governos);
 Aceleração do processo de Substituição de Importações;

 ↓ 42% das importações industriais;


 ↑ 40% da produção nacional entre 1952-56;

 Importante redução das pressões sobre a balança comercial do ponto de vista da composição das
importações (abriu-se espaço para a importação de bens intermediários e de bens de capital em
detrimento das importações de bens de consumo);

 Principais legados:

 Reforço no processo de industrialização via Substituição de Importações;

o Em 1944, a indústria já tinha participação no PIB similar à parcela da agricultura (diferença próxima a
1 pp);

o Transição definitiva do centro dinâmico da economia (1945-1954) => Da economia cafeeira à


economia industrial;

 “Vitória” nacional estatismo;

o Estado Novo (Vargas) => Consolidou o Estado como indutor do processo de desenvolvimento
industrial (e, consequentemente, do crescimento econômico);
Duas características principais:

 A variação do PIB real do


Brasil entre 1930 e 1931 foi reflexo
da Crise de 1929. Posteriormente,
o país apresentou forte
crescimento econômico, exceto
em anos de instabilidade, como
1940 e 1942 (nos quais a economia
foi prejudicada tanto devido à
piora da produção agrícola quanto
devido às questões relacionadas ao
contexto da II Guerra Mundial); O
crescimento médio do Brasil no
período foi de 6%;

 Por outro lado, houve


pressões sobre o balanço de
pagamentos. Ou seja, o Brasil
operava com déficits nas
transações correntes, pois,
mesmo com a substituição da
importação de bens de consumo,
havia a necessidade de manter as
importações de bens
intermediários e de bens de
capital;

 Período de 1956 a 1963

JK, Jânio Quadros, João Goulart => Dos “anos dourados” de JK à crise não resolvida

 Contexto:

 Traços de continuidade do período anterior:

 Manutenção da tradição democrática da economia;


 Manutenção do ciclo da expansão econômica (até 1962);
 Taxa média de crescimento do PIB: 7,9% ao ano;
 Em outras palavras, de 1930 a 1963 houve continuidade dos seguintes aspectos  aceleração da
industrialização + crescimento da economia/PIB (valor da produção de bens/serviços finais com grande
participação do setor industrial) + Pressões sobre o saldo de transações correntes (sempre em torno de 2% a
3% do PIB);

 OBS: seriam tais pressões sobre o saldo de transações correntes as grandes fragilidades que interromperiam o
crescimento da economia a partir da segunda Crise do Petróleo (1979);

 Busca pela consolidação do perfil industrial;

 Plano de Metas => plano de acelerar o desenvolvimento econômico via manutenção da industrialização;
Canalização de parte significativa dos investimentos da economia para a atividade industrial;

 Discurso “desenvolvimentista”;

 Anos 1950 -> Brasil com grande população, mas ainda um país rural;

 60 milhões habitantes (crescimento populacional de 3% ao ano);


 Participação setor rural na economia: 21% (PIB) -> ou seja, já era menor que a do setor industrial, mas ainda
era uma parcela importante;

o A população urbana superou definitivamente a população rural em algum momento entre os anos
1960 e 1970; A chegada de imigrantes atraídos por oportunidades de trabalho no setor industrial
contribuiu para o aumento da urbanização;

 Base do crescimento  Investimentos;

 Investimentos públicos (Plano de Metas);


 Investimentos privados (viabilidade do crescimento);

o O Plano de Metas foi um grande plano de investimento estatal (o Estado utilizava-se de suas políticas
tarifárias, cambiais e fiscais para induzir o crescimento do setor industrial). O Plano consolidou o processo
de substituição das importações (tornou a indústria brasileira mais completa e com maior densidade
produtiva); Todavia, embora tenha sido muito bem desenhado e bem-sucedido, o Plano de Metas foi mal
gerenciado, principalmente do ponto de vista fiscal. Desse modo, além de ter inaugurado uma nova
perspectiva de crescimento econômico via consolidação industrial, o plano econômico de JK deixou
prejuízos em relação às contas públicas, as quais geraram inflação e instabilidade (cenário que contribuiu
para a posterior eclosão do Golpe de 1964);

o Os investimentos privados também foram importantes viabilizadores do crescimento econômico à época.

o Ex..: consolidação da região do ABC/São Paulo (produção de bens de consumo duráveis) -> base industrial
relacionada ao fornecimento de peças de automóveis (Estado) + investimento da Ford (investimento
privado);

 Resultados e consequências;

 PIB:
 Entre 1957-60  Aceleração do PIB;
 Em 1962  Inflexão;
 Em 1963  Reversão;

 Crescimento econômico, e, consequentemente, aceleração da Inflação (1956: 12% => 1960: 35%);

o Lembrar: A inflação já tinha dois dígitos desde os anos 1940; já havia desafios quanto ao controle da
inflação desde o governo Dutra (devido à transição de uma política econômica ortodoxa para uma
menos ortodoxa, adotada no final do governo, cujo foco passou a ser o crescimento e não a questão
da inflação); Na segunda metade dos anos 1950, a inflação quase triplicou;

 Piora das finanças públicas  déficit do governo federal (1956-60: 30% => 1961-63: 50%);

 Problemas nas contas externas;

o Grande parte dos gastos com o plano de metas não estavam presentes no orçamento.

 Desempenho econômico do governo JK  em parte, decorreu da inércia dos períodos anteriores;

 Assim como o baixo crescimento no início dos anos 60, decorreu dos desequilíbrios desse processo;
 JK entregou a seus sucessores uma economia maior e mais desenvolvida;
 Porém, com piora de indicadores macroeconômicos significativos;

 Síntese:

 Aspectos positivos => crescimento do PIB; redução do analfabetismo e da mortalidade infantil; aumento
expectativa de vida (46 para 53 anos);

 Aspectos negativos => piora da inflação; déficit público; e piora situação externa;

 % do PIB:  1950: agropecuária (24%); Indústria (24,1%);


 1955: agropecuária (17,8%); indústria (32,2%);
 Crescimento do setor industrial frente ao setor agropecuário => consolidação da transformação após o
Plano de Metas;
 Mudança na composição setorial da economia

 1955 => 1960:

 Agropecuária: 23,5% do PIB => 17,8%;


 Indústria: 25,6% do PIB => 32,5%;

o Crescimento de 11,6% ao ano (entre 1952 a 1961);

 Destaques (do ponto de vista de composição industrial): crescimento dos bens de capital (20,3%) e dos bens
duráveis (18,2%); O setor que menos cresceu foi o de bens de consumo, o qual já havia se expandido em grande
medida durante os anos 1930, 1940 e início dos anos 1950;

 Se por um lado o Plano de Metas se destacou pelo crescimento da indústria de bens de capital, por outro, o II
PND, posteriormente adotado, seria direcionado para a expansão da indústria de bens intermediários;

 Lembrar:

 Bens não duráveis = bens de consumo (alimentos, roupas etc);


 Bens duráveis = carros, eletrodomésticos etc (bens de consumo que não se esgotam no curto prazo);
 Bens intermediários = cimento, petróleo, energia elétrica etc (insumos de produção);
 Bens de capital = produção de máquinas e equipamentos para o setor industrial;

 Aumento da produtividade (Bens de Capital);

 FBKF (participação dos investimentos sobre o PIB) => 13,5% do PIB; Em 1955 => 15,7%;

 OBS:

 Muito do crescimento de 11,6% ao ano (entre 1952 a 1961) se deve ao aumento do estoque de capital e da
produtividade da economia;

 O crescimento de 2 pontos percentuais no nível de investimentos (13, 5% para 15,7%) é significativo em


termos de capital fixo. Isso quer dizer que a quantidade de máquinas e equipamentos à disposição do setor
produtivo brasileiro cresceu muito, logo, a produtividade média do trabalhador brasileiro aumentou;
 Em resumo, no período analisado, houve:

 Alteração da composição industrial;


 Aumento dos bens de Capital, bens intermediários e bens duráveis;
 Redução dos Bens de Consumo não duráveis, mas ainda com a maior participação da produção (pelo Processo de
Substituição de Importações);

 Política Econômica: Juscelino Kubitschek

 Revisão de alguns conceitos:

 Políticas Econômicas: são ferramentas utilizadas pelo governo para diferentes fins;

 Política Fiscal (tributos / gastos) => o governo se utiliza de seu poder de Pol. Fiscal vs Pol. Monetária
tributação e do seu poder de gerar demanda para desacelerar ou acelerar
a economia;  Na política fiscal, o
governo intervém de forma
o Ex. quanto aos tributos: ↓ nível de tributos = ↑ (acelera) o direta, gerando crescimentos
crescimento da economia (pois, o pagamento de menos tributos ao específicos. Já na política
governo incentiva a produção privada e o consumo, o que resulta monetária, o governo intervém
em um melhor desempenho econômico); indiretamente. O controle da
oferta de moeda (no Brasil,
o Ex. quanto aos gastos do governo (cada governo elabora um plano): inicialmente via SUMOC e,
planos de aceleração do crescimento; Minha Casa Minha Vida; posteriormente, pelo Bacen)
Plano de Metas de JK; II PND no governo Geisel etc.; altera, em última instância, as
taxas de juros e
,consequentemente, as
 Política Monetária (moeda / taxas de juros) => o governo expande ou decisões de consumo e a taxa
contrai a oferta de moeda, o que impacta diretamente na composição das de câmbio;
taxas de juros cobradas na economia;
 Quando o governo
expande os gastos, não
 Política Cambial (foi o principal instrumento do Plano de Metas) =>
significa que ele esteja
alteração das taxas de câmbio, ou criação de taxas múltiplas para
injetando dinheiro na
importações e exportações (como Vargas fez), ou controle do comércio
economia (pois o controle de
(tarifas, quotas e impostos; ex.: tarifas sobre as importações);
moeda é realizado na política
fiscal), mas sim gerando
o Taxas de câmbio  Tarifas / Quotas / Impostos;
demanda (↑ gastos do gov. =>
geração de orçamento => ↑
 Políticas de Desenvolvimento; Decisões pensadas sobre a trajetória do demanda por bens e serviços
desenvolvimento; pelo governo);

OBS: A Política cambial foi o instrumento principal do Plano de Metas, pois a política fiscal não era viável (dada a
situação fiscal desfavorável do país à época), nem a política monetária, pois o Bacen não existia (logo, a política
monetária dificilmente poderia ser operacionalizada).
 JK - Política Cambial
(principal instrumento de política econômica)

 A Política Cambial Possibilita a manutenção dos Investimentos (aumento capital), sem pressão sobre mercado
de divisas (em outras palavras, o governo consegue captar investimentos externos diretos –IEDs- sem precisar
compra-los no exterior com dólares);

 Instrução 70 (SUMOC – 1953)  Criação de câmbios múltiplos;

 Lançada ainda no gov. Vargas;


 Substituiu os controles de importação (política discricionária);
 Adoção de leilões de câmbio (política concorrencial); ATENÇÃO:

o Controles de importação -> Antes da instrução 70, para Conteúdo cobrado com
importar, era necessário obter junto ao Banco de Brasil uma frequência no TPS!
autorização;
Dica do professor: o
o Câmbios múltiplos -> As próprias taxas de câmbio incentivariam candidato que desejar
ou não as importações. A ideia era favorecer as importações de aprofundar-se na questão
bens de capital e de bens intermediários para dar sequencia ao das instruções da SUMOC
processo de industrialização e dificultar a entrada de bens de podem pesquisar sobre o
consumo na economia; tema no site do
CPDOC/FGV;
 Instrução 113 (SUMOC – 1955)  Facilitação da importação de bens de
capital

 Criada por Eugênio Gudin, no gov. Café Filho;


 As importações passaram a não ter cobertura cambial => incentivou o IED no Brasil (sem o dispêndio de
divisas);
 O pagamento das importações era feito com base em aumento na participação da empresa
importadora (ou seja, não havia saída de dólares da economia);
 Contabilizado o IED pelo maior câmbio e o retorno dos lucros pelo menor câmbio;

o Em outras palavras, o investimento externo direto seria contabilizado pela melhor taxa de câmbio
do ponto de vista do investidor. Ou seja, a entrada ou saída do capital sempre seria contabilizado
a favor do investidor para evitar risco cambial. Já o retorno dos lucros ocorria na menor taxa de
câmbio (cruzeiro estivesse mais apreciado);

o Lembrar: taxa de câmbio baixa => possibilita a troca de dólares por uma menor quantidade de
moeda interna; Ex.: taxa 10/1 -> para cada 10 reais, 1 dólar. Quando a moeda doméstica fica
valorizada, será necessário menos reais para comprar 1 dólar (ex.: taxa 5/1);

o Logo, buscava-se maximizar o IED em moeda estrangeira. As trocas com os menores preços
possíveis acabaram por atrair muitos investidores;

 Entrada de US$ 510 milhões até dezembro de 1961;

 OBS: Naquele período, a economia operava com déficits significativos na balança de pagamentos, pois o Brasil
contava com a entrada de divisas na economia via mercado de ativos (poupança externa). Ou seja, a economia
brasileira dependia da oferta de divisas de outros países (em forma de IED) para conseguir abastecer o mercado
interno na forma de divisas.
 OBS: Bibliografia utilizada: GIAMBIAGI;

 Lei 3.244 (agosto de 1957)  Simplificou o sistema de taxas múltiplas de câmbio;

 Criada no governo JK;


 Redução de 5 para 3 categorias de taxas de câmbio:

1. Geral  matérias primas, equipamentos e bens sem disponibilidade interna;


2. Especial  bens de consumo restritos e bens com disponibilidade interna;
3. Preferencial (basicamente bens de capital e bens intermediários)  papel, trigo, petróleo,
fertilizantes, bens de investimento;

 Ademais, houve a adoção de tarifas ad valorem sobre importações (0% a 150%) para bens similares;

o Ou seja, os impostos de importação eram um percentual do valor dela, e não um valor fixo por
quantidade.

 Tais regulações ficavam ao cargo do Conselho de Política Aduaneira (CPA);

 Principal objetivo da Lei 3244  acelerar substituição de Bens de Capital (frente aos bens de consumo), pois
a crescente produção interna poderia ter como gargalo a falta de bens de capital na economia. Em outros
termos, a lei serviu para a atração cada vez maior de bens de capital (máquinas e equipamentos em geral)
para a produção de máquinas e equipamentos industriais próprios do Brasil;

 Problema: objetivos “contraditórios”:

o Por um lado, havia a intenção de se prover equipamentos importados a baixo custo;


o Por outro, estimular a produção nacional;
o Um efeito acabava por anular o outro;

 Aprofundamento/consolidação do processo de Substituição das Importações - A industrialização chegou a


estágios mais avançados;

JK - Políticas de Desenvolvimento

 Missões Brasil – EUA + Outras instituições:

 Missão Cooke (1942) +


 Missão Abbink (1949) +
 Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (1951) +
 CEPAL – BNDE (1952) – atual BNDES;

 Objetivos:

o Criação de um diagnóstico setorial da economia (identificação de gargalos);


o Consolidação dos diagnósticos das missões e criação de um plano organizado de Investimentos;
o Esforço de planejamento econômico (resultado: 41 projetos entre energia e transportes);
 Conselho de Desenvolvimento (1956)  Instituição permanente de planejamento;

 Objetivo: Identificação de setores e suas relações com crescimento econômico (investimentos nos
setores que apresentassem boa relação insumo x produto para a economia e que tivessem potencial de
inserção no mercado internacional);

 Criação do Plano de Metas: segundo Lessa (1981), a “mais sólida decisão consciente em prol da
industrialização da história do país”;

 Construção de Brasília  fora do orçamento do plano;

 Objetivo econômico: gerar maior dinamismo no Centro-Oeste;

 PLANO DE METAS

 Investimento de 5% do PIB, distribuídos nas seguintes áreas:

 Energia e Transporte => 71,3%;


 Indústria de base (basicamente, indústria de bens de capital) => 22,3%;
 Alimentação e Educação => 6,4%;

 Foco no combate aos pontos de estrangulamento em paralelo à implantação de pontos de germinação =>
geração de demandas derivadas (BSB);

 Em outras palavras, a ideia era proporcionar uma relação setorial complexa dentro do plano, de modo que um
setor retroalimentasse outro (dinâmica industrial sustentável);

 Parcela do programa tinha como foco a atração de Investimentos do setor privado:

 Para indústrias como: Automobilística; Naval; Mecânica pesada e de equipamentos elétricos;


 A ideia era gerar certa reserva de mercado para esses setores (impossibilidade de importação de similares
estrangeiros);
 Acesso a crédito subsidiado do BNDE e Banco do Brasil;
 Concessão de avais do BNDE para empréstimos externos (facilitação de tomada de empréstimos junto a
outros países);

 Implementação do Programa (3 bases principais):

1) Tarifa aduaneira benéfica para os setores necessários +

2) Sistema cambial subsidiado para essas importações (bens de K e intermediários)

o Bens importados necessários => pagava-se as menores tarifas de importação (câmbio favorecido =>
reserva de mercado);
3) Reserva de mercado (Lei do Similar Nacional);

o Importante para atrair os investimentos estrangeiros e garantir que o tempo de maturação desse
investimento garantisse bons lucros para o investidor externo;

 Execução do Plano (Gestão do Conselho Desenvolvimento):

 Estrutura vs financiamento:

 O “desenho” do plano em termos estruturais era muito bem desenvolvido (em relação, por exemplo, aos
setores, à ação junto à iniciativa privada, e à política cambial). Todavia, o mesmo não ocorria do ponto de vista
do financiamento (Lessa: “procurar sua solução ao longo da execução do programa”);

 Resultado: Problemas fiscais;

o Inflação devido à emissão de moeda para mais concessão de créditos;

 Fontes de Recursos do Plano:

 Domésticas:  Estrangeiras:

 40% -> Governo federal;  Eximbank (EUA);


 10% -> Estadual;  Banco Mundial;
 35% -> empresas (estatais e privadas);  Investimento Direto (de empresas
 15% -> BNDE + BB estrangeiras no Brasil)

 Grande gargalo  Financiamento: pressão sobre contas públicas;

 Descontrole dos sistemas de crédito e de emissão de moeda;


 Banco do Brasil com dupla função. O BB era, simultaneamente:

 Banco Comercial (de varejo) => que concedia empréstimos / créditos;


 Banco Central => que emitia moeda / controlava a inflação;

o OBS: Uma função anulava a outra; A SUMOC era subordinada ao BB;

 O Banco do Brasil emprestava recursos ao Tesouro para cobrir déficits via emissão de moeda;
 Resultado: Inflação => extração de poupança forçada da economia;

o No período, a inflação dobrou (algo em torno de24% para 59%);

 Alternativas para compensar emissões de moeda (inflação):

i. Elevação tributação => aumentar receita do governo para financiar os gastos;


ii. Contenção de gastos públicos => reduzir despesas (consequentemente, ↓emissão de moeda e ↓ inflação) ;
iii. Emissão de títulos públicos (de dívida) => elevar o financiamento;
 Entraves:

i. Estrutura tributária arcaica; resistência do empresariado (que se recusava a pagar mais impostos);

ii. Via atraso de pagamentos (qualquer atraso do Bacen no pagamento de seus fornecedores gerava
ganho real de receita, pois o valor era corroído pela inflação);

iii. Emissão de títulos públicos limitada pela Lei da Usura - que fixava os juros nominais a uma taxa
máxima de 12% ao ano. Como a inflação estava maior que essa taxa, não compensava comprar tais
títulos;

 Ou seja, não havia uma gestão macroeconômica bem desenhada que fornecesse outras opções de financiamento
para a grande expansão dos gastos do governo com o Plano de Metas;

 Metas alcançadas, superadas e não atingidas:

Retirada do livro de Giambiagi;

 A produção de aço teve o pior desempenho;


 Já as produções de energia elétrica, rodovias, e de carros/caminhões superaram as expectativas (embora
também tenham ficado abaixo das metas);

o Efeito em cadeia  A abertura setorial favoreceu diversas metas do programa. Com isso, era possível
retroalimentar o processo;

 Pressupostos Macroeconômicos (cenário da época)

 Crescimento do PIB per capita real em 2% ao ano (efetivo: 5% ao ano); Brasil como uma das principais
economias industriais nos anos 1960;

 Redução do coeficiente de importações de 14% para 10% do PIB (efetivo: 8% do PIB); Ou seja, a produção
doméstica cresceu a tal ponto que as importações chegaram a apenas 8% do PIB;

 Por outro lado, havia um problema estrutural inflação de 13,5% ao ano (efetivo: 25% ao ano);
 Necessidade de ajustes econômicos para compatibilizar metas antagônicas

 Aceleração da inflação  basicamente, devido à emissão de moeda;

o 2 Diagnósticos: o mercado de crédito brasileiro não tinha capilaridade e montante de poupança


suficiente para sustentar um crescimento daquele nível. Ademais, não havia receitas orçamentárias o
montante de investimento;

 Medidas para combater diminuir a pressão sobre a inflação  o governo buscou obter crédito junto ao
Eximbank e ao FMI;

o Buscava-se fontes externas de financiamento para evitar o uso de recursos domésticos (que significava
mais emissão de moeda);

 Condicionantes para a obtenção de créditos (exigências do Eximbank e do FMI):

 Contenção dos gastos públicos, gastos com créditos e realização de ajustes salariais;

 Reforma do sistema de taxa de câmbio (múltiplas);

 Fim dos planos de compra do café (que geravam gastos fiscais pesados);

 Como resposta a tais exigências, foi desenhado um:

 Plano de Estabilização Monetária (outubro/1958):

 Estabeleceu 4 recomendações:

1) Controle da expansão da moeda (teto para crescimento da base monetária);

o Base monetária: montante de moeda da economia (naquele período, controlada pela SUMOC;
atualmente, o Bacen a controla);

o Indiretamente, o controle da expansão de moeda controlaria os gastos do governo, e, portanto,


sustentaria o controle da inflação;

2) Correção do desequilíbrio do setor público (ajustes ou nos gastos, ou na estrutura de arrecadação);

o Embora no curto prazo pudesse haver algum desequilíbrio, no longo prazo, o setor público seria
realinhado, pois a diferença entre gasto e arrecadação seria freada (o que resultaria em diminuição da
inflação);

3) Definição política de salários públicos e ajustes de tarifas das empresas estatais;

o O aumento da arrecadação de impostos das estatais levaria o Tesouro (proprietário de tais empresas)
a melhorar o nível de sua receita, o que beneficiaria o pagamento de salários públicos (pagos pelo
Tesouro);
4) Correção do desequilíbrio do Balanço de Pagamentos (eliminação das restrições sobre as importações,
eliminação de subsídios cambiais etc);

o A abertura da economia, ou seja, a redução da interferência do governo no câmbio e nas importações


para a exposição da economia brasileira a uma maior concorrência com os mercados internacionais
favoreceria as importações, as quais contrabalanceariam o crescimento dos preços domésticos (ou
seja, a medida controlaria os efeitos da inflação);

Porém...

 O Plano de Estabilização Monetária (1958) foi executado de modo mais gradual do que o FMI havia sugerido (o
qual propunha um “tratamento de choque”). Com isso, as respostas ao combate da inflação foram baixas;

 Questão política -> Disputa junto ao presidente do BB, que se recusava a cortar a concessão de créditos
(grandes empresários pressionavam);

 Economia aquecida vs preços estáveis  era incompatível buscar a estabilidade de preços mantendo-se,
paralelamente, um alto nível de investimentos;

 Desse modo, o Plano de Estabilização Monetária (PEM) foi abandonado no 1º semestre 1959;

o Optou-se pelo crescimento econômico em detrimento da estabilização da Inflação;

 Resultados:

 Aumento da dívida externa em 50%, atingindo US$ 3,4 bilhões;

 A dívida externa era quase o triplo da arrecadação de moeda estrangeira naquele ano (2,7x as
exportações de 1960); Ou seja, era evidente que apenas a corrente de comércio não seria o suficiente
para acomodar os déficits das transações correntes;

 Déficit do governo Federal equivalia a 1/3 das receitas totais;

 Além da sustentação dos investimentos, o governo teve grandes gastos com a construção de Brasília e
com a manutenção da compra dos excedentes de Café;

 Inflação: 24,4% (1958);


39,4% (1959);
30,5% (1960).

 Final do gov. JK -> economia com forte crescimento; mudança do patamar industrial do país (maior densidade
industrial); Reflexos negativos: piora das contas externas e piora da inflação (consequências do
superaquecimento + gestão fraca das fontes de financiamento do Plano de Metas);

 Governo Jânio Quadros (1961)

 Jânio herdou uma economia mais complexa:

 Crescimento de 50% do PIB (entre 1956 – 1960); Crescimento da Indústria de 60% (mesmo período);
 Porém, com importantes desajustes macroeconômicos:

 Inflação: 11,8% (1955) => 25,4% (1960);


 Déficits sucessivos no Balanço de Pagamentos;

o Manutenção do uso de poupança externa para compensar a necessidade de divisas da emissão de


moeda para financiar os gastos;

o Os déficits no BP dificultavam a obtenção de empréstimos em moeda estrandeira. Porém, ainda era


necessário importar bens intermediários (ex: petróleo, cimento, etc).

o OBS: Os déficits no BP perduraram por cerca de 50 anos, chegando até o Plano Real;

 Superaquecimento da atividade econômica:

 Resultado de políticas expansionistas;


 Dificuldade de controles cambiais;
 Desequilíbrio externo;

 Gov. Jânio  Pacote ortodoxo de combate à inflação:

 Políticas ortodoxas  visavam à contenção dos gastos públicos com uma política monetária contracionista e
restrição da capacidade de concessão de créditos. O objetivo era “esfriar” a atividade econômica e reduzir o nível
geral dos preços (inflação);

 Medidas:

 Desvalorização do câmbio = consequente encarecimento das importações (o que evitou a perda de


divisas) + favorecimento dos produtos domésticos vendidos no exterior;

 Unificação mercado de câmbio (Instrução SUMOC 204) = fim do câmbio múltiplo de JK;

 Contenção gastos públicos = O montante de gastos do governo dentro de seu orçamento evitaria a
emissão de moeda, o que diminuiria a inflação;

 Política monetária contracionista = A adoção de uma política monetária contracionista (redução da


emissão de moedas) gera o aumento do preço do dinheiro (ou seja, aumento da taxa de juros), o que
gera uma nova acomodação do nível de preços;

 Encerramento alguns subsídios;

 Medidas bem recebidas pelo FMI, permitindo reescalonamento da dívida externa;

 O Brasil conseguiu captar novos empréstimos juntos aos EUA e à Europa;

o As medidas adotadas pelo governo sinalizavam que o país teria capacidade de pagar os novos
empréstimos;

o Porém, os planos foram encerrados com renúncia de Jânio Quadros (agosto/1961);


 Mudança Parlamentarista:

 Tancredo Neves assumiu como Primeiro Ministro; e Walter Moreira Salles, como ministro da Fazenda;

 1961:

 O PIB cresceu 8,6%, (ainda como reflexo da maturação dos investimentos da era JK);
 Mas a inflação piorou: 30,8% => 47,8% entre 1960 e 1961;

 Governo João Goulart (1961-1964)

=> Plano Trienal

 Publicação do Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico (dez/1962);

 Plano desenvolvido pelo economista Celso Furtado (destaque na CEPAL);


 Foco na retomada do crescimento econômico (em detrimento do plano ortodoxo de Jânio);
 Duas características principais:

 Melhorar os indicadores de inflação;


 Realizar reformas sociais;

 OBS: Vale lembrar que a contenção do aumento do nível dos preços (melhora os indicadores de inflação)
para retomar o crescimento econômico é uma política contraditória, pois o aumento dos preços reflete uma
economia aquecida.

“...contra a ortodoxia dos monetaristas, esposada e imposta pelo FMI, que era possível conduzir a economia com
relativa estabilidade sem impor-lhes a purga recessiva.”
-Celso Furtado

 Acreditava-se que a contenção dos gastos públicos e o controle do crédito (medidas do plano ortodoxo do
governo anterior) seriam maléficos para o Brasil, pois imporiam menores taxas de crescimento em um país
com potencial (o Brasil se modernizava, passava por um importante êxodo rural e já tinha questões sociais
relevantes). Logo, com o novo plano, o governo João Goulart buscou retomar o crescimento econômico de
forma mais sustentável, mesmo que, de modo contraditório, também buscasse diminuir a inflação.

 Objetivos do Plano Trienal

I. Garantir uma taxa de crescimento do PIB de 7% ao ano;


II. Reduzir a inflação, visando atingir a taxa de 10% em 1965;
III. Garantir o aumento do salário real à taxa da elevação da produtividade;
IV. Realizar a reforma agrária;
V. Renegociar a dívida externa;

 Embora fosse um plano ambicioso, acabou sendo frustrado devido à instabilidade política da época.
 Interpretação do problema da Inflação (por Celso Furtado);

 Teve origem com o excesso de gastos públicos. Logo, era necessário:

 Melhorar a arrecadação;
 Redução gastos públicos;
 Controlar o crédito;

 Estratégia de desenvolvimento econômico (por Celso Furtado);

 Necessidade aprofundar Processo de Substituição de Importações (PSI) em resposta ao


estrangulamento do setor industrial;

o Visto que, embora o Brasil já houvesse consolidado sua base industrial, ainda havia gargalos
relevantes de produção;

 Consolidação de um mercado doméstico mais forte via:

o Reforma agrária;
o Distribuição de renda;

 Necessidade alívio dos problemas no Balanço de Pagamentos;

 Missão Santiago Dantas a Washington - renegociação dos termos da dívida;

 Reescalonamento da dívida externa - ampliação dos prazos de pagamento, o que permitiria certa “folga”
na quantidade de divisas dentro da economia brasileira;

 Porém...

 Más relações com EUA => insucesso em obter empréstimos estrangeiros;

 Baixa receptividade do governo dos EUA à missão Santiago Dantas => fracasso;
o Pedido de US$ 600 milhões e liberação de US$ 84 milhões;

 OBS: A questão política influenciou no fracasso da missão (contexto: Guerra Fria, revoluções chinesa e cubana
etc). A ideia de proporcionar uma reforma agrária no Brasil, por exemplo, não agradou aos norte-americanos;

 Outros motivos:

o Lei de remessa de Lucros (1962), que limitava em 10% a remessa de lucros das empresas estrangeiras
no Brasil a suas matrizes (inclusive, empresas norte-americanas); Era uma forma de impedir o
escoamento de divisas;

o Independência da Política Externa - PEI (aproximação com Cuba por Jânio Quadros);

o Cancelamento de concessões de lavra da Hanna Corporation;

o Desapropriação dos bens da ITT (Brizola) – Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Brizola
estatizou empresas estrangeiras, dentre as quais, a norte-americana International Telephone and
Telegrap (ITT);
o Brasil reatou relações diplomáticas com União Soviética;

 Diante do fracasso da missão internacional, João Goulart abandonou a ortodoxia do ajuste da inflação;

 OBS: Lembrando que a ortodoxia quanto à inflação dizia respeito ao excesso de gastos públicos e ao controle
“frouxo” da concessão de créditos;

 Diante do fracasso da missão, João Goulart buscou maior apoio dentro do país. Medidas:

 Aumentou em 60% os salários do funcionalismo público;

 Reajustou o salário mínimo em 56%;

 Resultado: piora dos indicadores macroeconômicos:

 Descontrole das contas públicas;

 Déficit no balanço de pagamentos; e

 Aceleração da inflação;

 Radicalização política no país;

 Reformas de Base (agrária, universitária e do capital estrangeiro) vs Marcha pela Família com Deus pela
Liberdade (base conservadora);

 Movimento interno nas forças armadas;

 Golpe militar de 31 de março de 1964;

 OBS: As tentativas de retomada de planos econômicos no contexto do Estado Democrático fracassaram, como
reflexo da instabilidade política que perdurava desde meados dos anos 1950 no país;

 A vitória de Jânio Quadros pressupunha uma mudança de rotas quanto aos dois malefícios macroeconômicos
oriundos do Plano de Metas de JK, o déficit em transações correntes e a inflação. Todavia, o Plano Trienal acabou
sendo contaminado pela polarização política, que impediu a obtenção de divisas junto aos EUA.

“A tragédia dos últimos meses do governo Goulart pode ser apreendida pelo fato de que a resolução dos
conflitos pela via democrática foi sendo descartada como impossível ou desprezível por todos os atores políticos. A
direita ganhou os conservadores moderados para sua tese: só uma revolução purificaria a democracia, pondo fim à
luta de classes, ao poder dos sindicatos e aos perigos do comunismo.”

(Boris Fausto em Giambiagi - Economia Brasileira Contemporânea);


Conclusões de todo o período analisado (1956 a 1963)

 Dois subperíodos bem demarcados: 1956-60 (JK) vs 1961-64 (Jânio e Jango):

1) Plano de Metas (JK):

 Plano de Metas: virtuosa combinação => crescimento acelerado + transformação estrutural + liberdades
democráticas;

 Sucesso como reflexo das missões que diagnosticaram os gargalos da economia do país;
 Plano muito bem desenhado, cujo foco foi a consolidação da matriz industrial do Brasil;
 Crescimento econômico acelerado e mudança estrutural da economia dentro do ambiente
democrático;
 Porém, fracasso quanto ao financiamento do grande projeto (o qual se transformou em problemas
inflacionários e na balança de pagamentos, que foram herdados pelos governos posteriores);

 OBS: Deve-se levar em consideração que a economia já era bastante modernizada do ponto de vista de estrutura
produtiva, mas havia problemas institucionais a serem resolvidos. Era difícil executar um plano de investimentos
do porte do Plano de Metas com o precário sistema tributário da época, e com um sistema monetário em que o
BB era tanto emissor créditos quanto de controlador da inflação (dado que a SUMOC era subordinada a ele);

 Destaques do Plano de Metas:

 Entregou grande parte de seus objetivos; Porém:


 Gerou agravamento da concentração regional (mesmo com Brasília), pois, era omisso com relação à
agricultura e à educação;
 Macroeconomia do homem cordial => possibilidades ilimitadas de crescimento, ignorando-se aspectos
essenciais (ausência de restrições; ênfase na vontade política; e desprezo pela inflação, por exemplo);
 Deixou a parte ruim dos “50 anos em 5” => inflação, déficit público elevado, deterioração contas externas;

2) Jânio e Jango:

 Difícil avaliação:

 Herdaram um cenário macroeconômico difícil;


 Porém, também herdaram uma economia muito maior e mais complexa;
 Fracasso: Instabilidade política e golpe militar;

 Jânio Quadros -> Política ortodoxa durante 8 meses; renúncia;


 João Goulart -> Plano Trienal (desenhado junto com Celso Furtado); objetivos contraditórios: manter o
crescimento e controlar a inflação; mudanças nas relações diplomáticas e forças políticas;

o Evidente necessidade de se reforçar as bases políticas internas para organizar a economia;

 LEITURAS:

Leitura obrigatória: BAUMANN, R. (2016). Capítulo 4, item 4.6, 4.7; GREMAUD, A.P; VASCONCELLOS, M. A.S; TONETO
JUNIOR, R (2007), capítulo 15
Leitura complementar: GIAMBIAGI, F; BARROS DE CASTRO, L., VILLELA, A.A., HERMANN, J. (2016). Capítulo 1, 2
Leitura avançada: ABREU, M.P (2014), capítulo 6, 7, 8

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