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ECONOMIA

HISTÓRIA ECONÔMICA BRASILEIRA


PROFESSOR: ANDRÉ DIZ
OBJETIVO DA AULA: Discutir os avanços industriais ao longo dos anos 50 e o desenvolvimento de diagnósticos
setoriais sobre o processo de industrialização e apresentar as características do Plano de Metas e seus efeitos sobre
a industrialização da economia brasileira.
PONTO DO EDITAL ABORDADO: 4.4;

AULA 04

As décadas de 1940 e 1950:


O Plano SALTE; O Plano de Metas
O pós-guerra e a Nova Fase de Industrialização

 Lembrar  Industrialização (modelo ISI):

• Industrialização por substituição de importações a partir de da Crise de 1929 + Economia cafeeira;

 Política de defesa do café;


 Taxas de câmbio como forma de reduzir o estrangulamento externo;

o Governos da época (sobretudo Vargas) responderam com a depreciação cambial (desincentivo às


importações + aumento, em moeda doméstica, da receita do setor do café);

o Resultado: aumento da inflação (demanda interna aquecida sem a concorrência dos produtos
internacionais);

o Inflação + taxas de câmbio distintas para importação de bens de consumo e bens de capital =>
rentabilidade do setor industrial (que absorveu boa parte da poupança do setor cafeeiro);

o Crescimento industrial abrupto (sobre o setor agropecuário) + café;

o Essa foi a “receita” para que o Brasil se industrializasse definitivamente (de forma sustentada);

Fase de Transição da Economia


(anos 1940 até meados dos anos 1950)

Próximas
Aulas aulas:
Transição Econômica
passadas:
Plano de
Consolidação Metas; I e II
da oligarquia PNDs;
cafeeira;
 1930-1954  Crescimento do PIB; Menor inflação (em comparação ao período posterior); Aumento da
renda per capta;

 Mudança do centro dinâmico da economia (vimos a dinâmica econômica desse processo; nesta aula,
veremos as dinâmicas práticas dessa relação);

 Rápido crescimento da urbanização (sobretudo, no sudeste);

 IMPORTANTE  Evolução do processo

 A industrialização foi o objetivo central durante 80 anos:

• Até 1929: mudança de modernização da economia;


• De 1930 -1954: industrialização - consolidação do novo modelo;
• Até 1979: continuidade da consolidação com Plano de Metas, I PND e II PND);

 A partir dos anos 1980, a temática central da economia brasileira mudou para a hiperinflação (mantida nos
anos 1990, encerrada com o Plano Real);

• A industrialização não era mais a pauta da economia brasileira. O desafio passou a ser o de
compatibilizar o crescimento do balanço de pagamentos com o sistema de hiperinflação;

Anos Getúlio Vargas: Transição


 Vargas propunha a:

“...criação de fóruns onde diversos representantes da sociedade fossem integrados em sistemas corporativos capazes
de expressar suas demandas sem contestar a autoridade instituída...”

 Força de Vargas: Integração entre elite cafeeira e a burguesia industrial (para atender às demandas de
ambas) + transformação econômica => estabilidade política;

 Prioridade do governo Vargas: Industrialização (como resposta aos gargalos da Segunda Guerra Mundial);
 Política econômica + estratégias políticas => o governo avançando sobre a estratégia de industrialização
(diferente da industrialização desconectada que ocorria até 1929);

 OBS: as políticas do café (até 1937) não tinham o objetivo de auxiliar a industrialização. Foi uma
consequência. Mas, a partir do Estado Novo, a industrialização passou a ser prioritária (após a II GM);

 Principais ações na Era Vargas:

 Restringiu as exportações;

 Elevou a escassez de combustíveis e de bens de capital;

 Criou órgãos, institutos e fóruns de debate para a consolidação da indústria (1930 – 45):

o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; o SUMOC (gestão monetária);


o Conselho Nacional do Café; o SENAI / SESI;
o Ministério da Educação e Saúde Pública; o CLT;
o Instituto do Açúcar e Álcool; o CSN / CVRD / CHESF;
o Conselho Federal do Comércio Exterior;
o Departamento Administrativo do Serviço Público A partir de 1950:
(DASP);
o Instituto Nacional de Estatística; o Petrobrás;
o Código de Águas / Código de Minas; o Eletrobrás;
o BNDE;
o Banco do Nordeste;

 Esses órgãos formalizaram a modernização da estrutura da economia já industrial (organizaram os interesses


das elites);

 OBS: Já o PAEG de 1964, representaria a transformação funcional da gestão econômica;

De 1930 a 1937:
Política econômica conservadora

 Principais preocupações (para a sobrevivência da economia brasileira frente à Crise de 1929):

• Estabilidade monetária; Equilíbrio Orçamentário; Contenção Despesas;

o Havia preocupação do ponto de vista fiscal, dados os gastos com a defesa do setor do café;

o Em relação à estabilidade monetária e ao equilíbrio orçamentário, o Banco do Brasil tinha um


papel fundamental;

• Equilíbrio do Balanço de Pagamentos (via defesa do café / restrição das importações);

• Ascensão dos interesses de classe;


o Crescimento das burguesias industrial e do café, já bem estruturadas;

• Atuação do Conselho Federal de Comércio Exterior e da Comissão de Planejamento Econômico; 


Estado como agente de conversão de interesses econômicos;

Estado Novo:
Política econômica “desenvolvimentista” ou “nacionalista-corporativista”

 Mudança significativa  o Estado agora atuava como indutor do crescimento, e não apenas como organizador
das contas para enfrentar a crise;

 Vargas Promoveu:

• De forma Indireta  manipulação de impostos; controle câmbio e das importações; concessão de crédito;

• De forma Direta  investimento público em ferrovias, navegação, petróleo e aço;

OBS: Controvérsia pioneira  Roberto Simonsen vs Eugênio Gudin:

 Texto: “Simonsen vs Gudin, a controvérsia do planejamento na economia brasileira” (link na bibliografia):

 Debate (iniciado na Era Vargas, mas ainda atual) sobre se o crescimento da economia deveria ser acoplado à
economia internacional ou se ele deveria ser sustentado por um processo nacional de desenvolvimento;

o Planejamento vs Liberalismo; ou
o Modernidade (indústria) vs Produtividade (divisão internacional trabalho); ou
o Protecionismo (indústria nascente) vs laissez-faire; ou
o Modelo dos EUA vs Modelo da Argentina;

 Simonsen representava os industriais paulistas. Para ele, o governo deveria adotar o protecionismo (uase que
fechar as fronteiras para a importação de bens), além de ceder créditos para consolidar a indústria. Desse modo,
o Brasil poderia se consolidar e participar da economia mundial;

 Gudin, pensando no liberalismo econômico (laissez-faire), acreditava que o Brasil deveria focar na atividade mais
forte (comparativamente), não forçando a participação em setores em que o país não tivesse força. Desse modo,
o desenvolvimento seria consequência da integração com o comércio internacional;

 Essa discussão existe até hoje;

 Aproximação Brasil - EUA:

 Consultorias de órgãos norte-americanos a partir da observação da industrialização brasileira:

 Missão Cooke (1942);


 Missão Abbink (1948);
 Formação da Comissão Mista Brasil – EUA (1951);
 Missão Cooke:

o Interesse dos EUA no crescimento brasileiro => parceria (relação ganha-ganha);

 Missão norte-americana de cooperação técnica  Identificação dos gargalos do desenvolvimento econômico


brasileiro; O Brasil ainda não tinha um órgão para a compilação dos dados;

 Resultou (apenas) na realização de um diagnóstico global da economia brasileira importante para o


planejamento econômico;

o Gargalos fundamentais: produção, transportes, combustíveis, energia, metalurgia, indústria química, etc;

 Necessidade consolidar a indústria e reduzir dependência externa;

“A industrialização do país, sábia e cientificamente conduzida, com um melhor aproveitamento de seus


recursos naturais, é o meio que a Missão aponta para alcançar o progresso desejado por todos”.

Efeitos da 2ª Guerra Mundial sobre a economia brasileira

 Demanda doméstica aquecida (motivo: economia em crescimento industrial);

 Mudança do centro dinâmico da economia: do café para a indústria => ↑demanda;

 Aumento dos Investimentos (motivos: gargalo de importações; Investimento público)

 Superávit do Balanço de Pagamentos (devido aos gargalos de importação) => US$ 600 milhões;

 As indústrias de bens de consumo dos países envolvidos mais diretamente na II GM foram convertidas
em indústrias bélicas. Logo, era difícil conseguir importar tais bens das economias centrais. Grande
parte dos bens de consumo poderiam ser produzidos internamente => incentivo à indústria brasileira,
que, devido ao conflito, não tinha muitos concorrentes => Superávit (↑ exportações; ↓ importações);

 Bretton Woods (1944) =>criação do sistema padrão-ouro – dólar => expansão da oferta moeda

 Resultado: inflação (20% ao ano);

 OBS: A aproximação das economias brasileira e norte-americana se consolidou com a entrada dos EUA na
guerra (1941);

O pós- II Guerra

 Contexto:

 Economia mundial  lenta transição aos princípios liberais (Bretton Woods);

o Reconstrução da Europa; Economia relativamente organizada a partir de Bretton Woods (criação do Banco
Mundial e do FMI);
 Economia brasileira  fim do Estado Novo e início governo Dutra;

 Lembrar: Estado Novo  Estado atuando como indutor da industrialização (via captação dos interesses da
elite); Modernização da economia (encerrada em 1945);

 Transição econômica (síntese em 2 aspectos):

 Modelos de política econômica em disputa


 Desenvolvimento industrial com (Simonsen vs Gudin):
crescente participação do Estado;
 Modelo revolucionário concreto (com a
CSN, CVRD) e político (o “povo” como classe
 Controles cambiais e das importações; política relevante -> governo Vargas);

 Aparato regulatório no ambiente VS  Indução estatal direta;


econômico (empresas estatais);
 Modelo liberal-conservador (da UDN);

 Base: o Estado não deveria induzir o


crescimento econômico; o Brasil deveria
participar do comércio internacional com
aquilo que domina;

 A política econômica do período foi marcada:

 Por essa disputa política e de entendimentos;


 Pelas restrições de ordem interna e externa;

Governo Dutra
(1946-1950)

 Política econômica delimitada por 2 marcos relevantes:

i. Mudança na política exterior (adoção sistema de contingenciamento das importações) – 1947-48;

 Política mais ortodoxa (mais liberal)  Estado gasta menos; menos intervenções; preocupação com
questões fiscais etc;

ii. Afastamento de Correa e Castro (Ministro Fazenda), indicando uma economia menos ortodoxa (mais
flexibilidade nas metas fiscais e monetárias);

 Mais flexibilidade de crédito, nos gastos; Menor controle das questões cambiais; ou utilização desses
instrumentos (concessão de créditos/ gastos do governo) para acelerar o desenvolvimento
econômico;
 O entendimento do governo era de:

 Haveria rápida reorganização da economia mundial (Bretton Woods + final da Guerra);


 A política liberal de câmbio atrairia investimentos estrangeiros;
 Havia expectativa de aumento dos preços do café (fim do teto de preços, em 1946, no mercado americano);
 Portanto, o cenário era de confiança no desempenho do setor externo;

 Ou seja, reduzir as intervenções do governo = traria benefícios, pela atração de investimentos =>
desenvolvimento;

 Logo, a percepção (na primeira metade do governo Dutra) era a de que o foco deveria ser combate à
inflação (déficits orçamentários => políticas econômicas contracionistas);

 Enquanto o Estado Novo foi marcado pela atuação estatal intensa sobre a economia, a primeira parte do
governo Dutra, por outro lado, foi caracterizada pelo de recolhimento do estado, cujo foco foi
direcionado à inflação;

o OBS: Essa mesma perspectiva foi aplicada no II governo Vargas;

 Ou seja, acreditava-se que o governo deveria apenas fazer “a lição de casa” e não criar novos órgãos ou
intervir de outras formas para induzir o crescimento. Era necessário apenas controlar os indicadores
macroeconômicos, pois, a economia retornaria à normalidade naturalmente (e, consequentemente, o
crescimento econômico brasileiro);

 Porém, esse entendimento foi frustrado, obrigando a troca de estratégia na segunda parte do governo Dutra;

 Governo Dutra  Política Externa:

Fase 1:
Relaxamento dos controles cambiais

 Os controles cambiais existiam desde os anos 30

 Lembrar do regime de câmbios múltiplos (discutido na aula passada) cujos objetivos eram conter a
pressão sobre o balanço de pagamentos e viabilizar a industrialização;

 Nesse contexto, acreditava-se que o relaxamento dos controles cambiais elevaria as importações (dada uma
valorização real da taxa de câmbio devido à alta inflação doméstica);

 Em outras palavras, acreditava-se que a inflação alta geraria uma apreciação da taxa de câmbio, e que,
portanto, os preços internacionais cresceriam a uma velocidade inferior aos preços domésticos,
tornando as importações relativamente mais baratas;

 Desse modo, haveria: ↑ Demanda por bens de capital e por bens intermediários;
 De modo a forçar a ↓ dos preços industriais (expansão do setor);
 ↑(atraindo) ingresso de capitais;

 Porém, a estratégia estava equivocada, pois houve uma má avaliação do nível de reservas cambiais do país
que era muito pequena;
 OBS: embora o Brasil não tenha tido problemas no balanço de pagamentos ao longo da II GM,
principalmente dada a dificuldade de importação e pelo processo de substituição de importações, o país
tampouco tinha recursos de geração de divisas internacionais significativas, dado o baixo crescimento das
exportações no período;

 Desse modo, as restrições externas não estavam superadas (como imaginado);

 Ou seja, o Brasil ainda dependia ou do ingresso de capitais internacionais via investimentos, ou via
crescimento das exportações;

 Assim, o relaxamento dos controles cambiais gerou (rapidamente) problemas no balanço de pagamentos;

 Logo, a desvalorização do câmbio não era uma opção (limite dessa política):

 O câmbio segurava os preços do café (evitando aumento da oferta internacional);

 Geraria aumento dos preços dos importados (resultando em impactos sobre a inflação, que seria
retroalimentada);

 Restava retomar os controles cambiais e de importação (volta a uma maior intervenção estatal na economia
para conter os problemas do balanço de pagamentos);

Fase 2:
Retomada controles cambiais

 Opção pelos controles cambiais e de importações:

 Imposição de licença prévia para importações;

o Não haveria oferta de divisas para qualquer tipo de importação.

 O câmbio seria liberado pelo Banco do Brasil após aprovação (exigia-se a avaliação prévia do Banco):

 Essa medida gerou um efeito positivo indireto sobre o setor industrial (embora não tenha sido uma política
deliberada de crescimento da indústria);

o Ao dificultar a entrada de produtos importados, indiretamente, a indústria nacional passou a ser


protegida. Porém, isso gerou uma externalidade: maior dificuldade de se combater a inflação, pois a
produção doméstica passou por aumentos dos preços;

o A preocupação continuava a ser o combate à Inflação;

 Resultados da retomada dos controles cambiais: redução do déficit no balanço de pagamentos:

 1947 => US$ 313 milhões;


 1948 => US$ 108 milhões;
 1949 => superávit de US$ 19 milhões;

Em resumo: Política econômica externa de Dutra  1ª fase mais liberal; 2ª fase mais intervencionista (via controle
de câmbio);
 Governo Dutra  Política Interna

Fase 1:
Ortodoxa
 Até 1949:

 Visou ao combate à inflação (11% em 1945; 22% em 1946);

 Para combater a inflação: adoção de uma política monetária contracionista;

o Menor oferta de créditos; taxas de juros mais altas;

 Política fiscal austera

o Objetivo de reduzir déficits orçamentários dos últimos 20 anos;

 Resultado  Inflação reduzida para 2,7% em 1947; e para 8,0% em 1948;

Fase 2:
Fim da austeridade

 Proximidade das eleições  fortalecimento político: fim da austeridade para garantir maior crescimento
econômico antes das eleições;

 Expansão da indústria (controle de câmbio + efeito câmbio) => expansão do crédito;

 Resultados:

 Geração déficits no orçamento público;


 Expansão monetária;
 Inflação elevada para 2 dígitos  12,3% em 1949; 12,4% em 1950;

Marca do governo Dutra  Plano SALTE

 OBS: Continuidade do “planejamento econômico” do Estado Novo;

• 1937: Plano Especial de Obras Públicas e Defesa Nacional;


• 1943: Plano de Obras e Equipamentos;

 Plano SALTE (1948):

 Muito influenciado pela Missão Cooke de 1942 (identificação de gargalos econômicos do Brasil);
 Parte da percepção de que o Estado deveria atuar na economia;
 Plano ordenado para o período 1949-1953;
 Coordenação de gastos públicos pra atender setores de  Saúde; Alimentação; Transporte; Energia elétrica;
 Era limitado pela dificuldade de financiamento;
 OBS: O Plano Salte foi a única medida de intervenção planejada para o desenvolvimento entre o período de
1946 – 1950;

 Pilares  Saúde, Alimentação, Transporte e Energia:

 Saúde: alta taxa de mortalidade infantil; necessidade de leitos hospitalares, profissionais adequados
(médicos e enfermeiros para atender uma população cada vez mais urbanizada) etc;

 Alimentação: necessidade de aumento da oferta agrícola, de assistência técnica, da concessão de


crédito para esse setor, etc;

• O fator trabalho, dependente de saúde e alimentação, era fundamental para o crescimento da


economia;

 Transporte: necessidade de criar uma estrutura logística com aparelhamento de portos, construção de
rodovias e ferrovias, etc;

• A falta de integração, em um país de proporções continentais, tornava difícil a dispersão da


produção (muito concentrada na região sudeste);

 Energia: necessidade de criação de um plano nacional de eletrificação e energia elétrica; barateamento


de outras fontes de energia, etc;

o Investimento do Setor Privado  Contava com parte importante dos investimentos do setor
privado;

o Dica: Leitura do artigo da FGV (CPDOC) disponível na bibliografia;

 OBS: Nos diagnósticos realizados pelos norte-americanos, os temas do transporte energia sempre apareciam. O
Plano de Metas, aplicado posteriormente por JK, além do II PND de Geisel, priorizaram esses pilares;

 Porém, embora o diagnóstico tivesse sido bem articulado (em relação aos pontos de gargalos identificados), o
Plano Salte era inviável na prática, pois questões relacionadas ao orçamento e ao tamanho da economia não
foram bem trabalhados no desenho do plano;

“...depois de estudar e debater amplamente o Plano Salte, chegara à conclusão de que esse trabalho, embora
inspirado nos melhores propósitos, não apresentava condições de exequibilidade, pelo menos nos termos em que
[fora] proposto”

“os investimentos e serviços governamentais previstos no Plano Salte seriam financiados pelo produto da
receita ordinária da União, por um empréstimo de divisas contraído pelo Banco do Brasil, por uma operação de
crédito interno sob a forma de emissão de obrigações do Tesouro e, finalmente, por parte da receita do Fundo
Rodoviário Nacional e da Contribuição de Melhoria (quota pertencente à União).

 Embora a ideia inicial fosse a de atrair o investimento privado para executar o Plano Salte, seria necessário
recorrer a gastos públicos, o que contribuiria para uma nova desorganização fiscal da economia,
principalmente levando-se em consideração que o sistema de crédito ainda era arcaico (só foi modernizado no
PAEG, de 1964);

 Logo, seria um grande desafio sustentar o Plano, que acabou sendo extinto na administração Café Filho;
II Governo Getúlio Vargas
(1951-1954)

 Se no primeiro governo Vargas a política econômica tenha sido mais ortodoxa (preocupações com a inflação -
estratégias de contensão fiscal e limitação do crédito para contê-la), baseado nos princípios de Bretton Woods, o
segundo governo, por outro lado, foi marcado tanto pela necessidade de conter a inflação, quanto pela
aceleração dos investimentos públicos para o crescimento econômico;

 Contexto (macro) econômico:

 Ambiente inflacionário (desequilíbrio das contas do Governo, devido aos investimentos no Plano SALTE);
 Melhora nos preços do café;
 Expectativas de crescimento de investimentos estrangeiros (EUA) no Brasil;

o Esperava-se que os norte-americanos financiassem os projetos de correção dos gargalos da economia


brasileira

 Ou seja, Vargas não se preocupou tanto com o crescimento econômico, pois contaria com o
financiamento externo;

o Criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU);*


o Proposta de projetos conjuntos com financiamento do Eximbank e Banco Mundial;

 Porém, como a questão da inflação era um grande problema macroeconômico, já que retornava a altos
patamares, coube ao governo, inicialmente, estabilizar as contas para depois proporcionar o crescimento
econômico (lembrando que o Plano Salte, iniciado no governo anterior, tinha previsão para ser concluído em
1953, mas o plano falhou, pois o Brasil não recebeu dos EUA o apoio esperado);

 OBS: CMBEU*:

• Fundamental como forma de financiamento do desenvolvimento aos gargalos de infraestrutura


(energias, portos e transportes);

• Caminho para atração de novos investimentos, dada a expectativa de crescimento econômico (com o
fim desses gargalos);

 Vargas tinha um projeto de governo bem definido (até como forma de consolidação do CMBEU);

• Fase 1: estabilização da economia (política contracionista);


• Fase 2: implantação dos projetos (favorecidos pela aproximação aos EUA);

 Estabilização da Economia (controle inflacionário):

 Políticas econômicas contracionistas foram realizadas para a reduzir o déficit e controlar o crédito;
 A inflação persistia em 2 dígitos, apesar dos esforços de contração (12,3; 12,7%, entre 1951-52);
 O PIB real cresceu 4,9% e 7,3% nesse período (1951-52);
 Contexto externo positivo:

 Boa relação com EUA;

 Melhora do preço do café (desde agosto 1949) => Balanço de pagamento brasileiro em uma
posição relativamente positiva (↑do recebimento de divisas via bom desempenho dos preços,
mesmo quando havia ↑ da quantidade exportada);

Grande erro de Vargas

 Flexibilização de controles cambiais (e de licenças importação):

• OBS: Dutra adotou a mesma estratégia, mas recuou. Vargas cometeu o mesmo erro de leitura de que a
situação externa já havia sido resolvida, e, portanto, o foco deveria ser a economia doméstica;

 O objetivo de Vargas era combater o aumento preços domésticos

o A flexibilização abriria a economia, expondo-a à maior concorrência com a economia internacional,


e, desse modo, reduziria os custos de importação, o que refletiria na diminuição dos preços
domésticos;

 Funcionamento  adoção de taxas de câmbio distintas para exportações e importações;

o Taxa de câmbio mais depreciada para as exportações, e mais apreciada para as importações;

 Resultado:

 Grave crise do Balanço de Pagamentos => crise cambial  Forte aumento das importações (70%) +
piora exportações;

Crise cambial (esgotamento de divisas):

 Contexto de alto volume de atrasados comerciais pelo Brasil, cujo pagamento gerou pressão sobre as divisas
(esgotamento das divisas internacionais do país);  Piora da relação com os EUA;

 Vitória de Eisenhower nos EUA => Fim financiamentos da CMBEU;

o Dificuldade de renovação do crédito junto ao Eximbank;


o Resultaram em interrupção do financiamento externo;

Fim das divisas internacionais + fim do financiamento externo

Resposta à piora do cenário econômico (e às pressões políticas e sociais):

 Abandono da ortodoxia;
 Reforma ministerial em 1953

 Ministério da fazenda (Osvaldo Aranha no lugar de Horácio Lafer; Jango para Ministro do Trabalho);

o OBS: Osvaldo Aranha: tinha visão ortodoxa da inflação  solução via ajuste cambial;

 Instrução 70 (SUMOC): outubro/1953

o Visava: Medias antiinflacionárias;


o Controle do déficit público;

 Importações
(ações advindas da instrução 70 da SUMOC)

 Restabelecimento do monopólio cambial do Banco do Brasil

• Visto que, até aquele momento, outros agentes bancários também podiam realizar o comércio de
câmbio, o que dificultava o controle do governo;

 Extinção controle quantitativo das importações;

 Leilões de câmbio (para otimizar o uso das divisas da economia, que estavam escassas);

• Importações classificadas em 5 níveis de essencialidade (I ao V);


• A oferta de moeda era alocada pra cada nível pela autoridade monetária;
• Quanto menor a essencialidade, maior o sobrepreço nos leilões;

 SUMOC  Adoção de 3 tipos de câmbio para importações:

i. Taxa oficial sem sobretaxa (trigo, papel, etc.);


ii. Taxa oficial com sobretaxa fixas (importações do governo);
iii. Taxa oficial com sobretaxas variáveis (via leilões para demais importações);

 As taxas múltiplas funcionavam como controle para importações => controle da balança comercial + proteção
de alguns setores industriais;

 Exportações:

 Bonificação em Cr$ para cada unidade de US$;

Ou seja, para resolver a questão cambial estratégia: dificultar as importações e favorecer as exportações:

Importações -> dificultadas pelo controle cambial, para manter as divisas internamente;
Exportações -> bonificação, em cruzeiro qualquer exportação em dólar como forma de incentivo às exportações;
 Porém, os ajustes foram insuficientes:

 Pelo lado fiscal:

• Dificuldades em gerar política austera (obras públicas, abonos funcionalismo público);  pressões
políticas e sociais;

• Necessidade de manter as obras no setor elétrico, financiados via Fundo Federal Eletrificação
(primeira fonte recursos fiscais de alcance nacional);

 Resultado (Desempenho da economia):

 PIB: 1953 => alta de 4,7% (menor variação desde 1947);

o Indústria => cresceu (+ 9,3%);

o Agricultura => cresceu pouco (+0,2%, devido à seca do nordeste);  contração da oferta de alimentos ( =
inflação da oferta);

o Estagnação setor de serviços => baixa importação (comércio)

 Inflação: + 20,5%;

• Explicação 1  devido ao descontrole das contas públicas (visão ortodoxa);

 Dificuldades em conter gastos, dada a proximidade do governo Vargas com os setores


fundamentais;

• Explicação 2  devido às desvalorizações cambiais decorrentes da instrução da Sumoc

 Elevou os custos das empresas importadoras de insumos brasileiras (ou seja, houve repasses de
preços e a consequente dificuldade de contensão deles);

1954: Novas dificuldades

 Café  aumento dos preços internacionais e boicote importadores americanos;


 Salários  debate sobre qual deveria ser o patamar de reajuste do salário mínimo (setores pediam: 100% vs
53% vs 33%);

 Respostas:
• Manifesto dos coronéis (pressão do exército, descontente com deterioração dos salários);
• A instabilidade política aumentou;
• Vargas resolveu que o reajuste seria de 100% (contra FIESP, oficiais do exército, Conselho Nacional de
Economia, pois aumentou a inflação);

 Desfecho trágico:

 Atentado da rua Tonelero (Vargas foi acusado);


 Suicídio de Vargas;
 Atenção: não houve dificuldades de crescimento econômico nesse período, pois o PIB continuava a crescer.
As grandes questões foram: inflação e instabilidade política e social;

Café Filho
(1954-1955)

 1955: grave situação cambial:

 Redução exportações;
 Vencimentos em moeda estrangeira de curto prazo;
 Eugênio Gudin (Liberal)como Ministro da Fazenda;
 Programa de estabilização bastante ortodoxo:

o Poucos gastos do governo, contenção de créditos, pouca intervenção na economia etc;

 Porém, o rápido esfriamento da economia gerou:

• Falta de liquidez;
• Falências e concordatas;
• Queda de 15% da formação de capital fixo - FBKF (montante de investimento –> principal variável
macroeconômica de crescimento econômico);

Segunda metade dos anos 1940 e meados dos anos 1950

 Governo Dutra (1946-50);  Duas fases distintas;


 II governo Getúlio Vargas (1951-54);  Duas fases distintas;
 Governo Café Filho (1955)  1 fase (ajustes ortodoxos);

 OBS: a inflação persistia desde a metade do governo Dutra; O problema cambial surgiu em 1952 (a partir
da liberação cambial permitida por Vargas);

 Balanço e Conclusões (em comparação aos anos 1930):

Forte expansão do PIB;


Pressões inflacionárias;
Aumento da taxa média de investimento da economia (indústria + governos);

o Indústria performava bem (já consolidada como centro dinâmico);

 Aceleração do processo de Substituição de Importações (queda 42% importações industriais +


crescimento 40% produção nacional) entre 1952-56;

o Redução da dependência das importações;


 Principal legado:

 Reforço no processo de industrialização via Substituição de Importações

o “Vitória” do nacional estatismo  forte crescimento econômico induzido pelo Estado;


o Vale, BNDE, Petrobras etc;

Recomendações do professor:

 Pesquisar mais detalhes sobre

A instrução 70 da SUMOC;
Eventuais fontes de financiamento mais específicas do Plano SALT;
Outras medidas adotadas por Gudin no governo café Filho;

 Entender os principais aspectos da aula:

 Marcos da trajetória brasileira em termos de crescimento:

 Continuidade do processo de industrialização;


 Crescimento econômico;
 Crescimento urbano;

 Marcos da trajetória brasileira em termos de crise (anos 1940, 1950 e 1950):

Inflação em 3 dígitos + problemas de balanço de pagamentos;


Auge: virada dos anos 1970 e 1980;

 LEITURAS:

Leitura obrigatória: BAUMANN, R. (2016). Capítulo 4, item 4.6, 4.7; GREMAUD, A.P; VASCONCELLOS, M. A.S; TONETO
JUNIOR, R (2007), capítulo 15;

O Desenvolvimento Econômico sob Getúlio Vargas (Fábio Sá Earp); Disponível em:


<https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/11914/2/F%C3%A1bio%20S%C3%A1%20Earp%20e%20George%
20Kornis%20-%20O%20desenvolvimento%20econ%C3%B4mico%20sob%20Getulio%20Vargas_P.pdf>

IPEA: Simonsen vs Gudin, a controvérsia do planejamento na economia brasileira. Disponível em:


<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=5620>

Plano Salte <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/plano-salte>

Era Vargas <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/artigos/EleVoltou/PoliticaCambial>

Leitura complementar: GIAMBIAGI, F; BARROS DE CASTRO, L., VILLELA, A.A., HERMANN, J. (2016). Capítulo 1, 2;

Leitura avançada: ABREU, M.P (2014), capítulo 6, 7, 8;

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