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Investimento em Ações Para

Leigos

Aprenda a investir do zero e construa


um grande patrimônio para a vida

Bruno Caetano
Todos os Direitos Reservados © 2018

Índice
Introdução e Aviso
Prefácio
Parte 1 : Por que investir em ações?
Esqueça o que você acha que sabe sobre ações
Um pouco de dados
Parte 2 : Introdução ao Mercado de Ações
De volta às origens
Nadando com os tubarões - como o mercado de ações deveria ser visto
Investindo como nossos pais... só que melhor!
Sobre os ombros de gigantes
Parte 3 : O que é bom saber
O técnico e o fundamentalista
Os Tipos de Ações
Eventos societários
Indicadores Fundamentalistas
Parte 4 : Investindo em Ações
O passo a passo
Ações e o Imposto de Renda
Separando o joio do trigo
Concluindo

ntrodução e Aviso
Eu não sou um analista da bolsa. Sou um cidadão comum. Desses
que acham que trabalham bastante e pagam muita conta. Desses que
cansaram de esperar a prosperidade brotar como num passe de mágica e
cair no colo. Por isso eu resolvi aprender como ganhar dinheiro. Fui a fundo
para entender como funciona o mundo do jeito que ele é hoje, e acho que
talvez eu tenha aprendido alguma coisa.

As páginas que se seguem são a minha humilde contribuição para


quem quer aprender como investir no mercado de ações. Tentei trazer aqui
as minhas ideias sobre investimento e tentei cobrir todo o básico que
alguém precisa saber para investir de forma segura e construir um bom
patrimônio.

Ao longo do livro eu utilizo vários exemplos de empresas e suas


ações na bolsa para explicar os conceitos. Nenhum desses exemplos
configura uma indicação explícita de qual empresa investir. Utilizei estes
exemplos apenas por acreditar que a prática sempre é mais clara do que
qualquer teoria.

Aproveite o que vem a seguir, e boa leitura!

refácio

Horário de almoço no trabalho. Depois de comer e pensar um pouco


sobre "o mundo lá fora", volto para a minha mesa ainda sentindo aquela
maré alcalina pós prandial ou, em bom português, aquele sono típico que
vem após a refeição. Me imagino deitado em uma rede na beira da praia,
mas essa imagem logo desaparece e eu volto para onde estava - minha mesa
de trabalho.
Faltando alguns minutos para voltar às minhas obrigações, resolvo
acessar a página de um conhecido portal de notícias sobre economia e
mercado e algo chama minha atenção - um jovem analista de uma famosa
corretora ensina como transformar mil reais em um milhão, trabalhando
apenas 1 hora por dia!
Parece mágica. Em um vídeo com duração inferior a 30 minutos,
recém lançado e já com mais de 5 mil acessos, ele apresenta uma estratégia
baseada em operações de day trade com o Ibovespa Futuro (se você não
entendeu essa parte, fique tranquilo. Por ora, basta saber que se trata de
operações de especulação no curtíssimo prazo). A cada operação bem
sucedida o dinheiro é reinvestido até se acumular em uma fortuna,
ultrapassando a marca de 1 milhão de reais no décimo terceiro mês.
Diante dessa fabulosa apresentação, duas dúvidas me deixaram
pensativo:
1) Com uma estratégia incrível como essa em mãos, que sentido
tem para este analista continuar como funcionário em uma corretora?
Mesmo considerando que ele ame muito o seu trabalho, ele poderia abrir
sua própria corretora ou criar um fundo de investimentos que usasse essa
estratégia para tornar todos os seus clientes milionários, certo?
2) Considerando que as corretoras cobram taxas de corretagem dos
clientes por operação, não seria de interesse das mesmas que os clientes
operassem todos os dias?
Pois é. Para completar, ao final do vídeo o analista avisa que esta é
a versão "gratuita" da estratégia e fala sobre um curso onde ensina os
clientes a operarem na bolsa de forma lucrativa.
No mundo em que vivemos, o desejo de enriquecer faz parte de
vida de quase todos. E não são necessários muitos anos de trabalho para
perceber que dificilmente alguém fica realmente rico trabalhando para os
outros. Por isso, estratégias sensacionalistas como a apresentada pelo
analista acabam ganhando a adesão de muitas pessoas que querem
enriquecer da noite para o dia, aventurando-se em apostas com poucas
chances de sucesso, sejam essas apostas na bolsa de valores ou na loteria
(meu objetivo aqui é te mostrar que bolsa de valores e loteria não são a
mesma coisa!).
Eu não vou mentir pra você. Desde que se tem conhecimento, as
relações econômicas entre os homens são estruturadas de forma que poucas
pessoas colhem a maior parte dos frutos do trabalho de muitos - foi assim
na antiguidade, no feudalismo, na época dos estados absolutos, e é assim no
capitalismo moderno. Mas devo ressaltar que o sistema atual, por mais que
apresente suas deficiências, traz consigo uma característica inédita e muito
importante - nunca houve tantas oportunidades de virar o jogo como hoje.
Como eu já mencionei, dificilmente alguém fica realmente rico
trabalhando para os outros. É preciso ser dono. Se você é dono de um ou
mais ativos com capacidade de gerar riqueza, você tem o necessário para
ser rico. Isso significa que ser funcionário é algo ruim, e que um
funcionário jamais será rico? Em outra época talvez sim, mas nos tempos
atuais ainda há uma saída. Na idade média, por exemplo, um camponês
provavelmente estaria fadado ao trabalho no campo por toda a vida,
enquanto um nobre tinha seu título garantido - dificilmente esses papéis se
inverteriam. Na dinâmica do mundo capitalista de hoje, no entanto, essa
realidade é bem diferente.
Nesse momento você pode estar contestando esse meu discurso,
pensando no quanto é difícil para uma pessoa pobre se tornar um grande
empresário de sucesso e com uma grande fortuna. Mas o que eu quero
apresentar neste livro é um plano que pode produzir este resultado. Este
processo envolve a bolsa de valores mas, ao contrário da estratégia vendida
pelo analista que mencionei, trata-se de uma proposta bem mais humilde, e
que irá exigir muita disciplina e paciência. Mais humilde no método e no
prazo, porém não no resultado.
O mercado de ações permite que você compre e se torne dono de
um pedaço de uma empresa. A partir do momento em que você adquire
uma ação, você passa a ter posse de um ativo que pode produzir riquezas.
Você pode, portanto, utilizar a remuneração advinda do seu trabalho para ir
adquirindo gradualmente partes cada vez maiores de empresas lucrativas,
bem como utilizar os lucros gerados por elas para aumentar ainda mais a
sua propriedade. Dessa forma você, por meio de uma estratégia inteligente,
pode ir se transformando, gradualmente, de um "camponês" em um "novo
nobre". Só depende de você.
Deve-se, no entanto, conhecer o terreno onde se pisa. Você pode
utilizar o seu suado dinheiro para comprar ações de empresas vencedoras,
que produzem lucros crescentes e prosperam, mas também pode se associar
a empresas que estão caminhando para a falência (e caminhar junto com
ela!). Saber diferenciar bons negócios de negócios mal sucedidos é a chave
para o triunfo na vida financeira.
Meu objetivo com esse livro é fornecer um "guia de sobrevivência
na bolsa", especialmente voltado para iniciantes, embora as ideias aqui
apresentadas também possam ser úteis a investidores já ativos. Devo
advertir o leitor que o foco deste livro é o investimento a longo prazo
visando um enriquecimento gradual e consistente. Termos associados às
operações de traders podem ser abordados eventualmente, porém este não é
o propósito do livro. A ideia é mostrar que o investimento com sucesso na
bolsa de valores não está restrito aos profissionais do mercado financeiro. A
prática de se investir em projetos corporativos pode e deve ser exercitada
pelos mais diversos profissionais, desde que conheçam bem em que projeto
estão investindo. E os capítulos que se seguem tem exatamente o propósito
de trazer essa consciência ao leitor. Seja bem-vindo(a) à nobreza!

Parte 1:
Por que investir em ações?

Esqueça o que você acha que sabe


sobre ações
“É diferente apenas na sua mente.
Você precisa desaprender o que aprendeu.”
- Mestre Yoda.

Se você não sabe nada, ótimo. Menos vícios a serem combatidos.


Se a única coisa que você sabe sobre investir em ações é a máxima
"Compre na baixa, venda na alta", você já aprendeu errado, ou pelo menos
irá colocar isso em prática da forma errada, a menos que você possua uma
bola de cristal que irá te dizer, exatamente, qual é o momento da baixa e
qual é o momento da alta.
Peço, portanto, que você abstraia aquilo que você vê ou ouve falar a
respeito do investimento em ações - Aquele seu amigo que conhece um
outro amigo que comprou uma ação a R$ 1,00 e vendeu a R$ 12,50 um mês
depois, aquelas recomendações de "especialistas" dizendo que esta é a hora
de comprar ações, e que no mês passado era a hora de comprar títulos de
renda fixa, e aqueles analistas que mostram um plano infalível para
transformar mil reais em um milhão em apenas um ano. Se você ficar
girando os seus recursos financeiros entre um investimento e outro,
seguindo orientações da mídia comum, acabará tendo boa parte do seu
patrimônio corroído por taxas, além de sempre chegar atrasado na onda do
momento e pagar a festa de outros investidores.
Sempre houve e sempre haverá boas oportunidades na bolsa àqueles
que estiverem dispostos a estudar o mercado e investir com disciplina e,
principalmente, paciência. Essa última palavra será um mantra ao longo
desse livro. Um dos maiores investidores individuais da bolsa brasileira, o
bilionário Luiz Barsi Filho, de quem ainda falaremos mais adiante, conta
sobre o que ele chama de "a analogia da boca do jacaré". Segundo ele, o
bom investidor deve se comportar na bolsa como um jacaré, fazendo
referência ao animal que fica com a boca aberta esperando o momento certo
de dar o bote - quando "o jacaré fecha a boca", segundo ele, é o momento
em que um investidor capitalizado se aproveita de um momento de pânico
do mercado para comprar ações de excelentes empresas a um preço mais
baixo. Paciência é a grande virtude pra se dar bem na bolsa.
Investir em ações significa investir em empresas. Em outras
palavras, investir em ações significa investir em negócios. Suponha que um
amigo seu estivesse abrindo um negócio e te chamasse para ser sócio. Nesse
caso você deveria entrar com uma quantia em dinheiro e se tornaria dono de
parte desse negócio. Você entraria como sócio pensando em vender a sua
participação no mês seguinte por um múltiplo do valor investido?
Provavelmente não. Até seria bom ter esse capital multiplicado em tão
pouco tempo, mas não é assim que as coisas funcionam na prática - o
negócio requer um tempo para trazer retornos consistentes, além do fato de
envolver gastos nas transições.
Com a bolsa não é diferente. Na bolsa são negociadas participações
em empresas, mas por se tratar de uma escala maior, muitas pessoas acabam
não encarando o mercado de ações com essa visão empreendedora e dão
lugar a um viés de especulação, tentando prever o futuro, e muitas vezes se
dão mal por isso. Meu objetivo com este livro, portanto, é trazer a você,
leitor, a filosofia e os conhecimentos por trás de uma estratégia mais
consistente na bolsa de valores, através da qual você poderá prosperar e
acumular um bom patrimônio.
Muitos dos que se aventuram na bolsa o fazem com elevada
ambição e pouco conhecimento e, por isso, acabam abandonando esse tipo
de investimento afirmando ser um negócio arriscado. Com os
conhecimentos que se seguem, espero que você seja capaz não só de
sobreviver neste ambiente da bolsa, mas de se sentir à vontade para investir
sem receios, e com a confiança de estar garantindo um futuro melhor. Se
você seguir com disciplina os ensinamentos que apresentarei aqui, você
provavelmente vai ver seu patrimônio crescer com robustez ao longo dos
anos. E vai se divertir com isso.

Um pouco de dados
"Não se gerencia o que não se mede,
não se mede o que não se define,
não se define o que não se entende,
e não há sucesso no que não se gerencia."
- William Edwards Deming

O meu objetivo nessa primeira parte do livro é mostrar a você por


que vale a pena investir em ações. Mais do que isso, investir em ações pode
ser uma decisão determinante na sua vida, desde que você saiba o que está
fazendo (saber o que está fazendo é o objetivo principal deste livro). Para
convencer você disso, como em toda boa argumentação, eu pretendo
apresentar alguns dados.
Nos capítulos seguintes eu pretendo apresentar cada conceito
relacionado ao mercado de ações de forma detalhada e didática (inclusive o
conceito de "ação", como você verá mais adiante). Para a minha
argumentação neste momento, eu gostaria de falar sobre o Ibovespa, que é a
sigla para Índice da Bolsa de Valores de São Paulo.
Basicamente, o Ibovespa é um índice associado ao desempenho de
uma carteira de ações imaginária, contendo ações das empresas mais
negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa. Imagine uma
feira onde as pessoas compram e vendem frutas umas das outras e,
dependendo da oferta e da demanda de cada fruta, seu preço vá variando ao
longo do dia. Imagine que você selecione algumas das frutas que mais são
negociadas nessa feira, em proporções diversas, e monte uma cesta com
essas frutas. Então você acompanha o preço dessa cesta para ter uma noção
geral de como andam os preços das frutas na feira. A carteira imaginária
que eu mencionei é essa "cesta de frutas", e o Ibovespa é o preço dessa
cesta.
O Ibovespa deve ser periodicamente reajustado, redefinindo-se
quais ações farão parte da carteira e em quais proporções, de forma que esse
índice continue a representar o mercado de ações brasileiro. Além disso,
quando você ouve falar sobre a variação diária do Ibovespa, ou sobre o
valor desse índice nos noticiários, geralmente essa informação está expressa
na nossa moeda, o real. Acontece que, considerando o cenário global e o
propósito de se avaliar o mercado brasileiro em relação ao resto do mundo,
o real não é a melhor moeda para expressar esse índice. Quando se trata de
um cenário mundial, a melhor moeda para expressar determinado índice é o
dólar.
A figura a seguir, portanto, mostra a evolução nos últimos 15 anos
do Ibovespa dolarizado, ou seja, o valor do Ibovespa multiplicado pela taxa
de conversão de real para dólar.

O índice dolarizado evoluiu dos 3108 aos 22319 pontos entre 2002
a 2017. Seu valor, portanto, multiplicou-se aproximadamente por 7,18 nesse
período. Vou poupar você dos cálculos, mas essa multiplicação equivale,
entre as altas e baixas do período, a um rendimento médio de
aproximadamente 14% ao ano. Perceba que se eu selecionasse o período de
2002 a 2008 essa alta seria muito maior. Por outro lado, se eu selecionasse o
período contando a partir do pico de 2008, o resultado consolidado seria
uma queda acentuada no valor do índice, resultado da crise global que teve
início nesse ano. O período que eu selecionei, portanto, engloba tanto o
movimento de alta quanto o movimento de queda - a ideia é selecionar um
período representativo dos dois cenários.
Talvez eu esteja me apressando com a explicação, então vamos
recapitular: O Ibovespa é um índice formado por uma carteira de ações
fictícia, contendo as ações mais negociadas na bolsa brasileira. O que nós
observamos no gráfico é o valor desse índice expresso em dólares, de forma
que a gente possa avaliar o valor dessa carteira no mundo. Você, como
investidor individual, pode fazer escolhas melhores do que as ações que
compõem o Ibovespa, obtendo um rendimento maior, ou pode escolher
ações que tenham uma performance pior. Nós vamos usar o Ibovespa nesse
exemplo como uma espécie de "média da bolsa". Dessa forma, se em 2002
você comprasse 10 mil reais nas ações que compõem o índice (e nas
mesmas proporções), em 2017 essas ações somariam um valor que, em
dólares, teria o mesmo poder de compra de, aproximadamente, 140 mil
reais. É um bom rendimento, certo? Mas tem muito mais.
Nós ainda iremos tratar com mais detalhes sobre esse assunto mais
adiante, mas já vou adiantar para podermos contar essa história: a
valorização das ações não é a única forma de se ganhar dinheiro na bolsa.
Aliás, talvez nem seja a forma principal. Afinal, nesse mundo capitalista em
que vivemos, qual é o principal objetivo de uma empresa? Dar lucros,
certo? Pois é. E pra quem vai boa parte desses lucros? Isso mesmo, para os
donos. E quem são os donos? Os acionistas!
Ao possuir ações de uma empresa, você tem a possibilidade de ver
o seu patrimônio crescer de duas formas - pela valorização das ações, e
pelos lucros distribuídos aos acionistas (Conforme iremos ver, as empresas
distribuem parte dos lucros aos acionistas na forma de dividendos ou juros
sobre capital próprio. Não se preocupe, ainda iremos falar sobre eles). Nós
já abordamos a questão da valorização - se comprássemos as mesmas ações
do Ibovespa em 2002 e mantivéssemos esse investimento até 2017,
teríamos uma valorização de cerca de 14% ao ano, em média. Mas e a
distribuição de lucros?
Não há um valor fixo a ser distribuído aos acionistas. Na verdade,
se a empresa não tiver lucro em determinado ano ela nem é obrigada a
distribuir nada. Mas, por outro lado, se essa empresa teve um lucro líquido
relevante no ano fiscal, ela poderá distribuir uma quantia significativa.
Vamos, portanto, fazer o que temos feito até então - considerar um valor
médio. Atualmente, no mercado, é possível encontrar ações de empresas
que frequentemente pagam até cerca de 10% do valor da ação ao ano na
forma de proventos. Por outro lado, como eu afirmei anteriormente, se a
empresa não apresentar lucro em um determinado ano fiscal, ela nem
precisa distribuir nada aos acionistas, o que significa uma distribuição de
0%!
É difícil encontrar informações a respeito do valor médio de
distribuição de lucros por parte das empresas. Esse percentual de
distribuição pode variar bastante, dependendo de vários fatores, como o
momento do mercado, o setor de atuação da empresa e a própria cultura de
governança da empresa. Os dados que eu apresentarei a seguir podem ser
recalculados para diferentes valores de percentual de distribuição de lucros,
mas vou tomar um valor como média. Segundo notícia veiculada pela
Agência Estado em 2002, o valor médio distribuído pelas empresas que
compunham o Ibovespa nesse ano foi de 5,4% do valor das cotações das
ações. Ou seja - na média, se você comprasse a R$ 10,00 uma ação de uma
empresa que compusesse o Ibovespa, era de se esperar que você recebesse
em torno de R$ 0,054 por ação ao longo do ano a título de distribuição dos
lucros aos acionistas. Devo lembrar, mais uma vez, que esse é um valor
médio! Você pode facilmente encontrar exemplos de empresas que pagam
mais ou menos em relação a esse valor.
Achou pouco? 5,4 centavos por ano?? "Eu nunca vou ficar rico
desse jeito!", você deve ter pensado. Pois então vamos aos cálculos.
Um primeiro ponto a se observar é que dificilmente você irá
acumular um bom patrimônio fazendo um único investimento de 10 reais
(pelo menos não de forma lícita!). O valor que cada um disponibiliza para
investir é uma questão pessoal. Cada um sabe de seus compromissos
financeiros e de seus sonhos a serem realizados. De qualquer forma,
aproveito essa oportunidade para deixar o meu conselho (você pode me
agradecer por isso depois) - Embora algumas pessoas vivam na pobreza por
falta de oportunidades, grande parte das pessoas vivem uma vida de
escassez como consequência da sua própria vaidade. Faça uma reflexão
acerca da sua vida. Pense se você realmente necessita de um carro como o
que possui hoje, se precisa pagar o aluguel caro que paga hoje, se precisa
terceirizar tanto as suas tarefas do dia a dia, como cozinhar, lavar o carro e
limpar a casa. Talvez abrir mão de alguns luxos hoje possa permitir uma
verba maior para investir, o que consequentemente irá garantir a sua
liberdade no futuro.
Depois de parar um pouco para refletir, vamos continuar com o meu
argumento. Como o montante que cada um possui para investir varia muito,
vou considerar um cálculo unitário. Ou seja, vou apresentar os resultados
para cada 1 real investido.
A primeira comparação que quero fazer é com a modalidade de
investimento mais popular no Brasil - a poupança. Talvez eu nem devesse
chamar a poupança de investimento, visto que seu rendimento é muito
baixo, e em alguns anos chegou até a ser inferior à inflação. Mas a
poupança é muito popular no Brasil por apresentar certa segurança e
liquidez, então vale a pena analisar.
Nos últimos dez anos a poupança rendeu, em média, 7,3% ao ano.
Isso significa que, para cada 1 real que você depositou você obteve R$
1,073 em média ao final de um ano. Se você mantém esse valor na
poupança, ao final de mais um ano você receberá os juros não mais sobre 1
real, mas sobre R$ 1,073, chegando a aproximadamente a R$ 1,15, e assim
por diante. Esses são os juros compostos. Se você faz um investimento
inicial, ao final de 20 anos você terá aproximadamente R$ 4,09 para cada
R$ 1,00 investido. Parece bom, né?
Lembra que eu mencionei que eu utilizaria o Ibovespa como um
índice médio para analisar a valorização das ações? Chegou a hora.
Considerando os dados que eu apresentei, o Ibovespa teve uma valorização
média de 14% ao ano nos últimos anos. É quase o dobro da poupança. Para
cada 1 real investido, ao final de um ano teríamos R$ 1,14, ao final do
segundo ano teríamos aproximadamente R$ 1,30, e assim por diante.
Considerando essa taxa de valorização, ao final de 20 anos teríamos em
torno de R$ 13,74 para cada 1 real investido!
Me desculpe a insistência, mas preciso mencionar novamente que
estamos falando de valores médios. Essa é uma aproximação grosseira, pois
no mercado de ações nada é garantido - não há nenhuma garantia de que se
você comprar ações hoje elas irão se valorizar à taxa de 14% ao ano, nem
de que a valorização vai ser igual a cada ano. Cada ação se comporta de um
jeito, umas se valorizam mais, outras se valorizam menos, e outras
desvalorizam. Da mesma forma, ao longo dos anos, uma mesma ação pode
se valorizar em um ano e desvalorizar no ano seguinte. O que estamos
fazendo aqui é analisar uma tendência do mercado nos últimos anos -
considerando esses últimos anos, as principais ações do mercado brasileiro
oscilaram, mas considerando todo esse período elas se valorizaram na
média 14% ao ano.
Pois bem. Feitas essas considerações, devo ressaltar que a história
ainda não acabou. Como eu já mencionei, não se ganha dinheiro na bolsa
apenas com a valorização das ações. Além dessa valorização, ainda temos
que contabilizar a distribuição de lucros aos acionistas. E é aí que entra o
percentual médio de distribuição - aqueles 5,4% que consideramos como
valor médio.
Em um primeiro momento, vamos assumir que, para cada 1 real
investido receberemos R$ 0,054, equivalente aos 5,4% recebidos como
distribuição do lucro. Se considerarmos aqueles 14% de valorização média
ao ano, ao final do primeiro ano podemos esperar que os R$ 1,00 se
valorizem para R$ 1,14 e você receba mais R$ 0,054 como distribuição dos
lucros, chegando a R$ 1,194. De forma resumida, você receberá R$ 0,054
para cada 1 real investido por ano em média, o que em 20 anos equivale a
R$ 1,08 recebidos. Somando esse valor aos R$ 13,74 que calculamos
previamente, obtemos R$ 14,82 para cada 1 real investido em 20 anos!
Parece muito bom. Enquanto investindo na poupança você pode
esperar uma valorização de cerca de 309% em 20 anos (R$ 3,09 de
valorização para cada R$ 1,00 investido), investindo no longo prazo em
ações é possível (embora não seja garantido é factível) obter uma
rentabilidade de 1382% em 20 anos (R$ 13,82 de lucro sobre cada R$ 1,00
investido). Quase 5 vezes a mais!
É claro que alguns custos para investir, como a taxa de corretagem e
o possível pagamento de imposto de renda, foram omitidos para simplificar
essa análise. Mas esses valores são baixos se pensarmos no investimento a
longo prazo. Vamos falar deles mais adiante nesse livro.
E se você pensa que a comparação terminou, está enganado. Agora
vem a melhor parte.

O "pulo do gato"

Este livro está repleto de informações muito valiosas, que vão te dar
segurança para investir no mercado de ações e te dar mais confiança para ir
além e estudar mais. Mas se eu tivesse que resumir todo o livro em poucos
parágrafos, eu iria me concentrar nas próximas linhas. Portanto, preste
bastante atenção na estratégia a seguir.
Você trabalha arduamente, se dedica, poupa o seu dinheiro
conseguido com muito esforço e investe no mercado de ações. Seguindo as
dicas desse livro, estudando e investindo de forma consciente, você é então
recompensado: seu montante cresce e você, por escolher empresas
lucrativas para investir, recebe bons proventos por parte das empresas. O
que você faz então com esse dinheiro que recebeu? Gasta? Deixa na conta
pra somar com o montante no final? Não, você reinveste!
Reinvestir os lucros pagos aos acionistas é o grande "pulo do gato",
ou seja, o grande segredo para construir riqueza no mercado de ações. Isso
porque você recebe essa distribuição de lucros de forma proporcional ao
número de ações que possui. Se você usa esse dinheiro para comprar mais
ações, na próxima distribuição você terá mais a receber e, se você usa essa
quantia maior para comprar ainda mais ações, na distribuição seguinte você
terá mais ainda a receber, e assim por diante. É uma bola de neve se
acumulando!
A forma como essa bola de neve se forma é como a acumulação por
juros compostos. E esse crescimento não é intuitivo ao ser humano - no
início parece que faz pouca diferença, mas somente quando analisamos no
longo prazo podemos observar que o simples fato de reinvestir os lucros
recebidos pode potencializar e muito os seus rendimentos futuros. Portanto,
vamos fazer estes cálculos.
Vamos relembrar os números que obtivemos até aqui: considerando
estimativas de ganhos médios, para cada 1 real investido espera-se, ao
longo de 20 anos, obter R$ 4,09 colocando o dinheiro na poupança, e R$
14,82 investindo em boas empresas no mercado de ações, sendo que neste
último caso teríamos uma valorização de 1 real para R$ 13,74 somados a
R$ 1,08 recebidos na forma de proventos (distribuição dos lucros aos
acionistas).
Agora vamos considerar que, ao receber a distribuição de lucros,
vamos reinvestindo esse valor ao invés de apenas acumular. Dessa forma,
começamos com 1 real investido. Com as ações se valorizando em média
14% ao ano, esse 1 real se transforma em R$ 1,14. Com distribuição de
lucros de 5,4% sobre o valor da ação, temos R$ 0,054 de distribuição por 1
real investido. Esse valor é usado para comprar mais ações de forma que,
somando esse valor aos R$ 1,14, temos aproximadamente R$ 1,19. Ou seja,
com a valorização média e reinvestindo o lucro recebido, no segundo ano
teremos investimentos em ações equivalentes a R$ 1,19 para cada 1 real
investido no ano anterior. No segundo ano esse cálculo se repete,
considerando R$ 1,19 como valor inicial, e assim por diante.
Sabe qual o valor acumulado após 20 anos repetindo esse processo?
Incríveis R$ 34,55 para cada real investido! Pare um pouco e reflita sobre a
comparação que fizemos aqui: seja qual for o montante que você tem
disponível para investir, a decisão sobre o que você fará com o seu dinheiro
poderá fazer toda a diferença sobre o seu padrão de vida no futuro. Por isso
fizemos a comparação para cada real investido.

Forma de aporte

Chamamos de aporte o ato de investir. Se você investe uma quantia


de dinheiro uma única vez e deixa esse dinheiro render no tempo, dizemos
que você fez um aporte único. Nem todo mundo possui uma quantia
significativa para fazer isso de forma eficaz, então é muito comum que as
pessoas invistam parte de sua renda todos os meses ao longo da vida, visto
que a estratégia que apresentamos aqui visa o longo prazo. Nesse caso
dizemos que a pessoa faz aportes mensais.
Nas simulações que fizemos anteriormente, consideramos um
aporte único e fizemos os cálculos esperados para cada real investido.
Suponha que você tenha 100 mil reais disponíveis para investir hoje.
Seguindo a nossa estratégia você iria escolher boas empresas para investir
na bolsa e iria distribuir esses 100 mil reais entre ações dessas empresas. À
medida em que você fosse recebendo a distribuição de lucros por possuir
ações, você iria usando esse dinheiro para comprar novas ações, de forma
que os lucros recebidos fossem ficando cada vez maior. De acordo com os
nossos cálculos, não seria um absurdo esperar que, depois de 20 anos, você
tivesse um patrimônio de quase 3,5 milhões de reais (R$ 34,55 para cada
real investido, ou seja R$ 3.455.000,00)!
É claro que nós não consideramos a inflação nesses cálculos. 3,5
milhões de reais daqui a 20 anos não terão o mesmo poder de compra do
que nos dias de hoje, mas ainda assim é um baita patrimônio!
Para quem não possui capital disponível para fazer um aporte único,
a estratégia de aportes mensais é bastante recomendada. O recomendável é
fazer aportes mensais de, no mínimo, 10% da sua renda mensal líquida.
E por que não combinar um aporte inicial maior com aportes
mensais? Suponha que você tenha 50 mil reais para investir e receba um
salário de R$ 3000,00 brutos por mês. Suponha que, após todos os
descontos, caiam na sua conta R$ 2500,00 no final do mês. Você então
utiliza 10% desse valor, ou seja, R$ 250,00, para comprar mais ações. Após
20 anos seguindo essa estratégia, considerando os valores médios que já
mencionamos e também que seu salário seja reajustado em 5% ao ano
devido aos dissídios pela inflação, o valor do seu patrimônio estimando
seria de quase 1,8 milhão de reais.
Vale lembrar mais uma vez que consideramos valores médios e
conservadores. Uma carteira de ações que valoriza 14% em um ano é uma
boa carteira, mas é perfeitamente possível escolher empresas com uma
valorização maior. Também não é difícil encontrar empresas que distribuam
lucros a uma taxa maior do que 5,4% do valor da ação ao ano. Nós vamos
ver como isso é possível (e como essa estratégia é extremamente eficaz na
acumulação de riqueza) ao longo deste livro.

Mais do que a valorização


Todos os cálculos que eu mostrei até aqui tiveram o único objetivo
de convencer você de que o mercado de ações é uma boa escolha para
construir patrimônio no longo prazo (espero que você esteja convencido
disso a essa altura). Isso porque é preciso acreditar no progresso humano -
por mais que as vezes os noticiários nos façam acreditar no contrário, as
empresas e os países crescem e produzem riqueza. Participar do mercado de
ações é participar deste progresso. Nada mais justo que você construir um
bom patrimônio visto que você financiou projetos ambiciosos que levaram
a esse progresso ao longo dos anos.
Mas, por causa deste objetivo de te convencer, eu acabei focando
muito a minha argumentação na valorização do seu patrimônio, e acabei
não abordando muito a renda que você pode obter investindo na bolsa.
Suponha que você tenha uma fazenda onde cria vacas para
produção de leite. Nesse caso você tem uma renda proveniente da venda do
leite que é produzido, mas ao mesmo tempo essa fazenda e as vacas
compõem o seu patrimônio. Você considera uma boa ideia vender as suas
vacas, mês a mês, para financiar os seus gastos mensais? Talvez essa não
seja uma decisão sábia, pois você estará diminuindo a sua capacidade de
produção - o ideal seria viver da venda do leite e não das vacas. Em outras
palavras, talvez seja mais sábio usufruir da renda proveniente da venda da
produção, e não da venda da capacidade de produção.
Por que eu dei este exemplo das vacas e da produção de leite?
Porque, após construir um bom patrimônio no mercado de ações, seria mais
sábio viver do lucro distribuído aos acionistas (produção) ao invés da venda
das ações da sua carteira (capacidade de produção).
Lembra do exemplo que eu dei, do indivíduo começa com uma
quantia de 50 mil reais, investe R$ 250,00 por mês e reinveste todos os
proventos recebidos, chegando a um patrimônio de 1,8 milhão em 20 anos?
Lembra da taxa média que utilizamos nos cálculos de lucros distribuídos ao
ano (5,4% do valor da ação)? Pois é. Se você chegou ao patamar de 1,8
milhão em ações e recebe, ao ano, 5,4% do valor das ações na forma de
distribuição de lucros, você estará recebendo cerca de R$ 97200,00 ao ano,
ou R$ 8100,00 por mês! E se você não gastar todo esse dinheiro, você pode
reinvestir (comprar mais ações), de forma que a cada ano você estará
recebendo uma renda maior. É a bola de neve em ação!

Parte 2:

Introdução ao Mercado de Ações


De volta às origens
"Os grandes navegadores devem sua reputação
aos temporais e tempestades."
- Epicuro

Quando você pensa em mercado de ações, qual é a primeira coisa


que vem à sua mente? Um monte de gente maluca, segurando vários
telefones ao mesmo tempo, e gritando números sabe-se lá pra quem e pra
quê? Códigos esquisitos, seguidos de gráficos mais esquisitos ainda e
termos que parecem uma língua de outro planeta? Alguns desses elementos
fazem parte do universo da bolsa sim, mas o que está por trás deste mercado
é algo muito mais simples.
Pra entender melhor, é preciso voltar às origens. A Bolsa de Nova
York, principal mercado nos dias atuais, surgiu em 1792, enquanto a
Bovespa, Bolsa de Valores de São Paulo, teve sua origem em 1890, mas
posso dizer que a ideia central do mercado de ações moderno remonta a
tempos mais antigos - o período das grandes navegações.
Naquele tempo alguns europeus se aventuravam nos mares em
busca de iguarias e materiais que estavam disponíveis na Índia e no oriente
e eram raros na Europa, e portanto eram vendidos a preços altos. No entanto
o mar representava um alto risco, o que aumentava ainda mais o valor dos
produtos.
Como não era uma viagem fácil, era preciso uma boa embarcação,
uma grande e experiente tripulação, além de mantimentos para a viagem. E
tudo isso envolvia um custo elevado, o qual muitas vezes o mercador não
era capaz de suprir. Estes mercadores, portanto, buscavam o apoio de
patronos que pudessem financiar a viagem em troca de parte dos lucros.
Reconhece a semelhança? De um lado há um grupo de pessoas com
a capacidade técnica para operacionalizar uma empreitada (mercadores e
navegadores), enquanto do outro lado há um grupo de pessoas com a
capacidade financeira para suprir essa operação (os patronos). Essas duas
partes fazem um acordo, na qual o primeiro grupo executa o plano com o
financiamento do segundo grupo, e no final o resultado é dividido entre as
partes, seja esse resultado o lucro ou o prejuízo. É exatamente essa a relação
entre as empresas e os acionistas.
Entender essa relação nos leva diretamente ao real significado de
uma ação na bolsa de valores. Suponha, por exemplo, uma empresa de
tecnologia em operação nos dias atuais. Essa empresa conta com uma
equipe técnica qualificada e uma equipe de gestão competente. Essa
empresa conta também com uma equipe de inteligência de mercado que,
após realizar pesquisas bem embasadas, chega à conclusão de que existe
uma demanda ainda não suprida no mercado para um novo produto. Eles
levam essa ideia ao corpo técnico da empresa, e fazem uma estimativa de
qual seria o custo para colocar este novo projeto em prática, estimando
também qual seria o faturamento da empresa com este novo produto.
Nesse exemplo estamos diante de uma situação semelhante à das
grandes navegações - um grupo de pessoas com um projeto em mente, com
capacidade técnica para executar esse projeto (embora haja um risco
envolvido), mas sem necessariamente possuir fundos para colocar o plano
em prática. O que essa empresa faz então para conseguir o financiamento?
Vai atrás dos "patronos". Nos dias atuais existem algumas opções sobre
como fazer isso.
Uma possibilidade é pegar dinheiro emprestado. A empresa pode
pegar dinheiro emprestado de um banco, por exemplo, como muitas
empresas fazem. Mas outra forma interessante é envolver o cidadão
comum, como eu e você. E essa solução também tem algumas variações. A
empresa pode emitir títulos de dívida, conhecidos como debêntures, o que
basicamente consiste em pegar dinheiro emprestado com as pessoas,
estabelecendo previamente o prazo e a forma de pagamento (uma taxa fixa
de juros ao ano, uma taxa de juros atrelada à inflação, ou uma taxa de juros
atrelada a um indicador nacional, como a taxa SELIC). Essas debêntures
aparecem para o cidadão como uma opção de investimento em renda fixa
através de bancos e corretoras.
Outra forma é através de um processo conhecido como
crowdfunding , que é uma campanha de arrecadação para um projeto,
prometendo alguma premiação aos contribuintes. Mas quanto maior for o
projeto e o número de contribuintes, menos vantajosos tendem a ser os
prêmios prometidos a eles. Esse processo é mais comum em projetos
artísticos, como filmes e jogos, em que as pessoas que contribuem são
entusiastas que querem muito ver aquele projeto acontecer.
Chegamos então à opção que considero a mais interessante, e que
constitui o núcleo do capitalismo moderno, através da qual é possível
transformar um "camponês" em um "novo nobre" ao longo dos anos - a
emissão de ações na bolsa de valores. Nas outras opções que eu mencionei,
não há um envolvimento duradouro entre aquele que é financiado e aquele
que financia: a dívida é feita com prazo para pagamento, e uma vez paga,
encerra-se a relação entre as partes. Na emissão de ações a história é
diferente.
Se a empresa já possui ações negociadas na bolsa, ela faz emissão
de novas ações. Caso contrário ela entra em um processo de abertura de
capital, que irá resultar em suas primeiras ações na bolsa. De forma
simplificada, a empresa faz uma oferta pública na qual ela vende pequenas
cotas de participação no negócio para obter dinheiro para pagar seu novo
projeto. Uma vez que você compra as ações da empresa, você passa a ser
sócio dessa empresa e passa a ter direito a uma parcela dos lucros, além de
poder ter direito de voto em determinadas situações (quando o conselho de
administração da empresa abre assembleias para decidir algum assunto
específico). A sua participação será proporcional ao número de ações que
você possuir. Aproveito para repetir algo que já mencionei: investir em boas
ações é participar de projetos que levam ao progresso humano.
No investimento em renda fixa que eu mencionei (em debêntures,
por exemplo), você se torna credor da empresa (a empresa terá uma dívida
com você), logo você só precisa se preocupar se a empresa é confiável para
honrar suas dívidas. No caso do investimento em ações, você se torna sócio,
ou seja, o envolvimento é muito maior, pois há um risco envolvido - você
precisa entender o negócio e formar uma opinião própria a respeito dos
projetos, se eles serão rentáveis ou não.

As diferenças daquela época pro mercado de hoje

Eu apresentei o mercado de ações aqui como a possibilidade de


participação em uma empreitada, envolvendo-se nos riscos, mas tendo
acesso a parte dos lucros.
Assim também era na época das navegações. Porém, hoje há uma
segurança maior, dado que o mercado de ações é regulamentado. No Brasil
quem cumpre este papel é a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). As
empresas que possuem capital aberto na bolsa devem seguir regras que
visam a transparência e a confiabilidade de que haverá ética nos negócios,
podendo ser multadas caso não cumpram essas regras. E a CVM é quem
trabalha para cumprir essa função.

Por exemplo, se as ações de uma empresa sofrem uma variação


muito grande sem um motivo aparente, a CVM cobra essa empresa para que
ela se manifeste publicamente a respeito. Caso haja alguma coisa
acontecendo que não tenha sido divulgada, essa informação deve ser
esclarecida. Entre os navegadores de antigamente as negociações eram mais
informais, e a chance de você ser enganado em um projeto fraudulento era
muito maior.
Outras características do mercado atual que o diferenciam são a
volatilidade e a liquidez.
Volatilidade tem a ver com a velocidade em que os preços das ações
oscilam. Tudo que possui um valor associado está sujeito a alterações nesse
valor em função de diversos fatores - um imóvel, por exemplo, possui um
valor hoje que pode mudar amanhã se o governo aprovar condições
facilitadas de financiamento para aumentar a demanda, ou se um projeto de
um shopping center for iniciado em uma região próxima. Mesmo que o
valor de um ativo como um imóvel esteja mudando a cada momento, o seu
preço pode não ter variações tão rápidas porque o valor não é medido com
tanta frequência. Em outras palavras, o valor de um ativo está sempre
mudando, mas essa mudança só será refletida no preço quando for feita a
cotação desse ativo.
As ações de uma empresa são negociadas diariamente, por milhares
de pessoas e instituições, de forma que o preço de cada ação é estabelecido
em cada transação. Dessa forma, a cotação desse ativo é feita a cada
momento, e o resultado é o preço variando bastante ao longo do dia. Quanto
mais rápido o preço varia, maior é a volatilidade do ativo. Quando alguém
financiava um navegador em sua jornada, essa pessoa passava a ter o direito
a parte dos lucros. Porém esse direito não era repassado "de mão em mão" a
cada dia, logo não havia essa medição do valor desse direito. Em outras
palavras: o mercado de ações atual possui muito mais volatilidade do que o
mercado de financiamento das navegações de antigamente.
A outra característica que eu mencionei é a liquidez. Existem
muitos brasileiros que tem investimentos em imóveis atualmente, e
eventualmente estas pessoas sofrem com a falta de liquidez. Isso porque,
apesar de possuírem um bom patrimônio em imóveis, se elas precisam do
dinheiro na mão, os imóveis não são convertidos em dinheiro da noite para
o dia - demora um tempo até colocar o imóvel à venda, encontrar alguém
disposto a comprar, fechar o negócio, assinar os documentos e de fato
receber o dinheiro. Essa lentidão em transformar um ativo em dinheiro
indica que o ativo possui baixa liquidez.
O mesmo acontecia com os patronos. Se, por acaso, eles decidissem
repassar seus direitos a outra pessoa, não haviam tantos negócios sendo
feitos todos os dias. Portanto era um investimento de baixa liquidez.
Conforme eu já mencionei, milhares de negociações ocorrem no mercado
de ações todos os dias úteis, principalmente depois do surgimento da
Internet, que deixou as transações muito mais rápidas de serem executadas.
Ainda existem ações de pequenas empresas, e que são pouco conhecidas,
que também são pouco negociadas, e portanto apresentam pouca
volatilidade e baixa liquidez. Ainda assim, o mercado de ações de uma
forma geral pode ser considerado um investimento bastante líquido e
volátil.

O real conceito da ação Vs. como as pessoas enxergam

Espero que com essa história que eu contei a respeito das grandes
navegações você possa ter percebido de onde veio a ideia central do
mercado de ações e qual o seu propósito. De forma resumida, uma ação é
uma cota de participação em um empreendimento, e deve ser vista dessa
forma. Assim, você como investidor precisa entender o que faz a empresa e
buscar fundamentos para decidir se é um negócio rentável ou não, levando
em conta as outras oportunidades no mercado (ações de outras empresas) e
o preço a ser pago pela ação que você está avaliando (Há muitas vezes em
que a empresa é boa, mas o preço da ação está alto demais. Há outras
situações, no entanto, em que a empresa não é das melhores, mas seu preço
está tão baixo que vale a pena entrar no negócio).
Acontece que muita gente não consegue enxergar isso. Boa parte
das pessoas enxerga o mercado de ações como um jogo de sorte e
especulação, no qual você escolhe um ativo que acha que vai subir, espera
ele valorizar e depois vende com lucro. E quando o inverso ocorre, essas
pessoas entram em pânico ao verem que aquele ativo em que elas
"apostaram" começou a cair, como se houvesse uma força sobrenatural
movendo o seu preço.
Essa visão errada é o que faz as pessoas terem medo do mercado de
ações, e pensarem que é preciso ser um especialista em análise técnica de
gráficos para poder "apostar com mais chances de vencer". Não é nada
disso - qualquer um que tenha curiosidade de saber mais sobre as empresas
pode e deve investir em ações. Eu quero te trazer essa segurança e por isso
estou tentando moldar essa mentalidade. Ainda tenho mais um pouco de
teoria para te passar antes de ir para a parte prática, então vamos em frente.

Nadando com os tubarões - como o


mercado de ações deveria ser visto
"A simplicidade é o último grau de sofisticação"
- Leonardo Da Vinci
Em 2009, estreou na TV americana o programa "Shark Tank". Esse
programa teve a sua versão brasileira lançada em 2016 com o nome "Shark
Tank Brasil", seguido do subtítulo "Negociando com tubarões". No jargão
da bolsa, são chamados de tubarões os grandes investidores, que
movimentam altas quantias em suas operações de compra e venda de ações,
enquanto os pequenos investidores são chamados de "sardinhas".
O programa "Shark Tank" era um típico programa de apresentação
a jurados, só que ao invés de apresentações artísticas, os participantes
deveriam apresentar seus projetos de empresa a grandes empresários e
investidores do país (os tubarões). Os candidatos, então, apresentavam seus
planos de negócio aos jurados e pediam a eles determinada quantia em troca
de uma participação na empresa. Os jurados, por sua vez, faziam perguntas
difíceis aos candidatos acerca de faturamento ou projeções de faturamento,
funcionamento do negócio em si, viabilidade da proposta, etc. Se
estivessem satisfeitos, os jurados ofereciam o valor pedido em troca da
participação no negócio, mas na maioria das vezes eles faziam uma contra
proposta envolvendo um valor menor e uma participação maior. Em outras
vezes os jurados consideravam que não era um bom negócio e o candidato
saía do programa sem nada. Enfim, de forma resumida, os tubarões
negociavam participações em projetos dos candidatos do programa.
A postura dos jurados do programa resume uma mentalidade que,
na minha opinião, será o suficiente para te trazer toda a segurança na hora
de investir em ações. A análise crítica em relação a um negócio é uma
habilidade que deve ser exercitada ao máximo e, se você fizer isso, com o
tempo irá notar que suas decisões na bolsa serão cada vez mais acertadas.
Nenhum jurado do programa, em nenhum momento, ofereceu a
algum candidato a quantia que ele queria sem antes lhe fazer muitas
perguntas. Dentre as perguntas feitas com mais frequência, eu destaco as
seguintes:

"Como você pretende rentabilizar o seu negócio?"


"Qual o custo para produzir cada unidade?"
"Por quanto você vende cada unidade?"
"Quanto você projeta vender esse ano?"
"O que você pretende fazer com o dinheiro caso a gente decida investir?"
"Como você fez o valuation da sua empresa?"
Essa última pergunta é bastante importante. Valuation é o mesmo
que estimar quanto vale a empresa, e é o que o que os candidatos faziam no
programa. Se, por exemplo, um participante apresentasse o seu projeto e
pedisse aos jurados 2 milhões de reais por 50% da empresa, então segundo
o valuation feito por este candidato sua empresa vale 4 milhões. Os jurados
então questionavam se esse valor era justo, levando em conta o potencial de
lucratividade da empresa. E é exatamente isso que você precisa fazer ao
investir em ações.
Ao comprar ação de uma empresa você está pagando um valor por
uma participação pequena na empresa. Você deve, portanto, se comportar
como um jurado do Shark Tank. Faça perguntas a si mesmo com o intuito
de entender como funciona o negócio da empresa que você pretende
investir, estime sua capacidade de gerar lucros, e então corra atrás das
respostas.
Sei que isso pode soar confuso agora, mas mais adiante nesse livro
eu prometo tornar essa análise mais prática e simples. Mas, por ora, quero
explorar mais essa mentalidade de investimento com outro exemplo
corriqueiro.
Negócios entre amigos

Muita gente tem medo de investir na bolsa, dando lugar à velha e


pouco rentável renda fixa. A justificativa que eu mais ouço para esse
comportamento é:
- "Pra investir em bolsa é preciso experiência, pois é um negócio muito
arriscado!"
Essa justificativa é contraditória por definição, pois não há como
adquirir experiência na bolsa sem começar a investir nesse mercado. Hoje
em dia existem diversos simuladores da bolsa disponíveis para "treinar".
Eu, pessoalmente, acredito que o uso de simuladores não é eficaz, pois os
simuladores não conseguem capturar uma das características mais
importantes no investimento em renda variável - o controle emocional de
estar investindo o seu patrimônio conquistado com tanto esforço.
Dito isso, eu acredito que vale mais a pena já começar na bolsa de
verdade. Se você não se sente seguro(a) para investir, acumule um pequeno
valor na renda fixa primeiro e considere esse dinheiro como um
investimento na sua educação, como se você estivesse fazendo um curso
prático de investimento.
Com relação ao medo das pessoas por não possuírem experiência,
eu diria que muita gente já tem a mentalidade necessária para tomar
decisões de investimento, só não se deu conta disso ainda. Vamos
considerar uma situação hipotética para eu te mostrar que você já sabe
investir.
Suponha que você tenha um amigo que more em uma cidade do
interior, relativamente pequena, com uma população crescente, e uma
infraestrutura ainda começando a dar passos maiores. A cidade em que o
seu amigo mora ainda não possui um shopping center, por exemplo.
Um belo dia esse seu amigo te liga dizendo que teve uma grande
ideia: ele quer abrir uma franquia de uma famosa marca de fast food , marca
essa que possui unidades em todo o mundo. Muita gente da cidade do seu
amigo tem, como um programa de lazer, o hábito de ir no shopping center
da cidade vizinha, onde todos adoram comer os sanduíches e comer a batata
frita dessa marca. Isso sem falar no sorvete, que é bem famoso.
Após explicar tudo isso, seu amigo te fala sobre o plano dele, diz
que já pesquisou tudo, e depois te chama para ser sócio. Ele te fala o valor
que você deverá investir e quanto será a sua participação nos lucros. E o
melhor é que você tem o dinheiro necessário para entrar nesse negócio, pois
vendeu recentemente um imóvel que você tinha recebido como herança.
Agora pare e reflita um pouco. Qual seria o seu procedimento para
decidir se vale a pena ou não se associar a este empreendimento? Você
provavelmente faria perguntas ao seu amigo e a si mesmo(a), tais como:

"Quantos funcionários teríamos de contratar, e qual seria o custo dessas


contratações?"
"E os fornecedores? Quanto iríamos gastar com material e ingredientes para
fazer os lanches?"
"Quantos lanches precisamos vender por mês para tornar o negócio
lucrativo?"
"Segundo suas projeções, em quanto tempo eu irei recuperar meu
investimento?"
Entre outras. Além das perguntas, você vai pensar se esse seu amigo
tem competência para estar no comando da empresa, ou se ele é um
"gastador" nato que vai acabar com as finanças do novo empreendimento.
Vai pensar sobre as possibilidades de a franquia se popularizar e as pessoas
frequentarem mais o estabelecimento, e também sobre os riscos (e se
construírem um shopping ao lado, com várias outras opções para
alimentação?).
Se você conseguiu se imaginar nessa situação, fazendo esse tipo de
pergunta ao seu amigo e a você mesmo(a), então você já tem a mentalidade
necessária para investir - basta transferir essa mentalidade ao ambiente de
investimento em ações, onde você irá tomar esse tipo de decisão, mas em
menor escala (ao invés de investir uma herança de um imóvel em um novo
projeto, você irá investir algumas centenas de reais em um lote de ações de
uma empresa já consolidada e operante).
Portanto, podemos resumir o recado deste capítulo da seguinte
forma:
A decisão de investir de ações de determinada empresa deve ser
feita da mesma forma que a decisão de entrar ou não em uma sociedade de
negócios. Infelizmente muitos perdem dinheiro na bolsa por comprarem
ações como se estivessem em um cassino - fazem uma aposta sem
entenderem que existe uma empresa por trás daquela ação, e torcem para
que o papel suba pela força do destino, para depois venderem e embolsarem
os lucros.

Investindo como nossos pais... só que


melhor!
"Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais"
- Elis Regina

O Brasil é um país de modernização recente. Pode-se dizer que a


uma ou duas gerações atrás o país era essencialmente rural - ainda que
houvesse alguma industrialização, nossa economia (que ainda depende
muito do agronegócio) era ainda mais arcaica.
Nesse cenário, nossos pais e avós não dispunham de muitas opções
de investimento, e muito menos de informação sobre essas opções. Nos
tempos em que a produção industrial era baixa e a inflação era
descontrolada, restava às pessoas se agarrarem à estabilidade, valor que
figurava entre os mais importantes - a busca por um emprego estável em
uma grande empresa, a construção de uma família ainda jovem, fixando-se
em um único endereço por toda a vida, o acúmulo de bens físicos e a
aversão ao risco formavam a estratégia aceita por unanimidade como o
melhor jeito de se dar bem na vida. E talvez fosse mesmo naquela época.
Acontece que o mundo é dinâmico, e a estratégia vencedora de
antes pode não performar tão bem em um novo cenário. Cabe a nós
sabermos o que ainda está de acordo com o que o mundo de hoje nos exige
e substituirmos aquelas estratégias que já não fazem tanto sentido assim.
Voltando aos nossos antepassados, vamos mencionar primeiro
aquilo que deve ser elogiado e replicado. Pense um pouco: dentre os mais
bem sucedidos das gerações anteriores, o que eles tem em comum? Você, ao
pensar sobre isso, provavelmente observou que essas pessoas acumularam
bens físicos ao longo de suas vidas. Em especial, há uma modalidade de
investimento que sobressai dentre as demais para as pessoas bem sucedidas
das gerações anteriores - IMÓVEIS.
É bem provável que você já tenha ouvido de uma pessoa mais velha
que comprar imóveis ao longo da vida é a melhor forma de investimento.
De fato, é um excelente investimento e é uma forma muito adequada de se
proteger da economia maluca que o Brasil viveu nas últimas décadas. Ao
longo dessas décadas a população cresceu e a economia também. Quem
tinha imóveis viu seu patrimônio crescer de forma intensa, e ainda
conseguiu rentabilizar através de aluguéis.
E essa é a parte boa - quem investiu em imóveis presenciou uma
valorização significativa ao longo do tempo (o que também protegeu o
dinheiro investido contra a inflação), além de gerar renda recorrente por
meio de aluguéis recebidos. Mas qual é, então, o defeito desse modo de
pensar e investir para os dias de hoje?
Eu diria que nos últimos anos nossas vidas foram drasticamente
impactadas com o surgimento da Internet e da velocidade com que a
informação e as novidades se propagam. Creio que a vida antigamente era
mais difícil, porém mais simples, ao passo que atualmente a vida está mais
fácil, porém mais complicada. Calma, eu posso explicar.
A vida hoje é mais fácil por causa da acessibilidade. Hoje temos
acesso a recursos que nossos pais nem sonhavam em ter. Vivemos certa
prosperidade econômica - uma parcela muito maior da população passou a
ter acesso a carro, bens de consumo e educação, viajar de avião (inclusive
para o exterior) ficou mais barato e acessível, e a globalização permitiu que
tenhamos acesso a novidades da eletrônica de forma muito rápida.
Por outro lado, essa "facilidade" não veio de graça. A vida ficou
mais complexa. Antigamente, quem tinha curso superior já tinha emprego
garantido, e com salário muito acima da média (em alguns casos você era
até chamado de "doutor"). Atualmente você conclui uma graduação em uma
boa universidade, fala inglês, faz mestrado e MBA, e muitas vezes tem que
enfrentar um exaustivo processo seletivo com dezenas de candidatos de
qualificação semelhante, para talvez conseguir um emprego com um salário
mediano.
Antes, quem tinha pouco dinheiro ainda assim vivia em uma casa
grande com quintal. Hoje, muita gente com um bom patrimônio financeiro
paga caro para morar em um apartamento apertado, onde mal bate a luz do
sol. A relação entre trabalho e vida pessoal nunca foi tão estreita - grupos de
mensagens do trabalho, teleconferências pela Internet, redes sociais e o
celular te fazem lembrar do seu trabalho mesmo durante o período de
descanso.
Toda essa complexidade, marcada pelas frequentes mudanças e pela
globalização, fez com que nossa geração substituísse a estabilidade, valor
de maior importância da geração passada, por um novo valor - a liquidez.

A modernidade líquida

Liquidez é sobre não carregar peso. É ser capaz de se adaptar com


rapidez aos acontecimentos. Se você forma uma grande família logo no
início da vida adulta e fixa-se em um endereço onde está investido todo o
seu patrimônio, você perde parte da sua capacidade de se adaptar
rapidamente a uma mudança. Em outras palavras, você perde liquidez. Não
quer dizer que formar uma família e comprar um imóvel no início da vida
adulta seja um erro, pois essas decisões são pessoais. Apenas estou
afirmando que a vida hoje em dia torna esse estilo de vida pautado em
raízes fixas cada vez mais difícil.
Sob o ponto de vista da liquidez, investir todo o seu patrimônio em
um imóvel não é algo tão eficiente. Se, eventualmente, você precisar
converter esse investimento novamente em "dinheiro no bolso", você
provavelmente não irá conseguir isso tão rápido, pois o processo de venda
de um imóvel é demorado.
De forma resumida, portanto, o ideal é que observemos a maneira
de investir dos nossos pais, aproveitando o que há de melhor, e tentando
melhorar aquilo que já não é mais tão efetivo como antigamente. Em outras
palavras, uma boa estratégia é buscar uma forma de investir que reúna as
características do investimento em imóveis (ganhos no longo prazo com a
valorização, proteção contra inflação e renda recorrente), mas que apresente
liquidez. E a boa notícia é que o investimento em ações apresenta
exatamente essas características.

Ações versus Imóveis

Como eu disse anteriormente, os imóveis representaram uma


excelente possibilidade de investimento para nossos pais e avós, por se
tratarem de bens físicos, mais robustos às complicações de uma economia
caótica (como o confisco da poupança e a inflação desenfreada que
marcaram as décadas anteriores) e resultarem em crescimento de duas
formas - valorização do imóvel e rendimento recorrente por aluguel.
Pensemos agora em uma empresa. Considerando que você invista
em um negócio lucrativo (e é aí que está o segredo para prosperar com as
ações), você também terá os mesmos benefícios do investimento em
imóveis - uma empresa bem gerida tende a crescer (valorização ao longo do
tempo), além de prover lucros periodicamente (renda recorrente, assim
como o recebimento de aluguel).
Mas pouca gente dispõe de capital suficiente para abrir uma
empresa, bem como disposição a correr riscos alocando todo o seu
patrimônio em um negócio que pode ir à falência. Além disso, uma empresa
possui o mesmo problema da liquidez, pois vender uma empresa para
resgatar seu dinheiro investido não é algo que se faz da noite para o dia.
É aí que entram as ações. Comprar ações de uma empresa significa
comprar cotas de participação dessa empresa. Nesse caso você se expõe aos
benefícios de ser dono de um negócio - se a empresa cresce, suas ações se
valorizam, e os lucros são distribuídos de forma recorrente ao acionista -
sem necessariamente se expor às desvantagens:
- Você pode ir comprando as ações aos poucos, portanto não precisa
levantar uma grande quantia e investir tudo de uma vez;
- Você pode dividir o investimento em ações de várias empresas,
estando menos sujeito aos riscos de possuir um único negócio e esse
negócio dar errado;
- Finalmente, o problema de liquidez que os imóveis apresentam
não existe no mercado de ações. Todos os dias milhares de ações de uma
mesma empresa são negociados pela Internet, logo você pode resgatar o seu
dinheiro de forma rápida, ao preço que a empresa estiver valendo naquele
momento.
Portanto, o ponto que quero defender aqui é que o investimento em
ações pode ser o investimento de sucesso da nossa geração, assim como o
acúmulo de imóveis foi a estratégia vencedora das gerações interiores.

O resumo da ideia

Para resumir tudo o que abordei neste capítulo, podemos fazer a seguinte
comparação:
1) A valorização de imóveis pode ser substituída pela valorização das
ações. Se imóveis adquiridos há muito tempo atrás se valorizaram com o
crescimento do país, da população, da industrialização e do consumo, o
mesmo podemos esperar de empresas bem administradas. E se essas
empresas crescem, o valor das ações também cresce;
2) O recebimento de renda recorrente através de aluguéis de imóveis pode
ser substituído pela distribuição de proventos aos acionistas. Eu uso o termo
"proventos" de forma genérica para descrever pagamentos de lucros a quem
detém ações de uma empresa, mas essa distribuição de proventos pode ser
feita de três formas:
2.1) Dividendos - é a distribuição de lucros de forma líquida (livre
de imposto de renda), de forma que o valor em dinheiro é depositado na
conta que acionista tem na corretora por onde ele investe;
2.2) Juros Sobre o Capital Próprio (JSCP) - é um mecanismo
semelhante ao dos dividendos, mas tem um procedimento contábil mais
favorável. O que muda para o acionista é que sobre o valor divulgado pela
empresa, o imposto de renda de 15% é descontado no ato do pagamento
(mas o valor após o desconto é depositado na conta do acionista da mesma
forma como no dividendo);
2.3) Bonificação em ações - em determinadas situações a empresa
distribui novas ações aos seus acionistas.
O grande segredo para acumular um bom patrimônio, como já
mencionei, é reinvestir os proventos recebidos, comprando e acumulando
novas ações. No início você terá a impressão de que os proventos recebidos
representam muito pouco, mas se tiver disciplina vai ver seu patrimônio
crescer como uma bola de neve ao longo dos anos!
3) Além de apresentar características de valorização e renda recorrente
semelhantes ao caso de investimento em imóveis, o investimento em ações
apresentam também a vantagem da liquidez, o que é mais coerente com as
características do mundo em que vivemos hoje.

Sobre os ombros de gigantes


"Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes."
- Isaac Newton

Até aqui ainda não houve nenhuma discussão sobre aspectos


práticos de se investir em ações. Peço que tenha paciência, pois esse modo
de enxergar o investimento no mercado de ações é algo que muitos
operadores experientes da bolsa ainda não conseguem desenvolver. Além
disso, por se tratar de um livro voltado para leigos no assunto, meu
principal objetivo é fazer você perder o medo da bolsa. É conhecendo o
terreno onde se pisa que você irá dar passos com mais segurança em direção
aos seus objetivos.
Estamos quase prontos para discutir os aspectos práticos. Antes
disso, porém, quero deixar aqui algumas referências, as quais me ajudaram
a desenvolver essa visão mais realista da bolsa e me deram a segurança ao
investir. A mesma segurança que quero passar para você.
Vou apresentar aqui grandes investidores que, em minha opinião,
investem com a mesma mentalidade que descrevi nos capítulos anteriores.
Recomendo fortemente que você procure conhecer mais sobre eles, assistir
suas palestras e ler seus livros.

Luiz Barsi Filho

O primeiro grande investidor sobre quem quero comentar é um


senhor simpático e de hábitos muitos simples, apesar de ser um dos homens
mais ricos do Brasil. Barsi é filho de imigrantes espanhóis, perdeu o pai
quando ainda era uma criança. Morou em um cortiço no Brás, em São
Paulo, e foi engraxate. Na década de 60 ele foi trabalhar em uma corretora,
quando começou a investir parte de seu salário na bolsa.
Barsi é um ferrenho defensor do "Buy and Hold", como é chamado
o método de investir em ações que consiste em estudar os fundamentos de
uma empresa, procurar boas oportunidades e, após comprar as ações,
mantê-las na carteira sem vender, a menos que os fundamentos que o
fizeram comprar mudem e a empresa deixe de ser lucrativa. Barsi é,
portanto um acumulador de ações. Mais do que isso - ele é um acumulador
de boas ações. Hoje o patrimônio dele supera a casa dos bilhões de reais
investidos.
Infelizmente, até o presente momento, Barsi não escreveu nenhum
livro sobre investimentos em ações. No entanto é fácil encontrar vídeos na
Internet com entrevistas dadas por este simpático senhor. Recomendo que
você procure saber mais sobre ele, pois suas palavras são repletas de
sabedoria.
Lembro de ver uma entrevista com Luiz Barsi em que ele falava
sobre seu carro. Ele costuma ir trabalhar a pé todos os dias, pois segundo
ele faz bem para sua saúde (Isso mesmo. Mesmo após os 70 anos e com um
patrimônio bilionário, Luiz Barsi ainda trabalha com gestão de patrimônio
financeiro, avaliando empresas e acompanhando o mercado de ações). Na
entrevista ele conta que comprou um carro de uma marca chinesa,
conhecida por seus produtos mais baratos, mesmo podendo ter uma
Mercedes de cada cor. Ele explicou que no processo de compra, ele
estabeleceu quais seriam seus requisitos para um carro que atendesse às
suas necessidades e, a partir destes requisitos, ele pesquisou no mercado
qual o carro mais barato que cumprisse com estes requisitos. A mesma
filosofia de comprar ações a um preço justo (ou mais barato em relação ao
seu valor) é aplicada às outras áreas da sua vida.

Décio Bazin

Se Luiz Barsi Filho não escreveu ainda um livro sobre investimento


em ações, ele pelo menos nos fez o grande favor de indicar o livro de Décio
Bazin, "Faça Fortuna com Ações antes que seja Tarde". Segundo Barsi, este
é o melhor livro escrito no Brasil sobre investimento em ações.
Décio Bazin foi um jornalista e era pouco conhecido no mercado
financeiro. Trabalhou por muitos anos na redação da Gazeta Mercantil e na
revista Balanço Financeiro. De acordo com suas próprias palavras, não era
um jornalista bem remunerado, mas após alguns anos seguindo seu método
de investimento (semelhante à filosofia que abordo neste livro) ele recebia
dividendos que garantiam retirada equivalente ao salário de um presidente
de empresa.
Bazin defendia o investimento baseado na relação entre o
valor pago em proventos e o preço da ação. Essa relação é resumida em um
indicador conhecido somo dividend yield , sobre o qual falaremos mais a
frente neste livro. Basicamente, o método resumia em montar uma carteira
de ações com aquelas ações cujo valor pago em proventos nos últimos 12
meses equivalesse a, pelo menos, 6% do preço da ação.
Uma vez montada a carteira, ela passa a ser balanceada a cada 6
meses. Se o valor pago em proventos está abaixo de 6% do preço da ação,
significa que o preço da ação subiu ou que a empresa deixou de pagar a
quantidade de proventos que pagava antes - caso essa situação se repita, por
um motivo ou por outro, o método recomenda vender as ações. Caso o valor
pago em proventos nos últimos 12 meses seja igual ou superior a 6% do
preço da ação, o método recomendava comprar mais ações desta empresa.
Com este simples método, Décio Bazin fez fortuna na bolsa de
valores, e ajudou outras pessoas a fazerem o mesmo. Mas o livro não se
resume apenas a este método. As diversas histórias contadas por ele nos
ajudam a ter uma boa visão de como funciona a bolsa de valores.
Um fato curioso é que o livro de Bazin foi escrito na década de 80,
quando não havia nem o plano Real, e portanto nossa moeda circulante era
outra. Sabiamente, em seu texto introdutório, Décio explica que todos os
valores expressos no livro para fins de exemplificação foram convertidos
em dólar, pois, segundo o autor, é a única moeda com uma estabilidade
mínima para que análises de longo prazo pudessem ser feitas.

Lírio Parisotto

Lírio Parisotto é um empresário e investidor gaúcho, cujo


patrimônio também já alcançou a casa dos bilhões. Ele foi fundador da
Videolar, indústria que fabricava fitas VHS (se você viveu esta época,
lembra das fitas de vídeo que você alugava nas locadoras, e das "fitas
virgens" que eram usadas para gravação). Além da Videolar, Lírio criou
uma indústria para a fabricação de plástico poliestireno, também usado em
embalagens.
Apesar de ser mais conhecido como empresário, Lírio Parisotto
também é um investidor de alto renome, além de ser um grande defensor do
investimento em ações, com base em fundamentos, visando o pagamento de
proventos no longo prazo. Atualmente há um fundo de investimento
associado ao seu nome, gerenciando mais de 1 bilhão de reais no mercado
de ações.
Até a presente data, Lírio Parisotto não publicou nenhum livro
sobre investimento no mercado de ações. No entanto, é fácil encontrar na
Internet vídeos com palestras suas em eventos do mercado financeiro.
Recomendo fortemente que você assista essas palestras como forma de
aprendizado.
Em 2016, a revista Exame publicou uma matéria que mencionava a
indicação de livros por parte de grandes investidores brasileiros, dentre eles
Lírio Parisotto. E adivinha qual foi o livro indicado por ele? "Faça Fortuna
com Ações antes que seja tarde", de Décio Bazin! Já ouviu falar?

Luiz Alves Paes de Barros

Luiz Alves Paes de Barros é conhecido no mercado como o


"bilionário anônimo". O apelido se deve ao fato de ele não se expor muito à
mídia, raramente dando entrevistas. Começando com 10 mil dólares, Luiz
Alves hoje possui um patrimônio bilionário na bolsa de valores, e é gestor
do fundo Alaska, cuja rentabilidade é muito superior à rentabilidade do
IBovespa. O fundo é conhecido por investir de forma massiva em empresas
em crise financeira, mas com possibilidade de realizar uma virada,
reestruturando-se.
Alves acumula ao longo de sua história uma série de "grandes
tacadas" na bolsa. Ele comprou muitas ações do Banco Real antes de ser
vendido para banco holandês ABN Amro em 1999. Quando a venda
ocorreu, o bilionário anônimo recebeu mais de 40 vezes o que tinha
investido na época.
Outro exemplo mais recente foi a compra de uma quantidade
massiva de ações da Magazine Luiza em 2015 por parte do fundo Alaska.
Luiz Alves observou que um banco alemão tentou comprar apenas a
operação de garantia estendida da varejista a um preço superior ao preço da
empresa toda na bolsa. Segundo o investidor, ou o banco estava maluco, ou
havia algum potencial ali que ninguém havia percebido ainda. Com o passar
do tempo, o fundo Alaska viu seus investimentos em Magazine Luiza
darem um retorno superior a 1000%. Essa jogada chamou a atenção do
mercado e fez com que o investidor anônimo deixasse de ser tão anônimo
assim.

Warren Buffett

Pra não ficar só no Brasil, acho que vale a pena falar de um


investidor americano, visto que o mercado de ações americano é muito
maior e mais maduro em relação ao mercado brasileiro.
Warren Buffett é considerado por muitos o maior investidor do
mundo. Ele figura a lista da Forbes entre as pessoas mais ricas do mundo, e
em 2008 ele esteve na primeira posição.
Buffett nasceu em Omaha, no estado de Nebraska, nos Estados
Unidos (é conhecido por muitos como "O Mago de Omaha"). Seu pai foi
corretor na bolsa de valores. Buffett demonstrou interesse em guardar e
investir dinheiro desde novo. Comprou suas primeiras ações aos 10 anos de
idade, e ao terminar o colégio já havia acumulado mais de 90 mil dólares.
Atualmente, Warren Buffett é o presidente do conselho e diretor
executivo da Berkshire Hathaway, uma grande companhia que supervisiona
e gere uma série de empresas adquiridas ao longo dos últimos anos. Desde
sua fundação, a Berkshire Hathaway entregou aos seus acionistas um
retorno médio superior a 20% ao ano.
Warren Buffett é o grande defensor de uma metodologia de
investimento denominada "Value Investing" (ou Investimento em Valor, em
português). O Value Investing baseia-se na diferença entre os conceitos de
preço e valor.
Uma frase conhecida de Warren Buffett é "Preço é o que você paga.
Valor é o que você leva". Segundo os defensores do Value Investing, o
preço de uma ação é uma grandeza conhecida, é o que o mercado está
pagando pela ação, e o que é divulgado na mídia. O valor, por sua vez, é
algo intrínseco da empresa - o valor está na capacidade de gerar riqueza, na
força de uma marca, nas possibilidades de crescimento. O valor não é uma
grandeza explícita e bem conhecida. Enquanto o preço é objetivamente
definido, o valor não é algo conhecido e precisa ser estimado.
O Value Investing, portanto, consiste em comprar ações de
empresas cujo preço está abaixo do valor. Para isso, deve-se obter uma
estimativa de quanto vale a ação, aplicar uma margem de segurança, e
comparar o valor (somado à margem de segurança) com o preço. Se você
estima que o preço justo de uma ação é de 5 reais, por exemplo, determine
uma margem de segurança de 10%. Neste exemplo, se o preço da ação
estiver no máximo a R$ 5,50 você investe. Caso contrário você busca
oportunidade em outras empresas.
Mas como estimar quanto vale uma ação? Existem alguns métodos
para se fazer isso, e esse tópico pode ser considerado algo avançado para
um leigo. Warren Buffett é defensor do método mais conhecido para se
estimar o valor de uma ação - O Fluxo de Caixa Descontado.
Por se tratar de um livro voltado a leigos, não vou abordar o fluxo
de caixa descontado de forma quantitativa aqui (caso você tenha interesse,
há uma infinidade de materiais sobre este assunto na literatura de economia
e finanças, ou mesmo na Internet). Conceitualmente, o Fluxo de Caixa
Descontado procura fazer observações sobre a lucratividade da empresa nos
últimos anos e, a partir destas informações, elaborar projeções
conservadoras para os lucros desta mesma empresa nos próximos anos. A
partir destas projeções, considerando o rendimento percentual ao longo dos
anos, é feita a conta reversa para descobrir quanto deve valer a ação
atualmente para que, nos próximos anos, ela alcance a geração de riqueza
que foi projetada - esse valor leva em conta o que a empresa já possui de
riqueza, a quantidade de riqueza que ela pode gerar nos próximos anos e a
taxa de rendimento anual considerando o risco do investimento.
Se você for leigo, provavelmente achou essa explicação confusa.
Mas não se preocupe - como eu disse, o fluxo de caixa descontado é um
assunto um pouco avançado. Por ora, basta entender a diferença entre valor
e preço e saber que você deve buscar situações nas quais a irracionalidade
das pessoas abaixem o preço das ações (numa situação de pessimismo
exagerado, por exemplo).
Voltando a Warren Buffett, até o presente momento ele não
escreveu nenhum livro sobre investimento. Mas, devido à sua fama, vários
livros foram escritos sobre ele e sobre sua forma de investir. Pessoalmente,
eu recomendo o livro "A Bola de Neve: Warren Buffett e o negócio da
vida", de Alice Schroeder.
Warren Buffett é, de fato, um fenômeno no mundo dos
investimentos. E, como os bons "fenômenos", Buffett teve um tutor. O tutor
de Warren Buffett foi Benjamin Graham, um influente economista
americano, que vale a pena ser mencionado aqui.

Benjamin Graham

Se Warren Buffett é visto como o grande defensor do Value


Investing, seu mentor, Benjamin Graham é tido como o pai dessa estratégia
de investimento. Ele foi um influente economista que orientou Buffett na
maneira de investir e com quem ele trabalhou durante parte de sua vida.
Graham é autor de alguns livros sobre investimento, dentre eles o
livro "O Investidor Inteligente", que é considerado um clássico da literatura
de investimento em ações. É a partir deste livro que Graham estabelece as
bases do Value Investing, e seus conceitos são aplicáveis com eficácia até
os dias de hoje.
Um conceito extremamente simples (mas muito importante) que
Graham estabelece no início do livro é a diferença entre investidor e
especulador. Essa diferença já foi abordada de forma exaustiva no início
deste livro - enquanto o especulador compra e vende ações com base em
uma aposta a respeito do que pode acontecer no futuro próximo, o
investidor o faz com o interesse em participar de um investimento lucrativo,
analisando de forma crítica os fundamentos da empresa.
Aproveito para deixar claro que não há nada de errado em
especular, desde que você entenda a diferença entre investir e especular e
saiba o que está fazendo. Neste livro, entretanto, eu busco abordar conceitos
de investimento, e não de especulação.
Existem muitos outros investidores de sucesso para nos inspirar,
mas se você conhecer e entender a filosofia de investimento destes que eu
apresentei, você já terá uma boa maturidade para seguir o mesmo caminho.
Com isso eu encerro a parte introdutória deste livro, que tem por
objetivo apresentar a você a mentalidade fundamental que irá te dar
segurança para entrar no mercado de ações. Nos capítulos que se seguem eu
pretendo apresentar os aspectos mais práticos da bolsa de valores. Você está
pronto? Então vamos lá!
Parte 3:

O que é bom saber


O técnico e o fundamentalista
"Fé e razão são como a dualidade onda-partícula:
pode-se ter as duas coisas, mas nunca ao mesmo tempo."
- Alberto Prass

Basicamente, existem duas formas de estruturar e embasar a decisão


na hora de operar no mercado de ações - a análise técnica e a análise
fundamentalista. Para uns, estas duas formas são rivais, enquanto para
outros estas formas se complementam. Particularmente, eu acredito que as
duas formas são válidas, mas aplicáveis em contextos e objetivos diferentes.
A seguir eu apresento essas duas formas para que você tire suas próprias
conclusões.
O que é a análise técnica

A análise técnica consiste em observar padrões em gráficos


relacionados às ações, como gráficos de preço, volume de negociação,
quantidade de vendedores e quantidade de compradores. Já viu aqueles
gráficos malucos que os analistas mostram em sites e canais de economia?
Pois é, são esses gráficos que são considerados na análise técnica.
A análise técnica teve início com a Teoria de Dow, que surgiu a
mais de 100 anos atrás, estabelecida por Charles Dow. O atual Índice Dow
Jones, um dos principais indicadores do mercado americano, também tem a
origem de seu nome em Charles Dow.
A teoria de Dow se baseia na observação do histórico de preço das
ações como base para análise. Observando o histórico dos preços, Charles
Dow chegou às seguintes conclusões:
1) Os índices descontam tudo - este conceito tem a ver como algo
conhecido como "Hipótese do Mercado Eficiente". A ideia é que o mercado
e sua dinâmica é eficiente em precificar todos os fatos associados a
determinada empresa. Em outras palavras, é como se o preço de uma ação
fosse um resumo de tudo o que pode estar afetando o valor da empresa.
Dessa forma, a observação de como o preço de uma ação varia, de acordo
com os defensores da análise técnica, é a estratégia mais poderosa para
considerar tudo que afeta a empresa, pois, em teoria, todos esses aspectos
estariam implícitos no preço da ação.
2) Os mercados se movem em tendências - essas tendências
podem ser de alta ou de baixa. Além disso, as tendências são divididas entre
primária, secundária ou terciária. A tendência primária abrange um
horizonte maior, e é a tendência principal. No entanto, se uma ação está em
tendência primária de alta, não significa que a ação tem alta todos os dias
durante essa tendência. Ela oscila entre altas e baixas mais curtas que, em
conjunto, constituem um movimento de alta ao longo do tempo. Essas
subidas e descidas intermediárias representam a tendência secundária. Entre
as linhas de tendência secundária, temos oscilações no curtíssimo prazo que
formam as linhas de tendência terciária. A figura a seguir mostra um
exemplo das linhas de tendência no preço das ações da Vale S.A., entre
2009 e 2010.

3) Índices confirmando tendência - antes de tirar conclusões a


respeito de uma tendência nos preços, deve-se observar se há índices que
confirmam essa tendência. Um exemplo é o Ibovespa, um índice sobre o
qual já falamos. Existem outros índices, como por exemplo índices de
subgrupos de empresas da bolsa (como o IbrX-50, índice das 50 empresas
mais negociadas na bolsa, o SMLL, índice das chamadas Small Caps , que
são as empresas com menor valor de mercado, e o IDIV, índice com
empresas que pagam mais dividendos aos acionistas). Ou seja, a análise
não deve ficar restrita ao preço da ação. O gráfico dessa ação deve ser
considerado em conjunto com o gráfico de índices relacionados a essa ação.
4) Volume confirmando tendência - O volume é a quantidade de
negociações de uma ação que houveram em um determinado dia. O
esperado é que, havendo uma tendência de alta, o volume negociado
também aumente, pois as pessoas tendem a negociar aquilo que está em
ascensão. O contrário também deve ocorrer: se uma ação entra em
tendência de baixa, o esperado é que o volume de negociações diminua.
5) Valor de fechamento - As operações na bolsa acontecem todos
os dias úteis, com um horário para a abertura, e um horário para o
fechamento. O preço de uma ação pode variar bastante ao longo do dia,
portanto a análise deve ser feita comparando-se os preços em um
determinado momento. Dessa forma, as análises são feitas considerando os
preços de fechamento do dia, ou seja, o preço da última negociação feita no
dia.
6) A tendência se mantém até que um sinal de reversão se
confirme - É como se o movimento de alta ou baixa tivesse uma inércia. Ele
tende a se manter até que os sinais da tendência oposta apareçam
(confirmação pela tendência dos índices e pela inversão do volume, por
exemplo).
No exemplo que eu dei das ações da Vale, eu utilizei um gráfico em
linha, que é mais simples - ele simplesmente mostra o preço de fechamento
da ação em cada dia, ao longo do tempo. O tipo de gráfico mais utilizado
pelos grafistas nas análises é o chamado gráfico de candlesticks .
“Candlesticks”, em inglês, significa castiçais, ou conjunto de velas, e o
nome do tipo de gráfico é esse porque os marcadores parecem velas (esses
marcadores são chamados simplesmente de “candles”). A figura a seguir
mostra o gráfico no formato de candlesticks para as ações da Usiminas, de
maio a agosto de 2018.

Existem dois tipos de candle - o candle de alta e o candle de baixa.


Eles são diferenciados pela cor - o candle de baixa geralmente possui cor
vermelha, ou escura em gráficos em preto e branco, enquanto o candle de
alta possui cor verde, ou clara em gráficos preto e branco. Enquanto no
gráfico em linha só existe a marcação do preço de fechamento, o gráfico em
candle marca 4 informações - o preço de abertura, o preço de fechamento, o
preço máximo alcançado no dia e o preço mínimo alcançado no dia. A
figura a seguir mostra como interpretar um candle de baixa e um candle de
alta.
Perceba que no candle de baixa o preço de abertura é a extremidade
superior da barra, enquanto o preço de fechamento é a extremidade inferior.
Isso porque, se houve baixa no dia, o preço de fechamento é inferior ao
preço de abertura. O inverso ocorre no candle de alta.
Outra observação a ser feita é em relação aos preços máximo e
mínimo do dia. Eles são indicados pelas linhas na extremidade da barra.
Essas linhas são chamadas de “sombra”. Quanto maior a sombra do candle,
maior a variação no preço da ação naquele dia.
É possível também, analisando a sombra e a barra do candle, ter
uma ideia de como foi o fechamento daquele dia - suponha, por exemplo,
um candle de alta com uma sobra bem curta. Isso significa que a
extremidade superior da barra (preço de fechamento) está próxima da
extremidade superior da sombra (preço máximo do dia). Logo, podemos
afirmar que as ações da empresa fecharam o dia com o preço próximo ao
máximo, o que pode indicar um movimento de entusiasmo que ocorreu no
fim do dia, podendo esse entusiasmo continuar na abertura do dia seguinte
(observe que isso é uma possibilidade, não uma certeza!).
A partir dos princípios estabelecidos por Charles Dow e, utilizando
as marcações gráficas, as pessoas foram desenvolvendo técnicas de se
analisar um gráfico e estabelecer tendências que possam guiar na hora de
decidir comprar ou vender determinada ação de uma empresa. Meu objetivo
aqui não é fornecer um curso de análise técnica (existem diversos cursos
disponíveis no mercado específicos a esse propósito), mas apenas mostrar
os princípios básicos nos quais os defensores desta forma de investir se
baseiam.
Observe que esta abordagem é bem diferente da filosofia que
abordamos inicialmente, na qual olhamos para as ações como cotas de
participação em um negócio e analisamos o negócio (se é lucrativo ou não),
sem se apegar muito ao preço.

A profecia autorrealizável da Análise Técnica

Já ouviu falar sobre a história de Édipo? De acordo com a mitologia


grega, Laio, o rei de Tebas, foi alertado pelo Oráculo de Delfos sobre uma
profecia na qual ele seria morto pelo seu próprio filho, que iria se casar com
sua esposa. Por causa disso, Laio abandonou o seu filho quando ainda era
um bebê, pregando um prego em cada um de seus pés. O menino foi
encontrado por um pastor, que o salvou e deu-lhe o nome de Édipo (no
grego, Edipodos , ou “pés-furados”) e o levou a Corinto.
Depois disso, Édipo foi adotado pelo rei de Corinto e foi criado por
ele. Depois de adulto, Édipo foi consultar o Oráculo de Delfos, que lhe
falou sobre a profecia de que ele seria o assassino de seu pai e se casaria
com a sua mãe. Para evitar essa tragédia, achando que o rei de Corinto era
seu pai biológico, Édipo decide fugir de Corinto e, no caminho, encontra
Laio, seu pai verdadeiro, com quem tem uma discussão e, no duelo, acaba o
matando.
Após matar o rei Laio, Édipo vai em direção a Tebas, cidade que era
ameaçada pela Esfinge (aquele animal com corpo de leão e cabeça humana
ou de águia, que está presente na mitologia egípcia também). Édipo vence
então a Esfinge, torna-se o herói da cidade, e casa-se com a rainha Jocasta,
sua verdadeira mãe. Mais tarde, ao descobrir que a profecia havia sido
cumprida, Édipo fura seus próprios olhos em punição por não ter
reconhecido seus pais.
A história de Édipo é sobre uma profecia autorrealizável. Talvez, se
Édipo fosse criado por Laio, ele saberia o tempo todo quem eram seus pais
e não teria matado seu pai e nem casado com sua mãe. Mas, ao saber da
profecia, Laio abandona Édipo criando a confusão de quem é o pai
verdadeiro. Édipo, por sua vez, ao saber da profecia também dá sua
contribuição para que ela se cumpra - ele decide fugir de Corinto, o que o
faz ter contato com seu pai, e ir a Tebas, onde conheceu sua mãe.
Mas, por que eu estou contando essa história? Pra responder à
pergunta que muita gente faz sobre a análise técnica - “A análise técnica
funciona?”
A minha resposta é que, em determinadas situações, a análise
técnica pode funcionar sim, porque ela também é uma profecia
autorrealizável! Como eu já mencionei, a análise técnica consiste na
observação de padrões nos gráficos de preços das ações e índices. Essa
análise segue princípios, os quais foram inicialmente estabelecidos por
Charles Dow, e aprimorados ao longo do tempo. Dentre os princípios está a
confirmação de uma tendência.
Lembre-se do princípio de que uma tendência se mantém até que os
sinais de reversão apareçam. Imagine que você está analisando a
possibilidade de compra uma ação que está em tendência de baixa. Suponha
que você estudou a análise técnica a fundo, e basta bater o olho em um
gráfico que você já é capaz de identificar um sinal de reversão. Você
aguarda pacientemente, até que este sinal de reversão apareça no gráfico de
preços, e então o que você faz? Compra, acreditando que a ação que estava
em tendência de baixa está pronta para reverter em uma tendência de alta.
Acontece que, se muitas pessoas seguirem as indicações da análise
feita, a própria intenção de comprar faz com que o preço das ações suba.
Trata-se da lei de oferta e demanda da economia - se o número de pessoas
interessadas em comprar (demanda) é maior do que o número de pessoas
interessadas em vender (oferta), então o preço negociado tende a subir. Uma
situação semelhante deve ocorrer caso a ação esteja em tendência de alta e
um sinal de reversão seja identificado - seguindo a previsão da análise
técnica, o esperado é que as pessoas queiram vender suas ações com medo
de que a queda se concretize, o que de fato faz com que o preço das ações
caia.
A ideia da profecia autorrealizável está justamente no fato de haver
uma previsão (no conto de Édipo essa previsão é feita pelo Oráculo,
enquanto no caso das ações a previsão vem da análise técnica), e as pessoas
agirem em resposta a essa previsão (no caso de Édipo ele fugiu de Corinto,
enquanto na bolsa as pessoas tomam a decisão de comprar ou vender
baseando-se na previsão). A atitude tomada em resposta a previsão acaba
fazendo com que a própria previsão se cumpra (no caso de Édipo foi a
morte de seu pai e o casamento com a sua mãe, e na bolsa é o movimento
de subida ou descida dos preços das ações).
Agora, voltemos à pergunta: "A Análise Técnica funciona"? Essa
pergunta certamente terá uma resposta diferente para cada um que tiver que
responder. Muita gente já ganhou dinheiro com a análise técnica, mas muita
gente também já perdeu muito dinheiro com ela. Particularmente, eu
acredito que ela pode ser uma ferramenta poderosa, mas deve-se saber
quando usá-la.
A ideia de que a análise técnica é uma profecia autorrealizável pode
se sustentar em momentos mais tranquilos, mas não se mantém em
momentos mais turbulentos. Suponha, por exemplo, que a análise aponte
uma tendência de alta, sem sinal de reversão. Você então decide comprar
ações da empresa analisada, esperando que ela vá continuar o movimento
de subida. Sem nenhum sinal de reversão, de uma hora para outra, um
escândalo na política surge, um fato que pode alterar os rumos da história e
da economia, gerando pânico no mercado. Em minha opinião não há sinais
gráficos que sejam capazes de prever essa situação, e nem de segurar a
reversão que ele provoca nos preços. Nassim Taleb escreveu um livro sobre
isso, chamado "A Lógica do Cisne Negro", o qual eu recomendo a leitura.
Em resumo, isso é o que eu penso sobre a análise técnica - ela pode
ser útil, mas é preciso saber exatamente o que está fazendo e conhecer os
seus riscos. Sendo assim, é preciso estudar muito antes de utilizá-la com
confiança. Particularmente, eu acredito que a análise técnica não é o método
ideal para quem está começando na bolsa. Lembra quando falamos sobre
Benjamin Graham, que em seu livro "O Investidor Inteligente" faz a
distinção entre "investidor" e "especulador"? Pois é. Para mim, o uso da
análise técnica não é necessariamente um investimento, mas sim uma
especulação. E quando digo isso não estou criticando, pois não há nada de
errado com o ato de especular. Nem quero dizer que não funciona. Apenas
são coisas diferentes (investimento e especulação), e acho importante saber
em qual dos dois perfis você e seus objetivos se encaixam.
Se você está começando na bolsa, recomendo o investimento
baseado em análise fundamentalista, sobre a qual vamos falar a seguir.
Assim que você entender a dinâmica da bolsa e se sentir mais confiante,
não há nada de errado em estudar a análise técnica a fundo, e especular um
pouco em busca de mais dinheiro para poder investir de verdade.

O que é análise fundamentalista

Como o próprio nome diz, a análise fundamentalista consiste em se


basear nos fundamentos da empresa para decidir comprar ou vender
determinada ação. E quais são estes fundamentos? Vários aspectos podem
ser observados, como crescimento da receita, lucro líquido, endividamento,
participação no mercado, dentre outros.
Eu diria que a análise fundamentalista é baseada em dois aspectos -
um deles qualitativo e outro quantitativo. O aspecto qualitativo tem a ver
com a sua visão do que representa a empresa - qual é a força da marca, por
exemplo, ou como as pessoas interagem com o produto. Já o aspecto
quantitativo vem dos números da empresa - as empresas citadas na bolsa
divulgam seus balanços a cada trimestre, e esses balanços contém
informações sobre as finanças da empresa (receita, lucro, endividamento e
provisões, por exemplo) e sobre sua operação (produção, custos e expansão
de mercado, por exemplo). Além dos números divulgados pela empresa,
existem os chamados indicadores fundamentalistas, que são indicadores
calculados a partir do preço das ações e dos números divulgados pelas
empresas. Nós iremos abordar os indicadores fundamentalistas em detalhes
mais adiante.
Mas por que eu considero a análise fundamentalista o método mais
indicado aos iniciantes? Eu acredito que a análise fundamentalista está mais
próxima do dia a dia das pessoas, sendo portanto um método mais intuitivo.
Lembre-se dos capítulos iniciais deste livro, quando eu mencionei que
provavelmente você já sabe investir, pois é capaz de se questionar se um
negócio é lucrativo ou não, se as dívidas da empresa são saudáveis ou não,
e se o mercado está em expansão ou não. A análise fundamentalista aborda
exatamente esses pontos, porém de uma forma mais sistemática e numérica.
A maior parte das empresas listadas na bolsa possuem um site de
relações com investidores, onde você pode encontrar as informações
financeiras sobre as empresas. Basta digitar em algum site de busca o nome
da empresa seguido da sigla "RI", que significa "Relações com
Investidores". Se você acessar algum relatório agora e não entender alguns
termos, não se preocupe, pois ainda abordaremos as informações mais
importantes de um balanço.
Além do site de relações com investidores da empresa, você pode
buscar informações em portais especializados em notícias de economia,
como o "Infomoney", "Money Times", "Bloomberg" e "Valor Econômico".
Nesse ponto já estabelecemos que existem duas vertentes para
operar na bolsa - a análise técnica e a análise fundamentalista. Minha
recomendação para quem está iniciando é começar com a análise
fundamentalista, sempre tendo em mente que as ações são parte de um
negócio (conforme já abordei bastante neste livro). Depois, com o tempo,
você começará a se sentir cada vez mais à vontade com a renda variável, e
talvez neste ponto já sobre algum dinheiro. Nesse caso, talvez seja
interessante estudar a análise técnica e separar uma pequena quantia para
especulações.
Saiba que nessa fase de especulações você provavelmente vai
perder dinheiro, mas considere um investimento em treinamento. Se você
tiver sucesso com as especulações, sempre direcione parte dos seus lucros
para os seus investimentos de longo prazo (aqueles que foram feitos
baseando-se na análise fundamentalista), pois são estes que realmente
podem te tornar rico(a). A propósito, mantenha-se fiel à estratégia de
sempre investir parte de todo o dinheiro que você recebe em boas ações,
selecionadas a partir dos fundamentos. No início vai parecer que o dinheiro
cresce muito lentamente, mas com o passar dos anos você irá se assustar
com a forma com que seus investimentos crescem.
Já defini para você as análises técnica e fundamentalista. Como este
livro é voltado a iniciantes, nos próximos capítulos eu irei abordar alguns
aspectos relacionados ao funcionamento da bolsa, e em seguida prosseguir
com os conceitos relacionados à análise fundamentalista. Com esses
conceitos, acredito que você estará habilitado(a) a iniciar com o pé direito
na bolsa de valores.

Os Tipos de Ações
"É muito melhor comprar uma companhia maravilhosa
a um preço justo do que uma companhia justa a um
preço maravilhoso."
- Warren Buffet, em carta aos acionistas de 1989.

Antes de tratar dos indicadores fundamentalistas, acho que vale a


pena esclarecer alguns aspectos relacionados ao funcionamento da bolsa. O
primeiro deles é quanto aos diferentes tipos de ações que você pode
comprar. Eu dividi as ações em dois critérios:
- Direitos atribuídos aos acionistas (divididas em ordinárias ou
preferenciais);
- Tamanho das empresas (divididas em Blue Chips ou Small Caps ).
A seguir eu detalho essas divisões.

Ações ON e Ações PN

Do ponto de vista dos direitos atribuídos aos acionistas, as ações


basicamente se dividem em duas - Ações ordinárias (ou ações ON) e ações
preferenciais (ou ações PN). Tanto a ação preferencial quanto a ação
ordinária constituem uma participação no negócio e dão direito ao acionista
de receber parte dos lucros, mas elas possuem uma diferença -
eventualmente as empresas realizam assembleias para votação de alguma
medida relacionada ao negócio e às finanças, como a aprovação de
remuneração aos acionistas, emissão de novas ações (nós ainda vamos
detalhar isso), ou venda de ativos. Os acionistas que possuírem ações
ordinárias (ON) tem direito a voto, enquanto os detentores de ações
preferenciais (PN) não.
Essa diferença pode fazer com que você chegue à conclusão de que
ações ordinárias são melhores em relação as ações preferenciais, mas isso
não é necessariamente verdade. Isso porque as ações preferenciais abrem
mão do direito de voto para ter preferência no pagamento de proventos.
Algumas empresas pagam uma quantidade maior aos acionistas
preferenciais do que aos detentores das ações ordinárias (algumas empresas
ainda pagam o mesmo valor para ON e PN). Além disso, no caso de a
empresa declarar falência, existe uma possibilidade maior de os detentores
de ações do tipo PN receberem uma compensação em dinheiro.
Pensando na estratégia que propomos neste livro (comprar ações
boas pagadoras de proventos periodicamente e reinvestir os proventos),
comprar ações PN faz mais sentido em relação às ações ON. Essa
vantagem, no entanto, não é uma regra. Como eu mencionei, nem todas as
empresas pagam mais proventos aos detentores de ações preferenciais -
algumas pagam o mesmo valor. Mas as ações PN e ON tem preços
diferentes, portanto se a empresa paga o mesmo valor em proventos para
ações ON e PN, aquela que estiver mais barata se torna mais vantajosa para
a nossa estratégia.
Algumas empresas só emitem ações ordinárias, de forma que o
pagamento e os direitos são iguais para qualquer ação. A Vale, por exemplo,
em 2017 converteu todas as ações preferenciais em ordinárias. A
regulamentação da bolsa estabelece níveis de governança corporativa, com
o objetivo de classificar as empresas em diferentes níveis de governança e
transparência. O nível mais alto de governança da bolsa brasileira é o nível
de Novo Mercado. Para que a empresa seja classificada nesse nível ela deve
cumprir com alguns requisitos, sendo que um desses requisitos é que todas
as ações da empresa sejam ordinárias. E é por isso que a Vale converteu
suas ações preferenciais em ações ordinárias.
Aproveito essa discussão sobre ações do tipo ON e do tipo PN para
explicar sobre o "ticker" da ação. Mais adiante veremos o passo a passo
para investir na bolsa, e quando você for comprar ações você observará que
cada ação possui um código, chamado de "ticker". Esse código é composto
por quatro letras que lembram o nome da empresa, seguido de um número.
Esse número é um indicativo do tipo de ação (geralmente as ações PN tem
um número maior do que as ações ON). As ações ordinárias da Petrobras,
por exemplo, são representadas pelo ticker PETR3, enquanto as ações
preferenciais são representadas pelo ticker PETR4. No exemplo da Vale, as
ações ordinárias tem o ticker VALE3, enquanto as ações preferenciais
tinham o ticker VALE5. Após o processo de conversão, quem tinha ações
VALE5 teve seus papeis convertidos para VALE3.

Tag Along

Outra vantagem das ações ON em relação às ações PN é um


conceito conhecido como Tag Along. Para explicar este conceito, vou
utilizar as ações da Usiminas como exemplo. As ações ordinárias da
Usiminas são representadas pelo código USIM3, enquanto as ações
preferenciais são representadas pelo código USIM5.
Lembra que eu mencionei que as ações ordinárias e preferenciais
possuem preços diferentes? Pois é. Em geral as ações ordinárias e
preferenciais de uma mesma empresa são afetadas mais ou menos da
mesma forma, pois representam cotas de participação na mesma empresa,
logo seus preços se movem geralmente com as mesmas tendências. Mas há
exceções.
A figura a seguir mostra as cotações de USIM5 e USIM3, de 15 de
junho de 2016 até 15 de setembro do mesmo ano.
Perceba que os preços das duas ações se movem de forma
semelhante, mas no início de julho houve uma forte alta no preço da ação
ordinária (USIM3) enquanto o preço da ação preferencial (USIM5)
permanece no mesmo patamar.
Mas, por que houve essa diferença se estamos tratando da mesma
empresa? A resposta para isso vem de um mecanismo chamado "Tag
Along".
Tag Along é um mecanismo de proteção aos acionistas minoritários.
E quem são os acionistas minoritários? São todos que compram ações, mas
não possuem mais de 50% da empresa, e portanto não controlam as
decisões da empresa (nós, investidores pessoa física, fazemos parte dos
acionistas minoritários). Já os controladores geralmente são grupos
empresariais que possuem a maioria das ações, e de fato controlam a
empresa.
No período representado no gráfico, os controladores da Usiminas
eram dois grupos (e até o momento em que estou escrevendo este livro
continuam sendo eles) - A Ternium, um grupo de empresários italianos e
argentinos, e a Nipon Steel, um grupo japonês. Historicamente, estes dois
grupos nunca se deram muito bem, o que sempre prejudicou o
desenvolvimento da Usiminas. Mas voltemos ao Tag Along.
O Tag Along é um mecanismo que garante ao acionista minoritário
o direito de vender suas ações a um determinado preço no caso de troca de
controladores. Pela lei, as empresas com capital aberto na bolsa são
obrigadas a garantir tag along de, no mínimo, 80%. Isso significa que, se o
controlador vender o controle da empresa a outro grupo, este grupo também
é obrigado a comprar as ações ordinárias (do tipo ON) dos acionistas
minoritários (caso eles queiram exercer este direito, é claro) por, pelo
menos, 80% do preço pago por ação ao controlador anterior no movimento
de troca. Talvez seja mais fácil de entender com um exemplo.
Suponha que você possua ações ON de uma empresa, cujo capital é
distribuído na bolsa em 100 milhões de ações. Suponha que o grupo
controlador possui 51 milhões de ações, enquanto as 49 milhões restantes
estão distribuídas entre os acionistas minoritários, dentre eles você, que
possui algumas dessas ações. Aparece então um grupo empresarial
estrangeiro interessado em comprar o controle dessa empresa por 510
milhões de reais. Se o grupo controlador aceitar o negócio, ele estará
vendendo 51 milhões de ações por 510 milhões de reais, logo o grupo
estrangeiro estará comprando o controle da empresa a R$ 10,00 por ação.
Pela lei, este grupo empresarial estrangeiro é obrigado a comprar
suas ações ON ao preço de, no mínimo, R$ 8,00 (80% do valor pago ao
controlador). Se, no momento em que isso ocorrer, as ações estiverem
sendo negociadas no mercado por R$ 5,00, por exemplo, você terá o direito
de vender suas ações a um preço significativamente maior. - isso constitui o
tag along de 80%.
Lembra que eu dei o exemplo da Vale, que converteu todas suas
ações PN em ações ON para se enquadrar na categoria "Novo Mercado"?
Outro critério exigido para ser uma empresa de novo mercado é que as
ações possuam tag along de 100%, ou seja, proteção ao acionista
minoritário além do mínimo exigido. Lembrando que as ações PN não
possuem tag along, portanto é mais uma diferença entre ações ON e PN.
Agora que você entende o que é tag along, fica mais fácil entender
o que houve com as ações da Usiminas no início de julho de 2016. Talvez
se você buscar por notícias da época relacionadas à Usiminas, você poderá
encontrar algo sobre rumores do mercado a respeito de um possível
entendimento entre a Ternium e a Nipon Steel, os dois controladores
majoritários, sinalizando uma possível compra do controle da empresa.
Esses rumores não se concretizaram (pelo menos não até este momento),
mas na época foi o suficiente para fazer com que a demanda por comprar
ações ordinárias (USIM3) fossem significativamente maior do que a
demanda por ações preferenciais (USIM5), como foi possível observar no
gráfico.
Resumindo, portanto, as ações preferenciais não possuem direito a
voto nas assembleias, e nem possuem tag along mas, em troca, garantem
preferência no pagamento de proventos, que podem ser inclusive maiores
em relação às ações ordinárias. Por outro lado, as ações ordinárias podem
garantir um recebimento menor de proventos, mas em troca dão direito ao
voto em assembleia e possuem tag along de, no mínimo, 80%. Agora que
você conhece estes conceitos, já é capaz de decidir por conta própria qual
tipo de ação você prefere comprar - ações ON ou ações PN.

Units

Algumas empresas, além de emitirem ações preferenciais e


ordinárias, também emitem as chamadas "Units". Uma unit nada mais é do
que um pacote que reúne mais de um tipo de ativo, como ações
preferenciais, ações ordinárias e direitos de subscrição (não se assuste,
ainda vamos falar sobre os direitos de subscrição mais adiante).
As units são representadas pelas quatro letras do ticker seguidas do
número 11. Um exemplo são as units da Klabin S.A., empresa do ramo de
papel e celulose. As ações preferenciais da Klabin são representadas pelo
ticker KLBN4, e as ações ordinárias são representadas pelo ticker KLBN3.
Há também a unit da Klabin, representada pelo ticker KLBN11, que é
composta por 4 ações preferenciais e 1 ação ordinária. Em outras palavras,
ao comprar uma unit KLBN11, você estará comprando 4 KLBN4 e 1
KLBN3.

Tipos de ações divididas pelo tamanho da empresa - Blue Chips


e Small Caps

Além de diferenças entre os direitos concedidos aos acionistas,


outro critério utilizado para classificar os tipos de ações se refere ao
tamanho da empresa. Para isso existem dois termos que você
provavelmente vai ouvir falar ao se envolver com o mercado financeiro -
Blue Chips e Small Caps.
O termo "Blue Chips" surgiu dos cassinos, em referência às fichas
azuis, que são consideradas mais valiosas no pôquer. No mercado de ações
este termo é utilizado para designar as empresas maiores, com maior valor
de mercado e mais bem estabelecidas da bolsa. No caso da bolsa brasileira,
nos tempos atuais, Vale, Petrobras, Banco do Brasil e Itaú são exemplos de
empresas consideradas Blue Chips.
Por outro lado, temos as Small Caps, que são empresas menores,
com valor de mercado bastante inferior às Blue Chips. São exemplos de
small caps a BR Malls, Odontoprev, Sanepar e Eztec. Mas o fato das small
caps possuírem valor de mercado inferior ao das blue chips não diz nada
sobre o investimento em small caps ser pior do que o investimento em blue
chips. Inclusive existe um fundo de ações que é composto apenas por small
caps, o SMAL11 (fundos de ações são como as units, só que o "pacote"
vem com ações de empresas diferentes. É uma boa alternativa para quem
não quer ter o trabalho de escolher ações - basta comprar um fundo de
ações, o que garante uma diversificação maior do que comprar ação de
apenas uma empresa).
A questão acerca das blue chips e das small caps gira em torno de
risco e retorno. As blue chips são empresas já bem estabelecidas, com uma
estrutura maior, e portanto oferecem uma certa estabilidade (menor risco).
Existe um risco baixo de que a Vale, por exemplo, entre em falência de uma
hora para outra. Por outro lado, a possibilidade de que a Vale triplique o seu
valor no curto prazo também é baixa. Com as small caps é o contrário - por
serem empresas menores, elas possuem maior flexibilidade em
compensação à estrutura menor - uma small cap pode se mover de forma
mais ágil, tanto para cima quanto para baixo. Em outras palavras, uma small
cap pode caminhar mais rapidamente em direção à falência se for mal
gerida ou se o mercado externo entrar em crise, mas por outro lado ela pode
progredir de maneira muito mais rápida se bem gerida ou se for exposta a
um ambiente de mercado mais favorável - maior riso, e maior retorno
potencial.
É como trabalhar em empresa grande ou trabalhar em empresa
pequena. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens. Trabalhando numa
empresa grande você está relativamente protegido por uma grande
estrutura, com uma aparente estabilidade. Trabalhando em uma empresa
pequena você pode se destacar mais e crescer junto com ela. Não existe
uma regra que diz qual das duas é melhor. Varia para cada perfil.
No caso das ações, no entanto, você não precisa escolher. Eu,
particularmente, recomendo que você compre ações tanto de blue chips
quanto de small caps, mantendo uma carteira balanceada e diversificada.

Eventos societários
"Com disciplina e paciência é impossível
perder dinheiro com ações."
- Luiz Barsi Filho

Muito bem. Você já entendeu o que é o mercado de ações, o que


representam as ações e quais os tipos de ações que você irá comprar. Em
breve você estará comprando ações com a mentalidade vencedora,
pensando em comprar boas empresas e se tornar sócio delas, reinvestindo
seus lucros e vendo seu patrimônio crescer ao longo dos anos. E quem
mantém ações na carteira por longos períodos de tempo acaba vivenciando
diversos eventos societários, que são movimentações das empresas que
envolvem os acionistas. Neste capítulo vamos falar um pouco sobre os
principais eventos.

IPO ( Initial Public Offering )

O primeiro evento societário que vamos abordar é o IPO, sigla em


inglês para "Initial Public Offering" ou, em português, Oferta Pública
Inicial. Lembra quando falamos, no começo do livro, sobre a origem da
ideia por trás da bolsa de valores? De forma resumida, um grupo de pessoas
com um empreendimento em mente ia em busca de investidores para
financiar um projeto. E o IPO é exatamente isso - uma empresa que precisa
adquirir fundos para expandir seus negócios resolve abrir capital na bolsa.
Dessa forma, a empresa entra com toda a documentação na CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) e, se aprovada, oferece ao público a
oportunidade de comprar ações da empresa e se tornar sócio. Dizemos que a
empresa abre o capital ao fazer um IPO porque ela abre as principais
informações financeiras para que os potenciais acionistas tenham maior
embasamento para comprar as ações.
No processo de abertura de capital a empresa estabelece um preço
de abertura, que é uma avaliação de quanto deveria valer a ação. O mercado
então avalia se vale a pena ou não comprar as ações - dependendo do
entusiasmo das pessoas, as ações podem estrear subindo (caso as pessoas
julguem que a empresa tem potencial e que o preço divulgado está abaixo
do que realmente vale o negócio) ou caindo (caso as pessoas considerem o
preço divulgado exagerado em relação ao que o negócio vale).
As opiniões sobre se vale a pena ou não participar de um IPO se
dividem entre os investidores. Eu, particularmente, dificilmente me envolvo
com ações que estão estreando na bolsa através de um IPO, pois prefiro
esperar para ver como a empresa irá se desenvolver depois de abrir o
capital. Em alguns casos, porém, pode ocorrer de o preço de lançamento ser
convidativo. Nesse caso vale a pena abrir uma exceção.

OPA (Oferta Pública de Aquisição)

Se o IPO é a porta de entrada da empresa na bolsa, a OPA, sigla


para Oferta Pública de Aquisição, é a porta de saída. Quando a empresa que
possui capital aberto na bolsa deseja fechar novamente o capital, o ideal é
que ela aumente sua participação, comprando as ações dos acionistas
minoritários. Para isso, a empresa inicia o processo de OPA, que também é
regulado pela CVM.
Ao realizar uma OPA, deve ser estabelecido o preço que os
controladores da empresa pagarão pelas ações dos minoritários. O preço
justo a ser proposto deve ser estabelecido através de um laudo de avaliação,
que é feito por uma empresa especializada. Esse laudo leva em conta três
fatores - a cotação (preço) média das ações nos últimos 12 meses, o valor
econômico da empresa baseado em seu fluxo de caixa e seu valor
patrimonial (preço dos seus ativos e passivos).
O preço justo calculado no laudo de avaliação pode ser maior ou
menor em relação ao preço que as ações estão sendo negociadas na bolsa no
momento da OPA. Como para empresa é importante a maior aderência dos
acionistas minoritários (pois comprando mais ações dos minoritários, a
participação dos controladores aumenta), é comum que as empresas que
desejam sair da bolsa ofereçam um valor significativamente superior à
cotação das ações no mercado.

Subscrição

Também já mencionamos a subscrição no começo deste livro,


quando demos o exemplo de uma empresa que decide desenvolver um novo
produto e precisa levantar capital para financiar o desenvolvimento. Se a
empresa ainda não abriu seu capital na bolsa, ela realiza o processo de IPO
e consegue os fundos vendendo suas primeiras ações na bolsa. Já a
subscrição é o mecanismo usado quando a empresa já possui capital aberto
e quer expandir - por meio deste processo, a empresa emite novas ações,
aumentando o capital e o número de sócios. Mas, nesse caso, como a
subscrição afeta quem já tem ações da empresa?
Suponha que você e mais três amigos sejam sócios em uma
empresa que vocês fundaram. Cada um possui uma parcela igual da
empresa, ou seja, 25%. Para facilitar o raciocínio, vamos dividir a
participação em 100 cotas, que seriam equivalentes às ações de uma
empresa com capital aberto. Portanto, das 100 cotas, cada um possui 25.
Suponha também que a empresa está avaliada em 1 milhão de reais,
portanto, cada cota vale 10 mil reais e seu patrimônio nessa empresa é de
250 mil reais.
Em determinado momento vocês decidem expandir os negócios
através de um plano para pagar dívidas, fazer reformas, criar um novo
produto e investir mais em marketing para alavancar as vendas. Todas essas
medidas vão custar algo em torno de 500 mil reais. Então vocês resolvem
convidar novos sócios, e fazem isso da seguinte forma - vocês criam 50
novas cotas, cada uma valendo 10 mil reais e oferecem para quem quiser
entrar no negócio com vocês. Basicamente essa é a ideia por trás da
subscrição.
Supondo ainda que vocês conseguiram vender todas as novas cotas
a novos sócios. Observe que a sua participação na empresa diminuiu, pois
antes você tinha 25% da empresa (25 cotas das 100 totais), e agora você
possui apenas aproximadamente 16,7% do total da empresa (25 cotas das
150 totais). Isso é o que chamamos de diluição, pois a sua participação na
empresa foi diluída entre os novos sócios. Ainda assim, você não perdeu
patrimônio - você continua com 25 cotas, valendo 10 mil reais cada uma,
num total de 250 mil reais.
Em outras palavras, você passou a ter uma participação menor, mas
de um negócio maior. A desvantagem é que você perdeu um pouco do seu
poder de decisão, pois entraram novos sócios, mas a vantagem é que agora
a sua empresa está em outro patamar, aumentando em 50% o seu valor - se
o plano de medidas que vocês propuseram for bom, vocês podem vivenciar
um bom crescimento no faturamento da empresa.
Nesse exemplo que eu dei, o justo seria que, antes de abrir a
oportunidade para novos sócios, vocês oferecessem primeiro a oportunidade
entre vocês que já são sócios. Se cada um possui um quarto da empresa,
vocês poderiam estabelecer que cada um tem o direito de comprar 12,5
cotas dentre as 50 novas cotas. Esse direito de comprar as novas cotas é o
que chamamos na bolsa de "direito de subscrição". E esse direito é
proporcional ao número de ações que você já tem, exatamente como no
exemplo que estamos considerando.
Suponha que você queira exercer este direito de subscrição,
comprando 12,5 cotas e pagando 125 mil reais por elas, enquanto seus
outros 3 sócios decidiram por não exercer o direito. Existe aí uma nova
possibilidade, que consiste em seus sócios venderem pra você o direito
deles de comprar as novas cotas, caso você tenha interesse em subscrever
mais do que as 12,5 cotas. Mas, por simplicidade, vamos considerar que
você comprou apenas as 12,5 cotas que eram seu direito, e as 37,5 cotas dos
seus amigos foram vendidas a novos sócios.
Nesse caso a empresa atingiu o patamar de 1,5 milhão de reais
divididos em 150 cotas, das quais você é dono de 37,5 (as 25 que você já
tinha, mais as 12,5 cotas que você comprou no processo de subscrição).
Nesse caso não houve diluição da sua participação, pois você permanece
sendo dono de 25% da empresa (37,5 cotas do total de 150) - não houve a
desvantagem da diluição, apenas a vantagem de você ser dono de uma
empresa maior agora (seu patrimônio na empresa passou a ser de 375 mil
reais). Para que isso ocorresse, no entanto, você teve que desembolsar 125
mil reais.

Como funciona a subscrição na bolsa de valores

Na bolsa de valores a subscrição ocorre de forma semelhante ao


exemplo da empresa que eu dei. O que muda é a escala, já que estamos
falando de empresas com valor de mercado muito alto, e com uma grande
quantidade de sócios, que são os acionistas.
Suponha que você possui 1000 ações da Embraer, a fabricante de
aviões brasileira, que estão no mercado a um preço de R$ 20,00 (cujo ticker
das ações ordinárias é EMBR3). A Embraer então cria um plano de
negócios para desenvolver um novo avião e precisa levantar mais fundos
para isso. Após passar pelo conselho de administração da empresa e ser
aprovada em assembleia, a empresa declara chamada de capital para
subscrever novas ações.
No anúncio feito pela Embraer, por exemplo, ela determina uma
subscrição de 5%. Isso significa que, para cada ação EMBR3 que você tem
na carteira, você irá receber 0,05 cotas de EMBR12, que é um código para o
direito de subscrição. Se você possui 1000 EMBR3, você irá receber 50
EMBR12, o que significa que dada a sua participação atual na empresa,
você tem o direito de comprar mais 50 ações.
E qual o preço que você irá pagar por ação, caso queira exercer o
seu direito? Num primeiro momento, poderíamos pensar que o preço seria o
mesmo das ações. Mas o preço da ação é algo que muda bastante ao longo
dos dias, portanto o que geralmente é feito é uma média do preço nos
últimos meses. Além disso, a empresa tem interesse em subscrever o
máximo de ações propostas, portanto geralmente ela estabelece o preço de
subscrição mais baixo do que o valor da ação para estimular os acionistas a
exercerem o direito de comprar novas ações.
No nosso exemplo, vamos supor que a Embraer tenha proposto um
preço de subscrição de R$ 19,20, abaixo do valor da ação, que era de R$
20,00. Nesse caso, os 50 direitos de subscrição EMBR12 vão aparecer com
o valor de R$ 0,80 cada um no momento inicial, que é a diferença entre o
valor da ação e o preço de subscrição. Por isso muitos consideram o direito
de subscrição como uma forma de remuneração ao acionista, tal como os
dividendos e juros sobre capital próprio, pois neste exemplo é como se você
tivesse recebido R$ 40,00 (R$ 0,80 vezes 50 direitos).
E o que você faz com essas 50 cotas EMBR12 de direito de
subscrição? Existem três opções. A primeira é não fazer nada. Nesse caso
você abre mão do direito de subscrever as ações e, na data da subscrição, as
cotas EMBR12 vão desaparecer automaticamente da sua carteira. Não é
uma opção inteligente.
A segunda opção é exercer o direito de subscrição. Nesse caso você
deve informar à sua corretora (geralmente por e-mail ou telefone) quantas
ações você deseja subscrever (de 1 a 50). Suponha que você deseja
subscrever todas as 50 ações das quais tem direito. Nesse caso você avisa à
corretora e, na data da subscrição (essa data é informada pela empresa) você
deve deixar o valor de R$ 960,00 (R$ 19,20 multiplicado por 50) disponível
na sua conta da corretora. O valor é então debitado da sua conta
automaticamente na data da subscrição e, alguns dias depois, as 50 cotas
EMBR12 são transformadas em 50 ações EMBR3.
Existe uma terceira opção que consiste em vender o seu direito de
subscrição para quem tiver interesse, exatamente como no exemplo que nós
vimos da empresa. Nesse caso você negocia as cotas EMBR12 exatamente
como se estivesse vendendo ações. A princípio, se o direito de subscrição
garante o preço de R$ 19,20 nas novas ações e as ações estão atualmente
cotadas a R$ 20,00, então cada EMBR12 deveria valer R$ 0,80. Mas esses
direitos são negociados na bolsa como qualquer outra ação, então o preço
varia ao longo do tempo em função da oferta e da demanda.

Desdobramento
O desdobramento é quando uma ação é dividida em mais ações,
geralmente com o objetivo de dar mais liquidez aos que investem na
empresa. Lembra quando falamos sobre liquidez? Quando você investe em
um imóvel, por exemplo, sua liquidez é muito menor do que quando você
compra ações. E quanto menor é o valor da ação, maior tende a ser a sua
liquidez.
Normalmente as ações são negociadas na bolsa em lotes de 100. Se
você dá uma ordem de compra em CMIG4 (ainda veremos com mais
detalhes como isso é feito), por exemplo, você está dando uma ordem de
compra para um lote de 100 ações preferenciais da Cemig, a Companhia de
Energia Elétrica de Minas Gerais. Vamos supor que o valor da ação
preferencial da Cemig esteja a R$ 8,00. Isso significa que o valor que você
precisa ter para comprar um lote de CMIG4 é de R$ 800,00.
E se você não tiver esse dinheiro para comprar um lote, mas quiser
muito investir na Cemig? Nesse caso você pode comprar os chamados lotes
fracionários, que são lotes de 1 a 99 ações (o lote de 100 ações é chamado
de lote padrão). Os lotes fracionários tem o mesmo ticker do lote padrão,
adicionando-se um "F" na frente. Então, se você deseja comprar 30 ações
preferenciais da Cemig, por exemplo, você deve fazer uma ordem de
compra de 30 CMIG4F. A única desvantagem é que a maioria das pessoas
negocia em lotes padrão, enquanto poucos negociam lotes fracionários,
portanto a liquidez nesse caso é um pouco menor para os lotes fracionários.
Mas a boa notícia é que você pode ir comprando aos poucos em lotes
fracionários e, quando você acumula 100 ações CMIG4F elas são
automaticamente agrupadas em um lote de CMIG4.
Vamos continuar com o exemplo da Cemig para descrever o que
seria um desdobramento. Suponha que você comprou um lote de CMIG4 a
R$ 8,00. Nesse caso, conforme mencionei, você investiu R$ 800,00 mais as
taxas. Nesse nosso exemplo, vamos supor que você acertou muito no
investimento e a Cemig passou por um forte crescimento ao longo dos anos,
de forma que a cotação das ações multiplicou-se por 20, chegando à marca
de R$ 160,00 por ação. Nessa nova situação, quem quiser comprar um lote
de CMIG4 deverá disponibilizar R$ 16000,00 além das taxas! E o número
de pessoas dispostas a investir 16 mil reais em um lote de ações é muito
menor do que o número de pessoas dispostas a investir R$ 800,00. O
resultado é uma perda de liquidez - menos negócios fechados em ações
preferenciais da Cemig por causa do preço alto da ação.
É aí que entra o desdobramento. A Cemig nesse caso pode fazer um
desdobramento de 1 para 10, por exemplo, em suas ações. Isso significa que
cada ação da Cemig será transformada em 10 ações. A ação que custava R$
160,00 nesse caso passa a valer R$ 16,00. Se antes, para comprar um lote,
você deveria investir 16 mil reais, agora você só precisa investir R$
1600,00. Isso contribui para trazer a liquidez de volta.
Mas, se a ação passa a valer 10 vezes menos, então você perdeu
dinheiro com o desdobramento? A resposta é não, pois o valor da ação
diminuiu, mas o número de ações aumentou - antes você tinha 100 ações de
CMIG4 a R$ 160,00 cada, e agora você possui 1000 ações de CMIG4 a R$
16,00, com o detalhe que se você precisar vender as ações será mais fácil, já
que a liquidez aumentou.

Grupamento
O grupamento é o oposto do desdobramento, ou seja, a junção de
mais de uma ação em uma, sem alterar o capital total. É um evento mais
raro do que o desdobramento. Uma possível motivação para o grupamento é
melhorar o preço da ação em relação à volatilidade. A volatilidade está
relacionada ao quanto o preço de uma ação varia ao longo do dia em
relação ao seu preço de abertura. Se, por exemplo, você compra uma ação
mais volátil a um determinado preço, esse preço pode dobrar em uma
semana, por exemplo, mas também pode ser reduzido à metade. Ações
menos voláteis apresentam uma variação melhor. Em outras palavras, maior
volatilidade significa mais risco (e maior retorno potencial).
Considere, por exemplo, uma ação ao preço de R$ 0,50. Se essa
ação sofre uma variação de R$ 0,10 no dia, isso significa uma variação de
25%, o que é considerado uma grande variação (alta volatilidade). Suponha
que essa ação sofra então um grupamento de 20 para 1 - para cada lote de
100 ações ao preço de R$ 0,50 cada, o acionista passa a possuir 5 ações ao
preço de R$ 10,00 (Observe que o capital do acionista se manteve em R$
50,00). Após o grupamento, ao preço de R$ 10,00, uma variação no dia de
R$ 0,10 significa uma variação de 1%, ou seja, uma volatilidade muito
menor.
Ações com alta volatilidade tendem a afastar investidores, que
enxergam como um investimento de maior risco, ao passo que atraem
especuladores (que muitas vezes se impressionam com uma variação de
25% em um dia). Como os fundos de investimento (que tendem a buscar
ações com volatilidade controlada) movimentam a maior parte do dinheiro
na bolsa, em determinadas situações o grupamento com redução da
volatilidade se mostra como uma vantagem.
Indicadores Fundamentalistas
"99% dos problemas de nossa civilização
vem de uma contabilidade muito otimista"
- Charlie Munger

Estamos chegando em um ponto interessante do nosso estudo sobre


o mercado de ações. Até aqui nós já estabelecemos uma mentalidade
consciente sobre o que é o mercado de ações e como sobreviver a ele
enriquecendo-se no longo prazo. Vimos também alguns aspectos práticos,
como os tipos de ações que você pode comprar e os eventos societários que
você pode ver acontecer quando estiver com as ações de uma empresa por
muito tempo. Creio que agora você já tem uma boa base para avançarmos
para a análise de ações.
Como eu já mencionei, existem duas grandes vertentes para analisar
se vale a pena comprar, vender ou se manter indiferente às ações de uma
empresa - a análise técnica e a análise fundamentalista. As duas vertentes
merecem um livro a parte cada uma. Como este livro é uma iniciação à
bolsa e, na minha opinião, a análise fundamentalista é mais indicada aos
iniciantes, eu pretendo aqui explicar um pouco sobre os indicadores
fundamentalistas mais importantes em minha opinião.
Assim como na análise técnica existe uma infinidade de padrões a
serem observados no gráfico, na análise fundamentalista também existem
muitos indicadores criados para observar a saúde financeira e a
lucratividade de uma empresa sob um aspecto diferente. Mas, como boa
parte das coisas na vida, manter a simplicidade costuma trazer resultados
melhores do que se apegar a vários detalhes complexos. Por isso, acredito
que, conhecendo e entendendo bem os indicadores que vou apresentar neste
capítulo, você já estará à frente de muita gente e poderá investir com muito
mais confiança. Então, vamos a eles.

Dividend Yield

O dividend yield é um dos principais indicadores fundamentalistas.


Um dos mais conhecidos e também um dos mais importantes. Muitos
grandes investidores fizeram fortuna no mercado de ações baseando-se
principalmente no dividend yield na hora de comprar ações. Lembra quando
eu falei sobre o livro do Décio Bazin, "Faça Fortuna com Ações antes que
seja Tarde"? Neste livro ele descreve casos de pessoas que multiplicaram
seu patrimônio tornando-se multimilionárias através de um método simples
que usa apenas o dividend yield para escolher ações.
Mas o que é o dividend yield? É simples - o dividend yield é
calculado dividindo-se todos os proventos líquidos pagos por ação nos
últimos 12 meses pelo preço da ação. Vamos a um exemplo. No momento
em que estou escrevendo essas linhas, as ações preferenciais da Itaúsa
(ticker ITSA4) estão ao preço de R$ 9,95. A Itaúsa é uma holding que é
dona de parte das ações do banco Itaú e de outras empresas, como
Alpargatas (que fabrica as sandálias havaianas) e a Duratex (que produz
materiais para construção). Nos últimos 12 meses, a Itaúsa pagou aos seus
acionistas R$ 0,5545 por ação em dividendos, e R$ 0,5517 por ação em
juros sobre capital próprio (JSCP).
Lembre-se que, quando falamos sobre os proventos, mencionamos
que os dividendos são isentos de imposto de renda, enquanto sobre aos
JSCP incide imposto de renda de 15%, debitado na fonte. Isso significa que,
dos R$ 0,5517 de JSCP declarados pela Itaúsa, o acionista recebeu líquidos
R$ 0,468945 por ação (R$ 0,5517 menos 15% de imposto). Somando esse
valor com o que foi pago em dividendos, chegamos à conclusão de que a
Itaúsa pagou proventos líquidos aos seus acionistas de R$ 1,023445 por
ação nos últimos 12 meses. Dividindo-se esse valor pelo preço atual da ação
(R$ 9,95), temos aproximadamente 0,1028. Em termos percentuais,
podemos dizer que a Itaúsa pagou aos seus acionistas aproximadamente
10,28% do preço atual da ação em proventos nos últimos 12 meses. Em
outras palavras, ao preço atual, as ações ITSA4 estão com um dividend
yield de 10,28% (que, por sinal, é um belo dividend yield).
Observe que o dividend yield é uma variável dinâmica, que está
sempre mudando se o preço da ação varia ou se os proventos anunciados
mudam. Esse é um ponto crucial, já que estamos falando de renda variável e
não de renda fixa. Se você compra um título de renda fixa prefixado, por
exemplo, existe uma rentabilidade acordada de que você receberá um valor
percentual ao ano. Na bolsa não existe nada certo - dizer que o dividend
yield da Itaúsa está em 10,28% não significa que ela sempre oferece uma
rentabilidade de 10,28% ao ano para quem tem ações ITSA4. Trata-se
apenas de um retrato do momento atual em relação aos últimos 12 meses -
se o preço da ação subir nas próximas horas, por exemplo, o dividend yield
irá diminuir. Por outro lado, se nos próximos 12 meses a Itaúsa tiver
prejuízo ou lucros menores e por isso distribuir menos proventos aos
acionistas, consequentemente o dividend yield também irá diminuir.
Considerando o significado do dividend yield (DY), podemos
observar que um DY alto se explica por três motivos - 1) a empresa teve
uma boa distribuição de proventos; 2) O preço da ação está baixo em
relação ao que ela distribui (o que pode indicar que a empresa está barata e
comprar ações dela pode ser uma boa ideia); ou 3) Um pouco dos dois
motivos anteriores. Por outro lado, um DY baixo pode ser um alerta pelos
motivos opostos - Ou a lucratividade da empresa caiu, e portanto a
quantidade de proventos da empresa diminuiu; Ou a empresa continua
dando bons lucros e distribuindo proventos em grande quantidade, mas o
preço da ação subiu muito mais em relação aos lucros. Nesses dois casos,
talvez seja uma boa ideia vender as ações se você já as tem, ou não comprar
se você ainda não tem.

O "pulo do gato" e a cilada do dividend yield

No livro de Décio Bazin, por exemplo, ele usou como base a


lucratividade da renda fixa na época e estabeleceu um dividend yield
mínimo de 6% para comprar ações - desse valor para cima ele comprava as
ações, e se as ações que ele já havia comprado ficassem com dividend yield
abaixo de 6% por muito tempo ele as vendia. Em minha opinião essa é uma
boa estratégia - ela é simples, e por trás dela há um pensamento inteligente.
Uma vez me fizeram uma boa pergunta sobre essa estratégia -
"Qual a vantagem de comprar ações com dividend yield de 6% se existem
opções na renda fixa que me dão, por exemplo, 8% líquidos ao ano"? E por
trás da resposta está "o pulo do gato" para se enriquecer na bolsa no longo
prazo.
Parece óbvio o que eu vou afirmar a seguir, mas é a resposta para a
pergunta feita - a renda fixa é fixa, enquanto a bolsa (renda variável) varia.
Explico melhor. Na renda fixa, você estabelece quanto vai ganhar e, ao final
de um ano, recebe aquela rentabilidade prevista. Já na renda variável isso
não ocorre, pois, como eu já mencionei, o dividend yield é apenas um
retrato daquele momento - se você compra numa situação favorável e
monitora a rentabilidade ao longo do tempo, a tendência é que você saia
ganhando. Isso porque uma empresa que paga proventos hoje no valor de
6%, se bem gerida, pode fazer com que seus lucros cresçam e ela distribua
uma quantia maior aos acionistas no futuro.
Você já deve ter percebido que eu gosto de dar exemplos, e é por
isso que eu vou dar mais um. Suponha uma empresa fictícia, cuja ação custe
R$ 10,00 e esteja com dividend yield de 6%, pagando portanto R$ 0,60 por
ação em proventos nos últimos 12 meses. Você compra a ação a esse preço,
e a empresa prospera, fazendo com que o valor da ação chegue aos R$
30,00! Se essa alta foi baseada em fundamentos sólidos, e não em
especulações, é bem provável que a empresa consiga manter a proporção de
pagamento de proventos em torno dos 6%, passando a pagar em torno de
R$ 1,80 por ação.
Quem entra na ação neste momento está tendo acesso a um yield de
6%. Mas para você, que investe na empresa a mais tempo, a situação já
mudou bastante - além de ver a valorização que triplicou o seu capital (de
10 reais para 30 por ação), você observa o seu yield crescer - você comprou
a ação a R$ 10,00, e está recebendo R$ 1,80, o que dá um dividend yield de
18% para o seu preço de entrada. É ou não é um bom negócio? Essa é a
beleza de um investimento em empresas sólidas no longo prazo.
Como eu disse antes, o dividend yield realmente é um indicador
importante. Mas recomendo não confiar cegamente nele, pois em algumas
situações um dividend yield muito alto pode não representar bem a
realidade da empresa - o dividend yield é uma fotografia da rentabilidade da
empresa em relação ao seu preço nos últimos 12 meses, e essa fotografia
pode não ter nada a ver com a realidade da empresa fora desses últimos 12
meses. É recomendável procurar saber se o dividend yield da empresa
sempre esteve neste patamar, ou se foi um evento único, e entender o que
houve de fato nos últimos 12 meses.
Pode acontecer, por exemplo, de a empresa vender alguns ativos
(propriedades, maquinário, unidades de negócio, dentre outros) e distribuir
parte dos lucros da venda aos acionistas na forma de proventos. Nesse caso
os proventos pagos nos últimos 12 meses irão ser maiores do que o normal,
e consequentemente o dividend yield também será maior. Mas nesse caso
não se trata de uma rentabilidade recorrente, mas de um evento incomum
que não irá se repetir com muita frequência, e a tendência é o dividend yield
diminuir novamente com o tempo.
Outra situação semelhante ocorre quando a empresa que distribui
proventos aos acionistas de forma regular se depara com um fato que irá
impactar significativamente o negócio. Isso faz com que o preço das ações
entre em queda e, em comparação com os proventos distribuídos, faz o
dividend yield aumentar. Esse é o caso em que a sabedoria do investidor irá
determinar se ele irá prosperar na bolsa ou não, pois ele deverá fazer uma
análise crítica para determinar se aquele fato poderá impactar a distribuição
de proventos no futuro ou não. Se o preço das ações caiu por
irracionalidade e pânico do mercado, mas esse pânico não se justifica, o
investidor poderá aproveitar o preço baixo das ações para comprar com um
dividend yield alto. Por outro lado, se o fato que fez o preço das ações cair
realmente é algo que irá afetar a lucratividade e a distribuição dos proventos
e o investidor compra as ações sem levar isso em conta, certamente ele irá
amargar em prejuízo no futuro.
Payout

O que chamamos de payout não é, em si, um indicador


fundamentalista, mas é um conceito que está relacionado ao dividend yield
e acho válido comentar. O payout é o percentual dos lucros líquidos da
empresa que são destinados aos acionistas. Em 15 de dezembro de 1976 foi
decretada a Lei das Sociedades por Ações, conhecida como a Lei das S.A..
Desde o decreto dessa lei, as empresas com capital aberto na bolsa são
obrigadas a distribuir, no mínimo, 25% do lucro líquido obtido no ano aos
acionistas na forma de proventos. Se a empresa distribui 25% do lucro,
dizemos que o payout da empresa é de 25%.
Mas fique atento - as empresas de capital aberto são obrigadas a
distribuir esse valor mínimo apenas caso haja lucro. É comum ver empresas
na bolsa que não distribuem um mísero centavo aos acionistas. Geralmente
são empresas endividadas ou com prejuízos frequentes, e quem compra
ações dessas empresas o faz apenas com o intuito de especular.
Mas dentre as empresas que geram lucros e distribuem proventos
aos acionistas todos os anos, ainda há bastante diversidade. Existem
empresas com o payout mínimo de 25%, e existem empresas com payout de
100%! Você deve estar pensando que, quanto maior o payout, melhor. Mas
nem todo mundo pensa assim. Pense numa empresa com payout de 100%.
Ela possui recursos, utiliza esses recursos com ativos, matéria prima, paga
fornecedores e funcionários e produz. E com a produção vem a receita. A
partir da receita, a empresa utiliza parte para pagar suas despesas, e então o
que sobra é lucro. E o que ela faz com o lucro? Se o payout é de 100%,
então todo o lucro é distribuído aos acionistas. E então este ciclo recomeça.
Perceba que, no caso de um payout de 100% não há crescimento.
Toda a receita é dividida entre manter a roda girando e pagar proventos aos
acionistas. Por outro lado há empresas com payout menor, mas que
reinvestem o lucro não distribuído aos acionistas no negócio, melhorando a
capacidade de produção, o que propicia um crescimento e aumento dos
lucros no futuro. Portanto, não se prenda muito ao valor do payout - em
algumas situações é melhor um payout baixo com lucro alto do que um
payout alto com lucro baixo.

Índice P/L

O índice P/L significa o preço da ação dividido pelo lucro por ação.
Imagine que um amigo seu seja dono de uma mercearia e queira te vender
essa negócio. Então quando você pergunta o preço você se assusta ao
descobrir que ele está disposto a te vender a mercearia por 1 milhão de
reais! Parece uma fortuna por uma simples mercearia. Você deixa a
conversa render um pouco para não descartar o negócio de primeira e não
parecer rude, até que ele te conta que essa mercearia dá um lucro de 120 mil
reais em um ano!
Nesse caso a história muda um pouco. Você faz as contas na sua
cabeça e percebe que, se você comprar essa mercearia por 1 milhão de
reais, em pouco mais de 8 anos você terá recuperado todo o investimento, e
depois disso é só aproveitar os 120 mil que entram na sua conta todos os
anos, além dos 1 milhão recuperados.
Essa é a ideia por trás do índice P/L. Suponha que uma grande
empresa com capital aberto na bolsa tenha valor de mercado de 10 bilhões
de reais, distribuídos em 500 milhões de ações, sendo R$ 20,00 o preço de
cada ação. Para definição do índice P/L, é levado em conta o lucro da
empresa nos últimos 12 meses. Nesse exemplo, a empresa reportou lucro de
800 milhões de reais nesse período. Dividindo o lucro da empresa pelo total
de ações, temos um lucro por ação de R$ 1,60. O índice P/L é calculado
dividindo-se o preço da ação (R$ 20,00) pelo lucro por ação (R$ 1,60), que
dá um P/L de 12,5.
A interpretação para esse caso é a mesma da mercearia.
Considerando essa "fotografia" do momento da empresa, levando em conta
o preço atual da ação e o lucro nos últimos 12 meses, ao investir nesse
negócio você recuperaria o capital em 12 anos e meio. Se para você seria
justo investir com retorno de capital em 8 anos, por exemplo, você estaria
disposto a pagar no máximo R$ 12,80 pela ação, pois com esse preço e R$
1,60 de lucro por ação você teria um P/L de 8.
Observe que, quando estamos falando de lucro por ação, não
estamos falando de proventos. Lembre-se que o lucro que a empresa tem no
ano não necessariamente é 100% distribuído aos acionistas - parte dos
lucros são reinvestidos na empresa com o intuito de fazer com que ela
cresça.

Índice P/VP

O índice P/VP significa o preço da ação dividido pelo valor


patrimonial por ação. A ideia é semelhante à do indicador P/L, só que ao
invés de analisarmos o lucro em relação ao preço da ação, estamos
analisando o patrimônio da empresa em relação ao preço da ação.
Considerando o mesmo exemplo que usamos na explicação do indicador
P/L, da empresa cujo valor de mercado é de 10 bilhões de reais, divididos
em 500 milhões de ações, a R$ 20,00 cada, vamos supor que o patrimônio
da empresa é de 8 bilhões de reais. Esse patrimônio envolve todas as
propriedades, caixa e ativos da empresa, subtraindo-se os seus passivos,
como as dívidas por exemplo. Dividindo-se o valor patrimonial (8 bilhões)
pelo número de ações, temos um valor patrimonial por ação de R$ 16,00.
Nesse exemplo, para calcular o índice P/VP podemos considerar o
preço da ação dividido pelo valor patrimonial por ação, ou dividir
diretamente o preço total da empresa pelo valor patrimonial total. De
qualquer forma obteremos o índice P/VP equivalente a 1,25. E o que
significa esse valor de P/VP? Basicamente, através desse indicador,
dividimos as ações naquelas que são negociadas acima de seu valor
patrimonial (P/VP superior a 1) e as que são negociadas abaixo do valor
patrimonial (P/VP abaixo de 1).
Imagine uma empresa de software. Essa empresa está localizada em
um escritório comercial próprio em uma boa região da capital. Juntamente
com os computadores e a mobília do escritório, essa propriedade representa
o valor patrimonial da empresa de software. Vamos supor que esses ativos e
a propriedade estejam avaliados em 500 mil reais. Se você tivesse que
estimar quanto vale essa empresa, qual seria o valor que você estimaria?
Se você tivesse apenas a informação do patrimônio da empresa,
associar o valor da empresa ao valor patrimonial seria o mais sensato, e
nesse caso você daria o valor de 500 mil pela empresa. Nessa condição
você trataria a empresa com o indicador P/VP igual a 1.
Mas, e se naquele escritório estivessem os melhores profissionais
do mercado, trabalhando em projetos de software multimilionários? E se
naquele escritório estivesse sendo feito o "novo Facebook", ou nascendo o
"novo Google"? Seria sensato avaliar a empresa em apenas 500 mil reais?
Provavelmente não. Nesse caso, existem vários fatores intangíveis, como a
produtividade, a qualidade e o nome da marca que fazem com que o valor
da empresa seja muito maior do que apenas o valor de seu patrimônio - essa
é uma situação em que o preço (P) pode ser superior ao valor patrimonial
(VP), e então o índice P/VP será superior a 1.
A essa altura você pode estar pensando que o preço a ser pago por
uma empresa deve ser, no mínimo, o seu valor patrimonial (500 mil reais no
exemplo). Mas e se essa empresa estiver sem nenhum projeto, com dívidas,
multas, impostos, manutenção do escritório e salários dos funcionários para
pagar? Ainda vale a pena pagar os 500 mil reais por ela? Talvez não.
Portanto, existem situações em que o preço de uma empresa (e
consequentemente de sua ação) estará abaixo de seu valor patrimonial.
Nessas situações teremos o indicador P/VP menor do que 1.
Cabe ao investidor entender exatamente o conceito de comparação
do preço com o valor patrimonial, para que ele possa analisar caso a caso e
identificar potenciais oportunidades. Isso porque o índice P/VP varia mais
com o preço da ação do que com o valor patrimonial, pois o preço é mais
volátil (o valor patrimonial varia bem mais lentamente), e o preço é produto
da expectativa das pessoas (lembre-se que preço é diferente de valor - o
valor não é conhecido e está associado à capacidade intrínseca da empresa
de gerar riqueza, enquanto o preço é uma grandeza conhecida, e representa
quanto as pessoas estão dispostas a pagar pela empresa).
Portanto, ao se deparar com empresas cujo P/VP abaixo de 1 (preço
menor do que o valor patrimonial), fique atento e procure entender o motivo
desse valor baixo, pois isso pode representar um pessimismo exagerado do
mercado, e nesse caso pode ser uma oportunidade de comprar barato as
ações dessa empresa. Por outro lado, ao se deparar com um valor de P/VP
muito superior a 1 (preço bastante superior ao valor patrimonial) fique
alerta - pode ser algo justificável (se a empresa realmente tem boa
lucratividade) ou pode representar um otimismo exagerado do mercado,
jogando o preço da ação muito alto.

Dívida bruta e patrimônio líquido

Existe também o indicador de dívida bruta sobre o patrimônio


líquido da empresa. É importante ter em mente que dívida nem sempre é
algo ruim - existe o que chamamos de dívida saudável e dívida nociva. Você
pode, por exemplo, pegar um empréstimo no banco para empreender e, se o
fizer com um bom planejamento e competência, essa dívida pode financiar
um projeto que irá mudar a sua vida para melhor. Por outro lado, você pode
fazer uma dívida para financiar um consumo que não condiz com os seus
ganhos e, em função apenas da ostentação, você pode parar no fundo do
poço.
As empresas estão sempre fazendo dívidas, em geral para financiar
novos projetos. Aí vai da gestão da empresa se essa dívida vai ser para o
bem ou para o mal. Além de financiamentos com bancos, as empresas
recorrem às debentures (também já mencionamos elas nesse livro) para
reunir fundos de pessoas comuns sem aumentar o número de sócios. Nesse
caso, para quem empresta o dinheiro, a debênture funciona como uma
modalidade de renda fixa - ela investe o dinheiro, a empresa usa esse
dinheiro para desenvolver o negócio e, no futuro, a empresa paga esse
dinheiro com juros ao credor.
E por que avaliar a dívida bruta sobre o patrimônio líquido? Não
basta olhar para a lucratividade e a distribuição dos proventos na hora de
escolher qual ação comprar. Se a dívida da empresa não for saudável, essa
lucratividade e essa distribuição de proventos não serão sustentáveis podem
estar com os dias contados. É o mesmo para as pessoas - uma pessoa
endividada que ainda assim gasta muito provavelmente terá sérios
problemas muito em breve. Por isso eu recomendo a observação desse
indicador.
Mas o que observar? Eu recomendo que você busque ações de
empresas cujo indicador dívida bruta sobre o patrimônio líquido não seja
muito superior a 1. Se esse indicador vale 1, então podemos dizer que a
dívida bruta da empresa está equivalente ao seu patrimônio líquido. É como
se você tivesse uma dívida no banco cujo valor é igual ao seu patrimônio
(apartamento, carro, etc.) - se tudo der errado, você vende tudo e fica no
zero a zero. Se o indicador está bem abaixo de 1, temos um bom cenário -
comparando com a sua situação como pessoa, é como se a sua dívida fosse
bem inferior ao seu patrimônio - você conseguiria pagá-la
instantaneamente, e ainda teria boa parte de seu patrimônio preservado.
Já as ações de empresas cujo indicador dívida bruta sobre
patrimônio líquido é significativamente superior a 1 devem ser analisadas
com cuidado. Talvez a empresa esteja alavancada, mas esse indicador esteja
abaixando ao longo do tempo - nesse caso você estaria investindo em uma
empresa que está saindo do fundo do poço, e talvez você possa se
aproveitar dessa recuperação, uma vez que o preço da ação também tende a
se recuperar. Mas, se não for esse o caso, fique atento, pois é um indicativo
de que a empresa está com endividamento exagerado.
Lucro líquido e EBITDA

Como eu já mencionei, as empresas listadas na bolsa possuem um


site de relações com investidores (RI) onde elas divulgam, trimestralmente,
seus números de produção e indicadores financeiros. Quando as empresas
divulgam esses seus balanços, o Lucro líquido e o EBITDA são duas
informações que eu sempre busco por se tratarem, em minha opinião, de
duas das informações mais importantes em um balanço financeiro.
Antes de falar sobre o lucro líquido, é importante estabelecer a
diferença entre custos fixos e custos variáveis em uma empresa. Se você
pensar a respeito de uma padaria, por exemplo, temos que essa padaria tem
como atividade fim a produção de pães, que é o elemento gerador de
receita.
Para produzir pães, no entanto, várias coisas são necessárias - nós
tendemos a pensar primeiro nos elementos que compõem o custo variável,
que são os ingredientes (a matéria prima do produto) - farinha, leite e ovos,
por exemplo. Esses custos são variáveis porque, dependendo da quantidade
produzida, podem ser maiores ou menores. Existem outros custos variáveis
que não são ingredientes diretos, mas que também estão relacionados com a
produção - como a energia elétrica, por exemplo.
Além dos custos variáveis, a padaria tem seus custos fixos também,
que não estão diretamente ligados à produção, mas que a empresa tem que
arcar só por estar aberta - o IPTU do estabelecimento, por exemplo, e os
salários dos funcionários, que devem ser pagos independente de vender ou
produzir mais ou menos pães.
A partir dos custos fixos e variáveis a empresa consegue gerar uma
certa produção. Com a venda dessa produção, a empresa gera receita. Se
subtrairmos da receita o custo variável, que é o custo que de fato foi gasto
na produção, temos o que chamamos de Lucro Bruto. Mas e os custos
fixos? Não é por serem fixos que a empresa pode se dar ao luxo de não
pagar. Subtraindo-se, portanto, os custos fixos do lucro bruto chegamos ao
Lucro Líquido.
O lucro líquido é importante porque é o que de fato sobra no caixa
da empresa, e é o dinheiro que pode ser usado para reinvestir no negócio ou
distribuir aos acionistas (ou simplesmente deixar em caixa como provisão
para o futuro). O lucro líquido diz muito sobre a capacidade da empresa de
gerar riqueza e, na minha opinião, não existe especulação que seja tão forte
quanto lucro líquido forte e consistente, ano após ano. Se você investir
pensando no longo prazo em empresas que sempre reportam bom lucro
líquido, a chance de você se dar mal em seus investimentos é muito baixa.
Mas mesmo valores altos de lucro líquido devem ser analisados
com cautela para evitar conclusões precipitadas, pois podem haver eventos
atípicos que fazem com que o lucro líquido reportado seja incomum, tanto
com valor muito alto quanto com valor muito baixo. No caso da padaria,
por exemplo, suponha que o dono venda um dos fornos. O valor que entra
no caixa da empresa após a venda é contabilizado como receita e,
consequentemente afeta o lucro líquido - o resultado é um valor de lucro
líquido maior, mas não representativo da produção da empresa. Por isso eu
costumo comparar o valor do lucro líquido com períodos anteriores
(fazendo uma comparação trimestral e anual), para verificar se os lucros
reportados são consistentes.
Além disso eu procuro observar outro indicador importante em
conjunto, como o EBITDA. EBITDA é a sigla para Earnings Before
Interest, Taxes, Depeciation and Amortization - se escrita em português
seria LAJIDA (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciações e
Amortizações). Apesar de parecer complicado, a ideia do EBITDA é
exatamente isolar do Lucro Líquido apenas o lucro proveniente da produção
em si (o que chamamos de lucro operacional), que é a atividade principal da
empresa. No EBITDA são removidos todos os fatores como rendimentos ou
depreciações de bens, impostos e multas. Afinal, é o lucro operacional
através da produção que garantirá a consistência dos lucros ao longo do
tempo.
A tabela a seguir foi retirada do balanço trimestral da Vale S.A.,
referente ao terceiro trimestre de 2016.

Na tabela eu destaquei o lucro líquido e o EBITDA que foram


reportados nesse período. É comum nos balanços trimestrais a comparação
com o mesmo trimestre do ano anterior (no caso a comparação do 3T16
com 3T15) e a comparação com o trimestre imediatamente anterior (3T16
em relação a 2T16). Além disso, quando se fala em lucro, valores negativos
que significam prejuízo são indicados entre parênteses.
Observe que no terceiro trimestre de 2015, a Vale teve prejuízo
líquido (lucro líquido negativo) de mais de 2 bilhões de dólares, enquanto
um ano depois, no terceiro trimestre de 2016 o lucro líquido foi positivo em
mais de 500 milhões de dólares. No balanço de 2015 a Vale alegou que esse
prejuízo ocorreu em função da depreciação do real em relação ao dólar, que
subiu 28% em relação ao trimestre anterior.
Essa depreciação pode ter afetado o caixa da Vale e algumas
despesas, impactando o cálculo do lucro líquido, no entanto esse fator não
afeta o EBITDA, que está associado apenas aos aspectos de produção da
empresa. Por isso, você pode observar na tabela que, mesmo a Vale
reportando um prejuízo bilionário no terceiro trimestre de 2015, o EBITDA
ficou positivo em quase 2 bilhões de dólares. Você pode interpretar essa
condição como um possível indicativo de que fatores externos afetaram o
lucro, mas que internamente a empresa continua produzindo bem. Isso pôde
ser confirmado no terceiro trimestre de 2016, quando o prejuízo líquido foi
revertido em lucro líquido de 575 milhões de dólares.

Onde encontrar as informações?

Nesse capítulo eu procurei te passar os principais indicadores


fundamentalistas. O mais importante é que você entenda o conceito por trás
desses indicadores, e saiba interpretar os números na hora de escolher boas
empresas para investir.
Mas você pode estar pensando - "Tudo bem, já entendi o que
significam esses indicadores. Mas onde eu encontro essas informações?".
Existem duas formas para isso - uma delas mais complicada e outra mais
simples. A mais complicada é acessar o site de relação com investidores de
cada empresa e buscar nos informes as distribuições de proventos dos
últimos meses, além de ler os números referentes às dívidas e lucros
reportados nos balanços trimestrais e anuais. A vantagem é que você
aprende mais sobre as empresas e sobre como analisá-las no processo. A
desvantagem é que dá muito trabalho!
A forma mais simples é procurar quem já reuniu essas informações
para você. Existem na Internet alguns sites que reúnem os indicadores e
boas informações sobre as empresas, basta pesquisar. Eu, particularmente
gosto do site Fundamentus (www.fundamentus.com.br), um site onde você
digita o nome da empresa ou o ticker da ação e acessa os principais
indicadores, além do histórico de proventos pagos aos acionistas. Além do
Fundamentus, também recomendo alguns fóruns de investimento, como o
GuiaInvest e o Bastter.

Parte 4:

Investindo em Ações
O passo a passo
"Regra número 1: Nunca perca dinheiro.
Regra número 2: Não esqueça a regra número 1."
- Warren Buffet

Chegamos à parte final do livro. Você já aprendeu a maior parte dos


conceitos que eu gostaria de te passar nesse livro. O que se segue são
somente os aspectos práticos, sobre como abrir conta para poder comprar
ações, como comprar e vender, como declarar ações no imposto de renda, e
por fim um exemplo de um passo a passo para escolher boas ações.
Por incrível que pareça, a maior parte das pessoas ignora tudo
aquilo que nós abordamos ao longo das partes anteriores desse livro e
começa a investir deste ponto em que estamos. E é por isso que a maioria
acaba perdendo dinheiro e sai pensando que a bolsa é como um cassino.
Mas você é diferente. Você já entendeu qual é a ideia por trás da bolsa de
valores e como ela funciona (e também já entendeu que este livro é só o
começo: estamos sempre estudando e aprendendo mais!). Agora, portanto,
vamos para o passo a passo para começar a investir na bolsa.

Passo 1 - Escolha uma boa corretora

Para você investir em ações é necessário abrir uma conta em uma


corretora de valores. Os grandes bancos possuem suas próprias corretoras,
mas eu particularmente não recomendo que você as utilize, pois as taxas
cobradas costumam ser maiores.
Existem boas corretoras independentes no mercado. Recomendo
que você gaste um tempo pesquisando na Internet sobre elas (Busque algo
como "Melhores corretoras para investimento em ações"). Ao optar por
alguma corretora, procure saber se ela já está no mercado a algum tempo, se
as taxas que ela cobra são razoáveis em comparação com as demais
corretoras, se a plataforma online para operações e o aplicativo são bons, e
se os analistas da corretora dão um bom suporte. Também pergunte a algum
conhecido que já investe em ações qual é a corretora dele, e se ele
recomenda.
Uma vez feita a escolha, você irá abrir uma conta nessa corretora.
Um dos aspectos que eu considero na hora de escolher a corretora é a
facilidade e falta de burocracia em abrir conta - existem corretoras que
permitem que você faça todos os procedimentos pela Internet, apenas,
imprimindo, assinando e escaneando o contrato, e depois enviando para
eles.

Passo 2 - Transfira o dinheiro

Agora que você já possui uma conta na corretora, você precisa


transferir dinheiro para essa conta. A corretora deve te dar as orientações
sobre o número da conta para a qual você transfere o dinheiro. Então, você
faz uma transferência do tipo DOC ou TED da sua conta bancária para a
conta na corretora.
Uma vez que a transferência é confirmada, o valor transferido já
estará disponível no seu saldo para que você possa comprar ações.
Provavelmente a corretora possui uma área de membros no site dela onde
você consegue consultar seu saldo.

Passo 3 - Acesse o Home Broker para negociar ações

Você já abriu conta na corretora e já transferiu dinheiro para essa


conta. Agora, com o saldo que você tem já pode comprar ações. A maioria
das corretoras hoje em dia fornece um sistema online ou em um aplicativo
para celular (ou as duas coisas) onde você irá dar ordens de compra e venda
de ações. Esse sistema é chamado de Home Broker .
A princípio você pode ter a impressão de que o home broker é
complicado, por causa da quantidade de números que aparecem na tela,
além dos gráficos de cotações das ações. Mas não é nada demais. Na maior
parte do tempo você irá usar apenas as funções mais básicas - consultar os
preços das ações, dar ordem de compra e dar ordem de venda. De qualquer
forma, a maioria dos home brokers possui uma página de ajuda com
tutoriais de como mexer. Ainda assim, se você tiver dúvidas, pode perguntar
a um analista da equipe de suporte da corretora.

Livro de Ofertas

Uma das informações que você vai encontrar no home broker é o


livro de ofertas. É um campo onde você coloca o ticker da ação e visualiza
as ordens de compra e de venda abertas para aquela ação. Entender o livro
de ofertas ajuda a entender como é formado o preço de uma ação na bolsa.
A figura a seguir mostra um exemplo de livro de ofertas para as ações
ordinárias da Ambev (ABEV3).

Não existe uma entidade superiora que determina o preço de uma


ação. Quando você consulta a cotação de preço de uma ação o que você vê
é o preço do último negócio fechado. No momento em que eu retirei essa
imagem do livro de ofertas, por exemplo, o último negócio fechado em
ABEV3 foi por R$ 18,88 (indicado na lateral superior direita da imagem).
Acontece que ao longo do dia existem várias pessoas dando ordens de
compra e de venda, cada um definindo a quantidade e o valor desejado.
As ordens de compra são listadas à esquerda do livro de ofertas,
ordenadas do maior valor para o menor. Se duas ordens são dadas com o
mesmo valor, elas são listadas por ordem de chegada. Já as ordens de venda
são listadas à direita do livro de ofertas, ordenadas do menor valor para o
maior. Em outras palavras, as ordens mais generosas são listadas primeiro -
a compra ao preço mais alto e a venda ao preço mais baixo.
No exemplo da imagem, a maior ordem de compra é a ordem de
número 093, para comprar 8 lotes de ABEV3 (800 ações) ao preço de R$
18,85 por ação. A menor oferta de venda nesse exemplo é a ordem de
número 086, para vender 12 lotes de ABEV3 (1200 ações) ao preço de R$
18,93. Enquanto não há um acordo entre a melhor ordem de compra e a
melhor ordem de venda, o preço listado da ação permanece o mesmo.
Quando ocorre o acordo e o negócio é fechado, o preço da ação é
atualizado.
Vamos supor que você quisesse muito comprar 1500 ações
ordinárias da Ambev. Olhando para esse livro de ofertas do exemplo, você
poderia dar uma ordem de compra de 15 lotes de ABEV3 ao preço de R$
18,93. Nesse caso, a sua ordem iria passar na frente de todas as outras
abertas por se tratar de uma oferta mais generosa, e iria entrar em acordo
com a ordem de venda de número 086. Então, você iria comprar as 1200
ações disponíveis a R$ 18,93 e ainda permaneceria no topo do livro de
ofertas esperando para comprar as 300 ações restantes. Além disso, o preço
listado da ação seria atualizado para R$ 18,93 (último negócio fechado).

Taxas envolvidas no investimento em ações

Com relação às taxas que você paga para investir em ações, temos a
taxa de custódia, a taxa de corretagem, e as taxas de emolumentos e
liquidação. Falando assim parece muita coisa, mas não precisa se assustar,
pois os valores são relativamente baixos.
A taxa de custódia é uma espécie de mensalidade que você paga
para a corretora para que ela mantenha as ações e o seu saldo de dinheiro da
conta sob custódia. Os valor dessa taxa costuma ser bem baixo (geralmente
abaixo de 10 reais por mês), e inclusive algumas corretoras nem cobram
nada de custódia se você fizer pelo menos uma ou duas operações por mês.
Boa parte das corretoras oferecem custódia gratuita no caso de o
cliente fazer pelo menos um número mínimo de operações no mês porque
elas ganham através da corretagem, que é a taxa cobrada por operação de
compra ou venda. Em algumas corretoras essa taxa tem um fator
proporcional ao valor da operação, já em outras esse valor é fixo por
operação.
Além da custódia e da corretagem, o investidor paga também as
taxas de emolumentos e liquidação. Essas taxas são pagas pela corretora à
Bovespa por operação de compra ou venda, e são proporcionais ao valor da
operação. As taxas de emolumentos e liquidação são bem baixas,
geralmente da ordem de centavos.
Vamos a um exemplo do que seriam valores típicos para essas
taxas. Uma corretora fictícia cobra R$ 8,20 por mês de custódia, e isenta o
cliente de pagar essa taxa caso ele faça pelo menos uma operação no mês.
Portanto, se ele comprar ou vender ações naquele mês, ele não paga nada
dessa taxa.
Ele decide então comprar um lote de ações preferenciais da Gerdau
(ticker GGBR4), ao preço de R$ 16,32 por ação. Os valores de corretagem
cobrados pela corretora são de R$ 12,90 por ordem em lote padrão, e R$
5,40 por lote fracionário (lote com menos de 100 ações). Como esse
investidor está comprando um lote padrão, ele terá de pagar R$ 12,90 de
corretagem na operação.
Além da corretagem, o investidor também pagará as taxas de
emolumentos e liquidação, que vão para a Bovespa. Essas taxas são
proporcionais ao valor da operação, e são diferentes para operação normal
ou day trade. Day trade é quando a pessoa compra ações e as vende de volta
no mesmo dia - é uma prática comum entre especuladores, mas que não faz
muito sentido para investidores.
Os emolumentos cobrados são de 0,005% sobre o valor operado,
tanto para operação normal quanto para day trade, e a liquidação é de
0,0275% para operação normal e 0,0200% para day trade. Como no nosso
está comprando 100 ações a R$ 16,32 cada, então o valor da operação é de
R$ 1632,00. Considerando as taxas de operação normal, teríamos um total
de 0,0325% de emolumentos e liquidação sobre o valor da operação, o que
dá R$ 0,53. Nesse caso, somando todas as taxas, o investidor gastaria R$
1645,43 para comprar um lote de GGBR4 (dos quais R$ 13,43 são taxas).

Ordens de compra e venda

Além de visualizar os preços das ações e o livro de ofertas, você


também irá fazer suas ordens de compra ou venda de ações através do
Home Broker.
As opções para dar ordens de compra ou venda geralmente ficam
bem visíveis no home broker, e é bem intuitivo. Ao acessar a opção de
comprar, por exemplo, você irá preencher um pequeno formulário com o
ticker da ação que você quer comprar, o número de ações e o preço a ser
pago por ação. Geralmente há uma senha que você cadastra quando abre a
conta na corretora, que costuma ser pedida antes de enviar a ordem.
Se você colocar o ticker de um lote padrão, por exemplo PETR4
(ações preferenciais da Petrobras), e indicar um número de ações que não é
múltiplo de 100, você será informado que colocou um valor inválido. Nesse
caso você deve colocar o ticker das ações de lote fracionário, PETR4F.
Quando você preenche as informações e confirma a operação, sua
ordem é listada no livro de ofertas e, se houver uma ordem de venda
compatível, a operação é realizada e o valor é debitado da sua conta na
corretora. A ordem de venda ocorre exatamente da mesma maneira, de
forma que se essa ordem é executada, o valor da venda é creditado na sua
conta.
Além das informações que eu mencionei no preenchimento das
ordens de compra e venda, provavelmente haverá um conjunto de opções
para a validade da ordem. Isso quer dizer por quanto tempo a sua ordem
estará ativa no livro de ofertas. A opção mais comum é "Válida para hoje",
o que significa que sua ordem ficará ativa até que seja executada ou, se não
houver uma ordem de venda compatível com a sua ordem de compra, ela é
cancelada e removida do livro de ofertas no fim do dia. Além dessa opção
para a validade, existem opções como "Válida até a data", em que você
determina até que dia a sua ordem estará disponível, ou "Válida até
cancelar", em que a sua ordem fica ativa até que seja executada ou até que
você selecione a opção para cancelar.

Ordens de stop

Quando você compra ações, você também pode dar ordens de stop,
que nada mais é do que automatizar uma ordem de compra ou venda
programando o disparo dessa ordem a partir de um preço. O stop é muito
utilizado por especuladores e por aqueles que negociam ações no curto
prazo, pois serve como uma proteção.
Digamos, por exemplo, que você comprou ações ordinárias da
Companhia Siderúrgica Nacional (ticker CSNA3) ao preço de R$ 8,60. Por
meio de suas análises, você comprou acreditando que ela pode chegar aos
R$ 12,00. Suponha que você queria limitar suas perdas em, no máximo
10%. Nesse caso, se a ação que você comprou cair até o valor de R$ 7,74
por ação (90% do valor de compra), você vende as ações. E caso o preço
suba até os R$ 12,00 esperados, você as vende para garantir seus lucros.
De uma forma tradicional, você teria que ficar acompanhando o
preço das ações o tempo todo para garantir que você vai tomar a atitude
necessária e vender na hora certa. Mas você pode automatizar isso através
das ordens de stop loss e stop gain .
Stop loss é usado para proteger de perdas maiores. No nosso
exemplo, você programaria uma ordem de stop loss a R$ 7,74. Dessa
forma, se o preço das ações atingir esse preço ou um preço menor, o seu
home broker dispara uma ordem de venda automaticamente (no valor de R$
7,74 ou qualquer outro valor que você queira).
Já o stop gain é usado para garantir ganhos. Imagine que você está
acompanhando o preço das ações CSNA3 que você comprou, esperando
chegar aos R$ 12,00, mas você sai em viagem de férias e deixa de
acompanhar. Então, nesse período, as ações passam dos R$ 12,00 e
desabam logo em seguida! Como você não estava acompanhando, você
perdeu a oportunidade de realizar lucro. Para evitar isso, você programa
uma ordem de stop gain a R$ 12,00. Nesse caso, se o preço da ação chegar
aos R$ 12,00 ou passar desse valor, o seu home broker dispara
automaticamente uma ordem de venda ao preço que você programar.
Como eu mencionei, as ordens de stop são bastante usadas em
investimentos de curto prazo. Se o seu objetivo é investir pensando em ser
sócio da empresa e enriquecer no longo prazo, você usará pouco essa
funcionalidade. Ainda assim, é algo que vale a pena conhecer.

Site de Relações com Investidores - Como acompanhar o que a


sua empresa anda fazendo

Pra finalizar este capítulo, gostaria de dar uma dica prática para
acompanhar as empresas que você escolheu para ser sócio. Eu já mencionei
que as empresas possuem um site de relações com investidores, onde elas
divulgam seus balanços financeiros e notícias ao mercado, além de
divulgarem quando aprovam pagamento de proventos aos acionistas e
eventos societários, como subscrição, grupamento e desdobramento.
Para que você fique informado(a) a respeito dessas notícias, sugiro
que faça o seguinte - pesquise em um site de busca pelo nome da empresa
seguido da sigla RI, que significa "Relações com Investidores". Você
encontrará então o site de RI da empresa. Cada empresa possui um formato
de site, mas boa parte dos sites de RI possuem um serviço de assinatura,
onde você pode deixar o seu e-mail e você recebe uma mensagem toda vez
que a empresa divulgar alguma notícia em seu site de RI. Além de
acompanhar diretamente pelo site da empresa, procure por notícias em
portais de economia e fóruns. Você pode ir no site do Google Notícias, por
exemplo, e buscar pelo nome da empresa.

Ações e o Imposto de Renda


"Se o imposto sobre o cigarro é para desestimular
as pessoas a fumarem, o imposto de renda é para
desestimular o trabalho?"
- Sérgio Paschoal

Sei que esse é um assunto chato, mas já que você se dispôs a


aprender como investir em ações, é importante que você saiba se tem que
pagar ou não imposto de renda com operações em ações, e também como
declarar seus investimentos na declaração anual do Imposto de Renda.

Preciso pagar imposto para investir em ações?

A reposta é um enorme "depende". Basicamente, como já


mencionei, existem duas formas de obter lucros no mercado de ações - a
primeira é através dos proventos, e a segunda é vendendo ações a um preço
maior do que o preço de compra.
Com relação aos proventos, os dividendos são isentos de imposto
de renda. Já os juros sobre capital próprio requerem pagamento de 15% de
imposto de renda, mas esse valor é debitado na fonte no ato do pagamento,
então você não precisa se preocupar em pagar nada, pois já fazem isso pra
você (o que cai na sua conta já é o valor líquido).
Com relação ao lucro com a venda de ações que valorizaram, existe
uma isenção de imposto para uma venda mensal de até 20 mil reais. Acima
desse valor, você deve pagar imposto de 15% sobre os lucros.
Suponha que você tenha comprado 800 ações ordinárias da MRV
Engenharia (ticker MRVE3) ao preço de R$ 8,20 por ação, e 700 ações
preferenciais das Lojas Americanas (ticker LAME4) ao preço de R$ 16,10
por ação. Você gastou então R$ 6560,00 para comprar as ações da MRVE3
e R$ 11270,00 para comprar as ações da LAME4, totalizando R$ 17830,00.
Depois de alguns meses você decide vender essas ações, sendo que as ações
MRVE3 estão cotadas a R$ 10,10, e as ações LAME4 estão cotadas a R$
15,90. Se você vender tudo ao mesmo tempo nesses preços, você irá receber
R$ 19210,00 (estou ignorando as taxas para simplificar o exemplo). Se você
gastou R$ 17830,00 para comprar essas ações, e as vendeu por R$
19210,00, então você teve um lucro de R$ 1380,00. Como o valor total da
venda no mês (R$ 19210,00) foi inferior a 20 mil reais, mesmo tendo lucro
a operação é isenta de imposto de renda, e você não precisa pagar nada.
Agora suponha o mesmo exemplo, só que ao invés de ter comprado
700 ações LAME4 você comprou 800, e depois você irá vender todas as
ações. No momento da compra das ações, você teria gasto R$ 19440,00, e
se fosse vender tudo depois aos preços que eu mencionei, você iria receber
R$ 20800,00. Como o valor da venda naquele mês foi superior a 20 mil
reais, você saiu da faixa isenta de imposto, e deve pagar 15% sobre os
lucros do mês. Se você comprou a R$ 19440,00 e vendeu a R$ 20800,00,
então seu lucro foi de R$ 1360,00, e você deve pagar R$ 204,00 de
imposto.
Deve ser observado que o critério para valor vendido acima de 20
mil reais não é por operação, mas por mês. Se você fizer várias vendas
menores no mesmo mês, e a soma dessas vendas for superior a 20 mil reais,
então você precisará pagar os impostos. No nosso exemplo, seria melhor
que a pessoa vendesse apenas parte das ações e, no mês seguinte vendesse o
resto, ficando isento(a) de imposto nos dois meses.
Compensação de prejuízos

Uma informação importante é que se você teve prejuízo em meses


anteriores à venda das ações, você pode abater esse prejuízo na hora de
apurar o imposto. Suponha que no mês anterior a esse mês em que você
vendeu as ações com lucro de R$ 1360,00, você tenha vendido outras ações
com um prejuízo de R$ 500,00. Se nesse mês você teve lucro e precisa
pagar R$ 204,00 você pode descontar desse valor os R$ 500,00 de prejuízo
que você teve anteriormente. Nesse caso você não precisa pagar nada de
imposto e ainda sobram R$ 296,00 de prejuízo para você abater em
impostos futuros.

Como pagar imposto de renda no lucro com as vendas

No caso dos juros sobre capital próprio, você não precisa se


preocupar em pagar os impostos, pois isso é feito de forma automática. Já
no caso do lucro com venda de ações acima de 20 mil reais (e se você não
tiver prejuízo anterior para abater), é sua responsabilidade pagar os
impostos em dia. Vamos continuar com o exemplo anterior, em que você
comprou ações gastando R$ 19440,00 e as vendeu a R$ 20800,00. Você
lucrou R$ 1360,00 e precisa pagar R$ 204,00 de imposto.
Para pagar esse imposto você precisa emitir um DARF, que é a sigla
para "Documento de Arrecadação de Receitas Federais". Sempre que você
fizer vendas na bolsa acima de 20 mil reais em um determinado mês, você
deve calcular o imposto a ser pago no fim do mês, e você tem até o último
dia útil do mês seguinte para emitir um DARF e pagar. Depois disso vão
sendo adicionadas multas por atraso ao pagamento.
Para gerar o DARF, você pode ir à Receita Federal ou emitir pela
Internet. A Receita Federal possui um site para geração de DARF chamado
"Sicalcweb". Digite esse nome em um site de busca e você irá encontrar o
endereço. No site, você irá selecionar a opção para pagamento de pessoa
física, e em seguida ir preenchendo as informações. Quando te pedirem o
"período de apuração", você coloca o último dia do mês em que teve o
lucro, e na data do vencimento você coloca o último dia útil do mês
seguinte. Além disso, você deverá preencher o código do imposto na
receita. Nesse caso você deve preencher com o número 6015, que é o
código para lucro com operações na bolsa. Finalmente, você preenche o
valor do imposto que você apurou (R$ 204,00 no nosso exemplo) e paga em
um banco ou casa lotérica. Guarde o valor do DARF e o mês em que você
pagou, pois você irá colocar essa informação na sua declaração anual do
Imposto de Renda.

Como declarar os investimentos e os lucros

Uma coisa são os impostos que você paga ao obter lucros. Outra
coisa é a declaração do que você ganhou ou perdeu, além do que você tem
investido. Como provavelmente você já deve saber, é preciso fazer a
declaração anual do Imposto de Renda à Receita Federal. Se você já faz por
conta própria, sem pedir a um contador, a seguir eu explico o que você deve
fazer para declarar os seus lucros (ou prejuízos) e a sua posição na bolsa.
A declaração anual do imposto de renda possui várias seções e
itens, mas a grosso modo você declara duas coisas - o que você recebeu no
ano (receitas e despesas) e o que você tem (listagem de bens e direitos).
Vamos por tópicos explicando o que declarar em cada um desses itens.

Declarando as ações e os lucros/prejuízos com vendas

Vamos começar pela parte de receitas e despesas. O ideal é que


você tenha anotado para cada mês do ano, todas as ações que você comprou
no mês, com a quantidade e o preço das ações. Para cada mês, calcule o
volume total vendido naquele mês e o valor do lucro ou prejuízo.
Se houver algum mês em que o volume vendido foi superior a 20
mil reais, você irá declarar o lucro/prejuízo desse mês na parte de "Renda
Variável". Nessa parte, você declarará o valor do lucro/prejuízo em
"Mercado à vista - ações" para cada mês (os meses em que você vendeu
menos de 20 mil reais você deixa em branco). Há também um campo para
você preencher com "resultados negativos até o mês anterior", onde você
coloca se houve algum prejuízo anterior para compensar. Ao preencher
essas informações, o programa da receita irá indicar o imposto devido para
esse mês. Observe que também existe um campo para "imposto pago". Se
você emitiu o DARF e pagou corretamente na data, você preenche esse
campo e o programa irá zerar a parte de imposto a pagar.
Para os meses em que você vendeu menos de 20 mil reais em ações,
você soma ao longo de todo ano o seu lucro e declara na aba "Rendimentos
Isentos e Não Tributáveis", no item "Ganhos líquidos em operações no
mercado à vista de ações".
Essa é a parte de declaração de receitas e despesas. Resta agora
declarar as ações que você possui na sua carteira. As ações são ativos que
fazem parte de seu patrimônio, e devem ser declaradas na aba "Bens e
Direitos". Lá você irá criar um item para cada empresa da sua carteira com
o código 31, que é o código para ações. Você deve declarar ações como
declara um imóvel - o valor a ser declarado é o valor pago no momento da
compra, ou seja, você não atualiza o valor se o preço da ação subir, apenas
se você comprar mais ações.
Se você já tinha ações de uma determinada empresa e comprou
mais no ano em que está declarando, você deve atualizar o valor
considerando o preço médio de compra. Suponha que você tinha declarado
anteriormente 100 ações de uma empresa ao preço de R$ 10,00 cada. Ou
seja, você tinha declarado no ano anterior R$ 1000,00 em ações dessa
empresa. No ano da declaração você compra mais 300 ações a R$ 15,00
cada. Ao fazer a nova declaração você atualiza o valor do bem
considerando o preço médio pago por ação. Nesse caso você deve dividir o
valor total pago pelo número total de ações - O valor total pago é igual a
100 vezes R$ 10,00 somado a 300 vezes R$ 15,00, o que dá um total de R$
5500,00; O número total de ações é de 400 (100 anteriores mais 300 novas
ações); portanto o preço médio é obtido dividindo-se R$ 5500,00 por 400,
que dá R$ 13,75 por ação. Nesse exemplo, então, você declararia como
parte dos seus bens 400 ações dessa empresa, a R$ 13,75 por ação, num
total de R$ 5500,00.

Declarando os dividendos
Os dividendos, como eu já mencionei várias vezes, são isentos de
imposto de renda. Nesse caso você deve declarar os dividendos recebidos
durante todo o ano na seção de "Rendimentos Isentos e Não Tributados".
Nessa seção, portanto, você deve separar e criar um item para cada empresa
da sua carteira com os dividendos recebidos ao longo do ano, com o tipo
"09 - Lucros e dividendos recebidos".
Existe uma condição na qual você declara dividendos na seção de
Bens e Direitos. Lembre-se que as empresas geralmente declaram o
pagamento de dividendos com antecedência - muitas vezes ela declara que
irá pagar dividendos daqui a alguns meses. Suponha, por exemplo, que a
empresa faça um anúncio de que pagará dividendos aos acionistas com base
na posição acionário do dia 17 de dezembro, e com previsão de pagamento
para fevereiro do ano seguinte. Isso significa que em fevereiro você
receberá dividendos proporcionais ao número de ações que você tiver em
carteira no dia 17 de dezembro, portanto a partir dessa data você passa a ter
um direito de recebimento de dividendos.
Como a declaração do imposto de renda é relativa ao ano, na data
do fechamento (31 de dezembro), você possui um direito de recebimento de
dividendos, mas não recebeu o valor ainda. E é isso que você deve declarar.
Se isso acontecer com você, o correto é que você declare esse valor na aba
de Bens e Direitos, com o tipo 99 ("Outros bens e direitos"), e na descrição
você deve escrever que se trata de créditos em trânsito na forma de
dividendos a receber.

Declarando Juros Sobre Capital Próprio


A declaração de juros sobre capital próprio é bem parecida com a
declaração de dividendos, exceto pelo fato de que eles estão sujeitos à
retenção de 15% de imposto, e portanto devem ser declarados na aba de
"Rendimentos Sujeitos à Tributação Exclusiva/Definitiva". Nesse caso você
também deve criar um item para cada empresa, com o tipo 10 ("Juros sobre
capital próprio"), e declarar o valor líquido que você recebeu.
Juros Sobre Capital Próprios que foram declarados no final do ano e
não foram pagos até o dia 31 de dezembro também devem ser declarados
como crédito em trânsito na aba de bens e direitos, assim como no caso dos
dividendos.

Declarando Direitos de Subscrição

Lembra do evento de subscrição? Pois é. É preciso levá-lo em conta


também na hora de declarar à receita. Se você fechar o ano com um direito
de subscrição na carteira, você deve declarar esse direito na aba de Bens e
Direitos, também com o tipo 99 ("Outros bens e direitos"), e escrever na
descrição que trata-se de um direito de subscrição.
Se você vender direitos de subscrição na bolsa, você deve tratar
como se estivesse vendendo ações - valores inferiores a 20 mil reais no
mesmo mês estão isentos e devem ser declarados na aba "Rendimentos
Isentos e Não Tributáveis", no item "Ganhos líquidos em operações no
mercado à vista de ações"; e valores vendidos acima de 20 mil reais no
mesmo mês devem ser declarados na aba de renda variável, mês a mês.
Já se o direito de subscrição foi exercido, então esse direito foi
transformado em ação. Nesse caso você terá declarado essa ação como já
foi explicado, considerando o preço de compra como o preço determinado
no processo de subscrição.

Separando o joio do trigo


"Os investimentos em conhecimento
geram os melhores dividendos."
- Benjamin Franklin

Pronto. Agora sim, terminamos os ensinamentos desse livro.


Considere este capítulo como um bônus.
Esse livro reúne uma coletânea de ideias que, segundo o meu
julgamento, compõem o conhecimento necessário para iniciar na bolsa com
o pé direito e com uma perspectiva que é, ao mesmo tempo, otimista e
realista - em outras palavras, dá pra ficar rico, mas não é de uma hora pra
outra.
Não existe uma receita de bolo certeira que irá fazer com que você
fique rico(a) na bolsa. Mas, como abordamos vários conceitos nesse livro,
você pode ter ficado um pouco perdido(a) sobre o que fazer primeiro para
escolher boas empresas para investir. Sendo assim, quero fazer uma
tentativa de estabelecer um pequeno processo para você escolher boas ações
e gerenciar sua carteira. Vamos tentar separar o joio do trigo e o que é bom
do que é ruim.

Passo 1: Mentalidade
O primeiro passo é estabelecer uma mentalidade consciente da
bolsa. Esse passo já está sendo feito com a leitura desse livro. Reflita
bastante sobre o que você leu aqui, especialmente sobre os primeiros
capítulos.
A essa altura você já não pode mais estar vendo a bolsa como um
jogo de sorte, ou um cassino, mas sim como um ambiente repleto de
oportunidades de participação em negócios que realmente trazem
desenvolvimento à sociedade. Recomendo que você converse sobre esse
assunto com familiares e amigos (empreste este livro a um amigo e
converse sobre o que ele achou). Acompanhe os noticiários de economia e
procure se familiarizar com a dinâmica econômica do país - você perceberá
como os conceitos da economia afetam sensivelmente a vida das pessoas,
mesmo que elas não se deem conta disso. Economia não é algo restrito a
intelectuais - está no nosso dia a dia, desde o preço da gasolina e do pão na
padaria, ao perfil de consumo das famílias e às demissões nas empresas.

Passo 2: Escolhendo setores para investir

Você já está mais maduro(a) em relação ao mercado de ações, já


abriu conta em uma corretora e já possui algum dinheiro para investir.
Vamos agora começar o processo de escolha.
Eu recomendo que você não invista em um único setor, pois
diversificar reduz os seus riscos. Por outro lado não adianta investir em
todos os setores ao mesmo tempo, pois você não conseguirá acompanhar
tudo. Acredito que, num momento ideal, sua carteira seja composta por 5 a
8 setores diferentes da economia. Ainda assim, recomendo que você inicie
analisando um setor apenas, e a medida em que sua carteira for evoluindo
você vai adicionando outros setores.
Procure entender a dinâmica de cada setor - o setor dos bancos, por
exemplo, geralmente é caracterizado por lucros recorrentes (bons bancos
tem lucros crescentes até na crise) e crescimento suave (é raro observar um
crescimento muito rápido em bancos); outro exemplo são as exportadoras,
que são favorecidas quando o dólar sobe; já as empresas do setor de varejo
tem seus resultados bastante sensíveis ao endividamento da população e à
taxa de juros.
Pense como se você fosse abrir um negócio físico - o que as pessoas
estão consumindo? Qual é a tendência da sociedade em termos de
crescimento econômico? Se você escolher um setor que considera
promissor, procure justificar pra si mesmo(a) porque você acha isso. Leia
notícias a respeito das indústrias desse setor no Brasil e no mundo - se, por
exemplo, você quiser investir no setor de mineração, você deverá estar por
dentro do preço no minério no mundo (se está num patamar alto ou baixo, e
qual a tendência esperada para os próximos anos), além de procurar saber
como anda a economia da China, principal consumidora do minério de ferro
do Brasil.

Passo 3: Escolhendo empresas em cada setor

Para um dado setor que você escolheu, liste todas as empresas com
capital aberto na bolsa. Uma forma de fazer isso é buscar por "Empresas
listadas na Bovespa" em um site de busca. No site da Bovespa você pode
ver a lista de empresas com capital aberto na bolsa, e pode filtrar por setor
de atuação.
Agora vamos filtrar ainda mais. Procure saber o dividend yield e o
indicador P/L das empresas que você listou, e elimine todas as empresas
que tenham dividend yield abaixo de 6% ou indicador P/L acima de 12.
Para coletar esses dados eu utilizo o site Fundamentus
(www.fundamentus.com.br), mas se por algum motivo o site não estiver
mais no ar, procure na Internet em outros sites, seguindo as dicas que eu
mencionei no capítulo sobre indicadores fundamentalistas.
Ordene as empresas que sobrarem pelo dividend yield, do maior
para o menor. Nesse ponto você já separou empresas que talvez sejam
interessantes para investir. Para as de maior valor de dividend yield, passe
um pente fino - observe o preço sobre o valor patrimonial (P/VP) e o
endividamento (dívida sobre valor patrimonial). O objetivo desse pente fino
é determinar se o dividend yield alto indica realmente uma condição
sustentável de pagamento de proventos, ou se trata-se apenas de uma
condição atípica.
Se houver uma empresa que passou em todos os critérios, você já
tem uma opção de investimento. Se não houver nenhuma que passe nos
critérios, escolha outro setor e repita o processo. E se houver empate entre
duas empresas, dê preferência a empresa privada em relação à empresa
pública. Se ambas forem empresas privadas, use a sua intuição ou invista
nas duas!

Passo 4: Reinvestimento e novas compras


Preste bem atenção no que eu vou dizer a seguir - você decidiu
investir de forma séria na bolsa, pensando em construir um bom patrimônio
no longo prazo, então você seguiu as instruções desse livro e começou a
investir em boas empresas (as quais você aprendeu como selecionar). Logo
você começará a receber proventos das empresas que você investiu, e o seu
primeiro sentimento será um misto de alegria com revolta. Alegria porque é
muito bom se sentir dono(a) de algo e ver o dinheiro entrando na conta
sempre é bom; revolta porque muito provavelmente seus primeiros
proventos recebidos serão da ordem de alguns centavos ou, no máximo,
poucos reais! Peço para que você não desanime, pois no início é assim
mesmo. O ser humano não compreende de forma intuitiva o crescimento
exponencial - seus investimentos crescem de forma excessivamente lenta no
início e, a partir de certo ponto, do nada, começa a crescer a uma taxa
assustadora. Se você se manter paciente e disciplinado(a) você
provavelmente verá seu patrimônio crescer de forma virtuosa.
Pois bem. Mantenha-se firme ao seu propósito. Na sua fase de
construção de patrimônio, não gaste nada dos proventos que você receber -
reinvista nas mesmas boas empresas que você tem selecionado. É como
uma fogueira - começa com uma brasa pequena que vai se realimentando
enquanto você coloca mais lenha até que fogo fique incontrolável. Para que
o seu patrimônio cresça mais rápido, portanto, é importante que,
principalmente no início, você alimente o fogo com mais investimentos.
Eu recomendo que você, a cada mês, utilize no mínimo 10% da sua
renda líquida mensal para comprar mais ações. E esse é o mínimo - se puder
investir mais, invista. E se o seu salário é muito baixo, procure estudar
formas para fazer uma renda extra - o mundo é de quem corre atrás... e vai
valer a pena!
Portanto, esse passo consiste em, a cada mês, reinvestir o que você
recebeu em proventos no mês anterior somado a novos investimentos
retirados de parte do seu salário. Se você preferir fazer esse processo a cada
dois ou três meses, tudo bem. O importante é que você esteja
frequentemente realimentando o fogo.

Passo 5: Acompanhamento das empresas

Esteja ciente do que as empresas que você investe estão fazendo.


Não precisa ser neurótico(a) e querer acompanhar cada passo. Basta que
você saiba quais são os principais projetos da empresa, ter uma noção de
como o negócio funciona, onde é feita a produção e quem são os principais
clientes. Procure acompanhar as principais notícias, mas não precisa saber o
que acontece a cada dia.
Leia os balanços trimestrais divulgados pelas empresas nas quais
você investe. Não precisa ler tudo, apenas as informações principais.
Praticamente todo balanço vem com uma tabela de resumo, como eu já dei
um exemplo nesse livro, com os principais números da empresa. Dê uma
olhada nesses valores, em especial o lucro líquido e o EBITDA, e veja a
comparação com os períodos anteriores.
Também siga a dica que eu dei nos capítulos anteriores - acesse o
site de RI das empresas e procure pela assinatura via e-mail das principais
notícias.

Passo 6: Rebalanceamento da carteira


Esse é um passo importante. Se você fizer o passo anterior, de
acompanhar as empresas corretamente, é bem provável que você perceba
caso a empresa comece a ser mal administrada e os resultados ruins
comecem a aparecer. Nesse caso dá tempo de você tomar alguma atitude e
procurar outra empresa para investir.
Mas pode ocorrer de a empresa estar indo bem e o mercado
demonstrar um otimismo exagerado com a empresa. Se este for o caso e os
proventos pagos pela empresa não acompanharem o otimismo do mercado,
o que irá acontecer é o preço das ações subirem muito em relação ao valor
pago em proventos - e essa pode ser uma boa oportunidade para vender as
ações com lucros.
Portanto, é recomendável que você rebalanceie a sua carteira de
ações de tempos em tempos. Eu recomendo que você, a cada 6 meses,
observe o valor do dividend yield das suas ações. Mas ao invés de dividir os
proventos pagos nos últimos 12 meses pela cotação atual das ações, divida
pelo preço que você pagou. Por exemplo, se você pagou R$ 10,00 pela ação
de uma empresa que pagou R$ 0,65 em proventos nos últimos 12 meses, e
hoje a ação está a R$ 20,00, o dividend yield para a cotação atual é de
0,65/20 = 3,25% e o dividend yield em relação ao preço que você pagou é
de 0,65/10 = 6,5%. Portanto, se o dividend yield em relação ao preço que
você pagou ficar abaixo dos 6% por dois ou três períodos seguidos,
considere vender as ações e comprar novas ações de outra empresa.
Quando for comprar as ações de uma nova empresa, siga as
instruções do passo 3.
Passo 7: Continue estudando

Se você seguir os passos apresentados aqui, levando em conta os


ensinamentos e a filosofia de investimento propostos neste livro,
dificilmente você terá prejuízos na bolsa. Pelo contrário - o mais provável é
que você construa um bom patrimônio, além de aprender muito no
caminho.
Mas na bolsa existem muitos pontos de vista e muitos investidores
com as estratégias mais diversas, portanto eu encorajo você a buscar cada
vez mais conhecimento através de outros autores e outros meios. Tivemos
um capítulo específico sobre as referências que eu recomendo no mundo
dos investimentos. Procure ler os livros que eu indiquei, assista a palestras
pela Internet, e busque cursos em vídeo aulas. Quanto mais você estudar a
respeito do mercado de ações, mais você vai se sentir à vontade para
investir, e mais você vai se perguntar porque não começou antes!

oncluindo

Estamos chegando ao final desse livro, e eu tenho três coisas para te


dizer, caro leitor.

Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo por ter lido até aqui.


Espero ter cumprido com suas expectativas a respeito do livro, e considero
que se você leu tudo com atenção você tem todo o conhecimento necessário
para começar na bolsa da forma certa.

O segundo recado é um conselho. Se você quiser ter sucesso na


bolsa (e porque não, na vida?) eu recomendo que você procure desenvolver
ao máximo duas virtudes - a disciplina e a paciência. Se você permanecer
investindo na bolsa por um longo período de tempo, certamente você vai
viver tanto os momentos de pânico quanto os momentos de euforia. A
paciência e a disciplina vão ser fundamentais para que você não se
desespere nos momentos de pânico, e nem se envaideça ou se deslumbre
nos momentos de euforia.

Finalmente, o terceiro recado é um pedido. Infelizmente vivemos


em um país onde a instrução da população é baixa, especialmente a
educação financeira. No momento em que escrevo este livro, vivemos uma
grave crise econômica e mais da metade da população está endividada. Um
dos meus objetivos com este livro é dar uma pequena contribuição para que
mudemos nossa cultura, saindo da ignorância financeira em direção à
prosperidade e à cultura do investimento. Este livro é uma tentativa de
contribuir com um pouco do conhecimento que mudou a minha vida. Dessa
forma, meu pedido a você é que passe para frente e recomende a leitura do
livro às pessoas a sua volta. Pode fazer toda a diferença.

No mais, boa sorte e bons investimentos!


Se você gostou deste livro, recomendo
que conheça o meu outro título!
Investimento em Fundos Imobiliários Para Leigos
– Construindo um Patrimônio Sólido com os Fundos
de Investimento Imobiliário

Me permita te pedir um último favor: Se este livro foi


útil a você, por favor avalie deixe um review no site
da Amazon! Dessa forma você me ajuda a levar este
conhecimento ao máximo de pessoas que puder
ajudar. Obrigado!

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