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Artigo original

O respeito à diversidade étnica e cultural


dos alunos: uma intervenção no campo
dos direitos humanos
Respect to diversity ethnic and cultural of students:
An intervention in the field of human rights
Elizabeth Christina Rodrigues Bittencourt1

RESUMO

O objetivo principal deste trabalho é o de reconhecimento da diversidade étnica e cultural de um grupo


de alunos de 9° do ensino fundamental de uma escola municipal da cidade de São Paulo. Situa-se no campo
das Ciências Humanas, possuindo um caráter exploratório, caracterizado por um projeto de intervenção no
campo da Educação em Direitos Humanos. A partir disso, percebemos que uma simples alteração na “forma
escolar”, dentro do ambiente restrito de uma sala de aula padronizada da escola, possibilitou a ampliação da
rede de relações colaborativas entre os alunos.
3
PALAVRAS-CHAVE

Direitos Humanos. Diversidade étnica e cultural. Projeto de intervenção

1
EMEF Bernardo Higgins.

Ciência em Movimento - Educação e Direitos Humanos, v.18, n. 37, 2016


O respeito à diversidade étnica e cultural dos alunos: uma intervenção no campo dos direitos humanos

ABSTRACT

The main objective of this work is the recognition of ethnic and cultural diversity of a group of 9th elemen-
tary school students of a municipal school in the city of São Paulo. It lies in the field of Humanities, having an
exploratory nature, characterized by an intervention project in the field of Human Rights Education. From that,
we realized that a simple change in the “school form”, within the restricted environment of a standardized
school class room, enabled the expansion of the network of collaborative relationships among students.

KEY WORDS:
Human rights. Ethnic and cultural diversity. Intervention Project.

Ciência em Movimento - Educação e Direitos Humanos, v.18, n. 37, 2016


O respeito à diversidade étnica e cultural dos alunos: uma intervenção no campo dos direitos humanos

INTRODUÇÃO estava instaurado e se buscava ansiosamente o ca-


minho da reconstrução dos países, alicerçados em
Nem todos os homens são felizes, mas todos têm princípios de coexistência pacífica e proteção dos di-
direito a sê-lo. (KANT, 2004)
reitos humanos. Em dezembro de 1948, em sessão
realizada em Paris, a Assembleia Geral das Nações
Ao olhar em nossa volta, no transcurso de nossas Unidas aprovou, pelo voto de 48 países, dentre eles
vidas, podemos observar pessoas tristes e desiludi- o Brasil, que adotou e proclamou a Declaração Uni-
das, e algumas vezes conseguimos entender a razão versal dos Direitos Humanos, documento válido e
disso. Em uma viagem que fiz, acompanhada de mi- respeitado até os dias de hoje. Ela está expressa, nos
nha filha a Manaus, visitamos uma tribo indígena na Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Na-
margem oposta do Rio Negro e durante algumas ho- cionais (PCNs), especialmente nos Temas: Ética, Plu-
ras pudemos estar mais próximas de seu ambiente ralidade Cultural e Meio Ambiente. (MEC/SEF, 1998)
natural. Nesta condição particular, passamos de Este trabalho pretende, dentro do campo dos Di-
maioria ao papel de minoria, e observamos e escuta- reitos Humanos, manter o foco no modelo de pes-
mos o que eles tinham para dizer. Ao assistir o docu- quisa qualitativa, dentro das Ciências Humanas e
mentário “Índios no Brasil” (SEF/SEED/FUNDESCOLA, Sociais segundo Chizzotti (2000). Este autor defende
2013) durante o Curso Educação em Direitos Huma- que “a abordagem qualitativa parte do fundamento
nos fez com que estas lembranças fossem reforçadas de que há uma relação dinâmica entre o mundo real
e as palavras que ouvimos ganharam eco, ganhando e o sujeito”, no qual o sujeito-observador é parte
outro significado, me levando a aprofundar estudos integrante do processo de conhecimento e interpre-
que permitissem esclarecer a situação problemática ta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado
em que vivem, tanto em seu ambiente natural quan- (CHIZZOTTI, 2000, p. 79). Em um entendimento mais
to no ambiente urbano, e principalmente nas esco- específico, segundo Antonio Carlos Gil, situa-se no
las, onde atuo profissionalmente. Nela, esta propos- campo das pesquisas aplicadas, que estão funda-
5
ta se justifica pelo fato de que muitos conflitos sur- mentadas nas pesquisas acadêmicas que proporcio-
gem entre os alunos, quando deixam de reconhecer nam o avanço das ciências, mas com a preocupação
no colega, aluno de origem indígena, um sujeito de de “aplicação imediata numa realidade circunstan-
direitos, tanto no direito à Educação quanto à sua cial” (GIL, 2008, p. 27). Assim sendo, tem um caráter
identidade étnico-cultural. exploratório, pois busca aproximar a teoria da práti-
Alguns relatos, que refletem a ação dos profes- ca, sendo o primeiro passo para uma investigação
sores empenhados em desenvolver uma cultura de mais ampla, com os próprios instrumentos aperfei-
Direitos Humanos perante suas turmas, já foram pu- çoados. A intervenção pedagógica (DAMIANI et all.,
blicados e refletem o empenho da Secretaria Muni- 2013) foi realizada com os alunos de uma turma do
cipal de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de último ano do Ensino Fundamental na Escola Muni-
São Paulo (CARBONARI et all, 2014). cipal de Ensino Fundamental Bernardo O´Higgins,
Desta forma, a Educação em Direitos Humanos subordinada à Diretoria de Ensino Santo Amaro, Zo-
passa a ser a via de se oferecer igualdade de oportu- na Sul da cidade de São Paulo.
nidades pela educação, conforme defendeu Anísio A organização geral deste trabalho compreende
Teixeira, em seu projeto para a Bahia: “Nascemos de- quatro capítulos, sendo que o primeiro se inicia com
siguais, nascemos ignorantes, e, portanto, nascemos o entendimento das relações de poder que aconte-
escravos. É a educação que pode mudar”. (TEIXEIRA, cem entre os alunos, que decorrem da diversidade
1947 in BENEVIDES, 1998, p. 159) A citação de Aní- étnica e cultural presente nas escolas. Sob o ponto
sio Teixeira nos remete diretamente ao período que de vista constitucional, a “matriz indígena” é forte-
se sucedeu ao final da Segunda Guerra Mundial, que mente desfavorecida, pois o indígena brasileiro ao
tantas vidas havia ceifado e tantas marcas deixado nascer já se encontra sob o regime de tutela do Es-
pelo mundo antes em combate. O horror à guerra tado. A defesa dos seus direitos, previstos no Estatu-

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to do Índio ainda são insuficientes para conter a vio- dos alunos em “pequenos grupos”, na segunda eta-
lência, como no crime perpetrado contra o índio pa do projeto, o que os levou a formar vínculos com
Galdino, em 1997. A condição de “exclusão social” colegas com os quais tinham pouco relacionamento,
que estigmatiza os indígenas atinge também outros seguiram práticas pedagógicas consolidadas no co-
migrantes, imigrantes, exilados e refugiados. Para tidiano escolar, o que em muito favoreceu os resul-
entender todas estas possibilidades foi necessário tados favoráveis obtidos, descritos brevemente no
buscar na “Teoria das Representações Sociais” e na quarto capítulo.
“Psicologia das Minorias Ativas” outros subsídios Este trabalho, desenvolvido a partir de um proje-
teóricos para reflexão e o entendimento destes efei- to que estava fortemente fundamentado na diversi-
tos nas comunidades escolares. A relação pedagógi- dade étnica e cultural dos alunos, acabou ganhando,
ca existente entre “mestre” e “alunos” passa a ser durante sua realização, uma característica mais am-
estudada como o modelo de socialização dominante pla, de reconhecimento das qualidades próprias de
e suas propostas de ação interativas, que ofereçam cada aluno, como indivíduo, e reconhecimento no
coexistência respeitosa entre indivíduos e grupos de “outro”, seu colega, um parceiro em potencial, com
diferentes origens étnicas e culturais. o qual é possível a divisão de tarefas em um trabalho
O segundo capítulo se inicia com a retomada da conjunto. Poderão, em suma, garantir o direito da
diversidade étnica e cultural que constitui o povo identidade individual e do reconhecimento da alteri-
brasileiro, e as dificuldades das relações interpes- dade do colega, atendendo aos ditames das normas
soais. A escola passa a ser considerada como o am- de respeito e convivência da escola.
biente onde “o modo escolar de socialização é o Um protótipo do questionário a ser aplicado aos
modo de socialização largamente e hegemônico” de alunos dos três turnos da escola observou o preceito
nossas formações sociais (VINCENT; LAHIRE, THIN, adotado no Censo 2010 do IBGE (IBGE, 2010, p. 15)
2001, p. 38). Desta forma os esforços desenvolvidos de autoidentificação étnico-racial, além de aproxi-
6 pelo corpo docente, sob orientação da equipe ges- mação com termos da língua falada e outros valores
tora, ficam entendidos neste sentido, adequando culturais. Pretende reconhecer não somente os indi-
projetos e ações à realidade das comunidades onde víduos dos povos indígenas, mas também identificar
estão localizadas, favorecendo a socialização dos os alunos em sua diversidade étnica e cultural, para
alunos. A escola onde foi desenvolvido o projeto de a proposição de estudos complementares e valoriza-
intervenção docente passa a ser descrita, desde seu ção da diversidade existente.
histórico, espaço e tempo escolar, normas e regula- Este protótipo será encaminhado à equipe de di-
mentos, práticas escolares e a sala de aula, em sua reção da escola, para que discuta sua validade, com
distribuição espacial e desenvolvimento do Projeto ou sem modificações por parte do corpo docente,
Pedagógico. para ulterior aplicação, com autorização do Conse-
No terceiro capítulo serão apresentados os prin- lho de Escola.
cipais aspectos considerados para a elaboração e de-
senvolvimento do projeto de intervenção, desde seus 1 – EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
objetivos e métodos até os primeiros resultados ob- E O RESPEITO À DIVERSIDADE
tidos. Importante ressaltar que, pela exiguidade de
tempo no planejamento das ações, e por se tratar de As desigualdades sociais são, muitas vezes, justifi-
cadas pela cor da pele, pelo tipo de cabelo e outras
uma pesquisa exploratória, sem referencial teórico
características físicas, a partir das quais um deter-
que subsidiasse as ações, especialmente quanto à
minado grupo é tomado como “superior” ou “in-
elaboração das “questões iniciais”, muito do que foi ferior”, supostamente “bom” ou “mau”, “civiliza-
feito deverá ser revisto, caso haja interesse desta es- do” ou não. As temáticas vinculadas à raça e à
cola, ou de outras, que porventura tenham interesse etnia ligam-se, portanto, a relações de poder es-
em desenvolver um projeto semelhante. Convém tabelecidas social e historicamente. (PMSP/SME/
FAFE, 2006)
considerar que as ações que provocaram o rearranjo

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Ao se buscar o entendimento das relações de po- toda pensada na prevalência do interesse social, e a
der que se expressam entre os alunos, individualmen- propriedade foi reconhecida como um direito funda-
te, ou entre grupos de alunos com características di- mental dos brasileiros e estrangeiros aqui residentes.
ferentes, as questões ligadas às diversas etnias presen- Ela refere, em seu artigo 20, que as terras tradicio-
tes na escola e em todas as salas de aula logo se apre- nalmente ocupadas pelos indígenas são bens da
sentaram relevantes. A formação do povo brasileiro, União. Mais ainda, conforme considera Souza e Bar-
no entendimento de Darcy Ribeiro (1995, p. 19) foi bosa (2011):
determinada pela “confluência, do entrechoque e do [para] ...compreensão da situação jurídica dos
caldeamento do invasor português com índios silvíco- índios no Brasil, o disciplinamento de sua capacidade
las e campineiros com negros africanos”. Este é o co- por designação do Código Civil de 2002 (artigo 4º,
nhecido “mito das três raças”, que, mesmo questio- parágrafo único), encontra-se disciplinada no Esta-
nado no campo da Antropologia, serviu de suporte tuto do Índio (Lei n. 6.001/73), segundo o qual o
aos primeiros censos realizados pelo Instituto Brasilei- indígena brasileiro ao nascer já se encontra sob o
ro de Geografia e Estatística (IBGE). Renato Sztutman regime de tutela sendo incapaz para os atos da vida
(2008) apresenta esta inversão no quadro das grandes civil até que atenda certos requisitos (artigo 9º, Lei
interpretações do Brasil, garantindo a Darcy Ribeiro o n. 6.001/73) e torne-se livre desse regime. Tal situa-
papel de “divisar a maloca indígena no fundo da pai- ção afeta diretamente o efetivo exercício dos direitos
sagem da casa grande e senzala” (2008: 18). indígenas por seus titulares, se revelando como ex-
Entretanto, uma grande disparidade se apresenta pressão típica do sistema de integração defendido
ao se analisar a condição do direito dos índios quan- por tal legislação.
to à ocupação e demarcação do território que ocu- As terras indígenas representam 12,5% do terri-
pam depois da chegada dos europeus e outros es- tório brasileiro, segundo dados transcritos abaixo,
trangeiros ao país (FERRAZ JUNIOR, 2004). A Carta fornecidos pelo Censo de 2010 do IBGE (IBGE, 2010,
de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, foi p. 17):
7

Quadro 1 – Número de terras indígenas e superfície (IBGE, 2010)

Observando o Cartograma que acompanha este Quadro (Figura 1), pode-se notar que as terras indígenas
estão localizadas principalmente na região norte do País (IBGE, 2010, p. 18):

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Figura 1 – Terras indígenas no território brasileiro


De acordo com os resultados do Censo Demo- ropeus. Entretanto, alguns fatos ainda chocam o ce-
8 gráfico 2010 provenientes do quesito cor ou raça, nário nacional:
817,9 mil pessoas se declararam indígenas, repre-
O assassinato do índio pataxó hãhãhãe Galdino Je-
sentando 0,4% da população total do Brasil. Por
sus dos Santos, em 20 de abril de 1997, queimado
uma série de fatores, a obtenção de informações
vivo enquanto dormia em uma parada de ônibus
sobre a identidade indígena é complexa. Dependen- no centro de Brasília, provocou reações de perple-
do do contexto, membros de uma dada etnia po- xidade na sociedade brasileira. (PIUBELLI, 2012)
dem ter receio de manifestar sua identidade, seja
por preconceito e discriminação, ou mesmo negar Um crime de homicídio triplamente qualificado –
o pertencimento étnico possivelmente devido às ex- por motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que
periências vividas anteriormente. Desses, 36,2% re- impossibilitou defesa à vítima. A descrição minuciosa
sidiam na área urbana e 63,8% na rural. Enquanto dos relatos, das memórias em torno de Galdino e sua
na área urbana, a Região Sudeste deteve o maior luta pela demarcação das terras indígenas é continu-
percentual de indígenas (80%), a Região Norte, com ada pela interpretação das autoridades públicas, dos
82%, foi o maior percentual da área rural. (IBGE, índios e membros da sociedade civil. A repercussão
2010, p. 52-54) em todo o Brasil foi enorme e desvelou o aumento
Apesar do extermínio sofrido, muitas populações considerável nas taxas de homicídios cometidos por
indígenas resistiram e atualmente sua luta vem sen- jovens do Distrito Federal entre 1979 e 1995. Oito
do reconhecida em todo território nacional. A ques- instituições, além da UNESCO participaram de uma
tão das “terras indígenas” vem mobilizando desde ampla pesquisa, que resultaram na publicação do livro
há muito tempo os representantes dos diferentes “Juventude, violência e Cidadania: os jovens de Brasí-
povos indígenas, em busca de salvaguardar seus di- lia” (WAISELFISZ, UNESCO, 1998), ao final da qual os
reitos de ocupação da terra, que era ocupada sem pesquisadores puderam recomendar um conjunto de
restrições desde antes da chegada dos primeiros eu- ações preventivas por parte dos órgãos públicos, pais

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e educadores de todo o país no combate à violência. reconhecidos como outsiders, pois ficaram desloca-
A situação dos indivíduos indígenas, como no ca- dos perante a população local assim que chegaram
so citado, remete aos estudos sociológicos de “exclu- a seu destino atual. Trazem consigo traços de suas
são social”. Avelino da Rosa Oliveira (2000, p. 87) culturas originais e se destacam em relação à comu-
lembra que, quando se estuda o par cidadania-edu- nidade local, o que pode gerar estranhamento, pre-
cação encontramos, na outra face da mesma moeda, conceito e violência, nos casos mais extremos, como
a educação-exclusão. Este autor afirma que este é no caso do índio Galdino.
um campo que tem de ser estudado muito além do Na perspectiva das ciências sociais, o índio Galdi-
campo estrito da Educação, passando ao panorama no estava em busca dos interesses dos povos indíge-
socioeconômico das sociedades contemporâneas, nas, o que remete a dois campos complementares
ou seja, da Sociologia e da condição econômica em do conhecimento, ambos equivalentes e de igual im-
que estão situados os sujeitos objetos dos estudos. portância:
Após percorrer extensa bibliografia, indica que, no 1°) às “Representações Sociais”, através da “Teo-
estudo da sociologia do desvio, que dá origem às ria das Representações Sociais”, definida por Jovche-
ocorrências de casos de violência deste tipo, indica o lovitch da seguinte forma:
estudo de uma das obras centrais neste campo, de
autoria de Howard Becker, publicado originalmente A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS se articu-
la tanto com a vida coletiva de uma sociedade, co-
em 1963 e posteriormente traduzido e publicado no
mo com os processos de constituição simbólica, nos
Brasil. O título – Outsiders - remete ao conceito a
quais os sujeitos sociais lutam para dar sentido ao
respeito de indivíduos que não se conduzem segun- mundo, entendê-lo e nele encontrar o seu lugar,
do as regras acordadas pelo grupo. Becker faz as através de uma identidade social. (JOVCHELOVI-
seguintes considerações a este respeito (BECKER, TCH, 2003, p. 65)
2007, p. 15):
Um indivíduo, ou sujeito, ao assumir o papel de
9
Todos os grupos sociais fazem regras e tentam, em
um “representante social” assume para si o papel de
certos momentos e em algumas circunstâncias,
defender pessoalmente os interesses do grupo social
impô-las. Regras sociais definem situações e tipos
de comportamentos a elas apropriados, especifi- que representa e, consequentemente, os riscos que
cando algumas ações “certas” e proibindo outras disso advém, pois em muitas situações está distante
como “erradas”. Quando uma regra é imposta, a de seu ambiente nativo, ou natural. É a situação a
pessoa que presumivelmente a infringiu pode ser que se expôs o índio Galdino, ao distanciar-se de seu
vista como um tipo especial, alguém de quem não
grupo, à margem de sua comunidade, vítima de jo-
se espera viver com as regras estipuladas pelo gru-
vens de comportamento desviante – os outsiders –
po. Esta pessoa é encarada como um outsider.
das camadas dominantes da sociedade.
2°) à “Psicologia das Minorias Ativas”, pois ao
De toda forma, o conceito de outsiders - “indiví-
representar um grupo o sujeito, neste caso o índio
duos que não se conduzem segundo as regras acor-
Galdino, e “o mais importante é conhecer as forças
dadas pelo grupo” - definido por Becker (2007, p.
que impulsionam a minoria a assumir o risco de ser
17) é aceito por Oliveira (2000, p.100) e outros pes-
detestada, rechaçada e saber o que ganha com isso”
quisadores nas ciências sociais. É possível entender
(MOSCOVICI, 2011, p. 220). Os indivíduos e grupos
que este termo se aplica aos indivíduos, ou grupo de
em minoria, perante um grupo social majoritário,
indivíduos que estão afastados de seu ambiente cul-
buscam expressão e visibilidade.
tural original, e isto oferece uma visão mais ampla
para o problema dos povos indígenas e seus descen- Na realidade, os indivíduos gastam uma enorme
dentes quando deslocados das terras indígenas de- quantidade de energia para ser exemplo, ou mere-
marcadas institucionalmente. Todos os migrantes, cedores, da aprovação social. Isto não é uma neces-
imigrantes, exilados e refugiados podem também sidade vital para as minorias marginais, desviantes,

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porém ativas. À custa de qualquer sacrifício, sua Logo, a relação pedagógica adquire um formato
primeira preocupação é fazer-se visível, alcançar o onde a relação entre “mestre” e “alunos” são sub-
pleno reconhecimento de sua existência aos olhos
metidos a regras impessoais estabelecidas pela “or-
da maioria e na mente de quem representa esta
dem pública” num espaço fechado e ordenado, onde
maioria. (MOSCOVICI, 2011, p. 221)
o tempo é cuidadosamente regulado e os espaços
são preenchidos, submetendo a todos aos “princí-
A partir destes referenciais é possível entender a
pios” ou regras que a regem. Com o passar do tem-
complexidade enfrentada ao buscar o desenvolvi-
po, esta “forma escolar” foi se aprimorando até os
mento de um projeto cujo objetivo é o de reconhe-
dias atuais, e constitui “o modo de socialização do-
cimento da diversidade étnica e cultural de um gru-
minante de nossas formações sociais” (VINCENT;
po, e que permita que todos se reconheçam como
LAHI; THIN, 2001, p. 38). As ações propostas e de-
indivíduos da mesma espécie, biologicamente falan-
senvolvidas na escola multiplicam-se e alcançam os
do, e que as diferenças étnicas e culturais sejam res-
pais, comunidade e nas formações das instituições,
peitadas, e que todos possam aprender e se benefi-
nos estágios de “inserção”, etc. A “forma escolar” se
ciar com esta interação.
impôs como um padrão de referência como um
Numa visão ampla, nas palavras de Edgar Morin
meio, legítimo e dominante, de socialização.
(2000, p. 54)
Entretanto, este modelo vem sendo alvo de nu-
No nível antropológico, a sociedade vive para o
merosos debates sociais, pois contém em si os con-
indivíduo, o qual vive para a sociedade; a sociedade
ceitos de “mestre” e “aluno”, ou seja, alguém que
e o indivíduo vivem para a espécie, que vive para o
ensina para alguém que aprende de acordo com o
indivíduo e para a sociedade.
que é estabelecido pela “ordem pública”. O “aluno”
hoje é visto como alguém que também detém sabe-
res e que pretende compartilhar com os outros “alu-
10 nos” e com os “mestres”. Quer opinar e esclarecer
suas dúvidas, numa relação dialógica, diferente da-
quela que foi estabelecida na concepção histórica da
“forma escolar”. As ações hoje estão voltadas para
escolas mais “voltadas para o exterior” ou aquelas
Figura 2 – Representação gráfica da relação do indi-
que convidam pais, comunidades e outras institui-
víduo com a espécie e a sociedade
ções a serem coparticipes em seus propósitos.

Estas palavras fazem refletir que a sociedade que


2 – DIREITOS HUMANOS NA ESCOLA E
pretendemos construir no futuro depende da forte
O RECONHECIMENTO DAS DIFERENÇAS
interação entre o indivíduo e a sociedade, que se
INDIVIDUAIS: ÉTNICAS E CULTURAIS
estabelece desde a infância, nas escolas, através do
que se entende por “forma escolar”, estabelecida en-
Tratado sem alma e afecto, como objecto de mani-
tre os séculos XVI e XVII (VINCENT; LAHIRE; THIN,
pulação desmesurada, o mundo natural encontra-
2001, p. 12). Ela surgiu na Europa e que estabeleceu -se hoje ameaçado por múltiplas agressões, impon-
uma relação especial entre um “mestre” e um “alu- do ao ser humano a assunção de limites éticos, sem
no”, relação esta que passou a ser chamada de “re- os quais não é possível a partilha solidária do tem-
lação pedagógica”. po e do espaço. (BAPTISTA, 2008, p.7)

Como toda relação social no espaço e no tempo, a A convivência solidária e respeitosa dos espaços
autonomia da relação pedagógica instaura um lu- ao longo do tempo leva à ampliação de saberes
gar específico, distinto dos lugares onde se realizam
entre os habitantes de um determinado ambiente,
as atividades sociais: a escola. (VINCENT; LAHI;
seja natural ou urbano. A preservação dos ambien-
THIN, 2001, p. 13)

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tes naturais pode ser facilmente ser ensinada por Caracterização da escola
seus habitantes de longa data, da mesma forma que
o ambiente urbano tem regras de convívio social a) Histórico
que se constroem ao longo do tempo. Quando ha-
bitantes do ambiente natural estabelecem o diálo- A EMEF Bernardo O´Higgins está localizada bem
go com habitantes do ambiente urbano, os saberes próxima à Diretoria Regional de Educação de Santo
podem ser compartilhados, o que irá permitir o en- Amaro, da rede municipal da Prefeitura de São Paulo.
tendimento de cada uma destas diferentes realida- Disso pode-se dizer que é uma escola bastante anti-
des e o trânsito irrestrito nestes ambientes, numa ga, cuja cultura reflete a história e desenvolvimento
perspectiva de cidadania consciente e responsável. do bairro desde as suas origens. O seu projeto de
construção original foi sendo ampliado e modificado
Justificativa e apresentação do tema com o passar do tempo, tendo ganhado um prédio
escolhido: anexo que contém um auditório, a Sala de Informá-
tica Educativa e algumas salas de aula. O que se ga-
Os povos indígenas que ocupavam desde longo nhou no acolhimento de mais alunos, em busca de
tempo o território que hoje conhecemos como “Bra- uma educação de qualidade, representada pela rea-
sil” mantinham seus hábitos de ocupação e preser- dequação de seus objetivos educacionais, perdeu-se
vação do ambiente natural de forma bastante inten- na redução dos espaços livres de circulação, de lazer
sa, mesmo que baseada na oralidade, conforme a e recreação, ou dedicados à prática de modalidades
eles se refere Carlos Alberto Ricardo: esportivas diferenciadas.
Sequer sabemos os seus nomes. Os povos indí- O bairro de Santo Amaro, que décadas atrás teve
genas que viviam no que veio a se chamar Brasil uma das poucas linhas de bonde da cidade, desen-
eram ágrafos e atualmente a maioria não domina a volve-se no polo que é hoje, que dispõe de uma rede
leitura e a escrita. Foram – e continuam sendo – de avenidas e o terminal da primeira linha de metrô
11
“batizados” por escrito por “brancos”, antes mes- da capital. Estes são alguns fatores que indicam seu
mo que alguém lhes compreendesse a língua. (RI- crescimento significativo, e esta mudança é visível
CARDO, 1995, p. 32) nesta escola. A busca constante da qualidade do en-
Desde então, a ocupação do território por levas sino pela equipe de gestão e docentes é visível, o que
de estrangeiros das mais diferentes etnias demons- torna a busca por vagas bastante disputada. Nesta
trou dificuldade em se adaptar a este ambiente re- condição, as identidades individuais se mesclam em
cém-ocupado de forma tão respeitosa quanto seus busca de interesses coletivos, num ambiente marca-
habitantes originais. Além disso, sofreram a mesma do pela presença de fluxos migratórios em busca de
dificuldade de interação sociocultural pela diversida- emprego nas recentes obras públicas, reflexo do des-
de linguística, marca característica de cada uma das locamento de famílias inteiras, no processo de urba-
etnias consideradas. nização das regiões periféricas da metrópole.
Considerando a escola o principal local onde
ocorre “o modo de socialização dominante de nos- b) O espaço escolar
sas formações sociais” (VINCENT; LAHIRE; THIN,
2001, p. 38), este trabalho focalizou nem tanto a O espaço escolar, desde a sua fundação, foi sendo
escola, como o todo, mas as ações desenvolvidas cada vez mais explorado e compartimentado. De um
em sala de aula perante uma turma de alunos, ações único prédio, de sua construção original, a demanda
estas voltadas para o reconhecimento de suas iden- da comunidade por mais vagas acabou por se cons-
tidades e compartilhamento de saberes socialmen- truir um prédio anexo. Os espaços de lazer originais
te construídos. foram reduzidos e, consequentemente, o lazer dos
alunos menores um pouco restrito.

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Atualmente, é possível referir que no prédio ori- c) O tempo escolar


ginal ficam, no andar térreo as salas da equipe de
gestão, secretaria e serviço de atendimento ao públi- O tempo nesta escola dá mostra em suas paredes,
co. Estas dependências estão alocadas em torno de em sua forma e na sua utilização. É um tempo mul-
um hall central, que dá acesso a um sanitário para tidimensionado, pois tem de abarcar a condição mul-
estes funcionários. Este hall dá acesso a um pátio tifacetada dos aspectos que atende: do 1° ao 9° ano
coberto, no qual são servidos os lanches e refeições, do ensino regular, em dois turnos diurnos e, no pe-
e uma escada leva a dois pavimentos superiores, de ríodo noturno, aos alunos da EJA.
uso comum do corpo docente e discente, especial- Atender ao mesmo tempo todas estas demandas
mente dos adolescentes. No primeiro andar está si- tem levado a equipe de gestão a utilizar, além dos
tuada a Sala dos Professores, que tem anexos sani- pequenos avisos entregues aos alunos na forma im-
tários exclusivos e uma pequena copa. Tem ainda seis pressa, um jornal periódico e também mensagens
salas de aulas, com tamanhos e mobiliários diferen- que utilizam as modernas tecnologias de informação
ciados, que atendem a fins específicos. No segundo e comunicação. Desta forma, os acontecimentos vi-
andar, sobre a sala dos professores está localizada a vidos pela comunidade escolar dentro e fora de seus
sala de Leitura; as salas de aula seguem o mesmo muros, seus projetos em vias de realização e resulta-
padrão do andar inferior. dos alcançados neles são compartilhados entre a
Do pátio coberto, tem-se o acesso à quadra po- equipe de gestão, corpo docente, funcionários e to-
liesportiva coberta e algumas áreas descobertas, que dos os alunos dos três turnos em que funciona a
a recente equipe de gestão vem equipando de forma escola.
a atender às brincadeiras infantis. Dele se tem tam- De uma forma geral, os professores e alunos
bém acesso ao prédio anexo onde estão localizados atendem a um sinal sonoro padrão nas escolas, tan-
o Auditório, a Sala de Informática no térreo e nos to para entrada quanto saída, além do início e térmi-
12 dois andares superiores salas de aula que atendem no das aulas, e intervalo para merenda. Os inspetores
principalmente os alunos das séries iniciais, com mo- de alunos, nos corredores, acompanham as trocas
biliário que atende ao público infanto-juvenil. das aulas e dão informes, quando necessários, de
Em vários locais da escola encontram-se murais qualquer alteração que tenha ocorrido.
com avisos para as pessoas que nela circulam: no hall
da entrada do prédio, na sala dos professores e avisos d) Normas e Regulamentos
em algumas paredes, nas quais os alunos costumam
buscar informações. Tanto no interior das salas de A escola segue, de forma geral, os regimentos e
aulas, quanto nos corredores de circulação dos alu- normas ditados pelos órgãos federais, estaduais e
nos, são comuns as exposições dos trabalhos de pes- municipais de Educação. Na medida da autonomia
quisas requisitados pelos professores, de tempos em oferecida pela legislação, e atendendo às peculiari-
tempo. Na época de Feira Cultural no segundo se- dades da “forma escolar” (VINCENT; LAHIRE; THIN,
mestre, os espaços da escola são ocupados quase 2001) a equipe de gestão discute, dentro dos princí-
que em sua totalidade, pelas melhores produções pios da “gestão democrática” os interesses e objeti-
dos alunos durante todo o ano, ou produzidas para vos mais significativos aos alunos, seus pais e comu-
este fim. nidade atendida. Reconhece ainda, em cada aluno a
É uma escola bem situada, próxima à Diretoria de sua condição física, familiar e sociocultural nas diver-
Ensino, o que faz com que algumas vezes, alguns sas intervenções que realiza diariamente, de tal for-
encontros de capacitação nela ocorram. Isto faz com ma que as regras institucionais e próprias desta es-
que muitos alunos, especialmente os que residem em cola acabam sendo transformadas em ações que
seu entorno, a valorizem, pois é um marco educacional garantem os direitos individuais e coletivos na insti-
no bairro. tuição.

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e) Práticas escolares • Reuniões de Conselho de Escola


• Eleição e encontros com o Grêmio Estudantil
Em uma escola com tal diversidade de profissio- • Desenvolvimento dos Projetos Especiais de
nais e alunos, as práticas escolares se multiplicam, Ação (PEA)
sendo cada uma única e personalizada. É possível
encontrar nela docentes recém-egressos dos cursos f) A sala de aula e sua distribuição espacial
universitários com práticas inovadoras e profissio-
nais em fim de carreira, respeitados e valorizados por As salas de aula contam com mobiliário padroni-
seus alunos, e que utilizam convictamente metodo- zado, fornecido pela Prefeitura, que além da lousa e
logias que conquistaram da prática ao longo de mui- respectivo aparador, dispõe de mesa e armário para
tos anos de trabalho. disposição do material docente, e 35 carteiras para
A equipe gestora sabe que lida com esta diversi- acomodação dos alunos, dispostas costumeiramente
dade e também se multiplica em esforços para a to- em seis fileiras, cada uma com cinco ou seis carteiras.
dos contentar, tendo em vista o sucesso da escola, (Figura 3). Isto difere das salas destinadas aos Progra-
que se expressa nos índices favoráveis do processo mas Especiais da Secretaria Municipal de Educação,
de ensino-aprendizagem de seus alunos. tais como exemplo o dos “Espaços e Salas de Leitura”
No desenvolvimento destas ações podem ser re- e também o de “Informática Educativa”. Em Bitten-
lacionadas diversas instâncias onde os indivíduos se court (2015) é possível encontrar um estudo prelimi-
expressam, manifestando suas opiniões e colocando- nar que aponta as diferenças entre as salas de aula
-as em votação, em um processo democrático: padronizadas e a de uma Sala de Leitura em uma ou-
• Reuniões Pedagógicas tra escola da rede municipal de ensino da cidade de
• Reuniões de Conselho de Classe São Paulo. As principais diferenças encontradas foram
• Reuniões da Associação de Pais e Mestres sintetizadas de acordo com o Quadro 2, a seguir:
• Reuniões com Pais ou Responsáveis
13

Quadro 2 – Principais diferenças entre uma sala de aula regular e uma Sala de Leitura (BITTENCOURT, 2015,
p. 48)

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Nas salas de aulas padronizadas, no início do ano 1947), que deu ênfase ao estudo dos pequenos gru-
letivo, os alunos costumam acomodar-se de acordo pos. Kurt Lewin propôs ainda a existência do “psico-
com os laços de amizade pré-estabelecidos, mas este -grupo”, como aquele formado por interesses rela-
arranjo pode ser modificado ao longo do ano letivo cionados às afinidades entre seus, diferente do “só-
de acordo com o interesse tanto do “mestre” quanto cio-grupo”, que seria o grupo incumbido de uma
dos “alunos” (VINCENT; LAHIRE; THIN, 2001), ou as determinada tarefa. (MAILHIOT, 2013, p. 31).
necessidades explícitas em alguma técnica a ser de-
senvolvida pelos professores em suas aulas. g) O Projeto Pedagógico em sala de aula

No início de cada ano letivo uma dupla de pro-


fessores recebe da equipe de gestão a incumbência
de acompanhar uma turma de alunos com maior
atenção, escutando seus anseios e reivindicações,
propondo articulação de seus interesses perante a
equipe de gestão e propondo ações diferenciadas
que se fizerem necessárias em sala de aula. Atenden-
do a este princípio de gestão democrática, são eleitos
dois alunos que serão os representantes da turma
para os procedimentos rotineiros de interlocução
com a equipe gestora, mesmo na ausência dos pro-
fessores responsáveis pela turma.
Estes alunos representantes participam de en-
contros regulares com a equipe de gestão para dis-
14 cutir os interesses de seus colegas, numa ação de
“representação social” (JOVCHELOVITCH, 2003) que
os prepara, e a todo o grupo, para o diálogo e defe-
sa de seus interesses, tanto em condições de “maio-
Figura 3 – Característica geral da disposição do mo-
ria” quanto de “minorias ativas” (MOSCOVICI, 2011).
biliário em uma sala de aula
A representação democrática transforma a “forma
escolar” (VINCENT; LAHIRE; THIN, 2001), paulatina-
Muitas vezes os professores rearranjam esta dis-
mente, em uma instituição que reflete a sociedade
posição padronizada organizando as carteiras em
que se transforma tanto no espaço quanto no tempo
um grande círculo, para as discussões coletivas da
considerado.
turma, ou em duplas ou em “pequenos grupos” de
3 a 5 carteiras, dependendo da tarefa a ser executa-
3 – DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO DE
da e do número de alunos envolvidos na sua execu-
INTERVENÇÃO COM UMA TURMA DE
ção. Esta é uma tarefa do professor, que promove a
ALUNOS DE NONO ANO DO ENSINO
modificação do ambiente da sala de aula e propor-
FUNDAMENTAL
ciona dinamismo as suas aulas ao longo de todo um
ano letivo (DOYLE, 1996, p. 394).
Seja como for, a forma como categoria de pensa-
As condutas sociais que se expressam em sala de
mento foi considerada de modo bastante preciso
aula tiveram seu estudo iniciado por William Ma- por Aristóteles. Não [devemos] considerar a forma
cDougall (1871-1929), que publicou o primeiro livro de um objeto tal como se apresenta aos olhos: es-
sobre o assunto com o título: “An introduction to tática, definitiva, ou solidificada, se preferirmos,
social psychology”, mas o grande pesquisador sobre mas, sim, a forma que expressa a mutação, que
expressa a evolução e, portanto, que expressa o
a matéria tem sido considerado Kurt Lewin (1890-
tempo. (NOËL, 1996, p. 16)

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A forma como categoria do pensamento foi in- para a superação dos preconceitos e discrimina-
terpretada como “forma escolar”, estabelecida entre ções, introduzindo no currículo ações que possibi-
litem a reflexão sobre a diversidade e torne percep-
os séculos XVI e XVII (VINCENT; LAHIRE; THIN, 2001)
tíveis as potencialidades humanas.
e que vem sendo aperfeiçoada ao longo do tempo.
Tanto a escola EMEF Bernardo O´Higgins, apresenta-
A partir das reflexões teóricas percebidas durante
da em seus vários aspectos no Capítulo anterior,
este Curso de Educação em Direitos Humanos, asso-
quanto à comunidade que a compõe, vem sofrendo
ciadas aos conhecimentos acumulados durante a
contínuas transformações e promovendo modifica-
prática profissional e manejo da sala de aula, foram
ções na “forma escolar” que ocupa.
planejadas e desenvolvidas as ações relatadas, bem
A relação pedagógica, entendida como aquela
como os resultados e a avaliação pelos próprios par-
que se estabelece “mestre” e “alunos” em um pro-
ticipantes.
jeto de intervenção, deve atentar que tanto “mes-
A turma selecionada para o desenvolvimento do
tre” quanto “alunos” são indivíduos com caracterís-
“projeto de pesquisa-intervenção” (DAMIANI et all.,
ticas individuais próprias, que devem ser considera-
2013) é composta por 29 alunos matriculados, sendo
das. Relembrando o estudo de Bernadete Angelina
16 do sexo feminino e 13 do sexo masculino nascidos
Gatti sobre a heterogeneidade existente entre os
entre abril/2000 e dezembro/2002. Para salvaguar-
professores e inúmeros fatores que compõem sua
dar as identidades destes alunos, considerados “ado-
identidade profissional (GATTI, 1996), é preciso rei-
lescentes”, de acordo com o Estatuto da Criança e
terar que este projeto foi elaborado e desenvolvido
do Adolescente (Lei n° 8.069, de 13/07/1990) serão
tendo em vista os conhecimentos adquiridos e acu-
sempre referidos pelo número de chamada do Diário
mulados durante a prática profissional de longas
de Classe da Escola.
décadas em sala de aula desta profissional. Outros
profissionais, com identidades pessoais e profissio-
nais diversas, certamente teriam produzido um tra-
Justificativa 15
balho bastante diferente.
A proposta de intervenção decorrente deste Pro-
Depois destas considerações, é possível indicar,
jeto de Pesquisa foi desenvolvida na identificação
rapidamente, os principais aspectos que compõem a
das diferentes identidades dos grupos étnicos e cul-
ação interventiva focada no reconhecimento das di-
turais que compõem o corpo docente da escola.
ferenças étnicas e culturais entre os alunos de uma
Lançando um olhar abrangente sobre os alunos em
turma de alunos do 9° ano e promoção do respeito
uma classe ou em um evento escolar mais amplo,
a esta diversidade, numa perspectiva da Educação
tanto a equipe de gestão quanto o corpo docente
em Direitos Humanos.
pouco conseguem observar da diversidade que se
encerra em cada aluno ou aluna. Sentados ou brin-
Apresentação
cando, usando uniformes ou usando suas vestes
cotidianas, a visão de conjunto supera o reconheci-
Para o melhor desenvolvimento do Projeto Peda-
mento das origens étnicas das crianças e jovens que
gógico, especialmente no que se refere ao desenvol-
frequentam a escola.
vimento das práticas democráticas por parte dos alu-
nos, teoricamente referida na “teoria das representa-
Objetivo
ções sociais” (JOVCHELOVITCH, 2003), conforme foi
estudado o “Projeto Pedagógico em sala de aula”, no
Incrementar o relacionamento respeitoso entre
Capítulo 2. Neste documento consta como objetivo
os alunos, reconhecendo as diferenças individuais,
da Proposta Pedagógica para o corrente ano letivo:
dadas pela diversidade étnico-cultural, através da
promoção de ações colaborativas entre os estudan-
Desenvolver uma relação ética e diversificada com
práticas voltadas para o respeito às diferenças e tes que produzam boas práticas escolares e sociais.

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Metodologia de Trabalho discussão. Ao receber esta tarefa e se dedicar a sua


realização, os alunos deixam de ser definidos como
Os alunos, sabedores da Proposta Pedagógica da “psico-grupos” e passam a ser reconhecidos como
escola e empenhados em alcançar este objetivo, dis- “sócio-grupos”.
puseram-se de bom grado a participar das ações pro-
postas pela professora, o que configura este projeto
como uma “pesquisa-ação”, que corresponde, se-
gundo Thiollent (2011, P. 20), a:

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com


base empírica que é concebida e realizada em es-
treita associação com uma ação ou com a resolução
de um problema coletivo e no qual os pesquisado-
res e os participantes representativos da situação
ou do problema estão envolvidos de modo coope-
rativo ou participativo.

De acordo com esta concepção, o primeiro passo


do projeto aconteceu através de um levantamento
de dez questões de múltipla escolha a serem respon-
didas individualmente. Cada questão continha qua-
tro alternativas, cada uma delas acompanhada de
um espaço para que os alunos assinalassem a alter-
nativa de sua escolha. As alternativas ofereciam, pa- Figura 4 – Disposição das carteiras durante o traba-
16 ra questões gerais de caráter étnico e cultural, alter- lho dos “pequenos grupos”
nativas que atendiam a diferentes culturas nos as-
pectos de palavras utilizadas, alimentos consumidos Ao se organizarem para a tarefa em “pequenos
com maior frequência, ritmos musicais e artistas pre- grupos”, alguns alunos deixaram de seu lugar origi-
feridos. Tendo em mãos estes questionários, pode ser nal dentro da classe e foram ocupar outro lugar on-
feita a tabulação das respostas, com o uso de uma de a carteira tivesse sido desocupada, para se apro-
planilha eletrônica que indicou respostas coinciden- ximar dos colegas com os quais iriam compartilhar a
tes entre os alunos, o que poderia indicar interesses tarefa. Esta mudança passou despercebida a todos
comuns, tanto de origem étnica quanto cultural. até a finalização da tarefa, mas ao final da aula, de
A partir da análise destas indicações, foram for- 45 minutos, a professora pediu que realinhassem as
mados nove “pequenos grupos”, do tipo “psico-gru- carteiras de toda a classe em seis fileiras, conforme
po”, conforme conceituados por Mailhiot (2013). a organização original, e que os alunos se mantives-
Tendo em vista a identificação dos interesses comuns sem sentados nestes novos lugares. Houve admira-
dos nove “pequenos-grupos”, foram selecionados ção de todos, por terem migrado para um novo local
nove textos, buscados em páginas de interesse geral na classe, algumas vezes distante ao que ocupavam
da internet. Depois de uma semana que responde- anteriormente e distantes dos colegas com os quais
ram as dez questões iniciais, os nove “pequenos-gru- estavam acostumados a conversar. A partir deste mo-
pos” foram convidados a se sentarem juntos, pela mento os antigos “psico-grupos” se desfizeram e a
aproximação das carteiras da classe (Figura 4). A par- disposição dos alunos na classe passou a ser deter-
tir deste rearranjo eles foram orientados a fazer a minada pelo arranjo determinado pela tarefa em que
leitura compartilhada dos textos previamente esco- os pequenos grupos desenvolveram em uma condi-
lhidos, buscando sua interpretação, troca de infor- ção de “sócio-grupos”, ou seja, envolvidos na reso-
mações e registro das opiniões surgidas durante a lução de uma determinada tarefa, mesmo que com

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colegas com os quais estava desacostumado de con- Depois de algumas semanas, a maioria dos alu-
versar e compartilhar impressões. nos ainda se mantinha nos novos lugares conquista-
A nova disposição dos alunos nas carteiras da dos, estreitando laços de coleguismo recém-conquis-
classe foi registrada pela professora e ficou estabe- tados. Como forma de finalização desta primeira
lecido que respeitariam este rearranjo dali por dian- etapa, a professora realizou uma pesquisa breve pa-
te. A classe, que estava disposta, desde o início do ra se informar da avaliação que os alunos poderiam
ano num arranjo oferecido simplesmente por apro- oferecer desta experiência. Foi dado a cada aluno um
ximações sociais fortuitas, definidas por “psico-gru- fragmento de papel branco, de aproximadamente
pos”, passou para uma distribuição originada por sete centímetros de lado, onde puderam desenhar,
uma dinâmica vinculada à realização de uma tarefa, simplesmente, os emoticons, com os quais estão bas-
o que transformou os antigos “psico-grupos” em tante acostumados por causa da linguagem mediá-
“sócio-grupos”, vinculados pelas características indi- tica que compartilham, que representavam seu grau
viduais, mas com aproximações melhor definidas, de satisfação com as ações desenvolvidas no projeto.
que favoreceram a realização de uma tarefa escolar. Os desenhos traçados pelos alunos foram juntados
e estão contidos na Figura 4, abaixo:
Cronograma

Maio/2016 – Aplicação das questões iniciais e


análise geral dos resultados.
Junho/2016 – Aplicação da dinâmica que resultou
no rearranjo dos alunos na classe. Avaliação dos
resultados pelos alunos e pelos professores.

Recursos materiais
17

Presencialmente: cópias do questionário inicial e


dos textos trabalhados pelos “pequenos grupos”.
Nas ações de planejamento pela professora: com-
putador com acesso à internet e com os recursos
oferecidos por um editor de texto e uma planilha
eletrônica.
Figura 5 – Emoticons que representam o grau de
4 – ANÁLISE E RESULTADOS PARCIAIS satisfação dos alunos com os resultados obtidos nes-
DO PROJETO DE INTERVENÇÃO COM UMA te projeto
TURMA DE NONO ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL E OBTIDOS COM A reorganização dos alunos a partir da proposta
OUTRAS TURMAS de uma atividade diferenciada, que buscava identi-
ficar a diversidade étnica e cultural dos alunos, aca-
Conviver é chegar a viver juntos entre distintos sem bou proporcionando alguns resultados, que foram
os riscos da violência e com a expectativa de apro- perceptíveis pelos professores que atuam perante
veitar de maneira fértil nossas diferenças. O desafio esta turma:
da convivência é basicamente o desafio da tolerân-
1°) Os alunos que mantiveram sua nova posição
cia à diversidade e esta encontra sua manifestação
na classe, aproximando-se dos colegas com os quais
mais clara na ausência da violência.
(MOCKUS, 2002, p. 94) criaram novos vínculos, demonstraram satisfação
nesta mudança pela conquista de novas amizades.

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2°) O relacionamento entre os colegas da classe O questionário inicial, que foi elaborado com o
passou a ser mais harmonioso e o desempenho da objetivo de se identificar a origem étnica e cultural dos
turma nas tarefas tornou-se mais produtivo. alunos teve a resposta de algumas questões descarta-
3°) A dinâmica de toda a classe ao se decidir em da na avaliação, por erro na formulação ou falta de
torno de novas propostas, ou tarefas dos professo- conhecimentos por parte dos alunos. A partir dos re-
res, passou a ser recebida com maior entusiasmo do sultados obtidos e da ação que envolveu o rearranjo
que anteriormente, e passaram a ser realizadas mais dos alunos na classe, foi possível imaginar que a ela-
rapidamente. boração do questionário poderia ser feita a partir de
Quanto ao material produzido, o questionário quaisquer outras questões do cotidiano, tais como:
proposto inicialmente, já durante sua aplicação os cor de roupa preferida, ritmo musical que prefere ou-
alunos tiveram dúvida quanto à elaboração das al- vir, ocupação das horas de lazer. O foco da pesquisa
ternativas de três questões. Na revisão feita tanto tem de estar relacionado com a realidade cotidiana
pela Coordenação da Escola quanto pela Orientado- dos alunos da comunidade considerada e as questões
ra do projeto foram apontadas sugestões aplicáveis deverão ser elaboradas de forma a permitir o agrupa-
a uma reelaboração das mesmas. mento dos alunos em torno de preferências ou situa-
Convém notar que estes resultados foram obti- ções reais de seu cotidiano. A análise dos resultados
dos perante uma das turmas de 9° ano regular, do obtidos nos questionários deve privilegiar as questões
período da manhã, mas se torna importante insistir que envolvem poucos alunos, desconsiderando aque-
que outros professores desenvolveram também suas las que refletem a aspiração da maioria. As preferên-
propostas, adequadas à realidade de suas turmas. cias dos alunos introvertidos, ou que tenham poucas
Outros projetos, também com turmas de 9°s anos, relações sociais dentro da classe, devem ser observa-
foram desenvolvidos dentro da Proposta Pedagógica das com detalhe, de forma a criar ao seu redor um
da escola, dinamizando as ações voltadas para a va- “sócio-grupo” com quem este aluno possa se relacio-
18 lorização da diversidade étnica e cultural dos alunos, nar na realização da tarefa, e estabelecer com estes
e elaboração, até o final do ano do Trabalho Colabo- colegas novos laços de relacionamento.
rativo de Autoria (TCA). Finalizando, é possível considerar ainda duas ques-
tões que merecem reflexão. A primeira se refere à “for-
CONSIDERAÇÕES FINAIS: ma escolar”: a ordem das carteiras favorece a intera-
tividade entre os alunos e maior cooperação no am-
As reflexões teóricas apresentadas nos dois primei- biente da sala de aula. A segunda remete ao fato de
ros capítulos poderão servir de referências a futuros que a escola, em seu projeto pedagógico, tem como
estudos e desenvolvimentos de projetos mais conclu- tema principal o reconhecimento e respeito às diver-
sivos, dentro deste e de outros campos de estudos que sidades. A “diversidade” remete à “diferença” que
envolvam o “modelo escolar” vigente, e que se expres- existe entre os indivíduos. O símbolo matemático que
sa atualmente em diversas instituições, além das es- expressa o “diferente” corresponde a dois pequenos
colas propriamente ditas, como a focalizada aqui. segmentos de reta cortados obliquamente. Se for re-
Com a aplicação do questionário inicial foi possí- tirado o corte oblíquo, surge o sinal de “igual”, que
vel identificar, além dos indígenas e seus descenden- representa a “igualdade”, e que se assemelha também
tes, também estrangeiros, ou seus descendentes, de uma “ponte” entre o “eu” e o “outro”. Neste trabalho,
outras partes do mundo. Apesar da precariedade dos ao tratar do reconhecimento e respeito às diferenças
resultados e da exiguidade do tempo para realização individuais, o caminho que foi percorrido foi o de en-
desta pesquisa-intervenção, os resultados obtidos contrar as “semelhanças”, ou “igualdades”, entre os
superaram as expectativas iniciais da pesquisadora, alunos e a partir delas estabelecer “pontes” de rela-
o que demonstra que a dinâmica da sala de aula cionamento entre o “eu” e o “outro”, surgindo então
muitas vezes é mais rica do que podemos supor, à novas relações de relacionamento respeitoso, numa
primeira vista. perspectiva dos Direitos Humanos.

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O respeito à diversidade étnica e cultural dos alunos: uma intervenção no campo dos direitos humanos

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