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ELIANA BASTOS

HISTÓRIA E CULTURA DAS


RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

FACULDADE SÃO BRAZ

2018

Curitiba/PR

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INTRODUÇÃO

Olá estudante!

Nesta disciplina de História e Cultura das Relações Étnico-Raciais


abordaremos, de maneira didática e crítica, conteúdos que possam estimular
novas abordagens críticas, referentes às relações étnico-raciais que se
estabelecem no âmbito das vivências sociais e políticas.
Na primeira aula, serão expostos conteúdos que possibilitem a reflexão
sobre as relações étnico-raciais, destacando-se o contexto histórico em que
foram estabelecidas.
Na segunda aula, serão abordadas as relações étnico-raciais, pelo viés
dos contextos políticos em que ocorreram, procurando fazer inferências
relevantes para a aquisição de saberes concisos sobre os conceitos de etnia e
raça. Estudaremos ainda as legislações contemporâneas, de forma a
desenvolver seu espírito crítico sobre essa temática.
Na terceira aula, faremos apontamentos relevantes a respeito dos
movimentos sociais, destacando a historicidade que permeia todos os aspectos
da organização de tais movimentos, com ênfase nos momentos da história
mundial que foram essenciais à aquisição de muitas conquistas sociais, bem
como a conjuntura política que foi, e é, fundamental para a formação das
organizações sociais e políticas, na busca de melhorias para o bem comum.
Esse estudo pretende levar você, estudante, a uma reflexão que lhe
permita compreender as relações étnico-raciais, presentes no contexto
contemporâneo.
Na quarta aula, sublinharemos as relações étnico-raciais, sob a ótica de
uma prática humana, reflexiva e inclusiva, centrada na diversidade do contexto
educativo e numa postura humana adequada que promova o bem comum,
independentemente das etnias nele inseridas.

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Palavra da professora-autora

Olá, estudante, seja bem-vindo à disciplina de História e Cultura das


Relações Étnico-Raciais!
A concepção de educação aqui evidenciada é a de ser um instrumento
que permite novos rumos para a sociedade atual, tendo o conhecimento como
fonte de possibilidades para a concretização de uma vivência cidadã mais
digna.
O estudo é uma tarefa laboriosa, no entanto, conduz-nos à aquisição de
saberes preciosos e relevantes para a práxis educativa em quaisquer
circunstâncias, pois a teoria que adquirimos no decorrer das pesquisas
realizadas é o fundamento frutífero para a concretização de uma prática
pedagógica repleta de êxito.
Espero que esta disciplina lhe proporcione uma aprendizagem
proveitosa, possibilite administrar seu tempo; explorar o ambiente virtual da
nossa disciplina; ler e pesquisar sobre os assuntos abordados; dialogar com
seus colegas sobre os saberes adquiridos; e que se empenhe em realizar
todas as tarefas propostas, a fim de assimilar o conteúdo apresentado.
E, sobretudo, faço votos de que sua mente esteja aberta a novas
reflexões, que possibilitem a apreensão, reelaboração e/ou aquisição de
conhecimentos úteis e revolucionários para sua vida e suas relações humanas.
Além disso, acredite na sua capacidade de ser uma pessoa cada vez
melhor, e que a cada novo dia surgem novas possibilidades, enquanto há vida,
com a consciência de que somos seres inacabados, tendo em mente a vida
como uma constante realização, bem como a valorização ética do novo
aprendizado que, permanentemente, deve permear as difusas, heterogêneas e
complexas relações educacionais, em suma, humanas.
Em síntese, meu desejo é que você faça valiosas descobertas e realize
importantes pesquisas!

Bons estudos!

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Aula 1 – Relações étnico-raciais: reflexões iniciais e contexto
histórico

Figura 1.1: Etnias

Fonte: Jurandyrjunior/WikimediaCommons

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Olá! Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina de História e Cultura
das Relações Étnico Raciais. Nesta aula você realizará uma reflexão sobre a
relação dialógica referente aos aspectos históricos que permeiam a cultura
étnico-racial, bem como participará de discussões não só a respeito da
relevância dessa temática para sua formação acadêmica, mas também que
possam criar um sentimento humanizado diante do objeto de estudo,
proporcionando uma compreensão crítica sobre ele. Vamos interagir!

Para uma maior compreensão a respeito das relações étnico-raciais


será realizada uma discussão inicial sobre os aspectos sociais e históricos que
permeiam esta temática, abordando a relevância desses aspectos para a
formação humana.
Nessas relações, o sujeito deve ser respeitado em sua condição de
cidadão, mediante o seu desenvolvimento físico, social, psicológico, ou seja, é
necessário pensar o sujeito em sua integralidade.

Reflexões sobre as relações étnico-raciais

As relações étnico–raciais são concebidas a partir de uma compreensão


de que todos os sujeitos merecem respeito pelas suas diferenças,
consideradas naturais frente a um mundo diverso, complexo, difuso.
É necessário abrir a mente para reconhecer o conhecimento a respeito
do outro, dos grupos diferentes de nós, aquilo que não se conhece, aquilo que
não é intrínseco e comum a uma cultura desde o início da existência individual
de cada um, ou seja, é mister que o ser humano seja compreendido, aceito,
observado e respeitado conforme a sua especificidade.
Afinal, o estudo das relações étnico–raciais requer um espírito
respeitoso, virtuoso, humano, diante do seu objeto e do novo.

Vocabulário
Mister: sinônimo de necessário, essencial, fundamental, indispensável, etc.

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Nessa busca por um sentimento de humanidade, que possa estimular
um estudo coerente a respeito da temática abordada, é imprescindível refletir
sobre as relações que se estabelecem na realidade brasileira, historicamente
constituída por povos com diferentes caraterísticas biológicas que deram
origem a uma grande e particular diversidade étnica nacional.
Essa etnicidade que nos caracteriza como nação, é um dos objetos de
estudo desta disciplina, como área do conhecimento necessária à formação
humana de qualquer cidadão que pretenda fazer a diferença nos diversos
ambientes de convivência social, e aprender a estabelecer relações cada vez
mais humanas com os seus iguais, de forma a desenvolver os principais
aspectos inerentes à cidadania no seu contexto social e político.
Nesse contexto do estudo da temática étnico-racial, é imprescindível
sublinhar a postura humana que deve estar presente em todo o ato de reflexão,
ou seja, a pessoa interessada em compreender, ou mesmo analisar, os dados
históricos e políticos que permeiam esse estudo específico, necessita fazê-lo
sob uma ótica humana para, então, compreender a realidade presente em
todos os aspectos que abrangem a vivência étnico-racial, a fim de munir-se de
argumentos válidos que possam questionar as certezas dos pragmatismos que
prevalecem nos meios políticos e sociais, que fomentam atitudes
preconceituosas, doentias e desumanas em relação ao diferente.
Isso significa que a pessoa precisa revestir-se de humanidade para
compreender afetivamente as condições culturais, sociais, políticas, e tantas
outras que corroboram para a formação étnica do seu semelhante.

Vocabulário
Pragmatismo: é uma corrente filosófica que se baseia no conceito de que as
ideias e ações só são verdadeiros se servirem para a solução imediata de
problemas, opondo-se a qualquer tipo de improviso.

Nesse aspecto da convivência humana, é importante salientar a


diversidade mundial, a pluralidade existente em todas as relações

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contemporâneas entre os sujeitos humanos, com a intensificação da
tecnologia, da internet, dos meios de comunicação, enfim, todas as facilidades
de conexão entre os indivíduos.
Apesar das distâncias geográficas, essas características da
modernidade, de alguma forma, intensificaram a aproximação com o diferente,
com aquilo que não é comum na cultura em que estamos inseridos.
Dessa maneira, a diversidade é algo mais natural para as novas
gerações do que para as antigas, ou pelo menos deveria ser. Para tanto, desde
os primórdios de sua existência e/ou desenvolvimento, as pessoas devem ser
educadas no respeito ao outro, à diversidade e às diferenças, com a noção do
dinamismo da realidade humana, bem como da vastidão cultural que a
caracteriza.
Ainda no âmbito dessa reflexão, é pertinente parafrasear Freire (2012),
ao nos incitar a pensar na pessoa humana como sujeito histórico, inacabado,
em constante desenvolvimento, ou seja, como autor da sua própria história.
A história existe porque os seres humanos, na complexidade da sua
existência, a constroem no decorrer dos tempos, tornando-se assim necessário
aprender a conviver com a diversidade natural existente entre os semelhantes.
Em resumo, as pessoas precisam aprender, por meio da educação
formal e não formal, a respeitar os outros em todos os planos das relações
humanas.

Mídias Integradas
Para fundamentar a discussão apresentada até aqui, recomendamos que
assista ao filme Human, de Yann Arthus-Bertrand, o qual ilustra a diversidade
humana e apela à humanidade necessária que se deve ter diante do estudo
das relações étnico – raciais. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=TnGEclg2hjg&list=PLdTvmFPBr0MmlhTVh
P1Nncs3GADBCL7u8>.
Se preferir assistir ao filme na íntegra, acesse:
<https://www.netflix.com/watch/80080758?trackId=14170032&tctx=0%2C0%2C
1118aa7c-d5ff-4e86-9363-6468d1228548-4726925>.

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A singularidade do sujeito humano deve estimular o estudo a respeito da
etnicidade, sabendo que o comportamento humano e suas nuances devem ser
observadas e respeitadas em todos os momentos da vida.
Assim, para refletir a respeito dos aspectos étnicos de um povo, veja as
imagens apresentadas no filme: Humano: Uma viagem pela vida, a fim de abrir
sua mente à compreensão do outro, de sua diversidade e singularidade, com
vistas a contribuir, como cidadão humano, para o estabelecimento de relações
sociais e políticas, que se convertam em ferramentas para a construção de um
mundo menos desigual.

Vocabulário
Nuance: sutileza; diferença quase imperceptível entre coisas quando
comparadas.

Assim sendo, os conteúdos abordados referentes à etnia devem ser


contemplados e analisados com uma postura humanamente assumida,
inspirada no modo de ver o mundo de Paulo Freire, pois o presente e o futuro
são construídos, cotidiana e dinamicamente, na busca permanente do ser
humano por “ser mais” e, nessa construção, ele “deve respeitar o direito de
todos de serem diferentes”.

Vocabulário
Etnia: do grego ethnos, significa povo e, historicamente, foi utilizado para a
definição da diversidade cultural das pessoas que constituem o mundo, ou
seja, a complexidade cultural da sua língua, músicas, comidas, roupas, cor da
pele, etc.

O presente estudo tem o verbo respeitar como ponto de partida da


abordagem das relações étnico-raciais, à medida que os conceitos forem
analisados e o desenvolvimento dos assuntos corroborarem para a aquisição
de uma conduta cada vez mais respeitosa diante do outro, com base no
conhecimento da diversidade que permeia a sociedade atual, construída por
todos nós, como sujeitos dessa historicidade, na qual precisamos estabelecer

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uma interação positiva para que as gerações vindouras tenham referências
positivas de como conviver com as diferenças.
Portanto, busca-se a formulação de novas ideias e/ou reflexões que
possam ser úteis à sua formação humana, sendo que, segundo Freire (2003),
essa ação formadora não pode ser mecânica, mas deve resultar de um
processo histórico e social profundo e complexo.

Contexto histórico das Relações étnico-raciais

Segundo Munanga (2005), o Brasil é um país multicolor, constituído por


diversas etnias que, no decorrer do processo histórico da nação brasileira,
deram origem à diversidade e multiplicidade de pessoas, desde os primórdios
da colonização.
Desse modo, houve a influência dos povos indígenas, negros, orientais,
brancos e mestiços, sendo que esta pluralidade de gentes contribuiu, e ainda
contribui, para a formação étnica deste país.
É, pois, preciso compreender que, historicamente, o Brasil deve ser
entendido como uma nação humanamente constituída, na qual o espírito de
diversidade étnica e racial e o respeito ao semelhante devem estar presentes
em toda e qualquer relação humana.
Assim, parafraseando Munanga (2005), pode-se afirmar que a
sociedade brasileira foi impregnada de pensamentos preconceituosos
eurocêntricos, os quais estão disseminados no seio da sociedade desde os
primórdios da colonização.
Nesse contexto, o conceito de superioridade da raça branca em
detrimento de outras raças, consideradas inferiores, vem sendo assimilado,
pelas várias gerações, de maneira natural ao longo da história brasileira.

Vocabulário
Eurocêntrico: forma de julgar o mundo a partir de um ponto de vista europeu;
pessoa que busca compreender o mundo tendo em conta somente valores
europeus.

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Destarte, esse espírito de superioridade racial, que intoxica a mente, traz
consequências desastrosas nas concepções das pessoas a respeito dos seus
semelhantes e do que é diferente.
O contexto histórico étnico-racial precisa desenvolver, nos membros da
sociedade brasileira atual, o respeito à diversidade resultante da influência das
várias etnias que a formaram, sendo que as relações estabelecidas entre elas
produziram um vasto conjunto de conhecimentos, disseminados ao longo do
tempo, que vão se reformulando com o passar do tempo, por meio dos
recentes avanços tecnológicos, criando e recriando a cultura dominante na
sociedade brasileira.
Para tanto, é necessário refletir sobre os termos etnia e raça. A este
respeito, vejamos a seguir a fundamentação teórica de Aranha (2006, p. 327-
328):

A divisão clássica das “raças” em branca (ariana), negra (africana),


amarela / indígena (asiática) não é hoje aceita como antes. Os
estudos atuais, baseados nos avanços da genética, indicam que o
genoma humano – o conjunto de genes que caracterizam a espécie
humana – é constituído por cerca de 30 mil a 50 mil genes diferentes,
muitos deles comuns a todos os seres humanos. Durante milênios,
ocorreram lentas modificações genéticas que determinaram
diferenças morfológicas entre as “raças” (cor da pele, tipo de cabelo,
configuração de crânio, lábios, nariz, etc), em decorrência da
adaptação das populações a fatores geográficos como radiação solar,
temperatura e outros. Segundo o pesquisador em genética humana,
Sérgio Danilo Pena, “hoje existe consenso, entre antropólogos e
geneticistas, de que, sob este prisma biológico, raças humanas não
existem como construções sociais e culturais, e o racismo é uma
realidade por mais perverso e detestável que seja”. Em estudo
realizado no laboratório de genética médica de Minas Gerais, o
professor Pena concluiu que “a interpretação genética dos achados
de nossa pesquisa é que a população brasileira atingiu um nível
muito elevado de mistura gênica. A esmagadora maioria dos
brasileiros tem algum grau de ancestralidade genômica africana.”.

Outrossim, a construção histórica dos termos deve ser compreendida


para que seja feita uma assimilação de conhecimentos válidos para os dias
atuais, que corrobore sempre com o respeito mútuo entre todos os
semelhantes da raça humana.

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Mídias integradas
Para refletir a respeito da raça humana, assista ao videoaula do Professor
Doutor Kabengele Munanga, no qual relata os fatos históricos que contribuíram
para a formação étnica dos nossos tempos. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=7FxJOLf6HCA>.

No entanto, o conceito de raça foi construído no decorrer da história


recente da humanidade, com base no paradigma de hierarquização dos povos,
à medida que uma referida “raça” era considerada superior e/ou inferior a outra.
Nesse sentido, os brancos foram tidos como uma raça superior em
relação aos demais, conforme os fatos históricos demonstram.
Fato marcante na história mundial, que ilustra bem a dominação racial
no mundo, é a 2ª Guerra Mundial, ao final do qual o termo raça foi muito
debatido entre teóricos, intelectuais, antropólogos. Ou seja, os estudos das
ciências sociais no mundo todo lutaram para desconstruir esse conceito, para
que fossem reduzidas todas as suas desastrosas implicações teóricas e
práticas em relação às pessoas de origens diferentes.
A partir daí os conhecimentos inerentes ao termo etnia foram
disseminados com mais veracidade em todo o mundo, passando a uma
valorização integral do sujeito humano, independentemente da sua cor de pele,
ou características morfológicas.
Assim, o que realmente importa à constituição de um povo, ou estudo
desse povo, para que sua cultura seja valorizada, são as características de sua
construção cultural, sua língua, seus costumes, ou seja, é preciso olhar o ser
humano em sua singularidade e constituição como humano, pois o que
constitui o sujeito humano são as relações de existência que ele estabelece
com os seus semelhantes, e a cultura produzida no decorrer de sua vida.
Sabe-se que os estudos a respeito da etnia remontam aos primórdios do
século XIX, ou seja, é muito relevante a luta histórica de forças políticas e
econômicas em favor dos povos, ou em favor da pessoa humana,
independentemente de sua origem biológica ou cor da pele, etc.
Estudos sociológicos e antropológicos mostram, a priori, sujeitos
humanos preocupados com essa distinção de raça e etnia há séculos.

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Portanto, nos dias de hoje, precisamos intensificar os estudos e adequar as
condutas frente aos semelhantes, para que a sociedade atual e a vindoura
sejam cada vez menos injustas para com seus cidadãos, fazendo com que os
sujeitos se respeitem mutuamente, como seres humanos que habitam o
mesmo planeta.
Antes de você continuar a leitura do nosso material, convido-o a refletir
um pouco mais sobre raça e etnia, pelo viés histórico, assistindo ao vídeo
indicado abaixo nas Mídias Integradas.

Vocabulário
Viés: orientação; linha; orientação; tendência.

Mídias integradas
Assista ao vídeo Raça e Etnia, de Roger Wanderwegen, para ampliar seus
conhecimentos sobre essa temática. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=APEXbnsLYBc>.

Para concluir a proposta de reflexão histórica sobre as relações étnico-


raciais, destacamos as palavras da historiadora Aranha (2006, p. 19) a esse
respeito:

Somos feitos de tempo! Somos seres históricos, já que nossas ações


e pensamentos mudam no tempo, à medida que enfrentamos os
problemas não só da vida pessoal, como também da experiência
coletiva. É assim que produzimos a nós mesmos e a cultura a que
pertencemos. Cada geração assimila a herança cultural dos
antepassados e estabelece projetos de mudança. Ou seja, estamos
inseridos no tempo: o presente não se esgota na ação que realiza,
mas adquire sentido pelo passado e pelo futuro desejado. Pensar o
passado, porém, não é um exercício de saudosismo, curiosidade ou
erudição: o passado não está morto, porque nele se fundam as raízes
do presente.

De acordo com essa ótica, o passado não está morto, mas sim é o
alicerce do presente, devendo ser percebido com um olhar de criticidade, a fim
de que os saberes atuais possam ser instrumentos de consolidação de novos

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conhecimentos e estes, por sua vez, originem concepções cada vez mais
humanas em relação aos semelhantes.
Assim sendo, o conhecimento do processo histórico é imprescindível
para a compreensão do tema tratado, ou seja, a aquisição e análise dos
conhecimentos históricos são relevantes no contexto de quaisquer estudos
acadêmicos e devem ser utilizados como ferramentas valiosas no processo de
ensino e aprendizagem, de forma a produzir um vasto conjunto de
conhecimentos que auxiliem na formação de sujeitos mais autônomos,
protagonistas de sua própria história e das relações sociais e políticas que
estabelecem na sociedade em que estão inseridos, com vistas à concretização
de uma sociedade mais justa, quiçá mais igualitária.

No decorrer dessa aula, realizaram-se algumas reflexões em torno das


relações étnico-raciais entre os indivíduos de etnias e raças diversas,
abordando aspectos que contribuam para uma convivência social mais
humana, baseada no respeito de todo ser humano ao diferente e às diferenças
apresentadas pelos diversos povos que habitam o planeta Terra, tendo por
base os fundamentos históricos que permeiam os acontecimentos mais
relevantes da história brasileira e mundial.

Atividade de aprendizagem

De acordo com os conceitos abordados em nossa aula:

1. Discorra a respeito da relevância do estudo das relações étnico-raciais


para o atual estudo, bem como para a sua formação integral e
acadêmica.
2. Fundamente suas ideias com base nos autores referidos nessa aula.

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Aula 2 – Relações étnico-raciais: reflexões pelo viés do
contexto político e legislação

Figura 2.1: Quilombo Kalunga, Comunidade Engenho II

Fonte: Agência Brasil/Commons Wikimedia

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Olá, estudante! Seja bem-vindo à segunda aula da disciplina História e
Cultura das Relações Étnico-Raciais. Nesta aula abordaremos fatos políticos
que corroboraram a conjuntura histórica das relações étnico-raciais no decorrer
dos tempos, que indica a predominância dos interesses da classe dominante
sobre os menos favorecidos, bem como a luta histórica que esteve na origem
da legislação, criada para garantir o respeito às singularidades das pessoas.

Na busca de valorizar o processo crítico que deve estar presente nas


relações étnico-raciais, é importante analisar o contexto político em que
ocorrem, a fim de que os saberes produzidos sejam reelaborados por meio de
um olhar crítico do presente, tendo em mente que o domínio dos interesses das
classes mais favorecidas exercido sobre as menos favorecidas, sempre
predominou ao longo do processo histórico da humanidade.

Relações étnico-raciais: contexto político

Parafraseando Munanga (2012), o conceito de raça foi disseminado


politicamente, no transcorrer do processo político e histórico das civilizações
mundiais, a partir da caracterização de dominação de um povo sobre outros
povos, sobretudo, em relação ao plano europeu de escravização de outros
povos, principalmente dos africanos, arrancados de suas terras e levados pelos
europeus para outras terras, onde foram convertidos em “coisas” por esses
indivíduos de “cor branca”, que se intitulavam soberanos diante dos negros
escravizados.
Ora, são precisamente esses europeus que faziam parte dos países,
outrora, considerados o berço da civilização mundial.
No entanto, os fatos históricos vão demonstrar que os povos africanos
foram, durante muito tempo, submetidos a atos cruéis, e suas origens egípcias,
por exemplo, foram apagadas da memória histórica por muitos séculos,
levando a um conhecimento desfavorável e distorcido da história dos povos
negros que, por muito tempo, fez parte do saber do senso comum.

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Contudo, nos últimos anos, esse conhecimento vem sendo
desconstruído pelas pesquisas científicas que passaram a enaltecer a riqueza
e importância da história desses povos africanos, desde os primórdios da
humanidade.
Munanga (2012) nos instiga a fazer um percurso ao longo dos séculos
em relação ao conceito de raça.
Assim, do século XV ao XVI, o conceito de raça é, predominantemente,
disseminado pelos conhecimentos teológicos, pois o monopólio do
conhecimento estava nas mãos das ordens religiosas e, em se tratando de
povos cristianizados pela cultura católica, predominava a imagem, por
exemplo, de um “Jesus Branco”.
A esse respeito, deixamos para você refletir a seguinte questão: Será
que tal imagem ainda predomina numa cultura judaico–cristã?
Dando continuidade a tais teorias, ao longo dos séculos, Munanga
(2012), refere o século XVIII como sendo um exemplo das discussões
filosóficas que se realizavam pela Europa sobre os povos do resto do mundo,
dando origem assim a novas e difusas concepções sobre raça.
Até o século XX ocorrem muitas discussões e estudos sobre as
distinções de raças, nas perspectivas religiosa, científica e filosófica. Ou seja,
as divisões do ser humano em diversas raças, numa tentativa de
hierarquização e sob uma perspectiva mais lógica, científica, conduziu a
pesquisa pela perspectiva da genética.
Tais estudos contribuíram para a aquisição de saberes, cujas
concepções de “racialismo” científico originaram tantas características
comportamentais nas sociedades impregnadas pela cultura eurocêntrica,
propagando atos racista que devastaram tantas vidas humanas, ao longo da
história.

Vocabulário
Racialismo: também denominado racismo científico, é ideia de que “raças”
humanas são substancialmente diferentes um do outro e essas diferenças
raciais determinar fortemente as habilidades e comportamento dos indivíduos e

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dos povos. Leia mais em: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-
geral/racialismo. Copyright © Portal São Francisco.

Esses aspectos conceituais caracterizam atos políticos de dominação no


decorrer dos tempos, atos esses que foram sendo apoiados por discursos
capitalistas ou de dominação do poder monetário, principalmente no plano
europeu, que sustentaram uma mão de obra escrava barata, a aquisição de
riquezas de maneira fácil, escravização de seres humanos com uma cor de
pele diferente que resistiam aos fortes raios solares provenientes do clima
ensolarado das Américas.
Assim, foram inúmeros os fatos que compreenderam a dominação
escravagista do povo europeu sobre os povos africanos, por séculos, os quais
se tornaram, sem sombra de dúvida, o grande objeto de valor para aquisição
das riquezas da maioria dos povos brancos e que ainda prevalece nas terras
americanas, por exemplo.
Desta feita, faz-se mister considerar a obra Nós e os outros: a reflexão
francesa sobre a diversidade humana, do estudioso Tzvetan Todorov (1993),
citado por Costa (2012), na qual apresenta a definição de racialismo e racismo,
conceitos estes importantes para o prosseguimento da análise do contexto
político do nosso objeto de estudo.
Sendo assim, resumindo as palavras e inferências dos referidos autores,
o racialismo é a doutrina que, histórica e politicamente, defendeu a existência
de diversas raças na espécie humana, sendo proveniente principalmente da
cultura eurocêntrica. Já o racismo é a prática do ódio entre as pessoas, a
intolerância ao que é diferente, a distinção estarrecedora entre os sujeitos
humanos.
Daí se infere que o racialismo é a base teórica que sustenta o racismo.
Portanto, essas questões corroboram os saberes que dominaram a
organização política da sociedade por muitos anos, e que ainda precisam ser
debatidas nos dias atuais, pelo viés dos meios intelectuais, a fim de evitar a
repetição das atrocidades cometidas contra esses povos escravizados, sem

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esquecer que tais adversidades sucederam em favor de crenças políticas que
sublinham a superioridade de uns seres humanos sobre outros.
No contexto brasileiro, foi notória a intensa luta dos africanos por sua
libertação, sabendo que os fatores políticos foram cruciais para tal
determinação histórica.
Segundo Munanga, por mais de 380 anos, se travou uma luta ímpar em
favor da libertação dos escravos em terras brasileiras, destacando:

 1835 – Revolta dos Malês.


 1910 – Revolta da Chibata.
 1995 – Marcha Zumbi dos Palmares, em Brasília.

Nessas circunstâncias, muitos foram os conflitos, as revoltas e as


organizações populares desse povo devastado pela escravização durante tanto
tempo, lutando pela sua sobrevivência e enfrentando os interesses políticos de
dominação.
Importa lembrar ainda que, no século XVII, em terras brasileiras se
travava a luta do Quilombo dos Palmares, sendo o seu líder, Zumbi dos
Palmares, um marco histórico da resistência negra no Brasil, bem como da
organização política dessa organização quilombola.
Esse é um exemplo da força do povo negro para organizar-se e adaptar-
se aos lugares nativos e da sua resiliência diante de situações tão adversas,
bem como da conquista do seu espaço na sociedade brasileira, americana,
mundial, que exigiram enorme esforço histórico e político.

Mídias integradas
Vale a pena assistir ao filme nacional Quilombo, que ilustra a história de Zumbi
dos Palmares, e permite analisar o contexto histórico e político da época em
que os fatos aí narrados aconteceram. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=SQEMAPIa6uk&t=1637s>.

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Continuando a análise dos aspectos políticos nesse contexto histórico, é
importante falar um pouco mais sobre o século XIX, sobretudo referindo o
Decreto Imperial da Lei Áurea, promulgado em 13 de maio de 1888, como
marco histórico, político e humano que aboliu, pela primeira vez, a divisão entre
“livres e escravos”; ao menos em termos jurídicos iniciaram-se as conquistas
políticas do povo escravizado, conforme elucida Costa (2012).
Mesmo assim, foram intensas as lutas para aceitação dos libertos pela
sociedade, lutas que se dão, de certa maneira, até os dias atuais.
Contudo, ainda segundo Costa (2012), a Proclamação da República, em
15 de novembro de 1889, não obteve tanto impacto sobre a visão de mundo
das pessoas, quanto a Lei Áurea proclamada no ano anterior.
Destarte, é bem verdade que papéis não mudam o comportamento e/ou
a cultura de um povo, ou seja, tal fato histórico foi e é primordial para a
constituição histórica da luta pela igualdade política dos povos africanos,
escravizados no Brasil.
Sendo assim, essa luta foi um grande avanço para a época, e continua
sendo um ponto de reflexão para os estudos atuais, levando à formulação de
ideias e ideais que promovam a formação de novos cidadãos, capazes de olhar
para o passado com o intuito de introduzir novos atos políticos na realidade
brasileira atual, a fim de transformar as estruturas sociais, atuais e vindouras, e
criar novos espaços de discussão, nos quais todo e qualquer cidadão tenha
uma participação ativa que se traduza em atos democráticos e atitudes mais
solidárias, quiçá mais humanas, diante do semelhante.
Para corroborar essas inferências a respeito de uma sociedade pós-
escravista, seguem abaixo as palavras de Cunha (2008, p. 18):

A desagregação das relações fundadas no vínculo jurídico entre


senhores e escravos era então, no discurso político e em diferentes
aspectos da vida diária, colorida pela forma científica de ler as
desigualdades: novidade confortável, sem dúvida, porque fundada
naquilo que a antiga forma de domínio tinha de mais visível. No
período, a raça foi, pouco a pouco, sendo incorporada como uma
maneira genérica de aglutinar antigas diferenças de etnia, de origem
ou de filiações de outro tipo que organizavam a vida social no regime
escravista. Naqueles anos, como vimos, a noção se encaixava como
uma luva nos anseios de ex-senhores angustiados. Flexível,
pertencia simultaneamente à natureza e à histórica: biologicamente

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inferiores e ainda infantilizados, embrutecidos ou corrompidos pelos
séculos de servidão, os negros podiam permanecer legitimamente em
posição subalterna, sem que isso comprometesse o edifício liberal do
abolicionismo e da república.

Sob a égide de uma sociedade baseada nos direitos igualitários de todo


cidadão, instauraram-se novas lutas em favor do étnico e de todas as vertentes
culturais dos povos, enaltecendo a cultura singular de cada povo.
Assim, depois da Constituição Federal de 1988, muitas ações
modificaram as oportunidades de acesso para os descendentes afro-
brasileiros, bem como para os indígenas e outros. Ou seja, as pessoas são
vistas, pelo menos nos papéis legais, de outra forma e com menos
desigualdade.
Dessa forma, abre-se um grande espaço de discussão sobre o respeito
étnico, colocando as etnias sob os holofotes, e promovem-se grandes
encontros sociais e políticos com a finalidade de disseminar novas posturas em
favor da igualdade de direitos para todos os cidadãos.

Atenção
Toda a caracterização que define o termo “gente” é concebida como etnia,
buscando cada vez mais os fundamentos e a objetividade para compreender o
estudo das relações étnicas, de forma mais humana, desconstruindo a
ignomínia de ações preconceituosas das sociedades de outrora.

Mídias integradas
Para suscitar mais uma reflexão sobre os conceitos abordados até aqui,
indicamos o filme Amstad, de 1997, uma produção dos EUA com direção de
Steven Spielberg, que retrata as formas desumanas como os povos africanos
foram tratados durante o período em que foram escravizados. Disponível em:
<http://megaboxfilmesonline.com/2015/07/assistir-amistad-dublado.html>.
.

20
Em suma, os processos políticos tiveram sempre relevância no processo
de libertação dos povos africanos, bem como na historicidade de suas
conquistas, pois os fatos históricos não acontecem sem a intervenção de
interesses políticos e/ou de dominação, isto é, sempre existe algum interesse
por trás das decisões historicamente tomadas, porém, nas sociedades
democráticas atuais busca-se a concretização de ações políticas que atendam
ao bem comum, independentemente de etnia.

Relações étnico-raciais: um recorte das legislações contemporâneas

Romanelli (1984, p. 179) cita a fragilidade da legislação em relação ao


cidadão, pois se ele não intervir para que ela seja aplicada na prática, o
simples registro no papel não garantirá a mudança que se pretende realizar na
sociedade. Segundo ele:

Nenhuma lei é capaz, por si só, de operar transformações profundas,


por mais avançada que seja, nem tampouco de retardar, também por
si só, o ritmo do progresso de uma dada sociedade, por mais
retrógrada que seja. Sua aplicação depende de uma série de fatores.
Em primeiro lugar, a eficácia de uma lei está subordinada à sua
situação no corpo geral das reformas por acaso levadas a efeito,
paralelamente a outros setores da vida social, e, o que é mais
importante, sua eficácia decorre de sua integração e de suas relações
com todo esse corpo. Os efeitos de uma lei de educação, como de
qualquer outra lei, serão diferentes conforme pertença ela ou não a
um plano geral de reformas. Em segundo lugar, a aplicação de uma
lei depende das condições de infraestrutura existentes. Em terceiro
lugar está a adequação dos objetivos e do conteúdo da lei às
necessidades reais do contexto social a que se destina. Enfim, a
eficácia de uma lei depende dos homens que a aplicam.

Destarte, as leis são essenciais para a formação das sociedades


democráticas, mas dependem de homens e mulheres para serem aplicadas em
sua integralidade, de forma a garantir a todos (homens, mulheres, crianças,
adolescentes, jovens e idosos), o direito à cidadania e que promova a
igualdade étnica entre todos.
Assim, em um período mais democrático do Brasil, já foram realizadas
grandes conquistas em relação aos direitos do cidadão, porém, existem ainda

21
muitos aspectos que precisam ser remodelados e/ou reestruturados por
intermédio da participação popular.
A Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988) prevê em seu
preâmbulo que:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia


Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade,
a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da
República Federativa do Brasil.

Dando continuidade às exigências legais para a vivência cidadã na


nação brasileira, destaca-se:

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
II - a dignidade da pessoa humana;
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
V - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade. (BRASIL, 1988).

Em decorrência da Constituição Federal de 1988, muitas são as lutas


travadas no cenário nacional para que a igualdade entre os povos, assegurada
por lei, seja validada em todo o território nacional.
Para tanto, os movimentos sociais são intensificados, as políticas
públicas são efetivadas com mais vigor frente à liberdade de expressão

22
estabelecida pelas diretrizes da democracia instaurada no país, depois das
eleições democráticas da década de 1990.
Assim sendo, em 09 de janeiro de 2003, é promulgada a Lei n. 10.639,
que altera a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, constituindo a primeira
legislação que, de fato, estendeu a igualdade de direitos aos afrodescendentes,
dando voz a esse povo que tanta importância teve para a concepção étnica
brasileira, e que inclui o estudo obrigatório da História e Cultura Afro-Brasileira
no currículo oficial das escolas públicas do país.

Saiba mais

Para conhecer mais sobre o conteúdo da Lei n. 10.639, de 09 de janeiro de


2003, acesse: <http://sislex.previdencia.gov.br/paginas/42/2003/10639.htm>.
Acesso em: 29 jun. 2018.

Mais tarde, com a Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008, que


estabelece a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e
Indígena, surge, em âmbito nacional, uma nova oportunidade de se instituir a
igualdade entre as etnias, principalmente em relação àqueles que, durante
séculos, foram tratados com tanta desumanidade por esta nação.

Saiba mais

Para conhecer mais sobre o conteúdo da Lei n. 11.645, de 10 de março de


2008, acesse:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2008/lei/l11645.htm>.
Acesso em: 29 jun. 2018.

Assim sendo, o contexto político do presente estudo contempla as


políticas públicas que têm como propósito validar a referida legislação no
âmbito educativo atual.
De igual modo, é importante sublinhar que todos os atos políticos e
sociais devem ser intrínsecos a ações humanas, pois somente as pessoas
podem influenciar na formulação de políticas públicas que tenham em vista a
formação de uma sociedade mais democrática e igualitária para todos os
cidadãos.

23
Mídias integradas
Assista à série La Esclava Blanca, a qual leva à reflexão sobre o que ocorreu
com os povos africanos em todo o mundo e revela as condições desumanas a
que eles foram submetidos como escravos. Disponível em:
<https://www.netflix.com/watch/80114422?trackId=14170287&tctx=0%2C0%2C
af1be6c3-001f-435b-b91d-fd15f090f15e-48609237>.

A legislação apresentada anteriormente, não pretende criar a ilusão de


que a sociedade brasileira está num patamar democrático ideal de igualdade
para todos os grupos étnicos que a constituem.
Apesar de já se ter avançado muito, é necessário que novos pontos de
vista sejam discutidos pela sociedade civil, a fim de promover novas
oportunidades de mudança que sejam relevantes para a criação de um meio
social e político menos injusto para todos os semelhantes.
Destaca-se o povo indígena e suas diversas etnias, as quais foram
devastadas na historicidade da colonização do Brasil, bem como da formação
da atual sociedade brasileira, é enorme a dívida que o Brasil tem com toda a
cultura desta gente.
Anteriormente, fez-se uma abordagem a respeito da intensa luta
indígena pela preservação da sua história, da sua cultura, que deu origem à Lei
n. 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que institui o Estatuto do Índio,
reconhecendo, assim, a real importância que esse povo tem para a nação
Brasileira.
É importante salientar ainda que, muito antes da legislação de 2003 e
2008, o indígena já era reconhecido jurisdicionalmente como um cidadão
importante na constituição de um Estado Brasileiro Democrático.
Outro ponto importante na análise da cultura indígena é relatar que a
Carta Magna Brasileira em seu capítulo VIII disserta sobre este povo, que foi

24
dizimado pela colonização europeia, por intermédio da aculturação. As mortes
ocasionadas pelas doenças disseminadas propositadamente, as armas de fogo
que predominaram sob as flechas, enfim, são imensas as características desse
fragmento histórico que podem ser descritas, as quais demonstram toda a
crueldade realizada a este povo nativo.

Mídias integradas
Assista a um vídeo educativo e lúdico que ilustra a história dos primeiros
habitantes das terras brasileiras, acessando:
<https://www.youtube.com/watch?v=cQkA5PDow2s>.

Você sabia?
A FUNAI (Fundação Nacional do Índio) é o órgão indigenista do Estado
brasileiro, criado em 05 de dezembro de 1967. Sua missão institucional é
proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil. Convido-o a
acessar a página da FUNAI, disponível em: <http://www.funai.gov.br>.

Fonte: http://www.funai.gov.br/

Nessa aula foram feitas reflexões, pelo viés do contexto político, a


respeito das relações étnico-raciais dos povos que contribuíram para a
formação da nação brasileira e suas implicações na formulação histórica,
política, cultural, social e econômica da sociedade brasileira atual. Abordamos
ainda os aspectos legais que foram sendo estabelecidos por meio das lutas da
sociedade em favor dos direitos dos negros e índios, bem como a luta pela
igualdade de direitos para todos, independentemente de sua origem e etnia.

25
Atividade de aprendizagem

Leia o artigo sobre a Lei n. 10.639, escrito por Nilma Lino Gomes,
disponível em: <http://antigo.acordacultura.org.br/artigo-25-08-2011>.
Com base na leitura do referido artigo e do conteúdo exposto nessa
aula, elabore um resumo de uma lauda sobre suas impressões a respeito da
discussão proposta.

26
Aula 3 – Relações Étnico-Raciais: apontamentos relevantes
sobre os movimentos sociais

Figura 3.1: Movimentos sociais no Plenário do Senado Federal

Fonte: Jefferson Rudy/Agência Senado

27
Olá, estudante! Nesta terceira aula serão abordadas as características
dos movimentos sociais, sublinhando sua relevância para o processo histórico
e político da sociedade em que tais movimentos se desenvolvem e vice-versa,
tendo em mente que a configuração de um movimento social é a coletividade.

Parte-se do princípio que os movimentos sociais são de natureza


humana e imprescindíveis à constituição de uma sociedade menos desigual,
mais democrática, em suma, mais humana.
É, portanto, nessa perspectiva que esta aula está organizada, com base
em fatos históricos e ênfase nos aspectos humanos predominantes nas vidas
dos protagonistas dos movimentos sociais, cujas ações, como ativistas, em
muito têm contribuído para importantes causas que enaltecem o bem comum.

Movimentos sociais: uma abordagem histórica e crítica

Neste item far-se-á uma abordagem histórica a respeito dos movimentos


sociais, bem como de alguns personagens relevantes para a luta por igualdade
no Brasil e no mundo.
As lutas incessantes por igualdade de direitos são facilmente notadas
numa breve pesquisa, na qual são mencionados vários movimentos e nomes
de pessoas, e se pode verificar, por intermédio dos recursos tecnológicos
contemporâneos, as difusas e complexas lutas da sociedade civil em favor dos
índios, negros, homossexuais, mulheres, crianças, etc.
Ao longo da história, sempre apareceram nomes de pessoas que se
destacaram na busca pela igualdade entre os sujeitos, e é, sobretudo, essa
perspectiva humana, crítica, que deve embasar a postura perspicaz a adotar
frente ao referido estudo.
Convido, você, a continuar este estudo, a fim de ter uma visão criteriosa
e, principalmente, de pesquisa sobre essa temática, de forma a apreender os

28
seus conceitos e saberes a partir das discussões e/ou reflexões aqui
propostas.

Vocabulário
Perspicaz: característica de quem entende com facilidade o que a maioria das
pessoas acha difícil perceber (aluno perspicaz); que possui inteligência,
sagacidade, que vê ao longe.

Os movimentos sociais vêm sendo, historicamente, estruturados com


base em um inconformismo diante das injustiças existentes na sociedade,
sendo que as pessoas envolvidas em tais movimentos se regem por uma
utopia, que defende condições mais igualitárias para seus semelhantes.
Os ativistas de movimentos sociais estão constantemente engajados
numa causa em favor das vidas de outros, ao mesmo tempo que suas próprias
vidas vão adquirindo sentido à medida que seus objetivos em prol do bem
comum vão sendo atingidos.

Vocabulário
Utopia: etimologicamente vem do grego (topos) lugar do melhor, lugar ideal.
Filosoficamente, é o termo pelo qual podemos conceber o plano desejável de
uma sociedade extremamente harmônica, estável e funcional, comprometida
com o bem-estar da coletividade.

Pensar utopicamente os movimentos sociais, é considerar viáveis os


sonhos que têm mobilizado tantas pessoas ao longo dos períodos históricos e
políticos mais marcantes; é revestir-se de humanidade diante das causas
sociais e, se possível, participar delas, assumindo uma postura humana e
perspicaz diante da luta pelo bem comum, de forma a contribuir para que os
direitos constitucionais sejam garantidos a todos os cidadãos.
Esses direitos, além de serem garantidos a todos os cidadãos, devem
também sejam revistos e reconhecidos em quaisquer aspectos das relações
humanas.

29
3.2: Luta pelos Direitos Humanos

Fonte: © freepik.com

Tendo por base os estudos antropológicos e filosóficos que


fundamentam este estudo e reflexão, somente será possível cooperar
verdadeiramente com os movimentos sociais, se estes forem compostos por
pessoas engajadas em assumir uma postura humana diante dos seus
semelhantes, visando o respeito às suas diferenças.
Outrossim, as leis precisam ser cumpridas, e não somente serem
escritas e decretadas pelo viés burocrático; é preciso incorporar atitudes
amorosas, éticas, responsáveis, em suma, humanas, às relações que
permeiam os movimentos sociais em quaisquer aspectos de sua atuação.
Contudo, os movimentos sociais são formados por pessoas engajadas
em uma causa específica que se torna seu objetivo de vida e, ao juntar seus
“punhos” em prol de uma luta que se realiza em conjunto, reúnem forças que
em conjunto são imbatíveis.

30
Ainda que muitas vezes os resultados sejam morosos, porém, ao longo
da história, serão efetivados pelas ilimitadas possibilidades da vida, ou seja, as
pessoas engajadas numa luta específica, dificilmente verão todo o fruto do seu
trabalho, no entanto, serão as gerações posteriores as que mais se
beneficiarão com suas conquistas.
Indubitavelmente, o trabalho efetivado hoje “por mim e por você” em
favor dos direitos sociais e políticos, ou em favor de qualquer outra causa, vai
trazer algum benefício para esta e para as futuras gerações, tornando-se a
nossa parcela de contribuição para a concretização utópica de um mundo
menos desigual, que possibilite melhores condições de vida e um
relacionamento mais harmonioso entre todos os seres humanos, e em que a
sociedade civil se mobilize em favor das principais causas sociais.

Figura 3.3: Punhos cerrados como símbolo de luta

Fonte: Depositphotos.com

Mídias integradas
Assista ao filme nacional Quanto vale ou é por quilo? o qual revela a luta
incessante dos afrodescendentes pela aceitação dos seus direitos na
sociedade brasileira, desde os primórdios da sua “libertação escravagista”,
além de permitir a reflexão sobre as mazelas sociais de uma sociedade
baseada na corrupção, no preconceito e na dominação da elite branca.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2NEcwzvbNOk>.

31
Curiosidade
Você sabia que Abdias Nascimento foi, e é, um grande nome na história da luta
democrática no Brasil, como porta-voz do Movimento Negro Brasileiro, quer no
Parlamento, em seus escritos, em sua postura de vida, quer mediante seu
testemunho em todas as esferas da sociedade, para dar voz ao seu povo?
Disponível em: <http://www.abdias.com.br/obra_artistica/obra_artistica.htm>.

Tendo por base as discussões referentes aos movimentos sociais e a


luta da sociedade civil em favor da igualdade entre todos, nesta aula você
conhecerá alguns nomes de pessoas ilustres cujas lutas se propagaram no
Brasil e no mundo, entre eles, sublinha-se o nome do francês Pierre Verger.
Assim, pelo olhar desse fotógrafo, antropólogo, etnólogo e pesquisador,
foram registrados muitos aspectos da cultura do povo afrodescendente tanto no
Brasil como na África, que revelam as diferenças culturais e os diversos
costumes das gentes brasileiras.
Vale lembrar que esse é o olhar de um estrangeiro sobre a cultura dos
afrodescendentes, que também representam uma parcela de um povo
imigrante que fez e faz parte da constituição étnica nacional.
O referido fotógrafo fez do Brasil sua casa e lutou por meio da sua arte
para divulgar a heterogeneidade da composição étnica desta nação,
contribuindo com maestria para a propagação dessa importante cultura, além
de deixar um legado singular para as gerações futuras.

Você sabia
Que é muito interessante a vida e obra do fotógrafo francês Piere Verger?
Para conhecer mais sobre o legado de seu trabalho, consulte a página da
Fundação Pierre Verger, disponível em: <www.pierreverger.org.br>.

32
Veja no Quadro 3.1 a seguir os principais aspectos históricos e políticos que
fundamentam as ações dos movimentos sociais no contexto mundial.

Quadro 3.1 – Aspectos históricos e políticos dos movimentos sociais mundiais

Períodos Fatos Históricos/Políticos

Teorias marxistas intensificam ações coletivas mediante o


inconformismo das pessoas massacradas pelas políticas
capitalistas, levando à organização de diversos movimentos
sociais em busca de melhores condições de trabalho, por
Século XIX exemplo, para os trabalhadores.

1886 – Quinhentos mil trabalhadores nas ruas de Chicago, nos


EUA, deram origem ao dia 1º de maio, comemorado
mundialmente como o Dia do Trabalho ou do Trabalhador.
As pessoas eram influenciadas pelas teorias propagadas pelos
movimentos sociais mundiais. Com a chegada de muitos
Século XX imigrantes europeus ao Brasil, a disseminação dos vários
Panorama saberes a respeito de muitos movimentos que aconteciam no
Nacional mundo, influenciavam a sociedade brasileira, levando à
organização de vários movimentos sociais ao longo desse século,
contribuindo, assim, para a instauração do Estado democrático
brasileiro.
1ª Guerra Mundial: 1914-1918
Século XX 1945 – Criação da Organização das Nações Unidas (ONU).
Marcos históricos 1948 – Declaração dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro
e políticos de 1948, na Assembleia Geral da ONU.

33
1950 – Anos dourados.
1960 – Anos rebeldes (advento da pílula anticoncepcional –
Feminismo).
1968 – Martin Luther King (morte do grande líder do Movimento
Negro Americano).
1969 – Em 28 de junho, nos EUA, é criado o Dia Internacional do
Orgulho LGBT.
1970 – Avanços Tecnológicos.
Margareth Thatcher torna-se a primeira mulher a ser primeira-
ministra na História, em 1976.
1980 – Avanços tecnológicos, culturais e democráticos no
mundo.
1990 – Popularização da tecnologia com a criação da Internet.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Os movimentos sociais são ações de pessoas que se organizam para


alcançar objetivos comuns em prol do bem comum da coletividade, ou seja,
buscam, incessantemente, os interesses comuns a um grupo específico de
pessoas, por meio de atitudes que corroboram na aquisição dos direitos que,
historicamente, lhes vêm sendo negados, lutando pela igualdade entre todos os
participantes dessa causa, é um grande instrumento para a validade da
democracia.
Os aspectos históricos e políticos (Ver Quadro 3.1) aqui ressaltados
demonstram a influência que os fatos históricos tiveram na configuração dos
movimentos sociais de acordo com a época em que ocorreram.
O Estado democrático de direito, apesar de possuir 517 anos de história
da sua instauração no Brasil, ainda está em construção e diante da conjuntura
histórica e política mundial é considerado recente.
No entanto, a trajetória desse Estado é marcada por muita luta e
resistência por parte dos marginalizados, cujas ações resultam nos diversos

34
movimentos sociais que atuam no panorama histórico brasileiro, tal como
revela as ações de resistência à opressão que acontece no mundo inteiro.
As duas grandes guerras mundiais são consideradas marcos relevantes
para os movimentos sociais que ocorrem posteriormente no Brasil e no mundo,
devido às consequências por elas deixadas nas consciências das pessoas.
A 2ª Guerra Mundial, principalmente, é destacada como um ponto de
partida para muitas revoluções da humanidade: movimentos sociais que
surgiram durante e após o seu término devido a questões de soberania racial,
fato este que levou ao holocausto dos judeus, povo que foi barbaramente
massacrado pela ideologia nazista (cerca de 6 milhões de judeus morreram
nos campos de concentração), sem falar em outros grupos étnicos que foram
igualmente massacrados, como os ciganos, por exemplo.

Mídias integradas
Assista ao documentário sobre a 2ª Guerra Mundial, acessando o link:
<https://www.youtube.com/watch?v=6omgRrmFSXg>.

Ainda analisando os aspectos históricos e políticos mais relevantes que


fundamentam as ações dos movimentos sociais ocorridas no contexto mundial
(Ver Quadro 3.1), ressaltam-se neste estudo os acontecimentos do pós-
Segunda Guerra Mundial, com vistas a uma pesquisa mais aprofundada dessa
temática, que lhe permita desenvolver o espírito crítico em relação a esses
acontecimentos e à sua influência no surgimento dos movimentos sociais no
mundo todo, que se opuseram às atrocidades cometidas em favor de uma
soberania racial e a preconceitos contra grupos (crianças, mulheres, homens,
idosos) considerados como inferiores.
Enfim, toda essa atrocidade foi propagada, sem nenhum pudor, pelas
ações dos nazistas durante esse período sombrio da história. Foi o ódio pelo
outro, pela diferença, pela diversidade que motivou tais atos irracionais.
Parafraseando Freire (2012), quem sabe as atitudes dos movimentos sociais
possam criar um mundo menos “odiento”, mais “genteficado”, no qual as
pessoas se conscientizem a respeito da diversidade da raça humana e que ela

35
seja respeitada em todos os aspectos da convivência dos seres humanos entre
si, a fim de que atos civilizatórios estejam presentes em todas as nações.
A seguir, o Quadro 3.2 contém informações sobre o contexto histórico, e
os períodos correspondentes, em que os movimentos sociais ocorreram.

Quadro 3.2 – Resumo do contexto histórico dos movimentos sociais no Brasil


(Séc. XX)

Períodos Contexto Histórico

1907 Greve geral de São Paulo.

- Inauguração do Partido Comunista:


organização partidária.
1922 e década de 1930 - Getúlio Vargas: Consolidação das Leis
Trabalhistas;
- Movimento Operário Urbano;
- Industrialização.

Movimentos estudantis: ferramenta


importante na historicidade brasileira na
busca pela formatação de uma sociedade
Década de 1930 menos injusta, desde a década de 1930,
com as lutas pela consolidação dos
estudos acadêmicos no país.

1946-1960 República Populista.

- Criação da Petrobrás com o apoio da


Década de 1950 Campanha do Petróleo, de Getúlio
Vargas, e da participação popular.
- Ligas Camponesas: lutas pelos direitos
dos trabalhadores rurais.

-Movimentos de resistência, resultantes

36
do inconformismo em relação à ditadura
Década de 1960 de militar;
- Estatuto do Trabalhador Rural.

1964-1985 Ditadura Militar: exílios, lutas e perdas.

1967 Criação da FUNAI (Fundação Nacional do


Índio).

1975 Ano Internacional da Mulher.

Movimento dos Metalúrgicos do ABC


Paulista que resultou, posteriormente, na
1978 criação do Partido dos Trabalhadores
(PT).

1980 Fundação do PT.

1982 Fundação do Museu Afro-brasileiro, em


Salvador (Bahia).

1983 Criação da Central Única dos


Trabalhadores (CUT).

1984 Movimento das “Diretas Já”.

1988 Promulgação da Constituição Federal.

Década de 1990 Movimento pró-impeachment do então


presiedente Collor, que contou
com a participação popular dos “Caras

37
Pintadas”, em sua maioria, estudantes
que sairam às ruas em favor da
democracia.
Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Como se pode verificar, o Quadro 3.2 destaca os acontecimentos mais


relevantes que surgiram no país durante o século XX, século este
intensamente marcado por fatos que deram origem a grandes movimentos
sociais, importantes para as conquistas adquiridas no Estado democrático
brasileiro, que culminaram com a promulgação da Constituição Federal
Brasileira de 1988.
Contudo, muitas foram as conquistas alcançadas ao longo daquele
século, provenientes da atuação de muitos movimentos que foram de grande
relevância para as conquistas democráticas de gênero, etnia, igualdade
trabalhista, entre tantas outras.
Vale enfatizar que esses movimentos somente foram possíveis, devido
às atitudes de pessoas que dedicaram suas existências em favor de uma
causa específica.
Na sociedade brasileira, as relações étnico-raciais sempre foram
intrínsecas aos movimentos sociais, no que se refere à luta dos indígenas, dos
negros, das mulheres, ou seja, das minorias, visando a igualdade entre todos.
Por vezes, tais lutas foram organizadas/lideradas de maneira solitária,
por indivíduos que doaram suas vidas por uma causa, ou mesmo por pequenos
grupos de cidadãos que acreditaram, utopicamente, nas revoluções que se
propuseram a fazer para o bem comum.
Assim sendo, numa sociedade tão diversificada com a brasileira, a
conquista de direitos faz parte de um processo doloroso, longo e tortuoso.
A seguir, no Quadro 3.3, estão descritos os grandes acontecimentos
históricos ocorridos no Brasil, no final do século XX e início do século XXI,
considerados essenciais para se compreender o processo histórico e político
das lutas travadas por organizações sociais que viabilizaram, e ainda

38
viabilizam, mudanças que levaram a importantes conquistas democráticas da
sociedade brasileira.

Quadro 3.3 – Resumo do contexto histórico dos movimentos sociais


brasileiros (Séc. XX e XXI)
Períodos Contexto histórico
1990 Nesta década os movimentos sociais
passaram a ser mais estruturados
como, por exemplo, o Movimento dos
Sem Terra (MST).
1992 Criação do Movimento Fora Collor
(“Caras Pintadas”) – Impeachment do
Collor.
1994 Eleição do Presidente Fernando
Henrique Cardoso – Criação do Plano
Real.
1997 Em 20 de abril de 1997, o índio
Galdino dos Santos, da etnia Pataxó,
foi queimado vivo em um ponto de
ônibus na capital do país.
2000 A Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UERJ), foi pioneira em
conceder cotas par aos estudantes
advindos de escolas públicas.
2001 Realização da Conferência Mundial
contra o Racismo, Discriminação
Racial, Xenofobia e Formas
Correlatas de Intolerância, realizada
em Durban, na África.
2002  Criação da APIB –Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil

39
 Novo Código Civil.
2003  Criação da Secretaria de
Políticas de Promoção da
Igualdade Racial da
Presidência da República
(SEPPIR);
 Lei n. 10.639 (altera a LDB).
2006 Entra em vigor a Lei Maria da Penha
– Movimento Feminista.
2007 Ocorre o conflito indígena na Reserva
Raposa Serra do Sol, no nordeste de
Roraima.
2008 Entra em vigor a Lei n. 11. 645 (altera
a Lei n. 10.639/LDB)
2010 Promulgação do Estatuto da
Igualdade Racial: Lei n. 12.288, de 20
de julho (Sistema Nacional de
Promoção da Igualdade Racial –
SINAPIR).
2011 Realização da Primeira “Marcha das
Vadias”, em São Paulo.
2012 Entra em vigor a Lei n. 12.711, de 29
de agosto (Lei das Cotas).
2013 Surgimento do maior movimento
social nas ruas, da história do Brasil:
 Iniciou com o Movimento do
Passe Livre (MPL);
 Um milhão e meio de pessoas
nas ruas em todo o país;
 Movimento apartidário

40
2014 Entra em vigor a Lei n. 12.990, de 9
de junho, que estabelece 20% das
vagas para negros em concursos
públicos federais.
2016 De acordo com o Grupo Gay da Bahia
(GBB), a cada 24 horas é
assassinado um LGBT no Brasil.
Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Convém ainda lembrar as injustiças cometidas ao longo do processo


histórico do país, desde os primórdios da nação brasileira, contra os grupos
com origem étnica diferente que a constituíram.
A esse respeito, importa referir que foram travadas lutas para, ao final do
século XX, diminuir essas injustiças e aumentar as oportunidades para todos
na sociedade brasileira, buscando o respeito e a valorização da cultura desses
grupos sociais discriminados, tão importantes para a configuração democrática
nacional.
Além disso, ainda de acordo com o Quadro 3.3, é importante ressaltar os
avanços dos povos indígenas e negros, que foram conquistando direitos legais
na sociedade brasileira, principalmente após a promulgação da Constituição
Federal de 1988, os quais permitiram reduzir a desigualdade que sofriam em
relação aos demais grupos sociais.
Essa desigualdade social, que prevaleceu no seio da sociedade
brasileira desde o seu processo de colonização, gerou comportamentos
racistas e preconceituosos nas gerações posteriores, que ainda predominam,
nos dias atuais, nas relações entre os cidadãos, trazendo consequências
negativas para uma vida mais democrática em sociedade.

Saiba mais
Para aprofundar os seus conhecimentos sobre os direitos dos
afrodescendentes, leia o Estatuto da Igualdade Racial, instituído pela Lei n.
12.288, de 20 de julho de 2010, bem como a Lei n. 12.990, de 09 de junho de
2014, que trata da reserva de 20% das vagas em concursos públicos para

41
afrodescendentes. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm> e
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12990.htm>.

Portanto, as legislações vigentes no país evidenciam essas importantes


conquistas nas áreas social, política e histórica. Embora ainda haja muito o que
fazer no que respeita à desigualdade de oportunidades entre todos os cidadãos
brasileiros, tem havido progressos e conquistas valiosas.

Curiosidade
Você sabia que a sigla “GLS” (Gays, lésbicas e simpatizantes) caiu em desuso
e que organizações internacionais, como a ONU e a Anistia Internacional,
adotam a sigla “LGBT” (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais)? Dentro do
movimento propriamente dito, as siglas podem variar (algumas organizações
usam LGBT, outras LGBTT, outras LGBTQ). Atualmente, a versão mais
completa da sigla é LGBTPQIA+. Conheça a representação de cada letra:
L: Lésbicas
G: Gays
B: Bissexuais
T: Travestis, Transexuais e Transgêneros
P: Pansexuais
Q: Queer
I: Intersex
A: Assexuais
+: Sinal utilizado para incluir pessoas que não se sintam representadas por
nenhuma das outras sete letras.
Fonte: Disponível em: <http://www.politize.com.br/lgbt-historia-movimento/>.

No Quadro 3.4 a seguir enfatizam-se os movimentos sociais sob uma


perspectiva atual, na qual todos eles estão interligados e formam uma unidade,
sendo que sua atuação busca a construção de um mundo menos injusto, mais
harmonioso, com mais possibilidade de vivência entre todos.

42
Quadro 3.4 – Movimentos sociais sob a ótica contemporânea

Movimentos Ambientais Movimentos Feministas

- ECO 92; - Direitos das Mulheres (remete desde a


- Protocolo de Kyoto (1997); década de 1950);
- Rio+20 (2012); - Movimentos mundiais das minorias:
- ONGs ambientais; Paradas Gays, e outros;
- Programa das Nações Unidas para o - O primeiro voto feminino invalidado no
Meio Ambiente (1970); Brasil, ocorre em 1928; e no ano de 1932
- Conscientização sobre a importância da foi reconhecido parcialmente o voto da
ação do homem no Planeta para o mulher. Em 1946 esse direito foi
desenvolvimento de toda a espécie, sem plenamente alcançado.
distinção de raça ou cor.

Movimentos das Redes Sociais Movimento Negro

- 2010/2011: atuação desse instrumento - Zumbi dos Palmares;


na “Primavera Árabe”, que resultou em - Final do século XIX e início do século XX:
uma onda de protestos; período pós-escravagista (muitos
- 2013: proliferação das ideias dos movimentos em prol da aceitação do
movimentos de junho de 2013. No Brasil, negro na sociedade brasileira);
esse evento ou movimento nacional teve - 1931: criação da Frente Negra Brasileira,
grande repercussão nas redes sociais, na qual Abdias do Nascimento, seu
pelo envolvimento das pessoas e rapidez grande nome, atuou por décadas em
dos contatos, ou seja, pela velocidade da favor desse movimento, no Brasil e no
comunicação; o movimento tornou-se um mundo, e fez a sua voz ser ouvida.
marco na história recente dos - 20 de novembro: Dia Nacional da
movimentos sociais no Brasil, e as redes Consciência Negra;

43
sociais constituíram um inovador e eficaz - 1995: Marcha do Tricentenário da
instrumento para esse fim. Imortalidade de Zumbi, em Brasília, com
mais de 30 mil pessoas;
- Política de Cotas nas universidades
públicas do país;
- Reserva de vagas para os
afrodescendentes nos concursos públicos
federais.

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Mídias integradas
Assista ao filme O Jogo da Imitação, de 2014, que conta a história de um
matemático homossexual que lidera uma equipe de analistas, os quais
trabalham para decifrar o código alemão – enigma durante a 2ª Guerra
Mundial. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hPfI-ELtAYc>.

Destarte, os adventos tecnológicos dos últimos anos têm propagado,


com uma velocidade ímpar, as causas propostas por diversos grupos, fato este
que ajuda a divulgar as ideias comuns ao enriquecimento da diversidade
humana, bem como o respeito entre todos, independentemente de suas
diferenças étnicas e raciais, etc.
Por conseguinte, são grandes os problemas enfrentados pela sociedade
atual em relação à comunicação transmitida pelos meios tecnológicos, pois os
grupos extremistas e preconceituosos também os utilizam para disseminar
seus ideais com mais facilidade.
Ainda analisando esses movimentos sociais, é importante referir a
influência das ações humanas sobre a natureza, ou seja, a relação do homem
com o meio ambiente é condição essencial para a construção de um mundo
mais harmônico, pois todo o sistema tem que estar equilibrado para que essas
relações se estabeleçam de forma mais natural.

44
Em resumo, as lutas sociais estão interligadas e têm como objetivo
comum a criação de relações mais harmoniosas entre todos os membros da
sociedade, sem distinção de cor, raça, etnia, etc.

Mídias integradas
O filme “Histórias Cruzadas” de 2011 ilustra com muita propriedade a história
de preconceito racial nos EUA, elencando problemas sociais daquela
sociedade que foram enfrentados por protagonistas sociais revestidos de
coragem e vontade de fazerem a diferença em sua geração. Disponível em:
<https://www.netflix.com/search?q=hist%C3%B3rias&jbv=70172927&jbp=0&jbr
=0>.

O indígena é o povo brasileiro nato, que teve suas terras invadidas e foi
devastado pela colonização; povo forte que, há centenas de anos, tem resistido
à destruição de sua história.

No Quadro 3.5 destacam-se alguns pontos importantes do movimento


social indígena, na história brasileira recente, a fim de enaltecer esse povo
bravo e guerreiro que tem se adaptado às mudanças tecnológicas e lutado pelo
respeito às suas origens e à preservação das línguas nativas de suas várias
etnias, bem como dos costumes dos seus ancestrais, numa luta constante para
que a cultura indígena não desapareça.

45
Quadro 3.5 – Resumo do Movimento indígena

 1910 – Criado o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), sendo a


União responsável pelos índios.
 1940 – Determinação do Dia do Índio, em 19 de abril.
 1967 – Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
 1973 – Estatuto do Índio.
 1988 – Proteção das Manifestações Indígenas (autonomia)
tendo Marcos Terena como seu grande ativista.
 2002 – Novo Código Civil.
 Demarcação das terras indígenas.
 Reconhecimento étnico.
 Formação de lideranças indígenas.
 Luta e resistência.
 Criação de ONGs representativas.
 Contabilização de 897 mil indígenas na Nação brasileira.
 Valorização identitária: “Ser índio é ser brasileiro”.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

46
Figura 3.4: Mulheres indígenas Guarani e Kaiwá

Fonte: Funai.gov.br

Mídias integradas
Para corroborar a discussão realizada, até aqui, sobre a valorização das etnias
indígenas atuais, assista ao vídeo a seguir, disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=kJXN3T1G-Cg>.

Os movimentos sociais são ferramentas para a construção de uma


sociedade mais democrática e menos desigual entre seus membros. E tais
organizações têm exercido influência sobre as estruturas da sociedade em que
atuam, no decorrer do seu processo histórico e político, ou seja, toda a ação
social estruturada tem por objetivo melhorar as condições de vida de uma
parcela específica da sociedade.

47
É nessa direção que aponta o que estudamos nessa aula, na qual se
sublinhou a importância da luta dos movimentos dos indígenas, negros,
homossexuais, das mulheres, etc., em prol de seus direitos e do respeito de
todos às diferenças entre os vários grupos sociais, sabendo que são
justamente essas diferenças que impulsionam a diversidade da raça humana,
que precisa ser respeitada e valorizada ao se estabelecerem as relações
étnico-raciais.

Atividade de aprendizagem

Elabore uma resenha crítica de 01 lauda a respeito do movimento social


que teve mais significado para você, diante de sua realidade, fundamentando
suas ideias no estudado nessa aula e nas pesquisas indicadas.

48
Aula 4 – Relações Étnico-Raciais: superando a dicotomia entre
o étnico-racial e as experiências curriculares sob a ótica da
diversidade e inclusão

Olá, estudante! Nesta última aula sobre a temática das Relações Étnico-
Raciais, veremos a relevância dos aspectos apresentados até aqui para a sua
formação profissional e humana, pelo viés da diversidade, sublinhando os
aspectos de inclusão mútua inerentes à diversidade presente nas sociedades
humanas e a necessidade de que todos sejam respeitados em suas diferenças.

As relações étnico-raciais estão presentes em todos os contextos da


convivência entre os membros da sociedade, principalmente num país como o
Brasil, caracterizado por tanta diversidade.
Assim, é importante o preparo do docente em termos do conhecimento e
respeito às relações étnico-raciais para a construção de saberes significativos à
atuação dele como cidadão, bem como a compreensão dessas relações no
contexto educativo, buscando a inclusão da diversidade das etnias que nele
existam.

Superando a dicotomia étnico-racial

Pensar na dicotomia entre as concepções de etnia e raça, significa


pensar em formas de relações étnico-raciais que produzam saberes concretos
que propiciem uma postura mais humana diante do diferente e das diferenças
existentes entre os vários grupos que compõem a sociedade, para uma
convivência social mais harmoniosa.
Portanto, foi com esse objetivo que o presente estudo foi, didaticamente,
organizado, sendo fundamentado com as políticas públicas implantadas no

49
Brasil, tendo em vista concepções e práticas que possibilitem o resgate cultural
dos grupos, historicamente, marginalizados, bem como a criação de uma
sociedade mais igualitária e plural em todos os aspectos, que respeite a
diversidade étnica de todos os povos que formaram a nação brasileira.
Nesse sentido, Freire (2012, p. 112) nos instiga a um pensar dialógico
ao afirmar que:

A intolerância ou a incapacidade de compreender o diferente, de


conviver com ele, de com ele nos solidarizarmos, de lutar ao lado
dele por uma causa comum é o que nos proíbe de superar nossas
diferenças apenas adjetivas forjando assim a unidade necessária sem
a qual nossa luta é inviável.

Assim sendo, vencer a dicotomia da concepção étnico-racial é


compreender o outro, diferente de mim, que tem sua cultura, sua forma de ser
e estar no mundo.
Segundo Freire, a superação dessa dicotomia implica tolerar o outro,
respeitar sua ação no mundo, tolerar as práticas religiosas que diferem das
nossas. Não se pode falar em superação da dicotomia entre origem da raça,
cor, cultura, costumes, entre outros aspectos, sem a tolerância para com o
outro, característica que deve permear toda e qualquer relação humana.
Para uma melhor compreensão das relações étnico-raciais, é preciso
que a natureza humana esteja presente nos debates sobre o assunto, bem
como em qualquer conflito nas relações interpessoais, tendo em mente que ela
é repleta de imperfeições, já que todos possuem habilidades e limitações, e
todos os seres humanos habitam o mesmo Planeta Terra, devendo ser
respeitados de acordo com suas origens e características.

Vocabulário
Relações interpessoais: forma como interagimos com as outras pessoas
à nossa volta, modificando-se de acordo com o contexto em que se insere;
relação entre duas ou mais pessoas.

50
Assim sendo, a raça humana deve ser entendida como a única que
realmente existe, composta por seres racionais que sabem interagir com outros
indivíduos de sua espécie e respeitar as diferenças que existem entre eles.
É, pois, nessa concepção da natureza humana que a formação do
docente deve ser pensada, tendo por base o pressuposto de que as relações
educativas se dão por intermédio das relações humanas, estabelecidas no
cotidiano do convívio escolar que evidencia a diversidade genuína existente
nas relações étnico-raciais.
Ainda a esse respeito, Freire (2012, p. 113) afirma que:

A possibilidade que temos, criada na História, de discernir, de


comparar, de escolher, de programar, de atuar, de avaliar, de nos
comprometer, de nos arriscar, de amar, de ter raiva, nos faz seres de
decisão portanto, seres éticos. Por isso mesmo é que lutar contra a
exploração, contra a discriminação, contra a negação de nós mesmos
é um imperativo ético. Discriminados porque negros, discriminadas
porque mulheres, discriminados porque homossexuais, ou
trabalhadores ou brasileiros, ou árabes ou judeus, não importa por
que somos discriminados, temos o dever de protestar e de lutar
contra a discriminação. A discriminação nos ofende enquanto fere a
substantividade de nosso ser. A nossa luta contra as discriminações,
contra a negação de nosso ser, contra a violência que nos esmaga,
só nos levará à vitória necessária se finalmente realizarmos o óbvio: a
unidade na diversidade.

Portanto, a máxima de Freire: “A unidade na diversidade” cabe


perfeitamente na reflexão sobre as relações étnico-raciais, tornando-se
necessário pensar no sujeito inserido no espaço educativo, em sua
singularidade, e disseminar o respeito pelo diverso, pelo complexo, pelas
diferenças naturais nas relações humanas.
Esse espírito de respeito mútuo deve estar presente nas relações que se
estabelecem no contexto educacional, buscando a superação dicotômica do
termo étnico-racial e considerando a raça humana como aspecto essencial em
qualquer discussão acadêmica.
Além disso, é preciso ainda valorizar as diferenças entre os sujeitos, as
diferenças de cores, sublinhando que o Brasil é um país multicolorido, cuja rica
e variada gastronomia é proveniente das misturas étnicas que, historicamente,
compõem a nação brasileira.

51
De igual modo, muitos outros exemplos da práxis humana, resultante
das relações sociais/humanas, poderiam ser apresentados, principalmente no
que se refere à tolerância para com os diferentes, a fim de que a diversidade,
natural entre os grupos humanos, seja respeitada em toda sua singularidade,
dando a todos os sujeitos o direito de manifestar sua cultura e seus costumes,
considerando sempre o respeito ao próximo como um princípio básico da
democracia, como uma ferramenta primordial para a criação de espaços
sociais autônomos e menos desiguais.

Experiências curriculares sob a ótica da diversidade e inclusão

As experiências curriculares sobre as relações étnico-raciais e suas


atuais exigências legais são recentes na história da nação brasileira, como se
pode ver ao longo desta disciplina.
Por ocasião da década de 1990, no cenário mundial, ocorreram fatos
importantes em relação ao direito à igualdade entre todos os indivíduos e o
respeito às suas particularidades, que enfatizavam os aspectos característicos
da diversidade, entre eles, destaca-se a Declaração Mundial de Educação para
Todos, em Jontiem, na Tailândia, e a Declaração de Salamanca, na Espanha.
Tais fatos, em terras brasileiras, movimentaram os setores
governamentais e levaram à implantação de políticas públicas em favor dos
princípios da diversidade e da inclusão.
Vale lembrar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foram promulgados nessa
década, e anos mais tarde a Lei n. 10.639/2003 e a Lei n. 11.645/2008
enfatizariam as relações étnico-raciais, tendo sido criadas as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCNs) que servem de base à organização e
desenvolvimento dos projetos pedagógicos das escolas.
No entanto, é indispensável realizar esforços para que essa legislação
entre em vigor e promova a igualdade entre todos nos contextos educativo,
social e político, objetivando a criação de espaços mais democráticos e que
respeitem as diferenças, além da formação de cidadãos capazes de interferir,

52
positivamente, no processo histórico e político que regula as relações sociais,
assumindo uma postura mais humana diante do outro e das diferenças.
Nos espaços educativos, é o docente comprometido com sua práxis
humana que vai fazer a diferença na elaboração de conteúdos que sejam
significativos para as relações étnico-raciais, sendo o papel da gestão da
escola corroborar a ideia de um currículo diversificado e incentivar os
profissionais da educação a cumprirem as legislações em vigor.
É, portanto, nesse sentido que se sublinha o papel relevante das
pessoas na construção de uma sociedade democrática, pois elas precisam
estabelecer relações mais humanas nos diversos espaços de convivência
social, acreditando que é possível construir um mundo menos desigual, na
medida em que cada pessoa faça sua parte com excelência, respeitando o
espaço do seu semelhante, aprendendo com ele, e exercendo a prática da
tolerância em todos os aspectos das relações humanas do cotidiano.
Na perspectiva da formação humana, Alarcão (2001, p. 20) sublinha
que:

Uma escola sem pessoas seria um edifício sem vida. Quem a torna
viva são as pessoas: os alunos, os professores, os funcionários e os
pais que não estando lá permanentemente, com ela interagem. As
pessoas são o sentido da sua existência. Para elas existem os
espaços, com elas se vive o tempo. As pessoas socializam-se no
contexto que elas próprias criam e recriam. São o recurso sem o qual
todos os outros recursos seriam desperdício.

Segundo essa afirmativa, as pessoas são o fundamento dos processos


curriculares e o real motivo do processo educativo formal, afinal a educação é
uma prática essencialmente humana.
Isso significa que as pessoas devem ser sujeitos de seus processos de
aprendizagem e respeitadas em suas opiniões, nos contextos em que se
exerça a atividade educacional.
Essa visão mais humana da educação eleva as pessoas a um patamar
de maior respeito às suas origens culturais, que lhes permita a liberdade de se
expressarem em todos os aspectos do diálogo na área educacional.

53
Os currículos devem primar pela autenticidade dos papéis que as
pessoas devem desempenhar em todos os contextos do processo educativo, a
fim de que cada uma delas se sinta incluída em todos os espaços da escola,
tais como: sala de aula, intervalos, eventos, etc.
Pensar na educação sob a ótica das relações étnico-raciais é valorizar
todos os momentos de convívio dentro dos muros escolares, desde a educação
infantil até o ensino superior, pois em todas essas etapas da educação formal,
as pessoas precisam ser respeitadas, como seres humanos que são, e ter os
seus direitos legais também respeitados.
O professor precisa assumir uma atitude ética diante das legislações
vigentes, no cumprimento de seu papel de obedecer aos parâmetros legais que
definem sua prática educativa, porém, sendo sempre prudente na sua postura
em relação à diversidade que está presente naturalmente nas salas de aula.
Para isso, é importante que o docente utilize os recursos didáticos em
prol do bem comum, ou seja, fazendo com que todos os seus educandos se
sintam acolhidos em sua aula e respeitados em quaisquer circunstâncias, para
que a igualdade de direitos seja garantida a todos os educandos no ambiente
escolar.
Morin (2000, p. 49-50) corrobora essa ideia de respeito mútuo, mediante
uma prática inclusiva que enfatize a diversidade, ao afirmar que:

Cabe à educação do futuro cuidar para que a ideia de unidade da


espécie humana não apague a ideia de diversidade, e que a da sua
diversidade não apague a da unidade. Há uma unidade humana. Há
uma diversidade humana. A unidade não está apenas nos traços
biológicos da espécie homo sapiens. A diversidade não está apenas
nos traços psicológicos, culturais, sociais do ser humano. Existe
também diversidade propriamente biológica no seio da unidade
humana; não apenas existe unidade cerebral, mas mental, psíquica,
afetiva, intelectual, além disso, as mais diversas culturas e
sociedades têm princípios geradores ou organizacionais comuns. É a
unidade humana que traz em si os princípios de suas múltiplas
diversidades. Compreender o humano é compreender sua unidade na
diversidade, sua diversidade na unidade. É preciso conceber a
unidade do múltiplo, a multiplicidade do uno.

Nesse contexto, a educação do futuro será concebida de acordo com o


que for realizado no presente, ou seja, essa necessidade de respeitar a

54
natureza humana, existente em cada indivíduo, no processo de aprendizagem
deve ser atendida nos dias de hoje, porque o mundo contemporâneo exige que
o docente respeite toda a diversidade e singularidade predominante no
contexto da sala de aula, para que a educação tenha sentido e significado para
os seus educandos.
Isso significa que a educação do presente deve responder às exigências
da sociedade, e, para isso, é necessário que os contextos educativos tenham
pessoas dotadas de uma conduta ética que propicie a realização de interações
verdadeiras, respeitosas e dinâmicas entre todos os seus participantes.
Essa postura de aceitação e respeito diante da diversidade leva à
necessária interação entre os sujeitos, exigindo que todos participem e tenham
voz dentro da sala de aula, numa perspectiva freireana de educação libertadora
que possibilite realmente transformar pessoas para atuarem em sua realidade.
Desse modo, somente a adoção de posturas com essas características
(tolerância e inclusão) pode promover uma educação mais humana e coerente
com as diretrizes curriculares, que atenda às necessidades de seu público por
meio de práticas inclusivas.
Outro ponto importante, para a realização de uma práxis mais humana,
inclusiva e transformadora, é assumir uma postura reflexiva sobre a educação
formal, pois é necessário refletir sobre o que está posto nas diretrizes
curriculares, buscando novas formas didáticas para atingir os devidos
resultados.
Afinal, o processo educativo é algo dinâmico, composto por pessoas em
desenvolvimento e pode sofrer interferências dos diálogos em sala de aula. Por
isso, o professor precisa estar preparado, por meio de constantes pesquisas
idôneas e atualizadas, para dotar os educandos de um conhecimento que seja
o fundamento para uma prática reflexiva, bem como estar aberto a fazer uma
avaliação crítica da sua prática educativa e realizar as mudanças necessárias
para uma aprendizagem significativa dos seus educandos.
Mídias integradas

55
Assista ao vídeo a seguir sobre a obrigatoriedade do estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar, para uma reflexão sobre
a postura dialógica do docente frente às relações étnico-raciais. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=IT2xFPVYXwk>.

Vale destacar a importância de se estabelecerem, no âmbito das


interações humanas do cotidiano, relações étnico-raciais que promovam uma
práxis inclusiva, reflexiva, humana, além do respeito à diversidade em todos os
seus aspectos, cuja aplicação nos procedimentos didáticos deve estimular em
toda comunidade educativa não só o respeito mútuo, sem exceção, mas
também o sentimento coletivo de pertença ao grupo.
Isso requer que o professor, em sua prática educativa, seja acolhedor,
consciente das principais necessidades e interesses do seu grupo de
aprendizes, estimulando nele o gosto pelo saber, bem como humilde em seu
papel de mediador do conhecimento, a fim de que todos se reconheçam como
integrantes do mesmo mundo.
Portanto, o trabalho educacional deve formar cidadãos com autonomia
para atuar em sua realidade, de forma competente, buscando a melhoria das
condições de vida do meio social em que estão inseridos, mediante ações que
os tornem protagonistas nessa realidade.
A esse respeito, Mantoan (2003, p. 24) fundamenta a inclusão abordada
até aqui da seguinte forma:

É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter


o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de
nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É
para o estudante com deficiência física, para os que têm
comprometimento mental, para os superdotados, para todas as
minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro
motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no
ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já
inclusão é estar com, interagir com o outro.
É nessa perspectiva de inclusão para todos, que a presente reflexão se
baseia para fundamentar os princípios necessários a uma práxis integradora,
capaz de fazer com que todos se sintam participantes de um todo educativo,
voltado para a promoção de uma educação mais justa, igualitária, humana, e
importantes no processo de ensino e aprendizagem.

56
Não obstante, no contexto educativo, todas as posturas inclusivas levam
a uma politização favorável às relações étnico-raciais, pois se existe o respeito
mútuo e as pessoas se sentem participantes desse espaço e livres para
expressarem suas opiniões durante o processo de construção do saber, é por
que esse ambiente educacional se organiza, eficazmente, em favor das lutas
pela igualdade dos direitos étnico-raciais na sociedade.
Mantoan (2003) enfatiza ainda as minorias, como objetivo primordial
para a educação inclusiva, sendo que a política de inclusão está para além do
atendimento de pessoas com laudo ou diagnóstico médico, ela é para todos,
tanto para as pessoas que são discriminadas por meio de preconceitos
enraizados na sociedade, derivados de costumes eurocêntricos, e perpetuados
após séculos de colonização.
Essa política educativa é resultante de papéis sociais desempenhados
por pessoas preocupadas em fazer com que os direitos humanos sejam
respeitados em sua integralidade, e a aprendizagem dos conteúdos seja
consequência de uma convivência humana harmoniosa, pois sob a ótica da
inclusão o aprendiz precisa estar motivado a participar do seu processo de
aprendizagem.
Para tal, o currículo precisa ser permanentemente flexível e humanizado,
e contar com profissionais que pensam e fazem da educação uma importante
ferramenta para a formação humana dos seus educandos.
Ainda a esse respeito, a autora Mantoan (2003, p. 29-30) vai mais longe
em sua reflexão ao dizer que:

Nós, professores, temos de retomar o poder da escola, que deve ser


exercido pelas mãos dos que fazem, efetivamente, acontecer a
educação. Temos de combater a descrença e o pessimismo dos
acomodados e mostrar que a inclusão é uma grande oportunidade
para que alunos, pais e educadores demonstrem as suas
competências, os seus poderes e as suas responsabilidades
educacionais. É inegável que as ferramentas estão aí, para que as
mudanças aconteçam e para que reinventemos a escola,
“desconstruindo” a máquina obsoleta que a dinamiza, os conceitos
sobre os quais ela se fundamenta, os pilares teórico-metodológicos
em que ela se sustenta.

57
Acredita-se na educação como um valioso instrumento para a
construção de uma sociedade menos desigual, que dê poder aos que a fazem,
ou seja, às pessoas que estão no “chão da escola” e realizam a educação
todos os dias.
São, portanto, essas pessoas envolvidas no processo de ensino que
podem realmente realizar atos de inclusão que desconstruam os preconceitos
e as crenças de superioridade de uma raça sobre outras, enraizados na
sociedade, com vistas às mudanças necessárias à construção de uma
sociedade mais justa.
É nas palavras do mestre Paulo Freire: “a educação não muda o mundo,
muda pessoas, e estas mudam o mundo”, e na visão de que essa mudança é
responsabilidade das pessoas, que se busca a fundamentação teórica para
uma formação humana que possibilite desconstruir raízes preconceituosas
sobre o outro, bem como estabelecer relações mais harmoniosas nos espaços
da educação formal.
Posto isso, para a promoção de uma educação humana é importante
que a formação do professor enfatize as relações étnico-raciais, pois só assim
ele será transformador e fará a diferença na vida das pessoas que, em seu
processo de desenvolvimento, estão sob sua responsabilidade.

Mídias integradas
Assista ao vídeo do professor Leandro Karnal, intitulado: Preconceito e Sala de
Aula, para refletir acerca da importância das relações humanas, reforçando
assim o conteúdo sobre as relações étnico-racial, aqui abordado. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=xbRyiH5cNJw>.

Assim sendo, a verdadeira atuação em sala de aula, baseada na


aplicação de um currículo flexível, de inclusão, que respeita na íntegra a
diversidade comum às relações humanas, está condicionada a uma práxis
reflexiva, dialógica, libertadora, em suma, humanizadora do professor que,
comprometido com seu papel de transformador social, se engaja na luta diária
de vencer os preconceitos disseminados por uma cultura colonizadora

58
eurocêntrica que, ainda no século XXI, insiste em subjugar o direito das
minorias.
Essa luta somente será vencida por meio de uma educação afetiva,
amorosa, tolerante e ética, que permita ao professor se colocar no lugar do seu
semelhante e compreendê-lo na sua singularidade humana.

Saiba mais
Para saber mais sobre a educação das relações étnico-raciais, consulte as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, acessando:
<http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/10/DCN-s-
Educacao-das-Relacoes-Etnico-Raciais.pdf>.
E para saber mais sobre a diversidade e inclusão na educação básica, consulte
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica: Diversidade e
Inclusão. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alia
s=17212-diretrizes-curriculares-nacionais-para-educacao-basica-diversidade-e-
inclusao-2013&category_slug=marco-2015-pdf&Itemid=30192>.

As relações étnico-raciais só podem ser respeitadas, aceitas, abordadas


e exploradas nos conteúdos e nas relações educativas presentes no processo
de aprendizagem, por meio de uma práxis humana. Os professores atuais
precisam assumir uma postura ética diante da diversidade do seu público, que
enfatize as diferenças entre os semelhantes como condição humana natural e
leve a um atendimento a essas diferenças, fazendo com que todos participem
na construção de uma sociedade menos desigual.

Atividade de aprendizagem

Frente às reflexões apresentadas em relação às relações étnico-raciais


e suas implicações em uma práxis humana no âmbito educativo, elabore um
texto argumentativo (1 lauda) sobre qual deve ser, atualmente, o papel do
professor (a) e como ele pode ser realizado com eficácia para atingir os
objetivos da inclusão de todos.

59
Referências

ALARCÃO, Isabel (Org.). Escola Reflexiva e nova racionalidade. Porto


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Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei
no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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Currículo da professora-autora

Eliana Nunes Maciel Bastos

Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Pinhais (2009); Pós-


graduada em Gestão Escolar pelo ITECNE (2011), com Habilitação para a
Docência do Ensino Superior; Pós- graduada em Educação Especial Inclusiva
pela Faculdade São Braz (2017); Curso de Extensão pela UFPR sobre
Diversidade Étnico-Racial (2014) e Educação em Direitos Humanos (2015);
Curso Dialogando sobre Educação Inclusiva, destinado a pedagogas, em
Pinhais (2016).
Atua na educação há mais de 10 anos; é pedagoga no Município de
Pinhais no período vespertino e professora de EJA no período noturno.
Professora de EAD na Faculdade São Braz em cursos de pós-graduação na
área da Pedagogia. Atua também como professora de EaD e do ensino
presencial no Polo de Quatro Barras e no Curso Técnico de Logística, pelo
Instituto Federal do Paraná (IFPR), no Câmpus Pinhais. Ministrou aulas
presenciais e online na área de educação no Carrepu - Preparatório para
Concursos Públicos, em Curitiba, durante o ano de 2016.
Desde 2013, atua como pedagoga na Orientação Pedagógica do
Trabalho de Escola Regular e também da Educação Especial, orientando os
trabalhos didático-pedagógicos da Sala de Recursos e Sala de Recursos
Multifuncional. Nos últimos dois anos, acompanha casos de crianças com
Transtorno do Espectro Autista (TEA) e assessora o trabalho docente em geral.
Coordena, há 3 anos, o Projeto Diversidade, na Escola Municipal Lírio Jacomel,
participando ativamente da Comissão da Diversidade nesta unidade escolar.

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