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PROJETO DE EDUCAÇÃO

CONTINUADA

Diagnóstico e Intervenção do Professor em


Dificuldades no Processo Escolar

Elizabeth C.R.Bittencourt Martins


EESG “Padre Manoel de Paiva”

Junho,1998
Introdução

A constatação das dificuldades dos alunos muitas vezes são de difícil diagnóstico pelo
Professor, que muitas vezes só toma delas conhecimento através dos métodos de
avaliação tradicional, ao fim de um bimestre letivo.

Nesta ocasião, por sobrecarga relativa aos procedimentos admnistrativos, deixa de


analisar de uma forma mais atenta seus alunos que apresentaram resultado insatisfatório.
Perde-se, assim, a oportunidade dos alunos revisarem os conteúdos em que tiveram
dificuldade, e também a possibilidade de revisão do próprio processo de avaliação.

Objetivo

Identificar as causas de baixo rendimento escolar em uma classe de alunos do Ensino


Médio, período noturno em uma determinada avaliação. Desta identificação, ajustar a
forma de apresentação do conteúdo à realidade dos alunos, e o próprio processo de
avaliação utilizado. Nesta abordagem, as dificuldades dos alunos são mais facilmente
entendidas e, na medida do possível, solucionadas.
Histórico

No caso estudado a seguir, foi preparada ao final de um bimestre (8 semanas) uma


avaliação contendo cinco questões dissertativas do conteúdo abordado no período. Ao
final da correção, tendo em vista os resultados obtidos pela classe (tabela “a”), a
professora entendeu ser necessária uma urgente revisão do processo ensino-
aprendizagem, e também do sistema de avaliação.

Em posterior análise dos resultados obtidos pela classe, os alunos reconheceram que não
haviam dado a devida importância à prova, nem haviam se preparado de maneira
conveniente.

A professora propôs que fossem feitas avaliações em períodos mais curtos, desta forma
obtendo as seguintes vantagens: menor conteúdo a ser estudado; e avaliaçào contínua ao
processo de aprendizagem.

O conteúdo que teve uma baixa retenção de aprendizado por parte dos alunos foi
submetido a trabalho de revisão paralela, em forma de questões de revisão, e foi dada
sequência ao ensinamento do conteúdo programático curricular.

Passadas duas semanas, foi aplicada nova avaliação, contendo três questões dissertativas,
e os resultados obtidos foram analisados (tabela “b”). Pela comparação com os
resultados anteriores, pode-se concluir que a sistemática adotada quanto ao sistema de
avaliação foi muito mais favorável aos alunos que o adotado anteriormente.

Na tentativa de uma análise mais aprofundada do caso, visando uma abordagem das
causas subjetivas que teriam permeado todo o processo, a professora propôs à classe que
a informassem de alguns aspectos pessoais, para uma interpretação detalhada do
processo ensino-aprendizagem. Nesta ocasião, foram propostas quatro perguntas:

1) Qual é sua idade ?

2) Qual é sua situação profissional ?

3) Que dificuldades enfrenta para obter um bom resultado nos estudos ?

4) Tem dificuldade de interpretar a linguagem falada e escrita ?

5) Como pode explicar a significativa melhoria obtida na segunda avaliação ?


Métodos

Tabulação dos resultados de toda uma classe em três ocasiões, através de questões
escritas, na forma dissertativa:
a) Avaliação inicial de um componente curricular específico.

b) Avaliação parcial, de conteúdo apresentado em período quinzenal.

c) Pesquisa entre os alunos, qualificando-os quanto ao seu perfil, dificuldades e


auto-análise quanto aos motivos que modificaram os resultados ocorridos entre as duas
avaliações.

Resultados

a) Da avaliação inicial participaram 29 alunos, que:

entregaram a prova em branco 18 62,06%


receberam conceito “E” 9 31,04%
receberam conceito “C” 2 6,90%

b) Da avaliação parcial seguinte, participaram 27 alunos, que:

entregaram a prova em branco 3 11,11%


receberam conceito “E” 6 22,22%
receberam conceito “D” 7 25,93%
receberam conceito “C” 7 25,93%
receberam conceito “B” 4 14,81%
c) Avaliação dos alunos havidas entre as duas avaliações, quando participaram 28
alunos:

c.1) Perfil do aluno:


c.1.1) Idade

17 anos 4 14,28%
18 anos 8 28,57%
19 anos 6 21,42%
20 anos 7 25,00%
21 anos 1 3,57%
22 anos 1 3,57%
23 anos 1 3,57%

c.1.2) Situação profissional

trabalham no período diurno 25 89,28%


não trabalha, mas está procurando 1 3,57%
não trabalha 2 7,15%

c.2) Dificuladades generalizadas nos estudos - as causas apontadas foram:

tempo 20 71,43%
cansaço 8 28,57%
assimilação 5 17,86%
linguagem do professor/didática 4 14,29%
conhecimento da matéria 4 14,29%
prestar atenção 3 10,71%
dificuldade em Matemática e/ou Física 3 10,71%
sono 3 10,71%
falta de motivação 2 7,14%
preguiça mental/desinteresse 2 7,14%
fome 2 7,14%
fazer trabalhos/tarefas escolares 2 7,14%
desânimo 1 3,57%
rotina da atividade profissional 1 3,57%
conciliar as diferentes matérias 1 3,57%
distância casa x escola x trabalho 1 3,57%
c.3) Auto-análise quanto às próprias condições de interpretação da linguagem falada e
escrita

dificuldade em todos aspectos 14 50,00%


algumas dificuldades 4 14,28%
dificuldades em interpretação de textos 4 14,28%
dificuldades em escrever 3 10,71%
não tem dificuldades 3 10,71%
não souberam entender/responder 3 10,71%
o professor não consegue explicar 2 7,14%

c.4) Auto-análise quanto aos motivos que modificaram os resultados ocorridos entre as
duas avaliações (tabelas “a” e “b”)

Me sinto mal e me esforço 8 28,57%


Estudei mais do que na prova anterior 5 17,86%
Prova mais fácil 5 17,86%
Tipo de avaliação 4 14,29%
Esforço pessoal 3 10,71%
Maior interesse 3 10,71%
Tive mais tempo para estudar 3 10,71%
Entendi melhor o sistema de avaliação 2 7,14%
Orientação dada pela professora 1 3,57%
“Prensa” dada pela professora 1 3,57%
Cabulei aulas para estudar 1 3,57%
Nota baixa não é nota alta 1 3,57%
Conclusões

O aluno que frequenta o ensino médio no período noturno vive uma realidade bastante
diversa que seus colegas do período diurno. Uma simples análise constata que a faixa
etária é mais elevada, indicando anos de resultado negativo (evasão / repetência) em seu
histórico escolar. A condição de que a grande maioria trabalha, condiciona um aluno
física e mentalmente cansado, com dificulade de assimilação do conteúdo. Isto aliado à
insuficiência de materiais didáticos (ou por falta de recursos para aquisição; ou por
comodismo de trazê-lo para a escola) faz com que o rendimento médio seja inferior ao
aluno do período diurno.

De acordo com sua própria óptica, estes alunos reconhecem suas dificuldades em
participar do processo educativo, a partir da primissa de que muitas vezes nem têm o
domínio completo do idioma pátrio, base da comunicação e do entendimento. A
transcrição da ficha de avaliação de um aluno (Anexo I) é o retrato mais fiel da situação
de uma grande parte desta geração.

Para superar os problemas diagnosticados, a escola e os professores precisam manter um


diálogo constante com o seu alunado. As soluções serão progressivamente encontradas,
ou ao menos, o diálogo, por si só, seja uma conquista que diminua as desigualdades
entre o corpo docente e discente e possa incrementear nos alunos um sentido de
cidadania.
ANEXO I

TRANSCRIÇÃO DA FICHA DE AUTO-AVALIAÇÃO DE UM ALUNO

A Professora pediu que as fichas fossem feitas com a maior sinceridade por parte da
classe, e dispensou a identificação por parte dos alunos. Nenhuma correção foi feita no
texto.

“Eu quero meu ponto positivo !


Nome : ________________________

Eu tenho 17, anos estou trabalhando e a minha maior dificuldade é o


tempo porque fora da escola eu não tenho tempo e dentro eu tenho que
correr para aprender todas as materias, fazer meus trabalhos porque é
aqui o que da para adiantar algumas coisinhas porque no final de semana
é mais corrido ainda e não acabo lembrando das tarefas do colégio, ainda
bem que eu não tenho dificuldade para aprender a materia dada sempre
pego as materias e quando não entendo tento esclarece as coisas para não
deixar para depois porque nunca da para capitula as coisas depois quando
já esto em outra aula com outro assunto sobre a prova na primeira fui mal
porque não deu tempo para estuda e na segunda prova eu vi que precisava
de notas e como na escola é o unico tempo que tenho para estuda cabulei
algumas aulas e estudei na biblioteca me esforcando mais porque o estudo
é uma coisa muito importante.”

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