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lm!lüi,

A importância do acolhimento
ao iniciar a vida fora de casa

processo de inserção de crianças pequenas no âmbito ins_


titucional, comumente chamado de processo de adaptação,
requer cuidado específ,co. No trabalho em creches, entende-se
por cuidado com a adaptação, a tentatir.a de amenizar os impac-
tos e as diflculdades inerentes ao enfrentamento de situaçÕes no-
vas, como entrada de crianças, mudanças cle grupo, substituição
de educadores, saída de crianças para olltra instituição, mudan-
Ças no funcionamento cotidiano etc.

Aqui, vamos nos deter exclusivamente aos fatos relacionados


com a entrada de bebês, portanto, que drzem respeito tanto a
eles e a suas famílias, como à instituição. É o período considerado
necessário para que a criança se familiarize com o contexto da
creche, assim como a famÍ1ia e a instituição passem a se conhe-
cer, vindo a estabelecer Llm bom relacionamento. Essa preocupa-
ção parte do princípio básico de que a criança precrsa ser cuida-
da, rodeada de afeto, respeitada em suas diversas necessidades e
que a separação mãe-bebê pode gerar sofrimentos e dif,culdades
no estabelecimento de novas relaçÕes.

O novo, mesmo quando desejado e esperado, sempre causa


estranhamento, surpresas, receios. E isso nào apenas quando so-
mos bebê, mas por toda vida encontraremos situações com as
quais vamos precisar de um tempo de acomodação ou experi-
mentar algumas mudanças em r-Lós mesmos.
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46 Interações: ser proJessor rte bebês cuida4 e.ucar


- e brdncar, uma ún,ca acôír

cabe ressaltar que a incorporação de cada nova crianÇa


à es-
trutura da instituição provoca mudanças naturais e necessárias
no seu funcionamento cotidiano, envolvendo diferentes
persona_
gens, como a criança, a família, os educadores
e os demais fun-
cionários da creche.

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Fonte: CEI São Cesá

Destacaremos três aspectos principais na reflexão


sobre o
tema adaptaçáo:
. a separação mãe_bebê e suas consequências;

. as mudanças na dinâmica institucional;

' os principais procedimentos que podem marcàresse


período.

Adaptar-se, do ponto cie vista psicorógico, signif,ca


ut,izar as
experiências de vicia de modo positivo, como
uma bagagem pes-
soal; poder sentir medo frente ao desconhecido,
porérn sem ser
dominado e paralisado para sempre por
ere. Adaptar-se signÍflca
somar-se a um novo contexto.
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-tôncia do acolh'imento ao xnici,cLr cL uidaJora d,e case, 47 I


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Das relações em uma instituição de educaçáo, enÍattzamos a fi
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importância do momento de separação de uma crianÇa que "par-
te para o mundo", deixando para trás suas primeiras relações, e
a necessidade de se construir um trabalho integrado, em equipe,
dando o devido valor à bagagem individual de cada um. O espaço
é coletivo, mas o momento é indiüdual para cada criança. Cada
-umTêm-sQ! modo de enfrentar a novidade, de reagir. Enquanto
alguns bebê§..grudam na mãe, assustados com o ambiente, outros
se "atiram" à nor,rdade do espaço e das pessoas.

Quando falamos em momento de separaÇão, não estamos que-


rendo locdrtzar um momenlo único, determinado e estanque,
como se a sepat'açào ocorresse como um corte abrupto. A sepa-
ração é composta pot'uma série de elementos que vão determi-
nando a mudarrqa nh lo'rna c1a cliarLça que passa a conviver com
outras pessoas, que não aqnelas - geraLmente a mãe - com quem
esteve ligad4'durante a maior palte de sua üda.
/
Portanío, se é um processo. rnclü tenpo de corüecer, tempo
t----elq d€eÍdir, tempo de preparar e tempo de rivenciar o novo. Um
processo não é necessariamente lineal e plerisível. A criança que
"se atirou" no espaço desde o primerro momento, pode vir a estra-
nhar, depois que a novidade acabar e aÍ não querer mais largar a
mãe, ainda que tenha gostado do lugar. Em outras palawas, saber
de onde a criança vem e para onde vai, o que a famflia e a institui-
ção querem e podem esperar uma da outra, de que forma será feita
a inserção e o que a criança precisa saber sobre ela. O tempo de ü-
venciar o novo, se realizado de forma gradual e bem cuidada, pode
ser tempo de criatiüdade, de descoberta, e não apenas de receios,
traumas, dif,culdades. Além disso, separar-se, principalmente no
caso do bebê e sua mãe, é necessário, é possibiliclade cie cresci-
mento, de utilizar os recursos psíquicos próprios para apropriar-se
do mundo. É rumar para a construção da autonomia.

Se estamos aqui relacionando a ideia de adaptaçào às vivências


psíquicas de separação, é por considerarmos como uma das defini-
ções possíveis para a ideia de adaptação, a que diz respeito à pos-
sibilidade de enfrentar situaçÕes novas e de prosseguir com dife-
rentes experiências no cotidrano. sem deixar de se perceber como
sujeito único, ou seja, mantendo identidade e desejos próprios,
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48 Interações: ser professor d,e bebês - cu,itlar, educar e bri,nca4 uma únita ação

ainda que atrelados ao desejo do outro. Isso não desconsidera a


üvência de momentos de insegurança, medo ou dif,culdades tem-
porárias de inter-relação com o novo. Afinal, essas experiências, se
eiaboradas e superadas, fazem parte de um mecanismo saudável
de crescimento pessoal. Cabe aqui lembrar do que dissemos ante-
riormente sobre a Funçao A,faterna,, pois se bem exercida nos mo-
mentos iniciais da vida da criança, ou seja, se houve acolhimento e
respostas adequadas à,s demandas do bebê, maior a possibilidade
de poder sentir-se conf,ante e seguro para enfrentar a separaçào.
As dif,culdades nem sempre devem ser eütadas, mas enfrentadas
de maneira a gerar crescimento e aprendizado.

Nem todas as crianças sofrem neste momento.

"Existem diferenças nas reações das crianças à separação


materna prolor-rgada. Enquanto algumas crianças parecem
desenvolver-se nornralmente após uma experiência de se-
paração e perda outras apresentam dificuldades para su-
perar estas situaÇÕes. Segundo Bowlby, isto pode ser expli-
cado por fatores constitLtcionais, pelas condições nas quais
a crianqa recebe cuidados quando afastada de sua mãe e
pela qualiclacle cla relação que mantém com os pais antes
e depois cla separação" (RAPOPORT & PICCININI, 2001).

O que sigrLiflca que não existe um modo único de reagir, sendo


necessáno clue o professor conheça a criança e esteja preparado
para sitnaçÕes sempre novas e até inusitadas. Cada criança é um
universo a ser compreendido em todas as suas dimensões.

Lembremos que se mesmo para os adultos as separaÇões e


muclanças causam estranhamento, o que se dirá das crianças que
estão em pleno processo de formação psíquica e para quem tudo
é uma novidade...

É esperado que, cliante do nor-o. a criança se apegue ao conhe-


cido, que busque conforto naquilo que faz parte de seu universo.
A relação com a mãe e famitares é seu maior conforto, por isso
os grudes e choros na hora da separação.
ú do acalhi,fltento cto ini,ci,ar
a uid,aJora d,e casa
49

FonTe: CEI São Cesário/Liga


Solidária _Ç

Por que largar o que eu gosto


se ?i-t ttã,o sei, o que
ui,rd,?
Como ter certeza d,e que
?n1:?zltct //taie i,.oL
retornar:)
que se oci-ti)cti,t cte
ud,ri,as crzanças
""Y:#:l:tr;:;pessoas
É preciso dar tempo para que
essas perguntas possam
respondidas' com o tempo, ser
a exieriência com a
tabelecimento de uma rotina noviàade e o es-
conhecida, é que a criança
ter a certeza de que no poderá
finar do perÍodo sua màe
casa não é aquera; que retorna; que sua
pode gostar dari e
outras pessoas, outras .. u..ir"u. u .o.r,u.".
coisas, outras situaçoes.
de conhecer, de estaberecer Esse Jum t"mpo
víncuros e poder con_f,ar
no outro.
O bebê precisa

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or
teressar-se pelas novas:: situações. ;:1',:,1
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Não é a toa que airã,no.
diante do novo, o bebê n,_,"
n.u Aàr.ã.,Àro, _ afinal, ,,desconflado,,é
estar sem conf,ança, é
ter a i-p."rrao de que não
f,car a vontade, que argo se pode ainda
ruim pode u.or-,t".ur. só
experimentan-
[H;J:;,i;ff::11:q-': ;i;il"
ser bom, praieroso, inre-
dadee.onrio".u.rrl"oilr1,:'::ffi
X.'rtffi :fl H..:,f :?"*;
50 Interações; ser proJessor tle bebês _
cu,.id.an; eclucar e brinca,r; urna
única tt

e essas boas experiências o bebê poderá


largar sua mãe, diz
tchau, interessar-se peras novidades, largar
o que é conhecido
seguro para lançar_se a novos aprendizados.

A adaptação deve ser vivida como um momento


de transiçã
de passagem do conhecicro para o
tempo de conhecer, para o ten
po de se apropriar do novo, ou
seja, tornar seu o que ainda é est.t
nho. Por isso é comum vermos algumas
crianças que já consegu
ram deixar a mãe ir embora continuarem
apegadas a objetos c,
brinquedos que trouxeram de casa: aquere
que f,ca agarrado a su
mochiia onde estão seus pertences trazidos
de casf aquere qu
I fica agarrado ao seu bicho de perúcia,
um brinquedo ou mesm
um pedaço de fraida, um objeto que pertence
a mãe. No univers,
das creches e dos bebês. são os chamados ,,nanás,,, ,,cheirinhos.,
bichos que tem nomes próprios e dos quais
não se pode separal
pois são eles que lemb.am a mãe. que
representam a própria casa
que tem o cheiro da fam,ia e .epresentam
o que já é conheci
do. Chamados de obieto cle cr1..,ego. ou
como nomeou Mnnicott
de ob.ietos trc,tsi-e i-'orr ru rs. sào objetos
escoihidos pelas crianças
por terem argum srg.úcacio e podem
ser iargados quando outras
coisas ou experiéncras puderem substituí-los.
Isto requer tempo.
assim como trabalhc, cla creche, que
como dissemos, precisa con_
quistar o bebê. iazê-lo sentir que
ari também é o seu lugar.

Fonte: CEI São Cesário/Liga Solidária _ Sp


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Já que falarnos em lugar, passaremos ao segundo aspecto do ;ri :
tempodeadaptação:oespaçoinstitucional,suasinteraçÕesesua Í':H
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dinâmica. Para pensarmos neste assunto, lançaremos mão de


outra perspectiva teórrca, que não a Psicologia ou Psicanálise,
quemuitotemcontribuÍcloparaaspesquisassobreadaptação
de bebês em creches. Adotaremos a perspectiva sociointeracio-
nista(OLIVEIRA&ROSSETTIF.ERREIRA,1993)quepropõe
umarededesignif,caÇÕeS)paraCompreenderodesenvolvimen-
to humano. Nesta perspecti\Ía, fundamentada em teóricos como
vygotsky e \\''a11on. colLsidera-se o processo de interação como
base do desenr-olr-imento humano'

Destacamos, clesta clefinição. as rdeias de que

"O desenvolvimento é unr llrocesso que se dá do nasci-


mento até a morte, clentro cle ambientes culturalmente or-
ganizados e socialmente regLrlaclos, através de interações
(adulto
ástabelecidas com parceiros, nas ctuais cada pessoa
ou criança) clesempenha papel ati\o" OLIVEIRA & ROS-

sETTI FERREIRA, 1993).

o ambiente é culturalmente organizado. ot-l seja, sempre que


se recorta para análise uma situação de inter-ação, é funclamen-
tal levar em conta o contexto cultural da situação considerada.
Nessa perspectiva, também se clá grande vaior à drmensáo do
tempo como componente dos processos d.inâmcos Vividos pelas
pessoas:

,,o processo de desenvolvimento se dá através da dinâmi-


ca segmentação e unificação de fragmentos de experiências
purrJur, percepções do momento presente e projeções de
da
expectativas íuturas. E, ainda, esse processo se Íaz através
articulaçãoentre a imitação de modelos (fusão, repetição e
in-
ações) e o confronto entre eles (diferenciação, criação)'
teiligados às necessidades, aos sentidos e às representações
ae Àda pessoa"(OLIVEIRA & ROSSETTI FERREIRA, 1993)'
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Interações: ser proJessor de bebês - cuidar, educar e brincu, umct, única açõto

O momento do ingresso de bebês na creche

"envolve fundamentalmente o encontro de dois contextos


(casa/creche) bastante diferentes, o que provoca intensas
reorganizações nos relacionamentos, práticas e concep-
ções existentes, tanto na Íamília como na creche, podendo
instigar confrontos e conflitos em seus vários elementos"
(OLIVEIRA & ROSSETTI FERREIRA, 1993).

Esses vários elementos são, em primeiro plano, os persona-


gens envolvidos na situação. basicamente a crianÇa, os membros
da famíIia, os professores e clemais funcionários da creche. Alén-i
das pessoas que compÕen-L estes contextos - casa e creche -.
eies também são defuriclos pelo ambiente físico, pelas respectivas
rotinas e práticas. pelas caracter'ísticas dos papéis assumidos e
pelas relaçÕes afetir as r s -,ciais que se estabelecem entre as pes-
soas, a cultura, o nror:r-:,1 lr.Irti(o.
GostarÍamos de ,ltst-acal tarnbém que o perÍodo de adapta-
ção abrange toclos c,s Êlementos envolúdos nesse processo, e nào
apenas o bebê. E a mãe adaptando-se ao seu bebê e ao mesmo
tempo vencio-se i-La sttuação de ter que compartilhá-lo com pes-
soas alheias a seLl an-rbiente famiiiar; é a criança, ainda expeli-
mentanclo as noudades do ambiente extrauterino, tendo agora
que clesvenclar um universo externo à relação com sua mãe; é a
instituiçáo e seus componentes recebendo mais um elemento, o
que modif,ca sua rotina e as características de seu funcionamen-
to cotidiano. É ainda a instituição sendo questionada nos mats
inusitados elementos de sua rotina, pois cada um que chega tem
seu olhar próprio e será capturado por um aspecto da creche que
diz respeito a questões emergentes de sua história pessoal. Há a
mrãe que só vai reparar nos aspectos de higiene; a mãe que logc
percebe uma criança com drflculdade física aparente no mesmc
grupo do fllho; a mãe que quer ouvir detalhes sobre alimentaçãc
e assim por diante...
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ia d,o acoLhi,mento ao i,ni,c'iar a u'íd,afora d,e casa
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"A revisão da literatura aponta para as diversas diferenças
nas reaÇões da criança à separação materna, quer seja pro-
longada ou de curta duraÇão. Estudos sugerem que estas
reaÇões podem estar associadas com inúmeros fatores, en-
tre eles as diferenças individuais do bebê ou criança pe-
quena (temperamento, idade, sexo) a qualidade da relação
que mantém conr os pais antes e depois da separação, as
condições nas quais a criança recebe cuidados, a duração
da separação e o grau da privação, e os sentimentos e ati-
tudes dos pais" {OLI\rElRA & ROSSETTI FERRElRA,1993).

Entre as condiçÕes cle cüdaclos recebidos pelas crianças po-


demos incluir a clispor-ubihclacle emocional da mãe, que precisa,
de certa forma, "autorizal' a ct'iat-Lqa" a f,car nesse novo ambiente
-bem como o nírrel de er-rgajan-LenIo das educadoras no processo
de adaptação da criança, para compreender a situação familiar.

Não podemos esquecer ql-le alén-i c1o bebê desconflado, tam-


bém podemos receber mães e famrltales que têm receios, me-
dos, desconflanças. Embora preparados pat'a receber as crianças
e suas famílias, os professores e demats eclucadores da creche
também precisam de tempo para conhecer e conflar' para, como
dissemos antes, conquistar e se deixar ser conquistado por eles.

Fonte: CEI São Cesário/Liga Solidária - SP

Enf,m, é uma rede de signifi.cações que deve ser vista em suas


múltiplas facetas, para nos aproximarmos da complexidade do
momento vivido e, desta fortr-ia. poder fazer interferências signi-
flcativas quando necessário.
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54 Interações: ser proÍessor d,e bebês - cuiddr, ed,uc(Lr e brincar, umcL úni,ca a

O terceiro e último aspecto da adaptação a ser considerado e


nossa reflexão é constituído pelos principais procedimentos qr
marcam esse período no cotidiano da creche. Faz parte do sen:
comum a caracterizaçáo desse período como marcado por difi.crj
dades. Choros, perturbaçÕes no comportamento da crianÇa (it.
comer) não dormir, não se deixar ser tocada), insegurança de ar
bas as partes, desconf,anÇa das famílias, receio dos pequenos e
contato com um novo ambiente e, em participar das atividacl,
sugeridas. Também é comum o discurso sobre as necessidaclr
das crianças. São falas provenientes de diferentes âmbitos pt'
flssionais e até mesmo leigos, que repetem como sendo der-'
das instituições: "atender as crianças buscando respeitar algr-rr
procedimentos familiares", "dar carinho", "transmitir e garanl
seguranÇa".

Fonte: CEI São Cesário/Liga Solidária - SP

A maneira de interpretar essas diflculdades iniciais, assi


como os procedimentos que buscam atender às necessidades «

criança, varia de acordo com os recursos, a concepÇào social


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trtêtnci,a clo a,colhi.mento ao i,ni,ci,ar a uid,aJora d,e
casa 55

pedagógica da creche, a formação do educador,


a disponibilidade
das famílias e as concepções educacionais de cada
estabeleci-
mento. Mesmo assim, é possíver fazer argttmas generarizações,
supondo algumas etapas como fundamentais para que
se viven-
cie o processo da melhor maneira possível. Etapas que
requerem,
antes de tudo, Joco tto p\ctnejamento cÍ,o processo ile
acotttd-
mento (ORTIZ, 20lZ). São elas:
o atenção à famíha no momento da inscrição e da matrícura;
o inserção prog.essir-a. com participação e presença parcial
da família:

r atiüdades arlequaclas e diferenciadas para cada grupo de


crianças que está recebendo um bebê novo.

são muitas as estratégias que podem ser utilizadas nesse


período de acolhimento e que podem ser aperfeiçoadas
no de-
correr de cada processo e na preparação cle cada nova etapa.
As
ideias se articulam com as diferentes erperiências de
cada ins-
tituição, história e envorvimento neste percurso. podemos citar
algumas:

o atendimento individualizado aos pais para conhecimento


da criança e de sua história assim como esclarecimento
cle
dúr.idas e trocas de expectativas;

' reuniões coletivas de pais com apresentação de fotos ou


r,ídeos sobre a proposta educacional da creche;

o distribuição de textos ou pequenos fôlderes que destacam


aspectos fundamentais deste momento;
o aumento gradativo no número de horas que o bebê flca na
crec]-Le ao iongo da primeira e seguncla semanas;

o a cada clia cia semana começar a adaptação de apenas uma


ou duas crianças, evitando que todas cheguem no primeiro
dia:

r permitir a presença de um familÍar durante a adaptação, no


início na própria sala e depois na sara de espera da creche;
56 IntercLÇões: ser professor d,e bebês
- cuid,a, ed,ucar e brincat; uma ún.cct açd,o

a permitir que o familiar participe das primeiras refeiçÕes


na creche;
a manter o número reduzido de bebês e crianças pequenas
para cada educadora;
o evitar ao máximo a troca de educadoras, facilitando
o esta-
belecimento de rima relação estável com o bebê;
a oferecer oflcinas e atiüdades que iniciem com a interação
entre pais, bebês e educadores;
a rodas de conversa com as famüas;
a cantos com fotograflas das famfias e objetos conhecidos
das crianças, etc.

Estas práticas au-rrliarào o bebê e a criança pequena


na fami-
rtarizaçáo com a nor-a .crtir-La e permrtirão que
o familiar adquira
conf,ança e esteja segul'o quanto aos cuidados dispensacros.
Esta
segurança do fanuliar acabará refletindo positivamente
na adap_
taçáo do bebê e cla ,- ria.qa pequena, que terão mais
confianÇa no
ambiente e nas pe,ssoas que os cercam. (MARANGON,
2012)
Ttrdo lssr: requer planejamento e organizaçáo préüa,
as_
sim como um ü-Lre^so trabalho de formação continuada
de toda
a equipe c1a rnstituição. A formação e o acompanhamento
dos
educadores po. parte da equipe de coordenação
é de extrema
importâncra e vai acontecer de acordo com os recursos
de cada
instituição - em reuniões semanais, encontros cotidianos
entre
coordenação e educador, trocas de informações
entre os educa-
dores.

É importante que se dê rerer-âncra a todos os momentos


que
compÕem a adaptação, desde a fomacla de ciecisão
da Íamília
quanto à possibilidade cre colocar. seu bebê
na creche até as vi_
vências dos primeiros dias e tocla a co,istruçáo
de novas rigações
afetivas e reorganização das reiaçôes anteriores.

Também faz parte do que chamamos de trabalho


de forma_
ção continuada a avaliação constante desse processo para que,
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a cada novo período, se aperfeiçoem as condutas utilizadas e se
busquem novos recursos para a melhoria do funcionamento da
creche.

Eltink (1999) procurou investigar quais os indícios referidos


por educadoras de berçário para avaliar o processo de inser-
ção de bebês e suas famÍlias numa creche. Aiém de concluir
que "o processo de integração mostra-se complexo, dinâmico
e está constituído de vários processos particulares, incluindo o
das crianças, das educadoras e das famí1ias, que se influenciam
mutuamente", encontrou três temas gerais, para os quais di-
recionou sua análise. Estes temas - ou campos de observaçào,
como podemos chamá-los aqui - são: o estado de humor, a cons-
trução de rrínculo afetir o com a educadora, a inserção na rotina
da creche, inciurndo os sublemas padroes de sono e hábitos
alimentares.

A análise desses campos cie obserr-ação e de seu desenroiar


nas primeiras semanas de frequência da criança à creche pode
ser uma forma de avaliar se a ct"iat-Lça está bem em seu novo
ambiente; porém lembramos mais uma \-ez que, na investigação
sobre as relações humanas, não é possÍr-el fazer generalizaçÕes
de comportamento, porque, por exemplo. o que pode signif,car
satisfação para um pode ser sofrimento e ansiedade para outro.

É quase inevitável que a criança chore no momento de sepa-


ração. O choro é um modo de aliviar as tensÕes, e até o choro
pode ter diferentes signiflcações, sendo muitas vezes sinal de so-
frimento, mas também sinal de que a criança que estava retraída
e assustada já está podendo se expressar e clemandar atenção
específlca. Nem sempre a ausência de choro signif,ca que a crian-
ça está bem, ao contrário, ela pode estar tão assustada que nem
consegue se expressar. Neste sentido, é necessário lançar mão
de análises mais individualizadas e de um olhar abrangente sobre
todo o universo de cada situação. Mesmo assim, esses critérios
de avaliação da adaptação do bebê não deixam de ser um recurso
para discussão e análise dos acontecimentos durante a inserção
de bebês na creche, aflnal, estamos falando de processo.
58 [ntera,ções: sor proíe,ssor r],e bebês - r:u.tdo.r erl,u,ca,r e bri,n,col; u,ma, ú,n,i,ca, a,çãrt

Fonte: CEI São Cesário/Liga Solidár

-
Revendo cada um desses pontos de reflexão sobre a inserção
de bebês em creches, percebernos que tuna contradição vai des-
pontando ao longo das dit'erentes exposições teóricas e históri-
cas: ao mesmo tempo em que se fala em tempo, processo, sub-
jetiüdade, fala-se em conciusão, em avaliação, em expectativa
de estabilidade e harmoma. \bmos isso como uma contradição,
Rr
pois, embora haja run discurso que encaminha o entendimen-
to de adaptação, considerando as ideias de mudança, de tempo
e de respeito à singularida'le de cada família, os encaminhamen-
tos práticos sugeridos e as erpectativas muitas vezes parecem se
aproximar da tradução literal do termo. Ou seja, adaptaçáo acaba
sendo entendlda de acordo com a definição do termo na lÍngua
portuguesa: "ajustamento às condições do meio ambiente", "ade-
quação" e "acomodação". Essa definiçáo enÍatiza os aspectos de
estabilidade de um fenômeno e elimina as tensões e dimensões
do tempo e as mudanças ligadas a ele.
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Resolvemos esta contradição observando que as creches aca-
rHli, r ;

bam convivendo com os dois entendimentos de adaptação: en- +'*H Ê

quanto processo singular e enquanto ajustamento necessário.


E se buscamos a compreensão desse termo específ,co encon-
tramos "tornar justo", "convencionar", "combinar", "estipular",
o que nos remete a uma dinâmica de mediação entre toclos os
laclos de um mesmo contexto: as necessidades da criança, das
famílias, os recursos humanos e organtzacionais da instituição.
Isso porque a compreensão da singularidade do processo de
cada inserção na creche - considerando as peculiaridades da
criança e da família, as condições momentâneas da instituição,
os aspectos sociais e psíquicos de cada relaçào - é da ordem
do discurso social e faz parte do conteúdo da política atual de
Educação infantil; enquanto que a compreensão de adaptação
como acomodação é da ordem da necessidade de cada sujeito e
rla realidade institucional.

Portanto, acreditamos que, para enfre .tar as dif,culdades ca-


racterísticas do período crítico que é o da rdaptaÇão é necessário
um trabalho coletivo, no qual os educadc es debaLam as diversi-
dades inerentes ao grupo que povoa a in tiruição. Além disso, é
preciso promover discussões e reflexÕes . cada novo período de

entrada de crianças, aprendendo com o assado e planejando o


futuro.

Ainal, o objetivo de todos é que as crianç acolhidas e


bem-vindas!

Referências bi bl io gráfi cas


AMORIM, Katia c1e s. Processo de (re) construçáo de rela-
ções,papéiseconcepções,apartirdoingressodebebês
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em psicologia) Facuidade de Filosof,a. Ciências e Lelras de Ri-
beirão Preto - Departamento cle Psicologia e Eclr-lcação, Univer-
siclade de São Paulo, Ribeiráo Preto' 199S'

AvtrRBUCH, A. R. Adaptação de Bebês à creche: o ingresso


no primeiro ou segundo semestre de vida. Rlo Grande do
60 Interações: ser prcJessor d,e bebês - cuid,ar, ecLucar e brincat; uma úni,co, açõ,o

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Federal do Rio Grande do Sul, Porto Negre. 1999.

BOVE, Chiara. Inset'imetúo: tLttLu est?"(Ltégi,ct para cleli,cad,a-


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ELTINK,C. F. Indícios utilizados para avaliar o proces-
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1999.152p. Dissertaçào (]Íestla:Lr em Psicologia) - Faculdade
de I'ilosofla, Ciências e Lett'as rle Ribeirão Preto - Departamento
de Psicologia e Eclr-rcaqà_. i--r'.ti:r'siciacle de São Paulo, Ribeirão
Preto.1999.

MARANGON, Cristiane. Àdaptação bem feita. Disponível em Dr


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Uma perspectt\ rr terjlico-metodológica para anáiise do


desenvolümento humarro e Í-1,) ],rr'Ucesso de investigação. psicoro-
gia: Beflexão e Crítica, 13r-!,r 1,9.281-298. porto Alegre, 2000.I
:
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*[ül]r-

o r ganização dos ambientes para


os bebês-oolharatento

lnde partimos
importância da orgarLização c1o ambiente não apenas enten-
como espaÇo físico. mas humano, que ofereça condi-
ções de desenvolvimento para as crianças pequenas, necessita
ser pensada. O ambiente comporta quatl'o elementos principais:

MATERIAIS
I
ESPAÇO TEMPO/
nÍsrco ROTINAS
:

I
rNrrq,AcÕrs

Vamos neste capítulo aprofundar a discussão sobre a organi-


zaçào do espaço fÍsico.
1i:/

62 Interctções: ser proJessor d,e bebês - cui,claq educar e brincar, umo" única açd,o

Um dos aspectos mais importantes do atendimento às crian-


Ças pequenas em instituiçÕes é a qualidade do espaÇo a elas des-
tinado. Seria o espaço apenas um cenário? De que maneira ele é
percebido pelas crianças e peios adultos?

A maneira como organizamos os espaÇos e o tempo, por meio


da rotina, delermina maior ou nlenor integração das dimensÕes
do desenvolvimento humano e do cuiclar e educar.

Diante da história de üncu1a ç à o das cre ches à assistência social6,


concretizada durante um bon1 tempo por poiíticas assistencialis-
tas voltadas à diminuição cla pobt'eza. a qualidade de seus espa-
ços físicos flcou relegada a seguncio p1ano. Como pode ser acom-
panhado nos resultados da Lresqlusa soble qualidade promovida
pelo MEC7, nos municÍpr1r:s em qr-le a Eclucação Infantil existe
organizada segundo os liiut:es da legtslação há mais tempo, a
situação é um pouco mellr-or, Por'ém. nos municípios em que o
atendimento inicior,r-se ,:iÊ maneira espontânea, desvinculado do
poder público. a sirLiar-'à,: era e contrnua sendo bastante precária
em alguns iugales - auLcia se encontram salas insalubres, mofa-
das, com goteiras. sar ü-isolaçào, sem manutenção. Ausência de
espaÇo exterr-Lo e le i:ar-Lheiros; falta de água encanada e salas
que abrigam mut_,-,s berços, nenhum móvel padronizado, objetos
e brinquedos r1.it1-,rados vindos de doaçÕes.

O qr-re crcr,it't'ê é que, para atender à demanda da comunidade,


as escolas c1e Educação Infantil se organizaram com muita boa
vontade cla maneira que foi possível, sem ter um planejamento
a pr'íot'i. con-L objetivos educacionais, clateza sobre a função da
escola. e urna proposta pedagógica formalizada. Dessa forma, a
organização do espaço reflete esta falta de diretriz, e espelha as
concepçÕes de criança, de desenr-oirtmento. cle aprendizagem à
Iuz das quais foi for.jado,

Ver capítulo l
Falamos aqui de duas pesqursas: a "Consulta sobre qualidade da Educação lnÍan-
til, o que pensam e o que querem os su]eitos deste direito",- coordenada pelas
Profas Maria Malta Campos e Stlria HelenaVieira Cruz - Fundação Carlos Cha-
gas, publicado pela Cortez Editora em 2006; e os "lndicadores da eualidade na
Educação lnfantil - lndiquinho". Nlinistério da Educação/Secretaria de Educaçào
Básica, 2009, que é uma forma de autoat,aliação para as escolas Educação lnfan-
til de algumas dimensões do trabalho, sendo uma delas a do espaço físico.
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zaçã,o d,os ambi,entes pa,ra, os bebês _ Ih-3
o olhar atento
63
}"IH;
Para ajudar os municípios a entenderem
a importância cla or-
ganizaçáo do espaço e para poder
atender a demanda de famílias
que aguardam vagas para seus fllhos,
o MEC elaborou um docu_
mento valioso que deve ser consultado sempre que
necessário8,
pois apontapara a construção de equipamentos
de Educação In-
fantil que ofereçam uma infraestrutura mínima para
a qualidacre
do atendimento.

Além disso, o MEC cief,niu o programa pró-infância,


em zoo.,
com a perspectrva cie que o Gorrerno F ederal
auxiliasse os muni_
cípios na const.rção cle pero menos uma
creche em cada cida_
de, seguindo um padrão núrmio de quaiidade
na construção e
infraestrutura. Embora o projeto possa ser criticado justamente
pela padrontzaçà'o - faze.cro com que
de norte a sur do nosso
país todas as crecrres ten-iram o mesmo
modelo, impedindo que
uma variedade de soluçÕes em função da
diversidade ambiental,
climática e curturar de cada ,egião cro Brasil possam
ser utiliza_
das - temos um padrão comum. r-rm padrão
mínimo que pode ser
avaliado e aperfeiçoacl0 e que ga.ante o ciireito
das crianças de
usufruir um espaÇo adequado ê pi.olltúttri. de aprend
izagens.
Qualquer que seja o espaço destinaclo as crianças pequenas,
muito podemos fazer para torná-ro mais cor-Lfortáver
e adequado
às experiências infantis.

-=

= -=:

Fonre: CEI São Cesário/Liga Solidária _ Sp

B
Parâmetros de lnÍraestruiura
64 In'terações: ser yLroJessor de bebês
- c,,icla4 ecrucar e brincatç uma única
açtÍo

Oqueé um lugar para bebês?


um mesmo espaço físico pode se
transformar em ambientes totarmen-
te diferentes' Imagrne um prédio
com apartamentos que têrn a
ma planta física. N,m deles mora mes_
um casal de idosos e no outro uma
moça de 25 anos que estuda e
trabalha fora. A forrna como cada
apartamento será orgaruzado será
totaimente diferente, desde a cor
da pintura das parecles, a rluminação,
o mob,iário e sua disposição
no espaço, os equipamentos presentes
em cada ambiente até os de_
talhes de decoração. cada espaço
vai sendo recheado de varores que
reveiam a história e os r-alores
de quem o habita.
No ambiente escolar acontece o
mesmo, organizamos a sala
dos bebês da maneir.a como concebemos
a função que o espaço lr
físico deve ter para eles Será que
pensamos que este espaço
em primeiro lugar. um espaqo é,
cie aprendizagem, ou seja, que
espaÇo o
em si mesmo r,r_,Ct ensinar alguma
coisa?
Ao interagir com o espaço, o bebê pode,
por exemplo, perce_
ber as diferentes texturas e temperaturas
do piso, se ere for va-
riado: emborrachado, madeira,
cimento queimado, grama, terrâ,
areia' Pode perceber a diferença
de ruminosidade-ao longo do
dia, as luzes e as sombras qr"
up*u"em nas paredes e no chão.
Pode, deslocando-se pelo espaço,
ir explorando e construindo
aUimensão do mesmo, seus limites,
e aprender a contornar ou
a transpor obstiác,los- pode perceber
que compart'ha esse espa-
ço com outras pessoas e que cada coisa tem
urn lugar.
Se a crianqa f,ca o dia todo
num berço pode aprender que
muncl0 é pe,goso e que ela não o
deve aventurar-se, mas se f,ca
chão' sabe que pode se desiocar, no
engatinhando, se arrastando, an-
dando incio em busca daquiio que
deseja e que é de seu interessel
P.l'tanto' a relação do bebê com
o espaço físico pode favore-
cer a constr-ução
da imagem de si, do outro e
do ambiente, o que
possibilita as ürteraçÕes e progressiva
a construção da autonomra
David & Weinstein (igSA citados
por Carvalho e Rubiano!.
afirmam que

9
CARVALHO & RUBIA\C
{
:-: :-
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iaú.ízação dos arnbi,entes paro, os bebês - o olhar atetzto 65 cE0C
ilrl::

"todos os ambientes construídos para crianças deveriam


Í#1 ;
atender a cinco funções relativas ao desenvolvimento
infantil no sentido de promover: identidade pessoal, de-
senvolvimento de competências, oportunidade de cres-
cimento, sensaÇão de seguranÇa e confianÇa, bem como
oportunidades para contato pessoal e privacidade.

Exploremos um pouco mars cada um destes tópicos

ldentidade pessoal
As crianças que frequentarn an-Lliientes coletivos precisam ter
certeza de que, embora colt\ti-ai'l c,:m muitas outras crianças o
tempo todo, são únicas. Esta cLal'eza é coustruída pela manei-
ra como são tratadas, asslm Crrl-r.-' :+;.s,:bjetos de uso pessoal:
mochila, kit de higiene, roupa ,iÊ ,:at--ra e cobertor) caneca para
tomar água etc. É importante que i ,,-i - s - s ,:bjetos sejam usados
de forma individual e personalizacia.

O espaço que a criança ocupa neslÊ a:-,:-,ter-te coletivo também


percebido por ela como sendo dela. ,:,u :eJa. a sala do seu grupo,
o lugar em que senta à mesa, a alm,rfa-ia ,tlle Llsa na roda, são
signif,cativos e trazem a sensação de c,-tüeci,io e usual, portanto
gera seguranÇa e conflança, o que é imp,ç,113111e para a construção
da identidade.

Os espaços que frequentamos na urfància fazem parte de nos-


sa memória afetiva. Por exemplo. a casa da avó pode trazer a
lembrança náo só do lugar em si. mas de todas as brincadeiras
que Iá aconteciam com os prtmos. as festas de Natal. os almoços
de domingo etc.

Há muitas maneiras possÍveis de persona)tzar o que a criança


usa da escola, evitando o tratamento massiflcado e estéril, desu-
manizador. A almofada da roda pode ser costurada em casa? com
os pais, pode-se organizar uma oflcrna de bordado ou de pintura
para que as famílias personalizem o nécessa,i,re da criança, por
exemplo. Tarjetas com o nome e a fotograf,a da criança identif,-
InteraÇões: ser proÍessor d,e bebês - cuid'a1; ed'ucar e brincaq unut úni'ca açõ'o
bo

cam seu lugar no cabideiro, na cadeira, no colchão, no saquinho Pr


de sua roupa de cama - mostram, de forma concreta, que cada
um tem seu espaÇo garantido.

Promover a competência
Fazparte do processo de construção da identidade sentir-se ca-
paz e competente? o que incide diretamente na autoestima. Gos-
to de mim mesmo quando sei que consigo reabzar alguma ação
específ,ca ou resolver um problema'

Promover a competência pensando no ambiente signiflca pla-


nejarsituaçõeseintervençõesespaciaisquepossamajudara
criança a resolver problemas por si mesmas, estimulando a con-
quistadaindependênciadoadult.oruInoàautonomia.

Favorecer que as crianças façam coisas por si só, sem a ügilância


constante do adulto, de forrna segura e prática, como pegar brin-
queclos em estantes baixas, recostar-se num cantinho aconchegan-
te quando quer descansar, a}carrçar Seu Copo de água quando tiver
para
sede, entrar e sair de uma cadeira especialmente preparada
isso, comer ulna fruta com as máos, promove o desenvolvimento
de competência e de con-f,ança básica em si mesmo' 5€

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FonÍe: CEI São Cesário/Liga Solidária - SP


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aÇão
" -ti'go/11'ZAÇdo dc.ts am,b'tentes pal.Cl ü
OS bebês
- a ar.Jzúr (Llen,to lr
67 OL
rNi

nho Promover oportunidades


rada de crescimento
As crianças de 0 a2 anosprecisam
de ambientes ricos, que favo-
reçam o uso de todos os cinco sentidos
e em difer"ú, pranos.
A criança fica muito próxima
ao chão, portanto é preciso pensar:
o que o chão pode sugenr a ela?
O chão pode ter intervençÕes
de diferentes texturas, por
exempI0, ou de diferentes
ca- emitir sons quando se movimenta cores, ou
os- sobre ele.
:ão Os móbiles flcam sempre
iá noalto ou podem ser puxados pe_
las crianças? o teto pode
sofrer variações ou precisa ser
iguai? Pode-se mo.ificar sua sempre
la-
altura, com painéis e panôs, pode_se
colocar guizos que.produzem
son§ qua*do balançam ao
a,
odores podem variar se o vento. os
ambientà uver móbites com
n- almofadas recheadas com ervas ou
especiarias, ou ainda umidiflcadores
de ar com essências antialérgicas.
1a
Além disso, o ambiente precisa
n- favorecer o movimento, que
nesta Íaixa etátia é o próprio pensamento
1- em ação, como veremos
em um próximo capíturo. Esses
)r tipos de intervrnç0", fur"*
que as crianças possam
desenvorver diferentes capaciaaJ"s. "o*
d

Sensação de segurança e de
confiança
o ambiente precisa sugerir desafios
motores possíveis de serem
vencidos pelas crianças, mas
organizados com conforto e
rança. Inicialmente os bebês segu-
talvez precisem de apoio, ajuda
incentivo para suas descobertas e
motoras, mas normarmente se
que é corocado no ambiente o
é atraente, segwo e interessante,
estimular por si só a criança vai
a experimentar usar as diferentes
partes do corpo erealtzar
diferentÀs movimentos.
As crianças precisam se apoiar
e f,car em pé sozinhas, um
caixote de madeira pode ser
este apoio, ou uma barra; elas po_
dem subir e descer escadas
baixas, entrar e sair de cubos
neis' escorregar numa rampa, entrar e tú-
em urn pneu recoberto de
espuma e tecido, percorrer
um circuito com rarnpas inclinadas,
pneus' tocos, escada deitada.
En-üm, o importante é oferecer
oportunidade de expl0rar o ambiente a
por meio de movimentos
diferenciados' As crianças precisam
engatirúrar, andar, correr, se
oõ InteraÇoes:serproJessord,ebebês_cu,Ld,alied'ucarebri,nco,r,utrm'ún,icact,çõ,o

pendurar, subir, descer, balançar, tentar Íazet, acertar? errar' ten-


pró-
tar de novo. Só desta maneira elas aprendem a Conhecer Seu
prio corpo, a controiá-1o e a saber seus limites e possibilidades.

Noambienteexterno'aspropostascorporaisfazemaindamais
sentido e podem ser realizadas com maior seguranÇa'

De

Fonte: CEI São Cesário/Liga Solidária - SP

oportunidades para contato pessoal e privacidade


se iembrarmos do que faiamos sobre únculo no capítulo 1, as
preci-
crianças precisam construir seus vínculos suavemente e
sam cle tempo pata Íazê-lo. A interação entre elas e os adultos
na escola ocorre por meio dos cuidados físicos, da brincadeira,
da imitação e do jogo simbólico. Ao entrar na escola, mesmo os
por
bebês vão conviver com muÍtas pessoas - adultos e crianças -
um longo perÍodo de temPo Por dia.
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_ú::;:
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*^n-!{f;
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rrnizaçã,o dos a.mbi,entes ú
para os bebês _ o olhar atento
69

Relacionar-se é muito bom, mas também pode ser estressan-


;;
*
H
te' Muito barulho, negociar brinquedos, corresponder ao outro,
- enf,m, interagir pressupõe muito contato. Desta forma, a
organi-
zaçã'o do espaço precisa contemplar que a criança possa
ter mo-
mentos de privacidade e isolar-se um pouco se assim o desejar.
um cantinho mais preservado, com colchonetes, almofadas, um
minibiombo podem favorecer este momento de intimidade consi_
go mesmo, de repouso.

Em outros momentos, talvez seja necessário reorganizar o es-


paço de forma que as crianças possam atuar em pequenos grupos
(duplas/trios) em tarefas especÍfrcas ou espontaneamente.
A um
adulto atento, as próprias crianças apontam esta necessidade,
mostram com quem gostam de estar, onde e demonstram pre_
ferir espaços deiimitados que não exigem a presença direta do
adulto, como nichos e cantos. embaixo de mesas, entre a parede
e o armário, ou seja, zonas espaciais que geram mais segur.ança
e,
consequentemente, mais independência.

Decoração-oque diz?
Quando pensamos em decorar algum espaÇo, o fazemos na pers-
pectiva de deixá{o mais atraente e agradável e de colocar no
ambiente objetos, tecidos e imagens que têm algum vínculo co-
nosco, com nossa história de úda. são objetos que gostamos de
olhar inúmerâs vezes. Porém, quando varnos decorar a sala onde
os bebês f,cam, precisamos aprender a olhar na perspectiva da
criança, ou se;a,ãô lúàiõo e do movimento, do po.to ãe üsta de
uma pessoa sensório-motora, que é a sua forma de pensar e agir
sobre o espaço.

Não podemos esquecer que o espaço ao longo do dia vai ter


funç Õ e s difer ent e s : gra*g pgla_Ulf q1r, g-13jp_e13_ç_o11gr, or a
é
9?*{A"dqfnüf: Sabemos que a maior parte de nossas escolas não
tem espaços separados para estas atividades. Existe uma flexi-
bilÍdade de mobiliário que permite esta conversão conforme a
necessidade: empilha-se mesas num canto e distribui-se os co1-
chonetes, a sala se transforma em quarto de dormir.
educar e bri'ncar' uma úni'ca rt'çã'o
70 Interações: ser professor ci'e bebês - cui'd'ar'

Fonte: Creche Prof'Carolina Fe

a sala de banho e troca


Apenas o espdço para os cuidados -
para garantir o pro-
- é separada, ou pelo menos deveria ser'
cessodehigienedeformaadequadaeindividua|lzada.Diante
espera-se diferentes
dessas funçÕes - comer, dormir, brincar -
que se
comportamentos das crianças, adequados ao contexto
perspectiva da crianÇa'
produz, porérn nem sempre lógicos na
na hora de brincar'
que pode brincar na hora de comer e dormir
por exemPlo.
ajuda-nos a pensar
Esta definição da funcionalidade do espaÇo
dos móveis e dos
na decoração, ou seja, na forma de distribuição
possíveis'
materiais disponíveis e os arranjos

Pensamos no espaÇo a partir de suas


dimensõe (FORNEIRO'
1998)
oD'ímensdoFungíonal-formadeutilizaçãodosespaÇos'
sua polivalência e o tipo de atividade que nele socorrem;

o revela as condi-
D'i,mensão Fí,si,ca - geralmente estática'
da sala' cores' objetos e sua dis-
ções estruturais: tamanho
Posição no ambiente;
1

*--
-:.: --=3
â--=-!-n.
â -_-:
$ 5.-_!

-:
Àú,:: : a
lÀIl-r
E- !

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d

Organd.zaçd,o clos antb,ientes para os bebês _ o olllclr atento


7l ffii4
a Di,mensd, Temporal -
condições climáticas cio local onde
a escola está inserida, se atende crianças
em período inte_
gral ou parcial, em quais momentos da rotÍna
se usam os
diferentes espaços da escola;
a Dtmensão Interctczono,l - o espaço como facilitador
d,
encontro entre as pessoas.

A estas quatro dimensões acrescentarÍamos a Dimensão


Esté-
tica, pois o próprio espâço tem a função de educar,
ao ser porta_
dor de ideias e varores- euais as ideias e valores que queremos
transmitir a partir da organização e da decoração?
A decoração pode propor urna formação estética consistente;
as paredes povoadas das histórias que se
constroem no cotÍdiano
deflnem marcas fundamentais da convivência do grupo,
mostram
o clima e o ambiente de trabalho e reverarn
a cultura em que esta-
mos inseridos - atuarmente uma culrura imagética
Íugaz,não sig-
nif,cativa. É fundamental que quem entra peia prime
iravezneste
ambiente, seja capaz de reconhecer o *clima,,
do ,ugar, aprender
sobre o que acontece ali, conhecer seus habitantes
e saber um
pouco da cultura institucional. Luz, móveis,
cores, onde sentar,
o que olhar, fazem parte da educação estética, entendida
como
educação dos sentidos, educação sensível.

como vimos, as paredes são testemurúro das histórias que


se
constroem no cotidiano, revelam quern habita o iugar.
Então, en-
quanto professores, podemos nos perguntar: que
o colocar nas
paredes? A maior parte das paredes deve
expor os trabarhos re-
alizados pelas crianças: deserúros, pinturas, colagens, poemas
declamados, histórias lidas; outra parte pode ser
destinada aos
dados orgarnzativos do cotidiano: rotina, rembretes,
avisos para
que as crianças vejam os adultos como usuários
da linguagem
escrita e percebam quais são os marcadores do cotidiano.
Nomes
para que eles identifiquem cabideiros, pastas,
nécessai,re.
Um relógio de parede, com certeza, pois controlar o
tempo
faz parte da organização do trabarho e as crianças usufruem
de
um artefato humano muito útil, atém dos carendários
de uso so-
cial' Fotos das crianças, do grxpo, das crianças em diferentes
72 Interações; ser professor de bebês c:uid,ar, ed,ucar e brincar, uma única açõ,o

momentos do dia, dos familiares, dos bichos de estimação, enf,m,


marcasl0 da história que a criança constrói nesse ambiente, assim
como marcas que evidenciam que há uma vida fora da creche que
também tem valor e faz parte da constituição cada um.

Uma parte da parede pode ser usada para aproximar as crianças


da cultura e para que eias possam ir percebendo do onde üeram,
qual sua herança cultural, ou conhecer novas culturas. Nas artes
visuais, por exemplo, reproduçÕes de quadros, gravuras, fotos, es-
culturas, que sejam signiflcatir.as para as crianças e que ao mesmo
tempo despertem sua currosrdacle. gerando boas conversas e pos-
sibilitando o estabelecimento cle relacÕes ou a fruição estética.

Vale lembrar que excessos não sào bem-vindos. Muita infor-


mação e nenhum canto para "descaltsar os olhos" podem acabar
desinteressando querrr passa. pois o olhar perde-se no meio de
tantas imagens e escritcs. l{á ,1r-re se tel bom-senso ao fazer as
escolhas do que colocal nas pat'edes.

Ao pensar nos materiais que colocaremos à disposição das


crianças, é recomendável se orientar por dois parâmetros:
. o que é significativo para criança;

. o que faz par[e do uso social, ou seja, o que faz parte de


práticas sociais, daquilo que as pessoas fazemnormalmen-
te fora da escola também.

:ê:= -r .i§

Fonte: Espaço bebê/Clube Hebraica

10
Mr-rral de Marcas - revista Avisalá n. 37, Íevereir"o de 2009 - (www. avisala.org.br)
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tganl,zaÇã,o d,os ambientes para os bebês _ o olhar (Ltento
-o i,, a
I r) i:

iii
8 H 6

Fonúe: Creche Santo Antonio/Liga Solidária

Alfabetos e retas numéricas não fazem nerürum


sentido para
as crianças de berçário; o desenho de argum
artista piástico,
como Miró ou Iberê camargo, um pôster
de diferentes raças de
cachorros tem aflnidade com os bebês. seus
nomes dentro
de uma centopeia desenhada pelo ad.lto
não são entendidas,
mas ao lado de sua foto ou bordado no
saquinho de sua roupa
de dormir, sim.

É importante considerar que, conforme a criança


vai cres-
cendo, o ambiente pode, deve e precisa mudar,
ou se3.a, os ele_
mentos que compõem o dia a dia dos ambientes
podem se modi-
ficar conforme as necessidades das crianças e
suas conquistas,
assim como por acontecimentos importantes que
contagiam o
dia a dia na creche, como o carnaval ou a festa jiinina.
A ver-
satilidade é um dos atributos essenciais do espaÇo
físico, que
num dia pode se transformar em urn deserto
ã* outro, em
oceano, em função dos elementos que o adulto ", disponibilizar
para a brincadeira!
74 Interações: ser proJessor d,e bebês - cu,id,a4 educar e bri,ncar; uma úni,ca ctçd"o

Fonte: Creche Prof" Diná Ferreira Cury Dias Batista/SME AplAÍ

lntegração com os cuidados e com a saúde


Devemos pensar também nos cuidados com a saúde. Os espa-
ços destinados às crianças pequenas precisam ser absolutamen-
te seguros do ponto de üsta de sua integridade. Eüdentemente
acidentes acontecem e as crianças podem se machucar, mas em
absoluto isto não pode ser causado por descuido ou negligência
com pisos, portas, janelas, escadas, quinas de móveis, estantes
soltas e má conservação dos brinquedos.

Os espaços, materiais e brinquedos precisam ser higienizados


conforme as normas da Vigilância Sanitária e os produtos de 1im-
peza devem estar fora do alcance das crianças, assim como os
medicamentos.
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wni,zaçdo d,os ambi,entes para os bebês _ o olhar 1:!


:
atento
75 ,I#-, Ê

os espaços também precisam ser pensados de modo ,t rHi


a favore-
cer o bem estar das pessoas que o frequentam,
seja do ponto cle
vista térmico, de insotação e ventilação, evitando
umidade, mofo,
cheiros que causam probremas respiratórios graves.
seja do pon-
to de vista da luminosrdade. garantindo que as criançás possam
ficar ao ar livre a maio. patte c1o dia ou, quando
na sala, com luz
natural.

O acesso ao banheiro deve favorecer o banho


e troca , sempre
que for necessário. É recomendável que
a c nanÇa seja trocada
à medida da necessi c1ade. erjtando longos momentos
de espera
A troca exige cúda dos especíÊcos e intimidade, é um
momento
especial em que a r: I'lã I .l:',-q 5s1 tratada com individualida_
de. |,la sala de bat-iho e-se er.itar qualquer elemento,
inclusive decoratir-rrs r-, Iinhos. que desviem a atencão
da atividade principal râr-Lrrâ paltrcrpar ativamente clo
cuidado com seu corpo e estabele :er r{nculos
com seu professor,
olhando-o diretamente nos olhos. enquanto ele
conversa com ela
sobre o que está fazendo, em qu< : partes do corpo
do bebê está
tocando ou brincando.
/t) Interações: ser proJessor d,e bebês - cu'i'dar, educar e brxncl,r, uma ún'ica o'çã,o

Fonte: Escultura de Francisco Brenan/SESC Pinhe

Um quintal
Um quintal é um mundo de descobertas e de possibilidades que não
deveria flcar fora da vida das crianças como tem f,cado. Um quintal
pode ser um local mágico, de aventuras, de espontaneidade.

Sair signif,ca oihar a vida, sair do espaço protegido de si mesmo


e ir em busca do contato com o outro. Sair signif,ca diversif,car
as aprendizagens, aprender a conhecer os objetos da natureza:
pedras, paus, folhas, flores, ágtn, areia, bichinhos de jardim, um
campo de investigação. Ciaro que é preciso tomar cuidado com
o que a criança põe na boca, com a sujidade, tamanho do ob-
jeto, porém é preciso olhar estes atrativos como possibilidades
de descobertas e não como obstáculos. Só em contato com es-
tes elementos é que as crianças poderão aprender, por meio da
orientação de um adulto, que brincar com um tatu-boia não tem
problema, mas com uma taturana sim, pois ela queima.

Conversando com as berçaristas de uma creche com um amplo


espaÇo externo, muito verde, gramado, com um pouco de mato, é
verdade, perguntamos quando e quantas vezes as crianças saiam
para brincar fora da sala. Ouvimos como reposta: nunca! E as
justiflcativas eram inúmeras: "está sempre sujo", "tem muito sol",
"tem muita pedrinha", "tem cobra", "é úmido", "é grande demais"
t.Ção
Organi,zaçã,o d,os ambi,entes para
os bebês _ o olhcLr atento ú
TT
;
etc' Na verdade, nenhuma das razões #4r
era um problema sem so-
iução' Eram questões de manutenção,
administração e, craro, de
concepção - simplesmente era
inimagináver para áqueras profes_
soras flcarem lá fora com 0s bebês.
por outro lado, é no
espaço externo que os sentidos
são mais
requisitados: há iuminosidades
diferentes, odores diferentes, ven-
to que move os objetos, que afeta
o .o.po, pássaros, aüões, cami_
nhões que passarn, cachorros que
latem. Este contato direto corn
o meio ambiente promove sensações
relacionadas à üda cotidiana
e que são dificilmente reproduzíveis
em ambientes Íêchados.

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Fonte: Creche proF Neide dos


Santos Lisboa Fischer/SÀ1E AptAÍ

o quintal podeser pianejado cuidadosamente, pode


ser arru-
mado de diferentes maneiras: urna
esteira e um lençoi, além de
protegerem os bebês, se transformam
em uma cabana; vasinhos
de plástico podem receber água;areia,
pedras e forhirüas podem
se transformar em comidinhas;
um caminho com corda pode ser
um obstáculo motor ou uma estrada,
ou seja, espaços externos
também podem ser flexíveis e receber
intervenções lúdicas que
os tornam instigantes e sempre
novos.
Mesmo dispondo de un-L ,qr-u
as cnanÇas também podem
participar do ambiente social l
orno. Espaços comunitários
78 Interações: ser proJessctr de bebês - cuidaq educar e brincat; uma úni,ca açõ,o

como praÇas, feiras livres, mercados, salÕes de cabeleireiro, of,ci-


nas mecânicas, padarias, são passeios que fazem sentido para as
crianças e promovem interações que são fundamentais; as ajudam
a conhecer a vida social da comunidacle a que pertencem, além de \
fornecer matéria prima para a imitação e o jogo simbólico.

Quando as crianÇas dominail o ambiente em que vivem e sào


capazes de fazer coisas por si mesnlàs. sem solicitar a assistência
constante do adulto, com seguranca e conf,anÇa na exploração
do ambiente e dos objetos que o con-ipÕem; quando se sentem en-
corajadas a transpor os desaf,os irLer"entes; e quando, por meio da
convivência com seus pa1'es e com adultos acolhedores, podem
construir valores de coiabor"aqào e sohclanedade, então, a creche
se torna um iugar de bebês.

Referências bibl iográficas


BRASIL. Parâmetros básicos de infra-estrutura para ins-
tituições de educação infantil. Brasília: Ministério da Educa-
ção, Secretaria de E .Lricaçào Básica, 2006.

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