Você está na página 1de 10

-

.,.
::.-
-~ [Rir ... .
l'"'i r· •. ·· 11• i
'-·i'f' )i r-~t \· / i/~\ ív. ~-
i_:

, • , ,.) ..J 1) 1 i , ) r
1
1o ( 1 ' ' •.,
l
·
flt
·,
r
?
""\
::::i
Nos dez textos que compõem este livro, :,
-l==
o renomado historiador Eric Hobsbawm,
a utor do clássico Era dos extremos. analisa :ed
a s ituação mundial no início do novo milênio
e trata dos problemas mais agudos que nos
confrontam. Nesta esclarecedora aula de _ -~, IDIUl 1J l &r., 1 ,31 1-..,•.-.1 1 11, ■ -,,I UUl'f~.•
história contemporânea, Hobsbawm traça
um painel do cenário político internacional
ao discorrer sobre temas como guerra e paz,
... --
.:,
-e!'
·/1
. -~J· •

',·,
f, .
- ./ i#. . , '-'
.....
"\.'t'\P I'
•~-~
·-.,.::-:,.
~ '·.- ~
.J ,-.. ~ ~ ·"!~!

. . '
imperia lismo, nacionalismo e hegemonia , ~
...
,._, ~\_;--~. ~)-, ,. <.:Jitllm lllfl IHHIUHIIIIIIIHJA;
\ ,_ ., f 1 ·,

ordem pública e terrorismo, mercado e ~ l" .- ~. ', , , _,;.


.• i' \'i \ , :
-~
~ •.! \1 il .
democracia . o poder da mídia e até futebol.
.:
-o ma is importante historiador ~
- \:
. 1 ••

I; - -
a inda em atuação:· - Sylvia Colombo, .J
~
' ~-

Folha de S.Paulo -~
/1 '' :. 1
I '' . ., ~... ':-...A
.•. _,
~ ~
.,
. , ... - .

f·''
.J
_ => · j 1: -~ \\ "~~~ ~, ·l \rr, P- ,, · ,
-com grande lucidez e a co ncisão que lhe %
..., ,, l-". "'S~·..~~
'-Li ~. !U''Jr/·
,- ..- -,!·-~>!· U·-.
~ ~-!IIJ .'\...,,;,.' \ t
é natural. Hobsbawm esboca o rc,,o cenário :::. (~

~ /-
CIO 1 \ •
....~ .....\ ~ > f" . ' . ~ , _,
P,

... -~· - .. .,_ ~ " '"'°


do século XXI." - The GLara:an :, :..~=-:.~ . . . .. _..,_. ,: , ~: t¼í ~ , .
(!'~~- -~.: ·:~ (.
- - - i..,... . .
.} :#
~
1• -
~
•• :• -
·
• •, ~-

,~ ;,
t
a z •~~',.. •••
~ l , . . . , .. •·\ _ : ~ ',
4, ~,.. .... -
-~~
....,., / ' ,... , :-;. •; • • . -....;é-_... •·,;-'-- ~ ._ . -
,.., -~ ... ,,.1 .. -.· # ·:.,.,. ..... ~
-Globalização, derrccrac.a e :er,:,·,sn~c dá
uma boa idé ia de·. g:, = J-3 s.:i,,iê:::i ccrn que
.::.
- ....::::!!~-
. ,- . 5 1!!11
::::~---
~ '
_,.
..,....,.-·
= - -r.- ti!... . .. ' ~
_ _r~

-
..... -

este ... t~ ··r• . ;:,·


gra nde l· llt',"=-'-V r•::;, m•·ndo
:=-:·
~
r•,IC,-•
_ .... ~-·•-::;~:!u'J,tu l

,:,
_.
{ç~~te mporái,ec · - 5..,,·da:, T2!egraph
-~ GLOBALIZA(:AO, DEMOCRACIA
ETERRORISMO
-
ISBN 978-85·359-1130-5

llii ~ 11liil1111111111
9 7885 35 911305
dos extremos). As transformações tecnológicas e produ tivas são
2. Guerra, paz e hegemonia no início óbvias. Basta pensar na velocidade da revolução das comunica-
do século XXI ções, que virtualmente aboliu o tempo e a distância. Em 2004 , a
internet mal completou dez anos. Também assinalei quatro aspec-
tos sociais desse processo, que são relevantes para O futuro das
nações. Refiro-me ao forte declínio do campesinato, que até 0
século XIX formava a grande base da raça humana e O alicerce da
economia; à correspondente ascensão de uma sociedade predomi-
nantemente urbana e sobretudo ao aparecimento das hipercida-
des, cuja população se mede em oito cifras; à substituição de um
mundo de comunicação oral por um mundo baseado na leitura e
na escrita universais, à mão ou à máquina; e, finalmente, à trans-
formação da situação das mulheres.
O declínio do número de pessoas que trabalham no setor
O tema é a guerra, a paz e a hegemonia, mas considerarei os agrícola da humanidade é óbvio no mundo desenvolvido. Hoje.ele
problemas atuais na perspectiva do passado, como é a prática entre representa 4% da população ocupada nos países da OCDE (Organi-
os historiadores. Não podemos falar sobre o futuro político do zação para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico) e 2ºo
mundo, a menos que tenhamos em mente que estamos vivendo um nos Estados Unidos. Mas isso também se faz notar em outras
período em que a história, ou seja, o processo de mudanças na vida regiões. Em meados da década de 1960, ainda havia cinco países
e na sociedade humana e o impacto que os homens impõem ao europeus com mais da metade da população ocupada nessa área,
meio ambiente global, está se acelerando a um ritmo estonteante. onze nas Américas, dezoito na Ásia e, com três exceções (Líbia,
Neste momento, ela está evoluindo a uma velocidade que põe em Tunísia e África do Sul), toda a África.A situação de hoje é inteira-
risco o futuro da raça humana e do meio ambiente natural. mente diferente. Praticamente já não existe nenhum país com
Quando caiu o muro de Berlim, um americano incauto anunciou mais de 50% de agricultores na Europa, nas Américas e inclusive
o fim da história. Evito, portanto, usar uma expressão tão dara- no mundo islâmico-até no Paquistão o número caiu para menos
mente desacreditada. Não obstante, no meio do século passado de 50% e na Turquia a população camponesa caiu de três quartos
entramos subitamente em uma fase nova da história que acarretou para um terço do total. Mesmo as grandes fortalezas da agricultur:i
o fim da história como a conhecemos nos últimos 1Omil anos, isto camponesa do Sudeste Asiático foram tomadas em diversos luga-
é, desde a invenção da agricultura sedentária. Não sabemos para res - na Indonésia, caíram de 67% para 44%, nas Filipinas, de
onde estamos indo. 53% para 3 7%, na Tailândia, de 82% para 46%, na Malásia, de S1Go
Tentei esboçar os contornos dessa quebra dramática e súbita para 18%. Em 2006, até a China, cuja população tinha 85% de
na história do mundo no meu livro sobre o "breve século xx" ( Era camponeses em 1950, tem hoje cerca de 50% nesse setor. Com

}6 .,::-
...
outras conseqüê ncias dessa evolução, ela altera fortemen te- e de
efeito, com exceção da maior parte da África subsaaria na, os úni-
maneiras difíceis de prever, em especial nos países em que os che-
cos bastiões sólidos que restam da sociedade rural - digamos,
fes de governo e os parlamen tos são eleitos- o equilíbrio político
com mais de 60% da populaçã o ocupada em 2000 - estão nos
entre a populaçã o urbana, altamente concentra da, e a população
antigos impérios britânico e francês no Sul da Ásia - Índia, Ban-
rural, geografic amente dispersa.
gladesh, Mianmar e os países da Indochina . Mas, em vista da ace-
Falarei pouco sobre a transform ação educacional, uma vez
leração da industrial ização, por quanto tempo mais? No final da
que os efeitos sociais e culturais da alfabetização generalizada não
década de 1960, a populaçã o agrícola de Taiwan e da Coréia do Sul
podem ser facilment e separados dos efeitos sociais e culturais da
era a metade da populaçã o total; hoje ela represent a 8% e 10%, res-
revolução súbita e totalmen te sem precedent es nos meios de
pectivame nte. Dentro de poucas décadas, teremos deixado de ser
comunica ção públicos e pessoais, da qual estamos todos partici-
o que a humanid ade sempre foi desde seu surgimen to - uma
pando. Quero mencion ar apenas um fato significativo. Há hoje
espécie cujos membros se dedicam sobretudo à coleta, à caça e à
produção de alimentos . vinte países em que mais de 55% dos grupos de idade mais avan-
Deixarem os também de ser uma espécie essencial mente çada continua m estudand o depois da educação secundária. Mas,
rural. Em 1900, apenas 16% da populaçã o mundial vivia em cida- com a única exceção da Coréia do Sul, todos estão na Europa ( tra-
des. Em 1950, esse número já havia crescido para quase 26%, e hoje dicionalm ente capitalist a e ex-sociali sta), América do Norte e
ele está próximo da metade ( 48%). ' Nos países desenvolvidos e em Oceania. No que diz respeito à capacidad e de gerar capital huma-
muitas outras regiões do globo, as zonas rurais, mesmo nas áreas no, o velho mundo desenvolv ido ainda mantém uma vantagem
agrícolas produtiva s, são desertos verdes, em que praticame nte substanci al sobre os principai s países emergente s do século XXJ.
não se vêem seres humanos fora dos seus veículos ou de pequenos Com que velocidad e a Ásia, e particular mente a China e a fndia,
ajuntame ntos populacio nais. Mas a extrapola ção aqui se torna poderão aproxima r-se dele?
mais dificil. :f: verdade que os velhos países desenvolvidos são for- Não quero dizer nada aqui sobre a maior de todas as mudan-
temente urbanizad os, mas eles já não tipificam a urbanizaç ão ças sociais do último século, a emancipa ção da mulher, exceto
atual, que toma a forma de uma fuga desespera da do interior em quanto a uma única observaçã o que suplemen ta o que acabo de
direção ao que chamamo s bipercida des. O que está acontecen do dizer. A emancipa ção das mulheres encontra seu melhor indicador
com as cidades no mundo desenvolv ido - mesmo aquelas que no grau em que elas alcançara m, ou mesmo ultrapassaram, a edu-
crescem nominalm ente - é a suburban ização de áreas cada vez cação dos homens. Não é necessário frisar, aqui na fndia, que há cer-
maiores no entorno dos centros originais. Hoje, apenas dez das tas partes do mundo que ainda estão atrasadas a esse respeito.
cinqüenta maiores cidades e apenas duas das dezoito cidades com
mais de l Omilhões de habitante s estão na Europa ou na América
do Norte. As cidades com mais de I milhão de habitante s que mais Dentro desta nossa perspecti va ampla das transform ações
crescem estão (coma única exceção do Porto, em Portugal) na Ásia inéditas que ocorrera m nestes últimos cinqüenta anos, vamos
(vinte),na Á.frica (seis) e na América Latina (cinco). Sem falar nas enfocar com maior detalhe os fatores que afetam a guerra, a paz e

39
38
o poder no começo do século XXI. Aqui, as tendências gerais não do país com base em uma capacidade cada vez maior de reunir
valem necessariamente como orientação para o exame das realida- informações. O âmbito de suas atividades e seu impacto sobre a
des práticas. É evidente, por exemplo, que no transcurso do século vida diária dos cidadãos cresceu, assim como sua capacidade de
xx a população mundial (fora das Américas) deixou de ser gover- mobilizar os habitantes em função da lealdade destes ao Estado e à
nada, como quase toda ela o era, de cima para baixo, por monarcas nação. Essa fase do desenvolvimento do Estado alcançou O auge
hereditários ou por agentes de potências estrangeiras. Ela agora cerca de quarenta anos atrás.
vive em uma série de Estados tecnicamente independentes, cujos Pense, por um lado, no sistema de "bem-estar social" da
governos reivindicam sua legitimidade fazendo referência ao Europa ocidental da década de 1970, no qual o "consumo público"
"povo" ou à "nação': na maioria dos casos (o que inclui até os cha- _ ou seja, a proporção do produto interno bruto usada para pro-
mados regimes totalitários), e buscam confirmá-la por meio de pósitos públicos e não para consumo ou investimento privados-
eleições ou plebiscitos, reais ou espúrios, ou através de grandes chegava basicamente a 20% ou 30%. Pense, por outro lado, na dis-
cerimônias públicas realizadas periodicamente para simbolizar o posição dos cidadãos não apenas para deixar que as autoridades
vínculoentreaautoridadee"opovo':Deumamaneiraoudeoutra, públicas lhes cobrassem impostos que permitiam a arrecadação
o povo deixou de ser composto por súditos, que se transformaram dessas somas enormes, mas também para deixar-se recrutar aos
em cidadãos e que passaram a incluir no século xx não só os milhões para lutar e morrer"pelo país': durante as grandes guerras
homens, mas também as mulheres. Até que ponto, contudo, isso do último século. Por mais de duzentos anos, até a década de 1970,
nos dá uma idéia da realidade, mesmo hoje, quando a maior parte a ascensão do Estado moderno deu-se de forma contínua e inde-
dos governos ostenta, tecnicamente falando, variados tipos de pendentemente da ideologia e da organização política - liberal,
Constituições liberal-democráticas, com eleições plurais, embora socialdemocrata, comunista ou fascista.
algumas vezes suspensas por períodos de governos militares, que Isso já não acontece. A tendência se reverteu. Temos uma eco-
se proclamam temporários mas muitas vezes duram longo tempo? nomia mundial em rápida globalização, baseada em empresas pri-
Não muito. vadas transnacionais que se esforçam ao máximo para viver fora
Não obstante, existe uma tendência geral que se observa pro- do alcance das leis e dos impostos do Estado, o que limita forte-
vavelmente em quase todo o planeta. Trata-se da mudança da posi- mente a capacidade dos governos, mesmo os mais poderosos, de
ção do próprio Estado territorial independente, que, no trans- controlar as economias nacionais. Com efeito, graças à prevalên-
curso do século xx, tornou-se a unidade política e institucional cia da teologia do mercado livre, os Estados estão, na verdade,
básica na qual viviam os seres humanos. Em seu berço original, na abandonando muitas das suas atividades diretas tradicionais -
região do Atlântico Norte, ele se baseava em várias inovações que serviços postais, polícia, prisões e mesmo setores importantes das
se implantaram a partir da Revolução Francesa. Tinha o monopó- Forças Armadas- em favor de empresas privadas com fins lucra-
lio do poder e dos meios de coerção - armas, homens armados e .
hvos. Estima-se que atualmente 30 mil ou mats · desses "co nrrata-
prisões - e exercia controle crescente, por meio de uma autori- dos privados" armados estejam atuando no Iraque.: Graçasª esse
dade central e de seus agentes, sobre o que acontecia no território desenvolvimento e à inundação do planeta com armas leves m.is

40 41
imbuída do respeito à lei, exceto nos casos de criminosos e outros
altamente efetivas durante a Guerra Fria, a força armada já não é um
marginais que sempre existem nos desvãos da sociedade. A proli-
monopól io dos Estados e de seus agentes. Mesmo Estados fortes e
feração extraordi nária de meios tecnológicos, e outros, de manter
estáveis, como a Grã-Breta nha, a Espanha e a fndia, aprendera m a
os cidadãos sob vigilância o tempo todo (com câmeras em locais
conviver por longos períodos com organizaç ões de dissidente s
públicos, escuta telefônica , acesso a dados pessoais e a computado-
armados efetivame nte indestrutí veis e por vezes portadore s de
res etc.) não aumentou a efetividade do Estado e da lei, mas tornou
ameaças diretas ao próprio Estado. Testemun hamos a rápida
os cidadãos menos livres.
desintegr ação, por diversas razões, de numeroso s Estados-m em-
Tudo isso está ocorrend o na era de uma globalização drama-
bros das Nações Unidas, na maior parte dos casos, mas não na tota-
ticamente acelerada , que gera crescentes disparidades regionais no
lidade deles, produtos da desintegr ação dos impérios do século xx,
nosso planeta. A globalizaç ão produz, pela sua própria natureza,
nos quais os governos nominais são incapazes de exercer controle
crescimen tos desequilib rados e assimétricos. Isso também põe em
real sobre boa parte do território, da população e até de suas pró-
prias instituiçõ es. destaque a contradiç ão entre os aspectos da vida contemporânea
que estão sujeitos à globalizaç ão e às pressões da padronização glo-
Impressio na muito, também, o declínio da aceitação da legi-
bal - a ciência, a tecnologi a, a economia , várias infra-estruturas
timidade do Estado e da aceitação voluntári a de obrigaçõe s
técnicas e, em menor medida, as instituições culturais - e os que
perante as autoridad es governam entais por parte dos habitantes ,
seja corno cidadãos, seja como súditos. Se não houvesse, por parte não estão sujeitos a ela, principalm ente o Estado e a política.A glo-
de vastas populaçõ es e durante a maior parte do tempo, essa dispo- balização leva logicamen te, por exemplo, a um fluxo crescente de
sição de aceitar como legítimo qualquer poder estatal efetiva- trabalhad ores migrante s das áreas pobres para as ricas, mas isso
mente estabeleci do - mesmo o poder de um pequeno grupo de produz tensões políticas e sociais em diversos países afetados,
estrangei ros - , a era do imperiali smo dos séculos XIX e xx teria sobretudo entre os países ricos da velha região do Atlântico Norte,
sido impossíve l. As potências estrangeir as tiveram dificuldad es ainda que, em termos globais, esse movimen to seja modesto:
graves apenas nas raras áreas em que tal disposição não estava pre- mesmo hoje, apenas 3% da população mundial vive fora do país de
sente, como o Afeganist ão e o Curdistão . Mas, como o Iraque nascimen to. Ao contrário do que acontece com as movimentações
demonstr a, a obediênc ia natural das pessoas diante do poder, do capital, das trocas comerciai s e das comunicações, os Estados e
mesmo um poder com superiorid ade militar incontrast ável, desa- a política têm logrado, até aqui, impor obstáculo s eficazes às
pareceu, e com ela também os impérios. E não é só a obediênci a dos migrações dos trabalhad ores.
súditos que está erodindo rapidame nte, mas também a dos cida- O desequilíb rio novo e mais notável que a globalização eco-
dãos. Duvido muito que qualquer país possa hoje empreend er nômica criou, além da enorme desindustrialização da economia
gran des guerras com exércitos recrutado s prontos para lutar e soviética e das economia s socialistas da Europa oriental na década
morrer sem vacilação "pelo país': Poucos países do Ocidente ainda de 1990, é a progressiv a mudança do centro de grm;dade da ~ -o-
podem confiar, como a maior parte dos chamados "países desen- nomia mundial das regiões lindeiras do Atlântico :l\iorte r:ITJ re-
1 volvidos" antes podia fazê-lo, em uma população que era ordeira e giões da Ásia. Isso ainda está em seus estágios iniciais. mas \-em 5c
·Ü
-42
...
acelerando. Não há dúvida de que o crescimento da economia . a dimensão militardes
venções estrangeiras. Embora · ses confl'1tos
mundial nos últimos dez anos foi puxado em grande medida pelos seJ· a pequena, quando avaliada nos termos do século XX , e1es cau-
dínamos asiáticos e, acima de tudo, pela extraordinária taxa de cres- sam um impacto relativamente enorme e duradou ro so bre a
cimento da produção industrial da China - 30% em 2003, em população civil, que é, cada vez mais, sua maior vítima. Desde a
comparação com 3% para o mundo como um todo e 0,5% para a queda do muro de Berlim, voltamos a viver em uma era de genocí-
América do Norte e Alemanha.* t claro que isso ainda não modifi- dio e de transferências compulsórias e maciças de populaç-oes,
cou de maneira mais profunda os pesos relativos da Ásia e do velho como as que ocorreram em regiões da África, do Sudeste da
Atlântico Norte - os Estados Unidos, a União Européia e o Japão Europa e da Ásia. Estima-se que ao final de 2003 havia cerca de 38
continuam a representar entre si 70% do produto mundial-, mas milhões de refugiados, dentro e fora de seus próprios países, cifra
o simples tamanho da Ásia já está se fazendo sentir. Em termos de que é comparável ao vasto número de pessoas deslocadas ao final
poder de compra, o Sul, o Sudeste e o Leste da Ásia já representam da Segunda Guerra Mundial. Uma ilustração simples: em 2000, 0
um mercado que é dois terços maior do que o dos Estados Unidos. número de mortes relacionadas com a guerra em Mianmar não
Como essa mudança global afetará a força relativa da economia estava acima de quinhentos, mas o número de "deslocados inter-
americana é, naturalmente, uma questão vital para as perspectivas namente': sobretudo devido às atividades do Exército de Mianmar,
internacionais do século XXJ. Retornarei a este ponto mais adiante. era de cerca de 1 milhão: A Guerra do Iraque confirma essa carac-
terística: guerras menores, nos padrões do século xx, provocam
vastas catástrofes.
Aproximemo-nos ainda mais do problema da guerra, da paz A forma típica de guerra do século xx, a guerra entre países,
e da possibilidade de uma ordem internacional no novo século. A está em forte decünio. Neste momento, nenhum desses conflitos
primeira vista, pareceria que as perspectivas de paz mundial tradicionais está ocorrendo, embora eles não possam ser excluídos
devem ser superiores às do século xx, com seu registro sem parale- em diversos cenários da África e da Ásia, ou onde a estabilidade
los de guerras mundiais e outras formas de morte em escala astro- interna ou a coesão dos países existentes esteja em risco. Por outro
nômica. Contudo, uma pesquisa recente na Grã-Bretanha, que lado, o perigo de uma grande guerra global, provavelmente decor-
compara as respostas dadas em 2004 a perguntas formuladas ini- rente da falta de vontade dos Estados Unidos de aceitar o surgi-
cialmente em 1954, revela que o medo de uma guerra mundial hoje mento da China como superpotência rival, não diminuiu, embora
é maior do que era então.' Esse medo se deve, em grande parte, ao não seja imediato. As possibilidades de evitar tal conflito são
fato cada vez mais evidente de que vivemos em uma era de confli- melhores do que as de evitar a Segunda Guerra Mundial depois de
tos armados endêmicos de extensão mundial, que em geral se tra- 1929. Não obstante, essa guerra permanece como uma possibili-
vam no interior dos países, mas que são magnificados por inter- dade real dentro das próximas décadas.
Mesmo sem as guerras tradicionais entre países, pequenas ou
. amque o
• Austnllia, França, Itália, Reino Unido e Benelux tiveram crescimento negativo grandes, atualmente poucos observadores real1stas esper
(CIA World Factbook até 19 de outubro de 2004 ).
novo século nos traga um mundo sem a presença conS tante de

-44 45

....
armas e violência. No entanto, devemos resistir à retórica do medo humanas. Será possível colocar essas tendências novamente sob
irracional com a qual governos como os do presidente Bush e do algum tipo de controle global, como aconteceu, salvo por um
primeiro-ministro Blair buscam justificar uma política imperial período de trinta anos, durante os 175 anos que transcorreram
para o mundo. Exceto como metáfora, não pode haver algo como entre Waterloo e o colapso da União Soviética?
a "guerra contra o terror': ou o "terrorismo~ mas apenas contra o problema é hoje mais difícil por duas razões. Primeiro, as
atores políticos particulares que o empregam como tática, não desigualdades geradas pela globalização descontrolada dos merca-
como programa. Como tática, o terror é indiscriminado e moral- dos livres, que crescem muito rápido, são incubadoras naturais de
mente inaceitável, quer seja usado por países, quer por grupos não descontentame ntos e instabilidades. Recentemente observou-se
oficiais. A Cruz Vermelha Internacional reconhece a maré mon- que "não se pode esperar que nem mesmo as instituições militares
tante da barbárie ao condenar ambos os lados na Guerra do Ira- mais avançadas sejam capazes de superar uma situação de colapso
que. Há também muito medo de que pequenos grupos terroristas geral da ordem jurídica':se a crise dos Estados a que me referi torna
possam empregar agentes biológicos letais; mas, infelizmente, há essa possibilidade mais plausível do que no passado. E, segundo,já
m uito menos medo com relação aos perigos maiores e imprevisí- não existe um sistema internacional plural de grandes potências
veis que surgirão se e quando a nova e crescente capacidade cientí- corno o que logrou evitar que um colapso geral se transformasse
fica de m an ipular os processos vitais, inclusive a vida humana, em guerra mundial, exceto na era das catástrofes, de 1914 a 1945.
escapar ao controle, o que certamente ocorrerá. Contudo, são irri- Esse sistema baseava-se na presunção, que vem desde os tratados
sórios os perigos reais para a estabilidade do mundo, ou para qual- que encerraram a Guerra dos Trinta Anos, no século xvn, de um
quer pais estável, que decorrem das atividades das redes terroristas mundo constituído por Estados cujas relações se pautavam por
pan-islâmicas contra as quais os Estados Unidos proclamaram sua regras, especialmente a não-intervençã o nos assuntos internos de
guerra global, ou mesmo da soma de todos os movimentos terro- cada um, e em urna clara distinção entre guerra e paz. Nenhum
ristas q ue atuam hoje, qualquer que seja o lugar. Embora eles desses dois pontos mantém-se válido em nossos dias. Ele baseava-
matem m uito mais gente do que seus predecessores -mas muito se também na realidade de um mundo de poder plural, mesmo na
menos do que os Estados - , o risco de vida que causam é mínimo pequena "primeira divisão" dos países, o punhado de "grandes
do pon to de vista estatístico. E, do ponto de vista da agressão mili- potências" que se reduziu após 1945 a duas superpotências. Nin-
tar, eles praticamente não contam. A menos que esses grupos guém podia prevalecer de maneira absoluta, e mesmo as hege-
ganhassem acesso a armas nucleares - o que não é impensável, monias regionais ( com exceção de uma boa parte do continente
mas não chega a ser uma perspectiva imediata-, o terrorismo americano) mostravam-se apenas temporárias. O fim da União
pede cabeça fria, e não histeria. Soviética e a superioridade militar incontrastável dos Estados Uni-
dos puseram termo a esse sistema de poder. Por outro lado, a ação
política dos Estados Unidos a partir de 2002 levou à condenação
E, no entanto, a desordem mundial é real, assim como a pers- das obrigações contraídas em tratados e também das próprias con-
pectiva de outro século de conflitos armados e de calamidades venções que compunham a arquitetura do sistema internacional,

46 47

.
• 1
1 em função de uma suprema cia suposta mente duradou ra na
guerra ofensiva de alta tecnolog ia que fez desse pais o único capaz
Mas a verdade ira questão refere-se a saber se O projeto, sem
precede ntes históric os, de domina ção do mundo por um único
de empreen der ações militare s importa ntes e com rapidez em país é possível e se a superior idade militar admitidamente incon-
qualquer parte do mundo. trastáve l dos Estados Unidos é adequad a para estabelece-la e
Os ideólogos america nos e os que os apóiam vêem esses des- mantê-l a. A resposta em ambos os casos é não. Com frequencia
dobrame ntos como o início de urna nova era de paz mundial e de armas criam império s, mas é preciso mais do que armas para
crescimento econôm ico sob o comand o de um império america no mantê-l os, como diz o velho ditado do tempo de Napoleão: "Você
global e benevolente, que eles compar am, erronea mente, à pax bri- pode fazer qualque r coisa com baioneta s, menos sentar em cima
tannicado século XIX. Erronea mente porque, do ponto de vista his- delas". Especia lmente hoje, quando até uma força militar esmaga-
tórico, os império s não criam paz e estabilid ade no mundo à sua dora não consegu e produzi r por si só a aquiescencia tácita. Na ver-
volta, ao contrári o de seus próprios territóri os. Inversamente, era dade, a maioria dos império s da história governou indiretamente,
sobretud o a ausência de conflito s internac ionais de grande porte
0 por meio das elites nativas que muitas vezes operavam as institui-
que os mantinh a em existência, como acontec eu no caso do Impé- ções locais. Quando se perde a capacidade de conseguir amigos e
rio Britânic o. Quanto às boas intençõe s dos conquis tadores e às colabora dores suficien tes entre os súditos, as armas por si sós não
suas realizações positivas, isso pertence à esfera da retórica impe-
bastam. Os francese s aprende ram que nem mes mo 1 milhão de
rial. Os império s sempre se justifica m, e às vezes com grande sin- coloniza dores brancos , um exército de ocupaçã o de 800 milho-
ceridade, em termos morais - seja afirman do que promove m a mens e a derrota militar dos insurgentes, mediante o massacre e a
disseminação (na versão deles) da civilização ou da religião entre
tortura sistemát icas, não lograram manter a Argélia francesa.
os bárbaros , seja (na versão deles) da liberdad e entre as vítimas da Mas por que temos de fazer essas perguntas? Isso nos traz ao
opressão (alheia), ou como campeõ es dos direitos humano s. Cla- enigma com o qual quero concluir minha conferen cia. Por que os
ro que os império s alcançar am alguns resultad os positivos. A afir- Estados Unidos abandon aram as políticas que mantiveram uma
mação de que o imperia lismo levou idéias modern as a um mundo hegemo nia real sobre a maior parte do globo, ou seja, as partes não-
atrasado, que não tem validade hoje, não era inteiram ente espúria comunis tas e não-neu tralistas , depois de 1945? A capacidade ame-
no século XJX. Por outro lado, a afirmaç ão de que ele acelerou sig- ricana de exercer essa hegemon ia não estava baseada na destruição
nificativamente o crescim ento econôm ico dos clientes imperiais dos inimigos nem em forçar seus dependentes a alinhar-se devido à
não resiste à análise, pelo menos fora das áreas em que os próprios aplicaçã o da força militar. O uso desse instrumento estava então
europeus se estabeleceram no ultra.mar. Entre 1820 e 1950, o pro- limitado pelo medo do suicídio nuclear. O poder militar dos Estados
duto per capita médio de doze países da Europa ocidenta l multi- Unidos era relevante para a hegemonia apenas na medida em que
plicou-se por 4,5, enquant o na fndia e no Egito ele mal chegou a era preferível a outros poderes militare s-ou seja, na Guerra Fria,ª
crescer! Quanto à democra cia, todos sabemo s que os impérios for- Europa da OTAN ( Organização do Tratado do Atlântico Norte) dese-
tes ª mantêm em casa; só os império s em declínio a concederam, e java seu apoio contra o poderio militar da União Soviética.
na menor dose possível. A hegemo nia america na na segunda metade do século XX não

48 ~9
..
r se deveu às bombas, e sim à sua enorme riqueza e ao papel crucial digiosas. Os condutores da sua política imperial sempre haviam.
que sua gigantesca economia desempenhou no mundo, especial- .
tido O cuidado de cobrir a realidade da supremaci· a amencana
mente nas décadas posteriores a 1945. Além disso, do ponto de sobre seus aliados com o bálsamo de uma "coalizão consensual"
vista político, ela se deveu a um consenso geral dos países ricos do autêntica. Eles sabiam que, mesmo depois do fim da União Sovié-
Norte no sentido de que suas sociedades eram preferíveis às dos tica, os Estados Unidos não estavam sós no planeta. Mas também
regimes comunistas. E onde esse consenso não existia, como na sabiam que atuavam no jogo global com as cartas que eles mes-
América Latina, resuJtou de uma aliança com as elites governantes mos haviam distribuído, com regras que lhes eram favoráveis, e
e os exércitos locais, que temiam a revolução social. Do ponto de que não era provável o surgimento de nenhum país rival com
vista cultural, ela teve por base a atração exercida pela afluente força comparável e com interesses globais. A primeira Guerra do
sociedade de consumo, vivenciada e propagada pelos Estados Uni- Golfo, genuinamente apoiada pelas Nações Unidas e pela comu-
dos, que foram seus pioneiros, e pelas conquistas mundiais de nidade internacional, assim como a reação imediata ao Onze de
Hollywood. Do ponto de vista ideológico, o país sem dúvida se Setembro demonstravam a força da posição dos Estados Unidos
beneficiou da reputação de defensor exemplar da "liberdade" con- na era pós-soviética.
tra a "tirania", exceto nas regiões em que sua aliança com os inimi- Foi a política megalomaníaca dos Estados Unidos, a partir do
gos da liberdade era demasiado óbvia. Onze de Setembro, que destruiu quase por completo as bases polí-
Tudo isso poderia sobreviver facilmente ao fim da Guerra Fria ticas e ideológicas da sua influência hegemónica anterior e deixou
-como de fato ocorreu. Por que os demais não buscariam a lide- o país com poucos elementos, além de um poder militar franca-
rança da superpotência que representava o que a maioria dos mente atemorizante, que pudessem reforçar a herança da era da
outros países já adotava - a democracia eleitoral - e que era a Guerra Fria. Não há uma lógica para isso. Provavelmente pela pri-
maior de todas as potências econômicas comprometidas com a meira vez na sua história, os Estados Unidos se vêem pratica-
ideologia neoliberal que se impunha em todo o mundo? A mente isolados no cenário internacional e impopulares junto à
influência dos Estados Unidos e dos seus ideólogos e executivos maior parte dos governos e dos povos. A força militar dá relevo à
era imensa. Sua economia, embora perdesse pouco a pouco o vulnerabilidade econômica do país, cujo enorme déficit comer-
papeJ central que tinha no mundo e a dominância que exercia na cial é compensado pelos investidores asiáticos, que têm, no
indústria e mesmo no campo dos investimentos diretos, desde a entanto, interesse cada vez menor em apoiar um dólar enfraque-
década de 1980,• continuava a ser enorme e a gerar riquezas pro- cido. Dá relevo também ao poderio econômico relativo da União
Européia, do Japão, da Asia oriental e mesmo do bloco organizado
• Em 1980, a participação dos Estados Unidos correspondia a cerca de 40% dos de produtores primários do Terceiro Mundo. Na OMC ( Organiza-
mvestimentos estrangeiros diretos; entre J994 e 2005, alcançava a média de ape- ção Mundial do Comércio), os Estados Unidos já não podem
nas 14%, contra uma méd ia de 43% para a União Européia (UNCTAD- Confe-
r~nda das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, World Eco110111ic
negociar com os clientes. Com efeito, não será a própria retórica
Outlook !Genebra, 2006], ~Overview'; p. 19). agressiva, justificada por implausíveis "ameaças à América·: que

~ 50
51
indica um sentimento básico de insegurança com respeito ao do Ocidente, profundamen te abalados pelos problemas de direi-
futuro global do país? tos humanos em diversas partes do mundo, para que não se deixem
Francamente, não consigo entender como o que ocorreu a iludir pela crença de que a intervenção armada americana em
partir do Onze de Setembro nos Estados Unidos pôde permitir a outros países tem motivação igual à deles ou tem boas possibilida-
um grupo de alucinados políticos pôr em execução planos há des de produzir os resultados que eles desejariam ver. Espero que
muito acalentados de uma atuação unilateral em busca da supre- isso não seja necessário aqui em Nova Délhi. Quanto aos outros
macia mundial. Creio que isso indica uma crise crescente na socie- governos, o melhor que podem fazer é demonstrar o isolamento e,
dade americana, que encontra expressão na divisão política e cul- por conseguinte, os limites do atual poder mundial dos Estados
tural mais profunda ocorrida naquele país desde a guerra civil e Unidos, recusando-se , firme e polidamente, a somar-se a novas
numa aguda divisão geográfica entre a economia globalizada das iniciativas propostas por Washington que possam levar a ações
duas costas marítimas e o interior, vasto e ressentido; entre as gran- militares, particularme nte no Oriente Médio e na Ásia oriental.
des cidades, culturalmente abertas, e o resto. Hoje, um regime de Dar aos Estados Unidos a melhor chance de voltar da megaloma-
direita radical busca mobilizar os "verdadeiros americanos" con- nia para uma política externa racional é a tarefa mais imediata e
tra alguma força externa malévola e contra um mundo que não urgente da política internacional . Pois, queiramos ou não, eles
reconhece a singularidade , a superioridade e o destino manifesto continuarão a ser uma superpotência , na verdade uma potência
dos Estados Unidos. O que temos de compreender é que a política imperial, mesmo em uma era que indica seu evidente declínio eco-
global americana não é voltada para fora, e sim para dentro, por nômico relativo. Esperamos, contudo, que seja uma superpotên-
mais que seu impacto sobre o resto do mundo tenha sido grande e cia menos perigosa.
desastroso. Ela não foi concebida para produzir um império ou
uma hegemonia efetiva. Tampouco a doutrina de Donald Rums-
feld-guerras rápidas contra adversários fracos, seguidas por reti-
radas também rápidas - foi concebida para produzir uma con-
quista global efetiva. Isso não a faz menos perigosa. Ao contrário.
Como já ficou evidente, ela destila instabilidade, imprevisibilidade
e agressão e terá conseqüências não desejadas e quase certamente
desastrosas. Com efeito, o perigo de guerra mais óbvio que existe
hoje deriva das ambições globais do governo incontrolável e apa-
rentemente irracional que está em Washington.
Como haveremos de viver neste mundo perigoso, desequili-
brado e explosivo, em meio a grandes deslizamentos das placas tec-
tônicas nacionais e internacionais, sociais e políticas? Se estivésse-
mos conversando em Londres, eu alertaria os pensadores liberais

52 53

Você também pode gostar