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ORGANISMO
E SISTEMA EM KANT
ENSAIO SOBRE O SISTEMA KANTIANO
ORGANISMO
E SISTEMA EM KANT
ENSAIO SOBRE O SISTEMA KANTIANO
\
.OBRA PUBLICADA COM O PATROCÍNIO CIENTÍFICO
DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE FILOSOFIA
SBD-FFLCH-USP
EDITORIAL ~ 1 PRESENÇA
., •,
FICHA TÉCNICA:
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(1) Não será por acaso _que a se&unda parte da _K. V., a qual é
uma crítica do juízo teleol6g1co, se vai ocupar ess~ncialmente de uma
finalidade objectiva e material. Confro~~e-s~ especialmente o § 63 em
que se começa Jogo por dizer: «~ e~penenc1~ c~mduz a nos~a faculdade
de julgar ao conceito de uma fmahdade obJectiva e matenal...»
(2) É o que se passava já com Adicke~, por exemplo,. em KafJls
Systematik ais systembildender Faktor, Berhn, 1887, e, hoJe em dia,
com os já referidos G. Lehmann e W. Bartuschat.
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{ ) Um aut~r como Kun~ Fischer ref~re-se a uma fenda no sistema
ka!)tiano da razao p_u~a que e o que. pers!st~rá como algo a ser preen-
c?1do. <<Se..esta ~pos1çao permanecer_ 1med1~t1zada, então o sistema con-
tém um~ fend~ _ expost~, a q~al nao é simplesmente o sinal impresso
de uma !mperfe1çao ar9u1tectómc~ extraordinária mas que, ao contrár.io,
deve est.1mular a reflexao sobre a mterdependência, a unidade e a solidez
da total1dad~ do fundamento», Geschichte der neuern Philowphie Bd 5
Kant II, He1dclberg, 1957, p. 397. · ' · '
(') C~mo nota Lehmann.,. a pri~eira Crítica «deve "não obstante"
traçar o. esboço total des!~ c1enc1a, toda a planta interna" ou esboço
de, ~m sistema da m~taf1s1ca» (B XXIII), A estrutura sistemática da
Critica e.ncerra,. por isso, os momentos anti-sistemáticos do «método>>'
«o conceito de sistema da Crítica é dialéctico» (G. Lehmann «Vorausset~
zunge~ und Grenzen_ syste~atischer ~antinterpretation» in 'neitriige zur
Gescluchte und lnte, pretat1on der P/11losophie Kants, Berlin, 1969, p. 96.
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C) Ak. V, 193.
~) Gerhard Fun~e, Von der Aktualital Kants, Bonn, 1979:
.<) M~x Horkhe1me~, Ober Kants Kritik der Urtei/skraft ais Bin-
degllcd _zwrschen theoretrscher und praktischer Philoso.phie, Frankfurt
am Mam, 1925, p. 30.
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sável por _analo?ia ~om a fin~lida~e prática (1). Não é como esta
um conceito obJect!v.o, mas nao deixa de ser um princípio a priori
que se deverá adm1t1r para tornar pensável uma natureza carac-
terizada pela heterogeneidade das leis empíricas sem fim.
Preocupando-se em tornar claro o significado desta finalidade
d~ ~atureza, ~~nt i_51entifica-a muitas _ve~es, quer com um prin-
czpto da especzficaçao da natureza [Pnnz1p der Spezifikation der
Natur], quer com uma técnica da natureza [Technik der
Natur]. Por exemplo, ·na -primeira Introdução este último
conceito tem .um lugar preponderante: «a faculdade de julgar
dá-se a si mesma a priori a técnica da natureza para prin-
cípio da sua reflexão, sem contudo poder defini-la ou determi-
ná-la mais, ou sem possuir para isso um fundamento objectivo
de determinação dos conceitos universais da natureza (tirado do
conhecimento das coisas em si mesmas), mas sim unicamente
para poder reflectir segundo as suas próprias leis subjectivas,
segundo a sua necessidade, mas, contudo, de acordo simultanea-
mente com as leis da natureza em geral» (2). De notar que a
esfera em que se encontra essa técnica, conforme Kant adverte
inúmeras vezes, é a da subjectividade, e é .p or isso possuída pela
-própria .facuidade de julgar. Trata-se, como já vimos, dum prin-
cípio a priori da possibilidade da natureza «e poder-se-á também
chamar-lhe a lei da especificação da natureza relativamente às
suas leis empíricas» (3). É verdadeiramente uma lei prescrita a si
mesma e não à natureza, pelo que nunca poderá ser pensada
como algo representável objectivamente. Tornando ainda mais
impressivo de conceito de finalidade encontra-se, ainda no
mesmo texto, a formulação: «a representação da natureza como
arte é uma simples ideia que serve de princípio à investigação
que empreendemos a seu respeito, por conseguinte, unicamente
ao sujeito, a fim de introduzir no agregado das leis empiricas,
tomadas como tal, sempre que for possível, uma interdependên-
cia de ordem sistemática ( ... )» (").
Deixemos para posterior desenvolvimento o problema que se
colocará à volta do estatuto subjectivo dessa caracterização da
1
( ) Por exemplo na Introdução à K. V.: «Não se pode de alguma
forma atribuir aos produtos da natureza algo como uma relação da
natureza a fins, mas só usar este conceito para reflectir sobre a natu-
re~ a respeito da conexão dos f enó!11en~s nesta, a qual é ~a~a segundo
leis empíricas. Também este conceito e absolutamente d1stmt~ do da
finalidade prática (da arte humana ou mesmo dos costumes) ainda que
ele seja pensado segundo uma analogia com a mesma.» (Ak. V. 181.)
(2) Ak. XX, 214.
e) Ak. V, 186.
(•) Ak. XX, 205.
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TOTALIDADE E RAZÃO
NA CR1TICA DA RAZÃO PURA.
A REFIGURACÃO DO CONCEITO DE NATUREZA
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Digitlilizc:1do com Carn$c.;anner
passam todo o uso :P?ssível da experiência e que contudo pare-
cem tão pouco suspeitos que a razão humana co'mum [gemeine
Menschenvernunft] , ela própria, se encontra de acordo com
eles.» (1) I?este, modo se expõe a peculiar natureza da razão:
o seu destino e transcender e em certo sentido transcender-se,
pois ~stamos perante um acto em que a legalidade da razão
teor.ética é ~olo~ª?ª como «ultrapassada» por aqueles princípios
«cuJo uso é 1nev1tavel no curso da experiência». IÊ um facto que
é com eles que pode afastar-se para outros planos de condicio-
name~to dos fenómerios: a razão compreenderá por exemplo
o conJunto dos fenómenos segundo a suposição da permanência
da substância ou da causalidade ou da comunidade.
Concretamente, e talvez seja a boa interpretação desta pas-
sagem, a qual, logo no início da Crítica da Razão Pura, abre
toda ela para a problemática da Dialéctica Transcendental, esse
distanciamento face ao curso da experiência pode ter a forma
de uma verdadeira reflexão transcendental sobre os próprios
princípios que necessariamente incorporam a experiência. «Mas,
apercebendo-se de que, deste modo, a sua obra deve permanecer
para sempre incompleta», ou seja, dando-se conta de que o dis-
tanciamento operado, essa distância adquirida, não seria ela pró-
pria princípio de solução para os proliferantes problemas, resolve
então encontrar abrigo em princípios que ultrapassam a expe-
riência e todo o seu uso possível. 1B que, pelos vistos, no anterior
posicionamento, embora distanciada, a razão estava orientada
por princípios que, por sua vez, guardavam uma certa relação
com o curso da experiência. Agora, ela não só se distancia para
pontos afastados, mas ainda correlacionados com a experiência;
recorre ainda ao abrigo de certos princípios que ultrapassam
[überschreiten] qualquer uso da experiência. Mas, ao praticar
este salto ou esta elevação -por cima do curso da experiência,
a razão não deixa, por isso, de ficar com ideias, aquelas ideias
que aliás a impelem a não se conter no experienciável. Assim,
o que perdeu em segurança quanto à forma de determinação
do conhecimento de objectos, ganhará em amplitude de visão.
Com esta amplitude talvez cessassem as questões que uma
orientação constringentemente experiencial não controla na
sua proliferação. Mas, mais tarde, se confirmará que os critérios
utilizados pelos tradicionais combatentes do «campo de batalha
destes combates sem fim» que é a Metafísica, não servem para
resolver as questões que a razão, nesse estado de corte com a
experiência, coloca. O ponto de vista é mais amplo, sem dúvida,
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(1) Heimsoeth faz notar o sentido deste apenas, Kant quer realçar
a unidade incondicionada das condições objectivas no fenómeno e
apenas isso. «A limitação, diz Heimsoeth, serve neste lugar do texto
para delimitar imediatamente contra o terceiro tema da Dialéctica,
o qual se ocupa de algo completamente diferente do "mundo": da ideia
de uma totalidade de todas as condições de possibilidade de "objectos
em geral".» (H. Heimsoeth, Transzendentale Dialektik, Bd. 2, Berlin,
1967, p. 202).
f) Ak. III, 282 (A 407 /B 434).
(3) Interessa-nos precisamente o problema daquela totalidade colo-
cada pela razão que Kant designou por cosmológica. Tal como este diz
no § 50 dos Prolegomena: <<Chamo por isso a esta ideia, cosmológica,
porque toma sempre o seu objecto somente n~ fl!Undo _sensível, e ta~-
bém porque não necessita de ryenhuma çmtra ideia se~ao daquela CUJO
objecto [Gegenstand] é um obJe~to [Ob1~kt] dos se~t1d_os.»
(◄) Há que fazer uma precisão: <? sistema d~s !deias transce!lden-
tais é, por si, mais amplo _do que o. sistema das. ideias <!_Ue cons~1tu<?m
a antinomia da razão propriamente dita. Na terceua Secçao do Pr!meuo
Livro da Dialéctica Transcendent_al, Kant ~sclarec-7 que esse sistema
amplo das ideias da razão «se de1x~ cond~~1r a tres cla~~s de que ~
primeira contém a unidade absoluta S1!1cond1c1ona_d~) do sufe1to pensan!e,
a segunda, a unidade absoluta da serie das con1ztoes [Re1he der ~edm-
gungen]; a terceira, a unidade absoluta da cond1çao de todos os ob1ect<?_S
do pensamento em geral»_. (Ak. 1111 258, B. . 391 / A 334t Essas tres
classes de ideias são deduzidas das tres categorias da relaçao.
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..
(1) Heinz Heimsoeth, <<Zur Herkunft und Entwicklung von Kants
Kategorientafet», Kant-Studie, Bd. 54, 1963, pp.. 385-386.
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1
, • C~mo Kant refere no capítulo sobre o esquematismo da Ana-
( )
~tica: «A imagem pura de todas as grandezas (quantorum) ante O sen-
tido externo é. o espaço, e a de todos os objectos dos sentidos em geral
é o tempo. Mas_ o esquema J?Uro da grandeza (quantitatis) considerada
c~mo um conceito d~ ~ntend1m~nto é o n~mero, que é uma representa-
çao envolv~ndo a c:d1çao su~ess1va da 1.!ntdade à unidade (do homogé•
neo). O numero nao é, pois, outra coisa senão a unidade da síntese
da multiplicidade. de uma intuição homogénea em geral, pelo facto que
eu gero o próprio tempo na apreensão da intuição» Ak III 137 (A
142/B 182). . · . '
(1) Cf. Ak. 111, 137 (A 142/ B 182).
f) Ak. III, 300 (A 434/B 462).
(') Ak. IIl, 301 (A 436/B 463).
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issO, de co~eçar a sua própria causalidade. Mas esta forma
de proc~er e complet8?1ente ilegítima( ... ).» (1')
_Por isso, a. contradiçã? _é facilmen_te desmontada pelo apa-
recunento do~nante da. sene dos contingentes como aquilo que
só resta depois do conceito de absolutamente necessário ter pas-
~do, para o plano do tran~cen_dente. Mais uma -vez o privilégio
da. sene e da f or~a do sentido znterno, apesar de aquela ser dinâ-
mica. e_conter exz~t~J?,tes. Quando !Kant nos diz que o tempo é a
cond1çao d~ :poss1b1hdade da série, será importante pensarmos
que uma. sen~ de f en~menos conectados pela regra da relação
causa-efeito_ nao podera ser, ela própria, mais do que a série das
representaçoes e estas, como se sabe pela Estética e pela Ana-
lítica transcendentais, não são mais do que modificações. do sen-
tido interno (2). Por isso, comenta Heimsoeth que «a série do
tempo e a série das mudanças estão de tal modo correlacionadas
que, quanto ·às coisas, aquela serve de fundamento a esta úl-
tima - e mesmo também a priori e independentemente desta
deve ser representada e intuitivamente compreendida» (8).
Ora, a série só pode ser figurável, como nos ensina a Esté-
tica e a Analítica, numa intuição formal do próprio tempo. Esta
intuição, sabemo-lo também, é a maneira como Kant nos apre-
senta na Analítica dos Conceitos a operação sintética da espon-
taneidade sobre um diverso a priori fornecido pela sensibilidade
e que a sensibilidade contém. Que intuição :formal é essa, à qual
agora parece reduzir-se a série dos .fenómenos e que reduz à sua
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( ) Ak. III, 111-112 (B 137•138).
(2) Ak. III, 121 (B 154).
(') Ak. III, 122 (B 156).
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1
( ) H. Heimsoeth, Transzendentale Dialektik, Bd. 4, Berlin, 1971,
p. 723. .
· (2) Por exemplo em Ak. III, 443 (A 671/B 699): <<Ora se se pode
mostrar que, ainda que as três espécies de ideias transcendentais
(psicológicas, cosmológicas e teológicas) não se relacionam directamente
c~m nenhum objecto que lhes corresponda nem à sua determinação,
ainda. assim todas as regras do uso empírico da razão conduzem, sob a
suposição de um tal objecto na ide.ia, à ideia de uma unidade sistemática,
e alargam [erweitern] sempre o conhecimento da experiência, sem
poder nunca ser-lhe contrário (... )».
d <3) Sobre esta distinção ver nosso artigo «O constitutivo e o regula-
01r em Kant do ponto de vista da teoria do esq uematismo», Análise,
vo . II, n. : 1, Lisboa, 1985.
81
1
assiJ ) nfo ~~í;r~~li~~bJ~~su:fe~p~~~ ci~?os. diz Lehmann: <<Trata-s~
cabe mas sim de que O caminhO ç o que a estes exemplos aqui
J ' d ( ) (G L para 0 pus Postumum é aqui por ele
ap ana .0 ··· .» · ehmann, «Hypothetiscber Vernu ft b h bei
Kant» m Kants Tugenden _ Neue Beitra . !1 ge rauc
pretation der Philosophie Kants B r
(2) Ak. III, 430 (A 648/B 676)~ m,
f98zur Geschichte und Inte~-
O, P, 17.)
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1
( ) H . Heimsoeth, Transzendentale Dialektik, Bd. 3, Berlin, 1969,
P. 569. Sobre este princípio racional reformulado pergunta o autor:
"Princípio" [Prinzip] quer dizer: princípio [Grundsatzl_ a priori; pode-se
assim a priori simplesmente em geral e com necessidade, aceitar ou
"postular" qué nas próprias coisas e nas rela9~es _objectuais domin_a~
as ordt:ns, correspondências e subordens da espec1e ~isto tudo no domm1,o
da legislação formal da natureza sob a qual existem todos os feno-
menos como tal) e que o nosso entendimento, persistindo e sempre des-
~obrindo na maior multiplicidade da experjência, .~ e será c_apaz de
mt1:grar o que aprende e compreende num sistema segundo leis neces-
sárias"?» (Ibidem.)
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(') F. Kaulbach, «Die Dialektik von Vernunft und Natur bei Kant»,
Wiener IahrbOf!h für PhilosoP_hie.1 10, 19~7,. p. 63. Ver também. so~re
o alcance praticamente constmtut1vo das 1de1as da razão no Apend1ce
à.Djalécticb _F. Gjl,, Mirrzé_~ e-11.e_garão Lisboa 1984 pp. 497 498, 499.
-- (') Ak. íir, 430lA6487Bo1g'y: ' ' '
(3) Ak. III, 431 (A 651/B 679).
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1
( ) Ak. III, 434 (A 656/B 684).
(2) Já em texto de 1775 Sobre <JS diferentes raças dos homens
(Von den verschiedenen Rassen der Menschen) , !Kant distinguia_a sua
divisão - a qual já nessa altura era entendida como um princípio de
especificação da própria natureza - gª q_uela outra p_ratis;a~a ..p_ela_ç~co-
lástica: «A divisão da escola procede por -clãsses,··-segundo as caracte-
nsttcas semelhantes. A divisão da natureza, contudo, faz-se por troncos,
dividindo os animais segundo o parentesco em função da geração.»
(Ak. II, 429.) . .
Verifica-se assim que em 1775, no úmco texto publicado por !Kant
na década do silêncio, era possível a Kant, ao ~nsar um problema da
filosofia da natureza colocar-se no ponto de vista da natureza contra
a razão, segundo a f ~rmul~ção de Kaulbach. Es_te pon!o de ~i~ta, autên-
tico übergang praticado amda ~a fase pré-crítica, vai persistir de uma
forma decisiva nos futuros ensaios sobre as raças que estudaremos no
próximo capítulo desta secção. .. _ , •
(') Poder-se-ia dizer que a especif1caçao e pr:essuposta e, ao mesmo
tempo, «espera» pela exJ?eriência para ~er confum!ld~. Mas, com<? se
sabe, o pensamento do übergang aproXIma o a przorz do a posterwrl,
de maneira que não podemos encontrar naquele uma mera h1pó_teJe
lógica. Pelo contrário, o a priori apresenta-se aí. c~mo um_a s~posiçao
sim, mas desde logo informada P?r um a postenorz que nao e o sim-
plesmente informe, mudo de sentido.
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......... ...' ,
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( ) Ak. IV, 496.
(2) Ak. IV, 503.
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e
2. um conceito de história da natureza que representa uma
nova e sensível mudança na concepção da natureza, e que
desembocará directamente nos desenvolvimentos da ter-
ceira Crítica.
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( ) Ak. VIII, 179.
r) Ak. VIII, 173.
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( ) Ak. VIII, 181.
(1j Ak. V, 372.
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Seio da terra
informe
(Mutterschoss) ''
''
' ' 'n
''
abc
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'' ' X y ..• Z
,, ,,,-------- - --
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,,, ,,
,,, ,,,
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' ,x
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sendo 1 2 3 4 ... n os géneros originais, prim_ei~a. diferenciação no seio.
' ·' ' b d as raças pr1m1t1vas; ab, bc, abc e x,
da terra !nf~r!lle: a, . , 5-, ... ; eichun en] que constituem a miscig~-
Y... _z as 1~fm!tas ':anaçoes. [_A w g d m ser representadas indiv1-
naçao do mteiro genero ongina1 e que po e b b abc etc surgem
dualmente. Note-se que tanto a, b, e, d como .ª. · 1c, ente' dispostos em
através do· desenvolvimento de gérmenes . on&mªc~dições ambientais.
1, 2, 3. .. e desenvolvidos consoante ocasionais
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1
~ ) qualquc::r uma destas duas modalidades de analogia teria uma
funçao s1steJI?ática, e também heuristica, fundamental no âmbito de
uma_ Natun111ssenschaft. _De _qualquer ~odo parece-nos óbvio que tais
f~çoes derivam da. aph~açao me~affs1ca do raciocínio analógico que
nao é, de um modo 1med1ato, heunsttcamente aplicável, mas que possui
uma natureza sobretudo fun~ante: V~rem_os, sobretudo no Cap. VII,
que Kant. recua e'!1 relaçao a ªI?hca~a~ S!stemática de um outro tipo
de anal_?g1a,. ou seJa, a ~orfológ1co-dmam1ca, o que explica a enorme
c?1;1cessao feita ao meca_msmo natural na Dialéctica e também na Meta-
f1s1ca da facu!dade de Julgar teleológica.
Será _precisamente o carácter dingmico de um processo de mutação
morfológ1c~ ou metamo!fose que nao será compreensível através de
qualquer tipo de analogia por parte de Kant. É o que este expressa-
mente refere no § 65 da ~- V.: «Para falar com rigor, a organização
da nature~ nada tem. por isso a ver com uma qualquer causalidade por
nós conhecida.»
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( ) Ak. V, 464.
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O SER ORGANIZADO
COMO FINALIDADE INTERNA.
SER VIVO ARTEFACTO E SISTEMA.
Experiência e sistema•
l~is ?erais e leis específicas da· natureza.
Tecnica formal e técnica real da natureza
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1
( ) Ak. IV, 93 (A 127}.
{2) Cf. Prolegomena, § 36 (Ak. IV, 318).
{3) Ak. IV, 319.
4
( ) Ak. IV, 93 (A 128).
(') Ak. IV, 320.
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(1, Cf. <<Erste Einleitung>>, fim da Secção VI, Ak. XX, 218.
{2) Ak. XX, 219-220.
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(1) Ak:. ~X, 216. Comparar com uma outra definição análoga
de zweckmasszg no § 6? da K. U. , embora esta já respeite, explicita-
JIJente, aos seres or~an~zados. ~as. o facto é que as duas definições
visam2 uma mes~a f_mahdad~ obJecttva de um determinado ser natural.
() Con:i 1!1ªts ngor, o Juízo reflectinte possui heautonomia já que
prescreve leis a na~ureza em ordem à reflexão sobre esta· não à' própria
natur3ez~, mas. a s1 mesma. Cf. Ak. V, 185 (Einleitung).
sibili~) ~ As leis n~ natureza, contudo, ( ... ) têm semelhança com a pos-
ªrde ddas coisas que pressupõe uma representação destas coisas
como◄ un amento das mesmas» (Ak. XX 216)
() Ak. XX, 217. Passo já citado um pouco atrás.
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Descoberta e problematização
da finalidade interna
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fi~áyel com a J!lera figura externa (ausseren Gestalt] mas pelo con-
!~/1~lrf°m aquilo que ~e torna manifesto - dito de m~neird simples -
ude da percepçao [Wahmehmung] de uma unidade a qual
compreende o dado (das Gegebene] na sua multiplicidade;> (Georg
Ko hlc)r, Geschmacksurteil und iisthetische Erfahrunc BerÚn 1980,
p. 98. ' '
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1. reflexão-forma,
2. todo-partes,
3. forma interna-possibilidade de existência.
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minismo de cada elemento faz assim intervir este elemento, ele mesmo,
através de toda a estrutura viva. A integração de todos estes determi-
nismos elementares permite chegar à conclusão de que o ser vivo é o
seu próprio determinismo ~ que, por con~e&uinte, é tamb_ém, logic_a-
mente a sua própria finalidade; o determm1smo do ser vivo é, pois,
circutdr e não linear.» (André Pichot, Élements, pour une théorie de la
biologie, Paris, 1980, p. 40.)
1
( ) Ak. V, 373.
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202
1
( ) P. Bommcrsheim, «Der vierfache Sinn der inneren Zweck-
mãssigkeit in Kants Philosophie des Organischen », Kant-Studien, 32,
1927, p. 299.
C) Op. cit., p. 300. . . . .
(3) Vejamos como hoJe em dia pode _ser descrito um mecamsmo
teleologicamente construído, tal como o~ sistemas em feed-back , oi:i-de
o significado da distinção exterior:inte~10r depende. do ~~nto de vista
sistemático em- que nos colocamos, isto e, do lugar s1s_temat1co que esco-
lhermos: «Um sistema em feed-back é qualquer Aen!1dade c~paz de ser
afectada no tempo t 1 por algumas das consequencms daqmlo que ele
f~z num tempo anterior t 0, e cujo c<?mportamento nu~ t~mpo po~te:
nor t, é influenciado por aquele efeito. Esta caractenz~ç~o ~onstltm
três grandes pontos. Em primeiro lugar, assume _u ma d1stmçao entre
o próprio sistema e o ambiente envolyendo o s1~tema. Em segun~o
lugar, assume uma distinção entre agu~lo _que o sistema fa7: e aqmlo
que é feito ao sistema isto é uma. d1stmçao entre output e mput. Em
t~rceiro lugar, torna ~)aro qi'.ie O feed-back é ~m processo. de causa>;
hdade recíproca, tão objectivo como .ª causalidade em s1 mesma.
(Andrew Woodfield, T eleo/ogy, Cambndge, 1976, p. 184.)
205
206
208
210
212
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214
215
Os dois entendimentos
e a questão da totalidade orgânica
220
222
.....
Digi1.-,ll13do com CamScanncr
de determinar sem equívocos aquil? que est! de acordo com as
nossas faculdades cognitivas e aquilo q~e nao__ es!á, .
A seguinte passagem é de ~rande IIllpor~ancia_ ipara. aJudar
a esclarecer as distinções aludidas: <<Se, assim, nao qwsermos
representar-nos a possibilidade do todo ~orno depende~do das
partes, 0 que é ~dequ_ado ao nosso entendime~to dt~cursivo, mas
se, pelo contráno, quisermos r~presentar-~o~ a. medida d? .e?ten-
dimento intuitivo (criador de imagens onginaIS) a possibilidade
das partes (segundo a sua naturez~ e ligação) como dependendo
do todo, não pode acontecer, .prec!samente por causa dessa mes-
ma propriedade do nosso entend1mento, que o todo contenha
o fundamento da possibilidade da conexão das partes (o que
seria contraditório com o modo de conhecimento discursivo),
mas pelo contrário, somente -que a representação de um todo
contenha o fundamento da possibilidade da f arma do mesmo e
da conexão das partes a ele pertencentes.» (1)
224
226
(1)
n ,; Ak. V, 373.
, , Ak. V, 373.
227
...
mo Digitalizado com CamScanner
segundo a sua origem, ou auJomática, ou _orgânica.(... ). A pri.
meira ordem acontece atraves de forças 1nter~as, mediante 0
influxo físico; a segunda através de ?ma força d1ferente da força
da natureza, segundo uma hannon1a predeternnnada.» (1)
228
230
j
~
" ''
234
235
240
1
( ) Ak. III, 214 e segs.
(2) Ak. III, 222-223 (A 274/B 330).
241
242
244
<1) Ak. III, 359 (A 526/B 554). e VIII foi visto a pro-
. (2) Serâ conveniente lembrar o que_ no ap. entendimento intui-
f,6s1to d~ d~stinçãç entre os ~oi! en~end,metos. gtalidade e as partes
e~~ e J}a0-11J!agét1co conhecia 1medi~tamen e0 : altura que se tratava
Ja ex1stênc1a dependia daquela. Dissemos
245
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254
256
257
e:)
Ak. V, 424.
() Este será ? tema do Cap. XIV, capítulo que recupera directa-
mente a problemátrca da relação indivíduo-sistema que toda a 3 • Secção
prepara. ·
258
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261
. { substância
1. 0 registo duplo acidente
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266
(1) Cf. mais uma vez em Ak. III, 436 (A 658/B 686) o importante
passo do texto referido em que Kant pretende tornar sensível a unidade
sistemática da nature~a. É o curioso passo do encaixe de sucessivos
horizontes conceptuais (referentes a géneros, espécies e subespécies).
Ver § 7. ·
267
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269
err)/oi!~
'~uja
Diremos. que em Lei~niz cada substância particular é um unum
s~~s}~~ sempre mtegra~o . ~uma estrutura de organização
numa divisão orgâni[~açdo. d/~ .multie! 1cidade dos particulares consiste
a essencial li a - ª m mz~um . .e neste sentido que nos é revelada
Estamos p~r~~1 dos t conceitos de or?anismo-indivíduo-substância.
voldido: a naturezae 0u~ ~ma qu~ m.e~ecena ser autonomamente desen-
Leibniz. Não O farem~amc~ do md1v1duo como entidade singular em
em que nos movemo s, pois ta1 nos afastaria obviamente da direcção
A náF) Cf·1 º1 nosso sartigo «Organismo e Singularidade em Leibniz>>,
zse, vo · , n, 11 1, Lisboa, 1984.
271
C) G. W. Leibniz, 4 p. 472
4:
C) G. W. Leibniz, p. 479,'
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CAPITULO XI
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1
( ) Ak, XX, 217.
(2) Ak. XX, 217.
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288
...
Digitalizado com CamScanner
Pensa~?s. também assim ter respondido à segunda questão
colocada irucialment~. Mesmo pensando que O organismo é um
particular e~tre ~articula:es,. de modo que lhe é atribuída por
II{ant a designaçao de finalidade interna e absoluta _ distin-
guindo-o desse ~odo dos ou!ro~ pa~ticulares que, ainda que se
prestem a uma interdependencia siste~âtica, não exibem em
si _me~mos nenhu~ traço de !orma_ final (cf. Secção VI da
primeira Introduçao) - , ele n~o deixa de ser completamente
inútil para uma event~al determinação da individualidade. tÉ um
facto ,que só os orgamsmos poderão ser indivíduos, pois só eles
crescem_ e se auto-transformam segundo um plano arquitectó-
nico privado. No entanto, como está vedada ao sujeito a possi-
bilidade de conhecer, mesmo que só por analogia, a causalidade
iner~nte ,ª e~se_ plano acontec: que a própria singularidade aí
conttda e elzmznada na reflexao processada .pelo juízo teleoló-
gico.
Eliminada a singularidade, pratica-se simultaneamente a
redução do indivíduo orgânico à espécie e é esta que se deve
determinar. Chegamos assim a um ponto terminal, idêntico
àquele com que deparámos na resposta à primeira questão:
o organismo, como qualquer particular, deve ser considerado
como uma especificação de um conceito que, por sua vez,
é especificação de uma natureza. em geral. E o conceito que,
neste caso, é a espécie ou género animal (ou vegetal) espe-
cificados, possui, como se torna evidente, um ,privilégio onto-
lógico relativamente ao organismo particular que representará,
por seu lado e somente, um «momento» da especificação dessa
espécie ou género. Convém então avançar nesta linha de inves-
tigação e aprofundar melhor esta relação entre o organismo
e o geral que o subsume.
1
• ~ ) 'É ? que Kant ~xp~ica, logo no § 63 da K . V., ao comparar a
f 1.n<f11~ade !nte!na e a fmaltdade relativa. Ambas são objectivas e mate-
riais (i~to e, nao formais, como acontece com os objectos matem~tic9s),
mas diferem _q~anto ao carácter absoluto e necessário da pnmelfa,
contra a -relatividade e contingên~ia _da segunda. No Cap. XIV estud_a.-
readmos melhor a natureza desta fmahdade relativa que assenta na ut1ll-
d e e na conveniência.
'290
292
C) Ak. V, 418-419.
294
295
296
que
2. essa imagem geral é produzid~ pela imagin~ção ainda
antes ·de se encontrar o conceito conforme a estrutura
do juízo reflectinte;
e que
3. essa imagem é produzida na base da suposição de uma
"técnica da natureza, isto é, de uma natureza que se
especifica em géneros, espécies e subespécies.
Em resumo: na reflexão estética (e também na teleológica)
opera uma imaginação livre em relação a conceitos que a deter-
minam desde o início do seu operar e, por outro lado, este tem
como fundamento exclusivamente o princípio de uma técnica
da natureza cujo significado e consequências relativamente aos
particulares já analisámos.
Pormenorizemos ainda um pouco mais este operar da ima-
ginação livre em busca da imagem da espécie ou do género.
Dissemos que para Kant ela consistirá num apuramento, -uma
comparação e uma selecção da multiiplicidade das intuições
particulares. A ideia-normal que a imaginação produz resulta
efectivamente de actividades desse tipo. 'É assim que - seguindo
298
299
: ....,
1 ----.
! .~--
·-
! ...:-
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• rJ)
1
300
...
Oigil<1/izatlo com CarnScanner
4.ª SECÇÃO
. 303
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309
310
. Comecemos Pº:.
justificar o primeiro tópico, fazendo depois
o mesmo em relaçao aos outros três.
:3·11
312
313
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315
~~ }. g.. Herder,
Herder, op. cit., p. 133.
op. cit., p. 134.
316
317
318'
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322
' '
(1) Ak. VIII, 45. ''
1 .
324
325
B
-
Ou seja, do lado esquerdo, onde se figura o modo kantiano
de aplicação da analogia, a circunferência é retirada por ana-
logia com a regra da progressão dos lados dos polígonos A e B.
No entanto, estes não se inscrevem nela, ainda que a gerem
pela infinita multiplicação dos lados feita na analogia. Em
Herder são os antecedentes polígonos que, não só já contêm
a regra que gera a circunferência, como é a partir do seu lugar
concêntrico que essa geração é feita. Em Kant, .U é uma ficção
(uma Ideia da razão) que se constrói utilizando a multiplicação
dos lados como regra que permite, por analogia com A e B,
determinar uma figura com um grau maior de «perfeição»,
em Herder, n não é uma ficção mas sim a figura mais perfeita
que A e B, nela inscritas como formas menos perfeitas da
mesma série, foram gerando segundo uma regra de automulti-
plicação dos lados.
327
328
330
(1) Ak. VIII, 65. É a espé~ie, <:nquanto subs!ância que, sem _dúvida,
.º
adquire aqui uma espessura h1stonc~ _e ontológica,
~r·ª
que co~flfma as
análises do anterior Capítulo. A especte como substancia c~ntem a 1
própria história que se vai desenrolando através de uma lei de _espec1 -
cação análoga 'a uma lei da especificação da natureza em generos e
331
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..
•'
..
\.
..
(1) Ak. V, 436.
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1
( ) Ak. V, 367-368.
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Digitalizado com CarnScanner
um campo teleol~gico legítim~, e_o texto abre precisamente
com uma operaça? de subord1n~çao: da finalidade externa à
finalidade natur~l interna. «Por f1n~lidade externa compreendo
aquela pela ·r azao d3: qual uma C?Isa da natureza serve para
uma out~a ~orno 1!1e10 para um fim. Então as coisas que ne-
nhuma f1nalida~e. ~nterna possuem, ou que a não pressupõem
para a sua poss1b1lida~e -. po_r ex~mplo as terras, o ar, a água,
etc. -, .podem ser multo f.1nais, ainda que externamente isto é,
na relação ?ºm ou~ros ~eres; mas este~ precisam de ser 'sempre
seres organizados, 1~to e, ser7s naturais, pois, a não ser assim,
também aqueles nao poderiam ser apreciados como meios.
Assim, água, ar, terras não podem ser considerados como
meios para a acumulação das montanhas, porque estas nada
contêm em si que exigisse um fundamento da sua possibilidade
segundo fins e em relação ao qual, por isso, a sua causa nunca
pode ser representada sob o predicado de um meio (que para
isso servisse).» (1) Neste exemplo, as montanhas não são seres
organizados e, por isso mesmo, não podem servir como fim em
relação ao qual outros seres se disponham. Só um organismo
pode constituir a partir de si próprio uma rede de finalidades
externas: ele poderá ser como que o começo de uma série de
causas finais, e só em relação a esse começo se pode dizer que
faz sentido ligar um conjunto de objectos em ,que «uma· coisa
da natureza serve para uma outra como meio para um fim».
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358
com
razão"»o (G
ser Lgenérico
h ' expressa men te coI?Cadas " para o uso da sua
Beitriige zÚr Ge~t?c/2 «SyS t em u nd Geschichte in Kants Philosophie», in
Hn, 1969, p. 157). /e u nd lnterpretation der Phi/osophie Kants, Ber-
(1) Ak. V, 444. ,
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362
1
( ) Ak. V, 175-176.
(2) Ak. V, 350.
(3) Ak. V,' 350.
363
.......
Digitalizado com ComSconner
q~e di~amos nós, no início ~esta, ~ltima Secção, que O orga-
nismo e Jm Kant um, lugar_ sistematzco perturbador do sistema?
Pela ra~o d~ que ha m?hvos para colocar aspectos importan-
tes da f1los<?fia ~o o~gan1~~0 nas margens, ou menos no exte-
rior, da es!nt~ fdosofia cntico-transcendental. Já O fizemos algu-
mas referencias a esse facto, mas um aprofundamento do pro-
blema deverá revelar-nos uma outra face possível do kantismo
ou da problemática do sistema em Kant.
Se nos preocuparmos somente em sublinhar o carácter
apenas reg~lad~>r da finalidade orgânica, reforçando por isso
o lado sub1ectzvo e transcendental da finalidade interna não
teremos dificuldade em encaixar a filosofia do organism~ nos
limites da filosofia transcendental. Mas se pela própria leitura
de textos da última Crítica, quisermos ser íiéis ·à letra, e mesmo
ao espírito, de algumas dessas passagens, então teremos de reco-
nhecer enormes dificuldad-es nessa integração. Voltemos a re-
cordar alguns aspectos relevantes da apreciação teleológica do
organismo, a partir já da suposição de que ele ocupa um lugar
sistemático na filosofia kantiana da Crítica da F acuidade de
Julgar. .
Considerar problematicamente o estatuto do organismo é o
mesmo que discutir o estatuto do juízo teleológico reflectinte.
Sabemos que, nos termos de iKant, este corresponde a uma fina-
lidade objectiva, . natural ou material, multiplicidade de designa-
ções que denuncia hesitações e dificuldades na determinação
precisa da natureza desse juízo. ·O carácter reflectinte deste e
· a distinção que imediatamente é feita em relação à modalidade
determinante do juízo, indica o seu carácter heurístico e regu-
lador. O nosso já bem conhecido § 65, por exemplo, contém
- uma das muitas chamadas de atenção: «O conceito de uma
coisa como fim natural em si mesma não é por isso nenhum
conceito constitutivo do entendimento ou da razão, .porém, pode
ser um conceito regulador para a facuidade de julgar reflec-
tinte, e pode orientar a investigação sobre objectos dest~ espécie_
segundo uma analogia longínqua com a nossa causalidade se-
gundo fins em geral, e levar a reflectir sob~e o seu f undamen!o
mais elevado ( ... ).» (1) Passagem que confirma a preocupaçao
do autor em salvaguardar a essência heurística do juízo teleo-
lógico e, por isso, afastar quaisquer confusões com as catego-
368
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'
Digitalizado cam CamScanner
certas fornrns que a técnica da natureza j_á_ de si preparou - «é a
matéria organizada como f o·r ma espec1f1ca que é ao mesmo
ternpo produto da natureza>> que torna a experiência dela pró-
pria, matéria, uma experiência eroblemática que obriga o sujei.to
a reflectir. Realmente a questao centra-se na pergunta: «eX1s-
ten1 ou não, afinal, organismos?». IÉ que se não existem, então
não se percebe que a experiência se _problematize ~uns_ casos, e
noutros, não. Ao olharmos para a areia de uma praia nao somos
levados a questionar a representação e o acto de síntese que
essa experiência envolverá. Mas (§ 64) se, ao olharmos para a
areia, nos apercebermos da existência de um hexágono regular,
então é porque aquela última forma possui propriedades objec-
tivas que provocam no estado da mente do sujeito uma modi-
ficação tal que leva à sua meditação. IÉ claro então que, pelo
menos para a nossa inteligência discursivo/imagética, existem
organismos no mundo que não podemos legitimamente deter-
minar como sendo o resultado de uma técnica intencional da
natureza, mas que podemos decerto supor como resultado de
uma técnica desta agindo em liberdade, isto é, de uma certa
nomotética da natureza com o seu próprio logos, ainda que para
nós desconhecido. Uma coisa é afirmar que, dadas as carac-
terísticas das nossas f acuidades cognitivas, não é possível conhe-
cer a intenção da natureza ou o seu logos mais original; outra
coisa, porém, é reconhecer-lhe um poder de elaboração de for-
mas orgânicas que, escapando, é certo, à explicação transcen-
dental, conduzem a uma reflexão, ela mesma transcendental;
e. que tem como resultado a constituição transcendental de um
sistema da natureza. No entanto, é a partir do· momento em
que se reconhece esta facuidade à natureza livre que o intér-
prete da Crítica da Faculdade de Julga·r é colocado numa en-
cruzilhada.
377
378
•
Digitalizado com CarnScanner
e é suficiente qu~ existam obje~tos conhecíveis segundo leis da
natureza que supoem um C?nceito de fim, e cuja forma interna
possua também :5se conceito por !undamento (1).
T_orna-se e~tao claro. q~e as vias que se deparam naquela
refenda encruzilhada ao interprete da terceira Crítica ao explo-
~a~ até ao fur:ido o_estatuto ~o organismo e do correspondente
JUIZO tel~ológ1c~, n~o se ~ef1~e~ tanto pela atribuição ou não
de uma .1ntenc1?nahdade a tecn1ca da natureza - questão que
é resolvida facilmente através da restrição transcendental da
filosofia do como se-, mas mais pela escola que se fizer quanto
ao estatuto, da própria técnica da natureza. Ora conforme
temos vindo a justificar nas presentes análises esta' muito difi-
cilmente poderá ser entendida como um simpl;s princípio trans-
cendental de que a facuidade de julgar se serve para apreciar
certos seres. De facto, tal conceito não se subordina, sem pre-
juízo do conceito de / orma interna orgânica, a uma mera filo-
sofia do como se, a qual se ligará, sim, à intenção dessa técnica.
Mas a forma interna de certos seres (organismos) não pode
deixar de ser um acontecimento da natureza de que a expe-
riência só poderá comprovar a existência, embora o não cons-
titua por meio de qualquer categoria do entendimento. :É ver-
dade que em muitas passagens, quer da primeira Introdução,
quer da Crítica da Faculdade de Julgar, Kant fala daquela
téc.nica como de um mero princípio de reflexão, sem contudo
a poder definir ou determinar com mais precisão. No entanto, as
passagens a que já nos referimos fortalecem a outra inclinação
em Kant, isto é, a do confronto ou «concorrência» entre a razão,
ciosa da sua autonomia (nomotética), e a natureza que, no outro
extremo, produz símbolos para a utilização daquela, sem por
isso permitir que a razão os produza a partir da sua matéria
pretensamente informe. Os símbolos serão julgados como se
houvesse na génese da sua produção uma inteligência determi-
nada por certas intenções, e aí se mantém o lado transcendental
da filosofia do organismo kantiana, mas, por outro lado, eles
são expressões de algo cujo operar não pode cair nas malhas
do transcendental. Claro que o acentuar desta via produz inevi-
tavelmente perturbações no sistema da filosofia transcendental.
Ficaremos como é fácil verificar, perante um sistema interna-
mente dinàmico assente numa dialéctica razão-natureza. Dinâ-
'
mico, não simples~ente - o s,eJa,
porque a r~ao . mas porque esta
«explora» a própna natureza atraves dos s1mbolos que esta lhe
apresenta. Essa «exploração» não pode, por sua vez, deixar de
379
1
~ ) Ak. VIII? 19, 20, 22. Reflectindo sobre esta peculiar posição
kantiana no âmbito da _metafísi~a da_ história, diz Kaulbach que esta
«nat!,lreza é um contra-Jogo [W1dersp1el] da razão que é representado
na f1gura da ~ature~ como efectividade potente, como natura naturans
q~e persegue 1~tençoes C?m as suas "criaturas"» (F. Kaulbach, Das Prin-
z1p Handlung m der Philosophie Kants, Berlin, 1978, p. 275).
380
381.
383
384
385
_j
Digitalizado com CarnScanner
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zenden talen Logik"», in Beitriige zur Kritik der reinen Vernun/t,
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386
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J
Digitalizado com CarnScanner
fNDICE DE AUTORES CITADOS
A F
Adickes, E. -15, 103, 114, 212, 220. Fichte, J. G. - 16.
Aristóteles - 37. Fischer, K. - 28.
Arnauld - 246. Forster -108, 109, 120.
Funke, G. - 34.
B G
Bartuscha t, W. - 13-15, 147. Galileu-145.
Bauer-Drevermann, I. - 149. Garve-54.
Baumler, A. - 76. Gil, F.-86.
Blumenbach, J. F.-256, 257.
Bomme rsheim, P. -195, 205.
Buffon- 208-210, 251, 253, 254. H
Haller, A. - 253.
e Hartmann, N. - 229.
Heimsoeth, H . - 24, 26, 55, !,:,, 67,
Canguilhem, G. -137. 81.
Cassirer, E. - 45, 137, 138, 140, 218. Herder-303, 309, 318, 322, 333,
Cohen, H. -191. 356.
Cuvier - 139, 140, 208. Horkheimer, M. - 34.
D K
Dorner-12. Kaulbach, ·F. - 86, 231, 232, 262
Drews, A. - 120. 265, 332, 355, 380, 381. '
Driesch, H. - 368. Kepler - 269.
Duches neau, .F. - 207. Kohler, G. - 183-185.
Duque, F. - 374. Kroner, R. - 12.
Düsing, K. - 203.
L
E kbrun, G,-42, 43, 155, 15~, lul,
239, 336.
Epicuro - iSO. Lehmann, G. -14, 16, 17, 19, 28,
·Espinosa - 250. 82, 99, 354, 359, 366.
389
M T
Marcucci, S. -121, 375. Takeda, S. - 13.
Mariotte-145. Tonelli, G. - 46.
Market, O. - 54.
Marques, A. - 81, 92.
Martin, G. - 271. . u
Mathieu, V. -14, 144, 157, 173. ·
Maupertuis -251, 253. Ungerer, ·E . - 235, 236.
Menzer, P. -343, 347.
Morente, M. G. - 349.
V
N Vaihinger, H. -29.
Neyton-18, 145, 214.
p
w
Waddington, C. H. -196, 252.
Paton, H. J.-244. Weil, E. -233, 349.
Philonenko, A.-211. Weiszacker, C. F. V. -265.
Pichot, A. -192. Windelband, W. -12, 44.
Wolff, C. - 256.
Woodfield, A. - 205.
R
Reinhold- 31, 112.
Riedel, M. - 208, 315.
z
Riehl, A. - 223. Zumbach,
',
e. -14, 138.
390
1
• fNDICE DOS PRINCIPAIS TEMAS
391
393
À
Digital izado corn CamScanner
....
394
395
396
Nota prévia 7
Introdução .. ... 11
I. A Crítica da Faculdade de Julgar e a problemática do
sistema em Kant. Os temas fundamentais do múltiplo,
do contingente e da natureza .. . .. . . . . . . . .. . . . . . .. . . . 11
II. A preocupação pelo sistema na Crítica da Razão Pura e
a heterogeneidade dos campos teorético e prático ... 19
III. Dois registos sistemáticos na primeira Crítica .. . . .. . .. 24
IV. A conexão entre os dois campos e o problema duma
Gestalt da natureza. .. ... .. . ... .. . ... ... ... ... ... .. . .. . 30
V. O juízo reflectinte e o seu ,,.,,nr sistemático. O pro-
ülema do ·, ;articular .. . .. . .. . .. . .. . . .. .. . .. . .. . . .. .. . 33
VI. O privilégio sistemático do juízo reflectinte teleológico 38
1.• SECÇÃO
397
2.ª SECÇÃO
398
399
~
Digitalizado com CamScanner
CAPÍTULO VIII - Os dois entendimentos e a questão da totali-
dade orgânica ............... •·· •·· ··· ... ... ... ... ... ... ... 217
§ 34 . Entendimento intuitivo e entendimento discursivo:
análise do § 77 da terceira Crítica .. . . .. .. . .. . .. . ... 217
§ 35 Distinção entre todo em si e representação do todo
como distinção essencial para a congruência interna
do idealismo crítico e para a fundamentação do con-
ceito de fim .. . .. . .. . .. . .. • •.. · ·· · ·· .. · .. · .. · · .. · ·· ••• 224
§ 36 A inaplicabilidade da teoria da experiência das Ana-
logias ao conhecimento da bildende Kraft ........... . 228
§ 37 Natureza livre e imaginação transcendental: a inter-
pretação de Kaulbach .. . .. . . .. .. . . .. . -• ••• 231
§ 38 Valor sistemático da perfeição orgânica .............. . 233
3.ª SECÇÃO
400
4.• SECÇÃO
401
402
1 • •
• ·«As ;)resentb~-inves~-1gações não constituem uma ten~ativa de inter;retaç.1~ da ·
•• ;
Crítiqa da ~i~aculdade de Julgar no se_ u _todo, mas somente uma forma parti-
cular· de co.ocar alQuns proQlemas próprios. da fi)osofia kantiana :a partir d.e um
_ponte-. dP vii:ta que ;1os parec·;eu especialfll:;)nte interes~a1:' P- quar,to às respecti-
vas p,_')ssibiliciades :;isternatic.as. Foi assim ·que escolhemos aquilo que designa-
rerr;'Js: gener:cami:nte por filosofia do organismo, cor ilida. como se sabe. na
s·2gun·cfa partl1 daçiuela obra. Pareceu -nos ser urna via privilegiada para um
· . · novo Ü\har sob·e ·a filosofia ~;rit1co-transcend(~nta!, não só pelo ·seu valor s1ste-
mat1co,/ mas ta1;1bém pela ·,. sua capacidatk de 'perl urbar o próprio sistema
daquel~1 filosofió. » \
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1. ORGA~JISMo. és1sTEMA EM KANT ··
- Ensai~ s~bre ' o sist,ema crít!co
. kantiano, ~ntonio y ~rques }
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