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Parte III – O negro como grupo específico ou

diferenciado em uma sociedade competitiva


(Uma proposta dialética par ao estudo dos grupos negros no Brasil e
sua problemática)
Introdução:
Classe em si: apenas objeto no contexto social
Classe para si: adquire consciência de que existe e no confornto contra
outra/s classe reconhece-se como tendo objetivos próprios e
independentes (específica)  Cria valores próprios de manutenção
dessa especificidade e uma ideologia mais abrangente  direção
globalizadora que reflete interesses mais gerais
• Avanço de forças restritivas  busca por reunir em torno de valores particulares
• Brasil: desde o início da escravidão negros começaram a se organizar para sobreviver e manter padrões e culturais
que a escravidão buscava destruir  busca por reencontra condição humana
• Escravidão não permitia consciência da situação social e impedia de formular uma ideologia capaz de desalienar
(Obs: caso da consciência sindical – mais possibilidade de avançar para uma ideologia global, mas restrita
ideologicamente determinada pelas forças de dominação)
• Organizar-se em grupos de conteúdos diversos para reencontrar-se  enorme papel organizacional, social e
cultural
• Sem o espírito associativo a vida teria sido muito pior e teria sido muito mais difícil resistir ao traumatismo da
escravidão  rede de grupos específicos
• Não só quilombolas. Senzalas. Grupos religiosos ou lazer (mecanismo de distensão), batuques (convergência de
grupos que reelaboravam valores originários reestabelecendo hierarquia anterior)
• Tipos de grupos específicos durante a escravidão: lazer; religiosos; sociais; econômicos; de resistência armada;
musicais; culturais; intercruzados
• Dinâmica organizacional que perdurou após a abolição por conta do peneiramento social: confrarias religiosas,
associações recreativas, culturais e esportivas, centros de religiões afro-brasileiras ou populares (candomblés,
terreiros de macumba, xangôs, centros de umbanda/quimbanda), , pagelanças, escolas de samba, grupos teatrais
ou políticos e grupos com nível de roganização e grau de ideologização capazes de levarem a movimentos
• Crítica da abordagem etnográfica: não tomam o social como
fundamental e o cultural como condicionado  ciência feita de
fragmentos, sem um sistema interpretativo capaz de ligar as diversas
partes ao seu todo, a não ser no plano de uma maior ou menor
reminiscência d suas culturas matrizes
1. Grupos específicos e diferenciados
• GD – unidade organizacional que, por um motivo ou uma constelação de razões, é diferenciado por
outros que, no plano da interação compõem a sociedade  grupo que, por uma determinada marca é
visto pela sociedade competitiva dentro de uma ótica especial, de aceitação ou rejeição, através de
padrões e valores, mores e representações de estratos superiores dessa sociedade.
• GE – mesma realidade em outro nível de abordagem e outra fase de desenvolvimento. Padrões de
comportamento que são criados a partir do momento em que os seus membros se sentem
considerados e avaliados através da sua marca pela sociedade.
• O GD tem as suas marcas aquilatadas pelos valores da sociedade de classes; o GE passa a sentir essa
diferença e a partir daí procura mecanismos de defesa para se manter específico, ou mecanismos de
integração  GD é identificado (visto de fora pra dentro); GE se identifica (se vê) (p. 276)
• Como GD, é simples objeto, funcionando como parte passiva do contexto social  quando passa
assentir-se diferenciado pela sociedade global, e é separado pelas barreiras, adquire consciência dessa
diferença, encarar a marca como valor positivo  sente-se GE  emergência de novos valores no grupo
(criados no presente ou aproveitados do passado)
• Na sociedade competitiva a formação dos GE nasce do antagonismo entre classes e seus estratos 
alguns grupos são internalizados na sociedade por uma marca inferiorizadora e situação de inferioridade
socioeconômica (epidermização?)
1. Grupos específicos e diferenciados
• Grupos negros são considerados portadores de valores próprios e inferiores –
comportamentos individuais são considerados como de todo o grupo 
criação de estereótipos que justificam medidas de barragem  Criação de um
ethos específico  instrumento para criar um sentimento de nós x eles
Obs: importante ética sempre como desdobramento/expressão de relações
sociais
• Membros da sociedade que se julga branca utilizam um “eles” generalizador
com estereótipos negativos  o negro procura organizar-se especificamente
para se autopreservar através de valores grupais capazes de criar elementos
de autoafirmação da etnia ou de grupos mais conscientes que desejam fugir
do nível de marginalização e/ou proletarização
1. Grupos específicos e diferenciados
• Série de graus e níveis de especificidade dentro da tipologia
• Cautela para não determinar antecipadamente onde enquadrar um grupo ou
segmento
• Subdivisão da dicotomia de acordo com o grau de especificidade ou diferenciação:
1) Parcial; 2) Total
• Natureza dialética da dicotomia: só existe em uma sociedade de classes e como
unidade contraditória de uma realidade conflitante
• O negro só se sente específico porque é inicialmente diferenciado pelo branco. Leva
a se organizar e criar uma subideologia capaz de manter a consciência grupal em
níveis diversos
Obs: Fanon novamente
• O negro somente poderá sobreviver sem se marginalizar totalmente agrupando-se,
para defender sua condição humana
1. Grupos específicos e diferenciados
“Em uma sociedade de modelo capitalista, como a brasileira, quando o processo de
peneiramento social está se agravando por uma competição cada vez mais intensa, os
grupos organizacionais negros que existem procuram conservar os seus valores e
insistem em manter o seu ritual religioso afro-brasileiro, a sua indumentária, os mores e
valores das culturas africanas para se defenderem e resguardarem do sistema compressor
que tenta coloca-los nos seus últimos estratos, como já aconteceu em outras sociedade
que possuem o modelo capitalista muito mais desenvolvido do que o nosso” (p. 279)
• Papel contraditório e relevante da associação em grupos específicos
• Só se organiza em grupos separados dos brancos por não haver barreiras
institucionalizadas (segregação), mas a permanência de comportamento restritivo e
seletivo que vê o negro no polo negativo dos valores brancos e capitalistas
• As diversas linhas não institucionalizadas de barragem levam o negro a manter de
qualquer forma suas matrizes organizacionais para não se marginalizar totalmente ou
entrar em estado de anomia
1. Grupos específicos e diferenciados
• Ponto de vista das classes dominantes: o negro organizado localmente deixa de ameaça-los e
tentar entrar no seu mundo social, político e cultural
• Mas esse processo também leva a que as contradições da sociedade competitiva levem o
negro, por meio dos grupos, a buscar ampliar a participação no processo global, pressionando
vários níveis.
• Organizar-se significa ter ou tentar a possibilidade de penetrar, através de seus valores, no
mundo do branco  desenvolver formas de preservação das religiões afro-brasileiras ou
formas artísticas  capaz de igualá-lo nos quadros do capitalismo às camadas que o oprimem
• Ruptura: GE negros procuram influir no processo de anular os sistemas de barragem 
grupos superiores e estruturas de poder passam a ver como fatores negativos (chegam até a
transferir sua ideologia – “racismo reverso”)
• Mudança qualitativa: GE aceitam uma identidade globalizadora dinâmico-radical na qual a problemática
do negro é vista como um componente da que existe para todas as classes e camadas oprimidas ou
passam por um processo de regressão e voltam a ser apenas grupos diferenciados
• Volta à África x direção política reivindicatória dos negros (p. 281)
1. Grupos específicos e diferenciados
• Nas camadas negras mais proletarizadas, organizadas em grupos específicos, o
social tende a suplantar, cada vez mais, o meramente culturalista
“Ao participarem da competição, esses grupos fazem com que seja criada uma
coerção grupal, um espírito de grupo que substituí a luta simplesmente
individual do negro não organizado. Eles sevem, assim, como patamares a partir
dos quais deixam de atua isoladamente para se congregarem, objetivando
enfrentar a sociedade competitiva e os seus problemas. Esses grupos, ao
tempo em que exercem um papel integrativo, aumentam, ao mesmo tempo, a
consciência negra no processo de interação conflitiva, reelaborando novos
valores específicos, superestimando-os mesmo para, através de um mecanismo
psicossocial de compensação, encontrarem a igualdade procurada dentro da
sociedade branca” (p. 282)
1. Grupos específicos e diferenciados
• Mesmo sem perspectivarem mudança radical, são polos de resistência à
marginalização do negro e comadas proletarizadas ligadas a ele

“esses grupos religiosos exercem dentro da sociedade em que estão


engastados, um papel que lhes escapa quase totalmente, mas que proporciona
o combustível de uma subideologia necessária à coerção grupal e uniformização
do horizonte cotidiano do negro e dos mestiços ligados ao seu mundo mágico
[...] A necessidade de resistência ao processo desintegrativo é que lhes dá a
vitalidade que possuem” (p. 282)

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