(Uma proposta dialética par ao estudo dos grupos negros no Brasil e sua problemática) Introdução: Classe em si: apenas objeto no contexto social Classe para si: adquire consciência de que existe e no confornto contra outra/s classe reconhece-se como tendo objetivos próprios e independentes (específica) Cria valores próprios de manutenção dessa especificidade e uma ideologia mais abrangente direção globalizadora que reflete interesses mais gerais • Avanço de forças restritivas busca por reunir em torno de valores particulares • Brasil: desde o início da escravidão negros começaram a se organizar para sobreviver e manter padrões e culturais que a escravidão buscava destruir busca por reencontra condição humana • Escravidão não permitia consciência da situação social e impedia de formular uma ideologia capaz de desalienar (Obs: caso da consciência sindical – mais possibilidade de avançar para uma ideologia global, mas restrita ideologicamente determinada pelas forças de dominação) • Organizar-se em grupos de conteúdos diversos para reencontrar-se enorme papel organizacional, social e cultural • Sem o espírito associativo a vida teria sido muito pior e teria sido muito mais difícil resistir ao traumatismo da escravidão rede de grupos específicos • Não só quilombolas. Senzalas. Grupos religiosos ou lazer (mecanismo de distensão), batuques (convergência de grupos que reelaboravam valores originários reestabelecendo hierarquia anterior) • Tipos de grupos específicos durante a escravidão: lazer; religiosos; sociais; econômicos; de resistência armada; musicais; culturais; intercruzados • Dinâmica organizacional que perdurou após a abolição por conta do peneiramento social: confrarias religiosas, associações recreativas, culturais e esportivas, centros de religiões afro-brasileiras ou populares (candomblés, terreiros de macumba, xangôs, centros de umbanda/quimbanda), , pagelanças, escolas de samba, grupos teatrais ou políticos e grupos com nível de roganização e grau de ideologização capazes de levarem a movimentos • Crítica da abordagem etnográfica: não tomam o social como fundamental e o cultural como condicionado ciência feita de fragmentos, sem um sistema interpretativo capaz de ligar as diversas partes ao seu todo, a não ser no plano de uma maior ou menor reminiscência d suas culturas matrizes 1. Grupos específicos e diferenciados • GD – unidade organizacional que, por um motivo ou uma constelação de razões, é diferenciado por outros que, no plano da interação compõem a sociedade grupo que, por uma determinada marca é visto pela sociedade competitiva dentro de uma ótica especial, de aceitação ou rejeição, através de padrões e valores, mores e representações de estratos superiores dessa sociedade. • GE – mesma realidade em outro nível de abordagem e outra fase de desenvolvimento. Padrões de comportamento que são criados a partir do momento em que os seus membros se sentem considerados e avaliados através da sua marca pela sociedade. • O GD tem as suas marcas aquilatadas pelos valores da sociedade de classes; o GE passa a sentir essa diferença e a partir daí procura mecanismos de defesa para se manter específico, ou mecanismos de integração GD é identificado (visto de fora pra dentro); GE se identifica (se vê) (p. 276) • Como GD, é simples objeto, funcionando como parte passiva do contexto social quando passa assentir-se diferenciado pela sociedade global, e é separado pelas barreiras, adquire consciência dessa diferença, encarar a marca como valor positivo sente-se GE emergência de novos valores no grupo (criados no presente ou aproveitados do passado) • Na sociedade competitiva a formação dos GE nasce do antagonismo entre classes e seus estratos alguns grupos são internalizados na sociedade por uma marca inferiorizadora e situação de inferioridade socioeconômica (epidermização?) 1. Grupos específicos e diferenciados • Grupos negros são considerados portadores de valores próprios e inferiores – comportamentos individuais são considerados como de todo o grupo criação de estereótipos que justificam medidas de barragem Criação de um ethos específico instrumento para criar um sentimento de nós x eles Obs: importante ética sempre como desdobramento/expressão de relações sociais • Membros da sociedade que se julga branca utilizam um “eles” generalizador com estereótipos negativos o negro procura organizar-se especificamente para se autopreservar através de valores grupais capazes de criar elementos de autoafirmação da etnia ou de grupos mais conscientes que desejam fugir do nível de marginalização e/ou proletarização 1. Grupos específicos e diferenciados • Série de graus e níveis de especificidade dentro da tipologia • Cautela para não determinar antecipadamente onde enquadrar um grupo ou segmento • Subdivisão da dicotomia de acordo com o grau de especificidade ou diferenciação: 1) Parcial; 2) Total • Natureza dialética da dicotomia: só existe em uma sociedade de classes e como unidade contraditória de uma realidade conflitante • O negro só se sente específico porque é inicialmente diferenciado pelo branco. Leva a se organizar e criar uma subideologia capaz de manter a consciência grupal em níveis diversos Obs: Fanon novamente • O negro somente poderá sobreviver sem se marginalizar totalmente agrupando-se, para defender sua condição humana 1. Grupos específicos e diferenciados “Em uma sociedade de modelo capitalista, como a brasileira, quando o processo de peneiramento social está se agravando por uma competição cada vez mais intensa, os grupos organizacionais negros que existem procuram conservar os seus valores e insistem em manter o seu ritual religioso afro-brasileiro, a sua indumentária, os mores e valores das culturas africanas para se defenderem e resguardarem do sistema compressor que tenta coloca-los nos seus últimos estratos, como já aconteceu em outras sociedade que possuem o modelo capitalista muito mais desenvolvido do que o nosso” (p. 279) • Papel contraditório e relevante da associação em grupos específicos • Só se organiza em grupos separados dos brancos por não haver barreiras institucionalizadas (segregação), mas a permanência de comportamento restritivo e seletivo que vê o negro no polo negativo dos valores brancos e capitalistas • As diversas linhas não institucionalizadas de barragem levam o negro a manter de qualquer forma suas matrizes organizacionais para não se marginalizar totalmente ou entrar em estado de anomia 1. Grupos específicos e diferenciados • Ponto de vista das classes dominantes: o negro organizado localmente deixa de ameaça-los e tentar entrar no seu mundo social, político e cultural • Mas esse processo também leva a que as contradições da sociedade competitiva levem o negro, por meio dos grupos, a buscar ampliar a participação no processo global, pressionando vários níveis. • Organizar-se significa ter ou tentar a possibilidade de penetrar, através de seus valores, no mundo do branco desenvolver formas de preservação das religiões afro-brasileiras ou formas artísticas capaz de igualá-lo nos quadros do capitalismo às camadas que o oprimem • Ruptura: GE negros procuram influir no processo de anular os sistemas de barragem grupos superiores e estruturas de poder passam a ver como fatores negativos (chegam até a transferir sua ideologia – “racismo reverso”) • Mudança qualitativa: GE aceitam uma identidade globalizadora dinâmico-radical na qual a problemática do negro é vista como um componente da que existe para todas as classes e camadas oprimidas ou passam por um processo de regressão e voltam a ser apenas grupos diferenciados • Volta à África x direção política reivindicatória dos negros (p. 281) 1. Grupos específicos e diferenciados • Nas camadas negras mais proletarizadas, organizadas em grupos específicos, o social tende a suplantar, cada vez mais, o meramente culturalista “Ao participarem da competição, esses grupos fazem com que seja criada uma coerção grupal, um espírito de grupo que substituí a luta simplesmente individual do negro não organizado. Eles sevem, assim, como patamares a partir dos quais deixam de atua isoladamente para se congregarem, objetivando enfrentar a sociedade competitiva e os seus problemas. Esses grupos, ao tempo em que exercem um papel integrativo, aumentam, ao mesmo tempo, a consciência negra no processo de interação conflitiva, reelaborando novos valores específicos, superestimando-os mesmo para, através de um mecanismo psicossocial de compensação, encontrarem a igualdade procurada dentro da sociedade branca” (p. 282) 1. Grupos específicos e diferenciados • Mesmo sem perspectivarem mudança radical, são polos de resistência à marginalização do negro e comadas proletarizadas ligadas a ele
“esses grupos religiosos exercem dentro da sociedade em que estão
engastados, um papel que lhes escapa quase totalmente, mas que proporciona o combustível de uma subideologia necessária à coerção grupal e uniformização do horizonte cotidiano do negro e dos mestiços ligados ao seu mundo mágico [...] A necessidade de resistência ao processo desintegrativo é que lhes dá a vitalidade que possuem” (p. 282)