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Preâmbulo
Epílogo
Preâmbulo
Os antropólogos realizam suas pesquisas profissionais em muitos lugares ao redor do mundo, algumas
onde eles estão “em casa” e outras onde estão de alguma forma no “estrangeiro”. Os estudos
antropológicos ocorrem em várias configurações econômicas, culturais, definições jurídicas e
políticas. Como profissionais e como cidadãos, os antropólogos precisam considerar os efeitos do seu
envolvimento e as consequências do seu trabalho com e para os indivíduos e grupos entre os quais
eles fazem seu trabalho de campo (os participantes da sua investigação ou “objeto”); seus colegas e
a disciplina, os pesquisadores colaboradores; patrocinadores, financiadores, empregadores e
guardiães; o seu e os governos anfitriões; e outros grupos de interesse e a sociedade em geral nos
países em que trabalham.
Os antropólogos, como outros pesquisadores sociais, deparam-se cada vez mais com deveres,
obrigações e conflitos de interesse, com a necessidade de fazer escolhas, implícitas ou explícitas,
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entre valores e entre os interesses dos diferentes indivíduos e grupos. Dilemas éticos e legais ocorrem
em todas as fases de pesquisa - na seleção da temática, área ou população, na escolha do patrocinador
e fonte de financiamento, na negociação do acesso, nas “barganhas de investigação” e na realização
do trabalho de campo durante a pesquisa, na interpretação e análise dos resultados, na publicação dos
resultados e na disponibilização dos dados. Os antropólogos têm a responsabilidade de antecipar
problemas na medida em que seja possível resolvê-los sem prejudicar os participantes da pesquisa ou
da comunidade acadêmica. Eles devem fazer o máximo para garantir que o seu campo de pesquisa
seja deixado em condições que permitam o acesso futuro a outros pesquisadores. Como membros de
uma disciplina comprometida com a busca do conhecimento e da divulgação pública dos resultados,
eles devem se esforçar para manter a integridade na condução da pesquisa antropológica. Este código
de ética aplica-se para o trabalho antropológico quer se estude as [pessoas] de baixo e/ou as de cima,
pessoas e/ou animais, dentro ou fora do Reino Unido, bem como no ciberespaço.
O método etnográfico - o processo pelo qual a teoria é desenvolvida com base em dados empíricos
coletados - é o modo dominante pelo qual a antropologia é praticada. Os métodos etnográficos cobrem
um espectro de práticas de pesquisa e métodos frequentemente incluindo trabalho de campo/visitas
repetidas, multissituadas e de longa ou curta duração. Estas diretrizes éticas abordam os estágios de
preparação, o processo de trabalho de campo e o procedimento de escrita. No âmbito do trabalho de
campo, a observação participante tem sido considerada por antropólogos/as como um de seus
principais métodos. Este é um método holístico de pesquisa usualmente levado a cabo ao longo de
um período de tempo (considerável) e pode ser realizado em uma ampla variedade de comunidades e
grupos. Os contextos de pesquisa podem incluir cenários e preocupações econômicas, políticas, legais
e médicas, assim como dimensões religiosas, de gênero e de parentesco, entre muitas outras. Disso
resulta que o espectro de participantes é, também, variado. A observação participante é indutiva e tem
o potencial de desvelar conexões inesperadas entre diferentes domínios da vida social. Requer-se,
portanto, certo grau de flexibilidade no design de pesquisa que permita a modificação do tópico
enfocado/focalizado - seguindo a formulação inicial de uma questão de pesquisa. A observação
participante inclui o engajamento com e a observação de várias formas de atividades participativas
específicas ao grupo sendo estudado, usualmente em ambos contextos público e privado. O trabalho
de campo é também realizado por meio de conversas casuais (com uma grande variedade de
participantes, alguns do quais são bem conhecidos e vistos regularmente, outros durante encontros
fugazes), entrevistas (geralmente abertas, qualitativas e em profundidade), surveys e gravações de
áudio e vídeo, por vezes suplementadas pela subsequente co-visualização com participantes. Os
métodos podem variar do informal e não-estruturado (tal como a observação participante e conversas)
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até métodos estruturados (como entrevistas, surveys e gravações audiovisuais).
2. Notas de campo (e outras formas de dados pessoais) são predominantemente privados salvo
exceções legais. Esta é a maneira mais importante pela qual a confidencialidade e o anonimato dos
sujeitos são assegurados. Antropólogos/as têm o dever de proteger todos os registros originais de sua
pesquisa contra o acesso não-autorizado. Eles/as também têm o dever de assegurar que nada do que
publicam ou tornem público, através de mídia textual ou audiovisual, permita a identificação de
indivíduos que colocaria seu bem-estar ou segurança em risco.
Consentimento prévio:
2. Muitos dos participantes em eventos públicos observados pelo/a antropólogo/a não serão
conhecidos por ele ou ela. Este é o caso, particularmente, de estrangeiros visitando a comunidade (um
termo que pode incluir também empregados de agências governamentais, corporações
multinacionais, escolas, hospitais, entre outros) sendo estudada; ou na pesquisa com grupos de
mobilidade (que poderia envolver grupos camponeses e nômades, refugiados ou expatriados ou elites
corporativas) que se movem para outros lugares por vários motivos (tais como subsistência,
celebrações rituais, peregrinação, reuniões corporativas, deslocamentos em tempo de guerra ); ou no
estudo de grandes instituições. Em tais situações, os/as antropólogos/as deveriam tomar todos os
passos práticos para serem apresentados por participantes locais e identificar a si mesmo/a como
pesquisador/a. Nem todo mundo observado ou fotografado, especialmente em grandes ajuntamentos,
será conhecido. Eventos de grande escala (como festivais religiosos, comícios políticos ou protestos
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de massa) são focos evidentemente legítimos e necessários do estudo antropológico, mas deveriam
estar sujeitos a várias considerações éticas. Portanto, a devida sensibilidade àqueles envolvidos em
eventos de grande escala e a necessária observação dos padrões éticos em respeito às sensibilidades
e à segurança dos participantes deve ser levada em consideração dependendo da natureza do evento.
4. Em alguns casos, o consentimento deverá ser buscado, inicialmente, através de indivíduos tais
como líderes comunitários e funcionários: chefes, conselheiros locais, consultores de hospital, líderes
sindicais etc. ou de corpos decisórios coletivos como assembleias comunitárias ou de bairro. Além da
necessidade de negociar o acesso ao campo através de tais "abre-alas'', será frequentemente desejável
suplementar o consentimento informado de corpos coletivos com aquele de indivíduos,
particularmente onde setores substanciais da sociedade local são excluídos dos processos decisórios
coletivos, mas são também sujeitos da pesquisa. Pelo mesmo motivo, em todos os contextos, pode
ser necessário negociar um consentimento adicional à medida que a pesquisa avança e abrem-se
novos campos de investigação.
5. A fotografia (tanto fotos quanto filmes) é uma ferramenta muito importante para a investigação
antropológica. A filmagem sempre deve ser explícita. Além disso, no caso de grandes eventos
públicos é provável que nem todo mundo fotografado/filmado tenha a chance de prover
consentimento verbal. Nesses casos, os pesquisadores devem fazer tudo ao seu alcance para não
comprometer as identidades ou a segurança das pessoas em apresentações públicas do material.
À luz dessas considerações, o peso da responsabilidade em aderir à boa conduta ética recai sobre o
pesquisador/antropólogo. Os comitês de ética precisam reconhecer a diversidade dos métodos da
pesquisa etnográfica. Para a antropologia, uma vez a pesquisa finalizada, a ética da representação é
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uma questão crucial. Os princípios delineados abaixo pretendem guiar antropólogos/as não apenas no
modo pelo qual conduzem o trabalho de campo, mas também na maneira como representam e
publicam seus resultados para públicos mais amplos.
Para esses fins a Associação adotou o seguinte conjunto de diretrizes éticas, às quais os membros
individuais da ASA devem subscrever. Elas seguem o modelo educacional para códigos profissionais,
com o objetivo de alertar os pesquisadores quanto aos problemas éticos ou quanto aos potenciais
problemas e conflitos de interesses que possam surgir no processo de pesquisa. Elas destinam-se a
fornecer um quadro prático para que os Membros tomem decisões conscientes sobre seu próprio
comportamento e envolvimento, bem como para ajudá-los a comunicar as suas posições profissionais
mais claramente às outras partes envolvidas ou afetadas por suas atividades de pesquisa. Os/as
antropólogos/as ao requererem permissão de burocracias locais, com o propósito de pesquisar
(particularmente sobre tópicos sensíveis como pesquisa sobre crianças), podem, no entanto, precisar
aderir ao procedimento ético da instituição da qual se busca a permissão. A ASA não julga acusações
a respeito de comportamento antiético. Em vez de intervir, a ASA pode atuar como um fórum para a
discussão entre as partes discordantes a respeito de ética. Pesquisadores antropólogos deveriam
esperar encontrar dilemas éticos a cada estágio de seu trabalho e deveriam fazer esforços, em boa fé,
para identificar antecipadamente potenciais reivindicações e conflitos éticos ao preparar suas
propostas e conforme o prosseguimento dos projetos. Encorajamos as pessoas que utilizam as
diretrizes da ASA para auxiliá-las a fazer escolhas éticas ou para docência, a buscar exemplos
ilustrativos e estudos de caso apropriados para enriquecer sua base de conhecimento.
(a) A ASA sustenta que suas obrigações fundamentais são para com os participantes de sua
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investigação e quando houver conflito, os interesses e direitos daquelas pessoas estudadas devem vir
em primeiro lugar. Isso significa que os antropólogos, em especial, devem refletir profundamente
sobre os prováveis impactos nas comunidades/culturas/sociedades que eles estão estudando; de
qualquer pesquisa, consultoria ou outros serviços que eles possam oferecer ou serem solicitados a
oferecer a Estados nacionais/supra-nacionais ou estrangeiros ou entidades não estatais (como
corporações transnacionais, agências de aplicação da lei, ONGs ou instituições de caridade) que
intervêm ou buscam intervir nas vidas dessas comunidades/culturas/sociedades. O trabalho para
organizações estatais ou não estatais que é secreto e, portanto, rompe as relações de confiança e
abertura, é especialmente problemático. O trabalho aberto, o qual só é possível porque os participantes
estão sujeitos à coerção, também viola os padrões éticos básicos.
(2) Antecipação de danos: Os antropólogos devem estar cientes das possíveis consequências de
seu trabalho e devem se esforçar para se protegerem contra efeitos nocivos previsíveis. O
consentimento por parte de indivíduos não absolve os antropólogos de sua obrigação de proteger os
participantes da pesquisa, tanto quanto possível, contra os efeitos potencialmente prejudiciais da sua
pesquisa:
(a) O pesquisador deve tentar minimizar os danos, tanto para os próprios sujeitos quanto para as
relações dos sujeitos com seu ambiente. Mesmo que os participantes da pesquisa possam ser
imediatamente protegidos pelo dispositivo de anonimato, o pesquisador deve tentar antecipar os
efeitos a longo prazo sobre os indivíduos ou grupos, como um resultado da pesquisa;
(b) Os antropólogos podem, algumas vezes, estar melhor posicionados do que (pelo menos,
alguns dos) seus informantes a antecipar as possíveis repercussões de sua pesquisa, tanto para os
participantes imediatos quanto para os outros membros do universo de pesquisa ou a sociedade em
geral. Em certos contextos políticos, alguns grupos, por exemplo, as minorias religiosas ou étnicas,
podem ser particularmente vulneráveis e pode ser necessário suspender a publicação de dados ou
mesmo abster-se totalmente de estudá-los.
(3) Evitar a invasão indevida: Os antropólogos devem estar cientes do potencial invasivo de
algumas das suas perguntas e métodos:
(a) Como outros pesquisadores sociais, eles não têm nenhum direito especial para estudar todos
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os fenômenos, e o avanço do conhecimento e da busca de informação não são em si mesmas
justificativas suficientes para substituir os valores e ignorar os interesses daqueles estudados;
(b) Eles devem estar cientes de que para os participantes da pesquisa o fato de tornarem-se objeto
de descrição antropológica e de interpretações pode ser uma experiência bem-vinda, mas também
pode ser perturbadora. Em muitas das investigações das ciências sociais que causaram controvérsia,
isto não surgiu porque os participantes sofreram direta ou indiretamente algum dano real. Em vez
disso, a preocupação foi o resultado da sensação dos participantes de terem sofrido uma invasão em
seus espaços privados e pessoais, ou de terem sido enganados (por exemplo, por terem sido levados
a adquirir um auto-conhecimento que eles não queriam ou buscavam). Quando viável, os participantes
também devem ser informados de que podem desistir da pesquisa a qualquer momento.
(b) Condições que se constituem em uma falta de consentimento: o consentimento dado após a
pesquisa ter sido realizada não é um consentimento válido. Quando os sujeitos são legalmente
forçados (ex. pelo seu patrão ou governo) a participar em um projeto de pesquisa, o consentimento
dado pode não ter nenhum significado para os mesmos, nesta situação os antropólogos são advertidos
a não darem procedimento a este tipo de trabalho. Entretanto, como foi observado acima, no caso de
circunstâncias excepcionais como grandes eventos públicos - especialmente onde fotografias são
tiradas - o consentimento, às vezes, pode ser buscado depois do evento já que frequentemente não é
possível buscar consentimento prévio. Embora não seja sempre possível obter consentimento formal,
passos razoavelmente praticáveis para fazê-lo devem ser tomados.
(c) O consentimento na pesquisa é um processo, e não um evento isolado, dada a sua qualidade
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aberta e de longo prazo. Consentimento pode requerer renegociação ao longo do tempo; é uma
questão a qual os antropólogos devem retornar periodicamente. Dependendo do projeto de pesquisa,
os pesquisadores podem ser capazes somente de oferecer uma aproximação grosseira de alguns dos
possíveis cenários nos quais o consentimento pode ser buscado. Entretanto, a reflexão sobre questões
éticas e conduta deve ser contínua
(d) Quando se pretende utilizar meios audiovisuais, seja meramente para recolha de dados ou para
fins representacionais mais amplos, como a produção de filmes etnográficos ou ensaios fotográficos,
os principais sujeitos da investigação devem ser informados das capacidades técnicas destes meios e
devem estar livres para rejeitar seu uso. Essas condições devem geralmente ser aplicadas em espaços
públicos, bem como em espaços privados, onde existe uma expectativa razoável de privacidade. E os
antropólogos devem tomar medidas no início do trabalho de campo para se sensibilizar com as normas
locais que podem incorporar idéias sobre o privado e o público diferentes daquelas da própria
sociedade do antropólogo.
(e) Antropólogos engajados na ciber etnografia ou outras formas de pesquisa que envolvem o uso
de textos eletrônicos, imagens e/ou gravações de áudio que já estão em domínio público e/ou
disponíveis através de fóruns como blogs, salas de conversa, sites de mídia social etc., devem
permanecer sensíveis às possíveis implicações de usarem novamente esses textos eletrônicos,
imagens e sons, não somente em termos de responsabilidades éticas aos sujeitos, mas também em
relação aos Direitos de Propriedade Intelectual mantido tanto pelos próprios sujeitos como por
aqueles que criaram as imagens ou gravações em primeiro lugar. É importante notar que a própria
noção de domínio público (devido à questão de associação para alguns sites e propriedade corporativa
em sites de redes sociais) é um fenômeno em constante evolução e transformação assim como a ciber
etnografia e as suas implicações éticas.
(f) Quando a informação é coletada por terceiros, muitos cuidados devem ser tomados a fim de
não se infringir o espaço privado da pessoa pesquisada, ou da sua relação com o informante; se
existirem indicações de que aquela pessoa em questão iria objetar que certa informação fosse
revelada, tal informação não deve ser buscada através de informante.
(g) O longo período de uso das informações coletadas por antropólogos e a possibilidade de
algum uso imprevisto ou o surgimento no futuro de novos interesses teóricos acerca destes dados,
devem ser informados aos participantes, bem como a probabilidade de que os dados possam ser
compartilhados (de alguma forma) com outros colegas ou possam ser disponibilizados aos
patrocinadores, financiadores ou outras partes interessadas, ou mesmo depositados em arquivos.
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(5) Direito à confidencialidade e ao anonimato: os informantes e outros participantes da
pesquisa devem ter o direito de permanecerem anônimos e de ter seus direitos de privacidade e
confidencialidade respeitados. Contudo, a privacidade e a confidencialidade apresentam aos
antropólogos problemas particularmente difíceis, dada as variações culturais e legais entre as
sociedades, e as variadas formas pelas quais os interesses reais ou o papel do pesquisador, do
etnógrafo podem não ser totalmente percebidos por alguns ou todos os participantes, ou podem
tornarem-se até mesmo invisíveis com o passar do tempo.
(a) Deve-se tomar cuidado para não infringir inoportunamente o espaço privado, (como definido
localmente) de um indivíduo ou de um grupo;
(d) Se for garantida a privacidade e confidencialidade, estas devem ser honradas, a menos que
haja uma questão ética clara e poderosa para que não se as mantenha. Informações confidenciais
devem ser tratadas pelos antropólogos como tais, mesmo quando estas não gozem de proteção ou
privilégio legal. Outras pessoas que tenham acesso às mesmas informações devem também ser
advertidas quanto às suas obrigações, contudo os participantes devem ser alertados que é raro e
legalmente difícil garantir-se a total confidencialidade ou de proteger-se a privacidade de dados.
Notas de campo e outros tipos de dados não devem ser arquivados na forma bruta [original], se isso
infringir a promessa de confidencialidade e anonimato feita aos participantes, ou as razões declaradas
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para a pesquisa sobre a qual o consentimento informado foi acordado. Períodos estendidos de
embargo podem fornecer uma maneira de proteger o material para futuros pesquisadores, incluindo
aqueles das comunidades de origem, enquanto honrando os compromissos atuais. No longo prazo,
pode ser apropriado tornar disponíveis as notas de campo e outros materiais de pesquisa para uso de
outros pesquisadores e.g. incluindo-os em arquivos [institucionais] relevantes. Os antropólogos
devem deixar isso claro ao obter o consentimento informado. Os antropólogos devem estar cientes
que eles talvez não sejam capazes de proteger as suas notas de campo em toda a sua extensão e,
consequentemente, todo cuidado deve ser tomado sobre como os dados são registrados.
(e) Os antropólogos devem, de forma similar, respeitar as iniciativas tomadas por outros
pesquisadores a fim de manter o anonimato do seu campo de pesquisa e de seus participantes.
(6) Recompensa justa pela assistência: Não deve existir nenhuma exploração econômica dos
informantes, tradutores ou pesquisadores participantes; por isto uma recompensa justa deve ocorrer
por conta de sua ajuda e serviços.
(7) Direitos de propriedade intelectual dos participantes: Deve ser reconhecido que os
participantes têm interesses contratuais/ legais sobre as informações, gravações e publicações. No
entanto, irão variar conforme os acordos e a jurisdição legal.
(a) É obrigação do entrevistador informar ao entrevistado os seus direitos sobre qualquer direito
autoral ou leis de proteção à informação do país onde a pesquisa está sendo realizada; o entrevistador
deve indicar de antemão quaisquer usos que provavelmente serão dados à entrevista (por exemplo, a
pesquisa , uso educacional, publicação, difusão na mídia, etc.)
(b) De acordo com o Ato de Direitos Autorais do Reino Unido (1988), os pesquisadores que fazem
gravações de áudio ou vídeo, devem obter “autorização de direitos autorais” dos entrevistados, se as
gravações forem apresentadas publicamente ou arquivadas em acervos públicos. Quaisquer restrições
de uso (e.g., período de tempo) ou outras condições (e.g., preservação de anonimato) que sejam
requeridas pelo entrevistado devem ser registradas por escrito ou podem também ser feitas em
audiovisual como uma gravação de consentimento oral. A melhor forma de fazê-lo é na época da
entrevista (o uso antropológico desse método), usando um formulário padrão. Uma liberação
retrospectiva geralmente consome muito tempo ou torna-se mesmo impossível quando o entrevistado
faleceu ou mudou-se de endereço.
(c) Os entrevistadores devem esclarecer antes da entrevista até que ponto os sujeitos têm
permissão para verem as transcrições de entrevistas e notas de campo, alterar o seu conteúdo, retirar
declarações, fornecer informações adicionais ou adicionar glosas nas interpretações.
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(d) Também devem ser dados aos indivíduos esclarecimentos em relação ao grau em que esses
serão consultados antes da publicação.
(a) Devem ter cuidado para não prometer ou dar a entender a aceitação de condições que seriam
contrárias à ética profissional ou compromissos concorrentes. Os pontos onde os conflitos
provavelmente virão a aparecer, devem ser referidos aos patrocinadores ou outras partes interessadas
para que conheçam esses pontos no presente guia de orientação profissional;
(c) No caso de alguns ou de todos os participantes da pesquisa também estarem atuando como
patrocinadores e/ou financiadores da pesquisa, o potencial de conflito entre seus diferentes papéis e
interesses deve ser esclarecido.
(a) Devem ser honestos sobre suas qualificações e experiência, as limitações, vantagens e
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desvantagens de seus métodos e dados. Devem reconhecer a necessidade de discrição com
informações confidenciais fornecidas pelos patrocinadores e empregadores;
(b) Não devem esconder os fatores pessoais ou outros que possam afetar a gestão satisfatória ou
a conclusão do projeto de pesquisa ou contrato proposto.
(a) Eles têm direito a divulgação completa das fontes de recursos, pessoal, objetivos da
instituição, a finalidade (s) do projeto de pesquisa e a disposição dos resultados da investigação;
(b) Têm direito a esperar do financiador patrocinador, ou do empregador, o respeito por sua
experiência profissional e pela integridade dos dados, estando ou não estas obrigações incorporadas
em contratos formais. Mesmo quando as obrigações contratuais requererem confidencialidade de
informações privilegiadas, os métodos e procedimentos que foram utilizados para produzir os dados
publicados não devem ser mantidos em sigilo;
(c) Deve-se prestar uma atenção especial a questões como: a sua capacidade de proteger os
direitos e interesses dos participantes da pesquisa; sua capacidade de tomar todas as decisões éticas
em suas pesquisas, e os seus direitos autorais e royalties (e de outras partes) sobre os dados coletados
e publicações.
(4) Relações com “guardiães” [autoridades]: Quando o acesso aos sujeitos é controlado por um
órgão nacional ou local, os pesquisadores não devem delegar para estes as suas responsabilidades.
Respeitando os interesses legitimados das autoridades, os pesquisadores devem aderir aos princípios
de obtenção do consentimento informado diretamente com os indivíduos, assim que obtenham acesso
a eles. Devem tomar cuidado de, inadvertidamente, perturbar a relação entre sujeitos e guardiães visto
que esta continuará muito depois de o pesquisador deixar o campo.
Os antropólogos possuem seu status e certos privilégios de acesso aos participantes e dados de
pesquisa não somente em virtude do seu prestígio pessoal, mas também por sua cidadania
profissional. Ao reconhecerem-se como membros de uma comunidade antropológica mais ampla, os
antropólogos devem várias obrigações a ela e podem esperar a consideração dessa comunidade.
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conteúdos e relatar suas investigações, comportamento no campo e relações com participantes da
pesquisa e assistentes de campo, devem, portanto, buscar garantir que suas atividades não colocarão
em risco pesquisas futuras. Assim, as pesquisas antropológicas estão sujeitas às regras morais gerais
da conduta científica e acadêmica: elas não devem enganar ou intencionalmente deturpar (e.g. fabricar
evidências, falsificar ou plagiar), tentar impedir denúncias de conduta imprópria ou obstruir a
pesquisa acadêmica/científica de outros.
(a) Consideração por e consultoria com antropólogos que já trabalharam ou ainda trabalham no
local da pesquisa proposta é recomendável e é também um ato de cortesia profissional. Deveria ser
especialmente reconhecida a vulnerabilidade de projetos de pesquisa de longo prazo com relação à
intrusão;
(a) Resultados de pesquisa, publicações e, quando possível, os dados de pesquisa deveriam estar
disponíveis no país onde a pesquisa foi realizada. Se necessário, a pesquisa deve ser traduzida para a
língua nacional ou local. Os pesquisadores devem estar alertas, entretanto, aos danos que podem
surgir para os participantes da pesquisa, colaboradores e colegas locais, a partir da revelação total ou
mesmo parcial de dados brutos ou processados ou de revelações de seu envolvimento no projeto de
pesquisa. Os antropólogos devem ponderar as intenções e potenciais usos do seu trabalho e o impacto
dessa difusão determinando se a disponibilidade limitada dos resultados é garantida e ética em todas
as instâncias.
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(b) Quando o compartilhamento com colegas – de dados brutos ou processados –, o depósito
(voluntário ou obrigatório) de dados em arquivos ou bibliotecas for previsto, deve-se prestar atenção
para que não se quebre a privacidade, as garantias de confidencialidade e do anonimato, e as devidas
salvaguardas devem ser contempladas.
Os antropólogos devem ser honestos e humildes em suas relações com os seus governos e o de
seus anfitriões.
(1) Condições de acesso: os pesquisadores devem buscar garantias de que não serão solicitados
a comprometer suas responsabilidades profissionais e acadêmicas como condição para ter garantido
o acesso à pesquisa.
(a) Os antropólogos devem ter em mente as diferenças de posições entre o civil e o legal e,
frequentemente, o financeiro, dos pesquisadores e acadêmicos nacionais e estrangeiros.
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(b) Devem estar conscientes de que ações irresponsáveis por um pesquisador ou equipe de
pesquisa podem por em risco o acesso ao local para uma pesquisa ou mesmo a um país inteiro para
outros pesquisadores – antropólogos e não-antropólogos. Estar ciente das consequências de suas
atividades de pesquisa é particularmente relevante quando antropólogos que prestam consultoria a
governos, corporações multinacionais, exércitos invasores e militares não priorizam os direitos e
interesses das populações locais e nos casos em que os objetivos aparentes das intervenções podem
razoavelmente ser questionados por cientistas sociais críticos e reflexivos.
(3) Pesquisa aberta: os antropólogos possuem uma responsabilidade para com seus colegas em
todo o mundo e com a disciplina como um todo para não utilizar seu papel de antropólogo como um
disfarce para pesquisas ou atividades clandestinas.
(4) Restrições legais e administrativas: os antropólogos devem saber que pode existir um
número de leis ou regulamentações administrativas que podem afetar o andamento de sua pesquisa,
questões que dizem respeito à disseminação ou arquivamento de dados, publicação, direitos dos
sujeitos, patrocinadores, empregadores, etc., da pesquisa. Os antropólogos devem também lembrar
que, salvo em raras circunstâncias excepcionais, os dados da pesquisa social não são privilegiados
pela lei e podem estar sujeitos a intimações legais. Tais leis variam de acordo com a jurisdição.
Algumas delas que podem ter consequências para a pesquisa e publicações no Reino Unido são, por
exemplo, o Ato de Proteção de Dados [Data Protection Act], lei de confiança, Ato sobre Relações
Raciais [Race Relations Act], leis de difamação, leis de direitos autorais [copyright], lei de contrato
e Ato de Segredos Oficiais [Official Secrets Act];
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interesses:
(a) No entanto, no planejamento de todas as fases de uma pesquisa, desde o projeto até a
apresentação dos resultados, os antropólogos também devem considerar o resultado provável para a
sociedade em geral, grupos dentro dela e possíveis pesquisas futuras, bem como para os membros da
população da pesquisa não diretamente envolvidos no estudo e os participantes diretamente
envolvidos.
(b) O fato de uma informação poder ser mal interpretada ou mal utilizada não é em si um
argumento convincente contra a sua recolha e divulgação. Toda a informação está sujeita a uma má
utilização e nenhuma informação é desprovida de possíveis danos a um ou outro interesse. As pessoas
podem ser prejudicadas pela sua participação nas pesquisas sociais ou os interesses de grupos podem
ser prejudicados por certas constatações. Os pesquisadores geralmente não estão em posição de
impedir a ação baseada nas suas descobertas, mas eles devem, no entanto, tentar anteciparem-se a
prováveis interpretações equivocadas, para neutralizá-las quando ocorrerem.
(a) Os antropólogos não devem se envolver ou ser coniventes com métodos de seleção projetados
para produzirem resultados enganosos, ou em deturpar resultados por ação ou omissão.
(b) Quando for provável a incidência dos resultados da pesquisa sobre a opinião e políticas
públicas, os antropólogos devem ter o cuidado de declarar as limitações significativas em suas
constatações e interpretações.
. Epílogo
A REPUTAÇÃO DA PESQUISA ANTROPOLÓGICA VAI INEVITAVELMENTE DEPENDER
MENOS DO QUE O SEU CORPO PROFISSIONAL CONCORDAR SOBRE NORMAS ÉTICAS,
DO QUE DA CONDUTA INDIVIDUAL DE SEUS PESQUISADORES. RECONHECEMOS QUE
OPINIÕES E CONCLUSÕES ÉTICAS PODEM LEGITIMAMENTE DIFERIR, MESMO
QUANDO EXISTE ACORDO SOBRE OS FATOS DO CASO. O PESQUISADOR PRECISA, POR
ISSO, REFLETIR SOBRE SUA PRÓPRIA POSIÇÃO NA PESQUISA E SUAS PRÁTICAS DE
PESQUISA EM TODAS AS ETAPAS. ESTE GUIA FOI CRIADO COM O OBJETIVO DE
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AJUDAR OS ANTROPÓLOGOS A ATINGIR UMA RESOLUÇÃO SATISFATÓRIA E
IMPARCIAL PARA OS SEUS DILEMAS (POTENCIAIS). O ESTABELECIMENTO DESTES
IDEAIS NÃO IMPÕE UM CONJUNTO DE REGRAS RÍGIDAS RESPALDADAS POR
SANÇÕES INSTITUCIONAIS, DADAS AS VARIAÇÕES NOS PRECEITOS MORAIS
INDIVIDUAIS E DAS CONDIÇÕES REGIDAS PELA ESPECIFICIDADE DE CADA
TRABALHO. ESTAS ORIENTAÇÕES NÃO PODEM RESOLVER AS DIFICULDADES DE
FORMA ISOLADA, NEM DAR MAIOR PRIORIDADE A UM PRINCÍPIO EM DETRIMENTO
DE OUTROS. AO INVÉS DISSO, ELAS OBJETIVAM AJUDAR NA FORMAÇÃO DOS
ANTROPÓLOGOS, SENSIBILIZANDO-OS PARA OS CONFLITOS E DILEMAS EM
POTENCIAL QUE PODEM SURGIR NAS PESQUISAS ACADÊMICAS E ATIVIDADES
PROFISSIONAIS, SENDO MAIS INFORMATIVAS E DESCRITIVAS DO QUE AUTORITÁRIAS
OU PRESCRITIVAS. ELAS OBJETIVAM GARANTIR QUE QUANDO ESTES PRINCÍPIOS
ESTÃO CONTEMPLADOS OU QUANDO O PRIVILÉGIO DE UM GRUPO OU O INTERESSE
DE UMA PARTE OU PARTES SÃO JULGADOS PONTUALMENTE OU TAL SE FAÇA
LEGALMENTE NECESSÁRIO, AS DECISÕES DO PESQUISADOR DEVEM SE BASEAR NA
PRECAUÇÃO E NA DELIBERAÇÃO INFORMADA.
. Agradecimentos
As emendas às Diretrizes Éticas da ASA foram elaboradas pelos Membros do Comitê Executivo da
ASA durante o período entre julho de 2010 e novembro de 2011. Os membros do Comitê foram James
Fairhead, Reminder Kaur, Nayanika Mookherjee, James Staples, Catherine Degnen e Garry Marvin.
As Diretrizes Éticas da ASA foram atualizadas pela última vez em 1999 e, ao receber um feedback
considerável dos membros da ASA, sentiu-se a necessidade de atualizar e emendar as Diretrizes à luz
da cambiante natureza disciplinar da antropologia. Um primeiro esboço destas Diretrizes emendadas
foi enviado a todos membros da ASA em fevereiro de 2011. Um grande número de membros da ASA
respondeu com comentários e agradecemos a todos por contribuirem para esse processo. Na
Assembleia Anual da ASA, realizada em 4 de março de 2011, foi decidido que as emendas recentes
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seriam incorporadas às Diretrizes Éticas e esta segunda versão de um esboço de diretrizes seria
finalizado no devido tempo em junho de 2011. Posteriormente, aquela versão do documento foi
enviada a todos os membros da ASA para um processo de consulta final e todas respostas
subsequentes foram recebidas no final de julho de 2011 para serem incorporadas ao documento. Esta
versão das Diretrizes Éticas da ASA foi proposta em uma Assembléia extraordinária no Congresso de
2011 da ASA em Lampeter, País de Gales, em 15 de setembro de 2011. Em 12 de outubro de 2011, o
Comitê Executivo aprovou esta versão das Diretrizes Éticas. O Comitê considerou todos os
comentários de seus membros na formulação da versão final em outubro de 2011. O Comitê também
reconhece penhorado o uso de alguma linguagem dos códigos de ética da American Anthropological
Association (AAA). Esperamos publicar esta versão das Diretrizes Éticas no website da ASA
(http://www.theasa.org). Encorajamos nossos membros a trazer à atenção do secretário de ética da
ASA (ethics(at)asa.org) quaisquer emendas que gostariam de fazer às diretrizes éticas e emendas
sugeridas podem ser adicionadas anualmente às Diretrizes como Adendos, sujeitos à aprovação na
Assembléia Geral Anual da ASA.
NB: ASA “Ethical Guidelines for Good Research Practice” na sua versão de 2011, aparece
aqui traduzido e incorporado na tradução GEM da versão anterior do guia aprovado pela
ASA em 1999. A tradução e incorporação dos novos trechos do doc de 2011 foi realizada pelo
mestrando Bruno Muck e doutorando Kelvin Venturin em maio de 2021.
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O doc ASA de 1999 foi traduzido do inglês para o Seminário de Métodos em Etnomusicologia.
PPGMUS/UFRGS (2011/2)
Colaboradores:
Christiano Kolinski
Rafael Velloso
Felipe Cemin
Luana Zambiazzi
Artus Goerl
Revisão: Maria Elizabeth Lucas
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