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Metodologia de investigação em educação I

Técnicas de recolha de dados:

• Estando formulado o problema, definidas as hipóteses, operacionalizadas as variáveis e


selecionada a amostra, o passo seguinte do processo de investigação científica é a
recolha de dados empíricos (concretos, observáveis, verificáveis).
• O investigador vai definir “o que” e o “como” vão ser recolhidos os dados e que
instrumentos vão ser utilizados.
• As técnicas escolhidas para a recolha de dados são determinadas pelos diferentes
objetivos do estudo e pela natureza dos assuntos em questão.
• Qualquer plano de investigação, quantitativo ou qualitativo, implica uma recolha de
dados originais por parte do investigador.

• As técnicas de recolha de dados podem ser:


• Quantitativas
• Qualitativas
• Contudo, a utilização das técnicas quantitativas não é exclusiva dos planos
quantitativos, e vice-versa, recorrendo-se, muitas vezes, a uma combinação de
ambas as técnicas no decorrer de uma mesma investigação.
• Num estudo eminentemente quantitativo podemos usar a observação ou a entrevista
não estruturada , como técnicas de recolha de dados, não tendo o propósito de
interpretar crenças ou comportamentos dos sujeitos.
• A utilização de técnicas qualitativas num estudo quantitativo faz-se, geralmente, num
estudo piloto (preliminar), e também quando os dados recolhidos serão tratados de
forma numérica (análises quantitativas de conteúdo).
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• Um investigador qualitativo pode utilizar técnicas quantitativas quando necessita de
responder a questões específicas, ou ter informações complementares,
nomeadamente administrando um instrumento estandardizado (dados normativos),
em que os dados dos sujeitos a quem foi administrado o instrumento poderão ser
comparados com os dados normativos.
• Por exemplo, em vez de descrever os participantes do estudo qualitativo como
altamente ansiosos, o investigador pode aferir e indicar o seu nível exato de
ansiedade, em comparação com a população normal.
• Nos estudos quantitativos a seleção das técnicas de recolha de dados é feita
previamente a essa recolha.
• Nos estudos qualitativos a seleção das técnicas de recolha de dados pode ser feita
no decorrer do trabalho, sendo influenciada quer pelo tipo de informação obtida,
quer pelas análises e interpretações que vão sendo feitas.
• Dados – qualquer informação que colabore para esclarecer o problema em estudo.
• Dados primários – são aqueles que o investigador obtém diretamente da realidade,
estando em contacto com eles e recolhendo-os.
o Entrevistas, notas de observações, etc.
• Dados secundários – registos provenientes também do contacto com a práticas, mas
que já foram recolhidos, e muitas vezes, processados por outros investigadores.
o Diários, artigos (de jornal), fotografias, documentos oficiais, etc.

Técnicas Interativas- Técnicas Qualitativas:

• O investigador qualitativo recolhe dados em bruto (rough materials) acerca da


realidade em estudo.
• Os dados são recolhidos no ambiente natural, e é o investigador que define o que
pode ser considerado como informação adequada ao que se pretende estudar.
• As técnicas vão sendo ajustadas de acordo com as informações que o investigador
vai recolhendo e/ou em função das interpretações que vai fazendo dos dados
recolhidos.
• Pressupõem uma interação pessoal entre o investigador e os participantes.
• Observação participante
- Técnica utilizada na investigação social.
- O investigador participa ativamente na situação que observa, interagindo com
os indivíduos que são objeto de
observação/estudo, mas não interfere no decurso natural dos acontecimentos.
- O investigador regista o que observa (impressões e perceções) sobre o
comportamento dos sujeitos - ações, discursos, gestos, etc.
- Permite a obtenção de informações detalhadas e profundas sobre o
comportamento e a cultura dos indivíduos estudados, pois o investigador está
imerso na realidade daquele grupo, e pode ver as coisas de dentro.
- A observação participante exige que o investigador tenha boas habilidades
de observação, e capacidade de interpretar ações e discursos, sendo
fundamental manter sempre uma postura ética e respeitosa em relação às
pessoas observadas.
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- O investigador assume um papel ativo e atua como um membro do grupo
que observa.
- O objetivo é conseguir ter a perspetiva de insider do grupo.
- Estetipodetécnicaderecolhadedadosimplicaqueoinvestigadorpasselongosperí
odoscom os sujeitos que estão a ser investigados.
- Parte-se, nesta perspetiva, do princípio que os contextos são sempre
idiossincráticos (com características próprias e distintivas) e originais, não
sendo possível recolher dados sem neles participar.
- É uma observação naturalista e aberta.

• Entrevista etnográ ca
- Técnica utilizada na investigação social. Permite a obtenção de informações
detalhadas e aprofundadas sobre o comportamento e as perceções dos
entrevistados, e proporciona uma compreensão mais ampla do contexto
cultural em que eles estão inseridos.
- Trata-se de uma conversa entre o investigador e o entrevistado, que tem
como objetivo a obtenção de informações sobre a sua vida quotidiana,
experiências, opiniões e crenças.
- Ao contrário das entrevistas conv encionais, a entrevista etnográfica é mais
aberta e flexível, pois permite que o entrevistado fale livremente sobre os
temas que são importantes para ele, sem a rigidez de um guião padronizado.
Procura-se construir um diálogo mais informal e espontâneo com o
entrevistado, a fim de compreender sua perspetiva e interpretar seus
discursos de forma mais profunda.
- O entrevistador deve utilizar uma postura empática e reflexiva, procurando
entender a posição do entrevistado e como esta se insere na cultura e na
sociedade em que ele está inserido. Ao mesmo tempo, o entrevistador deve
ter uma postura crítica em relação ao discurso do entrevistado, questionando
suas afirmações e tentando identificar suas motivações e valores subjacentes.
- Pressupõe interação entre o entrevistado e o investigador.
- Tratam-se de entrevistas não estandardizadas, não seguindo um guião pré-
definido.
- Há um guião flexível, do tipo “perguntas abertas”, com questões gerais, que
podem ser colocadas de forma arbitrária, e que permitem ao sujeito
responder por palavras suas.
- Esta flexibilidade permite que diferentes sujeitos possam ser entrevistados de
diferentes maneiras, em função das respostas que vão dando ao entrevistador.
- Muitas perguntas surgem no contexto imediato.
- Embora possa ser usada como técnica principal de recolha de dados, muitas
vezes é usada na sequência da observação participativa.

Forças
• É o investigador que orienta as interações, o que facilita a obtenção de dados
relevantes.
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• Melhores oportunidades para obter dados que melhor respondem à questão em
estudo.

Fraquezas
• Efeito do observador – reação dos participantes à presença do observador pode levá-
los a transmitir, deliberadamente ou inconscientemente, informações falsas ou
enganadoras.

Efeito do observador
• Pode ser minimizado através de estratégias de triangulação – utilização de vários
tipos de métodos ou de diversos dados:
- Triangulação dos dados – consulta de várias fontes de informação num
mesmo estudo.
- Triangulação dos investigadores – recurso a diversos investigadores ou
observadores.
- Triangulação das teorias – aplicação de várias perspetivas teóricas para
interpretar um mesmo conjunto de dados.
- Triangulação metodológica – utilização de múltiplos métodos para estudar o
mesmo problema.
- Triangulação interdisciplinar – utilização de princípios, métodos, etc., de
outras áreas do saber.

Técnicas não-Interativas- Técnicas Qualitativas

• Permitem ao investigador obter informação sobre um fenómeno, sem nele intervir.


• Os investigados não sabem que são alvo de investigação e, por conseguinte, agem
naturalmente.
• Consulta de documentos
- São geralmente registo de acontecimentos passados, escritos ou não (textos ou
vídeos, áudios).
- Podem ser oficiais ou não oficiais, públicos ou privados, publicados ou não
publicados.
- São evidências mudas dos factos e, ao contrário das palavras, têm uma existência
física, podendo ser encontrados em bibliotecas, arquivos, museus, coleções, etc.
- O investigador tenta reconstruir acontecimentos e atribuir possíveis significados
aos mesmos.
- Exemplos:
Cartas, diários, testamentos, mapas, revistas/jornais, biografias, regulamentos,
decretos, filmes, etc.

• Observação não participativa


- Pressupõe a observação e registo dos fenómenos, sem haver qualquer tipo de
envolvimento do investigador com as pessoas ou fenómenos em estudo.
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- Apesar de não haver interação entre o investigador e os investigados, mantém-se
a possibilidade de o investigador captar os significados dos comportamentos
observados.
- Os investigadores centram-se no mero registo de dados.
- Alguns autores consideram que é impossível evitar a interação nas situações
sociais, pelo que a simples presença do investigador torna-o imediatamente
participantes, mesmo que não exista interação verbal com os sujeitos.

Técnicas Quantitativas

• Numa investigação quantitativa, o objetivo principal do processo de recolha de dados é


obter descrições, relações, e explicações estatísticas entre as variáveis.
• Utilizam-se técnicas rigorosas de recolha de dados, maioritariamente estandardizadas,
que permitam assegurar a validade e fidelidade dos dados recolhidos.
• Instrumento é estandardizado:
- quando inclui procedimentos uniformes e consistentes para a administração,
avaliação e interpretação dos resultados.
- é geralmente acompanhado por um manual de instruções específicas, de modo
a minimizar o erro na recolha de dados.

Observação estruturada

• Observação orientada por categorias pré-definidas de resposta, podendo ocorrer em


meios naturais, ou não naturais (ex. laboratórios), onde se recriam parcelas da realidade
com o objetivo de as estudar sistematicamente.
• Antes de ser iniciado o processo de observação, o investigador escolhe de antemão o
que lhe interessa observar.
• A observação dos fenómenos é orientada por categorias pré-determinadas de
respostas dos sujeitos, analisando-se pequenas parcelas da realidade, que se
selecionaram anteriormente, e se indicaram na formulação do problema e das
hipóteses.
• Esta técnica implica a utilização de grelhas de observação previamente elaboradas, que
permitam o registo sistemático dos dados para posterior tratamento estatístico.

Entrevista estruturada

• Este tipo de entrevista constitui uma situação de interação verbal em que o


entrevistador coloca pela mesma ordem uma série de questões pré-estabelecidas, as
quais possuem uma gama limitada de alternativas de resposta.
• É constituída por questões fechadas. O investigador adota o papel de ouvinte
interessado, motivando o sujeito, mas não avaliando as respostas, nem emitindo
quaisquer juízos.
• O contacto interpessoal é idêntico para todos os/as participantes, de modo a minimizar
erros nos resultados do estudo.
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• 1.o passo - é especificar a variável que se pretende medir e, depois, proceder à
formulação de questões apropriadas.
• As questões devem traduzir a definição operacional* da variável em estudo.
• Por exemplo, se a variável for “clima de abertura na escola” e a sua definição
operacional for “liberdade para mudar,
para se aproximar de superiores” (Tuckman, 2012, pp. 454-455), então duas das
questões poderão ser:
- Sente-se livre para expor os seus problemas ao diretor/a?
- Sente-se à vontade para adotar novas práticas e materiais na sala de aula?
• As respostas poderão ser codificadas desta forma: “Sim”; “Assim, assim”; “Não”.

De nição operacional* – é uma descrição clara e precisa de como uma variável será
medida ou observada num estudo científico, ou seja, é uma especificação das operações
ou procedimentos que serão usados para medir ou manipular uma variável em um
estudo.
A definição operacional é importante porque permite que o investigador meça ou
manipule uma variável de forma válida e consistente, contribuindo para garantir que os
resultados do estudo sejam confiáveis e replicáveis.

Por exemplo, num estudo sobre “ansiedade”, que em termos gerais pode ser entendida
como uma emoção desagradável caracterizada por sentimentos de tensão, apreensão,
nervosismo e preocupação excessiva em relação a eventos futuros ou incertos,
operacionalmente, pode ser medida através de testes padronizados (ex. Inventário de
Ansiedade de Beck), ou através da avaliação de medidas fisiológicas, como a frequência
cardíaca, a pressão arterial, etc., que são frequentemente utilizadas em estudos de
ansiedade experimental.
A definição operacional garante que os investigadores medem o mesmo construto em
todos os participantes do estudo de maneira consistente e objetiva.

Testes

• São instrumentos concebidos para medir conhecimentos, capacidades, aptidões, etc., -


variáveis do domínio cognitivo, com o objetivo de avaliar os sujeitos em termos de
diferenças individuais numa ou mais dimensões do comportamento.
• Neste sentido, é-lhes inerente a noção de fracasso e de êxito.
• 2 tipos de testes:
- Testes referenciados a normas
- Testes referenciados a critérios

Testes referenciados a normas

• Existe um grupo normativo, que serve de referência para a comparação dos resultados
individuais. Assim, o resultado obtido pelo sujeito é comparado com os desempenhos
do grupo-padrão, ao qual o sujeito se assemelha em algumas variáveis (ex. sexo, idade,
escolaridade, etc.)
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• A comparação dos resultados do sujeito com as normas do teste, permite definir como
este (o sujeito) se posiciona, em relação aos outros indivíduos, na distribuição normal.
• Torna-se possível saber se o sujeito está acima ou abaixo da média, qual é o seu
percentil, etc.

EXEMPLOS
- Testes de inteligência
- Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC)
- Escala de Inteligência de Stanford Binet ❑ Etc.
- Testes de raciocínio lógico e espacial

Testes referenciados a critérios

• A pontuação/desempenho do sujeito é interpretada em função de critérios pré-


estabelecidos por profissionais:
- Por exemplo, completar uma tarefa sem erros em 20 segundos
• É avaliado o que o sujeito é capaz de fazer, isto é, o seu nível de absoluto de
competência numa área ou domínio específico.
• A comparação é estabelecida entre a pontuação obtida e os critérios definidos, sem se
pretender a comparação entre
sujeitos.

EXEMPLOS
• Testes de competência leitora
• Teste de competência escrita
• Testes de aferição de conhecimentos escolares

Questionários

• São instrumentos não cognitivos.


• Avaliam dimensões afetivas do comportamento ou não cognitivas, tais como
interesses, atitudes, valores, crenças, percepções, autoconceito, expetativas,
preferências, etc.
• Não são utilizados para avaliar os sujeitos, mas para os conhecer.
• Concebidos para detetar relações entre variáveis e diferenças entre grupos, mas não
para analisar casos individuais.
• São constituídos por grupos de questões (a rmações escritas ou por guras)
designadas por itens, na maior parte dos casos estruturados, tendo o sujeito que
escolher entre duas ou mais alternativas (respostas fechadas).
• Podem ser administrados sem a presença do investigador (autorresposta – link online),
devendo contemplar um conjunto
adequado de orientações (instruções breves e claras) para assegurarem bons
resultados.
• Para além de ser uma técnica pouco dispendiosa, tem a vantagem de garantir o
anonimato dos sujeitos.
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• Os questionários podem ser designados de acordo com a dimensão que medem:
- Escala de atitudes
- Escala de autoconceito
- Inventário de medos
- Questionário de satisfação (com a vida, formação frequentada, etc.)

O questionário deve ser cuidadosamente elaborado, evitando perguntas demasiado


gerais, confusas ou de duplo sentido, e deve ter uma ordem o mais natural possível.
- Formato geral
- Elaboração dos itens
- Itens e tipos de escalas de respostas

Em termos de formato geral, quando elaboramos um questionário, é importante ter em


conta os seguintes aspetos:
- Instruções
- Disposição gráfica
- Extensão

Instruções Gerais

• Apresentação do investigador e do estudo que está a realizar (contexto,


instituição, centro de investigação, etc.);
• Referir o tipo de informação que se pretende recolher (objetivo do estudo) e que uso
vai ser feito da mesma (exemplo, pretende-se conhecer a vossa opinião sobre o ensino
à distância; os resultados do estudo serão apenas conhecidos pela equipa de
investigadores e divulgados em encontros científicos de forma agregada, sem
identificação de dados individuais);
• Afastar receios e assegurar a confiança: referência ao anonimato e/ou confidencialidade
das respostas:
- o anonimato é garantido quando não é possível identificar por nenhum meio
quem participou no estudo e respetivas respostas;
- a confidencialidade é assegurada quando o conhecimento dos dados e da/s
pessoa/s implicadas ficam inteiramente reservados ao/à investigador/a e/ou
equipa de investigação.
• Alertar para aspetos específicos do procedimento: exemplo, não deixarem respostas
omissas/em branco, responderem com seriedade;
• Informar sobre o tempo médio de resposta ao questionário;
• Assinar/dar o consentimento/assentimento informado.
- Exemplo de assentimento informado

As instruções gerais podem ser dadas através de uma carta de apresentação, ou


oralmente quando o investigador apresenta o projeto/questionário.
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Instruções Especí cas

• Breve referência ao que se pretende medir com o questionário;


• Enquadramento temporal ou contextual da informação pretendida: por ex., “tenha
em consideração a última semana”;
• Instruções específicas sobre como preencher o questionário: por ex., “faça uma
cruz ...”;

(Disposição gráfica)
• Indicação do que fazer em caso de erro (versão em papel e lápis);
• Se o questionário tiver grupos diferentes de respostas, chamar a atenção
para eles;
• Explicitamente afirmar um “muito obrigado/a” pela participação.
• Instruções mais específicas que devem ser integradas no próprio questionário.
Boa apresentação e atraente em termos estéticos;
• Organização lógica e coerente das diversas partes;
• Dar a impressão de facilidade no preenchimento: evitar uma excessiva densidade na
apresentação gráfica;
• Usar linhas ou retângulos a separar os principais elementos gráficos;
• A primeira pergunta deve ser de resposta fechada;
• Perguntas que exijam esforço mental, ou que abranjam assuntos sensíveis não
devem ser colocadas logo no início do questionário; também não devem ser
deixadas para o fim, caso o questionário seja longo.
• Se o questionário tiver sido concebido para utilização num estudo específico deverá
incluir na primeira página o título do estudo, o nome da instituição e/ou do
investigador responsável, a data e uma ilustração ou logotipo identificador.
Questionários longos (com mais de duas páginas) devem ser apresentados na forma
de caderno, em vez de folhas agrafadas (versão em papel);
• O tipo de letra e o tamanho devem tornar os itens facilmente legíveis;
• Tipos especiais como itálico ou letras maiúsculas devem ser evitados ou usados
com moderação;
• A qualidade de reprodução dos questionários deve ser cuidada (versão em papel);
• Quando o questionário contém diversas partes, indicar explicitamente o seu início;
neste caso pode ser necessário um novo bloco de instruções, sobretudo se houver
alterações na escala de resposta;
• Em questionários longos, sempre que se muda de página deve-se repetir a escala de
resposta no cimo da mesma (versão em papel);
• Todos os itens deverão ser numerados.

A elaboração dos itens de um questionário tem por base os seguintes pressupostos:

1. O investigador tem uma ideia clara daquilo que pretende saber junto dos
respondentes
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- Se não se partir de uma definição clara e explícita do conceito que se pretende
medir, o resultado poderá ser confuso quanto ao que deve ou não ser incluído no
questionário e, portanto, ao que ele irá medir.
2. Os respondentes são capazes de compreender o item
- O investigador deve assegurar-se de que todas as palavras que compõem o item
são conhecidas das pessoas a quem o questionário se destina.
3. Os respondentes interpretam o item no sentido pretendido pelo investigador
i) não elaborar itens com afirmações duplas: “Muitos alunos têm maus resultados
escolares, não por não serem inteligentes, mas por terem problemas em casa”
ii) não elaborar itens com duplas negativas na construção frásica, como no caso
anterior ou no seguinte exemplo: “Não admito não ser informado”
4. Os respondentes dispõem da informação necessária para responder ao item
- Os respondentes podem não estar familiarizados com o assunto ou nunca terem
pensado nele
5. Os respondentes estão dispostos a procurar exaustivamente, na sua memória ou
noutro local, a informação relevante
- Motivação e atitude do respondente
6. Os respondentes estão dispostos a responder com sinceridade (desejabilidade social)
- Assegurar o anonimato das respostas e zelar pelo cuidado ético quanto à
veracidade de todos os compromissos assumidos pelo investigador. Por exemplo,
é eticamente reprovável afirmar que as respostas são anónimas e ser possível vir a
identificar a pessoa através de um determinado número de código.
7. A resposta não é influenciada por fatores do próprio instrumento
- Informações desnecessárias no instrumento – integrar exemplos mal escolhidos;
por ex., se para ilustrar o termo “vegetal” dissermos “como alfaces, por
exemplo”, as pessoas podem pensar só em vegetais folhosos ou crus, como
alfaces, couves, agriões, etc., e esquecer as leguminosas, tubérculos, e outros
vegetais.
- Algumas opções de resposta aos itens ou às perguntas - por ex., perguntar “É
favorável à imposição de limites mais rigorosos à imigração?", e apresentar as
duas seguintes alternativas de reposta: "Sim, porque o país não tem capacidade
para um número tão grande de imigrantes" e "Não", a política de imigração deve
continuar como até aqui". É praticamente certo que as pessoas favoráveis ao
"Sim" seriam em maior número do que se as alternativas fossem simplesmente
“Sim” e “Não”, uma vez que a resposta "Sim" teve uma justificação associada,
enquanto que a resposta "Não", apenas reafirmou a opção sem argumentos.
- Efeitos de perguntas colocadas antes ou depois de outras - todas as perguntas
que por qualquer razão originem atitudes negativas tendem a influenciar as outras;
questões que pareçam irrelevantes ou às quais a pessoa não saiba responder.

Medidas não reativas:

• (Nonreactive measures) - os sujeitos não têm consciência que estão a ser observados,
com o objetivo de se realizar uma investigação científica.
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• Por esta razão, o erro habitualmente associado à modificação do comportamento dos
sujeitos, que é introduzido pelo conhecimento que têm de estarem a ser observados, é
controlado.
• Apresentam alguns problemas de validade e de fidelidade; por isso não podem ser
consideradas substitutas das formas de medição convencionais, mas antes ser
encaradas como estratégias para obter informação suplementar. Esta combinação
poderá conduzir ao incremento da validade da informação obtida.
• Observação simples/ dissimulada.
• Pouco conhecidas e pouco utilizadas em Educação.

Quando é que se usam medidas não reativas?


• Analisar a diferenciação de estratégias pedagógicas numa turma, tendo em vista
fomentar o ensino individualizado, poderá observar-
se se todos os alunos de uma turma fazem as mesmas coisas e usam os mesmos
materiais numa aula convencional, ou se há
diversificação em função de características próprias dos alunos.
• Observar se as crianças com necessidades educativas especiais estão inseridas ou
excluídas dos grupos de brincadeiras num recreio,
analisando o modo como elas em geral se organizam para jogos de grupo. Se o
investigador observar certos padrões de comportamento discriminatório, ou inclusivo,
ao longo de um período de observação, essa sistematicidade poderá representar
informação valiosa.

Limitações
• Problemas de fidelidade - muitas vezes são definidas por um dado investigador, num
determinado projeto de investigação, sendo de
difícil a sua replicação (utilização da mesma maneira) num projeto diferente.
• Estão geralmente associadas a uma recolha dicotómica de dados, do tipo “inclusão”
vs. “exclusão”, “homogeneidade” vs.
"heterogeneidade", etc., não permitindo uma gradação de pontos como acontece nas
escalas de Likert.
• Exigem geralmente mais esforço e tempo para a recolha de dados do que as medidas
“reativas".
• Pode levantar questões de natureza ética (intrusivas), na medida em que os sujeitos não
sabem que estão a ser avaliados.
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• Questões abertas: de resposta variável, em função das características dos inquiridos.


São mais difíceis de cotar e são mais passíveis de interpretações incorretas.
• Questões fechadas: de resposta restrita e pré-determinada pelo investigador. São mais
fáceis de cotar e de interpretar (podem ainda ser dicotómicas ou de escolha múltipla).

Regra geral, as perguntas fechadas são mais difíceis de redigir do que as perguntas
abertas e exigem maior domínio do assunto estudado, por parte do investigador.

Problemas que podem surgir na obtenção de respostas:


• Aquiescência: tendência para estar sempre de acordo.
• Efeito da resposta:
- Predisposições de quem responde
- Predisposições de quem recolhe os dados
- Procedimentos na condução do estudo

Problemas na recolha de dados:


• Predisposições de quem responde
- Quem responde mostra-se hostil ou suspeita das reais intenções de quem recolhe os
dados.
- Quem responde mostra-se indiferente ou não está motivado para cooperar.
- Quem responde não tem a informação de que o investigador anda à procura.
- Quem responde pretende agradar ao inquiridor/entrevistador ou ser aceite por ele.
- Quem responde quer apresentar-se de maneira favorável e socialmente aprovada.

• Predisposições de quem recolhe os dados


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- Quem recolhe os dados sente-se desconfortável com a pessoa que está à sua frente.
- Quem recolhe os dados sente-se pouco à vontade com o ambiente à sua volta.
- Quem recolhe os dados usa as suas opiniões para influenciar as respostas de quem
ouve.
- Quem recolhe os dados não consegue estabelecer uma relação com o respondente.
- Quem recolhe os dados tem expetativas estereotipadas (sobre conhecimentos e
competências) baseadas na aparência dos respondentes.

• Procedimentos na condução do estudo


Ligados:
- ao modo como o estudo é explicado a quem responde;
- aos métodos usados para ganhar a confiança e cooperação dos respondentes;
- à duração da recolha de dados;
- às caraterísticas do local onde os dados são recolhidos;
- à presença de outras pessoas durante a recolha de dados.

• TAXA DE NÃO RESPOSTA


Fatores condicionantes nas não respostas a questionários:
- Natureza da pesquisa – se a utilidade da pesquisa for evidente para o indivíduos, a
taxa de respostas tende a aumentar.
- Tipo de inquirido – os inquiridos com maior nível de habilitações académicas
tendem a responder com mais frequência.
- Sistema de perguntas – quanto mais simples for o sistema de perguntas, maior é a
probabilidade de aumentar a taxa de respostas.
- Instruções claras e acessíveis – instruções claras e de fácil preenchimento, aumentam
a probabilidade de um maior número de respostas.
- Estratégias de reforço – informações sobre o lançamento do questionário,
esclarecimentos acerca da sua utilidade social ou científica, são estratégias que
geralmente aumentam a taxa de respostas.

Validade e Fidelidade
Para que os dados de uma investigação sejam fiáveis e os resultados válidos, o
instrumento de recolha de dados deve apresentar duas características psicométricas
importantes: a delidade e a validade.

• Fidelidade significa precisão do método de medição e pode ser averiguada através da


análise da consistência ou estabilidade desse método. Um método (teste ou
instrumento de medida) fiável não deve produzir resultados significativamente
diferentes se for repetido sobre o mesmo indivíduo.
• Validade diz respeito à capacidade de um teste ou instrumento de medida traduzirem
de forma correta a grandeza que pretendem medir. Por exemplo, uma balança serve
para medir o peso, e não outra qualidade; um termómetro serve para medir a
temperatura, etc.
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Enquanto a fiabilidade, ou fidelidade, diz respeito à consistência ou estabilidade de uma
medida, a validade diz respeito à sua veracidade.

VALIDADE DE CONTEÚDO
• Existe quando os conteúdos dos itens cobrem a totalidade do construto que
pretendem medir. É obtida através da opinião de peritos/especialistas no assunto
quanto à sua adequação e exaustividade.

VALIDADE DE CRITÉRIO
• Implica comparar os resultados obtidos no instrumento com outro já existente (critério
externo).
- validade concorrente: diz respeito ao desempenho atual e diz-nos qual a precisão
com que mede o construto (e.g., será que um teste de matemática do 12o ano,
realizado numa escola x, avalia tão bem um aluno como um teste nacional?);
- validade preditiva: diz respeito ao desempenho futuro e indica-nos em que medida o
resultado de um teste permite prever desempenhos futuros dos sujeitos em
situações que mobilizem o domínio em causa.

VALIDADE DE CONSTRUTO
• Validade mais ampla e atual, englobando as restantes.
• Pretende saber se o teste é adequado para os propósitos específicos que o
investigador tem em mente; assim, aferir a validade de uma medida consiste em
encontrar um conjunto de argumentos que fundamentem a sua utilização, tendo em
conta os objetivos que se pretendem alcançar.
• Se um método se destina a medir um certo conceito, então ele deve correlacionar-se
fortemente com outros métodos existentes para o mesmo conceito.

Questões Éticas na recolha de dados


Direitos de quem participa numa investigação cienti ca

1. Direito à privacidade ou não participação


Qualquer pessoa tem direito a guardar para si informações que não quer tornar
públicas. Além disso, quem faz investigação só deverá recolher dados que sejam
estritamente necessários para o estudo em causa, não colocando perguntas
desnecessárias ou mesmo intrusivas da liberdade individual do/a participante.

2. Direito de permanecer anónimo


Qualquer pessoa tem direito a não querer ser identificado na sequência da sua
participação numa dada pesquisa.

3. Direito à confidencialidade
As informações obtidas no âmbito de uma dada investigação não devem ser usadas
e divulgadas para outros fins, nem deverá haver a identificação das fontes. Além
disso, o/a participante deverá saber desde o início quem irá ter acesso aos dados
recolhidos (ex.: uma equipa de investigação; um/a tarefeiro/a, o/a orientador/a
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científico/a do projeto de investigação, etc.)

4. Direito de esperar responsabilidade por parte do investigador


Qualquer pessoa que aceita participar num dado estudo fá-lo com a convicção de
que os compromissos assumidos previamente entre ambas as partes (participante e
investigador/a) irão ser cumpridos.

Consentimento informado
Para dar o seu consentimento o/a participante deve:
Ter capacidade de o fazer
No caso de participantes menores de idade, de pessoas adultas com doenças
incapacitantes do foro psicológico, com deficiências mentais ou ainda com privação da
liberdade (ex.: pessoas detidas em estabelecimentos prisionais), a autorização para a sua
participação numa investigação deverá ser obtida junto de quem tem a sua tutela.

Dispor de toda a informação necessária à tomada de decisão


Quem participa numa investigação tem o direito de saber exatamente o que lhe está a
ser pedido. A omissão de alguma informação ou mesmo o “mascarar” de possíveis
instruções são aspetos que violam claramente os direitos éticos do/a participante.

Voluntariedade
A participação verdadeiramente voluntária dos sujeitos numa dada pesquisa é uma mais-
valia para a credibilidade do conhecimento produzido. Ninguém deve ser pago para
correr riscos superiores aos que correria no dia-a-dia e a questão do pagamento
(simbólico ou em dinheiro efetivo) aos participantes é uma questão controversa na
comunidade científica. Não terão os participantes a quem se paga para fornecerem
dados uma motivação acrescida? Não constituirá esta motivação acrescida uma fonte de
erro para os resultados?

A revisão da literatura e o artigo cienti co

PRESSUPOSTOS DE BASE
• O artigo científico é, talvez, a forma mais importante de comunicação entre os
elementos de uma dada comunidade científica, tratando-se de uma fonte primária para
a revisão da literatura.
• O artigo científico ‘materializa’ a ideia de que o conhecimento científico é público,
devendo, por esse facto, ser divulgado.
• A linguagem usada na escrita científica deve ser clara e deve respeitar- se o princípio da
parcimónia*, no sentido de se transmitir diretamente a mensagem, mas com
moderação, sobriedade e economia de conteúdos.
• O uso de conceitos pouco operacionalizáveis deve ser evitado, uma vez que uma das
funções do relato científico consiste em abrir caminho ao desenvolvimento de outras
pesquisas.
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• O artigo científico deve clarificar a fidelidade (possibilidade de repetição do estudo
para testar a credibilidade das conclusões) da investigação – deve haver clareza no
relato da investigação para a comunidade cientí ca.
• O artigo não deve ser escrito na primeira pessoa, nem seguir as regras da oralidade,
mas antes deve ser redigido respeitando as regras da escrita formal.
• A organização de um artigo científico deve transmitir a ideia de que há encadeamento
do trabalho agora feito com estudos anteriores no domínio e que são deixadas
abertas novas pistas para a investigação futura.
• É possível que as exigências editoriais de algumas revistas científicas (ou de certas áreas
do saber) coloquem imposições específicas ao formato de um artigo científico, mas há
consenso em torno de componentes principais que devem estar presentes em
qualquer trabalho.

COMPONENTES

• Título
• Resumo
• Palavras-chave
1. Introdução
2. Metodologia
2.1. Amostra
2.2. Instrumentos
2.3. Procedimentos
3. Resultados
4. Discussão
• Referências
• Apêndices
• Anexos (numerados, com título e paginados)

2.1. Amostra
Trata-se da primeira subsecção da Metodologia onde devem ser descritas:
• as características principais da amostra (quem?)
• o número de elementos da mesma (quantos?)
• de que forma foram selecionados (como?)
É nesta parte do artigo que poderá dar-se conta de di culdades encontradas durante a
recolha de dados, como a mortalidade experimental.
Deverá ainda justificar-se o tamanho da amostra e apreciar-se a sua representatividade
em relação à população (acessível e/ou alvo), de forma a esclarecer-se o leitor acerca da
possibilidade, ou não, de generalização com confiança dos resultados.

2.2. Instrumentos
Deve descrever-se nesta subsecção da Metodologia todos os passos percorridos
desde a construção ou seleção dos instrumentos de recolha de dados (operacionalização
das variáveis) até à sua preparação para aplicação à amostra do estudo.
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Se tiver havido lugar a um estudo-piloto, este deve ser indicado, com a
justificação da sua pertinência.
Os instrumentos usados deverão ser claramente descritos e, nas situações em
que isso se justifique (ex.: utilização de um instrumento construído de raiz, como um
questionário ou um teste), poderão ser colocados em anexo ao próprio artigo (com a
indicação do número do anexo no corpo do texto).
Se houver estudos anteriores de validação dos instrumentos usados, convém
fazer menção de alguns desses estudos e dos indicadores psicométricos encontrados
(ex.: alfa de Cronbach).
O autor de um dado trabalho deverá justi car sempre a sua escolha de
determinado instrumento de pesquisa (em detrimento de outro, igualmente viável, por
exemplo).

2.3. Procedimentos
Deve indicar-se nesta subsecção da Metodologia como foram recolhidos os
dados (ex.: individualmente ou em grupo), que autorizações foi necessário obter, como
foram contactados os sujeitos, etc.
Se houve a comparação de grupos ou a repetição de observações, deverá
indicar-se esta informação nesta parte do artigo.
Muitas vezes é somente nesta fase que o leitor fica com uma ideia completa de
como decorreu o trabalho no terreno.
Trata-se de informações de grande importância para permitir a avaliação externa
da exequibilidade dos procedimentos do investigador – por exemplo, do plano
escolhido – tendo em mente o problema científico de partida.
Esta parte do artigo acaba por funcionar como um roteiro da pesquisa efetuada,
o qual é feito a posteriori.

ANÁLISE QUANTITATIVA DE DADOS E SUA RELAÇÃO COM A


APRESENTAÇÃO DOS MESMOS NUM ARTIGO CIENTÍFICO

ESCALAS DE MEDIDA DAS VARIÁVEIS


Dependendo das características próprias de cada variável, assim podemos medi-las
segundo quatro escalas (de medida) diferentes:
•Nominal
•Ordinal
•Intervalar
•Proporcional

DOIS PRINCÍPIOS RELATIVOS ÀS ESCALAS DE MEDIÇÃO DAS VARIÁVEIS


• As variáveis medidas nas escalas mais simples (em virtude da sua natureza) não podem
sê-lo nas escalas mais complexas; mas o inverso é possível;
• As técnicas estatísticas utilizadas nas escalas mais simples podem ser usadas nas mais
complexas. O inverso é falso.
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MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL
• Moda: é o valor mais frequente
• Mediana: é o ponto médio da distribuição, acima e abaixo do qual se situam 50% dos
resultados.
• Média: é o quociente entre o somatório de todos os resultados e dividir pelo nº deles
(média aritmética).
Nota: nem sempre a média é um bom indicador, pois ela é sensível aos resultados
extremos.

MEDIDAS DE VARIABILIDADE
Associadas à mediana
• Quartis: divide-se a distribuição em quatro partes. Neste caso fala-se de intervalo
interquartil - IQR (Q3-Q1: numa distribuição normal este valor equivale a 50% dos
resultados).
• Decis: divide-se a distribuição em dez partes.
• Centis: divide-se a distribuição em 100 partes.

Associadas à média
• Amplitude: diferença entre o valor máximo e o valor mínimo.
• Variância: média aritmética dos desvios em relação à média.
• Desvio-padrão: é a raiz quadrada da variância

MEDIDAS DE RELAÇÃO
• Correlação: grau de relação entre duas variáveis
• Coe ciente de correlação: quantificação da força da associação entre essas mesmas
variáveis.
• Varia entre -1 e +1
• O valor 0 (zero) indica ausência de relação
• Representa-se graficamente por r
• r=-1,0 traduz uma correlação negativa perfeita
• r=+1,0 traduz uma correlação positiva perfeita
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