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PARA UMA
PSICOLOGIA
DA LIBERTAÇÃO
IGNACIO MARTÍN-BARÓ

A rontribuição social
da Psirologia na América latina
Com base em uma perspectiva geral, deve-se reconhecer
que a contribuição da Psicologia, como ciência e como práxis, à
história dos povos latino-americanos é extremamente pobre.
Certamente, não faltaram psicólogos preocupados com os
grandes problemas do subdesenvolvimento, dependência e
opressão que agoniam os nossos povos. Mas, na hora de se
materializar, em muitos casos, essas preocupações tiveram de
ser canalizadas por meio de um compromisso político pessoal, à
margem da Psicologia, cujos esquemas eram inoperantes para
responder às necessidades populares.
. Não me refiro apenas à Psicologia social, cuja crise de
significado tem sido um tema muito exposto na última década;
~efiro-me à Psicologia em seu conjunto, a teórica e a aplicada, a
7
individua) e a social, a clínica e a educativa. A minha tese é de
q~~; fazer (queliacer) da Psicologia latino-aniericana, salvo \. )
algumas exceções, não somente tem mantido uma dependência ,.._.
servil ao definir problemas e buscar soluções, mas permanec eu
amargem dos grandes movimentos e inqtlietudes dos povos
latino-americanos.
Quando se trata de apontar al guma contribui ção
latino- ameri ca na ao ace rvo da Psico log ia univ ersa l,
Jv1:u.,; ,, } 'vJ, ,
, <Í/1 J/J ,, .
,,,z1,

rr. '::T. ci r)ri~, - v :, 1 entre outr~, a ''tecnologia M)CÍaJ" de Jacob( ,


--- - . J' . d . > Var<;h r ,
as delineamen tos pc;1cana 1t1cos e Ennquc Píchon-1,, 1 · , . na '/\ 1 J71
, ),) 11
· · -- - - v1erc
Ambos merecem ,todo o nosso respeito e n'1o serei eu q ~ . rg(:ntiti 1.
. . -. . u.crn <>s mm · ·.
Toda·iia. é 51g.n1f1cat1 vo que a obra de Varela tt'llh· .·d irni 1-1r~.
- , - - - - , - ;-- . . a t,1 o Publí ..
originalm ente em 1ngles e que se in screva na linha d . <:ad1
- - 0 8 é "l 1
1-- ".l,s at1'tudes taJ com um· . .,) U(. cJ·)
norte-amen·canos S.Ou1 e a.. •, o se, para uár ,1..

• . • , . • - • • - -, . • ., , i<1 (.'.(mtrihu1ç;1, 1
umversaL um Jatmo-ame ncano tJ vesse de abd1car de sua on,,trrrl
- , Em - relaçao- . . . é triste º "' c;u e1e, ·,ua
identidade. aos trabalhos de P1chon-R1v 1l-rc, afimn·4T yu,;
__ • - - •
são insuficientemente cúnhec1dos fora da Argcntma.
-
Possíve)mente, co~buiçõ es latino-americana<; de maior vígür e;
-
impacto social podem~ ali onde a Psicologia deu a mão a outra') áreas das
Ciências Sociais. O caso mais sjgnjficativo parece-me ser, sem dúvida alguma,
o método de alfabetíz.ação conscientizadora de Paulo Freire (1970, 1971 ),
surgido da fecundaç&> entre Educação e Psicologia, Filosofia e Sociologia.()
conceito já consagrado de conscientização articula a dimensão psicológicada
cor~~cia ~soal_com a sua dimensão social e politica e explícita a dialética
histórica entre o saber e q_ fazer, o crescimento individual e a organáação
com~ni~ a libertação pessoal e a transformação social. Mas, sobretudo, a
con.scientização foi uma resposta histórica da palavra, pessoal e ácãrência
social~ dos povos latino-americanos, não somente impossibilitados de ler e
escrevcr o aJfabeto, mas, acima de tudo, de ler a si mesmos e de escrever a sua
própria história Lamentavelmente, tão significativa quanto a contribuição de
Freire é a pouca impor1áncia que se dá ao estudo critico de sua obra, sobretudo
se isso é uJmpar-d.!io com o esforço e o tempo dedicados em nossos programas a
contn bu,ções tão tri vi ais como algumas das chamadas "teorias da
, r rcneu i1..-m" ou alguns dos modelos cognitivos, hoje tão em voga.
1 4

A precanedad e da contribuiçã o da Psicologia }atino-americana ~


mdLur 3 '. ..iliada quando compar·ida ' com a d e o utros ramos e.Io t·LI. 1.·r
d. 1 r<'( )
1rHdcdillil /b~tffl, púr exemplo a (""on·a dr a depcn enc ,a , 0 1 um e~ o .,.
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t:1. f~ l1L~ .1>t.."':) der, ug"l•1 f lct'l J.i cu lt
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Oc i.;ULd J)t1, lcb ldit(.c f , J11d >c 11 1 i..: h .111 . t .
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para UIna l>si·cologia da Libertu ção 183

capaz de, ao m~~~ ~temp o, re~eti r e_ estimu lar as recent es )~tas hi~tóricas
das massas margn~a1s com muito mais força que nossas anális es e receita
s
-~ bre a moder nizaçã o ou a mudan ça social .
p Diferentemente da cultur a saxôn ica, a cultur a latina inclina-se a
conceder um impo11ante papel para as caract erístic as das pessoa s e para as
relações interpessoais. Em um país como El Salvad or, o Presid ente da
República é uma referê ncia imedi ata de quase todos os proble mas, desde os
maiores até os menor es, e a ele se atribui a respon sabilid ade de sua resolução,
0 que leva a recorr er ao Presid ente para reclam ar da mesm a forma sobre a
guerra ou sobre uma briga de vizinh os, para estimu lar a reativa ção econô mica
do país ou para cancel ar um indisc reto prostíb ulo situad o próxim o de uma
escola (Martí n-Baró , 1973). Nesse contex to cultural, que tende a person alizar
e, ainda, a psicol ogizar todos os proces sos, a Psicol ogia tem um vasto campo
de influência. E, todavi a, em vez de contri buir para desmo ntar esse senso
comum de nossas cultur as, que oculta e justifi ca os interesses domin antes
transm utando -os em traços de caráte r, a Psicol ogia tem abona do -por ação ou
por omiss ão - o psicol ogism o impera nte. Inclusive no caso da alfabe tizaçã
o
consci entiza dora de Freire , chego u-se ao ponto de resgatar para o sistem a as
suas princi pais catego rias, despo jando- as de sua essencial dimen são política
e
conve rtendo -as em catego rias puram ente psicológicas. Atualm ente, com
a
cresce nte subjet ivação dos enfoqu es predominantes, a Psicol ogia contin ua
alimen tando o psicol ogism o cúltural, oferec endo-s e como uma verdad eira
"ideol ogia de reconv ersão" (Deleu le, 1972). Em nosso caso, o psicol ogism
o]
tem servid o para fortalecer, direta ou indir~ta~~nte, _as estru. ~as opress ivas,
ao desvia r a atençã o delas para os fatores md1v1dua1s e subjetivos.
Não se trata aqui de estabe lecer um balanç o da Psico logia
latino -amer icana, porqu e, entre outras coisas , ainda se está por fazer uma
hi stória que transc enda a organ ização mais ou menos parcia l de dados
( ver, por exe mplo , Ardila , 1982, 1986; Díaz-G uerrero , 1984 ; Whitf ord,
1985). O impor tante é pergu ntar-n os se, com a bagagem ps icológ ica de
que d ispom os hoj e , podem os di zer e, sobret udo , faze r algo que con tribua
signif ica tivam ente para dar respos ta aos proble mas crucia is de _ nossos 1
povos. Po rq ue, em nosso caso, mais que em nenhu m o ut ro , te m va lidmk
ª
afinnuc,; ão de que a preoc upaçã o do c ie nti sta soc ial não deve cc nt rar-s~ 1
tanto em ex pl ic..: ar o n1w1<lo , 11Hl 8 cm tru nsfo nnf\ -lo.
184

A escravidão da Psirologia latino-americana


pode dar à pobr eza da .
Uma das justi.fica~.ões que se . . _ _ __ contn b . ,
. . U1ça0
histórica da Psico logia lntmo-amencana resid e em sua reiatn. .aJuve
.
Como confin11açào desse ponto. de vista , apontam:se · - ~tud<.
. . . . as propos .•
a surg1r, parc ialm ente , por tod tas
onmnats. que começam , , . . as as Pan -
... o, amda que insufi1crenr . es
(Psicologia. l 985). O argwnento e valid - e '°'
. r ·~..
torna-se p_eng.9_§0 se f:!el~ ~os ~ co~d_ermos, para n~
deficiências que nos levaram (e, em muitos casos. continuam
a lev ª:
ar) ª
marginalidade científica e à inoperância social.
- Em minha opinião, a miséria da Psicologia latino-ame ricana rem
ide com
suas raízes em uma história de dependência colonial que não coinc
ialismo do
a história da colônia ibero-americana, mas com a do colon
Hgarrote e da cenoura" que foi imposto a nós há um século. O
1 "garrotaço
frequência.
· cultural" que diariamente recebem nossos povosJ com
moldar as
encontra, na Psicologia, mais um instrumento entre outros para

l mentes e um valioso aliado para tranqúilizar consciências ao


indubitáveis vantagens da cenoura modernista e tecnológica.
explicar as

Podemos sintetizar, em três, as principais cm.:!_S_?~ da miséria histór


da Psicologia latino-americana, as três relacionam-se entre
ica
si: seu
mimetismo cient ificista, sua ausência de- uma epistemologia adequada e seu
--
·- - uma deL.1s.
dogmatismo provinciano. Examinemos, separadamente, cada

Mim etis1no cientificista


Com a Psicologia latino-americana ocorreu algo pnrecigo co m
o

que aconteceu com a Psicologia norte-american a no come


ço do séculü:
srarus soóJ I
seu desejo de adquirir um reconhecimento científico e um
resultou em um sério tropeço. A Psico logia norte-american3 \'Olto
u ~c>u

olhar às Ciências Naturais a fim de adquirir um método e conc


eitos que J
bui1i·Jt) "~
cons agrassem como cien tÍÍlca enquanto negociava sua conrn

Curro /e Y la zamJ/10ria - tenno sem equivalente e.xato em r


ormguê,, U:-,ld,) r-~~J
I.
J.1 dt11111 11·J, ·J\ '
~den~ -1-,t· il polhi cJ dé relações entre naçõe s, na qual há u nwrn1 ' J , ... ,11, 11.l.1:-.
1,11,u•n u· llt.1 '·.1 · AL.., polcncia .
" ' s' e1om mant es fazem prom essas ck HJlll ;1 (:- 111 t'\ • t· 11\.· ..,
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conco mttan tc.'i com amêa~·as ecomlmH:..,~ e \ ,u
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p.i utar ~e l'"f UI J\J 1·•Í 1.i III .J0'> <1 tum um jh>n c tc tia i n;to (Not.t l l) 1,.,1. l
111111u:,
rnra um,1,. Psicologia
- da Libertação 185

necessidades do poder estabelecid o para receber um posto e uma posição


sociais. o que a Psicologia latino-amer icana fez foi voltar seu olhar ao big
brother, a quem já era respeitado científica e socialmente , e a ele pediu
emprestada a sua bagagem conceituai, metodológi ca e prática, esperando
poder negociar com as instâncias sociais de cada país um status social
equivalente ao adquirido pelos norte-amer icanos.
É discutível se a profissão de psicólogo já conquistou, nos países
latino-americanos, o reconhecim ento social que buscava; o que é claro é que
a quase totalidade de seus esquemas teóricos e práticos foi im.e__ortada dos
Estados Unidos. Assim, aos enfoques psicanalíticos ou organicistas que
imperaram em um primeiro momentõ·, em razão da- dependê_pcia da
Psicologia para com as escolas psiquiátrica---s, sucedeu-se um3-. onda de
. - - - . ... -- --
comportam entalismo ortodoxo, com sua pesada carga de resoluto
posit~ düalismo metodológi co. H~ ~ ólogos
----~ ~
latino-americanos descartaram o comportamentalismo e afiliaram-se a uma
ou outra forma de Psicologi~ cognitiv~sta, não tanto por-ter submetido à
critica os esquemas p-sicã.nalíticos ou comportamentalistas, mas porque esse
é o ~nfoque em moda nos centros acadêmicos norte-americanos.
O problema não se radica tanto nas virtudes ou nos defeitos que
possam ter o comportamentalismo ou as teorias cognitivistas, mas, sim, no
mimetismo que nos leva a aceitar os sucessivos modelos vigentes nos
Estados Unidos, como se o aprendiz pudesse se tomar médico ao colocar o
estetoscópio ou como se a criança se tomasse adulto pelo fato de vestir as
roupas do papai. A aceitação acrítica de _t:o~as e ~ode los é,_preci~a~~nte, a \
negação dos fundamentos mesmos da c1encrn. E a 1mportaçao a-htstonca de
esquemas conduz à ideologização de certas definições, cujo sentido e
validade, tal como nos lembra a Sociologia do Conhecimento, remetem a
certas circunstâncias sociais e a certos questionamentos concretos.

Ausência de uma epistemo logia adequada


Os modelos dominantes na Psicologia fundam-se em uma série de
pressuposto s· que apenas raramente sao~ ct·
tscu ti.dos
_ e 'aos quais' • cada vez
menos, se propõem alterna tivas. Menc1onare· · · ksses pressuposto s
1 ~mco e_.. • •. .
. . . .., . .
que, em mmha opm1ao, tem marcaüo as P ~ ~ , ossibilidade s da Ps1colog1a j
' . . _
. .. .
latino-americana: o pos1t1v1srno, o .tnL11v1(
. · 1 11·s1110 0 hedonismo, a vtsao
ua , - - -- -
homeostátic a e o a-historicism o.
186

.
--,, O oositivismo, 1ul como indica o nome,. é.uq11d11 cone,t p,,,no
[. . . de e i •
que considero que o conhcc11ncnlo deve se·e·lm11tm uns dnd(l."i >o•. ' 111 ;1:i
..• t. . I ,ql1 y, 1,• •
fotos e as suas relações cmpmcmnc11lc• vcn Icu' ve1.i,, d<.: sctu l:1t1 (<>111<1111
1
•li)',
'
1
-·- • 1
possa st!r caructcnzado como mctafis1ca. Assim, o po:-iilivi,"lll"> ,.,1 1hlinl . r11,c
. " . d. d . . 1;1 11
"como .. dos fcnomenos, mas ten e a cIxar de lado o quê, 0 pqr <1' 1~.-t• r,pa.
. ~ . . 11
quê. Isso, obvinmcn tc, supoc uma parem 11zação da existência liu milrJ; •
' . .,.. . d . ' . - 1, () Cj lli_;
o deixa cego para os s1g111 1ca os mais importantes. l'ortanlo n;,,< t i
• . • • ... , • 1 1),1 q1u.; '.;(•
estranhar que o pos1t1v1smo. se smla. tao bem. no ltihorat6rio ' <) ,,e1e. Püd(··
.'
·'controlar.. todas as vanave1s e tcrmmc reduzido à análise de vcr<J· 1,. '
. • . • _ tJ! c 1r:1:1
tnv1aJ1dades, que pouco ou nada dizem dos problcmt1s cotidí~1.5m.- -
Contudo, a questão mais grave do positivismo está, prc<.:isc1mc,,rnc
em sua essência, isto é, em sua c~gucira de princípio para a ncglltiv.iQadc. (;
não-reconhecimento de nada além do dado leva a ignorar aquilo que a
realidade existente nega, isto é, aquilo que não existe, mas que seria
hjstoricamente posstvel, se fossem dadas outras con~i_ç.§es. Sem JuvidJ,
pode levar à condusâo
uma análise - positivist
-
a do -camponês
- - salvadorenho ~

de que se trata de uma pessoa machist~ e !'at~l~ta, tal como o estudo da


inteligência do negro norte-americano leva à conclusão de que .seu
quociente intelectual se encontra, em média, em um desvio padrão abaixo
do quociente intelectual do branco. Considerar que a realídade não é;mais
que o dado, que o camponês salvadorenho é simplesmente fatalista ou que o
negro é menos inteligente, é uma ideologização da realidade que _t'![Jlina
por consagrar como natur_al a ord~fr! existente.· Obviamente, de tal
perspectiva, restrito é o horizonte que se desenha aos latino-americanos e
pobre é o futuro que a Psicologia pode nos oferecer.
É paradoxal que esse positivismo se combine, ~~qui sa
psicológica, com um idealismo metodológico. PoÍs idealista é o esquema que
antepõe o marco teórico-àãnálise da-;e;iidade e que não dá p~sos_~ além
nd
da·expl~,-;ção dos fatos indicados na formulação de suas hipóteses. Se º
ass-im, as teorias nas quais pode basear-se têm surgido frente a situaçõcS
positivas muito distintas das nossas. Esse idealismo pode acabar não sorne~t,
nos cegando para a negatividade de nossas condições humanas, mas também
para a sua própria positividade, isto é, ao que, de fato,. são. , · d,.v1.dua 1is. ~
O1
1., Um segundo pressu posto da Psicologia dommant e e ~ ,. •d id,
. . . d p ·c·olog1a e--o-- in-
mo, me diantc o c1ual se assume que o suJ· cito último a si · _ . corn 0
~- 1
duo como entidade com sentido em si mesma. O prob ema .5 P

· · · · - · f.
1 'd o o~ y

md1v1duahsmo radica-se na sua insJ§tênci c!..Qº.! ve_r, n~ t~c vi u '5~mente se


encon!ra na ~~I~tividade o~ por re!n~ter à_indi_viduali9!d_e_? que · - -

rara um a Psicologia da Libe rtaç ão
187

pr~<lu z na dialética gas rela çõe


-~ -- ~ interpe
,~
ssoais. Dessa forma O individua-
\ismo acaba ! efor~an~o as estr . '
uturas exi~entes ao ignorar a realidade. das
estrutura0 oci_ais e ~ed ~zind~ os problema
s s~ciais a problemasj ~ soais.
~ Sobre o hedonismo imperante
na Psicologia já se falou muito,
ainda que não se tenha destacado suficie
ntemente o quão incrustado ele
está nos modelos mais divergentes em
uso. Tão hedonista quanto a
psicanálise é o comportamentalismo,
tanto quanto a reflexologia é a
Gestalt. No entanto, eu me pergunto se
com o hedonismo é possível
en~ der adeg__u_(!.dª mente Ó comportam
ento solidário de ~Il).--g ~po de
refu gia Q9S salv adorenhos que, sem nada
-
que devastou o centro de San Salvador, abr
de _alimentos e a e~yi~u para as vítimas da
iram mã -- ----
saber sobre o recente terremoto
- o de_
toda a sua reserva
zona m~i~ atin_gida. Pensar que
por trás de todo c.9mportamento há sempre
, e p·or princípio, uma ~ sca de
pr_azer ou satisfação não é fechar os olhos
para uma forma distinta de ser
hmp ano ou, 12elo Il!.enos, a uma faceta dis
tinta do ser humano, mas tão real
to o hedonismo em nos-so- marco
como a outra? Integrar como 'pressupos -
------=----- -- -- --
teórico não é, dé fato, uma concessão ao
princípio de lucro fundante do
sistema capitalista e, portant~-~uma tr~ spo
si_ção à n~~ do ~ r humano
daquilo que caracteriza o funcionament
.9_ de !}m de~~rminado sistema
so~ioec_onômico? (Martín-Baró, 1983).
-v A visão homeostática ley_3:-nos a sus_peitar de tudo o que
é mudança
e desequilíbrio, a avaliar como mau tud
o aquilo que representa ruptura,
conflito e c~ e. Dessa perspectiva, mais
ou men~s implícita, é !Il~is_Q.ificil
que Õs desequilíbrios i nerentes às lutas
so~taj ~ ~ão sejam int~ tados
cOmõ transtornos pess oais (não falamos
d~ pessoas "desequilibradas"?) e
os· conflitos criados pela recusa da ordem
. - -- - -- -· -- -- - -
social não sejam considerados
pa~ológicos. -

O último pressuposto da Psicologia dom


inante que quero mencionar
é, provavelmente, o mais grave: o_ s~u
a-~i~(? ricismo. O cientificismo
dominante induz-nos a considerar que
a natureza huma11a é universal e,
portan to, que não há diferénças de fundo
entre o estudante d? MlT e 0
camponês nicaraguense , entT e John Sm
ith de Peoria (lll_inots, _Estªdos
Un idos) e Leo nor González de Cui snahua
t (El Salvador). As~ un, a~e ttamos ª
cscc1 la de necess idades de Mas 1ow com "' <\ hie rnrq tua um versal ou
· . o un" ' .
.
assumimos qul! o Sta nl ord -Bmet apenas, . ~ .·sa 'er ·u\aptado e normatizad
.
. . . ,, . p1 eci ' ~ ' .
, . __ _ o
para med ir a tnl eligc ncia de nossa8 popu 1c.\Ç( s. )C. Tod avia, uma com.:epçao de
. . . :-- ~.
.
ser hu mano que coloca a sua unt vL:1s,,. . .. ,· 1. 1, ,n sua histonc idad e, isto e, em
. tl m l,; • ~
. . . . ,
uma natureza luston ~a, ace ita que t,mt o ,\s . . ·ccss,da
, , . • :r~ .
nc · des, qu,mto " ·mte --
hgencta
188
lgnacj 0 M
arun-ll,
.d .. . ~tó
são, em boa med1 ~ uma construçao _sQctal e, portanto
. , que assu 1111.
presumivelmente transculturats e trans-histórico r tnodel ,
" . . . d d . s, elabo os
circunstancias d1stmtas as nossas, po e conduzir-nos a ractos e
. .. uma grav . n1
sobre o que na realidade sao os nossos povos. e distorção
,,r É necessário revisar profundamente os pressuposto .
.. . , . . .. s rna1s bá ·
nossa concepçao ps1colog1ca, mas essa rev1sao não deve ser r . sicos de
., . . d , . eahzacta
nosso escntono, mas por me10 e uma prax1s comprometida em
. cornos set
populares. Somente assim, alcançaremos uma perspectiva di· e. ores
1erente ta
sobre o que positivamente são as pessoas de nossos povos e nto
. . . .. . ' omo o que
negativamente podenam ser, mas que as cond1çoes históricas não pe .
.. ,d nn1tem
Apenas dessa forma, a verdade nao tera e ser um simples reflexo dos dad ·
mas a verdade poderá ser uma tarefa: não os fatos, mas aquilo por fazer~s,

Falsos dilemas
A dependência da Psicologia latino-americana levou-a a se debater
em falsos dilemas. Falsos não tanto porque não representam dilemas
•.11 teóricos, mas porque não respondem às perguntas de nossa realidade. Três
dilemas caract~sticos, q~ alguns lugarês levantam preocupações,~
Psicologia científica e Psicologia "com alma"; Psicologia humanista e
( Psicologia materialista; e Psicologia reacionária e Psicologia progressista.
O pr~meiro dilema, talvez o mais superado nos centros acadêmicos,
resultava em uma oposição entre os delineamentos da Psicologia e uma
Antropologia cristã. A "Psicologia dos ratos" era contraposta a uma
"Psicologia com alma", enquanto psicólog~acer dotesbr~avam PQrum
mesmo papel para os setores médios ou burgueses ~a ~ cied!de.
Certamente, o dogmatismo de muitos sacerdotes induzia-os a temer uma
ameaça contra a fé religiosa nas teorias psicológicas e a ver as explicações
destas como uma negação da dimensão transcendente do ser humano.
Porém, os psicólogos latino.americanos, com seus esquemas made in USA,
tampouco souberam solucionar o dilema, talvez porque lhes faltasse urna
compreensão adequada tanto de seus próprios esquemas, quanto sobre tudo
aqui lo que supunham sobre os delineamentos religiosos.
. Um ~t gundo dilema, mais vigente que o anterior, é o que opõe uma
P~ico log ia humét nista a uma Psicologia muterialista ou des umanizada.
Pessoalmen te, esl:ie di lema dcsconccr1a•me, porque acredito que uma teoria
ou um mode lo psico lógicos serão vá lidos ou não, terão utilidade ou não para
o trab Ih 0 · · - · r
ª pra llco e, em todo caso, ace11arão mais ou menos, melhorou P10 '
1HCJ

coo10 le•. ~,·~L~ t\lQdclo psicológicos. P()rém ni\o consigo vur cm ciuc HHNun.to
\.LL • • • , , ,
cnr\R. Rogcrs scjn mm_s hurnmustn que ~•gmund Prcud ou Abraham
Mastow mais que 1knn Wollo~. /\l6111 d,~so, ucrcdito que se llrcud
com•~c(Tuc umn melhor comprccnsuo do ser hurnnno que Roocrn OLI w,, )
=- . . . _ • o , 11 e n
que Maslow. suas tconas prop1cmrno ~m lnzcr (quelwcer) psicológico mais
ndcquado e. consequentemente, dnrno uma rnclhor contribuição para a
tnnnanização das pessoas.
o terceiro dilema é o de uma Psicologia reacionária frente a uma
Psicologia progressista. O dilema, uma vez mais, é, vúlido, ainda _que se
possa apresentá-lo inadequadamente. Uma Psicologia._rcacionária é aquela
ctija ap~i~açà.o leva a ~se~urar uma ordem sOcial in~stn; uma Psi~ o~ia
progressista e aquela que aJuda os povos a avançar, a encontrar o caminho de
sua realização histórica, pessoal ê coletiva. Noentanto, uma teoria p~icológica
e
não reacion~ia apenas pelo fato de vir dos Estados Unidos, tal cot'l}O o fato
de ter origen~ _:ia _União Soviética não a c_onverte, automati~u~nte, cm
progressista ou revolucionária. O que torna uma teoria reacionária ou
progressista não é tanto o seu lugar de origem, mas a sua capacidade para
- )(
explicar ou ocultar a r~aliq_ade e, s_obretudo, l?ara reforçar ou tr_aneformara
orde~ cial. Lamentavelmente, existe muita confusão quanto a isso e
conheço centros de estudos ou professores que aceitam a reflexologia por
causa da nacionalidade de Pavlov ou que estão mais atentos à ortodoxia
política do que à verificação histórica de seus delineamentos.
Esses três dile1nas denotam uma falta de LndeP.end~a para
estabelecer os problêmas 1nais importantes dos povos latino-americanos,
pai=a utilizar ~om total liberdade aquelas teorias ou modelos que a práxis
demonstre ser mais válidos e úteis ou para elaborar outros novos. Por trás
dos dilemas escondem-se posturas dogmáticas, mais próprias de um espírito
de dependência provinciana que de um compromisso científico por
encontrar e, sobretudo , fazer a verdade de nossos povos latino-americanos.

Para urna Psioologia ela Lil>erta(,'âo


l ,om ba se na s rei 1cxões antcm.H ·. .cs •. 1,,\,,, "',+trnmcn tc urnn conclusão:
1
,

se qu1.scnnos 4ue a Ps1.co log1a . . l


f \; H 1tzc a gunrn 1..:
·o,,ti·il)llÍ'',10 si,)nilkativa à
· " º. .
. . . ' . ,Á ,
- ) . ~on tnbutr
.para o
l11ston a de nossos povos, se, corno ps1cu ogl s, '- ' \LI CfC lllOS
·
desenvolvimento soc ial dos pa bes latino -ainericauos, ncccsS llamos V

~ . . . 1nas redefini -la valendo-nos da


redehnir nossa bagagem teonca e pr,\1, l 1cu,
.
190 Ignacio Man·
in~Baró
'd
v1 a de nossos próprios povos, .de seus sofrimentos, de suas asp· "'
l .
de suas lutas. Se me é penn1t1do formular essa proposta em t
latino-americanos, devo afin nar que s_e que
1raçoes e

remos que a Psicolo .


ennos
'bua para a libertação de nossos povos, deve-- . ~ -
con tn --- --- --- . mos -elaborar g1a
Psi~ologia da Libertação. El~borar uma. Ps1~olo . -- - . urna
g1a da Libertação não é
uma tarefa simplesment~ teónca, mas, pnme1ra
e fun dam ent alm ent ~a
tarefa prát ica~Por isso, se a Psicologia latino-
americana quer se lançar
pelo c"áminho da libertação, ela tem de rom
per c~ m ~- sua própria
escravidão. Em outras palavras, realizar um a
Psicolo~ia da -Libertação
exige, primeiro, alcançar uma libertação da P~
~gia. - ._
Recentemente, perguntava eu, a um dos mais con
hecidos teólogos
da libertação, quais seriam, em sua opinião,
as três intuições mais
importantes dessa teologia. Sem muitas dúv
idas, meu bom amigo
destacou os seguintes pontos:
1. A afirmação de que o objeto da fé cristã é um
Deus de vida e,
portanto, que o cristão deve assumir como sua prim
ordial tarefa
religiosa promover a vida. Dessa perspectiva
cristã, o que se
opõe a Deus não é o ateísmo, mas a idolatria, isto
é, a crença em
falsos deuses, deuses que produzem a morte. A
fé cristã em um
Deus de vida deve buscar, por consequência,
todas aquelas
condições históricas que dão vida aos povo e, no
caso concreto
dos povos latino-americanos, essa busca de
vida exige um
primeiro passo de libertação das estruturas - soc
iais primeiro ;
pessoais depois - que mantêm uma situação de pec
ado , ou seja ,
de opressão mortal sobre as maiorias·
2
· A verdade prática tem primazia sob' re a
verdade teórica, ª
~rtopráx is sobre a ortodoxia. Para a Teologia da Lib
1 ertação, mais
~portante que as afinnações são as ações e é mai
fe o fazer que 0 ct· s express ivo da
p
tzer. ortanto a verdade da fé deve mostrar-se
em rea lizaçõe h.1st · ·
._ s oncas que' ev1•denc1em
.
e faça m cnv -· l
e ª
ex istência de um D d .
..
~1gn1f 1caçà o a . eus e .vida . Nesse contexto adquirem toda sua
- . ~ • s necessán as mediações
'
11
1
)t.:: nuça o histórica d que ton1am possívd ª
11 n ~c.1 ~ . os pov . .
p l'.JH sua v1d·.1 e~. t os das estn 1turns que os oprurn' 11 ' l'.
3. A 16 . . 1
cu t esen vol v ianc nto humano;
cn ::,1a cha ,n"-' u r . I' ·
pob , . A . , . e~u . 1· .
t :-, . 1to lo ' 1 zaç .
ão de uma Of)Çi\o prefere ncial pç L)S
bu!::.ca l giu <- il Libertaç ão afirrnu que Deu s dt:vç sçr
cu entre o~ pobres • . .
Pers pec tiva d , . e marg maltzados e com eks e t'i·1
eles viver a v·d 1 · d -f"
a e e. A raza- o para essa opçao - ~
t:
. logia da Libertação
p51CO J9]
rar•·1 unia
e .
múltipla. Em primeiro lugar, porqu essa fo1 co
seg un do lu ' ncretamente, a
opção de Jes us . . Em. gar, porque o s po b res
s po E
constituem as ma ton as de nosso vos. m terceiro 1ug ar,
c d' ...
orque somente os po b res oferecem on içoes objet'
P sobretud 0 . ivas e
subjetivas de abertura ao outro e, , ao rad1calme t
~ se opõe ao .versalism . ne
outro. A opçao pelos pobres não uni o
d
e a comunidade os po res e ob ,
salvífico , ma s reconhece qu
" .
, . no qual se real 12a · a tarefa
lugar teolog1co po r excelencia,
de Deus.
salvadora, a construção do reino
ertação podemos propor trê ; (
Com inspiração na Teologia da Lib o .~
ent os essen~iais pa ra ~ co nst ruç ão de uma Psicologia da Libertaçã 1
elem nova l
do s povos • lat mo -am en ca, no s: um no vo ho riz on te, uma I
1

epis temologia e uma nova prax1s.

Um no vo ho riz on te
col og ia lat ino -am eri can a de ve descentrar sua atenção de si
A Psi
des pre ocu par -se co m~ ~ sta tus científico e social e propo-r-se a
-
mesma, - cessidades das maiorias populares.
umserv iço eficaz para atender as ne
Sà_o os Qrüblem
- - - -- - -- -"
as rea is do- s pró
'-
p rio s po vo s, nª- -
Q_osq Üe pre ocupàm oUtras
rdial de seu trabalho. E, hoje, a
.
la utud~s , que dev em ser o ob jet
qu
o
e
--- - - -
pri mo
co nf ro nta m as gra nd es ma ior
- - ias
qucs tào ma is im po rta nte
nas é a sua sit uaç ão de mi sér ia opressiva, sua condição de
latino~a merica
ênc ia _!!la rgi nal iza nte qu e lhe s impõe uma existência inumana e
depcn~ de·
arre ba ta a c_a_ pac ida de __pa ~a de fin ir sua vida. Portanto , se a necessida
Ih~~
pe rem ptó ria da s ma ior ias -la tino-americ ana s é a sua .
lihJ eli\'a ma is
ica de est rut ura s soc iai s qu e as mantêm oprimidas, para
hbe rtaçào histór
3 de vem se vo ltar a pre oc up açã o e o esforço da Psicologia.
e~,J ar~
re a necess idade de libert ação
A Psico logia sempre teve clarez a sob b s
ua
;,l- ·~o:.d tO '
e, a exi
·
gên cia de qu e as pe ssoas adquiram contro le so re le,
') ,, • b ·
· · >rr I ·J n·. '~L · ~ ia ·
e sej am cap aze s de ori ent ar sua vid a para aq ue s
h rt enc ' ~n ,· ·1t1 os
l\ 1) ".) ,1u ,, , pro po nh am co mo va l1.os os, sem que mec" :s '
, • .., e ~ l:: • · •ta de ~uas
1 1 1 ~ • .
am a con qui s -
• 1.... L r n1t ~ 0 , ·
· u (; X pen enc 1as co nsc
.
1cn1 es lhes impeç
IJ ,. !o• . ,'l (ls1 ·r' <.) log 'ia cm
i . ~l ':l k n ( r·11 1.. ,. <j e sua
· I'dad e pessoa 1. 'l 'O( 1av ia,
f'e1Ic · "' _ - '
1 · ça-o

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i i1,:,J ' ., 11 , 11 j
ll. 0 111 u110 e 1an.1 ~obre a mt un a rda<,:ao ~n
n.: , _ - .
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<1itr, , • • il~J .u ,"> 1> c 1a
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->t Ttu\ ·du u1::~ Ld. u J {) L'S~ o H i.: a 11b ertac.,:é10 de to o u m pov ·
1 11 , j
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n, f1t - - - cer 'a relaça o
l!U l· 11L1a . p
;:ilc;olo g 1u Lem um trí b uído par
a obsc ure
' li

_j
192 lgnncio Martin B
- ª"ó
entre a alienação pessoal e a opressão soc~al, como se a patola i·
L-essoas foss·e algó alheio à história e à sociedade ou como se Ose t~dll das
p-- - . . n t o dos
tra nstornos cotnportam enta1s se esgotasse no plano ind·lVt.d Uai
(Martín-Baró, 1984).
A Psicologia deve trabalhar pela libertação dos povos t·
Ia tno~
americanos, um processo qt~e, ~ai como 1nostrou a alfabeti zação
conscientizadora de Paulo Fretre, incorpora tanto uma n1ptura com
as
cadeias da opressão pessoal como com as cadeias da opressão social. A
recente história do povo salvadorenho prova que a superação de seu
fatalismo _existe!}cj~l, isso que honesta ou ideolog1camente alguns
psicólogos preferem chamar "controle externo" ou "desesperança
aprendida", co1no se fosse um problema de ordem puramente
intra-individual, envolve uma confronta~~º direta com as forças
estruturais que os mantêm oprim!fios, privados de controle sobre-sua
------ --
existência e forçados a apre9der a S!!bmissão e a não esperar nada da vida.
-- ------ - -- - - -------...,__ __

Uma nova epistemo logia

~
O objetivo de servir à necessidade de libertação dos povos
atino-americanos exige uma nova forma de buscar o conhecimento: a
/
verdade dos povos latino-americanos não está em seu presente de opressão,
[ mas em seu amanhã de liberdade; a verdade das maiorias populares não
deve ser encontrada, mas, sim, deve ser feita. Isso supõe, ao menos, dois
aspectos: uma nova perspectiva e uma nova práxis.
A nov~ persQ_e~tiva tem de ser a partir de baixo, d~s próprias
majorias populares oprimidas. Já nos perguntamos, seriamente, sobre como
~ão vistos os processos psicossociais da vertente do dominado, ao invés de
enxergá-los da vertente do dominador? Tentamos delinear a Psicologia
cducati va do ponto de vista analfabeto, a Psicologia do trabalho a partir do
dt~t:mprega do, a Psicologia clínica a partir do marginaliza do? Como se vê n
~:.iúdl: rnen tal a r ari ir do colono da fazenda, a maturidade pessoal a partir do
l,í.ibitun tc <-k um barrnco, a mo ti vação a partir da senhora em um merra do?
1 _

(Jb:., ei ve m qu1: ~.e dií' ''a pari ir" do analfabcto, do desemprega do. do co lono,
da ~enli. ora. ,.'"' 11;1,
· ) '' p.,,u ,1
. »
e 1cs. N-an se tra ta 1 , te ll1~s
d e pe nsa rmos por e cs, <.
1 1H )•,~os
ran ~rni tJ r 1..: :-,4uc1ua~ 0 1t de rcsolver os seus prn bl~mas; mas tra ta-se
~~ per~~~\J-m<~s l! kori:1,nrn1os cu, 11 ele~ e a partír de!es. Também aqui acenou
~mtu 1çao l) IOP c ·, ,.,,t .~ . 1>, 1 I' ·
• _
1
uc i1 u o -1e1rc, que desenvolve u uma pectagogta
· "do"
.
opnm 1do e na~o ·· para ,, · • ' ria. .
o opnm1do; era a própria pessoa, a prop
193

de sua própria
co nn1n id ade que d~Ye~a constituir-se em suje ito
consc1ent1zadora: que deY. eria ap render. em drnf ..
etiza çào ogo
al f:nb .
reahc.ac e e a . -
nitartO com o educador. a .ler sua . escr e, er sua pala ,·ra
cotnu .
. _, rica.· Assim .como. a Teologia da L1be na~ o sublinb
· ou que somente a
~
h1sto
,_,-1 · r do pobre e poss1vel
encontrar o Deus de , ida anunc1.auo ..J .
por Jesus.
p~u~1 . . ~
que somente a panir do-,
uma Psicolog1a d~ L_1bertaç~o tem , de aprender
a \·erdade /
próprio povo opnm1do. sera po~1Yel des.c-obrir e construir
existencial dos povos latmo-amencanos.
nte. descartar
Assunlir uma nova perspectiYa não supõe. obú ame
iúzação e a s1..:a
todos os nossos conhecimentos, o que supõe é a sua relat
com base ru sso
re,~são crítica do àngulo das maiorias populares. Somente
defic iência s1..1a
as teorias e os 111odelos mostrarão sua validade ou sua
pro,incíalismo:
utilidade ou sua inutilidade, sua univ ersahdad e ou s.eu
mostrarão sua s
apenas con 1eç and o daí as técn icas apre nd idas
ís.._-.ão.
potencialidades libertadoras ou suas sementes de subm

Uma noYa prá xis


s limi tes
Todo conhecimento humano está condicionado p-elo
impostos pela própria realidade. Sob vários ~~~ ms a reali
dade é opaca e 5Ó
humano ter noticia
atuando sobre ela, transformando-a, é ~ssí Yel ao scr
cionc:rlo ~ r nossa
dela O que vemos e como vemos, certamente. está con~
pefSpectiva, pelo lugar a partir do qual nos ligamos~ra à hist ória :_~ rambém
- -próp-. :::.-~l' dad C~ . adm11nr UIIl IlOYO,
' d
está eten nina do pela na fCd.11 e. -~s im y ~· '1~~

. - ___ a nos situar na ~ -- "' i, -a_ do po,·o


- · p~r,o e--:-t .e
-;---....,_ - -
co nhec1mento psicológico, nao bast formadora
, · nos envolver em uma - - , · uma atividade rrans _
necessan o nova prax is,
.. - as no que é mas .no que
ece- la nao apen ·
da realidade que nos permita conh - - . · má-l a para aquiJo que
~ , . - mos onc _ .
na~ e isto ocorre na medida em que tenta
- dand
g- "O) abor . rivef)CiaJ o a pesq msa
d - a (1 9 ) , P·., · . da
eve ~ Tal como afüm ou Fals Bord d prur a,~u nrana e-..
. . .
Partic1pattva somente ao participar se pro uz ª ru
· rn 1·o
' . r ·ra no b.,no«
nd ênci a, ,mp ,e, ·
relação assi métr ica de subm issão e depe
. _ roc& OS s~ia.is
sujeito/objeto. no:::- p
d inse nr-se _ -ia cienüiica tem
Em gera l, o psicólogo tem tenta O .
por · A reten dida ass,eps poder e um
meio das instâ ncia s de controle . • P· 111 0
,. tiva de quem ie
sid 0 . . 0 - ç;co hres {cmD s
, na pratica, uma aceitação da perspec ps1c o 1oe ~ -
at quem dom ina . Com o _ dl -c 0 mun id.1dc: com 0
uar tornando por base
d o P'e_"~soa1 seeu ndo as
trabalhado, a partir da direção da esco la e n~o erna o -
. ,
Psicologos do trabalho temo s selecionado ou tfi ·
194 Ignacio Manin-Ba .
ro

. " . do proprietário ou do gerente, não a partir dos p , .


ex 1genc1as . . . , ropnos
es ou de seus s1nd1ca tos, ate mesmo como psico'
traba lh ador " . . 1ogos
. , . s temos chegado com frequenc1a, nas comumdades mont d
comumtano ' . a os
Sso s esquem as e proJetos , de nosso saber e de nosso dinh .
110 carro de no . . . e1ro.
~ , e.., .1dei·xar nosso papel de supenondade profissional ou tecnocra't·
Naoe1ac 1 _ ------ - - - - --- 1ca
e trab; lhar l ~do al adÕ cóm os grupos populares. Mas se ~ os
nessenov O tl.po de práxis , que_ além ___de. transfmmar - a- realidad
- -~ e transfonna a
nós niesmos , dificilmente consegutremos desenvolver uma Psicologia
latino-americana que contribua para a libertaçà(!_de no~ os povos.
o problema de uma nova práxis coloca a questão do poder e, portanto,
~ da politização da Psicologia. Esse é Üm tema, para muitos, escabroso:niãs nem
pori sso menos importante. Certamente, assumir uma perspectiva, envolver-se
em uma práxis popular, é tomar partido. Pressupõe-se ~ e ao tomar parthlo~
abdica-da ~bjetivi& de científica, confundindo-se, dessa, !~rma, a parcialidade
a
com objetividade. O fato de que um conhecimento seja parcial não quer dizer
qu~ seja-subjetivo; a parcialidade pode ser consequência de certos in~ses,
mai;-~u menos consdentes, mas pode ser também o resultado de uma opção
------ --- -
ética. E, enquanto estamos condicionados por nossos interesses de classe que
parcializam nosso conhecimento, nem todos realizam uma opção ética
consciente que assuma uma parcialização coerente com os próprios valores.
Diante da tortura ou do assassinato, por exemplo, deve-se tomar partido, o que
não quer dizer que não se pode alcançar a objetividade na compreensão do ato
criminal e de seu ator, torturador ou assassino. Se não é assim, facilmente
condenaremos como assassinato a morte causada pelo guerrilheiro, mas
perdoaremos e ainda exaltaremos como ato de heroísmo a morte produzida pelo
soldado ou p~la polícia. Por isso, concordo com Fals Borda (1985) que defende
que O c?nhecimento prático adquirido mediante a pesquisa participativa deve se
encaminhar para a conqu · ta d
is e um poder popular, um poder que penmta . aos
povos tomarem-se protagonistas de sua própria história e realizar as mudanças
que tomem as sociedades I f · . .
a mo-amencanas mais Justas e humanas.

Três tarefas urgent es


São mui tas as tarefas •
da L'b - ' que se apresentam à Psicologia latino-amencana
t ertaçao, tanto teóric'1s e á.
cspeci·a1 1· ~~ . '' orno pr, ltcas. Apresento três que me parecem de
mportanc1a e . ~ · . - - .
des ideol -~ _ ui gene ia. a recuperação da memó1ia históI]ca , a
og1zaçao do se , - - -- -
potencialização (pote . . ~.s~ c~~ m e da exp~riên~J~_~ot~c!_ia_ ~~-e a
nciacton) das virtudes populares.
- - ·---
n Psicologia da Libertação
p11 rn um ·
195

Em prin1eiro lugar, a recuperação da me,nól".t·a h" t, · A d.fi -


. ~ . . onca.
- 1 1c1 11uta
lS
.conquistar a sattsfaçao cot1d1ana das necessidades bas'1·c e. · . .
pot _---- . - - ------- _ as 1orça as maionas
ulares a pennanecerem em um constante presente psicolo'gi·c .
pºp . ,. . . _ . _ o, en1 um aqui
e'. agora sen1 antes e depo1s, mais amda,. o discurso
- __ _ _. estrutura uma
__ dominante
realidade aparentetnente na~l e a-histórica, que leva à sua simples aceita ão.
As;~, é impossível tirar li~ões da experiênçj1l_·e~_~ gue é mais impo~nte
encontrar as raízes _~ª própria identidade, tanto para interpretar O sentido do qu~
atu~e se é, quanto para vislumbrar possibilidades alt~mativas sobre O que
se p_Qde ser. A iinagem predominantemente negativa que o latino-americano
médio ten1 de si 1nes1no em relação aos outros povos (Montero, 1984) denota a
interiorização da opressão no próprio espírito, viveiro propício para o fatalismo

-
confonnista tão conveniente para a ordem estabelecida.
Recuperar a memória histórica significará
- ---

descobrir seletivamente, mediante a memória coletiva, elementos\


1

do passado que foram eficazes para defender os interesses das } ,


classes exploradas e que voltam a ser úteis para os objetivos de luta/
e conscientização (Fals Borda, 1985, p. 139). '

Trata-se de recuperar não somente o sentido da P~~pria id~~ e,


não somente o orgulho de 2ertencer a um povo, assim como de contar com
uma- trad1çao
. _ e uma cultura, mas, so3_
b tudo , de regatar aqueles
-.- - - ::- _ aspectos
.
que serviram ontem -e que servirão hoje para a hbertaçao. Por isso, a
- --..,,..---:---- --=----;,;--:-:-:.::---;:
recuperação de uma memona h·1stonca . , • sup õe a reconstrução de certos
modelos de identificação que, ao 1nves . , de enc adear e alienar os povos, lhes
._ . rb rtação e realização.
abnrao o honzonte para a sua 1 e . . d ·cteologizar a
, . d lugar contnbmr para es1
E preciso, em se_gun
. ,. . .d.
° '
S b mos que o conhecimen o
. t é uma construção
expenenc1a cotl iana. a e , t· de um discurso
-·· --=--~'.:"--- ----: . b tidos a men ira
social. Nossos pa1ses vivem su ~e nci·ais da realidade. O
. - - - •- -d. f: aspectos esse
dominante que nega, ignora ou is a~ça _ . . •stra aos nossos povos
. ós dia se mm1 <- ' -
mes1no Hgarrotaço cultural" que, d ta ap : .•va é um marco de
. . d nicaçao mass1 '
por intcrméd ío dos meios e comu . r rnn lizaçào adequada
,. . .- . 0 de encontrar '-1 o ' . , , -- ,
referencia em que drhc1lmente, se P . . )brcwdo dos sdO t \.:s
' . . ., d,,s pessoas, se
da experiência cotidiana da maiona ' ' r ·ticio senso conmcn,
. ." f )nnanclo um H.: • - . .
populares. Dessa forma, vai se con < · • .:- das ~strutur,1s socims
0
, 1 . .. ·1 tnan utu1w,t . .· . fi
enganoso e alienador sustentacu OP'""' ' . Desideolog1zar s1gm tca
--- ' fo nn1smo. ~ 1 o
de exploração e das atitudes de con d' pessoas e devolve- as com_
resgatar - a -expenencia
- ·,. · ongma· · t dos grupos e. cts onsc1encta L ~ •
ele sLta própna

. . . formalizar a e
dado objetivo, o que lhes pennitira
196 I .
gnac10 M.artín-Baró

realidade, verificando a validade do conhecimento adquirido (Martí _ ,


l 'd 1 . ~ d
198~a, 1985b). Essa des1 eo og1za~~o :ve s~. realizar, na medida d~
poss1vel, em um processo de part1c1paçao cnt1ca na vida das..
n Baro

,. - - - - -- - - - - - - - - -~ ~-~ores
Populares ' o que representa uma certa ruptura com as fonnas predonu·
nantes
de' pesquisa e análise.
Finalmente, devemos trabalhar para potencializar as virtude d
-----~~::-=::::-:-:::-:'.r-:--i'--,-,-,...._ s e
nossos povos. Para não ir além de meu próprio povo, o povo de Eí Salvado
a história contemporânea ratifica, dia após dia, s ~ á v ; i
solidariedade no sofrimento, sua capacidade de entrega e de sacrifício pelo
bem coletivo, sua tremenda fé na capacidade humana de transfonnar 0
mundo, sua esperança em um amanhã que violentamente continua a ser
·negado. Essas virtudes estão vivas nas tradições populares, na religiosidade
popular, naquelas estruturas sociais que permitiram o povo salvadorenho
1
sobreviver historicamente em condições de opressão e repressão inumanas
~ e que permitem, hoje em dia, manter viva a fé em seu destino e a esperança
/ em seu futuro, apesar de uma pavorosa guerra civil que já se prolonga por
mais de seis anos.
'-
Monsenhor Romero, o arcebispo de San Salvador assassinado,
disse, em uma oportunidade, referindo-se às virtudes do povo
salvadorenho: "Com este povo, não é dificil ser um bom pastor". Como é
possível que nós, psicólogos latino-americanos, não tenhamos sido
capazes de descobrir todo esse rico potencial de virtudes de nossos povos
e, consciente ou inconscientemente, dirigimos nossos olhos para outros
países e para outras culturas na hora de definir objetivos e ideais?
Há uma grande tarefa adiante se queremos que a Psicologia
latino-americana realize uma contribuição significativa para a Psicologia
universal e, sobretudo, para a história de nossos povos. À luz da situação atual
de opressão e fé, de repressão e solidariedade, de fatalismo e lutas, que
caracteriza os nossos povos, essa tarefa deve ser a de mna Psicologia da
Libertação. Mas uma Psicologia da Libertação requer uma libertação prévia da
Psicologia e essa libertação chegará apenas por meio de uma práxis
comprometida com os sofrimentos e esperanças dos povos latino-americanos.

Nota: Arti go publicado originalment e na revista Bo/etín de Psicologia, 22, 19 86 ,


p. 21 9-3 1. Agradecemos à UCA Editores pela autorização da tradução e
publicação do texto, ass im como à medi ação realizada por Mauricio Gaborit.
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