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Bruxaria Natural
Uma Filosofia de Vida
Modulo I – História da Bruxaria

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MÓDULO I – HISTÓRIA DA BRUXARIA NATURAL

Introdução ao Curso de Bruxaria Natural

1. Introdução ao Mundo da Bruxaria


Que visão a maioria das pessoas tem de uma bruxa? A maioria acha que bruxa
é uma mulher feia, má, com uma grande verruga no nariz, que cozinha
bebezinhos pagãos (criancinhas não batizadas) e que, acima de tudo, voa
numa grande vassoura feita de ervas, ou então tem a visão hollywoodiana de
uma bruxa que mexe o nariz e tudo o que imagina aparece na sua frente. Qual
é a sua visão?
2. Bruxaria – Religião e Filosofia

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A palavra religião vem do latim religio > religionis, e é geralmente associada
à palavra latina religatio, religationis > religação. Neste curso falaremos
sobre a Bruxaria não como uma religião porque, para ser uma religião, seria
preciso afirmar que não possuímos a Natureza dentro de nós e,
automaticamente, teríamos que ligar novamente nossos laços com a Mãe
Natureza. Mas em que momento nós teríamos perdido esses laços? Será que
os perdemos um dia?
Estudaremos a Bruxaria como uma filosofia de vida, como uma arte na qual
expomos de cara limpa, sem medo e sem preconceito, o nosso amor pela Mãe
Natureza, despertando o amor em nós e aprendendo a respeitar as pessoas, a
vontade da Natureza e, acima de tudo, a nós mesmos.
Não temos hierarquia nem mestres. Somos apenas eternos aprendizes que
contemplamos os nossos professores o Senhor Sol, a Senhora Lua, as
Senhoritas Estrelas, enfim, todo o Cosmos. Eu, particularmente, admiro todas
as formas de expressão da Bruxaria. Afinal, estamos todos em um grande
processo de aprendizagem e todos os caminhos levam à redescoberta do ser
humano e da magia que existe dentro de cada um.
Para ser uma bruxa, não é preciso abandonar suas crenças e seus dogmas
religiosos. Basta acreditar no seu próprio poder e na força da Mãe Natureza.
As bruxas são mulheres que buscam o equilíbrio natural da Natureza. Talvez
por medo, o ser humano nunca buscou viver em harmonia com a Mãe Terra,
e até hoje ele só tem provocado a sua destruição.
Bruxaria é a magia da simplicidade e da dualidade. Como se acredita que tudo
é feito de símbolos, então tudo é possível. Se usarmos o laboratório da
Natureza e não prejudicarmos ninguém, poderemos obter tudo o que
desejarmos.
Reflita: A Bruxaria não tem cor. É como uma torneira que, quando é aberta,
tanto serve para matar a sede quanto para matar uma criança...

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Bruxaria Natural – História e Filosofia

1. Nascimento da Bruxaria
Segundo a doutora Margareth Murray, as origens da Bruxaria remontam ao
período paleolítico, cerca de 2,5 milhões de anos atrás. A importância da
mulher e da Natureza era vista através da observação. O ser humano
relacionava tudo na Natureza com uma energia espiritual e, assim,
estabelecia a magia simpática.
2. Imaginativo Primitivo
No início, não se conheciam deuses nem ciências. Tudo era novo, tudo era
mágico, e o homem primitivo acreditava na sua união com a Natureza.
Existia o ritual para o nascer do Sol, pois se o ritual não fosse realizado, o
Sol não nasceria e todos ficariam na escuridão. Acender fogueiras era o
ritual para as noites frias. Havia rituais para cada mudança de fase da Lua,
pois cada Lua tinha sua energia própria. Os homens primitivos sentiam
grande prazer com o carinho dos ventos, mas também temiam as forças
naturais, como a voz dos trovões e a fúria dos mares. Todavia, tinham acima
de tudo grande respeito um pelo outro e todos pela Natureza.
3. Etimologia da palavra “Bruxa”
Várias pesquisas afirmam que a palavra bruxa deriva do verbo brusiare >
queimar, usado no latim da Idade Média. Outras pesquisas apontam para a
palavra grega brouchos, que designa larva de borboleta, ou seja, o ser
disposto a sofrer uma metamorfose dentro e fora de si mesmo. Há também
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linguistas que sustentam que a palavra bruxa seja um vocábulo pré-romano,
de origem controversa, provavelmente do latinismo brouxa ou plusscia >
pluscia > bruscia > bruxa.
4. Evolução da Bruxaria

No período paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, que teve início 2,5 milhões
de anos atrás e durou até 13.000 a.C., o homem desconhecia sua participação
na procriação e, por isso, a valorização feminina era muito grande porque a
mulher “criava a vida”, cuja observação é comprovada através de desenhos
rupestres. Ao período paleolítico se seguiu o período mesolítico, que se
estendeu de 13.000 a 8.000 a.C..
No período neolítico ou Idade da Pedra Polida, que teve início em 8.000 a.C. e
durou até 1.500 a.C., o homem se tornou sedentário e passou a observar os
animais com mais atenção. Ao verificar que as fêmeas só procriavam com a
presença dos machos, concluiu que a mulher também só procriaria com a
presença do homem. Então a mulher passou de superior para igual.
Com o advento do Judaísmo, que pregava a crença num único Deus, e mais
tarde, com o domínio do Império Romano, a mulher deixou de ser igual e
passou a ser inferior ao homem.
5. A Bruxaria na Europa
Há quatro interpretações sobre as raízes europeias da Bruxaria:
1. As bruxas nunca existiram. A Bruxaria era simplesmente uma invenção
das autoridades da Igreja Católica, usada especificamente para ganhar poder
e força;

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2. A Bruxaria desenvolveu-se a partir de cultos de fertilidade europeus, que
enfatizavam uma Deusa como deidade central;
3. A Bruxaria era uma convenção social, em que as pessoas culpavam uma
bruxa quando não podiam explicar um acontecimento;
4. A Bruxaria desenvolveu-se gradativamente a partir de uma grande
variedade de práticas e costumes, cujas raízes se encontram no paganismo,
no misticismo hebreu e no folclore grego.
6. A Bruxaria se torna Ilegal
Até 1484, a Igreja Católica não tinha uma definição sobre a Bruxaria e
qualquer citação bíblica sobre Bruxaria passou a ser registrada após 1484. Só
com a publicação do manual de caça às bruxas O Martelo das Feiticeiras
(editora Nova Era) é que surgiu a relação das bruxas com o demônio: Se uma
mulher se atreve a curar sem ter estudado, ela é uma bruxa e deve morrer.
Ou ainda: Como pode viver um ser que sangra sete dias e não morre, a não
ser pelo pacto que tem com o demônio?
7. Primeiras Leis
Em 743, o sínodo de Roma declarou ser crime fazer oferendas a espíritos. Em
829, o sínodo de Paris baixou um decreto proclamando que a Igreja Católica
não toleraria encantamentos e idolatria. Entre 1100 e 1300, a imagem da
bruxa foi se transformando numa criatura diabólica que desprezava o
sagrado, comia crianças e realizava orgias selvagens.
8. A Inquisição
A Inquisição era um tribunal eclesiástico, chamado Tribunal do Santo Ofício,
criado para combater heresias cometidas por cristãos confessos e muçulmanos
vindos do Oriente. A Inquisição foi iniciada em 1184, em Verona, Itália, pelo
papa Lúcio III, que se inspirou em textos de Santo Agostinho. A Inquisição
fortaleceu-se durante o papado de Inocêncio III (1198-1216) e no Concílio de
Latrão (1215). De 1231 a 1234, o papa Gregório IX multiplicou os Tribunais
de Inquisição na Europa, que eram presididos por inquisidores permanentes.
9. Os Inquisidores
Todo inquisidor devia ser doutor em Teologia e em Direito Canônico e Civil e
ter, no mínimo, 40 anos de idade para ser nomeado. A autoridade do
inquisidor era dada pelo papa através de uma bula, que às vezes delegava seu
poder de nomear inquisidores a um cardeal representante, aos superiores ou
aos padres provincianos dos dominicanos e aos frades franciscanos. Foram os
papas Inocêncio IV e Alexandre IV que delegaram poder aos superiores e aos
padres provincianos de suas respectivas Ordens Licet ex Omnibu e Olim
Praesentiens. O inquisidor não podia nomear um escrivão, pois era assistido

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pelo escrivão público das dioceses. Somente em 1561 os papas puderam
nomear os escrivães.

10. Quem era Herético?


 Quem era excomungado pela Igreja Católica
 Quem se opunha à Igreja e contestava a autoridade que ela recebia de
Deus
 Quem cometia erros na interpretação das Sagradas Escrituras
 Quem criava uma nova seita ou aderia a uma seita já existente
 Quem não aceitava a doutrina romana sobre os sacramentos
 Quem tinha opinião diferente da opinião da Igreja Católica sobre um
ou vários artigos de fé
 Quem duvidava da fé cristã

11. As Torturas
A Inquisição usava a tortura como método de obter as confissões. Às vezes
chegava ao extremo, levando o torturado à morte. Segundo o grande
historiador norte-americano Henry Thomas, poderia ser escrito um livro,
embora nada agradável, sobre as torturas empregadas pela Inquisição. Eis
alguns exemplos de tortura:
 O prisioneiro, com as mãos amarradas para trás, era levantado por
uma corda que passava por uma roldana, e guindado até o alto do
patíbulo ou teto da câmara de tortura. Em seguida, deixavam-no cair e
travavam o aparelho quando seu corpo chegava próximo ao chão. Isso
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se repetia várias vezes. Os cruéis carrascos também amarravam pesos
nos pés da vítima a fim de aumentar o choque da queda.

 Havia a tortura pelo fogo. Os pés da vítima eram colocados sobre


carvões em brasa, e sobre as brasas era espalhada uma camada de
graxa para que estalasse ao contato com o fogo. Enquanto o fogo
martirizava o supliciado, os inquisidores ali presentes incitavam-no
“piedosamente” a aceitar os ensinamentos da Igreja, em cujo nome o
condenado estava sendo tratado “tão delicada e misericordiosamente”.

 Para que houvesse um contraste com a tortura pelo fogo, praticavam


também a tortura pela água. Amarravam as mãos e os pés do
prisioneiro com uma corda trancada, que lhe penetrava as carnes e os
tendões, e abriam a boca da vítima à força, despejando água dentro
dela, até que chegasse à confissão ou à sufocação

 Toda imaginação bárbara do espírito de Dante quando descreveu o


inferno foi incorporada às máquinas reais que cauterizavam as carnes,
esticavam e dilaceravam os corpos e quebravam os ossos de todos os
que se recusavam a crer na “branda misericórdia” dos inquisidores.

 De acordo com a lei, a tortura só podia ser infligida uma única vez, mas
esse regulamento era burlado. Quando queriam repetir a tortura,
mesmo depois de alguns dias, infringiam a lei, não alegando que fosse
uma repetição, mas simplesmente a continuação da tortura anterior.
Esse jogo de palavras dava margem à crueldade e ao zelo desenfreado
dos inquisidores.
12. As Taxas do Ato de Fé
Na Europa era costume cobrar uma taxa do acusado ou de seus familiares
para cada ato bárbaro cometido contra o próprio, desde sua prisão até sua
execução. As taxas eram estipuladas em reichsthalers, moeda vigente no
Império Germânico:
 Para ser aterrorizado com a exibição dos instrumentos de tortura > 1
 Para ser açoitado na cadeira > 1
 Para ter os dedos ou as mãos cortados > 3
 Para ser morto na roda > 4
 Para ser queimado vivo > 4
 Para ser estrangulado e queimado > 4
 Para ter a língua decepada > 5
 Para ser decapitado e queimado > 5

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13. A Inquisição no Brasil
No Brasil nunca existiu um tribunal do Santo Ofício ou da Inquisição, pois o
país achava-se sob a competência do Tribunal de Lisboa, Portugal. Durante o
século XVI, a Inquisição agiu discretamente. São conhecidos três processos e
uma visita do Santo Ofício, sem graves consequências. Misturavam-se às
vezes fatos reais de índole religiosa ou político-social com faltas graves,
aparentes ou supostas, ou tendências perniciosas no campo religioso ou social.
A Inquisição no Brasil foi extinta em 1774 e o Santo Ofício foi oficialmente
transformado em tribunal régio, sem autonomia ou totalmente dependente da
Coroa portuguesa.
Dados históricos, publicados na revista Veja de 13.10.1999, mostram que,
entre 1749 e 1771, nove mulheres e quatro homens foram acusados de
feitiçaria na cidade de São Paulo e encaminhados para a Santa Inquisição de
Portugal. Segundo pesquisas realizadas pelo pastor doutor Aníbal Pereira dos
Reis, existem arquivos de condenações em solo brasileiro de 721 mulheres e
1098 homens.
14. A Loucura Tomando Conta
Foi estimado que, entre 1450 e 1800, vinte mil pessoas foram queimadas vivas
em todo o mundo, por onde a Santa Inquisição passasse. A definição de
Bruxaria era vaga e a condenação podia incluir qualquer fato, como marido
farto da esposa, briga entre vizinhos ou até pessoas deficientes, pois tudo
girava em torno da informação de quem provasse que uma pessoa era bruxa
ou não. Além disso, a Igreja também reprimia o sexo, obrigando o homem
medieval a ter, a cada ano, 160 dias de relações sexuais com a esposa,
estimulando, assim, o sadismo e a brutalidade e criando um imenso
manicômio.
15. A Bruxaria e a Bíblia
Na Bíblia, a distorção mais comum referente às bruxas está em Êxodo,
capítulo 22, versículo 17: “A feiticeira não deixarás viver”. Essa passagem foi
traduzida inúmeras vezes. Em versões mais antigas do Livro de Êxodo o
significado era: “Que a feiticeira não deixarás viver”. Esse versículo em
particular refere-se à feiticeira como envenenadora e assassina. O significado
original era: “A assassina não deixarás viver”, cuja palavra provavelmente foi
confundida com “feiticeira”, causando um mal-entendido até hoje. O antigo
povo hebreu não marginalizava a prática da magia.
16. Bruxas Escondidas
É evidente que, com esse retrato da sociedade medieval, as bruxas
gradualmente deixaram de ser aldeãs e foram banidas da sociedade. Elas
começaram então a praticar sua arte silenciosamente e com muito cuidado,

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pois a última lei contra a Bruxaria só foi abolida em 1951 na antiga União
Soviética (URSS). A partir daí, a comunidade intelectual começou a
considerar a Bruxaria sob uma nova luz.
17. Renascimento da Bruxaria
A Bruxaria renasceu no século XX com um resgate romântico e um profundo
amor à Natureza. Pessoas conhecidas, como Sir Walter Scott, afirmavam que
a Bruxaria era real e que devia suas origens a tradições populares pré-cristãs.
Nessa ocasião, Aleister Crowley e Gerald Gardner vieram à frente e a antiga
imagem da bruxaria diabólica foi posta de lado.
18. Wicca e Bruxaria
A Wicca surgiu em 1954 através de Gerald Gardner, que resgatou uma
filosofia religiosa específica. Como qualquer movimento religioso, ela
incorpora muitas escolas e se divide em vários seguimentos.
A Bruxaria implica uma metodologia, principalmente no que se refere ao uso
da magia. A maioria das bruxas aprendeu sua arte como parte de uma
tradição familiar. Elas aprenderam um ofício.
É impossível que uma bruxa seja satanista porque o satanismo é baseado na
mitologia cristã e tem seu foco num ser chamado Satã. A Bruxaria e, em
particular, a Wicca, são baseadas na história dos costumes celtas e nas
práticas anglo-saxônicas, onde o demônio não tinha lugar porque os pagãos
antigos não reconheciam a existência de uma fonte de mal maior.
20. Cronologia das Influências Recebidas Dentro da Bruxaria
Anos antes de Cristo
2.500.000: Período paleolítico
13.000 a 8.000: Período mesolítico
8000 a 1500: Período neolítico
3600: A “civilização” tem início na Suméria
3500: Início do antigo Império Egípcio
2630 a 1530: Os egípcios constroem as pirâmides
1500: Data aproximada da construção de Stonehenge, monumento megalítico
1200: Surge a cultura celta nos territórios que hoje são a França e a Alemanha
500: Os celtas migram para a Grã-Bretanha
390: Os celtas invadem e saqueiam Roma
200: Primeiros conflitos entre romanos e teutônicos

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27: Fundação do Império Romano
Do ano 04 antes de Cristo ao ano 29 depois de Cristo: Tempo provável da vida
de Jesus
Anos depois de Cristo
313: O Édito de Milão torna o cristianismo a religião oficial do Império
Romano
447: O Conselho de Toledo define o demônio como a incorporação do mal
476: Queda do Império Romano
500: Os romanos deixam as ilhas Britânicas
800: Fundação do Sagrado Império Romano
1231: Início da Inquisição medieval
1313: Suposto nascimento de Aradia, filha de Diana
1400: Início do período das fogueiras
1478: Início da Inquisição espanhola
1486: Publicação do manual O Martelo das Feiticeiras
1492: A Espanha força os judeus a se converterem ao cristianismo
1502: Ato contra a Bruxaria, do papa Alexandre IV
1542: Ato contra a Bruxaria, do rei Henrique VIII
1563: Ato contra a Bruxaria, da rainha Elizabeth I
1645: Matthew Hopkins se proclama o General Caçador de Bruxas
1692: Início dos julgamentos contra a Bruxaria em Salém, Massachusetts,
EUA
1693: Fim dos julgamentos de Salém, Massachusetts, EUA
1735: O Ato de Bruxaria, do rei George
1834: Supressão da Inquisição espanhola
1875: Fundação da Sociedade Teosófica, por Helena Petrovna Blavatsky
1888: Fundação da Golden Dawn (Aurora Dourada)
1898: Aleister Crowley se agrega à Golden Dawn
1899: Publicação de Aradia: O Evangelho das Bruxas, de Charles Godfrey
Leland

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1921: Publicação de O Culto das Bruxas na Europa Ocidental, da Dra.
Margareth Murray
1939: Gerald Gardner se inicia na Bruxaria
1951: O Ato de Bruxaria é revogado na Inglaterra e na União Soviética
1953: Gerald Gardner forma seu coven
1954: Publicação de A Bruxaria Hoje, de Gerald Gardner
1966: Descobertas arqueológicas orientadas para as deusas do período
neolítico
1972: O fisco federal americano reconhece a Bruxaria como uma religião e
concede status com isenção de impostos para a Igreja e para a escola Wicca
1998: Na Romênia, o deputado Madalin Volceu leva à Câmara Legislativa um
projeto de lei que regulamenta uma escola para quem pretenda ser bruxa,
propondo que ela se torne uma profissional liberal de aconselhamento e
reequilibradora energética
1998: O papa João Paulo II reconhece que terríveis excessos tinham sido
cometidos pelo Santo Ofício e autoriza o Vaticano a abrir seus arquivos
secretos sobre a Inquisição
21. Galhos de Uma Mesma Raiz
A Bruxaria é um caminho pessoal, livre de dogmas, que dá liberdade a quem
deseje se aprofundar nos mistérios do Universo e encontrar suas próprias
respostas. A experiência de cada um é a verdade pessoal da sua essência.
Cada galho contém um foco diferente e nenhum deles é totalmente certo ou
errado. Todos têm seus méritos e deméritos:
Alexandrina: Tradição fundada por Alex Sanders, bastante semelhante à
garderiana. Sanders afirmava ter sua própria divisão da Bruxaria pelo fato
de ter sido iniciado pela sua avó. Seu conhecimento anterior sobre magia
cerimonial acrescentou pontos na evolução da Bruxaria. Na sua tradição,
Sanders era chamado de rei das bruxas.
Asatrus: Seguidores dos Aesir, raça governante dos deuses da mitologia
nórdica. Os asatrus quase sempre se voltam para a magia rúnica.
Brujeria: Tradição da América Central que não tem nenhuma ligação com a
Wicca. Trabalham com a magia natural, com as ervas e os encantos, e curam
por meio de remédios mágicos e populares.
Cabot: A bruxa Laurie Cabot estabeleceu duas tradições entrelaçadas em
uma. A primeira é a Bruxaria como ciência e a segunda é uma tradição pré-
garderiana, baseada na herança céltica e no seu próprio treinamento original,
na sua memória genética e na sua inspiração.

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Celta: Bruxaria praticada através de rituais, mitos e deuses célticos e
druídicos.
Cerimonial: Tradição que une rituais cabalísticos, herméticos, maçônicos,
alquímicos e outras facções.
Diânica: Ramificação da Wicca feminista que honra Diana, deusa da Lua e da
caça na mitologia romana, conhecida como Ártemis na mitologia grega. Os
covens são formados exclusivamente por mulheres.
Druidismo: Movimento pagão fundamentado nos ensinamentos dos druidas.
Eclética: São grupos de pessoas que não seguem nenhuma tradição específica,
mas sentem-se livres para tomar emprestados aspectos de muitas tradições e
culturas.
Egípcia: Bruxaria que resgata os mitos egípcios.
Fadas Radicais: Moderna tradição de gays sem estrutura rígida, porque
utilizam apenas a alegria e o divertimento para desenvolver a espiritualidade.
Faery (mundo encantado das fadas): Tradição fundada por Victor Anderson,
cujos rituais honram o mundo das fadas.
Garderiana: Dentro da linha religiosa da Bruxaria, é considerada a mais
tradicional, cujo material foi extraído da própria experiência de Gerald
Gardner. Essa tradição se espalhou nos Estados Unidos, Austrália e Europa,
inclusive Grã-Bretanha.
Greco-romana: Bruxaria que trabalha exclusivamente com as deidades das
mitologias grega e romana.
Magia do Caos: Fundada por Peter J. Carroll e inspirada por Aleister
Crowley, ela incorpora a atitude de que tudo é válido porque acredita poder
usar tudo para tudo, sem se apegar ao sistema.
Nova Era: Não é necessariamente uma tradição de magia, mas traz a
habilidade de toda bruxa, que é viver em harmonia e cujo lema é viva e deixe-
me viver.
Santeria: Tradição religiosa da África cujo culto é honrar os Orixás.
Seax Wicca: Tradição criada por Raymond Buckland, mais aberta e
democrática na prática do que a alexandrina e a garderiana.
Solitária: São bruxas geralmente ecléticas, que não pertencem a nenhuma
tradição e aprendem a Bruxaria por conta própria.
Stregheria: Bruxaria italiana, cuja tradição resgata o conhecimento de
Charles Godfrey Leland.

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Tradição Familiar: São os que receberam conhecimentos através de pessoas
da própria família.
Verde: Ampla categoria de herboristas e bruxas de cozinha ou de magia
natural.
Wicca Cristã: Embora muitos wiccans não aceitem esta tradição, ela está se
tornando cada vez mais prevalecente, principalmente na Europa.
Xamanismo Wiccan: Criação de Selena Fox, que combina a Wicca com
técnicas do xamanismo.
22. Os Celtas
O povo celta pertencia a um ramo indo-europeu que, por volta de 3000 a.C.,
saiu de sua terra natal, no oeste do Mar Negro. Os celtas eram conhecidos
pela justiça de suas leis que, entre outras coisas, garantiam direitos às
mulheres. Na cultura celta havia três níveis de reconhecimento: O rei era um
descendente de um herói ou líder guerreiro, reconhecido por sua capacidade
bélica em batalhas; os guerreiros eram reconhecidos por sua habilidade de
proteger e defender o clã; os fazendeiros, pastores e produtores eram pessoas
comuns, mas necessárias para o sustento da vida diária. Separados do clã,
mas constituindo parte dele, havia os sacerdotes druidas. O sacerdócio era
dividido em três classes: Derwydd era o conselheiro-chefe; Ovydd era a classe
dos profetas e adivinhos; Bardd era a classe dos poetas e mantenedores da
Tradição.
A cosmogonia céltica e o sistema espiritual druidas influenciaram
diretamente a Bruxaria em sua crença fundamental na Lei dos Três (ordem
lógica da Tríade), que era a associação dos humanos com a Natureza,
combinados com o Divino. Devido à sua associação com a terra e os animais,
os celtas eram mais cônscios da existência das energias sutis e do poder
potencial dos fenômenos naturais.
Reflexão do Módulo 1
Devemos nos lembrar que, nos séculos passados, aqueles que queimavam
bruxas e heréticos estavam repetindo exatamente o pecado que matou Jesus
Cristo. A história cristã seria muito diferente se os cristãos se recordassem de
que foi a motivação humana que os levou a matar o homem a quem
consideravam o seu salvador.

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Texto auxiliar e complementar
A história da Bruxaria
Ao contrário do que se pensa, o cristianismo não foi imediatamente adotado
pelo povo europeu ao ser declarado religião oficial do Império Romano. Esta
conversão dos Romanos ao catolicismo teve motivos políticos, e não teve
grande penetração fora dos centros urbanos. A grande massa da população
permaneceu fiel a seus deuses antigos. Os cultos antigos, então, receberam a
denominação pejorativa de "pagãos" ("pagani", plural de paganu, ' morador do
campo'), por ter como foco de resistência à nova religião o povo dos campos,
longe das cidades e das zonas de comércio e ensino.
Os missionários cristãos, com o tempo, passaram a ter mais aceitação nas
cidades, mas continuavam sendo repelidos no campo, nas montanhas e nas
regiões distantes, verdadeiros enclaves da Antiga Religião. Houve ainda uma
tentativa de reativar o paganismo e o culto aos Deuses antigos como religião
oficial do Império Romano. Esta última esperança deveu-se ao Imperador
Juliano (conhecido como "O Apóstata"), que reinou no século IV EC. Mas,
como sabemos, essa tentativa não foi frutífera, derrubada pela própria
conjuntura da época, onde já se pressentia o poder de manipulação, domínio
e intriga do cristianismo, evidenciado nos séculos seguintes. Um dos ardis
utilizados pelos cristãos era o de apropriar-se de festividades pagãs como
comemorações religiosas de sua própria religião. Assim, por exemplo, o
festival do solstício de inverno, onde se comemorava o nascimento do Deus-
Sol, transformou-se no Natal cristão. Também o festival de Samhain,
comemorado em intenção dos mortos, recebeu o nome de Dia de Todos os
Santos, logo seguido pelo dia de Finados. A despeito destas tentativas, as
tradições pagãs continuaram mantendo sua força.
A partir de um decreto do papa Gregório, os cristãos também se apossaram
dos locais sagrados da Antiga Religião e, derrubando os templos ali existentes,
erigiram suas igrejas. Os Deuses de cada santuário foram transformados em
santos e santas (um exemplo é Santa Brígida, da Irlanda, na verdade a Deusa
Bhríd, protetora do fogo e dos partos). Quando os cristãos deram-se conta da
importância da Deusa-Mãe para as pessoas, aumentaram a proeminência da
Virgem Maria no culto cristão. Mitos e práticas pagãs foram,
sistematicamente, absorvidas, distorcidas e transformadas em ritos cristãos.
Esculturas de temas pagãos foram incluídos em igrejas e capelas . O maior
exemplo de sincretismo entre costumes pagãos e cristãos é o cristianismo
irlandês, que ainda hoje conserva hábitos célticos mesclados a liturgias
cristãs.
Os padres tinham a seu favor o tempo, o poder e a força. Os pagãos tinham
que lutar sozinhos contra a profanação de seus templos, crenças e costumes.
Desta maneira, o povo simples dos campos foi acostumando-se à nova religião,
e, gradualmente, foi sendo convertido. Mas os sacerdotes restantes da Antiga

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Religião não se renderam à nova ordem. Juntamente com pessoas ainda fiéis
às antigas crenças, mantiveram o culto ao Deus de Chifres e à Deusa Mãe. As
crenças pagãs, enfatizando a adoração aos Deuses e a realização dos festivais
de fertilidade, foram amalgamando-se à magia popular, criando a Bruxaria
Européia. A magia popular consistia em um conjunto de feitiços feitos com o
uso de ervas, bonecos e diversos outros meios. Estes feitiços tinham como
objetivo a cura, a boa sorte, atrair amores, e fins menos nobres,como a morte
de algum inimigo. São práticas desenvolvidas a partir do que restara da
magia simpática pré-histórica, unidas ao conhecimento xamânico dos povos
bárbaros.
Os teólogos cristãos passaram então a sustentar que a Bruxaria não existia.
Assim, pretendiam terminar com a credibilidade dos bruxos e anular sua
influência. Foi um período de relativa paz para a Arte. Mas logo os cristãos
perceberam que seus esforços para exterminar completamente o paganismo
não haviam dado resultado. Fizeram então mais uma tentativa:
transformaram o Deus de Chifres na personificação do Mal, do Antideus, do
Inimigo. A natureza dos Deuses pagãos é completamente diferente da do todo-
poderoso "senhor de bondade" dos cristãos. Nossos Deuses são quase
"humanos", pois têm características tanto 'boas' quanto 'más'. A teologia cristã
já pressupunha a existência de um antagonista a seu Jeová (o 'Satan' hebraico
do Antigo Testamento e o 'diabolos' do Novo): um Inimigo. Ele ainda não
possuía forma definida e, quando era representado, o era em forma de
serpente, como a que persuadiu Adão a comer a fruta da Árvore da Sabedoria.
Dando a seu Satã a forma do Deus de Chifres (notadamente de deuses
agropastoris como Pã e Sileno, dotados de cascos de bode e pequenos cornos),
os cristãos conseguiram iniciar um clima de terror e medo em relação aos
praticantes da Antiga Religião, o que os forçou a praticarem seus ritos em
segredo.
Mas a era mais triste da Arte ainda estava por vir. A Era das Fogueiras A
situação da Igreja até o século XIII era caótica. Facções adversárias lutavam
entre si, cada uma degladiando-se em favor de um dogma. Nos numerosos
concílios realizados, ora uma das facções impunham sua visão, ora outra. Isso
favorecia um desmoralizante 'entra-e-sai' de dogmas, o que desacreditava a
Igreja. Algumas destas facções também criticavam a corrupção e o jogo de
poder dentro da classe sacerdotal, e levantavam dúvidas sobre o poder
espiritual do papado. Foi então criado um instrumento de repressão: o
Tribunal de Santa Inquisição. Consistia em um corpo investigatório
ignorante, brutal e preconceituoso, dirigido pela ordem dos Dominicanos. Sua
função primordial era a de acabar com as facções que se opunham à Igreja
(denominadas 'heréticas'), através do extermínio sistemático de seus
membros. Exemplos destas facções 'heréticas' eram os cátaros, os gnósticos e
os templários. Com o tempo, os cristãos perceberam outro uso para seu
Tribunal. Ainda persistiam cultos aos Deuses Antigos, e, graças à
transformação do Deus de Chifres no Demônio Cristãos, eram acusados de
16
delitos absurdos, como o canibalismo, a destruição de lavouras (acusar de tal
crime uma Religião dedicada à manutenção da fertilidade das colheitas é, no
mínimo, ridículo) e muitos outros. Foi então proclamada, em 1484, a Bula
contra os Bruxos, pelo Papa Inocêncio VIII. Neste documento, ele relacionava
os crimes atribuídos aos bruxos e dava plenos poderes à Inquisição para
prender, torturar e punir todos aqueles que fossem suspeitos do 'crime de
feitiçaria'. Em 1486 foi publicado o Malleus Malleficarum ('Martelo dos
Feiticeiros'), escrito pelos dominicanos Kramer e Sprenger. O livro, absurdo e
misógino, era um manual de reconhecimento e caça aos bruxos, e,
principalmente, às bruxas (o livro trazia afirmações surpreendentes, como:
"quando uma mulher pensa sozinha, pensa em malefícios"). A partir daí, a
Igreja abandonou completamente a postura de ignorar a Bruxaria: pelo
contrário, não acreditar na sua existência era considerada a maior das
heresias. Iniciou-se então um período de duzentos anos de terror, conhecido
entre os bruxos como "Era das Fogueiras". Mas os bruxos (e também os
hereges e inocentes: doentes mentais, homossexuais, pessoas invejadas por
poderosos, mulheres velhas e/ou solitárias) não pereciam só em fogueiras:
eram também enforcados e esmagados sob pedras. Isso quando não pereciam
nas torturas, as quais são tão cruéis e sádicas que não merecem nem ser
mencionadas. A Inquisição tornou-se uma válvula de escape para as neuroses
da época: em época de forte repressão sexual, condenavam-se mulheres
jovens, que eram despidas em frente a um grupo de 'investigadores', tinham
todo seu corpo revistado diversas vezes, à procura de uma suposta 'marca do
diabo', e, por fim, eram açoitadas, marcadas a ferro e violentadas.
Terminavam condenadas e executadas como bruxas. Seu crime: serem
mulheres jovens, belas e invejadas. Anciãs que moravam sozinhas,
geralmente em companhia de alguns animais, como gatos (daí a lenda da
ligação dos gatos com as bruxas), eram alvo de desconfiança e logo declaradas
'feiticeiras', e, assim, assassinadas.
A maioria das vítimas dos tribunais de Inquisição não eram verdadeiros
praticantes da Arte, mas muitos bruxos pereceram na mão dos cristãos.
Aproximadamente nove milhões de crimes como este foram cometidos
durante a Inquisição, ironicamente em nome de uma religião que se dizia 'de
amor'. Nunca uma religião demonstrou tanta necessidade de exterminar seus
antagonistas como o cristianismo. A perseguição aos bruxos não se resumiu
apenas ao países católicos: espalhou-se pela Europa protestante. Os
protestantes não se guiavam pelo Malleus Malleficarum, mas davam razão à
sua paranóia através do uso de uma citação do Antigo Testamento: "não
deixarás que nenhum bruxo viva". Na Era das Fogueiras, os praticantes da
Antiga Religião adotaram o único comportamento que lhes possibilitaria a
sobrevivência: "foram para o subterrâneo", ou seja, mantiveram o máximo de
discrição e segredo possível. A sabedoria pagã só era passada por tradição
oral, e somente entre membros da mesma família ou vizinhos da mesma
aldeia. Como técnica de proteção, os próprios bruxos ajudaram a desacreditar

17
sua imagem, sustentando que a Bruxaria não passava de lenda, ou
disseminando idéias de bruxos como figuras cômicas e caricatas, dignas de
pena e riso. Por volta do final do século XVII, a perseguição aos bruxos foi
diminuindo gradativamente, estando virtualmente extinta no século XVIII. A
Bruxaria parecia, finalmente, ter morrido. Mas os grupos de bruxos ("covens")
resistiam, escondidos nas sombras. Algo que surgiu nos primórdios da
humanidade não morreria assim tão facilmente.
Daniel Pellizzari

O Martelo das Feiticeiras


Malleus Maleficarum

Escrito em 1484 pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger

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Breve Introdução Histórica
ROSE MARIE MURARO
Para compreendermos a importância do Malleus é preciso termos uma visão
ao menos mínima da história da mulher no interior da história humana em
geral.
Segundo a maioria dos antropólogos, o ser humano habita este planeta há
mais de dois milhões de anos. Mais de três quartos deste tempo a nossa
espécie passou nas culturas de coleta e caça aos pequenos animais. Nessas
sociedades não havia necessidade de força física para a sobrevivência, e nelas
as mulheres possuíam um lugar central.
Em nosso tempo ainda existem remanescentes dessas culturas, tais como os
grupos mahoris (Indonésia), pigmeus e bosquímanos (África Central). Estes
são os grupos mais primitivos que existem e ainda sobrevivem da coleta dos
frutos da terra e da pequena caça ou pesca. Nesses grupos, a mulher ainda é
considerada um ser sagrado, porque pode dar a vida e, portanto, ajudar a
fertilidade da terra e dos animais. Nesses grupos, o princípio masculino e o
feminino governam o mundo juntos. Havia divisão de trabalho entre os sexos,
mas não havia desigualdade. A vida corria mansa e paradisíaca.
Nas sociedades de caça aos grandes animais, que sucedem a essas mais
primitivas, em que a força física é essencial, é que se inicia a supremacia
masculina. Mas nem nas sociedades de coleta nem nas de caça se conhecia
função masculina na procriação. Também nas sociedades de caça a mulher
era considerada um ser sagrado, que possuía o privilégio dado pelos deuses
de reproduzir a espécie. Os homens se sentiam marginalizados nesse processo
e invejavam as mulheres. Essa primitiva inveja do útero” dos homens é a
antepassada da moderna “inveja do pênis” que sentem as mulheres nas
culturas patriarcais mais recentes.
A inveja do útero dava origem a dois ritos universalmente encontrados nas
sociedades de caça pelos antropólogos e observados em partes opostas do
mundo, como Brasil e Oceania. O primeiro é o fenômeno da couvade, em que
a mulher começa a trabalhar dois dias depois de parir e o homem fica de
resguardo com o recém-nascido, recebendo visitas e presentes... O segundo é
a iniciação dos homens. Na adolescência, a mulher tem sinais exteriores que
marcam o limiar da sua entrada no mundo adulto. A menstruação a torna
apta à maternidade e representa um novo patamar em sua vida. Mas os
adolescentes homens não possuem esse sinal tão óbvio. Por isso, na puberdade
eles são arrancados pelos homens às suas mães, para serem iniciados na “casa
dos homens”. Em quase todas essas iniciações, o ritual é semelhante: é a
imitação cerimonial do parto com objetos de madeira e instrumentos
musicais. E nenhuma mulher ou criança pode se aproximar da casa dos

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homens, sob pena de morte. Desse dia em diante o homem pode “parir”
ritualmente e, portanto, tomar seu lugar na cadeia das gerações...
Ao contrário da mulher, que possuía o “poder biológico”, o homem foi
desenvolvendo o “poder cultural” à medida que a tecnologia foi avançando.
Enquanto as sociedades eram de coleta, as mulheres mantinham uma espécie
de poder, mas diferente das culturas patriarcais. Essas culturas primitivas
tinham de ser cooperativas, para poder sobreviver em condições hostis, e
portanto não havia coerção ou centralização, mas rodízio de lideranças, e as
relações entre homens e mulheres eram mais fluidas do que viriam a ser nas
futuras sociedades patriarcais.
Nos grupos matricêntricos, as formas de associação entre homens e mulheres
não incluíam nem a transmissão do poder nem a da herança, por isso a
liberdade em termos sexuais era maior. Por outro lado, quase não existia
guerra, pois não havia pressão populacional pela conquista de novos
territórios.
E só nas regiões em que a coleta é escassa, ou onde vão se esgotando os
recursos naturais vegetais e os pequenos animais, que se inicia a caça
sistemática aos grandes animais. E aí começam a se instalar a supremacia
masculina e a competitividade entre os grupos na busca de novos territórios.
Agora, para sobreviver, as sociedades têm de competir entre si por um
alimento escasso. As guerras se tornam constantes e passam a ser
mitificadas. Os homens mais valorizados são os heróis guerreiros. Começa a
se romper a harmonia que ligava a espécie humana à natureza. Mas ainda
não se instala definitivamente a lei do mais forte. O homem ainda não conhece
com precisão a sua função reprodutora e crê que a mulher fica grávida dos
deuses. Por isso ela ainda conserva poder de decisão. Nas culturas que vivem
da caça, já existe estratificação social e sexual, mas não é completa como nas
sociedades que se lhes seguem.
E no decorrer do neolítico que, em algum momento, o homem começa a
dominar a sua função biológica reprodutora, e, podendo controlá-la, pode
também controlar a sexualidade feminina. Aparece então o casamento como
o conhecemos hoje, em que a mulher é propriedade do homem e a herança se
transmite através da descendência masculina. Já acontece assim, por
exemplo, nas sociedades pastoris descritas na Bíblia. Nessa época, o homem
já tinha aprendido a fundir metais. Essa descoberta acontece por volta de
10000 ou 8000 a.C. E, à medida que essa tecnologia se aperfeiçoa, começam a
ser fabricadas não só armas mais sofisticadas como também instrumentos que
permitem cultivar melhor a terra (o arado, por ex.).
Hoje há consenso entre os antropólogos de que os primeiros humanos a
descobrir os ciclos da natureza foram as mulheres, porque podiam compará-
los com o ciclo do próprio corpo. Mulheres também devem ter sido as primeiras
plantadoras e as primeiras ceramistas, mas foram os homens que, a partir da

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invenção do arado, sistematizaram as atividades agrícolas, iniciando uma
nova era, a era agrária, e com ela a história em que vivemos hoje.
Para poder arar a terra, os grupamentos humanos deixam de ser nômades.
São obrigados a se tornar sedentários. Dividem a terra e formam as primeiras
plantações. Começam a se estabelecer as primeiras aldeias, depois as cidades,
as cidades-estado, os primeiros Estados e os impérios, no sentido antigo do
termo. As sociedades, então, se tornam patriarcais, isto é, os portadores dos
valores e da sua transmissão são os homens. Já não são mais os princípios
feminino e masculino que governam juntos o mundo, mas, sim, a lei do mais
forte. A comida era primeiro para o dono da terra, sua família, seus escravos
e seus soldados. Até ser escravo era privilégio. Só os párias nômades, os sem-
terra, é que pereciam no primeiro inverno ou na primeira escassez.
Nesse contexto, quanto mais filhos, mais soldados e mais mão-de-obra barata
para arar a terra. As mulheres tinham a sua sexualidade rigidamente
controlada pelos homens. O casamento era monogâmico e a mulher era
obrigada a sair virgem das mãos do pai para as mãos do marido. Qualquer
ruptura desta norma podia significar a morte. Assim também o adultério: um
filho de outro homem viria ameaçar a transmissão da herança que se fazia
através da descendência da mulher. A mulher fica, então, reduzida ao âmbito
doméstico. Perde qualquer capacidade de decisão no domínio público, que fica
inteiramente reservado ao homem. A dicotomia entre o privado e o público
torna-se, então, a origem da dependência econômica da mulher, e esta
dependência, por sua vez, gera, no decorrer das gerações, uma submissão
psicológica que dura até hoje.
E nesse contexto que transcorre todo o período histórico até os dias de hoje.
De matricêntrica, a cultura humana passa a patriarcal.
E o Verbo Veio Depois
“No principio era a Mãe, o Verbo veio depois.” l~ assim que Marilyn French,
uma das maiores pensadoras feministas americanas, começa o seu livro
Beyond Power (Summit Books, Nova York, 1985). E não é sem razão, pois
podemos retraçar os caminhos da espécie através da sucessão dos seus mitos.
Um mitólogo americano, em seu livro The Masks of God: Occidental
Mythology (Nova York, 1970), citado por French, divide em quatro grupos
todos os mitos conhecidos da criação. E, surpreendentemente, esses grupos
correspondem às etapas cronológicas da história humana.
Na primeira etapa, o mundo é criado por uma deusa mãe sem auxílio de
ninguém. Na segunda, ele é criado por um deus andrógino ou um casal
criador. Na terceira, um deus macho ou toma o poder da deusa ou cria o
mundo sobre o corpo da deusa primordial. Finalmente, na quarta etapa, um
deus macho cria o mundo sozinho.

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Essas quatro etapas que se sucedem também cronologicamente são
testemunhas eternas da transição da etapa matricêntrica da humanidade
para sua fase patriarcal, e é esta sucessão que dá veracidade à frase já citada
de Marilyn French.
Alguns exemplos nos farão entender as diversas etapas e a frase de French.
O primeiro e mais importante exemplo da primeira etapa em que a Grande
Mãe cria o universo sozinha é o próprio mito grego. Nele a criadora primária
é Géia, a Mãe Terra. Dela nascem todos as protodeuses: Urano, osTitãs e as
protodeusas, entre as quais Réia, que virá a ser a mãe do futuro dominador
do Olimpo, Zeus. Há também o caso do mito Nagô, que vem dar origem ao
candomblé. Neste mito africano, é Nanã Buruquê que dá à luz todos os orixás,
sem auxílio de ninguém.
Exemplos do segundo caso são o deus andrógino que gera todos os deuses, no
hinduísmo, e o yin e o yang, o principio feminino e o masculino que governam
juntos na mitologia chinesa.
Exemplos do terceiro caso são as mitologias nas quais reinam em primeiro
lugar deusas mulheres, que são, depois, destronadas por deuses masculinos.
Entre essas mitologias está a sumeriana, em que primitivamente a deusa
Siduri reinava num jardim de delícias e cujo poder foi usurpado por um deus
solar. Mais tarde, na epopéia de Gilgamesh, ela é descrita como simples serva.
Ainda, os mitos primitivos dos astecas falam de um mundo perdido, de um
jardim paradisíaco governado por Xoxiquetzl, a Mãe Terra. Dela nasceram os
Huitzuhuahua, que são os Titâs e os Quatrocentos Habitantes do Sul (as
estrelas). Mais tarde, seus filhos se revoltam contra ela e ela dá à luz o deus
que iria governar a todos, Huitzilopochtli.
A partir do segundo milênio a.C., contudo, raramente se registram mitos em
que a divindade primária seja mulher. Em muitos deles, estas são
substituídas por um deus macho que cria o mundo a partir de si mesmo, tais
como os mitos persa, meda e, principalmente e acima de todos, o nosso mito
cristão, que é o que será enfocado aqui.
Javé é deus único todo-poderoso, onipresente, e controla todos os seres
humanos em todos os momentos da sua vida. Cria sozinho o mundo em sete
dias e, no final, cria o homem. E só depois cria a mulher, assim mesmo a partir
do homem. E coloca ambos no Jardim das Delícias onde o alimento é
abundante e colhido sem trabalho. Mas, graças à sedução da mulher, o homem
cede à tentação da serpente e o casal é expulso do paraíso.
Antes de prosseguir, procuremos analisar o que já se tem até aqui em relação
à mulher. Em primeiro lugar, ao contrário das culturas primitivas, Javé é
deus único, centralizador, dita rígidas regras de comportamento cuja
transgressão é sempre punida. Nas primitivas mitologias, ao contrário, a
Grande Mãe é permissiva, amorosa e não coercitiva. E como todos os mitos

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fundantes das grandes culturas tendem a sacralizar os seus principais
valores, Javé representa bem a transformação do matricentrismo em
patriarcado.
O Jardim das Delícias é a lembrança arquetípica da antiga harmonia entre o
ser humano e a natureza. Nas culturas de coleta não se trabalhava
sistematicamente. Por isso os controles eram frouxos e podia se viver mais
prazerosamente. Quando o homem começa a dominar a natureza, ele começa
a se separar dessa mesma natureza em que até então vivia imerso.
Como o trabalho é penoso, necessita agora de poder central que imponha
controles mais rígidos e punição para a transgressão. É preciso usar a coerção
e a violência para que os homens sejam obrigados a trabalhar, e essa coerção
é localizada no corpo, na repressão da sexualidade e do prazer. Por isso o
pecado original, a culpa máxima, na Bíblia, é colocado no ato sexual (é assim
que, desde milênios, popularmente se interpreta a transgressão dos primeiros
humanos).
E por isso que a árvore do conhecimento é também a árvore do bem e do mal.
O progresso do conhecimento gera o trabalho e por isso o corpo tem de ser
amaldiçoado, porque o trabalho é bom. Mas é interessante notar que o homem
só consegue conhecimento do bem e do mal transgredindo a lei do Pai. O sexo
(o prazer) doravante é mau e, portanto, proibido. Praticá-lo é transgredir a
lei. Ele é, portanto, limitado apenas às funções procriativas, e mesmo assim é
uma culpa.
Daí a divisão entre sexo e afeto, entre corpo e alma, apanágio das civilizações
agrárias e fonte de todas as divisões e fragmentações do homem e da mulher,
da razão e da emoção, das classes...
Tomam ai sentido as punições de Javé. Uma vez adquirido o conhecimento, o
homem tem que sofrer, O trabalho o escraviza. E por isso o homem escraviza
a mulher. A relação homem-mulher-natureza não é mais de integração e, sim,
de dominação. O desejo dominante agora é o do homem. O desejo da mulher
será para sempre carência, e é esta paixão que será o seu castigo. Daí em
diante, ela será definida por sua sexualidade, e o homem, pelo seu trabalho.
Mas o interessante é que os primeiros capítulos do Gênesis podem ser mais
bem entendidos à luz das modernas teorias psicológicas, especialmente a
psicanálise. Em cada menino nascido no sistema patriarcal repete-se, em
nível simbólico, a tragédia primordial. Nos primeiros tempos de sua vida, eles
estão imersos no Jardim das Delícias, em que todos os seus desejos são
satisfeitos. E isto lhes faz buscar o prazer que lhes dá o contato com a mãe, a
única mulher a que têm acesso. Mas a lei do pai proíbe ao menino a posse da
mãe. E o menino é expulso do mundo do amor, para assumir a sua autonomia
e, com ela, a sua maturidade. Principalmente, a sua nudez, a sua fraqueza, os
seus limites. E à medida que o homem se cinde do Jardim das Delícias

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proporcionadas pela mulher-mãe que ele assume a sua condição masculina. E
para que possa se tornar homem em termos simbólicos, ele precisa passar pela
punição maior que é a ameaça de morte pelo pai. Como Adão, o menino quer
matar o pai e este o pune, deixando-o só.
Assim, aquilo que se verifica no decorrer dos séculos, isto é, a transição das
culturas de coleta para a civilização agrária mais avançada, é relembrado
simbolicamente na vida de cada um dos homens do mundo de hoje. Mas duas
observações devem ser feitas. A primeira é que o pivô das duas tragédias, a
individual e a coletiva, é a mulher; e a segunda, que o conhecimento
condenado não é o conhecimento dissociado e abstrato que daí por diante será
o conhecimento dominante, mas sim o conhecimento do bem e do mal, que
vem da experiência concreta do prazer e da sexualidade, o conhecimento
totalizante que integra inteligência e emoção, corpo e alma, enfim, aquele
conhecimento que é, especificamente na cultura patriarcal, o conhecimento
feminino por excelência.
Freud dizia que a natureza tinha sido madrasta para a mulher porque ela não
era capaz de simbolizar tão perfeitamente como o homem. De fato, para
podermos entender a misoginia que daí por diante caracterizará a cultura
patriarcal, é preciso analisar a maneira como as ciências psicológicas mais
atuais apontam para uma estrutura psíquica feminina bem diferente da
masculina.
A mesma idade em que o menino conhece a tragédia da castração imaginária,
a menina resolve de outra maneira o conflito que a conduzirá á maturidade.
Porque já vem castrada, isto é, porque não tem pênis (o símbolo do poder e do
prazer, no patriarcado), quando seu desejo a leva para o pai ela não entra em
conflito com a mãe de maneira tão trágica e aguda como o menino entra com
o pai por causa da mãe. Porque já vem castrada, não tem nada a perder. E a
sua identificação com a mãe se resolve sem grandes traumas. Ela não se
desliga inteiramente das fontes arcaicas do prazer (o corpo da mãe). Por isso,
também, não se divide de si mesma como se divide o homem, nem de suas
emoções. Para o resto da sua vida, conhecimento e prazer, emoção e
inteligência são mais integrados na mulher do que no homem e, por isso, são
perigosos e desestabilizadores de um sistema que repousa inteiramente no
controle, no poder e, portanto, no conhecimento dissociado da emoção e, por
isso mesmo, abstrato.
De agora em diante, poder, competitividade, conhecimento, controle,
manipulação, abstração e violência vem juntos. O amor, a integração com o
meio ambiente e com as próprias emoções são os elementos mais
desestabilizadores da ordem vigente. Por isso é preciso precaver-se de todas
as maneiras contra a mulher, impedi-la de interferir nos processos decisórios,
fazer com que ela introjete uma ideologia que a convença de sua própria
inferioridade em relação ao homem.

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E não espanta que na própria Bíblia encontremos o primeiro indício desta
desigualdade entre homens e mulheres. Quando Deus cria o homem, Ele o
cria só e apenas depois tira a companheira da costela deste. Em outras
palavras: o primeiro homem dá à luz (pare) a primeira mulher. Esse fenômeno
psicológico de deslocamento é um mecanismo de defesa conhecido por todos
aqueles que lidam com a psique humana e serve para revelar escondendo.
Tirar da costela é menos violento do que tirar do próprio ventre, mas, em
outras palavras, aponta para a mesma direção. Agora, parir é ato que não está
mais ligado ao sagrado e é, antes, uma vulnerabilidade do que uma força. A
mulher se inferioriza pelo próprio fato de parir, que outrora lhe assegurava a
grandeza. A grandeza agora pertence ao homem, que trabalha e domina a
natureza.
Já não é mais o homem que inveja a mulher. Agora é a mulher que inveja o
homem e é dependente dele. Carente, vulnerável, seu desejo é o centro da sua
punição. Ela passa a se ver com os olhos do homem, isto é, sua identidade não
está mais nela mesma e sim em outro. O homem é autônomo e a mulher é
reflexa. Daqui em diante, como o pobre se vê com os olhos do rico, a mulher
se vê pelo homem.
Da época em que foi escrito o Gênesis até os nossos dias, isto é, de alguns
milênios para cá, essa narrativa básica da nossa cultura patriarcal tem
servido ininterruptamente para manter a mulher em seu devido lugar. E,
aliás, com muita eficiência. A partir desse texto, a mulher é vista como a
tentadora do homem, aquela que perturba a sua relação com a transcendência
e também aquela que conflitua as relações entre os homens. Ela é ligada à
natureza, à carne, ao sexo e ao prazer, domínios que têm de ser rigorosamente
normatizados: a serpente, que nas eras matricêntricas era o símbolo da
fertilidade e tida na mais alta estima como símbolo máximo da sabedoria, se
transforma no demônio, no tentador, na fonte de todo pecado. E ao demônio é
alocado o pecado por excelência, o pecado da carne. Coloca-se no sexo o pecado
supremo e, assim, o poder fica imune à crítica. Apenas nos tempos modernos
está se tentando deslocar o pecado da sexualidade para o poder. Isto é, até
hoje não só o homem como as classes dominantes tiveram seu status
sacralizado porque a mulher e a sexualidade foram penalizadas como causa
máxima da de-gradação humana.

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O Malleus como Continuação do Gênesis

Enquanto se escrevia o Gênesis no Oriente Médio, as grandes culturas


patriarcais iam se sucedendo. Na Grécia, o status da mulher foi
extremamente degradado. O homossexualismo era prática comum entre os
homens e as mulheres ficavam exclusivamente reduzidas às suas funções de
mãe, prostituta ou cortesã. Em Roma, embora durante certo período tivessem
bastante liberdade sexual, jamais chegaram a ter poder de decisão no
Império. Quando o Cristianismo se torna a religião oficial dos romanos no
século IV, tem início a Idade Média. Algo novo acontece. E aqui nos deteremos
porque é o período que mais nos interessa.
Do terceiro ao décimo séculos, alonga-se um período em que o Cristianismo se
sedimenta entre as tribos bárbaras da Europa. Nesse período de conflito de
valores, é muito confusa a situação da mulher. Contudo, ela tende a ocupar
lugar de destaque no mundo das decisões, porque os homens se ausentavam
muito e morriam nos períodos de guerra. Em poucas palavras: as mulheres
eram jogadas para o domínio público quando havia escassez de homens e
voltavam para o domínio privado quando os homens reassumiam o seu lugar
na cultura.
Na alta Idade Média, a condição das mulheres floresce. Elas têm acesso às
artes, às ciências, à literatura. Uma monja, por exemplo, Hrosvitha de
Gandersheim, foi o único poeta da Europa durante cinco séculos. Isso acontece
durante as cruzadas, período em que não só a Igreja alcança seu maior poder

26
temporal como, também, o mundo se prepara para as grandes transformações
que viriam séculos mais tarde, com a Renascença.
E é logo depois dessa época, no período que vai do fim do século XIV até
meados do século XV III que aconteceu o fenômeno generalizado em toda a
Europa: a repressão sistemática do feminino. Estamos nos referindo aos
quatro séculos de “caça às bruxas”.
Deirdre English e Barbara Ehrenreich, em seu livro Witches, Nurses and
Midwives (The Feminist Press, 1973), nos dão estatísticas aterradoras do que
foi a queima de mulheres feiticeiras em fogueiras durante esses quatro
séculos. “A extensão da caça às bruxas é espantosa. No fim do século XV e no
começo do século XVI, houve milhares e milhares de execuções - usualmente
eram queimadas vivas na fogueira - na Alemanha, na Itália e em outros
países. A partir de meados do século XVI, o terror se espalhou por toda a
Europa, começando pela França e pela Inglaterra. Um escritor estimou o
número de execuções em seiscentas por ano para certas cidades, uma média
de duas por dia, ‘exceto aos domingos’. Novecentas bruxas foram executadas
num único ano na área de Wertzberg, e cerca de mil na diocese de Como. Em
Toulouse, quatrocentas foram assassinadas num único dia; no arcebispado de
Trier, em 1585, duas aldeias foram deixadas apenas com duas mulheres
moradoras cada uma. Muitos escritores estimaram que o número total de
mulheres executadas subia à casa dos milhões, e as mulheres constituíam
85~Vo de todos os bruxos e bruxas que foram executados.”
Outros cálculos levantados por Marilyn French, em seu já citado livro,
mostram que o número mínimo de mulheres queimadas vivas é de cem mil.
Desde a mais remota antiguidade, as mulheres eram as curadoras populares,
as parteiras, enfim, detinham saber próprio, que lhes era transmitido de
geração em geração. Em muitas tribos primitivas eram elas as xamãs. Na
Idade Média, seu saber se intensifica e aprofunda. As mulheres camponesas
pobres não tinham como cuidar da saúde, a não ser com outras mulheres tão
camponesas e tão pobres quanto elas. Elas (as curadoras) eram as
cultivadoras ancestrais das ervas que devolviam a saúde, e eram também as
melhores anatomistas do seu tempo. Eram as parteiras que viajavam de casa
em casa, de aldeia em aldeia, e as médicas populares para todas as doenças.
Mais tarde elas vieram a representar uma ameaça. Em primeiro lugar, ao
poder médico, que vinha tomando corpo através das universidades no interior
do sistema feudal. Em segundo, porque formavam organizações pontuais
(comunidades) que, ao se juntarem, formavam vastas confrarias, as quais
trocavam entre si os segredos da cura do corpo e muitas vezes da alma. Mais
tarde, ainda, essas mulheres vieram a participar das revoltas camponesas que
precederam a centralização dos feudos, os quais, posteriormente, dariam
origem às futuras nações.

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O poder disperso e frouxo do sistema feudal para sobreviver é obrigado, a
partir do fim do século XIII, a centralizar, a hierarquizar e a se organizar com
métodos políticos e ideológicos mais modernos. A noção de pátria aparece,
mesmo nessa época (Klausevitz).
A religião católica e, mais tarde, a protestante contribuem de maneira
decisiva para essa centralização do poder. E o fizeram através dos tribunais
da Inquisição que varreram a Europa de norte a sul, leste e oeste, torturando
e assassinando em massa aqueles que eram julgados heréticos ou bruxos.
Este “expurgo” visava recolocar dentro de regras de comportamento
dominante as massas camponesas submetidas muitas vezes aos mais ferozes
excessos dos seus senhores, expostas à fome, à peste e à guerra e que se
rebelavam. E principalmente as mulheres.
Era essencial para o sistema capitalista que estava sendo forjado no seio
mesmo do feudalismo um controle estrito sobre o corpo e a sexualidade,
conforme constata a obra de Michel Foucault, História da Sexualidade.
Começa a se construir ali o corpo dócil do futuro trabalhador que vai ser
alienado do seu trabalho e não se rebelará. A partir do século XVII, os
controles atingem profundidade e obsessividade tais que 05 menores, os
mínimos detalhes e gestos são normatizados.
Todos, homens e mulheres, passam a ser, então, os próprios controladores de
si mesmos a partir do mais íntimo de suas mentes. E assim que se instala o
puritanismo, do qual se origina, segundo Tawnwy e Max Weber, o capitalismo
avançado anglo-saxão. Mas até chegar a esse ponto foi preciso usar de muita
violência. Até meados da Idade Média, as regras morais do Cristianismo
ainda não tinham penetrado a fundo nas massas populares. Ainda existiam
muitos núcleos de “paganismo” e, mesmo entre os cristãos, os controles eram
frouxos.
As regras convencionais só eram válidas para as mulheres e homens das
classes dominantes através dos quais se transmitiam o poder e a herança.
Assim, os quatro séculos de perseguição às bruxas e aos heréticos nada
tinham de histeria coletiva, mas, ao contrário, foram uma perseguição muito
bem calculada e planejada pelas classes dominantes, para chegar a maior
centralização e poder.
Num mundo teocrático, a transgressão da fé era também transgressão
política. Mais ainda, a transgressão sexual que grassava solta entre as
massas populares. Assim, os inquisidores tiveram a sabedoria de ligar a
transgressão sexual à transgressão da fé. E punir as mulheres por tudo isso.
As grandes teses que permitiram esse expurgo do feminino e que são as teses
centrais do Malleus Maleficarum são as seguintes:
1) O demônio, com a permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos
homens a fim de apropriar-se do maior número possível de almas.

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2) E este mal é feito prioritariamente através do corpo, único “lugar” onde o
demônio pode entrar, pois “o espírito [do homem] é governado por Deus, a
vontade por um anjo e o corpo pelas estrelas” (Parte 1, Questão 1). E porque
as estrelas são inferiores aos espíritos e o demônio é um espírito superior, só
lhe resta o corpo para dominar.
3) E este domínio lhe vem através do controle e da manipulação dos atos
sexuais. Pela sexualidade o demônio pode apropriar-se do corpo e da alma dos
homens. Foi pela sexualidade que o primeiro homem pecou e, portanto, a
sexualidade é o ponto mais vulnerável de todos os homens.
4) E como as mulheres estão essencialmente ligadas à sexualidade, elas se
tornam as agentes por excelência do demônio (as feiticeiras). E as mulheres
têm mais conivência com o demônio “porque Eva nasceu de uma costela torta
de Adão, portanto nenhuma mulher pode ser reta” (1,6).
5) A primeira e maior característica, aquela que dá todo o poder às feiticeiras,
é copular com o demônio. Satã é, portanto, o senhor do prazer.
6) Uma vez obtida a intimidade com o demônio, as feiticeiras são capazes de
desencadear todos os males, especialmente a impotência masculina, a
impossibilidade de livrar-se de paixões desordenadas, abortos, oferendas de
crianças a Satanás, estrago das colheitas, doenças nos animais etc.
7) E esses pecados eram mais hediondos ao que os próprios pecados de Lúcifer
quando da rebelião dos anjos e dos primeiros pais por ocasião da queda,
porque agora as bruxas pecam contra Deus e o Redentor (Cristo), e portanto
este crime é imperdoável e por isso só pode ser resgatado com a tortura e a
morte.
Vemos assim que na mesma época em que o mundo está entrando na
Renascença, que virá a dar na Idade das Luzes, processa-se a mais delirante
perseguição às mulheres e ao prazer. Tudo aquilo que já estava em embrião
no Segundo Capítulo do Gênesis torna-se agora sinistramente concreto. Se
nas culturas de coleta as mulheres eram quase sagradas por poderem ser
férteis e, portanto, eram as grandes estimuladoras da fecundidade da
natureza, agora elas são, por sua capacidade orgástica, as causadoras de todos
os flagelos a essa mesma natureza. Sim, porque as feiticeiras se encontram
apenas entre as mulheres orgásticas e ambiciosas (1, 6), isto é, aquelas que
não tinham a sexualidade ainda normatizada e procuravam impor-se no
domínio público, exclusivo dos homens.
Assim, o Malleus Maleficarum, por ser a continuação popular do Segundo
Capítulo do Gênesis, torna-se a testemunha mais importante da estrutura do
patriarcado e de como esta estrutura funciona concretamente sobre a
repressão da mulher e do prazer.

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De doadora da vida, símbolo da fertilidade para as colheitas e os animais,
agora a situação se inverte: a mulher é a primeira e a maior pecadora, a
origem de todas as ações nocivas ao homem, à natureza e aos animais.
Durante três séculos o Malleus foi a bíblia dos Inquisidores e esteve na banca
de todos os julgamentos. Quando cessou a caça às bruxas, no século XVIII,
houve grande transformação na condição feminina. A sexualidade se
normatiza e as mulheres se tornam frígidas, pois orgasmo era coisa do diabo
e, portanto, passível de punição. Reduzem se exclusivamente ao âmbito
doméstico, pois sua ambição também era passível de castigo. O saber feminino
popular cai na clandestinidade, quando não é assimilado como próprio pelo
poder médico masculino já solidificado. As mulheres não têm mais acesso ao
estudo como na Idade Média e passam a transmitir voluntariamente a seus
filhos valores patriarcais já então totalmente introjetados por elas.
É com a caça às bruxas que se normatiza o comportamento de homens e
mulheres europeus, tanto na área pública como no domínio do privado.
E assim se passam os séculos.
A sociedade de classes que já está construída nos fins do século XVIII é
composta de trabalhadores dóceis que não questionam o sistema.
As Bruxas do Século XX
Agora, mais de dois séculos após o término da caça às bruxas, é que podemos
ter uma noção das suas dimensões. Neste final de século e de milênio, o que
se nos apresenta como avaliação da sociedade industrial? Dois terços da
humanidade passam fome para o terço restante superalimentar-se; além disto
há a possibilidade concreta da destruição instantânea do planeta pelo arsenal
nuclear já colocado e, principalmente, a destruição lenta mas contínua do
meio ambiente, já chegando ao ponto do não-retorno. A aceleração tecnológica
mostra-se, portanto, muito mais louca dos inquisidores.
Ainda neste fim de século outro fenômeno está acontecendo: na mesma jovem
rompem-se dois tabus que causaram a morte das feiticeiras: a inserção no
mundo público e a procura do prazer sem repressão. A mulher jovem hoje
liberta-se porque o controle da sexualidade e a reclusão ao domínio privado
formam também os dois pilares da opressão feminina.
Assim, hoje as bruxas são legião no século XX. E são bruxas que não podem
ser queimadas vivas, pois são elas que estão trazendo pela primeira vez na
história do patriarcado, para o mundo masculino, os valores femininos. Esta
reinserção do feminino na história, resgatando o prazer, a solidariedade, a
não-competição, a união com a natureza, talvez seja a única chance que a
nossa espécie tenha de continuar viva.
Creio que com isso as nossas bruxinhas da Idade Média podem se considerar
vingadas!

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Avaliação do Módulo 1
A Inquisição realmente acabou? Explique sua resposta;
Faça um resumo sobre o que você acha mais importante na história da
Bruxaria;
Você já se assumiu como bruxa ou mago? Como foi a receptividade das
pessoas?
Dê sua sugestão de como podemos diminuir o preconceito ainda existente.
O que você sentiu através da Meditação "Despertar da Bruxa"
Escreva o que você compreendeu da reflexão do modulo 1.
Faça uma resenha de 10 a 15 linhas dos dois textos auxiliares.
Qual sua nota de auto-avaliação.

Leituras sugeridas
. A Bruxaria Hoje - Gerald Gardner - Editora Madras
. A Inquisição - Michael Baigent - Editora Imago
. Aradia - Charles Godfrey Leland - Editora Outras Palavras
. As Bruxas e a Igreja - Maria Nazareth Alvim de Barros - Editora Rosa-dos-
Ventos
. As Bruxas Noivas de Satã - Jean Michel Sallmann - Editora Objetiva
. Guia Prático da Wicca - Lady Sabrina - Editora Novo Século
. O Culto das Bruxas na Europa Ocidental - Margareth Murray - Editora
Madras
. O Deus das Feiticeiras - Margareth Murray - Editora Gaia
. O Livro Completo de Wicca e Bruxaria - Marian Singer - Editora Madras
. O Significado da Bruxaria - Gerald Gardner - Editora Madras
. O Templo Interior da Bruxaria - Christopher Penczak - Editora Madras

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Filmes que abordam o assunto
As bruxas descendem dos xamãs e sacerdotes. São geralmente retratadas
como mulheres feias, conhecedoras da magia negra e que se locomovem em
vassouras voadoras. Na idade média, a santa inquisição identificava uma
bruxa, colocando a mulher suspeita num lado da balança e uma enorme bíblia
no outro lado, caso ela pesasse menos que a bíblia: bruxa!

O Mágico de Oz (hors-concours neste tema, o clássico de 1939 traz duas


bruxas irmãs e opostas, uma ajudando e outra atacando a menina Dorothy e
seus amigos a caminho de encontrar o grande mágico)

As Bruxas de Eastwick (Cher, Michelle Pfeiffer e Susan Sarandon vivem


entediadas numa cidadezinha da Nova Inglaterra. todas as quintas se reúnem
para um coquetel e num desses dias, resolvem fazer um feitiço para atrair o
homem ideal e Jack Nicholson aparece... parece que todos se divertiram
fazendo o filme e nós também assistindo).

Harry Potter e a Pedra Filosofal (primeiro filme da série. um garoto órfão


de 10 anos vive infeliz com os tios e recebe um convite para ingressar numa
renomada escola de bruxaria. se você vive no planeta terra, conhece toda a
história. um imenso sucesso de bilheteria e de marketing, que criou uma
legião de fãs e enriqueceu todos os envolvidos)

As Bruxas de Salem - The Crucible (ótimo filme. conta a história real de


um reverendo da cidadezinha de Salem, nos Estados Unidos, que em 1691
inicia uma cruel caça às bruxas, deflagrada pela delação de um grupo de
garotas, que se disseram possuídas por bruxas que viviam na cidade.
Ignorância, fanatismo e violência... o mundo não mudou muito nos últimos
séculos)

Stardust, o Mistério da Estrela (uma estrela cadente cai além dos muros
da cidade e um jovem vai atrás dela, disputando-a com a feiticeira Michelle
Pfeiffer, que também a deseja para manter a beleza e juventude. muitas
emoções neste mundo mágico).

Abracadabra - Hocus Pocus (três bruxas do século 17 - Bette Midler, Kathy


Najimy e Sarah Jessica Parker - voltam ao presente, quando seus espíritos

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são evocados na noite de Halloween. para garantir sua imortalidade terão que
enfrentar três crianças. pura sessão da tarde)

Convenção das Bruxas (um garoto é levado à Inglaterra pela avó após a
morte dos pais. chegam a um hotel, onde ele descobre que está havendo uma
convenção de bruxas - lideradas por Anjelica Huston - que pretende
transformar todas as crianças do mundo em ratos. infantil e divertido).

Da Magia à Sedução (Sandra Bullock e Nicole Kidman são duas jovens


bruxas, criadas pelas tias, que carregam o fardo de uma maldição imposta por
uma ancestral: todos os homens que se apaixonassem por suas descendentes
deveriam morrer. muito assustador para crianças e muito infantil para
adultos, o filme não funciona).

Jovens Bruxas - The Craft (quatro amigas de colégio se descobrem bruxas


e passam a se dedicar à magia negra, que foge ao seu controle, gerando
consequências trágicas. tem quem goste, não é meu caso).

Sortilégio de Amor (Kim Novak é uma bruxa, que vive com seu gato siamês.
ela lança um feitiço no seu vizinho para que ele se apaixone por ela e abandone
sua noiva, uma antiga rival dela. entretanto Kim perderá seus poderes se
também se apaixonar por ele. encantadora comédia de 1958).

Arraste-me para o Inferno (uma jovem analista de crédito, para agradar o


gerente, recusa a renovação de empréstimo de uma velhinha, que precisava
do dinheiro para quitar sua hipoteca. o que ela não sabia é que estava lidando
com uma verdadeira bruxa, que joga nela uma maldição que destrói sua vida
e além. um ótimo terror de Sam Raimi, de volta às origens).

Oz: Mágico e Poderoso (James Franco é um mágico de circo de ética


duvidosa, que é levado do Kansas para Oz e acha que tirou a sorte grande até
conhecer três bruxas - Mila Kunis, Rachel Weisz e Michelle Williams - que
não acreditam que ele seja o grande mágico que diz ser. o roteiro imagina a
origem dos personagens, antes da chegada de Dorothy a Oz. superprodução
da Disney, também dirigida por Sam Raimi, que tem decepcionado público e
crítica. Estreia dia 8 de março de 2013 no Brasil).
O Serviço de Entregas da Kiki (uma bruxinha ao completar 13 anos tem que
sair de casa e encontrar uma cidade que ainda não tenha nenhuma bruxa

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para viver. na cidade, as pessoas encaram com naturalidade os poderes da
menina. lindas cenas aéreas, lindas cidades. uma animação adorável do
mestre japonês Hayao Miyzaki).

João e Maria, Caçadores de Bruxas (Hansel e Gretel foram aprisionados


pela bruxa malvada quando crianças, mas conseguem escapar... quando
adultos eles se tornam caçadores de bruxas profissionais, pagos pelas cidades,
e terão que enfrentar sua velha inimiga. bobo e divertido).

Dezesseis Luas (um estudante de colegial tem pesadelos constantes sobre


uma garota que não conhece, até que um dia a mesma garota surge em sua
escola, transferida de outro estado. os dois, claro, se apaixonam e se unem
para enfrentar uma maldição sobrenatural, que persegue a família dela há
gerações: sempre que um de seus familiares completa 16 anos, deve escolher
se será para a vida toda uma feiticeira do Bem ou do Mal. mais uma adaptação
de livro na linha 'Crepúsculo', dirigida a meninas adolescentes).

O Aprendiz de Feiticeiro (Nicolas Cage é um feiticeiro, discípulo do grande


Merlin, que agora vive em Manhattan. durante séculos de imortalidade ele
procurou um sucessor, até que, para ajudá-lo a enfrentar seu arqui-inimigo,
recruta um aprendiz, um jovem aparentemente comum, mas com grande
potencial. um filme que serve pra passar o tempo)

A Fera (uma versão moderna de 'A Bela e a Fera'. um rapaz rico, bonito e
arrogante humilha uma colega de escola, que por azar era uma bruxa, que
lança sobre ele uma maldição: ele começa a ficar deformado ao ponto de até
seus pais o isolarem, só o que pode reverter o feitiço será um amor verdadeiro
que não se importe com sua nova aparência. uma bobagem sem fim, clichê
puro para adolescentes descerebradas)

O Caçador de Bruxas (baseado num poema de Edgar Allan Poe e dirigido


por Michael Reeves, em 1968. é um clássico do tema. um fanático religioso -
Vincent Price - conhecido como o General Caçador de Bruxas, junto de seu
brutal assistente, viajam de cidade em cidade a serviço caçando bruxas. ele,
poderes para fazer diversos tipos de bruxarias. um personagem trash e
divertido dos anos 1980)que não cometeram e mata e tortura inocentes por
supostos envolvimentos com bruxaria)

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Elvira, a Rainha das Trevas (uma apresentadora de um programa de tosco
sobre filmes de terror, herda da tia uma velha mansão, numa pequena cidade.
ela pensa em vender a casa, mas tem problemas com a população local, que
estranha seu modo ousado de vestir e tem problemas também com seu tio, que
não herdou nada e tenta roubar dela um antigo "livro de receitas", que na
verdade dará ao seu dono imensos poderes para fazer diversos tipos de
bruxarias. um personagem trash e divertido dos anos 1980)

As Brumas de Avalon - Rei Arthur mito ou realidade? Essa é uma pergunta


que tange a História por milhares de anos. O rei Bretão que foi capaz de
barrar a invasão dos Saxãos na futura Inglaterra, fazendo alianças com as
tribos célticas. O filme trata do começo dessa história, contando
primeiramente quem é a família de Arthur, sua mãe e pai – o Grande-Rei da
Bretanha. Narra também à história de mulheres fortes – Igraine, Morgause
e Viviane – todas elas tem um papel fundamental na história desse grande
líder que até hoje é modelo de liderança. Aparece também à fada Morgana,
meia-irmã do futuro rei, é através dela que nasce de um ato incestuoso
Mordred que virá enfrentar seu pai do lado dos invasores e assim selar o
destino do rei bretão. As Brumas de Avalon é acima de tudo um filme épico
que apresenta um mixe das lendas existentes de Arthur e uma forma de
redimir a fada e a cultura celta que por muito tempo foi considerada maligna
pela religião Cristã.

O Nome da Rosa: Durante a última semana de novembro de 1327, em um


mosteiro franciscano italiano paira a suspeita de que os monges estejam
cometendo heresias. O frei Guilherme de Baskerville é, então, enviado para
investigar o caso, mas tem sua missão interrompida por excêntricos
assassinatos. A morte de sete monges em sete dias conduz uma narrativa
violenta.

CRÉDITO: TÂNIA GORI

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