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Univtsidedr
Êsndul dr Lmdniu

Reitora Ltgia Laninú Pil?a{íú

Vìce-Reitor Edaordo Iti lIauo

eduel
t-: Edirom dn Uniwsidadr Esreduddr Lordninq

Consclho Editorial PúrXìõ dê CM Safttos (Preiìailtc)


\ Ángela Ptcìa Tcirua tktóia patntd
CaÌlos nobdo d. nc-,end. Lliran t'
EtMb F.mn.Io FaraTd RamÌrã

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tuÍãtu Dantu
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Odìlh I'ìdotu
nídrìnha
Da magia à ciência
Ptdro Pailt da Sìtu Áwn
Ruvm In Ro&@cs

Dir€torâ Parríeat dë CastÌo Sa'to!

tradução
ÂURORA, FORNONI BERr-A RDI N I

Reitrr Co rlos,4 ugulo il,íolz iÌr .I ú il r bÍ

Vice-Reitora tttarü Taftie Sìha B?gà

Edirmdr Univrridndtkdrml do pmu


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toneÌhoFiiorial l:Iia' KãÍan Júnìo,
Itncída KuhlÌ
José Ántonio Gtdiet
José Cartos Cfucntcs
Lilano.rÍd,ir Lrhonn
Luís Lopes Dini: Í-'ihc
1.ili, Erndnd.t KoTh-Àl
Ma,.a! Lêr,r,1tbiìb & tuottld
t{aria Ben6u fÍ. d. ()ttlrnl
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nnado lt.ild^ Jtialol
nittoì do Situ Slrno,a

DiretoÌ l-uís Cohet?t jjtunx ü ra,tnrcl


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Catalogação na publiegão eìaborada peta Divisão de pmesms Técnios da


Bibliotca Central da Univssidade Estadual de landrina
Dados Intqnrcionais de Cátalogação na Publicação (CIp) / a
urnarzo
R8ggf Rcsi, Paolo.
Fmcis Bacon : da magia à ciência ,/ Paolo Rosi ;
tradução Aurora Fornoni Bernardini - Iondrina :
Fìuel, Curitiba: Editon da UFPR 9006. \ PRerÁcroÀ Tencrrne EDtçÃo
+47p.
Paolo Rossr:BecoNnxa 47
Ti-adução de Fmnem Bacore: dalla magia alla mioa
't
ISBN 85-?9 l6-.44s-X (Eduel) PREFÁcro
À SEcuwol EDrÇÃo 55
ISBN 85-2s35-l4s-X (Editora da UFPR)
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PnErrsse
l.Ciência - Filomfia 9. Filosofia inglesa s. Bacon,
Francis, 156l- 1696. l. TÍtulo.
AnnEvnçÕns 77
CDU 5o:l
"- I. As Arms MrcÂNrces,Á MacrA, Á CrÊNcr.a 85
l. O significadocuìtural dasartesmecânicas 83
Direitos reservados à e. A herançadamagia lol
g. A condenação da magia e o ideal da ciência
120
Editora da Universidade Estadual de Londrina
Campu Uniocrsíürio
II. A CoNrur,tçÁo DÁs FrlosoFras
CaiH Postal 600r
Fone,/Fu: ($\ sg1 l-467 4 l. A quebra com a tradição r+5
86051-990 I-ndÌina - PR g As tarefas do saber histórico e a sociologia do conhecimento
158
E-mail eduel@uel br 3. NaturaÌistas antigos e modernos: as responsabilidadesde platão 169
www.uel.brleditora
+. Aristóteles e a EscoÌástica 186
5. As característicasdo quadro histórico baconiano 197
Editora da UFPR
Centro Politécnico - Jrdim das Américas III. As FÁsuLAs Arrrces 201
Teì./fu (+r) ss6t-9s8o / ss'r-gsal
t Literatura mitológica e alegorizante dos séculos XVI e XVII 207
Câixa Postal 19.099
I l53t-98o - Curitiba - Pamá - Brroil
2. A interpretação dos mitos nas Cogitaüoaesdc scimtia humna 292
editora@uftr.br 3. A teoria do mito no Adtaannent of l*aming 296
ww.editora uftr.br +. A tmria do mito em De sapimtia oeteram 228
5 Âs razõesda nova atitude de Bacon 23r
6. Os quatro temas {ilosóficos do 'De sapizntia wtmm. 243
7. Penteu e Pr<rmeteu:a relação ciência-reÌigiao 9M
Impresso no Brreil / Printed in Brzil
I)epósito kgaì na Bibliotsa Nacionaì A. Pan e Cupido: o naturalismo materialista 245
9. Eútônio, Atalanta, A Esfinge, Orfeu, Prometeu: a tarefa da filosofia 251
2o'o6 rO. Deucaìiãoe Prosérpina: a tadição mágico-aÌquÍmrca
'l'itorro,
I ì Cassantlr:r. \icrrrrrorr, Nôttrcsis, Dioniso, as sercias, o r aso dt' l)arrdora
nìoti\ os artic()-l)sicoìírgicos
I9 }Íéris, ()r C:cL()Ì)cs,o corttjador de Juno, Elrdimião, Narciso, Âtcorr, I)t'tsttt.
-{tlrrelau, Diotttcdes,'fi1ão, O Estigc, o reaÌisnlo político 9(i3
13. .ì pocsia paraÌrólica tttt Dt augnrcntís 970
f 1 Os mitos do I)e augnLenltLtPau, Perseu, Dronisq Scila, Atlas, Ission, EsctrÌápitr 91-l
| 5. O De prìcipìis: o tIìto de Ctrpido 916
l6 CoÌlcìtÌsa)cs 9ò!

\ tv l-ó<;rcr, ìÌr.rtintc \ r.:\ÍErlDo 29i

\ V L t s < ; t ' . i c l Ì \ l F .C , ) \ í t \ l ( \ \ ' \ ( r :t27


I Invenção (las ilrtes c inrenção dos argttmentos 398
9 À arte clo.jtrízo c a corÌtìrtação dos ìdola 33r Este Ìivro, com este mesmo título Francìs Bacon. Da rnagta à ciência" foi
3 Signos, lineLragctn, ìelolaJbì 3.r8
publicado, há quase meio século, pelos Editores Laterza, como 5o?o volume da
.tr O ntétodo da crrtrtttticação 35ì
Biblioteca de Cultura Moderna. Em 1968,foi traduzido e tornou a ser pubÌicado
.i \ Íìrnção dit rt t,',rir'a 3G.I
pela University of Chicago Press; em co-edição com a Routledge and Kegan
VI  Ttr.rorçÀr) Iìr,Tótìt("\ F-o Ml1roDo or Crr:Ncl-r 311 Paul de l,ondres. Ern 19?O,saiu uma ediçãojaponesajunto à Simul Press de
I Pnrtat t(ilÌl0rí.t :\7i
Tókio. Depois de ter-me sido comunicada, pela Editora Laterza, a intenção de se
9 F-unção da Ìrigir:a tratlicioraÌ c características da lógica nova 3Sl
desfazerdos exemplares ainda existentes no depósito,propus uma reimpressão
s Preserrça tlc nrodckrs retirriurs na Ìógica do saber cicntífico 3S6
\ Ã uterftretatìo t!iltuhte n(, I'ulerius Tbrmòur. a aplicação das regras ranristas 3S7 à Editora Eir.raudi,que publicou o livro em 197+ na coletânea da PiccolaBiblioteca
:l .{ dorrtrirra LlastaLmlaco Or(lenantettto dos fatos nattìraÌs J9S Einaudì. Conforme poderá ser lido no preãcio à segunda edição, o ìivro tinha
6, Â nrnemotix niczrc a uiuì,ittttio tt<lnm;nrlatnlugares rctóricos e ìugares natru-aìs .loi
sido submetido a algumasmodificaçõesradicais,quasetodas de caráter estilístico.
ì . Â t í 1 r i c a, a s l t ì : t ó r ' i i t rt l t t t t ta i s 1t8
E, em l99o saiu uma tradução espanholaem Madri, pela Alianza Editorial. Ao
f'. ConcÌrrsircs t2i
se esgotarem os exemplares da trinaudi, dirigi-me à Editora IÌ Mulino, à qual
me liga um hábito que vem do começo dos anos I960, a lembrança de uma das
Nor-rs o-r.Ttr.rouq.rcr t.'r3 anvais Leìtura: do Mulino queme fora conÍìada em 1988 e o fato (para mim deveras
não pouco significativo) que esta editora publicou, entre I 983 e 2ooo, seis livros
de minha autoria. Aceitei ao mesmo tempo com muita e pouca vontade o pedido
Íxotce or-Norrrs 13i
que me foì feito: o de escrever uma nova prefação.
Não possodecertorelatar aqui o que sepassoucom os estudossobre Francrs
Bacon desde aquelesanos agora já distantes. fJma vez que o presente livro foi
utilizado de maneiras Ciferentes no decorrer da Ìonga discussão (ainda não
encerrada) referente às_relações eÌìtre a tradição mágico-hermética e a ciência
moderna, dedicarei algum espaço a este tema. Aquela discussão trançou-se com de Benjamin Farrington, traduzido por Einaudi em tgSz com o título de Francis
a história da fortuna de Francis Bacon no século XX e tamMm, no que me diz Bacoa Filósofo da ldadz Industial e o denso volume de Fulton Anderson Tiz
respeitq com as histórias de minha vida inteìectual. Constarão destas páginas, Phìlnsop@of Francis Bacoa publicado pela Chicago University Press, em 194,8.
também, lembranças de pessoas, reconhecimentos de contribuições recebidas e Formara-me em Florença, à escolade Eugenio Garin e passara em seguida
distanciamentos. Sabe-se hoje com certeza (mesmo que muitos façam ouvidos a trabalhar em Milão com Antonio Banfi, onde fora acolhido com grande
moucos), que a memória é bastante criativa e sempre muito pouco'frel". Depois generosidade,inclusive por seus generosos e irrequietos alunos (quando cheguei
que se superaram os quinze lustros, cada concessãoàs lembranças e cada conüte em Milao, em 194,8,eu tinha 28 anos, Luciano Anceschi, Enzo Paci e Giulio
a recordar equivalem (conforme se costumava dizer) a um convite paÌa um Pretí, s7, e Remo Cantoni e Dino Formaggio, 3a). Com aquelas experiências e
casamento ou (conforme se diz hoje) - a um ganho na loteria nacional. Tentarei aquelas ambiências atrás de mim, o livro de Anderson, na época muito celebrado
("sem esforço algum" - estarão pensando aqueles pouquÍssimos leitores que no mundo anglo-saxão, pareceu-me um comentário diligente e inteligente de
também são meus caríssimos colegas -) ser o menos criativo possível. alguns importantes textos de Bacon. Se o trabalho dos historiadores consistisse
Nesses anos tive repetidas ocasiões de publicar contribuições referentes a apenasem glosar e comentar textos, então Jacopo Zabarella deveria ser reunido
Francis Bacon. Uma vez que muitos daquelesescritos são verdadeiras integrações aos maiores - coisa que ninguém sonha em fazer. O projeto de meu liwo era
ao conteúdo do presente volume, indiquei-os na bibliografia que se encontra no muito diferente do das precedentes monografias e isso foi energicamente
finaÌ deste prefácio. sublinhado por Boas: como Anderson, eu utiìizava todos os textos e não apenas
as habituais páginas do Noourn Organon sobre os idola e as tabulae mas,
II diferentemente do de Anderson, meu liwo estava interessado em mostrar "como
a Íilosofia de Bacon se desenvolveu a partir da tradição cultural de sua época. (...)
No fim da década de 1950 não era hábitq conforme dizem ser hoje, mandar Lendo o liwo, tem-se um quadro mais cÌaro do que antes das correntes intelectuais
traduzir seus livros para o idioma inglês, valendo-se dos fundos para a pesquisa da Renascença,não apenas na Inglaterra, mas também no continente".
cientíÍìca que o Ministério coloca à disposição dos professores universitários. Boas concedia bastante espaço a um resumo dos argumentos e das teses
C,om toda probabilidade este liwo teria uma circulação muito mais limitada se presentes no livro. Focalizava, em particular, as diferenças entre a imagem
no lournal of tlu Histnry of ldzas, de 1958 (pp. 58+-8?), não tivesse saído um baconiana da magia como saber secreto e a imagem que Bacon haüa construído
artigo de George Boas Secent Books in the History of Philosophy", que dedicava (e incansavelmente divulgado) de uma ciência que fosse ao mesmo tempo
a meu liwo três páginas e meia. Boas o aproximava de Á Disputa dn Noao Munda conhecimento do mundo e intervenção sobre ele, que nascesseda colaboração e
de Aritonello Gerbi e justarnente usav4 a respeito de ambos, o termo "história fosse, em princÍpio, acessível a todos.
das idéias". "Gerbi" - escreüa - "traçou o progresso de um argumento, Rossi Bacon, tal como é apresentadc neste livro - concluía ele - "não
coloca uma idéia complexa contra o seu fundo cultural, dando-lhe, com isso, comparece nos manuais de história da Íilosofìa aos quais estamos acostumados e
uma nova interpretação". o livro deveria ser traduzido, pois os filósofos americanos que lêem o italiano são
Eu começara minhas pesquisas sobre Bacon em Milão, no decorrer do ano demasiado poucos".
acadêmico de 195G.51, contando com o precioso habalho de Alessandro Levi Conforme disse no começq o convite foi aceito dez anos mais tarde. Quando
(de t SZ,f) e, alérn deste, de dois liwos importantes: o ensaio brilhan(e e provocador o liwo tornou-se acessível.não faltaram nem resenhas nem iuízos favoráveis em
irgìês. No T-imeLìterur\' supprementclocìia r" de agosto cìe
r 968, ÌìuÌn artigo não volunre organizado por charles Singìeton ,4 rt, scienceand Hìstory ìn theRenaissunce,
ass.inad.,co'Íò''e se usa\-aentão,feÌicrtara-sca tradutora
e eÌogiar.a-." à Ìiu.o Yates utilizara as tesespresentesem Ìneu ìivro, para cÌefendera figura de Baco.
por tef "o gra.de rnérito de aceitar a compÌexi<iacìedos processosinteÌectuais:o
enquanto novo espécime d.e rosacruzque "abandona o segredo e coopera
autor Ììão secontenta com faÌsassimplificaçõese é capazde r.er
, desen'oÌr,imentos abertamente coÌÌr os outros", conforme irá acontecercom a RoyaÌ Society. para
ÌnterÌlos ao pensaÌÌlentode Bacon que escaparaì. a críticos
menos cuidadosos Yates,Bacon surgia como uma daqueÌaspersonagenscujo lugar na história não
("') trste 1ìr'ro,meÌhor do que quaÌquer outro, coloca Ììo seu coÌltexto
aquera fora compreendido,visto que os historiadores da ciência e da filosofia o haviam
enrgmática personalidade.Trata-se de um instrumento indispe'sár.el
para consideradotão-somentecomo um precursor do futuro, sernexaminar suasraízes
quaÌquerestudiosoda história inteÌectualdaqueìeperíodo,'.
no passado.o meu mérito era o de ter indagadono meio daquelasraízes e cleter
Foi, porém, a Ìo'ga resenha de Frances A- yates cle 19 de
fer..ereirode mostrado que, tanto a imagern baconianado saber enquanto poder, quanto a de
1968, Ììa NezaTorlt Revìewoif Books,que exerceu uma i'fluência
decisi'a quaÌÌto uma ciência dominadora da natureza provinham ambas do ideaì do mago da
aos destinos da edição inglesa de meu livro e de sua fortuna.
A yates, que .1á Renascença.No centro de minha imagem de Bacon estavam igualrnente,
ha'ia pubÌicado seu célebreÌivro sobre Giorda.o Brurio
e a tradição h.r-étr.u,
entretanto, sua insistênciaquanto à natureza cooperatir.ado empenho cientÍfico,
ao lado de seu não menos farnoso estudo sobre Á Arte da
Memórìa, deu à sua
sua poÌêmica contra quaÌquer forma de saber secreto e de "iÌuminação", seus
prÌÌÌìelra Ìnter'enção o título de "Bacon's magic" o meu lil.ro
tinha o mérito de apelos em prol de unta razão "humilde" ou, de qualquer maneira, ciente de seus
mostrar que os temasdo domírio sobrea naturezae co meÌhoramento
da condição limites insuperáveis.
hurna'a atrar'ésdo conhecrmento,teÌnas essestão próprros
de Baco', esta'am
Na'erdade, o Ìivro deslocarao centro da discussãoe induzira aÌgurs
preseÌltestambéur.raimagem da magia que emerge cìaobra
de corneÌio Agrrppa. historiadores a faÌar de outros argumentos que não os l-rabituaisou - conÍorme
No ìi'r-o que escre'i - contì'uava afirmando yates - Bacon
aparececomo um se diz -, misturara as cartas do baralho Tive pror-adisso quando,num ensaiode
petrsador que reage à tradição'rágica e que, asslnì mesnlo,
tem para com essa r95i, ao referir-se ao livro de \ãtes sobre Giordano Bruno e ao presente sobre
tradição uma profu'da dívida: "Bacor é r.isto sob;s 6lunclo
das fìlosofiasda Bacon, Thomas Kuhn escreveuque "o reconhecimentode Francis Baco. c.rnro
Rerasce'ça que eÌe descarta,por desap.or.á-Ìas,ao Ìnesmo
tempo em que deÌas
figura de transição entre o mago paraceÌso e o filósofo experimental Robert
eÌnerge".Yates sublinhavaoutras duas novidadesque eÌa
encontrara no Ìivro: o
BoyÌe contribuiu, mais do que quaÌquer outra coisa, nos úÌtimos anos. Dara
espaçoconsideráveÌdedicadoà análise do uso baconiano
dos grandes mitos
modiÍìcar a inteìigência histórica das modaÌidades com as quais nasceram as
clássicose o reaìce dado à importância da arte da
memória f..um trabaÌho
novas ciências experimentais". (cf. Th. Kuhn, Á tensãoessencial:mudançase
pioneiro") na construçãoda ceÌebérrimateoria do método
continuídadena ciêncìa- trad. it.: La tensìoneessenzìalc:cambiam.entíe contìnuttà
Em seu estudo sobreAgrippa, pubÌicadc pela urbana IrÌinois
em r966, G. nella scìenze,Turim, Einaudi, 1895,p. Az).IJma \jez que também no mundo das
Nauert tinha Ìembrado o nome de E Garin e dedicado
aÌgumas páginas à
idéias e dos juízos é completamenteverdacìeque "uma cereja puxa a outra", não
comparaçãoentre Agnppa e Bacon.Numa resenhapubÌicada
na New TorkReuru
me surpreendi demasiadoquando a American History of Science Society
tf Books,em 3 de rnu.çddo rlesmo ano, Frances yates reparara
que o autor decÌarou, num documento elaborado por charres schmitt, que nìeu trabaÌho
lia'ia, por compÌeto,desconsiderado
a existênciade meu Ìir,r.o,bastanteconhecido
demonstrara que a assim chamada standard ìnterbretatìonde Bacon, tão
pelcs estudiososamericaros,pubÌicadona ItáÌia no'e anos
antes do deÌe.Num
freqüentementeinvocada,pouco se fundanentar.a em aìgo que'iesse da pena de
ensaiode r967, "The l{errneticTraditio' in Re.aissanceScience,,, pubÌicadon<r
Bacon (o texto, ao qual se deve a motivação para a atribuição clasarton Medal, foi
publicado em Isq em junho de 1986).Da mesma forma não me surpreendi quandq III
numa excelente monografia sobre Bacon, publicada no fim da década de 198o,
enconfei a seguinte frase: "O liwo de Rossi é quiçá a obra sobre Bacon mais Este liwo continha, segundo eu achava então, alguns tópicos ou Partes
importante desse século por ter dado inÍcio a uma nova fase dentro dos estudos deles que mereciÍìm uma ampliação e um aprofundamento' Eu haüa utiÌizado e
baconianos' (Pérez-Ramos, Fmnck Bacon's Idza of Scìnue, Oxford, Clarendon assinaÌado,no sexto capítulo, alguns clássicos da 4/s Íttnaratioa. Dessas leituras
Press, 1988, p. 9o). Numa linguagem apta a lidar com a solene do Lorde Chanceler e das páginas dedicadas ao tema da ministratio a^dm,arcriam na obra de Francis
havia-me confidenciado privadamente a mesma coisa sobre Graham Rees, Bacon nasceram aspesquisasque conduziÌam à publicação, em t soo, pela Editora
dedicandeme, em março de 1984,,um de seusensaios sobre textos ainda inéditos Ricciardi, do volume Claais IJniaersalis: Arti della Memoria e Logica
'For Cornbinatoria da Lulh a l-eibniz (Clavis Unioersalis Ártcs dn Munóia e Lógzca
de Francis Bacon: Paulo Rossi - instaurator magnis magni instauratoris -
a small token of my profound esteem". A elegância desta dedicatóna faz com Combhwtórindz Llull a l*ibni)o). Das leituras de Giorgio Agricola, de Vannoccio
'mecânicos"
que, a vinte anos de distânci4 eu não responda a ele, coisa que aliás mereceria, Biringuccio e de muitos outros do Quinhentosk), além das páginas
pela absolutamente gratuita insolência que do alto de sua competência de do primeiro capÍtulo dedicadas à disputa sobre as artes mecânicas,nascerÍIm as
explorador dos inéditos baconianos e dos baixios de seu iremediável diÌetantismo pesquisas que redundaram na publicação por Feltrinelli, em 1962, do livro Ì
filosófico, ele me dirigiu alguns anos mais tarde. Fitasof e le Macchine I'flGl7oo (Os Fihsofos e as Máquinas: t4ot)-17oo)- C-omo
'T'erità
Todos temos o condão de engolir baldadas de gratificações sem sentirmo- apêndice a esse liwo coloquei três breves ensaios. e utilità della scienza
nos saciados. Quanto a isso creio não ser eu uma exceção. Por minha sorte nunca in Francesco Bacone" (Verdade e Utilidade da Ciência em Francis Bacon) fiá
alimentei demasiadas ilusões e a mãe natureza concedeu-me uma discreta dose de publicado na Rivista critüa di staia dzlkflosofa, em 195?) que ressentia muito
senso do humorismo. Sempre apreciei a citação de Esopo que Francis Bacon gostava das minhas conversas de então com Giulio Preti e que contém uma crítica das
'puanta interpretações da Filosofia de Bacon enquanto forma de utilitarismo. Contém
de lembran poeira levanto! Dizia a mosca pousada no eixo da roda de uma
carroça". Aconteceu-me também de estigmatizar os comportamentos de tipo também a demonstração de que a tradução standardda expressão contida em
"paranóico'de colegas filósofos, mais ilustres do que er:, ou convencidos de sèlq os Nornm Organut4 l, te+ ìpsissìmaeres surlt oeritas et utilitas como truth and
quais crêem firmemente que a própria atiüdade inteÌectual configura-se como utilil are the oery samc things está total e irremediavelmente incorreta. Na
"decisiva" ou "e1rccal"("),algo que tem a ver com verdades indiscudveis ou com mão de muitos frlósofos que ignoram qualquer lÍngua a não ser o inglês e
conquistas perenes.Faltam-me por completo essasformas de entusiasmo e não creio escrevem ensaios sobre Bacon sem sequer dar uma espiada aos originais
absolutamente que outros tenham de considerar como verdades os benévolos juízos latinos de seus textos, essa tradução incorreta deu lugar a não Poucos
sobre meu liwo de 1957. Creio, todaüa, que a mim pessoalmente deva ser equÍvocos não desprovidos de conseqüêncras.
permitido esperar que possÍìm conter alguns elementos de verdade. Acredito ser verdadeiro (diferentemente do que muitos escreveram e do
que alguém continua escrevendo) que se perguntaÌ se as verdades científicas
dependem dos procedimentos utilizados para afirmá-las ou de sua fecundidade
prática é para Bacon um dilema sem sentido: uma verdade científica é sempre
fecunda e taÌ fcrcundidadedependejustamente e exclusivamente do seu caráter
de verdade. As duas intenções humanas gêmeag a ciência e o poder, coincidem

@
aquiÌo que indicava o próprio De Martino em 1958, ou seja "a tese da crise da
numa única, e a ignorância das causasprovoca a faìênciadas obras Aquilo que
presençacomo risco de não se estaÌ no mundo e a descoberta de uma série de
teoricamente vale como causa,operacionalmentevale como regra (quod in
técnicas (das quais fazem parte tanto a magia quanto a religiao) destinadas a
contemplntìont instar causaeest,id ìn operatìoneìnstar regulnr esl).Aquilo que é mats
proteger a presença do risco de ela perder as categoriascom as quais se eleva sobre
útiÌ na prática, é aquilo que é mais verdadeiro na teoria. (Ista autemduopronuntiatq
reseademsunNet quod in operandautilìssimurA id ìn scìendo a cega vitaÌidade e sobre a ingms sylaa da natureza e destinadas - outrossim - , a
actiuum et contzm.plnthrunt"
reabrir mediatamenteo mundo dos valores, comprometido por dita crise" (p. I t9).
oeissìmum" Notrum Organum' ll,+)'
Àquele núcleo váÌido, De Martino irá continuar fiel, mesmo dzpois de ter lido
Hubert, Mauss e MaÌinóvski. Entretanto, o que tornava e ainda torna atuais
IV
tantas páginas dele é a vigorosa polêmica contra o que ele, após ter ilustrado
suas "promessas", denominava as "Íìmeaças" da etnologia.
Depois de ter entrado a fazer parte de um trio que compreendia Vittorio
A utilização das categorias do existencialismo e da fenomenologia, o
Mathieu e Giorgio Radetti, cheguei à Universidade de Cagliari em 1962. Entre
interesse, fortíssimo, pela psicopatologia, a incidência dos textos de Heidegger e
os muitos professores alojados no Hotel Jollit encontrei Ernesto De Martino,
de Jaspers,a leitura de Mircea Eliade e de Iévi-Strauss: tudo issojamais conseguiu
que contava então com 54 anos e lecionava na Faculdade de Magistério. Tinha
demover De Martino de uma de suas teses básicas. Aquela segundo a qual a
lido seus lirros e discutido muitas vezes com ele, Remo Cantoni e Enzo Paci e
experiência da diversidade ou da compreensão (fosse ela a do primitivo ou do
tinha por ele uma grande admiração, acompanhadapor aquele tranqüilo sentido
psicótico) não pode nunca coincidir, em caso algum, com uma renúncia
de gratidão que se sentePeÌosautores dos Ìivros que percebemos serem decisivos
masoquista "Sem um empenho para compreender o sentido de nossahistória, é
para a nossavida intelectual.Ouvi-lo dizer que havia inserido umas vinte páginas
vão tentar compreender o sentido da história dos outros, nem jamais poderá
de meu ìivro sobre Bacon em sua antoìogia Magìa e Cìailização(Garzant\- t96z)
acontecer de nós entendermos melhor quent.somoscolocando-nos como apátridas
foi para mim um grata surpresa. Ficamos muito próximos em Cagliari, ele veio
diante de outras civilizações, disponíveis indefinidamente para qualquer pátria
à minha casaem Milão e eu fui à dele, em Roma. Quando me ocorre de repensar
que possanos seduzir.A verdadeé que o ocidenteorientou suasescolhassegundo
o lugar que ele ocupouem minha vida, em nossaamizade,na montanha de livros
os poderes da conscientização, da persuasão, do prestígio moral, da poesia, da
de antropologia e de psiquiatria que eu ìi após tê-lo encontrado, parece-me
ciência, da vida democrática, do simbolismo civil [..']. Com isso a magia tornou-
inacreditável t&lo conhecido e freqüentado por tão Pouco tempo, uma vez que
se,no interior da civilização ocidental, cadavez mais impotência, estímulo cifrado
eìe morreu em 1965.
do inconsciente, desejo inautêntico, suspeito e Íìustrante, serüdão inaceitável,
Depois da leiturados livros de DeMartino e de I Prìmìtiaide Remo Cantoni
ditadura do oculto e Co incontroláveì, ou então, resquício folclórico". No que
(que me havia impeÌido aler A Filosofa dasFormas SìmbólìcasdeErnst Cassirer),
concerne à religiao, De Martino Pensava que a afirmação de uma origem não
depois dos períodos passados no lVarburg Instítute - onde havia encontrado e
divina, mas humana dos modelos de cultura, a tese que "a cultura tenha origem
freqüentado Frances Yates, Gertrud Bing, Errrst Gombrich, D. P. WaÌker -, a
humana e destino humano não é umn uúre as tantas tzsesposshteissobre a ctrltura
magia da Renascençaque encontrara em Florença, graças à escola de Garin,
e sobre as instituições". QuaÌquer sistema de escolhasculturais que esteja à nossa
tornara-se para mim uma realidade mais ampÌa. Não conseguiria, nem que
frente - concluía - "cai integralmente no âmbito dessa nossa escolha'.
quisesse,dar uma orCemcronológica às minhas leituras desordenadas,mas aquiÌo
que considero válido ainda hoje em Il Mondo Mágtn de De Martino, penso ser
As que De Martino chamava as "ameaçasda etnologia" agigantaram-se suas estruturas e em sua essência;que elajá gastou suas próprias energias; que
assustadoramentenas décadassucessivasa seudesaparecimento.Às suasescolhas, já se reduziu a mera negatividade.A libertação do homem consistia Portanto em
"sacudir de suas costas a civilização ocidental" (p. XLV). Que alguém pudesse
à sua recusa "do irracionalismo histórico-religioso e do relativismo cultural"
está correlacionada sua imagem de uma antropologia que está sempre correndo sacudir de seus ombros a civiÌização na qual "nasceu e cresceu" é justamente o

o risco de transformar-se em "um frÍvolo desfle de modelos culturais, impelidos contrário exato da posição que De Martino havia defendido e sustentado,como
na passarela da ciência por um frígido apátrida em função de antropólogo, semPre se diz, com unhas e dentes, ao Ìongo de seu percurso intelectual'

completamente disponível para qualquer possíveÌ gosto cultural" (Furore, simboln, Visto pelos olhos dos jdanovistas, que pretendiam saber o que é certo e o

aalore,Mllão, 1962, pp.86-8?). Não eram estas as idéias que tornaram popuÌar que é errado e pretendiam orientar todo tipo de escolha cultural, De Martino

De Martino no decorrer das décadasde l96o e 197o. Os entusiasmospelo mágico era um irracionalistaou, como mínimo, um estudioso que manejavacom o máximo
as tornavam pouco atuais e irrelevantes. Quando, em I 979, saiu uma nova edição de desenvoltura textos e autores ambíguos e perigosos que era meÌhor não

Ce Il mondo ,nngtco, o editor sentiu a necessidade de confiar a Cesare Cases a publicar e certamente não difundir. Aos olhos daqueles que, nas décadasseguintes,
tarefa de escrever uma introdução. Cases tinha dedicado uma porção de seu o aproximaram a Adorno e àDìalética do lluminìsmo,todadeclaração de fidelidade

cáustico engenho à análise, a partir das posições da esquerda (mais do que esquerda aos valores d,arazão é, por parte de De Martino, apenas uma tentativa mais ou
não dá), de autores colocadosnuma direita tão extremada (que mais do que assim menos acanhadade "romper o isolamento, recorrendo a serviços que lhe permrtem

não dava); uma outra não irrelevante porção tinha ele dedicado,no final da década usar instrumentos irracionalistas, sem ser considerado um irracionaÌista" (r'eja-

de 195o, a defender a pureza do marxismo enquanto "concepçãode mundo", a se P e M. Cherchi, De Martino, Nápoles, Liguori, 198?, p. 22?). Quem, sem

polemizar contra Giulio Preti, contra o neo-empirismo e "suas infiltrações nas documentação efetiva, faz uso de categorias do tipo "recorrer a serviços" sen'e-

fileiras da esquerda". se de um instrumento tão poderoso que passa a ser absolutamente estériÌ e
Na introdução, Casesestavapreocupado principaÌmente em indicar oslinzites, ineficaz.Se De Martino repete muitas vezes,com convicção e em épocase teltos

ou seja,os defeitos da posição de De Martino. Lido com as lentes paleomarxistas diferentes, sua fìdelidade a vaìores de tipo "iluminista", pode-se sempre dizer
"sem
de Cases, o livro tinha um defeito imperdoável: não era suficientemente anti- que o faz por razões "políticas", ou então que o faz "inconscientemente"ou

ocidental. Na introdução aparecem - concebidas como repreensões ou ob.leções se dar conta". Raciocinando assim, tem-se sempre razão. Cortando rente, criando

a De Martino - as seguintes expressões:"a civilização ocidental não é contestada aÌternativas rígidas, usando métodos inquisitoriais (do tipo "diz uma coisa, mas

em suas estruturas,mas na falta de consciência de sua gênese" (p. XXVI); para o não acredita nela de verdade") acaba-sedestruindo justamente o espaçoque De

autor "as marcas da civilização ocidentaì permanecem óbvias, e delas não se ÌVíartino havia construído para si com tanta fadiga; acaba-seprocessando-opeÌo

contesta a essênciqmastão-somente a arrogância" (p. XXVII); De Martino remete crime de uma pretensa incoerência.
"às potencialidades não consumadas da energia plasmadora da civilização Para De Martino a ambigüidade não estavaem nós, mas sim nas coisas O

ocidental" e nela tem "demasiada conhança" (pp. XLI, XLVI); considera, mundo mágico está atrás de nós, mas também dentro de nós, sempre próximo a

finalmente, "a razão ocidentaÌ como um dado" (p. XLVII). Antecipando as recusas nós como uma alternativa, uma tentação,um caminho de fuga. Em muitos setores

globais de hoje de Asor Rosa, suscitando o interesse dos sequazesde Evola os da cultura e da política não se sabe disso e não se ìeva isso em consideração
quais, vindos da extrema direita, já tinham negado há bastante tempo a essência Movemo-nos, então, no interior de uma história imaginária, enrijecida no cuÌto

do ocidente, Cases sustenta que a civiÌização ocidental deve ser contestada em de uma razão que não se questiona sobre seu passado.Constrói-se, incìusive,
uma história da cìência imaginária em que Bacon se torna "o fiÌósofo da idade E,nquantooutros empurravam a nova interpretação longe demais,eÌe não hesitou
industriaÌ", na quaÌ também Gilbert e Kepler e Nes,ton se tornam "cienttstas eÌn traçar a linha que divide as hipóteses científicas das fantasìas.Apesar de o
positivos". "O monólogo colonialista e missionário da veìha Europa - escre\-eì.Ì Ìivro fazer parte da base a partir da quaÌ se desenvolveu a ênfasehoje corrente
De Martino - vai-se tornando dia após dia cadal'ez mais soÌitário e deìirante". A sobre a assim chamada "Tradição Hermética", quando as coisas começaram a
história do conceito de magia no Ocidente serve para nos dar essaconsciêncìae sair do controle, eÌe foi um dos primeiros a dissociar-sede aÌgurnasdas direções
serve, ao mesmo tempo, "como medida protetora contra aqueÌe maÌ diferente mais bizarras rumo às quais estavan se movendo os entusiastas" (Iszi, jurtho
que é a infidelidade radicaÌ em reÌaçãoà polêmica antimágica de nossaciviìização, 1986 e também Anaìs do Instituto e Museu de História da Ciêncìa de FlorençaX,
com a conseguinte abdicaçãodiante dos prestígios da magia" (E. De Martino, 1 9 8 5 ,p . 1 3 8 ) .
Magìa e chiltàMrlao, Garzanri, 1962, p. 9). TaÌvez não seja um caso o fato de
que, do interesse de De Martino para com a história das idéias, para com a V
"passagemda magia à ciência" entre puinhentos e Seiscentos- que para ele não
era um episódio,mas o episódio decisivo da história do ocidente (e, indiretamente, Do cÌima anticientífico, de caráter hermetizante, ocultista e decididamente
da história do mundo) - não reste nenhum traço nos muitos doutos e fiÌo-mágico que se difundiu na ItáÌia (e não apenas na Itália) desde o final da
informadíssimos ensaios e livros que foram publicados sobre ele. década de 196o, eu já tinha me distanciado desde o início. A começar por um
No ano que seguiu à republicação d,e Il mondo magìco,entre 20 e 23 de artigo publicado em Rinascìta,em 24 de maio de I968, no qual estáescrito: "Entrou
abriì de I974, ti.,'eram Ìugar em Capri, organizadas por Maria Righini Bonelli e em crise a tese da superioridade dos modernos Não apenas no sentido de uma
William Shea, as "Jornadas lnternacionais de História da Ciência" As atas do recusa do progresso como caminho ìinear e garantido, mas no próprio
congresso saíram em 19?5,nas ScienceHistory PubÌications de Nova York, corn questionamentodo conceito mesmo de civilização moderna . O mundo da técnica,
o título de Reason,Erperìnunt and M1,stìcnm m the ScienttfìcReaolution.Foi ali que da ciência, da indústria não é anaÌisado em suas comPonentes históricas, mas
eu li uma comunicação entituÌada "Hermeticism RationaÌity and the Scientific concebido como pura e total negatividade".A partir de então, e nas décadasque
Revoìution" que foi comentada por A. Rupert Hall. O conteúdo da comunicação seguiram, foram tiradas todas as conseqüênciasimpÌícitas nessa teológica
- bem distante da vaga do magismo indiscriminado da época - é resumido no
asserção Acompanhando e reforçando uma voga irrefreávei de magismo,
parágrafo 5 do "PreÍácio à segunda edição" (escrito naquele mesmo ano) que abriram caminÌro e se tornaram idéias correntes fantasias sobre uma nova e
segue aqui. Dez anos mais tarde, Charles Schmitt, depois de lembrar a insistência assombrosa"ciência proÌetária" que teria em breve substituído a corruPta ciência
com que eu tratava os temas mágicos e mitoÌógicos, tão distantes da imagem da burguesa e sobre um pensamento mágico que daria Ìugar a uma aÌternativa para
baconianscìenceque circulava na década de 195o, resumia com cÌareza o que o ressecado racionalismo. Intelectuais de esquerda apresentaram o pouso Ce
tinha acontecido' "Deve ser Ìembrado que o Bacon de Rossi surgiu, em sua homens na Ìua como sendo "a mais perfeita especulaçãoque a sociedadecapitalista
primeira edição,antes da atual corrida para colocar magia e ocultismo no centro ( ..) conseguiu organizar em prejuízo dos oprimidos e dos espoliados",como uma
do pensamento da Renascença.Na verdade, aquele Ìivro foi responsável,e não operação de "real conteúdo reacionário" (M. Cini, Caímos numa ratoeira", no
pouco, por aqueÌareavaliaçãodos fatores mágicos e ocultos presentesna primeÌra que
;ornaÌ L' Unità,za de julho de tsOS).No começodaqueleano sustentava-se
ciência moderna, na sua última geração. O que é importante, na abordagem de o único "discurso correte" era o de uma "recusa da ciência enquanto instrumento
Rossi, é que eÌe nunca deixou as questões centrais afastarern-sedo ponto focaÌ de aÌienaçãoe opressão do hometn" (E Piperno,'A greve dos cérebros", em
L'Espresso colore, Q de fevereiro de r969). A ciência, escrevia umberto curi,
importante do que o mundo ao qual ela poderia dar origem. A revolta, enquanto
"constituiu-se originariamente, consolidou-see desenvolveu-seaté hoje (...,1
como tal, torna-se um fim á ser perseguido. Isso já tinha sido teorizado na Itátia, há
força produtiva, do capital contra o trabalho". (em AA.w scicnza epotere,Milão, mais setenta anos, por Giuliano, o Sofista, numa página célebre da revista
Feltrinelli, t gz 5, p. r47). Para a superficialidade e a simploriedade não há limites
Leonardo: "cada programa, cada projeto de itinerário é uma limitação."
estabelecidos: "como na sociedade medieval quem decidia se uma teoria científica
Junto à assim chamada "literatura de contestação" a nova magia encontrou
era verdadeira ou falsa era o papa - escrevia G. viale - na industrial, quem
grandíssima difusão. No livro Thz Making of Counter-Culture.Reflcaions on thz
decide a validade ou não das teorias cientÍficas é o pentágono" (unìaersidadz: a
TechnocraticSociely and Ia Touthful Oppositio4 Theodor Roszak, um dos mais
hipótzsermohrioruiria, Pádua, 1968, p. I I 8). O apocaÌipse associava-se,como de
conhecidos expoentes da nova esquerda americana de então, valeu-se do
hábito, ao otimismo mais desenfreado e sem razão.
ensinamento de Thomas Kuhn para apresentar a "consciência objetiva" como
A partir do "arrombamento" das instituições - afirmavam Elisabetta Donini
uma "mitologia". Baseado nisso ele contrapôs as extraordinárias possibilidades
e Tito Toniettí em Quadcrni Piacmtini (tslz, as-a+, p. tse) _ ,.vai nascer uma
'nova de uma nova visão mâglca do mundo à "raciona-Ìidade restrita" da ciência, que
revolução copernicana"'. A ciência "nascida das cinzas da metaÍìsica de "embota nosso sentido do maravilhoso". Acabou apresentando o xamanismo como
Aristóteles... para levar a cabo e fazer funcionar o domínio que a burguesia detém
o modelo de uma cultura nova e mais Ìiwe.
como classe, só pode morrer com ela". De sua morte não surgirá uma ..nova
O de Roszak não foi certamente um caso isolado. Também na ItáÌia as
ciência", "o novo saber será tão diferente do anterior que merecerá um novo
posições que reduziam a ciência à ideologia burguesa e pensaviÌm que o saber
termo". Teses desse gênero tornaraÌn-se, na Itália de então, verdadeiros lugares-
cientíhco-racional era responsável pelo "esvaziamento de sentido" e pelo
comuns, transformaram-se em ideologias atraindo um grande número de jovens, "desencantamento do mundo" aliaram-se a posições regressivas e místico-
sindicalistas, políticos, funcionários, donasìe-casa e, principaÌmente, professores.
reacionárias. Um verdadeiro obscurantismo anticientíÍìco inspirado em Spengler
Estes termos têm, eles todos, uma característica comum: eles substituem à análise,
e em Heidegger vestiu os trajes do marxismo casando com a herança de Nietzsche
a peremptoriedade dos juízos e acs projetos, a alusão ao Radicalmente Novo.
do vitalismo e do vanguardismo do começo do Novecentos.
como do Novo e do outro não se pode falar (taÌ como não se pode falar do Deus
A descida para o plano arcaico da experiência mágica, a exaltação do
dos místicos), procede-se necessariamente por alusões e negações. De qualquer
primitivismo e do imediatismo, a nostaÌgia do passado como paraíso de uma
maneira, os projetos são sempre aÌgo de negativo com respeito aos processos em
humanidade não reprimida, a nostalgia peÌo mundo camponês deixaram de ser
ato, e aos "movimentos". Quando Giulio Maccacaro foi interrogado (em tsz+)
considerados temas pertinentes exclusivamente ao pensamento reacionário -
quanto ao significado do 'projeto de urna ciência nova" ele respondeu com as
'tonsidero conforme havia sido durante longo tempo - mas vieram a ser propostos e
seguintes paÌavras: impossível a resposta e imprópria a pergunra.
sustentados também no interior da esquerda, corno válidos instrumentos de
Gostaria de explicar-me por meio de uma analogia: o preso que nasceu enquanto
libertação dos pecados e das aÌienaçõespresentes na sociedademoderna.
tal, isto é, o mais verdadeiro dos presos, não pode projetar a liberdade e reaÌizar
a fuga". E acrescentava: "temos de atuar para que seja possível o nascimento de
uma ciência nova, a ciência de um outro poder, mas não podemos predeterminá-
la sem impedi-la" (em Scienza e Potere, cìt. pp. 54-5s). os projetos traem os
processos, as análises distorcem a vida, a rebelião acaba por parecer mais
os antecipadores da essênciada ideologia que carâcteriza o mundo moderno e
VI
que chegou à plena maturação com o marxismo e o positivismo, no decorrer do
século XIX: a Íé na transmutação da nat[reza e nas ilimitadas possibilidades do
O motivo de eu não concordar com as conclusões de E A. Yates, P' M'
homem.
Rattansi e de outros estudiosos não dependia certamente do fato de que ambos É difìcil .rao concordar com Frances Yates quando ela aÍìrma que "a história
sustentavam a necessidade,para um historiador da ciência moderna, de ocupar-
da emergência da ciência moderna resulta incompleta sem a história daquilo de
se de magia e de hermetismo, mas do fato de que eu üa neles a tendência para
onde ela emerge", e é certamente verdade que uma história caPaz de iluminar as
sublinhar exclusivamente os elementos de continuidade entre a tradição e a
interações entre magia e ciência é sem dúvida mais frutuosa do que uma (que
imagem moderna de ciência. No centro da reflexão de Yates estava a pergunta:
hoje ninguém escreve) que se contenta em celebrar os triunfos da ciência do
por que justamente naquele momento? Quais os motivos daquela emergência?
'um sécuÌo XVII. Os trabalhos de Yates deram uma contribuição decisiva ao
Yates havia apresentado o seu Giordano Bruno como sendo estudo histórico
aclaramento dessasinterações. Yates, entretanto, limita-se a sustentar essas teses
dos motivos" do nascimento da nova ciência. Nas iaízes daquela emergência
aceitáveis, a utilizar aÌgumas observações feitas (entre outros) por Jung e Eliade,
estava um novo "tipo de interesse" para com o mundo e as operações sobre a
ou então ter-se-ia apropriado da tese deles da ciência enquanto incapacidade de
nattj|l;eza.A magia renascimentaÌ constitui, justamente, a realização de uma "experimentar o sagrado"? Seria o caso de pô-lo em dúvida, quando se lêem, no
"reorientação psicológica" da vontade iumo à ação.Através daquela fundamental
livro dela, aÍirmações desse tipo: "Por acaso a ciência não é, tudo somado, nada
rnudança psicológica aparece Para a história, na Europa do Quinhentos, a
mais do que uma gnose, uma visão da natureza do Todo, que Procede através de
atribuição de um valor às operações.Tal atribuição encontra-se naraiz da ciência
revelações sucessivas?" (E Yates, Giordano Bruno e a tradição hzrmétìca,trad. it.
moderna e constitui o sev porquê. A visão hermética de um universo regido
Bari,Laterza,1969, pP' 447-8, 452)@'Também no livro de 1972' sobre o tipo de
pelas operações do mago é apresentada, segundo esseponto de üsta, na concÌusão "matiz
pensamento dos Rosacruzes,Yates aÍirmava que eu havia dado ênfase ao
de seu trabalho, como sendo a primeira fa.sa da revolução cientÍfica que é na Instauratio mngna scientiarum e tínha demonstrado
de milenarismo" constante
caracterizada,jâna segunlnfase,pela visão de um universo mecanicista regido ..Bacon
que sai justamente da tradição hermética, da magia e da cabala da
pelas leis da mecânica.
Renascença, por ele alcançadas através dos magos naturais" (O lluminisrut dos
A tese não é completamente nova. SpengÌer já havia insistido, em páginas
Rosatruzes:umEstiln dz Pmsamznto naEuropa do seiscentos,trad. it. L'Illurnìnisma
que seriam retomadas e discutidas por Max scheler, na importância do "faustismo"
dzi Rosarroce:u\n stilz di pmsiero nzll'Europa Del seicento Turim, Einaudi, tgzo,
para o nascimento da ciência. A "vontade técnica do podey'" o saber{e-domínio
pP. 60, r42-r$).
(Herrvhajïwissn) haüam sido interpretados como um primumcapaz de explicar
DiÍïcilé subtrair-se à impressão de que a tentativa de Yates era a de
o emergir da ciência no interior da história do ocidente. Numa perspectiva
- não reconduzir a segunda fase (mecanicista) da assim chamada revolução científica, à
diferente, também Jung e Eliade haüarn chegado a respeito desse ponto
primeira fase (mágico-hermética) e de que o estudo das interações entre essas
secundário - a conclusõesparecidas, mesmo se expressas numa linguagem muito
duas fases tivesse de serúr para demonstrar que é inútil procurar distinguir a
mais imaginativa. A idéia-guia do mundo moderno tinha parecido a Jung uma
ciência da magia, sendo que a primeira fase jamais terá fim. As indagações sobre
versão secular do sonho alquímico: "a alquimia é o alvorecer da idade cientíÍìca,
o hermetismo e sobre a magia são importantes pois nos ajudam a compreender
quando o daimnndo espírito científico obrigou as forças da natureza a servir o
melhor as origens da ciência moderna (a quaì, no começo de seu longo Percurso
homem em medida antes desconhecida.". Para Mircea Eliade os alquimistas são
deveu em parte sua vida também a uma "disreputable structure of ideas"), oz seja,pela novidade que envelhecee é rapidamente substituída por uma novidade
entãoo são porque nos levam à conclusão que a ciência moderna nada mais é do mais nova. A segunda tese, de caráter mais limitado e "especial", afirmava que
que a continuação, em formas novas, de uma abordagem de tipo "místico" da símiles, analogias, metáforas, semelhanças, que são formas típicas ou
natureza?São indagaçõesimportantes porque nos mostram como tem sido diÍïcil, caracterizadoras da cultura da época barroca, são energicamente recusadaspela
tortuoso e compÌicado o caminho darazâo científica, ou mtãoporqve contribuem nova ciência da natureza.
para mostrar as bases"irracionais" da construção da primeira ciência moderna e Para mostrar a inconsistência dessa segunda tese, em l98rl publiquei em
de qualquer outra forma de ciência possível? Com a revolução científica nasceu Intcrsec4estmensaio com o nome de "Os símiles, as analogias, as articulações da
na história um tipo de saber intersubjetivo e capaz de crescer, um "saber púbÌico" natureza" ("Le simiìitudini, le anaÌogie, le articolazioni deìla natura", mais tarde
que é alternativo ao saber secreto da magia e do ocultismo? O que é contestado incluído no volume I ragni e lzformichz: un'apolngia dzlln stnria dzlh scienza (As
é o conhecimento insuficiente da gênese da ciência moderna ou a própria estrutura Áranhas e As Formigas: um"aApolngta da Históia da Ciência) Bolonha, IÌ Mulino,
da ciência moderna? 1986) no qual eu mostrava que, para sustentar aquela tese, Michel Foucault
Tenho a impressão de que algo parecido com o que se passou com muitos havia se apoiado numa passagem ìatina de Francis Bacon, fazendo uso não
Ieitores de Freud tenha ocorrido com muitos estudiosos da tradição hermética: do texto original, mas de uma tradução dele, feita no Oitocentos. Acontecia
após ter ficado sabendo da existênciâ do inconsciente, do condicionamento que termos - chave (ressemblancee sìmilitude) sobre os quais se fundava todo
exercido pelas pulsões e pelos instintos sobre a vida da consciência e darazão, o seu genial, pirotécnico e desenvolto discurso compareciam de forma um
depois de ter reconhecido a existência dos elementos de agressividadeque atuam tanto misteriosa na tradução francesa, mas não existiam absoÌutamente no
por trás da fachada respeitável da civilidade, concluíram - diferentemente do original latino.
que fazia Freud - que não existem mais razão nem ciência, nem civilidade, mas Uma das idéias mais tolas professadaspelos pós-modernistas consistia em
há apenas instintos agressivos e desejos pulsionars. apresentar a modernidade como uma época de certezas, como uma espéciede
idade da segurança da qual, há poucos anos apenas, e por mérito de três ou

VII quatro filósofos parisienses, alguns intelectuais extremamente aggiornali haviam


dolorosamente emergido. Francis Bacon era freqüentemente citado como o típico

Nos anos em que haviam praticamente desaparecido os modernos e expoente, ou campeão do "moderno", pelos defensores da primeira das duas teses
que enunciei acima. Poìemizando com aquela imagem, bastante cômoda, escrevi
nos departamentos de filosofia só se encontravam pós-modernos rampantes,
uma cornunicação para o encontro sobre Modzrno e Pós-mndcrno, organìzado
costumava-se defender duas teses de caráter epocal. A primeira tese, de
em março de 1986 no Instituto Gramsci da Toscana. Dei-lhe o títrrlo de Idoln da
caráter mais geral, contrapunha moderno e pós-moderno. O primeiro era
quaÌificado como a idade de uma razão forte que constrói explicações totalizadoras Modernidadz,publicada mais tarde com outros ensaios em Paragonedzgli tngegni
-
do mundo e que é dominada pela idéia de um desenvoÌvimento histórico do mnd.nni epostmodcrni (Corfronto dnsEngenhns Modernos e Pós-modzrnos Bolonha,

pensamento como iluminação incessante ou progressiva, ou seja, como a idade Il Mulino, 1989). Esclarecendo que o nome idoln era para Bacon sinônimo de

da ordem nomológica, normativa, ò,arazão e de uma sua estrutura monolítica e superstitionscomo tamMm de notionzsfakae ou aolnntesphantasiae,inseri em meu

unificadora. A despeito de Niccolò Machiavelli e de Giambattista Vico, o moderno escrito inclusive um elenco de algumas idóias ÍìÌosóÍìcas de Bacon que me permito

era defìnido como a idade do tempo linear, caracterizada pela "superação", ou reproduzir aqui.
"O universo não é uma realidade ordenada e estruturada hierarquicamente. e se rebelam e condicionam nosso inteÌecto. Acabamos, então por discutir não
Não existe nenhuma necessáriacorrespondência entre os eÌementos que cr acerca das coisas, mas acerca das palavras. Tentamos, então, construir uma
constituem,nem entre microcosmo e lnacrocosmo Nào apenaso homem não Ìinguagem rigorosa, feita de definições' Acabamos por perceber que aqueÌa
reflete em sua mente a estrutura do mundo, como também entre a ordem do Ìinguagem fala apenasde palavra e que as coisasfugiram-nos irremediavelmente
cosmo e a da sociedadenão existe nenhurna correspondênciaque possa ser das mãos. Por outro lado estamos condenados a fazer uso da linguagem e dela
encontrada. As fontes do conhecimento são várias: a 1é,a tradição, o sentido, o não podemos prescindir.
intelecto. DiÍicil é estabeleceruma hierarquia entre elas. A Íé só vale para as Entretanto, também a necessidadede pontos de apoios confiáveis e
coisasque lhe pertencem. O sentido nos engana muitas vezes,e o intelecto muito indubitáveis faz parte da natureza do homem. Parece que os homens sentem
mais vezes.Só temos certezade uma coisa:que não podemos nos fiar na tradição a necessidade de princípios estár'eis, Procuram uma espécie de eiro em
em geral e na filosofia em particular, unìa vez que nelas foram construídos volta do qual fazer rotar a variedade dos argumentos e das meditações. Se
inúmeros mundos de palco, semelhantesaos teatros dos poetas,onde as histór.ias o intelecto sofre abaÌose flutuações os homens têm a impressão que o céu desaba
contadastêm como única prerrogativa a de corresponderem aos desejosde cada em cima deìes e procuram logo um chão sólido, uma esPécie d,e Atlas dos
um. Os enganos que se encontram etrì nossas fontes de conhecimento não são pensanuntos,semeÌhanteao que, na lenda, suportava o céu sobre seusombros. Na
como defeitos ou culpas aos quais se pode remediar. Dependem do fato de que realidade os homens têm mais medo da dúvida do que do erro e se iludem de
nossa mente mÌstura contlnuamente sua natureza com a natureza das cotsas e poderem estabeleceralguns princípios dos quais Possaser derivado todo o saber
do fato de que as imagens falsase as faìáciasfazem parte da estrutura da mente, e enì torno dos quais eÌes possam fazer rotar todas as suas disputas.
são inatas nela e estão radicadasna natureza Ìrumana.os erros são inseparáveis Mas o problema maior é o da novidade e da dificuldade ou da incapacidade
de nossa natureza e condição de vida. Posso descrevê-Ìos,tentar exorcizá-Ìos de pensar o novo. Porque a mente humana está mal organizada:primeiro desconfia
tomando consciênciadeles.De muitos deìes nunca poderei, em caso algum, ficar demasiado de si própria e, em seguida, se despreza. No começo' Parece
compÌetamente livre. inacreditáveÌ que algo possa ser descoberto. Depois, tão logo esse aÌgo é
A imagem de que é possívelservir-se para pensar o universo é a do labirinto descoberto, acha-se inacreditável que Possa ter sido ignorado. Há um dupÌo
ou, caso se prefira, a da selva.Com efeito, não há estradas visíveis,mas somente preconceito que atua sempre ameaçando o novo: a crença cristalizada naquiìo
caminhos ambíguos. Não há símiles seguros, apenas semelhançasenganadoras que já se encontra estabelecidoe a tendência em inserir o novo (privando-o de
de signos e de coisas.Não há percursos em linha reta, apenas espirais e nós seu caráter de novidade) dentro de um esquema já prefigurado' Se, antes da
torcidos e conÌplicados.O acaso,os efeitos da credulidade, as primeiras noções introdução da seda, tivesse sido imaginada a existência de um fio diferente do
absorvidas na inÍância constìtuem aquele patrimônio ao qual damos o nome de aÌgodao e da la e mals suave, brilhante e resistente, quem teria sido capaz de
razão.Sequero que realmente nos diferencia dos animais nos ajuda muito. Porque pensar numa taturana ou num verme?
a linguagem não é absoÌutamente,conforme se acreditou durante muito tempo, Estando assim as coisas, não tem sentido um quadro completo e
uma entidade controÌável. As paÌar.ras,a partir do momento em que são usadas, exaustivo do mundo. Onde quer que ele seja construído, essequadro suscita um
retorcem sua força coìltra o inteìecto. Parece-nos poder traçar, mediante as consenso imediato uma vez que Produz sentimentos de segurança. Porém, é
paÌavras,linhas de demarcaçãobem visíveis entre as coisas.Depois, porém, toda melhor esrimuiar a inteligência do que usurpar a boa Íé. É melhor renunciar a
vez que tentamos deslocar aqueìaslinhas, as palavras são um obstáculo para nós cornpor tratados e proceder,ao contrário, por aÍìrmaçõesdesligadase provisórias,
como é igualmente melhor assegurar menos e mostrar os aazìosdo saber, e VIII
solicitar a pesquisa. Nenhuma filosofia universal e completa é proponír,el e as
teses filosóficas que foram expostas até agora não são as expressõesda verdade,
As páginas dedicadas,no fìnal da décadade lg5o, a Cornelio Agrippa e a
mas sim são comparáveis aos sons pouco agradáveis emitidos pelos músicos
Francis Bacon, à relação entre magia e ciência levaram-me muito longe dos
quando aÍìnam seus instrumentos. o concerto ainda está para chegar e pode-se
programas e dos projetos iniciais, conforme costuma acontecer.
alimentar apenas a esperançade que seja meìhor do que os sons atuais. por isso
Trabaìhei longamente, nas décadas que se seguiram, com as artes da
não há nenhum método que seja universal e perfeito. por isso não existe nenhuma
memória, com a assim chamada "descoberta do tempo" ocorrida entre o
arte da descoberta, uma vez que eÌa cresce, com o próprio crescimento das
puinhentos e o Setecentos, com a filosofia de Giambattista Vico, mas o tema da
descobertas." (Scrittiflnsofici org. PaoÌo Rossi, Turim, UTEU, 1975, pp. 56r,
magia, ou melhor o tema da relação entre magia e modernidade que surgira em
573, 536-37, 560, 526,608, 570, 263, 274, 427, 393_94,423, 621, 275_'76,346,
minha vida desde a publicação, em 1955, do liwo de E. Garin Testi umanìsticì
637. A única referência cbtida de um escrito, fora da edição indicada, encontra-
se em The Works of Frantis Baco4 org. R_ L. Ellis, J. Spedding, D. D. Heath, sull'ermetismn,não mais me abandonou. Àquele tema são dedicadas não apenas

Londres, 1887-92, I, pp. O+O-+t). as páginas que escrevi sobre Giovanni Pico della Mirandola, Francesco Patrizi,

concluindo, essas são aÌgumas das respostas dadas por Francis Bacon, Giordano Bruno e sobre argumentos aÍìns, mas (aÌém das aparências),muitas
entre 1605 e 1620, à pergunta "o que é o saber?".se essasrespostasforem, de páginas que escrevi nas décadasde 197o e l98o e que reuni nojá citado Paragone
algum modo, significativas, parece-me diÍïcil apÌicar a eÌas os rótuÌos utilizados dcgli ingegni modzrnì epostmoderni.O outro meu livro, La scienzae lafilosofta dei
peìos filósofos da pós-modernidade: "explicações totalizadoras do mundo", ou modernì (A Cifucia e a Fílosofa dosModzrnos), publicado por Boringhieri em 1989,
então, "capacidadeprojetuaÌ de uma subjetividade que se desdobra rumo a um abria-se com a premissa intitulada "O Processo a Galileu no século XX", escrita
horizonte de fins, dos quais pretende possuir a chave", ou ainda "extremada vinte anos antes e que já estava presente numa primeira edição publicada em
aspiraçãoa uma ordem absolutae definitiva de segurança".parece-meigualmente Nápoles por Morano, em 1971.
dificil utilizar metáforas como a seguinte: "o oÌho humano não se abre sobre as Daquele processo à ciência, das imputações que ele continha e mesmo das
trevas originárias do mundo, mas sobre a cena de um cosmo já aclarado pela luz defesas que devia comportar - salvo reduzidas, mesmo que relevantes, exceções
intelectual". Essa metáfora exprimia, para Aldo Rovatti (no jornal La Repubblica, - os fiÌósofos da ciência se ocuparam pouco e assim continuam fazendo.No que
de r8 de julho de1985) a própria essênciadaquera imaginária modernidade em me diz respeito, uma vez que meu assunto de estudo é a história das idéias entre
torno da qual se esgotavam os pós-modernistas. Estes, inclusive, pareciam os sécuÌosXVI e XVIII, disso ocupei-me até em demasia.Muitas vezesperguntei-
totaÌmente ignaros quanto à nobre sentença cie um autor que consideravarnum me o motivo pelo qual me afastei tantas vezes de meu caminho que, por sinal,
de seus antepassados:"Nunca existiu época alguma que não tenha se achado deu-me algumas satisfações.Das páginas que escrevi sobre o tema a que me
madzrna"no scntido excêntrico do termo, e não tenha acreditado que se encontrava referi tive poucas, ao contrário e, algumas vezes,verdadeiros insultos. Um célebre
imediatamente diante de um abismo. A consciência clesesperadae lúcida de filósofo italiano comparou-me, certa vez, a um cachorrinho que mordia o salto
encontrar-se no meio de uma crise decisiva é aìgo de crônico na humanidade',. de seu sapato enquanto andava (estou convencido que ele não apenaspensava na
(w Benjamin Panq capüal do Séailo xIX, trad. it. partgi capitalz dzl XIX secolo. distância abismal homem/animal que nos sepÍrava, mas também que ele tinha
Einaudi, 1986,p. ?or). certeza de estar caminhando sozinho rumo à Verdade). Um outro, muito menos
famoso que o primeiro, qualificou-me - publicamente e mais gentiìmente, mas

t_
sem saber que estaria com isso nìe agradando - como irremediavelmenteJòra da modernidade, mas como "o supremo Ìegislador da moderna república da
attnlidade Um outro air-rda,muito aflito com a suspeita de ser menos célebre até ciêncìa". Na Philosophl, of inductiae scìences(184,7) \Ã'illiam Wheweil
mesmo do que o menos célebre,te\re a oportunidade (privada) de quaÌificar nada comparava-o a Hércules que destrói os monstros da superstição,a Sóìon que

nÌenos que de "indecente" meu Paragone deglí ingegni estabelece as bases de uma constituição válida para qualquer época (W.
WheweÌI, Selected Wrìtings on the Hìstor1 of Science,ed. Yehuda EÌkana,
Mesmo um esboço de resposta àqueÌelor quê exígiria um longo discttrso
Chicago-Londres,The University of Chicago Press, 194,8,p. zt9) A retórica
que, incÌusive, eu não conseguiria aÌinhavar de maneira aceitável. Mas quem
dos adversários r-rãoteve menor força do que a dos admiradores incondicionais.
sabeeu possa substituir aqueÌaresposta pela referência a dois textos. O primeiro
Poucos anos antes, Joseph de Maistre, o feroz crítico da revolução francesa,
(de rSSO)é de Ernesto De Martino, o segundo(de tS;o) é de JeanAméry: "Já há
tinha escrito: "Desprovido, em relação a qualquer assunto, de princípios
tempo uma turva inveja do nada, uma sinistra tentação tipo "crepúscuìo dos
estáveis, espírito puramente negativo, osciÌando entre a antiga crença e a
deuses" propaga-se no mundo moderno como uma força que não encontra
nova reforma, entre a autoridade e a rebelião, entre Platão e Epicuro, Bacon
modeÌos adequadosde resoluçãocultural e que não se ordena num leito de defluxo
acaba por não saber nem mesmo o que sabe.A impressão geraÌ que me ficou,
e de contenção socialmente aceitáveìe moralmente conciliável com a consciência
após ter pesadotudo, é que não podendo confiar neÌe por nada, desprezo-o tanto
dos valores humanos conquistada a duras penas no decurso da milenar história
por aquilo que aÍìrma, quanto por aquiio que nega" (J. de Maistre, Etamen de la
do ocidente" (Furore, sìmbolo,aalore, cit., p. t o9). "Jamais teria imaginado quando,
Philnsophìedz Baco4 tome II, BruxeÌas, 1836-1838, pp.92-93).
em 1966, saiu publicada a primeira edição de meu livro e meus adversários eram "Ciência da natureza, moraÌ, poÌítica, economia - em tudo aqueÌe espírito
tão-somente aqueles que são meus adversários naturais: os nazistas velhos e
luminoso e profundo parece ter sido competente. E não se sabe se admirar mats
Ìro\os, os irracionalistas e os fascistas,a escória reacionária que em 1939 Ìevou o as riquezas que pródiga em todos os argumentos de que trata ou a dignidade
mundo à morte. Que eu tenha hoje que me opor aos meus amigos naturaìs,aos 'AÌembert
com que deles fala", com essaspalavras Jean d referira-se a Bacon no
jovens e às jovens de esquerda, é urn fato que ultrapassa a já demasiado gasta discurso preÌiminar à grande enciclopédiado [ìuminismo (J.d'AlemberÍ, Dìscours
"diaÌética". É uma daqueÌaspéssimas farsas da história universal que nos levam
Préliminaire fu I'Encyclopédìe,Paris, I 75 1).
a duvidar e, em última anáÌise,a desesperardo sentido dos acontecimentos Apesar de Kant ter escoìhido como mote da segunda edição da Crítica da
históricos" (Intellettualead Auschu,itz,Turim, BolÌati Boringhieri, tssz, p. zo). Razão Pura (tzsz) o de Francis Bacon: "criticar Bacon por não ter sido GaÌileu
ou Newton foi um dos passaternposfavoritos do sécuÌo dezenove" (M Hesse,
IX Francis Bacon's Phìlosol,'hyof Scìence,in B. Vickers (org.), Essential Artìclesfor the
Stufuof F.Bacor4l-ondres,SidgrvickandJakson,1972,p.31),nas LiçõesdeHntórìa
Todo o discurso dos parágrafos precedentes adquiriria, quem sabe, um da Filosofia de HegeÌ haviam sido formulados juízos que vieram a ter um peso
sentido mais preciso se colocado no interior daquela que um tempo se chamava decisivo: "Bacon é o precursor e o representante daquiÌo que na Inglaterra se
história da fortuna de um autor Aquela história, que é sempre também a história costuma chamar ÍiÌoscfia e por meio da qual cs Ingleses ainda não conseguiram
da des-fortuna, do azar, pode ser escrìta em reÌação a todo grande filósofo No se erguer. Com efeito, eìes parecem constituir, na Europa, um povo destinado a

clso de Francis Bacon, porém, exaÌtações e rebaixamentos sur:ederam-secom viver imerso na matéria, a ter por objeto a realidade,e não a razão, conÌo no

uÍna intensidade de todo particular Na segunda metade do séculc XIX Bacon Estado dos artesãos c dos lojistas" (G.G.HegeI, Lìçõesde História dafilosofìa,

era apresentadonão apenas como uÌÌl dos grandes pais fundadoreb da trad. it., Firenze, La Nuova lÍália, 1934,III, e, pp. 17-18).
Em 1863 saiu publicado F. Bacon aon í/erulam und dìe Methode der No decorrer das décadasde l95o e t960 registrou-se, em volta da figura
Naturforschungde Justus von Liebig. "Negador do movimento da Terra, ignar<r
de Francis Bacon, umd curiosa convergênciade avaliaçõesnegativas.para alguns
das descobertas astronômicas de seu tempo, Bacon é todo exterioridade, é
filósofos de língua ingÌesa que seguiam a linha de Karl Popper, Bacon tornou-se
incapaz de humildade, leva adiante coììtra a Escolástica fiá destruíoa por
o símbolo daquilo que a ciência nuncaifoi e nunca terá de ser..uma forma de
Leonardo na ltália e por ParaceÌso na Alemanha) uma batalha contra os
conhecimento que deriva apenasde observações;um processo de acumulaçãode
moinhos de vento. Seu processo de pensamento e sua indução são falsos e
dados não selecionados;uma tentativa ilusória de liberar a mente de qualquer
não aplicáveis à ciência da natureza". Nas páginas de Liebig notava-se que a
tese pré-estabeÌecida. Sobre Bacon e o seu método KarÌ Popper havia enunciado
reação contra a exaltação iluminista de Bacon tinha encontrado sua expressão.
duas teses: de acordo com a primeira, existe (e é filosoÍìcamente relevante) um
Entretanto, muitos dos juízos apressados e superficiais de Liebig tornaram-
problema de Bacon que diz respeito ao papel deformante dos preconceitos. A
se lugares comuns da historiografra dos manuais.
segunda tese diz respeito ao fato de que Bacon teria eÌaborado uma saída errada
Não se trata apenasde oposições oitocentescas.Durante o Novecentos o
para esseprobÌema real: ele pensa que a mente possa vir a ser 'liwada" e identifica,
estilo torna-se menos enfático sem se atenuarem, porém, nem a aspereza dos
para esse Íìm, a observação dos fatos com a fonte privilegiada do conhecimento.
juízos, nem o tom polêmico, nem a força das contraposições.Na ltália, filósofos
Aquele liwamento coincide, entretanto, com um esvaziamento da mente que, na
profundamente compenetrados de sua grande, austera missão, chegam, quando
terminologia de Popper, passa a ser com isso identificada com um recipientee nào
se trata de Bacon, a perder o sentido da medida. Dois exemplos serão suficientes.
comumfarol. Quando a mente for livrada dos ìdolq ela tornar-se-á uma mente
Sabe-seque Vico considerou Bacon (iunto com Platão, Tácito e Grozio) um de
vazia ou uma tabula abrasa.O de Bacon é um projeto ao mesmo tempo errado e
seus "quatro autores" e que várias vezes expressou sua admiração pelo Grande
Chanceler de quem recomendou, para leitura, o De augnuntis scìentiarum, um irrealizável (K. Popper Conjeturase ConfutaçAese o conhzcim.ento
objetìaotrad. it.,
livro que ele considera\ra"semper inspiciendum et sub ocuÌis habendum" (G Congeüuree confutazionì,Bolonha, Il MuÌino, 1985 e Laconoscenzaoggettita,Roma,
Yico, De menteheróica"em Opere,org. E Nicolini, MiÌão-Nápoles, Ricciardi, t95g, Ârmanoo. l9 /Òt.
p. 924). Podia o juízo de Vico ser aceito pelos ideaÌistas italianos do começo de Este não passade um Bacon literalmente inventado, pois existe um célebre
Novecentos que viam em Vico um dos pais fundadores do ideaÌismo e do aforisma (o número g5 do Noaum Organum) que, por incrível que pareça,
historicismo e que tendiam, repetindo juízos hegelianos, a negar às correntes permaneceu desconhecido para Popper e os popperianos. NeÌe (e em outros textos
empiristas a qualificação e a dignidade de serem "filosofias"? Giovanni Gentile que expressam as mesmas teses, também) Bacon assume decididamente uma
decìarou com todas as letras que o empirista Bacon "não podia ter um significado" posição justarnente contra aqueles que se limitarn a recolher osfatos serlt serem
para vico. Benedetto croce afirmou peremptoriamente que o Bacon de que faÌava guiados por alguma teoria. Bacon está longe de dividir os homens nas duas
Vico fora "meio imaginado por eÌe", Fausto Nicolini falou em "esboços muito categorias, a d,os openmìndzd e a dos superstitioru,inventadas pela mente fértil de
strperficiais" de "muito pouca importância", e chegou a roçar o ridículo quando Popper e de seus discípulos. O que Bacon faz é dividi-tos em duas classes,a dos
afirmou que as teses "baconianas" de vico haviam sido escritas "quase en badinant, Empíricos ou acumuladores e consumidores de fatos que se assemelhanr às
como quem não dá muito peso àquilo que diz" (G. Gentile , Studi lzichianr;Florença, formigas; e a dos Racionais ou eÌaboradores de teorias retiradas apenasdo interior
Sansoni,tgz7,p.4l;B.Croce, LaflosofadeG.B. Irico,Bari,Laterza,tgll,p.35; daprópria mente, que se assemelham às aranhas. A atividade verdadeira(Etfcìum)
E Nicolini, SaggiaichianlNápoles, Giannini, 1955,p.e9;G.B.yico,Autobiografa, da filosofia não repousa apenasnas forças da mente, nemconsisteem obter material
org. E NicoÌini, Milao, Bompiani, 1947,pp. ze2,2e5). da história natural e dos experirrrentospara conservá-lo na memória intacto, do
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jeito que o encontra. Como as abelhas,a verdadeira Íìlosofia segue o caminho do a Íìnaìidade de falsi{ìcar teorias. As páginas dos adeptos da escola de Frankfurt
meio: retira seu material das flores dos campos e dos jardins, mas o transforma e tiveram influência determinante sobre muitos dos discursos referentes a Bacon,
o digere com o intelecto. sobre as reÌações magia-ciência, sobre a imagem da ciência. A bibÌiografia é
Com o tipo de impiedade próprio dos Íìlósofos especulativos, Popper e seus vastíssima; vou limitar-rne, por razões de espaço,a um único livro. O Ìivro de
discípulos haviam se mantido afastados dos textos e haviam dado vida a uma Caroìyn Merchant, The Death of Nature: Womzn, Ecology and the Scientzfìc
entidade que designava apenase exclusivamente a idéia gerada por suas mentes Reaolution, publicado eìn 198o, ocupa um Ìugar de relevo na Ìiteratura do
férteis (sempre prescindindo dos textos). Para os seguidores da escoÌa de feminismo. Diante da morte de alguém é sempre oportuno se perguntar se a
Frankfi.rrt, Bacon era precisamente o oposto: o símbolo daquilo que a ciêncialôi morte foi naturaÌ ou provocada por outrem. A autora, nesseponto, não alimenta
aü agora e continua sendo,mosnão terá m.aìsde ser Um conhecimento que coincide dúvidas.A natureza foi morta e seus assassinossão a ciência de Galileu e Newton,
com o domÍnio sem Ìimites de uma natureza "desencantada";um saber que é ladeada ou "completada" pela ideologia de Francis Bacon que concebia o saber
poder e que não conhece freios "nem na subjugação das criaturas, nem na como domínio sobre a natureza, e pelo determinismo cartesiano que concebia a
dociÌidade para com os senhores do mundo". No livro Dialzktik dzr AuJkkirung natureza como uma máquina. O "mundo que perdemos era orgânico". A maioria
de 1947, que terá tardia mas larga difusão na década de 1960, Horkheimer e dos históricos consideraram a revolução cientÍÍìca dos sécuÌosXVI e XVII como
Adorno vêem em Bacon o típico animusdaciênciamoderna. No rastro das páginas um período de iÌuminação intelectual. (Jma vez constatado o esgotamento dos
escritas por Heidegger em Holzwege, a ciëncia moderna aparece como não recursos, por um lado deve ser reavaliado o mundo perdido e por outro devem
podendo ser distinguida da técnica e Bacon torna-se o símbolo desta nefasta ser reavivados pressupostosholísticos sobre a natureza. Foi se abrindo caminho
identificação. O entusiasmo científico e tecnológico do Lorde Chanceler estaria a uma "convicção ecoÌógica" que consiste em afirmar que "cada coisa está ligada
nas raízes da transformação da cultura em mercadoria, transformação essà que a qualquer outra coisa e que na natureza os processos iterativos têm uma
leva, por sua vez, à sociedadeindustrial moderna, interpretada pela escola de importância prioritária: todas as partes dependem uma da outra e influem
Frankfurt como o reino da alienação, do conformismo, da estandardização (M. reciprocamente uma sobre a outra e cada uma sobre o todo". Esta convicção
Horkheimer e T. Adorno, Dìalétíca do lluminismo (trad. ít. Dialettica ecoÌógica não está por acasopróxima da visão mágica do mundo? Às teses que
dcll'Illuminunn, Turim, Einaudi, 1966, pp. 12, tg, so,34, s6). se encontram em Marsilio Ficino, Giordano Bruno e Tommaso CampanelÌa de
A um fiìósofo que tinha escrito: "o gosto e o prazer do conhecimento um todo vivente? Considerando a nalureza como uma realidade inanimada, o
superam abundantemente qualquer outro gosto ou prazer dado na natureza" e mecanicismo por acaso não confere uma "sutil legitimação à espoliação e à
tamMm: "as obras mesmas devem ser estimadas mais como penhores da verdade manipulaçãoda natureza e de seusrecursos?"Juntando uma nova fiÌosofia fundada
do que pelos beneÍicios que elas oferecem para a vida" (Escritos Filosóficos, cit. na magia natural, as novas tecnologias, a idéia emergente do progresso e uma
p. eSl), Horkheimer e Adorno atribuíam os seguintes pensamentos:'A infecunda concepção patriarcaÌ da família e do Estado Francis Bacon "transformou as
felicidade do conhecimento é lasciva tanto para Bacon como para Lutero. Não é tendências já existentes na própria sociedade em um programa totaÌ que
aquela satisfaçãoque os homens chamam verdade que importa, mas sim a operatio4 propugnava c controÌe sobre a natureza para o beneÍïcio do homem". Bacon foi
o procedimento eficaz (M. Horkheimer e T. Adorno Diallticq cit., pp. ts,tS). admirado e elogiado, mas se adotarmos o ponto de vista da natureza e das
Conforme repetia freqüentemente Jacques Roger; nos casôs dos livros muÌheres "emerge uma imagem menos favoráveÌ a seu programa, que beneficiava
ideológicos escritos de modo brilhante é completamente inútil elencar fatos com o empreendedor burguês mascuÌino". Bacon trata a natureza como se fosse uma
Íèmea que deve ser torturada e isso "traz de volta irresistivelmente à lembrança (parfaitemznt negl$eablz).O platonismo e o matematismo, a tese de que a ciência
as perguntas que se faziam nos processosàs bruxas e aos instrumentos mecânicos seja apenas thzoriatorÀam Koyré como que cego diante da tradição baconrana
usados para torturá-las" (C. Merchant, Morte da Natureza. Mulhcres, Ecologia e que insistiu, desde as origens, nos aspectos práticos, operativos, experimentais
RnoQão Cientfica I trad. it. Morte della natura. Donne, ecologia e riooluzione do empreendimento cientíÍìco. Não se trata, entretanto, das relações entre a teoria
scìentftca), Milão, Garzanti, 1988, pp. 37, 145,148-9,217, 221). e as operações. Isso porque, conforme sublinhou Thomas Kuhn, a Revolução
Para alguns filósofos do século XX que defendem ou exaltam o saber Científica foi resultado de uma profunda renovação das ciências "clássicas"
científico, Bacon nada tem a que ver com a ciência. Para outros filósofos que (matemática, geometria, astronomia, dinâmica) e, ao mesmo tempo, do
acusam a esta de graves pecados e a submetem a uma espéciede processo, em contemporâneo surgimento de noaas ciências.
Bacon se manifesta a essênciado saber científico. Não concordando quase com Conforme explicou Thomas Kuhn num ensaio que permaneceu
nada, as duas "seitas" filosóficas acabam se encontrando, entretanto, num ponto: fundamental, astronomia, óptica geométrica e estática (incluindo aqui a
a recusa, por razões opostas, da fiÌosofia de Bacon. Pzra os discípuÌos de Popper,
hidrostática) são as únicas partes das ciências físicas que se tornaram,
para os seguidores, freqüentemente muito entusiastas e pouco prevenidos de
durante a antiguidade, objeto de uma tradição de pesquisa caracterizada
Horkheimer, Adorno e Marcuse, Bacon tornou-se uma espécie de cabeçaìe-
por terminologias e técnicas inacessíveis ao leigo. O calor e a eÌetricidade
turco contra a qual se exercem críticas ao mesmo tempo superÍiciais e destrutivas.
permanecem apenas classes interessantes de fenômenos, argumento de
IJma vez que quase todas se baseavamem lugares comuns e suscitavamconsenso,
debates e especulações frlosóficas. A astronomia aparece firmemente ìigada à
não enquanto fundadas nos textos, mas sim na adesãoàs grandes tendências da
matemática e à geometria; a óptica e a estática retiram da geometria o vocabulário
ideologia contemporânea, aquelas críticas deixaram completamente indiferentes
técnico e compartilham seu caráter dedutivo. O desenvolvimento destas ciências,
os historiadores por saberemquanto é vão chamar a atençãopara o rigor histórico
conforme foi frisado por muitos, apesar de sua natureza empírica, não exigiu
diante dos discursos ideológico-poÌíticos.
nem observaçõesrefinadas,nem experimentos em sentido moderno:'bs dados que
seu desenvolvimento requeria eram de uma espécie que a observação cotidian4 às
X vezes modestamente refinada e sistematizada podia oferecer''. Sombras, espelhog
alavancas, movimentos celestes forneciam base empírica suficiente para o
Francis Bacon como pai fundador da ciência moderna é, sem dúvioa, um desenvoÌvimento de teorias até mesmo poderosas.Este grupo de'tiências clássicas"
mito historiogrâfico construído entre o Íìm do século XVIII e a metade do século continua a constituir, desde a Renascença até hoje, um grupo estritamente conexo.
XIX. Uma coisa, porém, é afirmar essa vercìade óbvia, outra é declarar, como foi Galileu, Kepler, Descartes, Newton e mútos outros passam com grande facilidade
o caso de Alexandre Koyré, que Bacon, filósofo "crédulo e completamente da matemática à óptic4 à harmoni4 à astronomi4 à estátic4 ao estudo do movimento
acrítico", nada entendeu da ciência por ser "supersticioso" e ligado à doutrina (Th. Kuhn, A Tmsão Essencial Muìaryas e Contìnuidadzs dn Cìincia (trad. it. Za
das simpatias, à magia, à alquimia e próximo, por seu modo de pensar, a um tensioneessenziale,canbiamentí e continuiü nelin scienm), Turim, Einaudi, tssS,
'primitivo"
(szc),ou a um pensador da Renascença. (4. Koyré, É,tuìzs d'hisnire pp.37-54 e, em particular,pp. A2a6).
dz ln peaséecientzfquz, Paris, Presses Universitaires de France, 1966, p. g9). O baconismo, - esta é a concÌusão de Kuhn - não contribuiu para o
Na revolução cientíÍìca, assin como ela foi concebida por Koyré e por muitos desenvolvimento das ciências clássicas,mas deu origem a um grande número de
historiadores da ciência, o papel de Bacon foi então "completamente irrelevante" outros setores cientíÍìcos que tinham raízes, muitas vezes, em misteres anteriores
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fiÌósofos e historiadores da ciência. A insistência sobre a prâtica e sobre os


e estavam ligados a uma nova e diferente avaliaçãodas artes mecânicase de seu
experimentos "mecânicos"pareceua muitos - quem sabepeÌo fato de ainda serem
lugar na cultura. O magnetismo (cujas origens provêm de experiências com a
atuantes hoje em dia antigos preconceitos quanto aos mecânicos- apenas como
bússola da navegação)e a eletricidade são exemplos típicos dessasnovas ciências
um deplorável desvio do reto caminho da ciência. Os erros dos quais faìava e a
baconianas.Somente se, conforme fazKoyré e como fazia Ludovico Geymonat e
muitos outros, se considerar a história da ciência como processo unitário, aPenas aos quais queria se prestasseatençãoestavam todos presentesno interior do
"reto caminho" da ciência,entendida como teoria, amparadapor um matematismo
quando se considera completamente secundárioo surgimento de novas ciências
pode se considerar o baconismo como uma esPéciede grande fraude inexplicáveÌ à PÌatão.
(op. cit. pp. 5r-5s) na quaÌ acreditaram inteiras gerações de cientistas euroPeus. Thomas Kuhn escreveuque a aplicaçãoda imagem que Koyré tem da ciência
A emergência de novos setores ou campos de pesquisa não está, de fato, ligada à à inteira história da ciência do Seicentos (e aí estariam incluídas as "ciências
presumida novidade do chamado à experiência ou ao "método" teorizado no baconianas")produziria resuìtadosdesastrosos.Trata-se de umjuízo severo que
-
segundo livro do Norwm Organum"- conforme se achava na época Positivista me parece, entretanto, deva ser inteiramente compartilhado. E perfeitamente
entre
mas, ao contato que se estabeleceu os "doutos" que se ocupavam de química, verdade aquilo que Kuhn acrescentaao seujuízo: o GaÌileu de quem faÌa Koyré é
eletricidade, magnetismo e as técnicas,os oÍïcios,os instrumentos Precisamente como se nunca tivesse construído a luneta, desenhado um pêndulo com escaPe,
neste terreno nascla uma diferente noção de experimento e da função que aos pesado o ar, inventado o termobaroscópio: é como se nunca tivesse sido um dos
experimentos deve ser atribuída. fundadores da ÁccadzmiadeiLinceì(Th. Kuhn,'Alexandre Koyré and the History
e da medieval é of Science:On an Inteìlectual Revolution", em Enrounter,Jan. 1970, p. 69).
Quando se consideram os experimentos da ciência clássica
sempre diÍicil decidir quando se trata de experimentos reais ou "mentais". AÌguns lguaÌmente severo e igualmente para ser compartiìhado é, a este respeito
servem para demonstrar com outros meios uma conclusãojá conhecida;outros, em particular, o juizo de A Rupert Hall. ,Saa Revolução Científica é a Ciência
(como os de Ptolomeu sobrea refraçãoda Ìuz, retomados por Descartese Neu'ton) Matemática de Galiìeu e Descartes, e nada mais do que isso, entãoé verd,ade não
'AÌexandre
servem para fornecer respostas concretas aos problemas coìocados pela teoria haver lugar nela para Francis Bacon (A R. Hall, Koyré and the
(rP. titpp.48-49). Os experimentos de Bacon e dos baconianostêm característtcas Scientific Revolution" ern "Proceedings of International ConferenceAlexandre
diferentes: "Quando Gilbert, Hooke e Boyle realizavam experimentos, eles Koyré", em History andTechnologl,IV 1987, pP.4'86-87). Na "visão estranha e
raramente pretendiam demonstrar aquilo que já era conhecido ou determtnar distorcida" que Koyré teve da Revolução Científica não há lugar algum para
um detalhe necessáriopara a ampliaçãoda teoria existente. Desejavam antes ver Boyle, para a Royal Society,para o enorme crescimento do conhecimento factuaÌ
como a natuÍeza teria se comportado em condições ainda não observadas, e contingente da natureza que então ocorreu em inúmeros setores do
condiçõesque muitas vezesnem haüam existido anteriormente. . os experìmentos conhecimento (op. cit. p 4g2). Hall capta com hnura uma atitude que foi
'torcer rabo ao leão', forçar a natureza, mostrando-a em condiçõesque
devem o
característica da "fiìosofia" que está naraiz da atividade historiogr'áfica de Koyré:
jamais teriam sido conseguidassem a intervenção do homem. Aquele que colocava
a "verdadeira' história é semprehistóriada thzorìq a verdadeira história da ciência
grãos, um peixe, um gato e várias substânciasquímicas no vácuo artificiaÌ de
é a da Íïsica e da cosmoÌogia e passa exclusivamente ao longo da Ìinha Gaìileu-
uma bomba de ar mostra justamente esseaspectoda nova tradição (experimental)"
Descartes-Einstein. Só há uma história deveras "apaixonante". O resto Pertence
(oP.cit. pp. 50 5r)
ao mundo menoS noble - ao menos aparentemente - e menos fascinante dos
Para "histórias" como essas e por todos os inúmeros pïôblemas deÌas
cirrípodes dos quais se ocuPavaCharles Darwin (E. cit, pp. +92-9s)
derivados não há Ìugar na historiografia de Koyré, de Geymonat e de muitos
Entre as páginas deste meu livro sobre Bacon, que eu reescreveriaem sua Bacon, a ciência não é uma observação da natureza a partir do estado bruto. os
sentidos do homem são ampliados por meio de instrumentos. Os raios da óptica
totalidade, há algumas concìusivas: em particular as três ou quatro dedicadas à
relação Galileu-Bacon. Lembro-me como se fosse ontem da objeção de Eugenio de Newton, assim como as partículas da {ïsica contemporânea não são dados zz

Garin quanto ao fato de meu juízo finaì ser, substanciaìmente, demasiado negativo natura^ mas sâo dados de uma natureza solicitada por instrumentos. Diante da
natureza - conforme aÍìrmara o I-orde Chanceler numa de suasmetáforas barrocas
(foi este o termo que eÌe empregou) em relação a Bacon. Sei hoje que ele estava
- temos que aprender a "torcer o rabo ao leão". Desse ponto de vista a história
com a razão. Mas eu tinha lido demasiado Cassirer e tinha falado muito de GaÌileu
com Antonio BanÍì e não entendi direito o que ele queria dizer' Como podem dos instrumentos não é externa à ciência, mas uma sua parte integrante. V4na

fazer os alunos, quando têm a sorte de não lidar com mestres pequenos, mantive- ciência de nossa época, significa, quase exclusivamente interpretar stgnosgeradns
por instrumzntos. Fazer entrar os instrumentos na ciência, concebê-los quais
me firme em minha opinião e não lhe dei razão. Se fosse reescrever hoje minha
conclusão faria - aproximadamente - o resumo que acabo de fazer das idéias fontes de verdade (conforme mostram também as vicissitudes da luneta de

expostas por Kuhn, em seu ensaio de 19?5, quanto às tradições matemáticas e às Galileu) não foi empresa ÍáciÌ'
os filósofos da ciência, aos olhos de Hacking, menosprezaram durante
tradições experimentais no desenvolvimento das ciências ffsicas. Meu liwo sobre
Bacon parecera-lhe uma contribuição capaz de "modificar a inteligência histórica tanto tempo os experimentos que dizer alguma coisa a resPeito deles acaba sendo

das modalidades com as quais nasceram as novas ciências experimentais": no plano uma novidade. Dois modismos filosóficos contribuíram para distorcer alguns

das idéias haúamo-nos encontrado também muito tempo antes de um colóquio fatos já dados como descontados que dizem respeito à observação: a que Quine

demasiado rápido, nasjornadas galileanas de 1998, na Universidade de Pádua. chama de ascesesemântica (não se fale das coisas, mas do modo em que falamos
das coisas) e aquela que teoriza o domínio da teoria sobre o experimento. A
contemporânea filosofia da ciência tornou-se a tal ponto uma filosofia da teoria
XI
que a eistência mesma das observaçõese das experiências pré-teóricas foi negada.
"contemplação
Hacking pensa que é necessário abandonar o plano exclusivo da
As reflexões de Kuhn contribuíram para criar um clima cultural enquanto upeLácaln
da conexão teoria-mundo" ou daquela teoria do conÌucimento
diferente do que era tão acirradamente antibaconiano na década de 1970. Em - escreveu - a ciência
que obcecou a filosofia ocidental. A partir do século XVII
1983 Ian Hacking publicou um livro de filosofia intitulado Representingand
natural tem sido a aventura de conectar entre si representação e intervenção'
Interaening. Para se compreender o que á e o que faz a ciência é necessário "movimento de
Desse ponto de üsta ele considera desejável que tenha início um
soldar os dois termos: a ciência possui duas atividades fundamentais: a teoria e experirnental, uma
voìta a Bacon", gi.aças ao qual se dê maior atenção à ciência
os experimentos. As teorias procuram imaginar como o mundo é; os experimentos
vez que a experimentação "tem uma vida própria"'
serveln para controlar a validade das teorias, e a tecnoÌogia que disso deriva vai "a
Razão e realidade, para Hacking, devem ser distinguidas, porque reaÌidade
mudando o mundo. Nós representamose intervimos. RepresentamosPaÌa interür que
tem a ver com aquilo que fazemos no mundo, antes do que com aquilo
e intervimos à luz das representações. Desde a época da Revolução Científica foi
pensamos do mundo". Devemos considerar real"o quepodemos usar PÍIra interür
tomando corpo uma espécie de artefato coletiao que dá caminho livre a três
no mundo". A base segura para um realismo não controvertido pode ser
interesses humanos fundamentais: a especulação, o cálculo, o experimento. A "obsessão simplista peÌa
encontrada apenas na ciência experimental. Uma
colaboração entre cada um desses três âmbitos proporciona a cada um deles um
representação, o pensÍrmento e a teoria, às custas da intervenção, da ação, do
enriquecimento de outra forma impossível. Por isso, conforme o ensinamento de
experiÌnento" Ìevaram a filosofia ao "beco sem saída" do ideaÌismo. Apenas com XII
o avento da ciência moderna, "a realidade, entendida do ponto de vista da
intervenção começou a afinar-se com a realidade enquanto representação...a Num contexto que viu nascer coisas novas, tanto junto a fìlósofos
partir do século XVII a ciência natural tem sido a tentativa de conectar entre si quanto junto a historiadores, também a força, a persistência e o caráter
representaçãoe intervenção".Desta grande aventura, assim entendida,"a fiÌosofia áspero e passional da poìêmica antibaconiana começaram a se transformar
não soube dar conta" (I. Hacking Conhecere Erperìmrntar, trad'. it. Conosceree em um problema histórico Sobre o processo e a condenaçãode Francis Bacon
sperìnuntare,Roma-Bari, Laterza, 198?, pp. 22,754, 155, 179). foram escritas inúmeras páginas, nas quais o desdém e as invectivas tomaram
Mesmo Richard Rorty (em diferente contexto) pensa que tenha sido muitas vezes o Ìugar das análises. Mas também sobre a Personagem Francis
e x a g e r a d a m e n t e s u p e r e s t i m a d a ,n o s ú Ì t i m o s c e m a n o s , a q u e Ì a i m a g e m Bacon e sua filosofia foram despejadosinúmeros juízos negativos. Estes últimos
"aÌemã" da filosofia, que está "ansiosapor ligar Descartes a Kant". Vê em Francis não costumam ser raros na história da filosofia, mas é realmente raro que eìes
Bacon o prìncipal opositor da depÌorável tendência cartesiana que considera a assumam, como neste caso especíÍìco,a forma da invectiva, da condenação Fì'm
ciênciacomo "o lugar que nos coÌocapróximos de nosso ser autêntico". Se Francis 1996 uma gentil senhora inglesa de nome Nieves Mathews, que vive em Cortona,
Bacon - conclui - "tivesse sido tomado mais a sério, não estaríamos condenados publicou na Universidade de Yale um fascinanteliwo de quaseseiscentaspáginas,
ao cânone dos grandesfhsofos modernosque fazem d,a subjetiaìdadr o seu tema que é fruto de mais de dez anos de trabaÌho sendo o que de melhor se pode Ìer
essencial" (R. Rorty, "Habermas, Lyotard et la postmodernité", em Critique,n. sobre o assunto. o título já aÌude à tese que é defendida no livro: Francis Bacon:
4 4 2 , 1 9 8 4 ,p p . t 9 t - 9 6 ) . The Historl of a CharacterAssassìnation.No último capítulo, mas na realidade em
Creio possíveÌ afirmar que lÌos úÌtimos vinte anos cresceu grandemente, todo o livro, tenta-seresponder a uma pergunta: Por que aÌgumas acusaçõese
junto aos filósofos e aos epistemóìogos,a atençãopara com os aspectosprátìcos alguns juízos continuam sendo repetidos mesmo depois que foi demonstrada
e mar-ripuiadoresda ciência.Muitos filósofos e sociólogos da ciência puseram as sua inconsistência?
teorìasno interior de uma descriçãoou de uma fenomenologiado empreendimento podia lmaginar que, apesar de seu
Quando publicou seu livro, Mathew não
cientíÍìco muito mais ampla que no passado.Um contexto como esseque descrevi Ìongo esforço, a situação ter-se ia até mesmo agravado. Isso foi salientado por
sumariamenteagora torna compreensívelo surgimento concomitante,na segunda Pérez-Ramos em uma longa e bem articuÌada resenha ao livro provocatório de
metadeda décadade t 98o, de duas importantes monografias sobre Francis Bacon: Julian Martin, Francis Baco4 The State and the Reform of Natural Philosophl,,
a de Peter Urbach, Francis Bacon's Philosopfu of Sctence,La Salle - IÌlinois, 1987 Cambridge, University Press, 1992, no quaÌ se faz derivar a inteira Íilosofia de
e Antonio Pérez-Ramos, FrancìsBacon's ldea of Scisrceand thz Maker's Knowledge Bacon de sua "política" e afirma-se repetidamente e em contraste com uma
Traditio4 Oxford, Claredon Press, 1988. A primeira é uma lírnpida descrição do montanha de textos, que Bacon "considerou-se semPre um homem de estado
método teorizado no Nouum Organum como sendo "um método hipotético- ingìês, mais do que um Íilósofo, e acreditou sempre que sua Íìlosofia fosse uma
indutivo". Tem o mérito de mostrar a totaÌ inconsistência das interpretações de contribuição ao avanço do estado ingÌês." conforme escreveu seu resenhista,
Popper e dos popperianos,e o demérito de aproximar demasiado a metodoÌogia Martin aplica uma forma de reducionismo político que não reconhece nenhum
de Bacon à de Popper. A segunda é a meihor monograÍìa que existe hoje sobre espaçoautônomo às idéias.A abordagem de Martin não é nem nova nem frutífera'
Bacon. O tom forense de seus escritos é conhecido aos historiadores a partir da obra de
Liebig e a semelhançade seu método com os procedirnentosretóricosda reunião
de um conjunto de topoí,,tornou_seum lugarromum
desde a época em que saiu
o Ìivro de paolo Rossi, em tg57- (A. pérez_Ramos, ,A etlcaz - ocupa-se essenciaÌmentecom o que a ciência é e pode ser, e com
Lawyer ut lu.g", Variation o que a
on Old Baconian Themes,,, em physis, 1994, ciência não deve ser. Esse discurso torna-se também um discurso sobre
pp. S4t_55). a ci'ilização
Depois da difusão, no mundo urglo-.uxão, e a cultura da Europa, suasorigens e as esperançasque seuscontemporâneos
da tese sustentada por Michel possanr
Foucault em hgwr epunìr (trad. it. sonngriare sensatamenteaÌimentar. o argumento centraÌ de seu discurso diz respeito
epuntre, r975) da coincidência verdade_ à função
poder na criação dos sistemas opressivos, da ciência na vida dos indir'íduos e da sociedade,aos valores e aos objetivos que
a historiograÍìa/imundície que tem por
objeto o Lorde chanceler conheceu nas últimas devem caracterizar o conhecimento científico.
décadasum novo florecimento. Muitos
de seus produtos fazem parecer o livro Quando Bacon pensou naquilo que realmente separava seu tempo das
de carolyn Merchant um exemplo da
historiografia acadêmicaaÌemã da segunda grandes tradições que nele atuavam, não fez referência alguma à filosofia
metade do sécuÌo XIX. Apesar disso, eu Isso
contmuo acreditandotr' por ele achar - simplesmente- que as filosofias dependiam daquiÌo que
acontece
Bacontenha.oi.,.iaiao'ïïT:ffi
ïï::i:iHï.:i#:,i:,ff $:,:trï: no mundo e que a convicção,difundida entre os filósofos, de criar mundos
Íbsse
t:rreno da epistemologia de uma teoria do tão-somenteuma iÌusão.Por isso afirmou que a tradição fiÌosóficahaviaconstruído
'dinástica" método. No interior de uma história
da filosofia foi possível ver em Bacon apenas
o construtor de uma grande inúmeros mundos de paÌco, 'parecidos com o teatro dos poetas, onde
as estórias
máquina lógica destinada a permanecer inutilizada. contadas têm como única prerrogativa a de corresponderem aos desejos
[Jma vez identiÍìcada a inteira de cada
obra de Bacon como sendo tão somente um". Disse que as grandes viagens oceânicas,a bússora,a póÌvora, a imprensa
o segundo rivro (que Bacon deixou havianr
deÌiberadamenteinacah^ado) do Nozam Orgorr)a empresa apresentava_se provocado na história humana mudanças maiores do que as exercidas por
como quaÌquer
não excessivamente diÍïciÌ. conforme
foi evidenciado por muitos dos estudos impériq por quaÌquer ÍìÌosofia,por quaÌquer estrela. por isso não fazia muito
sentido.
sobre Bacon que surgiram na segunda
metade do sécuÌoXX, o grande programa segundo ele, atingir as fiÌosofias tradicionais "em sua honra'ou competir com
de reforma no quar trahalfi.v Francis elas
Bacon partia de uma ampla consideração piìra arrÍìncar-lhes "a palma do engenho". No mundo antigo, cheio de Íábulas,
de caráter histórico e coÌocava-seconscientemente sem
contra quaÌquer reforma que um passadohistórico, fechadono breve espaçodas cidades,aquelasfiìosofias
nascesseapenasdos sistemas ou das seitas eram
filosóÍicas. verdadeiras.Algo aconteceu,não nas filosofias, mas na história e no mundo
puando na história emergem das
coisas novas (e a ciência moderna invenções e das maneiras de viver, que as tornou não mais utilizáveis.
foi uma
delas) se verificam muitas vezes mrsturas
extraordinárias. Naqueres contextos Perguntei-me várias vezes o porquê do encarniçamento- pois
Íàla-se mais freqüentemente do futuro do de
que do passado..tu" -Ë ta"."*" encarnÌçamento se trata - que muitos filósofos profissionais manifestaranr
uq,to para
que.lá foi feito; interessa o que se ytdefazer',"."."rr"u
uma vez Francis Bacon. EÌe com Francis Bacon. suas obras, suasteses,sua fama, sua personalidade,seu
compÍrrou várias vezes a sua filosofia a estilo
uma viagem aventurosa rumo a urn (rceano sua vida: tudo isso os irritou sobremaneira,ora um, ora outro penso
inexpÌorado e achou que sua empresa também
era semelhante à de c,olombo. pensou nos autores que, depois da décadade r95o, foram meus companheirosde
em si estrada
mesmo como em um arauto, um anunciadol
um mensageiro. A Bacon, que era um e escreveraln sobre Bacon ensaiose Ìivros importantes - entre eles,Marie
rontemporâneo de GaÌiÌeu, não pode ser Hesse,
atribuída nenhuÃa dus g.andes descobertas
Lisa Jardine, Antonio Pérez-Ramos,peter urbach, Brian Vickers (que de'eria
cientÍficas que caracterizaraÌn a primeira se
modernidade. Ele deu, entretantq uma
r:ontribuição decisiva pzÌra o nascrmento decidir a reunir em um Ìivro todas suas penetrantes e imprescinrìíveis
e a aÍìrmação do que chamamos ciência
moderna. Foi o construtor _ sem dúvida contribuições baconianas)- que se colocaram essamesma pergunta. Não sei dar
o maior _ de uma rmagem moderna
rrìência;seu discurso - ampro, da uma resposta precisa. Estou porém cada vez mais convencido de que o que
articurado, cheio de força úterectuaÌ os
e literanamente filósofos maìs amam é a convicção de que a filosofia (às vezes a pessoal,deres
mesmos) é o motor primeiro das grandes mudanças ou o desvelamento do
significado escondido e profundo da história O que mais os fascina é o sonho de
um grande relato unír'oco.Só que o deles,à diferença de Bacon, não está fundado
apenas em incertezas e esperanças,não é parecido com uma viagem arriscada
nas águas ardiìosas do oceano,mas é, ao contrário, a enunciaçãode um destino
j
fatal. Não será dado subtrair-se a eìe. Procede-se à homogeneização e à anulação
das diferenças,à indicação de abismos,baseando-seem alternativas sobremaneira
vagas e indeterminadas. Para qualquer possíveì problema já há uma resPosta
pronta que é também, para quem tenha um mínimo de prática do ofício,
completamente previsível. A resposta consiste em se afirmar que as diferenças
não existem e que apenas não-ÍìÌósofos ingênuos e desprovidos podiam ou podem
L'ìnterpretazione baconiana dzlle faaole antichz (A interpretação baconiana das
pensar que, ao contrário, sim, elas existem. Este tipo de filosoÍìa não é de recente
fabulas antigas). Publicações da Rìoista critica di storia dzilnfzlnsofa, Roma-Miìão,
invenção. Já era bem conhecida também do Lorde Chanceler, que a definiu peÌo
Bocca, I953.
menos duas vezes. A primeira vez escreveu: a tradição fiìosófica construiu
inúmeros mundos teatrais onde as histórias têm como única prerrogativa a de "Le favole antiche nel pensiero di Francesco Bacone" (As fábulas antigas no
corresponderem aos desejosde cada um. A segunda vez escreveu:eles têm o ar pensamento de Francis Bacon), em Riuista critìca dì storia dzilnfilosofia" IX, 1954,,
de cozinheiros inalcançáveise dão-te para comer sempre o mesmo prato, que é - pp.156-93.
invariavelmente - carne de porco doméstico
E Bacon, La Nuoua Atlantidz ed altrì scrixì (A nova Atlântida e outros escritos),
Quem sabe tenha sido justamente a negação destemida do caráter decìsìtto org. PaoÌo Rossi, Milão, Cooperativa del Libro Popolare, 1954,.
da Íilosofia que uma parte da tradição filosóÍìcaposterior nunca perdoou a Francis
"Per una bibÌiografia degli scritti su Francesco Bacone" (Para uma bibliografia
Bacon.
Agradeço ao Dr. Roberto Bondì da Universidade da Calábria pela precrosa dos escritos sobre Francis Bacon) ín Riaista critica di stoia dellafilosofia,Xll,

obra de revisão do inteiro volume. 1957,pp. 7 5-89.

FrancescoBatont dalla ruryia all.a scienza (Francis Bacon' da magia à ciência),


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Città di Castelìo,dezembrod,e2oo\ Routledge and Kegan Paul, tgos; Chicago, University of Chicago Press, 1968;
japonesa: Tokyo, The Simul Press, l97o; espanhola:Madri, Alianza Editorial,
1990.

"Sul carattere non utilitaristico della filosofia di Francesco Bacone" (Sobre o


caráter não utilitarista da fllosofia de Francis Bacon), em Riztìsta critica di stoia
'Verità
dellafilosoJia, XII, 195?, pp.23-42 (depois, com o tÍtulo e utilità della
scienza in Francesco Bacone" (Verdade e utilidade da ciência em Francis Bacon, astronomiche in Bacon e GaliÌei" (Ventos, marés, hipóteses astronômicas em
em Iflosof e Iz mncchine l4{n-I7oo (Os fiÌósofos e as máquinas: l4oo-17oo) Bacon e Galileu), em La scitnza e kflnsofia dzi madzrnt aspetti della npoluzionc
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critica di storia dzllafilnsof+X\ 1960, pp. 29-63, depois refundido em Clauis baconiand' em R:htistaffitica ü starin dzlnflosofa
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promosso daÌ <<CentroStudi sul pensiero scientifico F. Cesf> da Università di "Magic, scìence,and the equaÌity of human wits", em Bilì Fulford, Kathertne
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"Dedalo e il labirinto" (Dédalo e o labirinto), em Annuario Filosofico t998.


Secondanauigazione: ln tecnica.la vita, ì dilemmì dell'azione, Milao, Mondadori,
1998, pp. 42-73.
t. Desde a primeira publicação deste livro[t96?], a situação dos estudos
dedicados à filosoÍìa do Lorde Chanceler não sofreu mudanças decisivas. O
interesse dos especialistas parece ter-se dirigido para o pensamento político de
Bacon, para a ética e as doutrinas sobre o homem. Deixando de lado o Ìivro de J.
C. Crowther (Frarc* Banr a First Statznunt of Scìence,I-ondres, 1960) que não
passa de uma tentativa fracassadade modernizar as idéias de Bacon, após 195?
só foram publicadas três obras relevantes: a de E. De Mas (FrancescoBacone da
lerulnmìo: laf.hsofia dzll'uomo,Turim, 1964) que examina as doutrinas referentes
à teologia, à moral ao direito e à sociedade; o de H.B.White (Peaceamnngst the
Willozas,tlu Political Philnsophy oJ Francis Bacon" Haia, 1968) que é uma arráÌise
aguda e minuciosa dos temas da religião civil de origem maquiaveliana("),
escondida entre as enigmáticas páginas da New Atlantis. Não faltaram,
obviamente, nesses dezesseisanos, contribuições especíhcas,muitas vezes
importantes. Entre elas assinalamos o novo livro de B. Farrington sobre a
primeira fase do pensamento de Bacon (Thz Phìlosophy of Bacor An Essay on ús
Deaelnpmentfrom t6os to 1609, Liverpool, 1964,), a contribuição de B. Vickers
sobre Francis Bacon and thz Rn^aissarceProse (Cambridge, 1968), os estudos de P.
Kocher sobre a ciência da jurisprudêncía (JHI, 1957), os de R. McRae sobre a
enciclopédia (Thz Problzm of tfu Unity of thz Scimcu: Bacon to Kant, Toronto,
1961), os de V de Magalhães-Vilhena sobre Bacon e a antiguidade (Reaue
Phìlnsophìquedz la Frante et dz I'Etrangr,l960-69), os de J. Nadel sobre a história
como psicologia (Hìstory and Thzor2, 1966), os de R. Hooykaas sobre a tradição Justamente Frances Yates, em 1968, por ocasião da edição inglesa deste
baconiana nas ciências da natureza (alg. Nedzrl. Tijdschr. wijsb. psycol.,l960-6 r ), livro, reparava que naquela década haviam ocorrido tamanhas "mudanças" na
os de R. E. Larsen sobre a herança aristotélica (JHI, tg6z). história das idéias, que faziam parecer muitos dos temas tratados em meu trabalho
Porém, tão logo se passe do terreno sempre ambíguo e pouco significativo menos "revolucionários" e "surpreendentes" do que teriam parecido em 195?
da bibliogrúa sobre o autor, ao terreno relativo ao ambiente da cultura, à situação (New Tork Reaìeutof Books,29 de fevereiro). O juízo de Yates era certamente
histórica, à história das idéias e das ciências, é fâcíl dar-se conta de que, nesse muito benévoìo,mas não resta dúvida que, desde então, a situação foi piorando.
teneno mais significativo, se verificaram mudanças substanciais. A rnaior parte Cada uma das obras que citei contém, com efeito, páginas dedicadasa Bacon ou,
deste estudo visa determinar as relações entre o pensamento de Bacon e a polêmica de uma maneira geral, a autores, idéias e problemas dos quais me ocupei no
sobre as artes mecânicas, a tradição hermética e mágico-alquímica, os textos decorrer deste livro. kvando em conta os resultados que foram alcançadose os
renascimentais sobre os "antigos contos maravilhosos", as discussõessobre o
problemas que foram levantados por essaconsiderável quantidade de pesquisas,
ramismo(b),sobre a retórica, sobre as artes da memória.
euando meu livro surgiu meu trabalho teria que, em muitas partes, ser submetido a um refazimento.
ainda não havia sido pubÌicada a série de obras que renovou consideravelmente
É o que evitei fazer: não apenas pelo fato de estar ciente da impossibilidade
esses cuìmposde investigação. A saber, para a história d-aciência: o livro de M.
e da vacuidade dessetipo de empreendimento, mas também porque, nessesúltimos
Boas scirntfrc Renaissana(r-ondres, r 962), o de A.R. ]Hall From Garilco to Neuton
anos, nada mais fi2, basicamente,do que discutir com maior ampÌidão aqueles
(Londres, 1969), o segundo volume da History of Ctumistry de J. R. partington
mesmos problemas com os quais havia decidido medir-me por volta de t95o.
(Londres, 196t),oestudodeA.G.Debus ThzEnglishparacekìans(r-ondres,1965),
Meus sucessivosestudossobre o ìullismo(')eas artes da memória, sobre as relações
os trabalhos de w Pagel sobre Paracelsoe sobre Harvey (Basel, tsSs e 1965),as
entre a filosofia e as artes mecânicas,o interesse pelo tema da classiÍìcaçãoe das
páginas de P.M. Rattansi sobre Thz Social Intcrpretation of Sciencein thc Searnteenth
línguas universais, por Galileu, por Vico, pela revolução científica encontram
centurl (cambridge, r97e).Para a tradição mágico-aÌquímica: o estudo de D. p.
neste livro seu ponto de partida e constituem outras tantas tentativas de
walker Spiritunl andDemanic Magtcfrorn Füìno to camfanella(Londres, 1958), o
aprofundamento e de alargamento do discurso. Tenho também a dizer que, em
fundamental trabalho de Frances Yates sobre Giordano Bruno e a tradição Herm,ética
(Londres, 1964,trad. it. Bari, I969). função desse trabaÌho e dos estudos que sucessivamente dediquei ao Lorde
Quanto à retórica e ao ramismo: os trabalhos
de W Ong sobre Ramus (Cambridge ChanceÌer,algumas das minhas conclusõesreferentes ao significado histórico da
[Mass.], 1958), de N. W Gilbert sobre o
conceito de método na Renascença(Nova york, tsoo), a vasta pesquisa de c. filosoÍìa de Bacon seriam, em parte, modificadas.
Vasoli sobre a dialética e a retórica do Humanismo (Milao, 1968), o rivro de w
s. HowelÌ sobre a lógica e a retórica na Inglaterra, entre I 5oo e I 7@ (princeton, 2. No que diz respeito à "lógica" ou ao "método" sentir-me-ia hoje mars
1956),ao qual tive acessoquando estavacorrigindo as provas deste livro. Ìevado a servir-me com maior Ìargueza dos resultados aos quais - com relação a
euanto
às artes da memória: o ensaio de Yates Á Arte de Memória (Londres, 1962; trad,. estas questões - havia chegadc T. Kotarbínski, no ensaio "The Development of
it- L'Arte dclhMemória,Turim, 197e).paranão falar, Íìnalmente, dos estudos de the Main Probìem in the Methodology of Francis Bacon" (Studia Philnsophíca.
c. Hill sobre a s origens inteÌectuais da revolução inglesa (oxford, 1965), de E. Lvóv, \935) e a sublinhar com mais força a ligação entre a formulação do método
s. westtall sobre a ciência e a religião na Inglaterra do sécuìo XVII (New Haven, e os interesses químico-alquímicos de Bacon, ou, se preferirem, a ligação que
1970), de M. Purver sobre as origens da RoyaÌ Society (I_ondres,196?) e de E existe entre a teoria da indução e a assim chamadadoutrina das formas. Conforme
Raab sobre a fortuna inglesa de Maquiavel (Londres, t96a). bem notou Kotarbínski, Bacon pretende resolver um problema específico,o da
atribuição de uma determinada propriedade a um corpo qualquer. Pretende dar que Bacon foi enfrentando, em sua teorização do método da inbrpretntio naturaz,
lugar a uma arte capaz de conferir a um dado corpo uma propriedade definida uma série de problemas de grande relevância. Bacon - fez notar Kotarbínski -
(ou uma série de propriedades). O objetivo do método é a busca dalformn de uma descreveu aspectos essenciais dos procedimentos indutivos: comparações de
dada natureza- Diante de uma certa propriedade observável, ou natureza dos fatos; eliminação de hipóteses não fundamentadas nos fatos; eliminação de
corpos, trata-se de determinar aquela estrutura interna dos ditos corpos que a hipóteses que, embora fundadas em fatos, chocam-se com fatos contraditórios,
constitui de modo especíÍìco.No que se refere à concomitância de forma e natureza, e assim por diante.
a indução eliminatória tende - conforme é sabido - a procurar teses "convertíveis". É aincl - principalmente diante das páginas escritas na década de l97o
No exato momento em que se aÍìrma que forma e natureza estão associadas de nas quais são repetidos os mais gastos e batidos lugares comuns da historiografia
modo constante e recíproco, Bacon declara ter adotado o termoformatão-somente da década de l93o - não sublinhar as conclusões às quais chegaram, a esserespeito,
por ele ter entrado em uso e por ser ele familiar (NO II q,4). ^ forma de que fala alguns dentre os mais importantes historiadores da ciência. Conforme viu com
Bacon não é a forma aristotélica: não é aquele "argd' aque tende o objeto em seu clareza Marie Boas Hall, a descoberta das formas é concebida por Bacon como o
desenvolúmento e que guia a sua constituição enquanto tal, e não outro objeto estudo das propriedades Íïsicas da matéria e tende a reduzir as propriedades dos
determinado. Porformade uma determinada natureza (ou qualidade observável corpos a resultados dos movimentos de partículas constitutivas dos próprios
'Nisto -
de um corpo) Bacon entende a estrutuíã ou o processo ocultos (não diretamente corpos. escreve Boas - Bacon foi um precursor: uma vez que a frlosofia
acessíveis aos sentidos) das partículas do corpo, o qual, graças àquela estrutura mecânica, a derivação das propriedades Íìsicas da mera estrutura e do moto da
ou processo, é dotado daquela (ou daquelas) propriedade. o verdadeiro conteúdo matéria - a partir da grandeza, forma e movimento das partículas invisíveis que
da forma baconiana" escreveu Kotarbínski, "é de certa maneira ÍIsico-químico; compõem os corpos visíveis - tinha de se tornar um dos princípios organizativos
trata-se, em última instância, de encontrar uma estrutura que nós chamaríamos da ciência do século XVII. E Bacon foi um dos primeiros a adotar e a proclamar
de molecular, que determina as características externas de um corpo dado a tese que um dos problemas fundamentais da ÍìlosoÍìa naturaL era o de encontrar
pertencente a certo gênero". Nesse mesmo terreno lingüístico move-se, não por 'propriedades
um método para explicar as ocultas' em termos racionais" (Thz
acaso,Robert BoyÌe: "a este agregado podem, se preferirem, chamar com o nome Scientfu Rmaissance,cít.,pp.259-60). Nos primeiros estágios de desenvolvimento
de estrutura ou textura.... o com qualquer outro nome que considerem mais da Íïsica moderna - observou Mary B. Hesse - estava presente a exigência de
expressivo; se, ao contráriq quiserem charnâ-loformada coisa que ele denomina, uma tradução das explicações teóricas em termos de modelos mecânicos. Isso
- conservando o termo comum - não irei discutir, conquanto
não se entenda implicava a identificação do calor, da luz, do som com uma série limitada de
com esta palavra aquela forma substanciaÌ escolástica que muitos homens propriedades mecânicas mais gerais. A contribuição de Bacon não deve ser vista
inteligentes declaram ser absolutamente inintelegível" o na pretensa infalibiìidade do método, mas nas hipóteses sugeridas pelas
euímiro cético (trad..
it. Il Chinico Scettirq Turim, tg6q, pp. 267-68). "analogias" exibidas nas tabulae:a explicação dos fenômenos "secundários" em
Sem dúvida, conforme tentei mostrar- neste liwo, Bacon introduzia em sua termos de modelos mecânicos ("Bacon's Philosophy of Science" em Á Citical
lógica do saber científico conceitos e modelos derivados da tradição da retórica Histnry of WesternPhilasophy,New York, 1964,,pp. 13r-r32).
renascimental. Mas nesse caso tamMm - como naqueìe da utilização da tradição 3. kvando em conta essasapreciaçÕes,deve ser atentamente reconsiderada,
da combinatória lulliana por parte de kibniz - o peso exercido pela tradiçao, a tal como foi feito apenas em parte, também a posição assumida por Bacon frente
referência a textos a nosso ver muito pouco "modernos-, não elimina o fato de a Copérnico, Galileu e Gilbert. Há quem continue, repetindo as velhas teses de
Liebig, a "repreender" Bacon por não ter compreendido os mais basilares astronômicos, apenasdepoìsda metade do sécuÌo.Nos ambientes filosóficos e
progressos da ciência de seu tempo. literários, a situaçãoé diferente, isso para não falar das universidades- mesmo
Quando se formuÌam acusaçõesdesse tipo,
demonstra-se possuir poucas idéias confusas sobre o desenvolvimento do saber as maiores - e dos paísesprotestantes, onde os três sistemas são estudados,
científico no século XVII e se esqueceque - adotando-se o critério simplista da um ao ìado do outro, até as úÌtimas décadasdo século XVII. Conforme Yates
"aceitação"ou da "recusa"de Copérnico, de Gilbert ou de Harvey para estabeÌecer of Bookq29 de fevereiro de
bem reparou ("Bacon's Magic", em NezaTork Reaìezu
o grau de adiantamento ou de atraso de um pensador - dever-se-ia então tecer 1968, p. 18), as incertezas de Bacon e sua recusa do copernicanismo ligam-se
elogios à extraordinária modernidade de Robert Recorde ou Thomas Digges estreitamente à sua polêmica contra as filosofias animistas da Renascença,que
que defendem Copérnico apeÌando para os mistérios da Cabala ou para o sigiÌo associavam a teoria heliocêntrica à tradição mágico-hermética. Não deve ser
de Hermes, ou então entusiasmar-sepelas capacidadescríticas de Robert Fludd esquecidoque em I 585, quando Bacon tinha vinte e quatro anos,Giordano Bruno
que aceita a descobertade Harvey como prova da correspondênciado movimento tinha-se tornado defensor encarniçado,na Inglaterra, da doutrina de Copérnico,
circular no macrocosmoe no microcosmo. apresentando-a sobre o fundo da magia astraÌ e dos cultos solares,associando a
Fa]ar em "atraso científìco" de Bacon ao referir-se às suasdúvidas e às suas nova astronomía, játao pÌena de tons e temas hermetizantes, à temática presente
incertezas quanto à teoria de copérnico, ao referir-se à sua "posição agnóstica" no De I/ita de Marsilio Ficino. Mesmo a "incompreensão" de Bacon para com
na controvérsia sobre os três sistemas do mundo (como faz, por exemplo, Gitbert nasce no terreno de uma tomada de posição contra as teses "mágicas" e
Ludovico Geymonat) não tem sentido Isso porque o agnosticismo que Bacon hermetizantes presentes em De Magrrcle.GiÌbert defende o movimento da Terra,
manifestou entre l6Ìo e t62g caracterizoua atitude de Marsenne, Gassendi, mas não está absoÌutamente disposto a seguir Copérnico na tese de uma rotação
Roberval e Pascal entre 16e5 e r650. A cronologia pode ainda oferecer aÌgum da Terra em voìta do SoÌ (seria este um outro caso de "atraso"?) e escrevepágrnas
elemento váÌido para os autores de apanhadosgerais: o Lorde chanceler, que se que visam sustentar, com referências a Hermes, Zoroastro, Orfeu, a doutrina da
entusiasmaraem 1612 peÌas descobertasastronômicasde Galileu, morre em animação universaÌ. Quando ao Gilbert dos manuais se substitui o Gilbert um
1626; a "conversão" de Marsenne ao copernicanismo data de Ì680-34; as pouco mais complicado dos textos e quando se dá uma oÌhada ao De mundo nostro
obseraationesde RobervaÌ ("pode dar-se que todos os três sistemas do mundo sublunariphilnsophianouq cujo único manuscrito foi encontrado entre os papéis
sejam falsos e que o sistema verdadeiro seja desconhecido") datam de r6s4; a de Bacon, então, também ojuízo do Lorde ChanceÌer("que baseadoem cuidadosas
Institutio astronomìcade Gassendi (em que é teorizada a equivaÌência dos três experiências construiu uma inteira filosofia da natureza arbitrária e fantástica")
sistemas do mundo) ê de 16+7.Naquele mesmo ano, Pascal,retomando a tese de poderá surgir na sua justa luz e na sua precisa função, como sendo um juízo
Mersenne e de Gassendi,escrevea Noël que os três sistemasse equivalem e que particularmente agudo.
faÌtam observaçõesconstantes capazesde explicar o movimento da terra.
Diante das teses preconcebidas,da persistência de ÍórmuÌas cômodas, 4. A ciência do sécuÌoXVII - é útil lembrar as coisasóbvias - foi ao mesmo
Ìnesmo os resuÌtados pacientemente alcançados e documentados parecem tempo galiÌeana e cartesiana e baconiana Na idade moderna foram-se formando
terem sido obtidos em vão. Dorothy stìmson e Thomas Kuhn estudaram (os
e constituindo ciênciascomo a anatomia e a embrioìogia, a botânica e a fisioÌogia,
trabalhos deles remontama rgrT e rgSi) os modos e os tempos da aceitação a química e a zcoÌogia, a geologia e a mineraìogia. Nestas ciências as relações
da doutrina copernicana ,a cultura e,ropéia. Ambos deixaram bem claro
com os métodos teorizados e aplicados na astronomia e na Íïsica são,em alguns
c o m o e s s a d o u t r i n a s ó t i v e s s es i d o a m p l a m e n t ea c e i t a ,n o s m e i o s
casos.inexistentes. e èril:outros vão se configurando de maneira variada com o
decorrer do tempo. Como sublinhou várias vezesA. R. HaÌì, nãofaz muito sentido afirmar este como sendo o mesmo moto que foi defrnido e suPosto por mim; em
colocar no mesmo plano, num único discurso geral, a astronomia dos séculos caso contrário, minhas demonstrações, construídas sobre a minha suposição,
XVI e XVII, que possui uma estrutura teórica aìtamente organizada, que faz uso [assim mesmo] nada perdiam de sua força e conclusividade; assim como nada
de técnicas sofisticadas e na qual se verifica uma "revolução" seguida e não prejudica as conclusões demonstradas por Arquimedes acerca da espiral: o não
precedida por um grande trabalho de aquisição de novo material factual, com a se encontrar móvel na natureza que daqueÌa maneira espiraladamente se mova"
química do mesmo perÍodo, que ainda não possui uma teoria coerente das (Opere,XYl'I, pp. 9o-91). TorriceÌli é ainda mais explícito: "Eu finjo ou suponho
mudanças e das reações,que não tem às suas costas uma tradição claramente que algum corpo se mova para cima ou para baixo segundo a conhecida proporção

deÍìnida e em cujo âmbito os conhecimentos dos técnicos e dos "empíricos" são - ao e horizontalmente, com movimento equável. Quando[Se] isso ocorrer, eu digo
que seguirá tudo aquilo que disse GaÌileu, e eu ainda. Se depois as bolas de chumbo,
menos até Boyle - enormemente mais amplos daqueles dos filósofos naturais.
de ferro, de pedra, não observarem aquela suposta direção, azar, nós diremos que
O progresso que se verificou nessas ciências surge, de qualquer maneira,
não faÌamos delas" (ibid.,III, pp. 4?9-8o).(d)
ligado não apenas à audácia das hipóteses e às "antecipações da experiência",
Bacon esteve muito longe dessas idéias e dessa linguagem. Existe uma
mas também a uma insistência de tipo baconiano na observação e nos
passagem na Redargutio philnsophiarua depois retomada em Notrum Organum'
experimentos, à convicção de que a imensa variedade e multiplicidade das formas
que parece escrita em contraposição explícita a esse tipo de afirmações: "uma
da natureza deva ser classificada, descrita e interpretada segundo modelos que
vez estabelecida a ciência, caso surgisse alguma controvérsia acerca de algum
excluem as qualidades ocultas e se atêm a modelos mecânicos. "Se a glória do
exempÌo ou demonstração que estivesse em contradição com os princÍpios deles,
Arquiteto deste mundo - havia escrito Kepler na Dissertatio cum Nuncìo Sidzreo-
não se punham a corrigir o princípio, mas o mantinham firme e acolhiam em seu
é maior do que aquela de quem o contempla - uma vez que aquele tira de si
sistema, valendo-se de aÌguma sutil e sapiente distinção, aqueles exemplos que
mesmo as razões de sua construção, enquanto este mal reconhece, e a muito
serviam a seu escopo e deixavam simplesmente cair os outros como exceções".
custo, as razões expressas da própria construção, não há dúvida de que aqueles
(S?.III. p. 582; NOI r25). As "antecipaçõesda naturezd', a coragem das hipóteses,
que, com seu engenho, concebem as causas das coisas antes que as coisas se
a violência contra os sentidos, a hipótese de um mundo estruturado segundo
mostrem aos sentidos,são mais semelhantesao Arquiteto do que todos os outros
uma perfeita geometria divina pareceram a Bacon um perigo mortal para a ciência:
que pensam nas causas após terem visto a coisa". As antecipações da experiência, 'As
antecipações da natureza são suficientemente sólidas quanto ao consenso' se
o vaÌor das construções a priori, a capacidade de assumir "sem ter visto a coisa" com efeito os homens endoidecessemjuntos, de modo conforme, poderiam
o ponto de üsta de um Deus geômetra parecem a KepÌer elementos constitutivos bastante bem se darem entre si... Há homens que amam certas ciências e
da nova astionomia e do saber científico. Galileu, por seu lado, confessará sua especulaçõesparticulares pelo fato de acharen que são seus autores e inventores..
admiração pela capacidade que haviam tido Aristarco e Copérnico, de antepor o Homens de taÌ gênero, caso se dirijam à filosofia ou a especulações de caráter
"discurso" às "sensatas experiências". A interpretação dos dados na base de teses geraÌ, as distorcem e as corrompem na base de suas precedentes fantasias" (Sp. I,
preestabelecidas - que põe, isto é, aquelas teses tamMm na base dos resultados pp. 16r,169).
da experiência que delas se distanciam e os interpreta como "circunstâncias O apelo de Bacon aos experimentos e à observação paciente, sua insistência
perturbadoras" - é um aspecto fundamentaÌ da metodologia de Galileu e dos quanto ao método como meio de ordenamento e de cÌassificação,seu querer aPor
galileanos: "acrescento,ainda, que se a experiência mostrasse que.tais acidentes "não asas, mas chumbo e pesos" ao intelecto humano, exerceram, eles tamMm,
ocorrem no moto dos graves, natr:rahnente descendentes,poderíamos, sem erro, 'As
uma função histórica de importância decisiva. hipóteses dos ÍIsicos - escreverá
condiÌìac na rnetadedo sécuÌoxvlII - são obra de pessoasque em geral obser'am conseguidos pelas ciências requer a renúncia preliminar de toda atitude de
pouco ou que recusam de vez se instruírem por rneio das obsen açõesde outrem utilização passiva e acrítica daqueÌes resultados e daqueles sucessos.À se'e.a
ouvi dizer que um dessesÍïsicos,satisfelto por ter Lrmprincípio que dava razão a imagem da ciência, construída peìo Lorde ChanceÌer,abriu-se caminho a cusro,
todos os fenômenos da química, ousou conìuÌ)icar suas idéias a um químico como eìemento de novidade, em um mundo em que ainda não ha'iam nascido
habilidoso. Este apontou-Ìhe uma única dificutdade: que os fatos eram diferentes nem a figura, nem a mentalidade, nem a função social do cientista moderno, nem
de como eìe os supunha Pois bem, respondera o fïsico, exponde-os para mim as categorias,os métodos,os experimentos da ciênciamoderna, nem as instituições
que eu vos expÌicarei- Esta resposta revela à perfeição o caráter de um homem n a s q u a i se d a s q u a i sv i v e a p e s q u i s a .
que acredita possuir a razão de todos os fenômenos,quaisquer eles possam ser".
Esquece-sedemasiado freqüentemente que "o belo romance da física 5. Este livro conserva, inclusive nesta edição, o subtítulo Da magìa à
cartesiana",conforme o chamou christian Huygens, continuou agindo na cuÌtura cíêncìa.Ho1e,justamente em dissenso parciaÌ com E A. Yates e P M Rattansi,
européia por mais de cem anos, que a oposição àquela Íìsica nasceunum terreno que tendem a ver em Bacon o apresentador,em uma linguagem mais atuaÌizada,
profundamente embebido de baconismo e que Boyle, os fundadores da Royal dos ideais e dos vaÌores da tradição hermética, eu sentir-me-ia Ìer.ado a ìnsistir
Society,Gassendi- no continente - e o próprio Neu'ton sentiram-seos seguidores mais sobre os elementos que se distanciam daqueÌatradição, presentesna filosofia
e os continuadores do método científico de Bacon de Bacon, e subÌinhar, com maior energia, a importância daquele nor.o retrato do
A distinção entre os assim chamados dois métodos da pesqursa "homem de ciência", presente em tantas de suaspáginas. Com o passar dos anos
científica (o matemático-dedutivo e o experimentaÌ-indutivo) foi tornou-se mais forte em mim a convicção de que iluminar a gênese- não apenas
considerada real nos séculos XVII e XVIII, sendo que o ..mito,, de Baco' complicada, mas muitas vezes muito "turva" - de algumas idéias "rnodernas" seja
não foi uma invenção dos historiadores do sécuìo XIX, mas sim uma realidacle uma coisa dtferenteda crença de poder anular ou resolver integraÌmente essas
operante para os cientistas ingleses do sécuÌo XVII e para os filósofos franceses idéias em sua gênese.
da idade darazão. Mesmo se depois,na realidade,as coisasnão se tenham passado Na historiografia da décadade l97o e na cultura contemporânea a ÍórmuÌa
de acordo com os esquemas dos manuars e certas passagens de GaÌileu e de de uma "Bacon's transformation of hermetic dream" está prestes a tomar o
Descartes façam pensar em Bacon e o maior "exemplo" que Bacon haja fornecido lugar da .1ágasta e igualmente esquemáticaimagem de um Bacon "pai" ou
de seu método (anaturezado caior) se apresenteexatamente como a justificativa "fundador" da ciência moderna. Diferentemente do que acontecia na década de
de uma hipótesepreÌiminarmente admitida ou de uma "antecipação"da natureza. l95o (quando comecei a trabalhar com Bacon) o ênfase dado a nomes como
como costu'a acontecer quase sempre, a análise de um processo real Orfeu, Hermes, Zoroastro, aos temas da prisca theologta nas obras filosóficas e
mostra a presençade eÌementos de continuidade e de descontinuidade,o mudar científicas dos autores do século XVII tornou-se quase uma moda AquiÌo que
de significado e de sentido de termos e idéias que têm uma longa histórra, o em outros tempos foi urna polêmica útil contra a imagem completamente lumtnosa
custosoinserir-sedas idéiasnovas em um contexto tradicional.puem continua de uma história da filosofia da ciência que procedede triunfo em triunfo, segundo
conpiìando os boletins escoÌaresdos Íìlósofosdo passadc,elaborandoseusméritos
uma linha de progresso garantida, arrisca-se a ceder lugar a uma historiografia
e deméritos, servindo-seda pouco fecunda categoria da "transição" ou da imagenr
tão-soÌnente"retroativa", que visa apenassublinhar os elementos de continuidade,
de origem ginasiana do fiìósofo "a cavalo" entre duas épocas,parece não
se dar o peso exercido pelas idéias tradicionais. Diante de Bacon, assim como diante de
conta que a compreensãodos resurtados de uma firosofia ou dds;'sü"".ror"
Copérnico, Descartès, Newton, limitamo-nos a mostrar a proÍündidade de suas
ligações com o passado, sua "filiação" comum a precedentes revoluções e viradas arte, retomando a imagem do homem servidor-senhor da natureza, reutiìizando
culturaig acabando por deixar de ladq como irrelevantes, aquelas idéias, teorias modelos presentes na tradição da retórica quinhentista, Bacon mudava o sentido
e doutrinas, pela quais essesautores não parecem certamente como tendo inserção dos temas presentes na cultura humanística e nos textos do hermetismo. inseria-
facil no longuíssimo elenco de escritores de coisas herméticas ou de cultores da og mudando-lhes a função, num contexto em que eram energicamente rechaçadas
retórica, que publicaram seus escritos entre a metade do século XVI e o Íìnal do a imagem do saber e a definição do "sábio" que serviam de fundo àquele
século XVII. Em lugar de enfrentar e de anaÌisar aquelas doutrinas e teorias empreendimento de transformação do mundo e àquela deÍìnição do homem. A
graças às quais eles permaneceram na história dos homens como portadores de tese da nítida separação entre ciência e teologia permanece um dos temas centrais
algo de específico, de novo, de historicamente fecundo, em lugar de determinar a da filosofia de Bacon. A recusa da "iníqua e ÍàÌsa conjunção" entre indagação
custosa emcrgênciadaqueÌas idéias novas a partir de um contexto tradicional, sobre a natureza e discurso religioso encontra-se na origem de sua antipatia
Ìargos setores da historiografia amam insistir exclusivamente naquilo que - nos para com o platonismo. Este afigura-se-lhe como uma ÍilosoÍìa "detestável" por
escritos dessesautores - coincide com o passadoou ao passado se deixa reconduzir reconduzir os fenômenos naturais a princípios espirituais de acordo com uma
sem resíduos. visão hierárquica e "ascendente" do mundo. Daí provém igualmente sua aversão
'persistência",
O abuso da categoria da a tendência para uma historiografia profundapara com aqueles "modernos" que tentam fundar um sistema de filosofia
retroativa, a afirmação de uma ideal unidade e continuidade da cultura européia natural sobre o liwo da Gênese ou sobre outras partes da Escritura. A Nat
desde o Secreturn de Petrarca atê o Contrato Social de Rousseau, o gosto atlantis - conforme foi mostrado por white - não é com certeza um texto em
"warburguiano" pelo mundo dos símbolos e da magia: tudo isso pode levar a que sejam abandonados os temas do exempÌarismo e do simbolismo, mas não
resultados tão parciais e desviantes quanto aqueles aos quais conduziam o uso e deve por isso ser esquecido que uma inteira concepçãodo mundo era recusada
o abuso das categorias idealistas da "superação" e da "antecipação". no momento em que, ao Ìado da doutrina do homem-microcosmo, Bacon rectraçava
Bacon, que gostava não pouco das classificações e das tipologias, viu na a imagem do mundo como "imagem vivente" de Deus.
magia e no hermetismo de seu tempo uma típica forma de saberfantástico, nas Deus "é semelhante apenas a si mesmo, para além qualquer metáfora',; do
disputas dos escolásticos um tipo de saber contencioso,e no humanismo estudo das coisas sensíveis não se pode esperar nenhum tipo de luz sobre a
ciceroniano um tipo de saberdzlicado.O fato de ele ter vindo a ser condicionado natureza e sobre a vontade divinas. Quanto aos "divinos mistérios", nada tem a
diferentemente por essas três formas ou correntes de cuìtura não tolhe que ele dizer. Falar da reìigião de Bacon significa também falar de sua fisica: se o estuco
tentasse construir uma nova imagem da ciência (que é uma imagem "moderna") do rrrundo nada revela de Deus, se a Ìeitura do livro da Natureza deve ser mantida
justamente em áspera e contínua poìêmica contra os seguidores ingleses e rigidamente separada da leitura das Escrituras, então a descoberta e a análise
continentais da magia, da escolástica, da tradição humanística. Esta última, em das formas, dos processos latentes, dos esquematlsmos e meta-€squematismos
particular, pareceu-lhe expressão característica de uma frJosofiafamta et mallis não revela nenhum poder divinq nerrhuma força criativa operando no mundo.
que pode servir aos fins civis e enfeitar as conversações, que pode elaborar No momento em que convidava os homens a folhear com humildade o livro das
conselhos e gerÍrr persuasões, mas que se limita, em qualquer caso, às floiture criaturas, a renunciar a construir os naüos da filosofia a partir de um escaÌmo ou
estiìísticas e às soluções verbais e que é extremamente danosa pÍrra a "severa de uma concha, a dar vida a uma grande história da natureza e das artes, Bacon
pesquisa da verdade". Remontando aos temas mágico-herméticos da conjunção - já sexagenário - lembrava peÌa primeira e
úÌtima vez, Giordano Bruno e o
da teoria com as obras, da não-separação entre os produtos da natureza e da julga'ra, junto com Patrizi, Telesio, Pietro severino, GiÌbert e campanella, como
um daqueles Íilósofos que fabricam arbitrariamente os enredos de seus mundos,
como se se tratasse de Íãbulas e sobem ao palco, um após o outro' O homem, para
Bacon, não esLáno centro de corresPondências secretas; o universo não é o contexto
de símbolos que correspondem a arquétipos divinos; o emPreendimento científico
não se parece de maneira alguma com uma incomunicável experiência mística.

6. Em vista da presente edição, o texto foi submetido a uma cuidadosa


revisão: eliminei vráriasrepetições e termos excessivos; Procdi a uma simpliÍicação
do aparato das notas mediante a eliminação de muitas citações não funcionais e
o emprego de uma série muito mais ampla de abreviações. Apenas em poucos
-
casos - para melhor integração da bibtiografia contida neste preÍácio forneci a Among the asserters of free reason's claim
Our nation's not the Ìeast in worth or fame
indicação de estudos sobre questões específicas surgidas depois de 1957' The worÌd to Bacon does not only owe
Agradeço a todos aqueles que, por meio de artigos e de resenhas Its present knowledge, but its future t@

manifestaram consensos e dissensos e, de qualquer modo, analisaram John Dryden


variadamente e discutiram este livro. Entre eles, em particular, G. Boas, B'
On y voit que Locke est sucesseurde Bacon, ce
Farrington, E. Garin, A. R. Hall, C. A. Viano, E A. Yates. Entre as muitas pessoas qut est incontestable; on y voit que Locke, à son
com as quais tive sucessivamente ocasião de falar de Bacon e deste trabalho, tour, engendra Helr'étius; et que tous ces
ennemis du genre humain réunis' descendent
agradeço especialmente: G. Buchdaì. L. B. Cohen, R. S. Cohen, A' C. Crombie, de Bacon
M. B. Hesse, M. C. Jacob, L. Jardine, B. Nelson, W Shea, B. Teague, B. Vickers'
J de Maistre
Terminava a premissa à edição de 1957 com palavras de agradecimento
para A. Banfi, B. Farrington, E. Garin. Sinto que Banfi já não possa Ìer estas
linhas e desejo renovar agora, à distância de quase vinte anos, a saudosaexpressão Francis Bacon viveu entre l56l e 1626, num ambiente político e cultural
anos
daquela já antiga mas desde então ainda não consumada gratidão. rico de contrastes, numa época crucial para a história inglesa. Naqueles
os
foram estabelecidas as bases da Potência marítima da Inglaterra; ao aPoiar
protestantes da França atirou-se no jogo da política
P.R rebeldes holandeses e os
as bases
Florença,Universidade,janeiro de 1974 internacionaÌ; o estabelecimento de Walter Raleigh na Virgínia lançou
da Espanha com
do futuro império colonial; a Inglaterra gretou a suPerPotência
uniram-
a derrota da Armada e com o saque de Cadi z;Escícia,Irlanda e Inglaterra
político; a luta do Parlamento contra os monopólios marcou
se num único todo
vez mais significativa das duas câmaras na
o início de uma intervenção cada
do país. A potência política e
legislação financqira e.Ínercantil, na vida religiosa
naqueles
comercial, o caráter e a grandezada Inglaterra moderna formaram-se
al'Ìos e qrÌenl quer que se aproxime da época de Elisabete e de Marlorve, de dessa natureza, mudança esta que afeta a economia, a vida social, a filosofia, a
Shakespearee de Bacon tem uma irnpressãode força e de vitaìidade exuberante, cuÌtura literária, a religião, a ciência, o costunìe, só se pode falar de maneira
e a sensação de que, naquela mistura ìuxuriante de idéias e forças novas e de muito genérica, nem é este o resultado que nossa pesquisa tem em vista. No
apeìosinsistentes à tradição,foram ditas,para a cultura e a vida européias,paÌavras eÌ1tanto,para compreender aquelamentalidade que se abriu caminho na primeira
decisivas. metade daquele sécuÌo que começacom o Programa de Bacon e se encerra com a
De muitas das idéias que foram expressadas naqueÌa cultura é possível grande construção de Newton, é necessárioter semPrePresente,no fundo, esse
buscar as origens e as fontes na cultura ingÌesa e européia das épocas movimento complexo.
precedentes Já está rnais do que assente,por exempìo, que as primeiras origens
As grandes reformas de Henrique VIII haviam trazido à tona, na vida
da nor.a problemática cuÌturaÌ que se afirmava vigorosamente no sécuÌo XVII
poÌítica inglesa, uma nova classe sociaÌ de proprietários de terras que se
devessem ser procuradas no empirismo da escola de Ockham, na identificação
havia afirmado, em detrimento do cÌero e daqueÌa aristocracia feudal que
ockhamista do conhecirnento com a cognitio sperìmzntalis,no nominaÌismo: em
se havia suicidado na guerra das duas rosas. Macaulay, em sua famosa biografia
todas aquelas doutrinas que contribuíam para colocar em crise, desde o interior,
de Bacon, pintou um quadro briÌhante da primeira geração desseshomcnsnouos,
o grande "compromisso" tomista e aquela tradução do cristianismo em termos
à qual pertencia o pai de Bacon' eÌes não provinham da aristocracia militar e do
aristotéÌicos sobre a quaÌ estava baseadaa cultura escolástica.[Jma nova ciência,
cÌero que - antes de Henrique VIII - havia dirigido a vida inglesa; eÌes eram os
fundada et puris naturalibuse uma nova religiosidade irão ter sua origem da idéia
primeiros estadistasprofissionais que a IngÌaterra produzia; crescidos no meio
okhamista da experiência Por outro Ìado, o renascimento das literaturas cÌássrcas,
das sutis controvérsias teológicasestavam,enquanto Protestantes,na vanguarda
a revoÌta anti-ecÌesiásticae o surgir de uma nova fiiosofia da natureza contribuirão,
da vida inteÌectuaÌ, mas longe de qualquer fornra de zelo ou fanatismo religioso.
ern seguida, para acentuar aquele distanciamento que a cultura inglesa terá em
Reformaram a igreja inglesa não com ímpeto de teólogos, mas coÌn tranqüiÌa
reìação à teologia sistemática e à discipÌina peripatética. A crítica dos humanistas
ingleses às forrnas "barbáricas" da erudição teoÌógica e seu interesse por uma segurança de estadistas; apoiaram-se na opinião púbÌica, decididamente anti-
'práticos" catóÌica e apostaram suas fortunas no triunfo do Protestantismo na Europa; sua
renovaçãoreligiosa que acentuasseos valores da mensagemevangéÌica,
em oposição às pretensões definitórias da teologia, implicavam uma radical política, habiÌidosa e prudente, estabeleceuas basesdo poder inglês. Sua cuìtura
nrudança de atitude para com o corPusdas doutrinas metaÍÌsicas.A vontade de tinha um tom marcadamente Ìiberal; estavam longe daqueÌa grandiosidade,
unra volta à pureza dos textos evangélicosjuntava-se - em homens como John daquela ostensiva opulência e afetação,daqueìa audácia aventurosa que irão
Colet e Thomas More - a um espírito erasmiano de revolta contra as filosofias caracterizar a geração sucessivade cortesãos e de políticos. Guiada Por essa
das escolas.As pesquisas desen'"olvidas sobre esses argumentos esciareceram nor.a classe social de hornens da lei e da nobreza rural, a Inglaterra viu crescer
numerosos probÌemas e evidenciaram linhas nítidas de continuidade mesmo lá extraordinariamente sua prosperidade, sob o reinado de EÌisabete: operários,
onde havia se insistido demasia-doapressadamentesobre o caráter de "novidade" industriais e comerciantes,vindos principaÌmente da França e dos PaísesBarxos
e de "originalidade" de uma cultura que, como a do século XVII inglês, está transtornados pelas guerras religiosas, refugiaram-se na Inglaterra, carreando
repleta de ecos e de apelos à tradição medieval. para a nova pátria capitais,capacidadestécnicas e espírito de iniciativa.
Resta, contudo, o fato diÍicil de ser negado, que o inteÌectuaÌ ingìês do Nasciam novas indústrias e a IngÌaterra ia se transformando de nação
início do século XVII era mais do que a metade medieval e por volta de l660 era agrícola e pastoril em um estado industrial e mercantil. Durante os cem
ntais que a metade "moderno" ( cf. Bush, p. t). De uma mudança de perspectivas anos que se seguiram ao fechamento dos nrosteiros,decretado por Thomas
Y-'

que cresceÌnsobre a terra e todas asestrelasque resplandecemno céuele está disposto


CromrvelÌ,a Inglaterra reaìizousua primeira t'evolttçãoincltrstriaÌEntre 1575 e
a vender sua alma a MeÍìstófeÌes. O inferno, para eÌe, não passa de uma "fabuia de
1642 e\a se torrìou o primeiro país da Europa no que sc referia às minas e à
reÌhas loucas"; "mas se pudessever o inferno e retornar, como estaria feìiz!"
indústria pesada'a média da produção anuaÌ de can'ão ÍóssiÌ sLrbiude 21o miÌ
A insistência uniÌateral sobre o caráter aÌegremente pagão da Inglaterra
toneladas,na década 1550-60 e a quase dois miÌhões de toneìadasna década
elisabetanalevou,entretanto,a esquecermuitas vezesaqueleveio de pessimismo
l680-90. A matrulatura da lã, qtle antes era retnetìda a Flat-rdrespara ser
rnelancólico, aqueÌas meditações sobre a brevidade da vida e sobre a contínua
trabaÌhada, difundiu-se rapidamente nas cidades e Ììo canlÌ)o O strrgimento de
presença da morte que têm origem bem longínquas e que atravessam toda a
companhias Comerciaisque armavam novas frotas para as traÌlsaçÕescomerclals'
literatura inglesa desseperÍodo, de SackviÌÌe a Spenser,de Shakespearea Donne
para as viagens de descobrimento,Para a pirataria, dava :ì Inglaterra uma nova
e a Browne, que parecem tornar-se particularmente evidentes no reinado de
riqueza e um novo poder. O número de naYios coul tnais de Ìoo n'riì toneìadas
Jaime I. Da mesma forma, a exaÌtação das novas correntes de pensamento,
subiu de 35 que era, em 1545, a Ì83 em 1558 e a 35O eÌÌl 1690. O Porto de
representadas por Bacon e depois pelos "baconianos", levou a negligenciar o
f,ondres, onde se encoÌìtravam os navios que vitthani da -isia e do Novo Mundo
peso que exerceram sobre aquela cultura homens como Everard Digby, Richard
e de onde partianr as expediçõescontra o tráfego de gaÌeÕesespanhóis,adquiriu
Hooker, John Case,nos quais estava fortemente Presente a herança da tradição
uma importânciaaÌrtesdesconhecida.Em1557,no ÌnesÌÌloalìo em que o jovem
escolástico-medievaÌ.Era a esta tradição e à mágico-platônica, e não decerto ao
Bacon (de I 6 anos)serebeÌavacontra a cultura aristotélica, Francis Drake repetia
ramismo e à {ïsica atomística, que se inspirava a cosmologia da grande poesia da
o e m p r e e n d i m e u t od e M a g a Ì h a e s e r e t o r Ì Ì a v a à p á t r i a r e p Ì e t o d e p r e s a s
idade elisabetana,de Shakespearea Spenser,de MarÌowe a PhiÌip Sydney.
espanhoÌas Em 158'!,WaÌter RaÌeigh fundaYa a prirneira coÌôr.riainglesa Ira
Consideraçõesdesse gênero, além de pôr em guarda contra quaÌquer
América e, no ÌÌlesÌÌlo arìo,surgia em Londres a Cortlpanhia Ttrrca, da quaÌ viria
tentativa de generaÌização apressada,podem ajudar a compreender a
aasIndias.
a n a s c e ra C o m p a r r h i d
donrinantesem compÌexidade daquele mundo cuÌtural ingÌês que está entre a Retrascença
O artesão,o met'cador,o banqueirosãotrês tipos ÌlLttnarlos
e a Idade Moderna, que se encontra ainda cheio dos ecos da cultura e da
um ambiente desse tipo, cheio de fèrmentos, incÌinados ao Íìttlro e à busca de
mentaÌidade medievais e onde parecem conviver mundos diferentes A
novas técnicascapazesde permitirem ao homem um domírtio cadar-ezmais amplo
cuÌtura escolásticae as exigências de uma lógica nova; o experimentaìismo
sobre o mundo. Por caminhos de todo diferentes aProxinìava-sedessernundo da
científico e as pesquisas mágicas e aÌquímicas; a astronomia de Copérnico e a
ação também a reìigiosidadepuritana; estavaela bem ìonge de cotrtentar-se com
astrologia; a teoria atomística da matéria e a busca da pedra fiÌosofaÌ;a mitologia
a contempÌação:apenasatrar'ésda dura e contínua subtnissãotla reaÌidade pode
clássicae as interpretações alegóricas da BíbÌia e das "fábulas antigas"; a teologia
o homem mover-se à conquista de Deus Nascia daÌi a ideaÌizaçãoreÌipçiosado
e a evocaçãodos demônios; a moral pagã e a moral evangéÌica;o ativismo poÌítico
trabalho e a concepçãode um conhecimento concebido como itrstrumento da
e os ideais da contemplação aparecem,em muitas figuras da primeira rnetade do
r.'ontadc "lt is for action that God mantaineth us and our activitìes, rvorli is the
século, como motivos e temas fortemente entrelaçados (WiÌley, p. 42), enquanto
moral as rvelÌ the natural end of power": estas paÌavras rtão foram escritas por
em alguns autores se nota a tendência, tipicamente "renascimental" de viver, de
Bacon, mas pertencem a um texto religioso de sua época -\ própria Ìiteratura
uma maneira tumultuosa e apaixonada,uma série de experiências radicaÌmente
reflete essasatitudes Saciarsua própria sedede conhecirncntoe de domínio é o
diferentes, sem nenhuma tentativa de colocá-Ìasem relação uÌnas com as otltras,
pensamentodominante do Fausto de Marìorve liìe quer saÌrertudo e tudo possuir,
d,e organízá-las, de justiÍìcar sua pÌuraÌidade.
para se apropriardo ouro das Írtdiase dos oceanos,para cotlheccrtodasas pÌalrtas
hlosofia e de outros ramos do conhecimer-rto,e especialmente daquilo que foi
Esta complexidade e estas "contradições" estão, sem dúvida, presentes ÌÌa
"fundador da chamadofilosqfia noaa ou Jìlosofta.etperimental.. Dos nossos discursos havíamos
Íìgura e na obra de Bacon, e o fato de que se ter-rhapodido ver neÌe o
excÌuído a teologia, o nosso interesse voÌtava-se para a Íìsìca, a anatomia, a
frlosofia moderna" e o "típico produto da cuÌtura da Renascença",o teórico e o
geometria, a astronomia, a navegação,a estática, o magnetismo, a química, a
pai do empirismo e o "racionalista", o "filósofo da idade industrial" e o lìonìenr
"embebido de cultura mágica e de alquimia", o "destruidor da tradição escoÌástica" m e c â n i c ao, s e x p e r i t n e n t o sn a t u r a i s . . .
Desde a época em que Galileu vivia em Florença e Sir Francis Bacon na
e o "pensador medieval, tentado Por um sonho de modernidade" confirma, no
IngÌaterra, essafilosofia no'I)aera cuÌtivada ardorosamente na França, na
fundo, o caráter extretnametÌtecompósito de seu pensamento Apesar de sua
AÌernanha, na Itália e eÌìtre nós, na Inglaterra". O vigor literário da obra
febril atividade e de sua quase ofcgante Participaçãona vida política e cr'rlturaÌde
- - uma figura b a c o n i a n a ,s u a f o r ç a p o Ì ê m i c a , a g r a n d i o s i d a d e d e s e u s p r o j e t o s v i n h a m
seu tempo, Bacon permanecetì ao menos como "fiIósofo"
a s s i m a c r e s c e n t a r - s e ,c o m o e l e m e n t o s d e c i s i v o s , à q u e Ì e c o n j u n t o d e
relativamente isoÌada porque o que o havia interessado mais do que quaìquer
condições das quais se originou o grande movimento científico da Inglaterra
outra coisa - a luta em favor de um ideal cooPerativoda ciênciae o Projeto dc
- do século XVII; em particuÌar, veio de Bacon aqueÌa postura do homem de
uma série de grandes institutos científicos redundou, durante os anos de sua
"sucesso" veio mais tarde, durante a segunda cuìtura diante da ciência que terá, até os iluministas e Kant, e depois, no
vida, em um pleno insucesso O
positivismo, ressonâncias cada vez maiores.
metade do século XVII. Não pode ser atribuída a Bacon nenhuma daquelas
A Bacon, que tomara uma atitude de participação ativa e apaixonada
descobertas científicas que haviam modificado em profundidade o horizonte da
frente à cultura de seu tempo, que tentara mostrar os limites e as
ciência moderna. A descobertada circulaçãodo sangue,a hipótese do magnetisnro
insuficiênciasde quaìquer tipo de filosofia "teologaÌ", coube, não Por acaso,
universaÌ, as observações feitas com o telescópio, a invenção dos Ìogaritmos:
tornar-se alternativamente objeto de veneração e de execração.Depois do
nenhuma dessas"re\.oluções",para nos limitarmos às que haviam sido verificadas
reconhecimento de Leibniz c da gratidão de Vico, depois das exaltações e das
na Inglaterra, podia, de alguma maneira, ser correlacìonadacom a obra de Bacon
apologias dos iìuministas, no momento em que a cuìtura burguesa renegava suas
Entretanto, a coÌrsciência da importância sociaÌ da pesquisa científica, a
próprias origens e se nostalgicamente para aquelas formas de cultura
consciênciade que os fins da ciênciasão o progressoe a renovaçãodas condições ".oÌtava
contra as quais Bacon tivera ocasião de poÌemizar duramente e reaÍìrmava a
de vida da humanidade, a coÌabciraçãoorganizada e "planificada" entre os
superioridade da contempÌação sobre as obras, da resignação frente à natureza,
pesquisadores são fenômenos da vida cultural inglesa posteriores a Bacon, mas
sobre a conquista da natureza, da reflexão a respeito da interioridade sobre a
que implicam explicitamente seu nome e seu ensinamento. DePois da primeira
indagação científica, das "eÌegâncias"sobre a "luz seca"da ìógica, nessemomento
metade do século, z,quele aerulamiatt design de que havia faÌado um dos
",{ Bacon surgia como um dos grandes "responsáveis"daqueÌa "degeneração"que
correspondentes de BoyÌe, irá adquirindo uma coÌtsistência cada vez maior
- GÌanvilÌ - foi o pro3eto conduzira a cultura européia rumo ao iÌuminismo. As "condenações"radicais e
casa de Salomão, da NoTa Atlântìda escreveu Joseph
proÍético d.aRoyal Sociei|" e o doutor Aliis, um dos fundadores da ReaÌ Sociedade, pouco desinteressadasdo reacionário de Maistre e do cientista espiritualista
Liebig nasceram dentro desse clima e condicionaram, durante muito tempo, a
assim descreve o nascimento da céiebre instituição: "Por volta de 164,5,quando
"fortuna" da obra baconiana. Essa fortuna, entretanto, taìvez tenha alcançado
eu morava em Londres numa éPocaem que, Por causa da guerra civiÌ, os cursos
acadêmicos estavanì interrompidos taÌìto em Oxford como em Cambridge, tive scu nível mais baixo quando se verificou a tentativa- taÌltas vezesrepetida desde

ocasiãode travar conhecimento com várias Pessoasde vaÌor que se ocupavanrde as primeiras décadasdo século XX - de uma resoluçãointegraÌ da obra de Bacon
i'''
I

no terreno da "gnoseoÌogia" Nurna historiografia que procedia por superações Dos seiscapítuìos que compõem o livro, o'primeiro é dedicadoa um exanìe
sucessivas,que via em Locke apenas um "precursor de Kant", que reduzia a das inÍÌuênciasexercidassobre Bacon pela tradição mágico-aÌquímica,da polêmica
ìndagação histórica a uma espécie de "exploração geográfica das regiões do baconiana contra dita tradição, do peso que veio a exeicer sobre o conceito que
espírito", que identìficava a história da filosofia com a "história do essencial", eìe tìnha de.ciência a sua avaliação das "artes mecânicas." O segundo capítulo
podia-se prosseguir a um rápido baÌanço da falência do pensamento do lorde considera a tentativa reaÌizadapor Bacon de substituii ao quadro historiográfico
Chanceler.Isso levou, de um lado, a coÌocar confortaveÌmente a fiÌosofia de Bacon esboçado por Aristóteles um quadro novo, d,F tomar consciência das origens
no interior de uma história "dinástica" da filosofia e. de outro. a r.er em Bacon ì'ristórico-sociaisdaquelas doutrinas contra a,squais eÌe se havia coìocado, de
tão-soÌnente o construtor de uma gigantesca "máquina lógica" destir-radaa Íìcar aclarar as causasda "falência" do saber tradicional.
sem utilidade. IdentiÍicando a inteira obra de Bacon com o segundo ìivro do No terceiro capítuÌo propus-me determinar as diferentes posturas
Noaum Orgaruim,a iniciativa de urna liquidação total não se apresentava como assurnidas por Bacon em relação ao problema de uma "sapiência recôndita".
excessivamentedilïcil. A essa tendência de reduzir a um pìano totalmente presente nos mitos da antiguidade, a escÌarecera reÌação entre essasdiferentes
"especuÌativo"um prcrjetoque se originava de uma ampÌa consideraçãode carâter posturas e as diferentes formuÌações que ele deu ao seu projeto de reforma do
histórico, que se havia oposto conscientementea quaÌquer reforrna nascidaapenas saber,a levantar os motivos naturaÌistas,materialistas, e ético-políticosPresentes
dos "sisternas"ou das "seitas" filosóficas,que havia r.isto no progresso do saber enl suas interpretações alegóricas cias fábuìas, a propor, enfim, a questão das
aigo de intimamente iigado à inteira "situação"da civiÌização,não ficaram alheios relações Bacon-Vico.

neln mesnÌoestudiososinsignes. O quarto, o quinto e o sexto capítulos são fìnaÌmente dedicadosa LÌìÌìexanìe
da "Ìógica" de Bacon. As reÌações lógica-retórica, a ligação entre uma Ìógica
Apenas em teÌnpos muito recentes foi integralmente recoÌocada em
capaz de atingir a "realidade das coisas" e uma lógica capaz de ilurninar aquele
discussãouma tendência dessa natureza, realizaram-se pesquisase levantaranr-
"espeìhoencantado" que é a mente humana, a ligação entre a reforma baconiatra
se problemas que contribuíram a clepurar de urna situação de esteriÌidade e de
da Ìógica a tratadística de tipo "retórico" que circulava Ìargamente na cultura do
aclìatamento a historioglafia referente a Bacon.
séc:uÌoXVI e no começo do seguinte, a "dír.ida" de Bacon para com a dialética
Este Ìivro mo\re-seno âmbito dessa obra de revisão, em que os trabaÌhos
-lVaÌlace, rarnista, a tentativa levada adiante por ele de aplicar ao terreno da nova lógica
de de Farrington, de Ânderson (e, na ItáÌia, de M. M. Rossi) são,rÌìesmo
das ciências e das pesquisasnaturais procedimentos de tipo "retórico": essessãc
que de pontos de vista bastantediferentesentre si, expressõesmuito significativas.
os problemas aos quais me pareceu necessáriodedicar pouco menos da rnetade
Ele é o resultado de uma série de pesquisas,iniciadas em 1951, sobre aÌguns
do presente volume. Quero crer que os resultados conseguidos Possam me
problemas que dizern respeito ao amb:.enteculturaÌ ern que a filosofìa de Bacon
justificar, perante o ìeitor, peÌa arnplidão do tratado.
originou-se e operou em profundidade. Cada uma dessaspesquisasaspira a
Desejo expressar minha gratidão ao professor E Garin da Universidade
integrar e, enì certos casos,a rnodificar aÌguns dos resultados aos quaìs chegou
de FÌorença Tenho uma dír'ida profunda quanto a seus ensinamentos e a sells
a historìogràfia baconiana.Tarnbém por isso, o Ìivro - embora utiÌizando todos
escritos Agradeço outrossim ao Professor Banfi, da Universidade de Ìv{iião e ao
os textos filosóÍicos de Bacon - não se apresenta comduma obra "sistemática",
professor B. Farrington da Universidade de Srn'ansea,que não me PouParaÌn
não tendo os méritos e as pretensõesde tal gênero de trabalhos Penso,entretaÌìto,
encorajamentos e conselhos.
que estas pesquisas,tomadas em seu conjunto, possam oferecer um retrato de
Ilacon não isento de alguns aspectosde novidade.
Milão Universidade, setetrbro, ì956
PAILA
Publicatiou of the Modtrn Language Assocíationof Atwica
RC,SF
Rruistn nìtìca di storìa dellnflnsofia
NF
Rìaista dìflosof.a
,SP
Studìesin Phìlolngy.

As artes mecânicas,a magia, a ciência

1- O significadoatltural dasartusmzcânicas

ORÏGINAL: Em 1531 Ludovico Vives, em De Tradendìs Disciplinis convidava os


Datade eÍìtrada: estudiosos a prestai-em uma atenção séria aos problemas técnicos referentes à
consúução, à navegação,à agricuÌtura, à tecelagem: exortava-os a oiharem para
?roí,(.a
o trabalho dos artesãos e a não se envergonharem de pedir a eles explicações
ilurso: sobre os "segredos de suas artes". Dois anos mais tarde, Rabelais na Zze
i)isciF, treshorrifrcquedu gran Gargantuacolocava o estudo da obra dos artesãos entre os
elementos indispensáveis para uma educaçãocompleta Sob a guia de Ponócrates,
;',.rir'4enì,e ,í.7.ãz- o jovem Gargantua estudava as ciências naturais, aritmética, geometria,
astronomia e música, alternando o estudo com os mais variados exercícios Íïsicos;
nos dias de frio e de chuva o aluno substituía-ospeìa escuìtura e pintura e mestre
e discípulo iam, entre outras coisas,ver

coÌnnìenton tiroit les metaulx,ou coÌnmenton fondoit ì'artiÌler1e,ou- .


les lapidairies,orfevres et tailleurs Ce pierreries,ou les a.Ìchymistes
et
mono)-eurs,ou les haulteìissiers,les tissotiers,lesvelotierg Ìes horoÌogiers,
O peso que o desenvolvimento do comércio marítimo, do capitaì mercantil,
miralliers, imprimeurs, organistes,tinturiers et auÌtres teìles sortes
d'ouvriers, et partout donnans le vin, aprenoient et consideroient da indústria minerária exerceu sobre essa reavaliação do saber técnico que
l'industrie et invention des mestiers(") caracteriza a cultura dos sécuÌos XVI e XVII foi devidamente enfatizado por
muitos. E foi justamente reÌevado, também, o fato da importância que assumiram
Á atenção para com os procedimentos da técnica e das artes mecânicas, o muitos probÌemas'práticos" que diziam respeito ao nascimento e ao progresso
reconhecìmento de sua utilidade para o progresso do saber, a insistência sobre de uma série de pesquisas teóricas e científicas. Âssim os progressos no campo
seu valor "educatil'o" caracterizam, em vasta medida, a cuÌtura dos sécuios XVI da hidrostática parecem estar Ìigados a uma série de problernas referentes ao
e XVII os procedimentos cotidianos dos artesãos,dos engenheiros, dos técnicos, aumento da velocidade dos navios, à construção de canais navegáveis e de
dos navegantes, dos inventores são elevados à dignidade de fato culturaÌ, sendo comportas, à construção de bombas para uso na mileração, ao fornecimento de
que homens como Bacon, Harvey, Galileu reconhecem explicitamente sua .dívida, água para aglomerados urbanos. A hidrodinâmica aparece ligada às pesquisas
pÍÌra com os artesãos. Desse novo contato entre saber científico e saber técnico referentes à possibiÌidade de se manobrarem os navios, enquanto o probìema de
vai derivar, em primeiro lugar, o considerável enriquecimento da quantidade de se Íixar um ponto no mar levava a aprofundamentos no campo da astronomia, da
"verdades empíricas" que foi decisivo para a afirmação de ciências como cronometria, da teoria das marés, da construção dos relógios mecânicos. A
a química,
a mineraÌogia, a botânica, a geoÌogia' Em segundo ìugar, desse reconhecimento aerostática estava reÌacionada com o grande problerna da ventiìação das minas;
da dignidade do trabalho artesanal e técnico e da tomada de consciência das a estamparia e a indústria têxtil impÌicavam numerosos probÌemas de química e
atitudes e dos pressupostos rnetodológicós que constituíam sua base sairá, de tinturaria, enquanto das exigências Ca iécnica militar nasciauma inteira ciência:
enormemente reforçado, o conceito de que uma teoria deve ser ..aplicada aos a balístic4 que suscitava por sua vez um novo interesse para com os probìemas
fatos" para poder ser qualifica<ìajusta ou verificada. O fato de se seguir mais de da dinâmica
perto do que se fizera até então os procedìmentos das artes mecânicas quis dizer, As obras de Biringuccio, de Agricoìa, de Bresson, de Ramelli, de Venanzio,
para muitos, tomar consciência da separaçãoexistente, na tradição culturaÌ, entre de Zonca, de Giacomo Strada di Rosberg, de Castelli', para citar apenasos maiores,
glnbus ìntzllzctualis e globus mundì, entre a estrutura conceitual das ciências e são as expressões mais conspícuas deste grandioso florescer de interesses, de
a sua capaciCadede servir concretamente para usos humanos, para prestar conta pesquisas,de indagações particulares que suscitam discussões,criam problemas,
de'novos fatos"n. influem de modo decisivo sobre a inteira estrutura de uma sociedaCe que vai
z
modificando seus modos de vida e sua econorniaa
'Cf. Ilalì.fÌì
1 r l. ; i . l l t r s \ . r l ; - t j i ll ('rl|'1-,r l ì t t t , t t ; . t t t t * t l L : * - r t t t t c r r lìor ,t i e t u \ l - l . r u \ / t ,
' I)ara
'/ Paris, I Í,i I -\gricofa, cl: Ìììai5 a(liarìt(', \'. lìir irgLictìo, I)t la pìrolethuta, \'cJìcza, I t lo; IÌcss(ìrì, 77,iÌl/i
dcs ìt\ltuDt(il.-, DÌdíhéuatiqres,Ly<ü;, triïl; I-ì \t'raDzio, ,\Iothìnt nortte,\taDcza, ( t.jÍl;r \'l Zor)ra
Nout teatro di ntatltine Ll Ld ìfïcìi, P átlLti\ I 69 I ; (; Strada (Ì ì fìosberg. j)rssrìr ,rrlfirra l r , Ì:'ra rr kÍi rrr

'l ÍIi.tlot.t oI srrtn,r l-rhrolog,


rtrí t'hilovltlt,r Ìil th( t6rh e]kr Ì7il. (ralzrrtr. a lÍ l6l;-tíjt8; f l ( ì a - . t c l l i ,D t l f u n ì s u r t d e Ì l ' a c l u ( ú r ! ? i l l t , l ì o r ì ì : ì - Ì ( i 2 s . - \ ì , - l r r r r J r r s c j r a ( ì o s , cll :
Lorrtlres-
11,:-;o.íìlrâ rtura a\aìraçiir r siqIilìr.atl0 natLrral dossa Iircratrrra Í.I. lJilttcrlìckl. 7-hL Orìgìtt.t l7ìlor.1'ol lethaoÌo,g.t,cd C Sirgo, ll J lìr'hr_r'ard e/ a1a, Orí'utl. t95ï; I{ .l lrorhc:. .1/.ra 1á'
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)Iorítru Stirttt. L<t\tl tÍìlÍr, cstil coIrPìctarncrrrcr r-oltatlo para rIna lÌistória (l()s zraÁer;Ìnrrtlrcs, ìs)5o; Iì l)rìgas. IIìsloitc de la núattìque, Neuchâtel, tsio
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tntcrr " r l o s a l r r c . i c t r f í 1 j < .O
o s. r D c s n r o sl i t n i t t , s r n a r c a t r t t a n r l x i l t a o l r r a t j r , |artìcular à sirrraçiro ing*lcsa, cÍ. I t l"cÍ, Iniustrt aud ortnt(nr t, Iìntì(r
Il \ [ìrrrtr, 7 hr )ÍdaphtstìtÌ l.'oundr/ìont rl )[olou andËn,qlandtin-t(;tu,lrhaca(N\1),teaì;|d.,'l'fuÍÌiscrl th?ltitì11 (oal Itduçtr).Itndtc,
I'htital ,\'r&rr?,. l_orì(lrcs. ìÍ,i() 'ììchnoìog,r
li,ti:iÌ;Id, "i'hc Progr<'. ot arrÌ tìrt groslìr,rÍ l a r , e ; < ' s c r l el t r t J L r s t r r i r r ( i r c a t

I
-t-
Seria porém uma empresa muito diÍÌcil procurar nessas obras de caráter os primeiros tratados sistemáticos de geologia e de mineralogia. O De re mztallìea
mais estritamente técnico a consciência da mudança radical que esse (1556), que iniciava, entre outras coisas, o estudo das camadas geoìógicas,
desenvolvimento do saber técnico acarretava à cuÌtura tradicional Delas emergia, permaneceu durante dois séculos como obra fundamenta_l e não superada da
porém, muitas vezes e com muita cÌareza, a recusa ciaqueÌe tipo de linguagem técnica minerária. O primeiro motivo que emerge da obra de Agricoìa é o da
feito de alusÕes,de metáforas, de símboìos misteriosos que era característica da consciência de uma profunda crise culturaÌ: ela é caracterizada, paÌ^ Agricola,
tradição mágico-alquímica e que atuava em profundidade dentro de uma por um lado, por um desinteresse secular pelo "estudo das coisas" e peÌa
vastíssima literatura científica e filosófica Esta recusa coincidia, por um lado, observação dos fenômenos naturais e, por outro, por um processo de degeneração
com a exigência de uma cÌareza considerada indispensável para cÌ progresso da ìinguagem cientíÍìca em que a clareza terminoÌógica da época clássica havia
técnico e para a sua difusão e, por outro, com a consciência da imensa quantidade sido substituída por uma barbárie lingüística que não permite mais uma f,ácil
de "coisas" e "fatos" que restavam para serem explorados a fim de enriquecer os comunicaçãoG.O que remediou este segundo aspecto da decadênciada ciência da
homens com um novo poder. natureza, segundo Agricola, foi o reflorescimento do Ìatim na Itália e o renascer
Na obra de Giorgio AgricoÌai estes temas atuam com singular força de da "eloqüência" por obra dos humanistag
penetração a ponto de ela poder ser considerada símbolo de uma mentaÌidade
que se debruça sobre a cena da cuìtura européia. AgricoÌa era urí filólogo, um porém, a cogniçãodas coisas,que é tão ampla,aliás, fa ponto ]de abraçar
médico, um técnico inserido na vida cultural e política da Europa de seu tempo: todo o possíveÌcom os sentimentose o espírito de compreender,continua
gozava da estima e da amizade de Erasmo.e de Melanto e foi encarregado de ainda em grande parte desprezada.Porque, deixando de dizer de muitas
várias missões políticasjunto ao imperador Carlos e ao rei Ferdinando da Áustria outras coisas,muitas são as que nas espéciesparticuÌaresdos animais,das
pìantas e das outras coisas que a terra gera dentro de si nos são
O De ortu et causìs subterratuorunt (1546) e o De natura;fossilium(ts+a) slo
completamenteescondidase desconhecidas_t

B r i r a i r ì l . r 1 { ) - r ( j + ( ) ' , c r t I ' ] r c i l o ü ì l l ì ; t u r . t I Ì r í t - a , \ : l g r r r , i l , t I ) r i r r r i P a Ì r n e r r t cp a r a o i a p í r r r ì o
'-l'lrc
llcotrrrtrrir lrrtcntircs to Inrcrtion ctì (ì N Clarli. .\tìotre attd ,sotial II-tlfap ìtt tlk,4gt: oJ
É justamente o estudo das coisas naturais que Agricola acha que deve
-\ittlor.Ortìrrd,Ì9:;; J)arâaslclaçòr.rlanorrrlentalidadcrjctrtílìtacornasocicrlartciuglcsa, defender e "ressuscitar", visto ser atrar'és do estudo da natureza - eÌe diz - que o
cí-lìli,\lcnolt. Sricrtre'l'ctltno|tqlautlSrr.ic't.r'itrSercrrttutrh(Ì.nrur-rÌ.lrrgjand crní).rrr.. homem pode alcançar fins mais nobres e mais altos dos que a própria natureza
I\, tglis (\()\a \irrli tv:o) ì{lì l o r i r s . S c r e r r c ca n < l C r j t i c i s r n i n r l : c \ q r ( ' l a s s i r a l --\gc oi
pÍnece ter destinado à sua espécie. No prefácio a De re nutalliea explicava de
[ìnglisìr I-tttyarure ott ,llll. i 9 f í ) l Ì ) ] i l j l + Ì ! ; " l ) u r ì l a l Ì i s n l , S c r e n c c a r r t Ì( ' l t r i s r C l r r r r r] t . t r n
I
,f.vr,\XXI, ll|l:), I)p6i-(j; Solrrt ii.rrganizrçãodalrcsqrrisrrticntííìr:a.cÍ. Il\ \'ars,'l'fu1:nttth que mzìneira sua obra se originava de uma atitude de zeìo escrupulosc Seu liwo
,ltadrnìt:of /fu.5ì.rluuth (rrla;r; Ìrrn,-lrts. Ì:,rt. l)l) Í]t-Ì{)l; ll Hr<.rrl, Sttttttifí,-()rg,tuì:ttìun d e s c r e v i a c u i d a d o s a m e n t eo s v e i o s , o s i n s t r u m e n t o s , o s v a s o s .o s c a n a i s .a
n Stit'uítculh ( rillilr.r I"ütil.( Ììaltirrr,:rc, lrìji li I1 ()r rlsu iÌ) 7'Ìv Ììoh o/ Stìaty'h \otrdir: rt tlt
maquinaria e os fornos e, às suas custas, eìe tinha assaÌariado os ilustradores
2 ,\tt'tnltttllt (ìtillrt. \or a 1 rrrl,. l:tSst ì)rrti. ulâl ìtìr'ltc c\t ìarcc crÌor rltranto a lìltitas (luc\lò(,s a,
o < a 1 r í t t t l od c t ì i c a t ì o 1 n r l l a l l a r ' s t r ' â r l J L r Ì r c r ì t oS o b r c a r l c n t a l i < J a d c r r t i Ì i r ; i r i a : I L l l r o r r n , -I'lrt porque desejavaque as descriçõesescritas não deixassem margem à dúvida "para
UriÌitarraì\Í,rtire iDrltt:\c-col l)tscartcs an.lunttl:oJ,\'rzrar,, l l - o r r d r | s , Ì 1 r J í i ,l ) J ) t s , : ts \ : as pessoas de hoje ou dos tempos futuros"t
Í'.\í Srìrrrlrl. )Iaiúntint ,t lhlor4'hit Ì)ari! lt)lt \lguls t(-\ros signrÍìratiros lrxlcrn scr
cÌrcotìlfador cn llrilÌ.'h Stitniìfil I.tltrtlue in lhe Sa;ctkcnlh (enltrt,otg N l)irrr., Ì-onrlrcs,
' Agr itrrla, De la gewrutìonedt le ote
Ì 9iìl clutytlo la lo ra sono,Vencria I 55o, p 5 t9i,:
'Orcrdrdcirorronxrlc(ìiorgio,\ilriroJaí,(ìiorgiolìrucr/tlrt 1 IL,id.,p í,)o
tt;ij:\si)l)ra\irr<lìcacja.rr,,
trrto Íìrranr Ìrrrblìtadrs crl lla.ìlúia " Operarlì Gior.qn.l.yìcoh lt Ì'urte le ndallì. Basil(ia, tiss Pftf;t:hilp,pÍ;
Este desejo de cÌareza, esta precisa vontade de evitar os equívocos, de Encimada montanhaPaÌombrahá uma fonte maravilhosaque quem deìa
afastar-se conscientemente do "maraülhoso", do fantástico é o que diferencia de bebenunca tem maÌ nenhum e sempre,enquanto\ iver,parcerájovem. Enl
longe esse tratado de AgricoÌa (e as outras nuÌnerosas obras do mesmo tipo) Chipre, nas forjas do cobre, do meio das chamassai roando um animal
daqueles herbários, ou bestiários, ou coletâneas de fatos naturais dos quais a penadocotn quatro pés-.."
literatura medievaÌ abunda,ou daqueìeselencosde animais,pÌantag metais, pedras,
muito difundidos nos mesmos anos em que Agricola publicava suas obras. Nessas Não muito diferente deste é o espírito que anima um célebre livro de John
"enciclopédias naturais" o que importava eraÌn as coisas ..secretas e raras,,; Maplet publicado na Inglaterra de 1576: a verde floresta, onde podem ser
os
fatos sobre os quais se insistiam eram os curiosoq excepcionais,<.rs observadas. colocadas em ordem alfabétic4 as virtudes soberanas de todas as
fora do habitual:
os animais da heráldica são incluídos entre os reais, as criaturas viventes são espécies de pedras, de metais, de plantas, ervas, árvores, arbustos e, finalmente,

classiÍicadas na base do elemento em que vivem (o fogo para a saìamandr4 o ar dos animais brutos, pássaros, vermes rastejantes e serPentes. O termo natural
para as aves, a água para os peixes), o materiaÌ deriva quase excÌusivamente das historlt era usado aqui (em inglês) peÌa primeira vez, mas se tratava de uma

fontes clássicas;nele são introduzidas lendas e são criadas fanústicas etimologiase. enciclopédia de puro gosto medievaÌ, compilada em parte a partir de Dr

A Minera d^elMondo de Giovanni Maria Bonardo, publicada em Veneza em proprietatìbus rerun de Bartolomeu, o Inglês, na qual eram reproduzidas as

l589roé um típico exemplo desse gênero de literatura. Aquiiem ordem fantásticas etimologias de Isidoro ("the Cat in Latin is called catus as if you

alfabética são apresentados montes, termas, lagos, metais, pedras preciosas, wouÌde say cautus, war\e or wise")'e

árvores, arbustos,vermes, "animais miridosrl, serpentes, peixes, aves Mas a A atitude de Agricola para com a realidade natural é bem diferente e, mais

insistência no excepcional, a total assistematicidade, a aceitação ainda do que em suas deciarações programáticas, esta diferença transparece de

indiscriminada de uma tradição literiária entretecida de ìendas dão a livros suas Ìúcidas classificações:

como esse,que tinham a intenção de se apresentarem como ..reunião de fatos,',


Eu não escrevicoisa alguma que rìão tenlìa visto ou ìido ou com
um característico tom de conto maravilhoso:
diligênciaexarninadoquandocontadaa mim por alguém
cuidadosíssima
mais . "

Sobre esta Íìdelidade decÌarada para com a experiência e mais ainda, para
com a exigência de um tratamento preciso, sistemático e fácil de comunicar se
I

'9uar)k) -l-ho'nclikr:
fl isso: rolr I-\': Ilalì, Ì):ìì cf, tanthínr lì.\ l)otrrìrct [!i.ttoìn rlcs tiruro
talurclles tu ilÌorr,il âgt. I)arìs. lsjr;: (' ll Ì{asLirrs, ,\tillk\ in th Iti.,tot-\ tÍ
funda a desconfiança de Agricola quanto aos procedimentos da alquimia.
lltrln,zttl \,itttk:,
(-anrl>ritl.qe, lÍ,2;; l- \\ÌÌrir(', jr. -'l'cchrroìogr and
ltnenti<_,1 ìn tlrc \ll<lrllt, \sts , cn ,\tpt,u/unt, Pouquíssimos, afirma Agricola, trataram da arte dos metais e de suas
X \ ; l Í J . t o ,p p . t ' H s s .
"' It uìnun ìel nondo lrl' ìll. sìgtort Gn Ìfuru lJonqtdo nrlh qudÌp ri tnutt dcÌh nsr
litt :tgntr t,
1tìì rarr fu'orpí stntllìrì ul tnttiio Llrntttúart r dtinrpì .oiltlhili, tÌÌdtìtilnti I tlttìDuli rí'dilìil1ü 'r 1úkL,
lìl) l(i,;;ia
tgetn/bd, sensitiztt t titgionez:a/r,:À ntrna tl,r lrrrndo do iÌnro Srnhor (ìirr Níaria Brrrrar<lo na rJrraÌ '',\.)l)ra de Iohrr \laplct ptrbÌicada cm I5;l; (,btc\e unta gratrdc
lxrprrÌalitladc Para aÌgtrrrta
se trata das co:sar tnais secfctas c rrtajsraras dos corlros sintplcs no llrrndo clclncntar c -f.
tlo" Dr)ti(ia a rcsl)(-ìto cí. C Onions, \'uturul Ìlts!at.r iu Shil'esfcarc's litrylalr{ Oxlôrd Ì9:;o, l. l)
c o r l ) o s c o r Ì ) ì x ) s t ( ) s ,i l l a n i l n a t l o s t a t t i t t r a t l o sr ì c a l n t a r t g c t a t t t i r , s t r r i i t i r a e d o Ì a ( l a ( l c r d z i j ( ) - ,
+ì,
\icrìc/-a Ì;s9 'Cf.
a Ììotas
características, da estrutura terrestre e dos procedìmentos necessários
para acusação(que espelha urna opinião que Ìemonta a Aristóteles) chega ao mesmo
extrair os metais dos veios etc.'aJustamente a escassezde estudos e de pesquisas
resultado, contrapondo à técnica, entendida como irabaìho manuaÌ, uma ciência
deste tipo faz parecer estranho o fato de que "se encontrem tantos aJquimistas
concebida como contemplação desìnteressada de verdades conceptuais.
que tenham escrito sobre o artiffcio de transformar um metaÌ ern outro,, parece
À dupla acusaçaoAgricola reage mostrando como a atividade do "técnico"
não se poder não acreditar nas paìavras de tantos escritoreg mas é certo que
implica uma série de relações com as diferentes ciências e não Pode estar seParada
de um conhecimento efetivo de varios campos do saber. O "metaìeiro" deverá,
ninguérnde taì arte enriqueceu,nem enriqueceno dia de Ìroje,apesarde
em primeìro lugar, ser particularmente habiÌidoso na caracterização do terreno
qrreem qualquerÌugar do rnundose encontÌemmuitosdeÌesque_ todos,
onde deverá saber distinguir perfeitamente os veios e os vários tìpos de pedras,
eu digo, todos -, de dia e de noite, com as mãos e com os pés,pretendem
poder fazer montanbasde ouro e prata eÌesteriam as cidadese os casteÌos de gemas e de metais, sendo que deverá conhèter, enfim, "todos os artiÍïcios que
cheiosde ouro e prata.--'5 Ìhe permitem fazer experimentos sobre a matéria que tem em mãos". Ser-Ihe-ão
'para
ìgualmente necessâias a f,losofia que conheça o nascimento, as causase as
'para
As suas críticas, porém, atingiam mais a f'ndo quando eÌe inststia na naturezas das coisas de debaixo da terra"; a medicina que possa cuidar que
'cavadores'e
desejadaobscuridade da linguagem e na arbitrariedade da termiaologia aÌquÍmica'u os os outros laborantes não caiam naquelas doenças nas quaìs estão
e poÌemizava contra a atitude que assemeÌha a pesquisa sobre a naà-era a urna sujeitos a caírem, mais do que todas as outras, neste tipo de mistef'; a astroÌogia
'bfuscar 'pára
tentativa de os olhos dos simples com dtuÌos gloriosos (tirados das obras de que conheça as partes do céu e a partir deìas juìgue quanto os veios se
PlaüÍo e de Aristóteles) e com grande ostentâção de dout:ina,,'' estendam mais para 1á, e por que caminhos"; a arte das medidas: o ábaco; a
FinaÌmente, há um terceiro tema que Âgricora enÍìenta com muita cÌareza arquitetura'para poder {azer ele mesmo as máquinas e as armaduras, e fazet
e que tem um notáveÌ a-ÌcanceculturaÌ. É o da defesada arte dos metais da acusação com que outrem entenda melhor a maneira de fazê-Ias"; a arte do desenho e,
de ser um arte "ürdigna" e "r'iÌ" quando comparada às artes Ìiberais. As duas finalmente, as Ìeis e o direito'". O trabaÌho do técnico não pode, portanto, de
acusações de que AgricoÌa pretende se defender são a de que a arte dos metais maneira aÌguma andar disjunto do trabaÌho dos cientistas e, a quem se baseie na
seja "coisa de fortuna ou que nasça da sorte" e a de que essaarte seja um trabaìho contraposição entre homens Liwes e servos Para opor a pesquisa científica e o
serviì "vergonhoso e desonesto para o homem liwe, isto ê, para o gentil homem trabaÌho do técnico, AgrÌcoÌa responde que durante certo tempo a agricultura
honesto e honrado"- A primeira acusação tende a reduzir a atividade do técnico também foi praticada pelos escravos,sendo hoje praticada incìusive peÌos Turcos,
ao níveì de um trabaÌho manuaì que "precisa mais de esforço que de engenho ou e que na arquitetura há a contribuição de muitos servos, e que não poucos médicos
saber" e ao qual seria estranha quaìquer pretensão de cientificidade. A segunda foram escravos:

Mas aquelesque querem falar da arte dcs metaleirôspara dela fa-zerpouco


''
Ìr Í dizem quejá alguns,der.idoàs mah'adezasdeles,foram condenadosa cavar
"lt.5
-'.\Irtitos
metaise que eÌes,ou outros que foram servos,foram encarregadosde cavar
orrtnrs livros cnconrrarrì-st: so!re esta coisa, nias totlos oitsctrros:
l)orqu(ì csscs os veios e que agora os metaÌeirossão mercenáriose como os outros
lìalo chantatn as (_oìsascout sett.s
ciitofes
lrróPrios noncs e rocábulos, rnas c()ur estralìr()s c
acÌtados rrr sLracahc,ça, (Ìuc lilÌì (r r;rrirrr irtrcntatanr parâ a rÌÌcsD)a coiì-a' f/óaí/, rL
' - P+
'' tbid. p r
Ìaboradoresestão numa arte feia e suja. Certamente,se a arte dos metaìs entre os fiìhos da nobreza e, em particular, entre os caçulas e ele alirma
por esta razão é vergonì:osa e desonestapara unÌ Ìromemnobre peÌo fato
repetidamente a necessidadede uma educação "separada'para a formação desta
dejá os sen os tererncar.adoos metaig sequera agriculturaseráhonesta, ,,nova,, -
aristocracia Apenas assim - escrevia ele as outras universidades poderão
pois eÌa foì erercida por escra\os e agora a exercemjunto aos Turcos,
e finalmente acolher os estudantes mais pobres a quem os Íilhos da nobreza acabam
sequera arquttetura, pois alguns servosa praticaram, e sequera nedicina,
pols não poucosmédicosforam serr.os;e aquilo que eu digo dessasartes tirando os meios de estudon"
pode ser dito de muitas outras que foram praticadas A. única Ìíngua que Gilbert admitìa no ensino era a língua inglesa' O
por muitos já presos
em prisões_',' progÌama de educação, q u e s e opunha ao exclusivamente teórico das
'toisas
universidades, devia concernir práticas e úteis para o Presente, seJana
Estas posições de Agricola são, contudo, tão_somente expressões de uma paz, seja na guerra" IÁgica e retórica são consideradas formando um conjunto,
atitude difusa que caracteriza grande parte da riteratura técnico-científica e os exercícios retóricos compreendem orações de caráter poütico e miìitar' Â
do
século XVI. Esses mesmos motivos de pensamento, que respondem de resto fiÌosofìa poÌítica cabia estudar a história dos diferentes estados, os sistemas de
às
exigências de uma determinada fase do desenvolvimento econômirco-sociai governo, os sistemas tributários, a administração da justiça. Mas era no estudo
da
ciüIização européia, aparecem claramente presentes também na literatura da frlosofìa naturaÌ e da matemática que predominava nitidamente a redução do
- de
tipo humanístico e Íilosófico'o. A saber cientí{ìco a um saber de caráter técnico que dizia respeito às fortiiìcações,
fuum Erízabetlus Áca"dnnl de sir,Humphrey
GiÌbert (tsoz?)e' é um exemplo cÌaro da üvacidade com a quaÌ, na Inglaterra, à artìÌharia, à estratégia. A geografra e a astronomia eran estudadas em função

agia a tendência para se substituir, a uma edueação literári4 um tipo de ensino da navegação, a medicina em função do socorro e da medicação prestados aos

que deixasse para a preparação técnica uma parte consideráveì, ou mesmo feridos. Os segredos da natureza "deverão ser estudados de todos os modos
possíveis" - preconizava eÌe - e os resultados dos experimentos realizados
preponderante. -Çilbert insistia sobremaneira apenasnaqueÌes aspectos do ensino
"deverão ser referidos sem frases enigmáticas e obscuras"- IJm navio armado e
técnico que podiam contribuir para a formação de um novo üpo de gentlmun
umjardim experimentaì estariam à disposição dos estudantes.O ensino do dìreito,
capaz de se inserir, .le modo orgânico, na direção da sociedade ingÌesa. um tipo
das línguas modernas, da música, da esgrima, da dança iria completar a educação
de sociedade, estq em que a capacidade dos negócios políticos, a cultura, as boas
do jovem gentlem.an.
maneiras, a competência na arte da navegação e da guerra cram considerados
No topo das aspirações de Gilbert, justamente mais conhecido como
eÌementos igualmente ou até mesmo mais importantes do que as "virtudes de
pioneiro da colonização do que como escritor de pedagogia, estava evidentemente
sangue e de nascimento". o programa educativo esboçadopor Giìbert cliz respeito
um tipo de homem que reunia em sì as virtudes de um conquistador de colônias
exclusivamentea um restrito número de expcentes da cÌassedirigente escoÌhìdos
e de um fidaìgo da corte Na reaÌidade Gìlbert tendia, como muitos outros
humanistas ingieses de seu tempo, a adaptar os ideais humanísticos da cortesia
"' lbil.,P ._.) às exigências da sociedade inglesa. Por um Ìado, a aristocracia era impelida à
'"
Qurrrto ao rrlor rlasPcs<lrrisas <l0sti.cnicosDo ânrbìto cla artc < tìa (-Ìrlturai,-\ lJ;nri_(ìa!ìLt, aquisição de um patrimônio cultural indispensável para fazer Íìente ao avanço
í : Ì r l í r r , \ í ì J ã r t: s, J F Jl )/ ,l ) I ì s s - i ' a t a u r D q r r a r l r o r n a i s a r r r p ì o p, illìi o s s i -
da nova classe sociaì dos homens da lei e dos nobres do camPo e, Por outrG, a
educação humanística era apresentada como capaz de proporcionar a essa

I | (jilircrL, ()ueeu |ilì:ubcthu Aí d&Dtt, ctt, P I l


aristocracia atualizada os conhecimentos técnicos indispensáveis para
conquistar Âlgumas das atitudes de Bacon para com a cuÌtura tradicionaÌ estão
um lugar na corte e na sociedade.s
estreitamente ligadas à sua avaìiação da técnica e das artes mecânicas.Bacon já
Esta consciência do valor social e mundano da técnica encontra_se havia lido Âgricoìa e taìvez justamente de uma curiosa Íìgura de artesão tivesse
estreitamente ligada a outro motrvo que perpassa continuamente ele tirado algumas sugestões que agiriam em profundidade em sua Íìlosofia.
o
pensamento europeu do sécuÌo XVI e que se manifesta também Farrington retomou a hipótese, já adiantada havia mais de cinqüenta anos por
nos escritos
dos maiores e mais famosos expoentes do humanismo Sir Clifford ÂlÌbuttno, de que Bacon, com I 6 anos quando de sua estada em paris,
inglês: o da
superioridade de uma ciência útil frente a uma ciência desinteressada, teria freqüentado aulas públicas sobre a agricultur4 a mineraÌogia, a geologia
e de
um conhecimenÍo capaz de incidir sobre a prática, em contraposição de Bernard Palissy- um aprendiz de vidraceiro que, ao procurar o esmaìte branco
a um
conhecimento de caráter exclusivamente teórico: para aplicar sobre as cerâmicas,teria atingido a ceÌebridade e, em seguid4 beirado
a ruínae?. É possível que no Noturn Organum Bacon tenha tido em mente
a perfeiçãodo homemnão consisteem um mero conhecrmento justamente o caso de Palissy quando escreveu que "somente de vez em quando
ou curtura
incapazde ser aplimda ao uso ou de ser de proveito para outrem. acontece que um artesão excepcionalmente inteligente e ambicioso se dedique a
A
verdadeiraperÍèiçãodo espírito (mìnehumano está no uso e no exercÍcio uma nova invenção e, via de regra, se arruine durante a tentativa"es. hipótesg
das r.irtudes e, ern puticuÌar, da supremavirtude: a comunrcaÇão
do saber retomada por Farrington, é plenamente aceitável. Palissy, na realidade, é um dos
coÌÌì vtstas a seu uso por outrem * exemplos mais conspícuos da penetração de uma mentalidade cientíÍìca numa
daqueÌas atividades manuais, como as artes da cerâmica, até então relegadas
São palavras, essag de Thomas Stãrkey; a intolerância dos humanistas quasecompÌetamente ao empirismo. Não é por acasoque, entre as escassasleituras
ingleses pelo saber'disputatório" da escorástica e pera estrutura de Palissy, reencontraÌnos Vitruvio, um livrinho de Paracelso e um tratado de
definitória da
teoÌogia, a poÌémica puritana contra as sutilezas da lógic4 a enorme Cardanoon.A Íìlosofia, para Palissy, é arte de observar, arte esta que não é
fortuna que
te'e na Inglaterra a obra de petrus Ramus: tudo isso foi, em
úrtima aniáìise,
expressão da exigência de um saber dirigido à prática e ao uso. Âs
fogueiras dos
'"SirT-CliÍìòrdAIlbrrtt."PaÌiss-1',lJacorraruìrìrclìcriraìoí'Naturalscienc<.,cnr
textos das discussões unirersitárias nas praças, as páginas arrancadas I'rcrudingsof
das obras
lhc Ilrìtish:lradant,\tI.t!)l:t-ì1. l ) 1 9 9 i s s ( , \ q u c s r ã o d a i n f l u c l n c i a r l c P a l i s s _ r ' . i ilír a r i a s i < L r
de Duns Scoto das quais estava repÌeto o pátio do New College,
em Oxford,o, Ìtrantatlir por.-\- lÌ lìarrschnrarrn. IJ /ìrÍ.'n, utd I.) IJuon, Ì,eipziq, tgOJ)
Qrurrro à lxrsrç;ìrr dc,
num dia de 53, não eram apenasfatos que aconteciam deüdo à aboliçao
das escolas Irarringtott,rcla-seP-ltjcnlaiorcsconsidcraçõcsrroartigo Orrnrisrrndcrstatrtlitrsthcl,ì:ilos<1rlrr,
monásticas ou à nova jurisdição rerigiosa.A demanda de uma Ìógica que oí l:'rancir lJacon . ern Sicienv, f,[edìcìu au! Ilistorl: E.ra-rl r)r lutrno of (ï ór)rgc4 ()xiòrd.
serüsse de
guia pnítico à discussãq ern Íìrnçãodo triunfo das controvérsias religiosas, t9Í9, \ol I, pp lJ9-;{) OuaDro à citaçâo dc \gricola por 1>arte clc Í3acon, cI'. D,1,,V I.D :t7,2
associava-
"'\rcslrcrto<lellerlardI)aìiss,r'íI,iIo-sv)clì Ì--{rrriiat, I}etnantPttli.s,PaÌi\,)s6í;l-ìI)rrPLrr;
se à outra, bastante difundida dentro da nova flÌosofia da naturez4 de uma
Ìógica da Ilernarrt PtÌisst. I)arìs, Ì691 Ì)e Palissl: I)tsttnrs adntrabltr. Paris, ìí8Oi Rtccftc utrtt,iltlt,
invenção concebida como "artd' ou como ,,instrumento,,. l-a Ììochclìc, lSrliì r\Ìlìl)as as olrras Íòranr rcinrprcssas cnr A [.rancc, Lcs oeuarzs(íc Íj?rnnrd
Prrlr.rrr. l)aris. I siìO
"C1.(-as1rrri. 11r l-.t;; lÌNSiriÌcì b/ú-r, Ilttutniçtnandthc\tt;,-littlot " ÀOI sì
1rì.çtotrtrt,<t,,lllL
tSlJ9. tì I. Ì)p i.io-a,h '" ('1. Frarrcc Itsoerz'rtt dc lla-nard Palr'sr , < it : P. Drrhenr, au h)ludts sur Leontnlo do l'in ì.
Paris lg()aj,l,ì)P 295-5J,rìtr)stracotno,altcsardairoDiatlcl,alissyar<'sPcito<ìeCardarro.cìc
tcnlra sjtÌ<ritttìucnciatÌo pela tra(lução frarr<esa dr' Dt suhttÌid4d? (l,c.t lìitres dr IÌìérorte (trtlantt
' ìtrtlrìr,r \\\'rxxl.,f/r,rorrir fdilliluihth,rtiln,,r.\iltt/ì.çottnmttì.ç,Orlitnl í;.1;ÍÍ lr t(ìs lrudilìtr fdr J?ithtnl Le /l/dr., PaÌis, ìri5.j)
tr;t;.1,|
absolutamente patrimônio dos doutos: era deve ser
difundida ,.todos
entre os
habitantes da terra,,, e é em nome de um .,culto
das coisas,, que eìe se opõe com
vioÌência à tradição fiÌosófica:

... comment est iÌ possible qu,un


homme puìsse sçavolr queÌque
cìrose et
parler des eÍIects natureÌs, sans
aroir veu les livresjatins des phiìosophes?
Un tel propos peut a\oir ìieu en
mon pris que par practÌqueJe
prou\re en plusieurs endroits la "nd.oit,
théorique de pìusieurs philosophes apresentam como continuamente vivas, capazesde se transformarem
fausse, de informes
mesme des plus renommez et plus
anciens, comm".hu.r. pourra roir et a cada vez mais perfeitas, em reÌação às necessidades
cambiantes tia espécie
;:,ï:::ï:i._ïiÏ::i.:;ï;ïïi:il:ï",ïï::ij_'.ït""ru;,xl
qul sont rnises pour tesmoignageet
humana. Isso de fato aconteceu, segundo Bacon, nos
desenvoìvimentos da
preuve de mes escrits, attachezpar
ordre et par estages,aveccertaìnsescriteaux
au dessouz,afin qu ,un chacun
se puisseinstruire soy mesme:te pouvant
asseurer(ìecteur)qu.en bien
p e u d ' h e u r e s ,v o i r d a n s -ì a - p r e m i è r ej o u r n é e ,
t u a p p r e n d r ap ì u s d e
phiìosophienaturellesur Ìes faits des
cháses.oni"nu", en ce lirie, que tu
ne sçaurors apprendreem cinquante ans,en lisant
lesthéoriqueset opiìrions
des philosophesanciens",(.)

Está presente aqui, em forma tosca


e ingênua, mas nem por isso menos agricultura e em muitos setores da mecânica, mas ainda
significativa, o embrião de dois pontos há demasiadaspessoas
ceniai"ãu-iito.onu baconiana,,: é que consideram vergonhoso o fato de que homens cuÌtos
necessário substituir ao cuÌto dos se rebaixem a observar
livros e da tradição o cuìto da
restaurando a possib'idade de um natureza,
fecundo "conúbio u.
da "coleção" não é o de divertir ou a finaÌidade
"á-
despertar a curiosidade, "oir".,,;
mas de ser um meio
de estudq um poderoso instrumento
de aclararnento e de pesquisa científicarn.
Na realidade,quando Bacon se voÌta
a para as ..artesmecânicas,,(quese
apresentam como capazesde revelar Ìhe
os processos efetivos da natr.errj
aqu.eÌa capacidade de produzir invenloes ,ê nel".
e obras au" qrur. carece "
tradicionaÌ' ou quando, polemizando o saber
contra a esterilidJe da Ìógica das
planeja uma histórìa das artes e escolas,
das técnÌcas p."..rposto indispensável
"orno com que o progresso das técnicas não seja confiado
ao acaso, mas também de
'" conduzir ao níveÌ e ao método da técnica aqueìas "ciências
11. l)alissf l)^tr,urs adttìra\lr:..Jtlxerlt.s.çctninl,tut.lrleurs.ít
I-rt ottz,tt.t-cir_,
liberais" que ainda
l).ìíì(ì. não tinham atingido taÌ posiçãos,.O caráter de colaboração
o r ri orx-)c-:-(.iusrarrcrrtc ;) tcsc ac'Sir ('Ìrlìirrcr e de progressividade
-,-t..-lrr"-'*1:': .\it'rrt qtre atir nrava cxistir unra
d('rr\ açãí) Palìssr'-lìaron tlireta c irrretliata.
"ParaorìgrrifjrarÌorh rt,lt,ç:ì,r.Ìl(,ÌÌ,1ìsarìì(ÌìÌ()dc13acon.reja_scarroLasjl
das artes mecânicas proporciona portanto a Bacon um m.odzÌodo quaÌ ele se
aÌquímica. Para compreender o significado, o valor e o alcance cuÌtural dessa
serve, por um lado, para entender as características da pesquisa técnico-científica
avaliação baconiana das artes mecânicas e da concepção da ciência a ela ligada, é
e para diferençá-la da magia e, por outro, para fornecer uma série de avaÌiações
necessário ter presente que aquela infiltração de saber técnico nas esferas da
quanto ao inteiro âmbito do saber humano, em todos os seus setores.
cultura a que se acenou nas páginas precedentes não é com certeza reconduzível
Em 1609 Bacon, já quase com cinqüenta anos, publicava seu De sapìentìa
ao âmbito de um esquemalinear A complexidade dessainfiltração pareceevidente
a e t e r u m ,a t e r c e i r a o b r a f i l o s ó f i c a q u e d e c i d i r a t o r n a r p ú b Ì i c a . E a q u i ,
se lembrarmos aquela contínua mistura de técnica e de magia, de astrologia,
interpretando o antigo mito de Prometeu, ele encontrava mais uma vez a maneira
astronomia e medicina, de alquimia e de filosofia natural que é o elemento típico
de reafirmar, servindo-se de uma imagem sugestiva, a necessidade da pesquisa
de muita fiÌosofia inglesa e européia dos séculos XVI e XVII.
feita em coÌaboração como sendo essenciaÌ para o progresso da ciência:
A posição de Bacon é, deste ponto de vista, uma das mais características e
não é casuaÌ o fato de ela ter sido objeto de graves incompreensões: há quem
Resta,enfim, para tratar, aquilo que se refere às festasde prometeu, com
tenha insistido pesadamente - como Liebig, por exemplo - sobre as "falsidades"
as tochas acesas.Isso....refere-seàs ciênciase às artes, como aqueìefogo
em memória e celebraçãodo qual essasfestasforam instituídas,e contém e sobre as "absurdidadescientíficas" presentes na obra de Bacon"; há, ao contrário,
em si mesmo um ensinamentocheio de sabedoria:a perfeiçãodas ciências quem - como Farrington - tenha deixado completamente de Ìado o peso que a
de'e fundar-sena sucessãodos esforçose não na prontidão e habiìidadede tradição mágico-renascimental exerceu sobre o pensamento baconiano. Resultou
alguém-Por isso, aquelesque são os mais fortes e os mais dotadosna disso um Bacon "filósofo da técnica" ou da "ciência aplicada à indústria" em que
corrida e nas provaE talvez sejamos menos hábeisem conservaracesasua uma série de motivos, que em seu tempo foi central, é deixada completamente na
própria tocha. De fatq na corrida demasiadorápida, o perigo de que a
sombra, De um quadro como o de Farrington (que nas conclusões básicas é
tocha e apagueìlão é menor do que quando a corrida é demasiadolenta.
plenamente aceitável) saía em parte faÌseado o significado histórico das próprias
Essasmrr.idase essasmmpetiçõesde tmhas parrcequehá muito temln Íòran
deixadasde lado_..édescjár.elque voÌtem, que se renovernesses posições sustentadas por Bacons'. Da mesma forma, não faltaram os apressados
Jogosenì "superadores" de Farrington que, depois de terem genialmente descoberto a
lìomenagema Prometeue à naturezahumana,quesereproduzaa competição,
a emuÌaçãqo sucessqe que a ciêncianão tenhamaìsquedependerda trêmuÌa impossibiiidade de identificar ciência e técnica, serviram-se de modo pouco
e agitadatochade um únjm pesso4quen querqueelaseja.* perspicazde sua formula e situaram novamente Bacon numa história que tinham
comodamente à disposição(ou nas margens dessahistória).
Sobre os conceitos que foram expressos aqui será necessárioretornar, mas o Ás teses fundamentais da friosofia de Bacon são muitas vezes polêmicas e
trecho citado acima pode se^'ir de exemplo claro do peso atribuído por Bacon a um "unilaterais"; são dirigidas a objetivos precisos e dizem respeito a uma situação
saber que não apeìa para a habiÌidade e a presteza de um indivíduq mas para a cuÌturaÌ bem determinada,que é oportuno ter sempreem vista se não quisermos
sucessãode esforços e a divrsão do trabaÌhq enquanto são acentuadosos perigos que fuja deÍìnitivamente à indagação aquilo que mais importa ao historiador
rmpÌícitos nos empreendimentos científicos que têm somente caráter indiüdual.
'
Já estava presente aqui a contraposição entre um ideaÌ '.moderno,, do saber Ì - i < l r i g . 1 r 1 r2 + - ) i , ! t ) - : i l

científico e os ideais, os métodos, os fins característicos da tradição mágico- " \1ja-se, pot crctnplr, tle qrtt nrareiu I ' r r r , ì r 8 . 1 o ì r / l ) l o i ) i J ì L e r l ) r c Ì ao p r o 1 t r o Ì r ; r r , , ; r i a r i ,r' 1 c
i r r t r o t l u z i r n u n r j c t c r r r r i r a d o c o r l ) o ' l o \ a s Ì ì a t r r r ( . z a s . ( ) u ( ( ) t ì Ì ( ) c l c ( l )l o i ) a r r l r a l x r r , s r l z r a r
t l c s i g r ì 1 ì r a t l o a p r r s i ç l ì oì r a t o r t i a n a r c Í e t c n L c a o c l r á t c r " n r c < â r t i c o t l o r r o r o n r r i r r t l , r , l i : c r r t j r r r l o
a J r o s i t ã , rl r a r , r n i a r t r a P a r t ì r ( l e u Ì Ì l ) o n t o r l c r i s t a a - l r i s t ' i ri r o

i
-|-
determinar: o modo como certos conceitos derivados da tradição foram se
modiÍìcando sob o impulso das exigências próprias de uma época. A avaliação
9. A hmança da magìa
baconiana das artes mecânicas e sua concepção da ciência estão esheitamente
Nos últimos anos de sua vida, Bacon enfrentou uma obra gigantesca, cuja
amarradas à posição que ele assumiu em relação à tradição mágico-hermética do
realização confiava à sua fama e à sua grandeza: a compilação de uma grande
pensamento da Renascença.E a posição baconiana para com a magia, os motivos
encicÌopédia da natureza e da arte (ou da natureza modificada peÌa mão do homem)
de sua adesão, de suas críticas, de sua recusa'podem ser entendidos apenas se
que pudesse fornecer as bases indispensáveis para a nova ciência. Com a única
renunciarmos, preliminarmente, àquela atitude de voluntária incompreensão para
ajuda de seu secretário, Rawley, ele trabaÌhou por muitos anos na htstonaprimn
com manifestações de cultura que foram qualificadas apressadamentecomo restos
que deveria reunir o material necessário para a compilação das histórias
de tenebrosas superstições antigas e medievais, quaÌiíicação essa que nos eximiu
particulares. Essa grande reunião viu a luz sob o títuÌo de Sltlua sìbarun apenas
do empenho de enÍientar historicamente discussões que interessaram, durante
um ano após sua morte. Mas Bacon havia decidido trabalhar com igual intensidade
muitos séculos, grandes setoresda cultura européia e que apaixonaram não apenas
tamMm nas historìnz partiraltreS tanto é verdade que haúa projetado, .fazendo
John of Salsbury, AlbertoMagno ou Roger Bacon, nâo apenas os naturalistas da
uma espécie de promessa", publicar todo mês, durante seis meses, uma lìistória
Renascença,mas tamMm, até a metade do século XVII, Bacon, Descartes, Kepler,
diferente, "se a bondade de Deus se dignar manter-me em vida,, Das seis histórias
Marsenne e Gassendi'8.
previstas, conforme é sabido, só foram pubìicadas a Hìstorìa pentorume a Historia
dtaz et mortìs. Esta úÌtima devia ser â sexta e, ao invés, apareceu como segund4
a um ano de distância da Historia l)entorunse.Era justamente a essa parte de
sua obra, que permanecera em grande parte em estado de projeto, que Bacon
atribuía uma importância central. Para estabelecer o plano de sua enciclopédia
eÌe renunciou, com efeito, a completar sua lógic4 considerando que a cuidadosa
compiÌação de uma compÌeta história naturaÌ e experimental teria podido mudar
'-prrarrroàaraliaçãobacrnianadarrragiírniürrral.cÍ.:litl.'l'trnt.S!l|l,p)Ìì;,.1.h,.\2 a sorte do gênero humano dentro de um período curto de anos$.
III,Pp
361-G2:('ll. ó2 IIl, PP 59) ss;F-ìlun hb...V lll. pl) +í)Éi,s;:l/.\'_1,^!p.Í1. p sl; -\'O L:, ?.9,rì5;
ll e7,2s,io; D|l Sp I, pp +,rG.ir, jiTs-r +
'a '' lìrì I s9?, crt'ditor ilc
Qustìoru vll'alcltìt ru dc BeDc(ìctto Varclri settirr a ncçcssi<.ladc
rlc |àz.c.r
f)rc(:e(lcr o tc\t() por \Dt ,!-rLiso ul satn lcíkttt do guitl r alc a |rIa relxr-tar as lralat ras rDi<iais:
'Nada Iìator alrrcsrrrt<trr scl proiet(ì r'as linltas dirc.trrzcs dc sctr
<ir' rrtris c\tra\ agantc, nettt tle tnais irrtrrcrcrrtr. parl o lrrrrr scnso tk: rlrrc ls esptr,trlaç<-rcs Progranta ett Parayetc f.\p Ì, P1r
:i9l-lo:l) O ('dtdloeus hìstonatuut pdttttilLtliuill;ecttdunt talìtu (ibìi. pl) tol_to) é uÌna
r s t Ì o ì ( i q i c a s c a a r t c l r c r l r r , t i c a ; t r l l t r , s c r Ì ? ì oi t ì \ ( , Ì ì t a r a ( ) [ ì ( , t ì ( ) s r ( . Ì ] ( ) 1 í r l ì o s i , c r r ì o X V I o
lista rlas lrcs<;Lrisas a scrcrÌr rcalizadas \os.!photìsnt dt rottficrculLt hìsrorio Ttitm (i(ti!.,1t
srrltrcrtirJo cnrordinxLrto lrumano" ;\ posiç;ìo qrrc, diantc dcssa ord<rn <ìc discussõc,s c tlc tcnras
1{)jì) lìacorr clccìara scu propririto tlc injciar cìc nr<.snto o rralraÌho A cstá nâ
assurnirarrr historradorcr ilusrrcs, dcsdc l)c \\irll atí,(ìjlson c l)e lìilgcicro, não é l}rorìessa'
I ) e r l i r a t r i r j a a . P r í ' r t P c t l e ( ì a ì c s r l t r c P r t : c c c l c a c t l i ç ã o d a l / / ' ( Ì - o r r d r c s , t r ì t , _ l ) ; ^ \ 7Ì )l . p s ) .\
s u l r s t a n c t a Ì n t c t r l ct l i Í i ' r t ' t r t c [ ) c r c t r t - s c s r r b s < r ( r r r a s ( ì a t i n < ; r r a n t oà t l j l i c u ì c l a c i cd c
Palarras tlc lista <las scis hist<'rrias particular.s está crn 7'iuli hiiorittrunt d rnquisititnett ìn
se c<lttllrccntler a ÍiÌosofia" do qidentc,'iìeirarrìo cornplctarncntc de lado os tel)las (lue rÌrgiarÌ) frìnros st.t
ntnset dtsíínalat tu (ìhid.,p I t ) .{ ,l')/ìloi Prrblicada Por lìas le-r cÌÌl I íì,;s I)as ììrstórias rcsraltcs
por toda Parte, cxibiltÌrt trâo alxrras lórtrtulas clc elorcisnro e inrotaçrì<-s <lcnrorríacas, nras
Bacorr cs<I<'rcrr al)enas os |relãcios (,,1üar) (1ó2, pp r0-rl)
t<trla urna coDccl)ç:io rlo ltornctu c tlc srras rclaçrìcs crln as coiras ((;arjD. Isr;f, p-ìt.J, e (ll *'Llttracrposilãorlasraz-õt'sdaintcrrrrpr-ãot.stá<,rrrl--arritrgtotì,lÌ)
(ìafiD, ljr(r1, Ì:loss Noqu<-scrcíèrcà
l)l) Ì tri-íj;í)
rcJação crtrc a htgìat e as hisíot iur, rcir-sl o r apítrrlo VI <lcstt, lrr r._

j
A Sllaa sìhtarum (uma grande floresta que devia oferecer o material às jeito especial pelo fato deìes amarem os cheiros Iétidos, ou quando eÌe fala da
construções futuras) foi portanto escrita com certa afobaçãopor um homem que "virtude extintiva" da qual seria dotado o corpo da salamandra, ou recorre
tinha a consciência de ter de lutar contra o tempo, de ter de reaÌizar sozinho um repetidÍrmente ao conceito de simpatia, ou acena aos influxos ìunares, ou ao mau
trabalho que teria exigido uma série de pesquisadores e uma inteira organização olhado, ou à fabricação do ouro, ele nada mais faz do que ecoar motivos muito
culturaì. A apressada composição dessa obra fez com que o escrito fosse difusos que irão sobreviver ainda por quaseum séculoem vastos setores da cultura
considerado de pequena importância, ao mesmo tempo que outros, durante muito européia. Os Vulgar anl Commnn Er.rors de Thomas Browne foram publicados
tempo, ironizaram quanto às falsidades e aos absurdos de que eÌa estaria repletaa'. em 16.Í6 e o autor (que, por sua vez, aderia a muitos daqueìes "erros") não visava
Na ansiedade de terminar sua empresa, Bacon não teve escrúpulos de saquear absolutamente atingir crenças populares, mas conceitos, como os expressados
uma série de textos. A maior parte de materìal exposto e considerado na Sllua por Bacon e bastante difundidos entre os intelectuais das épocan . O que, ao
silaarum provém de fato dos Problemata mztzreologìeade AristóteÌes, do Dz contrário, vale a pena notar, é como Bacon mostra ter acolhido aÌguns temas de
mirabìlìbus auscultatìonibusdo pseudeAtistóteÌes, da Hìsürìa natural de Plínio, importância fundamentaì da filosoÍìa renascimental da natureza No contexto
da Magn tuturalis de Por4 àe A Relntìon of a Journz1 de Sandys, do De subtìlìntz da Syhtasìloarumeles Íìcam particularmente evidentes porque são continuamente
de Cardano, do ÁdacrsusCardanumdeScaÌigero"!. Na realidade, uma ìeitura dessa aplicados a uma série de casos particulares, mas estão presentes também em
caótica coÌheita pode nos fazer entender, melhor do que qualquer cònsideração suas obras anteriores Os temas mencionados são os seguintes: t) Todos os corpos
de ordem geral, a profundidade do influxo que a tradição mágico-alquímica veio são dotados de percepção Quando um corpo é colocado em contacto com outro,
a exercer sobre o pensamento de Bacon. ocorre uma espécie de "eleição" em função da qual é aceito o que é agradável e
Não cabe aqui se deter longamente sobre aspectosda adesão de Bacon aos rechaçado o que é desagradáveÌ. Se um corpo altera um outro ou é por este
temas mais característicos da magia medieval e renascimental, aspectos esses alterado, uma percepção precede sempre a operação. z) Entre todos os seres
que foram reiteradamente eÌencados e discutidos Quando Bacon concebe a existe uma ligação de caráter universaÌ que se manifesta como força de atração
putrelação como devida a espíritos voÌáteis que tendem a se afastar dos corpos ou como força de repulsão. Todos os exemplos examinados na dêcima centuria
para gozar os raios do soÌ, ou pensa que o olfato dos cães seja configurado de um da Sllua sìlaarum fundam-se nesse conceito. 3) Cabe à força da imaginação um
papel de primeira importância: apesar de seusprotestos iniciais contra ParaceÌso,
'L l-ìcl)is.
I ríj
Bacon chega.a sugerir "provar" a força da imaginação para tentar interromper o
''(Í.ll
ìlrrlstrrltt!-[]attrt',\rlinsìhttuot.l'trÌrlitÌ-ibrar-r:QrrarrcrÌ-\:lì()sr()rì.llt,l)j)sd-,S?: processo de fermentação da cen'eja ou impedir que o ieite batido se transforme
- . \ r r r l c r s , r r rp l ? i Isfirltc'prrrrripars<la,tì'/r',rÍòrarnclcontratlaslxrr l.ìlìisí.\y' II,11r_t:.rsl ss)
,\rrìrrarÌt(ìt'rrrgr:Sintl:s, llÌtlatnnof i,loutfir,fòi lrrrìtìi,adrctrrl-otìdlescÌìl(it;ctc\cscte
({ii!òes.rÌìlÍsdc1/j;rj Ì'(Jitr,ìcluri{lal)iltaorlcrnão(-lrrrstcrdanr,ìíi5il,\.is({li!ò(scntr(iÌijíli
( líjí;9j l-!ìì\ rÌì()sr'ou (lu( os Darii{ralìts t()t-n3 (lJ ,\ì/za são (olrsrrüíd(,s solfc a obra ri<, '' -flronras IÌrorrDc.
/Ìrrlrlorla)1d h:Pk!ÒtutI, l-rrrrrlrcs, trjlri íc tÍjio. Ìrjls. lÍj(jÍ/, l{j:j. líiaaj:
Srttrl-rsrlctaìrrrorLiqut.arratí"stlcÌc-.,')ôdc-s(,1('tfa!ar()lttt-crrrsodr Sand,t,s<,ntrrrariaqerncÌe rluas t-diçr-rs <tn aìt'rnârr (Arilsterdatn. I66s FratÌìi1rìrt, tus0): uDta 0D lì-arrcôs (PaÌls, tì.Jt,j):
lrlrrrr,rail,rYrsLjrio (',l)rSilhtÌlìfoü.(lcCarrlrrtolìtipuìtlicaLlocntNrrrcnrlrcri;clìììí.iíì;,\\
t l r r a s c r D i t a ì i a r r o ( \ Ì , ì ì c z aÌ .ï J ; . I ? l J ) . a g o r a r . n r , t / Z r i r Í e t Ì í ì l i e ì D e . ì r i \ ( , Ì s , l r ) Ì Ì ( l r e - \ j Í r j i -
1'-. Ltoltiatunt trtnìÍttìonunt ltlti\l'dt rubtilttntpú IIìent-tnun C,trìilttilDt,ie G(' S<aligcro Jt Quarrto à influôlcja dc llacrrr c l)<s<artts, rc.ja-sc,\_ (- IÌoueÌì rrrr.52, tÍr9;; (ìr,ânto ao
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( ì ì ì I i l n ) , i r l l ì r í )( ( j n r r r D r an , ^ a c t l i ç i o r l t D t i l ' t i i ì a t t e . . \ r t s P e ì t o r l a
P o ì t r r r i t a .c Í . o r c r l , t , r t , ( , r r r { r l t r o csrrrrlrrrlc\\'. l). I)unn,.\rr?larnrlhvn'ne.,1 ,\tudtinrtlìpt)ou_;])hìlot
/art \íinrìcalxti\. ìÍl.jo; Í.ì
'Ììottcrtlirrn, -I-ltonut
I)ilrtuitt,tt hìtlot ìiltreLl er t!ttluc <1<JÌ;'r ìc tr;r;;) Ì, lIuftÌcr: Sìt Rrottta, \Iiclrigrr rrr6:
em manteiga. Por essecaminho ele chega muito além da exaltação que dos poderes do qual ele falava não era de nenhuma maneira identificiáveÌ com vma Í)irtas,nem
"ocultos" da imaginação haviam feito aìguns naturaÌistas da Renascença*. com uma energia ou enteÌéquia ou com outras nugaedo mesmo tipo, constituindo
Teses dessa natureza não são características apenas do "vitalismo" ele, ao contrário, um corpo tênue e invisível, mas locatum dimtnsam redlcÂ. Esta
renascimenta! elas abrem as portas tamMm para a aceitação do ideal mágico acepçãodo termo "espírito" é comum nos textos de aÌquimia e o significado que
que se encontra estreitamente ligado a esse vitaÌismo. A aceitação dessestemas é dado a esse termo pelos alquimistas não parece ser muito diferente do que lhe
por pa-rte de Bacons abre o considerável problema, na ffsica baconiana, da co- é dado por Bacon+e.Oespírito como fonte da nutrição e da vida, que é necessário
presença de uma concepção mecanicista e de outra dinâmico-ütalista da reaÌidade. 'reter"
para manter a vida, que é semelhante a um vapor úmido difundido nas
Entretantq o que me interessa salientar aqui é a presença e a persistência desses partículas eìementares, constitui a base, de um lado, para a construção de uma
temas vitaÌistas e dos motivos que derivam da tradição mágico-alquímicas, mesmo teoria mística da realidade, e de outro, para a teoria da transmutação dos metaistu.
nas obras anteriores à Syloa sìloarum.Provémdatradição alquímic4 por exemplo, Assim, um dado metal difere dos corpos ÍÌsicos restaÌltes em virtude de um espírito
no Nttum Organum e na Historìae ztitaz et mortis, a afirmação da presença em específicq mas este último não passa de uma modificação ou um estado de um
todos os corpos de um Eirìtus sfue cor?uJprcun4Ííc1mc*'. Do espírito têm origem comum "espírito meta-Ìino" que, por sua vez, é uma emanação da anìm.amandi,
os conceitos de dissolução e de corrupçáo: a detenüzb
do espírito constitui, portanto, que deriva do spìrìtus unioersie, em última aniíüse,de Deus. Não creio ser possívcl
o único possÍvel antídoto para esseprocesso de degeneração. Por isso rhesmo, os rastrear nos textos de Bacon uma adesão,explícita ou implícita, a essesaspectos
corpos menos porosos como os duros e oleosos, têm melhores coìdiçÕes paÌa 'místicos"da
t'adição alquímica. Muito mais eüdentes sãq ao contráriq os da doutrina
resistir à corrupção. E na Hìstoria vitae et mmtisBacon esclarecia como o spiitus hermética da transmutação dos metais. Esta última é fundada na crença que um
certo tipo de espírito é comum atodos os metâis eque, onde não intervêm "impurezas"
- não meìhor definidas - ele é absolutamente homogêneo. Liwar um metâì das
" Para esses c<ltccitos, cf. .\r/zu. Á2 II. pp tio2 ss Para os tnorintctrtos cotÌro \irtudcs att\as
scrncìhantcs aos apetites tìa nratória. cÍ. -\'Q Ì1, ls- Otaììto iì Íôrça dc irnaginação dc lJa<on, cl impurezas equivale, portantq a levá-Ìo a seu estado de perfeição. E esta libertação
oartrgodelÌ i\{arion<rn Reiwelthìlou4iltitluedzlalianceetdel'itnngcr,tBSl,l)l) 9l-lot.e(; pode ser obtida introduzindo num metaì de base o espíúto de um outro metaÌ- O
llachclard. l-tt.fònnatìnt de I'ps1it stiuttlique, Pans, t9.99, l)l) l+ô-+;_ O tcxro rcnascintcnral 'digestão"
processoque atua no metaÌ passa a ser indicado com o termo
rrtajs ci'lebrc sobrc os ptxleres ocultos tla inra.ginação ê <t De iwuntrttiotLiórrs dc l)onrponazzì
A linguagem que usa Bacon ressente bastante a influência dessa tradìção,
(Uasìlóia, I5.16)

" CÍ- a interprctação rìa lállrÌa de Ctrpido Ìto D.S/'c totlo o I\/ capítrrlo do Ill lir ro do Dí sendo que ele faÌa de "assimiÌação", de "nutrição", de "geração" e de "irritação"
''' A rrspcito dessa
trâ{lição. aléur da obra dc'fhorrrclikc, VI, rt'ja-sc C Sinqer, I;ron }lIagi-to no que se refere aos processos de conservação e de transformação das várias
, \ t r c n t e , h ) s s a . y s i n l h e & ì e t t t t ' í t7 ì t z 1 i s á l , N o r a \ ' o r k , l99ti l.lnrparticrrlar,sobrcaaJ<lrirrria:[l_S
lìctlgrorc, ,JhÌten.y,4ntìett rtnl f[odqu, I-orìdrcs,tÍ.]t t; [ì J Iìorbcs, Short Iiìston ol tfu;ttt o.f
'I-at)<tr,l'fu ^ C{ìiíDlì,
I)ìslìllatìon,lriden, I 9 I s; lì S ,llchanrtt, Ì:bundus ol llotkrn ('henistrl, Nor a \irk, .!, Í1, 1rl,lc Orranto ao cspiritcr r itaÌ scì coDstitrrido dr ar e 1ìanra, clì I1i lì/, S/ ll,
Ì91Í); Iì J fIoÌnr_1'ard,.4Ì,'ltn.t,ltnrlrts, tÍ)5? Eristenì Ìroríciís úteis sofrc
a tratÌição irrgìr-sa l) :l l.;
'\VitclìcraÍÌ -l-hc
rì()s dois artìgos dc IÌ StccÌe. ar:d AlcÌrenr1". cn Stxit! I)ngtdntÌ IV e Scicnccs: " Cl.- pof (.\(JÌìl)i(), o tc\to (le Ììasiìjo \ralcntitro, cit Por Iìcrlqrorc. lldÌriltl ,til.uìú dil(l llolet n,
'\lchern,r' in Slukcspcarc's I.ìnglantì ,Ox1òrd. t9;o, I, pp .1ri2 ss Pâra a ìrriluôrrcia da Iìtcr-arrrra (lt.p 9í.e l ì c r r e c l i c t r r s l ' i c L r l t r s , , .6, lo l r / r r a n d B l e s s e d ( o s k d r t f -\itliaziìírri,r/.t,tratÌ <lc Fl
'entlaruiut
alqtrírrri<a tu Bac<rr: P. Jatrct. Ilaro f altheni:ì: /nlovphis quut ìchuerìÍ,,.\lg,r1 t 6tì9; l) \\iitc, I-orìdrcs, I ss)lJ
llrjrrkrrann. ,lfat.çltuulTerhnik,()tuu!:íigtcinerPhúrophìedr'!uhú|,; BcrÌìa. I9ti, l)l) MOss ''Paraaorìgcrrraristot<llicadessastrrrttpçtìcscl.)hlcotologìd Ill,íì.1ì J;xí l)ara{ì(oÌì(crto
'i Níutto fr-at a.
sobrc cssc aspecto. â irìtcrprct.rção tì,ita 1xr S1x'ddina (^5) II. p Srl) rlrrc atr ibrri dc tspírrto-crnlìacon,cl.:Photn t-.'Ì,.\p IIl.l) íi9{)i.\'í)Ì1,1<t:lII'.\l.S/ ll.lÌ) rliìss:1íI)/?.
c s t a c r c r ì ç â a r r n , r g c t r é r ì t a r l e D t a l i c l a < ì c l t r i r n Ì t i r aN
- aurcsrnaìiDììa.Iro$lcr.Ìì a,lt .l7r [1. Pl> 1; t ss
substâncias. Ele utiliza particuìarmente o termo ..fixação,,,dando_lhe o mesmo
Baseado nisso Bacon propõe uma absoìuta iguaìdade das partícuÌas eìementares
significado que este tinha na tradição alquímica5'. porém as afìnidades
e considera que a heterogeneidade sustentada por Demócrito deva ser
ter'inológicas acabam por revelar uma afinidade substanciaì de atitude. Na
abandonada. Ela só poderá ser considerada enquanto passível de ser interpretada
"Íisica" baconiana alguns termos da tradição aÌquÍmica
são empregados com uma como a afirmação de que a passagem de um corpo a outro pode ocorrer
aìteração de seu significado originário. Tratar-se-á de ir determinando o alcance
mediatamente e não imediatamente, como queria Pitágoras!' A pesquisa, aìém
dessas alterações que estão ligadas ao atomismo e ao materiaÌismo de Bacon.
disso, deve abandonar o terreno dos quieta ?nnri?ia rerurrl para dirigir-se, ao
Por enquanto basta lembrar que as pesquisas da aÌquimia estão sempre de aÌgum
contrário (e isso também é significativo) ao estudo dos "apetites" e das
modo historicamente correlacionadas com a doutrina da matéria de AristóteÌes,
"inclinações"uu A própria incerteza de Bacon frente ao problema da existência
uma vez que elas pressupõem dita doutrina como um contìnuum e fazemlargo
do vazio Ìiga-se a uma contínua osciÌaçãodiante do problema da continuidade da
uso dos conceitos de matéria e de forma. Ápenas a convicção de que cobre e ouro
matéria, e talvez deva ser relacionado a seus interesses para com a aÌquimia.
não eram duas "matérias" de tipo diferente, mas a mesma matéria "especificada"
Porém, a inteira teoria baconiana das "naturezas simples", do
em formas diferentes parecia poder permiür a possibilidade de uma transmutação
"esquematismo Ìatente" e do "processo ìatente" fora construída tendo em ústa e
e esta idéia vinha reforçada pela teoria aristotéÌica dos "vapores" que levava, eìa
em função de uma possibiiidade de transmutação dos corpos. Não por acaso
tamMm, à conclusão de uma absoluta similaridade e homogeneidade entre
os
nesta teoria voltava a surgir o uso da terminologia aristotéÌica e da distinção
metais'n As ligaçÕes entre aÌquimia e tradição atomística são de fato bastante
aristotélica matéria-forma. AJguns intérpretes fizeram esforços gigantescos para
fracas ou mesmo inexistentes e o renascimento doatomismo (para o quaÌ o próprio
Bacon dará uma contribuição não desprezÍveì) irá orientar de modo radicaÌmente iançar luz sobre uma identidade substancial entre alguns textos de Bacon e outros

diverso as pesquisas dos "químicos" do século XVIIr,. Aqui também, a posição de AristóteÌes, mas as dificuìdades que encontraram eram devidas ao fato de eles

de Bacon é característìca: ele tendia, conforme se sabe,a uma decidida reavaìiação se limitarem aos textos de Aristóteìes e não terem à mão os textos aìquímicos

da fiÌosofia de Demócrito e aderiu, em parte, também à doutrina atomística. suas peÌos quais, direta ou indiretamente, Bacon era influenciado. A anáÌise dos corpos
reservas, porém, diante das doutrirras de Demócrito, nasciam justamente devido permite, de fato, a Bacon,divisar as Ìraturezassimples que constituem o corpo; o
a um interesse preciso de natureza aÌquímica. Â escoÌha entre Demócrito, que ouro apaÌece assim constituído pela reunião das naturezas simples, como a cor
sustenta uma diferente configuração dos átomos, e pitágoras "que põe átomos amareÌa, certo peso específico,certa ductilidade, certa maleabilìdade etc. Trata-
absolutamente semeÌhantes" é, de fato, determinada - segundo Bacon _ pela se de um processo de decomposiçãoque vai do múltiplo ao simples, do
resoÌução de um probÌema de natureza prática: o da transmutação dos corpos. incomensurável ao comensuráveÌ, do indefinido ao definido e que é semeÌhante
ao da decomposiçãode uma paÌavra nas Ietras que a constituem ou de uma série
de sons nas notas que a compõem.As naturezas simpÌes aparecem,dessemodq
'lírtjloscxctrrlrìosdessar.rrrrirrologialì()(Jrrrscl-cD(.jÌìttad()srÌas\rrr.ls como o alfabetodanatureza e constituem qualidades irredutíveis às quais a natureza
lltttatida,naÁr/ilre
rro ì'í) ll L{, ()ÌrílÌìto ao rrsrr rlo tertro [ìxação-_ <Í. L4rììrÌìi, pode ser reconduzida anaìiticamente puem tenha conhecimento de como
Ì)Ì) ;S ss
'S(t,reattnriador'\alÚrcs'cÍ-
\ r j s k ' , t ( l c s , l [ r t t r c t u Ì o È r .l dI I , r ; . 1 ; 3 ; 5 , eaìol)scr\açÕcs(Jc
-l-ay)or,'l'fu
.1Ìchtuist, cir ì)l) ì2 ss
''
I b ì l , P 9 1 o 1c , c o n t l n a i o r P r c c i s ã o , l ì c r L Ì r c l o t , p t 6 i ( d ( - s t c l ) c r r Ì ì i u ì ( \ r Ì Ì r t i r s t l a n r < r r t a i s 6 s r l . i s '- ( oç l'a/, \y' l l, pp Ì ï-ì 5
rcrÌtrutcs hlrzrllrlrun ,) 1'//urfu ìe la tJrtn;:,,t/et ttttìttt_, e tlt ,\Iotr:t,_.jge, Ì-ari:, ' Ihil. p 9rt
Issll
swperinduzira cor amarela, o peso específico,a ductilidade, a fluidez, a solubilidade, concebidascomo "seresparticulares", como "naturezas" independentes,e portanto
e de como graduar essasnaturezas, reunindo-as depois em algum corpo, poderá separáveis da substância à quaÌ inerem "naturalmente" e que se podem, portantq
transformar este corpo em ouro. O método a ser seguido para introduzir num acrescentar, retirar e transfeúre. Quando Bacon põe em evidência a dificuldade que
'introdução
corpo uma ou mals naturezas será exatamente o mesmo, mas as dificuldades - provém da contemporânea de várias naturezas em um corpo ' move_se,
acrescenta Bacon - serão maiores no segundo caso, uma vez que é muito mais por sinal, dentro de uma ordem de problemas típica da toadição alquímica. Â adesão
diÍÌcil reunir contemporaneamente em um único corpo naturezas múltiplas que a esta ordem de problemas parece ainda mais cÌara quando eÌe aceita a tese de que o
se encontram habituaÌmente juntas apenas por obra da natureza Resta o fato fogo pode fazer aparecer substâncias não preexistentes e reconhece que a pesquisa
que este tipo de operações se lunda sobre os elementos constantes, eternos e dos alquimistas tende (apesar do uso equivocado que eles fazem do fogo) ao mesmo
fim ao quaì eÌe dirige suas tentativas (etfant aà ìì
universais da natureza e que essesprocedimentos têm o condão de abrir caminhos End qtazrìnus)*.
ìmpensados ao poder humanoso. Aqueles aspectos da adesão baconiana à magia e à aÌquirnia sobre os quais
se insistiu de bom grado (e com certa surpresa) adquirem agora um signifrcado
A obra e o fim do poder humano consiste para Bacon em produzir naturezas
mais preciso: a admissão do enxofre e do mercúrio como últimos elementos
novas e depositar (suptrindutere) sobre um corpo dado uma natureza nova. E
constitutivos da matéria, a a_firmaçãoreferente à convertibilidade do ar em água;
Bacon parece buscar uma;fìSrntula ou receita apta a
?roduzir naturezas simples e o interesse pela astrologia à quaÌ, embora lamentando seus efeitos, ele não se
a permitir a transformação da natureza dos corpos, como, pôr exempÌo,
dispõe a renunciar; as afirmações a respeito da possibilidade de um prolongamento
s'u|erinduccresobre a prata a cor e o peso específico do ouro5'. A ligação com os
indefinido da vida humanau.
ideais característicos da alquimia não poderia ser mais evidente; sobre dois
Verificamos, na fiÌosofia de Bacon, a presença de uma série de temas e
conceitos muito usadospor Bacon insistem, com efeito, todos os textos alquímicos:
motivos que derivam da tradição mágico-alquímica Esta lista sumária não esgota,
l) transformar um corpo em um outro é possível apenas depositando
entretanto, o escopo de nossa pesquisa. A dívida de Bacon para com a magia e a
(xqerìndrcere) sobre ele quaÌidades que não Ìhe pertencem atualmente; não por aìquimia é sem dúvida mais profunda do que possa parecer de um levantamento
nada a transformação dos corpos é muitas vezes apresentada pelos aÌquimistas dessa natureza. A essa tradição - tal como ela foi se configurando na época da
como uma forma penetrante de tinturaó8; Z) as ..qualidades',dos corpos são Renascença - estão com efeito ligados dois conceitos centrais da filosofia de
Bacon que estão na base de sua concepção da natureza, do homem e dos
"'-\?1/ql Ìttr['rÌ.aaiÌìuÍ)dLrção(i(,\áriársrÌat.rczaselÌì'Ì'sriccr-gr,_VIIS,rÍ;I)q,Sl,.l,p.5i.r. relacionamentos entre homem e natureza- Esses conceitos são: t) O ideal da
'\?ll
I,r':&lìulìl,lÌ).5r-jj,\iu(()r)ì(ìarczaasligaçr-x,s<Ìt'ssasgrsiçôr,sbac<nianascornatratlição ciência como potência e como obra ativa, votada a modificar a situação natural e
aÌqtítrti<a l.-o rluc sc rcÍìrr íì lx)sìçã() (k llacol quankr aos probÌerrras rìa Íàbricação
do ortro, d<rt,rrr humana; e) a definição do homem como "ministro e intérprete da natureza"
srr rÌ)tarlas aÌ.qrrnras.st ilaçõr's sig^irì< atir as c| cnr À'o fi s. i c cnì D..r.
sp I, p.5r Í: clc pa.Í.(.
(luc (nnturaeministeret ìntcrpres),queBaconsubstituiu à veneranda definição do homem
lx1)sar a tàlrricação st'ja lxrssír'cì;.i:'rrrrr IrDIÌ,,\t. lI,p 2;io clc orDsìtlcr-asusrKitas as tcntarjl.!s
dc Íàlrricaçàc tlo ot'trr, tttas crltÍìa ttas rcirìtzadas como "animal racional"
Para a Íàbricrçzìo do nrerr úritr ou l)ara a trr,rsriìutaçrìo
tlo cltttlnbo <ln ll'atir; trn 5ì/lr, Á). Í1,
Pp. lLs ss paruc tcr <1<'iraclorlt Ìacl6 srras drir iclas.orr ti-las
supcrarlo c oÍirrrc rrr:rarcrda<lcira rrr<.ita,le ÍàÌrncação do <trrr<r
" lìcrtlrcÌot. p :2sI
'"lìcltlre]ot,p'rtLÌj'I'a,\ì()r,'l'he,!lchenìsrs,citl)sr '" ,\:o il ;
,\inragonrìatilturaí,rc-iterarÌadirersas
\'('zcs Ìros títrrlos, -l-P\Í,
1t. cr. llasilc Yalcntjn, IÌéi,éktlittu tles tl,slàn:s tlu tdtltreç essatìell,,s s(ft "' Solrreo cnx<rÍ'rc c o nrcrcrirjo: Sl lll, pp i:ì!-:jí: ( I : . \ y ' I l l . l , í n , . r l: y ' . s . l l \ . . \ yl 'l . \ : i
l)
üllnü.r'Paris. tajti3: (ialrricljs Clarr,lcri, .l;a,!,'ntìtì rurìost tlì:yrtaÌìo &. lì11.ÍÌttlt uiliit?tt-,t ulpo .lr/rr, Áy' ll. p 9)J: IIDR, ^\y'II. l) ,9s S()l)rca astrolog.ia..lll'.. ,\, UI, p Ìx9; I'ilun Itb Sp
,
laft.. 7hrÌ,'trlntruur,/r,/r. \lr,.nlrrrrli lr:r I I I , p , i o i , i D . ' 1 , , \ /I r p p t i t - t í l

J*.
Sem dúr'ida, na ÍìÌosofia de Bacon, esses dois conceitos irão adquirir um A concÌusões não muito dessemeÌhantes das de Agrippa havia chegado,
significado bem diferente daqueÌe que conservam na literatura mágica ou nos três sécuÌos antes, tamMm Roger Bacon, quando defendera apaixonadamente a
tratados dos filósofos naturaÌistas da Renascença. para compreender esta magia "benfazeja" dos ataquesda teologia e invocara para ela o direito de cidadania
divergência de significados e ao mesmo tempo a sobrevivência desta ligação é no reino da "sabedoria cristã". Nos primeiros três séculos da era cristã, três
preciso manter presentes os traços fundamentais da "situação,,da tradição mágica grandes forças - segundo Roger - haviam disputado entre si o campo: o
no interior da cuÌtura da Renascença.os principais textos da magia renascimental
cristianismo, a filosofia e a magia. Nesta Ìuta, cristianismo e frlosofia se aiiaram
estão certamente fundados, em sua maioria, em fontes muito antigas e a
para combater a magia. A aliança, porém, não impediu que cristianismo e fiìosofia
Phìlosophia occuifa de Agrippa m uito deve a picatrb Tod,aia,apesar da afinidade
se acusassem mutuamente de praticar a magia, em particuÌar, os fiìósolos
dos conteúdos e da extraordinária persistência dos temas culturais, o que mudou
cometeram o engano de identificar as iìusões da magia com os milagres do
radicalmente na cuÌtura da Renascença foi a avaÌiação da magia e de sua função
cristianismo. Deüdo aeste erro uma série de santos homens também condenaram
no interior do mundo humano e sociaì. Justamente um dos maiores escritores de
a magr4 rechaçando, junto com ela, muitas espìêndidas ciênciasn,
coisas mágicag cornelio Agripp4 exprimia em sua ep^toln dzdicatoia a Gìouanni
Roger Bacon e Âgrìppa exprimiam portanto, a partir de pontos de ústa
Titemio o sentido desta divcrgência de avaliações A magia, um tempo venerada
apenas em parte diferentes, a consciência precisa da realidade histórica daquele
peÌos antigos filósofos e sacerdotes, tornou-se odiosa e suspeita aos padres no
contraste radical que sempre atuou na cultura medievaÌ, entre teoÌogia-Íììosofia
período da nascente Igreja CatóÌica. Eta foi depois perseguida peÌos teólogos,
- de um Ìado - e magia-aÌquimia - do outro. Não é o caso aqui de deter-se sobre
proscrita dos cânones sagrados, rechaçadapor todas as leis O nome da magia,
a identificação entre magia e demonoiogia presente em Cipriano, em Tertuliano,
um tempo sagrado, acabou por se tornar sinônimo de delituoso, de ímpio, de
em Lactâncio, em Agostinho; será suficiente recordar como a condenação da
profano. O trecho de Agrippa é um documento bastante siq.nificativo:
magia (identificada como sendo um comércio delituoso com os demônios) por
Agostinho e Hugo de San Vittore, possa ser encontrada também em John de
Magna inter caeterasquestio erat cur magia ipsa, cum olim primum
subìirnitatisfastigiumrrnoomniunrveterumphilosophorurnjudicio SaÌisbury e em São Tomas Mesmo GuiÌherme de Auvergne e AÌberto Magno,
teneret
et a priscisilìis sapientibuset sacerdotibussumÌltaseÌnperin r.eneratione apesar de preocupados em distinguir a magia naturaÌ da magia demoníaca,
habita fuerit, deindc sanctis Patribus a principio nascentisEcclesiae acabavampor reconhecer os períodos de idoìatria implícitos também na primeira,
(}tholicae odiosascÌrpei et suspecta, tandernexplosaa theologis,damnata e por defender a identifìcação - sustentada pela igreja - de quaÌquer tipo de
a sacriscanonis,porro omnium legum placitisfuerit proscriptao!- magia com a magia demoníaca"'. Conforme foi esclarecido por E- Garin, na cuÌtura

()putuaìu.:lBritlgtrst I.Ì)l) j9, att,:tti(i.,(4lit/fÌtrrril13rcrrrr)


Ì) -tÍl Soì)rcaìÌragia IrrDr:lì,:a
trrItuIttti.;r|r:rit-.fi,.atla'rljt'd:rtlclri.Íã,|l''l.n.|,ìli:à,||Ìl\||IÌ1|]l|unl].!d|n|i|

i S t c c Ì r ' ) -i a p Í l l . 1 r ;
'Cìpriafo--/rir,\dr.1(là6;)\'l.l!)tios.;Sarrr,r,\gostìnho,Dr,ì7,ìtdt.Dri\9rtr-grrrliSaD

Vrttrrrc.J)rd,rrrVI t;ii\'1ìgnc.PI-.lìP t ; f i . J t Í , , 1 . " t ; I o ì r I o l S a Ì i s ì r r r r tI,) o h e r l : t : S i r r 1 ì r r n í s


(j NarrrÌé ,lfoloait potr b pntnl: O u o r l l t L , t lt \ t i l ; . ( t r i l 1 n Ì G c ü l I l I , l o l ì . . ( ì r r i l l a t r r r r c , c l ' , \ t r r c r q n c ,D c l L c ì b u s .c a | \\l\: \ìlrcrro
\ Í a g r r r r S z a r l r , rI l J t t ,
medieval o mago é combatidq caçado e perseguido, uma vez que ele aparece o todo, mas em dar-se conta que a potenciação dos dotes limitados do homem
como o Ímpìo subversor de uma racionalidade e de uma ordem perfeitas que exige uma adequação à natureza, uma vontade de atender a seus comandos e
remontam a Deus e é portanto considerado como aqueìe que se move por baixo prolongar sua obra. Âpenas essa vontade de adequação pode dar ensejo a um
da ordem racionaÌ, em contato com as potências demoníacas,nos limites do reino domínio da natureza real e não ilusório. O homem torna-se dono da natureza
do maì. A esta condenação e a esta recusa corresponde a transformação da magia apenas na medida em que é o ministro e o intérprete de dita natureza. Por isso, a
em necromancia ou magia rituaÌ e a identidade que veio a se estabelecer entre pretensão humana de penetrar com os sentidos a esfera do divino é danosa e sem
astrologia judiciária e astrologia matemática, entre aÌquimia ritualista e aÌquimia sentido, por isso a possibilidade de uma olnatio libera sobre a natureza não
"experimental". Apenas uma avaÌiação radicaÌmente diferente do significado do
indica absolutamente a possibilidade de realizar todas as operações que se queira,
homem no mundo e das tarefas que ele deve assumir dia_nteda reaÌidade natural mas de nunca encontrar limites naquelas operações de transformação que sabem
pcdia permitir ver na magia uma ciênàa humnn4 digna dos homeng que pudesse ter em conta as leis naturais e que conseguem se colocar como prolongamento da
ser cuÌtivada sem escândalo. E a magia não apaÌece mais como subversora da obra da própria natureza6T.Âpenas tendo consciência desse conceito bamniano de
ordem do universo ou das imóveis estruturas celestesjustamente quando aqueìa ciência poderão enconüar justificativa os interesses de Bacon quanto aos aspectos
ordem e aquela harmonia deestruturas são colocadas em discussão ou recusadas, da objetiüdade da üda ética e seu arrebatamento peìa fisiognomonia e pela arte do
de uma maneira ou de outra- suoesso pessoal e sua simpatia para com Maqúavel.
Por isso, na Renascenç4 a magia se torna um fato cultural e como tal ela é Seria porém ilusório acreditar que o conceito baconiano de uma ciência
defendida e exaltada não apenaspelos "magosl] mas por homens como Ficino. que se coloca como ministra da natureza, que pretende prolongar a obra da
Pico, Bruno e Campanellaõ, Âssim ela ficará também nos começos da idade natureza, apressando ou atrasando seus processos,chegue a constituir uma
moderna para Kepler, Bacon, Gassendi e para o próprio Descartes. "novidade histórica" no que se refere aos temas característicos da magia
O conceito do homem pÉvado de naturez4 que pode dar a si próprio a renascimental. Apenas a imagem amaleirada da Renascença, toda ela feita de
natureza que quiser, é um dos temas centrais dà Íilosofia renascimentaÌ que volta certezas triunfantes e de alegres celebraçõesdo homem e de seuspoderes infinitos
a aparecer, apenas para citar dois nomes, em Bovillus e Pico deÌla Mirandola. poderia permitir uma contraposição desse gênero Se abrirmos um dos textos
Este conceito, entretanto, permanece substancialmente estranho ao pensamento mais difusos da rnagia renascimental, um texto sobre o qual, sem dúvida alguma
de Bacon. O poder do homem não é de modo aìgum infinito: ele ê obsessus Bacon havia tido ocasião de meditar, poderemos ìer:
legibusnaturaze nenhuma força humana pode desatar ou quebrar os nexos causais
que regulam a reaìidade naturaltr. A tarefa do homem não consiste portanto em A magianaturalé portarìtoaquelaque,tendocontempladoa forçade todas
celebrar sua infinita ìib€rdade, nem em susterìtar sua substancial identidade com as coisasnaturaise ceÌestes, e com zelocuriosoconsideradoa sua ordem,
de tal modo publicaos esconsos e secretospoderesda natureza,copulando
as coisasinferiores cont as superiores. para uma aplicaçãomútua daqueÌas;
"Cl.(ìarin,l.9jl.llP Ìrs-líl-l'lurntlik.lautlrtlnrrtconlrcccqrrc,t!clroistlohrrutanisrrro: tircrc de maneiraque muitasvezesdissonascemestupendos miìagres,não taÌìto
\ \ , 4 : l c s s o l J j c a l i o Ì ì s t o t l ì ( . \ \ ( ) r d n r : r q r ca r r t l r n o r c a p l t r o r i n g u s t ' r í it tÌran in tltc prcccdrng para a arte quantopara a natureza,da qual - quandoela atuanessascoisas
ccrtttrics (\i p t.f) í, írdite da irrsulìciôu<:radc scLr Ponto <ì<'\ista (lue, diantc de-sta araliaq:ãcr
"
da nragia. eÌc sc linritr- a coÌìstatar o eafátcr paradoxal tlcssr. Íãto hisrr'rri<o_
'"'Dl.\t..\:l' -s;,
llÍ,p c I)o,.tl'. l,'Lttl
"- ('{. C Â Yiano. I",t|nrìtn:a t talutit dellttfloutfía rlt I.) Ilucute. t'rt /Ì,f. , \L\i I 9i I. r) tj, l) :los
- esta arte dá-se por ministra Por essa razão os magos,
conìo que, na Renascença,tiveram ocasião de meditar sobre o significado e as tarefas
diligentíssimosexploradoresda natureza,conduzindoaqueìascoisasque
da magia. Assim, Della Porta, acentuando o vaÌor prático-operacionaÌ das
sãopor eìapreparadas, aplicandoos ativosaospassiros,rnuitíssimasvezes
pesquisasmágicas, in\.ectivava contra os encantamentos e via na magia a fiÌosoÍìa
e antes do tempo comandadopor natureza, produzern efeitos que pelo
vulgo são consideradosmilagres, sendoporém obras naturais, nada mais natural levada a seu frm último ( naturahsphilasophiaecorcummntìo)r,,.As operações
nelas intervindo do que a única participação do tempo: como se aÌguém mágicas, continuava ele, parecem miìagrosas apenas porque suâs causas são
fizessenascerrosasno mêsde marçoou cresceruvasmaduras- ou coisas conhecidas do operador e desconhecidaspara o expectador, mas em caso algum
maiores do que estas,coÌno nuvens,chuvas,tror,ões,anirnaisde diferentes a op€ração mágica ultrapassa os ìimites das coisas naturais EÌe também, não
espéciese infinitas transformaçõesde coisas_ por isso se enganamaqueles por acaso,insistia no conceito de uma arte "ministra" da natureza. e na comparação
que consideram (as operaçõesda magia) acima da natureza ou contra a
entre a obra do mago e a do agricultor. As obras de magia, escrevia, são apenas
natureza,quandoda naturezapror'ême segundoa naturezasãofeitas66.
obras da natureza e a arte que as produz é serva da natureza e ministra dela; o
mago não deve ser coììfundido com um artífice',. Sobre as tarefas de uma magia
São paÌar.ras de Cornelio Agrippa, das quais resulta, sem possibilidade de
"que imita a natureza ajudando-a com a arte" vai insistir tamMm CampaneÌla,
enganos, que os assim chamados milagres da magia não são, como os atribuídos
paÌa quem a magia aparece como dominadora das ciências justamente enquanto
aos santos, violaçÕes das leis naturais, mas o resultado da manifestação de forças
atividade prática, transformadora da natureza. Mas aquiÌo que parece ser magia
naturais. São milagres no sentido etimoÌógico; coisas dignas de serem
no começo,quando as causassão desconhecidas,torna-se logo em seguida "ciência
admiradas. Também nesta definição da magia naturaì está portanto presente
vuÌgar". Por isso os homens consideraram uma empresa de magos a invenção da
o conceito no quaì irá insistir muito Bacon, de uma arte que adere à natureza,
pólvora, do imã" da arte da impressão". Mesmo pensadores como Cardano e
que se torna seu eco6s,que consegue violentá-lajustamente porque sabepedir
Paracelso,para quem a teorização da magia como indispensável à vida humana é
seu arnpÌexo, que não faz milagres justamente por ser a arte do homem, que
levada à exasperação,voltam a essasmesmas atitudes e à mesma insistência
não tem poderes infinitos
quanto à arte da magia enquanto ministra e não dominadora prepotente da
Sobre este conceito de uma magia que sabeescutar a linguagem da natureza
natureza. Com efeito, a alquimia surge para ParaceÌso como completação ou o
e transformá-la de dominadora que erar em dominada, insistem todos aqueles
acabamentoda natureza:o alquirnista atua para tornar perleita a natureza,para
"'(-Agrilrlra. I)tlldinnitàdLifutìet:etral 1;araLo<klicr;I)orrrjrìchi.\rcrrcza.ÌíjjÍ).p,;;ì'ni,
tornar possíveis processos que estão implícitos, para realizar operações para as
iuutilüììr. cl iüilìtnl(:r!tttlìaruu daÌatuttlto inz,rtìzrt lntn saÍrìo ttn (ì)lôÌìia erÌì t:,2ì; li'i quais Já existem as premissas. 'Aquele que leva o que a naturezafaz crescer para
ttadLrzirltr lrara o !nclis lx)r IaDX's SarÍìrrcl roruo O! th( Iltilitt( ttd L:ntctlritttc uf ,!ttt:,tutl
ser útil ao homem lá onde a natureza o destinou é um aÌquimista": por isso o
.\caelrrr I;rnd(s. I r j í Í l - \ r ) l ) r : r< l c i q r i l , | a f ì r i n i t l r ' Ì - r r r a r ì r r r r i r l r r o t c r l i r r Ì ì I q i a r t l (\l tÌ
('artí, I'ha:r't r,l 7'lnught tt Lntlattr{ orÍìr r1, rí) teceÌão, o forneiro, o cuÌtivador são aìquirnistas e a diferença entre um santo e
H,. l) :l:2o) olrrrìl(' a r\tlriì)pa. ciì \ I)11sr. 1-,,t
iltt.Ì.(,(!l.tdtl.ot(illlttàt \ll'ttt,,l((u-nullt,l;1ìp14 s , r i , 2 r . 1s r r o r a i r z r , I ' r r ì s , t t - s Ì : I ) l Ì urn mago deve ser procurada no fato de que o primeiro age por meio de Deus e o
\\'aÌkt'r. \rrrrzlnr1,ruri denontt udga firtt l.iitto lo Ctuft,inL/la, Ì_on,lrts Itrii: CÌ)_ (. Narcrt,
.19,11'l)t nn'l tfu,ttsr:,'t' [Ìtn,it::,tnrt lh,I4gir,1,Urbarra íl]l -"
). lrít,1 (-r (ì li l)r lì:r l',,rtt I), iü thtrofi,ì,fura,,r N;i|oit -, ìíi;;.
' J ) I I I , a ra I ) t ì l r I ì r n r r , r l l ( '
C) tctna <lc Er'' a i'sprsa t':<oÌhìda Ì'rr l'art, <Ìrrt siurlxriiz-r arlruìa Íìloroiìa (llrc cooscqr. (ìalrriclli (; l l , i , l Ì : r i ì ' r 1 1 1 1 , j 1 1 ç a , 1< . u t ( ì t o t t t d h ' r r i l i o delÌa lílotl)t rtdlrtna. tÍrìij l)l) l(ìíi,
r c r r t l c r í ì r ' l n r c ' r r r r ' a rs. z - t ' s < l a r r r r r r r e i : a Í- ì r i t Ì c s c r r r o l r i t Ì o
Ì r o i B a r : l r r a i r t t r ì r r t , t a ç â . d a Í i i l r r r l at l c 9 o ; c I l ì i < r r r L r r i r r ,S r .l k l t . ì t Í r d l t t Ì d , ' l / t I ü n t t o t : t , llafi, t9l Ì, pp 9Jìi-rJ1o
Itan(Ì)tn.vivnaturt),as(-\tddanL'sal>ìcnti,ttt'l(tuDtcqrr< riráast,r rer,rrratlar:arrrpliarlapo ' (ì fì l)rrrra. \ír,gia,
nrirralÀ *tLt lr nrnthtlìl,ir rrrttt naluntlìuttt libt IIII,l.trlgtni tiíiJl p ì!
I)t dtr!ilÌriltìr ' l - C a r r r l r a r rÌrl r r . I ) r Ì t t , , ,, ! t l / , r o s r t t Ì r t h a r a g r r r l. l a r i , t : ) ) i , p p 2 t t - t !
"
segundo opera servindGse exclusivamente de forças naturais. E os sinais, os licores "e outras coisas infinitas sem as quais não se poderia não apenas viver
planetas, as constelações desapareceriam se a obra fosse defeituosa e mal confortavelmente, mas nem sequer continuar vivendo" são produtos da
conduzid4 pois eles, enquanto tais, nada podem tirar e nada acrescentar à arte aÌquimia. E na obra do "verdadeiro" alquimista, as tarefas do pesquisador
"natural"". Cardano, de seu lado, vangloriava-se de ter ensinado a "utilizar, para vão sendo melhor esclarecidas:
finalidades práticas, a observação dos fenômenos naturais" e afirmava ter sempre
deixado de lado a quiromancia e a arte mágica que age por meio de encantamentos Não a arte ou o alquirnistageram e produzemo ouro, mas a natureza
e mediante a evocação dos espíritos, Ìamentav4 porém, não se ter servido da dispostae ajudadapeÌo aÌquimista e pelaarte, nãooutrarnente(")que a saúde
astrologia para fazer predições e terminava exaÌtando sua competência na de um corpo doeÌìte não é devolr.idapela medicina ou pelo médico, mas
pela natureza disposta e ajudada pelo médico e peÌa medicina.. Não
medicina, na geometria, na matemática e na magia natural ou seja, "no estudo
outramente que os bons médicospurgm atravésde xaropes.. as matérias
das propriedades dos corpos e probÌemas semelhantes..."r*.
putrefeitase as que faciÌmentese corromperiame depois confortam e
A distinção entre aÌquimia "verdadeira" e alquimia "faÌsa" (recorrente em ajudama virtude naturâl tanto que ela possa. retornar o doenteà sanidade
grande número de publicações) respondia não apenas à exigência de manter de antes.-assim,nem mais nem menos,os bonsalquimistaspurgam antes
distinta a obra humana da obra divina e os miÌagres divinos das operações a matéria.. e depoisdeixam obrar a natureza De ondese r ê manifestamente
humanas, mas exprimia, sobretudo, a consciência da itnpossibiÌidade de que nãoa arte faz os metais,mas a naturezada qual a arte é instrumento'o
ultrapassar as ìeis naturais das quais - ao contrário - é necessário serür-se para
se chegar a resultados consistentes.-Na Questão sobre a alquìnia, escrita em As disquisições sobre os espíritos, as virtudes ocuÌtas, as semelhanças, os
155,1,,em Florença, por Benedetto Varchi, encontramos expressa com muita símbolos, as letras do alfabeto, as virtudes secretasdos números presentes ne6ses
clareza, mesmo que sem nenhuma originalidade, esta distinção fundamentaÌií. A textos, a caótica, sistemática acumulação de fatos, o exagero de exempÌos, o
alquimia faìsa promete a cura instantânea das doenças, a construção de estátuas contínuo apeÌo à autoridade, o barroquismo das construções meta{isicas cheias
falantes, o dom da eternajuventude; eÌa pretende "não somente poder e querer de imaginação não devem fazer esquecer o peso que os conceitos e as atitudes
continuar a imitar a natureza, mas ainda poder vencê-la e superá-la, o que não é que acabamosde considerar exerceram sobre toda a cultura européia (a Ìiteratura,
apenas de todo impossível, mas ridículo". A aìquimia soÍìstica torna os metais a arte, a filosofia, a ciência) mesmo se, de acordo com Luporini, eu também penso
semelhantes ao ouro, faisifica as moedas e fabrica venenos: como tal "mais do que não deva ser aceita a conexão magismo-cxperimentalismo, proposta por
que merecidamente é proscrita e perseguida com fogo pelas repúblicas bem ThorndiÌe e que, ao contrário, seja oportuno procurar distinguir, todas as vezes
ordenadas e pelos bons princípios". A desvaìorizaçãoda alquimia, que sucedeu que for o caso, entre o aspecto prático-técnico e o aspecto tórico-metaÍïsico
da
às suas antigas celebrações, deveu-se às falsas promessas de aventureiros. concepção geraÌ do mundo. Deste último ponto de vista, a visão mágica torna-se
Na reaìidade o vidro, os espeÌhos,o latão, o aço, a cal, a póÌvora, os óleos, os realmente quase sempre um "simples véu de uma concepçãoorganicista e unitário-
imanentista do mundo"".
"(! l\rin]\INgrdltunì[,(l FìStrrrnz).LriPzig.t(tt):),ptt;.1)r.tilìil]il.isilttilrdcilt-\'!tct,ìtruililtpilltttl
/rzr, [JasiÌéia, I,ili r " ' I b ì d , 1 t 1 t2 1 - , 2 9 P a f t a d i s t i n ç ã o c l ì t r c o s t r a . s r i P o s d c a l q u i r r r i a , c t : l ) l ) : j t - : 2 ( j ì
''(ìCarrlarro,,y'irlol'ngti|ít,org, Para â
Plìranclrertr.-I'rrrinì.tÍ,Í,í,1)Ì) tto-9t,t5íi,{priurciraedição < ì < ' s r a L ri z a ç ã o r Ì a a ì q r r i r n i a ,c l p p : l e s s : l ) a r a { ) s s c r r s p r < x l t r k r s :p I
<1<tDt proprìa i,11dlòi Ì)ul)ìica(la (Ììr l)aris, oÌì Ìai t:t
" C Lrrp<trinr, Ltt uente dì Leottttrlo I'lc:rença, l115Íì.l) ?ij: ll Garil "\ott,srrll c,r rtrctìst16 rÌcl
'\ar<lt -lì'lt
Q t , . ; l t o r , , u / / ' . 1 Ì ' h ì t t . t , , r 1. l , ì ' l ì \ \ lìÌìa5(iD)(!ìto, t:ttt tuanìslitì tu I'Lrntcltsno, (lÌ. ì) t:.Ì
Já tive ocasião de saìientar que em Bacon não se encontra acentuada, ou Em vista das considerações expostas podemos nos explicar agora porque
chega mesmo a aparecer como irrelevante, a adesão a aspectos .,místicos,, da Bacon, no quinto aforisma da Paraseeae,sustentou a importância particular
visão meta{ïsica da reaÌidade que estava ligada às pesquisasda raagia e da aìquìmia daquelas artcs que submetem os corpos e a matéria a uma infinidade de operações
O que ele acolhe da tradição mág1ca ê o conceito do sabercomnpodzr e de uma e de alterações que tentam forçar a natureza, obrigando-a a assumir uma
ciència Eu se torna mìnistra da natureza para proìongar sua obra e ler,á_ìa a bom quantidade de formas diferentes. No segundo capítulo do liwo De augm.entìs
termo, que chega Íìnalmente a dominar a reaìidade e a dobrá-la para servìr ao
voltava a aparecel por outro ìado, o conceito de uma história natural construída
homem, como que por astúcia e atra\'és de uma contínua torturai6-
para facilitar a'passagem dos miìagres da natureza aos milagres da arte",
Para se ter uma idéia de quanto seja profunda a dívida de Bacon para com
passagem esta que não parece, em última anáìise, de realização tão diffcil assim,
os textos de magia da Renascença taÌvez vaÌha a pena, a essa aÌtura, lembrar a
uma vez que se trata, de acordo com Bacon, de acompanhar atentamente a
definição baconiana daquela magìa renoaadnque,como conhecimento das formas,
natureza em sua espontaneidade par4 em seguida, dominá-Ia e conduzi-Ìa ao
constitui para ele o resultado mais alto ao quaÌ possa aspirar o saber hurnano e o
fim desejado.Tendo em vista os textos aos quais nos referimos, ficam mais claros,
fruto mais maduro da grande refcrma do saber. VoÌtam nessa definição, quase
inclusive, os parágrafos iniciais do Nozrum Organu?n, em que uma série de
ìiteralmente, as paÌavras que encontramos no texto de Agrippa:
expressões revelam sua origem e, quando reconduzidas a um contexto histórìco

Na rerdadenós entendemos(a nagia) da seguintemmeira: conto*n.Ìo u-u preciso, vão adquirindo um sentido bem deÍìnido,
ciênciacapazde extrair do conhecimentodas formas escondidasobras
admiráveise que conjugando- coÌno se mstumã dizer - as coisaspassìr.as Horno naturae Ìninister et interpres, taÌrtuÌn facit et intelligit quantum de
coìÌl õ atryaqtorna nrmifestasasgrandesobrasdanatureza(mgnnlia wturae)-u naturae ordine re rel mente observaverit: nec amplius scit, aut potest
Ad opera nid aÌiud potest homo, quam ut corpora naturalia admoveatet
E na Ìonga Ìista dos Magnnlìa naturaz amoveatreliquanatura intus transigits'
lrazcipuz Etoad usas humanos, que
reproduzia o elenco dos empreendimentos realizados pelos sábios da casa de
salomão, Bacon enumerava justamente resultados idênticos aos daquela Nesse terreno nascem as apreciaçõespositivas de Bacon quanto à magia e
"antecipação do tempo" dos quais havia Íalado Agrippa: à alquimia e sua concepção de uma magia renovada, isto é, restituída à sua antiga
dignidade, como fim úitimo dos esforços humanos,
Aceleraçãodo ternporìosprocessosde maturação.
Aceleraçãodo tempo nos processosde gerrninação
Modificaçãoda atrnosÍèrae ì)ro\1)caçâo
de temporais
Modificaq:ão
das caractcrísticassomáticas
Fabricaçãodc nor.asespécies^(' rììilìrais{,1)É/rÌï?r?dtìddhscirn:e.<it.P:;;ii\las.l)cllaÌ)orta,talì)ì)íJÌt,a()la<lodas'ret"iras lrara
I cr t'lrr a itrrcgrjriacìc tìsi<a tlas rlmzelils ort pãÌ a ttr-nar abstintìos os Ilìrcrrr-rcs lxrprrrìlìì llDs nii()
'' pLtarttrr ('s5.
.ì e ì ì ) { ' ( Ì , ) , l r r r i i i u r i r . i r : l i ; : r o n , ì r l r r r r < l a r c a l i r Ì : r r ì el a i L r r a l , : , i a ra, r:ialì,ìarli rjc.srrrxlfHrÌestÌ,rsrle ,\uri|PaeÌla<on--Ì,Íro2ì nlntli;,t-it,l)p ;(t.,Í/, lrs, lt(j. ìj.t I.Ìì. l9i
jrrrídicr lìgrrrÌaarstaarituíl( rÍ.asPlic-ìla:I)(Ììc,rtrlltcsrle\l ' - - O I r o n r t r n . a r l r r r ì D i s t r a < l o r( . i t ! Ì ú r Ì ) r c t ( ' d a
II Iìossi n a t L r r c z i r -{ à z r ' r o r [ 1 > r c c Ì r < l c o t a t Ì t o q u c r i \ c r
-'
D), Sl I . Ì,t) ltij-; I o b s c r r a d o o b i r l ì r a o t r r r ì c t r t ü l n ) c Ì l t en a o r d c r r r d a t r a r u r c z a : n t a i s n ã o s a b c , t r e t n p o d c ( s a l x ' r )

Dih'ü\nÌ( !Ìn'úiÍio del'!^qir irdlra.iìJxÌ,ìnÍdur.o ìírlr.r


a magia propõÈse a chamar de volta a Íììosofia natural da vanidadedas
situações diferentes, ou modiÍìcados(Oem função de novas exigências. Assim,
especuÌações para a grandeza das obras; a alquimia propõe_sea sepaÌar e
depois de ter mostrado que Bacon não era uma espécie de milagre tal como
a extrair os elernentosÌreterogêneosque seenconfam comoqueescondidos
nos corpos naturais,a depurar os corpos inquinadog a Ìibertar os corpos havia parecido aos EncicÌopedistas, mas um pensador fortemente inserido em
impedidos e a levar à maturaçãoos corpos imaturos 6e seu tempo e ligado a uma precisa tradição de pensamento, aìgum intérprete sentiu-
se autorizado a reduzir todo o seu pensamento ao denominador comum de "Idade
Essas avaliaçõespositivas, para além das reservas feitas quanto ao método, Mdia" ou "Renascença"e a negar todas as diferenças de "forma" que modificavam
eram dirigidasjustamente ao caráter operativo das pesquisas mágicc-alquímicas, profundamente o significado de conceitos derivados da tradição do pensamento
ao conceito - a elas indissoluvelmente ligado - de r"rmsaber capaz de atuar e de medieval ou renascimentaÌ6'
uma obra capaz de transformar-se em um novo sabersr.A esta precisa heranç4 Creio que para perceber a distância efetiva e profunda entre as posições de
por trás das invectivas e das recusas poÌêmicas, ligava-se a grande tentativa de Bacon e as que são típicas da magia e da ciência da Renascença convenha
Francis Bacon. abandonar o terreno sobre o qual nos movemos até agora e voltar,justamente,
para a questão da avaliação que Bacon fez das artes mecânicas e para a
interpretação da corrida com as tochas em honra a Prometeu, das quais se falou

s. A condenaçõo da mngìa e o ideal di ciêntia no começo deste capÍtulo. Aqui Bacon introduziu um conceito de grande
importância que Íicará no centro de sua obra de reforma do saber: na ciência
podem-se alcançar resultados efetivos e consistentes apenas mediante uma
Contra as tentativas afoitas de qualificar como .,revolucionários,, os
pensadores do passado ou de encontrar nel€s elementos de extraordinária sucessãode pesquisadores e um trabalho de colaboração entre os cientistas- Os

modernidade, funcionam sem dúvida como remédios eficazes as pesquisas que mitodos e os procedinvntos das artes mecânieas, seu caráter de ?rogressiaìdade

tendem a recuperar as origens históricas de determinadas posições conceptuais e intersubjetìaidade fornecem o modelo Para a not)a cultura.'i

e a persistência de temas e de motivos culturais muito antigog inclusive onde A ciênci4 assim como foi concebida por Bacon, deve abandonar o terreno

parecia que uma inteira tradição fosse indiscriminadamente refutada Mas a da geniaìidade não controlada de um indivíduo, do acaso,do arbitnário, da síntese

excessiva insistência quanto a essasìinhas de continuidade e quanto à identidade apressada,e proceder baseando-se em um experimentalismo construído não ez

de certos conteúdos culturais acabou, muitas vezes, por impedir quaÌquer


I n' Unra tlas tcntativas dc 'nredier aÌizar" a Íììosofia rle lJacon foi Íì,ita por C Irrnnj Scrr cstudo,
compreensão dos eÌementos de "novidade" que se manifestaram todas as vezes
apcsar tlas tttr< ltrsc_res
poutl conr inccrìt('s, lú,rnìanccc (urn sentlo unr tlos nrars ír1eis <.;rrantoàs
que aqueles conteúdos de cuÌtura eram interpretados de maneira diferente. em fontcs <ìo ÌrcÌ)sanrento dc llacon
-'O 'nrodclo
Íàto de t(.r assurÌìido cstc não i[rpìica quc lJacorr tenìra c<rrsitlerado satistàtririo rr
nírcl de 1>crÍeição alcançarÌo pclas artc.s me'ânicas De fato. cle afiru)a contrnuaürcrìlc (lrÌc scu
" D.l, Sl, l. l)l) t.;.;-;;ï; cf. À'íJ Il Bt: D..1, Slr. t, ì)p- i;.t ss r\ fcsìrcito (las .,d(ìscobcrtas riteis, rlalrr.rrìeira nrrrito a descjar c quc. no ânrbito dos procctlinrentos tí,crrìcos sti aìgurrs
rcalizadas pr.los aÌquirrristas cn: sua busca r ã
1tìo orrro c <luanto à inraq<rrr conlreri<ìa do canrponôs aperfciç<rarncntos (lc l)ouca ÌDDta rcriarn sido iltro<luzi,los (cf. I-al 7irn, Á'ro Ill. p- :ltô; ('i l
qrrc.ca'arrtloarirrÌraàrprrruradcunrtesouroinc\isrentc,atornalérril.reja-sc,ír1a,,S2
III.p .5ii tll, p 59r; lÌ Ph, Sp ltl p ì-,r'o; hiú' ,Sp- [, pp le;-e]s: .\'O I t5, srj; D;1. Sp l,l' t(j,))
:us9; c/lÁ1. lÍ1. ì). 60:;; IÌ Ph., sl'. IIt, p. 5;5; _yo t, s5.
Âpoian<Ìo-se no carátcr de 1.rr*."..'tt,r",te <1rtecaracteriza o trabalho técnico, é possírel, rìt:
''
À respcircr d.s lìns da cií.ncia baconiana, (1. Tt,][, Íjp Ill, p JZs; Ihl. -fcrtr..Sp IIl. p
a12jt; a c o r < l oc < l n r l J a c o n , d a r ì u g a r a u t n n o \ ô t i p o d < ' r : u Ì t t r r a ; n o â n t b i t o d c s s a n o r a c u Ì t t r r a , s c T : i
1 . \ 7 ìS y 'I I I . p ; r s : ( r l ^ \ y 'Í i l . ì ) 6 ì r
Possírcì rcrìtìcar, inclrrsirc ras artes rìccârìicas, urÌl pro!çresso nrais accrrtuado
analog'ia hominzs,mas et analogia uniacrsi, fundado no conhecimento da natureza
entre a mente do homem e a Ì)atureza das coisas" e, após escÌarecer porque este
instrumentaì das faculdades cognoscitivas. Numa cultura desse tipo não há Ìugar
encontro não se havia realizado nem na filosofia da natureza dos Gregos, nem na
para uma razão capaz de captar a verdade racional mantendo-se em comunhão
dos aÌquimistas, exaltava a descoberta da imprensa, da artilharia, da bússola,
solitária. A verdade configura-se como um ideal a ser alcançado e a ìógica
que haviam contribuÍdo para mudar o mundo. A soberania do homem, concluía
baconiana quer justamente ser o ilrstrumento de conquista de verdades novas, e
ele, encontra-se, portanto, no conhecimento e nele estão escondidas tantas coisas
não o meio de transmissão de verdades já adquiridas. A recusa do saber "que os reis, com seus tesouros, não têm como comprar, às quais seu poder não
"contencioso" da escolástica queria justamente exprimir este escasso interesse
tem como comandar, e a respeito das quais seus espiões não podem fornecer
de Bacon pelas verdades a serem transmitidas Entretanto, a conquista de verdades
nenhuma notícia". Dois anos mais tarde, em um discrrrso intituÌado Gesla
novas não pode ser para Bacon obra de um indir,Íduo,mas tão-somente de uma
Grayorum, Bacon exprimia seu projeto de uma reforma que não consistia em
coletividade de cientistas olganizada para essefim Foi dito muito acertadamente
descobertas individuais, mas que precisava de uma organização e de uma série de
a esse respeito que muitos mal entendidos sobre o pensamento de Bacon teriam
instituições. I-embrando as estreitas relações entre os reinos da antiguidade e a
sido evitados se tivesse sido observada a relevância que ele dava ao fator sociaì,
cultura que neles se havia desenvolvido, Bacon solicitava ao soberano que desse
tanto na pesquìsa, quanto no escopo do conhecimento6d.A partir desse ponto de
vida a quatro instituições que iriam permanecer qual monumento perene: uÌna
vÌsta é que nos propomos acenar aos projetos de Bacon para uma ÌÌova organização
bibÌioteca completa que recolhesse livros e manuscritos antigos e modernos,
do saber científico.
tanto da Europa como de outras pa.rtes do mundo; um grande horto botânico e
A Ìuta em favor de uma coletividade organizada de cientistas, financiados
um grande zoológico, cheios de todas as variedades de plantas, animais, pássaros
pelo Estado ou por outras instituições de utiìidade pública, e a tentativa de criar
e peixes; um Ìaboratório dotado de moinhos, fornaÌhas e aìambiques, que fosse
uma espécie de internacionai da ciência foram Ievadas adiante por Bacon, com
um lugar oportuno para a fabricação da pedra Íìlosofal.^'
extrema coerência, durante to<ia a sua vida. Em sua famosa carta de l59lrì a
I-orde Burghley declarava "ter escoìhido todo o saber como sua pror,íncia,' e ' :;1, L L I)l) ii,li-:);- lti tirc'trros ocasião dc rccrrar à frnçã<i tlili,rcrrtt'rlrrc lÌacon arriìtui irs
querer Ìibertar essa pror'íncia de dois tipos de bandoÌeiros: os disputantes frír'olos r olclirut as c ìrs tr;ìrçòcs Na .\:2,tr,,,///alli.ra 1ìn:ilirlade <ìr instituição da Casa rle Salonrào t1
e cheios de verbosidade e os seguidores das experiênciascegas,das tradições e o t o t t l t c c i t t t c n t o t J z ì s( a t r s a sí ( l o s t r t r l ri t t r t ' n t o st Ì , r st o i s a r c o n r o q s 1 o p 9 d c a ) a rq a r _o s r r r t Í ì n s r l < r
p o c k r l r t r n r a r t r l I - r r t t c o s n t c i o s n t r c s s : i r l o s P a r a a r e a l i z a ç ã o r l < ' s s cf i r n c , s t a r a n r r l e l r o r o o s
das imposturas Ninguém teria podido tirá-lo de sua empresa:conduzir a ciência
Írtrn<Jcslagosparaacriaçãorlcpciresctlasartsa,1tr;itr<as.osponrarcscosjardiils.osl)anÌues
a observações produtivas, a conclusões fundamentadas, a invenções e descobertas c os ttcjnlr: para as <lìíèxirtts cspí,rìcs dc arritrais Ponrarcs c lardìns rão tôm tìnaliclarlcs
úteis para o gênero humano Já no escrito que compôs para as festas de 1599, c s 1 i , Ì ì ra s , t t i a s s i ì o r o t r s t r r t í d o s 1 t ' t r r ì oc . t r r\ i s t â c s t u ( l o s { l o t ( ' r r c r ì o e u r n a s ó r i c t l c < r p r ' r i l t c n t o s
(l( crì\(rt(): ()s rc(llìt()s
para a celebração do aniversário de Elisabete.. estavam cÌaramente presentes l ) a r i ì a ) s â r Ì i l Ì l a i s \ c t \ e t Ì ì Ì l ã ( ) t a l ì t o c o t ì ) ( )t s l t c t á c t r J o c u r ì ( , \ o ( l l l a n t ( )
pirra rrnr grarrlc rrrinrt,ro tlt' cllrcrirnenlos solrrc a r ìr issecçãrr. soltrt- a sck.çlì<rdos carac{cTcs
aqueÌes motivos de seu peìtsameÌrtoque iriam encontrar no Notum Organum
s , r l i r e o r ì c s e t t r < l ì r i n r - t t t o t Ì r t s o r g a n ì s r u o s r i r c u t c s À s c o ì c ç i r . s r c t r a . s c i n t c l t a i st l c l r l a l t a s c
sua formulação acabada Áqui Bacon sustentavaa necessidadede um "encontro attitttais,rostrrnraratrr.trantairlrllartcdorcasos,tcLrlircxcntpÌaresraro:t(drus(.(r.luìruai\
t t t r t ar i c r t t r r t t s t r i r ç ; ì r. ;l a r ì r ; t t r . z ad c s c r t sp t r . s r i i l ì o R r sd , r q u e L r r Di r r s t r r u r r c Ì t t r () l c l l c s q ì t i 5 ac q s I I r l ( )
(Callot. 1,a IÌotdt::sanae rlcs r.rrrcrr dtns fu tìe, cit . p riì) Os ;ardins botârricos de [,iidrra. I)isa,
' l I)crre'r',(tra(l
ir,) R ìcos!
t u::tlottlíbsofítd.lÌari lllj Ì_j) íri Il,rìonha. Ìlcitlciberg \íontlx'lÌicr c dcpois os dr'l'aris c tle Altd,rrÍ lÌrrarrr reconhccidos c
'; ^\l I-
t, 10Í) suÌlcreionados
" ,\ír. Ilacott tn l\uÌ.t o/ Kno;.ltrtet ,52 /- I p r:o lxlo I'ìstarÌ,r I't'la Prirtrtira rrz, no sórulo \\/1. ProÍcssorcs e c*tLrrlurtls sc
t r l r t r i a r t rc t t r r o ì L a r Ì c p l a r r t a s | a r a c s t u < ì a rs u a s f i r r r n a s c P t o | r i < . c t a d c . .c o n ) ! n t c n c õ ( s Ì r a ( ) Ì l a i s
Bacon não conseguiu, conforme é sabido, reaÌizar nenhum de seusprojetos. uma troca contínua de informações e de resultados. A irmandade que anatureza
"Meu zelo era tomado por ambição", escrevia ele em t6o3s, mas no mesmo ano cria nas famflias pode ser criada através dessa colaboração e através do estudo e
enr que subia ao trono James I, suas esperanças reacendiam- se.No Adtantemtnt do exercÍcio das artes mecânicas.
of Learning, de 1605, Bacon dirigia-se de novo ao poder soberano Seu projeto Quando Bacon tomou conhecimento da impossibilidade de uma
anterior estava, agorq ampliado: eìe visava não apenas a criação de novas transformação de todas as organizaçõès culturais existentes, p€nsou também na
instituições culturaiq mas a reforma das principais organizações existentes desse possibiÌidade de exercer um controle pessoal sobre alguns colégios (Wesrrninster,
-Todas
gênero: as universidades. as obras são Ìevadas a cabo -escreüa- mediante Eton, Winchester, Trinity College e St John's ColÌege, em Cambridge, e
a abundância das recompensas,o vigor da direção e a conjunção das fadigas. A Magdalene College, em Oxford) para transformá-los em institutos bem providos
primeira multiplica os esforços, a segunda previne os erros e a terceira combate de laboratórios, graças aos quais se pudessem estabelecer contatos com todas as
a fraqueza humana't'. E ainda, polemizando com os métodos de estudo que organizações do gêncro existentes na Europa. Deste projeto baconiano há ainda
vigoravam nas universidades, chamava a atenção para o fato de que os estudiosos traços no secreto Commentarìussolutus, de 1680, sendo que nos inéditos
se contentavaÌn com novas ediçõeg com reimpressões mais corretas dos autores Red.argutio phìlosophì"arum e Cogitata ct úisa" e depois no Noaum Organum e
clássicos, com glosas e anotações cada vez mais abundanteg enquanto os jovens no De augmtntìs,voltavam de modo diferente as linhas essenciaisdesseprograma,
se adestravam em disputas e se tornavam muito hábeis no ïaciocínio formal, que encontrzrrá sua expressão coerente e unitária nas páginas da Neza Átlantis
sem nunca dominarem um vasto materiaÌ de conhecimento. Desse modo, a arte que descrevem a Casa de Salomão. VoÌtava a aparecer aqui, comojá reaÌizado e
da argumentação degenera em sofisticaria infantil e afetação ridícula (ehìldìsh desìocado para o plano da utopia, aquele projeto que Bacon jamais abandonara e
sof.strl and rìdiaìnus affeetation), enquanto o estudo se restringe a poucos que irá se concretizÍrr em uma instituição só depois de sua morte. Seu projcto,
autores ou até mesmo apenas aos textos de Aristóteles. O material para os porém, permaneceu para os fundadores da Royal Society e depois, para os
experimentos é escassoe osjardins botânicos só contêm as plantas que interessam enciclopedistas, como a certidão de nascimento daquele humanismo científico
à medicina É indispensár'el que as universidades encarreguem pessoasde referir no qual irá se inspirar a parte mais progressista do pensamento europeu.
os progressos ocorridos nos vários setores do conhecimento e que se encorajem A partir dessa identificação da atividade científica com uma obra de
estudos nos setores menos desenvoÌvidos É necessário, frnalmente, que se coÌaboração e com uma sucessãode pesquisas que necessita, para viver, de
estabeleçam relações com as organizações científicas da Europa inteira, para instrumentos técnicos, de contatos humanos, de trocas contínuas e da
'pubÌicidade"
dos resultados, nasciaa exigência de um método rigoroso, formulado
em uma linguagem compreensível e intersubjetiva que pudesse fornecer regras
r1x'naslàtttra<olírgrras.r,'nr!raldarlt,\íirliil,ruas;r-iDripaìrrrcltrrlcscrjrirasOjarclirllrrtâtri<o
ó, ao corÌrítt ro, ( on<'cbirÌo 1rrr FJâ(()rì c()tìlo lr tÌì r(Tt ctìo
à atividade humana e que tivesse condições de assegurar seu progresso.
ÌìAt a nor as cxPcriôncias, ntas ó rrrorrlcnte
rroqut <lizrt'spr'ìtoirsr.l*ircsrlranìnraisrltrcelcscdiftrcrrciadarradiçãoqrr<'asconsìd<,rara Esta reforma do conceito, da prática e dos ideais da ciência é, sem dúvida
í r l ) c n a su r ì Ì n c i o d c c n Ì Ì c Ì r r ì i n t t t ì t í ' c d c r r t i Ì i d a d c p a r a a c a ç a I ) l r a r r t r . r o c l 6 o s i , t 1 Ì 6 X | l a s alguma, a contribuição mais reìevante que o pensamento de Bacon pôde oferecer
coìctârcas d<, arrirrr:ris trãrr orirIirrarairr no Ilatro r icntífìur. rrada nrais rlo rlrre anc(ìoÌas curio_sas
à cultura européia. Só quem refletir sobre o peso que a atitude de Bacon exerceu
íì prc'crso clrcgar arí' à í1xra dc Lrrís \\'l l)ar a crì( ontrar na [.ì.ança a c onst iôncia cla rrtiÌicladc
<Ìrrc as colctas tic alinrai.
é que poderá aquilatar as origens precisas da "tarefa" e da "função" que os
Ìmdcrr signifir ar para a < iôrt ia
" /-\e ry, III. pp Í ts ss encicÌopedistas confiaram ao homem de cultura. Quando eles se dirigiam aos
"' .!dz Sp ItÍ. l) rte-l "artesãos da França" e percorriam os laboratórios, interrogando técnicos e
'anotando
operários, o que eles diziam" e procurando, em seguida, definir com 'prático" 'ïacional".
conhecimento e conhecimento Essa identificação, saÌvo breves
exatidão os termos, os métodos e os procedimentos próprios das diferentes artes
parênteses,é comum a uma grande parte do pensamento europeu durante a
para inseri-los nvm corpusorganizado e sistemático de conhecimentos, e
época clássica e a ldade M&ia*.
poÌemizavam em favor de um trabaÌho continuamente iÌuminado pero
As artes mecânicas,ao contrário, parecem a Bacon um novo e grande fato
conhecimento dos princÍpios teóricos que o fundamentam e em favor de uma
culturaÌ e, em função da avaliação de seu significado e de sua importância para a
pesquisa científica capaz de possibilitar aplicações práticas e de conr.erter-se em
vida da comunidade e para a pesquisa científicaer, eÌe pode reavaliar os ideais de
"obras", os enciclopedistas colocavam-se- em plena consciência-
como herdeiros vida a eìas ligados e inverter radicaìmente alguns rumos que AristóteÌes havia
e continuadores da reforma iniciada por Bacon De resto, o próprio protesto de
dado ao problema das relações entre natureza e arte Quando Bacon considera a
d'Alembert contra a "superioridade das artes liberais,, e seu programa de uma
historia artium como uma seçAoda história natural e polemiza quanto à
história das artes como "história dos usosque os lromens {ìzeram das produções
contraposição arte-natureza ele rompe, de forma decidida e consciente, com uma
da natureza para satisfazer suas necessidadesou suas curiosidades" se liga'am
tradição secuÌar. Para esta tradição (que remonta, ela também, a Aristóteles) a
explicitamente à a'aÌiação baconiana das artes mecânicas. Esta avaliaçã<;
arte não passa de uma tentativa de imitar a natureza e arremedá-la em seus
comporta\.a, em úìtima análise, a recusa daquele conceito de ciência que, mesmo
movimentos; esta íütima encerra em seu ìnterior o princípio de um movimento
que conìprometido em inúmeros aspectos,havia continuado atuante durante
indefinido, enquanto os produtos da arte, movidos por um princípio exterior,
séculos: uma ciência que só nasce quando já foram providenciadas as coisas
não passam de tentativas, destinadas necessariamente ao fracasso, de imitar a
necessáriaspara a r.ida humana e que se voÌta, portanto, para uma pesquÌsa
espontaleidade do moúmento natural Esta doutrin4 escÌareceBacon, está ligada
desinteressada e para uma conternpÌação da verdade. Este conceito de ciência
à teoria aristotélica das species,
segundo a quaÌ um produto da natureza (árvore)
que tem em AristóteÌes suaeìpressão mais coerente,parecefundado na estrutura j
é quaÌificado como tendo umaformzprìnuinh, enquanto a um produto artificial
'r...
econômica de uma sociedadeescra*agista,na qual a abundância de "máquinas
(mesa) cabe apenas umaformn secundária.Para Bacon, a forma e a essência nas
r.ivas'l torna inútil ou supér{ì'a a construção e a utilização de máquinas que
coisas naturais e nas artificiaìs são do mesmo e idêntico tipo. A diversidade deve
tendam a substìtuìro trabaìÌro humano, e em que o desprezo para com quem
ser procurada tão-somente na causa eficiente A arte é, portanto, o homem
exerce qualquer ati'idade manuaÌ se estendeàqueÌamesma atividadeque aparece
acrescido à natureza (ars est hnnn additus naturae) e o fato de que as condições
como sendo a úÌtima, na hierarquia dos'alores sociais,e como sendo excluída
necessárias à existência de um fenômeno estejam naturaìmente conexas ou
dos vaÌores culturais. com isso,os artesãosnão têm direito à cidadaniapÌena nas
venham a ser reìacionadas entre si peÌa mão do homem, não cria uma
Leis de Platão, enquanto Aristóteìes nega que os operários mecânicos possam
heterogeneidade entre os fenômenos artificiais e os naturais. O homem, com
ser admitidos no roÌ dos cidadãose os dilerencia dos escra'os apenascom base
efeito, pode agir sobre a natureza apenas aproximando ou afastando os corpos
no fato que os primeiros acodemàs neccssidadcsde nruitas pessoase os últimos
naturais; quando não existe esta possibilidade que abre inúmeros caminhos, o
apenas aos cuidados de uma única pessoa.os ideais de vida do artesão e do
comerclaÌìte parecem "ignóbeis e contrários à r.irtude" a Aristóteles, porque seu
''
gênero de atividade é privado de quaÌquer nobreza e nenhuma de suasocupações Sclrrrìrl. llachtttuur ú fhiÌosofh & (it. pp I l-Ì1; I'. Iìossi, pp,J ì ss
' l)ara a postçâo tliantc das
a t t e s t r r e c á r i c a sa s s r r r n i r l al x ) r ( i c l t i s t a s p o s t e r i o r c s a Í J r c o r , ,r f . l ì
requer uma particular exceÌância.A oposição entre escravos e pessoasiivres ',
lJovlc. ('orrsirlcrations totrcìrinq LÌscfìrlncssoÍ \atrrral I)hiÌosophr c l r 1 , .S Ì r a u , / / b r l r o /
tende, dessemodo' a identificar-secom a cposiçãoentre técnica e ciência e entre
l l o t / c a l ' r i , / p e r 1L,o n ( l r ( . s l 7 ! i I 1 r P l . l s t - r ; r t ;I l ; r l l . p J t a )

l
I
_ !
homem não tem poder algum. O fato de ter afirmado a heterogeneidade entre maior dignidade, mas não menor cupidez Finalmente, um homem que se
natureza e arte levou a filosofra a conceber a arte como mero acréscimo esforcepara âumentar o poder e o domínio do gênero humano no mundo,
(addìtamzntum) à reaÌidade naturaÌ e correu o risco de tirar dos homens a tal ambição,se é que assimpode ser chamad4é de todas a mais saudárel e
a mais augusta. e5
esperança na possibiìidade de uma transformação radical da natureza e da
vida humana.
A ciência não é, portanto, para Bacon, uma realidade cultural indiferente
Esta insistência sobre as conseqüências'práticas" da doutrina aristotélica
aos valores éticos: aÌguns, ele escreve,dedicam-se à ciência apenas devido a uma
parece extremamente evidente no Temporis partus masculuJ quando Bacon
curiosidade superficial, outros, para obter reputação, outros ainda, para se
escreve que Galeno "fazendo ostentação das propriedades maraviÌhosas das
sobressaírem nas disputas; pouquíssimos buscam-na para seu verdadeiro fim que
misturas naturais e acoÌhendo avidamente o conceito de uma separação entre o
é a vantagem do inteiro gênero humano Assim, alguns identificam a ciência
calor celeste e o naturaì, tentcu fiaudulentamente ìimitar o poder dos homens e
com um leito onde descansar, outros com um pórtico por onde passear, outros,
procurou reforçar para sempre a ignorância, seründo-se do desespero".e*
com uma torre do aìto da qual satisfazer suas ambições, outros com um forte
A ciência tem portanto, para Bacon, caráter público, democrático,
para as batalhas, outros com um mercado e poucos a concekm taì como ela deve
coÌaborativo; é feitâ de contribuições indiüduais que visam um sucesso comum,
ser,ou seja,um rico armazém para a glória de Deus e a vantagem da vida humana.s
patrimônio de todos:
A afirmação desse ideal da ciência e a reaÌização desse tipo de cultura
implicavam, evidentemente, para Bacon, também a renúncia à imagem do cientista
Podemosdistinguir três tipos ou graus de ambiçãohumana. O primeiro é
o daqueìesque desejamamplifiar o próprio poder na sua pátria, e esseé como encarnação vivente da sabedoria infinita ou como gu.fdião soÌitário dos
um tipo vulgar e degradado O rgundo é daquelesque prmuram amplificar suoessos secretos, devidos à genialidade de sua mente individual. Aquela que
o podere o domínio da pátria no gênerohumano.Este tem em si certamelìte acãbava sendo derrubada era a imagem antiga e veneranda do sábio enquanto
'ïuminado"
e o conceito, ligado a esta imagem, da colaboração entre os homens

l l l , p t i t l ; c Í . r a n r b ú r r r . ' / r â , Á ] r l l l . P r r r s c l ) - y ' , . V )I p J í r í i - p a r a a d c f ì r r i ç ã o < l e r r t c


de ciência como colabração entre "iÌuminados", que dá origem a resultados que
"'1Pl[Sl
<rrnrt /roaro .tldt!il! il.ttutuc: I).d Sy' l. I Isl;; qurjìtt) ir rrãeìrorrug<,nciclade errtrc os lènônrcrros devem ser mantidos secretos.
ilrtifi<iais c rratrrrais cÍì a itlentidftlc, sustcltadt O da distinção enl.re hofln anìmalis e homn spìritualis, entre iÌuminado e
Por llatoD. entr.c.!rrrrirncnt<rs Drtilraì\ c
rnor ìnrcntos artiíìciais <' a ì<lcnntìcaçâo cntre cont|osição c rristiio, al ihuítlas rcsl)ccri\ atncntc
comum mortal, é um conceito que atravessa toda a cultut.a européia, desde os
ao homern c à natrrrcza (,\? I 6ô, ;5). (I-PIL.V tll, p .jJ t: (l: Sp lll, | .ilJ9); crìrr-c as c()rcs
<la ítis |rcsetttcs trurììa g)tâ dt ;igrra atraressa<Ìa pxrr rrrrr raio dc luz, c o axo-íris (I)_J, ^ip l.
pitagóricos até os gnósticos, desde Averrois até Marsilio Ficino. Mesmo onde,
1r
l Í Ì i ) l > r r i l a o p o s ì ç à o a r t ( , - r i t r r r ( . z i r r r a I r l a t l c \ Í r 1 c h a c n o p ( Ì ì s a n r ( , r t o r n r x l c r r r r : ,< Í ì S r ] r u l r Ì . nos primórdios de uma atitude "moderna", mais se insistira sobre os temas da
flathitìsuL d lrhih.b/thtt <tt. plt :'Ì-1! O autrrr lctrrlrra, a cssc rcspcito, os \crsos do lìonuut tecnica, da colaboração, da construção lenta e progressiva da ciência, da ligação
lc la Rttsegva ret<'lar ant contrr a oirosição art('-rìaturcza. u ru tcnrpo Íilrtíssirrra, tcn ha dccrcsci{ir
entre o saber e o fazet este motivo do caúter secreto, do caráter exceDcional da
PaulatinanrcDte IìÌr Ì'<trarca c cnr;\riosto. ao contrário cla se rcaÍìrrna rìgorosanr<,ntc (I)e
tneditsuÍnuryuc.fìtttuta4lìãlt, J55r,l,p 99:()rhndoltutìtto,l\,r5-99,XI,99ss) Ì)cscarrcs
Ìlão rcconhccc, coltto [Jat<ttt, ncnhutna dili'rença crìÌre Ìcs rÌÌa(hirìcs tlui lirnt les artìsans ct lcs ''
^ ' O I r e e ( r r a d Á l l a n Í i ) C ì l ì t a r n b ó nÍr. h [ ' l l n n . , . 5 1 . t l l , p e e l ; C / ; . 5 / l l l , l Ì ) ( ì l Ì , t e
-farr'rrr.r,
tlrrers corps <1ueÌa 'arrrrc scrrìe conrposc' (Prìnciprs -\rlarn t,t lX, p jJ:2Ì) Orrankr à "' Cl. I'al- l'crn , Sp lll, p. 2Ì9; Coa htnt,.V, [, l)l) tít,2-rj:JSobr<,a trarrslòrnação do idcaì
rclação eDtrc anc-rìatrrrcza crrr ShakcsDc,arr,.cÍ. Iì \t sclrrihl, IÌ.rrlita. la rìatur('cr l'rrt . <rn haconianotlc utna ciênciaa scn jço de todo o gêncro hurnanorrrrntaciCrrciaa s<'rriço cìoIì-*raclo,
IÌetue ìe flelrbhìsiauc. l9lG < í .l ì a l l , p p 9 0 t s s -
figura do iÌuminado, aparecevi','o e atuante. A obra de Roger Bacon foi justamente
Na realidade, conforme já notado por Thorndike, a scitnÍia erperinuntalìs
julgada como sendo uma das expressões mais significativas daqueÌa grande 'trermética"
crise de Roger Bacon é por dois terços. Na sua terceira prerogatíoa ela tem
do pensamento medie'ai em cujo âmbito passaraÌn a ter consistência aÌgu.s
a tarefa de criar novos setores de conhecimento e possui uma função operativa
conceìtos decisivos para o desenvolvimento da ciência moderna.
Quando Roger Em outros termos, ela não tende a examinar os procedimentos das ciências
insiste na manilum ìn^dustriaque pode corrigir erros que mediante a Íìsica e a
existentes, nem a acrescentar às ciências existentes conclusões novas (primeira
matemática não poderiam ser descobertos, ou compara o trabalho do cientista
e segunda prerrogativas), mas visa, ao contrário, aumentar o poder humano e
ao do arquiteto, que precisa da coÌaboração de muitos, ou propõe uma nova
efetuar operações sobre a realidade naturaÌ. Âs obras, os conhecimentos, os
organização da ciência que requer despesas,subvençõese, sobretudo, colaboração
procedimentos e os métodos da scientia etperirnentalìs, em sua terceira
entre os doutos, ou então chama a atenção sobre o maior conhecimento dos
prerrogativ4 devem - segundo Roger -permanecer em segredo, eles são e devern
tempos modernos frente aos antigos, devido ao lento e progressivo acréscimo de
continuar sendo o patrimônio de uma elite de iniciados e não podem nem devem
novo saber a um patrimôniojá existenteeì, eìe desenvoÌve temas de pensamento
ser divulg'ados. Justamente quando se colocava como rainha de todas as artes e
bem próximos aos que o l-orde chancerer irá desenvolver argum século mais
soberana de todo o saber, a scientia ezperimzntalis reafirmava seu caráter de
tarde, Não é o caso de esquecer, entretanto, ou de silenciar (por amor à
continuidade a quaÌquer custo) idéias que foram expressas por Frei Roger com saber secreto, hermético e esotérico n"

vigorparticuÌar e que, de resto, correspondiam a uma precisa situação de cuÌturael Este motivo de um saber secreto, de uma sapiência da qual apenaspoucos
puando Roger afirma que todos os grandes sábios de todos os tempos são dignos e que deve,por isso mesmo, ser cuidadosamente ocultad4 está presente,
se
preocuparam em eeconder do povo a melhor parte de seu saber e cita os filósofos como é sabido, em toda aquela numerosíssima ìiteratura mágico-hermética que,
gregos que se reuniam de noite e aqueles sábios que escondiam sob mil artiÍicios principalmente no finaÌ do século XII, invadiu o mundo ocidental ,@
as verdades descobertas, ou apeÌa para as Escrituras, para Moisés, sozinho
no
monte sinai, para os três apóstolos que assistiram a transfiguração de cristô, Rogo autemet adiurounusquoqueìn his intelligentesad quorum manus
prerveneritharc preciosamargaritanovella,ut cornrnunicentipsarnviris
para reaÍirmar a impossibilidade de comunicar a todos a sabedoria, ele está'.
trazendo à tona uma tradìção "hermética" bem antiga e repetindo conceitos
difundidos dentro de uma imensa literatura "'Cf (' [-]aston,
Iì Carton, L'ct'ltetient lth.tsìr1uerht: IÌogrt lìaior. I)aris 1911. l)Ì) ìilt-{ìt; S
Iìoger Rttott and his vrtrlt /?n-a Ilnìaernl.í'râ,r2, OrÍÌrrd. t959, lì) ìE-slJ. tl,; â a\alirçatí)
r l c ' l ' l r o r n r l r l i r ,. l l c ( Ì r Í T a - s ( r t l I I I , 1 1 r ( ì 1 t s s ( " I ì o g f r Ì ì a c o l a n c l t h c l . ì x l t e r r n x r r r a l N I < t l r r r Ì i r r
thc\íitldlc'\gcs")crn I'hìbnphittl IÌptrrii t9tJ,Ì)9$t) [)rrâasrcfertirr<iasàobrat]r,R,rg-er
B a c c r r , c l l O l ' a 5 , 1 , , , i u t( l 3 r i d g c s ) , I I . p 1 i , ; ( ' o i l \ . \ : ! n l i t l t h ì l o s (Ììrcucr).pl) rÌil-tí;; lipì'tohdt
J r o ' c l l s o l ( l Ì r c r r c r ) , p l - r 1 3 - l ) a r a t r n r a c l c c ì < n t r : r ì s ã r r t l <e o n i r r n t o c f - t l e l ) l J i s a ì l i I ' ] - , l L r t ì r '
l'.l|ordlìrv. Rìttr,.lte srll'emtoÌtpìt rn -lfuno li )[t]tlh I llilernl /J(rror., Iìlorcl!â. ltì; r
""'l'lssalittyaLrtraconstìtuiu aìuxuriantt \(,!,-(,raçiìo(luccrc5rt,r'rnbairotlasírrorcsd,rlxrr<luc
d a r r a i s c o r r l r e c i < l a l ì t c r a t t r r a l ì l o : i , i i c a c r < r : l r i g ì t (r ( ì a r i r , I 1 r r l t , p - t ; t ) O t c n r a d r ' r r r n ' a i r g -
sccfct{)tctÌÌd(sclì\olrittrctrtosÌrotá\eisrì()srnundosgrcgorrìstiioetrtr-drcral \rirortrclr'narla
clctudoatltrììocconscr\cparasicssascoisas.ltoìs<:siÌ('nciocnsilaarirtudc -Assjnttlizlnr
tr:rto dc Z<izirna (sór VlIl). clì lJertÌrclot, l) ltl S ã o t ì r n d a n r e r t a i s o s . ! r r r l r r u r < , sd c . \ - J
[Ì'sttrgìi rc, ],d t lré lLÍt tu n ì' It r rnt ès 7) ì t ní'gt.r1r, Prr; \. j 9 19- ; t
intentibus ad hanc quaestionemet artem esurientibuset naturalibus
recorre com insistência nesses filósofos da Renascença contra os quais Bacon
principiis eruditis; ab insipientibus autem et queris ipsam occultent, cum
polemiza duramente. Assim Paracelso pôCe escrever:
sint indigni'u'

Arcanum hoc ab antiquis Patribus in occuÌtissimis habitum est, qui


Assim escreve Bono da Ferrara em Margarita precìosa rnaell4 composta
possederunt illud, ne ad impiorum hominum perveniret manus . Rogamus
em Pola em 193oror;sobre o mesmo motivq entretanto, terão ocasião de voÌtar
ergo vos... ut, Patres imitati, dir.inum hoc myst€rium secretissime tractare
textos mais tardios e de outros lugares. Q De magbaeteno4'tmpresso em Basiléia velitis atque serwre ro5
em 1575, abre-se com as seguintes expressões significativas:

Mas também Agrippa - que não foi estranho a problemas técnicos e que
pui vult sereta scire,screte secretesciat custodire,et revelandarerelet
projetava vm sodalitiun científico para o qual se colaborasse eficazmente, de
et sigillanda sigiÌlet, et sacrum non det canibus nec margaritas proijciat
diferentes lugares e nações - a linguagem da ciência parec€ uma linguagem de
aÌìte porcos. Hanc legem observa et aperiuntur tibi ocuÌi mentis ad
iniciados e de minorias de iluminados:,G
intelÌigendasrcreta, et audiestibi divinitus revelari quicquid animus tuus
desideraverit.'o'
Unum hm tamen te monemus custodirepraeceptum et vuìgaria vulgaribus,
altiora vero et arcana aÌtioribus atque secretis tantum communices micis.
Não é o caso de deter-se sobre a enorme fortuna d* op,i."rlo,
Mitto a te libeìÌum istum cabaìisticum... mi Chrysostome cupientissime,
herméticos traduzidos por Ficino e sobre o enredo complexo de temas
qui in hac te exercere affectas, tantum mysterium intra secreta religiosi
herméticos mágicos e astrológicos da cultura do Quatrocentos ou do pctoris tui penetralia silentio tegito et constanti taciturnitate celato;
Quinhentos'*. 0 que interessa salientar aqui é que esse motivo de uma sermonem enim tanta numinis maiestate plenissimum, irreligiosae mentis
'iniciado"
sabedoria escondida, essa imagem do úbio como "iluminado" e como esset muÌtorum conscientiae publicare.'o;

"" Ptço pois c clcorrjur,r aos intcììgentcs, a qualtlucr Llrn ctìtrc elcs crn urias n)iìo\ cilir cstr
"'"'lìste segredo foi urantitlo errtre os rnais mrrltos pelos antiqos pa<ìres, <1rreo;rus,.uíra11. para
preciosa nora rnarÍrrrtda (pí'ro)a) rlut'cottrersc dcìa co[r os horìrerrs coÌ]l lìrol)crìrão I)ara cstâ
quc Dão câísse lìas nìãos dc pcssoas írnpias - Por jss<tros suplicarnos. <11c,initalrlo 6s l)arlrçs.
(lrrcstâo, ( oDl tôrnc dc arte, trn r pritr< ípìos traturaìs c <'sp<'cialistas;quc a urr ltc. crr I r cÌanto, rkts
ros digneis tríltar c {Irrardar, dc rnodo absolutarncntc secrcto, esse mistério dirirro -f.
ìgtt,uattt, s lDr,Ìu( sà,) ittrli{rt,rs' ' -1
Paracclso, I)e ilnüìt taturqc trt-çletìt.scontnrenlarl lìasìléia, l.ís+, p97
""'\Í Pctri ll<rri Lonrbartli Fcrraricnsis, Iillrodilctìt in atten chentìue ral<ni. \Íoltpcllier.
"'' Otranto a<tsi ntcrcss<'sdc '{grippa no qttc st' rr:Íì:re à cònstrução <Ìernáqrrimaspara a errgep lraria,
l6():.1,l) itgs
'''' r ejanr-sc as d rras cartas cscri tas cnl setcnr lrro rle I iigíi e eÌn (lczcn) I)ro (ìe I J9;, ]1tr.lv 11
i Itb- \,
QrrQnquìs<r'salx'rorltrt'ósc<rcto,saibaquarrlrrnt0itosccrctatrtciltc.rârt()x\clcoquc
2o,c\topoit cit.,lI.pp.8íigegro.puart.ao.soduliltuntsccretodiìqrral Àerippatìzir1,arn.
<lerc sct rcr<lado r'r',tìo latrc rr qrre dcrc scr lacra<lo c Dão (rìÌrcguc o sagra<lo a()s cíìcs lìetìì
rro's anos dc srra estarìa cnr Ì)ari:;, cÍ. (ìarin ent (ììoruttle o itiv dcllt.fiknofo ilalidro,
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joguc póroìas iliatttc dos ìrorcos Obscrra csta lci c abrir-s<-ão para ti os ollros <Ìa uìcÌìtc para
'\slrrirrreirasd.zecpístolastlollirro(openr,cìt,ll,pp I-r8)scrcfèr.nàsrclaçõ<,scnrr.rrrr
cotnpr< cndcrcs as coisas sc<rt'tas c rltn irás s<'r rer clado a tj, (le lnodo rlir itro, tutlo quanÌo Ìcll
grrrpo dc iuteÌ<'ctuais <1rrcirrclui charles dc llorlclìcs, (ìcrrnain dc (ìarra-r',c, prorarelrrrcrrrc
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Usoote\toirnprcssoern (4ct1t,çiÍ,1,ì)p 576ss Parabrere.siltôrnìaçõessobrcestetc\to,cf tanrbé.rn Sìnrplurien Chaurpien
'fhorndikc, r'': FllìtretaDto,ad\crtitrtos<;ttcgrtardcsesterirìic()pÌeccitoecontuni<lttes<,corÌ!uìra{)scorììllns,
pp 15?-.ts.
''" Cl. (iarirr,1951, pf 1zÍJ9ss; I'l ,\ Yatcs, G. Ilruto u t a s o q u c é m a i s a l t o c s e c r e t o s ó o f a 1 : a s a o s n r a i s e l e r a t l o s c a o s a m i g o s s c c r e t o sI i D \ i o a r i c s t c
uul the Ileruetit'Iitrtitiot, Loìì(ltcs, J96l
(trã(l i1 llari, Ì969) lìr rinl:o cabalístico , rnerr r uriosíssjrrro crisristorno, quc tc abaÌanças a praticar iss<r qitrlta tão
grarxlc ntistório pclo silêrx'io Iìo re{ alto tÌìíis rccônclito tlc teu
1x'ito rcligioso c rrrantónr cst er rclitlo
No De occaltaphìlnsophìa, Agrippa havia afirmado que,.o princípio e a chave Mas éjustamente ao trabaìho que não convém a companhia No que se
de todas as operações da magia" era a dignificação do homem. Esta..dignificação,, refere a mim pessoalmente, de cada setenta descobertas minhas, taìvez
consistia em destacar-se da carne, do corpo, dos sentidos para elevar-se, através nem vinte eu deva a outrem ou à sociedade. . Um grmde número delas
tem outras origens, algumas incÌusive têm origens ocultas, como o
de uma iluminação súbita, à virtude dos deuses que abre as portas às operações
"esplendor", ou mesmo mais exceÌsas. O que tenho então para partilhar
secretas A excelsa doutrina deve ser portanto ocultada com firme constância e é
com meus semelhantes?. Até agora faiei de mim como de um homem
necessário que o operador seja discreto "e não rer,'eÌea ninguém nem o lugal
qualquer, por natureza e educação até mesmo inferior a outrem; mas quero
nem o tempo, nem a frnalidade perseguida". No fim da obra, era assim que agora falar de uma minha maravilhosa quaÌidade --'6
reaparecia a distinção entre sábios e estultos, entre iluminados e comuns mortais
Ninguém deve ficar irado, escrevia Agrippa, se quisemos esconder a verdade da São palavras de Cardano. Este tipo de pesquisador não precisa de
ciência sob a ambiguidade dos enigmas e se a dispersamosaqui e acolá no decorrer instrumentos técnicos nem de organizações cientÍhcas e culturais, nem da
da obra. Na realidade não a escondemos dos sábios, mas dos espíritos maÌvados elaboração de um método e de uma linguagem rigorosos. Seu fim é o de
e desonestos:'por isso fizemos uso de um estilo apto a confundir o estulto e alcançar as úÌtimas essências, apresentando essa chegada como fruto de
facilmente compreensível para a mente iÌumi-'ada". As verdades descobertas não poderes sobrenaturais, superiores aos da média dos mortais e a ela
podem ser comunicadas por r.ia 'púbÌica' e "normaÌ": exige-se uú tipo especial e absolutamente inacessíveis:
intuitivo de comunicação, um trarÌsvase de aÌma a aÌma que Drecisa recorrer a
palavras "sagradas": ÂqueÌa subÌime aÌtura, que ninguém depois de Plotino atingiu, ou seja, a
origem e o Íim de todas as coisas, eu a alcanci elÌl meus sete ìivros dz
Non enim committurìtuÌ haecÌitteris, nec scrìbunturcalarno,serJspirìtui uternitqte arcanì, e igualmente a ordem do universo e de todas as coisas
paucis sacrisqueverbis inÍìnduntur; idque si quando Ììos a tc veÌlÌre singulares nele contidas, nos quatro livros defato- O terceiro gênero de
contigerit 'ur conhecirnento. provém em mim totalmente do gênio tutelar, cuja
demonstração rne dá simpÌesmente, reveÌando-me suas causas e sua essência
por meio de uma demonstração extretrìamente segura "o
Se nos dirigirmos aos textos de uma outra das "fontes,' renascimentais de
Bacon, o que afirmamos para Agrippa conserva todo o seü vaÌor:
 contínua e apaixonada insistência de Cardano na descrição dos milagres
que acompanharam a sua vida, nas suas maravilhosas faculdades, nas
circunstâncias curiosas, sonhos, gênio tutelar, nas páginas repletas de
l \ ) r ( ( ) ì l \ t a n ( ( s i J ô l t c i , , : l r t i s s c r i i ; i ' t r l t r r i o d c D r c D Í r . n ã < p r r : l i g i o s r r t r l - D a r I r i b ì ì r op r r r a c o r t r r i i , r r < ì a
rLrtttttos,r''-,Asrl|Ìtorct)Ìtio(líti!rÌtarìl)ilnlrjcstadc<loÌxilrrrìiriI0;\(iirrrarrrri-lì.jrorrioísrl(: acontecimentos, de datas, de detalhes mínimos, de iras repentinas, de motivos de
â l ) r i ì ( l c I i ì l ( ) ) c I C r i s , ' r s r o r r r i, r ì r a j i ì( 1 . r 1 l ) j 1 . : 1 ,I J l , r i . c r D ( ) p t n t < i t . 1 t i t ; o j _ ; . Él i,11,.r,:siìÌ( orgulho. tudo é anaÌisado, elencado, descrito segundo as categorias do
!ìoLrraiÌiscn(l{l(Ìs'.(krìllildlrcatiÌtt's(-cnK)"atrìlrâcii\kÌ'.íìLrtcstiil,tngrrlc<irraLlLrrtlr;sirìr;t[. 'No
excepcional, do grandioso, do deslumbrante, do secreto. ensino - escrevìa -
rrcIlrr.rIrr'(i rracastorrr, \.tilli ììi,tlíd* I - ] l , c l k , g r i r r r . ' , i , r , , 1 1 11., r - , - , , p . . , -
' " 1 ) o i s r ' s s a s c o i s i r s r t ã ( ) s( (- Ì ì i r e g r r ì r | r , ì a c s r r i t a , t r r t n s l ì , ) g , r i à ( l â 5 c r ) t r t ( a n c r a . r r r a s s c j n l ì ; n r l t r n

lrrrr,.|ú_itoâtra\ús(1r;xrLrra.ltaìarra:.;r,qrarlas:i.isso.tasoalrlrrrrtrlirarrlrlr,<crrlcrrrisitnxrs "" (,-ardar<r, .4ulohìogto/ía, cit , l)p t()ì, I I 7

a Ì ( , o r ì r l ( , ( , s t r i s . . " lltJPt . \ n t ( l L r r L ì t , Ì l "" G Caxlarro, I)t krun xdritlltlc, -\\ ir)lìào, 1556 F)ftìÍola nnmuprttut-u. p :;r td .,lulobiogntJít,
l)ul{r:pclotlrrcPrrrt,rÌr,<f.Dtoc,ult,tpliìlot4úìt rit,, l) l;.; .\ ìista dos 1rxìcrcs solrrcnaturais cnct:ntra-sc na,1tuohitgnyfi4 lras tarnbórl cjl 1)r
III t:. crr Optnt,<ìt.. [. l)l]. tio \..
ÌtriltÌÌ ixil t(ldtP, ( rr. l) ,1 o
sempre preferi escolher exemplos que pareciam maraviÌhosos". uma consideração
Conhecendo estas coisas, o mago. estas coisas baixas daqui de baixo, apóia-
mística da realidade natural acabava assim por comprometer a primeira se nas virtudes superiores, donde extrair os segredos que estavam
exigêncìa empirista que vinha se fragmentando em obsêrvações gratuitas, encerrados no seio da natureza, e qual ministro público, aquelas coisas
desligadas,privadas de quaÌquer critério de seletividade.A pesquisa deslocava- que em sua assídua busca considera verdadeiras, afim de que todos as

se de um exame do curso regular dos eventos a um registro passivo do conheçan, as torna públicas; de tal modo que, inflamados de benerolência
para com o artífice, esforçam-se por louvar e reverenciar seu poder
milagroso e do extraordinário.',,
. -E se coisas mais estupendas fores procurando, e desejares ser tido como
Contra essesconceitos, contra o ideal humano a eles Ìigado, Bacon usou
maravilhoso, pegarás e apreenderás a cogniçâo da causa. ',3
expressões ferozes, empreendeu uma polêmica impiedosa e sem quarteÌ. Basta
ler as páginas das suas primeiras obras para ficar chocado. Em Tempois partus
Já foi visto como Bacon quaÌificou de "vulga.r e degradado" esse gênero de
mnscttlusBaconhavia qualificado Paracelso como um monstro, fanático acoplador
ambição e como ele recusou esta atitude, que reduzia a construção científica à
de fantasmas, cuja busca era acompanhada pelas fanfarras da ostentaçãq pelos
construção de uma torre, do alto da qual se pudesse satisfazer um desejo pessoal
subterfúgios do obscuro, peÌa conivência com a rerigião; havia satirizado
de poder Com as artes mecânicas e não liberais, com os procedimentos dos
ferozmente a figura de Agrippa definindo-o como um bufão ordiirário que
de aÌtesões, com os engenheiros e com os técnicos Bacon haüa se motivado para
qualquer coisa fazia farsa; atirara-se contra cardano, quarificando-o como
um formular umn étita dferentc de pesquisa cìmt!fiea;
ofegante construtor de aranheiras, em contínua contradição com as coisas
e
consigo próprio"'. As razões dessa polêmica vioÌenta eram melhor esclarecidas
Finalmente temos 6 casas?ara a aganaçAo dos mtidns, onde realizamos
na Redzrgutìo philnsophiarum se a magia obtém alguma realização no meio qualquer tipo de jogos de prestigiditação, de falsas aparições, de ilusões,
de
inúmeras falsidades, ìssoéfeìto aisando a noaidadc ou para suscìtar admìração, dc imposturas, coÌn seus respectivos artiÍÌcios. Podes faciÌmente entender
e nio pisando a utilidadz. Cnmo, de fato, é próprio da filosofia fazer com que de que modo nós que possuímos tantas coisas que, embora sendo naturais,
geram estupor, poderíamos em muitos casos enganar os sentidos, caso
todas as coisas apareçam, por efeito das demonstrações, menos admiráveis
do quiséssernos disfarçar essas coisas e fazê-ìas aparecer como milagrosas
que elas são na realidade, assìm é próprio da impostura - continuava
Bacon - EÌrtretanto, nós odiamos quaÌquer trpo de impostura e de mentira, tanto
fazer com que as coisas apareçam mais admiráveis do que eras são na realidade que é severamerrte proibido a nós todos confrades, sob pena de ignomínia
Áqui Bacon atingia na raì2, com extraordinária força de penetração, uma e de rcparação, alterar e ampìiar as obras que obtivemos por via natural,
das atitudes características da magia em geral e da renascimental, em particular. mas nós é irnposta a obrigação de torná-las conhecidas em sua reaìidade e

Eis como se configura em Della porta (um exemplo entre inúmeros) a tarefa sem nenhuma afetação de mistério Ìrr
do
mago: a difusão do saber seraeaqui para uma finalidade que Bacon divisou
com " G Il l)clla lÌ)fta, I)p t niruroli ct nttrat'isliott (/ìlh tltrlld naÍua firodotÍi lútì IIII.Y<'nt,riit,
clareza: suscitar admiração em torno da figura do sáb.io: ì ; . ' , 1 . Ì ) l ) J . ; Q t t a t t t o i ì a t i t u d r - c r r r i o s ar L l ) r l l a l ' o r t a P a r a c o r n a c r r Ì t r r r a e P a r a r r r r r r ) t r a l ) a l l ì o
tlos artesòcs. cl. )lagìa natutlts.I r-atrcofìrrti I íjo; I)l), ,ó, íj I Sol)re o tÌÌoti\ o do carítcr sc( rcrcr
c l o s r c s t t ì t a d , r s d c , s c t r P r ó p > n , r t r a l r a Ì l r o , r t j a , s c 1 a t Ì l l ) ó D ìa ( a r t a ( l e J ; d c , j u l l r , t c l c l r i S 6 a o
rri9tlarlti)à()trc(rlìo0rrtlc:t cartlc,aÌ <l'l.,stc. lrrrbÌicacla cnt Iiioreutirro. Sttttt t rilrutli tltlltt [Ìinasren:a, (rt,
ì r a s t a ( l a í r b s r r r a ç i ì o r l t r n s ó l t r c e r ] t rr n a l a r i ì l r o s o P a r a o Ì t a l r i r r r a ì l) 9r;7
'"
c <r rr0frral , r orrro c.'drr jal \ : l \ y ' Ì l l . P 1 6 1 - \ ì Ì ì ) p ( ) r t , r ' ì ( i â ( l c s t a Ì ) i l s s ? r g ( ' r ì r l ìj r ìr s t a n r r r r t t ' s u b l i n h a t l a l x r r \ ( Ì r r s a r r o
i r a r a a r o r r s t r L r r i ç i ì od a c i i r r c i a r Ì r ( r ( l ( , f , ì a<, t l l _ o l s r ì r k i , c r t h ì , h r t
tlrt nru'/'r,uhlirhrn -"it,rilr/t4llilhril Llttrttur, ilaìlc. ìlr;, rol lll. pp J,rl ss Ilrl I : i ì < r s . r Í ì as r i c n z a a c t e t n i c a n c , l l a c r ì s i < l r l | , , r 1 5 1 ç 1 er i n a s c r r u c n t a ì c , c n t S t u i ì s u l
"' 1'l'.\1..\:f Íll. l)l) irj2-}1. jiiíì. rrjo lltn,tttttn,nlo-ÌJarì,19tIrl)l)rt-tì;51xrìrling.cornscrr<uidadohabjtual,rcurrirrrlezltassagcls
r l a s r r l r r a : t l t l ì a e o n I l a r r l u a i s r ì r 1 Ì \ l r o t r( ( ) r r ì í ' s u a s e \ l ) r c s s ò c s ( l r r t ' s c t c l ! r c n r a c 0 t a c a u t c i i r c o r r r
Quanto a esse aspecto, e apenas quanto a esse aspecto,surgem as reservas, Â interpretação dos "oráculos da natureza" exige ao contrário, para Bacon,
as críticas e as recusas baconianas para com a tradição mágico-alquímica. Aqui uma paciência inÍìnita: é preciso que os homens, em nome da humildade para
se atingia exatamente a atitude que estava indissoÌuvelmente ligada a essas com o Criador, da afeiçãopara com os outros, do desejo de diminuir os sofrimentos
pesquisas e cujas bases constituía: a pretensão de transformar a ümita _ que humanos, tio ódio à ignorância e do amor à verdade, consigam abandonar ou, ao
para Bacon seria capaz de irmanar os homens e de servir ao inteiro gênero humano menos, pôr de Ìado aqueÌas filosoÍìas absurdas que pisaram na obra de Deus e
- em uma art€ que se apresentassecomo fruto de qualidades
especiais,de poderes que, baseadasem poucos experimentos apressados, Pretenderam fundar uma
extraordinários, e que se resolvesse,portanto, na tentativa de um homem dominar inteira Íilosofia natural"Ì. As páginas do grande livro da natureza devem ser
a outrem. A'purificação" da magia, da qual fala Baccn, tem exatanìente este lidas com humildade e com reverência, parando para medìtar sobre elas e
significado: os fins das três artes (rnagia, aÌquimia, astrologia) não são ignóbeis, renunciando a qualquer efeito fácil Trata-se de aprender a linguagem da natureza,
mas os meios que eÌas utilizam estão cheios de erros e de vaidade". O homem aquela linguagem que sofieu a confusão da torre de Babel e à quaì é preciso
deve continuar na tentativa, que foi a da magia, de tornar-se dono da natureza, e l'oÌtar, renunciando ao "maravilhoso" e ao "estupefaciente" e retomando o alfabeto
de transformá-la desde seus fundamentos, mas deve recusar o ideaÌ humano que em mãos, feito crianças.""
foi ligadc peÌa magia a esta tentativa, ou seja, deve recusar qualquer atitude que Bacon afirmou repetidamente que o método da ciência por ele projetado
pretenda substituir o esforço organizado do inteiro gênero humano'peÌas não deixava grande espaçopara o gênio individuaÌ e iguaÌava, de alguma maneira,
"il.minações" de um único indivíduo, e que tenda a colocar a ciência a serviço as inteligências"'. AÌguns ìntérpretes pouco preparados quiseram entender esta
de
indivíduos e não da espéciehumana afirmação como a expressão de uma confiança otimista no caráter "mecânico" de
Esta condenaçãoda magia como impostur4 como surto de geniaÌidade,como seu método que, uma vez criado, teria, por assim dizer, funcionado por si só. Da
mania degrandeza revelav4 poroutroÌadq mais umavez, sua natu rezade mndmação mesma forma, não faltaram protestos apaixonados contra a pretensão baconiana
moral, quando Bacon manifestava-se contra o método não progressivo e não de querer encerrar o pensamento "dentro de uma bitola obrigatória e pré-
coÌaboratir.o da magia e sobretudo coÌrrra a pretensãq que ela in.rplicar,4 de substituir estabelecida". Entretanto, uma vez mais, o desdém nascia da falta de
o suor humanc por aÌgrirnasgotas de elìxir ou qualquer {ãcil cornbinaçãotìe corpos, aprofundamento histórico: se tivermos em mente o fundo de cultura do quaÌ
"praecepta enim magiae naturalis taìia sun! ac si coúderent homines terram teve origem esta afirmação, teremos consciêncìa de como eia é expressão da
subiqere
et panem suum cornedereabsquesudorevuÌtus"'(' tomada de posição de Bacon contra o caráter de excepcionalidade dos métodos
empregados nas pesquisasmágico-aÌquímicas Aqui, o resultado parece depender,
em última análise, da aplicação de um procedimento "secreto" devido à
capacidadede um indivíduo Em oposição a este caráter secreto,Bacon propÕe

"'[]'\í.,\l' lll 1, ;rlt; ll I'h S/) Ìll,P á;i,i\íJl tl Orrântoaoaìratrtiorrt,riatrlrr:rtk:l)itr.


rt.ja-sc lrrur/,.$ I. p l:líi: .\()I sii I)/. Á2 Ì, P lat (-J(hr,.\1, III, l) ,Í,!)
'' lhl 'l'uut, ^V Ill, j)fil;: I'haLn I-t. Ái1 Ìll,
l) í;x;; -\? I íid
L " - \ ' í ) I { j 1 . r ! ' : : c l . t a r n l r i ' r i l :l i t l 7 à n S 1 t I I l . l ) l t o ; P h ì l u n L a l t . , . ç / , I l l . p í ; r J s :R I ' h . ' \
lll, t) ,ïi
a exigência de um procedimento fundado num ideal de divisão do trabalho e procedimentos aÌquímicos. Supondo que se queira introduzir uma nova natureza
de continuidade progressi'a da pesquisa.Neste sentido, ele compara o método num dado corpo, ele escreve,vejamos quais seriam os preceitos a serern seguidos,
por ele proposto a uma régua ou a um compasso Sem o uso de instrumentos, que devem necessariamente ser enunciados com a máxima clareza, uma vez que
tudo parece confiado apenas à firmeza da mão e à agudeza da visão (que são quem deseja realizar uma operação dessa natureza, precisa de três coisas: t) ter
quaÌidades sub.jetivas e incontroláveis): conhecimento de um procedimento cujo sucesso seja infalível e não possa
decepcioná-lo, em caso algum; 2) dispor de um procedimento suficientemente
Mas nós consideramos perigosasa subtilezae a precipitação dos engenhos generalizado, isto é, capaz de permitir-lhe utilizar o material à sua disposição; 3)
q u a n d o e l e s s ã o t r a Ì ì s p o r t a d o sp e l o s e u p r ó p r i o r n o t . r m e n t oe Ì ì o s dispel dg um procedimento menos complicado que a operação que se pretende
premupaÌnosem forrrmeraosespíritosnão pÌumase asas,mas chuntboe
realizar (isto é, que seja um "modelo" abstrato e, portanto, mais "simples" do que
pesos-Parece-nosque os homerrsabsolutantenteainda não perceberanr
a operação em si). O alquimista não tem exigências desta natureza e procede
quão serera é a bu-scada rerdade e da naturezae de quào pequenamargem
esta buscadeixa ao arbítrio de indir,íduosisoÌados,nn na base de regras obtidas de livros considerados sacros e infaìíveis Fazendo
isso, ele chega a acusar a si mesmo dos erros aos quais os textos o conduziram.
Justamente o peso excessivo concedido ao arbítrio de indivÍduos isoÌados e À su^ esp".u.rça ilimitada corresponde um estado contínuo de auto-acusação:
à precipitação dos engenhos tira da magia e da aÌquimia qualquei possibiÌidade toda vez que a experiência fracassa o aìquimista pensa não ter compreendido
de se conÍìgurarem como "ciências". Nos procedimentos mágico-alquímicos o significado exato dos termos presentes no tratado ou nas obras dos autores
op€ram, sem dúvida, algumas "regras", mas èstas não são nuncâ desiocadas para nos quais tem uma confiança cega, ou chega a achar que atrás do signifrcado
o plano do "método", justamente porque nunca é a{ìrmado seu caráter codificável Iiteral deva ser compreendido o significado misterioso e ocuÌto: pensa ter
e intersubjetivo. Elas permanecem sempre de algum modo "secretas",formuladas realizado algum erro de detaìhe infinitesimal e recomeça seus experimentos
em uma linguagem simbóìica que nada tem a ver com o simbolismo da químic4 interminavelmente.'n'
mas que remete, através de uma série de analogias e de correspondências, ao Acredito ser possíveÌ ver, nas atitudes que viemos acompanhando, aquiìo
Todo e ao Espírito universal, ou a Deus. No quarto parágrafo do segundo Ìivro que separa profundamente Bacon dos fiÌósofos cientistas e dos magos da
do Nozntm Organum aparece bem clara a tentativa de Bacon de desiocar para Renascença, como DeÌla Porta, Agrippa, Cardano, Paracelso e outros, que se
o
pla'o técnico-científico as regras usadas pelos alquimistas. Aqui Bacon aceita moviam na mesma direção de pensamento e que haviam também energicamente
o
fim da alquimia e faz uso (salvodiferençasmínimas) da mesma terminologia dos insistido no vaÌor dos "experimentos"; eles haviam percebido, conforme o próprio
alquimistas, mas recusa decididamenteo caráter subjetivo e não codfictáur <Jos Bacon se deu conta, do significado revoÌucionário dos grandes descobrimentos
do século XVI'no, har.iam salientado o valor e o aÌcance'práticos" de quaÌquer
'' ft. I'h...\J.
I I I . l ) . r ; r j : r . l . r a r r r l r i D rl , ' i / . L a h . . \ l t . I I I . pesquisa,continuando - entretanto - a concebera obra cientÍfica como fruto de
I r;r;s; (.t: Sl.Ill-l) ínll: -\.í)I r()t. Ì.:
lrasrarritcrrnllccidar um trabalho soÌitário e como priviìégio de uma personalidade excepcionaÌ, ou
P r s : a , . ( r ì r , L ) : ( u , q ' ì i , t t?úl i v . ' i rD a q r , a Ì I l a r o r r . l c D r b r a r < l o a Í á l r r r ì i r l o r r . Ì ì r , r
r ; t r c l < q - a t ; t : r s c r r . i i l l t , r s r r r l a r r r r l r t c . Ì Ì t ( ì u t t ) ( , D i c r r a ( l ( ) ,a i ì r r i l a
q r i c o s a l r l r r ì r r r i s t a sl .a l r i l t l r n c l , r
'' (:1..\írll t ; I ' i l u n l - t L . , S p I I l . p l ) l - 1 1 i 1 ) ì ;{ 1 , . \ y ' I l l . p r í ) 9 ; . \ í r l s ; O u a n r o i r c r r r l ì a r r ç a d , r
'rììag()
rìull rrirlrlo rlilir-t'rttcdo lìural (, (llìiuìl() a() uso das gcncralìzaçõcr corrlra as rltrais
j)rot(str lJa(on, cÍ. lrrr crcrrrPìo, \griPPa, ll. l)l) ;(ì1-9()I
(lta(ir)s lx)l Ptat L d f ) o r \ t d ) ) j , t d l ) . \ t : t iàl t g l r t ltl " ( J . . t r r f r t o t l f r a \ . a s l r r l a r r ; ' r : r P a i r o t r : r r l r s r l r( ' a r < l a n oi t u l o l u o . q t t t l i a < ) lr), l ) l r j l - l i i í ; )
\tntnlo, ll,i|r. t:lt.t. l) t;:/
"I
é obra de sábios iluminados ou excepcionaig mas é produto e obra humana que
tende a meÌhorar o modo de pensar e as condiç.oes de vida do inteiro gênero
Èumano. Bacon deu uma contribuição relevante para o esclarecimento dessas
idéias e delas era expressão a sua imagern da ciência como de uma corrida de
tochag na quaÌ ninguém podenájamais iludir-se de substituir úolosos corredores.
A meta rurno àqual vão os corredores é a da hansfor-maçãodo mundo, perseguida
pela magia e com a m&gia Bacon haüa se relacionadq mas ojeito de correr e as
regras da corrida haúam mudado para sempre.

clc Ìukc c de Ncrrtorr, da trarlição ìrcrnréti<-a tla llcnasc<rrqa c rle scrr rt'apareccr ar (urrrrra
rorrrârrtica-(ìlltarflÉnì.aessercslx,ikr,À()lttrc.i<t5',1'heGreutChniìol lìdngllaÌ\ar(|.ìsliJíj
lrra(l it Ililã{). I9{íi)
como produto de uma coÌaboração entre "iluminados" que requer meios especiais e pareciamesperar a chegadade alguém. Poucodelnìs eÌìtrorÌ unÌ hoÌnenì
e secretos de comunicação. Por isso considero não ser de nenhum modo legÍtimo de aspectobastantetranqtiilo e severo,mas cujo rosto exprimia compaixão.
considerar Francis Bacon como um "fi1ósofo da Renascença". Ao se Ìevantaremtodos,ele girou seu olhar em voìta e falou, s<,rrindo:
"Nunca imaginei qrrepudesseaconteceÌque os Ìnomentosde liber<ìadede
O tom de tranqüiìa modéstia presente em muitas páginas baconianas é
cadaurrrde r.ósviessema mincidir num únicoe mesmotempoe mal consigo
eÌemento essencial e constitutivo de sua atitude para com a ciência e para com a
nraravilhar-meo suficientepor issopoder ter ocorrido" Após estaspaìar.ras
realidade natural. Apenas quem procedeu a isolar a fiÌosofia de Bacon tje um elc sentou-se,não nuÌÌìa tribuna ou cátedra,masjunto corn os outros e
preciso contexto culturaÌ é qÌìe te\€ sucesso em interpretar essas páginas como coÌneçoudessamanerraa entreter-síicom e,assernbléiar"
o resultado de astúcias de natureza "política", extremamente refinadas,
Este era o retrato do novo "sábio" proposto por Bacon: um homem sem
A raz-ão dt'sta minha 1:ublicação é a seguinte: quero que tudo o que visa dúr'ida mais sem€lhante a GaÌileu ou a Newton do que ao turbulento ParaceÌso
estabelecer relaçòes inteÌectuais e libertar as nìentes seja difur:dido entre
ou ao insaciár'el Cardano, ou então a Agrippa, que foi chamado'philosophus,
as rnultidões e passe de boca a boca o resto, com_iuízo e discernimento,
daemon, heros, deus et omnia". A postura titânica do mago da Renascençaparece
será rcalizado pelas mãos- Na rerdade, eu ponho em movirnento uma
realidade que será experìrnetrtada por outrent_ Não tenho, de fato, o ânirno
ter sido substituída por uma pÌacidez cÌássica e por uma atmosfera parecida com
daqueles que estão coììtinuameÌìte amarrados às vicissitudes exteridres, a das conversaçõesdo primeiro humanismo Porém, além daqueÌa atmosfera,
Ììão sou ncn.ì um ca1:ador de glória nem desejo fundar urna seita como ìravia a consciência de qrre os homens podem dìspor - servindo-se da técnica e da
Íàzern os Iteresiarcas c considero torpe e ridícula a pretensão de obter coÌaboração - de um poder desmedido e que o paìco dos empreendimentos
aÌgurrra vantagent individuaì dc tão grande empresa Basta-me a consciência humanos já não era maìs uma cidade, mas o mundo. Este "novo" retrato do homem
dc url serviço berrr prestado e a rcaìização de uma obra sobrc a qual a
de ciência fundava-se num coÌìceito de ciência completamente diferente daqueÌe
própria fortuna não poderia interferir.'u'
que havia sido o de TeÌesio, Cardano, Agrippa, Porta e Paracelso; ciência não é
uma série de pensamentos anotados, mas pensàmento nìetódico e sistemáticct;
Unra paciência casia, uma modéstia natural, a sobriedade, as maneiras
ciência trão é um simpìes apeÌo à experiência, não é apenasrejeição das autoridades.
graves e conpostas, uÌÍra coÌnprcensão profunda, um sorriso de compaixão
não é apenas observação, Ìnesmo que detaìhada; ciência não é intuição de urlr
lrumana, assinr Bacon teve ocasião de retratar, e não apenas na Nan Atlantis, a
gênio isoiado e soÌitáriq mas é busca colctiva e institucionalizaçãoda pesquisa
figlrra do sábio:
em formas (sociais e lingüísticas) esìrecíficas'r'i.Sobretudo, o saber científico não

 asscrrrbìóiat:ompu:rha-se tlc ceica ds qipqii6nla rnernbros entre os quaìs


rrão havia nenlrunr adoÌesccrrte:e-.tavanrtodos em idade nradura e cada unr '' iÌ I'h, st IIÌ. p '.;n
trarzia no tosto os sinai-sda probidadc e da dignidadc - ''
Ci.l l J l ì a n d a l l I r " - f l r r - , P l i r r c o l - l - t r r n i r r r l , : r l r \ r r r t i ì r t h c Ì , . t r r t , r g t r r i c r r\Í1 o r ì , r r \ , i i : r i r
,\o irrgressar, ele os eÌlcí)ntrou ocupado.sa tliscorrer amigaveÌrncntc entre tnr ltll I 9 i i i . Ì ì J . l , l ) l l l l - 9 1 O L r r ì [ i ) . r , ) ; i i e a ]l r i r i o r ì a r r o i l or i o r t i s l a r , Ì : r - - c r a r t l r i r r r
, \l\l
si, e todar,i:r cÌcs estavaur sentarlos em cadeiras dispostas ortlenaclantente \írrrir l'l l)rior,'lìator:r\lruoi Srxnct',ti,rJrir \\. tl,t.'r:i i,iì il;-,-o Soi,r(,,iìir,rli)
ntrrnrìo orqânicoci,rt,tr,rr,'lr''rlarnagiarriatiì,rsotialrrrrrrúlirast"olrrtasrrlrs;ilrri;i,rr-las

lxrriçòrs'ritali<ras"lrlas"rlc<lrrrcisras",cÍ.\l ì'.i((t:orì.'l'fuBn.,rltngol lÀa(ttlr', l:r;rlstorr


llli(),.oarÌigo(l(\\l't-l'irrrlall Ìarrcs-lorccardtlrrllcrrnt.tx'l-rarlitior cnr,,i'-ííÌ-.\\.tlJi,1.
/\lÌ-V, Ill ;19-Jo;rl rarlbúrn(/:^\2 lll
|l) Ì):llrirljr?{/:..í,/tl.I) iitr lì I ì)ì)ill-liJ/,rlurdcserrrr,Ìrc<otrsitlrtaqôcsilll(rfs5aìri(ssolrrcr'tlcs;rÌrarccirDcilto.rrailro(a
I
I

1. Á quebracorn a tradição

A cultura que Bacon quer instaurar tem, conforme tivemos ocasião de ver,
aÌgumas características fundamentais que a diferenciam nitidamente de qualquer
ideal de tipo'mágico" ou "contemplativo" do saber. O fim da pesquisa científica
não é o de assegurar a fama ao pesquisador ou o de propiciar, imediatamente,
miÌagres que maravilhem o povo; a ciênci4 para proceder à transformação do
mundo, deve fundar-se no trabalho colaborativq articular-se numa série de
instituições, basear-se na publicidade dos resuÌtados e serür-se de uma Ìinguagem
o mais possível intersubjetiva e rigorosa. Mas a afibuição dessas tarefas à ciência
e a tentativa de substituir a uma cultura de tipo retórico-literário outra de tipo
-.-<%q|-È

retóricocientífico pressupÕemuma tomada de posição crítica diante do passadq

Disciplina: um exame que vise tornar os homens conscientes dos erros cometidos e livrá_
los destes. A idéia de substituir a tradicionaÌ'filosofia das palavras,,por uma
Qid. Página;
"Íilosofia das obras" está presente na mente de Bacon desde que ele era pouco
mais que um garoto; "puando ele ainda estava na Universidade, por volta de
Nesta obra crítica que perpassa todos os grandes projetos baconianog desde o
seus dezesseis anos sentiu peÌa primeira vez uma aversão (conforme me foi dito
de uma nova lógica ao de uma nova sitemática do saber, Bacon serve-se, por um lado,
por sua senhoria em pessoa) para com a Íìlosofìa de Âristóteles: e não por não
de uma cÌassiÍìcaçãodas filosofias do passadoe,por outrq de uma análise dos expoentes
prezar o autor a quem ele sempre teceu altos louvores, mas pela ineficácia do
e dos movimentos isolados da história do pensamento científico e filoúfrco. Ambos
método, uma vez que se tratava (como Sua Senhoria costumava dizer) de uma os métodos de cítica, que iremos acompanhar analiticamente, estÍio fundamentados
filosofia apta não apenas às disputas e às controvérsias, mas estériÌ em obras em aÌguns pressupostos que vão se esclarecendo aos poucos no Pensamento de Bacon
vantajosas para a vida do homem...". A este seu juízo, prossegue o biógrafo dnrante os aros da escritura de TenEorisparnn mnscuLus. E Anderson demonstrou,
William Rawley, Bacon "se manteve fiel até o dia de sua morte,,r. sem possibilidade de equívocog que esta pequena obra pertence ao primeiro período
A consciência de que a novafunçã.o atribuÍda ao saber comportava uma da atividade de Bacon, mas reduziu grandemente seu significado interpretandea
ruptura decisiva com uma tradição milenar parece evidente desde os primeiros como uma espéciede desafogopolêmim ditado por ignorânciae intemperançajuvenis
escritos de Bacon e o Timpas partus mascalus(com certeza escrito antes de 'bbjetiva'.
que seriam substituídag mais tarde, por uma consideração histórica mais
16o3)'gdáuma expressão precisa a esta vontade de ruptura e de recusa. os temas Não há dúüda que se pode falar em uma modificação de muitas das atitudes de
desenvolúdos nessapequena obra serão retomados, mesmo que em tom diferente Bacon, mas as razões básicas da recusa da tradição e da conseguinte mnfutação das
em vabias Terminus (toos), na parte histórica de Ádzmncemzntof Learning filosofias do passado já se enconfiam formuìadas com clareza ern Tanpori: lmtus
(1605), no Filum labyrinthz (cerca de 1602), nos Cogitata et aìsa (taot), na mascahue, aìém de uma atenuação de linguagem e de tom, elas ficarão inalteradas,
RednrgutiophilnsEhìarumQaoa). As atitudes assumidas por Bacon nessasobras, mnforme tentarei demonshar*.
os motivos poÌêmicog as críticas particularmente feitas à tradição voltarão de O pressuposto fundamental do qual parte Bacon é que na história da
forma mais orgânica, mas não diferentes em sua substância, no prefácio à raça humana teria começado uma nova época. Diante desse novo destino
Instauratio Magnq no primeiro livro do Novum Organum (t6eo) e nas paÌtes que espera os homens e que os homens têm de construir para si próprios não é
históricas do De augnzntis (1699). Em De admissível procurar chamar de volta à vida a ciência das trevas da antiguidade,
lnncipiis atque oiginìbus (cerca de
1624), Bacon, a poucos anos de sua morte, voltará a alguns dos temas em lugar de procurá-la na luz da naturezas: "nec refert quid factum fuerig illud
desenvolúdos em fu sapimtìa aetaam (teos)' e irá discutir com maior amplidão
a fìlosoÍìa de Bernardino Telesio.
' Não conconlo tpnr a ar aìiaçã<r qtc ,{ndemn fez deta obm, PP +P17, 106, e Pens que 6ta difeRÌìte
z
a apnriaçao naqa do fato de que sr cxanr. foì onduìdo *nr a pnuupaÉo de oìdencia quaìqw tipo dc
d(*n\ol\iÌrìento e qrlFardo tuìos os textm nr rntsrru pluto Conr c* tnétqlq @InunÌ a todos os
' Wf Rawley, Thc ÍrúrpreteqémndLzidatanbeuamáli*delf,\ipp339-81 FmiÌìgtor\naspotmpáginasqrcdediou
Lífe of the honorraòle Author in .S2 l, p.+
' Â atribuição ao problenra tìa posição baoniara diiurtc das tmdição fibúfiQ (69-65, 139-33), \it\ ru onh-áriq cnm
desta lÉquena obra ao período que ant(rde t6os é algo já asseÌrte,graçô a
nruita 1*rspkúci4 a ontinui<ìade sulrtamiaì Lifit o TbnEwit Pdrl6 Mqllut c as ouo-as obru de Baon-
Anderson, pp. 4a-a7. Spedding e a rnaioria dos intérprctes conr ele atrìb[íam o ,fenryois p.;rl*t
rzasrzlruaosanos Próxiuos <Ìc I 60U.B- t-arriÌìgto n, ctn Thephìloso1h.t,ofI\ancìs Ba,vn,l_ir.erlxxrÌ, Suas irrdioçõq sunárias ft>ruurrc rntrito útcis
''Scicntia c\ rìatrtrac lunrire pctclcla, D{)lì c\ atìtiquitâtis obscuritatc relx'tenda est'
1964' pp 5646' contribuir lxra datar a conÌInsição,indicarr<ì,a nrcrçào à .ìortc dc petrus
sc'eri 1;a5 qqa @rrreu cm q8 de agosto dc | 609- IJacoÌìesta\.a,por Lrnro,coÌÌì (r. areÌrta c ('l'l',lL 51, III, p .535) Â c\ì)rcssão rolta a aparccer cnr (-t:.SP tll, P do5, e ern -\'O I l9:1,
,Ìn olr
quarorta c dois anos e a obra não puìe, ern vista clisso,scr qrraìiÍìcada .,jtrvr,tril ÌÌìas o tcrÌn() sienlra lbi aqtrì snbstitrrído pot r?rtilt inueúio CÍ'. Íanhén Adu..5'2 IIl, 1r
'' corrtr . '):)(t: I-nl. 7à ilÌ . S'1 III, p 95o; À-í) I í(t; D.í. 'V I, l) 1.;s Para a posição singtlar diantc tla
Unr cxarne detalhado dessc escrito será Ít,rto no capítulo seguintc.
"r<trrta arrtigrriclarlc" e dos uitos, rc'1a-sc o cap lll

^t-
videndum quid Íìeri possit". De posse de um reino subjugado com as armas de uma
de "tocar com a mão" as obras da natureza e de criar, dessa forma, a possibilidade
guerra vitoriosa - prossegue Bacon - seria inútil levantaÌ questões ociosas em torno
daqueÌe "santo, casto e legítimo conúbio com as coisas" que irá renovar os destinos
das genealogias e procurar determinar se nossos antepassadosporventurajá o haüam
do gênero humano e substituir o "desgarramento universal" por um alargamento
possuído. Na crítica à tradição não se trata, portanto, de ìr contestando erros e
efetivo das possibiÌidades humanas.
inverdades isolados, iluminando fracamente aqui e acoÌá os recantos mais escondidos;
Aqui também, entretanto, como já antes na polêmica contra a magia,
o que é preciso é erguer bem aÌto a tocha resplandecente da verdade, para que disperse
a recusa de Baeon moae-seno plano de uma condenaçõomoral: ao obséquio
as trevas adensadas durante sécuÌos. Não se trata de se atirar na luta tomando o
para com a realidade, à consciência dos limites, ao respeito pela obra do
partido de uma das facçõeq mas de conscientizer-se de que a bataÌh4 mesmo repleta
criador que deve ser humildemente ouvida e interpretada, a tradição
de ódios e de ressentimentog é combatida por larvas e por sombras, por'fiIósofos 'as
filosófica substituiu astúcias do engenho e a obscuridade das palalras"
ÍaÌsos mais cheios de ÍábuÌas do que os próprios poetas, por corruptores de espíritos
ou "uma religião adulterada", ou ainda "as observações populares e as
e por faÌsificadores das coisas.. por uma turba venal de professores,,que deve ser
inverdades teóricas fundadas em certos famigerados experimentos". São
consignada ao esquecimento. Aquilo de que Bacon acusa os fiÌósofos da antiguidade
degenerações essas que provêm todas daqueÌe pecado de soberba intelectual
(Platãq ÂristóteÌeg Galenq Cícerq Sênec4 PÌutarco) e os da Idade M&ia e da
que tornou estériì de obras a filosofia e a transformou num instrumento de
Renascença (S. Tomág Duns scotq Ramug cardanq paraceÌso, Telesio) naa mtsiste
preponderância nas disputas. Essa esterilidade é conseqüência da dupla
numz shz dz ams dz car,iÍcr tzfuco- Estas filosofias podem ser colocadas todas no
pretensão que foi deixada como herança aos homens pela filosofra dos
mesmo planq são passíveis das mesmas acusações e partilham do mesmo destinq
Gregos: a pretensão de substituir as pacientes tentativas de folhear as
rìÌna vez que são expressão de unn aÍifude noralNnaÍz cubaìi. E a cuÌpa de que eÌas
páginas do grande livro da natureza por perfeitas soluções verbais e a de
são expressão parec€ a Bacon tão monsfuosa que ele acha que não se pode tatar,
enclausurar dentro da particularidade de um princípio e de uma doutrina a
sem se sentir envergonhado e de algum modo profanado, de argumentos tão -sujos
universalidade do método e a totalidade da natureza,
e profanos". Não se tat4 portantq de substituir aquelas frlosofias por uma nova
Os laços desta atitude de Bacon com o delineamento "religioso" do
"filosofia" que pretenda tomar o seu lugar movendo-se sobre o
mesmo terreno, problema da reforma do saber já foram repetidamente ressaltadost, mas
aceitando seus princípios e suas demonstrações, mas por uma atitude nora diante da
quem viu nele tão-somente o teórico de uma revisão do método indutivo
natureza que implique princípios diferentes e d.iferentes tipos de argumentações e de
ou quem sumariamente dele se livrou, atribuindo-lhe o rótulo de "carro-
demonsta@es: o que se requer é um novo conceito de verdade, uma nova moralidade.
chefe do empirismo",só pôde ver nas afirmaçÕes mencionadas nada mais
uma nova lógica
do que a manifestação das intemperanças de um homem extremamente
Baseado nisso, Bacon contrapõe violentamente à lógica da ..escória
ambicioso ou a confirmação de uma ligação lógico-necessária entre posições
escolástica" uma l.ógica dos fatos muito próxima da dos iluministas que,
empíricas e posições de absoluto a-historicismo. Procurarei demonstrar
não prrr acaso, verão em Bacon um precursor da fllosofia das luzes do século
como - sobretudo para este último aspecto - a questão se revela mais
XVIII6. Ao saber tradicional contrapõe-se assim para Bacon a capacidade
complexa. Será preciso, para tanto, remontar Ce forma mais precisa àquelas
manifestações típicas da cultura contra as quais poÌemizava Bacon, uma

Veja-sc,1nr cxcnrplo, o quc diz lìarrington (p;r liro ss) sobre as rclações cntrc Ílacon c o
" !l Cassirt,r, , I I"ìlon/ìa do Iluuinìvto (trad it Iilor errça, jgi!., l,
,J:,)
\trtigo'ltstarncnto
vez que sua recusa de todo o passado tem origem na convicção precisa de que as anti-tradicionalista que acusarade "barbárie" e de "papismo" toda a veÌha cultura,
manifestaçõesculturais contra as quais ele insurge são a conseqüênciaou o legado estava estreitamente ligada a profundas perturbações sociais e às lutas religiosas
de um processo milenar de desenvolvimento histórico. A recusa de certas filosofias do período da Reforma Em 1550, as obras de Scoto haviam sido queimadas nas
e, sobretudo, a recusa de certo modo de entender as tarefas e as funçõesda frlosofr4 praças e os "funerais de Smto e dos Scotistas" haviam marcado, em Oxford, o
coincide, assim, com a recusa das premissas históricas daquelas filosofias puando repúdio a uma tradição fiIosófica secular. As correntes de inspiração cientí{ìca
Bacon, no Tenporis partus mnsculus, fala da obscuridade d.aspalnwas, de uma que retomavam o ensinamento de Okham e de Roger Bacon afastaram-se de
religìão adulterada, das interdades teóricas fundadas em eertos;famigerados Oxford e mudaram-se para I-ondres. AÌi eÌas encontraram o aPoio de alguns
erperìmentosnâo devemos ver nestas frases uma espéciede tirada retórica contra expoentes da aristocracia e foram aos poucos se formando grupos de livres
a tradição em geral. Bacon diriç aqui sua polêmica contra ffis objetivos precisos, filósofos, de colecionadores privados de bibliotecas e manuscritos' Em homens
e as formas de filosoÍia de que ele fala correspondem historicamente: a) aos como Robert Recorde, John Dee, Thomas Digges, que pertenciam a essesgruPos,
exercÍcios lógicos de tipo escolástico; b) às várias teologias racionais de inspiração voltavam a existir os interesses matemáticos e científicos caÌacterísticos da
aristotéÌica e aos temas religiosos presentes nas correntes platônicas e tradição ingìesa medieval, e justamente eles serão os Primeiros a manifestar
pÌatonizantes; c) às metafÍsicas da natureza elaboradas por alquimistas, simpatia para com o copernicanismo (antes da visita de Giordano Bruno)e.
magos e fllósofos da Renascença.Não será,portanto, inoportuno, relembrar aquela Nas universidades, uma vez destruída a tradição e o espírito da escolástica,
situação culturaÌ que Bacon teve de enfrentar. estavam bastante vivas -já sem vigor especulativo - as técnicas escolásticas de
O peso que o okhamismo e depois as correntes cépticas, empiricistas ensino e de aprendizado. Às discussõesde Íïsica e de lógica da escolástica tardia
e naturaÌistas exerceram sobre a cultura inglesa do Quinhentos e do fora substituído um aristotelismo rÍgido e intransigente. De acordo com os
Seiscentos fez com que muitos esquecessem a situação efetiva das estatutos de 1565, para o bacharelado eram programados em Oxford dois
universidades inglesas onde as práticas da cultura e das técnicas de ensino trimestres de gramática, quatro de retórica, cinco de lógica três de aritmética e
haviam permanecido ligadas a uma tradição escolástica privada de qualquer dois de música Os textos fundamentais eram Ptolomeu Para a astronomia,
empenho cultural e reduzida a exercício acadêmico8. Â violenta reação Estrabão e PlÍnio para a geografia, sem alguma menção a CoÉrnico, a Colombo,
a Vasco da Gama A determinação de março de 1586 dispunha que tdos os
'vários
bachcl.orse os undzrgraduai?s deixassem de lado, em suas discussõeq os
"Ouanto à situação univcrsitária inglcsa dtsse 1reríodo:Ántholy Á'Wood, T'lu Hìstory oud autores", a fim de eütar dissensosentre as escolas.Deviam ser seguidos aPenas
'z Ántiquities of tlu Uniatrsity od Qúdy' ed. J Grtch, s vols, Oxtòrd, Ì79s-96, rol ll; C- N4alÌct, Aristóteles e os defensores de Aristóteles. Deles é que deviam ser dessumidas as
IInton of the Unioersítyof O.rfnl, S vols , Iudres. 19S4,-199?;J. Bass \í ullìnget, l-he (Jnìursìtt 'estéreis
quzstõese todos os e inúteis argumentos em desacordo com a antiga e
of Canbridge,srols, Londres, t873-l9l I Sobrea "dercadência"das unirersidadesinglesaspor
\oÌta de 154'o,cÍ: D. Bush,
-Tudor
Humanism and Henry VlIl" em {Jnimìíy of TorentoQtuúrtly, verdadeira filosofia" deviam ser excluídos'o.
VTl, 1938,pp t62-i7. Bush oÌ6ese à tem da dudência da viJa unirersitáriadesscyreríodoc
g râcnrl{enriqueVIIIo'patrono"danovaculturahLunanístiq Unradiscussãoatcntada\ida
das unirersidades,rclacionadacom a situaçãos<riaì da Ínglatcrra rra rncradcdo sécukr XVI
'' 'Giordano
cn(Ì)ntÌa-se etn (ìaspari, pp 1J9-56; os principais rÌadosrluc clc relúrta são tirados dc A Èì CÍì, solrrr'<,sses conceitos, o irììprtarìtc estudo (Ìc Íl A Yates, Brlrno's conflict \1 ith

lt'a<h, F,ngltsÌrSchwls al lfu Rdòrnalìon, /5'1ít-.í8, \\/cstnÌirìst('r, ts96 Unr cìenco rlos t<.xkrs (ì Ât1uiÌectìria, introd à ed. de I.a Canuru delle
Oxlìrrrl , enr ,lll'1, í.1, ls:JE-sg, pp 9')ì-+2:
-frrrirn,
corttcrnpfatìosf)ck)sestatutoscÌisabct:rnosde 15?o crìcoÌìtÌil-scerrr I ll Sanl1,s,I.)t/ttLttiotttt (czrrl Ì955, I) -1:,
'l'he
|ìnglarrd Oxlìrrd. tOrio, I. pp ,2+t-ljz
,\hul,eslteare's "''\'\\txxì, IIi:tor.t ttntl.lnliquilit., (lt , \ol ll. l) 296
I

I
A estudiosa Frances Yates teve ocasião de afirmar que o espírito dessa
abordar verdade, vale a pena Ìembrar aqui sua defesa vigorosa das teses
disposição, que exclui toda a tradição scotista e nominalrsta, não é medieval
mas aristotélicas contra os ataques de Temple. A Thzoria analytüa de 15?9'e era o
tipicamente "humanista", uma vez que no texto da disposição revela-se o desprezo
fruto de uma característica mistura de temas derivados de Aristóteles e de S.
para com as "estéreis e inúteis questões" da escolástica e se sustenta uma
espécie Tomáq dos neoplatônicos,do Pseudo-Dionisq de Agostinho, de Cornelio Agrippa
de identidade entre "antiguidade" e "verdade" da filosofia aristotélica,'.
Tudo e de Reuchlin; o ano sucessivq entretanto, poÌemizando contra as "infiltrações
isso é sem dúvida verdadeiro, mas não deve ser esquecido que uma medida
deste ramistas", Digby publicava o Dc àtplia nuthndo lìbri duo, unìcam P Rami Methodum
tipo se referia evidentemente - naqueÌas circunstâncias - não tanto aos scotistas
rqfutantestt,em que num diáIogo entre um aristotélico e um ramista, ficavam
e aos nominaìistas, quanto à atitude anti-aristotélica dos ramistas e dos lógicos
claras as razões do primeiro interlocutor. Ao defender a síntese e a anâise, a
de inspiração ranrist4 heterodoxos em relação à tradição aristot érica.Jâem t57+.
indução e o silogismo aristotélico, Digby reafirmava, contra as críticas e os
John Barebone, um seguidor do ramismo, fora obrigado a escolher entre uma
entusiasmos ramistas de Temple'*, os direitos do saber tradicional e da autoúdade
alteração ou a expulsão do ensino. A insistência quanto ao valor -absoruto"
da de Áristóteles. Esse aristotelismo torna-se mais eüdente nos ambientes de Oxford
filosofia aristotélica parece, portanto, ligada não apenas a uma veneração
onde, para John Case que leciona naquela universidade e que publica em 1559
humanista para com o antigo, mas também, e sobretudo, ao desejo por parte
das seu LaP^ Phìbsophiaua Aristóteles é "omnium philosophorum facile princeps".
correntes tradicionais de se oporem às doutrinas ramistas. Atrás
da Seu comentírio à Fôàa nenhuma contribuição traz a vma discussão efetiva das
superficialidade e da violência muitas vezes apenas verbal das críticas anti-
doutrinas aristotélicas. Na obra de Case, e em muitas do mesmo período, faÌta
aristotélicas estava presente a exigência de uma lógica capaz de libertar-se
de qualquer referência às discussõescontemporâneas: MaquiaveÌ é considerado um
uma "sutileza" excessiva e de servir como eficaz -ilstrumento- de pesquisa 'perigoso
e de ateu e Ramus é rechaçado úolentamente por ser um inovador"; os
comunicação. Nesse sentido ela pretendia apresentar-se como a superação
de alquimistas são lembrados e fala-se da pedra fiIosofal, mas nenhuma menção é
todos os métodos tradicionais. o título da obra de Temple publicada em Londres
feita aos grandes naturalistas do Quinhentos.
em l58o é, desse ponto de vista, bastante significativo: Francisci Mitìn?eüi
Quando Bacon em seus Cogìtatn et oisa estx4a um quadro dos métodos de
Naaarreni ad Ererardum Dìgbeium Ángrum admonìtio de unica p. Rami
ensino e da organização dos estudos nas academias e nas universidades faz,
Methodo, rejectis coetcru, retinznd^a.para se ter uma idéia da magnitude
dessa
oposição ao ramismo é suÍìciente pensar na influência que exerceu em cambridge
(onde a ação do ra.mismo era particularmente acentuada) um homem
como
Everard Digby, considerado uma das maiores autoridades em lógica.
Essa '" E Digby Thcorìa aultica,lnndres, l5?9.
influência fez-se sentir entre r 584 e r 588, seguindo-se de poucos anos à üolenta '3 De duplici method4landres, t56o Durante a pcrmanência de Bacon enr Cambridge, Digby
polêmica com Temple. Mais do que a metaÍIsica, que ele advogava, cra urn dos professores mais ern vista c não é ünpror ár cÌ qre Bacon tcnha frL\lilentado suas
da
correspondência universaÌ e de sua lógica que trririzava um método duplo aulas As passagensde Bacon rrasquais aPareceunÌa influêltciatlireta de Digby (ianuis citado
de poi lìacon) Íòram ìjstadas por J. FrcudenthaÌ, "Bcitrage z,ur Gcschichte der Englischen
PhiÌosophie",cn Árchio.fir Gtvhichu do I'hìloso|hie,,II; 1891, PP ôoÌ-9
" Ao De duplìci metlrorlodc Digby Tcnqrlc resp<ltcìecon Ádnrcnltitìo tfu unica I). Rani nethodo,
atingiu ['iscator,proÍèssordc 1-ologia cnr Ílerborn e I-ieblcr,
lnÌì(lr{.s, l5tìo Mas a 1rcÌôurica
profcssordc Físicacnr Tiibittgcn, qtrc lraviantcriticado as dotttrinasde Pctrtts Ranrus-[)ara os
" \ arcs, "Gìortlarro !irruro's <rrnlÌict rr rth ()\Íòrd , cit , p ,l:,O tc\tos reÍèrerìtcsa cssaspoÌêmicas,cf Sortaìs.P 5s

rL
portanto, referência a uma situação cultural em atori, mesmo que comprometida
Procurei escÌarecer,no capítulo anterior, o signiÍìcado da tomada de posição
em muitas partes, e a um tipo de "direção e governo da cultura,'que obsta e
baconiana contra as'mentiras teóricas" dos magos, dos empíricos, dos
impede o desenvolümento da observação,do experimentq da liberdade de crítica,
naturalistas: bastará lembrar aqui como,já em 159 1, numa carta a Lorde Burghiey,
do saber científico. Mesmo o método escoÌástico d a lccho,etposüìo, questio,disputatìo
Bacon, protestando contra as disputas frívolas e a verbosidade da Ìógica de
haúa tido um peíodo de vigorosa retomada nas universidades inglesas, enquanto
derivação escoÌástica, tinha explicado que sua poÌêmica pretendia atuar em duas
permaneciam mais ou menos idênticas as autorìdades às quais remetia no decurso
frentes: contra aquela lógica verbalista e contra as "experiências cegas,as tradiçÕes
das quazstionzs-
A.insistência sobre as causas finais, sobre o remontar das causas
secretas e as imposturas" daqueÌes filósofos da natureza''.
segundas às causasprimeiras, sobre a hierarquia, sobre a definição formaÌ, sobre
Voltarernos, em seguida, sobre aquela que Bacon, em Temporis partus
as formas substanciais, sobre as primeiras e as segundas substâncias mostram
m.asculus,chamou de a "religião aduìterada", uma vez que o problema das reÌaçÕes
como os tipos de problemas discutidos não estivessem tão longe do enfientado
ou da independência da reÌigião perante a pesquisa científica e filosófica é um
pelas escolas do século XIII. A matéria-prima foi criadap Existe matéria em
dos temas centrais do pensamento baconiano. Mas deve ser lembrado que o
todas as coisas naturais? Está a matéria desprovida de qualquer forma? são desse
fenômeno histórico contra o qual se propõe a polemizar é, por um Ìado, aqueÌa
tipo os problemas propostos por Case no Lapis phitnsophiatm.E ainda, por voÌta
corrente de pensamento aristotélico que identiÍica com o Deus da revelação cristã
de I 630, textos largamente difun didos como o Áditus a.d tagimm de samuel smith
o Primeiro Motor da filosofia natural, e Por outro, aquele pÌatonismo que dá
(toss) repetiam de modo bastante mecânico conceitos aÌistotélicos, enquanto as
Iugar uma "filosofia supersticiosa", misturando reìigião e ciência, elementos
discussões dos candidatos ao grau de mnsta deviam ser conduzidas de modo
míticos e eÌementos racionais. A primeira corrente de pensamento, na IngÌaterra
rigidamente aderente aos textos de Aristóteles. Estes tipos de ìições e estes
elisabetan4 insere-se numa linha de continuidade com a igreja prêreformada,
exercícios parecem a Bacon "dispostos de maneira que ninguém possa faciìmente
em claro contraste com aquelas atitudes de inspiração agostiniano-humanística
imaginar poder pensar de maneira diferente do estabelecido", e se alguém,
que contralúem os textos dos Padres da igreja a "pureza'da primitiva religião
enfrentando os perigos da solidão intelectual, quiser exercer a liberdade de crítica
evangélica à teoria racional dos aristotéÌicos.
e de juízq ver-se-á obrigado - prossegue eÌe - a úver em Ìugares nos quais o
Ligada a esta situação de fato, a polêmica ìevada adiante por Bacon em
estudo se encontra quase que inteiramente confinado aos escritos de certos
Tunporis partus mnsculzscontra a fiIosoÍìa grega, e em particuÌar contra Platão e
autores e, dissentindo deles ou discutindo-os, êse imediatamente acusado de
Aristóteìes, adquire um sentido preciso. De acordo com Bacon, Platão afirmou
turbulência e de amor pela novidade"'u.
que a verdade habita naturalmente, desde o nascimento, na mente do homem e
não provém do exterior. Ele teria se valido, além disso, para sustentar suas
precárias teorias, da ajuda da religião. De tal maneira' por um lado afastou os
homens da realidade, fazendo com que dirigissem seus olhos para o interior da
alma e os orientando para a contemplação e, por outro, favoreceu a mistura entre
'" Brrslr, p. l?, rrestra quc ciência e teologia que se revela nociva seja pÍÌra o progresso, seja para a vida
a irrlluência dc Árist<itcÌcs ròi rcforçada enr oxÍìrr<r perosl.au<Ìian
stdlillzs(r636) A tradição escoÌiistir:a ha'ia sirrornodificadal*l. Ilurmnisnr'tra cpoca-fudor,
nraso terrcno gcraÌ ainda <'rao das unirersidatìcsurcdievaìs_
"'0(); ^5)rIIl, p 59ì; Iìilnn Lab. Sf Il1, t) 5oe; NO I 9rr '- Ilacont Ì,orle lluryhley (tigt). 5P Ì- I
P tog
religiosarE. Aristóteles, por sua vez, procurou tornar os homens -escravos
das vez que as verdades parciais que eles aÍìrmaram são um produto do acaso e não
paÌavras", entusiasmando-se por inúteis sutiÌezas e vãos sofismas.
A sua fiìosofia há ninguém que, por uma vez ao menos, não acabe"topando" com alguma verdade.
deve ser posta na oriçm daquere verbalismo que foi abundantemente retomado
'por Quaìquer hipótese fantástica pode acabar cruzando-se, em aÌgum lugar do
essa enorme quantidade de escória escolástica".Ao construir apressadas
discurso, com uma hipótese aeitável: nenhuma das fiÌosoÍìas tradicionais jamais
teorias, baseado em poucos fatos, ele teria dado origem àqueÌe tipo de
ciência que deu - de acordo com Bacon - verdades outras que não do tipo dessas.Tomar as
se ilude ter determinado as cirusas dos fenômenos quando na rearidade
apenas afirmações verdadeiras que se encontram nos discursos desses filósofos por
construiu vãs aranheiras teóricas.
verdades científicas seria como aceitar que um porco, que rabiscou no chão com
Parecem, porérn, subtrair-se à condenação radical d,e Temborìs
bartus seu focinho a letra A, seja caFz de escrever uma tragédia ìnteira.
mnsczlus,alguns filósofos: Roger Bacon que, sem se preocupar
ua t"oai"r, Desta análise sumária h Temporispartus ma:culus Íìcam evidentes com
procurou ampliar o campo das aquisições humanas mediante "orn
as sutilezas da cÌareza as razões pelas quais Bacon considera inevitável uma ruptura radical
mecânica'e; Pietro severino e (mais limitadamente) paracelso. Eles
tentaram com toda a tradição Êlosófica t) a Íilosofia desüou a atenção dos homens das
chamar de volta os homens para os valores da experiência, juntamente
com indagações sobre a natureza e passou, de uma reflzzã.osobreas eoisas,para uma
aqueles filósofos que, como Arnaldo da Villanova, reaÌizaram observações
e reflztão sobrea interìorìdn^dz, cohou a contzmplnçaono lugar das obrase tornou-se
experrmentos, mesmo se os diluindo numa série de discussõesestuÌtas.
Heráclito, uma escola de resignnção,em lugar do que um ìnstntmznto dc noaaspossibilid.aìzs
Pitágoras e Demócrito parecem ter-se afastado das trilhas batidas pela
totalidade para o gênero humano; 9) esta incapacidade de enfrentar os problemas da
dos filósofos, e Epicuro tem o mérito de se haver oposto, mesmo se
de modo experiência e da reaìidade está ligada a três atitudes que caracterizam esta
pueril, às causas finais. A obra de Tácito, injustamente menos conhecida
que a de milenar tradição: a) a substituição de soluções reais a soluções verbais, b) a
Platão e de Aristóteles, é rica de observações sobre os costumes humanos. pirro
pretensão de construir douEinas concebidas como "sistemas" e, portanto,
e os Acadêmicos cons€guem recriar o espÍrito mesmo se, no Íinar das
contas. se capazes de esgotar de uma vez por todas, em seu âmbito, todos os problemas
comportam diante dos erros da filosofia como amantes caprichosos que
ofendem e toda a realidade, c) a contínua confusão entre coisas divinas e coisas naturais,
continuamente o objeto amado, sem conseguir abandoná_lo definitivamente4.
entre religião e ciência. Essas posturas conduzem necessariamente a uma
Nenhum dessespensadores merece, entretanto, de Bacon, umjuízo positivq
uma infecundidade culposa e condicionam todas as tentativas espaÌsas - que mesmo
assim foram realizadas - de restabelecer, de algum modo, "os contactos com
as coisas". De fato, essas tentativas aparecem completamente desprovidas de
'' I'PM, S? IIl, rigor e de método, são fragmentárias e incertas, não conseguem passar do
pp_ i3G.3ì
t" Ibìd, p ís,r plano dos programas verbais à produção das obras. Isso depende, uma vez
mais, do fato de faltar, nas ditas tentativas, a consciência de que é necessário
abandonar a ímpia elabora@o dos sistemas e que 'é preciso renunciar ao
apìauso do vulgo pela regularidade das divisões e pela abundância da
eloqüência" As teorias gerais ou as metaÍÌsicas da naturezaforam construídas
por homens que, diante de um idioma desconhecido, observaram aqui e acolá
alguma aíìnidade de som e de caracteres com sua língua materna e se apressaram

,3-
i
logo em dar às paÌawas semelhanteso mesmo significado e, construindo anaÌogias pesquisa desse tipo a história humana continuará sendo como a estátua de
arbinarias, procuraram adivinhar o sentido do discurso inteiro. Polifemo, sem seu oìho, aquela parte que é a mais apta para render o espírito e a
vida da inteira pessoa. Foram escritas - continua Bacon - histórias "especiais"
da jurisprudênci4 da retórica, da matemática, da filosofia, mas elas não passam
2. As tarefas do saberhistórico e a de meras crônicas (m.emniak)", relativas às escolas, aos autores, aos lilros, às
sociologia do conhecimento facções.A uma história de crônicas assim concebida, Bacon contrapunha a história
das idéias ou da cultura, com características diferentes da história existente:

Nos anos compreendidos entre 1609 e 1608, apesar das reÌevantes será uma história de algum modo universal, e não particuÌar; tratará das origens

preocupações de natureza política, Bacon encontrou o modo de aprofundar as e do desenvolvimento das ciências e das escolas científicas, de seu nascimento e

razões de sua recusa da tradição friosófica. Aquela que no Temporis partus desenvolvimento, de seus métodos, de suas lutas, de sua decadência,de seu olvido;
terá de procurar as causas e as circunstâncias (causes and occasions) desse
m a s e u l u sh a v i a s e c o n f i g u r a d o c o m o u m a v i o l e n t a p o l ê m i c a v i n h a s e
desenvolvimento e dessa decadência. Nos anos que seguiram, ao Preparar a
transformando, dessa forma, nos Cogitata et úsa de 1607 e na Redargutio
tradução e a ampliação do Ád.uarcem'enlBacon indicará expÌicitamente estas
philosophiarum de 1608, em uma discussão de caráter histórico-crítico
causas: a natureza diferente das regiões e dos povos, as características destes,
que atacava as premissas político-sociais e os resuÌtados das filosofias
favoráveis ou desfavoráveis a determinadas ciências, as razões acidentais que
tradicionais. Este trabalho de aprofundamento é desenvolvido por Bacon
favorecem ou retardam o desenvolvimento e o progresso do saber, as relações
numa dupÌa direção: por um lado ele busca - através de uma análise de
entre cultura e vida religiosa, entre cultura e leis, a eficácia ou a ineficácia
caráter histórico - determinar as "causas" da falência da Íìlosofia
dos indivíduos isolados para promover a ciência etc Uma história assim
tradicional; por outro, ele procura indicar e elaborar critérios (os "signos")
concebida deverá, portanto, ter em mente, através das várias idades da história
que possam dar informações quanto à validade ou não das diferentes
do mundo, todos os eventos que têrrr relação com a cultura, ou que tiveram
posições frlosóficas.
alguma infìuência sobre ela; não será escrita em vista da curiosidade ou da
Em 1609 Bacon havia iniciado a redação de uma de suas obras de
satisfação pessoal de amadores ou diletantes do saber, mas terá uma finalidade
maior peso, o Ádztancemznt of Learning, que será publicado em 1605. No
bem mais sêria Qnore serious and graae ?ur?oseìr ensinará aos homens a fazer
segundo livro enfrentava também o problema das histórias e, após ter
'z uso consciente de seu saber.
dividido a história em natural, civil, eclesiástica e literária, notava como
. rt * Ját-. Baseado nessa avaliação do saber histórico Bacon procura, nos CogìÍata el
esta última se apresentava de todo "defrciente"e' uma vez que nenhum L Sa 6a1,,"
oisa e na Redarguüo philoso4hiarum, rec'onhecer as causas histórico'socìais da
'z homem - dizia ele - jamais se propusera descrever as condições da cultura f,
falência da Íilosofia grega e de toda a filosofia que permaneceu substancialmente
humana de época em época, como ao contrário se haúa feito em relação às Iigada àquetes primeiros delineamentos. A inteira história da cultura humana,
obras da natureza e aos acontecimentos da história civil e eclesiástica. Sem uma escreve Bacon nos CogiÍata et úisq encontra-se encerrada no breve espaço de

'' No caPíttrlo ,' Ào tcrrrn 'lercrtr


Mo II livro <lc I)a arnuntis a\ìst<iria Ìiterária será coloca<ìa cltre os tlctì/qaíu nunorútls corrcslnndc ern D,,,f: ali<lrtanr tnctttiottctÌl atrt tìarationes qtlasdaììÌ
Solrre o assunt<r, cÍ. F-lrrecl,'lla<orr's lìistoria Literanrrn", crt,4ngh4XlI, Flalla, ttJgÍ)
-lcllrntas

,I
vmte e cinco séculos e desses,apenas cinco foram de aìguma utilidade para o
recolocar em seu devido tempo a filosofia grega, relacionando-a com um
efetivo progresso do saber. Houve três períodos de florescimento: um com os
determinado tipo de sociedade e de cultura, reconduzindo-a a suas proporções
Gregos, outro com os Romanos e o terceirojunto às nações da Europa ocidentaÌ;
reais.A tomada de consciênciado carâter lustóruoe não sobre-temporal da filosofia
todas as outras épocas do mundo estão plenas de guerras e de bataìhas, ricas em
dos Gregos constitui, portanto, para Bacon, a meÌhor arma polêmica contra o
outros estudos, mas estéreis e desertas no que diz respeito às messescientífìcasn'.
espírito de autoridade e contra o dogmatismo das várias seitas fiIosóficas.Apenas
A Íilosofia herdada pelos modernos nada mais é do que a derivação direta da
se tivermos em mente essas considerações poderemos entender o significado
frÌosofia grega, ou melhor, daquela parte da fiÌosofia grega ..quenão se nutriu
que Bacon atribui à sua crítica e determinar seu alcance e seus limites. A partir
nos bosques e nas florestas da natureza, mas sim nas escolase nas celas,feito
desseponto de vista é possível determinar o sentido de uma afirmação que recorre
um animal em engorda"",. Âs esperançase as fortunas dos homens estiveram
muitas vezes nos escritos baconianos:não existe a tendência aqui - declara Bacon
guardadas, quiçá, em meia dúzia de cérebros, uma vez que muito pouco podem
repetidamente - de atingir os antigos filósofos gregos "em sua honra" ou de
apresentar os romanos ou os homens da idade moderna que não provenha 'a
arrancar deles palma do engeúo". Bacon quer, ao contúrio, que esta honra
das idéias de Aristóteles, de Platão, de Hipócrates, de GaÌeno, de Euclides e
permaneça intacta; o que ele deseja é que venha a desaparecer comPletamente a
de Ptolomeu.
autoridade e a influência dessesfiIósofos. Não se trata de negar seu gênio e sua
Daí a sensaçãode que, na enorme variedade de escritos dos quais abundam
habilidade. Se triÌhássernos seu caminho chegaríamos a resuÌtados com certeza
as ciências, se esconda sempre a monótona repetição dos mesmos conceitos. Esse
inferiores aos que eles atingiram. Trata-se de recusar seus fins, seus métodos e
tipo de filosofia, por outro lado, embebeu de si toda a cultura humana: a eìa
sua autoridade, tamMm em consideração ao fato de que a idéia que os homens
atingiram ìargamente os teólogos e nela se inspiraram os homens políticos,
têm da própria riqueza é uma das causasprincipais de sua pobreza.
enquanto as mesmas expressõesÌingüísticas foram se configurando, aos poucos,
Baseia-se nessa ordem de consideraçÕes a diversidade das posturas
segundo os ditames e as exigências desse tipo de filosofia. Sua terminologia não
assumidas por Bacon quanto à tradição filosóÍica nos Ttnpris partus rnasaius e
apenas foi confirmada pelo uso dos indivÍduos isolados, mas foi oficialmente
nas obras posteriores a 1605. Esta diversidade tem sua origem nalfiunçãoliberaüri.a
consagrada pelas academias,pelas universidades e até pelos governos,5.
que Bacon atribuiu, no Adaarcemznt of I-earnìng, ao conhecimento histórico. A
Diante deste g.igantesco fenômeno de difusão e deste afirmar_se de um
tipo de cultura é necessário adquirir a consciência das próprias origens e da consciência disso, e nada mais. encontra-se na origem do tom diferente que Bacon

7. legitimidade ou, ao menos, de se aceitarem como váÌidos os produtos intelectuais usa agora em seus "ataques" à fúosofia grega. puem não úu isso tralsformou

de uma época que teve características, origens e finaìidades bastante diferentes Bacon numa especie de polemista violento que não sabejustificar devidamente

das da idade moderna- Bacon, em outros termos, quer realizar a tentativa de sua polêmica e que, percebendo ter exagerado, acaba sendo tomado por
'gênio"
z arrependimentos súbitos e decide então reconhecer o de Âristóteles e de
=cl;sy'IIIpp.6r.9-Ì+. Platão. No Tanporis partus mascths os frlósofos do passado eram chamados ao
lìnrÀ?I78, IJac.nfàìaern vìssátuh*ear\rrnaquectrêspcríuìosrrc
{ìorcscir'eììto çoìÌrprrcnd<rr ccrca rlc <ìuzcntos anos cada urn. pr.r,arelnrente - diz !ì^vler - ío. tribunal (citzturjan et Plaln...) para prestar contas de suas culpas; nos CogitaÍa el
l,ï!.nola ti),rlt,-I-altsal)lalio;rle('iccroa\Íartr,Árrrí,lirr;rlairrtcnçãodairnprcrr.aàé;xrcaii,.
tisa e na Rzdargutio phìlnsophiarur4 Bacon traça as grandes linhas de um quadro
lJacorÌ t- sr.rjl)rlrcrtrtu o tato rle <1trc Platão c Arist(itelcs ficararrr, dessejcit9,
''florcscinxrrto cxcÌrri46s rì9
tla cir iÌizaç:Ìo grt,ga. histórico que faz da'culpa" deles o resultado de uma determinada situação
" Ilcd. l'lt,.y lll, p ,í(ir
!' Ihìd. histórica e que identifrca seus limites com os limites mesmos de uma civilização
t 1r;,t

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O método de ataque direto foi substituído por um método que, com as devidas história, tinham atrás de si apenasübulas e sonhoss; quantas partes do mundo
cautelas, poderíamos chamar "tristoricista" (sem a menor pretensão de atribuir a conheciam, eles que chamavam indistintamente Scitas todos os povos nórdicos e
Bacon "as origens do historicismo"). Celtas todos os povos do Ocidente? Nada sabiam da África, além da Parte mais
As características da filosoÍia grega sãopara Bacon as mesmasda civilização vizinha da Etiópia, e nada sabiam da Ásia, além do Ganges, nenhuma noção
grega: uma civilização que tem todas as características próprias da inffncia, que
possuíam das terras do Novo Mundo e consideravam não habitados muitos
está pronta para palavreados e disputas, mas que é incapaz de gerar e produzir"u.
territórios e cÌimas onde vivem e respiram infrnitos povosj'. Aquelas longas
Este juízo de um sacerdote egípcio foi relatado por platão,? e - segundo
viagens de Pitágoras, de Demócrito, de Platão, que foram durante muito
Bacon - não deve ser posto de lado, uma vez que a nação giega foi dominada
tempo consagradas como grandes empreendimentos, não passavam de
por duas características profundamente contrárias à obtenção da verdade passeios para o campo, nos arredores de uma cidade'n. No âmbito desta
e do progresso científico: o caráter precípite do engenho e ,.professoral,, civilização não se encontrou lugãr para uma Íììosofra produtora de obras: a
dos costumese6. De um exame, potéÌÍL dos 'tempos" em que esta filosofia teve filosofia natural floresceu por um período muito breve, uma vez que Scrates
ocasião de firmar-se aparecerão mais claramente seus Ìimites: a idade em que a desencorajou os homens a realizar pesquisas na natureza, levando-os às
Íììosofia grega foi fundada encontrava-se'próxima às f;ábulag pobre de históri4 questões sobre a ética, transformando a inteira filosofia em ambiciosa procura
escassamente informada quanto às viagens e ao conhecimento da terra,,re. O de novas opiniões. Já antes de Sócrates, entretanto, alguns frlósofos, que
espírito dos homens que viveram naquela idade era portanto, prossegue Bacon, haviam procurado as causas naturais dos relâmpagos e das tempestades,
necessanamente angusto e limitado, seja do ponto de vista do tempo, seja do haviam sido condenados por serem ímpios.
ponto de vista de uma consideraçãodas regiões da terra. Os Gregos não possuíam A falha no desenvoÌvimento da frlosofia natural, junto aos romanos e
à civilização cristã, é iguaÌmente reconduzida por Bacon a "causas" de natureza
sociopolítica: na época romana as melhores cabeçaseram dirigidas aos Problemas
Ì" C/i ó)t tI t, p &ì l; n,
PÌ, .!ìó.Ut, p. 5ô3; NO I 71. A mesnraacusaçãoroltaú em Wiìlianr GiÌlrer! da polític4 "uma vez que a v,rstidão do império exigia a obra de muitos" e depois
De nntndonoslrosublunariphilonphia nam Anrstenlarn, 165r, li.ro III, p- 9 +o Mas scrá Ìargarnente
ditirndida tanrbérrrrrosarnbicnts literários Veia-se,1rcrcxernplo,
do triunfo do cristianismo foram oferecidos aos estudos de teologia'prêmios
CharlesGikJon,IIiwÌlauou.tLtlters
azrlÉìwu; hndrcs! l6,rq. Cf R. E Jone.qScicnce and Criticjsnrin tbe nlgìassiuÌ Áse oÍ' English ingentes e ajudas de todo tipo" e isso, novamente, fez com que os homens se
Litcraturc', cnr .lrll, I l9+o- o studo rmis inÌI[rtante solrre as lòntes clássicasbaconianasé F]. afastassem do mundo da natureza. À teologia voltaram, em Partg também os
\Ã'olÍf, |'-runcisBamt ud seirc
Qullan z_@h BcrlirÍ\ l9l(!rs homens "modernos" uma vez que as controvérsias religiosas, freqüentes nesses
'1 Platão, Timeo, 22h-
" ' R e d P h , ó ) I I f , p 5 9 . í , m a s a p r i m e i r a f o r m u l a ç ã o d e s s e c o n c e i t u c Ì ) c o n r r a _ s ce Ì n
Praiv of Knozulzd.ge,3 p. L I, p- tga
4 C/í Sp. III p. 564- puanto
às conseqüênciasrerolucionárias das descobcrtas gográÍìcas: R.
Ronreo, Iz scol>ertzawtcarc rcllz osim itaÌìaru dzl Cinquec.nto, Nápots, | 954; G. Arkinson, tza
"' Praise of Knoulzdge, S? L l,p
Its touaeatr hori=oasde Ia Rruissancefran4alrq Paris, l9tt.5; L B Cohen, -I_a dirourerte du "crros" dos ant,gos, cf pxrr ex (ìuicciardini, Slorio d'ltalìd,I)ari, 19{29,Il, P 132
"'Quanto a<rs
norfYcíru rÌ()ncfc ct la tra rrsfi>rnrationde l'id(r de la natu rc , no r olrrnre 1z l ienteau xt'le. sièclr, (cí lì<rrrreo, I-c s<-oP$teanurìate cit, PP- l:l? c l:,1) lìonìeo aludc brerctrrcnte à lig?tção (ÌLre
Paris, tgritl, pl). rs9-:JÌo. ouanto aos reflexossq-iaise crrlturaisdas'iascns, tf R. tì. cas,ìey c\jstc cntre tcscs (otno as rlctirtditlas por Grricciardinr c a lxrsLrasão utttito tliliutdida rrr>si'cttlo
(irPa I hed Il irters:St udìesi n I heInfluenceol' thc l,oygos on Elì:ahethat Lìturature,pri
ncctoÌì, Ì 9-1{); XVÍt,dasrrperioridadctÌoscscrrtoresrrurlernosernrelaçãoosanÌìgos \Írritontcnoscoltrinctrttcs
(ì Ìì l'arks, -l-rarcl as l'ìducation",enr.krrcs,pp 961-9o; Prrrosc, ?'rzrt,/rrru!
Dìscoztrt,inthc s à o a r o b s r ' r r a ç ò c s s o l r r e o a l x l o d a l ì , t r a s ,r t r \ ' a l ì a r a ; l ( \ l x ' r i l ì ! r ' Ì ì l i l q à ' ,
Iü,mistnt \o\a \i)tk t9(i9
"'Iì I'L,Sop il(, l'.t6t;NOlì')
sécuÌos, orientaram mais uma vez as inteligências para aquelas questõessr.Uma
Bacon mostra-se perfeitamente ciente do fato de que um acordo faÌho quanto
causa de natureza política, finaÌmente, determinou tamMm o grande fenômeno
aos princípios comporta necessariamente a ausência de quaìquer "regra" na
da sobrevivência, através dos séculos, da autoridade de Aristóteles. Este
úÌtimq discussãoed.Seu desacordo com a ÍìIosoÍìa grega e com a tradição que nela se
taÌ como o Anti-Cristo, veio sobre a terra Íàlando ,.em seu próprio nome,,,
sem origina não diz respeito a um ou outro ponto, não consente a rejeição de alguns
sequer se dignar em nomear algum dos seus precursores a não ser paÌa insuÌtá_
pensadores e a aceitação de outros, mas concerne a um erro comum: um
lo ou negá-lo. As obras dos prêsocráticos não haviam sido, contudo, esquecidas,
modo cuÌpável e equivocado de conceber o homem, a natureza e as relações
mesmo depois dos ásperos ataques de AristóteÌes e, durante a época dos césares,
do homem com a natureza. Por esta razão, conforme já fora a{ìrmado no Ten?orìs
JuvenaÌ havia cantado a sabedoria de Democúto. A vitória deÍìnitiva de Aristóteles
partus mnsculus,Bacon considera inadmissível, além de injusto e prejudicial,
sobre os seuspredecessores,a quem, apesarde tudq não havia conseguido destruir,
dever-se-á à ajuda que Átil4 Genserico e os Godos forneceram a Aristóteres. empenhar-se em discussões individuais que tendam à confutação de erros

Eles jogaram a cuÌtura romana num terrível naufrágio do qual emergiu, particulares. Tais disputas exigiriam a presença, justamente, daquelas "regras
'princípios"
da discussão" que o acordo falho sobre os "fins" e sobre os não pode
Justamente por ser mais leve e menos sóIid4 a trábuada fiÌosofia aristotéÌica". As
invasões bárbaras atiraram, portantq a filosofia dos primeiros naturalistas num permitir. Tal desacordo leva Bacon a repelir "as formas e o valor das

injusto olvido e é justamente desse olvido que Bacon se propõe a retirá_la. demonstrações" aduzidas pelos fiIósofos tradicionais. Este tipo de provas de

 doutrina dos 'signos" ou dos critérios parajurgar da vaÌidade ou não das demonstrações não deixou, contudo, de embeber toda a cuÌtura e condicionou de

várias posições fiìosóficas é desenvolvida por Bacon na Redargutio maneira radical e aparentemente irremediáveÌ o modo mesmo de raciocinar dos

phìlosophiarutn e retomada no Novum Organum. Na Redargutio, homens contemporâneos. Na falta de quaÌquer possibilidade de "demonstrar",
Bacon
apresenta essa doutrina como estreitamente ligada a uma indagação valendese daqueles tipos de demonstração que foram recusados e na faÌta de
de
caráter histórico qualquer regra ou norma para o discurso, torna-se necessário,para iluminar os
e como dificilmente separáveì de uma "consideração das
coisas"; quando ele refundará a doutrina dos signos no Noaum Organum, homens ou persuadi-los, apelar para aquela parte da alma humana qu€ "se

inserirá nela também suas considerações sobre o caráter histórico mantém pura e capaz de acolher a verdade", que não se encontra obscurecida
da
civilização grega,u. Na realidade, na Eedargutio esta doutrina tem pelos preconceitos e gravada pelo peso de uma tradição secular. Tentando se
um
signifrcado diferente daquele que ela irá assumir na obra prima de despojar das características dos homens doutos e esforçando-se por "tornar-
Bacon:
no opúsculo de too8 ela se apresenta realmente como um método em virtude se homens comuns", é possível pôr aquela parte do intelecto em condições de
z do
qual é possÍvel avaliar uma filosofia do ponto de vista daquele paFimônio acolher a verdade.
mentaÌ 'signos"
que é comum a todos os homens, independentemente de eles Dos quatro considerados na Redargutìo |hilosophiarun" o
serem ou não
z "doutos". primeiro concerne a incapacidade de produzir obras, própria das filosohas
tradicionaiss?; o segundo, o caráter não progressivo e não colaborativo dessas
filosofias e sua imobilidade, cm contraste com o aperfeiçoamento contínuo e
'" C/: Á7
ÍlI, t)p 5er;-s7; F-itttn Lab..Sp III, pp_ +99_.5oo;NO I ?9_8o
" R 1 , h . , 5 pl .l l , p 5 i o : D e P r ì r u , , S 1l l l p . s +
' -\'o I t r-7Ì
^-estc Ìiltinx) Parágraro,Bacon farade'gzra "ex rratrrrarcrìlr)orìsct aetatìs
- c..c,\ - lì ]'h, S1r.IIl, l)l) r;ij;-íjij
l r a t u r í I . ) c lc t Ì ì a t i ( ) n i s
"' Ihid.,lt 5';6i ^'O l'ì:)

b- {
com o desenvolvimento das artes mecânicasr"; o terceiro é a confissão de primitivas Esta teoria apresentava-se como "perfeita" e satisfatória, mas,
impotência dos filósofos tradicionais,e; o quarto é a ausência de método e a justamente por este seu caráter, truncou a possibilidade de quaÌquer pesquisa
falta de reconhecimento da necessidadede usar os instrumentos intelectuais experimentaÌ Este tipo de indagação requer, com efeito, para ser Ìevada adiante,
adequadosno. que seja colocado em discussãoo inteiro "sistema" de uma filosofia naturaì assim
O primeiro desses"signos" está obviamente Ìigado a uma das tesescentrais concebida, e que a satisfaçãopeÌa solução definitiva passe a ser substituída pela
do pensamento de Bacon. "Tal como, de fato, na reÌigião cuida-se para que consciência do caráter verbaÌ da própria soÌução e a consciência da necessidade
a fé seja mostrada mediante as obras, assim pode-se dizer para a íìlgsofia - que é de uma observação empírica "casta e prudente", ou seja, Ìivre daqueles
vã quando é estéril e é tanto mais vã quando, em Ìugar dos frutos da videira e da pressupostos que condicionam e limitam exteriormente a pesquisa.
oliveira, ela produz os cardos e os espinhos das disputas e das controvérsias',. Voltava a surgir aqui a polêmica contra a perfeição dos sistemas de fiìosofia
Deveríamos voltar ao significado do "pragmatismo" baconiano; certo é que, para natural que vimos constar do Tem.poris partus mnscttlru.A classificação tradicional
Bacon, uma avaliação das filosofias requeria aquele "novo- conceito de verdade das ciências apres€nta-se a Bacon como sendo conshuída segundo um ideal de
sobre o qual ele iria insistir Ìongamente: a verdade de uma fiIosofia e sua perfeição formal que esgota em si qualquer conteúdo possível e toÌhe, portanto,
capacidade de produzir invenções e obras, de contribuir para melhorar as qualquer possibiÌidade de desenvolvimento. Â essaclassiÍìcaçãocorresponde um
condições da existência humana não são duas, mas uma única coisa. Durante método de ensino que não convida à crítica, nem suscita o desejo da descoberta,
tantos séculos - afirma Bacon - jamais saiu da especulação dos frlósofos uma mas que põe, no Ìugar da colaboração, uma atitude
'professoraÌ",
na base da qual
única tentativa real de melhorar a vida humana, porque a "nutriz" da Íilosofia, a história da ciência se reduz a uma história das reìações entre mestre e discípuìo.
que é Aristóteles, a ela atribuiu a tarefa de fornecer aos homens ..argumentos A ciência fechada e sistemática da tradição sacrifica tudo à constância e à
para se pÍonunciar sobre quaìquer cois4 para responder a qualquer coisa e para imutabilidade de suas conclusões: "LJma vez estabelecida a ciência, caso surgisse
se desembaraçar de qualquer coisan'.Aquela filosoÍìa natural que esta!.a ligada a alguma controvérsia quanto a aÌgum exemplo ou demonstração que estivesse
esse tipo de filosofia, não somente se demonstrou incapaz de produzir obras e em contradição com seus princípios, nâo iam corrigir o princÍpio, mas o
invençõeg mas de fato impediu qualquer tentativa de novas invenções. Assim a mantinham firme e acolhiam em seu sistema, servindo-se de alguma distinção
doutrina aristotéIica dos quatro elementos respondia a eúgências de completude sutil e erudit4 aquelesexempìos que serüÍrm a seu escopo,ou então os deixavarn
formal maq transportada para a pesquisa empírica da medicin4 deu oriçm à de for4 abertamente, como exceções. puando se tratav4 entãq de buscar não a
z teoria dos quatro humores, das quatro compleições e das quatro qualidades conciliação de um exemplo contraditório, mas a razão de uma coisa particular,
eles conseguiam dar umjeito de adapú-la engenhosamente às suas especulações,
ou, em alguns outros casos, a torturavam miseravelmente: todo este üabalho e
z
" R Prt SJÀ lll. p 5?rì; NO I ?4. esta fadiga pareciam-nos privados de qualquer fundamentd'*. Ao método da
'! H. PÀ,
+ lll, p 5ìe; .\O I ?5
-1Ì-Ph,,V Píei+ãoforrn4l Bacon contrapôs o qbrhti@, que fora usado com sucesso pelos
Ífl,t) isl l.lstcr'rltinro"sìgno"scr-iicìirlirradon<tNopunOrgananteaclt
primeiros e mais antigos pesquisadores da natureza. Ele não difere dos primeiro
scri'í srrìr'tìtrrírla rrrna consideraçiio soìrrc a raricda<ir'<Ìasqrirìircs (Iro I 76) Aos quatro
srgn<rs tla Rcddrgutìo philotophìarun scrão acrcs(:enta(lr)s nìais ttôs: o lugor (1, p il), il
ifurr (1. p ì!). t ctrctsiru
foltulatidadL rÌas íììosoÍìas (1, p ;r;)
" (b4: -\rrt-.\'y' III. l) 29ì -\'O I íji, "' n ,l'la Á2 lll, p .tsg;ÀO I 9i, lllrt ,\qui, lx)rénì,lhcrrn rrãosc rrfòrr erl)licitankrìtca /\rist(ircls
apenas de um ponto de ústa lingüísticq porque, mostrando imediatamente as Estreitamente ligada a essa polêmica é a tentativa baconiana de "subtrair
deficiências e os "vazios", convida à reflexão, à crítica, à descobertan'. ao imerecido olvido" os filósofos pré-socráticos. Veremos,em seguida,como nesses
No que se refere ao terceiro "signo", Bacon tece considerações que aclaram o mesmos anos, verificando a inoportunidade de publicar as três obras em que essa
que ele queria dizer ao Íalar na humildade e modéstia que devem caracteúzar apesquisa poÌêmica se apresentava expressa com maior clarezar', Bacon se orientará para
científica os textos daqueles autores que irnpuseram sua ditadura à ciências e se 'sob
uma diferente direção. Ele irá apresentar, de modo indireto, o patronato da
pronunciaram com tanta arrogância quanto à nâtureza das coisas, queixam_se antiguidade e sob o véu da alegoria" aquelas teses das que mais fazia questão e
da sutileza da naturez4 da obscuridade das coisag da substanciar liaqueza do que estavam estreitamente relacionadas com sua reavaliação do pensamento pré-
engenho humano. Essas confissões não devem ser interpretadas como expressão socrático e, em particular, do materiaÌismo de Demócrito. O De sapimtìa aeterun,
de modéstia e humildade - adverte Bacon -, na verdade elas se originam de uma pubÌicado em Ì609, é justamente o resultado dessa mudança de programa Mas
atitude de ilimitada soberba e pretensão. com suas queixag aqueles filósofos querem o desenho primitivo de uma crítica à tradição não será entretanto abandonado e
que tudo o que não foi tatado nas ciências por eles mesmos ou por seus mestres seja
no prefácio à lwtaaraüo flugn4 no primeiro üvro do Nozrum organum e no De
declarado fora dos limites de qualquer possível pesquisa e, assim fazendo, traduzem augmentìs(tozs), Bacon irá retomar, mesmo que à distância de dez anos, as
a fraqueza de sua arte nurna caÌúnia insensata para com a naturezag críticas às filosofias tradicionais desenvolvidas nos Cogitata et aisa e na
Através de uma indagação de caráter histórico e através da elaboração da Redargutio p hilo sophìarum.
teoria dos "signos", Bacon aprofundou, entre I 603 e l60g, as razões de sua recusa
da tradição filosófica. A referência à história da civilização grega, feita de acordo
com os cânones fixados no Ádoancement para a historìa literarum hav\a
3. Naturalistas arutigose ïtlodernos:
confirmado de que maleira os limites da Íilosofia grega coincidiam com os limites
de uma inteira civilização. Por outro ladq a tentativa de servir-se de critérios
dz Plntão
as responsahilidadzs
retirados do "patrimônio comum da mente humana- haüa igualmente mosüado
o engano substancial daquela filosofia e da tradição a ela ligada. Nessa obra de
Podemos agora nos voitar a um exame mais analítico daquela
aprofundamento haüam permanecido bem firmes os temas fundamentais que
"história da filosofra" que Bacon foi disseminando nas suas várias obras.
Bacon haúa rigorosamente expressado em Temloris partus m.asculusa polêmica
Eìa é bem mais articulada e complexa do que acharam alguns de seus
z contra qualquer tipo de filosofia contemplativa que distrai os homens das
apressados intérpretes. A crítica baconiana não exclui, de fato, tentativas
? indagações sobre a natureza; a polêmica contra o "verbaÌismo., contra o -sistema,,
autênticas de "discussão" das filosofias do passado. Bacon, conforme
i Q e contra a 'confusão" entre fé e ciência.
i z foi visto, recusa não tanto as teorias isoladas ou as afirmações individuais
dos filósofos do passado, quanto sua atitude que transformou a filosofia
1 C
numa escola de resignação e reduziu a ciência a relações de tipo
"professoraì". Era uma recusa das finaÌidades daquelas filosofras, da tarefa e
''',ltu" Sp.lll,Í\9!r2;Clial Ill da função que elas atribuíam ao saber, no interior do mundo e da sociedade
14 59.+.r+4lrìlun Ìal4 Sp llt,p +es;À'o I 86;Dy',Á).I, P r+xr.
'' lbl.'ltm"gp.lll,p ee6;olisp.
I t I , p . e : 2 6{ t; / i , } Í t I , p 5 e t ; I Ì . p l t z r , . } I I I , p 7 8 o ; / ! d u . , s l ,
Ilt, pp 99.3-9,1; I'rue! Gen,SltI, pp_te?-qs;.\O I ?,.t 'l-?ilforìt
nauulus, Cogiktla d uìv e lÌetltrgutìo unt
ldÌtilr fhtlonfhut

.-b-
Esta recusa abrangia as teorias particulares na medida em que elas eram
que abalroaram a cultura humana e obrigaram os monges da Idade Media (aos
expressão daqueÌes fins e daqueÌas tarefas e estavam ligadas àquela atitude
quais, depois do nauÍìágio geraÌ, só haviam restado as obras dele e de outros
de repreensível soberba inteÌectuaÌ que, desde a frlosofia dos gregos, havia
pouquíssimos) a acabar aprisionando suas mentes dentro das obras dele, assim
sido Ìegada aos séculos sucessivos.A recusa da autoridade dos antigos nascia
como haviam aprisionado seus corpos dentro das ceìas dos conventos+6.
em Bacon junto com a consciência de que uma nova época coìocava novas
Apresentando-se como superior a tudo o que o havia precedido, Aristóteles
tarefas ao gênero humano: diante dessas tarefas outros são os deveres da
apareceu aos homens como um patrão e a todos pareceu "que a {ìlosofia estivesse
filosoÍìa, outra é a função que deve ser atribuída ao saber.
como que fixada nele, e que nada mais restasse a não ser conservá-la e honrá-la"
A ditadura cuÌturaÌ do aristoteÌismo condicionou por muito tempo, segundo
Bacon, não apenas o desenvolvimento do pensamento Íilosófico e científico, mas Esta conclusão é considerada por Bacon como signo de ignorância e

também a possibilidade de compreensão desse desenvoÌvimento. Â intolerância principaÌmente de preguiça intelectuaì. Porém, o que interessa sublinhar agora é
de Aristóteles para com o pensamento alheio é a expressão mais característica que Bacon concebeu a recusa da ditadura aristotéÌica como idêntìca à recusa de
daquele tipo de filosofia que Bacon denomina .ïogmática". Animado, tal mmo I aceitar como válido o esquema historiográfico de que Aristóteles se valeu para
seu discípulo Alexandre, por uma ambição sem limites, Aristóteìes declarou fazer triunfar a sua doutrina.
guerra à antiguidade e tentou destruir toda a cultura que o precedeu. Tal como Ao esquemade AristóteÌes, que se irnpôs, em seguid4 como o único legítimo,
um sultão otomano que, para reinar tranqüilo, acredita ter de exterminar todos Bacon substitui um outro, fundado na "tripartição dos cuÌtores gregos da filosofia",
os seus irmãos, assìm AristóteÌes esforçou-se em matar com suaspolêmicas todas que modifica radicalmente o quadro daquela fiIosofia. A primeira categoria é,
as outras doutrinas filosóficass. puando ficou convencido de ter alcançado seu para Bacon, a dos soÍistas (Górgias, Proúgoras, Hípias) que, viajando de uma
intento, deu início àquela sua construção sistemática que se apresentava como cidade a outra, eram pagos para ensinar. A segunda é formada por aqueles que,
capaz de resolver contemporaneamente todos os possíveis problemas*i. Ao com maior pompa e solenidade, abriam escolasem loca-lidadesÍixas, estabeleciam
apresentar a si próprio como o ápice ou a culminação da história do pensamentq alguns princípios, ercavam-se de ouüntes e de seguidores e davam início a uma
Aristóteles falseou a possibilidade de compreensâo do pensamento antigo e escola {ìlosó{ìca.Desse tipo são Platão, Aristóteles, Epicuronn.À terceira categoria
apresentou-se como o homem capaz de dominar ao mesmo tempo o passado e o pertencem, finalmente, aqueles filósofos que, longe da pompa professoral, se
porvir. Nesta obra de faÌseamento ele foi ajudado pelas invasões dos bárbaros, dedicam seriamente e silenciosamente ao estudo da natureza: Empédocles,
Heráclito, Ânaxágoras, Demócrito pertencem a esta última categoria. As duas
primeiras parecem a Bacon estreitamente Ìigadas e ele acredita que a denominação
de softstapossa ser estendida a Platãq a Âristóteless, a Tmfiasto, a Epicuro, a
"oA poìêrnicacontra osjuíz.os históricos de Aristótelcs e coÌrtra seu escasso..respeito"para corn
I
scu$ pr.r{rsores é recorrcnte na literatura da Rcnascerrça.veja-sc a confutação dos princípios
de Aristóteles enrprecndida por Gioran Francesco pio, que re'alorizou a contriluiçao
de
l)cnrírrit<r (lìraarr, úeüìtatir doctrinaegeiltìuntel aerÌt.lì.t Chàstunae dìsriplíme,VI, cap. '6 Cog llutt, ó) III, p. tÌi; .4da.,Sp lfl, p ,2tj5i D,4, SP l, p +3:ì
XI{ enr
Oper4 tsasllíia,I it3, II p. ;s:.1).Airrda rnaissig'ificatir a, cntt.tanto, é a atitude de 'e tsrria do càrorranc a tese da casualirladcdo trnirerso é criticatla prr lìacott en Mei. Satdc, Sp
l,.ranccsco
I)atrizi, o <1rral rras DÀ,.rrcil(s ?eipdktì(,4 rìasil('ia,t,;sr, contrapõc o natrrraÌisnrodos pré-
Yll, p t 5s: Adu., Sf.lII, p 959: .F.-sÌrr,.Y) Vt, p, 11.9Â rcPrcseÌrtaçioaÌttroJxrnórlìct dos tleuscsé
socráticosa -{ristót(,lcs(l\i t, t)t).i69-ï.1.).
' - . ' l d z . . \ p . l l l , p p : J t e , 3 (( -i 1l : S l r r c r r v d a e r nl l a l . T m L , 5 7 . Í Í l , p ' t + t ; , 4 & , . S p . l l t , p J 9 6 ìD / , f , Á y ' 1 , Pí i ' l l .
t l l , p ( ; o 2R
i Ph,Sl,lll,pp..;c1.565;ÀfOI6i:DÁ,Stl, ''I*ves,irìslotk:uChaptcr./rontlulltstota,ol Sciru"(1í6r)c(ìrotc, Pl,rktruìtheolhc(on4nritt:
l)l). i; ís, i(iii. de l}latãoc --\ristótclcs
crrrrr sotìstas-
oJ .So(Ì"Í{r(Ìs65),ÌÌìanti\trarÌìa cÌassiÍìcação
*
Carnéades: em uma palawa, a todos aqueles pensadores gregos que fundaram
imperceptíveis aos sentidos, tendo eìiminado deÌes, portanto, qualquer resíduo
escoÌase se conduziram de modo "professoral", revelandq do modo mais
eúdente, de aparência sensível derivado da experiência grosseira com as coisas. Em Ìugar
aquele caráter de disputas estéreis que caracteriza a ciúÌização e a
cultura dos do método aristotélico da abstraçãq que visa construir um sistema fundado nas
Gregos. A busca ambiciosa de novas opiniões e as poÌêmicas dos diferentes
solâslzs, aparências superficiais, Demócrito adotou um método muito mais fecundo que
acabaram comprometendo, portanto, aquele breve mas intenso período
de üsa anaÌisar a n atureza(secare),decompondo-aem seuseÌementos constitutivos-.
florescimento da filosofia naturaÌ representado pelos pré-socráticos.
O mecanicismo de Demócrito não está isento de defeitos, mas tem, todavia, o
Ao estudo desses últimos autores Bacon declara haver-se dedìcado muito
grande mérito de se ter oposto à inÍììtração, no campo da filosoíìa natural, de
i seriamente, recolhendo todo o material possível de Aristóteleg Dióçnes,
Laércio, uma consideração das causasfinais e de ter tentado impedir aquela transformação
Plutarco, Cícero e Lucrécio. EIe propõe também uma publicação integral
dessas da Íïsica em teologia, que obsta o progresso do saber científicoii. Os aspectos
fontes e acredita que a pouca solidez das douhinas dos pré-socráticos
esteja negativos do atomismo de Demócrito consistem numa pesquisa por demais
relacionada com o caráter Ílagmentário do materiar de que podemos
dispor e escassa sobre os movimentos: não correspondeu, em Demócrito, à aguda
com a impossibilidade de chegar diretamente às opiniões deles5'. 'destino
um indagação sobre os princípios, nenhuma teoria capaz de expÌicar os movimentos

I iníquo" perseguiu esses filósofos, mas muitos deies penetraram


profundamente do que Aristóteles nas coisas naturais e, sem
mais
dúüda alguma,
está presente em suas filosofias aquele "sabo/' da naturez4 da experiência
de expansão e de concentração dos corpos56.A tese dele da não homogeneidade
dos átomos e a da existência do vazio pareceram insustentáveis a Baconi'.
das Também a Íìlosofia pré-socrática, apesar de seus aspectos positivos, não
coisasu?,que acabou se perdendo nos sucessivos desenvolvimentos
da filosofia pode ser considerada imune dos ìimites que caracterizam a inteira sociedade
grega. A doutrina de Demócrito penetrou na realidade natural
mais grega. Nem sequer essesÍìlósofos escaparam,de fato, do perigo tipicamente grego
profundamente do que quaÌquer outra doutrina fllosófica e ele
foi justamente de se deixar aprisionar pelas palawas: suasteorias parecem a Bacon como enredos
considerado um "mago"5'. Esta capacidade de penetração deve-se ao
fato de de comdias, mais ou menos coerentes e eÌegantes,mais ou menos aptas a suscitar
Demócrito ter reconhecido que os eÌementos constitutivos da matéria
são a persuasão dos ouvintes. Interpretando a experiência de maneira diferente e
citando a seu favor o testemunho da própria experiênci4 é possível - diz Bacon
- construir quaisquer tipos de teorias, perfeitamente coerentes consigo mesmas
e profundamente diferentes umas das outras58. Desse mesmo tipo serão as
'4
" CIi Sp lll, p 6112;R ph, Sp tII, p. 57o.
frlosoÍias da natureza da Renascençae, em particular, a de Telesio É justamente
",NOI63

Õ
z íÀrO I rit
'1 Adv Sp IIl, p 35tì; D,4, Sy' I, p .56e
g
"d(bg.-\hJ,Sp.lll,p- l8;À?lI aSiD??ri,u.,Sp.tII.pp E9-9 IistasobservaçócssãÔforrnuÌadas,
conlìrrnr<scrá r isto, tanrbirn na iirtcrPrt'taçãodo nrito dc CuPitlo,rlescurrrÌrido ern DS'I: SP VI,
: l)l) (iS7 ss
'; Ouanto à i rrccrt<'za
rlc Íìacorrsobrco problcrnatlo r azio,r clanr-seascolsiderâçõesâprcsenta(ìas
uo capítrrÌosobrc as tábrrìasaltigJas
' ' ( ' / ; . V l t l , p . t ; ( B : l ÌI ) h , 5 7 Í l l , J ; o ;. \ í ) l l l
l)

1,.
nesta crítica (em De pnrcipiis) gue vamos nos deter um pouco, para compreender inclinar a nova filosofia. Ela, diferentemente das filosofias tradicionais, deverá
o sentido desta afirmação de Bacon que foi muitas vezes mal interpretada Com proceder a um reconhecimento da objetividade natural, em função de uma vontade
isso ficarão escÌarecidas também as razões da sua oposição ao naturaÌismo da de transformação, por parte do homem, da própria realidade natural, e não poderá
Renascença e das críticas que eÌe desenvoÌve em relação ao materialismo de deixar de ter em conta - nesse reconhecimento - aqueies instrumentos técnicos
Demócrito e das doutrinas prêsocráticas. As diferentes Íilosofias naturais parecem que o homem construiu em vista de tais fins.
a Bacon semelhantes a grandes poemas metaÍisicos sobre a natureza: elas não Desse ponto de vista, parece-me que até as críticas mais pontuais que, em
podem serjuÌgadas com base na sua maior ou menor coerência e perfeição formaì, De pàncìpii:, Bacon faz aos sistemas de filosofia natural construídos pelos prê
mas apenasem função de sua operatiüdade. E a possibilidade de efetuar operações socráticos, passam a ter uÌ,irsentido mais preciso. Estes ÍìÌósofos, escreve Bacon,
sobre a natureza funda-se, para Bacon, num reconhecimento preÌiminar da contentam-se em procurar, entre os diferentes corpos, aquele que parece
objetividade da natureza. Este reconhecimento é, entretanto, condição imediatamente "o mais insigne" e o identificam com o princípio da realidade
necessária,mns não sufìcìente para permitir operações efetivas: daqui a Esta assumpção de um primeiro princípio levava-os a sustentaÌ que tdas as
recusa baconiana daquelas formas de naturalismo que, como o de Telesio, oposições e as mudanças presentes na natureza (quente e frio, denso e rarefeito,
consideram o mundo "como que por entretenimento". Essas doutrinas são seco e úmido etc ) derivam desta única substância. EIes não se preocupavaÌn em
qualificadas por Bacon como ifílosof.as pastorìs. Se a tarefa da moshar como desta substância derivavam aquelas oposições,nem cuidavam de
filosofia fosse
aquela de contemplar o mundo, essas doutrìnas seriam todas oerdadeiras, e descrever e de acompanhar as mudanças: de tal forma truncavam qualquer
elas se apreseatam de fato como sendo todas perfeitamente aerossímeis.O possibilidade de uma pesquisa uÌterior. Prisioneiros de uma metáfora, discorriam
erro fundamentaÌ dessas fiÌosofias "pastoris" deve-se - segundo Bacon - ao então não da água, do ar, da terra ou do fogo, mas de entidades ideais e fantásticas
fato de elas partirem do pressuposto que o mundo é um objeto a ser que daquelas substâncias só tinham o nome e não as caÌacterísticas*. Em lugar
contemplado e não transformado, e que elas fazem pouco caso da de anaÌisar a realidade natural, substituíâm uma análise efetiva por uma solução
lresmga
no mundo do homzm e dns artcs mzeânìcafs. Estas filosohas apresentam, em de caráter verbaì. Nesse sentido moviam-se, eles tamMm, dentro dos limites
outros termos, uma série de perfeitos 'brdenamentos" da reaÌidade (e podem se que caracterizam para Bacon toda a civilização grega: o espírito de sistema e o
criar à vontade ordenamentos sempre novos), mas se Fata de tipos de ordenamentos culto das paJawas.
que podem - taì como uma comédia bem recitada - consolar ou divertir os A orientação defrnitiva da frlosofra grega para com os problemas de
espÍritos, mas que não servem àquela obra de transformação para a qual deve se caráter moral e o conseguinte abandono das indagações de filosofia natural,
começa - para Bacon - com os Sofistas e com Scrates6'. Mas é com Platão que
se abre verdadeiramente aquela espécie de grande paÌêntese da filosofia à qual
"'Dc?nn(.,Sp.lll,pp grìss Sobre'Iìlcsio,aléndoDepi%ì?ìk,DA,Sp se deve a esteriìidade da inteira tradição científica e o caúter evasivo e verbalista
l,p 5rì4;À'oII .e?,41 c
Ás sinrpatias lnr Telcsio e lnr Á f)onio (sobre eìc cf. n4 lV c a ìnterprctação da lìábula d<, Pan de tanta parte do saber humano. Em Temporis partus mnscalas,a acusação
em I).S/'e enr D.{] detent-sc à doutritra que rcdtrz a rrrn nror irrunto tÌsicq as Íàcrrl<la|<.sIa aìnra
sensír'el, ao attti-aristotclisrìx), à teltatir a rlc rer aloriz,ar a lììosofia rlos pri-s1rcrátìcgs  cliscussã6
-lì'ìcsio,
das dorrtrinas ric c;rr<'Bacon conduz, não Podc scr xÌraratla rla íÌsìca baroliana I)e
ttalutr honinìsdc'Donìo Íôt Prrblicada rrn llasiìói:r. cür t 5ti t Cl. E !-iorcntino, /l 7ì,/rsm. l.'ìorcnca_ 'u' I)t
frinc, .5y' | t I, pp, lts ss
Ìsì2-;1, l. tr) rJgl ss ," .\'o I 7e
-

I
baconiana a Platão havia sido articulada segundo duas direções fundamentais:
mzsatlus Platão só se interessou pelo pouco de Íilosofia natural que podia lhe
Platão desviou os homens da reaÌidade orientando-os para a contemplação de
servir para aumentar sua fama de filósofo e conferir certo tom de majestade às
seu mundo interior; Platão favoreceu a monstruosa mistura de ciência e teologia.
doutrinas morais e políticas que eram o objeto mais genuíno de seu interesse.
Toda a crítica baconiana à fiÌosofia de platão sustenta firmemente as
Nesse sentidq as reflexões de Pìatão podem ter, senãooutro, o mérito de fornecer
"acusações" de fundo contidas no Ten?oris partus 'para
mnsculus Justamente no fÌnaÌ argumentos as discussõesque mantêm à mesa os homens cultos e os Ìiteratos
de sua vida, no De principiìs, Bacon teve o ensejo de reafirmar estas suas teses:
e acrescentar graça e deleite à conversações quotidianas"*. Graças a esta úìúma
contrapondo os filósofos prêsocráticos a platão e a Aristóteìes ele escrevia que,
citação podemos compreender melhoro sentido de uma afirmação feita por Bacon
enquanto os primeiros 'haviam submetido a mente às coisas,,,um dos segundos
na Distributio operis que se refere à sorte das fìlosoÍìas tradicionais:
"haüa submetido o mundo aos conceitos, e o outro havia submetido
também os
conceitos às palawas"*. Baseadoneste ponto de vista que permanece basicamente Não nos opomosao fato de que a Íìlosofiatradicional ou quaìqueroutra de
inalteradq os próprios aspectos "positivos" da Íilosofia platônica parecem a Bacon tal gêneroaìimentediscussões,enfeitesermõese sirva e valha para a gÌória
viciados por um erro inicial e tornados estéreis por um conceito equivocado da professorale o decoroda vida civil. Mas nós dcÌaramos abertamenteque
{ilosofia. PÌatão viu justamente que a Íinalidade da ciência consiste na procura a filosoha à qual nós tendemosnão se Prestaabsolutamentea essesftns

das formas e serüu-se da indução não apenas para descobrir os princípios de


Inclusive a primitiva acusação de ter misturado ciência e reÌigião,
caráter universal, mas também as proposições médiasu'. Ele concebeu,porém, as
formas como entidades trascendentes e abstratas da matéria, dando com contribuindo para corromper a ambas, era retomada e ampliada por Bacon:
justamente de sua teoria das formas "separadas" e abstraídas da matéria,
isso início àquelas vãs imaginações do espírito humano que serão as formas
da filosofra esolástica6+.Por outro lado, ele dessumiu o material de suas Platão havia sido conduzido àquelas especulações de tipo teológico que de

induções daqueles fatos comuns e vulgares que, por serem meÌhor um lado viciam de modo irremediável a sua fiIosofia"'e de outro levam-no
a introduzir na íÌsica a consideração das causas finaisut.
conhecidos, meÌhor podiam servir-lhe como exempÌos no decurso de suas
Resulta incompreensível, a esta altur4 como Bacon Possa ver em Platão
discussões65.Era retomada aqui a discussão já encetada no Tbrnporis
?artus um expoente daftlasofia su4erstìciosa:a doença Íìlosófica mais difundida e que
traz os maiores danos aos sistemas e às doutrìnas particulares. Esta fiìosofia é
'" De l'rírc, Sl "fantástica e túmida, quase poética", abranda as inteligências e atrai até os
lll, p s6
7
melhores engenhos. Em um filósofo como Pitágoras ela tem o aspecto de rude
irnediatez, em Platão apresenta-se "mais sutil e perigosa". Desse tipo de filosofia
z deriva uma espécie de apoteose dos erros dos quais é necessário guardar-se

faladeinduçãos<rcráticaouplatórrica(ónonrxoí),ó1or.nopcflo},r1)
Ornítrk)decxclosã(,I)rati(?(lo
' 7'Pit'1,Sl, III, pp 5rlcÈ.3,
lxÌ'PìatãomuìtalÈstarìtcc\idcnÌcnocawdalxrradcsì4rifìqdotlotcrrrruòrroroortvq
no prì1reir<r
lirrc da Re1>úhlia. "- ,|t!o.,Sp tll, p 355; R Ph, SP.tll, p 569; CriSy'.ItI, p 6ot; À'(.)I sG (crn quc Bacon ttiìo *
" ' . \ ' 0 l i t , t o 6 ; , t ) y ' S 2I . p r i í i t r elòre a l)latão, uras ao platonistno); D-4, .Sp.I, p so;
" ' L r r g a r c s( i t a ( l ( ) sn a D ( ) t aí ì l i "' .1d\ Sp ill, p rl,iri;Dl, Sp.l. tt í6e

L,,
b*-.--
cuidadosamente e que é necessário combater, pois nada há mais perigoso e mais
defrnir, distinguir, isolar a pesquisa sobre a natureza do raptus religioso e do
sedutor do que "as estuÌtices capazes de suscitar veneração,,6s.
discurso sobre a divindade'o.
Na filosofia de Platão, Bacon acredita ter encontrado a origem histórica de
Ter constatado a impossibilidade de promover um corte brusco entre
duas atitudes fundamentais que ele considerà extremamente prejudiciais para o
"ciência" e "magia" no pensamento de Bacon e ter evidenciado a presença e a
gênero humano: a atrìbuìção de um caráter lírho-retóico ao dìscursofilnsófico e
persistência nas obras baconianas de muitos temas característicos da magia
a inf.ltragao (estreitamente Ìigada a esse primeiro aspecto) dz elcmzntostzológìco
e da literatura mágico-hermético-platônica nada tira de seu significado
- religiosos no discurso cientifìco. Para se compreender
o significado desta histórico à polêmica que Bacon levou adiante Ela se coÌoca na Ìinha das
polêmica baconiana é oportuno, neste caso também, não interpretar as
empreendidas por Kepler, por Gassendi e pòr Mersenne contra o pensamento
afirmações de Bacon como sendo dirigidas contra dois tipos abstratos de
de Robert Fluddt'. Nos mesmos anos em que viveu Bacon, Fludd encarnava
filosofia, mas contra aquelas filosofias históricas efetivas que ele visava atingir
com singular efrcácia, na IngÌaterra, aquele tipo de frlosofia hermética que
com suapolêmica. Na tradição do platonismo inseúam-se, de um lado, as fiIosofias
irá ainda ter, em pleno seculo XVII, desenvolümentos amplos e mmplexost'. É
mágico-naturaÌistas de que falamos no capÍtulo anterior e, de outro, as doutrinas
'"Ás lìÌosofiasherméticase a cabaÌatircran considerárel influênciasobrea cnltura irrglesados
e os ideais do humanismo inglês.
síruÌos XVI c XVII As obrasde Spenser,Donne,Brorr.nee Burtorrdmurnentanì-naplerìarneÌrte
A recusa do caráter "religioso" da corrente mística do platonismo
Exì \ olta dc Sir Walter Raleigh constituiu-scurn grupo, que comprentle MarÌorvc, Chaputan,
renascimental na qual confluÍam a gnose hebraica, a cabala e o hermetismo, lìoldon,quesedaliçavaaoestudodasdoutrinasherméticas CÍ.1\{C Bradbrook,T'heScool.oJ
é estreitamente ligada à polêmica baconiana contra as atitudes e os ideais :\'zglri, Cambridge tsso. Útil, tanbénr, dc J Fì lSndaeus,Introda:tio atl hìnorian phìlosophìae
de uma cultura de tipo "mágico". Â uma fllosofia de tipo esotérico, feita de aÌusões, IIelv-aeorum,HaÌae. I 7o5-
'' e Robert Fludd, Sortais(pp .1.t-5t) fornece
Qrrantoàs poÌêmicascntre Ì!íerscnrre-()assendi
de transpaÉncias, de intuiçõeg que insiste no mistério, na sabedoria profetica, 'Note
notícias úteis CÍi E- Garin, suÌl'ernretisrno del RirrascimenÍo", eil Testìunt.dnìstúínila
no segredq que remonta a Moiség a Zoroastro, a Hermeg a platão e a plotino, retórica-Archioìodìflosof4,t955,pp toss.AsobrasprincipaisdeFludd,nasquaisconfluem
a Próclos e ao Pseudo-Dioniso, Bacon contrapunha - conforme já foi üsto _ as heranças de Paracelsoe de Agrippa, o ncoplatonisnro, a cabaÌae o hcnnetismo, os ternas dos
lìosacruzcs e as interpretações alegóricas das Escrìturas, rcnìontanì ao período sìtre ì61? e
uma ìndaga@o "severa" e um ideal público e em colaboração com a ciência" no
1621:I'ractatuthelogofhilosophirus,OppcnÌreim, 1611;Lilriusquerosno,nuionsrilìceÍelìttuori-s
qual não en@ntram lugar as pretensões dos ïuminados,, de captar de modo nda?hysic4 ?hlsie atqu techaicaárslorr, Oppnhe iÌn, | 6 | 7-16; lrerítasTrowiun4 Frankf urt,
- intuitivo e imediato o fundo misterioso da realidade. Daí seu úolento protesto ì 6'91 O ataque de Merserrne a FÌudtÌ está Íbrnrulado nas Quoestioreelzbcrrime in Genesìntde
z 'explica@es" I fì9.9,às quais Fludd reslrcndeu conr dois Ìibelos: Soplrce nm luIona Cerlam(taa9) e Sumuum
contra as retiradas os liwos do Gênesis e contra as "cosmologias
bonumqwd estmagiu abqlaa achimiae verae,Fratmm Rosae(lruis uromm. wum subìa.1um(t629)
ocultas" retiradas dos textos herméticos e da cabala. Tarefa do saber é a de
a A Eputolìu wcitaÍio ìn qu pnuipia philosophwe Robqti tr-ludlì nalici relegunlur, de (ìassendi,
z data de t630; a ela Fludd repondeu ctrr 1633 @nr sta CIaú.t philorophtu ct althinìae juddtnu.
c
Notícias sobre a ErÌêmie Fludd-Kepler dcvem ser vistas cnr Cassirer, Ìiúízã da F'ilasofa
- c
ç
Modcna(trad it- Turint 1959, pp- 39()-.999)c erD Garin, Nolc sull'metìw, cit-, p- l5
r'-fuÌos os temas da fiìorelìa hcrrnética e da cabala confluerl, por volta da metade do século, crrr
I lcnry Moore, lnta e filómÍò qtrc, dc Cambridge, estcve cnl correspondência conr Cudrvorth,
"'ÍJuanto à$ürac tcrísticas <lafi losoÍìa su;rersticiosa: Cr: ó? I I I, p í9S O uanto à prricu lositla<le c<rn o círculo de kdy Conuayi conr Jcrenry fuloq coln f)cscartc\ com Sanrucì l{artìib, conr
de PÌatão: ,\? l ô5 Sobre Plarã., n:ais poeta que ÍìÌ<ivrfo:CIi Sp I l l, ,bs<1h Glanvill e @Ìn outros exÌurìÌes da lìoyal &x ietl: As obras fiÌosóficasc trcÌógicas Íbrarn
l) 60 r O r.'nc<,itodc
"apote$scdos <'rRrs har ia sido <'xpressodc ftrrma rtruito
.já clara no 7Ìì! .Sp il1, P ;s r in4rressasenrludrcs,crÌrt679(9voÌs rr/ò/ro) ìtÍasos Phìhvph.iulPuns(Cambridge,lfì1?).que
'tonstrutor
nessasbasesque Bacon recusa as filosofias de Cardano, de aranheiras"; A atitude de Bacon, frente às degenerações retóricas do humanismo que
de Francesco Patrizi, "que sublimou os fumeiros dos neoplatônicos"; de François são atribuídas à influência do platonismo, evidencia-se no primeiro livro do
Fernel; de Paracelso, "fanático acoplador de fantasmas", que misturou fábulas e Á&tauctnnt of Learzìng, no qual ele toma posição contra os três vícios ou defeitos
heresias, profanando a ciência e a religião e substituindo às Íilosofias tradicionais da cultura contemporânea: o saber fantástico (/hantastical learning); o saber
uma série de hipóteses fantásticas; de Agrippa, "buÍão triúal que de cada coisa contencioso (contentioas learnzzg) e o saber delic ado (dzlinte Ìzarning). O primeiro
faz ignóbil farsa"e do próprio WiÌliam
que conduziu experiências Gilbert, (astroìogia, magia, aÌquimia) dá lugar a vãs imaginações; o segundo (típico da
cuidadosas sobre o magneto, mas acabou por construir, baseadoneÌas - no dizer frÌosofia escoÌástica) a vãs disputas; o terceiro (o humanismo ciceroniano) a vãs
de Bacon - uma Íiloso{ìa natural completamente arbitrária e fantásticaT'. afetações.As primeiras origens dessa terceira degeneração da cultura humana
I
são bastante antigas, mas suas origens imediatas remontaÌn - escreve Bacon -
I ao perÍodo da Reforma. Em sua luta contra o bispo de Roma e contra a
I contêrÌÌ,cntrr outros, Doteritw l)latonitsttttt,or au Essa),ufon lfu ltf til' oJ ll,brlds out ol Plutonitli
PrìncipÌes,são documentos igualrnente significativos Sobre Morc, aÌóm das observaçõesde
Cassircr, .4 lìnascengaI'latüica nu lnglalerra e a Í)xola de ('anLbridre (trad it IrÌorença, l9+;),
deçneração da lgreja, Lutero não encontrou na cultura de sua época elementos
que pudessem lhe vaìer?n.Com isso viu-se obrigado a voltar-se para a antiguidade
cÍ'-a arrtoÌoeia de F- I Mackinnon, PhiÌosolthiutÌarìtiugt of llenr.t trIore,No\ a \bÌli, 199ii. c \\1 e invocar, contra os tempos presentes, o socoÌTo dos antigos- Aqueles livros que
K Jordarr, D@elopmento;f lìeliginr Tolerutionn England, I-ondres, l9i9-to, roÌ I\l Sobrc as
tão longamente haviam ficado adormecidos nas bibliotecas, foram então
reÌações corn o cartesianismo, cf. M r-icoìson, I.)ar\ Saryeof Cttrtcianinr h l)ngÌaul, en SP
XXXVI, t 999- Â correspondênciacorn Descartesencontra-secm Adanr e Tannerli Paris, I 9o3, retomados e relidos. A própria necessidade de compreender aqueles autores
lol V Á bilrliograÍìa encontra-sc en ìv{\\l Lan<lcs,Phìlosophicrtlzvrìtirgs of I{. X(ore,Nota antigos levou os doutos a se ocuparem com sua linguagem e seu estilo e suscitou
\brk, l9e5
admiração por seu modo de escrever e pelos argumentos por eles enÍientados.
" S o b r e C a r d a n o ' - I - P ì Í , S 1 Ì 1 I { p . í J r ) ( a s o b r a s c n ìt o v o l s , L r r g d u n i , r c o s ) S o b r e P a t r i z , i D - i ,
,V I, p 56a (fìa Noaa dc uaioosis phìloro?hìa,Venetti1 | 539, apareciaÌn os terrÌos (lo l)Ìatonismo
Essa admiração foi, além disso, também favorecida pela dura polêmica dos
de Ficino c do estoicistrìomisturados com os da tradição herrnética e da filosofia caÌdaica) humanistas contra a escolástica, contra o estilo rude e desordenado, contra os
Sobre Jean !'rançois Fernel (1.185?- r55s, rnó<ìicode confiançadc llcnrique lI): Zì14 Sr'. Íll, neologismos de que faziam uso os fiIósofos medievais. Por outro lado, aquela
f) 59O SobrePara<elso(BikhcrundSthtifìn,llascl, tssS):7'I,]{^çy' Íll,pp 53Ít-i:Ì9; NaIÌPl
(,S2IlI, p 5?G),reconh('qìdo que ParacelsoconvicÌorros hotncns à exlxriência, con cnorntc
rcpercussão, Bacon faz r otos dc tèlo corrc sen próprio dir ulgadon Soltrc Agrippa: T-PLÍ,Sp lll,
p .í.ro Sobre Gilbert: Ádo, Sp.lll, pp ,9e-99; (14 51. tll, p 609; R. P/r, Áp.III, p 5-i t; À'O I 5 +, ?o,
II 35, 36; DA, Sl, I, p- +rit; HGL, Adüu,3p. II, p. 8o Nesta r'rÌtüna passagem,Bacon, acusarrdo Hisl. Nat' Auctoris Monitunr (ó/r It, p | 3), orìde Bacon os col@a, JUntaÌDerìtecorn Patrizi,
Giìbert por ter tentado construir unr naYio a partir de rrnr cscalmo (nam aedifrcon_s et ualmo), Tclesio, P Soerensor e \\1 Gilbert, entre aqueles que inrentaraur rovas rcpresentações G
onsidemra+ drcididamente manamunado com os fiìósoÍõs naturalistas Para urna comprcerìsão Fracástor é lembrado conro urn Ìromeln que não teve a pretensão de fundar uma nrrvaÍìlosofia c
mais exata daarzliação baconianaé oportuno lenrbmro 1resocxercido 1rlas doutrinas tradicionais qtrc deu provas de honesta liberdade de .yúzo (Ado. Sl.lll, p. 366; Crí 81 IIl, p,io.9; RPh., S?.
sobre Dc Mqactz e sobre I)e mundo noslrc vbluuri philophìa zoza Sobrc esscs elenrentos III, p. 5?l) SoÌrre o empirismo de Fracáston Cf P. Rcsi,'Sul nretodo induttiro e la polenrica
tradicionaig mbre a t@ria dos elfluaia, wbre o r<rrrso aos.f/tr7os:,rejam-se as obserr.açõesdc antioccultista in G lrracastoro", em RCSFìV t95a
.{ WolÍ, .Sairyrz"TerhnologvauÌ Phìlosopl4lcìt, pp lz9Ê9; Cl tanrl(rn lì Zil*ì, "'fhc Orisins "9rlrrc as anaìogiasbastante pr<ixinrascntre hunmnistase refornradores,na historiogralia
of Willianr GiÌbert's Scientific Mcdrod", errrJÌId It, t9í l, pp I ss ScgundoM Boas, Bacon
l)roÌestante,\cldlÌì-searconsideraçõesdc\\lK lìr6psorr,ThtRtnaissanteitll.istorìralI'houghl,
forrna srra olrinião sobrc Giìbert sern referir-s<'ao l)e ildgìcle, rr\àsbascadona <'x<.lrrsir
a lcitura Iìtv('mhtrt'sof Iillcrfrddt\)rÌ, Boston, l9í8(trad franc Paris, l9óo,pp 58-5Í)) llstcriÌtinro
<lcDc nrtrto sublunarilhìlovphia nwa (cf o artigo'lìacon arr<l(ìiìlrrt'. cnr ,í//,XII, lg,io, pp cita rrrrru-c<lxrì)astarìtcsiÍÌÌrilìcatirod<'Florinrond dc Renrond,ÍIinoirt de l'hnésiedt cesiìrle,
'166-7) Doò-otttros pctrsadorcsda lìenasccrça,l} uno c ('anrparrcllasão Ìr.lrllr ados al)cÌìarÌìâ
I'aris. l(il),1.Ì) ir9"
cuÌtura'nova" dispunha-se a persuadir e a atrair (trìnning and persuadìng)a rigorosa da verdade", pois este tipo de fìlosofia fucata et mollis ocasiona uma
opinião popular e necessitavaportanto de habilidades oratórias, de eloqüência atitude de satisfação e acaba por extinguir o desejo de reaìizar novas
e de variedade de estilo. O cuìto dos autores antigos, o ódio aos escolásticos, indagações.
o estudo exato das línguas, a eficácia d<ipregar parecem portanto a Bacon as Paia compreender o significado desta tomada de posição baconiana e
quatro causas que haviam dado origem ao fenômeno da "eloqüência" para perceber a ligação que existe entre ela e a polêmica contra a filosofra
humanística Impeìidos por essasnecessidades,os homens começaram então pÌatônica, será oportuno ter em mente algumas afirmações de Bacon:l) na
a procurar palavras, em lugar de coisas, e acabaram por preferir uma fi'ase Distrìbutio oferis Bacon distinguiu nitidamente o propósito que sua hlosofia
bem escrita, um período bem torneado, o ritmo das desinências, ao peso das visa realizar e os fins característicos dci pensamento tradicional: alimentar
coisas, ao gume dos raciocínios, à agudeza das invenções. Johan Sturm e as discussões,embelezar os discursos, servir ao decoro da vida civil; 2) no
Âscham?5deificaramCícero e com isso atraíram ojusto desprezo de Erasmoi6. Temporis partus m"ascttlusBacon reconheceu à fiÌosofia platônica o mérito de
Só que as palavras são apenas imagens das coisas e podem ser amadas "apenas "fornecer aÌgumentos para agradáveis conversações de literatos" e nos
enquanto vivificadas peìa razão e pela invenção"; os humanistas, ao contrário,
Cogitata et visaqualifrcou Platão como "poeta"; 3) no Tempois partus ma.sa.tlus
tomaram as palavras pela realidade e, taÌ como PigmaÌiao, apaixonaram-se
acusou-o de ter sido o "pai dos filóIogos", de ter dado origem, com seu
por uma vaga imagem em lugar de uma pessoa reaÌ.
ensinamento, àquele tipo de cuÌtura fácil e agradável, que corrompe a
Esse tipo de cultura degenerada (distzmper of learning) está visível,
indagação da verdade e que se manifestou, sucessivamente, nas obras de
segundo Bacon, não apenas nos tempos mais próximos àqueles dos quais ele
Cícero, de Sêneca,de Plutarco;4) a acusação de verbalismo retorna, insistente,
tirou seus exemplos, mas faz aparições contínuas (e continuará fazendo-as)
em todas as obras e é explicitamente retomada pelo Nooun Organum. Platão
na decorrer da história humana. Xenofontes??, CÍcero, Sêneca, Plutarco e o
está portanto - segundo Bacon - nas origens daquele tipo de culturafucata
próprio Pìatão tentaram, na antiguidade, enfeitar a obscuridade da frlosofia
et nollìs qu,ese expressou em CÍcero, em Sêneca, em Plutarco e que voltou a
com um estilo aprazível e elegante. Essas tentativas parecem úteis a Bacon,
surgir vigorosamente naquele movimento humanístico que encaminhou
lá onde se queira fazer uso do saber para frnalidades "civis", para discorrer,
novamente a cultura humana para soluçÕesde caráter verbal.
para aconseÌhar, para persuadir, sendo, ao contrário, nocivas, para a "busca
Na realidade, aquele platonismo amaneirado que servia aos escopos da
galanteria e da conversação tivera uma grandiosa difusão na Inglaterra- Ele se
" , 4 d i l . 3 P . l l l , p 2 8 z , J S t u r m ( t 5 o 7 - á t 9 ) , o c h e f e e o o r g m i z a d o r < Ì aS c h o l a A r g e n t i n ì e u u , < y r e
Íàrá de Estrastrrrrgo urn dos centros da Rcforma A obm de Aschatn <1uemais inflrrência tcve ó
misturava com o gosto pelos símbolos, os emblemag as aìegorias que havia
Thz SchnÌrutlzr,lnndres, t57o Ç1.Englìsh VtÈq org. W Á Wright, Canìbridge, 19O+. caracterizado o neoplatonismo florentino e que exercera na IngÌaterra decisiva
'n Erasnro, Dìaloguseictrctianzs, Basiléia, 1598,
PraeíVejam-tr tanìbém as cartas a Iiranccsco influênci4 mais do que na fllosofi4 no teaho e na literatura. Deste platonismo
z
Molir:o (o dejunho de l5Í16) e a Ciacomo Tnssano (16 se maio de l596) ern Olus epìstolarumD. 'retórico",
-, Erasmí, ed AlÌe n, OxÍord, ì 9a6, V[, pp .9.5+-6,1 e gí.5-46. Contra Iìrasnro arira-sc os
em que as dissertações sobre o amor e sobre as damas, sobre a amizade
"ciceroniarrosAsOrolìorcsdc.lúlioCi'sarScaligcro(Paris, t59t ctísi)coDutlogtsdtìnitatiott e sobre Deus se alternavam às alusões a persoÌragens históricos de Plutarco a às
cìcooniau del)oleto (Lloì, I 519), sãodocumentos dcss 1nlêrrrica-Ncìa ins<'riu-scMario Nìz,oli<t figuras mitológicas de Ovídio, são expressões signifrcativas o céÌebre Euphuzs or
(oÌÌÌsuas Obseruatìonesinll 'l'ullnnnCiceronan(8rescia, ì.tS.í)quetircrarn,errrrc l5s5c t690, thz Anatomy of Wítde John Lily (159?), os Hryrus in hmnur of Looe and kautü
scteÌìtâ cdrçax's
;-ptrarrto ao rlt. llacon solre Xoxrlìrrtes, ct- R Ph, Áp tll, p ,;íjj
de Spenser (tss0), os poemas de George Chapman, os tratados filosóficos e
1uíz-o
teológicos rimados de sir John Davies'" Nas tragédias de chapman e nos dramas
A recus4 por parte de Bacon, da filosofra pÌatônica enquanto filosofia
pastoris de Lily estes motivos, chegados da Inglaterra através da obra de Ficino, "retórica" só pode ser entendida na medida em que se tenha consciênciada situação
haviam sido levados para o palco e o inteiro clima cuìturaÌ da época havia se cultural e daquele tipo de "educação" humanística à qual Bacon se opunha
inspirado neìes. Era desse cÌima que se aÌimentava o ideal humanístico do nobre vigorosamente. Sem dúüda, Bacon surge como líder do caráter antì-Cícero da
e do cortesão. Em toda a literatura humanística (na qual continuava atuando a prosa inglesa e como o asseverador de uma volta ao estilo ó.ticoou seruquianoque
influência das obras "práticas" de Aristóteìes), a filosofia de platão se apresenta visava a expressividade e a clareza, propunha a volta à "brevidade" do estiìo
como a filosofia da vida civil e da cortesia e todos os humanistas ingleseg de estóico e se opunh4 em nome da "graúdade" da "sentenciosidade", ao emprego
More a Thomas Elyot, de Phitip Sidney ao próprio Spenser, sentiram_se de paradoxos, de floreios estilÍsticos, ao ideal de uma beleza formal. A obra
fascinados peìo ideal platônico de um Estado de tipo aristocrático, governado baconiana realizava assim, em solo ingÌês, aquele novo ideal estilístico que, na
I por uma eÌite de fìÌósofoste. Isso explica a tentativa de quererem instaurar um Europ4 acompanhara o nascimento da nova ciência, que se havia expressado na
novo tipo de cultura capaz de 'educar" uma aristocracia que, às originárias virtudes
li do nascimento e do sangue, acrescentasseas virtudes novas da cultura cÌiíssica,
obra de Giusto Lipsio e de Montaigne, e que será retomado pelos escritores
cépticos e übertinos do século XVIIs'. Por outro lado, Bacon torna-se também
da "cortesia", do espírito, da Íìneza do gosto, do conhecimento dos negócios defensor de um realismo político e de um naturalismo ético de inspiração
políticos. Estas novas úrtudes eram evidentemente mais úteis na vida política e maquiavélica que o colocam numa situação muito diferente daquela à qual devia
sociaÌ da Inglaterra do século XVI do que o valor cavaìheiresco e, professando sua existência o ideal educacional perseguido pelos humanistas. Não é por acaso
essas úrtudes, era possível para os homens que pertencessem a classes sociais que Bacon fará questão de se frliar à burguesia puritan4 uma burguesia de técnicos
de formação nova, abrir seu caminho em um mundo sociaÌ em eue o termo e de comerciantes que acabará por considerar abstratos, inúteis e aristocráticos
gmtbnan vinha adquirindo um novo significadoso. os "estudos" e os ideais perseguidos pelo primeiro humanismo inglêst".

"' (}. MW Croll, Attb aul BaroqueProse ShÌc, Princeton, 1969 Os historiadores da Ìitcratura
irrsistiranr sobreo anticiceronismo dos Esa-rn(Cf, IlrrsÌr,pp I s1 ss ) Contudo, todas as d iscussõcs
l"fhe rcnfltle llbrts
ol Johtt 1-1r; oriòrd, i9o2;'l-lk IIin-kt uf Il. Ápea.scr; lìaìrir*rrc. r!)s:.Ì--r9; solrrcos méto<losde trarìsnìissãoc robrc <>nrótodoafìrrístico(cÍ. ,-1l2,ó), lll, pp +03-6;D,í, S/,
7-hellbrlts oJ (ìeorge ('hufnan, Londros, lrì'Ì.1-;J Nos ...l.ire
lnerìas SÌrar]os oÍ. Njght" (159-1) t, pp 650-69) são iguahncnte Írdicatiras Urrra coDÍirmaçãoda atitude baconiarrapode ser
e "o'id's Banquct of' sc'nsc( | 5Í)5),a i'Íìuência dc Irici no é particuÌarnrenteer itlente.o ,,Mirunr crrcontrada enr uma carta a Esse-x(51 L U, p I 1)
in rnodis" e a "sunrnratotalis" de,loÌrn l)a'ies datarn de rôo2 e de 1607. "^*oscetc iDsunr-. "'Caspari, pp l6 ss, distiÌ)guiu quatro Íàscsde desenvolrinrentodo hurnanismona Inglaterra:
dO
z
hornônirrrosir.lolrn, é de r59tì. Sobrcessesargumcntos re'ja-seD- L. clark, Rlutorirunt! poerr.y t ) Urn hunranismo nascerrtena úlrinra décadado s(<ulo XV:z ) Unra scgrrndafase( I ríoGso), qrÉ
tn lhe Rmaìssunre,N'r'a York, | Í)92; [ì- Grturlarr; Á] udìesin sltnser's ]Iìstori.al,4llcgo1,,Ba)titnora, irricia corn a loìta para a Inglaterra (Ìe Grocy, Colet e Liracre, e cont a visita de Erasnqqrr- o
- l w

l . Ì932; C. S- Le*i1 The Állegory oÍ LM, Oxford, t9.16; E L. Scìroell, Iihules sur l.hunuri-çnu 1reúododasgrmdesobras'programáticas';af)topiadeMore eGovnrcurdeEllot Ohunratrisrno
j i c

t t , rcntimtal enÁngletore à laftn dela Rnarsscacc.paris, | 996; I{ G ktspcich, crassicalMlthorog). r ai re aÍìmando em Carnbridgee Oxfor<Ìatravs dasobras de Fisher,llrasmo,l'ox, Mores, Wolre1',
,
I -
in Lhzf,utry of E. Spauct Princeton, 1999; t4nrnìi, Colct. Erasmo e Liìy o introduzem em bndres corn a St Paul's Schd 9) O terceirc ptríodo
r" Edição crítica d. rexto ( 15.3(!58)mÌneçacoma *paração de Ronrac a rcrptanizaçãoe seularização do sisteÌnaGìu€cional-
latirÌo da Iitopì4 paris, 19.9{r(A priueira cd: I_o\.ânio,lrit6; a
reirrr;rressãoda Prirneira tra(lu{ão irrgrcsa dc ì55r: I-orrtrrcs, l!t:ìi). The rontllcrt Ilitrris Os princÍpiosdos hunranistassão intrqluzidos rras e.wlrs Os lrtntetts que irão desentpcnhar
papóisdc prirneiro plano na ópot'a de Iìlisahtc são crltrca<krs nessc clitna í,) A quarta fase
ol Sn Phìlìf ^f/rrr.rl carnbrid.g<',199,J.A Pri'cira t'diçâo do Goiterutrda FìÌyor<ìirtatlc t:;:rr,
( I 5 58- | 609) coincideconr a i'pocael i sabc-ta na O ì rrrnranisnroadqrri re a nresnra"respeitabilidade
ago'a efÌì I'he hohctanel lfu ()owrnour, g \eìs., Iirìdres. Ì8a:J.
'" C)ttanto ,srrial" que havia alcançadona lt;ilia r-o <lrradroesboçadorta bascdessccsqucnra,Caspari tôi
a o s i d c a ì sÌ r , r l í t i < r ttsÌ c s s t ' Ìst u t r r a n i s t aes s o l t rc a s r r aÍ ì r p ç ã 6s o c i a t c, f . C a s p a r ìp, p
l < ' r a t l o a a t c n r r a r o c o n t r a s t e e n t r c o ( l r r a r t o F r í o d o < ' o s t r i ' s F r í o d o s p r < ' c c d eAnat t<i t' st r d < ' d c
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IJacorr,evidenterrrentc, ó uDìaclara rrrarifèstaçãr) dessccoììtraste

l _ ^
4.,4ristótelese a Evolástica  dialética, aprimazia dada à lógica sobre todas as outras ciêncìas, o uso
das causas fìnais acabaram por corromper aqueÌa filosofia naturaÌ que Aristóteles
Diante do caráter "poético" e "fumarento" do platonismo hermetizante, ..a havia procurado manter imune das superstições. AÌém disso, ele atribuiu a
sabedoria e a integridade de Aristóteles são dignas de admiração,'. Este elogio a primazia à vida contemplativa e tentou impor aos homens sua ftÌosofra como

Aristóteless possui um sentido preciso nas intenções de Bacon: diante da aceitação sendo uma fiÌosofia subtraída ao tempo: para esse Íìm procrrrou destruir o passado

indiscrimìnada, na história natural, de elementos fantásticos, míticos e lendários, e obstar o futuro'u. Contra esta'ditadura" do aristoteÌismo, Bacon vale-se da

Aristóteles manteve uma atitude de cautela e limitou-se ajuntar, à parte, todas exigência de Ìibertação de qualquer "culto Íìlosófico"86: AristóteÌes foi considerado

as tradições que lhe pareceram suspeitas De taì modo atingiu um duplo fim: não grande por ter coìocado sua doutrina como superior à da antiguidade e agora teme-

as misturou arbitrariamente à pesquisa científicae não privou a posteridade desses se uvrr, para @m ele, o mesmo sistema que ele usou PaÌa c(Ìn seus precursores:

elementos fabulosos e legendários8'. Â obra de "corrupção" desenvoÌvida pelo


aristotelismo tem, portanto, caÌacterísticas muito diferentes das de que é . . não apenas recusareis a ditadura deste homem, como também aqueÌa de
quaìquer homem presente ou luturo.. Se fizerdes prorz de vossas forças,
responsável a filosofia platônica. Para Bacon, Aristóteles é uma expressão típica
não tereis certamente por que vos arrepender, uma vez que não sois
da filosofia dogmática e daquele racionaÌismo soÍIstico que acreditou poder
absoÌutamente inferiores a Aristóteles nos problemas isoladog mesmo que
resolver todos os problemas, ensinando aos homens como se desembaraçar,
o sejais em relação à totalidade de seu sistema. Sem dúvida o superais de
fazendo uso de uma habìlìdade meramente verbal. Nesse sentido, Aristóteles fez muito-.. nos exempÌos, nas experiências e nos ensinamentos que o tempo
questão de ser obscuro e obrigou a experiência a confirmar conclusões que a vos legou- Mesmo se, conforme dizem, ele escreveu um lirro no quaÌ reuniu
limitavam exteriormente de modo arbitrário Sem preocupar-se com a experiência, as leis e m instituições de z5o cidades, eu náo duvido qre os exemplos e os
Aristóteles pretendeu "reconstruir o mundo por meio das categorias", acreditou costumes tão-somente da república romana tenham ontribuído à ciência
poder resoÌver os problemas da matéria, do movimentq do denso e do rarefeito, civil e militar mais do que toda aquela sua coletânea. As mesmas coisas
servindo-se de distinções arbitrárias do tipo daquelas da potência e do ato. aconteceram na filosofia naturaì. Liwai-vos, Íìnalmente, e entregai-vos à
realidade das coisas e não seiais escravos de um só homem!"t

'-'prranto à araliação da
Histnría aúrnnliuna cf. Ádt., SJt.lll, p. 9rìs; NO I 9s, D,{, S2. I, p. 1.i6, As " Sobre essesconceitos reÍèrentcs a Âristóteìes: o do!ïÌnatìsnÌo (N'O I 6?); a ìrabilidade r erbal
obras espírrias das <1uaisBacon ÍàÌa favora'eìrnente s,aoDe nìraLili-çauyultationìius (í'() ll ,zsJ, (Cog. mt' Sy' lll, p. e9; NO I 63); a oÌrscuridade (Cog. tunr, Sy' Ul, p 188; R Ph, Sp lll, p
z
e os Problnuta (Ádo. Sp.ll, p. sti:; DÁ,.S1.I, p. 56s), os pà-ytiogtonica (Ado.,.çy' Ill, p. s67; D4, 56fì);a "forzatum'tla exFriência (Cog hum, Sp UI, p- 188;B PlL, SP.lll, p. 589; À'O Ì 63); as
S?. I, p. 58o). Os Elauhi sofstici são aYaliadosl>ositiranrcDte: ci. Ádp.,S?.lIl p. 993; t4, .V_ I, p. ^Splll,
distinçõesarÌritÉrias (n Pá.,52. lll, p 566; C4 Sr. III,p.60l; NO I 63! as€us?s frnais(z4r1o.
642 p ess; .R.Ph, S?- lll, p. 569; ()/'i Sp Ill, pp, üJr-aj NO I 5.1,63, 96; DA, Sl r, P 461); a vida
z. 3*A história das nronstruosidad?s conternpìativa(,ídz" SP III, p .1,21;DA, SP.1,p 12o)-
(Hi:torìa pruter-gemtìonum) tcnÌ para Bacorr um cscopo
duplo: çnr um lado ela, conduzindo ao coÌrhecinÌento dos milagres da natureza, * n Pá, Sp III, pp 568-6s
lxrJe pernritir a
rcalização dos nlilagres da artc e, por outro ìado, tormntÌo
lnssÍrel unr exarnc tÌos dcsrios, " O convite a ìibertar-e da autoridadc de Aristóteìs é um motiro que atravssa toda a cultura
torna mais tácil o conìrecirnentodos pr.cedincntos reguÌaresda rraturcza.os ìrrilagrcs" d<ls eurolúìa e acompamharessa"rebcìião" c<privalca traçar as linÌras da orìtura t'urc1úia desdc Rogcr
quais fala Bacorrnadatêrn a 'er con) os nrilagrcsou lÌacon ati o seub XVII C)s n<rncs rrraissigniÍìcatiros são os tìe ValÌa, Agritula, Ácrippa, \'trcs,
/ro1ígrbsda religião.Esscsriìrunos,ou nà'
s â o r c r d a d c i r o s , o i l n ã o c n t r a l n n u n r a c o r r s r d e r a ç ã o d a n a t r r c z a . o r e l a t o d o s r r r i nl aagt rr rt .r sa i s " -feÌesio,
l'aracelso,l*izolio, Ranru\ Iratrizi, Brunoetq Utn elencosurúío nns imtere$saÌìtc de citaçóes
delc s<'rdistirtgui<ìorigorosanrerrtee rigidantettteseparatlorla lrist,iria natrrrai erìillrantotal. ''ar:tr-aristori'licas" -l'ácito
crrcontra-scetr lìr\ Ìea (14r ;e-se) Quatrto à tòrtuna de ttos tiÌtinxrs anos
C . Í . . 4 d u1_t,.I I I , f . i . 3 t ; D ( ì r , Á p i l t , p r . e o ; À ' 0 I l . 1 9 ; / ) 4 . y Í , p + s r s _ clo reinatlo cle tilisalxtc, CÍ. lltìsìì, p '2oÍ)
Fulton Anderson, que estudou analiticamente a reÌação entre Bacon e instrumento, como método de controle de uma situação"o.Através de uma
Aristóteles, atinou com duas características fundamentais da poÌêmica encetada
completa série de procedimentos é possível controÌar as diferentes passagens
por Bacon. Em primeiro Ìugar, eìa ataca muitas vezes não tanto a fiÌosofia de
que levam do material empírico da história natural para a formulação das leis e
AristóteÌes quanto aÌgumas manifestações características da tradição aristotéÌica
para aquele conhecimento das formas que coincide com a possibiÌidade de efetuar
,* medieval; em segundo, um exame dos "ataques" e das crÍticas de Bacon às
uma série ilimitada de operações. À teoria da arte como imitação da natureza,
doutrinas peripatéticas não pode ser separado de uma discussão das doutrinas
Bacon contrapõe, enfim, a tese da não heterogeneidade entre fenômenos naturais
fundamentais do pensamento baconiano que é quase inteiramente construído
e fenômenos artificiais.
tendo em vista a substituição de uma filosoÍìa "nova,, às doutrinas do
A filosofia escolástica, que Bacon considera herdeira direta da doutrina e
aristoteìismo33.
do método aristotéÌico, surge como um obstáculo ao progresso do saber por
À classificação aristotélica das ciências, fundada na tripartição em teóricas,
duas razões fundamentais Em primeiro lugar, os fiIósofos escolásticos
práticas e produtivas, Bacon contrapõe outra, fundada na tripartição das 'incorporaram"
lil' a frlosofia aristotéIica na religião. Esta confusão entre coisas
facuìdades humanas: memória, imaginaçãq razão. Não existe separação entre
divinas e coisas humanas representa, para a filosoÍìa natural, um perigo ainda
ciências teóricas, práticas e produtivas. o que é tórico na Íìsica e na matemática,
maior do que as hostilidades patentes contra ela dirigidas. A aliança teologia-
é também operativo na mecânica e na magia.O 'discurso', não é separado nem
ciência faz com que, por um lado, sejam acolhidas favoravelmente apenas as
pode ser separáveÌ das "obras". Bacon recusa ainda o princípio aristotélico da
opiniões consagradas pela tradição e, por outro, sejam recusadascom obstinação
"abstração" como base para a cÌassificação do saber e recusa a possibilidade
de
as novas descobertas e os novos aperfeiçoamentose'.Em segundo lugar, a {ilosofia
uma'passagem" da Íìsica à metaffsica, enquanto "discurso sobre a natureza de
escolástica é expressão típica daquele saler eonbncìosoque redunda em disputas
Deus". Para Bacon a metaÍÌsica é uma Íìsica generalizada que enuncia uma série
vãs (aanaealtercaturcs). Ele surge quando uma cuìtura sólida e sadia se dissolve
de leis extremamente gerais sobre os comportamentos naturais, enquanto à ÍIsica
numa série de sutilezas. As vermiculntz questionsque aparecem de todo lado
compete um campo muito mais restrito e ìimitado daquele que a ela havia
têm a aparência de uma grande vitalidade, mas acabam redundando em litígios
conferido Âristóteìes. Este, segundo Bacon, fez uso - aìém disso - de um grande
inúteis que não podem ser de utilidade alguma A maior parte dos filósofos
número de explicações "fanústicas" (matéria-form4 potência-ato) e manteve e
escolásticosparticip4 segundo Bacon, de uma cultura dessetipo: eles eram "ricos
resolveu a Íïsica no plano da lógica, atribuindo a esta última a pretensão de
'produzii' de ócio e agudos de engenho", mas estavam proüdos de uma cultura muito escass4
o mundo através de uma série de definições verbais. A filosofiaprimeira
I uma vez que suas mentes estavam encerradas em textos aristotéIicos, assim como
(que para Bacon é diferente da metaflsica) enuncia alguns princÍpios ou regras
ii seus corpos estavam fechados denho das celas dos conventos. Ignorantes de
que encontram aplicação nos vários campos da fisica. Essas regras não dizem
íil respeito ao ser enquanto ser*. À teoria aristotélica da indução Bacon contrapõe
fllosofia natural e desproüdos de cultura histórice, chegaram a construi4 com

lil
i
uma teoria diferente. À lOgicr, entendida como estudo das formas de uma
pouquíssimo material e com muiíssimo trabalho intelectuaì, aquelas perfeitas

I linguagem capaz de enunciar o set Bacon contrapõe uma lógica concebida como
ì
"'làra a irnlnssibiìrdixl<'cnr ,1trcsc crrcoìtra a lógica aristotéÌica de dar conta tla'situação", cll de C-
.{ Vian<r, Ia lolçìca di Aristotclc e Ia sci<.nza c<rrtenÌDranea', eln Giotmle dcgli lÌcononÌi.ttr, t95t,
"'\tttlcrson, i)l) I 9o-31
nD r-b
''
l'ìsta t x}rsiçirr tÌas rìríìrcrrçirs <ntrr liar rrr r .\rrstr'rÌck's v,grrt, <1rrrv,iì riv.rr r rlt, .\rÌ(l(Ì.s(Ìì, '' ('Ii
lÌ l Í)rJ 5'p tll, p ríss

,i-
teias de aranha, conservadas em suas obras, que são sem dúvida admiráveis peÌa umafilosofia semcontcúdns,quz crìa palntras novas e;faz con-esponàn essas
palnzsrasa
leveza do fio, mas frágeis e inaptas para o usoe. substânnas.É, porém, com relação ao método da escolástica que Bacon esclarecia
A inteira Íilosofia escoÌástica se parece, de taì modo, com a úrgem Scila: uÌteriormente as razões de sua polêmica. Este método consiste em propor
beÌíssima na parte superior do corpo, mas com o ventre circundado por monstros argumentos, em propor objeções a cada argumento e discutir, finalmente, essas
que Ìatem; as proposiçÕesgerais dos escolásticossão freqüentemente bem achadas objeções. resolução das objeções consiste porém, quase sempre, na listagem de
e bem expressas, mas quando se passa às distinções (ou se desce peÌo corpo de uma série de distinções. Disso deriva, segundo Bacon, a'vanidade" das doutrinas
Scila) depara-se com órgãos incapazes de gerar, e com aìtercações monstruosas da escolástica e este juízo se origina da convicção baconiana de que o saber
e que ladram (in*ad of afruì{ul znnÃ,for
tfu use and beneft of nnn.s W, thrl cientí{ìco tem caráter unitário e sistemático O ediíÌcio da ciência, escreve Bacon,
enl ìn monstruous altercatìons and barkìng quzstionr. Este caráter Ìitigioso e é simétrico, e nele as partes isoladas se sustentam mutuamente; a força de cada
disputatório da escolástica,além disso, tem contribuído para subtrair importância ciência consiste, como no conto do veÌho dos feixeg não em cada raminho, mas
e dignidade à culfur4 uma vez que os homens são Ìevados a desprezar a verdade no feixe de todos os ramoss. Nenhuma proposição científica tem valor por si só,
quando ela é envolüda por intermináveis controvérsias e, sobretudo, quando mas o tem apenas em relação à inteira série de proposições que está na base de
assistem ao espetáculo de homens doutos que combatem asperamente em volta uma determinada construção científica. A ciência é, sem dúvid4 capaz de resistir
de argumentos de mínima irnportância (ahout flibtilitiesfr. às objeções demasiado particulares (thz smallzr sort of objectioru),mas seú sempre
Desse modo são fixadas aÌgumas caracterÍsticas que Bacon considera típicas impotente diante da tentativa de discutir suas proposições tomadas isoladamente
da cultura medieval: aquela cultura é uma forma de degeneração,frente à soÌidez do contexto do qual fazem parte, assim como o feixe poderia facilmente ser
da cultura cÌássic4 tal degeneração se deve à ditadura exercida pelo aristotelismo desfeito por quem quebrasse, um a um, os rzÌmos que o compõem. A 'sutileza" de
e à pretensão ilícita de misturar o saber teológico e o saber científico e é que os escolásticos estavam abundantemente providos deve ser usada, ao
condicionada por uma escassaconsideração dos problemas da Íìlosofia natural e 'brigem"
contráriq diz Bacon, na fundação dos axiomas. Ela é útil na da ciência
por uma totaÌ ausência de saber histórico; isso levou os escolásticos a exercerem 'bbrigar
e deve ser empregada não para obrigar a assentir, mas para as coisas"s5(').
'no
vazio" sua inteligência. Nesse quadro da cultura escoÌástica, Bacon haúa retomado os temas que
A faìência da escolástica deveu-se - segundo Bacon -justamente à ausênàa haviam caracteizado a literatura anti-aristotéÌica e anti-escolástica do Íìm da
de m.aterìal sobre o qualfazer agir a inàngaçãortbsófca: se à sua inextinguíveÌ Idade Media, do Humanismo e da Renascença.Para Bacon tamMm, como pÍrra
'z sede de verdade e à sua perpétua inquietação espiútual os escolásticos tivessem Agricol4 Vives, Nizolio, Ramus, Patrizi, a escolásticacoincide com o predomínio
adicionado variedade de cultura e de informações, teriam podido dar uma do aristotelismo, com a redução do inteiro campo do saber à lógic4 com o
contribúção decisiva ao progresso do saber e das artes. A escoÌásticâ é, portanto, esgotamento das pesquisas lógicas a uma série de distinçOes que não conseguem
se transformar em ìnstruflEttos cognoscitivos e em meios capazes de efetuar
'" A acusaçãode ausência
de cultura histórica está ligarla estreitanrerrtcà de rerbalisnro,d<-
incapacidadcde unÌa ação prccisa lìa vida dos honrens Cornparenr-sc,
1nr exenr|Ìo, as aÍìrrnaçôcs
dc Baconconr as de Ludo'iro Vires, citadascrn (ìarin, r9íj r, p. 4? ì o nrcsrnotcÌna,entretanto,
"'C{ Sp lll, p esc
é rornum a unra interia literatura De notár'elirrteresscsão as linhas rÌo quadro csìrr4ado;xrrG
" ' Q r r a n t o à a r a Ì i a ç ã o b a c o n i a n a r l a c s < r r Ì á s r ic o ag
, cI lI ìu n t , S l ' . l l l , p l r t i ; Á d a . , ó ? - l l l , p p 9 s 5 -
\arrdé crn .4fologie,cit.,pp,16?-rìS s ' ì ; l ' - i l u n l t l t , ó ? l I I , p t ( ) 1 ;ì ? 1 s 9 , t 1 1 ; D j t , S f l , l Ì ) 1 i í . 3 - 5Q 5uantoàsutìlez.a,clNí)l
!'j Sobrt, estc toüa vcja-se,
Por exernPlq tiì Patriz.i, Dìsr. pu.ì\., Veletia, | 5t t, I, p 9+ l : lÌ . t 3 0
oPeraqõessobre a reaÌidade natural. Justarnente nesta literatura e na exigêncì4 sutiÌezas teológicas, a pureza e a profundidade da mensagem evuìngélicae a "fÏsica"
nela presente, de enfrentar probÌemas de "educação" e de "linguagem", havia de Aristóteles, erguida a metafisica, destruiu o sentido do divinoe":
aberto caminho o relevo dado ao caúter não instrumentai e não operativo das
Hm vero saecuÌo,non soìum sententiassup€r sententiasgignunt atque
sutis indagações lógicas da escolástica tardia: em Budé encontramos a afirmação
accumulant EccÌesiaeDoctores, sed universam quoque theologiam
de que a função do saber é a de servir de instrumento à vida humana "da mesrna
horribiliter obscurant et depravantse
maneira que uma máquina que ninguém sabe usar não é uma máquina, mas um
simples amontoado de metaÌ"; Vives, tão sensíveÌ aos temas de seu tempo, Â exigência de um discurso menos "caviloso" vinha se identificar com a
comparava os pseudo-dialótìcosa pintores que passam toda a sua vida preparando exigência de uma volta à pureza dos textos e à simplicidade da Íé. Nesse sentido,
cores e pincéis e a sapateiros que só Íìcam aÍìando seus utensflios, sem nunca na IngÌaterra, haviam se manifestado, entre outros, TyndaÌe, Colet, More'*, mas
iniciar a fabricação dos sapatos. Contra esta dialética inteiramente "reduzida a a esta mesma exigência haüa apelado Ramus e com ele todos ou quase todos os
disputas soffsticas"s Ramus haüa apelado para a união da dialética e da retórica 'religiosa"
"críticos" da escolástica:enhe reconstrução "cienúfica' e reconstrução
e para o patrimônio do senso comum: existe um laço indissolúvel: o renovado contato com as coisas, através da
expeúência, coincide com a volta à autêntica palawa de Deus'o'.
Dialectique est art de bien disputer et en mesmesensest nomméelogique; Já na nona de suasMed.itationzssanaz(r592), Bacon havia atingido a filosofia
car ces deux mots sont derivés de Ìogos,c'est-aìire raison, et dialegestae escolástica com a pecha de ser uma das três formas tÍpicas da impostura
(ôtctréyeoar) comme aussi Ìogizestae(loflOec0cr) n'est autre choseque
religiosa:'* as quìsquìIìazdos escolásticos derivam de seu gosto exasperado pelas
disputer ou raisonner,voire - qu'urr de raison,de laquellele rray et natural
paÌawas, de suas reduções de todos os problemas a uma série de distinções. No
usagedoibt estre monstré et dresé en cest arf?
Ádaatuemtntof Learningeste mesmo tema voÌta formulado mais explicitamente.
Este hecho, que por ser considerado ofensivo aos católicos foi eliminado por
Na linguagem da escoÌástica, Bacon também vê umjargão aristotéIico. A
Bacon da redação do De augmmtis'*, torna-se, ao contrário, importante PaÌa se
estejargão ele contrapõe, comojá haviam feito Ramus e quantos outros (retores
'l-rata\a-se
ou reformadores) que se moveram na mesma direção, a exigência de uma "-Cl Garirr, 196Ì, ì) -169 do llolto dc cncoDÌroeÌltre as exigêlrciasaratlçadaspclo
lìunranisnn e as da Rcforura Sobre esteargumentq cf D. Cantitlori, "Hurnanislnoe Lutcranisnto
linguagem clara e eficaz, capaz de reestabelecer os contatos com a corporeidade
dianteda llrolásticr Capar ['cttcct'',etn Roista deEsru]osGmnâluo.\',l[, r936 ,Acitaçãodc Cantinrori
das coisas. (p $9) ( <lallìstoia EaL Cntuia dzdnalqh4 Basiléia, 169+
I

"! Nesta í'1xrca,1rcrén, os Doutores da lgreja não alÉnas produzem c acumuÌanl itÌóias sobre
I z
I Mas graças a outro asPecto, e não menos significativo, a tomada de posição
idéias,conro também horrirclmente obscurcem e depmvam toda a teoìogia,
baconiana encontra-se estreitamente Iigada aos motivos mais caracterÍsticos de '* Cf, Carré, P hasesof Thought in Eilgland cìt., p | 83.
IN
t !
toda aquela literatura anti-escolástica em volta da qual, por mais de dois séculoq "" Trata-se do tcnraíirndamental da tnc<litaçaode VaÌ14 de ErasÌno, que torna muitos pensadores
t{
li orientou-se a cultura européia. A filosofia das escolas renegou, numa série de
dcssa épca outros tantos "rcfonnadores". Em Giaomo AcoÌìcio cstes Inotiltls aparecetn
lrrofirrrdanrerrteligados Cl. Aconcio, De ruthodo e opwolì.flosofd e ilìgtosi, org. G Radetti,
Iif<rrença,f 9+1,p 2o3;lì Rossi,(ììacoruÁcorrc,Milãq 1959,l)P logss;CD O'\'ÍaÌlc1,..laro/o
,4coueìo. Rorna, l9Í,Ír, l)p | 1:t ss,
-'Jíat- s.,.\'y'vlÍ, p e1{)

''",,lnìnadr- y'rìsl "" Iíuitas passaqcnsarráloqasa csta, pclas nìesnlasrazõc$,lôratn cìintittadas<latrarlttçãoqu<'


I, t;
'' I)iakctiqtr (('d I55r;), p l 1 r x ' t c r r d i a d i r i g i r - s c a o s h o n l c t t s < u l t o s d a t ) r r r o p a i t rP
t eai rr aa o l r u l e t e 4 u r g a l o r i t r s d c q t t e 1 ì l a
"'i o prtiprio l.lacon,ct. .57 L VIt- I) 1il6'

Õ.-- u.
compreender como tamMm a recusa baconiana da escolástica estava ligada a
o reaÌismo de Boeciq Alberto, Tomás e Scoto do nominaÌismo de Okham e havia
uma polêmica contra as tentativas de construção de uma teoloqia racional e
se declarado seguidor das doutrinas nominaiistas. Em grarde parte da literatura
contra as deformaçÕes da vida religiosa:
anti-escolástica da Renascençaestá presente a exigência de distinguir, no interior
dos séculos "bárbaros" uma variedade de motivos e de acentos, de sublinhar os
Tal como na buscada verdadediün4 a soberbadelesos mnduzia a deixar
aportes positivos dos Árabes, de Boaventura, de Roger Bacon'6. O quadro da
de lado os orácuÌos da palavra divina e a torná-la r.ã na mistura de suas
invenções,assim na busca da natureza eles abandonavamo orácuìo do filosofia escolástica traçado por Bacon não parece ressentir-se muito dessas
verbo divino e adoravam imagensfaÌsase deformadasque derivavam do preocupações; seu panorama é uniúrio e não diferenciado e, a não ser por um
espelhodesigual da mente deles ou dos poucos autores e princípios que breve aceno (nunca mais repetido) a Roger Bacon no Tttnpois partus mnsculus,
tinham recebido'* sua condenação atinge, sem exceção, todo aqueÌe período da história humana
que vira as obras de Âristóteles se tornarem matéria de comentário nas escoìas.
Mais uma vez a reforma da cultura coincide, em Bacon, com uma Também os {ìlósofos árabeg segundo Bacon, conEibuíram, juntamente com os
reforma na atitude do homem diante da natureza e de Deus À falsificaçao dialéticog para destruir a Íìloso{ìa da natureza e encheram de eÌementos fabulosos
da paÌavra de Deus, na vida religios4 a escolástica fez corresponder uma suas pesquisas de medicina'o'.
ciência falsificada. Também na discussão do método escolástico volta a De todas as tentativas de reforma da lógica clássica, Bacon limita-se a
tese da correspondência enhe as duas obras de corrupção. No saber científico lembrar a obra de Ramon Llull. O método lulliano, segundo Bacon, não passa de
(conforme foi ústo), Bacon úrmava que as partes isoladas do discurso se uma impostura metódica através da qual os homens que conhecem a terminologia
sustentam reciprocamente: os teóIogos acreditaram ilusoriamente que as de algumas artes conseguem a consideração dos conhecedores. A tentativa da
leis do discurso religioso poderiam ser as mesmas do discurso científico e simbolizar os elementos da realidade e as categorias, de estabelecer as regras
procurarÍrm reduzir a religião a um discurso sistemático e arquitetônico. o espírito que governam todas as possíveis combinações entre os sírnbolos, de criar, portaÌÌto,
sistemático, entretanto, e o desejo de perfeição e de acabamento levam, no cÍÌso a possibilidade de uma resposta a todas as questões potenciais, parece a Bacon
da religião, a um afastamento cada vez maior do genuíno sentido das Escrituras. mais "verbalÍstica" do que o próprio sistema de Áristóteles'o8. A doutrina de
O desejo de clareza resolve-se em ambigüdade: a vontade de ser breve redunda Llull, daqual haüam se vaÌido Pico, Cusano, Bruno, Agrippa e que não deixará
em obscuridades que requerem uma séúe de elucidações; estas acabam sendo <ie influir sobre o pensamento cartesiano, não parece ter agido de modo direto
1 / .
desenvolvidas e articuladas em múltiplos comentários, cada vez de maior tamanho. sobre a fiIosoÍìa de Bacon, mesmo que a'ÍìlosoÍìa púmeira" bamniana, enquanto
a
G. estudo das condições trascendentes dos seres (estudo do pouco, do muito, do
Aqueles primeiros escritos dos Padres que se tencionava expÌicar são, dessa forma,
i -
praticamente esquecidos'o5:o gosto pelas palawas destruiu a pureza da fé. semelhante, do dessemelhante, do possível, do impossÍvel etc.) tenha podido Ìevar
z
Ficino e Patrizi haviam contraposto ao aristotelismo da escolástica a pensar nos princípios gerais da arte lulliana (üficrmtia corcordia, anúrarietas,
parisiense a tradição do pensamento platônico; RodoÌfo Agúmla haúa sublinhado
a importância e o significado da arte de Llull; Nizolio havia distinguido clar-amente
".'(ìariD, Ìgfil, Ììp 1,76-r;
"'' NO I trì.
" " . . l d r . , S l tI -I l , p e s 7
' " 1 , . ' ; , , 5 7l l. l , t " ' ' D , 4 ó 2 I , p c 6 Í , l l s t e j u í z o c l c l l a c o n p a r < ' c c ' c a l c a t l o e n t u t r l t r í z o d c A g r i(pì 1
p -a. \ g r i p p a , t t ,
l ) l ) i s : l s í [ . ] s t e t r e l r o Í ò i i g l a l n r e n t e c l i r n i r r a t l o c rl )r -r y '
Ì)p .91-3ÍJ
pnncìpìun, mzdium"ftnu, mnioritas, eEulìtas, mìnorìtas)'*. Todavia, está ausente
As discussões baconianas sobre Telesio, Ramus, os breves acenos a
em Bacon o projeto, que será depois de Descartes e de l-eibniz, de uma ìinguagem,
Kepler, Copérnico, Galileu, Gilbert, Harvey aparecemestreitamente ligados
ou escritura, ou cáÌculo universal que possa serür de base para a solução de
aos problemas centrais do "método" e da "Íïsica" baconianos, ou devem ser
todos os probÌemas"n e mesmo a indagação sobre o pouco, o muito, o semeÌhante
ligados aos limites mesmo da posição de Bacon. Seria, portanto, bastante
etc., embora não lazendo parte propriamente do campo da Íïsica, não tem para
dificil examinar essas relações fora de um contexto preciso de problemas
Bacon um caráter lógico: indagar sobre o muito e sobre o pouco quer dizer
sobre os quais deveremos retornar
pesquisar por que, na natureza, a quantidade de certas coisas supera a quantidade
de tantas outrasr".
Muito mais compÌexa, conforme ter-se-á ocasião de ver, é a posição de
5. Ás característicasdo quadro histórico baconiano
Bacon em reÌação às doutrinas de Ramus e dos ramistas. No Tenporis partus

lr masculus, Bacon tinha declarado explicitamente que sua condenação do


Á importância desta "história da filosofia" não foi, parece-nos,
aristotelismo não o colocava de modo algrm no plano do "inovador" Petrus Ramus
suficientemente evidenciad4 peio fato de que, diante das críticas baconianas
I "perigosíssimo caruncho das letras que' com a estreiteza de seu método e de seus
a Platão, a Áristóteles, aos escolásticos os intérpretes geralmente seguiram dois
I sumários pressiona e contorce a reaÌidade". Entretanto, já no Valzrius Tnminus,
caminhos diferentes: ou se "escandaÌizaram" e acusaram Bacon de supeúciaÌidade
Bacon mostrava de aceitar duas das três regras ìógicas afirmadas por Ramus no
t: e de "injustiça" ou então (quem sabe justamente como reação a este tipo de
t: Praefatio ìn scholas phlsìcas. No Ádtancemer.t e no De augmentis eIe irá
i, interpretação) preocuparam-se em esvaziar toda essa "confutação" de seu vigor
r reconhecer explicitamente, mesmo tendo reservâs fortes quanto à doutrina do
polêmico. Para dar consistência a esse 'esvaziamento", de um lado deu-se ênfase
método, a substanciaÌ "utilidade" da tentativa ramista,'n.
aos "eÌogios" a Platão e a Âristóteles, que Bacon foi semeando em seus escritos,
e se sustentou que Bacon havia progressivamente atenuado sua polêmica e, por
outro lado, acentuou-sea presença de alguns temas de pensamento que deúvavam
'''CÍì G i'rcti, Il rrislututsìno unìtentb
tli G-G.Lrrüaii trIiìão-lìonrâ, lSliij.,,p ì() dos textos platônicos e aristotélicos. A tese dos "escandaÌizados"ou da "injustiça
"" As obrasde LÌull í'orarnrcimpr<'ssas na È-uropaiÌìtcira ì)oss(,culosXVI e XVII (llstrasbureo
Iriog; L)Ìon l5t5; Paris litÉi; r-urcnrl)crg t.5{6; Roucn 16.5t;Ilrurelas t{t65) Iìnt t500 era
de Bacon" parece-nos historiograficamente muito pouco relevante mesmo se
irìstituída,na Sorbonnc, unracátcdra dc Ìullisnru_Ouanto à diíìrsãorlcste,r eja-seo in)portarìtc ela, desde Maishe até Sortais, não deixou de ser sustentada por muitos A busca
artiqodcEA.Yates,"TheArtoÍ ÌìanronLlull",crn.lll1,XVll, l954,n l-9,pp lt5-79,quc de elementos de derivação platônica e aristotélica no p€nsamento de Bacon
é rrnr exanreda doutrina de I-lrrll a partir de uÌn lreÌìto dc *ista difererrte<ìodc prantl quc,
considerando a arte luìliana como urna " lógie pura", reaìizou eslbrços iuriteis para cornpreendcr apresenta, ao contráriq sem dúvida ulgr-", uma consistência muito maior e os
-
*í+-";:'' seu signifìedo Para ;rrcebcr a disúncia que, n6se poÌìto, rcpara Bacon de Descartes, devern resultados dessapesquisa não podem ser deixados de lado. Entretanto, Ânderson
ffi,
j:r':
ser lembrodos os interesrcs deste írltirno para onr o lullisnro, sua buscadc urna chare universaÌ
da ciência que irá se tralsforrnar, rpós libertar-se das complìcadas superestÌuturas sirnbóÌicas
- o único a trilhar este caminho e que sobre este assunto escreveu páginas muito

de Lìuì1,na idéia de rrnranratcnÌ.iticaurrivcrsal-


precisas - acabou por desconhecer completamente o sentido e o alcance histórico
'\'DÁ, s? t,p.5(,o do antiplatonismo de Bacon"'. Ele caiu no equívoco de interpretar o Tmeoris
"" TPII Sí, Ill, p rí3o; litl. Ti'rn. Áp Ílt, p. eB6;Ádt, Ár' III, p. a<t1:D,4. S? t.l) 668 Os
"suurários-são pcquerìostratados sobrc as artes libcrais conÌpostos
;xrr P. IÌarrrus: srholu nt ' ' llntreos dcferrsores da injtrstiça" ou tlo absurdri'dos atat;rrt'stJe Bacon, dcrcur ser lernlrados,
lìfurulesu Ízs.Ilasil('i:r. I 5Í)ít
rrl(,nr dc dc Maistrc c <ìc Liebig, tarrrÌrórrr Sortais, l)l) -2s9 ss Cìturclr (Íìaroa, lrÌì(lrcs, lslOs.
partus masculus como um desafogo poÌêmico e não se deu conta de que um Por esse motivo nada impede Bacon de reconhecer a "inteligência" ou a
confronto entre os textos platônicos e os baconianos, tendendo a lançar luz sobre "sublimidade do engenho" ou a "agudeza" ou a "obstinação"de Platão, de

os "débitos" destes úÌtimos, não tem muito sentido, c,rso se apresente isolado de Aristóteles, dos próprios escolásticos E este reconhecimento acabapor dar maior
uma pesquisa que pretenda aclarar o significado e o peso histórico do platonismo força à polêmica de Platão.
hermetizante e retóricq contra o qual Bacon teve ocasião de polemizar Afirmações quanto à "genialidadd' de Platão e de ÂristóteÌes recorrem mútas

No que diz respeito, finaìmente, à difusíssima tese historiográfica que insiste vezes nos escritos baconialos e um elenco cuidadoso de tais declarações encontra-se
em quase todos os liwos dedicados a Bacon. Esse reconhecimento eqúvaìe a uma
nos "elogios" dirigidos por Bacon a Platão e a Aristóteles, já se tentou esclarecer
admissão da perfeita coerência das doutrinas de AristóteÌes e de Platãq mas aquilo
que Bacon contrapõe (ou, ao menoq quer contrapor), aos discursos filosóficos do
que Bacon está interessado em atingir não é absolutamente esta coerência e sim a
passado urn now ryo dzflosof.a em cujo âmtrito aquzlzs discarsosn"ãosão legítimos
finalidade em üsta da qual aqueles discursos coerentes foram reaÌizados:
rcm possíaeìs.Esta Íìlosofia está fundada numa nova atitude do homem frente à
'* natureza e numa qualifrcação dos fins, das tarefas, da função da filosofia que é
Parecenos,portanto, que os homens devam ser avisadosde duas coisas,
radicaÌmente diferente (ou quer ser radicalmente diferente) daquela que, durante
para que nunca as esqueçamE a primeira é esta...que permaneceintacta
'"
seculos havia sido apresentada como conaturaÌ à pesquisa frÌosófica' Do ponto e inteira a honra e a reverênciapara com os antigos e que para nós é
de vista dessa fiIosofia "nova", aqueles discursos que foram levados adiante pela possível realiza aquilo para o quaÌ somos chamados,recoÌhendo o fruto
tradição, ilão estõn rradoq, são discursoseonstruídos tmlunçao dz certosfrc e sdn de nossa modéstia.Já que, se reconhecêssemos poder realizar coisas
justzmentz esses que Bacon recusa melhoresqueos antigos,prmedendopelo mesmocaminho,nenhum artiíìcio
frc
de palavraspoderia evitar o surgimento de um confronto ou de uma
competiÉo de engenho,de excelênciaou de epacidade em relação a eles;
p 39) Itntfe os outros, Irazio-AÌlrrrayer, pp, 15.1-.í.í, rcage a cste tipo dejuízo e pòc eÌn rcle\o contenda essacertamentenão iÌícita nem nova, ao contrário, justa e
unra contradição que <'-riste nas avaÌiaçõcs tÌc Bacon, que seria do'ida a uma duplicidade de permitida poiq comopoderÍamosrefrear-nose nãoretomar e reparar aquiÌo
'inenor
l)oÌÌtos dc \ ista Errr relação a Platão lrarcria o que eìc chanta de unta aspert'za" lissas que por elesfoi eroneamente descobertoe afirmado?Todavia, quem sabe
tcses.ParcccrÌÌ-rÌÌc Dtio accitár'cis, peÌas razõc,s c\fostas no tc\to Ì-e\i, P- :ì.í5! tcnta Inoslrar não tivéssemosforças suficientespara levar adianteaquelacontenda.Mas,
crlno ojuízo de Bacon r aì se abrandando e acaba, jndiretanìelìte, por accitar a tesc traclici<lral se nossatarefa é a de abrir um novo caminho,por elesdesconhecidoe não
(llre rìão teììÌìa se aproÍìurdado
Farrirrgton, l)- ljì12, \iu certo, nresn)o Quent insistiu cont tnaior tentado, a situação é diferente; cai por terra toda razão de ciúmes e de
'díridas"
precisão ra dc l3acotr para coln a lìÌosofia pìatônica foi Anderson, PP 127-31 Elc,
competiçãoe nossopapel é apenaso dos indicadores...
I eDtÌetanro, não eìtendeu o seltido do antipìatonisnto baconiano pelo fato de não sc haver

Preocupatloenrrercorìtraízd/PlatãoBacontoÌnoulosição NãofazntuitosentidoconÌpararos
textos de Platão conr os de Bacon para estabelcer débitos e ctéditoq sent ter ern Ìnente o Estas palavras pertencem à Dìstibutio operìs, mas os mesmos conceitos
signiíìcado do platorismo na cultura inglsa tla (1oca eìisabetana. haúam sido formulados com igual clareza em llcdargutia ?hilosophiarum'1'. Nâo
"uln novo tempo intciectual"
"' Eu âcredito que Bacorr (cnrbora não .rlxnas com ele) iniciou indicam mudança de posição nem de reconsideração, mas representam um
Aqui, lxrrérn, não calx coÌocar o Probìcrna nestcs tcrnìos e é.iustamente esta lòrnìLrlação qÌle
elemento integrante e constitutivo das crÍticas que Bacon havia iniciado no
trajlr taÌìt()s irrtérprctcs Não sc trata tÌc rcr sc a Íìl,rsoÍìa de Bacon ó rcaìrrtente Itor a" (à piu te
o Íàto d<' rltrc o protrlcrna, assitrt coìot ado, não podc scr resoÌr ido), ntas de cotnprrcndcr o lxltto Temporìspartus nuscalus e depois havia levado adiante, discutido e aprofundado
<lc r ista assrrnrido pr lJacon crn sua crítica à tradição Ninguénr diz que a rror itlade da ÍìÌos<Íia, durante a vida inteira.
taì conroaeDtctì(lclÌí!(on.dcracoinritlirc<rna rroridadc"tlrrcrrnrhìstoriador;xrrleatrtbuìrir
slr^ Ì)ôstcã() "n I ' h . . \ pI l l , p . r ; l i r l . t a l r l r ú Ì r l - t l t n l . d [ , . , . \ 2 l l l . l ) d i s : . \ ' í . , l 6 ì , I . - . Ì . . . ]

_.L.
Se não se quiser apenas querer dizer'acontecido depois de 1492"(ou em em reìevar o caráter de "novidade" daquela atitude humanística, energicamente
quaìquer outra data), a palavra "moderno" é certamente um dos termos mais retomada por Bacon, que quer situar as autoridades do passado num mundo
eqúvocos aos quais se possa recorrer em historiograÍìa; tanto é verdade que histórico determinado, acÌarar os limites existentes naquele mundo para,
recentemente e de diferentes Ìugares, tem sido reivindicada, muitas vezes de depois, mostrar de que maneira eìes se refletem sobre os homens que naquele
forma ingênua e tosca, a extraordinária "modernidade" daquela filosofia mundo atuaram.
escolástica com a quaÌ (por uma espécie de deformação mental) tiveram ocasião As considerações de Bacon quanto ao caráter da civiìização e da cuÌtura
de polemizar duramente e de modos diferentes Valla e Ramus, Bacon, Descartes dos Gregos, quanto às causas políticesociais do florescer da {ìiosofia poÌítica
e Galileu. A justa exigência de esclarecer o significado histórico das grandes junto aos Romanos, do triunfo dos estudos teológicos do primeiro Medievo, da
discussões Íïsicas da escolástica tardia, o esforço (sacrossanto)de libertar a sobrevivência das doutrinas aristotélicas; sua insistência sobre a pluralidade dos
historiografia medieval dos velhos esquemas centrados no dualismo trevas discursos filosóficos, sobre seu diverso significado, sobre sua diferente
medievais - luzes modernag transformaÌam-se, muitas vezes, numa "celebração" responsabilidade; a contínua conexão que ele quer entre fiìosofia e çiviliz2çie,
desinteressada da cultura medieval e redundaram numa anulação do sentido das frÌosoÍìa e conhecimento da história dos homens, filosoÍìa e conhecimento da
distâncias e das perspectivas históricas"d. No âmbito dessasinterpretações que terra surgem - a partir desse ponto de ústa - como o sintoma de uma profunda
sublinham o caráterde decadênciados seculosXV e XVI e que voltaÌn a encontrar distância que sepzìraeste panorama histórico dos panoramas da filosofia traçados
GaÌileu, Hume e Newton na fiÌosofia do fim da escoÌástica, a violenta polêmica por homens como Roger Bacon, que não deixaram de expressar com vigor
que existe no quadro histórico esboçado por Bacon e as próprias linhas desse incomum a crise do pensamento escolástico e se tornaram intérpretes de aÌgumas
quadro não podem esperar nenhuma compreensão Ele se configura como uma exigências vitais da cultura européia. De acordo com frei Roger, Deus revçIou a
especie de desafogo retórico que provém de uma imagem radicalmente falsa do
ÍilosoÍia a Ádão e aos Patriarcas; após o pecado ela decaiu e voltou a encontrar
processo histórico e de um desconhecimento das conquistas cientíÍicas da úÌtima
seus cultores depois, em Tnroaslro, Prometeu, Atlag Mercúriq Hermes, Apolo
escolástic4 realizado sob a influência dos "retores" e dos 'literatos' do Humanismo
e Esculápio. Renasceu em seguida com Salomão e foi finalmente aperfeiçoada por
e da Renascença.Mag na medida em que a tarefa do historiador não seja entendida
Aristóteles"?. Mas os próprios filósofos gregos, discípulos e sucessoresdos Hebreug
como a de ir procurando as pegadas da "injustiça.' de certas posições,mas a de ir
haviam expressadq mesmo que de forma confusa e imperfeita, a verdade da revelação
esclarecendo as origens, o significado e as influências de certas atitudeg será
divina- Demócritq Aristóteles e Plaüto participam da universal revela@o do Logos
difïcil não ver o caráter "moderno" do panorama histórico esboçado por Bacon.
e conheceram confusamente o mistério da Trindade Enfrn, Aúcena não apenas
Só seria possível, entretanto, considerar a de Bacon como sendo a primeira
participa dessa universal revelaçãq como chega até ao reconhecimento explícito do
tentativa orgânica e unitária de uma históiat todtn a daflosof4caso se concorde
absoluto poder espiritual e temporal do bispo de Rqra"8.
Âpesar da insistência de Roger sobre os limites da f,losoÍia aristotélica e
"" Errtre cssas interl)retaçõcs, destacanì-se, por *u intcÌcsse: J_ Nr>r<ìstrorn, Mq,en âgt el apesar de sua concepção de um saber em conlnuo progresso através de sucessivas
Rtraissunte, Parjs ìÍJ39; J lìouìcnger, "lr 'rai si<ìle dc ìa Iìerraissarrcc", <,n Ilumanistne et
Ilenuìssanz, I9.9r,pp Í)-:to;dcÌÌxrlosiqrriÍìcatirolì<rnsrinrcnto,lìciòrnraprotcstarìtcclìcÍòrD,a
'cllÌcsiana"
são acontttnados 1r'lo Íiatrcês lact;rrcs \faritairr- Mas rlcssas linritaçxics nãoÍògctÌ)
-fhorrrdike "'!ìstc quadro,ern Opur nnius (<d Ile$cf), lll, pp 5a-68
obras si'rias c<rrro a dc c a dc ;\ c crxrnbic, /lnúrrl (;ross?t?rlc att! tfu orìgiu: ,/
"" Para -{ristírtcìcst (\rilp Sludìì l,hilor, (cd Bc$cr) p +93; SãclilnÌ le(reloíunt (ed Stccle). pp
i: Iitlttnnenldl Sciut-r, I t(X)-tìU), OÌíi)r(l 19,;.1j Íì6-.9ï;l)ara,\ricena:(irr{r Phìlo:.1t 1t;Í';pÍrraPlatio: Sen-elvct?ktruilì (ctl Su'clc),115o

IJ
l{
integrações"e, ainda atuava, em alguns aspectos do quadro por ele esboçado, Nas páginas das Aristotzlicazanimadtersionzsde Petrus Ramus encontramos
aquela preocupação peÌos valores eternos e sobre-temporais que conduzira a expressa, por exemplq uma exigência que será tamMm a de Bacon: diante do
cultura medieval a achatar, numa única dimensão, o inteiro processo da história patrimônio que os antigos nos legaram, é bom certiÍìcar-se da origem deste legado;
humana e a considerar o tempo e a história como dimensões inessenciais Nesse diante das afirmações de Aristóteles, que fez questão de colocar-se corno ìnrentor
sentido, o entusiasmo apaixonado de Roger pelos Gregos, Árabes e Hebreus da lógic+ tentando destruir o que tinha atrás de si, é necessária uma obra de
redundava numa tentativa de confundir passadoe presente, de reduzir a variedade crítica isenta de preconceitos capaz de mostrar a inconsistência de sua pretensão
das posições à unidade inaÌterada das Escrituras,ro. e daquela tentativa de destruição:
Sob o impacto do enorme alargamento de horizontes que se seguiu às
descobertas geográficas e recolhendo o legado daqueles humanistas e fiÌósofos Ergo cum logicaeartis haeredìtastanta tamquecopiosanobis adeundasit,
da Renascença que haüa submetido a uma condenação sumária, Francis Bacon e o r u m p a r e n t u m , a q u i b u s d e s c r i p t a p o s t e r i se s t , n o m i n a , s t u d i a ,
havi4 ao contrário, traçado as linhas de um quadro histórico bem diferentg que instrumenta,monimentacognoscamus:exploFemusverum sit, necne,quod
Aristoteles de se nobis persuadere voÌuit, cum se primum logicae
iria se manter úvo durante muitos séculos, na cultura européia Nascia ele de
inventorem praedicavit. Ait enim in peroratione Organi logici, ante se
uma posição filosófica que, de um lado recusavaa idéia medieval - depois retomada rhetorica multa documentaextitisse; huius operis non hoc quidem fuisse,
por Pico e Ficino - de uma revelação originária atuante em todo o curso da sed omnino nihiÌ fuisse..'"'
história e, de outro, Ìevava à plena conscientização a atitude de crítica sem
preconceitos expressa na obra dos humanistas italianos e que havia sido retomada Em nome de um saber "civil", terrestre, voltado à atuaçãoentre os homens,
Delos "retores" do século XVI'"'. às regras que regem suas relações, à efrcácia de seus discursos, retores e
humanistas haviam contribuído para pôr em cúse um inteiro mundo cultural:
"" Opu s nuius III | |-1 Í; CoflÌp. fhiÌos, lt +9r) sua polêmica direta contra aristotélicos e platônicos, tomistas, neoplatônicos e
'o"
Cf, R Cartorr, I.'erférience ntstique the: Roger Ba{or, paris, ':
de I'illtauutioa ìnlitteurt I 99 1, p averroistas adquirir4 em muitos casos,o tom de uma polêmica contra a "ÍilosoÍia
396 .{ corìclusõcs clo ncsnto tiPo chegou tanrbónr'fhorndike (ll, p e+o), que rìão p(ra coÌn
certeza Inr exccsso de terrrura para corrr a filosoÍìa do lìenascirnorto
''' -.. nec pertinescamusreprehenderePÌatonem,AristoteÌem, Galenum,
Ào tcrta fìcirriano <la fu |'hìlorol,hìã está liqada a reprcscntação de Pitágrras, Sricratcs e
Pfatão conr<r Prcursorcs
Porphyrium, omnes interpretes Aristoteìis Graecog Latinos, Arabos eto
da |crtlade cristà (ì\{arsilii Iricini, Oper,t onnia,l}asilóia Iri;d,
l). iì66).
O rnoti'o de Pico tla pu phìlotophica cstá Profimdar'e.te Ìiqado a csta'isada. Cf, E. (ìarin, .Lo totm peneantiquitatem.. Per principia veritatis nihil aliud a nobis intelligi
slrÍ'ito cristiano di Pico della M irandola , ein Pa6ée humànìst? ct ttadd ion thrérierme, Pâris t 9 .ío,
nisi praeceptaquaedam,sive dogmata, sive documenta,sive monita sive
p. 1 ? 9. Sobre os nìesÌÌos tcnìas .olta rá Patt.izi cnt ]'{oaa de unìtersú phìlosophìa (\'eDcti is I igg) quomodocumque aliter appelÌare pÌacet ad recte philosophandum
recncontrando cm Plotino o inteiro mfz.s do saber tarìógio o tema dc urna revelação urrìr'rysal, veritatemqueinvestigandampertinentia, et plane contrariâ ad illis quae a
prererìte tatrìtÉnì ern Robert Fludd, écomlrtrr a toda a tradição lunrética. Veiam-sq
1nr exenrplq as Pseudophilosophisintelliguntur''".
citações de l)c lummia nwdi dc l-rancesco Giorgio Veneto, ern Testi umaústicì ntll'ctnelirno cit.,
'" "Portanto, unra rez que nos é rtc+essário
pp. 8{ì, 91, e as observaçõcs de C- Vasoli (úul, p. Sg). Crnìplctamente insuficicnte para csboçar a lrenctrar Ììa tão grandc c tão abrurdarte ltcrança das
lnsiçãobaconianaéobrocarrigodeJ.JCbss,"EBaconandthel.Iistoryot'philosoph,1,,rr<>roìurrre artes lógicas, conlrcçarnos os nomes, os estudos, os instrunleÌìtos e as obras dos pais delas:
sludìes it rh? Ilino 'of lúns,ctìunlia uniYcrsitl'Pre.ss, rÍl|8, pp. ri(!rì7. Á Prirrrcir-a h^tóriu (Ì,t irrr estìgucnros se é r'erdatìe ou não aquilo de que Aristótcles ros <1uist olì\ cn(cr a rr'spcito tlt si
'l-. 'fÌt uresrrro, quan<ìo sc prmÌarnou o prirneìro itrrctrlor da lógica. I'ois afirnra tìc, na Ì)croração do
líkrofia ent inqlôs í' a de Starrl<1; IIìíon ol' l)hìkxofh.t nnt,tutirtg tfu Ltou, OJnnìon:, .,lttìons
atul l)iscourscs of lfu PhìÌox['ìns o;[ ãpr-t '\iur, Irií;i. l-rata-sc dc unra rccìahrraqão Organon lcigico, que antcs dcìt'cristiranr rlÌuito$ (loclrlrcntos retórieos. ii{Ìtrtralro\ tìão s,; cssc
rìrs ,l'rrlar tìe
I)i<igcnes l-aórcio, arnlrliadas con t l)oulrìtt de I'heÍ,io dc Aìcirrcxr, os l)irursot aspcrto dessa obra, ntas taurbém qtte sitnplcsttrettte tcnha exìstido " lìanttts, p 9,
ltlotôtitot <lc Pico
tlcìla \Íir " rrenr l)retordalÌlos rcpreendcr ['Ìati1o, Âristótcì('\ Galeno, I'<trfirio, todos os iÌìta'rPxtcs
ancloìa, a I)tplìa4tio dus l)oulrints dc I'it,istttrr, dc Iìcrrchlìn c o: li:hr4r,. /,ìrrttìanu.t lc
grcqos,latirroscárabesdcAristótcles,cquaseto(lâaântiguitìatÌc Pcìosprincípiosdrtrcrdatlc,
Sexto l,ìnrpír-ico.
'ìcÌìl)üÌlìil ()utra c()isa prcrisa ser conrpre<'rrtlitla por trós a naìo scr aìgtttrs ptt'<eitos otr clogtrtas ou
São palavras de Mario Nizoliq cuja poÌêmica contra os 'pser.rdoÍìÌósofos,, Não quero minimamente diminuir a honra a que cada um deies pode aspirar;
apoiava-se justamente na exigênci4 que será tamMm a de Bacon, de defender o tenlìo tão-somente a obrigação de dizer, para consolo daqueles que não
saber das "sutilezas bárbams" e das pretensões de construir sistemas que pretendarn estudram, qug taÌ como ao úaja, aìguém que dê as ostas à meta a que se
chegar de chofre a uma unficação arbitriária Em nome de um saber "eficaz,,e de uma propôs e dela se afaste tanto mais quato mais e mais rapidamente proceda -
embora retorne depois ao mmiúojusto -jamais conseguirá chegr tão rápido
indagação'paciente', Bacon tamMm sentira-se levado a insistir no qrre se refere à
corno se não tivesse mtes mminhado de maneira algum4 assim, quem tem
pobreza substanciaì que se esconde atrás da aparente variedade das filosofias:
princípios errôneos, quanto mais os cultiva e se dedica com únco a tirar deles
conmqüênciag na crença de que se trate de um filosofar correto, tanto mais ele
Se me for coredido falar familiarmente e briner com um argumento desse
se afastará do conhecimento da verdade e da sbedoria . '"o
gênerc, direi que lossa ciênciaparecemuito com a ceiadaqueletal horyedede
Crálcisque,interrogdo quantoà origem de uma caçatão vriada, respondeu
Diferentemente de Descarteg Bacon haüa contudo considerado essenciaÌ,
que todosos pmtos havim sido prepaados com carne de porco doméstico,u,.
para a própria reforma do saber, um exame detalhado das fllosofias passadas, do

A convicção, poréu1 de que o mundq uma civilização e uma cultura haviam qual viessem a ser salientadas clararÍlente diferenças de posições, variedades de

entrado em crise radical e que havia começado uma nova época para o gênero motivos, responsabilidades precisas e determinadas. Desse ponto de üsta não

humano Ìevou Bacon à tentativa de aclarar e aprofundar as razões, as causase os devem ser esquecidas aquelas páginas do Ádaancemmt e do De augmtntis nas

motivos dessa falência- Nesse sentido, sua recusa movia-se num pÌano bem quais Bacon insiste energicamente quanto à necessidade de respeitar um método

diferente do de Descarteg que, ao contrário, visava libertar-se de vez de todo o de indagação histórica que apresente cada {ìlosofia do passado em sva ìnlegridzdz,
passadq em vista da criação de uma 'tiência universal que possa elevar nossa em seu dzsmaoluimmto e na relnção com os ttln/os que a geraram:
natureza ao s€u grau máximo de perfeição"','.
Uma obra a respeito das antigas filosofias parece-me ainda não existir
que tal empreendimento seja reaÌizado com as
Quem tenba aprendido mal tudo o que até agorâ se chamou Íìlosofia, Recomendo, entretantq
encontra-seem mellrcres condiçõesde aprender a filosofia verdadeira devidas distinções, de modo que cada filosofia venha a ser exposta
separadamente das outras e não baseando-se em argumentos e partes

Mesmo em Descârtes retornava, com imagens que nos remetem aprecisos destaqdas(d), taÌ como foi feito por Plutarco. C.om efeito, cada filosoÍìa,
i ? considerada como uma realidade integraÌ, sustenta-se sozinha e os
i z
textos baconianos,aquele conceito sobre o quaÌ Bacon haüa tantas vezesinsistido:
diferentes argumentos dão-se reciprocamente luz e vigor; ao serem
7 os discursos ÍìlosóÍicos do passado não são discursos errados, são discursos
l + separados soam de modo estranho e desagradáveÌ. Quando leio, em Tácito,
i -
construídos com vista a certos fins que devem ser agora energicamente recusados: as aç{es de Nero e de Cláudiq revestidas por todas as circunstâncias dos
l 2
, z tempos, das pessoas e das ocasiões, nada vejo que se afaste da
n
I
d@un-ìentos ou conseìhos ou qualqucr oÌrtro nomc quc se qreira dn. indiq*^írãl-ã
verossimilhança; quando ìeio m mesmas coisas em Suetôniq apresentadas
t\ -p
"o
filosofar corrctanrente e in\ estiqar a \ <'rdade,e prccisanrentco ioltrário rÌtrqrriìo quc é cntcn<ìi;<t
= yxrr a<lucleslrscutlofikisrÍirs.-Marii NizoÌii lJrjrcllcnsis, I)t t'eris parnÉ(, tjri9,
ltrincìprìs, Ì). Ì.
sem ordem cronológica, como fatc reparados um do outro, elas me parecem
cfl I'- lìossi, Ir ccl<'lrrazionc dcìla rctorica c la prìenrica arrtirnctarìiica ne1 Dt printìpns Llì pro<ligiosas e quase inacreditáveis- Entre uma ftlosofia exPosta em sua
'.
Mario Niz-ofio ctn l-o trisi dtll'uso dognolìn tldÌrt ug.ìentc,orp.._\. ljanÍi. ì\Í ilan. 19.;jt. ,\ ltlu's
textos cfÌr 7'cstìunanistici sulla rÍori<u cit., pp. .5;-9:2.
'"' CI: Sl, Ill pl) ''"I)cscartcs,
i(io-í-i1 I'ritcìpìaphiktsophia4praefA,citaçÁoltrrcedetrteètrradatlanrelrcionarlapr<'fação:
: '" I o títÌtl(),dclDis rnrxlifxado,da
prirm.ira<rliqãr>
do l)rwtrr sú Lr DÌ?thod?,I*i(lq\,t6:iì I-ellre de l'arlnr à ccluì qui tt trttluìt fu lit're.

I-
integridade e uma filosofra reduzida a fíagmentos e como que dissecada,
há a mesmadiferença.'-

O fato d€ querer valida.r novas exigências frente à cultura de seu tempo


implic4 para Baoon, a tentativa de acÌarar as origens daquelas orientações de
cuÌtura oontra as quais ele investe. Assim, a um discussão cítica da filosofia
platônica ataca aquelas posições que reduzirÍrm a Íilosofia a um discurso lÍrico-
retórico ou que oorromperam a severidade da ciência" deixando filtÉar, na
indagaçãq elementos míticos ou noçpes retiradas da esfera da úda religiosa; a
crítica a Áristóteles dirige-se a esclarecer as origens daquele saber contencioso e
arbihariamente sistemático qu€ r€dunda em ÌilDa insuperável limitação para o
progresso da ciência. A polêmica contra as filosofias herméticas e os ideais da
Inagi4 contra a tultura escolástic4 conha o humanismo ciceroniano aparece,
assirr! indissoìuvelmente ligada à confutação'baconiana" das fiIosofias.
Nodecorrerdestecapítulo procurei mostar como esta obra de "confiltação"
tem.rìma linha púpria de desenvolvirnento e como coincide com uma obra de
aprofundamento progressivo
das acusações formuladas em Tenporis ?artus
ntasauhs. Procurei tamMm mostrar coÌno essas acusações foram adquirindo um
sentido pneciso, em ústa da situação cultural que Bacon pretendia modificar.
Não é por acaso que aquelas fiIosofias que terão ocasião de polemizar, embora
em situações históricas diferenteg contre o espÍrito de sistem4 a redução das
'coisas" 'firmarento"
a' palavras", contre o caráter das erupções retóricas que
corrompem os discursos humanos, retomâÌão, consciente ou inconscienteÌn€nte,
as linhas frrndanrentais da história da filosofia escrita por Bacon. Tender-se.á
z
noramente a reavaliar o natrrali$mo dos pêsocrático's, a insistir sobre o caráter
dereação aristocráticado idealisrroplatônie,asepararoÂristóteles'naturalista"
'metafisi€o",
z do Aristóteles a confâpor ao saber "disputatório: da esolástica
-) medieval aquele ïpo de cultura que, enbe o firn do Trezentos e o primeiro
Quatncentog firrnou-se na Europa.

''1 Dr|,3Í, I, p. !,6+; rt.t!, Sp.lll, pp 565-66


As Íábulas antigas

I. Líteratura mìtológica e alegorizante


dos séculosXVI e XWI

No capítulo ügésimo segundo da segunda parte do hm QuLxote(escrita,


conforme se sabe,entre 1605 e 16lí1), Cervantes satirizava ferozmente a figura
do humnnìstn embebido de uma cultura inútil, pretensiosa e atingia, ao mesmo
tempo, um gênero literário que havia alcançado, na Europa quinhentista e
seiscentista, uma incr{vel difusão:

üRí{iii\,{,i,; No caminho,perguntou Dom Quixote ao primeiro de que gênero e


ilaia Ce quaìidade erim seusexercíciog sua profissão e seusestudos;ao que ele
Pioí ía); respondeuque sua profrssãoera ser humanista; seusexercíciose fftudos
% eram cornporÌiwos para serempublicados,todos de grande proveito e de
Curr.o:_tt,/&yú não meÌìor entretenimentopara a República;que um delesse chamavaO
Discicijn:r. lìwo daslibrés,em que estavamdescritas setrcentase três librés conì suas
í)t.J.Fágiri cores,mota e divisas.AÌi os cavaleirosda corte podiam escolhere pegar
as que qrriressem,em tempos de festa e de divertimentos públicos,sem as
i, ir;l-:i-1et ie;
irem mendigando de ninguém, nem aìambicando, como dizem, o cérebro,
O discurso que Cervantes punha na boca do .primo humanista,,
para encontrá-las conforme seus desejos e intenções e as
Porque dou ao ciumentq
respectivas considerações de Dom puixote e de Sancho têm um varor particurar
ao recusado, ao esqurcido e ao ausente as que
lhes convêm, sem tirar nem pôr. Escrevi também outro livro que vou não apenas porque expressam a atitude do autor frente a certo tipo de literatura,
chamn Metamfose ot Oaídìo espanhol um livro de invenção originaÌ e mas, principalmente, porque vão reveÌando com precisão os três
tipos
bizarr4 porque nele, imitando Ovídio burlemamente, conto quem foram a fundamentais daquela tradição aÌegórico-mitogrráfica de origem platônica,
estãica
Giralda de Sevilha, o Angel da MadaÌena, o Esgoto de Venciguerra em e neoplatônica que, através de vários escritores medievais e da Renascençachegará
Córdoba, os Touros de Guisando, a Serra Morena, as fontes de lcganitos
ao seu maior florescimento nos fÌns do século XVI, até assomar,junto com Bacon
I e Iavapiés em Madri, sem esquecer a do Piolho, a do Esgoto dourado e a
e com Vico, às portas da época moderna.
da Priora; e tudo isso com suas alegorias, suas metáforas e translações, de
liì o Lìno d^aslibrés lá estava para indicar aquera literatura iconográfica
modo que divertem, interessm e ensinam ao mesmo tempo Ainda tenho e
!'l outro ìivro, que chamo Suplzrunto a Virgílio Polidoro, que trata da inlenção emblemática do tipo do Em.bbmatum tìber de Alciati (rssr) ou da difusíssima
das coisas e é de grande estudo e erudição, porque todm as coisas de grande Iannlngiade Ripa (t593), cujas complicadas figuras funcionavam como um
véu
consistência que deixou de dizer Polidoro, eu as averiguo e as declaro com para esconder as verdades filosóficas e morais das quais realmente, na
Europa
estilo gentil.Vìrgflio, por exemplo, esqueceu de nos dizer quem foi o do Quinhentos, era tirada a inspiração para a organização de festas,
de
primeiro que teve catarro no mundo, e o primeiro que fez uso das unções
divertimentos públicos, de bailes de máscaras,.
para curar-se do mal fi'ancêg e eu o estabeÌeço definitivamente e o confiro
Os tratados aÌegóricos dos mitos clássicos e os iguaìmente numerosos
com mais de vinte e cinco autores ..
que se motivavam nas Metamo4foses de Ovídio haviam surgido
Sancho estabelece, por sua conta, que o primeiro
ininterruptamente na Europa, desde o começo do século XIV Livros como
a coçar sua cabeça foi
Adão e o primeiro a dar cambalhotas, Lúcifer, quando
o Metamnrphosìsoüdüna moraliÍer eqLafiafn de Thomas Waleys (r5rO) haúam
foi atirado ao inferno; e às
repreensões de Dom responde ele:
se difundido pela Europa inteira: de MiÌão a cambridge de Franldurt a Lyon.
Quixote,
Na Espanha' em r59j, haviam sido publicadas (em Anversa) I-as tranformaciotus
- Ficai caÌadq senhor meu. que por minha fr, se me ponho a perguntar e a dz Oaídio em lzngua espafrolaeon las allegorìa.r e, dez anos antes, em Madri,
a
responde4 vou lelzr até aÌnanhã de mmhã. Si4 pois paa perguntar bobag€ns Philasophia secteta de Juan Perez de Moya (haviam saÍdo três edições, até
e responder disparates não tenho pruisão de ir buw ajuda de vizinhos! - l6l1)3, que, retomando explicitamente a Genealogia dzorumde Boccacio e as
Mas tu faÌaste, Sandrq melhor do que comporta a tua dounina - dis Dom Állzgoriae poeticae de Albrico, tinha entre suas fontes diretas justamente
a
puixote- - Poryue é verdade, há alguns que se afrnam ao estabelecer fatos que,
Mltologìa sìoc etplicatìonumfabularum lìbri decen (Aldo, Venetia, l55l) _
depois, de sabidos e averiguadog não são de nenhma utilidade nem para o
justamente o livro de que se valerá, como de um manual,
entendiÍn€ntq nem para a rnemória'. Francis Bacon,
para a redação de De Sapientìa úeterum.

{
'ClJ. IJurckìrarrit,Á0iatli:açãodalÌ,tusr:ençuildltálid Íad it Irlorença,ì899, Il,pp tJsss_;
'M Ccrrznteql)ozChieiorÍ"dcllQManci4trad
it dcIÌGrlesi,Milãq t9.i0,pl) r?r-;(i OstKlros Cassircr,l) ) l9
cfìr Ftrtuquês lôranr grr nós traduz-idos<le Iìl Ingeaìon l{úlafu Dot QtijúL I)e ltt lldndn, de 'cï E I{ Iìanrl,
outd dnd hÀ lrflrenre,l,ondrcs, rÍrrti: R Sclrcrilì, oaì(Ì etÌd rfu lÌctuisstnrc ìn
Migucl de C<rrantcs Saar<{ra, E<ìitorial [,]rercst,IftrÌ, l9ì t, pp- 5t,t-J]Í) ^S2dòÌ,
Berkelc\l t9lÍJ

I
ii
il
u.
Ao lado das tentativas de aÌegorização dos mitos (tentativas não
os segredos da natureza, a descida de Cristo e a fundação da lgrejau, sendo que a
desdenhadas pelo próprio cervantes, sob a influência direta do neoplatonismo
obra de Poliziano se lig'ará com a escola platônica.
italiano, através de I-eone Ebreo)n o autor de Dom
euàxotz atingia com força Já em Valla, entretanto, que havia representado em ApoÌo a pré-ciência
particular também aquela literatura de inspiiação evemerista que via nas
divina e em Júpiter a onipotência, manifestala-se aqueìa substituição por formas
divindades do mundo clássico os precursores da civiÌização e que interpretava os
simbólicas concretas das expressões abstratas do pensamento que Cassirer
relatos mitológicos como histórias de personagens realmente existidos e os
considera essencial para o modo de pensar úpico dos homens da Renascençad
acontecimentos reais enfeitados pela imaginação divinizante dos heróis Em Dos
Para Giordano Bruno as idéias só podem ser expostas após terem sido
inuentores das coìsas(14,99 e tradução de r59e), sobre o qual o hum^anistade
incorporadas em imagens: "para este tipo de cultura- escreveCassirer - a áÌegoria
cervantes quer escrever um suplemento, Baco aparecia a polidoro virgflio como
não é um compÌemento exterior, uma veste ocasionaì, mas se torna, antes, um
o descobridor do processo de fabricação do vinho, Mercúrio como o mestre do
veículo do pensamento. O mundo dos antigos mitos podia assim, em Bruno,
alfabeto dos Egípcios, vênus como a que ensinou as artes do amor às cortesãs e
invadir o próprio pensamento fllosófico, assumindo um va-lor dominante"?.
assim por diante.
Limitar-se a salientar aspectos individuaìistas, imanentes e naturaÌísticos
As origens imediatas dessa grandiosa difusão da literatura mitoÌógica que
da cultura da Renascençasignifica barrar o caminho a quaÌquer possibilidade de
caracteriza o século XVI na Europa podem ser facilmente verificadas na cuÌtura
compreensão. C-onforme foi sublinhado no devido tempo, muitos dos temas que
da Renascenç4 em geral, e no humanismo itaÌiano, em particular. A extraordinária
os pensadores desse período tiveram ocasião de en{ientar eram característicos
importância atribuída pela escola platônica ao método hermenêutico e à maneira
de uma tradição cultural muito antiga que teve seus representantes mais
que os pensadores da escoÌa de Ficino tinham de proceder continuamente por
conspícuos justamente na ldade Média.
signos, imageng alegorias foi salientado várias vezes.
'Era A grande corrente mitológico-aqumlógica do Medievo prolonga-se durante
hábito dos antigos teóÌogos esconder os mistérios divinos com
todo o decorrer do pensamento da Renascençasem que, peÌo que se refere aos
símbolos matemáticos e figurações poéticas para que não fossem
conteúdos culturaig se verifique alguma repentina fratura O CommhLrio de
temerariamente divulgadas a todos": assim escreve MarsiÌio Ficino e no mesmo
Sérvio é impresso seis vezes, entre l,t?o e t475; a obra de Macróbio alcança
plano se moüam as Disputationzs camald'bnses de r-andino, que encontravam na
cinco edições,entre 1522 e lí42;Marciano Capella tem não menos de oito ediçÕes,
Eneidzahist6rn ideaì da alma humana e a exaÌtação da vida contemplativa (Enéias
z indicava a sabedori4 Tróia a sensualidade, Juno a ambiçãq Dido a vida ativ4 e a
viagem a Cartagq a passagem da üda ativa à contemplativa). Do mesmo modo, 'Sobre o significado da aÌcgoria e dos sírnbolos na
esoìa pÌatônica: P NTonnier,Lt Quattrocznto,
o HeptaplusdePico della Mirandola üa representados aìegoricamente no Gàusìs Iausanne, l90l,pp lj2?ss;If,rnmi,lÌ) t,Flgelassinq,P.O KristeÌ.ler,OPeuamcnto.fìlosófrcde
z ilfarsìlio F-ìrìno,trad it Fìorença, 1953,pp 136ss; E. Garin, L'Llnancsìrno italiano,ftlorc;fiac dta
tìaile ncl Riturimcilto,Baà t952, pp t90 ss-;Garin t954, pp 66-89
* Na Garlztea, " C a s s i r e r , pì í 9 I . ì ì ' a t e s , c n ì ' f h e . F - r e n c h Á r a d m m c i l , p . Ì s l , i n s i s t c i o s r a r D c n t c n a i n ì l É r t â u c i a
sob cttja figura erant rel)res(Ìrtâdosconceitoscara(tcrísticosda doutrina d{) anì(ìr
rla lrrrxÌrrçãoartístic<rìiteráriatlc rìpo alcgórico c cnrblemiiticoCf. \V \\hetzoldt, Düra and hìs
F dc kone llbrct, CcrvantcsjustìÍicava-se "haber rnescla<.Ìo razoncs<ÌcÍìÌosofìagrtrc aÌgunas -fiar,,
lxrr tra<ì Ì)c Iì Iì Íìoothrod, I-orrdres,19.Ío,p 63; R .l Cletncnts.''IconograPb_r' orr thc
anforosasrle pastorcs". IìssenciaÌé o 'olurnc tlc Í ü'zncc. c't. Ní. t'raz, stut!tesú
sr-..itteeillt Natrrrc ard lns;rrratiouol Poctr,r.inlìcnaissanceEurblenrI-iterature",cm P:lÍL.d tY l9iJ, pp
Centun Iuagen',LoÌì(Ìrcs, r 9:i9; I'l r\ \'atcs,7'fu r'ienit .'r.aieniesrl lfu sbruuth ccnrutr, Lrr<Jrcs,
; b I - s ( )I
Ì Í 1 4 7( c Ì n p a r t ì c u l a r o; c a p V I I I ) -('assircr.
l)ll l,2l c l.í9
I
ht
entre lÍ1,99 e 15998;os textos mais característicos da cultura alegorizante do antes de Cervantes ridicularizar um gênero literário de antiqüíssimas tradições
Medievo continuam sendo reimpressos e lidos, apresentando-secomo eìementos (e em piena moda na época dele, quando Bacon se encontrava imerso na redação
fundamentais da cultura. de suas interpretações aÌegóricas dos mitos), fazendo surgir em cena o pedante e
Conforme acontece no que concerne, em geral, a toda a cultura da douto humanista montado numa égua prenhe, não faltara quem, não menos
Renascença,a mudança de perspectivas dizia respeito não apenas aos conteúdos ironicamente - embora sem o mesmo sentido de humorismo - satirizasse
culturais, mas à forma da cultura'. Os mesmos mitos, já vivos no pensamento da asp€ramente a pretensão de redescobrir nos mitos uma série de significados
Idade Média, são interpretados segundo sentidos diferentes que indicam, alegóricos ocultos:
justamente, uma muCança radicaÌ de atitudes. Na interpretação dadapor BovilÌus
do mito de Prometeu'u nota-se uma mudança significativa quando comparada Croiez rous en votre foy qu'onques Homère, escrirent I'IÌiade et l'Odysée,
pensast es allégories lesquelìes de luy ont calfreté Plutarche, Heraclides
com a de Tertuliano, Lactâncio e Agostinho: conforme escreve Cassirer "não foi
Ponticq, Eustatie, Pharnute, et ce que d'iceuÌx Politien a desrobé? Si le
necessário modificar o conteúdo, bastou deslocar um pouco o acerúd"'. Tal como
tíl croiez, vous n'approchez ne de pieds ne de mains à mon opinion, qui décrète
Seznec, defensor de uma rigorosa continuidade entre Medievo e Renascença, iceÌles aussi peu avoir esté songées d'Homère, que d'Ovide en ses
teve de reconheceç tamMm aqui, neste particular aspecto da cultura, algrlma Métamorphoses les Sacramens de Ì'Evangile'" {").
coisa mudou: a facilidade, toda ela medieval, de uma conciliação imediata, a-
trst il possibÌe que Homère aye voulu dire tout ce qu'on ìuy faict dire: et
históric4 entre mundo cristão e mundo pagão não é mais possível; a Renascença
qu'il se soit presté à tant et si diverses figures, que les théologiens,
percebe o antigo como outro, como algo diferente de si: daí a luta para conciliar Ìégislateurg capitaines, phiÌosophes, toute sorte de gents qui traictent
iil
/ori mundos, sentidos como irredutíveig daí a nostalgia de um mundo scienceg pour diversement et contrairement qu'ils les traictent s'appuyent
irremediavelmente desaparecido". de luy, s'en rapportent a Ìuy? maitre général à tous offrces, ouvrages et

liii
artisans; général conseilÌir à toutes entreprises: quiconque a eu besoin
Entretanto, a consideração que o pensiÌmento do humanismo e da
d'oracles et de prédictiong en y a trouvé pour son faict, Un personnage
Renascençateve para com o passado foi, em outros setores da vida cultural, mais sçavanL.- s'est merveilìe quels rencontres et combien admirables il y faict
profundamente revolucionária em relação à hadição. A grandeza de VaÌla e dos naistrg en faveur de nostre religion . ce qu'iì trouve en faveur de Ìa nostre
que atuaram na direção indicada por ele deve ser üst4 justamente, num novo plusieurs anciennement I'avoient trouvé en faveur ds leurs .''(b)

sentido da história e do tempo que permite considerar as culturas passadascomo


aÌgo que, em lugar de ser submetido a discussões abshatag deve ser localizado  energia crítica presente em argumentações deste tipo não nos deve
c
no tempo, deve ser visto numa dimensão de historicidade. Istq em relação ao conduzir a enganos: não apenas elas não tiveram a força suficiente para se oporem

mundo dos mitos, não foi feito pela Renascença, nem teria podido sèlo. Mesmo à cada vez mais ampla difusão na literatura e na aÌte européia do gênero
z aìegorizante, mas nasciam elas mesmas no âmbito de posições tóricas não isentas
-
*Seznm, p 199;\'ates,p tgt
'" RaÌrclais, Gargailua,
" ClÍlGarin, r95+, pp e0 ss Prclogue ctt Onrur-tt, F-lalrnrarion, [)aris. s- d , I , l) I6
'o lìor ilÌrrs,O Súltìo(l I Sapientz)org Fì Garin,'Furirìì, I 9.1:i,pp 36-3? -mhadores"d<'
" Montaigne, Ìlrwl.r Il, t 9 O nrcsrno x'ntido de ìronia diante tl<ts alegorias gxìe ser
ì ' C a s s i r c r ,p l 5 z trtcontrarlotruntlorrgasi'ricdcarrtorrs,incÌrrsirtrtaliarros.dePctrarcaaról)ulcr UnraclaratlcÍìrrição
r'!
$q211c,ç, Ìì 99o <los tlilèrctrtes ti;ns tlc aÌcgtr ia gxìc scr cn<<rrtrada crn São'lìrn:ir Str/Ìrld, Oucst Ì, art lo-

iii
ii.
de incertezas e de oscilações,justamente em reìação àquelas teorias que eram evemerista de tom especulativo e edificante, típica de tanta paÌte do pensamento
criticadas. Assim, Rabelais não desdenhava serür-se, na redação de sua obra- antigo, medieval e da Renascença, que visava, através da descoberta de uma série
prim4 de Macróbio e de Textor'5, enquanto Montaigne não ap€nas manifestava de signifrcados alegóricos, transformar o mundo mítico num mundo logicamente
sua grande estima pelos compiladores de manuais mitológicos'u, mas chega.vaa signiíìcante:
aderir àqueles mesmos pontos de vista sobre os quais havia ironizado;
A sabedoria poética, que foi a primeira sapiência dos gentios, teve
I : p l u s p a r t d e s f a b l e sd ' E s o p eo n t p Ì u s i e u r ss e n s e t i n t e l l i g e n c e s : que começar por uma metafísica, não arrazoada e abstrata como é
ceulx qui les mythoÌogisent,en choisissentqueÌquevisagequi quadre esta, agora, dos doutrinados, mas percebida e imaginada tal como
bien à la fable; rnais pour la pìuspart, ce n'est que le premier visage, teve que sèlo pelos primeiros homens, tais como eÌes eram, de menor
e t s u p e r Í ' i c i e li;Ì y e n a d ' a u l t r e s p l u s v i f s , p l u s e s s e n t i e l se t p l u s raciocínio, e todos robustos de sentidos e de mui vigorosa fantasia
internes,auxquelsils n'ont sçeupénétrer'tG) - - eÌes fosfilósofos] deram às fábuÌas interpretações Íìsicas ou morais, ou
metaflsicag ou de outras ciências, conforme o engenho ou o capricho
Na reaÌidade, ao Ìado da mudança das interpretações, para que acendesse sua fantasia; de tal modo que eles logo, com suas alegorias

passassem a responder melhor ao novo espírito e aos novos problemas, no eruditas, fingiram-nas nas fábulas, cujos sentidos doutos os primeiros
autores daquelas fábulas não entenderam, nem o poderiam, devido à sua
pensamento da Renascença havia ficado sem mudança alguma o postuÌado
tosca e ignorante natureza: ou melhor, por causa dessa natureza mesma é
fundamental de que os mitos pudessem exprimir verdades ocultas, ou seja,
que eÌes conceberam as fábuÌas como narrativas verdadeiras das suas
que eles fossem - em outras palavras - não fenômenos históricos, coisas divinas e humanas
Ìocaliáveis historicamente, mas o maravilhoso espelho de uma sabedoria . Devido a tal descoberta dos princÍpios da poesia esvaneceu-se a
desaparecida. opinião da sapiência inalcançáveÌ dos antigos, tão desejada de ser
Ápenas com Vico as reservas críticas deveriam vir a adquirir plena desmberta, desde PÌatlÍo até Bacon de Verulamio, De salízntia uterurÌ\ a
qual foi sapiência vulgar de legisÌadores que fundaram o gênero humano,
consistência, até redundar na tentativa - radicalmente revolucionária frente
e nãojá sapiência ocuìta de sumos e raros fiÌósofos '3
à tradição - de uma localização histórica dos mitos, de uma reconstrução
daquele primitivo "mundo mágico" do qual os próprios mitos constituem a
Até o final do seculo XY a Gmealagia dzorum de Boccaccio haüa sido o
expressão,Âpesar de envolto em incertezas e contradições, este conceito - fecundo
grande repertório mitológico do qual haüam haurido os homens cultos. Mas, na
em resultados e essenciaìpara o próprio delineamento de uma indagação histórica
série de obras ligadas à tradição de Boccaccio e ao platonismo da Renascença
das civilizações primitivas - era progressivamente iluminado pela meditação de
que invadiram a Europa do século XYI, o De dzis gentìum de Giualdi, a Mìtholagta
Vico e eliminava, na raiz, as razões de existência daquela literatura alegórico-
de Natale C.o.nti e as Immagini deYincenzo Cartari aquiriam (conforme explicou
Seznec) uma inportância fundamental'e. Desses livros de fácil consulta e já
'o J. Pltnard,L'uuztre tle
Rabclais, Paris l9Ìo '" G lì Vicq l.a scim nuw,
'nSczneçp t98; orn IÌ Nk.oÌini, pp 37.i. slì+, c Srì.Dttrnw prin4p 9gg.
I1 Viìlc1',.5'ozrrrsctá-|olutìondesl)s.çaistfuìl[ontaìpu,paris,t9{)ti;I.ìA
Ir. l)icckos;
J l:hn iu lìtglìsrhc IÌeberterznngdes Essoisríontuistet urul Lord llanus, IJanJonout unl lìobert "'Clì Sezncc,pp l9l, t98 ss De dàs goiìun wrta et nultiltlt.r hzstorude Liìio Grcgorio GiraÌtli
Il ur hn ç l'erhoelt t i ss : u )ío il r ìgtn. l.lstrasl)(rrgo, I 9oi, tiri lrulrìicado errrlìasiléia(c)lnrirrus) crn I 54rì; a obra dc n\ atala contì, Mytologìaesioeetplít atiownt
'' Nlorrraigtrc,EJJrÌ/r fìtbulorunlihridcrcnsaincrnVcncza(,\lde o r) n t J 5 t ; s e m j ) r c c r n V c n e z a ( M a r c o Ì i r r i ) , e n r l . 5 r í 6 ,
IÌ, t()
firrarrr lrulrììcadasIt innadnì rcllo sfotì=irne dcgli dìì legli ,tntìthi dc
transformados em manuais de uso tão corrente que nem era mais necessário Bacon, tamMm George Chapman receberá a inÍÌuência da obra de Ficino e da de
mencionar, os doutos europeus tiravam as informações referentes aos mitos Natale Conti", enquanto Robert Burton - cuja Ánatoffi! of Melaneho$ é
do mundo clássico e as pistas necessárias para sua interpretação aÌegórica documento bastante signihcativo de um cÌima cuÌturaÌ - reconhecerá
das antigas fábuÌas'o. explicitamente a importância da obra de Cartari. Precioso e preciso testemunho
A erudição mitológica que exibem os escritores e os poetas da Inglaterra da extraordinária difusão dessesautores itaÌianos na Inglaterra são os versos de
elisabetana provém, de uma maneira geral dessasfontes italianas'' . Ao lado de Francis John Marston, reportados por Seznecer,graças aos quais se vê claramente o
caráter de prática e cotidiana consulta que haviam adquirido as referidas obras.
Na produção artística e na liteÌatura pedagógica, na Íiloso{ìa e na po€sia
Vinc<,nzoCartari-Sobre os oLltrosrnanrraisdc uso corrente e sobre sua ditìrsãoCf. Sezner,plr
-festor- encontramos o gosto peÌo discurso alegórico e pelo símbolq pelas imagens que
Ì99 ss As obras tündanrentaissão: Rarjsrus Oficìnaparlun historicís,partínpoelìcìt
referta disciplinìs, Basiléia, t5o:ì; I{errnann Torrcntinus, F)lutìddrius catniuun ú hisÍoriarunt escondem ou TalmncnncÊitos e verdades. Na carta a Sir WaÌter RaÌeigh que precede
'fheologid
ul iru-ubulariutluticus contìuns,fübufur, l'lstrâsbrrrgo Ì rf I o (?); G I>)ct<tr, trr'lhologiu. a FarrìzQrcau(t589), Spenser-em tantos aspectosele tamMm ligado aoplatonismo
Freiburg in Breisgau,I 599
'" 4 rrspeito de Conti e (ìirardi, clì (ì 'I'iralxrscìri(crÌ- Ì9t9), VII, p1r s5.1,t+6Ì; s19, florentino - fazia uma referência explícita ao caráter alegórico de sua poesia
1.986-.\
$l hologiude Conti contou, entre I .t5 I c I íj,.Ì?,conr dez-elore <rliçòes,trôs das quais em Veneza,
qtratro em Frmkfurt, três eln Paris c rrrnaern Gcrrcbra,Lyor, lìassau e Pádua:na l-rança, a tradução Sabendoquanto as alegoriaspossamser interpretadasde modo duvidoso,
cleJ dc \Iontìyard era publicada enr Paris. L1on, lÌruen e, rror-arnente, Paris Âs lzzagziii de Catari e sendoestemeu Ìivro que intituÌei A raìnhadufaduuma alegoriacontínua
Íòram e-ditadas, de 1556a 1699,\iDte c quatro \czes:*te enl VetÌeza,quatro enì Piidua,e uma errr ou um discurso veÌado,pensei fossebom esclarecero desenhogeral e o
l,yn, enr italiano.Ali tamMrn foìpubìicadaa c<liçãolatina,alérntle Rotherlburg, Ma;ence, FrarrkÍürt
signìficadoque tive a intenção de formar em todo o seu decorrer..4+
e nraìsurna rez Mayence;a ediçãofranccsa,quatro \ czeseìl Lyon c Lunavez enr Tournon; a elição
irqlesa, em brrdrc e a aìenú, enr l-r anlifurt Natlarnclhor do queesrceÌerro (paraos <ìadoscoruÈtos
cÍi Seznrc) para dar urna idéia <ladiÍirsão orrolúia dcssasoblas e do 1rercqrrc elasexercem wbre a Wilson, no tercetrohwoda Rethorit(1553),interprctavaos mitos eos produtos
fornìação culturaÌdos iÌrtelstuais da é1na Na Bibliotm Braidenseexisternquatro ediçõcs<Ìaobra
poéticos da antiguidade como fições inventadas para fins étiefilosóficos por aqueles
tìe Conti e oito da de Cartarì. Sobrea afirnaçao expìícita de CôÌìü quanto à tÕria relativa à pmença
'Unirersa reformadores da moralidade que haúam sido os poetas"5antigos (t 586).Em Disa urse
de uma filosofia cwndida nos uritos da antiguidade philosophiac pracepta sub ipsis
fabulis antiquitus ontinebantur: quip1recurn norr ita nrultis annis ante Aristotelis ct PÌatonis et
caetcrorunì philmlüorunr ternpra, orlnia pìril<lsophiaed<tgnratanon apertc, scd obscrrre,sub
quilrusdanr integmentis, traderentur", Cf. II1üologta cit, I, p.I-[Os inúrntercselsinanrerrtos da " CÍì Schcll, LTumnisnr anlúwial cit., <luecorrrparaunra série de passaeensdc Cìraprnan e rì<:
filosofia estãoeremdos.justarnente nessasf,íbulasantigas unìa vez,que,não rnuitos anos antm dos Natale (Ìrnti (pp- 179-97),e W Srhrckx, "(ìenrge Chapnran's borrouing lrotn Natale Conti", cnr
z
tcÌnpos de Aristóte.la, Platão e dos outros fiìósoÍòq tul'ui os dognrasda filosoíìa não eranr clams, Engli:hSladì?s,XXXII, pp loÈÌ 2 Ouanto à irÍluência de Mar silio ficino: E L SchelÌ, 1r ernprrrnts
mas obrcum e olmdu $b a protcção de alguns rérn]{r)
!' L Fìinstein,TlultalianRauíwwinL)tglan<lNet de G- Chapnranà Marsile!'icin-, ern 8ru d?lilttrdho"@Ìtqaré?,t 999 ü)bre a Íìurdürcntal irrspiraçã<r
ìt \brh I9G2;J.D Spíngtn,Áoítìalìtr,iriada
nredìelaldaspcrsonifieçacsdeCÌraprnarr,cÍìM Praz,LapoesiamdafisraigltsedclSeicaúo,Rotna
Rruwtça (tad, tt Ia qitia btumrìa ul Rìuvimtn, Bt.rt, t so5); E L fthcìI, 'ïs nìytologistes
'z 1945,pp 3.Ê95-
italiens de la Rmisnce et la lpi'sie élislrethaine", etn Rw & lìltérature mparée, 1924; ld-,
L'hamiw dìulal a Ánglcterre à lafn de Ia Rruiw, Pariq 1926; D Busb, M/otry ud tlu "'Sezn(\q p. 980. Marston cita cxplicitanlelte Cartari e Conti (uorlts of ,Iohn lllarston, lnndras
Raaisnre Tmàitiq in Ef,glilh P.plry,Iandres, l9g9; J.Sezncr, 'ks l 8 5 t i ,I l l , p 9 1 8 ) .
ounucls mytlpl(ryiques italiens
'' [ì S1rrrrcq,í roallu dasfadtLt(TracJit- dc (-'arlo ltrc,Ia rcgina&lk'falz, ljlorcnça, l9í [, p 3)
ct lcur diffusi<rn m !ìngletcrrc à la Íìn de la lìenaissaroj', en )ltélangesarclúologiquesct hisforúlu,
-l'.
t993,pp 97G99(refundidocmsuarlaiorpartcernlawroiaatwdesdiaa.,cit);F A Ìãte\'lralian "' WiÌson, The Árte of lÌfubrìqutfor lfu LIv of ,1ll Surlu as ar Studìutr ol l)oqmt, orÍr rle C I{
'Iìaclrcrs j\4air, Oxfor<ì lÍ,()9, pp t9.í ss Solrre o aÌeqorisrnodos arrbientcs
in Elizzbcdran.England",enr .knntal of lfu lI hrlturghúihtt?- I9.3?,pp ì o3-r 6; G-N- Orsini, 1xúticosc fiÌosóÍìcosinglescs cl.
Sludi sul Rìnaviwrto ítaliano h Itghilterra; I;krrcnça, t9.9?;M N- Praz.,"Iìor tuna delìa lirrgrrac dcìla tanflÍ'nr l \\1H, ,{tkin1 Ergbh Lìterar.r'Crittì:nr T'helìenaìsrure, líil(ìrcs l9-1ï, lì) .3,19ss As pl)
t rrltrrra in Inghiltcra", cur itluhiaorllì h lughtltu m el altri *qgì, pp 1r(iÍ)ss- a(;:t-;:l sãod(licadasa urrrcranrc da 1resiçìoassrrnritìa 1xr-llaconparaconra lxrsia
of English Poeay de Webbe (tSao), que concebia a poesia como educador4 através Nos tempos mtigos os homens de maìor intelecto e de mais alto espírito
da alegori4 para atinar com verdades morais mais aÌtas,retornam conceitos do mesmo (azl) dissimularampropositadamente(did of purposecozeal)essesmistérios
tipo. Numa obra muito lamos4 a Ártz of Englìsh poesìz de George puttenham, profundos do saben. e os cobriram corn o véu das fábulase dos versos
publicada em Ì589, a imagem de uma sabedoria poetica associava-seà outra, mais (uìth thc aailcof fabks and aerse)por diferentesrazões:uma delasera para
tarde tÍio üvamente presente em Vim, de uma humanidade primitiv4 nua e bestiaÌ, que aquelesmistérios não fossemusadosde modo indigno por parte dos
espíritosprofanosnos quais o saberse corrompe feito um bom vinho num
errando peÌas seìvase enobrecidapela obra dos poetas:
mau recipiente".

A p r o f i s s ã od a p o e s i a . . n ã o é p o s t e r i o r ,c o m o m u i t o s e r r a d a m e n t e
Na obra de Bacon estará presente tanto a imagem de uma humanidade
supõem,ao estabelecimentode uma sociedadeciviì entre os homens,
rnas anterior a ela. A poesia era a causa e a ocasiãodas primeiras tosca e ingênua que se expressa mediante "parábolas e similitudes", quanto a
assembléias Ìrumanas,quando os homens viviam, errantese dispersos, tese segundo a qual, nas antigas fábulas, encontra-se "um mistério e uma
nas Íìorestase nas montanhas,semelhantesaferas (wgarant and dispused alegoria". Na realidade, aqueles temas de pensamento que se encontram nos
like the uild beasts),sem leis, nus ou mal vestidos e completanÌente textos de Puttenham e de Harington estavam destinados a ter, na Inglaterra,
desprovidosde bens. repercussões profundas, até a metade do século XVIII, mesmo se, sob o influxo
de De sapientia uterum de Bacon, eles passarão a ter tons diferentes. Âinda
Neste mundo povoado de "grandes bestas- viquianas, os poetas
em I 62 l, um ano após a publicaçáo àa Instauratìo naSTra"Thomas Lodge, no
introduziram a cultura. Eles
comentário à Semained.eDu Bartas, referia-se explicitamente à obra de Natale
Conti e o citava uma dúzia de vezes Por outro lado, para se ter uma idéia da
. .foramos primeiros a se dedicu à observaçãoda naturezae de suasobras
influência de certas interpretações alegóricas de Bacon sobre este gênero de
e, em particula4 dos percursosceìestes...foram os primeiros a instituir os
literatura, bastaú lembrar o Mythomistes de Henry Reinolds, pubÌicado por
saaiÍIcios.. a inventar e estabeleceros ritos e as cerimônias reÌigiosas,
foram, de tal modo, os primeiros sacerdotese ministros dos santos volta de 1633, no qual o autor, após a citação de praxe da obra de Conti,
mistérios. foram os primeiros historiadores, os primeiros astrônornose tornava-se defensor de uma teoria alegórica da poesia e procurava reencontrar
os primeiros Íìlómfos e metaÍÌsicose6. nas fábulas não apenas exemplos insignes de vida moral, mas também
verdades referentes à filosofia natural. O legado do neoPlatonismo florentino,
Na cultura inglesa do Íìm do século XVI, este tema da poesia criadora do de Poliziano e de Bacon ia se misturando ali, de modo característico, com as
saber se apresenta ligado à visão da poesia e da fábula como zrázsque encobrem sugestões do esoterismo cabalÍstico"8.
verdades muito profundas que os antigos não queriam que aparecessem pÍrra
z
evitar qrre o vulgo as profanasse. Na Álologiz of futrie de Sir John Harington
(1591) esta conexão surge com particular eüdência $ Sir J Harington, ,4 Preface or, ruthn a BrieJc Ápo@ oí P@tru,
frqxcd to thc tramlation oJ' .L
'fraduzo
Orlando F urìoso,lnndrcs, I 59 I a partìr dos dois volunles dc textos ElìzabethauCriltal
È-srzy.r,
cit, Í1, I zrls-
'- Para Lxìgc, Cfi l*nuni. yr '2I Para Iìeinoldrì Cl \\'iley pp eos ss-Sobreos dcrnroÌr'intcntos tìo
"" (ì I)uttcnharn,
'lbc
'4ttc oi[ IlngÌìsh Poesie,Inndres, 1.íBs]
-fra<ìuzo
a lurtir rÌos <ìois rolqrncs alegorisnrr cnr plerìo &'isccntos inglôs, ('Í. IJuslr,pp Srto ss (quc rc relere,cntrctaÌìto, quasc qrre
:
dc tcìtos irglases Elì:ahethan ('tiÍìral l)ssat's, O\íòr(l tÍ)s?, (ir, II, l)p{i_; exclusiranrenteà tradilão or idìarra)
Cincq dos trinta e nove escritos de Francis Bacon que apresentam específico
No decorrer do presente capítulo proponho-me a:1) determinar as diferentes
interesse filosófrco fazem referência explícita ou se ocupaÌn de modo direto do
posições assumidas por Bacon em reÌação ao problema das ãbulas antigas; 2)
probÌema da "sabedoria oculta" contida nas ÍábuÌas e nos mitos da antiguidade.
escÌarecer de que maneira essas diferentes posições estão ligadas às diferentes
Os cinco escritos aos quais nos referimos são os seguintes: Cogitatiorcs de scìentìa
formulações que ele deu ao seu programa de reformulação do saber; 3) Ievantar,
hunatw (uma coletânea de fragmentos de diversos argumenros composÌos em
através de uma análise da interpretação baconiana das ÍábuÌas, os motivos de
1605); Tlu hn Bookes of E B. Of Proftcìtnce and Ádaancemznt of Leaming Dìuìne
caráter naturaÌístico-materialista, metodológicos, éticos e políticos presentes no
anì Hurutnz (pubÌicado em t6o5); De sapientia et al. aeterum /úer (publicado em
De sapzttttiaaeterum;+) precisar, finaìmente, o significado deste escrito dentro do
1609); De dignitatz et augmentis scimtìarum librì IX (publicado em t6e1); De
plano geral da obra de Bacon.
printipìzs atquz originibus secandumfabulas Cupìdìnis et Coelì, sioe parmenüis et
Tëlzsiì et precìpac Dennd-iti ?hiltso?hìa tractata ìnfabula dz Cupidine (uma longa tlerxa dc rcssaltar o e-\tranlìo tlestiuo dessa obra. rão poptrlar na i?oca d<- Iìa<.orr e lroje tlrrase

série de anotações compostas, para a reüsão de De sapientia aeterum,por volta de dcsconlrrida l)cnrr! da tradição Ìrìstorìográlìca clo lxlrco caso crrr relação ao I)t srtfienth -*ttrunt
sâo ew!õs os studm bmnims de lìortais c os de Firher Paa a sinração do D.S/num plano ÌiteÉrio
1623-24)4.
onúibuíran dc rnrxìo noúr'cl os historiatÌrtrc da litcratrrra Prcrelendo rrcsu dirqão l3ush, p t sr. r ê
A importância de De sa?ientiawteruzz(que referente ao probìema dos mitos no I)S/'o roltrme gêrrreo" dos Elurr: o lato é <1uedas trìnta <, unra tábrrìas rÌrtcrprcta(Ìas por
deve ser considerado o mais importante entre os escritos ora elencados) foi posta Bacon no -l).5'/l não rnais tlc tlez- tênl algo a rer cot)l os telras tocados lìos llrì41s, as olrtras
trataÌÌr dc aÌguns deìes iá exlnstos Ììas Preccdentcs obras "filo-rófìcas", c ÌÌíio traria \alìtagenl
em relevo convenientemente apenas em tempos recentes. Na grande edição das
ncrhuna procurar nos nrrrz.r'-cI-eri i'crrrnbiu-se de cxamirar rnais (letì(lanrcntc aquclas
obras de Bacon, organizada por Ellis, Spedding e Heath, De sapiznlìa aeterum ìntcrpretaçôes tlos rlitos cÌássicos qlre tôÌÌ uma EÌação nuis csúcìa cotl o naturalisÌÌìo barcniaÌÌo -\
haúa sido inserido entre os escritos literários. Claro índice, este, de como aos obra de FazieAìlrnaler rgrte tun plano de interprtação dilèrcÌìtc do adotado lL'Ìos edtLorcs ingles<'s e
ccnturn a quasc todos os ilìtó!)Ìetes I'ìzio cottsidcra as obr as tle Bacon baseando-se na drsti|ção
autores da edição clássica üvesse passada desapercebida a importância desse
entÌc os \ ár ios graus do <:orr heci rnento teori zada no I)e augntntìs, ett ltLgar tle nro*er-sc a pa rti r
escrito para uma mais precisa avaliação do naturalismo e do materialismo de do plano esboçado por Bacon na lutauratio  adoção dcssc critório bastante discutír el (que
Bacon. Entretanto, coisa mais irnportante, esta inserção inaugurava uma b-adição Porétrì substituía unr critério errôno) dava a Fazio a possibilidade de latrçar unra nor a luz sobrc
o DlìIl Alrsar disso, Fazio conclui sua anáÌise sunrária salientando o carátcr artístico-lirertirio
historiográfica de pouco caso em relação ao De sapìentiarEtzrutçpouco caso este
da obra cnr qucstão M M Rossi, tarnbén:, a resÌ)cito destc ponto enÌ particuÌar, não riu
que Fulton Anderson considera um dos mais estranhos fenômenos da história corrctaÌnclìtee ìinritou-sc a fàlar de
-inconrprcerrsão
espìrìtuaì" por parte de llacon c tle unra
da exegese filosófica*. sua adesão à r'i<lrriana "r'angìória dos douros'' (P. 6o) O cstrrtlo de C lrmmi coìsritui rutra
contribuição de im1rcrtância fundamental Mas, à precisão de I*nrnri na indir iduação das Íòntes
I
e nacáracterização da tradição cuìturaì contrapõe-se a esca-ssacoÌìsistência tÌe suas concìrrsõcs
"' Cog.hunt, Sp.lll,pp t8s-98; Ádu- 3l.1ll, pp. e5s.a9 l; DS/;Sy' Vl, pp 6s7-1+ô;Drl. S?.1,W 4es_
de caráte'r geral A posição de Bacon Íiente
às fábulas antigas é assurnida em Ìrloco sern a nrerror
5S{t;De lrrìre,.S1. IIl, pp ?ÍFr r8. A data de onr;nsição indieda para I* privì?iìs é tàvsonrente
preocupação em esìtoç'ar seu desenroh-inrerìto; I4tnlnj tleixa-se arrastar por sua ;taixão para
prcr árel- A obra é com ertea pGterior a 16ì@,ua vez que retoma, arnpliando4 uma dasãbuÌas
: z
com as "lôntes" para afirnações bastante dìscutí\€is O fato de Bacon valer-sc da tr\thologia de
Já cxpostas em .& .ia1ìatìa lettrw o fato de qrc em De />nrcrpú roltenr coneìtos e mDteúdq, que
Natale Conti e o fato dc que esta obra csteja lrcnncada tÌe cuÌtura tnedieraì não justiiìca a
re crcntram ta lrehurdüo e no Nwm orgwprmite situar a óra rrurn ;rúodo srmsiro a
hipotese de um çonhcinrento diretq ;nr parte dc Bacnn, dos te\tos clássic<rs c nredier ais, ncrrr
1690 o hiógrafo dc Bacon, Rawlcy, rem rúo listando 6ra obra cntre os últirnos escritos,nenr
autoriza tmns{orrÌìar Bacon numa spirie de Pctrarca (unr Pctrarcu arnancirado). substatìciaÌÌncDte
situarxÌm cnr algrrnr outro ìugar areta, referindG* aos anos quc arrteqlcnr a sua rnorte'lìis
"honrnt tmdicvaì", atorÌncntado
rcvisirrg oÍ' bis lxnk l)e wTinlia utnnt- lnr criws dc rrrrlìrrridad<' i\trritas das doutrinas dcli:rrìidas grr
u''\rrdcrson, 5;: "-fhc xork is Bacon tro I).9r/ estão PrcscÌ tt(\ etn obras antcriores a | 609 c uão se.i ustilìca fazê-las pror i r tla otrra
P urquestionabìyon<,oÍ' tl)c nrost sigrrificant(oìtributiolìs to
dc Crrnti l)a illflaloga lJacon dcrc ter-sc scrli(lo conn de tun dicionário do <1raÌ x, ertracnr
Phil,rvrphvintlrclristorl'ol-Fìrrglishthürglrt Itsalmostcornltctenegi({t14'(otnÌxDtatorsisaÌnoÌìg
inÍôrnraçòes,nrasi.difrciÌacrtditarquclÌauxrsctleixasscinÍìrrcrrciarporcstc'ilicir>rráriri alxrrto<lc
th,' straÌìq('stl)lrcrì(rncna ir thc historl of philosophìul <'xcgrsis'Mt,snn lÌrr rìngtur, pp iji_? 1,não
assrfnìir lúsiçü:s t(irìcas c de ÌÌìaÌìtô-las inaltcrarlas ató a pubìicação c1o \-oztutt ()rs,rtunt

__r_
z. A infurpretaçãodosmitos nas Da mesma postura política originava-se a interpretação do mito das lzzãs
"Cogttatìorusdz scienhahum.ana" dos gigantes no quaÌ são esboçadas teses políticas (elas tamMm derivadas,
provavelmente, de Maquiaveì, DìscarsosI 7) que serão esclarecidas com precisão,
As fábulas de Métu, das Innns dosgigantes, de Proteu e do Cé4 interpretadas anos depois, no XV ensaio sobre as revoluções e os tumultos e no fragmento de
por Bacon na quinta, sexta, sétima e oitava das Cogztationesdz scisntiahumana, um ensaio sobre a fama.
constituem oprimeiro núcleo do De sapientìaoetzrum As Cogztatìotus,elaboradas A Terra, mãe dos Gigantes derrotados por Júpiter e geradora da Fama
com muita probabiÌidade por volta de 1605, são uma coÌetânea de breves que ünga os irmãos mortos, representa a natureza do vuìgo 'perpetuo tumidam
fragmentos que dizem respeito aos limites do conhecimento humano, história et malignam versus imperantes et res novas parturientem" É do vulgo que
naturaÌ, à necessidadede uma atitude humilde e indagadora frente à realidade nascem os rebeldes, mas, uma vez derrotados, a plebe "deterioribus favens et
naturaÌ, ao rnovimento, à constância da quantidade na matéria de que o universo tranquillitatis impatiens" enche o Estado de sussurros maldosos, de libelos
é constituídq à distinção entre assuntos de ciência e assuntos de fé, às fábulas difamatórios cheios de inveja pelos poderosos: as ações dos rebeldes e a fama
antigas: uma série de temas que serão retomados e desenvoÌvidos de forma mais sediciosadiferem assim não no gênero e na estirpe, mas no sexo, sendo aspalawas
ampÌa em obras ulteriores {êmeas e as ações masculinas.
Na "mqrstruosa e aparentemente privada de sentido' fábula de Métis que, Na décima das Cogìtationes Bacon interpretava o mito de Midas que,
engraüdada por Júpitea foi devorada pelo marido o qual, após comèÌ4 gerou, pela diferentemente dos outros conteúdos da mesma obra, não irá aparecer de novo
ca@a, Palas armada, Bacon quer ver oculto aquele meio secreto de que se valem os no De sa?iefltìa oeterum:Midas que, incapaz de guardar o segrdo das orelhas
soberanos pâra conservar rnt-ac.tz.
a sua potência e para aumentar, diante do povq o de asno de seu patrãq o confia à terra de onde levantam vôo as andorinhas para
seu prestígio- Â colaboração entre os conselheiros e o soberano deve ser aceita por espalhá-lo no ar, é sÍmbolo daqueles ministros incapazesde conservar os segredos
este toda vez que se trate de deìiberar, mas quando se passada deliberação à execuçãq de seus soberanos que, se mal conseguem eximir-se de falar, acabam revelando-
nesse caso a decisão deve parecer como ünda excìusivamente da sabedori4 da os de outra forma. Daqui nascem aqueles libelos sediciosos que, feito as
prudência e davontade do soberano. Nas considerações referentes ao comportamento andorinhas, se espalhampelo reino inteiro.
do soberano pera com os conselheiros (retomadag mais tardg no )O( ensaio sobre Da fâbula de Mêtis e da sobre As irm.ãsdnsgiganizs e, em parte, tamMm a de
os conselheirc), a posiEo política de Bacon moüa-se sobre um plano de'realismo" Midas, Bacon serviu-se, portanto, para exprimir conselhos poÌíticos de inspiração
político mais mntuado do que o professado pelo próprio Maqúavel que, no XXIII comprovadamente maquiavélicas', retornando a um delineamento do probÌema
capÍtulo do híncipa haúa se limitado a afirmar que cabia ao soberano:
3'Na Inglaterr4 as
lressoascultas lian Maquiavel no original e o inrpressor Wolfq de Inndrcs,
dir,rrÌgousuasobras mudando o norne do lugar onde f'orarninrprcssasOuanto à irúluênciatle
ter uÌnatereira maneira,elegendoem seu Estado homenssábioge apenas Matluiaveì sobrc a cultura inglesa e sobre Bacon, cf, além (lo citado estudo de Praz.,lì. Meyr,
a eles deve ele dar livre arbítrio para que eles flhe] falem da verdadee Mochírulli and thr Elüabelhan Drana, Wcimar Ì 89?; C V Btrycr, The Irillnít asllcru hF:lizalvlhan
daquelscoisas que ele ordena e não de outra coisa;mas deve perguntar a 'fhe
Trager.ft,,Irndrcs, | 9 I 1;W hrvis, Lion and llte l;b.t The rclc of tbel lero in Pla.tsof Sluke$eorc,
elessobrequalquer coisae ouvir suasopiniõese depoisdeliberar por conta Intìd.es, 199?; n* Orsini, "I* traduz-ionielisabettiancincdite di Machiawllì", cm .lÍrdr sz/
própri4 conforme achar melhon Iìina t inenlo ciÍ ; ld , Ilatow. e llÍachìazel/2,Gônor a, I 9.96 (q uc não cxarnin a, 1nrón, os rcn ras dc
tlcriração Ina<lrrialcÌista descnroìridos no Dc safìtntia z,etrrunt);I;. Iìaab, 7fu F)ti1lìshÌ.-ureof
]l ath i avelI tl,hndrcs, I 9ô+

I
político já cÌaramente expresso em os Conselhosa Elisabetzsobrea mzlhm maneira mundorum", depois, a matéria, representada por Júpiter que derrota os Titãs,
dz tratar os catolìcos,atribuíveis a eÌe, com muita probabilidade, e que remontam a eliminou por si só essas contÍnuas e transitórias mutações. Vênus, nascida do
cerca de 1584,3e. sexo de Saturno atirado ao mar, míìrca o início de uma profunda concórdia entre
A mais precisos interesses filosóficos ligam-se, ao contrário, as fábulas de as coisas: as mudanças e as transformaçóes ocorrem apenasnas partes, enquanto
Proteu e do Cêuem que, ao Ìado de uma tomada de posição mateúaìist4 aparece o sistema permanece imóvel em sua estrutura definitiva. O perigo que o mundo
o conceito - presente em Bacon há muito e que encontrará em toda a sua obra um volte a cair no caos primordiaÌ não é, entretanto, de todo eÌimináveì. Saturno
desenvolümento coerente - da necessidade,para o homem, de uma vontade de está mutilado, mas não morto, e a ordem pode vir a ser eliminada do mundo
domínio da natureza que se transforme na arte de subjugáJa e no conhecimento de Juntamente com esses acenos de inspiração materialista (eternidade da
seus segredos. O pastor Proteu, conhecedor do passado, do presente e do futurq matéria, imutabilidade da quantidade da matéria que constitui o universo,
aÉs ter contado o número de rezes de sua grei, adormece. Quem tencionava consuìtá- movimento contínuo das partes que o constituem) e com um influxo
lo deüa obrigá-.lo de florma habilidosa, pois ele se bansformava em fogo, ern ar, em particularizado da Íiiosofia de EmpdocÌes (na fábuÌa de Saturno) vinha expressa,
'Sub
lera e em mil ouhos disfarceg antes de voltar à sua forma primeira. Protei, nas Cogitatiottzs dz scizntia human4 aquela distinção entre matéria de ciência e
persona Materia significatur, omnium rerum post Deum antiquissima"; a grei matéria de Íé que irá constituir uma das principais teses de De safi,entinoeteruÍ4
representa as diversas espécies nas quais consiste a matéri4 o sono de Proteu é a refletindo-se, mais tarde, em De dignitate et augmtntís scientiaratn.
imagern de uma natureza adormecida que não mais cria es@ies novas. Proterq O conhecimento de Deus e o das /zÀ últimas da natureza são subtraídos à
enhetarÌtq pode ser obrigado a revelar a verdade: a natureza - forçada pela arte possibilidade do intelecto humano: Deus é exclusivamente objeto de revelação e
- pode ser obrigada a assumir formas que vão além das espécieshabituais. de Íë. Ao homem, ao contrário, é oferecida a possibilidade de conhecer as inÍìnitas
Aquele que conhecer os Processuse as pasiotus da natureza, chegará à da natureza e de tomar posse delas. Esta tomada de posse do mundo é
operações
essência das coisas e terá em suas mãog no que diz respeito à totalidade, o passado, um elemento fundamental, em vista da redenção do pecado original. Apesar da
o presente e o futuro, mesmo que seu conhecimento não chegue a alcançar "ad presença de um interesse acentuado de natureza religiosa, claramente presente
partes et singularia" na primeiríssima fase do pensamento baconiano" (Meditatìones sacrae e
Na interpretação da fábula de Saturno, que emasculou o pai Céu e por sua Professionof Faiila de 1597), a distinção entre os dois diferentes critérios de
vez foi emasculado pelo filho Júpiter, vencedor dos Tiüis e dos Gigantes, Bacon verdade e a nítida separação entre frlosofia e teologia nasciam, eüdentemente,
refere-se explicitamente à fiIosofra de Demócrito: Tabula videtur aenigma de também das diíiculdades de naturezapútica que Bacon deüa superar para realizar;
origine rerum non multum discrepans ab eaphilosophia quamposteaDemocritus no bojo da cultura de sua época, seus projetos de reforma.
amplexus est. Qui apertissime aeternitatem materiae asserui! aeternitatem mundi
negavit". Saturno é a matéria que tirou ao pai qualquer capacidade de çrar: de
fato, a quantidade de matéria é sempre a mesma e não pode nem aumentar, nem isQuanto à
fx6ição re'ligiom <leBacon e quanto ao r alor dessesprimeircs escritos,FazieAlÌnra-rer,
diminuir. As agitações descompostas da matéria produziram, num primeiro tempo pp- 3?-.t;, tem iÌìsistido bastantc QuaÌìto, 1rcrérn,aos ìirnites rlessainÌerl)rctação,dcrctn scr
'imperfectas lcvadasern consi<Ìeração as justas rcser\ as de ,\l l\l Rossi,pp- ,5li-6o Para uura r-isãosucinta
et male cohaerentes rerum compages et veluti tentamenta
nrasbastantcprccisadascorrcntesdc pensanrentoreÌigiosona Íuglaterrarìe l3acon,cíì .{ndcrson,
pp íg-r'tí; esserrcialé o Ìivro <Ìe\\{ l{- Jordan, I)aelopnot of Rdigìus Tobralion ìn Í)nclanl,
C a r n b ird c c , l 9 l t 2 s s , \ o l s I e [ l
Entretanto, reduzir o sentido da distinção baconiana ao níveì de uma A natureza predominantemente sensível dos homens das épocas antigas
"astúcia" prática, significa não apenasnão considerar aprofundidade dos interesses
tornava necessário,para exprimir conceitos originais e afastadosda vulgarìdade,
religiosos de que foi faÌado acima, mas também não se dar conta das diferentes o recurso a uma variedade e riqueza de exemplos capazesde atingir a imaginação
posições, presentes nessa fase do pensamento baconiano, diante do problema da destes. As fábulas de Esopo, as sentenças dos Sete Sábios, o uso dos hieróglifos
relação entre ação e contemplação Na Partis instarratìonìs secundzedzlircatìo et constituem, na antiguidade, alguns dos exemplos mais insignes de um tipo de
argumentun de I 6o7, primeiro no Valzrius Termìnus $aos) e depois nos Cogìtata ìiteratura bastante difundido naquela época. 0 uso das paráboÌas e das aìusões
et ztisq de t6oz, Bacon polemizava contra a casualidade e o imediatismo dos precede, portanto, o dos argumentos racionais e das demonstrações, da mesma
empíricos em nome do rigor das construções teóricas e contra a arbitrariedade forma que o uso dos hieróglifos precede o das ìetras.
das teorias dos racionalistas, apoiando-se no vaÌor das 6psp2çSg5. Contudo, além dessa função "esclarecedora" o mito pode reveÌar também
Às diferentes formulações que Bacon dava ao programa de reforma uma função oposta à primeira, já que pode ser usadojustamente para velar ou
correspondia, na realidade, uma diferente acentuação do significado e da função esconder intencionalmente aÌgumas verdades já precedentemente adquiridas:
do saber: de um lado este último (como, por exemplq na terceira das Cogitationzs) "the secrets and mysteries of religion, policy, or phiìosophy, are involved in the
era visto como a atuaçãode um id eú de chaitns que encontrava em uma inspiração fables and parables". Para mostrar como seja facilmente possível extrair o sentido
religiosa seu mais aÌto significado e, de outro, (como a interpretação do mito de
oculto das fábuÌas, Bacon acena brevemente ao mito dos G$anhq ao mito de
Proteu, no Tenporis ?artus masculus e nos Cogitata cÍ zzsa) insistia-se na função
Briare4 e Íìnalmente ao de Aquiìes, educado pelo centauro Quirón(interpretado
utiÌitária da ciência e no trabaÌho pragmático.
ìngniousfu but cornQt$tpor Maquiavel'" no sentido que alude aos princípios do
Incertezas dessa natureza não tinham porérn, em cada caso, um peso
saber recitar, a cada vez, o papel do leão, da raposa ou do homem)
suficiente para afetar o que permanecia, nesses anos, como sendo a atitude
Na basede exemplos dessanaturez4 -conclui Bacon - é mais fácil acreditar
fundamentaÌ de Bacon: uma aversão radical para com o intelectuaìismo dos
que a fábula é fruto da fantasia, que eÌa é mais antiga do que a interpretação, do
platônicos e dos aristotélicos, uma clara vontade de distanciamento das posições
que achar que eÌa tenha sido excogitada justamente para esconder qualquer
da filosofia tradicionaì e uma simpatia declarada para com o naturalismo dos
secreta verdade. Porém, no que diz respeito ao conceito de que todas as fábulas
pré-socráticos e o materialismo de Demócrito. É na base desse programa de
dos poetas são antes produtos da fantasia do que alegorias conscientes, Bacon
defesa e de difusão de um naturalismo materialista que os primeiros esboços
prefere não tomar partido:
baconianos de uma interpretação das fábulas antigas irão se transform:Ìr numa
z verdadein e própria'doutrina" do mito
Sou ievado a pensarque antes houve a fábula e depois se pensouem como
expô-Ìa, em lugar de achar que se tenha partido de uma "moral" p:ìra, em
seguida, sobre el4 construir a fábuÌa. Com efeitq considerc uma antiga
z
s. A tzorin dn mito no i4doanrenenlof barning" vaidadea de Gisipo querer atribuir, com grande presunçãqàs fábulasdos
antigos poetâaas asrerçõesdos estóicos.Não me pronunciq porém, sobre
o fato de que todasas fábulase as ficçõesdos poetastenhamsido um mero
No mesmo ano em que elaborava as Cogitztìoaes(16o5), Bacon publicava
deleite e nuna alegorias".
os dois livros do Ádaancemtntof Learnìng No âmbito de uma enciclopédia geraì
do saber, ele procurava aqui, pela primeira vez, determinar o significado e a
" \{aclriareflj, Il Ia iucilc,X\tlll
função do mito " . ! d e , . \ 1 >I I I , p 3 1 5

tu----
+

+. A teona do mìto em "De sapientiaveterum'. "gênero" da parábola e, segundo, porque seria coisa Ímpia querer eÌiminar aqueÌas
sombras e véus de que a religião é entretecida e que estabelecem uma espécie de
Nos três anos que se passaram entre a publicação do Ádaaneemznt oJ relação entre as coisas humanas e as coisas divinas
Learning (1605) e a de De sapzentìaaeterum(taos), a atitude de Bacon sofreu Mesmo deixando de lado esta última consideração de caráter reìigioso,
consideráveis modificações Bacon declara-se sinceramente inclinado a acreditar que não poucas das antigas
No preÍãcio ao De sapìentìaoeterum.que ê um modelo de eÌegância literária, fábuÌas encerram, desde suas origens, um misterioso significado aÌegórico:
Bacon esclarece sua postura diante do mundo das "fábulas antigas":
Confessode bom grado e francamente que eu tendo a crer que ern não
A mais remota antiguidade (se excetuarmoso que dela foi legado peÌas poucasdas fábulasdos antigos poetasestejapresente,desdea origem, um
Escrìturas)estáenvolvidano oÌr'ido e no silêncio.A essesilêncioseguiram- mistério e uma alegoria;sejapelo fato de eu estar sugestionadopela remota
se as fiábulasdos poetas;a estasfábuìas,os testemunhosescritosque hoje antiguidade, seja pelo fato de eu encontrar, em muitas fábulas,uma tão
possuímos.Dessa forma, entre os abismosocuÌtos da antiguidadee a grande e eüdente afinidadeintrínseca com o significado,tanto no enredo
memória, e depois a evidência dos séculos sucessivos,estende-se- por da flábulaquanto na propriedadedos nomesque distinguem e de uma certa
assimdizer - o véu das flábulas,
véu que cobre a zonaintermediária e separa forma determinam os seus personagensou os seus atores, que ninguém
o que morreu daquilo que sobrevives6. terá como teimar em negar que aqueìesignìficadotenha sido previsto e
premeditado desdeo início e convenientementeobscurecido"t-

Muitos leitores poderão pensar - prossegue Bacon - que, interpretando as


fábulas, eu esteja me dedicando às "delicias ac ludos", fazendo uso da mesma Quem quer que sej4 por mais cego e desprovido de inteÌigência, perceberá,
à primeira vist4 que o conto da Fam4 gerada pela Terra depois da morte dos
licença que os poetas se permitiram no ato de sua criação. Nesse caso tamMm,
Gigantes se refere àquelas murmurações sediciosasque se espalhaÌn depois das
entretanto, estaria exercendo meu direito, misturando assuntos agradáveis com
revoluções {alidas e a mesma coisa dir-se-á do mito de Tiíão e do asno de Sileno.
as pesquisas mais árduas da ciência e da filosofia. Na realidade, não passa
Para defender a tese alegórica, Bacon formulava três argumentos distintos.
desapercebido a Bacon o caráter versátil da fábuÌa e a possibilidade, sempre
presente, de alterar arbitrariamente o seu sentidq atribuindo a ela significados O primeiro dizia respeito à tnminum cnnJormìtas Paz signifÌca universo, Métis
quer dizer mnsilium, Nêtrusis quer dizer vingança e assim por diante. O segundo
que jamais teve. Um grande número de escritores valeu-se disso, com efeito,
zrrgumento baseava-se no caráter absurdo dos relatos mitológicos que mostram
paÌa que às próprias descobertas e opiniões fosse atribuída aquela veneração que
habitualmente se tributa à antiguidade: assim, por exemplo, Crisipo 'veluti claramente a presença de um signficado escondido: urna fábula probabilis pode
ter sido inventada como entretenimento, porém, quando lemos de Palas que sai
sorÌìniorum aÌiquis interpretis" atribuía aos poetas antiquíssimos as opiniões e
armada da cabeça de Júpiter, ú podemos pensar num significado mais profundo,
as teoriâs dos estóicos.
pois ninguém teria podido conshuir uma imagem úo monstruosa não tendo em
Âpesar do conhecimento dessas dificuldades e a "levitas et indulgentia"
ústa um objetivo preciso. Finalmente, o terc€iro argumento é fundado na
com que as alegorias foram tratadag Bacon não Íìaquejaú em seu propósito:
constatação de que a maior parte dos mitos antigos não parece inventada por
primeiro, porque a inépcia de algum escritor não basta para desacreditar o

" Ì)^lr:Á/Ì l'l,p 6eÍ, "' Ibíd., p .i.e6

h* _l__
aqueles que os contam: se as fábulas narradas por Homero e Hesíodo pudessem verdades se exprimiam sob forma de mitos, e se havia aproximado de uma tese
ser atribuídas a eles, não haveria motivo de indagar quanto à sua origem. Na que é de importância centraÌ nos desenvolvimentos do pensamento europeu: a
realidade, a quem as examine atentamente, parecerá que elas são narradas como da origem "fantástica" das reÌigiões ("nam ut hierog\phica literis, ita parábolae
'prius
creditas et receptas" e não como "tum primo excogitatas et oblatas". E, argumentis erânt antiquiores").
uma vez que são contadas de modo diverso por diversos escritores, haverá
possibiÌidade de distinguir o que foi "ex veteri memoria desumptum" e o que foi
"ex singulorum ornatu additum". 5. Ás razões da noua atitudz de Bacon

As fábulas não aparecemnem como produto da épma delas,nem como


O tom de incerteza que se percebe nas páginas do Adaancementfoi
fruto da invençãodos poetag mas como relíquias sagradase areslevesque
substituído, no prefácio de De sapientiaaetnun por uma atitude bem mais decidida
sopram vindos de tempos melhores,vindos das tradiçõesde naçõesmais
antigas e transmitidos às flautas e às trompas dos Gregosss quanto ao significado e ao valor alegórico dos relatos mitológicos.
Sobre alguns pontos essenciais, Bacon demonstra ter mudado suas
Esta conclusão estava portanto apoiada por toda uma série de argumentos perspectivas:
que visavam justificar o conteúdo da obra de Bacon. Para quem, com gravidade
"plúmbea", insistisse em negar o vaÌor alegórico das frbulas, sustentando o caráter t) a ordem da exposição da função dupla das parábolas inverteu-se: no
"extrínseco" da interpretação, haveria como opor-lhe - segundo Bacon - um Adaancemznt faÌava-se antes do uso "pedagógico" e apenas num segundo
outro tipo de consideração. O uso que pode ser feito da lábula é duplo: ela pode tempo acenava-se aos prováveis significados alegóricos contidos em
servir ao mesmo tempo de invólucro e de véu, ou de lume e ilustração. Mesmo alguns mitos; no De sapientia aeterum acontece o contrário e à tese
"pedagógica" se alude apenas no finaÌ de uma longa elaboraçãq para confutar
querendo se negar qualquer sentido ao primeìro uso e admitindo-se que as fábulas
não passem de composições fantásticas criadas para divertimentq
ninguém poderá a obstinação dos negadores do signiÍìcado alegórico das fábuÌas;
negar a legitimidade e o valor do segundo uso que abre às fábulas 'aditus ad z) os exemplos do AdnantttnznÍ (fábulas dos Gigantes, de Briareu, de Quiron)
inteÌÌectum humanum magis facilis et benignus". Nos séculos anügos, com efeito tendem a mostrar como é possível extrair do mito mais do que o próprio mito
- continua Bacon, ampliando conceitos já expostos no Adaanttmznt - mesmo contém; os exemplos aduzidos no prefácio a De sapimtia aeteram tendem, ao
-z
aquilo que hoje parece batido e óbúo parecia estranhq incomum, fanústico: os contrário, mostrando a correspondência entre o nome e o conceito ou insistindo
espíritos eram toscos e os homens não estavam em condições de captar algo que no caráter de absurdo do relato, a reveÌar a efetiva presença de uma verdade
não lhes caíssesob os sentidos: tudo estava pleno de enigmas, de parábolag de secreta, escondida pelo mito.
similitudese então as fábula+ mais do que um artiÍÌcio para ocultar, eram um 3) à tese expressa no .,ídoancenent de uma prioridade do relato mitológico sobre
instrumento pÍrra ensinar e iìuminar, Defendendo a tese alegórica, Bacon haüa o significado corrceitual, substitui-se, em De sapicntia oeterarn"toda uma série
chegadq portanto, a esboçar as características de uma idadz smsorìalna qual as de expressões que indicam a mudada atitude de Bacon.
As reservas e as incertezas de Bacon diante da interpretação alegórica
têm, na realidade, no prefácio de De safìmtì.atnterun, muito pouco reìevo. Mesmo
levando em conta a excessiva "Ìicenciosidade" que aÌguns intérpretes
manifestaram ao excogitar significados alegóricos, Bacon utiliza, contra os de 160? Bacon havia enviado a Sir Thomas Bodley (o fundador da célebre
negadores do valor alegórico, palavras ásperas, e termina sua introdução bibÌioteca de Oxford) os Cogitata et uisa e, dois anos mais tarde, já revistos e
polemizando contra o escasso valor das interpretações alegóricas precedentes, emendados, os havia enviado também a Lancelot Ândre'ws, um dos mais ilustres
devido não à pretensão que elas tinham de colher nos mitos significados éticos personagens da igreja angìicana: declarava-se disposto a modihcar suas
ou filosóficos, mas à escassa consistência da cultura dos intérpretes, cheia de expressões e pedia para que fosse anotado "no presente escrito, tudo o que parecer
lugares comuns. contrário ao estilo agora em uso ou capaz de chocar as opiniões ou de ser nocivo
Apenas tentando esclarecer os motivos que determinaram esta mudança à pessoa do autor"'e. A resposta de Andrews não nos chegou, mas a de Bodley
de perspectivas será possíveÌ iluminar as fases sucessivas do desenvolvimento constituiu para Bacon um sinal eloqüente dos riscos aos quais ter-se-ia exposto
do pensamento baconiano quanto à questão do mito, e dar-se conta do significado pubÌicando seus escritos Depois de um exórdio cheio de eÌogios, Bodley
de De sapientìa úeterurn no plano geral da obra de Bacon. Para alcançar este repreendia asperamente Bacon por sua recusa decidida da cultura tradicional e,
duplo objetivo é necessária uma breve análise do pensaÌnento baconiarp nos concÌuindo, a{ìrmava: "Devido ao tom e ao aÌgumento de tua dissertação, não
anos imediatamente anteriores a 1609. encontrarias em nenhuma academia um tribunaÌ disposto a absolver-te'.
Vimos como, numa série de escritos que antecedem 1609, Bacon conúapôs A resposta de BodÌey influiu certamente de modo considerável em Bacon
o pensamento dos pré-socráticos e de Demócrito, em particular, à Íìlosofia de que, justamente nesses anos devia, pela primeira vez, ter-se dado conta da
Platão e de Aristóteles. Empédocles, Heráclito, Anaxágoras e Demócrito hostilidade da ciência ofrcial em relação ao seu progrÍìma de reforma, e de sua
pareceram a Bacon sérios e silenciosos estudiosos das coisas naturais, afastados solidão cuÌturaÌ:

da "pompa professoraÌ" que caracterizava a inteira fiIosofia dos Gregos. Neles,


'santq ...pensonuma renovaçãoda fiÌosoÍìade tal maneiraque ela nadamais tenha
Bacon vira os precursores daquele casto e legítimo conúbio com as coisas"
de vão ou de abstrato e proporcione aos homens melhores condiçõesde
que ele contrapunha ao "caráteÍ evasivo" do platonismo e ao "formalisrno" da 'Admirável 'Nenhum -
vida- obra - disse-me- e que mmpanheiros tens?"
filosofia aristotéIica. O projeto baconiano de uma destruição da metafisica -
respondi squer tenho alguém com quem poder falar amigavelmente
tradicional coincide, entre 1603 e 1608, com o da difusão de uma filosofia dessascoisas,para poder ao menosexplicar-mee tomar alento . Não muito
naturaÌista e materialista que tem nos pré-socráticos e em Demócrito seus tempo atrás,por sinal, encontrei uma adivinha que,murmurando não sei o
antecedentes culturais. Este projeto foi desenvolvidq com muita clarez4 desde quê, previu que meu parto teria morrido em soÌidão"4.
z Tern?oris Partur nastulus (de antes de f 603) atê os CogiÍaÍa et úsa de t@7 e a
Rzdargalìo philnsophìarum de t6o8. Tratava-se, mesmo mostrando os lirnites do O caminho da polêmica e da aspereza dos juízos parecia portanto fechado:

ÌrensÍrmento pré-socrático que tamMm estava dentro dos limites da ciülização Bacon desistiu de publicar os três opúsculos em que, de forma mais viva, se
l
greg4 de'subtrair esses fiÌósofos ao imerecido olúdo" e de se apoiar em alguns encontrava manifesta sua oposição ao saber radicional.
motivos centrais de seu pensamento para destruir a perigosa herança ligada aos Ele, poréÍn, não havia se limitado unicamente a essesprojctos. Desde 16O+,
desenvolümentos da Íilosofia grega. posterior a Sócrates e a Platão. nas Cogitatìonzs dz natura rnum' tin'tn considerado outra possibilidade: em
O tom do Tanporis 2artus ma.ytlus era violento e agressivo, o dos Cogitata lugar de apresentar a adesão a um naturalismo materialista como única saída
et aìsa e o da Rednrguiio, mais meditativo e pacato: tratava-se, na realidade, de ' ' ^ y I - ,I Y p Ì r t
dots dtferentcs mndns dz a?resentaçãadz um rusmn prograna dz reforrut. Já em Íìns * IÌ Ph,Sp lll, 55s
|

hr**-,
para a negação radicaÌ das teorias tradicionais, era possíveÌ - quem sabe_ expor O quepensas,aíìtral,do silêncioe dos segredosda mtiguidade?[ . ] Quanto
e discutir, de modo direto, a filosofia de Demócrito. Desde as púmeiras ìinhas, a às coisasque desapareceram junto com seusvestígiossei que,dadaa tua
posição de Bacon tinha sido claramente delineada: 'A doutrina de Demócrito discrição,considerar-te-iassatisfeitocasoeu me ìimitasse a aÌudir ao fato
quanto aos átomos, ou é verdadeira, ou pode ser utilmente empregada na que é muito cansativoeste ir à procura de conjecturase que não coudiz
demonstração" Os temas do opúsculo eram os mesmos que já tivemos ocasião comigo, em mìnha preparaçãoda utilidade futura do gênero humano,
regredir à filosofia da antiguidade é preciso chegar à ciência peÌaluz da
de considerar na interpretação da fábuÌa do céu, nas cogìtationes de seìentia
naturezâ e não tentar chamá-la de rolta das trevas da antiguidade Não
humanaescrttasno ano sucessivo ( roo5): a eternidade da matéria e a imutabiìidade
interessao que foi feito, trata-se de ver o que se pode fazer Se aÌguérnte
da quantidade de matéria que constitui o universo. A estas resesse acrescentavam, entregasseum reino conquistadopelasarmas numa guema vitoriosâ, Por
agora, as da função do movimento na constituição do universo, dos movimentos acasocomeçariasa procurar saber se teus antepassadoso possuíramou
simples considerados como "o aÌfabeto da realidade", a recusa da distinÇão entre não e levantariagquem sabe,vãs questõesem torno das genealogias?Isso
movimentos perfeitos e movimentos imperfeitos. é o que pensoqumto aos mistériosda antiguidaden'.
Mesmo este projeto de apresentação direta do materialismo permaneceu
incompleto. Este caminho teve que parecer a Bacon ainda mais dificiÌmente À dureza da polêmica contra a tradição filosóÍìca correspondia, nos anos
triÌhável do que o primeiro. que antecederam 1603, uma posição de'pouco caso" em relação à mais remota

Entretanto; até 16O5, ano da composição das Cogitatìonzs de scientia antiguidade não importa indagar sobre um passado que nada mais representa e
humnnq Bacon deve ter vislumbrado uma terceira possibilidade: as doutrinas que aparece como incontroláveÌ. A tarefa de uma transformação radicaì das
que almejava difundir podiam ser apresentadasde modo indireto: sob o patronato condições da vida humana contÌastava com qualquer "busca de conjecturas" que
da antiguidade e sob o véu da alegoria. Ao interpretar, nas Cogitttioncs,os mitos tentasse estabelecer genealogias Ìá onde se tratav4 ao contrário, de mover-se
de Proteu e do Céu, Bacon haúa retornado aos conceitos que mais acarinhava para descobrir um mundo novo.
Entretanto, para empreender de modo coerente e sistemático um feito dessa Uma postura não diferente é assumida tarnMrn no qulr,to cÂPit:rlode l/abrtus
natureza era necessário transformar uma hipótese numa afirmação e sustentar Terminus, de 1603. Ali Bacon declara que não é possível pronunciar-se quanto à
que a afirmação dada para as fábulas não era aìgo imposto arbitrariamente do antiguidade remot4 a menos que não se queira agir como aqueles que, referindo-se
exterior. Ern outros termos, era necessário modificar a tese expressa no a vastos territórios distantes e desconhecidog colocam nos mapaq no lugar deles,
Adoarcemcat of l-earntng e afirmar, com maior decisãg que atrás dos mitos se desertos. Todaüa, uma atitude dessas tamMm impedg eúdentemente, afirmar a
"ignorância" dos antigos (I am m apt to ffirm tluÍ tlÊJ hnnu lilÍlc, becnuseuthat
escondiam verdades ocuìtas, sendo tarefa da filosofia reconduzi-las para aIuz.
'grosseiro"
Existem algumas passagens em T@oris t)ry kntw is lìttlz knmnt to u). A opinião de Aristóteles sobre o estado
partus masad.us,na Redtrgutio
phihsEhiarwr e nos Cogitata et visa e, enfin, no púprb prefácio de De sapientia das civilizações mais antigas parece, contudo, inaceitável para Bacon.
rretÌrutn que têm, desse ponto de üst4 uma importância notável. Em t6o5, conforme foi ústo, Bacon já haüa concluído seu tÍatado da poesia

Em Tmryorìs partus masaiusBacon escreüa: parabílicano Adaantemznt,conservando-senumaposição de neufraÌidade quanto


ao contraste entre significado alegórico e valor fantástico a ser atribuído aos
1 I
relatos mitológicos, mesmo manifestando sua propensão para a segunda hipótese. qwstio aquì tratndn não ìnteressasabn seas coìsu queaqui sepropõem(ou aü
Já entre t607 e l608 - entretanto - sua posição parece ter-se modificado rcw aìsu mìores)fosm ou nãoj,í rcnhzcidu dosantigos,mis do qu possa
sensivelmente. A passagem que citaremos em seguida pertence à Redargutio ?reocu?araos horuns saberse o noao mundo é aquelailhn d,aAtÌântida,já
phihsophiarume em aìgumas de suas partes essenciais reproduz quase literaÌmente
conhzcìdapeln mundoantigq ou seelz tenhasido descobertoagorapela priruira
uez A inanção dascoisasdne serobtìda da luz da naturezae não chnruda de
uma página dos Cogitata et úsa (as fhases em redondo não têm correspondência
r)olta das trnu da antiguìdade*'-
na passagem equivalente dos Cogitata et zisq as que se encontram em itálico são
comuns aos dois escritos).
Veri{ìcam-se aqui (principaÌmente na formulação da Rednrgutìo) alguns
motivos que serão retomados, rio ano sucessivo,no De sa4ìmtìa I)eterurr\ màs o
Filhos meus, ao longo desta espécie de passeio que empreendemos peÌas
estátuas dos antigos, pode ser que vós tenhais notado que uma parte do
trecho, em seu conjunto, está bastante afastado da posição decidida que Bacon,
pórtico estava encobertapor um véu Trata-se dos segredos da antiguidade conforme foi visto, assumiu no prefácio de De sapimtia oeterun. Ao empenho
que precedem a sabedoria dos Gregos Mas por qual razão quereis me para uma renovação radicaì acrescentou-se a polêmica contra aqueles que tutn
chamar de volta a ternpos dos quaisjá desapareceram os fatos e os vestígios pouta hafitendem a atribuir à antiguidade suas opiniões para que elas adquiram
dos fatos? Aquela antiguidade não é por acaso semelhante à fama que um peso e uma importância de maior vulto. O caminho que Bacon mostra querer
esconde a cabeça entre as nuvens e conta fábulas, misturando aquilo que
percoÌTer aqü é o mais diffcil: aquilo que pode ser pensado a respeito da secreta
realmente aconteceu com aquilo que nunca ocorreu? Eu bem sei qu se
sabedoria da antiguidade não tem interesse algum (e nared.ação da Rzdargutìo,Baan
quisesse.agìr tom menor boafé, não ru serìa dificil conaercer os homens
que a cìêncìa e a filosofìa floresciam com maior
admite explicitamente a presença de razões que nos levariam a considerar as
força, mesmo que maìs 'ïelÍquias
silenciosarunte, entre os antìgos sríbios, muito antes da ìd.ade dos Gregos, fábulas como sagradas de melhores tempos"). Justammtepor se qurer
e o dìscurso que fìz agora parecerìa muito mais solene se recasar o caminho fácil da ìn?ostura niio se;faz interoìr, neste argumento, a
lfosse rc;ferido
àqueles tempos, assim como fazem aqueles noaos ricos que, opinìiio pessoal anrca da rernnta antìgddadz: esta opinião, qualquer possa ser,
fundando-se
m bnd6 e conjeturu gmalógiffi arroga?n-se a nobreza de algum antìga não tem importância diante do fim ao qual nos propomos.
linhagem
Tal como nos Cogitata et oisa e na Rednrguüo phìlosEhìarut4 também em
Entretanto, conJiando-nos na eúdêncìa, estamos deeìd.id.os a rechaçar
Nooum Organun retornarão, à distância de anos, as mesmas expressões e os
qual4uzr formn àe imposturq mesmo que ela se apresente como fácil e
agradável Por esta razão n^o fazemos intervir aqui nosso juízo relativo
mesmos conceitos, e no Nozrum Organum também retornará a distinção indicada,
àqueles sécuÌos; só isso dìzemog de passagem: apesil das fábulas dos poetas no texto que foi citado acim4 da expressão "à questão aqui tratada" (ad ü qaod
serem matéria bastante flexível, nós não teríamos ousado afirmar que agiAtr/" .
naquelas histórias há muito de arcano e de misterioso, se elas nos tivesrem Masjustamente as teorias que Bacon fora defendendo no Tcrn|orb ?artus
parecido inventadas por aqudes que as relatam. Âcreditamog porém, que mastlos, nas Cogitationcs dz Ìtatura rcrum, n Rcdargutio phihsophiarum e
as coisas sejam diferentes: muitas daquelas fábulaq com efeito, sãenos
nos Cogitata ct visa voltarão no De sapimtìa oetrrrnì\ constituindo seu úgamento
transmitidas como já conhecidas e não como no\as e aprerentadas pela
filosófico sobre o qual será articulada a interpretação dos mitos. No De mpimtin
primeira vez. Isso contribuiu para aumentar nossa consideração para com
estas fábulas, como se e'las fossem uma espécie de relíquia sagrada de
* R - P h " S í ' . I l I , p 5 ? + ; C t :. S / ,I l t , p t ) í t o F 5
rnelhores tempos Mas, qualquer que seja o caso, consideramos que â
" NOl t,r,)

b*.-,- ,t
veterurn,Bacon assumirá a posição a favor de um corte preciso entre indagação concretamente, não apenas da ajuda de Jaime I, mas ìgualmente do apoio dos
filosófica e teologia, de um naturalismo materialista, de uma pesquisa fiÌosófica sábios da Europa e da adesãode um vasto público, Ìevara Bacon a deixar inéditas
fundada na experimentação e sustentada por uma nova consciência metódica, de aquelas obras em que eìe haüa exposto, de maneiras diferentes, as ünhas essenciais
uma ciência czpaz de"forçar" a natureza, arrancando dela os seus segredos, um de seu programa de reforma e que insistiam sobre o conceito que o saber
após o outrq de uma política realista de inspiração maquiavélica: sãojustamente precedente estava completamente equivocado, defendendo a necessidadede um
estas "verdades" que ele verá escondidas sob o véu das Íábulas. Os fins que ele ponto de vista completamente novo
propõe a si mesmo aqui são, portanto, os mesmos que eÌe se havia proposto nas Em ze de julho de 1608, Bacon anotava apressadamenteem seu
obras precedentes:trata-se aqui também da mesma coisa Só que agora não parece Commztarius:"Discoursing scornfuÌÌy of the philosophy of the Grecians, with
mais indiferente procurar estabelecer genealogias e saber se o novo continente é some better respect to .. the outmost antiquity and the mysteries of all the poets".
ou não é a fabulosa Atlântida, Bacon confessa "ingenue et libenter" acreditar na A nota referia-se, quanto ao primeiro ponto, à decidida tomada de posição da
AtÌântìda e nas geneaìogias. Redargutio phìlosophìnrum (toos), ao passo que, quanto ao segundq constituía
Daquela curiosa coleta de anotações pessoais,de gastoq de díüdas a pagar, uma clara alusão à eÌaboração de De sapìmtìa z)eterum.O "discurso desdenhoso"
de meditações íntimas, de projetos Íìlosóficos, de reflexões políticas, descoberta, jamais verá a luz, sendo que, ao contrário, é a segunda obr4 cheia de "respeito"
analisada e publicada por Spedding*, à quaÌ o autor deu o ambicioso título de para com o antigo que Bacon oferecerá para ler aos homens de sua época, como
Commetarius solatus siae pandecta, siae ancilla memoriae, surge, de modo preparação para a revolução radicaÌ que pretende realizar.
bastante claro, a grande importância atribuída por Bacon a uma reforma da vida Ao aceitar o vaÌor alegórico dos relatos mitológicos Bacon demonstrava,
cultural da sociedade que não ficasse apenas no plano de um protesto isolado ou sem dúvida alguma, mais erudição do que originalidade de pensamento O uso
individuaÌ, mÍrs que fosse capaz de organizar-se de acordo com um programa do simbolismo mitológico era bastante convencionaÌ, naquele tempo. As obras
preciso e de concretizar-se na fundação de colégios, de pesquisa científica, de de Luciano, Plutarco, Cornuto, Sérvio, Macróbio, Fulgênciq dos neoplatônicos
uma reforma das universidades inglesas, numa colaboração dos doutos da Europa eram patrimônio comum dos homens de cultura da épocade Bacon. Para a redação
inteira. Em alguns desses projetos cheios de entusiasmo, Bacon antecipava a de De sapientí"aoetqum ele serviu-se ampÌamente - conforme foi mostrado por
descrição da Casa de Salomão, na Nat Atlnntìs. O que é certo é que justamente Charles Lemmi - da Mitlnlngiade Natale Conti, um dos manuais mais difundidos
nessas páginas apressadag nascidas no verão de I 608 de uma exigência de reflexão na Europa de então e que unia à vastidão das informações a não indiferente
I secreta quanto ao próprio passadq aos próprios projetos e às próprias esperanças vantagem da possibüdade de uma consulta rápida e prática.
podemos aferir a profuadidade do interesse de Bacon por uma rnmaçõo prática O De sapìcntia netërum,publicado em 1609, em tamanho 19 perfeitamente
da cultura. impresso, era a terceira obra filosófica que Bacon, já então com cinqüenta anos,
/ Na realidade, é exatamente a esperançâ, muito úva en Bacorl de que sua decidia-se a publicar. Depois dos Ensaiosde 159?, ele tinha de fato publicado tão
doutrina se colocasse como uma mudança de rumo na história humana, marcando somenteo Ádflautruntof ltarnàg(too5) cujo tom, comparado com o das obras
o fim de uma cultura e o inÍcio de uma nova época de que ele se sentia o arauto. inéditas, era bastante convencional e que Bacon teve uma vez ocasião de definir
A c o n s c i ê n c i a d e q u e e s s a r e f o r m a t i n h a n e c e s s i d a d e ,p a r a s e r e a l i z a r como sendo uma mistura de conceitos novos e antigosns.
'' ('arta<ìetÌìratrirìa
ao bispo,\ndrcss qrrc prccctlc o ,ldvrtisencnt louching tn IIolt Iíitr d<'
IÍj.re,V,Vlt.p lo
O De sapicntia tettrurn er4 ele incÌusivg expressão daquela "mistura de posição e escrevia que diante de sua obra se apresentava um dilema: ilustrar a
novo e de antigo" fora da qual não era possível esperar que agradasse ao público antiguidade ou ilustrar as coisasli.
de leitores e a um ambiente cujas formas de cultura tradicionais exigiam serem  análise conduzida até aqui tinha o propósito de ilustrar as posições
respeitadas. O livro começava com uma carta cheia de elogios ao conde de sucessivas e diferentes assumidas por Bacon com referência ao problema das
Salisbury chanceìer da Universidade, à quaÌ seguia uma dedicatória obsequiosa ÍábuÌas antigas e de mostaÌ como essas posições eram estreitamente ligadas às
àquela "inclitae academiaecatabrigiensi", uma daquelas universidade que Bacon, dìferentes;formulalõesque eIe deu a seu progríìma de reforma. O destaque dessa
nos Cogitata et azs4havia qualificado como obstáculos insuperáveis para qualquer ligação é, no meu entender, de fundamentaÌ importância, uma vez que demonstra
progresso cientÍÍìco. 'exercício
a impossibilidade de se considerar De salìentia neterum como um
A mistura de novo e de antigo presente no De sapimtìa oeteran e a vontade, literário" que teria um interesse secundário ou que seria até mesmo irrelevante
presente em Bacon, de inserir-se numa tradição, aderindo a um gênero Ìiterário fiente aos desenvolümentos da "{ilosoÍia" baconiana. Não será portanto inútil, a
em mod4 não devem ser consideradas como resultado de uma astúcia caÌcústa, esta altura, nos valermos do seguinte esquema'":
ao mesmo tempo em que, por outro lado, não é possível ver em Bacon o ingênuo
entusiasmo de um seguidor da tradição aÌegórica. A posição que ele assumiu t) Tenporis ?artus nasctlu.s (que antecede 1603, inédito): ataque à cuÌtura
exprimia a vontade de inserir-se numa cuÌtura e de agir dentro dela tradicional conduzido em tom fortemente poÌêmico. O problema da sabedoria
concretamente, segundo planos precisos e seguindo os caminhos que uma tradição oculta da antiguidade não apresenta nenhum interesse para quem "vai
ainda atuante podia indicar. preparando a utilidade futura do gênero humano".
Das dificuldades existentes em qualquer tentativa que pretenda realizar 2) ügitztiones dz tutum renan (tao+, inédito): apresentação em forma "direta"
uma mudança revolucionária de perspectivas, Bacon havia-se dado conta de um naturalismo materialista e que tem em Demócrito seu antecedente
perfeitamente quando, no Valzrius Termìnus e depois nos Cogitata et oìsçhavia culturaÌ direto.
escrito que a opinião e o senso comum dos homens eram dois dos maiores
obstáculos para qualquer tentativa de introdução de idéias novas. No prefácio
ao De sapìentin oeterutu Bacon refere-se a considerações deste tipo, quando
,'rbid.
escreve: '' Duas coisas, apesar de óbvias, parece-rne devant ser accnadas, i) qtÌc ncste csqrÌenìa
Ììão cstão conrpreendidas todas as obras lìÌosóficas escritas por Bacorì aììtes dc 1609,
Se alguém quiserjogu uma nova luz sobre as mentes humanas,por m nern todos os escritos nos <1uis Bacon r relèrc ao problerna do tnito ou interpreta alguÌnas
caminho quz não á áspcro tum eshí m mda" convém se sina du jibulas fábulas, rnas apenas aqucles que altresentanr un intctesse direto para os fitrs da qrrestão aqui
e se abriguz re simìlitudes u- crrfrcntada; 9) que as posiçõesassumidaspor Bacon são tnuito tnais articuladas e ries de nuances
do que 1rcssaparcer atrat'és dste €squema No que * refere às 1resiçõcsassunridaspor Bacon
dcpois de 1609, o esquemapod€ ser completado da squiÌìte nìaneira: 1ì) Nnun(hgaaum(teeo,
São expressões bastante significativas e, poucas linhas mais adiantg Bacon puhlitado), cnr [ 122 Bacor repruduz, conr 1rc<lucnas difereÌìças,a ÌìassagclÌliá csrita em .í- 9)
mostrava-se plenamente ciente daquilo que poderia haver de equívoco ern sua I)( dignìldtc d dilgnmtìs scintiamnt (tcls, publicado); Bacon Itito se litlrita a traduzir o tr(rho
c<rrr<.slrrndentctlo/doaumt (4), Ìnas retoma cnt rários l)ontos o trataÌncnto <lo trecìro
tl<'srtrolr irÌo rro prcfácioa DS/''(r) Âìónr disso,cl<'insetr na obra o trataÌncnto que <ìcraaos
" D.Sr:.V Vl. p ri,.ts trôs rrritoscÌÌì ì c (ìuc f,rlta\a enr 't

E _t
s) Cogìtatiorcsdz scientinhumana (l 605, inédito): na interpretação de duas fábulas
do
6. Os quatro temasfilnsófrcos
(a de Proteu e a do Céu) Bacon retoma alguns temas já desenvolvidos em z.
"De sabìentiaaeterum"
+) Ádaarcemmt of Leaning (tao5, publicado): o texto será definido por Bacon
"uma mistura de novo e de antigo" que pode serúr como "chave,, para
a
Ao lado de uma série de considerações de caráter psicológico e ético
Instauratio. Bacon acha que a fábula precede a excogitação dos significados
(algumas das quais serão retomadas na segunda [toes] ediçao àos Ensaios),
alegóricos e condena a pretensão de Crisipo de atribuir aos poetas antigos as
quatro temas filosóficos fundamentais podem ser levantados em De sapíentìa
opiniões dos {ilósofos estóicos. Prefere "não tomar posição" quanto ao conceito
petzrun-
de que todas as Íábuìas dos poetas são produtos da fantasia, antes que alegorias.
t) a afirmação da necessidadede uma distìnção nítida entre indag'açãofiÌosóÍìca
5) Cogitata et uìsa (1606, inédito): o programa, já esboçado em t, é retomado
e teologia, entre matéria de ciência e matéria de fé;
com um tom mais moderado e é levado adiante, baseado em um
2) uma série de atitudes tomadas a favor de um naturalismo materialista;
aprofundamento histórico maior. Bacon poìemiza com aqueles que, de má fr,
9) uma série de afirmações relativas à função da indagação filosófica e à exigência
atribuem à antiguidade remota suas opiniões, a fìm de que eÌas adquiram um
de uma nova metodologia.
maror Peso.
a) Uma tomada de posição em favor de um reaÌismo político de inspiração
6) Redargutio philnsophiarum (16os, inédito): retomad4 em modo um pouco
maquiavélica.
diferente do 5, do esquemajá esboçadoem l. Está presente a mesma polêmica
Conforme foi vistq todos essesmotivosjá estavam presentes nas obras de
de que se ÍàIou em 5, mas Bacon acrescent4 "de passagem", a hipótese de que
Bacon anteriores a 1609 No De sapimtia aettrum eles apzÌrecemestreitamente
as fábulas antigas sejam "relíquias de tempos melhores". No que se refere aos
trançados e, pela curiosa lorma em que são expostos, adquirem um tom particuÌar
problemas tratados, essa hipótese não apresenta grande interesse.
que lhes confere uma nova consistênciao'.
7) De sapientia letcrun (roos, publicado): a hipótese acenada em .tr e
explicitamente retomada em 6 se transforma em uma afirmação decidida: "'No L nÌítint& ?e1d1lzrsão irìtcrprctadas IDr llarcn 3l lìábulas, das quais a 30a(}[elìs.we nnilìum),
entre a sabedoria da antiguidade e os séculos que se seguem estende-se o véu à9a (3oror gtgdiltum srtjuu\ a l2a ((-ulun sìzv origmes) e a l9a (Prctrur rìvc rraltna) iá Ìrar iam sido
tratadas nas Cogttttiuws dr saenlia lunant dc l60:;; ao irl í's, a Íãlrtrla dc \íitìas, dc'scnrrrìr trÌa rtas
das Íábulas. A tentativa começada em g é retomada em Ìrma escaÌa maior. Ao
CogìtatioìEs,não será retornada no Dz rapìentit wterunt As ÍãbrtÌas Paz siue rutlur4 Poscus siue [tellum,
interpretar as fábulas antigas, Bacon encontra nelas os mesmos temas Diorysu siwaQúlìtas (que no I)^Sl'corresPordenr aos níureros 6, t.9í) serão retomadas c atlpliadas

I filosóficosjá expostos em g, s, 5,6 e nos outros escritos que antecedem 1609. en I)e digr:itat? ct augnëúis síqúarun de I6eJ Scnrpre em I)t uugrcnÌì-t,Bacon dirorrc brer etnente
I s?ìattio lctmnL Elq são os tnitos de
Entre 1605 e 1609 (talvez, mais precisamente, entre 160T e 1608) sobre alg;rrns rnitos que nâo haviarn sido tratados Do I*
t EscuÌápio,deÀtlas,dcScilaede.lssião Depiu:ìpiiarqworìgiul]6(ltj93-94)retonìaaiÌÌterPretação

l, z
amadureceu, pelo visto, em Bacon, a consciência da necessidadede assumir uma
nova atitude: às afirmações incertas do ÁàndtetrcnÍ of l-caning sobre o valor
dafabvla,Je C.ufido siu aktm(a I ?a) e irtcrrotnpr-s aÌìtes que cotnete a intcrPretação da fál]ula do

I - alegórico dos mitos e sobre a prioridade, defendida por Bacon, da fábula frente a
suas interpretações, foram substituídas, no prefácio ao De sapìtttia leterafl"
cêt- No Tonporir lurtu muilu1 to lhbriu Tèmitw
lerenrente a alguns @rìtos nritológicos No .4dwrcnmt
e no Philum Inbìrinthi Bwtt
of lzaníngLle
ltar ia accnado
l605 tinha des<'nroÌvido
Ìììuito ìigeiranìentc a intcrprctação dc três mitos (dos (ìiearrtcs' dc Briareu c <Ìe Quir ílr) rlue rrão
I ctorìar ão lo De sol>ànlìa 'u'lcrunt- O [Ìito de Briareu rcaÌ)arcce, lnrírn, no etruio (\ vdiliou aul
por um tom de segurança e uma adesão à tradição alegórica da quaÌ a anáÌise
lrczô1rr (acr<'scentado aos prn'ctlcntcs rra eJiçâo dc 1695) ,\ lábula dc Midas;rlrare'c rro cnsaio O/
agora empreendida pretende ter indicado as razões e os motivos. corzzwl(c<rn;xrstolraraa2'td del6l2)cno,!íÌaotutof atrssutonJhziz(publi<rdolxrrlìaulcyetn
t6í;) -{o rlito tìc Pronrtcu sc ac('r)a r)o crÌsaìo Of ddarrsìh (t" ul ) c aintÌa no cttsaio (;} rzrltTorer
'per
7. Pentuue Promztcu:a relaçãociância-religìõo- aqueles que pretendam chegar excelsa naturae et philosophiae fastigia" a
penetrar no mistério de Deus. Seu apetite natural carrega nele mesmo sua pena:
Através do mito de Penteu e o de Prometeu, em De sapientìaaetaum,Bacon espera-os uma inconstância perpétua e uma incapacidade de juízo que torna vãs
retoma a questão da relação religião-ciência tal como ela aparece formulada nos suasobras e seuspensaÌnentos: "cum enim aliud sit Iumen naturae, aliud divinum;
escritos anteriores a 1609 e esclarece melhôr um conceito já expressado em ita cum iìlis fit, ac si duos soles viderent"5'.
Cogitata et uisa:a hostilidade decìarada entre ciência e reÌigião taÌvez fosse menos O ensinamento encerrado no mito de Penteu retorna no mito de Prometeu
prejudicial que o conluio Aristóteìes-vida religiosa, isto é, de uma mistura de (Promethns siaestatushominìs).Este, entre outros crimes, tentou violentar a divina
humano e divino, de cientíÍìco-racional e de consolador-edificante. Nesse caso, a Minerva e seu destino atyoz é. a confirmação da sorte que espera aqueles que,
religiao, em lugar de se.ntir-se- onde fosse o caso - das descobertas da razão, inflados peÌa ciência, pretendem submeter a sapiência divina aos sentidos e à
acabava por atribuir um valor religioso a determinados conceitos racionais, razão. Este caminho só poderá conduzir a uma religião herética ou a uma ÍìlosoÍìa
enquanto a indagação racional se afastava de suas tarefas de atividade mundana, Íalsa: "estaque mente sobria et submissa distinguenda sunt humana et divin4
atribuindo-se possibilidades e resultados que lhe seriam negados por sua própria itaque oracula sensus et fidei; nisi forte et religio haeretica et philosophia
natureza commentitia hominibus cordi sit"5e.
Uma falsa religião e uma falsa Íilosofia são o inevitável resultado desse
conúbios.
O mito de Penteu (Actazon et Pentheon sìztecuriosus) que, tendo subido 8. Pan e Cupìdo: o naturalisnxornaterialista
numa árvore para de lá observar os secretos ritos de Baco, perdeu a luz da razão
e foi condenado a uma dupla visão de Tebas e do sol que o obrigava a errar sem A tese da eternidade da matéri4 da imutabilidade da quantidade da matéria
meta e o tornava incapaz de alcançar a cidade, representa o castigo que atingirá que constitú o universo e do movimento contínuo de suas partes estavzìm no
centro da interpretação das fábulas do Céu e de Proteu (Coelum sizteoriginzs,
Protheus siae matzrìn). As fábulas de Pan e de Cupido (Pan sfue naturq Cupido
unl houüct(s'td) No qrsaio Qf nrrïzr(1"rd ) seacena,finalrneÌìtc,?roÌnito dc Plutão,nâoderenroÌr,ido ite atomus) referem-se, respectivamente, ao quadro universal da realidade e às
ern outres mritos r-o ensaio í/ rcgunat qf hzdlth (pd)icado na r' ql de 1597) , tsacoì ha\-ia caracterÍsticas da matéria que a constitui.
colmdo o etudo dos nritos ao lado do da história da natureza, entre as atir idadesruis nobrc e
Ao lado daquela paÌte da flsica que se ocupa com as vaÌiedades e com as
rnais grandiws resen'adasao honrem Dos rnitos das lrntãs dos Gigantcs,dc Mi,tis, de protcu e tlo
Gu,jáfoiditonopanágraforcferenteàs (bgihttiom.Asresa.tcsrinree*tefábulaqinterpretadas particularidades das coisas e estuda suas diferentes quaìidades e naturezas (que
em De &lriada wtcrwe das quis nos auparcmG neste €pítulq fomrn agrupadr entre si enr será depois desenvolvida eÍn Dc augmntúli), Bacon havia lembrado, no
frrnçãodos quatrc temas Íündanrntais qw furam fmalizados tídvamenaú of I-caming, a teoria dc mntdo ou de unhwsitaÍz rerun (touhìng thz
-CliSy' III,pp. seí-ei Cf.tambónMed.S.,Sp.VII,pp
ss r-4e(tie?),No tbt.Tcm (Sp tIÍ.
p .218)Ba@l excluía <;ueo bonrnr pudtsscjanrais clregarà cotnprensão rle urn Derrstluc lão
tilcssc nenhuntas<'tttelhattçacornascriatrrrasA insuÍlciôrrtia rla ttnlogia natural pari ;r tìrrrtÌaçã<t
da rirla reìisiosa bavia sldo alìruradano Ada- (Sp llÍ, pp 19-ío; cÍ. I).d .S/ Í, p_.;+r),,{ ricla
rcì igìosaidentifica-scconr a<lrrcla
tcol.gia sa<ra orr rcr cÌada<;ucrc<1rrcr'
o alrarrdonodc qrralqucr " I)J/: ó? vl, pp 615-16
protensâorat'ionaÌ ', .\r' vl. 'lirn,.i2
1r rrì5 ch l'al l l l , p , 2 t 8 ; D , 4 ,s f I , p 5 1 ã ; D / J ' . \ } l l Í , p ; s s
eonterture or confrgura.tion oÍ thìngs) e aquela concernente os princípios das coisas sobretudo, a dupÌa natureza de qualquer realidade vivente que sempre
(concerning thz princìplzs or oiginal things)í'. participa de duas espéciesdiferentes (o homem tem em si algo de bruto, o
As fábulas do Céu e de Pan ligarn-se à teoria dz unìpersitatz ranrum; a de bruto tem em si algo de planta, a pÌanta - de inanimado). O fato de ser Pan o
Cupido, à teoria dos princÍpios primários do reaÌ. deus da caça aclara até o Íìm o signifrcado do mito: cada operação natural,
"Pan (ut et nomen ipsum etiam sonat) universitatem rerum, sive naturam, cada movimento, cada processo "nihil aliud quam venatio est. Nam et scientiae
raepresentat et praeponit". Na dupÌa origem atribuída a Pan, que, de acordo com et artes opera sua venantur".
'promiscuo
aÌguns, seria frlho de Mercúrio e, segundo outros, gerado pelo A habiÌidade de Pan em loca-lizar Ceres, procurada em vão por todos os
concubitu" dos Prócis com PenéÌope, estariam simbolizadas as duas possíveis deuses, ensina que a invenção das coisas úteis à vida não deve ser esperada dos
filosofias quanto à origem do universo: de um único princípio (o verbo diüno), fììósofos abstratos, simbolizados pelos deuses maiores, mas apenas de Pan, isto
ou de uma infinita multiplicidade "ex confusis rerum seminibus". Existe, é, da experiência e do conhecimento das coisas do mundo. O fato de que a Pan,
finalmente, quem faz nascer Pan da união de Júpiter com H;nis (os Gregos, a fora seu matrimônio com a ninfa Eco, não sejam atribuídos nem amores nem
esserespeito, parecem ter entrado em contato de algum modo -quem sabeatravés fìlhos afirm4 afinal, algo muito conveniente pzìra a natureza do universo. puem
dos Egípcios - com os mistérios hebraicos), mas este terceiro relato do nascimento
ama deseja algo, mas a natureza -justamente por ser absoluta totalidade - não
refere-se não às condiçôes primitivas do mundo, mas àquelas nas quais eÌe se
pode amar nem desejar nada, a não ser, talvez os sernn us- E entre esses,entre as
encontrou depois que a queda de Adão o expôs à corrupção e à morte. Esta
tantas poces,Pan escolheu Eco, aquela Íilosofia que repete fielmente as vozes do
tríplice origem de Pan, prossegue Bacon, pode ser considerada substancialmente
mundo, que é tão solrrerrte refzrô que não acrescenta nada de próprio "sed tantum
verdadeira, no sentido que Pan teve origem do Verbo de Deus, por meio da matéria
iterat et resonat". A esterilidade de Pan é outra confirmação da perfeição e da
confusa, já criada por Deus com o concurso do pecado*.
auto-suficiência da naturez4 cujas partes geram-se uma a partir da outr4 mas
O fato de Pan ser irmão das Parcas significa que a cadeia das causasnaturais
que, em sua totalidade, nada pode gerar. Aquela nulicrcafu lambe, que por alguns
carrega consigo a origem, a duração, a morte e o destino de todas as coisas. Os
foi erroneamente julgada fiIha de Pan, é o sÍmbolo daquelas doutrinas vãs e
chiÍies afiados de Pan, que tocam o céu, simbolizam a pirâmide do universq seu
bastardas a respeito da natureza das coisas que encherÍrm o mundo e que, se Por
corpo biforme indica a dupla natureza dos corpos celestes e terrestresió e,
vezes podem entreter com suas conversas, na maioria dos casos aParecemcomo
4Ado.,Sf IIl,p s;+; D4,S?.|,p 551 I'araosnritosdePaneCupitlo,cl-D.SIi^5]oVl,p6 p35
moÌestas e inoportunas.
ss , tì56 ss. Uma acentuação da úsada mecanicista presente nas fábulas do Céu, de
1 O c o n c e i t o a q u i e x p r e s s op o r I ì a c o n , d c ' u m a c r i a ç ã o d i r i n a d o m u n < ì oq u e s c e f e t u a
Proteu e de Pan, uma resolutâ tomada de posição a favor do atomismo, uma série
com o concurso do peado, tcm poucas ligações corn a coÌìcepção agostiniana (De cioitate
de idéias críticas contra a ÍilosoÍia grega em geral e a de Demócrito em Particular
Dez,XI I 8), retomada ;nr Tomás dc Acluino (Sumna theologicall, e,+z), do pecado considerad<r
como nmessariamente inserido na obra harmônica da criação divina Ao contrário, ele derira, são os três elementos que tornam interessante a interpretação baconiana do
corn nruita probabilidadg do 7ìzrro de Platão- CC lí'nrnri, p 7+ mito de Cupido, que será retomada e ampliada no De principiis atgc orighìbus
" Criticando as tescs de Ìiro dc Aìexandrit nas Cogtlalìonu de tatuu rzrazr, Bacon Ìrarìa (Cupido siu atomas). Cupido foi o mais antigo dos deuses e, portanto, de todas as
reconìrecìdounra diferençadc caráter cntrc os corlns ccÌcstcse os terrenos Mas tanto rìcsta
ol)ra, corrro na Deso i1>lioglobi ínlclletltalís <:no I'hmta coeli.el<'escìarec<'r;ue cssa dift'rorça rrão
coisas, excetuado o Caos, da mesma idade dele, que porém os antigos nunca
conc('rÌìc,cotno qucria a doutrina aristot('lica,rrntadiÍì.rorça dc p.\y'rli,entrcas rlrrasaafuirr:ar elevaram ao stahtsde divindade. Apesar de alguns considerálo filho da noite,
''ìtrclinations,
passionsand rÍ)tìons' são c(ÌÌìuns a()scorp()sccìcstcsc a()sto-rcstr( s não foram atribuÍdos genitores a Cupido Seus atributos eram quatro: ele era

L
t
representado jovenzinho, nu, cego e armado de flechas. Na fábula "ad cunabula semeìhante) pode ser determinada, segundo Bacon, pela resolução de um
naturae pertinet e penetrat", Cupido representa "appetitus sive stimuìus materie problema de caráter prático: o da transmutação dos É baseado num
"o.pos.
primae, sive... motus naturalis atomi Haec enim est ilÌa üs antiquissima et unica, interesse que provém da aiquimia que Bacon tende, portanto' para uma
quae ex materia omnia constituit et efiìngit". O movimento dos astros não tem igualdade absoluta das partículas elementares:os corpos são todos compostos
genitores e é, depois de Deus, sem causa; mesmo quem chegasse a conhecer os por átomos absolutamente iguais, e a indagação deve abandonar o terreno
mndnse os processos deste movimento não poderia conhecèlo "per causÍrm", uma dos "quieta principia rerum", para examinar a natureza do movimento, os
vez que ele é "causa causarum, ipsa incausabiÌis". Justamente, Cupido foi "apetites" e as "inclinaçÕes"
considerado como nascido de um ovo chocado pela misteriosa Noite, porque Mesmo na interpretação do mito de Cupido, Bacon formulava as razões de
talvez não seja dado esperar quejamais possa ser compreendida pela indagação seu distanciamento parcial da ffsica de Demócrito: ela se apresenta incapaz de
human4 aquela lzz tutnmaria n4htraz que corresponde à viÌtude de Cupido e de dar conta dos movimentos de expansão e de concentração. Esta reserva estava
cuja repetição e muÌtipücação deriva a variedade das coisas naturais. ligada, no pensamento de Bacon, ao fato de ter admitido a existência de um
A filosofra grega, que foi tão aguda na indagação sobre os princípios úaraunl eonunìstum.isto é, de um vazio incluÍdo nos corPos, sem o qual não
materiais das coisas,foi "negÌigente e langorosa' na indagação sobre os princípios seria possível explicar as expansões e as contrações em virtude das quais os
do movimento; a opinião dos peripatéticos, que concebe o estímulo como corpos ocupam espaços diferentes E, na interpretação do Cupido "sagitário",
'privação", "fere
non ultra verba tendit et rem potius sonat quam signat"; a teoria Bacon parecia aproximar-se justamente da tese do ztaanm comrn'istun(por ele
-nenhum movimento
de Demócrito não pzìreceem condições de dar razão ao moúmento circular dos referida a Heron de Alexandria) sem o qual - acrescentava
corpos ceÌestes; finaìmente, a opiniao de Epicuro sobre a dzclìnntìo atomi ê. tma seria possível. PeIo que dizia respeito, porém, ao problema do espaço vazio de
suposição gratuita que equivale a uma confissão de ignorância. matéria (oacuum coaeeraantum),Bacon evitava tomar uma posição precisa
A inÍância de Cupido representa a simplicidade das "sementes" das ("quisquis autem atomum asseruit atque vacuum, licet istud vacuum intermistum
coisas. Sua nudez indica, nos átomos, a ausência de qualidades ÍÌsicas sensÍveis. ponat non segregatum, necessario virtutem atomi ad distans intoducit").
Seu ser, armado de setas, responde ao conceito de uma ação à distância dos Esta incerteza de Bacon quanto à determinação do problema do espaço
átomos pelo vazio, a cegueira torna mais admirável a obra da natureza e vazio, que se reproduz no decorrer de sua obra inteira56, está ligada às posições
implica, necessariamente, a exclusão das causas hnais do domÍnio da filosofia sucessivas que ele toma diante do problema da realidade ÍIsica- Entre t 604 e
natural.
Jâ, nas Cogitationes de natura rerurn, que constituem a primeira
contraposição de um materialismo baconiano à ÍIsica dos platônicos e dos *Nas Hercn de Alexandria, à
Crgithüows dl utum rmmBacon 1xroc aderir, conr Giìbcrr e ontra
aristotélicoga teoria atomística e o movimento naturaì dos átomos haviam tNì que aÍìnna a eristêDcia dc rrlr cspaço razio nos céus (zcrzzlr mrcrwlw) Na Dewiptio glabì
sido assumidos por Bacon como capazes de explicar a infinita multiplicidade úútlkdwlis otprtaqrre Demírrito, jurìto @m He()n c'lllcsio, adnrite a existência de um mzarr

do real. Mag mesmo aderindo a uma orientação atomística, Bacon havia aberto anonislnn e ;rarc c fàrorár cl a esta opirìião- No Dt itrìnrì1tiis d oÍ3zziüro paret incerto qtlanto à
-ft.lesio
(f outrina do ?u{7ír r frilyìlúluLt qr<,, agrl a, atrilttri a l)cnrírrito c a No irmtu orgarun (ll.
o caminho, nas Cogitationes, paÍa uma discussão crítica da doutrina de
r$) aÍìÌnla e\p.essanÌrrìtc: Nc<1rrc <'rrinr pro c('rto alÌìrtnartr-ittttts. rltrllnl dctur racuttnt sive
Demócrito, recusando a diversidade de configuração dos átomos. Â escolha coaccnatrrfìrsi\cpernristurri l.)rfìnr.n<tsralolz.srwhilts(s"dallistonalauzlran)aÍirtna:'ìi<ltesr
entre Demócrito e Pitágoras (que coloca os átomos de forma absolutamente racurnD in natuÍ4, Ìtcc c(ilìgregiìtÌlnì txt irìternlisttrrrr (//DR,.!r ll' p stls)-
li
1609, Bacon concebe o movimento como a propriedade essencialdos corpos, Não é por acaso que o Not'wrÍt'Organum,s"e depois com mais decisão na Historia
o princípio que determina suas propriedade s.No Filum lnbìrinthi siae inquisìtio densi et rari, Bacon tomará posição contra a idéia de qualquer tipo de oaraum^
lagitina de motu (tooz) Bacon concebe o movimento como a chave capaz de
abrir os segredos mais recônditos da realidade natural e, nas Cogìtatìones,
considera os movimentos sirnplescomo sendo o alfabeto da natureza.Também
no De sapìentìa aeterum permanecem traços evidentes dessas posições.
9. Erìtônio,Atalnntn,A Esfinge,Orfeu
Entretanto, nas sucessivasfases do pensamento de Bacon, diante da procura Pronuteua tarefadnfil.osofia
dos princípios da estrutura do reaì, esta avaliação do movimento sofrerá
modificações essenciais e à elaboraçâo da doutrina das formas irá corresponder Em Eco, a esposa escolhida por Pan, Bacon já havia visto sirnbolizada uma
um afastamento cada vez mais acentuado dos primeiros esboçosatomísticos. Íilosofia capazde aderir à realidade das coisas e de seguir fielmente os caminhos

Esta mudança das visadas de Bacon no que diz respeito ao átomo e ao da experiência; mag referindo-se ao atributo de "caçador" de Pan, havia, ao mesmo

movimento ficará ainda mais evidente pela comparação entre o mito de tempo, insistido no caráter de perpétua caçaQtenatio), próprio da cultura e da

Cupido, do De sapìentia veterutït"e o exposto em De prineìpìis atque orìgínìbus. arte humanas. Apesar do aparente contraste, a "repetição" amorosa da ninfa e a
vioìência do caçador vinham revelando algo idêntico, sendo que a caça se
Entretanto, no Ib sapitntìa oeterurna interpretação do mito de Cupido
identi{ìcava não com a casualidade de uma expeiiência apressada,mas com um
aparececomo a passagem do atomismo primitivo a um novo naturalismo. Cupido
método fundado sobre princípios persistentes.
é o apetite, o estímulo, o moümento natural do átomo, e, ao mesmo tempo, a
A natureza forçada da arte pode ser levada a assumir formas cada vez
suprema lei da natureza(br sunnaria naturae).Esta identificação do movimento
mais novas: sobre este conceito Bacon havia insistido na interpretação da
com o apetite e com a lei suprema da natureza não fora teorizada tão
fábula de Proteu (Proteus siae natcria). Na interpretação do mìto de Eritônio
explicitamente nas Cogitatiotus: ela prenunciava aquele conceito das formas
ele procura, agora, esclarecer a direção que essa arte deve assumir para obter
constitutivas do reaÌ e, ao mesmo tempo, as leis de sua atividade, que serão
sucesso (Erichtonìus siu impostuta). Vulcão, que tenta violentar Minerva e
desenvoìvidas no Novum Organum e no De augmenüs.
dá vida ao deforme Eritônio, representa aqueìe tipo de arte que pretende
Desta complexa posição baconiana (intermediária entre o atomismo de
usar violência contra a natureza e que, conseqüentemente, gera produtos
sua fasejuvenil e a sucessiva teoria das formas) nascia a incertez4 demonstrada 'inter
z imperfeitos e inúteis. Isto acontece muitas vezes, esclarece Bacon,
por Bacon, referente ao problema do aatauni1.
produtiones chymicas, et inter subtilitates et novitates mechanicas" quando
O fato de admitir um úatr7turncomnlistum, concebido espacialrnente, só podia
os homens, sequiosos de um sucesso imediato, preferem lutar contra a
z
realmente concordar, apenas proúsoriamentg com a identificação baconiana do
natureza, em lugar de pedir-Ihe o abraço.
-, átomo e do apetite que s€ move sobre um plano qualitativo no qual não podia
encontrar lugar a afirmação de um novq concebido em termos quantitativos,
'
I.lnÌ contraste r.oÌD o treclìo citado na nota anterìor (N0 I I +S), no atbrisrtlo oitarrr do segundo
Iirro, Bacrtn ;xrsicionara-se, conr eÍèito, contra o coÌrccito de ztnrtlt, "ìieqlre propter ea rcs

<Ìcdrrcctrrr atl atonurn, qui presupponit Yacuu[ì ct ÌnatelianÌ non fluraut (tluorun úrunque
CÍì os tcxtos indicrdos rìa Dota l)reccdclìt( rr) secl acl rcras <;ttaÌcs inveniunttttJ' (itáÌico rnerr)
.fitl.tn
Tambem a fábuìa de AtaÌanta, que perdeu a corrida com o astuto Hipomenes
da primeira, pode ocorrer apenas mediante "debita et exquisita naturae
que a distrai da meta, atirando nela, uma aÌús a outra, três maçãs de ouro (Atalanta
temperamenta", semelhantes à deÌicada harmonia da lira de Orfeu. O fato de
sive hurum), representa o certamtn da arte com a natureza e visa a prática estulta
Orfeu virar-se para ver Eurídice e seu fracasso indicam a "curiosam et
de abandonar o curso legítimo da indagação cientÍfica para entregar_se a
intempestivam sedulitatem et impatientiam" de quem abandona os "accuratos
experimentos que pressupõem resultados imediatos.
modos" da experiência. Quando a filosofia reconhece seu fracasso em relação
As características da indagação científica, até aqui esboçadas
à natureza, retrai-se em soÌidão (tal como Orfeu depois da derrota) e funda
parcialmente, tornam-se paulatinamente mais claras, na interpretação dos
as cidades, suaviza os costumes dos homens, submete-os ao império das Ìeis.
mitos da Esfinge e de Orfeu (Sfinz sioe scientìa, Orpheus siae phitosophia)
Orfeu, diÌacerado pelas bacantes,representa, finalmente, a destruição da vida
A ciência não é apenas uma corrida ofegante, como no mito de Atalanta: ela
civiÌ que nasce das guerras e das revoìuções e que carrega consigo também a
se apresenta como um enigma ao qual, vez após outra, é preciso responder. A
destruição das letras e da filosofia: da cultura só restam poucas tábuas de
figura proteiforme da Esfinge indica a imensa variedade dos objetos do saber,
naufrágio, que emergem dos tempos da barbárie e que chegam às vezes, depois
as unhas são os argumentos que penetram em profundidade na mente, seu a outros povos e a outras naçÕes-
de muito tempo, a tornar a aflorarjunto
sitiar os caminhos refere-se às contínuas ocasiões de indagação
!lue, no Com termos claramente vindos do humanismo, Bacon acentuava, na
caminho da vida, se apresentam aos homens. Os enigmas propostos pela
interpretação da f;ábula de Prometeu (Promctcus siae status homìnis), o valor da
ciência derivam das Musas e, enquanto ficam junto às Musas, não produzem
centralidade do homem no mundo e da potência construtiva que jorra dessa
dano algum pelo fato de a ciência - que é pura contemplação - "intellectus
posição.
non premitur nec in arcto ponitur, sed vagatur et expatriatur- _ encontrar Todas as coisas são colocadas ao serviço do homem: os períodos e as
alegria e deleite no próprio duvidar. porém, quando os enigmas passam conversões dos astros servem à medida do tempo; dos ventos o homem se serve
diretamente à Esfinge (isto é, à ciência que constituì, com a prática, uma píÌra seus navios e para suas máquinas; das plantas ele faz uso Para suas roulÉs'
coisa só), então se tornam molestos e cruéis e atormentam, estraçalham e para a alimentação, para a medicina, e dos animais se serve para aliviar sua fadiga
laceram as mentes. Ápenas quem souber enfrentá-los e resolvèIos, poderá, e por deleiteu". O homem é a coisa mais complexa que existe no universo e por
como Édipo, tornar-se rei e conquistar o domínio da natureza e dos homens: isso mesmo os antigos o chamaram de mundus minor. Os alquimistas tomaram
"vere enim philosophiae naturalis finis proprius et ultimus
est irnperium in demasiado literalmente esta afirmação, tirando-lhe seu signiÍicado de origem.
res naturales, corpora, medicinas, mechanica, alia infinita-.E quem conhecerá Não deixa de ser verdade, entretanto, que a extraordinária riqueza das faculdades
c a natureza dos homeng 'ille faber fortunae suae essepotest, et ad imperandum humanas nasce docaráterextremamente comÉsito do homem. Todaüao homem
z
natus est". Para alcançar este duplo fim será necessário, como Édipo, coxea. é, na sua origem, coisa inerme e desnud4 desproúda de tudo e incapaz de prover
a sua üda: o furto do fogo do qual nasceram as oPeraçõ€s humanas, as artes
e evitar aproximar-se, "celeri gradu", à EsÍìnge.
mecânicas, e as próprias ciências, é o símboìo da revolta do homem contra sua
O duplo canto de Orfeu, um dirigido a aplacar os Manes, o outro a
situação de inicial impotência. Ao gesto de Piometeu, os homens, porém,
adormecer as feras e atrair as selvas, indica as tarefas da filosofia natural e da
fiìosoha moraì. A "restitutio et instauratio rerum corruptibilium-, que é tarefa

b
responderam com a mais negra ingratidão, denunciando-o a Júpiter que, em 'Atque
mesmas, a possibiÌìdade de um duplo uso faciunt ad nocumentum et ad
troca da denúnci4 os deixou na posse do fogo: os que eÌevam até os céus as aÌtes remedium". O fio, imaginado p€lo construtor do labirinto é, por outro lado, o
do homem e que estão em êxtase perpétuo diante da ciência que têm, barram seu símbolo daquela adesão à experiência que pode, por si só, guiar o homem por
caminho rumo a quaÌquer outra conquista Apenas os que põ€m a ciência em entre a sutileza de suas artes.
estado de acusação (assim foi acusado Prometeu) são contìnuamente estimulados Sobre a utilidade de uma aia nzdìa" da qual se valer na atividade científica,
no caminho da invenção e do progresso. As atwsaçõesdirigidas à natureza e à insistia Íìnalmente Bacon na interpretação dos mitos de Ícaro, de SciÌa e Caridbes
ciência são, portanto, gratas aos deuses,e prenunciam novos dons O fato de ter (Icarus rolnrc, ìtem Scyllz et Ch"arydbìssioe uia mzdìa). Apenas na política uma via
denunciado Prometeu foi mais útiÌ aos homens do que a admiração diante do que média deve ser decididamente excìuída: na moral ela constitui a única possibilidade
possuíam; a confiança na abundância sendo a maior causa da pobreza O dom de de uma concreta vida ética, enquanto na ciência e na técnica eÌa poderá impedir
Júpiter, colocado pelos homens no dorso de um pobre burrico, representa aquele o naufrágio contra os recifes das distinções por demais sutis ou contra as voragens
tipo de experiência tardia da quaÌ nasceu "antiquissima illa quaerimonia de vita dos universais abstratos.
brevi et arte longa" e que se opõe à corrida veìoz dos filósofos abstratos, sem que
as "faculdades" empírica e dogmática jamais consigam juntar-se. O uso das
t O. Deucalião e Prosérpina:
corridas com as tochas em honra de Prometeu deveria ser retomado: o progresso
só pode ser esperado de uma comunidade de cientistas; ninguém, sozinho, poderá
a tradição ntágìco-alquímìca
fornecer uma contribuição decisiva para a ciência. A prática desszrscorridas pÍìrece
ter sido suspensa há muito tempo. É tempo que os homens deixem de obsequiar Uma influência evidente das expressões alquímicas já se encontrava
a autoridade de poucos e provem a consistência de suas forças@. presente na interpretação baconiana da fábula de Proteu, em que Bacon fazia
Farrington observou, justamente, que aqueÌes que censuraríun Bacon por depender as transformações da matéria de uma tentativa de annihilaÍio diante
ter postulado a bondade do progresso mecânico enquanto tal (e essaacusaçãofoi da qual a matéria, de tal forma agarrada por suas extremidades, reage
repetida muitas vezes), evidentemente, não leram a interpretação baconiana do admiraveìmente. Nas fábulas de Prosérpina (Proserpina sizte spiritus) e de
mito de Déd,alo (Dazd.alus sizn nzclnnìas), no quaÌ os antigos, de acordo com Deucaliao (Dercalion she restitutìo), essainfluência é mais claramente e diretamente
Bacon, quiseram r€presentaÌ os artiÍÌcios ilÍcitos e'propensos a usos ma-lvados" analisável
z das artes mecânicas. Prosérpin4 rainha dos infernos e mulher de Plutão, representa não apenas
Muitas vantagens tira a vida humana da técnica e das artes mecânicas, a força vegetativa que preside o desenvolvimento e o crescimento das plantas,
mas, dessas mesmas fontes podem se originar instrumentos
de incontinência e mas tamMm a energia oculta que gera continuamente a partir de si e em si
morte e aqueles canhõês e outros meios de destruição que superam a ferocidade r€absorve todas as coisas terrestres. Ela é o símbolo do'espírito" que esú contido
e a crueza do próprio Minotauro. As artes mecânicas czìrregaÌÍ\ portanto, em si nos minerais, nos metais e que pode ser guardado no interior de uma matéria
sólida, ou pela vioìência (per constipationem sive obstructionem), ou por
minìstratiorcm proportioruzti alimenti. E, enquanto nos minerais e nos metais o
'''
[)ara rrnra disctrssão rlais anrpÌa da int('rpretação bacorriarra do rrrito dc I'rrnctcu,
espÍrito é retido pela soÌidez da massa, nas plantas e nos animais é necessário,
cÍì l,aglo
lì()ssi,pP l?1-sí;, dada sua extrema porosidade, que seja retido'per modurn degustationis", de

'J-
maneira que não mais queira se afastar e escapar Prosérpina é representada cumpriram seu curso e são completamente ineptas Para uma regeneração; é
como a rainha dos infernos raptada por Plutão, porque este "espírito" não pode preciso, portanto, voltar "ad principia magis communia"-
ser fixado aos corpos mediante uma operação Ìenta, mas apenas através de uma O que viemos dizendo pode ajudar-nos a esclarecer o significado da
confradioru et eom.mìna.tione,
semelhante à violenta agitação da água que gera a interpretação baconiana do mito de Eritônio, ao qual acenamos:na luta de Vulcão
espuma, como se o ar tivesse sido raptado justamente pela própria água. contra a virtude de Minerva, a semente se espalhou pela terra e gerou Eritônio,
Mas, também no fim da interpretação do mito de Prosérpina, Bacon beÌo, atraente, na parte superior do corpo, mas disforme e fraco como uma enguia,
não deixava de adiantar suas reservas quanto às pretensões da magia e da na parte inferior. cada vez que a arte (vulcão) quer usar de violência contra a
alquimia. Os antigos - afirma Bacon - não Ìevaram na devida consideração a natureza (Minerva) e com eÌa lzl4 difrcilmente atinge o fim proposto e dá origem,
impossibilidade da conservação e da compìeta restauração dos corpos, mas ao contrário, a seresdisformes que ostentam uma falsa beleza O erro fundamentaÌ
.produções
tão somente a consideraram uma empresa difícit e fora dos caminhos das químicas e mecânicas" não se encontra na fina'lidade de submissão
normalmente seguidos. Com a aìegoria do ramo de ouro, escondido entre os que propõem, mas no método que seguem para consegui-lo' em seu lutar, em
galhos de uma imensa e espessafloresta, quiseram signihcar que efeitos desse lugar de pedir o abraço de Minerva.
tipo não são obtíveis por meio de aÌguma droga ou por um caminho simples Ao proceder iiusório e imediatista das buscas alquímicas, Bacon contrapõe
e natural. A este erro (bastante comum entre os homens) vão de enconho os portanto uma nova metodologia que "obsequia" o real e não se "precipita" em
que pretendem chegar milagrosamente a uma completa restauração dos sua corrida (cf. o mito de Atalanta). Não ê a fnalidalz da vioÌência, nem o
corpos através de seus próprios restos e de sua putrefação. O mito de Deucaliao pressuposto de uma identidade substancial, nem o de uma correspondência entre

e de Pirra (Deucalion síae restìtutìo) que, tendo ficado sozinhos na terra os elementos de natureza animada que é colocado em discussão,mas tão-somente

depois do dilúvio, consultaram um oráculo e compreenderam finalmente que a pretensão de se chegar a dominar o reaÌ mediante intervenções milagrosas que
parecem fazer com que o homem não tenha necessidadede suar e trabaìhar para
os "ossos da progenitora" indicavam não os corpos mortos, mas as pedras
agarrar e dominar o mundo. É necessário proceder a uma distância igual tanto
das quais está repleta a mãe terra, toca justamente a absurda pretensão de se
dos milagres quanto de uma busca por demais estreit4 para alcançar resultados
chegar a uma milagrosa lenanatìo dos corpos que pretenda ressuscitá-los,
verdadeiros
como a Fênix. de suas cinzas.
A arte de renovar e de ressuscitar corpos orgânicos a partir de seus
/ elementos isolados em putrefação era abertamente professada pela maior parte
dos alquimistas, para os quais a descoberta da pedra Íilosofal, capaz de anular t t. Cassanì.rqMentno4 Titonn, Nêmzsis,Dion'ìso,as sereias'o
os efeitos da morte e daputrefação, constituía, na maioria dos casos,a premissa pasodz Pandnra:mnüvosético-psìcohgins
z
necessária para a fabriu ção do ouro. Junto com a pedra filosofal Bacon recusa
decididamente tamMm a possibilidade de uma regeneração desse tipo, tornada Das seis fábulas acima Bacon serve-se Para traçar uma espécie de
impossÍvel, na base de suas teorias flsicas, justamente pelas mudanças que fenomenologia fragmentária da vida psicológica e chegar, através do esboço de
ocorrerarn na estrutura molecuÌar dos corpos, em função da perda do "espírito,, caracteres, a determinar alguns aspectos de sua doutrina moral. Diferentemente
e da'umidade", o que influi, provavelmente, também sobre sua estrutura. É do que ocorre nas interpretações que foram examinadas até aqui, estas páginas
necessário dar-se conta - escreve Bacon - que as partes corrompidas do De sapientia teterum podem ser colocadas no mesmo plano dos Ensaios:
muitos dos motivos aos quais Bacon acena aqui serão mais amplamente vivem esquecidos de si próprios. O tédio e a saciedadesobrevêm e eles não mais
ii desenvolvidos em suas edições sucessivas dos Ensaios. conseguem sentir prazer; então se contentam com a lembrança e com a narração
iÌ O mito de Cassandra (CassandrasiuefarrhzstQ, a quem Âpolo concedera
prever o futuro, negando-Ìhe, entretanto, a capacidade de se fazer acreditar pela
dos prazeres passados.Como tantas cigarras os veÌhos e os guerreiros aÌnam
contar os feitos passados,mas, como as cigarras, só têm força na voz
exatidão de sua visão, simboiiza a inutilidade dos conseÌhos dados fora de
A fábuta de Dioniso se refere aos costumes, e nada se insere tão bem
propósito por aqueles homens que não sabem adaptar seus discursos ao ambiente
como ela na filosofia moral - escreve Bacon. Dioniso é fiÌho de Júpiter e
em que faÌam, ao grau de instrução de seus ouvintes, e que não se dão conta de
Semele que, após a concepção, foi destruída peìo aspecto de Júpiter a quem
que existem ocasiões em que é necessário falar e outras em que se deve caÌar. Um
ela havia pedido que lhe aparecessetal conÌo costumava aparecer para Juno.
insigne exemplo dessetipo humano foi Catão de Útica, de quem Cícerojustamente
Júpiter recolheu o parto imaturo e o Ìevou a maturação, costurando-o numa
1 dizia: "e fala como se vivêssemos na repúbÌica de PÌatão e não na escória de
j coxa Quando nasceu Dioniso, confiou-o a Prosérpina, rainha dos ìnfernos,
Rômulo".
ll f ' para que cuidasse dele. Dioniso teve asPecto femíneo; morto e sepultado,
A Nêmesis (Nanzsis ive aicesrnum) é, para Bacon, o símbolo do eterno
I ressuscitou; descobriu a cuÌtura da videira e a fabricação do vinho, subjugou
j alternar-se dos destinos humanos. O Oceano e a Noite foram os seus genitores:
I a terra até a Índia e casou-se com Ariadna, abandonada por Teseu- Em seu
I quer dizer, a vicissitude eterna das coisas e o misteriosojuízo divino A coroa foi
cortejo estavam as Musas, mas os cultos que lhe foram tributados eram
atribuÍda à deusa pela natureza maldosa do vulgo que exulta todas as vezes que
repletos de fanatismo e, por vezes, de crueìdade, Penteu e Orfeu foram, de
os poderosos caem Dela poderá esquivar-se quem morrer jovem; mas quem
fato, mortos e esquartejados pelas mulheres possuídas pelo culto de Dioniso.
quer que aÌcance uma felicidade duradoura Íìcará exposto a seus contínuos e
Suas obras foram, muitas vezes, confundidas com as de Júpiter. Dioniso
repetidos golpes.
Aos adolescentes infelizes que fogem da Nêmesis por terem sido representa a paixão. Semele, sua mãe ilegítima, é o bem aParente. A paixão

raptados pela morte, refere-se, ao contráÌio, se alimenta nas partes baixas da alma, como no fêmur de Júpiter e dali ela
o mito de Memnon (Memwn iae
praematurus).Tal como Memnon, Íìlho deÂuror4 que morreu combatendo contra atormenta o homem que a alimenta, vivendo, depois, de uma vida subterrânea

Aquiles, assirn os adolescentes prematuramente desaparecidos lutaram contra e escondida (Dioniso, criado por Prosérpina) As paixões têm ímpeto viril e
heróis maiores e mais fortes do que eles. Os lamentos que nascem por ocasião de impotência feminina e estão sempre Prontas a ressurgir, uma vez apagadas.

'z sua morte são semelhantes ao fiaco ìamento das aves enviadas por Júpiter ao Da paixão nascem descobertas engenhosas (as da videira e do vinho) e elas
funeral de Memnon. tendem a estender seu domÍnio interminavelmente (a conquista do mundo

A um exame da vida passional é dedicado um grupo de três fábulas: até às Índias). Às paixões apetece o que o mundo repudiou (o matrimônio
Tithonus sine satias, Dionysus siúe ca?ìditas, Sirenes sioe oolaptas. Aurora, com a repudiada Ariadna) e sempre encontram uma doutrina Pronta a
apaixonada por Titono, rogou a Júpiter que concedesse ao amado o dom justifrcá-las (o cortejo das Musas). A morte de Penteu e de Orleu indica a
da imortalidade, mas esqueceu-sede pedir para ele tamMm o dom da juventude hostilidade das paixões para com qualquer admoestação.A confusão, enfim,
eterna. Titono tornou-se assim o mais infeliz dos homens, até que Júpiter, entre as obras de Dioniso e de Júpiter mostra como, às vezes, empresas
piedosamente, o transformou em javali. A fiíbula é uma engenhosa descrição do gioriosas possam provir não apenas da verdadeira virtude e da
prazer. Os homens, presas do prazer, consideram eterno seu estado presente e magnanimidade, mas também de paixões latentes e de cupidez oculta, de
i
,t
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t'Ìl
:
I
I
modo que nem sempre é fácil distinguir o que deriva de Dioniso e o que vem arrastando< até o Cáucaso e prendendo-o com correntes a uma coluna. Durante
de Júpiter, ou da virtude. o dia uma águia comia-Ìhe o Íìgado que, durante a noite, renascia. Hércules,
A teoria das paixões, acenada no mito de Titono e desenvolvida no quando atravessava o Oceano num vaso de barro, conseguiu finalmente Ìibertar
de Dioniso, encontra seu acabamento na fábuìa das sereias e se refere aos Prometeu.
atrativos da volúpia e aos remédios necessáriospara se subtrair deles.Para resistir Pandora é a paixão que carrega consigo inúmeros e perigosos males,
ao canto com que as serelas encantavam os navegantes, Ulisses mandou seus para a vida de cada um e para a vida dos Estados Epimeteu é o símbolo daqueles
companheiros vedarem seus ouúdos com cera e mandou que o Íìmarrassem ao homens imprevidentes e de visão Ìimitada que consideram melhores as coisas
mastro do navio Orfeu passou pelas sereias cantando em voz altíssima, a g r a d á v e i s n o e s t a d o p r e s e n t e e , c o n s e q ü e n t e m e n t e ,s e n t e m - s e a f l i t o s e
acompanhando-se com a lira, louvações para os deuses. Dos três remédios perturbados com as dificuìdades e com os perigos que devem enfrentar
propostos, os dois primeiros - para Bacon - se referem à filosofi4 o terceiro, à continuamente. Eles conseguem, entretanto, aplacar seus conflitos interiores e
religião. O primeiro é próprio dos ânimos vulgares e plebeus (os compaaheiros mitigar suas misérias, conhando o ânimo a esperanças vãs com as quais
de Lllisses) que se servem da íilosofia para se resguardarem das ocasiõesdepecado continuamente se deleitam como se fossem sons suaves
e a concebem como uma evasão deste mundo; o segundo é próprio dos ânimos Prometeu, ao contrário, é o símbolo daqueles homens prudentes que
fortes que, como Ulisses, podem circular entre os gozos com ânimo constante, rechaçam continuamente qualquer maì que os ameace. Todavi4 assim fazendo,
mais como contempìadores do que como eacravos do prazer; o terceiro rem&io, eles se privam de muitos prazeres e de muitas alegrias, se atormentam e se
finalmente, é o oferecido pela relìgião porque, como o canto de Orfeu, a meditação amarguraÌn com pensamentos tristes e com ansiedadesque - como a águia, para
das coisas divinas vence o prazer dos sentidos, não tanto pela força quanto pela Prometeu - roem seu fÌgado interminaveìmente e que só parzrm com a morte.
suavidade. Hércules é o homem forte e constante que reúne em si a coragem de Epimeteu e
Diante da vida passional, a filosofia oferece, portanto, ao homem uma a desconÍiança de Prometeu. A fortaleza de Hércules não é inat4 ele a conseguiu
dupla possibilidade: a negação da paixão, sua recusa, ou a conscientização do Sol, para além do Oceano, e nasce da reflexão sobre a inconstância das coisas
de sua realidade que se resoìve em sua inserção racional na vida ética. O humanas. E, para que os homens não apelem demasiado para a fragilidade de sua
mito do vaso de Pandora (inserido por Bacon na fábula de Prometeu) refere- naturez4 Hércules foi representado atravessardo o Oceano dentro de um fiágil
se a essa dupla atitude e caracteriza psicologicamente a figura do'esteta" vaso de barro. Este ideal de vida representado por Hércules foi acertadamente
'rigorista-
I e a do acenando, ao mesmo tempo, à necessidade de uma expresso por Sêneca quando escreveu: "Magnum est habere simul fragilitatem
superação dessas posições que parecem unilaterais. hominis et securitatem Dei"
Júpiter, para atingir o gênero humano e puniri através dele, a protérvia de Em Vabrius Terminus (tooe), Bacon já havia afirmado explicitamente sua
Prometeu, fez moldarpor Plutão a beÌÍssima Pandora a quem os deuses confiaram adesãoa um naturalismo ético que substituísse ao debate badicional sobre a natureza
um vaso elegante em que se encontravam encerrados todos os males e as do bem supremo uma indagação precisa dos fatos étimg fundada realisticanrente
desventuras: no fundo estava a esperança. O astuto e arguto Prometeu recusou- num conhecimento do mundo moral que úesse de uma série de pesquisas históricas
se a retirar a tampa do vaso que Pandora lhe oferecera, enquanto seu temeúrio e psicológicas. Sobre este terreno nasci4 mais uma vez, a distinção das tarefas entre
irmão, Epimeteu, abriu-o e os males se espalharam velozes pela terra; só a a teologia revelada e a filosofia: à primeira cabia a incumbência de determinar o bem
esperança ficou com Epimeteu. Júpiter, então, puniu o astuto Prometeu supremo (identificado por Bacon como sendo o ideal da clarìlas crisüt), enquanto às

b -L__--
lll
disputas da {iÌosofia estavareservadaa buscade um bem terreno, sobre o quaì fundar Contrapondo à rígida coerência de uma ética fundada sobre a
a conüvência dos homens.A lei mais aÌta da naturez4o bonurncommtnìonis,acabava transcendência, a flexibilidade e a empiricidade de uma ética naturaìista, Bacon
por identificar-se, no pensamento baconiano, com a lei mais alta da {é cristã; na concebe como premissa necessária a cada doutrina moraÌ, um exame dos dados
reaìidade, esta última lei tinh4 para Bacon, um valor essencialmente regulador. de fato, isto é, do caráter e dos tipos humanos que cada ação deve ter em conta e
Sua colocaçãorigidamente empírico-fenomenoÌógica do probÌema ético encontra entre os quais ela se desenvolve necessariamente.Apenas a partir dessa anáìise
a melhor garantia em sua adesão ao deÌineamento maquiavélico do problema dos dados, independente de qualquer aceitaçãoapriorística de uma teoria do
ético-poÌítico e na "gratidão"que ele sentia por MaquiaveÌ e da qual ele fala no
bem, é que poderá nascer a terceira parte da Geórgbague compreendeos remédios
Adaarcmrnt of Learnìng.
a serem aplicados à vida passional
O mesmo empenho de uma modificação do real, que Bacon contrapunha
No mito de Dioniso, Bacon encontrava a posição e o signiÍicado da vida
teoricamente à tradição fiÌosófica, manifesta-se também em sua doutrina ética:
passional, entendida como um eÌemento fundamentaÌ do progresso humano. A
lli ao tratar do mundo moraÌ - escrevera em 1605 - os Íilósofos agiram como alguém
ciência moral, segundo Bacon, importa acima de tudo saber conn afgumas paixões
que, professando ensinar a arte da escritura, pusessesob os olhos dos alunos
podem combater e superar outras, porque é sobre essa base que se funda a vida
apenas modelos de cartas, sem fornecer nenhuma instrução quanto à maneira de
do indivÍduo e a da sociedade Esta última, de fato, exaltando as paixões
conduzir a pena-
predominantes como a esperança e o temor, serve-se delas para frear e suprimir
Esses frÌósofos exibiram modeÌos e acumuÌaram programas de felicidade,de
as paixões perigosas. A busca moral acabavacoincidindo com uma indagação de
bem, de dever, de ürtude, pondo+s como fins da ação humana. Porém, ao mostrarem
natureza política e é precisamente no âmbito da política que a adesão a um
um magnífico alvo, esqueceram-sede ensinar a maneira de fazer pontaria Justamente
naturaÌismo inspirado por Maquiavel vai se manifestar com evidência maior
sobre o método e o adestramento necessários para a conquista da virtude pública e
i: privada deve insistir a nova filosofia. Cada teoria da ürtude, assim como cada teoria
rli científica, é inútil e vã se não se dirige à prátic4 levardo em conta todos aqueles
12. Métis, os Ciclopes,o cortejadorde Juno, Endimião,
ii
fenômenos importantíssimos que pareceram por demais banais e indignos de
constituir o objeto de uma pesquisa âlosófica, aos filósofos tradicionais. A Ge6rgim
Narciso,Áteo4 Prse4 Áquclnu"Diomzdcs,Ttfou
da abnabw>niana quer ser exatamente essaaÌte de realização prática da virtude. O Esttge:o realistrnpolíticl
Esta doutrina, que se ressente fortemente da influência da ética aristotélica,
compreende três partes: o estudo dos caracteres (que os poetas, os Na interpretação da fábula de Métis (Metis siae consìlium), inserida
historiadores e os filósofos souberam agudamente realizar); o estudo das nas Cogitatìones dz scìentia hunana, Bacon movia-se - conforme foi visto
paixões e os remédios para as paixões. - sobre um plano de realismo político ainda mais acentuado que o de
 característica mistura de temas psicológicos e éticos que encontramos Maquiavel. Âinda à arte de governar, e mais precisamente à relação entre o
nesse grupo de mitos não nasce,portanto, de um interesse de natureza literária: soberano e seus ministros, refere-se o mito dos CicÌopes (Cyclopessíz;eministì
o estudo do caráter, que ürá a ser ulteriormente desenvoÌvido nos mitos que se terroris). Os Ciclopes, encarregados por Júpiter de matar Esculápio, são
referem à política, constitui uma parte essencialda estrutura da ética baconiana fuìminados, depois, por Apolq sem que Júpiter se oponha ao massacre Eles são

sendo,por sinaì, seu necessárioponto de partida a imagem daqueles ministros sanguinários e cruéis de quem os soberanos se

ãi--.*
servem ìargamente - nos casos em que se requer maior severidade para com os desconfiança, favorecem pouco faciÌmente os homens "perspicaces et curiosi et
súditos - estando sempre prontos, no momento oportuno, a abandoná-los à sanha quase animo exomnes" e Preferem, ao contrário, homens de inteÌigência quìeta
da popuÌação que, aclamando e aplaudindo o rei, acabacom os cruéis executantes que suportam aquilo que thes agrada, sem nada mais procurar e que têm o ar de
das ordens do soberano. A direta influência de Maquiavel no pensamento de não se aperceberemde nada, quase Perenementesonados.Apenas com homens
Bacon encontra nova confirmação numa passagemdo Prínrìpeem que, referindo- dessegênero oS soberanos retiram, às vezes, a pesadamáscara que são obrigados
se aos feitos de Borgia para a pacificação da Romanha, MaquiaveÌ escreve: a carregar e conversaln com eÌes afetuosamente, em plena segurança
Já na interpretação do mito de Ateon, Bacon tivera ocasião de escìarecer
achando que aquelaprovíncia se encontrava repleta de latrocínloq de quais seriam os perigos ao encontro dos quais iriam os que pretendem conhecer
brigase de toda quaÌqueroutra razãode insoÌência,julgoufossenrcessário,
os segredos dos governos Ateon üu, por acaso,Diana desnuda e foi transformado
para torná-ìa pacíhm e obedienteao braço régio, dar-lhe um bom gorerno
num veado e devorado Pelos cães.Do mesmo modo, aqueÌesque, contra a vontade
t)tr isso propôs Mmser Ramiro d 'Orco, homem crueì e expedito,ao qual
deu pleníssimo poder. Este, em breve tempo, tornou-a pacíficae unida, dos soberanos, chegam a conhecer algum segredo' levam, taÌ como o cervo, uma
coa grandíssima reputação Depoiq o duque julgou não ser con\€niente vida cheia de suspeitas e de terror, até o momento em que seus servos (os cães),
tão excessivaautoridade,por rrceio de eÌa se tornar odienta,de modo que transformados em traidores por agradarem ao soberano, os acusíìÌn e os perdem
colocou um juizado civil no centro da província, com excelentíssimo definitivamente
presidente,de modo que cadacidadetinha o seu advogadoe, por saberque Os que querem se abrir um caminhojunto aos poderosos devem, portanto,
o rigor passadoìhe haviaproporcionadoalgum ódio,para purgar os ânimos
como fez Júpiter transformandG-se em um cuco moÌhado pela chuva para agradar
daquelespor os e ganhá-Ìosa todos quis mostrar que secrueldadehourera,
a Juno, abandonar a pretensão de um reconhecimento público de suas virtudes e
esta não fora por ele concebida,mas pela acerbanatureza do ministro. E,
aproveitandese da casião, uma mmhã o fez coìocar na praça em dois se despojar de tudo o que Pode dar realce à sua pessoa. Caso seguissem um
pedaçoq com um pau e uma faca ensangüentadaao lado A ferocidade caminho diferente em suas relações com os poderosos, desprovidos que
deste espetáculo fez com que aquelespovos ficassemao mesmo tempo geralmente estão de qualquer qualidade, mas providos com abundância de
satisfeitose estupefactosGr. maìvadeza e de arrogância, estariam PreParando sua ruína: não basta aparentar
complacência, muitas vezes é necessário chegar até a abjeção e a baixeza
Mesmo na interpretação dos mitos que se referem às reÌações pessoais No ensaio Sobre a Nobreza, Bacon irá reconhecer explicitamente que uma
z entre o soberano e seus ministros (Endyntoa siae gmtiosus, Áctazon et PentJuus "mistura de artes boas e más' constitui o elemento indispensável para galgar as
sive curiosus, Procus lunonis sìve dedecus, Narcissus sioe philautìa) Bacon etapas da üda social. Na Ëbula de Narciso, Bacon vê, ao invés, a representação
movia-se no plano de tm realismo que, mais que de sua experiência de cortesão, daqueles indivíduos dotados de beleza e de ürtude que am:rm a si próprios acima
a
nascia de uma adesão substancial aos temas desenvolvidos por Maquiavel e de quaÌquer outra coisa e que não desejam apÍìrecer em Público ou dedicar-se à
Guicciardini. vida política. Esta úìtim4 com efeitq comporta necessariamente insultos e durezas
'solitária, privada e na
O mito de Endimião, amado pela lua durante o sono, diz respeito aos que poderiam perturbar seu ânimo delicado. Em sua vida
engenhos e aos costumes dos soberanos. Estes, de fato, tendem naturalmente à sombra", estes homens que amam circundar-se dos poucos amigos que os
lisonjeiam e concordam com o que dizem, acabam por se apaixonarem por si
"' \la,ltri:rrr.l. O I'rin4e, tq. \,,/ll
próprios, perdendo qualquer força ou capacidade criativa' Narciso foi

-^--
il'
tl transformado na flor que leva seu nome, sagrada para os deusesdo Averno, e taÌ
como esta flor, os homens como Narciso são incapazesde produzir Futos e passam,
Na interpretação de um grupo de quatro mitos (Perseussiztebellum. Acfulous
sive proeliurry Typhon sitte rebellìs, Diomzdzs siae zehs) Bacon exprimia a própria

liii sem deixar rastros.


Diante da mistura de artes boas e más, das quais é preciso servir_se para
abrir seu caminho no mundo está, então, a inutilidade de um intìmismo 'privado,,
opinião quanto à guerra ofensiva" à defensiva, à civil e à religiosa.
Não se deve acreditar - escreve Bacon em sua interpretação do mito de
Perseu - que a ampliação de um império se Pareça com o aumento de um
cujo exempÌo é Narciso. À ética aristotélica e ao primado da contempÌação,Bacon
patrimônio privado. Não cabe, portanto, preocupar-se demasiado em tomar e
opõe, mesmo quando se refere à política, um ativismo rÌgoroso: os motrvos
ocupar os Estados mais próximos, Porque a ocasião favorável, a facilidade e a
aduzidos por Aristóteles em favor de uma vida contempÌativa dizen todos respeito
vantagem que se podem tirar da empresa deverão tomar o ìugar da vizinhança
ao prazer e à dignidade do rndivíduo isolado; estão, portanto, mais no plano
de que, muitas vezes, oferece vantagens apenas aparentes Nas guerras iongínquas
bonum suitatis do que no d.o bonum communìonis para Bacon, ao contráriq a ,,ida
Ìuta-se com adversários não afeitos ao uso das armas e aos modos do invasor e o
púbÌica tem precedência sobre a vida privad4já que para ninguénr, no teatro
do inirnigo não poderá tentar uma invasão recíproca. Âlém disso, enquanto a escoìha
mundo, é lícito desempenhar o paper de espectador. A possibilidade de fazer o
da ocasião é muito limitada no que se refere às nações vizinhas, atacando-se as
bem é o único, verdadeiro e legítimo fim através do qual se pode aspirar ao
mais afastadaspoder-se-á, ao contrário, levar a guerra ìá onde a discipÌina miÌitar
poder, porque as boas intenções, mesmo se aceitas por Deus, permanecem para
é mais reÌaxada ou as forças estão esgotadas, ou as dissensões civis dividem o
os homens tão-somente como belos sonhos, sem atuação,e realizá-las é impossível
país em facções opostas. Em segundo lugar, a causa da entrada na guerra deve
a não ser que se tenha conseguido uma posição de poder efetivo.
ser apresentada como justa e honrada: isso aumenta o ímpeto dos soÌdados e
Assim, no ensaio sobre a grandzzq Bacon irá resorver a antiga controvérsia
encoraja os cidadãos, nas privações. Nesse sentido, o melhor fim que se pode
ética do contraste entre úda pública e privada e da posição do filósofo diante da
propor para uma guerra é o de abater uma tirania. Em terceiro Ìugar, enfim, é
vida polÍtica. A "posição de domínio" de que faìava carrega consigo,
entretarto, necessário, antes da guerra, avaliar bem as próprias forças, evitando abraçar
os sofiimentos de uma tríplice escravidão: para com o soberano, para com
a esperanças vãs. A celeridade, a arte de ocultar seus desígnios, a unidade do
opinião pública e para com o trabaìho. Apenas se esforçando por pensar deles
comando, o conhecimento dos projetos do inimigo constituem, finaìmente, os
mesmos o que deÌes pensam os outros poderosos, podem ter a iÌusão de serem
instrumentos indispensáveis para a vitória
felizes, como que por reflexo, mesmo que em seu Íntimo sejam de opinião oposta
A tática defensiva a ser aplicada contra os invasores do próprio
Apesar da consciência dessa dificuldade, Bacon continuará recusando - incÌusive
z
territórioé, ao contrário, simbolizada por Aquelau que, lutando furiosamente
no ensaio citado - o seu reconhecimento a um tipo de ürtude .Que não aqueça
e com Hércules pela posse de Dejanira, assumiu a aparência de um touro. AqueÌe
iÌumine a sociedade, com seus raios".
que assalta se aPresenta, de fato, sob uma única form4 enquanto aquele que
z
Dessas posições baconianas nascia aquela transformação do ético em
espera pelo inimigo esú sempre Pronto a assumir formas novas e diversas' A
polÍtico da qual os mitos que foram examinados constituem a premissa
e o construção das defesas,o fazer com que os camponeses se refugiem nas cidades,
exemplo. Nesta programação de uma ücaica do agìr, Bacon punha_se como
o o derrubar as pontes, o recolher proúsões, o distribuir as troPas em lugares
herdeiro daqueìe realismo de Maquiaveì e Guicciardini que ele se preocupava
diferentes transformam o assaltado em um touro furioso, pronto para a luta' O
em transpor para um sistema orgânico, estendendo_o _ no Fabafortuntz _
da invasor procura a batalha aberta, com receio de permanecer parado e ocioso em
esfera da vida política à da vida privada e do sucessopessoal
uma terra que lhe é de todo hostil e, se sai vencedor, recolhe (como Hércules, que

-A ---
quebrou um dos chifres de Aqueìau) o chifre da abundânci4 saqueandoas regiões dogmatismo cego das igrejas constituídas A posição de Bacon não nasce - como
e as cidades que o inimìgo acuado, ao refugiar-se nas fortificações, acabou de acontecera com aqueles pensadores - da fé no triunfo finaÌ de uma verdade
abandonar. religiosa mais alta, diante da qual as minuciosas controvérsias particulares se
O mito de Tifon refere-se, ao contrário, às guerras civis e à diferente fortuna apresentam como "enganos de Satanás", como também não nasce de uma
dos príncipes: Juno, indignada peÌo fatô de Júpiter ter dado à luz Palas, aÍirmação de tolerância de tipo iluminista ou liberal, mas sim da consciência da
quis, eìa tambérr1 dar à luz sem a ajuda de Júpiter. Sacudiu a terra e dela nasceu absoluta inutilidade de qualquer tentativa de sufocar no sangue e nas chacinas a
o monstruoso Tifon, das cem cabeças e das mãos de ferro cheias de gíìnas, que vida das várias seitas religiosasu'. Âinda é no plano de uma política de inspiração
foi aÌeitado por uma serpente. Quando adulto, Tifon declarou guerra a Júpiter e, religiosa que se move o pensamento de Bacon, o apÌauso do povo peìos que
ütorioso, cortou-lhe os nervos dos pés e das mãos Mercúrio tirou de Tifon os perseguem as religiões costuma ser curto Se a seita odiada e combatida tiver a
nervos e os devolveu a Júpiter que atingiu Tifon com um raio. Do sangue dele força necessária, ampliará o número de seus adeptos e os nomes dos que a
nasceram serpentes. Depoig Júpiter arremessou contra Tifon o monte Etna e o perseguiram tornar-se-ão símboÌo de horror e eles serão abandonadosjustarnente
oprimiu sob o seupeso. Os reis - interpreta Bacon - deveriam permanecer sempre por aqueles que os consideravam guardiães da única verdade religiosa. O pranto
estreitamente unidos a seu povo, tal como Júpiter e Junq mas às vezes ocorre dos perseguidos, com efeito, penetra nas aìmas e aÌi permanece e continua a agir
que eìes, corrompidos pelo hábito do poder, "et in tyrannidem vergentes", se por muito tempo. Mesmo diante de uma seita que professe princípios infames é,
apropriam de toda a soberania, recusam os conseÌhos das assembléiase governam portanto, mais conveniente, para o homem político, trilhar o caminho da razão e
arbitrariamente. Os povos não toleram por muito tempo esta situação e, sob a do exemplo, do que o da fogueira e da espada.
guia dos grandes, se revoltam (a inãncia de Tifon) Aquela revolta surda é A análise que Bacon empreende das relações internacionais, na
aìimentada pela'ruindade e pela natureza maligna da plebd até que se chega a interpretação do mito do Estige (Slyz sìoefoedna), mostra, com evidência ainda
uma revolta decÌarada, causa de infinitos maìes para o povo e para os soberanos. maioq a substancial inspiração maquiavélica da política baconiana O juramento
A nrultiplicidade dos poderes (as cem cabeças de Tifon), as p€stilências (as com que as antigas divindades costumavam ligar-se entre si, estabelecendopactos
serpentes), os mÍìssacres(as mãos de ferro), os saques (as garras) obrigam os reis recíprocos, não era realizado em nome de alguma majestade ceÌeste ou de aÌgum
a se afastarem de seus países e os privam de quaÌquer força ou poder (Tifon que atributo divino, mas em nome do Estige, o tortuoso rio do Inferno que circunda
corta os nervos de Júpiter). Graças a homens prudentes qrre reconquistam as o reino de Dites. O mito se refere às convenções e aos tratados entre os príncipes.
z simpatias da plebe (Mercúrio), os soberanos conseguem o poder de volta Por mais solenes e plenos dejuramentos que eles fossem, eram, demasiadas vezes,
(restituição dos nervos a Júpiter). Os soberanos procuram eútar uma batalha antes uma formalidade cerimoniosa do que uma garantia real de segurança
aberta e tentam, de todos os mdos, desacreditar a reputa@ dos revoltosos. S€ recíproca- Diante do desejo de domíniq que é próprio da soberani4 parecem
este fim é alcançadq os rebeldes limitam-se a :rmeaças que rlão se concrttizam (o insuficientes inclusive os laços estabelecidos através de favores recÍprocos, ou
silvo das serpentes). Depois dissq fogem, e então é o momrnto oportuno paÌa o mesmo do parentesco. Uma vez que os prÍncipes não têm, acima de si, nenhuma
soberano esmag#los com todas as suas forças (o arremesso do Eura). autoridade a quem devam prestar contas de suas ações, não lhes faÌtam pretextos
Ao tratar da fábula de Dion,edes, Bacon se alinhava decididamente entre para üolar a boa Ë e úrmar sua aüdez. Desse jeito, a única verdadeira garantia
os que apoiavam uma ampla tolerância religiosa, recolhendo a herança de todos
os que, na Europa, desde Aconcio até Socini, se haviam batido contra o

Ê - - - - I
de cumprimento dos tratados não será certamente uma divindade ceìeste, mas sexagenário e empenhado no gigantesco trabaìho de recoÌher o materiaÌ
'?ristórias
tão-somente a necessidade (o Estige) e a recíproca utilidade dos Estados necessário para a fundação das naturais", pensou em utilizar para esta
contraentes. finalidade o escrito Of Profrcìmtz and Adrantemtnt of l-earnìng, pubÌicado em
A essa necessidade e utiìidade recíprocas apela IÍÌcrates, o ateniense que t605 Esta obra continha, no primeiro livro, uma exaÌtação do valor da ciência e,
teve a coragem de proferir abertamente palavras que a maioria dos homens no segundo, uma classificação das ciências e das artes. Havia sido composta por
acaÌenta, sem ter a coragem de expressar (quae pbrique taàte anìmn wlvunt). Bacon entre 1609 e I 605, logo após a subida ao trono de Jaime I, de quem Bacon
Diante dos Espartanos, que propunham infinitas precauções e sançõespara esperava ajuda para a realização de seu programa de reforma. O Adaancemznt,
garantir a execução de um tratado, eÌe disse: "uma segurança verdadeira só pode iniciaÌmente concebido como "uma preparação ou chave para meihor entender o
existir entre nós apenas no caso em que vós nos concedais possuir aquilo que sentido da Instnuratid', entrava, dessaforma, a fazer parte integrante da Grande
possa destruir a vossa vontade de nos atacar, caso o queirais". A frase de IÍïcrates Restauração, embora o próprio Bacon o tivesse qualificado de "uma mistura de
t, resume e expressa perfeitamente os pressupostos de utilidade e de equilíbrio conceitos novos e antigos", contrapondo-o à novidade substancial das colocações
recíprocos de forças que não podem não dominar no cÍrmpo das relações entre da Instauratio nngnÊ.
estados soberanos: apenasno caso de urn perigo pairando sobre o Estado, devido A obra, entretanto, saía parcialmente transformada peÌa reelaboração
à violação dos pactos, estes valem realmente como pactos e osjuramentos, como e pela traduçãoou.Ao segundo livro do ÁdztarcemtnÍ correspondiarn oito livros
iuramentoss. (II-IX) do De augmmtìs; todos os passos que podiam ferir o catolicismo tinham
sido retirados ou atenuados; as paÌtes referentes à história inglesa haviam sido
reduzidas e a matemática era tratada de maneira consideravelmente diferente
13. Á poesiaparabólica no "De augmintis" Para os fins que temos em vist4 que se limitam à interpretação baconiana do
mito e da poesia alegóric4 será oportuno considerar brevemente as páginas do
Entre a publicaSo do De sapientia vetzrun (16C,9) e a da Instauraiio magnn De augmzüis, em que Bacon trata da poesia parabólic4 para examinar sua relação
(1690) há um intervalo de onze anos. Durante este período, Bacon, absorvido com as páginas correspondentes do Ádaantemznt of Learning e com o preficio
por interesses de natureza política e chegado ao ápice de sua potência, não parou
de De sapìentia aeterum.
de trabaÌhar na composição do NawtmOrganum,mas publicou somente a segunda
O tratamento da poesia paraMlica ocupa o XIII capítulo do II livro do
edição de seus .Ezrurbs.
De dignitate et augmcntìs sàentìarum, pubÌicado em 162366:a poesia parabólica
O grandioso plano de trabalho esboçado por ele na Distrifutio optris de
é superior à narrativa e à dramática e aparenta ser coisa sagrada: a religião
762tl- não foi levado a cab: nenhuma das seis partes projetadas chegou até nós
/ dela se serve e, graças a eÌa, estabelece-se uma espécie de comércio entre os
inteiramente concluída- Após ter publicado o Notrum Otganum(que constituía a
segunda edição da lastaumtio), Bacon se viu diante da necessidadede realizar
"',4dtertisenuú lourhingan hol-r' VII, pp l9-l+
Ií'ar..52-
aquela descrição e classificação das artes e das ciências que dwia constituir a
" " . r y ' - LV l l , p r . 3 6
primeira parte da grande reforma do saber (Partitiones scientiarum). Ele, já 'F -,
""D.-L.Sy' I,1p i90 ss Para a pocsia de Bacon, <'f.'\ Faggi, lìacon c il suo (orìrrtto dì pftsìa
en ,4tli dell'lstìtulo l?ilpto, 1913-l1i ÌlÍ\\l Iìurrrl1"'llacon's tnrc Opiniorr rrf l'octrv , trrt ^l/).
" (lÍ. 1).\/; ^V V I. p íj I rJ \X\rll, r93o, pp jr11-dr
homens e as coisas divinas. Eìa também, porém, não está isenta de defeitos A interpretação das fábulas foi, até hoje, tentada por homens não
que nascem, na maioria dos casos, da leviandade com que se costuma fazer habilitados para esta tarefa: por esta razão a indagação da filosofia oculta,
uso das interpretações aÌegóricas A ambigtiidade presente na poesia que existe sob as antigas fábulas, deve ser posta entre os desiderata, entre as
parabóìica deriva da possibilidade, nela implícita, de poder ser usada em duas ìacunas - isto é - que a nova enciclopédia do saber é destinada a preencher.
direções constantes e diferentes: como "véu" de verdades escondidasou como Os três exemplos de interpretação de fábulas antigas nascem justamente do
meio para acìarar verdades já descobertas. Neste úÌtimo caso eÌa coincide desejo de não serjulgado incapaz de penetrar nas diferentes vias que ele vai
com uma espécie de método de ensino (ratio docendì),enquanto no primeiro sucessivamente apontando.
caso resoÌve-se como um artìftcìum occultandi. O uso da poesia parabólica Salvo aÌgumas referências (os emblemas de Piúgoras, os enigrnas da Esfinge,
como ratìo docendifoi muito praticado na antiguidade, uma vez que, mesmo o apólogo de Menênio Âgrippa), os conceitos aqui expressos por Bacon não
os conceitos de uso corrente e vulgar pareciam, então, insólitos, e os homens acrescentzm nada de substancialmente novo aos já apresentados no Adaantenenl
sentiam a necessidade de trazê-los, por meio de exempìos e de imagens, ao de 16O5,e no prefácio ao De sapientitzteterum,de1609. Entre as teses relativas aos
alcancede sua sensibilidade.Aqueles tempos eram, portanto, cheios de fábulas relatos mitológicog defendidas por Bacon na obra de 1605 e no prefácio de r@9,
e enigmas, de parábolas e simiìitudes: dali os emblemas de pitágoras, os haúamos salientado algumas diferenças substanciais. Não deixará de ser oportuno
enigmas da Esfrnge, as fábuÌas de Esopo, as similitudes dos antigos Sábios e procurar voltar a elas brevemente. no AdaatuennnJ of I-eamàge posição de Bacon
aqueÌe apólogo de Menênio Âgrippa que, servindo-se de uma fábula, quaÌÌto ao valor aÌegórico dos mitos revelava uma incerteza fundamentaÌ: Bacon

conseguiu aplacar uma rebelião.Tal como os hieróglifos precederam as Ìetras, falava explicitamente de uma precedência da fábuìa sobre seu signiÍìcado alegórico e

assim as fábulas são mais antigas que os argumentos e até hoje faltam a estes condenav4 baseado nisso, a "vaidade" de Crisipo.
No De safientia oettrurb ao contrário, a polêmica baconiana contra as
aquela força e aquela capacidade de persuasão característicos da paráboÌa.
precedentes tentativas de alegorização das fábulas era motivada tãG-somente
O outro uso da poesia paraMlica - prossegue Bacon -, o artìfciam occutÍan^di
pela escassacultura e leviandade dos intérpretes. Bacon declarava-se sinceramente
é quase o oposto do precedente: neste caso ele tem a função de encobrir aqueles
inclinado a acreditar (faÌnr c.ertz ingenuz et libmtzr) que, em muitas das antigas
objetos cuja dignidade exige que sejam como que velados; por esse motivo os
fábuÌas estivessepresente, desde as origens, um misterioso signiÍìcado aÌegórico.
segredos da reÌigião, da fi.losofia,dapolítica são envolvidos em um véu, nas fábulas
Completamente injustificada parecia-lhe a pretensão de colher nos mitos
e nas parábolas. E Bacon declara-se propenso a acreditar que muitas das fábulas
significados ético-filosófrcos. Através de uma análise do pensamento baconiano
dos antigos poetas encerrem dentro de si um significado escondido: o fato de que
no peíodo compreendido enhe 1609 e 1609 tentãmos apont2Ì as razões dessa
argumentos dessa natureza sejam desvirtuados na mão de gramáticos ou de
mudança de perspectiva, mag a proÉsito do tratamento da poesia parabólica no
homeng feito crianças, não basta para fazer com que eÌe abra mão de sua opinião
De augmmtis, pÍìrece-nos interessante salientar que este tratamento apresentâ-
e para suscitar nele um sentido de desprezo para oom esse argumento. É bastante
se mais como uma paráfrase das teses expostas no prefâcio do De sapicntiaaehram
claro, ao contúriq que os escritos que oontêm essas fábulas são os mais antigos,
do que como uma tradução da correspondente passagem do Adtancement of
depois das Sagradas Escrituras, e que aqueles relatos que os aurores reporram I-eaning. As reservas exprlessas no A&)ont4flrtnt quanto à poesia alegórica não
como recebidos e transmitidos por outrem,jamais foram urventados por aqueles mais subsistem no De augmmtìs, e a adesão à tese de um ntlstcrium infusum nas
e se parecem com uma est'cie de aura leve ünda de na@s mais antigas para antigas fábulas reproduz, seründo-se aproximadamente das mesmas palawas,
chegar às flautas dos Gregos os conceitos expostos no De sapientia úetclurn-
ln
A conclusão que se pode tirar desta sumária aniálisedo texto baconiano é a a um homem que, para iluminar um quarto, vá dando voltas com um lume e
seguinte: a explÍcita adesãode Bacon à tese "aÌegórica" formulada no De sapimtìa investigando cada canto, em lugar de acender uma tocha poderosa Na
úeterunnãonascia apenasdo desejo de serür-se de um gênero literário largamente representação de Scila, símbolo dessafalsa ciência, Bacon retomava uma rmagem
difundido na Europa para "contrabandear" suas idéias de reforma e seu já presente no l/abrìts Terminus, no quaì Scila era o símbolo da esterilidade de
naturaÌismo. Mesmo depois da publicação do Nozrum Organum, a quatorze anos uma cultura afastada de qualquer empenho de natureza prática
de distância da publicação do De sapientia aeterum, Bacon conservava-se Ligada a esta polêmica contra as sutiÌezas da escoÌástica era a crítica
essencialmente fiel aos conceitos que havia defendido em seu prefácio às desenvolvida por Bacon, no quinto Ìivro do De augmzntis,contra a pretensão de
interpretações aÌegóricas das flábulas antigas Numa obra da plena maturidade,
fundar o conhecimento em printípios primziros, consìderados indiscutíveis Os
destinada a fazer parte integrante da lzstauratìo magn4ele reaJirmava sua crença
homens desejam ardentemente encontrar em si mesmos e em seus pensamentos
numa remota sapiênci4 oculta pelo véu dos contos mìtoÌógicos.
alguns pontos estáveis sobre os quais fundar suas construções intelectuais: por
issq como Aristóteles que, em cada movimento, tentava descortinar a existência
de algo imóvel, eles vão à procura de um mítico Atlas que sustente, em seus
'De
14. Os miÍos do augmentis":Pan, Perse4 braços, as "fluctuationes et vertigines" de seu intelecto. Assim fazendo, eles não
Dion'iso,Salq Átlns, Issio4 EscaLípio se dão conta de que a pressa exagerada para estabelecer princípios está fadada a
terminar na dúvida, enquanto tãG-somente a suspensãodo juízo pode conduzir a
Os três exempÌos de interpretação dos contos mitológicos apresentados uma certeza nâo fafaz Desta inútiì Procura da estabilidade de Átlas nasce a
por Bacon no De digníÍnte et augm.entìsscfuntiarum reproduzem, ampliando-as silogística que é, justamente, a arte de remontar aos princípios servindo-se dos
em alguns pontos, as interpretações correspondentes já desenvolüdas em De termos m&ios: os primeiros são considerados como "dados" e, por isso mesmo,
sapientia aeterunl. subtraídos a quaÌquer possível controvérsia; os segundos são abandonados à
Ao lado desses três exemplos, Bacon acena - em De augmtntis - tarnbém livre compreensão dos indivíduos isolados.
a outros quatro mitos dos quais não se havia ocupadoo' em De sapimtìa aetcrum. Aquela magia que se funda numa série de observações crédulas e
A imagem de SciÌ4jovem e bonita na parte superior do corpo e circundada supersticiosas e que decanta as propriedades específicas e as virtudes ocultas,
por monstros Ìadrando, na parte inferior, é símbolo daquela dactrina liügìosa quLe distrai os homens da procura das causas reais dos fenômenos. A este tipo de
z
dissolve o saber em uma série de questôes sutis e de problemas inexistentes. magi4 degenerada em superstiçãq Bacon contrapunh4 conforme vimos, uma
Esta espécie de doutrina encontra crédito principaÌmente junto a um grande magia entendida como inquisitioformnram. À tal magia devia, portanto, ser
z número de escolásticos que, como que aprisionados nos escritos de alguns poucos restituído um significado positlrtto (anÍìqm et honorfrco smsai dzsütuttur). Ission é
autoreg ignoram o mundo da natureza e o da história e constroem com dificuldade justamente o símbolo dos que se abandonam à magia supersticiosa: ele' desejando
uma teia admirável pela sutiìeza da tram4 mas completamente vã e inútiÌ. O fortemente a Junq deusa da potênci4 teve relações com uma nuvem que fugiu de
amor pelas distinções sutis que mata a realidade torna esta Íilosofia semelhante seu abraço e dela foram gerados os C,entaurose as Quimeras. Os que, arrastados
pelo desejo de potência, se abandonam às nuvens e aos vapores de sua imaginação,

"'l'ara os nritos tlc Scjllr,,\tlas, Issiio- IìscrrláPio, cf. D4, Sl I, l)l) [5í,, (j.10-1t,573, iS6
recolhem apenas esperanças vãs e geram produtos monstruosos e disformes'

ãi
Do mito de Esculápio, íìÌho de Apolo, deus do Sol, Bacon serve-se no trai certa precipitação de redação, deve, portanto, ser provaveÌmente considerado
capÍtulo II do IV livro para esclarecer sua posição em relação à medicina. À
como uma série de anotações preparadas por volta de t62s-24, para a revisão de
comparação entre as delicadas e variadas estruturas do corpo humano e uma
De sapientìt úeterum.
espécie de instrumento musical que pode facilmente perder suas capacidades
No De principìzï', Bacon retoma e desenvoìve a fabula de Cupido,
harmônicas, Bacon ligava, depois, a imagem de Apolo, deus da música, e chamava
interpretada no De sapientia oeterun. O Caos, contemporâneo de Cupido,
a atenção para o caráter conjetural da medicina e da poÌítica que, diferentemente
representa a "massam sive congregationem materiae inconditam"; Cupido, ao
das outras artes, só têm validade diante de resuÌtados e sucessoimediatos. Daqui
contrário, representa a matéria, a atividade da matéria e os princípios primeiros
deriva - afirma ele - a extrema faciÌidade com que os impostores encontram o
que constituem o reaÌ. Cupido não tem pais, isto é, ele é sem causa, pois a causa
jeito de se afirmarem, tanto na medicina quanto na política: os poetas foram
das causas é que deve ser assumida como um "dado" (res posìtiaa et nuàa atque
muito perspicazesquando atribuíram a Esculápio, como irmã, a enganadora Circe,
considerada, ela tamMm, a filha do deus Sol. ?rorsus ut inaenìtur acci1ienda, rce et pramotìone alìqua judhazla). Nada tem
corrompido tanto a fi.losofia natural quanto a procura dos pais de Cupido: os que
os buscaram não acolheram os princípios das coisas tais como se encontram na
rratvreza, aceitandms como uma doutrina positiv4 fiandese na experiência (zl
t5. O "Depicipiis": o mito dz Cupída doctinam quanì.ampositinam et tanquamfdz axpeinmtalì),mas tentaram, em vão,
deduzi-los das leis do discurso, de conclusões diaÌéticas ou matemáticas, e de
O De Prìneiliis atquc originìbus secandumfalulas Cupìdinis et Coelì, siae
fantásticas criações da mente que ultrapassam o âmbito da natureza. Nessas
Parnenìdis, et Tebiì etprazcipuz Denocritì philnsophia traáata infa.bula dz Cupidìru
suas projeções fantásticas, o intelecto ilude-se poder alcançar um vaÌor
foi composto por Bacon no período em que ele tentava, lutando contra o tempo
demonstrativo superior àquele oferecido pelos princípios das coisas reais às quais
e contra as circunstâncias, levar a cabo seu grande plano de reforma: istq nos
se pode chegar mediante a observação.
Íìnos que decorrem entre o anúncio da Instauratio mngnt e o fim de sua üda
Conforme já ocorreu em De safìmtìa z)eterum,também aqui Cupido é
(t62o-96). Este escrito, com efeito, é certamente posterior a 1609 (neÌe são
representado como nascendo de um ovo chocado pela Noite: o mndas de Cupido,
retomados e ampliados dois mitos já contidos em De sapimlìa zteterum;Coelum
isto é, a bt stmmz essentiazatquz flntura e ou a uis primis fartìnlis a Deo indit4
she originzs e CuPido siue atnnus) e deve ser considerado posterior incÌusive ao
pode ser apenas roçada pelo pensamento humano. Com a imagem do ovo chocado
Noaum Organur?, pelo fato de alguns dos conceitos pres€ntes nesta obra
z pela Noite são indicadas também as demonstrações usadas para iluminar, de
apaÌecerem tamMm em De prituipiis.C-omo confirmação dessa cronologia esú o
fato que Rawley, que não lista o De principiis entre os escritos baconianos, fala de alguma maneir4 a figura de Cupido. De fato, junto com as conclusões obtidas
a mediante proposições afirmativas (conclusões que pareoem um produto da luz),
z
uma obra de revisão do fu sapintia octcrurì\ à qual Bacon se dedica nos últimos
anos de sua üda Spedding pensa - e com toda a razão - que esta afirmação de existem conclusõ€s que tamMm podem ser obtidas de negações ou exclusões
Rawley se refira não apenas às Fês fábulas incluÍdasno De atgmentis,mas tamMm (que parecem um pduto das trevas). A imagem da fábula é apropriada, porque
a uma revisão mais ampìa e posterior da inteira obra, que Bacon queria incluir o conhecimento que se pode ter de Cupido é,justamente, resultado dos processos
em suas Obras norais e cioif". O Dc principi , que é um escrito inacabado e que de demonstração que procedem baseados em excÌusões e negações:

e"Del>rincipìí Sl [ll, pp TsLl tA


"' ,4&n1ìvuatt ktrlnry; tn lnh llhr Sp.r,llI, pp l.''-1,1Â grsugcrn lalta ru dctlicrtririacrn irrglês
ti, Com razão narra-seo detalhedo oro da Noite para demonstrar comoesse nem a gotas de água, nem a bolhas de ar ou grãos de poeira e sua oirtus e forma
Cupido tenha vindo à Ìuz. As conclusõesàs quais se chega,mediante
não são nem pesadas nem leves, nem Íiias nem quentes, nem densas nem raÌas,
proposiçõesafirmativagaparecemcomo partesda luz; aquelas,ao contrário,
às quais se chega com proposiçõesnegativas e exclusõessão como que nem duras nem moles, assim como essasqualidades se apresentam nos corpos
expressase enucleadaspela noite Na reaÌidade,este Cupido é exatâmente maiores ou compostos. Do mesmo modo, o movimento do átomo é diferente dos
como uÌn ovo descenadopela Noite; o único conhecimentoque se pode movimentos dos corpos compostos, a saber: moto natural de descida, moto de
ter dele procede,de fatq por exclusõese proposiçõesnegativas A prova expansão, de contração, de impulso, de conexão, de rotação. Contudo, no interior
obtida mediante exclusÕesé, de certa forma, uma "ignorância", ou, por
do átomo estão os eÌementos de todos os corpos e de seu movimento e de sua
assimdizer, uma noite...to
oirtus têm origem todos os movirnentos e todas as virtudes (ìn corpore atomi
ebm.entaomnium corporum et in mntu et aìrtute atomi initìa omnìum motum et airtutum
A teoria que se refere aos princípios aparece, portanto, fundada num
zzszzl) Neste argumento, a sapiência contida na f,ábula supera a de Demócrito
procedimento metafórico baseadoem negaçõese exclusões,que é parte integrante
que se encontra em contradição com a fábula e consigo mesmo EÌe, de fatq
do teorizado no Nozrutn Organum, em vista de uma pesquisa sobre aslôrrzas. Se
atribui aos átomos dois movimentos: um de descida (para os pesados), outro de
a mente tentar descobri as formas por via aÍìrmativa - escreviaBacon no Notrum
subida (para os leves), movimentos que ele escolheu entre os característicos dos
Organum - surgirão fantasmas, princípios opináveis e noções maÌ definidas.
corpos maiores. Teria, ao contrário, de atribuir aos átomos, tal como fez com a"-
Somente a Deus, criador das formas, e talvez dos anjos, cabe a faculdade de
substância e a oìrtude, um movimento compìetamente heterogêneo: a fábula, ao
conhecer as formas por üa afirmativa. Essa facuÌdade é superior à possibilidade
contrário, com maior coerência, conforma-se ao princípio da heterogeneidade e
do homem, que pode proceder somente peÌa via negativa, e somente no fim,
da exclusão, seja para a substância, seja para o movimento.
depois de um completo processo de exclusões, poderá definir afirmativamente.
Entretantq ensina-nos a fábul4 os processos de negação e de excìusão
Transpondo, numa análise intelectuaÌ, uma imagem de origem aÌquímic4 Bacon
'affermativa não têm duração ilimitada, eles valem apenas para o período de incubação da
concluía que a forma solida et vera et bene terminata" teria
Noite. Quando do ovo nasce Cupido, deve abrir-se a possibilidade de
permanecido, como que sobre o fundo de uma proveta, no término de um
procedimentos afirmativos- As exclusões não conduzem a afirmações quando,
procedimento fundado sobre exclusões?'.
seguindo o sentidq se tente encontrara natureza de Deus, mag no caso de Cupido,
0 procedimento a ser seguido para iluminar Cupido ou a lzt swmmanaturàz
deve-se chegar a afirmações positivas. E não é o bastante se extrair da Noite o
é, portanto, do mesmo tipo do requerido pelo Novum Organum para uma
I ovo, mas deste deve sair Cupido; Deus não é uma abstração, mas sim uma pesso4
aproximação ao conceito de forma- A prova obtida mediante um procedimento
e é necessário chegar-se a conhecèlo de modo distinto
de exclusão é, portantq semelhante à Noite, é uma espécie de ignorância e, por
Os antigos fllósofos haüam considerado a matéria-prima, representada
isso mesmo, Demócrito drmou que os átomos e sua airtus não são semelhantes
por Cupido, como dotada de forma e de características positivaq e não como
a nenhuma coisa que p(sa ser percebida pelos sentidos e os corrcebeu como
"naturezas cegas e clandestinas"r eles não se assemelham a centelhas de fogo abstrata e informe potenciaÌidade. Assim a conceberam, ao contrário, PÌatão e :r,

Âristóteles e o fato de eles separarem matéria e forma, que é produto da fantasia


e objeto de discussõesvazias, abria caminho para as formas puras ou essênciag
ou idéias, isto é, a um mundo de abstrações fantasistas transformadas em entes.
ìí) ll Ili l'rril o nritodo das cxcìusircs. cl. il,ul t: puase todos os antigos pensadores (Empédocles, Anaxágoras, Anaxímenes,

j=-

*
Heráclito, Demócrito), mesmo não concordando entre si em outras coisas,faziam- uma máscara. Apenas os filósofos do segundo grupo, ao qual pertence
no, ao considerar a matéria-prima como sendo ativa, revestida de uma forma Demócrito, mostram, portanto, Cupido tal qual ele reaìmente é: natural e
qualquer, dispensando a sua forma própria e incluindo em si o princípio do desnudo Bacon critica a primeira seita fiÌosófrca, adia a crítica da quarta e
movìmento. começa, sem levá-la até o fim, a discussão da terceira, em que se ocupa com a
 fábuÌa, ao apresentar Cupido como pessoa, indica justamente que a opinião de Parmênides-Telésio, desenvolvendo aPenas uma das quatro
matéria-prima tem alguma forma Este conceito está de acordo com as objeções apresentadascontra este último.
Escrituras Sagradas que afirmam que Deus não criou a matéria informe, mas Entre as doutrinas Íìsicas expostas por Bacon no De sapientìa oet4rurn
o Céu e a Terra, impondo ordem a uma massa desordenada. Cupido aparece e as desenvolvidas em De priuzliei subsistem algumas divergências. Levantá-
nu, no mito: portanto, ao lado dos que concebem a matéria como informe, e Ias é essencial para uma compreensão da física baconiana. Cupido
abstrata; pecam também, porém - em sentido oposto - os que a consideram representava, em De sapìentia zteterum."oapetite ou estímuìo da matéria prima
vestida, isto é, põem no princípio das coisas as características presentes nos ou movimento natural do átomo" e o "impulso" Presente nos elementos
objetos sensíveis Existem quatro seitas de filósofos que colocaram os constitutivos da matéria; no De prinrìpiis, Cupido rePresenta não aPenas a
princípios das coisas na matéria formada. Aìguns (Tales, Anaxírnenes, "virtude" ou "atiüdade" da matéria, mas a própria m"aüria ou natureza do
Herácìito) assumem um único e só princípio como expÌicação da natureza e átomo. O movimento era concebido, em De sapientia 7)eterum"como a lei
fazem derivar a variedade das coisas do caráter inconstante da unidade iuprema da natureza; em De prìncipies (como - de resto - nas outras obras
originária. Outros colocam o princÍpio como substancialmente uno, fixo e que fazem parte da Instaaratio magna), os conceitos de movimento, de
invariável e derivam a variedade das coisas de suas diferentes grandezas, estímuÌo e de atividade não são mais considerados suficientes Para uma
figuras e posições (Demócrito). Outros ainda (como Parmênides e Telésio), explicação da realidade Íìsica: as naturezas (e, em seguida, as formas) adquirem
põem dois ou mais princípios na natureza e explicam a diversidade pela um papel de importância primária, diante da visão de caráter dinâmico das
mistura desses princípios. Finalmente, os úItimos (como Anaxágoras) falam primeiras obras de Bacon. Há algumas Passagens no De principiis que
de um número infinito de princípios e, uma vez que a natureza é dada aqui, mostram claramente esta mudança de posições: falando da necessidade de
desde o começo, como diversificada, para esses filósofos não se coloca o secarelcoftar) a natureza para não cair em abstrações vazias, Bacon, apesar
problema de uma explicação da pluralidade. de defender a necessidade de não separar o conceito de matéria do de
O primeiro grupo de filósofos lança um véu sobre a pessoa de Cupido: movimentq falava da matéria como de algo distinto e diferente do moúmento
a água de Tales, o ar de Ânaximandro, o fogo de Heráclito ou são entes e concebia a virtude, a ação e o movimento natural como conseqilârrtì'ü e
fantásticos e imaginários, ou reproduz€m a diÍìculdade já percebida a propósito crnnrraçõesda matéria mesma. Na Historìa oitae ct mortis, Bacon já havia
z
do conceito de movimento em Demócrito (isto é, de admitir como primeiro qualificado o spr'nlat como locatur4 dim'cnsut4 realz e no De Pnncipiis, úrmando
princípio objetos pertencentes a naturezas compostas). O terceiro grupo de a necessidade, PaÌa um Pensamento não contraditório, de aceitar a hipótese
filósofos cobre com uma túnica o corpo de Cupido, tornando mais grave o atomística, ele qualifrcava o átomo como um "verum ens, mateÌiatum,
erro do primeiro grupo; isso se dá com Parmênides e com os seus dois formatum, dimensum, locatum, habens antitypiam fimpenetrabilidade]'
princípios do fogo e da terra, e com Telésio, seu discípulo mas tardio. Os appetitum, motum, emanationem". O procedimento per negalìoaset ezelusiones
- àquele
fiIósofos do quarto grupo vestem em Cupido além de uma manta, também ao qual se acena no De principili remonta - conforme foi visto

s*
t
teorizado no Nottum Organurn,em vista de uma pesquisa das formas como açâoprâticase refira aos princípiose às causassecundáriasAsstm os
distintas dos movimentos e é signifrcativo que, ao falar desse método, Bacon homensnãoessam de abstraira Naturezaatéchegaremà matériapotencial
distinga, no De principiis, a natureza dos átomos ou sementes d,e suas uirtudes e informe, ou de dividir a natureza até chegaremao átomo, noçõesessas
que,mesmose verdadeiras, não poderiamde rnaneiraalguma,favormera
E não é possível não notar o contraste entre a afirmada necessidade de
sorte dos homenstt
uma adesãoà hipótese atomística do De prìncipìis e apolêmica, presente no Nwum
Organun" contra a filosoÍìa de Demócrito. Nessa obra, Bacon contrapunha aos
Mas no De augm.entís,como já antes no Adaarcemznt of Learnìng,Bacon
átomos, as ?artiillaz rerae e recusavao atomismo, justamente por ele pressupor
atribuía à doutrina dos princípios um Ìugar preciso, no âmbito da ciência natural
o vazio e uma matéria não jluzarn.
(Iiwo III, cap. IV), enquanto, n omesmo NoturnOrganum(I 5t),havia reconhecido
Sem enfrentar o problema das particulae úeraz qve parecem ter de ser o vaìor do atomismo como método de análise do real (nzlius auteín est nahfian
referidas mais ao esquematismo latente do que à doutrina dos princípios do real, secarequam abstrahzre;íd qund Demncnti schnbfecìt, qune mngs penztraaìt in naturam
deve, todavia, ser notada a incerteza baconiana no que se refere ao problema do quam rehqua.e).
-
vazio, diante do quaÌ, no próprio Novum Organur4 Bacon, não toma uma posição É naturaÌ, a esse respeito, notar que, mesmo no De prìn^cipiis'uma obra
- eÌementos primeiros do real já
precisa (neque enìm pro certo a;ffirmaaerimus utrurn detur aacuutn siae isto é dirìgida justamente àquela busca dos
coa-ctrr'turn ire pcrmìsturn). Mesmo no De prutcipiìs Bacon acena à dificuldade recusada pelo Nooum Organum, Bacon havia imaginado a possibilidade de uma
do problem4 sem se pronunciar, de alguma maneira- Apenas na H^tori, dznsi renúncia à indagação quanto aos pritrcípios, qualifrcando essa renúncia como
et rariBacon irá sustentar a absoluta inexistência de qualquer espécie de vazio sem dúvida superior à assumpçãode qualquer princípio abstrato: é muito meÌhor
- escrevera Bacon - renunciar à solução de um problema desse gênero, do que
(non est lacuurn in natur\ nee congrega.tum, nec intzrmìstum), rnas, dada a
incerta colocação cronológica do De printipììs, que é provavelmente posterior à correr o risco de apelar Para quaìquer princípio "fantástico"r5'
própria Hisdóiq não é possível ver nesta afirmação, conforme diz kú?s. a A co-presença, em Bacon, de uma concepção mecanicista e de outra
expressão definitiva do pensamento baconiano. dinamicista da realidade natural apareceria claramente, justamente graças a uma
Esta etitude de incerteza está, de restq estreitamente ligada à ccilação, anâise da dounina baconiana da forma que requereria outro tipo de pesquisa A
presente em Bacon, quanto à lzgiümidaàz mesma de uma doutrina dos princípios identifrcação das naturezassìmplcscom as airtudzs, a concepção dos moümentos
do real. No Noztum organum, Bacon afirmava a substancial inutilidade dissq como virtudes ativas correspondendo aos apetites e às paixões da matéria e a
salientando o caráter meramente contemplativo de qualquer pesquisa dos atribuição de capacidades perceptivas a todos os corPos corresPondem a um
princÍpiog e do atomismo, em particuìar: desenvolvimento das teses já expostas nas cogitatiorus e retomadas na fábuÌa
de cupido do De sapimtia aettrum'6. Na interpretação do mito de cupido efetuada
E não é um mal menor o fato de que os Íìlósofos, em suas especuÌaçõeg
consumam todo seu esforço procurando e tratando os princípios e as causas '*NO I 66 (trad. A. lìanlì)
últimas das coisas,quando qualquerpossibilidadee qualquer utilidade da ' " D , J , . \ p .l . p . ' í j | ; N 0 I | , | : D ( | , ì n . . , Á 7 I l l ' P s ( ) i N ( ] l { ' ( j - l ' a r a u | ì ì a c x l Ì o s i ( ã o ( u i t l a t | r l s a < ' l ' - .
h\ i, l)l).:2| 1 ss.
ts;D-4sp.l,f..t(;o(parraìdtrrtiÍ'rcaçãotlas
;) Ihid. 8. Para as tescs ",Cfllff.\p_t,p rrriIX;trl.ttt,p.;i,rr;-\-úll
lá cxposras,<í:.\/. llI. pp s:2,sôss. IIl ,i,rr;rÌ". c,u,r as r'ìrtrrlcs,.Pirr,r r rcllr\i,r cnÌtc lìtr,\itÌ!Ììto c iIlx'titcs< itlcliltaçt1es <ia
rìatlD.(,2-ts
:" I4r i, e I d; ^'O
1r- tl 4s: I { Il D,.\y', t I I, l) rj():,, P { ; l l S - t Ì r a . S pt l . 1 ' p ' r r 1 - s ( l ì r r a a t Ì 1 Ì c l ) ç Ì ' ì r r ! ) r \ e r s a l )
r r a t i ' r i a ) ; l ) - , 1 ,I . V
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*"
*
no De ?nflcipiis, Bacon acentua o caráter reaÌista dos princípios constitutivos do Na realidade, a obra revela - como poucas outras - a vastidão dos interesses
real, quer $zer, move-se sobre um plano diferente do tipicamente ütaìist4 aceito de seu autor: ao lado dos problemas inerentes à constituição da matéria, ao
no mito deCupido em Dc npintìa, e reafirma o valor de uma doutrina do mundo atomismo, à reforma da Íìlosofia e da ciênci4 Bacon enfrenta aqui uma série de
Íïsico fundada sobre as determinações geométrico-mecânicas dos princípios do outros mais determinados cuja solução é sempre Posta em estrita dependência
reaÌ. Apenãs mediante uma discussão do conceito baconiano de forma poder-se- do horizonte mais geraì de sua reforma do saber. Ajuventude, a veihice, os reis,
ia, quem sabe,esclarecer a co-presença dessesmotivos no pensamento baconiano os cortesãos, os aristocratas, os favoritos, os expedientes do governo, a opinião
e iÌuminar sua relação recíproca- Entretantq na doutrina baconiana dos princípios pública, as guerras, a religião, as relações internacionais: sobre cada um desses
deve ser vista, mais do que uma metaffsica da natureza, a indicação da direção temas Bacon expressa uma opinião, dá uma indicação. Sua personalidade e seu
rumo à quaì Bacon deseja que a ciência caminhe. Ele dedicou os últimos anos de caráter, suas inclinaçÕes e suas opiniões encontram modo de se exPressÍrr com
sua úda à preparação de uma Histnria naiural. Tinha fé que a renovação do saber particular intensidade e de se expor diante de um púbÌico que ele quer sacudir,
e a tomada de posse do mundo por parte do homem pudessem nascer de uma convencer, persuadir, sem escandalizar.
"imersão" nessa história naturaÌ. Não é por acaso que, justamente referindo_se a Disso nasceu, sem dúüda, a extraordinária fortuna do De sapientü aeterum
esta história natural, ele tivesse escrito em 16lz:'certi viae nostrae sumus certi na Europa do Seiscentos e disso nasceu também, provavelmente, a escassa
sedis nostrae non sumus-tì- consideração na quaì a obra foi tida por todos os que reduziram a obra de Bacon
à teorização do método indutivo, sem perceberem que, justamente nesta
multiplicidade, por vezes caótica e cheia de ramificações, de interesses, de
t6. Conclusões problemas, amparada por um empenho radical de renovação está a grandeza da
obra baconiana.
Uma das principais razões de interesse, para quem releia hoje as páginas Procuramos determinar, há pouco, o lugar que cabe a De sapìentit oeterun
de De sapientia oeterutt, é dada pelo contínuo entrelaçar-se dos problemas, da na obra de Bacon, mostrando, através do suceder-se das suas diferentes
variedade dos argumentos, do aìternar-se de diferentes planos de pesqüsa e posições em relação ao problema do mito, o aalnr essencialmznteinstrumzntal
de indaga.ção. Em pouco mais de sessenta páginas, Bacon consegue deÌinear, que elz atrìbuía a uma formn erpositioa d.estìnada a popularizar os conceitos
com admirável elegância de linguagem e com rara agilidade cultural, os fund.amzntais dz suafilosofia. O reaÌce desta instrumentabilidade, entretanto,
z
e motivos fundamentais de uma visão de mundo orgânica. Graças a uma forma conforme foi notado, esú bem longe de exaurir a complexidade da posição
expositiva que para nós pode parecer às vezes extravagante, mas sempre baconiana frente à "remotíssima antiguidade", justamente Porque, para além
c curiosa, e que respondia, nos tempos de Bacon, a uma tradição ainda de quaÌquer reserva crítica e de qualquer incerteza, conünut perm.anecendo
z
largamente operante, a filosofia e a ética baconianas adquirem, nessa obra, oiaa em Baton a crêiça numa hngíagua época sábia efelia aia lzmbran4a estó
as caracterÍsticas que irão ihe permitir alcançar aquela difusão ampla da qual qunse complztam.entz apagaà+ mas à qual é necessárìoretornar. O próprio título
Bacon fazia profundamente questão. de Instauratio mngn+ dado por Bacon à sua obra fundamental, Ìembrava a
necessidadedesserenovar-se de antigas condiçõeshumanas. Para tornar mais
complexa a atitude de Bacon, assomavamincìusive, em seu pensamento, temas
t ' 7 h C . , S pl.Í l , p 7 Í , 0
e motivos que irão agir com profunda intensidade no pensamento de Vico.
A imagem de uma humanidade rude, toda ela feita de sentido e as coisas, em lugar de descobrir nas coisas a marca divina, por isso é necessário
impressões, que se exprime valendo-se de imagens rníticas ao invés de que os homens abandonem aquelas filosoÍìas que tentam aprisionar a experiência,
argumentos racionais, está claramente presente nas páginas do Ádaanrenunt, pisando a obra do criador, e que aprendam a ler com humildade o liwo do mundo.
ao passo que o confronto com os hieróglifos (ou seja, com uma escritura Sobre este pÌano nascia a poÌêmìca baconiana contra as filosofias passadas
fundada mais sobre as facuÌdades imaginativas do que sobre as lógicas) dava e a recusa do "fascínio maìéfico da antiguidade" que impedia os homens de
maior força à tese - que virá a ser desenvolvida coerentemente por Vico - de entrarem em relação com as coisas
uma idade da fantasia que precede a da razão. O uso das fábulas e das paÉboìas, A conhecida tese baconiana da superioridade dos modernos sobre os antigos
- escrevera Bac,on- precedzo das argumentações racionais, assim como o uso é firmemente reÌacionada com a aceitação daquela forma de saber e daquele ideal
dos hieróglifos precede o das letras. de superação da esterilidade da ciência tradicional (ligada ao pecado) de quem
O relevo dado a estes três temas:t) o valor instrumental dos relatos ele quis ser arauto:
mitológicos diante de uma Íinalidade de reforma do saber; e) a crença ern uma
antiga sabedoria desaparecid4 que deve ser reconquistada; 3) o aceno explícito a Como de um velho nós podemos esp€rar uma maior notícia das coisas
hurnanase um juízo mais maduro do que de um jovem, peÌa experiênciae
uma precedência da corporeidade imaginosa das fábulas usadas por uma
peìa variedadee [peìo] número de coisasque aqueleviu, ouviu e pensou,
humanidade ainda rude, Íìente à clareza da úda racional - se, por um ladq torna
assim da nossa idade, conquantoela conhzça sm iforçu e quira pesquisare
inútil qualquer tentativa de reduzir a atitude baconiana ao âmbito de uma ftrmula, entendzr,devem ser esperadascoisas muito maiores do que das idades
diante do mundo mítico, vaÌe, por outro, paÌa nos mostrar a conÍÌuência de seu precedentes,por causada maior idade do mundo no qual foram feitos e
pensamento para uma série de motivos que só podem recompor-se em uma recolhidos infi nitos experimentos e observações'-.
unidade à luz do anti-inteÌectualismo e do'pragmatismo" baconianos.
A concepção de condições de vida antigas e felizes que cabe à filosofia Os tempos modernos, em outros termos, poderão ser superiores aos antigos
reconquistar estava estreitamente ligad4 no pensamento de Bacon, ao conceito apenas se os homens souberem derrubar o mito da antiguidade, recusar as
da degradação do homem, subseqüenteao pecado original. A insistência de Bacon autoridades e se situarem no caminho de uma experiência renovada. A
sobre uma precisa pesquisa met&ica e uma contÍnua adesão ao mundo natural, antiguidade, quaì imatura juventude do mundo, é portanto mais uma quest:to a
contrapostas à intemperança dos alquimistas e da magia, fundava-se - conforme ser trabalhada do que um dado a ser constatado.
foi üsto - sobre a recusa do caráter "milag'reiro" da alquimia e da magia e da O fato de que Bacon tenha apresentado seu programa de refoÌma radical
relativa pretensão de levar o homem a dominãrr o mundo sem que ele tivesse, em como uma'volta" e uma "restauração" fez com que a maioria dos intérpretes
a vista dissq de gastar o suor de sua testa. A úolenta condenação baconiana da se limitasse, diante dessa complexidade de atitudes, a salientar uma
c
ÍÌlosofia greg1 e particularmente a de Platão e de Aristóteles, movia+e, ela "contradição"?e na qual, quiçá, fosse mais oportuno procurar aprofundar os
também, sobre o plano de uma recusa de caráter moral: a filosofia aristotélic4 termos do problema examinando a postura assumida por Bacon frente ao
estéril de obras, constitui o principal obstáculo à revolução das coisas humanas mundo das fábulas antigas. Nos anos que passaram entre a redação de Temfus
prometida por Deus e é o ponto morto que é preciso superar para vencer os
efeitos do pecado e restaurar o domínio do homem sobre o universo  filosofia
" NO I 4s (trad A Banfi)
tradicional pecou por soberba intelectuaÌ, pretendeu impor a própria marca sobre "' (ìÍ'. por exernpÌo, FaÌ ringtqì, p I 5 I
partus mnscaluse a composição de De sapìentia oet4rurn verificou-se, na dita e, enqumto, apósa quedado homem,havíamosainda assimconservado-
postura de Bacon frente ao mundo dos antigos mitos, uma modifrcação por meio de artes sólidase verdadeiras- um certo poder sobreas criaturas
relutantes,perdemos,em máxima parte, também essepoder por ausa de
substancial: às afirmações incertas contidas no Aduancemznt of Leamìng
nossaarrogância,de nossapretensãode sermos semeìhantesa Deus e de
quanto ao vaÌor alegórico dos mitos, substituíra-se, no prefácio a De sapicntia
seguirmos os ditames de nossa razão e
aeterut4 uma adesão explícita à tradiçao alegórica. Esta adesão - acreditamos
- encontra na própria biografia do autor uma justificativa precisa, sendo que,
O trecho acima pertence a uma das obras da pÌena maturidade de Bacon, a
porém, ela irá intensihcar sua força, em seguida, graças a um dos motivos
Hìstoria rnturalis et etpermmtalìs ad condtndarnphìlnsophìanQoez). Quando, dois
fundamentais do pensamento de Bacon, ao qual ele haverá de manter-se fiel
ou três anos mais tarde, Bacon irâtrac4r emNettÁthntìs,ntmaespécie de rápido
durante a vida inteira: com o pecado, o homem renunciou às suas condições
esboço,as linhas das felizes condições da vida humana que antecederam o diìúüo,
primitivas de poder e de domínio, e essa sua perdição perpetuou-se nos séculos,
detendo-se na arte da navegação, faÌará das antiqüíssimas viagens de descoberta
uma vez que ele confiou seu destino à estéril filosofia dos Gregos e ao
(conforme foi notado por Spedding) não no tom de quem narra uma fábula, mas
pensamento que daquela filosofra deriva. Mas, antes do nascimento d.o
de quem descortina, na Íábula, a presença de um real conteúdo de verdade.
pensanzflto grego, nos tempos remotos que antecederam a poesia de Homero
A polêmica, presente no Temporis partus masculus, na Redargutio
e de Hesíodo, os homtas, - ainda não presa do intelzctualismo aristoülìco - hadam
philosophiarum, nos Cogitata et oisa e no Noaum Organum, contra a
conseguido, ao mtnos ern?artz, resgatar-se do pecado e conseroar, Por meio dz artes
pretensão de apelar para a autoridade dos antigos, nascia em Bacon da vontade
sólidas e uerdndzìras, urn certo podzr sobre a natureza rebelìz Desse período da
de uma renovação radical. Esta vontade pressupunha uma recusa total da
história humana, envolto nas trevas do passado, os mitos são, para Bacon, a
tradição e de qualquer tentativa de fundar sobre o reconhecimento de uma antiga
expressão que vive. Âtrás deles podemos coÌher algumas verdades, uma vez
nobreza humana a validade do novo método e da nova nobreza que o homem
que eles constituem o símbolo de um resgate parcial do pecado primitivo que
devia propor-se a conquistar. Perante o escopo que nos Propomos - escreüa
é necessário - agora - potenciar e renovar. A soberba pretensão de Adão
Bacon - é irrelevante saber se os antigos já estavam de posse de alguma verdade
renovou-se na filosofia grega, e os homens viram diminuído, mais uma vez, o que fora obliterada, depois, pela corrida do tempo: a inaettio rerum deve ser
seu domínio sobre a criação: procurada na luz da natureza e não nas trevas da antiguidade. Entretanto, quando
Bacon passava a interpretar as fábulas antigag ele, conforme foi vistq acreditava
Sem dúüda nós milgamos e renovamos o pecadode nossosprogenitores: poder reencontrar nelas os mesmos temas característicos da nova Íilosofia. O
elesquiseram ser semelhantesa Deus e nóg descendentesdeleg queremos
exame do conteúdo do De sapientia z)eterum tem de fato mostrado, sem
ainda mais: com efeitq criamos mundos, somos superiores à naturea e a
possibilidade de erros, a substancial identidade dos temas filosóficog éticos e
dominamoq pretendemos que todas as coisas rejm conforme a nossa
fatuidade e não segundo a diúna Sapiênci4 nem qu€remos reonÌrecê-las políticos das obras juvenis e inéditas de Bacon, com os desenvolüdos em De
tais mmo elas são na realidade e não sei se estamos torcendo mais as sapientìa aetzrun. Aliás, muitas vezes, a interpretação dos relatos mitológicos
coiss ou a nossainteìigência.É certq todavia,que deixamos a mma de apresenta-se como uma integração e uma ampliação das teses desenvolvidas nas
nossaimagem nas criaturas e nas obras de Deug em lugar de indaga com obras precedentes. Cada um desses temas iria encontrar, depoiq sua exPressão
cuidado e reconhecer a marca do Criador Não é imerecidamente que,
portanto, nós decaímosmais uma vez de nossodomÍnio sobre as criaturaq '" Ilist- ildt .y II, p I a
mais acabada no NozrumOrganurneno De augmtntzsa reivindicação, como função idéimverdadeirmdafiÌosofiae damatemática, mesmoremonseguir apreender
antiplatônica e antiaristotéüca da filosoÍìa de Demócrito; a necessidadeafirmada essasciênciasprfeitmente - E euestria prcpenma acreditarqueessesautores
de uma nova metodologia cientÍfica que aderisse às leis naturais, modificando-as tenhm, em seguid4rcuÌtado seu saber(assimcomo fazemos trtesãoscom
a serüço do homem, a importância atribuída a uma coletividade de cientistas suasinvenções),temendoque seu método,fácil e simpÌes,perdesr seu valor,
pÍìra o progresso do saber; a reavaÌiação da üda passional e o realismo poÌítico ao serdivuÌgadoParaquenós os admirásemoqpreferiramdar-nos aÌgumas
rerdadesestéreisdeduzidassutilmente,mtes do que nos ensinarreaÌmenteo
de inspiração maquiavéÌica.
método- Mas houvehomensde grandeengenhoque,nestesécuìo,tentaran
O reconhecimento de uma "sabedoria escondida" presente nas antigas
ressuscitá-lo
origens da história humana adquire - na bases dessas considerações - um
duplo significado e se presta a uma duplajustificação. De um Ìado, liga-se à
Este trecho faz parte das Regulae ad directionem ìngenìi, do
adesão,por parte de Bacon, às visadas tradicionais de uma vastíssima parte
"revolucionário" Descartes, que, não por acaso,já havia - ele também - se
da cultura européia. Esta adesãosurgira por ocasiãodas tentativas, realizadas
apropriado da tese de Bruno e de Bacon de uma superìoridadz dos tempos
por Bacon entre l60? e 1609, de difundir, sem suscitar demasiado escândaÌo,
modernos sobre os antigos:
os conceitos fundamentais de sua filosofia, no mundo cultural de seu tempo.
Por outro lado, esta sua crença encontrava-se em estreita relação com a
Não há razão de venerar os antigos por musa de sua antiguidade,uma vez
orientação de caráter religioso que Bacon deu à sua obra de reforma,
que, nós modernog podemos ser chamadosmais antigos do que eles O
concebendo-a como uma libertação do pecado originaÌ e como uma
mundo, hoje,é de fato mais velho do que era na épocadelese nósmodernos
reintegração do homem à sua primitiva posição de dominador da realidade temosmaior experiênciadas coisas€'.
natural. Esses aspectos da posição baconiana devem ser levados em conta
para se entender o significado de De sapìcnÍia oeterutn na obra de Bacon: Muitos historiadores (da filosofia) colocados frente a problemas
tanto o primeiro como o segundo desses motivos impedem porém, de forma 'ultrapassados"
ou "superados" pelo pensaÍIento moderno, acreditaram que a
absoluta, colocar De sapientia aeterun no plano de um "exercício literário". tarefa de uma pesquisa historiográfica consistia exclusivamente em "indicar" a
Gostaria, a esse respeito, de relembrar um trecho de Descartes, no qual se posição assumida por este ou aquele pensador diante daqueles problemas. Assim,
verificam: l) a crença cartesiana em uma úgorosa e aerdndtìrasabedori4 existente diante da "m{rd'baconiana muitos limitaÌam-se a salientaÌ a adesão de Bacon
em uma remota antiguidade simplzs e ruda z) a crença em uma quzda dessa às "tenebrosas superstições" de origem medieval e acreditâram, ao terem feito
sabedoria originária; 3) a crença em uma obra de ocultação deste saber verdadeiro; issq ter esgotado sua pesquisa e poder passar à "compreensão" de probÌemas
E 4) a avaliação positiva de filósofos que, como Francis Bacon, tentaram fazer com mais atuais. Do mesmo modo, diante do De sapìmtìa tetzrun, diante de seu
o
que aquele saber ressuscitasse. alegorismo e de suas interpretações dos mitos do mundo clássico e diante da
z
crença baconiana numa sapiência remota e oculta da antiguidade, uma grande
õ
Tão grmde é a utiìidade do método que, sm ouho guia a não sr a naturez4 parte da historiografia que se ocupou de Bacon parou elimitou-se a relevar a
os maiores espíútos tirm dele alguma cognição.. Estou comencido de que "extravagância'das posições por ele mantidas. Uma atitude desse gênero não
-ëÀ5 mprimeiras sements daverdadg depositadaspelanatma noespÍrito humano levou a resultados muito precisos, e a imagem de um Bacon "intérprete
áÌ{êr
i={i+,-: e que nós afastamosde nóslendo e ouvindo diariamenteerros de toda natureza,
*:.': i
a eram cheiasde vigor na simplese rudeantiguidade...Os homenstinham ent?io ' ' A d a t n e ' l à r r t t c r - \X' ,, p 2 0 l
r&1,:
:q.:
'ffi-:..
"fi.a

I
II
,\-
extravagante" das fábulas antigas foi, desse jeito, acrescentada às outras, tendo uma função exclusivamente'preparatória", com respeito ao plano de
igualmente convencionais, de um Bacon "injusto" para com Platão e Aristóteles trabalho esboçado na Distributìo operisde 1620 A preparação "editorial" dos
que, em seguid4 se "arrepende" de sua durez4 e de um Bacon propenso a sofrer escritos que o próprio Bacon expôs no final de sua úda foi, muitas vezes,
'tenebrosas
o fascínio das superstições" da magia e da alquimia. Na reaÌidade considerada como critério de interpretação historiográfrca- Daí, a tentativa
(como já acontecera no caso da magia), a adesão parciaì de Bacon à tradição de fazer entrar a totaÌidade ou a quase totaÌidade da obra fiIosófrca de Bacon
alegórica está estreitamente relacionada a motivos e temas centrais do seu nas seis partes das quais consta o plano da Instauratio mngna e a conseqüente
pensamento: por um lado, a referida adesão estava ligada à sua postura religiosa redução e limitação do pensamento baconiano ao Nozrum ()rganum e ao De
e, por outro, ela condicionava seu próprio programa de reforma que se Augmzntts. âo expor o pensamento de Bacon, consideramos supérÍÌuo seguir
apresentava, não por acaso, como uma ratauração.
rigorosamente a ordem genética da composição de suas obras Nele não há
Como conclusão deste capítulo gostaria de indicar alguns resultados
verdadeiro desenvolvimento doutrinal: ele pensa por meio de aforismog e nas
interpretativos que poderiam ser, a meu ver, PassÍveis de uma consideração mais
obras de respiração mais ampla só faz diluí-los e acrescentar outros" É assim
aprofundada. Eles pretenderiam, igualmente, contribuir para a ruptura de alguns
que escreve um famoso historiador da fìlosofia8e:Parece-meque cada tentativa
esquemas historiográficos dos quais ainda se faz uso para'inserir" ou "enquadrar"
de identificar e de acompanhar o real desenvolvimento do Pensamento
a frlosofia de Bacon na história do pensamento. Parece-me que essesresultados'
baconiano (inclusive no que se refere a temas particuÌares) pode contribuir
que aspiram também a aPresentar-se como ajustificativa da presente pesquisa,
possam ser formulados da seguinte maneira: pÍìra uma polêmica necessária contra um modo excessivamente simplista de
'fábulas imaginar sua posição. A di{iculdade de uma precisa colocação cronológica de
l) um exame da posição assumida por Bacon diante das antigas" serve
para acÌarar um aspectodo pensamento baconiano sobre o qual não se insistiu muitos escritos baconianos, a incerteza quanto às reÌações que essesescritos
o suficiente Tal exame pode ter uma importância considerável em vista de têm entre si e (em seu conjunto) cnm a IstauraÍio magn4leva,rn-me a p€nsar
uma avaìiafo geral da atitude de Bacon fiente à tradi@o; que a imagem (bastante difundida, aliás) de um Bacon "desprovido de
g) este exame permite, em segundo lugar, evidenciar a influência que 'que
desenvolvimento doutrinal" e pensa por aforismos" nasça justamente da
exerceram sobre o pensamento de Bacon, por um lado, o materialismo de vontade de esquivar-se dos probÌemas (uma vez que se trata ainda de
Demócrito e, por outro, o naturalismo da Renasccnça- ÂIgumas Posturas "classificação" dos escritos baconianos em relação aos
froblznas) de uma
baconianas referentes ao problema da matétìa, da natureza, da m'agza, interesses culturais fundamentais de Francis Bacon e de um estudo analÍtico
recebem nova luz de um estudo de suas interpretações degóricas dos mitos
'materialista" dos desenvolvimentos internos de seu pensamento;
clássicos. A fase do pensamento baconiarrc tem sua expressão
4,) tamÉm a reÌação históúca Bacon-Vico, assim como eìa foi se configurando
mais coerente e acabadajustamente em duas obras alegórico-mitológicas:
no âmbito de uma historiografia de origem crociano-realist4 prestar-se-ia,
o De sapientia oettruÌn e o De princìpiis aÍ4az oiginifu;t  relação entre as
quem sabe,a uma revisão- Por isso parecem-me insuficienteg para caracterizar
doutrinas ÍÌsices aqui defendidas e as expostas no De atgmzntis e no Notrum 'dúüdas"
a posição baconiana, os breves acenos de Croce às e às "cautelas" de
Organum constitui um problema de notável interesse;
3) um dos esquemas que mais influíram (em sentido negativo) sobre a
-'(ì nodett4l., l.'eilì cattzsiatu- Bâri' Ì93o, P l7
historiografra baconiana é o que considera toda a produção de Bacon como I)e lìuggiero, Storìd drlle-/ilos,tril lafÌuolít

---
que Bacon cercou, no preflácio ao De sapimtthveterzr4 sua teoria do mito como Deve ser lembrado que, no De augmmtis, Bacon havia contraPosto os
alegoria de verdades ÍìlosóÍicas83e não me persuade muito a qualificação de hieróglifos ao aÌfabeto, comparando os primeiros às linguagem dos gestos e
"esboço muito superficiaì", com o qual Nicolini define a posição de Bacon em salientando o caráter de artificiaìidade do alfabeto em reìação aos gestos e aos
relação aos'hieróglifosa*. hieróglifos,
Na reaÌidade, a tese ' viquiana ' de uma 'prioridade" do mito com respeito
às tentativas de obter dele significados alegóricos fora claramente esboçadapor Aqueles sinais que, sem ajuda de paÌavras "significm" as coisas,são de
dois gêneros.O primeiro signihca por correspondênci4o segundo- por
Bacon no Ádvancement of Learnìng:
con\€nção Os hieróglifos e os gestos são do primeiro tipo, do segundo
são, ao invés, os caracteresreais de que faÌamos...Os gestos são como
Estou incünado a pensarque anteshouve a flábulae depoisa exposição,ao hieróglifos transitórios. De fato, do mesmomodo em que as palawas, uma
invés de achar que antes houvessea "moraì" e depois, sobre ela, se vez pronunciadagvoam e os escritospermanecem,os hieróglifosexpressos
construÍsre a fábula (I do rather think that the fable was firsl and exposìtion por meio dos gestospassaÍl, enquantoos escritosduram. E isso é evidente:
devised,than that tìe moral was first md thereupon the fable framed).". os hieróglifos e os gestos sempre tiveram certa semeÌhançacom a coisa
signifrcada e são, de qualquer maneira, um emblema...enquanto os
Desta tese (que Vico certamente não conheceu, nesta formulação) caracteres reais não têm nada do embÌema e são, evidentemente,sem
permanecem, todaüa, conforme vimos, traços consideráveis, mesmo no De correspondência.3?
sa?ìnJia petcrum:
A influência que alguns motivos fundamentais do pensamento baconiano
Nos séculos antigos âs descobertase as concìusõesda rzzão humana, exerceraÌn sobre Vico e o insistente apelo deste às obras de Bacon não são
mesmo aquelasque hoje parecemóbviase comung surgiam como novase redutíveis, provavelmente, tal como se costumou fazer, a uma série de "motivos".
insólitas e tudo estava cheio de frábulagde enigmas, de parábolas e de A questão merece ser estudada e avaliada em toda a sua comPlexidade.
símiles; e por meio dessascoisasse procurava uma maneira de ensina,
não um utiffcio para ocultar. Os engenhos dos homens eram, naquele
tempo, rudes e intolerantes e incapazesde sutileza, a não ser para com
aquilo que lhes cáa sob os sentidos C.omefeito,como os hierógìifos erm
z mais antigos do que as letras, assim as paúbolas eram mais mtigas do que
os argumentose.

z.

*'B. Cmr, la.ftlonfu


dì Giatbattístu l'im,Ban, r9t l, pp, 6s-6+
"1G. B. Vico, ln sciaza nw,org F r-ìolini, Bari, t 91.9,p .9e3 Â CoDclusôcscsxrrciaìrncntc
divergentcschegouA.Corvno,Gl3 y"ico,Bari,r9i6,lÌ) 197-9s CÍìac<rra,p-Rossi, I-estlmoule
antichìtà:,sludi uìchiaui.Pisa,l969, pp 8l-lst- " !hìl- p 6í,) guanto à toria dos rcal rhuractcr-r,no quc diz rcpeito às línguas unilcrsaìs da
* Ada. Sp lll, p it.5
, IrrgÌatcrra do sócuÌo XYI l, cf. P lìossi, Clzzr'.rrzzr'zrsalìs:orti nunnonichz e logiru conbinalorìa rta
';
D.4, Sl, l,p 52o Lullo a Lrilni:, NÍilão, |í)tìo
Linguagem e comunrcaçao

No Adaancemzntoof Learning Bacon escÌareceu, com muita precisão, as


razões de seu afastamento parcial das classificaçõestradicionais. Se nossas
subdivisões - escreve eÌe - não correspondem àquelas que recebemos,saiba-
se que essasalteraçõesse devem a uma dupla necessidade.Em primeiro lugar,
ao juntar as coisas que estão próximas na natureza e as coisas que estão
próximas no uso perseguem-se dois objetivos diferentes: se um secretário de
Estado devejuntar os vários papéis em seu olficio@, osjuntará de acordo com
a natureza deles, reunindo os tratados, as instruções e etc.; mas, em seu gabìtute
particulalb) eÌe juntará os papéis de uso imediato, mesmo se de natureza
diferente.
No oficio do conhecimento era conveniente que eu realizasse a divisão
fundada sobre a natureza diferente das coisas, enquanto, ocupando-me de
uma ciência particuìar, teria podido adotar as divisões mais oportunas de
acordo com o uso. Em segundo lugar, o desejo de assinalar as lacunas
existentes na enciclopédia das ciências implica uma alteração da ordem
tradicional: se os conhecimentos atuais fossem, por exemplo, quinze e se,
acrescentando as ciências que faltam, se chegasse a vinte, não seria possível inventar (to inaent) é, de fato, descobrir o que não se conhece (to diseoaerthat
dividir aquelas quinze da mesma forma em que se dividem estas vinte. un knozonot) e não apenas chamar de volta o já conhecido. A invenção retórica
A cautela de que Bacon dava prova aqui er4 sem dúvid4 ligada a uma consiste apenas em tirar habilmente, do materiaÌ cognoscitivo já presente na
atitude de prudência que, nesses anos (entre l603 e t609) caracterizava mente, aquiìo que parece ser mais pertinente à questão de que se está tratando
sua tentativa de formulação de um programa de reforma do saber. Tratava-
e aos fins propostos. Trata-se, portanto, de uma remzmbranceou suggestion
se, entretanto, não apenas de uma diversidade de agrupamentos, mas muito
que é aplicada às exigências do discurso Todavia, pode-se continuar fazendo
freqüentemente, de uma verdadeira transposição de significados. No uso
uso do termo invenção, conquanto se tenha consciência de que sua finalidade é a
do termo inaenção,essa transposição torna-se, por exemplq muito eúdente.
de facilitar o uso de nosso conhecimento e não o de amplificá-lo e enriquecèlo'.
A invenção das artes e das ciências, ao contrário, parece ser absolutamente
deÍìciente: é como se, por ocasião da morte de um homem, se constatasse a faÌta
1. Inoenção das artes e inaençãodos argununtos de dinheiro líquido. Este último é o meio que permite adquirir todo o resto, esta
arte é o meio para se apoderar de todas as outras: o pouco caminho que se
O esquema que Bacon utiliza para cÌassifìcar as partes que constituem percorreu no mundo das ciências está ìigado ao escasso domínio dessa arte. A
a arte da invenção é o seguinte: insuficiência da lógica ora em uso depende, para Bacon, do fato de que ela
renunciou a ser útil às artes mecânicas e liberaig às ciências, às descobertas dos
I. Invenção das artes e das ciências axiomas". A lógica foi esvaziada de qualquer função e sustentou-se falsamente
A. Ezperíentia lìterata que, para quaìquer arte, era necessário confiar apenas nos que a praticam. O
B. Interpretatio naturae (no De augmzntis: Noaum Organum) procedimento indutivo proposto pela lógica tradicional ap.ìrece como vicioso e
insuficiente. A conclusão a que se cheg4 baseada numa enumeração de casos
II. Invenção dos argumentos particulares e sem qualquer exemplo contraditório, não é realmente uma
A. Preparação (ou promptuarìa) concÌusão, mas tão somente uma conjectura. puem pode, de fato, garantir, que
B. Sugestão (ou tnpìra) não tenha fugido à enumeração um caso que teria podido contradizer a conclusão?
a) Tópica geral O grosseiro desta teoria é tal, a ponto de parecer irnpossível que espÍritos sutis
b) Tópica especial (ou particuÌar) que se ocupÍìram dessas coisas a tenham oferecido à consideração dos homens.
Mas esses espÍritos eram por demais apressados em estabelecer suas teorias e
a
z
Âo termo inoenção,que na retórica clássica e nos textos de Ramus e de seus dogmag e mantinham um comportamento de desinteresse desdenhoso para
WiÌson indica apenas o modo de ordenar o material com a finalidade de
o oom as coisas particulares. Mesmo que alguns princípios ou axiomas científicos
convencer os ouvinteg Bacon atribui um signficado muito mais amplo, quando
distingue claramente entre invenção das artes e invenção dos argumentos e
restringe apenas ao primeiro caso o rso legÍtimo do termo invenção. A
s! lll, pp .e84,98s-e0; DA, Sp l, pp 6e.e-e4
invenção dos argumentos não é, para Bacon, pmpriamente uma invenção: 'Ent
"ída, ADI'. 51 IÌt, p-.s84,fala-seaperrasde ciêrrciac de axioÌnas:cnr D.1, Sl. I, p 6l?, fàÌn-se
tatnhónrdas arrcs rntrânicase ìibcrais-

h,-- -4._
tenham sido corretamente obtidos mediante o procedimento indutivo tradicionaÌ, compreender o que entende Bacon com o termo nlerimtìa lìterata é oportuno
resta contudo a certeza de que o silogismo, na filosofia natural (in subjeetof voltar, por um momento, a esse último texto. A ezperimtia literata náo pode ser
nature), nâo p€rmite a dedução das posições médias a partir dessesprincípios. O considerada uma arteouumaparte da filosofia. Trata-se, ao invés, de uma espécie
método silogístico pode reconduzir as proposìções aos princÍpios com a ajuda de sagacìdadeela Ìeva de um experimento a outro, enquanto que a Ìógica nova
das proposições médias: este método pode ser empregado utilmente no que se
Ieva dos experimentos aos axiomas e destes,à designaçãode novos experimentos.
refere à ética, ao direito ou mesmo à teoÌogia fiá que Deus houve por bem adaptar-
FaJta à et:perimtia literata (indicada tamMm com o termo eaça dz Pan) a ajuda
se às fraquezas da apreensão humana) O silogismo pode prover o assentimento,
daquela clara luz que iÌumina o caminho a ser percorrido, como, ao contrário,
mas não conduz à realização das obras porque a sutileza da natureza escapa a
ocorre na inÍerpretatìo ?utur@ que é guiada pela nova indução. Na caça de Pan
seus limites. Os argumentos constaÌn, com efeito, de proposições, as proposições
não se procede, contudo, por acaso Qrcra palpatn): é como se o inteÌecto fosse
de paÌavras e as palavras são como rótulos (mnrks) das noções. Se essas noções
guiado por uma mão que o conduz através das trevas. C,omo método de busca a
foram tiradas dos particulares de modo grosseiro, o erro nãopoderá ser corrigido
wnatio Panis procede através da variatio axperintnti, da produtio, da trarclntio, da
nem pelo exame das conseqüências dos argumentos, nem por aqueÌe da verdade
inonsìa, da ampulsìo, da applbatio, da eopuLaüoe d.as sortes etpeim.enti. Para dar
das proposições: o maf, como dizem os médicos, remontâ à primeira digestão, e
uma idéia dos procedimentos nos quais pensa Bacon, vamos nos referir
não pode ser retificado peÌas outras funções do organisrno. Não é sem razão que
brevemente à transl.atio etperimmti. Ela pode ser feita de modo tríplice: t) da
muitos fllósofos aderiram a uma posiEo cética que nega ao conhecimento quaìquer
natureza ou do acaso para a arte; 2) de uma arte ou de uma prática para outra
certeza e afirma que o saber humano se Ìimita ao campo daquilo que é prováveÌ
arte ou prática; 3) de um determinado setor de uma certa arte para outro setor
e aparente. O erro principal dos filósofos céticos foi o de atribuir ao sentido a
desta. Do pimziro tipo de procedimento existem inúmeros exemplos e quase
causa desta ÍaÌência. O sentido, ao contrário, apesar de suascavila@s, é suficiente
todas as artes mecânicas tiveram origem da observação da natureza ou do acaso.
para a verdade (suffìcient to certify and report ÍrzÍá), mesmo se não 'o
A natureza é, de fato, espelho da arte" e, a partir da observação de seus
imediatamente, mas com a ajuda de instrumentos, e fazendo com que os objetos
procedimentos surgiram, por exemplo, a produção do espectro da íris, a destilação,
demasiado sutis para serem percebidos pelos sentidos dêem lugar a efeitos
a construção de hovões e raios artiÍìciais. O segunìo tipo de procedimento é
passíveis de serem percebidos. A falência deve, portanto, ser imputada às
menos usado porque a natureza está à disposição de todos os homens, enquanto
demonstrações precárias e ao modo de se tirarem conclusões na base das
que as várias técnicas são, em geral, conhecidas somente por aqueÌes que as
percepções sensíveis. Para traçar uma linha reta ou para desenhar uma
praticam. Foram produzidas Ìentes para facilitar a visão, porque, então, não poder
circunferência o homem necessita de uma régua ou de rm compassq do mesmo
produzir instrumentos que, aplicados aos ouúdos, facilitem a audição?O desenho
modo que a mente do homem necessita de ajudas e instrumentos intelectuais.
renova a memória de um objetq não seria possível transportar o desenho naquela
Tanto no Áoancement of Learning
quanto no De augmmtis, Bacon
remete, para a abrdagem arte que é chamada memória artificial? E assim por diante. Em cada caso desta
da inttrprctatio natarae, a um trabalho diferente
(no caso do De augmzntis, ao já publicado Noztum Organun). A abordagem troca entre arte e arte poderiam advir inúmeros progressos: para isso seria

da ezperientìa litcrata, que não é desenvolvida no Ádoaacemcnt, ocupa, ao necessário que os cultores de disciplinas diferentes se juntâssem para se
contrário, no De augmenlli, um considerável número de páginas". Para oferecerem ajuda recÍproca e para trocarem idéias O tercciro tipo de procedimento
é pouco diferente do segundo. Entretantq algumas artes são tão extensas que
' D.1, Sf, l. j)l) {i12rr-3J
seria conveniente fazer uso de uma troca de métodos de um setor a ouuo da ciência.
Por exemplq na medicina, alguns tratamentos que têm como único objetivo a
do Promus aos Colours e aos Essays. Se a promlhuia tem uma importância não
cura de determinadas doenças nervosas poderiam ser aplicados também em vista
desprezÍvel no que se refere ao tratamento dado aos problemas mais
de uma conservação da saúde e de um prolongamento da vida.
especifìcamente "retóricos", os topìca apresentam, conforme será visto mais
Os argumentos, conforme foi visto, não se inaentam.no verdadeiro sentido
adiante, uma Ìigação direta com o método científico de indagação da natureza.
da palalra. Inventar um argumento, para Bacon, quer dizer -retirar com destreza
Com efeito, a tópica, de acordo com Bacon, não tem apenas a função de fornecer
do patrimônio de conhecimentos da mente aquilo que parece pertinente e útil à 'i
aÌgumentos em uma disputa que verse sobre argumentos prováveis, mas tem
questão de que se trata"4. Isso é tanto verdade, dirá Bacon no De augnvntis,que
também uma precisa função para regular o desenvolvimento interno do
os lugares da invenção não são de nenhuma utiÌidade quando nada conhecemos
pensamento. Ela não diz respeito apenas a nossas asserções,mas tem tamMm a
do argumento do quaÌ se está discutindo, enquanto quem tem certa competência
tarefa de fornecer um guia pÍìra nossas buscas e interrogações e uma pergunta
da questão tratada poderá produzir argumentos mesmo sem recorrer a essaarte
correta eqúvaìe a metade do conhecimento. Com a denominação de'tópica geraÌ"
 arte de iaventar argumentos pressupôe, portanto, um patrimônio de
Bacon entendia referir-se àquelaspesquisas sobre os "lugares" presentes na obra
conhecimentos e serve apenas para tornar mais "rápida e cômoda" a obra de
de Aristóteles e largamente desenvoìvidas em todos os tratados lógicos
"rastreamento" das afirmações a serem feitas, tendo em vista
a obtenção de um posteriores. Já tratando da ftlnsofa prima (primeiro no Ádaauanznt e depois
determinado fim.
no De augmtntis) Bacon havia criticado o fato de que pesquisas sobre o pouco e
Esta obra de rastreamento pode ser realizada com a ajuda ce dois
o muitq sobre o semelhante e o dessemelhante, o possível e o impossível tivessem
métodos: o primeiro tende a coletar, para usar no momenro oportuno,
sido empreendidas "com referência a argumentações e não à realidade das coisas"s.
argumentos previamente preparados sobre o maior número de ..casos,,
Justamente para obviar esta deficiência ele haüa visto naflnsofiaprim4 por um
possíveis Qptcparatìonou prontuaria); o segundo tende a fornecer um guia 'uma
lado, coletânea de princípios ou axiomas comuns a mais ciências" e, por
e uma indicação para desenvolver uma pesquisa e relembrar idéias já
outrq "uma p€squisa sobre as condições transcendentes dos seres".Quando recusa
descobertas (nggestion ou topica). O primeiro desses métodos é comum à
a redução da tópica geraì a instrumento para disputas e aÌgumentações com os
Iógica e à retórica; eÌe merece tão-somente o nome de ciência e consiste
adversários, eÌe parece aproximar-se de uma consideração da tópica geral como r-,
mais em um tipo de diligência e de cuidado do que em um saber metódico.
coletânea de lugares lógicos, comuns a todas as ciências. Nesse sentido, entre -,, - .
puaÌificando ay'rom?tuario como'tuidado", Bacon não entende; entretanto,
tópica geral e filosofza prima, haveria relações muito estreitas. Trata-se,
negiÌr sua importância e necessidade. Aristóteles, que ridiculariznu e recusou
entetanto, apenas de uma hiÉtese, dada a pouca clareza com a qual Bacon tratou
esta paÍte da invençãq conüdou-nos a trocar - afirma Bacon - um rico guarda-
desta primeira parte da tópica.
roupa por um par de tesouras. puando, na doutrina do ornamento e da
O problema da tópita lartiatlnr oferrce, ao contrário, pistas de grande
z
mmunicação (ou retórica) Bacon iú trlauÍ da prornphuri4ele irá dela se servir,
tn{ r *: interesse e sobre este assunto deveremos voltar, quando nos referirmos ao
conforme veÍemos, para acresc€ntar à retórica três a$ndices: os rplorcs boni et -ül .- 'método"
"^--o
I" baconiano. Â insistência de Bacon sobre este setor da tópica vem do
L^ -JJ-;-
mnli, os antrhzta e as formttlaz minores. Bacon atribui-lhes uma importância
reconhecimento da im?ossüilidadz dz utna aplìnção imzdiata dz w tfurico métoìla
singular, sendo que eles estão ligados à sua produção de tipo retóúco-liteúria: 'Ìógica"
dz pesquisa aos dfermtes campos do sabtr. Entre a do discurso relativo

' ,.1,1u..
.tl, Ill. p. rJ$:,;D/, .\y'.I. p. íijìl, ' .4dt'..,\p Ill,
l) J.rì; l). .\'p.P 5 tr
I
I
'matéria"
a um campo particúar e a que constitui aquele campo, existe uma a) Confutação dos soÍìsmas
relação estreita (uma mistura ou mbhre): a tópic4 enquanto particular, dá conta b) Confutação da interpretação
dessa reÌação e fornece regras para se mover no interior de cada campo. Desse c) Confutação dos i.doln
ponto de üsta, pode-se compreender como Bacon pode penmr numa tópica como
elemento constituinte de uma pesquisa cientÍfica sobre a natureza. No De Quanto a istq como quanto aos outros esquemas que indicam as divisOes das
augmmtìs, Bacon irá falar do projeto de uma obra que pretenderia considerar a artes lógicas consideradas vãg os intérpretes de Bacon preferiram seomitir. Considero
tópica das pesquisas naturais. que compreender o significado aqui atribuído ao termo amlítìca e às razões da
Esta obra nunca foi escrita, mas os numerosos fÌagmentos de que dispomos contraposição aqui presente entr.e annlítime confutaçãnpossa ser de aÌguma ajud4
podem dar-nos uma idéia do tipo de trabaÌho que Bacon tinha intenção de em üsta de uma exata avaliação da reforma baconiana da lógica. Para esse fun temos
empreenderu. de apela4 mais uma vez, para aquela tradição "retórica' à qual Bacon se referiu tantas
vezes.
Deve ser lembradq no entanto, que para Ramus (como já para Cícero e
2. A arte do juízo e a corfutnção dos "idola" Quintiliano) dìsposiüo e iudüum sáo sinônimos e indicam a apta collocatio rerum
ìnamtarum ou o oportuno ordenamento da matéria da invenção na economia do
A arte do exame ou do juízo compreende: discurso. Com o termo secandzpars Rani era justamente indicado o tratamento
da dìspositioem cujo âmbito se encontrava a discussão do silogismo e do método
I. Juízo mediante indução silogístico', Aliás, já na retórica clássica, a dzmonstratio constituía a parte central
II. Juízo mediante silogismo da disposiüo e se apresentava oorno a atuação prática da inoentìo, em função da
finalidade que a oratio tende a alcançar*. Para Bacon, as relações entre inznnção e
primeira divisão: juim são do tipo que acabamos de indicar: a arte do juízo consiste exatamente em
julgur o que se inventou (nfudge thaÍ uhith ìs inzmtzQ e ela consiste em provas,
A. Redução direta demonstrações e na confutação dos argumentos errôneos e soÍIsticos.Vimos,
B. Redução inversa porém, que Bacon, mesmo fazendo uso dos esquemas classificatórios da retórica,
/
z
c haüa se afastado dessesúltimog distinguindo de modo bastante preciso a invenção
segunda divisão: das ciências e das artes da invenção dos argumentos. Tendo etrr mente esta

z
distinção, sua diüsão da arte do júzo será - acreditamos - muito mais cÌara.
A. Analítica
B. Elencm ou Doufina das Confutaçoes:
' lìanrus, IzslrÍalrbnum ,líalectiurum lil)ri tres cit p 'i7
,
* B lÌigrsati, "ProbÌerni di retorica antica", cÌrì Inlroduzìorc tlln.ifÍlosofa rlnssn4 Miìão, I95t, p

" E'.m DÁ, Sr'- I, pp. 6.96-.99os I'opia partinlaria siue aúfuuli inquuiliotis da gïdti et lrtì. Para i+9
a corrsirìeraçãode outrus trqhos relatilos aos lolricd, cf. o capítulo VI destc livro " 4da., Sp lll, p .e8,1-
A reìação invenção-juízo irá se configurar, com efeito, para Bacon, de modo conseqüenciaÌidadedas argumentações", isto é, regular o andamento do discurso
bastante diferente conforme se esteja ìidando com a invenção das artes ou com a Íìxando aÌgumas regras que, se deixadas de lado, fazem com que a conclusão
dos argumentos Com referência ao primeiro tipo de invençãq o método silogístico apareça viciada e errônea. Essas regras, segundo Bacon, já contêm em si um
haüa parecido a Bacon absolutamente estériÌ e a ele tinha contraposto a nova elenxoou uma críticã, uma vez que "o que é correto é regra de si e do incorreto";
lógica da ìnierpretatio noturaz qle se apoiava na iloaa ìndupãa. A reÌação entre é entretanto oportuno acrescentar à analítica uma doutrina dos elencos ou das
invenção (enquanto invenção das artes) ejuízo equivale,portanto, para Bacon, confutações para que as falácias que podem dificuÌtar o juízo possam mais
em última análise, à relação entre procedimento indutivo ejuízo. Esta relação facilmente ser descobertas. Da analític4 Bacon não consideraÌa oportuno faÌar
se conÍigura, para Bacon, como uma identidade: no âmbito de uma lógtea do muito, uira vez que deìa - eÌe diz - faÌou-se até demais; resta clarq todavia que,
saber citatifico não há lugar para a diferença, indicada no esquema, entre fazendo esse uso do termo analítica, ele aceita uma terminologia tipicamente
inventar e juÌgar: ramista. No prefácio aos liwos IX-XX das Animadaersìonzs, Ramus havia, com
efeito, distinguido claramente duas partes da lógica: a t6!it"
(concernente a
Quanto ao juízo que ocorre mediante a indução,nada há que possa invenção dos argumentos) e a analític4 concernente sua disposição:
reter-nos. 0 que se busca é de fato encontrado e julgado com uma
úniu e idênticaoperaçãoda mente.Aqui não existe nenhumrud.io através
Duae partes sunt artis Ìogicae:topica in inventione argumentorum, id est
do qual seja necessáriopassar, mas tudo ocorre de imediato,
mediorum,principiorum, elementorum,et analiticain eorum dispositione".
aproximadamenteda mesma maneira como a coisa ocorre nos sentidos
De fato, os sentidos,no que se refere aos objetos imediatog apreendem
O que importa saÌientar é o significado atribuÍdo por Bacon à analìtica,
@ntemporaneamentea naturezado objeto e consentemà sua verdade.No
que é uma das duas partes da doutrina do juízo. Colocar a anaìítica ou
casodo silogismo,as misas se dão de modo diferente,uma vez que aqui, a
prova não é imediata,mas atingida atravésde um médio.Âqú, a descoberta disposüio depois da arte da invenção e atribuir à primeira o papel de julgar
do termo médio é uma coisa e o juízo sobre a conseqüencialidadedo o que foi inventado" significava inverter, de maneira característica, uma lpica
aÌgumento é outra. De fato, a mente discorre primeiro e depoisse aquieta'o posição aristotéìica. Na lógica aristotélica a demonstração é tratada
independentemente de sua aplicação. Para Bacon, como já antes para Ramus,
No caso da relação entre invenção (enquanto invenção dos argumentos) não faz sentido Íalar-se em regras do discurso antes de se ter tretado da invenção,
e j uízq ela se apresenta de maneira diversa. Pois aqui se trata de lidar com aquele isto é, antes de se ter recolhido aquele material argumentativo sobre o qual virá
7.
método silogístico que Bacon qualificou como sendo'apto a arrancar o a ser construído o iudicium- Justamente sobre essa inversão tiveram, aliág ocasião
assentimentq não a constranger as coisas"(")e que se limita às ciências morais e de insistir aqueles que, mesmo recusando energicamente a douFina ramist4
z humanas As demonstrações, as provas, as confutações movem-se aqui no plano puseram em eúdência seu caúter de originalidade:
dos argumentog da capacidade de persuadir, da'retórica".
Fode-se compreender, dessa form4 o que Bacon entendia opor analítica. Cum Ar istotdes et Scholasticisdisputat Ramus,quod de locis agant post
'estabelecer traditas ratiocinationum reguÌas;com adversuseosdemasseratde regulis
EÌa tem a tarefa de as formas exatas quc deve assumir a

' ' 'Iìií


duas part(ìs na artc lógica: a tópica, na inr cnção dos argunìerìtos, ou stja, <ìos rneios, dos
"' Dd Á? I, p 6 +0,cfl ,-!du.,Sl>.lí1. l) :,911,(lrrc al)rcsoìta algrrrrraslrequerra, difèr<,rrças prürcípios, tìos clcmentos; c a anaìítica, na sua <lisposição" Rarrrus, II, p I

L .
nonnisi post explicatoslocos traditumque quod inventionis spatat, esse
A tripartição da doutrina dos elzncos em confutação dos sofismas, da
agendum. Rami ratio est deberemateriam prius congeri quam de illa
interpretação e dos ídolos está apenas implicitamente presente no texto do
disponenda cogitemus'"
Adaarcementof Learnìng, enquanto passa a ser ÍrmpÌamente desenvolvida em De
A anaÌítica baconiana é, portantq tão somente uma Íìrte de argumentar com augntentis.Ossofsnlas/ó6zcosdosquais se ocupa Bacon na doutrina das confutaçõ€s
conseqüência(d),ou, caso se prefir4 eÌa consiste na formuìação doo nexos segundo os não são a mesma coisa dos sofismas retóricos dos quais ele irá se ocupar naquele
quais deve se desenvolver um discurso que tenda a uma conclusão verdadeira. E apêndice da retórica que trata das "cores do bem e do maÌ" Os primeiros provêm
aqui, conclusão uerdadeìranáo significa absolutamente conclusão obtida a partir de da sutileza do enredamento (subtilztyof illaqueation), os segundos da força da
premissas verdadeiras que tenham, conforme queria Aristóteleq .ein si mesmas e impressão; aqueles conseguem tornar a razão perplexa, estes, sobrepujá-la
não em ouha misa o princípio de sua credibilidade", mas tão-somente conclusão mediante a força da imaginação'*. Não se trata, portanto, como no casoda retórica,
caFaz de fugir à cútica desenvoìvida pela doutrina das confutações. AÌiás, a relação de um mero malabarismo de paÌavras que põe em dificuldade quem tem de
estueita que Bacon coloca enÍ'.e analítica e confttaçãn lembra de perto a distiìção responder, mas de uma verdadeira perturbação da facúdade de julgar (yet thz
largamente presente na retórica clássica, baseada na qual a dzmonstratio era mare tubtlile sort of thzm dnth not onfu put a mnn besidzshis annuer, but doth mzn1
suMiüdida em a4fnnatìa e reprehatsio ol mnfita.tio. Não é por acaso que Cícero ümzs abusehìsjudgemcnÍ).Depois do tratado de Aristóteles, a polêmica de Platão
utilizou, nesse sentidq o termo redargu.tìoque foi muito caro a Bacon'i. contra os sofistas e a discussão de Sócrates, Bacon acha que esta doutrinajá não
necessitade mais acréscimos. O que lhe parece dever ser aprofundado é, ao invés,
'' "IÌanrusdiscortla a refutaÉo da interpretação que constitui na realidade uma refutação dos sofismas.
dc AristritcÌcsc dos cscrÌásticospor tratarerndos tópicos<ìepoisdas regras
tradicìonaisdos raci<rÍnios,;xris afir'a contra estcs(lrrese deveprosse€rrirsornenteclcpois<le Os sofsmas dos sofsmaq conforme os chama Bacon, derivam, com efeito, da
exÌDstos os tópicos e deterrninado aquil. que diz respeito à descobcrta (inentio). o arguÌnento ambigüidade da terminoÌogi4 particuÌaÌmente no caso de "termos gerais que
de Ramus é que perrscmosprimeirarncntc eÌn le'aÌìtar a matéria e dcpois cm orclená-la".Ar'arrìd, intervêm em cada pesquisa particular'. A esse tipo pertencem palavras como
L- Ingicu site ars cogitaradlAmstclodarni l7r{ì, p 9o9 signiÍìcatir.a, para este prcbÌema, a opinião
maior, menor, prioridade, posterioridade, identidade, ato, totalidade, parte,
!J
expressa por lttico (Áatobiografa, Bari I9t Ì, p_ te) que, posicionande* contra a "lógica de
Ârnaldo", rei'indica a r.aÌidadedc:urra t.locaçã. dc tiyr. "rarnista":'ï,laq cornessasÌógicas,os existência, privação, etc. Arisóteles, segundo Bacon, subordinou erroneamente
.ioverìs,tralìsportados a'tcs rlo ternln Para a crítìu, quer dizcr, Ìevatlos a bcn.iuÌgar antes tìe à analÍtica esta discussão sobre os termos gerais: para Bacon trata-se, ao contráÌio,
bem apreender,contra o curso naturaì das idÉ,iasque antes aprecndem e depois julgam e não de examinar o juízo lógioo mas de submeter à crítica o uso dos Predicáveis,
7 finalmente argurncntur, advém disso rrm tipo de.iu*entude árida e srca;ura se explicar e que,
de modo a evitaÌ qualquer equívoco. Não se trat4 em outros termos, de uma
sm nunca fazer coisa aìguma, pretende tudojulgan Ao contrário, se esm jorens, na i<Jadedo
engenho, quc ó.lustatncntc a urocidade,se aplicasseurno estudo da topica <.;rrc discussão sobre as câtegoriag mas de uma discussão quanto ao uso lingüístico de
é a arte de
rencoÌìtrar (arte esta que óprivilégio dos engenhosos, tal corno o foi Vicq alertado p.r Cícero), alguns termos mais gerais'5. Aflosofa prina baconiana trata dessestermos "de c

eles prireirmrente prepararimr a nutéria para deEtis bcn julgaç uru vez qre não * julga brrn rc
nãos@nlmotododamim,eatópiüéaarteq.eerminaaencontraremedacoisatudoaq'ilo
as observaçõcslbitas por Vi\rs:'Erit crgo demonstratioquasi lesbia nortna, quae se aediticio
que nela há, e Jrelapnbria naturea ffiiarrr os jorens forrmdos mrno lilósc&ç e bcrn falanto".
tt D? partittoil( acc<rnodat, norrsitriaqlificiurn-Iam ntressariarequiris,id cst, <lrracinrgrssibilcest aliter ÌIabcrc,
otittoriax $* c Iì Nernl* ea s({ìuuntur, quae ad Íacicndarl fitlcnr pcrtinert?
istuc vcro (lrraÌrdocrit noturn?quum orrrria urrirersaliacr sirrgularibttssint trobisurlle'ta, qttac
c P Ita cst: <1rraq c r r i r Ì c r rirn r u r f i r r n a t i r n c r n e t i n r c p r e h c n s i o n c ndr i r i d u n t r r r N a r n r n
sirgulari:r quurn sirrt infinita, pcrstnui ournia norrpotuinrrrs;at si urrtnr dcest irrtliriduturt,Iron :J
c o r r l ì r r n a n d o r r o s t r a P r r b a r c r o l u n r u s , i n r c p r c h c r r d c n d o r c d a r g u e r c c o r ì lt ,narri a
aa" grlôrrrica
constar rrrirersale' (De rltrr2lar.r cit, p ttls)
cqttra as crrncÌrrstltsolltida-sa prartird<,Prctnissirsatdddirut(to scntidoatistoti,Ìi<n)rc,iarn_sc
",|dt, Sp.IIt, p 391, o trcrho trãoestá traduzido no I),1[

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um ponto de vista Íïsico", aquela parte da lógica que tem a tarefa de criticar o uso os idoh thzatri não são considerados neste último escrito como provindos do
das palawas e que se ocupa delas segundo o ponto de vista ora indicado. Este exterior, mas aparecem, eles também, "internos à natureza da mente"; 2) no
último iú adquirir um sentido melhor determinado, entretanto, apenas se posto lugar dos ídolos do mercado, fala-se em Ídolos do palácio, mesmo se não é
em estreita relação com a discussão baconiana dos ìdobfori. improváveÌ que a substituiçáo de paÌate por plate se deva a uma falha ou erro de
A doutrina dos ì.doln'ué parte integrante, segundo Bacon, da nova lógica transcriçãoeo. No Ádaancement of Learning de r605, Bacon refere-se
da ciêncie Esta, diferentemente da lógica tradicional" tem por objetivo a invenção genericamente a três frofoun-d kinds of fallartes in thz minl of nafl e trata de
das artes em lugar da invenção dos argumentos; não quer ensinar aos homens a três gêneros de ídolog correspondentes aos da tribo, da caverna e do mercadoo'.
ganhar as discussões,mas quer Ìhes ensinar a dominar a reaìidade natural No Os idola thzatrinão são tratados e à distinção entre ídolos nntiws e aloentícios são
âmbito da interpretatio ilaturaz, a doutrina dos idala exerce d mzsm.atarefa que feitas referências apenas no título marginaì Provavelmente Bacon fazia entrar
a confutaqÃo dos sofismas, eurcidn no âmbito da dialitiea tradìcìona|1. A noção aqui no segundo grupo os ídolos provindos da linguagem. Na Parlà instauraÍionìs
de idol4anforme foi ústq já tinha aparecido explicitamente no Tmporis partus sectndae dclìncatio ct orgurncnturÌt, de 160?, os ídolos aparecem divididos em
trwsculusAqui Bacon, após enumerar três tipos de ìdoln (do teatro, da cen4 do três grupos e a estes três grupos corresponde uma trÍplice confutação: a
foro e da caverna), havia criticado asperamente as fiIosofias tradicionais redargutio philnsoPhürut4 a redargutìo dzmanstrationurn e a rednrgutìo rationis
procuranò, de taÌ modo, Ìivrar as mentes dos i^dnlado primeiro tipo.O Vabrìus hum.anaenatiaaz n". Âs primeiras duas confutações, no Novunl Organum e no
Termìnusìle 1603 é, quem sabe,entre todas as obras baconianas,a em que menos De augmcntìs, vão entrar na discussão dos idola theatri qae, nessas obras,
está eüdente a preocupação por urna polêmica de caráter histórico. Aqui Bacon compreendem os eÌTos que derivam das opiniões filosóficas hadicionais e dos
refere todos os idaln à natureza da mente humana e os diüde em quatro classes: procedimentos demonstrativos errados. No Nmrum Organum e no De augmtntis,
of tfu ndioa of thz tibe, oÍ thz pal^acc, of thz cau, of thz thzatre. Nem deve os idol4 conforme é sabidq estão diúdidos em quatro grulrs: os ìdala tribus,
ser exchddo que Bacon pensasse, nesta fase de seu pensameÌlto, numa ampliação que nascem da natureza geral da mente human4 os idolL sy'eas, característicos
do númso dos ìdoln, uma vez que ele acena a 'numerosas subdiúsões- que do indiúduo isoladq os idalaÍon que derivam das relações sociais e da linguagem;
poderiam vir a ser, mais tarde, introduzidas na quadripartiçãors. Entre a os ìdola tluaÍri, que devem ser feitos remontar à influência das opiniões fiIoúficas
'clássica"
formuÌat'o da doutrina dos idol4 desenvoìúda no Nozrum Organum e e aos procdimentos demonstrativos errados. A distinção entre ídolos adquiridos
.:] no De atqnetztis e a presente em Tabrius Tenninus'e subsistem duas diferenças: l) e Ídolos inatos fora claramente delineada por Bacon na DistribuÍio oPerisa: os
?
a
ídolos adquiridos perìetram na mente vindos "das seitas dos frIósofos ou das más
formas das demonsha@es". Este tipo de ídolos é eliminável com dificuldade; os
a 15Cf.Adv.Sp. lll,pp outros não são de modo algum elimináveis: Permanece tão-somente a
ses-ea; DÁ,Sp t,pp 64t-4.Q
'o Os dotre são chamados, por Bacon, tanrMm de.ftJiout, Mpastitiorc,
rrors, hind of falhcies in possibilidade de indicá-Ioq de descrevè-los de tomar mnsciência dessas forças
Ç ttu mìnd $ man (ral. Tem- Sp ÍIl, pp 9+r-4e; Ádv.. Ap IIl, p soo); gnara (Ct,, Sl>ItI, p 607; que insidiam a mente human a. No Noann Organetma dis6nc'ão entÍe adquiridos
D{Sy' I pe+s); oolanteÍphantasiae(PraqÍ:3pt,p teo); ìnagines(DÁ..Sy'I,p ô.{3)
'' N'O I4{ì-
I '" lãl 'I'en,.5) IIl, pp- 9.tt42: "1 do fin<ì th<'relirrc
in this entìrantcd gìass ÍLrur rril>lsor
"'(ìÍì Anderson,p s8-
" ,4h., S1t-III, pp 39+e?
a p p < ' a r a r r e o f s c r e r a Ì a n d d i s t i n c t s o r t s , e \ r r y s o r t c o n r p r c h c n < l i n g m a n y s u b d i r i s i o "r r s
l" ,ry"O "' PID, Sf Iì1, p 5a8 d
Í 384s; l).1, Sl,.l.l)p 6.1:l-4íj;Ihl l'mn Sl tll, pp. :2+r-1s,e+.t '" Dq Á? I, p r3s
rl
e inatos não é indicada explicitamente, mas comparece novamente no posterior queda não está esse saber puro e casto, mas a pretensão humana da ciência
De aqmentis, isso é prova da vaÌidade da tese defendida por Levi, segundo a qual do bem e do mal. Com o pecado o homem perdeu, ao mesmo tempo, sua
Bacon teria concebido como inatos também os idnlnfori. Os erros provindos da Ìiberdade e a pura iluminação do intelecto: o céu e a terra, originariamente
linguagem estão'impÌicados na própria existência do ser humano.. que não pode criados para o uso do homem, ficaram - eles também - sujeitos à corrupção,
üver fora da sociedadee deve,portanto, serúr-se necessariamenteda linguagem" entre'b espírito do homem e o espírito do mundo" surgìu uma fratura profunda
Nesse sentido, eles se coÌocarn - para Bacon - no plano dos ídolos inatos e não e a mente tornou-se semeìhantea um "espeÌhoencantado" que refletia, distorcidos,
Podem ser eliminados de modo aìgumt*. os raios das coisas.Da própria natureza humana, além dos estudos e da educação,
Dos idola tieatrì jâ tivemos ocasião de nos ocupar com suficiente vagar nasceu portanto aquela força de sedução e aqueÌa espécie de demônio(")lamiÌiar
no capítulo dedicado à confutação das hlosofias, aos ìdola fori faremos que perturba a mente com muitos fantasmas vãos.
referência mais adiante, quando falaremos da doutrina baconiana da Mas se ouvira a grande paÌavra da promessa: graças à religião e à Íé, o
Iinguagem. Aqui vamos nos limitar a dar brevemente conta daquela dzsctìção homem poderia recuperar o estâdodejustiça em que Deus o havia criado; mediante
fenomenológica do erro que empreende Bacon ao tratar dos ìdola tribus e as artes e as obras, teria podido readquirir, novamente, seu domínio sobre a criação
dos idnln slDdât
s. Iremos nos vaÌer do Noaum Organum e do Da augmzntìs já Depois da maldição divina, o mundo não se havja, portanto, tornado
que, nessas obras, a doutrina baconiana aparece exposta de uma forma que completamente rebeÌde para com o homem: com o suor de sua testa ainda lhe
reúne todas as precedentes considerações tecidas sobre o argumento. teria sido possível dobrá-lo à utilidade da vida humana Os homens "tinham,
Na raiz da teoria baconiana dos ìdola está a certeza de que a situação portanto, conservado um certo poder sobre a natureza rebeÌde" Mas eles, mais
da mente humana diante das coisas não ê defato o que ela dneia sn dz direìto. uma vez, renovaram o pecado de soberba de seus antepassados e, perpetuando
Esta convicção esú estreitamente ligada às atitudes tomadas por Bacon em nos séculos esse mesmo pecado, pretenderam ser semelhantes a Deus; criaram
relação à religião e à própria ligação que existe entre a sua concepção do mundos fantásticos tais como macacos do mundo real, acreditaram poder
cristianismo e a sua reforma do saber. Verdade do ser e verdade do conhecer substituir o suor de sua testa por alguma gota de elixir, com espíúto ímpio e
- escrevia Bacon no Praìse of Knowlcdge d.e tíge, são a mesma e idêntica arrogante imprimiram seu selo sobre as criaturas e as obras de Deug em lugar
coisa e só diferem como o raio direto e seu reflexo. A mente humana. saída de observar com cuidado e reconhecer nelas a marca do Criador. São essesmundos
das mãos do Criador, era semelhante a um espelho capaz de refletir a totalìdade fanústicos, essasconstruções ímpias que devem ser destruídas para que o intelecto
do mundo; o homem tinha um conhecimento puro e primigênio da natureza seja posto novamente em condições de espelhar a realidade e para que "seja
e da universalidade das coisas, à luz da qual teve a possibilidade de dar nomes preparado o tálamo para as núpcias da Mente e do Universo". Junto com aqueles
aos anirnais do Paraíso terrestre, conforme a natureza deles. Na origem da mundos cairão aquelas antecipações com as quais se quis adiantaÌ-se à experiência
e não entendèla e aquela atitude de soberba arrogante que afastou os homens da
reverência e da humildade necessáriasperante o Ìiwo da criação"e5.
raCl. Irvi, pp. SZ I-ee. Conr boas razõcs,no rncrr
par<tcr, kvi recusa a ttx, de Spxlding segundo
a qual Bacon teria omitido, no À:ozi,z OrÁ.auar4 a distinçÍo cntre ídolos inatose ídolos adrcntícìos
"Ct'. I'tríscqf KtotLÌe,lge,5/l-Í,p t93;(:oill:,S/\/tt,pp ]lÍ)ss;/âl'l'ert::,Sp- Ill,pÌ):29!,
pelo fato de tcr percebid. a irrconsistôncialógica rle cìassjÍicar os idola.fòrì cntrc os prirnciros <'
239. 2'tt--ï!t;.|do-,S/t lll. IÌ) 2í;l-íjr-,.Ì9íì.39:t; I'ID, óp IIl, P ,; rs; Cli.!r lll, pp tì()t,6 | r; 1ì
<la inolrutunidadc prática dc colocá-los crìtrc os segundos (CÍ. Spedding, (ht vnu thatgct it
I Ì r . . i 2 l l f . l Ì ) : l s , i . Í s r i 1 ) r ) Á ) l . l t 1 1 t : P r a t t . , V [ , ] ) l ] J o : - \ ' í ) 1 , 2 6 - 9ísr ô s : l ì 5 : l ; 1 ) - / , . ç / ,
Rdrct's lr?dt ,Eill of hÀ dodrìne oJ /,y'olr crrr Áy' I, l)l) | I 1Ì-ì 7)
I , f Ì ) I J l . 1 6 5 :I l i t l r t t t . s / , I I , t ) I I

!----.- -*.-
A obra de libertação das mentes coincide, de tal maneira, para Bacon, com O primeiro tipo de idola, os da tribo, está fundado sobre a própria
uma reforma da atitude do homem diante do mundo e se insere não apenasnuma constituição da natureza humana. Esses erros derivam da fraqueza dos sentidos,
tentativa de reforma do conhecimento, mas naquela - muìto mais vasta - de uma da limitação do intelecto, da influência dos afetos, do modo de receber as
radical modificação da moralidade e do espírito religioso. A luta contra as faìsas impressões dos objetos, da atitude diante das concepçõesjá aceitas.Os principais
imagens presentes na natureza humana aparec€ como um meio para realizar a impedimentos derivam da Íalácia e do obtuso dos sentidos que, tomados em si,
promessa divina e pÍÌra Ìevar ao cumprimento a obra da redenção. É preciso que são coisa vaga e sujeita a erros. O que, com maior força e imediatez atinge os
o homem esteja novamente em condições de "receber as verdadeiras imagens sentidos, não é de grande utilidade para a ciência. puando a observação se limita
das coisas". Para tanto deverá eìe seguir a nova lógica: àquiÌo que é imediatamente visírel, dela fogem, por exemplo, a atividade dos
'espíritos"
incluÍdos nos corpos tangíveis, a mudança de disposição das partÍculas
Deus não permitiria que nós doássemosum sonho de nossa fantasia nas partes dos corpos mais densos, a natureza mesma do ar e de todos os
no lugu de uma cópia Íìel do mundo,consentindo,com isso,benignamente,
numerosos corpos mais leves do que o ar. Justamente uma pesquisa sobre os
que rja possível para nós, fornecer a verdadeiraüsão dos traços e dos 'espíritos"
e sobre os "meta-€squematismos" aparece, ao contráriq como sendo
caracteresque eìeimprimiu nas criaturas.Tu, ó Pai,que doasteàs criaturas
a primeira luz visíveÌ e soprastesobre o vulto do homem a luz intelectuaÌ, de grande importância para a ciência da natureza. Os instrumentos capazes de
como que-dando acabamentoà Tua obra, protege e guia esta obra que, ampliaÌ ou de afinar os sentidos não valem muito, desse ponto de vista. São
vindo de Tua bondade,visa a Tua gìória. Depois que te voltaste a mirar as necessários experimentos idôneos e apropriados: os sentidos poderão julgar
obras criadas por Tuas mãos, viste que todas eram boas e descansaste quanto ao experimento e este julgará sobre a natureza e sobre as coisas. O
Mas o homem, quando se voltou pra mirar as obras reaÌizadaspor suas intelecto, por sua vez, por receber alimento da vontade e dos afetos, acaba por
mãog viu que tudo era apenas vaidade e tormento do espírito; e não
crer, mais facilrnente, naquilo que acredita ser verdade e, dado que os afetos se
descansoude maneira aÌguma.Se,entretantq banharmoscom noss suor
insinuam no intelecto de mil maneiras perceptíveis, corre o risco de ser por eÌes
as obraspor Ti criadas,tornenos partícipesde Tua visão e de Teu sábado
Supümos-Te para que nossamente sejasegua sobreessascoisase para dominado: a impaciência o conduz a rechaçÍr as coisas dificeis; o desejo de uma
1 que Tu queiras,mediante nossasmãose as mãosdaqueÌma quem doastea esperança ilimitada leva-o a recusaÌ as coisas simples; a superstição - a não aceitar
mesmaintenção,conceder novas esmolasà farnfliahummat6. as coisas mais secretas da naturez4 o orgulho, a arrogância e o temor de ocupar-
se com coisas vuìgares e üs sugerem-Ihe menosprezar a experiência, enquanto
z Com esta oração, bastante significativ4 Bacon encerrava, em t62O, a o r€speito humano o Ìeva a rechaçâr o que pode parecer paradoxal. Aquilo que
Distributio o?tris. Não por acaso haüa sido inserida naqu€la Instaura.tin à qual atinge de repente e simultaneamente o intelectq enche e infla e fantasia: a mente,
Bacon haúa confiado suas maiores esperanças e que resumia o tabalho de uma
z
üda inteira. É possível compreender; desse ponto & üsta, como o fim de utilidade t  ligação entrc as
- Insiçõe$ religiosas de Bacon e algumas de sus tffi filosólies devc ser
prática atribuído à ciência e à avaliação das obras e das artes esú estreitamente sublinhada Farrington, pp. Ì30 ss, escrs'cu coisas bastanrc prciw rcbre o sìmbolísnpaistno
ligado a essa aspiração religiosa e nasça sobre o terreno de um anglicanismo que está continuamentc preseDtena obra baconiana-Entretanto, unu consideraçãodas rcÌações
eÌìtrc "espírito cah inísticti' c filosolia baconiana rcquer bastante cautela: quqm sc baseou ern
profundamente embebido de espÍrito calvinista-.
apressadasaproximações a<,aboufazerrdo dcrir,ar do "caÌr.inisno" temas que circrrlaranr
livrcnìenteequctirrharnorigensdife'rcntes Noqucserel'ercaotratanìeìtodos ìdolatrihus,ct'.
"'DO. Áì, I, p r !5 NO | .+r, 'r,-iei D4, SÍ,.l, pp 64i- 15

--- _."4._
jf
então, é ìevada a crer que tudo se comporte da mesma maneira como se portam
Bacon apela, explicitamente, no De augnentis. ao mito platônico da caverna e o
aquelas poucas coisas com que ela se ocupou. lJma vez satisfeito por uma
erpõena forma que lhe fora dada por AristóteÌes e depois transmitida por Cícero
concepção,o intelecto procura fazer com que todo o resto corrobore e concorde
em De rwtura dzorum.Se um homem que tivesse sempre vivido em uma caverna
com ela Mesmo que o número e a força dos casos contrários à dita concepção
escura de repente saísseà luz do sol, ele conceberia opiniões fantásticas e
se.;ammaiores, o intelecto não os leva em conta, os remove através de inúmeras
extravagantes sobre a natureza das coisas.Nós vivemos ao ar ìivre, mas as nossas
distinções e só se preocupa com a solidez da autoridade aceita Assim os homens
almas estão fechadas em corpos como em outras tantas cavernas e a ìuz natural
(na astrologia, nos sonhos, nos prognósticos e nas outras superstições) só ìevam
das coisas é refratada de acordo com a nossa constituição, com as nossas Ìeituras,
em conta os casos positivos e menosprezarn os negativos, taÌ como aquele ao
com as variações de nosso ânimo. As quatro fontes dos idola sperus são as
quaÌ foi mostrado um ex-voto de um quadro afrxado à parede por pessoasque
seguintes, para Bacon: a ligação para com um tipo particular de indagação; a
haviam sobrevivido a um naufrágio e que queriam que eie reconhecesseo poder
tendência excessiva para com a análise ou a síntese; a preferência por um
dos deuses. A eles perguntou: "e onde estão retratados aqueles que - mesmo
t' determinado período da história human4 a consideraçãoexclusiva dos elementos
tendo pedido a graça - morreram?" O de ser mais susceptível aos casospositivos
do que aos negativos é um erro característico e perpétuo do intelecto humano e simples ou do conjunto da reaìidade natural.
é, por sinal, muito perigosq porque, para estabelecer os axiomas verdadeiros, O primeiro caso é o dos homens que se "acostumaram" às contempÌações
são Justamente as "instâncias negativas" as que têm mais valor para a ciência. Na particulares às quais, há muito tempq se dedicaram. Quando se dirigem para as
reaÌidade, faz parte da natureza mesma do intelecto supor nas coisas uma ordem teorias gerais, eles as deformam, dobrando-as às exigências de suas indagações
e uma regularidade maiores das que realmente existem e conceber como estáveis precedentes: é o caso de AristóteÌes que submeteu à sua lógica a filosoha natural,
as coisas mutáveis: a mente constrói paralelismos arbitrários, correspondências tornando-a verbaÌista; é o caso dos quÍmicos que, baseadosem poucos
lI e relações (como as dos círculos perfeitos reaÌizados pelos corpos celestes e a experimentos, construíram uma inteira filosofia fantástica; é o caso de Gilbert
introdução do elemento fogo, com sua órbita, para formar um conjunto quaterno que construiu um inteiro sistema de filosofia natural na base daquilo que o
I
com os outros três eÌementos). O intelecto é, finalmente, impelido à abstração, havia interessado particularmente. vem do
A segunda fonte dos idoln spec-us
I I

preferindo abstrair do que seccionar a naturezai ê incapaz de impor-se limites e fato que os pensadores se subdividem em duas grandes categorias: os que
!
considera impensável um limite extremo do mundo e um fim do tempo. sabem colher as diferenças entre as coisas e os que têm condições de colher
Esta incapacidade de parar é bastante perigosa na busca das causasporque, apenas as semelhanças.Os engenhos constantes e agudos hxam suas
Z tendendo àquilo que esú mais afastadq o intelecto cai de novo no que está mais observações e se debruçam a indicar a diferença mais sutil, enquanto os móveis
a
próxirno e apela para aquelas causas finais que mais estão conformes à natureza e sublimes reconhecem e relacionam as mais ìeves e gerais semelhanças-Em
do homem do que à do universo. Pnrcurar as causa.sdos princípios mais universais ambos os casos o intelecto excede e empreende anáìises demasiado amplas.
z
sem sentir a neoessidade de uma procura das causas dos princÍpios subordinados O terceiro caso é o ligado à tentativa de muitos fìlósofos de extrair a verdade
- e subaÌternos é, de fatq caracteístico das filosofias inexperientes e supeúciais.
de algum estado feliz de tempos passados. Há, com efeito, inteligências, todas
Os üobs da eaoend" têm origem na natureza paÌticular de cada indiúduq
elas tomadas pelo amor para com o antigo, enquanto outras estão interessadas
da sua constituição, da educação, dos hábitos e das circunstâncias acidentais
tão-somente por aquilo que parece novo. Poucos sabem manter o justo
equilíbrio ejulgar o novo e o antigo sem fazer deles objetos de exaltação. O
'" Cl .\'O I 12..rj-.is; I),1, Sl, I, p 6+t
quarto e último caso é o que deriva de duas atitudes contrastantes em relação
à natureza: alguns dedicam-se de taÌ forma à análise das parcelas que compõem são os símbolos (imagznzs,tzsseraz)dos p€nsamentos, e as letras são os sÍmbolos
os corpos que acabam perdendo de vista o conjunto; outros são tão fascinados das palavras". A escritura (letras escritas) é, portanto, constituída por uma série
pela contemplação da totaÌidade que são incapazesde penetrar nos elementos de símboìos que têm a tarefa de simbolizar outros símbolos. Estes úÌtirnos
simples da natureza. Mas uma consideração exclusiva dos elementos simpÌes referem-se não diretamente aos objetos reais, mas às noções que de tais objetos
enfraquece e fraciona o intelecto, enquanto o exclusivo interesse pela possuímos. Bacon, sem dúvida, não está disposto a identificar, sem mais,
totalidade enche a mente de estupor e arrisca-se a dissolvê-la. Os dois tipos "linguagem" e "comunicação mediante palavras e letras escritas". A Ìinguagem é
de considerações devem ser alternados de modo que o intelecto se torne, ao "instrumento de transmissão" e, como tal, eÌa faz uso constante inclusive de
mesmo temPo, penetrante e comPreensrvo. meros que não são nem paÌawas, nem letras;

Aqui tratamos,de fatq de aìgum modo, da moedadas coisasinteìrctuais..


e tal como as moedaslrcdem ser feitas de uma matéria diferente do ouro e
3. Signos,linguagem""idnkfori da prata, do mesmomodo, as notas das coisaspodem ser construídascom
eÌementosdiferentesdas paÌawas e das letras*.
A arte da comunicação'9e (concerning the etpressìng or trans;ferrìng our
knoutludge to othzrs) compreende: a doutrina do órgão da comunicação (dos  ìinguagem não consta portanto apenas de palavras, mas, mais
signos, da elocuçãq da escritura), a doutrina do método da comunicação e a genericamente, de "signos". A definição baconiana de signo é a seguinte:
doutrina do ornamento da comunicação ou retórica.
No longo tratado que Bacon dedica à arte da comunicação (tratado este Deve ser estabelrcidoclarmente o seguinte:tudo o que pode ser dividido
que se apresenta ampliado mais tarde no De augmentrì) três pontos, em diferençassuficientementenumerosíìspara expÌicar a variedadedas
principaJrnentg apresentam um interesse particular: t) as considerações sobre a noçõ€s (posto que aquelas diferenças apareçam pereptíveis aos *ntidos)
pode ser transformadoem um veículopara a transmissãodos pensamentos
linguagem e sobre os "signos"; 2) a separação entre doutrina do método da
de um homem a outros'.
comunicação e retóric4 3) a função anti-sofrstica atibúda à retórica que, na sua
púpria área e com seus púprios métodog tende a restaurar as funções da raz.âo,
't Em outros termos: para que um "signo" (ou série de signos) funcione como
perturbada pelosjogos verbais. A esteita oonexão retórico4tica depende do fato de
z
"símbolo", é necessário que se apresente construído por "componentes"
que a primeira tem a tarefa de aplicar a razão à imaginação para mover a rrontade.
perceptÍveis pela sensibilidade humana e suficientemente numerosas para
Vamos nos deter com atenção particular sobre os três pontos ora indicadog
a
"representa.rJ os diversos e diferençados elementos presentes nes noções. Gestos,
I
procurando ÍrostraÌ como esses tês motivos de pensamento estão fortemente
z hieróglifos5 ideogramas (ou caracteres reais) respondem a essas exigências: eles
ligados a alguns temas fundamentais da obra baconiana.
O fazem portanto parte da linguag€m oom o mesmo direito com o qual dela fazem
= No começo de seu tatado sobre a doutrina do órgão do discurso Bacon
parte as palavres e as lefas.
remonta, de modo explícito, ao texto de Aristótela De ialapretatiorc "as palawas

T
" D . 4 , S l I l ) { ì 5 : , ;c f 4 h - S ? . l l l , p . , 1 { n T p a r a a s ì ) o t a s t l a s c o i s a s , \ i d c p i 2 ? 2 ì ú
* [)ara a arte da conrurricaçãocí. Ádt. Sf lll, pp :rÍ)Í)-.ft):ì;Ì)-í .5/ pp,fìs(H;:2
"' D.4,51, I p íttr; cf i{du, Sp.lll,p l39s

-L
Trata-se agora, para Bacon, de proceder a um esclarecimento das diferenças de vista, idêntica àquela que existe entre linguagem falada e linguagem escrita
que existem entre uma Ìinguagem que se exprime através das palavras e uma Compreende-se como, dadas essaspremissas, Bacon sustenta a tese, que lembra
linguagem que se utiliza de signos não verbais. Este último tipo de signos é de perto a de Vico, de uma precedência da escritura hieroglífica sobre a que
indicado por Bacon com o termo de note; mas enquanto no Adaaruemzzt of emprega signos convencionais, como as letras. Estava implÍcito aqui o
Leamìng ele fala de notesof mgitnüons, no De augmtntts ele ÍaÌará de notaz rerum_ reconhecimento de uma oigcm natural da lzngungemque se move no plano da
 diferenç4 conforme se verá, não é sem significado; aquiÌo, entretanto, que sensibihì.adc,fazendo uso de gestos (Vico irá chamá-Ìos de "atos mudos") e de
melhor caracteriza as notas é que elas "signiÍìcam" sem a ajuda ou a mediação hieróglifos que, justamente por serem emblcn4 "têm aÌgo em comum" com a
(mzdìo) das palavras (absquzope aut mzdio zterborumres signftcant). Tanto os coisa significada3'.
gestos e os hieróglifos quanto os caracteres reais indicam diretamtntz coísasou Os caracteres reais, ao contrário, nada têm de emblemático. Seu significado
noções; não representam nunca paìavras ou letras. Começa a ser sobejamente depende apenas de uma convenção e do hábito que sobre eles se institui em
conhecido, escreve Bacon, que na China e no Extremo Oriente faz-se uso de seguida. O caráter de convencionalidade é comum aos caracteres reais
caracteres reais que, justamente, representam coisas e noções e não paÌavras (ìdzogranas) e às letras do aÌfabeto, sendo que os primeiroq diferentemente das
(tuithn leWrs nor uords... hÉ things or noüons). segundas, referem-se de modo direto à coisa significada. No caso da escrita
Mesmo esta representação 'sem o mzdìo das palavras" exige uma distinção ideogrráfica, homens que faÌam línguas absolutamente diferentes conseguem se
uÌterior, unra vez que as rmtzspodem "significar" ou por analogiq a coisa comunicar entre si por escrito e um livro composto com caracteres reais pode
signifrcada, ov por conuenção(hnaingforce only b1 contratt or acceptation). Os ser lido e eornpreendidopor pessoas que pertencem a diferentes grupos
gestos e os hieróglifos estão fundados na anaÌogia com a coisa significada e com lingüísticos e que falam línguas diferentes, uma vez que aceitem, por convenção,
esta última sempre apresentam 'aÌgo em comum- (haatng somz simìlìtudz or os significados dos diferentes ideogramas'". Este tipo de comunicação apresenta,
congruìty uith the notion - no De augmcnrtli fala-se, ao invés, de simìlitudo todavia, uma desvantagem frente à hansmissão realizada mediante as letras e as
a,mt re significata). Fazendo referência aos enblÌmas, no tratado da arte da palavras: é necessário dispor de uma variedade quase infinita de ideogramas
memória, Bacon havia definido o emblema como sendo aquela imagem que, por porque é necessário dispor de um ideograma para cada palawa "radicaÌ" (as many
ter alguma anaÌogia com o'lugaÌ", solicita a memória e, de aìgum modq lhe as radüal znrds\.
fornece os meios que contribuem pÍÌra o reenconiro da coisa que se procura. O
'Os
emblema tinha então o condão de conduzir conceitos inteÌectuais sobre o plano " Cf. G- Il- Yíco, La saenzaruoua, Bari Ì91l, l, p 149: mudos expliem-se por atos oÌl
corpos <1rre grrardam relações naturais corn as idéias que eles querem expressan Esta Dienidade
da sensibilidade, ahavés da qual a memória é mais facihnente "atingida"s,. A é oprincípio dos hierógìiÍòq atravésdos<1uais tuìas as naçõcsfaÌaan! durmte suaprirneira barbáric"
a função dos gestos e dos hieúglifos é quase completamente semelhante à dos (CÍ- tanbcn I, p zze) Cf.lkne'Jetto Crcr:e,laftlorcfa di G. Il. yi@,Bffi, t9l I, p 5l
- Unra passagem cnr qrre Vico assurneposição cnr relação às escrituras idográÍìes,
emblemag que não têrn' portanto, uma função que se limite ao setor especÍfico notando
conro eìas foram capazes de juntar, eÌn comprensão retíprrc4 homens falantes de línguas
da memóri4 mas funcionam como verdadeiros meios de mmunicação. No caso difererrtes, foi assinalado 1nr A Corsano, "G- B- Vico e la semantie", em nioìsta dì Filosofa,
dos gestos estamos na presença de anblcmas tmnitóriac, no caso dos hieróglifos, 1951,+.p +():l,nota.õ.Vicrrittsistcnocariiterrrãoarbitráriocconrcncional.rusmturaìerurrssário
de enthlemarfzalns mzdiantc aescriturz. A relação gestos-hieróglifos é, desse ponto drrs caractercs frcróicos (loz lan th honìnun orhilrìo quan ab rmm nulurafacÍor) e revcla a
lxrssiÌriìidarìcdc conryrrender os itlogranras indcpndcntc da Ìhgua falada (gentcsdissuíatoseo
n.tlu1li vrnon( ea.ilìÌÌwtl (I)t (-niivr* runs uto pt ìuipio et.1lituuao, Ilari 193ô, V ltt, p fì:Ji)
'" D,4,Sl, l, p ri.rg;cfl
Ádo'51, lll,p sgs dc lÌacon (D,.{ .\'y' [, p (ti | ) ÌÌa (ll ral s:ìoÌììaÌÌifesta(losessesrnesnrosconccitos
\rt j a-sc a passa.qcrrr

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I
1,
As considerações de Bacon acerca da gramáázraapresentam, apesar de sua Passagenscomo esta fazem-nos sentir que Bacon limitou-se a breves acenos
brevidade, um certo interesse. A gramática é um setor pouco nobre do sem aprofundá-los mais. Os trechos que se referem às diferenças de pronúncia
conhecimentq mesmo se útil e necessáriq sobretudo para o aprendizado das entre as diversas línguas, à fonética, ao fato de que sons desagradáveis para uma
línguas estrangeiras. Nesse sentido ela funciona como um antídoto contra a língua soem agradáveis a outra, à reÌação entre determinadas formas métricas e
I confusão das línguas que se seguiu à maldição diüna. Mais importante do que a determinadas estruturas Ìingüísticas, às linguagens cifiadas etc. são iguaìmente
gramática literária é a gramática {ilosófica que poderia ter como tarefa "não a da interessantes. Não é possível porém, na abordagem de caÌáter geral que estamos
analogia das palawas entre si, mas a da analogia entre palavras e coisas, ou empreendendo, seguir Bacon neste terreno.
palawas eÍazão". Esta indagação não deve ser confundida com aqueìa que se O que nos interessa mais de perto, ao contrário, é a diversidade das posturas
desenvolve no plano da lógica uma vez que, a partiÌ de uma atenta consideração que Bacon assumiu diante da linguagem. Na tradução latina do Adoarcentnt of
do fato lingüísticq ela tende a obter uma série de indicaçÕesrelativas aos costumes, I-earning ele substitui continuamente aos termos ingleses notinn e cogìtaüon o
à úd4 à história de determinados povos. Esta busca não tem portanto nada a ver termo rur. A linguagem, no De augnentìs, não representa (ou não representa
itt com a instituída por Plaüio, que tinha por objetivo a imposição de nomes às somente) idéias ou imagens de objetos (conteúdos de consciência), mas tem a
tarefa de espeÌhar uma reaìidade material estranha à linguagem e subsistente
coisas e estudava as etimologias partindo da convicção de que, na origem das
independente deÌa. Quando Bacon se volta para um trat.ìmento da linguagem
ìínguas, a imposição das palalras não era aÌbitrfuia ou convencional, mas sim
que expõe a capacidadepersuasiva das palavras, ou a sua adaptabilidade aos usos
derivada de uma espécie de raciocÍnio. Nessa base, afirma Bacon, se aÌcançam
humanos, ou a sua funcionalidade como meio de transmissão, esta cortxc?ção
todos os resultados que se desejam e se brinca com uma matéria que se assemelha
especuLarda ünguagem não aparece imediatarnente evidente, mas quando ele se
à cera: pode-se puxá-la de todos os lados. Partir do fato lingüístico para se
refere diretamente à linguagem dzsct'iüztq ela se revela continuamente atuante.
remontar às estruturas nentaìs de dadas civilizações parece a Bacon uma empresa
A realidade material que a linguagem tem a tarefa de descrever não é
muito mais séria e fecunda
absolutamente idêntica (na medida em que se abandone o plano da "opinião
vulga/' para o da "ciência') à assim chamada realidade do senso comum. Ela
Por que ruão os Gregos r permitim tanta überdade na omposição das
consta de uma série de estruturas de tipo geométrico-mecânico, sendo que para
palawag enqumto os Romos erarn tâo sevem e câutelososnesteterreno?
Bacon, porénr, esta realidade material, e não outra, é o único critério plausível
Seriapossível oncluir que os Gregos erm mais aptospara ff ilteq enquanto
os Romanoso eram para a a@q com efeitq asdistinções necessáriasnas artes para a verificação ou o falseamento de qualquer enunciado lingüístico. Toda a
parecemexigir uma composi@ofreqtiente de palwrag enqumto os n€gócios teoria baconiana da linguagem e da sua função no âmbito da P€squisa ciendÍìca
e a aÉo requerem umalinguaçm mais simpìes Os hebreustinham tamanha apóia-se nessa colocação e do fato de não ter percebido isso deúva - a meu ver -
aversãopela composiçãodas palawas qrepreferiam abusar de urna meúôra a insuficiência de muitas abordagens dedicadas à doutrina dos idolalforL A esta
do que intoduzir um ternìo novo...suaspalalras são tão escassasem número postura remonta tamMm aquela que, num beÍssimo ensaiq F Jones chamou de
que por sua lÍngua po& deduzir ser um porrosparado das outras gentes.- 'a
antipatia de Bacon pzìra com a linguagem"*. Na reaÌidade, tatâ-se de algo
Inúmeru são as observa@ possíveissobreargurnentc dessegêrerc e com
elas@er-se-ia encher um volume*. '" loncs, p t+.9 O ensaio d<,Jones tà2, rlgutnas brcrc considcraçôes quaDto à atitude bacoÌìiarìa

l)arâ conr a linguagetn (pp- 1,13-l+) c e xantitta, cnt s<'grrida, a influência que unta nor a avaliação
" D,1, Sí,, l- p 655 O trcrbo citado falta \o Alutruru.rrl, cnì (lrtc tanrlÍrn làltr a distirrção tlo salrr cicntífict) excrccu sobre aqttela reÍìrruta ratlìcal d<>"t'stilo" <1uc caractcriz-a a prosa
crìtrc.graÌnáticafìÌosirficae Iógica inqlcsa do 1ìrrrdo sócrrlo XVIl
lu,
l

riI malor e mais diverso do que propriamente uma "antipatia": a atitude de Bacon existem, porém confusos, mal deÍìnidos e abstraídnsdas coziasde modo apressado
funda-se
I na convicção de que a linguagem, como aÌiás os outros produtos do e parcial. Os primeiros estão ligados a determinadas teorias fantásticas ou falsas

I
espírito humanq constitui ou pode constituir um obsháraln, do qunl entretanto,
(a ficrtuna, o primun nnbilz etc.). Por meio de uma recusa da teoria é possível
enquanto criaturas humanas, nós não podemos abrìr mão, para a autêntica livrar-se deìes. No caso dos segundos, o problema apresenta-semuito mais
conl?reeilsão da realìdaà., sendo eÌa - em outras palavras _ algo que se interpõe
complexo, pois aqui se tem a ver também com uma "abstração" desajeitada, que
entre o homem e os fatos reais ou as forças da natureza:
deu lugar a noções confusas
Estas afirmações de Bacon permitem esclarecer ulteriormente sua posição
Parece-nos que os homens se comportam como se observassem
e diante da linguagem, as noções devem ser abstraídas corretaÌnente das coisas e
contemplassem a natureza a partir de uma torre alta e Ìongínqua, da qual
vêem uma certa imagem da natureza, ou melhor, um vapor semelhante devem a eìas corresponder, pois o nome é o símbolo da noção e a representa; lá
a
essa Ìmagem, uma vez que as diferenças das coisas (e nesta percepção estão onde a noção foi construída de modo vago e impreciso, o nome ressente-se dessa
fi contidas(4 a utilidade e as fortunas dos homens) parecem confusas e incerteza e imprecisão. Mas os nores atribuídos às coisas exercem, por sua vez,
escondidas por causa de sua própria pequenez e do intervaìo da distância uma ação sobre o intelecto humano: as palavras que indicam noções vagas
Todavia, os homem se fatigam e persistem e forçam seu intelecto assim "retorcem e refletem sobre o intelecto a sua força" e condicionam a obra do
como forçariam seus olhos, dirigem sua argúcia fazendo+ meditar e o
próprio intelecto que tende a obter das coisas noções precisas. De tal maneira, as
tornam mais aguçado fazendo_o funcionar, recorrem à arte da
paÌavras "refletem seusraios e suasimagens até dentro da mente e não são danosas
argumentação como a espelhos artificiais para poderem compreender e
apoderar-se com a rcnte apenas à comunicação, mas também ao juízo e ao intelecto". puando, através de
das diferenças e das sutilezas da naturea. Daria
crtamente prova de zelo ridículo e de inteÌigência restrita se, para ver uma observação mais cuidadosa, tenta-se corrigir as noções vulgares fundadas
mais distintamente e mais perfeitamente, alguém subisse na torre e lá nas diferenças imediatamente aInÌentes das coisas e tenta-se fazer meÌhor
adaptasse espelhos eapücasse neÌes seus olhos. Sem todas essas complicadas corresponder as noções à naturez4'as palavras rebelam-se" e dão lugar a infinitas
maquinações e labmiosas fadigas poderia atingir o resultado que tem em controvérsias que não têm por objao a realidade, mas apenas nomes e palavras.
mente Fnr um caminho flácil e muito superior, no resultado e no suesso:
A tentativa de repor ordem nas di.*ussões mediante defrnições precisas do tipo
descendo da torre e aproximando-se mais das misasr'.
das empregadas pelos matemáticos não paÌece muito útiÌ a Bacon: "por tratar-se
de coisas naturais e materiais, neÌn mesmo as defilições podem remediar a este
Para'aproximar-ce das coisas" é necessário recusar os nomes que não
mal, pois as próprias definiçoes constam de palawas e as palawas geram outras
correspondem a coisas reais e aprender a construir paÌawas que respondam à palawas". O que Bacon não está absolutamente disposto a aceitar é uma teoria
realidade eêtiva das coisas. os ídolos que se irnpõem ao intelecto por meio das
z que identifique a verdade de uma proposição com sua coerência lógica. Em uma
palawas* - úrma Bacon no pará,grafo 60 do Nwum Organum_ são de dois
série de passagens ele acena a ume.tcoria anoencìonalista da or$m da linguagctru
gêneros: ou são nomes de coisas que não existem, ou são nomes de coisas que
no Átnnearcú e\e fala dos caractet?s reais e das palawas como de construções
at plncitum (ad placitun are tJu nal duraâzrs and unrds)"n; no De augmmtü faz
" - n P h " 3 l ,l t l , p r 8 r _ derivar os idolafoido pacto tacibmente travado entre os homens para impor
" " O s t r c r h o s a o s < l r r a i s s < . r e Í è r e a a b o r < l a { c r n r l r r c s c g l cl lsl ,ãpop: ,{4ì 9
t í6v _
. SÍ 1p7 ; ( f ; .lrl ,l ,
p 5 s 9 ;N O I l í , 1 6 , . 1 s5,9 ,n ì _ '/du,Á/, IIl,l) l(x)
palarÌ-as e nomes às coisas (etfoedere tacito intcr homìnzs dz verbis et nomìnìbus Substâncias, ações,quaÌidades: a Ìinguagern da ciência - segundo Bacon -
impositìs)&.Esta convencionaÌidade refere-se sempre aos signos que podem ser deverá alcançar um nível de verdade igual àquele que, no âmbito das "noções
empregados para exprimir e comunicar uma noção, nunca às noções em si, que rulgares", é atingido peÌas afirmações sobre as rubsüncì"asbtm conhzcidas.
devem ser o espelho da realidade e que devem ser obtidas "corretamente" a partir Tratar-se-á de descobrir, cientifìcamente. os nexos de concomitância e de
dela. A crítica, desenvolvida no NolÌum Organum a respeito do termo úmida é exclusão que iltercorrem entre as diferentes'naturezas afins"; essas relações
indicativa desse ponto de vista: o caráter equívoco do termo úmiàn depende da serão, porém, sempre concebidas como estruturas reais que subsistem entre as
equivocidade da noção de úmìdo,que indica a multiplicidade de comportamentos coisas e, nessa base,as formas do discurso cientíÍìco continuarão a ser entendidas
diferentes e que foi "abstraída superficiaìmente e sem as necessáriasverificações como tendo seu correÌativo na realidade. A indagação não úsa determinar relações
apenas das água e dos líquidos comuns e vulgares". Diante dessa variedade de de tipo abstrato capazes de funcionar como modelos, mas tende a remeter
significados não se trata de fornecer uma definição que determine o campo de continuamente a qualidades sensíveis e a propriedades concretas dos corpos.
aplicação do termo úmilo, predeterminando o uso possível daqueÌe termo e Aqui está presente o conceito sobre o qual irá insisú largamente o empirismo
Ìimitando o seu sentido, mas de elaborar, na base de "um estudo dos casos que vai de I-ocke até Newton, o da insuficiência (no campo das ciências naturais)
particulares, de sua série e de sua ordem", uma nova noção de umidadz que tenha dos processos de abstração e de ideaÌização, e da necessidadede se apelar para
o condão de reconduzir a uma unidade toda essadiversidade de comportamentos aquelesflos dz ezptriêrcia que constituem a àasedesses processos*'. Mas os
e que possa, dessa form4 servir de critério de explicação para essa diversidade problemas ligados à teoria baconiana da linguagem tornam-se, a esta altura, os
A validade desse critério estará na dependência da maior ou menor mesmos que são característicos da doutrina do método indutivo que visa a
'torrespondência descoberta das formas.
com as coisas" da noção assim elaborada. Pode-secompreender,
de taì modo, como Bacon tende a uma identificação dos termos "noção" e "paÌawa",
em nltido contraste com as alusões'tonvencionalistas" que acabamos de salientar.
Sendo assim, no paÌágrafo 43 do Notntn Organum, ele identifica sem hesitar a 4. O mitodo da comuniração
conshuçâo de noções insuficientes com uma n4lz et ine?t4 verborum imporitio e,
no parágrafo oo, fala de nomes "abstraídos das coisasde modo apressadoe parcial" O problema de uma pmztração nas ntntes e o outro, a ele ligado, de uma
(nomìna... terìr€reet inazqunlitcr a rebus ahstracta). er?urgatio intellzctus são - conforme foi visto - essenciais para a tentativa de
'materiaÌista" Bacon de uma reforma da lógica e aparecem estreitamente ligados àquele âmbito
A inspiração fundamentalmente da concepção baconiana da
-z de discussõesno qual, há aproximadamente dois séculog a cultura européia estava
ünguagem torna-se particularmente eüdente quando Bacon cria uma espécie de
bastante interessada. puando Bacon, no Ádaatrenu* of l-eamtng se refere à
gradação que reflete os'diferentes graus de aberração e de erro presentes nas
abundância de controvérsias sobre esses temas e à escassezde pesquisas efetivas
a paÌawas": o gênero menos defeituoso de nomes é o dos nomes de algumas
z sobre esses argumentog talvez se refira às polêmicas ente Jacques Charpentier
nbstfucias&m conhecidas (barro, lama); mais defeituoso é o gênero dos nomes
e Pierre De La Ramées, de um lado e, de outro, à acirrada discusúo entre Digby
que indicem afus (gerar, oorromper etc-)Emais defeituoso de todos é o gênero
e Temple. Estes contrastes parecem a Bacon estéreis de resultados: por isso ele
dos nomes de qualìdadzs não imediatamente percebidas pelos sentidos (grave,
leve, denso etc.).
" G I'rcti, ,Ya..tor4Milão, 19rí0,Pp tti-iÍ)
'' Cf. S? ItÍ, p .tro3,Ìx)tit 3
' klc lì I- F)Ìlis) I'ara a cìaboraçãodo nÌétododa conrunicação,cf .L
D.1, Sl, I, P 6 [.', A passag(ln r.stá auscrìte no tnrho corrcsPonrlcrrtc do Àú I .t9 l d t . , S p . l l l , p p l o l J - s ;D . 1 , 5 1 ,I , p p 6 i o - 6 Í )
I' 'l
consldera oportuno subtrair a .doutrina
do método di
retórica e reconhecer-ìhe cerra
autonomiu .uu"t"n"i"i. ïï:ït#r:ff:
auronomra não impÌic4 porém, ;ï
a negação das reraçõesgue a arte
do método da
comunrcação conserva, seja com
a Ìógica, seja com a retórica
 ligação com a
p.meira, encontra_se em verdadeiro
paralelismo entre a doutrina
do juízo e a
doutrina do método: o siÌogismo
compreende u, ."g.u. do juízo
sobre aquilo
que foi achado; o método
comunicado.
A artedo ;ï:::#::;:ïï j"Ë:ï
"-,-ïïïff:,
precede a da comunicação".
;r:ï
 ligação u.",ó.i"u consiste, obviamente,
fato de que a doutrina do método "o^ no
da comunicação tende à formuÌação
de discursos
que esteJamem função dos propósitos
de quem os pronuncia, do grau
de interesse
e de cuìtura dos ouvìntes, de uma
avaÌiaçao du:..itu"çao,, na qual
os próprios
discursos são pronunciados. Não
fogem absolutamente _ a uma preocupação
dessa natureza - os discursos
assim chamados 'tientíÍicos": alform^a
que estes
discursos podem assumir é bastante
variável e esta mesma forma
termin4 em
murtos casos, por refletir_se sobre
o eonteúdados discursos científicos,
tipos de saber em que o modo da criando
comunicaçãq da interrogação, da
transmissão
condiciona e limita os urteriores
desenvoìvimentos da ciência. Âlgumas
discursivas e aÌguns métodos de formas
comunicação apare""- in"o-patíveis com
o progresso da ciência e éjustamente "o.ro
frente ao ideaÌ da continuidade progressiva
da pesquìsa que a doutrina do
método da comunicação adquire
determinante: rìÌna vez que a fadiga um vaÌor
e a vida de um homem só não podem
perfeição do conhecimento, Ìevar à
é o método d"
que promove a continuidade "o_unicufao eusdom oJt tradüíon)
e a processuaÌidade do saber.
A abordagem realiz2d2 por Bacon
dos diferentes tipos do método
comunicação deve ser salieltada da
por duas razões: primeiro, por
ela moshar a
consciência de uma multiplicidade
de discursos h.,,ourror, cada
um dos quais a" P'RamL lrsÍittlionumdiarectüarun
utilizando técnicas especiais rìrtri trcs,cit,p-11| para a,istinção en tre wthod.w
de transmissão ser reconduzidas ao dottrime
0"" *;"; t wthodw prudmhac cf p- t gy
modelo comum; segundo, essa abordagem
no, pO" f..nt" a fiente com uma ' P Rmri,
série Scholatìn tresprìnu.t lilwulcs ar?s-,t-rancoÍürti, apu<Ì
de posturas em reÌação a aspectos '" P Ramus, Antlrcarn W<rbcìrrnr, l5fil, p I I
da cuìtura tradicionar. o reconhecimento La duleclulut, paris | 5rj.i, D. I.
uma pluraÌidade de métodos constituía de ' Ct-C. A. \'iano,
La logia rtì tlt tstotlì, lìrrinì t9.rJ,
?er sc umatomada de posição contra a dicotôrnico ranÌista cstá prcscDtc rÌa rcrisào c anrprificaçào
l) r l{r LlÌDaexposrção cÌara do rnótrxlo
tese da unicidadz do métdo da rúgica dc rìanrrrs,tìc,\nthor11,
sustentada por Ramus e peÌos ramistas. Wotk)n (Ti1. ,lú of Ingìt.A, Irndrcs | 6-eÍi,p. Í4) "ì,;ì;;.;:';
Mesmo O te\to é rcporrado ; li
llaton on Contuurìcalnn tnd Iìhdorìc, Ctha|rl Híll, ";;
ì949, D. ts;.

L-
tem sido uma espéciede nuvem doutrinária que passourapidamente:trata- deve ser, conseqüentemente, diferente daquele mediante o quaì se procede a
se, com efeito,de um método superficiaÌe extremamente prejudiciaì para
descobrir. Em sua Admnnìtìo dz unìca P Rami nnthodn, reiectis cazterìs, retin"eflà4
asciências.De fato, os homensdestegênero,quandoconstrangemasmisas
publicada em Londres no mesmo ano, William TempÌe reafirmav4 energicamente
nas leis de reu método e põem de lado tudo o que não se presta a ser
- contra o ataque de Digby - a unicidade do método e sustinha que a única
inserido em suasdimtomias, deixam escapr os grãos da ciênciae apertm
em suasmãos apenasseas cascasvazias" função do método era a de colocar em uma ordem clara as coisas confusas e
dispersas. Não se trata de pôr-se à procura da verdade, nem é necessário dispor,
Para cada sujeito ou matéria existe, ao contrário, segundo Bacon, um em vista dessa descoberta, de instrumentos particulares, uma vez que a verdade
métodopaÌticularde comunicação, umavez que é impossÍvel, porrexemplo, servir- se apresenta jâ clara no simples enunciado de uma proposição ou resulta do
se do mesmo método para a matemática, que é a mais abstrata e simples das encadeamento de silogismos,
ciênciaq e para a política, que é a mais concreta e a mais complexa das formas do
saber. Mas a distinção fundamental é a que se refere à diferença entre um método Rerum certe cognitio, vel dispositione enunciati statim eÌucet veÌ e
que convém a ouvintes expertos em resolver problemas e o que se deve usar syllogismi dianoia efflorescit-At vero collocationemethodicanon rerum
notitia exquiritur, sed ordinis illius, quo res notae jam ac judicatae
quando se tenta introduzir, em mentes absolutamente despreparadas, conceitos
costringuntut illustratur elegantia. Methodus muneri suo cumulatissime
novos. No segundo caso é necessáÌio fazer uso de metáforas ou simiìitudes para
sâtisfecit,si res confusasin unum et nulla ìegeconstrictassingulas singulis
que as idéias expresszÌsnão sejam simplesmente postas de lado como paradoxais. locis claritate notitiae disposuerit Contendit Ramus unicm esse rtis
Esta distinção entre profanos e iniciados não impÌic4 porém, de modo algum, a jam inventaeet separatimenuntiataeaut syllogismojudicataead ordinem
legitimidade de recorre4 conforme ocorre no câso do método esotéricq a artiffcios revocandaemethodum. Tu ad eum refellendum aÍÌirmas dupliem esse
tendentes a esconder os segredos da ciênci4 tanto mais que este métodq do methodum, unam mllmndae artis, alteram ejusdeminveniendaes.
qual se fez uso prudente nos tempos anügos, caiu nas mãos de homens que dele
se serüram para contrabandear suas mercadoúas adulteradas. Durante a estada de Bacon em Cambridge, Digby era - conforme teve
Também a separação introduzida por Bacon entre método ìni.ciatiao e oportunidade de reconhecer seu aguerrido adversário - um dos professores mais
métoào nagistral nos reconduz àquelas polêmicas que haviam se desenvolúdo em eúdência e não é improvável que Bacon tenha assistido a auÌas dele. Sem
na Inglaterra, em torno da unicidadz an duplicììa.de do método ramista. Contra dúvid4 mnforme mostrou Freudenthal, Bacon tirou de Digby algumas idéias,
t z o método único de Ramug Digby haviapublicadq em t58o,o fu duplicirnzthtdt
'3 'Certarnente o conheìrnento das coisas ou se torÌìa irnediatamenteclaro pela dispxrsiçãodo
libri duo, unicam Peti Ramo mzthoàn r{uiantes, in quibus oia plna ez?edita
r a enunciado ou aflora da comprensão do silogisrno Contudo, procura-se não a notifiação das
et cÍacta, secund.umofthnos autores, ad sàentiarum cognitioncn elucìdatur. coisas, nras da ordem daquilo pìo qual as já conhecidas cjulgadas são encadeadm,demonstÌa-
1 z
Tratava-se de uma tentativa de reafrmar, contra o ramismq os direitos do se a elcgância . O método cunrprirr seu papeì dc modo almlutamnte contínuo, €s ordene as
l -
aristotelismo tradicional, mas, em sua polêmica, Digby reconhecia ao método coisasçonfuss em urn todo c cada urna dclas não sujeita a Ìei alguma pela clarea da informação
curudatópico. RaÌnlssüstcntaquccxistcuorírrriconrót<xlodaartejádescobcrtaeenunciada
uma dupla função: a de conduzir à descoberta de novas verdades e a de coordenar 'fu,
cru scparadoou juìgada por silogisrnopara rcstalrlecr a ortlcrrr para refutá-ìq ahrrnas
os conhecimentos já adquiridos. O método que expõe ou ensina, ou comunica, <1uchá rrnr rnétrxìodupìo; urÌÌ para â rìotiÍica!:aro
da artc e outra para a dcscobertadesta" \L'.
'f<'tttple,
,tduolúio de wtica P IÌanì uelhodo, rcirctìJ cÌdtris, retìntwla Londres, l.t8o, pp
'ì D.4, Slr l, p íj63 A pâssascÌn lalta igualrrrcrte no Adv. C.f.taDrbirD
Ì){ V t, p 6{;s s 1-3t- 39. i 1-i 5
I
sem nunca nomeá-Ìas+eCom certeza, a distinção precisa que eÌe estabeÌeceentre trabalhosa e se preocupa mais em não duvidar do que em não errar. Desse modo
o método que tende à coordenação do saber e o que üsa realizar descobertas e o mestre se preocupa, em prol de sua própria fama, em não mostrar os defeitos
alargar o campo do coúecimento humano é bastante semelhante a posições de seu saber, enquanto o discípulo, para não se cansar, recusa pôr suas forças à
sustentadas por Digby. A esta distìnção - conforme foi visto - Bacon havia dado prova. Na reaÌidade, a ciência, quando for possível, dcpeser ìuinutda no ânimn
um significado bem mais amplo e revoÌucionário que o atribuído por Digby: ao do discípulo mediante o rnesmo método que guìou a inaenção. Esse caminho
distinguir entre invenção das artes e invenção dos argumentos e ao ter limitado pode ser seguido faciÌmente na medida em que se esteja se referindo à nova
ao primeiro caso o uso legítimo do termo invençãq Bacon havia contraposto ciência indutiva, mas no âmbito da ciência agora em uso não seria Íácil, para
uma hgica dn dzscobnta a uma lógica do doutrinanwnto e haüa insistido quanto quem se move dentro deÌa, descrever a maneÌra como se chegou a determinadas
à diferença radical que existe entre o progresso efetivo do conhecimento e a noções Deve seì:,entretanto, possível, tornar a percorrer o caminho triÌhado,
habilidade em reencontrar conhecimentosjá adquiridos No âmbito da doutrina controlar o consensodado a cada vez, e assim transplantar uma ciência no espírito
do método da comunicação, esta distinção adquire um significado mais limitado do discípulo, tal como ela foi crescendo no do mestre. Ao s€ tratar meramente de
que se ressente, porém, muito de perto, da solução dada por Bacon a este problema. fazer uso de uma planta, de nada servirão as raízes, mas no caso de se querer
O método mtzgistralcorresponde, de fato, à lógica do doutrinamento: eÌe tende a transplanú-Ia para outro terreno, é mais seguro fazer uso delas- Os métodos de
suscitar a confiança na verdade daquilo que é afirmado, dirige-se à massa dos comunicação, ora aplicados, servem-se de pedaços de honco, belos de se vet mas
que começam o aprendizado das ciências e tem como objetivo o uso das ciências absoÌutamente inúteis para quem planta. Se quisermos que a ciência progrida é
Ì tais como elas mesmas atualmente são. O método iniciatiao corresponde a uma mister serviÌ-se das raízes e da terra que as cobre. Existe aÌguma semelhança
nova lógica da invenção: ele tende a fazer com que sejam submetidíìrì a exame as entre este método e o que utilizam os matemáticos em seu terreno, trata-se, em
afirmações de quem fal4 dirige-se aos "frlhos das ciências" e tem como objetivo qualquer caso, de iniciar uma obra e de suprir uma lacuna: a traditio lampad.ìsou
II a continuação e o progresso das ciências, üsa - isto é - modifìcar o atual estado methodus adflìos deve ser colocâda entre os fusidzratf .
IÍ i do saber. O termo ìniciatiw nãLodeve portanto ser entendido no sentido que esse Mesmo a distinção entre método aJìní:tim e er\osição nctódica responde a
I método proponha-se a fornecer os primeiros elementos ou os rudimentos das essaseúgências. O segundo métcdo de comunicação tende a criar, atavés de uma
iI ciências;o vocábulo provém da linguagem religiosa e refere-se à capacidadg que
I
série de artiffcios verbais e de passaçns lingüísticas, rìma impressão de atahamaún
essemétodo tende a reaÌizar, de descobrir e desnudar os mistérios da ciência. É que é particularmente prejudicial ao progresso do saber. Trata-se de um faÌso
justamente esse método que parece absolutamente deficiente na atual situação acabamento,obtido gÌÌìças ao uso de exempÌos, de sÍrniles e de procedimentos retóricos
da cultura (aìa oìdztur dzsertu et intzrclusa): aquele que ensina tendg com efeito, que úsam pr€encher aslacunas do discurso. Uma vez expressadosde forma afoústica,
a ganhar a confiança dos ouüntes mais do que a facilitaÌ um exame crítico sério amaiorparte dos discursos ciendfim agoraem usoÍìostariasuapobreza substâÌrcial
de suas púprias afirmações; aquele que quer apreender tem mais vontade de sendo qu€ o emprego de aforismos evita essespeúgos, não cria nos homens falsas
tirar do ensino uma satisfação imediata do que de ser impelido a uma indagação seguranças, conúdaos a acrescentar ao ediffcio da ciência os elernentos que possam
torná-lo mais completo e seguro.
"'J Frcrrdcrrtìral, Íì<,itrãgt,zur (ìcschichtc dcr cnglisclrcn Plrilosolrhi(t'ii ,lr.hbjfìir (;?s.hihtc
ìer I'hìkxophì+ I\.: l)f 6ol-,2 O rr.couhcr:inrcrrtr) da l)r(xnìrncntc P.siçlì. tk,l)iqÌp,potlc scr
'l'cntplt
cncorìtrado crì I \\: , I\o ,líìl,.lapdlì lc unict nu'llndo defln:iom, oú ra Dilth,philun,l: r ariklin t
l.:'s Í, t)t) I ()-d(l- " ,ldr, Sp III, Ìì) loiÌ-r; D4, Sf l, pP íj(ìiJ-{ìí

-Jr-

a.
A discussão quanto ao método da transmissão resolve-se, de tal maneir4 Wilson (1553), a Mandtrctio a^darbm rhztnricam de Thomas Vicars (rots) Em
numa tomada de posição em relação àqueles problemas que estão no centro dos obras desse gênero a retórica é concebida como a arte do faÌar e do escrever em
interesses de Bacon. Tivemos ocasião de insistir várias vezes quanto a essa prosE trata-se de uma arte compìeta e autônoma que compreende as cinco partes
convergência: a descoberta de um novo método científico, o problema da tradicionais (invenção, disposição, eÌocução, memória, comunicação) e que se
penetração nas mentes alheias e o da organização da pesquisa científica são para propõe fornecer ajudas práticas imediatas e permitir aos estudiosos alcançar
Bacon três diferentes facetas de um único problema e três asDectosde uma única efeitos briìhantes nos gêneros forenses e demonstrativos. As discussões sobre as
obra de reforma reÌações retóricaética e retórica-lógica passam, dessa forma, para um segundo
plano; da lógica obtêm-se as leis gerais da inferência, da ética, as generalizações
5. A função da retórica 'paixões" 'caracteres":
sobre as e sobre os lógica e ética são concebidas enfunqão
do discursoperstaszzaA segunda direção foi denominada "estilística" por Wallace;
Para entender o que há de caracteístico na postura que Bacon teve em na RJutorica de TaÌaeus (1577), no Treatise of Sch.emesand Tropes de Richard
relação à retórica é necessário remontar às posturas, ÍÌente à mesma questãq Sherry (tsfo), nasArtes of Logike and Rhztnrtke de Dudley Fenner (t58+), na
adotadas peìos numerosos tratados de arte retorira do final do Árte of Englìsh Poesiede George Puttenham (1589) etc. a retórica é identificada
euinhentos e
corneço do Seiscentos.Acompanhando um esquema proposto por'W S. HowelÌ e clclmo esüÌo e a ?ronunciatìo. Tudo o que concerne a inaentio e a dispositìo é de
retomado com maior amplidão por K. R. Wallaces', podemos distinguir duas '1ógica",
estrita pertinência da enquanto o estudo das paixões e dos caracteresdiz
direções fundamentais segundo as quais se move a tratadística retórica inglesa respeito à ética a retórica esú ru arte of sfeakingfinzQ.Ela tem a tarefa de'brnar" a
dos séculos XVI e XVII. Na direção "clássica" movem-se obras como Árte or linguagem e de torna-r mais agradáveÌ e grato o que é dito.
Crafu of Rhztoryke, de Leonard C.ox (r5q4) e a Arte of Rhctoriquz de Thomas Quando Bacon define a retórica como sendo a doutrina dz illustrationz
sen onis (tfu illustration of traàìtìon)'" parece Ìrx)ver-se no âÌnbito dessa segunda
u'W S Ho*eÌ1, N "Car|cnter's Pìace direçao e de uma rdução da retórica a estiÌo ou ornamento. A posição de Bacon
in the Controrrrsy betu,ee. Rbetoric and Diaìcctic, ern
SpeechÌvtonogralthr,I, tgs+. lp 9(È+t; \Vallacq Fì Bttcon on Contnunìrahon cit, pp trì7-9.+_ é, na reaÌidade, bastante diferente da de um Puttenham ou de um Fenner: a
Para uma araliaçãoda retórica na cultura inglesa dos séculosXVI e XVÌl ( alénr das obras
identificação da retórica com o estilo e o ornamento nascia realmente - nesses
indicadas na nora lto do capítuÌo preccdente ) de'enr ser assinaÌados:MW Bun<iy,,,ln'ention
and Imagination in thc lìenaissance" em Journal o;f English atd Gennanì. philolopl, tggo, pp. autores - de uma separação nítida entre Ìógica e retórica e da consideração
a 595-45 ( que seguea erolução do conceito retórico de inrenção e suaprogressiva trans{i,rnìaçãq conseguinte da retórica como uma arte ?osbrior à lógica que pressupõe a Ìógica
nas mãos dos cúticoq no de inragirraçâoe fantasia. Como exernplo típico dessa fusão in\?nção- e ÍÌs regras da inamtio e da dìsposìtio. Para Bacon, ao contrário, aretórica ê uma
imaginaçãq o autor indis a obra,4bregé dc I'art p@tique Froqtls de Ronsard); M. T_ Herriclt,
'The das yalro artzs ìflÍ4lectu4ìs quz corLrtitucn a ,ógica e, como a lógica - mesmo
z Ear'ly History of Áristotle's Rìretoric in England" en Philotogiat ezaÌtcrb,, tgs6, pp.
942- 52 (o autoÍ insiste, entre ostros, no conh6imento profundo, se num terreno diferente e com insFumentos diferentes - tem a tarefa de instaurar
lxrr parte deBaeoo,da Rettóriu
de Aristótels, e salienta a estrcita corresmndência eDtre o cnsaio'Of youth an<ì Age. e o o dorrínio darazão e de defender arazão de qualquer possível enredamento ou
célebrc epítuÌo do IÌ liyro da lìct<irica <ìcAristótelcs)_ Ìrlas cf tarnlÍnr: E. E tìale.jr, -Ideas of perturbação. A áspera polêmica que ümos ser levada adiante por Bacon contra
Rhetoric in thc Sixtecnrir Century', cnt Puhliatìou ol ÌllodLnt Lanwage issodation, tgos,
pp. I,)4-44 O estu<lotrraisconrPletoe cxarrstiro sobrc csseassuntoó o de W S I{o$cll, logr
aul Rhcloric h I.ngloild, t ,5(n- t 7d), Princ<.torr,t 956, do qrÌal tir <,conberinrerrto ;xrr rxasião tla " Ád!.,5p- IlÍ, p .1O9; Dl, Sl, l, l) (;?o I'ara a clalnração da retórica. cÍ. nas obras crtadas,
revisãodcstc Ìir ro e rtu<'não Ì)rklc ter na <lcrida <orrta IcsìKtr\ aÌncntc as lÌì -1OS-l(i, íìï(ì-7()8

L-

I
l
aquele saber dzlhadn que conduziu os homens ao culto das paÌavras e não às "imaginação". No começo de sua enciclopédia, Bacon estabelece a primeira
severas indagações sobre a realidade, atingia nas raízes qualquer tentativa de tripartição fundamental do saber humano, fundada sobre três faculdades da alma
constranger as tarefas e as funções da retórica dentro de limites "estiÌísticos" Já racionaÌ: à memória refere-se a história; à imaginação ou fantasia, a poesia; à
em Vabríus Terminus Bacon tivera ocasião de acenar à presença de dois métodos razão, a fiÌosofia ou ciência. A histórìa tem por objeto indivíduos determinados
distintos com finaÌidades diferentes: um deles, preocupado em ditar regras para no tempo e no espaço; a poesia (que não é uma história ad placitum eonficta)
o uso e o comportamento prático; outro, voÌtado a criar as condições de um tem, como a história, indivíduos, por objeto; entretanto, os considera de modo
reexÍune contínuo das afirmações e, conseqüentemente, a favorecer o progresso arbitrário. Na medida em que se refere a indivíduos, a poesia se assemelha à
do saber. Este deve adotar e ensinar essasmesmas regras que presidiram à história, mas dela se diferencia pelo fato de que os seus objetos são inventados;
Ìnvenção, o primeiro sendo necessariamente mais "fáciì e compendioso", na medida em que compõe e descompõe imagens, ela é aÍìm à fiÌosofia ou ciência,
justamente por ter de ser imediatamente posto em uso e aplicados, Já está mas deÌa se diferencia porque a composição e a divisão ocorrem como que por
esboçada aqui a solução que Bacon irá dar ao problema da função da retórica no brincadeira e porque em seu âmbito não se lida com noções abstratas, mas sim
Ádoancement of Learnìng e no De augmentis: à retórica, no âmbito da com imagens individuaisss A poesia nasce,portanto, de uma fantasia criativa ou
enciclopédia geral das ciências, cabe um setor particular e eÌa tem de desenvolver caprichosa, que nâo se coloca limites e foge a qualquer controle. Todavia Bacon
funções específicas. Ao Ìado da'lógica científica" que se dirige ao intelecto há acabapor dar, no curso de sua enciclopédia" um significado muito mais amplo a
uma "lógica comum" que tem, para com a imaginaçãq as mesmas tarefas que este termo: a faculdade de "irnaginação" ou "fantasia" pode, de fatq configurar-
tem a lógica para com o intelecto. Este método que dita regras para o se de duas maneiras diferentes e exercer uma função dupla. Ao lado da função
comportamento, esta "Iógica comum" é justamente a retórica: ela tem o papel de 'capúchosarnente"
criativa, a fantasia realiz4 na verdade, outra tarefa: a de srair
i; introduzir a razão nos comportamentos "voluntários" do homem: dr trânite entre as duas "prooíncias" da étüa e da razãoiu. Â lógica tem por
objeto o intelecto e a razão; a moral considera a vontade, os apetiteq as paixões;
O governo da razão pode ser atacadoe perturbado de maneirasdiferentes: uma dá lugar às resoluções, a outra -âs ações. Entre as duas "proúncias" o
ll ou pelo enredamento dos soÍìsmas,e isso diz respeito à lógica; ou peìos
trâmite é a imaginação que, tal como um mensageiro, passa sem pausa de uma à
.yogosde habilidadee destrea com aspalavras,e isso diz respeitoà retóric4 ouha. O sentido, de fato, conÍìa à imaginação todas as suas imagens das quais,
ou pela violência das paixõeq e isso diz respeito à ética.,.o fim da retórica
é o de encher a imaginaçãode observaçõese de imagensque secundema mais tarde, julgarâ a razão; mas a Íazão, por sua vez, transmite à imaginação as
7
razãoenão a oprimm5*. imagens selecionadas e aprovadas, antes que a resolução se transforme em
execução- O movimento da vontade aparece, dessa maneira, precedido
A função atribuída à retórica não é, contudo, a de formar crenças, continuamente pela imaginação e por ela estimulado; e à irnaginação apresenta-
mas a de determinar comportamentos e, desse ponto de üsta, ela se apr€senta se ele como um inshumento comum tanto à razão quanto à vontade. Semelhante
Ì - a um Janus bifronte, a imaginaÉo mosha duas faces: a da verdade e a do bem
como rigorosamente ligada à ética. Antes de passarmos ao exaÌne dessa ligação,
entretanto, convém esclarecer o significado atribuído por Bacon ao termo moral. Daqui a importância de sua função: mais do que uma portadora de ordens

Ihl. Tern,.V III, p ,218 'i27;


" DGI, S? l,ll.p D.4,^tP I, p 4e5
ldu., Slt lÍ1, p +og,[t],.\,1) [, t)t) ri; t-?, " ' Á h , 5 1 , I I I , p 3 8 2 ;D l , S ? I , p 6 t +

L---, _-,_
ela apareceprovida de uma vontade não insignificante. No que concerne a fé e a - e a moraÌ e a política - de outro - salientando que, enquanto a diaÌética faz uso
religião observamog de fato, que a imaginação se eÌeva acima da própria razão e, de provas e demonstraçÕes comuns a todos os homens, a retórica vaÌe-se de
para insinuar-se nos espíritos, ela se vale de parábolas, de imagens, de üsões provas e meios de persuasão que devem variar conforme o tipo de auditório.
Mas a autoridade da fantasia não é menor no âmbito da persuasão quando se À retóric4 Bacon atribuí4 então, uma dupla função: a de restaurar o domínio
queira, isto ê., fazer certas opiniões entrarem no espírito alheio, graças à da razão, libertando o espírito dos jogos de destreza das palavras Qprazstigiae
eÌoqüência.Justãmente neste caso apresenta-seo perigo de que a fantasia subjugue oerborum)e das falsas imagens, e o de construir imagens que tornem de algum
a razão e os espíritos apareçam como que arrastados para cá e para lá pelo ímpeto modo "visíveis" os conceitos morais. Na base da primeira função, a retórica deve
das imagens suscitadas pelo orador. ter condições para refutar aqueles sofsmas reürieos que, diferentemente dos
Podemos agora compreender, depois desse longo parêntese, o significado lógicos, não derivam da "sutileza do enredamento", mas sim da "força da
da defrnição baconiana da retórica: tlu dug and offtee of rhztorìc is n appll impressão" e que, apoiando-se na imaginação, tentam subjugar a razão A esses
reason to innagtwfionÍor tlu b€ffitr moving of tJu zuilÌ, ou na tradução latina: sofismas retóricos, Bacon dá o nome de colores boni et nali 5': cada cor consta de
offtcìum et tiunus rhetoriraz non aliud est quam ut ratioais dietamìna phzntasiae duas partes: uma asserÉo, que tem a aparência de verdade,concernente a natureza
a??lìcet et cornmendzt ad ezcitandum appetitun et aolantatem. A função da do bem e do mal, e uma refutação. A primeira das doze cores desenvoÌvidas no
retórica é a de reforçar a razáo e de dar origem a comportamentos posiúvos: 'AquiÌo
De augmcntì: afirma: que os homens louvam e celebram é bem; aquiÌo
para tanto o discurso retórico se vale de imagens que impressionam a mente e que eles desaprovam e criticam é mal". (Jma asserção dessa natureza é
nela penetram. A retórica pode assim 'tornar visível a virtude" e, mediante a normalmente aceita como verdadeira, mas a aceitaçãonão depende minimamente
construção de imagens apropriadaq torná-Ia perpetuamente presente na mente de sua verdade, mas sim da força com a qual ela atinge a imaginação humana. Ao
humana. Por isso mesmo, afirma Bacon, Cícero ridiculariza a pretensão dos contrário, ela é enganadora a partir de quatro pontos de vista: ou por causa da
estóicos de fazer penetrar a virtude no ânimo humano servindo-se de sentenças ignorância, ou por causa de má Íé, ou por causa da parcialidade das facções, ou
concisas. Se os afetos humanos fossem, por sua natureza, dóceis à razão, não por causa do temperamento de quem afirma.
haveria mais grande necessidade dos meios de persuasão, seria suficiente
apresentar a verdade nua. As paixões, ao contrário, são hostis ao domínio da Devido à ignorância: do que vale o juízo do vulgo quando se trata de
razão e a razão, abandonada a si mesm4 seria logo reduzida à impotência. A examinar o bem e o mal? Melhor portou-se Focião quando,vendo que a
persuasão retórica tem a tarefa de -impedir que a imaginação espose a causa da multidão o aplaudiainesperadamente,p€rguntou: 'Por acasocometi algum
engao?' Devido à má fé, aquelesque louvam e que ensuram preocupam-
paixão e de criar rrma 2lisnç2 fantasia-razão conha as paixões". As paixões se
se, na verdade, na maioria dos casos,com seu próprio interesse e não
voltam exclusivamente ao bem presente e imediato, enquanto a razão, olhando 'De
exprimem aquiìo que reaÌmentepensm .. nadavale!"diz o mmprador,
mais ao longe, volta-se também para m bens futuros Os objetos presentes atingem mas depois da compra louvaá o que adquiriu. Devido às facções:quem
com força paÌticular a imaginaçãq a retórica tem a missão de faznr com que os por acasonão sabeque os homens elevam às estrelasos de seu partido e
bens futuros se tornem vivos e üsíveis como os presenteq de modo a deslocar a desvalorizamm do partido contrário?Devido m temDeramento:a natureza
imaginaçãojunto com a razão. Para aìcançar este fim é necessáÌio que o discurso
retórico esteja em condições de dobrar-se às exigêncìas dos que ouvem: nesse
sentido Aristóteles fez bem em colocar a retórica entre a diaÌética - de um ìado '; I)arr a deÍiniçãodas rurast Í. tanrbirn y'rl2, S/ IIl, p 1Èr

b.t
iii
lir

iii
criou alguns homensque parecemter nascidopara adular de modo servil,
Os antithztasão uma coÌetânea de argumentos que têm a função de ajudar
e outros, ao contrário, zombadorese cáusticos.Louvando ou criticando,
e facilitar a invenção de outros argumentos. Eles não têm, necessariamente, a
elesnadamaisfazemdo que secundarsuanatureza,bempouo preocupados
com a verdadess forma de proposições contraditórias, mas antes, na maioria dos casos, se
apresentaÌn como asserçõesque exprimem, em reÌação ao mesmo sujeito, pontos
Por esta e por duas outras (a segunda e a terceira) de suas coras,Bacon de üsta diferentes: um favorável e um contrário. O décimo sexto, entre os quarenta
referira-se ao sexto e ao sétimo capítuÌo da Retorbaàe Aristóteles. Este, porém e sete exemplos fornecidos por Bacon, é o seguinte:
- segundo Bacon -pecara de três maneüas: t) limitara-se
a fornecerpoüquíssimos
exemplos; 2) não acrescentara as confutações às suas aÍìrmaçÕes;3) ignorara, ao Pró Contra

menos em parte, o verdadeiro uso das "cores"- Sobretudo no que se refere ao É natural odiar o que constitui uma A inveja não tem dias festivos
segundo dos três pontos enumerados, a afirmação de Bacon responde à verdade, censura à nossâ sorte Nada, senão a morte, pode reconciliar a
il no sentido de que espeÌha uma avaliação do significado e das tarefas da retórica  inveja é, nos Estados, uma espécie de inveja com a viÌtude.
ostracismo salutar. A inveja obriga a virtude a trabalhar
muito diferente da aristotéÌica. TaI como para Aristóteles, para Bacon tamMm a
sem pausa, tal como Juno obrigou
retórica representa uma arte prática e útil para controlar a vontade e,
HércuÌes a trabalhar
conseqüentemente, a ação dos homens, mas - diferentemente de Aristóteles -
Bacon atribui à retórica uma específicafnalidadz maralss. DaÍ deriva a função,
que Bacon atribui à arte retórica, de libertar dos sofismas: diante de afirmações E. Â. Abbott teve ocasião de mostrar o amplo uso due Bacon faz dos antìtlut4

ou "Ìugares comuns" que atingem üolentamente a imaginaçãq a razão arrisca- na segunda e na terceira edição de seus .EJsuI@. Para ter uma idéia disto, basta
abrir o ensaio intitulado "Of Envy", que foi acrescentado aos precedentes, na
se a ser reduzida à impotênci4 a ser sufocada, a perder quaìquer capacidade de
controle e de crítica. Trata-se de substituir aqueÌas imagens que oprimem a razão edição de 1625:

por outras'que a favoreçam" (tn secoü reasoq quae rationi s.ttppetiasferant);a


tarefa de criar esse tipo de imagens é confiada justamente à,sconfutações. Quem está privado de virtude, não pode deixar de invejar a virtude
alheia... e quem jamais espera atingir a alta virtude do próximq procura
A uma função positiva e não de refutação respondem, ao contrário, os
tornil-se iguaÌ a eie, rebaixmdm a reu nível.,. Passando, depois, à inveja
outros dois apêndices da retórica aos quais Bacon faz referência no
'1 púbììca, temos de reconhecer que ela t€m em si aÌgo de bom que, aliás,
Ádaancemtnt e que ele desenvolve com muito vagar no De augmzntìs: os falta à privada; porque a inveja públim é uma espécie de ostracismo que
antithzta e as fonnulaz mìnores. ofusca a grandeza quando esta se torna excessiva, e constitui portanto um
a
freio útil para os poderosos...u'.

^ (i?,r-ïr]
l),'!,Sl [,pp l)ctòrnrarìiÍìr-cntc, Ádr,.tl' lll,l' r1,)-
"'unra t'lcclcntc análi.se das aÍì'idadcs c das difi'rcnças eÌrtrc a posição bacorriarra c a tÌc ' " ' A c d i ç ã o c l o s f - s s r n q o r g a n i z a d a l n rÀ
E Abbott,foiprrbìicadaernÌlrrclrcs,erntìoisvolrrnres,
Áristrltclcs c dc lJlatã<r potlc scr cncontra<ìa crrr walÌa<c, Ii paqnt ot comnunication, cìt,pp crn 187ô
| 70-?s
"'Â trad é de A I'rosl>cro,1'rrrinr,l9tÈ, pP .'i(ì-H) (('1:Sp Vt. Pp :t9.3,.JíJ(ì)-

L *
Exempìos desse gênero poderiam ser multiplicados. O que merece ser cìaramente as razões dessa atitude. Coisas muito importantes foram escritas
sublinhado é o fato que o espaço consideúvel dedicadq no De augmmtis, a esse sobre as raízes políticas e sociais - sem contar as culturais - da avaliação que a
tipo de discussão corresponde a um real interesse do Lorde Chanceler. para se cultura ingÌesa dos séculos X\rI e XVII deu à retórica: sem dúvida alguma, poucas
ter certeza disso, é só lembrar que na prirneiia èdição de seus .Essays(t592) outras épocas na história humana atribuíram às lalnoras um poder semelhante
Bacon havia publicado fragmentos dos Colours of Good andEail u", que ele ao que a elas reconheciam os homens da Inglaterra elisabetana. É sabido que
Ievou em consideração - conforme foi visto - os anthitetq e que um de seus toda a poesia dessaépoca, não apenas a fìlosófica mas a pastoril, a lírica, a elegíaca
primeiros escritos, o Promus or Formularìes and Elegatuies (publicado peÌa é governada por intenções "retóricas". Não deixa de ter signifìcado que o objetivo
primeira vez em 1889) é estreitamente ligado àsformulaz. Apequena obra juveniì esperado da atividade poética seja sempre o de influenciar as ações humanas e
de Bacon era uma espéciede manual reduzido e fiagmentário que deveria olerecer que um dos maiores tóricos da poesi4 Puttenham, afrrme que a poesia é mais
pistas para os debatesjurídicos e parÌamentaress. À mesma exigência respondem "retórica" que aprópria pros4 uma vez que, com amusicalidade e o uso de imagens
as formulne mìnores do De augmzn ls. Elas são comparadas por Bacon aos "seduz mais rapidamente o juízo dos homens". Numa sociedade em que a retórica
vestíbulos, às ante-saÌas,aos bastidores do discurso: são preâmbulos, conclusões, encontra-se no centro do ensino universitário e esú presente também no das
digressões,premissas adaptáveis indiferentemente a qualquer assunto. Aqui está Granmar Schtols, numa cultura que vê nas palawas e nos discursos humanos o
o exemplo de uma "conclusão" no gênero deliberativo: principal material a ser usado quando se pretende qualquer modificação nos
comportiìmentos sociais, surgem com freqüência retratos em que os homens são
Dessemodo podemosreparar uma culpapassadae, contemporaneamente, estimados e avaliados em termos de cultura reórica6. VaIe a pena referir uma
prevenir inconvenientesfuturos6n.
passagem de Ben Jonson que diz respeito, justamente, ao l,orde Chanceler:

Durante a úda inteira Bacon dedicou-se a reunir materiaì que servisse


Surgiu, em meu tempo, um nobre orador cujos discursoserm cheios de
paÍa a Pfin?turria. De fato, desde r595 - provável ano em que redigiu o Promus gravidade....Homem algum jamais falou de maneira mais correta, mas
- até dois anos antes de sua morte, ele se debruçou com um interesse sempre intensa,mais vigorosa,e com menor frivolidadee futìlidade...Seusouvintes
vivo sobre aquele conjunto de problemas e de discussões que consütuíam um não podiam tossìr ou deixar de oÌhar para eìe,sem alguma perda.Quando
dos temas favoritos da Ìiteratura e da filosofia de seu tempo. Apenas quem tiver falava"ele comandavae, a seu beì prazer, onseguia irritar e suscitar a
conhecimento das mais de quinhentas páginas dos escritos juúdicos de Bacon e benevolênciados juízes. Jamais homem algum exerceu sobre seus
sentimentos poder maior. Ao ouvi-lo só havia um receio: que eìe estivesse
do lugar que ocupava a retórica na cultura da época elisabetana pode ver
Dor encerrÍr o discurso*.
io O frirlgrnento sobre as @rcs tabh oJ
z
(Á couloarsor aplaruws of good and ail and tbeìr dzgrees,
a.splacesoif fnwion aad diwssio4 aul their walfallau, and tbc ebü16 of tha) lbi publ icado
ra etlição dos l)ssa.ys de | 59?- ((Ì: ^5?.VII, pp- ?5-99) '' Clì H Craig, The Erchantcd Gla.s,ç, Oxford, t959, p 16-3.
"" () PronusÍiti publicatlopcla prirrreirarez 1nr I{ Pott, de unt manuscrito do lJritislrtrÍuscurn, '' Iìcn Jonsorr, "fìnber or discolcries madc upn rnen arrd nrattcr" cnt lJ'orks,org- GiÍfortl-
(Lrrrdrcs, l6tt.'J)-AÍìrra ctìcontra-sr crÌÌ .!it VIl, pp fg?-Zl t. Sobre as rclaçõts crrrrc o proalrs Crnrrirrghanr,laÌrdres, I st5, r,ol- IX, pp- | 8,f8"1 A l)assgeDì,bastarrteconltccirla,t' citarlaenr
c as sucessivasolrras dc Bacorr, cí. tj A Áblntt, Il Bacot Al Átounl ol his l,ìft and ll-orl.s, Puttenhanr,
< l u a s e t o d a s a s r n o r r o g r a f i a s s o b r e l ì aOcuoann t o à o r a t ó r i a d < ' N i c o Ì a s B a c o n , c Í i G
Lrrrtlr<,stss5, pp t.Sítss "'fhc Artc of lìrrslish Po('sic", Io(lrcs, 15s9, cir ttn Í)lirabcthan Cntíru| F)ssdis,Oxlôrd IÍ]3t,
"',1h.5p lll, P ils; D.1,Spt,p ioj ll, rrD ì.+.È15
1

através de sua obra mais tipicamente ïterária" Bacon procura determinar as


maneiras e as técnicas pelas quais a imaginação pode servir às necessidades da
razão prâtl.a.. Numa carta enúada a C,asaubon em t6o9 ele haüa escrito: Não
me interessa escrever por prazer o que ouFem lerá poÍ pÍazèr, Meu objetivo é a
úda e os problemas humanos com seus inconvenientes e suas difrcúdades". Os
Ensaias quenan iguaìmente ser uma contribúçao àquela ciência do homem sem
a quaì não teria tido sentido falar-se em "regras' na ética e na polÍtíca isto é,
naqueles setores da atividade humana aos quais Bacon dedicou, durante longos
anog a maior parte de sua prodigiosa energia intelectual.

o
z

o
Eram aqui reconhecidos os aspectos de..gravidade', e de.,severidade- do
umn disciplina autônoma e haztia aisto na retórica a?enas uma seção da arte da
discurso persuasivo sobre os quais Bacon tanto insistira e em nome dos quais
comunicação.Jâ no Temporìspartus masculus,enfrentando o problema de uma
havia poÌemizado contra as inúteis sutilezas do estilo, contra as 'agilidades" de
penetração nas mentes e de uma sua libertação dos 'bbscuros preconceitos nelas
funâmbuÌos, contra as "destrezas de maÌabaristas', que só servem para fazer a
esculpidos", Bacon referira-se a um métndnrarìonnl no rrudzìmngrau O probÌema
arte "brilhar". Justamente nessesentido Bacon havia investido contra a
\ustiça da etpurgatio intellectus,da libertação dos idola (que se apresenta fortemente
de PÌatão" que situara a retórica entre as "artes voluptuárias,,, comparando_a à
ligado ao de um novo órgão da ciência), não parece poder ser resolvido, para
culináriaot e havia contraposto às grandes frases e às formas elegantes dos
Bacon, no piano da que eÌe chama a retórica, mas no da lruãzntia tradìtìuae. A
oradores a capacidadede adaptar as formas discursivas às eúgências do auditório
tarefa daquela seção da arte da comunicação que para Bacon é a retórica, é
e aos fins a serem alcançados. Na raiz da doutrina baconiana da retórica estava,
diferente: a "lógica" e a "ética" são insufrcientes paras determinar a conduta
na realidade, a exigência de esclarecer e de aprofundar a reìação entre eloeutioe
humana, para guiar os homens a um reto uso de sua vontade. Esta insuficiência
tnaeltn, entre uma argumentação fundada sobre o reconhecimento das relações
estabelece o caráter indispensável da retórica, uma vez que eÌa tem exatamente
de tipo lógico-conceituaÌ e uma persuasão obtida solicitando-se os afetos e as
a tarefa de, apoiando-se sobre as emoções e sobre as paixões, suscitar imagens
paixões. A indagação sobre a naturez a, enquantatal, não necessita de solicitações:
que impeçam à fantasia de desposar a causadas paixões Nem deve ser esquecido
nela vige uma severidade e um rigor que excluem qualquer apelq qualquer
que a parte centraÌ da ética baconian4 a georgtcaanìmi tem justamente a taÌefa
conotação emotiva; o que nela deve dominar é ,.o seco lume da lógica., o -culto
de indicar a maneira como algumas paixões podem combater e superar outras
das coisas" e não a "veneração peÌaspaÌawas". Ao esboçar o programa de atividade
tantas, pois é justamente sobre a contraposição entre algumas paixões
da Royal socieíy,Thomas sprat afirmava que o fim da sociedade era o de libertar
fundamentais (como o medo e a esperança) e outras "perigosas" que se funda -
a época de então dos erros do passadoe de levar a cabo aquiÌo quejá fora tentado
segundo Bacon - a inteira estrutura da údajurídico-poÌíticaun.
peÌos antigos:
 arte retórica é portanto concebida por Bacon tnfunçA da razão e dn
étic4no sentido de que ela tem a missão de determinar comportamentos morais;
separar o conhecimento da natureza das cores da retórica, dos artificios
e para Bacon mnral tem o signiÍicado de não-caprichoso, não-passional. Nesse
da fantasia,do encantadorenqmo das flábulas6"
sentido ela não pode ser reduzida a esülnou ornaÌnentq uma vez que o estilo e
a illzçtration of speechnão têm por Íìnalidade o "deleite", mas são "meios" que
z.
Uma atitude dessa natureza era, sem dúvid4 de inspiração bamniana pois,
üsam atingir fins determinados. Basta Ie4 desse ponto de vista, os Ensaìospara
Justan4ntz Para manter zthn a dístitlção entre ú,n apeln dz tipo "emoüw" e uma
ter mnsciênci4 conforme bem üu Bushtu, que eles não pertencem de maneira
obra dz conaencimznto 'ra-cìonal-, Bacon hzaia nitidamznte separado a reüàca 'literatura
alguma ao gênero dito delazef .Fazem parte integr ante da Instauratio
z da doctrina de methodo sermonis oz prudentia traditivae, haviafeito dasa úüna
rnagn4 constituem verdadeiro apêndice do Ádtarcencnt qf Learning: mesmo
^-.4dv.,Sp
r Ì r , p + I O ;D l f , S l l , t r 6 ï 9 Á p o l ê r n i ( a c o r ì t r a a d c s \ a l o r i z a ç ã o p l a t ô n i e d a r e t ó r i c a
ó tcrìa bastantc diíìrrrdìd. rì()src\tos dc r(.t(iri(a d. si,<.rrlrxvll. ct, a título {te excnrDìo.
"" *shre a getrgìa auì u ì cf. .4dt, "5) t I t, Pp- +3!-t7 : D. t, ó7 ïrì | - 1 +
ÍÌefìot,p. I . Mas r cja-sc ta'rbérn, s^'brco nìcsnìodssruìto,yi.cs, I)e dìstilthurrcit., pp.
t +i ss. "' Bush, p I 85 Sobrc as relaçõcs crrtre os Íisros c, a Inçtauratio uagnd, cI'. R S Cranc, Thc
C)ualrtoà PoÌirnlr:acìc lJatrrncontra as crccssir-assLrtiÌr,zas tlo cstiÌo,cf. Ì),4, ,57. I, pp. O+s_.rS. Reìation oÍ' Ilacon's ,Esrrls to lris Progranr for tlrc ,ldiuntnent of l-carnìrg', <tt Schzllin,q
"'1ì Slrrar.Itiiorr o/' thL lìo.tttlSorìct.t, Ir)rì(lrcs r?o_1.l) (;! (a t', (1. í,de 1667). ittntocrsart /)arers,Nora \bÌli. lflgj

À-
A tradição retórica e o método da ciência

'Partus
1. tenúoris"

Diante da inteira tradição filosóÍìca Bacon havia adotado - conforme foi


visto - uma atitude de recusa categórica. Ele não tinha intenção de acrescentar
uma ouha {ìlosofia às frlosofias do passado e pretendia colocar em crise aquele
conceito mesmo de filosofia em cujo âmbito os discursos filosóficos tradicionais
eram considerados possíveis e legítimos; queria dar lugar a uma nova atitude do
homem frente à realidade e chegar, baseado nisso, a uma qualifrcação das
frnalidades, das tarefag dos métodos e das funções da filosofia, completâmente
diferente daquela que, por seculos, haüa sido considerada como natural para a
pesquisa filoúfica. Desse ponto de üsta a obra de Bacon não é de modo algum
redutível a uma reforma da lógica escolástico-aristotéÌica ou a uma nova solução
. ^
E ' (de tipo empirista) oferecida ao problema gnoseológìco. A obra inteira de Bacon,
e disso se aperceberam também os menos cuidadosos dentre os intérpretes, tem
rrot<JüS
enifeda,: o gosto de uma reforma total que se apóia na convicção de uma mudança iminente
no inteiro curso da história humana. Essa mudança, confiada à vontade dos
%**|*

LlÍsçia;1;r.;q.

!'-
homens e passível de ser realizada apenas por eles, não pode ser identiÍìcada com
infinitas mudanças e nenhum império, nenhum astro, nenhuma escola filosóíìca
uma transformação da'filosoÍia", nem realizada sonenlz através dela. Não é por
tiveram maior efrcáci4 para a humanidade, do que a que derivou dessas invenções
acaso que Bacon amou apresentar sua obra como um parto do tcmlo, mats do
mecânicasì Os mzcânicos, mais do que os ftlósofos e os polítì.eos contribuíram,
que como um produto do engenrio.Seu discurso, caracterizado por uma solenidade
portanto, para modificar a situação humana. É necessiírio que o progresso das
religiosa, tem as características de um apelo feito ao gênero humanq mas este
teorias não fique atrasado em relação ao das artes e que à conquista do mundo
apelo, de um tom grandioso e imponente, parte sempre do reconhecimento de
material corresponda a conquista do mundo intelectual:
alguns fatos histaricosaos quais Bacon atribui uma importância decisiva e põe
como fundamento de sua própria tentativa de reforma- Âo falar da ..história da
Seria vergonhoso para os homens se, depois de terem aberto e
ÍìÌosofia" de Bacon, já verificamos como a sua recusa da tradição filosófica se
iluminado ao infinito os conhns do orbe material - ou seja das terrag dos
movia sobre um pÌano bem diferente do de Descartes. Não se trat4 para Bacon,
mares, dos astros, tal como fizeram em nosso tempo - os confins do orbe
de abrir mão, dz oe4 de tod,o o passado: é necessário aprofundar e aclarar as inteÌectuaÌ permmecmsem dentro dos antigos limites já conhrcidos dos
causas, os motivos, as razões da gigantesca falência do pensamento tradicionaÌ; é antigos'.
necessário submeter a um reexame o pensamento gregq criticando o próprio
esquema historiográfico elaborado por Aristóteles; é necessário,sobretudo, levar As "condições dos tempos" apresentam-se, por outro lado, favoráveis
de volta uma certa frlosofia a uma certa civilização, para mostrar que os Ìimites e a essa conqursta:
as deflciências da primeira estão estreitamente ligados aos da segunda. As causas
da falência da filosofia tradicional não são, portanto, para Bacon tão-somente
Quando considerc as condições desses tempos em que a cuìtura parece
de ordem "especulativa", mas dependem de situações históricas determinadas: ter voÌtado pela terceira vez entre os homens e quando observo
a fiÌosofia grega prosperou numa era próxima das fábulas e pobre de história; atentamente a grandeza e a variedade dos meios e dos instrumentos
a fiIosofra dos Romanos foi desviada do estudo da natureza por causa da dos quais ela dispõe; a profundidade e a altura dos muitos engenhos
grandeza do Império; a dos escolásticos foi exercida por homens que viviam dessa época; as obras admiráveis dos antigos escritores que

no ócio, fechados em ceÌas de conventos, treinando seu sutil engenho nos resplandecem diante de nós como fachos; a arte da imprensa que
distribui generosamente üvros paa os homens de qualquer condição;
textos aristotélicos.
o seio, agora descerrado, do Oceano e o mundo percorrido de uma
Mesmo a parte'positiva" da reforma baconiana não nasce sobre um pìano
extremidade à oufr4 de onde foi trazid4 para nosso conhecimento, uma
puramente especulativq mas é parte de uma ampla consideração de caráter
quantidade de experimentos desconhecidos aos antigos, e o grande
histórico e a ela está profirndamente relacionada. Â reforma do saber não pode enriquecimento da história natural....; a paz da qual gozam a Grã Bretanha,
ser obra de um "intelectuaÌ" e não pode depender do arbÍtrio de um engenho a Espanh4 a lt4li", a púpria França e não poucas outras regiões... quando
z
isolado. é resultado de um movimento mais amplo e de uma situação mais penso nisso tudq não posso deixar de me senú transportado pela esperança
çral
na qual aquela obra pode inserir-se utilmente. O progresso do saber não está que esta terceira época do saber superará, e de muito, as duas épous
ligado exclusivamente à proposta de'teorias" ou ao aperfeiçoamento de suas precedentes dos Gregos e dos Rommos".
estruturas lógicas, mas depende tanlém da situação da civilização e da cultura
humanas. A descoberta da arte da imprensa, da pólvora e da bússola mudou o ' ( ' r : . S yl'l l , p l ) 6 r Ì - r e ; . r \ ? I l e e
aspecto do mundo e as condições de vida na terra. Dessas descobertas advieram ' ( ' / , . ! l t I I t .p c t s ,
'f)t .V I.
l)p s27-98;masrt ja-sctatnlúrn/rz1.p ,i t +

I -
li r1
Nos cogitata et visa Bacon afirma que uma única e idêntica norma governa
obraq da resignação dinnte da natureza sobre a conquista d,a nalurezq da refuzão
o progresso da condição e da mente humanasn. Este conceito permanece
sobre a ìnteioridade e sobre a indagação dirigìda aos fatos e às coisas.
fundamental para ele e, se não for levado em conta, arrisca-se a se ver em Bacon
Pressupostos dessa natureza são para Bacon capazes de condicionar de forma
exatamente o que ele não foi: o construtor de um sistema ou o fundador de uma
radical a lógicaque foi elaborada no interior daqueÌa filoso{ìa. AqueÌa lógica se
escoÌa filosófica. Bacon declara repetidamente - mesmo nas obras não destinadas
demonstra inshumento eÍìcaz quando os fins visados são os da contemplação e
a serem publicadas - que não alimenta ambições desse gênero Desse ponto de
da resignação, isto é, quando os homens se Ìimitam a discutir, renunciando a
vista, as páginas do De interpretationz naturaeproemìum sãomuito significativas,
atuar sobre a natureza; torna-se inoperante e estéril, entretanto, quando a
mas nada meÌhor do que o prefácio da Instauratìo magna e da Dìstibutio operis
transformação da reaÌidade naturaÌ, a invenção de novas artes e de novas
dá o sentido dessa renúncia à imagem do fìlósofo como construtor de "sistemas,,
ciências, a conquista da natureza se colocam como os fins essenciais da
especulativos. Na identificação entre o destino da raça humana e as fortunas da
atividade dos homens sobre a terra Conforme já tentei escÌarecer no
nova filosofia funda-se a inteira obra de Bacon. É necessário - escreve ele no
decorrer deste livro, as filosoÍias tradicionais não são portanto, para Bacon,
preftfuio- que os homens, seguindo seu interesse e libertando-se dos preconceitos,
Íìlosofias erradas, mas frlosofias construídas tendo em vista certos fins que
atuem em conJunto, participando ativamente do trabalho necessário que visa
a parecem a Bacon parciais e limitados e cuja parcialidade e ìimitação são expressão
restauração das ciências.A reforma aqui apresentada não deve ser considerada
de uma civilização que não tinha um conhecimento real da Terra e na qual as
como sendo inÍìnita ou superior ao que é mortal. Ela é apenas o termo e o finaì
"grandes viagens" deDemócrito e de Platão não passavamde excursões no câmPo,
de um longo engano Bacon, por outro lado, não se esqueceu de seu caráter
nos arredores da cidadeu.
excÌusivamente humaro e não acha que a obra possa ser realizada por uma
única
pessoa, no decorrer de uma única vid4 mas a confia à sucessãodos pósteros,
limitando-se a pôr em movimento uma realidade que outros viriam
a 2. Funçõo da lógica tradicional e
experimentar. Também não se trata - acrescenta Bacon na Dtstàbuüo operìs-
tão-somente da felicidade contemprativa do gênero humano: o que esú em questão caractzrísticas da lógica nota
aqui é sua própria fortuna. Terminar a empresa é, entretanto, aÌgo acima
de
qualquer esperançâ e bastar-lhe-á ter dado início à sexta parte da Instauratio, A partir da posição que acabamos de esboçar nasce em Bacon o
que representaria o acabamento da inteira reforma5. reconhecimento explícito de dois diferentes tiqos de filosofia e de duas
i Em vista dessas premissas é possÍvel compreender aÌgumas das posições lógicas dferentzs: uma é válida no campo dos discursos, das disputas, das
I
assumidas por Bacon em relação à "Iógica" e à presenç4 em seu pensamento, controvérsiag da conversação,das atividades profissionais, da úda civü a ouf4
de
algumas teses caracteúticas sobre as quais ainda não se insistiu suficientemente. a nova lógica, é, ao invés, indispensável no âmbito da conquista progressiva
O mundo clássico elaborou, segundo Bacon, um certo tipo de discurso filosófico: empreendida pelo homem, da realidade natural. A primeira dessas duas lógicas
I
aquele tipo de discurso que supunha a superioridade da conlanpkgãa eastz, dzfato, tendo sido criada pelos Gregos e, em seguid4 retomadae bastante
sobre as
i enriquecida, durante séculos; a segunda apresenta-se, ao contrário, crlmo un
I projeto e um empreendimeflto,como a abertura de um caminho ainda não
'( /:.V lll. p
6Ì12
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l , t ) t ) r j ] Ì - s . eD
; O,SI) I.l) r.;r;.rÀ'1ì^y III,
I) rj_2o
" ('Í a Dota 3,: ao capítulo Il

l
percorrido. Â transformação deste projeto numa execução efetiva pressupõe que
As duas lógicas têm um único ponto em comum: ambas visam preparar
a atitude do homem em relação à reaÌidade seja radicalmente modiÍìcada e que,
meios de ajuda e tuteÌas para o inteÌecto. Ao conhráriq diferem profundamente:
conseqüentemente, mudem as própúas definições de -fiÌosofia,,e de ..ciência-.
1) pelo íìm que se propõem; e) pela ordem que seguem nas demonstrações; 3)
Não é por acaso que Bacon fez de sua reforma da lógica uma das partes da
peÌo ponto de partida da pesquisa. A nova lógica se apresenta como "a doutrina
Instauratio magna. A nova lógica atribui-se, portantq as seguintes tarefas: r)
do melhor e mais perfeito uso da razão", que visa aumentar as possibilidades do
preencher uma Ìacuna presente no saber atual, vindo ao encontro de uma exigência
intelecto humano e ampliar suas faculdades em ústa de uma superação da
fundamentaÌ, presente numa situação histórico-sociaÌ bem diferente daquela
obscuridade da natureza. A esta diversidade dos fins corresponde uma diferença
tradicionaÌ; 9) tornar-se o órgão, o instrumento do qual seja possível servir_se,
na ordem das demonstoações:na lógica tradicional quase todo o discurso tem
em vista dos novos fins que a frìosoÍìa e a ciência se propõem.
por objeto o silogismo que é apto a ser ernpregado nas disputas. O uso do
No âmbito dos escopos que a filosofia tradicionaì se propunha, a veÌha
silogismo, no âmbito das pesquisas naturais, faz com que a natureza "escorregue
lógica não se apresenta, portaÌìto, como um fracasso. Sobre este ponto Bacon é
bastante cÌaro: na medida em que se queira apenas transmitir as ciências, na das mãos", e as proposi@es médias, produzidas pelo método silogístico, apareçam
medida em que se queira ensinar aos homens a aderirem às verdadesjá declaradas como "estéreis de obrag remotas em reÌação à prática e desprovidas de valor no
e afazer uso delag a apreender a arte de rnventar argumentos e de triunfar sobre que diz respeito à parte ativa das ciências". Para penetrar na natureza, a indução
os adversiários nas disputas, eÌa se mostra perfeitamente funcionaÌ, mesmo se revela-se um instrumento muito mais eficaz:ela esú em condições de "constranger
necessitada de integrações, de revisões e de aperfeiçoamentos. Nós _ decÌara a natureza e está muito próxima das obras, chegando quase a misturar-se com
repetidamente Bacon nas partes em que se ocupa com as características da lógica elas". Dessa forma, inverte-se a ordem natural das demonstrações: até então
nova - não nos interessamos absolutamente com as aÌtes populares e opináveis, saÌtava-se imediatamente do sentido das coisas particuÌares aos princípios mais
nem pretendemos que a nova lógica possa contribuir a reafizar aqueles fins para gerais que funcl6n2yem comoy'ólosftosno desenvolümento das disputas; desses
os quais foi construída a lógica tradicional. o uso das antecipações e da dialética princípios, mediante proposições médias, obtinham-se, depois, todos os ouhos.
- aÍirma-se no Notnm organum - é bom (bonus) Este método, sem dúüda úpido, parece bastante váÌido para as discussõeg mas
nas ciências fundadas sobre as
opiniões e osjuízos prováveis, isto é, nos casosem que se frata de forçar não as coisag é incapaz de nos fazer percorrer os diÍÌceis caminhos da natureza. O preceito de
mas o assentimento'. A dialética agora em uso - assim declara_se no pr{acio à que os axiomas devem ser obtidos gradativamente e quase insensivelmente exige,
Itt^stntmtio naga- não é absolutamente capaz de 'alcançar a sutileza da natureza", todaü4 uma reforma da indução, da qual falam os dialéticos. Esta última procede
mesmo se pode ser usada eficazmente no campo das 'coisas civis e das artes que por enumeração simples e conclui precariamente, expondo-se continuamente ao
concernem ao discurso e à opinião". Quando, ao contráriq se queira hiunfar não perigo de uma instância contraditória. Para as ciências é necessári4 ao conffirio,
dos adversâios, mas das obscuridades da naturez4 chegar não a opiniões belas uma indução tal que permita "resolver e analisar a experiência e concluir
c

e prováveig mas a cognições c€rtas e demonstradag não a inventar argumentos,


necessariamente, mediante exclusões e eliminações". Tudo isso implica tamMm
mas sim obras e arte.s, então se torna necessário fazer uso da hÌalretatio nafume,
que o ponto de partida da nova lógica seja diferente daquele da lógica tradicional:
que é infinitamente diversa da anticipatio mmtìs ou lógica ordinárias. aqui é preciso partir'mais acima de onde os homens têm partido até agora' e
submeter a um exame aqueles mesmos princípios que a velha lógica assume
;NOIÍ:9
conforme à fé alheia(").Os diaÌéticos'tomam emprestado das ciências isoladas os
" Praçf S1tI, p 135 Para a difòrcDça cnúc dtlldpatio rilcil!ìse Ìnli.tlntn ndlutu?,rt. À?l
I I:Jô princípios das ciências", têm uma atitud€ de veneração para com "as primeiras

l
llì
noções da mente", e se aquietam no que se refere às "informações dos sentidos A Ìiberais e a tornar-se instrumento de descoberta.A mesma distinção fundamentaÌ
nova lógica deve, ao contrário, entrar nas províncias das ciências isoÌadas ,.com entre intenção ejuízo, no interior da ìnter?retationaturae fundada sobre a indução,
um poder maior que o de seus próprios princípios" e exigir que estes últimos caía por terra: invenção e juízo apresentavam-se aqui para Bacon como sendo
prestem conta de sua validez; ela considera com suspeita as noçõesprimeiras da coincidentes, "obra de uma única e idêntica operação da mente""
mente e põe em dúvida as informações dos sentidos. Estes deixam escapar uma Á brevíssima elaboração dada no Adaancemzntof Learning àquele setor
grande parte da reaÌidade e fornecem testemunhos que derivam de uma'.analogia da arte da invenção que concerne a invenção das artes e das ciências, encerrava-
com o homem" e não de uma anaÌogia com o universoe. se com as seguintes palavras:
Essas diferenças entre a Ìógica tradicional ou "ordinária" e a nova lógica
da ciência foram ressaltadas por Bacon na Distrìbutio operìsde t6qo e no primeiro Proponho-mea expor, em seguida(se Deus mo mnceder) aquelaparte da
livro do Nozrum Organum. invençãoquediz respeitoà invençãodasciênciasEu a dispusem duaspartes,
Mas nessasmesmas teses Bacon havia se detido, emboracom menor lucidez uma das quais chamo de experientialittratn e a outra de inkrPrdntio mturu.
e vagar, no Aaanretnent ofLearnìng de 16o5 e na Partis instaurationis secundae A primeira não passade um grau ou rudimentoda segundaMm não dmejo
insistir demasiadonessepontq nem gastar demasiadas paÌawasmm aquilo
delìneatio et argunentun de t6o7'o. Na primeira dessas duas obras, ao tratar
que não passade uma promessa'e
das quatro artes intelectuais, havia feito largo uso da tradicional diüsão da retórica
e havia inserido sua reforma do método da ciência no âmbito de uma das quatro
Esta fiase de Bacon é muito importante pois nos ajuda a entender qual
artes intelectuais. Da tradição retórica Bacon havia tirado a quadripartição da
era sua posição, por volta de 1605, no que se refere ao problema de uma nova
lóg1ca, a doutrina das relações entre invenção e juízo, a douFina da memória, a
lógica da ciência. A idéia de uma formulação explÍcita dessa lógica está presente
própria discussão das diferentes funções atribuídas aos diferentes tipos de discurso
no trecho citado e a eÌa Bacon parece aludir com o tom de quem se refere a uma
e de comunicação. Em um ponto fundamental, entretanto, Bacon haüa se afastado
obra já iniciada- O Valzrius Taniaus havia sido composto por Bacon em 1603:
desta tradição, abrindo a possibilidade de uma indagação de tipo diferente,
justamente nesta pequena obra é possível encontrar o esboçodaquele novo método
exatamente onde havia distinguido nitidamente entre invenção dos argumentos
cienífico que será ampliado e retomado no Norru?tlOrganum. Nesta última obra
e invenção das artes e havia limitado ao primeiro dessesdois campos a validade
confluirão:l) a teoria da interpretatio nohfia4 desenvolvida no lalzrius Ttrminus,
da lógica tradicionaÌ.0 segundo setor, o da invenção das artes, parecera-lhe
2) o diagnóstico da situação das ciências e a crítica à tradiçao desenvoÌvida nos
absolutamente deficiente e lacunoso, desprovido de regras e de métodos. A lógica
i Cogitata et visa, na Rzdargúo philoso?hiarum e, precedentemente, no TtnPoris
I tradicional haviajustamente renuncìado a ser de valia para as artes mecânicas e
partus masculugs) a doutrina das ajudas dos sentidos, da memória e do intelecto,
teorizada na Delinzaüo de 1607.
'Para asdiÍèrençasentre
a lógicaordináriae a nola lógica,c.1.
P/.1),.Sy'-
lll, pp .547ss; I)q .çp
I, pp. t.es-37.
I "'ìia l)elìneaìo aÌ)arecia, 1rla prìrrreira rez cnr forrna orgârrica, o Jroieto d<, unra grancle
te stau ração dc todo o sabcr Ncs ta obra, associa-se A estc
I
'l-trnrinu,'en<t,4doonrcneulof l)ro ic to o orr tÌ (L iii prcscrr tc crrr / â/rr rrz.r
Itttnìtg,dcurna rcftl-nratlonri,totlo'Sobrcaniìoroirr<itlênria
daidí,ia<lc ìusltunilìo(<1uclãocotul)at(.c('(lììrrcrrhrrrrratrrtaantcriorat6(ìÍ))conradarclirrrrra
" .ldt., S7 IÌ1, p :Ìs'2
rla itrrlução, cf. as obscr raçix.s <lc S;rcrlding, cnr .!2 I, j) t()t L'1órl,. p iìs:ì

* j-
".,.-....
S. Presençadz mndelasretóriros de uma discussão reÌativa à invenção dos argumentos- A arte de sustentar
na hgica da sabercienffrco com sucesso o papel de quem interroga nas discussões, irá servir a Bacon
para delinear as características de uma arte capaz de interrogar a realidade
Acenando, no capítulo quarto, à teoria da indução de Fracástor, tivemos naturaÌ
ocasião de vèla como uma tentativa de aplicar, no campo das pesquisas naturais,
aqueles procedimentos Ìógicos que a tradição aristotélica havia considerado
válidos apenas enquanto pertencentes à "retórica-. Aludindo ao conceito 4. Á "interpretetiona.turae" no "Valerius Termìnus":
baconiano de topic4mostramos como também Bacon tinha usado de forma nova
a aplicaçãodas regras ramistas
aìguns elementos presentes na tradição da retóric4 tentando aplicar ao saber
científico e às indagações naturais instrumentos que haüam sido elaborados em
Comparado com o Tenporis partus masculus, o Valzrúu Tbrminus de t6O3
função de uma "invenção dos argumentos" ou da elaboração das regras de um
(ele tamMm fiagmento de uma mais vasta obra sobre a interpretação da natureza)
discurso "persuasivo". Proponho-me agora a mosüar como alguns elementos
apresenta diferenças não irrelevantes. O interesse de Bacon dirige-se aqui não
obtidos a partir dessa tradição dialético-retórica agiram em profundidade no
tanto à eliminação dos erros provindos da tradição filosóÍìc4 quanto a esboçar
interior da própria lógica baconiana do saber cienúfico e como em alguns casos
as características daquele novo método da ciência ao qual, naqueles mesmos anos,
está presente, nessa última, uma verdadeira transposição de conceitos, do terreno
"retórico" para o científico. ele havia-se referido na De intzrpretatìone naturae proemìum:

l) Em sua primeira tentativa de formulação da inÍzrpretatio naturaz empreendida


---se alguémonseguissg não apenasdesmbrir aÌgumainvençãoparticular,
no I/alzrius Termìnus, Bacon vale-se, mais uma vez, dos textos de petrus
por mais útil que ela pudesseser, mas acenderuma luz na naturez4 que
Ramus, tirando deles aìguns conceitos de importância fundamental. Álguns com seu mero surgimento iìuminasseas regiões que estãoaìém das que
dos resultados aos quais haúa chegado a h-aradística retórica quinhentesca nós onhecemos e que depoig elewndose cadavez maig pudsse desvelu
passam, dessa forma, a atuaÌ não apenas na classificação baconiana das aÌtes e danudar os segredosmais rrcônditos, esseaìguém, penm eu, seria o
Ìógicas, mas peneúam no interior do método que tende a uma descoberta das propagador do domínio do homem sobre o universo, o campeão da
formas. Não se trata de um episódio, uma vez que as 'regras" ramistas aceitas liberdade,o dominadorda necessidade''.
z naquela obra juvenil estarão ainda presentes no segundo llro do Novum
Organum. LJma menor preocupaÉo pÍÌra com uma polêmica de caráter 'tristórico"
o 2) A doutrina das ajudas da memória, exposta na Ddìuatio e matstarde retomada parece eúdente também na classificação dos iìnln que, nesse escritq se referem
z à natureza da mente'a.A verdadeira finalidade, o verdadeiro escopoe a verdadeira
no Nooum Organut4 resulta de uma adaptação paÌa o terreno do saber
F
cientÍfico daquelas regras da ars mtmariaz a cuja abordagem se haviam
dedicado com a6nco os tóricos do discurso do século XVI. 'r /rMl Á? III, p 5lì. Uma cxplicação clara do título .a
dessa ol>ra (I'aleius I'erniuul OJ thz
3) A tópica, ou indagação sobre os lugares, apresenta-se Íìnalmente a Bacon ialerlrpldtionoí Nttwewilhlhcottottlìonsof IIerDÌ6Stcll(Ò<l\tclrarercuobscuroaosdif<r'entes
como elemento constitutivo de uma pesquisa cientÍfica sobre a natureza. Bacon irìtí,rprctes,cnc()ntra-v'rrnÂnderson,Pt6-OtrtrasìrnÌFrtantesobscrvaçócsdeSpedtÌìngcstão
crn Á1 lll, p 9ol
chega a tratar de problemas ligados ao conhecimento da natureza, partindo
" lïltrìus'I'erntìtus, Sy' lll, p :2-19

I
iil tarefa do conhecimento, afirma Bacon, não é o de dar Ìugar a discursos plausíveis,
qualidodzssxm\lzse irred.utíaetsque podem ser encontradas em qualquer contexto
,] deÌeitosos, cuidados, dignos de veneração, capazesde satisfazer as mentes, mas é
sensível e de cuja mistura e composição dito contexto é constituído'6. A realização
o de efetuar e de produzir (ffictìng aü zoorking),de descobrir particularidades
de determinados efeitos advémjustamente da redução do "concreto" ao "abstrato":
antes ignoradas, em vista de um progresso nas condiçõesde vida. Na determinação "cada particular que produza um efeito qualquer é uma coisa composta. de
do que seja a verdade do conhecimento (ìn determìning of the truth of
diferentes naturezas isoÌadas.. e não fica aparente a qual dessasa naturezas deva
knoutledge)os homens basearam-se, até agora, em provas não satisfatórias. Â
ser referido o efeito" O métodorequer, portanto, que se proceda a uma aruilìsee a
autoridade e a antiguidade, as noções comuns e o consenso geraÌ, a coerência
uma obra de seecionammto(breahìng no Noaum Organum: secarenaturam) dos
interna do discurso e a redutibilidade das várias proposições a princípios
particuÌares(b)de modo que eÌes,mediante sucessivasincÌusõese excÌusões,possam
estabeÌecidos, a ausência de instâncias contraditórias e a resposta dos sentidos:
ser "reduzidos a um ponto definido". Este, segundo Bacon, é o que compreenderam
nenhuma dessas referências dá uma garantia suficiente de verdade nem,
os seguidores do método tradicional: eles,recusando a anáÌise e o seccionamento,
iguaÌmente, de operatividade. A descoberta de novas obras e de direções ativas,
fizeram uso de um tipo grosseiro de indução e se dedicaram à produção imediata
antes desconhecidas, é a única prova que pode ser aceita (thz dìscoueryof nrzt
de efeitos, tendo em vista o uso corrente e deixando de lado a construção de
uorks and actìae dìrections not knoun before, ìs the onlt trial to be acceptcd oJ).
axiomas científicos.
Não se trata, todavia, de ir buscando a produção das coisas concretas (things
Conduzir as naturezas abstratas (que provêm da anáÌise das coisas
corurete)que são transitórias e em número infinito, mas de partir em busca das
particulares) a um ?onto definido, equivaìe a evidenciar a relação de
naturezas abstratas (abstract natures),que são poucas e permanentes,
correspondência entre uma determinada natureza e o efeito que se pretende
semelhantes às letras do alfabeto ou às cores da palheta do pintor, de cuja
obter: à presença de uma determinada natureza corresponderá
mistura fazem-se provir as infinitas variedade dos rostos e das figuras. O fim
necessariamente a presença do efeito que se quer produzir e à ausência
i "operativo" ao qual deve tender o saber científico não deve, entretanto,
ser daquela natureza corresponderá necessariamente a ausência daquele efeìto.
ll confundido com aqueÌe tipo de operatividade "ligado às conjeturas da arte e
Trata-se, para Bacon, de aclarar os critéúos que serão usados para obter ess
I
ao tamanho da experiência" Â arte e a experiência imediata levam apenasao
correspondência Para este fim é necessário utilizar um procedimento que se
I conhecimento das causas das coisas particulares; a tarefa do método cientÍfico
realize mediante ìnclusõese etclusões,que esteja voltado - isto é - para a
I
é, ao contrário, a de conduzir a um contato com as naturezas abstratas de
consideração, não apenas dos casos positivos (o que levaria a conclusões apenas
cuja combinação resulta a realidade natural'u.
prováveis), mas também dos negativog eliminando de tal maneira a possibilidade
Contrapondo o conceito de natureza abstrata ao de coìsaconcaetae
de soluções erradas. Para que ocorram efeitos reais será preciso seguir uma
excluindo que a pesquisa cientÍfrca tenha de se ocupar desta últim4 Bacon
direçãa.Esta" segundo Bacon, teú que oHecer a dois critérios fundamentais: o
evidencia, por um lado, a red.utibilidadz dns fenômznos naturais à combìna7ao
da c.ertez.a (cÊrt4in$ e o da liberdade (liMl). Tem-se certeza quando a direção
dc um núnuro finito de elemzntos simplzs e por outro, a dìuenidad,c radìcal
não é apenas verdadeia na maioria dos casos, mas infaìíveÌ (uhm tlu diredion
entre etperiência comuÌn e etperiência cimtifiea. As naturezas abstratas (que
ü not only truz Jor thz nost ?art, but infalliblz); tem-se a liberdade quando a
nas obras sucessivas serão chamadas por Bacon de naturezas sinptzs) são as

'' ('Í.
C -\ Viar<r, Espcri<rrza c naturâ rìclla íiÌosofia tìi l;ì fJacore" cil Rìrì!td di ]"ilosolìd, lt):, I
I'ara ar;rrìl<rrlrrc Íiri ctPosto ncssr, Pirriigratìr. Ll. tl',1. pp 9:JÌ':,,1ì: ,Jij,j:9 t,J-$tl
n lì l) iìog

L
direção não se limita a aÌguns meios já definidos, mas compreende todos os meios Hac methodo philosophia naturaÌis et medicina, quae duae artes multis
e os caminhos possíveis (when the direction is not restrained to somc definite rebus alienis imprimis impeditae sunt, hac eademmethodo discipÌina
mrans, bat con?rehzfldzth all the means and uals possìblz). Uma direção não quaevis facilis et brevis efÍìci potest, si praecepta solarcrà ravtòq,
rcaO'cÜrò,ra0ól,ov zeórov, hoc ordine, ut Aristoteles iubet, dmeantur
certa, mas meramente conjeturaì, conduz apenaspor acasoà realização dos efeitos
Ad Aristotelis literam redeamus digressionelongissimausi sumus,ad
e torna impossível o sucesso; uma direção não lìore, mas particular e limitada,
pulcherrimamlogicaeregulam,neglectamin nostris scholiset contemptam,
está sujeita à incerteza, além do que a essa casuaÌidadg porque uma direção restituendum.''
pouco articulada paÌaÌisa qualquer tentativa (for want of aariel in dìrection
Jou are stopped in attempt)t?. O texto aristotélico ao qual aludia Ramus é o quarto capítulo do primeiro
Na discussão dessesproblemas reaÌiza-se o encontro entre a doutrina de livro dos Ánalytica postcriora. Ao falar das premissas das quais provêm as
Bacon e a de Ramus e dos ramistas. Â teoria à qual me refiro - escreve Bacon - demonstrações,Aristóteles esclareceo significado de três expressões:Kü,ràndvròç
já foiüstaporAristóteleg mas nuncafoipor elepostaempútica. As duas'regras" (dz omni válido para qualquer caso)Koe'aurò per se $nr si),roOóÀov uniatrsab
mediante as quais se tornavam "convertíveis" as proposições da ciênci4 foram (universal). Predicação válida em qualquer caso é aquela que não é válida só para
eÌegantemente denominadas pelos ramistas de regra da oerdaìz (a primeir4 por alguns sujeitos e não por outros, ou apenas em alguns casose não em outros: é a
impedir o erro) e de regra da pruàência (a segund4 por tornar livre a escoìha). determinação de universalidade quantitativa dosjuízos ou "extensão" do conceito
Essas duas regrÍrs - continua Bacon - são as mesmas que nós observamos (ara Ou seja, onde "o sujeito lógico indica uma cÌasse de coisas, o que se predica dele
the samz things in speculatìon and in affirmation uhich rae nou) obseroe).No deve valer para cada uma das coisas incluídas na classe". Predìradospor si sâo os
'Tienpds
paras m"ascuhsBacon havia definido Ramus como "um perigosíssimo que inerem à essênciade uma coisa: assim a linha pertence à essênciado triângulo,
caruncho das letras que, com a estreiteza de seu método e de seus sumários, e o ponto à essência da linh4 por não ser possível definir o triânguìo sem recorrer
comprirne e contorce a realidade"t" mas, no ÁdwnemenÍ of Lcaraing, valer-se- à noção de linha ou definir a linha sem recorrer à noção de ponto. Esta
á do esquema ramista de classificação da lógica e o colocará como fundamento determinação "refere-se à assim chamada compreensão do conceito, enquÍìnto
de sua púpria reforma do método da ciência, ou sej4 daquela parte de sua Ìógica designa aquelas atribuições que entram na essência de uma coisa ou que inerem
que, mais do que qualquer outr4 terá que afastar-se das doutrinas tradicionais. a ela não acidentalmente" . Os ?redì.cadnsunìuersaìs são os que inerem ao sujeito:
Para compreender o significado das duas regras baconiÍÌnas é oportuno valer-se l) em qualquer caso; 2) por si; 9) enquanto o sujeito é o que é. As determinações
/ do texto de Aristóteles e da interpretação que Petrus Ramus deu do texto universais inerem, portanto, necessariamente, às coisas. Dessa forma, ter os
aristotéüco. Ele, tal como Bacon, acha de Aristóteles teve ocasião de üslumbrar ângulos internos cuja soma é igual a dois retos não é determinação universaÌ da
essas negras, tendo.as, porém, úolado freqüenternente. Tratava-se, para ele, de frgura e, mesmo sendo atribuição do triângulo isósceles, não é a primeira
I
voltar à letra do autêntico ensinamento aristotélicq para além da traição efetuada
pela escolástica: 'u "Corn este método a filosofia natural e a nrcdicina, duas artcs quc Íbranr soÌrrenraneira
cntraradas cm nruitas coisas alhcias, corÌÌ 6tc DresìÌìo nrétodo qual<1rrcrdisciplina podc torrrar-
se Íácil c brcrc se icstcs] únicos prcccìtos rccrà ncvròç. xcO'cÜro, ru0ólov leõtov, sr-
c r Ì s i r ì a s s c r ) ìn e s t a o r d c r ì , c o n r o r n a n d a  r i s t ó t c l e s Voltenros a recoÌ)stituir o cscrito tle
'1 litl. Ibm.,.Sl Ill, p 24rj
.\risrótclcs usanros dc longuíssirrra tligressão, para rmonstituir a rcgra lrlíssirrra dr l<'rgica,
'' 'fPlrI, 3l'. I tl, p 53o
n e g Ì i g < n c i a d a c d c s p r e z a d a e Ì ì ì r ì o s s a sc s c o l a s " ' Í ì r r ì u s , l) ;;
rl
determinação a quem estadeterminação inere, uma vez que o triângulo aprecede. s) a lei da prudência, segundo a quaÌ as Proposições científicas devem ser, não
A predicação universal rcquer que o sujeito seja o termo mais amplo ao qual o somente necessariamenteverdadeiras e homogêneas,mas também convertíveis
predicado pode ser atribuído (nessecasq o triângulo enquanto tal o éjustamente, e a convertibilidade, conforme foi visto, está ligadajustamente à universalidade
dada sua natureza de triângulo). Essa predicação torn4 além disso, convertíveis do predicado.
as proposições (uma figura cuja soma dos ângulos internos é iguaÌ a dois retos é
um triângulo, um triângulo é uma figura. etc.),o. Prima lex est veritatis ne uìlum sit in arte documentumnisi omnino
A matéria do discurso científico, afirma Ramus, retomando Aristóteles, necessarioqueverum- Secundalege cavetur ut rtis decretum sit non
deve ser de ornni, per se, uniaersaliter primunx tantum omnino necessarioque verum, sed homogeneumet tamquam
corporis eiusdemmembrum . Haec iustitiaelex est ad regendosartium
fines et suum cuique tribuendum, iustissima Tertia dernumlege
Ac de omni guidem hoc dico, quod sit in aliquo quidem, aìiquo vero non,
a o n s i n t d u n t a x a to m n i n on e c e s s a r i o q u e
s a n c ì t u me s t u t a r t i s p r a e c e p t n
nequealiquandoquidem,aliquuandovero non...pnJrvero sunt quaecunque
li vera, nec homogeneatantum, sed propria partibus reciproca .. Haec
sunt in ratione quid et: ut triangulo línea inest et lineaepunctum. Essentia
tertia ìex est sapientiae".
enim ipsorum ex his est et in ratione dicente quid est, inest - unìteralz
autem dico quod et de omni" et per se inest et quatenusipsum Manifestum
igitur quod quae iniversaliasunt ex necessitate Sobre estas três regras Ramus e os ramistas insìstiram incansaveÌmente,
rebusinsunttr
fazendo depender delas todas as diferentes teorizações dos métodos isolados e
As três leis ou regras que derivam dessascaracterísticas do saber cientííìco os procedimentos das várias a/tzt, e a essasregras está ligado o seu conceito de
são as seguintes, para Rarnus: uma única árvore do saber que se distingue em diferentes ramos. Bacon não fala
t ) a lei da verdade ou da certeza, segundo a quaÌ cada noção cientffica deve ser da segunda regr4 aceita explicitamente a primeira e a terceiÌa. A condição da
verdadeira em qualquer caso e em qualquer tempo (verdadeira certeza(certninry) de Bamn corresponde à regra da verdade de Ramus: a direção,
necessariamente) e apresentar-se como universalmente eúdente. Esta lei tem para ser certa, deve ser inÍh]ível, isto é - de acordo com a terminologia baconiana
- uma direção certa deverá endereçar para "algo" de modo que, se presente, o
l i
o escopo de excluir o erro do saber científico;
I :
I 2) a Ìei da justiça, segundo a quaÌ cada noção científica deve ser homogênea e efeito procurado deva necessariamente a ele seguir-se' L c'erteza da direção dá,
lt t: -, em oufros termos, não apenas (como em Ramus) a garantia da exclusão do erro,
participar dos fins e dos domínios de uma arte particular. Esta lei tem a 'poder-
finalidade de estabelecer o campo de quaìquer ciência isoÌad4 garantindo ao mas tamMm a da operatiüdade da busca. Sem esta certez4 escreve Bacon,
mesmo tempo sua homogeneidade;

"' ,4n Posí.?sa-?+a- d (ì. A- Yiato, La logia di Áristotzlz,Turirn"


Paraascitaçõcs, | 9.t5,pp. l 96, ""'A prirncira lei da \erdadc é que não Itaja na arte absolutanlentc
ncnlrunr doculnento q(te não
l+5- Cf, tanìlÉrnW f) Rosq,{ns/oÍr-l",
Bari 19.1,6,
pp 66 seja total e Decessarianreìte rerdadeiro Pela scguttda ìei, ó Prtiso cttidar que a douttina da arte
o' 'Á resJxito
do de omti, isre afìrnto, quc o (luc (,stá cnì algo, não está contudo ent outro, rìeln seja não apcnas totaÌ c nccessarianrerrte rcrrlarleira, Ìnas tarÌìl)érn ltonroqônea corno mcntbro tle
cÌn unr tempo sinl e cÌÌì outm tonl)o não y'/r.\íi porérn, é tudo o que eriste, corno ó o rTzilrra uìÌ nlesÌno cor1rc - Iìssa lci de,justiça é prfeitarrretrte atletlttarla Ì)ara rcqcr as filaìirladcs das
ra7.iìo:conr) a litrha pertctrcc ao triâttgtrìo c o porrto à linha Pois a essôncia destcs estí coÌtti(ìa artescatribuiracadaunroquellteódcrido I.-ilalrnerrte,;teÌatcrcciraleilòiestabelccidoqueos
, . . fr(,lcs t' rrì r'aziio afirnlati\ a stá o r1uìd. digo, porórn, rrnivcrsal o <lue está c<>ntirìo tatìto no ú pr<ccitos da artc não scjaru só total c ncccssariarnente rcrdad<'iros c tìão aì)enas hortlogêttctls,
orrrl(otrì()rì()y'(rvcc()ln()algolrriprio l.)<llnr.portanto,quetudoo(lucórrnirersal()í,lx)l nras airrda r ct íProcos para t:tln a.spróPrias partcs Iìsta tcrct'jra lei ('a da sallcdrtria" l'. 1ìarltus.
n i r , . s i , l : r , l , . , l r rrsr r i . ; r s I ì : l l t - . fr ii, Scholurunt flqysìcdruut liú ì oclo, I'arislis, aprrd Antlrcitttt \\-ct hcltrtn. t i{iJ. Prct'á( io
se-á projetar, mas não conseguir". Esse "aÌgo" de que faÌa Bacon é a nlÍlffeza
se produzir a brancurans.Esta primeira direçao indicadanáo é liwe justamente
abstrata para cuja descoberta e determinação deve tender o conhecimento. A
pelo fato de ser partbtl^a/ e porque, ao lado dela, existem outros caminhos e
condição da liberdade (liberty) de Bacon corresponde, ao invés, à regra da
outras direções.A direção pode vir a ser "libertada" da água(")e é possíveÌ mover-
prudência de Ramus: a direção, para ser livre, deve estar fundada na implicação(d)
se numa segunda direção obtendo, por exemplo, a brancura da mistura do ar
recíproca e na conztertìbìlidaìz dn eíeito e dz dìrEAo. Cada vez que o efeito está
coÌn um corpo transparente (um cristaÌ reduzido a pó, uma cÌara de ovo que
presente, a direção deve ter sido satisfeita; cadavez que se encontra presente um
recebe ar da agitação ou do cozimento) Uma terceira direção pode excluir ou
certo tipo de direção, a ela seguir-se-á um determinado efeito. Em outros termos:
remover a limitação (rutraint) do corpo incolor, como no caso do âmbar que,
cada casono qual uma determinada natureza é produzida pode ser considerado
quando puÌveúzado, aparece como branco, ou então da espuma da cerveja etc-
como uma direção em vista de sua reprodução artificial"'. Se o ar e a água são
etc. As direções ora indicadas são, porém, todas "limitadas" pela presença do ar.
misturados juntos (tal como na neve ou na espuma), dessa mistura resulta a
Também esta limitação pode ser remoüda ao proceder-se em uma quinta direção,
brancura: estamos aqui na presença não apenas de um caso em que uma dada
misturando juntos dois corpos transparentes, mas em medidas diferentes (taÌ
natureza é produzida, mas também (contemporaneamente) de uma dirEão para
como a água e o ólm em um ungüento etc.). Uma vez "libertada" do ar, a direção
produzir tal natureza: misturando o ar e a água obteremos a brancura.
encontra-se, porém, ainda "limitada" pela transparência dos corpos A essa altura,
Por esse ponto de vista explica-se como Bacon pode aÍirmar que a única Bacon declara não tencionar ir mais além: queria limitar-se a fornecer um exempÌo
proaa aceitável da verdade do conhecimento é a produção de novos efeitos, e que
de direção Ìiwe e não tinha intenção de descrever, em sua totalidade, o inteiro
essa prova não d.iz respeito etclusiaamcnte à utilidadz do conheeimento, mas processo. EIe acen4 todavia, a uma sexta direção: "todos os corpos ou partes dos
tambémà sta aerdaàë'. A tese da convertibilidade do efeito e da direção conduzia, corpos que são igualmente desiguais, isto é, numa proporção simples, sempre
de fatq Bacon à tese da innddaàz dê oerdadc e dz utílìladz. A nntureza (enquanto produzem a brancura". Â frase é obscura apenasna aparência'a absoluta igualdade
natureza abstrata) e o efeitoandiironam-se reciprocamente: apenas a produção (na terminologia baconiana: a idêntica refração dos raios luminosos) produz a
de efeitos garante a validade do resultado que foi alcançado teoricamente,
transparência; a desigualdade (a desigual refração dos raios luminosos), em ordem
determinando a natureza abstrata; por outro ladq apenas a determinação da
simples ou em proporção, produz a brancura; já a desiguaìdade em ordem
natureza abshata consente a produção do efeito que a ela corresponde.
composta produz todas as outras cores; a absoluta desigualdade produz a cor
A que Bacon definiu como sr;ndo a üreção live difere, entretantq de modo negra. Recorrendo a uma'grosseira demonstração" (if n g-u a demonstratìon
; muito sensível, da regra da prudlnrii teorizada por Rarnus. Fazendo uso da
t" i :z be uedfull ê possível servir-se de quaFo imagens: uma superflcie branca (a blank),
t
noção de direçiu littre Bacon chega, com efeitq a estabelecer as bases de um
, = um tabuleiro de xadrez (a chzquer), uma superffcie ondulada (afreQ, uma mistura
i l À proeünento dz excksão do tipo que mais tarde foi exposto no Nmrum Organam
(a noileì. Esta sexta direção - afrrma Bacon - ü conÍa da hrancara inzrentc ü
, l z e cuja finalidade será a descoberta da forma Isso resulta claramente de um exame
- coüas, nÍio da brancura tal qual ela aparece aos sentìdos. Aprofundar mais
rl
Ì í do exempìo (na verdade, bastant€ complicado) fornecido peìo próprio Bacon no significaria explicar aquilo que na obra mencionada ele quis manter reservadoe6.
.;. Valcrius Terminus Aìém do da mistura do ar com a água, existem ouúos meios de
!:SoÌrrc<'stcexenrplo,aìérndaspticirras
de litl.'fetn \ela-sctanìMm:,y'il"., 1ip IÍl.p SStt;D,J,
'Â crprcssiio ó dc lìllis, enr .\y' Í, p -í,2 .57 I, p :iÉì6: c, cnr parti<ular, -\O Il 9:ì, enr que a tlescriçitr tlcstc prrx'csso cstá inscricla na
'Itul 'letn..\y'III, ahortlagerrr das i nstunl itt n tlgtitn k t
Ì) -.tt,l
'"
Qrranto arr rìuc Íìri arlrrì crPosto t l. l'al'lì'r n ..V llI. l)l) .t jíi-rJÍ)

b..--_.
- I
til
Recorrendo à noção de dìreção liare, Bacon chegou, então,
no Valzrius pode ser concebida como a existente entre as figuras seguintes, e outras a
Terminus,alançar as basesdaquele método de indagação das
formas que coincide, estas semelhantes:
afinaÌ, com sua teoria da nova indução e que será retomado
e teorizado mais
amplamente no Novum Organum e no De augnuntis.As premissas
e os resultados
dessa teoria podem ser indicados, pelo que se refere a
Valcrius Terminus, da
segulnte manelra:
I ) Entre a "brancura- tal como ela aparece aos sentidos e ..brancura,,
a inerente
às coisas existe uma distinção muito clara. A primeira pcide
ser determinada
por um exame de tipo 'ffsico,,, que tende a verificar
a presença de certas
condições de fato e a possibiÌidade de sua tradução em
operaçÕes que as 3) Não obstante a teseaqui presente de uma precisa distinção entre uma indagação
reproduzam. A segunda requer um tipo de exame diferente
do ïsico;, (nas de tipo fisico e uma de tipo metafisico, Bacon não insiste nesse texto, como ao
obras sucessivas Bacon irá chamá-Ìo ..metaÍìsico,,),que tend4
mediante uma contrário fará em seguida, na diferença entre natureza simplzseformacomo
série de exclusões e de 'liberações" sucessivas,a estabelecer
o que está sempre objetosde duas indagações de tipo diferente.
presente cada vez que é presente a cor branca (só para
ficarmos no exemplo +) No I/abrius Temìnus verifica-se, na prática, a ausência de um dos temas
já adotado), ìndzpmdzntz da matéria enl que
aparece o branco ou da açã.o fundamentais da reforma baconiana do método científico, o que diz respeito à
particabr ou causa.que oifaz aparecexNão é por acaso que,
nessa obra, Bacon necessidade de dispor de uma têeniea de eontrole das faculdades humanas
qualifica como "boa e apta" a diúsão tradicional entre a "ÍÌsica",
como estudo (sentido, memória, razão), às quais a experiência deve necessariamenterecorrer
das causaseficientes das coisas concretas, e a "metaÍÌsica", corno
conhecimento O tema de uma mìnìstraüo da smtido, da memória, daÍazào é completamente
das formas das naturezas simples"?.
irrelevante nessa obra: a construção das rwturezas abstratas não é colocada
2) A "brancura inerente àç coisas" não é chamada explicitamentelôrm4
no numa relação de dependência com um "método" que tenda,justamente, a ditar
lalzrius Termìnus,mesmo se Bacon afirma que a direção liwe 'thegar 'tonstituída
j l
é algo de muito as regras dessamìnistratìo.Para à realidade" como sendo
semelhante àquilo que os f,lósofos chamaram busca da forma
li ou causaforma-I,". por processos mecânicos de elementos que têm propriedades geométricas"'n,
Do que dissemos resuìta claramente que a ..brancura inerente
às coisas,, é evidentemente necessário superar o plano da sensação, da aparênci4 da
I depende - e isso resulta de uma consideração da sexta direção _
de uma certa imediatez fenomênica. No Ilalzrius Tannìnw Bacon não indica os caminhos e
estrutura das partes dos corpos e de condiçôes, por ela determinadag
de tipo os métodos através dos quais essa passagem da experiência comum à
gmmétrico e mecânico. Á 'demonshação grosseira,,
fornecida por Bacon é _ experiência cientffìca pode ser efetuada. As reservas postas por Bacon para
a esse respeito - muito significativa e lembra de perto
aqueÌe trecho das um tratamento completo da direção livre tafvez estejam ügadas a esta ausência
R"grk" em que Descartes afrrma que a cor é necessariarnente
extensa e de indicaçÕes. O novo método da ciência que tende a uma descoberta das
portanto figurad4 e que a diferença entre o brancq o azul,
o vermelho etc. formas era realmente, conforme escrevia Bacon no Adtantcnent of Leaming,
tão-somente uma Dromessa.Não obstante os vinte anos oue Bacon dedicou a
i thì|.. | -) t:l
lltt/.. p r'1<1
!
um aprofundamento dessesconceitos, seu método era destinado a permanecer
chegar a efetuar rovas invenções apenasem mnteria aliquatenus
no estado de um projeto. Em Ìugar de levar a cabo o inacabadoNozzmOrganum. lreparat4 enquanto
quem conhece as formas pode chegar a abraçar a unidade da natu reza em matrìis
Bacon irá preferir adotaç sob o impulso de novas exigências, um programa dissimiuimif'. À metaffsica, que para Bacon é umz cüncìa nntural gntralìzada,
diferente: a história naturaÌ estará no centro de seu interesse nos últimos
fundada na histffia natural interessa, ao contrário, descobrir formas: isto é.
anos de sua vida. determinar, prescindindo das matérias particulares, as relações entre os
sch.en^tìsnì latenta e os ?.'ocessuslztentes, que constituem uma certa natureza. A
forma aparece, portanto, como uma relação de nnturae semplìces; conforme foi
5. Á doutrìna das "tabulne": escrito muito justamente, ela é, dn ponto dz aìsta dn hnnm4 uma definição que
o ordenarnentodos fatos naturais consente descobrir todos os esquematismos e os processos que levam à realização
da natureza simples em questão e, da ponto dz aìsta da naturczq é a reÌação que
As propriedades dos corpos, tal como apÍìnec€maos sentidoq não têm üga aqueles prooessos e aqueles esquematismosre.
caráter objetivo; superando o plano da sensibilidade e, fazendo uso de A interpretação mecanicista da realidade natural traçada por Bacon vinha,
instrumentos oportunos e técnicas lógicas, é possÍveÌ focalizar aqueles processos nesse momentq enxertar-se em aÌgumas posições caracterÍsticas da filosofia
mecânicos de elementos proúdos de propriedades geoméhicas que constituem aristotéÌica e aÌgumas tentativas recentes de negar, no que diz respeito a esses
a estrutura da realidade objetiva e material: essasduas tesesemergem com clareza problemas, qualquer relação ou afinidade que se estabeleça entre Bacon e
do fragmento de t6o9 sobre a inttrpretatìo nnturae. Elas permanecerão bem firmes Aristóteles, não parecem muito convincentes".
em todo o posterior desenvoÌvimento do pensamento baconiano e, como foi Sem dúvid4 a pesquisa sobre a natureza apresenta-se a Bacon como uma
justamente salientado, irão consütuir o "pressuposto- ou a'h!útese- pesquisa de essênciase de quaÌidades absolutas e não como uma indagação que
de tipo
'mecanicista" üse determinar relações quantitativas, em ústa da resolução do..fenômeno,,em
destinada a sustentaÌ a inteira eshuhnadanominduçãobaconiana$.
um sistema de relações.Mas o que interessa aqui não é apenasuma discussão da
O fim que se propõ€ o novo método da ciência teorizado por Bacon é,
compìexa e confusa teoria baconiana das formas, quanto um exame bem próximo
conforme se sabe,a descoberta das formas ou, com maiorprecisão, a dztetminação
I 'máquina
daquela intelectual" a quem Bacon confiava a tarefa de descobrir a
dasformas das naturezas simples,Elas são qualidaàzs inedutíoeìs presentes em
estrutura objetiva e essencial da realidade.
diferentes contextos sensíveis. Causa material e causa eficiente de uma
determinada naturu sìmplet são: o ordenamento das partículas materiais
@nanati-sws la*ns) e a série dos movimentos infinifssimais que constìtuem os
movimentos sensÍveis Qruessus ktêns). A tarefa de determinar essas causas em 'f NO II s.
Para a oposiçãode Bacon rc conceito platônico d e forn4 ct.,4Dï_ gp.III, p Sj5; À?
relação com um dada matéria (na qual se pode obserrr-ar aquela determinada I 5 r , I 06; Il r7 ; D,4, S?. I, pp. 56ffi6.
natureza) cabe à ÍÌsica. Maq quem conhece a causa material e a eficiente pode 'eYiano, Í)tpnìenza
c nahra nellaJìbsofto di Fl llacore, cìt , p- ro
" Para a neg"açâode quaì<prerrelação conr Arjstóteìes, cfì Ândcrson, pp_9 | g ss. Irvi (p.e+a)
expfessou-secoDì rnuita cìareza:'.4lbrnra é ciÌusacoÌÌìo essêìcia;c estarrãoé trascenrlentcàs
coisas,nrasirnancntcconìo a âristotélica;entretando,difcrerìtenìelìtcdela,é pnsatla cnr scptitlo
r'lbid, rão lóqic*onccitual, rnas sinr gtonrótrico-rmecânic',c corr iss. nrostra sua dcr'acão (lo
l)p 3s)É1
i ,( x ]
PensanÌeDto rÌe l)cnrócrito"
_t
i

! li Para esse fim será oportuno que nos detenhamos um pouco a considerar o
acréscimo de caÌor produzido nos animais pelo movimento, peÌo vinho, peÌa
funcionamento das taluhze baconianas. A eras cabe, segundo Bacon, uma tarefa
febre do acoplamento; as diferenças de caìor nas diversas partes do corpo
precisa: diante da infinita variedade dos conteúdos da história natural, o intelecto
humano (cérebro, estômago, coração, sangue, esperma etc.); as diferenças de
humano encontra-se como que perdido: as tabul^azdevem organizar e ordenar
calor nos corpos celestes;as presentes numa mesma chama; as que dependem
ditos conteúdos de modo a permitir ao interecto agir sobre eÌes.Nesse
sentido, do ambiente etc.'5.
eìas são um elemento integrante da mìnistratio a.d mzmnrìam e, utiÌizando um
O intelecto encontra-se agora frente a uma coleçãoordenada defatos e
termo jurídicos*, Bacon fala de uma comparmtìa ad.ìnteilzctum,efetuada mediante
neste fundamento tem início aqueleprocedimento que Bacon chama nova indução.
o emprego das tabulne.Nabusca da forma do calor, exposta por Bacon no segundo
A indução verdadeir4 diferentemente da tradicional que se dâ pn enumeratìmum
Iivro do Noaum organum, a tabula presmtìae reúne todos os fatos conhecidos
sirnplicem,faz uso de um procedimento de exclusão (reiectio siae eulusiw) e
nos quais está presente aquela natureza na qual se procura a forma (comparentìa
somente após ter completado o processo de exclusões poder-se-á chegar a uma
ad intellectum omnìum instantiarum natarum quac in eadzm natura conaenìunl
ì!i afirmação. Dada a premissa que a forma está ausente quando está ausente a
per materìas lìeet dìssimìllìmas). Nas vinte e sete instâncias aqui reunidas,
natureza e cresce ou diminui conforme a natureza cresce ou diminui'u, trata-se
encontramos os "raios do sol especialmente no verão e ao meio dia,,, os raios do
de excluir' l) as naturezas que não estão presentes naqueìes fatos em que a
soÌ "recolhidos entre paredes, montes e refletidos por espelhos-, a erupção
de natureza do calor está presente; 2) as naturezas presentes nos fatos em que a
chamas das vísceras da terra, os líquidos aquecidos, as centelhas da pederneira,
natureza do calor está ausente; 9) as naturezas que crescem quando decresce a
as vísceras dos animais, os ácidos aplicados às mucosas do corpo humano.
A natureza dada, "calor"; r!) aquelas coisas que decrescem quando a natureza dada
forma, para Bacon, esú infalivelmente ausente quando a natureza está ausentg
"calor" cresce. Fazendo referência ao material ordenado nas três tábuas, Bacon
e presente quando ela está presente. Â segunda tabel a (dzclìnatìmzis sioe abscnJiae
haçâ um ezemlbm eulasìonìs. os raios do sol são ao mesmo tempo quentes e
tn prfuimo) deve reunir os casos nos quais a M,tureza da.dn esú ausente. Tais
luminosog os da lua e das estrelas são luminosos e não quenteq a água e o ar
casos seriam, evidentemente, infinitos; a tabela tem a função, limitada, portânto
quentes e os metais aquecidos abaixo do ponto de incandescência são quentes e
possível, de considerar as 'ãusências da natureza' apenas nas substâncias
que não luminosos: isso leva a excluir a luz como constituindo a forma da natureza
têm maior semeÌhança com aqueÌas nas quais a natureza está presente. Entre
os "calor"; uma vez que o calor está presente nos fiogos subterrâneos e no fogo
fatos enumerados por Bacon encontramoq portanto, os raios da lua, das eshelas 'natureza
comum, pode-se excluir a celeste"; uma vez que há chamas desproüdas
I e dos cometas, o fraco reflexo dos raios do sol nas regiões próxirnas aos círculos
de calor (como os fogos fátuos), pode-se excluir a natureza "chama'; uÍta vez
polares, os líquidos no estado natural, a ausência de calor nos corpos dos
insetos que o ouro, que é o metal mais densq pode facilmente ser aquecido, exclui-se o
etc. Uma vez que a forma é a coisa em sua essência (i?s^sinu ra), a verdadeira 'caráter
'z tênue". Do mesmo modo podem ser excluídos o "caráter raro', os
forma de uma natureza só pode ser considerada a que aumetrta ou diminui 'elementos",
a expansãq a inbusão úolenta de oufias naturezag a contrafio da
conforme esta. A terceira regra (gmdum sioe amparatione in calido) recolhe
os massa total etc. Esta reiectio das naturezas pode permitir uma primeira e
fatos em que a natureza calor cresce ou diminui. Bacon lista, entre outros;
o provisória tentativa de afirmaçãq a que Bacon dá o nome de ptntìssìo intfutus,

" () siqrriÍiearlo jrrrítli<o tIr t\,rt1\t .oiltlrdt"iltíd lào Íi)j crìteD(li(l{) ,.rrnir
' C Í .N O l l | l - r s
lrrr l,cr i, quc làla cnr as
rrìst;ìrìcta! /l) jij)S)
i'' l'ara o
lrroccssode exclusÕcs:ìhìd. l5 Itarà a relaçãoftrrnta/nt\t\tt-czaiL,ìt|.,l:)-l:l

FlËe ' L
!
taì que dê ao intelecto a possibilidade de procurar conexões reais. Nesse sentido, a
mmpilação das tabelas se apresenta estreitamente ligada \uela ìmenfio dz lugares
naturais que ahairá, durante longos períodog o interesse de Bacon. A primeira
tentativa orgânica reaÌizada por Bacon de lançar as basesde uma invenção de lugares
naturais e de um método de tabulação remonta aos anos t6OT-16o8. Não é por acaso
que naqueles anos Bacon usou os termos to!ìca e tabul"az(ou chartas)o ççrno
sinônimos. Nos Cogitata et pìsa de 160? encontramog enunciada com muita
precisão, a função atribuída às úbuas:

partes; a quarta é que o moümento não é lentq mas


sim muito rápido. A definiçao
Ante omnia visum est ei tabulas inveniendi sive legitimae inquisitionis
de caìor assim obtida é ao mesmo tempo especulaüva
e operativa: se em um formulas,hm est materiem ptrticularem ad opm intellectus ordinatam, in
corpo naturaÌ for possível produzir um movimento proüdo
das características aliquibussubiectisproponi, tanquamad exemplumetoperis descriptionem
ora indicadas (etpaasiuus, cohibìtus, nitens
la partes n nores etc.l estar_se_á fere üsibilem"e.
infaìiveÌmente gerando calor (procttl dubio gaurabis calidum\u.
As "regras" das quais Bacon se varera no varzrius Terminus No ano seguinte, no Conmentarìus solutus, ele anota rapidamente "The
voltam a
apaÌecer no Notrum Organum e só remontando ao primeiro finishing the 3 tables, de motu, de calore et frigore, de sono". As tabelas de que
texto poderá ficar
clara uma expressão de Bacon que deixou confirsos não Bacon fala nos Cogitata et oìsa tinham, portanto, que apresentar ao intelecto
poucos intérpretes. O
verdadeiro e perfeito prazczptun uma matéria particular, ordenada. Caso consultemos as anotações do
Eerandl escwia ele referindo-se à descoberta
rl das formas, é o seguinte que a direção seja certa, [vre
e dngjda para a açío (catua Commentariu-ç solutus, encontrar-nos-emos na presença de uma lista de
llr liberum et dìsponms sioc in ordinz ad aaionntf
:l verdadeiros lzgares nahtrais, reunidos em diferentes dtartae
il o fato de que a presença da forma determine necessanamente
a da natureza
i é a garantia da certeza da direçãq sendo que a riberdade Tria motuum generaimperceptibilia,ob tarditateÍ\ ut in digito horologii;
desta consiste naquera
libertação do que é inessenciaì, teorizada na douEina ob minutias, ut liquor seu aqua corrumpitur aut congelatur etc.; ob
da exclusão.
O inteiro procedirnento indutivo teorizado por Baco n tenuitatem, ut omnifaria aeris, venti, spiritus, quae non cernuntur ac
no Nmrum Organum subti.lioreseorum motus nullo sensu comprehenduntur,sed tantum per
tem c€rtamente seus fundamentos na doutrina das
tabutaz para entender o pensa et effectus.
significado dessa douhina é necessáriq como è Ìúbito,
rwrunciar à ident'úcaçao
"filosofia de Bacrir.Nouan Orgaaârf e procürar
det€rminar o urodo eur que foi se
c
constituindq no pensamento de Bacon, a teqÍia de um
ordaunmto da realidaàz
natumtapn de inhoduzir na multipücidade caótica dos
fatos fisicos uma disposição .c

i : .
"' il,id., ,)(l "o'Antes dc tudo 1>areceu-ìhe que re propunhanr em aìguns sujeitos tábuas de descolrerta otr

"' Il)ìd , ,I fórnrulas de.Ìegítirna;xs<Niv, isto é rrnra rnatéria particular or(lcÌrada para o trabal lrr do intelecto,
conìo para erenrPlo e decrição <lrraser isír cl <lcstc trabalho" (() (71 ó)l llÍ, rr 6,:s

s
Nodi et globi motuum, and how they concur and how they suceedand
À compiìação das tabelas parece ter sido, portanto, confrado um papeÌ
interchange in things most frequent The times and moments wherein
essencial: através da invenção dos lugares naturais e da compilação das ch'artae
motions work, andwhich is the more su,ift and ç.hich is the more slou, .*.
abre-se a possibilidade de entrar numa nova vere da rei ipsi conoanimtem,capazde
'levar
Não diferentemente estão estruturadas as breves obras que remontam a conduzir à fonte das coisas Às tabelas cabe, além disso, a função de o

esse período e que representam a primeira realização do programa indicado nos chumbo e os pesos pÍÌra o engenho humano", cujo caráter precipìtoso representa
"ig-uaÌar as
Cogìtata et uisa e no Commtntaius solutus. a Inquìsitìo tzgitìmn dz notu, a Sequla um perigo mortal para o saber; por meio das tabelas consegue-se
inteligências", criando nelas aquele nível comum que é característico do sentido*'.
cartarum siae inquisitin lzgttiruz dz cahre etfrigore, a Historìa et inquìsitio prinn dz
sono et auditú'. A introdução de uma ordem na multiplicidade caótica dos fatos Na Inquisitio ltgüina dc motuBacon distinguia dois tipos diferentes de tabelas:
I

naturais apresenta-sea Bacon como o re€ncontro de umf.o capazde conduzir o as que devem reunir os fatos mais visíveis que se referem a um determinado
objeto de pesquisa (Machina intellectus inferìor siae sequela chartarum ad'
'lli homem dentro do labiìnÍodanatureza- Este conceito aparececlaramenteexpresso
apparmtinm prìmam), e aquelas que têm a função, mais elevada, de auxüar o
também nos títulos, mas para encontrar uma teorização explícita da função
t' atribuída aos tópicos e às tabelas, temos de voltar-nos par a o prefáciod,aInquìsitio intelecto a reconhecer o que está "escondido", penetrando, de tal maneira, até à
l i
l.
I lzgztìna dz mntu. o método tradicionaì, escreve Bacon, saÌta apressaìamente de forma das coisas. (Machina intellectus superìor sirse sequela chartarum ad
poucos casos verificados peÌos sentidos até conclusÕes genéricas e acomoda, a??arentian sectnlam). As dezenove tabelas elencadas por Bacon na Inquìsitio

depois, engenhosamente, todos os casos particuÌares às exigências de uma compreendiam aquilo que se referia ao movimento, considerado em suasdiferentes

construção especulativa. A menção dos fatos particulares e dos exemplos que especies,causag meios e efeitos. Tratava-se de uma "sistemattzação provisória"
pode ser encontrada nos escritos dos Íilósofos tradicionais não deve nos induzir ou de uma tópica cuja fun@o era a de faciÌitar a passagem para as tabelas do

ao erro: trata-se de referências realizadas postEum ìam dzozhtm essetd' pbcitìs segundo grupo. Estas úttimas (a mathìna suPerior)não são outras, na realidade,

.çzrse que não exercem função aÌguma na construção do saber. .Nostra autem do que as tttrul.az presentìaz, absentìae,graduum" do Notrum Organum' às quais

ratio - conclui Bacon - huic contraria est: quod tabulae affatim extra cabe levar a termo o fabalho assim iniciado, instituindo uma passagem decisiva,

controversiam ponunt"€. da máquina construídn ao uso da nôquìna


A imagem baconiana do universo como labirinto e como scloo, sua
convicção cle que a arquitetura do mundo esteja cheia de "vias ambíguas, de
semelhançasfaÌazes,de signos, de nós e de espirais contorcidos e coÍÍrplicados"s,
condicion4 de modo radica! a doutrina baconiana do saber ciendfico. uma das
" "Existern três gêreros imperccptíreis de nro'imentos, por causadc Ìentidão, rerno no 1'rteiro
do reìóeio; 1nr causadc especificidades tarefas, se não a fundamental, do nétnda é, para Bacon, a de inhoduzir ordem
conro o ríqui<ìoou a águ. quc seeaÍDra ou corÌgcraetc;
por causa da sutiÌcza' com as nrúltiplas fornras do aç do vento, do espírito, que se r.êcnr nessa caótica e múltipla rsalidade: apenas dessa maneira seú possÍvel, para o
c seus
nìo'imentos mais srrtis lìão $ão pcrcel)idos por nenhunr sertido, ntas a1rcnaspcìos
fios de lã e intelecto humano'desgarrado-, espelhar as estruturas do mundo natural' Na
pclos efbitos".'As tranrasc agìonrcradosdos nr<l.irncntosc corno clcs ocorreÌrì
e conro cÌ<,s bartìs instturationis, secandazdclineatio de 1607 encontramos, a esse respeito,
corìc()rreDlc coÌÌlo irìtcragctnnas coisastnais colnuls os tcÌnlDs c ()s nlorÌrcrìtos (lue
etì os
tnovirrerrtosagenr,c,<1ua1 dcìcsé o rnais rápicio,e qual o rrraislento -
cS. Á7, tÍ1, pp (,2(j_2s
I'Estão respcctivanìertc
cDì .!r tlt, PP nÍtj-4{), 0,1.1-59,
fì57_uO.
"1trrr1,pp fì33, 657-3{ì
" l r u 1L t g . - V l l l . l Ì ì 6 J 6 - + o
Sp Í,p t'''t)
" t'ttre,[..
6. A mnrmnümica e a 'ministratio ad mzmnriam":
lugaresreürìcos e lugaresnahtrais

A abordagem da memória levada adiante por Bacon no Adtarrcmrcnt e no


De augmentis parece estar ligada a uma série de temas que circulam
abundantemente na cultura européia da Renascença.Em relação às obras de
mnemotécnica que haviam alcançado uma difusão muito ampla nos sécuÌos XVI
e XVII, Bacon irá assumir uma posição bastante precisa. A memória, enquanto
parte da retóric4 surge apenas entre os séculos IV e I a.C.: para se chcgar a umn.
ifl
elahoração oasta e etatsüpa é preciso remeter-se à Rrztorüa ad Hermnium e
às obras de cícero e de puintiliano*. Neste úÌtimo autor existe um verdadeiro
sistema topoìógico, sendo que ao sistema topológico se referem Marziano capella
e aÌguns dos maiores tratadistas do guahocentos. Jacopo publicio, pietro da
Ravenna, Conrad Celtis, Cosimo Rosselli são, entre os séculos XV e XVI, os
autores mais conhecidos de um tipo de tratadística que vai adquirindo as
características de um verdadeiro gênero literário*'. Nele comparecem, misturados
ii
ili
ili

.c

: PID, SP lll, p ,i5:l; ci. rarìrbénì ^:a) ll .lo


l960; tì A- Yates, Tfu,1rt of ,\ír'ror.r; Inndrcqt966 (trâ(l it L'drlp ddld ú?ilun- ur,.l.urinr, 1979)

;ii

L
de modo curioso e interessante, a herança da retórica clássica (a Rhztorba ad La mémoire artifrcielle n'est autre chose qu'un art pour aider la mémoire
Herennìum foi impressa umas vinte vezes, entre t47O e t56g), o gosto peÌos natureÌle, car sans Ì'ung l'autre ne peut subsister. Peu proÍìteroit ì.'artilìce
embÌemase pelas aÌegorias,o lullismo, as tentativas de construção de uma ,.árvore,' s'il n'y aroit du naturel; mais Ìe natureÌ porté à qualque science ou art,
ou enciclopédia do saber. Três temas que recorrem insistentemente nessa indubitablement l'artifie Ìuy est grandement profitabel, et, pa ì'rtifice, on
itr literatura apresentam um notável interesse: t) o de uma enciclopdia do saber; peut abreger ce que, par un long temps et prolixe, on acquiert; c'est en quoy
s'est travailÌé grmdement Raynonde LuÌle, homme d'exquise erudition, pour
2) o de uma memória arti_ficialque permita a criação de uma ..ciênciaperfeita,'; s)
trouver la perfrction de cet art bref et Memoire ArtificieÌle* 0')
o que nos mteressa mais de perto, ou seja, o da arte da memória como meio de
eliminação da confirsão e como instrumento para introduzir ordem (e portanto,
Esta arte tinha sido apresentada por Llull oculta sob uma capa de "enigmas
coerência) nos argumentos do discurso.
e anfibologias": BeÌlot tem a intenção de aclará-la e p&Ìa ao alcance de todos, A
O primeiro tema pode ser encontradq por exemplo - para tomar um caso
memória "aydée d'artifice" é o meio para realizar a ciência perfeita. Justamente
entre muitos - no cérebre Dülogo de Ludoúco Dolce sobre o modo de aumentar
Iti e de conservar a memória. A árvore da divisão das ciências nasce aquijustamente
esta aÌte é aquilo que

I devido a exigências "mnemônicas":


ont voulut apprendere les anciens et ìes modernes, mme R LulÌe et autres
li dont le nombre est infini qui ont perdu leur peine et leur temps et fait perdre
ìr Por mais que diferentesautores tenham escrito diversos tratados mbre a celuy d'autruy, bien qu'ils ayent frouvé de beaux secrets pour abreger Ì'éstude
lil divisão das ciênciagnem por isso vou eu aqui,entre as muitas,
fdeixa de] des scieneg non ìa perfection, comme du present ie vou la dome.. e.(i)
li trazer apenasuma, como exemplo,para se guardar na memória's.


lli
.ili
A de Dolce era uma divisão que apresenta aspectos bem interessantes.
As conclusões
fisiognômica
de Bellot
e astrologia
visavam
e se moúam
unir
entre
arte da memória,
chamadas, bastante
quiromância,
turvas, às artes
rlll Nela atuavam, quem sabg até elementos retirados da tradição lullista. Referem_
se àquela tradição os que, no âmbito dessa tratadística, vêem na memória a parte
"paulines et armadelles", mas são igualmente bastante significativas suas

lll da retórica na quaÌ é possível apoiar-se para reaÌizar o sonho lulliano de uma
referências, por um lado a Ramus (de quem, sem nomeá-lo, atinge largamente) e,
por outro, a Agrippa e a Giordano Brunot'.
ciência perfeita, capaz de superar de vez todos os obstáculos. Empleno seculo
XVII, o francês Jean Bellot identifica, por exemplq a arte de Llull com a memória
*" M Jean llellot, CLrue,!es we\ ou lt qlas parfaia desscientzssttganographìEu.s,laulines,amadtlles
artificial e vê em LluÌl o insuperado mestre da arte mnemônica:
ethdl^tcs,P^Íist699,p 9r9(ópiausada:Triv MonL 95) I'araBellotcfìThorndike,VlÌ)-5o7-Ìo;
à cdição das obras de ÌÌcìlot indicada;nr Thorndike plon t654,)dere ser acresccntadaa succsir-a
ediçãode Borren,cÌre2Pierc Árniot t688. Para o signiliado de paulíus e amdtlks çf.Tltorndtke
'Alfixlhol
II, p 939, q do nresm autor, md AÌmadel-IÌitherto unnoted nìedie\aì Bmks of Magic in
Florentine Marruwits" eat Speaht4 1927,pp. 99G31
nBellol CFtuc itr eúes cit p 33
,
u' Para as reÍòrên<jas de lkììot a Bruno <f. ìbid,pp 97-.98,93-9+-Na p 3lJ4afirnÌa-sequc, a()Ìado de
* Dfulogo
di !l[. r'rulooìco l)olcc ne! quale sì ragúnu ti,:l nodo t!ì nccrcÍ?rr cr .oÌt,\ctutr ra ttentoria-
'ì'rjr
PictrodaRarcnni!I'etrarcaeBruno'ontfàitmertelles aofazerprogrcdiraartcdantetnória Para
ltrìcza, Ì5s6, p 9rr (cópia usada: Níor- Ní 9+s) .{ obra dc norce ó a r rrlgarizaç;ìo d<, urrr as rclèrênciasa ,{grippa c'{ìpp 3?-38 As dcfiniç.õcsforncitlas 1rcr}ìclÌot da dialí'tic:ac do silogisnto
tf<rs Inais <í'ìebres trata(los de ntncntot[rni<a: o Congeslotìrnt attìfìcìosac
nttntoriotd<.lrlanrrcs (pl) 69,Í)s)sãotiradastle dcÍìrriçõcsranristas A refcrênciadc l3elÌota Bruno cra plcnarnentciustiÍicada.
Ìì<lrrlrcÌch, Vcncz?1.t 5.i3
i i - rfnìa \cz quc l)t unhri: iTnrrtarr,alresar da tcntati\-a brttniana dc dcsl<x'aro prrlÌtlenta do platro
ii;
ill

-4-_
O nome de Ramus leva-nos ao terceiro dos temas aos quais acenÍÌmos:o da A imagem do rnétndn como procedimento que tende à disposiçãosìstemática
arte da memória como instrumento váÌido para introduzir ordzmno conhecimento e ordnuda das nnçies aparece, aliás, bastante difundida em todos os hatados dos
e no discurso. A identiÍicação realizada por Ramus entre arte da memória e dialéticos do século XVI. Sobre esse ponto MeÌanto é bastante explícito. O método
doutrina do juízo é, desse ponto de vista, muito signìficativa, na medida em que é o seguinte:
ít se Ìembre que o juízo representa para ele a capacidade de eoloearou dispor as res
'iacional".
ìnoentassegundo uma ordem precisa e Apesar das dúvidas levantadas habitus, videÌicet scientia, seu arg viam facienscerta ratione, id est, quae
por Ramus quanto à possibilidade de uma arte da memória enquanto disciplina quasiper locainvia et obsita sensibus,Irer rerum confusionem,viam invenit
autônom4 esses conceitos estão presentes em sua posição: et aperit, ac res ad propositum pertinentes, eruit ac ordine promits,.

; Iudicium definimus . dmfinam res inventas ollomdi, et ea collmatione de A discussão desenvolvida por Bacon no Ádaarctmnt move-se dentro de
re proposita iudimdi quae erte dmtrina itidem memoriae(si tamen eius um âmbito de problemas tipicamente retóricos: os aÌgumentos, segundo Bacon,
ili essediscipÌina ulla potest) verissima certissimaquedoctrina est, ut una não se inomtam, no verdadeiro sentido da palavr4 inventar um argumento
eademquesit institutio duarum maximarum mimi virtutum: iudicii et significa "extrair com destreza, do patrimônio de conhecimentos presente na
ìì memoriae.. Rationisduaeprtes sunt: inventio mnsiÌiorum et argumentorum; mente de cada urr\ aquilo que parece útil e pertinente à questão de que se trata".
ii eorumque iudicium in dispositione...dispositionisumbra quaedamest
,li
ill
memoria...Tres itaque putes illae, inventio inquam dispositio memoria,
diaÌrctiae rtis sunto s
A arte de inventar argumentos serve, entãq a tornar mais Íácil e mais cômoda a
obra de "rasheamento" das afirmações a serem feitas, em üsta de um determinado
fim. TaÌ obra é efetuada com o auxÍlio de dois inshumentos fundamentais: o
ii retóúoaopìmonrtalìsicn, nne aoìongode una prciu tradiçãorerrrmtécnie r-ãoé1nrruque primeirq que tende a recolher, para deles se servir no momento oportuno, uma
li
itl
& zzúrÀ har ia sido xgtr;do 1nr An mnw,
rnundo rrrsírel, ;ra asslidada
que cclarcia a ncrsidadc de a rroniria alrlr 1nm o
ïòrnradas e figrrrirlas", pn os
'sigrns",
as
'irctas",
série de argumentos compostos antecipadamente sobre o maior número de casos
ditara a regns da
llli ate nrcnrôn'e e detinhrg enr fin1 nas
'dplì€çõc$'
da arte (ï Iordmus llrunus NoÌnw'. I* wnbris
possÍveis (preparation ou ?ron?h/arin), o segundo, que fornece uma indicação

rtl úlrurm inqlìualiku artan qwmdA irwiwli ìunief,dí or.llnüuli rd a?plìqüi ad aúsm
d ilon znrlgdÊ Jtr Ìnmtorian olmÍiorus uflrzÍlr, Parisiis, apud Acgidiunr Cnrbinull 15.9q-Quanto ao
wìlhtwt ou guia para desenvolver uma pesquis4 ou chamar à memótia idéiasjá descobertas
(suggestionou tapha). Segundo Bacon, Aristóteles errou quando ridicularizou
signifiadodasolxasnrrenrôniasdelìruno,cf'.1-.'fwryltqwehtÌrufulBrwu,Flowìç4 l8&9,p97,e4
injustamente a ?rorn/tüaria, afirmando que os soÍìstas eram semelhantes aos
Cpreno, I\qLrin ü G-Brun wl w xnlginnúo sloim,l-\.ret44 t 9(), pp ,1os\ Por suarez. Ágripp4 que
harü iguaìnrcnte dado a l,lull m juízo bastarte durc (ao quÌ pre mfr'ter a a\ãliação qrc Llull faz de sapateiros incapazes de fabricar sapatos e apenas hábeis em mostrar uma grande
Baon) havirempado amplmntedopn$lem damrÉú em sr onrcntário à mlzaÀ ff Âgri1Ìr4 variedade de calçados de diferente forma e tamanho. Â ÂristóteÌes - pross€gue
II, plì 3l-39
'i'Defitrinros.lulgameuto.. adouúinadeordenarasoissenmntradaseporcuordemçãojuÌgar Bacon - poder-se-ia responder que se rün sapateiro tiver sua loja desproúda de
a misa prcËxtÈ ertamoìte cs doutrina apliuda igualmnte à mernória (r for pmsftel haver calçados e t'abalhar apenas por encomenda terá bem poucos clientes: Aristóteles
alguma dirciplina reÍèrente a ela) é doutrina verdadeira e nìuito ert4 @nÌo un e o nmno é o
sistcrna das duas nraioro Ítrrças do epírito: a do julgarnento e a da rnemória A rulo tcm duas
'5'o hábito, naturalnr€Ìrte a ciêrrcia ou a arte, fazendo srninho conr urna razão
partes: a deroberta das sugotões e dos argunrcntm; o .julganrentodeles eú na odenição . a correta. isto é.
mcrnótia é de alcuura fornra a mrnbm da ordenação...Por issq aquelastrês 1urte1 digo, a dwoberta que encontra c abrc unr canrinlro corrro;rcr lrrgares ínr'ìos e Íèchadosaos scntidos pcla confüsã<l
(irrlentio), a ordenaçÉo(dislrcsitio)e a nrenrória dcrem rer da artc dialéti<a" I'etri Lìan| DìaluÍirae das coisas, c desvcrrda as çoisas rcÍbrerrtes a scu propósito e õ expõ€ com ordern". Mclauto,
trslitillioilcs, Pari\ r5+3, p 191 (c(ipia usada: Anrbros .SÌÀ'-{i/', rt); Itl., Srholaein trer prinas L)roteuata díalceites,in CorpusIle/òrndtorut4Xlll,c 573 Cit- Enr V Piano Mortari, Dialetlìcae
lìlvralts arlcs,Franlifurt I ri6l, p l,l (úpia usada:Iìir. Naz V s 3:) giurìsprudLrza, sludìo rilì ttatldti dì dìrletlrca legak del reroloII-{ Nlilão, 1955. p- S9

lii

É rlr
"convida-nos a trocar um rico guarda-roupa por
um par de tesouras,,-para Bacon, O que nos interessa aqui não é tanto expor as opiniões de Bacon sobre a
educado sobre os textos de retórica de cícerq conhecedor da obra de Ramus,
mnemotécnica e os emblemas, quanto perceber a postura que ele adota em relação
cultor apaixonado das artes do discurso e da oração, teórico de uma refinada
à literatura mnemotécnica da Renascença-
técnica da peroração e do sucesso pessoaÌ, o que importa é justamente esserico
Dos métodos e dos "sistemas de lugares" que tivemos ocasião de ver até
"guarda-roupa". Mais importância ainda,
entretanto, ele atribui aos tolica A agora, aÍìrma Bacon, nenhum é provido de algum valor. PeÌo menos, a julgar
tópica não apenas tem a função de fornecer argumentos nas disputas, mas exerce
i peÌos títulos, essas obras são mais expressão das escolas do que do mundo e
ir uma tarefa precisa quanto a ajustar o andamento de quaìquer pesquisa, uma vez
fazem uso de pedantttal diaìsìons que não conseguem penetrar a realidade. Mas,
I' que ela fornece um guia para as pesquisas e as ìntnrogações e uma interrogação
I diante de obras que dizern respeito à verdadeira arte da memória, sua atitude era
correta, conclui Bacon,já é meio conhecimentoi*.
muito mais benévola: neste campo, dizia, muito foi feitq mas essas pesquisas
o tema de uma reunião de lugares era retomado nas páginas dedicadas à
podem ser ampliadas e reforçadas, seja na teoria, seja na prática. Aqui,
arte da memóri4 costuma-se aÍirmar - escreve Bacon - que a reunião dos lugares
encontramo-nos diante de uma afirmação muito importante:
pode ser prejudicial para o saber: o trabarho necessário para realizar taÌ
reunião
costuma ser, ao contúrio, sempre recompensado, porque no mundo do saber
Do modo comoestaarte é empregada,ela apareceestériÌde usoshumanos .
não é possíveÌ se chegar a resultados nos quais farte a sóÌida base de um vasto
Quem sabe por causa de nosso tipo de vida político, damos pouca
conhecimento. os lugares "fornecem materiaÌ para a invenção e tornam mais importâncìa àquilo que serve para fazer brilhr a arte, mas não oferece
agudo o juízo, fazendo com que ele se concentre num único ponto,'. Os dois nenhuma utilidade. De fato, ser capaz de repetir logo, na mesma ordem,
rnstrumentos principais da arte da memória são a um grande número de nomes e de verbcs recitadosapenasuma vez, ou
?ré_noçõo e o embbm^a.A
primeira tem a tarefa de pôr lìmìtcs à paquìs4 compor um grande número de versos extemporâneossobre um assunto
?ara qur eln nao se1.aìnfnìt4 de qualquer...ou saber transformar em brincadeira as coisas sérias, ou
limitar o campo das noçpes e de estabelecer confins, dentro dos quais a memória
contornar uma dificuldade através de cavilações(todas coisas,essas,de
possa mover-se à vontade. A memória tem necessidadesobretudo de limitações:
que as facuÌdadesda alma são providas abundantement€e que podem ser
a ordem e a distribuição das lembranças, os lugares da memória artificial levadas a um nível milagroso graças ao engenho e aos exercícios):não
'preparados
de antemão", os úersos são as principais dessas ìimitações. No damos mais importância a isso do que a que damos à agilidade dos
primeiro casq a lembrança deve afinar-se com a ordem estabelecida,no segundo, funâmbulose à destrezados malabaristasuu.
colocar-se em relação específica com os lugares usados, no terceiro deve ser uma
palawa que se aÍìne com o verso. Os lugares introduzem, portanto, O que deve ser salientado nesse trecho não é tanto a condenação, aliás
ordem na
formulação das imageng mas as imagens, por sua vez, podem ser mais facümente bastante interessante, de qualquer tentativa de fazer da arte da memória o meio
conshuídas recorrendo aos emblemas. Estes - segundo Bacon - "tornam sensíveis para obter efeitos espetaculares e a recusa definitiva de qualquer postura de
as coisas intelectuais e, uma vez que o sensível toca fortemente a memória. humanismo retórico5t, quanto, antes, a conuieção dz quz da artz da memória se
imprime-se nela com maior faciÌidade'sr. possafazer um uso diferente do tradìcional. Não se trata de ostentar o nÍvel

ú D,1, St.l, p 6.1,tì;ct. Ãdu. Sf lll, p s9t


'Ct. .11t.\i)
ItÍ, pp ..ì89sr I)-1,.5p, I, pl) fj:is ss t' Para trrnaar aliaçãoda clo<1iìênc
',ttu., i a h u n rarrÍsticae datluiì<lt1uc Baconclranra de deltúileleatr i ng.
Sjt lll, p se9: l)'t..\i) t, p 6+í)
cl. ,4tu., Sp IÍ1, l)p ese ss

li,
li
,lli
prodigioso ao qual pode levar a mnemotécnica, nem de dobrá-la a fins obras e artes, mas se limita a inventar argumentos. Introduzindo na lógica nova
"milagrosos", mas de apÌicá-la a usos sérios e concretos. Esta aplicação é, para a arte da memória, ele insere na intzrpretaüo naturaz alguns conceitos que haviam
Bacon, legítima e possível- Trata-se de reconhecer que a arte da memória é sido elaborados no interior da tradição teórica.
necessárìaen un du?lo terreno: o das "ciências antigas e populares" e o explícìta a refèrênciaà rnenrória artiÍìciaì: tato estc que Ìros lc'a de volta aos aslectos nrais
"completamente novo" do método ciendfico de indagação sobre a natureza. A típicos das obras de qrnenrotécnicae à<luelasconstruçõestle sistenrastipológicos nos quais se
referc explicitanrenreàs partes da cidade,da casa,da rnão,do corpo,para facilitaÌ a coÌìstituição
distinção entre as duas diferentes funções ou os dois diferentes campos dz
d e u m a r e l a ç ã o e n t r e a s i n r a g c rÉ
r sl m À r o l I 9 6 , [ J a c o D t o r l ì a e \ p l í c i t a a r e f è r ê n c i a a l e r d a d e i r o s
aplìração da arte da memória encontra-se teorizada explicitamenrte em uma sistenrasde topologia Os tratados da arte da rnenrr'>ria dìlìrndidosnos séculos XVI e XVII
passagem do De augmcntìsna qual vemos formulada a distinção entre memória compreenden elcncos,grálicos e ilustrações Na Àro"a duantiou et arte deÌ ruonÌarsi per luoghì et
itndgíni etper vgnt etfgure lostc ullz nrarr do historiador (ìirolano MaraÍìoro (Veneza, Ì rjO5), a
nua e memória artifrcial, que é o tema continuamente recorrente em todos os
disposição grática e embÌemática dos "lugares" mupa a rnaior parte do tratado. O paralelo entre
tratados de mnemotécnica: os lugares Íisicose os dialéticoscstá preseÌÌteenr toda cssatratadística:"IffUS est subiectrrrn
imaginum reu spatium in quo inragines lrcnas nffisse est tca nrultiplicia sunL 'el materialia,
Sustentarque, ptra a interpretaçãoda natureza,possambastar as simpìes rel artificio contexta, rel denique rnixta... ordo est dislrcsitio ìmorunr, conceptuurn 'el irnaginunr
ut faciìe qucunque ordine repeti possint" (J.Paepp,.4rt ifíciosaenuruiatJundanenta et .4ristotek,
meditaçõese as forças nuase nativm da memória,sem que ela venhaa ser
Cicerore, Thonw Aqu.hatz, aliuque praestantissìm.ìsdoctoribus petit4.fìgurìs, irüerrogationìbw, re
socorrida por tabelas ordenadas,seria como sustentar que um homem, responsionibuclaríus qwm urqudm diltahacdmonstrat4 Lugduni 16r9, pp. te, ag)
[O lugar é o
sema ajuda de nenhum escrito e confiandotãesomente na memória,possa sulrertc das irnagens ou o espaço,em qrre é necessárioque ponhas as inagens Os lugarcs são
resolver os cálculos de um liwo das tabelasnuméricas que fornecem as núltiplos: ou nrateriaisou prejetados artificialmente ou, finaÌrnenre,rnistor A ordem é a dislnsição
coordenadasdos astros.Mas, deixandode ìado a interpretaçãoda natureza, dos lugares,dm mnceitos a das Ínagcnq de modo<peÍàcilmenteposmrn scr rclxtidos enr qualquer
queé doutrina completamentenov4 um sóìido e bom artificio da memória ordem]- P Paepp, Fzrdawntas da nanórìa arttftcìosaan Aistóttbs, Cím,Tbnis dz.4Etúm, e lnruados
m oúrc miwúísims dottores, rÌamtLstrudosnuìs claranmtz gu nuw antcslúrítgur6, fagutthx e
podeser de grandíssimautilidade mamo nasciênciasmtigas e popuÌares53.
reslrostos).TmMrn o tem4 prcente enr Barcn, de uma confornridade do lugar rcm a imagenr é
bastante difundido: 'Imrum onrenientia ta.llsesre debet, ut debite prcpriis in lais inragúa lrentur,
'lógica
As relações que subsistem no pensamento de Bacon entre a ne onfusio in hac ordinationeet situ generatrrr" fA hamonia dos lugares deve rer taì que as imagens
sejarndevidarnentecoìradas em lug'arespróprioq para qrre não surja confusãonessaordenação e
tradicional" e a'lógica nova" sãq conforme tivemos ocasião de ver, bastante
deternúmção](GuglielnrikporeìA'aìlonensis,ÁrsnamaÍzu,Iraris tJ9o,f Xllz-AobracorìténÌ,
complexas, com certeza mais compÌexas de quanto pensava o próprio Bacon, rc IV livro, m u'atado de tipo nrédirc sobre a consenação da rncmória). Os mrl1rruq regundo
que ÍìrÌürva - conforme é sabido - as contraposições úolentas e as polêmicas Baon,'tornm rensíveisas rcisas intelrctuais e, uma \rz que o ffnsíveÌ atinge Ìnais facilnrente a
radicais. Quando havia se moúdo sobre o plano das "ciências antigas e populares", mernóri4 imprirnere nelaom maior Íàcilidadc-SeÉ mais fácil lembmr m imgens de um eçador
7
n que peregue uma lebre, de umfarmacêutio que du em ordenr *us pequeno frasos etc, do que
Bacon havia tentado esclarecer a função da memória no âmbito dos tipos de as noçõ6 de invençâq disJmi$o, etc" A irnagens un lrcum rnenos câstas qre as de Bmn havia
o discurso que üsam a persuasãos, numa lógica - isto é - que tende não a inventar lmridol*pomg ele também @nvencido que o mízvlexerc rcbre a memória uma impressão
z maior ò qre o intelctual 'Prc literis alphabeticis r ivas imaginc porcre ;msumug ut prc litoa A
Antonium,prcliteraBBenedico.rm..etsicdcaliis Frquentertarcnpuellmeximiaspeie\€nustatas
* D4, SP-I, p. 6+?; a pasager,r f'alta no hrgar mna;rcndentc do ,ídz Sy'.III, pp. s97-98
lqre mn imnúene! rmúa eninr olmtione pueÌlarum mirabiliterexcitatur. Difficultcr tamen
= "eOs dois principais instrunrcntos da arte da nrcmória são, para llacon, a pré-noçãoe o enbltnta huius regrrlre uws religicis quadnbit" fNo lugar das letras do alfatretofdenrcs colaar imagens \c

A printeira é o rneio de truncar uÌna indagação quc, de outra forma, seria inlìnita, e tenr o papcl r'ìvas,onro no lugar da lctra A, Ántônio, Do da letra B, Ilcncdito. e assirnconr as outras
de estabt'laer lirnitcs dentro dos quais a nretnóriatenba condigles dc k'nD\€r conr facilidadc F-reqüentemnte, lDriÌn, não é inonreniente col<rar rneninas formosas dc aparência magnífiu:
A ordne a distribuição das Ìernbranças, os lugans da rnrrernoti'cnica e os ?1^írJ são as três pis a mcnrória é adnrirarelmentc dcsprtada pela gxição das mcnitras f)ificilnrentq
'linritações" 1rcrérl, o uso
principais das <;uaisIx'tle servir-se a nrerrrória[Ìnr It4, Sl, I, I) fì19, Iìacon torrìa dcssaregm será coÌì\cnienteaos reÌigiososl (Árs nenoruliaa,cit, t: XI") p- a{)1.

---- -L
ti ll i
As declarações feitas por Bacon na Derinzatio sobre a totaì diversidade A história natural é tão variada e esparsaque chegaa confundir e quase
rj
entre a Ìógica ordinária e a Ìógica da ciência, sobre a diversidade radical dos fins desregrar o intelecto, caso não seja compostae reduzida a uma ordem
I
e dos procedimentos das duas lógicas, não irão impedi-lo de apeÌar, no caso da idônea. É necessário,portanto, deixar espaçopara tabelas e para
mìnistratìo ad mzmorìam(que é parte integrante da Ìógica nova), para uma ordem coorümtìonesimtnntìarumde modo oue o intelecto possaaeir sobre elas
de considerações muito semelhante àquilo ao qual ele tinha se referido movendo-
se sobre o plano das 'ãrtes do discurso" ou da lógica..ordinária',. No caso do A memória, deixada a si mesma, aÍìrma Bacon na Delituatio, não apenas é
"discurso", as dificuldades nasciam da presença de incapaz de abarcar a imensidão dos fatos, mas não é sequer capaz de indicar os
uma multiplicidade de termos
e de argumentos; no terreno do método científico as dificuÌdades nascem da fatos especÍficos que são necessários em uma dada pesquisa. Diante da história
presença de uma infinita multipÌicidade de fatos. A doutrina baconiana das'ajudas natural geral (que corresponde àquilo que a retoricamente foi chamado

da memória", desenvolvida na Delìneatio (e mais tarde retomada no Nmrum promptuarin) são necessáriasregras que permitam a determinação de urn campo
Ìimitado da pesquisa e que permitam ordenar os conteúdos desse campo. Para
ttl Organun) provém de uma ada?taliio
a esta situação dtferente das regras que
guìaoam a in ençã.odos argumzntas, qu-econstìtuíanl a arte d.e lembrar e dispor remediar à situação
'natural"
da memória e coloc.á-la em condições de funcionar

os argurnentos. como inshumento de conhecimento científico, temos que recorrer:l) a uma topita

j Para reaÌizar discursos "coerentes" e -persuasivos,,, para inventar (ou coletânea de lugares da invenção) que ensina quais são os fatos sobre os

argumentos era necessário: t) dispor de uma coìetânea de argumentos quais é preciso indagaa em relação a um dado objeto de pesquisa; 2) às tabukz,
il, que têm a tarefa de ordenar os fatos de modo a{azer com que o intelecto se
ìi extremamente ampla (promptuaria); e) dispor de regras aptas para limitar o
l, campo infinito e determinar um "campo" de discurso específicoe limitado (topica). encontre diante de uma realidade organizada.
Todos os que, de Ramus a Melanto, de RosselÌi a Romberch, a Gratarolq
ii l ii ; Á tarefa atribuída à arte da memória consistia na elaboração de uma técnica que
pusesse o homem em condições de reaÌizar essas duas possibi.Ìidades. haviam dirigido sua atenção para os problemas concernentes à tópica e à memória
il;
ll llil ' Em termos de metodologia científica as coisas não procedem de maneira
artificial, haviam insistido justamente sobre a função dos lugares como meios
ill
IJ muito diferente: para delimitar um campo de pesquisa que, de outra forma, teria sido infinito, e
para introduzir ordem nesse campo. Os laci, para Melanto (mas muitos outros
Âs ajudas da memória (minìstratio ad. memoriam)desempenhamo autores poderiam ser citados no lugar dele):
seguinte papeÌ: da imensa multidão dos fatos particulares e da massa
da históía natural geral é destaeda uma história particular, cujaspaÉes admonent ubi querenda sit materia aut certe quid ex magno acervo
são dispostasem uma ordem tal que permita ao intelecto trabalhar com eligendumet quo ordine distribuendumsit. Nam ìmi inventionis tum apud
ela e exercer sua púpria funçãom. dialecticostum apud rhetores non conducunt ad inveniendam materiam
quam ad eligendampostquam acervusaliquis.. oblatus fuerit o'.
Igualmente explícito é o décimo parágrafo do segundo liwo do Nmun
""-. advertemondeanratériadevescrprocuradaouo<lrtescguranìeÌìtedcvcscrscìccionadodc
Organum:
unr grande acervo c enì qtre scnüência derc scr distribuído l)ois os lugares d<' in\estigação
tanto cntre os dialéticos conìo crìtre os rctoreü não ìeYatrt à trtatír'ia a ser encoütrada e a ser
seÌccionada depois quc aÌgunr acerr<r tirer sitlo ofcrccido" Rhelorìces Elcntntt auchre Phìlì2po
"' PID. S/,.il1, i5?
t) I[eldnchlonc, Venctiis, l.i.9s, p s
; : -
ll lil i
Ìii

.ii,
Para concluir: a ìnÍcrpretatio nnhtraz bacotiana faz usq mesmo dobrando-a a compiÌação d,a tahulne e da aindcmiatio prim4 a elabr,ração de nove auxflios para
novas exigênciag daquelamnemotécnicaque retores efilósofos do século XVI haviam o intelecto cuja função era a de aperfeiçoar os resultados obtidos mediante a
difundido por toda a cultura européia. Conceitos e dorrtrinas que haviam sido
uindemiatio. Bacon limitou-se a elaborar a primeira dessas nove ajudas (as
elaborados num plano tipicamente retórico eram, dessaform4 transpostos por Bacon
prerogatioae htstantiarum): das outras nove deixou üio-somente a enumeração65.
para o campo da ciência da natureza e para o do novo método indutivo. A imagem de
A redação de uma lógica da ciênci4 à quaÌ Bacon dedicara não poucos de
umal6$ca quz ìntervânpam mdnur osfatosreunidosnum"attnn magrn" era destinada
seus esforços até os anos de Vabrius Terminus foi, portanto, interrompida pelo
a exercer uma grande sedução na mente de Bacon.
fato de Bacon estar profundamente convencido de que a construção de tabelas
perfeitas constituísse o elemento decisivo para um conhecimento efetivo da
realidade naturaì e da fundação de um novo tipo de saber científico. Á história
7. A tópica e as histórias naturais natural, a reunião organizada de fatos, a limitação e a determinação de diferentes
campos de pesquisa em uma palaw4 a inuodução de um primeiro e elementar
Aquele ordenamento dos fatos naturais que havia sido exposto nas tabulae
ordenamento na caótica realidade da naturez4 parecem a ele tiio importantes que o
do Nottum Organum parecia ao próprio Bacon insuficiente e cheio de lacunas.
induzem a uma "desvalorização" parcial daquela mesma'máquina intelectual' que
As tabelas de busc4 os exemplos particulareg as observações sobre a história
haúa permanecidq durante muitos anog no cenfro de seus interesses:
naturaÌ oferecem possibilidade de realizar obras dignas também a homens de
engenho medíocre: a história natural atuaÌ não fornece, entretanto, nenhuma
O m e i o m a i s c o n v e n i e n t ep a r a s u s c i t a r n o s h o m e n s a e s p e r a n ç a
garantia suÍiciente para uma interpretatio lzgiünf . No frnal da exposição da consiste em conduzi-los às coisas particulares e especialmenteàs coisas
ta.huln gmàrua ele volta para esse mesmo conceito: reunidas e ordenadasnas minhas tabelas de busca (que pertencem à
segunda,masaindamais à quarta parte de nossarestauração):de tal modo
Cada um pode verificar como somos pobres em fato de história natural: ficrneceremosnão apenasa esperança,mas a própria coisa...*.
nas tabelas que aabamos de ver inserimos, com efeito, meras tradições e
opiniões alheias,em lugar de nos valermos de histórias comprovadase de A quarta parte da Instauratio, que devia compreender o trabalho de
instâncias seguras6s.
ordenamento dos conteúdos da história natural" acab4 dessa forma, por parecer

z Para Bacon, a tarefa de remediar a essa pobreza de conhecimentos factuais,


"3 lbìd- gt: Adminiula indutionis; Rutificatìo ìnductíonis; yariatio inquisittonis ?ro natura
promovendo uma reunião de instâncias scgufts, era um dos deveres essenciais, subierti Pracrogativac nuturarum quatcnus ad inquisítionct4 sìae dc eo quod iuquiradum est
a senão o dever do saber cientlfico. Diante disso, as próprias tabulze passarn a ser Prtus ct losterius; Trmínì iaquìsitiotis, sìoe rytolsís omnìum ruturarun in uniterso; Deductio
z consideradas por ele como simples exemplos de um trabalho gigantesco que ad pwiq siu de eo quoà est in ordiu ad hominen; Parascaae inquisítionutq Scala ascmoria
U espera por ser realizacio (nzquc enìm tabulas angftcimus ?eíectas, sed ezempla el dewsorìa atiorutum.- fSubsídios para a indução. Retificaçâo da indução Variaçâo do
questionarnento scgrrndo a natureza do sujeito. Prerrogatiras das coisas naturais em relaqão ao
tanhn F. O método baconianq mnforme é sabidq devia compreender, depois da
questionameÌrto, ou seja, do que se deve investigar antes ou depois ConcÌusões do
<lrrestionamerrto, ou seja,unra sinopsede todas as coisasnaturais no uniYerxr-(ìonsaliiências
"'NO [ ì lz
'" ÀO II 1.4,. l)araapútica,istoé,daquiloqueestáemordemparaohornern PrenroniçãodosqucstionatrìeÌìtos
Flscalaasccndcnte e dcscerrdentedos axiomas r
"* Ibìl. tÍ. '-vol99
ti
mais importante do que a própria'lógica" O significado que tem, segundo esse
semelhante tiver sido compilada e preparada, a ela ter-se-ão acrescido todos
ponto de üsta, o último parágrafo do primeiro líro do NozrumOrganum(escrito,
aqueles experimentos auxiliares e portadores de luz (lurtferl que surgem ou
provavelmente, após a redação do segundo livro), foi muito oportunamente
surgirão no decorrer da pesquisa, a indaga.çãoda natureza e de todas as ciências
saÌientado por Farrington. O método da ìnttrpretatio rloturaz parece aqui a Bacon
será obra de poucos anos. Apenas dessa maneira podem ser coìocados os
desprovido de "valor absoluto", desprovido de "necessidade"e de "absoluta
fundamentos da filosofra verdadeira e ativa (hoe enim solo et unìco modo
perfeição". Ele não é indìspensáaelpara a reforma da ciência: os preceitos
"extremamente úteis e verdadeiros" que eÌe contém servem apenas fundamenta lhilosophìae lerae et actioae stabilìri possunt)ís. A reunìõo de
a'.tornar materìais para a lesquisa científiea parecia dz tal modo a Baeon muito mnìs
mais rápido e seguro o caminho da mente" Se os homens dispusessem de uma
importante de qualquer ìndagaçõo que tetdzsse a aperfeiçoar o aparato teórico
história naturaÌ exata e a ela se dedicassem diligentemente, deixando de lado as
das eiências
opiniÕes e as doutrinas herdadas, e se abstivessem de generalizações apressadas,
As características da história naturaÌ projetada e reaÌizada por Bacon apenas
poderiam até chegar ao novo métodq na base da força espontânea e genuÍna de
llii sua mente. puanto a essa "superioridade" da história natural sobre o método,
em parte são bem conhecidas e seria pouco útiÌ nos determos sobre elas. O que
vale a pena saÌientar, ao contrário, é o fato de que cada uma das diferentes histórias
il Bacon já insistira, por sinaÌ, com eficaz concisão, no De hìstórìa naturali et
etperimentali nlonitun:
particuÌares nas quais Bacon trabaìhou assiduamente depois de l620 responde a

iii
lli, Itaque huc res redit, ut organum nostrum, etiamsifuerit absolutum,absque
uma dupÌa exigência: t) eliminar as opiniões herdadas e as doutrinas tradicionais,
movendo-se dentro de um campo de fatos aeriftado.q e) dispor tais fatos dentro

lii historia naturali non multum; historia naturaÌisabsqueorganum non parum


de campos especiais, promovendo uma reuniãa ord.enada,capaz de servir de base
à nova Íìlosofia. No que se refere ao primeiro ponto, seria dificil sustentar que
iil, instaurationem scientiaum sit provrctura 6?
Bacon tenha chegado aos resultados que tinha em vista. Quanto ao segundo, ele

llii Ao faìar da avaliação baconiana das artes mecânicas, tivemos ocasião de parece estar relacionado com uma típica atitude baconiana. E não deve ser

lii; salientar a importância que a história natural passou a ter nos últirnos anos da
v i d a d e B a c o n 6 6 .S o b r e e s s a i m p o r t â n c i a B a c o n i n s i s t i u , c o m p a l a v r a s
menosprezado o fato de que Bacon vè. na Parasceu uma descriptìo historiae
naturalis et etperimzntalis Eulis sufficiat et sit ìn ord.ine ad basin et fundammta
particularmente eÍìcazes, nas páginas da Parascae.Elas dão-nos, de algum modo, ?hiloso?hìaz otraz. Na medida em que se passe de uma leitura genérica a uma
a chave necessária para entender as razõ€s dessa mudança de atitude- Nenhum leitura direta dessas"histórias", não será diffcil perceber que elas aparecem como
z
progresso é possível sem urna história natural e experimental como a que ele se una alztâtua dz I'ugares ordttadarruntt dis?ostase que representam a tentativa
prepara para compiÌar, mesmo se todos os engenhos de todas as épocas pudessem de levar a termo aquele trabalho de reunião já iniciado na Inguisìtio bgitina dz
c reurlir-sg rresmo se todos os homens se dedicassem ao estudo da filosofia- mesmo nnht, na Inquisìtio dz mlore et frigore e na Histnria et inquisitio prima dz sono
I

se o mundo se enchesse de academias e de colégios. et audìtu. TaI como naquelas obrag tamMm nas várias histórias particularegos
Quando uma história
Íqpàa desempenham um papel essencial: Bacon serve-se deles para pôr limites,
"-'l'or isso o assutìto rolta a cste 1nnto, rJc rnodo <1ueo nosso órganon, rncsmo que iòssc
mediante classiÍicações sucessivag à infinidade de fatos naturais e para dirigir à
ahsoìLrto, rìão é ntuito scrrr a lristória natural; a história natural . ó.go,,.' não pouco natureza uma série de questionamentos. Pense-se, por exemplo, nos Topüa
"enr
fàrrrxccni a instauração das ciêrrcias" 'luttorìs )[onì!ur4 ó] II, p l6 (-'f: À? t tr.io
''l)ara
c s t c A Ìg u t Ì ì e r t o r c r Ì l c : o â ( ) ( a p í t u l o I n" Ì>arasceoe,.Sp I, p 39+

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partìculnrìa siae artìnii inquisitionzs, inseridos por Bacon na Historia nentorutn, na morte: há ventos constantes e para onde eles sopram? Como influi nos ventos
Hbtorin aìtaz et mnrtis, e naqueles (inseridos a título de exempÌificação no De a diversidade dos "vapores" e das "exaÌações"? Quais vapores ou exaÌações
augmmtis) que se referem à Hìstoria gravis et leds. Os dezenove "Iugares" que geranÌ os ventos? Em que medida a natureza dos ventos depende de "matérias"
dizem respeito à gravidade e à leveza respondem às duas exigências ora indicadas. desse tipo? Justamente nos mesmos anos em que ia compondo as várias
Quais corpos estão sujeitos ao movimento da gravidade? Quais ao da leveza? histórias particulares, Bacon havia explicitamente teorizado no De augmzntis
Existem corpos intermediários, ou de natureza indiferente? Depois da pesquisa (ampÌiando o que já havia escrito no Adoancemcnt) a função dos topica
"simples" em torno da gravidade e da leveza, procede-se a uma "pesquisa particularia como sendo os 'lugares da pesquisa e da invenção, apropriados
composta": quais corpos das mesmas dimensões pesam mais e quais menos? E para os assuntos particulares e as ciências isoladas" (loci ìnquüìtìonis et
entre os corpos leveg quais sobem ao alto e quais o fazem menos velozmente? A ìnaentionis, particularibus subiectis et scìentiì appropriatl. Determinando
quantidade de matéria e a resistência do meio exercem alguma influência sobre as diferentes partes em que se subdivide a invenção dos argumentos, Bacon
o movimento de gravidade? A figura ou conformação do corpo em queda havia falado, conforme já foi visto, de uma ltomptuarìa e de uma tofiea. F;sta
determina ou não mudanças em dito movimento? A diferença dos corpos atoavés última subdividia-se, por sua vez, em geral e em particular. A dialética
dos quais se comunica e se difunde o movimento de gravidade exerce alguma tradicionaÌ, segundo Bacon, já se ocupara vastamente da tópica geral; o que
influência? Aquele movimento comunica-se igualmente através dos corpos parece deficiente é, ao invés, a tópica particular. A tarefa que Bacon atribui a
moles e porosos e os duros e sólidos? A união (intermbio) de um corpo leve esta úItima é a mesma da já atribuída à tópica geraì: designar e quase indicar
com um corpo pesado diminui a força de gravidade? pual é a linha e a direção as direções da indagação. Essas direções não podem, entretanto, ser indicadas
do movimento de gravidade?'o A afinidade entre os três primeiros "lugares" uma vez por todas, pois não existe, nesse campo, um método perfeito desde o
aqui indicados e as tabulae presentiae, absmtìae, graduum ê evidente e resulta começo e também pelo fato de as artes da invenção irem se aperfeiçoando à
igualmente evidente o caráter enumetaüoo c cl.asslfzcatóiode perguntas desse medida que as invenções progridem. O reconhecimento de uma pluraÌidade
tipo: a natureza do movimento de queda deveria resultar de uma classificação de campos de pesquisa leva, portanto, Bacon à noção de topìtapartiaiarìa: o
dos corpos que caem, de uma observação dessa diferenciação e de um modo de interrogar e de dispor o material que pode ser obtido daquela espécie
isolamento da reaÌidade comum a todos. Era esse, conforme salientou de "depósito" que ê a Pronütuaia não é único para todos os cÍrmpos do saber.
Cassirer", o tÍpico procedimento que haviam oposto a Galileu os seus Desse ponto de vista, a tópica particular se apresenta como uma mistura da
quando, em nome de uma análise do particular,
adversários aristotélicos "lógica" (com este nome Bacon indica as quatro artes intelectuais) e da
'a 'matéria"
haviam tomado posição contra redução da natureza a um sistema de das ciências isoladas. Existe, portanto, uma tópica que fornece
abstrações e de rela@es matemáticas gerais". regras para se mover no interior do discurso retórico ou argumentativq uma
De todo semelhante ao qu€ foi agora lembrado é o procedimento do tópica da qual fazer uso no discurso moraÌ, uma série de tópicas, enÍìm, cada
qual Bacon faz uso no caso da história dos ventos e da história da vida e da uma das quais está ligada a cada uma das histórias particulares isoladas (dos
ventos, da gravidade, da vida, da morte etc.) Â coletânea de "lugares" não
'' DA, Sl, l, pp 6sd ss tem portanto para Bacon ap€nas a função de fornecer tipos de argumentação
; Ì Iì C:assift,r-I lìsto4, of' noderr nos discursos que vertem sobre "argumentos prováveis", mas surge ligada
fhilosofhy. (trad it- S/orid dclldf lomlia no,lernd,' furi rn, t 955, I
.18) diretamente com o rnétodo cientíhco de indagação da natureza.
l , + i 2 t ìI;I , p

tE- j
tlit
I O eìenco das várias "histórias particulares", publicado por Bacon em seguida
levando Bacon rumo a uma história cada vez mais liter,úia e cada vez menos
à Paraseere-",dá'a sensaçãoprecisa da grandiosidade do projeto baconia'o.Trata-
twtural e a servir-se, de modo acrítico e indiscriminado, de uma série cada vez
se de cento e trinta "histórias": quarenta são dedicadas à natureza; dezoito ao maior de fontes tradicionais De Plíniq Acosta e Ficino, Bacon já havia haurido
estudo do homem, setenta e duas ao estudo da obra que o homem exerce sobre a copiosamente para as suas Hìstnria oeiltorun e Histoia aitae et mnrtìs. Na Sy/za
natureza. Não por acaso a este último setor foi dedicado tanto espaço:justamente silaarum, DelÌa Porta e Cardano, que Bacon haüa condenado com tanta violência,
neste projeto de uma "história da tecnologia" ou das relações entre a atividade fornecem agora aquele materiaÌ que, nas intenções dele, deveria ter sido constituído
do homem e a r,atureza chegava até seu cumprimento pÌeno aquela ..revolução pr iuürcias seguras,ou sej4 rigorosamente e cientificamente veriÍcadas.
intelectual" que estava implícita na filosofia de Bacon e justamente aqui se
verificava, por obra de Bacon, um distanciamento radical de algumas atitudes
rl
que, conforme foi visto, eram típicas da cuÌtura tradicional. O CatãIogo das 8. Conclusões
histórìas particuhres d,edica espap considerável às artes mecânicas e as histórias
respectivas aparecem como o'meio de arrancar a máscara e os véus que escondem Bacon chegara assim ao fim do percurso que escolhera, o programa de um
os objetos naturais". É portanto oportuno - prosseguia Bacon - ..renunciar a método novo da ciênci4 capaz de tor4gr o homem o dono da natureza e encontrava

li, todas as delicadezas e a todas as elegâncias para concentrar-se na história das


artes, por mais que elas possam parecer mecânicas e não liberais,,. Este projeto
seu termo (ao menos no sentido cronológico) numa obra que é sem dúvida uma
das menos científicas das produzidas, no âmbito da natureza, durante a primeira
ili'
il
de uma descrição da natureza, alterada e modificada pela mão do homem implìca,
por um lado, a recusa de qualquer cultura de tipo ..retórico" e, por outro, uma
metade do século XVII. O piano em que se rnove Sylaa sìlaarumé o tipicamente
'má,g1co"
de Cardano e Della Port4 ürá, em seguida, o dos "herméticos" e dos
ii l ii ri ; avaìiação nova do significado das artes mecânicag no interior do mundo da cultura. magos do Seiscentos inglês, de John Dee, de Robert Fludd. Tendo em mente

llii Descartes' Boyle e kibniz voltarão repetidamente a essesaspectos do pensamento considerações desta natureza podem se entender as razões dos vários balnnços
de Bacon que encontrará sua plena rseliz2çtr6 no trabaÌho da Rolal Suicly e na defal.êneìa da lógica baconiana que voltam com insistência dentro da vasta
lIr gr ande Entì cI opéd ia iluminisa. literatura dedicada à filosofia de Bacon. Nessas avaliações negativas preferiu-
se entretanto, na quase totaÌidade dos casos, satisfazer-se com analogias e
Do ponto de vista da 'quantidade de material" acumuiado, porérr! também
comparações completamente arbitrárias antes do que proceder a uma análise
as diferentes histórias partioilares às quais Bacon havia se dedicado durante
efetiva daquele terreno histórico-cultural de onde a "falência" baconiana ter-
anos com incrÍvel energia tiveram que lhe parecer insuficientes. No fim de sua
se-ia originado.
vida ele ainda mexia com alguma coletânea desordenada de fatos nat'rais ou
Ao insistir sobre as conexões entre a nova lógica de Bacon e a tradição
com alguma "história geral" que tivesse condições de fornecer material novo
da "retórica" da Renascença, tentamos justamente iluminar aquele terreno.
para as próprias histórias particulares A sylzta flaaru4 terminada afansmente
Substituindo à tradicional coletânea de lugares retóricos uma coletânea de
pouco antes de morrer, é uru sspécis de promptuaria da pesquisa cientÍfica. A
lugares naturais, dobrando a arte da memória a fins diferentes dos
convicção de que, em üsta de urna reforma do saber científicq fosse indiçensável
convencionais, concebendo as tabalae como instrumentos de ordenamento
recoÌher em um tempo breve um número enormemente grande de lfatos" ia
mediante as quais a memória prepara uma "realidade organizada" para a obra
do intelecto, servindo-se das regulaeramistas para uma determinação das
ilr : ' ( tlolrtgus
hìstortdrttnt partìtolurium seauluu rultìta, ,tp I, l)p í().i formas, Bacon introduzira, dentro de sua lógica do saber científico apresentada
lli
ili
t'
como algo de radicalmente novo, alguns elementos tÍpicos derivados da uma racionais, de um Deus agrimensor que compõe o mundo numzro pondere et
tradição retórica precisa. Desse ponto de vista a "nova" lógica de Bacon estava ntzrrsura,serão, certamente mais fecundas, nos desenvolvimentos da ciência
muito mais próxima de quanto ele não achasse dos rumos que Ramus ou moderna, do que a imagem baconiana da natureza como seìva e como Ìabirinto.
Melanto haviam dado à dialética quando a haviam concebido como o meio Em Galileu e no próprio Newton, embora tão profundamente ligado a certas
necessário de dispor ordenadamente as noções, instituindo uma ordem numa posições baconianas, será possível encontrar, energicamente reafirmado,
realidade que se apresentava como algo de "caótico". Vale a pena lembrar aqueÌe princípio que Bacon relegou às margens de sua teoria da realidade: o
mais uma vez a definição que Melanto havia dado ao método, quando o havia da simphcidadz, da economia e da inexorabilidade da natureza. As tentativas,
concebido como uma aru que quasi per loca ìntia et per rerum confusionem embora tenham sido e sejam ainda numerosas, de "desplatonizar" a filosofra
encontra e abre um caminho, colocando em ordem as res ad proposìtum galileana parecem, desse ponto de vista, muito pouco persuasivas. Conforme
pertìnentes e a definição ramista da dìsposìtio como apta rerum ìnaentarum 'metafísico"
escreveu Banh, que também insistiu no caráter não mas
collocatio. O conceito baconiano do método da ciência - para além de todas "metódico" das colocações galileanas, o conceito que GaliÌeu tem da
as grandes diferenças que se podem sem dúvida enumerar - move-se ainda "proporcionalidade" é tipicamente platônico7'.
sobre este terreno: o método é para Bacon un mzio de ordenamento e de Justamente no âmbito daquela abordagem platônica e daquela afirmação
classifrcaçãoda realidade natural. Não é por acaso que ele se apresenta como da "simplìcidade" da natureza (que voltará a aparecer também na primeira das
um fro, um linha capaz de guiar o homem dentro daquela selva caótiea e quatro Ìeis de Newton) chegou-se a um tipo de ìnttrrogação da realidade natural
daquele labirinto con?licado que é a natureza. Os limites maiores do método muito diferente e muito mais fecundo daquele de Bacon, que funcionava na base
baconiano derivam, sem dúvida, do fato salientado inúmeras vezes, que Bacon de modelos retóricos. A interrogação de Galileu tende não à determinação das
não teve nenhuma ou tão-somente uma escassa consciência da função que a formas essenciais ou das propriedades comuns a mais fenômenos, mas à
matemática exerceria no âmbito do saber cientÍfico. Porém, mesmo essa determinação dos "elementos da estrutura de um fenômeno que possam ser
'mecânicos"
incompreensão, que o levava a apreciar mais os como Agricola concebidos como absolutamente válidos e tais de constituir a lei de todos os
do que os "teóricos" como Copérnico e Galileu, estava profundamente ligada fenômenos anáÌogos". A função das hipóteses ou dos modelos tóricos era aqui
à imagem que ele tinha da lógica como meio para ordenar a selva natural, 'fato"
teorizada e reconhecida explicitamente: o só é para a ciência aquiÌo que é
imagem esta que Galileu não havia partilhado: obtido na base de cútérios precisos de caúter tórico. Abria-se, dessa form4
aquela possibilidade que vinha sendo radicalmente desconhecida no interior do
A {ìlosofia está escrita nessegrandíssimo liwo que fica continumente método baconiano: a de uma interpretação dos dados na base de teses prê
abertodiante de nossosolhos (falo do Universo),mas não sepodeentender que põe aquelas teses também na base
estabelecidag isto é, uma interpretação
se antes não se apreender a entender.a língua e a coúecer os câracteres 'afastam"
daqueles resultados da experiência que se delas e que interpreta aqueles
z nos quais ele está escrito Ele esú escrito em língua matemática, e os 'circunstâncias
caracteres são triângulos, cÍ:culm e outras figuras geométricas-., resultados como perturbadoras"t*. A esse respeitq escreve Galileu:
-
''Á IlarrÍì.GalìlcoGalìlci,Mrlão,1949,p.9?l Masrejam-setambónrosirnportantesestudosde
Uma expressão desse tipo, que é o que de mais afastado possa haver da
A Ktryré cnr Áctulilés xìeutilìqwt et indulitllts, Paris, 1939 , nn- fÌ52-.';.4e, do ntesnro autoq
mentalidade de Bacon, dá, melhor do que qualquer outra consideração, a '(ìalìlcn
and I'lato", ern JIII, l9+3, pp-,too ss
medida de uma diferença radical e de um profundo distanciamento- As imagens " Solrreeste assurrtor t'janr-seas observaçóesprecisasde Il \Iav. lilotznli difloxt/ìa dclla nerza,
tipicamente platônicas de um mundo visto como estruturas matemáticas e \íilão, r,,.íÌ, pp 60-6t

b--,

*|-
rli,
Eu agumento u supposüiorc, imaginando um movimento para um ponto constitui um meio bem mais seguro e eficaz de pesquìsado que a experiência
que, saindo do repouso,vá se aceleraldo, aumentaìdo sua velocidade
I na direta, por mais diligente e assistida peÌo uso de instrumentos, e nas quais, aÌiás,
mesmaproporçãoem quecresceo tempo;e,dessemovimento,eu demonsho
de modo concìusivo muitos acidentes; acrescento depois que, o procedimento de tipo dedutivo é o único meio utiìizadq não apenas para a
se a
experiênciamostrasseque tais acidentesse verificam no movrmento verificação, mas também para a descoberta de novas Ìeis e de novas reÌações"'6.
dos
gravesnaturalmente descndentes,poderíamosafirmat semerro, que 6se O fato de que ele tenha limitado a vaÌidade dos procedimentos de tipo dedutivo
movimentoé idênticoaoque foi por mim definidoou sutnsro;mesmoque às ciências "morais", que têm a função de extrair conseqüências dos princípios
a experiêncianão o mosüasse,as minhas demonstrações,fabricadas de comportamento assumidos como absoÌutamente válidos, é particularmente
sobre
a minha suposição,nada perderiam de sua força e de sua concìusividade;
indicativo de seu ponto de vista.
da mesma forma que em nada prejudica as conclusõesdemonstradas
mr Deve ser tomado em consideração, entretanto, e sobre isso quem sabe não
Ârquimedes quanto à espiraÌ o fato de não se encontrar na natureza
um
móvel que se mova daquelamaneira,espiraìadamente'u. se tenha refletido o suficiente, o significado historicamente determinado do
ilil "protesto" baconiano contra a dedução e o silogismq e o vaìor que tal protesto
passou a ter no horizonte da cultura moderna. Ao tratar do'juízo mediante
siÌogismo" Bacon escrevia:
tj
i!': O quepodeserdito, depois,dojuízo mediantesilogismo,quandoestejuízo
ti foi afinadopeÌaslimas sutis dos engenhose foi reduzido a muitas minúcias?
Não há porquê se surpreender,uma !€z que se trata de um argumento
sern?rc e sonuntc de justficar e garantir a aalidadz dos pincílios
ii,i e o Íabalho paa com o qual o intelrcto humanotem muita simpatia O espírito humano,
i Ì ti cientÍfico, do ponto de vista dele, pÍ*ece esgotar_se na formulação com efeito, tende e aspira, de miÌ maneirasdiferentes,a não permanecer
l l rI de uura série
|lil de procedimentos aptos a encaminhar à descoberta desses princÍpios.
euando
suspenso,mas a alcançaraìgo de fixo e de imóvel sobre o qual apoiar-se,
l! tll l ; ele recusa o método dedutivo afirmando que as noçõ€s (das quais
constam as
como num chão estável,nas suasexcursõese disquisições..
proposiçõìes)são apenas "rótulos das coisas" e decÌara que se Tal como na veìhafábula de Atlas qug mantendese ereto, sustentao céu
trata tão-somente
de obter, de um modo não grosseirq essasnoções a partir das coisas com suasespaldas,os homens desejamcom grande empenhoter em seu
particulares,
meio, um Atlas das meditações. que dirija as meditaçõese as flutuações
ele deixa escapar a função da hipótese no âmbito do saber ciendfico
e, não por do intelecto para que o céu não caiasobreeìes.Por isso,apressararse em
acaso' na hipótese ele vê tão-somente uma antecipação arbitrária
e iìegítima da fixar os princípios das ciênciasem voÌta dos quais se trançassemas
natuÌeza Nessa oposição a qualquer procedimento de tipo dedutivo (assim diferentes disputas, sem perigo de desmoronamento e de queda.. Os
como
na recusa das hipóteses) tem sido justamente situado um dos maiores princípios são assim considerados válidos por consenso comum e
limites do
método baconiano da ciência- Não há dúúda de que Bacon não levou subtraÍdoq de tal modo, à pesquisa,enquanto a descobertados termos
na deúda
consideração a existência de ciências "em que o trabaìho de médios é abandonadaà pesquisae ao Ìiwe acúmendos engenhos-.??.
escorha e de
concatenação de proposiçÕes já conhecidas ou admitidas como
verdadeiras

;'G Vailati, Srrlll, Irkrrt'nça, l9Ì Ì, p t3s


Galil<n, Opere,VIII, p trr(;
" I)a. .\2 I lÌ) 610-t t ; cÍ.. com algrrnra r arrantc,,4rlz,,y I II, ì)l) 3ÍJ,l-93
i,
ii tllÌ
ii

]L
doutrinas fornecidos pela nadição ou pela autoridade'". A "modernidadd'de Bacon
Obviamente Bacon não está combatendo aqui o uso das hipóteses na
não esú no fato de que ele tenha contraposto a indução à deduçãq mas em sua
pesquisa científica" mas esú contrapondo a uma lógica quz aisa à dntrìnaçan das
invenção, em cujo âmbito não haja lugar corajosa vaÌorização de uma atitude que recusa limites pré-estabelecidos Para
?cssoas uma lógica da descoberta e da
a indag'ação humana, que não teme de expor-se à "queda e à ruína', qu€ não
para princípios consagrados e que pretendajustamente discutir aqueles princípios
necessita de "um Atlas das meditações que impeça o desabamento do céu em
que se queriam subnaÍdos à discussão e à crítica. Aquela lógica da demonstração,
cima do homem".
preocupada principalmente na estabilidade de um céu intelectual, surge Para
puando via na lógica apenas um ìnstrunuato construídt ?ela hnmzm para
Bacon tão-somente como instrumznto dz anseruadarismo aitural, em relação ao
dominar uma realidade que, de alguma forma, lhe resistia e a ele se opunh4
qual o apelo à experiênci4 e em particular o apelo a uma epoché,cêtica qtanto ao
quando insistia sobre a insuficiência dos processos de abstração e de ideaÌização
valor dos princípios assumidos como eternos, adquire uma carga revolucionária
no campo das ciências da nature2a e sobre a necessidadede voltar-se àqueles
não insignifrcante?8.
caro aos historiadores do sécúo XIX, fatos da experiência que devem, de algum modo,'autorizafaquelas definições e
Aquele esquema historiográfico'
aqueles processos, quando negava a identidade entre correção formal dos
segundo o qual o nascimento da ciência moderna coincidiria com a substituição
pr'ocedimentos e resultados obtíveis cientiÍìcarnente; quando via nos
de um método baseado na experiência e na indução por um método tradicionaÌ,
procedimentos tóricos meios para dirigir e promover operações, Bacon, embebido
baseado nas deduções e nas afrrmações a priorì, pareceu em seguida
de cultura retórica e incapaz de compreender a obra de Copérnicg de Galileu, de
completamente insuficiente. Em termos de metodologia científica esta
Gilbert, colocava sem dúvida problemas que terão profundas ressonâncias na
contraposìção revelou seu caráter de artificialidade, em termos de história da
futura construção da lógica do saber cientíÍico. Newton, em oposição a Galileu e
ciência foram sendo colocados em evidência laços e relações bastante marcantes 'iainha"
'escolástica" que havia parecido, durante quatro séculos, a Descartes, verá na matemática não a das ciênciag mas um mitodn e um
com aquela tradição
insbantcnto paraaclarar a experiência, recusará a üsão platônica de uma natureza
apenas uma esPécie de episódio aberrante na história da cultura
matemática em si e falarâ de um oceano dzsconhzcidoe semfanque a ciência tem a
humana.Todavia, os protestos contra a exclusividade dos procedimentos de
tarefa de etplorar *: ele fará reviver, mesmo se em um plano diferente, algumas
tipo dedutivo e a afirmação dos direitos da indução não foram sem significado,
lpicas exigências "baconianas".
como amam acreditar aqueles que, depois de ter rastreado a continuidade de
certos procedimentos de lógica formal, gostariam de soldar em uma só
'método"
escolástica e frlosofra moderna, e identifrcar o de Roberto
z a
e
Grossatesta com o de GaÌileu e de Newton.
As afirmaçOes de Bacon às quais nos referimos acim4 mos&am justamente
o
z como ele visava atingir, €m nonre de uma discussâo @Paz de investir o inteiro
âmbito do conhecimento humanq justamente o nexo que fora se instituindo dz
: aceiiar sem discussão princípios ou
faÍo, entre método dedutivo e tendência em "Vailati riu conr nruita clarcz,a o signilìcado dcssa postura de lJacon e derenvolreu agudas c
corrsidcraç<H's quanto à itnlxrtância histórica da reiúndìcação da iadução Cf. G- Vaiìati' "Il

'. cf. .l Dev,cy. Phibsophicat recottst.ralioì (tf NJ-iÌ Rircsrfilzioneftlosolíru, Bari, 19.9| , P 60) rrrctotlo tlcduttilo conlc strutnerìto di riccrca", eÌn ^Sírdlr, cit- P Ì:19
""G Preti, À'ez,toa, Milão, 195o, l4)- 56, l(n, I l:2 e ldrr/ri
[tertcmqÌr a Dewey as exprcssões rclxlrtadas em cursivo, no teìto

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