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OQUEÉ
IJMBANDA
editora brasiliense
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a coleção
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ÚLTIMOS LANÇAMENTOS
O QUE É
UMBANDA
Capa e ilustrações:
Ettore Bottini
Revisão:
José W. S. Moraes
Pomba-Gira.
14 Patrícia Birman
O paradoxo umbandista
Guias e orixás
Um amigo umbandista, pai-de-santo de longa
data, me confidenciou que nada em sua casa se
decide sem que se consulte o seu preto-velho,
Pai Joaquim D'Angola. Para qualquer assunto,
problemas com as crianças, doenças, uma decisão
importante — pronto, "o velho baixa" e resolve.
Mas Pai Joaquim, embora tão requisitado, não
é o único presente na cabeça desse pai-de-santo.
Ele conta com outros guias que também são
muito considerados. Tanto é assim que outro dia
comparecí a uma festa na sua casa em homenagem
a Exu Caveira. Como várias outras festas, essa foi
cuidadosa e requintadamente preparada. Lá pude
observar que esse exu também conta com uma
grande clientela — recebeu muitos presentes, a
0 que é Umbanda 29
Preto Velho.
36 Patrícia Birman
Entre a hierarquia e a
igualdade: um especialista
em passagens
Construindo um terreiro
de crescer.
E é com um enorme orgulho que os pais-de-santo
apresentam as suas casas. Quanto maiores e mais
bonitas mais fica claro para todos o longo per
curso que eles foram obrigados a percorrer. Um
elemento fundamental na edificação material e
simbólica das casas de umbanda é o reconheci
mento progressivo do poder e eficiência junto aos
santos, acatado por todos que lá comparecem.
Tal reconhecimento, de fato, é o que "faz" a casa
e lhe dá condições de crescer. Há, contudo, um
efeito que volta sobre si mesmo, formando uma
cadeia tal que, em pouco tempo, não se consegue
perceber o que é causa e o que é consequência.
Quanto mais prestígio o religioso acumular mais
recursos virão ter à sua mão, recursos esses que,
por sua vez, irão contribuir para aumentar o seu
prestígio. Esse círculo de efeitos foi esquematizado
por Peter Fry (1982) da seguinte maneira:
0 que é Umbanda 79
As várias linhas de um
mesmo riscado
Zé Pelintra.
84 Patrícia Birman
das federações.
Para entendê-lo precisamos voltar a nos referir
à repressão do Estado sobre a umbanda. Não são
passados tantos anos assim — e a memória disso
está presente em muitos terreiros — que os prati
cantes dos cultos afro-brasileiros tinham os seus
atabaques retidos nas delegacias, que os terreiros
eram invadidos pela polícia e que, para abrir uma
casa, era necessário registrá-la na delegacia. A
relação do Estado com essas religiões foi sempre
discriminatória, quando não diretamente repressiva.
Para isso contou com decidido apoio da Igreja
até recentemente.
Qualquer dirigente umbandista justifica a
existência das federações como uma reação a essa
política repressiva — elas viriam preencher um
papel de defesa dos umbandistas num meio social
discriminatório.
Contudo, não simplifiquemos. A relação dos
umbandistas com a política é bem mais complexa.
O surgimento das federações se deu no quadro
de um Estado autoritário que lhes colocou, desde o
início, um dilema que pode ser resumido em duas
formas distintas de atuação política: clientelismo
e dependência do Estado; ou autonomia e orga
nização dos terreiros. Explicitemos o sentido
dessas fórmulas.
De modo semelhante ao que ocorreu na formação
dos sindicatos brasileiros, os umbandistas desen
volveram junto aos terreiros uma função assisten-
100 Patrícia Birman
BIBLIOGRAFIA
Caro leitor:
Se você tiver alguma sugestão de novos títulos para
as nossas coleções, por favor nos envie. Novas idéias,
novos títulos ou mesmo uma "segunda visão" de um
já publicado serão sempre bem recebidos.