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Mártires
Publicadora Menonita
Caixa Postal 105
Rio Verde GO - 75901-970
www.menonita.org.br
e-mail: publicadora@menonita.org.br
2009
O Espelho dos Mártires,
compilado por Thieleman J. van Bracht,
foi publicado no inglês sob o título
The Martyrs Mirror
e traduzido para o português pela
Publicadora Menonita
C.P. 105
75901-970 Rio Verde – GO
O século I 13
Jesus Cristo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
João Batista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Estêvão, 34 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Tiago, filho de Zebedeu, morto em 45 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
O Apóstolo Filipe, 54 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Tiago, filho de Alfeu, 63 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Barnabé, 64 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Marcos, 64 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
As primeiras perseguições em 66 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Simão Pedro, 69 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
O Apóstolo Paulo, d.C. 69 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Aristarco. 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Epáfras, 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Priscila, Áqüila, Andrônico e Júnia, 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Silas, 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Onesíforo e Porfírio, 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
André, 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Bartolomeu, 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Tomé, 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
A morte de São Mateus em 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Simão o Zelote e Judas Tadeu – 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
O apóstolo Matias – 70 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Lucas, o evangelista – 93 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Antipas queimado vivo dentro de um boi de ferro em 95 d.C. . . . . . . . . . 68
João, o santo evangelista, 97 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Timóteo, 98 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Urticinus, morto em 99 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Vitalus e sua esposa mortos em 99 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
O Século II 77
Inácio, o discípulo de João, morto em 111 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Onésimo, amigo de Paulo, apedrejado em 111 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Uma mãe e seus sete filhos mortos em 164 d. C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Policarpo, morto em 168 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85
Quatro irmãos mortos por sua fé em 172 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
O Século III 91
Comentários sobre as perseguições do século III d.C. . . . . . . . . . . . . . . 92
Duas cristãs mortas em 201 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Uma carta de filho para pai . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
Três cristãos mortos em 252 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Índice
O Século IV 123
O professor Cassiano morto em 302 d.C. pelos próprios alunos . . . . . 124
Eulália, Fiel até a morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Pancrácio, um rapaz de 14 anos morto em 303 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . 127
O jovem Justo morto em 303 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
Alguns irmãos mortos no início do século IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
O sofrimento de alguns irmãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
Perseguições em 309 d.C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
O Século X 133
Um mártir de 13 anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
6
Prefácio do compilador de
The Martyrs Mirror
Uma advertência de 25 de julho de 1659
São tristes estes tempos em que nós estamos vivendo. Sim, são
tempos muito mais perigosos do que aqueles dos nossos antepassados
que sofriam a morte em consequência do seu testemunho do Senhor.
Poucos acreditarão nas minhas palavras porque a maioria das pessoas
olha o exterior, aquilo que é visível. E visto assim, parece que as coisas
de fato estão melhores, mais quietas e controladas, do que uns anos
atrás. São poucos os que olham o coração e as coisas que são ligadas
à alma, que são de maior valor. “O que aproveita ao homem ganhar
o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em
troca da sua alma?” (Mateus 16:26).
Estes dias são muito mais perigosos, porque naqueles tempos
Satanás vinha abertamente quando o sol estava alto no céu, rugindo
como um leão. Era fácil identificá-lo e às vezes até esconder dele.
Além disso, seu objetivo principal era de destruir o corpo natural. Mas
agora ele se aproxima de noite, ou no crepúsculo do dia. Se apresenta
de forma estranha, porém agradável, para espreitar a alma. Sua obra
consiste, acima de tudo, em destruir a alma. Sua meta é de pisotear e
aniquilar totalmente a única fé cristã verdadeira, para depois destruir
o cristão individual, que por causa da sua fé vive separado do mundo
(leia Salmo 91:5-6).
Ele agora se apresenta como um anjo de luz (leia 2 Coríntios
11:14-15), como um mensageiro divino, cheio de bondade, de olhar
humilde e trajes decentes. Ele mantém uma certa separação das multi-
dões mundanas, procurando dar a aparência dos mártires de outrora.
Suas palavras são humildes, trêmulas e cheias de contrição. Parecem
ser o fruto de uma profunda meditação e o cuidado de falar apenas
a pura verdade.
Mas quando menos se espera, agarra os cordeiros inocentes e
os despedaça como um lobo disfarçado de ovelha. Rouba a sua fé
preciosa sem a qual é impossível agradar a Deus (leia Hebreus 11:6) e
sem a qual, de acordo com as palavras de Cristo, seremos condenados
(leia Marcos 16:16), porque segundo o apóstolo Paulo aquilo que não
procede da fé é pecado (leia Romanos 14:23).
O nosso coração fica triste com estas coisas e de ter que falar
desta maneira. Ó Senhor, fortalece a nossa fé! Ajuda teus cordeiros
7
8 O Espelho dos Mártires
fracos e confiantes a não serem induzidos ao erro, nem deslocados
dos alicerces da santíssima fé.
Mas Satanás também se apresenta como o rei dos prazeres. Ele
procura mostrar que o mundo é um lugar lindo e glorioso. Isto ele
faz através da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos
e da soberba da vida. Praticamente todos os homens têm seguido
estes três prazeres, adorando-os como se fossem a rainha de sua
vida. Mas ao beberem seu vinho envenenado de concupiscências, ao
tomarem de seu cálice dourado de iniquidades e enganos, morrem
espiritualmente.
A prioridade de Satanás é a destruição da fé. É por isso que ele
dirige sua obra contra o verdadeiro cristão. É justamente aqui que
vemos o grande perigo. Como nos livraremos destas armadilhas?
Quem não quiser cair precisa vigiar com todo cuidado. Mas parece
que a nossa carne deseja tanto estas coisas. Para escaparmos é preciso
que jejuemos, vigiemos, oremos e imploremos a ajuda de Deus.
Muitos que imaginavam ter uma vida controlada, que achavam que
cuidavam bem de sua alma, foram enganados e dominados pelo sono
espiritual, descuidando assim de si mesmos e da sua santa vocação.
Outros desanimaram com a divina verdade. Outros ainda simples-
mente se afastaram de Deus. Alguns sofreram a morte espiritual,
caindo naquele abismo do desfavor de Deus para terem suas almas
castigadas para todo o sempre.
Estas coisas não contamos pela metade, pois o que dizemos é a
verdade. A Palavra dá testemunho das nossas palavras. É o mundo e
as suas concupiscências que têm provocado as grandes calamidades
das quais já temos falado, fazendo com que milhares de pessoas na
face da terra chorem e lamentem por causa das misérias que estão
sofrendo devido à ira de Deus que foi provocada pela magnitude dos
seus pecados.
Foi em consequência dos desejos da carne que o mundo velho
pereceu; que Sodoma e Gomorra foram destruídas pelo fogo que
caiu do céu; que durante 40 anos mais de seiscentos mil israelitas
concupiscentes foram destruídos pelas serpentes, pelo fogo e por
outras pragas; que as grandes cidades marítimas de Tiro e Sidom, cujos
navios usavam velas de seda e cujos remadores sentavam em bancos
de marfim, sendo cidades riquíssimas por causa de suas práticas sen-
suais, foram reduzidas a montes de pedras, ao ponto dos pescadores
poderem secar suas redes em cima delas.
Prefácio 9
Não falarei agora de Jerusalém, de Corazim, de Betsaida, de Ca-
farnaum e de outras grandes cidades licenciosas que pecaram contra
Deus e depois sentiram a sua ira provocada contra seus habitantes,
sendo destruídas por diversas pragas. Como são terríveis os juízos de
Deus! Oh! espírito pernicioso do mundanismo! Oh! luxo canceroso
que resulta em todo tipo de miséria! Ajuda Senhor para que as nossas
almas se livrem de todos estes perigos.
Mas qual seria o perigo se apenas os inimigos declarados de Deus
e da sua santa verdade estivessem atacando? Qual seria o perigo se
somente eles estivessem chamando sobre si a ira de Deus? Se este
fosse o caso, todo cristão sério e piedoso os encararia como se fos-
sem animais selvagens, como serpentes venenosas ou como qualquer
outro bicho mortal. Podemos dizer que hoje as coisas chegaram ao
ponto que muitos que têm um certo conhecimento de religião e se
dizem salvos estão glorificando e louvando o nome do Senhor com a
boca, mas os seus feitos declaram claramente que o seu melhor amigo
continua sendo o mundo.
Casarões luxuosos, casas de campo repletas de confortos, além de
muitas outras coisas destinadas a promover os prazeres mundanos,
podem ser vistos em grandes quantidades (leia Daniel 4:29-30).
Outra coisa muito evidente são as roupas importadas de cores
estranhas e das últimas modas que têm sua origem nas pessoas deste
mundo (que mudam igual às fases da lua). O estranho é o fato de que
muitas pessoas que se dizem humildes e conservadoras estão seguindo
estes costumes (leia Gênesis 35:2; Sofonias 1:8; Isaías 3:16-24).
Grandes banquetes, festas e casamentos extravagantes, onde há
fartura de tudo, aliás grande excesso, são frequentados e promovidos
por pessoas consideradas sóbrias e temperadas (apesar do fato que
possuem abundância dos bens deste mundo que devem compartilhar
com os necessitados), mostrando assim um espírito carnal e sensual.
Sabemos que quem vive de acordo com os desejos da carne não tem
promessa de salvação, mas pelo contrário, estão sujeitos à ira de Deus,
e mais ainda, à condenação eterna, como a Santa Palavra nos informa.
Quão grande a diferença entre uma vida destas e a de um verda-
deiro cristão que tenha negado a si mesmo e às suas concupiscências!
Quão grande a distância entre estes e os santos mártires que entrega-
ram não somente os seus desejos carnais, mas sim também os seus
próprios corpos à morte pela causa do Senhor! E quão grande será a
diferença entre estes dois no grande dia final!
10 O Espelho dos Mártires
Neste dia, os que gozaram das boas coisas desta vida não terão
direito às riquezas celestiais. Os outros, porém, que renunciaram e
abandonaram os seus bens e tudo aquilo que poderia tê-los induzido
ao pecado, herdarão o verdadeiro gozo e as riquezas celestiais e pra-
zeres para todo o sempre (leia Malaquias 3:18).
Como seria triste ouvirmos as palavras que o homem rico ouviu
quando viu Lázaro junto com Abraão: “Filho, lembra-te de que rece-
bestes os teus bens em tua vida, ao passo que Lázaro somente males,
mas agora ele é consolado e tu atormentado” (Lucas 16:25).
O perigo está no fato de que muitos assim chamados cristãos es-
tão afirmando que muitas coisas não são necessárias mais e que não
têm importância, nem para o bem e nem para o mal, sendo portanto
permissíveis. Suas vidas podem ser comparadas com a árvore que
se encontrava no meio do paraíso: bonita para se olhar, mas cheia
de veneno mortal para quem comesse dela (leia Gênesis 2:17). São
semelhantes às maçãs que são produzidas em Sodoma, à margem do
mar Morto, que são lindas e vermelhas, mas por dentro estão cheias
de pó e cinzas, sendo portanto prejudiciais à saúde.
Seria muito melhor se Satanás se apresentasse do jeito que realmen-
te é, isto é, sem máscara. Sem dúvida, neste caso não existiria nenhum
ser humano que se deixaria iludir por ele. Veriam então que ele é o pai
de tudo que é mal, das armadilhas destinadas à destruição da alma,
das espadas que estão prestes a perfurar o coração do homem, das
flechas envenenadas cuja finalidade é a destruição de todas as boas
obras do homem através da apostasia e da incredulidade. As pessoas
perceberiam que neste mundo há apenas vaidades misturadas com
vexação de espírito, tristezas, dores e miséria. O seu peso é tão grande
que se todas as águas do mar e dos rios fossem transformadas em
lágrimas, não bastariam para expressar todas estas misérias, pois não
são apenas desta vida, mas sim de toda a eternidade também.
Oh! como é lamentável! Tudo isto se esconde debaixo de um man-
to de beleza. Satanás se apresenta como príncipe ou rei e o mundo
como uma princesa ou rainha. Seus súditos imaginam que são grandes
cavalheiros ou damas no palácio do rei, gozando de toda a espécie
de prazeres, embora espiritualmente sejam paralíticos, pobres, sim,
piores que os mendigos, sem a felicidade que a alma tanto valoriza.
O perigo de sermos enganados é muito real. Ó filhos de Deus,
guardem-se bem! Acrescentem à sua simplicidade a prudência. Sata-
nás deseja destruir a sua fé e a sua vida. O dia em que ele conseguir
Prefácio 11
dominá-lo, a sua fé preciosa, que recebeu para guardar juntamente
com a sua alma, será destruída. E sendo dominado pelo mundo,
logo a sua vida virtuosa acabará. Sem a virtude não pode haver fé.
Cuidem-se bem, meus amados, destas duas coisas, pois a fé sem uma
vida santa correspondente não terá valor perante Deus. São como
duas testemunhas que precisam falar uma coisa só. Possuir somente
uma das duas não vale.
Sabendo, pois, que temos que cuidar da nossa fé e da nossa vida,
não sobra outra alternativa para nós. Mas vejam bem que numa cons-
trução não é suficiente começar bem. É preciso terminar bem, assim
como fizeram os nossos irmãos mártires do passado. É o fim, seja
tranquilo ou violento, em liberdade ou na perseguição, que nos deve
consolar, pois podemos ter a certeza de que a coroa não se encontra
no início, nem no meio do caminho, mas sim no fim.
Mas assim como é necessário terminar bem, também é necessário
começar bem e depois continuar bem. Sem um bom começo e sem
um bom andamento, é impossível terminar bem.
Dirijo-me a vocês, meus queridos irmãos da mesma fé preciosa,
tendo recebido o mesmo batismo. Temos feito um voto com o
Senhor, como o próprio David afirma no Salmo 50:14, onde lemos:
“Oferece a Deus sacrifícios de louvor, paga ao Altíssimo os teus
votos”.
Temos, através da fé, recebido a Cristo, o Filho de Deus, como
o nosso Profeta, Sacerdote, Rei, Pastor, Amigo e Noivo. Isto exige
crescimento da nossa parte. Em Colossenses 2:6-7, o apóstolo Paulo
nos ensina. “Portanto, assim como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor,
assim também andai nele, arraigados e edificados nele, e confirmados
na fé, assim como fostes ensinados, crescendo em ação de graças”.
É assim que chegamos das trevas da ignorância à luz verdadeira do
conhecimento, o qual precisamos guardar perpetuamente, como
Hebreus 10:32 nos ensina: “Lembrai-vos, porém, dos dias passados,
em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de
aflições”. “Mas andemos segundo o que já alcançamos” (Filipenses
3:16). “Mas vós, amados, edificando-vos sobre a vossa santíssima fé,
orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus, esperando
a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna… Ora,
àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos
jubilosos e imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso
Salvador, por Jesus Cristo nosso Senhor, glória, majestade, domínio e
12 O Espelho dos Mártires
poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém”
(Judas v. 20-21, 24-25 – leia também Isaías 40:30-31; Filipenses 4:13).
Agora, meus amados irmãos, continuem no Senhor e na sua Pala-
vra para assim crescerem e terem uma herança entre os santificados.
Lembrem de nós em suas orações até terminarmos esta vida (leia
Filipenses 1:23), para que Deus seja gracioso para conosco nesta vida
e também na eternidade. Nós também lembraremos de vocês. Oh!
como seria bom se naquele dia nós pudéssemos nos encontrar face a
face sem a falta de uma só alma (leia 1 Coríntios 13:12)!
Enquanto isso, nós regozijamos na salvação do Senhor, pois nos
parece como se o céu estivesse aqui na terra, ou como se estivéssemos
ascendendo da terra para o céu (leia 2 Coríntios 12:1-12), ou ainda
como se nós que estamos entre os homens estivéssemos mantendo
comunhão com Deus e seus santos anjos. Sentimos que ele está nos
oferecendo as suas alegrias e glórias eternas. Sim, parece que estamos
recebendo uma pequena amostra daquilo que o olho mortal não tem
visto, o ouvido humano ainda não ouviu e o coração nunca experi-
mentou ainda nesta vida.
Os nossos pensamentos não estão confinados a esta terra. Nós,
porém, ainda estamos presos num corpo de barro, que para a nossa
alma é um grande peso. Oh!, como seria bom se pudéssemos ficar
livres dele e a nossa alma ficar livre deste peso, para assim voltarmos
a Deus em nosso corpo imortal. Seríamos como a pomba que estava
presa num lugar estranho e depois solta, podendo assim voltar a seu
ninho e lugar de habitação. Mas precisamos esperar até o momento
em que Deus nos chamar.
Sejamos, pois, pacientes, meus amados no Senhor, até aquele dia
no qual, se permanecermos fiéis até o fim, receberemos o galardão
que tanto esperamos. Naquele instante as nossas lágrimas serão
enxutas pela mão de Deus. Não veremos mais como se através de
um vidro escuro, mas sim face a face. Então não veremos o céu
apenas em nossos pensamentos ou no nosso espírito, mas teremos
o prazer de sermos habitantes daquela cidade. Que coisa mais pre-
ciosa! Não adianta continuar com este assunto. Somos incapazes
de compreendê-lo. Nossa língua falha é incapaz de expressar aquilo
que experimentaremos.
—T.J. van Braght
O
Século
I
13
Jesus Cristo
O primeiro século da era cristã não passou sem o derramamento
de muito sangue dos santos. Jesus Cristo, o líder de todos os cristãos,
não foi poupado, sendo por isso que é justo que seus membros andem
no mesmo caminho.
É um fato que João Batista morreu antes de Cristo, mas foi depois
da morte de Cristo que o fogo da perseguição ficou extremamente vio-
lento, consumindo quase todos os seus amados apóstolos e amigos…
Estamos cedendo a Jesus Cristo, o Filho de Deus, o primeiro lugar
entre os mártires da Nova Aliança – não em termos cronológicos, pois
João Batista morreu primeiro, mas em termos de merecimento, pois
ele é o Cabeça de todos os santos mártires. É através dele que todos
recebem a salvação.
Aproximadamente três mil, novecentos e setenta anos depois da
criação do mundo, no quadragésimo segundo ano do reinado de Au-
gusto, o segundo imperador romano, tempo em que no mundo todo
havia paz, Jesus Cristo nasceu de uma virgem, Maria, no povoadinho
de Belém. Ele é o unigênito Filho eterno de Deus, o Verbo através do
qual tudo foi criado. Leia Mateus 16:16; João 1:14; Romanos 9:5.