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Magnificat - Cântico de Maria (Lc 1,46-55)

CURSO DE MARIOLOGIA -  Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C. Ss. R.

Organização: Pe. Jozef Grzywacz, CSsR

No canto de Maria (Lc 1,46-55), Lucas traz belíssimo hino em que Maria, cheia de fé, louva
a Deus em sua vida, na história da humanidade e no povo de Deus.

-   O Magnificat é o canto de Maria na casa de Isabel e de Zacarias, em que ela, cheia do
Espírito Santo, proclama as maravilhas de Deus em sua existência e no povo.

1.   O canto de Maria foi denominado de Magnificat, primeira palavra na versão desse hino,
significando engrandecer ou exaltar.

2.   O Magnificat é o canto que Maria pronuncia na casa de seus parentes, Isabel e
Zacarias, por ocasião de sua visita, conforme a narração de Lucas (1,46-55).

3.   Respondendo à saudação de Isabel, Maria canta o Magnificat, pelo qual dirige o louvor
para Deus, que tudo fez e faz, ao passo que ela se abre a Deus para atuar nela.

4.    Por isso, o Magnificat espelha a alma de Maria, vazia de si


mesmo e plena de confiança no Pai.

5.   O Magnificat é o poema em Maria retrata e recolhe a mais


genuína espiritualidade dos pobres do Senhor, daqueles que se
abrem totalmente ao projeto de Deus.

6.   O Magnificat é o canto profético de Maria, que anuncia a ação de


Deus que transforma radicalmente a história humana, para
estabelecer nela o Reino de Deus.

7.   No Magnificat, Maria salienta que a ação de Deus é fruto de sua


misericórdia e fidelidade para com o povo.

-   O Magnificat inspira-se no canto de Ana, mãe de Samuel, depois que Deus a livrou da
humilhação da esterilidade (1Sm 2,1-10).

1.  O cântico de Maria é composto em estilo de hino, com temas tradicionais.

2.  O Magnificat é um cântico de puro estilo bíblico, repleto de citações e reminiscências do


Antigo Testamento.

3.  O Magnificat é um salmo de louvor e de ação de graças, composto por referências e


alusões do Antigo Testamento (Sl
9;19;20;29;33;100;103;114;117;135;135;136;145;148;149;150;Gn 17,7;22,17;
29,32;30,13;Lv 22,2;1Cr 16,10;Eclo 10,17;Is 41,8-10;Ez 20,39;21,31;36,20-21;39,7;Dt
10,21;Mq 7,10;Sf 3,17;Ml 3,12;), de forma especial ao canto de Ana, mãe de Samuel (1Sm
2,1-10).

4.  Provavelmente, o canto de Maria era um hino das primeiras comunidades cristãs, onde
se louva a intervenção de Deus na história da salvação, enviando seu Filho, nascido de
Maria.
5.  No Evangelho de Lucas, Maria, ao pronunciar o Magnificat, é protótipo da Igreja,
represente qualificada e porta-voz dos cristãos que anseiam por salvação.

O Magnificat é o canto em que Maria reconhece a vinda de Deus para libertar e salvar os


seres humanos através de Jesus Cristo. O Magnificat está composto em três partes:

1.     Maria como orante agradecida de Deus (Lc 1,45-49)

a.      No Magnificat, Maria é a orante agradecida de Deus.

b.     Lucas expõe a ação de Deus em Maria (Mensagem religioso-pessoal).

c.      Apesar da humildade e pobreza de vida, Deus coloca o seu olhar em Maria e ser
serve dela para tornar presente a sua salvação na história humana.

d. Agradecida e feliz, Maria, mulher de fé e pessoa simples, louva a Deus pela salvação
recebida, transparecendo sua interioridade (Lc 1,45-50).

Vamos destacar alguns pontos desta primeira parte:

I.       Louvor: no início de seu cântico, Maria expressa seu louvor pela grandeza do
Senhor.

1.      O Magnificat começa com uma explosão de louvor: “Minha alma engrandece (exalta)
o Senhor” (Lc 1,46).

2.      A alma (grego: “psique”) significa a vida humana em sua raiz mais profunda.

3.      Ao exaltar o Senhor, Maria expressa uma postura de vida: ela, como humilde serva,
coloca-se nas mãos do Senhor, reconhecendo que só Ele é grande.

4.      Por isso, Maria renuncia à auto-segurança de uma existência construída em torno de


seu ego (auto-suficiência, orgulho, egocentrismo).

5.      Maria sai de si mesma, num verdadeiro êxtase, reconhecendo a alteridade absoluta


de Deus.

6.      Consequentemente, a psique de Maria se transmuta e se eleva a Deus, dentro de um


processo de evolução (amadurecimento) espiritual.

7.      Assim, Maria expressa uma personalidade integrada e dirigida a Deus.

II.    Alegria: no início de seu cântico, Maria manifesta uma profunda, forte e intensa
alegria.

1.      O Magnificat continua com uma explosão de alegria: “Meu espírito se alegre (rejubila)
em Deus, meu Salvador” (Lc 1,47).

2.      O espírito (grego: “pneuma”) é o espaço no qual a pessoa se introduz no divino.

3.      Nada mais simples e saudável que um transbordamento de alegria.


4.      De acordo com o evangelista Lucas, a alegria é sinal claro do novo tempo, no qual o
Messias está no meio de nós (Lc 1,28.44.58;2,10).

5.      Os cristãos ficam alegres e exultantes: missão dos discípulos (Lc 10,17), conversão
de Zaqueu (Lc 19,9), experiência comunitária da ressurreição do Senhor (Lc 24,41) e a ceia
da comunidade (Lc 2,26).

6.      Quando a psique de Maria eleva-se a Deus, o seu espírito humano (pneuma) prova a
alegria incomparável de encontrar sua raiz última, integrando as diferentes dimensões de
sua pessoa.

7.      Assim, Maria expressa no Magnificat um traço essencial do cristianismo: a alegria.

III. Humildade: Maria proclama a grande do Senhor porque olhou para a humildade de


sua pessoa.

1.      No Magnificat, Lucas afirma: “Deus olhou para humilhação de Maria” (Lc 1,48).

2.      Na Bíblia, a humilhação (grego: “tapeinós”) tem dois sentidos: alguém humilhado pelo
outro (Eclo 13,13;Pr 30,14;Am 8.6); e piedoso que confia em Deus, seu defensor (Dt
10,17;Sf 2,3;Sl 37,16;84,11;103,6;140,13).

3.      A humildade é a virtude pessoal de Maria, que assume com coragem sua condição
social de mulher pobre e sua postura ética de piedosa que se entrega nas mãos do Senhor,
cheia de temor e de confiança.

4.      Além disso, a humildade de Maria significa seguir a Jesus no seu projeto de inaugurar
o tempo novo do Reino de Deus, empenhando-se para a sociedade seja como Deus quer,
uma família de irmãos e irmãs, com justiça e solidariedade, sem carência de bens e
exploração.

5.      Assim, Maria, como discípula de Jesus, é a mulher simples e humilde, que


reconhece, na gratuidade e na confiança, que seus dons e qualidades são dons do Senhor.

IV. Serviço: Maria é a serva do Senhor.

1.      No Magnificat, Maria declara que Deus olhou para a sua serva (Lc 1,48).

2.      Maria se proclama serva (grego: “doúlee”) porque está totalmente a serviço de Deus.

3.      Maria se coloca a serviço na longa lista dos servos na Bíblia, que têm sua grande
expressão no servo de Javé (Is 42,1-9;49,1-9;50,4-9;52,13-53,12).

4.      No Novo Testamento, Maria está em sintonia com a espiritualidade de Jesus, que é o
servo do Pai por excelência (Mt 3,17;12,17-21;17,5).

5.      Serva é um título de honra e de humildade aplicado a Maria.

6.      Por um lado, é um título de honra porque Maria se coloca à disposição de Deus


onipotente.

7.      Por outro lado, é um título de humildade porque Maria é dependente de Deus e se faz
instrumento da vontade dele na história.
V.    Admiração: Maria confessa admirada por todas as gerações.

1.      No Magnificat, Maria diz claramente: “Doravante todas as gerações me felicitarão”


(Lc 1,48).

2.      Na Bíblia, a maternidade é sempre uma bênção de Deus e uma felicidade para a
mulher.

3.      Então, a maternidade de Maria é a mais abençoada por ser aquela que concebe e
gera Jesus, o Salvador da humanidade.

4.      Na verdade, a admiração de Maria (elogio) começa já no Novo Testamento e


continua na vida da Igreja e na história humana (cf. 1,28;1,42;1,45;11,27).

5.      O culto de admiração e de amor por Maria se propaga por todas as criações
humanas e culturais, dentro e fora do cristianismo: igrejas, santuários, capelas, prosa,
poesia, literatura, arte, religião, teologia, ética, pintura, escultura, arquitetura, cânticos,
músicas e outras.

VI. Maravilhas de Deus: Maria reconhece que Deus fez maravilhas em sua vida.

1.      No texto de seu cântico, Maria bendiz a Deus: “O Todo-poderoso realizou grandes
obras em seu favor” (Lc 1,49).

2.      As maravilhas de Deus são todas as obras que Deus fez no passado do povo e na
vida de Maria.

3.      Por um lado, Deus realizou grandes ações libertadoras na história do povo de Israel:
êxodo (Ex 15,1-18) e retorno da Babilônia (Es 1,1-11) como eventos fundantes.

4.      De todas as realizações libertadoras de Deus na história, Maria é portadora da maior


e esplêndida maravilha salvífica: Jesus Cristo.

VII.    Santidade de Deus: Maria declara que Deus é santo.

1.      No Magnificat, Maria louva a Deus: “Seu nome é santo” (Lc 1,49).

2.      Deus é, por excelência, o santo e a fonte de santidade (Sl 99,1-9;Is 1,4;6,3;57,15;Jo


17,11).

3.      Quando proclama que o nome de Deus é santo, Maria não só reconhece a santidade
de Deus, como quer ela seja reconhecida por todos.

4.      Maria foi mulher santa porque foi salva pela graça do Senhor e participou da
santidade de Deus.

5.      O projeto redentor de Deus se realizou em Maria, e ela refletiu e brilhou a santidade
do Senhor.

6.      Olhando para a figura santa de Maria, todos nós somos chamados à santidade (cf.
1Ts 4,7).
2.      Maria como profetisa da nova humanidade (Lc 1,51-53)

a.  No Magnificat, Maria é a profetisa da nova humanidade, fruto da transformação e


renovação do Senhor.

b.   Lucas demonstra a ação de Deus na história humana (mensagem religioso-social).

c.   Deus realiza o Reino de Deus no mundo da humanidade mediante sua ação
transformadora nas relações sociais.

d.    Em seu cântico, Maria, movida pelo Espírito Santo, é membro da raça humana e
profetisa, que proclama a vinda do Reino de Deus, efetuada pelo Senhor, que transforma e
renova os relacionamentos no campo da religião, da economia e da sociedade. (Lc 1,51-
53).

Vamos frisar alguns temas:

VIII.   Amor de Deus: Maria canta o amor de Deus na história da humanidade.

1.      No Magnificat, Maria proclama: “O amor de Deus chega aos que o temem, de
geração a geração” (Lc 1,50).

2.      No texto, usa o termo “amor” (grego: “éleos”), que traduz dois vocábulos hebraicos:
“hesed” significa o amor de solidariedade e de libertação; e “rahamim” (é plural da raiz
hebraica: “réchem” = seio materno) denota compaixão, amor entranhado, visceral, íntimo,
gratuito e criativo.

3.      Assim, o amor de Deus é um amor íntimo, gratuito, solidário e libertador, capaz de


perdoar infinitamente e de gera perdão, criador de vida.

4.      Em seu cântico, Maria vê o amor de Deus cobrindo a história inteira, movendo-a,
libertando-a, transformando-a e salvando-a.

5.      Maria reconhece a ação de Deus que modifica e recria os relacionamentos humanos


e sociais.

6.      Por isso, a ação recriadora de Deus, que Maria testemunha, provém de seu amor
gratuito e solidário.

IX. Temor: Maria canta o amor de Deus se estende aos tementes.

1.      No texto, Maria diz claramente: “O amor de Deus chega aos que o temem” (Lc 1,50).

2.      O temor (tementes = “phobouménois” no grego) leva as pessoas a respeitarem a


Deus como Senhor, e não ofendê-lo com sentimentos, palavras e ações.

3.      Assim, o temor não é um medo infantil que paralisa a pessoa diante do Senhor, mas
uma atitude madura de reconhece sua grandeza, reverenciá-lo e servi-lo.

4.      No Magnificat, Maria relembra o amor de Deus que é acolhido pelos tementes que o
respeitam.

5.      Assim, os tementes são objeto da graça de Deus e de sua ação salvadora, porque
eles o colocam no centro de suas vidas e são instrumentos d’Ele na transformação da
história.
X.    Ação transformadora de Deus: Maria proclama a ação transformadora de Deus
na história.

1.      No texto lucano, Maria declara com vigor profético: “Deus exerce o poder com seu
braço: dispersa os soberbos de coração, derruba do trono os poderosos e eleva os
humildes; aos famintos enche de bens e despede os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53).

2.      Embora use termos em contraposição (poderosos/humildes, ricos/famintos), Lucas


não defende mera troca de papéis, quem está em cima passaria para baixo e vice-versa.

3.      O texto lucano expressa a indignação contra a injustiça que reina no mundo.

4.      O evangelista denuncia como o orgulho, o mau uso do poder e a concentração da


riqueza econômica estragam a todos, ricos e pobres.

5.      No Magnificat, Maria alimenta a espera de que vale a pena sonhar e criar alternativas
em vista de uma nova sociedade mais fraterna e justa.

6.      A garantia da esperança de Maria vem o amor fiel de Deus, que socorre a todos,
judeus e todas as raças.

XI. Poder de Deus: Maria reconhece o poder de Deus na história humana.

1.    Em seu cântico, Maria preconiza: “Deus exerce o poder com seu braço” (Lc 1,51).

2.      Ao longo da história da salvação, Deus exerce seu poder (Sl 118,5-16) com seu
braço (Ex 15,16;Is 51,5.9).

3.      A expressão “poder de Deus com seu braço” quer dizer que Deus intervém, toma a
iniciativa e age na história humana, porque nós cremos na providência do Senhor.

4.      A expressão “poder de Deus com seu braço” nos reporta ao Deus criador, libertador e
vitorioso, tanto na obra da criação (Sl 89,11), como na ação do êxodo (Sl 136,11-12).

5.      O Deus libertador, que agiu no passado do povo de Deus, age agora em Maria e
agirá futuramente caminhada dos seres humanos.

6.      Deus realiza tríplice transformação das situações na história, a fim de restaurar a


humanidade na salvação, obra de Jesus: religião, política e econômica.

XII.   Ação transformadora de Deus no campo da religião: Maria profetiza que os


soberbos serão dispersos.

1.      No texto bíblico, Maria afirma que Deus “dispersa os soberbos de coração” (Lc 1,51).

2.      O soberbo de coração são os homens e as mulheres auto-suficientes, orgulhosos e


arrogantes.

3.      A soberba é o vício capital, que se manifesta no amor desordenado da pessoa por si
própria, excluindo o senhorio de Deus e a fraternidade.

4.      O orgulho é fonte de todos os vícios e pecados (Gn 3,1-24;Is 14,12-14).


5.      Os orgulhosos, que alimentam em seu íntimo as maquinações e perversões, são
convocados por Deus à conversão (Ez 33,11).

6.      O próprio Jesus condenou o orgulho, mostrando a necessidade de conversão e de


humildade (Mt 11,29;Mt 23,11-12;Lc 18,9-14).

7.      No Magnificat, Maria reconhece que Deus vai desarticular e desbaratar os


orgulhosos, tirando-lhes a força e anulando os seus projetos.

8.      Por isso, ao afirmar a dispersão dos orgulhosos, Maria postula a ruptura de uma
postura de vida: do orgulho para a fé em Deus, colocando-o acima de tudo e se deixando
guiar por sua palavra salvífica.

XIII.  Ação transformadora de Deus no campo da política: Maria adverte a queda dos
poderosos e a elevação dos humildes.

1.      No trecho lucano, Maria declara que Deus “derruba do trono os poderosos e eleva os
humildes” (Lc 1,52).

2.      Na Bíblia, o termo “trono” simboliza o poder político e a legislação (2Sm 3,10;Sl
122,5).

3.      Os poderosos (portentosos) são aqueles que detêm o poder e a lei, e, muitas vezes,
abusam deles, os corrompem e se beneficiam deles (Jó 12,18-19.29;Pr 3,34;Is 2,11-
17;10,1-4;Jr 5,23-21;Dn 4,34;Ez 21,31).

4.      Os humildes são aqueles que reconhecem sua absoluta dependência de Deus,
considera seus bens, talentos e habilidades como dons do Senhor e procuram usá-lo de
acordo com o projeto do Criador (Sl 10,17;22,27;25,9;37,11;69,33).

5.      No texto de Lucas, o termo “derrubar” é depor, abater e tirar, enquanto “elevar”
significa reabilitar e resgatar.

6.      Assim, Maria afirma que Deus tira o poder e a lei dos que utilizam mal e os
restabelece aos humildes.

7.      Deus resgata a dignidade das pessoas humanas e seus direitos básicos, reabilitando
o poder e a lei como instrumentos do bem comum e do serviço à sociedade.

8.      Portanto, Maria exige a ruptura no campo da política: da dominação e da opressão


para o uso do poder e da lei para o bem.

XIV.  Ação transformadora de Deus no campo da economia: Maria proclama que Deus
enche de tens os necessitados.

1.      Maria afirma sua confiança no agir de Deus: “Aos famintos enche de bens e despede
os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53).

2.      Na Bíblia, Deus sempre deseja saciar de bens e alimentos suas criaturas (Dt 19,15-
18;Sl 34,11;104,27-28;107,8-9;136,5).
3.      No Novo Testamento, Jesus, como Messias, anuncia que o sinal da vinda do Reino
de Deus é o acesso de todos aos bens e a partilha deles (Mt 14,13-21;Lc 6,21-22;16,19-
31;Jo 6,14-15.26).

4.      Os ricos orgulhosos são aqueles que acumulam e concentram os bens, excluindo os
pobres (Lc 6,24-25;Tg 5,1).

5.      Quando afirma que Deus enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos
vazias, Maria apregoa que todos os seres humanos devem ter acesso aos bens e viver o
espírito de partilha e de sobriedade.

6.      Por isso, Maria requer a ruptura no campo econômico: da acumulação egoísta para a
sociedade de partilha generosa dos irmãos.

3.      Maria como intérprete do povo de Deus (Lc 1,54-55)

a.    Maria é a intérprete do povo de Deus.

b.    Lucas rememora a ação de Deus em Israel (mensagem religioso-étnica).

c.   O Senhor age na história do povo de Deus, cumprindo as promessas feitas a Abraão e
aos seus descentes, em razão de sua fidelidade e misericórdia.

d.   Todas as promessas dadas a Abraão e aos seus descendentes se cumprem neste
momento da história da história da salvação nesta criança que vai nascer de Maria, Jesus,
o Messias.

e.   No Magnificat, Maria, como uma mulher de Israel, recorda e agradece a ação de Deus,
sua fidelidade e sua misericórdia, a partir da promessa a Abraão (Lc 1,54-55).

Vamos expor os seguintes aspectos:

XV.   Socorro de Deus: Maria canta o socorro de Deus para com seu povo.

1.      No texto bíblico, Maria afirma que Deus “socorre Israel, seu servo” (Lc 1,54).

2.      Deus estabelece a aliança com Israel, elegendo-o como seu servo livre e o
protegendo sempre (Lc 25,23-25;Nm 35,19;Is 41,8-16).

3.      Por sua vez, o povo tem um compromisso com a aliança, sendo fiel aos seus
mandamentos e preceitos (Ex 19,1-8).

4.      Se está plenamente inserida na vida de Israel, Maria carinho terno e profundo pelo
povo da aliança.

5.      No Magnificat, Maria retoma a aliança do povo israelita e recorda o socorro que Deus
tem por ele.

XVI.   Misericórdia de Deus: Maria canta a misericórdia de Deus para com o povo de
Israel.

1.      No texto bíblico, Maria proclama que Deus “lembra-se de sua misericórdia” para com
o povo de Deus (Lc 1,54
2.      Maria relembra que a misericórdia perpassa toda a história do povo de Isael.

3.      Maria declara que Deus exercita a misericórdia, socorrendo o seu povo eleito,
abaixando-se.

4.      A transcendência de deus se faz condescendência.

5.      O Poderoso é pura bondade.

6.      Deste modo, Maria reafirma que Deus se inclina para a miséria do povo e de todo ser
humano.

XVII.  Fidelidade de Deus: Maria declara que Deus é fiel para o povo de Israel.

1.      No texto lucano, Maria diz que Deus cumpre fielmente as promessas feitas a Abraão
e aos seus descendentes (Lc 1,55).

2.      No Antigo Testamento, as promessas feitas a Abraão, patriarca do povo de Israel,


são: terra, descendência e bênção universal (Gn 12,1-9).

3.      No Novo Testamento, as promessas de Deus são reelaboradas e aprofundadas:


Reino de Deus (Mt 5,5;Hb 4,8-9;11,13-16), Cristo (Gl 3,16), cristãos (Rm 5,16-17) e
salvação de todos em Jesus (Gl 3,8-9).

4.      As promessas de Deus se prolongam ao longo da história em favor de toda a


humanidade (Gn 17,7;Mq 7,20).

5.      No Magnificat, Maria ressalta a fidelidade de Deus em cumprir suas promessas no


passado, na vida de Jesus, na Igreja e na história humana.

6.      Maria proclama seu jubilo em constatar a fidelidade de Deus sempre.

O Magnificat traça uma bela e rica imagem de Maria: Profissão de fé de Maria no


Deus vivo e verdadeiro

1.   O Magnificat é uma profissão de fé transformada em canto.

1.      O Magnificat evidencia o Deus em que Maria deposita sua fé.

2.      Espelha “sua alma vazia de si mesma e plena de confiança no Pai” (CNBB.


Catequese Renovada. Doc. 26, nº. 233).

3.      Expressa o mistério de Deus voltado para a história da salvação.

2.     O Magnificat afirma a transcendência de Deus.

1.      Ele é o Senhor (Ho Kyrios: v. 46) e próprio o Deus (Ho Théos: v. 47).

2.      Seu nome é santo (v. 49).

3.      Maria reconhece a transcendência de Deus, precisamente por suas ações em favor


de seu povo.

4.      Do fundo de seu ser, Maria proclama que Deus é grande, imenso, majestoso e
insondável.
5.      Maria está unida perfeitamente à vontade divina.

3.     O Magnificat ressalta Deus como Salvador (Ho Soter moi: v. 47).

1.      Proclamando Deus como seu salvador, Maria exprime, do profundo de sua


espiritualidade, uma confissão soteriológica.

2.      Reconhece o Salvador como seu Deus porque é o Senhor quem a salva e salva seu
povo, cumprindo as promessas feitas.

4.   O Magnificat preconiza que Deus é aquele que se lembra de sua misericórdia (v.
54).

1.      Sem negar a transcendência divina, Maria descobre e canta a incrível proximidade e


condescendência de Deus em sua vida e na história da salvação.

2.      Ela manifesta a misericórdia de Deus no fato de olhar para a humildade de sua serva
(v. 48) e socorre Israel, seu servo (v. 54).

3.      Ao caracterizar a misericórdia, a Bíblia serve-se, sobretudo, de dois termos hebraicos:


“Hesed”, que indica bondade, e “rahamim”, que acentua características de fidelidade e de
responsabilidade em razão do amor.

4.      Assim sendo, o amor de Deus para com Maria e seu povo revela-se como bondoso,
fiel, responsável e gratuito.

5.     O Magnificat assevera que Deus é o todo Poderoso (“Ho dynatos: v. 49).

1.      Salvando o seu povo, é Deus quem manifesta o seu poder, a sua força.

2.  Cantando o poder do Salvador, Maria declara que Ele fez grandes obras (“Megala”: v.
48).

3.      É o poderoso pois transforma a história, libertando o seu povo em todas as suas
dimensões (vv. 51-53).

6.   O Magnificat exprime a fé verdadeira e profunda daquela que aceita ser a Mãe do
Salvador.

1.      O Magnificat é o canto da Mãe de Deus, totalmente dócil e aberta ao projeto de Deus.

2.      Neste canto ela pode ser vista como modelo de fé genuína e comprometida para o
cristão.

3.      A Mãe de Jesus é “aquela que crê, pois nela resplandece a fé como dom, abertura,
resposta e fidelidade” (Doc. Puebla, nº. 296).

4.      Ela manifesta a consciência e a experiência da ação salvadora do Deus que se


preocupa com os seres humanos.
5.      Contemplando o poema de Maria, o cristão é convidado a saborear e vivenciar a
mesma atitude religiosa da Serva do Senhor.

Traços humanos e espirituais de Maria

7.   Maria é mulher simples e pobre.

1.   Maria partilha da condição de pobreza e da humilhação da maioria do seu povo.

2.    Maria representa os que, pela humildade, confiam incondicionalmente em Deus e se


lançam na luta pela justiça.

3.    Maria simboliza o ser humano em construção, aberto a Deus, tocado pelo Espírito
Santo e redimido por Jesus, cultivando um coração solidário e fraterno.

8.     Maria é a profetiza do amor transformador de Deus.

1.      Maria tem a atitude profética em proclamar o imenso amor de Deus.

2.      Maria é a contemplativa que se encanta com o coração sensível de Deus, que se


inclina para os que estão em situação de miséria e de desproteção.

3.      Maria afirma a ação transformadora de sobre as relações humanas, impulsionada


pela vinda do Reino de Deus.

4.      Maria declara que Deus modifica e renova as relações interpessoais, econômicas,


políticas, culturais, ecológicas e religiosas.

9.        Maria é anunciadora da misericórdia divina.

1.      Maria profere a misericórdia de Deus, Pai de rosto terno e carinhoso.

2.      Cumprindo as promessas, Maria mostra que Deus, sempre fiel, realiza no Messias
que vem os grandes sonhos do povo de Israel.

3.      Maria é cantora de todas as maravilhas de Deus, partindo de Abraão até o ponto


culminante que é a criança que ela traz em seu seio: o Redentor do mundo.

4.      Assim, o Magnificat é um hino de Maria ao Menino que, concebido pela força do


Espírito Santo, vem para dentro da história para salvar a humanidade toda, que clama por
redenção e dignidade.

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