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No canto de Maria (Lc 1,46-55), Lucas traz belíssimo hino em que Maria, cheia de fé, louva
a Deus em sua vida, na história da humanidade e no povo de Deus.
- O Magnificat é o canto de Maria na casa de Isabel e de Zacarias, em que ela, cheia do
Espírito Santo, proclama as maravilhas de Deus em sua existência e no povo.
1. O canto de Maria foi denominado de Magnificat, primeira palavra na versão desse hino,
significando engrandecer ou exaltar.
2. O Magnificat é o canto que Maria pronuncia na casa de seus parentes, Isabel e
Zacarias, por ocasião de sua visita, conforme a narração de Lucas (1,46-55).
3. Respondendo à saudação de Isabel, Maria canta o Magnificat, pelo qual dirige o louvor
para Deus, que tudo fez e faz, ao passo que ela se abre a Deus para atuar nela.
- O Magnificat inspira-se no canto de Ana, mãe de Samuel, depois que Deus a livrou da
humilhação da esterilidade (1Sm 2,1-10).
4. Provavelmente, o canto de Maria era um hino das primeiras comunidades cristãs, onde
se louva a intervenção de Deus na história da salvação, enviando seu Filho, nascido de
Maria.
5. No Evangelho de Lucas, Maria, ao pronunciar o Magnificat, é protótipo da Igreja,
represente qualificada e porta-voz dos cristãos que anseiam por salvação.
c. Apesar da humildade e pobreza de vida, Deus coloca o seu olhar em Maria e ser
serve dela para tornar presente a sua salvação na história humana.
d. Agradecida e feliz, Maria, mulher de fé e pessoa simples, louva a Deus pela salvação
recebida, transparecendo sua interioridade (Lc 1,45-50).
I. Louvor: no início de seu cântico, Maria expressa seu louvor pela grandeza do
Senhor.
1. O Magnificat começa com uma explosão de louvor: “Minha alma engrandece (exalta)
o Senhor” (Lc 1,46).
2. A alma (grego: “psique”) significa a vida humana em sua raiz mais profunda.
3. Ao exaltar o Senhor, Maria expressa uma postura de vida: ela, como humilde serva,
coloca-se nas mãos do Senhor, reconhecendo que só Ele é grande.
II. Alegria: no início de seu cântico, Maria manifesta uma profunda, forte e intensa
alegria.
1. O Magnificat continua com uma explosão de alegria: “Meu espírito se alegre (rejubila)
em Deus, meu Salvador” (Lc 1,47).
5. Os cristãos ficam alegres e exultantes: missão dos discípulos (Lc 10,17), conversão
de Zaqueu (Lc 19,9), experiência comunitária da ressurreição do Senhor (Lc 24,41) e a ceia
da comunidade (Lc 2,26).
6. Quando a psique de Maria eleva-se a Deus, o seu espírito humano (pneuma) prova a
alegria incomparável de encontrar sua raiz última, integrando as diferentes dimensões de
sua pessoa.
1. No Magnificat, Lucas afirma: “Deus olhou para humilhação de Maria” (Lc 1,48).
2. Na Bíblia, a humilhação (grego: “tapeinós”) tem dois sentidos: alguém humilhado pelo
outro (Eclo 13,13;Pr 30,14;Am 8.6); e piedoso que confia em Deus, seu defensor (Dt
10,17;Sf 2,3;Sl 37,16;84,11;103,6;140,13).
3. A humildade é a virtude pessoal de Maria, que assume com coragem sua condição
social de mulher pobre e sua postura ética de piedosa que se entrega nas mãos do Senhor,
cheia de temor e de confiança.
4. Além disso, a humildade de Maria significa seguir a Jesus no seu projeto de inaugurar
o tempo novo do Reino de Deus, empenhando-se para a sociedade seja como Deus quer,
uma família de irmãos e irmãs, com justiça e solidariedade, sem carência de bens e
exploração.
1. No Magnificat, Maria declara que Deus olhou para a sua serva (Lc 1,48).
2. Maria se proclama serva (grego: “doúlee”) porque está totalmente a serviço de Deus.
3. Maria se coloca a serviço na longa lista dos servos na Bíblia, que têm sua grande
expressão no servo de Javé (Is 42,1-9;49,1-9;50,4-9;52,13-53,12).
4. No Novo Testamento, Maria está em sintonia com a espiritualidade de Jesus, que é o
servo do Pai por excelência (Mt 3,17;12,17-21;17,5).
7. Por outro lado, é um título de humildade porque Maria é dependente de Deus e se faz
instrumento da vontade dele na história.
V. Admiração: Maria confessa admirada por todas as gerações.
2. Na Bíblia, a maternidade é sempre uma bênção de Deus e uma felicidade para a
mulher.
3. Então, a maternidade de Maria é a mais abençoada por ser aquela que concebe e
gera Jesus, o Salvador da humanidade.
5. O culto de admiração e de amor por Maria se propaga por todas as criações
humanas e culturais, dentro e fora do cristianismo: igrejas, santuários, capelas, prosa,
poesia, literatura, arte, religião, teologia, ética, pintura, escultura, arquitetura, cânticos,
músicas e outras.
VI. Maravilhas de Deus: Maria reconhece que Deus fez maravilhas em sua vida.
1. No texto de seu cântico, Maria bendiz a Deus: “O Todo-poderoso realizou grandes
obras em seu favor” (Lc 1,49).
2. As maravilhas de Deus são todas as obras que Deus fez no passado do povo e na
vida de Maria.
3. Por um lado, Deus realizou grandes ações libertadoras na história do povo de Israel:
êxodo (Ex 15,1-18) e retorno da Babilônia (Es 1,1-11) como eventos fundantes.
1. No Magnificat, Maria louva a Deus: “Seu nome é santo” (Lc 1,49).
3. Quando proclama que o nome de Deus é santo, Maria não só reconhece a santidade
de Deus, como quer ela seja reconhecida por todos.
4. Maria foi mulher santa porque foi salva pela graça do Senhor e participou da
santidade de Deus.
5. O projeto redentor de Deus se realizou em Maria, e ela refletiu e brilhou a santidade
do Senhor.
6. Olhando para a figura santa de Maria, todos nós somos chamados à santidade (cf.
1Ts 4,7).
2. Maria como profetisa da nova humanidade (Lc 1,51-53)
c. Deus realiza o Reino de Deus no mundo da humanidade mediante sua ação
transformadora nas relações sociais.
d. Em seu cântico, Maria, movida pelo Espírito Santo, é membro da raça humana e
profetisa, que proclama a vinda do Reino de Deus, efetuada pelo Senhor, que transforma e
renova os relacionamentos no campo da religião, da economia e da sociedade. (Lc 1,51-
53).
1. No Magnificat, Maria proclama: “O amor de Deus chega aos que o temem, de
geração a geração” (Lc 1,50).
2. No texto, usa o termo “amor” (grego: “éleos”), que traduz dois vocábulos hebraicos:
“hesed” significa o amor de solidariedade e de libertação; e “rahamim” (é plural da raiz
hebraica: “réchem” = seio materno) denota compaixão, amor entranhado, visceral, íntimo,
gratuito e criativo.
4. Em seu cântico, Maria vê o amor de Deus cobrindo a história inteira, movendo-a,
libertando-a, transformando-a e salvando-a.
6. Por isso, a ação recriadora de Deus, que Maria testemunha, provém de seu amor
gratuito e solidário.
1. No texto, Maria diz claramente: “O amor de Deus chega aos que o temem” (Lc 1,50).
3. Assim, o temor não é um medo infantil que paralisa a pessoa diante do Senhor, mas
uma atitude madura de reconhece sua grandeza, reverenciá-lo e servi-lo.
4. No Magnificat, Maria relembra o amor de Deus que é acolhido pelos tementes que o
respeitam.
5. Assim, os tementes são objeto da graça de Deus e de sua ação salvadora, porque
eles o colocam no centro de suas vidas e são instrumentos d’Ele na transformação da
história.
X. Ação transformadora de Deus: Maria proclama a ação transformadora de Deus
na história.
1. No texto lucano, Maria declara com vigor profético: “Deus exerce o poder com seu
braço: dispersa os soberbos de coração, derruba do trono os poderosos e eleva os
humildes; aos famintos enche de bens e despede os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53).
3. O texto lucano expressa a indignação contra a injustiça que reina no mundo.
5. No Magnificat, Maria alimenta a espera de que vale a pena sonhar e criar alternativas
em vista de uma nova sociedade mais fraterna e justa.
6. A garantia da esperança de Maria vem o amor fiel de Deus, que socorre a todos,
judeus e todas as raças.
1. Em seu cântico, Maria preconiza: “Deus exerce o poder com seu braço” (Lc 1,51).
2. Ao longo da história da salvação, Deus exerce seu poder (Sl 118,5-16) com seu
braço (Ex 15,16;Is 51,5.9).
3. A expressão “poder de Deus com seu braço” quer dizer que Deus intervém, toma a
iniciativa e age na história humana, porque nós cremos na providência do Senhor.
4. A expressão “poder de Deus com seu braço” nos reporta ao Deus criador, libertador e
vitorioso, tanto na obra da criação (Sl 89,11), como na ação do êxodo (Sl 136,11-12).
5. O Deus libertador, que agiu no passado do povo de Deus, age agora em Maria e
agirá futuramente caminhada dos seres humanos.
1. No texto bíblico, Maria afirma que Deus “dispersa os soberbos de coração” (Lc 1,51).
3. A soberba é o vício capital, que se manifesta no amor desordenado da pessoa por si
própria, excluindo o senhorio de Deus e a fraternidade.
8. Por isso, ao afirmar a dispersão dos orgulhosos, Maria postula a ruptura de uma
postura de vida: do orgulho para a fé em Deus, colocando-o acima de tudo e se deixando
guiar por sua palavra salvífica.
XIII. Ação transformadora de Deus no campo da política: Maria adverte a queda dos
poderosos e a elevação dos humildes.
1. No trecho lucano, Maria declara que Deus “derruba do trono os poderosos e eleva os
humildes” (Lc 1,52).
2. Na Bíblia, o termo “trono” simboliza o poder político e a legislação (2Sm 3,10;Sl
122,5).
3. Os poderosos (portentosos) são aqueles que detêm o poder e a lei, e, muitas vezes,
abusam deles, os corrompem e se beneficiam deles (Jó 12,18-19.29;Pr 3,34;Is 2,11-
17;10,1-4;Jr 5,23-21;Dn 4,34;Ez 21,31).
4. Os humildes são aqueles que reconhecem sua absoluta dependência de Deus,
considera seus bens, talentos e habilidades como dons do Senhor e procuram usá-lo de
acordo com o projeto do Criador (Sl 10,17;22,27;25,9;37,11;69,33).
5. No texto de Lucas, o termo “derrubar” é depor, abater e tirar, enquanto “elevar”
significa reabilitar e resgatar.
6. Assim, Maria afirma que Deus tira o poder e a lei dos que utilizam mal e os
restabelece aos humildes.
7. Deus resgata a dignidade das pessoas humanas e seus direitos básicos, reabilitando
o poder e a lei como instrumentos do bem comum e do serviço à sociedade.
XIV. Ação transformadora de Deus no campo da economia: Maria proclama que Deus
enche de tens os necessitados.
1. Maria afirma sua confiança no agir de Deus: “Aos famintos enche de bens e despede
os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53).
2. Na Bíblia, Deus sempre deseja saciar de bens e alimentos suas criaturas (Dt 19,15-
18;Sl 34,11;104,27-28;107,8-9;136,5).
3. No Novo Testamento, Jesus, como Messias, anuncia que o sinal da vinda do Reino
de Deus é o acesso de todos aos bens e a partilha deles (Mt 14,13-21;Lc 6,21-22;16,19-
31;Jo 6,14-15.26).
4. Os ricos orgulhosos são aqueles que acumulam e concentram os bens, excluindo os
pobres (Lc 6,24-25;Tg 5,1).
5. Quando afirma que Deus enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos
vazias, Maria apregoa que todos os seres humanos devem ter acesso aos bens e viver o
espírito de partilha e de sobriedade.
6. Por isso, Maria requer a ruptura no campo econômico: da acumulação egoísta para a
sociedade de partilha generosa dos irmãos.
c. O Senhor age na história do povo de Deus, cumprindo as promessas feitas a Abraão e
aos seus descentes, em razão de sua fidelidade e misericórdia.
d. Todas as promessas dadas a Abraão e aos seus descendentes se cumprem neste
momento da história da história da salvação nesta criança que vai nascer de Maria, Jesus,
o Messias.
e. No Magnificat, Maria, como uma mulher de Israel, recorda e agradece a ação de Deus,
sua fidelidade e sua misericórdia, a partir da promessa a Abraão (Lc 1,54-55).
XV. Socorro de Deus: Maria canta o socorro de Deus para com seu povo.
1. No texto bíblico, Maria afirma que Deus “socorre Israel, seu servo” (Lc 1,54).
2. Deus estabelece a aliança com Israel, elegendo-o como seu servo livre e o
protegendo sempre (Lc 25,23-25;Nm 35,19;Is 41,8-16).
3. Por sua vez, o povo tem um compromisso com a aliança, sendo fiel aos seus
mandamentos e preceitos (Ex 19,1-8).
4. Se está plenamente inserida na vida de Israel, Maria carinho terno e profundo pelo
povo da aliança.
5. No Magnificat, Maria retoma a aliança do povo israelita e recorda o socorro que Deus
tem por ele.
XVI. Misericórdia de Deus: Maria canta a misericórdia de Deus para com o povo de
Israel.
1. No texto bíblico, Maria proclama que Deus “lembra-se de sua misericórdia” para com
o povo de Deus (Lc 1,54
2. Maria relembra que a misericórdia perpassa toda a história do povo de Isael.
3. Maria declara que Deus exercita a misericórdia, socorrendo o seu povo eleito,
abaixando-se.
6. Deste modo, Maria reafirma que Deus se inclina para a miséria do povo e de todo ser
humano.
XVII. Fidelidade de Deus: Maria declara que Deus é fiel para o povo de Israel.
1. No texto lucano, Maria diz que Deus cumpre fielmente as promessas feitas a Abraão
e aos seus descendentes (Lc 1,55).
1. Ele é o Senhor (Ho Kyrios: v. 46) e próprio o Deus (Ho Théos: v. 47).
4. Do fundo de seu ser, Maria proclama que Deus é grande, imenso, majestoso e
insondável.
5. Maria está unida perfeitamente à vontade divina.
3. O Magnificat ressalta Deus como Salvador (Ho Soter moi: v. 47).
2. Reconhece o Salvador como seu Deus porque é o Senhor quem a salva e salva seu
povo, cumprindo as promessas feitas.
4. O Magnificat preconiza que Deus é aquele que se lembra de sua misericórdia (v.
54).
2. Ela manifesta a misericórdia de Deus no fato de olhar para a humildade de sua serva
(v. 48) e socorre Israel, seu servo (v. 54).
4. Assim sendo, o amor de Deus para com Maria e seu povo revela-se como bondoso,
fiel, responsável e gratuito.
1. Salvando o seu povo, é Deus quem manifesta o seu poder, a sua força.
2. Cantando o poder do Salvador, Maria declara que Ele fez grandes obras (“Megala”: v.
48).
3. É o poderoso pois transforma a história, libertando o seu povo em todas as suas
dimensões (vv. 51-53).
6. O Magnificat exprime a fé verdadeira e profunda daquela que aceita ser a Mãe do
Salvador.
1. O Magnificat é o canto da Mãe de Deus, totalmente dócil e aberta ao projeto de Deus.
2. Neste canto ela pode ser vista como modelo de fé genuína e comprometida para o
cristão.
3. A Mãe de Jesus é “aquela que crê, pois nela resplandece a fé como dom, abertura,
resposta e fidelidade” (Doc. Puebla, nº. 296).
3. Maria simboliza o ser humano em construção, aberto a Deus, tocado pelo Espírito
Santo e redimido por Jesus, cultivando um coração solidário e fraterno.
2. Cumprindo as promessas, Maria mostra que Deus, sempre fiel, realiza no Messias
que vem os grandes sonhos do povo de Israel.