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1
“Es ist nicht nur so daβ die volle Trinitätslehre sich erst von einer Theologie des Kreuzes her entfalten läβt
(wenn hier und im folgenden vom Kreuz geredet wird, so immer im paulinisch-johanneischen und auch
synoptischen Sinn unter Einschluβ der Auferstehung) und davon keinen Augenblick ablösbar ist, sondern so,
daβ die Trinitätslehre als die stets gegenwärtige innere Voraussetzung der Staurologie zu fassen ist, wie,
symmetrisch dazu, die Bundes – oder Kirchenlehre (bis hinein in die Lehre von den Sakramenten ) nicht als
ein bloβes Ergebnis des Kreuzesereignisses aufgefaβt werden darf, sondern als ein ihm innerliches Moment.”
[tradução minha] “E não é apenas de forma que toda a doutrina da Trindade se pode desenvolver só a partir
de uma teologia da cruz (agora e depois, quando se fala de cruz, sempre se entende no sentido paulino-
joânico e também sinóptico incluindo a ressurreição) sem poder desligar-se nem um momento, mas também a
doutrina da Trindade pode conceber-se como o íntimo pressuposto constante e intrínseco da estaurologia, do
mesmo modo que, em boa simetria, a doutrina da aliança e a eclesiologia (e até inclusive a doutrina dos
sacramentos) não deve entender-se como o simples resultado do acontecimento da cruz, mas antes como um
momento que lhe é intrínseco. ” Theodramatik: die Handlung. [THD III] Einsiedeln: Johannes, 1973. vol.3,
296 [Trad. castelhana: Teodramática: la acción. Madrid: Ediciones Encuentro, 1995. vol.4, 295].
2
O Crucifixo torna-se a ligação entre o pulchrum e a glória da revelação, é a beleza que irradia da kenose de
Cristo. No mistério do nascimento, que se sujeita ao evento da cruz, desvela-se o véu do Deus Trindade.
Pode-se reconhecer na obra de Balthasar o contributo da reflexão de K. Barth em Dogmatik Kirchlicher, que
coloca as bases para uma reflexão sobre o belo partindo de S. Anselmo“Gott in der Einheit seiner
Erniedrigung und Erhöhung selbst seine eigene Form und Schönheit mitbringt, dass das iesaianische «Er
hatte weder Gestalt noch Schönheit» gerade der Ort ist, wo die eigentümliche Schönheit Gottes aufleuchtet:
«Man suche die Schönheit Christi in einer Christusglorie, die nicht die des Gekreuzigten wäre: man wird sie
dann immer vergeblich suchen»” [tradução minha] “Deus, na unidade da sua humilhação e da sua exaltação,
23
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
humana3 considerada na eterna vontade salvífica do Pai não é nunca demitida, até
aos infernos. A liberdade não decai da sua íntima condição de “ter que decidir”4, de ter
Maria é esta referência5 completamente humana, a qual Deus não quer fazer
humilhar mas exaltar. Maria, pronuncia o sim6, por graça e na força deste
do Filho. A oferta sacrificial que a Mãe é chamada a fazer do Filho na Cruz (Jo. 19,
leva consigo a sua própria forma e beleza, e que o dito “não tinha forma nem beleza” de Isaías, é justamente
o lugar donde resplandece a peculiar beleza de Deus: «Buscar a beleza de Cristo numa glória de Cristo que
não seja a do Crucificado é buscá-la em vão».” H I, 52 = 55.
3
A liberdade finita que é o homem está constituída por dois pilares fundamentais que não podem ser
anulados um no outro, mas antes estão mutuamente referidos: 1) autoexousion o ser-se; e 2) o dar-se. Cfr.
PÉREZ, C. – Hans Urs von Balthasar: una vocación y existência teológicas. Salamanticensis. 48 (2001), 62-
63.
4
A relação entre liberdade finita e liberdade infinita, vem desenvolvida particularmente por von Balthasar
em: HUB - Theodramatik: die Personen des Spiels: der Mensch in Gott. [THD II/1] Einsiedeln: Johannes,
1976. vol.2/t.1, 170-305 [Trad. castelhana: Teodramática: las personas del drama: el hombre en Dios.
Madrid: Ediciones Encuentro, 1992. vol.2, 183-316].
5
“Na Nova Aliança a fecundidade dada à Virgem Maria, tem um fim diverso em relação à antiga
prefiguração à qual faltava a decisiva profundidade adequada à revelação: ela não é vista a partir da morte,
mas a partir da vida eterna” HUB - Credo: meditações sobre o Símbolo dos Apóstolos. Coimbra: Gráfica de
Coimbra, 1997, 40.
6
Cfr. GIROLAMO, L. – Il «sí» di Maria nella prospettiva di Hans Urs von Balthasar. Miles Immaculatae. 37
(2001), 435-440.
24
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
Igreja7.
simplesmente como funcional para a vida terrena do Filho de Deus, mas em todo o seu
Maria, sinal de um maximalismo mariano que levaria consigo qualquer coisa do único
Redentor Cristo8. Não é de mais considerar que isto pertence à Mãe de modo singular
por graça e isto que d‟Ela perpassa na Igreja e na humanidade com a força de redenção
como personalidade corporativa aos pés da cruz9 frente ao olhar do Filho, realiza a
aliança esponsal que faz de Cristo e de Maria o primeiro par, a relação finalmente
7
Cfr. BORDINI, M. - La madre di Gesù presso la croce e il «principio mariano» della Chiesa. Theotókos. 7
(1999), 452.
8
O Cristo crucificado e ressuscitado, apresenta-se claramente como o único mediador desta nova aliança,
Balthasar não mostra hesitação em aceder aos títulos e méritos de Maria e a partir destes à figura do Filho.
Todavia, o problema da cooperação de Maria na missio Christi, evidencia-se no contexto do mistério pascal
em toda a sua problemática. Este motivo coloca-se no centro do desenvolvimento teológico actual,
estimulado pela última petição dogmática à volta do papel de Maria, sustentada pela vontade de introduzir
por exemplo os títulos de Coredemptrix, Mediatrix e Advocata. Cfr. CALABUIG, I. - Riflessioni sulla
richiesta della difinizione dogmática di, «Maria corredentrice, mediatrice, avvocata». Marianum. 61 (1999),
129- 175.
9
Cfr. VALENTINI, A. - Personalitá corporativa e principio di totalità. Theotókos. 8 (2000), 492.
25
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
von Speyr.
protestante e católica. Isto exprime a ideia de um Deus que sofre com a intenção de
estabelecer uma união entre o amor trinitário e o sofrimento da cruz, como drama que
envolve Deus no seu íntimo. Na realidade isto deve-se à patrística oriental (Máximo o
(S. Bulgakov), à figura de Przywara mas sobretudo a Adrienne von Speyr e à sua
10
No âmbito teológico várias foram as tentativas de aprofundamento tendo em vista o aspecto misterioso da
kenose da cruz. A reflexão sobre a kenose já está presente na disputa kenótica dos séculos XVI-XVII, depois
da aproximação luterana à escola de Giessen e à escola de Tubingen, conhece a tentativa hegeliana da Sexta-
feira santa especulativa e a incompleta reflexão da teologia kenótica do século XIX-XX, na área germânica e
anglicana. A reflexão sobre o tema da Paixão e do Gólgota, em relação à glória do amor trinitário, trazem de
volta vigor no ambiente da ortodoxia russa contemporânea com V. Solovjev, S. Bulgakov, N. Berdiaev, P.
Evdokimov, D. Staniloae, também permanecem e conservam de certa maneira o peso da categoria hegeliana
mediada através das ideias de Böhme e de Schelling. No âmbito da teologia protestante e católica, com a
devida distinção entre os vários autores, estes apontam do pensamento para o aprofundamento da relação
entre cruz e a vida íntima de Deus, entre autores representativos destacamos: K. Kitamori, J. Moltmann, K.
Rahner, H. Mühlen, C. Duquoc, J. Galot, H. Küng, W. Kasper, E. Jüngel, C. Nigro, B. Forte. Cfr. BORDINI,
M. - Gesù di Nazaret Signore e Cristo : saggio di cristologia sistemática: il Cristo annunciato dalla Chiesa.
Barcelona: Herder-PUL, 1986. vol. 3, 512-533.
11
Cfr. HUB - Teologia dei tre giorni: mysterium paschale. Introd. di Giuseppe Ruggieri. Brescia:
Queriniana, 1990, 21-22.
26
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
certamente a de superar uma imagem apática de Deus que encontra a sua ascendência
na filosofia estóica com o seu ideal de aphateia, isso corresponde sob o perfil
Cruz e propõe, portanto, na vida intradivina das relações a-pessoais fundadas nas
palavra humana de Deus para o mundo, é o humilde serviço de Deus que é levado a
cabo por cima de cada limite humano, é o último amor de Deus na glória do seu
morrer, de forma que todos os outros possam viver por Ele”12, e por outro lado, o
Páscoa como mistério sacrificial redentor e se intui Deus como Amor absoluto.
12
“das Christliche als das uneinholbar Gröβte, id quo maius cogitari nequit, zu erweisen, weil es Gottes
Menschenwort für die Welt ist, Gottes demutsvoller Dienst, der alles Menschenstreben überholend vollendet,
Gottes letzte Liebe in der Herrlichkeit seines Sterbens, damit Alle jenseits ihrer selbst für Ihn leben.” HUB -
Rechenschaft 1965. [RS] Einsiedeln: Johannes, 1965, 6-7 [Trad. italiana: Il filo di Ariana attraverso la mia
opera. Milano: Jaca Book. 1979, 7].
13
A intenção fundamental de mostrar o axioma da centralidade de Cristo, a cruz do Filho como revelação do
amor do Pai e a efusão do Espírito no coração de cada homem, provém do encontro de Balthasar com Erich
Przywara, do contacto com o génio da reforma protestante, Lutero e o cristocentrismo de Karl Barth, mas
também da relação com Karl Rahner e Hugo Rahner. A respeito do pensamento de Lutero é evidente que
Balthasar não evita de o considerar limitado, dado que a sua posição se torna extrema no aspecto
estaurológico, onde aparece o paradoxo absoluto constituído a partir hiato da revelação sub specie contrari
que se manteve na radicalidade inacessível do escondimento, segundo o pensamento dialéctico, que conduz
consequentemente para Hegel. Cfr. Idem, 6-7 = 7; HUB - Theologie der drei Tage. [TDT] Einsiedeln:
Johannes, 1969, 51 [Trad. castelhana: El misterio pascual. In Mysterium Salutis, Madrid: Cristiandad, 1992.
vol. 3, 687].
27
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
abandono que Ela experimenta no dia de sábado santo. A intuição desta mística vem
relata que se inspirou em von Speyr directamente para escrever os livros: O coração
do mundo (Das Herz der Welt) (1945), Teologia dos três dias (Theologie der drei
Tage) (1969), e diversos outros que essencialmente são uma transcrição teológica
daquilo que aprendeu com esta mística.14 Não podemos esquecer que O coração do
mundo (Das Herz der Welt) juntamente com as suas conferências sobre a dramática do
cristianismo têm nos anos 1946-1947 o ponto central onde se encontra a extraordinária
balthasariana, que pode ser considerada a preparação para a segunda porta da trilogia,
a soteriologia. Temos ainda de mencionar o facto de que muitas das considerações que
pretendemos propor derivarão de algumas das intuições formuladas por von Balthasar,
salvífica de Deus nos confrontos do homem desdobra-se num dramático jogo das
14
Cfr. RS, 59 = 74.
15
Cfr. UA, 62= 63-64.
16
Este texto veio a tornar-se um contributo à colectânea de teologia dogmática Mysterium Salutis, na secção
que concerne ao mistério pascal delineado segundo o enquadramento dos três dias da paixão. Cfr.
GUERRIERO, E. - L‟estremo amore di Dio nella gloria del suo morire: la teodrammatica. Communio.
Milano .120 (1991), 61.
28
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
partes. A liberdade finita e a liberdade infinita alcançam-se no conflito que pesa sobre
o Filho de Deus, o peso do não do mundo, face ao peso que Ele traz do sim dito ao
estado pecaminoso.
na mesma vida trinitária: neste momento desenvolve-se toda a raiz trinitária da kenose
pode ser definida como a natureza íntima do seu ser Filho; a obediência até ao
abandono divino e deste modo o sim de Deus ao homem18, no anúncio da vida eterna
mediante a ressurreição.
de Adrienne von Speyr ajuda Balthasar a ligar a esperança da máxima kenose do Filho
aspectos que são inerentes à pessoa de Maria, contemplada sob a cruz, deriva da
própria meditação de von Speyr19, a qual introduz imagens sobre o papel de Maria de
17
Para aprofundamentos sobre esta questão sugerimos T‟JOEN, M. - Marie et l‟Esprit dans la théologie de
Hans Urs von Balthasar. Marianum. 49 (1987) 162-195.
18
O texto de MARTINELLI P. - La morte di Cristo como rivelazione dell’amore trinitario nella teologia di
H. U. von Balthasar. Milano: Jaca Book, 1996, considera o amor kenótico de Jesus Cristo como revelação do
amor trinitário, no qual se encontra o fundamento da leitura do verdadeiro sentido da cruz, da morte e da
ressurreição do Filho.
19
Pode-se notar, como a reflexão sobre Maria que Balthasar expõe no quarto volume da Teodramática, é
fortemente influenciado por A. von Speyr ao se confrontar com texto de SPEYR, A. von – Ancilla Domini:
María en la redención. Rafaela: Fundación San Juan, 2005.
29
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
ter presente que foram compostas antes do Concílio Vaticano II20. Tendo isto em
Humanidade e pela Igreja, pela sua participação na cruz e na glória do Unigénito Filho
figura da Mãe de Jesus e da Igreja. Mas tal relação não dissolve, por fim, Maria na
Igreja. Desde então é o núcleo realizado (e como tal escatológico) do inteiro desígnio
de Deus, predisposto para cada crente, com uma função específica e pessoal em
20
Também é de referir que von Balthasar, na linha com a então futura Lumen Gentium, e de certa maneira
antecipando-se aos desenvolvimentos sucessivos feitos por João Paulo II, respondendo àqueles que
afirmavam o desenvolvimento da mariologia como um excesso escrevera: “Il senso ecclesiale dei dogmi
mariani è ormai noto: Maria è seno e prototipo della Chiesa; è la stessa fecondità della Chiesa, la sua forma
interiore in quanto Sposa di Cristo. Maria è più vicina a Cristo di Pietro e degli apostoli: mentre Pietro
impersona il ministero della Chiesa, Maria incarna il tutto della Chiesa; Pietro governa, Maria è l'umile
ancella che pronuncia il suo “fiat”, che si fa guidare e governare dallo Sposo stesso; Pietro deve esigere
l'obbedienza, Maria è la Vergine-Sposa, vaso di ogni obbedienza, da cui discende non solo l'obbedienza del
cristiano, ma la stessa esigenza di Pietro. L'antagonismo tra Pietro e il suo gregge, tra la gerarchia e il
laicato è superato in Maria in una realtà più profonda, fondamentale e comune a entrambe le parti: la realtà
della Chiesa-Sposa”. [tradução minha] “O sentido eclesial dos dogmas marianos é agora bem conhecido:
Maria é o coração e o protótipo da Igreja; è a mesma fecundidade da Igreja, a sua forma interior enquanto
Esposa de Cristo. Maria é a mais próxima de Cristo, de Pedro e dos apóstolos: enquanto Pedro personifica o
mistério da Igreja, Maria incarna o todo da Igreja; Pedro governa, Maria é a humilde serva que pronuncia o
seu „fiat‟, que se deixa guiar e governar pelo Esposo; Pedro deve exigir a obediência, Maria é a Virgem-
Esposa, vaso de obediência, da qual descende não só a obediência do cristão, mas a própria exigência de
Pedro. O antagonismo entre Pedro e o seu rebanho, entre a hierarquia e o laicado é superado em Maria numa
realidade profunda, fundamental e comum entre ambas as partes: a realidade da Igreja-Esposa.” HUB -
Abbattere i bastioni. Roma: Borla, 2008, 51-52.
30
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
às vezes a reflectir uma tensão, também largamente presente na sua obra, que se
eclesial. O motivo vem dito pelo facto de o mistério pascal apresentar a figura de
Maria numa forte reciprocidade com a Igreja. Ela na realidade, até ao seu
21
O aspecto antropológico-eclesiológico, ligado à reflexão mariológica é um dos contributos mais inovadores
e significativos à reflexão teológica, este tema inspirou autores que se ocuparam especificamente deste tema
do pensamento balthasariano. Cfr. ROMANI, A. – L’immagine della Chiesa «Sposa del Verbo» nelle opere
di HUB. Roma: Lateranense, 1979; J. G. ROTEN, Im Zeichen der Ellipse: Ein Beitrag zur theologischen
Anthropologie Hans Urs von Balthasar unter besonderer Berücksichtigung seines marianischen Denkens, in
«Marian Library Studies» 24 (1992-95). B. LEAHY, LEAHY, B. - O princípio mariano na Igreja, São
Paulo: Ed. Cidade Nova, 2005.
22
Aplica-se de modo especial à figura de Maria a noção de “personalidade corporativa” ou de “princípio de
totalidade” (ganzheitliche Denken), como outros autores hoje preferem, dado que vêm a primeira definição
apenas como um aspecto da segunda. Na realidade à parte de algumas imprecisões os dois conceitos
praticamente convergem. O primeiro termo, isto é “personalidade corporativa”, está presente na Escritura não
como locução específica mas como o concreto fundamental ligado à Aliança. O termo usado em tempos mais
recentes, no ano de 1936 por W. Wheeler Robinson, encontra aplicação concreta a respeito da figura
fundamental da história em relação à Aliança entre Deus e o seu povo. Deste modo podemos definir:
“personalidade corporativa: Adão, Abraão, Moisés, os reis e os profetas de Israel, mas também o Servo de
IHWH, o Filho do homem, entre outros. Para a mariologia este conceito tem a sua peculiar importância,
enquanto permite focalizar o aspecto mariano da Igreja. Todavia será bom reafirmar que o termo
personalidade cooperativa sublinha dois aspectos: por uma parte indica a personalidade particular, individual
que ao nível operativo se identifica com a comunidade; e por outro lado tratando-se realmente de uma pessoa
particular “age sem dissolver-se na comunidade mas identificando-se com essa” e também noutro caso
individua a singularidade da pessoa de Maria. Portanto podemos definir a personalidade corporativa, como
fazendo parte de um “grupo uma entidade real, inteiramente actualizada em cada um dos seus membros”. Isto
também vai ao encontro do presente pois compreende o passado e também o futuro. De facto, a
personalidade corporativa apresenta-se como uma realidade flexível que passa do aspecto individual para o
colectivo e vice-versa, e essa persiste também se o indivíduo passa para uma fase nova da sua vida. Cfr.
VALENTINI, A. - Personalitá corporativa e principio di totalità. Theotókos. 8 (2000), 485-497. Tal noção é
particularmente importante para a mariologia, enquanto permite uma leitura eclesiológica da figura de Maria,
mas também isto não deve tornar-se um princípio exclusivo com o risco de absorver a pessoa da Mãe. Na
verdade, Maria é chamada a articular a sua missão com a do Filho, ainda que com linhas próprias, que são
reconquistadas do discurso cristológico e que certamente atravessam a Igreja. Parece-nos que Balthasar
esteve implicitamente atento a este processo, no momento em que percepcionou como a missio de Cristo se
tornou omnicompreensiva em cada missão.
23
Quando falamos acerca da incarnação como evento antropológico devemos ter sempre em conta que a
instituição da epifania do Ser, é encontrado a partir dos seus atributos transcendentais como é a beleza,
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A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
primeiramente e de modo explícito depois, uma síntese da mesma relação entre Cristo-
Igreja-Cruz24.
recorda, por excelência, a “mulher nas dores do parto” à qual se faz referência no
Evangelho de João (16,21), a qual sofre porque é chegada a sua hora. Ela recorda
compreensiva pela acção soteriológica e pela perfeita união com o Pai e com o
primeiro lugar para Cristo e depois partindo d‟Ele para Maria, não como simplesmente
através do qual Balthasar define o papel central do Triduum mortis por toda a
primariamente através da doação da Mãe. O eu e o tu na relação existencial deste par, torna-se a condição
para o revelar-se e o abrir recíproco ao Outro, numa instituição completa e imediata, focalizada no momento
a partir do qual a criança recebendo o amor da mãe responde com o primeiro sorriso. O amor entre os dois
revela o mundo na sua absoluta infinitude e plenitude o Ser Absoluto como harmonia, como justiça, e em
breve como verdade que coincide com o bem. Cfr. MARINI, V. – Maria e il Mistero di Cristo nella teologia
di Hans Urs von Balthasar. Vaticano: Pontificia Academia Mariana Internationalis. 2005, pp. 150-161; HUB
- Unless you become like this Child. San Francisco: Ignatius, 1991, 14-18.
24
Para aprofundar a relação entre Maria e a Igreja Cfr. GHERARDINI – Igreja. In DE FIORES; MEO, S.,
eds. - Dicionário de Mariologia. São Paulo: Paulus, 1995, 584-597. Ver também MILITELLO, - Chiesa In
DE FIORES, ed. – Mariologia. Milano: San Paolo, 2009, 257-267. Nos primeiros escritos, Balthasar parece
antecipar em algumas linhas a visão do Concílio Vaticano II olhando para a missão pessoal de Maria, que se
estende depois a toda a vida da Igreja.
25
Ao evento da Hora, Balthasar dedica diversas páginas, cfr. Theodramatik: die Handlung. [THD III]
Einsiedeln: Johannes, 1973. vol.3, 212-220 [Trad. castelhana: Teodramática: la acción. Madrid: Ediciones
Encuentro, 1995. vol.4, 213-231]; TDT, 85-91= 706-709.
32
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
vida” (Jo 10,18), para reconciliar o mundo com Deus. Tanto que Balthasar define a
paixão de Cristo como “o cume da acção”, a fraqueza da cruz como “o cume” da sua
o optimum da sua eficácia mais alta. No seu corpo Eucarístico a missio de Cristo,
João para o qual a hora da paixão antecede um tempo de glorificação27; mas é também
glorificação”29.
plano o ser sempre virado para o “seio do Pai” da parte de Cristo, e uma obediência
que é o eterno sim incondicional do Filho ao Pai no Espírito, o qual encontra a plena
26
Cfr. VC, 254 = 300.
27
Para confrontar o papel de Maria ao longo do Evangelho de João ver os estudos apresentados em SERRA,
A - Testimonianze in Luca e Giovanni Storia della mariologia. In COVOLO, E. ; SERRA, A., eds. - Dal
modello biblico al modello letterario. Vol 1. Roma: Città Nuova, 2009 p. 104-138; DEISS, L. – Maria, hija
de Sion. Madrid: Cristiandad, 1967, 277-316; BROWN, R.; DONFRIED, K. – Maria en el Nuevo
Testamento: una evaluacion conjunta de estudiosos catolicos y protestantes. Salamanca: Sigueme, 1982,
200-269.
28
Cfr. VC, 254 = 300.
29
“…Offenbarung und Verherrlichung gelangt…”. TDT, 19 = 668.
33
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
e o Pai no momento da cruz não sofre qualquer tipo de interrupção, que cada ser
humano experimenta como vazio trágico, assente em cada sentido e em cada relação.
manifestação de Deus. Como diria Lutero, “na cruz Deus revela-se escondendo-se”
(sub contrario). A chave desta revelação está toda na missio do Filho, O qual, observa
Balthasar “não assume o peso desta existência d‟Ele (isto seria contraditório com o
estado kenótico) mas aceita apenas deixar-se carregar na hora firme no Pai”31. Nesta
questão Balthasar assume a posição dos Padres da Igreja os quais sustentavam que a
incarnação estava em ordem à paixão, isto em última análise é dito por Balthasar entre
teologia balthasariana. Dado que evidencia como Jesus vivia desde o princípio e agia
em vista à Hora. Deste modo, a sua proximidade ou distância torna-se critério para
valorizar cada uma das suas acções33 e a medida da sua existência34. Naturalmente
resta uma certa tensão entre a vida e a Hora, e contudo a existência de Jesus tende para
30
P. Martinelli sublinha que o choque de Jesus é essencialmente a passagem de uma acção para uma paixão
que ele vem carregando do peso da Cruz, (Cfr. HUB - Herrlichkeit: eine theologische Ästhetik: Neuer Bund.
[H III/2/2] Einsieldeln: Johannes, 1969. vol.3/2/t.2, 187-196 [Trad. castelhana: Gloria: Nuevo Testamento.
Madrid: Ediciones Encuentro, 1998. vol.7, 167-174]), da parte dos homens, dos cristãos hebreus e pagãos
finalmente da parte Pai tornando-se evidente “que Deus age de modo decisivo na hora de Jesus”. Cfr.
MARTINELLI P. - La morte di Cristo como rivelazione dell’amore trinitario nella teologia di H. U. von
Balthasar. Milano: Jaca Book, 1996, 296-297.
31
“aber die dieser Existenz zugedachte Last bürdet er sich nicht selber auf – das widerspräche gerade dem
kenotischen Zustand -, er ist nur bereit, sie sich in der «Stunde» die der Vater bestimmt hat, aufbürden zu
lassen”. H III/2/2, 200 = 200.
32
“…daβ zwischen dem (aktiven) Leben Jesu und seiner Stunde eine vollkommene Einheit herrscht” THD
III, 217 = 214; Cfr. TDT 16-27 = 666-673.
33
Jo 2,4; 7,30; 8,20; 12,23.27; 13,1; 16,32; 17,1.
34
Mc 13,32.
34
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
este momento, tanto que essa se pode dizer contida entre as duas expressões
missão da hora (die Sendung der Stunde) explicita-se como parte essencial e tendo
unicidade irrepetível de Deus, o qual irradia e comunica tal glória segundo o modo
manifestado por natureza e por graça toda a sua atenção ao desígnio do Pai no Filho,
importante do que uma simples companhia materna para o Filho do Deus incarnado. A
tarefa (Auftrag) que à Mãe é destinada a desenvolver é capaz de aparecer diversa aos
olhos do mundo a respeito da vida de Jesus Cristo, diverso como pode ser a palavra e o
silêncio; mas a Hora deixa cair cada distinção e ascender o destino do ser virado para
uma acção comum, porque é de frente à paixão que a Hora da Mãe comunicada na
35
THD III, 218 = 215.
36
Cfr. VC, 184 = 222.
35
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
realidade insuperavelmente maior: é por isso que Ela deverá acolher no Espírito38,
com a prontidão de uma única contudo dúplice obediência de fé39, à vontade do Pai na
pessoa do Filho.
para o Filho no seu definitivo momento da morte pro nobis (centro da teodramática e o
âmago mais íntimo, diz Balthasar, do jogo complexo entre Deus e o homem), tal como
a incarnação, ambas são a mesma verdade, e não um exemplo, fazendo por um lado a
37
Cfr. Idem, 255-256=302-303.
38
A presença do Espírito Santo e de Maria é considerada por Balthasar dentro de uma visão tripla: A) na
visão cristã do homem, o Espírito é a força misteriosa que, não obstante o pecado, prevalece no coração
humano produzindo assim fruto na reconciliação completada por Cristo. O encontro entre a luz/graça de
Deus e a resposta da pessoa humana é completado sobretudo em Maria. B) na visão teológica da Igreja o
Espírito Santo estabelece a unidade entre a Igreja hierárquico-Petrina e a Igreja amor, é o Espírito que com
suprema liberdade, conduz cada comunidade cristã. Em Maria dá-se a transformação do eu-pessoal em eu-
eclesial. No contexto eclesiológico, esta presença tem o nome de princípio mariano, que é o factor de
feminilidade cristã por meio da qual a Igreja, enquanto Esposa fiel de Cristo é também plenamente
disponível e receptiva da Palavra. C) segundo a teologia da história de Balthasar, depois da vinda de Cristo é
essencialmente uma história sacra. Agora a história não é mais um fenómeno científico ou antropológico
mas essencialmente teológico. Nesta visão teológica da história o princípio mariano da existência cristã e da
Igreja atinge o seu cume quando Balthasar apresenta a relação misteriosa que entrelaça a obediência do Filho
à vontade do Pai e a missão de Maria no Espírito Santo como o verdadeiro centro teológico da história do
mundo e da humanidade e como o local da integração de cada ulterior acto de obediência cristã no único
sacrifício de Cristo. Cfr. MASINI, M. – Percorsi di mariologia nella cristologia contemporanea. Marianum.
44 (2002), 326-329.
39
“…der den Erlösungsgehorsam Jesu einfordert, liegt aber auch das Dabeisein derer, die hier stellvertreten
werden: wenn es wirklich um die Vollendung des Bundes geht, kann es mit passiver Stellvertretung sein
Bewenden nicht haben, die Stellvertretenen müssen in aktiver Weise miteinbezogen sein (jedoch so, daβ der
Vorrang Christi vor den ihm Nachfolgenden oder mit ihm Mitwirkenden in keiner Weise verwischt wird).”
[tradução minha] “[A Hora] reclama a obediência salvífica de Jesus, mas interpela também a presença das
pessoas aqui representadas; se realmente se trata do cumprimento da Aliança, isso não é capaz de levar a
cabo numa vicariedade passiva, os representantes devem ser envolvidos numa maneira activa (todavia de
modo que a proeminência de Cristo a respeito dos seguidores ou cooperadores não venha de modo nenhum
atenuada).” THD III, 220 = 217. Tal proeminência de Cristo a respeito dos seguidores e cooperadores não é
colocada.
36
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
dolorosa experiência natural materna de haver entregue uma carne para a morte, e por
outro lado fazendo fé que no momento da ressurreição de haver dado uma carne para a
incarnação na sua relação com a paixão; “Christus mori missus nasci quoque
momento em que essa se dirige para a Hora. Nos Evangelhos Sinópticos é visível esta
diástase, como o é a relativa projecção deste estado de vida para a fase final
40
Tertuliano, De Carne Christi 6, 32-34 [http://www.documentacatholicaomnia.eu/04z/z_0160-
0220__Tertullianus__De_Carne_Christi__LT.doc.html online no dia 1 do 10 de 2009].
41
A tal propósito, pode-se evidenciar que “O termo paixão tem um duplo significado de sofrimento e ardor, e
exactamente nesta dúplice acepção está o acto de exprimir a verdade central da fé cristã. Esta vive do
sofrimento de um grande ardor e é esse estado de paixão disposto a sofrer pela vida”. MOLTMANN, Jürgen
- Trindade e reino de Deus: uma contribuição para a teologia. Petrópolis: Vozes, 2000, 32.
37
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
um particular momento de tempo favorável (Lc 1, 10; 14, 17; Mt 10, 19; Act 3, 1) ou
no Apocalipse, um tempo preestabelecido por Deus (14, 7; 14, 15; 18, 10). Os
sofrimento de Jesus43. Em particular a hora tem porém uma dúplice referência: por um
lado o tempo destinado pelo Pai à paixão (Mc 14, 35); por outro lado o momento em
que os discípulos são chamados a vigiar e orar com Jesus (Mt 26, 40). A Hora de
Jesus é uma condição (Zuständligkeit) que faz saltar cada esquema cronológico de
tempo, observa Balthasar, e também é apoiada no tempo terreno (irdische Zeit) como
expectativa e vinda.
O Evangelho de João faz da Hora um tema típico seu, e neste sentido Balthasar,
recupera-o em toda a sua significativa intensidade. Mesmo que na verdade não seja um
do Antigo Testamento (como por exemplo Dn 11, 40-45 onde se fala sobre a luz de
João distingue-se dos Sinópticos porque desde o início fala da Hora, individualizada
“… das Kreuz, das er nicht antizipiert, dessen Kenntnis er dem Vater anheimstellt (Mc 13, 32), ist Maβ
seiner Existenz”. [tradução minha] “A cruz que Jesus não antecipa, a consciência que ele remete para o Pai
(Mc 13, 32) é a medida da sua existência”. TDT, 89 = 709.
43
Por exemplo, os Sinópticos usam-na a propósito da agonia de Jesus no Getsémani: “É chegada a hora: o
Filho do homem é entregue nas mãos dos pecadores” (Mc 14, 41).
44
Cfr. LA POTTERIE, Ignace de - La pasión de Jesús según San Juan: texto y espíritu. Madrid: BAC, 2007,
13; DILLENSCHNEIDER, C. – El misterio de nuestra señora y nuestra devocion mariana. Salamanca:
Sigueme, 1965, 176-194.
38
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
como o ápice da vida terrena de Jesus Cristo, distinta da Hora das trevas, da entrega
cruz unido ao da glorificação. Jesus, no Evangelho de João, fala desde o início sobre
isso, mas no final do cap. 12 apenas para dizer que ela ainda não chegou, pois Ele
assinala na sua palavra a chegada deste momento: a hora está próxima, até na primeira
palavra da oração sacerdotal na qual Jesus declara a vinda da hora: “Pai, é chegada a
hora; glorifica a teu Filho, para que também o Filho te glorifique” (Jo 17, 1) 45. Esta
aqui limitada na força, no espaço do tempo e do lugar). Mas no tempo limitado Jesus é
a luz do mundo da qual precisa valer-se (Jo 8, 12; 12, 35) antes que venha a hora das
trevas (Lc 22, 53). É o mestre da verdade que reúne os insanos47. O movimento
45
A. GEORGE num comentário a Jo 17, chama a oração sacerdotal de “a oração da Hora”, essa é lida em
paralelo com a oração do Getsémani, em que o assunto seria o mistério da invisível unidade entre sofrimento
e glorificação. Cfr. GEORGE, A. - L “heure” de Jean 17. Revue Biblique. 61 (1954), 392-397.
46
Von Balthasar apresenta a soteriologia na segunda parte da sua trilogia, segunda uma perspectiva joanina,
dando relevo, ao contexto revelativo da cruz e do morrer de Cristo.
47
O nosso autor sublinha como “Das ungeheure Übergewicht einer überzeitlichen Werttafel, die unfaβliche
Un-vorsichtigkeit, die vom Mitgehenden verlangt wird, zeigt, wie sehr das Leben Jesu […] auf eine zeitlose
Zeit hinstrebet, von ihr angezogen wird, von ihr her denkt und baut”. [tradução minha] “O peso
preponderante de uma tábua de valores supra-temporais, a incompreensível falta de cautela que pede aos que
o rodeiam, mostra até que ponto a vida de Jesus […] aponta a um tempo sem tempo, pelo qual é seduzido, a
partir do que pensa e constrói.” THD III, 214 = 211.
39
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
tem o seu curso direccionado para aquilo que será o conteúdo da hora, que Jesus não
antecipa nem no tempo, nem no conteúdo, mas concebe como “uma realidade de
inalterável estabilidade de Deus” (Zeit und Inhalt, als eine bei Gott unabänderlich
lugar onde se justifica a sua exousia e a sua pretensão de ser o Filho de Deus. Mas, ao
mesmo tempo, o facto de que Ele não possa antecipar o conhecimento da hora indica
Hora.
sublinha, uma relação especial com Jesus49. Para Jesus a existência terrena não é
vontade50.
48
Cfr. Idem, 215= 212.
49
Balthasar dedicou muitas páginas da sua obra directamente à análise do tempo eterno e tempo finito. Cfr.
HUB - Homo creatus est: Skizzen zur Theologie. [HC] Einsiedeln: Johannes, 1986. vol.5, 38-51 [Trad.
Italiana: Homo creatus est: saggi teologici. Brescia: Morcelliana, 1991. vol.5, 41-56]; H III/2/2, 150-186 =
135-166.
50
Balthasar no seu texto da Teologia dos três dias e no quarto volume da Teodramática, sublinha como a
dimensão da Hora revela o envolvimento Trinitário. Ou melhor, o pro nobis introduziu uma estrutura
trinitária, tal como conclui P. Martinelli: “Pensiamo non sai temerario affermare che il modo con il quale
Balthasar presenta il “pro nobis”, che esprime la dimensione constitutiva dell’“ora” di Gesù, rivela una
strutura trinitaria; infatti, pur nel continuo riferimento a tutte le persone divine, ci sembra che il contenuto
della morte sai baricentrata sul Figlio, il frutto di essa sull’ opera dello Spirito e la descrizione della
40
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
Jesus Cristo não faz qualquer tentativa de se evadir do tempo ou de fechá-lo51, deste
modo, afirma o teólogo suíço, pode-se dizer que, como enviado do Pai na existência
temporal, o caminho seguro para todos é Ele; mas dado que tal acção está em relação
com o desígnio do Pai, o Filho está sempre virado para Ele, assim continua a “morar
junto do Pai”. Cada coisa que Ele faz no tempo é segundo a vontade do Pai. Para além
de tal modo que, observa Balthasar, Cristo tem sucesso ao fazer da própria morte uma
(vado ad Patrem) ao Pai, a razão da assunção da carne que pela lei do Pecado, da
Morte e do Juízo a que se sujeita a caro peccati (Fleisch der Sünde) acontece de modo
cruel. De tal modo que o retorno ao Pai por parte do Filho passa, através da porta da
morte e do juízo da Cruz, entre a manifestação da ira (Zorn Gottes) e do amor de Deus
(Liebe Gottes).
Portanto, seguindo esta óptica, podemos afirmar “que entre a vida activa de
Jesus e a sua Hora reina uma perfeita unidade”, como já havia sido dito, que Balthasar
distingue de uma pura continuidade, como seria capaz de ser aquela da “solidariedade
para com os pecadores”. A vida de Jesus corre para a Hora e nessa nota-se o “agir
contra Ele. Pelo contrário, Hora é o domínio do ser-entregue pelos homens e pelo Pai
sorgente sul mistero del Padre” (MARTINELLI P. - La morte di Cristo como rivelazione dell’amore
trinitario nella teologia di H. U. von Balthasar. Milano: Jaca Book, 1996, 318).
51
Deste modo, afirma Balthasar, Cristo não pretende abolir o tempo, ao contrário de um grande número de
propostas religiosas, que tentam fugir perante a insensatez do tempo, à sua vanidade, ao seu destino directo
para a morte. Cfr. HC, 40 = 44.
52
“…kann er drittens seinen Tod zu einer wahrhaftigen Tat machen”. Idem, 46 = 50.
41
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
em última análise. Ainda que isto pareça um deixar andar aparentemente passivo, que
requer uma certa luta (no Getsémani), porém revela uma super-acção (Überaktion),
Pai e do Filho, ambos na comunhão do Espírito, que é também acção entre Cristo e os
pecadores que lançaram sobre Ele os seus pecados, todavia é necessária agora uma
liberdade dos Filhos de Deus. Esta figura é individualizada na humilde Serva (niedrige
Magd), cujo consentimento (Jawort) já no início, observa Balthasar, tinha sido tão
que Ela aceitou incluídos”54. Neste momento, Maria tem a função de reunir em si toda
Espírito. Esta é uma sabedoria que cumpre perfeitamente a acção do deixar acontecer,
também na não compreensão e na profunda angústia do destino do seu Filho. Ela está
aqui, em comunhão perfeita com o Filho que deixa ao Pai o saber quando virá a Hora
forma da obediência assume os contornos deste deixar-se conduzir para a via Crucis
53
Cfr. THD III, 218= 215. Confrontar também com o sétimo volume de Glória: “Peso da Cruz” H III/2/2,
187-217 = 167-192.
54
“alle Schicksale des bejahten Sohnes miteinschloβ” THD III, 328 = 328.
42
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
que termina sob a cruz, como o aspecto de uma maturação angustiante que parte de
“Sob a cruz, sucede-se a conclusão das duas coisas: a coincidência das duas
“horas” finalmente alcançada (Jo 2, 4): Jesus abandonado pelo Pai abandona a sua
Mãe de forma que ambos os abandonos sejam uma coisa só, seja a perfeita separação
da Mãe dirigida à Igreja. Mulher, eis o teu filho (Jo 19, 26). De agora em diante Ela
campo visual (Blickfeld), no momento da Hora Deus age de um modo tão decisivo e
55
“Unter dem Kreuz vollendet sich beides gleichzeitig: sowohl das endlich erreichte Zusammenfallen der
beiden «Stunden» (Jo 2,4): Jesus, vom Vater verlassen, verläβt seine Mutter, damit beide in der
Verlassenheit eins seien, wie die vollkommene Abscheidung der Mutter in die Kirche hinein zeigt (Jo 19, 26
«Weib, siehe da deinen Sohn»): sie wird fortan Mitten dessen, was «Leib» und «Braut» Christi sein wird”.
HC, 146 = 157.
56
“Vom Kern der Versöhnungslehre her kommen die im vorigen Band geschilderten theologischen Personen
erst eigentlich ins Spiel.” [tradução minha] “As pessoas teológicas mencionadas no volume anterior só
entram realmente em jogo quando partem do núcleo do ensaio sobre a reconciliação.” THD III, 211 = 208.
Interessante a este propósito é a reflexão de A. Von Speyr: “Inicialmente [Maria] não pronuncia o seu sim em
vista de uma agradável recepção nem com o intuito de uma morte terrível. O seu sim não é dado a mais nada
que não seja a vontade de Deus, e não acontece mais do que a uma particular situação do Filho, nem tanto
menos do que da sua particular condição. É um sim indiferente que pode ser planeado por Deus seja num
sentido de uma grande alegria, seja num sentido de uma dor profunda. Ela mesma não deseja influenciar em
nada a vontade Deus, somente aceita-a.” SPEYR, A. von – Ancilla Domini: María en la redención. Rafaela:
Fundación San Juan, 2005, 134.
43
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
a missio do Filho.
articulação deste papel que a dramática figura de Maria desenvolve no drama não é
uma escolha do campo que vai ao encontro da Tradição da Igreja, impõe um sentido
Poderia parecer, segundo a visão de Balthasar, que não se pode alcançar uma
cristológico, se não fosse considerada, partindo deste fundo trinitário, que evidencia
como “Deus, já em si, como o amor absoluto [Pai] deu e sacrificou ao mundo o Filho
por amor ”58. Maria é pois parte integrante e em certo sentido necessária para a
57
Cfr. NICHOLS, A. – No bloodless myth: a guide through Balthasar’s dramatics. Washington: The
Catholic University of America Press, 2000, 107-118.
58
“…daβ Gott (der Vater) den Sohn aus Liebe zur Welt preisgegeben hat…” THD III, 297 = 296.
44
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
como parte activa no evento, não só como fruto dos frutos da redenção, não só através
relação ao qual o drama cósmico de Deus (Weltspiel Gottes), concentrado sobre esta
cena, decide o Teodrama. Este é um evento no qual não só o mundo, mas também
estar passivo.
cruz, a estrutura unitária e circular de toda a sua reflexão, de toda a sua Denkform, tal
para com a inclusividade universal da sua missão, da qual faz parte o tudo está
59
Cfr. Idem, 102-111 = 107-114.
45
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
como a paixão e a morte de Jesus sofrida pro nobis não é simplesmente o identificar-
se com um qualquer sofrimento, um puro sofrer, mas é sua super-acção na qual Ele
obediente ao Pai presume uma actuação por cima de toda a medida humana, até à
exaltação (Jo 3, 14-15; 8, 28; 12,32) e a Hora de Jesus (7, 30; 8, 20; 12, 20-28; 13, 1;
mistério da Mater dolorosa, em paralelo com Cristo, o homem das dores (Is 53, 3).
Volvendo para primeiro plano a inclusão trinitária, se for permitido usar tal
nome, esta contribui para uma interpretação inovadora, se não mesmo original do
60
Cfr. Idem, 110 = 112.
61
Balthasar preferindo reavaliar o modelo da substituição vicária traça uma via entre dois extremos,
renunciando a definir o mistério e procurando superar no fundo a interpretação tomista, que deixa, segundo o
nosso autor, a Trindade Imanente. “daβ diese nicht gleichsam «unbehelligt» oberhalb des Kreuzesgeschehens
schweben blieb (Christus oberhalb seiner Gottverlassenheit noch die Visio beatifica genieβt), sie aber auch
nicht im Sinn einer moltmannschen oder hegelschen Prozeβtheologie in eine mythologisch-tragizistische
Verstrickung mit der Sünde geriet”. [tradução minha] “que não ficou “salvo” a pairar por cima do evento da
cruz (com Cristo acima do abandono do Pai ainda a gozar da visio beatifica) ” nem entre numa fusão
mitológico-trágica com o pecado segundo a teologia do processo na linha moltmanniana ou hegeliana.” Idem,
310 = 309.
46
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
vê Maria aos pés da cruz, é evocada certamente a relação humana mãe-filho, mas
também se trata de ver por dentro, ao mesmo tempo, o contributo compassivo (no
Por tal motivo, expomos um breve excursus que Balthasar propõe analisando as
cinco categorias (ou cinco perspectivas) que reúnem alguns aspectos fundamentais da
reconciliação nos escritos neotestamentários, notando que são cinco motivos que
62
Cfr. Idem, 291 = 290-291. Onde vem considerada a ideia de S. Bulgakov de kenose intratrinitária como
havemos já visto precedentemente.
47
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
(Dahingegeben) mediante o Pai por todos nós (für uns alle). Em segundo lugar este
dom de si, recordando em certas alturas o primeiro motivo, torna-se uma verdadeira
sangue de uma morte violenta (Heb 9, 22) como o de Cristo. Mas a libertação do
intratrinitária, que acontece na graça por obra do Espírito Santo e que coloca na
condição de filhos com Cristo (Ef 1, 5). De facto, se a situação de pecado do homem
recorda na Escritura o tema da ira de Deus, o acontecimento deve ser lido por inteiro
A respeito destes cinco motivos existe, segundo Balthasar, uma unidade precisa,
que todavia ergue uma impossibilidade de ser reduzido a um sistema, dado que a todos
63
DS, nº150.
64
Cfr. THD III, 222 = 218-219. A troca de lugares bem acolhida em linha de princípio pelos Padres da Igreja,
é desenvolvida até às últimas consequências apenas nas variações modernas na teoria da substituição vicária.
Cfr. Idem, 295 = 292.
65
Balthasar sustenta que: “«Erlösung durch sein Blut, Vergebung der Sünden» nur ein Moment innerhalb des
umfassenden göttlichen Ratschlusses, uns durch Gnade der Mit-Sohnschaft mit Christus teilhaft zu machen”
[tradução minha] “a redenção mediante o seu sangue, a remissão dos pecados é apenas um aspecto do
desígnio divino que encontra o seu cumprimento na vontade divina de que o homem se torne filho no Filho.”
Idem, 223 = 220.
66
Isto não significa, afirma Balthasar, que o evento pascal não tenha a ver com o fazer justiça (Gerechtigkeit)
à Aliança de Deus. Cfr. Idem, 223 = 220.
48
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
adequado, mostrando uma íntima coerência, sem que um se eleve perante o outro,
um deles uma interpretação da morte de Jesus. Esses são modelos epocais, como os
define Balthasar.
da cruz é lida segundo a troca de lugar, ao qual vêm reconduzidos os outros quatro
por meio da qual o homem alcança a divinização. Apenas num segundo momento,
incarnação e paixão70. Se entrarmos no valor das posições singulares dos Padres, pode-
os Padres, por causa das concepções cristológicas e das relativas disputas, defenderam
67
Cfr. Idem, 221-224 = 217-221.
68
Para a descrição do modelo teológico patrístico e as diversas problemáticas que se desenvolvem à volta
disso, remetemos às seguintes páginas da Teodramática: Idem, 224-234= 221-231.
69
O termo commercium usado depois do Concílio de Éfeso, substitui outros termos menos adequados como
mixis, usado por exemplo por Tertuliano (Apologeticum nº21,14), por Cipriano (De Vanitate Idolorum nº11)
por Gregório de Nazianzo, que por sua vez usa o termo krasis (Orationes 38,13). O tema da representação
vicária encontra-se também abordada na obra de Balthasar, por exemplo nos Skizzen zur Theologie. como é o
caso do capítulo referente à substituição vicária em HUB - Pneuma und Institution: Skizzen zur
Theologie.[PI] Einsiedeln: Johannes, 1974. vol.4, 401-409 [Tradução italiana: Lo Spirito e l’Istituzione: saggi
teologici. Brescia: Morcelliana, 1979. vol.4. 344-351]; e em HUB - Theodramatik: die Personen des Spiels:
die Personen in Christus. [THD II/2] Einsiedeln: Johannes, 1976. vol.2/t.2, 218-225 [Trad. castelhana:
Teodramática: las personas del drama: el hombre en Cristo. Madrid: Ediciones Encuentro, 2007. vol.3, 222-
231].
70
A Incarnação significa, como já havia sido dito, não apenas o acto de entrada na humanidade, mas a
aceitação da dolorosa vida humana, tendo em vista, desde o princípio a paixão e a morte. Cfr. THD III, 227 =
224.
49
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
da nossa natureza pecadora» (Rom 8, 3), o perfeito sem pecado não pode tomar dela
mais do que as consequências do pecado, isto é, as pathe (affectus) que, enquanto tal,
são realmente debilidades mas inocentes, e isto, como se diz de vários modos é aquilo
naquilo que nos actualiza em si”71. Então sem querer fazer a relação de Cristo com o
primeiro73 que tenta recolher num sistema racional os cinco motivos soteriológicos da
71
“Der vollkommen Sündelose kann, «die Ähnlichkeit unserer sündigen Natur» annehmend (Röm 8,3), aus
dieser nur jene ihr anhaftenden Sündenfolgen mitübernehmen, jene pathe (affectus), die als solche zwar
Schwächen, aber schuldlose sind, und dies – wie vielfach gesagt wird – auch bloβ, in dem er «uns in sich»
vergegenwärtigt”. Idem, 230 = 226.
72
Perante as preciosas reflexões dos Padres, Balthasar vê-as do seguinte modo: “Der auf der Weltbühne
agierende Erlöser füllt die Rolle, den Sünder vor Gott stellzuvertreten, nicht voll aus.” [tradução minha] “o
Salvador na acção sobre o teatro do mundo não executa na íntegra o seu papel de representar os pecadores
diante Deus”. Idem, 229 = 225.
73
Cfr. HUB - Herrlichkeit: eine theologische Ästhetik: Fächer der Stile: klerikale Stile. [H II/1] Einsiedeln:
Johannes, 1962.vol.2/t.1, 217-263 [Trad. castelhana: Gloria: estilos eclesiásticos. Madrid: Ediciones
Encuentro, 2007. vol.2, 191-234]
74
“ein Gottmensch muβ in der Tat den Platz des Menschen einnehmen, um diesen, der durch die Sünde
insolvent geworden ist, zu entlasten.” [tradução minha] “É Um Homem-Deus o que de facto tem que ocupar
o lugar do homem para libertá-lo, dado que se tornou insolvente por causa do pecado.” Idem, 236 = 232.
50
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
que olha Jesus Cristo longe do contacto efectivo com o pecado das pessoas pelo qual
morre inocente75, tanto que em S. Anselmo não se pode falar de dores expiatórias
substitutivas pelos pecados de cada homem na paixão de Cristo, dado que essa é
perde no entanto, segundo Balthasar, uma íntima conexão entre Cristo e a humanidade
51
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
amor misericordioso de Deus, mas refuta a ideia de um preço a pagar ou de uma acção
Sem entrar no mérito específico da posição de Tomás, pode-se dizer que se de uma
parte Tomás tem em grande conta o fundamento dos Padres da “mudança de posição”,
por outra, sustenta Balthasar, também na sua reflexão, “não se adverte nem o mais
leve rasto de um estreito contacto entre Jesus e a realidade do pecado como tal”. Cristo
é visto como a eficácia medidora entre Deus e o homem, e as dores de Cristo têm
pelo qual não se assinala o abandono da parte de Deus como o centro da paixão. De
acordo com Balthasar, S. Tomás sublinha várias vezes que também durante a paixão
para termos como vítima, satisfação e outros semelhantes, dado que são inadequadas
para o homem de hoje; por outro lado a possibilidade de superar a diástasis entre a
77
Praticamente afirma Balthasar que “Gewirkt wird die leidende Genugtuung durch die Menschheit der
zweiten göttlichen Person; diese Menschheit ist das «Organ» (instrumentum), durch welches der Gottmensch
sie vollbringt, wobei die Schwachheit des leidenden Menschen nach Paulus (1 Kor 1,25) eben das Mittel und
der Erweis der größeren Stärke Gottes ist.” [tradução minha] “a satisfação mediante o sofrimento vem
operada pela humanidade da segunda pessoa divina; esta humanidade é o órgão (instrumentum) pelo que o
Deus-homem se realiza, com o que a debilidade do homem paciente é precisamente, segundo Paulo (1 Cor
1,25) o meio e a prova de força ainda maior de Deus.” Idem, 245 = 240-241.
52
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
solidariedade de Jesus para com os homens no centro79, e o outro modelo que valoriza
cruz, reassumida por Lutero e pelos protestantes por um lado, e pelos católicos por
outro, passando-se para uma interpretação radical da II Carta aos Coríntios81, trazendo
de volta a posição agostiniana que Jesus Cristo é vítima por causa do pecado.
uma das últimas auto-doações de Deus82, que encontra a sua origem na kenose
volta dos relatos do Horto das Oliveiras, é tida em consideração: ele demonstra como
“No Deus Uno e Trino, que criou o homem à sua imagem e semelhança […] no êxtase
78
Idem, 246=242.
79
Cfr. Idem 247-263= 243-259.
80
Cfr. Idem, 263-276= 260-273.
81
E por isso, gememos nesta tenda, ansiando por revestir-nos daquela habitação celeste. 2 Cor 5, 2.
82
Balthasar apresenta a ideia Bulgakoviana do altruísmo das Pessoas divinas no interior da vida trinitária,
que se manifestam como puras relações na vida do amor intradivino (und die «Selbstlosigkeit» der göttlichen
Personen als reiner Relationen im innergöttlichen Leben der Liebe zur Grundlage von allem nehmen.”)
[tradução minha] (E assumir como fundamento de tudo o altruísmo das Pessoas divinas no interior da vida
trinitária, que se manifestam como puras relações na vida do amor intradivino). O teólogo suíço utiliza como
base esta intuição para fundar uma primeira forma de kenose, aquele que diz respeito ao momento da criação
e da cruz, e esta última como já inscrita na criação do mundo. Cfr. H III/2/2, 198 = 176.
83
Cfr. THD III, 291-293 = 289-291.
53
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
doloroso da cruz aparece a entrega total de Deus na sua vida trinitária e no seu amor
pelas criaturas”84.
efectiva densidade dramática que merece. O evento da cruz não cai verticalmente do
céu, mas pressupõe uma história na qual Deus na sua liberdade infinita não é puro ou
puramente passivo no acto da salvação, como se a sua culpa viesse toda numa acção
vicária pela colisão entre a liberdade infinita e a liberdade criatural que não responde
ao amor de Deus86. Balthasar especifica que “o pro nobis cristológico, contra o que se
84
Cfr. Idem, 294 = 292.
85
Acerca da soteriologia dramática de Balthasar ver: MARCHESI, G. - La cristologia di Hans Urs von
Balthasar: la figura di Gesù Cristo, espressione visibile di Dio. Roma: Università Gregoriana Editrice, 1977,
546-569.
86
“Über das Mysterium des auch in diesem Werk der Versöhnung und Erlösung der abgewendeten Welt
Umgreifenden der Liebe Gottes wird noch eigens zu reden sein. Dieses Umgreifen muβ die in der Schöpfung
gesetzte Freiheit des Menschen respektieren; keinesfalls kann es um eine machtmäβige Überwältigung des
Menschen durch eine stärkere Freiheit Gottes gehen. Aber zweierlei darf nicht vergessen werden: daβ dem
Menschen Freiheit nur innerhalb eines «vor Grundlegung der Welt» schon gefaβten Ratschlusses Gottes,
sich die Welt im «Blut» Christi zu versöhnen (Ef. 1,7) gegeben wurde, und daβ die dreieinige Liebe Gottes
Macht nur in Gestalt der Hingabe (und der in hier liegenden Wehrlosigkeit und «Ohnmacht») besitzt”.
[tradução minha] “O mysterium da realidade envolvente deste amor de Deus […] deve necessariamente
respeitar a liberdade do homem colocada no acto da criação; não se pode tratar em caso nenhum de uma
superação do homem pela via da potência de uma liberdade mais forte de Deus. Mas duas coisas não se
deveriam esquecer: que ao homem a liberdade é dada no âmbito de um conselho ou desígnio de Deus já
54
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
esperaria racionalmente, não quer dizer que um morreu em lugar de todos para que os
outros não tivessem que morrer, mas antes que insere os outros numa comunidade
substituição vicária a partir da relação entre a Cruz e a Trindade, pela qual a Trindade
Deus UniTrino, a qual não se pode concluir sem a cruz88. O fundo trinitário ilumina
como vontade do Pai até à treva mais extrema, como adesão da missão recebida do
Pai. O tema trinitário é isto que sustém o motivo da mudança de posição patrística e
concebido desde a fundação do mundo, e que é reconciliado através do sangue de Cristo (Ef. 1,7), e que o
amor uno e trino de Deus possui poder apenas na forma da dedicação, do dar-se (e na condição inofensiva,
indefesa e na impotência que lhe é implícita)».” PI, 422 = 363.
87
“das christologische Pro nobis nicht, wie man vernünftigerweise erwarten sollte, besagt, einer sei anstelle
aller gestorben, damit die übrigen nicht zu sterben brauchen sondern daβ es die übrigen in eine mystische
Sterbegemeinschaft hineinzieht, in der der Tod freilich eine andere, umgewendete Bedeutung erhält.” THD
II/2, 225 = 227
88
Balthasar, evita a dissolução do processo intradivino no processo histórico-imanente, por isso contesta a
posição de Rahner e Moltman, os quais aparentam caminhar em sentido contrário a Balthasar. Cfr. THD III,
295-305 = 295-304.
89
“Das (zweite) Commerciummotiv basiert jetzt vollständig auf dem (ersten) der Preisgabe des Sohnes,
sofern diese die ökonomische Darstellung der trinitarischen liebenden Selbstpreisgabe des Vaters (fünftes
Motiv) ist. Diese Einbettung macht sowohl das dritte Schriftthema (Erlösung als befreiender Loskauf)
zugänglich, das im Zusammenhang mit dem Tauschmotiv behandelt werden soll, wie schlieβlich auch das
vierte (Einführung in das trinitarische Leben), das sich unmittelbar aus dem Vorausgesetzten ergibt”.
[tradução minha] “O segundo motivo, do commercium, aparece completamente apoiado sobre o primeiro, o
da entrega do Filho, desde que este seja a manifestação económica da auto-entrega do dom amoroso da
Trindade, cuja fonte é o Pai (quinto motivo). Esta inclusão abre caminho aos dois temas restantes: ao terceiro,
o da Escritura (a redenção como resgate libertador), que deve ser estudado na relação com o tema de
intercâmbio, e o quarto (a introdução da vida trinitária) que se deduz directamente dos precedentes.” Idem,
309 = 308.
55
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
Maria
sem todavia ser confusa ou identificada “num processo único” com o momento
trinitária que se revela como amor absoluto entre as pessoas divinas, e a mesma
à Cruz.91
90
Com o termo überforderung, Balthasar entende a super-exigência, contida na obediência ao Pai, que se
refere directamente à substituição vicária, à elevação do pecado da parte de Cristo, no cumprimento da sua
missão. Uma substituição pela qual “…am Kreuz hat der vom Vater verlassene Sohn grundsätzlich für alle
Sünde aller Menschen gebüβt und die Gottverlassenheit aller Sünder stellvertretend ausgelitten. Das
Nichtverstehen-Wollen der Liebe Gottes durch die Menschen ist voll eingeholt im Nichtverstehen des Sohnes,
warum der Vater ihn verlassen hat”. [tradução minha] “Sobre a cruz o Filho abandonado ao Pai expiou, em
linha de princípio, por todos os pecados de todos os homens, suportando e sofrendo no fundo, em
representação vicária, o abandono por Deus de todos os pecadodores. O não querer compreender o amor de
Deus, da parte de cada homem, é completamente retomado e absorvido dentro da incompreensão, da parte do
Filho, do motivo por que o Pai o havia abandonado”. (PI, 423 = 363).
91
Cfr. THD III, 300-301 = 299-300.
92
No contexto do mistério pascal a referência imprescindivelmente cristológica requer também uma
consideração proporcional sobre a questão antropológica. Um aprofundamento sobre esta relação, relativa ao
56
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
do horto até à cruz é seguramente esta reciprocidade dialógica entre a liberdade finita
vertical, que deste modo não desce como acção desconectada da história. O dado
Cordeiro que veio para sempre e o não agora da batalha decisiva em curso94. Desde
juízo e salvação95 da cruz. O evento escatológico de Deus, que no Filho mostra toda a
pecado e à acção salvadora de Deus em Cristo, pode-se encontrar na obra: CARELLI, R. – La libertà
colpevole: perdono e peccato nella teologia di H. U. von Balthasar. Milano: Glossa, 1999.
93
Cfr. THD III, 185 = 184; “… a contemplação da figura de Maria é partir do núcleo essencial da
eclesialidade: a relação da liberdade infinita de Deus com a finita liberdade humana…” CARVALHO, Maria
Manuela - A centralidade cristológica do Eschaton nos escritos de Hans Urs von Balthasar. Porto: Fac.
Teologia da UCP, 1993. (Humanística e Teológica; 6), p. 229.
94
Idem, 20 = 22.
95
“Neuteestamentliche Theologie versteht das Kreuz als jenes Geschehen, auf das die ganze frühere
Heilgeschichte vorlief, um überhaupt eine solche zu sein, und von dem her alles Nachchristliche immer neu
herkommt, so daβ keiner vom Kreuz her leben kann, der nicht zugleich auf das Kreuz zu, ja im Kreuz (als
«mitgekreuzigt», Gal 2, 19) lebt. Indem es innerhalb des theodramatischen Geschehens als Zentrum und
Höhepunkt erscheint, wird es zu einem Inbegriff – der Liebe Gottes wie der Sünde der Welt, des Gerichts wie
des Heils, der Verhüllung und der Offenbarkeit des trinitarischen Gottes und der Welt vor ihm -, einem
Inbegriff, der für alle Handlung Rahmen und Horizont bleibt”. [tradução minha] “A teologia
neotestamentária compreende a cruz como esse facto para o qual a história da salvação que o antecede vai
avançado para poder ser a tal história da salvação, e como o facto do qual continua a derivar todo o post-
cristão, de tal maneira que ninguém pode viver da cruz que não esteja a viver para a cruz, inclusive na cruz
(como co-crucificados Gal 2,19); dado que a cruz faz a sua aparição no marco do acontecimento
teodramático como centro e cume, converte-se num compêndio (do amor de Deus tanto como do pecado do
mundo, do juízo tanto como da salvação, do encobrimento e da manifestabiliade do Deus trinitário e do
mundo na sua presença), compêndio que se mantém como âmbito e horizonte de toda a actividade”. THD
II/2, 46 = 55-56.
57
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
alienação do mundo pecador” e deste modo vence96. O mistério desta kenose dolorosa
encontro soteriológico com o pecado, no qual a perversa liberdade finita lança toda a
sua culpa sobre Deus, tanto que o aspecto redentivo toma a forma de uma substituição
UniTrino, que permanece ferido “não apenas na humanidade de Cristo, mas também
alienação entre Deus e o Filho que suporta os pecados pode ser o autêntico lugar da
Cristo, na forma de substituição vicária na qual Deus entra em acção sobre a cena do
definitivamente de parte o adversário vencido, mas para completar uma acção “que o
homem não podia suspeitar e que o situa ao lado para poder ajudá-lo desde dentro a
96
Cfr. THD III, 97 = 96.
97
Idem, 11 = 15.
98
Idem, 312 = 312.
58
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
caminhar até à justiça e à liberdade”99. Podemos então concluir que existe um esforço
antropológica100.
kenose realiza o cumprimento da analogia, dado que tal experiência tem o seu ponto
de diferença no ser Filho de Deus para assumir o pecado do mundo, não portanto um
pecador que odeia Deus. Deste ponto de vista a experiência do Crucifixo, “é mais
Dado que a recusa da criatura ressoa na diferença intradivina, o Filho que entra na
99
Idem, 186 = 184.
100
Elio Guerriero, afirma que na terceira parte do quatro volume da Teodramática, há uma impressão que a
decisão fundamental já estava como que tomada. Desta forma, segundo Guerriero, o drama, que também
interessa deste modo directamente à criatura, já se desenvolve no céu. Também a descida aos infernos numa
profundidade do homem inacessível para recuperar cada distância e abraçar cada um que não estava no sim
de Deus, dificilmente pode evitar a conclusão de uma apocatástase universal na qual também Balthasar não
quer cair. Deste ponto de vista parece pertinente a referência ao movimento de emersão e de retorno em Deus
que caracteriza o pensamento teológico de Plotino do qual Balthasar não esconde a sua simpatia. Cfr.
GUERRIERO, E. - Hans Urs von Balthasar. Cinisello Balsamo: Paoline, 1991, 344-345.
101
“Balthasar’s theology is centered on Christ as the perfection of creation manifesting his divinely ordained
relationship to God, the concrete analogy of being revealing all of God’s attributes. He is the standard with
which every philosophical analogy of being must be measured: “Theological analogy sheds definitive light
on what the philosophical analogy is as such.” In his perfect humanity Christ manifests our proper
relationship of similarity and dissimilarity to God. The analogy of faith that comes through Christ is so
important because creation’s proper analogy to God is obscured by sin; “only Christ, as both divine Son and
man, can express absolute Being within a worldly form”. [tradução minha] A teologia de Balthasar está
centrada em Cristo como perfeição da criação manifestando a sua relação divinamente ordenada com Deus, a
concreta analogia de ser a revelação de todos os atributos de Deus. Ele é o padrão através da qual todas as
analogias filosóficas devem ser medidas: a analogia teológica lança a luz definitiva sobre aquilo que é a
analogia filosófica enquanto tal. Na sua perfeita humanidade Cristo manifesta a nossa adequada relação de
semelhança e de dissemelhança para com Deus. A analogia da fé que vem através de Cristo é tão importante
porque a analogia própria da criação para com Deus é obscurecida pelo pecado; apenas Cristo,
simultaneamente Filho e homem, pode expressar o absolutamente o Ser dentro de uma forma mundana. Cfr.
BLANKENHORN, B. - Balthasar‟s method of divine naming. Nova et Vetera. 1:2 (2003), 245-268.
59
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
treva deste não, observa Balthasar, está na posição adequada para poder substituir
A cruz é um evento trinitário, mas existe uma ligação estreita entre os homens
que carregaram os seus pecados no Filho e a exigência que por sua vez o Filho aceite
vir lhe da sua missão, muito mais radicalmente da diástase entre a vida que prepara e a
hora para a qual tende como para um cumprimento. A hora que vem aguardada,
afirmada e levada sobre si mesmo como Filho está contida na missão, mas traz
consigo o paradoxo da íntima assunção (innere Übernahme) sem a qual e contra Deus,
(Überforderung) da obediência do Filho ao Pai, que inclui o chegar “ao fim da treva
mais extrema”. O Filho não pode desejar por si mesmo identificar-se com o pecado do
mundo, diz Balthasar, mas deseja apenas cumprir até ao fundo a missão que lhe foi
dada. Seria isto o sentido do sponte (vontade) de que fala Anselmo103. A obediência do
Filho não é um simples gesto funcional no qual o Filho torna-se na forma de Servo,
mas é antes a sua atitude eterna frente ao Pai, ou melhor a tradução kenótica do seu
amor para com o Pai104. Balthasar fala de uma obediência que é o “constraste do Filho
102
Cfr. SCOLA, A. - Hans Urs von Balthasar: un estilo teológico. Madrid: Encuentro, 1991, 95-97.
103
Cfr. THD III, 312 = 311.
104
“Die grenzenlose Bereitschaft des christologischen Gehorsams dem väterlichen Willen gegenüber ist die
ersmalige Einführung in die Welt einer überweltlichen, aus dem Innenbereich Gottes stammenden Offenheit
für das geliebte Du”. [tradução minha] “A disponibilidade ilimitada da obediência cristológica no
cumprimento da vontade paterna é a introdução, completa pela primeira vez no mundo, de uma abertura ao tu
amado, a qual deriva do âmbito íntimo de Deus, e é portanto supermundana”. (PI, 226 = 194-195).
60
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
Filho em lugar do pecador, assume dois significados, quer a respeito de Deus, quer a
si a carga não como algo exterior” em lugar das pessoas. Isto envolve uma distância
homem, por outro o sim do amor divino totalmente gratuito. Da parte do homem, este
deveria esperar a cólera divina, contudo o abandono do Filho supera de modo divino
aquilo que caberia esperar ao pecador107. Da parte de Deus, a ira como traço essencial
irracional, mas mais o amor de Deus como a outra face da misericórdia108, pela qual na
história da aliança Deus tenta reconduzir a si o seu povo. A ira mostra a absoluta
pecador e o abandono (Gottverlassenheit) do Filho pela parte de Deus, nos quais a ira
e o amor de Deus se tocam, onde se torna possível no facto de que o objecto da justa
ira está inserido na eterna relação de amor entre o Pai e o Filho, e o Filho na adesão à
vontade do Pai não se desvia nem d‟Ele, nem da solidariedade com todos os seus
irmãos pecadores.
105
Cfr. TDT 38 = 680.
106
“umwertung des menschlichen sterbens”. THD II/2, 44 = 54.
107
Cfr. THD III, 314 = 314.
108
Cfr. Idem, 315-327 = 315-327.
61
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
em Cristo, sempre manifestado na sua incarnação, que atinge com o sofrer do Filho o
cume do conflito entre Deus e homem, que Cristo assume inteiramente seu entre
ambos: de Deus ofendido pelos pecadores, e dos pecadores, enquanto assume a carne
do pecado e por nós é feito pecado109. Então apresenta-se também como homem
vicariedade esta que incide intimamente sobre as pessoas das quais ele assume o
lugar111.
“Der Sohn trägt die Sünder in sich mitsamt der hoffnungslosen Undurchlässigkeit ihrer Sünder in sich
mitsamt der hoffnungslosen Undurchlässigkeit ihrer Sünde für das göttliche Liebeslicht. Deshalb erfährt er
in sich – nicht ihre Sünde, sondern das Hoffnungslose ihres Widerstands gegen Gott und das gnadenlose
Nein der göttlichen Gnade gegen diesen Widerstand. Der Sohn, der sich ganz auf den Vater ver-lassen hat
(bis zur Identifikation mit den Brüdern in ihrer Verlorenheit), muβ gerade jetzt vom Vater verlassen sein”.
[tradução minha] “O Filho suporta em si os pecadores com o seu pecado desesperadamente impenetrável à
luz divina do amor. Daí que chegue a experimentar, não o seu pecado, mas antes o desespero da resistência
contra Deus e o não implacável da graça divina contra esta resistência. O Filho que se abandonou totalmente
ao Pai (até à identificação com os seus irmãos na sua perdição) tem que ser precisamente agora abandonado
pelo Pai.” Idem, 325 = 325.
110
Cfr. Idem, 322 = 322 “Das wirkliche Gericht Gottes ist doch die Kreuzigung Christi ganz allein”.
[tradução minha] “O verdadeiro juízo de Deus não é senão a crucifixão de Jesus em si.”
111
THD II/2, 110 = 118.
62
A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
essência e o sentido do carácter inclusivo, transitivo disto que Jesus garante por nós na
Neste ponto compara a figura de Maria, que introduzirá aquilo que Balthasar
homem singular possa na sua liberdade opor uma recusa da salvação. Na visão
palavra113.
como assunção da natureza humana, e também como inclusão do seio no qual ele se
112
“Für diese alle (ob sie aufnehmen warden oder nicht) steht das vorausliegende Jawort der Mutter gut”.
[tradução minha] “Para todos estes (o recebam ou não) o sim anterior da Mãe figura como aval”. THD III,
331 = 331.
113
“Denn es scheint in jener Unzeit auch keine Nachfolge dessen zu geben, der zum Unwort geworden ist”
[tradução minha] “Nesse não-tempo não parece que exista sucessão Àquele que se tornou não-Palavra.”
TDT, 50 = 687.
114
Cfr. THD III, 335 = 335.
115
A missão de Cristo abre a possibilidade a uma participação humana (um espaço personificante de amor) a
Maria, à Igreja e ao homem, que revela a vocação enquanto missão personalizante em Cristo. A missão
(Sendung) no seu aspecto ontológico-antropológico, faz de um sujeito espiritual humano uma pessoa
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A Estaurologia eclesial de Maria nos escritos de Hans Urs von Balthasar
teológica. Cfr. MYCEK, S. – Cristianesimo come amore dialogante: la visione teodrammatica della missione
in Hans Urs von Balthasar. Asprenas. 52 (2005), 486-487.
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