Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JOHNSON, Elizabeth. El Dios Libertador: La búsqueda del Dios vivo: trazar las
fronteras de la teología de Dios. Sal Terrae, 2007.
1. Introdução
O propósito da linguagem trinitária é aclamar o Deus vivo como o mistério da
salvação. Essa bênção, transmitida desde os tempos do século I e ainda proferida nas
assembléias litúrgicas do século XXI, traz à tona uma compreensão singular do Deus
que os cristãos e as cristãs adoram. Apesar de sua estrutura triádica, não deve ser
confundida com uma crença em três deuses separados, mas sim em um Deus único. O
cerne dessa fé é a crença de que este Deus único, por meio da graça e do amor, se
revelou ao mundo na pessoa de Jesus Cristo, com o objetivo de redimir, libertar e, em
última análise, salvar a humanidade.
Essa experiência de salvação, que emana de Deus por meio de Jesus e pelo poder
do Espírito Santo, leva a um encontro profundo com o Divino, tão impactante que exige
uma linguagem especial, uma linguagem trinitária. Essa linguagem não é uma definição
estrita, mas sim uma interpretação da natureza de Deus à luz da realidade da salvação.
Ela enaltece as maneiras pelas quais a graça de Deus age no mundo por meio de Jesus e
do Espírito, revelando o coração altruísta do amor de Deus.
Essa ênfase na Trindade, embora tenha sido negligenciada e mal compreendida ao
longo dos séculos no Ocidente, é fundamental para a fé cristã. No passado, filósofos e
filósofas como Friedrich Schleiermacher relegaram a doutrina da Trindade a um
segundo plano, considerando-a de pouco valor prático. No entanto, o cerne da fé cristã
reside na compreensão da Trindade como uma expressão do monoteísmo cristão, pois a
Trindade é o cerne da ideia cristã de Deus, originada da experiência espiritual. Como
Walter Kasper afirma, a Trindade é a forma cristã do monoteísmo.
No século IV, surgiu uma controvérsia liderada por Ário, um sacerdote egípcio,
que argumentou que Jesus era uma criatura divina e não igual a Deus. Para defender a fé
cristã na divindade de Jesus, o Primeiro Concílio de Niceia em 325 elaborou o Credo
Niceno, que afirmava a igualdade de Jesus com Deus. Cinquenta anos depois, o
Concílio de Constantinopla em 381 expandiu o Credo Niceno para incluir uma
confissão semelhante sobre o Espírito Santo.
Para superar essa “lacuna”, a teologia trinitária deve retornar à sua base na
experiência da salvação e à compreensão de Deus como uma comunhão de amor
igualitária. A ideia de uma Trindade “libertária” busca reconciliar a complexa tradição
teológica com a visão original de um Deus que age de maneira solidária e libertadora na
vida de todos e todas. A Trindade deve ser vista como um símbolo de igualdade, amor e
relacionamentos, e não como um conceito distante e complicado. A reflexão trinitária
deve novamente se conectar com a vida cristã e com a experiência da salvação para ser
significativa e relevante.
Uma chave para essa tarefa é o axioma de Karl Rahner, que proclama que “a
Trindade econômica é a Trindade imanente, e vice-versa”. A “Trindade econômica”
refere-se à obra de salvação de Deus na história, enquanto a “Trindade imanente” está
relacionada à concepção de Deus como uma entidade distinta do mundo, não
influenciada por ele. Esse axioma resume a ideia de que conhecemos Deus a partir de
como Ele agiu na história, especialmente por meio da encarnação do Verbo e da
renovação pelo Espírito Santo. Ele afirma que o Deus que conhecemos através desses
eventos é o Deus real, não sujeito a ilusões ou equívocos, e não esconde uma divindade
cruel ou indiferente por trás da revelação das Escrituras.
3.2.1. Pessoa
Na sua obra revolucionária “God for Us”, Catherine LaCugna expressa sua
concordância com o que foi mencionado acima. Ela apresenta que a revelação do “Deus
por nós” nos oferece bases suficientes para pensar que não há um Deus que
simplesmente exista sem estar simultaneamente em relação. Para Deus, “ser” significa
“estar em relacionamento”.
No cerne dessa inflexão está o santo nome revelado a Moisés diante da sarça
ardente, no início da narrativa do Êxodo: “Deus disse a Moisés: YHWH”, que foi
traduzido de diversas maneiras como “Eu sou quem sou” ou “Eu estarei com você”
(Êxodo 3.14). Técnica e popularmente conhecido como Tetragrama, esse nome de
quatro letras, YHWH, é o nome pessoal do Deus de Israel, como LaCugna descreve, é
“o nome auto-imposto” de Deus. Longe de ser meramente um rótulo superficial, o nome
representa a singularidade incomparável do Único, revelado na história do povo da
Aliança por meio de palavras de amor e fidelidade inabaláveis. Este é o nome mais
sagrado de Deus no Judaísmo e é comumente encontrado nas Escrituras de Israel.
Essa inflexão opera de modo distinto das outras duas, sempre referindo
explicitamente as três pessoas - se é adequado chamá-las assim. Enquanto a presença e a
ação de Deus de fato alcançam e afetam o mundo, o Espírito constantemente chama a
atenção para a fonte inatingível e para aquilo que emana dessa fonte. A presença do
Espírito testemunha que a Fonte de tudo se comunica efetivamente e que essa palavra é
verdadeiramente eficaz. O Espírito é fundamentalmente inseparável do dinamismo da
manifestação do amor divino.
Voltando-me para a forma mais prolífica de dar vida no mundo natural, Johnson
sugere a ideia de uma espiral tripla em constante processo de recombinação para dar à
luz, curar, reparar e criar formas sempre novas no próprio coração do universo.
Walter Kasper imagina três maneiras pelas quais o amor divino subsiste: como
doador, como receptor e doador, e como receptor; ou seja, como fonte, como mediação
e como termo de amor.
Tanto Jürgen Moltmann como Leonardo Boff, utilizando um modelo social, falam
de um Pai materno ou de uma Mãe paterna, de um Jesus solidário com os pobres e
marginalizados, de um Espírito semelhante aos símbolos femininos da Sabedoria e da
Shekinah. Todos esses elementos formam uma comunidade de relações mútuas e
igualitárias que serve de modelo para o objetivo almejado pela comunidade humana e
cósmica.
Dizer que a Trindade é intrinsecamente prática não significa que esta crença
ofereça soluções imediatas para a guerra e a violência, receitas para eliminar a fome ou
soluções concretas para acabar com a desigualdade. Pelo contrário, funciona como fonte
de visão para moldar a nossa ação no mundo, como critério para medir a fidelidade das
nossas vidas e como base para resistir a todas as formas de opressão que minam a
comunidade.
A teologia trinitária revitalizada deixa bem claro que um Deus concebido como
um monarca soberbamente isolado, observador imparcial e descomprometido, um Deus
que precisa ser convencido a cuidar de suas criaturas simplesmente não existe. “Deus é
Amor”, relaciona-se com o mundo numa tríplice modalidade de comunhão. Assimilar
esta verdade permite-nos reunir novas energias para imaginar o mundo de uma forma
amorosa e agir para contrariar a autodestruição da violência.
5 - Conclusão
Apoiados pela “graça de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo amor de Deus e pela
comunhão do Espírito Santo”, comprometemo-nos com um futuro frutífero que inclua
todos os povos, tribos e nações, todas as criaturas da terra. O Reino de Deus ganha uma
posição firme na história.