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A doutrina cristã da Trindade (do latim trinitas "tríade", de trinus "tripla")[1] define Deus como
três pessoas consubstanciais,[2] expressões ou hipóstases:[3] o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o
Espírito Santo; "um Deus em três pessoas". As três pessoas são distintas, mas são uma "substância,
essência ou natureza".[4] Neste contexto, a "natureza" é o que se é, enquanto a "pessoa" é quem se
é.[5][6][7]
Enquanto os Padres da Igreja viram até mesmo elementos no Antigo Testamento, como o
aparecimento de três homens a Abraão no capítulo 18 do Livro de Gênesis, como prenúncios da
Trindade, foi no Novo Testamento que eles viram uma base para desenvolver o conceito da
Trindade. O mais influente dos textos do Novo Testamento, visto como implicador do ensino da
doutrina da Trindade foi Mateus 28:19, que manda batizar "em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo". Reflexão, proclamação e diálogo levaram à formulação de uma doutrina adaptada para
corresponder aos dados da Bíblia. O esquema mais simples da doutrina foi elaborado em grande
parte no século IV, rejeitando o que foi considerado não ser consonante com a crença cristã em
geral. Além disso, essa elaboração continuou nos séculos seguintes.[11]
A palavra Trindade não está contida na escritura,[12] nem há uma doutrina expressamente
formulada da Trindade. Pelo contrário, de acordo com a teologia cristã, as escrituras
"testemunham" a atividade de um Deus que pode ser entendido apenas em termos trinitários.[13] A
doutrina não atingiu sua forma definitiva até o final do quarto século.[14] Durante o período várias
soluções tentativas foram propostas, algumas mais e outras menos satisfatórias.[15] O
Trinitarianismo contrasta com as posições antitrinitárias, que incluem o binitarianismo (uma
deidade em duas pessoas, ou duas deidades), com o unitarismo (uma deidade em uma pessoa,
análogo à interpretação judia da Shema e à crença muçulmana no Tawhid) e com o
pentecostalismo unitarista ou sabelianismo (uma deidade manifestada em três aspectos
separados).[16][17][18]
Fundamentos bíblicos
A doutrina trinitária professa que o conceito da existência de um só Deus, onipotente, onisciente e
onipresente, revelado em três pessoas distintas, pode-se depreender de muitos trechos da Bíblia.
Um dos exemplos mais referidos é o relato sobre o batismo de Jesus, em que as chamadas "três
pessoas da Trindade" se fazem presentes, com a descida do Espírito Santo sobre Jesus, sob a forma
de uma pomba, e com a voz do Pai Celeste dizendo:
O desenvolvimento do dogma
Na realidade, mais do que a partir da especulação teórica e abstracta - que mais tarde viria a ser
preponderante -, a afirmação teológica da "Trindade" ocorreu sobretudo a partir do uso dos textos
bíblicos em ambiente litúrgico eclesial. Esta doutrina, de facto, foi-se apoiando e alicerçando no
âmbito da práxis baptismal[45] (veja-se Didaquê 7, 1; Justino Mártir, Apologia 1, 61, 13) e
eucarística (veja-se Justino, Apologia 1, 65.67; Hipólito de Roma, Tradição Apostólica 4-13).
Somente depois da pacificação do Império Romano, sob Constantino, é que ocorreu aquela
convergência de factores - a paz, as facilidades de comunicação e diálogo entre as diversas Igrejas e
teólogos, entre outros - que permitiu a elaboração de um edifício conceptual - a definição precisa
das noções de ousia/"natureza", hipostasis/"pessoa", homoousios/"consubstancialidade", bem
como a sua mútua relação e aplicação teológica - apto para a descrição e explanação da Divindade
revelada em Jesus Cristo.
Os símbolos de fé
A Igreja Católica anuncia e ensina o mistério da Santíssima Trindade com base em citações
bíblicas, porém desencoraja uma profunda investigação no sentido de querer decifrá-lo, visto que
torna-se complexo usando simplesmente nossa razão humana.
Agostinho de Hipona, grande teólogo e doutor da Igreja, tentou e esforçou-se exaustivamente por
compreender e desvendar este enigma. Após muito tempo de reflexão, esforço e trabalho, chegou à
conclusão que nós, devido à nossa mente extremamente limitada, nunca poderíamos compreender
e assimilar plenamente a dimensão (infinita) de Deus somente com as nossas próprias forças e o
nosso raciocínio. Concluiu que a compreensão plena e definitiva deste grande enigma só é possível
quando, na vida eterna, nos encontrarmos no Paraíso com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Prosopon e hypostasis
A palavra utilizada, prosopon (do grego antigo πρόσωπον; plural: πρόσωπα - prosopa) é o grego
para designar "pessoa." O significado original da palavra foi-se alterando com o tempo, e o
contexto de prosopon deve ser observado originalmente como "aparência, aspecto exterior visível,
de um ser humano, animal ou coisa",[46] podendo ser compreendido como "rosto" ou "face"
externa do que seria o ser, uma pessoa ou coisa, tendo contudo muito a diferenciar do que seria a
personalidade, a psique, o âmago da apresentação do ser, que é bem mais complexo. Como J.
Cabral prefere, prosopon, no contexto da Santíssima Trindade, pode ser compreendido como "três
manifestações ou revelações que Deus fazia de Si ao Mundo".[47]
O termo é utilizado para a "automanifestação de um indivíduo" que pode ser entendido por meio
de outras coisas. Como um pintor que expressa sua prosopon por meio do seu pincel.[48] Prosopon
é a forma no qual a hipóstase se manifesta, aparece. Toda natureza e hipóstase tem sua "face", sua
prosopon. Ela concede expressão à realidade da natureza com seus poderes e características.[49]
Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o
tempo em que aquilo se fez eu estava ali, e agora o Senhor DEUS me enviou a mim,
e o seu Espírito.
Assim diz o SENHOR [Iavé],[50] o teu Redentor,[51] o Santo de Israel: Eu sou o SENHOR
teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar. (Isaías
48:16-17)
“Chegai-vos a mim. Ouvi isto. Desde o começo, absolutamente não tenho falado
num esconderijo. Estive ali desde o tempo da sua ocorrência.” E agora me enviou o
próprio Soberano Senhor Jeová, sim, seu espírito.
Assim disse Jeová, teu Resgatador, o Santo de Israel: “Eu, Jeová, sou teu Deus,
Aquele que te ensina a tirar proveito, Aquele que te faz pisar no caminho em que
deves andar. (Tradução do Novo Mundo)
J. Cabral explica que Jesus e Javé se fundem no trecho de Isaías supra, e enquanto apresenta-se
como o que foi enviado, da mesma forma apresenta-se como o próprio que enviou o Redentor e o
seu Espírito.[52]
Unidade composta
Os trinitários, refutando a apresentação dos
unitários, sustentada principalmente em
Deuteronômios 6:4, Escuta, ó Israel: Javé, nosso
Deus, é um só Javé, discorrem sobre a unidade
composta de Deus.
excluiria o Filho da divindade e da unidade com o O Pai segura a cruz do Filho e o Espírito Santo
Pai. Os trinitários reagem que aceitam e concordam em forma de pomba sobre a cabeça do Pai. Os
três são adorados pelos anjos e santos
que: há um só YHVH, e que o presente versículo em
nada ofende, mas ajuda a explicar o conceito de
unidade composta, fortalecendo o entendimento sobre referido dogma.
Ouve, Israel, o Senhor (YHVH) nosso Deus é o único (echad) Senhor (YHVH).
A palavra hebraica originalmente usada para chamar YHVH de "único" é "echad", que é
pronunciada "errad". Echad é a palavra usada para expressar unidade composta. Quando se deseja
expressar a unidade absoluta, a palavra usada é yachid, que tem a pronúncia "yarrid".
Também o faraó teve "um" sonho que tinha "dois" acontecimentos que o intrigaram e José, antes
de interpretar, disse: o sonho é "um" (echad) só, dando clara conotação que o faraó tivera "dois"
sonhos em "um", ou "um" sonho sobre um "evento" com duas personificações que diziam a mesma
verdade. Percebeu José que o sonho era "um só", usando o termo echad que significa um conjunto
fazendo "uma unidade".
Para que seja mais bem compreendido o termo echad, em Gênesis 2:24, o homem deve[ria] 'deixar
seu pai e sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. Nesse versículo
novamente encontra-se o termo "uma carne" empregada como unidade (echad), significando
unidade composta.
Se o texto quisesse expressar a unidade absoluta, teria usado a palavra yachid. Marido e mulher
são pessoas distintas, entretanto, no plano espiritual, seus corpos sendo unos.
Como no caso de marido e mulher, há existência de pessoas distintas, contudo eles se fazem "um",
no que a Bíblia denomina de "mistério". Não há um maior que o outro no enlace do casamento,
mas um deles é considerado o "pai de família", enquanto o outro é denominado: "ajudadora" ou
"sua costela"; contudo o texto dá entendimento que saíram do mesmo "corpo" adâmico e devem
andar lateralmente, nem atrás, nem à frente, mas em unidade composta e "igual", como um só.
Os trinitários não expressam uma questão simplesmente racional, mas também de fé.
Para os trinitarianos, as Escrituras dão pistas sobre a pluralidade do único Deus YHVH, como ver-
se-á mais à frente; contudo, ainda sobre o Deuteronômio 6:4 ficará mais facilmente compreendido
na versão da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas que é descrita da seguinte forma:
Com a transcrição acima pode-se perceber o entendimento sobre a unidade composta, pois o termo
Elohím é plural, ainda que se fale na pessoa de YHVH como "unidade".
O termo [echad] é empregado dessa forma em Gênesis 2:24, descrevendo a união de Adão
e Eva, e também em Êxodo 26:6 e 11, para descrever a "unidade" das cortinas do
tabernáculo.
Como havia a tradição dos escribas na transcrição dos pergaminhos letra por letra, não acreditam
os trinitários que houvesse "erro" ou "acidente", contudo destinava-se ao propósito de referir-se ao
Deus único em pluralidade de pessoas. Desta forma é aceito pelos que creem na Santíssima
Trindade que Pai, Filho (Jesus) e Espírito Santo são a unidade plural de YHVH, pois o único
(echad) Elohim (Deus) é YHVH.
Pluralidade em Elohim
Uma das pistas bíblicas apresentadas pelos trinitários é Gênesis 1:26a
Também em Gênesis 3:22a é encontrado diálogo semelhante: Então disse o Senhor [YHVH] Deus
[Elohím]: Eis que o homem é como um de nós [plural], sabendo o bem e o mal.
Da mesma forma o autor J. Cabral enumera os mesmo textos no plural, e acrescenta um terceiro
verso para sustentar a mesma defesa:[52]
Para os trinitarianos tanto o Pai, como o Filho, como o Espírito Santo é o Deus uno, apresentando
assim o termo Deus no singular e as pessoas no plural.
Tais evidências da unidade composta seriam justificadas, dentre outras, pelas seguintes passagens
bíblicas que apresentam o Pai, o Filho e o Espírito como Deus:
Como nas passagens acima, os trinitários reconhecem em outras passagens bíblicas a apresentação
do único (echad) Senhor (YHVH) na forma trina do Pai, do Filho Jesus e do Espírito Santo.
Plural Adonai
Adonai ()ֲאֹד ָני, é um dos títulos, comumente utilizado pelos
hebreus ao referir-se ao tetragrama YHVH.
Levando-se em conta que muito foi debatido sobre o plural Adonai, uma conclusão sobre uma
única e melhor tese nunca foi ratificada, contudo tal propositura existe.
Literalmente, trata-se de um plural possessivo de primeira pessoa ("meus senhores"), o que, para
os trinitarianos, reforçaria a Doutrina da Trindade, rejeitando a explicação de que seria um plural
majestático, como defendem as Testemunhas de Jeová, que desconsideram a dica sintática para a
pluralidade de Yahweh.
Quando a Bíblia refere-se ao Messias (uma das três pessoas da Trindade), utiliza a forma Adoni,
meu Senhor, no singular, visto que se apresentaria numa personalização "individual" – distinta do
Pai e do Espírito Santo – enviado (humano) esperado. Assim, o Verbo do DEUS Triuno, teria
deixado sua glória e encarnado na forma humana, singular e distinta do Pai – contudo emanada do
Pai: "crestes que saí de Deus. Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o
Pai".[55] Desse momento em diante, o Deus Triuno se despoja para apresentar-se pessoal e
individualmente, por intermédio do Filho. A partir daí, no Novo Testamento, não mais há uso do
tetragrama YHVH.
A cultura judaica preferiu a forma Adonay para a pronunciar YHVH, contudo noutras versões
tardias foi utilizada a forma impessoal HaShem, o Nome. Da mesma forma que o Deus Triuno se
apresentara pessoal e individualmente, por intermédio do Filho, posteriormente apresenta-se na
forma individual e incorpórea (não antropomórfico), representado pelo Espírito Santo, invocado
por o Nome, que seria Jesus.
O Novo Testamento, refere-se ao nome de Jesus estando acima de todo nome:[56] Se, em meu
nome pedires ao Pai …, Tudo quanto pedires em meu nome [Jesus] eu o farei …,[57] tudo quanto
em meu nome [Jesus] pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda[58] Em meu nome [Jesus] … curaram os
enfermos …,
O município goiano de Trindade se originou e cresceu graças à devoção dos católicos sertanejos a
um medalhão representando a Santíssima Trindade que foi encontrado por acaso um dos
camponeses da região no século XIX.[61] Com o tempo, esse município tornou-se referência em
turismo religioso aos devotos da Trindade Santa de todo o Brasil.
Ver também
A Natureza de Jesus Cristo
Preexistência de Cristo
Didaquê - Escrito do primeiro século que reforçaria a fórmula batismal evangélica no nome
das três pessoas da Trindade: «baptize-se em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo»
(Didaquê, VII,1.3).
Notas
Referências
1. «trinity» (http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/trinity).
www.oxforddictionaries.com. Consultado em 4 de janeiro de 2016
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inglês). Nova Iorque: Robert Appleton Company
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www.vatican.va/archive/ENG0015/_P17.HTM#1FT) (em inglês)
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8. «Catechism of the Catholic Church, 234» (http://www.vatican.va/archive/ENG0015/_P17.HTM#
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20. Mateus 28:19
21. Colossenses 2:3
22. Mateus 28:18
23. Mateus 28:20
24. Marcos 2:5-7; conferir a afirmação de Isaías 1:18
25. João 10:28
26. João 17:21-22
27. Atos 5:3-4
28. I Coríntios 2:10-11
29. I Coríntios 12:11
30. João 14:10
31. João 16:13
32. Romanos 8:2
33. João 16:14
34. Lucas 12:12
35. Hebreus 3:7 e 1 Pedro 1:11-12
36. Apocalipse 2:7,11,17,29; 3:6,13,22
37. João 15:26
38. João 14:26
39. II Coríntios 3:17
40. Atos 2:22-36
41. Romanos 9:5; Tito 2:13
42. João 14:16
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51. Termo diversas vezes utilizado para a figura salvífica de Jesus
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53. Alden, Robert L. (1980) "Adon"; Theological Wordbook of the Old Testament 1:13. Chicago:
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Bibliografia complementar
Nota: estas obras não foram usadas para redigir o texto.
Dale Tuggy (8 de abril de 2015). «Trinity» (http://plato.stanford.edu/entries/trinity). Stanford
Encyclopedia of Philosophy (em inglês)
Ehrman, Bart D (2014). Quem escreveu a Bíblia?: Por que os autores da Bíblia não são quem
pensamos que são (https://books.google.com.br/books?id=W-zJAwAAQBAJ). Rio de Janeiro:
Agir Editora. ISBN 9788522030033
Jenkins, Philip (2013). Guerras Santas: como 4 patriarcas, 3 rainhas e 2 imperadores
decidiram em que os cristãos acreditariam pelos próximas 1.500 anos (https://books.google.co
m/books?id=IWzcAAAAQBAJ). Rio de Janeiro: Leya. ISBN 9788580449044
Ligações externas
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