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RESUMO
O texto de João 17:21 é muito útil no debate sobre unidade da igreja e também
estabelece uma relação entre a Trindade e a unidade da igreja. O objetivo deste
estudo é proporcionar uma contribuição bibliográfica a partir da análise de João
17:21 somada às doutrinas apresentadas nas teologias sistemáticas. O
conhecimento Trinitário é um instrumento poderoso que os cristãos possuem para
combater o cenário de desunião nas congregações. Enquanto o modo das relações
trinitárias não for compreendido, a igreja jamais vivenciará sua plena natureza de
unidade.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Teologia com Ênfase em Missiologia no Seminário Evangélico Teológico Betel
Brasileiro.
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Prof. Mestre em Teologia do Novo Testamento com Concentração em Hermenêutica.
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2 FUNDAMENTO DOUTRINÁRIO
apóstolos. Essa crença foi expressa pelos bispos no Credo de Niceia, que formou a
base do que é conhecido atualmente como Credo Niceno-Constantinopolitano
(González, 2015).
Deus, existem três unidades distintas de autoconsciência que se relacionam entre si;
três pessoas.
Ao Pai é atribuído o começo da ação, a fonte e origem de todas as coisas; ao
Filho, sabedoria, conselho e organização da ação, enquanto a energia e eficácia da
ação são atribuídas ao Espírito Santo (Calvino, 2006).
2.1.3 Há um só Deus
O Pai está todo no Filho; o Filho, todo no Pai, como ele próprio também o
declara: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14.10). Portanto, não é razoável
admitir diferença alguma quanto à essência entre as três pessoas da trindade
(Calvino, 2006).
2. 2 DOUTRINA DA IGREJA
Sendo assim, uma das principais marcas da igreja cristã é a sua unidade. A
unidade da igreja não é primariamente de caráter externo, mas de caráter interno e
espiritual. Tal afirmação torna-se mais clara ao observar-se a figura do Corpo em 1
Co 12:12-31 e Ef 4:4-16.
Percebe-se que a participação no Corpo de Cristo vai além do que é visível
por nós, ela está relacionada com a submissão dos membros à Cabeça, Jesus
Cristo. Por isso, esta unidade implica que todos os que pertencem à igreja
participam da mesma fé, são solidamente interligados pelo comum laço do amor, e
têm a mesma perspectiva gloriosa do futuro (Berkhof, 1990).
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3 FUNDAMENTO BÍBLICO
A famosa oração intercessória que Jesus fez momentos antes de sua prisão,
onde foi interrogado, julgado, condenado e executado na cruz do calvário está
registrada no capítulo 17 de João. Ela pode ser dividida de acordo com os três
pedidos principais de Jesus: nos versículos 1-5, Jesus ora por si mesmo; nos
versículos 6-19, Jesus ora por seus discípulos; e nos versículos 20-26, Jesus ora por
aqueles que viriam a crer por meio do testemunho dos discípulos (Köstenberger;
Swain, 2014).
É interessante notar que essa estrutura esboça, de forma seminal, o enredo
dos três grandes momentos da história da redenção. De acordo com esse esquema,
a história da redenção começa "antes do início do mundo", em um plano
intratrinitário que diz respeito à descida do Filho e a sua subida de volta para o Pai
(17.1-5), continua por intermédio da missão apostólica, à medida que o Pai "guarda"
e "santifica" os apóstolos na verdade que lhes foi revelada pelo Filho (17.6-19), e
chega à consumação, quando os que recebem a mensagem apostólica passam a
participar do amor eterno e glorioso do Pai pelo Filho (17.20-26) (Köstenberger;
Swain, 2014).
Na primeira parte, Jesus orou por si mesmo: o pedido foi acerca de sua
glorificação. Jesus na terra glorificou a Deus, completando a obra que lhe foi
confiada, trazendo a vida eterna a todos os que creem em sua mensagem acerca do
único Deus verdadeiro. Desse modo, Ele pediu ao Pai que lhe desse a glória que
tinha antes da criação do mundo (Neves, 2012).
Na segunda parte, Jesus orou por seus discípulos: Ele pediu por aqueles que
creram na mensagem do evangelho, para que Deus os protegesse em seu nome e
que assim houvesse entre eles unidade, para que, ao enfrentarem as oposições do
mundo, houvesse plenitude de alegria neles e, guardados do Maligno, fossem
santificados na verdade da palavra (Neves, 2012).
Na terceira parte, ele orou por todos os crentes: o Senhor também orou por
todos que um dia iriam crer na mensagem de sua Palavra, para que também entre
eles houvesse unidade e que eles estivessem eternamente juntos a Ele vendo a sua
glória, glória essa que o Pai lhe deu antes da fundação do mundo (Neves, 2012).
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“a fim de que todos sejam um. E como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, também
eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.”
derramam amor, júbilo e adoração pelos outros, cada qual servindo o outro(…). Eles
procuram infinitamente a glória uns dos outros, e assim Deus é infinitamente feliz.
Plantinga (2002, p. 20-23) também afirma que:
As pessoas dentro de Deus exaltam umas às outras, têm comunhão umas
com as outras, submetem-se umas às outras […] Cada pessoa divina abriga
as outras no centro do seu ser. Num constante movimento de abertura e
aceitação, cada pessoa envolve e cinge as demais. […] A vida interior de
Deus [portanto] transborda em consideração pelos outros.
do Espírito Santo, Ele comunica sua vida e todas as bênçãos que Ele recebeu do
Pai (Calvino, 2015). Os seguidores de Jesus jamais poderão possuir essa unidade
em si mesmos, em sua própria força ou até mesmo em seus laços de afetos
pessoais, apenas quando estiverem entrelaçados a Deus tal objetivo será possível.
Além disso, há um claro propósito para unidade da igreja apresentado por
Cristo no mesmo texto: “para que o mundo creia que tu me enviaste”. A palavra
encontrada no texto original “κόσμος” que é traduzida como “mundo” pode
apresentar diversos sentidos, porém diante de todo contexto do versículo é claro
notar que o sentido de κόσμος trata-se dos habitantes da terra toda; a raça humana.
Portanto, é adequado afirmar que a unidade da igreja é uma poderosa ferramenta no
processo de evangelização, uma vez que o próprio Cristo determina que essa seria
uma evidência da autenticidade de sua missão e mensagem. Uma vez que a
humanidade enxerga na igreja amor, comunhão e unidade, ela consegue crer que
Deus é amor e se quebrantar a esse amor. Todavia, se enxergarem discórdia,
orgulho, ódio, ciúmes e divisões, possivelmente rejeitariam o Evangelho. Os
cristãos e as igrejas que não demonstram unidade e amor entre si, não podem
testificar ao mundo que Deus é amor. Por isso, a unidade entre os cristãos é o apelo
final que podemos fazer ao mundo.
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Pesquisa realizada informalmente pelo autor da pesquisa com 106 voluntários.
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1. CONCLUSÃO
vontade de Deus, ou seja, sua Palavra. Desse modo, o conhecimento trinitário por
possuir o poder de gerar na humanidade o perfeito padrão de relacionamento, deve
ser transmitido eficazmente pela liderança cristã a todos os convertidos. Pois, à
medida que a igreja se rende, obedece, edifica-se, ela também serve e adora a
Trindade. Essa oração ganha expressão no mundo.
ABSTRACT
The text of John 17:21 is very useful in the debate about the unity of the church and
also establishes a relationship between the Trinity and the unity of the church. The
objective of this study is to provide a bibliographical contribution based on the
analysis of John 17:21 added to the doctrines presented in systematic theologies.
Trinitarian knowledge is a powerful tool that Christians have to combat the scenario
of disunity in congregations. Although the mode of Trinitarian relationships is not
understood, the church will never experience its full nature of unity.
REFERÊNCIAS
CALVINO, J. As Institutas. Edição Clássica. Vol. 1. São Paulo: São Paulo: Cultura
Cristã, 2006.
CALVINO, J. Evangelho Segundo João, ed. Tiago J. Santos Filho e Paulo César
Valle, trans. Valter Graciano Martins, Primeira Edição., vol. 2, Série Comentários
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CHESTER, T. Conhecendo o Deus trino: porque Pai, Filho e Espírito Santo são boas
novas / Tim Chester; [tradução: Elizabeth Gomes].-São José dos Campos, SP: Fiel,
dc 2016.
GONZÁLEZ, J. Uma breve história das doutrinas cristãs. Traduzido por José Carlos
Siqueira. São Paulo: Hagnos, 2015.
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Grand Rapids: Eerdmans, 2002.
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