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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

CURSO DE TEOLOGIA

VAGNER SOARES DOS SANTOS

TRÍPLICE MUNUS SACERDOTAL

ANANINDEUA-PA
2023
VAGNER SOARES DOS SANTOS

TRÍPLICE MUNUS SACERDOTAL

Trabalho apresentado à Faculdade Católica de


Belém, como requisito de avaliação na
disciplina Administração Paroquial do curso
de Teologia orientado pelo Prof. Me. Pe.
Roberto Cavalli Junior.

ANANINDEUA-PA
2023
INTRODUÇÃO

O presente trabalho, objetiva, resumidamente, apresentar a tria numera, isto é, os três


ofícios especificamente da vida e missão do sacerdote que age in persona Christ Capitis, ou
seja, age na pessoa de Cristo cabeça, são eles: Munus docendi(ensinar); Munus santificandi
(santificar) e o Munus regendi (governar). O trabalho acadêmico terá como base as audiências
do saudoso Papa Bento XVI.
Para entender essa tríplice dinâmica, se faz necessário compreender que os Múnus são
resultados do processo de configuração da vida do sacerdote à própria vida do Cristo,
consequentemente do Sacramento da Ordem, do qual, o sacerdote passa agir na pessoa de
Cristo (in persona Christ Capiti). Porém, Bento XVI, enfatiza na necessidade, de antes de
tudo, entender o significado de “representação”, fazendo uso das suas próprias palavras, o
mesmo questiona: “O que quer dizer, o que significa “representar” alguém?”. Em resposta,
discorre que representar alguém significa na linguagem comum “receber uma delegação de
uma pessoa para estar presente no seu lugar, falar e agir no seu lugar, porque quem é
representado está ausente da ação concreta”. Porém a linguagem, não é muito apropriada, uma
vez, que na “Igreja Cristo nunca está ausente, a Igreja é o seu corpo vivo e a Cabeça da Igreja
é Ele, presente e em ação nela” livre de qualquer condicionamento seja do tempo quanto do
espaço, graças ao evento da Ressureição. Diante disso, surge o questionamento apresentado
pelo conferencista: “o sacerdote representa o Senhor do mesmo modo?” A resposta é positiva,
visto que, Jesus se faz presente durante toda a ação, e esta é eficaz. No entanto, “O Senhor
torna presente a sua própria ação na pessoa que realiza tais gestos”.

MUNUS DOCENDI

O Munus docendi, segundo Bento XVI, é o ofício de ensinar. A Igreja exerce este
Munus através dos sacerdotes, este que no dia da ordenação presbiteral recebem como missão
ministerial. Diante das interrogações humanas em busca de sentido e no intuito de combater
as diversas correntes de pensamentos, filosofias “contrastantes aos valores” da Fé, este ofício
é necessário, certos de que as pessoas ficam como ovelhas sem pastor, desorientadas, ao ponto
de Cristo teve compaixão com elas (Cf.Mc 6, 34) Todavia, não é diferente, o sacerdote age in
persona Christ, ou melhor: ele busca “tornar presente, na confusão e na desorientação dos
nossos tempos, a luz da palavra de Deus, a luz que é o próprio Cristo neste nosso mundo”.
Porém, ressalta o Papa que, a missão do sacerdote, não é ensinar suas próprias ideias, mas
iluminado pelas palavras do Próprio Cristo quando diz: “A minha doutrina não é minha”
(Jo 7, 16). Que não significa dizer, que o sacerdote, deva ser neutro diante dos fatos, sem sair
dessa sintonia com Cristo e sua Igreja: “a minha doutrina não é minha, não difundo as minhas
ideias ou o que me agrada, mas são boca e coração de Cristo e torno presente esta única e
comum doutrina, que criou a Igreja universal e que cria vida eterna". Portanto, Papa Bento
XVI, adverte os sacerdotes, para não fazerem do ministério uma autopromoção, visto que o
sacerdócio é um chamado de Deus, enquanto ao Munus docendi que o sacerdote recebeu no
dia da ordenação deve ser exercido genuinamente, como a Santa Igreja ensina. Em suma, o
Munus discendi, é o ofício de ensinar, o sacerdote ensina em in persona Christ Capit.

MUNUS SANCTIFICANDI

O Munus santificandi é o segundo ofício do sacerdote, cuja tarefa é a de santificar o


povo de Deus, o rebanho que Deus o confiou. O Papa, explica primeiramente a Palavra
“Santo”, que segundo ele corresponde “a qualidade específica do ser de Deus, ou seja,
absoluta verdade, bondade, amor e beleza – luz pura”. Acrescenta que: “santificar uma pessoa
significa colocá-la em contacto com Deus, com este seu ser luz, verdade, amor puro”. Explica
ainda que na Antiguidade, esta mentalidade era tão forte que se alguém tivesse contato direto
com Deus, ou melhor, fazendo uso de suas palavras, Bento diz: A força da verdade e da luz é
demasiado grande! Se o homem toca esta corrente absoluta, não sobrevive”, mas por outro
lado, se entendia que o ser humano sem este contato “mínimo” com Deus, não há
sobrevivência. Interpelado pela situação, surge a seguinte questão: “como pode o homem
encontrar aquele contacto com Deus, que é fundamental, sem morrer esmagado pela grandeza
do ser divino?”. Respondendo essa problemática, conforme o autor, Deus nos fez à sua
imagem e semelhança. Um outro aspecto importante apresentado por Bento XVI, consiste no
fato de que: “nenhum homem por si mesmo, a partir da sua própria força, pode pôr o outro em
contacto com Deus(...)Portanto, é o próprio Cristo que santifica, ou seja, que nos atrai para a
esfera de Deus”. Discorre ainda o Pontífice que muitos tentaram separar esse processo de
santificação da Pastoral, do “anúncio”, como se fossem duas realidades distintas, quando na
verdade, as próprias narrativas, no caso, os Evangelhos, “Jesus afirma que o anúncio do Reino
de Deus é a finalidade da sua missão”. Isto significa que o anúncio não está deligado do seu
agir, da sua Pessoa. Se anuncia não uma ideia, mas uma Pessoa, Cristo Jesus, que se antecipa
em cada ação, não é o ser humano, mas o Próprio Cristo, portanto, o sacerdote é instrumento
nas mãos de Deus.
MUNUS REGENDI

Este terceiro e último, Munus, para compreendê-lo, é necessário, descontruir a


mentalidade que por muitos anos o rotulou pejorativamente em torno das terminologias
“autoridade” e “hierarquia”, embora que os fatos ocorridos no ambiente eclesial, por parte do
clero, tenham corroborado, isto no tocante aos abusos de autoridade. Além do mais, outro
contributo veio das “experiências culturais, políticas e históricas do passado recente,
sobretudo as ditaduras na Europa do Leste e do Oeste no século XX”, um passado sombrio.
Mas assegura Bento XVI que a autoridade “em qualquer âmbito, quando é exercida sem uma
referência ao Transcendente, se prescindir da Autoridade suprema, que é Deus, acaba
inevitavelmente por se voltar contra o homem”. A autoridade cujo Cristo ensinou trata-se de
servir seu rebanho como o serviu, e o gesto de lavar os pés dos seus discípulos, demontra a
sua autoridade, isto é, seu serviço. Além do mais, a missão da Igreja e do sacerdote através
deste Munus é de “servir o verdadeiro bem das pessoas e ser transparência do único Bem
Supremo que é Deus” em vista da salvação. É preciso ter os mesmos sentimentos de Cristo,
crescendo na intimidade com Ele, e somente assim é possível “ser Pastor segundo o coração
de Deus (cf. Jr 3, 15)” ademais, segundo o Papa, ninguém é capaz de apascentar a “grei” do
Senhor, se não “vive” uma obediência “profunda e real a Cristo e a sua Igreja”. Uma
compreensão errônea se dá também o termo “hierarquia” que para muitos, seria o modo como
a Igreja mantem seu “domínio sagrado”, porém, essa compreensão não é verdadeira, visto que
a expressão correta é: “origem sagrada”, pois a autoridade é sacramental e que se “submete,
portanto, a pessoa à vocação, ao mistério de Cristo”, fazendo-o servo em comunhão com o
Papa. No entanto, a hierarquia é um serviço em comunhão com Cristo, sua Igreja, aos pastores
constituídos e aos fiéis, cujo rebanho dado por Deus.
Em virtude do que foi discorrido acima, entende-se que na medida que o sacerdote tem
uma grande missão confiada pela Igreja que é de agir in persona Christ Capit, exercendo o
Munus de ensinar, santificar e governar. Realiza tudo isso a serviço, em comunhão com
Cristo, a Igreja, ao Papa, em virtude dos fiéis e sua salvação, uma vez que estes são o alvo de
sua missão, na condição de pastor e rebanho, em busca da Salvação da grei do divino Mestre.
REFERENCIAS

PAPA BENTO XVI. Audiência geral: Munus docendi. Libreria Editrice Vaticana, Abril
2010. Disponível em:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2010/documents/hf_ben-
xvi_aud_20100414.html. Acesso em: 10 Abril 2023.

_____. Audiência geral: Munus regendi. Libreria Editrice Vaticana, Maio de 2010.
Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2010/documents/
hf_ben-xvi_aud_20100526.html. Acesso em: 04 Abril 2023.

_____. Audiência geral: Munus sanctificandi. Libreria Editrice Vaticana. Maio de 2010.
Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2010/documents/
hf_ben-xvi_aud_20100505.html. Acesso em: 03 Abril 2023.

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