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ORGANISMO SACRAMENTAL a) Estrutura sacramental da história
PLENO: REALIDADES salvífica
SACRAMENTAIS E DIMENSÕES DO
SACRAMENTO A história da salvação é a história humana.
Deus manifesta-se e irrompe na história,
I. Delimitação e extensão do conceito germinando-a com a sua presença e ação.
“sacramento” Com a vinda de Cristo, esta presença
intensifica-se até a um grau inesperado. O
Durante muito tempo existiu na igreja um que já existia pela criação como “realidade
conceito restritivo de sacramento, sacramental da presença de Deus” vem
unicamente para se referir a um dos sete agora a ser uma realidade epifânica
sacramentos. A realidade sacramental plena excelente do mesmo Deus. Deste modo,
não é suficiente expressa se reduzida ao criação e encarnação são os dois eixos da
septenário sacramental. estrutura sacramental da história.
Durante os doze primeiros séculos a Esta estrutura sacramental da história
palavra “mistério, sacramento” usava-se desenvolve-se em permanente
também para designar outras realidades correspondência e complementaridade
distintas dos sete ritos sacramentais: entre palavra e sinal, anúncio profético e
Cristo, a igreja, a Escritura, a páscoa, a acontecimento salvífico, entre promessa e
encarnação, a quaresma... Só através de um realização. As palavras têm caráter de ação
lento processo chegou-se a uma clara porque cumprem o que dizem; os sinais
diferenciação entre “sacramenta maiora” têm caráter de palavra porque revelam o
(batismo e eucaristia) e os “sacramenta poder e a glória de Deus; e ambos os
minora” (o resto dos sacramentos) e entre elementos surgem concentrados nos
estes os simples “sinais sagrados” (os que grandes acontecimentos da história da
remetem a outra realidade, mas não salvação.
santificam).
b) Os sacramentos recapituladores da
A partir de Trento, “sacramento” designava estrutura sacramental da história da
apenas o “sinal eficaz de graça”, ou seja, salvação
qualquer um dos sete sacramentos.
Qualquer uns destes sacramentos tinham Se os sacramentos atualizam, continuam e
que cumprir os seguintes requisitos: realizam a história da salvação no tempo
instituição por Cristo, estrutura de matéria presente da igreja, têm que fazê-lo segundo
e forma, eficácia “ex opere operato”, a estrutura e a dinâmica que constituiu a
intenção por parte do ministro, e dita história.
disposições por parte do sujeito.
Na história salvífica, que expressa o
A partir do Vaticano II utilizou-se a encontro entre Deus e o homem, e que
expressão “sacramento” no seu sentido supõe a doação de graça e a resposta de fé,
mais original, aplicando-a a Cristo, à pode-se falar em “dialogantes”,
Igreja, e num sentido mais difuso ao “personagens” e “constituintes”:
cristianismo, a todo o homem, às
realidades criadas. Hoje a teologia não Chamamos “dialogantes” a Deus, ao
teme em chamar “sacramento” também a homem e ao mundo (criação); É
outras realidades que se desdobram no Deus que por livre e gratuita
campo do septenário sacramental. vontade, começa um diálogo com o
homem; este é capaz de continuar o
Portanto, da eficácia como elemento diálogo e colaborar na história
distintivo do sacramento passou-se ao sinal salvífica; para tudo isto acontecer é
como elemento especificante do indispensável o mundo, o cenário
sacramental. onde tudo acontece.
II. Sacramentos e história da salvação
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Chamamos “personagens” àqueles Esta verdade foi expressada diversamente
que, em cada etapa da história, ao longo da história da igreja. As
personificam e protagonizam o formulações são distintas, mas no fundo, o
diálogo. Da parte de Deus, serão conteúdo é o mesmo: o novo testamento
Cristo e o Espírito Santo. Da parte dirá que Cristo é a imagem de Deus
do homem, os interlocutores invisível; a liturgia afirmará que Cristo se
principais da história da salvação: aproxima do homem visivelmente para nos
Abraão, Moisés, os profetas, os introduzir no amor do invisível; os Padres,
apóstolos, os santos, o povo de como Agostinho, reconhecerão que não há
Israel, a Igreja... da parte do mundo outro sacramento de Deus como Cristo; os
serão os conhecimentos da realidade teólogos escolásticos dirão também que o
criada, a civilização, a cultura, o primeiro sacramento é a encarnação de
progresso... Cristo”; os reformadores insistirão na
concentração sacramental de Cristo; o
Chamamos “constituintes” às dogma dirá que Cristo é uma pessoa em
condições necessárias por parte de duas naturezas; e o magistério da Igreja
cada um dos dialogantes, para que afirma que a natureza assumida serve o
possa ocorrer o diálogo. Por parte Verbo divino como instrumento vivo da
de Deus serão a revelação e a graça, salvação, unido indissoluvelmente a ele.
manifestadas através da palavra e
dos sinais, sobretudo em Cristo. Da b) Riqueza e dimensões da
parte do homem, a fé e a liberdade. sacramentalidade de Cristo
No que diz respeito ao mundo, os
Quais são as razões em que se fundamenta
acontecimentos humanos e
a sacramentalidade de Cristo?
mundanos, que o qualificam em
cada momento histórico. 1. Cristo é sacramento pelo seu ser; Nele
existe perfeita adequação e harmonia entre
De tudo isto se deduz que os sacramentos,
a sua natureza humana e divina (verdade
enquanto recapituladores da estrutura
ontológica);
sacramental da história, são a expressão
celebrativa eclesial mais significante de 2. Cristo é sacramento pelo seu agir. Ao
uma continuidade deste diálogo salvador. longo da sua vida, manifestou a sua
sacramentalidade através das suas palavras
III. Cristo sacramento original
e dos seus gestos e atitudes. Por serem atos
a) Uma confissão de fé permanente da de Deus, possuem especialmente força
igreja divina de salvação (verdade ética);
Cristo entra na história como “sinal- 3. Cristo é sacramento pelos seus atos
sacramento” nasceu um Salvador, que é privilegiados (milagres).
Cristo Senhor; e isto os servirá de sinal.
(Lc2, 10-12). Sinal de quê? Sinal de que a
salvação tomou a figura humana e se
manifestou visivelmente; finalmente,
cumpriu-se a promessa da presença
messiânica de Deus junto de Israel.
Portanto, a encarnação é sacramentalização
radical e culminante da presença de Deus
no meio dos homens. Por isso se dirá que
Cristo é “protosacramento” ou “sacramento
original” porque é realização plena do
mistério (sacramento) escondido e
revelado.
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