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SÃO PAULO
2014
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2014
Resumo
A reconciliação do ser humano com Deus, obra de Cristo, continua a realizar-se pela presença
de Cristo na sua Igreja, de maneira muito especial em sua liturgia. Da mesma maneira que a
obra reconciliadora evoluiu processualmente através da História do povo de Israel até seu
ápice em Jesus Cristo, levando em consideração o contexto histórico vivido e sua capacidade
vertical (na relação com Deus) e horizontal (nas relações com o próximo) que o aspirante a
condição de cristão percorre quando sua preparação segue o itinerário e a pedagogia proposta
pelo Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, tendo seu ápice na celebração dos sacramentos.
cristã.
Introdução .............................................................................................................................. 04
1.4. A Reconciliação nas comunidades cristãs primitivas e em seus ritos de iniciação ... 19
Conclusão ............................................................................................................................... 38
Bibliografia ............................................................................................................................ 40
4
Introdução
A relação de Deus com seu Povo e do Povo com seu Deus, desenvolve-se na experiência da
Aliança. A iniciativa da experiência é assumida por Deus e obriga uma resposta do ser
humano.5[1]
A resposta que o ser humano dirige a Deus é uma ação na direção dele; é expressa pelo desejo
[2]
de mudar de vida e estabelecer uma relação pessoal e íntima com Deus. Essa resposta
positiva na direção de Deus se faz de maneira processual, pois está relacionada à percepção de
A percepção de Deus está ligada, portanto, à percepção de si, pela pessoa humana, no seu
[4]
todo; a Salvação passa por cada uma das partes da humanidade. Em especial passa pelo
corpo, pois, a Revelação Divina utiliza-se da via estética e não de conceitos filosóficos
abstratos; ou seja, a utilização dos cinco sentidos está ligada a uma experiência espiritual
profunda, pois a revelação cristã está no fato de Deus assumir um corpo, se encarnar, se
Essa dimensão estética da fé cristã é que remete à importância dos rituais cristãos, pois, o
[6]
“ritual” em si é ação e não um conjunto de pensamentos ou ideias abstratas. Ou seja, o
“ritual” ou “rito” atingi os sentidos humanos e consegue traduzir a realidade de Jesus Cristo
ressuscitado.
caminho da iniciação cristã também exige um caminho de comunicação que atinja os cinco
[1]
SURIAN, Francisco Emílio. Teologia da Aliança e sua relação com a dignidade humana: aspectos
coincidentes entre a Nova Aliança e as principais celebrações da Aliança no Antigo Testamento. Dissertação
(Mestrado em Teologia). Pontificia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2011.
[2]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[3]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas. 1977.
[4]
Catecismo da Igreja Católica. São Paulo. Edição típica vaticana. Edições Loyola. 2000.
[5]
SILVA. Dom Jerônimo Pereira. Fontes da fonte. Revista de Liturgia. São Paulo, n. 40, p.4-7, [nov./dez.].
2013.
[6]
TERRIN, Aldo Natale. O rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. Tradução: José Maria de
Almeida. São Paulo. Editora Paulus. 2004.
5
iniciação cristã com os sinais simbólicos, rituais, sacramentais, e todos os outros sinais,
[7]
COSTA, Valeriano Santos. A Liturgia na Iniciação Cristã. São Paulo. Editora LTr. 2008.
6
1.1. A Fé em Israel
Ao criar o ser humano, Deus logo revela sua vontade; após o pecado original, vemos Deus
procurando Adão para se lhe revelar. Vemos, também, Deus revelando a Abrão sua vontade:
que ele saia de sua terra e migre para outra. Deus revela sua intenção de verificar os pecados
de Sodoma e Gomorra e destruí-las se necessário; revela, ainda, sua vontade aos patriarcas. A
revelação é a tônica das Sagradas Escrituras; consiste, de maneira muito sintética, em Deus
O modo como esse revelar-se de Deus se faz é processual, histórico e cultural. Inicialmente, a
religião israelita era permeada de influência das religiões pagãs vizinhas, mas aos poucos
aquilo que não convinha desapareceu; no entanto, aquilo que era útil das religiões vizinhas
para expressar a fé de Israel, incorporou-se nas práticas religiosas, nas formas de se conhecer
O revelar-se de Deus a Israel manifesta-se de maneira bem enfática nos elementos da natureza
(ar, água, fogo, terra), não apenas através destes, mas eles tornaram-se símbolos da ação de
Deus na história de Israel em medidas diferentes. O simbolismo que as forças da natureza têm
está ligado à ação dos profetas em Israel. Isso não significa que a ação dos profetas tenha
ligação exclusiva com os elementos naturais; ao profeta Oseias a revelação foi através de seu
casamento; ao profeta Amós, através de uma experiência casual com uma cesta de frutas
naturais. [10]
[8]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas. 1977.
[9]
Ibidem.
[10]
Ibidem.
7
Muitas vezes utilizou-se de técnicas para descobrir qual a vontade da divindade, chegando-se
a constituir escolas de profetas, como vemos nas narrativas sobre o profeta Eliseu. Também
temos indicação de sucessão hereditária na prática profética, como coloca o profeta Amós (7,
14): “Não sou profeta, nem filho de profeta”. No entanto, o profetismo não foi exclusividade
A presença das forças da natureza, como sendo ação de Deus na ação dos profetas, é clara em
Moisés com a situação de escravidão do povo o leva ao assassínio. Não se trata aqui de uma
ação profética, mas simplesmente um ato impulsivo em favor do povo; não há qualquer
intervenção de Deus nesta ação de Moisés. Moisés não enfrenta a situação de opressão do
povo. Com medo, foge das consequências de seu ato. A volta de Moisés mostra o caráter
genuíno do seu profetismo, tendo como demonstração da ação de Deus as forças da natureza.
Moisés não voltou com um exército para combater o faraó, mas volta apenas ele e Aarão.
Também não volta para incitar o povo a rebelar-se contra o sistema opressor, mas a confiar na
A revelação dada a Moisés é ratificada pelas forças naturais. A própria passagem pelo Mar
Vermelho mostra a ação da natureza, submissa à vontade divina, como sendo revelação da
[11]
Ibidem.
[12]
Ibidem.
[13]
Ibidem.
8
A libertação do Egito e a passagem pelo Mar Vermelho marcam Israel de maneira tão forte,
que lhe acompanhará como evento principal, com o início do javismo de Israel, calcado na
manifestar-se, mas mostra-se de modo plural. A Lei dada por Moisés esteve repleta de
elementos culturais da época, não porque fosse resultado de algum sincretismo ou algo
parecido, mas não era possível, de uma hora para outra, acabar com determinadas práticas
Percebemos que a Lei Mosaica também é parte da revelação de Deus. Lei e profetas
caminham juntos no processo da revelação divina. A Igreja aceita isso e encara o Antigo
Nos povos politeístas que viviam ao redor de Israel, a divindade se manifestava de maneira
visível em algum elemento natural. Algumas religiões do culto pagão associava algum
elemento natural à divindade como o culto ao sol, à lua e às estrelas, aos ventos, aos cursos da
água e outras forças da natureza, e dessa maneira eram-lhes dedicados cultos. [17]
Essa forma de associação da divindade a algo natural era tão forte, que os israelitas não
demoram, após a saída do Egito, para constituir um elemento natural como divindade, sendo o
transcendente, que seu ser não pode ser expresso totalmente através de elementos da natureza
[14]
FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução: Josué Xavier. São Paulo. Edições Paulinas. 1982.
[15]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas.
1977.
[16]
Ibidem.
[17]
Ibidem.
[18]
Ibidem.
9
e seu poder se expressa nas forças naturais, mas também através das ações humanas. Vemos,
desse modo, a tônica da manifestação divina: natureza e ser humano; Deus se dá a revelar
monoteísta do antigo Israel consiste, a princípio, que Deus governa sozinho o mundo; ao
contrário das outras religiões do Oriente Médio, não existe um panteão com vários deuses
onde Iahweh tem a supremacia. Iaweh também não está ligado a um território, mas
acompanha um povo que toma como seu e o acompanha em sua peregrinação. Outra
característica é que Iaweh não tolera o culto a outros deuses, exige exclusividade. Dessa
maneira, nesse período inicial o mais correto seria dizer que a religião de Israel se baseava
Um traço que vai distinguir o Deus de Israel dos outros deuses é que Ele não age dentro do
ciclo da natureza, mas sua ação está relacionada com o destino do ser humano. Dessa maneira
A dificuldade de expressar aquilo que não tem expressão no mundo natural é a razão que leva
Moisés a perguntar para Deus qual o nome que ele deve levar aos israelitas no cativeiro. O
nome se torna, então, uma forma humana de expressar a divindade. No entanto, o nome de
Deus, como forma de manifestar aquilo que não pode ser manifesto por atos humanos ou
naturais encontrou certa dificuldade. Não existe unanimidade quanto à origem e significado
do nome “Iaweh”. Citamos, apenas como exemplo dessa dificuldade, os nomes que no
[19]
Ibidem.
[20]
FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução: Josué Xavier. São Paulo. Edições Paulinas. 1982.
[21]
Ibidem.
10
decorrer do tempo foram associados ao Deus de Israel: Elohim, El, Shaddai, El Shaddai,
Elyon e Iahweh; posteriormente ao nome de Deus será associado Adhonai (Senhor). [22]
Começa-se a perceber a pedagogia utilizada por Deus no seu relacionamento com o ser
humano. Através da inspiração dos profetas e das forças da natureza, Ele se revela na História
do povo de Israel. Utilizando-se das ações dos homens e da natureza, Deus se dá a revelar.
Assim, existe uma correlação entre aquilo que Iaweh faz e a decisão e conduta dos homens;
existe harmonia entre o ser humano e o divino, de modo que a história do ser humano no seu
Além da percepção histórica, outro meio de Iahweh se revelar será através da Lei. [24]
Na Lei Mosaica, a mesma tem um caráter peculiar. Através da Lei, Deus exprime o seu
caráter, quer que os israelitas façam aquilo que Ele mesmo faz, ou melhor, sejam como Ele é.
As regras apresentadas por Deus são a compilação de seu próprio comportamento. Ou seja,
Isso imprime um caráter moral à Lei de ordem divina. Alcança-se o conhecimento de Deus,
revelado por Ele mesmo, através do conhecimento e da observância da Lei, e a Lei, dessa
histórico-profético, associado a forças naturais que estão fora do controle do ser humano.
Nesse processo, Deus se faz conhecer ao ser humano através da sua vontade, expressa na
[22]
Ibidem.
[23]
Ibidem.
[24]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas.
1977.
[25]
Ibidem.
11
religião do antigo Israel pela Lei Mosaica, mostrando de maneira inédita que Deus é aquilo
que faz, e aquilo que deseja que o ser humano faça, ou seja, as leis divinas são expressão de
A fé de Israel num Deus que se dá a conhecer, que mostra sua grandeza e transcendência, traz
também outro aspecto da revelação, que é a condição humana. Como afirma Rowley: “O
homem é criatura de Deus. Ambos os relatos da criação nos capítulos iniciais da Bíblia,
terra; com isso, vemos que o ser humano está ligado à criação e dela faz parte. Ou seja, o ser
criação. No entanto, a narrativa deixa claro que esta semelhança está apenas no fato do
homem ser também criatura, pois o mesmo está acima do que foi criado pela sua natureza
moral. A ordem de Deus ao ser humano foi que sujeitasse a criação, e para isso diz que o
homem foi criado à imagem e semelhança do próprio Deus. O ser humano é colocado como o
posição do ser humano diante de Deus ocorre também de maneira gradativa. Essa
compreensão da dignidade para a qual o ser humano foi criado e sua função na criação evolui
para o modo como é descrita no livro do Deuteronômio 6, 5ss e Isaías 1, 16ss. [29]
[26]
Ibidem.
[27]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas.
1977.
[28]
Ibidem.
[29]
Ibidem.
12
A função de sujeitar é descrita como governar, reger o mundo criado. O Salmo 99, 1 diz que
Deus governa sobre tudo; sendo o homem a imagem e semelhança de Deus, também lhe é
dada a função de governar a criação. Características morais de Deus também são outorgadas
ao ser humano para exercer esse governo: justiça e retidão de julgamento para estabelecer a
Dessa maneira vê-se que o ser humano foi criado para um determinado fim: o serviço de
Deus; foi criado para compreender sua vontade e caminhar ao seu lado. [31]12
Não apenas na função de governar o mundo o ser humano vai se diferenciar da criação, mas o
Conforme a narrativa bíblica, todos os seres vivos foram chamados à existência e começaram
a existir, mas o ser humano não. Primeiramente ele é tirado da terra e modelado; depois de
modelado, lhe é dado um sopro de vida. Essa narrativa simbólica mostra que, apesar de seu
vínculo com o mundo criado, a pessoa humana tem essência divina. [32]
humano é dada a rûah. Em língua portuguesa é associada à palavra espírito, mas também
pode significar sopro ou vento. O uso da palavra rûah pode se referir também a um atributo
de personalidade. Tem-se, então, que o sopro de Deus não apenas dá vida ao homem, mas lhe
imprimi um caráter, uma personalidade divina, e é através desta que o ser humano se
assemelha a Deus. Juntamente com esse espírito de caráter exclusivo perante a criação, o ser
humano também é dotado de liberdade moral. Ou seja, tem o livre arbítrio de fazer escolhas
[30]
Ibidem.
[31]
Ibidem.
[32]
Ibidem.
[33]
Ibidem.
13
No entanto, o ser humano, criado para servir a Deus, é chamado ao seu convívio através da
obediência à sua vontade. A opção de escolhas que vão contra a vontade de Deus acarreta ao
homem o rompimento desse convívio. Como vemos na narrativa do paraíso terrestre, o ser
humano participava do convívio do Criador, passeava com Deus pelo jardim da criação. Ao
vontade do Criador, o ser humano vai contra si mesmo, pois vai contra a rûah que lhe dá vida
e assemelha a Deus e com essa atitude atrai a desgraça máxima, a morte. [34]13
A morte é expressão máxima da ausência da vida junto a Deus. Se através do sopro divino é
concedido sabedoria para exercer a justiça e promover a paz e a ordem, a ausência desse sopro
gera injustiça, desordem e ausência da paz. Se quando criado o ser humano tem liberdade de
escolha moral (inclusive para pecar), ao sair da presença de Deus perde-se também a
A religião de Israel vai perceber que essa condição de afastamento do convívio divino se dá
A páscoa em si não é uma festa, mas um rito sacrifical que proporciona uma celebração
festiva. Rito conhecido de outros povos nômades, na religião de Israel vai significar a
libertação do Egito e começará a dar a base do conceito de redenção, que também será
assumido pelo cristianismo. Esse será o símbolo-base da história da salvação de Israel. Assim,
[34]
Ibidem.
[35]
Ibidem.
[36]
Ibidem.
[37]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
14
a páscoa de Israel vai se tornar memorial da sua redenção e sinal da aliança divina, vai se
Pela da Páscoa, o povo de Israel é libertado para ser consagrado a Deus. Ou seja, antes da
Páscoa Israel não é consagrado a Deus e não se distingui dos outros povos pagãos (a não ser
pela promessa feita a Abraão); então, a Páscoa é a reconciliação do povo de Israel com Deus.
[39]
Com a saída do Egito e a Lei dada como fruto (e regra) da aliança, a Lei Mosaica vai se
transformar no projeto de sociedade de Israel. Não cumprir a vontade divina vai significar
transgredir o direito e a justiça dentro da sociedade. A ordem divina das coisas está no
Sendo a obediência à lei condição de se atingir a paz e a ordem social, vai se associar também
A religião de Israel vai se tornar de tal forma jurídica, que o cumprimento da Lei será
comunidade. Na evolução da fé de Israel esse será um sinal de aliança com Deus. Sendo uma
sociedade patriarcal, não apenas se torna sinal de aliança do homem com Deus, mas também
de sua família e tudo o que lhe pertence; dessa maneira a circuncisão também se estenderá a
escravos e animais. Esse sinal ganhará tal valor que significará disposição de seguir a lei
[38]
Idem.
[39]
Idem.
[40]
GRENZER, Matthias. Análise poética da sociedade: um estudo de Jó 24. São Paulo. Paulinas. 2005.
[41]
SCHMIDT, Francis. O pensamento do templo de Jerusalém a Qumran: Identidade e laço social no judaísmo
antigo. Tradução: Paulo Meneses. São Paulo. Edições Loyola. 1998.
15
divindade. [42]
Além da necessidade da circuncisão, o prosélito, para ser aceito em Israel, precisava passar a
observar a legislação ritual israelita, seja no aspecto civil quanto religioso, pois a observância
ritual servia para identificar quem era membro da comunidade ou não, inclusive entre os
Pela visão de Israel que todos os outros povos são considerados como impuros por suas
práticas, dentre os diversos ritos de purificação alguns irão se desenvolver no sentido de uma
dos Números (capítulos 14-15), vai dizer que os israelitas foram introduzidos na Aliança
também deve acontecer com os que não são israelitas e que aderirem a Israel. Na Mixná,
sobretudo no tratado Yebamót, a substância do texto será a mesma, com a diferença de que o
banho torna-se parte de um rito de iniciação, e não tanto um aspecto de legalidade. Ambos
fazem referência á passagem pelo Mar Vermelho, tendo-o como acontecimento necessário
O objetivo dessa reconciliação será o culto sacrifical a Deus. Israel é consagrado para o
serviço de Deus; essa ideia aparece vinte e cinco vezes nos capítulos de 3 a 12 do livro do
Êxodo. [45]
[42]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[43]
SCHMIDT. Francis. Tradução: Paulo Meneses. O Pensamento do Templo de Jerusalém a Qumran:
Identidade e laço social no judaísmo antigo. São Paulo. Edições Loyola. 1998.
[44]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[45]
Ibidem.
16
De fato, a Páscoa, memorial da libertação do Egito, será tão marcante que se tornará o ponto
consequente diáspora. Ainda nos dias de hoje esse é um dos rituais que marcam a religião
judaica. [46]16
O local do culto também fará parte da prescrição da lei e será um símbolo religioso da
reconciliação com Deus. No período nômade no deserto, a Tenda será o primeiro local
símbolo da presença da divindade e de sua aliança; não se trata de uma tenda qualquer, ela é
feita conforme prescrito na lei dada por Deus, e nela ocorrerá o encontro com o transcendente,
mesma não será ainda ponto de unidade cultual de Israel. A passagem da Tenda para o
Templo não será imediata, pois, para a religião de Israel Deus é de tal maneira transcendente
que não pode habitar em construção feita por mãos humanas. Isso só acontecerá com a
No reinado de Davi haverá uma tentativa, que não terá êxito pela ação do profeta Natã.
Inicialmente o profeta não se colocará contra, porém, depois levantará o problema teológico
de Deus morar com os seres humanos sobre a terra. A necessidade de unidade de culto será
resolvido colocando o acento sobre a nuvem que toma conta do templo e mostra que Deus
quer ali habitar, tal como o fez na tenda. O Templo, como a tenda, será sinal da presença de
[46]
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. Paulinas. São Paulo. 2013.
[47]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[48]
Ibidem.
[49]
Ibidem.
17
Essa evolução também acontecerá na compreensão desse símbolo. A Tenda, sendo móvel,
mostra que Deus passa, caminha no meio do povo, mas ainda assim de maneira móvel. O
Templo se tornará símbolo da presença fixa, estável de Deus no meio do povo, será a casa
Aqui temos uma mudança nas práticas religiosas de Israel. Antes o culto podia ser feito no
lugar onde se está, não havia necessidade de deslocamento a um lugar fixo para se cumprir as
práticas religiosas prescritas pela lei, até porque o caráter móvel da Tenda transmitia isso.
Com o Templo de Jerusalém, as práticas religiosas se concentrarão agora num lugar fixo e
começará a surgir uma extrema valorização do lugar do culto, sendo questionado (e por vezes
até reprovado) o culto a Deus em lugar diferente. Agora o fator de unidade do povo de Israel
será o templo de pedra, perdendo força até mesmo a lei, pois, determinados ritos começaram a
ter validade reconhecida quando feitos exclusivamente no Templo Jerusalém, e somente nele.
Tornou-se, também, o sinal da reconciliação do povo, pois, a redenção de Israel foi para que
prestasse culto a Deus, e agora esse culto somente podia ser feito no templo de Jerusalém.
sagrado. [51]17
segundo templo, será motivo de controvérsias nos seguimentos judaicos. Entre as diversas
[50]
Ibidem.
[51]
SCHMIDT. Francis. Tradução: Paulo Meneses. O Pensamento do Templo de Jerusalém a Qumran:
Identidade e laço social no judaísmo antigo. São Paulo. Edições Loyola. 1998.
[52]
Ibidem.
18
encontrada:
Então Jesus contou-lhes esta parábola: ‘Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma,
não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até
ovelha que estava perdida! Eu vos digo: assim haverá no céu mais alegria por um só
pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de
pessoa (volta ao convívio com Deus) e também a parte física, o corpo (volta ao convívio com
conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em
cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o
paralítico: ‘Filho, os teus pecados estão perdoados’. Ora, alguns mestres da Lei, que
estavam ali sentados, refletiam em seus corações: ‘Como este homem pode falar
assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus’. Jesus
percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: ‘Por que pensais
assim em vossos corações? O que é mais fácil: dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados
estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega a tua cama e anda?’ Pois bem, para que
saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar pecados, disse ele ao
paralítico: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!’ O paralítico então se
levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. (Mc 2, 3-12) [54]
[53]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
19
A comunidade nascida em Jerusalém, por consequência de sua origem, vai ter atitudes de
ambiguidade em relação ao judaísmo, ora valorizando aspectos da Lei Mosaica, como a visita
alimentares. O primeiro cristianismo entendeu que não tinha essa necessidade. [56]
O diferencial do primeiro cristianismo será seu rompimento com o legalismo religioso judaico
da época, em especial o templo. Enquanto para o judeu o centro cultual é o templo, para os
cristãos o centro será a pessoa de Jesus. Aos poucos algumas características cultuais judaicas
vão sendo passadas para o cristianismo que surge, sendo, dessa maneira, reinterpretadas e
resignificadas. [57]19
Os primeiros cristãos não irão se diferenciar pelos atos externos, mas pelo seu comportamento
moral, mas não somente por causa deste. Pode-se falar nesse primeiro momento do
Jesus Cristo irá nortear a maneira de viver dos primeiros cristãos e o seu culto. O próprio
Jesus será tido como a plenitude da Lei, por isso, seu sacrifício será considerado único e
verdadeiro. Como no sacrifício do templo era imolado um cordeiro para a Páscoa judaica,
[54]
Ibidem.
[55]
SOUZA, Ney de. Cristianismo: a vida dos primeiros cristãos. São Paulo. Palavra e Prece Editora. 2010.
[56]
SCHMIDT. Francis. Tradução: Paulo Meneses. O Pensamento do Templo de Jerusalém a Qumran:
Identidade e laço social no judaísmo antigo. São Paulo. Edições Loyola. 1998
[57]
FLORES, Juan Javier. Tradução: Antonio Efro Feltrin. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo. Paulinas.
2006.
[58]
Ibidem.
20
Jesus Cristo será a própria Páscoa, com seu ápice na sua ressurreição. O altar será, para os
primeiros cristãos, o próprio coração, conforme afirma são Leão Magno. Ou seja, o centro do
bapto, que no seu intensivo é baptizo, que significa “emergir, afogar, afundar”, e por
consequência “lavar, purificar, destruir”. No entanto, não se pode confundir o Batismo cristão,
que é sacramento, com o batismo judaico de prosélitos que é um rito de purificação. [60]
O Batismo cristão simboliza a regeneração espiritual, onde morre o homem velho e nasce o
homem novo. Como afirma Atos dos Apóstolos, para o Batismo o único elemento material
será a água. Dessa maneira, o rito do Batismo irá evoluir conforme o lugar onde será feito e
Espírito Santo; na falta da mesma, podia derramar três vezes água na cabeça do que estava
sendo batizado utilizando a fórmula trinitária citada. Impunha-se ao que era batizado um ou
[59]
Ibidem.
[60]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[61]
JOHNSON, Cuthbert; JOHNSON, Stephen. Tradução: José Raimundo de Melo. O espaço litúrgico da
celebração: Guia litúrgico prático para a reforma das igrejas no espírito do Concílio Vaticano II. São Paulo.
Edições Loyola. 2006.
[62]
Didaqué: catecismo dos primeiros cristãos. Tradução: Urbano Zilles. 10° edição. Petrópolis, RJ. Editora
Vozes.
21
A reconciliação, como ação primeira de Deus na direção do ser humano e que exige uma
resposta, é a retomada de uma relação íntima com Ele, que se faz de maneira gradativa e
[64]
Esse processo tem seu cume na inserção no mistério pascal de Cristo , que é o próprio
Batismo, e é feito de maneira ritual. Isso acontece porque, sendo a fé cristã baseada numa
realidade corpórea, o rito vai atingir a totalidade corporal do ser humano, num jogo de palavra
e ação onde a ação procura viver a palavra, levando a uma hermenêutica existencial e
A hermenêutica existencial, para chegar a uma relação íntima com Deus, leva à tomada de
entre vida pregressa e aquilo que ainda não se é; posteriormente a assimilação de valores de
injustiças, num reconhecimento de culpa construtivo. Isso porque nem todo reconhecimento
de culpa é construtivo, podendo, às vezes, ser destrutivo; então, pode acontecer de não se
[63]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Pe. Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas.
1977.
[64]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[65]
TERRIN, Aldo Natale. O rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. Tradução: José Maria de
Almeida. São Paulo. Editora Paulus. 2004.
[66]
LELO. Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São Paulo.
Paulinas. 2005.
[67]
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 3° edição. São Paulo. Editora Ática. 1997.
22
valores propostos pela oposição entre vida pregressa e aquilo que ainda não se é, porque se
percebe que o modo de vida aceito de maneira livre, com todos os valores propostos, é
desrespeitado pela maneira de viver antiga. Tudo isso tem seu ápice na conscientização de ser
pecador, que é a tomada de consciência de ter ofendido a Deus, e leva o ser humano a se abrir
[68]
CENCINI, A. Viver reconciliados: aspectos psicológicos. Tradução: Euclides Carneiro da Silva. São Paulo.
Edições Paulinas. 1987.
[69]
Ibidem.
23
A palavra “iniciação” vem do verbo latino initiare, que deriva do substantivo initium e que
tem origem em outro verbo latino inire, cujo sentido é começar, introduzir alguém em algo.
Os Padres da Igreja, para exprimir o mesmo sentido das palavras latinas, em grego utilizaram
dois termos: myesis, que dentre as várias palavras que deu origem, destacam-se mysterion
Semelhante a outras religiões, faz parte do fenômeno antropológico. Por isso, a iniciação
cristã segue cinco objetivos: referência ao mito primordial; simbolismo do processo de morte
integração; vivência dos valores da comunidade em que está sendo inserido e transformação
[71]23
da personalidade. Enquanto o rito do sacramento se caracteriza como rito de passagem
catecumenal tem dimensão de purificação, pois, prevalece o elemento moral humano, onde
A iniciação em si não é apenas rito, mas o conjunto de ensinamentos e ritos que tem a
[70]
OÑATIBIA, Ignacio. Batismo e Confirmação: sacramentos de iniciação. São Paulo. Paulinas. 2007.
[71]
COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
[72]
TERRIN, Aldo Natale. O rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. Tradução: José Maria de
Almeida. São Paulo. Editora Paulus. 2004.
24
inserir o iniciando nos mistérios da divindade, e nisso o rito tem um papel estratégico e rico,
pois, tem mais afinidade natural com o eixo vertical, que é o Mistério. [73]
Percebe-se, dessa maneira, que a iniciação cristã se baseia em três ações: os rituais litúrgicos
comportamento ético do catecúmeno. Os rituais litúrgicos acabam tendo certo destaque, pois,
são estratégicos pelas suas duas dimensões: lógica crítica e lógica simbólica; a primeira
O processo de formação do rito de iniciação foi gradual. Dos séculos I e III sabe-se pouco
sobre o rito batismal, tão pouco sobre o período de preparação. No século III a preparação
para o batismo tem organização própria, conforme atesta Hipólito de Roma e o Sacramentário
Gelasiano, sendo estes os inspiradores do atual rito de iniciação cristã do Concílio Vaticano
II.
Os sacramentos ligados à iniciação cristã são: batismo, crisma e eucaristia. Apesar de serem
três sacramentos distintos, a ação do Espírito Santo através deles é de continuar recriando o
isso se faz de maneira tal que muitos Padres da Igreja afirmavam que depois de receber o
“ser” segundo Deus (batismo) recebe-se o “agir” segundo Deus (crisma) para se testemunhar
[73]
COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
[74]
Ibidem.
[75]
SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. Dicionário de Liturgia. Tradução: Isabel Fontes Leal
Ferreira. São Paulo. Edições Paulinas. 1992.
25
comunidade. [76]
Além do caráter de iniciação numa comunidade de iniciados para entrar em contato com o
realidade, pois, como ação litúrgica da Igreja, Cristo está presente; e também ajudam a criar,
com a catequese, disposições interiores para que o mesmo coopere com a graça e participe
A plenitude dessa realidade se inicia primeiramente pelo Batismo, onde o iniciando é inserido
[79]
no mistério Pascal de Cristo, de modo a participar de sua paixão, morte e ressurreição, e
Dessa maneira, o simbolismo utilizado e essencial no processo de iniciação cristã vai além do
simples desejo de aproximar o homem de Deus, mas correspondem às ações do próprio Deus
[76]
Ibidem.
[77]
Ibidem.
[78]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[79]
Ibidem.
[80]
BORÓBIO, Dionísio (Org.). A Celebração na Igreja. São Paulo. Loyola. 1993.
[81]
Ibidem.
26
A retomada da iniciação cristã de adultos procura atender, de maneira inicial e com certa
urgência, as regiões de missão, permitindo para isso certo nível de inculturação. No entanto, a
retomada da iniciação cristã também procura atender aos novos anseios que surgiram no
laicato, decorrentes do processo de transformação que esse sofreu ao longo do século XX.
Até o início do século XX os fiéis leigos ficaram à margem do processo de iniciação cristã,
através dos mais variados movimentos, das mais variadas crenças e das mais variadas seitas.
Muitos fiéis ficaram atordoados e confusos diante dessa transformação tão radical que a
conhecimento intelectual da fé, fizeram que muitos migrassem para outras denominações
da fé. Esses pedidos vieram principalmente da África, de bispos de origem europeia oriundos
Diante dessa perspectiva, a iniciativa primeira dada pelo Concílio Vaticano II, e,
posteriormente, por mentores das diversas pastorais (especialmente catequese e liturgia), vem
tentar atender essa necessidade de formação mais sólida na fé e identidade cristã mais
[82]
NERY, Irmão. Catequese com adultos e catecumenato: história e proposta. São Paulo. Paulus. 2001.
[83]
LELO. Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São Paulo.
Paulinas. 2005.
[84]
NERY, Irmão. Catequese com adultos e catecumenato: história e proposta. São Paulo. Paulus. 2001.
27
A reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, logo em seu primeiro documento
local. As etapas do catecumenato podem ser santificadas por diversos ritos, aptos a manifestar
No item três, do número trinta e cinco da SC, já se orienta que a catequese (etapa da iniciação
De maneira mais clara, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) vai colocar os ritos de iniciação
“Por isso, os catecúmenos devem ser iniciados nos mistérios da salvação e na prática de uma
eucaristia. [87]
Após o debate conciliar e esforço pós-conciliar, o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos foi
promulgado pela Congregação para o Culto Divino no dia seis de janeiro de 1972. [88]
[85]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[86]
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo. Edições Loyola. 2000.
[87]
LELO. Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São Paulo.
Paulinas. 2005.
[88]
Ibidem.
28
Na atualidade, a maioria dos fiéis é subiniciada na fé cristã. Muitos têm os sacramentos como
algo meio mágico, obrigação, ou são indiferentes. Diante disso, a necessidade de formar
O itinerário proposto pelo RICA caracteriza-se por quatro tempos e três celebrações. As
chamado de pré-catecumenato. Esse tempo não tem inscrição ou celebração para passagem.
Aqui há o anuncio vigoroso de Jesus Cristo como Messias e Filho de Deus, onde se espera
que a pessoa tocada pela graça de Deus responda com uma atitude fé e disposição de
conversão. [91]
acolhida dos que desejam tornar-se cristão, de modo a lhes facilitar a integração nos grupos da
comunidade; é também nessa fase que o pretendente começa a conhecer a maneira de ser do
interessado de maneira mais próxima para poder testemunhar sobre o mesmo. [92]
entender seu desejo, mas não o manifesta publicamente; no rito de instituição o mesmo
[89]
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. O itinerário da fé na “iniciação cristã de
adultos” (Estudos da CNBB 82). São Paulo. Paulus. 2001.
[90]
ALMEIDA, Antonio José de. ABC da Iniciação Cristã. São Paulo. Paulinas. 2010.
[91]
Ibidem.
[92]
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. O itinerário da fé na “iniciação cristã de
adultos” (Estudos da CNBB 82). São Paulo. Paulus. 2001.
29
manifestará, pela primeira vez, sua intenção à Igreja. Para esse tempo se requer uma fé inicial
e certa vida de oração (já adquirida no tempo anterior), e o desejo de conversão. [93]29
ministrada por sacerdote, diácono, catequista ou outros leigos autorizados. A catequese será
distribuída conforme a vivência litúrgica da Igreja, sempre através das celebrações da Palavra.
Será familiarizado com as práticas cristãs da oração e da caridade, incentivado pelo introdutor
e pelo padrinho (já presente nesta fase) e toda a comunidade. Também poderá, desde já, a
conversão da mentalidade e costumes, não uma conversão inicial, pois esta já deve ter
suficientemente; e testemunho de caridade; deve também ter sua idoneidade comprovada. [95]
(tempo mais apropriado para o tempo da iluminação) celebra-se a admissão dos mesmos para
tempo da eleição se dá ênfase para uma intensa preparação espiritual relacionada à vida
[93]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[94]
Ibidem.
[95]
Ibidem.
30
e pela penitência. Essa ênfase visa curar o catecúmeno dos males espirituais que ainda podem
O ápice desse tempo é também o fim do catecumenato (mas não de todo o processo), pois,
culmina na celebração dos sacramentos da iniciação cristã na Vigília Pascal. A celebração dos
significa conduzir ao mistério. [97] O tempo próprio da mistagogia é o Tempo Pascal, onde os
O tempo da mistagogia procura fazer com que o neófito entenda o que foi celebrado. Antes o
não toma parte e não lhe é dado o entendimento dos símbolos. Já incorporado plenamente ao
corpo místico de Cristo, o mesmo toma parte da eucaristia, e somente agora lhe é dado o
Oficialmente, o tempo da mistagogia, como etapa da iniciação cristã, é o Tempo Pascal e com
mistério celebrado, ela não se encerra (nesse sentido) com o tempo litúrgico próprio, mas
continua no decorrer da vida, pois, não se consegue viver e entender plenamente o mistério
[96]
Ibidem.
[97]
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. Paulinas. São Paulo. 2013.
[98]
LELO, Antonio Francisco. Catequese com estilo catecumenal. 7° edição. Paulinas. São Paulo. 2012.
[99]
COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
[100]
Ibidem.
31
não compõem o Rito de Iniciação, não tendo, assim, um “rito” próprio para esse tempo. [101]31
No entanto, a dinâmica ritual nessa fase, como a participação no rito da Palavra e encontros
A palavra ocupa lugar primordial na liturgia cristã, isso porque através da palavra (sinal
É também a palavra sensível primeira ponte de contato entre o visível e o invisível, entre o ser
Mesmo não sendo o único símbolo a ser utilizado nessa fase, é o principal, pois, como foi
visto no item 2.3 do Capítulo II, o pré-catecumenato é o tempo do anúncio vigoroso de Jesus
[101]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[102]
COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
[103]
Ibidem.
[104]
VAGAGGINI, Cipriano. O Sentido Teológico da Liturgia. Tradução: Francisco Figueiredo de Moraes. São
Paulo. Edições Loyola. 2009.
32
sobre a fronte. O sinal-da-cruz já é uma confissão de fé no Deus de Jesus Cristo, que salva
pela cruz, e já sinaliza pertença e posse a Cristo; a cruz é o sinal indelével da Aliança entre
[105]
Deus e seu povo. Nos ritos auxiliares do rito de acolhida está previsto a possibilidade de
entregar aos catecúmenos crucifixos ou cruzinha para se colocar no pescoço. [106] Com isso se
afirma a pertença do catecúmeno à família de Cristo [107], pois, como toda ação litúrgica, o ato
homens. [108]32
que Deus convoca, anima, salva e interpela, de maneira especial através de Jesus Cristo; por
[110]
isso, deve ser tratada com toda dignidade, reverência e respeito. Através da Palavra, pela
ação do Espírito Santo, produz-se nos fieis e nos catecúmenos a graça; e também, através da
mesma Palavra proclamada na celebração litúrgica, se atualiza o mistério da salvação. [111] Por
isso, a Palavra de Deus marca, da mesma maneira que o sinal-da-cruz, o candidato como
membro da família de Deus pelo empenho em aprender e praticar o que aprende das Sagradas
[105]
ALDAZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo. Edições
Loyola. 2005.
[106]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[107]
Ibidem.
[108]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[109]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[110]
ALDAZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo. Edições
Loyola. 2005.
[111]
LELO, Antonio Francisco. Catequese com estilo catecumenal. 7° edição. Paulinas. São Paulo. 2012.
33
Escrituras (conceito esse, também do antigo Israel, de pertença ao povo escolhido pela
na sua intenção de conversão, é a unção com óleo. O óleo simboliza a força, sabedoria e
virtude que Deus derrama sobre os candidatos para que sigam o caminho do Evangelho de
Jesus Cristo, comunicando a salvação que o próprio Deus dá através de Cristo. [112]33
Ainda outra ação ritual muito significativa no catecumenato, é a entrega da Oração do Senhor
(o Pai-nosso), chamado por Tertuliano como resumo de todo o Evangelho. A oração do Pai-
oferece perdão aos outros; faz também referência ao pão cotidiano (alusão à Eucaristia), de
modo que está presente no ritual de batismo de crianças como prefiguração da participação no
marca também o seu fim e o início do período mistagógico. É o Batismo com a água.
A água é um símbolo polivalente: sacia a sede, refresca, purifica (limpa), gera a vida (mas
também a morte), é fonte de força mecânica (aparelhos hidráulicos), entre outros. Na liturgia
cristã ela também traz em si diversos significados: simboliza a “água viva” que o próprio
Cristo dá e que purifica o ser humano e sacia sua sede de amor, verdade e felicidade;
[112]
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. Paulinas. São Paulo. 2013.
[113]
Ibidem.
[114]
ALDAZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo. Edições
Loyola. 2005.
34
ressurreição, e por essa inserção participa da perfeita reconciliação da humanidade com Deus,
realizada pela união da natureza humana à pessoa do Verbo através do sacrifício único e
definitivo de Cristo. Através dessa união é dado acesso ao culto divino, à liturgia da Missa,
toda a comunidade) é chamado a conformar-se dia-a-dia a Cristo, pois foi para isso que cada
reconciliação). Esse sacramento foi dado à Igreja por Cristo para a reconciliação de todo
batizado que voltou a pecar, de maneira que ele faz novamente a experiência da reconciliação
com Deus, mas também com a comunidade, uma vez que o pecado o separou da Igreja. [118] A
dimensão moral de pecado e reconciliação com Deus o cristão viverá cada vez que se
[115]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[116]
LELO. Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São
Paulo. Paulinas. 2005.
[117]
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Lumen Gentium – Constituição Dogmática sobre a Igreja. São
Paulo. Edições Paulinas. 2011 – reimpressão.
[118]
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. Paulinas. São Paulo. 2013.
35
viverá também a dimensão teológica de pecado e reconciliação com Deus em cada celebração
eucarística que participar, pois é nessa dimensão que o indivíduo e toda a comunidade são
Essa melhor compreensão dos sacramentos a partir da participação nas celebrações ocorre
porque os gestos realizados e os símbolos presentes nas celebrações de cada sacramento tem
um alto valor pedagógico, de maneira que, quando bem realizados, expressa de maneira mais
A ordem dos três sacramentos da iniciação cristã é: Batismo, Confirmação e Eucaristia, pois,
foi nessa ordem que o divino mistério se realizou na vida terrena de Cristo. [121]
participar da Eucaristia.
Numa perspectiva horizontal, a Eucaristia, ápice da iniciação cristã, objetiva criar comunhão
entre os batizados, mas não somente, procura transformar a sociedade através da reconciliação
vertical da Eucaristia, que é reconciliar o ser humano com Deus, criando comunhão perfeita
[124]
entre criador e criatura.
[119]
GIRAUDO, Cesare. Admiração eucarística. Para uma mistagogia da missa à luz da encíclica Ecclesia
Eucharistia. Tradução: Orlando Moreira. 2° edição. São Paulo. Edições Loyola. 2012.
[120]
ALDAZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo. Edições
Loyola. 2005.
[121]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[´122]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[123]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[124]
BUYST, Ione. A missa: memória de Jesus no coração da vida. 2° edição. São Paulo. Paulinas. 2008.
36
humano com Deus como dom divino, tempo de graça, a partir de Cristo, tendo por selo
Jamais nos rejeitaste quando quebramos a vossa aliança, mas, por Jesus, vosso Filho
e nosso irmão, criastes com a família humana novo laço de amizade, tão estreito e
forte, que nada poderá romper. Concedeis agora a vosso povo tempo de graça e
reconciliação.
...
celebramos sua morte e ressurreição, esperando o dia feliz de sua vinda gloriosa. Por
isso, vos apresentamos, ó Deus fiel, a vítima de reconciliação que nos faz voltar à
Na Oração Eucarística VIII (sobre a reconciliação – II) vê-se de maneira muito clara e
“No meio da humanidade, dividida em contínua discórdia, sabemos por experiência que
“Sim, ó Pai, porque é obra vossa que a busca da paz vença os conflitos, que o perdão supere o
“Celebrando a sua morte e ressurreição, nós vos damos aquilo que nos destes: o sacrifício da
perfeita reconciliação. Glória e louvor ao Pai, que em Cristo nos reconciliou!” [128]
[125]
COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a eucaristia: tempo de restaurar a vida. 2° edição. São Paulo. Paulinas.
2008.
[126]
MISSAL ROMANO. Edição típica para o Brasil.
[127]
Ibidem.
[128]
Ibidem.
37
“Vosso Espírito Santo move os corações, de modo que os inimigos voltem à amizade, os
Na Oração Eucarística III aparece também a oferta sacrifical de Cristo como fonte de
reconciliação.
“E agora, nós vos suplicamos, ó Pai, que este sacrifício da nossa reconciliação estenda a paz e
[129]
Ibidem.
[130]
Ibidem.
38
Conclusão
O pecado não somente separa os homens de Deus, mas separa também os homens de si
narrativa da torre de Babel, o pecado gera discórdia e desunião dos homens entre si.
estabelecer a reconciliação do ser humano com Deus, e dos seres humanos entre si por
consequência. No entanto, essa reconciliação requer da pessoa humana uma resposta de livre
Nessa pedagogia podemos perceber o itinerário proposto pela iniciação cristã de adultos. O
anúncio kerigmático pode ser comparado ao anúncio de Moisés que chama à liberdade para
estabelecer aliança com Deus. Esse anúncio denuncia a condição de escravidão, mas exige
Ao aderir ao projeto de Deus, a pessoa já começa a fazer parte do povo de Deus, por isso o
Ritual de Iniciação Cristã de Adultos vai dizer que o catecúmeno já é membro Igreja (novo
povo de Deus).
Da mesma maneira que o antigo Israel recebeu a Palavra de Deus para se edificar, o
O ápice do processo é a inserção, por meio do Batismo, no mistério pascal de Cristo, onde há
Crisma. O primeiro restabelece o convívio com Deus quebrado por Adão; o segundo
restabelece o convívio dos homens entre si, quebrado pelo pecado dos construtores de Babel
(a narrativa de Pentecoste, pelo evangelista Lucas nos Atos dos Apóstolos, é um antônimo ao
ascensão de Cristo).
39
A pedagogia lenta e processual proposta pelo Rito da Iniciação Cristã de Adultos leva em
consideração à própria pedagogia divina, na qual Deus se revela a cada pessoa humana num
tempo propício.
Vê-se, assim, que o itinerário proposto para a iniciação cristã de adultos leva a pessoa humana
pessoas.
40
Bibliografia
_ ALMEIDA, Antonio José de. ABC da Iniciação Cristã. São Paulo. Paulinas. 2010.
_ BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 3° edição. São Paulo. Editora
Ática. 1997.
_ BUYST, Ione. A missa: memória de Jesus no coração da vida. 2° edição. São Paulo.
Paulinas. 2008.
_ COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
_ COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a eucaristia: tempo de restaurar a vida. 2° edição. São
Paulo. Paulinas. 2008.
_ Didaqué: catecismo dos primeiros cristãos. Tradução: Urbano Zilles. 10° edição.
Petrópolis, RJ. Editora Vozes.
_ FLORES, Juan Javier. Tradução: Antonio Efro Feltrin. Introdução à teologia litúrgica. São
Paulo. Paulinas. 2006.
_ FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução: Josué Xavier. São Paulo.
Edições Paulinas. 1982.
_ LELO, Antonio Francisco. Catequese com estilo catecumenal. 7° edição. Paulinas. São
Paulo. 2012.
41
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_ SOUZA, Ney de. Cristianismo: a vida dos primeiros cristãos. São Paulo. Palavra e Prece
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_ Catecismo da Igreja Católica. Edição típica vaticana. São Paulo. Edições Loyola. 2000.
_ Lumen Gentium – Constituição Dogmática sobre a Igreja. São Paulo. Edições Paulinas.
2011 – reimpressão.
_ SILVA. Dom Jerônimo Pereira. Fontes da fonte. Revista de Liturgia. São Paulo, n. 40, p.4-
7, [nov./dez.]. 2013.
_ SURIAN, Francisco Emílio. Teologia da Aliança e sua relação com a dignidade humana:
aspectos coincidentes entre a Nova Aliança e as principais celebrações da Aliança no Antigo
Testamento. Dissertação (Mestrado em Teologia). Pontificia Universidade Católica de São
Paulo. São Paulo. 2011.
42