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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

DEMETRIUS SALOMÉ DE MENDONÇA

A RECONCILIAÇÃO NA INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS

SÃO PAULO

2014
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

DEMETRIUS SALOMÉ DE MENDONÇA

A RECONCILIAÇÃO NA INICIAÇÃO CRISTÃO DE ADULTOS

Essa monografia objetiva conseguir aprovação no curso de Especialização em Liturgia,

Ciência e Cultura, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – COGEAE, sob

orientação do Me. Pe. Luiz Eduardo Pinheiro Baronto.

SÃO PAULO

2014
Resumo

A reconciliação do ser humano com Deus, obra de Cristo, continua a realizar-se pela presença

de Cristo na sua Igreja, de maneira muito especial em sua liturgia. Da mesma maneira que a

obra reconciliadora evoluiu processualmente através da História do povo de Israel até seu

ápice em Jesus Cristo, levando em consideração o contexto histórico vivido e sua capacidade

de compreensão do mistério, procura-se mostrar nesse estudo o processo de reconciliação

vertical (na relação com Deus) e horizontal (nas relações com o próximo) que o aspirante a

condição de cristão percorre quando sua preparação segue o itinerário e a pedagogia proposta

pelo Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, tendo seu ápice na celebração dos sacramentos.

Dessa maneira, valoriza-se o processo de conversão e disposição interior, demonstrada na

vida cotidiana através da inserção na vida da comunidade, privilegiando uma maior

participação da mesma na preparação do candidato a receber os sacramentos da iniciação

cristã.

Palavras-chave: Iniciação Cristã. Mistagogia. Catecúmeno. Neófito. Batismo.


SUMÁRIO

Introdução .............................................................................................................................. 04

Capítulo I – Bases teológicas da reconciliação ................................................................... 06

1.1. A Fé em Israel ............................................................................................................ 06

1.2. A Reconciliação como iniciação à fé em Israel ......................................................... 11

1.3. A Reconciliação a partir dos textos evangélicos de Iniciação ................................... 18

1.4. A Reconciliação nas comunidades cristãs primitivas e em seus ritos de iniciação ... 19

1.5. Reconciliação e Ressignificação ................................................................................ 21

Capítulo II – Ritual de Iniciação Cristã .............................................................................. 23

2.1. Fundamentos da Iniciação cristã ................................................................................ 23

2.2. A retomada do RICA pós Concílio Vaticano II ......................................................... 26

2.3. A proposta de itinerário da fé no RICA ..................................................................... 28

Capítulo III – Reconciliação no RICA ................................................................................ 31

3.1. Ritos e Símbolos da Reconciliação no pré-catecumenato .......................................... 31

3.2. Ritos e Símbolos da Reconciliação no catecumenato ................................................ 32

3.3. Aspectos mistagógicos da Reconciliação ................................................................... 34

3.4. Eucaristia: ápice da Reconciliação e da Iniciação Cristã ........................................... 35

Conclusão ............................................................................................................................... 38

Bibliografia ............................................................................................................................ 40
4

Introdução

A relação de Deus com seu Povo e do Povo com seu Deus, desenvolve-se na experiência da

Aliança. A iniciativa da experiência é assumida por Deus e obriga uma resposta do ser

humano.5[1]

A resposta que o ser humano dirige a Deus é uma ação na direção dele; é expressa pelo desejo
[2]
de mudar de vida e estabelecer uma relação pessoal e íntima com Deus. Essa resposta

positiva na direção de Deus se faz de maneira processual, pois está relacionada à percepção de

quem é Deus, e de si diante dele. [3]

A percepção de Deus está ligada, portanto, à percepção de si, pela pessoa humana, no seu
[4]
todo; a Salvação passa por cada uma das partes da humanidade. Em especial passa pelo

corpo, pois, a Revelação Divina utiliza-se da via estética e não de conceitos filosóficos

abstratos; ou seja, a utilização dos cinco sentidos está ligada a uma experiência espiritual

profunda, pois a revelação cristã está no fato de Deus assumir um corpo, se encarnar, se

entregar e ressuscitar. A ressurreição de Cristo é uma realidade corporal. A fé cristã

fundamenta-se na realidade corpórea de Cristo ressuscitado. [5]

Essa dimensão estética da fé cristã é que remete à importância dos rituais cristãos, pois, o
[6]
“ritual” em si é ação e não um conjunto de pensamentos ou ideias abstratas. Ou seja, o

“ritual” ou “rito” atingi os sentidos humanos e consegue traduzir a realidade de Jesus Cristo

ressuscitado.

A partir dessa dimensão estética, fundamentada na corporeidade de Cristo ressuscitado, o

caminho da iniciação cristã também exige um caminho de comunicação que atinja os cinco

[1]
SURIAN, Francisco Emílio. Teologia da Aliança e sua relação com a dignidade humana: aspectos
coincidentes entre a Nova Aliança e as principais celebrações da Aliança no Antigo Testamento. Dissertação
(Mestrado em Teologia). Pontificia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2011.
[2]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[3]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas. 1977.
[4]
Catecismo da Igreja Católica. São Paulo. Edição típica vaticana. Edições Loyola. 2000.
[5]
SILVA. Dom Jerônimo Pereira. Fontes da fonte. Revista de Liturgia. São Paulo, n. 40, p.4-7, [nov./dez.].
2013.
[6]
TERRIN, Aldo Natale. O rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. Tradução: José Maria de
Almeida. São Paulo. Editora Paulus. 2004.
5

sentidos dos catecúmenos. Daí se encontra a importância da Liturgia Cristã no itinerário da

iniciação cristã com os sinais simbólicos, rituais, sacramentais, e todos os outros sinais,

traduzindo o Mistério Pascal de Cristo.6[7]

[7]
COSTA, Valeriano Santos. A Liturgia na Iniciação Cristã. São Paulo. Editora LTr. 2008.
6

Capítulo I – Bases teológicas da reconciliação

1.1. A Fé em Israel

Ao criar o ser humano, Deus logo revela sua vontade; após o pecado original, vemos Deus

procurando Adão para se lhe revelar. Vemos, também, Deus revelando a Abrão sua vontade:

que ele saia de sua terra e migre para outra. Deus revela sua intenção de verificar os pecados

de Sodoma e Gomorra e destruí-las se necessário; revela, ainda, sua vontade aos patriarcas. A

revelação é a tônica das Sagradas Escrituras; consiste, de maneira muito sintética, em Deus

revelar-se a Si mesmo. [8][7]

O modo como esse revelar-se de Deus se faz é processual, histórico e cultural. Inicialmente, a

religião israelita era permeada de influência das religiões pagãs vizinhas, mas aos poucos

aquilo que não convinha desapareceu; no entanto, aquilo que era útil das religiões vizinhas

para expressar a fé de Israel, incorporou-se nas práticas religiosas, nas formas de se conhecer

a vontade de Deus. [9]

O revelar-se de Deus a Israel manifesta-se de maneira bem enfática nos elementos da natureza

(ar, água, fogo, terra), não apenas através destes, mas eles tornaram-se símbolos da ação de

Deus na história de Israel em medidas diferentes. O simbolismo que as forças da natureza têm

está ligado à ação dos profetas em Israel. Isso não significa que a ação dos profetas tenha

ligação exclusiva com os elementos naturais; ao profeta Oseias a revelação foi através de seu

casamento; ao profeta Amós, através de uma experiência casual com uma cesta de frutas

naturais. [10]

[8]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas. 1977.
[9]
Ibidem.
[10]
Ibidem.
7

Muitas vezes utilizou-se de técnicas para descobrir qual a vontade da divindade, chegando-se

a constituir escolas de profetas, como vemos nas narrativas sobre o profeta Eliseu. Também

temos indicação de sucessão hereditária na prática profética, como coloca o profeta Amós (7,

14): “Não sou profeta, nem filho de profeta”. No entanto, o profetismo não foi exclusividade

de Israel, vemo-lo no caráter genuíno do profetismo de Zoroastro, Confúcio, Buda, Maomé,

entre outros. [11]

A presença das forças da natureza, como sendo ação de Deus na ação dos profetas, é clara em

vários momentos cruciais da história de Israel, principalmente no evento mais marcante da

história israelita: a libertação do Egito.

Moisés, de origem hebreia, infringi as leis egípcias matando um egípcio. A indignação de

Moisés com a situação de escravidão do povo o leva ao assassínio. Não se trata aqui de uma

ação profética, mas simplesmente um ato impulsivo em favor do povo; não há qualquer

intervenção de Deus nesta ação de Moisés. Moisés não enfrenta a situação de opressão do

povo. Com medo, foge das consequências de seu ato. A volta de Moisés mostra o caráter

genuíno do seu profetismo, tendo como demonstração da ação de Deus as forças da natureza.

Moisés não voltou com um exército para combater o faraó, mas volta apenas ele e Aarão.

Também não volta para incitar o povo a rebelar-se contra o sistema opressor, mas a confiar na

mensagem que lhe foi revelada. [12]

A revelação dada a Moisés é ratificada pelas forças naturais. A própria passagem pelo Mar

Vermelho mostra a ação da natureza, submissa à vontade divina, como sendo revelação da

ação da divindade em favor do povo. [13] [8]

[11]
Ibidem.
[12]
Ibidem.
[13]
Ibidem.
8

A libertação do Egito e a passagem pelo Mar Vermelho marcam Israel de maneira tão forte,

que lhe acompanhará como evento principal, com o início do javismo de Israel, calcado na

figura de Moisés. [14]

A revelação não se restringe, no entanto, em apenas um evento ou uma maneira única de

manifestar-se, mas mostra-se de modo plural. A Lei dada por Moisés esteve repleta de

elementos culturais da época, não porque fosse resultado de algum sincretismo ou algo

parecido, mas não era possível, de uma hora para outra, acabar com determinadas práticas

culturais inerentes aos israelitas da época. [15]

Percebemos que a Lei Mosaica também é parte da revelação de Deus. Lei e profetas

caminham juntos no processo da revelação divina. A Igreja aceita isso e encara o Antigo

Testamento como instrumento de revelação. [16]

Nos povos politeístas que viviam ao redor de Israel, a divindade se manifestava de maneira

visível em algum elemento natural. Algumas religiões do culto pagão associava algum

elemento natural à divindade como o culto ao sol, à lua e às estrelas, aos ventos, aos cursos da

água e outras forças da natureza, e dessa maneira eram-lhes dedicados cultos. [17]

Essa forma de associação da divindade a algo natural era tão forte, que os israelitas não

demoram, após a saída do Egito, para constituir um elemento natural como divindade, sendo o

bezerro de ouro, condenado veementemente por Moisés. [18]

A característica singular da fé de Israel está no monoteísmo num Deus de maneira tão

transcendente, que seu ser não pode ser expresso totalmente através de elementos da natureza

[14]
FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução: Josué Xavier. São Paulo. Edições Paulinas. 1982.
[15]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas.
1977.
[16]
Ibidem.
[17]
Ibidem.
[18]
Ibidem.
9

e seu poder se expressa nas forças naturais, mas também através das ações humanas. Vemos,

desse modo, a tônica da manifestação divina: natureza e ser humano; Deus se dá a revelar

através da ação humana (especialmente a profética, mas não exclusivamente) e através da

natureza, sem, no entanto, poder ser associado exclusivamente a um ou outro. [19]

O monoteísmo israelita não significou, inicialmente, a negação de outros deuses. A afirmação

monoteísta do antigo Israel consiste, a princípio, que Deus governa sozinho o mundo; ao

contrário das outras religiões do Oriente Médio, não existe um panteão com vários deuses

onde Iahweh tem a supremacia. Iaweh também não está ligado a um território, mas

acompanha um povo que toma como seu e o acompanha em sua peregrinação. Outra

característica é que Iaweh não tolera o culto a outros deuses, exige exclusividade. Dessa

maneira, nesse período inicial o mais correto seria dizer que a religião de Israel se baseava

num monojavismo ou monoteísmo prático. Posteriormente que se vem negar a existência de

outros deuses. [20]9

Um traço que vai distinguir o Deus de Israel dos outros deuses é que Ele não age dentro do

ciclo da natureza, mas sua ação está relacionada com o destino do ser humano. Dessa maneira

Ele se torna distinguível dessa mesma natureza. [21]

A dificuldade de expressar aquilo que não tem expressão no mundo natural é a razão que leva

Moisés a perguntar para Deus qual o nome que ele deve levar aos israelitas no cativeiro. O

nome se torna, então, uma forma humana de expressar a divindade. No entanto, o nome de

Deus, como forma de manifestar aquilo que não pode ser manifesto por atos humanos ou

naturais encontrou certa dificuldade. Não existe unanimidade quanto à origem e significado

do nome “Iaweh”. Citamos, apenas como exemplo dessa dificuldade, os nomes que no

[19]
Ibidem.
[20]
FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução: Josué Xavier. São Paulo. Edições Paulinas. 1982.
[21]
Ibidem.
10

decorrer do tempo foram associados ao Deus de Israel: Elohim, El, Shaddai, El Shaddai,

Elyon e Iahweh; posteriormente ao nome de Deus será associado Adhonai (Senhor). [22]

Começa-se a perceber a pedagogia utilizada por Deus no seu relacionamento com o ser

humano. Através da inspiração dos profetas e das forças da natureza, Ele se revela na História

do povo de Israel. Utilizando-se das ações dos homens e da natureza, Deus se dá a revelar.

Assim, existe uma correlação entre aquilo que Iaweh faz e a decisão e conduta dos homens;

existe harmonia entre o ser humano e o divino, de modo que a história do ser humano no seu

relacionamento com Deus seja de decisões. [23]

Além da percepção histórica, outro meio de Iahweh se revelar será através da Lei. [24]

Na Lei Mosaica, a mesma tem um caráter peculiar. Através da Lei, Deus exprime o seu

caráter, quer que os israelitas façam aquilo que Ele mesmo faz, ou melhor, sejam como Ele é.

As regras apresentadas por Deus são a compilação de seu próprio comportamento. Ou seja,

através da Lei Deus revela quem Ele é.

Isso imprime um caráter moral à Lei de ordem divina. Alcança-se o conhecimento de Deus,

revelado por Ele mesmo, através do conhecimento e da observância da Lei, e a Lei, dessa

maneira, tem um caráter também de revelação. Consequentemente, a moral israelita tem um

caráter divino. [25]10

Assim, percebemos que o desenvolvimento da fé de Israel deu-se através de um processo

histórico-profético, associado a forças naturais que estão fora do controle do ser humano.

Nesse processo, Deus se faz conhecer ao ser humano através da sua vontade, expressa na

[22]
Ibidem.
[23]
Ibidem.
[24]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas.
1977.
[25]
Ibidem.
11

religião do antigo Israel pela Lei Mosaica, mostrando de maneira inédita que Deus é aquilo

que faz, e aquilo que deseja que o ser humano faça, ou seja, as leis divinas são expressão de

Seu próprio ser. [26]

1.2. A Reconciliação como iniciação à fé em Israel

A fé de Israel num Deus que se dá a conhecer, que mostra sua grandeza e transcendência, traz

também outro aspecto da revelação, que é a condição humana. Como afirma Rowley: “O

homem é criatura de Deus. Ambos os relatos da criação nos capítulos iniciais da Bíblia,

proclamam essa fé”. [27]11

No livro do Gênesis, a narrativa da criação traz a primeira percepção: o homem é tirado da

terra; com isso, vemos que o ser humano está ligado à criação e dela faz parte. Ou seja, o ser

humano é criatura de Deus, constituindo certa semelhança, a princípio, com o restante da

criação. No entanto, a narrativa deixa claro que esta semelhança está apenas no fato do

homem ser também criatura, pois o mesmo está acima do que foi criado pela sua natureza

moral. A ordem de Deus ao ser humano foi que sujeitasse a criação, e para isso diz que o

homem foi criado à imagem e semelhança do próprio Deus. O ser humano é colocado como o

ápice da criação. [28]

Da mesma maneira que o conhecimento de Deus se dá aos poucos na História, a percepção da

posição do ser humano diante de Deus ocorre também de maneira gradativa. Essa

compreensão da dignidade para a qual o ser humano foi criado e sua função na criação evolui

para o modo como é descrita no livro do Deuteronômio 6, 5ss e Isaías 1, 16ss. [29]

[26]
Ibidem.
[27]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas.
1977.
[28]
Ibidem.
[29]
Ibidem.
12

A função de sujeitar é descrita como governar, reger o mundo criado. O Salmo 99, 1 diz que

Deus governa sobre tudo; sendo o homem a imagem e semelhança de Deus, também lhe é

dada a função de governar a criação. Características morais de Deus também são outorgadas

ao ser humano para exercer esse governo: justiça e retidão de julgamento para estabelecer a

paz e a ordem. [30]

Dessa maneira vê-se que o ser humano foi criado para um determinado fim: o serviço de

Deus; foi criado para compreender sua vontade e caminhar ao seu lado. [31]12

Não apenas na função de governar o mundo o ser humano vai se diferenciar da criação, mas o

modo como é chamado à vida também é diferente.

Conforme a narrativa bíblica, todos os seres vivos foram chamados à existência e começaram

a existir, mas o ser humano não. Primeiramente ele é tirado da terra e modelado; depois de

modelado, lhe é dado um sopro de vida. Essa narrativa simbólica mostra que, apesar de seu

vínculo com o mundo criado, a pessoa humana tem essência divina. [32]

A palavra hebraica utilizada na narrativa da criação do homem é rûah, e somente ao ser

humano é dada a rûah. Em língua portuguesa é associada à palavra espírito, mas também

pode significar sopro ou vento. O uso da palavra rûah pode se referir também a um atributo

de personalidade. Tem-se, então, que o sopro de Deus não apenas dá vida ao homem, mas lhe

imprimi um caráter, uma personalidade divina, e é através desta que o ser humano se

assemelha a Deus. Juntamente com esse espírito de caráter exclusivo perante a criação, o ser

humano também é dotado de liberdade moral. Ou seja, tem o livre arbítrio de fazer escolhas

morais no exercício do governo da criação. [33]

[30]
Ibidem.
[31]
Ibidem.
[32]
Ibidem.
[33]
Ibidem.
13

No entanto, o ser humano, criado para servir a Deus, é chamado ao seu convívio através da

obediência à sua vontade. A opção de escolhas que vão contra a vontade de Deus acarreta ao

homem o rompimento desse convívio. Como vemos na narrativa do paraíso terrestre, o ser

humano participava do convívio do Criador, passeava com Deus pelo jardim da criação. Ao

atentar contra a vontade divina o homem é subtraído da presença de Deus. Ao contrariar a

vontade do Criador, o ser humano vai contra si mesmo, pois vai contra a rûah que lhe dá vida

e assemelha a Deus e com essa atitude atrai a desgraça máxima, a morte. [34]13

A morte é expressão máxima da ausência da vida junto a Deus. Se através do sopro divino é

concedido sabedoria para exercer a justiça e promover a paz e a ordem, a ausência desse sopro

gera injustiça, desordem e ausência da paz. Se quando criado o ser humano tem liberdade de

escolha moral (inclusive para pecar), ao sair da presença de Deus perde-se também a

liberdade, tornando-se escravo do próprio pecado. [35]

A religião de Israel vai perceber que essa condição de afastamento do convívio divino se dá

pelo distanciamento de sua vontade. [36]

Os descendentes de Abraão tinham-se tornado novamente pagãos e precisavam se converter

novamente, daí a dificuldade de Moisés ao se dirigir ao povo no Egito. [37]

A páscoa em si não é uma festa, mas um rito sacrifical que proporciona uma celebração

festiva. Rito conhecido de outros povos nômades, na religião de Israel vai significar a

libertação do Egito e começará a dar a base do conceito de redenção, que também será

assumido pelo cristianismo. Esse será o símbolo-base da história da salvação de Israel. Assim,

[34]
Ibidem.
[35]
Ibidem.
[36]
Ibidem.
[37]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
14

a páscoa de Israel vai se tornar memorial da sua redenção e sinal da aliança divina, vai se

tornar o grande marco de Israel. [38]14

Pela da Páscoa, o povo de Israel é libertado para ser consagrado a Deus. Ou seja, antes da

Páscoa Israel não é consagrado a Deus e não se distingui dos outros povos pagãos (a não ser

pela promessa feita a Abraão); então, a Páscoa é a reconciliação do povo de Israel com Deus.
[39]

Com a saída do Egito e a Lei dada como fruto (e regra) da aliança, a Lei Mosaica vai se

transformar no projeto de sociedade de Israel. Não cumprir a vontade divina vai significar

transgredir o direito e a justiça dentro da sociedade. A ordem divina das coisas está no

cumprimento da legalidade. A paz e a ordem social estarão ligadas à obediência da legalidade.

Sendo a obediência à lei condição de se atingir a paz e a ordem social, vai se associar também

à felicidade ou infelicidade individual ao cumprimento da lei. [40]

A religião de Israel vai se tornar de tal forma jurídica, que o cumprimento da Lei será

condição de pertença ao povo, destacando-se os ritos legais de integração e purificação,

condição de reconciliação com Deus e de estar no convívio social. [41]

Prescrita no legalismo religioso israelita, temos a circuncisão. Sendo de origem pré-

abraâmica, é um rito de iniciação puberal, no qual o jovem é inserido responsavelmente na

comunidade. Na evolução da fé de Israel esse será um sinal de aliança com Deus. Sendo uma

sociedade patriarcal, não apenas se torna sinal de aliança do homem com Deus, mas também

de sua família e tudo o que lhe pertence; dessa maneira a circuncisão também se estenderá a

escravos e animais. Esse sinal ganhará tal valor que significará disposição de seguir a lei

[38]
Idem.
[39]
Idem.
[40]
GRENZER, Matthias. Análise poética da sociedade: um estudo de Jó 24. São Paulo. Paulinas. 2005.
[41]
SCHMIDT, Francis. O pensamento do templo de Jerusalém a Qumran: Identidade e laço social no judaísmo
antigo. Tradução: Paulo Meneses. São Paulo. Edições Loyola. 1998.
15

espiritual de Deus, afastando-se do mal, assumirá um caráter de reconciliação com a

divindade. [42]

Além da necessidade da circuncisão, o prosélito, para ser aceito em Israel, precisava passar a

observar a legislação ritual israelita, seja no aspecto civil quanto religioso, pois a observância

ritual servia para identificar quem era membro da comunidade ou não, inclusive entre os

próprios judeus. [43]

Pela visão de Israel que todos os outros povos são considerados como impuros por suas

práticas, dentre os diversos ritos de purificação alguns irão se desenvolver no sentido de uma

iniciação de prosélitos, que se chamará Batismo de prosélitos. No comentário rabínico (Sifré)

dos Números (capítulos 14-15), vai dizer que os israelitas foram introduzidos na Aliança

através da circuncisão, do banho-passagem pelo Mar Vermelho e dos sacrifícios, assim

também deve acontecer com os que não são israelitas e que aderirem a Israel. Na Mixná,

sobretudo no tratado Yebamót, a substância do texto será a mesma, com a diferença de que o

banho torna-se parte de um rito de iniciação, e não tanto um aspecto de legalidade. Ambos

fazem referência á passagem pelo Mar Vermelho, tendo-o como acontecimento necessário

para ser introduzido à Aliança. [44]15

O objetivo dessa reconciliação será o culto sacrifical a Deus. Israel é consagrado para o

serviço de Deus; essa ideia aparece vinte e cinco vezes nos capítulos de 3 a 12 do livro do

Êxodo. [45]

[42]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[43]
SCHMIDT. Francis. Tradução: Paulo Meneses. O Pensamento do Templo de Jerusalém a Qumran:
Identidade e laço social no judaísmo antigo. São Paulo. Edições Loyola. 1998.
[44]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[45]
Ibidem.
16

De fato, a Páscoa, memorial da libertação do Egito, será tão marcante que se tornará o ponto

de unidade da religião de Israel mediante os desafios da divisão do reino e do exílio e

consequente diáspora. Ainda nos dias de hoje esse é um dos rituais que marcam a religião

judaica. [46]16

O local do culto também fará parte da prescrição da lei e será um símbolo religioso da

reconciliação com Deus. No período nômade no deserto, a Tenda será o primeiro local

símbolo da presença da divindade e de sua aliança; não se trata de uma tenda qualquer, ela é

feita conforme prescrito na lei dada por Deus, e nela ocorrerá o encontro com o transcendente,

por isso, é chamada de “Tenda da reunião” ou “do encontro”. [47]

Apesar de ser chamada “Tenda do encontro”, depois de se tornar um povo sedentário, a

mesma não será ainda ponto de unidade cultual de Israel. A passagem da Tenda para o

Templo não será imediata, pois, para a religião de Israel Deus é de tal maneira transcendente

que não pode habitar em construção feita por mãos humanas. Isso só acontecerá com a

construção do Templo de Jerusalém. [48]

No reinado de Davi haverá uma tentativa, que não terá êxito pela ação do profeta Natã.

Inicialmente o profeta não se colocará contra, porém, depois levantará o problema teológico

de Deus morar com os seres humanos sobre a terra. A necessidade de unidade de culto será

um argumento decisivo na empreitada de construir um templo, e o problema teológico será

resolvido colocando o acento sobre a nuvem que toma conta do templo e mostra que Deus

quer ali habitar, tal como o fez na tenda. O Templo, como a tenda, será sinal da presença de

fixa de Deus no meio do povo. [49]

[46]
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. Paulinas. São Paulo. 2013.
[47]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[48]
Ibidem.
[49]
Ibidem.
17

Essa evolução também acontecerá na compreensão desse símbolo. A Tenda, sendo móvel,

mostra que Deus passa, caminha no meio do povo, mas ainda assim de maneira móvel. O

Templo se tornará símbolo da presença fixa, estável de Deus no meio do povo, será a casa

onde Deus habitará com seu povo eternamente. [50]

Aqui temos uma mudança nas práticas religiosas de Israel. Antes o culto podia ser feito no

lugar onde se está, não havia necessidade de deslocamento a um lugar fixo para se cumprir as

práticas religiosas prescritas pela lei, até porque o caráter móvel da Tenda transmitia isso.

Com o Templo de Jerusalém, as práticas religiosas se concentrarão agora num lugar fixo e

começará a surgir uma extrema valorização do lugar do culto, sendo questionado (e por vezes

até reprovado) o culto a Deus em lugar diferente. Agora o fator de unidade do povo de Israel

será o templo de pedra, perdendo força até mesmo a lei, pois, determinados ritos começaram a

ter validade reconhecida quando feitos exclusivamente no Templo Jerusalém, e somente nele.

Tornou-se, também, o sinal da reconciliação do povo, pois, a redenção de Israel foi para que

prestasse culto a Deus, e agora esse culto somente podia ser feito no templo de Jerusalém.

Dessa maneira, distinguiu-se o sagrado do profano: o templo será o parâmetro de espaço

sagrado. [51]17

O culto fetichista do templo será questionado pelos profetas e, depois da construção do

segundo templo, será motivo de controvérsias nos seguimentos judaicos. Entre as diversas

controvérsias teremos a comunidade de Qumran. Após a destruição do segundo templo pelos

romanos o mesmo perderá definitivamente seu status na ritualidade judaica. [52]

[50]
Ibidem.
[51]
SCHMIDT. Francis. Tradução: Paulo Meneses. O Pensamento do Templo de Jerusalém a Qumran:
Identidade e laço social no judaísmo antigo. São Paulo. Edições Loyola. 1998.
[52]
Ibidem.
18

1.3. A Reconciliação a partir dos textos evangélicos de Iniciação

A reconciliação do ser humano com Deus aparece na etapa da Iniciação chamada de

Escrutínios ou Ritos Penitenciais. De maneira clara, está no texto da ovelha perdida e

encontrada:

Então Jesus contou-lhes esta parábola: ‘Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma,

não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até

encontrá-la? Quando a encontra, coloca-a nos ombros com alegria, e, chegando a

casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha

ovelha que estava perdida! Eu vos digo: assim haverá no céu mais alegria por um só

pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de

conversão. (Lc 15, 3-7) [53]18

A reconciliação proposta abrange o ser humano na sua plenitude, atingindo o espiritual da

pessoa (volta ao convívio com Deus) e também a parte física, o corpo (volta ao convívio com

os outros). A cura do paralítico mostra essa abrangência:

Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. Mas não

conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em

cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o

paralítico estava deitado. Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao

paralítico: ‘Filho, os teus pecados estão perdoados’. Ora, alguns mestres da Lei, que

estavam ali sentados, refletiam em seus corações: ‘Como este homem pode falar

assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus’. Jesus

percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: ‘Por que pensais

assim em vossos corações? O que é mais fácil: dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados

estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega a tua cama e anda?’ Pois bem, para que

saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar pecados, disse ele ao

paralítico: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!’ O paralítico então se

levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. (Mc 2, 3-12) [54]

[53]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
19

1.4. A Reconciliação nas comunidades cristãs primitivas e em seus ritos de iniciação

As comunidades cristãs primitivas, em especial a comunidade de Jerusalém, surgiram dentro

da sociedade judaica, sendo formada por judeus oriundos do judaísmo. [55]

A comunidade nascida em Jerusalém, por consequência de sua origem, vai ter atitudes de

ambiguidade em relação ao judaísmo, ora valorizando aspectos da Lei Mosaica, como a visita

ao templo, ora menosprezando-a. A questão primordial era se os convertidos não judeus

deveriam se submeter à Lei judaica, de modo especial à circuncisão e aos preceitos

alimentares. O primeiro cristianismo entendeu que não tinha essa necessidade. [56]

O diferencial do primeiro cristianismo será seu rompimento com o legalismo religioso judaico

da época, em especial o templo. Enquanto para o judeu o centro cultual é o templo, para os

cristãos o centro será a pessoa de Jesus. Aos poucos algumas características cultuais judaicas

vão sendo passadas para o cristianismo que surge, sendo, dessa maneira, reinterpretadas e

resignificadas. [57]19

Os primeiros cristãos não irão se diferenciar pelos atos externos, mas pelo seu comportamento

moral, mas não somente por causa deste. Pode-se falar nesse primeiro momento do

cristianismo num verdadeiro espiritualismo cultual, no qual o centro é Cristo ressuscitado. A


[58]
santidade interior é venerada como o verdadeiro culto e homenagem a Deus. A pessoa de

Jesus Cristo irá nortear a maneira de viver dos primeiros cristãos e o seu culto. O próprio

Jesus será tido como a plenitude da Lei, por isso, seu sacrifício será considerado único e

verdadeiro. Como no sacrifício do templo era imolado um cordeiro para a Páscoa judaica,

[54]
Ibidem.
[55]
SOUZA, Ney de. Cristianismo: a vida dos primeiros cristãos. São Paulo. Palavra e Prece Editora. 2010.
[56]
SCHMIDT. Francis. Tradução: Paulo Meneses. O Pensamento do Templo de Jerusalém a Qumran:
Identidade e laço social no judaísmo antigo. São Paulo. Edições Loyola. 1998
[57]
FLORES, Juan Javier. Tradução: Antonio Efro Feltrin. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo. Paulinas.
2006.
[58]
Ibidem.
20

Jesus Cristo será a própria Páscoa, com seu ápice na sua ressurreição. O altar será, para os

primeiros cristãos, o próprio coração, conforme afirma são Leão Magno. Ou seja, o centro do

culto cristão será a pessoa de Jesus Cristo. [59]20

A adesão na primeira comunidade é pelo Batismo. A palavra “Batismo” deriva do grego

bapto, que no seu intensivo é baptizo, que significa “emergir, afogar, afundar”, e por

consequência “lavar, purificar, destruir”. No entanto, não se pode confundir o Batismo cristão,

que é sacramento, com o batismo judaico de prosélitos que é um rito de purificação. [60]

O Batismo cristão simboliza a regeneração espiritual, onde morre o homem velho e nasce o

homem novo. Como afirma Atos dos Apóstolos, para o Batismo o único elemento material

será a água. Dessa maneira, o rito do Batismo irá evoluir conforme o lugar onde será feito e

irá variar conforme o acento que se dá ao sacramento. [61]

Nas primeiras comunidades a orientação era que se ministrasse o sacramento

preferencialmente em água corrente utilizando a fórmula Em nome do Pai e do Filho e do

Espírito Santo; na falta da mesma, podia derramar três vezes água na cabeça do que estava

sendo batizado utilizando a fórmula trinitária citada. Impunha-se ao que era batizado um ou

dois dias de jejum e o mesmo ao que batizava. [62]

[59]
Ibidem.
[60]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[61]
JOHNSON, Cuthbert; JOHNSON, Stephen. Tradução: José Raimundo de Melo. O espaço litúrgico da
celebração: Guia litúrgico prático para a reforma das igrejas no espírito do Concílio Vaticano II. São Paulo.
Edições Loyola. 2006.
[62]
Didaqué: catecismo dos primeiros cristãos. Tradução: Urbano Zilles. 10° edição. Petrópolis, RJ. Editora
Vozes.
21

1.5. Reconciliação e Ressignificação

A reconciliação, como ação primeira de Deus na direção do ser humano e que exige uma

resposta, é a retomada de uma relação íntima com Ele, que se faz de maneira gradativa e

processual, pautada na percepção de Deus e de si. [63] 21

[64]
Esse processo tem seu cume na inserção no mistério pascal de Cristo , que é o próprio

Batismo, e é feito de maneira ritual. Isso acontece porque, sendo a fé cristã baseada numa

realidade corpórea, o rito vai atingir a totalidade corporal do ser humano, num jogo de palavra

e ação onde a ação procura viver a palavra, levando a uma hermenêutica existencial e

antropológica do viver. [65]

A hermenêutica existencial, para chegar a uma relação íntima com Deus, leva à tomada de

consciência existencial a respeito do cosmo e de si. Assim, leva à dualidade de abandonar o


[66]
estilo de vida pregressa para se tornar aquilo que ainda não é. Ou seja, de uma vida

afastada de Deus para uma vida reconciliada na presença íntima de Deus.

A leitura de si gera uma compreensão do ser por si mesmo, através da formulação de um

significado da vida pregressa. Esse significado se faz através da determinação de oposições

entre vida pregressa e aquilo que ainda não se é; posteriormente a assimilação de valores de

elementos da oposição. [67]

Esse processo de compreensão de si leva ao reconhecimento dos próprios erros, pecados e

injustiças, num reconhecimento de culpa construtivo. Isso porque nem todo reconhecimento

de culpa é construtivo, podendo, às vezes, ser destrutivo; então, pode acontecer de não se

[63]
ROWLEY, Harold Henry. A fé em Israel. Tradução: Pe. Alexandre Macintyre. São Paulo. Edições Paulinas.
1977.
[64]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[65]
TERRIN, Aldo Natale. O rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. Tradução: José Maria de
Almeida. São Paulo. Editora Paulus. 2004.
[66]
LELO. Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São Paulo.
Paulinas. 2005.
[67]
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 3° edição. São Paulo. Editora Ática. 1997.
22

admitir as próprias falhas ou tendências, ou minimizá-las ao máximo, e isso priva o ser

humano da experiência da misericórdia de Deus; ou então, a tendência é o exagero do

escrúpulo, não acreditando no perdão oferecido. [68]22

Esse processo construtivo de reconhecimento da culpa já é consequência da interiorização dos

valores propostos pela oposição entre vida pregressa e aquilo que ainda não se é, porque se

percebe que o modo de vida aceito de maneira livre, com todos os valores propostos, é

desrespeitado pela maneira de viver antiga. Tudo isso tem seu ápice na conscientização de ser

pecador, que é a tomada de consciência de ter ofendido a Deus, e leva o ser humano a se abrir

à experiência da misericórdia de Deus. [69]

[68]
CENCINI, A. Viver reconciliados: aspectos psicológicos. Tradução: Euclides Carneiro da Silva. São Paulo.
Edições Paulinas. 1987.
[69]
Ibidem.
23

Capítulo II – Ritual de Iniciação Cristã

2.1. Fundamentos da Iniciação cristã

A palavra “iniciação” vem do verbo latino initiare, que deriva do substantivo initium e que

tem origem em outro verbo latino inire, cujo sentido é começar, introduzir alguém em algo.

Os Padres da Igreja, para exprimir o mesmo sentido das palavras latinas, em grego utilizaram

dois termos: myesis, que dentre as várias palavras que deu origem, destacam-se mysterion

(mistério), mystagogeo (início do mistério), mystagogos (iniciador) e mystagogia (ação de

conduzir ao mistério); e a palavra telete (iniciação no sentido ritual). [70]

A iniciação cristã se refere a etapas indispensáveis para o ingresso na vida da comunidade.

Semelhante a outras religiões, faz parte do fenômeno antropológico. Por isso, a iniciação

cristã segue cinco objetivos: referência ao mito primordial; simbolismo do processo de morte

iniciática; simbolismo do novo nascimento; processo de separação, provação e nova

integração; vivência dos valores da comunidade em que está sendo inserido e transformação
[71]23
da personalidade. Enquanto o rito do sacramento se caracteriza como rito de passagem

com sua dimensão fenomenológica-teológica e função psicológica e social, o processo

catecumenal tem dimensão de purificação, pois, prevalece o elemento moral humano, onde

sobre a pessoa recai responsabilidades, tendo como ações características o jejum,


[72]
mortificações, doação de esmolas, entre outros. Os ritos de purificação visam preparar o

iniciando para o rito de iniciação.

A iniciação em si não é apenas rito, mas o conjunto de ensinamentos e ritos que tem a

finalidade de transformar o indivíduo socialmente e religiosamente. A iniciação objetiva

[70]
OÑATIBIA, Ignacio. Batismo e Confirmação: sacramentos de iniciação. São Paulo. Paulinas. 2007.
[71]
COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
[72]
TERRIN, Aldo Natale. O rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. Tradução: José Maria de
Almeida. São Paulo. Editora Paulus. 2004.
24

inserir o iniciando nos mistérios da divindade, e nisso o rito tem um papel estratégico e rico,

pois, tem mais afinidade natural com o eixo vertical, que é o Mistério. [73]

Percebe-se, dessa maneira, que a iniciação cristã se baseia em três ações: os rituais litúrgicos

associados à prática da oração individual, a catequese com sua forma didático-pedagógica, e o

comportamento ético do catecúmeno. Os rituais litúrgicos acabam tendo certo destaque, pois,

são estratégicos pelas suas duas dimensões: lógica crítica e lógica simbólica; a primeira

determina os limites da razão e da realidade, a segunda tem caráter conotativo na

compreensão transcendente da fé. [74] 24

Historicamente, o processo de iniciação cristã, chamado de catecumenato, remonta às próprias

origens do cristianismo, fazendo, portanto, parte da antiga tradição da Igreja. [75]

O processo de formação do rito de iniciação foi gradual. Dos séculos I e III sabe-se pouco

sobre o rito batismal, tão pouco sobre o período de preparação. No século III a preparação

para o batismo tem organização própria, conforme atesta Hipólito de Roma e o Sacramentário

Gelasiano, sendo estes os inspiradores do atual rito de iniciação cristã do Concílio Vaticano

II.

Os sacramentos ligados à iniciação cristã são: batismo, crisma e eucaristia. Apesar de serem

três sacramentos distintos, a ação do Espírito Santo através deles é de continuar recriando o

homem de maneira processual até a plenitude, que é a participação no banquete eucarístico;

isso se faz de maneira tal que muitos Padres da Igreja afirmavam que depois de receber o

“ser” segundo Deus (batismo) recebe-se o “agir” segundo Deus (crisma) para se testemunhar

[73]
COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
[74]
Ibidem.
[75]
SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. Dicionário de Liturgia. Tradução: Isabel Fontes Leal
Ferreira. São Paulo. Edições Paulinas. 1992.
25

a realização do mistério pascal, principalmente através da celebração eucarística na

comunidade. [76]

Além do caráter de iniciação numa comunidade de iniciados para entrar em contato com o

transcendente, de maneira mais específica, o termo “iniciação” significa (na comunidade

cristã) o ingresso na vida nova do homem novo no seio da Igreja. [77]

A participação na vida nova é a participação no próprio mistério da salvação em Jesus Cristo.

Os ritos de iniciação de certa forma fazem o catecúmeno começar a experimentar essa

realidade, pois, como ação litúrgica da Igreja, Cristo está presente; e também ajudam a criar,

com a catequese, disposições interiores para que o mesmo coopere com a graça e participe

dessa realidade de maneira ativa e frutuosa. [78]25

A plenitude dessa realidade se inicia primeiramente pelo Batismo, onde o iniciando é inserido
[79]
no mistério Pascal de Cristo, de modo a participar de sua paixão, morte e ressurreição, e

vai se completar com a participação na Eucaristia. [80]

Dessa maneira, o simbolismo utilizado e essencial no processo de iniciação cristã vai além do

simples desejo de aproximar o homem de Deus, mas correspondem às ações do próprio Deus

que vai ao encontro do homem. [81]

[76]
Ibidem.
[77]
Ibidem.
[78]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[79]
Ibidem.
[80]
BORÓBIO, Dionísio (Org.). A Celebração na Igreja. São Paulo. Loyola. 1993.
[81]
Ibidem.
26

2.2. Retomada do RICA após Concílio Ecumênico Vaticano II

A retomada da iniciação cristã de adultos procura atender, de maneira inicial e com certa

urgência, as regiões de missão, permitindo para isso certo nível de inculturação. No entanto, a

retomada da iniciação cristã também procura atender aos novos anseios que surgiram no

laicato, decorrentes do processo de transformação que esse sofreu ao longo do século XX.

Até o início do século XX os fiéis leigos ficaram à margem do processo de iniciação cristã,

ficando o amadurecimento da vida cristã restrita ao infantilismo religioso e devocionismo.

Porém, no decorrer do século XX houve um extremo aumento de religiosidade, expressa

através dos mais variados movimentos, das mais variadas crenças e das mais variadas seitas.

Muitos fiéis ficaram atordoados e confusos diante dessa transformação tão radical que a

sociedade (até então católica) sofria. A falta de convicção, espiritualidade sólida e

conhecimento intelectual da fé, fizeram que muitos migrassem para outras denominações

cristãs e para as seitas. [82]26

Muitos bispos provenientes de regiões de missão solicitavam a reestruturação da preparação

batismal para adultos, de modo que os mesmos adquirissem um verdadeiro amadurecimento

da fé. Esses pedidos vieram principalmente da África, de bispos de origem europeia oriundos

de congregações religiosas. [83]

Diante dessa perspectiva, a iniciativa primeira dada pelo Concílio Vaticano II, e,

posteriormente, por mentores das diversas pastorais (especialmente catequese e liturgia), vem

tentar atender essa necessidade de formação mais sólida na fé e identidade cristã mais

definida, através da volta (adaptada) do catecumenato para os católicos. [84]

[82]
NERY, Irmão. Catequese com adultos e catecumenato: história e proposta. São Paulo. Paulus. 2001.
[83]
LELO. Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São Paulo.
Paulinas. 2005.
[84]
NERY, Irmão. Catequese com adultos e catecumenato: história e proposta. São Paulo. Paulus. 2001.
27

A reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, logo em seu primeiro documento

Sacrosanctum Concilium (SC) restaurou o processo de iniciação cristã de adultos, como

afirma o número sessenta e quatro da respectiva constituição.

“Restaure-se o catecumenato dos adultos, em diversos níveis, de acordo com a autoridade

local. As etapas do catecumenato podem ser santificadas por diversos ritos, aptos a manifestar

seu espírito.” [85]

No item três, do número trinta e cinco da SC, já se orienta que a catequese (etapa da iniciação

cristã) deve ser feita em continuidade com a liturgia.

De maneira mais clara, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) vai colocar os ritos de iniciação

como parte do catecumenato.

“Por isso, os catecúmenos devem ser iniciados nos mistérios da salvação e na prática de uma

vida evangélica, e introduzidos, mediante ritos sagrados celebrados em épocas sucessivas, na

vida da fé, da liturgia e da caridade do povo de Deus.” [86]27

No ritual restaurado recuperaram-se diversos elementos de iniciação da Tradição apostólica e

a importância do sacramento da confirmação (crisma) como intermediário entre o batismo e a

eucaristia. [87]

Após o debate conciliar e esforço pós-conciliar, o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos foi

promulgado pela Congregação para o Culto Divino no dia seis de janeiro de 1972. [88]

[85]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[86]
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo. Edições Loyola. 2000.
[87]
LELO. Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São Paulo.
Paulinas. 2005.
[88]
Ibidem.
28

2.3. A proposta de itinerário da fé no RICA

Na atualidade, a maioria dos fiéis é subiniciada na fé cristã. Muitos têm os sacramentos como

algo meio mágico, obrigação, ou são indiferentes. Diante disso, a necessidade de formar

cristãos adultos na fé torna-se veemente. [89]28

O itinerário proposto pelo RICA caracteriza-se por quatro tempos e três celebrações. As

celebrações marcam a passagem de um tempo para outro. [90]

O primeiro tempo é o kerigma ou tempo do primeiro anúncio, da evangelização, também

chamado de pré-catecumenato. Esse tempo não tem inscrição ou celebração para passagem.

Aqui há o anuncio vigoroso de Jesus Cristo como Messias e Filho de Deus, onde se espera

que a pessoa tocada pela graça de Deus responda com uma atitude fé e disposição de

conversão. [91]

O pré-catecumenato é o primeiro contato da pessoa com a comunidade cristã, onde há a

acolhida dos que desejam tornar-se cristão, de modo a lhes facilitar a integração nos grupos da

comunidade; é também nessa fase que o pretendente começa a conhecer a maneira de ser do

cristão, principalmente com o contato com o Evangelho e o costume da oração, devendo a

comunidade ajudá-lo nessa primeira fase, em especial ao introdutor, que acompanhará o

interessado de maneira mais próxima para poder testemunhar sobre o mesmo. [92]

O tempo posterior ao pré-catecumenato é o próprio catecumenato, que se inicia com o rito de

instituição dos catecúmenos. No tempo anterior, o interessado em tornar-se cristão dá a

entender seu desejo, mas não o manifesta publicamente; no rito de instituição o mesmo

[89]
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. O itinerário da fé na “iniciação cristã de
adultos” (Estudos da CNBB 82). São Paulo. Paulus. 2001.
[90]
ALMEIDA, Antonio José de. ABC da Iniciação Cristã. São Paulo. Paulinas. 2010.
[91]
Ibidem.
[92]
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. O itinerário da fé na “iniciação cristã de
adultos” (Estudos da CNBB 82). São Paulo. Paulus. 2001.
29

manifestará, pela primeira vez, sua intenção à Igreja. Para esse tempo se requer uma fé inicial

e certa vida de oração (já adquirida no tempo anterior), e o desejo de conversão. [93]29

Neste tempo, o catecúmeno já é considerado membro da Igreja, e receberá catequese

ministrada por sacerdote, diácono, catequista ou outros leigos autorizados. A catequese será

distribuída conforme a vivência litúrgica da Igreja, sempre através das celebrações da Palavra.

Será familiarizado com as práticas cristãs da oração e da caridade, incentivado pelo introdutor

e pelo padrinho (já presente nesta fase) e toda a comunidade. Também poderá, desde já, a

cooperar de maneira ativa para a evangelização e edificação da própria Igreja.

O tempo do catecumenato dependerá não só da graça de Deus, mas também do empenho da

comunidade e, principalmente, do empenho do próprio catecúmeno. [94]

O tempo subsequente é a purificação/iluminação ou eleição. Do candidato se requer a

conversão da mentalidade e costumes, não uma conversão inicial, pois esta já deve ter

ocorrido nos tempos anteriores; razoável conhecimento da doutrina cristã; fé já amadurecida

suficientemente; e testemunho de caridade; deve também ter sua idoneidade comprovada. [95]

Verificado o real amadurecimento da fé dos catecúmenos, no primeiro domingo da Quaresma

(tempo mais apropriado para o tempo da iluminação) celebra-se a admissão dos mesmos para

receberem os sacramentos da iniciação na próxima Vigília Pascal.

Em todos os tempos do período da iniciação há a catequese e preparação espiritual. Mas no

tempo da eleição se dá ênfase para uma intensa preparação espiritual relacionada à vida

interior através dos ritos de “escrutínios” e entrega do Símbolo da Fé e Oração do Pai-Nosso,

[93]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[94]
Ibidem.
[95]
Ibidem.
30

e pela penitência. Essa ênfase visa curar o catecúmeno dos males espirituais que ainda podem

acometê-lo e fortificar a conversão já alcançada. [96]30

O ápice desse tempo é também o fim do catecumenato (mas não de todo o processo), pois,

culmina na celebração dos sacramentos da iniciação cristã na Vigília Pascal. A celebração dos

sacramentos inicia o tempo da mistagogia. Neste tempo os candidatos já foram introduzidos

no mistério e não são mais chamados de catecúmenos, mas de neófitos.

A palavra mistagogia e as que dela derivam (mistagogo, mistagógico) é de origem grega e

significa conduzir ao mistério. [97] O tempo próprio da mistagogia é o Tempo Pascal, onde os

recém-batizados aprofundarão o conhecimento da experiência realizada pelos sacramentos,

através de explanações catequéticas, meditação do Evangelho e participação da vida

sacramental da comunidade (em especial a Eucaristia). [98]

O tempo da mistagogia procura fazer com que o neófito entenda o que foi celebrado. Antes o

neófito (então catecúmeno) não participava da eucaristia; e se participa da ritualidade, dela

não toma parte e não lhe é dado o entendimento dos símbolos. Já incorporado plenamente ao

corpo místico de Cristo, o mesmo toma parte da eucaristia, e somente agora lhe é dado o

conhecimento dos símbolos. [99]

Oficialmente, o tempo da mistagogia, como etapa da iniciação cristã, é o Tempo Pascal e com

ele se encerra o processo de iniciação. No entanto, sendo a mistagogia o aprofundamento no

mistério celebrado, ela não se encerra (nesse sentido) com o tempo litúrgico próprio, mas

continua no decorrer da vida, pois, não se consegue viver e entender plenamente o mistério

celebrado, tal sua amplitude divina. [100]

[96]
Ibidem.
[97]
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. Paulinas. São Paulo. 2013.
[98]
LELO, Antonio Francisco. Catequese com estilo catecumenal. 7° edição. Paulinas. São Paulo. 2012.
[99]
COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
[100]
Ibidem.
31

Capítulo III – Reconciliação no RICA

3.1 Ritos e Símbolos da Reconciliação no pré-catecumenato

O pré-catecumenato ou período de evangelização, embora faça parte do processo de iniciação,

não compõem o Rito de Iniciação, não tendo, assim, um “rito” próprio para esse tempo. [101]31

No entanto, a dinâmica ritual nessa fase, como a participação no rito da Palavra e encontros

de estudo dos Evangelhos, contribui para o ordenamento de ideias e na compreensão dos

princípios elementares da fé e do ser cristão, ajudando o interessado a discernir a respeito do

ingresso no catecumenato. [102]

A caminhada de iniciação cristã (mesmo no pré-catecumenato) é espiritual, por isso, é

importante a presença de símbolos como regentes na relação entre o visível e o transcendente.


[103]

A Palavra em si ao mesmo tempo em que ajuda a ordenar as ideias e promove a

evangelização do interessado ao catecumenato, é também o primeiro sinal litúrgico utilizado.

A palavra ocupa lugar primordial na liturgia cristã, isso porque através da palavra (sinal

sensível) a realidade espiritual é determinada no elemento, elevando-o ao caráter de símbolo.

É também a palavra sensível primeira ponte de contato entre o visível e o invisível, entre o ser

humano e Deus em Cristo. [104]

Mesmo não sendo o único símbolo a ser utilizado nessa fase, é o principal, pois, como foi

visto no item 2.3 do Capítulo II, o pré-catecumenato é o tempo do anúncio vigoroso de Jesus

Cristo feito, principalmente, através da palavra.

[101]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[102]
COSTA, Valeriano Santos. A liturgia na iniciação cristã. São Paulo. LTr Editora. 2008.
[103]
Ibidem.
[104]
VAGAGGINI, Cipriano. O Sentido Teológico da Liturgia. Tradução: Francisco Figueiredo de Moraes. São
Paulo. Edições Loyola. 2009.
32

3.2 Ritos e Símbolos da Reconciliação no catecumenato

O primeiro símbolo do catecumenato é a sinal-da-cruz. Ela é assinalada na fronte dos

candidatos no rito de acolhida.

A cruz é o sinal primordial da fé cristã, e no princípio do cristianismo era costume fazê-la

sobre a fronte. O sinal-da-cruz já é uma confissão de fé no Deus de Jesus Cristo, que salva

pela cruz, e já sinaliza pertença e posse a Cristo; a cruz é o sinal indelével da Aliança entre
[105]
Deus e seu povo. Nos ritos auxiliares do rito de acolhida está previsto a possibilidade de

entregar aos catecúmenos crucifixos ou cruzinha para se colocar no pescoço. [106] Com isso se

afirma a pertença do catecúmeno à família de Cristo [107], pois, como toda ação litúrgica, o ato

de fazer o sinal-da-cruz é também obra de Cristo no exercício de seu sacerdócio a santificar os

homens. [108]32

Outro sacramento utilizado é a Palavra de Deus. Na Liturgia da Palavra, feita no rito de


[109]
acolhida, prevê-se a entrega do livro da Palavra de Deus (Bíblia). Através da Palavra é

que Deus convoca, anima, salva e interpela, de maneira especial através de Jesus Cristo; por
[110]
isso, deve ser tratada com toda dignidade, reverência e respeito. Através da Palavra, pela

ação do Espírito Santo, produz-se nos fieis e nos catecúmenos a graça; e também, através da

mesma Palavra proclamada na celebração litúrgica, se atualiza o mistério da salvação. [111] Por

isso, a Palavra de Deus marca, da mesma maneira que o sinal-da-cruz, o candidato como

membro da família de Deus pelo empenho em aprender e praticar o que aprende das Sagradas

[105]
ALDAZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo. Edições
Loyola. 2005.
[106]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[107]
Ibidem.
[108]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[109]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[110]
ALDAZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo. Edições
Loyola. 2005.
[111]
LELO, Antonio Francisco. Catequese com estilo catecumenal. 7° edição. Paulinas. São Paulo. 2012.
33

Escrituras (conceito esse, também do antigo Israel, de pertença ao povo escolhido pela

observância da lei divina, conforme abordado no item 1.3 do Capítulo I).

Outra ação simbólico-ritual usada no catecumenato, indicando a reconciliação do candidato,

na sua intenção de conversão, é a unção com óleo. O óleo simboliza a força, sabedoria e

virtude que Deus derrama sobre os candidatos para que sigam o caminho do Evangelho de

Jesus Cristo, comunicando a salvação que o próprio Deus dá através de Cristo. [112]33

Ainda outra ação ritual muito significativa no catecumenato, é a entrega da Oração do Senhor

(o Pai-nosso), chamado por Tertuliano como resumo de todo o Evangelho. A oração do Pai-

nosso traz em si um caráter penitencial e reconciliador, pois, se pede perdão para si e se

oferece perdão aos outros; faz também referência ao pão cotidiano (alusão à Eucaristia), de

modo que está presente no ritual de batismo de crianças como prefiguração da participação no

banquete eucarístico. [113]

O sinal simbólico-sacramental maior do catecumenato, ao mesmo tempo em que é seu ápice,

marca também o seu fim e o início do período mistagógico. É o Batismo com a água.

A água é um símbolo polivalente: sacia a sede, refresca, purifica (limpa), gera a vida (mas

também a morte), é fonte de força mecânica (aparelhos hidráulicos), entre outros. Na liturgia

cristã ela também traz em si diversos significados: simboliza a “água viva” que o próprio

Cristo dá e que purifica o ser humano e sacia sua sede de amor, verdade e felicidade;

simboliza também a morte do batizando na morte de Cristo e sua participação na ressurreição

do mesmo Jesus. [114]

[112]
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. Paulinas. São Paulo. 2013.
[113]
Ibidem.
[114]
ALDAZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo. Edições
Loyola. 2005.
34

3.3 Aspectos mistagógicos da Reconciliação

No batismo, o neófito é inserido no mistério da páscoa do Cristo, participando de sua morte e

ressurreição, e por essa inserção participa da perfeita reconciliação da humanidade com Deus,

realizada pela união da natureza humana à pessoa do Verbo através do sacrifício único e

definitivo de Cristo. Através dessa união é dado acesso ao culto divino, à liturgia da Missa,

que é a participação antecipada da liturgia celeste. [115]34

A compreensão do mistério celebrado se dará ao longo de toda a vida do novo cristão e a

dimensão teológica desenvolvida junto ao neófito é feita a partir do sacramento de iniciação

celebrado, de modo que a participação nas celebrações eucarísticas próprias o ajudará a

aprofundar o conhecimento daquilo em que se transformou. [116]

A partir da reconciliação vivida na celebração sacramental, o cristão (tanto os neófitos como

toda a comunidade) é chamado a conformar-se dia-a-dia a Cristo, pois foi para isso que cada

membro da comunidade foi inserido nos mistérios da vida de Cristo. [117]

O novo cristão também se aprofundará no mistério de Cristo, de maneira especial e sempre

que precisar, usufruindo do sacramento da penitência (também chamado de sacramento da

reconciliação). Esse sacramento foi dado à Igreja por Cristo para a reconciliação de todo

batizado que voltou a pecar, de maneira que ele faz novamente a experiência da reconciliação

com Deus, mas também com a comunidade, uma vez que o pecado o separou da Igreja. [118] A

dimensão moral de pecado e reconciliação com Deus o cristão viverá cada vez que se

aproximar do sacramento da Reconciliação (conhecido como sacramento da confissão), e

[115]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[116]
LELO. Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho. São
Paulo. Paulinas. 2005.
[117]
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Lumen Gentium – Constituição Dogmática sobre a Igreja. São
Paulo. Edições Paulinas. 2011 – reimpressão.
[118]
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. Paulinas. São Paulo. 2013.
35

viverá também a dimensão teológica de pecado e reconciliação com Deus em cada celebração

eucarística que participar, pois é nessa dimensão que o indivíduo e toda a comunidade são

chamados a viver em cada celebração. [119]

Essa melhor compreensão dos sacramentos a partir da participação nas celebrações ocorre

porque os gestos realizados e os símbolos presentes nas celebrações de cada sacramento tem

um alto valor pedagógico, de maneira que, quando bem realizados, expressa de maneira mais

clara e educativa o mistério celebrado do que longos discursos catequéticos. [120]35

3.4 Eucaristia: ápice da reconciliação e da Iniciação Cristã

A ordem dos três sacramentos da iniciação cristã é: Batismo, Confirmação e Eucaristia, pois,

foi nessa ordem que o divino mistério se realizou na vida terrena de Cristo. [121]

Mesmo sendo através do Batismo que o catecúmeno é inserido no mistério da morte e


[122]
ressurreição de Cristo , é através do sacramento da Confirmação que o neófito se
[123]
configura plenamente a Cristo e se torna membro ativo da Igreja , podendo assim

participar da Eucaristia.

Numa perspectiva horizontal, a Eucaristia, ápice da iniciação cristã, objetiva criar comunhão

entre os batizados, mas não somente, procura transformar a sociedade através da reconciliação

e comunhão entre todos os seres humanos; isso se dá num desdobramento da dimensão

vertical da Eucaristia, que é reconciliar o ser humano com Deus, criando comunhão perfeita
[124]
entre criador e criatura.

[119]
GIRAUDO, Cesare. Admiração eucarística. Para uma mistagogia da missa à luz da encíclica Ecclesia
Eucharistia. Tradução: Orlando Moreira. 2° edição. São Paulo. Edições Loyola. 2012.
[120]
ALDAZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Tradução: Alda da Anunciação Machado. São Paulo. Edições
Loyola. 2005.
[121]
MARSILI, Salvatore. Sinais do mistério de Cristo: teologia litúrgica dos sacramentos, espiritualidade e ano
litúrgico. Tradução: José Afonso Beraldin da Silva. 1° edição. São Paulo. Paulinas. 2009.
[´122]
Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo. Edições Paulinas. 2012 –
reimpressão.
[123]
RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS.
[124]
BUYST, Ione. A missa: memória de Jesus no coração da vida. 2° edição. São Paulo. Paulinas. 2008.
36

Na Oração Eucarística VII (sobre a reconciliação – I), enfatiza-se a reconciliação do ser

humano com Deus como dom divino, tempo de graça, a partir de Cristo, tendo por selo

definitivo sua Páscoa.[125] 36

Jamais nos rejeitaste quando quebramos a vossa aliança, mas, por Jesus, vosso Filho

e nosso irmão, criastes com a família humana novo laço de amizade, tão estreito e

forte, que nada poderá romper. Concedeis agora a vosso povo tempo de graça e

reconciliação.

...

Lembramo-nos de Jesus Cristo, nossa páscoa e certeza da paz definitiva. Hoje

celebramos sua morte e ressurreição, esperando o dia feliz de sua vinda gloriosa. Por

isso, vos apresentamos, ó Deus fiel, a vítima de reconciliação que nos faz voltar à

vossa graça. [126]

Na Oração Eucarística VIII (sobre a reconciliação – II) vê-se de maneira muito clara e

enfática a reconciliação nas suas dimensões horizontal e vertical.

“No meio da humanidade, dividida em contínua discórdia, sabemos por experiência que

sempre levais as pessoas a procurar a reconciliação.”

A reconciliação é colocada como obra do Pai.

“Sim, ó Pai, porque é obra vossa que a busca da paz vença os conflitos, que o perdão supere o

ódio, e a vingança dê lugar à reconciliação”.[127]

A obra reconciliadora do Pai é, senão, o próprio Jesus Cristo entre nós.

“Celebrando a sua morte e ressurreição, nós vos damos aquilo que nos destes: o sacrifício da

perfeita reconciliação. Glória e louvor ao Pai, que em Cristo nos reconciliou!” [128]

A dimensão horizontal da obra reconciliadora é feita através do Espírito Santo.

[125]
COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a eucaristia: tempo de restaurar a vida. 2° edição. São Paulo. Paulinas.
2008.
[126]
MISSAL ROMANO. Edição típica para o Brasil.
[127]
Ibidem.
[128]
Ibidem.
37

“Vosso Espírito Santo move os corações, de modo que os inimigos voltem à amizade, os

adversários se deem as mãos e os povos procurem reencontrar a paz”. [129]37

Na Oração Eucarística III aparece também a oferta sacrifical de Cristo como fonte de

reconciliação.

“E agora, nós vos suplicamos, ó Pai, que este sacrifício da nossa reconciliação estenda a paz e

a salvação ao mundo inteiro”. [130]

[129]
Ibidem.
[130]
Ibidem.
38

Conclusão

O pecado não somente separa os homens de Deus, mas separa também os homens de si

mesmos. Na narrativa da criação, o pecado de Adão o separa do convívio de Deus; na

narrativa da torre de Babel, o pecado gera discórdia e desunião dos homens entre si.

Não deixando o homem à própria sorte, a pedagogia divina procura gradativamente

estabelecer a reconciliação do ser humano com Deus, e dos seres humanos entre si por

consequência. No entanto, essa reconciliação requer da pessoa humana uma resposta de livre

vontade ao projeto de Deus.

Nessa pedagogia podemos perceber o itinerário proposto pela iniciação cristã de adultos. O

anúncio kerigmático pode ser comparado ao anúncio de Moisés que chama à liberdade para

estabelecer aliança com Deus. Esse anúncio denuncia a condição de escravidão, mas exige

uma adesão de livre vontade.

Ao aderir ao projeto de Deus, a pessoa já começa a fazer parte do povo de Deus, por isso o

Ritual de Iniciação Cristã de Adultos vai dizer que o catecúmeno já é membro Igreja (novo

povo de Deus).

Da mesma maneira que o antigo Israel recebeu a Palavra de Deus para se edificar, o

catecúmeno crescerá, através da catequese, na mesma Palavra de Deus.

O ápice do processo é a inserção, por meio do Batismo, no mistério pascal de Cristo, onde há

a perfeita reconciliação com Deus; essa inserção somente se completa no sacramento da

Crisma. O primeiro restabelece o convívio com Deus quebrado por Adão; o segundo

restabelece o convívio dos homens entre si, quebrado pelo pecado dos construtores de Babel

(a narrativa de Pentecoste, pelo evangelista Lucas nos Atos dos Apóstolos, é um antônimo ao

que aconteceu na torre de Babel, justamente como consequência da morte, ressurreição e

ascensão de Cristo).
39

A pedagogia lenta e processual proposta pelo Rito da Iniciação Cristã de Adultos leva em

consideração à própria pedagogia divina, na qual Deus se revela a cada pessoa humana num

tempo propício.

Vê-se, assim, que o itinerário proposto para a iniciação cristã de adultos leva a pessoa humana

à reconciliação na dimensão vertical e horizontal, impulsiona o iniciado na direção de Deus, e,

portanto, também na direção do próximo, na busca da comunhão fraterna entre todas as

pessoas.
40

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