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ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

1. INTRODUÇÃ O:
Hoje, estamos diante do desafio de sintonizar a mensagem da salvação com a
mentalidade do homem contemporâneo, no mundo em que vive 1. Há, também, o desafio do
secularismo: apesar do valor positivo do reconhecimento da autonomia das realidades criadas,
estamos diante de muitas outras questões como, por exemplo, de ruptura com o
transcendente, da indiferença religiosa, da não participação eclesial e, portanto, do isolamento.
Daí, o intimismo: apesar da valorização da pessoa e de sua consciência individual,
consideradas como critério e norma última de conduta moral, perde-se o dado da comunhão,
da partilha, da solidariedade, do destino comum da existência humano-cristã.
Dentro desta ótica, visualiza-se uma crise da prática sacramental na Igreja Católica
como um fato corrente na atualidade2. Assim, de um lado, decorre de situações externas à
Igreja, particularmente, do secularismo do mundo urbano. As manifestações da crise são
variadas e complexas, encetando aspectos positivos e negativos. Causas e efeitos da crise se
misturam e se condicionam...
Se, por um lado, a Igreja afirma a necessidade de se viver de acordo com o
Evangelho, de praticar a justiça de lutar por libertação; por outro lado, ao mesmo tempo admite
na celebração sacramental quem não está comprometido com o Evangelho, quem abertamente
pratica a injustiça, quem dá pouquíssimo sinal de vivência eclesial. Por isso, quando os
Sacramentos - expressão da fé - são deturpados em sacramentalismo - execução ritual do
Sacramento desvinculado da experiência de fé - deixam de ser simbólicos e adquirem uma
função diabólica. Nesse caso, celebram-se os Sacramentos; mas sem a conversão. Colocam-
se sinais figurativos da presença do Senhor, mas sem a preparação do coração (o mesmo vale
para a Liturgia como um todo).
Ora, os Sacramentos são usados para exprimir a adesão a uma fé. Entretanto esta fé
é sem consequências práticas. É pura ideologia. Nessa dicotomia pastoral entre pregação do
evangelho e celebração dos Sacramentos, sem dúvida, encontra-se a causa, não única, da
crise da linguagem simbólica religiosa convencional da Igreja.

Dessa forma, vemos a necessidade de uma Teologia Fundamental que nos reporte
às origens do Sacramento, à “economia histórica da salvação”, isto é, ao mystérion proclamado
no Novo Testamento.

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Côn. Dr. José Adriano - Revista de Cultura Teológica nº 45
2
Pe Fantico Borges – teologia dos sacramentos.
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ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

2. A TEOLOGIA DOS SACRAMENTOS:


A salvação humana operada por Jesus Cristo está inserida na história e na
humanidade. Deus absolutamente transcendente, o Pai, envia seu Filho para se encarnar e
entrar na dinâmica humana do tempo e da matéria. O Filho encarnado tornou-se sinal
visível do Pai, da sua graça e da sua salvação. Tornou-se Sacramento.

O ser humano, simbólico que é só pode compreender pela linguagem, sinais,


gestos, palavras que unem a coisa a seus significados. Tal é o Sacramento: um sinal que aponta
para uma realidade que está para além da coisa em si. Em se tratando dos Sacramentos da fé, o
Sacramento é o sinal eficaz da graça de Deus. Eficaz porque é o próprio Cristo quem atua por
aquele sinal.

Uma vez na história e, pela ressurreição, ao mesmo tempo eterno, também o Filho
deixou seu Sacramento, aquilo que é sua presença constante na história humana: a Igreja.
Pela Igreja, Jesus manifesta e oferece a salvação de modo universal, mas também
individualmente, nos momentos existenciais mais decisivos da história pessoal e comunitária.
Não que se deva procurar em Jesus histórico uma instituição verbal ou ritual dos Sacramentos,
mas que, uma vez instituída a Igreja diretamente por Jesus, a instituição e eficácia dos
Sacramentos está garantida, de modo que Ele age pela Igreja.
A universalidade da salvação definitiva e o seu caráter gratuito esbarra na liberdade
humana. O Sacramento, pelo que é sinal eficaz da graça, não depende de quem o administra
nem de quem o recebe. Mas a liberdade de quem recebe pode aceitar ou rejeitar os frutos da
graça. Os Sacramentos supõe a fé, aceitação daquilo que é proposto por Deus pela Igreja.
Pela iniciação, o iniciado é inserido no mistério salvífico de Jesus Cristo. Pela recepção da fé
da Igreja, pode então fortificar em si e alimentar essa fé pelos outros Sacramentos.

A necessidade dos Sacramentos para alimentar a vida de fé se baseia no aspecto


humano da comunicação. O homem assume com maior eficácia aquilo que lhe é comunicado
por vias inteligíveis, sensíveis, porém, no caso dos Sacramentos, sem poder abarcar todo o
mistério. A graça invisível de Deus é colocada no nível humano de compreensão para que o
próprio ser humano assimile e viva com maiores frutos, de acordo com sua capacidade, aquilo
que é alimento para sua fé.

a) Sacramentos – Centro da Liturgia:

Antes do Vaticano II, o que se ensinava nas faculdades e seminários de teologia


sobre Liturgia se resumia a rubricas e demais ornamentos ou acessórios técnicos que
acompanhavam as celebrações do culto cristão 3. O que se ensinava na doutrina dos
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Sinivaldo Silva Tavares - Sacramentos – Centro da liturgia.
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ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

Sacramentos obedecia a uma genérica definição de Sacramento, aplicada indistintamente a


cada um e a todos os Sacramentos.
Após o CVII, a compreensão da Liturgia como celebração do Mistério Pascal de Cristo
que se torna presente de forma simbólico-sacramental na vida da Igreja, por sua vez, explicita
a dimensão intrinsecamente teológica da liturgia cristã, além de tornar possível a celebração
de cada Sacramento como expressão singular do Mistério Pascal de Cristo presente no aqui e
agora da comunidade cristã. Daí a importância de se considerar símbolo e Sacramento a
partir de uma estreitíssima relação entre ambos.

Outra questão salientada aqui é a estreita relação entre Sacramentos e Igreja. Se,
por um lado, a Igreja faz os Sacramentos, por outro, são os Sacramentos que fazem a Igreja. A
eclesialidade dos Sacramentos constitui, portanto, uma temática de fundamental importância
para a Liturgia.

Mérito da reforma conciliar foi pôr em evidência essa conexão íntima de todos os
Sacramentos com a Eucaristia. A Penitência é o único Sacramento cuja celebração dentro da
Eucaristia, estranhamente, não é prevista pelos novos rituais.
Da obediência criativa, inspirada pelo espírito dos discípulos de Jesus, irão surgindo
na Igreja os Sacramentos como celebrações da memória do Mistério Pascal. Todos são
Sacramentos do Mistério Pascal nas diversas circunstâncias, ministérios e missões da Igreja.
Símbolos da missão a ela confiada pelo Senhor, de ser seu Sacramento em todas as
conjunturas da vida.

 A sacramentalidade de alguns dos ritos sacramentais, que passaram na


Igreja por configurações históricas, só pode ser compreendida no estudo histórico e teológico
de cada um deles.

b) A Práxis dos Sacramentos:

A práxis dos Sacramentos, e a própria sacramentologia, se realizam no tempo e no


espaço. Participam da historicidade do homem, trazendo consigo os condicionamentos sócio-
culturais próprios do tempo e do lugar onde se enraízam 4. A realidade sacramental não
pertence ao domínio da coisa, do objeto.
Uma clara compreensão dos Sacramentos não pode prescindir-se de um "olhar
simbólico" sobre a realidade do mundo e da vida. É na órbita do simbólico e não do técnico
onde estão situados os Sacramentos. A criação inteira, por si, é transparência, símbolo de seu
próprio mistério, mistério da vida e da graça que lhe habita e impulsiona de modo integrador.
É da máxima urgência, recuperar o sentido cósmico, simbólico e, na mesma
linha, social da vida humana, de modo a excluir uma visão dualista do mundo e da história,

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Pe Fantico Borges – teologia dos sacramentos.
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ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

cerceadora de uma vivência sacramental mais comungada com o humano, o social e o


criacional.

Mais do que sinais evocativos da vida cristã, da memória atualizada de Jesus e do


mistério do mundo, os Sacramentos traduzem a própria festa da vida, da Páscoa e do mundo.
Os Sacramentos não apenas vinculam ou reforçam o vínculo do fiel (ou fiéis) com a
comunidade (o que aliás constitui um dos efeitos salutares de todos os 7 sacramentos), mas
também possibilitam que o conjunto da comunidade, de forma acolhedora, solidarize-se com o
fiel, participando, a seu modo, dos dons sacramentalmente festejados. Portanto, uma visão
individualista da recepção dos Sacramentos torna-se incompatível em sua pertença à
comunidade.

3. SINAIS E SÍMBOLOS:
Desde os primeiros séculos, os cristãos sentiram a necessidade de expressar seus
louvores a Deus através de gestos, símbolos e sinais que também fossem compreensíveis aos
homens5. Assim, com o passar dos séculos, a Liturgia se desenvolveu e enriqueceu; mas,
devido a uma maior falta de preparo, nem sempre os fiéis que participam de uma celebração e
a compreendem totalmente.
Do latim, signum (senha, sinal). E, do grego, sym-ballo (atirar juntas duas coisas,
voltar a reuni-las, como sinal de reconhecimento, duas partes de uma mesma realidade que
antes estavam separadas); o sinal é uma coisa que vemos e nos leva a conhecer algo que não
vemos: como, no fumo, a existência do fogo; nas pegadas, a passagem de um animal. Mas
esta mediação, que dá a conhecer a realidade oculta, pode ter uma densidade muito variável:
desde um mero sinal prático ou convencional (um sinal de trânsito que avisa a aproximação de
uma curva) até um símbolo carregado de sentidos humanos (um bolo de aniversário) ou uma
ação simbólica que, no contexto da celebração, comunica efetivamente a graça que significa (a
imposição das mãos), ou uma pessoa, que é, ela própria, sinal e símbolo da salvação ou de
uma realidade invisível (Cristo, sinal, imagem e símbolo de Deus).
Sinal e Símbolo, não são sinônimos. Os sinais, sobretudo, dão a conhecer; os
símbolos são mais densos de sentido, e tendem a criar comunhão: não só notificam, como
também evocam e realizam. Os sinais não são da mesma natureza que o significado (o fumo,
em relação ao fogo), enquanto que os símbolos, de alguma maneira, contêm a realidade que
significam, tornam-na presente e põem-nos em relação com ela (a oferta, como sinal de amor).
Todo o símbolo é sinal, mas nem todo o sinal é símbolo.
A etimologia do símbolo indica a sua intenção: cada uma das duas partes que se
juntam (“sym-ballo”) já contém a realidade, mas só quando estão juntas ou se recompõem – à
maneira de um puzzle reconstruído – é que contêm a realidade completa.

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José Aldazábal - Sacramento.
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ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

Portanto, o símbolo, ao contrário do sinal, exige um conhecimento especial,


podendo nada representar para pessoas que não convivem em determinado meio.
Exemplificando, os primeiros cristãos desenhavam peixes nas catacumbas porque a palavra
peixe em grego (IXTUS) correspondia à abreviação da expressão “ Jesus Cristo Filho de Deus
Salvador”.
Assim, Deus, na História da Salvação, tanto no AT, como na plenitude de Cristo,
serviu-se de sinais e símbolos, tomados muitas vezes da própria natureza, com linguagem
cósmica (a água, o fogo, o azeite, o pão e o vinho), para manifestar a salvação que nos quer
comunicar. O verdadeiro Sinal, Símbolo e Ícone de Deus, é o próprio Cristo: não só nos
manifesta quem é o Pai, como no-Lo comunica (cf. Jo 1,14; 5,37; 14,9…). A Liturgia, sobretudo
a celebração sacramental, está tecida de sinais e de símbolos. E, da mesma forma como o
fazemos na vida social e na linguagem religiosa de todas as culturas, os cristãos expressam a
sua fé e as suas atitudes diante de Deus por meio de sinais e símbolos.

É importante ressaltar que os sinais e os símbolos devem ser feitos de maneira


lúcida e não de qualquer modo, pois senão perdem o seu valor e, quando fazemos algo sem
saber seu motivo, que valor poderá ter para Aquele a quem é dirigido? Portanto, toda liturgia é
formada por estes três elementos: sinal, símbolo e gesto.

Devemos ainda lembrar que não somente coisas ou objetos podem ser sinais, mais
igualmente gestos e ações. Os sinais dos nossos Sete Sacramentos podem ser ambíguos em
seu significado. Os sinais e símbolos sacramentais podem ter sua origem em culturas que não
são bem conhecidas, como é o caso da unção. Por isso que é muito importante a palavra que
acompanha um gesto sacramental, porque determina o que ele significa na respectiva ação
sacramental.
Na sua pregação, o Senhor Jesus serve-Se muitas vezes dos sinais da criação para
dar a conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza as suas curas ou sublinha a sua
pregação com sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos fatos e sinais da
Antiga Aliança, sobretudo ao Êxodo e à Páscoa, porque Ele próprio é o sentido de todos esses
sinais (CIC § 1151).
Depois do Pentecostes, é através dos sinais sacramentais da sua Igreja que o
Espírito Santo opera a santificação. Os Sacramentos da Igreja não vêm abolir, mas purificar e
assumir, toda a riqueza dos sinais e símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam
os tipos e figuras da Antiga Aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e
prefiguram e antecipam a glória do céu (CIC § 1152).

4. JESUS – SACRAMENTO DO PAI:

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Deus é invisível. Ninguém jamais viu a Deus. Para se comunicar com os homens,
Deus se torna sinal: sarça ardente; brisa suave; fogo que consome um sacrifício... Contudo, a
comunicação mais perfeita de Deus aos homens foi através de seu Filho, que assumiu a forma
humana, tornou-se sinal visível e nos revelou o Deus invisível. Por isso, podemos dizer que
Jesus Cristo é o Sacramento de Deus 6. Cristo também é chamado sacramento-fonte já que
nesta fonte beberam os apóstolos e bebem todos aqueles que hoje continuam celebrando e
recebendo os Sacramentos da Igreja.
Os apóstolos, por sua vez, tornaram-se sinais sacramentais de Cristo. Eles atuavam
em lugar de Cristo. Pelo poder do mesmo Espírito Santo, os apóstolos confiaram esse poder
aos seus sucessores.
Jesus Cristo em seus gestos e palavras, na totalidade de sua pessoa, Jesus de
Nazaré nos mostra quem é Deus (cf Cl 1,15), Ele é a presença real, eficaz, verdadeira do Pai
entre nós (cf. Jo 14, 9-10). Nas palavras de Jesus é o Pai quem nos fala, nos seus gestos é o
Pai quem nos estende a mão, no seu carinho para com os pobres, os fracos, os pecadores, é o
Pai quem manifesta a sua ternura... em toda a sua vida entre nós é o Pai quem nos reconcilia
consigo.
Por tudo isso, Jesus Cristo é o Sacramento do Pai: Nele está a vida que vem do Pai
(cf. Jo 1,4). Entrar em contato com o Cristo morto e ressuscitado é entrar em contato com a
vida do próprio Deus, a vida que o Pai derrama sobre seu Filho na potência do Espírito Santo.
Então, o caminho pelo qual a humanidade pode caminhar para realmente encontrar Deus é
Jesus, Sacramento (sinal eficaz, verdadeiro, potente, ativo) da presença divina entre nós. É por
tudo isso que dissemos que Jesus é o Sacramente primordial de Deus! Não adianta pedir como
Filipe: “Mostra-nos o Pai e isto nos basta!” (Jo 14,8). A resposta será sempre a mesma: “Quem
me vê, vê o Pai. Eu estou no Pai e o Pai está em mim. Eu e o Pai somos um!” (Jo 14,9-11).

5. IGREJA – SACRAMENTO DE CRISTO:


O Filho de Deus feito homem, Jesus, presença viva e pessoal de Deus entre nós para
nos salvar, viveu num tempo e num espaço: viveu há dois mil anos na Terra Santa 7. Ele entrou
uma só vez na nossa história, no nosso mundo, no nosso tempo. Mas Ele veio para todos, em
todos os tempos; Ele deseja tornar-se presente a todo instante e estar bem perto de todos os
corações: seu desejo é entrar em contato conosco e que nós entremos em contato com Ele,
com Sua palavra santa e com sua vida divina. Por isso Ele fundou a Igreja! Ela é Sacramento
(sinal eficaz, real) de presença de Cristo no mundo; ela é Cristo continuado, Corpo de Cristo
crucificado e vivificado pelo Espírito na Ressurreição! No Concílio Vaticano II os Bispos do
mundo inteiro, sucessores legítimos dos Apóstolos, ensinaram: “A Igreja é, unida a Cristo,

6
Dom Henrique Soares da Costa - Cristo Jesus, o Sacramento Primordial.
7
Dom Henrique Soares da Costa – A Igreja, o Sacramento de Cristo.
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como que um Sacramento, isto é, um sinal e instrumento da íntima união com Deus e de todo o
gênero humano” (LG, 1).
A Igreja está ligada ao seu Senhor Jesus como o corpo está ligado à cabeça, como os
ramos estão enxertados à videira. E o Espírito de Cristo ressuscitado, o Espírito Santo é a
seiva, é a vida que vivifica, dirige e faz crescer este corpo, estes ramos! É assim que Cristo
permanece vivo na Igreja, atuando nela na potência do Espírito: fala, age, santifica, ensina,
exorta, salva pela Igreja! A Igreja é, portanto, um verdadeiro Sacramento de Cristo, um sinal
real da sua presença! Ela, Igreja, não existe para si mesma, mas para anunciar Jesus, para
provocar o encontro entre Jesus Salvador e a humanidade necessitada da salvação!

6. A ECLESIALIDADE DOS SACRAMENTOS:


O que caracteriza a auto comunicação de Deus através dos Sacramentos é sua
dimensão eclesial8 Deus é soberanamente livre para se auto comunicar por vias só por Ele
conhecidas, pois “o Espírito sopra onde quer” (Jo 3,8). Mas, na dinâmica encarnatória própria à
Revelação, Deus se comunica em sinais sensíveis. Primeiramente através do Verbo feito
carne e, em continuidade com Ele, através da Igreja, Corpo de Cristo, e dos gestos e ritos em
que ela se realiza como veículo da graça. A relação entre Igreja e Sacramentos é mútua: a
Igreja faz os Sacramentos e, por sua vez, esses a criam e constituem como Corpo de Cristo
com a diferença de funções entre seus membros. Por isso o ministro pode ser indigno, não
viver o que os Sacramentos contêm e anunciam e, no entanto, sob sua presidência se
comunica a nós participação no Mistério Pascal de Cristo.

O sujeito dos Sacramentos, aquele que os realiza é, pois, a Igreja, a comunidade


toda em sua unidade e pluralidade, onde cada um atua conforme a função que o Espírito Santo
lhe deu (cf. SC, 28). Mas, na Igreja e através da Igreja, é Cristo mesmo por seu Espírito que nos
aproxima do Pai. A Igreja, comunidade dos que aderiram visivelmente a Cristo e vivem assim
sua fé, faz os Sacramentos.

Os Sacramentos são tão necessários quanto a própria Igreja que os administra. A


necessidade da Igreja, no entanto, não se situa no âmbito do processo da salvação, mas no
âmbito da mediação da salvação. A mediação da salvação designa a presença da salvação
na dimensão histórica e palpável da Igreja, no conhecimento e reconhecimento explícito de
Cristo como revelação do Pai. A mediação da salvação é, pois, mais restrita que o processo
salvífico. O processo salvífico é, sim, mediado por Cristo, mas nem sempre as pessoas que
nele estão envolvidas tomam conhecimento dessa mediação ou a reconhecem.
Os Sacramentos são necessários como celebração da Igreja, que, por sua vez, é
necessária, como Cristo é necessário à salvação. A necessidade salvífica dos Sacramentos
não significa que sem eles Deus não se autocomunique ao ser humano em graça, mas sim que
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Taborda, F. Sacramentos, práxis e festa - 1998 – Ed. Vozes.
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os Sacramentos são necessários como celebração explícita da gratuidade do dom de Deus em


Cristo que o Espírito faz presente em todo bem que qualquer pessoa faz.
A Igreja é assim Sacramento-raiz ou Sacramento fundamental, porque toda graça
sacramental é mediada pela Igreja. Dela brotam os Sacramentos, como os ramos de um
arbusto são sustentados por sua raiz. Mas vale também o inverso: a Igreja é feita pelos
Sacramentos, como a raiz necessita dos ramos para ter sentido e ser fonte de vida.

Os Sacramentos, portanto, fazem a Igreja. O Batismo e a confirmação agregam à


Igreja. A Penitência reconcilia o cristão pecador com a Igreja. A Unção dos Enfermos une o
cristão enfermo à Igreja através da intercessão da comunidade. O Matrimônio constitui homem
e mulher em “eclesíola” doméstica, cria uma família no seio da comunidade. A Ordem designa
uma pessoa para o serviço da unidade da comunidade eclesial. A Eucaristia torna visível o que
é ser Igreja: comunhão fraterna em torno ao Cristo presente e a partir Dele. Pelos Sacramentos
a Igreja é constantemente edificada por Cristo, que atua nos Sacramentos na força do Espírito
Santo. A relação com a Igreja é de mediação; o ato terminal é a relação com Cristo e, por isso,
os Sacramentos fazem a Igreja, não são só feitos por ela.

Os Sacramentos criam e recriam a comunidade eclesial. Neles, em especial na


Eucaristia, o Sacramento Central, a Igreja encontra sua identidade: comunidade criada pela
presença do Senhor Ressuscitado que, na diferenciação de suas funções e carismas, oferece
ao Pai, unida a Cristo no Espírito Santo, o memorial do único sacrifício de Cristo e une a ele
sua vida no seguimento de Jesus, que é o culto “em espírito e verdade” (Jo 4,24). Mas também
em cada um dos outros Sacramentos aparece a identidade da Igreja: ela vive e cresce pela
conversão (batismo-crisma); santa e pecadora, sempre de novo precisa aceitar a reconciliação
oferecida pelo Pai (penitência); a exemplo de Jesus, volta-se aos enfermos e fracos levando-
lhes solidariedade e consolo (unção dos enfermos); manifesta o amor de Deus aos humanos
no amor conjugal (matrimônio); constitui-se na diferença de funções dadas por Deus como
graça (ordem).

7. OS SACRAMENTOS DA IGREJA9:
a) Etimologia:

 A palavra Sacramento tem origem no termo latino sacramentum que corresponde


ao termo grego mystêrion. Mystêrion não tem a conotação de mistério, no sentido de
misterioso ou segredo. Seu sentido é oculto, inefável, grandioso, incompreensível. O plural de
mystêrion é mystêria. Por isso, a Santa Igreja Católica também chama os Sacramentos de
Santos Mistérios.

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Baseado em artigo disposto em https://www.veritatis.com.br/introducao-a-doutrina-sobre-os-sacramentos/
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 O termo sacramentum é formado por dois termos: a) sacra: significa sagrado ou


santo; b) mentum: de memorale, memória não no sentido de lembrança, mas de tornar
novamente presente, repetido.

b) Significados:

1. Sentido profano:
 Os escritores profanos da Antiguidade empregavam o termo Sacramento noutro
sentido que os escritores eclesiásticos. Aqueles o tomavam para designar a obrigação de
quem jura prestar algum serviço. Por isso, chamava-se o compromisso militar, o juramento,
pelo qual os soldados se comprometiam a servir fielmente ao Estado. Esta parece ter sido
entre os profanos, a significação mais comum da palavra.

“O plural mystêria designou, desde cerca do século VII, para os gregos e no


Oriente helenizado, cultos secretos ao lado da religião geralmente seguida. Praticados em
pequenos grupos de iniciados, oferecem, mediante participação existencial ritual no destino
dos deuses, comunhão na sua vida, fecundidade, felicidade e salvação”10.

2. Sentido religioso específico:


 Os Doutores Latinos definiram que havia de chamar-se Sacramentos certos
sinais sensíveis, que produzem a graça, ao mesmo tempo que a designam exteriormente, e a
tornam quase visível aos olhos. Podem também chamar-se Sacramentos, conforme S.
Gregório Magno (cf. 1Sm 6, 3), porque a Onipotência divina neles opera ocultamente a
salvação, sob o véu de coisas corpóreas.

c) Definição:

1. Definição Clássica:
 Meios pelos quais se logra a salvação e a justificação. Segundo S. Agostinho,
Sacramento é o sinal de uma coisa sagrada 11.
 A definição clássica: “Sacramento é um sinal visível de uma graça invisível,
instituído para nossa justificação”, vem do Concílio de Trento (1545-1563)12. Ainda segundo
Santo Agostinho13, um sinal é tudo aquilo que, além de atuar por si em nossos sentidos, nos
leva também ao conhecimento de outra coisa concomitante. Por exemplo, pelos vestígios
impressos na terra, facilmente conhecemos que ali passou alguém, cujas pegadas aparecem.
Logo, os Sacramentos pertencem à categoria dos sinais, porque nos mostram exteriormente,

10
Sacramento - Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia - Editora Paulus, 2005
11
Santo Agostinho - Cidade de Deus X, 5.
12
Concílio de Trento, XIII cap 3.
13
Santo Agostinho - A doutrina cristã 2,1.
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por certa imagem e semelhança, o que Deus opera interiormente, em nossa alma, pelo Seu
poder invisível.
2. Definição atual:
 "Os Sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à
Igreja, por meio dos quais nos é dispensada a vida divina” . “Os ritos visíveis sob os quais os
Sacramentos são celebrados significam e realizam as graças próprias de cada sacramento.
Produzem fruto naquele que os recebem com as disposições exigidas ”. (CIC § 1131).

d) Componentes de um Sacramento:

 Portanto, há em todos eles um denominador comum, que é o sinal (seméion, em


grego) eficiente ou sinal que realiza o que ele assinala. Podemos dividi-los em três partes:
1º - Um sinal sensível:
 Constitui a parte material do Sacramento, temos dois elementos: O primeiro é
o objeto material que se utiliza, que denominamos matéria do Sacramento; por exemplo:
água no Batismo, óleo na Crisma... Essa ação em si, não teria significado se não manifestasse
algum propósito. Tem que acompanhá-la algumas palavras ou gestos que lhe deem
significado. Esse segundo elemento do Sacramento chamamos de forma. Exemplo: no
Sacramento do Batismo a água é a matéria, as palavras ... “ eu te batizo” ... é a forma. Portanto,
sinal sensível é o que pode ser percebido, é o que nós podemos ver, ouvir, cheirar, segurar,
perceber o gosto. Todos os Sacramentos têm uma parte sensível porque podemos vê-los e
ouvi-los. Os Sacramentos são, por conseguinte:
→ Sinais Sagrados, porque exprimem uma realidade sagrada, espiritual;
→ Sinais Eficazes, porque, além de simbolizarem um certo efeito,
produzem-no realmente;
→ Sinais da Graça, porque transmitem dons diversos da graça divina;
→ Sinais da Fé, não somente porque supõem a fé em quem os recebe, mas
porque nutrem, robustecem e exprimem a sua fé;
→ Sinais da Igreja, porque foram confiados à Igreja, são celebrados na
Igreja e em nome da Igreja, exprimem a vida da igreja, edificam a Igreja, tornam-se uma
profissão de fé na Igreja.
2º - Instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo:
 O poder humano não pode ligar a graça interior a um sinal externo. Isso é
algo que somente Deus pode fazer, e que nos leva a segunda definição de Sacramento:
"Instituído por Jesus Cristo".
 É convicção da Igreja que os Sacramentos todos foram instituídos por Nosso
Senhor Cristo. Somente assim eles têm de fato um valor salvífico verdadeiro 14.
 Corrigindo os erros de Lutero e Calvino, pais do protestantismo, o Concílio
de Trento ensinou de modo infalível, com a autoridade que Cristo deu aos Apóstolos e seus

14
Dom Henrique Soares da Costa - Sacramentos: quantos e por quê?
10
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

legítimos sucessores, os Bispos: “Se alguém afirmar que os Sacramentos da nova lei não foram
todos instituídos por Jesus Cristo, nosso Senhor... seja anátema”15.
 Mas, onde, na Bíblia aparece a instituição dos Sete Sacramentos, um por
um? Antes de responder esta questão é necessário compreender o que o Concílio quis afirmar
com a palavra “instituir”. Quando estudamos as atas do Concílio de Trento, vemos explicado
lá que os Bispos participantes do Concílio afirmaram que Cristo “instituiu” no sentido que é Ele,
Jesus Cristo, diretamente, quem confere eficácia, poder, efeito ao rito celebrado.
 Em outras palavras: a força do Sacramento vem de Cristo e só Dele, é
manifestação da sua obra de salvação. Os Sacramentos não são (como dizia erradamente
Calvino), instituições da Igreja. Jesus é a presença de salvação, visível e eficaz, de Deus no
nosso meio – a Igreja, por sua vez, é continuadora da presença de Cristo: o Senhor fez dela
sinal visível e eficaz de sua palavra e de sua ação – ela é Sacramento de Cristo!
 No entanto, isto não significa que não possamos ver no Novo Testamento o
embrião da prática de cada um dos Sacramentos. Vejamos somente alguns exemplos –
existem outros:
→ Para o Batismo: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus ” (Jo 3,5); “Ide, portanto, e fazei que todas
as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo...” (Mt 28,19).
→ Para a Eucaristia: “Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e pronunciou a
bênção. Depois, partiu o pão e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o meu
corpo’. Em seguida, tomando um cálice, depois de dar graças, deu-lhes, dizendo: ‘Bebei dele
todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por muitos, para o perdão dos
pecados’” (Mt 26,26ss; cf. Mc 14,22-24; Lc 22,19s; 1Cor 11,24s).
→ Para a Reconciliação: “E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca levarão vantagem sobre ela. Eu te darei
as chaves do reino dos céus, e tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que
desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18s); “Após essas palavras, soprou sobre
eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados serão perdoados. A quem
não perdoardes os pecados não serão perdoados’” (Jo 20,22s).
→ Para a Confirmação: “Quando os apóstolos, que estavam em Jerusalém,
ouviram que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes,
assim que chegaram, fizeram uma oração pelos novos fiéis a fim de receberem o Espírito Santo,
visto que ainda não havia descido sobre nenhum deles. Tinham sido somente batizados em nome
do Senhor Jesus” (At 8,14ss); “Ouvindo isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus. Pela
imposição das mãos, Paulo fez descer sobre eles o Espírito Santo. Falavam em línguas e
profetizavam” (At 19,5s).
→ Para a Ordem: “E tomando um pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes
dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim’”  (Lc

15
Anátema = seja separado da Igreja.
11
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22,19); “Por este motivo eu te exorto reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela
imposição das minhas mãos” (2Tm 1,6).
→ Para o Matrimônio: “Não lestes que no princípio o Criador os fez homem e
mulher e disse: Por isso o homem deixará o pai e a mãe para unir-se à sua mulher, e os dois
serão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o
que Deus uniu” (Mt 19,4-9); “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo. Maridos, amai
vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-
a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula,
sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos
devem amar suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo.
Decerto, ninguém odeia sua própria carne mas a nutre e trata como Cristo faz com sua Igreja,
porque somos membros de seu corpo. Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua
mulher, e serão os dois uma só carne .Grande é este mistério. Quero referir-me a Cristo e sua
Igreja” (Ef 5, 21-32).
→ Para a Unção dos Enfermos: “Há algum enfermo? Mande, então, chamar
os presbíteros da Igreja, que façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A
oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o levantará e, se tiver cometido pecado, será
perdoado” (Tg 5,14s).
 Obs: Estes textos não são provas do momento em que os Sacramentos
foram instituídos! Eles simplesmente mostram como o embrião de cada ação sacramental da
Igreja estava presente na ação de Cristo e dos Apóstolos por Ele enviados! Assim, cada
Sacramento nos remete a Cristo, que fez de sua Igreja Sacramento de salvação!
3º - Graça:
 Graça é um dom sobrenatural e interior de Deus, concedido para nossa
própria salvação. É a estreita união; é a sintonia com Deus. Um Sacramento dá a Graça por si
e em si, pelo seu próprio poder. Isto não quer dizer que nossa disposição interior não faça
diferença. As nossas disposições interiores, no entanto afetam a quantidade de graça que
recebemos. Quanto mais viva a nossa fé, tanto maior será a graça recebida. As nossas
disposições não causam a graça, simplesmente removem os obstáculos a sua recepção.
 As disposições de quem administra o Sacramento não influem no seu efeito.
A Graça santificante e graça do Sacramento – é o que, no Sacramento, não pode ser
percebido pelos sentidos. É a sua parte invisível, espiritual, é a parte mais importante. É a
presença de Deus na nossa alma: sua presença santificante e Sua ajuda especial ligada a
cada Sacramento. O Sacramento realiza aquilo que ele significa. Não é um sinal que
dependa da nossa convicção, da nossa fé, como acontece com a água benta e os demais
sacramentais. É um sinal que realiza, que faz aquilo que ele exprime. Se o rito do Batismo é
sinal da alma limpa do pecado original, nós sabemos com certeza de fé que, de fato, a alma
batizada foi limpa do pecado original...
 Assim, todos os Sacramentos, com uma cerimônia percebida pelos sentidos,
significam uma graça invisível, dada por Deus.

12
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 Mas de onde vem esse poder dos Sacramentos, de dar a graça? Eles têm
essa força porque foi Jesus Cristo quem os instituiu. Jesus realizou cada um deles pela
primeira vez e deu aos Apóstolos o poder de continuar a realizá-los. Devemos respeitar os
Sacramentos, a graça e o poder de Jesus Cristo que está neles, e recebê-los sempre
dignamente.
 
e) Elementos Constitutivos de um Sacramento:

 Os elementos que constituem os Sacramentos são: ministro, matéria, forma e


intenção. Se qualquer um destes elementos não for o correto, o Sacramento torna-se inválido,
isto é, inexistente.
 O ministro é a pessoa que pode ministrar o Sacramento. Alguns Sacramentos
possuem ministros ordinários, que são aqueles a quem normalmente é permitido ministrar o
Sacramento; como também ministros extraordinários por quem os Sacramentos podem ser
ministrados em situações especiais. Por exemplo, os ministros ordinários do Batismo são o
presbítero (padre), o bispo e o diácono, porém em situações especiais qualquer fiel pode
batizar: “Se alguém disser que todos os cristãos têm poder sobre a Palavra [forma] e sobre a
administração de todos os sacramentos: seja anátema”16.
 O ministro quando vai administrar um Sacramento se utiliza de fórmulas ou
expressões dadas pela Igreja para conferir ao fiel o Sacramento. Por isso, a forma do
Sacramento leva a designação comum de palavra. Porém utiliza também da matéria. Matéria é
o elemento usado no Sacramento. No Batismo, a matéria é a água; na Eucaristia é o pão sem
fermento e o vinho; na Confirmação é o óleo do crisma etc. Quando o Sacramento é
ministrado, forma e matéria (palavra e elemento) devem estar corretos.

“Unindo-se a palavra ao elemento, daí nasce o Sacramento. Era necessário juntar


palavras à matéria, para que mais claro e evidente se tornasse o processo sacramental. De todos
os sinais, as palavras têm a maior eficiência. Se faltassem, não seria óbvio averiguar o que
designa e demonstra matéria”17.

 Aos ministros além de utilizarem a forma e matéria própria para a validade de cada
Sacramento, também lhes é necessário realizar o Sacramento com a intenção correta.

“Se alguém disser que não se requer nos ministros, quando realizam e
conferem os Sacramentos, a intenção de, ao menos, fazer o que a Igreja faz: seja anátema”18.
 A eficácia do Sacramento não depende da santidade do ministro. S. Paulo certa
vez ensinou aos coríntios: “ Eu plantei, Apolo regou: mas quem fez crescer foi Deus. Por isso, o
que vale não é quem planta, nem quem rega, mas Deus que dá o crescimento ” (cf. 1Cor 3, 6).
16
Concílio de Trento, VII, X. (Denzinger 1610).
17
Santo Agostinho - Tratado sobre João, 80,3.
18
Concílio de Trento, VII, XI. (Denzinger 1611).
13
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Desta passagem se infere, com bastante fundamento, que, assim como às árvores não se
maculam pela maldade daqueles que as plantaram: assim também não contraem nenhum
dano próprio os que foram incorporados em Cristo, pelo ministério dos homens indignos e
pecadores.

“No ato sacramental, os ministros não representam sua própria pessoa, mas a
Pessoa de Cristo. Desta forma, sejam eles bons ou sejam maus, produzem e administram
validamente os Sacramentos, se aplicarem a forma e matéria que a Igreja sempre observou por
instituição de Cristo, e se tiverem a intenção de fazer o que faz a Igreja na administração dos
Sacramentos”19.

f) Quantos e Quais são os Sacramentos?

 Os Sacramentos são sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos


Enfermos, Ordem e Matrimônio. Razão de ser seu número não ser maior e nem menor pode-se
demonstrar por uma analogia entre a vida natural e a sobrenatural. Para viver, conserva-se,
levar uma vida útil a si mesmo e a sociedade, precisa de sete coisas: nascer (Batismo), crescer
(Confirmação), nutrir-se (Eucaristia), curar-se interiormente (Penitência), recuperar forças
perdidas (Unção dos Enfermos), ser guiado na vida social por chefes revestidos de poder e
autoridade (Ordem); e conservar-se a si mesmo e ao gênero humano, pela legítima
propagação da espécie (Matrimônio).

g) Eficácia dos Sacramentos:

 Na Antiga Aliança, Deus instituiu aos homens alguns sinais só para lhes significarem
ou recordarem alguma coisa. Tal era o simbolismo das purificações legais e as demais
cerimônias que constituíam o culto mosaico ou os Sacramentos da Antiga Aliança (cf. Lv 4, 5;
Ex 12, 15; 18,23). Porém, outros sinais Deus os instituiu com a virtude, não só de simbolizar,
mas também de produzir alguma coisa. Este é o caso dos Sacramentos da Nova Aliança, pois
possuem a virtude de produzir os santos efeitos que simbolizam.

“Se alguém disser que os Sacramentos da Nova Lei não contêm a graça que
significam, ou que, mesmo aos que não põe obstáculos, não confere essa graça, como se fossem
somente sinais externos da graça ou da justiça recebida pela fé e distintivos da profissão cristã,
pelos quais os homens distinguem os fiéis dos infiéis: seja anátema”20.
“Para chegarmos a uma definição mais explícita, devemos dizer que Sacramento é
uma coisa sensível que, por instituição divina, tem em si a virtude não só de significar, mas
também de produzir a santidade e a justiça”21.
19
Catecismo Romano, II,I,XIX.
20
Concílio de Trento, VII, 6. (Denzinger 1606).
21
Catecismo Romano, II,I,8.
14
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 Cada um dos Sacramentos exprime não só a nossa santificação e justificação, mas


também dois fatos intimamente ligados à própria santificação: a Paixão de Nosso Senhor
Redentor, que é causa eficiente de toda a santidade, bem como a vida eterna e a bem-
aventurança do céu, que são finalidades de nossa santificação. Por isso, a Igreja ensina que
em cada Sacramento existe uma tríplice virtude a significar: a) um fato passado a recordar; b)
assinala mostra um fato presente; c) anuncia um fato vindouro.

h) Razão da Instituição dos Sacramentos:

1. Fraqueza do espírito humano:


 Após a queda no pecado original, todo gênero humano tornou-se criatura
limitada que não consegue chegar ao conhecimento de coisas puramente espirituais, senão
por intermédio de percepções sensíveis.

“Se o homem não tivera corpo, os bens espirituais lhe seriam propostos a
descoberto, sem nenhum véu que os ocultasse. Mas, desde que a alma se acha unida ao corpo,
era de todo necessário que, para a compreensão daqueles bens, ela se valesse de objetos
adaptáveis aos sentidos”22.

2. Maior confiança nas promessas divinas:


 Nosso espírito dificilmente põe fé nas promessas que nos são feitas. Por isso é
que, desde o início do mundo, Deus sempre tornava a anunciar Seus desígnios, e em alguns
casos acrescentava às palavras outros sinais, como os milagres, para que assim os fiéis
pudessem crer em Suas promessas.
 Também Nosso Senhor Jesus Cristo, quando prometeu na Nova Lei a
remissão dos pecados, a graça santificante, a comunicação do Espírito Santo, instituiu também
certos sinais sensíveis, para que neles víssemos empenhada a Sua palavra e confiássemos
nela.
3. Medicação da alma pela Paixão de Cristo:
 Por causa da queda no pecado original, todo gênero humano precisa dos
auxílios da Graça para recobrar a saúde da alma. Sem esta ajuda do Alto, sozinhos somos
incapazes caminhar “até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do
Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. ” (Ef
4, 13).
4. União e distinção dos fiéis:
 Segundo Santo Agostinho23 nenhum grupo de homens pode constituir um
corpo jurídico, a título de verdadeira ou falsa religião, se os membros componentes não se
ligarem entre si, pela convenção de alguns sinais distintivos da sociedade. Ora, os
22
São João Crisóstomo, homilia 82,4 sobre Mateus.
23
Santo Agostinho - Contra Fausto - 19,11.
15
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Sacramentos da Nova Lei satisfazem essa dupla exigência, porque distinguem os infiéis dos
fiéis, e unem estes entre si, mediante um vínculo sagrado.
5. Profissão pública de fé:
 Ensinou S. Paulo: “Crê-se de coração para ser justificado. Mas, para ser salvo,
se faz confissão de boca” (cf. Rm 10,10). Pelos Sacramentos fazemos pública profissão de
nossa fé, e damo-la a conhecer aos homens.
6. Repressão do orgulho:
 Os Sacramentos domam e reprimem o orgulho do espírito humano, pois são
para nós uma escolha de humildade, onde somos obrigados a submeter-nos a elementos
sensíveis, em obediência a Deus, de quem nos havíamos impiamente separado, para fazermo-
nos escravos das coisas do mundo.

i) As Cerimônias Sacramentais:

 São os ritos aprovados pela Igreja para ministrar os Sacramentos. Não fazem
parte dos elementos constitutivos dos Sacramentos. Desde os primórdios da Igreja, sempre se
observou o costume de se administrar os Sacramentos com certas cerimônias solenes, para
que se desse prova que se tratavam de coisas santas.

“Se alguém disser que os ritos recebidos e aprovados pela Igreja Católica, que se
costumam empregar na administração solene dos Sacramentos podem, sem pecado, ser
desdenhados ou omitidos pelos ministros, segundo seu arbítrio, ou mudados em outros novos
por qualquer pastor da Igreja: seja anátema”. 24

j) Efeitos dos Sacramentos:

 Embora todos os Sacramentos comportem em si uma virtude admirável e divina,


mas nem todos são igualmente necessários e nem possuem a mesma graduação e finalidade.
 Entre eles, existem três que a Igreja considera mais necessários, embora não o
sejam por razões idênticas. São eles: Batismo, Penitência e Ordem. A Eucaristia é considerado
o Sacramento mais excelente, seja pela sua santidade, número e grandeza de mistérios.
 Didaticamente são separados entre Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo,
Confirmação e Eucaristia), os Sacramentos de Cura (Penitência e Unção dos Enfermos) e
aqueles referentes ao Serviço e Missão dos fiéis (Matrimônio e Ordem).
 Outra diferença entre os Sacramentos é quanto ao efeito. Todos os Sacramentos
produzem o efeito santificador ou graça santificante, porém apenas três deles conferem à alma
um caráter indelével: Batismo, Confirmação e Ordem. Diz o Apóstolo: “ Foi Deus quem nos
ungiu, quem nos marcou com o Seu selo, e pôs em nossos corações o penhor do Espírito ” (cf.

24
Concílio de Trento, VII, XIII. (Denzinger 1613).
16
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2Cor 1, 21). Ora, com as palavras marcou com o Seu Selo designou bem claramente esse
caráter, cuja propriedade natural é por selo ou fazer marca.
 O caráter tem por finalidade capacitar-nos para a recepção ou exercício dos
Sacramentos. O caráter batismal encerra ambos os efeitos. Dá-nos aptidão para receber os
demais Sacramentos, e faz com que o povo fiel se distinga dos pagãos, que não professam a
fé. O mesmo se verifica no caráter da Confirmação e da Ordem. O caráter da Confirmação nos
arma soldados de Cristo; prepara-nos para anunciar e defender o Seu nome, para lutar contra
o inimigo em nosso interior, e contra os espíritos malignos nas alturas; distingue-nos, ao
mesmo tempo, dos neo-batizados que são ainda, por assim dizer, criancinhas recém-nascidas.
O caráter da Ordem confere o poder de fazer e administrar os Sacramentos, e distingue dos
outros fiéis detentores de tal poder. Por conseguinte, devemos aceitar o dogma da Igreja
Católica, pelo qual estes três Sacramentos imprimem caráter, e não podem jamais ser
reiterados.25

“Se alguém disser que nos três Sacramentos a saber: Batismo, Confirmação e
Ordem, não se imprime um caráter na alma, isto é, um certo sinal espiritual e indelével, razão
por que não podem ser reiterados: seja anátema”.26

k) Os Sacramentos como necessidade para a Salvação:

 Os Sacramentos são necessários para a salvação, porque conferem as graças


sacramentais como o perdão dos pecados, a adoção de filhos de Deus, a conformação a Cristo
Senhor e a pertença à Igreja. O Espírito Santo cura e transforma aqueles que os recebem.
Estes sinais Cristo confiou à sua Igreja, portanto, os Sacramentos são da Igreja, sendo ação de
Cristo, e a edificando. Existe uma relação íntima entre os Sacramentos e a fé, estes não
apenas supõem a fé como também, por meio das palavras e elementos rituais, a alimentam,
fortificam e exprimem. Ao celebrá-los, a Igreja confessa a fé apostólica, isto é, a Igreja crê no
que reza.
 Portanto, os Sacramentos possuem um selo espiritual de proteção divina,
configurando o cristão a Cristo, sendo, pois, consagrado ao culto divino e ao serviço da Igreja.
Enfim, neles há uma graça do Espírito Santo, dada por Cristo e própria de cada Sacramento.
 Essa graça ajuda o fiel no seu caminho de santidade, bem como no crescimento da
caridade e do testemunho. Dessa forma, o mergulho profundo no mistério dos Sacramentos,
por intermédio do conhecimento da fé, conduz o cristão ao próprio Cristo.
l) Os Sacramentos e os Protestantes:

 A maioria dos grupos eclesiais protestantes mantém o Batismo e o Matrimônio.


Alguns praticam a “Ceia do Senhor” e certa espécie de ordenação para o ministério (pastoral).

25
Catecismo Romano, II,I,25.
26
Concílio de Trento, VII,IX. (Denzinger 1609).
17
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

Confirmação, Penitência e Unção dos Enfermos são menos praticados entre os cristãos
separados. Pode-se afirmar que estes grupos eclesiais consideram seus Sacramentos como
gestos, votos ou testemunhos, cujo valor reside em simbolizar uma realidade espiritual. A
pergunta que surge é: “em que se diferenciam os Sacramentos católicos dos seus equivalentes
no Protestantismo?”.
 A diferença entre o conceito católico e o protestante está na apreciação da
realidade que subjaz ao sinal: para o católico, o sinal é a evidência de algo que não pode ser
facilmente visto, como, por exemplo, as pintinhas vermelhas na face de uma criança nos dão a
evidência de que está com sarampo, que é uma realidade à qual o sinal está sujeito, realidade
que não pode existir separada do sinal. Para o protestante em geral, o sinal é puramente
simbólico, como o uniforme desportivo que identifica um atleta em uma competição. Dessa
maneira, para o protestante, o Batismo é um testemunho ao mundo de sua fé em Cristo; para o
católico, o Batismo não somente é testemunho como também o início de um processo
regenerativo que conduz a pessoa à sua plenitude em Cristo. Tanto o sinal (isto é, a aspersão)
quanto o processo de regeneração que se segue são partes inseparáveis do Sacramento.

8. OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃ O CRISTÃ :


A prática sacramental da Igreja habituou-nos a conceber Batismo e Confirmação
como dois Sacramentos independentes 27, celebrados em distintos momentos cronológicos e
em circunstâncias vitais diferentes.
Contudo, devemos lembrar que não havia nos inícios da Igreja uma forma exclusiva
de celebrar o Batismo. Até o séc. IV predominaram três tradições: 1) a de Hipólito (baseada em
At 8,14-17; 19,1-7), incluindo outros ritos após o banho batismal; 2) a da Didaché (baseada em
Mt 28), insistindo apenas no banho batismal; 3) a dos Atos de Tomé, na Igreja Siríaca
(baseada em At 10,44-48; 9,17-18), evocando uma unção pré-batismal antes do banho.
A Igreja Oriental jamais separou os dois Sacramentos, Batismo e Crisma, nem pelos
seus ministros ou tampouco pela ocasião celebrativa. Hoje, percebe-se que a prática latina
(ocidental) incorre no perigo de fazer com que cada um dos dois Sacramentos viva do
enfraquecimento do outro. Muitas vezes o teólogo ou o sacerdote é forçado a dizer, buscando
um significado para a Confirmação, que o Batismo não confere em plenitude o Espírito Santo,
não obstante a afirmação contrária das Escrituras. Ou então se recorre a uma artificial teologia
dos “dons do Espírito”, como se o profeta em Is 11 houvesse de fato feito uma lista de
diferentes dons, qual insigne mestre da escolástica.
Além da acomodação feita pela Septuaginta ao sexteto originário do texto hebraico
(acréscimo da característica “piedade” configurando com o nº 7 o aspecto simbólico de
plenitude), a teologia escolar posterior, sobretudo com Tomás de Aquino, ignora o gênio
literário semita com suas simetrias e paralelismos, distinguindo com mil sutilezas os conceitos
de Is 11 que, na intenção do profeta, tinhas apenas a finalidade de expressar com exuberância
27
Pe Fantico Borges – teologia dos sacramentos.
18
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

semítica a ação do Espírito sobre o Ungido. Hoje, a opção por considerar os Sacramentos do
Batismo e da Confirmação em sua unidade é reforçada pela tendência atual de reconhecê-los,
juntamente com a Eucaristia, como Sacramentos da Iniciação Cristã.

Na verdade, o que se busca é um “retorno” à prática Sacramentos da Igreja


Primitiva. Nos primeiros séculos da Igreja, a iniciação cristã teve um grande desenvolvimento,
com um longo período de Catecumenato e uma série de ritos litúrgicos preparatórios a serem
finalizados com a celebração dos Sacramentos da Iniciação Cristã. Também, com a
generalização do Batismo das crianças, a iniciação cristã tornou-se um ato único28.

Do século II ao V, a Igreja no Oriente e no Ocidente empregou um processo de


Catecumenato de incorporação gradual na comunidade que oferecia um modelo de
conversão e desafiava os já iniciados. Nesse processo, os Sacramentos do Batismo,
Confirmação e Eucaristia formavam uma experiência sacramental unificada que
frequentemente exigia um longo período de formação evangélica. São diversas as
características deste modelo de Catecumenato clássico: há clara relação entre fé e
Sacramento; o catecúmeno está suficientemente maduro para solicitar a iniciação da fé; a
comunidade eclesial local tem a responsabilidade de discernir os compromissos práticos
implicados na conversão; o processo do Catecumenato envolve ativamente toda a comunidade
de vários modos; a autoconsciência e missão da igreja local refletem-se no modo em que ela
prepara seus catecúmenos; a natureza unificada dos Sacramentos da Iniciação é evidente; o
Mistério Pascal é central para o processo de iniciação 29.
A antiga tradição da Igreja viveu a iniciação dos três Sacramentos exatamente como
iniciação a todos os três juntos: eles eram conferidos em celebração única, mesmo às
crianças. A sucessão dos três ritos nos é descrita desde o século II em texto já clássico de
Tertuliano:

“O Corpo é lavado, para que a alma seja purificada; o corpo é ungido para que a
alma seja consagrada; o corpo é assinalado (com o sinal-da-cruz) para que a alma seja
fortificada; o corpo é sombreado (pela imposição das mãos) para que a alma seja iluminada
pelo Espírito Santo; o corpo é alimentado com o Corpo e o Sangue de Cristo para que a alma se
nutra de Deus”30.
Pode-se dizer que, na Igreja ocidental, de uma visão teológica e prática sacramentária
da iniciação cristã, essencialmente unitária no primeiro milênio, passou-se, a partir do
século X, à separação progressiva e finalmente ao desprendimento total dos dois polos em
que se articulava a única celebração. Tal visão, porém, permaneceu intacta até hoje na
tradição oriental31.
28
Dom Volodemer Koubetch, OSBM - Sacramentos Da Iniciação Cristã.
29
Cf. Duffy, Regis A. Batismo e confirmação.
30
Tertuliano, De resurrectione 8: CCL 2, 931.
31
Para maiores detalhes históricos, ver: Nocent, Iniciação cristã, 595-599.
19
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

“Iniciação” remete às religiões mistéricas da época helenista, por exemplo, culto


de Mitra32, quase contemporâneo à entrada do cristianismo em Roma. Isto não significa que a
Igreja de Roma tenha copiado os ritos pagãos para construir a sua “iniciação”. Certas
semelhanças e simbolismos, como o da água, são conaturais a toda cultura para exprimir a
purificação. Na realidade, a iniciação cristã se refere às etapas indispensáveis para entrar, “em
espírito e verdade”, na comunidade eclesial e no seu culto. Era principalmente a etapa do
catecumenato33.

Sem querer exagerar o sentido da disciplina chamada “do arcano” 34, não podemos
esquecer que, na Igreja primitiva, os ritos de iniciação eram secretos. As catequeses dos
Padres nos demonstram que a explicação em pormenores dos ritos ocorria quando os
catecúmenos já haviam passado pela experiência vital dos Sacramentos da Iniciação. Esta
catequese era essencialmente “mistagógica”35. Depois de receber os Sacramentos da
Iniciação, os catecúmenos passavam a ser chamados neófitos36.
No contexto histórico do Protestantismo, trabalhou-se apologeticamente o problema
da instituição da Crisma por Jesus Cristo em conexão direta com o problema do rito,
enquanto a reflexão sobre os efeitos e o significado salvífico da Crisma repetia a doutrina
escolástica do augmentum gratiae et robur ad pugnam (O aumento de graça e a força de
batalha), sem aprofundamentos notáveis.
Em tempos recentes, as discussões pré e pós-conciliares (CVII) no plano teológico
foram muitas, fazendo aparecer numerosas teses. Os protestantes, com diferentes matizes
entre anglicanos e calvinistas, não aceitavam uma nítida distinção entre Confirmação e
Batismo e negavam qualquer caráter sacramental próprio e específico.
A Teologia Católica se concentrava no fato de o Sacramento conferir o Espírito,
relacionando-o com o Batismo e tendo em vista a sua finalidade precípua identificada com a
missão e, particularmente, com o testemunho, para o qual o crismando se acha capacitado.
Nesta teoria, o Batismo é visto como o Sacramento do nascimento e a Confirmação como o do

32
Mitra ou Amigo é o deus do sol, da sabedoria e da guerra na mitologia persa.
33
Catecúmeno: do grego katechumenos, de katechô, instruo, inicio – candidato ao Batismo. Catecumenato: estado do
catecúmeno. Período de formação religiosa e moral, preparatória do Batismo: a duração do Catecumenato varia segundo
os tempos e lugares. Organização da instrução e do treino dos catecúmenos numa região ou província, numa diocese ou
numa zona urbana. Hoje, há centros de Catecumenato não só nos países de missão propriamente ditos, mas também nos
países de antiga cristandade, onde as conversões de adultos se tornam frequentes.
34
Arcano: do latim arcanum, secreto. Lei que, nos primeiros séculos da Igreja, teria proibido aos cristãos falar abertamente
de certos ritos diante dos catecúmenos e dos não-cristãos.
35
Mistagogia: do grego mystes, iniciado e agein, conduzir – iniciação nos mistérios. Na antiguidade cristã, o termo designava
sobretudo a explicação teológica e simbólica dos ritos litúrgicos da iniciação, em particular dos do Batismo e da Eucaristia.
Título de uma obra de São Máximo Confessor (século VII) sobre a Eucaristia. Mistagógico: relativo à iniciação nos mistérios.
Catequeses mistagógicas: instruções dadas aos neófitos pelos Padres, para lhes explicar os ritos da sua iniciação. Cinco
catequeses pós-batismais atribuídas tradicionalmente a São Cirilo de Jerusalém, mas que seriam mais provavelmente do
seu sucessor João (século IV).
36
Neófito: do grego neos e phyein, fazer nascer. Nome dado, na antiguidade cristã, aos novos batizados enquanto que
acabavam de nascer para uma nova vida. Atualmente, diz-se, por vezes, dos adultos que acabam de receber o Batismo no
termo de seu Catecumenato.
20
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crescimento ou do amadurecimento espiritual. Os dois acabam sendo ritos de passagem.


Finalmente, foi apresentada outra tese, sugerida pela presença do bispo, segundo a tradição
antiga e comum: a Confirmação é o Sacramento da comunhão eclesial, da plena
incorporação do batizado à Igreja37.
O Catecismo da Igreja Católica § 1233, diz: “...em todos os ritos latinos e orientais, a
iniciação cristã dos adultos começa com a sua entrada no catecumenato, para atingir o ponto
culminante na celebração única dos três Sacramentos, Batismo, Confirmação e Eucaristia (cf.
AG, 14; CIC §§851,865-866).
No Ocidente, sobretudo por razões pastorais, para as crianças, os três Sacramentos
são separados no tempo: a Confirmação é conferida aproximadamente na idade do
discernimento (CDC, 891) e para a Santíssima Eucaristia se exige suficiente conhecimento e
preparação esmerada (CDC, 913). A prática da Igreja latina evidencia mais nitidamente a
comunhão do novo cristão com o próprio bispo, fiador e servo da unidade da Igreja, de sua
catolicidade e de sua apostolicidade, e, consequentemente, o liame com as origens apostólicas
da Igreja de Cristo”38.

a) Enquadramento teológico atual:

O Concílio Vaticano II se destacou principalmente pelo grande impulso que deu à


reforma litúrgica, dando às suas celebrações caráter mais eclesial, comunitário, participativo.
Seus atos são atos de todo o povo de Deus na Igreja e para a Igreja, fundamentada em Cristo,
motivada pelo Espírito de Cristo. O Concílio pediu também a volta às fontes, à Bíblia, à
Patrologia... Nesta volta às fontes, muita coisa valiosa e original se descobriu. Um desses
aspectos redescobertos, no âmbito dos Sacramentos, é a visão unitária dos chamados
Sacramentos da Iniciação Cristã: Batismo, Confirmação e Eucaristia: a convicção de que esta
deve ser colocada no quadro unitário dos Sacramentos da Iniciação Cristã e considerada no
contexto da vida eclesial. Este é o lugar interpretativo mais adequado para encontrar o
sentido e o valor do Sacramento da Confirmação. A Igreja tomou consciência de que a
Confirmação não é simples gesto ritual, mas ato qualificante e decisivo para o batizado e
momento revelador da própria identidade de comunidade animada pelo Espírito e da sua
missão no mundo, momento a que ele é estimulado a alcançar pelo Espírito do Ressuscitado.
A unidade dos três Sacramentos da Iniciação Cristã não é apenas um critério
perseguido com tenacidade pela reforma litúrgica, mas é; sobretudo um princípio teológico
reafirmado e precisado no seu fundamento e nas suas finalidades. Por causa desta unidade
entre os três Sacramentos, a Confirmação requer ser compreendida e valorizada na sua
relação dinâmica com o Batismo e a Eucaristia.

Os três Sacramentos se baseiam na unidade do Mistério Pascal; são três ritos


significativos e operativos do mesmo mistério, destinados a operar a configuração progressiva
37
Cf. Falsini, Confirmação, 217-218.
38
Salachas, D. Sacramenti di iniziazione.
21
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e completa do crente com Cristo na Igreja, a construir a sua identidade cristã e eclesial. O
Batismo faz nascer a nova vida; a Crisma aperfeiçoa esse nascimento e leva-o à maturação; a
Eucaristia cumpre, recapitula e consuma.

Erraria a catequese que apresentasse cada um deles isolado dos outros, como
algo que, uma vez recebido, fica definitivamente encerrado, passado. Se o Batismo e a
Confirmação se recebem só uma vez, a Eucaristia, que foi instituída para ser continuamente
repetida, renova cada vez tudo o que foi doado com os dois primeiros Sacramentos.

b) Unidade dos Três Sacramentos da Iniciação39:

O Batismo é a primeira entrada para a participação no Mistério do Senhor. Marca o


início de um processo de identificação com Cristo. A Crisma complementa a configuração do
batizado a Cristo, uma vez que lhe confere o dom do Espírito Santo e o conecta a graça do
Evento Pentecostes que fez nascer a Igreja. Abrindo-se o caminho para a participação da
Eucaristia. Assim sublinha o Catecismo da Igreja Católica: “ os fiéis, de fato, renascidos no
Batismo, são fortalecidos pelo Sacramento da Confirmação e, depois, nutridos com o alimento
da vida eterna na Eucaristia” (CIC § 1212).
Por isso tudo se diz que o Batismo e a Crisma nos direcionam para a Eucaristia. Na
Eucaristia se atualiza a expressão máxima do amor trinitário: nela, nós nos tornamos
portadores da vida eterna e participantes do grande sacrifício universal da Cruz (RICA, 2).
O Batismo é a promessa de Eucaristia e tendência para ela. A Crisma é a exigência
de Eucaristia, uma vez que a força da testemunha vem de sua ligação vital com o Cristo e seu
Espírito. A Eucaristia é, pois o Sacramento da plenitude, pois realiza plenamente o que os dois
outros Sacramentos anunciam.
Do ponto de vista dos três Sacramentos da Iniciação, a Eucaristia é uma culminância,
um sinal de plena e definitiva inserção na Igreja. Participando da mesa eucarística, o crente se
alimenta e se sente cada vez mais membro da Igreja.

9. O SACRAMENTO DO BATISMO:
No NT, a conversão cristã é descrita como sendo a passagem do pecado, da lei e
da morte para nova existência na graça, com liberdade e vida. Segundo os Atos dos Apóstolos,
o Batismo concede o perdão dos pecados, a purificação do coração e a libertação da morte,
assim como, de uma maneira mais positiva, exprime a recepção do dom do Espírito Santo com
seus frutos recriadores e a incorporação à Igreja, em meio a uma profunda participação no
Mistério Pascal de Cristo (cf. At 2,38)40.
39
Sacramentos da Iniciação Cristã - Texto de Dom Leomar Brustolin em www.ivcpoa.com.br
40
Pe Fantico Borges - teologia dos sacramentos.
22
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A conversão possui dois sentidos: um mais antropológico41 e outro mais


teológico42. Em seu sentido antropológico, a conversão se torna condição para todos num
compromisso histórico transformador. Consiste na resposta construtiva a um apelo ético que
brota da experiência, no encontro com o semelhante. No plano ideológico, a conversão
retrata a passagem de uma consciência individualista fechada para uma consciência
comunitária e solidária. Incorporando e dando consistência ao plano antropológico, vemos a
conversão em seu sentido propriamente teológico e cristão.
A conversão cristã é simbolicamente evocada no Rito Sacramental do Batismo
através da passagem do batizando pela água. Se a imersão na água denota a volta ao caos
original (cf. Gn 1,1), a descida aos infernos, submergindo na morte, a emersão retrata o
dinamismo da ressurreição, gerador e recriador de vida nova. Realizado “ em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo”, o gesto batismal exprime a magnitude de uma nova existência
plasmada à perfeita imagem da Santíssima Trindade, chamada, pois, à vida em Comunhão.
O Batismo acontece na fé da Igreja. A fé pessoal de cada fiel está sempre remetida à
fé de toda a comunidade crente. Ninguém se converte sozinho para Deus e para o irmão.
Uma mútua e rica cooperação de fé e de vida entre os diversos membros da comunidade é o
pressuposto necessário para a plena frutificação da graça batismal. Crer supõe também a
abertura do fiel para dar aos outros a própria fé.

a) O Batismo:

Quando Cristo enviou a seus Apóstolos por todo o mundo, disse-lhes: “ Ide, pois, e
fazei discípulos a todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo ”
(Mt 28,19). “O que crer e for batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado ” (Mc
16,16).
São Paulo explica que pelo Batismo morremos ao pecado e ressuscitamos para a
vida nova da graça. Nascemos com o pecado herdado de nossos primeiros pais (pecado
original), e como consequência, somos privados da graça. Cristo, porém, nos livrou deste
pecado com sua morte e ressurreição. Sua morte nos limpa e nos faz morrer ao pecado; sua
ressurreição nos faz renascer e viver a vida nova. O Batismo é o Sacramento que dá a cada
batizado os frutos da Redenção, para que morramos ao pecado e ressuscitemos para a vida
sobrenatural da graça ao nos tornarmos filhos adotivos de Deus.
1) O pecado original:
Todos que nascem, além de herdar o DNA, os genes, as características e a
aspectos da personalidade dos pais e da humanidade, herdam também a inimizade com Deus,
que recaiu sobre o gênero humano e uma tendência (concupiscência) de ruptura com Deus

41
Relativo à antropologia. A Antropologia é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano. É um termo
de origem grega, formado por “anthropos” (homem, ser humano) e “logos” (conhecimento).
42
Relativo à Teologia. A Teologia é o estudo da existência de Deus, das questões referentes ao conhecimento da divindade,
assim como de sua relação com o mundo e com os homens. Do grego “theos” (deus, termo usado no mundo antigo para
nominar seres com poderes além da capacidade humana) + “logos” (palavra que revela), por extensão “logia” (estudo).
23
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que nos deixa incapazes de viver na Graça. O pecado original foi a primeira desobediência de
Adão e Eva e que como consequência fragilizou a natureza humana.
2) Purificação:
Deus, contudo, em sua bondade, quis restabelecer a amizade perdida e mais
ainda: quis que participássemos de sua vida divina (cf. Ef 1, 4-6). O meio encontrado pela
Trindade foi o envio do Filho. Já o sinal que Cristo instituiu para que o ser humano possa
nascer para esta vida sobrenatural é o Batismo! (Mc 16,16 e Jo 3,5). Assim, o Batismo, e
consequentemente a entrada na Igreja, são necessários à salvação para aqueles que tomam
conhecimento de Jesus Cristo (LG 14). Já quem não o pôde conhecer recebe os méritos da
Redenção de Cristo, uma vez que Ele morreu por todos e, desde que, a pessoa viva de acordo
com a reta razão, com a lei natural inscrita na consciência humana. Desse modo o único
meio de Salvação é Jesus Cristo.
É importante que se diga que pelo Batismo nos tornamos filhos adotivos de
Deus, capazes da Graça, aptos para viver conforme os dons e carismas que Ele concede ao
longo da existência cristã.
3) O que é Batismo?
Batismo43 quer dizer imersão, banho, mergulho... Por isso trata-se de uma
purificação feita com água que lava do pecado original e dá ao batizado uma nova condição de
existência. Confere uma vida nova.
O Batismo é o Sacramento instituído por Jesus Cristo, que nos faz seus
discípulos e nos regenera para a vida da graça, mediante a purificação com água e a
invocação das três Pessoas divinas. No entanto, é uma atitude externa de uma atitude interna,
que acontece antes: a pessoa ouve falar de Jesus Cristo, crê Nele como único Senhor e
Salvador, tem o coração inflamado de amor vindo Dele e deseja ardentemente ser seu
discípulo, então pede o Batismo (At 8,26-38).
A matéria deste Sacramento é a água, e a forma são as palavras: “Eu te batizo
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

4) Quem pode administrar o Batismo?


O ministro do Sacramento do Batismo é o ministro ordenado (bispo, o padre ou
diácono), mas em caso de necessidade qualquer pessoa pode batizar (CDC, 861).
A razão está em que sempre é Cristo quem batiza, como observa Santo
Agostinho: “Batiza Pedro? Cristo batiza. Batiza João? Cristo batiza ”. O motivo pelo qual a
Igreja reserva esse Sacramento aos ministros ordenados é o de inserir o batizando no Corpo
Místico de Cristo que é a Igreja.
Em situações do passado recente, especialmente nos
interiores, havia o costume de se batizar em casa em função do medo de que a
criança, por falta de recursos médicos, de saúde e de nutrição, viesse a falecer antes que um
43
Segundo o Dicionário Brasileiro Globo (1987) a palavra batismo vem do grego Baptismu, que significa imersão; ablução. O
Dicionário Eletrônico Houaiss (2001) define a palavra batismo como vinda do gr. Baptismós, adaptada para o latim
baptismus, com significado de ablução e imersão.
24
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padre pudesse batizá-la, dado que naquela circunstância os padres atendiam muitas
comunidades e tardavam a retornar às mesmas. Nos dias de hoje, o Batismo em casa não se
justifica. No entanto, em perigo de morte qualquer pessoa poderia batizar e depois
notificar a Igreja.
5) Como se batiza?
Ao batizar se derrama água sobre a cabeça da pessoa dizendo, com intenção de
batizar: “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo ”. Isto é o centro da
cerimônia. Há outros ritos complementares, mas este é o núcleo.
6) E quando alguém não teve a oportunidade de ser batizado?
O Batismo é necessário para a salvação, como declarou Jesus a Nicodemos:
“Em verdade, em verdade te digo, que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode
entrar no Reino dos céus” (Jo 3,5).
 Quando não é possível receber o Sacramento do Batismo, pode-se alcançar a
graça para salvar-se pelo chamado Batismo de Desejo, um ato de perfeito amor a Deus, ou a
contrição dos pecados com o desejo explícito ou implícito de ser batizado, e pelo Batismo de
Sangue ou martírio, que é dar a vida por Cristo. Portanto, alguém pode morrer sem ser
batizado, mas ter desejado receber o Sacramento e, por isso, seu desejo lhe confere a graça
do Batismo. Igualmente se alguém morre por causa de Cristo, derrama seu sangue por Ele, e
mesmo não sendo batizado seu martírio confere um Batismo especial.
8) Os efeitos do Batismo:
 Remissão de todos os pecados (Original e Atual): O Batismo apaga todos
os pecados. O pecado original devido pela culpa de nossos primeiros pais. Os pecados atuais
devidos por nossas próprias culpas, caso o batizado seja de um adulto, ele será totalmente
purificado dos pecados cometidos até então. " Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados" (At 2,38).
 Infusão da graça, dos dons do Espírito Santo e das Virtudes: O Batismo
infunde na graça santificante que nos torna filhos adotivos de Deus e nos confere o direito da
glória do Céu. Infunde também os dons do Espírito Santo e todas as virtudes.
 Impressão do Caráter: O Batismo, uma vez validamente conferido, não mais
poderá ser repetido. O Batismo grava na pessoa uma marca como um sinal indelével que nos
diferenciará para sempre de todos quantos não são batizados.
 Incorpora a Jesus Cristo: Tanto a graça como o caráter são efeitos
sobrenaturais do Batismo, que nos unem a Cristo como se unem os membros do corpo com a
cabeça. Cristo é nossa Cabeça e o caráter nos vincula a Ele para sempre, enquanto que a
graça nos faz membros vivos.
 Incorpora à Igreja: Pelo Batismo nos convertemos em membros da Igreja,
com direito a participar na Sagrada Eucaristia e a receber os demais Sacramentos; sem ser
batizado não se pode receber nenhum outro Sacramento. A pessoa torna-se membro da Igreja
Católica, um sujeito de direitos e de responsabilidades para com a Igreja (CDC – 204-231). A

25
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Igreja é o Corpo Místico de Cristo, e o Batismo nos incorpora a Cristo, que é a Cabeça, e a seu
Corpo, que é a Igreja (LG 7.14.32).

b) A Celebração do Batismo:

 Após o Concílio Vaticano II, o Rito do Batismo realiza-se preferencialmente


dentro da celebração eucarística, a fim de dispor toda a assembleia cristã ao acolhimento do
novo membro e envolvê-la no compromisso de ajudar o novo cristão a crescer na fé. O rito
acontece por infusão, isto é, por meio do derramamento de água sobre a cabeça do batizando,
podendo ser por imersão se houver as condições apropriadas.
 Padrinhos: Junto aos pais, durante o rito, há um padrinho e uma madrinha: estas
figuras representam as pessoas que se comprometem com seu testemunho a ajudar os pais,
ou a substituí-los, na formação cristã do batizado (CDC, 872-874; RICA,10).
 O Ritual: O Ritual do Batismo deve ser sempre observado pelo Celebrante que
não pode a seu critério, omitir alguns ritos. A preparação para o Sacramento do Batismo
comporta uma compreensão do rito que se realiza e da Teologia do Batismo.
 Partes do Rito: São quatro as partes principais do Rito Batismal: 1) Acolhida; 2)
Liturgia da Palavra; 3) Liturgia do Sacramento; 4) ritos complementares.
 São símbolos significativos do rito:
1) NOME:
 O Batismo inicia com o chamado de cada criança pelo nome. Ter um nome,
conforme a Bíblia significa ser eleito. Fomos escolhidos por Deus para termos vida, por isso
nascemos e temos um nome que dá dignidade e importância. No Batismo recebemos o nome
de cristão que remete imediatamente a Cristo.
2) PEDIDO DO BATISMO FEITO PELOS PAIS:
 Pedir o Batismo é uma opção consciente e madura, que supõe uma mudança
radical. Só o adulto pode fazer isto. Por isso os pais, ao pedir o Batismo na Celebração,
comprometem-se em seguir Jesus Cristo e serem testemunhas de Cristo para a criança.
3) SINAL DA CRUZ:
 Recorda a morte de Cristo na Cruz e sua vitória. Por ela recebemos a
salvação: a Ressurreição. O sinal do cristão é a cruz de Cristo. Por isso a fronte da criança é
marcada com este sinal muito significativo para nossa vida.
4) LITURGIA DA PALAVRA:
 O Batismo tem sua fundamentação na Palavra de Deus. É ela que comunica
a nós o projeto do Pai para seus filhos. Inicialmente ouvimos uma leitura da Bíblia (geralmente
o Evangelho de Jesus). O padre ou o ministro faz uma breve homilia (explica a mensagem
desta passagem bíblica). Após, realizam-se as preces da Comunidade, como resposta à
Palavra de Deus e, finalmente, evoca-se a presença de muitos batizados que, por terem
assumido o compromisso de sua fé, são santos. Isto é feito através da ladainha dos santos.
5) IMPOSIÇAO DAS MÃOS:

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 Cristo impôs as mãos quando abençoou, curou, ou dominou a natureza e


expulsou o mal (exorcismo). Este gesto significa a força de Deus. No Batismo a imposição das
mãos significa a libertação do mal (pequeno exorcismo) e a invocação dos dons divinos sobre
a pessoa, para que a criança possa servir a Deus com alegria, contando com a proteção de
Deus.
6) ÓLEO DOS CATECÚMENOS:
 A criança é ungida no peito com óleo dos catecúmenos (aqueles que iniciam
a sua vida de cristãos). É um sinal de alegria e acolhimento. Assim como o óleo penetra e dá
sabor aos alimentos, este óleo é colocado na criança para recordar que Cristo deve ser a sua
força e lhe dar o sentido e o sabor da vida. Os atletas são ungidos com óleo para fortificarem
os músculos e se protegerem dos adversários. O cristão é ungido para lutar contra os sinais de
morte e fazer vencer a vida sempre.
7) BÊNÇÃO DA ÁGUA:
 A água é fonte de vida. Ninguém vive sem a água, ela refresca, sacia a sede
e renova a vida. A água é o símbolo mais importante do Batismo. Assim como a água lava,
limpa, purifica, a água batismal (não qualquer água, mas a água “consagrada” pela oração da
Igreja que roga a vinda do Espírito Santo sobre ela - epiclese  – no Batismo o Espírito Santo
vem sobre a água que será derramada (Ritual do Batismo de Crianças,138), purifica os
pecados e deixa a pessoa predisposta para Deus. Deus usou a água para se comunicar e
mostrar a sua presença e ação junto do povo:
→ na criação, o Espírito pairava sobre as águas (ver: Gn 1,2);
→ no dilúvio, Deus destruiu os vícios e deu um novo começo para a
humanidade (Gn 7,1 ss);
→ na travessia do Mar Vermelho, Deus usou as águas para ser um sinal de
libertação da escravidão do Egito (ver: Ex 14,1ss).
→ Jesus é batizado nas águas do rio Jordão (Mt 3,13-17);
→ no lado esquerdo de Cristo crucificado, jorrou sangue e água que
significam a nossa salvação realizada na cruz (Jo 19,34).
→ após a ressurreição, Jesus enviou os discípulos para “ensinar todos os
povos e batizá-los em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,16-10).
→ A oração de bênção da água batismal tem sua força e beleza no recordar
de toda essa história da salvação.
 O mergulho na pia batismal recorda a morte e o sepultamento de Cristo
(ver: Rm 6, 3-6). Após o banho, o homem novo sai do pecado como Cristo saiu da sepultura e
ressuscitou. Como Cristo ressuscitou dos mortos, os batizados vivem uma vida de filhos de
Deus. Tudo isto acontece pela Graça de Deus que opera na criança batizada.
8) RENOVAÇÃO DAS PROMESSAS BATISMAIS:
 Durante a bênção da água realiza-se a renovação das promessas do
Batismo. Pais e padrinhos renovam o seu compromisso de abandonar o caminho do mal

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(Renunciam ao mal e a Satanás - 3 x) e seguir a pessoa e a mensagem de Cristo (Professam a


fé em Cristo 3 x).
9) UNÇÃO DO CRISMA:
 O óleo do Crisma simboliza a força do Espírito Santo que impulsiona o cristão
a viver o Evangelho. Durante a unção é proferida a seguinte oração: “Fazes parte do Povo de
Deus”, isto é, a criança faz parte da Igreja de Cristo e, por isso, deve continuar a missão dele
que é ser profeta (denunciar o erro e a injustiça e anunciar a Boa Nova: a vida de Jesus
Cristo), sacerdote (deve servir e celebrar o Deus da Vida, santificando os ambientes e a vida
mediante uma vida de oração) e rei (deve cuidar dos
fracos e pobres, governar e coordenar aquilo que estiver ao seu alcance como Deus
coordenaria).
 10) A ENTREGA DA VELA (LUZ):
 A vela é o símbolo da fé, da luz. Deus é luz e nós somos filhos da Luz (1Ts
5,5; Tg 1,17). A entrega da vela é o símbolo da passagem das trevas para a luz. O batizado
deve ser uma lâmpada acesa no meio do mundo (Mt 5,14), dando testemunho de Deus e
denunciando as injustiças ou trevas.
11) A VESTE BRANCA:
 A roupa branca representa a vestimenta das criaturas novas. Recorda o
Cristo cheio de Glória. Estar de branco significa estar revestido de Cristo. O branco acusa
qualquer mancha por isso a veste remete à ideia de ser fiel a Cristo, sem máculas (egoísmo,
comodismo, falta de fé...).
12) SAL:
 No rito antigo utilizava-se o sal como símbolo do sabor que o cristão deve ter
no mundo (Mt 5,13). Ele deve ser sal da terra e luz do mundo. Embora o simbolismo seja
significativo, ele foi abolido por questões de higiene e funcionalidade.
13) ÉFETA44 (Facultativo):
 Esta é uma palavra grega que significa “ABRE-TE”. As palavras que
acompanham o rito dão o seu significado: abrir-se para acolher a mensagem de Cristo. Pelo
Batismo, Jesus Cristo continua a tocar o homem: abre os seus ouvidos para que ouça a
Palavra de Deus. Solta a língua e abre-lhe a boca para que professe a sua fé. Os instrumentos
dessa comunicação são os pais.
c) O Batismo funda um modo específico de ser Igreja:

Além do Batismo trazer uma nova identidade, ele configura a pessoa a Igreja que é a
“comunidade congregada daqueles que, crendo, voltam seu olhar a Jesus, autor da salvação e
princípio da unidade e da paz” (LG, 9) e o seguem.
O modelo de Igreja que surge a partir do Batismo é o de uma comunidade dos que
assumiram um destino na vida: viver e morrer para os outros como Jesus, tendo Ele como
44
Éfeta: É um rito facultativo, realizado logo após a entrega da vela acesa. É uma palavra aramaica que significa “abre-te”. O
Celebrante toca os ouvidos e a boca da criança, dizendo: “O Senhor Jesus que fez os surdos ouvir e os mudos falar, te
conceda que possas logo ouvir a sua palavra e professar a fé, para louvor e glória de Deus Pai”.
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modelo e Mestre. São homens e mulheres conduzidos, guiados e inspirados pelo Espírito
Santo de Deus; libertados para viver a liberdade do amor até as últimas consequências, numa
comunidade misericordiosa, que ergue os caídos; samaritana que cuida dos feridos; ao estilo
de Betânia que celebra a amizade; que como em Caná sabe fazer festa, que vive num só
coração e numa só alma, perseverando na doutrina dos Apóstolos, nas orações em comum,
fração do pão eucarístico e na partilha dos bens para o cuidado mútuo (At 2,42).

d) Batismos válidos e inválidos:

1) BATISMOS VÁLIDOS:
Diversas Igrejas batizam, sem dúvida, validamente; por esta razão, um cristão
batizado numa delas não pode ser normalmente rebatizado, nem sequer sob condição. Neste
caso, diante do desejo de ingresso na Igreja Católica, pede-se uma profissão de fé realizada
diante da comunidade reunida. Essas Igrejas são: Igrejas Orientais ("Ortodoxas", que não
estão em comunhão plena com a Igreja Católica Romana, das quais, pelo menos, seis se
encontram presentes no Brasil); Igreja Vétero Católica; Igreja Episcopal do Brasil
("Anglicanos"); Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB); Igreja Evangélica
Luterana do Brasil (IELB); Igreja Metodista.
2) CONCEPÇÃO TEOLÓGICA DUVIDOSA:
Igrejas que batizam validamente, mas possuem uma concepção de que ou o
Batismo não justifica ou não é tão necessário e por isso adiam o momento. Essas Igrejas são:
Igrejas presbiterianas; Igrejas batistas; Igrejas congregacionistas; Igrejas adventistas; a maioria
das Igrejas pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, Igreja do
Evangelho Quadrangular, Igreja Deus é Amor, Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para
Cristo”); Exército da Salvação (este grupo não costuma batizar, mas quando o faz, realiza-o de
modo válido quanto ao rito). Não se batiza novamente, apenas se esclarece a pessoa e se
pede dela uma profissão de fé realizada diante da comunidade.
3) BATISMO DUVIDOSO:
Há Igrejas de cujo batismo se pode prudentemente duvidar e, por essa razão,
requer-se, como norma geral, a administração de um novo batismo, sob condição. Essas
Igrejas são: Igreja Pentecostal Unida do Brasil (esta Igreja batiza apenas em nome do Senhor
Jesus e não em nome da SS. Trindade); Igrejas Brasileiras (embora não se possa levantar
nenhuma objeção quanto à matéria ou à forma empregadas pelas "Igrejas Brasileiras",
contudo, pode-se e deve-se duvidar da intenção de seus ministros). Os Mórmons (negam a
divindade de Cristo, no sentido autêntico e, consequentemente, o seu papel redentor).
4) BATIZAM INVALIDAMENTE:
Testemunhas de Jeová (negam a fé na Trindade); Ciência Cristã (o rito que pratica,
sob o nome de Batismo, tem matéria e forma certamente inválidas). Algo semelhante pode-se
dizer de certos ritos que, sob o nome de Batismo, são praticados por alguns grupos religiosos
não-cristãos, como a Umbanda.

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e) Notas sobre o Batismo de Crianças:

Os relatos bíblicos nos enunciam que o Batismo era dado aos adultos, mas também a
todos os membros de suas famílias (At 16,15.33; 18,8). A decisão de batizar crianças foi de
grande relevância na história da Igreja, pois levou a Igreja a transcender os níveis das seitas 45.
Os primeiros dados históricos que possuímos sobre o pedobatismo46 estão no século II e III,
com Hipólito, Orígenes e Cipriano. Se multiplicou no século IV a prática do mesmo, coexistindo
com o Batismo de Adultos. Com a doutrina do pecado original de Santo Agostinho, tendo em
vista a alta taxa de mortalidade infantil, o Batismo dos recém-nascidos tornou-se a prática
batismal de praxe na Igreja, desde a Idade Média.
Na Idade Média, vários movimentos populares (valdenses, cátaros, albigenses),
desejosos de maior purificação da Igreja, rejeitaram o Batismo de Crianças. Foram
condenados pelo Concílio de Latrão. O mesmo sucede com os anabatistas no período da
Reforma. No atual século, o questionamento do Batismo de Crianças por parte do teólogo
protestante Karl Barth encontrou também adeptos em grupos minoritários católicos da Europa,
que ensejaram projetos pastorais de dilatação do batismo, no sentido de respeitar ao máximo a
liberdade de ser cristão.
A posição oficial da Igreja face ao retardamento do Batismo é de crítica (CDC, 867 –
cf. Instrução Sagrada Congregação de 30/10/80 sobre o Batismo das Crianças). Argumenta
que a criança recebe o Batismo "na fé da Igreja", encarregada de educá-la pelos pais e
padrinhos; que o Batismo não é um atentado à liberdade, porque, como em todos os outros
níveis da vida, a criança é um ser socialmente condicionado; que o pedobatismo ilustra melhor
que o Batismo de adultos a gratuidade e o amor universal de Deus aos homens.
A compreensão do Batismo como Sacramento da fé foi sempre marcante na
47
Tradição . Conforme à narrativa dos Atos dos Apóstolos, é admitido ao Batismo aquele que,
tendo ouvido a mensagem do Evangelho, aceita-a na fé e se compromete a pautar sua vida no
seguimento a Jesus.
O Batismo é, pois, o Sacramento da primeira e fundamental adesão à fé. Para alguns
teólogos, a prática do Batismo de Crianças, no entanto, obscurece essa dimensão pessoal da
fé e a compreensão da fé como processo. Contudo, a teologia batismal clássica acabou por
valorizar a fé virtude infusa, derramada gratuitamente do íntimo da criança, em detrimento da
fé como aceitação da oferta divina e engajamento pessoal. Se o aspecto fundamental da
prioridade da graça é ali vantajosamente acentuado (princípio do sola gratia48 de Lutero), fica a
perder o aspecto processual e dialogal da fé, enquanto adesão a exigir conversão. Por ser dom

45
Seita de forma geral é um conceito complexo utilizado para grupos que professem doutrina, ideologia, sistema filosófico,
religioso ou político divergentes da correspondente doutrina ou sistema dominantes.
46
Pedobatismo = batismo de crianças.
47
Cf. Taborda, F. Nas fontes da vida cristã, p.35-41.
48
Sola gratia (somente a graça) é o ensinamento de que salvação vem por graça divina ou "favor imerecido" apenas, e não
como algo merecido pelo pecador. Isto significa que a salvação é um dom imerecido de Deus por causa de Jesus.
30
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e, por conseguinte, não evidente, a fé corre o risco de ser considerada óbvia, banalizando-se,
pois, facilmente (como atesta-nos a prática pastoral).
Já em relação às crianças mortas sem o Batismo, a Igreja convida a ter confiança
na misericórdia divina e a rezar por sua salvação.

10. O SACRAMENTO DA CRISMA:


Diz o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica § 267, “O rito essencial da
Confirmação é a unção com o santo crisma (óleo misturado com bálsamo, consagrado pelo
Bispo), feita com a imposição da mão por parte do ministro que pronuncia as palavras
sacramentais próprias do rito. No Ocidente, tal unção é feita sobre a fronte do batizado com as
palavras: ‘Recebe por este sinal, o Espírito Santo, o Dom de Deus’ ”. O ministro ordinário
desse Sacramento é o bispo diocesano. O extraordinário, o sacerdote.
Aqui, já temos a matéria e a forma do Sacramento da Crisma. Sim, a matéria é a
unção com óleo e a imposição das mãos. Ainda que entre os teólogos haja debate sobre qual
dos dois é essencial, há uma posição a afirmar que ambos são importantes. A forma (palavras)
da Crisma teve pequenas variações ao longo do tempo. Hoje, é a que está no Compêndio:
“(Nome), recebe por este sinal, o Espírito Santo, o Dom de Deus”. O crismando responde:
Amém”. Vale a pena explorar um pouco desse valioso simbolismo contido na matéria da
Crisma. O Prof. Felipe Aquino49 escreve:

“Para os judeus o óleo da oliveira era sinal da bênção divina (Dt 7,13; Jr 31,12) e
de salvação (Jl 2,9). Ele tinha um valor muito grande: é bálsamo que perfuma o corpo (Am 6,6;
Est 2,12), fortalece os membros (Ez 16,9), tira a dor das feridas (Is 1,6; Lc 10,34); por isso, é
símbolo da alegria (Sl 103,15). Derramar óleo sobre a cabeça de alguém era desejar-lhe
felicidade e alegria, e prova de amizade e honra (Sl 22,5; 91,11; Lc 7,46; Mt 26,7). Era usado
para ungir os reis e sacerdotes em sinal de escolha divina e de consagração a seu serviço, e era
acompanhada da presença do Espírito que tomava posse da pessoa escolhida (1Sm 16,12-13).
A imposição das mãos era sinal de bênção (Gn 48,14-16; Mc 10,16), consagração de alguém
(Nm 8,10; 27,15-23), identificação de vítima oferecida (Lv 16,21; 1,4; 3,2; 4,4), transmissão
de dons a alguém (At 6,6; 13,3; 1Tm 4,14; 5,22), cura de enfermidade, como Jesus fez (Lc
13,13; Mc 8,23-25; Lc 4,40; Mc 16,18; At 9,12; 28,8)”.
Pe. Leo Trese50 diz:

“O Crisma é um dos três óleos que o bispo benze todo ano na sua Missa
de Quinta-Feira Santa. Os outros dois são: o óleo dos catecúmenos (usado no Batismo) e o
óleo dos enfermos (usado na Unção dos Enfermos). Todos os santos óleos são de azeite puro
de oliveira. Desde a antiguidade, o azeite de oliveira é considerado como uma substância

49
Prof. Felipe Aquino – Como entender os Sete Sacramentos, Ed. Cléofas, p. 34.
50
Pe Leo Trese - A fé explicada, p. 255.
31
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fortificante, tanto que muitos atletas costumavam untar o corpo com ele, antes de participarem
de um certame atlético. O significado dos santos óleos que são utilizados na administração dos
Sacramentos é, pois, patente: o azeite significa o efeito fortificante da graça de Deus. Além da
bênção especial e diferente que cada um recebe, o Crisma tem outra particularidade: é
misturado com bálsamo, uma substância aromática que se extrai dessa árvore. No Crisma, o
bálsamo simboliza a ‘fragrância’ da virtude, o bom odor, a atração que deverá desprender-se da
vida daquele que põe em movimento as graças da Confirmação”.

Como vimos, a separação da Crisma no conjunto da Iniciação Cristã se deu sem


qualquer razão teológica. A separação efetiva entre Batismo e Crisma na Igreja Latina não foi
resultado de uma reflexão teológica, mas solução para o problema pastoral criado quando
a conversão ao cristianismo se tornou tão generalizada que chegou às pequenas povoações
rurais. A solução se diferenciou, conforme a forma em que se deu a evangelização nas
diversas regiões do Império Romano.
Por isso, quando o Batismo passou a ser administrado nas Igrejas rurais, sem a
presença do bispo, foi preciso optar: ou transferir para a competência do presbítero a totalidade
da iniciação, ou separar o banho batismal dos ritos pós-batismais realizados pelo bispo. A
Igreja Oriental preferiu a primeira opção; a Latina ficou com a segunda.
Assim, o espaçamento nas visitas pastorais do bispo, por razão de distância,
dificuldade de acesso a lugares longínquos, comodismo episcopal ou qualquer outro motivo,
levou a permitir o acesso à Eucaristia antes da “Confirmação”, desfazendo a ordem dos
Sacramentos da Iniciação51.
O Mistério Pascal não é uma unidade indiferenciada e sim uma unidade estruturada,
com três momentos significativos do lado positivo: ressurreição – ascensão – Pentecostes. A
unidade e distinção de Batismo e Confirmação brota da unidade diferenciada do Mistério
Pascal de Cristo.
Como o Mistério Pascal, os dois Sacramentos constituem um todo de sentido. Sua
distinção visa a que apareçam na visibilidade sacramental da Igreja os diversos aspectos do
mistério. Como participação no Mistério Pascal, o Batismo já dá o Espírito Santo e envia à
missão. Mas o gesto simbólico empregado no Batismo (o banho batismal) só visibiliza a vitória
sobre a morte e o pecado, o primeiro momento do Mistério Pascal, momento básico que, em
germe, contém os outros. O gesto simbólico da “Confirmação” visibiliza o aspecto da missão
(imposição das mãos), do possessoramento por Deus (assinalação), da doação do Espírito
para a missão (unção), do testemunho (perfume), resumindo-se todos esses aspectos num
só: o dom do Espírito Santo.
Na dimensão da expressão significativa reside, pois, a distinção entre Batismo e
Crisma. O Batismo por si já é um Sacramento completo, já dá tudo o que a “Confirmação”

51
Já no fim do séc. VIII, Alcuíno, o sábio erudito da corte do Imperador Carlos Magno, apesar de formado na literatura dos
Padres da Igreja, orientando um presbítero sobre a prática do Batismo, indica sem problematizar a sequência Batismo –
Eucaristia – Crisma – (cf. Alcuíno, Ad Oduinum presbyterum epistola. PL 101, 613-614).
32
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dará. A aparente duplicação de efeitos só faz sentido, se considerada na dimensão da


visibilidade, que é estritamente a dimensão sacramental.
Por isso, desde os primórdios, diversas liturgias expressaram com algum gesto o dom
do Espírito. Assim, apesar de expressões significativas diversas e, portanto, apesar de serem
dois Sacramentos distintos, Batismo e Crisma permanecem ordenados um ao outro por seu
sentido52. Ambos celebram, sim, a participação no Mistério Pascal de Cristo, mas aspectos
diversos dessa participação.
O fato do cristão já possuir o Espírito Santo pelo Batismo, já estar por ele engajado na
missão da Igreja, não exclui a necessidade da Crisma. Antes exige que no Sacramento se
expresse significativamente esse aspecto do Mistério Pascal. Na celebração do dom do
Espírito, a Igreja, Corpo do Crucificado–Ressuscitado, experimenta de modo mais profundo e
explícito a presença atuante de Deus na vida deste membro concreto e a celebra como dom,
fazendo memória de Pentecostes. Assim recebe nela inovado impulso e convite para viver o
Mistério Pascal.
“Crisma: Sacramento do Espírito Santo?” A Crisma pode, sim, ser identificada como
Sacramento do Espírito Santo, se se considera em sua unidade com o Batismo no evento
único de participação sacramental no Mistério Pascal de Cristo. Teoricamente simples, a
questão atinge, no entanto, a prática eclesial. Primeiramente a ordem da administração dos
Sacramentos. A prática habitual é antecipar a participação na Eucaristia para antes da
administração do Sacramento da Crisma reservada para jovens na faixa etária de 15 anos para
cima. Subjacente a essa opção, podem identificar-se dois problemas 53.
Um primeiro, de caráter teológico, consiste em supor que a Crisma é o Sacramento
da idade adulta que, constituindo uma “confirmação” do Batismo administrado na infância,
representa um “sim” a ser dado quando se chega à adolescência. Essa concepção poderia
invocar em seu favor a Teologia Crismal de S. Tomás de Aquino. Porém S. Tomás não fala
propriamente de “idade adulta”, mas de “idade perfeita” e, ainda por cima, no sentido
espiritual54.
Além disso, abstraindo da problemática psicológica de se a adolescência é, de fato, a
melhor época para “confirmar” um compromisso assumido, a posição indicada labuta num
engano ao pensar que o nome “Confirmação” dado ao segundo Sacramento signifique uma
ação de quem o recebe. Já na Tradição Apostólica de Hipólito, pela própria estrutura ritual,

52
Aliás, as mesmas expressões significativas ressaltam a unidade dos Sacramentos e, em concreto, a orientação da Crisma ao
Batismo. Os meios de limpeza na Antiguidade eram muito fortes, ressecavam a pele e exigiam que ao banho se seguisse a
unção do corpo. “Não há banho sem óleo”. Nada mais natural que ao banho batismal se seguisse a unção crismal. – cf.
Emminghaus, J. H., “Semiotik altchristlicher Taufhäuser”, ZkTh 107 (1985) 39-51 (aqui: 43-44). E a unção devia, pois, seguir
ao banho de imediato, não posteriormente. Então, sim, restaurado pelo banho e a unção, dava sentido tomar a refeição.
53
Por ironia os dois problemas são de origem protestante. Tanto a concepção da confirmação como ratificação do batismo
recebido na infância como a ligação da mesma com a catequese, surgiram no contexto da Reforma. Cf. De Clerck, art. cit.,
DCrTh, p. 252.
54
Cf. S. Tomás De Aquino, STh III, q. 72, passim. Leia-se, por exemplo, a seguinte resposta a uma objeção: “A idade corporal
não vem em prejuízo da alma. Por isso, também na infância o homem pode alcançar a perfeição da idade espiritual:
‘Velhice honrada não é questão de longevidade; ela não se mede pelo número de anos’ (Sb 4,8). Assim muitos, ainda
crianças, devido ao fortalecimento recebido do Espírito Santo, combateram intrepidamente por Cristo até o derramamento
do sangue” (ib., a. 8, ad 2).
33
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fica bem claro que o ato de “confirmar” é do bispo: pela oração, imposição das mãos, unção
e assinalação, ele “confirma” o que foi realizado pelo presbítero na fonte batismal.
Um segundo problema subjacente à prática vigente é de caráter pastoral, uma prática
que, bem pensada, deveria ser considerada pouco digna do Sacramento. A Crisma na
adolescência é um meio de manter o jovem na Catequese... Completa-se assim o ciclo de
“domínio clerical” sobre o cristão individual: na infância frequentará a Catequese da primeira
Eucaristia; na adolescência, a da Crisma; no início da idade adulta, terá o cursinho de
preparação para o Matrimônio; nos primeiros tempos da vida de casado, os cursinhos de
preparação para o Batismo dos filhos... Assim periodicamente se pensa “influenciar” o cristão
sociologicamente com uma doutrinação “adequada”. A prática vigente traz consigo a desordem
da sequência dos Sacramentos da Iniciação, antecipando a Eucaristia para antes da Crisma, e
mesmo a aberração de introduzir o Sacramento da Penitência entre o Batismo e a Eucaristia.
Para manter a unidade, o Batismo de Crianças deveria ter como consequência a
Crisma de Crianças, ou, se não se deseja esta prática, deveria optar-se pelo Batismo de
Adultos. A antecipação da Primeira Eucaristia para a infância ou o início da adolescência é,
em si, uma invenção recente. A Igreja Antiga (e não só a antiga, mas as Igreja Latina até o
século XII e a Igreja Oriental até hoje) é mais coerente ao dar a comunhão à criança de colo
batizada (e crismada). Se o Batismo inicia ao ser cristão e ser Igreja, a participação na
Eucaristia é sua consequência óbvia. Mas, sendo Batismo e Crisma uma unidade, a Eucaristia
deveria localizar-se depois do segundo Sacramento. Adiar a Crisma para a adolescência ou a
idade adulta deveria também levar consigo atrasar a participação na Eucaristia para depois.
Identificar a Crisma em conformidade com a tradição antiga como “Sacramento Adjunto” ao
Batismo e dele inseparável (bem como da Eucaristia Batismal) é, sem dúvida, teologicamente
mais correto. Não seria também pastoralmente mais sábio? De nada adianta o elevado
número de Batismos de crianças, se estas nunca virão a participar da comunidade .
Menos ainda adianta a “febre” da Crisma que atinge muitos adolescentes e jovens, quando o
resultado é o abandono da prática sacramental no dia seguinte, como já havia estado
abandonada nos anos precedentes, desde a Primeira Comunhão.
A unidade da iniciação cristã permite uma visão da Crisma que não precisa “roubar”
nada ao Batismo, porque nada mais é que parte dele. Tampouco é preciso recorrer a uma
duvidosa teologia dos sete dons do Espírito Santo. Mas exigiria outra prática pastoral, para a
qual a Igreja, enquanto estiver preocupada com números e não com qualidade, não parece
estar madura.

11. O SACRAMENTO DA EUCARISTIA:


Como vimos, a desagregação da unidade da iniciação cristã tem raízes históricas
banais. A dissociação da Eucaristia com relação ao Batismo e à Confirmação provém da
prática do Batismo de Crianças (e mais especificamente de bebês). Por outro lado, a abolição
da comunhão dos leigos com o cálice dificulta a participação eucarística das crianças de colo.
O desenvolvimento do realismo eucarístico, por sua vez, leva à concepção de que a
34
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comunhão requer plena consciência e faz canonistas e teólogos exigirem o uso da razão
para conceder acesso à Eucaristia e, a partir dos ideais humanistas do século XVI, a posse de
um saber controlável e controlado55.
Também a Eucaristia é Sacramento da Iniciação. Também ela faz participar do
Mistério Pascal, mas distingue-se do Batismo e da Crisma, porque sua expressão significativa
evoca outro aspecto: a união com o Mistério Pascal de Cristo, enquanto sacrifício.
Partilhando o pão em solidariedade com os irmãos, o cristão festeja a graça de, com Cristo,
oferecer cada dia a vida ao Pai pela causa do Reino. Na Eucaristia se atualiza,
sacramentalmente, o acontecimento salvífico da Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor
Jesus Cristo56.
A Eucaristia presentifica o dom do Pai que é Jesus para o mundo. Todavia, pelo
dinamismo do Espírito Santo, a entrega de Jesus se converte também em nossa entrega. A
medida em que nos torna partícipes do Corpo total de Cristo, a Eucaristia integra-nos a uma
única e mesma oblação de vida, no Senhor. A Eucaristia é, por conseguinte, o Sacramento de
nossa comunhão com Deus e com os irmãos. Nela se fundamenta a solidariedade eclesial para
com todos os pobres.

a) Como se celebra a Eucaristia?

A Eucaristia se expressa como realidade sacramental no simbolismo do banquete,


que, no imaginário bíblico, plastifica o acontecimento do Reino. Em torno de uma mesa e de
uma refeição, os convivas estreitam os seus laços de amizade e podem compartilhar a vida.
Repetindo os gestos e as palavras de Jesus na Última Ceia, a Igreja se abre à presença
sacramental do Cristo ressuscitado, que se determinou a estar conosco até o fim (cf. Mt 28,20).
Tendo abençoado o pão, Jesus o parte e distribui aos discípulos, dizendo: “ Tomai e
comei: isto é o meu corpo que será dado por vós ” (cf. Mc 14, 22-24; Mt 26, 26-28; Lc 22, 19-20;
1Cor 11, 23-28). Pela bênção, o pão se torna dom de Deus. Partido, recebe a função de
alimentar e unir os comensais de um mesmo pão. Referido ao corpo, simboliza a vida toda da
pessoa de Jesus, que se doa ao mundo gratuitamente. Feito pão despedaçado, o Corpo do
Senhor se torna propiciador de vida passando pelo sacrifício martirial da morte.
Tomando o cálice e passando-o aos discípulos, Jesus pronunciou estas palavras:
“Tomai e bebei: isto é o meu sangue, sangue da Aliança, que será derramado em favor de
muitos...”. Bebendo do mesmo cálice, os discípulos entram na aliança inaugurada por Jesus,
tornando-se cúmplices de seu projeto de vida: o Reino do Pai. O sangue derramado, expressa
a radicalidade da entrega de Jesus, que se fez profeticamente fiel até o fim.

b) Quem celebra a Eucaristia?

55
Cf. Lemaître, art. cit. (Delumeau), 19-30. Sobre a origem e desenvolvimento da prática vigente da primeira comunhão.
56
Pe Fantico Borges – teologia dos sacramentos.
35
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A Igreja faz a Eucaristia assim como a Eucaristia faz a Igreja. Na Eucaristia, a Igreja
experimenta celebrativamente, o seu próprio “ser comunidade”. Agindo no evento sacramental,
o Espírito Santo é o sujeito transcendente57 de nossa comunhão com Cristo e com os irmãos,
meta e plenitude do banquete eucarístico.
A Eucaristia realiza e proclama o ser mesmo da Igreja como comunidade fraternal.
Donde as exigências éticas para a realização do Sacramento: “não se pode compartilhar o pão
eucarístico sem compartilhar também o pão de cada dia”. Um mínimo de cumprimento da
justiça social será o pressuposto necessário para a efetivação do ágape58.
Em suma, a Eucaristia sinaliza a comunhão eclesial, robustecendo a comunhão
presente e anunciando a perfeita comunhão escatológica59. Constitui ela o “Sacramento do
Reino de Deus”, para o qual convergem todos os demais Sacramentos.
1) Presença real e comunidade reunida:
 A presença real de Cristo na Eucaristia: não pode ser concebida dissociada da
presença dele na Igreja em manifestações diversas ("Ubi Ecclesia, ibi Christus"); urge colocá-
la em relação com a expressão significativa da Eucaristia (o Sacramento causa o que significa)
e rever o conceito de "presença".
 Fenomenologia da presença: presença não é mero estar aí; não significa,
primariamente, coexistência física de dois corpos em contiguidade espacial (posso estar
fisicamente próximo de alguém, mas efetivamente distante, ausente). Antropologicamente,
presença não é “estar junto ao outro”, mas “estar para o outro” (posso estar fisicamente
distante de alguém mas psiquicamente próximo pelo pensamento ou por um objeto que o
recorde). Presença por amor, em espírito, no conhecimento constitui a verdadeira (e não
metafórica) presença. Presença e corporeidade: o corpo não fica alheio à presença de alguém;
que é o corpo? É o próprio homem em relação com o mundo (mediatização expressiva do
sujeito no mundo). Como objeto desse mundo, o corpo limita a presença do homem, porém, na
medida em que este se doa ao outro, partilha sua vida, tanto mais faz do mundo todo o seu
corpo.
 Eucaristia como presença sacramental de Cristo: Igreja "Corpo de Cristo",
Sacramento da presença do Senhor; reunindo-se em nome de Cristo para celebrar a
Eucaristia, mais densamente se visibiliza essa presença. Pão e vinho formam o centro
corpóreo da celebração; sobre eles está fixada a memória de Jesus, de suas refeições, de sua
morte e ressurreição, pela força da palavra.
 Relatos da instituição (Mc 14,22-25; Mt 26,26-29; 1Co 11,23-25;Lc 22,14-20)
identificam pão = corpo, vinho = sangue; São Paulo comenta (cf. 1Cor 10,14-22): o pão que se
parte é comunhão com o Corpo de Cristo, o vinho abençoado é comunhão com o seu sangue -
pão e vinho interpretados como realidades vinculantes. A presença eucarística constitui um
57
Transcendente é algo que não é comum, que está além dos limites convencionais ou que é considerado superior. O
transcendente é o que está além do conhecimento concreto e que não se baseia somente em dados e conclusões
metódicas.
58
Ágape em grego = amor. Pode ser o amor que se doa, o amor incondicional, o amor que se entrega.
59
Escatologia, em Teologia, é uma teoria relativa aos acontecimentos do fim do mundo e da humanidade, ou seja, as últimas
coisas que devem acontecer antes e depois da extinção da vida na Terra.
36
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"para nós" (e não um "em si"). Cristo está realmente presente no pão consagrado, mas
sempre como oferta a ser aceita pelo fiel; a finalidade da presença eucarística é Cristo
presente em nós (essa é a concepção bíblica, patrística e medieval da Eucaristia, bem distinta
daquela que se impôs após o Concílio de Trento, que dava à hóstia consagrada um valor em
si mesma - adoração desvinculada do contexto celebrativo, com a consequente perda da
dimensão eclesial do sacramento).
 Presença real e comunhão espiritual: não se deve tomar a presença real no
sentido coisista (sacramentalismo mágico). Sendo um "estar aí para o outro", a presença de
Cristo na Eucaristia realizada por meio da Igreja exige de cada membro da comunidade uma
vida convergida ao seguimento de Jesus; a comunhão sacramental supõe a comunhão
espiritual. Só "distingue o Corpo do Senhor" quem reconhece a presença de Jesus no pobre e
age de modo consequente (cf. 1Cor 11,29). Na descrição do lava-pés (Jo 13,1-15), São João
situa o verdadeiro sentido da Eucaristia: amor que se molda em serviço libertador ao irmão
(celebrando a Eucaristia, a Igreja reafirma e reassume a sua condição de diácona do mundo);
no discurso do pão da vida (Jo 6,51ss), o evangelista apresenta Jesus dando sua "carne a
comer" (o que significa a sua vida humana histórica, prestes a ser assimilada pelo discípulo).
2) A Eucaristia e sua dimensão sacrificial:
 Entender o sacrifício a partir da expressão significativa: sacrifício sacramental,
memorial; ter presente que no Cristianismo sacrifício é a própria vida em seguimento a Jesus,
nos mesmos moldes de sua vida entregue ao Pai mediante sua entrega aos irmãos.
 Compreensão neotestamentária da Eucaristia como sacrifício: O NT vê o
sacrifício de Cristo não em chave propriamente cúltica, mas em chave existencial profética
(inspira-se na teologia da aliança de Jr 31,31 e do servo sofredor de Is 53). Tendo como base
Hb 10,5, a Ceia do Senhor representa a vitória sobre o culto e seus sacrifícios: no lugar dos
objetos do sacrifício emerge o EU de Jesus.
 Eucaristia - sacrifício no contexto de uma ceia rememorativa: Eucaristia é
sacrifício e anti-sacrifício ao mesmo tempo; a Deus não oferecemos nada que não tivéssemos
antes recebido; Eucaristia é "sacrifício de ação de graças".
 Sacrifício sacramental: a Eucaristia não é novo ato sacrifical, mas
recapitulação e atualização do sacrifício histórico de Jesus, realizado uma vez para sempre - o
"ephapax" de Rm 6,10 (memória da Páscoa permanente que é Cristo, como passagem
perpétua desse mundo ao Pai).
 Sacrifício espiritual: a Eucaristia é sacrifício no Espírito de Jesus; o Espírito
Santo é quem santifica as oferendas (1ª epiclese) e quem transforma a comunidade no corpo
do Senhor (2ª epiclese).
 Sacrifício eclesial: o Espírito Santo torna a comunidade participante da
oblação viva de Jesus ao Pai. Referindo-se ás espécimes eucarísticas, disse S. Agostinho:
"Sede aquilo que vós vedes e recebei o que vós sois" (Sermo 272).
 Sacrifício de ação de graças (ou eucarístico): o acesso que temos ao Pai é
dom por meio de Cristo. Como ação de graças, na Eucaristia reconhecemos a Deus como

37
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Deus e como único absoluto (tudo dele provém, até o bem que realizamos), dispondo-nos a
realizar a sua vontade, ou seja, a vivificação do homem (viver em ação de graças = viver em
solidariedade). Opõe-se à ação de graças a acumulação, a não aceitação de que o dom de
Deus é para todos. Ação de graças é desapropriação suprema (x idolatria): nada temos de
nosso, tudo é de Deus, tudo é dos irmãos.
3) Compromisso Eucarístico, compromisso com a justiça:
 A Eucaristia só pode ser celebrada por quem pratica a justiça. A
inseparabilidade entre Eucaristia e justiça é questão de fidelidade à memória de Jesus. No
século VII, por exemplo, os bispos eram advertidos para não aceitar a esmola de quem fosse
conivente com as injustiças; não era readmitido na Eucaristia quem tivesse cometido certos
pecados públicos e houvesse lesado ao próximo, concretamente, em matéria de justiça.
 Vivida sem a preocupação de libertar os homens de suas condições
subservientes e desumanas, a Eucaristia torna-se um ato inconsistente, vazio e caricatural,
deslegitimando a própria Igreja.

12. O SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃ O:


Após estudarmos os Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Crisma e Eucaristia),
passamos agora ao estudo dos Sacramentos de Cura (Reconciliação e Unção dos Enfermos).
Pelos Sacramentos da Iniciação Cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo. Ora,
esta vida nós a trazemos " em vasos de argila" (2Cor 4,7). Agora, ela ainda se encontra
"escondida com Cristo em Deus" (Cl 3,3). Estamos ainda em "nossa morada terrestre", sujeitos
ao sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e
até perdida pelo pecado.
Apesar de todos os Sacramentos serem canais de transmissão da Misericórdia de
Deus, essa função é desempenhada, por excelência, pelo Sacramento da Reconciliação 60.
Contudo, “nenhum outro Sacramento esteve e ainda está em tão sério perigo como o Sacramento
da Reconciliação”61. Além disso, em muitas paróquias já não é praticado como antigamente.
Quem até décadas passadas se confessava com frequência atualmente não se confessa
mais...

No Sacramento da Reconciliação se celebra o perdão de Jesus oferecido aos


pecadores, a partir do qual se delineia a reorientação da opção fundamental de vida da pessoa,
até então escrava de si mesma, para Deus e para o próximo. A Reconcliação abarca,
sacramental e vivencialmente, todo o processo de volta do batizando para Deus e para a
comunidade, no exercício cotidiano da caridade, sob a permanente assistência do Espírito
Santo.

60
O Sacramento da Reconciliação: contribuições teológico-pastorais - Pe. Francesco Sorrentino.
61
Häring, B - 1998, p. 32 - A dimensão terapêutica da liturgia.
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A ação misericordiosa de Jesus recria o ser humano a partir de seu interior. A cura
acontece de dentro para fora, porque é o interior que deve ser totalmente refeito. Em seu
ministério, Jesus perdoou os pecados antes da cura física, sabe por que? Para nos mostrar
que a “paralisia” mais grave não é a do corpo, mas a do coração, do espírito e do caráter. A
falta de solidariedade é uma paralisia do coração humano, a omissão é uma verdadeira asfixia
da vida cristã, a calúnia é um verdadeiro câncer que destrói famílias e comunidades...
Conforme à mensagem de Jesus, Deus quis e quer ser amado mediante o convívio humano
interpessoal e comunitário.
Aqueles que se aproximam do Sacramento da Reconciliação obtêm da misericórdia
de Deus o perdão da ofensa a Ele feita e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a Igreja,
que tinham ferido com o seu pecado, a qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela
sua conversão. À comunidade toda foi dado o poder de perdoar. Na Igreja, o ministro ordenado
apenas preside-lhe o perdão: perdoa em nome da comunidade que o faz em nome de Cristo.

a) Como se chama este Sacramento?

 É chamado Sacramento da Conversão, porque realiza sacramentalmente o apelo


de Jesus à conversão e o esforço de regressar à casa do Pai da qual o pecador se afastou
pelo pecado.
 É chamado Sacramento da Penitência, porque consagra uma caminhada pessoal
e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação por parte do pecador.
 É chamado Sacramento da Confissão, porque o reconhecimento, a confissão dos
pecados perante o sacerdote é um elemento essencial deste sacramento.
 É chamado Sacramento do Perdão, porque, pela absolvição sacramental do
sacerdote, Deus concede ao penitente “o perdão e a paz”.
 É chamado Sacramento da Reconciliação, porque dá ao pecador o amor de
Deus que reconcilia: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5, 20). Aquele que vive do amor
misericordioso de Deus está pronto para responder ao apelo do Senhor: “Vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão” (Mt 5, 24).

A confissão pessoal converte-se, no Sacramento da Reconciliação, em expressão


externa, comunitária e social da contrição interna do pecador. Manifesta a disposição do
pecador para o acolhimento do perdão e para a mudança de vida. A absolvição sacramental
outorgada pelo ministro em nome de Deus e da Igreja, evidencia a gratuidade do perdão, como
dom advindo de um outro. A satisfação penitencial, por sua vez, constitui o esboço de um novo
projeto de caminhada a ser traçado e assumido pelo penitente, assinalando o realismo da
conversão.

b) Síntese histórica do Sacramento da Penitência:

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 1ª etapa: penitência pública (séc. I-VI): participação direta da comunidade no


processo de readmissão do pecador; da excepcionalidade à instituição do rito - ênfase na
reconciliação.
 2ª etapa: penitência tarifada (séc. VI-XII): os monges administram o
Sacramento tendo como critério livros penitenciários; ações penitenciaiss bastante severas -
ênfase na penitência.
 3ª etapa: penitência auricular (séc. XII-XX): centralização no padre do poder de
perdoar (perda do caráter comunitário); preocupação excessiva com a matéria e espécie do
pecado; enfraquecimento da ação penitencial - ênfase na confissão.

c) Só Deus Perdoa os Pecados:

 O pecado é uma ofensa a Deus, ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo


tempo, é um atentado contra a comunhão com a Igreja. É por isso que a conversão traz
consigo, ao mesmo tempo, o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja.
 Só Deus perdoa os pecados. Jesus, porque é Filho de Deus, diz de Si próprio:
“O Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados ” (Mc 2, 10) e exerce este poder
divino: “Os teus pecados são-te perdoados!” (Mc 2, 5). Em virtude da sua autoridade divina de
Jesus, Ele concede este poder aos homens para que o exerçam em seu nome. Durante a sua
vida pública Jesus não somente perdoou os pecados, como também manifestou o efeito desse
perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus, da qual o
pecado os tinha afastado ou mesmo excluído.
 Ao tornar os Apóstolos participantes do seu próprio poder de perdoar os
pecados, o Senhor dá-lhes também autoridade para reconciliar os pecadores com a Igreja.
Esta dimensão eclesial do seu ministério exprime-se, nomeadamente, na palavra solene de
Cristo a Simão Pedro: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus; tudo o que ligares na terra
ficará ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra ficará desligado nos céus ” (Mt 16, 19). As
palavras ligar e desligar significam: aquele que vós excluirdes da vossa comunhão, ficará
também excluído da comunhão com Deus; aquele que de novo receberdes na vossa
comunhão, também Deus o acolherá na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da
reconciliação com Deus.
 Cristo instituiu o Sacramento da Penitência para todos os membros pecadores
da sua Igreja, antes de mais para aqueles que, depois do Batismo, caíram em pecado grave e
assim perderam a graça batismal e feriram a comunhão eclesial. Os Padres da Igreja
apresentam este Sacramento como “ a segunda tábua de salvação”, depois do naufrágio que é a
perda da graça.

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“A virtude de apagar os pecados lhe é tão própria, que sem a Penitência não
podemos absolutamente alcançar, nem sequer esperar uma remissão de pecados. Pois está
escrito: ‘Se não fizerdes Penitência, todos vós perecereis da mesma maneira’ (Lc 23, 3)”62

d) Matéria, Forma e Ministro:

1) Matéria:
 remota: pecados cometidos pelo penitente depois do Batismo;
 próxima: constituída pelos próprios atos do penitente – contrição, confissão
(acusação) e satisfação;
2) Forma:
 As palavras: “eu te absolvo dos teus pecados em nome do pai e do Filho e do
Espírito Santo”.
3) Ministro:
 É o sacerdote aprovado pelo Bispo para ouvir confissões, pois para administrar
validamente este Sacramento, não basta o poder da Ordem, mas também é necessário o
poder de jurisdição, isto é, a faculdade de julgar, que deve ser dada pelo Bispo.

“A Penitência impele o pecador a suportar tudo de boa vontade. Em seu coração


está o arrependimento; em sua boca, a acusação; em suas obras, plena humildade e proveitosa
satisfação” (São João Crisóstomo).

 Uma vez que Cristo confiou aos Apóstolos o ministério da reconciliação; os


bispos, seus sucessores, e os presbíteros, colaboradores dos bispos, continuam a exercer tal
ministério.
 O bispo, chefe visível da Igreja particular, é justamente considerado, desde os
tempos antigos, como o principal detentor do poder e ministério da Reconciliação: é o
moderador da disciplina penitencial. Os presbíteros, seus colaboradores, exercem-no na
medida em que receberam o respectivo encargo, quer do seu bispo (ou dum superior religioso),
quer do Papa, através do direito da Igreja.
 Certos pecados particularmente graves são punidos pela excomunhão, a pena
eclesiástica mais severa, que impede a recepção dos Sacramentos e o exercício de certos atos
eclesiásticos e cuja absolvição, por conseguinte, só pode ser dada, segundo o direito da Igreja,
pelo Papa, pelo bispo do lugar ou por sacerdotes por eles autorizados.
 Em caso de perigo de morte, qualquer sacerdote, mesmo que careça da
faculdade de ouvir confissões, pode absolver de qualquer pecado e de toda a excomunhão.
 Os sacerdotes devem exortar os fiéis a aproximarem-se do Sacramento da
Penitência; e devem mostrar-se disponíveis para a celebração deste Sacramento, sempre que
os cristãos o peçam de modo razoável.

62
Catecismo Romano.
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 Dada a delicadeza e a grandeza deste ministério e o respeito devido às


pessoas, a Igreja declara que todo o sacerdote que ouve confissões está obrigado a guardar
segredo absoluto sobre os pecados que os seus penitentes lhe confessaram, sob penas
severíssimas. Este segredo, que não admite exceções, é chamado “sigilo sacramental”,
porque aquilo que o penitente manifestou ao sacerdote fica “selado” pelo Sacramento.

e) Os Atos Sacramentais:

No decorrer dos séculos, a forma concreta segundo a qual a Igreja exerceu este
poder recebido do Senhor variou muito. Contudo, mesmo através das mudanças que a
disciplina e a celebração deste Sacramento têm conhecido, distingue-se a mesma estrutura
fundamental. Esta inclui dois elementos igualmente essenciais: por um lado, os atos do
homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a
satisfação: por outro, a ação de Deus pela intervenção da Igreja. A Igreja que, por meio do
bispo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa o
modo da satisfação, também reza pelo pecador e faz penitência com ele. Assim, o pecador á
curado e restabelecido na comunhão eclesial.
A fórmula de absolvição exprime os elementos essenciais deste Sacramento: o Pai
das misericórdias é a fonte de todo o perdão. Ele realiza a reconciliação dos pecadores pela
Páscoa do seu Filho e pelo dom do seu Espírito, através da oração e do ministério da Igreja:

“Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho,


reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te
conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E Eu te absolvo dos teus pecados em nome
do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

Assim temos:
 por parte do pecador: contrição, confissão e satisfação;
 por parte do sacerdote: absolvição;
 
“Como razão de ser dessas três partes da Penitência, podemos alegar que os
pecados contra Deus são precisamente cometidos por pensamentos, palavras e obras. Havia,
pois, justiça e conveniência que, para nos sujeitarmos às chaves da Igreja, procurássemos
aplacar a cólera de Deus, e conseguir d’Ele o perdão dos pecados, pelos mesmo meios, com
que havíamos ultrajado a santíssima Majestade Divina”63.
 
1) Contrição:
 A palavra “contrição” significa fratura ou despedaçamento, como quando uma
pedra é esmagada e reduzida a pó. Trata-se de um desgosto da alma, pelo qual se detesta os

63
Catecismo Romano.
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pecados cometidos e se propõe não os tornar a cometer no futuro. Dá-se o nome de contrição
à dor dos pecados para significar que o coração duro do pecador se despedaça pela dor de ter
ofendido a Deus. Entre os atos do penitente, a contrição ocupa o primeiro lugar.
 Quando procedente do amor de Deus, amado sobre todas as coisas, a contrição
é dita “perfeita” (contrição de caridade). Uma tal contrição perdoa as faltas veniais: obtém
igualmente o perdão dos pecados mortais, se incluir o propósito firme de recorrer, logo que
possível, à confissão sacramental.
 A contrição dita “imperfeita” (ou “atrição”) é, também ela, um dom de Deus, um
impulso do Espírito Santo. Nasce da consideração da fealdade do pecado ou do temor da
condenação eterna e das outras penas de que o pecador está ameaçado (contrição por
temor). Um tal abalo da consciência pode dar início a uma evolução interior, que será levada a
bom termo sob a ação da graça, pela absolvição sacramental. No entanto, por si mesma, a
contrição imperfeita não obtém o perdão dos pecados graves, mas dispõe para obtê-lo no
Sacramento da Penitência.
 É conveniente que a recepção deste sacramento seja preparada por um exame
de consciência, feito à luz da Palavra de Deus, Decálogo e na catequese moral dos
evangelhos e das cartas dos Apóstolos: sermão da montanha e ensinamentos apostólicos.

Ato de Contrição:
 “Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu,
por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas, e
porque vos amo e estimo, pesa-me, Senhor, de todo o meu coração de vos Ter ofendido; pesa-
me também de ter perdido o céu e merecido o inferno; e proponho firmemente, ajudado com os
auxílios de vossa divina graça, emendar-me e nunca mais vos tornar a ofender. Espero alcançar
o perdão de minhas culpas pela vossa infinita misericórdia. Amém”

2) Confissão:
 Trata-se da acusação distinta dos nossos pecados ao confessor, para dele
recebermos a absolvição e a Penitência. Chama-se também acusação porque não deve ser
apenas uma narração indiferente, mas uma verdadeira e dolorosa manifestação dos próprios
pecados. A confissão (a acusação) dos pecados, mesmo de um ponto de vista simplesmente
humano, liberta-nos e facilita a nossa reconciliação com os outros. Pela confissão assume a
sua responsabilidade e, desse modo, abre-se de novo a Deus e à comunhão da Igreja, para
tornar possível um futuro diferente.
 A confissão ao sacerdote constitui uma parte essencial do Sacramento da
Penitência:

“Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que


têm consciência, após se terem seriamente examinado, mesmo que tais pecados sejam
secretíssimos e tenham sido cometidos apenas contra os dois últimos preceitos do Decálogo;

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porque, por vezes, estes pecados ferem mais gravemente a alma e são mais perigosos que os
cometidos à vista de todos”.

 Segundo o mandamento da Igreja, “todo o fiel que tenha atingido a idade da


discrição, está obrigado a confessar fielmente os pecados graves, ao menos uma vez ao ano”.
Aquele que tem consciência de haver cometido um pecado mortal, não deve receber a sagrada
Comunhão, mesmo que tenha uma grande contrição, sem ter previamente recebido a
absolvição sacramental; a não ser que tenha um motivo grave para comungar e não lhe seja
possível encontrar-se com um confessor. As crianças devem aceder ao Sacramento da
Penitência antes de receberem pela primeira vez a Sagrada Comunhão.
 Sem ser estritamente necessária, a confissão das faltas quotidianas (pecados
veniais) é vivamente recomendada pela Igreja. Com efeito, a confissão regular dos nossos
pecados veniais ajuda-nos a formar a nossa consciência, a lutar contra as más inclinações, a
deixarmo-nos curar por Cristo, a progredir na vida do Espírito. Recebendo com maior
frequência, neste Sacramento, o dom da misericórdia do Pai, somos levados a ser
misericordiosos como Ele.
 Para se fazer uma confissão bem feita se requer cinco coisas: exame de
consciência; dor de ter ofendido a Deus; propósito de nunca mais pecar; acusação dos
próprios pecados; satisfação ou penitência. Para bem nos confessarmos devemos, antes
de tudo, pedir ao Senhor que nos dê luz para conhecer todos os nossos pecados e força para
os detestar.
(a) O Exame de consciência:
 Trata-se de uma diligente investigação dos pecados que se cometeram,
desde a última confissão bem feita. É feito trazendo à memória, na presença de Deus, todos os
pecados ainda não confessados, cometidos por pensamentos, palavras, obras e omissões
contra os Mandamentos de Deus e da Igreja, e contra as obrigações do próprio Estado.
Devemos examinar-nos também sobre os maus hábitos, sobre as ocasiões de pecado e sobre
o número dos pecados mortais.
 Facilita-se o exame para a confissão fazendo-se todas as noites o exame
de consciência sobre as ações do dia.
(1) Pecado Mortal e Pecado Venial:
 O pecado é uma ofensa a Deus, na desobediência ao Seu amor.
Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. A repetição do  pecado
gera o vício. Podemos distinguir entre pecado mortal e venial. O pecado mortal, destrói a
caridade, priva-nos da graça santificante e conduz-nos à morte eterna do inferno, se dele não
nos arrependermos. É perdoado ordinariamente mediante os Sacramentos do Batismo e da
Penitência ou Reconciliação.
 Para que haja pecado grave (mortal) é necessário:
→ conhecimento, ou seja, a pessoa deve saber, estar informada que
o ato a ser praticado é pecado;

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→ consentimento, ou seja, a pessoa tem tempo para refletir, e


escolhe (consente) cometer o pecado;
→ liberdade, isto é, significa que somente comete pecado quem é
livre para fazê-lo;
→ matéria, ou seja, significa que o ato a ser praticado é uma ofensa
grave aos Mandamentos de Deus e da Igreja. 
 Estas 4 condições também são aplicáveis aos pecados leves, com
a diferença que neste caso a matéria é uma ofensa leve contra os Mandamentos de Deus. 
 O pecado venial, que difere essencialmente do pecado mortal,
comete-se quando se trata de matéria leve ou mesmo grave, mas sem pleno conhecimento ou
sem total consentimento. Não quebra a aliança com Deus, mas enfraquece a caridade; manifesta
um afeto desordenado pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes
e na prática do bem moral; merece penas purificatórias temporais.
 
“Quando alguém confessa, sinceramente, seus pecados ao sacerdote, estando
arrependido de os haver cometido, tendo ao mesmo tempo o propósito de não tornar a cometê-
los, todos os seus pecados lhe são plenamente perdoados, em virtude do poder das chaves,
ainda que a dor de sua contrição, de per si, não seja suficiente para impetrar a remissão dos
pecados”64.

 Depois de feito o exame de consciência, com a dor e o propósito,


devemos ir ao confessor para acusar os pecados e receber a absolvição.
 Somos obrigados a confessar-nos de todos os pecados mortais. É bom,
porém, confessar também os veniais. As qualidades principais que deve ter a acusação dos
pecados são cinco: humildade; integralidade; sinceridade; prudência; brevidade.
 Quem não tiver a certeza de ter cometido um pecado, não é obrigado a
confessá-lo. Se, porém o quiser acusar, deverá acrescentar que não tem a certeza de o ter
cometido. Quem não se lembra exatamente do número dos seus pecados, deve acusar o
número aproximado.
 Quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal ou uma
circunstância necessária, fez uma boa confissão, contanto que tenha empregado a devida
diligência no exame de consciência. Se um pecado mortal esquecido na confissão volta depois
à lembrança somos obrigados a acusá-lo na primeira vez que de novo nos confessarmos.
 Quem, por vergonha ou por qualquer outro motivo culpável, cala
voluntariamente algum pecado mortal na confissão, profana o Sacramento e por isso torna-se
réu de gravíssimo sacrilégio.
 Quem ocultou culpavelmente algum pecado mortal na confissão, deve
expor ao confessor o pecado ocultado, dizer em quantas confissões o ocultou e repetir todas
as confissões desde a última bem feita.

64
Catecismo Romano.
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(2) Modo de se confessar:


 Posição do penitente:
“Quem está, pois, arrependido de seus pecados, prostra-se humildemente
aos pés do sacerdote, para que esse ato exterior de humildade lhe faça reconhecer como é
necessário arrancar da alma todas as raízes de orgulho, donde nasceram e vingaram todos os
pecados que agora lamenta”65.
 Posição do sacerdote:
“No sacerdote, que se conserva sentado, como seu legítimo juiz, venera ele
a pessoa e o poder de Cristo Nosso Senhor. Pois na administração da Penitência, como nos
demais Sacramentos, o sacerdote exerce o ministério de Cristo”66.
 Sequência:
→ colocar-se de joelhos aos pés do confessor e dizer: “ abençoai-me,
Padre, porque pequei”;
→ enquanto o confessor dá a bênção deve-se inclinar humildemente para
recebê-la, fazendo o sinal da Cruz;
→ depois de feito o sinal da cruz, deve-se dizer: “ confessei-me em tal
tempo; por graça de Deus recebi a absolvição, cumpri a penitência, e fui à Comunhão ”; em
seguida faz-se a acusação dos pecados;
→ terminada a acusação dos pecados deve-se dizer: “ acuso-me ainda de
todos os pecados da vida passada, especialmente contra tal ou tal virtude ”;
→ depois desta acusação deve-se dizer: “de todos estes pecados e de
todos aqueles de que não me lembro, peço perdão a Deus de todo o meu coração; e a vós, Padre,
peço a penitência e a absolvição”;
→ concluída a acusação dos pecados, deve-se ouvir com respeito o que
disser o confessor, aceitar a penitência com sincera vontade de cumpri-la e enquanto ele dá a
absolvição, renovar o ato de contrição;
→ depois de receber a absolvição, é preciso agradecer a Nosso Senhor,
cumprir quanto antes a penitência e pôr em pratica os avisos do confessor;
3) Absolvição:
 Trata-se da sentença que o sacerdote pronuncia em nome de Jesus Cristo, para
perdoar os pecados ao pecador.
  Os confessores devem dar a absolvição somente àqueles que julgam bem
dispostos a recebê-la. Ele não só podem; mas devem diferir ou negar a absolvição em certos
casos, para não profanar o Sacramento. Os penitentes que se devem considerar mal dispostos
são principalmente:
  aqueles que não sabem os mistérios principais da fé, ou não se importam de
aprender a doutrina cristã;
 aqueles que são gravemente negligentes em fazer o exame de consciência
ou não dão sinais de dor e arrependimento;
65
Catecismo Romano.
66
Catecismo Romano.
46
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

 aqueles que não perdoam de coração aos seus inimigos;


 aqueles que não querem empregar os meios para se corrigir dos seus maus
hábitos;
 aqueles que não querem fugir das ocasiões próximas de pecado;

“Assim como uma moléstia é tida como incurável, se a pessoa atacada sente
horror ao remédio, que lhe pode restituir a saúde: assim há também certa espécie de pecados,
para os quais não se dá nenhum perdão, porque levam a repelir o remédio próprio da salvação,
que é a graça de Deus”67.

 A confissão individual e íntegra, bem como a absolvição, constituem o único


modo ordinário, com o qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a
Igreja (CIC, 960), requerida por preceito divino e também para um grande bem à alma do
penitente68. Somente a impossibilidade física ou moral escusa de tal confissão; neste caso,
pode haver a reconciliação também por outros modos (CIC § 960). A impossibilidade física
para a confissão individual e íntegra dos pecados se dá quando uma pessoa não pode falar ou
quando existe iminente perigo e não há tempo para confessar-se, por exemplo, um incêndio ou
durante uma catástrofe. A impossibilidade moral se dá quando existe o perigo de violação do
sigilo sacramental, por exemplo, no regime de perseguição à Igreja, o confessor não tem a
certeza de que a confissão do penitente se manterá em sigilo.
 A grande afluência de penitentes não é causa suficiente para apelar à
absolvição coletiva. Não cabe ao confessor julgar se, em um caso concreto, pode aplicá-la.
Somente ao Bispo diocesano, de acordo com os demais membros da Conferência Episcopal
cabe fazê-lo e, evidentemente, dentro das normas contidas na Carta Apostólica.

4) Satisfação:
 Trata-se da oração ou outra boa obra, que o confessor impõe ao pecador em
expiação dos seus pecados.
  Muitos pecados prejudicam o próximo. O pecado fere e enfraquece o próprio
pecador, assim como as suas relações com Deus e com o próximo. A absolvição tira o pecado,
mas não remedeia todas as desordens causadas pelo pecado. Aliviado do pecado, o pecador
deve ainda recuperar a perfeita saúde espiritual. Ele deve, pois, fazer mais alguma coisa para
reparar os seus pecados: “satisfazer” de modo apropriado ou “expiar” os seus pecados. A esta
satisfação também se chama “penitência”.
 A penitência que o confessor impõe deve ter em conta a situação pessoal do
penitente e procurar o seu bem espiritual. Deve corresponder, quanto possível, à gravidade e
natureza dos pecados cometidos.
67
Catecismo Romano.
68
Concílio De Trento, Sobre o Sacramento da Penitência. In: DS 1704; 1706–1709; Sagrada Congregação Para a Doutrina Da
Fé, Normae Pastorales Sacramentum Paenitentie. In: AAS 64 (1972), p. 501, n. 1.
47
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

 
“Todo pecado acarreta consigo duas consequências: culpa e castigo.
Ainda que, pela extinção da culpa, seja também perdoado o suplício da morte eterna no inferno,
todavia, como declarou o Concílio de Trento, Nosso Senhor nem sempre perdoa os
remanescentes dos pecados e a pena temporal que lhes é devida”69.
 
 A satisfação são os atos do penitente, com os quais ele dá uma certa
reparação à justiça divina pelos pecados cometidos pondo em prática aquelas obras que o
confessor lhe impõe. O penitente é obrigado a aceitar a penitência que o confessor lhe
impõe, se a pode cumprir; e se não a pode, deve dizê-lo humildemente ao mesmo confessor,
pedindo-lhe outra. A penitência é imposta porque de ordinário depois da absolvição
sacramental que perdoa a culpa e a pena eterna resta uma pena temporal a pagar neste
mundo ou no Purgatório.

“Em sua razão de ser, a justiça divina parece exigir que Deus tenha uma maneira
para reabilitar aqueles que, antes do Batismo, pecaram por ignorância; e outra diferente, para
aqueles que não temeram profanar, advertidamente, o templo de Deus e contristar o Espírito
Santo, uma vez que haviam sido libertados da escravidão do pecado e do demônio, e que
haviam recebido o dom do Espírito Santo. Corresponde também à bondade divina que os
pecados não nos sejam assim perdoados, sem nenhuma satisfação, para evitar que, na primeira
ocasião, tenhamos os pecados por muito leves, e, com atrevida afronta ao Espírito Santo,
caiamos em outros mais graves, cumulando ira sobre nós para o dia da ira. Sem dúvida alguma,
estas penas satisfatórias são de grande eficácia para apartar do pecado; reprimem à semelhança
de freios, e tornam os penitentes mais precavidos e vigilantes para o futuro” (Concílio de
Trento).
  Se o confessor não marcou tempo, a penitência deve cumprir-se o quanto
antes, e deve fazer-se a diligência por cumpri-la em estado de graça. Ela deve ser cumprida na
sua integridade e com devoção.
 Os pecados depois do Batismo são muito mais graves, visto serem cometidos
com maior conhecimento e ingratidão aos benefícios de Deus, e também para que a
obrigação de satisfazer por eles sirva de freio para não se recair no pecado.  Somente com
nossas forças não podemos dar satisfação a Deus, mas nós o podemos unindo-nos a Jesus
Cristo, que, com os merecimentos da sua Paixão e morte, dá valor às nossas ações. De
ordinário, a Penitência que dá o confessor não é bastante para pagar a pena devida pelos
pecados. Por isso deve-se fazer a diligência para suprir com outras penitências voluntárias.
 Os atingidos pelos nossos pecados se reduzem a três: Deus, o próximo e nós
mesmos. As obras de penitência reduzem-se a três espécies: oração, jejum e esmola. Pela
oração aplacamos a Deus; pela esmola, damos satisfação ao próximo; pelo jejum, infligimos
castigo a nós mesmos.

69
Ibidem.
48
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

→ oração: toda espécie de exercícios de piedade;


→ jejum: toda espécie de mortificação;
→ esmola: toda e qualquer obra de misericórdia espiritual e corporal;
 A Penitência que nos dá o confessor é mais meritória que a que fazemos por
nossa escolha, porque, sendo parte do Sacramento, recebe maior virtude dos merecimentos da
Paixão de Cristo.
 Aqueles que morrem depois de ter recebido a absolvição sem terem satisfeito
plenamente à justiça de Deus vão para o Purgatório, para ali satisfazerem à justiça de Deus e
se purificarem inteiramente. As almas do Purgatório podem ser aliviadas com orações, com
esmolas, com todas as demais boas obras e com as indulgências, mas; sobretudo com o Santo
Sacrifício da Missa.
 Depois da confissão, além de cumprir a penitência, se danificou injustamente o
próximo nos bens ou na honra, ou se lhe deu escândalo, o penitente deve, o mais breve e na
medida em que for possível, restituir-lhe os bens, reparar-lhe a honra e remediar o escândalo.
Reparamos o escândalo fazendo cessar a ocasião dele e edificando com as palavras e com o
bom exemplo aqueles que tenhamos escandalizado. Satisfazemos o próximo quando o
tivermos ofendido pedindo-lhe perdão ou dando-lhe alguma outra reparação conveniente.

f) Os efeitos do Sacramento da Reconciliação:

“Toda a eficácia da Penitência consiste em nos restituir à graça de Deus e em unir-nos


a Ele numa amizade perfeita”. O fim e o efeito deste Sacramento são, pois, a reconciliação
com Deus. A reconciliação com Deus leva a uma verdadeira “ressurreição espiritual”, à
restituição da dignidade e dos bens próprios da vida dos filhos de Deus.
Este Sacramento reconcilia-nos com a Igreja. O pecado abala ou rompe a
comunhão fraterna. O Sacramento da Penitência repara-a ou restaura-a. Exerce um efeito
vivificante sobre a vida da Igreja que sofreu com o pecado de um dos seus membros.
Neste Sacramento, o pecador, remetendo-se ao juízo misericordioso de Deus, de
certo modo antecipa o julgamento a que será submetido no fim desta vida terrena.
Convertendo-se a Cristo pela penitência e pela fé, o pecador passa da morte à vida “e não é
sujeito a julgamento” (Jo 5, 24).

g) As Indulgências:
 
O Catecismo da Igreja Católica afirma que: “ Pelas indulgências, os fiéis podem obter
para si mesmos e também para as almas do Purgatório, a remissão das penas temporais,
sequelas dos pecados” (CIC §1498).
O Papa Paulo VI (1963-1978), na Constituição Apostólica Doutrina das
Indulgências (DI), ensina com clareza toda a verdade sobre esta matéria. Começa dizendo
que: “A doutrina e o uso das indulgências vigentes na Igreja Católica há vários séculos

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encontram sólido apoio na Revelação Divina, a qual vindo dos Apóstolos ‘se desenvolve na
Igreja sob a assistência do Espírito Santo’, enquanto ‘a Igreja no decorrer dos séculos, tende
para a plenitude da verdade divina, até que se cumpram nela as palavras de Deus ( DV, 8)” (DI,
1).
Assim, fica claro que as indulgências têm base sólida na doutrina católica (Revelação
e Tradição) e, como disse Paulo VI, “ se desenvolve na Igreja sob a inspiração do Espírito
Santo”.
Podemos então dizer que as “indulgências” tratam da remissão da pena temporal
devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, remissão que a Igreja concede fora do
Sacramento da Penitência. Tal poder a Igreja recebeu de Jesus Cristo. A Igreja perdoa a
pena temporal aplicando-nos as satisfações superabundantes de Jesus Cristo, da Santíssima
Virgem Maria e dos Santos, as quais formam o que se chama de tesouro da Igreja.
O poder de conceder indulgências pertence ao Papa em toda a Igreja, e ao Bispo, na
sua diocese, na medida em que lhe é concedido pelo Papa.
Há duas espécies de indulgências: 
 plenária: perdoa toda a pena temporal devida pelos nossos pecados; se alguém
morresse depois de ter recebido esta indulgência, iria logo para o Céu, inteiramente isento das
penas do Purgatório;
 parcial: perdoa só uma parte da pena temporal, devida pelos nossos pecados;
 A intenção da Igreja ao conceder as indulgências é auxiliar a nossa incapacidade de
expiar neste mundo toda a pena temporal, fazendo-nos conseguir por meio de obras de
piedade e de caridade cristã aquilo que nos primeiros séculos Ela obtinha com o rigor dos
cânones penitenciais.
Para se ganhar as indulgências se requerem as seguintes condições: 
 estado de graça, pelo menos ao cumprir a última obra, e o desapego mesmo
das culpas veniais cuja a pena se quer apagar;
 o cumprimento das obras que a Igreja prescreve para se ganhar a indulgência;
 a intenção de ganhá-las;
 As indulgências podem ser aplicadas também às almas do Purgatório quando quem
as concede declara que se lhes podem aplicar.

13. O SACRAMENTO DA UNÇÃ O DOS ENFERMOS:


Continuamos nosso estudo a respeito dos Sacramentos de Cura. Agora veremos o
Sacramento da Unção dos Enfermos70.

a) O ser humano frente à enfermidade:

70
Baseado no texto “Unção dos enfermos” – de Joaquim Fonseca, ofm.
50
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Dentre os muitos dramas enfrentados pelo ser humano está a doença, trazendo
consequências tanto para o paciente como para familiares e amigos. A busca da cura nem
sempre é caminho fácil, face a precária infraestrutura para atendimento nos sistemas de saúde
publica ou particular. O descaso dos poderes públicos quanto à prevenção de doenças e ao
atendimento médico e hospitalar é uma triste realidade. A Igreja, desde seus primórdios, tem
marcado presença e prestado assistência aos seus filhos e filhas enfermos.

b) A enfermidade e a cura na Sagrada Escritura:

O binômio doença-cura no Antigo Testamento deve ser compreendido a partir do


contexto cultural do Oriente Antigo. Aqui, a doença aparece relacionada com as forças do mal
e com o pecado. Uma forma comum de se obter a cura era a prática de exorcismos e ritos
mágicos de cura. Na Bíblia, a questão da doença não é abordada de forma isolada ou mesmo
do ponto de vista estrito da ciência, mas sim a partir da perspectiva religiosa, da relação do
enfermo com Deus e vice-versa. A doença é tida como algo que afeta o ser humano na sua
inteireza.
Mais que perguntar sobre a causa natural da doença, a Sagrada Escritura se ocupa
de sua significação ou de seu porquê. Disso decorrem interpretações diversas, sendo
comum a vinculação da enfermidade ao pecado, ao castigo de Deus e à possessão
demoníaca.
No Novo Testamento, há inúmeras referências sobre diferentes tipos de doença
(febre, hemorragia, hidropisia…), bem como sobre pessoas deficientes (coxos, cegos, surdos,
mudos, paralíticos…). Os meios empregados para a cura são: óleo (Mc 6,13; Lc 3,18; Tg
5,14), vinho (Lc 10,34), colírio para os olhos (Ap 3,18), águas termais (Jo 5,2ss.), saliva (Mc
7,33; Jo 9,6), barro (Jo 9,6ss.). Jesus se utiliza desses meios terapêuticos para dar novo
sentido ao mistério do sofrimento humano. Longe do curandeirismo, as curas realizadas por
Jesus são, na verdade, sinais messiânicos da salvação acontecendo aqui e agora e apontam
para a escatologia plena do Reino do Pai, onde não haverá sofrimento, nem choro, nem dor.
Tais curas realizadas são sinais simbólico-sacramentais do poder libertador de Jesus em
favor do ser humano integral, a saber: a cura da enfermidade do corpo e a libertação da
pessoa do pecado e da morte. Jesus desvincula a concepção de que a doença é consequência
do pecado ou castigo de Deus.
Os discípulos de Jesus deram continuidade ao exemplo do Mestre. Curar os enfermos
era tarefa primordial da missão evangelizadora da comunidade apostólica: “ Eles saíram para
proclamar que o povo se convertesse. Expulsavam muitos demônios, ungiam com óleo
numerosos doentes e os curavam” (Mc 6,12-13). O livro dos Atos dos Apóstolos, especialmente
nos capítulos 2 e 3, descreve como a comunidade dos fiéis crescia mediante a pregação, a
conversão, o Batismo, a Eucaristia e outras ações extraordinárias realizadas em nome de
Cristo, como, por exemplo, a “cura do paralítico” (At 3,1-26). Essas ações são como uma

51
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repetição daquelas que Jesus realizou e têm as mesmas sequências do que vem narrado nos
evangelhos.

c) A enfermidade e a cura na Prática da Igreja:

As comunidades cristãs, desde cedo, buscaram pôr em prática os gestos (rituais) de


cura realizados por Jesus. O texto da Carta de Tiago é um importante testemunho disso. Esse
texto serviu de base para a reflexão teológica posterior sobre o que chamamos hoje de
“Sacramento da Unção dos Enfermos”. Ei-lo:

“Alguém de vós está sofrendo? Recorra à oração. Alguém está alegre? Entoe
hinos. Alguém de vós está doente? Mande chamar os presbíteros da igreja, para que orem sobre
ele, ungindo-o com óleo no nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o
levantará. E se tiver cometido pecados, receberá o perdão” (Tg 5,13-16).

O apóstolo Tiago, além de apresentar uma prática em vias de institucionalização,


utiliza termos que expressam a complexidade existencial da situação do doente e a ação
pastoral da comunidade: oração, unção, conforto e alívio, cura, perdão dos pecados. Diferente
das demais referências neotestamentárias71 sobre a enfermidade e a cura, o texto de Tiago
apresenta, de forma mais explícita, a intenção sacramental do gesto, unido à palavra de
oração que a comunidade eleva a Deus em favor do enfermo.
Ao falar do sofrimento e da alegria, o Apóstolo deixa entrever que, seja qual for a
circunstância vital, tudo deve ser visto a partir de Deus e para Deus (oração e canto). Em
seguida, fala da enfermidade como tal, e é quando se chama os presbíteros da comunidade.
Esses agem com um gesto simbólico, a unção com óleo e uma oração feita com fé. O efeito
dessa dupla ação será a salvação, o reerguimento e o perdão dos pecados.
Enfim, Tiago fala de ritos destinados a quem está doente, não necessariamente
moribundo. Trata-se de uma ação de caráter eclesial e comunitário, uma vez que é ministrada
pelos presbíteros da Igreja. A eficácia está relacionada à oração de fé no Senhor. Os efeitos se
referem ao ser humano, na sua totalidade, embora não excluam a cura corporal e não se
restrinjam a ela. Todavia, o texto em questão, para ser entendido no sentido do Sacramento da
Unção dos Enfermos, deve ser lido à luz da Tradição da Igreja.
Dentre os documentos conciliares (CVII) que aludem ao Sacramento da Unção
dos Enfermos, além da Sacrosanctum Concilium, merece destaque a Constituição Lumen
Gentium (n.11). Aqui, vêm sublinhadas as dimensões eclesiológica, cristológica e antropológica
do Sacramento. Nos três números dedicados a esse Sacramento, a Sacrosanctum Concilium
determina:

71
Neotestamentário: Algo relativo ou referente ao Novo Testamento, porção bíblica que insere o período entre o
nascimento de Jesus Cristo e a consumação total.
52
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 Que seu melhor nome é “Unção dos Enfermos” e que não se trata de um
Sacramento só para quem está em perigo de morte, mas para outros doentes e pessoas
idosas (cf. SC, 73);
 Que, além dos ritos separados da Unção dos Enfermos e do viático, faça-se
um rito conjunto pelo qual se administre a Unção ao Enfermo depois da confissão e antes da
recepção do viático (cf. SC, 74). Essa ordenação penitência-unção-viático reproduz, de alguma
forma, aquela dos Sacramentos de Iniciação: batismo-confirmação-eucaristia;
 Que o número de unções seja acomodado às circunstâncias dos enfermos e
que os ritos sejam revistos para melhor corresponderem às condições dos destinatários do
Sacramento (cf. SC, 75). Outras orientações teológico-litúrgico-pastorais são encontradas na
“Constituição apostólica sobre o Sacramento da Unção dos Enfermos” de Paulo VI e na
“Introdução” do novo ritual da Unção dos Enfermos, publicado em janeiro de 1973.
A “Constituição apostólica” foi oportuna pelo fato de ter havido mudanças de
elementos essenciais do rito, como a matéria, a forma e as disposições sobre a
reiterabilidade do Sacramento. Para a matéria, ficou estabelecido que se pode utilizar outro
tipo de óleo vegetal, não exclusivamente o de oliveira. A fórmula do Sacramento foi alterada
em função de exprimir maior clareza sobre sua natureza e seus efeitos. O texto definitivo, na
tradução oficial brasileira, ficou assim: “ Por esta santa unção e pela sua infinita misericórdia, o
Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados,
ele te salve e, na sua bondade, alivie os teus sofrimentos ”. O número de unções é reduzido a
duas (na fronte e nas mãos), podendo ser restringido a uma só, na fronte, ou em outra parte do
corpo. O Sacramento pode ser administrado mais vezes, dependendo da duração da
enfermidade ou de seu agravamento.
Do ponto de vista da teologia litúrgica, o “Ritual da Unção dos Enfermos e sua
assistência pastoral” (1973) traz expressivos avanços, se comparado ao precedente (1614).
Dentre as inovações, merecem destaque:
 A centralidade do Mistério Pascal de Cristo que veio salvar o ser humano
integral. O Sacramento dos enfermos é memorial desse mistério, pois continua e atualiza a
ação salvífica de Cristo em favor dos doentes, completando, assim, neles, o que falta à sua
paixão (cf. Cl 1,24).
 A redescoberta do valor pneumático do Sacramento, especialmente na
fórmula de bênção do óleo.
 A dimensão eclesial e comunitária que perpassa todo o ritual. A Igreja se faz
presente junto ao enfermo com solicitude pastoral permanente, pois tem consciência de que o
doente é membro (sofredor) do corpo vivo de Cristo e que espera participar da sua glorificação.
O enfermo, por sua vez, imerso no mistério de seu sofrimento, também edifica a Igreja. As
diversas possibilidades e formas de celebração do sacramento – sobretudo com vários
enfermos ao mesmo tempo e com numerosa assembleia – atestam sua índole comunitária.

53
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Do ponto de vista antropológico, o novo ritual avança na compreensão holística72


do ser humano e o consequente efeito (holístico) do Sacramento para quem o recebe.

d) Como se celebra este Sacramento?

Como todos os Sacramentos, a Unção dos Enfermos é uma celebração litúrgica e


comunitária quer tenha lugar no seio da família, quer no hospital ou na igreja, para um só
doente ou para um grupo deles. Se as circunstâncias a tal convidarem, a celebração do
Sacramento pode ser precedida pelo Sacramento da Penitência e seguida pelo da Eucaristia.
Palavra e Sacramento formam um todo inseparável. A Liturgia da Palavra, precedida
dum ato penitencial, abre a celebração. As palavras de Cristo e o testemunho dos Apóstolos
despertam a fé do doente e da comunidade, para pedir ao Senhor a força do seu Espírito.
A celebração do Sacramento compreende principalmente os seguintes elementos:
“Os presbíteros da Igreja” impõem em silêncio - as mãos sobre os enfermos; rezam por eles na
fé da Igreja; é a epiclese própria deste Sacramento; então, conferem a unção com óleo,
benzido, se possível, pelo bispo. Estes atos litúrgicos indicam a graça que este Sacramento
confere aos doentes.

e) Os Efeitos do Sacramento da Unção dos Enfermos:

A primeira graça deste Sacramento é uma graça de reconforto, de paz e de coragem


para vencer as dificuldades próprias do estado de doença grave ou da fragilidade da velhice.
Esta graça é um dom do Espírito Santo, que renova a confiança e a fé em Deus, e dá força
contra as tentações do Maligno, especialmente a tentação do desânimo e da angústia da
morte. Esta assistência do Senhor pela força do seu Espírito visa levar o doente à cura da
alma, mas também à do corpo, se tal for a vontade de Deus. Além disso, “ se ele cometeu
pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5, 15).
Pela graça deste Sacramento, o enfermo recebe a força e o dom de se unir mais
intimamente à Paixão de Cristo: ele é, de certo modo, consagrado para produzir frutos pela
configuração com a paixão redentora do Salvador. O sofrimento, sequela do pecado original,
recebe um sentido novo: transforma-se em participação na obra salvífica de Jesus.
Uma graça eclesial. Ao celebrar este Sacramento, a Igreja, na comunhão dos santos,
intercede pelo bem do doente. E o doente, por seu lado, pela graça deste Sacramento,
contribui para a santificação da Igreja e para o bem de todos os homens, pelos quais a Igreja
sofre e se oferece, por Cristo, a Deus Pai.
Se o Sacramento da Unção dos Enfermos é concedido a todos os que sofrem de
doenças e enfermidades graves, com mais forte razão o é aos que estão prestes a deixar esta
vida (“in exitu vitae constituti”): de modo que também foi chamado “sacramentum exeuntium” –
72
Holístico - (adjetivo) Que considera o todo não somente como uma junção de suas partes; que busca entender os
fenômenos por completo, inteiramente. (Medicina) Tratamento que tem em consideração a pessoa como um todo, não
somente como um conjunto de seus sintomas; geralmente, tem métodos diferentes dos tradicionais.
54
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

“Sacramento dos que partem”. A Unção dos Enfermos completa a nossa conformação com a
morte e ressurreição de Cristo, tal como o Batismo a tinha começado. Leva à perfeição as
unções santas que marcam toda a vida cristã: a do Batismo selara em nós a vida nova: a da
Confirmação robustecera-nos para o combate desta vida; esta última unção mune o fim da
nossa vida terrena como que de um sólido escudo em vista das últimas batalhas, antes da
entrada na Casa do Pai.

f) O Viático – Último Sacramento do Cristão:

Àqueles que vão deixar esta vida, a Igreja oferece-lhes, além da Unção dos
Enfermos, a Eucaristia como viático73. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a
comunhão do corpo e sangue de Cristo tem um significado e uma importância particulares. É
semente de vida eterna e força de ressurreição, segundo as palavras do Senhor: “ Quem come
a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna: e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia” (Jo 6,
54). Sacramento de Cristo morto e ressuscitado, a Eucaristia é aqui Sacramento da passagem
da morte para a vida, deste mundo para o Pai.
Assim, do mesmo modo que os Sacramentos do Batismo, da Confirmação e da
Eucaristia constituem uma unidade chamada “os Sacramentos da Iniciação Cristã”, também
pode dizer-se que a Penitência, a Santa Unção e a Eucaristia, como viático, constituem,
quando a vida do cristão chega ao seu termo, “os Sacramentos que preparam a entrada na
Pátria” ou os Sacramentos com que termina a peregrinação.

14. O SACRAMENTO DA ORDEM:


Após termos estudado os Sacramentos da Iniciação Cristã e os Sacramentos de
Cura, passamos agora ao terceiro grupo: os Sacramentos de Serviço e Missão 74; inicialmente
focamos o Sacramento da Ordem.

a) O nome do Sacramento:

A palavra Ordem, na antiguidade romana, no sentido civil, designava o corpo dos que
governavam. Na Igreja existem corpos constituídos, que a Tradição, não sem fundamento na
Sagrada Escritura, designa, desde tempos antigos, com o nome de táxeis (em grego), ordines

73
É a Eucaristia recebida por aqueles que estão para deixar esta vida terrena e se preparam para a passagem à vida eterna.
Recebida no momento da passagem deste mundo ao Pai, a Comunhão do Corpo e Sangue de Cristo morto e ressuscitado é
semente de vida eterna e potência de ressurreição.
74
Baseado em texto de Francisco Taborda, sj.
55
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

(em latim): a liturgia fala assim do ordo episcoporum – ordem dos bispos –, do ordo
presbyterorum - ordem dos presbíteros – e do ordo diaconorum – ordem dos diáconos. Há
outros grupos que também recebem este nome de ordo: os catecúmenos, as virgens, os
esposos, as viúvas...
O termo “ordem” tem a vantagem de trazer à luz o caráter colegial ou corporativo
do ministério eclesial (cf. os Doze Mc 3,14; os Sete At 6,3; o presbitério At 15,6). À
ordenação não compete transmitir um poder possuído como indivíduo, mas incorporar num
grupo do mesmo grau, cuja tarefa consiste em contribuir para o bem da comunidade num
coletivo posto a serviço de unidade da Igreja.
Mas o termo “ordem” apresenta também uma desvantagem. Embora sua adoção seja
anterior à era constantiniana, teve consequências nefastas quando o cristianismo foi
reconhecido oficialmente no Império. Ao designar-se desta maneira o ministério eclesial,
transpôs-se aos bispos, presbíteros e diáconos a mentalidade rigorosamente hierarquizada
da burocracia imperial romana. Como consequência, passou a conceber-se o ministério em
termos de “carreira das honras” (em linguagem moderna: “plano de carreira”).

b) O Sacramento da Ordem na Economia da Salvação:

1) O sacerdócio da Antiga Aliança:


 O povo eleito foi constituído por Deus como “um reino de sacerdotes e uma
nação consagrada” (Ex 19, 6). E, dentro do povo de Israel, Deus escolheu a tribo de Levi, para
o serviço litúrgico. Um rito próprio consagrou as origens do sacerdócio da Antiga Aliança.
Nela, os sacerdotes são “constituídos em favor dos homens, nas coisas respeitantes a Deus,
para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados”.
 Instituído para anunciar a Palavra de Deus e para restabelecer a comunhão com
Deus pelos sacrifícios e a oração, aquele sacerdócio era, no entanto, impotente para operar a
salvação, precisando de repetir sem cessar os sacrifícios, sem poder alcançar uma santificação
definitiva  a qual só o sacrifício de Cristo havia de conseguir.
 No sacerdócio de Aarão e no serviço dos levitas, assim como na instituição dos
setenta “Anciãos”, a Igreja vê prefigurações do ministério ordenado da Nova Aliança.
2) O sacerdócio único de Cristo:
 A designação mais comum para o ministro ordenado é sacerdote e, no entanto,
é a menos adequada. Provém de uma releitura veterotestamentária75 do Novo Testamento,
que não usa para os ministros da Igreja termos tomados das religiões. Episkopos (termo do
qual deriva a palavra bispo) significa supervisor; presbítero quer dizer ancião; diácono é o
servidor da mesa. Tampouco Jesus foi sacerdote, pois não pertencia à tribo de Levi, condição
indispensável para o sacerdócio no judaísmo.
 O único escrito do Novo Testamento que qualifica Jesus como sacerdote é a
Carta aos Hebreus. E o faz para negar que Jesus seja sacerdote no sentido do sacerdócio

75
Veterotestamentário significa “relativo ao Velho (Antigo) Testamento”.
56
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ritual, aarônico76. O autor da Carta aos Hebreus quer mostrar como, depois de Cristo, não há
mais necessidade de sacerdotes. Ele o faz no estilo próprio da reflexão teológica judaica,
comparando a vida de Cristo com a ação do Sumo Sacerdote judeu no Dia do Perdão ( Yom
Kippur), o único dia do ano em que ele atravessava o véu do Templo e entrava no Santo dos
Santos. Jesus, por sua morte, atravessou o véu e entrou no verdadeiro Santuário do céu, onde
vive eternamente a interceder por nós (cf. Hb 7,25). Jesus exerce seu sacerdócio através de
sua vida, morte e ressurreição (cf. Hb 9–10). Seu sacerdócio não é ritual, mas existencial (cf.
Hb 10,4-10); seu sacrifício não se realiza num lugar sagrado, mas no profano, fora dos muros
da Cidade Santa de Jerusalém (cf. Hb 13,11-13); não precisa ser repetido, pois adquiriu para
nós uma redenção eterna (cf. Hb 9,12).
 Desta forma, se deve dizer que Cristo é o fim do sacerdócio (cf. a expressão de
Paulo: Cristo é o “fim da Lei”, cf. Rm 10,4). Fim significa ao mesmo tempo “término”,
desaparecimento do fenômeno em questão, e “culminação”, “meta”, aquilo a que algo tende.
Cristo é “fim” e “realização” de todo sacerdócio. A finalidade dos sacerdotes nas religiões era
mediar Deus e a humanidade. Ora, a distância entre Deus e a humanidade foi abolida em
Cristo. Primeiramente, porque, como homem e Deus (cf. DH 301-302), une definitiva e
escatologicamente os dois polos entre os quais os sacerdotes deviam fazer a mediação. Ele é,
em sua pessoa, o mediador único e perene (cf. 1Tm 2,5). Mas, além disso, tendo nos dado o
Espírito Santo, pelo qual o ser humano pode viver na imediatidade77 com Deus, dispensa
ulteriores sacerdotes. Pelo Espírito constituímos um povo sacerdotal (cf. 1Pd 2,5; Ap 1,6;
5,10), temos constantemente acesso ao Pai (cf. Hb 4,16), clamamos Abba (cf. Gl 4,6; Rm
8,15), somos ensinados por Deus (cf. Jo 6,45). Nossa imediatidade a Deus no Espírito torna o
sacerdócio dispensável (fim do sacerdócio) e Cristo é assim o único sacerdote (realização do
sacerdócio), pois nos possibilitou, de uma vez para sempre, o acesso constante e definitivo a
Deus. Tal acesso só existe no Espírito de Cristo (e não pela natureza humana). Por isso, a
Igreja é o povo sacerdotal por sua atividade missionária que continua a missão de Cristo (cf. Jo
20,21; 1Pd 2,9).
 Portanto, todas as prefigurações do sacerdócio da Antiga Aliança encontram a
sua realização em Cristo, “único mediador entre Deus e os homens ” (1Tm 2, 5). Melquisedec,
“sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14, 18), é considerado pela Tradição cristã como uma
prefiguração do sacerdócio de Cristo, único “ Sumo-Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec”
(Hb 5, l0; 6, 20), que “com uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que foram
santificados” (Hb 10, 14), isto é, pelo único sacrifício da sua cruz.
 O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas e no
entanto, é tornado presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo se diga do
sacerdócio único de Cristo, que é tornado presente pelo sacerdócio ministerial.
 Cristo escolheu seus Apóstolos e na última Ceia instituiu o sacerdócio da Nova
Aliança. Aos Apóstolos e aos seus sucessores no sacerdócio ordenou que renovassem na
Missa o sacrifício da cruz; e com estas palavras: " Fazei isto em minha memória" (Lc 22,19), os
76
Ref. a Aarão, irmão de Moises, da Tribo de Levi; instituídos por Deus para serem os sacerdotes de Israel (cf. Ex 28, 1-11).
77
Algo necessário com urgência, com prazo definido, de cunho imediato.
57
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instituiu sacerdotes do Novo Testamento. No dia da Ressurreição conferiu-lhes também o


poder de perdoar ou reter os pecados, outorgando-lhes o poder que Ele tinha. Os Apóstolos
sabiam que o sacerdócio deveria continuar na Igreja depois deles morrerem, depois de
evangelizar uma cidade e antes de deixa-la, impunham as mãos a outros, comunicando-lhes
o sacerdócio (cf 2Tm 1,6; At 14,23).
3) Duas participações no sacerdócio único de Cristo:
 Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja “ um reino de sacerdotes
para Deus seu Pai”. Toda a comunidade dos crentes, como tal, é uma comunidade
sacerdotal. Os fiéis exercem o seu sacerdócio batismal através da participação, cada qual
segundo a sua vocação própria, na missão de Cristo, sacerdote, profeta e rei. É pelos
Sacramentos do Batismo e da Confirmação que os fiéis são “ consagrados para serem um
sacerdócio santo”.
 O sacerdócio ministerial ou hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o
sacerdócio comum de todos os fiéis – embora “ um e outro, cada qual segundo o seu modo
próprio, participem do único sacerdócio de Cristo ” – são, no entanto, essencialmente diferentes
ainda que sendo “ordenados um para o outro”. Em que sentido? Enquanto o sacerdócio comum
dos fiéis se realiza no desenvolvimento da vida batismal – vida de fé, esperança e caridade,
vida segundo o Espírito – o sacerdócio ministerial está ao serviço do sacerdócio comum,
ordena-se ao desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos
quais Cristo não cessa de construir e guiar a sua igreja.
 No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à
sua Igreja, como Cabeça do seu Corpo, Pastor do seu rebanho, Sumo-Sacerdote do sacrifício
redentor, mestre da verdade. É o que a Igreja exprime quando diz que o padre, em virtude do
sacramento da Ordem, age in persona Christi Capitis – na pessoa de Cristo Cabeça.

c) Os Graus do Sacramento da Ordem:

Jesus é, pela missão que recebe de salvar nossas almas pelo sacrifício Redentor:
Rei, Profeta e Sacerdote. E Ele transmite à sua Igreja, no sacerdócio católico, os três poderes
que emanam dessas três propriedades:
 Como Rei, Jesus transmite à Igreja o poder de governar as almas;
 Como Profeta, Jesus transmite o poder de ensinar a sua Doutrina;
 Como Sacerdote, Jesus transmite o poder de santificar as almas.
O Sacerdócio é tão grande que podemos comparar com o “sim” de Maria, ela   nos
trouxe Jesus e os ministros ordenados nos trazem Jesus, através do anúncio da Palavra de
Deus e pela celebração dos Sacramentos. Assim, o Sacramento da Ordem confere ao cristão
vocacionado a exercer o ministério de coordenar a comunidade, consagrar, ungir e absolver os
pecados (são os líderes espirituais).
O 'sacerdote' é o mediador entre o homem e Deus no exercício do culto sagrado;
entre católicos e ortodoxos, é quem recebeu o Sacramento da Ordem.

58
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O Sacramento da Ordem consta de três graus subordinados um ao outro:


 Diácono: vem de diakonia, em grego = serviço. Sua vocação é o serviço à
comunidade, em todas as áreas. Anima as lideranças, forma catequistas, preside a Celebração
da Palavra... Pode ministrar os Sacramentos do Batismo, da Eucaristia, da Unção dos
Enfermos e do Matrimônio; dá bênçãos (casas, carros, objetos religiosos diversos), realiza as
Exéquias (pelos defuntos) dirige Adoração ao SS Sacramento e dá Bênção. Existem diáconos
permanentes e transitórios:
→ Diácono permanente – é aquele homem que após ter contraído o casamento
resolve servir de uma maneira especial à Jesus e à sua Igreja.  Em caso de viuvez não poderá
se casar.  Somente homens podem se tornar diáconos e com licença expressa da esposa. Os
diáconos permanentes agem em nome de Jesus “in persona” como os Padres.
→ Diácono transitório – é aquele jovem seminarista que está próximo a
terminar os estudos (4º ano de Teologia) e serão ordenados presbíteros, isto é, Padre ou
Sacerdote. Os diáconos usam a estola, isto é, símbolo do poder sacerdotal, atravessada do
ombro esquerdo caindo para a cintura do lado direito.
 Padre/Presbítero: é o pai espiritual, o guia da comunidade. Sua função é a de
servir como base e apoio para toda a comunidade, no processo de crescimento na fé. Anima
as lideranças, auxilia na administração paroquial, promove formação. Além de administrar
Batismo, Matrimônio, Confissão e Unção dos Enfermos, o padre preside a Celebração
Eucarística. É o padre que realiza o memorial da Ceia de Jesus, a Eucaristia.
→ Os sacerdotes 'regulares' estão vinculados à regra de uma ordem; os
'seculares', dependem diretamente do bispo e atuam no âmbito da diocese.
 Bispo: preside e coordena a Igreja local, ou seja, diocese. Sua figura nos
lembra os apóstolos, líderes da Igreja desde os primeiros tempos.
→ O termo bispo vem do grego 'epíscopos' significa, 'vigiar', atuar como
supervisor. É o sucessor dos apóstolos, que recebe, com a consagração episcopal, a missão
de santificar, ensinar e governar; a ele é confiada a 'diocese', do grego 'dioíkesis'.
→ O bispo é a autoridade máxima da Igreja, em ordem, jurisdição e magistério;
→ Ao bispo compete governar a diocese com o auxílio dos ordinários. O bispo
exerce, simultaneamente, o poder executivo, legislativo e judiciário na Igreja .
→ Aos bispos compete ministrar os Sacramentos da Ordem (ordenar presbíteros
e consagrar bispos) e da Crisma, privativamente (sempre durante o ritual da santa missa);
ordenar diáconos e conferir ministérios - como o leitorato e o acolitato permanente - são,
também, funções exclusivas do bispo.
→ Ao bispo compete julgar as questões legais afetas ao relacionamento da
Igreja com os leigos e as questões internas da Igreja local. O bispo também é o responsável
pelo deslocamento dos sacerdotes de sua diocese, pelas paróquias a ele subordinadas;
nomeia os seus auxiliares diocesanos, e tem a incumbência de convocar o sínodo diocesano
e criar paróquias quando necessário.

59
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→ Os bispos formam o Colégio Episcopal ao lado do Papa (Bispo de Roma), a


autoridade máxima da Igreja. Os bispos só se submetem ao poder papal ou às decisões da
cúria romana e do colégio universal.
→ O Arcebispo, por sua vez, não é superior ao bispo, sua função é de caráter
administrativo. O Arcebispo coordena as dioceses de uma província eclesiástica, convoca o
sínodo provincial, define as linhas pastorais, trata da educação confessional nas escolas de
ordens religiosas com os bispos das dioceses dessa província. Define, também, temas com os
superiores das ordens religiosas; e pode exercer funções dos bispos dos ritos orientais, sem
representação no país.
→ Os Cardeais também não são superiores aos bispos, eles são bispos que
auxiliam mais de perto o Papa; geralmente, ocupando cargos na Cúria romana e possuem a
prerrogativa, até os 75 anos, de eleger o sucessor do Pontífice.
→ Somente o Papa tem o poder de erigir, modificar ou suprimir uma diocese,
nomear Cardeais e autorizar a consagração de bispos. Atualmente, estão em vigor três modos
de nomear os bispos: a) Eleição - segundo o direito universal, confirmada pelo romano
pontífice, que confere a missão canônica; b) Livre nomeação por parte do Papa - é o modo
principal em uso na Igreja latina (o bispo deve ter pelo menos 35 anos de idade e 5 de
sacerdócio ativo); c) designação da autoridade civil.
→ Os bispos distinguem-se em: a) diocesanos sufragâneos, quando
dependem de um metropolita e fazem parte de uma província eclesiástica; b) diocesanos
isentos, quando dependem da Santa Sé; c) titulares coadjutores, quando servem de ajuda
ao bispo diocesano, com direito de sucessão; d) titulares auxiliares, de ajuda ao bispo
diocesano, com ou sem faculdades especiais; e) eméritos, quando perdem o ofício por limite
de idade.
VIDE APENSOS – pág 75
d) A Ordenação:

O Sacramento da Ordem se expressa pelo gesto da imposição das mãos, seguido


de oração consecratória. O gesto da imposição, no Antigo Testamento, é conotador de
bênção e de função estabelecida. No Novo Testamento, significa pedido de bênção ou da
descida do Espírito Santo, sendo também sinal de envio (cf. At 6,6). Na 1Tm 5,22 fala-se,
explicitamente, da instituição de ministros pelo gesto da imposição das mãos.
A oração consecratória, de natureza epiclética, acompanha o gesto de bênção, e se
estrutura, formalmente, do seguinte modo: invocação ao Pai; epiclese (pede-se o envio do
Espírito Santo); doxologia final (presume-se que o ministério possa servir à glória de Deus).
S. Paulo escreve: "Não desprezes a graça que há em ti e te foi dada por profecia pela
imposição das mãos do presbitério" (1Tm 4, 14). Chama-se presbitério a reunião dos bispos e
padres que concorreram para a ordenação de Timóteo (2Tm 1, 6).
Muitos textos da Sagrada Escritura provam a existência do sacerdócio e indicam o
Rito de Ordenação sacerdotal. Em Jo 15,16 vimos a seleção entre os discípulos: "Não fostes

60
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vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi". Aos discípulos eleitos, chamados apóstolos,
o divino Mestre confia as quatro atribuições particulares do sacerdócio:
 Oferecer o santo sacrifício: "Fazei isto em memória de mim" (Lc 22, 19). É a
ordem de reproduzir o que Ele tinha feito: mudar o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue
divino.
 Perdoar os pecados: “Os pecados serão perdoados aos que vós os perdoardes ”
(Jo 20, 23).
 Pregar o Evangelho: “Ide no mundo inteiro, pregando o Evangelho a todas as
criaturas” (Mc 16, 15).
 Governar a Igreja: “O Espírito Santo constituiu os bispos para governarem a
Igreja de Deus” (At 20, 28).
O termo sacerdote designa bispos e presbíteros, mas não os diáconos.
“Só o varão (vir) batizado pode receber validamente a sagrada ordenação ”. O Senhor
Jesus escolheu homens (viri) para formar o colégio dos Doze Apóstolos, e o mesmo fizeram os
Apóstolos quando escolheram os seus colaboradores para lhes sucederem no desempenho do
seu ministério. O Colégio dos bispos, a que os presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna
presente e atualiza, até que Cristo volte, o Colégio dos Doze. É por isso que a ordenação das
mulheres não é possível.
Todos os ministros ordenados, à exceção dos diáconos permanentes, são
normalmente escolhidos entre homens crentes que vivem celibatários e têm vontade de
guardar o celibato “por amor do Reino dos céus ” (Mt 19, 12). Chamados a consagrarem-se
totalmente ao Senhor e às “suas coisas” dão-se por inteiro a Deus e aos homens. Tanto no
Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem já não pode casar-se.

e) O Ministro do Sacramento da Ordem:

Uma vez que o Sacramento da Ordem é o Sacramento do ministério apostólico,


pertence aos bispos, enquanto sucessores dos Apóstolos, transmitir “o dom espiritual”, “a
semente apostólica”. Os bispos validamente ordenados, isto é, que estão na linha da
sucessão apostólica, conferem validamente os três graus do Sacramento da Ordem.
O Papa (Bispo de Roma), sucessor de S. Pedro, e os bispos, sucessores dos
Apóstolos, detém a plenitude do sacerdócio e formam a hierarquia da Igreja Católica. Esta
hierarquia recebe a missão de guardar o Depósito da Fé, aquilo que foi Revelado e que deve
ser transmitido intacto.

f) O Sacerdócio Ministerial:

O sacerdócio dá a potestade para exercer o sagrado ministério, cujas manifestações


principais são:

61
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 Pregar a Palavra de Deus - quando prega a homilia dentro da Missa, ao dar


catequese e em múltiplas ocasiões (meditações, retiros, aulas de formação, etc).
 Administrar os Sacramentos e especialmente celebrar a Santa Missa.
 A missão do sacerdote no mundo é fundamentalmente espiritual: conduzir a
humanidade a Deus, educando na fé e dando a graça de Cristo contida nos Sacramentos. Ele
deve guiar o povo cristão para a santidade: com a oração e a mortificação, ajudando-lhes em
suas necessidades, acompanhando-lhes nos momentos difíceis e com a insubstituível tarefa da
direção espiritual, para que possam ser tirados os obstáculos que lhes impeçam de receber a
graça de Deus.
Em virtude de um carisma particular, o ministro ordenado deve zelar por “três
unidades”:
 Unidade na Palavra (múnus de ensinar): garantir a unidade da fé na ortodoxia
apostólica e a audácia do testemunho profético por parte de todos os fiéis;
 Unidade na Ação (múnus de governar): estimular o exercício da solidariedade
e da caridade entre os fiéis, harmonizando e intercambiando as diferenças e particularidades
do conjunto;
 Unidade na Liturgia (múnus de santificar): vincular a comunidade local, pela
celebração dos Sacramentos, à comunhão da Igreja Universal.

g) Os Efeitos do Sacramento da Ordem:

1) O caráter indelével:
 Este Sacramento configura o ordinando com Cristo por uma graça especial do
Espírito Santo, a fim de servir de instrumento de Cristo em favor da sua Igreja. Pela ordenação,
recebe-se a capacidade de agir como representante de Cristo, Cabeça da Igreja na sua tríplice
função de sacerdote, profeta e rei. O Sacramento da Ordem confere, também ele, um carácter
espiritual indelével, e não pode ser repetido nem conferido para um tempo limitado. A vocação
e a missão recebidas no dia da ordenação marcam-no de modo permanente. Uma vez que é
Cristo, afinal, quem age e opera a salvação através do ministro ordenado, a indignidade deste
não impede Cristo de agir.
2) A graça do Espírito Santo:
 A graça do Espírito Santo própria deste Sacramento consiste numa configuração
com Cristo, Sacerdote, Mestre e Pastor, de quem o ordenado é constituído ministro.

15. O SACRAMENTO DO MATRIMÔ NIO:


Continuamos nosso estudo dos Sacramentos de Serviço e Missão. Focamos agora o
Sacramento do Matrimônio.

a) O Matrimônio no desígnio de Deus:


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1) O Matrimônio na ordem da Criação:


 Já no início das Sagradas Escrituras, temos a criação do homem e da mulher,
criados à imagem e semelhança de Deus; e, ao final das Escrituras temos a visão das “núpcias
do Cordeiro” (Ap 19, 9). Do princípio ao fim, a Escritura fala do matrimônio e do seu “mistério”,
da sua instituição e do sentido que Deus lhe deu, da sua origem e da sua finalidade, das suas
diversas realizações ao longo da história da salvação, das suas dificuldades nascidas do
pecado e da sua renovação “no Senhor” (1Cor 7, 39), na Nova Aliança de Cristo e da Igreja.
 A vocação para o matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da
mulher, tais como saíram das mãos do Criador. O matrimônio não é uma instituição
puramente humana, apesar das numerosas variações a que esteve sujeito no decorrer dos
séculos, nas diferentes culturas, estruturas sociais e atitudes espirituais. Muito embora a
dignidade desta instituição nem sempre e nem por toda a parte transpareça com a mesma
clareza, existe, no entanto, em todas as culturas, um certo sentido da grandeza da união
matrimonial. Porque “a saúde da pessoa e da sociedade está estreitamente ligada a uma situação
feliz da comunidade conjugal e familiar”.
 Tendo Deus criado homem e mulher, o amor mútuo dos dois torna-se imagem
do amor absoluto e indefectível com que Deus ama o homem. E este amor, que Deus abençoa,
está destinado a ser fecundo e a realizar-se na obra comum do cuidado da criação: “ Deus
abençoou-os e disse-lhes: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a’” (Gn 1,
28). “Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher: e os dois serão
uma só carne” (Gn 2, 24). Que isto significa uma unidade indefectível das duas vidas, o próprio
Senhor o mostra, ao lembrar qual foi, “no princípio”, o desígnio do Criador: “ Portanto, já não
são dois, mas uma só carne” (Mt 19, 6).

2) O matrimônio sob a pedagogia da Lei:


 A consciência moral relativamente à unidade e indissolubilidade do matrimônio
desenvolveu-se sob a pedagogia da antiga Lei. A poligamia dos patriarcas e dos reis ainda não
é explicitamente rejeitada. No entanto, a Lei dada a Moisés visa proteger a mulher contra um
domínio arbitrário por parte do homem, ainda que a mesma Lei comporte também, segundo a
Palavra do Senhor, vestígios da “dureza do coração” do homem, em razão da qual Moisés
permitiu o repúdio da mulher.
3) O Matrimônio no Senhor:
 No umbral da sua vida pública, Jesus realiza o seu primeiro sinal – a pedido da
sua Mãe – por ocasião duma festa de casamento. A Igreja atribui uma grande importância à
presença de Jesus nas bodas de Caná. Ela vê nesse fato a confirmação da bondade do
matrimônio e o anúncio de que, doravante, o matrimônio seria um sinal eficaz da presença de
Cristo.
 Na sua pregação, Jesus ensinou sem equívocos o sentido original da união do
homem e da mulher, tal como o Criador a quis no princípio, a união matrimonial do homem e

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da mulher é indissolúvel: foi o próprio Deus que a estabeleceu: “ Não separe, pois, o homem o
que Deus uniu” (Mt 19, 6).

b) O Matrimônio no Magistério da Igreja78:

Desde a Igreja Primitiva até nossos dias, o Magistério eclesiástico continua


desenvolvendo a temática do Matrimônio. No Sínodo de Roma (382), por exemplo, se definiu
que a forma essencial do matrimônio é o consentimento (vontade) dos cônjuges. Só o
consentimento daqueles envolvidos diretamente na união, bastaria para o matrimônio
acontecer realmente79.
Gregório IX desenvolveu a forma sacramental do matrimônio. O consentimento
matrimonial ainda é essencial, mas ganha uma nova força: o legítimo consentimento se faz
entre pessoas legítimas (hábeis para prestar seu consentimento), levando em conta as
disposições canônicas, o legítimo consentimento, uma vez válido a união é para toda vida,
“não poderá ser tornado vão o que anteriormente, fora feito de iure ”. Gregório IX declarou ainda
a nulidade de um matrimônio caso fosse condicionado, não tem efeito, o matrimônio é
inexistente é contra a substância do matrimônio, pois é uma entrega mútuo, não pode impor
condições contrárias ao matrimônio nem forçar situação que fira o outro na sua dignidade.
Com isso deu, à mulher mais dignidade, evitando que ela fosse repudiada, ou forçada ao
matrimônio condicionado.
Inocêncio IV, no 1º Concílio de Lião (1245-1254), estabeleceu o sexo só no
casamento para que não houvesse fornicação de solteiro com solteira e declarou pecado
mortal e excluídos do Reino de Deus. Assim foi a releitura que ele fez conforme 1Cor, 6,9s26.
Eugênio IV, no Concílio de Florença (1439-1445), além dos documentos
doutrinários sobre a fé, contribuiu com instruções sobre o Sacramento do Matrimônio. Quanto
ao consentimento seguem as regras anteriores, o consentimento mútuo é expresso em
palavras e presencialmente. Atribuiu, ao matrimônio um bem tríplice: prole, fidelidade e
indissolubilidade.
No Concílio de Trento (1545-1563) as questões do Sacramento do Matrimônio foram
aprofundadas; o Concílio reconheceu solenemente o Matrimônio como verdadeiro Sacramento
e não por invenção de homens, mas pelo próprio Pai (Deus), proclamou o vínculo perpétuo e,
pelo filho (Jesus Cristo), confirmou a indissolubilidade. O Sacramento do Matrimônio confere
graça, defende a doutrina 80. O Concílio de Trento estabeleceu de “forma canônica”, a
argumentação para afirmar a competência da Igreja sobre as questões matrimoniais. Ele
defende a monogamia, o cristão não pode ter várias mulheres ao mesmo tempo. Quanto ao
vínculo do matrimônio não pode ser dissolvido pelo cônjuge. O Concílio afirma que a
Igreja tem competência dos juízes eclesiásticos sobre o Sacramento, separando dos poderes
civis. O Concílio de Trento estabeleceu reforma na Igreja. Quando o casamento tornou-se
78
Baseado em texto de Lucimar Almeida de Souza - Matrimônio: Sacramentalidade.
79
Denzinger, H, Compêndio dos Símbolos, definições e declarações de fé e moral, São Paulo: Paulinas e Loyola, 2007, 643.
80
Denzinger, H, 1801.
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competência da Igreja, passaram a ser celebrados publicamente assim se evitavam os


casamentos clandestinos e estabeleciam a Igreja como o lugar do matrimônio. “ A preocupação
do Concílio de Trento, portanto, é se opor aos matrimônios clandestinos tornando-os
inválidos”81.
Vaticano I (1869-1870) - A importância deste concílio está nas suas definições
dogmáticas. Foram preparados dois temas: a explicação da fé católica face aos erros da
época e a doutrina a respeito da Igreja de Cristo. Por causa dos acontecimentos políticos, só
uma parte dos temas programados pôde ser tratado; não abordou as questões Sacramentais.
Leão XIII, na Encíclica “Arcanum divinae sapientiae” (1879/80), explicita a essência
do matrimônio cristão, como inviolável e perpétua; lembrando que foi o próprio Cristo quem
suscitou o casamento à dignidade de Sacramento. A Encíclica esclareceu a necessidade dos
cônjuges de criar filhos para a Igreja, “ concidadãos dos Santos e família de Deus” (Ef 2, 19). A
Encíclica explica os direitos e os deveres dos cônjuges, o chefe da família é o marido e a
cabeça da mulher, porém o marido não pode faltar decoro e dignidade na relação com a
mulher, pois esta é companheira e auxiliar, não é inferior ao marido. Também afirmou a
autoridade da Igreja no que diz respeito ao casamento. Essa encíclica elucidou com muita
clareza os direitos e deveres dos cônjuges, estabeleceu igualdade entre homem e mulher, e
afirmou a sacramentalidade do matrimônio.
Concílio Vaticano II (1962-1965) - Este Concílio manteve a Teologia dos
Sacramentos quanto ao conteúdo doutrinal; o Sacramento do Matrimônio tem vínculo
perpétuo e indissolúvel. O matrimônio é posto dentro do plano da salvação, e cumpre funções
importantíssimas. Em “virtude do Sacramento do Matrimônio, os cônjuges cristãos participam
do mistério da unidade do amor fecundo entre Cristo e a Igreja”82.
Paulo VI: Na Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, reafirmou o chamado
universal para a santidade, pela vida conjugal ou no seu estado de vida, cada um por seu
caminho. Adverte que cabe aos pais serem os primeiros arautos da fé para os filhos e
favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a vocação sagrada.
João Paulo II: Na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, relembra que o
matrimônio começa pelo consentimento livre do homem e da mulher, o que gera um
contrato bilateral, que sendo valido cria vínculo perpétuo e indissolúvel. Quando os cônjuges
se dão e recebem um ao outro, há a mútua doação que deverá ser vivida na fidelidade e na
indissolubilidade do matrimônio. No entanto, devido as dificuldades que possam encontrar,
os cônjuges, vão precisar de meios que os ajudem a viver bem a sua missão conjugal, no amor
e enriquecidos pela graça sacramental. A “Gaudium et Spes”, também sublinhou o relevante
lugar que o amor ocupa no casamento, amor que une os esposos e tem seu coroamento na
geração dos filhos. Na Exortação Apostólica “Familiaris consortio”, o Papa João Paulo II
define o matrimônio como “pacto de amor”. Esse pacto entre um homem e uma mulher, onde
são chamados a viver a promessa matrimonial, é o “Sim” com que os noivos manifestam o
consentimento: “... te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e
81
Bourgeois, H, et al. História dos Dogmas, Os Sinais da Salvação, tomo 3, São Paulo: Loyola, 2002. p. 173.
82
Denzinger, H, 4129.
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ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

na doença, todos os dias da nossa vida”. Este compromisso é dado perante a Igreja;
compromisso indissolúvel, conforme afirma a Familiaris consortio. “Em virtude da
sacramentalidade do seu matrimónio, os esposos estão vinculados um ao outro da maneira mais
profundamente indissolúvel. A sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal
sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja”(FC, 13).
Bento XVI: Em sua Carta encíclica, “Deus Caritas est” (DCE), apresenta a diferença
e a unidade de “Eros” e de “ágape”83. Afirma que somente “quando ambos se fundem
verdadeiramente numa unidade, é que o homem se torna plenamente ele próprio. Só deste modo
é que o amor — o eros — pode amadurecer até a sua verdadeira grandeza”(DCE, 5). O Papa
Bento XVI não faz distinção entre Eros de Agape, quando diz que “ Deus ama, e este seu amor
pode ser qualificado sem dúvida como eros, que no entanto é totalmente ágape também” (DCE,
7). Essa encíclica unifica o eros e o agape, considera dois aspectos diferentes, mas que fazem
parte da mesma realidade do amor. Assim ele declara: “ Quanto mais os dois encontrarem a
justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza
a verdadeira natureza do amor em geral ” (DCE, 8). Bento XVI menciona ainda dois aspectos
importantes do eros – “o primeiro está de certo modo enraizado na própria natureza do homem;
(...) o segundo aspecto, (...) o eros impele o homem ao matrimônio” (DCE, 11).

c) O Matrimônio Como Sacramento:

O matrimônio é Sacramento porque é mistério em sentido estrito (é aquele que é mais


que sinal da graça divina, ele também pode produzir a graça). O matrimônio não é um
Sacramento como os outros, pois tem características próprias, “opus operatis”, obra que vai
se realizar na vivência do casal, próprio de todo matrimônio chega a ser “opus operatum”,
obra realizada, ou seja, o matrimônio é sempre acontecimento da graça. O matrimônio é um
Sacramento, porque é um sinal sagrado que produz graça. Pelo Sacramento do Matrimônio, os
esposos cristãos “significam e participam do mistério de unidade e do fecundo amor entre Cristo
e a Igreja” (LG, 11).

“Mas essa “sacramentalidade” se entendia tão diferenciadamente no discurso da


História que o dito não representa nenhum enunciado inequívoco. Se o matrimônio só começa a
fazer parte dos Sete Sacramentos por volta do século XIII, e a Igreja só reconhece desde o
concílio de Trento como pertencendo aos Sete Sacramentos, nem mais nem menos estamos
diante duma novidade à fase da muita dúbia conceituação antiga de Sacramento, que nos coloca
diante da questão, se a analogia pode afinal ainda estabelecer uma ponte entre as várias
conceituações ventiladas no decurso da História”84.

83
Eros, em grego, é o amor apaixonado, com desejo e atração sensual. Enquanto á gape, também de origem grega, é o amor
que se doa, o amor incondicional, o amor que se entrega.
84
Laurentin, René, Fundamentos de Dogmática Histórico-Salvífica, Vida e Estruturas na Igreja, vol. IV/6, Petrópolis: Vozes,
1977. p. 97.
66
ARQUIDIOCESE DE SOROCABA – CENTRO DE FORMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA / MÓDULO LITURGIA – Sacramentos

O matrimônio como Sacramento, conforme o Catecismo da Igreja Católica (CIC)


define o matrimônio como aliança e contrato entre um homem e uma mulher: “ A aliança
matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é
ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi
elevada, entre os batizados, à dignidade de Sacramento, por Cristo Senhor ” (CIC § 1601).
Também, o CIC tomou por base o texto de Ef 5, 21-32 para fundamentar a
sacramentalidade do matrimônio cristão, ao afirmar que o consentimento dos esposos é selado
pelo próprio Deus, quando é autêntico.(CIC § 1639). Assim, o vínculo matrimonial não é,
portanto, humano, mas divino, e se autêntico não pode ser dissolvido.
A sacramentalidade do matrimônio significa: “na aceitação em amor entre seres
humanos é representada e realizada a aceitação em amor por parte de Deus” 85.
Conclui-se que toda história da sacramentalidade do matrimônio, propõe mostrar que:
Matrimônio não é somente lugar de esforço comum e comunicação espiritual, e sim, de um
encontro físico que abrange o ser humano em seu todo. Matrimônio não significa apenas
comunhão limitada de interesses, e sim comunhão de destino “em dias bons e maus”.
Matrimônio não significa uma aliança para um breve tempo, e sim uma proposta para toda vida.
Por isso falamos de aceitação em amor para uma comunhão de vida abrangente. Pode-se
afirmar que é no matrimônio cristão o lugar dessa aceitação, quando os noivos mutuamente
fazem uma aliança para toda a vida, pelo verdadeiro consentimento mútuo e quando o
matrimônio se torna sinal da presença de Deus. Essa presença de Deus é reconhecia pelos
que têm fé, e acreditam nesse sinal, por isso buscam o Sacramento do Matrimônio.

d) A Celebração do Matrimônio:

A celebração do Matrimônio tem lugar normalmente no decorrer da Santa Missa, em


virtude da ligação de todos os Sacramentos com o Mistério Pascal de Cristo. Por isso, é
conveniente que os esposos selem o seu consentimento à doação recíproca pela oferenda das
próprias vidas, unindo-a à oblação de Cristo pela sua Igreja, tornada presente no sacrifício
eucarístico, e recebendo a Eucaristia, para que, comungando o mesmo corpo e o mesmo
sangue de Cristo, “formem um só corpo” em Cristo. É conveniente que os futuros esposos se
preparem para a celebração do seu Matrimônio, recebendo o Sacramento da Penitência.
São os esposos quem, como ministros da graça de Cristo, mutuamente se conferem o
Sacramento do Matrimônio, ao exprimirem, perante a Igreja, o seu consentimento. Na epiclese
deste Sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão do amor de Cristo e
da Igreja. É Ele o selo da aliança de ambos, a nascente sempre oferecida do seu amor, a força
pela qual se renovará a sua fidelidade.
1) O consentimento matrimonial:

85
Schneider, T, Manual de Dogmática, vol. II, Petrópolis: Vozes, 2001. p. 334.
67
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 Os protagonistas da aliança matrimonial são um homem e uma mulher


batizados, livres para contrair Matrimônio e que livremente exprimem o seu consentimento.
Faltando esta liberdade, o matrimônio é inválido. “Ser livre” quer dizer:
→ não ser constrangido;
→ não estar impedido por nenhuma lei natural nem eclesiástica.
 A Igreja considera a permuta dos consentimentos entre os esposos como o
elemento indispensável “que constitui o Matrimônio. Se faltar o consentimento, não há
Matrimônio”. O consentimento consiste num “ ato humano pelo qual os esposos se dão e se
recebem mutuamente”: “Eu recebo-te por minha esposa. Eu recebo-te por meu esposo ”. Este
consentimento, que une os esposos entre si, tem a sua consumação no fato de os dois “ se
tornarem uma só carne”.
 O sacerdote (ou o diácono), que assiste à celebração do Matrimônio, recebe o
consentimento dos esposos em nome da Igreja e dá a bênção da Igreja. A presença do
ministro da Igreja (bem como das testemunhas) exprime visivelmente que o Matrimônio é uma
realidade eclesial. É por esse motivo que, normalmente, a Igreja exige para os seus fiéis a
forma eclesiástica da celebração do Matrimônio. Muitas razões concorrem para explicar esta
determinação:
→ o Matrimônio sacramental é um ato litúrgico. Portanto, é conveniente que seja
celebrado na liturgia pública da Igreja;
→ o Matrimônio introduz num ordo eclesial, cria direitos e deveres na Igreja,
entre os esposos e para com os filhos;
→ uma vez que o Matrimônio é um estado de vida na Igreja, é necessário que
haja a certeza a respeito dele (daí a obrigação de haver testemunhas);
→ o carácter público do consentimento protege o “SIM” uma vez dado e ajuda a
permanecer-lhe fiel.
 Para que o “sim” dos esposos seja um ato livre e responsável, e para que a
aliança matrimonial tenha bases humanas e cristãs sólidas e duradouras, é de primordial
importância a preparação para o matrimônio.

e) Casamentos Mistos e Disparidade de Cultos:


A diferença de confissão religiosa entre os cônjuges não constitui um obstáculo
insuperável para o Matrimônio. Mas as dificuldades dos matrimônios mistos nem por isso
devem ser subestimadas. As divergências em relação à fé, o próprio conceito do Matrimônio e
ainda as diferentes mentalidades religiosas podem constituir uma fonte de tensões no
Matrimônio, principalmente por causa da educação dos filhos. Pode então surgir uma tentação:
a indiferença religiosa.
Segundo o direito em vigor na Igreja latina, um Matrimônio misto precisa da
permissão expressa da autoridade eclesiástica para a respectiva liceidade86. Em caso de
disparidade de culto, é requerida uma dispensa expressa do impedimento para a validade do
86
Característica do que é lícito; qualidade do que está em conformidade com a lei, com os princípios do Direito; licitude.
68
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Matrimônio. Tanto a permissão como a dispensa supõem que as duas partes conhecem e não
rejeitam os fins e propriedades essenciais do Matrimônio: e também que a parte católica
confirma os seus compromissos, dados também a conhecer expressamente à parte não
católica, de conservar a sua fé e de assegurar o Batismo e a educação dos filhos na Igreja
Católica.
Nos casamentos com disparidade de culto, o cônjuge católico tem uma tarefa
particular a cumprir, “porque o marido não-crente é santificado pela sua mulher e a mulher não-
crente é santificada pelo marido crente” (1Cor 7, 14).

f) Os Efeitos do Sacramento do Matrimônio:

O consentimento, pelo qual os esposos mutuamente se dão e se recebem, é selado


pelo próprio Deus, de maneira que o matrimônio ratificado e consumado entre batizados não
pode jamais ser dissolvido. Este vínculo, resultante do ato humano livre dos esposos e da
consumação do matrimônio, é, a partir de então, uma realidade irrevogável e dá origem a uma
aliança garantida pela fidelidade de Deus. A Igreja não tem poder para se pronunciar contra
esta disposição da sabedoria divina.
A graça própria do Sacramento do Matrimônio destina-se a aperfeiçoar o amor dos
cônjuges e a fortalecer a sua unidade indissolúvel. Por meio desta graça, “ eles auxiliam-se
mutuamente para chegarem à santidade pela vida conjugal e pela procriação e educação dos
filhos”. Cristo é a fonte desta graça.

g) Os Bens e as Exigências do Amor Conjugal:


Pela sua própria natureza, o amor dos esposos exige a unidade e a indissolubilidade
da sua comunidade de pessoas, a qual engloba toda a sua vida. Esta comunhão humana é
confirmada, purificada e aperfeiçoada pela comunhão em Jesus Cristo, conferida pelo
Sacramento do Matrimônio; e aprofunda-se pela vida da fé comum e pela Eucaristia recebida
em comum.
“A igual dignidade pessoal, que se deve reconhecer à mulher e ao homem no amor
pleno que têm um pelo outro, manifesta claramente a unidade do Matrimônio, confirmada pelo
Senhor”. A poligamia é contrária a esta igual dignidade e ao amor conjugal, que é único e
exclusivo.
Pela sua própria natureza, o amor conjugal exige dos esposos uma fidelidade
inviolável. Esta é uma consequência da doação de si mesmos que os esposos fazem um ao
outro. O amor quer ser definitivo.
Pode parecer difícil, e até impossível, ligar-se por toda a vida a um ser humano. Os
esposos que, com a graça de Deus, dão este testemunho, muitas vezes em condições bem
difíceis, merecem a gratidão e o amparo da comunidade eclesial.
No entanto, há situações em que a coabitação matrimonial se torna praticamente
impossível pelas mais diversas razões. Em tais casos, a Igreja admite a separação física dos

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esposos e o fim da coabitação. Mas os esposos não deixam de ser marido e mulher perante
Deus.
Hoje em dia, são numerosos os casais que recorrem ao divórcio, em conformidade
com as leis civis, e que contraem civilmente uma nova união. A Igreja não reconhece como
válida uma nova união, se o primeiro Matrimônio foi válido. Se os divorciados se casam
civilmente, ficam numa situação objetivamente contrária à lei de Deus. Por isso, não podem
aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persistir tal situação. Pelo mesmo motivo,
ficam impedidos de exercer certas responsabilidades eclesiais.
“Pela sua própria natureza, a instituição matrimonial e o amor conjugal estão
ordenados à procriação e à educação dos filhos, que constituem o ponto alto da sua missão e a
sua coroa”. Os filhos são, sem dúvida, o mais excelente dom do Matrimônio. Querendo
comunicar-lhe uma participação especial na sua obra criadora, Deus abençoou o homem e a
mulher dizendo: "Sede fecundos e multiplicai-vos" (Gn 1, 28).
A fecundidade do amor conjugal estende-se aos frutos da vida moral, espiritual e
sobrenatural que os pais transmitem aos filhos pela educação. Os pais são os principais e
primeiros educadores dos seus filhos. Neste sentido, a missão fundamental do Matrimônio e da
família é estar ao serviço da vida.

16. OS SACRAMENTAIS87:
a) O que são os Sacramentais?

O Vaticano II define os Sacramentais como “ sinais sagrados criados no modelo dos


Sacramentos, pelos quais se expressam efeitos, especialmente de caráter espiritual, obtidos pela
intercessão da Igreja” (SC, 60). O concílio os situa em torno do Mistério Pascal de Cristo (SC,
61) e afirma que devem ser reformados (SC, 62 e 79) e sugere que alguns podem ser
administrados por leigos (SC, 79).
O atual Código de Direito Canônico (CDC - 1983) fala dos Sacramentais (c. 166-1172)
e não os define como “coisas ou ações” – como no Código anterior de 1917 (c. 1169) – mas
como “sinais sagrados” (c. 1169.) de acordo com o Vaticano II (SC, 60); inclui, entre os
Sacramentais, consagrações e dedicações, bênçãos e exorcismos, mas restringe o uso dos
exorcismos (c. 1172) e estende alguns Sacramentais aos leigos (c. 1168).
Exemplos de Sacramentais são a água-benta e todos os tipos de bênçãos com água-
benta (de imagens, de casas, de crianças, de doentes, de idosos, de famílias, do campo, de
alimentos, de veículos e até mesmo de animais etc.), a imposição das cinzas no início da
Quaresma, as palmas do domingo de Ramos, as velas iluminadas, as exéquias e os ritos
fúnebres, a veneração da cruz,  de Maria e dos santos e, por extensão, muitas devoções da

87
Baseado em texto de Víctor Codina, sj. – Sacramentais.
70
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religiosidade popular, como peregrinações a santuários do Senhor ou de Maria, via sacra,


procissões, etc.
A Teologia dos Sacramentos e, em particular, o número septenário dos Sacramentos,
não foi desenvolvida até o século XII. Nem na Escritura nem na tradição cristã primitiva
podemos encontrar uma doutrina clara dos Sete Sacramentos. Para as primeiras gerações
cristãs, Sacramento (que era a tradução do grego misteryon) tinha um sentido muito mais
amplo e mais rico que o nosso conceito moderno de Sacramento. Os primeiros que falaram de
Sacramento foram os canonistas e teólogos escolásticos  do século XII, como Pedro
Lombardo, mas, durante os séculos XII e XIII, o conceito de Sacramento ainda era muito
extensivo e não se distinguiam os Sacramentos dos Sacramentais. Para S. Bernardo, um
contemporâneo de Pedro Lombardo, os Sacramentos são tantos que, em uma hora, não é
possível listar todos. Para ele, os três Sacramentos principais são o Batismo, a Eucaristia e o
Lava-pés. Para Hugo de S. Victor, também um contemporâneo de Pedro Lombardo, os
Sacramentos são a água benta, a imposição das cinzas, a bênção dos ramos e de velas e o
toque dos sinos para chamar os fiéis. Apenas com as grandes sumas teológicas de Alexandre
de Hales, Boaventura e Tomás de Aquino, se chegará a estabelecer e difundir o número
septenário dos Sacramentos, doutrina que, em seguida, passou aos Concílios II de Lyon
(1274), Florença (1439) e, de forma definitiva, em Trento (1547). Ainda assim, o número sete
tem um significado profundo, mais simbólico que aritmético. Ele é a soma de três e quatro, o
que significa plenitude (cf. matriz sacramentos).
Após Trento, os Sacramentais são estudados em um tratado próprio, independente 
dos Sacramentos e o movimento litúrgico que precedeu o Concílio Vaticano II, situa os
Sacramentais dentro da Teologia da Liturgia.
Se quiséssemos resumir brevemente esse processo histórico, poderíamos dizer que,
ao longo do primeiro milênio da Igreja, o conceito de Sacramento foi extremamente amplo e
rico, incluindo tanto os Sacramentos (como os conhecemos hoje) quanto os Sacramentais. No
segundo milênio, quando tantas coisas mudaram na Igreja, se estabelece uma hierarquia entre
os Sacramentos e Sacramentais, que conduzirá à distinção do septenário sacramental dos
Sacramentais (Trento).

b) Popularidade dos Sacramentais:

Para o povo, os Sacramentais sempre foram importantes. Na Idade Média europeia,


em que o povo enfrentava situações de pobreza, pestes, guerras e medo do diabo, o
Sacramental materializava a bênção divina que emanava de algum objeto abençoado. Os
frutos que podiam ser obtidos a partir dos Sacramentais não eram apenas espirituais, mas
também, e principalmente, temporais: saúde, boa colheita, paz etc.
Também hoje os Sacramentais tem grande importância em setores populares,
principalmente na América Latina e no Caribe. No Natal, muitas vezes o centro da celebração é
a bênção do Menino Jesus que, depois, será venerado na família durante as festas natalinas.
Na Quaresma, as cinzas desfrutam de grande popularidade. O Domingo de Ramos,
71
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provavelmente a festa mais  popular de todo o ano, para o povo é a festa das palmas, que
levam para suas casas e guardam durante todo o ano com devoção. Na Quinta-feira Santa, em
muitos lugares, o centro de atenção popular é o lava-pés, cerimônia que, para a Igreja antiga,
tinha valor de Sacramento em alguns lugares. A Sexta-feira Santa se centra, para o povo, na
Via Sacra, adoração da cruz e em procissões do Santo Sepulcro, mais do que na solene
liturgia da Paixão. Na Vigília Pascal, o que mais atrai o povo é a fogueira inicial e as velas que
levam com tanta devoção às suas casas, tal qual a água abençoada da liturgia batismal.
Esse apreço do povo pelos Sacramentais gera, muitas vezes, um problema pastoral,
porque o povo parece mais interessado nos Sacramentais do que nos Sacramentos.
Poderíamos acrescentar que os mesmos Sacramentos que o povo pede,  muitas vezes, estão
vistos mais sob o prisma dos Sacramentais que dos Sacramentos.
Não é exagero dizer que, para o povo simples e pobre, os Sacramentais são mais
valiosos que os Sacramentos, porque são mais compreensíveis que os Sacramentos:   são
variados, ricos em simbolismo, próximos, domésticos, acompanham o ritmo da vida cotidiana,
são sensíveis, mais familiares e vitais. Os Sacramentais são os Sacramentos dos pobres.
Evidentemente, este fato contrasta com a valorização teórica que o dogma e a
teologia nos apresentam: o centro da celebração litúrgica cristã são os Sete Sacramentos, e
sua fonte e ápice é a Eucaristia (SC, 10); os Sacramentais são secundários e periféricos. No
entanto, continua a ser um paradoxo88 que a maioria das pessoas que estão na Igreja,
justamente tenha acesso a Deus mais pelos Sacramentais do que pelos Sacramentos.
Tanto os Sacramentos quanto os Sacramentais devem colocados sob a órbita de
sinais sensíveis e simbólicos da presença eficaz do Reino de Deus. Quanto mais simples,
populares, comunitários e cósmicos são esses ritos simbólicos, mais eles cumprem uma
função sacramental, se aproximam do Reino de Deus. A hemorroíssa que toca a orla do
manto de Jesus (Mt 9,20), a unção de Maria em Betânia (Jo 12), o lava-pés (Jo 13) são atos
sacramentais de grande densidade teológica. Santo Tomás diz enfaticamente que os rudes
(ou seja, os simples, ignorantes e pobres) vivem a fé da Igreja através das celebrações
litúrgicas e das festas da Igreja, que têm uma dimensão sacramental em um sentido muito
amplo (cf. “De quibus ecclesia festa facit”, De Veritate q 14 a 11).
A partir desta  sacramentalidade original e fundante do Reino de Deus adquirem
sentido pleno todos os Sacramentais do povo cristão.

c) A teologia da Benção:

Os Sacramentais estão geralmente ligados às bênçãos. A bênção, no Antigo


Testamento, é comunicação da força e poder de Deus através de sua Palavra e a de seus
ministros. A bênção (berakah) produz abundância, fertilidade, bem-estar, saúde e paz
(shalom). Podemos dizer que a bênção comunica a vida divina aos humanos, é um dom do

88
Pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento
humano, ou desafia a opinião concebida, a crença ordinária e compartilhada pela maioria. Aparente falta de nexo ou de
lógica; contradição.
72
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Deus vivo da vida, que chega a todos os viventes de alguma forma. O oposto de bênção é a
maldição, um sinal de morte, por vezes pronunciada pelos profetas (Jr 25,5-6). O povo israelita
na Bíblia se encontra entre a vida e a morte (Dt 39,19),  deve escolher um destes caminhos.
No Novo Testamento, Jesus, Palavra de Deus, abençoa crianças e doentes, com a
sua autoridade expulsa demônios (Mc 1,21-28; Mt 12,28 e outros), chama bem-aventurados
aos pobres e lamenta a situação dos ricos (Lc 6,20-26), antecipando, assim, o julgamento
escatológico (Mt 25,31-45). A eficácia da Sua Palavra passa para os discípulos, que participam
do Seu Poder libertador que denuncia o mal, comunica a salvação e antecipa, de algum modo,
o julgamento de Deus (Rm 15,19; 2Cor 12,12; At 8,18-28). Poderíamos dizer que a bênção
antecipa o Reino de Deus, comunica vida e Espírito, liberta da morte e do maligno.
A bênção das coisas simboliza e condensa esta eficácia da Palavra, fazendo com
que a criação fique impregnada e cheia da força e da energia vivificadora do Senhor para o
bem das pessoas. A bênção tem uma dimensão sacramental.
Nos Sacramentais o clamor do pobre, através da Igreja, se torna petição ao Espírito
(epiclese). As coisas abençoadas são um sinal sacramental da força vivificante da Palavra de
Deus através da Igreja. O fruto dos sacramentais é a bênção de Deus, a vida, a participação do
Reino de Deus.

17. CONCLUSÃ O:
Mútiplas podem ser as abordagens lícitas da temática sacramental89. Dentre elas a
mais comum em nossos dias, especialmente por que ressalta sua dimensão celebrativa, é a
litúrgica ou cultual, ressaltando seus símbolos e valorizando a criatividade de comunicar a fé
por meio deles. O próprio Catecismo da Igreja Católica enfatiza a relação intrínseca (doutrinal)
e extrínseca (celebrativa), entre os Sacramentos e a Liturgia, quando afirma: “ Os ritos visíveis,
com os quais são celebrados os Sacramentos, significam e realizam as graças próprias de cada
Sacramento” (CIC § 1131).
Por detrás desta abordagem oculta-se o chamado paradigma mistagógico; ou pelo
menos, uma tentativa de retomada deste modelo eclesial, que norteou os inícios do
cristianismo, e ainda está muito vivo nas celebrações das comunidades cristãs-católicas
orientais. Contudo, esbarramos em um obstáculo atual evidente: a ignorância da fé doutrinária
nas estâncias fundamentais da Igreja, isto é, em nossas comunidades. É fato notório a imensa
dificuldade que nossos catequistas enfrentam para desenvolver seu apostolado em situações
de descaso dos ministros ordenados e falta de empenho na busca de conhecimento eclesial e
doutrinal.
Faz-se, portanto, oportuno e necessário tornar claro e preciso o conceito daquilo que
na vida da Igreja denomina-se Sacramento, bem como sua variedade e qualidades...
Se a liturgia coloca-nos em contato com o mistério fundamental da fé e o Sacramento
dos Sacramentos (Cristo) que se dirá com as outras graças que derivam desta imensa prova
de Amor de Deus pelo seu Povo em Jesus Cristo. A Liturgia, na qual se celebra e se administra
89
Extraido de texto do Pe. Rodolfo Gasparini Morbiolo.
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os dons sacramentais é lugar teológico eucarístico, pois nos remete ao epicentro da fé: a
prova de amor de Deus pela humanidade em Cristo, que entregou sua vida, amando-nos até o
fim (Jo 13,1). Neste sentido, compreendemos como atuais as palavras do Catecismo quando
afirma que: “toda a vida litúrgica da Igreja gravita em torno do sacrifício eucarístico e dos
Sacramentos” (CIC § 1113).
Assim, a vida sacramental, atualiza e realiza em nós a vocação natural da Igreja, isto
é, torna-nos Sacramento de Cristo, em vista da santidade. A vida sacramental nos torna co-
participantes de Cristo, em seu Corpo, que é a Igreja. E disto todos somos testemunhas desde
a Liturgia da Igreja até os confins do mundo, parafraseando São Lucas (Lc 1,6-11). Como nos
recorda o Catecismo: “O fruto da vida sacramental é, ao mesmo tempo, pessoal e eclesial. Por
um lado, este fruto é, para todo o fiel, viver para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a
Igreja crescimento na caridade e na sua missão de testemunho” (CIC § 1134).

APENSOS:
1. TÍTULOS E FUNÇÕES NA IGREJA:

74
GRUPO TÍTULO FUNÇÃO
Episcopado

Papa Sumo Pontífice, Bispo de Roma, dirige a Igreja Católica Romana

Cardeal Membro do Colégio Cardinalício, elege o Papa.

Patriarca Prelado de uma Igreja Católica Oriental ou a mais elevada dignidade honorífica para uma Diocese ou Arquidiocese.

Arcebispo Primaz país/regiãoTítulo de honra concedido pelo Papa a alguns Prelados, geralmente o arcebispo da Arquidiocese mais antiga do

Arcebispo Metropolita Dirige uma Arquidiocese Metropolitana.

Bispo Diocesano Dirige uma Diocese.

Prelado Dirige uma Prelazia territorial ou pessoal.

Presbiterado
Monsenhor Título de honra concedido pelo Papa.
Vigário-Geral Tem poder executivo da Diocese, em nome do Bispo.

75
Cônego Vive sob regra de vida, em catedrais e colégios.
Arcediago Vigário que administra parte de uma Diocese.
Cura Pároco de uma catedral.
Padre/Pároco Dirige uma Paróquia.
Capelão Padre militar ou que dirige uma capela.
Diaconato
Diácono Recebe o 1º grau da Ordem, pode ser casado.
Vida Consagrada

Prior (esa) Dirige uma ordem religiosa ou um priorado.


Abade/Abadesa Dirige um convento ou mosteiro.
Religioso (a) Frei/Freira, Monge/Monja ou frade/frater de um convento ou mosteiro que professou votos perpétuos

Juniorista Frei/Freira, Monge/Monja ou frade/frater de um convento ou mosteiro que professou votos temporários
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Noviço (a) Aquele(a) que se prepara para professar seus votos em uma ordem / congregação.
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BIBLIOGRAFIA / FONTES:
a) Mídia Impressa:
 Bíblia de Jerusalém – Ed. Paulus, 2004.
 Catecismo da Igreja Católica – Edições Loyola, 2000.
 Código de Direito Canônico – Edições Loyola, 2010.
 Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia – Sacramento - Paulus, 2005.
 Diretório Litúrgico Sacramental – Arquidiocese de Sorocaba – 2007.
 Francisco, Papa – Bula “Misericordiae Vultus”, Paulinas, 2015.
 Libanio, J. B. - Pecado e opção fundamental – Ed. Vozes, 1976.

b) Mídia Eletrônica:
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http://www.infosbc.org.br/site/artigos/2851-sacramentos-2-a-pratica-liturgica-causa-de-
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 Cardeal D. Eugênio de Araújo Sales - O Sacramento da Reconciliação
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 Côn. Dr. José Adriano – Sacramentologia Fundamental
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 Dom Henrique Soares da Costa - Cristo Jesus, o Sacramento Primordial
https://www.domhenrique.com.br/single-post/2009/03/18/Cristo-Jesus-o-Sacramento-
Primordial
 Dom Henrique Soares da Costa - A Igreja, o Sacramento de Cristo
https://www.domhenrique.com.br/single-post/2017/03/13/A-Igreja-o-Sacramento-de-
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 Dom Henrique Soares da Costa - Sacramentos: quantos e por quê?
https://www.domhenrique.com.br/single-post/2017/03/13/Sacramentos-quantos-e-por-
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 Dom Volodemer Koubetch, osbm - Sacramentos da Iniciação Cristã
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 Dom Leomar Brustolin – Os Sacramentos da Iniciação Cristã
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 Falsini, R. - La cresima, sigillo dello Spirito, Milão, 1972, 60. In: Rocchetta, Carlo. -
Os sacramentos da fé: ensaio de teologia bíblica sobre os sacramentos como “maravilhas da
salvação” no tempo da Igreja, Paulinas, 1991
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 Geraldo, Prof. Dr. Denilson - O sacramento da penitência em perspectiva canônica,
teológica e pastoral
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 Pacheco, Luis Carlos de Lima - Iniciação cristã na Igreja Antiga
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 Pe. Rodolfo Gasparini Morbiolo – Sacramentologia Fundamental
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 Pe. Francesco Sorrentino - O Sacramento da Reconciliação: contribuições
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 Víctor Codina, sj. – Sacramentais
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 https://pelafecatolica.com/tag/sacramentos/
 https://pt.aleteia.org/2018/06/11/aprofundando-o-sacramento-da-crisma/
 https://www.veritatis.com.br/gestos-simbolos-e-sinais/
 https://www.veritatis.com.br/introducao-a-doutrina-sobre-os-sacramentos/

c) Para aprofundar:

 Aquino, Prof. Felipe – Para entender os Sete Sacramentos – Ed. Cléofas, 2018.
 Aquino, Prof. Felipe – Os Dogmas da Fé, Ed. Cleófas, 2011.
 Anselm Grün - Coleção “Scaramentos” – Ed. Loyola, 2006.
 Borobio, Dionisio, Celebrar para Viver: Liturgia e Sacramentos da Igreja, Ed.
Loyola, 2009.
 Poggio, Maria Rosa – Symbolum – Ed. CNBB, 2014.
 Ratzinger, J. - Introdução ao Espírito da Liturgia, Ed. Paulinas, 2002.
 Trese, Leo J. – A fé explicada – Ed. Quadrante, 2011.

AUTORIA:
JEFERSON OLIVEIRA DINIZ
CFBC – Mod. Liturgia
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