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V

Os sacramentos são
encontro privilegiado de graça e liberdade:
eficácia simbólica
e resposta de fé

1
1.
Aspectos históricos da eficácia
sacramental

2
Ao longo da história,
existiram na Igreja
diversas formas de entender e explicar
a eficácia do sacramento.

3
Os Padres têm consciência de que as celebrações
sacramentais da Igreja, sobretudo o Batismo e a
Eucaristia, são salvíficas, atualizadoras do
mistério, santificadoras e eficazes.

Mas eles não colocam o tema da “eficácia” em


termos precisos, nem oferecem
uma sistematização a esse respeito

4
2.
O “signum eficax” dos escolásticos
Com a expressão “signum eficax” queremos referir-
nos aos diversos aspectos que os escolásticos
desenvolvem sobre o tema, conscientes de que
neles ocorre uma evolução importante segundo
as épocas e os autores.

5
Para Santo Tomás
os sacramentos são sinais eficazes de graça
porque significam,
contêm a graça
e causam a santificação.

6
Deus se serve dos sacramentos
como instrumentos adaptados,
através dos quais ele vem
ao encontro do homem.

7
Portanto,
se Deus é causa primeira da graça,
a humanidade de Cristo
é a causa instrumental

8
O “ex opere operato”
do Concílio de Trento.

Os protestantes afirmavam que a justificação é a


imputação ao pecador dos méritos de Cristo,
sem levar em conta o próprio pecado.

9
O valor dos sacramentos,
por sua vez,
é mínimo,
pois são meros ritos externos
destinados a suscitar a fé.

10
Em sua resposta, o Concílio de Trento não
pretende entrar em questões debatidas sobre a
eficácia ou causalidade sacramental nem se
propõe a oferecer uma doutrina completa acerca
do tema.

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Com o desejo de corrigir alguns erros
e esclarecer aspectos um tanto confusos,
afirma:

12
1
Os sacramentos
são necessários para a salvação
e o homem não obtém a graça da justificação
apenas através da fé
(cân. 4).

13
2
Não têm
como única finalidade e sentido
alimentar e suscitar a fé
(cân. 5).

14
3
Contêm, significam e conferem
a graça àqueles que não colocam obstáculos,
não se podendo dizer
que sejam simples ritos externos
(cân. 6).

15
4

À medida que depende de Deus,


essa graça é conferida
sempre para todos,
quando recebida devidamente
(cân. 7).

16
5
Os sacramentos da nova lei
conferem a graça “
ex opere operato”
e, para alcançar essa graça,
não basta apenas a fé na presença divina
(cân. 8).

17
Todos são unânimes em afirmar que a graça não
depende do mérito do "ministro” ou da fé do
sujeito, mas tão-somente da vontade de Deus,
que atua de modo eficaz através da ação
sacramental.

18
A eficácia nos teólogos
atuais

19
Odo Casel – Categoria de mistério.

Os sacramentos
são os mistérios salvíficos
que atualizam o mistério salvador de Cristo
(mistério pascal)
e nos tornam partícipes da sua força salvadora
através da celebração ritual.

20
Edward Schillebeckx - categoria de encontro

Cristo é sacramento do encontro com Deus.


Os sacramentos
também fazem parte deste encontro.
Constituem um ato da salvação pessoal
de Cristo glorificado.
Os sacramentos não são coisas,
mas encontros

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Karl Rahner - Categoria da palavra.

O sacramento é eficaz
sobretudo’ enquanto implica
e é “palavra sacramental
reveladora de salvação”,
com a qual se compromete a Igreja
como prolongamento histórico
da “palavra sacramental”, que é Cristo.

22
L. M. Chauvel - linguagem- símbolo

Os sacramentos são para o homem


porque são significantes do homem
em sua condição de fiel.
A operatividade dos sacramentos
não é física nem metafísica, mas simbólica.

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2.
Graça sacramental:
presença salvífica qualificada do
mistério da Páscoa numa situação
particular.

24
Elementos para uma interpretação.

A Expressão “graça sacramental”


nasce com a teologia escolástica
e passa a ser considerada
como elemento integrante
da estrutura do sacramento,
que indica a sua meta e objetivo.

25
Tudo vem de Deus por Cristo e no Espírito, e tudo
volta a Deus a partir de nós, pela celebração
sacramental, por Cristo e no Espírito.

26
Atualização do Mistério Pascal.

Essa graça pascal é, em essência, graça


libertadora, que nos chega através do
acontecimento libertador de Cristo.

Os sacramentos são, pois, símbolos de


liberdade.

27
O Espírito é o Dom de Cristo

O dom pascal escatológico de Cristo


é o Espírito, como principio dinâmico
da vida pessoal e eclesiástica.

28
Espírito de Transformação

O Espírito atua no sacramento


não apenas transformando o elemento sensível,
mas também vivificando através da palavra,
levando o sacramento
a significar, ser e realizar
o que foi chamado a fazer.

29
3
O caráter sacramental como
configuração crística e destinação
eclesial

30
nterpretações históricas.

A doutrina da Igreja sobre o caráter,


fixada em Trento,
afirma que é um sinal espiritual e indelével
que se imprime
no Batismo, na Confirmação e na Ordem

31
Dom do Espírito Santo

A Escritura não fala jamais em “caráter”,


embora use termos como “selar”, “selo” e “marca”
para referir-se aos batizados,
com relação ao dom do Espírito
e em perspectiva escatológica.

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Sacramento e Efeito

Foi Agostinho quem mais desenvolveu essa


doutrina.

Referindo-se ao Batismo,
ele afirma que esse sacramento pode ocorrer
até mesmo fora da Igreja,
embora não se dê
o Espírito ou efeito da graça.

33
Ele compara o “signaculum” do Redentor
com o caráter ou marca das ovelhas
e dos soldados,
atribuindo-lhe
um sentido de pertinência e distinção

34
Escolástica..

A pré-escolástica
continua a empregar as expressões de Agostinho,
não avançando na explicação do significado,
atribuindo-lhe,
na maioria das vezes,
um sentido apocalíptico-escatológico.

35
O Concílio de Trento..

O Concílio de Trento
fixa a doutrina da Igreja,
corrigindo o ensinamento protestante,
limitando-se a compilar
o que era doutrina mais comum
e aceita e esclarece:

36
O Concílio de Trento..

“Se alguém diz que nos três sacramentos,


isto é, Batismo, Crisma e Ordem,
não se imprime o caráter na alma,
que é um certo signo espiritual e indelével
e, portanto,
não se pode repetir, seja anátema”
(DS 1.609).

37
Teologia pós-tridentina..

Continuou a debater-se nas


teorias provindas da escolástica, desenvolvendo
argumentos
a favor de Trento e contra os protestantes, mas
sem realizar um
real avanço teológico.

38
Concílio Vaticano II.

Do ponto de vista ecumênico,


não se abordou a questão do caráter
de modo geral,
mas sobretudo com referência
ao ministério ordenado.

39
Proposições atuais

40
As diversas opiniões existente podem ser
resumidas em duas:

a que enfatiza o aspecto ontológico


e aquela que insiste sobretudo no aspecto funcional
do caráter.

41
Aceitação e doação.

Em primeiro lugar,
indica a aceitação significada
de uma doação, uma consagração.

42
Resposta e compromisso.

Em segundo lugar,
significa a definitividade
e irreversibilidade num duplo sentido.

43
Consagração e missão.

Em terceiro lugar,
essa consagração definitiva
ocorre a partir da “oferta” de Deus
por Cristo
e pelo Espírito,

44
Consagração e missão.

Em quarto lugar,
deve-se dizer
que essa consagração ocorre na Igreja
e para a Igreja.

45
.

A resposta de fé, elemento


constitutivo do sacramento

46
Atitude e intenção do ministro.

Para Cipriano,
os sacramentos dependem
da santidade do ministro
e da sua permanência
na comunhão eclesial.

47
Para Agostinho,
toda a Igreja foi constituída “ministro”
dos sacramentos.

O valor destes não depende da santidade


nem da dignidade do ministro,
já que esse só é servo e ministro da graça.

A “intenção de fazer o que a Igreja faz

48
Os reformadores
enfatizam a fé do sujeito que recebe os
sacramentos e afirmam que a eficácia do
sacramento não depende da fé do ministro.

49
O Concílio de Trento

Como em outros casos,


pretende corrigir esses ensinamentos
e defender a doutrina comum católica.

50
Concílio de Trento.

“Se alguém diz que todos os cristãos


têm poder sobre a palavra
e sobre todos os sacramentos,
seja anátema”
(DS 1.610).

51
Concílio de Trento.

No tocante à intenção,
os Padres são unânimes,
ainda que com variações,
em afirmar que ela supõe o querer fazer o que a
Igreja faz e isso implica o desejo de cumprir a
ação sagrada na linha da vontade eclesial
(DS 1.611).

52
Concílio de Trento.

Mesmo afirmando a necessidade da intenção,


Trento afirma também que a eficácia do
sacramento
não depende da santidade do ministro,
que está em pecado mortal,
mas observa todo o essencial na realização do
sacramento.
(DS 1.612).

53
Concílio de Trento.

O ministro é representante de Cristo


e da Igreja.

Desde Trento,
a função do ministro foi interpretada
de modo sobretudo ritualista

54
Ministros / Vaticano II.

Nos últimos anos, principalmente a partir do Vaticano II


chegou-se a reformular
de maneira mais integral
(além de celebrar, o ministro deve evangelizar,
catequizar, dar testemunho) e
numa perspectiva mais ideal
(não apenas cumprir o mínimo para a validade, como
também o máximo
para a realização plena),
da função do ministro nos sacramentos.

55
Plenitude do sacramento.

O ministro não deve ser entendido


como funcionário estranho
ou ausente do que se realiza no
sacramento,
mascomo um servo comprometido e
responsável pela verdade e plenitude do
sacramento.

56
Vaticano II.

O Vaticano II
também não pretendeu apresentar
a função dos ministros nos sacramentos
a partir do “mínimo para a validade”,
mas sobretudo a partir do “máximo”
para a plenitude.

57
Vaticano II.

O ministro,
mais do que administrador de sacramentos,
é celebrante.
A sua intenção não consiste apenas em realizar
os ritos exigidos pela Igreja
em sua essência.
mas sobretudo em assumir a função de
Tornar presente essa Igreja.

58
5
A resposta de fé do sujeito

59
Análise histórica.

A Escritura não deixa nenhuma dúvida


quanto ao lugar e a importância da fé, tanto
no processo do
“tornar-se cristão” como na permanência do
viver cristãmente.

60
Fé comprometida.

Os Padres da Igreja são unânimes


em insistir, pedir,
promover e significar a participação do sujeito
nos sacramentos com uma conversão e
uma fé comprometidas e reconhecidas.

61
Os Escolásticos.

Os escolásticos,
embora a sua preocupação não seja a fé subjetiva,
mas a eficácia objetiva do sacramento, afirmam,
em sua maioria, existir uma conexão entre fé e
sacramento

62
Santo Tomás.

Para Santo Tomás


a Igreja é constituída pela fé e pelos
sacramentos da fé.

63
Alimentar a fé.

Por causa de um sacramentalismo exagerado,


os protestantes afirmarão
que não pode haver sacramento verdadeiro
sem fé.

64
Concílio de Trento..

Individualizando os erros protestantes acerca


dessa questão,
reconhecerá a importância
da fé no sacramento,
mas insistirá sobretudo
na eficácia do rito.

65
Concílio de Trento

O Concílio de Trento
não critica os reformadores
por terem defendido a fé nos sacramentos,
mas por haverem reduzido o sacramento à fé.

66
Vaticano II.

O Vaticano II
afirma que os sacramentos destinam-se
à santificação dos homens,
à edificação do Corpo de Cristo
e ainda ao culto a ser prestado a Deus.

Não só supõem a fé,


mas também a alimentam,
a fortalecem e a exprimem.

67
Proposições atuais.

O sacramento é um símbolo que, ao


expressar a vida do
homem integral
(e não apenas de uma de suas dimensões),
expressa também a sua fé.

68
Proposições atuais.

Os sacramentos não são realidades


impostas pela Igreja,
mas oferecidas para serem aceitas.

69
Proposições atuais.

A resposta de fé,
elemento constitutivo do sacramento.
Fé e sacramento se exigem mutuamente, se
necessitam e, de alguma maneira,
também se condicionam.

70
Proposições atuais.

►Essa fé é primeiramente uma fé batismal.

►Em segundo lugar, uma fé vivida.

►Em terceiro lugar, deve ser uma fé eclesial.

71
Proposições atuais .

►Os sacramentos têm um caráter de anúncio e de


proclamação da fé da Igreja.

►A fé do sacramento deve ser fé pessoal, ou


melhor, quem recebe o sacramento deve ser uma
pessoa fiel, que vive a sua fé batismal,
desenvolvendo-a em sintonia com a fé eclesial.

72
Proposições atuais .

O sacramento é um encontro interpessoal entre


Deus e o homem.
No entanto, não podem ser colocados no mesmo
nível.

73
Batismo – Opção livre.

O Batismo é o ato sacramental mais


radicalmente livre
para o fiel, no sentido de
que é o seu sim fundamental
a Deus e à ordem
por ele desejada.

74
Sacramento e compromisso.

O compromisso da liberdade no sacramento


é um compromisso sempre realizado
na esperança de uma realização mais plena
na existência concreta,
pela força do próprio dom do sacramento.

75
Interpessoalidade.

O homem é chamado a colaborar na ação


sacramental e a participar dela, para que ela seja
o que deve ser.

Nem a Igreja nem o sujeito dão origem à graça do


sacramento, mas sem a fé da Igreja e do sujeito
não há realização
plena da graça sacramental.

76
SACRAMENTALIDADE PENDENTE

77
Sacramentalidade pendente..

Casos referentes ao Batismo de crianças


e à Unção dos Enfermos.

Fé in actu e Fé in fieri.

78
Sacramentalidade pendente.

Não há sacramentos sem fé.


É difícil comprovar a total ausência de fé:
Fé plena. Fé ambígua.

Quando celebrar sob condição?

79
Os sacramentos da fé.

Religião e salvação
Religiões naturais
O cristianismo se insere na história
Israel e salvação
Cristianismo e salvação

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