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Sacramentos | Liturgia “Apareceu no deserto João Batista, pregando o

batismo de penitência para remissão dos


pecados” (Mc 1,4).

Ora, o batismo de João forma, com a sua


pregação, um conjunto que remete à
I. SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO penitência e ao perdão dos pecados. Isto
CRISTÃ significa, portanto, uma atitude de
Dados bíblicos sobre a iniciação “metanoia”. Mateus diz expressamente que
cristã eram batizados no Jordão “os que
confessavam os seus pecados” (Mt 3,6).
1) O batismo de João
O que extrair daqui? Que João chama os
O gesto ritual do banho como símbolo de homens para que se convertam perante o
purificação e de passagem a uma nova novo êxodo; a sua missão é, portanto,
realidade espiritual não era novidade na preparar o caminho para a vinda de Deus.
época da pregação de João e nos começos Subtrai-se daqui o caráter messiânico-
da Igreja. O batismo situa eclesiológico da missão do Batista, o seu
fenomenologicamente os cristãos entre as sentido escatológico e o seu caráter
seitas batistas, relativamente numerosas na ministerial.
altura. E destes “banhos rituais”
específicos, assinalam-se dois 2) O batismo de Jesus
relativamente próximos ao batismo de As características da missão e do batismo
João: o banho das comunidades essénias e de João são essenciais para descobrir o
o banho da incorporação dos prosélitos. significado da revelação que encerra o
O batismo dos essénios não tinha um batismo de Jesus e a teofania no Jordão.
caráter de inserção, mas de pertença. Ao O novo testamento menciona este episódio
contrário do batismo de João e de Jesus, diretamente nos quatro evangelhos, e
que é administrado exclusivamente uma indiretamente noutros escritos, segundo a
vez na vida, o ritual essénio repetia-se intenção teológica de cada narração. E da
inúmeras vezes. Já o batismo dos análise das narrações do batismo de Jesus,
prosélitos, era sim um rito de inserção. nos quatro evangelhos, encontramos três
Acontecia normalmente nas proximidades elementos fundamentais, que se encontram
da Páscoa, e incorporava formalmente os em todos eles:
homens e mulheres no Povo de Israel para
que todos a pudessem celebrar; no caso dos 1) A determinação de Jesus, pelo batismo
homens, coincidia com a circuncisão – de João .
servia como um ato de lavagem, Jesus, nos quatro evangelhos, aparece
purificação do sangue derramado pela como aquele que deve ser batizado
remoção do prepúcio. Acompanhando o para que depois possa vir o ES, e
“banho” propriamente dito, recitavam-se ouvir-se a voz do Pai. Jesus, ao “ser
salmos da Torá simultaneamente. batizado”, toma sobre si o pecado do
mundo (expiação), manifestando a sua
Apesar das semelhanças, a originalidade do
solidariedade com os pecadores, numa
batismo de João distingue claramente este
clara referência kenótica com a sua
gesto dos banhos religiosos; o batismo do
morte.
Jordão, mais que um simples ritual de
inserção, relaciona-se com o “banho 2) A teofania de Jesus inicia-se com a
messiânico no Espírito”. abertura dos céus e com a vinda do
Espírito Santo . O “céu aberto” dá lugar
ao ES para que, escatologicamente se
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reestabeleça a comunhão entre Deus e também toda a fé do crente, sob a aceitação
os homens. O espírito, ao repousar em da palavra dos apóstolos, a adesão de
Jesus, indica que é nele que esta coração à pessoa de Jesus e a vontade de
comunhão tem realidade. A imagem da participar na Igreja.
“pomba” é interpretada como uma
O batismo é então um ponto de
referência simbólica a Noé e à nova
convergência: une e simboliza num mesmo
humanidade surgida da purificação. E
ato, a inserção de Deus na vida humana e o
se o batismo se relaciona
compromisso do homem na vida divina; é
kenoticamente com a morte, a presença
um selo da aliança na fé.
do Espírito relaciona-se, aqui,
diretamente com a ressurreição. b) A narração do Pentecostes
3) Existe ainda um terceiro elemento, Das várias narrações nos Atos dos
apenas presente nos sinóticos, que é a Apóstolos, referidas ao Batismo, merece
voz vinda do céu . Este elemento está especial destaque, o discurso de Pedro
intimamente vinculado com a presença
do ES, já que ao longo de toda a
história da salvação, existe uma
estreita relação entre Espírito-palavra
(no Pentecostes, o Espírito
impulsionou o anúncio; no livro do
Génesis, o Espírito que pairava sobre
as águas relaciona-se com a palavra
criadora de Deus). E o que é dito, “Eis
o meu filho amado, em quem pus a
minha complacência” faz alusão às
grandes figuras messiânicas: Isaac
(filho da promessa), o Messias (o
pastor do povo, o “filho de Deus”), o
servo de Yahwé (aquele que cumpre a
vontade do Pai), de modo que tudo se
polariza em Jesus, sob o título de
“Filho amado”, numa clara referência
ao mistério Pascal.
2) O testemunho dos sinóticos e dos
Atos
a) Batismo, pregação, fé
Existe entre estas três realidade uma
profunda relação. Mateus e Marcos deixam
bem claro a vontade de Jesus de relacionar
o batismo com a formação dos discípulos e
com a pregação do evangelho e da
salvação. Nos Atos dos Apóstolos, a
narração de um batismo é sempre
acompanhada por um ato de fé, num
contexto de pregação. O batismo é então,
para a Igreja Primitiva uma incorporação
do kerygma, que resume e simboliza
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