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LIÇÃO 10- A CEIA DO SENHOR- A SEGUNDA

ORDANÇA DA IGREJA- 1º TRIMESTRE DE 2014 (1Co


11.26)
Prefº.: Pr. Wesllen Silva1

1
Bacharel em teologia/pós em Ciência da Religião/estudante de grego bíblico.
2

Objetivos específicos

1- Apresentar a natureza da ceia do Senhor na tradição católica


2- Mostrar o propósito da ceia do Senhor
3- Refletir a respeito do modo de celebração da ceia do Senhor.

Introdução
A Ceia do Senhor também é uma ordenança dada por Jesus à sua
Igreja. Ao longo da história, a Igreja tem a Ceia do Senhor como uma das
celebrações mais significativas. Nesse sentido, o cristão pode contemplar a
Ceia sob três perspectivas. Primeira, um olhar para trás, quando contempla
Cristo entregando-se em sacrifício vicário na cruz; segunda, um olhar para o
presente, quando vê sua real condição diante de Deus e como foi alcançado
pela graça de Deus; terceira, um olhar para o futuro, quando mantém sua
expectativa e esperança na Segunda Vinda de Cristo. Nesse sentido, a Ceia do
Senhor é uma cerimônia que deve ser celebrada com reverência, júbilo e
expectativa.

Definições de palavras:

Transubstanciação: A palavra transubstanciação significa uma alteração da


substância. Significado literal.
Consubstanciação: Se torna ou se converte no Corpo e no sangue.
Símbolo: Jesus se faz presente espiritualmente nos símbolos da Ceia.

1 NATUREZA DA CEIA DO SENHOR NA TRADIÇÃO CRISTÃ.


1.1 Na tradição romana.

Para o romanismo o texto “E, tomando o pão, e havendo dado graças,


partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto
em memória de mim. (Lc 22.19)2 é de cunho literal. Segundo esse
entendimento, os elementos da Ceia se convertem no corpo e no sangue de
Cristo. Esta interpretação chamamos teologicamente de Transubstanciação. A
substância do pão muda para a substância da carne de Cristo, e a substância
do vinho muda para a substância de seu sangue.

2
Bíblia João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica
Trinitariana do Brasil (SBTB), 2007.
3

Stanley Horton diz:

Este posicionamento teológico ensina que, quando o sacerdote


abençoa e consagra os elementos - o pão e o vinho - ocorre uma
mudança metafísica, de modo que o pão é transformado no corpo de
Cristo, e o vinho, no seu sangue. O termo "metafísica" é usado
porque a Igreja Católica ensina que características como a aparência
e o sabor dos elementos (ou os "acidentes") permanecem os
mesmos, mas que a essência interior, a substância metafísica, foi
transformada. Fazem uma interpretação muito literal das palavras de
Jesus: "Isto é o meu corpo... Isto é o meu sangue" (Mc 14.22-24), os
católicos acreditam que a totalidade de Cristo está plenamente
presente dentro da substância dos elementos.3

No discurso de Horton, ele explica que que a doutrina católica faz uma
interpretação totalmente literal da Ceia do Senhor. A declaração de fé das
Assembleias de Deus interpreta “isto é meu corpo” como linguagem
metafórico.4

1.2 Na tradição reformada.

A tradição reformada afirma que o corpo físico de Jesus está presente


no pão da Ceia. Esse entendimento luterano é denominado teologicamente de
consubstanciação.

Wayne Grudem diz assim:

Martin Lutero rejeitou a visão católica romana, mas insistiu que as


palavras 'Isto é meu corpo "tinha que ser tomada em um sentido
como uma declaração literal. Sua conclusão foi que o pão torna-se
realmente corpo físico de Cristo, mas o corpo físico de Cristo está
presente "em, com e sob" o pão da Ceia do Senhor.5

Nas palavras de Wayne, se vê que Lutero não conseguiu sair por


completo da doutrina católica, o mesmo interpretava “isto é o meu corpo” de
forma literal6.
Um contemporâneo de Lutero que divergia dele na questão da presença
de Cristo na Comunhão era Ulrich Zuínglio.

3
HORTON, Stanley M. (Ed.) Teologia Sistemática:uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro:
Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1996, p. 280.
4
SILVA, Esequias Soares (Org.) Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD, 2016, p.
106.
5
GRUDEM, Wayne A. Teologia sistemática. São Paulo: Vida, 1999, p. 1549.
6
Um literalismo parcial do texto
4

Stanley Horton argumenta:

A posição zuingliana é mais conhecida hoje como teoria memorial.


Enfatiza que a Comunhão é um rito que comemora a morte do
Senhor e a sua eficácia para o crente. Neste sentido é um sinal que
aponta de volta para o Calvário. Zuínglio rejeitava qualquer noção da
presença física de Cristo à sua mesa (quer transformada nos
elementos, quer junto com os elementos). Ensinava, pelo contrário,
que Cristo estava espiritualmente presente para os da fé.7

Na exposição de Horton, observa-se que Zuínglio defendia uma


interpretação simbólica dos elementos da Ceia do Senhor.

1.3 A posição pentecostal.

A tradição pentecostal entende que o pão e o vinho não se convertem


fisicamente no corpo de Jesus nem tampouco Jesus está presente fisicamente
neles. Assim, o pão e vinho simbolizam o corpo e o sangue de Jesus. Contudo,
Jesus se faz presente espiritualmente nos símbolos da Ceia (Mt 18.20).

Na declaração de fé das Assembleia de Deus, sobre a ceia do Senhor.


CREMOS, professamos e ensinamos que a Ceia do Senhor é o rito
da comunhão e ilustra a continuação da vida espiritual. Tal ordenança
foi instituída diretamente pelo Senhor Jesus após a refeição da
Páscoa na companhia de seus discípulos: “Jesus tomou o pão, e,
abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai,
comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice e dando graças, deu-
lho, dizendo: Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue
do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos
pecados” (Mt 26.26-28). Desde então, a Igreja vem celebrando esse
memorial e proclamando a Nova Aliança. Esse “Novo Concerto” é
cumprimento das promessas divinas desde o Antigo Testamento,20
sendo o próprio Jesus “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo” (Jo 1.29) e a nossa Páscoa: “Porque Cristo, nossa páscoa, foi
sacrificado por nós” (1 Co 5.7).8

Podemos concluir que a Ceia do Senhor é um memorial de comunhão.

2 O PROPÓSITO DA CEIA DO SENHOR


2.1 Celebrar a expiação de Cristo

7
Horton, p. 281.
8
SILVA, 2016, p. 106.
5

A expiação, segundo o Novo Dicionário da Bíblia, “é empregado em


teologia para denotar a obra de Cristo ao tratar do problema do pecado
apresentado pelo pecado humano, levando os pecadores à relação correta
com Deus”9
A Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã sobre Expiação diz assim:

A palavra expiação significa um relacionamento harmonioso ou


aquilo que promove tal relacionamento harmonioso ou aquilo que
promove tal relacionamento, isto é, a reconciliação. É usada
principalmente em referência à reconciliação entre Deus e o
homem efetuada pela obra de Cristo. A necessidade desta
reconciliação entre é a brecha no relacionamento original entre o
Criador e a criatura, ocasionada pela rebelião pecaminosa do
homem.10

Podemos concluir que a expiação se refere ao sacrifício de Cristo na


cruz, perdoando os pecados da humanidade.
Partindo dessa explicação, entendemos que o propósito da Ceia do
Senhor é “anunciar a morte do Senhor” (1 Co 11.26)11. Nesse caso, a Ceia do
Senhor aponta para o Calvário. Ela celebra a vitória de Cristo na cruz sobre o
pecado, a morte e o Diabo (Hb 2.14,15).

2.2 Proclamar a segunda vinda de Cristo.

A Ceia do Senhor proclama a sua segunda vinda (1 Co 11.26). Logo, há


um sentido escatológico na celebração da Ceia do Senhor.

A teologia sistemática de Bergstén diz:

9
DOUGLAS, J. D. (Editor). O Novo Dícionário da Bíblia. Pág. 481
10
TENNEY, Merrill C. (Editor). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã – Volume 2 D-G. Pág. 709.
11
Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do
Senhor, até que venha.
6

[...] Através da Santa Ceia podemos olhar para trás, lembrando-nos


da morte expiatória do Senhor; olhamos também para o presente,
onde verificamos que o Gólgota ainda tem poder, pois Cristo
ressuscitou e está presente, manifestando a sua graça aos que crêem
na mensagem da cruz (cf. 1 Co 2.5); e olhamos também para o
futuro, onde vemos que o dia da sua vinda se aproxima, quando nós
haveremos de celebrar a ceia com Ele no Reino dos céus. Segundo a
afirmativa de Jesus, podemos considerar a ceia como um profundo
memorial: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este
cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Co 11.26).12

Na Ceia do Senhor, a Igreja mantém um olhar no passado, quando


contempla a vitória de Jesus na cruz, mas também mantém o seu olhar no
futuro, esperando a vinda gloriosa de Jesus.

2.3 Celebrar a comunhão cristã

Uma das razões que levou o apóstolo Paulo a escrever a sua Primeira
Carta aos Coríntios estava relacionada à questão de divisões entre os irmãos
daquela igreja (1 Co 1.11). “Os coríntios não estavam discernindo o propósito
da Ceia, pois participavam como se estivessem participando de uma refeição
qualquer”.13
Admitimos que a Ceia do Senhor é um ato de comunhão entre os
cristãos.“[...]. A nossa união na igreja está simbolizada na ceia. A Bíblia diz:
“Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos
participamos do mesmo pão” (1 Co 10.17). Somos um em Cristo através da
sua morte”.14

3 O MODO DE CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR


3.1 O que é participar “indignamente”?

A bíblia diz: "Examine-se, pois, o homem a si mesmo" (1 Co


11.28)."Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para sua
própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor" (1 Co 11.27)15.

12
BERGSTÉN, Eurico. Introdução à Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
das Assembleia de Deus, 1999, p. 247.
13
GONÇALVES, José. O CORPO DE CRISTO: Origem, Natureza e Vocação da Igreja no
mundo. Rio de Janeiro. CPAD. 2024, p. 112.
14
Eurico, 199, p. 247.
7

O que seria comer o pão indignamente?

A palavra grega anaksiôs, traduzida em português como


"indignamente", é um advérbio, e não um adjetivo. Como
sabemos, os advérbios indicam "modo" ou "maneira", enquanto
os adjetivos indicam "estado" ou "qualidade". Se Paulo tivesse
usado o adjetivo "indigno" (anaksiós) no lugar do advérbio
"indignamente" (anaksiôs), então ninguém, de fato, poderia
participar da Ceia do Senhor, pois ninguém é ou será digno.16

“O advérbio "indignamente" (anaksiôs) mostra que Paulo referia-se ao


modo irreverente dos coríntios ao celebrarem a Ceia do Senhor, isto é,
enquanto alguns se embriagavam durante a reunião, outros comiam demais,
além do fato de não esperarem uns pelos outros” 17. Portanto, concluímos que a
Ceia do Senhor é uma cerimônia que devemos participar com discernimento

3.2 Uma celebração reverente

Se em lugar de um advérbio, que indica modo ou maneira, Paulo tivesse


usado um adjetivo, que indica estado, qualidade ou natureza, então ninguém
poderia participar da Ceia, pelo fato de que ninguém é digno (1 Co 11.27). Não
participamos da Ceia do Senhor porque somos dignos, mas pela graça de
Deus.

A ceia é também um ato de fortificação espiritual. Somos salvos pela


fé no sangue de Jesus (cf. Rm 3.25). Na ceia, o crente participa do
corpo e do sangue do Senhor (cf. 1 Co 11.27), o que fortifica a sua fé.
Na ceia, o crente anuncia a sua fé na morte do Senhor (cf. 1 Co
11.26). Diante de Deus, diante de seus irmãos, diante do mundo e até
diante de Satanás, o crente testifica, através da sua participação na
ceia, que crê de coração em Jesus. A ceia não é, dessa maneira, um
ato de tristeza e lamentação, mas de alegria, porque Jesus, cuja
morte aí comemoramos, vive e está presente.18

3.3 Celebração festiva

15
Bíblia João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica
Trinitariana do Brasil (SBTB), 2007.
16
GONÇALVES, José. Defendendo o Verdadeiro Evangelho. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
17
JOSÉ, 2024, p. 113.
18
BERGSTÉN,1999, p. 247.
8

A Ceia do Senhor celebra a morte e ressurreição de Jesus e não o seu


funeral. Nosso Redentor vive e, por isso, devemos demonstrar isso na
Celebração da Ceia do Senhor.

Jesus vive:
¹Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho
anunciado; o qual também recebestes, e no qual também
permaneceis.² Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como
vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão.³ Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu
por nossos pecados, segundo as Escrituras,⁴ E que foi sepultado, e
que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. 1 Coríntios
15:1-419
Conclusão

Vimos alguns aspectos que revelam o sentido e propósito da Ceia do


Senhor. Não é um sacramento, que de forma mágica concede graça aos que
dela participam nem tampouco uma vacina para dar comunhão a quem não
tem. Na verdade, o direito de celebrar essa importante ordenança é o resultado
da graça que foi concedida a cada crente. É necessário ter esse discernimento
quando se participa desse rito cristão.

Deus te abençoe!!! 07/03/2024

19
Bíblia João Ferreira de Almeida Corrigida Fiel (ACF). São Paulo: Sociedade Bíblica
Trinitariana do Brasil (SBTB), 2007.

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