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A CEIA DO SENHOR

O Senhor Jesus instituiu duas ordenanças (ou sacramentos) a serem observadas


pela igreja. Nas aulas anteriores discutimos sobre o batismo, ordenança observada uma
só vez por todo indivíduo, como sinal do início de sua vida cristã. Este módulo discute a
ceia do Senhor, ordenança que deve ser observada repetidamente por toda a vida de um
cristão, como sinal de sua comunhão contínua com Cristo.

I. O QUE OS PURITANOS DICERAM SOBRE A CEIA DO SENHOR?

John Knox escreveu que assim como Cristo afirmou que “ele próprio era o pão da
vivo em que nossas almas são alimentadas para a vida eterna”, da mesma maneira ao
instruir o pão e o vinho para serem comidos e bebidos, [Cristo] nos confirma sua
promessa e comunhão e as sela para nós [...] fazendo com que simbolizem suas dadivas
e comunhão e achando-os em nossos sentidos; ele também se dá a nós mesmos, para
que os elementos da Ceia sejam recebidos com a fé e não com a boca, nem ainda
mediante transfusão de substancia. Mas age assim para que, por meio da virtude [poder]
do Espirito Santo, nós, sendo alimentados com sua carne e revigorados com seu sangue,
sejamos renovados tanto para a verdadeira piedade quanto para a imortalidade.
Stephen Charnock (1628-1680) afirmou: “Nesse ato existe mais comunhão com
Deus [...] do que qualquer outro ato religioso [...] Temos uma comunhão mais intima com
alguém quando assentamos à sua mesa para partilhar do mesmo pão e do mesmo cálice
do que quando lhe pedimos algo que queremos ou lhe agradecemos um favor recebido”.
John Willison (1680-1750) escreveu que, quando participamos da Ceia,
deveríamos lembrar de Cristo repletos de admiração, de reverencia, de lamento com o
coração quebrantado por causa de nossos pecados, de ódio contra nossos pecados, de
gratidão e de confiança em Cristo para nossa total justificação. Ele escreveu: “Nosso
coração deve até mesmo arder de afeição por ele, quando nos lembramos das imensas
inundações de ira que irrompe na alma de Cristo e ainda assim não conseguiram afogar
seu amor por nós”.

II. PRECEDENTES NA HISTÓRIA DA REDENÇÃO


Há precedentes dessa cerimônia no Antigo Testamento? Parece que sim, pois na
antiga aliança também há exemplos em que se come e se bebe na presença de Deus.
Por exemplo, quando o povo de Israel estava acampado diante do monte Sinai, logo
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depois de receber os Dez Mandamentos, Deus chamou os anciãos de Israel para subirem
o monte, ao encontro dele: E subiram Moisés, e Arão, e Nadabe, e Abiú, e setenta dos
anciãos de Israel [...] porém eles viram a Deus, e comeram, e beberam (Êx 24.9-11).

III. O SIGNIFICADO DA CEIA DO SENHOR


O significado da Ceia do Senhor é complexo, rico e pleno. Há vários aspectos
simbolizados e afirmados na ceia do Senhor.
1. A morte de Cristo
Quando participamos da ceia do Senhor há nisso um símbolo da morte de Cristo,
pois nossas ações ali formam um quadro de sua morte por nós. Quando partido, o pão
simboliza o partir do corpo de Cristo, e, quando derramado (bebido), o cálice simboliza o
derramar do sangue de Cristo em nosso favor. Essa é a razão por que participar da ceia
do Senhor é também uma espécie de proclamação: “Porque, todas as vezes que
comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele
venha” (1Co 11.26).

2. Nossa participação nos benefícios da morte de Cristo


Jesus ordenou aos seus discípulos: “Tomai, comei; isto é o meu corpo” (Mt 26.26).
Quando individualmente pegamos o cálice e nós mesmos o tomamos, cada um de nós
está proclamando por meio de tal ato: “Estou tomando os benefícios da morte de Cristo
para mim mesmo”. Quando assim procedemos mostramos um símbolo do fato de que
participamos dos benefícios conquistados em nosso favor pela morte de Jesus.

3. Alimento espiritual
Assim como o alimento comum nutre o nosso corpo, também o pão e o vinho da
ceia do Senhor nos alimentam. Mas eles também representam o fato de que há alimento
e refrigério espirituais que Cristo está concedendo à nossa alma – de fato, a cerimônia
que Jesus instituiu, por sua própria natureza, tem a finalidade de ensinar-nos isso.

4. A unidade dos cristãos


Quando os cristãos participam juntos da ceia do Senhor dão também um sinal
nítido de unidade de uns para com os outros. Na verdade, Paulo diz: “Porque nós,
embora muitos, somos unicamente um só pão, um só corpo; porque todos participamos
do único pão” (1Co 10.17)

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5. Cristo afirma seu amor por mim
O fato de que posso participar da ceia do Senhor – na verdade, de que Jesus
convida-me para tanto – é um lembrete vívido e um sinal visível e seguro de que Jesus
Cristo me ama como indivíduo e como pessoa. Quando venho tomar a ceia do Senhor
reafirmo constantemente a segurança do amor pessoal de Cristo por mim.

6. Cristo afirma que todas as bênçãos da salvação estão reservadas para mim
Quando atendo ao convite de Cristo para participar da ceia do Senhor, o fato de
que ele me convidou à sua presença assegura-me de que Cristo tem abundantes
bênçãos para mim. Na ceia, estou de fato comendo e bebendo num antegozo da mesa do
grande banquete do Rei. Venho à sua mesa como membro de sua eterna família. Quando
o Senhor recebe-me nessa mesa, ele me assegura de que me receberá para desfrutar de
todas as outras bênçãos da terra e dos céus também, especialmente da grande Ceia das
Bodas do Cordeiro, para a qual está reservado um lugar para mim.

7. Eu afirmo minha fé em Cristo


Por fim, quando tomo o pão e o cálice, por meu ato estou proclamando: “Preciso de
ti e em ti confio, Senhor Jesus, para perdoar os meus pecados e dar vida e saúde à
minha alma, pois somente pelo teu corpo partido e teu sangue derramado eu posso ser
salvo”. De fato, quando participo do partir do pão, dele comendo, e do derramar do cálice,
dele bebendo, proclamo constantemente que meus pecados constituíram parte do motivo
do sofrimento e da morte de Jesus. Assim, tristeza, alegria, gratidão e profundo amor por
Cristo são ricamente mesclados na beleza da ceia do Senhor.

IV. COMO CRISTO ESTÁ PRESENTE NA CEIA DO SENHOR?

1. A posição católica: transubstanciação


Conforme a doutrina da Igreja Católica Romana, o pão e o vinho tornam-se
realmente o corpo e o sangue de Cristo. Isso acontece quando o padre diz “isto é o meu
corpo”, durante a celebração da missa. Quando o padre diz isso, o pão é levantado
(elevado) e adorado. Esse ato de elevar o pão e de pronunciá-lo corpo de Cristo só pode
ser feito por um sacerdote.
Quando isso acontece, segundo a doutrina católica, concede-se graça aos
presentes ex opere operato, isto é, “realizada por obra”, mas a quantidade de graça
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dispensada ocorre em proporção à disposição subjetiva de quem recebe a graça. Além
disso, toda vez que se celebra a missa, o sacrifício de Cristo é repetido (em algum
sentido), e a igreja católica é cautelosa em afirmar que se trata de um sacrifício real,
embora não corresponda ao sacrifício que Cristo fez na cruz.

2. A posição luterana: “em, com e sob”


Martinho Lutero rejeitou a posição católica sobre a ceia do Senhor, mas insistiu em
que a frase “isto é o meu corpo” tinha de ser entendida, em algum sentido, como uma
declaração literal. Sua conclusão não foi que o pão torna-se de fato o corpo físico de
Cristo, mas que o corpo físico de Cristo está presente “em, com e sob” o pão da ceia do
Senhor. A ilustração dada às vezes para explicar é que o corpo de Cristo está presente
assim como a água está presente em uma esponja – a água não é a esponja, mas está
presente “em, com e sob” a esponja e onde quer que a esponja esteja.

3. O restante das igrejas protestantes: presença simbólica e espiritual de Cristo


De modo distinto de Martinho Lutero, João Calvino e outros reformadores
argumentaram que o pão e o vinho da Ceia do Senhor não se transformam no corpo e no
sangue de Cristo, nem contêm, de algum modo, o corpo e o sangue de Cristo. Em vez
disso, o pão e o vinho simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, um sinal visível do fato
de que o próprio Cristo estava verdadeiramente presente.

V. QUEM DEVE PARTICIPAR DA CEIA DO SENHOR?


Apesar das diferenças sobre alguns aspectos da ceia do Senhor, a maioria dos
protestantes iria concordar, em primeiro lugar, que somente os que crêem em Cristo
devem participar da ceia, porque trata-se de um sinal de conversão e de permanência na
fé cristã. Paulo adverte que os que comem e bebem indignamente enfrentarão sérias
consequências: “Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para
si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que
dormem” (1Co 11.29-30).

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