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CIPRIANO A EUCARISTI EM CIPRIANO DE CARTAGO.

I A Missa um verdadeiro Pentecostes

Para Cipriano a eucaristia teve um dos seguintes significados: O sacrifício


eucarístico que como bispo presidia inspirava uma força extraordinária e
coragem, diante das muitas batalhas que sustentou com firmeza, quando tudo
parecia conspirar contra todo gesto de solidariedade e de conduta civil e
quando na própria Igreja veio faltar o principio de autoridade autoridade. Para
o Bispo de Cartago na Eucaristia se cumpria o imenso desígnio de bondade
para todos os homens. O sacrifício da Missa para Cipriano era um verdadeiro
pentecostes, pelo qual ele recebia a força para a luta. A missa era para o Bispo
de Cartago um fonte de energia e de perseverança cristã. Para ele Cristo quís
a Missa porque na Eucaristia o mesmo levou a realização o sacrifício de toda
história humana.
No sacrifício de Missa são confirmados os tempos e as circunstâncias da
instituição: o cálice que é oferecido em sua memória 1, cálice que contem o
sangue pelo qual somos remidos e santificados 2, Cristo o quis. Nosso Senhor
realizando o sacrifício símbolo de Mequisedeque, ofereceu o pão e o cálice
com vinho misturado com água. Ele que era a plenitude realizou o que o
símbolo figurava3. O dia da instituição do sacramento coincide coma vigília de
sua paixão:

“Na vigília de sua paixão, Ele abençoou o cálice, e dando-o aos seus
discípulos, disse: “bebei dele todos...4. “O cálice fora precedido pela benção
sobre o pão, como narra o Apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios: “O
Senhor Jesus, na noite que foi entregue, tomou o pão, deus graças, o partiu e
disse: Isto é o meu corpo que será para vós. Fazei isto em minha memória” 5.
Como nota Giovanni Toso6 , também na África tinha chegado a tradição da
Eucaristia: a Igreja de Cipriano era construída sobre este fundamento. É
interessante notar a referência de Ciprino ao texto da Carta de Paulo
endereçada aos Coríntios. O Bispo de Cartago, a propósito da última ceia,
assumindo o texto de São Paulo, escolhe um texto considerado o mais antigo

1
Ep. 63,2
2
Ep. 63,2.
3
Ep’.63,4
4
Ep. 63,9
5
Ep 63, 10.
6
Giovanni Toso, Cristiani com Corraggio,( nosso ser ceistãi hoje) Antologia ao cuidado de Giovanni Toso,
Edição Paulinas,p. 208.
2

juntamente com o de Marcos. Conforme a Carta de São Paulo, o banquete do


Senhor aconteceu através da introdução da benção sobre o pão, seguida da
refeição e concluído pela benção do vinho. Como lemos na Didaqué 7 à
refeição ordinária precedia as palavras da benção sobre o pão e sobre o cálice,
na celebração Eucarística. Mais tarde, pelo ano 150, conforme Justino 8, a
refeição ordinária e o banquete do Senhor eram completamente separados e a
ceia do Senhor é fundida como a oração e a liturgia matutina. A separação
veio talvez depois do edito de Trajano, que proibia as associações de caráter
religioso, não contempladas pelo ordenamento jurídico. No tempo de Cipriano
a celebração da “ceia do Senhor” era de manhã.

II -A presença real do corpo e do sangue de Cristo.

Falando da presença de Cristo na Eucaristia. o bispo de Cartago usa os


termos que revelam a imediata percepção da realidade, como quando na
linguagem comum falamos das cosias de todo o dia, da água, das frutas, do
pão, do alimento ou de uma pessoa bem conhecida.
Cada um singularmente , é santificado depois “da participação do corpo e
do sangue do Senhor”9. Ao tomar o pão consagrado os fiéis recebem” o corpo
do Senhor”10. Quando se oferece o cálice também as crianças intuem “ a
presença divina”. S. Cipriano, falando da Eucaristia, faz referência ao mistério
“do pão consagrado no sangue do Senhor”11, a presença real resulta outro tanto
evidente mesmo se faz o uso de outros termos como “pão santo do Senhor”,
ou como “sacramento”12.
Cipriano diz ainda que Cristo tórna-se pão para unir-nos com seu corpo a
vontade salvadora13 É um pão diferente do pão terreno, porque vem do céu 14.
Outras vezes a eucaristia conserva a cor da antiga tradição, usando a definição

7
DIDAQUE< c.9.
8
Justino, I Apol. C.65-67.
9
De lapsis,c.2.
10
De lapsis,c.15
11
De lapsis., c.25
12
De lapsis, c.36.
13
Orat.Dom., c.18.
14
Orat.Dom.,c.18
3

de “ceia do Senhor”15, mas se trata sempre “do corpo e do sangue de


Cristo”16.
Cipriano fala da presença eucarística exprimindo-se de vez em vez com
termos diversos que enriquecem seu valor. O Bispo de Cartago quando fala
do sacramento, se refere a uma presença específica, com referência ao corpo e
o sangue de Cristo, à pessoa, à sua vida e àquilo que Cristo realizou. Cipriano
não cai no erro de conceder às palavras da consagração uma presença indevida
ou mágica, que se possa considerar de modo autônomo, dissociada da paixão
de Cristo ou contemplada por si mesma. Nosso bispo assegura que celebrando
a eucaristia se repete nem mais nem menos o que o Senhor fez e quis. Na
eucaristia a sua paixão é real.

“Devemos repartir aquilo que Ele fez porque em todos os sacrifícios recordamos a sua
paixão; o sacrifício que oferecemos é, de fato, a paixão do Senhor. Todas as vezes que
oferecemos o cálice em memória do Senhor e de sua paixão, a Escritura nos recomenda
repetir aquilo que fez o Senhor.
Se alguns de nossos predecessores (escreve Cipriano ao bispo Cecílio de Bilt), irmão
caríssimo, por ignorância ou porque não dava importância ao fato, não realizou e não
respeitou aquilo que o Senhor nos mandou fazer com seu exemplo e o seu ensinamento, isto
é negócio seu. A bondade divina poderá escusar o sua pobreza. Nós, ao invés, não podemos
ser escusados, por que temos tido agora a admoestação do Senhor que nos ensina oferecer o
seu cálice com vinho e água, conforme a modalidade que ele seguiu na oferta”17.

A presença de Cristo na eucaristia possui portanto, conforme a passagem


citada , uma precisa referência com o passado e com um momento culminante
da vida de Cristo e de sua redenção.
Alem disso, a presença de Cristo se refere à santificação atual e não remota à
comunidade, da qual todos devem ser participantes conscientes, da santidade
e da unidade18.

15
Ep. 25. A Ceia do Senhor corresponde ao “Kuriacon deipnon”da Carta aos corrintios, (1Cor 11,20).
Discute-se poré, sofre a “fractio panis” contida nos ATOS DO Apóstolos( At 2,42. 46; 20,7.11) se correspnde
verdaderamente à celebração da eucaristia. O trmo almem de ser usado na Escritura, se enconta na
Didaqué( .c. 9,10), em Santo Inácio de Antioquia e em Justino. No século II o termo indicava aoração longa
de agradecimento que culminara com as palavras da consagração, Cipriano usa estas expressões para indicar
a a eucaristia : “. “post corpus et sabguinem Domini”( De lapsis, c.2);”corpus domini” (De lapsis,c.
15),”panem mero mixtum’,”calicem” “ëucaristia”, “”sanctificatus potus in saguine Domini “De lapsis,c.25) ;
“sacrifício a sacedote celebrato”” ( De lapsis c.26),”corpus:”, “eucaristiam”, “pane celesti”( Orat. Dom. c.18),
Cipriano usas tr6es expressões para indicara mesma realidade : “protectiome sanguinis et corporisw
Christi”( Ep. 57,2), Eucaristia”, “sanguinem Christi”( Ep. 57,2), “ad poculum “martyrii”Ep. 57,2).
16
Ep.57,2. O “cálice do Senhor”) Ep.57,2) ou “o cálice do sangue de Cristo”( Ep 58,1) contêm
verdadeiamente o sangue do Senhor( cf.Ep 73,4.9. 12.13.15.)
17
Ep. 63,17.
18
Ep 63,13.
4

A presença real de Cristo se prolonga no futuro porque é possível levar para


casa a eucaristia. A reunião da comunidade se prolonga durante a semana na
vida cristã de todo o dia19.

No tempo de Cipriano a eucaristia se desenvolvia da seguinte maneira: era


acompanhada de orações e de invocações semelhantes às nossas, depois de se
ter feito a leitura dos textos bíblicos e depois da explicação da palavra de Deus
pelo Presidente20. Rezava-se segundo às intenções gerais da Igreja e
conforme às particulares de cada um21.
Rezava-se também pelos defuntos 22 enquanto que por todos os vivos
elevavam orações com detalhes precisos e não mediante formulas já fixadas
no canon23. A missa era celebrada de manhã e não mais somente no domigo,
como resulta da Didaqué24; da Carta de Barnabé25; Justino, Apologia,c.1,6726.
Estava presente o corpo presbiteral e o Povo, unido e participante da
unidade querida por Cristo e bem simbolizada pela água que se mistura com
o vinho durante a celebração do sacramento 27. Como a água se une
intimamente ao vinho, assim o povo deve unir-se ao Cristo e formar nele uma
só comunidade. A proclamação da palavra era feita por leitores, que eram
escrupulosamente escolhidos pelos seus méritos, ou pela sua gloriosa
confissão28.
Durante a função eram recolhidas as ofertas dos fiéis que podiam também
consistir em natura. O Dinheiro eram depositados numa caixa comum,
enquanto os dons em natura eram , ao invés, distribuídos como certa pressa:
tudo, porém, devia ter a finalidade do sustento do clero e para as necessidade
dos pobres29
Na hora da comunhão o diácono ajudava o clero a desbribuir a eucaristia 30,
fazendo passar o cálice entre os fiéis 31 e oferecendo-os às crianças, também
aos pequeninos32. Quem participava da eucaristia recolhia o pão consagrado
nas suas mãos, uma sobre a outra, e, quem o desejava, podia também levá-lo

19
De Lapsis, c. 26.
20
Cf, Justino Apologia,c.6n5-67.
21
De Lapsis,c. 25.
22
Ep 1,2
23
Ep 37,1; 62,3.
24
Didaqué, c. 14,1; Ep. 57.3; 58.1; 63,15.
25
Ep de Barnabé,c. 15,8.
26
Apol. 1,67.Cf. et Ep. 57,; 58,1; 63,15; o Pai Nosso,,c. 18.
27
Ep.63,13,1-5.
28
Ep. 39,5.
29
De OP et El,c.15; Ep. 1,1.
30
De Lapsis,c.25)
31
Ep. 52,2.
32
De Lapsis , c. 25.
5

para casa, onde o guardava numa espécie de teca, utilizando os recipientes da


época. Os cofrezinhos ou custódia de terracota33.
Em tudo isso persistia uma dimensão humana, que favorecia uma certa
desenvoltura no fazer uso dos coisas divinas. O pão do Senhor não trazia
nenhum embaraço, nem exigia uma atenção que somente poucos podiam ter.
Cristo entrava nas casas com a mesma simplicidade e grandeza da sua
encarnação.
As dificuldades e contratempos eram facilmente superados, porque nas
Cartas de Cipriano não se acena a problemas particulares, que tivessem
surgidos por causa do costume de levar a eucaristia para casa. 34. Mesmo sem
adotar o uso de Cipriano, se deve amar a simplicidade e a dimensão humana
também no uso das coisas divinas. Não se trata de simples indicação; em
nosso caso está em jogo a educação cristã que nos oferece o evento histórico
da encarnação.

III. Disposições morais.

Quem participa da eucaristia deve ser batizado e ter recebido o Espírito 35.
A ação batismal se desenvolvia em dois tempos: a imersão e a imposição dos
mãos. Era necessário depois demonstrar à comunidade ser dignos da eucaristia
através das disposições de animo e daquela conduta de vida que garantam a
seriedade e a perseverança do que vai comungar. Quem não é santo é
excluído. Quem atraiçoa a fé e admoestado e afastado da eucaristia: “Somente
o que esta limpo comerá a carne do sacrifício; será tirado do meio do povo
aquele, coberto de impurezas; comerá da carne do santo sacrifício que
pertence ao Senhor”36. E o Apóstolo lança esta ameaça àqueles que são
obstinadamente rebeldes “ Quem comer o Pão e quem beber o Sangue do
Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor”37. Numa outra
passagem: “Não podeis beber cálice do Senhor e o do demônio. Não podeis
ter comunhão com a mesa do Senhor e com do demônio”38.
A omissão de expiar, através da penitência, as culpas cometidas, exclui da
participação da comunhão com o corpo de Cristo. O Senhor quer uma
santidade perfeita, que resulte tal para a comunidade , exigindo a expiação
também daquelas culpas que ficam escondidas à consciência, porque

33
De Lapsis,c..26.
34
De Pat.c.14.
35
Ep. 63,3>
36
Lv 7,20.
37
1 Cor 1,27.
38
De Lapsis,c. 15,
6

cometidas involuntariamente39. Cipriano conta diversos episódios nos


apareceria evidentemente a ação de Deus para revelar a situação de culpas
escondidas e impedir que seu sacramento fosse profanado.
A criancinha que restitui o pão e o vinho consagrados, a mulher que acredita
que vê sair chamas da custodia do pão eucaristico; o fiel que encontra
transformado em cinza o pão consagrado recebido durante a celebração; são
episódios que Cipriano acolhe sem avaliar e que servem talvez para seus
interesses retóricos, procurados ou acolhidos para dramatizar a indignidade
de uma situação comum de não-cuidado a respeito das disposições
necessárias para receber o pão do Senhor.
O sacerdote que celebra a eucaristia deve ser perfeito e santo: por isso
procurar-se-á, garantir disso, antes da eleição, sobre sua santidade com uma
publica eleição para ter-se certeza de uma perfeição moral 40
A santidade cristã provém também de uma disposição especifica aos
interesses sociais. A consciência dos participantes deve ser sensível às
situações e emergência nas quais muitas pessoas vivem: não podem coexistir
para o cristão, ou para a rica senhora, que freqüenta a comunidade, perfeição
moral e o próprio proveito, guardado zelosamente até a exclusão das
obrigações morais para com os pobres. “Os teus olhos negricidos não
conseguem ver quem se encontra em necessidade e na pobreza, porque são
como recobertos pelas trevas da noite. Alem disso, sendo tal como és, não
podes fazer na Igreja boas obras; pois teus olhos muito negrecidos e cobertos
de trevas noturnas não vêem o necessitado e pobre. Sendo lucupletada e rica ,
pensas que assistes o sacrifício do Domingo, tu não olhas para nada na cesta,
tu que vens ao templo sem oferta, que toma parte de oferenda que apresentou
o pobre?.
Cipriano com castigante ironia atinge fundamentalmente a ambigüidade
das ricas senhoras da aristocracia, elegantes e sofisticadas, mas sem boas
obras ou sem, como dizemos hoje, opção fundamental verdadeiramente cristã.
A discrição se dramatiza com um curioso retrato da rica senhora que
estende as mãos para as cestinhas dos “pobres”, durante a celebração
eucarística. Trata-se da tentativa de sempre querer participar da salvação , que
provem do sacrifício do Senhor a da fadiga dos outros, com uma adesão
somente externa de presença na comunidade cristã.
O rico que ainda não escolheu o homem, os outros, a comunidade que não
aceita eticamente a presença dos outros com suas necessidades, é excluído da
santidade do corpo do Senhor e da celebração do sacrifício divino.

39
De Lapsis, c.25.
40
Ep. 67,4.
7

Ministro da Eucaristia.

Verdadeiro ministro da eucaristia é o sacerdote, regularmente consagrado.”


Os que gozam da honra do sacerdócio divino e foram eleitos como clérigos no
sacerdócio divino, devem atender unicamente ao altar, ao sacrifício e à
oração.”41.
Cipriano exclui que se presida a eucaristia sem regular eleição. O pão
torna-se corpo do Senhor somente com a presença primaria e insubstituível
do sacerdote, Todo dia, o sacerdote eleito exerce a função de consagrar o pão
e o vinho42, reconhecendo, porém, que a sua ação é vicária daquela principal e
divina de Jesus Cristo, Senhor e Deus nosso. Somente Cristo é “sumo
sacerdote de Deus Pai e (somente ele) ofereceu a si mesmo por primeiro em
sacrifício ao Pai e mandou repetir tal oferta em sua memória43.
“Certamente faz as vezes de Cristo aquele sacerdote que repete o que Cristo
fez ; ele oferece na Igreja a Deus Pai um sacrifício verdadeiro e pleno
somente quando oferece seguindo a modalidade de Cristo”44.
Existe, portanto, ao lado da santidade moral e do testemunho de fé, uma
dignidade sacerdotal, que provém do direito de representação da própria ação
de Deus. O sacerdote, ministro da eucaristia, reveste-se desta dupla dignidade
de serviço. O sacerdote é tal por que além da dignidade pessoal, reveste o
poder de Cristo Senhor.

IV. A EUCARISTIA COMO SACRIFÍCIO.

1. A Eucaristia é sacrifício

Para Cipriano, a eucaristia não é uma qualquer memória, mas “um


sacrifício verdadeiro e pleno”, idêntico ao de Cristo na cruz. As afirmações de
Cipriano são claras e não dão nenhuma dúvida. Elas repetem a tradição da
Igreja. Para o Bíspo de Cartago a morte de Cristo não somente é resultado de
uma incapacidade do sinédrio, nem morte política realizada porque o Messias
colocava em discussão a sociedade.
Cipriano falando a respeito do argumento diz que a Eucaristia é um
sacrifício45. O vinho do cálice torna-se o sangue do Senhor” pelo qual fomos
remidos e vivificados”46, não somente com a exemplaridade de quem sofre e
41
Ep. 1,1.
42
Ep .%7,3.
43
Ep 63,14.
44
Ep. 63,13.
45
De Lapsis, c,26; Ep 1,1; Ep. 57,3; Ep. 62,3; Ep. 63,15.
46
Ep. 63,2.
8

desperta tantos imitadores. O Bispo de Cartago não limita a poder do


sacrifício de Cristo a um valor de exemplo. Trata-se, ao invés, de uma
realização histórica já contida em nível de símbolo na história de Noé,
voltada a significar a paixão de Cristo47.
Trata-se do mesmo vinho, que fora oferecido uma primeira vez com
significado particular por Melquisedeque, rei de Jerusalém48.
Melquisedeque representava Cristo , porque como “sacerdote de Deus
altíssimo, tinha oferecido pão e vinho e tinha abençoado a Abraão” 49. O
Senhor prescrevendo que o cálice deveria conter vinho, quando na vigília da
paixão abençoou o cálice e o deu aos seus discípulos, aludia, evidentemente,
ao seu sangue e à sua paixão. Vinho verdadeiro, morte verdadeira; alusão
idêntica igualmente às duas realidades do sangue e de sua morte. “É claro
que não se oferece o sangue de Cristo, se faltar o vinho no cálice; não se
celebra o sacrifício do Senhor de maneira regular e com a sua ação
santificadora, se a nossa oferta e o nosso sacrifício não correspondem à
paixão. Como podemos beber com Cristo no reino do Pai um vinho novo,
tirado do fruto da vide, se no sacrifício de Deus Pai e de Cristo não
oferecemos vinho e não misturamos o cálice do Senhor, como nos foi
ensinado?”50.

2. A identidade de nossa missa como sacrifício de Cristo.

Que a eucaristia seja , para Cipriano, a proclamação atual do sacrifício da


cruz e da morte do Senhor, que haja identidade entre nas duas liturgias é
evidente pela citação paulina.

“ Também o Apóstolo ( Paulo),escolhido pelo Senhor e por ele enviado e segundo a


vontade do Senhor pregador da verdade evangélica, escreve no seu evangelho: “O Senhor
Jesus, na noite em que era traído, tomou o pão, deu graças, o partiu e disse: este é o meu
corpo e é por vós. Fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo, depois da céia, tomou
a cálice e disse: este cálice é um novo testamento no meu sangue, Fazei isto todas as vezes
que beberdes em minha memória. Todas as vezes , com efeito, que comerdes deste pão e
beberdes deste cálice , proclamareis a morte do Senhor, até que ele venha”51.

O Senhor mandou fazer deste modo e tal ensinamento é confirmado e


repetido por seu apóstolo. Todas as vezes que nós bebemos o cálice , nós

47
Ep.63,3.
48
Ep.63,4.
49
Ep.63,4..
50
Ep. 63,9.
51
1 Cor 11,23-26.
9

repetimos, em memória do Senhor, aquilo que ele fez. Não podemos, portanto,
afirmar que se observem as prescrições do Senhor, se não se repete também
de nossa parte aquilo que ele realizou, misturando a água e o vinho, sem
afastar-se do ensinamento divino. Não devemos absolutamente afastar-nos
dos preceitos do Evangelho”52. O apostolo diz que os discípulos devem, por
sua vez, repetir aquilo que o mestre fez e ensinou. Escreve o apóstolo( Paulo):
“Admiro-me ver-vos assim logo passar daquele que vos chamou à graça e a um evangelho diverso.
que de fato não existe. Existem alguns que lançam a perturbação entre vós e querem desarranjar o
evangelho de Cristo. Pois bem, qualquer vos anunciasse um evangelho diferente daquele que vos
temos pregado, mesmo que fossemos nós mesmos, ou fosse um anjo descido do ceu, seja
anatema”53.

Preocupação, portanto viva e polemica, para conservar a celebração


eucarística nos cânones estabelecidos pelo Salvador, porque somente nestes
se realiza a vontade de Cristo. Existe, portanto, na Igreja de Cipriano uma
constante procura de quer ser o mais possíveis fiéis, à praxe de Cristo e a dos
apóstolos. Nos podemos dizer que a missa de hoje corresponde à liturgia
eucarística de Cipriano: participação de uma comunidade, presidência do
clero, leituras, homilia, proclamação da presença de Cristo através da palavra,
anuncio da morte do Senhor e espera de sua vinda.
A necessidade da identidade da missa do ano dois mil com a de Cipriano e
com a ação de graças de Cristo deve ser garantida também pela união
perpétua entre Cristo e o seu povo, por ele remido: uma só redenção, uma só e
idêntica celebração da morte de Cristo, uma só comunhão com o Senhor. Eis o
Cipriano escreve em sua celebre Carta 63,13:

“Como Cristo carregava a todos nós e carregava nossos pecados,assim vemos que na
águia é significado o povo, enquanto que no vinho, é sifgnificado o sangue de Cristo.
Quando no cálice a água “se mistura como vinho,é o povo que se une a Cristo, é a massa
dos crfentes , que se conjuga e se reune comAquele no qual crê. Esta união e esta mistura
da água e do vinho no cálide do Senhor é tal que os dois elementos não se podem separaR.
Consequentmente nenhum acontgecimento poderá separar a Igreja de Cristo,isto é, nada
poderá desunir dele opovo que se encontra na Igreja e que persevera com confiança e com
firmeza naquilo que acreditou. E nada poderá impedir a indivisível e contínua união
amorosa com o Cristo”. Vejamos também na mesma carta de Cipriano (Ep.63,13): .
“A unidade do povo cristão é figurada també pelo simbolo(do pão): como muitos
grãozinhos de trigo quando são unidos,esmagados e foramndo juntemnte uma massa ,
foram um só pão, assim em Cristo, que é pão do Céu, há como sabemos um só corpo, no
qual a nossa pluralidade e conjunta e confusa”.

52
Ep.63, 10.
53
Gal 1,6-9; Ep. 63,10.
10

É, portanto necessário que a Missa permaneça idêntica na substância e


naquela modalidade queridas por Cristo. É, alem disso, urgente que a
Missa .signifique sempre , através das cerimônias externas, aquele sacrifício
que Cristo ofereceu. A sobre posição cânticos e de litrugias particulares será
licita até quando não de perde a natureza do significado principal da
celebração eucarística.
A Eucaristia, conforme Ciprino, não somente uma festa de amizade ou vago
sentimento de unidade “no sentir-se juntos” “ fazer um grupo ao redor de
Cristo”. A dimensão assim caracterisitica das celebrações contemprâneas não
deve nunca esquecer a dimensão transcendente da salvação trazida pelo
sacrifício.
A Eucaristia é por isso essencialmente sacrifício de redenção e d libertação
dos pecados, Como a água se dissolva no vinho, assim o povo que participa do
sacrifício se une intimamente a Cristo, por que a Eucaristia-sacrificio libera
dos pecados. A eucaristia permanece o único sacrifício da paixão e da cruz de
Jesus 54.

V. IMPORTÂNCIA DADA À EUCARISTIA.

Vejamos a importância dada a Eucaristia por Cipriano e na Igreja de


Cartago:

“Nós que estamos em Cristo e que cada dia recebemos a sua eucaristia
como alimento de salvação, pedimos que seja dado diariamente este pão para
não separar-se do corpo de Cristo, caindo em algum delito grave, que nos
impeça de comunicar-nos com o pão celeste e nos obrigue a nos abster-nos” 55.
A eucaristia é o alimento diário, não dominical para a Igreja. Estas celebra
seus esponsais com o mistério da paixão de Cristo, todo o dia,
cotidianamente : medida do diálogo de convivência e de comunicação entre a
Igreja e o corpo de Cristo, não é o ano, nem a ocasião de algum aniversário,
mas a duração do dia que é a medida habitual que o homem percebe na sua
existência o tempo. Todo o ia a Igreja procura este alimento para a salvação e
para a união com Cristo, reforçando as ligações entre os fiéis e o Senhor e
impedindo a defecção com o pecado. Portanto a eucaristia significa união
habitual e constante com Cristo. Entre os múltiplos efeitos que ela produz é o
que oferecer “a defesa util”, não mágica permanecer nas linhas de combate.

54
Ep.63.17.
55
Dom.Orat.,c.18.
11

“A eucaristia é um presidio para aquele que a recebe, Armemos,


diz .Cipriano como a nutrição espiritual, aqueles que querem defesas contra o
adversário”56.
Outra tarefa, talvez entre os mais alta é a de produzir com a colaboração da
vontadse humana uma semelhança tal com Cristo criando uma força cristã ,
que seja capaz de aceitar não somente a perda parcial dos bens ou de dias mais
ou menos agradáveis, mas o martírio, Os cristão com a eucaristia estarão
prontos e generosos para derramar o seu sangue
“na defesa do nome de Deus”, recebendo o sangue de Cristo e bebendo ao c
cálice do Senhor, antes ainda de beber a do martírio57.
O sangue de Cristo é oferecido “todo o dia para ser bebido”, para que os
cristãos estejam em grau de derramar o “sangue por Ele” Isto significa
encontrar-se com Cristo e imita-lo no que ele ensinou e fez, segundo o que
diz o apóstolo João: “ Quem afirma qu esta com Cristo, deve seguir seu
caminho como ele caminhou”58.
A finalidade da eucaristia é, portanto, empenhativa e destinada a etapa mais
alta da vida cristã , produzindo a tensão para a santidade e o martírio 59.
Receber o corpo e o sangue de Cristo significa caminha para a crucificação,
como de fato Jesus depois da última ceia. Para todos os outros casos nãos não
é interessada a Pública manifestação da fé através o martírio, a eucaristia
leva à “sabedoria espiritual”, isto é, à apreciação das coisas de Deus 60.
A eucaristia supera o interesse da perfeição individual, porque se adjudica
como fim a unanimidade do próprio corpo de Igreja e de toda a fraternidade.
A eucaristia coloca em discussão a possibilidade para o homem e para as
instituições de matar uma outra pessoa, de fazer guerra , de provocar um
conflito, porque a eucaristia tira do homem o principio de agressividade.
Prevarica-se pela guerra e com todo os instrumentos que a ciência hoje
oferece, ou mesmo com as leis erradas. Um decreto mal feito a respeito dos
“handicappati”sobre a droga e sobre os doentes , é tão letal como uma guerra
local. Nãos e trata de porrada que um pode também dar a uma serpente que
está tranqüila sobre a rocha durante um passeio ocasional, mas de aceitar a
eucaristia como principio de bom governo. A Igreja tem a tarefa de tirar
justamente , o principio e o estímulo de agressão, que existe em cada homem.
A “ceia dominical : tende , com efeito, para a unidade de todos os homens
em nome de Cristo e em nome de todo o evangelho. Cipriano lembra que o
“Senhor concede os seus dons não ao número, mas à unidade e que afasta do
56
Eo. 57,2.
57
Idem.
58
Ep 58,1.
59
63,15.
60
63,11.
12

altar aquele que vem sacrificar e se encontra em desacordo com qualquer 61. A
eucaristia deve produzir a fé na comunidade dos homens e na realização cristã
de um irmão62.
Esta unidade entendida b por Cipriano sobretudo no interior da comunidade
dos crentes ,é hoje recolocada com nova sensibilidade a todos os homens.
Quem vem ao sacrifício e não faz participante os pobres da sua riqueza não
merece o louvor do Senhor, Feliz, ao invés, aquela mulher, “pobre e viuva que
doa para beneficiência (aquilo que tem),também mesmo que todas as ofertas
são distribuídas aos orfãos e às viuvas63.
Em lugar do principio da defesa com agressão(si vis pacem, para bellum) a
eucaristia propõe a união e condivisão, não principio da prevaricação e nem
mesmo o que alinhamento.

VII A presença de unidade.

Eucaristia é uma presença de unidade com o Bispo. O bispo preside a vida


cristã, que tem sua origem na eucaristia. Os mais jovens devem procurar
manter tal unidade com a cabeça responsável da igreja local 64. A eucaristia
torna-se um momento precioso de unidade com ele e com todos os fiéis, em
particular se estes sofre4m por causa da fé:
“ Também nós, escreve, Cipriano, certamente nos recordamos de vós( que
estais no cárcere), dia e noite, quer quando rezamos em assembléia,ao celebrar
o sacrifício, quer quando rezamos privadamente” 65. Conforme o Bispo de
Cartago devemos estar todos unidos: bispo, povo e revolucioanar cristãos, isto
é, empenhados. Na Igreja de deve haver unidade de luta e de martírio, sem
introduzir divisões ou agressões contra terceiros. A diferença entre o leigo
revolucionário e o cristão é que o primeiro possui inimigos para abater
enquanto que o cristão possui como pai, mão, parentes, filhos, esposa, esposo,
a comunidade cristã e toda a humanidade..
Duas lógicas diversas: a idiologia da revolução armada e a ideologia da
salvação universal, A unidade cristã se estende a todos e não somente a uma
parte da humanidade; alem disso não formada na violência e na chantagem,
mas no sacrifício de Cristo. O mundo não é mais dividido pelo mártir cristão,
porque potencialmente todos são destinados ao reino, não com a coação, mas
somente com a adesão pessoal e na liberdade.
61
De Unit.eccl., c.12.
62
De Unit. Ccl., c. 17.
63
De op. et el., c.15
64
Ep. 3.
65
Ep.37,1.
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Nos momentos mais difíceis, será o bispo que recriará a unidade, utilizando
também o indulto, isto é, o perdão mais vasto para ser de mais união e mais
fortes no período66.
A eucaristia torna-se também terreno de intercâmbio das reciprocas cortesias
religiosas, a mesa religiosa comum. Quando uma igreja manda auxílios
econômicos a uma outra , quando se escreve e se espera uma resposta, quando
se dá e se pede alguma coisa em troca, referência constante , o lugar no qual
todos nos encontramos ou se encontram, é a eucaristia: oferece-se e se pede
uma lembrança “no sacrifício”67.
A eucaristia é o momento culminante da máxima coesão com o corpo da
Igreja, com a família de Deus. Nãos e trata de uma unidade aristocrática de
simples amizade, porque a união é mística e somente atingível com a fé:
“Quando no cálice se mistura água com vinho, é o povo que se une a Cristo, é
a multidão dos crentes que se junta e se reúne Àquele no qual crê”68.

VII Unidade ameaçada.


Quando porém um sacerdote indigno devesse presidir o altar, a unidade se
torna “drama”, porque Cipriano propõe reconstruir a coesão com o
afastamento do bispo ou do sacerdote indigno. Se o sacerdote ou o bispo são
gravemente culpáveis e pecam contra a unidade do testemunho devem ser
afastados.
Conforme Cipriano, a comunidade devia assumir-se a responsabilidade de
defender a comunhão cristã, não mais representada pelo ministro. “O povo
fiel não se iluda de não contagiar-se , comunicando com o sacerdote pecador e
dando o consenso ao próprio bispo, quanto este exerce injuriosa e ilicitamente
as funções episcopais”69.
A unidade que se cria ao redor do altar é muito profunda e empenha a fé de
cada um, impondo-se também quando motivos e razões de prudência humana
poderia colocar tudo, a calar-se.70.
Concluindo, a atualidade do pensamento da vida cristã conforme Cipriano é
evidente. A vida sem a fé religiosa recusa o principio da unidade e conduz
66
Ep. 57,2.
67
Ep.62,3.
68
Ep. 63,13.
69
Ep. 67,3.
70
Ep. 67,3.
14

dispersão que se percebe sem uma explicação na vida e aceita conviver com
o próprio desepero.
A vida cristã , conforme Cipriano, leva, ao invés, à unidade mais profunda
com Cristo que é eucaristia e sacrifício, Contra a dissolução contemporânea,
tão evidente no desespero individual, nas estruturas da sociedade e nas
próprias cidades que não possui mais um centro de unidade própria, a vida do
cristão deve propor a unidade dos valores cristãos e tornar necessário o
acesso universal ao que produz a unidade.

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