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Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos,
dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças,
o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da
[nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.
Mateus 26. 26-28
Jesus Cristo instituiu duas ordenanças a serem observadas pela igreja: o batismo e a
ceia do Senhor. Nesses estudos introdutórios, buscamos apresentar um panorama
geral, mas o nosso foco é a perspectiva batista. No estudo anterior, vimos que o
batismo é um rito de iniciação na vida cristã, um símbolo da união com Cristo em sua
morte e ressurreição. Enfatizamos que o batismo bíblico é precedido por uma pública
profissão de fé, razão pela qual os batistas batizam somente aqueles que podem
professar a sua fé em Jesus Cristo.
No que diz respeito a ceia do Senhor, as divergências são relacionadas a cinco pontos:
1) A presença de Cristo 2) A eficácia do rito. 3) O ministrante adequado. 4) Os
receptores adequados. 5) Os elementos usados. Católicos e Protestantes tem visões
diametralmente opostas quanto a esses assuntos. Mesmo entre os Protestantes, há
bastante controvérsia quanto a natureza e os efeitos da ceia do Senhor. Vamos fazer
um panorama geral, considerando a perspectiva batista sobre o assunto.
1
Consubstanciação. Os luteranos advogam a posição apresentada por Martinho Lutero.
Para o reformador alemão, não existe uma transformação literal e substancial do pão
e do vinho. Os elementos não são transubstanciados, afirma Lutero. Ele propõe que
acontece uma união entre o corpo e o sangue de Cristo, a substância do pão e do
vinho na mesa do Senhor. “O que é o sacramento do altar? É o verdadeiro corpo e
sangue do nosso Senhor Jesus Cristo, instituídos pelo próprio Cristo sob o pão e o
vinho, para nós, cristãos, comermos e bebermos” (Catecismo de Lutero). Assim sendo,
Lutero buscou manter a reverência para com os elementos e se distanciar da
perspectiva católica que prega uma transubstanciação dos elementos. A posição
teológica dos luteranos pode ser ilustrada da seguinte maneira: assim como a água
está presente em uma esponja – a água não é a esponja, mas está presente “em, com,
sob” a esponja - “O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?” 1 Co
10.16
Memorial. A ceia do Senhor como um memorial simbólico que aponta para a obra de
Cristo foi ensinada pelo reformador suíço Ulrich Zwinglio. O texto de Paulo aos
coríntios tem sido usado pelos herdeiros da perspectiva zwuingliana para defender a
posição memorial. Os batistas, em linhas gerais, adotam essa perspectiva. De fato, a
ceia do Senhor é um memorial perpétuo, ordenado por Cristo, para ser praticado por
seus discípulos em sua memória até o seu retorno triunfal. Bruce Milne resume essa
perspectiva: “a Ceia é simplesmente simbólica, lembrando vivamente ao comungante
aquilo que Cristo fez a seu favor na cruz e apelando para uma nova dedicação de sua
vida a Deus, à luz do Calvário”.2
1
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XXIX, Art. VII. Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm Acesso em: 09 dez.2020
2
MILNE, Bruce. Estudando as Doutrinas da Bíblia. São Paulo: ABU, 1998, p. 246
2
O SIGNIFICADO DA CEIA DO SENHOR PARA OS BATISTAS
Existem vários aspectos simbolizados e afirmados na ceia do Senhor. Os batistas
ingleses, na monumental Confissão de Fé de 1689, apresentaram muito bem o ensino
bíblico sobre esse rico símbolo da nossa redenção.
A ceia do Senhor Jesus foi instituída por Ele, na mesma noite em que foi traído, para
ser observada nas igrejas até o fim do mundo; a fim de lembrar perpetuamente e ser
um testemunho do sacrifício de sua morte; para confirmar os crentes na fé e em todos
os benefícios dela decorrentes; para promover a nutrição espiritual e o crescimento
deles, em Cristo; para encorajar o maior engajamento deles em todos os seus deveres
para com Cristo; e para ser um elo e um penhor da comunhão com Ele e de uns com
os outros.3
Os batistas reconhecem que a ceia do Senhor é uma expressa ordem de Jesus Cristo.
Celebramos a Ceia do Senhor como expressão de nossa obediência e fé, pois cremos
que o Cristo crucificado ressuscitou. Aguardamos o retorno triunfal do Senhor Jesus.
Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na
noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o
meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.
Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este
cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em
memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice,
anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. 1 Co 11.23-26
1. A MORTE DE CRISTO.
A ceia do Senhor é evangelho exposto visualmente. O pão e o vinho são elementos
simbólicos que apontam para o sacrifício redentivo de Cristo. Quando partido, o pão
simboliza o corpo de Cristo, e, quando derramado, o cálice simboliza o derramar do
sangue de Cristo em nosso favor. A ceia do Senhor é uma proclamação do evangelho.
O cristão é alguém que estava morto em seus pecados e recebeu vida na morte de
Cristo. “Cristo morreu por nossos pecados de uma vez por todas (1 Pe 3.18). ”Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras (1 Co 15.3).
3
Confissão de Fé Batista de 1689. Acessado ....
4
GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999
3
2. NOSSA PARTICIPAÇÃO NOS BENEFÍCIOS DA MORTE DE CRISTO.
Quando tomamos a Ceia, não apenas nos lembramos de algo, estamos não só nos
dedicando a um ato memorial ou comemorativo, nem estamos meramente colocando
os nossos distintivos de membros da igreja, ainda que estejamos fazendo isso. Mas,
muito mais que isso, quando recebemos o pão e o vinho, Deus está nos dizendo que
somos participantes dos benefícios desse novo pacto5.
3. ALIMENTO ESPIRITUAL
A presença espiritual de Cristo na ceia é uma realidade ensinada na Bíblia e
reconhecida pelos mais antigos batistas. Participamos da ceia do Senhor crendo que o
Senhor está presente no meio do seu povo (Mt 18.20). Assim como o corpo recebe
nutrição através da alimentação, nossa alma também é nutrida espiritualmente. Pela fé
recebemos graça ao participar da ceia do Senhor em obediência. Uma parte
significativa dos batistas brasileiros não reconhece a presença de Cristo na ceia do
Senhor nem tampouco a nutrição espiritual, mas desde o início os batistas celebraram
a ceia “para promover a nutrição espiritual e o crescimento deles, em Cristo”.
Um só rebanho, um só pastor
Uma só fé em um só salvador
É Teu amor que nos une aqui
E num só espírito adoramos a Ti
E num só espírito adoramos a Ti
Um só rebanho, um só pastor
Fruto, ó Senhor, desse Teu grande amor
Só nos gloriamos na Tua cruz
Oh! Louvado sejas, bendito Jesus
Louvado sejas, bendito Jesus
5
JONES, Martyn Lloyd. A Igreja e as Últimas coisas. PES: São Paulo, 1999, p. 73
4
Um só rebanho, um só pastor
Sim, esperamos por Ti, ó Senhor
É face a face que vamos ver
Quem nos amou e por nós quis morrer
Somente os que creem em Cristo devem participar da ceia do Senhor, pois trata-se de
um sinal de conversão e permanência na vida cristã. Somos advertidos quanto ao
perigo de participar da ceia sem estarmos habilitados. Comer e beber indignamente é
um perigo (1 Co 11.29-30).
Somente os que foram batizados devem participar da ceia do Senhor. Tendo em vista
que o batismo é um rito de iniciação na vida cristã, e a ceia do Senhor simboliza
permanência no evangelho, não seria coerente participar de algo que simboliza
permanência se a pessoa ainda não passou pelo rito de entrada.
6
DEVER, Mark. Igreja: o evangelho visível, p. 160