Você está na página 1de 10

TRANSUBSTANCIAÇÃO

PODEMOS CRER NISSO ?


 
 
INTRODUÇÃO
 
A eucaristia é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Segundo o dogma
católico, Jesus Cristo se acha presente sob as aparências do pão e do vinho,
com seu corpo, sangue, alma e divindade, isto é o que geralmente se entende
por “Transubstanciação”.
A ceia do senhor foi celebrada na forma original por doze séculos, mas no ano
de 1200 a Igreja Católica substituiu o pão pela hóstia.
A Ceia Cristã sofreu nova agressão quando do Concílio de Latrão em Roma,
anos 1215-16, o papa Inocêncio III deturpou as palavras figuradas de Cristo
"Isto é meu corpo e isto é meu sangue” criando o dogma da
Transubstanciação. No ano 1414-15, no Concílio de Constança o papa João
XXIII, retirou o vinho da cerimônia e as Igrejas passaram a servir aos fiéis
somente a hóstia.
O Concílio De Trento, ano 1551, deu o golpe final contra a Ceia do Senhor,
definindo e aprovando o dogma da Transubstanciação. A partir desse Concílio,
qualquer sacerdote católico, como num passe de mágica, transforma o trigo,
vinho e água em carne, ossos, sangue, nervos, cabelos, alma e divindade de
Cristo  tudo dentro de uma pequena hóstia.
A palavra "eucaristia" significa ação de graças, até hoje os teólogos católicos
desentendem entre si sobre a aplicação desse termo no "santíssimo
sacramento"
A tradição da Igreja Católica além de tropeçar nas metáforas e figuras da Bíblia
na questão da eucaristia, que por si mesma, já é uma aberração teológica,
consegue embutir nela mais algumas heresias, quais sejam: ministração de
apenas um só dos elementos aos fiéis (hóstia); essa mesma doutrina diz
preservar dos pecados o comungante e também tem o poder de ajudar os
mortos e...pasmem....ELA, A HÓSTIA, PODE SER ADORADA!!! Tais Heresias
não tem o mínimo fundamento bíblico, entretanto, é de vital importância dentro
da dogmática do catolicismo romano e por isso ainda está de pé.
É preciso salientar ainda que a confecção da hóstia teve sua origem no
paganismo, onde, de modo vergonhoso, foi plagiada e entrou para o bojo
doutrinário da igreja romana.
É algo impar, toda especial, fabricada com trigo, sempre redonda,  e quando na
época da festa de Corpus Christi, o “Santíssimo Sacramento” é levado às ruas
em procissão dentro de uma patena de ouro representando um sol. Nisto se
pode constatar uma flagrante analogia com as religiões pagãs da antiguidade.
Conta-se que a deusa Ceres era adorada como a “descobridora do trigo”, era
representada com uma espiga de trigo nas mãos que correspondia à deusa
Mãe e seu filho. O filho de Ceres que se encarnara no trigo era o deus Sol.
Compare com a doutrina católica que transformara Jesus num pedaço de pão
de trigo no formato arredondado do sol cujo ostensório também tem um
desenho com raios solares.          
 
PORQUE SÓ A HÓSTIA ?
 
 
O estudante de história eclesiástica sabe perfeitamente que nenhuma doutrina
católica advinda da chamada “Tradição Oral”, pode ser substanciada, quer na
história dos primeiros séculos da igreja; quer na Bíblia! Nesta última, muito
menos...
Os apóstolos seguiram o costume bíblico de ministrar a ceia sob os dois
emblemas: pão e vinho. A igreja pós-apostólica também seguiu o mesmo
exemplo como vemos analisando as obras patrística dos primeiros séculos. Os
católicos precisam rodear e florear suas explicações para explicar o fato de o
sacerdote dar apenas um dos emblemas (pão) ao fiel, o que é uma clara
desobediência ao mandamento do mestre. Jesus foi taxativo ao dizer “bebei
dele TODOS”, esta ordem de fato não se pode cumprir na Igreja Católica. Por
mais sofismas que inventem, a verdade continua inalterável, Jesus ou os
apóstolos nunca mudaram o mandamento. Portanto, Jesus instituiu as duas
espécies (Mateus 26:26-28), e os apóstolos seguiram I Co. 11:23-28. Isto só
veio a ser mudado nos concílios de Constança e posteriormente reafirmado no
de Trento. No entanto, voltamos a reafirmar que a ordem de Cristo foi mais que
explícita: “Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do
Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós
mesmos.Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e
eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é
comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha
carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” João 6: 53-56
Este trecho das escrituras levou dois clérigos da igreja católica, Jacobel de
Mysa e João de Leida (séc. XIV), a voltar ao princípio das duas espécies e logo
se empenharam em espalhar isto na cidade de Praga, não demorou muito e
logo toda a Boêmia se declarou a favor. Mais tarde João Huss, foi para a
fogueira papal por defender essa doutrina bíblica.
Ora, Jesus não fora foi explícito ao dizer que quem não bebe o seu sangue não
tem parte com ele e não tem a vida eterna ? Isto não serviria como uma grande
advertência aos católicos ? Não estariam correndo o risco de não terem parte
na vida eterna ? Porque na prática não bebem do sangue como disse Jesus!
Se as duas espécies fossem coisa de somenos importância, de certo Jesus
teria instituído uma espécie apenas: somente o pão! É certo que as escrituras
nunca fazem qualquer menção de que Cristo esteja com seu sangue embutido
no pão. A linguagem usada é por demais contundente: comer e beber, pão e
vinho, carne e sangue. A igreja romana tem alterado o mandamento original
recusando-se a seguir o exemplo de Jesus e dos apóstolos e abandonado a
prática de toda a igreja primitiva. Algo interessante que vem robustecer nossa
tese é o caso da Igreja Ortodoxa, tão antiga quanto a romana, mas mesmo
assim ainda preserva o costume bíblico de ministrar o pão e o vinho aos fiéis.
Por outro lado, as igrejas evangélicas têm seguido a mesma prática instituída
por Cristo sem alterações e por isso pode usufruir as bênçãos advindas dessas
duas espécies, coisa que não se dá na igreja católica. 
 
O QUE É DISCERNIR O CORPO DO SENHOR ?
 
Dentro da teologia existe uma disciplina chamada hermenêutica. O que é
hermenêutica ? Em toscas palavras, hermenêutica nada mais é do que a
ciência de interpretar textos antigos sendo uma das matérias de estudo no
campo do Direito. Dentro do contexto teológico é a arte de interpretar a Bíblia.
Dentre as inúmeras regras, a mais salutar e primordial de todas é a do exame
do contexto. Vamos aplica-la aqui.O texto em lide reza:
 
“Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se
não discernir o corpo do Senhor.” I Co. 11:29
 
Entre os cristãos daquela época existia uma festa chamada “Festa Ágape” ou
festas de amor (Judas 12). Era comum entre os cristãos celebrarem a ceia com
esta refeição (esta prática perdurou até na época de Justino, o mártir) que era
destinada a ajudar os pobres. Corinto era uma igreja problemática em termos
de doutrinas (véu, dons espirituais, batismo, brigas, divisões e santa ceia). Os
Coríntios não estavam discernindo o real objetivo de suas reuniões
(v.17,18,20). Para eles aquilo era apenas uma festa como as demais festas
mundanas da sociedade grega (Corinto era grega) da qual tinham vindo. Então,
quando se reuniam, todos se embriagavam, (v.21) como faziam antes de se
converterem e não discerniam que aquilo era muito mais que uma festa, era
“em memória” de Cristo (v.25). Por isso as pessoas deveriam se examinar
antes de tocar no pão e no cálice (v.28), pois correriam o risco de tomar a ceia
de modo indigno, fora do propósito para qual fora estabelecida, ou seja, para a
comunhão e não divisão dos fieis (v.18). Isto é o que Paulo queria dizer com
discernir o corpo do Senhor. Não há nada que insinue no texto a herética
doutrina da “Transubstanciação”. O contexto quando analisado honestamente
não comporta tal idéia. Qualquer conclusão que passar disso é falsa!
 
 
OS DISPARATES DESSA DOUTRINA
 
 
Ensina a teologia católica a transubstanciação (alteração de substância)
durante a eucaristia. Após a consagração dos elementos, pão e vinho, recitada
pelo padre, as palavras de Cristo, “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”,
misteriosamente o pão se transforma na carne de Cristo e o vinho no seu
sangue. Levando as palavras de Cristo a um literalismo irracional, dizem ser o
pão o próprio corpo de Cristo presente na hóstia (depois dizem que nós é que
somos fundamentalistas e interpretamos a Bíblia ao pé da letra!!!). Esta
doutrina é baseada principalmente na perícope do evangelho de João 6:53.
Contudo, daremos algumas razões de o porque rejeitarmos esta doutrina como
errônea e perigosa.
 
1.      Se na frase “isto é o meu corpo” o verbo “é” implica a conversão
literal do pão no corpo de Cristo, segue-se igualmente que nas palavras
“Eu sou o pão da vida”(6:35) o verbo “sou” deve implicar igual mudança,
ensinando-nos que Cristo se converte no pão, de modo, que se o
primeiro é uma “prova” da transubstanciação, o segundo demonstra
necessariamente o contrário; se o primeiro demonstra que o pão pode
converter-se em Cristo, o segundo demonstra que Cristo pode
converter-se em pão, o que é um verdadeiro absurdo, mas é isto o que
a lógica desta filosofia nos leva a concluir!  
2.      Se acreditarmos que neste episódio Jesus estava se referindo a
eucaristia então forçosamente ninguém pode se salvar sem o
sacramento e todo o que o recebe não pode se perder. Seria sempre
necessário o fiel se comungar para não perder a benção da vida eterna.
E aqueles que não podem toma-la ? Estariam destinados ao inferno ?
Crêem os católicos que todo aquele que comunga tem a vida eterna ?
Pois Jesus disse que sem exceção, “todo aquele” que comesse a sua
carne teria de fato a vida eterna. E o que dizer então daqueles que
bebem indignamente (I Coríntios 11:28) ? Tal é a contradição e
confusão que nos mostra tão descabida teoria se levada ao pé da letra.
3.      Este ponto já foi tratado acima, mas vamos reforça-lo aqui. Ora, se
tomadas literalmente estas palavras o beber o sangue é tão importante
quanto o comer a sua carne, em outras palavras é tão necessário
comer o pão (hóstia) como beber o cálice. E porque então o padre
nega-lhes este direito desobedecendo a Bíblia ?
 
 
 
ANALISANDO JOÃO 6
 
Um erro crasso entre as seitas é ignorar propositalmente o contexto bíblico de
uma passagem. Este método tem criado muita confusão e gerado muitas
heresias. Pois se não levarmos em conta o contexto, isolando por completo a
passagem, podemos distorcer a palavra de Deus, defendendo qualquer ponto
de vista, criando inúmeros tipos de doutrinas e levando milhares de pessoas ao
erro. Por exemplo, os espíritas se apegam ao texto de João 3:3 para ensinar a
reencarnação, os mórmons acreditam que há salvação após a morte
baseando-se para isso em I Pedro 3:19, já as Testemunhas de Jeová, afirmam
que não vamos para o céu numa interpretação toda tendenciosa de Salmos
37:9. E assim são os adventistas, a Nova Era, Reverendo Moon Ad infinitun...
Nenhuma delas respeita o contexto. Já dizia aquele velho adágio: “Tirar um
texto fora do contexto é um pretexto” Pretexto pra que ? Simplesmente para
apoiar nossos pontos de vistas preconcebidos sem respaldo bíblico. foi
exatamente isto que o diabo fez com Cristo quando citou as escrituras (Mateus
4:6). A igreja católica não constitui exceção!
Diz o padre Alberto Luiz Gambarini em seu livro “Quem fundou sua igreja ?” na
pág. 46 o seguinte: “Jesus não deixou dúvidas quanto a esta questão: a
eucaristia ou ceia não é uma mera lembrança, e sim a presença por inteiro de
Jesus Cristo”. Pois bem, vamos analisar esta questão dentro de seu contexto
imediato, pois tais palavras tomadas isoladamente e sem explicação podem ter
um sentido, mas dentro do seu respectivo contexto, levando em consideração a
aplicação que o Senhor lhes deu, tem outro sentido bem distinto!
 
“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais,
não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos saciastes.
Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para
a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai,
imprimiu o seu selo.” João 6:26,27 
 
Estas palavras deram princípio ao discurso e são elas a chave para
compreendermos o sentido exato e a razão do por que Jesus usar a figura de
“comer” e “beber”. A única dificuldade que há para a compreensão deste
discurso de Jesus provém de não se ter em conta a figura que lhe deu origem,
qual seja, que os judeus seguiam Jesus por causa do milagre dos pães, por
causa do alimento material. Ao contrário, Jesus elucida que a comida que ele
tem é algo maior: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida
que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará” Então
os judeus apelam para o episódio do maná que desceu do céu. Jesus explica
que o verdadeiro pão não era o maná, mas que o pão verdadeiro é outro, o
próprio Cristo. Então disseram os judeus: “Senhor, dá-nos sempre desse
pão.” . Percebemos até aqui que os judeus não estavam entendendo sua
mensagem e interpretava-o de modo literal assim como os católicos fazem.
Jesus então explica que o sentido era simbólico/espiritual e não literal: “Eu sou
o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê
em mim jamais terá sede.”  Este verso é muito importante pois ele nos explica
que comer a carne e beber o sangue dele é somente crer nele, ter fé nele,
recebe-lo nada mais que isso. Isto de fato é o que significa o alimento do seu
corpo “Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o Filho
e crê nele, tenha a vida eterna”. Jesus rechaça qualquer tipo de confusão
quanto a isso quando arremata: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada
aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida”
Jesus estava falando espiritualmente, não fisicamente. Ele estava explicando
que toda vida vem através da fé nele, e não comendo o seu corpo. Então como
explicar este verso ? “e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha
carne.”  Será que com isto Jesus não estava ensinando sobre a eucaristia,
quando os seus seguidores iriam alimentar-se dele através da hóstia num
tempo futuro? Não, não necessariamente. A Bíblia ensina sem sombra de
dúvidas que a vida eterna viria através de sua morte na cruz, dando seu corpo,
isto é, sua carne para ser sacrificada. Isto está em perfeita concordância com o
resto das escrituras, veja  como o apóstolo Paulo entendeu isto: Efésios 2:14
“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a
parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade”.
 Especialmente Colossenses 1:20,22 nos diz que o sangue e a carne de
Cristo é realmente o que ele deu ao mundo para alcançarmos vida eterna, veja
“e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra
como as que estão nos céus. agora contudo vos reconciliou no corpo da sua
carne, pela morte, a fim de perante ele vos apresentar santos, sem defeito e
irrepreensíveis,” e “pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo,
através do véu, isto é, da sua carne”  . A conclusão a que chegamos lendo o
contexto é que o “alimentar-se” de Jesus (seu corpo) através da sua carne e
sangue é a mesma figura de linguagem que Ele utilizou em João 4:14.  A
bebida e a comida eram espirituais, tanto é, que quando os discípulos
entenderam de modo literal Ele prontamente corrigiu-os explicando que “O
espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos
tenho dito são espírito e são vida” . O “alimentar-se” de Cristo seria “crer nele”,
quando então o pai daria seu corpo na cruz para ser sacrificado por nossos
pecados.
 
LEMBRANÇA OU PRESENÇA REAL ?
 
“Isto é o meu corpo que é entregue por vós; fazei isto em memória de
mim” I Cor. 11:24
 
“Isto é o meu corpo” é a ladainha católica repetida na teologia eucarística que
por osmose vai se firmando no conceito católico. Não há algo mais claro nessa
passagem do que a verdade de que aquilo era realmente o corpo de
Cristo,dizem os católicos.
Não precisamos esforçar-nos muito para desmantelar tão descabida exegese,
basta recorrer ao contexto. Ora, é importante a fim de que possamos entender
a questão em pauta, ter em vista que Jesus instituiu a santa ceia na ocasião
que estava comendo a ceia pascoal, sem dúvida ele recordava de que aquela
páscoa foi instituída para comemorar a saída dos israelitas do cativeiro do
Egito, pela aspersão do sangue do cordeiro.
O pão que Ele tomou e abençoou e deu aos discípulos era o pão pascoal.
Muitos católicos dizem que Jesus não comeu aquele pão mas tal assertiva se
mostra falsa quando lemos que Jesus iria comer realmente aquela comida,
veja; “e Jesus enviou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa,
para que a comamos. E direis ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te:
Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus
discípulos?” Lucas 22:8-11
Todas as suas ações e palavras tinham alguma relação com a antiga páscoa.
Tendo isto em vista devemos procurar na antiga festa uma explicação para a
santa ceia que Ele iria substituir, pois Ele, Jesus, é a nossa páscoa (I Cor. 5:7) !
Quando Moisés (o tipo de Cristo) instituiu a páscoa, mandou comer a carne e
aspergir o sangue do cordeiro em suas casas (Ex: 12:11). Só que o cordeiro
que comiam NÃO ERA a “páscoa”, pois tal palavra se deriva  do verbo “pasah”,
“passar por cima” incluindo a idéia de “poupar e proteger” v.13. A páscoa do
Senhor era o “passar do anjo por toda a terra do Egito”. Vê-se, pois, que o ato
do passar por cima das casas dos israelitas era uma coisa e o cordeiro que os
israelitas comiam era outra essencialmente distinta: uma era um fato, a outra a
recordação daquele fato. Embora Moisés tivesse dito a respeito do cordeiro: “É
a páscoa”, isto é, a passagem do Senhor, não se segue que quisesse dizer que
o cordeiro que tinham assado e de que estavam comendo se tivesse mudado
ou transformado no ato de passar o Senhor por cima das casas. O sentido
simplesmente era: “É uma recordação da páscoa ou da passagem do Senhor”.
Temos pois aqui um exemplo clássico dessa figura de retórica pela qual se dá
o nome da coisa que ela recorda, ou se põe o sinal pela coisa significada.
Quando pois, as famílias se reuniam em torno da mesa para comer a páscoa o
chefe da família dizia: “Esta é a páscoa do Senhor”, quando então queriam
dizer “Esta é a recordação da páscoa do Senhor”. Pois bem, fincado na
essência dessa celebração Jesus certamente se valeu da mesma expressão
conhecidíssima dos israelitas. Depois de abolida a páscoa e substituída pela
santa ceia, serviu-se da mesma expressão de que tinha feito uso na celebração
antiga; era natural que do mesmo modo que tinha dito da páscoa “Esta é a
páscoa do Senhor”, querendo dizer que aquilo era apenas a recordação
daquele feito na época de Moisés, usasse também mui naturalmente as
palavras “ISTO É O MEU CORPO” para significar que aquele rito devia ser
usado como recordação do seu corpo e do seu sangue oferecidos na cruz;
sendo Ele, o verdadeiro cordeiro de Deus (João 1:29) que nos libertou do
cativeiro do pecado.
Os discípulos sendo judeus versados nas escrituras, estavam por certo
familiarizados com tais figuras de linguagem (Salmos 27:1-2, Isaías 9:18-20,
49:26) e não foi difícil entenderem o que Jesus queria lhes dizer, pois antes
disso, eles os ouviram dizer: “Eu sou a porta”, “Eu sou o caminho”, “Eu sou a
luz do mundo...” e entenderam perfeitamente a linguagem. Nada é mais
comum do que dar à lembrança, ou a representação de uma coisa, o mesmo
nome da coisa de que é representação ou sinal. Até mesmo os membros da
igreja romana ao verem a imagem da santa dizem: “esta é Nossa Senhora”, ou
vendo a imagem de um santo qualquer dizem: “este é São Pedro, este Santo
Expedito e aquele outro Santo Antônio etc...” mesmo sabendo que aquilo
(segundo acreditam) é apenas uma representação ou lembrança do que está
no céu. Servem-se constantemente desta figura de retórica que dá
representação ou lembrança o nome da coisa representada ou lembrada.
Quando então distribuía os elementos da ceia, pão e vinho disse: “Isto É O
MEU CORPO” e “ISTO É O MEU SANGUE”, arrematando ordena: “FAZEI
ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”. Temos razão para crer que aquilo era uma
comemoração ou lembrança de sua morte na cruz e devíamos prosseguir
fazendo isto até que Ele venha. Para corroborar nosso ponto de vista, veja que
mesmo após Jesus ter consagrado o vinho ele ainda continuou o que sempre
fora, simplesmente um vinho “porque vos digo que desde agora não mais
beberei do fruto da videira,( não disse meu sangue) até que venha o reino de
Deus.” Lucas 22:18
Paulo simplesmente considerava como pão e vinho, os elementos da santa
ceia e não o corpo do Senhor transubstanciado: “Semelhantemente também,
depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu
sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de
mim.Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice
estareis anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. De modo que
qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será
culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si
mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice.” I Co. 11:26-28. O pão apenas
representava o corpo do Senhor, o vinho o seu sangue. Todas as vezes que
nós nos reunimos para celebrar a santa ceia nós fazemos isto sempre EM
MEMÓRIA do Senhor, pois Ele mesmo disse “FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE
MIM”. É EM MEMÓRIA!!! Não podemos sacrificar Cristo novamente (Hebreus
7:24,27). Todavia, cremos que o Senhor nos enche com sua presença neste
momento, pois devemos nos achegar a Ele em santa comunhão e com santa
reverência tomar o pão e o cálice que representa o corpo e o sangue do
Senhor partido e derramado por nós na cruz do Calvário. É bem parecido com
o que nós fazemos com a Bandeira Nacional. Ela representa( é um emblema) a
nação, mas a reverencia que temos para com ela é como se fosse com a
própria nação.
 
ABSURDO DOS ABSURDOS
 
 
Por darem ouvido ao dogma da transubstanciação os católicos além de
incorrem num terrível engodo, acabam por abraçar uma teoria fictícia, absurda
até (vede o missal romano) ! Veja porque:
 
        Se naquela ocasião em que Jesus disse: “Isto é o meu corpo”,
realmente tivesse ocorrido a tão propalada “transubstanciação” então
somos levados a acreditar que existiam naquele momento dois corpos
do Senhor ? Levando este dogma às ultimas conseqüências teremos
isto: Jesus pegou aquele pedaço de pão, já transformado em seu corpo
(com divindade e alma, segundo crêem  os católicos) e deu-se a si
mesmo para seus discípulos comerem depois de terem comido o corpo
do mestre sentaram-se ao seu lado. E ainda: Jesus também devia ter-se
comido e engolido a si mesmo pois também é certo que Ele participou
da ceia!
        E se tal pão consagrado for comido acidentalmente por um roedor
da-se o caso que tal animal também engoliu o Cristo com seu corpo,
alma e divindade ? Ou quando não, se tal hóstia se estragar e vier
apodrecer; seria o caso do corpo de Cristo que está naquele elemento
apodrecer também ? E como fica então Atos 2:31 que diz que a carne
de Cristo não se corrompe ?
        Uma coisa tão extraordinária como essa, um milagre tão estupendo
que é o de mudar um pedacinho de pão em Deus mesmo; um milagre
tão diferente de todos os que se tem notícia pois o papa Pio IX se
vangloriava com este dogma dizendo: “Não somos simples mortais,
somos superiores a Maria. Ela deu á luz só a um Cristo, mas nós
podemos fazer quantos cristos quisermos; nós, os padres criamos o
próprio Deus”, deveria ter uma prova muito mais clara e contundente do
que meras formas de expressão. É sem dúvida algo que foge à nossa
compreensão, não por ser algo misterioso, mas por ser irracional e
incoerente. Quando se prova o pão, ele ainda é o pão, tem cheiro como
tal, o gosto ainda é de pão, o mesmo se dá com o vinho! Onde o corpo
de Cristo nisto tudo ? Esquivar-se fazendo uma separação arbitraria de
milagres, sendo os visíveis só para incrédulos e os invisíveis para os
crentes, diga-se católicos, é ultrapassar o que está escrito, onde está tal
divisão nas escrituras ? Em lugar algum! Mas é preciso sofismar para
forjar explicações, ainda que esdrúxulas, mas que sirva de alicerce para
tal falácia.
        Se o que dá vida é o espírito, por que Deus se faria carne por meio
da hóstia para nos vivificar?
        Se Cristo nos ordenou que celebrássemos a cerimônia até que Ele
voltasse, conforme I Co. 11:26 (até que venha), como pode estar
presente na hóstia ? Se vem, não está! Devemos ressaltar que tal vinda
é escatológica quando virá em corpo, pois espiritualmente, Ele está
conosco todos os dias Mat. 18:20 -28:20, e esta promessa não tem nada
a ver com a santa ceia.
        Demais disso se os elementos da ceia se transformassem
literalmente no sangue e no corpo de Cristo já não seria uma lembrança
daquele sacrifício mas novamente o próprio sacrifício, isto entraria em
choque com as passagens bíblicas de Hebreus 7:24,27.
 
 
O DOGMA REJEITADO
 
A doutrina da Transubstanciação não tem respaldo bíblico, e como havia de se
esperar, nem todos os representantes da Igreja Católica concordaram com esta
doutrina e quando a transubstanciação foi introduzida nas Igrejas Católicas
houve não poucas discussões escolásticas.  Alguns pais da igreja deram um
significado literal às palavras, “Isto é o Meu Corpo”, entre eles podemos citar:
Cirilo de Jerusalém, Gregório de Nissa, Gregório Nazianzo, João Crisóstomo e
Ambrósio. Os que deram um significado figurativo incluem, Eusébio,  Jerônimo,
Gelásio I, Gelásio II, Atanásio, São Clemente e Agostinho.
 
Rubano Mauro, anos 788-857, Abade de Fulda, depois Arcebispo de Moguncia,
considerava "Heresia grave supor que na eucaristia estava presente a carne
nascida de Maria."(Epístola ad Heribaldum)
Santo Agostinho, bispo de Hipona, anos 354-430, gracejava jocosamente da
transubstanciação, cuja idéia já existia no seu tempo. – Pregando nas Igrejas
dizia: "Por que preparas os dentes e o estômago? Confiar em Cristo é comer o
Pão da Vida, não se pode engolir Aquele que subiu vivo para o céu." (Ver
tratado sobre João nr. VXV e Sermões nr. 131, nr.1).
A "La Grande Enciclopedie Française" comentando a eucaristia escreveu que
"Os teólogos católicos imaginaram os povos mais feiticistas e os cultos mais
idólatras. – Tomam a farinha cozida e o vinho e dizem: Eis nosso Deus, comei-
o."
Proibidos de raciocinar, os clérigos esqueceram de ler Santo Agostinho
e a ignorância tornou-se moléstia geral.
O papa Gelásio I, ano 492-6, ensinava que "A natureza dos elementos da Ceia
não deixavam de existir depois da benção". Gelásio II, anos 1118-19, não
aceitava a transubstanciação dizendo: "Na eucaristia a natureza do pão e do
vinho não cessam de existir e ordenava as igrejas que servissem aos fiéis o
vinho e não somente o pão." Clemente pensava igual, expressou-se assim: "O
pão e o vinho na Ceia são símbolos. Não se transformam em coisa alguma.
Albertinus cita Pio II como discordante também.
Como também não é possível acarear os papas, os católicos deveriam estudar
o espírito das palavras de Cristo quando se referiu à Ceia (Fontes de
referência: Da Duabos in Cristo adv. Eutychem et Nestorium, São Tomaz Sum
Theo., Vol. 7, pág.134, e, Clemente Livro VII, cáp. V, pág.23)
 Albertinus cita ainda quatro Cardiais de então: Bonaventura, Alícuo, Cujan e
Cajetano, dois Arcebispos, cino Bispos e 19 doutores da igreja que
interpretavam o Evangelho de João, cáp. 6:53-63, no sentido espiritual e
simbólico.
S. Cirilo de Jerusalém e S. Gregório de Nissa fizeram referências à "união
mística" na eucaristia, mas nada falaram sobre "presença real" (Sacra Coena
Adv.Lanfrancum e Cath XXI, 13 respectivamente).
 
INTERPRETAÇÃO DOS REFORMADORES
 
Para a Reforma, são dois os sacramentos, instituídos pelo próprio Cristo: o
batismo, que marca o início da vida cristã, e a Santa Ceia, que significa a
manutenção dessa vida - a santificação.
Unidos sobre o sentido do batismo, apesar de ênfases diversas, os
reformadores se dividiram sobre o sentido da eucaristia. Lutero se opôs à
missa como obra meritória e repetição eficaz do sacrifício do Cristo. O
oferecimento da graça se efetua sob duplo signo instituído por Cristo: não se
pode recusar a nenhum fiel o pão e o vinho oferecidos por Jesus, em oposição
ao Concílio de Constança, de 1414, que proibiu o uso do cálice aos leigos.
Contudo, Lutero opõe-se a uma presença meramente simbólica de Cristo na
ceia. Mantém a tese da "consubstanciação", segundo a qual o pão e o vinho
permanecem presentes na ceia simultaneamente com o corpo e o sangue de
Cristo.
Zwingli vê na ceia cristã o simples memorial que comemora o sacrifício único e
infinitamente suficiente de Cristo. Calvino queria mais do que uma presença
somente simbólica à maneira de Zwingli, mas repudiou não só a posição
católica como a luterana. Para Calvino, a "substância" não se refere a um
substrato invisível na matéria do objeto, mas significa a realidade profunda de
um ser. O pão e o vinho não só representam a comunhão com o corpo e o
sangue de Cristo, mas "apontam" a realidade desse significado. O que Calvino
rejeita é a idéia da "presença local"; confia no Espírito Santo e não num
fenômeno especial, para relacionar diretamente o comungante com o Cristo
vivo.
O anglicanismo adotou o essencial das posições da Reforma. A confissão
anglicana conserva dois sacramentos (batismo e ceia), proíbe as procissões
solenes do Santíssimo Sacramento e a adoração das espécies consagradas. O
corpo do Senhor é recebido mediante a fé (conceito calvinista). A maioria
esmagadora dos protestantes aceita as noções de Calvino e Zwingli. Gostaria
de fazer somente um adendo sobre a posição de Lutero: apesar de ter sido
levantado por Deus, Lutero no princípio não pretendia separar-se da Igreja
Católica mas reforma-la por dentro. Tendo este pano de fundo histórico
podemos entender porque ele não abdicou de certas noções católicas. Ele
representa a primeira geração dos reformadores, muitas coisas ainda estavam
enraizadas profundamente nele. Somente com o decorrer do tempo é que a
doutrina da reforma foi se purificando mais e mais. É bem parecido com o que
aconteceu com o cristianismo em relação ao judaísmo no começo de sua
história. Este problema já não aparece nas gerações posteriores dos
reformadores que foram lapidando os lapsos teológicos do catolicismo dentro
do protestantismo .
 

Você também pode gostar