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Os Horrores do nazismo e o Vaticano

60 anos depois...

Sessenta anos após o término da II Guerra Mundial, Ratzinger ou Bento XVI,


pede que "o horror do nazismo e do comunismo sejam lembrados". Por que
não, então, lembrar?
A história nos mostra a extensa atividade papal, previamente à II Guerra
Mundial, na Alemanha, a qual, sem dúvida, culminou com a ascensão de Hitler
ao poder. Essa atividade é muito bem descrita no capítulo dez do livro "The
Vatican in World Politics" de Avro Manhattan.
Houve então, em 1929, o Tratado Laterano, entre Mussolini e PIO XI, que
concedia inúmeras regalias à ICR, tais como isenção de impostos, imunidade
diplomática, reconhecimento da Santa Sé como um Estado soberano, etc.
Posteriormente, em 1933, uma concordata foi assinada na Alemanha, entre o
Estado e a Igreja. E não foram Hitler e Mussolini os maiores ícones na morte
de milhares de pessoas? Judeus, protestantes, ciganos, ortodoxos
(principalmente por Pavelic, líder do partido facista Ustashi da Croácia), sem
mencionar os jovens soldados aliados (centenas deles pracinhas brasileiros)?
Creio que a declaração de Franz Von Papen, núncio apostólico e futuro vice-
chanceler no governo de Hitler, ao jornal do partido, Volkischer Beobachter
(Observador Popular) em janeiro de 1934, resume bem essa questão:
"O III Reich é o primeiro poder que, não apenas reconhece, mas põe em
prática os altos princípios do papado".

Então, vamos continuar lembrando...

Em 1945 com a vitória dos aliados, os nazistas seriam julgados e condenados


por seus atos de barbárie, e, apesar de suas condenações não trazerem à vida
os milhares dizimados, ao menos os soldados e demais sobreviventes
poderiam sentir a alegria de que a justiça havia sido feita. Mas, infelizmente, os
fatos nos mostram que não foi exatamente assim que tudo terminou. Então,
vamos lembrar...
Durante o caos pós-guerra, muitos nazistas menos conhecidos, porém não
menos terríveis, misturaram-se com facilidade entre os cidadãos comuns em
Berlim. Assim, diferentemente dos oficiais mais divulgados pela mídia, que
foram julgados no tribunal de Nuremberg, muitos conseguiram escapar.
Segundo o livro "Into that Darkness" de Gitta Sereny, formou-se um esquema
de fuga para ex-oficiais da SS, envolvendo o Vaticano através do Bispo Alois
Hudal, que em 1945 foi escolhido por PIO XII para ser seu representante
perante os falantes de alemão na Itália, mantidos em campos de internação.
Assim, fez contatos importantes para estabelecer a rota e contou com a ajuda
de governos latino americanos pró-nazistas, como o governo de Perón (através
de sua esposa Evita), fazendo com que a Argentina passasse a ser a principal
base operacional da rota de fuga na América Latina.

Em 1992, o então presidente Carlos Menen tornou públicos todos os arquivos


existentes na Argentina referentes a refugiados nazistas. Os mesmos se
encontram na Biblioteca Nacional do país em questão.
E quem não se lembra, que em 1985, foi encontrada numa cidade nas
proximidades de São Paulo a ossada do médico / monstro Menguele, que
amava fazer experiências macabras com gêmeos? Os arquivos referidos
mostram que ele entrou na América Latina pela Argentina com nome e
documentos falsos. Já, segundo declaração de Bill Gowen, ex-agente da
inteligência americana, Ante Pavelic (chefe da Ustashi da Croácia), chegou a
Buenos Aires em 1947, dois meses após Evita Perón conseguir uma audiência
com o Papa, e "não teve qualquer problema lá".

Mas haviam aqueles que eram extremamente úteis na recém iniciada guerra
fria.Segundo declaração do também ex-agente da inteligência americana,
Eugene Kolb, no documentário televisivo "Caçando Fugitivos Nazistas" do The
History Channel, Klaus Barbie, chefe da GESTAPO na França ocupada e
responsável por muitas mortes, também conseguiu abrigo seguro:
"A única coisa que sabíamos de Barbie e que nos embaraçava, é que ele era
um ex-oficial da GESTAPO, o que era bastante constrangedor. Primeiro, por ter
ligações com a GESTAPO, segundo, pela violação dos princípios que o
levariam à prisão. Esses princípios ainda eram válidos e ele deveria ser preso,
mas não foi. Não sabíamos que ele era um grande criminoso de guerra, e, em
contrapartida, por ser de grande utilidade para nossa organização, não tivemos
grandes dores de consciência". E já não seria informação suficiente? Barbie foi
encontrado em La Paz, na Bolívia e levado a julgamento em Lyon, palco de
suas barbáries.
Na realidade, de uma forma ou de outra, todos nós somos sobreviventes dessa
guerra. Há muita informação disponível, para que, a pedido de Ratzinger, nos
lembremos dos "horrores do nazismo". E temos que nos lembrar, mas nos
lembrar da história verdadeira. Nos lembrar que por interesses de ordem
política e religiosa, a justiça não foi completa. O sistema preferiu silenciar o
caso e permitir que alguns desses temíveis criminosos vivessem
confortavelmente como nossos vizinhos. E, o que dizer à geração que viveu os
"horrores do nazismo"? Àqueles que foram sacrificados em campos de
concentração, em suas próprias casas, abatidos pela fome , e àqueles que
sacrificaram suas vidas nos fronts? Sim, nós nos lembramos. E agora, cabe-
nos uma explicação. Mas, em respeito à nossa inteligência, não nos
aderessem pedidos de desculpas pelos "erros do passado".

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