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INTRODUÇÃO – Aula I

A Mariologia e a Teologia Sistemática

A Teologia Sistemática é entendida como discurso sistemático, metódico e


hermenêutico sobre a fé cristã que é vivida segundo a práxis na Igreja Católica.
Não obstante o caráter confessional desta teologia, não se opõe a uma
compreensão e atitude ecumênicas que habitam o seio do seu próprio discurso.
A Teologia Sistemática nutre-se da convicção de que a práxis vivida pela
comunidade de fé em Jesus Cristo é o acesso à manifestação singular de Deus que
constitui o objeto da reflexão teológica cristã. A teologia não seria possível fora
da Palavra de Deus ou da Revelação de Deus, por isso ela é mais uma hermenêutica
que uma dogmática. A fundamentação da Teologia Sistemática passa pela
Tradição, e, por isso mesmo, ela é de caráter bíblico.
Embora o antigo rechaço do conceito de “Teologia Dogmática” tenha hoje
praticamente desaparecido dos meios teológicos, tanto protestante como
católicos, nesta enciclopédia optamos pelo uso da expressão “Teologia
Sistemática”. Porém, isso não significa que descuidemos de expor as afirmações da
fé da Igreja como uma linguagem sobre Deus, ordenando e desenvolvendo
conceitualmente o conteúdo desta fé, vivida na comunidade cristã. Esta tarefa é
compreendida como hermenêutica, histórica e reflexiva, que busca ser inteligível
a nossos contemporâneos, especialmente os latino-americanos.
Nessa Enciclopédia, a Teologia diferencia-se das Ciências da Religião, que não
tratam de maneira específica a fé cristã. Contudo, essa Teologia entra em diálogo
com as ciências, sobretudo, com as Ciências da Religião.
Verbetes específicos são dedicados aos grandes temas da teologia. Esses temas
giram em torno de Jesus Cristo (Cristologia), do Deus da Revelação: mistério de
comunhão (Trindade), da Criação e do Ser Humano (Teologia da Criação e
Antropologia Teológica), da Comunidade Cristã (Eclesiologia), da Esperança Cristã
(Escatologia), de Maria, mãe de Jesus (Mariologia). Também são tratadas várias
questões emergentes em Teologia Sistemática.
Podemos, como católicos, pensar que a Virgem Maria, na Igreja, é apenas
um objeto de devoção e esquecemos que ela também teve e tem um papel muito
importante na obra da Salvação e, por isso, é digna de ser – além de cultuada –
estudada. Para isso, existe uma matéria que chamamos de mariologia.

Subdivisões
A Mariologia tradicionalmente sub-divide-se em:
Mariologia Histórica (estuda os dados históricos, sociais e afins que permitem
aceder à figura histórica de Maria),
Mariologia Bíblica (versa sobre os fundamentos bíblicos das afirmações sobre
Maria),
Mariologia "popular" (trabalha os dados que as devoções populares sobre Maria
receberam da Tradição eclesiástica e vice-versa) e Mariologia
Sistemática (aprofunda os dados da história, das Escrituras e da piedade
sistematizando-os em coerência com as doutrinas cristológicas e eclesiológicas).

O que é mariologia? É a disciplina que, dentro da teologia, estuda o locus


(lugar) da Virgem Maria na obra da Salvação.
Maria nos primeiros séculos de cristianismo: A mariologia como tratado
separado é fruto da Idade Média. O primeiro milênio de cristianismo conhece
Maria, mas sempre numa relação com Jesus Cristo, onde este era o protagonista
dos discursos e homilias – lembremo-nos que a Patrística era o período das grandes
controvérsias teológico-cristológicas, salvos alguns relatos piedosos, como o
“protoevangelho de Tiago” (início do século III) e a “Vida de Maria”, do monge
Epifânio.

Mariologia medieval: Na Idade Média, após os dogmas cristológicos serem


definidos, a piedade marial ganhou espaço. Basta que nos lembremos do
surgimento do santo Rosário, das inúmeras devoções marianas e das revelações
privadas que ocorreram a vários santos. O Tratado da Santíssima Virgem, de São
Bernardo de Claraval (+ 1153) é a obra mariológica que marca este período.
No período medieval, ainda, percebemos grandes controvérsias
mariológicas, principalmente no que diz respeito à Imaculada Conceição de Maria.
As universidades eram verdadeiros polos de discussão entre teólogos franciscanos
e dominicanos. Apesar destes últimos carregarem o rosário no hábito e terem todo
um histórico devocional mariano – devido ao seu fundador, São Domingos de
Gusmão – eram os frades menores que defendiam a imaculada concepção de
Maria, encontrando a sua figura mais expressiva no Beato João Duns Scotus. Por
esse motivo é que São Tomás não fez um tratado de mariologia, visto que era
dominicano e, portanto, fruto de uma época e de uma escola de pensamento.

Mariologia Sistemática na Idade Moderna: O período Moderno é marcado


pela teologia sistemática. E, a mariologia entra dentro deste campo. Diante da
Reforma Protestante, que promoveu “um corte radical na devoção aos santos e,
sobretudo, a Maria [...] a Contra-Reforma católica retoma com mais vigor a figura
de Maria” (MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. 2. ed.. São
Paulo: Paulinas; Valência: Siquem, 2006. p. 14). Com isso, Francisco Suarez (1584)
cria o primeiro tratado mariano e Plácido Nígido (1602) cria a palavra
“mariologia”.

Mariologia devocional, fruto do iluminismo: Diante do Iluminismo dos


séculos XVIII e XIX surge uma mariologia devocional, de cunho afetivo, na qual
se misturam elementos simbólicos e racionais. Assim, nasce O Tratado da
Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort.
Salvo a linguagem hiperbólica do autor, Montfort busca mostrar que a verdadeira
forma de ser livre é se tornar escravo daquele que é o Senhor da Liberdade, Jesus
Cristo. Mas, para que façamos isso da melhor maneira é preciso que o façamos
pelas mãos de Maria, tendo em mente que é mais fácil perceber as virtudes que
santificaram a Virgem Mãe do que perceber as virtudes que nos levaram à salvação
(presentes em Cristo (já santificado)). Assim, nasce a escravidão de Jesus por Maria,
que marcou muitos institutos religiosos surgidos nesta época.

Mariologia no século XX: Nos anos sessenta do século XX inicia-se um


movimento um movimento de retorno às fontes do cristianismo (Sagradas
Escrituras, Patrística e Sagrada Liturgia), conhecida como Nouvelle Theologie, que
encontra seus maiores expoentes em Joseph Ratzinger, Hans Urs von Balthasar e
Henry de Lubac. Assim, toda “mariologia armada somente sobre argumentos da
tradição” (MURAD, 2006, p.15), principalmente do raciocínio escolástico e do seu
método dedutivo, cai por terra. Era preciso que se voltasse às raízes e se
considerasse a Virgem Maria como sendo verdadeiramente Senhora, mas também
criatura, para o pesar do tomismo leonino de Lagrange, cardeal Ottaviani, dentre
outros. E, também para o pesar de certos teólogos liberais, que queriam mostrar
apenas o labor da “Maria de Nazaré”, aquela que tinha uma vida comum, sem
nada de extraordinário, com as dificuldades corriqueiras de qualquer ser humano,
mas que se esqueceram que a dimensão interior (espiritual) de Maria era aquela
que a tornava grande, a ponto de ser assunta ao Céu, em corpo e alma (dogma
de 1950).

O ensino da mariologia
Considerada a importância da figura da Virgem na história da salvação e na
vida do povo de Deus, e depois das indicações do Vaticano II e dos Sumos
Pontífices, seria impensável que hoje o ensino da mariologia ficasse esquecido: é
necessário portanto conceder-lhe o devido lugar nos seminários e nas faculdades
teológicas.
Tal ensino, constituindo um "tratado sistemático" será:
a) orgânico, isto é, inserido adequadamente no plano de estudos do currículo
teológico;
b) completo, de maneira que a pessoa da Virgem seja considerada em toda
a história da salvação, isto é, na sua relação com Deus; com Cristo, Verbo
Encarnado, salvador e mediador; com o Espírito Santo, santificador e dador de
vida; com a Igreja, sacramento de salvação; com o homem, as suas origens e o seu
progresso na vida da graça, o seu destino de glória;
c) correspondente aos vários tipos de instituição (centros de cultura religiosa,
seminários, faculdades teológicas...) e ao nível dos estudantes: futuros sacerdotes
e professores de mariologia, animadores da piedade mariana nas dioceses,
formadores da vida religiosa, catequistas, conferencistas e todos os que desejam
aprofundar o conhecimento mariano.
Um ensino ministrado desta maneira evitará apresentações unilaterais da
figura e da missão de Maria, com prejuízo da visão de conjunto do seu mistério,
e constituirá um estímulo para investigações aprofundadas através de seminários e
elaborações de teses de licenciatura e de láurea sobre as fontes da Revelação e
sobre os documentos do Magistério. Além disso os diferentes professores, numa
correta e fecunda visão interdisciplinar, poderão sublinhar no desenvolvimento do
seu ensino as eventuais referências à Virgem.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS EM MARIOLOGIA


INTELECTUAL Compreender o lugar correto de Maria na
História da Salvação
ESPIRITUAL Crescer em amor e piedade com Maria,
Mãe de Deus
MORAL Imitar Maria na fé e no amor
CULTUAL Celebrar corretamente na Liturgia e nas
devoções populares
PASTORAL Comunicar o sentido de Maria ao Povo
de Deus e á sociedade

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