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1. Moltmann começa a sua reflexão por identificar a razão pela qual o redescobrir
da centralidade da Escatologia para a Teologia e a para a fé cristã, que teve início nos
finais do século XIX, não foi capaz de ter a sequência que se exigia. Com efeito,
mesmo com os contributos de Johannes Weiss e Albert Schweitzer, e mais tarde com
o pensamento moderno kantiano, a Escatologia continuava a ser pensada a partir da
noção grega de verdade, quer se tratasse da Escatologia entendida no âmbito da
economia da salvação, da Escatologia entendida como epifania histórica do eschaton,
ou da Escatologia entendida do ponto de vista existencial, como eveação do autêntico
si-mesmo do homem. Para Moltmann, é necessário que se leia tanto o Antigo como o
Novo Testamento à luz da noção bíblica de verdade, enraizada, por sua vez, na noção
de promessa. E deste modo, só deste modo, se poderá superar um cristianismo como o
actual, tantas vezes esvaziado da sua força escatológica, acomodado ao mundo,
instalado como coroa da sociedade, com uma esperança doente, reduzida a uma
retórica estéril ou, pior, a um tratado dogmático.
2. É a partir desta noção de promessa que podemos chegar, na senda de
Moltmann, ao significado originário do vocábulo “revelação”: já não se trata de
querer saber de que modo o Deus eterno de revela epifenomenicamente no temporal,
trata-se de querer saber de que modo o Deus da promessa comprova a sua fidelidade
no presente, revelando-se. Pelo contrário, se nos afastamos de uma tal noção de
promessa, acabamos por cair no dualismo de clara raiz helénica entre razão e
revelação e entre natureza e graça e, por conseguinte, a teologia perde pertinência no
que diz respeito à relação do homem com a realidade. Numa tal lógica, o modo
kantiano de pensar, com o assim chamado método transcendental, leva a uma
escatologia em que é vão reflectir sobre o que é a revelação, porque se encontra
absolutamente fora do nosso campo de visão. Assim, o homem tornar-se-ia consciente
de si mesmo meramente no âmbito prático, e restar-nos-ia apenas postular um
significado ético da revelação e da escatologia, limitando a sua aplicação à moral.
Com efeito, quando nos afastamos da noção de promessa, em vez de uma escatologia
cosmológica ou histórica, ficamos diante de uma escatologia prática de onde sai pelo
menos um caminho para uma escatologia imanente e mecanicista, senão mesmo
materialista; sem a consciência histórica que a noção de promessa transporta, a
história de Cristo passa a ser, para a teologia, uma verdade histórica contigente, e a fé
torna-se uma visão imediata de verdades racionais eternas, em que se nega ou, pelo
menos, se evita a compreensão da realidade como história, impedindo a permanência
das condições de possibilidade da transmissão do evangelho ao mundo.
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tal teologia é a percepção de que nem todos os tempos seriam igualmente imediatos a
Deus, estando Deus mesmo submetido a um processo temporal, ainda que distinto do
da humanidade.
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6. Com esse fim, partimos do facto de que a teologia cristã fala de revelação
quando predica a identidade do ressusctiado com o crucificado, na lógica de que a
ressurreição acontece no crucificado, e vê nessa identidade um acontecimento de
fidelidade do Pai à sua promessa. Neste sentido, as aparições do ressuscitado são
antecipações da glória ainda não chegada e da soberania de Deus ainda não
realizada: os discípulos vêem em Jesus ressuscitado não uma presença do eterno, mas
daquele que há-de vir (ἐρχόμενος), alguém que é futuro para si mesmo, um futuro
oculto porque ainda não chegado. E é a este futuro que a fé e a esperança se dirigem.