Há na religião algo de eterno destinado a sobrevivência a todos os
símbolos. Não pode haver sociedade que não sinta a necessidade de conservar e reafirmar os sentimentos coletivos e as ideias coletivas. A restauração moral é obtida através de reuniões, assembleias, congregações – onde os indivíduos reafirmam em comum seus sentimentos. Hoje encontramos alguma dificuldade para imaginar como serão essas cerimônias no futuro – pois não existem mais aquelas causas que entusiasmavam os nossos pais/avós, e não provocam o mesmo ardor. O cristianismo recomendava, por exemplo, aos senhores, tratar humanamente seus escravos; a proposta era que houvesse igualdade e fraternidade humana, mas hoje isso deixa espaço para injustas desigualdades. Não há clareza em como se portar diante dos humildes, pois se tornou uma piedade platônica. (isto é, fala-se muito e pouco se age - *essa parte não precisa escrever, é meu ver dessa parte*) Não há “renovação” de Deuses, os mais antigos envelhecem e morrem – tornando ineficaz a tentativa de Comte de organizar uma religião com velhas lembranças históricas. Ele entendeu que não se faz um culto através de um passado morto e sem da própria vida. Chegará um dia que as sociedades conhecerão horas de efervescência criadora, de onde surgirão novas fórmulas que servirão de guia para humanidade; uma vez vividas, os homens sentirão a necessidade de revivê-las de tempos em tempos; a fim de conservar sua lembrança por meio de festas que revivifiquem regularmente seus frutos. A fé revolucionária durou pouco, pois as decepções e o desânimo substituíram rapidamente o primeiro momento de entusiasmo. A religião é um sistema de ideias cujo objetivo é exprimir o mundo – cada festa, os ritos, os cultos, as assembleias – cada uma tem sua cosmologia. Existem dois elementos da vida religiosa – um está voltado para a ação que ele solicita e regula; o outro para o pensamento que ele enriquece e organiza. Quando se atribui ao pensamento religioso características específicas, recusa-se a admitir que a religião possa um dia vir a perder seu papel especulativo. A religião estudada até aqui comete aos símbolos empregados mais desconcertantes para a razão – onde tudo parece misterioso. Aqui o contraste entre a razão e a fé foi mais acentuado. As realidades em que se aplica a especulação religiosa são aquelas que servirão como objetos para a reflexão dos pensadores: a natureza, o homem e a sociedade. A religião se esforça por traduzir essas realidades em linguagem inteligível que não difere à natureza, daquela empregada pela ciência. As noções essenciais da lógica científica são de origem religiosa. A ciência emprega em todos seus procedimentos um espírito crítico ignorado pela religião; cerca de precauções para “evitar a precipitação e a prevenção”, para manter à distância as paixões, os preconceitos e todas as influências subjetivas. O pensamento científico é apenas uma forma mais perfeita do pensamento religioso. A ciência tende a substituir a religião em tudo que diz respeito as funções cognitivas e intelectuais, ideia de vida psíquica a ciência como profanação. A ciência nega que a religião, é um princípio de fatos dados, uma realidade. A ciência não poderia substituir a religião por ela exprime a vida, não a cria, ela tenta explicar a fé. O que o cientista contesta na religião não é o direito de ser, é o de dogmatizar sobre a natureza das coisas, a competência de conhecer o homem e o mundo, sendo que ela não conhece nem a si própria, ela é o objetivo da ciência, ela não pode impor leis à ciência. Entretanto, a religião não parece desaparecer, mas sim cada vez mais se transformar. O culto, a fé, é algo de eterno na religião. Os homens não podem celebrar cerimoniais sem ver razão nestas, nem acertar fé sem compreender. É preciso uma teoria, teoria essa que se utiliza das ciências sociais, psicológicas, da natureza, mas isso não é suficiente, porque a lei é um motivo para agir, e a ciência permanece sempre à distância da ação; por isso a religião não pode dispensar a especulação. Mesmo atribuindo-se o direito de superar a ciência, deve começar por conhecê-la e por se inspirar nela. Não se pode afirmar nada do que ela nega, negar nada do que ela afirma, não se pode estabelecer nada que não se apoie direta ou indiretamente sobre princípios que se lhe tomam emprestados. III Todo sistema de crenças é caracterizado por um número de representações fundamentais e de atitudes rituais que em todas as partes têm a mesma significação objetiva e em todas as partes preenchem as mesmas funções. Ou seja, toda religião, independente do grau de complexidade, tem características profundamente similares, o privilégio das religiões denominadas primitivas é que estas ainda têm visível o cunho de suas origens, o fato religioso desta pode ser identificado. O pensamento religioso originou as noções fundamentais do pensamento, também chamadas de categorias do entendimento. Estas são entendidas como a base de nossos julgamentos e são, por exemplo: noções de tempo e espaço, de gênero, número, causa, substância, personalidade etc. As categorias para uns não podem ser derivadas da experiência: elas são logicamente anteriores e a condicionam. Para outros, ao contrário, elas seriam construídas, feitas de peças e pedaços. Elas não são algo inerente ao espírito humano, mas que, mesmo sendo construídas socialmente, tem poder de coerção sobre as ações humanas e pode se caracterizar como um fato social: a teoria do conhecimento parece, portanto, chamada a reunir as vantagens contrárias das duas teorias rivais sem ter seus inconvenientes. A ciência tende a substituir a religião em tudo que diz respeito as funções cognitivas A conclusão geral é que a religião é uma coisa eminentemente social. As representações religiosas são representações coletivas que exprimem realidades coletivas.; sendo assim as categorias, que derivam, diretamente, do pensamento religioso, são também coisas sociais.