Você está na página 1de 11

1

Custódio Matos da Costa


aluno n.º 21

TEOLOGIA FUNDAMENTAL

Unidade Didáctica 1

Exercício 1
Exponha as razões pelas quais naufragou o projecto da apologética clássica, assim
como as chaves fundamentais da superação dessa crise com a ajuda da Dei Verbum.

1. A novidade da fé, quando em confronto com um mundo culturalmente diverso,


carece de apresentar as suas razões sob pena de fracassar a missão de que Jesus Cristo
incumbiu os seus discípulos de difundir a Boa Nova. Fé sem razão, não passaria de
superstição ou “fantásticas lendas”, do que a Igreja primitiva logo teve consciência – S. Paulo
no Areópago, 1 Pe 3,15, os Padres da Igreja... – legando-nos abundantes materiais que
possibilitam aos cristãos justificar a sua fé e defendê-la perante os adversários.
Na Idade Média, porém, factores vários – distanciamento das “autoridades” originárias
da fé, confrontação com o islão e o judaísmo, redescobrimento de Aristóteles e do seu
conhecimento cientifico, liberalização da cultura face ao monopólio das escolas monásticas –
introduziram um novo agente – a razão – no mundo do saber, que até aí era marcado pelo
ideal do intellectus fidei. Na procura da verdade, a razão vai de mãos dadas a par com a fé.
Na Idade Moderna, porém – do Renascimento ao Iluminismo – a razão toma a
dianteira. Agora há que demonstrar a racionalidade da fé e que o cristianismo é a verdadeira
religião, em virtude da Revelação, cuja credibilidade ela tem a função de demonstrar, do que
deriva a certeza da fé. A metodologia da apologética do cristianismo concentra-se na
demonstração científica do carácter revelado dos mistérios da fé cristã, e da sua transmissão
autêntica pela Igreja.
Feita a demonstratio religiosa – a demonstração do valor objectivo da religião –
seguia-se a demonstratio christiana – a sua superioridade sobre as outras religiões, e logo de
seguida, a demonstratio catholica – a única Igreja querida por Cristo era a Igreja Católica.
A apologética clássica, construída a priori, sem relacionar a experiência cristã com as
vivências culturais, procurou demonstrar o facto (objectivo) da Revelação, mas sem ter em
conta o sentido desse conteúdo, ou seja, que a Revelação se dirigia ao homem, como sujeito
da fé – homem situado na história, com suas preocupações concretas, carecido de salvação.
Para fazer frente ao racionalismo vigente no Iluminismo, e no intuito de dar uma
resposta às tendências positivistas da época, situou-se demasiado no seu campo, utilizando as
suas armas: a razão, a lógica objectiva, a demonstrabilidade da existência de Deus e da
Revelação. Feita essa prova racional, seguir-se-ia a credibilidade do seu conteúdo.
2. Porém, antes de explicar ao homem o conteúdo da Revelação, importa confrontá-lo
no seu existir, com o Transcendente e questioná-lo pelo sentido e destino da sua vida,
demonstrando-lhe que Deus não é uma questão supérflua para a sua vida, pelo contrário, o
transcendente está imanente no homem, desde a origem.
De uma atitude defensiva perante o adversário, cuja preocupação principal era a de
anular as arremetidas do racionalismo, havia que inverter a estratégica: situar o homem na
história, confrontá-lo com os seus problemas para lhe oferecer um sentido e interpretação da
sua existência. A verdade não lhe haveria de ser servida e imposta a priori, mas haveria
aparecer como o resultado de uma conquista obtida pelo confronto de ideias e do diálogo, em
2

que, à partida, crentes e não crentes se encontrariam no mesmo plano de igualdade e com
idênticos instrumentos de lógica e linguagem.
A (nova) apologética tem agora como referência a Revelação – a auto-comunicação de
Deus ao homem – sem perder de vista o destinatário, o homem concreto situado na história,
que nela encontra a resposta aos seus problemas existenciais. Diríamos mesmo que o que está
em causa não é tanto o conhecimento de Deus em si, mas a resposta do homem na fé ao
encontro com Deus que se lhe revela. É que Deus revela-se ao homem, não para satisfação de
um capricho pessoal de quem se quer afirmar perante outrem, mas para provocar a resposta
do homem ao encontro que Deus quer fazer com o próprio homem, para que este encontre o
sentido da sua vida. A realidade é que o homem, criado por Deus para a felicidade, só em
Deus a pode encontrar. Mas, perante a sua incapacidade de conhecer Deus, Deus então revela-
se-lhe para que o homem compreenda o Seu plano e, conhecendo-O, possa aderir (resposta na
fé) à proposta de Deus. Ousaria dizer que o que está em causa não é Deus, mas sim o homem,
já que é por causa dele que Deus se revela, entrando na história ao assumir-se como Homem
em Jesus Cristo.

Exercício 2
Depois de uma leitura atenta do 1.º capítulo da Dei Verbum, desenvolva o seguinte
exercício:

a) – Estruture de forma abreviada os conteúdos teológicos do referido capítulo


procurando uma linguagem actual.
Pela luz natural da razão, o homem pode conhecer Deus a partir das criaturas; porém,
há certas verdades sobre Deus que lhe são inacessíveis, e só pela Revelação o homem lhes
tem acesso, designadamente a Sua vontade (plano) a respeito da salvação dos homens.
Deus então revelou-se ao homem, por meio de acções e palavras intimamente
relacionadas – os acontecimentos da história e os profetas – e quando o homem estava
suficientemente preparado, revelou-Se-lhe plenamente em Jesus Cristo.
A Sua encarnação, palavras e obras, sinais e milagres, e de um modo especial, a Sua
morte e ressurreição são a revelação plena da vida íntima de Deus e do Seu plano salvífico:
Deus está com o homem, não quer a sua morte (perda) mas sim a sua vida (salvação) eterna.
É pela fé que o homem aceita livremente a Revelação e a proposta de salvação, mas só
pela graça de Deus pode prestar esta adesão da fé, ou seja, por si só o homem não tem
capacidade de compreender e aceitar a Revelação, sendo a acção do Espírito Santo que o leva
a essa compreensão e aceitação.
b) – Assinale a importância deste texto escrito para a nova compreensão da teologia
fundamental.
A afirmação central deste texto é a auto-manifestação de Deus ao homem, que atingiu
a sua plenitude em Jesus Cristo, e teve como móbil a libertação do homem das trevas do
pecado e da morte para o ressuscitar para a vida eterna.
O núcleo da teologia fundamental consiste na afirmação central do cristianismo: Deus
está entre nós na pessoa de Jesus Cristo, e por causa de nós.
Jesus Cristo faz parte da história da humanidade: é homem, viveu num contexto
histórico, falou a linguagem do homem e transmitiu-lhe uma mensagem que alterou o modo e
a qualidade de vida na humanidade. Em Jesus Cristo, Deus é alguém verificável, e portanto
crível.
Este acontecimento – a encarnação de Jesus Cristo – ocorreu em cumprimento da
promessa de redenção feita ao homem após a sua queda. Não obstante a queda do homem,
Deus não lhe virou as costas, pelo contrário cuidou dele e manteve-lhe acesa a chama da
esperança da salvação. Esta salvação passa pela auto-manifestação de Deus, já que por si só o
homem não tem capacidade de entrar dentro do plano salvífico que Deus tem para si.
3

Cabe agora ao homem interpelar-se a si próprio quanto ao porquê e o sentido da


Revelação. Os “sinais” da Revelação – os actos e palavras pelos quais Deus se revelou – são
objecto do conhecimento do homem mediante a inteligência, como factos objectivos que são,
que, com a luz da fé, penetra através deles até ao âmago da Revelação, o plano salvífico,
perante o qual só pode ter uma atitude coerente: aderir, o que não obstante passa pela sua total
liberdade.

UNIDADE DIDÁCTICA 2

Exercício 1
Sintetize as notas fundamentais da Revelação no Antigo Testamento e no Novo
Testamento, assinalando a relação entre ambas.
No Antigo Testamento a Revelação (auto-manifestação de Deus ao homem) acontece
no encontro de Deus com o povo que escolhe para revelar o seu plano salvífico. Como povo,
o povo judeu toma consciência desse encontro na experiência do êxodo e do Sinai,
descobrindo aí a proximidade de Deus que intervém na história ao lado do homem. Para trás
fica a concepção de um Deus distante, apenas transcendente, indiferente e em oposição ao
homem.
Deus revela-se libertador daquele povo, comprometido com ele, com quem quer fazer
uma aliança e estabelecer uma especial relação: serei o teu Deus; serás o meu povo.
Nesta aliança está incorporada uma promessa, a promessa de si mesmo, manifestada
na revelação do Seu próprio nome a Moisés – JHWH, eu sou, eu serei – como primeiro passo
para dar a conhecer a sua identidade e o seu projecto de estar com o Povo. Dar a conhecer o
seu nome, é dar a conhecer a sua identidade.
Esta promessa é o centro dinâmico que leva Israel a ver-se como distinto e diferente
dos demais povos, em termos de a sua identidade e sobrevivência estar intimamente ligada ao
cumprimento da promessa que, no entanto, depende da sua fidelidade a JHVH: o afastamento
leva à sua ruína, e só o regresso o salva da ruína, como bem constatou a partir do seu historial.
Os profetas com a sua palavra de aviso e esperança e os sábios com a sua reflexão, são
o instrumento para manter acesa a esperança no cumprimento da promessa e de que fora de
Deus o homem não encontra sentido para a sua existência.
No Novo Testamento, a Revelação é Jesus Cristo, como plenitude da revelação de
Deus e realização da promessa de JHVH (= aquele que é, que está com o povo).
O Deus transcendente que, a partir de Abraão, se foi revelando também imanente,
atingiu a plenitude da imanência em Jesus Cristo, homem verdadeiro. Na existência histórica
de Jesus Cristo Deus entra na história do homem, que agora tem o sentido da história da
salvação, do encontro do homem com Deus, na possibilidade de o homem ter acesso a Deus,
falar com Deus, penetrar no âmago do Seu plano salvífico. Em Jesus Cristo o homem
descobre a profunda relação entre Deus e o homem, no mistério da cruz descobre-O como “o
ser para os outros” numa total doação, e na Sua ressurreição descobre a vida que Deus quer
que o homem tenha na intimidade de uma relação face-a-face com Deus.

Exercício 2
Escreva as afirmações fundamentais do racionalismo e do tradicionalismo, assim
como as respostas que a Dei Filius (Vaticano I) ofereceu a estes erros teológicos.

A harmonia que desde a Idade Média se admitia entre fé e razão foi posta em causa na
Época Moderna em termos de se privilegiar a Razão como meio autónomo e bastante para
alcançar a verdade. Ficou conhecido por Racionalismo esta orientação filosófica, que
assentava numa confiança incondicional na capacidade da razão para chegar à verdade. No
4

campo da religião, o racionalismo não ia além da religião natural, excluída que estava a
revelação e a fé como fonte de conhecimento.
No pólo oposto, situava-se o tradicionalismo que assentava no princípio da autoridade
e necessidade da tradição para chegar à verdade, no pressuposto da desconfiança da
capacidade da razão.
É neste ambiente ideológico que ocorre o Vaticano I: optimismo desmesurado na auto-
suficiência da razão e pessimismo quanto à capacidade da razão. Entre extremos viciosos,
houve que encontrar o meio termo do equilíbrio: pela razão, o homem pode conhecer Deus,
mediante a revelação natural existente na ordem da criação – concessão, nesta parte, ao
racionalismo e rejeição do tradicionalismo; porém esse conhecimento é incompleto, pois há
verdades a que o homem não consegue aceder pela só razão, verdades de que o homem tem
conhecimento porque “na sua sabedoria e bondade, aprouve a Deus revelá-las ao género
humano, por outro caminho, e este sobrenatural” – rejeição nesta parte do racionalismo, e
concessão ao tradicionalismo. A revelação, como auto-manifestação de Deus, supera a
manifestação de Deus na criação, está pois para além da capacidade da razão, é verdade
revelada que, como verdade, tem o peso da autoridade de Deus. É verdade absoluta, que não
pode gerar conflito entre fé e razão, porquanto foi Deus que deu ao homem a luz da razão e
por isso não pode contradizer-se, pondo verdade contra a verdade.

Exercício 3
Exponha sucintamente a posição de Lutero e do Concílio de Trento sobre a relação
entre Escritura e Tradição.

Segundo Lutero, toda a Revelação está contida na Escritura, cuja interpretação não
requer outro princípio hermenêutico que ela própria, que “é intérprete de si mesma”: Sola
Scriptura é, em resumo, a tese de Lutero, para quem a Tradição mais não é que tradições da
Igreja, ou seja, simples tradições dos homens, ou costumes da comunidade eclesial que, em
seu entender, ameaçavam a primazia da Escritura. Aceitando, embora, os concílios antigos
como critério de autenticidade, as suas aplicações são porém rigorosamente submetidas ao
critério soberano das Sagradas Escrituras.
O Concílio de Trento afirmou a complementaridade entre Escritura e Tradição. Não se
trata de fontes paralelas e independentes da Revelação, mas antes de duas formas através das
quais se transmite a Revelação. Assim, a Tradição foi afirmada como mediação e
comunicação da Revelação, diversa da Escritura, e como tal é ela também normativa sobre a
transmissão da Revelação, em virtude da sua complementaridade da Escritura.
A questão coloca-se quando se trata de discernir o que é Tradição (da Igreja, iniciada
com o ensino oral dos Apóstolos e continuada na sucessão apostólica dos bispos,
institucionalmente garantes da tradição apostólica), e tradições, usos eclesiásticos, praxis da
Igreja instituição. Para essa destrinça, o ponto de referência e fundamento de toda a Tradição
é o carácter central do evangelho – o acontecimento de Jesus Cristo – que constitui o único
critério para a compreensão da recíproca incidência da Escritura e Tradição.

UNIDADE DIDÁCTICA 3

Exercício 1
Transcreva aqui o exercício realizado por si ao terminar a UD 3 (página 122,
actividade A).
5

Em suas diversas constituições, decretos e declarações, o Concílio Vaticano II tem


numerosas referências ao tema da fé. Responda às perguntas que acompanham as seguintes
citações textuais.

DV 5:
Qual é, segundo o Concílio, a natureza da fé?
A fé é de natureza sobrenatural – não é a razão que a produz, mas sim Deus que a
concede (Deus que revela). Não obstante, o acto de fé é um acto livre do homem (acção da
inteligência e vontade) sem embargo de, para “prestar esse voluntário assentimento”, “serem
necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito
Santo”.
Quais são as suas propriedades?
Pela fé, o homem move e converte a Deus o coração; abre os olhos do entendimento;
aceita e crê a verdade.

LG 12,1
Com que apelativos este parágrafo caracteriza a fé?
Sacrifício de louvor, (fruto dos lábios que confessam o Seu nome, oferecido a Deus
pela vida de fé); unção do santo, recebida pela totalidade dos fiéis, que se manifesta pelo
sentido sobrenatural do Povo todo;
Com que expressões se refere ao objecto da fé (o que se deve crer)?
A totalidade dos fiéis não pode enganar-se na fé; a fé que se desperta e sustenta pela
acção do Espírito Santo; o Povo de Deus, sob a direcção do magistério recebe a verdadeira
palavra de Deus.
Quais são os critérios para discernir o objecto da fé?
A fé professada pela totalidade dos fiéis; manifestação do consenso universal em
matéria de fé e costumes; adesão indefectível do Povo de Deus à fé;
Que outros pontos doutrinais gostaria de destacar neste parágrafo acerca da fé?
O Povo de Deus (a Igreja) é constituída por todos os fiéis (leigos e clérigos) que
receberam a fé. Porém, quanto à transmissão da Palavra de Deus, a Igreja está sob a direcção
do magistério, competindo-lhe acatar fielmente o seu ensino.

GS 11,1; 43,2
Que relação estabelece o Concílio entre a fé e a vida?
A fé ilumina todas as coisas com uma luz nova, faz conhecer o desígnio de divino
acerca da vocação integral do homem, e assim orienta o espírito para soluções plenamente
humanas. Ou seja, a fé não é uma actividade puramente intelectual, bem pelo contrário,
impulsiona o crente para uma actuação em conformidade com a fé, e porque é pela fé que o
homem melhor se conhece, o seu agir traduz-se em “soluções plenamente humanas”.
Qual é a finalidade dessa fé vivida e em que campos se desenvolve?
Cumprir fielmente os deveres terrenos segundo o espírito do Evangelho. Não pode
haver divórcio entre a fé que se professa e o comportamento quotidiano, não pode haver
oposição entre a vida religiosa e as actividades profissionais e sociais.
Aos leigos compete-lhes, como próprias, as actividades seculares, e no seu
desempenho cabe-lhes, iluminados e robustecidos pela fé, “imprimir a lei divina na vida da
cidade terrestre”, ou seja, impregnar as estruturas da vida terrena com o espírito do
Evangelho.
6

Exercício 2
Leia os números 45 a 48 (“O drama da separação entre fé e razão”) da Fides et Ratio
de João Paulo II, assinalando as ideias fundamentais que aparecem nos ditos números.
A filosofia, que até à Idade média constituía uma unidade orgânica com a teologia,
passou, a partir daí, a ser considerada como ciência autónoma e com áreas próprias de
investigação. Essa autonomia cedo evoluiu para separação dos conteúdos da fé, a que se
seguiu a tentativa de os procurar compreender racionalmente, acabando por não só negá-los
(os conteúdos da fé) como ainda apontar a fé como prejudicial e alienante para o
desenvolvimento pleno do uso da razão.
O racionalismo, admitindo a razão como única fonte de conhecimento, excluiu a
revelação e a fé como fonte de conhecimento da verdade; o positivismo, por sua vez,
admitindo apenas o que é experimentável, acabou por negar a metafísica. Falta, assim, a
referência ética, sobressai o progresso tecnológico e a lógica do mercado: a pessoa humana
deixa de estar no centro dos interesses dos cientistas.
Como consequência desta crise, apareceu o niilismo, a filosofia do nada: não há
esperança nem possibilidade alguma de alcançar a verdade. Então, só fica a existência
presente, onde tudo é efémero, fugaz e provisório e, como tal, não há que assumir
compromissos definitivos.
A filosofia viu alterada a próprio função de sabedoria e saber universal, orientada à
contemplação da verdade e busca do fim último e do sentido da vida, acabando por ficar
reduzida a uma das muitas áreas do saber humano, assumindo, para alguns filósofos, como
único objectivo a obtenção de certeza subjectiva ou da utilidade prática. Daí resultou o
obscurecimento da verdadeira dignidade da razão, impossibilitada de conhecer a verdade e de
procurar o absoluto.
Não obstante esta separação entre a fé e a razão filosófica, manifestam-se na reflexão
desses filósofos gérmens de pensamento que podem fazer descobrir o caminho da verdade,
designadamente o tema da morte, entre outros, que pode tornar-se para todo o pensador um
apelo a procurar dentro de si mesmo o sentido autêntico da própria existência. Todavia
mantém-se a necessidade de a fé e a filosofia recuperarem a unidade que as torna capazes de
serem coerentes com a sua natureza, no respeito da mútua autonomia, pois que com a
separação ambas ficam mais pobres e débeis: a razão, privada do contributo da Revelação,
perde de vista a meta final; a fé, privada da razão, corre o risco de deixar de ser uma proposta
universal e de se ver reduzida a um mito ou superstição.

UNIDADE DIDÁCTICA 4

Exercício 1
Defina os seguintes conceitos utilizando expressões pessoais:

 Princípio dogmático
Tudo o que vem referido no Evangelho é historicamente verdadeiro?
De uma certeza absoluta e indiscutível até cerca de 1700, chegou-se à conclusão de
que nem tudo o que lá se refere seria historicamente exacto. Porém o Evangelho é Palavra de
Deus, e esta só pode ser verdadeira. É porém verdadeira – afirma com fidelidade e sem erro –
quanto às verdades que se referem à nossa salvação, que incluem os factos ligados à história
da salvação: é o princípio da veritas salutaris ou princípio dogmático que orienta a actual
investigação historiográfica de Jesus.
 Crítica interna
Uma vez verificada a fiabilidade do texto, o que se obtém mediante a crítica externa,
há que efectuar a análise das características intrínsecas do material recolhido, saber se os
7

dados recolhidos são historicamente fiáveis e autênticos, ou seja, saber se encaixam pela
semelhança, com os contemporâneos, e simultaneamente se mantêm a originalidade e
coerência em relação à escolha de fundo que dá sentido à vida do personagem: é a crítica
interna.
 Critério de semelhança
Conjugando as informações recolhidas também a partir de outras fontes, e
reconstituído o ambiente histórico em que viveu o personagem analisado – no caso concreto
de Jesus de Nazaré, os demais personagens da cena política do tempo, os grupos religiosos e
políticos, a tensão messiânica, usos e costumes, etc. – têm-se como verdadeiras as
características que fazem o personagem encaixar no ambiente dos seus contemporâneos.
 Third Quest
Que tem Jesus de Nazaré a ver com Cristo?
Nada, assim concluiu Reimarus. Cristo mais não é que uma invenção dos discípulos de
Jesus. Jesus sim, Cristo não – é a Old Quest.
Não, o Cristo da fé existe mesmo, não se pode ignorar a sua presença na Igreja, basta
constatar a caridade viva nos seus membros. Só que não é possível estabelecer a identidade do
Cristo dos Evangelhos, com o Jesus histórico, porque os Evangelhos não são um relato
ordenado de testemunhas oculares, mas antes uma criação da comunidade crente. Cristo sim,
Jesus não – é a No Quest de Bultmann.
Não há, porém, que eliminar a tensão dialéctica entre história e fé: o Cristo da fé e o
Jesus da história são uma só e idêntica pessoa. O Jesus da história é o Cristo da fé – é a New
Quest de Käsemann.
E por que não hão-de os Evangelhos ser revalorizados também como fontes históricas,
partir deles e com o recurso às ciências sociais, efectuar as investigações sobre Jesus
caracterizadas pela preocupação de enraizar Jesus no judaísmo? É a “terceira investigação” ou
Third Quest, que pretende ser a superação das anteriores.

Exercício 2
Após a a leitura atenta dos números 18 e 19 da Dei Verbum realize o seguinte
exercício:

a) Expresse em frases breves três ideias fundamentais que o texto conciliar contém.
- entre as muitas coisas transmitidas na pregação dos Apóstolos, os autores sagrados
escolheram algumas, sintetizando umas, desenvolvendo outras, segundo o estado da igrejas.
- os Evangelho transmitem fielmente as coisas que Jesus fez e ensinou para salvação
eterna dos homens;
- os Evangelhos são históricos, os seus Autores basearam-se ou no que se lembravam e
recordavam do que viram, ou no testemunho dos que foram testemunhas oculares.
b) Compare estas ideias com o estudado nesta UD 4.
A ideia fulcral é a de que os Evangelho relatam factos históricos – as coisas que Jesus
fez e ensinou – sendo transmitidas fielmente (são absolutamente verdadeiras) as que dizem
respeito à salvação dos homens: princípio dogmático, ou da veritas salutaris.
Os Evangelhos não são a história biográfica de Jesus, mas antes uma história
kerigmáica com o relato de alguns dos ditos e feitos de Jesus com vista à salvação dos homens
que, dentro da categoria de testemunho, constitui uma profissão de fé – refutação de
Reimarus.
São, porém, ditos e feitos históricos, o que permite a investigação histórica –
concretamente a análise interna mediante o uso dos critérios de semelhança, originalidade e
coerência – refutação de Bultmann – bem como unificar o Jesus da história com o Cristo da fé
– tese de Käsemann – no que assume particular relevo a comunidade na qual e para a qual
8

(segundo o estado das igrejas) são escritos os Evangelhos – continuidade entre o Jesus
histórico e o Cristo do kerigma.

UNIDADE DIDÁCTICA 5

Exercício 1
Defina os seguintes conceitos utilizando expressões pessoais:

 Saduceus
Grupo sócio-religioso-político de Israel, no tempo de Jesus, constituído pela classe alta
sacerdotal e aristocrática, detentora do poder religioso, económico e político. Eram
colaboracionistas dos romanos, como forma de manter o poder que tinham; teologicamente só
aceitavam o Pentateuco, rejeitando toda a tradição oral, negavam a ressurreição mantendo
apenas a concepção clássica da ética do êxito, vendo na sua riqueza o sinal da benção de
Deus. O centro do seu poder é o Templo e foram os inimigos mais acérrimos de Jesus, pois
eram os que mais tinham a perder com a implantação da Sua doutrina, sendo os primeiros
responsáveis pelo Seu processo.
 escatologia realizada
A que ideal de “Reino de Deus” dedicou Jesus a Sua vida?
A quem defendia que Jesus pregava um reino como acontecimento apocalíptico
iminente – escatologia consequente – C. H. Dodd contrapõe que na pessoa e obra de Jesus se
realizou já o fim, o reino já se realizou na história. Assim, escatologia e história de Jesus
identificam-se plenamente, porque na pessoa de Cristo tem lugar a intervenção última de
Deus. É o que este Autor chama de “escatologia realizada”.
 valor psicológico dos milagres
Milagre é um prodígio religioso, uma obra de poder, um sinal enviado por Deus.
Na língua original da Bíblia o milagre não é referido sempre com a mesma palavra,
empregando-se uma ou outra conforme o aspecto que se pretende destacar. Quando se
pretende pôr em realce o prodígio sagrado, o facto insólito que provoca admiração
estupefacção no homem, fala-se do aspecto psicológico na perspectiva do espectador ou
testemunha que o presencia.

Exercício 2
Transcreva aqui o exercício realizado por si ao terminar a UD 5 (página 165,
actividade A).

Apresentamo-lhe uma série de citações evangélicas...


Leia-as atentamente com a finalidade de ver onde se encontra e não se encontra,
segundo Jesus, o reino de Deus, classificando as citações segundo a seguinte forma:
 “O reino de Deus não está em..
 “O reino de Deus está sim...

Mt 5,19-20: o reino de Deus não é o resultado do esforço humano (“tudo isto tenho
guardado”); é antes um dom da livre iniciativa de Deus (no caso, o dom do espírito da
pobreza, que capacita ao desprendimento dos bens, mesmo quando são muitos).
Mt 19,23 s: o reino de Deus não está no mérito da pessoa, não é ela que se salva, “ ao
homem isso é imposível”; o reino de Deus está sim exclusivamente na Sua omnipotência.
Mt 21,31 s: o reino de Deus não está reservado aos bem comportados, (os que,
segundo a pregação de João, se tornam “justos” por agirem em conformidade com a vontade
de Deus) mas antes está aberto a todos, sem obediência a critérios sociais ou métodos de
observância da lei, a começar pelos excluídos da sociedade, “os publicanos e prostitutas” que,
9

acreditando nele, se arrependeram e mudaram o rumo da sua vida, e jamais teriam tido a
possibilidade de serem admitidos na grupo dos “justos”. O critério é o da fé em Jesus e a vida
em conformidade.
Mc 9,47: o reino de Deus não é a manutenção do que está errado, mas é antes a
salvação do homem, libertando-o dos achaques que o escravizam, mesmo que para tanto seja
necessário arrancar o “olho doente”.
Mc 10,14: o reino de Deus não está em garantir a ordem social instituída, com as suas
hierarquias e valores rígidos, onde as crianças não são sequer consideradas; está sim em
derrubar tronos e alterar as hierarquias assentes em falsos valores, em favor sobretudo dos
pobres e dos últimos da sociedade.
Mc 12,32-34: o reino de Deus não está no cumprimento formal da liturgia (os
holocaustos e sacrifícios no Templo); está sim em amar o próximo, que é “mais que todos os
holocaustos e todos os sacrifícios”.
Lc 6,20 (= Mt 5,3): o reino de Deus não está na riqueza dos bens materiais (os
saduceus viam na sua riqueza um sinal da benção e aprovação de Deus); está sim no
desprendimento desses bens, pois a verdadeira riqueza do homem é Deus.
Lc 9,59-62: o reino de Deus urge – está iminente a sua chegada, o tempo novo da
salvação já começou com a Sua missão – e não se compadece com as ocupações comezinhas
deste mundo.
Lc 19,11-26: Jesus tem a consciência de ser ele próprio o verdadeiro instaurador do
reino de Deus, ao qual muitos se opõem: “Não queremos que este reine sobre nós”.
Ausentando-se, encarregou, porém, os seus servos para ampliarem o Seu reino, e quando
regressou, “após ser investido na realeza”, pediu contas de como difundiram o reino.
Lc 17,20 s: onde se encontra o reino de Deus?
O reino de Deus não é um lugar, mas algo que está no interior do coração do homem, é
uma realidade já actuante, que não se capta elos sentidos, mas tão só pela fé.

UNIDADE DIDÁCTICA 6

Exercício 1
Leia detidamente as seguintes passagens das cartas paulinas: Rm 6,3-13; Rm 8,17 ss;
1 Cor 10, 16-22; 1 Cor 11, 17-34; 2 Cor 4, 7-12; Col 1, 24-29. de seguida, descreva a
participação do cristão nos padecimentos de Cristo determinando motivos, meios e efeitos.

Pelo baptismo, o cristão fica unido a Cristo: todos os Seus passos são agora os passos
do cristão, tanto na morte (e sofrimento) como na ressurreição.
Unidos a Cristo, ficamos irmanados nEle, somos também filhos de Deus. Se somos
filhos, somos herdeiros, co-herdeiros com Cristo, ou seja, recebemos da mesma herança: já
que sofremos com Ele, com Ele seremos também glorificados.
Estamos de tal modo unidos a Cristo que partilhamos a Sua própria pessoa (comer o
corpo) e a Sua vida (beber o sangue), gesto com que anunciamos a Sua morte violenta (pão
partido e sangue derramado pelos que o comungam).
A vida neste mundo é repleta de atribulações: trazemos em nosso corpo a agonia de
Jesus, e é nestas atribulações que a vida de Jesus se manifesta em nós.
A Igreja é o Corpo de Cristo, pela qual sofreu. O sofrimento dos membros é
sofrimento do corpo. Assim, o que cada cristão sofre, em sua própria carne (pessoa) une-se ao
sofrimento de Cristo, ou seja, o cristão partilha e associa-se ao sofrimento de Cristo.
10

Exercício 2
Defina os seguintes conceitos utilizando expressões pessoais:

 acontecimento histórico
Acontecimento histórico é o facto que ocorre no tempo e no espaço, e como tal pode
ser comprovado através dos meios de investigação científica, é visível e mensurável.

 linguagem de exaltação
A linguagem da exaltação é uma das formas de referir a ressurreição de Jesus,
apresentando-a não apenas como o regresso à vida, mas como a inauguração de uma nova
vida. Utiliza um esquema espacial que não temporal, para afirmar que com a ressurreição
Jesus passou da condição de humilhação e rebaixamento a que se sujeitara ao assumir os
condicionalismos da natureza humana, e que culminou com a morte na cruz, para a exaltação
e glorificação que consiste na introdução de Jesus na glória do Pai.

 acontecimento real
É o acontecimento carregado de significado que está para além do que é visível e
mensurável, que não é possível captar por métodos empíricos, mas que se revela através de
sinais históricos, estes sim, comprováveis através de meios de investigação científica.

 linguagem de ressurreição
A linguagem de ressurreição é uma das formas de referir a ressurreição de Jesus
enquadrando-a num esquema temporal: Jesus morreu e de seguida voltou à vida. É uma
linguagem limitada, pois não traduz a totalidade do acontecimento da ressurreição de Jesus, o
que tem de verdadeiramente novo, a mudança de condição da vida deste mundo para a vida
nova do outro. Lázaro também morreu e depois voltou à vida, mas à vida deste mundo, para
morrer outra vez. A ressurreição de Jesus e de Lázaro são realidades distintas, e para que se
compreenda a diferença, a linguagem da ressurreição tem de ser completada com a linguagem
da exaltação.

Exercício complexo

Tal como está exposto no início do nosso texto, a teologia fundamental trata de dar
razão da nossa esperança àqueles que no-la pedem. Neste exercício pedimos:

1. que recolha num breve resumo as ideias fundamentais do texto estudado, em que
fiquem expressas de forma simples as respostas e explicações que utilizaria na conversação
com uma pessoa que se interessasse pelos motivos e razões em que fundamenta a fé.
O Deus em que creio é o Deus revelado em Jesus Cristo, é nEle que alicerço a minha
fé. Que significa esta fé que professo?
Antes de mais, que não está em mim o princípio da minha existência: fui criado por
alguém que me transcende. E para quê, ou seja, qual o sentido da minha existência, perante o
incontornável da morte?
Na realidade “morte” está abrangida toda a limitação da condição humana:
imperfeição (pecado), sofrimento e angústia face a uma barreira (morte) que nega a maior
ambição do homem: ser feliz e imortal.
É no Deus revelado em Jesus Cristo que encontro a resposta (sentido) à maior
interrogação que se coloca a qualquer ser humano: existo por um acto de amor gratuito, não
para a morte mas para a vida, porém uma vida de felicidade, onde não ocorrem as limitações
da condição da vida deste mundo.
11

Libertar-se dos seus limites – imperfeição (pecado), dor e morte – é o sonho absoluto
do homem, mas que ele sente ser impossível de realizar pelos próprios meios. Então o homem
será o mais desgraçado ser de toda a Criação, ao viver a angústia de não poder realizar a sua
maior aspiração, até que o único Ser capaz de o libertar dessa situação desce até ao homem,
assume a sua condição e percorre o trajecto do homem como se fosse imperfeito (pecador)
como ele, desde o nascer até à morte, para lhe demonstrar que o seu Criador não está alheio e
indiferente ao seu existir, pelo contrário tem para ele um projecto de vida e felicidade.
Para se fazer compreender pelo homem fala-lhe na sua linguagem, por palavras como
por actos, pelos quais lhe demonstrou, até ao limite absoluto, quanto ama o homem, o que não
pode deixar de o levar a interrogar-se sobre o porquê de tanto amor.
Nesta interpelação que o homem se faz a si próprio, ele sente-se transposto para além
dos limites temporais do seu existir terreno, pois não faz sentido que tanto amor tenha como
horizonte apenas os curtos dias desta vida.
E a certeza de que encontrou a resposta para a sua angústia existencial, obtém-na
quando constata que a morte não foi a última palavra para Aquele que levou às últimas
consequências o amor aos homens.
A ressurreição de Jesus projecta uma luz nova sobre a Sua história terrena, luz que
unifica e dá sentido aos Seus actos e palavras, e que faz compreender ao homem o sentido da
sua própria vida: de uma paixão inútil que era sem essa luz, ele agora constata que é uma
paixão, sim, mas uma paixão do seu Criador, afinal a sua existência faz mesmo sentido.

2. que se pergunte a si mesmo quais são, no seu caso concreto, essas razões pessoais e
em que medida o texto estudado as confirmou e enriqueceu. Escreva a resposta.
Porque não haveria eu de crer em Jesus Cristo, se é o único que me dá resposta às
aspirações mais profundas do meu próprio existir, ou por outras palavras, se só Ele tem
palavras de vida eterna?
Crer (= ter fé) nEle não é apenas acreditar (= não negar) o que fez e disse. Mais do que
isso, é render-me à sua pessoa, e segui-lo incondicionalmente. É que Ele não só me ama,
como o faz gratuitamente, exclusivamente pelo que sou. Não tem segundas intenções, não
pretende assegurar a Sua posição com a minha adesão, nada me impõe, a nada me sujeita: tão
somente me propõe uma via para a minha felicidade, e essa via em nada violenta a psicologia
humana, bem pelo contrário, vem ao encontro das mais profundas aspirações do homem.
A Sua via, ao contrário de muita catequese mal apresentada, não é um código de
prescrições, mandamentos, imposições, obrigações que o homem haverá de cumprir, sob pena
de castigo, enfim, uma chatice para o homem.
Não, a sua via é antes uma proposta para a libertação das cadeias que escravizam o
homem – ódios, paixões, ambições de domínio, riqueza, prazeres..., que o conduzem à
desgraça. Se queres ser feliz...liberta-te da escravatura da riqueza, das paixões do prazer,
constrói a paz, luta pela justiça, serve os outros em vez de os dominares...
E para que dúvidas não subsistissem de que esta é a única via para a felicidade, Jesus
Cristo levou até às últimas consequências a coerência da Sua proposta.
Porque não crer então?
Mas se Deus não se tivesse revelado, como poderia eu vir a conhecer tudo isto?
Esta cadeira foi um forte contributo para solidificar a minha fé no Deus revelado em
Jesus Cristo.

Custódio Matos Costa


aluno n.º 21

Você também pode gostar