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Custódio Matos Costa


- aluno n.º 21

HISTÓRIA DA FILOSOFIA II

UNIDADE DIDÁCTICA 1

Exercício 1.
Descreva por palavras próprias, o significado dos seguintes termos ou expressões:

Racionalismo
Em sentido amplo: doutrina que admite como única fonte de conhecimento a razão. Exclui,
portanto, a revelação e a fé.
Em sentido restrito: corrente filosófica iniciada com Descartes, cujas três características
básicas são:
- a razão é a única faculdade que conduz ao conhecimento. Exclui-se, pois, os sentidos, a
imaginação e a paixão, por enganosos;
- para a destrinça do verdadeiro e falso, para descobrir novas verdades e ampliar o
conhecimento há que encontrar um novo método, o método matemático;
- o Universo fica partido em dois mundos: a máquina e o pensamento, o objectivo e o
subjectivo, sendo o homem um ser voltado para si mesmo que directamente só conhece o seu
próprio pensamento, e as coisas só são conhecidas nas ideias e não directamente em si mesmas.

Dúvida metódica
Método seguido por Descartes para encontrar a verdade. O edifício do conhecimento tem de
assentar em alicerces absolutamente firmes. Como os sentidos, por vezes, enganam [se enganam
por vezes, é de admitir que possam enganar sempre], o teste dessa firmeza passa por admitir como
falso tudo aquilo em que se possa imaginar a menor dúvida. O que resistir ao teste, é verdadeiro.
Desde logo, é verdade que duvido; duvidar é pensar, e só posso pensar se existir. Obtida a primeira
verdade – se (duvido) penso, existo – [e esse é o primeiro e mortal golpe no cepticismo, que se fica
tão só pela dúvida, sem jamais alcançar certeza alguma] outras verdades irrefutáveis e indubitáveis
se seguirão, obtidas mediante o mesmo método, até encontrar a verdade absoluta.
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Substância
É o concreto existente, que de nada mais precisa para existir que ela mesma. A substância
absoluta, infinita, é Deus. As outras, são finitas, e de nada mais precisam para existir, a não ser de
Deus. Existem por si, sem depender, na existência, de nenhuma outra substância finita. A essência
da substância está no “atributo” com o qual se identifica, sendo a forma como está disposta a
substância o “modo”. Substância, atributo e modo, os três pilares em que assenta a metafísica de
Descartes.

Dualismo
Para Descartes, o universo divide-se em duas realidades, duas substância finitas: a alma,
cujo atributo essencial é o pensamento (res cogitans); e corpo, cujo atributo essencial é a extensão
(res extensa).
Porque são substâncias, existem por si, ou seja, não dependem de outra substância. Esta
concepção dualista do mundo estende-se ao homem: a alma e o corpo, como substâncias, não
carecem um do outro para existir, nem tão pouco podem estar unidos ou em inter-relação, pois que
puro pensamento e pura extensão são incompatíveis. Daí resulta que o homem é apenas alma (res
cogitans) e só existe (o homem) na medida em que pensa – cogito, ergo sum.

Mecanicismo
O mundo (físico) de Descartes é a matéria ou res extensa, e é concebido segundo o modelo
da “máquina” – o mundo físico não tem alma, mas como uma máquina ou mecanismo de relógio
funciona por si mesmo – em que tudo se reduz a matéria e movimento: a matéria é divisível
indefinidamente (refutação da teoria atomista com partículas indivisíveis); não existe vazio (tudo
está cheio de matéria, um espaço vazio-extenso seria uma contradição, e qualquer movimento de
um corpo provoca deslocamento dos demais); inexiste qualquer princípio activo intrínseco às coisas
(a causa do movimento está em Deus, primeira causa do movimento e é da imutabilidade divina que
derivam as três leis da natureza que são as causa segundas do movimento: inércia, movimento em
linha recta e conservação do movimento); os organismos vivos são concebidos como máquinas
muito complexas, cuja vida não carece de uma alma vegetativa ou sensitiva (desse mundo está o
homem separado, pois que é só alma espiritual).

Exercício 2.
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Exponha as características fundamentais do método cartesiano e compare-o com o método


empirista.

Para Descartes a razão é a única faculdade que pode conduzir o homem ao conhecimento da
verdade. Para chegar à verdade, não tomar o falso por verdadeiro e aumentar o saber, há regras
certas e infalíveis que, uma vez cumpridas, permitem conhecer tudo: aceitar como verdadeiro
somente o que aparece com absoluta evidência. Para isso, há que decompor um problema
complexo em tantas partes simples quanto possível – as naturezas simples, que são ideias natas
quais gérmens de verdade que estão naturalmente na alma – e depois proceder inversamente, do
simples para o complexo, aplicando à reflexão filosófica o método matemático, para obter
conhecimentos seguros acerca da natureza da realidade.
Ao racionalismo, e seu método, contrapõe-se o empirismo: sem experiência, nada se pode
conhecer suficientemente.
A origem do conhecimento é a experiência (= percepções, ou conhecimento por observação
directa de objectos sensíveis externos – sensações – como de operações internas – reflexão), o que
implica a negação das ideias natas dos racionalistas.
O conhecimento humano é, porém, limitado, tem logicamente o limite da experiência, do
que resulta que o campo da filosofia fica amputado dos objectos que, não sendo experimentáveis, se
tornam incognoscíveis [as verdades metafísicas não são demonstráveis no laboratório], como se
reduz também a certeza do conhecimento, que em áreas como a física mais não é que uma ciência
provável.
Porém, nem em tudo estão em oposição, racionalistas e empiristas: para ambos, todo o
conhecimento é conhecimento de ideias e não de coisas, e pensar reduz-se a relacionar ideias entre
si.

Exercício 3.
Exponha com linguagem própria o significado dos seguintes conceitos ou expressões.

Empirismo
Corrente filosófica com antecedentes já na filosofia grega, que se desenvolve na Europa pelo
Sec. XVII e XVIII, de que são expoentes principais os filósofos ingleses (Locke, Berkeley,
Hume...), cujos princípios fazem assentar na experiência a fonte de todo o conhecimento, em frontal
oposição ao racionalismo que só admitia a razão como fonte do conhecimento. A experiência é,
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pois, a origem e o limite do conhecimento, do que resulta como principal consequência a negação
da metafísica, uma vez que o seu objecto não é experimentável.

Princípio de imanência
Um dos princípios em que assenta o empirismo de Hume, que leva a distinguir as
percepções em si mesmas, sem referência alguma às coisas [o que conhecemos são as nossas
percepções e não as coisas directamente]. Na mente só podem estar presentes as percepções, que
são os conteúdos da experiência: impressões – sensação mediata da realidade exterior, mais intensa;
e as ideias – recordação dessa sensação, mais ténues. Os sentidos mais não são que os canais
condutores das percepções, incapazes de produzir contacto imediato entre a mente e o objecto.

Princípio de associação de ideias


As impressões e/ou ideias podem ser simples ou complexas. A mente pode juntar coisas e,
socorrendo-se da imaginação, usar a tesoura e a cola para construir ideias (eventualmente falsas),
sem correspondência na natureza, misturando e combinando as ideias simples, que se atraem entre
si (associam) em função da semelhança, contiguidade e causa-efeito que entre elas ocorra: é o
princípio da associação de ideias, em que assenta também o empirismo de Hume – não existindo o
cavalo com asas voando pelo espaço [e se não existe, jamais se pode ter dele uma sensação], posso
imaginá-lo como existente, a partir das ideias simples de cavalo, asas, e espaço, que se associam.

Relação causa-efeito
As impressões (sensação imediata da realidade) e as ideias (recordação dessa sensação),
asseguram a realidade do presente e do passado.
E quanto ao futuro, se dele não há nenhuma impressão?
Não obstante, há acontecimentos futuros que parecem absolutamente evidentes. Ora, é na
relação causa-efeito que se baseia tal evidência, pela qual podemos ir além dos nossos sentidos e
memória, relação essa que se descobre, não a priori pela razão[o exame racional de uma coisa em si mesma
não permite descobrir os efeitos de que possa chegar a ser causa ] mas antes pela experiência [a semelhança que se
descobre nos objectos naturais induz a esperar efeitos semelhantes aos que se vêm a seguir a tais objectos].

Utilitarismo
Uma perspectiva de fundamentação da ética: é ético o que é útil. A força motriz da conduta
humana, nesta perspectiva, não é a razão, mas sim a paixão e o sentimento, nem o dever ser (o bem
e o mal morais, a virtude e o vício), deriva do ser (do que o homem em sua natureza é). Nem a
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virtude se identifica com o natural, nem o vício se identifica com o não natural, ou seja, a moral
baseia-se no sentimento, que não na razão.
A aprovação é o sentimento que descobre a virtude, e a desaprovação, o que descobre o
vício. Ora, o que desperta esse sentimento é a utilidade da acção para a colectividade: o que
contribui para a felicidade da sociedade (o que lhe é útil) merece aprovação.

Questões de facto
Há dois grupos de objectos da razão e investigação: relações de ideias e questões de facto.
Àquelas correspondem-lhe raciocínios demonstrativos absolutamente seguros e certos a
priori, podem descobrir-se pela mera operação do pensamento. Têm o seu âmbito de aplicação nas
ciências matemáticas e nas leis da lógica
Às questões de facto, do âmbito da física, correspondem-lhe raciocínios prováveis. O
contrário é sempre possível, já que não envolve contradição e pode ser concebido pela mente como
se fosse conforme à realidade.

Exercício 4.
Explique a concepção de Hume sobre a política, a ética e a religião.

Coerente com o seu empirismo, Hume elimina o transcendente, como realidade não
experimentável. Fica-se pelo terra-a-terra do visível. Assim, quanto a:
- política: vê a formação das sociedades a partir da célula familiar, como uma questão de
utilidade dos seres humanos, e o poder é um facto que se funda noutros factos – usurpação,
transmissão hereditária, eleição. A legitimidade do poder não carece de fundamentação
transcendente.
- ética: rejeita que a ética se possa fundamentar na razão, pois o que move o homem não é a
razão, que para tanto é incapaz, mas sim a paixão e o sentimento. O sentimento, que pode ser de
aprovação, se descobre a virtude, ou desaprovação, se descobre o vício, é despertado pela utilidade
da acção para a colectividade, e assim, é ético o que é útil à colectividade. O dever ser (o bem e o
mal morais, a virtude e o vício) não derivam do ser (da natureza do homem), mas da utilidade de
que a acção se pode revestir.
- religião: a crença religiosa só encontra justificação na utilidade e interesse que dela
decorre. Não se pode demonstrar que Deus, Ser único e pessoal, existe, como também não se pode
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demostrar que não existe, pelo que não faz sentido fundamenta a religião na existência de algo que
não se sabe se existe ou não.

Exercício 5.
Defina com linguagem própria os seguintes conceitos ou expressões.

Idealismo transcendental
Assim caracterizou Kant a sua filosofia, demarcando-se do idealismo stricto sensu. Após um
estágio filosófico em que deambulou pelas questões físicas e matemáticas, Kant centrou-se no
problema da metafísica, o mesmo é dizer, na problemática do homem. O que é o homem? Quais os
limites e possibilidades da sua capacidade? Em suma, que pode o homem saber, o que deve fazer e
o que pode esperar. No campo do saber, o que pode o homem saber, qual o objecto do
conhecimento? O sujeito que conhece, a realidade, ou a relação entre sujeito e realidade?
Porém, a realidade em si (noómeno) é desconhecida, e o que conhecemos é apenas o
fenómeno. Não obstante esta relatividade, o conhecimento científico é objectivo e universal.

Fenómeno
O que da realidade nós captamos pelo nosso conhecimento, e objecto da nossa experiência.
A realidade (a coisa em si, ou noómeno) existe, mas não a conhecemos tal como é. Apenas
temos acesso ao fenómeno, que é o resultado da unificação e ordenação das sensações no espaço e
no tempo, e não coincide exactamente com a coisa em si mesma, ou seja, não vemos as coisas
como são em si, mas apenas como são para nós.

Juízos sintéticos e juízos analíticos


Juízo analítico, é um Juízo explicativo do que já está implicado no conceito conhecido. Nada
traz de novo, não aumenta o conhecimento, apenas o explicita.
Juízo sintético, seria o inverso: é um Juízo extensivo, que permita estabelecer conexões até
então desconhecidas. Tem carácter de necessidade e universalidade e não pode proceder da
experiência, pois que esta apenas proporciona verdades de facto, contingentes e particulares, ou
seja, é construído a priori, independentes da experiência.

Conceitos puros ou categorias


Há dois tipos de conceitos: os empíricos, generalizações tiradas da experiência, mas
insuficientes para construir juízos; e os a priori, postos pelo entendimento, que constituem as
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estruturas do pensamento, graças aos quais podemos construir juízos acerca dos fenómenos, o que
permite que a experiência adquira carácter de necessidade e universalidade, e daí que a física seja
uma ciência.
A estes juízos a prior, Kant chamou-os categorias, cujo número fixou em doze.

Imperativo categórico
Mandamento absolutamente obrigatório da lei moral, válida em todas as situações. O uso
prático da razão pura, ou “determinação da vontade”, suscita o problema da fundamentação da lei
moral e do dever, que Kant situa num juízo sintético a priori de carácter prático, estritamente
formal, porquanto precede qualquer experiência. A lei moral é válida para todos os homens, em
todas as sociedades e em todos os tempos e situações, id est, não depende de escolhas determinadas.
É absoluta e inevitável. É um imperativo categórico.

Exercício 6
Exponha a teoria do conhecimento em Kant, ou seja, a “perfeita correlação entre a
sensibilidade e o entendimento”.

Os filósofos racionalistas, utilizando o método matemático com princípios claros e


distintos e carácter necessário e universal, fundamentavam o saber na razão, para o qual não havia
limites; os empiristas, porém, fundamentavam o saber tão só na experiência, e o saber tinha
necessariamente limites. Àqueles faltava-lhes a objectividade e a estes, a necessidade e
universalidade.
Kant quis aproveitar as virtudes de ambos, mas sem os seus defeitos: todo o conhecimento
começa com a experiência (tese empirista), mas a experiência não esgota o conhecimento humano,
ou seja, nem todo o conhecimento procede da experiência (tese racionalista). Desta forma, a
experiência garante a objectividade, e a razão, a necessidade e universalidade.
Todo o conhecimento começa com as sensações (a matéria bruta) captadas pelos sentidos, a
que o agente cognoscente vai acrescentar algo mais (forma) que as unifica e ordena, e esse “algo
mais” não é um elemento empírico, mas sim um elemento a priori (tempo e espaço como intuições
puras) estruturante das sensações. O conhecimento tem assim algo de empirismo (a matéria do
conhecimento é dada empiricamente) e algo do racionalismo (a forma é posta pelo sujeito).
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O objecto do conhecimento é então o produto da adição da matéria e forma, do material


empírico fornecido pelos sentidos e das formas a priori fornecidas pelo sujeito, que ordenam o
material das impressões sensíveis
À capacidade de receber representações dos objectos, Kant chama sensibilidade, que tem
dois sentidos: externo, pelo qual representamos no espaço os objectos como exteriores a nós, e
interno, pelo qual intuímos no tempo os nossos estados psíquicos. Na sensibilidade há, assim,
sensações (matéria) e forma (espaço e tempo). O resultado da unificação e ordenação das sensações
no tempo e espaço é o fenómeno – o objecto conhecido – que não coincide exactamente com a coisa
em si, ou noómeno. Este, existindo, não o conhecemos como ele é, só conhecemos o fenómeno, ou
seja, só o conhecemos como ele é para nós.
A capacidade de pensar ou julgar o fenómeno, é o entendimento, que para tanto faz uso de
conceitos, uns, empíricos que são generalizações tomadas da experiência, e outros, a priori, postos
pelo entendimento, a que Kant chamou categorias, e constituem as estruturas ou leis a priori do
pensamento. Em resumo, a sensibilidade fornece o conteúdo do pensamento (a matéria); o
entendimento fornece a estrutura (a forma). Ambos são necessários para um verdadeiro
conhecimento.

Questionário
1) Leia atentamente o texto: “Porém logo adverti que querendo eu pensar, desse modo, que
tudo é falso, era necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa;...
2) Assinale quais as ideias chave para a correcta interpretação do texto
- A verdade existe e há que encontrá-la. Para tanto, é necessário estabelecer o método –
começar por duvidar de tudo – e encontrar a primeira verdade, absolutamente irrefutável, que é
lançada como alicerce firme da construção do conhecimento humano: penso, logo existo.
- Mas eu, o ser pensante, quem sou?
Sou uma substância cuja essência e natureza é pensar, e que não carece de lugar nem de
matéria. É a alma, inteiramente distinta do corpo, que faz que eu seja o que sou, de tal forma que se
o corpo não existisse, a alma não deixaria de ser o que é.
- Em que consiste a certeza de que é verdadeira e certa uma proposição, como esta agora
encontrada de “penso, logo existo”?
É que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são sempre verdadeiras.
3) A partir do texto, desenvolva as características principais do método cartesiano.
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Descartes pretendia construir um sistema filosófico absolutamente seguro. Começou por


rejeitar os sentidos, por enganosos, como fonte do conhecimento humano, o que o levou a admitir
como única fonte segura do conhecimento, tão só a razão, em cujo poder assenta a capacidade de
tirar de si mesma as verdades primeiras e fundamentais, as ideias inatas, a partir das quais, e por
dedução, é possível obter todas as demais, segundo o método matemático: partir de definições e
axiomas de que se possa deduzir com evidência e necessidade um sistema filosófico fechado e
completo.
Para não partir de pressupostos falsos, começa por pôr tudo em dúvida, ou seja, faz o teste a
todas as verdades até aí tidas como tal – a dúvida metódica – o que lhe permite aceitar como
verdadeiro somente aquilo que apareça com absoluta evidência, o que se capta pela intuição a partir
de ideias claras e distintas (o “penso, logo existo” não é uma dedução, um raciocínio, mas uma
intuição, uma evidência imediata, uma ideia clara e distinta)
4) Indique a influência que teve o método cartesiano no empirismo e no idealismo
transcendental.
Até Descartes, o pensamento ocidental foi dominado pelo platonismo e aristotelismo. A
revolução científica (Copérnico, Kepler, Galileu, Newton...), que veio questionar muitas certezas
antigas, impôs uma nova filosofia, que tem início, pode dizer-se, com Descartes, o pai da moderna
filosofia, desde logo com a introdução de um novo método de filosofar, o método matemático, e
uma confiança absoluta na razão tida como a única faculdade para fundamentar uma nova
metafísica.
Neste seu afã moderno de filosofar, Descartes puxou o pêndulo até um dos extremos:
absolutizou a razão a que não reconhecia limites na sua capacidade de conhecimento, e ignorou
completamente o papel dos sentidos na formação do conhecimento humano.
A natural reacção ao racionalismo encontrou expressão no empirismo. O pêndulo é puxado
ao outro extremo: só a experiência é fonte de conhecimento, sendo também o seu limite. Como
consequência, a negação da metafísica, que não é captável pelos sentidos.
Por fim, o pêndulo procura localizar-se ao meio: ambas as correntes estão certas e erradas.
Todo o conhecimento começa com a experiência, mas nem todo o conhecimento procede da
experiência. Às sensações (elemento empírico) o agente cognoscente acrescenta elementos a priori
postos pela razão.
No fim de tudo isto, uma pergunta se impõe: afinal o que é o homem, quais os seus limites e
capacidades, que pode ele saber, qual o objecto do seu conhecimento?
5. Faça uma valoração pessoal
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Apontaria a Descartes uma grande virtude e um grave erro, uma e outro não criados
propriamente por ele, mas desenvolvidos.
Com a sua Dúvida Metódica começa por colocar-se no campo de adversário para o vencer aí
mesmo, o cepticismo, possivelmente o pior inimigo do homem. Ao negar ao homem a capacidade
de encontrar a verdade, o cepticismo corta-lhe o sentido da vida, porque a máxima ambição do
homem é conhecer a verdade, designadamente o sentido da sua existência e assim o homem não
chega a saber quem é e o que anda a fazer neste mundo. Ao lançar no alicerce do conhecimento
humano a pedra da primeira certeza, desenvolvendo aliás a ideia já antes posta por S.to Agostinho –
si fallor, sum – Descartes deu precioso contributo para derrubar os pilares do cepticismo.
Porém, incorreu em grave erro, aliás seguindo as pisadas de Platão: o homem é a sua alma.
Existo, porque penso, ou seja, existo na medida em que sou pensante, o que implica que fora
do pensamento, nada existe; ora, se penso com a alma, então o homem é a sua alma.
Com tal perspectiva, puxando o pêndulo para um extremo, ignorando a dimensão material
(corporal) do homem, Descartes provocou a reacção materialista – o homem é a matéria visível no
seu corpo – que a seu tempo surgiu e fez não menores estragos que o cepticismo.
Mas afinal o que é o homem?
Descartes não o soube, como ainda agora se não sabe, e duvido que alguma vez venha a
saber-se, pois quando S.to Agostinho o definiu como mistério, revelou-lhe a sua própria
incapacidade para dar resposta a uma questão que, quanto mais a aprofunda, mais se dá conta que
está longe de lhe encontrar a resposta.

UNIDADE DIDÁCTICA 2

Exercício 1
Explique os seguintes conceitos ou expressões:

Idealismo alemão
Corrente filosófica post Kantiana desenvolvida por Fichte, Schelling e principalmente Hegel
(alemães), que tem como características principais um novo conceito de racionalidade – a Razão
infinita, absoluta e criadora, também chamada Ideia, Espírito – que produz todo o real e contém
dentro de si os indivíduos racionais [no racionalismo, são os indivíduos que têm a razão]; a Razão
infinita é a meta da história e evolui mediante um processo dialéctico; o método dialéctico é o novo
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método da filosofia, e a metafísica é a ciência por antonomásia, sendo a religião uma expressão
imperfeita da metafísica que, como definitiva revelação do absoluto, está por cima da teologia.

Só é verdade a totalidade
O conceito chave do sistema hegeliano é o Infinito, e o problema chave é a relação do finito
com o Infinito. Segundo Hegel, o Infinito não é transcendente, mas sim imanente ao finito, e os
seres particulares mais não são que momentos do Infinito. O Infinito é assim a Totalidade do real, e
algo é verdade só na medida em que se integra na Totalidade. Não há assim verdade no separado,
nem há verdades parciais: só é verdade a totalidade.

Dialética
Para Hegel, a contradição não só existe como inevitável, como é o motor do movimento
histórico. Não há que negar as contradições da realidade, mas sim assumi-las e compreendê-las ou,
por outra palavras, conciliar os contrários: é a concepção dialéctica da realidade.
Para Hegel, a dialéctica é simultaneamente uma ontologia, uma concepção da realidade, e
uma lógica, um método da ciência. Como ontologia, a dialéctica significa que nada da realidade
está isolado, mas sim em relação, mas relação de oposição que não de identidade, expressa em
fórmulas como “tese, antítese, síntese”, ou [“afirmação, negação, reconciliação” dos momentos
anteriores]. Como método, a dialéctica consiste em descobrir e seguir racionalmente o movimento
da Ideia, de modo que a razão e a realidade expressem sua verdadeira identidade [segundo Hegel, o
racional é real e o real é racional].

“Autoconsciência de si mesmo”
O Espírito universal, que se encontra na Humanidade, é algo vivo e em movimento como
um processo em desenvolvimento, que evolui por força das contradições internas, e cuja meta é a
plena autoconsciência de si mesmo. A evolução é tornar-se em algo distinto do que é em si como
pura essência, é tornar-se “outro”. Este “outro” serve de mediação para que aquilo que até aí era
apenas “em si”, possa chegar a ser também “em si e para si”, ou seja, tome consciência de si
mesmo, se converta em autoconsciência.
São estas etapas do Espírito universal, já percorridas, que o indivíduo singular tem também
de percorrer, para tomar autoconsciência de si mesmo, e isso (consciência de si mesmo) ocorre
quando ele toma consciência do mundo exterior, pois que a autoconsciência requer o
reconhecimento por parte de outra autoconsciência: só graças ao outro, posso chegar a ser “eu”.
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Filosofia da história
O Estado, na filosofia de Hegel, é a realização plena do Espírito e da liberdade. Cada Estado
particular é, porém, a manifestação de um Espírito do povo nacional, sendo na relação dialéctica de
uns Estados com os outros que se realiza e manifesta o Espírito universal. O desenvolvimento
destas relações constitui a História universal, que é a revelação do Espírito Absoluto, cujo sentido
(da História) se compreende a partir do plano providencial, como necessidade absoluta, pois tudo o
que acontece, acontece necessariamente. Assim, o passado não é negado, mas assumido e superado,
sendo a História universal o juízo ou justificação universal de todo o acontecimento.

“Todo o racional é real e todo o real é racional”


A razão, em Hegel, tem uma amplitude e um conceito mais amplo que em Kant. Enquanto
para este a actividade racional só põe a “forma” do conhecimento, pois que a “matéria” ou conteúdo
era dada pela sensibilidade, em Hegel a razão põe a totalidade da realidade, forma e conteúdo. A
Razão ou Espírito ou Ideia, expressam a Totalidade infinita do real, não obstante o Infinito não ser
um dado adquirido desde o princípio, mas sim o resultado final de um processo. Assim, realidade e
racionalidade estão em transformação, e só no final do processo ocorrerá a sua plenitude e
coincidência.

Exercício 2
Exponha a identidade e momentos da dialéctica hegeliana como “ontologia”. Que
acrescenta a reflexão sobre a dialéctica como método à identidade da dialéctica hegeliana?

Em Hegel, a dialéctica é uma ontologia, ou seja, uma filosofia do ser, uma concepção da
realidade. A realidade é um processo circular, em três momentos, cujo motor é a contradição, que se
assume e supera. Sendo o Infinito uma Totalidade, nada está isolado, mas sim em relação. Uma
relação, porém, de oposição que não de identidade. É assim que o Todo, o Infinito, se encontra em
movimento e transformação.
O devir no Infinito faz que surja a contradição no seu interior. Transformar importa sempre
o aparecimento de algo distinto, algo que antes não era e passa a ser: o que “é”, o que está “em si”,
(primeiro momento, tese) sai de si e nega-se a si próprio no “outro” em que se transforma (segundo
momento, antítese). A superação destes dois momentos é a reconciliação (terceiro momento,
síntese).
A contradição (antítese) não é negada nem suprimida, mas sim superada e reconciliada, em
termos de se transformar em nova tese, que de novo se nega, e de seguida se supera, e assim
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sucessivamente numa espiral contínua, segundo o plano providencial, até à autoconsciência do


Espírito Absoluto, em que Razão e realidade coincidem.
A dialéctica como método, que é inseparável da dialéctica como ontologia, é uma “lógica” e
consiste em descobrir e seguir racionalmente o movimento da Ideia, de modo que razão e realidade
expressem sua verdadeira coincidência.
A lógica dialéctica, ao contrário da lógica aristotélica que assentava no princípio da
identidade, baseia-se no princípio da contradição: procura estabelecer e de seguida conciliar a
contradição. Pensar dialecticamente consiste em procurar as relações dos conceitos (relações de
oposição), superá-las, integrar o resultado na totalidade superior, e prosseguir de novo, em espiral,
até à Totalidade absoluta.

Exercício 3
Explique os seguintes conceitos ou expressões

Humanismo
Poderíamos definir o humanismo como a doutrina de Marx sobre o homem visto na sua
dimensão laboral e social: o homem como ser activo, prático, sendo o trabalho a sua actividade
principal, que se faz a si mesmo, através da história, na sociedade e transformando a Natureza. O
trabalho põe o homem em relação com a Natureza e com o seu semelhante, de modo que a essência
humana não é algo abstracto inerente a cada indivíduo, mas antes o conjunto das sus relações
sociais. Tal perspectiva contrapunha-se à visão teórica dos filósofos [para Hegel a essência humana
equivale a autoconsciência] e à condição servil e sub-humana em que se encontrava o operário
vítima da revolução industrial, então no seu auge, em que o “trabalho mais não era que mercadoria
e o trabalhador mero animal de trabalho”.

Alienação
Quando o homem se deveria realizar como homem mediante o trabalho – o trabalho põe-no
em relação com a Natureza e o seu semelhante – eis que a sua condição de trabalhador por conta de
outrem o “aliena”, o transpõe para fora da dignidade própria da sua condição de homo laborans: faz
um trabalho que não é seu, não é senhor do produto do seu trabalho, corta a relação com a Natureza
e o “outro”, que são para si seres estranhos a quem pertencem o trabalho e o produto do trabalho. O
trabalho torna-se estranho ao trabalhador, e este ao seu próprio trabalho e, consequentemente, a si
mesmo. Este é o conceito de alienação em Marx, contraposto ao de Hegel, em que é o Espírito
infinito o que se aliena na Natureza, objectivando-se nas coisas.
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Materialismo dialéctico
Nome por que ficou conhecida a filosofia de Engels sobre a Natureza, que expõe a evolução
do universo em termos de movimento dialéctico, segundo as três leis da lógica dialéctica por si
formuladas: lei da conversão da quantidade em qualidade e vice-ersa; lei da compenetração dos
opostos (acção recíproca); lei da negação da negação.

Materialismo histórico
Concepção da História segundo Marx, em resultado da aplicação da dialéctica à História e
economia, segundo a qual as ideias não são independentes das condições da existência humana, o
modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual em
geral, não sendo a consciência humana que determina a realidade, mas esta que determina aquela,
ou seja, são as relações materiais que determinam as relações espirituais. Assim, os grandes
acontecimentos da História têm a sua causa no desenvolvimento económico da sociedade, nas
transformações do modo de produção e de troca, na divisão da sociedade em classes distintas e na
luta destas entre si.

Superestrutura
As relações materiais, económicas e sociais (relações de produção) são a base da sociedade
(estrutura), sobre a qual assentam as suas instituições políticas, leis, religião, moral, arte, filosofia,
ciência, ou seja, a superestrutura, como que as colunas do edifício em que assenta a cobertura.
Segundo Marx, as relações materiais sustentam, de certo modo, todos os pensamentos e ideias que
há na sociedade, por forma que a superestrutura de uma sociedade é um reflexo da sua base
material.
Essas relações de produção (estruturas) expressam-se pelas relações de propriedade – posse
dos meios de produção e posse da força do trabalho, pela burguesia e trabalhador respectivamente –
e condicionam ou determinam a superestrutura (as relações políticas e ideológicas).

O homem autor da história


Para Marx, a História é o resultado da luta de classes para decidir quem dominará as forças
de produção. A principal destas forças é o trabalho humano, daí que o homem seja o principal autor
da história, pois que quando o homem trabalha, intervém na natureza e influencia-a, mas a natureza
15

também intervém no homem influenciando o seu modo de pensar. O Homem, por sua vez, avança à
custa das contradições e lutas, lutas em que assume papel importante a “consciência de classe”:
escravos/livres; feudais/servos da gleba; nobres/burguesia; capitalistas/proletários. Daí que o grande
instrumento proposto por Marx/Engels no “Manifesto do Partido Comunista” de 1848, para a
mudança da estrutura que haveria de determinar a superestrutura, é a criação da consciência de
classe do proletariado: Proletários de todos os países, uni-vos.

Exercício 4
Exponha as características da dialéctica de Marx. Compare-a com a dialéctica de Hegel.
Hegel é um filósofo que criou um sistema filosófico, uma forma de conceber e compreender
a realidade. Daí que a sua dialéctica seja uma ontologia, um concepção da realidade, e uma lógica,
um método de ciência. O seu projecto filosófico é conhecer, e nisso se esgota, para si, a filosofia. A
realidade, é a Razão, a Ideia, e a função da filosofia é tão só compreender a realidade e justificá-la,
pôr-se em paz com ela. Para Hegel, a História é uma cadeia de pensamentos que se desenvolvem,
não ao acaso mas segundo leis determinadas (o plano providencial) segundo um processo dialéctico
– a uma forma de pensar, segue-se nova ideia que a contesta, criando-se tensão por duas formas de
pensar opostas; esta tensão é superada quando uma terceira concilia as duas anteriores,
aproveitando o melhor delas – tese, negação, negação da negação: só a razão (Descartes)/só os
sentidos (Hume)/razão e sentidos (Kant).
Este esquema é aproveitado e seguido por Marx, mas onde o idealista Hegel pôs o Espírito
ou a Ideia, o materialista Marx colocou a matéria. A sua dialéctica é uma dialéctica da realidade
(matéria), e não da ideia, e dialéctica de transformação, que não apenas de justificação ou
interpretação, o seu objectivo é transformar ou compreender as permanentes transformações do
mundo real, e o mundo real é o mundo humanizado. Enquanto nos anteriores filósofos predominava
a vertente teórica, em Marx prevalece a prática: a sua filosofia tem uma finalidade política, pois que
Marx, mais que filósofo, era um economista e sociólogo. A História, para Marx, não resulta do
desenvolvimento das ideias autonomizadas das condições da existência humana, mas
principalmente da dialéctica das contradições existentes na base real da sociedade (estrutura), e
constrói-se a golpes de luta e trabalho do ser humano para alterar essa estrutura.

Exercício 5
Explique o significado dos seguintes termos ou expressões

Dionisíaco-Apolíneo
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Dionísio é o deus do vinho e da embriaguez, que personifica a natureza no seu processo, a


vida, o ímpeto apaixonada, o instinto, o símbolo do ser humano trágico da tragédia grega.
Apolo é o deus do Olimpo, do sol, da luz e claridade, da razão, da virtude, em que se
alicerça a filosofia ocidental desde Sócrates e Platão.
A contraposição entre estas duas figuras – duas perspectivas da vida opostas – será o tema
da filosofia de Nietzsche, segundo a qual a tragédia dionisíaca (a vida, a consideração trágica do
mundo) triunfará sobre a ser humano teórico da filosofia ocidental.

Campo axiológico
No percurso da sua evolução filosófica, Nietzsche, que antes aderira à metafísica de
Schopenhauer, acaba por refutar toda a metafísica, acabando por situar-se tão somente no campo
axiológico dos valores morais: criação de novos valores e destruição dos anteriores valores, ou
inversão dos valores. Até agora a humanidade valorizou tudo o que se opõe à vida, pelo que há que
inverter os valores, valorar e afirmar de novo a vida.

Vontade de poder
O mundo, o ser humano, a vida, são vontade de poder. Vontade de poder é vontade de ser
mais, de superar-se, de criar. Vontade criadora de valores e aniquiladora de valores anteriores. É
uma força vital que impele o homem a superar-se continuamente, a sair dos seus próprios limites e
ser mais do que o que é. Mas que tem também uma dimensão cósmica: o mundo é um jogo de
forças que se agitam e transformam e voltam sobre si mesmas num enorme retorno dos anos. A
vontade de poder é um sim à vida e ao mundo, um desejo de que tudo seja eterno.

Super-homem
Quando os falsos valores da filosofia ocidental forem substituídos pelos novos valores,
surgirá um homem novo, absolutamente autónomo, patrão de si mesmo, soberano da natureza e da
história, liberto dos vínculos e restrições impostas pela moral, pelo direito e pela religião, surgirá,
enfim, o novo ser humano, o Super-Homem, que será a antítese do “último ser humano”, e se
identificará com o “primeiro ser humano” o primitivo e inocente ser humano revestido da inocência
de um menino.
(Comentário pessoal: pese embora a refutação que Nietzsche faz do cristianismo, o que ele
pretende afirmar, não obstante situar-se no caminho inverso, é a incontornável aspiração do homem
caído no pecado à reabilitação prometida e realizada em Cristo. O estado de inocência de Adão e
Eva no Éden é a meta do “Homem Novo” em Cristo, (o super-homem de Nietzsche) de que o
17

hagiógrafo fez uma projecção, situando-o, não no final dos tempos, o que se tornaria de difícil
compreensão para o homem, mas no início da Criação).

Nihilismo
Os valores da cultura ocidental – a arte, ciência, religião, filosofia, moral, em suma, o
cristianismo – estão condenados a desaparecer, porque são falsos, porque estão inquinados da
vontade do nada, do ódio à vida, são a negação da vida, procedem de uma “vontade do nada”, estão
votados ao nihilismo: falta-lhes a “vontade de poder”, esgotou-se a essência da vida, é o nihilismo
passivo. Quando esses valores se derrubarem, e derrubarão porque são ilusórios, chegará
necessariamente o nihilismo, e a civilização ocidental ficará sem os valores que possuiu até agora.
Contra este nihilismo passivo, opõe Nietzsche o nihilismo activo, uma “potência violenta de
destruição”, uma “vontade de poder” que diz “não” a esses valores, para criar os novos valores em
que surgirá o super-homem.

Análises de textos
O espírito não é uma coisa abstracta, não é uma abstracção da natureza humana, mas algo
inteiramente individual, activo, absolutamente vivo;...

Questões
1) – Leia o texto detidamente
2) – Indique quais são os conceitos chave para a sua correcta interpretação
O espírito não é uma abstracção, mas existe como uma realidade; uma realidade pensante
que tem consciência de si mesmo, do que é e de como é. O espírito é ainda o objecto e conteúdo do
seu próprio conhecimento, conteúdo espiritual. Segundo a sua natureza, o espírito está em si
mesmo, é livre, sendo a liberdade a substância do espírito, liberdade que consiste em ter o centro em
si mesmo, em residir em si mesmo.
3) – Compare a concepção hegeliana do espírito com o Cogito de Descartes e assinale as
coincidências e diferenças.
Descartes descobre a existência do “eu” a partir da realidade do pensamento, ou seja, o “eu”
existe como uma substância cuja essência ou natureza é pensar: existo, porque penso, ou seja, existo
na medida em que sou pensante [o que implica que fora do pensamento nada existe]. É a partir desta
verdade evidente, e utilizando o conceito fundamental de substância [o concreto existente que existe
por si, sem depender na existência de nenhuma outra substância], que ele constrói o seu sistema
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filosófico. A substância que pensa, a res cogitans, é a alma, e a alma mais não é que pensamento,
que é o seu único atributo ou essência.
O espírito em Hegel tem maior amplitude que em Descartes. Em Descartes, o indivíduo têm
a razão; em Hegel, é o Espírito (Ideia, Razão) que, produzindo todo o real, contém dentro de si os
indivíduos racionais. O Espirito, em Hegel, é algo que existe realmente, tem vida e está em
movimento como um processo em desenvolvimento, que evolui por força das contradições internas
tendo como meta ou termo do seu devir, a plena autoconsciência de si mesmo. A evolução importa
tornar-se algo diferente do que é em si como pura essência, é tornar-se “outro”, em termos de aquilo
que até aí era apenas em si, possa chegar a ser também em si e para si, ou seja, tome consciência de
si, se converta em autoconsciência.
4) – Faça uma valoração pessoal
A Revolução Francesa, no seu intento de libertar o indivíduo, apresentava-se à humanidade
como o triunfo da razão e da liberdade. Porém os factos (as contradições em que se afundou) vieram
desmentir a esperança, e permanecia a questão fundamental: como conciliar a universalidade da
razão com os egoísmos individuais, o mesmo é dizer, como conciliar o universal e o particular?
A resposta encontrou-a Hegel na descoberta do Espírito absoluto, Ideia, Razão universal,
Infinito, como Totalidade do real, que contém em si os seres finitos. Os seres particulares mais não
são, pois, que momentos do Infinito, no qual tudo se reconcilia.
Nesta perspectiva, o individual, o subjectivo, perdeu estatuto: o importante é o colectivo, a
instituição, aí onde se objectiva o Espírito, que se vai manifestando à medida em que se passa de
uma instituição hierarquicamente inferior para a superior, até à realização plena do Espírito no
Estado, que é onde se realiza a liberdade do indivíduo.
O resultado prático, foi o surgimento do Estado Absoluto e a mais conseguida negação do
homem, que acabou por ser imolado no altar dos interesses do Estado, como o atestam os milhões
de mortos das duas guerras mundiais do Sec. XX, e a escravização de ainda mais nos regimes
totalitários que proliferaram pelo mundo.
Sem o prever, Hegel forneceu a chave do segredo da abertura da Caixa de Pandora dos
demónios do totalitarismo, e que só a democracia vai conseguindo fechar e nela voltar a enclausurar
os demónios que tão grande fardo lhe impuseram.

UNIDADE DIDÁCTICA 3

Exercício 1
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Explique o significado dos seguintes termos ou expressões

Factos
Segundo Husserl, são o conjunto dos objectos da experiência e do conhecimento empírico
possível, estudados pelas ciências empíricas: são individuais, existentes no tempo e no espaço e
contingentes, e é-lhes inerente ter uma essência.

Ciências das essências


A essência é o que faz com que uma coisa seja o que é, que a faz ter um determinado e
inalterado modo de ser e de comportar-se. Enquanto para o positivismo só há factos, e a ciência é
apenas ciência de factos, para Husserl há também as essências, e a ciência das essências é a
Filosofia, reconhecendo ele à Filosofia o carácter de ciência no sentido estrito, ou seja, um saber
racional rigoroso, de validade universal e necessária.

Consciência intencional
A consciência é consciência de alguma coisa. Se há “um pensar” tem necessariamente de
haver “um pensado”, e este só existe na medida em que é objecto de um pensamento. Para Husserl,
consciência é consciência intencional, ou seja, é uma correlação entre o pensamento e o pensado. A
intencionalidade faz parte da estrutura da consciência, o pensar leva em si mesmo o pensado.

Intuição essencial
Intuição essencial ou ideação é o meio de conhecimento imediato das essências. A
necessidade e universalidade inerente às essências não contêm afirmações sobre factos, que são
individuais e contingentes, pelo que não são captáveis por intuição sensível, sendo-o por intuição
essencial.

Redução eidética
A fenomenologia é para Husserl a ciência dos fenómenos que, como ciência, fundamenta-se
não em factos, que carecem de universalidade e necessidade, mas antes em essências. Para aceder à
essência do fenómeno é necessário purificá-lo de tudo o que de individual e contingente aparece no
fenómeno pela intuição empírica, para reter unicamente a sua essência. É o que Husserl chama de
redução eidética, entendendo-se por eidética a essência das coisas e a sua contemplação, por
oposição aos factos objecto do conhecimento empírico.
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Fenómeno
Ao contrário de Kant, para quem fenómeno é apenas o exterior ou a aparência da realidade
que nós captamos com o nosso conhecimento a partir das sensações, para Husserl fenómeno é o que
se manifesta em si mesmo à consciência, que não se fica nos factos, mas que contém uma essência.

Exercício 2
Exponha os aspectos fundamentais da intencionalidade em Husserl

A intencionalidade é um conceito chave na fenomonologia de Husserl. Segundo ela:


- não há pensamento sem pensado (consciência intencional), enquanto o pensado só existe
para a consciência e na medida em que é objecto de um pensamento;
- o pensado não é, pois, um objecto externo ou real, sendo indiferente que corresponda ou
não a algo do mundo;
- tem um sentido dinâmico
- a consciência não é uma coisa como em Descartes, mas sim uma corrente de vivências, em
que há um acto intencional – pensamento – e o objecto intencional – o pensado.
- para Husserl, a consciência é a consciência pura, ou seja, a consciência “reduzida”
(purificada) pela redução fenomenológica, e tudo quanto se refere ao âmbito da consciência pura,
por oposição ao âmbito do mundo natural empírico, ele chamará de transcendental.

Exercício 3
Explique o significado dos seguintes conceitos ou expressões

Dasein
Na sua indagação sobre o “sentido do ser”, Heidegger pergunta-se não sobre os “entes” –
perspectiva óntica ou existentiva – mas sobre o “ser dos entes” – analítica ontológica ou existencial.
O ente privilegiado a quem pode perguntar-se sobre o Ser é o homem a quem chama o Dasein, o
“ser aí”, o lugar em que o ser se manifesta a si mesmo. É o homem que ocupa o centro da reflexão e
análises de Heidegger, precisamente porque é o centro privilegiado em que o ser aparece a si
mesmo e se revela, e só pondo a descoberto o ser do homem temos a possibilidade de abrir o
caminho para a compreensão do ser em geral.
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Ser para a morte


Angústia
Dada a conexão entre os dois conceitos, responde-se-lhes em conjunto.
Das estruturas ontológicas fundamentais do Dasein é a temporalidade e o Ser-no-mundo. O
homem está ligado ao mundo, é um ser no mundo e um ser com o mundo, ou seja, com os outros.
Este Ser-no-mundo do homem contém o cuidado, preocupação e solicitude pelo mundo e pelos
outros, o que o leva a sentir-se projectado para o futuro que antecipa, ou seja, perde-se na
decadência do presente e vive na angústia de ter sido lançado no passado à existência. Nesta
angústia o Dasein descobre a existência autêntica e cai então na conta de que a sua e verdadeira e
única possibilidade é a morte. Por isso ele se sente um-ser-para-a-morte, sendo a autêntica
existência aquela que enfrenta esta possibilidade, vivendo antecipando a sua própria aniquilação,
com coragem e resolução.

Paixão inútil
Em si e para si
Dada a conexão entre os dois conceitos, responde-se-lhes em conjunto.
Segundo Sartre, há dois tipos de ser: a consciência, como ser para-si, e o ser em-si, ao qual
se dirige a consciência.
O ser-em-si é simplesmente: não se relaciona com nada, não é criado, não tem
possibilidades, escapa à temporalidade, em suma, é o que é.
O ser-para-si (o homem), é consciência. Desde logo, consciência de si mesmo. Ao ser
consciência de si, está separado de si mesmo, possui uma dualidade interior, uma fissura, que é o
nada. Também é consciência de outras coisas, e como tal, mais não é que isso mesmo, consciência
de; em si mesmo, é nada, é o nada. Assim, foi pelo homem que se introduziu o nada no ser e no
mundo. É constatando que é nada, que o homem desejaria ser em si, ter a consistência do ser, que é.
É apenas, mas é. Porém o homem, querendo ser em si, quer continuar a ser para si, ou seja, não
quer perder a consciência, ou deixar de ser consciência, pois se não tiver consciência de si, nem
sequer sabe que existe. Mas ele é o nada. Assim, ao mesmo tempo ele quer ser o ser, e ser o nada.
Sartre conclui, assim, que o ser humano é “uma paixão inútil”, porquanto ambiciona ser em-
si (conquistar a consistência do ser) sem deixar de ser para-si (sem perder a consciência). Ora, ser
simultaneamente em-si-para-si é impossível e equivaleria a ser Deus, ou seja, o ser humano projecta
ser Deus. Como Deus é uma ideia contraditória (tão pouco existe), o homem sacrifica-se em vão: é
uma paixão inútil
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Óntico-ontológico
Segundo Heidegger, a metafísica tradicional fixou-se nos entes, tinha uma perspectiva
óntica. Porém, não se interrogava sobre o ser dos entes. Entrámos agora numa época pós-
metafísica, numa nova idade em que o pensamento investiga o fundamento mesmo da metafísica. A
investigação do Ser consiste numa analítica ontológica, o ser dos entes.

Exercício 4
Exponha as características fundamentais da existência segundo o existencialismo

Só o ser humano “existe”, a existência é o modo de ser próprio do homem. As coisas (o


“em-si” de Sartre) não existem, apenas “são”, é o ser humano que as faz existir, na medida em que
as representa na sua consciência.
Existência implica liberdade e consciência: assim, o ser humano existe na medida em que é
origem de si mesmo e se faz a si mesmo mediante as suas escolhas livres e na medida em que se
possui a si mesmo pela consciência.
A liberdade precede a essência do ser humano e torna-a possível: não há diferença entre o
“ser” do ser humano e o seu “ser livre”. A existência precede a essência – o ser humano primeiro
existe e só depois, é, ou a essência consiste na sua existência, no sentido em que o ser humano é o
ser que se faz a si mesmo pela sua liberdade.
O ser humano, se renuncia à sua liberdade, leva uma existência inautêntica, ficando a ser
uma coisa entre as coisas. Ora as coisas estão como são, sem necessidade nem possibilidade de ser
de outro mas modo. Ou seja, o homem sem liberdade não é homem, é coisa.

Exercício 5
Explique os seguintes conceitos ou expressões

Raciovitalismo
Foi uma grande descoberta, a descoberta da razão, pelos filósofos da antiguidade, mas o
homem não se reduz à razão: a razão é apenas uma forma e função da vida, e situada frente à vida,
representa uma subversão da parte contra o todo. A razão pura tem de ceder o seu império à razão
vital, o que não significa desvalorização da razão, nem reduzir todo o humano a pura biologia.
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Portanto, nem racionalismo a impor à realidade as estruturas da razão; nem vitalismo, a


reduzir todo o humano a pura biologia, mas antes um meio termo a reconhecer o valor da razão e
também as suas raízes irracionais (a intuição) ao serviço da vida: é o raciovitalismo proposto por
Ortega y Gasset.

Círculo hermenêutico
Na compreensão de um “texto” – os acontecimentos da história são também “textos” que
requerem um contínuo esforço de reinterpretação e reactualização – entra como factor determinante
o pre-juízo ou pre-compreensão, que se projecta sobre o texto e deve ser confirmado por este. O
intérprete faz parte de uma comunidade e de uma tradição, de que recebeu os seus pre-juízos, e ao
assumir a tradição, modifica-a. A compreensão do texto encontra-se determinada pelo movimento
antecipatório da pre-compreensão, ou seja, realiza-se dentro de um círculo hermenêutico, num
movimento circular em que o texto se interpreta a partir do pre-juízo que será modificado pelo que
o texto fornece, o qual conduzirá a uma nova compreensão do texto.

Que entende P. Ricoeur por interpretação


Não há, segundo P. Ricoeur, uma única hermenêutica de interpretar os símbolos da
linguagem, ocorrendo como que um conflito de interpretações entre duas concepções distintas: a
interpretação como exercício de suspeita – interpretar é desmascarar os enganos e mentiras da
consciência; a interpretação como restauração do sentido – os símbolos têm um sentido.
É nesta concepção que P. Ricoeur se situa, defendendo, no entanto, que a hermenêutica
deve unir dialecticamente a suspeita e a confiança, a desmitologização e a restauração do sentido.

Análise da linguagem
O Positivismo, regressado no início do Sec. XX , ao considerar unicamente como válida a
ciência natural, negou valor à metafísica e atribuiu à filosofia o simples papel de análise da
linguagem: a filosofia não é um saber substantivo, mas simplesmente um actividade – a análise da
linguagem – que tem como finalidade a clarificação dos conceitos filosóficos e científicos

Isomorfismo
Entre as doutrinas mais conhecidas de Russel, conta-se o Atomismo lógico: ao contrário da
lógica monista, em que cada coisa está constituída por um conjunto de relações que a ligam ao
universo, por forma que não se pode conhecer uma coisa sem ter, de algum modo, conhecimento de
todo o universo, no atomismo lógico o mundo compõe-se de entidades independente e isoladas – os
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átomos lógicos – que podem ser conhecidas directamente em si mesmas sem referência ao resto do
universo.
O mundo é composto por factos atómicos, a cada um correspondendo, em linguagem, uma
proposição atómica. Uma proposição é uma figura ou representação de um facto, porque entre
proposição e facto existe um isomorfismo: a mesma estrutura e o mesmo tipo de relação, o que
garante que a análise da proposição equivale à análise dos factos.

Neopositivismo
Um dos nomes, entre outros – empirismo lógico, positivismo lógico, neoempirismo – por
que ficou conhecida a corrente filosófica desenvolvida pelo “Círculo de Viena”, que introduziu
profunda alteração no empirismo e positivismo clássicos.
O princípio fundamental desta corrente filosófica – princípio do empirismo – é o de que todo
o conhecimento não analítico se baseia na experiência. Assim, pode dizer-se se uma proposição é
verdadeira ou falsa se é analítica ou contraditória, ou se, pelo menos em princípio, pode ser
confirmada pela experiência. Daqui resulta que muitas proposições da metafísica tradicional e
certas teorias que foram formuladas na ciência empírica carecem de significado cognoscitivo por
ser impossível verificá-las com qualquer prova conceptível. São pois classificadas de
pseudohipótesis, que nada afirmam.

Verificação
Só há dois grupos de proposições que tenham significado cognoscitivo: analíticas e
sintéticas.
A verdade ou falsidade de uma proposição analítica estabelece-se a partir da sua forma
lógica: ou é necessariamente verdadeira, ou necessariamente falsa.
As proposições sintéticas requerem algum tipo de verificação à margem dos procedimentos
lógicos.
Todas as proposições de matemática e lógica são analíticas. Não se referem a factos do
mundo real, e a sua validade estabelece-se a priori, sem recurso, pois, à experiência.
Todas as demais são sintéticas. Estas só têm significado cognoscitivo se puderem ser
verificadas por meio da experiência, ou seja, não a priori, mas sim a posteriori. Só então podem ter
validade para a ciência.
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Exercício 6
Que propõe K. Popper face ao verificacionismo?

K. Popper está nos antípodas do Círculo deViena (verificacionistas). Ao contrário destes,


entende que o cientista deve formular hipóteses não para verificar as teorias, mas sim contrapô-las
com observações destinadas a refutá-las, ou seja, o critério será não é o da verificação mas antes o
da falsabilidade. É que mil verificações não chegam para verificar uma teoria, enquanto uma só é
suficiente para a rejeitar. Assim, só é aceitável um sistema se for susceptível de ser contrastado pela
experiência.

Exercício 7
Explique a teoria crítica da escola de Frankfort.

A “Teoria crítica” da escola d Frankfort é uma nova concepção do que deve ser a “teoria”,
contrapondo-se explicitamente ao que chamaram “teoria tradicional”. Esta caracteriza-se como uma
pura contemplação, separada portanto de qualquer tipo de praxis, de carácter desinteressado que
opera por derivação a partir de princípios gerais e últimos e que pressupõe a identidade e imediatez
sujeito-objecto, e a adequação conceito-coisa.
Desenvolvida por filósofos de origem judia, marcados pelos horrores da guerra e
perseguição nazi, em que o indivíduo é esmagado pelo totalitarismo, os frankfortianos criticam as
principais formas da teoria clássica, em particular a teoria da identidade, de Hegel – identificação
sujeito-objecto, racional-real, conceito-realidade – como rejeitam as pretensões do positivismo de
identificar o conhecimento com a ciência, ou seja, de reduzir qualquer forma de conhecimento a
conhecimento tão só de afctos, abstendo-se de valoração dos mesmos.
Em seu entender, tanto a teoria da identidade de Hegel, como o positivismo, conduzem à
mesma conclusão: aceitaçãoda realidade, e não à sua crítica. Daí que a teoria crítica proponha outro
modelo de teoria que tem como principais características:
- a negatividade, em oposição à teoria da identidade de Hegel: o real não é totalmente
racional, pelo que, sem deixar de ser racional, reconhece a presença da irracionalidade na história;
- mediação, contra a pretendida imediação sujeito-objecto da teoria clássica: todo o
conhecimento está terminado por mediações. A actividade teórica não é independente dos processos
sociais, históricos e económicos em que apareceu, antes sendo estes que determinam o objecto e
finalidade da investigação.
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- praxis libertadora, ou seja, a objectividade histórica implica juízos de valor, está ao serviço
da emancipação do homem.

Teoria da acção comunicativa


Jürgen Habermas, que não sofreu as duras experiências dos frankfortianos, desenvolveu uma
teoria crítica mais construtiva e menos pessimista e negativa a que chamou “Teoria da acção
comunicativa”, cujo tema central é a racionalidade, entendida como “a forma em que os sujeitos
capazes de linguagem e de acção fazem uso do conhecimento”.
Com esta sua teoria, Habermas propõe-se fazer ver que existe também uma racionalidade
dos fins e que a ciência social deve ter também carácter normativo, ou seja, ocupar-se da resolução
de problemas práticos e não unicamente de problemas técnicos.
Ao modelo de racionalidade instrumental que conduziu a uma sociedade inumana, injusta e
opressora, Habermas propõe um novo modelo de racionalidade, a racionalidade comunicativa, e
um novo modelo de acção, a acção comunicativa, cabendo à filosofia o papel de consciência crítica
da Humanidade.

Análise de textos
Não há outro universo que este universo humano, o universo da subjectividade...
....
O existencialismo é um humanismo. Sartre
Questões
1) Leia detidamente o texto
2) Indique as chaves fundamentais para a correcta compreensão do texto
O homem é o centro e a chave da explicação do universo. Nada há acima e para além do
homem.
3) A partir do texto faça uma síntese do existencialismo de Sartre
Na primeira fase do seu Existencialismo, Sartre é um pessimista: a Náusea, O Ser e o Nada,
a paixão inútil a que ele promoveu o homem.
Com “O Existencialismo é um humanismo” Sartre evoluiu para uma posição menos
pessimista: o ser humano é liberdade, faz-se a si próprio por meio das suas escolhas livres. A
liberdade precede a essência do ser humano e torna-a possível; a sua essência depende da sua
liberdade. Não há diferença entre o “ser” do ser humano e o seu “ser livre”. O ser humano é o único
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ser que existe, as coisas apenas “são”, é o ser humano que as faz existir na medida em que as faz
presentes na sua consciência. Se o homem renunciar à sua liberdade, transforma-se numa coisa
mais, como as outras.
4) Faça uma valoração pessoal
Sartre diz-se ateu e toda a sua filosofia é uma tentativa para explicar o homem sem Deus. A
única saída que encontrou foi colocar o homem no lugar de Deus. O seu esforço “para extrair todas
as consequência de uma posição ateia coerente”, acabou por saldar-se no reconhecimento da
existência de Deus, mais não conseguindo que mudar-lhe o nome: onde está “Deus”, leia-se
“homem”.
E isto mais não é também que o (re)cair na velha (tão velha quanto o homem) tentação que o
homem sente de não aceitar o seu estatuto de criatura, e ambicionar o estatuto de Deus, que o
hagiógrafo plasmou na tentação da mulher pela serpente: sereis como deuses (Gn 3, 5).
(Haveremos no entanto de reconhecer que esta seria a tentação mais legítima que o homem
pode ter, qual seja, a de ser como o criador, já que “Deus disse: façamos o homem à nossa imagem,
como nossa semelhança” – Gn 1, 26 – não fora a proibição de comer do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal, sob pena de morrer – Gn 2, 17).
É esta tentação que em Sartre se torna uma obsessão a ponto de, vendo em Deus um
concorrente do homem, colocar então o homem no princípio e fim de tudo: no hay outro universo
que este universo...no hay outro legislador que él mismo.

Custódio Matos Costa


aluno n.º 21
28

Sabugosa, 5 de Maio de 2003

Ex.mo Sr.
Dr. António de Oliveira Antunes:

Com o pedido de desculpa pelo atraso, junto envio a minha PAD.


Como não bastassem os meus afazeres profissionais e a extensão da PAD, ainda me faltava
uma gripe danada que me pôs de molho com febre por mais de uma semana.
Procurei responder às questões de acordo com o espaço que nas páginas amarelas vem
destinado à resposta manuscrita, e com isso creio não ter transgredido os regulamentos da PAD. Fi-
lo, por dois motivos: um, por ser mais prático; outro, por respeito para com o Professor-Tutor, que
tem mais que fazer que decifrar a minha quase indecifrável caligrafia.

Com os respeitosos cumprimentos do


_____________________________

Custódio Matos Costa


aluno n.º 21
29

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