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AS VOZES DO SILENCIADO
ESTUDOS NAS FRONTEIRAS DA ANTROPOLOGIA,
FILOSOFIA E PSICOLOGIA
Comitê Editorial
Geraldo José de Paiva – USP
Monique Augras – PUC-RIO
Tânia Mara Campos de Almeida – UCB
Brasília/DF
2007
Missão
A Universidade Católica de Brasília tem como missão atuar solidária e efetivamente para o
desenvolvimento integral da pessoa humana e da sociedade, por meio da geração e comunhão
do saber, comprometida com a qualidade e os valores éticos e cristãos, na busca da verdade.
Reitor
José Romualdo Degasperi
Pró-Reitor de Graduação
José Leão da Cunha
Pró-Reitor de Extensão
Luiz Síveres
Editora Universa
Editora-chefe
Marta Helena de Freitas
Coordenadora
Angela Clara Dutra Santos
Copyright © 2007 by Marta Helena de Freitas, Ondina Pena Pereira (Orgs.)
Coordenadora Editorial e Revisora Direitos desta edição reservados à
EDITORA UNIVERSA - UCB
Margarida Drumond de Assis Q.S. 7 Lote 1 – Águas Claras – Taguatinga - DF – 71966-700
Email: universa@ucb.br – URL: www.ucb.br
Conselho Editorial Tel.: +55-61-3356-9157 – Fax: +55-61-3356-3010
Armando José China Bezerra
Betânia Ferraz Quirino V977 As vozes do silenciado : estudos nas fronteiras da Antropologia,
Filosofia, e Psicologia / Marta Helena de Freitas, Ondina Pena
Lúcia Henriques Sallorenzo Pereira (organizadoras) – Brasília: Universa, 2007.
Mariza Vieira da Silva
Roberval José Marinho 228 p. ; 21 cm
CDU: 1
PREFÁCIO...............................................................................................................7
Norberto Abreu e Silva Neto
INTRODUÇÃO. ..........................................................................................11
Marta Helena de Freitas e Ondina Pena Pereira
SOBRE OS AUTORES..........................................................................................225
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Anita Leandro
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O documentarista Eduardo Coutinho conta que sempre se perguntou se a TV
Globo faria um minuto de silêncio quando o patrão Roberto Marinho morresse. Ela
não o fez.
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por cima, sendo paga pelo seu trabalho, situação bem rara em matéria
de entrevista. No início do filme, Fátima conta a Coutinho que seu
filho mais velho foi assassinado por traficantes e que o segundo
está desaparecido. A tragédia da vida de Fátima, que rapidamente
a incluiria nas tristes estatísticas do tráfico de drogas no Brasil, é
momentaneamente substituída por uma seqüência puramente musical
em que o personagem sonha ser feliz.
O essencial, diz Coutinho, não é a vida que o personagem
leva, mas como ele conta sua vida. Mais do que uma história da
vida privada, o que interessa ao cineasta é uma “estética da vida
privada” (COUTINHO, 2000). Há, nesse desinteresse de Coutinho
pelos temas, algo bem próximo de Brecht, que não parou de
denunciar a “inumanidade dos temas em si”. Os temas são, segundo
o dramaturgo, “intrinsecamente ingênuos”, “meio sem qualidades,
vazios e auto-suficientes”. E só o “gestus social”, como Brecht chamou
a atitude política de uma teatralização direta do corpo, é capaz de
agir sobre o tema abordado e introduzir na arte o elemento humano
(BRECHT, 1972).
Assim, a forma singular de contar suas histórias é o único
e verdadeiro ponto comum entre os diferentes personagens que
compartilham um mesmo filme de Coutinho. Por meio de entrevistas
com descendentes de escravos, O fio da memória mostra a herança da
cultura africana no Brasil. Mas cada personagem é abordado em sua
singularidade, e não como um tipo social. Terci, neta de escravos, tem
orgulho de sua origem africana e, quando fala de sua vida, o faz com
expressões do olhar e entonações da voz que introduzem o mistério
na narração. Sua história lhe pertence e ela não pretende revelá-la
totalmente. Ela nos faz compreender que não disse tudo e que a
melhor parte de suas memórias ela guarda em segredo. O espectador
deve se contentar com o que o personagem quer mostrar, no caso de
Terci, uma música religiosa, que ela canta maravilhosamente bem, no
quintal de sua casa na periferia do Rio.
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com efeito, uma atitude solidária neste trabalho de escuta que percorre
toda a obra de Coutinho. Em Edifício Master (COUTINHO, 2002), ele
chega a filmar durante quatro horas uma jovem esquizofrênica, que
insiste em dar as costas para o entrevistador. Ao final, ele consegue
estabelecer com o personagem uma relação de cumplicidade que
lhe permitirá, finalmente, encarar o cineasta de frente. Tal como ele
conduz as entrevistas, Coutinho permite que os próprios personagens
decidam se vão contar alguma coisa, como vão contar e quando.
O compartilhamento do espaço e do tempo do entrevistado,
o risco assumido de captar o vazio da fala ordinária, tudo isso expõe
o cineasta e fragiliza, de certa forma, sua própria saúde. Tal como
o escritor deleuziano, o documentarista que mergulha nos silêncios
da fala vê e ouve coisas fortes demais, irrespiráveis. Ele retorna à
superfície “com os olhos vermelhos e os tímpanos perfurados”. Mas
é graças a essa debilitação de si mesmo, provocada pelo mergulho no
vazio do outro, que ele se torna algo mais que um mero cineasta ou
entrevistador, colocando-se em condições de criar algo novo, a partir
do silêncio.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Introdução
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Histórico
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Titãs.
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fé, que eu tinha que estar lá, que eu era de lá, num
sei o quê. Tipo uma crisma. E eu me envolvi tanto
que aí você acaba tendo contato com o underground.
E fui conduzida a uma outra igreja através de um
namorado meu, chamada Igreja Local, Igreja em
Brasília. (...) Olha só a proposta: é uma igreja que
não tem barreiras com nenhuma outra pessoa que
crê em Nosso Senhor Jesus Cristo. Eu já tinha uma
rotina de leitura bíblica, de orações, de preces e eu
era boa nisso. Acho um lugar que considera todo
mundo “irmão”...! Crê em Deus, tem dentro de si
um espírito, ah, galera, não tive nem dúvida: me
fui pra lá.
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Vivências na pesquisa
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Expressão da informática que designa uma condição inicial, básica, automática.
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Síntese
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Discussão
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dos quais, por amor, se acreditava errada. Depois de tentar por todos
os meios conquistar uma proximidade com os membros da Igreja,
terminou por não suportar mais a pressão. Rompeu com a instituição
religiosa, e acreditou estar rompendo com a religião. Rompeu com “o
Deus da infância, das regras e normas” e assumiu a pecha, acreditando
“passar para o lado do demônio”. Odiava a postura da intolerância e
da vigilância, e acreditou odiar Deus.
Ao ver seus valores religiosos tradicionais desmoronarem, Ana
confundiu religião vivencial e instituição religiosa/dogma religioso
(JUNG, 1939; MASLOW, 1964; MOMEM, 1999; STROMMEN, 1974,
CITADO EM ROSEGRANT, 1976). Entrou em sofrimento, ansiedade
e conflito consigo mesma, vivendo anos em angústia, agressividade e
raiva. No entanto, o rompimento drástico, possibilitado novamente
pela sua natural abertura à experiência e sua capacidade de culminância
(MASLOW, 1964), levou-a ao contato com a natureza, com a arte e
com os relacionamentos humanos.
Na verdade, para David Elkins (2000, p. 11-15), muitos
milhões de pessoas no mundo atual estão insatisfeitas com a religião
instituída em qualquer de suas formas. Este autor vê a instituição
religiosa como apenas um dos caminhos que leva o homem à
plenitude e à satisfação espiritual, e organiza as várias dimensões
da experiência humana como caminhos tão válidos e satisfatórios
para alcançar essa espiritualidade quanto a tradição religiosa. Para
essas pessoas insatisfeitas, esses caminhos são mais eficazes do que a
participação na comunidade e a crença no dogma religioso.
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Essa característica da natureza reforça as atuais preocupações ecológicas: a proteção
do maior disparador da experiência transcendente.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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que revela seu esforço para firmar-se como sujeito de dois mundos
antagônicos, o do Quarto de despejo e o do mundo da alvenaria.
Entre as diversas reflexões existentes sobre o discurso da
memória, a que interessa aqui é a que trata o texto autobiográfico
como uma manifestação do eu, independentemente das questões
dêiticas que o uso desse pronome instaura. Refletimos, sobretudo,
sobre o fato de que a representação do “eu” ocorre pela manifestação
de uma voz que, a despeito de seus desdobramentos, é suporte da
condição de existência de um sujeito que, ao escrever sobre si, tem a
ilusão de apresentar ao leitor um retrato inteiro.
Nos dois diários de Carolina de Jesus publicados em vida da
autora, essa ilusão torna-se transparente, à medida que o jornalista
Audálio Dantas, responsável pela preparação dos originais, explicita,
nos respectivos prefácios, parte de seu trabalho de editoração, que
vai apresentar-se nas edições publicadas sob as formas de reticências
e de reticências entre parênteses. Há, portanto, nesses dois diários,
a presença de um eu, ilusório, parcial, incompleto, que ouvimos,
ilusoriamente, como se fosse a voz de Carolina de Jesus – que é, afinal,
o que ocorre quando se lê qualquer texto de cunho autobiográfico.
Percebe-se uma ausência de sintonia, no entanto, quando ouvimos
a voz de Carolina, por meio dos manuscritos dos diários, como será
explicitado adiante.
No prefácio da 1ª edição de Quarto de despejo, Audálio Dantas
se refere ao livro como “grito de protesto”, garantindo que este “grito
terminou ferindo ouvidos”. Já em Casa de alvenaria, no prefácio
intitulado “História de uma ascensão social”, o jornalista reafirma o
mesmo vigor da voz de Carolina em Quarto de despejo: “A verdade
que você gritou é muito forte, mais forte do que você imagina.”.
No entanto, a invocação da força provocativa do primeiro diário de
Carolina compõe o argumento para dissuadi-la de querer publicar
“aqueles ‘poemas’, aqueles ‘contos’ e aqueles ‘romances’”, gêneros
textuais que a escritora demonstra preferir.
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Os manuscritos de Carolina Maria de Jesus encontram-se atualmente disponíveis
em microfilmes na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O cotejo de que nos
valemos neste texto refere-se à comparação de Casa de alvenaria com apenas um
dos cadernos manuscritos. Também pode-se considerar como manuscrito, por ser
publicação intregral desses, o livro Meu estranho diário, de 1996, organizado por
José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert Levine.
As citações de Casa de alvenaria utilizadas neste texto foram retiradas da edição de
1961 e serão indicadas pelas iniciais CA, seguidas do respectivo número da página.
Cf. Meu estranho diário, p.152.
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Em todas as citações do manuscrito, a grafia está mantida como se encontra no
original.
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Cf. LEVINE, Robert M. Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus, p. 158.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Hilan Bensusan
Ondina Pena Pereira
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Consultar, também, Thomas Laqueur, Making Sex: Body and Gender from the Greeks
to Freud. Damares de Castro (2005), in: Arqueologia do Feminino em Freud (Tese de
Doutorado – UnB) investiga de que maneira a psicanálise atualiza o modelo postu-
lado por Aristóteles no qual a mulher e o corpo feminino são pensados a partir da
inversão do modelo masculino. Aristóteles considera que a mulher é um homem
imperfeito. Castro mostra como Freud ainda é tributário desta idéia.
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Ver Collins, et al. 2000.
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dos homens parece ser crucial para entendermos que coisa pode ser
a nossa categorização de gênero – inclusive o que concebemos como
sendo desvios dos papéis de gênero. Aprendemos a ver os homens
como homens, as mulheres como mulheres. Eis o “esparadrapo na
boca” que a noção de gênero promove: o silêncio, mesmo nas nossas
capacidades de enxergar para além das expectativas de gênero.
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Outras, como Mary Daly e francesas como Cixous, não têm problemas em falar
do que é, por natureza, feminino. Há também um discurso segundo o qual as mu-
lheres são, em essência, superiores - o locus clássico disto é o Scum Manifesto, de
Valerie Solanas. Consultar também Ashley (19XX).
Também Baudrillard (1979) mostra que a inversão dos termos é inútil, pois deixa
intacta a estrutura; deixa intacta a abstração fálica, que é justamente o que deve
ser questionado: a abstração da economia política do sexo, fundada sobre um dos
termos como equivalente geral.
Pense no nacionalismo negro de Malcolm X (cf. DAVIS 1993).
Veja Angela Davis (1983). Davis analisa como os temas do controle da natalidade
e da esterilização forçada estão associados na cabeça das mulheres negras. Esta
conexão não é evidente para os feminismos brancos. Ela conta o caso de Margaret
Sanger que começou uma cruzada pelo controle da natalidade e terminou defen-
dendo a esterilização guiada pela eugenia (1983: 212-214).
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Veja Ângela Davis (1983a) e sua crítica a estudos feministas sobre o estupro como
o de Susan Brownmiller (1983a:178-179).
As mulheres negras não se identificavam com nenhum capítulo da “Mística
Feminina”, de Friedan (1963).
Verificar a maneira como a solidariedade feminina emerge no seio da questão racial
no seu conto Advancing Luna – and Ida B. Wells (1985). Veja também Bensusan
(2005).
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Veja Faludi (1991), traduzido em 2001 para o português.
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Uma das formas de silenciamento centrais ao patriarcado é a distribuição de
vergonha. Consultar Bensusan (2004: 142-150) para algumas observações sobre
este processo.
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Consultar, por exemplo, Vaugham (1997).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Introdução
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Alunos conhecidos como aqueles que sistematicamente optam por sentar-se em
carteiras posicionadas na parte de trás da sala de aula.
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O significado do silêncio
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Duas versões preliminares deste artigo foram apresentadas, respectivamente,
como a palestra Experiência Religiosa e Psicopatologia. In: Experiências religiosas:
normalidade? Patologia?, no I Congresso UniCeub de Ciências da Saúde. Brasília:
UniCeub. Out. 2002 e como Dilemas da classificação na prática do psicólogo:
psicodiagnóstico e cultura. Em: mesa-redonda Terapia comunitária compreensão e ação
comunitária no II Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária. Brasília: MISMEC.
Abr./maio, 2004.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, produzido pela Associação
Norte-americana de Psiquiatria. Juntamente com a Classificação de Transtornos
Mentais e de Comportamento da CID-10, manual equivalente elaborado pela
Organização Mundial de Saúde (WHO), constituem os principais tratados de
referência para o diagnóstico de doenças mentais utilizados no Brasil.
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Situando o debate
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Hall (2003) demonstra que os termos interdependentes multicultural e multicul-
turalismo possuem significados heterogêneos, mutáveis e problemáticos, variando
em função de posicionamentos teóricos e políticos. Sendo assim, devem ser utiliza-
dos, “sob rasura”, seguindo a proposta do pensamento de Derrida. Contudo, ainda
que contestados, são os conceitos de que dispomos para as questões suscitadas
pela coexistência de comunidades culturais distintas no interior de uma mesma
sociedade.
Temática com uma série de implicações para a teoria e a pesquisa antropológicas,
especialmente no campo da antropologia psicológica, e que encontrou sua primei-
ra formulação sistemática, no artigo clássico de Mauss sobre a noção de pessoa
(republicado em 1968).
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Segundo depoimentos recorrentes dos próprios profissionais de saúde, o trabalho
multidisciplinar ainda não é tão freqüente na prática do atendimento de saúde
mental em nosso país.
Esta característica pode ter implicações dramáticas no atendimento de saúde a
comunidades culturalmente diferenciadas, tanto no que diz respeito à relação entre
profissionais de saúde e clientela das classes populares quanto a minorias religiosas
ou étnicas, como é o caso das populações indígenas.
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O CID-10 também determina a presença de pelo menos um dos sintomas prin-
cipais (de a até d) e pelo menos dois dos sintomas secundários (de e até h) pela
duração de um mês, no mínimo.
Exceto se tiver terminado em função da administração de medicação anti-psicótica.
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Sobre a questão da eugenia e das teorias da “degeneração” na psiquiatria brasileira,
ver também Russo (1998).
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Uma estatística produzida em 1932 pela Assistência Geral do Estado de Pernambu-
co (citada por MASIERO, 2002), indicava a maior quantidade de internações entre
negros e mestiços. Contudo, enquanto os autores desta estatística consideravam
este dado como evidência de uma maior suscetibilidade congênita à doença men-
tal, compartilhando uma idéia difundida entre outros profissionais da saúde e cien-
tistas sociais da época, é possível lê-la a contrapelo por uma ótica foucauldiana.
Deste ponto de vista, a estatística evidencia muito mais o teor racista e etnocêntrico
dos critérios psicopatológicos e práticas da medicina mental da época.
11
Masiero (2002) também menciona, como exemplo, a atuação da Secretaria de Se-
gurança Pública de Pernambuco, em parceria com a Assistência a psicopatas, frente
aos pais-de-santo de Recife, que deveriam passar por uma avaliação psicológica,
tendo suas atividades fiscalizadas, para que seus terreiros funcionassem legalmen-
te. Para demonstrar uma relativa continuidade do problema, menciono também o
artigo 284 do código penal de 1940, ainda em vigor, que manteve basicamente o
mesmo argumento do primeiro código penal republicano, tipificando como crime
a prática de “curandeirismo”: “I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitu-
almente, qualquer substância; II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos” (...). Essa definição serviu para criminalizar a prática das
terapêuticas religiosas populares.
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Seguindo a análise de Masiero (2002), os movimentos sociais, sobretudo se estru-
turados a partir de um idioma religioso, como no caso de Canudos, foram inter-
pretados como uma forma epidêmica de doença mental. Isso remete à discussão
de Jackson e Fulford (in FREITAS; GHESTI, orgs, 2003) quanto ao reducionismo
implicado em tratar como pacientes psiquiátricos, tanto protagonistas de experiên-
cias religiosas quanto dissidentes políticos.
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Minha tradução. No original: “...the suspension of inquiry onto the divine or ob-
jective truth of particular customs, beliefs, or worldviews in order to explore them
as modalities or moments of experience, to trace out their implications and uses”.
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Ainda que por vezes fazendo (re)leituras originais e idiossincráticas dos temas tra-
dicionais (ver o argumento de CARVALHO, 2001)
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Ao contrário da perspectiva clássica da cultura como consenso, um desafio impor-
tante para uma revisão das teorias antropológicas da cultura tem sido o problema
da dissidência, do conflito e da multiplicidade de regras e interpretações divergen-
tes no interior de um mesmo sistema cultural, sem falar na questão, psicológica por
excelência, da elaboração individual dos códigos culturais.
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Ver a crítica de Hall (2003) ao autoritarismo comunitarista em seu artigo sobre
multiculturalismo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Como os casos de São Francisco de Assis no catolicismo medieval e do de Santa
Teresa e São João da Cruz, no catolicismo da Contra-Reforma.
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Como Rumi, místico persa fundador da ordem dos dervixes girantes.
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Sri Ramakrishna é um excelente exemplo. Também a mística tântrica e bhakta
pode ser bastante elucidativa.
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Ver, por exemplo, Zhuangzi.
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Ver por exemplo, as referências aos Mahasiddhas na história do budismo tibetano,
ou as biografias de patriarcas zen como Hui Neng ou Lin-chi, entre outros.
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Lino Gambacorta
La represión
*
Texto originalmente escrito em italiano e traduzido para o espanhol por Vicente
��������
Hector Santamaría, doutorando em História da Medicina pela l’EHESS (Ecole des
Hautes Etudes en Sciences Sociales) de Paris, sob a direção de Jean-Pierre PETER.
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Represión es una traducción del termino psicoanalítico « rimozione » (original-
mente este texto fuí escrito en italiano); en alemán, « verdrängung » (Nota del
traductor).
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El sufrimiento vivido
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Sem-papéis [Nota del traductór].
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4500 $�� (Nota
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del traductor).
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Chabolas (Nota del traductor)
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La calabra tiene aquí un sentido político (Nota del traductor).
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Introdução
*
Este trabalho é derivado de pesquisa realizada pela autora, junto a estudantes de psicologia
da Universidade Católica de Brasília, ao longo de seu doutorado, com tese defendida
em junho de 2002, no Instituto de Psicologia da UnB (FREITAS, 2002a), sob orientação
do Prof. Dr. Norberto Abreu e Silva Neto. Partes das reflexões aqui desenvolvidas foram
anteriormente apresentadas nos seguintes eventos: IV Seminário de Psicologia e Senso
Religioso, realizado em São Paulo, em setembro de 2002 (FREITAS, 2002b); VI Conferência
Internacional sobre Filosofia, Psiquiatria e Psicologia, realizada em Brasília, em julho de 2003
(FREITAS, 2003); 26º Internationales Wittgenstein Symposium, realizada em Kirchberg –
Áustria, no ano de 2003 (FREITAS, 2003); X Convegno Internazionale “Religione: Cultura,
Mente e Cervello”, realizado em Verona – Itália, em setembro de 2004 (FREITAS, 2004);
e no VI Seminário de Psicologia e Senso Religioso, realizado em São Paulo em agosto
de 2007 (ANPEPP, 2007).
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Considerações finais
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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seu nome. E mais: ao definir-se como sujeito, como ser singular, Stela
denuncia o processo de padronização das pessoas. Denuncia também
a tentativa do sistema psiquiátrico hospitalar de tirar do sujeito o que
lhe é mais caro, quer seja, sua condição de humano, sua identidade,
seu nome.
Stela não tinha endereço, não tinha parente, mas tinha sua voz.
Uma voz que demarcava sua diferença, que gritava sua insubordinação
ao aniquilamento de seu ser e que ganhou status social, ganhou poder
de denúncia, a partir do momento em que foi constituída em livro.
Sua fala passou a representar uma classe, a de internos de hospital
psiquiátrico.
Stela fala de sua origem com uma metáfora muito bonita: o
espaço vazio, gases, ar:
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Eu sobrevivi do nada
Eu não existia
Não tinha uma existência
Não tinha uma matéria
Comecei a existir com quinhentos milhões e
quinhentos mil anos
Logo de uma vez, já velha
Eu não nasci criança, nasci já velha
Depois é que eu virei criança
E agora continuei velha
Me transformei novamente numa velha
Voltei ao que eu era, uma velha. (PATROCÍNIO,
2001, p. 80).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Anita Leandro
Foi professora adjunta de cinema e vídeo, pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Atualmente, é Maître de conférences pela Université
de Bordeaux 3 – França. Membro
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da AFECCAV-Association Française
des Enseignants et des Chercheurs en Cinéma et Audiovisuel. Doutora
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em
cinema pela Université de Paris 3 – Sorbonne Nouvelle. Realizou e realiza
documentários, vídeo-instalações e é crítica de cinema.
Hilan Bensusan
Graduou-se em Filosofia, pela Universidade de Brasília. Fez mestrado
em Filosofia na Universidade de São Paulo e o doutorado em Filosofia
e Cognição, na Universidade de Sussex – Inglaterra. Trabalhou (pós-
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Lino Gambacorta
Diplomado em Filosofia, com tese sobre a psicologia fenomenológica de
Merleau-Ponty, pela Universidade de Florença. Especialista em Filosofia,
com tese sobre o relacionismo teórico de Enzo Paci, pela Universidade
de Florença. D.E.A. – diploma de estudos avançados em História e
Civilização, na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris, com
trabalho individual de pesquisa sobre Memória Vivida, intitulado “O
impossível esquecimento”.
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