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MIGRAÇÃO E SAÚDE

Marta Helena de Freitas – UCB

As relações entre migração e saúde são múltiplas e complexas. Exigem que se tome o
conceito de saúde numa perspectiva suficientemente ampla, de modo a não reduzir o assunto ao
âmbito exclusivamente médico. Mais do que nunca, na atualidade, com os fluxos migratórios
cada vez mais acentuados, rápidos e diversificados, o tema tem exigido estudos e reflexões que
considerem variáveis de toda ordem, sejam individuais, coletivas e ambientais. Dentre tais
variáveis, pode-se enumerar as de ordem fisiológica, psicológica, relacional, linguística,
geográfica, sanitária, jurídica, social, política, econômica, religiosa e cultural, as quais, na
maioria das vezes, formam um complexo emaranhado que afeta, diretamente e/ou indiretamente,
a saúde física e mental daqueles que se deslocam de uma região para outra como também
daqueles que os recebem em seus respectivos países. Isto é verdade tanto para os casos de
migração legal e voluntária, como também naqueles de ordem involuntária ou ilegal, sendo que,
nos dois últimos casos, a questão pode ser ainda mais séria, na medida em que os fatores de risco
se agravam. No caso da imigração involuntária, que muitas vezes se dá em situações de profunda
violência – como por exemplo no caso dos refugiados, o stress tende a ser maior em todos os
aspectos, afetando principalmente as condições psicológicas e gerando vulnerabilidades para
doenças psicossomáticas, depressões ou outras doenças mentais. Por outro lado, no caso da
imigração ilegal, há riscos de maior ansiedade, isolamento, marginalização, conflitos e,
sobretudo, ausência de acesso ao sistema de tratamento de saúde formal e especializado. De um
modo geral, os grupos mais vulneráveis e que merecem ainda maior atenção no contexto deste
binômio “migração e saúde” são as mulheres (em especial nas situações de gravidez e parto), as
crianças e os idosos. O assunto é desafiador e deve estar na pauta de preocupações tanto dos
países de onde as pessoas emigram quanto daqueles para onde as pessoas imigram, de modo que
se procure garantir que as rupturas criadas pela mudança, em vez de meramente adoecedoras, se
caracterizem, tanto quanto possível, em processos criativos, inclusivos e potencializadores. O
desafio se apresenta também aos diversos serviços de saúde de cada país, cujos profissionais
precisam ser cada vez mais bem preparados, de modo que sejam realmente capazes de
proporcionarem atendimento clínico e psicossocial segundo os princípios básicos da
universalidade. Isso exige, dentre outras coisas, uma verdadeira superação de quaisquer
tendências ao preconceito, estigma e discriminação, bem como também a incorporação de novos
saberes, para além daqueles de cunho meramente indexiais e protocolares.
Palavras chaves: Migração; Saúde; Saúde Mental; Acessibilidade.

REFERÊNCIAS RECOMENDADAS

FONSECA, Angélica Ferreira; CORBO, Anamaria D’Andrea. O território e o processo saúde-


doença. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2007. (Coleção Educação Profissional e
Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente comunitário de saúde.) (Disponível em
http://www.retsus.fiocruz.br/upload/documentos/territorio_e_o_processo_2_livro_1.pdf)

RAMOS, Natália. Saúde, migração e direitos humanos. Mudanças – Psicologia da Saúde, vol.
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PERIAGO, Mirta Roses; STEPKE, Fernando Lolas. A globalização e os dilemas da saúde


universal. Ethos Gubernamental: Revista do Centro para o Desenvolvimento do Pensamento
Ético, No IV, 20006-2007, pp. 103-110.

PUSSETI, Chiara; FERREIRA, Júlio F.; LECHNER, Elsa; SANTINHO, C. Migrantes e saúde
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(Disponível em http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Estudos_OI/OI_33.pdf)

SCLIAR, M. Histórico do conceito de saúde. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Vol. 17, no. 1,
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