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O CUIDADO COM A SAÚDE MENTAL DA COMUNIDADE

HOMOSSEXUAL MASCULINA: UMA REVISÃO DA LITERATURA.

Rodrigo Nascimento Fonseca 1 (FACESF)


rodrigogracie922@hotmail.com

Luiz Araújo Florentino Júnior 2 (FACESF)


luizflorentinojr@gmail.com

RESUMO

Fatores sociais e psicossociais têm chamado a atenção dos profissionais da saúde em relação a
comunidade LGBTQI+ em dias atuais. A ausência de acolhimento familiar e comunitário dificulta a
busca por ajuda profissional adequada a fim de sanar problemas relacionados à saúde mental. A
comunidade é o principal fator de adoecimento mental, pois ela impõe seus padrões e a
homossexualidade é vista como distúrbio cognitivo, e isso faz com que integrantes deste grupo
sintam-se retraídos em buscar um profissional de saúde por medo e vergonha das suas reações
diante da orientação sexual. O objetivo foi identificar a produção acadêmica sobre atendimento em
saúde mental à população homossexual masculina, bem como as dificuldades que este público tem
encontrado na busca pelo profissional desta área.
Palavras-chave: Saúde mental; Comunidade; LGBTQI+.

1 INTRODUÇÃO

A atenção sobre a saúde mental da comunidade de Lésbicas, Gays,


Bissexuais e Transgêneros, Travestis, Queer e Intersexo - LGBTQI+ é de
fundamental importância, pois possibilitará a essa parcela de indivíduos uma
visibilidade maior diante das suas dificuldades e problemas encontrados no
cotidiano. “A população LGBT e Trans devido a sua não adequação com o sexo
biológico ou identidade sexual não heteronormativa, tem seus direitos humanos
básicos agredidos, e muitas vezes se encontra em situação de vulnerabilidade”
(CARDOSO; FERRO, 2012, p. 2). Ainda, segundo Lobato et al. (2016), sabe-se que

1
Discente do curso de Psicologia na Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São
Francisco - FACESF.

2
Psicólogo Especialista em Terapia Analítico Comportamental (UNIJORGE) e Gestão em Saúde
(UNIVASF). Docente do curso de Psicologia na Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão
do São Francisco - FACESF.
a discriminação aumenta o sofrimento da comunidade LGBTQI+, tornando a
desenvolver transtornos mentais e a cometer atentados contra a própria vida.

Com base nos estudos de Cardoso e Ferro (2012), além de todas as


dificuldades encontradas pelo preconceito por parte da sociedade, essa comunidade
ainda enfrenta contratempos na busca de ajuda com profissionais da saúde. A
insegurança pela reação destes profissionais em relação a sua orientação sexual
ainda é um forte agravante para que indivíduos da população LGBTQI+ não
busquem o atendimento necessário para intervir nas suas principais queixas de
cunho físico e mental.

Como foi dito por Gomes (2006), isso se torna mais agravante quando
voltamos nossa atenção para a homossexualidade masculina. O homem sempre foi
visto como um símbolo de superioridade e referência para gerações futuras. A
chamada crise da masculinidade tem como principal objetivo eliminar todos os
medos e inseguranças quanto a sua sensibilidade. Ou seja, por ser do sexo
masculino o indivíduo é proibido de mostrar sentimentos mais sensíveis para o meio
em que está inserido por medo de sofrer represálias quanto ao seu modo de se
expressar.

De acordo com Bly (2004), logo após a Segunda Guerra Mundial, os homens
tinham naquele período uma visão mais clara do que deveria ser de
responsabilidade masculina. Porém, durante a década de 1960, surgira um novo tipo
de homem que sobreveio com um grande receio das perdas nítidas do que era
masculino, e o que era feminino apavorava. A homossexualidade trouxe esse pânico
no universo masculino, o medo de desejar e se relacionar com outro homem.

Para Machado e Bandeira (2012), saúde mental ou bem-estar psicológico é


um constructo baseado na teoria psicológica a respeito do funcionamento positivo ou
ótimo. Os pontos de convergência entre definições provenientes de teorias do
desenvolvimento humano, psicologia humanista-existencial e saúde mental
constituem suas dimensões: autoaceitação, relações positivas com outros,
autonomia, domínio sobre o ambiente, propósito de vida e crescimento pessoal.

Segundo Cardoso e Galera (2011), neste contexto, o paciente, sua família e


os profissionais do serviço comunitário passam a ser, cada vez mais, os principais
2
provedores de cuidados em saúde mental, exigindo articulação entre diversos
serviços de rede de saúde em diferentes níveis de atenção. Pode-se notar que os
autores revelaram a importância da família e dos ocupacionais da saúde como
sendo um dos principais provedores de vitalidade mental. O meio no qual o indivíduo
está inserido mais uma vez será um fator crucial para seu quadro clínico e, ainda, se
tem acesso à atenção básica de saúde dentro da sua comunidade.

Quando se é abordado o termo saúde, a população sempre dá mais ênfase


ao bem-estar físico, muitas vezes esquecendo da saúde mental. Trazendo para essa
perspectiva de saúde e bem estar do indivíduo, principalmente quando falamos de
saúde mental, a Organização Mundial da Saúde – OMS (1946, p.1) ressalta que “a
saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste
apenas na ausência de doença ou de enfermidade”. É importante frisar que bem-
estar mental está ligado ao bem-estar físico, com o indivíduo precisando de um
ambiente facilitador, harmonioso, com perfil social e econômicos favoráveis, como
citou Machado (2012), considerando as particularidades de cada contexto cultural.

Partindo para uma nova perspectiva em relação a comunidade LGBTQI+, vê-


se que essa questão de saúde é algo que parece ser distante entre os grupos gays
do sexo masculino, como citado por Silva (2012). A relação afetiva e sexual entre
homens é uma ameaça à perda da masculinidade. Ele ainda ressalta uma
estigmatização deste grupo. A população homossexual masculina acaba sendo mais
exposta a problemas de saúde físicas, práticas sociais desprotegidas, agressões
físicas, violência psíquica, sendo um dos principais agravantes de causas de baixa
autoestima, relacionadas ao preconceito internalizado advindo das imposições
sociais.

Ainda reforçando essa ideia, Nunan (2004) aponta quais fatores de


invulnerabilidade vem a contribuir para o adoecimento mental do indivíduo:

Esses fatores de invulnerabilidade contribuem para o desencadeamento de


episódios depressivos, sentimento de culpa, medo, desconfiança, confusão,
insegurança, ansiedade, vergonha, isolamento social dificuldades de
estabelecer e manter relacionamentos amorosos, disfunções sexuais,
hostilidade, abuso de álcool e drogas, distúrbios alimentares e
comportamento ou ideação suicida (p.7).

3
Segundo Lionço (2008, p.19) saúde deve ser um direito de todos, deve-se
despir de preconceitos e estereótipos criados pela sociedade. Essa comunidade e o
grupo específico necessitam da atenção básica assim como outras exigências ou
até mais, visto que são alvos de intolerância e preconceito todos os dias,
acarretando e contribuindo ainda mais para o seu adoecimento físico e mental.
Trazendo para o conceito de comunidade na qual envolve aspectos LGBTQI+,
vemos a dificuldade de interação e acesso dos integrantes deste grupo na busca
dos profissionais de saúde em seus logradouros, dificuldade na busca de
atendimentos a serviços básicos dentre outros.

Campos e Alves (2015) trazem a ideia de que a população homossexual por


muitas décadas foi totalmente marginalizada por ser considerada pela comunidade
como algo doentio, advindo de problemas psicológicos. A sociedade impôs os seus
padrões, e quem fosse contra eles padrões era considerado louco ou portador de
algum transtorno mental.

Fraser (2007) salienta as reivindicações pelo reconhecimento da diferença


através do caso a caso que acaba por levar em conta identidades específicas e
particularidade dos sujeitos, é necessário também um paradigma de justiça que
recupere padrões institucionalizados de reconhecimento e de valoração cultural, no
intuito de assegurar a real igualdade de oportunidade de estima social.

Neste sentido, Nagaime (2019) ressalta que a comunidade LGBTQI+ não


busca apenas seu espaço dentro da sociedade, mas também os seus direitos como
cidadãos, e isso não pode mudar apenas pela orientação sexual. Os seus direitos
não podem ser violados enquanto cidadãos, direitos esses que são fundamentais,
como saúde e educação.

Vivemos em uma sociedade que em grande parte é preconceituosa e não


aceita de forma alguma estes indivíduos, pois para uma parcela, essas pessoas não
agregam ou não têm valor algum. Portanto, cabe aos profissionais darem suporte e
se fazer presentes diante da demanda que é recebida, e ajudá-los no tratamento
psicológico ou de outra ordem de saúde mental em qualquer unidade de saúde,
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), NASF (Núcleo de Ampliado de Saúde da

4
Família e Atenção Básica – NASF AB), e hospitais públicos e privados, perpassando
os diversos níveis de atenção à saúde.

Trazendo à tona problemas enfrentados por indivíduos desse grupo, busca-se


entender e responder quais as dificuldades encontradas pelos membros da
comunidade LGBTQI+ na busca de um profissional de saúde, quais fatores tornam
essa busca mais difícil por parte desses indivíduos que compõem este grupo, já que
o acesso à saúde pública é um direito de todo cidadão. Dessa forma, procurou-se
identificar a produção acadêmica sobre atendimento em saúde mental à população
homossexual masculina, bem como as dificuldades que este público tem encontrado
na busca pelo profissional desta área.

A presente pesquisa se justifica com base no atual cenário político,


econômico e social onde os casos de homofobia se tornam mais frequentes e
ganham repercussão na mídia. Nesse sentido, a proposta é fazer uma reflexão
sobre os motivos que levam a prática da homofobia, ressaltar as consequências
desse ato nos homossexuais masculinos e os danos psíquicos, trazendo ainda a
dificuldade da busca pelo profissional da saúde, para que assim possa ser
desenvolvido algum mecanismo para combater o problema.

2 METODOLOGIA

A presente pesquisa de revisão de literatura buscou estudos publicados entre


os períodos de 2015 a 2020 em diferentes áreas que atuam de forma conjunta. Os
descritores utilizados para realização desta foram: comunidade, saúde mental, grupo
gay do sexo masculino, sendo excluídos os artigos que não correspondiam aos
descritores, tema ou aos anos citados.

Foram utilizadas como base de dados o SciELO, Pepsic e BVS-PSI, sendo


selecionados somente estudos na língua portuguesa, e descartados aqueles que
não atendiam a proposta de estudo. Após a coleta, os dados foram organizados em
Excel, contendo a numeração do artigo, autores, o ano no qual foi publicado, o título,
o periódico, os métodos utilizados e os principais resultados para a organização dos
dados e sua posterior apresentação nas discussões.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De início foram obtidos 357 resultados da plataforma SciELO, 18 artigos


encontrados no PePSIC, e por fim, 1 artigo no BVS-PSI. Após realizar uma seleção
de filtros, foram excluídos aqueles que não tinham relação com os descritores,
duplicados, aqueles que não estão conectados com a temática da pesquisa,
restando apenas 09 artigos que se faziam coerentes e similares às buscas nas
plataformas.

Partindo para os artigos que foram encontrados para o desenvolvimento e


elaboração final do trabalho, tem-se o estudo realizado por Francisco et al (2020). O
artigo tem como título “A ansiedade em minorias sexuais e de gênero: uma revisão
integrativa”, publicado no Jornal brasileiro de Psiquiatria. Os autores enfatizaram em
seus métodos que os profissionais de saúde devem estar abertos a acolher os
indivíduos que compõem este grupo com o propósito de sanar e intervir problemas
relacionados ao preconceito e corroborando na promoção de saúde. Os resultados
obtidos mostram que a não busca pelo profissional de saúde tinha correlação com
fatores internos, como por exemplo a vergonha, mas não pela sua orientação
sexual, e sim pela reação deste profissional sobre sua sexualidade, ainda que o
abandono familiar venha a ser um forte agravante para o adoecimento mental do
sujeito.

Gomes et al (2018) traz o artigo “O SUS fora do armário: concepções de


gestores municipais de saúde sobre a população LGBT”, publicado na revista Saúde
e Sociedade. Os autores dividiram os resultados e conclusões em tópicos para uma
melhor compreensão do leitor sobre o assunto, elucidando uma invisibilidade do
grupo LGBTQI+ quanto aos demais grupos postos a sociedade, como por exemplo,
idosos e crianças, que têm um tratamento e uma atenção maior quanto a esses
demais indivíduos. Concluindo-se que a ampliação de discussões para uma maior
atenção aos cuidados voltados a população LGBTQI+, na tentativa de ampliar o
olhar do profissional e de minimizar a carga preconceituosa.

Em outro artigo encontrado, os autores Vieira et al (2018), com trabalho


“Concepções de usuários de um CAPS sobre o tratamento e inclusão", apontaram
6
como principal objetivo analisar os serviços de saúde que eram ofertados a
comunidade no geral. Foi aplicada uma entrevista semiestruturada para homens e
mulheres, a fim de descobrir suas percepções sobre os serviços ofertados por
hospitais e CAPS II, que tinham uma concepção de que esses ambientes
proporcionavam dor e sofrimento, sendo a atribuição a adoecimento mental ligada a
fatores externos. Apesar das novas reformas psiquiátricas, os sentimentos de
exclusão e rejeição foram destacados pelos usuários.

Marcolino et al (2018) apresentam o trabalho “Comunidade de prática e


cuidado em saúde mental: uma revisão sistemática”, publicado na revista Trabalho,
Educação e Saúde. Trouxeram em seus métodos e resultados revisão sistemática
de literatura que fez uso de informações científicas com interesse em um tema. Os
resultados obtidos vistos foram a falta principalmente de recursos financeiros para a
busca destes profissionais de saúde nos serviços públicos ofertados para a
sociedade, buscando estratégias formativas e investigativas para educação
permanente em saúde mental.

Paveltchuk et al (2020) trazem as discussões para uma perspectiva de


ambiente, de que ele poderia ser um dos principais fatores de adoecimento mental.
Os métodos adotados tiveram como base a teoria do estresse de minoria, que
afirma este grupo está vulnerável por fatores externos encontrados nos ambientes
que vivem, que podem levar ao adoecimento mental.

As principais dificuldades na busca de indivíduos deste grupo a um


profissional de saúde foram justamente sobre a carga de preconceito que advém da
sociedade que estão inseridos. A homossexualidade já foi vista como
desvio/perversão sexual, retirada do DSM após uma longa luta dos movimentos
gays da época. Foi observado nos resultados que os autores buscaram praticar
intervenções para sanar os danos causados a integrantes dos grupos LGB, a fim de
minimizar os efeitos dos preconceitos sofridos por essas pessoas. O presente artigo
foi publicado na revista SPAGESP, sob o título “A teoria do estresse de minoria em
lésbicas, gays e bissexuais”.

Partilhando de conhecimentos Barbosa et al (2018) trazem em seus métodos


de pesquisas ideais e propósitos análogos relacionados ao tema, a fim de responder

7
questões de interesse em relação à comunidade LGBTQI+, agregando mais
conhecimento para que se possa trilhar novos caminhos para novas pesquisas. Os
resultados ressaltados diante da construção do artigo referem-se à busca para
criação de novas políticas públicas contra a violência e discriminação no Brasil, onde
se teve uma grande visibilidade entre 2006 e 2017.

Indo em ideia a criação e relevância da importância de clínicas ampliadas


para maior atendimento da crescente demanda o autor Amorim et al (2015), trazem
em seus métodos as estratégias adotadas, com uma perspectiva de promoção da
saúde mental baseada no acolhimento emergencial para pessoas em crise,
corroborando com a ideia e planejamento de clínicas ampliadas para atendimento
desta demanda específica. Os resultados colhidos concluíram que a implantação
destas e plantões psicológicos tiveram efeitos positivos e aumentaram a
resolutividade dos casos. Seu artigo foi publicado na revista Contextos Clínicos.

Por fim, o autor Vezossi et al (2019), com uma visão mais objetiva e
elucidativa sobre as crenças e atitudes dos profissionais de psicologia sobre a
homossexualidade, trazem em seus resultados como estes profissionais lidavam
com a demanda LGB. Os resultados obtidos devem-se a aplicação de intervenções
adequadas, por meio de apoio, aceitação e avaliação abrangente, mostrando que a
orientação do indivíduo não é algo patológico, que o mesmo tratamento dado a um
hetero deve ser fornecido a comunidade LGBTQI+ de forma igualitária.

Segundo o Ministério da Saúde Brasil, (2008, p. 570), a população gay está


entre as mais suscetíveis a transtornos mentais. O medo, a vergonha e a reação dos
demais indivíduos são um dos principais fatores de risco para o adoecimento mental
deste grupo específico. O primeiro grupo social do indivíduo é o seu aporte familiar.
Neste determinado conjunto ele aprende crenças, costumes e estilo de vida. A
comunidade na qual está inserido dará uma visão mais ampla do todo, nisso ele
pode aderir a novos costumes, no que faz pensar a respeito que suas tradições e
costumes são os que ele escolheu ou os que a ele foram induzidos ao passar das
gerações. A sociedade impõe o seu padrão de vida, como você deve se comportar,
costumes e maneiras, e sua orientação sexual.

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Silva (2015) aponta que o medo dos integrantes destes grupos só cresce
quando o assunto é a busca de um determinado profissional de saúde, qual a
reação deste e de sua equipe. Será que eles teriam a mesma ética para atender a
um homossexual da mesma forma que atendem a pessoas dos grupos
heteronormativos? A ausência de apoio familiar vem ocasionando insegurança e
angústia para os homossexuais, pois a imagem masculina passa a ser vista com
soberania pelos povos, e sua representatividade de poder advém de tempos
primordiais até os dias atuais.

Para Campanini (2010), o psicólogo é visto como uma alternativa para lidar
com as dificuldades enfrentadas pelos membros do movimento LGBT, podendo
ajudá-los a enxergar sua orientação de forma natural e aceitável, podendo contribuir
com uma postura mais concreta frente à sua aceitação ao meio no qual está
inserido.

Percebe-se, então, a necessidade de uma formação de qualidade para o


profissional, desde a sua trajetória acadêmica até o seu trabalho de cunho
profissional, e que eles saibam e não tratem a homossexualidade como um
transtorno psicológico e sim como uma orientação relativa de cada indivíduo,
devendo-se focar apenas no bem-estar do paciente, deixando para trás os
preconceitos diante da demanda que está sendo tratada.

Como foi dito por Miller (2002), os serviços de saúde estão voltados para a
comunidade em geral, independentemente de cor, raça, classe social, idade, sexo
ou orientação sexual. Entretanto, não parecem estar preparados para as demandas
dessa população específica. A comunidade LGBTQI+ necessita de um apoio maior,
devido a carga e traumas que são advindos de experiências negativas e corriqueiras
no seu cotidiano e meio social nos quais estão inseridos.

Um grau de empatia maior, o cuidado, o profissionalismo na hora de atender


a essa demanda específica são necessários, pois a cada novo caso, uma vivência
subjetiva do seu semelhante deve ser trabalhada desde o período de formação do
profissional até a sua atuação, e a relação com estas pessoas que fazem parte de
um grupo oposto dos padrões da sociedade. Apesar das suas orientações sexuais,

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têm seus direitos garantidos como cidadãos, a um lar, estudos e principalmente o
acesso a saúde.

4 CONCLUSÃO

Os artigos que foram usados para elaboração deste trabalho trouxeram


pontos positivos e negativos acerca do tema de pesquisa. Após a aplicação dos
filtros foram encontrados poucos resultados referentes ao tema. A grande maioria
dava mais ênfase ao tema LGBTQI+ e não ao foco principal que é o cuidado com a
saúde mental da comunidade homossexual masculina, o que gera uma certa
preocupação quanto a esses indivíduos.

É importante que se dê mais atenção a este público. Foram encontrados,


nessa pesquisa, poucos artigos referentes a este tema nas plataformas
selecionadas, dificultando assim a construção e elaboração de novos artigos que
podem trazer intervenções a fim de sanar essas adversidades encontradas por
essas pessoas. Uma das dificuldades é justamente sobre a complexidade de
encontrar estudos recentes para que possam atender as delimitações exigidas para
deslindar as exigências do artigo. Visando esses impasses, é fundamental elucidar e
incentivar os leitores e pesquisadores a desenvolverem novos estudos que possam
contribuir para possíveis pesquisas futuras.

Diante de todas as dificuldades encontradas por parte deste grupo, foi


observada uma grande carga de preconceito enraizada pela população sobre estes
indivíduos, a falta de aporte familiar a até mesmo profissional, podendo agravar
ainda mais o quadro clínico deste indivíduo. Uma das maiores dificuldades
encontradas é justamente a busca pelo profissional, não apenas pelo acesso e sim
pela sua reação ao saber da orientação sexual do indivíduo, pois neste meio
profissional existem aqueles que não enxergam o ser humano como um todo e sim
apenas o que ele traja externamente. Ainda ressaltando pontos importantes do
despreparo por parte desses profissionais, há entres eles aqueles que digam que a
orientação do indivíduo seja ela qual for, homossexual, bissexual ou transsexual é
caracterizada como um desvio de conduta, considerado até mesmo como transtorno
mental.
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O profissional de saúde tem que estar capacitado desde a sua formação
acadêmica até o âmbito de trabalho, sendo a empatia uma das formas e chaves
principais deste, como se já não bastasse a carga preconceituosa que o grupo
homossexual traz consigo há séculos, dentre outras dificuldades. Deve-se estar
atento e pronto para tratar e apoiar qualquer demanda vinda até ele, juntamente com
sua equipe multidisciplinar, se possível indo até o indivíduo, pois não são todos que
podem se locomover até unidades de atenção e saúde básica ou outros serviços.

Por fim, outra sugestão de novos estudos é de que os pesquisadores possam


dar mais ênfase aos homossexuais masculinos, focando no sofrimento psíquico,
Tendo em vista que existe uma maior abrangência de resultados no termo LGBTQI+,
um estudo mais centrado no homossexual masculino poderá trazer mais dados e
resultar em intervenções para minimizar problemas nas vidas destes sujeitos de
direitos, incluindo aí o próprio campo da saúde de forma geral e da saúde mental,
mais especificamente.

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