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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA - IPS

Disciplina: Projeto Integrado de Trabalho IV


Docente: Mauro Magalhães.
Discentes: Andréia Carla Lopes Sousa, Pedro Henrique de Oliveira Reis, Keila Medeiros
Santos e Leonardo Jardim Bahia.

EDIFÍCIO CONCEITUAL

1. Crenças básicas:
1.1 O que é o ser humano?

Ser humano é todo ser biopsicossocial e atravessado pela linguagem. Bio pois este
ser tem um corpo físico biológico, psico pois este ser tem uma subjetividade e processos
psicológicos, e social por buscar viver em grupo com semelhantes e outros seres sociais.
O aspecto biológico engloba os processos físico-químicos, neurais e metabólicos
estruturados num corpo.
A “vida social” é composta por múltiplas facetas, que são compostas por diferentes
dinâmicas, nos diferentes grupos. Alguns exemplos destas facetas são a econômica,
política, racial, de gênero e sexual. A faceta econômica é composta pelas dinâmicas do
sistema econômico vigente, o que definirá o acesso a recursos e ambientes; a faceta
política é composta pelas lutas de interesses, e assim como a faceta econômica, varia de
acordo com o sistema vigente; a faceta racial é composta pelas dinâmicas entre
diferentes “raças”, estabelecidas e diferenciadas por fenótipos; a faceta de gênero é
extremamente controversa, pois “os gêneros” são categorias cujas características variam
e mudam de acordo com o contexto e que os indivíduos podem ou não se identificar.
Estas categorias foram e são fortemente associadas com os sexos (genitais), que por sua
vez também é uma faceta; esta se monta através da diferenciação veemente que é feita
entre as genitálias e as dinâmicas pela busca por sexo e suas implicações. A faceta
racial, a de gênero e a sexual são estruturadas para estabelecer relações desiguais de
poder, criando interesses que irão refletir na política.
O ser humano é atravessado pela linguagem, ou seja, por um conjunto de
significantes que são construídos do individual para o coletivo e vice versa, por onde o
consciente e o inconsciente se engancham e se relacionam.
O aspecto psicológico (ou subjetividade, campo mental, “espírito”) comporta as
intenções conscientes e inconscientes, que podem ou não se materializar em
comportamento.
Ressaltamos que esta individualidade está em constante transformação, sob
influência do conjunto de fatores individuais internos e do contato com o outro, do
social.

1.2 O que causa o comportamento?

O comportamento é a interação do ser vivo com o meio (neste caso, o ser


biopsicossocial que é o humano). Essa interação se dá por causa da busca por atender as
demandas pela sobrevivência e os desejos socialmente construídos. Mas o
comportamento humano não pode ser pensado por uma via simplista de causa e efeito.
As causas são múltiplas, como ordens, desejos, emoções, necessidades… o
comportamento pode ser analisado quando pensadas as relações singulares que formam
a subjetividade de alguém.

2. Teoria do desenvolvimento humano satisfatório (“normal”):

2.1 O que caracteriza uma condição de bem-estar e saúde humana?

Caracterizam o bem-estar e a saúde humana a garantia das necessidades biológicas,


psicológicas e sociais, além da capacidade de adaptação à realidade, lidando com as
frustrações, para a partir daí encontrar caminhos para a realização dos seus desejos,
sejam eles quais forem.
A capacidade de entender a realidade em processos de cognição, estar apto a identificar
as sensações depreendidas do contato com o meio, ou seja, estabelecer contato com as
emoções e a partir de então, a partir das sensações, em alinhamento com o desejo,
possam se manifestar em forma de conduta.
2.2. Quais os recursos/forças (pessoais/contextuais) favorecem uma condição de
bem-estar e saúde humana?

Tendo em vista a natureza biopsicossocial do ser humano, é necessário condições


mínimas de manutenção ao corpo biológico, para o bom desenvolvimento da cognição.
Uma boa alimentação e condições que favoreçam o bom estabelecimento das cognições
são indispensáveis para uma condição de bem-estar.
Não menos importante é um ambiente que permita um desenvolvimento psicológico
saudável, que permita a manifestação dos desejos, desde a infância, contribuem para que
forme-se um ambiente interno propenso a realizações e segurança psicológica. A
vontade (na condição de desejo profundo), entretanto, não deve ser minimizada na
condição de bem-estar, podendo sobrepor fragilidades em outros aspectos contextuais.
Além disso, condições sociais favoráveis são muito importantes no bom funcionamento
do ser humano, e na manifestação e realização dos desejos. O indivíduo que não sofre
pressões econômicas e políticas tem campo mais aberto, menos obstáculos a vencer, na
busca pela saúde e bem-estar.

2.3. O que caracteriza o desenvolvimento adequado do ser humano?

Abordar o desenvolvimento humano é explorar terreno vasto, cuja natureza central


é a de descoberta, mudança, avanços, novas aquisições e crescimento. A garantia plena
das necessidades biológicas, psicológicas e sociais são essenciais para que o ser humano
consiga se desenvolver e expressar sua individualidade, uma vez que o ser humano
é singular, e suas diferenças também precisam ser consideradas. Afinal, nenhum
indivíduo, mesmo irmão gêmeo, é igual ao outro.
Portanto o desenvolvimento nos remete por exemplo aos termos como: continuidade,
crescimento, mudança, etapas, interações, conhecimento, ação, e muitos outros. Existem
diversas formas de entendê-lo, gerando distintas concepções sobre os fatores
hegemônicos nesse processo.

3. Teoria da patologia /sofrimento:


3.1. O que caracteriza o indivíduo em sofrimento psicológico?

O ser humano é o único animal dotado de um sofrimento inerente, decorrente do


excesso, de algo que incomoda, perturba ou provoca insatisfação. Porém na sociedade
contemporânea as novas formas de sofrimento são criadas em torno de modificações
sociais e políticas às quais somos submetidos, um exemplo clássico é a sociedade de
consumo, que por sua vez acaba controlando o indivíduo e causando o sofrimento.

3.2. Quais “fracassos” / “falhas” do desenvolvimento podem se cristalizar em


condições de sofrimento / patologia?

Condições biológicas neurológicas divergentes, diante de uma sociedade normativa


que não respeite, acolha ou saiba lidar com as diferenças, pode se apresentar como
condição de sofrimento e entendido como patologia pelo meio que cerca o sujeito. Além
disso, fatores neurológicos mais severos, que impeçam o movimento do corpo, as
funções cognitivas e o reconhecimento ou mínimo contato com o meio externo também
pode ser uma condição de sofrimento, independente do preconceito social, neste caso.
No âmbito da subjetividade, síndromes clínicas, transtornos psicológicos, psicoses,
etc. também se configuram como condições de sofrimento, sendo necessária a
intervenção profissional para ajudar no direcionamento de tais questões.
O bloqueio no desenvolvimento do aprendizado e, paralelamente, da linguagem,
na interação com o meio e com o outro, é um fator social que também dificulta o
desenvolvimento saudável e pode contribuir para cristalizar um sofrimento. Bem como a
falta de acolhimento e de relações saudáveis com o outro.
A discussão sobre patologia é relativamente problemática, uma vez que, ao nosso
ver, não deveria existir uma proposta de adequação do ser humano, uma noção de
normalidade. Existe ser o que se é, então não existe desenvolvimento “normal” sob a
perspectiva da normatividade e da padronização, como se o contrário disso fosse
patológico. A ideia de normalidade é repressora.

3.3. Quais faltas ou vulnerabilidades são críticas para a saúde e o bem-estar?

A falta de condições favoráveis ao funcionamento e manutenção do corpo físico,


a falta de nutrição necessária; a dissociação da realidade, angústias internas e eventos
traumáticos; pressões políticas e/ou sociais, condições de vulnerabilidade
socioeconômica, a falta de acesso a um sistema de saúde eficiente, um ambiente
precário, violento e não acolhedor; bem como o isolamento, a falta de interação e de
boas relações com o outro; todos esses são fatores críticos para o desenvolvimento e
bem-estar de todo indivíduo.
Além disso, a falta de acesso à cultura e lazer, bem como a privação de liberdade
e da busca pela realização das necessidades e desejos profundos também são fatores que
interferem na condição de bem-estar do ser-humano.

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