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GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Projeto de Intervenção
Clínica do Idoso

O LUTO PELO CORPO:


Atuação junto a idosos que perderam sua independência.

Autores:
Bianca Peixoto - 2019201213
Felipe Santos de Farias - 2019203660
Júlia Fahham - 2020104805
Laura Feldens Duarte - 2020200701
Raphaela Duarte Bessa - 2019205463
Renan Ribeiro Pereira Nunes - 2019105834
Tatiana Andrade Silva - 2020106233

Rio de Janeiro
2023
Proposta de Intervenção
O tratamento ao idoso do ponto de vista da conscientização e reestruturação
da independência do mesmo, construindo este processo a partir do auxílio
terapêutico multidisciplinar para que seja fortalecida sua parte psíquica, sua visão
sobre si, sobre o envelhecimento e sobre suas relações. Além disso, trabalhar
também o tópico de prevenção de danos com esses pacientes. As abordagens
pensadas são tanto individuais quanto grupais, e se utilizam de diferentes recursos
terapêuticos.

Objetivos de Intervenção

Objetivo geral:
Acolhimento terapêutico para idosos após lesões/cirurgias/adaptação de próteses
que os faz perder total ou parte de sua independência, a partir de um trabalho
multidisciplinar fisioterápico.

Objetivos específicos:
1 - Incentivar a socialização dos idosos em tratamento com outros que se encontram
no mesmo contexto.
2 - Promover o fortalecimento psíquico através de atividades psicoterápicas.
3 - Conscientizar os idosos sobre seu caso, fornecendo ferramentas para o manejo
do mesmo e formas de sanar suas dúvidas.
4 - Fomentar o cuidado em si, a partir da psicoeducação, sobre o entendimento do
corpo idoso, os riscos das quedas e o impacto que isso causa.

Justificativa da proposta + Fundamentação Teórica


O tema foi selecionado a partir da sensação de que muito se debate sobre os
impactos cognitivos e emocionais nos idosos e em seus familiares quando há a
perda da independência e autonomia dos mesmos, mas pouco se fala sobre
tratamento, prevenção e até mesmo reversão desses casos. Como intervir em um
contexto tão sensível, permeado de dúvidas, temores, culpabilização e
adoecimento? Durante o exato período, uma das integrantes do Projeto de
Intervenção (P.I) vivenciou uma experiência norteadora de sofrimento, perda da
independência e luto pelo corpo ao atender uma paciente idosa em ambiente
hospitalar. O caso é compartilhado ao final desta justificativa, seguindo os protocolos
de proteção de dados, e serviu de embasamento para a construção deste projeto de
intervenção.
Assim como é apresentado na literatura por grandes autores como Erik
Erikson, o processo de envelhecimento por si só já causa mudanças e
questionamentos. Em sua teoria sobre os estágios psicossociais do
desenvolvimento, a crise da integridade x desespero se inicia aos 60 anos, trazendo
a dúvida se o que foi construído em vida até aquele momento é suficiente para
deixar seu legado “vivo” após a sua morte; Rabello e Passos (2001 p.11) escrevem
que “Surge um sentimento de que o tempo acabou, que agora resta o fim de tudo,
que nada mais pode fazer pela sociedade, pela família, por nada”. A não resolução
da crise traz angústia, não conformidade com o processo de senescência, podendo
culminar em quadros patológicos como ansiedade e depressão. “São aquelas
pessoas que vivem em eterna nostalgia e tristeza por sua velhice”. (Rabello e
Passos 2001 p.11).
O SUS estabelece “o conceito de saúde para o indivíduo idoso mais pela sua
condição de autonomia e independência que pela presença ou ausência de doença
orgânica” (BRASIL, 2006). A autonomia e independência do idoso estão diretamente
relacionados à como ele envelhece; o processo do envelhecimento se categoriza em
senescência e senilidade, sendo o primeiro um processo de envelhecimento natural
que ocorre ao decorrer dos anos devido à morte celular e o segundo quando o idoso
é acometido de uma patologia que acelera o seu envelhecimento, como demência,
alzheimer e parkinson.
Ambos os tipos de envelhecimento podem ser atravessados pela perda da
independência do idoso, o que será trabalhado aqui. O conceito engloba a
dependência de um outrem para a realização de atividades motoras como higiene
básica, alimentação diária, e locomoção entre os ambientes onde se encontra. As
variações se dão de acordo com o nível de dependência do idoso, sua rede de
apoio, a abrangência dos sintomas e a estabilidade emocional que possui para
enfrentar este momento de crise. Tais aspectos também são impactados pelo nível
de escolaridade, suporte social e a autopercepção do sujeito sobre a sua situação
(GOMES et al, 2021).
Idosos que possuíam sua independência, após acometidos por uma doença,
se vêem na obrigatoriedade de se adaptar a regras de instituições ou a casa de
familiares para conseguir suprir as demandas básicas de vida, ou seja, sobreviver.
Desde 1940, a esperança de vida do brasileiro aumentou em 31,1 anos,
chegando a 76,6 anos em 2019. (IBGE, 2019). Segundo Scherrer Júnior G, et al.,
com o aumento da longevidade, surgem também aspectos a serem desenvolvidos
com esse público para que se tenha uma melhor qualidade de vida (QV) nessa fase,
como a independência e/ou autonomia desses sujeitos, principalmente em contextos
de institucionalização. No artigo, os autores narram não haver práticas de lazer por
menos da metade dos idosos institucionalizados, um dado importante que faz
correlação direta com a nossa P.I; o artigo também aponta:
A maioria dos idosos não tinha autorização para sair da instituição, apesar da
independência para a realização das ABVD. Impossibilitar a saída do idoso do seu
espaço físico remete à contenção ambiental, que implica em sofrimento psíquico.
(Scherrer Junior G, et al, p.06)
Busca-se então, com este projeto de intervenção, atuar justamente a esses
idosos, pensando em um contexto de inserção após perda total ou parcial de
independência, fornecendo aos mesmos acolhimento, lazer, socialização,
reintegração e suporte físico e emocional para que possam lidar com esse momento
de crise.

Metodologia
Devido a mudanças de vida características desta fase da vida tais como a
redução da independência funcional e o surgimento de doenças comuns no
processo de envelhecimento, uma parte significativa da população idosa lida com
problemáticas emocionais que os causam grande sofrimento (Gomes, 2021). Como
forma de abordar estas questões e auxiliar estes indivíduos a lidar com as
mudanças dessa nova realidade de perda da independência funcional, nosso P.I
trabalhará com métodos multidisciplinares. Serão estas: A psicoterapia, atividades
de psicoeducação com parceria de profissionais de fisioterapia e oficinas de
Musicoterapia e Arteterapia.
Psicoterapia
Pensamos na psicoterapia individual com o idoso, realizando sessões
semanais de cerca de 50 minutos de psicoterapia individual para cada participante,
por 3 a 4 meses. Será necessária a disponibilização de uma sala pequena ou média
na clínica-escola, além do profissional de psicologia da própria equipe.
Tratando-se de uma clínica-escola, considera-se cabível a construção de um
espaço aberto às múltiplas teorias, onde o profissional terá liberdade para escolher
entre diversas modalidades psicoterapêuticas pensadas para o atendimento de curta
duração, se desenvolvendo enquanto profissional e se atentando às particularidades
do atendimento com o público idoso (Dourado, 2012). Trata-se da construção de um
espaço de escuta onde é possível elaborar sobre diferentes aspectos de sua vida,
assim como as transformações que o tempo trouxe para si.
Em psicoterapia, poderá ser trabalhada a naturalização do corpo em processo
de envelhecimento e a percepção de si mesmo no mundo, desafiando estereótipos
sociais e também valorizando as potencialidades desta fase da vida (Rebelo, 2007).
Será através da escuta ativa e do manejo terapêutico que será possível promover
uma reorganização psíquica frente ao luto pela funcionalidade do próprio corpo.

Psicoeducação com parceria de profissionais de fisioterapia


A consciência corporal é fundamentada em possuir o conhecimento do
próprio corpo, seu funcionamento, limites e a relação dele com o ambiente. Quando
desenvolvida essa consciência, maior a capacidade de evitar lesões, adquirir
equilíbrio e explorar o corpo, e possuindo consciência de seus pontos fortes. Dessa
forma, esse conhecimento se torna fundamental para percepções corporais, sendo
possível identificar uma disfunção.
A Ginástica Holística, será uma ótima aliada, pois se define em uma atividade
corporal caracterizada por trabalhar o corpo como um todo, com centenas de
movimentos de baixo impacto que fortalecem todos os músculos, sendo uma
atividade que atua de forma preventiva, terapêutica e pedagógica. Além disso, ela
promove e estimula a consciência corporal, influenciando na execução correta de
movimentos produzidos durante os dias, promovendo mudanças significativas na
relação com o corpo, melhorando a qualidade de vida, reduzindo o estresse e
aliviando a dor muscular.
Logo, considerando a importância da atividade física para manutenção da
aptidão motora e da consciência corporal pensamos em realizar junto com
profissionais de fisioterapia da clínica escola, a atividade de Ginástica Holística e
psicoeducação da consciência corporal, com aulas uma vez na semana com
duração de uma hora, durante 3 meses, sendo necessário apenas, bolas, bastões e
o próprio peso.
O objetivo é ensinar aos idosos quais são os acontecimentos da senescência,
quais mudanças impõe ao corpo, como essas mudanças podem os afetar no dia a
dia e como se adaptar para viver uma vida boa e saudável, evitando quedas, por
exemplo. Ou aprendendo quando os esquecimentos deixam de ser normais e viram
um alerta amarelo!

Musicoterapia
A Musicoterapia é uma prática que utiliza a música para promover saúde,
bem estar, aprendizado, comunicação e expressão através da música e do ritmo.
Diante disso, pensamos em utilizar essa técnica para promover a socialização e
interação dos idosos.
Nos encontros, junto de uma profissional musicoterapeuta em parceria com a
clínica escola, inicialmente será feito uma conversa em grupo, de forma
descontraída para iniciarmos esse processo, buscando conhecer os gostos,
identidades sonoras, repertório de cada idoso e sua relação com a música. Através
dessa atividade grupal será proporcionada uma melhor qualidade de vida através da
música, com a utilização de instrumentos (violão, triângulo, tambor etc), construindo
dinâmicas, jogos, danças e conectando os sons às memórias e lembranças de forma
divertida.
A musicoterapia é importante no processo de envelhecimento pois estimula a
dicção e a oratória, aumenta a criatividade, estimula as capacidades cognitivas,
estimula a consciência corporal, diminui o isolamento e promove a expressão de
emoções. As sessões de musicoterapia acontecerão dentro de uma carga horária de
1h quinzenal durante 3 meses.
Arteterapia
A arteterapia funciona como um canal de expressão para trabalhar e
ressignificar e dar voz às emoções dos pacientes, além de poder trabalhar em
conjunto com a fisioterapia e estimular a coordenação motora fina e tônus muscular.
. Ela pode ser trabalhada através de diferentes formas da arte e, neste projeto, se
utilizará do desenho, pintura e modelagem. Foram escolhidos esses métodos por
conta da facilidade de execução dos mesmos e por requererem pouca mobilidade
corporal de quem a executa. Quem irá reger este momento será um psicoterapeuta
da clínica escola. A abordagem psicoterapêutica a ser usada nesta forma de terapia
será de escolha do profissional.
Sendo a arteterapia um método que pode focar em diferentes objetivos, aqui,
o objetivo principal será trabalhar, através da criatividade, o autoconhecimento desse
novo momento de vida dos pacientes idosos, assim como as novas emoções que
estão passando por eles neste momento conturbado e confuso. Esta forma de
terapia foi escolhida pois nela o paciente não precisa se expressar apenas através
do verbal. Será um espaço em que esses idosos em vulnerabilidade não precisarão
colocar em palavras suas histórias e sentimentos, mas sim, expressá-los através de
formas, cores e linhas.
A arteterapia nesta clínica escola ocorrerá 1 vez por semana com duração de
1 hora. Ela será uma terapia grupal com, no máximo, 10 indivíduos por sessão. Para
que ela ocorra, será necessário materiais como: diferentes tipos de papel, fita crepe,
cola, lápis coloridos e grafites, giz de cera, borrachas, canetas, pincéis, rolos de
pintura e tinta guache de diversas cores, massinha de modelar e argila. Será
necessário também uma sala de tamanho grande para o acontecimento dela.

Anexo
Caso de referência do projeto:
R., mulher, 65 anos, dá entrada no hospital com o quadro de inflamação e
rejeição do corpo à prótese de fêmur que fora previamente implantada (3 semanas
antes) após sofrer uma queda da própria altura e quebra do osso do fêmur.
Internada no ambulatório, R. solicita atendimento psicológico para o tratamento do
que chama de “questões”.
Paciente LOTE, chorosa, com humor rebaixado, tem discurso coerente com o
contexto em que se encontra e conhecimento sobre seu caso.
Apresenta demandas referentes à família, à perda de independência e ao
medo do futuro. Discurso de culpabilização por depender, nas 3 semanas anteriores,
de sua afilhada para a execução de tarefas básicas como banho, troca de roupa e
mobilidade pela casa. (sic)
R. conta sobre o medo de permanecer dependendo de outros para execução
de tarefas. Jornalista, a paciente se mostra muito eloquente e consciente sobre si
revelando o quão ativa era, física e mentalmente, até o acidente que sofreu
acontecer e que o acontecido aparece como um corte brusco na sua forma como vê
seu envelhecimento. Teme não poder mais participar de atividades sociais, ter sua
independência e privacidade preservados.

Referências Bibliográficas
ANGIOLETTI, Ariane. Perda da autonomia x independência: vamos falar
sobre interdição? Ariane Angioletti, 2019. Disponível em:
<https://www.arianeangioletti.com/post/perda-da-autonomia-x-independ%C3%
AAncia-vamos-falar-sobre-interdi%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 21 de
abril de 2023.
Autonomia do idoso: O que fazer para deixá-lo mais independente?.
Aparelhos Auditivos. Disponível em:
<https://aeraparelhosauditivos.com.br/autonomia-do-idoso-o-que-fazer-para-d
eixa-lo-mais-independente/>. Acesso em: 21 de abril de 2023.
RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. Erikson e a teoria psicossocial do
desenvolvimento. Disponível em
<https://josesilveira.com/wp-content/uploads/2018/07/Erikson-e-a-teoria-psico
ssocial-do-desenvolvimento.pdf > Acesso em: 24/042023.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tábuas completas de
mortalidade 2019. Rio de Janeiro: IBGE; 2020 Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9126-tabuas-completas-
de-mortalidade.html
SCHERRER JÚNIOR, G. et al.. Atividades de vida diária, sintomas
depressivos e qualidade de vida de idosos. Acta Paulista de Enfermagem, v.
35, p. eAPE0237345, 2022. Disponível Em:
<https://www.scielo.br/j/ape/a/pJWstHd9QRQfHhjry6WY5yg/#> Acesso em:
28/04/2023

GOMES, Gabriela et al. Fatores Associados À Autonomia Pessoal Em Idosos:


Revisão Sistemática Da Literatura. Rio de Janeiro: ABRASCO, 2021.

GOMES, BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde da


Pessoa Idosa. Portaria MS/ GM nº 2.528 de 19 de outubro de 2006. Aprova
a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Brasília: MS, 2006. Disponível
Em:<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt2528_19_10_200
6.html> Acesso em: 01/05/2023.

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